análise de falhas_corrosao
TRANSCRIPT
Análise de Falhas
Corrosão
Introdução
A corrosão, definida como a deterioração de um metal devido a reações
eletroquímicas com o ambiente, possui um custo elevadíssimo para a sociedade.
Embora usualmente não seja catastrófica sob o ponto de vista de segurança, seus
resultados podem ser desastrosos quando resulta em fratura.
Pequenas alterações nos metais ou nas condições ambientais podem causar
mudanças significativas no seu comportamento em corrosão, o que dificulta a
realização de testes em laboratório representativos das condições de serviço. Algumas
vezes encontram-se graves problemas de corrosão nos quais as condições reais e
possíveis interações não são bem compreendidas, por conseguinte deve-se tentar
obter o maior número de informações possível no local da falha sobre o problema de
corrosão ou sobre o efeito da corrosão complicando um problema de fratura ou
desgaste, pois os vários modos de fratura freqüentemente estão combinados. O
analista de falhas deve ser extremamente cauteloso nas medidas corretivas
recomendadas, pois em alguns casos estas podem fazer mais bem do que mal. Um
dos fatores complicadores é que muitos tipos de corrosão podem estar em progresso
simultaneamente. Justamente por isso é fundamental tentar reconhecer cada um dos
diferentes tipos de corrosão e compreender como controlar cada um.
Deve-se sempre lembrar que a corrosão é a resposta da natureza às grandes
quantidades de energias gastas para transformar os óxidos e sulfetos estáveis
energeticamente em metais. Compreender esta realidade, torna mais fácil entender os
problemas para prevenir a corrosão e estar atento à natureza enganadora do
problema. A corrosão prevalecerá a menos que todas as medidas disponíveis sejam
tomadas para evitar este problema. Uma interessante analogia à tarefa de prevenir a
corrosão é compará-la com a tentativa de conter um vazamento com um dedo sobre o
vazamento – pode ser possível parar o vazamento, mas inevitavelmente outros
vazamentos surgirão.
1
Corrosão Galvânica
A corrosão galvânica, causada pela diferença de potencial eletroquímico de
metais em contato, é uma das mais sérias e desafiadoras formas de corrosão. Seus
princípios básicos correspondem àqueles de uma bateria. Três componentes são
necessários:
um metal funcionando como anodo;
um material funcionando como catodo;
um eletrólito, líquido ou pastoso, capaz de realizar o contato elétrico
entre catodo e anodo.
Se estas condições forem satisfeitas, um destes materiais (anodo) será corroído
e o outro (catodo) será protegido e liberará hidrogênio, ao mesmo tempo em que uma
corrente elétrica será gerada. É comum listar-se os materiais de acordo com o seu
potencial eletroquímico em água do mar (3-5% de NaCl). Quando dois materiais
presentes nestas tabela forem postos em contato, quanto maior a distância entre eles,
maior corrosão ocorrerá no material anódico. Contudo, deve-se tomar cuidado pois a
posição de um metal na série galvânica pode ser alterada em função da presença de
uma camada de filme protetor passivante. Além disso, a seqüência pode se invertida
sob efeito de diferenças de área exposta. Ou seja, as séries galvânicas devem ser
tomadas como um guia inicial de referência, mas não como uma referência acurada,
pois variações nos metais, diferenças de área e alterações no eletrólito podem implicar
em grandes diferenças de comportamento.
2
As seguintes medidas podem ser utilizadas para prevenir a corrosão galvânica:
Evitar corrente elétrica através da separação física ou isolamento de
metais dissimilares através do uso de materiais, tais como: plásticos,
graxas pesadas, pinturas e semelhantes.
Tentar eliminar o eletrólito. Este é o motivo para haver pouca corrosão
galvânica em atmosferas desérticas secas. Para atmosferas com
umidade relativa inferior a 30-35%, não haverá corrosão galvânica.
Se diferentes metais precisam ser utilizados conjuntamente, deve-se
tentar escolher metais com posicionamento próximo na série galvânica.
Deve-se utilizar uma grande área do material anódico e uma pequena
área do material catódico para tirar proveito do efeito de área.
Em sistemas fechados, pode-se tirar proveito de inibidores de corrosão no
eletrólito.
O princípio da corrosão galvânica pode ser utilizado para proteger
grandes estruturas com anodos de sacrifício.
3
4
Corrosão Uniforme
A corrosão uniforme é o mecanismo mais comum de corrosão, tal como
ferrugem em ferros e aços. Na verdade, a corrosão ocorre como resultado da formação
de pequenas células galvânicas na superfície do material, as quais são fruto da
existência de pequenas regiões anódicas e catódicas formadas devido a pequenas
diferenças de composição química e presença de impurezas. Assim, a corrosão é
uniforme apenas a nível macroscópico.
Sob o ponto de vista econômico, este é um dos tipos mais importantes de
corrosão, devido às grandes quantidades de material afetada. Entretanto, sob o ponto
de vista técnico, a corrosão uniforme é razoavelmente previsível e fácil de conviver,
contanto que outros tipos de corrosão não estejam presentes. Medidas relativamente
simples podem ser tomadas para controlar este tipo de corrosão:
Usar material mais nobre. Contudo, outros fatores tais como propriedades
físicas e mecânicas, disponibilidade e custo costumam ser os fatores
determinantes para a seleção de materiais.
Utilização de recobrimentos sobre os metais como forma de proteção.
o Pintura para evitar o contato do ambiente com a superfície
metálica. Este tipo de proteção é efetivo contanto que o filme de
pintura esteja intacto.
o Revestimento com camada de óxido. Entretanto, este tipo de
proteção é ineficaz se o filme for danificado, além de estar sujeito à
formação de “pits” em certos ambientes, particularmente em
presença de cloretos e haletos.
o Recobrimento com um material mais anódico costuma ser efetivo
por longos tempos. Recobrimento com um material mais catódico
pode ser eficiente se o metal de base for uniformemente recoberto
sem trincas, furos, riscos ou abrasão. Neste último caso, a
eventual exposição de uma pequena região do metal de base
levará a sérios problemas, não só pela diferença de potencial de
corrosão, mas principalmente pela pequena área anódica exposta.
o O cladeamento de duas ligas com diferentes potenciais de
corrosão é uma outra forma efetiva de proteção.
5
Outra forma de lidar com a corrosão uniforme é simplesmente
deixar o material corroer, pois esta pode ser a forma mais econômica de
lidar com o problema.
Corrosão por Aeração Diferencial (“crevice corrosion”)
Este é um tipo de corrosão difícil de combater sem controle cuidadoso do
projeto, dos materiais selecionados e do processamento. Como a maior parte da
corrosão é causada pela oxidação de metais reativos, seria de se esperar que áreas
com alta concentração de oxigênio corroessem mais rápido, não obstante, pode
acontecer justamente o contrário. Uma trinca próxima a um depósito de sujeira tem
mais propensão à corrosão do que a superfície exposta ao redor. A região de contato,
onde existe pouco oxigênio, é anódica e irá corroer, enquanto que a região exposta à
alta concentração de oxigênio é catódica e está protegida. O metal constrito na ponta
da junta ou sob o depósito tende a formar “pits” que se propagam pela espessura do
material. Este tipo de corrosão também pode ocorrer sob estruturas de fixação, tais
como parafusos e rebites, desde que a umidade possa penetrar e ali permanecer. Isto
pode acontecer até se os dois materiais forem semelhantes, mas poderá ser agravado
se os materiais forem diferentes.
Os problemas práticos deste tipo de corrosão são enormes. Em geral, quando
uma mancha de ferrugem aparece na superfície já é muito tarde, pois no local da junta
ou sobre os depósitos de sujeira o “pit” já atravessou toda a espessura do material.
Quando este tipo de corrosão atinge a superfície exterior, a pintura é estufada e em
geral perfura o material. Pintar o lado externo não para a corrosão existente embaixo.
Pode acontecer também dos “pits” formados servirem como sítio de nucleação de uma
trinca de fadiga.
Uma vez que os mecanismos de aeração diferencial foram compreendidos,
pode-se considerar as principais formas de prevenção, embora não haja uma forma
única de evitar este tipo de corrosão. A solução dependerá de cada caso, o qual
deverá ser analisado cuidadosamente.
Evitar juntas aparafusadas ou rebitadas, a menos que os metais
sejam recobertos, de preferência antes e depois da união ter sido
realizada. Caso se opte pela soldagem, é bom lembrar que o calor
gerado pode destruir as superfícies recobertas. Em ambos os
6
casos, é recomendado cobrir toda a estrutura com graxa, cera ou
tinta resistente à corrosão capaz de fluir sobre a superfície e cobrir
toda a superfície exposta. Pode-se também optar por um anodo de
sacrifício.
Fechar e selar os “pits” e aberturas, pois se a umidade ou eletrólito
não puderem alcançar a abertura, não poderá haver corrosão. Em
alguns casos, quando isto não for possível, é necessário introduzir
buracos e continuamente drenar a água.
Inspecionar e remover depósitos freqüentemente. Se não houver
partículas estranhas depositadas, não poderá haver aeração
diferencial. O uso de filtros também ajuda a evitar a formação de
depósitos. Deve-se lembrar que estas medidas requerem
manutenção constante para garantir a sanidade das estruturas.
Utilizar juntas e arruelas sólidas de material não absorvente, tal
como borracha ou plástico. Isto tende a sela a junta, mantendo o
eletrólito afastado. Evidentemente que as superfícies devem ser
pouco rugosas para promover a selagem.
Corrosão sob Tensão
O fenômeno de corrosão sob tensão é um grande problema em muitos setores
industriais, pois pode resultar em fraturar em fratura frágil de materiais normalmente
dúcteis. Define-se este tipo de fenômeno pelo trincamento por efeito combinado de
corrosão e tensões trativas. A tensão pode ser aplicada pelas condições de serviço
(externa) ou residual (interna). Em geral, as tensões residuais são mais
freqüentemente a causa da corrosão sob tensão do que as tensões aplicadas pelas
condições de serviço. A tensões residuais freqüentemente resultam do processo de
soldagem, mas pode também estar presentes como fruto de ajuste por interferência,
contração e tensões geradas durante a montagem. O único requisito absoluto é
existam tensões trativas na superfície do material exposto a um determinado ambiente,
não sendo necessário que o nível de tensionamento supere o limite de escoamento.
As trincas podem ser transgranulares ou intergranulares dependendo do metal e do
7
agente corrosivo. Como em toda fratura frágil, a trinca é perpendicular à direção de
tensão trativa, não havendo evidências visuais claras de corrosão.
Este é um tipo de fratura gradual, como a fadiga. As trincas crescem
gradualmente por período de tempo até que o tamanho crítico é atingido, a
concentração de tensão pode causar a fratura súbita do metal remanescente. Em
alguns casos, a trinca crescerá para além dos domínios sob tensão trativa e
estacionará.
Quase todos os metais são suscetíveis à corrosão sob tensão em ambientes
específicos. Não há teorias gerais amplamente aceitas, mas este tipo de corrosão
possui algumas características particulares:
Para um dado metal ou liga, apenas certos ambientes específicos
contribuem para este tipo de falha, não havendo um padrão geral de
comportamento.
Metais puros são muito menos suscetíveis à corrosão sob tensão do que
metais impuros.
A proteção catódica tem tido sucesso na proteção a iniciação das trincas
por corrosão sob tensão. Quando as trincas já surgiram, o efeito será
apenas de diminuição da velocidade de propagação.
A adição de certos sais solúveis pode inibir a produção de trincas em
determinadas combinações de ambiente e liga afetada.
Certos aspectos da microestrutura da liga, tais como tamanho de grão,
estrutura cristalina, misorientação e número de fases, podem influenciar a
suscetibilidade à corrosão sob tensão.
A prevenção deste tipo de corrosão deveria ser simples: retirar a tensão trativa
ou o ambiente corrosivo, mas isto nem sempre é muito simples no mundo real. Uma
forma muito efetiva de combater este tipo de corrosão é criar tensões compressivas na
superfície do material por métodos mecânicos, tais como martelamento ou laminação.
Isto reduzirá a incidência de trincas e a ruptura final. Se o nível de tensionamento
trativo resitual for elevado, pode ser possível aliviar as tensões através de tratamento
térmico. De fato o aquecimento até temperaturas subcríticas costuma ser suficiente.
8
A identificação deste tipo de fratura nem sempre é fácil, pois pode-se confundi-lo
com outros tipos de falha. Muitas vezes a sua semelhança com a fratura por fadiga
torna o trabalho do analista extremamente difícil, sendo definitiva a constatação da
ausência de tensões cíclicas. A superfície de fratura pode até apresentar marcas de
praia devido a diferenças na taxa de penetração durante o progresso da trinca. A
rugosidade da fratura pode ajudar nesta distinção de mecanismos, pois a fratura por
9
fadiga costuma ser muito menos rugosa na origem da fratura, tornando-se mais rugosa
próximo do final da superfície. Esta mudança não costuma ser observada em corrosão
sob tensão. A fratura por corrosão sob tensão também é freqüentemente confundida
com a fragilização por hidrogênio, para evitar esta confusão é fundamental avaliar o
histórico do componente, a origem da trinca, o aspecto da trinca, as evidências de
corrosão na superfície de fratura e o aspecto microestrutural.
Fadiga-Corrosao
Enquanto a corrosão sob tensão é o resultado de um carregamento estático, a
fadiga-corrosão é essencialmente uma fratura por fadiga agravada pelos efeitos do
ambiente. Assim, a combinação de fadiga e corrosão leva a falha do prematura do
componente antes de alcançados o seu limite de vida em fadiga ou naquele
determinado ambiente corrosivo.
O tipo de carregamento cíclico em tração influencia fortemente a vida sob
condições agressivas de corrosão. Quanto mais longo e mais freqüentemente a trinca
de fadiga é aberta ao ambiente corrosivo, mais severo será o efeito do ambiente na
redução da vida em fadiga. Em alguns casos, a fadiga é iniciada em todos os “pits”
presentes na superfície corroída, agindo como concentradores de tensão. Em outros
casos, parece que a trinca de fadiga começou primeiro e que cresceu mais
rapidamente sob efeito dos agentes corrosivos que penetraram na trinca por
capilaridade. Na maior parte das vezes observa-se uma combinação destes
mecanismos.
A identificação da falha por fadiga-corrosão segue a mesma linha de raciocínio
da fratura por fadiga. Entretanto, o efeito complicador do ambiente afeta a fratura e
torna a análise mais difícil. A parte inicial da trinca de fadiga comumente é mais
severamente corroída devido à exposição mais prolongada ao ambiente. Assim, a
descoloração devido à severa corrosão pode tanto tornar mais fácil identificar a origem
da trinca como obscurecê-la. Além disso, pode haver mais de uma origem. Um fator
complicador é que a fratura ocorrerá sobre toda a superfície se o componente fraturado
não for removido do ambiente agressivo, imediatamente limpo e protegido de danos
mecânicos e de corrosão.
A prevenção da fadiga-corrosão é simples a partir da teoria, mas de difícil
aplicação.Costuma ser impraticável utilizar material de maior resistência mecânica sem
10
fazer referência à resistência à corrosão. Provavelmente a corrosão acontecerá tão
rápido quanto antes e a fratura poderá acontecer até mais rapidamente devido à maior
sensibilidade a concentradores de tensão em materiais de alta resistência. Medidas
mais efetivas incluem o seguinte:
Redução ou eliminação da corrosão por qualquer dos meios tradicionais
trais como pintura ou recobrimento. Pode-se também diminuir a
agressividade do ambiente através da adição de inibidores de corrosão
ou alteração da concentração das soluções em sistemas fechados.
Mudança do material de modo a aumentar a resistência à corrosão,
empregando materiais como aço austenítico ou uma liga não ferrosa.
Contudo, esta deve ser a última alternativa, pois muito outros problemas
adicionais podem surgir, tais como: disponibilidade, custo, adequação
geral ao projeto e viabilidade da fabricação.
Redução da tensão trativa resultante causadora da fadiga através da
redução da carga aplicada ou aumento da seção resistente.
Redução da tensão trativa resultante através da introdução de tensões
residuais compressivas nas superfícies críticas por martelamento ou
laminação. Deve-se ter cuidado, pois a espessura afetada pelo
martelamento é pequena e pode ser superada pela penetração dos “pits”.
11