anÁlise de experiÊncias internacionais com a logÍstica reversa de eletroeletrÔnicos -...
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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO
GESTÃO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE
HENRIQUE MANOEL RIANI MENDES
ANÁLISE DE EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS COM A LOGÍSTICA REVERSA
DE ELETROELETRÔNICOS: COMPARAÇÃO COM A REALIDADE BRASILEIRA
E RECOMENDAÇÕES
São Paulo
2017
Henrique Manoel Riani Mendes
ANÁLISE DE EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS COM A LOGÍSTICA REVERSA
DE ELETROELETRÔNICOS: COMPARAÇÃO COM A REALIDADE BRASILEIRA
E RECOMENDAÇÕES
EVALUATION OF INTERNATIONAL EXPERIENCES ON ELECTRONIC TAKE
BACK: A COMPARISON WITH THE BRAZILIAN SCENARIO AND FURTHER
RECOMMENDATIONS
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Administração da Universidade
Nove de Julho – UNINOVE, como requisito parcial
para obtenção do grau de Mestre em Gestão
Ambiental e Sustentabilidade.
Orientador: Prof. Dr. Mauro Silva Ruiz
São Paulo
2017
FICHA CATALOGRÁFICA
Deve ser impressa no verso da folha de rosto.
O aluno deverá entrar em contato com a biblioteca para solicitar a confecção da
ficha antes de fazer a encadernação em capa dura.
ANÁLISE DE EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS COM A LOGÍSTICA REVERSA
DE ELETROELETRÔNICOS: COMPARAÇÃO COM A REALIDADE BRASILEIRA
E RECOMENDAÇÕES
Por
Henrique Manoel Riani Mendes
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Administração da Universidade
Nove de Julho – UNINOVE, como requisito parcial
para obtenção do grau de Mestre em Gestão
Ambiental e Sustentabilidade, apresentada à Banca
Examinadora formada por:
___________________________________________________________
Presidente: Prof. Dr. Mauro Silva Ruiz – Universidade Nove de Julho – UNINOVE
___________________________________________________________
Membro: Prof. Dr. Aldo Roberto Ometto – Universidade de São Paulo - USP
___________________________________________________________
Membro: Prof. Dra. Claudia Terezinha Kniess – Universidade Nove de Julho – UNINOVE
São Paulo, 18 de fevereiro de 2017.
AGRADECIMENTO
Agradeço à minha esposa, Lívia, que me acompanhou durante toda esta etapa garantindo
tranquilidade e ambiente para que eu pudesse desenvolver minha pesquisa ao longo destes anos.
Agradeço também ao meu orientador, Mauro, que me instruiu neste processo, auxiliando-me a
manter o foco e ao amigo Ademir, que me incentivou a encarar este desafio. Agradeço também
aos meus pais, Zelia e Daniel, que apesar da distância, sempre se demonstraram interessados
em ouvir e incentivar este meu trabalho.
RESUMO
O presente trabalho tratou de analisar os principais conceitos e práticas relacionados à Logística
Reversa de Eletroeletrônicos, tendo em vista a urgência de se estruturar sistemas no Brasil, que
atendam às metas impostas pela legislação. Apesar de algumas empresas já apresentarem
soluções para atender os consumidores que desejam descartar seus produtos, as metas impostas
pela legislação brasileira representam um grande desafio a ser encarado pelas empresas
individualmente, além de trazer um cenário de incertezas e elevado custo para a gestão. Para
conduzir este trabalho, foi realizada uma pesquisa qualitativa exploratória e descritiva, através
de uma análise documental, pesquisa bibliográfica e entrevistas. De início foram avaliados
como estão estruturados os sistemas de Logística Reversa de Eletroeletrônicos de diversos
países para se identificar um caso referência, o qual foi objeto de um estudo de caso
aprofundado. O caso em questão foi o sistema suíço, reconhecido como o primeiro a ser
implementado no mundo, além de ser estruturado de forma diferenciada dos demais e apresentar
um dos maiores índices de coleta de Eletroeletrônicos por habitante no mundo. Em seguida, é
apresentado o cenário brasileiro e como as empresas, fabricantes de Eletroeletrônicos, estão se
organizando para estruturar seus sistemas de Logística Reversa no país. Na execução deste
trabalho foram aplicados questionários semiestruturados aos representantes das gestoras suíças,
além da análise de documentos e relatórios publicados por estas instituições. Foram também
consultados diversos artigos da literatura, que foram o subsídio para confrontar os dados obtidos
das fontes primárias. De modo geral, pode-se concluir que a estruturação de sistemas coletivos
para operacionalizar a logística reversa traz benefícios tanto para a empresa, quanto para a
eficiência do sistema. Recomenda-se inclusive, a criação de mais de uma Entidade Gestora para
cuidar de grupos específicos de produtos, os quais demandam operações logísticas distintas.
Desta forma, estas Gestoras tornam-se especializadas em determinada operação logística,
otimizando o processo e reduzindo custos para suas associadas. Por fim, é sugerido que exista
uma interação entre estas Gestoras, visando a troca de experiências e a construção conjunta de
requisitos e padrões de qualidade para todo o sistema.
Palavras-chave: Logística Reversa, REEE, Gestoras, Acordo Setorial
ABSTRACT
The present work sought to analyze the main concepts and practices related to the Reverse
Logistic of Electrical and Electronic Equipment (EEE), considering the urgency of structuring
systems in Brazil that meets the goals imposed by the legislation. Although some companies
already present solutions to serve consumers who wish to discard their products, the goals
imposed by Brazilian legislation represent a great challenge to be faced by individual
companies, in addition it brings a scenario of uncertainties and high costs for management. To
conduct this work, a qualitative exploratory and descriptive research was carried out, through a
documentary analysis, bibliographic research and interviews. At first, the WEEE Take Back
system of different countries were analysed, in order to identify a reference case which was the
object of an in-depth case study. The case in question was the Swiss system, recognized as the
first to be implemented in the world, in addition to being structured differently from the others
and presenting one of the highest collection rates of WEEE per inhabitant in the world. Next,
the brazilian scenario is presented indicating how companies, manufacturers of Electrical and
Electronics Equipments, are organizing themselves to structure their systems of Reverse
Logistics in the country. In the conduction of this work, semi-structured questionnaires were
applied to the representatives of the Swiss Management Entities (PROs), in addition to the
analysis of documents and reports published by these institutions. We also consulted several
articles in the literature, which were the subsidy to compare data obtained from primary sources.
In general, it can be concluded that the structuring of collective systems to operationalize
reverse logistics brings benefits both to the company and to the efficiency of the system. It is
also recommended to create more than one PRO to take care of specific groups of products,
which require different logistics operations. In this way, these PROs can become specialized in
a certain logistics operation, optimizing the process and reducing costs for their associates.
Finally, it is suggested that a cooperation must exist between these Management Entities,
aiming at the exchange of experiences and the joint construction of requirements and quality
standards for the whole system.
Keywords: Reverse Logistics, REEE, Producer Responsibility Organization, Sectorial
Agreement
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 10
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E JUSTIFICATIVA ........................................................ 12
1.1.1 O Setor de Equipamentos Eletroeletrônicos (EEE) e sua Relevância ................ 12
1.1.2 Os equipamentos eletroeletrônicos e a questão ambiental ................................. 15
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ................................................................................... 17
1.2.1 Questão de Pesquisa ........................................................................................... 18
1.3 OBJETIVOS .............................................................................................................. 18
1.3.1 Geral ................................................................................................................... 18
1.3.2 Específicos .......................................................................................................... 18
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO .............................................................................. 19
2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 20
2.1 RESPONSABILIDADE ESTENDIDA AO PRODUTOR (REP) ............................ 20
2.1.1 Origem do Termo e Definições .......................................................................... 20
2.1.2 Implementação de políticas de REP ................................................................... 22
2.1.3 Benefícios de REP .............................................................................................. 23
2.1.4 Desafios gerais nos sistemas de REP ................................................................. 25
2.2 LOGÍSTICA REVERSA ........................................................................................... 26
2.2.1 Conceito .............................................................................................................. 27
2.2.2 Fatores motivadores para implementação da LR ............................................... 29
2.2.3 Etapas da LR ....................................................................................................... 31
2.2.4 Particularidades da LR em relação à Logística Direta ....................................... 33
2.2.5 Desafios e oportunidades na implementação da LR ........................................... 36
2.2.6 Implementação terceirizada da Logística Reversa ............................................. 38
2.2.7 Logística Reversa e a Economia Circular .......................................................... 40
2.3 RESÍDUOS DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS (REEE) ................ 41
2.3.1 Conceituação e Contextualização ....................................................................... 41
2.3.2 Externalização dos custos na gestão de REEE e oportunidades de mercado ..... 44
2.3.3 Convenção da Basiléia........................................................................................ 48
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...................................................................... 51
3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA ......................................................................... 51
3.2 PROCEDIMENTOS DE COLETA DOS DADOS ................................................... 52
3.3 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS .................................................... 56
3.4 LIMITAÇÕES DA PESQUISA ................................................................................ 57
4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS ................................................ 58
4.1 PRÁTICAS DE GESTÃO DOS REEE NO MUNDO .............................................. 58
4.1.1 Considerações sobre a Gestão dos REEE no Mundo ......................................... 62
5 O MODELO SUÍÇO DE GESTÃO DE REEE ........................................................ 64
5.1 A Confederação Suíça ............................................................................................ 65
5.2 A Regulamentação Suíça para Logística Reversa de EEE ..................................... 66
5.3 Os atores Participantes do Sistema......................................................................... 71
5.4 O Sistema de Logística Reversa na Suíça .............................................................. 75
6 A GESTÃO DE REEE NO BRASIL: CENÁRIO ATUAL ........................................... 101
6.1 Descrição do Cenário Regulatório Atual ................................................................. 101
6.2 Iniciativas de coleta e reciclagem de REEE ............................................................ 105
6.3 Iniciativas de coleta e reciclagem de pilhas, baterias e lâmpadas............................ 109
6.4 Estruturação do setor produtivo para operacionalizar a Logística Reversa ............. 112
7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ....................................................................... 119
7.1 Conclusões ............................................................................................................... 119
7.2 Contribuições para a Prática .................................................................................... 122
7.3 Contribuições para a Teoria ..................................................................................... 131
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 133
ANEXOS ................................................................................................................................ 144
APÊNDICES .......................................................................................................................... 147
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DE PESQUISA APLICADO ................................... 147
APÊNDICE B – RESPOSTAS DOS REPRESENTANTES DAS INSTITUIÇÕES
ENTREVISTADAS ............................................................................................................ 148
10
1 INTRODUÇÃO
A coleta de produtos e materiais com fins de reuso ou reciclagem não é uma novidade.
Vários exemplos existem no mercado, como o caso da reciclagem de papel, alumínio, sucatas
metálicas e garrafas de bebidas, sendo que na maioria destes casos há um interesse econômico
claro, o qual garante um retorno ao investimento feito na coleta destes materiais. No entanto,
com o crescimento das preocupações ambientais, a questão do reuso de materiais vem ganhando
mais atenção, com um foco mais voltado para a redução dos resíduos e a promoção do
reaproveitamento destes materiais dentro do conceito de uma economia circular ao invés do
modelo linear vigente (MacArthur, 2013).
Tanto consumidores quanto as autoridades, têm se tornado mais conscientes em relação
à preservação ambiental e a melhor eficiência na utilização de recursos (Pires, Vasconcelos, &
Gomes, 2014). Aliado a isto, observa-se um aumento dos custos para disposição dos resíduos e
a diminuição da capacidade dos aterros sanitários. Todos estes fatores têm atraído a atenção do
setor industrial, o qual passa a incorporar estas demandas e preocupações em suas estratégias
de negócio (Craco, Remussi, Biegelmeyer, & Mota, 2014; Tenório, Silva, & Dacorso, 2014).
Um dos setores que tem recebido grande cobrança neste sentido é o de Equipamentos
Elétricos e Eletrônicos (EEE). A vida útil cada vez mais curta destes equipamentos, resultado
de novas tecnologias que constantemente surgem no mercado, combinadas com um
crescimento do poder de consumo, torna cada vez mais importante a existência de canais
formais para a reutilização ou, ao menos, para descarte ambientalmente correto destes produtos
ao final de sua vida útil (Sabbaghi, Esmaeilian, Mashhadi, Behdad, & Cade, 2015).
Segundo o relatório publicado pela United Nations University, intitulado “The Global e-
waste Monitor”, estima-se que, no Brasil, foram gerados aproximadamente 7 kg de Resíduos
de Equipamentos Eletroeletrônicos (REEE) por habitante ao longo do ano de 2014. Grande
parte deste volume não foi reaproveitado de modo adequado e acabou sendo descartado de
modo irregular (Baldé, Wang, Kuehr, & Huisman, 2015).
Além disso, o não reaproveitamento dos materiais e recursos naturais que compõem os
EEE pode sobrecarregar o meio ambiente, uma vez que partes destes elementos são metais
raros, outros são recursos escassos ou de difícil acesso. Considerando o crescente consumo
deste tipo de equipamento, a extração de matéria-prima pode se tornar, além de um “gargalo”
produtivo, um potencial impacto ambiental negativo e relevante. (Sthiannopkao & Wong, 2013;
Gerbase & Oliveira, 2012)
11
Cada vez mais, as empresas estão sendo encorajadas a assumir mais responsabilidade
pelos produtos que colocam no mercado. No caso de fabricantes de equipamentos complexos,
como o caso dos EEE, a responsabilidade das empresas está sendo estendida até o fim da vida
útil destes produtos, o que em alguns casos pode ser um grande desafio para os fabricantes
(Spicer & Johnson, 2004).
Vários países têm criado legislações ambientais para regulamentar esta responsabilidade
pós-consumo, visando reduzir a geração de resíduos e os potenciais impactos ambientais.
Dentre as obrigações mais comuns previstas nestas leis estão: a criação de sistemas para coleta
dos produtos; o banimento da disposição dos produtos em aterro; e a criação de metas para
coleta e reciclagem (Fleischmann et al., 1997; Thierry, et al., 1995; Faria & Pereira, 2012)
Um exemplo de legislação nacional que trata da gestão de resíduos é a Lei no 12.305/2010,
que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), regulamentada pelo Decreto no
7.404/2010. A PNRS estabeleceu as diretrizes relativas ao gerenciamento de resíduos sólidos
no país e as responsabilidades das empresas geradoras. Dentre os objetivos da PNRS, figura-se
a gestão integrada de resíduos sólidos e o estímulo à adoção de padrões sustentáveis de
produção e consumo de bens e serviços (Brasil, 2010a).
A partir desta nova legislação instituiu-se também a criação de sistemas de Logística
Reversa (LR) para um grupo de setores produtivos, dentre eles os EEE. Com isto, passou a ser
de responsabilidade dos fabricantes e importadores de EEE (em conjunto com os comerciantes,
distribuidores e consumidores), instituir e operacionalizar um sistema de LR para receber,
transportar e dar uma destinação ambientalmente correta aos produtos que colocam no mercado
(Brasil, 2010a).
Como formas de demonstrar que estão atendendo a legislação, as empresas podem optar
por seguir diferentes estratégias, como a criação e coordenação (por parte de cada empresa) do
seu próprio sistema de LR; a contratação de uma empresa terceira para gerir o sistema; ou
criação de uma solução coletiva, por meio da adesão das empresas a uma Entidade Gestora, a
qual criaria um sistema de coleta e tratamento único para todas as empresas a ela associadas.
Independentemente do caminho escolhido, a empresa terá novas inter-relações com o
consumidor, com novos fornecedores, prestadores de serviço, com o comércio e também com
o governo, o que deverá demandar mudanças em seu sistema de gestão.
No Brasil existem algumas experiências de sucesso em setores que implementaram seus
sistemas de LR antes mesmo da publicação da PNRS, em função de outras regulamentações
específicas sobre o tema. Como exemplo podemos citar as resoluções do Conselho Nacional do
Meio Ambiente (CONAMA) que tratam do descarte correto de pneus, pilhas e baterias,
12
respectivamente resoluções CONAMA no 258/1999 (revogada pela 416/09) e no 257/1999
(revogada pela 401/08), além das leis, no 7.802/1989 e no 9.974/2000, e os decretos no
4.074/2002; no 3.550/2000 e no 3.694/2000, que abordam a questão das embalagens de
agrotóxico.
Nestes modelos citados, os fabricantes e importadores se uniram em sistemas coletivos
para estruturar um sistema de LR eficiente em termos de operação e custos. Mas, apesar de já
possuírem um marco regulatório específico, estes fabricantes deverão também assinar um
Acordo Setorial para regulamentar seus sistemas de LR de acordo com a nova legislação. Muito
provavelmente seus sistemas coletivos para coleta e tratamento dos resíduos serão mantidos,
apenas cabendo reavaliar suas metas e obrigações. Resta saber como os demais setores listados
na PNRS (embalagens em geral, óleo lubrificante, eletroeletrônicos, lâmpadas e agrotóxicos)
irão se estruturar.
O presente trabalho analisou como a LR de REEE é abordada em diferentes países, com
base em exemplos já publicados e em legislações correlatas. A partir daí, buscou-se identificar
um modelo já estruturado e com resultados positivos, para então fazer um breve paralelo com
a situação brasileira e propor, ao final, subsídios que auxiliem as empresas (fabricantes de
eletroeletrônicos) a melhor estruturar seus sistemas de logística reversa.
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E JUSTIFICATIVA
1.1.1 O Setor de Equipamentos Eletroeletrônicos (EEE) e sua Relevância
Os produtos criados pela indústria de EEE são um importante facilitador do avanço da
tecnologia, também em outros setores, e continuarão a ter este papel no mercado mundial,
permitindo que diversas outras indústrias atendam às demandas do mercado em diferentes
ramos como transporte, geração de energia, refrigeração e iluminação. Percebe-se assim a
variedade de equipamentos e componentes que são classificados como EEE, como motores,
aparelhos de ar condicionado, lâmpadas, câmeras, cabos, instrumentos de medição e controle,
baterias, eletrodomésticos, celulares, além de diversos outros equipamentos (Sustainability
Accounting Standards Board [SASB], 2015).
As empresas deste setor geraram, em 2015, um faturamento global da ordem de U$1,04
trilhão, no entanto, por ser um setor altamente cíclico, têm sofrido bastante desde a crise
mundial de 2009, com suas principais empresas buscando retomar os lucros auferidos antes
deste período (SASB, 2015). A crise econômica atual no Brasil, tem impactado diretamente o
13
setor eletroeletrônico, fazendo com que este apresente números desfavoráveis em comparação
com os últimos anos, tanto na produção quanto no faturamento. Este panorama foi melhor
descrito pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE) em sua
apresentação anual do desempenho setorial (ABINEE, 2016a).
Traduzindo em números, com base no ano de 2015, o setor da indústria elétrica e
eletrônica representa atualmente 2,4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, apresentando
um faturamento de R$ 142,5 bilhões e empregando 248,1 mil trabalhadores. Quando
comparado com o registro dos anos anteriores, vê-se uma queda tanto da produção quando no
faturamento, o qual já representou 4,0% do PIB do país. Deste faturamento total, os setores de
informática e de telecomunicações têm as maiores participações, sendo que, em 2015,
corresponderam a R$ 30,17 bilhões e R$ 28,31 bilhões, respectivamente (ABINEE, 2016b).
O crescimento acelerado do consumo destes aparelhos no mundo, pode ser melhor
simbolizado pela Figura 1, que demonstra o total de linhas de celulares ativadas ao longo dos
últimos 15 anos, atingindo seu ápice em 2015 com quase 1 linha ativa para cada habitante no
planeta (International Telecommunication Union [ITU], 2015).
Figura 1: Linhas de celular ativas no mundo, valor total e a cada 100 habitantes Fonte: International Telecommunication Union - ITU. (2015a). Global ICT Developments, 2001-2015.
Estes aparelhos, utilizados para áreas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC),
são hoje objeto de consumo de grande parcela da população mundial. A venda destes aparelhos
tem impulsionado a indústria eletroeletrônica, que se caracteriza por ser inovadora e lançar
produtos cada vez mais potentes, em prazos cada vez mais curtos. Segundo dados do instituto
de pesquisa International Data Corporation – Brasil (IDC), o mercado brasileiro anual, é de
aproximadamente cinco milhões de unidades de computadores, quatro milhões de tablets e 50
milhões de celulares, sendo um dos maiores mercados do mundo (IDC, 2016).
14
Os EEE não são apenas itens de conforto ou status, são também ferramentas para
aquisição de informação e afazeres domésticos, sendo computados como indicadores sociais da
população pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em sua Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (PNAD).
A Tabela 1 e a Figura 2 apresentam o percentual de alguns EEE presentes nos domicílios
brasileiros, assim como a evolução da presença destes aparelhos nos domicílios.
Tabela 1
Percentual de Equipamentos Eletroeletrônicos nos Domicílios Brasileiros
Equipamentos Elétricos e
Eletrônicos
Domicílios particulares permanentes que possuem EEE
2013 2014
Total Percentual (%) Total Percentual (%)
Telefone 60 267 92,5 62 652 93,5
__ Somente móvel celular 35 154 54,0 37 755 56,3
__ Somente fixo convencional 1 781 2,7 1 592 2,4
__ Celular e fixo convencional 23 332 35,8 23 305 34,8
Fogão 64 323 98,8 66 240 98,8
Geladeira 63 315 97,2 65 401 97,6
Freezer 11 103 17,0 11 047 16,5
Máquina de lavar roupa 37 421 57,5 39 339 58,7
Rádio 49 311 75,7 48 321 72,1
Televisão 63 281 97,2 65 122 97,1
DVD 46 935 72,1 45 570 68,0
Microcomputador 31 834 48,9 32 539 48,5
Fonte: Adaptado de Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. (2015). Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios: Síntese de Indicadores 2014. Rio de Janeiro, 2015. 102 p.
(1) A pesquisa não foi realizada
Figura 2: Percentual de domicílios com alguns bens duráveis, no total de domicílios particulares
permanentes – Brasil – 2001/2014 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. (2015). Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios: Síntese de Indicadores 2014. Rio de Janeiro, 2015. 102 p.
15
Nota-se a grande penetração de EEE nos lares brasileiros os quais, consequentemente,
tornar-se-ão um REEE ao final de sua vida útil. Desta forma, fica clara a necessidade de prover
caminhos para a correta destinação desses resíduos, evitando possíveis danos ao meio ambiente
e à saúde humana, além de permitir a recuperação dos materiais e componentes presentes nestes
aparelhos.
Considerando o grande volume (aproximadamente 41 milhões de toneladas) de REEE
que é gerado no mundo por ano, a expectativa é que este número cresça ainda mais, atingindo
cerca de 50 milhões já em 2017. Estes são números apresentados pelo recém-publicado relatório
da UNEP (Rucevska et al., 2015), o qual destacou também que cerca de 60 a 90% destes REEE
são comercializados e/ou descartados ilegalmente no mundo, podendo representar um mercado
de até US$19 bilhões por ano.
1.1.2 Os equipamentos eletroeletrônicos e a questão ambiental
Conforme alertado por Hawken et al. (2007), o processo produtivo contemporâneo tem
consumido de modo exagerado os recursos naturais, tornando-os cada vez mais escassos,
enquanto que a população continua a crescer de modo exponencial; o que tem tornado as
pessoas, o recurso abundante (explorado então de modo indiscriminado). Este novo padrão de
escassez demanda que, para haver prosperidade para as gerações futuras, será necessário tornar
os recursos muito mais produtivos, tirando máximo proveito de cada unidade de água, energia
ou qualquer outro material extraído do planeta.
No entanto, a sociedade atual vive um paradigma de que é necessário consumir para
existir. Os bens que são adquiridos passam a ter um significado a mais, além de um mero
utensílio, passando a representar a identidade e os sentimentos da pessoa. Com isso a sociedade
é orientada a buscar o consumismo, sustentando uma economia que depende visceralmente do
consumo para sobreviver (Jackson, 2013).
Nos últimos 20 anos o lançamento constante de equipamentos com novos designs,
funções “smart” e mais tecnologia, tem ocasionado uma diminuição na vida útil dos
equipamentos eletrônicos, seja pelo interesse despertado nos consumidores, ou pela
necessidade de adequar a compatibilidade do aparelho a novos programas cada vez mais
potentes (Kiddee, Naidu, & Wong, 2013; Vieira, Soares, & Soares, 2009).
A maioria dos produtos é projetada com o foco em minimizar os custos, seja dos
materiais, da produção e/ou da distribuição, enquanto que iniciativas voltadas para o reparo,
reuso ou aumento da reciclabilidade não são consideradas com o mesmo apreço. As empresas
16
não levam em conta os custos reais da produção, pois o valor dos recursos naturais não é
contabilizado. Muitas vezes, subsídios mantém o custo ambiental da produção artificialmente
baixo, favorecendo a externalização destes valores. Esta prática persiste, pois os fabricantes
acreditam que seus consumidores ainda não privilegiam produtos ambientalmente corretos.
Logo, os custos de incorporar estes requisitos sustentáveis na produção não seriam
contrabalanceados pelos benefícios esperados no mercado (Thierry et al., 1995; Hawken et al.,
2007).
A própria forma de avaliar o crescimento econômico dos países é calculada com base em
nossa ineficiência, pois, ao calcular o PIB, boa parte do desperdício industrial, ambiental e
social, são computadas sem levar em conta se a sociedade se beneficiou ou foi prejudicada
(Hawken et al., 2007). Porter e Linde (1995) classificaram a poluição como uma falha do
projeto ou um defeito do produto e os sinais claros desta ineficiência estão nos resíduos, sucatas,
resíduos perigosos ou mesmo energia que são despejadas no meio ambiente na forma de
poluição. Segundo os autores, os esforços para eliminar estas formas de desperdício deveriam
seguir os princípios básicos utilizados em programas de qualidade, eliminando substâncias
perigosas, otimizando o uso de matérias-primas e utilizando materiais e peças de fácil
manuseio.
As indústrias do setor de EEE enfrentam pressões crescentes em suas margens de lucro,
uma vez que competem em mercados cada vez mais globalizados, onde importadores operam
com baixos custos de produção. Além disso, a cadeia de suprimentos desta indústria é grande e
altamente complexa, pois muitas destas empresas obtêm seus recursos de diversas partes do
mundo. As empresas que pretendem se manter competitivas, deverão buscar oportunidades para
otimizar a eficiência de sua produção, agregar valor aos seus produtos e investir em inovação.
Algumas têm optado por mover suas plantas de fabricação para outros países, onde os custos
de operação são menores (Vestring, Rouse, Reinert, & Varma, 2005; SASB, 2015). Nestes
casos, Jackson (2013) atentou quanto à preocupação de se manter a qualidade no processo de
fabricação, de modo a não comprometer a durabilidade destes produtos.
As questões relacionadas à sustentabilidade e que irão ditar a competitividade na indústria
Elétrica e Eletrônica incluem (SASB, 2015):
Redução de custos;
Gerenciamento de resíduos perigosos na produção;
Garantia da segurança dos produtos;
Redução dos impactos em todo o ciclo de vida dos produtos;
Inovação para melhor eficiência na fase de uso e gestão de fim-de-vida do produto;
17
Recentemente, a recuperação de materiais e produtos tem se tornado um tema de grande
relevância no mundo, sendo que três dos principais motivadores desta iniciativa incluem
regulamentações governamentais, recuperação de valor econômico dos materiais e crescente
preocupação com questões ambientais (Suyabatmaz, Altekin & Sahin, 2014).
Considerando que a indústria de EEE representa um setor intensivo na utilização de
recursos naturais, as pressões ambientais (como a escassez de recursos) e regulatórias têm se
intensificado. Aliado à pressão dos consumidores e à disputa pelo mercado (que se torna cada
vez mais competitivo), os fabricantes de EEE têm sido pressionados a melhorar o seu
desempenho sustentável, de modo a corresponder às novas demandas que surgem a cada dia.
O grande marco regulatório na questão da coleta e tratamento de REEE foi a publicação
da Diretiva 2002/96/CE, da União Europeia, conhecida como Diretiva WEEE – Waste of Eletric
and Electronic Equipment, cuja finalidade foi prevenir a geração de REEE, estimulando a
reciclagem e valorização dos resíduos.
Embora apresentada na forma de uma imposição legal, a responsabilidade pelo produto
ao longo de toda sua vida útil pode ser encarada também como uma oportunidade para as
empresas tornarem seus processos mais eficientes e reduzir seus impactos ambientais. Ao ter
controle do fluxo reverso de seus produtos, as empresas podem se beneficiar de informações
para aperfeiçoar seus projetos, reduzindo assim, desperdícios na origem do processo e
garantindo que, no momento do descarte, menos resíduos serão gerados, o que também reduzirá
os custos da disposição final destes produtos (Stock & Lambert, 1992 apud Silva, Pimenta &
Campos, 2013; Porter & Linde, 1995).
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA
Levando em consideração a crescente regulamentação sobre a responsabilidade das
empresas em relação aos produtos que colocam no mercado, aliada ao fato dos EEE integrarem
uma gama de produtos que mais têm gerado resíduos no mundo, as empresas fabricantes destes
equipamentos devem estar atentas a esta questão e se prepararem para atender às legislações
deste tipo nos países em que atuam.
É sabido que na Europa (e em diversos outros países) este tipo de regulamentação já existe
há alguns anos, obrigando as empresas a receber de volta os produtos que colocam no mercado.
No caso do Brasil, a lei que versa sobre este tema foi publicada em 2010, mas ainda pende de
regulamentação em alguns casos. Como mencionado na introdução deste trabalho, será
18
necessário um Acordo Setorial, termo de compromisso ou decreto, para que tenhamos as regras
estabelecidas para implementação da LR dos setores produtivos no país.
Os setores citados na PNRS têm optado por negociar Acordos Setoriais com o governo
federal e para tal, foram publicados editais de chamamento específicos para cada sistema de LR
a ser implementado. Esses editais trazem as bases e diretrizes mínimas que devem constar no
texto dos Acordos Setoriais, assim como as metas a serem alcançadas. No caso do Edital para
LR do setor de EEE, está prevista a coleta de 17% (em peso) dos materiais que a empresa
colocou no mercado (no ano anterior à assinatura do Acordo), assim como a criação de pontos
de coleta a cada 25 mil habitantes, em cidades com mais de 80 mil habitantes (Brasil, 2013).
Os sistemas de LR das empresas fabricantes de EEE, da forma como estão implementados
hoje, são insuficientes e não garantem o atendimento pleno do Edital do governo para a
implementação da LR no Brasil. Além disso, caso decidam implementar individualmente seus
sistemas, o custo para operacionalizar e gerenciar toda esta cadeia reversa nacional pode ser
muito elevado.
Tendo isto em vista, definiu-se como problema de pesquisa a necessidade do setor
empresarial (de eletroeletrônicos) se estruturar para implementar e operacionalizar um
sistema de logística reversa nacional, que garanta o atingimento das metas previstas no
Edital de Chamamento do governo federal, de modo eficiente e economicamente viável.
1.2.1 Questão de Pesquisa
A questão de pesquisa delineada para orientar este trabalho foi a seguinte: Como a
Logística Reversa de REEE no Brasil pode ser aprimorada tendo como base um modelo
internacional consolidado?
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Geral
Apresentar recomendações para a melhoria da gestão e operação da Logística Reversa de
Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos no Brasil.
1.3.2 Específicos
Pesquisar sistemas de LR em diferentes países e identificar um caso para estudo
aprofundado;
19
Analisar como foi criado e implementado o sistema de LR de REEE no país identificado
como referência, enfatizando os desafios enfrentados;
Analisar o papel dos atores envolvidos no sistema de LR do estudo de caso;
Analisar a situação atual do Brasil em relação à LR de REEE;
Apresentar recomendações para a melhoria do sistema de LR de REEE no Brasil.
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO
Este trabalho foi estruturado em sete sessões descritas da seguinte forma: a primeira
sessão apresentou uma introdução e contextualização da situação problema, destacando a
importância e relevância do objeto a ser estudado. A segunda sessão apresenta uma revisão da
literatura, destacando os principais conceitos e fundamentos que foram abordados neste
trabalho, fornecendo assim, um embasamento teórico para tratar do tema da LR de REEE. A
sessão três descreve os procedimentos metodológicos adotados para condução da pesquisa,
levantamento de dados e estruturação deste estudo. A quarta sessão apresenta a análise de
diferentes sistemas de LR no mundo. Já a quinta e sexta parte do trabalho apresentam os
resultados, destacando principalmente o estudo de caso analisado e a situação da LR no Brasil.
Ao final, a sétima sessão apresenta as conclusões deste estudo e as recomendações para a
aplicação prática.
20
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 RESPONSABILIDADE ESTENDIDA AO PRODUTOR (REP)
2.1.1 Origem do Termo e Definições
A Responsabilidade Estendida do Produtor (REP) é uma abordagem de política ambiental
que atribui a responsabilidade, aos fabricantes, de receber os produtos pós-consumo que forem
descartados pelos consumidores, sendo este um conceito baseado no princípio do poluidor-
pagador (Kiddee, Naidu, & Wong, 2013). Este princípio significa que o poluidor deve arcar
com os custos das medidas necessárias para garantir que o meio ambiente seja preservado. Em
outras palavras, os custos destas medidas devem estar refletidos no preço dos produtos e
serviços que causam a poluição em sua produção e/ou consumo (Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Económico [OCDE], 1992; Lindhqvist, 2000).
O conceito de REP foi apresentado pela primeira vez, em um relatório proposto por
Lindhqvist em 1990, sendo que uma definição formal somente foi apresentada em uma
publicação dois anos depois:
Extended Producer Responsibility is an environmental protection strategy to reach an
environmental objective of a decreased total environmental impact from a product, by
making the manufacturer of the product responsible for the entire life-cycle of the
product and especially for the take-back, recycling and final disposal of the product. The
Extended Producer Responsibility is implemented through administrative, economic
and informative instruments. The composition of these instruments determines the
precise form of the Extended Producer Responsibility (Lindhqvist, 1992, p. 3).
Quase uma década após a primeira menção a este conceito, a OCDE apresentou um
relatório destacando os esforços que empresas, governos e outros setores da sociedade, haviam
investido no intuito da prevenção da poluição e redução da geração de resíduos. Apesar de
terem sido constatadas melhorias no controle da poluição dentro das fábricas, a geração de
resíduos continuava a crescer no mundo (OCDE, 2001).
Para ajudar os governos da OCDE a confrontar o aumento na geração de resíduos e a
poluição no mundo, novos conceitos e instrumentos políticos foram sugeridos, buscando
fornecer soluções de longo-prazo e aumentar a eficiência no uso dos recursos. A REP foi uma
nova abordagem política proposta no âmbito da OCDE, que visava auxiliar os governos a
21
reduzir as pressões ambientais impostas pelos padrões de produção e consumo vigentes (OCDE,
2001).
A OCDE é uma organização composta por 34 países, cuja missão é promover políticas
que irão melhorar o bem-estar econômico e social das pessoas ao redor do mundo. A instituição
funciona como um fórum onde governos trabalham juntos para buscar soluções para problemas
comuns, compartilhar experiências e identificar as melhores práticas para promover melhores
políticas que, uma vez implementadas, possam melhorar o bem-estar (social e econômico) da
população. Atualmente o Brasil não é um dos membros e participa apenas como um parceiro
desta Organização (OCDE, 2015).
A lista dos países membro da OCDE é apresentada a seguir na Figura 3.
Países pertencentes à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
Áustria Dinamarca Suíça Inglaterra R. Tcheca Israel Eslováquia
Bélgica Holanda Noruega Alemanha Finlândia Islândia Estônia
França Coréia (sul) Portugal Espanha Austrália Hungria Eslovênia
Grécia N. Zelândia Suécia Canadá Japão México Irlanda
Itália Luxemburgo Turquia EUA Chile Polônia
Figura 3: Países Membro da OCDE Fonte: OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. (2015). Secretary-General’s Report
to Ministers.
Conforme apontado por Spicer e Johnson (2004), os fatores que motivaram a adoção da
REP incluem problemas com a falta de espaço para aterros sanitários, contaminações, manejo
de resíduos perigosos e produtos que são abandonados no meio ambiente. Mas além destas
preocupações, a minimização do impacto ambiental dos produtos em seu fim-de-vida, foi o
principal objetivo desta política.
O conceito de REP, agora então sob a definição proposta pela OCDE (2001, p. 18), passou
a ser aceito como “uma abordagem de política ambiental na qual a responsabilidade do
produtor, física e/ou financeira, sob o produto é estendida até o estágio pós-consumo do ciclo
de vida do produto”. A REP é tida atualmente, como uma das formas mais eficientes de se tratar
a questão da LR de REEE, tendo como pioneiros desta abordagem a Suécia, a União Europeia,
o Japão e a Suíça, hoje seguidos por diversos outros países que adotaram ou pretendem adotar
a LR em seus territórios (Pariatamby & Victor, 2013; Kiddee, et al., 2013).
22
2.1.2 Implementação de políticas de REP
O conceito de REP se popularizou bastante no mundo e já é utilizado pelos principais
países desenvolvidos. Ao adotar a REP, as responsabilidades físicas e financeiras pelos
produtos em seu fim de vida, deixam de ser dos governos, passando a ser total (ou parcialmente
em alguns casos) dos fabricantes, os quais são estimulados a investir no design de seus produtos,
tornando-os mais recicláveis, reutilizáveis e reduzindo o uso de substâncias perigosas em sua
composição (Lau, Chung & Zhang, 2012; OCDE, 2006).
No entanto, Lindhqvist (1992) já havia ponderado sobre esta responsabilidade exclusiva
que seria imposta ao fabricante. O próprio autor do conceito deixou claro que os demais atores
da cadeia (distribuidor, consumidor e reciclador) também deveriam cooperar com os fabricantes
para que um sistema de distribuição reversa dos produtos fosse estabelecido de modo eficiente.
O foco da responsabilidade nos fabricantes foi sugerido de modo a estimular que estes invistam
no desenvolvimento de produtos mais ambientalmente conscientes.
No entanto, minimizar o impacto ambiental no fim-de-vida exige mais do que uma
política para gerenciar produtos quando são descartados pelo consumidor. Com o ponto de
incidência na fase de pós-consumo do ciclo de vida do produto, um sinal implícito é enviado
para o produtor para alterar o design dos seus produtos. Produtores aceitam esta
responsabilidade quando projetam seus produtos para minimizar os impactos ambientais ao
longo do ciclo de vida do produto e quando aceitam a responsabilidade física e/ou econômica,
para os impactos que não podem ser eliminados pelo design (OCDE, 2001; Spicer, & Johnson,
2004; Oliveira, 2012).
De acordo com Milanez & Bührs (2009, p. 263):
(,,,) políticas desenhadas seguindo este preceito devem obedecer a três pressupostos
principais: i) os fabricantes devem assumir responsabilidade pelo impacto ambiental de
seus produtos; ii) novas soluções devem utilizar tecnologias preventivas; e iii) as
empresas devem ser motivadas via instrumentos econômicos ou acordos voluntários,
discutidos em processos participativos.
O Raciocínio lógico do incentivo econômico é baseado na ideia de que os produtores,
através de ecodesign, possam projetar produtos que durem mais e são mais fáceis de reciclar,
reduzindo assim o custo de gestão de resíduos para o produtor, como dito por Oliveira (2012,
p. 121): “quanto maior a responsabilidade que os produtores tiverem para com seus produtos
em fim de vida, maior será o incentivo para melhorar a concepção de produtos e sistemas de
produção”.
23
A forma mais direta de criar incentivos para otimização de custos e melhorias no processo
de gestão dos produtos em fim de vida, é através da imputação de responsabilidades física e
econômica aos atores que têm a responsabilidade de implementar e operar o sistema. Ao
combinar estas responsabilidades as empresas podem incluir, de forma correta e segura, os
custos da gestão de seus produtos pós-consumo em seu planejamento financeiro (Lindhqvist,
2000).
Um estudo da OCDE apresentou alguns dos instrumentos para implementação da REP,
uma síntese desta proposta é apresentada na Figura 4.
Instrumento da Política Descrição
Obrigação de coleta e metas
de reciclagem
Com esta abordagem, os governos tornam obrigatório que os fabricantes e/ou
comerciantes, recebam de volta produtos descartados pelos consumidores,
além de se esforçarem para atingir metas mínimas de reciclagem do total
coletado.
Obrigação de coleta e metas
de reciclagem com mercado
de créditos de reciclagem
Nesta proposta, as obrigações impostas são as mesmas da descrita acima, no
entanto, ao invés de imputar metas individuais por empresa, cria-se uma meta
para o setor industrial e é permitido que as empresas comercializem créditos
de reciclagem entre si, em casos onde uma obtenha um desempenho superior
e outra não atinja o percentual proposto para reciclagem de seus produtos.
Coleta voluntária e metas de
reciclagem
Trata-se de um sistema puramente voluntário, onde as empresas de um setor
decidem se reunir para criar um sistema de coleta para seus produtos, podendo
inclusive definir metas para reciclagem (normalmente observado quando
existe valor comercial para o produto descartado em questão).
Taxa Antecipada para
Reciclagem (ARF sigla em
inglês)
Trata-se de um valor que é cobrado no ato da venda do produto e é utilizado
para subsidiar sua coleta e reciclagem no momento do descarte. Esta taxa pode
ser destacada na nota fiscal ou inserida no preço do produto.
Figura 4: Ferramentas para implementação da Política de EPR Fonte: Retirado de Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE. (2006). EPR Policies
and Product Design: Economic Theory and Selected Case Studies. Working Group on Waste Prevention and
Recycling. Paris, 2006.
2.1.3 Benefícios de REP
A gestão sobre todo o ciclo de vida do produto permite uma visão mais ampliada do
processo, estendendo a cadeia de valor além das fronteiras da empresa, sendo necessário avaliar
os custos e benefícios do produto, desde a extração das matérias primas necessárias à sua
composição, passando pelo processo produtivo, sua utilização e culminando com o descarte
pelo consumidor (Fiksel, 1996).
Como afirmado no relatório da OCDE, um dos principais obstáculos para alcançar o
desenvolvimento econômico sustentável surge a partir da presença de custos ambientais
externos. A importância da internalização dos custos é um aspecto fundamental da concepção
política ambiental. Dentro do contexto de REP, a extensão da responsabilidade ao produtor
24
poderia explicitamente levar a uma substancial internalização dos custos sociais de tratamento
e disposição dos resíduos. Também poderia implicitamente corrigir outros impactos ambientais
ao longo do ciclo de vida, que não se reflete atualmente no preço final do produto (OCDE,
2001).
Segundo Britto, Martins, Costa-Corrêa e Prado (2016):
O processo de produção e de troca, descentralizado e voluntário, necessariamente gera
custos externos, os quais resultam da diferença entre o custo social e o custo privado,
que não são suportados por quem os causa, mas por toda a sociedade. As externalidades
ocorrem quando a atividade de produção ou de consumo, de um dado sujeito, afeta
(influencia), positiva ou negativamente, a situação de outro agente – sendo que aquela
influência é exercida através do impacto que gera na utilidade ou no lucro da atividade
deste outro e não no preço em vigor no mercado. Assim, pode-se dizer que as
externalidades são falhas do mercado (Britto, Martins, Costa-Corrêa e Prado, 2016, pp.
79 - 80).
Lindhqvist (1992) defendeu que a REP apresenta melhores chances de funcionar em uma
economia de mercado, pois foca na responsabilidade das empresas, ao contrário das estratégias
de proteção ambiental baseadas no papel dos governos e autoridades regulatórias. De acordo
com o autor a REP, se implementada de forma correta e com uma estrutura econômica
adequada, pode se tornar uma oportunidade de negócio, ao invés de desvantagem competitiva.
O relatório apresentado pela OCDE (2001) corrobora a importância de se planejar bem
uma política de REP, pois quando implementada de modo adequado, pode ser uma força motriz
para evitar desperdícios e promover a redução da poluição associada à cadeia produtiva de
muitos setores da economia. Os benefícios esperados pela adoção de uma política de REP são
apresentados na Figura 5.
Benefícios esperados na implementação de políticas de REP
Redução do número de aterros sanitários e incineradores e seus consequentes impactos ambientais;
Redução dos encargos aos municípios com as exigências físicas e/ou financeiras da gestão de resíduos;
Promoção da reciclagem e reutilização de produtos ou suas partes;
Maior facilidade para desmontagem dos produtos para reciclagem ou reutilização;
Redução ou eliminação de substâncias químicas potencialmente perigosas em produtos;
Promoção do desenvolvimento de produtos mais limpos;
Estímulo à utilização mais eficiente dos recursos naturais;
Melhora das relações entre as comunidades e as empresas;
Incentivo à fabricação mais eficiente e competitiva;
Estímulo à gestão integrada do ambiente e produção, colocando uma ênfase sobre o ciclo de vida do
produto;
Melhoria da gestão de materiais.
Figura 5: Benefícios esperados na implementação de políticas de REP Fonte: Adaptado de Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE. (2001). Extended
Producer Responsibility: A Guidance Manual for Governments.
25
No entanto, a própria OCDE faz um contraponto a esta expectativa de obter diversos
resultados positivos com a simples implementação de uma política de REP. Segundo estudo
posterior da organização, a OCDE (2006) comenta que para obter diferentes resultados são
necessárias diferentes ferramentas na implementação de uma política. Logo, a REP sozinha não
seria suficiente para entregar todos os resultados desejados como, por exemplo, a eliminação
do uso de substâncias perigosas.
Exemplo disto foi a bem-sucedida Diretiva Europeia para Restrição do Uso de
Substâncias Perigosas (RoHS – sigla em inglês) a qual foi elaborada especificamente para
atingir o objetivo de reduzir o uso de chumbo, cádmio, mercúrio e outras substâncias perigosas
nos EEE. Conforme visto no trabalho de Brescansin (2014), esta regulamentação estimulou a
ação antecipada das empresas no atendimento às exigências impostas, sendo que muitas
empresas passaram inclusive, a adotar os requisitos da RoHS para todos os seus produtos,
minimizando possíveis impactos ambientais, ao mesmo tempo em que garantiram a
participação de seus produtos no mercado nacional e internacional.
2.1.4 Desafios gerais nos sistemas de REP
Como visto no trabalho de Spicer e Johnson (2004), antes da adoção do conceito da REP,
ou em países que ainda não adotam esta abordagem, a gestão dos produtos em fim de vida pode:
i) ser gerida para fins lucrativos: onde apenas produtos com valor comercial serão atrativos ao
mercado, justificando sua coleta e correta destinação (reciclagem, remanufatura, etc.); ii) ser
deixada à responsabilidade do consumidor: produtos são reciclados a depender da
conscientização do consumidor ou estímulo que receba das empresas ou governo; iii) ser
definida à cargo do governo: Produtos são coletados e reciclados/destinados caso exista
programas de apoio dos governos; iv) não existir: Os produtos são simplesmente aterrados,
incinerados ou abandonados no ambiente em seu final de vida útil.
Segundo Pariatamby e Victor (2013), a REP é vista como um dos meios mais eficientes
de se gerenciar os REEE no mundo. No entanto, ao contrário do que é observado em países
desenvolvidos, nos países ainda em desenvolvimento a implementação de políticas deste tipo
enfrentam grandes desafios sendo um destes, o envolvimento significativo do setor informal no
mercado.
Além deste fato, existem três questões principais que precisam ser abordadas por qualquer
programa de REP, são os casos dos "free-riders", produtos "órfãos" e os "passivos". “Free-
riders” são os “caronistas”, neste caso os atores em um sistema que não pagam pelos benefícios
26
que recebem. Produtos “órfãos” são aqueles que estão sujeitos a uma política de REP, mas cujo
produtor é inexistente, devido à falência ou outras razões. "Passivos" (pré-existentes) são os
produtos já existentes no mercado no momento anterior em que a política de REP foi
introduzida (OCDE, 2001).
"Free-riders" se beneficiam do sistema REP sem contribuir com uma parte adequada dos
custos. Em alguns casos, a escala de parasitismo não ameaça a viabilidade financeira de um
sistema REP, mas suscitam preocupações de equidade, pois os “Free-riders” obtêm uma
vantagem competitiva ao não ser cobrado financeira ou institucionalmente pelos produtos que
colocam no mercado. Casos onde “Free-riders” levam vantagens podem ser descritos como
quando declaram quantidades menores de produtos que colocam no mercado, ou nem mesmo
participam de esquema de coleta, tendo seus produtos descartados pelos consumidores em
pontos de coleta financiados pelos demais fabricantes que operam dentro da lei (OCDE, 2001).
Produtos órfãos e passivos apresentam desafios para a REP. Produtos órfãos são aqueles
cujo produtor tenha desaparecido devido à falência ou tenha inserido produtos no mercado por
meios ilegais. Os produtos passivos são aqueles projetados e/ou introduzidos no mercado antes
de serem estabelecidos os requisitos da REP. Os passivos, normalmente, não foram concebidos
com os objetivos da REP em mente e, portanto, eles podem ser mais caros para gerenciar o fim
de vida. Com produtos órfãos geralmente há conflito relacionado com quem deve suportar o
custo da gestão de fim de vida. Estes problemas, por sua vez, criam preocupações sobre a
equidade na repartição dos custos (Spicer & Johnson, 2004; OCDE, 2001).
Existem outros desafios que foram identificados por Pariatamby e Victor (2013) ao se
tratar de sistemas que se baseiam na REP. O financiamento da coleta dos produtos em fim de
vida pode ser uma preocupação, especialmente em casos onde o mercado apresente uma parcela
representativa de produtos que são importados, tanto legalmente quanto por contrabando. Outra
questão está relacionada a sistemas que criem incentivos ou metas, o que pode ocasionar fraude
no reporte do volume coletado e reciclado. Por fim, destacam também a competição entre o
setor formal e informal de reciclagem, ao tentar obter acesso ao REEE descartado pelos
consumidores finais, principalmente em casos onde exista valor comercial.
2.2 LOGÍSTICA REVERSA
Em nossa sociedade moderna, as empresas investem bastante na fabricação de novos
produtos, investimentos estes de ordem financeira, ambiental e/ou humana. Estes produtos são
destinados à comercialização, percorrendo toda a cadeia de suprimento até ganhar o mercado e
27
para isso, são demandados ainda mais investimentos. No entanto, todos estes produtos, em
algum momento, atingem o fim de sua vida útil e nesta mesma sociedade moderna em que
vivemos, o fim de vida dos produtos chega em prazos cada vez menores (Jayaraman, Patterson,
& Rolland, 2003).
Quando consumidores não desejam mais o bem que possuem, normalmente o descartam
ou repassam a alguém que ainda encontre utilidade naquele equipamento. Com a crescente
conscientização ambiental dos consumidores e também das empresas, aliado ao fato de novas
leis ambientais estarem surgindo no mundo, produtos que foram danificados ou atingiram o fim
de sua vida útil passaram a ser encaminhados de volta para os fabricantes, para que possam ser
reaproveitados ou recebam uma destinação ambientalmente adequada (Jayaraman et al., 2003).
2.2.1 Conceito
Tradicionalmente, um produto é desenvolvido para ser fabricado e percorrer toda a cadeia
de fornecedores até ser vendido ao consumidor final. No entanto, esta cadeia tem assumido
diversas outras atividades, que não apenas a de suprimento, como nos casos de serviços
prestados por empresas para a recuperação de produtos (Brito, Dekker, Flapper, 2002).
Apesar de existir o conceito de LR voltado para descrever o gerenciamento de produtos
pós-venda, com intuito de troca ou reparo, o termo LR neste trabalho se refere ao gerenciamento
de produtos pós-consumo, em seu final de vida-útil. Existem na literatura, diversas definições
para o conceito de LR. De certa forma, todos convergem para o mesmo entendimento,
apresentando o conceito de forma mais, ou menos elaborada. Algumas das definições
encontradas na literatura são apresentadas na Figura 6.
Definição Referência
Movimentação de bens do consumidor para o fabricante, em um canal de distribuição. (Murphy & Poist,
1989, p. 12)
A LR considera as atividades logísticas desde os produtos usados não mais de interesse
dos usuários, até produtos que sejam passíveis de reutilização no Mercado.
Primeiramente – e provavelmente a relação mais intuitiva com a noção de “reversa” –
isto envolve o transporte físico de produtos usados do consumidor final, de volta para
os fabricantes, logo considera aspectos de planejamento de distribuição.
(Fleischmann et al.
1997).
A LR é o processo de planejar, implementar e controlar o fluxo eficiente e custo
efetivo de matérias-primas, produto acabado e informações, do ponto de consumo ao
ponto de origem, com o propósito de recapturar valor ou providenciar uma destinação
apropriada.
(Rogers & Tibben-
Lembke, 1998, p.2)
A LR é um processo no qual um fabricante, sistematicamente, aceita produtos ou
partes enviadas do ponto de consumo para possível reciclagem, remanufatura ou
disposição final. Um Sistema de LR incorpora uma cadeia de suprimentos que foi
(Dowlatshahi, 2000)
28
redesenhada para gerenciar o fluxo de produtos ou partes destinadas à remanufatura,
reciclagem ou disposição de modo a promover o uso eficiente dos recursos.
É o processo de planejar, implementar e controlar de forma eficiente e eficaz, o fluxo,
inspeção e disposição final dos produtos retornados, assim como as informações
relacionadas ao processo, com o propósito de recuperar valor.
(Srivastava &
Srivastava, 2006)
Em termos de sustentabilidade a LR pode ser definida como uma estratégia de negócio
que age como o agente motivador da implementação de atividades para recuperação
de materiais, de modo a aumentar sua sustentabilidade.
(Ayvaz et al., 2015)
Figura 6: Definições do termo Logística Reversa Fonte: Elaborado pelo autor
Cada autor apresenta um elemento interessante a ser considerado no conceito de LR.
Murphy e Poist (1989) resumiram de forma objetiva a simplicidade expressa na própria
denominação do termo LR. Fleischmann et al. (1997), mencionaram que a LR contempla as
atividades que se iniciam com o descarte de produtos que não são mais de interesse do
consumidor (logo, não só resíduos inservíveis, mas também produtos descartados que perderam
sua utilidade para o consumidor que o descartou). Rogers e Tibben-Lembke (1998) inseriram
preocupações com a gestão do processo, destacando que a LR deve buscar a eficiência no
controle do fluxo de materiais e informações neste canal de distribuição. Dowlatshahi (2000)
destacou que o sistema de LR incorpora uma cadeia de fornecedores que deve ser reformulada
para se adaptar à nova demanda, enquanto Srivastava e Srivastava (2006) parecem ter absorvido
as demais preocupações e as apresentaram de forma simplificada. Em uma definição mais
recente, Ayvaz, Bolat e Aydin (2015) inseriram o termo sustentabilidade na definição de LR e
a classificaram como uma estratégia de negócio voltada para recuperação de materiais.
É importante apresentar também a definição de LR utilizada na PNRS, publicada no
Brasil por meio da lei 12.305/2010. Segundo esta lei, a LR se caracteriza como:
um instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto
de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos
resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros
ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada (Brasil, 2010a, p.
3).
Vê-se, portanto, que a definição proposta pela lei nacional traz um caráter muito mais de
inclusão social à definição da LR, destacando-a como um instrumento para promoção do
desenvolvimento social, ao contrário do viés técnico e pragmático dos autores citados na Figura
6.
Considerando as formas apresentadas para definir o tema, neste trabalho considerar-se-á
o conceito proposto por Dowlatshahi (2000) e desta forma, entende-se por LR o processo no
qual um fabricante/importador aceita de volta produtos enviados pelo consumidor, a partir do
29
ponto de consumo, para que sejam reciclados, remanufaturados ou sigam para a disposição
final. O sistema de LR incorpora a cadeia de fornecedores, a qual deverá ser reformulada de
modo a poder gerenciar o fluxo de produtos, partes e peças utilizando eficientemente os
recursos.
2.2.2 Fatores motivadores para implementação da LR
O gerenciamento do retorno dos produtos tem se mostrado um desafio para as empresas,
envolvendo planejamento, investimentos e readequação a novos modelos de negócio. A LR é
um assunto que vem sendo amplamente estudado, sendo possível encontrar uma grande
quantidade de trabalhos na literatura sobre o tema. Tratar a gestão deste fluxo reverso de
produtos de forma eficaz e eficiente apresenta-se como um grande desafio para as empresas e
um caminho sem volta, uma vez que, em todo o mundo, vários fatores têm motivado cada vez
mais esta prática gerencial.
Esta atividade de coleta e restituição dos produtos pode ser crucial para a sobrevivência
das empresas, tendo em vista que, seja por obrigações legais, valores da empresa ou luta por
competitividade, a exigência de se ter um sistema de LR eficiente tende a aumentar no futuro.
No mundo globalizado em que vivemos, os negócios mais bem-sucedidos devem se adaptar
para atingirem o sucesso, sendo capazes de responder de forma rápida às mudanças internas e
externas e se ajustar, de modo eficiente, para se manterem competitivos (Jayaraman et al., 2003;
Srivastava, 2007).
Vários são os autores que analisaram os principais fatores que tem motivado as empresas
a se adaptar a esta nova obrigação, dentre estes fatores destacam-se os econômicos, regulatórios,
a crescente pressão dos consumidores e os valores (sociais e ambientais) das empresas. A Figura
7 apresenta estes principais fatores motivadores da implementação de sistemas de LR pelas
empresas e traz os autores que mencionaram estes drivers em seus estudos.
Fator Motivação Referência
Econômico Aumentar a competividade da empresa
Aperfeiçoar o desempenho da cadeia de
suprimentos
Buscar novos modelos de negócios
Reduzir os desperdícios
Criar melhores produtos e processos (menos
resíduo gerado para destinação final)
Recuperar valor dos produtos e gerar lucros
(Srivastava & Srivastava, 2006;
Ayvaz, Bolat, & Aydın, 2015;
Jayaraman, et al., 2003;
Suyabatmaz, Altekin, & Şahin,
2014; Srivastava, 2008; Wilkerson
2005; Brito, Flapper, & Dekker,
2002; Ravi, Shankar, & Tiwari,
2005; Fleischmann, Krikke,
Dekker, & Flapper, 2000;
Dowlatshahi, 2000)
30
Atentar para impactos indiretos como o
esgotamento de recursos naturais e o fim dos
aterros
Surgimento da economia circular
Regulatório Leis ambientais cada vez mais rígidas (coleta,
transporte, reciclagem, reparo, remanufatura,
índice de reciclabilidade do produto, uso de
material reciclável na fabricação, redução de
resíduo gerado)
Obrigação para operar no mercado
Diferenças entre legislações internacionais e
inclusive regionais
Redução do risco jurídico
(Srivastava & Srivastava, 2006;
Ayvaz, et al., 2015; Jayaraman, et
al., 2003; Suyabatmaz, Tevhide
Altekin & Sahin, 2014; Brito &
Dekker, 2002; Ravi, et al., 2005;
Boks et al. 1998; Fleischmann, et
al., 2000; Guide & van
Wassenhove, 2002; Dowlatshahi,
2000; Demajorovic & Migliano,
2013)
Consumidor Aumento da Conscientização dos consumidores
Preocupação com a imagem da empresa
Green Washing
Demanda por produtos sustentáveis
Pressão por atuação responsável das empresas
(Srivastava & Srivastava, 2006;
Ayvaz, et al., 2015; Jayaraman, et
al., 2003; Brito, Dekker, Flapper &
2002; Guide & van Wassenhove,
2002)
Valores
Corporativos Política interna da empresa
Práticas de responsabilidade social corporativa
Práticas de responsabilidade ambiental
corporativa
Preocupação com o meio ambiente a aumento da
poluição
Esgotamento dos recursos naturais
(Ayvaz, et al., 2015; Jayaraman, et
al., 2003; Suyabatmaz, Tevhide
Altekin & Sahin, 2014; Srivastava,
2008; Brito, et al., 2002; Rogers &
Tibben-Lembke, 1998; Ravi, et al.,
2005; Fleischmann, et al., 2000;
Dowlatshahi, 2000)
Figura 7: Principais fatores e motivações para a implementação da Logística Reversa pelas
empresas Fonte: Elaborado pelo autor
O fato de um autor estar citado na referência não necessariamente significa que este
mencionou cada uma das motivações em seu trabalho, pois alguns destes autores apenas
mencionaram o fator motivador de forma genérica.
É interessante notar que algumas destas motivações podem ser relacionados em mais de
uma das categorias de fatores, o que é absolutamente compreensível, uma vez que se trata de
uma atividade com grandes ramificações e que depende da atuação de diversos atores ao longo
da cadeia reversa. Esta proposta de reunir as informações em um único quadro, teve como
objetivo apresentar uma visão geral dos principais fatores que tem pressionado as empresas a
redefinirem suas estratégias, de modo a conceber a LR em seu planejamento gerencial.
Um artigo em especial, citou outro fator que pode ser também um motivador da LR nas
empresas, mas sob uma condição especial. Segundo Boks et al. (1998), as forças do mercado
são determinantes para definir como um sistema de LR irá ser estruturado. Conforme
apresentado pelos autores, sem uma pressão legislativa o mercado estará livre para definir quais
produtos serão coletados em um sistema de LR, logo, apenas aqueles que apresentem algum
31
valor comercial serão coletados e processados, visando à recuperação das partes, peças e
componentes que possam ser comercializados novamente.
2.2.3 Etapas da LR
Os sistemas de LR podem variar dependendo do tipo de produto que está sendo retornado
e qual o cliente final (consumidor doméstico ou empresas/instituições) que está realizando esta
devolução/descarte. Apesar das diferenças específicas de cada caso, a análise da literatura
permite concluir que existem quatro etapas que são comuns aos sistemas de LR implementados
pelas empresas. São elas: Coleta; Triagem/Pré-tratamento; Reprocessamento; e
Reinserção/Disposição (Srivastava, 2007; Fleischmann, et al., 2000; Suyabatmaz, et al., 2014;
Ayvaz, et al., 2015; Sarkis, Darnall, Nehman, & Priest, 1995; Pohlen & Faris, 1992; Srivastava
& Srivastava, 2006).
As atividades de transporte e armazenamento aparecem em alguns destes estudos como
sendo também etapas específicas do processo. No entanto, para este trabalho iremos considerar
o entendimento de Fleischmann, Krikke, Dekker e Flapper (2000), que descreveram estas
atividades como links entre todas as etapas descritas anteriormente, uma vez que são atividades
que se repetem ao longo do processo. As quatro etapas da LR serão descritas a seguir:
1) Coleta: conforme destacado por Dowlatshahi (2000), os consumidores são
fundamentais neste processo, são eles a fonte de retorno dos produtos que serão inseridos neste
novo fluxo reverso e sem a participação do consumidor, a LR não se inicia. Consequentemente,
a etapa de Coleta na LR é de fundamental importância, além de ser o primeiro estágio desta
cadeia (Srivastava & Srivastava, 2006).
A Coleta se refere a todas as atividades que resultam na disponibilização do produto no
sistema de LR, para que seja posteriormente transportado a um ponto onde será triado e receberá
um pré-tratamento (Fleischmann et al., 2000). Ayvaz et al. (2015) apontaram que os produtos
retornados podem ser coletados em locais como lojas do comércio, prefeituras, distribuidores,
dentre outros, caracterizando o que alguns autores (Srivastava & Srivastava, 2006; Fleischmann
et al. 1997) descrevem como processo convergente, onde os produtos usados são originários de
várias fontes e são então consolidados em pontos de coleta, facilitando o caminho reverso até
as unidades recicladoras.
Além desta forma de descarte do produto nos pontos de coleta, Pohlen e Faris (1992)
descreveram outras duas formas de realizar a Coleta dos materiais descartados na LR, podendo
ser via coleta seletiva, diretamente na residência do consumidor (o qual deverá ter a consciência
32
de separar os materiais conforme necessário), e através dos centros de compra dos produtos
usados (chamados de Buy-back centers), onde os consumidores levam seus produtos até o local
e são ressarcidos, com base no peso ou volume do produto que estão descartando.
2) Triagem/Pré-tratamento: o processo de separação e triagem dos materiais é realizado
de modo a avaliar a qualidade dos produtos (partes e peças) recebidos, para auxiliar na decisão
de qual o melhor tipo de tratamento a ser adotado (Suyabatmaz, Altekin & Sahin, 2014). Esta
etapa pode contemplar as atividades de desmontagem, separação (por tipo de produto e
material), trituração e armazenagem. Em alguns casos são realizados também testes para
determinar se o produto apresenta condições de ser reutilizado (Fleischmann et al., 2000).
Pohlen e Faris (1992) concluíram que a etapa de triagem tornou a reciclagem um processo
muito intensivo em mão-de-obra e consequentemente, mais caro. Em seu trabalho, os autores
apresentaram que é comum a coleta de diferentes produtos ao mesmo tempo, logo a separação
deve acontecer para separar os materiais recicláveis entre eles, além de remover também
materiais não recicláveis e contaminantes. Srivastava e Srivastava (2006) lembram que esta
separação dos materiais pode ser feita já no ponto de coleta, o que facilitaria o processo
aumentando sua eficiência.
Este processo de separação e pré-tratamento busca otimizar a etapa logística,
compactando os materiais recicláveis e reduzindo assim, os custos de transporte. Produtos que
são passíveis de recuperação, seja de suas partes e peças ou de materiais de sua composição,
são encaminhados para centros de reciclagem; os inservíveis, por sua vez, são enviados para
disposição final (Pohlen & Faris, 1992).
3) Reprocessamento: conforme definido por Fleischmann, Krikke, Dekker e Flapper
(2000), reprocessamento é a transformação propriamente dita do produto usado que foi
descartado, em algo que seja utilizável novamente. Esta transformação pode ser feita de
diferentes formas incluindo a reciclagem, o reparo e a remanufatura. Nesta fase, é comum que
alguns materiais com alto valor agregado, mas de difícil separação ou extração, sejam
encaminhados para refinarias onde possam ser recuperados (Ayvaz et al., 2015).
4) Reinserção / Disposição: a reinserção se refere à comercialização dos materiais
reciclados, incorporando-os à um novo ciclo produtivo, o que demanda articulação com novos
mercados (Fleischmann et al., 2000; Sarkis et al., 1995). Os recicladores necessitam de um
mercado comprador para as commodities que irão reinserir no mercado, enquanto que os
compradores finais destes produtos irão exigir qualidade e um fornecimento contínuo e
previsível destes materiais. Logo a comunicação eficiente entre estes atores do mercado
representa um item de grande importância nesta etapa da LR (Pohlen & Faris, 1992).
33
Em casos onde não seja viável o reaproveitamento dos produtos, seja por razões técnicas
e/ou econômicas, a disposição se faz necessária (Dekker & Flapper, 2000). Exemplo disso são
os materiais perigosos presentes em alguns produtos, os quais são encaminhados para centros
de disposição final, conforme mencionado por Ayvaz, Bolat e Aydın (2015).
Como mencionado anteriormente, o transporte e o armazenamento dos produtos
descartados foram considerados como atividades intermediarias, que funcionam como links
entre as demais etapas do processo. De toda forma vale destacar algumas características destas
atividades.
Segundo o apresentado por Sarkis, Darnall, Nehman e Priest (1995) e também observado
no trabalho de Pohlen e Faris (1992), o armazenamento é necessário para que seja atingida uma
quantidade suficiente do material para tornar o envio economicamente viável. A compactação,
feita na etapa de pré-tratamento, auxilia na preparação para o transporte deste material ao
compactar o volume a ser transportado. Tudo isto devido ao fato do transporte representar o
maior percentual de custos ambientais e financeiros ao processo.
As quatro etapas descritas acima, em conjunto com as atividades de armazenamento e
transporte estão representadas na Figura 8.
Figura 8: Etapas comuns aos sistemas de Logística Reversa Fonte: Elaborado pelo autor
2.2.4 Particularidades da LR em relação à Logística Direta
Como demonstrado no item anterior, os caminhos percorridos na cadeia da LR são
distintos do modelo de logística direta, uma vez que o objetivo principal da LR é trazer os
34
produtos de volta do consumidor, para os fabricantes ou recicladores. Como posto por
Fleischmann et al. (1997), a LR não é uma figura simétrica da distribuição tradicional. Trata-se
de uma atividade muito mais reativa e dependente da participação ativa dos “fornecedores”,
neste caso referindo-se aos consumidores que iniciam todo o processo.
Uma das principais atividades na LR é a coleta dos produtos que foram descartados e em
seguida a distribuição dos materiais reprocessados. Apesar desta questão se assemelhar ao
padrão de distribuição tradicional de novos produtos, existem algumas diferenças. No processo
de LR, normalmente existem muitos pontos distintos para realizar a coleta, a embalagem em
que o produto é descartado é inadequada (ou inexistente), há uma necessidade muito maior de
cooperação com o consumidor e os produtos tendem a ter um baixo valor de mercado. Por outro
lado, o prazo não é um problema tão grave (Brito, Dekker & Flapper, 2002).
Stock e Lambert (1987 apud Pohlen e Faris, 1992) também apresentaram algumas
características que diferenciam o sistema de LR de uma cadeia de suprimentos tradicional.
Segundo os autores, a maioria dos sistemas logísticos não está equipada de modo adequado
para manusear os produtos que chegam pelo canal reverso, adicionalmente, os custos deste novo
fluxo de produtos pode ser muito maior do que os custos para transportar o mesmo produto da
fábrica para o consumidor e acima de tudo, em algumas ocasiões os produtos descartados não
podem ser transportados, armazenados ou mesmo manuseados conjuntamente ou da mesma
maneira que novos produtos na logística tradicional.
Brito, Dekker e Flapper (2002) ponderaram que, por se tratar de um tema relativamente
novo, em alguns casos se faz necessário construir toda a rede para a LR de determinados
produtos. Por outro lado, observa-se que, em várias ocasiões, é natural que não sejam criados
canais completamente novos e independentes para a LR, mas sim que as empresas se utilizem
das estruturas já existentes para a logística tradicional, como demonstrado por Srivastava e
Srivastava (2006) no caso das empresas fabricantes de produtos originais, que recebem os
produtos de volta às suas plantas fabris.
Desta forma, Fleischmann et al. (1997) ressaltaram que uma das principais definições
durante a elaboração de um sistema de distribuição reversa, é a decisão sobre a integração ou
não dos canais logísticos (tradicional e reverso) e além disso, como deverá ser estruturada esta
integração caso se opte por aproveitar os sistemas já implementados.
Barker e Zabinsky (2008) destacaram também, decisões de grande relevância estratégica
que devem ser tomadas pelas empresas ao definir como será o formato de seu sistema de LR.
Dentre os pontos apresentados pelos autores, destacamos duas questões em especial. A primeira
seria definir se a coleta será realizada de forma setorial, agrupada por tipo de produto (chamada
35
pelo autor de Industry-wide collection), onde são coletados, em um mesmo local, vários
produtos de um mesmo tipo, mesmo que fabricados por empresas distintas. Ou se essa coleta
será segmentada por empresa, onde cada fabricante organiza a coleta de seus próprios produtos.
A segunda questão é relacionada à etapa de triagem e separação dos produtos, partes e
peças recebidas, podendo esta atividade ser feita de forma centralizada (comum ao tratamento
de grandes volumes em poucos centros consolidadores), ou distribuída, trabalhando de forma
difusa em vários centros de consolidação menores.
Estas alternativas foram expressas na forma de ilustrações nas figuras 9 e 10.
Figura 9: Tipos de coleta nos Sistema de Logística Reversa. Fonte: Elaborado pelo autor
Figura 10: Tipos de separação/triagem nos Sistema de Logística Reversa. Fonte: Elaborado pelo autor
36
Os sistemas para gerenciar o retorno de materiais e produtos em um fluxo logístico,
variam de acordo com o modelo de negócio proposto e o tipo de produto/material a ser
transportado. As opções de estruturação do sistema, quanto a forma de realizar a coleta e
triagem, demonstradas nas Figuras 09 e 10, podem ser de grande ajuda, desde que se tenha
definido com clareza o objetivo do sistema de LR a ser implementado. A classificação dos tipos
de produtos que poderão ser coletados na LR pode auxiliar no entendimento e configuração do
sistema. Como visto no estudo da Cranfield University e Deutsche Post DHL Group (2016),
cada tipo de produto apresenta suas características próprias que irão refletir nos custos, desafios
e sucesso do sistema de LR a ser implementado.
2.2.5 Desafios e oportunidades na implementação da LR
A fabricação de novos produtos de forma economicamente viável e lucrativa, demanda
investimentos na forma de capital, trabalho, energia e extração de recursos naturais (Jayaraman
et al., 2003). Logo, implementar um sistema para coleta e tratamento destes produtos, em seu
fim de vida, irá demandar novos tipos de investimentos, os quais deverão ser incorporados pelas
empresas e inseridos no planejamento macro de suas atividades. Do mesmo modo que as
empresas se esforçam para desenvolver processos logísticos eficientes para os novos produtos,
devem fazer o mesmo para produtos que retornam na cadeia reversa (Stock, Speh, & Shear,
2002).
No processo de planejamento e adequação à LR, as empresas podem ter que adquirir
novas habilidades, tanto técnicas para tratar os produtos recebidos, quanto de relacionamento,
com novos parceiros que passarão a fazer parte da cadeia de fornecedores da empresa. O
gerenciamento deste processo de recuperação de produtos pode ter grande influência nas
decisões sobre os produtos, as operações e a gestão logística da empresa. Novos sistemas de
informação deverão ser implementados para monitorar e controlar as atividades na cadeia da
LR enquanto que o controle de produção deverá se preparar para administrar incertezas em
relação à quantidade, prazo de retorno e qualidade dos produtos devolvidos (Thierry et al.,
1995).
A partir da análise de informações oriundas da literatura, outros pontos importantes
apresentam-se como desafios na implementação de um sistema de LR eficiente:
1) Localização e distribuição: apresenta-se como uma das áreas mais críticas e
importantes da LR. Questões que devem ser definidas neste ponto dizem respeito ao número e
localização dos pontos de coleta e dos centros de consolidação, por exemplo, e serão fatores
37
fundamentais na determinação das taxas de retorno dos produtos (Srivastava & Srivastava,
2006; Brito, et al., 2002; Lavez, De Souza & Leite, 2011);
2) Incertezas na coleta: realizar um planejamento confiável para a coleta e transporte dos
produtos descartados pode ser um grande desafio. No geral, o prazo, a quantidade e a qualidade
dos produtos descartados são determinados pelo consumidor e não pela empresa, o que se torna
um problema uma vez que estas informações são de vital importância para a gestão de sistemas
logísticos (Fleischmann, et al., 1997; Fleischmann, et al., 2000; Srivastava & Srivastava, 2006;
Ayvaz, et al., 2015).
Lavez, Souza e Leite (2011) citam, por exemplo, que o volume de computadores
descartados por pessoas físicas no sistema da LR é insignificante, evidenciando as dificuldades
logísticas a serem enfrentadas ao buscar a eficiência na coleta e consolidação destes materiais.
3) Heterogeneidade: produtos descartados podem percorrer diferentes caminhos até
chegarem ao centro de consolidação, ou pátio da empresa, o que torna necessário uma grande
coordenação das atividades e melhor sistema de comunicação e gestão da informação. Além
disso, diferentes categorias de produtos demandam diferentes tipos de tratamento e na LR, a
empresa normalmente estará lidando com poucos produtos de cada tipo e não grandes lotes
padronizados como está habituada (Stock, et al., 2002; Dowlatshahi, 2000; Fleischmann et al.,
1997).
4) Custeio do sistema: todos os custos envolvidos na operacionalização do sistema
(coleta, estoque, logística, transporte etc.) acabam sendo apontados também como desafios a
serem superados na gestão eficiente da LR. Faz-se necessário ter clareza quanto a forma de
financiar todo o sistema (Brito et al., 2002; Lavez et al., 2011).
Quando estruturada de modo correto e inserida no planejamento, a LR pode ser um
processo pelo qual as empresas podem se tornar mais ambientalmente eficientes, melhorando
seus projetos para criar produtos melhores, reutilizando e reciclando partes e peças dos seus
produtos e componentes, reduzindo custos gerando novos modelos de negócio. Além disto, a
LR permite a remoção de produtos defeituosos, perigosos, ou que apresentem riscos ao meio
ambiente, melhorando assim sua imagem corporativa e reduzindo os riscos de enfrentar
processos legais (Jayaraman et al., 2003; Srivastava & Srivastava, 2006).
Thierry, Salomon, Van Nunen e Van Wassenhove (1995) destacaram que existem
oportunidades para as empresas que compreendem as vantagens de inserir as obrigações
ambientais no planejamento de seus negócios. Empresas de vanguarda com atitudes proativas
tendem a atrair e reter mais clientes e funcionários. Ainda segundo os autores, produzir e atuar
de forma responsável pode evitar problemas legais no futuro, evitar custos de ações tomadas de
38
última hora, além de proporcionar que algumas destas empresas inclusive possam influenciar
novas legislações. Por fim, empresas podem ainda utilizar produtos recuperados como fonte de
matéria prima para novos produtos.
Na visão de Stock, Speh e Shear (2002), a LR não deve ser vista como uma atividade à
parte, que só gerará custos à empresa. No mínimo, ela deveria ser abordada como uma
oportunidade para garantir vantagem competitiva à empresa e melhorar o relacionamento com
seus consumidores, parceiros e fornecedores.
2.2.6 Implementação terceirizada da Logística Reversa
Como foi demonstrado nesta revisão da literatura e bem sintetizado por Srivastava (2007),
a implementação de sistemas de LR está associada a uma série de riscos e incertezas, tais como
prazo, quantidade e qualidade dos materiais recebidos, além do comportamento do consumidor,
que é a peça fundamental para dar início a todo o processo. Caso a empresa não seja capaz de
gerenciar e executar todas as ações necessárias, de modo eficiente e eficaz, recomenda-se que
a gestão da LR seja terceirizada e administrada por agentes especializados (Stock, et al., 2002;
Srivastava & Srivastava, 2006).
Ayvaz, Bolat e Aydın (2015) destacaram que nem todas as empresas têm a possibilidade
de desenvolver sistemas de LR devido a restrições operacionais e orçamentárias. Spicer e
Johnson (2004) lembraram que em alguns sistemas de LR, baseados no conceito da REP, os
importadores também têm a responsabilidade pelo produto que colocam no mercado, mas que
a maioria destes importadores, assim como pequenas empresas fabricantes, não tem estrutura
suficiente para operar tal sistema. Quanto menor a empresa, maior será sua dificuldade em
gerenciar sua responsabilidade pós-consumo.
Em casos como esses, fica evidenciada a necessidade de se contratar parceiros para gestão
da LR. Ao optar pela terceirização da LR as empresas não só garantem o atendimento à
legislação, como evitam os riscos financeiros associados com as incertezas do processo. Mais
importante ainda, as empresas ficam livres para focar em seu negócio principal que é a produção
e distribuição de novos produtos, deixando a gestão da LR para parceiros especializados nesta
atividade, estimulando a inovação e o aumento da eficiência neste setor (Ravi et al., 2005;
Spicer & Johnson, 2004, Demajorovic & Migliano, 2013).
Segundo Ravi, Shankar e Tiwari (2005) e também observado pela OCDE (2006), a
implementação de sistemas de LR de forma individual pelas empresas, não é uma opção viável,
tanto em termos econômicos como ambientais. Ao operar de forma individualizada, as
39
empresas podem acabar competindo entre si para obter um mínimo de volume suficiente para
evitar prejuízos aos seus sistemas. Logo, a solução lógica seria que estas empresas se unissem
para atuar de forma conjunta na implementação e operacionalização destes sistemas, buscando
as sinergias e ganhos de eficiência no processo.
Walther, Steinborn, Spengler, Luger, & Herrmann, (2010) relataram que, na Alemanha,
este foi o comportamento observado nas empresas. Conforme descrito pelos autores, desde a
implementação da lei nacional que obrigou os fabricantes a coletar os produtos eletrônicos
descartados em todo o país, as empresas se uniram em consórcios para obter melhores bases de
negociação com os recicladores, além de aperfeiçoar a gestão logística.
As empresas que optam por não realizar a gestão de sua LR de forma individualizada
podem contratar provedores para este serviço. Nestes casos, empresas terceiras assumem a
responsabilidade por implementar e gerir todo o Sistema de LR para uma ou mais empresas que
a contratam e criam sua própria rede reversa para isto (Ravi et al., 2005).
Por outro lado, como ressaltado por Thierry, Salomon, Van Nunen e Van Wassenhove
(1995), a gestão para recuperação dos produtos pós-consumo pode oferecer oportunidades de
cooperação entre as empresas que operam em um mesmo mercado e estão sujeitas à mesma
obrigação legal. Ravi et al. (2005) trataram desta relação de cooperação entre as empresas como
um conceito de simbiose na LR, onde as organizações podem formar alianças estratégicas com
suas concorrentes para atingir objetivos de negócio em comum. Neste caso, as organizações
uniriam seus recursos de modo a obter benefícios na operação da LR que não estariam
disponíveis às partes em um sistema individualizado.
Em alguns países esta entidade, que gere o sistema de LR de forma consorciada, é
chamada de Producer Responsibility Organization (PRO). No Brasil temos casos, como os
descritos na introdução deste trabalho, onde existe esta figura da PRO, sendo aqui reconhecida
como a Entidade Gestora do Sistema de LR, ou apenas Gestora. Podemos citar como exemplo
de Gestoras nacionais o InPEV – Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias -
e a ReciclANIP, que recebem recursos de um grupo de empresas para operacionalizar a logística
reversa dos produtos de suas associadas.
Spicer e Johnson (2004) descreveram como funcionaria o financiamento deste sistema.
Segundo os autores, conforme a fabricante vende seus produtos, ela pagaria um valor pré-
determinado para a Gestora, a qual assumiria a responsabilidade por garantir a destinação
ambientalmente correta destes produtos em seu fim de vida. Dentre as vantagens deste sistema
estão: i) maior concentração do volume de produtos devolvidos nos pontos de coleta; ii) redução
dos custos de transporte (ao carregar produtos de todas as marcas em um único frete); iii) a
40
gestão do sistema seria o foco principal da Gestora, logo espera-se um melhor desempenho; e
iv) atenderia tanto as grandes quanto as pequenas empresas, além de viabilizar também a
participação dos importadores (Spicer & Johnson, 2004).
2.2.7 Logística Reversa e a Economia Circular
A LR é muitas das vezes analisada em um contexto único, pensada como uma ação
isolada das empresas visando o cumprimento de uma exigência legal. No entanto, como
identificado por Rogers e Tibben-Lembke (1998), as empresas que inserem a recaptura de
ativos na sua estratégia de gestão, conseguem obter resultados positivos através da recuperação
de valor destes bens descartados, os quais podem servir como fonte de receita ou matéria prima
de baixo custo. Esta é a visão proposta pela Economia Circular.
Conforme sugerido por MacArthur (2013), a Economia Circular (EC) é o termo utilizado
para descrever um novo tipo de economia, onde a proposta principal é reduzir o consumo de
recursos naturais finitos, promovendo sua recuperação e regeneração, a fim de minimizar o
volume de resíduos que são encaminhados para os aterros sanitários, resultado do modelo de
“economia linear” (fabricar, consumir, descartar) que encontra-se vigente atualmente.
De acordo com Ripanti, Tjahjono e Fan (2015), a LR e a Economia Circular possuem
diversas similaridades, no entanto, é sabido que o conceito da EC é mais amplo, tratando de
toda a cadeia do ciclo de vida do produto, desde a fase de projetos até o momento de reaproveitar
seus componentes em um novo ciclo, tendo sempre em mente a otimização dos recursos. Os
autores comentam que ambos conceitos têm sido utilizados de modo independente, sendo que
a LR poderia ser muito melhor explorada, caso trabalhada em um contexto mais abrangente
como o da EC. Pires, Vasconcelos e Gomes (2014) também abordaram as vantagens que se
pode obter ao implementar a LR como uma estratégia de sustentabilidade das empresas.
Neste mesmo trabalho, Ripanti, Tjahjono e Fan (2015) propõem que as empresas
deveriam levar em consideração ao menos 10 princípios da EC, ao planejarem seus sistemas de
LR, e mostram em quais etapas da LR estes conceitos poderiam ser correlacionados. Dentre as
principais sinergias encontradas entre a EC e a LR, destacam-se o uso dos seguintes princípios:
1) pensamento sistêmico – na definição dos pontos de coleta; 2) circularidade – ao avaliar as
técnicas de reutilização de partes e peças ou recuperação de materiais; 3) eliminação de resíduos
– ao calcular os custos de tratamento; e 4) otimização econômica – ao contratar os parceiros
logísticos e recicladores.
41
Azevedo (2015) comenta também que a LR integrada ao conceito da EC, pode gerar
novos modelos de negócio, que, em alguns casos, podem ser inclusive mais lucrativos para as
empresas fabricantes. Desta forma, entende-se que, muito além que uma obrigação legal, a LR
deveria ser considerada de modo mais holístico pelas empresas, sendo possível assim, encontrar
oportunidades nesta nova atividade a ser gerenciada pelo setor empresarial.
2.3 RESÍDUOS DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS (REEE)
2.3.1 Conceituação e Contextualização
O termo lixo eletrônico, lixo tecnológico ou e-waste foi criado para se referir ao resíduo
que é gerado a partir do descarte de equipamentos eletroeletrônicos, ao final de sua vida útil,
sem a intenção de reutilizá-lo (Baldé et al., 2015). Atualmente, a gestão deste tipo de resíduo é
um dos problemas ambientais que mais crescem no mundo (Kiddee et al., 2013). Outra
denominação também utilizada na literatura é a REEE - Resíduo de Equipamento
Eletroeletrônico (Lau, Chung, & Zhang, 2012) sendo este o termo utilizado neste trabalho.
Esse fluxo de geração de resíduos, relativamente novo e crescente, é comum tanto em
países desenvolvidos quanto nos países ainda em desenvolvimento e apresenta características
complexas, dentre elas a rápida geração destes resíduos e o transporte destes para países menos
desenvolvidos, que não possuem técnicas sofisticadas para o correto tratamento e destinação
final (Pariatamby & Victor, 2013; Baldé et al., 2015).
Os EEE possuem em sua composição uma grande variedade de componentes,
compreendendo plásticos, vidro, metais (ferrosos e não ferrosos), além de outros componentes
como metais pesados e substâncias tóxicas. Os metais não ferrosos (incluindo os preciosos e
terras raras) são encontrados em menor proporção, em torno de 13% do peso total dos
equipamentos. Os plásticos representam 21% do peso dos EEE, já o ferro e o aço, são os
materiais que representam maior percentual na composição de um EEE, representando quase
metade do peso total do equipamento (Gerbase & Oliveira, 2012; Ongondo, Williams, &
Cherrett, 2011).
Determinar a quantidade exata da composição do REEE, considerando a gama de
diferentes aparelhos que se enquadram como eletroeletrônicos é um desafio. A Figura 11,
apresenta outra visão geral da composição dos REEE, demonstrada no trabalho de Widmer,
Oswald-Krapf, Sinha-Khetriwal, Schnellmann e Böni, (2005), buscando apresentar uma
aproximação generalista deste tipo de resíduo.
42
Figura 11. Composição típica dos materiais que compõem os REEE de um modo geral. Fonte: Adaptado de Widmer, R., Oswald-Krapf, H., Sinha-Khetriwal, D., Schnellmann, M., & Böni, H. (2005).
Global perspectives on e-waste. Environmental Impact Assessment Review, 25(5 SPEC. ISS.), 436–458.
O volume total de REEE gerados no mundo, em 2014, foi de 41,8 milhões de toneladas,
de acordo com o relatório denominado Global e-Waste Monitor 2014 – Quantities, flows and
resources, elaborado pela Universidade das Nações Unidas. Ainda de acordo com este estudo,
em 2014, aproximadamente quatro bilhões de pessoas foram cobertas por legislações
relacionadas à gestão dos REEE, mas ressaltam que a simples existência de uma legislação
muitas vezes não pressupõe o cumprimento desta. A maior parte deste volume gerado foi na
Ásia (16 Mt), sendo que a maior geração por habitante foi identificada nos Estados Unidos
(22,1 kg/hab.). Na América Latina, o volume total gerado foi de 2,7 Mt, sendo que o Brasil
isoladamente, foi responsável pela geração de 1,4 Mt deste resíduo, com uma geração média de
7 kg de REEE por habitante (Baldé et al., 2015).
Ao final de sua vida útil estes equipamentos devem receber uma atenção especial, de
modo a evitar que seus componentes, em especial os que apresentam alguma periculosidade ou
potencial de contaminação, sejam manipulados de forma equivocada e descartados sem o
devido cuidado, podendo assim causar prejuízos e danos, tanto à saúde do manipulador quanto
ao ambiente em que foi descartado (Mattos, Mattos, & Perales, 2008; Sthiannopkao & Wong,
2013).
Além dos metais pesados mais conhecidos, tais como o chumbo, o cádmio e o cobre, que
são utilizados na fabricação de uma variedade de EEE, existem diversas outras substâncias com
potencial de toxicidade, as quais são também utilizadas na manufatura destes equipamentos
(Gerbase & Oliveira, 2012). Algumas destas são apresentadas na Figura 12, juntamente com
suas aplicações na indústria eletroeletrônica e seus possíveis impactos à saúde humana.
43
Substância Aplicação no EEE Danos à Saúde Humana
Antimônio (Sb) Agente de derretimento no
vidro CRT, caixas de
computador de plástico e uma
liga de solda em cabeamento
O Antimônio foi classificado como
carcinogênico (IARC 2B). Em casos de
exposição crônica à esta substância, pode
causar dor de estômago, vômitos, diarreia e
úlceras de estômago
Arsênio (Ar) Arseneto de gálio é usado em
diodos emissores de luz
Tem efeitos crônicos que causam doenças de
pele e câncer de pulmão, além de prejuízos das
sinapses nervosas.
Bário (Ba) Velas de ignição, lâmpadas
fluorescentes e interiores de
CRT em tubos de vácuo
Provoca edema cerebral, fraqueza muscular,
danos no coração, fígado e baço, mesmo em
exposição de curto prazo
Berílio (Be) Caixas de alimentação, placas-
mãe e presilhas
A exposição ao berílio pode levar a beriliose,
câncer do pulmão e doenças da pele. Berílio é
uma substância cancerígena (IARC 1).
BFR; PBBs; PBDEs;
TBBPA *
BFRs são usados para reduzir a
inflamabilidade em placas de
circuito impresso, plástico,
teclados e isolamento do cabo
Estas substâncias são classificadas como
interferentes endócrinos. Durante sua
combustão, placas de circuito impresso e
caixas de plástico emitem vapores tóxicos,
conhecidos por causar distúrbios hormonais
Cádmio (Cd) As baterias recarregáveis de
NiCd, chips semicondutores,
detectores de infravermelho,
tintas de impressora e toners
Os compostos de cádmio representam um risco
de danos irreversíveis à saúde humana,
particularmente os rins
Clorofluorcarbonos
(CFCs)
Unidades de refrigeração e
espuma de isolamento
Estas substâncias impactam a camada de
ozônio, o que pode levar a uma maior
incidência de câncer da pele
Cromo Hexavalente
(Cr VI)
Invólucro plástico, cabos,
discos rígidos e como corante
em pigmentos
É extremamente tóxico no ambiente, causando
danos ao DNA e danos irreversíveis nos olhos
Chumbo (Pb) Solda, baterias de chumbo-
ácido, tubos de raios catódicos,
cabos, placas de circuito
impresso e lâmpadas
fluorescentes
Pode danificar o cérebro, sistema nervoso, rins
e sistema reprodutivo e causar doenças do
sangue. O acúmulo de chumbo no ambiente
resulta em ambos os efeitos, agudos e crônicos,
na saúde humana
Mercúrio (Hg) Baterias, bulbos de luz de fundo
ou lâmpadas, monitores de tela
plana, interruptores e
termostatos
O mercúrio pode danificar o cérebro, rins e
fetos
Níquel (Ni) Baterias, invólucro do
computador, tubo de raios
catódicos e placas de circuito
impresso
Pode provocar reações alérgicas, bronquite e
redução da função pulmonar e câncer de
pulmão
Bifenilas
Policloradas (PCBs)
Condensadores,
transformadores e fluidos de
transferência de calor.
PCB pode causar câncer em animais e pode
conduzir a danos no fígado de seres humanos
Policloreto de Vinila
(PVCs)
Monitores, teclados, cabos e
invólucro plástico do
computador
O PVC tem o potencial de ser uma substância
perigosa e contaminante tóxico do ar. A
combustão incompleta de PVC libera o gás
cloreto de hidrogênio, que forma o ácido
clorídrico. O ácido clorídrico pode causar
problemas respiratórios
Selênio Cilindros usados em
fotocopiadoras
Elevadas concentrações (5E-3
mg/kg/dia) podem causar selenose
Nota Específica: *Retardantes de Chama a base de Brometos (BFR); Bifenilas Polibromadas (PBB); Éter Difenil Polibromado
(PBDE); Tetrabromobisfenol (TBBPA)
44
Figura 12: Substâncias tóxicas mais comuns associadas com REEE e seus impactos na saúde
humana Fonte: Adaptado de Kiddee, P., Naidu, R., & Wong, M. H. (2013). Electronic waste management approaches: An
overview. Waste Management, 33(5), 1237–1250.
O fato de que alguns REEE contenham materiais que possam ser classificados como
perigosos não significa, necessariamente, que os REEE irão causar danos ao meio ambiente e
à saúde humana de forma direta. Para que a contaminação de fato ocorra, é necessário que o
componente potencialmente perigoso seja exposto e encontre-se em uma forma "disponível",
para permitir que se difunda no meio ambiente alterando a qualidade do ar, do solo e da água
e, desta forma, entre em contato com organismos e seres humanos aquáticos ou terrestres
afetando sua saúde (Secretaria del Medio Ambiente y Recursos Naturales [SEMARNAT] &
Instituto Nacional de Ecología y Cambio Climático [INECC], 2013).
2.3.2 Externalização dos custos na gestão de REEE e oportunidades de mercado
A sensação atual de que existe uma crise global relacionada à gestão dos REEE, surge
devido a três considerações. Primeiro devido ao enorme volume de equipamentos
eletroeletrônicos obsoletos no mundo, segundo pelo fato dos REEEs serem uma questão global,
sendo gerados em qualquer lugar do mundo e, por fim, a elevada taxa em que o volume de
geração de REEE aumenta no mundo, cerca de 5% a 10% ao ano (Sthiannopkao & Wong, 2013;
Song & Li, 2015; Shumon, Ahmed, & Islam, 2014).
Ao se colocar a questão ambiental na conta, somada ao atendimento aos requisitos das
legislações pertinentes, a reciclagem de grande parte dos REEE apresenta-se como uma
atividade que não é economicamente viável (Spicer, & Johnson, 2004). Frequentemente, alguns
destes produtos demandam (além do transporte até os recicladores especializados) tratamentos
mais sofisticados para evitar grandes impactos ambientais em seu fim de vida, o que aumenta
substancialmente os custos de todo o processo (Boon, Isaacs, & Gupta, 2001; Baird, Curry, &
Cruz, 2014; Rucevska et al., 2015).
Certificações, padrões de qualidade e guias de boas práticas para o manuseio dos REEE
em fim de vida geram custos extras ao processo. Logo, deve-se ter isso em mente para garantir
o financiamento desta melhoria no processo dos recicladores. Além disso, deve-se avaliar se o
mercado tem capacidade de absorver a demanda criada pela lei, ou se existem incentivos para
que este novo mercado seja criado (Basel, 2012).
45
Além destas questões relacionadas à adequação para o tratamento dos REEE, o custo
logístico (coleta, transporte e armazenamento) é também um fator determinante da viabilidade
econômica da LR, uma vez que os REEE deverão ser coletados em milhares pontos de coleta
pulverizados por todo o país (Lavez, Souza & Leite, 2011; Dat, Linh, Chou, & Yu, 2012).
Rompe-se assim, o mito de que a reciclagem de REEE gera grande receita aos operadores da
LR enquanto que, na realidade, este é um grande problema mundial que se baseia na
externalização dos custos de um tratamento correto.
Um dos grandes problemas dos países em desenvolvimento é a importação ilegal de
REEE, pois a maioria destes países que recebem este tipo de resíduo não apresenta tecnologia
e legislações ambientais capazes de permitir o tratamento adequado dos mesmos (Oliveira,
2012; Kiddee et al., 2013). De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA) a situação destes países se agravará ainda mais, uma vez que a taxa de
geração destes resíduos tende a crescer rapidamente nestes países nos próximos anos (Schuelp
et al., 2009).
Devido aos elevados custos de tratamento e disposição adequada dos REEE, a exportação
ilegal de REEE por parte dos países desenvolvidos é muitas vezes tida como a forma mais
simples de lidar com o problema (Rucevska, et al. 2015). Esta prática acaba sendo comum, pois
possibilita a redução dos custos das empresas fabricantes, uma vez que nos países menos
desenvolvidos a mão de obra utilizada na REEE tem um custo muito inferior, chegando a custar,
por exemplo, dez vezes menos na Ásia em comparação com os EUA (Mattos, Mattos & Perales,
2008; Oliveira, 2012).
Esta observação foi feita também por Sthiannopkao e Wong (2013) que concluíram que
os custos da disposição correta destes equipamentos são elevados, logo isto leva os países
desenvolvidos a exportarem seus REEE para a China, Índia, Paquistão e Nigéria, além de outros
países no Oeste da África. Outro fator apresentado foi a fragilidade da legislação ambiental
nestes países, que permitem o descarte dos REEE sem o devido tratamento, treinamento e
segurança, tanto para operadores quanto para o meio ambiente (Rucevska, et al., 2015; Mattos,
Mattos & Perales, 2008; Li, Liu, Zhao & Zeng, 2013).
Segundo Sthiannopkao & Wong (2013), a crescente taxa de geração de REEE nos países
em desenvolvimento é uma tendência que deve se manter por vários anos. Estima-se que em
2018, a geração de REEE em países em desenvolvimento será maior que nos países já
desenvolvidos, esta tendência pode ser observada no relatório apresentado por Baldé et al.
(2015).
46
A preocupação que surge devido a este cenário, está relacionada ao fato da maior geração
de REEE passar a ter origem em países que não estão prontos para tratar estes resíduos de forma
saudável e ambientalmente segura. Aliado a isto, abre-se caminho para a expansão deste
mercado informal de coleta e processamento de resíduos o qual, além de perpetuar os malefícios
já citados, apresenta baixíssimos índices de eficiência na recuperação de metais raros, como o
índio, paládio, prata e ouro, necessários à indústria de eletroeletrônicos (Sthiannopkao & Wong
2013, Li, Liu, Zhao & Zeng, 2013).
Apesar de conter alguns resíduos que podem ser considerados como perigosos, conforme
descrito anteriormente, os REEE têm em sua composição, metais nobres e raros, que estimulam
o interesse pela reciclagem destes aparelhos após o fim de sua vida útil. Em diversas partes do
mundo, novas empresas têm sido criadas com o objetivo de se especializar no tratamento deste
tipo de resíduo, de forma profissional e lucrativa. Como mostrado por Tanskanen (2013), a
prática de recuperação de materiais e componentes surge como uma forma de lidar com as
quantidades cada vez maiores de REEE e se tornou uma questão importante a nível mundial.
No entanto esta indústria está ainda em um estágio inicial e, mesmo nos países já
industrializados, apenas uma pequena fração dos REEEs gerados é reciclada de forma eficiente
e ambientalmente correta.
Sthiannopkao & Wong (2013) lembraram que os EEEs de hoje, contém diversos metais
raros e preciosos em sua composição, além dos já conhecidos ouro, prata e cobre. Alguns países
desenvolvidos, especialmente os europeus, têm tentado evitar a fuga destes EEE para outros
países, os quais não têm tecnologia suficiente para extrair grandes quantidades destes metais.
Este movimento dos países desenvolvidos se deve ao fato de que a mineração destes metais é
uma atividade que gera um enorme impacto ambiental, uma vez que são encontrados em
pequenas concentrações por tonelada de rocha minerada. Desta forma, é mais vantajoso e
menos impactante “minerar” estes metais nos REEE descartados em um sistema de LR
controlado (Gerbase & Oliveira, 2012).
Normalmente, esta maior concentração de metais raros e valiosos está presente nas placas
de circuito impresso dos equipamentos. A Tabela 2 apresenta os metais de interesse comercial
presentes nas placas de celulares, microcomputadores e laptops, fazendo um comparativo da
quantidade de metais raros consumidos na fabricação destes produtos com a produção mundial
destes elementos obtidos através da extração mineral. Já a Tabela 3 apresenta a composição
típica, em média, das placas de circuito impresso.
47
Tabela 2
Metais de interesse encontrados em placas de circuito impresso em celulares, PCs & Laptops
Produto Telefone celular PCs & Laptops Consumo
total nos
EEE
citados
(tons)
Produção
mundial de
material base
minério
(tons)
Consumo
nos EEE /
produção
mundial
(%)
Volume
(milhões de unidades) 1200 255
Elemento Un. de
medida
Quantidade de material contido por
unidade e respectivo total (tonelada)
Prata mg 250 300t 1000 255t 555 20000 2,78
Ouro mg 24 29t 220 56t 85 2500 3,40
Paládio mg 9 11t 80 20t 31 230 13,48
Cobre g 9 11000t 500 128000t 139000 16000000 0,87
Cobalto g 3,8x20 3800t 65x100 5500t 9300 60000 15,50
Nota. Fonte: Adaptado de Demajorovic, J., & Migliano, J. E. B. (2013). Política Nacional de Resíduos Sólidos e
sua Implicação na Cadeia da Logística Reversa de Microcomputadores no Brasil, 64–80.
Tabela 3
Composição típica de placas de circuito impresso
Componentes de uma PCI Quantidade médias
Metais Valores médios
Metais 28%
Cu 14%
Fe 6%
Ni 2%
Zn 2%
Sn 2%
Ag 0,3%
Au 0,04%
Pd 0,02%
Plásticos 19%
Bromo 4%
Mát. Cerâmico, vidro e óxidos 49%
Nota. Fonte: Gerbase, A. E., & Oliveira, C. R. De. (2012). Reciclagem do Lixo de Informática: Uma
Oportunidade para a Química. Química Nova, 35(7), 1486–1492.
Os EEE das tecnologias de informação e comunicação (TICs) contém maior concentração
de metais preciosos em suas placas de circuito impresso, o que os tornam interessantes sob a
perspectiva da reciclagem. No entanto, os EEE que não têm essas placas como componentes
apresentam um custo de reciclagem maior, pois não contarão com a contrapartida financeira da
comercialização de seus componentes no mercado. Como visto no trabalho de Boon, Isaacs e
Gupta (2001), os custos de desmontagem e separação das partes e peças dos REEE são
significativos, logo, sem a contrapartida da venda dos metais nobres presentes nas placas, a
viabilidade financeira do processo de reciclagem fica ainda mais comprometida.
48
2.3.3 Convenção da Basiléia
Dentre as várias iniciativas internacionais existentes para regulamentar o movimento
transfronteiriço de resíduos perigosos no mundo, a Convenção da Basiléia é a mais importante.
Oficialmente conhecida como “Convenção da Basiléia sobre o Controle de Movimentos
Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e seu Depósito”, esta Convenção foi lançada em 22 de
março de 1989, entrou em vigor em 5 de maio de 1992 após ser ratificada por 159 países, sendo
que os Estados Unidos, um dos maiores geradores de REEE, não consta nesta lista de países
(Kiddee et al., 2013). A Convenção da Basiléia visa impor ao país produtor do resíduo perigoso,
a responsabilidade de realizar a destinação correta e ambientalmente segura deste resíduo, além
de banir a exportação destes materiais perigosos para países em desenvolvimento
(Sthiannopkao & Wong, 2013).
De acordo com a Convenção da Basiléia, os REEE estão listados no Anexo VIII,
caracterizados como A1180 (resíduos perigosos: REEE contendo componentes como
acumuladores, interruptores de mercúrio e os que contenham cádmio, mercúrio, chumbo ou
bifenilas policloradas) e no Anexo IX como B1110 (resíduos não perigosos: partes que
consistam apenas de metais ou ligas metálicas, placas de circuito impresso, sem as
características descritas no Anexo VIII, ou EEE para uso direto e não destinados à reciclagem
ou disposição final), o que torna ilegal a movimentação transfronteiriça de partes e peças dos
REEE, sem o consentimento de ambas as partes, exportadora e importadora (Basel, 2014).
Esta situação pode apresentar dificuldades aos países que ratificaram a Convenção da
Basiléia, tanto ao país exportador quanto ao país de destino, uma vez que nem todos os países
tem a capacidade de tratar os REEEs em seu próprio território, sendo necessário enviá-lo a
outras regiões com tal capacidade. Além disto, existe também a questão da movimentação de
EEE usados pelo mundo. Alguns EEE usados, de grande porte e elevado custo, podem ser
reparados e reutilizados de forma eficiente, mas a Convenção ainda trabalha em uma forma
clara para diferenciar estes aparelhos usados dos resíduos, o que abre brechas para o transporte
ilegal destes resíduos no mundo (Li et al., 2013).
Segundo Mattos, Mattos e Perales (2008), em 1994, um grupo de países signatários da
Convenção da Basiléia concordou em banir a exportação de produtos considerados perigosos
para países que não fossem membros da OCDE, no entanto esta medida não foi suficiente para
cessar esta prática. Em resposta a isto, outros tratados e acordos começaram a surgir no mundo.
49
Países não-membros da OCDE, liderados pela China e ONGs do setor, demandaram que
ações mais incisivas fossem tomadas para frear a exportação de REEE para seus países, tanto
para disposição final, quanto para reciclagem. Com isso foi adotada a “emenda da proibição”
ou “Basel BAN”, como promessa de impor regras mais rígidas a esta prática, proibindo a partir
de 31 de dezembro de 1997, a movimentação transfronteiriça destes resíduos entre estados
membros e não-membros da OCDE (Mattos, Mattos & Perales, 2008; Oliveira, 2012; Basel
Action Network [BAN], 1994).
Outra ação deste tipo foi elaborada por representantes de 51 nações Africanas que criaram
a Convenção Bamako, um suplemento à Convenção da Basiléia que tentou ser mais restritiva
do que o texto original. A proposta africana apresentava definições mais amplas sobre o que
era entendido como resíduo perigoso e previa penas criminais para a importação destes
produtos, porém, promulgado desde 1998 ainda não apresentou resultados efetivos. Esta e
outras políticas internacionais relacionadas à regulamentação dos REEE podem ser vistas na
Figura 13 elaborado por Sthiannopkao e Wong (2013).
Convenção da Basiléia Acordo internacional, promulgada em 1992 para manter resíduos perigosos dentro dos
países fabricantes, ou aqueles capazes de processá-los com segurança. Conta com 172
nações signatárias, mas não foi ratificado pelos EUA. Não especifica sanções.
Convenção Bamako Acordo internacional em vigor desde 1998 nos países da União Africana, o qual
define limites de importação de resíduos mais rigorosos do que a Convenção de
Basiléia e define penalidades. Raramente é evocado.
Diretiva WEEE da União
Européia
Diretiva Europeia promulgada em fevereiro de 2003 e adotada por todos os membros
da UE desde 2007, estabelece sistemas de coleta e reciclagem com base na
responsabilidade do produtor, para 10 categorias de produtos elétricos.
Diretiva (RoSH) –
Restrição de certas
Substâncias Perigosas
Diretiva Europeia promulgada em 2003 juntamente com a diretiva WEEE da EU.
Restringe quantidades de chumbo, mercúrio, cádmio, cromo hexavalente, PBB e
PBDE utilizados na fabricação. Existem versões adaptadas por outros países,
incluindo a China e a Índia.
Solving the E-waste
Problem - (StEP)
Iniciativa internacional instituída formalmente em 2007 por agências das Nações
Unidas, o StEP faz parcerias com universidades renomadas e organizações
governamentais (por exemplo, MIT, USEPA) visando promover a reutilização de
materiais reciclados e controle de contaminantes dos REEE.
Reduzir, Reutilizar,
Reciclar (3Rs)
Programa promovido pelo Japão visa impedir a criação de resíduos, e promover a
cooperação em matéria de reciclagem com países em desenvolvimento. Permite a
exportação de resíduos para remanufatura.
Basel Action Network
(BAN), Silicon Valley
Toxic Coalition (SVTC),
Electronics Take-Back
Coalition (ETBC)
Criadas respectivamente em 1997, 1982 e 2001, estas três iniciativas agem em
conjunto para viabilizar os programas de coleta e reciclagem de REEE. Eles
defendem internacionalmente a implementação do "Basel Ban", um anexo mais
restritivo à exportação de resíduos no âmbito da Convenção da Basileia. Estas
iniciativas focam na produção de documentários, campanhas e pesquisa direcionada
para a área da regulamentação, promoção da saúde humana/ambiental e restrição da
movimentação transfronteiriça de resíduos perigosos.
Figura 13: Iniciativas Internacionais relacionadas à REEE Fonte: Adaptado de Sthiannopkao, S., & Wong, M. H. (2013). Handling e-waste in developed and developing
countries: Initiatives, practices, and consequences. Science of the Total Environment, 463-464, 1147–1153.
50
Em julho de 2011, a convenção da Basiléia lançou o “Guia Técnico para Movimentação
Transfronteiriça de REEE e EEE usados” (Guia Técnico), em particular tratando da distinção
do que seria classificado como um REEE e o que seriam EEE usados - waste & non-waste
criteria - (Pariatamby & Victor, 2013). Este guia foi aprovado, em versão interina, durante a
12ª reunião da Convenção da Basiléia (COP 12), realizada em maio de 2015. O Guia Técnico
busca padronizar a forma de diferenciar os EEE usados, os quais poderiam ser exportados para
outros países com fins de reparo ou reuso direto, dos resíduos que realmente não teriam
nenhuma condição de serem aproveitados, visando o combate ao tráfico ilegal de REEE entre
os países (UNEP, 2015).
O Guia Técnico deixa claro que, acima de tudo, a legislação do país é soberana em
determinar o que é ou não um resíduo, assim como sua periculosidade. Além disso, também
existe a ressalva que a movimentação de REEE perigosos somente pode ser feita quando
garantida a segurança ambiental deste transporte, além de comprovar que o país exportador não
tem capacidade técnica para tratar o resíduo, ou demonstrar que este REEE será utilizado como
matéria prima em outro país (UNEP, 2015).
Esta questão em especial é importante uma vez que os países têm suas próprias legislações
e denominações para o que é resíduo e qual seria a forma de trata-lo. Li, Liu, Zhao e Zeng
(2013) apresentaram uma revisão da legislação vigente em diversos países, destacando a
variedade na forma de tratar a questão da importação e exportação dos REEE e EEE usados.
Diversos países em desenvolvimento ainda não tem uma legislação específica sobre o tema e
acabam permitindo a importação tanto de EEE usados como REEE. O relatório Waste Crimes,
Waste Risks (Rucevska, et al., 2015) também alerta para esta fragilidade, pois diferentes
entendimentos podem abrir brechas no cumprimento da legislação e citam este, como sendo
um grande desafio a ser superado pela comunidade internacional.
Apesar de todas as políticas existentes que tentam banir a importação de REEE em países
menos desenvolvidos, existe uma grande indústria da reciclagem informal que atua burlando
este sistema (Li, Liu, Zhao & Zeng, 2013). Estima-se que a maior parte dos carregamentos que
chegam nestes países (por meio do mercado informal), seja sucata eletrônica sem muito valor
comercial e apenas uma ínfima parte do que é enviado pode mesmo ser reutilizado como EEE
de segunda-mão (Sthiannopkao & Wong 2013, Rucevska, et al., 2015).
51
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA
Este trabalho caracteriza-se como uma pesquisa descritiva e exploratória quanto a sua
finalidade, pois descreve fatos e fontes de evidência de um fenômeno observado. Quanto à sua
natureza, classifica-se como uma pesquisa qualitativa, pois a análise feita (sobre a LR de REEE
em diferentes países) teve como foco observar os processos, adaptados à realidade de cada país
e reservando o direito de analisar os dados à medida que foram coletados, traçando um
comparativo, ao final, com a situação atual deste tema no Brasil (Martins & Theóphilo, 2009;
Vergara, 2010).
Em relação ao método de pesquisa adotada, optou-se pelo estudo de caso, uma vez que o
foco da análise se encontra em fenômenos sociais contemporâneos e com implicação no
contexto da vida real, além de buscar responder uma pergunta do tipo “como”, da forma
sugerida por Yin (2015). De acordo com Stuart et al. (2002), o estudo de caso é útil em situações
nas quais é necessário aprofundar o conhecimento em contexto ambiental diferente. O caso
estudado em profundidade foi o sistema de logística reversa de REEE implementado na Suíça.
De acordo com Gil (1991), trata-se de um estudo profundo e exaustivo, de um ou poucos
objetos (fenômenos), de maneira a permitir conhecimento amplo e detalhado do mesmo. Ainda
seguindo o que foi apresentado pelo autor, o delineamento deste tipo de pesquisa “se
fundamenta na ideia de que a análise de uma unidade de determinado universo, possibilita a
compreensão da generalidade do mesmo ou, pelo menos, o estabelecimento de bases para uma
investigação posterior, mais sistemática e precisa” (Gil, 1991, p. 79).
O delineamento da pesquisa é apresentado de forma resumida na Figura 14.
Finalidade Natureza Método Coleta de Dados
Descritiva
Exploratória Qualitativa Estudo de Caso
Revisão Bibliográfica
Entrevistas
Análise Documental
Figura 14: Delineamento da Pesquisa Fonte: Elaborado pelo autor
52
A Figura 15 apresenta a proposta de estruturação deste trabalho de pesquisa.
Figura 15: Estrutura do trabalho de pesquisa Fonte: Elaborado pelo autor
3.2 PROCEDIMENTOS DE COLETA DOS DADOS
As técnicas de coleta de dados utilizadas foram a consulta a sites, relatórios, artigos de
periódicos científicos, livros, consulta e entrevistas com profissionais atuantes na área. A
primeira etapa realizada neste trabalho foi a pesquisa bibliográfica.
A pesquisa bibliográfica é uma estratégia fundamental de qualquer pesquisa. A partir
deste levantamento bibliográfico é possível conhecer, analisar e explicar determinados
assuntos, com base em referências publicadas em livros, periódicos, revistas etc. (Martins &
Theóphilo, 2009). Neste trabalho, esta foi uma das estratégias utilizadas, buscando por meio de
artigos, livros e demais publicações, compreender melhor o cenário atual da LR no mundo e
compará-lo com a realidade brasileira.
Para a pesquisa bibliográfica buscou-se identificar artigos científicos atuais e relevantes
sobre o tema. Esta pesquisa foi conduzida durante os meses de abril de 2015 a novembro de
2016, e foram utilizadas as bases de dados das ferramentas de busca “SCOPUS”, “Google
Acadêmico” e o “Web-Of-Science”. As palavras-chave utilizadas na busca foram: “reverse
logistics”, “WEEE”, “e-waste”, “take-bake”, “e-waste recycling”, “management model”,
53
“WEEE take-back”, “EPR”, “Extended Producer Responsibility”, “network design”, ”e-
waste”, “electronic equipment discart”, “logística reversa”, “convenção da Basiléia”, “lixo
eletrônico”, “logística reversa de lâmpadas”, “logística reversa de pilhas e baterias” e “resíduo
eletrônico”.
Em alguns casos estas palavras-chave foram combinadas, para gerar um resultado mais
refinado na ferramenta de busca “SCOPUS”. Por exemplo: Realizou-se a primeira busca por
“reverse logistics; e dentro dos resultados deste tema foi feita uma segunda busca por “e-
waste”. Outro exemplo de busca desta forma foi a utilização das palavras-chave “management
model” em uma primeira busca e refinada em seguida pelas palavras “reverse logistics”. Esta
forma de pesquisar resultou em artigos mais alinhados com o tema de pesquisa proposto neste
estudo.
Para este trabalho, foi conduzida também uma análise documental, valendo-se de dados
primários constantes em relatórios, estudos, leis e documentos públicos (Martins & Theóphilo,
2009; Vergara, 2010). Exemplo destes documentos foram as legislações relacionadas à LR do
Brasil e da Suíça, relatórios das entidades gestoras que operacionalizam o sistema suíço e
estudos conduzidos pelo instituto de pesquisa da Suíça. Por intermédio da consulta à
especialistas da área foi possível ter acesso a outros documentos, não acadêmicos, mas que
representam definições, procedimentos e regulamentações fundamentais para a tratativa do
tema. Nesta etapa foi realizada a análise destes documentos, leis e relatórios obtidos.
Para delimitar o número de publicações a serem avaliadas, os trabalhos com propostas de
modelagem matemática para criação de redes de distribuição logística (network design) e
estimativa da infraestrutura para operacionalizar o sistema de LR não foram avaliados, uma vez
que divergiam da proposta do estudo. Não faz parte do escopo deste trabalho definir a
infraestrutura necessária para atender a LR de REEE no Brasil (propondo número de pontos de
coleta e suas localizações, por exemplo), neste estudo nos atemos a um passo anterior,
analisando qual a melhor maneira do setor produtivo se organizar para poder gerenciar este
processo de modo mais eficiente.
Como a literatura acadêmica é construída com base em trabalhos anteriores, vários
artigos recentes que foram analisados fazem menção a outros mais antigos, que são
reconhecidos como referências no tema abordado. Nesta revisão buscamos analisar os artigos
originais que apareciam citados nos trabalhos mais recentes e, em diversas ocasiões, notou-se
que estes apresentavam um conteúdo mais objetivo e elucidativo, sendo mais úteis
especialmente na conceituação de termos-chave descritos no referencial teórico deste trabalho.
Estas referências originais foram consideradas como artigos seminais deste estudo.
54
De acordo com Yin (2015, p. 36), “o caso desejado deve ser algum fenômeno da vida real
que tenha alguma manifestação concreta”. Como método para definição desta unidade de
análise (caso), foram avaliados os sistemas de LR de diferentes países e suas legislações, de
modo a identificar um modelo que pudesse servir como a referência a ser seguida na busca pela
melhor estruturação da gestão dos REEE no Brasil. Nesta revisão, a Suíça destacou-se por ser
o primeiro país a implementar um sistema de LR específico para REEE e operar atualmente
com índices muito elevados de coleta e reciclagem dos materiais recebidos.
Uma vez definido o caso suíço como a unidade de pesquisa a ser avaliada em
profundidade, foram realizadas entrevistas com os principais atores responsáveis pela
implementação e operacionalização deste sistema. Além disso, foram feitas consultas aos sites
destas instituições, relatórios publicados sobre o gerenciamento do sistema de LR e artigos
científicos sobre a LR de REEE na Suíça.
Para obtenção dos dados na entrevista, foram elaborados questionários semiestruturados
com perguntas centrais sobre o sistema de LR do país e complementadas com as lacunas de
informações identificadas após o estudo dos dados disponíveis na literatura e documentos das
empresas. As entrevistas incluíram conversas via Skype para apresentação do trabalho e
esclarecimentos sobre a pesquisa, além de trocas de e-mail e envio dos questionários com
perguntas sobre o histórico, a estrutura e o funcionamento dos sistemas de LR de REEE na
Suíça. Os especialistas que foram entrevistados representam os principais atores que atuam na
gestão da LR de REEE na Suíça sendo estes, um representante do instituto público de pesquisa
da Suíça e três representantes das Entidades Gestoras que operam a LR no país.
Os indivíduos entrevistados (e suas respectivas instituições) foram escolhidos, pois
representavam os principais participantes deste sistema de LR, a saber: o chefe da unidade de
controle técnico do Laboratório Federal Suíço para Materiais, Ciência e Tecnologia - EMPA,
Sr. Heinz Böni; a diretora administrativa da Organização de interesse para a eliminação de
baterias, Sra. Karin Jordi; o diretor administrativo da Swico Recycling, Sr. Jean-Marc Hensch;
e o diretor de qualidade e tecnologia da Fundação SENS., Sr. Roman Eppenberger; o qual é
também responsável pelas operações da Fundação Suíça para a Reciclagem de Lâmpadas e
Luminárias.
As entrevistas com os representantes do EMPA, SWICO, S.E.N.S e SLRS, foram
conduzidas via Skype, tendo como base as perguntas dos questionários que foram previamente
encaminhados aos representantes. Posteriormente, após digitação das respostas, os
questionários foram encaminhados aos entrevistados, para que validassem as respostas a serem
55
utilizadas no trabalho. A representante da INOBAT optou por responder a entrevista de forma
escrita, devolvendo os questionários já preenchidos via e-mail.
Os profissionais selecionados para estas entrevistas forneceram descrições e
esclarecimentos valiosos para melhor compreender a dinâmica de funcionamento do sistema e
as funções desempenhadas por cada membro participante. Estes profissionais representam
empresas e instituições ativamente envolvidas nos processos de gerenciamento, controle,
planejamento e operacionalização do sistema Suíço de LR para REEE.
Os dados coletados por meio da revisão da literatura e análise documental foram inseridos
em uma planilha com comentários sobre os trechos de destaque e citação da referência de onde
foram obtidos. As entrevistas realizadas via Skype foram gravadas e transcritas, em seguida
traduzidas para português pelo próprio autor, de modo a inserir a resposta do entrevistado às
perguntas previamente enviadas no questionário semiestruturado. As entrevistas respondidas
por e-mail foram analisadas e traduzidas para o português pelo próprio autor, sendo antes,
validadas pelos próprios entrevistados, para assegurar que as respostas foram transcritas de
modo adequado e representam a fala e as intenções de resposta dos entrevistados.
Como o tema em questão é atual e relevante, a publicação de novas informações e estudos
é uma realidade. Desta forma, durante a elaboração do trabalho foram privilegiados estudos
mais recentes, utilizando o filtro de seleção das ferramentas de pesquisa SCOPUS, Google
Acadêmico e Web-Of-Science, além de considerar também os trabalhos mais relevantes na área,
que aparecem como os mais citados nas ferramentas de busca. Para a composição do referencial
teórico, buscou-se trabalhar com artigos mais citados e que se destacaram como referências
sobre o tema, uma vez que foram citados também em diversos outros estudos na área de
pesquisa.
Como citado anteriormente, ao nos depararmos com artigos recentes que mencionavam
outros mais antigos, optamos por identificar o artigo original. Desta forma, utilizamos um maior
número de artigos mais antigos na construção deste referencial, de modo a privilegiar os autores
que primeiro expuseram tais ideias. Alguns outros estudos foram analisados ao longo desta
pesquisa, mas não serão utilizados, pois contém informações que já não representam mais a
realidade momentânea observada, ou tratavam de temas que fugiam do escopo de trabalho
proposto.
56
3.3 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS
No processo de análise dos dados, foi utilizada a técnica de triangulação de dados na
pesquisa, conforme sugerido por Santos (2009), integrando diferentes fontes de dados para se
compor uma visão mais detalhada do fenômeno estudado. Neste caso, como dito anteriormente,
foram consultados livros, relatórios, website das empresas/instituições atuantes na gestão do
sistema de LR, artigos científicos, leis ambientais, além da consulta a especialistas e
profissionais diretamente envolvidos nas atividades objeto deste estudo.
Yin (2001) destaca que a utilização de diferentes fontes para a obtenção de evidências
caracteriza-se como um ponto forte na coleta de dados para o estudo de caso e que o uso de
várias fontes de evidências permite que o pesquisador tenha uma ampla visão do fenômeno que
está se dedicando a investigar. “Assim, qualquer descoberta ou conclusão em um estudo de caso
provavelmente será muito mais convincente e acurada se se basear em várias fontes distintas de
informação, obedecendo a um estilo corroborativo de pesquisa” (Yin, 2001, p. 121,). Buscou-
se com a Figura 16, demonstrar estas diferentes fontes de informação e a forma de cruzar estes
dados.
Figura 16: Triangulação dos dados coletados na pesquisa Fonte: Elaborado pelo Autor
Todos os dados obtidos no trabalho de pesquisa foram avaliados de forma conjunta,
valendo-se da estratégia de triangulação dos dados, para proporcionar a composição de uma
realidade mais fiel e completa o possível do fenômeno estudado neste trabalho.
57
3.4 LIMITAÇÕES DA PESQUISA
Segundo Yin (2001), o estudo de caso carrega algumas limitações intrínsecas ao método,
como a dificuldade de se propor uma generalização científica a partir de um único caso. No
entanto, o autor defende que o objetivo do estudo de caso é propor uma generalização analítica,
a qual permita expandir e generalizar proposições teóricas.
Uma das limitações deste trabalho foi o fato de não ter sido possível realizar a observação
direta do objeto estudado, o que certamente contribuiria para uma compreensão ainda maior do
fato. Além disso, não foi possível entrevistar um representante do governo suíço, o que poderia
fornecer outro ponto de vista importante no estudo da evolução do sistema de LR de REEE no
país. Ademais, foi apontada a questão das diferenças sociais, culturais e territoriais, entre a
Suíça (objeto estudado) e o Brasil (cenário comparativo), alertando para que são condições
muito distintas. No entanto, a proposta deste trabalho não foi comparar as duas realidades
sociais, nem tão pouco tentar replicar o sistema Suíço de forma integral no Brasil, mas sim,
absorver os aprendizados e desafios enfrentados pelo setor empresarial, de modo a orientar as
instituições brasileiras quanto a melhor forma de planejar e estruturar seu sistema de LR para
REEE.
Não foram utilizados os trabalhos sobre a modelagem de sistemas para as redes logísticas
reversas, ou relacionados à definição do número de pontos de coleta e recicladores necessários,
uma vez que a proposta deste estudo foi apresentar uma visão da etapa anterior a este
planejamento, fornecendo sugestões de como as empresas, que tem a obrigação de estruturar a
LR de REEE, poderiam se organizar para melhor gerir este sistema, reduzindo custos e
aperfeiçoando todo o processo.
58
4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
4.1 PRÁTICAS DE GESTÃO DOS REEE NO MUNDO
Como foi mostrado, o uso de recursos cada vez mais raros e a geração de resíduos com
potencial de periculosidade acaba sendo uma questão que as empresas terão de enfrentar de
modo rápido e eficiente, pois apresentam um problema tanto ambiental quanto econômico.
Conforme posto por Hawken, Lovins e Lovins (2007, p. 300), “o capital natural diminui à
medida que o manufaturado se expande, sendo assim as empresas deverão desenvolver sistemas
de produção para reverter esta perda. Isto implicará em mudanças profundas nas organizações,
sendo imperativo reavaliar os papéis e responsabilidades das empresas na sociedade”.
Neste tópico serão analisadas práticas relacionadas à gestão dos REEE em diferentes
países de modo a lançar luz ao tema na perspectiva internacional, servindo como um trabalho
de benchmarking para as empresas fabricantes e importadoras de EEE no Brasil, as quais devem
estabelecer seu sistema de LR nacional visando o atendimento à PNRS.
De um modo geral, todos os sistemas analisados seguem uma característica descrita por
Brito, Dekker e Flapper (2002), são redes logísticas criadas a partir de legislações, tendo como
foco a redução da geração de resíduos a partir da coleta dos produtos em fim de vida. Na maioria
destes sistemas, a LR é paga através de uma taxa cobrada no momento da venda do produto, a
qual custeará as atividades seguintes. A reciclagem propriamente dita consiste em quatro etapas,
a desmontagem do produto, remoção de materiais perigosos, trituração e separação das partes
para processamento final. Esta última etapa requer maior tecnologia e investimentos.
A Suíça foi pioneira no tratamento adequado de e-waste no mundo, sendo o primeiro país
a implementar um sistema formal de gerenciamento de REEE. Seu sistema leva em
consideração o conceito de REP, onde os fabricantes são os responsáveis física e
financeiramente pela disposição final dos resíduos (Shumon et al., 2014). A Suíça conta hoje
com quatro organizações, todas elas sem fins lucrativos, que gerenciam o fluxo reverso de EEE
no país, considerando desde a coleta e transporte até a destinação final ambientalmente correta
destes resíduos (Kiddee et al., 2013).
O sistema de coleta e reciclagem de REEE na Suíça foi organizado e desenvolvido
intencionalmente pelas empresas (fabricantes e importadoras) de EEE. A regulamentação veio
em seguida, em 1998, com a publicação da Ordinance on the Return, the Take-Back and the
Disposal of Electrical and Electronic Equipment (ORDEE). Toda a gestão e operação deste
sistema são controlados pelas Gestoras, que assumem a responsabilidade operacional da LR em
59
nome das empresas a elas associadas. Um dos pilares deste sistema é a cobrança de uma taxa
em aparelhos novos que são vendidos no país. O valor desta taxa varia para cada aparelho e é
suficiente para cobrir todos os custos do sistema de LR (Sinha-Khetriwal, Kraeuchi, &
Schwaninger, 2005; Swiss Federal Office for the Environment [FOEN], 2005).
O Japão possui duas leis principais para tratar da questão do manejo dos REEE. A
primeira a ser promulgada foi a Law for Recycling Specified Home Appliances Recycling
(SHAR), em 2001, que estabeleceu a obrigatoriedade aos fabricantes de eletrodomésticos de
grande porte de estabelecer um sistema de LR para estes produtos.
A segunda foi a Law for the Promotion of Effective Utilization of Resources (LPUR), que
diferentemente da SHAR, se baseia nos esforços voluntários dos fabricantes em promover a
reciclagem de REEE e redução na geração destes resíduos. Embora os fabricantes sejam
responsáveis pelo estabelecimento de um sistema apropriado para coleta e reciclagem dos
REEE, são os consumidores que pagam a operacionalização deste sistema. Além destas
obrigações, os fabricantes ainda possuem metas de reciclagem e são obrigados a rotular seus
EEE com informações sobre substâncias potencialmente tóxicas presentes em sua composição
(Pariatamby & Victor, 2013; Kiddee et al., 2013).
O gerenciamento de REEE nos países da União Europeia (UE) foi devidamente
regulamentado em 2003 com a Diretiva WEEE (2002/96/EC), no entanto este assunto começou
a ser debatido entre estes países já em 1991, quando classificaram o fluxo de REEE como um
de seus assuntos prioritários. A Diretiva WEEE se baseia fortemente no conceito da REP e
impõe aos fabricantes a obrigação de implementar sistemas de LR de seus EEE, contemplando
a coleta, transporte, recuperação e/ou tratamento dos REEE ao final de sua vida útil. Cabe a
cada país membro da UE regulamentar sua lei nacional alinhada à esta Diretiva, tendo como
meta comum recolher, no mínimo, quatro quilogramas (4 kg) de REEE por habitante/ano.
(Kiddee et al., 2013; Parlamento Europeu, 2003).
Em dezembro de 2008 a Comissão Europeia propôs a revisão da Diretiva 2002/96/CE. A
reformulação da Diretiva WEEE resultou na publicação da nova Diretiva 2012/19/UE, que foi
publicada em 13 de agosto de 2012 e entrou em vigor em 14 de fevereiro de 2014. A nova
Diretiva introduz uma meta de coleta de 45% dos EEE vendidos, aplicável a partir de 2016 e
uma segunda fase, a partir de 2019, em que a meta será de 65% dos equipamentos vendidos, ou
85% dos REEE gerados. Os Estados-Membros poderão escolher qual destas duas maneiras irão
adotar para medir o alvo que desejam relatar. A nova Diretiva WEEE trata também, da questão
da exportação ilegal de REEE oferecendo aos países membro novas ferramentas para combater
esta prática, como a obrigação dos exportadores de testar e fornecer documentos sobre a
60
natureza de sua carga, quando houver o risco desta carga ser, na realidade, apenas sucata
(Parlamento Europeu, 2012).
Na Figura 17 são apresentados alguns modelos de Logística Reversa que foram adotados
em países da União Europeia, seguindo os preceitos definidos pela Diretiva WEEE. Procurou-
se identificar a legislação vigente em cada país, a dinâmica de recebimento dos REEE, a forma
de financiamento do sistema e se operam com entidades Gestoras. Nestes casos, analisou-se
também o ano de fundação de ao menos uma destas Gestoras, se foram criadas com fins-
lucrativos ou não, quais REEE são recebidos e qual o sistema de coleta adotado. Estes dados
foram retirados dos websites das Gestoras mencionadas, além do website da inciativa StEP
(Solving the e-waste problem) e do relatório de Defillet, Cosyn e Vanderschaeghe (2013).
Figura 17: Sistemas de logística reversa em países Europeus Fonte: Elaborada pelo autor
Oliveira (2016) apresenta um comparativo ainda mais detalhado dos sistemas de gestão
de REEE na Europa, sendo possível observar a prevalência do modelo de REP em todos os
países estudados e a predominância de sistemas coordenados por Entidades Gestoras, as quais
competem entre si pela coleta e tratamento dos REEE, com exceção do sistema Suíço.
A China, desde 1995, já é considerada um grande player no mercado internacional da
reciclagem, em grande parte devido à importação de REEE para serem tratados no país. Com
País Lei para REEE Gestora Lucra Ano EPR Dinâmica EEE recebido Financiamento Portugal Management of Electrical
and Electronic Waste, Decree-Law No. 67/2014
Amb3E Não 2005 Sim Consumidores podem levar os REEE até pontos de coleta da gestora e também no comércio.
10 categorias da WEEE + pilhas e baterias
Contribuição visível (variável por categoria de produto) cobrada na venda do produto novo.
França Order of 2 December 2014 on the approval procedure and setting down specifications for eco-organisations in the household waste electrical and electronic equipment sector
Eco-système
Não 2006 Sim Consumidores podem levar os REEE até pontos de coleta da gestora. Os comerciantes são obrigados a receber os REEE e os municípios concordaram em também disponibilizar pontos de coleta.
9 categorias da WEEE (exceto lâmpadas). Não coletam pilhas e baterias
Contribuição visível (variável por categoria de produto) cobrada na venda do produto novo.
Alemanha Act realigning the law on the placement on the market, taking back products and environmentally friendly disposal of electrical and electronic equipment. 2015
Não. Empresa privada: Zentek
Sim 1995 Sim As prefeituras são responsávei pelos pontos de coleta. Empresas privadas podem também oferecer o serviço, como a Zentek. O comércio não tem obrigação de receber.
10 categorias da WEEE + pilhas e baterias
Fabricantes e importadores devem depositar uma taxa ao governo ou contratar gestora privada para operar o sistema.
Espanha Royal Decree 110/2015, of 25 February, regarding electrical and electronic equipment and waste management
EcoTic Sim 2005 Sim O descarte é feito em pontos de coleta da gestora, no comércio ou em pontos de coleta do município.
10 categorias da WEEE
Contribuição visível (variável por categoria de produto) cobrada na venda do produto novo.
Suécia The Swedish Ordinance (2014:1075) on producer responsibility for
El-Kretsen Sim 2001 Sim As prefeituras são responsáveis pelo recebimento e
10 categorias da WEEE +
Contribuição visível (variável por categoria de produto) cobrada
61
mais de 700.000 pessoas trabalhando nesta área, quase sua totalidade no setor informal, a China
tenta hoje dar uma solução a este problema (Sthiannopkao & Wong, 2013).
Como um dos países ratificadores da Convenção da Basiléia, a China, em teoria, não
permite importação de resíduos perigosos e, visando tornar esta decisão mais forte, o governo
chinês adotou uma lei nacional que proíbe a importação de resíduos perigosos e, além disso,
criou outras duas leis baseadas na diretiva europeia: a Management Measure for the Prevention
of Pollution from Electronic Products (conhecida como a RoHS da China) e a Administration
Regulation for the Collection and Treatment of Waste Electrial and Electronic Products, que
foi chamada de WEEE Chinesa (Pariatamby & Victor, 2013; Sthiannopkao & Wong, 2013).
Segundo Shumon, Ahmed e Islam (2014) só recentemente a China instituiu um sistema
para coleta de REEE de uso doméstico, baseado nestas legislações citadas como a WEEE e
RoHS Chinesas. Este sistema é baseado no pagamento de uma taxa de reciclagem e depende
do licenciamento das empresas que se apresentam como recicladoras.
Apesar desses esforços demonstrados pelo governo Chinês, a imagem que ainda
prevalece no país é a da caricatura de sistemas completamente informais de reciclagem,
operando em condições precárias. Mesmo considerando os investimentos do governo e setor
privado, a perspectiva é que os sistemas formais de LR não irão alcançar os baixos custos e
capilaridade do setor informal (Sthiannopkao & Wong, 2013; Lau et al., 2012).
Demais países asiáticos também enfrentam este mesmo problema. A Índia, assim como a
China, é também um grande ator neste cenário mundial de reciclagem de REEE. Os indianos
recebem anualmente uma enorme quantidade destes resíduos vindos do exterior e, além disso,
geram dentro do próprio país, mais de 400.000 toneladas de REEE. Paquistão e Bangladesh
estão também se tornando destinos cada vez mais frequentes para exportação de REEE vindo
de países desenvolvidos. Estes países, assim como a Índia, estão trabalhando em legislações
recentes para regulamentar a questão do resíduo eletrônico no país e combater este problema
ambiental e sanitário (Pariatamby & Victor, 2013; Li et al., 2013).
Outros estudos demonstraram a mesma conclusão, afirmando que o comércio informal
de REEE continuará a existir nestes países, ainda que sejam estabelecidos sistemas formais de
LR nestes países. Logo é necessário que existam subsídios por parte dos governos para apoiar
o sistema formal de reciclagem, uma vez que ao coexistir com os sistemas informais (ilegais),
a competição pelos resíduos será desigual, podendo comprometer a operação dos recicladores
qualificados (Lau et al., 2012).
A Malásia, país que está se desenvolvendo rapidamente, tem abordado a gestão de seus
REEEs de forma sistemática. Neste país, os REEEs coletados (por diferentes formas) podem
62
seguir o fluxo de reciclagem formal, sendo enviados para as fábricas de recuperação total ou
parcial, ou podem parar nas mãos dos recicladores informais. Embora existam algumas
empresas legalmente estabelecidas, o sistema de coleta e gestão destes resíduos ainda não está
devidamente implementado pelo governo (Shumon, et al. 2014).
O Departamento de meio ambiente da Malásia, conta hoje com o apoio da Agência de
Cooperação Internacional do Japão (JICA – sigla em inglês), para desenvolver um sistema de
coleta de REEE de uso doméstico. Esta é uma experiência que está sendo feita em apenas uma
região neste momento, mas, caso bem-sucedido, servirá de modelo para expandir o projeto para
todo o país (Shumon et al. 2014).
4.1.1 Considerações sobre a Gestão dos REEE no Mundo
Ao analisar os estudos percebe-se que, na maioria dos casos, o foco da LR de REEE é na
reciclagem dos produtos recebidos. Alguns autores apresentam pistas que podem explicar esta
tendência. Segundo Walther e Spengler (2005), a idade avançada dos aparelhos e o baixo valor
agregado de suas partes e peças, fazem com que o reuso destes produtos muitas vezes não seja
viável. Ferguson e Toktay (2006) avaliaram que a escolha entre remanufaturar ou não o produto
descartado, é baseada em duas questões: custos e competição no mercado. Segundo os autores,
os custos normalmente são muito altos para se justificar a remanufatura do aparelho, além do
fato de um aparelho reparado competir com a comercialização de um aparelho novo, criando
uma nova competição no mercado.
Os países desenvolvidos, analisados neste trabalho, já possuem seus sistemas de LR de
REEE implementados, sendo que a base das regulamentações que orienta a criação e
operacionalização desses sistemas é a REP, imputando a responsabilidade da gestão destes
REEE sob os fabricantes. Conclusão esta também observada no trabalho de Oliveira (2016).
Países ainda em desenvolvimento estão também tratando desta questão, porém em estágios
ainda mais iniciais. Como visto, alguns destes participam da cadeia global de LR dos REEE
como “recicladores”, recebendo grande parte do volume de REEE gerado nos países
desenvolvidos.
É possível perceber algumas tendências e conclusões ao analisar os estudos mencionados
neste trabalho, no que se refere à gestão dos REEE no mundo. A regulamentação sobre formas
de melhor gerir este tipo de resíduo é claramente uma realidade, uma vez que aproximadamente
4 bilhões de pessoas estão cobertas por alguma legislação nacional que trata do tema (Baldé et
63
al., 2015). Embora alguns países estejam mais avançados que outros, não há dúvida que este é
um caminho sendo seguido pelos países como forma de combater o problema do lixo eletrônico.
Outro fato que parece consenso é a questão da permanência do setor informal nos países em
desenvolvimento, como visto nos casos da China, Índia e Malásia, sendo este setor o detentor
de grande parte do volume de REEE coletado. O que leva a uma terceira conclusão de que, em
um futuro próximo, a maior parte da geração de resíduo será gerada em países que não tem a
capacidade de trata-lo de forma segura e ambientalmente correta (Oliveira, 2012; Kiddee et al.,
2013).
Shumon et al. (2014), mostraram algumas barreiras e problemas que podem ser
encontrados na gestão dos REEE, nos países em desenvolvimento. Os autores citaram primeiro
a questão do descarte destes resíduos, pois os consumidores tendem a querer vender seus
equipamentos para o setor informal, ao invés de descartá-los no sistema formal de reciclagem.
Comentaram também que os governos devem ser mais efetivos na fiscalização e cumprimento
das leis, uma vez que os sistemas informais passam despercebidos pela fiscalização, recaindo
todo o ônus e custos do sistema para as empresas que operam de forma legal, sendo estes gastos
maiores que os obtidos pela recuperação dos materiais coletados.
Pariatamby & Victor (2013), também destacaram o descarte como um desafio para os
sistemas de LR de REEE, levantando o questionamento de como será possível lidar com
recicladores informais que pagam mais pelo REEE do que os recicladores licenciados,
dificultando assim o atingimento de metas oficiais. Além desta questão, lembraram que é válido
o aprendizado obtido pelas legislações europeias e outras baseadas na REP, no entanto, é
necessário que cada país estude este conceito para adaptá-lo à realidade de seu país. Com
situações bem distintas, os países em desenvolvimento têm grandes desafios para a
implementação da REP, como a competição do setor informal (representativo), a entrada de
equipamentos contrabandeados e a cobrança aos pequenos importadores, de modo a garantir a
isonomia do mercado.
64
5 O MODELO SUÍÇO DE GESTÃO DE REEE
O sistema suíço de LR de REEE foi o escolhido para ser analisado neste trabalho de modo
mais aprofundado devido a alguns fatores preponderantes. Como visto anteriormente, a Suíça
foi pioneira em implementar seu sistema de LR de REEE envolvendo o setor industrial. Além
disso, apresenta elevados índices de coleta e reciclagem dos REEE (9 kg/hab.), os quais serão
detalhados nesta seção. Outro fato que despertou o interesse em estudar o modelo deste sistema,
foi a forma com que ele se assemelha (mesmo que involuntariamente) ao que pode ser
observado atualmente no Brasil, em termos de estruturação dos fabricantes para implementação
de sistemas coletivos de LR. Ademais, pelo fato de estarem operando por mais de 25 anos
(considerando o ano de fundação da primeira Gestora - SENS), o sistema Suíço apresenta uma
ótima possibilidade de estudar a evolução de um sistema de gestão de REEE.
A Figura 18, retirada da apresentação do EMPA, feita em 2012 Montevidéu, intitulada
“La Gestión de los Residuos de Aparatos Eléctricos y Electrónicos”, apresenta uma linha do
tempo com o ano de criação das Gestoras de diferentes países e os principais marcos legais da
LR de REEE, com destaque para as iniciativas suíças da SENS e SWICO que precederam
inclusive a regulamentação nacional.
Figura 18: Linha do tempo dos marcos legais para LR de REEE Fonte: Adaptado de Ott, D. (2012). La Gestión de los Residuos de Aparatos Eléctricos y Electrónicos: El modelo
Suizo. Apresentação feita em workshop promovido pelo Laboratório Federal Suíço para Materiais, Ciência e
Tecnologia - EMPA. Montevidéu, Uruguai
65
Na sessão seguinte é feita uma apresentação geral da Suíça, de modo a caracterizar melhor
o contexto do fenômeno estudado. Posteriormente será descrita a legislação que regulamenta a
LR dos REEE no país e introduzido os principais atores que participam deste sistema. Em
seguida descrevemos os sistemas para LR de REEE, da forma como foram criados e como
operam atualmente. Serão descritos os sistemas de LR para pilhas e baterias, lâmpadas e, de
modo mais abrangente, o sistema para coleta e reciclagem dos demais EEE, objeto principal
deste trabalho.
5.1 A Confederação Suíça
A Suíça é uma confederação de estados, unidos de forma comum em uma Federação.
Suas fronteiras foram estabelecidas e reconhecidas internacionalmente em 1815 e seu sistema
político remete à Constituição Federal de 1848. Atualmente o país tem uma população de 8,2
milhões de habitantes, dos quais 24% são imigrantes ou naturalizados. A Suíça é um país
multilíngue, com quatro idiomas oficiais reconhecidos: Alemão, Francês, Italiano e Romanash
(Federal Chancellery, 2016).
As principais fontes de receita do país são os Impostos Federais e o imposto chamado
VAT (value-added tax), que é uma taxa cobrada sobre os produtos e serviços adquiridos em
alguns países da Europa. Os Impostos Federais são cobrados sobre a renda dos indivíduos
(máximo de 11,5 por cento) e sobre o lucro das empresas (8,5 por cento), enquanto que a VAT
cobra um valor médio de 8 por cento da maioria dos bens e serviços (Federal Chancellery,
2016).
A Constituição Federal define as atribuições e responsabilidades da Confederação e sendo
uma Federação em sua forma de governar, o poder do estado é dividido entre o governo federal,
os cantões (equivalente aos estados) e as comunas (municípios). Existem ao todo 26 cantões na
Confederação, sendo que cada um tem o seu próprio parlamento, governo, tribunais e
constituição, a qual não pode se contrapor à Constituição Federal. Cada cantão é dividido em
comunas, que possuem também suas responsabilidades e atribuições, definidas pelos cantões
(Federal Chancellery, 2016).
Da forma como pode ser observado no Brasil, a Suíça também possui uma separação
entre os três poderes: legislativo, executivo e judiciário. O Parlamento Suíço é constituído pelo
Conselho Nacional (que representa o povo) e o Conselho dos Estados, eleitos pela população a
cada quatro anos. O governo federal é formado por sete conselheiros federais eleitos pelo
Parlamento, que também elege o Chanceler Federal deste Conselho e os membros da Suprema
66
Corte. Desta forma percebe-se o grande poder do Parlamento Suíço, o qual deve ser
supervisionado pela vigilância da própria população (Federal Chancellery, 2016).
O Conselho Federal é o governo Suíço, cada um dos sete membros que o compõem são
também diretores de um dos sete departamentos federais (equivalentes aos ministérios no
Brasil). Em dezembro de 2015, foram eleitos os atuais Conselheiros para um mandato de quatro
anos. O Conselheiro Federal Johann N. Schneider-Ammann foi eleito o Presidente da
Confederação Suíça, tendo como sua vice a Sra. Doris Leuthard, diretora do Departamento
Federal de Meio Ambiente, Transporte, Energia e Comunicações (DETEC).
O DETEC é responsável por manter e desenvolver a infraestrutura da Suíça, sem
comprometer o meio ambiente; e tem como política ambiental, a garantia de que os recursos
naturais do país permaneçam intactos para as futuras gerações (Federal Chancellery, 2016).
Este Departamento Federal é composto por 8 Escritórios Federais, sendo um deles o Federal
Office for the Environment – FOEN (Escritório Federal de Meio Ambiente).
5.2 A Regulamentação Suíça para Logística Reversa de EEE
A lei de proteção ambiental do país (The Environmental Protection Act - EPA) lançou os
fundamentos para o ORDEE (ordenamento Suíço para LR de REEE) e demais ordenamentos
alinhados ao tema, sendo, consequentemente, a base para a criação do sistema de LR na Suíça
(SWICO, 2016).
O EPA estruturou os princípios básicos da legislação ambiental Suíça, regulamentando
diversas áreas da proteção ambiental e delimitou provisões gerais para todos os demais aspectos
da proteção ambiental, os quais, posteriormente, foram regulamentados por ordenamentos
específicos. O EPA aborda aspectos chave, como o controle de emissões e a proteção contra
substâncias perigosas ao meio ambiente, aos organismos e solo. Trata também trata da questão
dos resíduos, incluindo a remediação de áreas contaminadas (FOEN, 2013).
O capítulo 47o do EPA trata especificamente da questão dos resíduos e traz conceitos
muito conhecidos atualmente nos debates sobre LR de REEE, como, por exemplo, a não
geração de resíduos, sempre que possível. Além disso, definem também em seus princípios que
os resíduos devem ser recuperados e dispostos de modo ambientalmente adequado. No artigo
30o deste mesmo capítulo, a lei diz que o Conselho Federal pode exigir das empresas que
colocam produtos no mercado, que aceitem a devolução destes produtos após seu uso, podendo,
para isso, criar um sistema de depósito-caução, no qual os consumidores teriam direito ao
67
reembolso no momento da devolução do produto, buscando assim estimular a devolução desses
equipamentos (Conselho Federal Suíço, 1983).
Além disso, o Conselho Federal também previu, através do EPA, que fabricantes e
importadores que colocam produtos no mercado (os quais se tornarão resíduos e irão demandar
um tratamento especial, ou são passíveis de recuperação), poderiam pagar uma taxa antecipada
de destinação de seus produtos à uma organização privada, apontada e supervisionada pela
Confederação. Esta taxa seria então utilizada para financiar o sistema de coleta, tratamento e
disposição final dos resíduos da empresa (Conselho Federal Suíço, 1983).
5.2.1 Ordenamento para o Retorno e Disposição de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos
A Suíça é um país comprometido com as questões ambientais. Conforme aponta o
ranking da universidade de Yale, denominado Environmental Performance Index (EPI), em
2015 a Suíça figurou na posição de número 16, sendo que em 2014 era a líder do ranking
(segundo a universidade, houve uma alteração na metodologia para métrica de avaliação). O
Brasil é também um dos países avaliados neste ranking, aparecendo (em 2015) na posição de
número 46. O EPI classifica os países de acordo com seu desempenho ambiental em duas áreas
prioritárias: proteção da saúde humana e proteção dos ecossistemas (Hsu et al., 2016).
Mesmo antes de haver uma regulamentação específica, a Suíça já contava com um
sistema formal para coleta e reciclagem de REEE, o qual foi o primeiro no mundo a ser
estruturado de forma sistêmica. O país passou a ter uma legislação específica para tratar da LR
de REEE em janeiro de 1998, com a publicação da Ordinance on The Return, the Take Back
and the Disposal of Electrical and Electronic Equipment (ORDEE). Este ordenamento governa
todo o retorno, coleta e disposição final de REEE no país, tendo como objetivos principais
garantir que este resíduo não entre no fluxo de resíduo municipal e que seja disposto de forma
ambientalmente adequada (Sinha-Khetriwal et al., 2005).
Segundo o ordenamento Suíço, é obrigação da pessoa que descarta seu REEE, devolve-
lo a um comerciante, fabricante ou importador do produto, sendo também permitida a devolução
em pontos públicos de coleta de REEE ou diretamente no local de disposição final. O ORDEE
também especifica que cabe aos distribuidores receber os REEE do tipo que comercializam sem
cobrar por este serviço, assim como os comerciantes, os quais devem receber os produtos
descartados pelos consumidores finais sem cobrar a mais por isto. Já os fabricantes e
importadores devem receber os produtos da marca que colocaram no mercado, também sem
68
custos. Cabe aos responsáveis pela recepção destes produtos descartados, providenciar sua
destinação final, podendo esta ser feita por uma terceira parte comissionada (FOEN, 2015).
O responsável pela destinação final do REEE pode optar então por contratar uma empresa
privada ou contribuir financeiramente com uma organização profissional (Entidade Gestora),
que assegure a disposição final de seus aparelhos. As empresas podem ainda operar todo este
sistema de forma de forma individual, devendo neste caso: a) garantir a disposição final a suas
próprias custas; b) indicar, de forma clara, em seus pontos de venda, que recebem REEE; e c)
manter um inventário do total de equipamento vendidos e coletados, assim como recibos que
comprovem a destinação final correta, os quais deverão permanecer à disposição da agência
ambiental Suíça e dos Cantões pelo período de cinco anos (Conselho Federal Suíço, 2005).
Segundo o Conselho Federal Suíço (2005), os responsáveis pela destinação final devem
garantir que este procedimento seja feito de modo ambientalmente correto e seguindo as
melhores tecnologias disponíveis para tal. Em especial devem seguir orientações quanto a
certos grupos de substâncias que estão presentes em partes e componentes dos REEE, tais
como: baterias, capacitores, tubos de raio catódico, placas de circuito impresso e plásticos
contendo compostos orgânicos químicos. O ordenamento traz ainda uma lista dos tipos de
equipamentos (incluindo seus componentes) que são cobertos pela legislação, conforme
demonstrado na Figura 19.
Equipamentos elétricos cobertos pelo ordenamento suíço:
a) Equipamentos eletrônicos de consumo;
b) Equipamentos de escritório e TICs;
c) Eletrodomésticos;
d) Equipamentos de iluminação;
e) Lâmpadas (excluíndo as incandescentes);
f) Ferramentas (exceto ferramentas industriais estacionárias de grande porte);
g) Aparelhos de esporte e laser, assim como brinquedos;
Figura 19: Categorias de equipamentos elétricos e eletrônicos cobertos pela ORDEE Fonte: Conselho Federal Suíço. (2005). Ordinance on the Return, the Take-Back and the Disposal of Electrical
and Electronic Equipment. Waste Management and raw materials Division. 14 jul. 1998. State 23, aug. 2005.
Além desta listagem apresentando as categorias de EEE sujeitos à LR, a lei suíça abriu
espaço para que fosse criado pelo FOEN, um manual orientador que possibilitasse a aplicação
clara e uniforme da lei. O manual intitulado Guidelines for the Ordinance on the return, the
taking back and the disposal of electrical and electronic appliances (Manual) foi publicado em
2000, com o objetivo de auxiliar na interpretação do ORDEE, traduzindo conceitos jurídicos
em termos práticos de modo a permitir uma implementação uniforme dos requisitos exigidos
(Swiss Agency for the Environment, Forests and Landscape [SAEFL], 2000).
69
O Manual disponibilizado pela agência ambiental suíça traz em seus anexos uma lista de
quais produtos, dentro de cada categoria, devem implementar a LR, deixando claro que tal lista
não pretende ser exaustiva. O Manual apresenta também, uma lista dos aparelhos que não estão
contemplados no ORDEE e, por isso, não necessitam implementar um sistema para LR; mas,
independente disto, a destinação ambientalmente adequada continua a ser um imperativo
também para estes aparelhos (SAEFL, 2000). Estas listas encontram-se disponíveis nos Anexos
1 e 2 deste trabalho.
O Manual traz ainda em seus anexos, fichas técnicas que demonstram as melhores
práticas e tecnologias disponíveis para garantir o tratamento ambientalmente adequado de cada
categoria de EEE abrangido pela legislação, identificando as principais características de cada
família de produto além de apresentar as seguintes informações: a) materiais constituintes e
componentes especiais; b) objetivos e requisitos para disposição final; c) exemplos de descarte
do equipamento; d) desmontagem; e) separação e remoção dos componentes especiais; f)
manejo dos componentes principais; e g) reciclagem e disposição dos componentes residuais
(SAEFL, 2000). O processamento mais especializado dos metais presentes nestes equipamentos
é realizado em outros países, uma vez que as plantas que detêm esta tecnologia não estão
sediadas na Suíça (FOEN, 2016a).
Durante o processo de desmontagem de EEE, vários tipos de resíduos são produzidos. De
acordo com o Manual do ORDEE, todos os componentes contendo substâncias poluentes
devem ser removidos e tratados de forma separada, garantindo sua disposição final adequada.
Devido ao fato de os REEE gerarem outros tipos de resíduos, com classificações e tratamentos
próprios, outras legislações devem ser observadas. Neste mesmo Manual existe uma tabela que
classifica os resíduos gerados na etapa de desmontagem e indica quais legislações melhor se
aplicam ao tratamento e transporte destes resíduos (SAEFL, 2000).
De acordo com a Ordinance on Movements of Waste (ordenamento sobre movimentação
de resíduos), os EEE são classificados como “outros resíduos controlados”. Por conta disto,
todas as pessoas, empresas ou organizações que tratem da disposição final dos REEE na Suíça
necessitam uma autorização do Cantão em que se encontra, para operar, sejam eles
transportadores, armazenadores, recicladores, empresas ou ONGs que trabalhem com a
desmontagem e triagem dos materiais. Caso a opção seja a exportação dos REEE para
disposição final, faz-se necessário uma autorização da SAEFL, sendo que para países não
membros da OCDE ou UE, a exportação de REEE é proibida (SAEFL, 2000; FOEN, 2016a).
70
5.2.2 Ordenamentos para o Controle de Substâncias Perigosas
Em 1986, a lei sobre substâncias perigosas para o ambiente (Ordinnance sur les
substances dangereuses pour l’environnement - OSUBST) entrou em vigor, passando a
considerar os metais pesados, presentes na composição das pilhas e baterias, como perigosos.
Desta forma, os fabricantes, importadores e distribuidores tornaram-se sujeitos à obrigação de
receber as pilhas de volta e submetê-las a uma disposição ambientalmente correta (INOBAT,
2016).
Além de estabelecer os limites permitidos para substâncias constantes nas pilhas e
baterias, o OSUBST definiu claramente as responsabilidades de cada participante da cadeia, na
estruturação e implementação da LR das pilhas e baterias. Os consumidores são obrigados a
devolver as pilhas a um comerciante ou a um ponto de coleta. Os comerciantes são obrigados a
receber estas pilhas e disponibilizá-las aos fabricantes. Os fabricantes/ importadores das pilhas
e baterias (ou produtos que as contenham) devem pagar para uma organização privada,
supervisionada pela Confederação, uma taxa de eliminação antecipada para garantir a correta
destinação. O governo fica responsável por estabelecer o valor desta taxa (Conselho Federal
Suíço, 1986).
Nesta legislação, está presente também a preocupação em informar e conscientizar o
cidadão, através da obrigação dos estabelecimentos que comercializam pilhas, de afixar em
local de destaque orientações quanto à forma correta de descartar estes produtos e
esclarecimentos sobre a taxa cobrada para a LR. Por fim, os fabricantes têm a obrigação de
comunicar ao FOEN a cada ano (até 30 de abril), a quantidade de pilhas e baterias, sujeitas à
taxa, que foram colocadas no mercado para o consumo interno do país no ano anterior, assim
como o total recebido e reciclado (Conselho Federal Suíço, 1986).
Além deste ordenamento para controle de substâncias perigosas, o Conselho Federal
Suíço publicou em 2005 uma nova regulamentação para tratar da restrição e proibição do uso
de algumas substâncias particularmente perigosas, a chamada Ordinance on the Reduction of
Risks relating to the Use of Certain Particularly Dangerous Substances, Preparations and
Articles (ORRChem). Este ordenamento traz em seus anexos, especificações para o tratamento
de uma série de produtos e substâncias, dentre estas, trata também da situação das pilhas e
baterias (Conselho Federal Suíço, 2005).
De acordo com o definido no ORRChem, os fabricantes e importadores de pilhas e
baterias, ou equipamentos que as contenham, devem apresentar de forma clara, no corpo do
produto, a informação de que a coleta das pilhas e baterias é feita por um sistema separado da
71
coleta pública. Além disso, delimitam valores máximos de concentração permitidos para
mercúrio (5 mg) e cádmio (20 mg), proibindo a comercialização de pilhas e baterias caso os
valores ultrapassem o estipulado (Conselho Federal Suíço, 2005).
O ORRChem revisa alguns itens do ordenamento anterior e reforça as obrigatoriedades
em relação à LR, como o fato de todo comerciante que coloca pilhas no mercado ser obrigado
a recebê-las de volta sem cobrar por isso. Destacam que a taxa de reciclagem inserida no valor
das pilhas deve ser paga a uma organização indicada pelo FOEN, que é também o órgão
responsável por estabelecer o valor desta taxa e revisá-lo anualmente. O valor arrecadado com
a taxa somente pode ser utilizado para as seguintes atividades: a) coleta, transporte e
reciclagem; b) produzir dados e materiais de divulgação e informação ao público, sendo que
não mais do que 25% do total pode ser utilizado para este fim; c) custear atividades próprias
dentro de seu escopo de atuação aprovado pelo FOEN (Conselho Federal Suíço, 2005).
A organização que irá gerenciar a LR das pilhas e baterias deve ser indicada pelo FOEN
e, para tanto, deve atender a uma série de requisitos, dentre estes a Organização deve: a)
fornecer ao FOEN todas as informações necessárias para analisar suas atividades a qualquer
momento; b) manter sigilo comercial em relação aos dados da taxa; c) submeter ao FOEN um
relatório anual com sua contabilidade, auditado por terceira parte, informando: a quantidade de
pilhas e baterias sujeitas à taxa que foram colocadas no mercado, o valor total arrecadado com
a taxa coletada, o detalhamento do uso das receitas e a lista de fabricantes associados. O contrato
da Organização com o FOEN tem vigência de não mais do que cinco anos (Conselho Federal
Suíço, 2005).
5.3 Os atores Participantes do Sistema
Neste capítulo serão apresentados as principais instituições e organizações que
participaram da estruturação e implementação do sistema suíço para LR de REEE, sendo estes:
órgãos do governo, centros de pesquisa, fundações e associações que auxiliam as empresas a
cumprirem suas obrigações previstas no ORDEE.
I. FOEN
O Federal Office for the Environment – FOEN é o centro de expertise ambiental do
governo federal suíço (equivalente à secretaria executiva do ministério do meio ambiente no
Brasil), sendo parte do Departamento Federal de Meio Ambiente, Transporte Energia e
Comunicação, órgão que equivaleria ao status de ministério que temos no governo brasileiro.
72
A missão do FOEN é garantir o uso sustentável dos recursos naturais, incluindo solo,
água, ar e florestas. Este órgão é responsável por minimizar os danos ambientais, reduzindo os
riscos para o meio ambiente e a saúde humanam potencialmente causados pela poluição
excessiva, conservando a biodiversidade e representando a Suíça em arenas políticas ambientais
internacionais (FOEN, 2016a).
Na visão do FOEN, as matérias primas são um recurso caro e escasso e, por esta razão,
focam bastante na economia circular, buscando fechar todos os ciclos de materiais que ainda
estejam abertos. A gestão de resíduos na Suíça é um sistema econômico que opera com atores
públicos e privados, sendo um componente-chave para a sustentabilidade da política de recursos
do país, cujo objetivo principal é aumentar a eficiência no uso dos recursos naturais (FOEN,
2016a).
II. Laboratório Federal Suíço para Materiais, Ciência e Tecnologia
O Laboratório Federal Suíço para Materiais, Ciência e Tecnologia (EMPA) é uma
instituição pública de pesquisa que faz parte do ETH Domain (união de universidades federais
e instituições de pesquisa da suíça), mas tem autonomia plena para operar. Os trabalhos
realizados neste laboratório são voltados a pesquisas sobre materiais e tecnologias de ponta,
com atividades focadas nos requisitos definidos pela indústria e com aplicação na prática
(EMPA, 2016).
Dentre as diversas linhas de pesquisa e desenvolvimento conduzidas neste laboratório
federal, existe um ramo específico que trata da LR de REEE, em função do grande
conhecimento adquirido pela instituição ao longo dos anos de operação nesta área. Conforme
relatou o chefe da unidade de controle técnico do Laboratório, Sr. Heinz Böni, o EMPA esteve
presente desde a criação do sistema suíço para LR, auxiliando as Gestoras a se estruturarem e
melhor organizarem seus processos e procedimentos de gestão e operação. Esta experiência
adquirida permite que o EMPA trabalhe hoje, em novas tecnologias e processos para melhor
recuperar os materiais e metais nobres presentes nos EEE que retornam no sistema.
O EMPA também auxilia outros países em desenvolvimento, a criar seus próprios
sistemas de logística reversa, tanto na implementação de políticas públicas, quanto no próprio
projeto operacional. Atualmente estão atuando em alguns destes países, com destaque para o
trabalho no Peru e Colômbia, onde estão trabalhando com compartilhamento de conhecimento
em todas as etapas do processo: definição legislativa, implementação operacional, gestão,
monitoramento, auditoria e reciclagem. Estes projetos são todos financiados pelo governo
73
suíço, o qual já também financiou um trabalho deste tipo para o governo de Minas Gerais, com
o objetivo de mapear a geração de REEE no país (Rocha et al., 2009).
III. Swico Recycling
A Swico Recycling (SWICO) é um sistema sem fins lucrativos, formado a partir de uma
comissão criada na Associação Swico (Swiss Association for Information, Communication and
Organization Technology), associação esta que representa os interesses das empresas
fornecedoras de equipamentos de TIC na Suíça (SWICO, 2016). Conforme descrito pelo seu
diretor, Sr. Hensch, a SWICO apesar de ser gerida pela Associação, é um sistema neutro e
independente, permitindo a adesão de outras empresas não filiadas à Associação. A SWICO
opera a nível nacional providenciando a coleta de EEE descartados, nas áreas de informática,
eletrônicos de consumo, equipamentos de escritório, comunicação, indústria gráfica e
equipamentos médico e de medição.
O sistema SWICO foi estabelecido em 1º de dezembro de 1993 como um sistema
voluntário, aprovado pela maioria dos membros da Associação. Esta proposta surgiu devido a
demanda crescente advinda dos consumidores, por uma forma fácil de devolver seus
equipamentos usados e pela percepção, de fabricantes e importadores, de que um sistema
coletivo seria mais eficiente para solucionar esta questão. O sistema entrou em vigor no dia 1º
de abril de 1994, para os EEE de escritório e os TICs. Nos primeiros anos de operação, apenas
36 empresas participavam, desde então mais de 500 novos associados aderiram ao projeto. Este
total de empresas participantes (fabricantes e importadores) representa mais de 90% do mercado
suíço de eletroeletrônicos, o que garante que os produtos são coletados e reciclados de modo
apropriado no país. (SWICO, 2016).
IV. Fundação SENS
A Fundação SENS é uma fundação neutra, independente e sem fins lucrativos, que opera
no mercado sob a marca de SENS eRecycling (SENS). A Fundação tem como missão
desenvolver capacidade técnica para a reciclagem sustentável de REEE, assim como novos
padrões para reciclagem de REEE. A SENS se especializou nas áreas de eletrodomésticos de
grande e pequeno porte, brinquedos eletrônicos, lâmpadas e luminárias, equipamentos de
construção, jardinagem, esporte, laser e exercícios (SENS Foundation, 2016).
A Fundação SENS foi criada em 1991, por um grupo de empresas, autoridades públicas,
associações empresariais e organizações não governamentais. Os objetivos principais da
Fundação são: promover soluções comerciais para reciclagem; implementar a garantia da
74
qualidade na disposição final de REEE; otimizar o sistema de logística; e alcançar o
financiamento competitivo dos serviços de LR. O foco de atuação da Fundação se dá em quatro
áreas, que são refletidas no acrônimo da Fundação, a saber: Sustentabilidade, Expertise,
Network e Soluções (SENS Foundation, 2016).
V. Fundação Suíça para a reciclagem de lâmpadas e luminárias
A Fundação Suíça para a reciclagem de lâmpadas e luminárias – SLRS (Stiftung Licht
Recycling Schweiz), foi a opção apresentada pela Associação Suíça para Iluminação – SLG, aos
seus associados, de modo a atender às exigências dispostas no ORDEE, assim como as
necessidades dos consumidores finais que cobravam uma solução para lâmpadas em fim de
vida. Para otimizar a operacionalização deste serviço e economizar custos, a SLRS celebrou
com a SENS um acordo de cooperação que lhe permite usar os canais de LR do sistema SENS,
garantindo o controle da coleta, transporte e reciclagem de lâmpadas e luminárias (SLRS, 2016).
O SLRS, por ser a organização dos fabricantes e importadores de lâmpadas e luminárias
é responsável por estruturar o sistema e gerir todo o fundo arrecadado para operacionalizar a
LR de forma adequada no país, cabendo ainda à esta fundação, apresentar os dados de coleta e
taxa de reciclagem para o FOEN.
VI. Organização de interesse para o descarte de baterias
Visando reduzir os custos elevados do processo de reciclagem de pilhas e baterias,
fabricantes e importadores, em 1991, fundaram uma organização para auxiliá-los na eliminação
destes produtos em fim de vida, a Organisation d'entraide pour l'élimination des piles usagées
(OEP). Os membros desta organização privada se comprometeram a cobrar, de forma
voluntária, uma taxa de eliminação antecipada na comercialização de pilhas e baterias e
transferir esses valores para um fundo gerido pela OEP. Os valores arrecadados foram utilizados
principalmente para financiar a eliminação deste resíduo e fornecer informação ao público
(INOBAT, 2016).
No entanto, algumas empresas não aderiram ao sistema e tampouco incluíram no preço
de seus produtos o valor da taxa, causando distorções no mercado e prejudicando a concorrência
entre as empresas. Em resposta a esta atitude, a Confederação Suíça tornou a taxa de eliminação
antecipada um imposto obrigatório a partir do ano 2000, com a publicação de uma lei federal
para regulamentar esta questão (INOBAT, 2016).
A Organização de interesse para o descarte de baterias (INOBAT) foi criada a partir da
OEP, estruturada na forma de uma cooperativa de direito privado, voltada para garantir a coleta
75
e o correto descarte das pilhas e baterias comercializadas na Suíça. A Organização permite a
associação gratuita a todas as empresas sujeitas prestar informações e recolher impostos para o
descarte correto das pilhas e baterias (INOBAT, 2014). A INOBAT reúne atualmente 121
empresas da área de fabricação, importação e comércio, representando 65% das empresas que
atuam neste mercado e 90% do faturamento total (INOBAT, 2015).
5.4 O Sistema de Logística Reversa na Suíça
A Suíça é um dos países com maior renda per capita do mundo e também um dos mais
avançados em termos de tecnologia. Apesar da penetração do mercado de bens eletroeletrônicos
já ser elevada, o mercado para novos aparelhos permanece forte (Sinha-Khetriwal, Kraeuchi,
& Schwaninger, 2005). A penetração de aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos é elevada nos
domicílios Suíços. Cerca de 92% das casas têm TVs, aparelhos celulares e acesso à internet. Na
tabela 4, é possível ver um comparativo destes indicadores Suíços com os brasileiros (ITU,
2015).
Tabela 4
Indicadores de acesso e uso de TICs
Principais Indicadores Domiciliares
TV Ano Telefone
fixo
Ano Telefone
celular
Ano PCs Ano Internet Ano
Brasil 97,9 2013 35,0 2013 92,3 2013 48,7 2013 43,3 2013
Suíça 92,7 2014 -- 91,7 2010 83,7 2010 90,6 2014
Nota. Fonte: International Telecommunication Union - ITU. (2015b). Core indicators on access to and use of ICT
by households and individuals.
O sistema de coleta de lixo domiciliar existente na Suíça não contempla a coleta de REEE,
além de outros resíduos passíveis de LR. Grande parte dos resíduos na Suíça é incinerada, sendo
esta uma grande fonte de geração de energia para o país. Os cidadãos participam ativamente da
etapa de triagem do lixo domiciliar, comprando sacos específicos para indicar o resíduo a ser
descartado. O nível de consciência e educação da população são fatores que influenciam
positivamente nesta participação (Silva, Leite, & Dechandt, 2014).
No entanto, nem sempre foi este o cenário. Na década de 80, caso o consumidor desejasse
descartar seu EEE usado, existia uma cobrança direta por este serviço, o que não era bem aceito
pela população, resultando no simples abandono dos aparelhos nas ruas. O governo e o setor
76
empresarial passaram a se preocupar com este tipo de atitude e os riscos que isto poderia
representar à saúde humana e ao meio ambiente (SWICO, 2016).
Além desta questão, o governo Suíço compreende que há uma questão estratégica em se
tratar os REEE, devido ao fato destes conterem metais raros e estratégicos para a indústria
tecnológica. Existe a tendência de que as tecnologias emergentes deverão aumentar ainda mais
a demanda por este tipo de metais, o que pode colocar ainda mais pressão nas reservas de metais
raros e preciosos, que hoje já são consideradas críticas (EMPA, 2011).
A Suíça não possui produção primária de metais, logo é um país comprador que depende
da exportação de outros países. Em contraste, o Conselho Federal pode decidir o que acontece
ao final do ciclo de vida dos produtos contendo estes metais necessários à indústria de
tecnologia, como foi feito no caso dos ordenamentos que determinam a obrigatoriedade de
providenciar a coleta e destinação ambientalmente correta de pilhas/baterias, lâmpadas e EEE.
A exemplo disso, o governo pode estipular futuramente percentuais de recuperação de metais
nobres dos REEE, contribuindo para o aumento da disponibilidade destes recursos, ao passo
que reduz os impactos ambientais associados à extração destes materiais (FOEN, 2016a).
Na Suíça existem quatro sistemas de coleta e tratamento de REEE. A divisão entre estes
quatro sistemas foi devida a razões históricas e baseada na iniciativa dos setores produtivos.
Um dos objetivos desta estruturação foi garantir maior proximidade aos setores industriais, de
modo a criar respostas para demandas específicas de cada setor. As Gestoras passaram a se
especializar e, com isso, os programas de LR foram ganhando maior amplitude e
representatividade, vencendo inclusive a barreira das empresas que não aderiram no momento
inicial dos projetos, fase esta que ainda dependia do comprometimento voluntário das empresas
(SENS, SWICO, & SLRS, 2015).
Conforme o que foi relatado pelos especialistas entrevistados neste estudo, a razão da
criação deste sistema baseado em quatro Gestoras diferentes ocorreu devido à um cronograma
lógico e baseado em eficiência de mercado. A Sra. Jordi (INOBAT) lembrou que a
obrigatoriedade da coleta de pilhas e baterias foi estipulada por lei e foi o primeiro destes
sistemas a ser implementado. O Sr. Eppenberger (diretor da SENS), destacou que a preocupação
dos governos em relação ao controle dos gases CFC, foi o fator estimulante para os fabricantes
se organizarem e criarem a Fundação SENS, iniciando a coleta e tratamento destes
equipamentos de refrigeração.
O próximo sistema a ser criado foi o da SWICO, voltado para coletar os equipamentos de
informática e comunicação (TIC). Conforme detalhado pelo Sr. Hensch (diretor da SWICO)
uma vez que os fabricantes destes tipos de eletrônicos, compreenderam que os eletrodomésticos
77
de grande porte já estavam sendo coletados e tratados adequadamente, seria uma questão de
tempo até o governo implementar uma lei para regulamentar esta obrigação para todo o setor,
o que poderia resultar em obrigações mais rígidas e operacionalização mais burocrática. Desta
forma, os fabricantes de TICs decidiram implementar voluntariamente seus sistemas de
logística reversa. E finalmente, com a preocupação crescente devido ao teor de mercúrio nas
lâmpadas, e o fato das demais empresas de EEE já operarem seus sistemas de LR, os fabricantes
e importadores de lâmpadas se uniram para criar a SLRS, a Gestora para logística reversa de
equipamentos de iluminação e lâmpadas.
O Sr. Hencsh destaca que estes acontecimentos encadeados e motivados por diferentes
fatores, permitiram que cada segmento da indústria se unisse para criar os sistemas específicos
para determinados grupos de produtos. As empresas que produzem os mesmos tipos de produtos
identificaram que era mais vantajoso trabalhar em sistemas coletivos, ao invés de gerenciar a
logística reversa de seus produtos individualmente. O fato de terem criados Gestoras também
independentes para gestão destes sistemas, também foi uma ação voluntária das empresas,
separando assim o financiamento e gerenciamento de cada grupo de produtos eletroeletrônicos.
A única exceção é o sistema de pilhas e baterias, o qual foi criado por lei e a própria Gestora é
uma obrigação legal, devendo ser indicada e monitorada pelo governo.
Em 2015, os quatro sistemas, em conjunto, coletaram 136,724 mil toneladas de REEE,
contribuindo de modo significativo para a reintrodução de materiais, raros e de interesse, no
mercado (SENS, SWICO, & SLRS, 2016; INOBAT, 2015). A Figura 20 apresenta a
composição percentual, dos materiais que compõem os REEE coletados e reciclados na Suíça
em 2015.
78
Figura 20: Composição dos grupos de materiais componentes dos REEE em 2015 Fonte: SENS Foundation, SWICO Recycling, Swiss Lighting Recycling Foundation - SLRS. (2016). Technical
Report 2016. Recuperado de http://www.swicorecycling.ch/en/news-media/publications
A depender do tipo de EEE que o consumidor deseja descartar, uma das seguintes
Gestoras, INOBAT, SLRS, SWICO ou SENS, será a responsável pelo sistema que realizará a
coleta e reciclagem dos materiais recebidos. A seguir serão detalhados os sistemas para LR de
pilhas/baterias, EEE de pequeno e grande porte, e lâmpadas.
5.4.1 A Logística Reversa de Pilhas e Baterias
A lei suíça exige que os importadores e fabricantes de pilhas e baterias, assim como as
empresas que as comercializam, recebam gratuitamente as pilhas usadas devolvidas pelos
consumidores e providenciem um sistema para garantir sua reciclagem ambientalmente
adequada. Além disso, conforme destacou a Sra. Jordi, todas as empresas que colocam pilhas e
baterias no mercado suíço devem reportar à INOBAT a quantidade do produto que será
comercializada, para fins de cálculo da meta e reporte ao governo.
No sistema suíço, a coleta, transporte e reciclagem das pilhas e baterias usadas são
financiados pela cobrança da Taxa de Eliminação Antecipada (TEA), incluída no preço de
79
venda de todas as pilhas e baterias comercializadas no país, sendo o custo da reciclagem o mais
significativo, conforme destacou a Sra. Karin Jordi, a diretora administrativa da INOBAT.
O valor da TEA para cada tipo de pilha é definido pelo DETEC (órgão ambiental do
governo suíço), conforme estipulado em lei, podendo ser revisado a cada ano. Desde 2011 o
valor desta taxa foi estabelecido em CHF 3.20, por quilo de pilha portátil, e tem-se mantido
desde então neste valor (Département fédéral de l'environnement, des transports, de l'énergie
et de la communication [DETEC], 2016).
A taxa cobrada no valor das pilhas, além de cobrir as etapas logísticas e de reciclagem,
servem também para custear as atividades administrativas da INOBAT, preparar materiais para
divulgação e informação além de ressarcir os pontos de coleta que recebem pilhas descartadas.
Cabe lembrar que, segundo a legislação local, o comércio é obrigado a aceitar a devolução das
pilhas e baterias, o que significa que é possível descarta-las, gratuitamente, em qualquer loja
onde estes produtos estejam à venda (INOBAT, 2016).
Na Suíça existem mais de 11000 pontos de venda, que consequentemente, são também
pontos de devolução: o varejo, as lojas de departamentos, as lojas especializadas em venda de
produtos fotográficos, eletrônicos e de comunicação móvel, as agências dos correios ou as lojas
de conveniência, são exemplos destes locais para devolução. Adicionalmente existem ainda
outros postos de devolução, chamados de voluntários que são disponibilizados pelas Comunas
e centros de reciclagem privados, os quais tem representado um percentual cada vez mais
elevado da coleta de pilhas e baterias nacional (INOBAT, 2014).
Segundo a Sra. Jordi, o sistema permite que o consumidor faça o descarte de qualquer
tipo de pilha e bateria, incluindo as de celular e notebook. Os coletores foram projetados com
pequenos buracos de descarte, justamente para evitar que equipamentos maiores, ou outros tipos
de material sejam misturados, facilitando o trabalho de segregação dos produtos descartados.
A meta de coleta das pilhas e baterias usadas foi estabelecida pelo FOEN na legislação
de 1986, como sendo a coleta de pelo menos 80%, em massa, das pilhas colocadas no mercado
(Conselho Federal Suíço, 1986). Apesar de ser um país referência devido ao elevado volume
de pilhas coletado e apresentar um aumento contínuo da taxa de coleta, a Suíça não consegue
atingir esta meta estabelecida. Em 2014, a INOBAT alcançou a expressiva marca de ter coletado
71,4% das pilhas e baterias descartadas, equivalente a um total de 2.734 toneladas destes
produtos (INOBAT, 2014).
No mais recente relatório publicado pela INOBAT (até a conclusão deste estudo), a
Gestora relatou que foram recicladas 2.724 toneladas de pilhas e baterias em 2015,
representando 67,34% do total descartado, o que significou uma queda em relação à taxa
80
alcançada no ano anterior. Segundo a INOBAT, esta diminuição não se deve a uma redução na
efetividade do sistema, mas sim a uma causa específica. Uma nova categoria de equipamentos
foi acrescentada ao sistema de LR de REEE e estes aparelhos utilizam exclusivamente baterias
de íons de lítio, as quais têm uma vida útil muito maior que as pilhas comuns. Logo, ao se
utilizar a mesma base de cálculo da meta (produtos vendidos no mercado), torna-se mais difícil
de atingir o valor de coleta definido, uma vez que as pilhas não serão descartadas no prazo
anteriormente previsto (INOBAT, 2015).
A INOBAT relata que busca formas de aumentar o total coletado por meio da divulgação
do programa, pagamento a pontos de coleta pelo serviço prestado e distribuição de caixas e
sacolas coletoras de pilhas apoiando, assim, iniciativas de terceiros (INOBAT, 2016). A seguir
apresentamos na Tabela 05, a evolução da taxa de coleta por ano, desde 2001.
Tabela 5
Histórico dos percentuais de venda e coleta de pilhas e baterias de 2001 a 2015
Nota Específica: *A partir de 2005, as vendas determinadas do ano passaram a ser compostas pela média dos
últimos cinco anos anteriores
Nota. Fonte: Interessenorganisation Batterieentsorgung - INOBAT. (2015). Rapport sur l’activité - INOBAT 2015.
Berne, Suíça
A Sra. Jordi informou que a INOBAT realiza pagamentos aos pontos de coleta, como
forma de restituição aos serviços prestados de recebimento das pilhas descartadas pelos
consumidores. Para isso, existe uma distinção de valores entre pontos de coleta voluntários
(CHF 230 à CHF 290 por tonelada) e obrigatórios (CHF 120 à CHF 220 por tonelada). No
entanto, para realizar a coleta no local e ter direito a receber este pagamento, é necessário que
o local utilize os coletores da INOBAT e entreguem as pilhas apenas para transportadores
homologados, além de ter acumulado uma quantidade mínima de 350 kg de pilhas e baterias,
para somente então acionar a empresa transportadora.
A INOBAT disponibiliza em seu site, um campo para solicitar o envio de materiais para
coleta e divulgação do programa. Qualquer interessado pode escolher o recipiente que deseja
81
utilizar, para armazenar adequadamente as pilhas e baterias usadas, estando disponíveis de
forma gratuita, sacos, sacolas, caixas, além de panfletos e adesivos. Todo o custo deste material
está previsto no valor já cobrado pela TEA, no momento da venda de novas pilhas. Outros
recipientes de maior porte, como bombonas e latões, são cobrados a parte. Todos estes seguem
o padrão permitido pela lei para armazenamento e transporte deste tipo de material.
Outro caminho utilizado para receber e tratar as pilhas e baterias usadas se dá por meio
da parceria com outras Gestoras suíças, que operam a LR de empresas que fabricam ou
importam EEE com pilhas e baterias inclusas. Segundo relatado pela Sra. Jordi, as empresas
podem optar por pagar a TEA, em conjunto com a taxa de reciclagem que pagam à SWICO ou
à SENS para reciclagem dos REEE. Quando estas Gestoras encaminham os REEE para
reciclagem, as pilhas e baterias são retiradas e entregues à INOBAT. Uma vez ao ano o balanço
de contas é feito entre as Gestoras.
O diretor da SWICO, Sr. Jean-Marc Hensch, reforçou este entendimento. Conforme
relatou, a SWICO não se responsabiliza pelas pilhas e baterias que são comercializadas
individualmente, a Gestora assume os custos da gestão das pilhas e baterias que acompanham
os produtos novos, como baterias de smartphones e notebooks.
Segundo o Sr. Hensch, os transportadores coletam todos os produtos descartados nos
recipientes da SWICO (inclusive as pilhas e baterias) e os encaminham aos recicladores. Nas
unidades de reciclagem, as pilhas e baterias são separadas dos REEE e encaminhadas para
recicladores específicos. Os recicladores cobram a INOBAT pelo tratamento de todas as pilhas
e baterias recebidas, mas mantem a rastreabilidade da quantidade recebida por cada sistema de
coleta. Ao final do ano, as Gestoras se reúnem para fazer o acerto de contas, assim a SWICO e
SENS pagam à INOBAT pelas pilhas tratadas e que foram coletadas em seus sistemas de LR.
No relatório de atividades da INOBAT, destacam que todas as empresas que operam o
transporte das pilhas e baterias coletadas pelo programa, devem seguir as condições e
especificações determinadas pela INOBAT, sendo necessário coletar em todos os pontos de
coleta do território Suíço, independentemente da quantidade solicitada, de modo legalmente
correto e sem cobrar dos pontos de coleta por esta retirada do material (INOBAT, 2014).
Todas as pilhas coletadas pelo programa de LR da INOBAT são enviadas para o Centro
de Reciclagem Batrec S/A na cidade de Wimmis. As pilhas e baterias descartadas são
processadas em diversas etapas através de procedimentos mecânicos e químicos. Os metais
reciclados obtidos do desmonte – principalmente o zinco e o ferro-manganês – são vendidos
como matéria prima para uma segunda utilização na indústria (INOBAT, 2016).
82
Segundo a Sra. Jordi, os principais fatores que determinaram o sucesso do sistema de LR
para pilhas e baterias no país são: a elevada consciência e atitude da população para questões
ambientais; os mais de 11000 pontos de coleta disponíveis em todo o país; e uma boa
comunicação, informando a população da importância de se realizar o descarte correto e a
reciclagem das pilhas e baterias.
5.4.2 A Logística Reversa de Equipamentos Eletroeletrônicos
Apesar das pilhas, baterias e lâmpadas serem também consideradas EEE, neste trabalho
optamos por realizar uma distinção de nomenclatura entre estes produtos, de modo a melhor
compreender a divisão feita na LR dos REEE na Suíça. Logo, neste tópico, quando nos
referimos a EEE, estamos tratando dos eletrodomésticos, equipamentos de informática,
equipamentos de telefonia, aparelhos eletrônicos portáteis, equipamentos de escritório,
aparelhos de áudio/vídeo, dentre outros, os quais são coletados pelos sistemas da SWICO e
SENS.
Segundo Sinha-Khetriwal et al. (2005), a coleta de REEE na Suíça tem grande eficácia,
justamente devido à gestão eficiente destas duas Gestoras. Resumidamente, a SWICO gerencia
os eletroeletrônicos de pequeno e médio porte, como computadores, celulares, TVs, rádios e
outros, enquanto a SENS lida com os eletrodomésticos de grande porte (máquinas de lavar,
geladeiras, aparelho de ar condicionado, fogões e outros). Ainda segundo estes autores, ambas
Gestoras têm décadas de experiência nesta área, tendo iniciado seus programas de LR antes
mesmo disto se tornar uma obrigação legal no país.
Conforme apresentado em um relatório técnico publicado em conjunto pelas Gestoras, a
Suíça atingiu uma taxa de coleta de 16,87 kg por habitantes em 2013, sendo um dos mais
elevados percentuais de coleta do mundo. Ao comparar este dado com os resultados de países
vizinhos, que também já apresentam um histórico de LR de REEE, como Áustria, França,
Alemanha, Holanda e Itália, o sistema Suíço configura-se como sendo o mais eficiente
(SWICO, SENS, & SLRS, 2015).
a) SWICO
A arquitetura financeira do sistema SWICO (comum também às demais Gestoras) para
LR de REEE, consiste na adoção de uma taxa (Advance Recycling Fee - ARF) para financiar
as atividades de coleta, transporte e tratamento. Esta taxa é cobrada pelos fabricantes e
importadores, associados à SWICO, no momento da venda de novos produtos elétricos e
83
eletrônicos e depositada em um fundo, gerido pela SWICO desde 1994. Logo, a correta
destinação final é custeada pelos consumidores, de forma coletiva, no momento em que
adquirem novos equipamentos (SWICO, 2016).
A Figura 21 mostra uma versão simplificada do fluxo financeiro e material do sistema
suíço.
Figura 21: Modelo de financiamento do sistema suíço de logística reversa de eletroeletrônicos Fonte: Adaptado de Sinha-Khetriwal, D., Kraeuchi, P., & Schwaninger, M. (2005). A comparison of electronic
waste recycling in Switzerland and in India. Environmental Impact Assessment Review, 25(5 SPEC. ISS.), 492–
504. http://doi.org/10.1016/j.eiar.2005.04.006
Conforme reportado pela SWICO, a Gestora arrecada cerca de CHF 30 milhões
anualmente, os quais são utilizados para custear os pontos de coleta, a logística, a desmontagem,
reciclagem e os controles implementados em todo o arcabouço de gestão do sistema. Desta
forma, todos os consumidores, assim como empresas privadas e órgãos públicos, podem
devolver seus equipamentos sem custos, garantindo uma correta destinação dos REEE.
Conforme observado no site da SWICO, o sistema de cobrança antecipada para custeio da LR
tem garantido eficiência e custo-efetividade na operação, o que vem permitindo uma redução
de 30% (em média) no valor cobrado pela ARF ao ano, desde 2008 (SWICO, 2016).
Existe, no entanto, uma cobrança mínima referente à ARF de cada associado da SWICO,
de modo a cobrir todos os custos operacionais e administrativos da Gestora. Logo,
independentemente da quantidade de produtos colocados no mercado pelo fabricante ou
importador, para se associar à SWICO eles devem contribuir com um montante mínimo de CHF
84
500,00 por ano. Caso o total arrecadado com a ARF (dos produtos colocados no mercado pela
empresa) seja maior que este valor, esta taxa mínima não se aplica (SWICO, 2016).
Esta é uma inciativa adotada como forma de manter a segurança financeira do sistema.
Conforme explicado pelo Sr. Hensch, além desta precaução, a SWICO contrata um seguro
ambiental que cobre suas atividades e trabalha com um fluxo de caixa que cobre 12 meses de
operação da Gestora, o que confere maior segurança jurídica e financeira para que continuem a
gerenciar o sistema.
Na Suíça, o valor da ARF é cobrado em todos os EEE novos colocados no mercado,
independente do modelo de negócio adotado pela empresa, seja venda, aluguel ou leasing do
equipamento. O valor a ser cobrado na ARF (por EEE) é ajustado uma vez ao ano, sendo
notificado às empresas com 6 meses de antecedência. Já o reporte das empresas deve ser feito
duas vezes ao ano, indicando às suas Gestoras o total arrecadado com a ARF por semestre
(SWICO, 2016).
Quando questionado sobre quem era responsável pelo cálculo da ARF dos produtos, o Sr.
Hensch informou que cabe às Gestoras voluntárias, neste caso SWICO, SENS e SLRS,
estabelecerem estes valores para cada categoria de produto. O governo não participa destes
estudos, uma vez que as Gestoras são entidades independentes.
Conforme apresentado no site da SWICO, até o dia 31 de dezembro de 2014, não se
cobrava a ARF em aparelhos que tinham um valor de venda abaixo de CHF 50,00. No entanto
esta regra mudou a partir do primeiro dia de janeiro de 2015, quando todos os EEE passaram a
ter o seu custo de ARF por tipo de produto, sendo que apenas as impressoras seguem uma
cobrança por faixa de preço de venda (SWICO, 2016). A tabela 6 traz exemplos dos valores
cobrados por diferentes categorias de EEE, enquanto que a Tabela 7 demonstra como é feita a
cobrança no caso de aparelhos para impressão.
85
Tabela 6
Exemplo dos valores da ARF cobrada na Suíça, para determinados tipos de equipamentos
eletroeletrônicos
Nota. Fonte: Elaborada pelo autor, à partir de dados publicados pela gestora em sua página online. SWICO, 2016.
Disponível em: http://www.swicorecycling.ch/en/administration/arf-tariff?
Tabela 7
Valores da ARF para impressoras e equipamentos da indústria gráfica
Nota. Fonte: Elaborada pelo autor, à partir de dados publicados pela gestora em sua página online. SWICO,
2016. Disponível em: http://www.swicorecycling.ch/en/administration/arf-tariff?
Cabe destacar que no valor da ARF de equipamentos que são importados com pilhas e
baterias, já se encontra embutido o valor da TEA (taxa para descarte de baterias). Desta forma,
as empresas não precisam se associar também à INOBAT, cabendo à SWICO fazer o acerto
com esta Gestora no final do ano. Além disso, foi estipulado o percentual máximo de 15% do
ARF sem VAT ARF com VAT ARF sem VAT ARF com VAT
0 - 99,95 3,7 4 1,85 2
a partir de 100 3,7 4 3,7 4
a partir de 2.500 18,52 20 18,52 20
a partir de 5.000 37,04 40 37,04 40
a partir de 7.500 55,55 60 55,55 60
a partir de 10.000 74,07 80 74,07 80
a partir de 15.000 148,15 160 111,11 120
a partir de 25.000 259,26 280 185,19 200
a partir de 50.000 370,37 400 370,37 400
a partir de 100000 740,74 800 740,74 800
a partir de 300.000 925,93 1.000 740,74 800
Até 31.12.2014 Nova a partir de 01.01.2015
Preço de venda
(Sem VAT)
86
valor da ARF, para que seja utilizado no custeio da reciclagem das embalagens dos produtos
(SWICO, 2016).
A SWICO defende que a cobrança da ARF seja destacada e de fácil identificação para o
consumidor, seja no recibo, no preço do produto ou em divulgações de promoções. A Gestora
compreende que esta pode ser uma informação relevante ao consumidor, auxiliando-o a optar
por uma empresa comprometida com a reciclagem adequada de seus equipamentos. Na Suíça
existe uma lei (Swiss Ordinance on the Disclosure of Prices) que obriga os comerciantes do
varejo a incluírem a ARF (além de outras taxas municipais) no preço final de venda do produto.
No entanto a SWICO reforça necessidade do destaque deste valor cobrado, uma vez que isto
ajudaria a identificar os estabelecimentos comerciais que participam do sistema, além de
relembrar aos consumidores, que eles estão contribuindo, antecipadamente, para garantir o
descarte adequado de seus EEE após o uso (SWICO, 2016).
De acordo com o diretor da SWICO, o nível de consciência da população suíça é algo que
certamente faz a diferença no engajamento do consumidor, consciência esta que foi criada ao
longo dos anos de atuação do sistema de coleta. Hoje todos compreendem a necessidade de
contribuir para a proteção do meio ambiente e não reclamam do valor cobrado no momento da
aquisição de novos produtos, uma vez que enxergam os resultados positivos do programa.
Hensch destaca ainda que devido aos elevados índices de coleta, os valores cobrados pela ARF
acabam sendo baixos, uma vez que este custo é dividido entre toda a sociedade.
Conforme descrito pelo Sr. Hensch, no sistema de LR da SWICO, o consumidor
doméstico tem duas opções para descartar seus REEE: a) pode levar diretamente na loja onde
adquiriu o produto (mais de 6000 locais) e entrega-lo sem a necessidade de efetuar nenhum
pagamento ou compra de novo EEE; b) pode levar até algum dos 600 pontos de coleta oficiais
da SWICO e descartá-lo, também gratuitamente.
As empresas do varejo que recebem estes EEE descartados e queiram utilizar a SWICO
para o descarte de seus REEE, devem acumular uma quantidade mínima de 250 kg do material
e preencher um pedido de coleta, solicitando a retirada com o transportador oficial do sistema.
No caso de pequenas empresas, é permitido que entreguem o material coletado nos pontos de
coleta da SWICO. Empresas privadas de grande porte podem solicitar à SWICO a retirada de
seus EEE obsoletos, sem custos, sendo exigida uma quantidade mínima de 50 kg para esta
coleta. Caso queiram um certificado de destinação, este serviço deve ser negociado
separadamente com o reciclador.
A rede de coleta de REEE na Suíça é extremamente densa, contando com mais de 6.000
(seis mil) pontos de coleta. Isto foi alcançado devido ao fato da legislação nacional exigir que
87
todos os estabelecimentos que comercializem EEE, recebam gratuitamente estes aparelhos
devolvidos pelo consumidor, ao final de seu uso. Esta obrigação certamente aumenta
significativamente os custos logísticos do sistema, mas, por outro lado, permite um acesso mais
fácil do consumidor aos pontos de coleta, resultando em taxas de descarte e reciclagem mais
elevadas (SWICO, 2016).
Já os pontos de coleta oficiais, mencionados anteriormente, são pontos de descarte geridos
pelas comunas. Funcionam como um Ecoponto que permite que o cidadão descarte diversos
tipos de produtos recicláveis de uma só vez, o que torna este processo mais fácil e cômodo para
o consumidor. No caso dos EEE, a SWICO tem um contrato com as comunas para cadastrar
estes locais como pontos de coleta oficiais do programa e, em função disso, a SWICO paga às
comunas pelos serviços de recebimento, separação e expedição dos EEE descartados pelos
consumidores nestes locais.
O diretor da SWICO destaca que a população já tem o habito de utilizar estes pontos e
como a SWICO tem o objetivo de oferecer o maior número de opções para a população, foi
natural formalizar esta parceria com as comunas. Segundo relatado, esta parceria além de ser
positiva pelo fato de concentrar os produtos em quantidades maiores, facilitando a logística, é
também vantajosa, pois o poder público acaba apoiando o sistema e auxiliando na comunicação,
com campanhas de divulgação e conscientização da população.
Segundo o diretor da SWICO, Sr. Hensch, a chave para o sucesso da operação de seu
sistema são estes pontos de coleta oficiais, os quais recebem quase dois terços do total de REEE
coletado pela SWICO. Estes pontos de coleta oficiais são gerenciados por meio de contratos,
os quais podem ser estruturados de três formas:
a) contrato direto com a SWICO – Neste caso a SWICO é a responsável por
operacionalizar todo o sistema de coleta e transporte para o ponto de coleta. A SWICO ainda
reembolsa o parceiro pelo serviço de recebimento e triagem do material;
b) contrato com um parceiro de reciclagem da SWICO – O transporte é realizado pelo
reciclador ou pelo próprio ponto de coleta, sendo que o material só pode ser enviado para o
reciclador correspondente, indicado pela SWICO. O reciclador paga o ponto de coleta pelo
material recebido e o reembolsa pelo serviço de coleta e transporte (se for o caso);
c) Contrato com a transportadora oficial – O ponto de coleta preenche uma solicitação de
retirada do material. A transportadora o reembolsa pelo serviço de coleta e encaminha o
material para o reciclador.
Uma vez coletado, este material segue para empresas desmontadoras, as quais devem
seguir as orientações apresentadas no Manual do Ordenamento Suíço para LR, tendo uma das
88
etapas fundamentais, a remoção manual de componentes potencialmente perigosos, como
pilhas/baterias, acumuladores, lâmpadas e componentes contendo mercúrio (SAEFL, 2000). As
etapas de pré-tratamento são realizadas ainda no país, consistindo na triagem e separação
(manual e mecânica) das partes e peças. O objetivo principal é viabilizar a recuperação dos
metais mais importantes presentes nos REEE, seguindo as melhores práticas disponíveis no
mercado (SENS, SWICO, & SLRS, 2015).
Conforme relatou o Sr. Heinz Böni, sua equipe de funcionários, do departamento de
tecnologia do EMPA, é a responsável por auditar e revisar as práticas adotadas pela SWICO
em seu sistema de LR. Dentre os pontos auditados cabe ao EMPA avaliar: os contratos com as
empresas de reciclagem, o fluxo de materiais, a adequação às normas técnicas, a remoção de
substâncias perigosas e os procedimentos para reciclagem ou destinação final que são adotados
pelo sistema.
A Tabela 8 apresenta a quantidade de REEE (separados por tipo) que foi coletada em
2015 pelo sistema de Logística Reversa da SWICO, demonstrando também, o percentual de
cada componente por equipamento, além do comparativo com o ano de 2014.
Tabela 8
Quantidade coletada pela SWICO e composição por tipo de equipamento
Notas Específicas:
1 Equipamentos de TI diversos (sem monitores), PC/Servidores, laptops, impressoras, equipamentos e copiadoras
2 Eletrônicos de Consumo, diversos, não inclui televisores
3 Projeção
4 Embalagens e outros resíduos, cartuchos de toner
5 Inclui aparelhos descartados por empresas que tem contratos diretos
Nota. Fonte: Adaptado de SENS Foundation, SWICO Recycling, Swiss Lighting Recycling Foundation - SLRS.
(2016). Technical Report 2016. Recuperado de http://www.swicorecycling.ch/en/news-media/publications
89
A SWICO conta com um conselho de gestão, composto pelas associadas que são
signatárias de sua “Convenção para Reciclagem”. Este conselho define as estratégias da
Gestora e especifica também o valor a ser cobrado pela ARF de cada produto. Para isso, foram
criadas subcomissões específicas para cada tipo de aparelho (telecomunicações, eletrônicos de
consumo, equipamentos de escritório e informática) onde monitoram o desenvolvimento do
mercado, as taxas de coleta e custos associados nas áreas de seus produtos, criando assim
subsídios para o conselho da SWICO validar os valores a serem cobrados nas ARFs (SWICO,
2016).
A SWICO criou também, em parceria com a SENS, um Comitê Técnico para garantir a
qualidade dos parceiros que prestam serviços ao sistema, como as empresas de reciclagem, os
desmontadores e transportadores, com isso, as Gestoras conseguem promover uma troca de
experiências que auxilia no desenvolvimento de novos procedimentos de autorias, normas e
certificações (SWICO, 2016).
Conforme apontado pelo Sr. Hensch, a proposta de criação do Comitê Técnico surgiu de
forma natural, pois tanto a SENS quanto a SWICO trabalhavam com os mesmos recicladores.
Logo, fazia sentido que se unissem para criar os procedimentos adequados e padrões de
qualidade para estes fornecedores. O próprio governo suíço (por meio do FOEN) reconheceu
os padrões criados pelo Comitê Técnico, como sendo as melhores práticas disponíveis para o
tratamento dos REEE. Em 2009, as especificações técnicas do sistema suíço foram traduzidas
para o inglês e inspiraram os demais países europeus a criarem uma certificação voluntária para
este fim (SENS, SWICO & SLRS, 2015).
Esta foi a base para criação do selo WEEELABEX (conjunto de padrões para coleta,
separação, armazenamento, transporte, tratamento e processamento de REEE), o que inspirou
a comunidade europeia a lançar em seguida, a norma internacional EN 50625-1: Collection,
logistics & treatment requirements for WEEE - Part 1: General treatment requirements, no
âmbito do CENELEC – European Committee for Electrotechnical Standardization.
Segundo relatou o Sr. Jean-Marc Hensch, como forma melhorar sua gestão e promover a
melhoria contínua dos serviços prestados, a SWICO certificou sua gestão de acordo com as
normas ISO 9001 e 14001. A SWICO também participa de outros fóruns para promover a troca
de experiências na área da logística reversa, sendo membro da Swiss Recycling, uma
organização que congrega diversas outras Gestoras de diferentes resíduos na Suíça e também,
do WEEE Forum, a associação europeia de Gestoras para LR de REEE.
Quando perguntado sobre os motivos que levaram ao sucesso do sistema de LR da
SWICO, o diretor do programa respondeu que a atitude proativa das grandes empresas em criar
90
o sistema, antes mesmo de uma legislação, fez toda a diferença. Desta forma foi possível criar
um sistema mais dinâmico e eficiente. Em seguida, o fator reputacional influenciou bastante
para que as outras empresas que não haviam aderido no início, se interessassem em fazer parte
do sistema. A população passou a reconhecer e valorizar a atitude das empresas que promoviam
a coleta dos REEE, houve grande engajamento dos consumidores descartando os resíduos e
enxergando nesta iniciativa uma espécie de “selo de qualidade ambiental” das empresas, o que
contribuiu muito para o engajamento dos fabricantes e importadores de EEE.
b) SENS
A Fundação SENS completou, em 2015, seu 25º ano de operação, sendo a entidade
pioneira no mundo a tratar da LR de REEE de forma estruturada. De acordo com seu diretor de
qualidade, o Sr. Eppenberger, a principal motivação para criação da Fundação SENS, foi a
preocupação mundial com a questão das substâncias depletoras da camada de ozônio,
representada pela assinatura do Protocolo de Montreal em 1989. Dentre as substâncias de maior
relevância neste tema estavam os gases CFC (Clorofluorcarbono), presentes na maioria dos
equipamentos de refrigeração.
Já no ano seguinte, em 1990, as empresas fabricantes deste tipo de equipamento decidiram
se unir para gerenciar esta questão, criando então a Fundação SENS. O Sr. Eppenberger
explicou que de início, esta iniciativa contou com os maiores fabricantes e importadores, o que
garantiu a estrutura financeira do sistema. Em seguida, foram estabelecidas parcerias com os
principais recicladores presentes no mercado, com destaque para a relação de confiança que,
conforme apontado pelo Sr. Eppenberger, é a característica primordial neste processo.
O diretor da Gestora comentou que, no início, o sistema de LR passou a funcionar nas
maiores cidades, as quais já possuíam uma boa infraestrutura e estavam próximas aos
recicladores, sendo em seguida expandido para todas as demais cidades. Como forma de
facilitar a compreensão da população, em relação aos serviços prestados pela Fundação SENS,
foi criada a marca SENS e-recycling, que facilitou muito o entendimento e o engajamento dos
consumidores.
O sistema de financiamento da SENS para custear todas as etapas da Logística Reversa
dos produtos que coleta, é o mesmo adotado pela SWICO, baseado na cobrança da taxa
antecipada (ARF). Os fabricantes e importadores declaram, em um sistema online da Gestora,
o número de aparelhos que colocaram no mercado, já sendo relacionado o valor da ARF por
tipo de produto. Conforme destacado no relatório anual da Gestora, no ano de 2015, a receita
advinda da arrecadação da ARF foi de CHF 45 milhões, enquanto que os custos operacionais
91
do sistema (coleta, transporte e reciclagem) ficaram em torno de CHF 40,7 milhões (SENS,
2016b).
Na SENS também existe uma comissão encarregada de supervisionar todo o sistema,
sendo responsável por verificar e atualizar (anualmente) os valores da ARF e a lista de
equipamentos coletados pelo sistema. A comissão da ARF é composta por membros indicados
pelas próprias empresas associadas, dos respectivos setores: fabricantes/importadores,
associações do comércio, distribuidores e comerciantes; a SENS tem também um assento nesta
comissão, sendo representada por seu diretor. O papel desta comissão é fazer a gestão do fundo
arrecadado pela ARF dos produtos, monitorando e reportando suas movimentações (SENS,
2016).Abaixo é apresentada a Tabela 9, que traz os valores das ARFs cobradas e a forma de
estipular este custo para cada um dos diferentes tipos de EEE coletados pela SENS.
Tabela 9
Lista dos aparelhos e suas tarifas de reciclagem antecipada (ARF)
FERRAMENTAS ELÉTRICAS
ARF definida por categoria de peso
ARF + TEA (taxa para
reciclagem das pilhas e
baterias), incl. 8.0% VAT
ARF + TEA (taxa para
reciclagem das pilhas e
baterias), excl. 8.0% VAT
< 0.250 kg CHF 0.85 CHF 0.79
≥ 0.250 kg < 2 kg CHF 2.55 CHF 2.36
≥ 2 kg < 5 kg CHF 4.05 CHF 3.75
≥ 5 kg < 15 kg CHF 9.40 CHF 8.70
≥ 15 kg CHF 16.40 CHF 15.19
UNIDADES DE REFRIGERAÇÃO, CONGELAMENTO E CONTROLE DE
TEMPERATURA COM COMPRESSORES
ARF definida por categoria de peso Advanced recycling fee
(ARF) incl. 8.0% VAT
Advanced recycling fee
(ARF) excl. 8.0% VAT
< 25 kg CHF 10.00 CHF 9.26
≥ 25 to < 100 kg CHF 30.00 CHF 27.78
≥ 100 to < 250 kg CHF 50.00 CHF 46.30
≥ 250 kg CHF 60.00 CHF 55.56
BRINQUEDOS E JOGOS ELETRÔNICOS
ARF definida por faixa de preço Advance recycling fee
(ARF) incl. 8.0% VAT
Advance recycling fee
(ARF) excl. 8.0% VAT
Isento para produtos de até CHF 19,99 Isento Isento
CHF 20,00 a CHF 59,99 CHF 0.50 CHF 0.46
A partir de CHF 60,00 CHF 0.50 CHF 0.46
A partir de CHF 200 CHF 0.50 CHF 0.46
Consoles (somente o hardware; não é
cobrada ARF nos cartões de memória e
nos jogos) não inclui PlayStation e Xbox
CHF 0.50 CHF 0.46
PAINÉIS FOTOVOLTAICOS
ARF definida por peso dos materiais (conjunto módulo +
componentes - inversor de tensão, switch, sistemas de controle, etc.)
ARF (Advance recycling
fee), incl. 8.0 % VAT
Por kg CHF 0.04
Nota. Fonte: Adaptado de SENS Foundation. (2015). Tariff and Appliance List. Recuperado em 30, setembro,
2016 de http://www.erecycling.ch/en/downloads
92
A SENS realiza a coleta de REEE em pontos de recebimento localizados no comércio,
nas agências dos correios e nos próprios fabricantes e importadores dos EEE. Além disso,
disponibiliza seus próprios pontos de coleta, onde são recebidos refrigeradores, freezers,
aparelhos de ar condicionado, brinquedos eletrônicos, ferramentas elétricas e equipamentos de
esporte e laser (SENS, 2016). Como destacado pela Gestora, para tornar o descarte mais
eficiente, é necessário focar em pontos que facilitam a participação do consumidor, como
manter o ponto de coleta aberto em horários adequados ao consumidor, oferecer atendimento
competente no local, disponibilizar informações/orientações e manter o ponto de coleta limpo
e seguro.
O Sr. Eppenberger frisou que, devido a obrigação legal do comércio de receber os
produtos que vendem, vários destes mais de 6.000 pontos de coleta são comuns para os sistemas
de LR da SWICO e SENS. Além destes, existem as centrais de coleta das comunas, que também
recebem EEE de grande porte, e os pontos de coleta oficiais da SENS. Estes dois últimos são
remunerados pelos serviços prestados. Por fim, existe o relacionamento com os distribuidores,
os quais recebem os REEE das lojas menores do comércio e são pagos pela SENS, para fazer a
concentração deste material, facilitando a operação logística.
De modo a manter o controle e monitoramento destes pontos de coleta, garantindo que
operam dentro dos padrões de qualidade estabelecidos pela SENS, a Gestora exige que sejam
formalizadas as parcerias com os locais que desejam ser um ponto de coleta do sistema. Neste
procedimento os locais enviam um termo de intenções e, em seguida, devem assinar um
contrato, concordando com todas as obrigações definidas pela Gestora. A SENS conta hoje com
450 pontos de coleta neste modelo (SENS, 2016).
Nas agências dos correios é permitida a devolução de EEE usados, desde que o item não
pese mais do que 30 quilogramas (30 kg). Conforme explicado pelo Sr. Eppenberger, os
correios na Suíça também comercializam produtos, logo tem a obrigação de recebe-los
gratuitamente. Nos demais pontos de coleta, localizados no comércio, ou diretamente nos
fabricantes e importadores, não há restrição quanto a tamanho ou peso do equipamento. O
diretor da SENS frisou que, caso o comerciante opte por uma retirada do material sem custos,
deve ter acumulado uma quantidade mínima de 800 kg (equivalente a quatro pallets).
As prefeituras têm um papel relevante neste sistema, podendo divulgar e informar aos
cidadãos sobre a importância do descarte correto. Podem também realizar campanhas de coleta
e contar com o apoio da SENS para retirar o material (SENS, 2016). De acordo com o Sr.
Eppenberger, não há restrições quanto ao tipo de consumidor (doméstico ou corporativo).
93
Todos podem utilizar os pontos de coleta disponibilizados pela SENS. Isto só é viável, uma vez
que todos os produtos que são colocados no mercado já recolhem o valor da ARF, o que permite
o custeio desta operação logística e tratamento dos REEE.
A Figura 22 ilustra o ciclo de LR de REEE da SENS, resumindo cada uma das etapas.
Figura 22: Ciclo de Logística Reversa de REEE da SENS e-Recycling Fonte: Adaptado de SENS Foundation. (2016a). SENS Foundation Website. Recuperado em 14, fevereiro, 2016
de http://www.erecycling.ch/en/about-us
A SENS não realiza a coleta e tratamento de pilhas e baterias e recomenda a seus
associados, que importam estes produtos, para que entrem em contato com a INOBAT, de modo
a assegurar a correta destinação final das pilhas e baterias que colocaram no mercado (SENS,
2106).
Segundo o Sr. Eppenberger, o corpo técnico da SENS cuida da gestão e financiamento
do sistema, enquanto que o comitê técnico é responsável por supervisionar a operação e garantir
que os recicladores estão atuando em conformidade com os requisitos necessários. Este comitê
técnico é o fórum, que foi criado em conjunto com a SWICO, para trabalhar nas questões
práticas da LR e criar os padrões técnicos que os recicladores devem seguir. O diretor da SENS
relembra que no início das operações, as Gestoras contrataram o EMPA para controlar e auditar
o Sistema e, desde então, este instituto de pesquisa faz parte do comitê técnico, auxiliando na
criação de requisitos e verificação da conformidade das operações da LR de REEE.
Os recicladores que trabalham para a SENS são auditados pelo EMPA, de modo a garantir
os critérios de qualidade exigidos pela Gestora. Dentre estes critérios são analisados: a
94
documentação completa da empresa; registro do balanço de massa dos materiais recebidos;
registros de desmontagem e reciclagem dos aparelhos; conformidade com processo de remoção
dos poluentes; identificação do local como ponto de recebimento de REEE; boas práticas de
manuseio dos equipamentos no processo de desmontagem; adequação a padrões de saúde e
segurança no trabalho (SENS, 2016).
O diretor da SENS relembra também, que estes requisitos riados pelo comitê técnico das
Gestoras, se tornaram referência para toda a Europa, sendo refletidos na criação do
WEEELABEX e a recém-lançado certificação EN 50625, no âmbito do CENELEC. Além
disto, a SENS lançou recentemente seu próprio selo para reconhecimento de padrões de
qualidade na reciclagem de REEE, chamado de e-Recycling Label. Conforme destacado pelo
Sr. Eppenberger, este selo funciona como uma marca do programa de LR da SENS. Todos os
parceiros que trabalham com a Gestora, sejam pontos de coleta, transportadores e recicladores,
tem este selo como forma de identificar que são participantes da logística reversa oficial da
SENS.
Assim como a SWICO, a Fundação SENS também buscou certificar seus processos de
gestão através da norma ISO 9001 e EPEAT, além disso, conquistou também a certificação ISO
14001. O diretor de qualidade da SENS, Sr. Eppenberger, destacou que estas certificações são
exigidas a todos os recicladores que operam o sistema da SENS. A decisão de certificar os
processos da própria Gestora partiu da diretoria, como forma de compreender melhor como
estas certificações funcionam, podendo assim, exigir melhor de seus fornecedores a adequação
a tais padrões. A SENS é também membro participante da Swiss Recycling e do WEEE Forum,
demonstrando a importância de se trabalhar em redes promovendo a troca de conhecimento e
tecnologia.
Os números relativos à operação da SENS são superlativos, somente no ano de 2015, a
Gestora coletou e processou 79.068 toneladas de eletrodomésticos e aparelhos eletrônicos
portáteis. A quantidade de EEE coletada cresceu em quase todas as categorias gerenciadas pela
SENS, estes dados são apresentados na Tabela 10. Neste ano, foi feita também uma revisão no
Sistema de coleta online utilizado pelos consumidores, removendo todos os inativos a mais de
dois anos, o que representou uma queda significativa nesta modalidade de usuários cadastrados
(SENS, 2016b).
95
Tabela 10
Principais Resultados do Sistema de Logística Reversa da Fundação SENS na Suíça
Nota. Fonte: SENS Foundation. (2016b). SENS annual Report 2015. Recuperado em 10, outubro, 2016 de
http://report.erecycling.ch/2015
Quando questionado sobre os principais desafios encarados pela SENS, o Sr.
Eppenberger ressaltou que, no início, a tarefa mais complicada foi convencer todos os
2015 2014
SISTEMA em CHF em CHF Variação
Fabricantes/importadores sujeitos à ARF (contrato com SENS) 621 532 17%
Empresas de Reciclagem Oficiais da SENS 21 21 0%
Pontos de Coleta Oficiais da SENS 585 566 3%
Clientes no Sistema Online da SENS 2.852 5.626 -49%
Solicitações de Coleta via Sistema Online da SENS 25.677 25.062 2%
Notas de Crédito para Serviços de Reciclagem 5.909 5.717 3%
RECICLAGEM
Aparelhos de pequeno porte incluindo brinquedos, jogos e lâmpadas
Volume em toneladas 26.109 25.418 3%
Pelos Pontos de Coleta Oficiais da SENS 93% 93% 0%
Através do Varejo (serviços de coleta via Sistema Online da SENS) 6% 6% 0%
Descartado Diretamente nas Empresas Recicladoras Oficiais 1% 1% 0%
Aparelhos eletrodomésticos de grande porte
Eletrodomésticos Grandes, por item 631.507 583.900 8%
Aparelhos de Refrigeração e Controle da Temperatura, por item 406.079 381.100 7%
Volume em Toneladas [2] 51.743 48.096 8%
Via Pontos de Coleta Oficiais da SENS 86% 86% 0%
Pelo Varejo (serviços de coleta via Sistema Online da SENS) [1] 5% 6% -1%
Descartado Diretamente nas Empresas Recicladoras Oficiais 9% 8% 1%
Equipamentos de Iluminação
Volume em Toneladas 1.144 1.121 2%
Via Pontos de Coleta Oficiais da SENS 59% 63% -4%
Pelo Varejo (serviços de coleta via Sistema Online da SENS) [1] 4% 4% 0%
Descartado Diretamente nas Empresas Recicladoras Oficiais 37% 33% 4%
Lâmpadas
Volume em Toneladas [3] 3.320 3.360 -1%
Fotovoltaicos
Volume em Toneladas 71 74 -4%
Volume Total Reciclado Dentro do Sistema da SENS 79.068 74.709 6%
Volume Total Reciclado por Pessoa [4] em kilogramas 9,52 9,1 6%
[4] Habitantes em 2014: 8.211.700; 2015: 8.306.200 (FSO, Q3, 2015)
[1] Estes números não incluem o volume que foi coletado pelos comerciantes varejistas mas cujo manuseio foi realizado por
meio de pedidos de coleta de terceira parte (ex.: pontos de coleta ou empresas de transporte).
[2] Peso médio de aparelhos eletrodomésticos de grande porte em 2014: 53kg por item; 2015: 53kg por item Peso médio de
aparelhos de refrigeração e controle de temperatura, com compressores em 2014: 45kg por item; 2015: 45kg por item.
[3] O volume já foi incluso no volume dos aparelhos eletrônicos de pequeno porte
96
produtores de EEE a participarem do Sistema. Destacou também que os maiores produtores e
distribuidores são fundamentais para garantir a estrutura financeira do Sistema.
Ao analisar a situação atual, o diretor da Gestora identificou um problema peculiar da
Suíça, que vem refletindo na perda de arrecadação da ARF. Segundo relatou, os preços dos
eletrodomésticos novos são muito elevados no país. Em consequência disto, as pessoas têm
viajado para países vizinhos e adquirido seus eletrodomésticos fora da Suíça, não havendo
então, a arrecadação da ARF para a Gestora local. Desta forma a SENS tem recebido menos
recursos, devido a diminuição das vendas, mas os custos com logística e reciclagem continuam
elevados, uma vez que os produtos continuam a ser consumidos e descartados no país.
5.4.3 A Logística Reversa de Lâmpadas
De acordo com o complemento do ORDEE, publicado em junho de 2004, o qual diz
respeito especificamente a lâmpadas e luminárias, todos os locais que comercializam estes
produtos devem também recebê-los gratuitamente, quando descartados pelo consumidor. Todos
os custos relacionados ao transporte e reciclagem são contemplados na cobrança da ARF
(Conselho Federal Suíço, 2004).
De modo a auxiliar os fabricantes e importadores de lâmpadas e luminárias a cumprir esta
legislação, a Associação Suíça das empresas de iluminação (SLG) resolveu criar a Fundação
Suíça para a reciclagem de fontes de luz e luminárias – SLRS, a qual se tornou a Gestora deste
Sistema de LR, recolhendo e administrando a taxa antecipada para reciclagem destes produtos
(SLRS, 2016a).
O conselho da SLRS é o responsável por dar o direcionamento à Fundação, estabelecendo
as decisões estratégicas. Este conselho é formado por representantes da indústria (de lâmpadas
e luminárias), grandes distribuidores, comerciantes e ao menos um representante da Associação
SLG, como representante da entidade fundadora. Dentre as principais tarefas do conselho,
destacam-se as relacionadas ao controle fiscal, verificação da correta alocação de recursos da
Gestora, efetividade do sistema e monitoramento do valor adequado para a ARF (SLRS,
2016b).
A SLRS tem um regulamento tarifário separado para cada tipo de equipamento, existindo
uma ARF calculada e recolhida para lâmpadas e outra para luminárias. Estas taxas são
regularmente monitoradas e ajustadas, quando necessário. A Tabela 11 apresenta os valores da
ARF cobrada por cada lâmpada ou luminária comercializada na Suíça.
97
Tabela 11
Tarifas de reciclagem antecipada (ARF) para lâmpadas
Categoria de Tarifa
Lâmpadas
Forma de
cálculo
Tarifa de reciclagem antecipada (ARF),
excluindo 8,0% de VAT
700180 Por peça CHF 0,18
Categoria de Tarifa
Luminárias
Forma de
cálculo
Tarifa de reciclagem antecipada (ARF),
excluindo 8,0% de VAT
700200 Por peça CHF 0,16
Nota. Fonte: Adaptado de SENS Foundation. (2015). Tariff and Appliance List. Recuperado em 30, setembro,
2016 de http://www.erecycling.ch/en/downloads
A SLRS possui um acordo de cooperação com a Fundação SENS, o qual lhe permite
utilizar o sistema Online da SENS para toda a gestão e controle das operações de coleta,
transporte e reciclagem das lâmpadas e luminárias administradas pela SLRS (SLRS, 2016a).
De acordo com o Sr. Eppenberger, a opção da SLRS em formalizar esta parceria com a
Fundação SENS foi embasada em questões práticas e econômicas, uma vez que criar toda uma
infraestrutura para coleta e transporte, integrada a um sistema de gestão, é algo que demanda
tempo, planejamento e grandes investimentos. Assim este acordo foi uma forma eficaz de
explorar as estruturas já existentes no sistema da SENS, afim de evitar o retrabalho e
economizar custos em todo o processo.
Entre as duas Gestoras existe uma clara distinção das responsabilidades pelas operações
de coleta e tratamento das lâmpadas. A SLRS continua sendo a responsável por arrecadar e
administrar as ARFs recolhidas por cada lâmpada e luminária colocada no mercado. Na parte
operacional, quando se trata de recolher os equipamentos de consumidores corporativos (B2B),
a SLRS assume a coordenação e quando a coleta é referente a produtos descartados por
consumidores domésticos (B2C), a coordenação do sistema de logística reversa utilizada fica a
cargo da Fundação SENS (SLRS, 2016a).
A Gestora apresenta em seu relatório anual (e também no relatório da SENS),
contabilidades separadas para cada fonte de arrecadação das ARF e contratam uma auditoria
externa independente para controlar todo o balanço anual da fundação, sendo este relatório
apresentado ao conselho da SLRS para verificação e aprovação (SLRS, 2016c). As Tabelas 12
e 13 apresentam os valores das ARF e parte da contabilidade publicada pela Gestora,
descrevendo inclusive os gastos com a utilização do sistema da SENS.
98
Tabela12
ARF para luminárias e contabilidade do sistema SLRS
Nota. Fonte: Adaptado de SENS Foundation. (2016b). SENS annual Report 2015. Recuperado em 10, outubro,
2016 de http://report.erecycling.ch/2015; & Swiss Lighting Recycling Foundation - SLRS. (2016c). Rapport
annuel 2015. Recuperado em 02, novembro, 2016 de http://www.slrs.ch/index-fr.php?frameset=10
Tabela 13
ARF para lâmpadas e contabilidade do sistema SLRS
Nota. Fonte: Adaptado de SENS Foundation. (2016b). SENS annual Report 2015. Recuperado em 10, outubro,
2016 de http://report.erecycling.ch/2015; & Swiss Lighting Recycling Foundation - SLRS. (2016c). Rapport
annuel 2015. Recuperado em 02, novembro, 2016 de http://www.slrs.ch/index-fr.php?frameset=10
2015 2014
RECEITAS em CHF em CHF
ARF de equipamentos de iluminação (luminárias) 2.093,425 1.672,40
DESPESAS
Pagamentos para serviços de disposição -1.746,566 -1.813,370
Contribuição para a SENS referente aos custos do sistema -76.667 -83.333
Marketing / relações públicas -82.760 -43.644
Despesas administrativas da SLRL -82.634 -94.987
outras despesas da SLRL -16.294 -20.770
Resultados Financeiros 31.777 120.891
Resultados neutros para a SLRL -9.730 -245
Resultados transferidos para a SLRL -170.552 -1.944
Reembolso do fundo ARF para luminárias -60.000 -265.000
Fundo ARF para luminárias em 31.12 5.995.000 6.055.000
2015 2014
RECEITAS em CHF em CHF
ARF de equipamentos de iluminação (luminárias) 2.900,052 2.521,209
DESPESAS
Pagamentos para serviços de disposição -2.798,586 -3.077,715
Contribuição para a SENS referente aos custos do sistema -153,333 -166,667
Marketing / relações públicas -165,520 -87.288
Despesas administrativas da SLRL -165.269 -189.973
Outras despesas da SLRL -32.587 -41.539
Resultados Financeiros 63.554 241.781
Resultados neutros para a SLRL -19.460 -490
Resultados transferidos para a SLRL -166.149 -318
Reembolso do fundo ARF para luminárias -205.000 -801.000
Fundo ARF para luminárias em 31.12 13.149.000 13.354.000
99
Independente de qual Gestora está coordenando os pedidos para coleta e tratamento, a
infraestrutura do sistema é da SENS. O transporte de lâmpadas na Suíça exige uma série de
cuidados e requisitos de segurança, cabendo à SENS homologar as empresas de transporte e
monitorar o atendimento a estas exigências por parte de seus fornecedores. Devido a este
contato mais próximo e buscando centralizar o controle das informações facilitando a gestão,
todas as informações são enviadas primeiro para a SENS, tanto referente às coletas B2B quanto
B2C, sendo em seguida compartilhados com a SLRS (SENS, 2016b).
A Tabela 14 apresenta os resultados referentes à coleta de lâmpadas e luminárias no ano
de 2015.
Tabela 14
Principais resultados do sistema de Logística Reversa para Lâmpadas e Luminárias
Nota. Fonte: SENS Foundation. (2016b). SENS annual Report 2015. Recuperado em 10, outubro, 2016 de
http://report.erecycling.ch/2015
Por uma decisão do conselho da SLRS, a Gestora não gerencia a coleta e tratamento de
pilhas e acumuladores, uma vez que existe legislação específica para tais produtos. Desde 2015
há um entendimento entre a SLRS e a INOBAT, no qual as empresas fabricantes e importadoras
de lâmpadas e luminárias (as quais possam conter acumuladores) devem recolher a taxa
obrigatória para reciclagem de pilhas e baterias e se associar à INOBAT, garantindo assim que
estes produtos serão tratados de modo ambientalmente adequado (SLRS, 2016c).
5.4.4 Considerações finais a respeito do sistema suíço de LR para REEE
O sistema Suíço para LR de REEE é um caso exemplar, o qual funciona com base em
quatro Gestoras distintas, cada qual especializada em um determinado grupo de EEE com
características e portes distintos, o que determina a necessidade de tratamentos também
diferenciados. O sistema conta com adesão maciça das empresas, tendo iniciado (em alguns dos
setores) por iniciativa própria dos fabricantes, antes mesmo da existência da legislação de 1998.
Pelo fato das Gestoras trabalharem com produtos distintos, não se percebe uma concorrência
100
entre elas, mas sim uma atuação em parceria, explorando as sinergias que cada sistema pode
oferecer ao outro.
O Ordenamento suíço para LR de REEE (ORDEE) está atualmente sendo revisado. Os
principais pontos de atualização são voltados para garantir a regulação financeira do sistema,
adaptar as melhores técnicas para reciclagem atualmente existentes e harmonizar o ORDEE à
nova diretiva WEEE da EU. Também estão revisando se faz sentido continuar recuperando os
metais de terras raras de todos os REEE, uma vez que, em alguns casos, devido a baixa
concentração destes metais presentes nos aparelhos, o processo logístico, os procedimentos
técnicos de extração e os aspectos ambientais tornam-se um desafio a ser gerenciado (FOEN,
2016b).
Outra preocupação endereçada nesta revisão do ORDEE, diz respeito aos free-riders.
Conforme relatado por Duygan e Meylan (2015), o governo suíço pretende lançar um sistema
de LR gerido pelo estado, além de formalizar os demais já existentes que hoje são coordenados
pelas entidades Gestoras. A meta é engajar os importadores, principalmente os que
comercializam nas plataformas de e-commerce, tornando a participação em sistemas de LR,
privados ou estatais, obrigatória.
101
6 A GESTÃO DE REEE NO BRASIL: CENÁRIO ATUAL
Como visto, a Suíça é um dos poucos países com tão larga experiência na gestão de
REEE, especialmente pelo fato de já operar seu sistema de LR há mais de duas décadas. O
Brasil, por outro lado, está apenas iniciando esta tratativa de modo sistematizado. A proposta
deste capítulo é apresentar uma contextualização da situação brasileira em relação à LR de
REEE, as legislações aplicáveis que regulamentam as obrigações do setor e como o setor
produtivo vem se estruturando para atender a tais obrigações.
6.1 Descrição do Cenário Regulatório Atual
Como dito anteriormente, a PNRS é o marco legal da LR de REEE no Brasil. Dentre suas
diversas atribuições, esta política institui, em seu artigo 30º, a responsabilidade compartilhada
pelo ciclo de vida dos produtos, a qual deve ser implementada de forma individualizada e
encadeada, abrangendo os fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, os
consumidores e os titulares dos serviços públicos de manejo de resíduos e limpeza urbana.
Dentre os objetivos da responsabilidade compartilhada, destaca-se: a promoção do
aproveitamento de resíduos sólidos, direcionando-os para a sua cadeia produtiva ou para outras
cadeias produtivas; a redução na geração de resíduos sólidos; o incentivo a utilização de
insumos de menor agressividade ao meio ambiente e de maior sustentabilidade; e o estímulo à
produção e consumo de produtos derivados de materiais reciclados e recicláveis (Brasil, 2010a).
A PNRS define ainda, as responsabilidades de cada uma das partes no sistema de LR. Em
seu artigo 33º, os parágrafos 4, 5 e 6 descrevem que é responsabilidade do consumidor efetuar
a devolução dos produtos após o uso ao comércio, o qual deverá entregar estes produtos aos
fabricantes e importadores, sendo estes os responsáveis pela destinação final ambientalmente
adequada dos mesmos; tudo isso devendo ser feito independente do serviço público de limpeza
urbana, conforme descrito no caput deste mesmo artigo. (Brasil 2010a).
Este sistema é semelhante, mas não exatamente fiel ao princípio da REP visto nos
exemplos internacionais citados neste trabalho. No caso da REP, toda a responsabilidade pelo
ciclo de vida do produto recai sobre o produtor, enquanto que pela legislação brasileira, esta
responsabilidade é compartilhada e encadeada entre as partes.
Conforme regulamentado pelo decreto 7.404/2010, os sistemas de LR previstos na lei
12.305/2010 deverão ser implementados e operacionalizados por meio de acordos setoriais,
regulamentos ou termos de compromisso (Brasil, 2010b). No caso do setor de EEE, o caminho
102
seguido está sendo o da assinatura de um Acordo Setorial entre as partes. Este acordo tem como
base o Edital 01/2013, publicado em 13 de fevereiro de 2013, o qual apresentou os requisitos
mínimos e as metas que devem constar neste sistema de LR a ser implementado no Brasil
(Brasil, 2013).
Abaixo seguem as duas das metas exigidas pelo Edital, as quais devem constar na
proposta do Acordo Setorial:
6.9.1 atingir diretamente, até o quinto ano após a assinatura do Acordo Setorial, 100%
(cem por cento) dos municípios com população superior a 80.000 (oitenta mil)
habitantes, nos quais a destinação final ambientalmente adequada deverá abranger 100%
(cem por cento) dos resíduos recebidos;
6.10 atingir até o quinto ano após a assinatura do Acordo Setorial o recolhimento e a
destinação final ambientalmente adequada de 17% (dezessete por cento), em peso, dos
produtos eletroeletrônicos objetos deste Edital que foram colocados no mercado
nacional no ano anterior ao da assinatura do Acordo Setorial (Brasil, 2013, pp. 4-5).
Desde a publicação deste Edital, foram apresentadas propostas das entidades
representativas dos setores empresariais, para implementação da logística reversa no Brasil. A
proposta unificada entregue ao governo, em janeiro de 2014, contempla a logística reversa de
REEE de uso doméstico e apresenta seis pontos de entrave, os quais encontram-se em
negociação e precisam ser resolvidas de modo que seja possível operar tal sistema a nível
nacional (Brasil, 2016a). Estes pontos foram identificados no estudo de viabilidade técnica e
econômica encomendado pelo governo federal, sendo este estudo um dos requisitos previstos
na PNRS.
Os pontos que foram listados pelo setor empresarial, constantes deste estudo de
viabilidade, foram os seguintes: 1) Revisar marco legal para tratar o REEE como resíduo não
perigoso no processo de logística reversa; 2) Rever legislação que impõe a existência do termo
de doação no caso da transferência de posse do REEE; 3) Avançar na discussão das questões
relacionadas a incidência de impostos na cadeia de reciclagem de forma a isentar impostos no
transporte de REEE; 4) Criar instrumentos de controle para garantir que todos os Fabricantes,
Importadores e Comerciantes se vinculem ao sistema; 5) Detalhar as condições e o processo de
formalização e cadastro das organizações Gestoras; 6) Realizar análise aprofundada de
alternativas para apuração e custeio (Ferreira et al., 2013).
Conforme apontado pelo Gerente de sustentabilidade da ABINEE, Ademir Brescansin,
após a apresentação da proposta unificada dos setores, para a logística reversa de
eletroeletrônicos, o setor empresarial tem mantido diversas reuniões com o governo, buscando
103
solucionar os seis pontos de entrave ao Acordo Setorial. Segundo Brescansin, dois destes pontos
já foram solucionados até o momento, a saber, as entidades Gestoras foram formalizadas e a
transferência de posse já foi solucionada. Restam ainda os demais pontos que precisam de uma
definição, de modo a termos um Acordo Setorial que garanta a viabilidade técnica e financeira
do sistema de LR de REEE no Brasil.
A Figura 23 ilustra algumas das principais etapas e marcos regulatórios que norteiam a
formalização do Acordo Setorial para implementação da LR de REEE no Brasil.
Figura 23: Linha do tempo que ilustra os marcos legais e as etapas que envolvem a formalização
do Acordo Setorial para a logística reversa de eletroeletrônicos Fonte: Elaborado pelo autor
No caso das pilhas e baterias, considerando a ampla disseminação do uso destes produtos
no território brasileiro e a consequente necessidade de conscientizar o consumidor quanto aos
riscos à saúde e ao meio ambiente, foi publicada em 1999 a Resolução CONAMA no 257. Esta
Resolução determinou concentrações máximas permitidas para mercúrio, cádmio e chumbo,
sendo que as pilhas e baterias que atendessem aos limites previstos poderiam ser dispostas,
juntamente com os resíduos domiciliares. (Brasil, 1999).
O fluxo de ações que se sucederam desde a publicação da Resolução CONAMA no 257,
até a criação de um sistema coletivo para LR destes produtos (somente em 2010), lembra o que
foi descrito por Porter e Linde (1995) sobre o modelo mental estático (das empresas e governo),
o qual tende a manter esta relação em um ciclo vicioso, no qual o governo foca em leis que
freiam a inovação, enquanto que as empresas atrasam as decisões que deveriam tomar para
atender à legislação, resultando assim em custos e litígios, que drenam os recursos das soluções
reais.
104
Com a publicação da Resolução CONAMA no401, em 2008, a qual revogou a CONAMA
no 257/1999, o governo brasileiro instituiu a obrigatoriedade da criação de se coletar todas as
pilhas e baterias comercializadas no território nacional. Dentre suas justificativas, a nova
resolução menciona a necessidade de minimizar os impactos negativos causados ao meio
ambiente pelo descarte inadequado de pilhas e baterias, por meio do gerenciamento ambiental
destes produtos, em especial as que contenham em suas composições chumbo, cádmio e
mercúrio, no que tange à coleta, reutilização, reciclagem, tratamento ou disposição final (Brasil,
2008).
Até o momento em que este trabalho de pesquisa foi finalizado (dezembro de 2016), o
setor de pilhas e baterias não havia sido convocado para debater, com o Governo Federal, a
forma de implementação do sistema de Logística Reversa, no âmbito da PNRS. Desta forma, o
sistema vigente continua operando segundo os requisitos exigidos pela CONAMA no 401/2008.
Já em relação à LR de lâmpadas, a PNRS também foi o marco regulatório do setor. Após
a publicação do decreto no 7.404/2010, foi criado (em maio de 2011) o Grupo Técnico Temático
específico para debater a questão da LR das lâmpadas, analisando sua viabilidade técnica e
econômica, culminando na publicação do Edital de Chamamento (Brasil, 2016a).
O Edital trouxe os requisitos mínimos a constar no Acordo Setorial para LR de lâmpadas,
destacando também quais são os tipos de resíduo de lâmpadas objeto do Acordo, a saber: as
lâmpadas que contenham mercúrio, tais como, fluorescentes compactas e tubulares, de luz
mista, a vapor de mercúrio, a vapor de sódio, a vapor metálico e lâmpadas de aplicação especial,
não sendo objeto da LR, as lâmpadas incandescentes e halógenas (Brasil, 2012b).
O Edital também previa a necessidade da apresentação de um cronograma para
implantação progressiva do sistema de logística reversa e atingimento das metas estabelecidas,
as quais dizem respeito ao número de municípios atendidos pelo sistema (todos acima de 25
mil habitantes), ao número de pontos de coleta a serem implantados (evitando deslocamentos
acima de 4 km entre estes pontos) e ao percentual de recolhimento e destinação final
ambientalmente adequada (Brasil, 2012b).
O Acordo Setorial de Lâmpadas foi assinado em 27 de novembro de 2014, após longo
período de debates e negociações entre governo e setor empresarial, buscando garantir uma
proposta viável para implementação do sistema (Brasil, 2016a). Como resultado destas
negociações, o texto do Acordo foi aprovado condicionando o início da operação do sistema, à
criação de um controle prévio à importação de lâmpadas e de seus componentes essenciais,
vinculando a liberação da licença de importação ao cumprimento dos termos do Acordo
Setorial. Desta forma, o setor buscou garantir a isonomia do sistema, imputando as mesmas
105
metas e obrigações a todos os fabricantes e importadores que colocam estes produtos no
mercado brasileiro (Brasil, 2016b).
Em relação à meta quantitativa proposta no acordo, as empresas signatárias e aderentes
se comprometem a receber e garantir a destinação ambientalmente adequada de 20% da
quantidade de lâmpadas objeto deste acordo. Como base para o cálculo, será utilizada a
quantidade total de lâmpadas colocadas no mercado no ano de 2012 (Brasil, 2016b).
Em relação à meta de expansão geográfica, o cronograma apresentado contempla
inicialmente os municípios de cinco estados - São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande
do Sul e Minas Gerais - e as maiores cidades dos demais estados, totalizando 926 municípios
atendidos e a criação de 3.804 pontos de coleta, ao longo dos primeiros cinco anos de operações
previstos no Acordo. Os municípios com menos de 25 mil (vinte e cinco mil) habitantes não
terão pontos de coleta fixos, sendo atendidos por coletas itinerantes (Brasil, 2016b).
No dia 07 de julho de 2016, foi publicada a Resolução Conmetro no 01, que dispõe sobre
a anuência nas importações de lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz
mista e seus componentes. Esta Resolução veio atender ao pleito do setor empresarial, ao
determinar que a participação de fabricantes e importadores em um sistema oficial de LR, torna-
se requisito de conformidade para importação e comercialização de lâmpadas no Brasil. (Brasil,
2016c). Esta decisão garante tem grande impacto no setor e certamente foi um fator decisivo
no aumento do número de empresas comprometidas com a LR. O Acordo Setorial de lâmpadas
contou com 24 empresas signatárias no momento de sua assinatura, em 12 de março de 2015,
e outras 19 aderentes em 01 de dezembro de 2016 (SINIR, 2016).
6.2 Iniciativas de coleta e reciclagem de REEE
Como mostrado por Lavez, De Souza e Leite (2011), a prática comum na LR consiste em
coletar os REEE, transportá-los até um centro de triagem e desmontagem dos componentes,
para, em seguida, enviá-los a recicladores específicos de cada material. As placas eletrônicas
constituem o componente de maior valor agregado, neste processo elas são trituradas e
embaladas, sendo exportadas para países com tecnologia de extração dos metais raros contidos
neste componente.
No entanto, como o Brasil é país membro da Convenção da Basiléia, deve seguir os
procedimentos nela previstos. Logo quando empresas decidem por exportar partes destes
componentes, devem certificar-se de que os REEE não mais apresentam elementos que possam
106
ser considerados como perigosos, além de ser necessário o consentimento do país importador
deste material (IBAMA, 2015).
Sobre a questão da importação de REEE, ao contrário do relatado nos países em
desenvolvimento, abordados neste estudo, o cenário encontrado no Brasil reflete um setor
formal que busca estruturar um sistema de reciclagem para REEE. Além do país ser um dos
signatários da convenção da Basiléia, regulamentou de vez a importação de resíduos perigosos
e rejeitos no país, por meio da PNRS (Brasil 2010a).
A Resolução Conama nº 452/2012 complementou esta decisão ao apresentar os
procedimentos de controle para a importação de resíduos, seguindo os preceitos adotados pela
Convenção da Basiléia (Brasil, 2012). Desta forma, o Brasil tem buscado evitar a prática de
importação da sucata eletrônica e, aparentemente, de forma eficiente, pois não foram
encontradas, neste trabalho, evidências desta prática no país.
No entanto, como descrito por Gerbase e Oliveira (2012), ainda existem poucas empresas
recicladoras, especializadas em tratar o resíduo eletrônico no Brasil. Logo, estas empresas
acabam realizando apenas os trabalhos de triagem e segregação das partes para, em seguida,
encaminhá-los para os efetivos recicladores que, em alguns casos, ficam em outros países.
Estudos têm sido realizados, visando compreender melhor o atual cenário Brasileiro em
relação às questões de LR de REEE. Neste sentido o Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC)
e o Instituto de Pesquisa Market Analysis buscaram analisar as percepções e hábitos dos
consumidores brasileiros com relação à aquisição, uso e descarte de equipamentos eletrônicos
por intermédio de uma pesquisa realizada em diversas cidades brasileiras (IDEC & Market
Analysis, 2013).
De acordo com a pesquisa supracitada, os celulares apresentam uma vida útil, média, de
três anos, enquanto que computadores e impressoras chegam, em média, a 4 anos. No entanto
a troca destes equipamentos nem sempre é motivada por defeito, como observado, a busca por
equipamentos mais modernos é a maior razão para a troca destes aparelhos. Logo estes
aparelhos que ainda estão em funcionamento, mas foram substituídos, quase nunca são
descartados de imediato. Na maioria dos casos, os consumidores passam estes aparelhos a
terceiros, por meio de venda ou doação, ou ainda os deixam guardados em casa (IDEC &
Market Analysis, 2013).
Diversas iniciativas voltadas para a LR e reciclagem de REEE existem hoje de forma
independente, no país. Algumas são gerenciadas pelos próprios fabricantes, outras são
promovidas por empresas Gestoras, especializadas neste tipo serviço, além de existir também
campanhas esporádicas promovidas por ONGs ou prefeituras.
107
Como parte desta pesquisa, buscou-se fazer um levantamento do total de campanhas e
ações de coleta de REEE existentes no país, como forma de mensurar o alcance destas práticas.
O objetivo deste levantamento foi mapear quais regiões são mais ativas neste sentido, além de
estimar o impacto que estas ações isoladas podem ter em um eventual sistema formal de LR,
gerido pelos fabricantes, importadores e comerciantes, os quais terão uma meta obrigatória de
percentual a ser coletado.
Este levantamento foi feito com base nas notícias publicadas em sites de comunicação na
internet, as quais foram filtradas utilizando a ferramenta do Google alerta, através do uso de
palavras chave como: logística reversa de eletroeletrônicos, coleta de lixo eletrônico, resíduos
eletroeletrônicos, lixo eletrônico, e-lixo, descarte de eletrônicos e REEE. Estas informações
foram coletadas ao longo dos anos de 2015 e 2016, totalizando 427 notícias sobre iniciativas
para coletas de REEE no país.
Parte limitante desta pesquisa foi que apenas 14% das notícias apresentavam dados sobre
o total de REEE que foi coletado nestas iniciativas e, raramente, os informes apresentavam um
detalhamento quanto ao tipo de REEE que foi coletado. Além disso, outra limitação diz respeito
a fonte da coleta de dados, sendo identificado apenas as campanhas que receberam alguma
cobertura da mídia e que foram filtradas pela ferramenta Google alerta, por meio das palavras-
chave utilizadas. De toda forma, foi possível ter uma boa imagem deste cenário, concluindo
que a LR de REEE, de fato é um assunto que está ganhando cada vez mais destaque no Brasil.
Pode-se notar um aumento destas iniciativas para coleta de REEE no país, sendo
contabilizadas 151 ações em 2015 e 276 em 2016. A maior parte destas coletas (66%) foram
realizadas em cidades da região sul do país, seguida pelas cidades da região sudeste (23%), que
juntas contabilizaram 89% das campanhas. Já as demais iniciativas foram mapeadas no nordeste
(7%), centro-oeste (3%) e norte (1%). Considerando apenas as notícias que relataram o total de
REEE coletado (14%), foram recebidas 1294 toneladas de REEE nestes dois anos. Ao total,
estas iniciativas ocorreram em 273 municípios diferentes, sendo que 82 destas cidades (30%)
possuem população acima de 80 mil habitantes, as quais estariam na lista dos municípios a
serem atendidos pela LR, conforme o Edital 01/2013.
Todos estes dados, certamente poderão auxiliar as empresas fabricantes, importadoras e
comerciantes de EEE, no momento da estruturação de seus sistemas de LR, uma vez que, tendo
metas obrigatórias a atender, tanto de expansão geográfica quanto de volume a ser coletado,
deverão levar em consideração as demais iniciativas independentes que já existem no país e
poderão concorrer com o sistema oficial a ser lançado, com base no que for definido pelo
Acordo Setorial.
108
Uma inciativa mais estruturada foi identificada no município de São Paulo/SP. Assim
como observado na experiência da Malásia, descrita neste estudo, o governo brasileiro também
está contando com o apoio da Agência Japonesa de Cooperação Internacional - JICA, para
compreender o comportamento do consumidor e propor ações de melhoria na implementação
da LR de REEE no país. Este acordo de cooperação foi firmado entre a JICA e o Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Ministério do Meio Ambiente
(MMA), Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e a Prefeitura Municipal de São Paulo
(JICA, 2014).
Este projeto terá duração de três anos, sendo estruturado em três etapas: na primeira, foi
conduzida uma pesquisa para levantamento de dados e elaboração do diagnóstico da situação
atual do município. Na segunda etapa será elaborado um projeto piloto, o qual será
implementado na cidade de São Paulo. Este projeto tem como objetivo, fornecer informações
sobre o cenário atual da LR de REEE no município e propor ações de melhoria deste sistema,
podendo também, auxiliar na definição do sistema nacional para LR de REEE. E a etapa final
consistirá na análise dos resultados obtidos e entrega de relatório conclusivo (JICA, 2014).
Este projeto da JICA encontra-se na fase final de sua segunda etapa, a qual lançou um
projeto piloto para a LR de REEE na região da Lapa, em São Paulo, denominado Descarte On.
A Agência Japonesa lançou um site para divulgar os locais de coleta e apresentar informações
ao consumidor, além de destacar os objetivos propostos pelo projeto e os resultados alcançados.
Dentre estes destaco a Figura 25 (JICA, 2016).
Figura 25: Resultados do Projeto Descarte On da JICA Fonte: Agência de Cooperação Internacional do Japão - JICA. (2016). Projeto Descarte On. Recuperado em 17,
dezembro, 2016 de http://www.descarteon.jica.eco.br/nossas-acoes.html#top
109
6.3 Iniciativas de coleta e reciclagem de pilhas, baterias e lâmpadas
No caso de pilhas e baterias, temos um exemplo de LR estruturada em âmbito nacional.
Trata-se do Programa ABINEE Recebe Pilhas (PARB), criado em novembro de 2010 por
empresas fabricantes e/ou importadoras de pilhas e baterias portáteis. O objetivo deste
Programa foi unir os esforços destas empresas de modo a atender a legislação vigente e
responsabilizar-se pelo transporte e destinação final das pilhas coletadas. O PARP é voltado
para atender os consumidores domésticos que descartam pilhas comuns de zinco-manganês,
pilhas alcalinas, pilhas recarregáveis e baterias portáteis (GM&C, 2016).
O PARP foi criado por cinco empresas fabricantes de pilhas e baterias, que faziam parte
de um grupo setorial na ABINEE. Apesar do número de fabricantes ter diminuído no Brasil, as
empresas importadoras de pilhas e baterias tem ganhado cada vez mais representatividade e
passaram a fazer parte do Programa também, o qual conta hoje com 19 participantes (Mendes,
Ruiz, & Faria, 2016).
Conforme o relatório apresentado pela ABINEE, o PARP recolheu aproximadamente 112
toneladas de pilhas e baterias já no primeiro ano de operações sendo que, na ocasião, cerca de
um terço deste total correspondia a pilhas de fabricantes e/ou importadores que não
participavam do Programa. Este é um problema que, embora tenha diminuído em proporção,
continua até hoje a aumentar os custos de gestão do PARP (ABINEE, 2012). Conforme a
ABINEE relatou, “a comercialização irresponsável de pilhas e baterias, assim como de outros
materiais, onera de forma injusta e desproporcional os fabricantes e importadores que cumprem
a legislação, além de representar risco ao meio ambiente” (ABINEE, 2012, p.27).
O PARP conta, atualmente, com 1245 pontos de coleta distribuídos por todo o país, de
modo que disponibilizam ao menos um destes pontos em cada estado da federação. Ao longo
destes seis anos de atividades, o Programa já coletou 1.096.383 kg de pilhas e baterias,
promovendo uma destinação adequada a totalidade do material recebido (GM&C, 2016). Sabe-
se que este não é o único programa de coleta de pilhas e baterias existente no Brasil, no entanto,
não há uma unificação destas iniciativas, justamente pelo fato de não se ter uma Entidade
Gestora que congregue todos os diferentes sistemas em andamento.
Exemplo de outro Programa para a LR de pilhas e baterias no Brasil foi reportado por
Santos, Gallardo e Graudenz (2016). Neste trabalho apresentaram um sistema de LR voluntário,
implementado e operacionalizado por uma grande rede de drogarias de atuação nacional. Tal
Programa teve início em 2004 e já coletou 349,29 toneladas de pilhas e baterias, impedindo que
110
2.089,58 Kg de resíduos químicos fossem inadequadamente descartados ao final do seu ciclo
de vida.
Em relação à LR de lâmpadas no Brasil, poucos são os estudos que demonstram
iniciativas coordenadas neste setor. Mourão e Seo (2012) observaram que a LR das lâmpadas é
pouco praticada no país sendo a maior parte descartada em lixo comum. Por ser um resíduo
classificado como perigoso, existem custos elevados envolvidos na coleta e tratamento das
lâmpadas, o que pode desestimular a ação de empresas e iniciativas voluntárias. O custo médio
para realizar a LR de lâmpadas, praticado pelas empresas especializadas, é de R$1,00/lâmpada,
independente do tipo (Mourão & Seo, 2012).
Atualmente, com o Acordo Setorial em vigor, é esperado que este cenário seja revertido,
uma vez que, com um número maior de pontos de coleta disponível, campanhas informativas e
engajamento do setor produtivo, a conscientização da população aconteça e traga números mais
positivos em relação a coleta e tratamento de lâmpadas no Brasil. Mourão e Seo (2012)
identificaram que já temos empresas com tecnologia adequada para o correto tratamento destes
produtos em fim de vida, reaproveitando seus materiais em outras cadeias produtivas.
Cestari e Martins (2015) apresentaram quais são estas empresas recicladoras de lâmpadas
e em qual estado estão localizadas. Esta lista de empresas é ilustrada na Figura 24.
Figura 24- Principais Recicladoras de Lâmpadas Fluorescentes no Brasil Fonte: Cestari, W., & Martins, C. H. (2015). Logística reversa de lâmpadas fluorescentes pós-consumo estudo de
caso: sistema de armazenagem em uma instituição de ensino. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e
Tecnologia Ambiental, 19(3), 124-135.
Mourão e Seo (2012) analisaram também as principais tecnologias utilizadas para
reciclagem de lâmpadas e os subprodutos que podem ser gerados após este tratamento
adequado. Segundo os autores, o vidro pode ser reutilizado na indústria cerâmica e na
fabricação de recipientes não alimentícios. O alumínio apresenta valor comercial para ser
comercializado como sucata. A poeira fosfórica (localizada dentro do tubo) pode ser
111
reaproveitada para a produção de novas lâmpadas e o mercúrio é recuperado com elevado grau
de pureza para utilização em termômetros ou outros equipamentos.
Conforme o que foi acordado entre as empresas e governo, a LR de lâmpadas prevista no
Acordo Setorial deverá apresentar a seguinte forma de operacionalização: Os geradores
domiciliares deverão entregar as lâmpadas descartadas em pontos de entrega específicos. O
responsável por este ponto de entrega deve emitir um pedido de retirada, quando atingida a
capacidade dos recipientes. A empresa contratada para realizar o transporte receberá o pedido
e deverá transportar as lâmpadas até seu destino, o qual poderá ser um ponto de consolidação,
um reciclador, ou eventualmente um aterro sanitário, em caso de rejeitos (Brasil, 2016b).
Rebelatto et al. (2016) fizeram uma análise do Acordo Setorial e apresentaram um
fluxograma da LR de lâmpadas, que ilustra esta forma de operacionalizar o sistema. Este
fluxograma é apresentado na Figura 25.
Figura 25 – Fluxo reverso de lâmpadas fluorescentes de vapor de sódio, mercúrio e de luz mista Fonte: Rebelatto, P. H., Fagundes, A. B., Pereira, D., Corr, M., Setorial, A., Compartilhada, R., … Responsibility,
S. (2016). Sistemas de logística reversa em implantação no Brasil : Uma análise comparativa dos acordos setoriais
112
de embalagens plásticas de óleos lubrificantes e lâmpadas fluorescentes de vapor de sódio e mercúrio e de luz
mista. Revista ESPACIOS, 37(No 24), 1–12.
Conforme definido no Acordo Setorial de Lâmpadas, as empresas fabricantes e
importadoras de lâmpadas tem a faculdade de implementar e operacionalizar seu sistema de LR
de forma individual, mas há também a previsão destas empresas se unirem para gerenciar um
sistema coletivo através da criação de uma ou mais Entidades Gestoras, as quais deverão ter
personalidade jurídica própria e operar sem fins lucrativos, cumprindo com todas as
responsabilidades, prazos e condições impostas no Acordo. Ainda segundo esta definição,
caberá aos fabricantes e importadores de lâmpadas, repassar à Entidade Gestora os recursos
necessários para implementar e operacionalizar o sistema, valor o qual será proporcional à
quantidade de lâmpadas que tenham colocado no mercado (Brasil, 2016b).
6.4 Estruturação do setor produtivo para operacionalizar a Logística Reversa
O setor de pilhas e baterias, apesar de não ter uma Entidade Gestora formalmente
constituída, apresenta algum grau de organização para gestão da LR de forma coletiva. O
Programa criado em conjunto por fabricantes e importadores acaba centralizando as decisões e
dividindo os custos de um sistema consorciado.
Já no caso de lâmpadas, a produção nacional é ínfima comparada ao total de importadores
que operam no país (Mourão & Seo, 2012). Assim, como o setor obteve o controle da
importação de pilhas (através da Resolução Conmetro no 01/2016) impedindo a liberação da
licença de importação de produtos que não comprovem a LR, o setor, em quase sua totalidade,
tem optado pela adesão a um sistema coletivo de LR.
Assim como no caso de pilhas e baterias, não há dúvidas quanto à quais tipos de lâmpadas
são objeto da LR. A resolução Conama deixa claro que todas as pilhas e baterias
comercializadas no país devem ser gerenciadas de modo adequado no final de sua vida útil
(Brasil, 2008). No caso de lâmpadas, o Acordo Setorial delimitou as fluorescentes, as de luz
mista, a vapor de mercúrio, a vapor de sódio e a vapor metálico como objetos da LR neste
momento (Brasil, 2016b). Enquanto que no caso dos demais EEE, existe um grande universo
de produtos que podem se enquadrar no conceito de eletroeletrônicos, sendo assim, espera-se
que o Acordo Setorial para LR de REEE traga esta definição.
Apesar do Acordo Setorial para LR de REEE ainda não ter sido assinado, as empresas
fabricantes e importadoras de EEE já apresentam formas de atender à legislação, oferecendo
algum tipo de solução para o descarte adequado de seus equipamentos. De fato, estas iniciativas
113
ainda são adotadas em pequena escala, uma vez que a lei 12.305/2010 não apresenta metas
quanto a pontos de coleta ou volume a ser coletado, apenas traz a obrigação de se implementar
o sistema (Sant´Anna, 2014; Xavier, Lucena, Costa, Xavier, & Cardoso, 2010).
Cabe relembrar que tais metas (coletar 17% em peso dos EEE e criar um ponto de coleta
a cada 25 mil habitantes, para municípios com mais de 80 mil habitantes) somente foram
impostas pelo Edital de chamamento no 01/2013 e se aplicarão apenas aos EEE comercializados
no mercado de uso doméstico, conforme será formalizado pelo Acordo Setorial.
Sendo assim, um dos pontos principais do Acordo Setorial, será a apresentação da lista
de produtos que serão objeto desta LR voltada a atender o consumidor doméstico. Existem
diversas formas de se classificar os EEE. No Brasil tem-se utilizado, durante as discussões com
o governo, a definição de mercado que lista os EEE em linhas de produtos identificadas por
cores, conforme representado na Figura 26.
Figura 26: Linha de produtos Eletroeletrônicos
Fonte: Ferreira, C. M. N., Leal, M. L. C. M., Leite, C. C., Costa, C. M. R. da, Araújo, R. G. M. de, Souza, W. C.
de, … Mascarenhas, I. M. (2012). Logística Reversa de Equipamentos Eletroeletrônicos Análise de Viabilidade
Técnica e Econômica. Recuperado de http://www.mdic.gov.br/arquivos/dwnl_1416934886.pdf
Na Europa, utiliza-se a classificação definida pela Diretiva 2012/19/UE do Parlamento
Europeu (Diretiva WEEE), onde os EEE podem ser classificados em 10 categorias distintas,
conforme Figura 27.
114
Figura 27: Categorias de Equipamentos Eletroeletrônicos segundo a Diretiva WEEE
Fonte: Adaptado de Parlamento Europeu. (2003). Diretiva WEEE 2002/96/CE do Parlamento Europeu e do
Conselho, de 27 de janeiro de 2003, relativa aos resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos (REEE).
Recuperado em 02, maio, 2015, de http://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/?uri=CELEX:32002L0096
No entanto, já existe uma nova revisão da Diretiva WEEE, na qual ficou definido que, a
partir de 15 de agosto de 2018, haverá uma nova tabela de classificação mais simplificada e
todos os demais EEE, não listados inicialmente, deverão se adequar à nova lista de categorias
de produtos, conforme apresentado na Figura 28.
Categorias de EEE Lista indicativa de EEE abrangidos pelas categorias
1. Grandes eletrodomésticos Grandes aparelhos de arrefecimento; Frigoríficos; Congeladores; Máquinas de lavar
roupa; Secadores de roupa; Máquinas de lavar louça; Fogões; Fornos elétricos; Micro-
ondas; Aparelhos de aquecimento elétricos; Radiadores elétricos; Aparelhos de ar
condicionado.
2. Pequenos eletrodomésticos Aspiradores; Aparelhos utilizados na costura, tricô, tecelagem; Ferros de engomar;
Torradeiras; Fritadeiras; Máquinas de café; Facas elétricas; Aparelhos para cortar o
cabelo, secadores de cabelo, escovas de dentes elétricas, máquinas de barbear,
aparelhos de massagem e outros aparelhos para o cuidado do corpo; Relógios; Balanças.
3. Equipamentos informáticos e
de telecomunicações
Computadores pessoais (CPU, mouse, tela e teclado inclusos); Computadores
portáteis «notebook»; Impressoras; Copiadoras; Máquinas de escrever elétricas e
eletrónicas; Calculadoras; Telecopiadoras (fax); Telefones; Telefones sem fios;
Telefones celulares.
4. Equipamentos de consumo e
painéis fotovoltaicos
Aparelhos de rádio; Aparelhos de televisão; Câmaras de vídeo; Gravadores de vídeo;
Amplificadores áudio; Instrumentos musicais; Painéis fotovoltaicos.
5. Equipamentos de iluminação Aparelhos de iluminação para lâmpadas fluorescentes; Lâmpadas fluorescentes;
lâmpadas de sódio sob pressão e lâmpadas de haletos metálicos; Lâmpadas de sódio de
baixa pressão.
6. Ferramentas elétricas e
eletrónicas
Serras; Máquinas de costura; Equipamento para tornear, fresar, lixar, triturar, serrar,
cortar e relatos; Ferramentas para rebitar, pregar ou aparafusar ou para usos
semelhantes; Ferramentas para soldar ou usos semelhantes; Equipamento para
pulverizar, espalhar, dispersar substâncias líquidas ou gasosas; Ferramentas para cortar
relva ou para outras atividades de jardinagem.
7. Brinquedos e equipamento de
desporto e lazer
Conjuntos de comboios elétricos ou de pistas de carros de corrida; Consoles de jogos de
vídeo portáteis; Jogos de vídeo-game; Computadores para ciclismo, mergulho, corrida,
remo, etc; Equipamento desportivo com componentes elétricos ou eletrónicos.
8. Aparelhos médicos Equipamentos de radioterapia; Equipamentos de cardiologia; Equipamentos de diálise;
Ventiladores pulmonares; Equipamentos de medicina nuclear; Equipamentos de
laboratório para diagnóstico in vitro; Analisadores; Congeladores; Testes de fertilização.
9. Instrumentos de
monitorização e controlo
Detetores de fumo; Reguladores de aquecimento; Termóstatos; Aparelhos de medição,
pesagem ou regulação para uso doméstico ou como equipamento laboratorial.
10. Distribuidores automático Distribuidores automáticos de bebidas quentes; Distribuidores automáticos de garrafas
ou latas quentes ou frias; Distribuidores automáticos de produtos sólidos; Distribuidores
automáticos de dinheiro.
115
Figura 28: Categorias de EEE segundo a nova proposta da Diretiva WEEE (2012/19/UE), válida
à partir de 15 de agosto de 2018 Fonte: Adaptado de Parlamento Europeu. (2012). Diretiva 2012/19/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de
04 de julho de 2012, relativa aos resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos (REEE). Recuperado em 15,
maio, 2015, de http://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/?uri=CELEX:32012L0019
Categorias de EEE Lista indicativa de EEE abrangidos pelas categorias
1. Equipamentos de
regulação da
temperatura
Freezers; congeladores; equipamentos de distribuição automática de produtos frios;
equipamentos de ar condicionado; equipamentos desumidificadores; bombas de calor.
Radiadores a óleo e outros equipamentos de regulação da temperatura que utilizem para
o efeito outros fluidos que não a água.
2. Telas, monitores e
equipamentos com tela
plana superior a 100 cm2
Telas; aparelhos de televisão; molduras fotográficas LCD; monitores, computadores
portáteis « laptop»; computadores portáteis «notebook»
3. Lâmpadas Lâmpadas fluorescentes clássicas; lâmpadas fluorescentes compactas; lâmpadas
fluorescentes; lâmpadas de descarga de alta intensidade, incluindo lâmpadas de sódio sob
pressão e lâmpadas de haletos metálicos; lâmpadas de sódio de baixa pressão; LED.
4. Equipamentos de
grandes dimensões (com
qualquer dimensão
externa superior a 50
cm), incluindo, mas não
limitados a:
Eletrodomésticos; equipamentos informáticos e de telecomunicações; equipamentos de
consumo; aparelhos de iluminação; equipamento para reproduzir sons ou imagens,
equipamento musical; ferramentas elétricas e eletrónicas; brinquedos e equipamento de
desporto e lazer; dispositivos médicos; instrumentos de monitorização e controlo;
distribuidores automáticos; equipamento para geração de corrente elétrica. Máquinas de
lavar roupa; secadores de roupa; máquinas de lavar louça; fogões; fornos elétricos; placas
de fogão elétricas; aparelhos de iluminação; equipamento para reproduzir sons ou
imagens; equipamento musical (excluindo tubos de órgãos instalados em igrejas);
aparelhos utilizados no tricô e tecelagem; macrocomputadores (mainframes);
impressoras de grandes dimensões; copiadoras de grandes dimensões; caça-níqueis (slot
machines) de grandes dimensões; dispositivos médicos de grandes dimensões;
instrumentos de monitorização e controlo de grandes dimensões; aparelhos de grandes
dimensões que fornecem automaticamente produtos e dinheiro; painéis fotovoltaicos.
5. Equipamentos de
pequenas dimensões
(com nenhuma
dimensão externa
superior a 50 cm),
incluindo, mas não
limitados a:
Eletrodomésticos; equipamentos de consumo; aparelhos de iluminação; equipamento
para reproduzir sons ou imagens, equipamento musical; ferramentas elétricas e
eletrónicas; brinquedos e equipamento de desporto e lazer; dispositivos médicos;
instrumentos de monitorização e controlo; distribuidores automáticos; equipamento para
geração de corrente elétrica. Aspiradores; aparelhos de limpeza de alcatifas; aparelhos
utilizados na costura; aparelhos de iluminação; micro-ondas; equipamentos de ventilação;
ferros de engomar; torradeiras; facas elétricas; cafeteiras elétricas; relógios; máquinas de
barbear elétricas; balanças; aparelhos para cortar o cabelo e outros aparelhos para o
cuidado do corpo; calculadoras de bolso; aparelhos de rádio; câmaras de vídeo; gravadores
de vídeo; equipamentos de alta-fidelidade; instrumentos musicais; equipamento para
reproduzir sons ou imagens; brinquedos elétricos e eletrónicos; equipamentos de
desporto; computadores para ciclismo, mergulho, corrida, remo, etc.; detetores de fumo;
reguladores de aquecimento; termóstatos; ferramentas elétricas e eletrónicas de
pequenas dimensões; dispositivos médicos de pequenas dimensões; instrumentos de
monitorização e controlo de pequenas dimensões; aparelhos de pequenas dimensões que
fornecem produtos automaticamente; equipamentos de pequenas dimensões com painéis
fotovoltaicos integrados.
6. Equipamentos
informáticos e de
telecomunicações
Equipamentos de pequenas dimensões (com nenhuma dimensão externa superior a 50
cm). Telemóveis, GPS, calculadoras de bolso, routers, computadores pessoais,
impressoras, telefones.
116
Existe ainda, uma outra forma de classificação que se ateve à perspectiva do manejo e
logística dos EEE descartados após o uso, apresentando inclusive uma justificativa da proposta
de categorias apresentada. Esta classificação foi feita pelo governo colombiano em um manual
para manuseio de produtos na LR, e é apresentada na Figura 29.
Figura 29: Classificação dos EEE a partir de uma perspectiva de manejo e logística
Fonte: Adaptado de Colômbia. (2009). Lineamientos técnicos para el manejo de residuos de aparatos eléctricos y
electrónicos. Bogotá, D.C. Colombia, 2009. Ministerio de Ambiente, Vivienda y Desarrollo Territorial; Centro
Nacional de Producción más Limpia.
Como visto, são várias as formas de se classificar os REEE na LR, fator este determinante
para definição do modelo de gestão e operacionalização do sistema. Além disso, esta
classificação poderá também esclarecer ao consumidor, quais produtos poderão ser descartados
no âmbito da LR de REEE no Brasil. De toda forma, esta definição será um dos esclarecimentos
necessários que deverão ser apresentados pelo Acordo Setorial, documento o qual ainda precisa
ser finalizado, posto em consulta pública, para daí então seguir para a assinatura do governo em
conjunto com as entidades representativas do setor.
Apesar de ainda não termos um Acordo Setorial para LR de EEE, as empresas do setor já
vêm se organizando para implementar um sistema coletivo a nível nacional. Assim como os
fabricantes e importadores de pilhas e baterias que, apesar de não terem um Acordo, já possuem
uma estrutura unificada que atua de forma coletiva. Da mesma forma, os importadores de
lâmpadas estão se estruturando para operar um sistema coletivo, este mais avançado na questão
regulatória, uma vez que tem como base o Acordo Setorial assinado no final de 2015.
117
Para tanto, nota-se no Brasil o surgimento de Entidades Gestoras, as quais serão as
responsáveis por estruturar, implementar e gerenciar as operações da LR de forma coletiva para
seus associados. O Programa ABINEE Recebe Pilhas é, dentre estes, a iniciativa mais antiga
neste sentido. Embora não seja constituído formalmente como uma Entidade Gestora, o
conselho formado pelas 18 empresas participantes do Programa é o responsável por custear e
gerenciar todas as operações do sistema, que atende às 18 marcas de forma coletiva (GM&C,
2016).
As empresas fabricantes importadoras de lâmpadas, signatárias do Acordo Setorial,
criaram recentemente a Reciclus, Entidade Gestora voltada para gerenciar a LR de lâmpadas de
forma coletiva. A Reciclus foi criada como uma associação sem fins lucrativos que tem como
objetivo envolver toda a sociedade e a cadeia produtiva para operacionalizar o sistema de coleta
e tratamento de lâmpadas previsto no Acordo, assumindo a responsabilidade das empresas
signatárias. As lâmpadas das empresas associadas à Reciclus já possuem o custo da LR
embutido no preço final do produto, que é o chamado Ecovalor - este custo foi estimado em
R$0,40 (quarenta centavos) por lâmpada. O Ecovalor é a contribuição que deve ser depositada,
pelos fabricantes e importadores de lâmpadas, no momento em que colocam seus produtos no
mercado brasileiro, para que a Gestora tenha recursos para operacionalizar todo o sistema
(Reciclus, 2016).
Em relação aos REEE, foram criadas duas Entidades Gestoras no Brasil, a Associação
Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos – ABREE, e a Gestora de
Resíduos Elétricos e Eletrônicos Nacional - GREEN Eletron.
A ABREE foi fundada em junho de 2011, na forma de uma entidade sem fins lucrativos.
A Associação conta hoje com 14 empresas associadas, em sua maioria empresas fabricantes de
equipamentos eletrodomésticos e ferramentas elétricas portáteis. Dentre os principais objetivos
da Gestora, destacam a organização da gestão dos resíduos pós-consumo de seus Associados,
através da contratação, fiscalização e auditoria de serviços prestados por fornecedores
contratados, implementando assim, sistemas coletivos de LR (ABREE, 2016).
A GREEN Eletron apresenta-se como uma Gestora para LR de Eletrônicos. Fundada pela
ABINEE, em abril de 2016, a Gestora conta hoje com 11 empresas associadas, sendo todas
estas fabricantes de equipamentos de informática e celulares. A GREEN Eletron elegeu em
dezembro sua diretoria, a qual reafirmou o compromisso da Gestora de implantar e gerenciar
um sistema de logística reversa com abrangência nacional, atendendo às obrigações previstas
na PNRS e as metas estabelecidas no Acordo Setorial, previsto para ser assinado em 2017. A
GREEN Eletron também não irá atuar de forma direta na operação da LR, contratando empresas
118
especializadas para o manejo, transporte e destinação final ambientalmente adequada dos
REEE, cabendo à GREEN, coordenar estes serviços, integrando-os à política industrial da
ABINEE e promovendo com isso, a economia circular no setor de EEE (GREEN, 2016).
119
7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Tendo em vista o referencial teórico analisado, assim como os exemplos de alguns países
e o estudo de caso do sistema suíço, é possível traçar um paralelo com a realidade brasileira e
propor recomendações para aprimoramento da LR de REEE no Brasil, partindo da conclusão
que a organização em sistemas coletivos se apresenta como a melhor forma de estruturação do
sistema, garantindo maior viabilidade financeira e operacional ao sistema.
7.1 Conclusões
A partir das experiências analisadas e da literatura estudada, foi possível fazer uma série
de observações em relação às boas práticas em sistemas de LR para REEE. Alguns destes
principais pontos são apresentados a seguir.
A origem do conceito de REP, o qual inspirou em grande parte a proposta de
Responsabilidade Compartilhada apresentada pela PNRS no Brasil, já trazia em sua proposta
inicial a necessidade de incluir não apenas os fabricantes, mas também distribuidores,
comerciantes, consumidores e recicladores, na cadeia de responsabilidade pelo produto. A
proposta é bem-sucedida ao retirar dos governos, a responsabilidade física e financeira dos
produtos descartados em fim de vida. Já o foco dado aos fabricantes e importadores tinha como
perspectiva estimular o investimento em projetos melhores e mais sustentáveis.
No entanto, alguns autores chamaram a atenção para a implementação deste tipo de
política, destacando que não se pode transpor tal pensamento de modo integral a países ainda
em desenvolvimento, uma vez que o nível de cultura da população e a concorrência com o
mercado informal são fatores bem distintos dos observados em países já desenvolvidos. Por
mercado informal, considera-se tanto os produtos inseridos no mercado que não participam do
financiamento do sistema de LR, quanto os recicladores informais, que competem pelo mesmo
REEE das empresas que têm metas obrigatórias quanto ao percentual de produto coletado e
destinado adequadamente.
Foi também destacado que políticas desenhadas com o preceito da REP devem levar em
consideração alguns pressupostos principais, dentre estes, a criação de incentivos econômicos
e acordos voluntários, discutidos de modo participativo com os principais envolvidos. No
Brasil, podemos ver que alguns destes pontos foram contemplados ao se propor a legislação
sobre a LR de REEE. Como visto, a forma de regulamentação da LR está sendo via a assinatura
120
de Acordos Setoriais, negociado com as entidades representativas dos setores. Processo este
que tem demandado anos de discussão, mas que, uma vez finalizado, criará uma base sólida
para que o sistema possa operar com segurança jurídica, administrativa e financeira em nível
nacional.
Outro ponto nesta questão, foi a mencionada Responsabilidade Compartilhada, conceito
apresentado pela PNRS ao se referir ao encadeamento de obrigações de cada um dos atores, em
relação ao ciclo de vida dos produtos. O Brasil inovou ao cunhar o termo e tentar deixar um
pouco mais claro o papel de cada um dos envolvidos nos sistemas LR, a saber: fabricantes,
importadores, distribuidores, comerciantes e consumidor. No entanto, esta preocupação já
constava na proposta original de REP, como abordado no início deste capítulo e também no
ordenamento suíço, onde a divisão de responsabilidades entre os atores é claramente definida,
apesar da lei ser baseada também na REP.
Logo vê-se que o conceito da Responsabilidade Compartilhada é novo, mas a percepção
de que todos têm um papel fundamental no sistema de LR já é algo bastante consolidado.
Acredita-se que a intenção do governo brasileiro, ao propor esta delimitação de
responsabilidades compartilhadas, era de demonstrar que todos os demais atores da cadeia
deveriam cooperar com os fabricantes e importadores, de modo a ser possível a criação e
implementação de um sistema eficiente, levando em consideração também a divisão dos custos
ao longo do processo. No entanto, há dúvidas se este objetivo foi realmente atingido.
Outras semelhanças podem ser observadas entre a PNRS e o arcabouço legal da Suíça.
Em nossa lei 12.305/2010, existe uma hierarquia quanto ao tratamento dos resíduos sólidos,
algo que também está presente (de modo similar) na lei de proteção ambiental suíça (EPA), que
recomenda primeiramente a não geração de resíduos, sua recuperação e, por fim, a disposição
ambientalmente adequada. Ainda tratando-se da EPA, a lei permite ao Conselho Federal suíço
que obrigue as empresas a aceitar a devolução dos produtos que colocaram no mercado, sem
custos para o consumidor. Cabe destacar que esta lei foi publicada na Suíça em 1983, enquanto
que este conceito somente foi absorvido pelo Brasil em 2010, no artigo 33º da PNRS.
Tanto o regulamento suíço quanto o brasileiro, permitem que as empresas implementem
e operem seus sistemas de LR de forma individual ou coletiva, cabendo às mesmas obrigações
quanto a correta destinação final dos produtos, atingimento das metas e reporte de dados do
sistema. Logo, esta deveria ser a primeira definição das empresas ao iniciar a estruturação de
seus sistemas de LR, avaliar se irão trabalhar de forma setorial, realizando a coleta agrupada de
um rol de produtos, ou segmentada por empresa, organizando a coleta de seus próprios
produtos.
121
Em relação ao estudo sobre a LR, diversos outros pontos puderam ser observados, a
começar por um detalhamento de todas as fases comuns a diferentes sistemas de LR. Por meio
desta revisão foi possível apresentar alguns dos principais pontos de atenção ao se desenvolver
e implementar um sistema de LR, destacando as questões mais relevantes em cada etapa. Como
exemplo citamos a participação fundamental do consumidor, sem a qual a LR não tem início e
de nada valeria a implementação do mais abrangente sistema de coleta. Além desta, foi também
destacada a questão das grandes incertezas em relação a qualidade e quantidade de material
recebido, o que influencia diretamente nos custos de operação do processo, os quais já são
elevados em função das etapas de triagem e transporte.
Ao analisar as diversas práticas, em diferentes países no mundo, e aprofundar no caso
suíço identificado como referência, constatou-se que o modelo de REP é um imperativo em
relação à LR e que há clara prevalência dos sistemas coletivos, coordenados por entidades
Gestoras as quais coletam todos os tipos de REEE sem distinção, competindo entre si para o
atingimento das metas estipuladas pela legislação, com exceção do sistema suíço, como será
abordado mais à frente.
Muitos são os argumentos observados nos estudos, que justificam a criação de sistemas
coletivos de gestão da LR, tais como: incertezas quanto ao prazo e quantidade dos produtos a
serem coletados; grande diversidade de pontos de coleta para realizar o agendamento e retirada
do material; dificuldade em coletar produtos o suficiente para atingir uma possível meta;
diferentes tipos de produtos demandam diferentes tipos de transporte e tratamento o que
aumenta os custos de frete em pequenas quantidades; custos de gestão para coordenar uma
operação que não é o foco da empresa; dente outros.
Além destes desafios apontados por diferentes autores, ainda foi levantada a questão das
pequenas e médias empresas (fabricantes ou importadores), as quais têm restrições operacionais
e orçamentárias, o que certamente torna-se outra grande barreira para que implementem
sistemas individuais de LR. Independente do porte da empresa, as responsabilidades em relação
à LR de seus produtos são as mesmas dos grandes fabricantes. Logo, sistemas coletivos podem
permitir a participação destes atores, evitando que estes se tornem free-riders de um sistema
formalmente implementado por uma minoria de empresas.
As empresas devem ter em mente que a LR irá sim demandar investimentos,
principalmente nos casos onde a regulamentação é mais exigente. Coleta, transporte e
tratamentos mais sofisticados e de acordo com padrões de segurança vigentes, aumentam os
custos de todo o processo, uma vez que serão necessárias certificações, licenças e adequações
a padrões de qualidade. Desta forma, assim como as empresas investem nas melhorias de
122
processos e logística de seus novos produtos, terão também que investir e se ocupar no correto
gerenciamento do fim de vida de seus produtos.
7.2 Contribuições para a Prática
A partir da experiência analisada do cenário suíço, as seguintes observações gerais podem
ser feitas. Primeiramente, o sistema se destaca por alguns fatores de vanguarda, como o fato de
ter sido o primeiro no mundo para a LR de REEE e ter iniciado de modo voluntário, a partir da
ação proativa de um grupo de empresas, antes mesmo de uma regulamentação específica para
o setor. Em segundo lugar, foi observada a forma de operacionalização diferenciada, onde as
Entidades Gestoras se estruturaram por tipos de produtos, especializando-se na coleta e
tratamento de determinados EEE e não se responsabilizando por todos os tipos de REEE
descartados pelos consumidores. E um terceiro ponto de destaque foi a relação de cooperação
entre as Gestoras, uma vez que, por não trabalharem coletando os mesmos tipos de produtos,
as Entidades não competem entre si, mas sim atuam criando uma rede de colaboração que
permite a otimização de todos os sistemas.
Fato interessante também identificado, foi a postura da Confederação suíça em relação a
este tema. O processo de coleta e recuperação de REEE é entendido como uma estratégia de
governo, uma vez que estes resíduos possuem metais de interesse para a indústria tecnológica,
a qual tende a crescer e ser a base da nova economia mundial. O governo brasileiro deveria
adotar postura semelhante, incentivando ao máximo esta atividade de modo a garantir facilidade
e segurança para implementação de um sistema eficiente e que resulte em um novo setor
industrial (voltado à recuperação de materiais e recursos), gerando empregos, tecnologia e
promovendo a sustentabilidade.
Uma iniciativa positiva identificada neste estudo foi a publicação de um Manual
Orientador, por parte da Confederação suíça, que permite a interpretação e aplicação clara e
uniforme da lei. O Manual apresenta o detalhamento dos tipos de produtos que são objeto de
LR e os que não necessitam desta infraestrutura de coleta, apenas da garantia da correta
destinação. No Manual estão também presentes fichas técnicas que detalham as melhores
tecnologias disponíveis para o tratamento adequado de cada categoria de REEE. Esta é uma
ótima proposta a ser incorporada no sistema brasileiro, podendo ser utilizado o texto do acordo
setorial para melhor detalhar como irá funcionar a LR no país, apresentando uma lista de
produtos e forma de tratamento, de modo a garantir que não haja equívoco quanto a quais tipos
123
de EEE são objeto do Acordo e quais são os tratamentos adequados para este tipo de resíduo
gerado.
Uma curiosidade presente ao se comparar as legislações foi em relação às metas. Na
Suíça, a lei que doutrina a LR de pilhas e baterias apresenta uma meta agressiva para a coleta
destes produtos descartados, enquanto que no caso de EEE, por ter iniciado antes da legislação
e apresentar resultados muito positivos, a lei não trouxe a exigência de metas para o percentual
coletado. Já no caso brasileiro ocorre o inverso, temos atualmente em vigor a resolução Conama
401/08 que não traz a obrigação de metas para a coleta de pilhas e baterias, enquanto que a
PNRS (complementada pelo Edital 01/2013) definiu um percentual mínimo a ser atendido pelos
sistemas de coleta dos EEE descartados.
Pode-se imaginar que no caso suíço, a lógica seguida foi a de forçar os resultados no
sistema de pilhas e baterias, uma vez que trata-se de resíduo perigoso e sem valor comercial
para reciclagem, logo com pouca atratividade comercial. No caso de EEE, que possuem
materiais de interesse para a indústria da reciclagem, a preocupação do governo pode ter sido
menor, tendo em vista que o sistema já se encontrava em operação e as taxas de coleta são uma
das mais elevadas do mundo. Logo, não existiria a necessidade de forçar a coleta de um tipo de
resíduo que naturalmente desperta o interesse de outros empresários.
No caso brasileiro é esperado que, em uma eventual publicação do Edital para o Acordo
Setorial de pilhas e baterias, exista a necessidade das empresas também se comprometerem com
metas em relação ao percentual de produtos coletados em seu fim de vida. Já no caso de EEE,
relembrando os desafios mencionados neste estudo (quanto à competição por REEE com o
mercado informal nos países em desenvolvimento) e a cultura do consumidor em não descartar
estes tipos de produtos (preferindo em muitos casos vendê-los), imagina-se que as Gestoras
terão que estimular a adesão ao sistema por meio de incentivos ou campanhas bem estruturadas.
Uma diferença observada na legislação suíça, em relação aos sistemas de LR de pilhas e
baterias, quando comparado aos demais sistemas de EEE (incluindo lâmpadas), foi a forma de
tratar as entidades Gestoras. No caso de pilhas e baterias, está prevista no ordenamento a
obrigatoriedade da existência de entidade Gestora. Entidade esta indicada pela Confederação,
com obrigações e requisitos claros a serem atendidos. Já as demais Gestoras (SWICO, SENS e
SLRS) foram criadas de modo voluntário, a partir das associações representativas dos
produtores dos EEE. Existe a previsão de regulamentar também o papel destas Gestoras de EEE
e lâmpadas, trazendo maior controle e fiscalização de suas ações em uma próxima revisão do
Ordenamento Suíço para LR de REEE.
124
O sistema brasileiro vem se estruturando voluntariamente em sistemas coletivos,
coordenados por entidades Gestoras criadas também pelas associações representativas dos
setores (com exceção do Programa de Pilhas que hoje atua na forma de um fórum empresarial
não formalmente constituído), sem interferência ou influência alguma do governo federal. No
entanto, recomenda-se a criação de requisitos mínimos e obrigações quanto ao nível de reporte
de dados e transparência destas entidades no Brasil, já antecipando o aprendizado do governo
Suíço que pretende replicar as regras criadas no sistema de pilhas e baterias, para as demais
Gestoras que operam no país.
Assim como temos no Brasil uma lei específica para tratar da questão da destinação
correta de pilhas e baterias (Resolução Conama), na suíça aconteceu da mesma forma com a lei
OSUBST de 1986. Em ambos os casos, todo o comércio que vende pilhas é obrigado a receber
de volta estes produtos descartados e cabe aos fabricantes e importadores, realizar a destinação
ambientalmente adequada. No caso suíço, há ainda o destaque para a obrigação dos
consumidores em devolver corretamente as pilhas e baterias usadas, nos pontos de coleta
designados pelos comerciantes, ficando mais uma vez evidente o compartilhamento das
responsabilidades de forma implícita.
No caso suíço há também outras diferenças em relação às legislações quando comparadas
com as brasileiras. A obrigação, presente no ordenamento suíço, imposta a todos os
comerciantes de receberem as pilhas que comercializam também é válida no caso de EEE, fato
este que não encontra reflexo na legislação brasileira, uma vez que no Edital de chamamento
existem metas para a criação de pontos de coleta, não obrigando assim a participação de todos
os comerciantes de EEE. Esta maior capilaridade auxilia bastante na adesão por parte dos
consumidores e gera um maior percentual de REEE coletado, mas por outro lado encarece e
torna o sistema mais complexo de ser gerenciado.
Todos os sistemas na suíça têm sua estrutura financeira baseada no uso da cobrança de
uma taxa para LR, no momento da venda dos produtos novos. A taxa cobre todos os custos do
processo, desde a comunicação com o consumidor, às etapas de coleta, transporte e reciclagem.
Esta taxa é cobrada pelos fabricantes e repassada às Gestoras para que façam a gestão do
sistema. Nos casos observados das Gestoras SWICO e SENS, as empresas fazem este repasse
duas vezes ao ano enquanto que o reajuste do valor cobrado é feito uma vez por ano. A SWICO
relatou que trabalha com uma cobrança mínima referente à taxa para LR de suas associadas.
Caso um pequeno importador não atinja este valor mínimo anual, contribuirá com o valor do
piso estipulado pela Gestora.
125
Um relato comentado no caso de pilhas foi a não adesão de um grupo de importadores no
início do Programa, os quais não cobravam a taxa (que de início era voluntária) nem recolhiam
seus produtos. Como resultado, o governo tornou a cobrança obrigatória.
Outra diferença do sistema da INOBAT, em relação às Gestoras de EEE e lâmpadas, se
dá em relação à taxa cobrada para o financiamento do sistema. Nas Gestoras voluntárias, cabe
a elas o cálculo e definição da taxa cobrada por cada tipo de equipamento colocado no mercado,
enquanto que na INOBAT, cabe ao FOEN definir e revisar o valor cobrado nesta taxa para a
LR das pilha e bateria. Cabe ainda ao órgão do governo, definir como a Gestora autorizada
poderá investir estes valores, cobrando anualmente o reporte dos dados contábeis.
Em relação à taxa cobrada para financiamento dos sistemas, foi identificado que esta é
uma prática comum não só aos sistemas de LR na Suíça, mas a diversos outros estudados. Logo,
a sugestão deste estudo é para que as Gestoras brasileiras sigam este modelo, levando em
consideração a realidade econômica do país e custos de operação do sistema. Em relação ao
controle das taxas, a revisão do ordenamento suíço parece não mexer neste quesito e assim, a
proposta seria no sentido de manter os valores flexíveis e à cargo de cada Gestora, para que esta
se responsabilize pelo cálculo, atualização dos valores e possa também negociar com seus
prestadores de serviço (seguindo a volatilidade do mercado de metais) para obter o melhor preço
possível, viabilizando assim a LR a um custo menor para os consumidores, comerciantes e
fabricantes (uma vez que as Gestoras tem sido constituídas como entidades sem fins lucrativos).
Nota-se no caso de pilhas, o problema já citado dos free-riders, que (no início do sistema)
se recusaram a participar e também de recolher a taxa para LR, somente foi resolvido quando
o governo tornou a cobrança e repasse à Gestora obrigatórios. Na próxima revisão do ORDEE,
o governo suíço está estudando como trazer todos os importadores para os sistemas
(principalmente empresas de e-commerce). Para o sistema de LR brasileiro, entendemos que
será necessário algum tipo de ação similar por parte do governo, assim como aconteceu no caso
de lâmpadas com a Resolução Conmetro no 01/2016, que comprovadamente apresentou um
resultado positivo imediato, quase dobrando o número de empresas aderentes ao acordo, após
publicação de tal restrição à importação de lâmpadas sem um sistema de LR comprovado.
As Gestoras suíças defendem que esta taxa deve ser destacada na cobrança ao
consumidor, ou que existam campanhas (sites, panfletos ou cartazes por exemplo) que
apresentem esta informação de forma clara, para que os consumidores compreendam que fazem
parte deste processo e estão contribuindo financeiramente para seu sucesso. Entende-se que tal
procedimento é bastante válido e pode funcionar sim como uma ação de educação ambiental,
126
promovendo um maior engajamento dos consumidores que tem o seu papel a desempenhar na
LR, conforme destacado no conceito da Responsabilidade Compartilhada.
Em relação à governança das entidades Gestoras, todas possuem conselhos ou comissões
(compostos por empresas associadas) responsáveis por definir as estratégias e ditar o
direcionamento das Gestoras. Dentre as principais tarefas do conselho, destacam-se o
monitoramento dos dados de mercado, custos do processo, revisão do cálculo das taxas para
LR, alocação dos recursos e avaliação da efetividade do sistema. Em alguns casos,
subcomissões são criadas para avaliar melhor cada grupo de EEE específicos, refinando ainda
mais os cálculos da taxa que financia o sistema.
Sem dúvida são boas práticas de gestão que podem ser levadas em consideração pelas
Gestoras brasileiras, em especial a ideia das subcomissões específicas, criadas para realizar o
acompanhamento e atualização dos resultados de cada grupo de EEE específico, tornando o
cálculo dos custos e receitas do processo ainda mais detalhado.
Sobre os pontos de coleta, todas as Gestoras suíças trabalham com o comércio (que tem
a obrigação de receber) e também com outros locais, como ecopontos das comunas
(municipalidades da suíça) ou locais privados que desejam ser um ponto de coleta. Em relação
a estas opções de descarte, foi relatado que as Gestoras possuem contratos com estes locais,
para manter um melhor controle e monitoramento dos pontos de coleta (oficiais ou voluntários),
delimitando assim os direitos e obrigações dos estabelecimentos cadastrados e garantindo
padrões de qualidade ao sistema.
Além disso, foi também relatado que os ecopontos são melhor aceitos pela população,
pois possuem orientação clara, funcionam em horários adequados, têm segurança e aceitam
diversos tipos de materiais recicláveis. Logo, estas facilidades aumentam a participação do
cidadão, resultando em maiores percentuais de coleta. Além disso, a SWICO reportou que esta
parceria com as prefeituras também resulta em maior divulgação do programa e engajamento
da população.
Recomenda-se que as Gestoras brasileiras levem em consideração estes aprendizados em
relação aos pontos de coleta, pois a forma como é feita a gestão deste processo pareceu bastante
segura e transparente, tornando clara as responsabilidades de cada uma das partes. Outra
recomendação importante diz respeito às características que agradam mais aos consumidores
em relação à escolha e utilização dos pontos de coleta, sendo muito importante fatores como a
facilidade de acesso, boa orientação quanto ao correto procedimento, segurança e limpeza do
local.
127
Para o agendamento da coleta dos REEE descartados no ponto de coleta, as Gestoras têm
suas regras específicas. No caso de pilhas, a INOBAT paga a todos os pontos pelo serviço
prestado, havendo uma diferenciação de valores entre os pontos obrigatórios (comércio) e os
pontos voluntário; além de um limite mínimo de 350 kg (quilogramas) para que seja permitido
solicitar a retirada do material. Já as demais Gestoras não fazem pagamento ao comércio pela
coleta dos produtos descartados, pois entendem que é uma obrigação legal. A contrapartida é a
coleta feita de modo gratuito, desde que haja uma quantidade mínima de 250 kg (quilogramas)
para pequenos EEE e 800 kg (quilogramas) para grandes EEE.
No Brasil, temos a mesma situação em relação a obrigatoriedade da coleta por parte do
comércio. No caso de pilhas já observamos que o Programa de pilhas exige uma quantidade
mínima (30 kg) para retirar as pilhas descartadas nos pontos de coleta cadastrados em seu
sistema, enquanto que nos demais sistemas de LR de REEE, não há ainda uma definição clara
de como será a dinâmica de relacionamento entre as Gestoras e os pontos de coleta do comércio.
Esta é uma questão que deverá ser analisada caso a caso pelas Entidades Gestoras, fazendo
parte da estratégia de negociação de cada uma.
Uma vez que todos os produtos que são colocados no mercado carregam consigo a taxa
para LR, as Gestoras não fazem distinção quanto ao tipo de consumidor que está realizando o
descarte sendo coletado produtos domésticos ou corporativos, neste segundo caso podendo ser
exigido também uma quantidade mínima e haver cobrança no caso da demanda por certificados
de destinação final. No Brasil os Acordos Setoriais estão sendo firmados com o objetivo de
coletar apenas os produtos descartados por consumidores domésticos, enquanto que os REEE
de consumidores corporativos têm sido negociados em relações contratuais entre os
fornecedores, ou leiloados para empresas de reciclagem especializadas. Uma sugestão às
Gestoras que estão se estruturando no país, seria avaliar a viabilidade e interesse em atuar
também no mercado corporativo, otimizando assim a estrutura logística que irão implementar.
Como reforçado ao longo deste trabalho, cada Gestora na Suíça é responsável pela LR de
um determinado REEE. Logo, a SWICO, SENS e SLRS não contemplam a gestão de pilhas e
baterias em seus sistemas, embora aconteça frequentemente o descarte destes produtos nos
coletores daquelas Gestoras. Como forma de resolver esta questão, evidencia-se outro ponto
forte deste sistema, a cooperação entre as Gestoras. Ao final de cada ano a INOBAT apresenta
uma relação de custos referente as pilhas e baterias tratadas, oriundas de coletores das demais
Gestoras, simplificando a forma de tratar este tipo de resíduo.
Esta parece ser uma solução bastante eficiente, mantendo a gestão e tratamento de um
resíduo considerado perigoso, nas mãos da entidade mais especializada em gerenciá-lo, sem
128
haver a necessidade de se criar novos fluxos administrativos e operacionais para contemplar a
coleta de pilhas por parte das demais Gestoras. Os produtos EEE que contém pilhas (como
controles remotos e mouse), já carregam a taxa para reciclagem de pilhas no cálculo de sua
tarifa de LR, logo o repasse não onera o sistema de forma não planejada. Por outro lado,
empresas que importam apenas as pilhas e baterias como um produto isolado, estas sim devem
se associar à INOBAT e recolher a taxa de reciclagem junto à esta Gestora, uma vez que as
próprias pilhas e baterias são o seu produto final comercializado, e não apenas um componente
integrante de um produto maior.
Esta prática também poderia ser incorporada pelas Gestoras brasileiras, especificamente
a GREEN e ABREE que lidam com empresas que comercializam EEE que podem conter pilhas
e baterias como partes constituintes do produto. Ao invés destas Gestoras terem de desenvolver
coletores específicos e homologar recicladores especializados em pilhas e baterias, poderiam
firmar um acordo de cooperação com o Programa ABINEE Recebe Pilhas, para tratar estes
resíduos que forem erroneamente descartados em seus coletores, auxiliando também às suas
associadas a estarem em conformidade com a Resolução Conama 401/08 e futuro Acordo
Setorial para LR de pilhas e baterias, no âmbito da lei 12.305/10.
Ainda se tratando das relações de cooperação entre as Gestoras suíças, foi visto que existe
uma grande atuação conjunta entre SWICO, SENS e SLRS. Em primeiro lugar, estas entidades
compartilham alguns dos pontos de coleta no comércio, não sendo necessário duplicar os
coletores em todas as 6000 lojas existentes. Segundo, criaram um comitê técnico que auxilia na
melhoria dos processos operacionais e gera conhecimento de excelência, já replicado em toda
a comunidade europeia. Terceiro, publicam de forma conjunta um relatório técnico anual,
apresentando os principais resultados dos sistemas de forma conjunta. E por fim, a SLRS utiliza
toda a infraestrutura logística da SENS de forma terceirizada, para que não fosse necessário
criar todo um novo sistema com investimentos elevados.
As Gestoras prezam muito pela qualidade de seus processos. Tanto a SWICO, quanto a
SENS inclusive buscaram certificar seus sistemas de gestão segundo as normas ISO 9001 e
14001, para que pudessem melhor avaliar os sistemas de seus fornecedores. O comitê técnico
é um grande diferencial, que conta com a participação do EMPA desde a fundação das
Entidades Gestoras. O papel deste instituto de pesquisa é auditar e controlar as operações dos
recicladores, auxiliando também, na criação e atualização dos requisitos e verificação da
conformidade nas operações do sistema de LR.
Esta colaboração entre as Gestoras foi identificada como um dos pontos mais positivos
analisados neste trabalho. O trabalho do comitê técnico deixa claro o sucesso desta atuação
129
conjunta, tendo suas recomendações e procedimentos sendo utilizados incialmente pelo próprio
governo suíço, em seguida pela certificação europeia WEEELABEX e por fim, sendo a base de
uma norma técnica oficial da comunidade europeia. A integração dos sistemas, tanto
operacionalmente, quanto em termos de análise e publicação de dados consolidados, gera
inteligência e maior significado a todo o conjunto, permitindo avanços consistentes e resultados
cada vez mais positivos.
Recomendamos que tal linha de integração seja seguida também pelas gestoras
brasileiras, aproveitando que todas encontram-se em estágio inicial de operações, esta seria a
fase ideal para já desenharem processos conjuntos, que permitam aproveitar as sinergias
existentes em função da similaridade dos produtos que estão lidando, criando assim padrões
comuns a seus recicladores, formas de comunicação também inter-relacionadas (trabalhando a
conscientização do público de forma ampla) e estruturando os pontos de coleta e a logística de
modo a aperfeiçoar todo o sistema, reduzindo custos e facilitando a participação do consumidor.
A Figura 30 apresenta um quadro com as principais recomendações propostas a partir
deste estudo.
Recomendações para melhoria da gestão de sistemas coletivos de Logística Reversa Responsabilidade
dos atores
envolvidos
Como visto neste trabalho, apesar da legislação brasileira ter criado o conceito da
responsabilidade compartilhada, o detalhamento do papel de cada ator no sistema de LR
já estava presente também na definição da Responsabilidade Estendida ao Produtor. No
entanto, ao se definir o Produtor (Fabricante/Importador) como o responsável por
gerenciar e operacionalizar o sistema, têm-se de forma mais clara quem será o responsável
de fato pela cadeia reversa a ser implementada.
Como no Brasil temos a obrigatoriedade da participação do comércio e de distribuidores
(responsáveis por receber os produtos descartados e entregá-los aos fabricantes),
recomenda-se que as Entidades Gestoras permitam a adesão destas empresas a seu quadro
de associados.
Desta forma, seria possível incluir estes atores nas decisões estratégicas do sistema, como
a forma de custeio de cada etapa e também nas definições operacionais como a estrutura
dos coletores, os locais a se criar os pontos de coleta e as formas de interação com o
consumidor, decisões estas diretamente voltadas para a etapa de recebimento dos produtos.
Mercado Informal Ao longo deste trabalho, foi mencionada a questão da presença forte de mercados
informais em países ainda em desenvolvimento, como o Brasil, onde diversas empresas
que se intitulam “recicladoras” atuam de modo independente, comprando e/ou coletando
REEE.
De certo que esta não é (na maioria dos casos) uma atividade ilegal, no entanto,
considerando que as fabricantes/importadoras possuem uma meta prevista em lei, estas
atividades paralelas acabam dificultando o atingimento da coleta de 17% dos produtos
colocados no mercado.
Recomenda-se que exista alguma forma de controle sobre os materiais coletados por estas
empresas, podendo ser reportado às entidades gestoras, ou aos órgãos ambientais, de modo
que seja conhecido, de fato, o total de REEE que é coletado e tratado no Brasil.
Nota-se que a recomendação não é para que estas empresas deixem de operar, a sugestão
é feita apenas no sentido de evitar a criação de um mercado de compra e venda de resíduos
(ou certificados de reciclagem) no Brasil, onerando ainda mais as empresas (uma vez que
será criado um sistema nacional, com diversos pontos de coleta espalhados por todo o país;
130
logo, se não houver coleta nestes pontos em função da concorrência por REEE, o
investimento já terá sido feito e as empresas ainda terão uma meta legal a cumprir).
Free-Riders Sobre as empresas que colocam produtos no país, mas não participam de nenhum sistema
de LR, viu-se que este é um problema comum nos países que já tem seus sistemas
implementados.
Neste caso, recomenda-se o governo auxilie as empresas e suas Gestoras, proibindo a
importação e comercialização de produtos (objeto de LR) que não possuam, ou façam
parte de um sistema oficial de LR no país.
Ademais, é sugerido também o engajamento dos comerciantes e distribuidores, auxiliando
na fiscalização e cobrança das empresas que desejam vender produtos em seus
estabelecimentos comerciais. Como os comerciantes são parte ativa na responsabilidade
compartilhada, cabe a eles exigir que para expor o produto de determinada empresa em
seu estabelecimento, a fabricante/ importadora deva comprovar que possui alguma forma
de garantir a coleta e destinação final de seus produtos.
Caso os comerciantes e distribuidores façam parte das entidades gestoras, como sugerido
neste quadro, estas estratégias de controle podem ser ainda mais eficientes.
Sistemas
Coletivos para
Gestão da LR
Após avaliar todos os pontos em diversos estudos e no sistema suíço, recomenda-se, ás
empresas, a adesão a sistemas coletivos para gestão da LR. Como fatores positivos deste
modelo, destacam-se a redução de custos por compartilhar pontos de coleta e a própria
gestão; redução de custos nas negociações com recicladores e transportadores; a Gestora
será focada na LR deixando a empresa livre para focar em seu core business; por ter um
custo mais diluído para todos os participantes, as Gestoras facilitam a adesão de pequenas
e médias empresa, diminuindo assim a chance destas se tornarem free-riders; sistemas que
recebem diversos tipos de produto (ao invés de uma marca única) otimizam o frete nos
pontos de coleta; sistemas coletivos facilitam a participação do consumidor (permitindo o
descarte de qualquer marca em seus diversos pontos de coleta).
Gestoras
Especializadas
Como visto no caso suíço, o modelo de Gestoras especializadas em REEE específicos
parece funcionar bem. Como produtos diferentes demandam operações logísticas também
distintas (ex: celulares e geladeiras – tamanhos diferentes e formas de descarte/coleta
também diferentes) é recomendado que as Gestoras brasileiras mantenham sua estrutura
também desta forma.
Deste modo, parece ser possível promover uma maior especialização de cada um dos 4
sistemas de LR de REEE (pilhas, lâmpadas, EEE pequeno porte e EEE de grande porte).
Cooperação entre
as Gestoras
Apesar das Gestoras serem entidades independentes e coordenarem cada qual seu sistema,
existe um elevado grau de cooperação entre elas.
Recomenda-se que no Brasil as Gestoras iniciem uma aproximação neste sentido de
promover uma gestão colaborativa, aperfeiçoando ainda mais cada um de seus sistemas,
podendo encontrar sinergias na forma de coletar, transportar e reciclar seus resíduos
coletados. A ideia de criar um comitê técnico em conjunto entre as quatro gestoras também
parece ser um excelente caminho para debater melhores práticas para destinação
ambientalmente adequada, sendo também um fórum para estudar e incentivar práticas
relacionadas à melhoria de produtos e economia circular.
Outro tópico positivo desta cooperação entre as gestoras foi a publicação de um relatório
anual com os principais resultados e avanços de cada sistema. Na suíça apenas a Gestora
de pilhas não participa deste relatório, neste caso, recomendamos que no Brasil as quatro
avaliem a possibilidade de publicação de algo em conjunto, compondo assim um cenário
completo da gestão de REEE no país.
Financiamento A cobrança de um valor antecipado para custear a Logística Reversa pareceu ser a
alternativa mais viável e segura para garantir a operação do sistema.
Recomenda-se manter o cálculo dos valores a serem cobrados, a cargo de cada uma das
gestoras, uma vez que trata-se de valores que variam de acordo com as condições do
mercado (preço do frete, valoração dos resíduos, custos de tratamento...).
Governança As gestoras estudadas apresentam em seu quadro diretivo, conselhos formado por
empresas associadas, os quais auxiliam na definição da estratégia a ser seguida. Além
disso, foi observado (em alguns casos) a criação de sub-conselhos, formados por
fabricantes de grupos de produtos similares. Esta prática é também recomendada pois
permite à Gestora ter um conhecimento mais detalhado de cada tipo de equipamento que
coleta, sendo útil para refinar o cálculo da taxa cobrada por produto e também para avaliar
as estratégias de coleta por segmento de EEE.
131
Pontos de Coleta Tanto na Suíça como no Brasil, os estabelecimentos comerciais são os pontos de coleta
indicados pela legislação. No entanto, as Gestoras suíças desenvolveram outros locais para
funcionar como pontos de coleta oficiais do sistema. Foi relatado que estes locais, por
oferecerem maior facilidade ao consumidor, apresentam elevados índices de recebimento
de materiais.
Recomenda-se que as Gestoras brasileiras avaliem também outras opções para criação de
seus pontos de coleta, além dos pontos de venda de EEE. Alguns diferenciais destes pontos
de coleta oficiais das Gestoras foram identificados, como: horário de funcionamento
estendido, limpeza, orientação clara no local, estacionamento, receber mais de um tipo de
resíduo e facilidade de acesso.
Figura 30: Recomendações para Gestão de Sistemas coletivos para Logística Reversa de
Resíduos Eletroeletrônicos Fonte: Elaborada pelo autor
7.3 Contribuições para a Teoria
Este trabalho consistiu em uma extensa revisão da literatura sobre conceitos de grande
relevância atual, como a Logística Reversa, os Resíduos Eletroeletrônicos e a Responsabilidade
Estendida ao Produtor, traçando paralelos e criando novas formas de interpretar os resultados
de diversos trabalhos em uma forma conjunta.
Foi apresentado uma consolidação das principais fases presentes na LR, comuns a
diferentes sistemas, destacado os principais fatores que motivam as empresas a implementar
tais sistemas e apresentado também seus principais desafios. Além disso, foi criado um quadro
que compara as diferentes definições sobre o conceito da LR, apresentando suas diferenças em
relação à logística direta fechando com o debate sobre a estruturação de sistemas coletivos para
estruturação e implementação da LR.
Na questão da REP trabalhou-se a origem do conceito, detalhando seus objetivos
propostos e desafios na implementação de uma política efetiva. Foi comparada a
Responsabilidade Compartilhada da lei brasileira, com as preocupações intrínsecas já presentes
na proposta original da REP, levantando este debate sobre o quanto de fato a responsabilidade
é compartilhada e como atribuir a cada um a devida fração dos custos da operação.
Ao analisar diferentes sistemas de LR, em busca de um caso para estudar de forma
aprofundada, esta pesquisa apresentou uma revisão e compilação de informações bastante úteis
a pesquisas futuras sobre o tema, com destaque para um quadro que identifica como alguns
países da Europa têm implementado a Diretiva WEEE em seus territórios.
Ao mergulhar no estudo de caso do sistema suíço, este trabalho apresentou uma detalhada
descrição de como foi criado o mais antigo sistema de LR de REEE do mundo, apresentando
os principais atores envolvidos, como se deu o início das operações, o que levou à criação das
entidades Gestoras e como operam desde então. Tudo isto com base em artigos científicos,
132
relatórios publicados e entrevistas com os principais executivos destas entidades Gestoras,
trazendo um ponto de vista de dentro das operações dos sistemas.
Espera-se que com este estudo, seja possível exemplificar como se deu a criação de um
sistema de LR e como operam Gestoras de sistemas coletivos para coleta e reciclagem de
produtos. Como este é um tema bastante atual, é esperado que vários novos sistemas para LR
devam ser criados, no Brasil e em outros países, podendo este trabalho esclarecer alguns pontos
e estimular novas pesquisas que tragam mais detalhes e informações que permitam a criação e
manutenção de sistemas de LR cada vez mais eficientes.
Como sugestões de pesquisas futuras, recomenda-se observar qual a visão do governo
brasileiro quanto a obrigação de serem criados e implementados sistemas de LR, tentando
compreender de onde foram retiradas as inspirações para criação desta política e quais estão
sendo os desafios enfrentados neste processo de assinatura de Acordos Setoriais. A visão do
agente público certamente poderá ajudar tanto a academia quanto o setor empresarial a buscar
soluções que atendam de modo mais eficaz os anseios do governo, reduzindo conflitos e
permitindo a obtenção de resultados melhores em um prazo menor.
Outra sugestão de pesquisa pode analisar o cenário futuro que está surgindo no Brasil em
relação à gestão de resíduos sólidos. Com a formalização dos Acordos Setoriais previstos na
PNRS, espera-se que tenhamos uma grande rede de pontos de coleta de diferentes produtos.
Quais serão os desafios logísticos e como poderão ser minimizados a partir de uma ação
conjunta de todos estes sistemas? Caso seja possível unificar, ou ao menos aproximar todas as
Gestoras que estão sendo criadas no Brasil, para operar diferentes sistemas de LR, os ganhos
em escala e redução de custos operacionais podem ser bastante significativos.
133
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144
ANEXOS
ANEXO 1 – Lista dos aparelhos sujeitos (ou não) à lei suíça para LR de REEE,
conforme manual ORDEA, 2000.
145
ANEXO 2 – Atualização feita em 2008 da lista dos aparelhos sujeitos (ou não) à lei suíça
para LR de REEE, conforme ORDEE (2005).
1 Ordinance on the return, the take back and the disposal of electrical and electronic equipment
(ORDEE) SR.814.620 of 14 January 1998 (state 23 August 2005)
146
147
APÊNDICES
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DE PESQUISA APLICADO
Questionário orientador das entrevistas a realizadas com os especialistas e representantes das
entidades que estão relacionadas ao sistema de logística reversa da Suíça.
Questions for a master´s degree thesis, focused on the Swiss e-waste Reverse Logistic
Scheme as a Reference for the Brazilian System
- Respondent identification
Name:
Company/Institution:
Position:
Role played in the e-waste Reverse Logistic Scheme:
Contact (e-mail/Skype):
1. Why did the manufactures choose to create a system that is managed by 4 different PROs, which are specialized in each category of products?
2. What would you say it was the main obstacles that the SWISS e-waste take-back scheme has faced in the beginning, what are the ones that it´s facing now?
3. What about the products that are put in the Market by companies that are not participant in any reverse logistics system (free-riders)? Who pays for the collection and recycling of these products?
4. Does the government have any regulation and enforcement strategy to combat those free-riders?
5. In your opinion, what were the principle facts that determined the extremely high rate of companies that participate in the Swiss take-back scheme?
6. What was the growing strategy of the e-waste collecting scheme? Did it started collecting in bigger cities and expanded later to all cities, or did the whole collection scheme started in all cities at once?
7. Do the System use any forward logistics network (created for new products), or was it created a whole new channel for receiving and transporting those used products?
*Além destas perguntas, comuns a todos os entrevistados, foram feitas perguntas específicas a
cada um dos representantes das entidades gestoras, buscando compreender as particularidades
de cada sistema de Logística Reversa implementado.
148
APÊNDICE B – RESPOSTAS DOS REPRESENTANTES DAS INSTITUIÇÕES
ENTREVISTADAS
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