anÁlise do consumo de combustÍvel de Ônibus urbano

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1479 ANÁLISE DO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL DE ÔNIBUS URBANO Gilmar Silva de Oliveira Rômulo Dante Orrico Filho Universidade Federal do Rio de Janeiro Coordenação dos Programas de Pós Graduação em Engenharia – COPPE Programa de Engenharia de Transportes – PET RESUMO Este trabalho de pesquisa investiga o comportamento do consumo de combustível de ônibus urbano, em condições reais de operação, com o objetivo de identificar os principais fatores que influenciam a sua variação. A pesquisa de campo analisou e tratou uma massa considerável de dados e obteve parâmetros e indicadores de consumo para veículos do tipo Microônibus, Leve (ou convencional) e Padron, três tecnologias que são predominantes nos sistemas de transporte das cidades brasileiras. O trabalho permitiu comparações entre os resultados da pesquisa de campo com os valores recomendados pelo GEIPOT/MT (1994) e com os índices adotados pelos municípios brasileiros e mostrou que, apesar da evolução tecnológica, os coeficientes de consumo de combustível usados nas planilhas de cálculo tarifário, ainda reproduzem as ineficiências comuns ao setor. ABSTRACT This work of search investigates the behavior of fuel consume by urban bus, in real conditions of operation, with a goal to identify the main factors of influencing their variation. The camp search analysed and treated a big mass of data and found parameters and values of consume to vehicles the kind of Microônibus, Leve (or convencional) and Padron, three tecnologies that are predominant of transportation system of brazilian cities. The work allowed comparison between the results of camp search with the values advisable by GEIPOT/MT (1994) and with the index adopted by brazilian cities and showed that, in spite of tecnology evolution, the coefficient of oil consume used in the plans of tariff calc, already reproduce inefficiencies typical of that sector. 1. INTRODUÇÃO O transporte coletivo por ônibus no Brasil possui destacada importância para o desenvolvimento econômico e social dos municípios brasileiros, apesar da crise atual cujo sintoma mais evidente é a redução gradativa de usuários. Diante deste cenário, se torna muito importante conhecer e analisar, em profundidade, os principais componentes ligados ao custo de produção do serviço, de modo que seja possível melhorar a eficiência e a produtividade do setor. Desde que o governo federal transferiu aos municípios a responsabilidade pela definição das tarifas do transporte público, no início dos anos 80, tem havido uma evolução muito lenta no aspecto do cálculo tarifário, especialmente na determinação dos índices que expressam os custos de operação destes serviços. A introdução em 1983 da planilha GEIPOT forneceu aos municípios brasileiros um importante referencial para definir a política local de preços, entretanto, com o passar do tempo e com a falta de novas pesquisas que atualizassem os coeficientes técnicos de consumo sugeridos no documento, algumas referências ali presentes tornaram-se ultrapassadas. Nas Instruções Práticas para Cálculo da Tarifas de Ônibus Urbanos publicada pelo GEIPOT em 1983, conhecida como Planilha de 1983, o índice máximo de consumo de combustível foi estabelecido em 0,38 litros por km, admitindo-se, nos casos em que a linha apresente trechos não pavimentados superiores a 20% de sua extensão, um acréscimo 10% no índice acima, ou seja, poderia alcançar 0,418 l/km. A versão dessa Planilha em 1991 tece algumas mudanças em outros pontos mas, quanto ao item combustível, mantém o mesmo índice (0,38 l/km) e as mesmas observações. A versão atualizada dessas Instruções, resultante das atividades

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Este trabalho de pesquisa investiga o comportamento do consumo de combustível de ônibus urbano, emcondições reais de operação, com o objetivo de identificar os principais fatores que influenciam a sua variação.A pesquisa de campo analisou e tratou uma massa considerável de dados e obteve parâmetros e indicadores deconsumo para veículos do tipo Microônibus, Leve (ou convencional) e Padron, três tecnologias que sãopredominantes nos sistemas de transporte das cidades brasileiras. O trabalho permitiu comparações entre osresultados da pesquisa de campo com os valores recomendados pelo GEIPOT/MT (1994) e com os índicesadotados pelos municípios brasileiros e mostrou que, apesar da evolução tecnológica, os coeficientes deconsumo de combustível usados nas planilhas de cálculo tarifário, ainda reproduzem as ineficiências comuns aosetor.

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    ANLISE DO CONSUMO DE COMBUSTVEL DE NIBUS URBANO

    Gilmar Silva de Oliveira Rmulo Dante Orrico Filho

    Universidade Federal do Rio de Janeiro Coordenao dos Programas de Ps Graduao em Engenharia COPPE

    Programa de Engenharia de Transportes PET RESUMO Este trabalho de pesquisa investiga o comportamento do consumo de combustvel de nibus urbano, em condies reais de operao, com o objetivo de identificar os principais fatores que influenciam a sua variao. A pesquisa de campo analisou e tratou uma massa considervel de dados e obteve parmetros e indicadores de consumo para veculos do tipo Micronibus, Leve (ou convencional) e Padron, trs tecnologias que so predominantes nos sistemas de transporte das cidades brasileiras. O trabalho permitiu comparaes entre os resultados da pesquisa de campo com os valores recomendados pelo GEIPOT/MT (1994) e com os ndices adotados pelos municpios brasileiros e mostrou que, apesar da evoluo tecnolgica, os coeficientes de consumo de combustvel usados nas planilhas de clculo tarifrio, ainda reproduzem as ineficincias comuns ao setor. ABSTRACT This work of search investigates the behavior of fuel consume by urban bus, in real conditions of operation, with a goal to identify the main factors of influencing their variation. The camp search analysed and treated a big mass of data and found parameters and values of consume to vehicles the kind of Micronibus, Leve (or convencional) and Padron, three tecnologies that are predominant of transportation system of brazilian cities. The work allowed comparison between the results of camp search with the values advisable by GEIPOT/MT (1994) and with the index adopted by brazilian cities and showed that, in spite of tecnology evolution, the coefficient of oil consume used in the plans of tariff calc, already reproduce inefficiencies typical of that sector. 1. INTRODUO O transporte coletivo por nibus no Brasil possui destacada importncia para o desenvolvimento econmico e social dos municpios brasileiros, apesar da crise atual cujo sintoma mais evidente a reduo gradativa de usurios. Diante deste cenrio, se torna muito importante conhecer e analisar, em profundidade, os principais componentes ligados ao custo de produo do servio, de modo que seja possvel melhorar a eficincia e a produtividade do setor. Desde que o governo federal transferiu aos municpios a responsabilidade pela definio das tarifas do transporte pblico, no incio dos anos 80, tem havido uma evoluo muito lenta no aspecto do clculo tarifrio, especialmente na determinao dos ndices que expressam os custos de operao destes servios. A introduo em 1983 da planilha GEIPOT forneceu aos municpios brasileiros um importante referencial para definir a poltica local de preos, entretanto, com o passar do tempo e com a falta de novas pesquisas que atualizassem os coeficientes tcnicos de consumo sugeridos no documento, algumas referncias ali presentes tornaram-se ultrapassadas. Nas Instrues Prticas para Clculo da Tarifas de nibus Urbanos publicada pelo GEIPOT em 1983, conhecida como Planilha de 1983, o ndice mximo de consumo de combustvel foi estabelecido em 0,38 litros por km, admitindo-se, nos casos em que a linha apresente trechos no pavimentados superiores a 20% de sua extenso, um acrscimo 10% no ndice acima, ou seja, poderia alcanar 0,418 l/km. A verso dessa Planilha em 1991 tece algumas mudanas em outros pontos mas, quanto ao item combustvel, mantm o mesmo ndice (0,38 l/km) e as mesmas observaes. A verso atualizada dessas Instrues, resultante das atividades

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    desenvolvidas por um Grupo de Trabalho do Ministrio dos Transportes em 1993 (republicada em 1996), apresenta no mais um nico valor, porm uma faixa de variao com mnimos e mximos e tambm levando em conta a categoria veicular (Leve, Pesado ou Especial). Cabe lembrar que em 1986 o GEIPOT, a pedido da EBTU Empresa Brasileira de Transportes Urbanos, levou a cabo uma experincia sobre o consumo de combustvel em rea urbana com diversos tipos de veculo em situao de pico, fora de pico e trfego livre, buscando ndices que pudessem mais tarde subsidiar polticas pblicas para o setor, na poca uma atribuio da EBTU. Os valores mdios observados em tal pesquisa e os ndices constantes da Planilha de 1994 so sintetizados nas tabelas abaixo:

    Tabela 1: Coeficientes de consumo de combustvel (em litros / km) Coeficientes de Consumo de Combustvel (em litros por quilmetro), 1994. Tecnologia Potncia ndice mnimo ndice mximo ndice mdio Leve at 200 HP 0,35 0,39 0,370 Pesado acima de 200 HP 0,45 0,50 0,475 Especial acima de 200 HP 0,53 0,65 0,590 Fonte: Ministrio dos Transportes - Clculo de Tarifas de nibus Urbanos. Instrues Prticas Atualizadas, 1994

    Tabela 2: Pesquisa sobre o consumo de combustvel (em litros / km)

    Hoje os sistemas de transporte urbano no Brasil vivem, seguramente, uma realidade por demais diferente da vivenciada na poca de tais pesquisas. A introduo de novas tecnologias implicou na estratificao dos tipos de veculos, antes restritos basicamente aos modelos Convencional, Padron e Especial (articulado e bi-articulado), hoje convivendo com veculos menores, em especial os micro-nibus. A presena do transporte dito alternativo em diversas cidades brasileiras tambm fez a indstria de nibus se adaptar a este novo cenrio e produzir veculos de menor porte, mais geis e adequados operao confusa nos grandes centros urbanos e em regies perifricas que apresentam baixa densidade demogrfica e dificuldade de acesso. A tecnologia tambm passou por uma grande evoluo, principalmente os motores a combusto, que incorporaram sistemas eletrnicos de injeo e mecanismos de reduo do consumo e do nvel de poluentes emitidos.

    Valores mdios de consumo (l/km) observados, 1986. Veculo MB-O-364 Padron/Volvo Scania Articulado Condies

    de Trfego Potncia 130 CV 260 CV 296 CV Pico 0,38 0,63 0,68 Fora de Pico 0,38 0,61 0,64 Trfego Livre 0,33 0,54 0,57 Geral 0,37 0,60 0,63 Fonte: GEIPOT/EBTU - Pesquisa sobre consumo de Combustvel em rea urbana - CONSURB, 1986

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    Alm disso, muitas empresas de transporte coletivo participam de programas de economia e reduo de poluentes emitidos no processo de queima do leo diesel, como o projeto Economizar, mantido pela Petrobrs. De acordo com os resultados mais recentes do programa, participam 3.189 empresas, com uma frota total de 133.075 veculos sob avaliao em 22 estados da federao. O Projeto Economizar, de acordo com o CONPET (2004), garantiu a reduo no consumo de leo diesel e aumento da eficincia dos processos em todas as empresas participantes. Dados deste projeto registram a economia total de 2,87 milhes de litros de leo diesel por ano. No obstante a evoluo tecnolgica e a existncia de programas como o Economizar, que sem dvida representam melhoria significativa de produtividade e eficincia na operao dos sistemas de transporte coletivo por nibus, as planilhas de custos destes servios, feitas pela parcela majoritria dos municpios brasileiros, sobretudo os de mdio porte, ainda possuem como referncia, os antigos parmetros de consumo de combustveis. Ou seja, importante que todas as aes que objetivem reduzir os custos ou melhorar a produtividade de servios pblicos essenciais sejam revertidos em ganhos de eficincia para o usurio, atravs da modicidade tarifria. Os resultados deste trabalho, feito com dados pesquisados em veculos sob condies reais de operao, mostram coeficientes de consumo de combustveis significativamente mais baixos que os referenciais da Planilha de 1994 e, como tambm se observou nos anurios da ANTP, ainda mais baixos que os valores adotados em grande parte de municipalidade brasileira nas suas planilhas de clculo de tarifas. Esta constatao mostra a necessidade de realizao de novas e abrangentes pesquisas de campo com vista obteno de parmetros de consumo adequados s realidades e especificidades de cada uma de nossas cidades, de modo que as tarifas praticadas nessas localidades sejam as mais prximas das reais condies de operao e de eficincia. 2. PESQUISAS E ESTUDOS DESENVOLVIDOS Os principais estudos examinados sobre o consumo de combustveis por nibus urbanos buscam desenvolver modelos economtricos de ajuste de uma curva de consumo de combustvel com relao s diferentes variveis e caractersticas operacionais. Usualmente tais estudos apontam a velocidade mdia (nas razes direta, inversa e quadrada), como a principal varivel determinante para explicao do comportamento do ndice de consumo (l/km), no apenas para o nibus urbano, mas para todos os demais tipos veculos analisados naqueles estudos. Outras variveis tambm so postas em destaque por alguns estudiosos. O carregamento do veculo por Balassiano (1980), ressaltando, porm, a dificuldade em modelar e utilizar esta varivel em um sistema urbano complexo formado por diversas linhas em diversas situaes ao longo da jornada diria de operao. Outro aspecto que foi importante para auxiliar na definio das variveis investigadas neste trabalho de pesquisa, foi a varivel inclinao do pavimento, chamada de alinhamento vertical nos estudos Ferraz (1976), FINEP/ENGEVIX (1982) e GEIPOT (1986). Adotada como varivel explicativa se mostrou importante, apesar de no terem sido feitos testes prticos com veculos do tipo nibus urbano nos dois primeiros trabalhos. Estudos mais recentes feitos por Nassi et al. (2003) e por Costa (2003) no apontaram coeficientes mdios de consumo de combustvel, mas atualizaram as curvas de

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    consumo, considerando as condies tecnolgicas atuais para os veculos do tipo Micronibus, Leve (ou convencional) e Padron. Mais recentemente h que se destacar o levantamento realizado pela ANTT (2003) para o sistema de transporte semi-urbano no entorno de Braslia. Apesar de se tratarem linhas com caractersticas predominantes de transporte intermunicipal, foi encontrado um coeficiente mdio de consumo mais baixo que o referencial mnimo do GEIPOT/MT (1994). Estes referenciais metodolgicos foram muito importantes para orientar a escolha das principais variveis presentes neste trabalho, quais sejam: Tecnologia, Idade da Frota, Congestionamento, Rampa, Carregamento e Velocidade Mdia. 3. ESTUDO DE CASO A pesquisa de campo foi preparada para investigar o consumo de combustvel do sistema de transporte urbano de Petrpolis, cidade da regio serrana do estado do Rio de Janeiro que possui caractersticas topogrficas e de circulao que restringem fortemente a operao do transporte coletivo por nibus. De acordo com Kraus (1997), o 1 Distrito do municpio de Petrpolis, distrito sede, condicionado decisivamente pela sua topografia, que influenciou o processo de desenvolvimento urbano, notadamente quanto ocupao do solo e formao do sistema virio. O sistema de transporte converge para a Rua do Imperador, onde se localiza o Terminal Rodovirio e os pontos terminais de nibus, prximos a supermercados, ao Mercado Municipal, ao Centro de Sade e Universidade Catlica. O sistema virio de Petrpolis permite a ligao entre os diversos bairros e os distritos e tende a relacionar-se, em seu conjunto, com o centro da cidade. Essa concentrao, todavia, fator determinante do colapso virio do centro da cidade (Kraus, 1997). Sem dvida, o sistema virio local com ruas estreitas e ngremes e com pavimento em paraleleppedo, agravado pela ocupao residencial informal da encostas e fraldas dos morros da cidade, rene um conjunto de adversidades importantes operao dos transportes por nibus e apontam para valores elevados de consumo de combustvel. Conforme cita Oliveira (2004), o servio de transporte coletivo operado por cinco empresas permissionrias locais que atendem em regies distintas, salvo a rea central do municpio, onde existem os principais pontos de embarque e desembarque e tambm exceo das chamadas linhas interbairros, que so operadas em conjunto pelas empresas que j prestam o servio em cada extremidade. De acordo com esse autor, em Petrpolis, existem muitas linhas que operam em trechos com rampas acentuadas, e tambm muitas vias submetidas a congestionamentos freqentes, sobretudo na rea central da cidade. O sistema transporta mensalmente cerca de cinco milhes de usurios, operado por cerca de 300 nibus em dias teis, sendo esta frota composta por veculos dos tipos Micronibus, Leve (ou convencional) e Padron. Esta classificao tecnolgica foi baseada na potncia dos motores, de acordo com a seguinte ordem: Micro (at 150cv), Leve (de 150cv a 200cv) e Padron (acima de 200cv). 4. COLETA DE DADOS Preliminarmente coleta de dados propriamente dita, foi realizado um levantamento de dados e informaes sobre ndices de consumo de combustveis em cidades brasileiras que estivessem disponveis em anurios estatsticos ou sites institucionais no Brasil. A principal fonte a esse respeito o Anurio Estatstico da Associao Nacional de Transportes Pblicos - ANTP que desde 1998 rene informaes de uma vasta gama de cidades e sistemas urbanos

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    brasileiros. Foram examinados os anurios de 1998 (sob essa tica o mais completo) de 1999/2000 (no contm dados segregados por tecnologia veicular) e de 2001/2002 (obtido em meio eletrnico na pgina da instituio). Embora listados mais de 60 (sessenta) municpios em cada anurio, muitos no apresentavam dados completos que permitissem uma anlise abrangente, de modo que foram selecionados, ao todo, 48 municpios no Anurio de 1998 e 27 no de 2001/2002. Como apenas os veculos do tipo Leve so comuns aos municpios cujos relatrios continham os dados necessrios, as anlises desta fonte foram baseadas neste tipo tecnolgico. Complementarmente se incluem os resultados da pesquisa de campo realizada pela ANTT para o sistema de transporte semi-urbano no entorno de Braslia. Trata-se de linhas semi-urbanas com caractersticas predominantes de transporte intermunicipal embora em boa parcela dos trechos sofra os mesmos problemas urbanos de nossas grandes cidades. Os Dados Primrios utilizados neste trabalho resultam de pesquisa de campo realizada no sistema de transporte coletivo da cidade de Petrpolis, no Estado do Rio de Janeiro. Em princpio, esperava-se definir um tamanho de amostra representativo do universo de veculos que operam no sistema de Petrpolis, porm, dado o tamanho relativamente pequeno da frota e a razovel estrutura de fiscalizao do rgo de gesto local, optou-se pela medio em todos os cerca de 300 veculos que fazem parte da operao diria do sistema. Este intenso trabalho de campo foi realizado com um grupo de apoio de oito pessoas, que realizou medies e anotaes nas garagens das empresas operadoras, nos meses de janeiro e novembro de 2003, durante dois dias consecutivos em cada ms, sempre ao final da jornada de operao. No primeiro dia, com uso de formulrio prprio, foi anotado o registro do hodmetro de cada um dos veculos aps o trmino da operao e depois de verificar o abastecimento completo do tanque de combustvel. No segundo dia, foram anotados, alm do prefixo do veculo e o registro do hodmetro, o nmero da linha de servio naquele dia e o volume de abastecimento do tanque de combustvel, em litros. Dessa forma, foi possvel obter a quilometragem percorrida por cada um dos coletivos, tomando como base o hodmetro do dia anterior e o consumo em litros por km, relativo operao de cada veculo. A conferncia de integridade da quilometragem percorrida foi feita posteriormente pela leitura dos discos diagrama de tacgrafo, referentes aos dias de coleta, onde ficam registrados os percursos feitos pelos coletivos em suas respectivas escalas de servio. As informaes complementares sobre os veculos em si foram obtidas com base na documentao da frota de cada empresa, das Notas Fiscais de aquisio junto aos fabricantes e das informaes cadastrais de prefixo e tipo de veculo, adotados pelo rgo gestor. Tambm foi necessrio levantamento especfico sobre as caractersticas fsicas das linhas, tais como a velocidade mdia, a existncia de rampas e a extenso do itinerrio submetido s retenes de trfego. Para obter os dados sobre a velocidade mdia, foi feita leitura pormenorizada dos discos de tacgrafo de cada linha nos dias de realizao das coletas de dados. O clculo da velocidade mdia foi feito atravs da diviso do somatrio dos quilmetros operados em cada viagem pelo tempo total gasto, excluindo-se os tempos de parada nos pontos de controle. A tarefa de analisar os discos de tacgrafo feita periodicamente pelo controle de oferta do rgo gestor para efeito de verificar o cumprimento da programao horria (escala de viagens) definida para cada linha. A informao sobre as linhas cujos itinerrios ficam submetidos a trechos

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    com rampas, tambm foi trabalhosa e exigiu anlise detalhada dos dados cadastrais, alm de complemento com pesquisas em campo, que foram necessrias para medir trechos do itinerrio de algumas linhas prximas rea central do municpio, sobretudo em suas extremidades, onde geralmente existe grande variao na inclinao do pavimento. Neste estudo a varivel rampa foi tratada como uma varivel binria, onde o valor 1 foi atribudo s linhas submetidas a esta condio e o fator 0 s linhas sem presena de rampa. Para obter a informao sobre o trecho do itinerrio de cada linha submetido s retenes de trfego, tambm foi necessrio recorrer aos dados cadastrais das linhas, onde esto registradas as extenses de percurso nos dois sentidos de operao (bairro x centro e vice e versa). Alm disso, neste caso tambm foi necessrio ir a campo mapear a rea central e identificar a extenso das vias mais expostas aos congestionamentos. Assim, foi possvel apropriar a relao entre trechos submetidos e no submetidos a retenes de trfego em de cada linha. 5. ANLISE DOS RESULTADOS Os resultados alcanados com a pesquisa so aqui apresentados em trs tempos. Inicialmente os resultados globais obtidos e separados por tecnologia veicular predominante, em seguida as comparaes com as fontes secundrias de dados e o exame das divergncias encontradas e, por fim, uma anlise de conjunto apresentada com as principais variveis identificadas como significativas para o consumo de combustvel de nibus urbano. 5.1. Os Resultados Globais Obtidos Os coeficientes mdios de consumo encontrado nas duas coletas, para cada um dos trs tipos de tecnologia predominantes (Micro, Leve e Padron) so apresentados na Tabela 2 abaixo.

    Tabela 3: Coeficientes Tcnicos de Consumo por Tipo de Veculo

    1 Coleta 2 Coleta

    Tecnologia Frota Coef. DesvPad Frota Coef. DesvPadMicro 10 0,232 0,05 16 0,263 0,05Leve 267 0,331 0,06 246 0,329 0,06

    Padron 6 0,418 0,02 5 0,419 0,06Total 283 267

    Pode-se verificar na tabela acima que os coeficientes encontrados so significativamente mais baixos (melhores) que os valores recomendados na Planilha GEIPOT. No caso dos veculos do tipo Leve, o coeficiente mdio nas duas coletas inferior em 11% ao ndice mdio recomendado pelo GEIPOT (0,37 litro por km) e at mesmo em 6% inferior ao limite mnimo recomendado pelo GEIPOT (0,35 litro por km). Para veculos do tipo Padron, os coeficientes de consumo encontrados na pesquisa tambm so mais baixos 16% que a mdia GEIPOT e em 7% que o limite mais baixo recomendado pelo rgo (0,45 litro por km). 5.2. Veculos do tipo Padron Comparando os valores mdios da pesquisa de campo com as informaes de algumas cidades brasileiras, nota-se uma certa variabilidade nos coeficientes de consumo dos veculos do tipo Padron. Do Anurio de 2001/2002 da ANTP, neste item, constam dados de apenas seis municpios e os ndices de consumo so muito divergentes: variam de 0,42 l/km a 0,62 l/km. A mediana 0,52 est acima at mesmo do valor mximo dos parmetros do

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    GEIPOT/MT (1994). Apenas duas cidades utilizam ndices compatveis com os apurados em Petrpolis, as demais cidades usam coeficientes acima de 0,50 litro por km. A figura 1 compara os valores mnimos, mdios e mximos da pesquisa de campo em Petrpolis, com os limites de consumo admitidos pelo GEIPOT/MT (1994) e com os dados dos seis municpios que constam do anurio da ANTP, para veculos do tipo Padron.

    ndices Minimo, Mdio e Mximo de consumo de combustvel, por fonte de dados

    0,42

    0,62

    0,40 0,40

    0,45

    0,48

    0,420,42

    0,51

    0,440,44

    0,50

    0,38

    0,41

    0,44

    0,47

    0,50

    0,53

    0,56

    0,59

    0,62

    GEIPOT ANTP COL 1 COL 2

    Coe

    ficie

    nte

    de C

    onsu

    mo

    em

    litr

    os p

    or k

    m

    Min Med Max

    Figura 1: Grfico Comparativo de Coeficiente de Consumo (veculo Padron)

    5.3. Veculos do tipo Leve Para os nibus do tipo Leve (ou convencional), o manual do GEIPOT/MT (1994) recomenda coeficientes de consumo entre 0,35 a 0,39 l/km, para as condies suaves e mais severas de operao respectivamente. Tomando-se os valores constantes dos Anurios da ANTP (1998 e 2001/2002) em que tais dados estavam disponveis (em caso de repetio optou-se em usar o dado mais novo) pode-se ter um pequeno panorama nacional na matria. O histograma abaixo mostra a distribuio de freqncia desses ndices de consumo.

    Distribuio de freqncia de ndices de consumo de diesel em cidades brasileiras, 1998 e 2001/2002 - Posicionamento com relao faixa de consumo da Planilha Geipot 1994

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    14

    0,33 0,34 0,35 0,36 0,37 0,38 0,39 0,40 0,41 0,42 0,43 0,44 0,45 0,46 0,47 0,48 0,49

    Consumo em litros por km

    nm

    ero

    de c

    idad

    es Abaixo da FaixaNa Faixa Acima a Faixa

    Figura 2: Distribuio de freqncia do coeficiente de consumo de combustvel em cidades

    brasileiras

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    V-se na figura 2 que quase metade das cidades (44%) pratica ndices acima da faixa recomendada pelo GEIPOT (0,35 a 0,39) alcanando at 0,50 l/km, ou seja, 35% acima do valor mdio sugerido. Considerando apenas as cidades cujos valores estejam dentro da faixa, ainda assim v-se em 70% dos casos o uso dos valores elevados da faixa. Deve-se ressalvar, entretanto, a possibilidade de que as informaes fornecidas pelos rgos gestores ANTP no tenham seguido a mesma uniformidade. possvel que em alguns casos tenha-se atribudo a alguns veculos a classificao Leve quando deveria ser Padron. A pesquisa feita pela ANTT (2003) para a regio metropolitana de Braslia, obteve coeficiente mdio de 0,34 l/km. Embora o relatrio no explicite claramente a composio tecnolgica da frota, plausvel considerar que a maioria dos veculos seja do tipo Leve (ou convencional). O valor encontrado, ao contrrio dos constantes das cidades no Anurio da ANTP, situa-se abaixo do valor mnimo da faixa de variao sugerida na Planilha Geipot. A expectativa deste levantamento realizado em Petrpolis seria encontrar valores prximos aos limites mximos do GEIPOT, dadas as caractersticas do sistema virio local, que como dito, grande parte das linhas est em vias estreitas, ngremes e com diversos trechos submetidos a congestionamento, resultando em condies severas de operao. Ainda assim, o coeficiente mdio de consumo encontrado nas duas coletas (0,33 l/km), feitas com pouco menos de 300 veculos cada, foi significativamente inferior ao limite mnimo recomendado pelo GEIPOT/MT (1994). Para efeito de comparao foi admitida variabilidade semelhante do GEIPOT (limites mnimos e mximos variando em 0,02 dgito da mdia). A figura 2 ilustra e mostra a significncia dos valores encontrados frente aos parmetros do GEIPOT/MT (1994), os valores da pesquisa da ANTT e os dados dos Anurios da ANTP, para o caso de veculos do tipo Leve (ou convencional). A figura a seguir mostra claramente os coeficientes obtidos com a pesquisa de campo so significativamente mais baixos que os valores sugeridos em 1994 (GEIPOT), e ligeiramente inferiores aos resultados da pesquisa feita pela ANTT em Braslia. E mais, so ainda mais baixos que os utilizados nas cidades brasileiras em geral.

    ndices Minimo, Mdio e Mximo de consumo de combustivel, por fonte de dados

    0,32

    0,37

    0,39

    0,33 0,33

    0,39

    0,36

    0,49

    0,35 0,35

    0,310,31

    0,32

    0,350,35 0,34

    0,29

    0,34

    0,39

    0,44

    0,49

    GEIPOT ANTT ANTP COL 1 COL 2

    Coe

    ficie

    nte

    de c

    onsu

    mo

    em li

    tros

    por

    km

    Min Med Max

    Figura 3: Grfico Comparativo de Coeficiente de Consumo (veculo leve)

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    Comparando os resultados da pesquisa com os valores adotados em cidades de porte similar a Petrpolis (faixa de 250 a 350 mil habitantes), encontram-se diferenas significativas. Das 10 cidades extradas dos anurios 1998 e 2001/2002 da ANTP, nesta faixa de populao, apenas Blumenau informa coeficiente compatvel com o resultado da pesquisa (0,34 litro por km). Na faixa Geipot encontram-se seis: duas cidades informam 0,37 l/km e quatro dizem 0,38. Acima da faixa ficam quatro, com 0,40, 0,41, 0,43 e 0,45 litros por km. Em mdia, o coeficiente de consumo de combustvel adotado nesses municpios est quase 20% acima do resultado encontrado na pesquisa de campo em Petrpolis. Face s informaes e aos resultados do estudo, o cenrio revelado preocupante, pois, possivelmente, uma boa parcela de municpios brasileiros no dispe de dados confiveis sobre ndices de consumo de combustvel e tais dados so fundamentais para efetivao do clculo tarifrio. 5.4. Veculos do tipo Micronibus O estudo feito por COSTA (2003) destaca a importncia hoje em dia assumida pelos veculos do tipo micronibus nos sistemas de transporte de muitas cidades brasileiras. Usado principalmente com o objetivo de combater o transporte clandestino, os micronibus esto ganhando cada vez espao nos sistemas urbanos, em razo de sua j destacada agilidade, rapidez e conforto que pode oferecer ao usurio. Isso faz com que a configurao tradicional dos sistemas locais, antes restritos somente aos nibus do tipo convencional, seja alterada e incorpore cada vez mais veculos com essa caracterstica tecnolgica. Tendo em conta a diferena de potncia entre tais veculos e os outros nibus em geral, a expectativa , naturalmente de que o ndice de consumo de combustvel (diesel) dos veculos menores seja significativamente mais baixo que o dos outros. No anurio de 2001/2002 da ANTP constam treze municpios com informaes sobre consumo de combustvel por veculos de pequeno porte, no caso micronibus, e os valores encontrados variam de 0,21 l/km a 0,38 l/km. Os valores mdios ndice de consumo de combustvel para veculos do tipo micronibus encontrados nas duas coletas da pesquisa em Petrpolis foram 0,232 l/km e 0,263 l/km, contrariando inclusive a expectativa inicial de encontrar ndices mais altos, j que esses veculos em Petrpolis, sem exceo, operam exclusivamente em regies de difcil acesso, dadas as restries topogrficas que impedem a circulao de nibus do tipo convencional em razo da sinuosidade, declividade e dimenso reduzida destas vias. O coeficiente mdio de consumo na segunda coleta apresentou uma sensvel variao comparada com o resultado da primeira, algo que no ocorreu com os veculos do tipo Leve e Padron. Uma possvel explicao para esta diferena pode ser atribuda variao relativa no nmero de veculos entre as duas coletas: eram 10 e passaram a 16. Quando selecionados na segunda coleta apenas os veculos tambm registrados na primeira, a diferena reduziu e o ndice mximo ficou em 0,25 litro por km. Comparando os resultados obtidos na pesquisa de Petrpolis com os dados constantes do Anurio da ANTP v-se que, como regra geral, os valores utilizados nos municpios so mais elevados. Registram-se caso com ndices de consumo para veculos do tipo micronibus em

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    0,35 l/km, 0,37 l/km e at mesmo 0,38 l/km, situados em mais de 50% do coeficiente mdio encontrado na pesquisa de campo. Merece destaque o fato de que um determinado municpio utiliza o valor de 0,20 l/km. A figura 4 mostra um comparativo entre os valores da pesquisa de campo e dados de municpios brasileiros constantes do anurio da ANTP.

    ndices Minimo, Mdio e Mximo de consumo de combustivel, por fonte de dados

    0,21

    0,29

    0,23

    0,26

    0,38

    0,25

    0,24

    0,28

    0,20

    0,24

    0,28

    0,32

    0,36

    0,40

    ANTP COL 1 COL 2

    Coe

    ficie

    nte

    de C

    onsu

    mo

    em li

    tros

    por

    km

    Min Med Max

    Figura 4: Grfico Comparativo de Coeficiente de Consumo (micronibus)

    Os coeficientes mdios de consumo obtidos para micronibus so aproximadamente 40% inferiores aos valores encontrados para nibus do tipo convencional, ou seja, 0,23 contra 0,33 litro por km. As diferenas encontradas relativamente a esses nmeros nas cidades brasileiras podem ter as mais diversas razes e fogem ao escopo deste trabalho. De forma idntica ponderao quanto s diferenas nos ndices de consumo dos nibus leves, cabe tambm ressalvar a hiptese de que os municpios podem no estar informando adequada e uniformemente seus dados ANTP. Em todo caso importante verificar se por ausncia de informaes no estejam adotando para micronibus ndices iguais aos adotados para veculos do tipo convencional. 5.5. Anlise de variveis independentes Na tentativa de melhor entender as variaes do consumo de combustvel de nibus urbano, foram selecionadas algumas variveis antecipadamente consideradas relevantes e, atravs da pesquisa de campo, buscou-se medir a influencia e a importncia destas variveis no sistema analisado. Das variveis escolhidas para estudo, tecnologia, rampa, congestionamento e velocidade mdia tiveram destaque e apresentaram alguma influncia sobre a variao no consumo. 5.5.1. Tecnologia Dada a diviso inicial entre veculos Micro, Leves e Padron, verificou-se que o sistema de Petrpolis apresenta uma grande uniformidade tecnolgica, ao menos para os Leves, que representaram 95% e 92% do universo de veculos aferidos respectivamente nas duas coletas realizadas. No tratamento destes dados buscou-se examinar a possvel existncia de variao no coeficiente mdio de consumo de combustvel internamente dentre os veculos do tipo Leve (ou convencional).

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    Os dados foram segregados e reclassificados em categorias, e os veculos, diferenciados pela potncia do motor e pelo peso bruto, em dois grupos, a saber: um representado pelos modelos OF-1620 e OF-1721, com potncia aproximada de 200hp e outro representado pelos demais tipos de veculos leves pesquisados, com potncia aproximada de 180hp.

    Tabela 4: Distribuio dos Coeficientes Mdios de Consumo para Veculos Convencionais

    Tecnologia Amostra Distribuio

    % Coef. Mdio (litros / km)

    OF 1620 e OF 1721 187 70% 0,36 Demais veculos Leves 80 30% 0,32

    Os resultados mostraram, de acordo com os dados coletados, que existe uma pequena diferenciao de consumo entre uma e outra categoria, em face desta classificao tecnolgica, j que os modelos OF 1620 e OF 1721, reconhecidamente mais potentes, apresentaram coeficiente mdio de consumo superior ao que fora registrado para os menos potentes (OF 1318, OF 1417 e os outros), confirmando desse modo uma das expectativas iniciais do estudo. 5.5.2. Rampa Com a expectativa de identificar a influncia exercida pela varivel rampa sobre o consumo de combustvel de nibus urbano, os dados foram segregados em duas categorias: veculos que operaram em linhas com rampa e em linhas sem a presena de rampa. A mdia dos ndices de consumo dos veculos submetidos a rampas (fator 1), foi maior que a dos veculos que operaram em linhas sem rampa (fator 0), conforme mostra a tabela abaixo.

    Tabela 5: Distribuio do Coeficiente Mdio de Consumo por Presena de Rampa COLETA 1 COLETA 2

    Referncia Amostra Coef. Mdio (litros / km) Amostra Coef. Mdio (litros / km)

    Rampa 0 142 0,32 121 0,31 Rampa 1 125 0,35 125 0,35

    A cidade de Petrpolis, assim como Salvador, Ouro Preto e Olinda, reconhecida como uma cidade de topografia ngreme, com ruas estreitas e de difcil circulao. Ainda assim, tomando-se em separado os veculos que trafegam em itinerrios com rampa (excluindo-se os que trafegam em trechos sem rampa), a mdia de consumo registrou 0,35 litros por km, valor que significativamente mais baixo que a mdia dos valores recomendados pela Planilha GEIPOT (0,37 litro por km) e tambm mais baixo que a mdia dos valores informados pelas cidades brasileiras constantes dos anurios da ANTP (0,39 litro por km). 5.5.3. Congestionamento Para facilitar essa anlise, foram criadas trs faixas de congestionamento, a saber: 0% a 10%, 10% a 30% e mais de 30%, como forma de analisar grupos de veculos submetidos a esta condio de trfego. Esta classificao considera a proporo dos itinerrios submetidos a congestionamento e que foram percorridos pelos veculos no dia da coleta. Essa distribuio em trs faixas foi feita com o propsito de incorporar uma amostra significativa de veculos em cada faixa.

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    A tabela 6 apresenta o resultado desta anlise e v-se que so coerentes com a expectativa: o aumento do congestionamento resulta na variao do coeficiente de consumo de combustvel, que passa de 0,32 litro por km, nvel de congestionamento mais leve, para 0,35 litro por km, nvel mais intenso.

    Tabela 6: Distribuio do Coeficiente Mdio de Consumo por Faixa de Congestionamento COLETA 1 COLETA 2

    Faixa de Congestionamento Amostra

    Coef. mdio (litros / km) Amostra

    Coef. mdio (litros / km)

    0% - 10% 110 0,32 86 0,32 10% - 30% 84 0,33 88 0,33

    > 30% 73 0,34 72 0,35 5.5.4. Velocidade Mdia Face aos objetivos deste trabalho, a varivel velocidade adotada foi velocidade mdia, resultado da operao de cada veculo no dia da coleta de dados. A maioria dos estudos, como dito anteriormente, busca a relao de consumo com a variao pontual da velocidade. Os usos so, portanto, distintos. Foram definidas duas faixas, a saber: velocidades mdias de at 20 km/h e acima de 20 km/h, conforme demonstrado na tabela a seguir:

    Tabela 7: Distribuio do Coeficiente Consumo por Faixa de Velocidade Mdia COLETA 1 COLETA 2

    Faixa Amostra Coef. Mdio (litros / km) Amostra Coef. Mdio (litros / km)

    At 20 km/h 136 0,35 134 0,35 > 20km / h 131 0,32 112 0,32

    Novamente, conforme o esperado, nota-se que as linhas com velocidade mdia abaixo de 20 km/h apresentaram consumo 9% superior quelas com velocidades acima de 20 km/h. Como as linhas de nibus em Petrpolis circulam por vias que no permitem desenvolver altas velocidades, no foi possvel considerar a influncia das altas velocidades na variao do consumo. importante observar que foram encontrados os mesmos valores nas duas coletas, dando maior consistncia aos resultados: ou seja, 0,35 litro por km como coeficiente mdio de consumo para veculos que percorreram linhas com velocidade mdia de at 20 km/h e 0,32 litro por km para veculos que percorreram linhas com velocidade mdia acima de 20 km/h. 6. CONSIDERAES FINAIS Um dos primeiros resultados da pesquisa foi, infelizmente, a constatao de que os principais parmetros de coeficientes de consumo de combustvel pelos nibus urbanos no Brasil esto efetivamente desatualizados, muito embora o pas tenha registrado um formidvel avano em termos de desenvolvimento tecnolgico da indstria automobilstica, de qualidade do leo diesel e mesmo de atuao no sistema virio das cidades. A grande pesquisa de campo, que pautou os dados ainda em uso como referenciais, de 1986. Na documentao da Planilha de 1994 no h referncia explcita pesquisa de campo, mas a dados aportados pelos membros do Grupo de Trabalho. Ainda assim, seriam dados de 1993, ou seja, coletados h mais de dez anos.

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    O trabalho buscou tambm estabelecer, ao menos para a situao estudada, parmetros mais atuais sobre o consumo de combustvel de nibus urbano, nas trs categorias veiculares predominantes nos sistemas de transporte das cidades brasileiras, examinando as condies reais de operao. Os resultados so expressos em variveis facilmente mensurveis e utilizveis pelos organismos gestores de transporte pblico dessas cidades. Constatou-se tambm que em que pesem as condies adversas do sistema virio de Petrpolis os ndices encontrados na pesquisa de campo so significativamente mais baixos que os recomendados na Planilha GEIPOT/MT. Constatou-se tambm que grande parte das cidades brasileiras (cujos dados estavam disponveis nos Anurios da ANTP) utiliza em suas planilhas de clculo de tarifas, ndices que so superiores aos parmetros do GEIPOT e, evidentemente, muito acima dos valores encontrados no estudo de caso. A obteno de resultados diferenciados para os trs tipos de veculos pesquisados (Micronibus, Leve e Padron), e mesmo entre alguns modelos de veculos do tipo Leve, revela a importncia da diferenciao tecnolgica na determinao do consumo de combustvel nos transportes pblicos, fato que expressa a necessidade de investigar essa varivel com mais profundidade em outros estudos do gnero. H necessidade, portanto, de um srio trabalho de atualizao em nvel nacional que no prescindir de uma grande coleta na busca de ndices mais adequados s diferentes situaes encontrveis nas cidades brasileiras, seja de tecnologia, seja de condies operacionais e que resulte em instrumentos a serem utilizados pelos organismos gestores locais. Por fim, tendo em conta a importncia crescente do peso do leo diesel no valor das tarifas recomenda-se maior ateno tanto na mensurao do ndice de consumo, quanto, efetivamente na regulagem dos motores, como parte de um necessrio programa nacional de melhoria da produtividade e qualidade dos transportes. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ANTP (1998) Anurio de Transportes Urbanos 1998. So Paulo, SP, Brasil. ANTP (2003) Anurio de Transportes Urbanos 2001/2002. Disponvel na Internet pelo site:

    . Capturado em 22 de novembro de 2003. ANTT (2003) Estudo para a Reviso da Planilha Tarifria das Linhas Semi-urbanas do entorno de Braslia.

    Relatrio Final. Braslia, DF, Brasil. BALASIANO, Ronaldo (1980) Uma Funo de Consumo de Combustvel para nibus em Trfego Urbano. Tese

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    Micronibus . Tese de Mestrado COPPE/UFRJ Rio de Janeiro, RJ, Brasil. FERRAZ, Antonio Clvis Pinto (1976) Predeterminao do Consumo de Combustvel de Veculos Equipados

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    COPPE/UFRJ - Rio de Janeiro, RJ, Brasil. NASSI et al.,(2003) Anlise da Variao de Consumo de Combustveis Lquidos e das Emisses Atmosfricas

    para Rotas de Trfego na Cidade do Rio de Janeiro. Relatrio Final. PET-COPPE-UFRJ, Rio de janeiro, RJ, Brasil.