análise do poema josé de drummond

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Análise do poema para uma aula de português. Experimentação dos conceitos de semiótica aplicados a alunos de ensino médio.

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  • Poema Jos de Carlos Drummond de Andrade Anlise lingstico-potica

  • Anlise da 1 estrofeE agora, Jos?A festa acabou,a luz apagou,o povo sumiu, a noite esfriou,e agora, Jos?e agora, Voc?Voc que sem nome,que zomba dosoutros,Voc que faz versos,que ama, protesta?e agora, Jos?

  • E agora, Jos?E agora, Jos?A festa acabou,a luz apagou,o povo sumiu, a noite esfriou,Em relao s leis de P.Grice (1962):Exaustividade: repetio de verbos no tempo do pretrito perfeito (acabou, apagou, sumiu, esfriou).

  • Anlise de enunciados...E agora, Jos?Esse verso uma indagao ao leitor, ou seja, quem Jos? Qualquer um de ns? O advrbio agora indica o momento da enunciao, o tempo ou estado do sujeito. Alm disso, h tambm a conjuno coordenada aditiva e, indicando uma continuidade de algo ocorrido num tempo anterior.

  • Anlise... A festa acabou,a luz apagou,o povo sumiu, a noite esfriou,Nota-se, nesse trecho, a seqncia de uma narrativa, aes seqenciadas. Tem-se a sensao de que o sujeito passou por situaes em que chega-se ao fim. Que festa essa ou, por que a luz apagou ou at, por que o povo sumiu,que povo? E a nostalgia do momento: a noite esfriou...

  • A noite esfriou...A noite esfriou.H uma ocorrncia de figura de linguagem, sinestesia (sensaes). O leitor tem a sensao de esfriar (conotativa e denotativamente), mas esfriar o qu? Sua vida, a festa, seu sentimento, sua hora, seu momento? O tempo passado indica que a noite esfriou, isso denota ausncia de ao no presente, porm h uma presentificao do passado ao dizer a noite esfriou.

  • E agora, Jos/ e agora, Voc?e agora, Jos?e agora, Voc?Neste trecho, tem-se novamente a indagao, porm o agora outro agora, uma vez que indaga-se no apenas Jos, mas tambm Voc. Por que h essa indagao? Voc representa cada um de ns que, na existncia terrena, vivenciamos diversas etapas e nos questionamos por vezes: Quem somos ns? Voc Drummond ou o eu-potico?

  • Anlise...Voc que sem nome,que zomba dosoutros,Voc que faz versos,que ama, protesta?Voc aquele sem nome, ou voc tem nome? Identidade de ser existencial que vive em espao e tempo sociais ou a no identidade. H a ocorrncia do tempo presente, da a primeira parte tratar-se da presentificao do passado. Neste, os verbos ser, zombar, fazer, amar. O primeiro, um verbo de ligao, com efeito de sentido de qualificao, alm disso, o pronome relativo que com nfase a Voc. Os demais verbos de ao.

  • Quem protesta...Voc que faz versos,que ama, protesta?e agora, Jos?Retoma-se a mesma estrutura do verso anterior, Voc que... indicando uma explicao enftica de Voc (Voc que faz versos, que ama...).E a indagao, protesta? Por quem e pelo que protesta? Quem aquele que protesta? Quem ento o Jos? E o poeta, protesta?

  • 2 estrofe...Est sem mulher, est sem discurso,est sem carinho,j no pode beber,j no pode fumar,cuspir j no pode,a noite esfriou,o dia no veio,o bonde no veio,o riso no veio,no veio a utopiae tudo acaboue tudo fugiue tudo mofoue tudo mofou,e agora, Jos?

  • Anlise...Est sem mulher, est sem discurso,est sem carinho,j no pode beber,j no pode fumar,cuspir j no pode,E o Jos, est sem mulher, sem discurso, sem carinho. A exaustividade permanente tanto na 1 como na 2 estrofe, ou seja, a repetio. Neste trecho, a repetio do verbo estar e, logo em seguida, dos advrbios j e no. No ltimo verbo, h uma inverso, cuspir j no pode. O efeito de sentido desse trecho justamente o de mostrar um sujeito sem perspectivas, a perda de sua prpria identidade como ser humano. E, o que identidade? O que mscara social?

  • Ser-em-devir...o dia no veio,o bonde no veio,o riso no veio,no veio a utopiaO dia no veio. Que sentido tem esse verso? E o bonde, por que no veio? At o riso no veio e no veio a utopia... No veio a esperana, no veio a sintonia, no veio a alegria, nada no veio, no veio nada... Repete-se para enfatizar a vida ficou, que deixou de viver por algum motivo. Que motivo seria esse? Insatisfao? Seria uma pedra no caminho? Seria o fato do sujeito no suportar o mundo e seus ombros, cansados do peso do dia-a-dia, nega-se a compreender o que h por detrs da porta? E que porta essa? a do ser-em-devir (Cf. E. Landowski, 2002).

  • E tudo acabou... Ou comeou para o poeta Drummond?e tudo acaboue tudo fugiue tudo mofoue tudo mofou,e agora, Jos?A repetio a sintonia do poema. Para Grice, trata-se de exaustividade, para o poeta, emotividade... Trs verbos de ao no tempo passado, ou melhor, presentificao do passado (acabou, fugiu, mofou). O efeito de sentido desses verbos corresponde ao tempo exaurido, enfatizado por mofou.

  • E agora?E agora, Jos?sua doce palavra,seu instante de febre,sua gula e jejum,sua biblioteca,sua lavra de ouro,seu terno de vidro,sua incoerncia,seu dio, - e agora?A repetio do possessivo feminino e masculino indicando a posse de algo que deixou no passado. Ainda lhe pertencem, porm com outro sentido. A primeira perda sua doce palavra, com efeito de sentido de ternura, sinceridade nas palavras; instante de febre, total xtase naquilo que faz; gula e jejum, ora alimenta-se em demasia a alma, ora a dilacera; biblioteca, seus livros; sua lavra de ouro, a riqueza que possui; terno de vidro, que terno esse, sua morte existencial?; incoerncia, com quem, com ele prprio?; seu dio, sua prpria insatisfao. E agora?

  • Jos, e agora? Com a chave na moquer abrir a porta,no existe a porta,quer morrer no mar,mas o mar secou;quer ir para Minas,Minas no h mais.Jos, e agora? Com a chave na mo quer abrir a porta, que porta seria essa? A porta do vazio em que se encontra? Mas no existe a porta. H dois termos, o primeiro, verbos no infinitivo denotando aes no ocorridas (quer abrir, quer morrer, quer ir...), o segundo, o tempo presente com o advrbio no (no existe a porta). Outro advrbio mas indicando o contraponto da ao no concretizada ( mas o mar secou). E ainda se tem a esperana de que possa ir para Minas, porm Minas no h mais. Outra inverso com efeito de sentido de no continuidade na caminhada e sim o sujeito estagna-se no seu prprio eu. E o final passa a ser Jos, e agora?

  • Voc duro, Jos?Se voc gritasse,se voc gemesse,se voc tocasse,a valsa vienense,se voc dormisse,se voc cansasse,se voc morresse...Mas voc nomorre, voc duro, Jos H trs verbos que apresentam conjuno adverbial condicional se. Essa conjuno indica condio de ocorrncia, no a certeza desta. Os verbos esto no imperfeito do subjuntivo com efeito de ao hipottica, no concretizada. Apenas no verso Mas voc no morre, volta-se a indagao com o tempo presente e o uso da conjuno mas. Nesse trecho, h uma ocorrncia da lei de Grice, informatividade, informao nova ao leitor, Jos no morre porque ele duro, ou seja, mesmo nos embates da vida resiste e continua como os severinos de Joo Cabral de Melo Neto.

  • Voc marcha, Jos?/Jos, para onde? Sozinho no escuroqual bicho-do-mato,sem teogonia,sem parede nuapara se encostar,sem cavalo pretoque fuja do galope,voc marcha, Jos!Jos, para onde?O estado do sujeito, sozinho no escuro, indicando um estado dalma de insatisfao, tristeza, e ainda, qual bicho-do-mato, estado de fuga, refgio e no aceitao da realidade, teogonia, a genealogia dos deuses no h, e a parede nua, que parede essa e por que nua? E o espao vazio e, ao mesmo tempo, espaoso, no podendo se encostar; sem cavalo preto, nem branco. O cromtico aqui simbolizando a fortaleza,o preto como a cor da coragem que fuja do galope, que fuja das incertezas... Voc marcha, Jos! Jos, para onde? Talvez para onde o vento puder levar...