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Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ERODIBILIDADE EM TALUDES COM HORIZONTES RESISTENTES E SUSCETÍVEIS AOS PROCESSOS EROSIVOS AUTOR: BRUNO DE OLIVEIRA COSTA COUTO ORIENTADOR: Prof. Dr. Romero César Gomes (UFOP) PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOTECNIA DA UFOP OURO PRETO - SETEMBRO DE 2015

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Dissertação de Mestrado

ANÁLISE DE ERODIBILIDADE EM TALUDES

COM HORIZONTES RESISTENTES E

SUSCETÍVEIS AOS PROCESSOS EROSIVOS

AUTOR: BRUNO DE OLIVEIRA COSTA COUTO

ORIENTADOR: Prof. Dr. Romero César Gomes (UFOP)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOTECNIA DA UFOP

OURO PRETO - SETEMBRO DE 2015

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Catalogação: www.sisbin.ufop.br

C871a Couto, Bruno de Oliveira Costa. Análise de erodibilidade em taludes com horizontes resistentes e suscetíveisaos processos erosivos [manuscrito] / Bruno de Oliveira Costa Couto. - 2015. 124f.: il.: color; grafs; tabs; mapas.

Orientador: Prof. Dr. Romero César Gomes.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Escola deMinas. Núcleo de Geotecnia (NUGEO). Área de Concentração: Erosão e Conservação de Solos.

1. Erosão. 2. Taludes (Mecânica do solo). 3. Solos - Conservação. I. Gomes,Romero César. II. Universidade Federal de Ouro Preto. III. Titulo.

CDU: 632.125

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iii

“A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém ainda

pensou sobre aquilo que todo mundo vê.”

(Arthur Schopenhauer)

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iv

AGRADECIMENTOS

À Deus por tudo.

Aos meus pais por serem meus exemplo de vida, dedicação, confiança e incentivo .

Ao meu orientador Prof. Romero César Gomes por todos os ensinamentos, dedicação,

paciência e respeito.

Ao amigo Roberto Filgueiras pelos ensinamentos, dedicação e paciência em todas as

etapas desta pesquisa.

Ao Professor Eleonardo Lucas Pereira pelo apoio técnico e teórico na execução deste

trabalho.

Aos amigos Lucas Deleon Ferreira e Rosyelle Cristina Corteletti, que contribuíram para

meus conhecimentos na área de geotecnia e no desenvolvimento deste estudo.

Ao amigo Fabrício Miranda pela ajuda na descrição geológica dos pontos amostrados.

Ao amigo Ronderson Hilário pelo apoio na realização da campanha de ensaios para

desenvolvimento desta pesquisa.

Aos amigos Rodrigo César, Lucas Bifano, Gabriel Ribeiro, Thiego, Tito e Sérgio pela

ajuda na coleta de amostras.

Aos amigos da Pattrol – Investigações geotécnicas, especialmente, Bruno, Fernando,

Almir e William, pelos ensinamentos em mecânica dos solos e aprendizado da

Metodologia MCT.

Ao professor Claudio Lana e ao laboratório de Difração de Raios X do Departamento de

Geologia (DEGEO) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), pelo auxilio e

dedicação na execução dos ensaios de difração.

Ao amigo Walter de Brito do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear

(CDTN) pelo auxilio na identificação de fases nos ensaios de difração de raios x.

Ao Pessoal do NanoLab (Redemat – UFOP) por todo apoio e empenho nas análises de

fluorescência de raios x e microscopia eletrônica de varredura.

À República FG e seus moradores pelo incentivo e pelos bons momentos vividos em

Ouro Preto ao longo do desenvolvimento desta pesquisa.

A CAPES, UFOP e NUGEO pelo auxilio financeiro e por disponibilizarem todos os

recursos necessários para a elaboração deste trabalho.

Obrigado a todos

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v

RESUMO

A erodibilidade é considerada a propriedade mais complexa que regula o processo

erosivo, devido ao grande número de variáveis que a controlam, sendo

simplificadamente definida como a suscetibilidade do solo à erosão. O presente trabalho

aborda a erodibilidade de solos no âmbito de taludes de corte adotando-se como padrão

de referência, taludes conformados por dois horizontes tipicamente distintos em relação

à ação de processos erosivos. Ao se estudar as variáveis geotécnicas que tenderiam a

condicionar o comportamento distinto de ambos os horizontes, a partir de uma mesma

referência espacial e ambiental, torna-se viável estabelecer correlações diretamente

associadas às naturezas específicas dos solos locais. Para estabelecimento destas

relações, foram coletadas amostras deformadas e indeformadas em cada um destes

solos, e foram realizados ensaios de caracterização física, química, mineralógica e da

metodologia MCT. As frações de areia e silte tenderam a ser dominantes, com

significativa concentração de pedregulho em algumas amostras. Pode-se associar a

erodibilidade dos solos a baixos valores de Índice de Plasticidade (IP). O índice de

atividade (Skempton, 1953) apresentou valores elevados para os horizontes resistentes à

erosão, mostrando-se importante para diferenciação de solos erodíveis. Os resultados da

Metodologia MCT foram bem expressivos, confirmando o caráter mais erodível de

solos NA, NA’ e NS’. As análises químicas mostram que os parâmetros CTC, pH (Δ

pH), e teores de matéria orgânica são mais relevantes na distinção dos horizontes. A

partir dos dados obtidos foram empregados alguns critérios propostos na literatura para

avaliação do potencial de erodibilidade, porém seus resultados foram limitados e

inconclusivos. Ainda foi proposto, em caráter absolutamente preliminar, um novo

critério de erodibilidade, baseado na seleção de dois conjuntos de fatores: o primeiro

chamado de Relação de Erodibilidade (ε), e o segundo denominado Índice de

Resistência à Erosão (IRε). Estes valores foram distintos para os horizontes suscetíveis

e resistentes à erosão da seguinte forma: solos erodíveis: IRε ≤ 5,0 e solos resistentes à

erosão: ε ≤ 5,0 e IRε ≥ 5,0.

PALAVRAS – CHAVE: Erosão, Erodibilidade, MCT, Relação de Erodibilidade,

Índice de Resistência à Erosão.

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vi

ABSTRACT

Erodibility is considered the most complex property which controls the erosion process,

due to the great number of variables involved. However, it has been given a simplified

definition as the susceptibility of soil to erosion. This paper addresses soil erodibility in

the scope of cut slopes, adopting as reference slopes conformed by two typically distinct

horizons, concerning the action of erosive processes. By studying the geotechnical

variables which could influence the different behavior of both horizons, from the same

spatial and environmental reference, it becomes viable to make some correlations

directly associated to the specific nature of soils. In order to establish these

relationships, disturbed and undisturbed samples were collected from each of these soils

(horizons), and were submitted to physical, chemical, mineralogical, and MCT

methodology characterization. Sand and silt fraction tend to be dominant, with

significant content of gravels in some samples. The results show that we can associate

soil erodibility to low Plasticity Index (IP). The activity index (Skempton, 1953)

presented high value for erosion-resistant horizons, demonstrating its importance in

differentiating erodible soils. The results of MCT methodology were very significant,

confirming the more erodible feature of soils which are classified as NA, NA’ e NS’.

Chemical analyses show that CEC, pH (Δ pH) and organic matter content are more

relevant in distinguishing horizons. From the data obtained, some methods proposed in

the literature were used to evaluate the erodibility potential, but their results were

limited and inconclusive. It has even been suggested, in an absolutely preliminary form,

a new method to estimate soil erodibility, based in two sets of factors: the first one

called Erodibility Relation (ε), and the second called Erosion Resistance Index (IRε).

These parameters were distinct for horizons susceptible and resistant to erosion, as

follows: erodible soils have IRε ≤ 5,0, and erosion-resistant soils have ε ≤ 5,0 and IRε ≥

5,0.

Key words: Erosion, Erodibility, MCT, Erodibility Relation, Erosion Resistance Index.

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vii

LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO 2 – INTEMPERISMO E EROSÃO DOS SOLOS

Figura 2.1 – Tabela periódica dos íons preservados no solos e comumente lixiviados

(Railsback, 2004, Apud Melo e Alleoni, 2009) ................................................................ 8

Figura 2.2 – Erosão por linear em encosta. ................................................................... 14

Figura 2.3 – Erosão por voçorocamento em Cachoeira do Campo (Ouro Preto/MG). . 17

Figura 2.4 – Modelo de evolução de processos erosivos (Futai et al., 2005) ................ 18

Figura 2.5 – Ábaco de Wischmeier et al. (1971) ........................................................... 28

Figura 2.6 – Família de curvas de compactação de ensaios Mini - MCV (Castro,

2002)... ............................................................................................................................ 30

Figura 2.7 – Curvas de deformabilidade e de Mini-MCV (Nogami e Villibor, 1995). . 31

Figura 2.8 – Ábaco de classificação MCT (Nogami e Villibor, 1981). ......................... 33

Figura 2.9 – Critério de erodibilidade pela técnica MCT (Nogami e Villibor, 1995) ... 35

Figura 2.10 – Ábaco de classificação MCT-M (Vertamatti e Araújo, 1990). ............... 36

CAPÍTULO 3 – ÁREA DE ESTUDO

Figura 3.1 – Mapa geológico do Quadrilátero Ferrífero (modificado de Endo, 1997) . 38

Figura 3.2 – Coluna estratigráfica do Quadrilátero Ferrífero (modificado de Alkmin e

Marshak, 1998). .............................................................................................................. 41

CAPÍTULO 4 – TALUDES DE REFERÊNCIA, AMOSTRAGEM E CAMPANHA

EXPERIMENTAL

Figura 4.1 – Localização dos taludes estudados na região do Quadrilátero Ferrífero ... 47

Figura 4.2 – Talude de Itabira, localizado às margens da Rodovia MG – 129. ............ 48

Figura 4.3 – Talude localizado no município de Vargem Alegre – MG. ...................... 49

Figura 4.4 – Talude localizado no município de Ouro Branco – MG ........................... 50

Figura 4.5 – Talude localizado no município de Mariana – MG. .................................. 51

Figura 4.6 – Coleta de amostras indeformadas em campo ............................................ 52

Figura 4.7 – Análise Granulométrica dos solos analisados em laboratório ................... 53

Figura 4.8 – Determinação dos limites de liquidez e plasticidade dos solos

analisados..... ................................................................................................................... 54

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viii

Figura 4.9 – Corpo de prova indeformado para ensaio de permeabilidade. .................. 54

Figura 4.10 – Preparo das amostras e equipamento utilizado para ensaios de

fluorescência ................................................................................................................... 56

Figura 4.11 – Preparo das amostras e compactação do solo pelo ensaio Mini –

MCV............... ................................................................................................................ 57

Figura 4.12 – Execução de ensaios de perda de massa por imersão .............................. 58

CAPÍTULO 5 – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS

Figura 5.1 – Valores dos coeficientes de não uniformidade (CU) dos solos

analisados...... .................................................................................................................. 61

Figura 5.2 – Índice de Plasticidade dos solos estudados. .............................................. 63

Figura 5.3 – Caracterização de fluxo preferencial durante os ensaios de

permeabilidade.. .............................................................................................................. 66

Figura 5.4 – Relação entre capacidade de troca catiônica x teores de matéria

orgânica..... ...................................................................................................................... 69

Figura 5.5 – Correlação entre valores de Ki e Kr e natureza do argilomineral

dominante.. ...................................................................................................................... 72

Figura 5.6 – Ordem de estabilidade dos minerais, adaptado de Goldich (1938). .......... 74

Figura 5.7 – Ensaio de MEV para solo ITA (3.000x): (esq.) ITAHS; (dir.) ITAHI ..... 77

Figura 5.8 – Ensaio de MEV para solo VAR (1.000x): (esq.) VARHS; (dir.)

VARHI...... ...................................................................................................................... 77

Figura 5.9 – Ensaio de MEV para solo OBR (1.000x): (esq.) OBRHS; (dir.) OBRHI . 78

Figura 5.10 – Ensaio de MEV para solo MRN (1.000x): (esq.) MRNHS; (dir.)

MRNHI.. ......................................................................................................................... 78

Figura 5.11 – Presença de macroporos em amostra de horizonte superior (ITAHS). ... 79

Figura 5.12 – Classificação MCT para os materiais estudados ..................................... 80

Figura 5.13 – Aplicação do critério de erodibilidade de Alcântara (1997) ................... 84

Figura 5.14 – Classificação MCT – Modificada e aferição do grau de erodibilidade dos

solos estudados (Adaptado de Vertamatti e Araújo, 1990) ............................................ 86

Figura 5.15 – Relações de Erodibilidade (ε) e Índice de Resistência à Erosão (IRε) para

os solos estudados. .......................................................................................................... 91

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ix

LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 2 – INTEMPERISMO E EROSÃO DOS SOLOS

Tabela 2.1 – Suscetibilidade à erosão pela textura dos solos (Llopis Trillo, 1999). ..... 23

CAPÍTULO 3 – ÁREA DE ESTUDO

Tabela 3.1 – Coluna estratigráfica do Quadrilátero Ferrífero (Endo, 1997). ................. 39

Tabela 3.2 – Produtos do intemperismo de itabiritos (Rosière e Chemale Jr., 2000). ... 44

CAPÍTULO 5 – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS

Tabela 5.1 – Análise granulométrica dos solos estudados ............................................. 59

Tabela 5.2 – Índices físicos dos solos estudados. .......................................................... 62

Tabela 5.3 – Limites de consistência, atividade e relação (IP/ % finos) dos solos. ....... 63

Tabela 5.4 – Classificação Textural, SUCS e AASHTO dos solos estudados .............. 64

Tabela 5.5 – Parâmetros de porosidade e permeabilidade dos solos estudados ............ 65

Tabela 5.6 – Valores de pH, CTC total, teores de cátions Ca, Mg, Na e K, acidez

potencial, volume de saturação por bases e matéria orgânica Valores de CTC. ............ 67

Tabela 5.7 – Valores de CTC (adaptado de Brady e Weil, 2010) ................................. 68

Tabela 5.8 – Teores de óxidos determinados por fluorescência de raios x .................... 71

Tabela 5.9 – Caracterização mineralógica dos solos analisados por difratometria de

raios x (fração pó total e da argila coloidal) ................................................................... 73

Tabela 5.10 – Sequência de estabilidade para minerais da fração argila (Jackson,

1968).. ............................................................................................................................. 75

Tabela 5.11 – Parâmetros da Metodologia MCT para os solos analisados ................... 80

Tabela 5.12 – Estimativa da erodibilidade de solos pelos parâmetros MCT ................. 82

Tabela 5.13 – Fator de erodibilidade K dos solos analisados (Wischmeier et

al.,1971) .......................................................................................................................... 83

Tabela 5.14 – Erodibilidade dos materiais estudados segundo Meireles (1967) ........... 85

Tabela 5.15 – Parâmetros e valores da relação e do índice de resistência à erosão.. ..... 90

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x

LISTA DE SÍMBOLOS, NOMENCLATURAS E ABREVIAÇÕES

A – Taxa de erosão ou perda de solo por unidade de área

AASHTO – Associação Americana de Rodovias Estaduais e Autoridades de

Transportes

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnica

Al2 Si2 O5 (OH)4 – Molécula de caulinita

C – Fator cobertura vegetal

Ca+2

– Íon cálcio

Cc – Coeficiente de curvatura

CO2 – Molécula de gás carbônico

CTC – Capacidade de Troca Catiônica (cmolc/dm³)

CTGA – Centro Tecnológico de Geotecnia Aplicada

Cu – Coeficiente de Uniformidade

DMP – Diâmetro médio das partículas

DRX – Difração de Raios X

e – Índice de vazios

e’ – Erodibilidade específica

Ec – Energia cinética da chuva

EUPS – Equação Universal de Perda de Solos

F200 – Porcentagem passante na peneira n° 200

Fe+2

– Íon ferro (ferro II)

Fe+3

- Íon ferro (ferro III)

FRX – Fluorescência de Raios X

H+ - Íon hidrogênio

H++ Al

+3 – Acidez potencial

H2CO3 – Molécula de ácido carbônico

H2O – Molécula de água

HI – Horizonte Inferior

HS – Horizonte Superior

I30 – Intensidade máxima de uma precipitação de trinta minutos

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xi

IG – Índice de grupo

IP – Índice de plasticidade

IRε – Índice de Resistência à Erosão

K – Coeficiente de permeabilidade

K – Fator Erodibilidade do Solo

K+ - Íon potássio

KCl – Molécula de cloreto de potássio

L – Fator comprimento de rampa

LL – Limite de liquidez

LP – Limite de plasticidade

LS – Fator topográfico

M – Parâmetro baseado na textura do solo

M.O. – Teor de matéria orgânica

MCT – Miniatura Compactada Tropical

MCV – Moisture Condition Value

MEV – Microscopia Eletrônica de Varredura

Mg+2

– Íon magnésio

n - Porosidade

Na+ - Íon sódio

OH- - Íon hidroxila

P – Fator relacionado à praticas e cultivos de manejo

pH – Potencial hidrogeniônico

pH H2O – pH medido em água destilada

pH KCl – pH medido em solução de cloreto de potássio

Pi – Perda de massa por imersão

R – Fator erosividade da chuva

R – Relação entre o teor de matéria orgânica e o percentual de areia (Denardin, 1990)

RA – Razão de argila

RC – Relação de coloides

RD – Relação de dispersão

RE – Relação de erosão

s – Coeficiente de sorção

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xii

S – Fator declividade

Sfinal - Grau de saturação após ensaio de permeabilidade

Snat - Grau de saturação no campo

SUCS – Sistema Unificado de Classificação de Solos

TRB - Transportation Research Board

UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto

USLE – Universal Soil Loss Equation

V% - Volume de saturação por bases

wnat - Teor de umidade no campo

X - Parâmetro que classifica a estrutura do solo (Wischmeier et al., 1971)

Y - Parâmetro que classifica a permeabilidade do solo (Wischmeier et al., 1971)

γs – Peso específico das partículas sólidas

ε – Relação de Erodibilidade

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xiii

ÍNDICE

RESUMO .......................................................................................................................... v

ABSTRACT ..................................................................................................................... vi

LISTA DE FIGURAS ..................................................................................................... vii

LISTA DE TABELAS ..................................................................................................... ix

LISTA DE SÍMBOLOS, NOMENCLATURAS E ABREVIAÇÕES ............................. x

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO .................................................................................. 1

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ......................................................................... 1

1.2 JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS DO TRABALHO ....................................... 3

1.3 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO .......................................................... 4

CAPÍTULO 2 – INTEMPERISMO E EROSÃO DOS SOLOS ................................. 6

2.1 INTEMPERISMO FÍSICO E QUÍMICO ......................................................... 6

2.2 PROCESSOS DE EROSÃO DOS SOLOS..................................................... 11

2.2.1 Conceito de Erosão ............................................................................. 11

2.2.2 Efeito Splash ....................................................................................... 12

2.2.3 Erosão Laminar ................................................................................... 13

2.2.4 Erosão Linear ...................................................................................... 14

2.2.5 Erosão Interna (Piping) ....................................................................... 16

2.2.6 Voçorocas ........................................................................................... 17

2.3 FATORES CONDICIONANTES DOS PROCESSOS EROSIVOS .............. 19

2.3.1 Clima ................................................................................................... 19

2.3.2 Relevo ................................................................................................. 20

2.3.3 Litologia .............................................................................................. 20

2.3.4 Cobertura Vegetal ............................................................................... 21

2.3.5 Solo ..................................................................................................... 21

2.3.6 Ação Antrópica ................................................................................... 22

2.4 ERODIBILIDADE DOS SOLOS ................................................................... 22

2.4.1 Conceito Geral .................................................................................... 22

2.4.2 Equação Universal de Perda de Solos ................................................. 24

2.4.3 Índices de Ponderação da Erodibilidade dos Solos ............................. 26

2.4.4 Critérios de Erodibilidade Baseados na Metodologia MCT ............... 29

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xiv

CAPÍTULO 3 – ÁREA DE ESTUDO ......................................................................... 38

3.1 Contexto Geológico Regional ......................................................................... 38

3.2 Geomorfologia e Intemperismo Regional ....................................................... 43

CAPÍTULO 4 – TALUDES DE REFERÊNCIA, AMOSTRAGEM E CAMPANHA

EXPERIMENTAL ........................................................................................................ 47

4.1 Taludes de Referência ..................................................................................... 47

4.1.1 Talude Itabira MG – 129 (ITA) .......................................................... 47

4.1.2 Talude Vargem Alegre (VAR) ............................................................ 49

4.1.3 Talude Ouro Branco MG - 443 (OBR) ............................................... 50

4.1.4 Talude Mariana MG – 129 (MRN) ..................................................... 50

4.2 Amostragem .................................................................................................... 52

4.3 Ensaios de Caracterização Geotécnica ............................................................ 53

4.4 Ensaios de Caracterização Química ................................................................ 55

4.5 Ensaios da Metodologia MCT ......................................................................... 56

CAPÍTULO 5 – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS .................. 59

5.1 Parâmetros de Caracterização Geotécnica ...................................................... 59

5.2 Parâmetros de Caracterização Química ........................................................... 66

5.2.1 Análise Química da Fração ‘Terra Fina’ ............................................ 66

5.2.2 Ensaios de Fluorescência de Raios X ................................................. 70

5.2.3 Ensaios de Difração de Raios X .......................................................... 73

5.2.4 Ensaios de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) .................. 76

5.3 Ensaios da Metodologia MCT ......................................................................... 79

5.4 Critérios de Erodibilidade dos Solos por Parâmetros de Laboratório ............. 82

5.5 Proposição de Critério para Avaliação da Erodibilidade de Solos .................. 87

CAPÍTULO 6 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES .................................................... 92

6.1 Conclusões ....................................................................................................... 92

6.2 Sugestões para Pesquisas Complementares .................................................... 97

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 98

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1

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O processo de degradação dos solos afeta tanto as regiões rurais quanto urbanas, sendo

também evidenciada em áreas de vegetação natural, constituindo-se em um grave

problema ambiental. A ocupação e uso dos solos pelo homem, quando efetuados de

maneira desordenada, ocasiona uma série de consequências, dentre as quais se

destacam: a perda de solos férteis, o assoreamento de cursos d’água e de reservatórios, a

poluição de corpos d’água, a redução do volume de água disponível para abastecimento

urbano, a diminuição da produtividade agropecuária, bem como a ocorrência de

desastres urbanos, tais como os movimentos de massa em geral.

O processo erosivo constitui uma das formas mais agressivas de degradação dos solos,

sendo responsável por significativos danos econômicos. Segundo Araújo et. al. (2005),

a perda econômica provocada pelo processo erosivo é altamente significativa, sendo

difícil estimar as perdas totais em escala mundial. Em locais de clima tropical, como o

Brasil, estes prejuízos tendem a ser mais acentuados, visto os altos índices de

precipitação e elevadas taxas de intemperismo químico, os quais tendem a acelerar os

processos erosivos.

A erosão é um processo natural que afeta as camadas superficiais da crosta terrestre,

sendo, por isso, responsável pela modificação da paisagem, daí ser chamada também de

agente de formação do relevo. Desta forma representa um dos fenômenos geológicos

naturais que são potencialmente mais afetados pela ação do homem, dentro de curta

escala de tempo (Camapum de Carvalho et al., 2006).

O processo erosivo tem origem no momento em que a gota de água se choca com o

solo, destacando as partículas sólidas que se encontram sob a sua superfície. A medida

que a precipitação ocorre, os vazios do solo vão sendo preenchidos com água até o

momento em que o solo esteja completamente saturado, ou quando a intensidade da

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2

chuva supera a capacidade de infiltração. A partir deste ponto, surge o escoamento

superficial, que se processa em direção às cotas mais baixas do terreno, podendo ocorrer

de forma laminar ou concentrada, também chamado de fluxo em sulcos. A concentração

do processo de sulcamento dos solos dá origem às ravinas, indicando significativa

gravidade da ação erosiva. Na sequência, o avanço pronunciado das ravinas, favorecida

por condições particulares do terreno que levam à surgência do lençol freático (erosão

subsuperficial), poderá induzir o aparecimento das voçorocas de grande porte.

O fenômeno da erosão, principalmente de origem hídrica, destaca-se por sua

complexidade, sendo função de um grande número de variáveis e mecanismos, que

envolvem fatores climáticos (chuva e temperatura), topográficos (declividade e

comprimento de rampa), relativos à cobertura vegetal e ao próprio solo, condição esta

que é analisada sob o conceito específico de erodibilidade.

Com base neste conceito, a erodibilidade dos solos tem sido estudada sob diversas

abordagens, quase sempre centradas em campanhas de ensaios de rotina em laboratório.

A escolha de um índice apropriado para estimativa da erodibilidade do solo depende de

muitos fatores, sendo de maior relevância os que governam o processo erosivo sob

condições naturais (Wischmeier et. al, 1962). Entre estes fatores podemos destacar as

propriedades do solo que afetam a permeabilidade e, consequentemente, o escoamento

superficial, bem como aquelas relacionadas à resistência do solo ao impacto das gotas

de chuva.

Segundo Denardin (1990), a erodibilidade pode ser quantificada por três meios

distintos: (i) com base na perda de solos e na determinação do fator erosividade das

chuvas, avaliados sob condições naturais e durante um longo período de tempo, de

forma a incorporar uma grande variedade de eventos pluviométricos; (ii) estudos de

simulação dos eventos naturais em condições bem controladas em laboratório; (iii)

computação de índices de ponderação por meio de equações matemáticas que incluam,

como variáveis independentes, parâmetros do solo fortemente associados aos efeitos da

erodibilidade. Essas equações têm sido comumente ajustadas por meio de tendências

estatísticas estabelecidas a partir de valores de referência obtidos para parâmetros

físicos, químicos e/ou mineralógicos do solo.

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1.2 JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS DO TRABALHO

A presente pesquisa está inserida no contexto da terceira abordagem referenciada acima,

visando a avaliação da erodibilidade dos solos por meio da associação a índices de

ponderação relativos a parâmetros físicos, químicos e mineralógicos dos solos, a partir

de ensaios padronizados de laboratório.

Neste propósito, há que se considerar previamente que a abordagem da erodibilidade

dos solos deve ser centrada na análise dos condicionantes do fenômeno induzidas pelas

características geomorfológicas da área e/ou pela influência da ação do intemperismo

regional. A superposição destas contribuições tende a ser, em quaisquer casos, algo

complexa e tende a explicar, em grande escala, a enorme dispersão dos resultados

encontrados na literatura técnica especializada.

Assim, ao se pretender estudar a influência específica dos solos quanto aos efeitos de

erodibilidade, impõe-se estabelecer um padrão de uniformidade dos maciços em termos

de condições geomorfológicas/ambientais similares. Neste contexto, o presente trabalho

aborda a erodibilidade de solos no âmbito de taludes de corte adotando-se como padrão

de referência taludes conformados por dois horizontes tipicamente distintos em relação

à ação de processos erosivos. Ao se estudar as variáveis geotécnicas que tenderiam a

condicionar o comportamento distinto de ambos os horizontes, a partir de uma mesma

referência espacial e ambiental, torna-se viável estabelecer correlações diretamente

associadas às naturezas específicas das formações locais.

Neste propósito, a área de estudo escolhida foi a região do Quadrilátero Ferrífero de

Minas Gerais, uma das mais importantes províncias minerais do Brasil, que abrange

uma área total de aproximadamente 7.500 km2. A escolha da área foi natural, na medida

em que impacta enormemente o espaço físico das grandes obras de infraestrutura e de

logística do estado de Minas Gerais, por sua complexidade geológica bem conhecida e

bastante estudada e por ser um acervo natural de dezenas de minerações e centenas de

taludes, envolvendo diferentes condicionantes litológicos e espaciais, que justificam um

amplo estudo da erodibilidade dos solos locais a longo prazo, cujo trabalho inicial

constitui a presente pesquisa.

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O presente trabalho se justifica pela tentativa de se propor análise da erodibilidade sob

uma condição particular de amostragem dos solos: diferenciação de seus horizontes

relacionados ao processo erosivo. Desta forma, os pontos amostrados deveriam

apresentar um horizonte resistente à erosão e outro deteriorado pelo processo erosivo.

Esta condição de escolha dos pontos amostrados é justificada pela minimização da

interferência dos demais fatores que regulam o processo, assim tanto o solo resistente

como aquele suscetível à erosão estão submetidos às mesmas condições climáticas

(precipitação, temperatura, vento e consequentemente a um mesmo fator erosividade),

de inclinação, comprimento de rampa e cobertura vegetal.

A premissa de abordagem proposta propicia a este trabalho uma diretriz inovadora

quanto a avaliação da erodibilidade dos solos, uma vez que a grande parte dos trabalhos

técnicos consideram estudos integrados de solos de diferentes regiões, submetidos a

fatores climáticos e ambientais completamente diferentes (precipitação, temperatura,

direção dos ventos, inclinação, comprimento de rampa, tipo de cobertura vegetal, etc).

Neste sentido, o estudo é centrado especificamente nos estudos da influência e da

contribuição específica dos solos (ou seja, da erodibilidade) nos processos da dinâmica

superficial em taludes de corte da região do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais.

Como proposição inicial, o trabalho tem o objetivo básico de estabelecer algumas

diretrizes gerais para tais estudos, preferencialmente estabelecendo abordagens mais ou

menos interessantes de aplicação prática. O propósito geral, portanto, não é o acúmulo

de dados em grande escala, mas a formulação de direcionamentos de pesquisa, que

deverão ser, então, consolidados ao longo de um trabalho de pesquisa de longo prazo.

1.3 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO

O presente trabalho está organizado em seis capítulos, da seguinte forma:

Capítulo 1: apresenta um breve relato sobre os principais problemas decorrentes

da erosão, apresentando a importância socio-econômica de controle do processo

erosivo, abordando ainda a justificativa e os objetivos gerais do trabalho

proposto (inserido no contexto de um projeto maior de pesquisa de longo prazo)

e a estruturação dos capítulos do texto;

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Capítulo 2: apresenta uma ampla revisão bibliográfica sobre os processos de

intemperismo e erosão dos solos, sendo expostos os fundamentos dos

mecanismos de mobilização e evolução do fenômeno, as variáveis intervenientes

na magnitude dos processos erosivos e o conceito de erodibilidade, bem como os

critérios e os parâmetros comumente adotados para a sua quantificação;

Capítulo 3: apresenta uma exposição geral da área de estudo, que compreende a

região do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, incluindo os principais tipos

litológicos e as típicas feições geomorfológicas regionais;

Capítulo 4: apresenta a descrição geral dos taludes de corte estudados na

presente pesquisa, os processos de amostragem e as metodologias e sistemáticas

adotadas para a realização dos ensaios de laboratório que subsidiam as análises

da erodibilidade dos solos;

Capítulo 5: apresenta os resultados e as análises das metodologias aplicadas, as

potenciais correlações e tendências de associação e parâmetros geotécnicos com

os mecanismos e a magnitude dos processos erosivos, incluindo a proposição de

uma relação inicial para a avaliação da erodibilidade dos solos;

Capítulo 6: apresenta as principais conclusões dos estudos realizados no trabalho

e algumas sugestões para pesquisas futuras, centradas particularmente em

estudos relativos à erodibilidade dos solos.

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CAPÍTULO 2 – INTEMPERISMO E EROSÃO DOS SOLOS

2.1 INTEMPERISMO FÍSICO E QUÍMICO

O intemperismo pode ser definido como um conjunto de processos físicos e

bioquímicos que degradam as rochas, modificando as suas características físicas e

químicas, transformando-as em fragmentos pequenos e solubilizando alguns de seus

constituintes. Nestes processos, alguns dos elementos minerais permanecem como um

resíduo alterado, enquanto outros são removidos, transportados principalmente pela

água (Lepsch, 2011). O termo ‘intemperismo’ tem origem na palavra ‘intempérie’ e

indica uma alteração de materiais fortemente afetada pelas condições climáticas, com

destaque para a quantidade de chuvas e as variações de temperatura.

Apesar de possuir uma série de conceitos intrínsecos, é inegável que o intemperismo

constitui um dos fatores de maior relevância no processo de formação do solo. Embora

o intemperismo seja comumente associado à destruição da rocha matriz e dos seus

minerais constituintes, seus produtos, liberados do interior dos cristais dos minerais e

armazenados ao redor das argilas, são aproveitados por determinados seres vivos que

necessitam nutrir-se destes elementos, principalmente os vegetais, que desempenham

importante função nas transformações da estrutura e composição do solo.

Segundo Lepsch (2011), a maior parte das rochas origina-se em grandes profundidades,

sob condições de altas temperaturas, pressão, pouca água e pouco oxigênio. Por isso,

quando expostas à atmosfera, tendem a se tornar instáveis em razão da mudança dessas

condições, induzindo diversos processos de alterações físicas e químicas. Surgem assim

novos minerais estáveis submetidos a novas condições ambientais. De maneira geral, o

intemperismo pode ser subdividido em duas componentes; a primeira correspondendo à

ação de desagregação da rocha matriz em parcelas menores, sendo mantidas as

características do material original - este é o chamado intemperismo físico. A segunda

parcela está relacionada com a mudança da composição química destes materiais,

principalmente pela ação da água - este é o chamado intemperismo químico.

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O intemperismo físico promove a redução do tamanho das partículas, aumentando a

área superficial dos grãos, produzindo poros interconectados por onde a água penetra e

avança nos mecanismos de ação do intemperismo químico. Os principais processos de

indução do intemperismo físico são os seguintes:

Oscilações de temperatura (‘diaclasamento’): podem conduzir ao fraturamento

contínuo da rocha pelas ações periódicas de dilatação induzidas por calor e

contrações induzidas pelo frio;

Congelamento (frost wedging): expansão causada pelo congelamento de água

intersticial nas fraturas, incrementando as mesmas;

Ciclos alternados de umedecimento e secagem (slaking), levando à quebra e ao

fraturamento em grande escala, com a completa desintegração da rocha; neste

processo, pode ocorrer a hidratação dos minerais expansivos;

Cristalização de Sais: removidos pela ação das águas pluviais, estes sais são

transportados e acumulados nas fendas das rochas e, ao se cristalizarem,

aumentam de volume e provocam a fragmentação da rocha;

Atividade de micro-organismos: processo associado aos intemperismos físico e

químico. As bactérias, as algas e as raízes da vegetação penetram através das

fendas das rochas, mobilizando novas fraturas; a acidez produzida pela ação

destes micro-organismos promove a hidrólise dos minerais.

O intemperismo químico é provocado basicamente pela atuação da água, induzindo a

transformação química dos minerais originais das rochas e a liberação de íons, que

depois podem ser recombinados para gerar a formação de novos compostos, passíveis

de liberação posterior por meio de mecanismos de lixiviação. Outros íons tendem a

permanecer no sistema, recombinando-se e formando novos compostos, tal como os

argilominerais.

A Figura 2.1 (Railsback, 2004 apud Melo e Alleoni, 2009) apresenta a tabela periódica

simplificada que sistematiza os íons que tendem a permanecer no próprio solo e os que

tendem a ser carreados pelos processos de percolação e lixiviação.

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Figura 2.1 − Tabela periódica dos íons preservados no solo e comumente lixiviados

(Railsback, 2004 apud Melo e Alleoni, 2009).

A água e o dióxido de carbono presente na atmosfera formam o ácido carbônico que,

reagindo com os minerais existentes nas rochas, geram novos minerais e sais solúveis.

Os sais solúveis presentes nos lençóis freáticos e os ácidos orgânicos formados pela

decomposição da matéria orgânica também contribuem para o intemperismo químico

(Das, 2013). Como exemplos destes processos, apresenta-se a seguir a reação que leva à

formação de ácido carbônico (Equação 2.1) e a reação de intemperismo químico do

feldspato potássico (Equação 2.2), originando ácido carbônico, água, potássio solúvel e

caulinita:

(2.1)

(2.2)

Ácido Carbônico

Feldspato Caulinita

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Lopes (2006) sistematiza os principais tipos de reações que as rochas podem sofrer pela

ação do intemperismo químico:

Hidrólise: os íons da água (H+ e OH

-), ao se combinarem com os minerais que

constituem a rocha, formam novos compostos (por exemplo, os argilominerais

representam produtos da hidrólise de alumino-silicatos). De acordo com Lepsch

(2011), os íons hidrogênio têm grande poder de penetração no interior de

cristais, causando um desbalanceamento de cargas elétricas, o que provoca a

remoção e a difusão de cátions como ferro (Fe2+

),potássio (K+), sódio (Na

+),

magnésio (Mg2+

) e cálcio (Ca2+

);

Hidratação: refere-se à associação de moléculas de água ou de grupos OH com

os minerais, frequentemente sem haver decomposição do mineral. Exemplo é o

caso da anidrita (CaSO4), em que as moléculas de água permeiam toda a

estrutura, formando-se a gipsita (CaSO4.H2O);

Dissolução: os íons, organizados em cristais sólidos, desestabilizam-se quando

em contato com a água, formando uma solução salina. A atuação da água é

intensificada pela dissolução de CO2, formando ácido carbônico;

Oxidação: assume importância nos casos em que o mineral a sofrer hidrólise

contém ferro; depois de ser removido, o ferro passa por um processo de

oxidação, transformando-se em íon férrico. O íon Fe2+

é oxidado a Fe3+

que,

reagindo com água e oxigênio, dá origem a óxidos de ferro.

Considerando as reações de intemperismo químico, os minerais afetados podem ser

agrupados em duas classes: primários e secundários. Os minerais primários são aqueles

originados pelo processo de cristalização do magma, podendo ser também de origem

hidrotermal e metamórfica. Os minerais secundários são resultado dos processos de

intemperização dos minerais primários, sendo frequentemente alumino-silicatos,

também chamados de argilominerais, por ocorrerem na fração argila acompanhados por

outros minerais secundários, também da fração argila (partículas com dimensões médias

inferiores a 0,002 mm), comumente na forma de óxidos, hidróxidos e oxi-hidróxidos,

principalmente Fe, Al e Mn (Melo e Alleoni, 2009).

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Os fatores que determinam quais minerais primários são intemperizados mais

rapidamente, os minerais secundários formados e as taxas de ocorrência destes

processos são de grande interesse para se entender a gênese do comportamento

mecânico do solo. De certa forma, diferentes rochas em diferentes ambientes resultam

em diferentes produtos e, consequentemente, em diferentes solos. Logo o grau de

intemperismo, bem como a avaliação dos minerais que serão destruídos ou formados,

dependerá de uma série de fatores (da rocha e do ambiente), tais como:

Propriedades da rocha: diretamente relacionadas aos minerais que as constituem,

podendo ser mais ou menos estáveis de acordo com as ligações químicas no

interior de sua estrutura cristalina;

Clima: uma vez que as temperaturas e precipitações condicionam a natureza e a

velocidade das reações químicas, diferentes produtos se formam; desta forma,

sob elevadas temperaturas e regimes de chuvas intensas, o intemperismo tende a

ser mais acentuado;

Relevo: ao regular a velocidade e a direção do escoamento, bem como os locais

propícios à infiltração, este fator controla a quantidade de água que atuará em

uma determinada rocha ou saprolito; desta forma, locais favoráveis à infiltração

e lixiviação serão aqueles em que o intemperismo tende a ocorrer de forma mais

acentuada;

Tempo de Contato: é fato que, quanto maior for o tempo de exposição de uma

rocha aos agentes do intemperismo, principalmente a água, maior será o seu

grau de alteração.

Estes fatores influenciam a composição química, mineralogia, sorção de nutrientes e de

metais pesados e a morfologia dos solos, influindo também em processos tão distintos

como a ciclagem de nutrientes para as plantas, a biogeoquímica de bacias hidrográficas,

a neutralização das deposições ácidas antropogênicas e o intemperismo dos silicatos. A

partir da desagregação da rocha, pela ação combinada do intemperismo físico e

químico, estes materiais podem ser transportados e depositados em locais diferentes de

sua origem, dando origem a processos erosivos de maior ou menor magnitude.

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2.2 PROCESSOS DE EROSÃO DOS SOLOS

2.2.1 Conceito de Erosão

O termo erosão provém do latim ‘erodere’ cujo significado é corroer e possui variadas

definições na literatura. De forma abrangente, podemos considerar a erosão como um

conjunto de processos pelos quais os materiais da crosta terrestre são degradados,

dissolvidos ou desgastados e transportados de um ponto a outro pelos agentes erosivos,

tais como as geleiras, rios, mares, ventos ou a chuva (Bastos, 1999). Na abordagem de

Bertoni e Lombardi Neto (2010), a erosão é definida como sendo o processo de

desprendimento e arraste acelerado das partículas do solo causado pela ação da água e

do vento.

A erosão é um fenômeno natural, operante na superfície da terra desde a sua formação,

sujeito a interferências por atividades antrópicas, que podem levar a uma aceleração

destes mecanismos. Com base nestes conceitos, pode-se dividir os processos erosivos

em duas classes:

Erosão geológica ou natural: é aquela processada normalmente, envolvendo o

arranque das partículas e o seu transporte sem intervenção humana, atuando

intermitentemente em todos os meios;

Erosão antrópica ou acelerada: pode ser definida como aquela provocada pela

ação humana, uma vez que a ação antrópica altera o processo, comumente pelo

aumento de sua intensidade; os fatores que contribuem para uma erosão

acelerada são, dentre outros: desmatamento, queimadas, má urbanização,

impermeabilização do solo, drenagem de estradas e agricultura.

Os processos erosivos podem também ser divididos em três parcelas: desprendimento

dos agregados do solo, transporte e deposição das partículas carreadas em cotas mais

baixas ou cursos d’água. Estes processos tendem a ser induzidos principalmente pela

ação das gotas de chuva e da força cisalhante do escoamento, mas podem ocorrer

também por meio do transporte de partículas por fluxos subsuperficiais ou, ainda, por

movimentos de massa mais complexos (Mendes, 2006).

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No meio geotécnico tem-se dado grande ênfase nos estudos de erosão provocada pela

ação da água, também chamada erosão hídrica, que possui a chuva como principal

agente erosivo, a qual pode ocorrer de diferentes formas:

Erosão superficial: pode ocorrer pela ação da chuva (pluvial), seja pelo impacto

direto das gotas de chuva no solo (efeito splash ou erosão por salpicamento) ou

pelo escoamento superficial (em sulcos ou entressulcos);

Erosão interna (piping): comumente definida como um processo de erosão

subterrânea, onde a percolação de água ocasiona a remoção de partículas;

Voçorocamento: processo que envolve diversos mecanismos erosivos, dentre

eles: a erosão superficial, erosão interna e movimentos de massa em geral.

O escoamento superficial passa a se dar quando a intensidade da chuva supera a

capacidade de infiltração, formando-se um fluxo difuso na superfície, que causa uma

remoção progressiva e uniforme dos horizontes do solo. A lâmina de fluxo superficial

que escoa em direção às cotas mais baixas do terreno tende a se concentrar em forma de

linhas, responsáveis pela formação dos sulcos. Em função da particularidade na ação

dos tipos de fluxo nos terrenos, tem-se a abordagem distinta da erosão em sulcos ou

entressulcos. A atuação da gota constitui o principal processo na erosão entressulcos,

enquanto o escoamento superficial que determina o transporte das partículas destacadas

pela gota e o desgaste do leito do sulco, é o processo preponderante na erosão em sulcos

(Bastos, 1999).

2.2.2 Efeito Splash

A ação do splash ou erosão por salpicamento constitui o estágio inicial do processo

erosivo, pois desagrega as partículas que compõem o solo, para serem transportadas

pelo escoamento superficial. O processo de desagregação ocorre pelo impacto das gotas

de chuva contra um solo exposto e desprotegido de vegetação. O impacto da gota

resulta na compactação do solo pela formação de crostas periféricas (‘selagem do solo’)

que dificultam e impedem a infiltração adicional da água de chuva. Formam-se, então,

irregularidades na superfície do terreno, que se tornam áreas localizadas de acumulação

de água. Quando estas poças se rompem, tem início o processo de escoamento

superficial, inicialmente difuso, mediante a concentração de fluxos em canais,

induzindo a erosão em lençol (Guerra e Mendonça, 2004; apud Fernandes, 2011).

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O processo tende a ocorrer nos primeiros 5 a 10 minutos de chuva e depende das

características do solo e da intensidade da precipitação (Nacinovic, 2013). Uma vez

iniciada a desagregação, o material disperso será erodido pelo salpicamento ou será

carreado para os espaços intergranulares. Os agregados situados logo abaixo das crostas

ficam protegidos do impacto das gotas de chuva e a erosão por salpicamento tende a ser

limitada após a selagem do solo.

2.2.3 Erosão Laminar

O escoamento superficial ocorre em seguida inicialmente de forma difusa, em muitos

casos sob forma de lâmina ou lençol (sheetflow). Os filetes de água formados podem

escoar encosta abaixo sem formar canais definidos ou podem ser concentrados,

formando enxurradas com elevada capacidade de arrancar novas partículas dos solos e

de transportar grandes volumes de material solto (DAEE, 1990). No primeiro caso, tem-

se a chamada erosão laminar, ou seja, é como se uma lâmina de água contínua lavasse

por inteiro a superfície do terreno. A partir do momento em que esses fluxos tendem a

se concentrar, são formadas linhas de escoamento preferencial, caracterizando a

chamada erosão linear (erosão em sulcos).

Carvalho (2008) afirma que a erosão laminar se processa durante fortes precipitações,

quando o solo superficial já está saturado, sendo produzida por um desgaste suave e

uniforme da camada superficial em toda a sua extensão, sendo típica de encostas que

apresentam poucos obstáculos ao fluxo geral.

Segundo Merritt (1984 apud Guerra et. al, 2005), o escoamento laminar pode ser

considerado como sendo o primeiro estágio do processo erosivo, compreendendo um

fluxo mais ou menos regular, que é mobilizado ao longo de uma superfície exposta e

com poucas irregularidades. A concentração de sedimentos e a velocidade das partículas

vão aumentando, à medida que o fluxo vai percorrendo a encosta, ao mesmo tempo em

que o processo erosivo vai se estabelecendo. A erosão neste estágio ainda é incipiente,

muito localizada, envolvendo apenas o transporte individual dos grãos que compõem o

solo, ou seja, uma vez detectado o processo erosivo neste estágio, ainda há grandes

possibilidades de recuperar a área atingida.

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2.2.4 Erosão Linear

A partir de um dado estágio do processo, os fluxos tendem a se concentrar, devido às

irregularidades da superfície do terreno ou por algum fator intrínseco ao próprio solo,

induzindo a erosão linear (Figura 2.2).

Figura 2.2 – Erosão linear em encosta.

A partir da evolução do escoamento superficial, a concentração de sedimentos no

interior do fluxo linear mobiliza elevadas forças abrasivas entre essas partículas e o

fundo dos pequenos canais, causando um maior incremento erosivo a longo dos mesmos

(Guerra et. al, 2005). Desta forma, o principal agente da erosão linear é a ação

cisalhante do fluxo concentrado sobre o fundo e as laterais dos canais formados, agindo

diretamente na desagregação do solo, na formação de incisões no leito dos sulcos que

avançam para montante (Lafayete, 2006).

No meio geotécnico, é comum utilizar os termos ‘sulco’ e ‘ravina’ como sinônimos,

porém existe uma distinção básica entre eles. Camapum de Carvalho et al. (2001)

caracterizam os sulcos como sendo os canais mais superficiais (de até 10cm de

profundidade) gerados pela concentração do escoamento superficial, que podem evoluir

para canais mais profundos, que seriam as ravinas.

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Na fase de surgimento dos sulcos, eles normalmente se dão de forma distribuída, não

ocorrendo grandes concentrações de água. O aumento da concentração de água em

determinados sulcos faz com que eles evoluam, então, para ravinas ou voçorocas. Neste

sentido, o termo ravina deveria ser utilizado para canais com profundidades superiores a

10 cm e inferiores a 50 cm ou àquela para a qual começa a ocorrer instabilidade dos

taludes por deficiência de coesão real e de cimentação. O limite de 50 cm está atrelado à

estabilidade do talude pois, mesmo para solos granulares, a impregnação de matéria

orgânica e a presença de raízes na camada superficial assegura aos mesmos uma certa

estabilidade até esta profundidade.

Para Figueiredo e Vajapeyam (1989), o desenvolvimento de ravinas pelo alargamento

lateral durante os eventos de precipitação é atribuído à instabilidade das paredes laterais,

causada principalmente pela infiltração da água no solo. O surgimento de fendas de

tração, bem como a presença natural do lençol freático próximo aos pés dos taludes das

ravinas, pode contribuir individualmente ou em conjunto para acelerar o processo de

ruptura das paredes.

É complicado determinar um limite para o término da erosão laminar e início da erosão

linear (em sulcos). De uma maneira geral, os dois processos tendem a ocorrer

simultaneamente, pois quando os sulcos ocupam boa parte da superfície do terreno, a

erosão laminar ainda atua nas partes lisas e regulares da superfície, ou seja, entre os

sulcos já formados. Assim, pode-se definir o fluxo concentrado como fluxo em sulcos

(erosão em sulcos), e o fluxo laminar como fluxo entressulcos. No processo de erosão

entressulcos, tem-se uma grande influência do impacto das gotas de chuva e, desta

forma, este tipo de erosão é uma forma conjugada entre a erosão laminar e o efeito

splash.

A erosão em sulcos é um processo complexo e a intensidade com que ela ocorre

depende, basicamente, de três fatores: das características da chuva (tais como

erosividade, tamanho das gotas, velocidade terminal e energia cinética de impacto), das

características do solo (natureza, grau de intemperismo, presença ou não de agentes

cimentantes) e das características da própria superfície (orientação em relação à chuva,

presença ou não de vegetação, rugosidade e declividade).

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2.2.5 Erosão Interna (Piping)

A erosão interna ou piping pode ser definida como um fenômeno de erosão subterrânea,

no qual a percolação de água causa a remoção de partículas do interior do solo,

formando cavidades que avançam de forma linear e progressiva. A presença de terrenos

estratificados é um condicionante geológico favorável à ocorrência deste processo, uma

vez que concentra o fluxo em uma determinada camada.

Segundo Camapum de Carvalho et al. (2006), a erosão subterrânea pode ocorrer nas

seguintes situações:

Quando a força de percolação ultrapassa a resistência do solo, gerando ruptura

hidráulica; a ruptura hidráulica tende a ocorrer nos locais de descarga, onde o

gradiente atinge o valor crítico e condições de liquefação, arrastando partículas

de solo e permitindo a abertura de pequenos orifícios, nos quais o fluxo passa a

se concentrar, criando assim pequenas cavidades;

Quando o gradiente hidráulico ultrapassa o gradiente crítico do solo; pelo

aumento do gradiente devido ao rebaixamento do nível d’água com o

aprofundamento da voçoroca, tem-se a formação de condutos dando origem à

erosão subterrânea;

Quando a fração mais grossa do solo não constitui filtro da fração mais fina,

gerando o deslocamento desta e o solapamento da primeira e proporcionando a

formação de grandes cavidades no interior do maciço.

A erosão subterrânea pode envolver a remoção repentina de grandes massas de material

ou de pequenos grãos ou agregados, provocando a formação de solapamentos. Estes

fenômenos tendem a ampliar o gradiente hidráulico local e, consequentemente, a

erosão, culminando na geração de depressões topográficas superficiais (Dunne, 1980;

(Hargerty, 1991). O processo é decorrente da magnitude da ação do intemperismo

químico sob condições especiais, favorecendo a dissolução e o carreamento de minerais

por fluxo subterrâneo.

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2.2.6 Voçorocas

O termo ‘voçoroca’ ou ‘boçoroca’ tem origem na língua tupi-guarani e significa ‘rasgar’

ou ‘romper’ (Bastos, 1999). Pode ser definida como uma ravina de grandes dimensões

originada pela grande concentração do fluxo superficial (Figura 2.3), na grande maioria

das vezes provocada pela ação antrópica, combinada com a ação do fluxo subsuperficial

e subterrâneo. A voçoroca é palco de diversos fenômenos: erosão superficial, erosão

interna, solapamentos, desabamentos e escorregamento, que se conjugam e conferem a

este tipo de erosão rápida evolução e elevado poder destrutivo (Bastos, 1999).

Figura 2.3 – Erosão por voçorocamento em Cachoeira do Campo (Ouro Preto/MG).

(Fonte: http://www.ouropreto-ourtoworld.jor.br/rodinconfidentes.htm)

Na literatura existe ainda alguma controvérsia entre os limites que distinguiriam ravinas

de voçorocas, mas uma acepção típica estaria no fato de que as voçorocas constituem

feições que se estendem até o lençol freático (Camapum de Carvalho et al., 2006). Um

aspecto que pode influenciar esta distinção reside nas variações sazonais que ocorrem

na posição local do lençol freático. Segundo Bacellar (2000), as voçorocas constituem

um fenômeno natural de gênese e evolução complexa, uma vez que tanto os fluxos

superficiais e subsuperficiais, bem como outros tipos de movimento de massa, podem

atuar isolada ou conjuntamente. A reação ocorre em cadeia, com mecanismos primários

ativando mecanismos secundários.

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18

Diferentes modelos têm sido propostos para explicitar a gênese e o processo de

evolução das voçorocas. Iwasa & Prandini (1982) a explicam pela concentração inicial

do escoamento, formando sulcos e posteriormente ravinas, com perfis transversais em

forma de ‘V’. Estes canais tendem a se aprofundar até atingir o nível freático, iniciando

a erosão subterrânea, e, desta forma, transformado a erosão em ravina para voçoroca.

Posteriormente a voçoroca se alarga pelo descalçamento das paredes laterais, com

formação de taludes íngremes, com perfis transversais em forma de ‘U’. Com a

implantação definitiva de um curso d’água local, o leito tende a se regularizar até atingir

o nível de base local, quando a erosão desacelera. Neste último estágio, ocorre o

restabelecimento da cobertura vegetal.

Futai et al. (2005) apresentaram um outro modelo de evolução para descrever

escorregamento retrogressivos em solos não saturados (Figura 2.4). Neste modelo, a

infiltração de água reduz a sucção do talude e, dependendo da duração e intensidade da

precipitação, pode ocorrer um movimento de massa (escorregamento). Posteriormente,

o material resultante do escorregamento é transportado pela água que surge no pé da

voçoroca e também pelo próprio escoamento superficial das chuvas que causaram o

escorregamento. No período de estiagem, a sucção aumenta, em decorrência da redução

da umidade, o que melhora as condições de estabilidade do talude. Com a volta do

período chuvoso, novos escorregamentos podem ocorrer.

Figura 2.4 – Modelo de evolução de processos erosivos (Futai et al., 2005)

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19

É necessária uma grande cautela na aplicação generalizada destes modelos evolutivos,

pois fatores locais ou regionais podem alterar os processos erosivos atuantes. Bruscas

variações litológicas ou pedológicas, presença de níveis de base locais ou regionais,

eventos climáticos extremos e mesmo a interferência antrópica desviam a evolução

desse modelo contínuo e progressivo (Bacellar, 2000). Assim, conclui-se, que em

muitos casos, devido aos condicionantes indicados, os modelos evolutivos não podem

ser diretamente extrapolados de uma para outra área de referência.

2.3 FATORES CONDICIONANTES DOS PROCESSOS EROSIVOS

2.3.1 Clima

O clima exerce influência direta nos processos erosivos, atuando na desagregação da

rocha, seja por intemperismo físico ou químico, e nos mecanismos de formação dos

solos. Os aspectos climáticos mais importantes no desenvolvimento dos solos,

relacionados ao clima, são a precipitação (relacionada aos fluxos superficiais e

subsuperficiais, além de ser indispensável nas reações que regulam o intemperismo

químico) e a temperatura.

Climas quentes e úmidos intensificam o intemperismo químico e, consequentemente,

propiciam a geração de perfis de intemperismo bem desenvolvidos, uma das condições

essenciais para desenvolvimento das voçorocas. Por esta razão as voçorocas de grandes

dimensões são mais frequentes em climas tropicais (Tricart, 1972). A precipitação é o

mais importante agente do clima envolvido no desenvolvimento dos processos erosivos,

provocando a remoção de partículas desde o impacto das gotas de chuva na superfície

do terreno (efeito splash) até a formação do escoamento superficial, seja ele laminar ou

difuso.

Segundo Guerra e Mendonça (2004), fatores como a intensidade, duração, frequência,

particularidades das gotas de chuva e energia cinética da chuva natural, influenciam

diretamente na erosão. A própria qualidade da água de precipitação pode ser relevante

aos processos (influência, por exemplo, da poluição em centros urbanos). Desta forma

as atividades antrópicas influenciam diretamente a qualidade da água das chuvas,

alterando principalmente seu pH.

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20

2.3.2 Relevo

O relevo é considerado fundamental no condicionamento do processo erosivo, uma vez

que está relacionado a duas variáveis de grande importância: a declividade e o

comprimento de rampa (encosta). A declividade influencia diretamente na velocidade

do escoamento e na taxa de infiltração de água no solo, pois, em encostas mais

íngremes, existe uma tendência maior ao escoamento do que à infiltração, além do fato

de que, em declividades mais acentuadas, a velocidade do escoamento superficial é

maior, aumentando o potencial erosivo.

Os terrenos com maiores declividades e comprimentos de rampa apresentam maiores

velocidades de escoamento superficial, e consequentemente, maior capacidade erosiva;

porém, uma encosta com baixa declividade e comprimento de rampa elevado também

pode ter alta intensidade erosiva, desde que sujeita à grande vazão do escoamento das

águas (Infanti Junior e Fornasari Filho, 1998).

2.3.3 Litologias

As características litológicas do substrato rochoso (natureza da alteração e grau de

fraturamento), associadas às condições climáticas, condicionam a susceptibilidade do

material ao processo erosivo. De certa forma, a litologia controla a erosão por estar

diretamente relacionada ao tipo de solo a ao relevo.

O processo erosivo tende a ser maior em solos não coesivos, como é o caso daqueles

compostos basicamente por siltes, areias finas ou argilas dispersivas (Lal, 1990). Solos

com tais características são frequentemente relacionados a áreas de rochas ígneas ou

metamórficas de composição ácida, rochas sedimentares ou metassedimentares de

granulação arenosa fina ou siltosa ou de presença de argilas dispersivas (Bacelar, 2000).

Neste sentido, o manto de intemperismo e, consequentemente o processo erosivo, será

mais intenso em rochas que apresentam segregação mineralógica em bandas de

composição diferente, como nos gnaisses bandados e migmatitos, nos quais as bandas

com minerais escuros, ferromagnesianos, muito alteráveis, se alternam com bandas mais

claras, mais ricas em quartzo, sendo estas mais resistentes.

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21

Em áreas de rochas pré-cambrianas, modeladas em relevo de colinas, as voçorocas e

ravinas, estão, geralmente, associadas à natureza e constituição dos solos de alteração de

rochas xistosas e graníticas que, quando apresentam textura arenosa e micácea, são

bastante porosas, permeáveis e friáveis, favorecendo o desenvolvimento de intenso

processo erosivo (Infanti Junior e Fornasari Filho, 1998).

2.3.4 Cobertura Vegetal

A cobertura vegetal pode ser considerada como a defesa natural do solo contra erosão,

sendo responsável pelo aumento da macroporosidade da camada superficial, além de

proteger os agregados do impacto direto das gotas de água (Pellegrini, 2006). Segundo

Bertoni e Lombardi Neto (2010), os efeitos da contribuição da vegetação em relação a

processos erosivos podem ser:

Proteção direta contra o impacto das gotas de chuva (diminuição do efeito

splash);

Dispersão da água por intercepção direta; desta maneira, a água evapora antes de

atingir o solo;

Decomposição das raízes das plantas, que formando pequenos canais no solo,

aumentam a infiltração da água;

Melhoramento da estrutura do solo pela adição de matéria orgânica aumentando,

desta forma, sua capacidade de retenção de água;

Diminuição da velocidade de escoamento da enxurrada pelo aumento do atrito

na superfície.

2.3.5 Solos

O solo local é condicionante crítico dos processos erosivos, incorporando uma série de

propriedades intrínsecas que determinam a velocidade de infiltração, além da resistência

aos efeitos da erosão hídrica seja por meio do impacto das gotas de chuva, escoamento

superficial (laminar ou linear), ou pela erosão interna (piping). Neste contexto, é usual

introduzir o conceito de ‘erodibilidade’ para expressar a susceptibilidade de um dado

solo ao processo erosivo. O estudo da erodibilidade de solos é o tema central deste

trabalho e será abordado com mais detalhes em item específico.

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22

2.3.6 Ação Antrópica

As atividades antrópicas podem resultar em um aumento do processo erosivo, seja pelo

aumento da erosividade da água ou pela exposição do solo, aumentando a sua

vulnerabilidade e, consequentemente, sua erodibilidade. Estas atividades influenciam a

ação erosiva por meio do desmatamento, queimadas, impermeabilização com a

pavimentação de vias, ocupação do solo sem implantação de infraestrutura adequada e

do lançamento de resíduos, causando danos à fauna, modificações na topografia,

alterações hidrológicas e destruição de ecossistemas.

Em zonas urbanas, os processos de erosão são causados principalmente pela

concentração de águas de escoamento superficial, lançadas em talvegues desprovidos de

sistemas adequados de drenagem, resultando em incisões na superfície do terreno, que

podem evoluir para processos erosivos mais complexos (Ide, 2009).

2.4 ERODIBILIDADE DOS SOLOS

2.4.1 Conceito Geral

A erodibilidade é um dos fatores mais importantes na compreensão do fenômeno

erosivo. Pode-se dizer que a erosão não é a mesma em todos os solos, pois suas

propriedades físicas (estrutura, permeabilidade, textura, etc.), químicas e biológicas

variam conforme seus processos de formação. O termo erodibilidade pode ser definido

como sendo a maior ou menor facilidade com que as partículas de um solo tendem a ser

destacadas e transportadas pela ação de um agente erosivo tal como a água ou o vento.

Segundo Bacellar (2000), a erodibilidade é um índice que expressa a suscetibilidade à

erosão de um material a um determinado agente erosivo. No caso da erosão hídrica, a

erodibilidade pode ser visualizada como dependente do balanço de forças opostas, as

forças atuantes dos agentes erosivos e as resistentes do material. A partir do conceito de

erodibilidade, diversos autores se propuseram a avaliar as condições físicas e químicas

dos solos, na busca por uma propriedade dos mesmos que estivesse diretamente

relacionada ao desencadeamento do processo erosivo.

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23

Diversos autores enfatizam ser a textura (tamanho dos grãos) um dos fatores mais

relevantes na magnitude dos efeitos erosivos sobre um dado solo. Llopis Trillo (1999)

propôs um sistema hierárquico destes efeitos em função da textura dos solos (Tabela

2.1), baseado no Sistema Unificado de Classificação de Solos.

Tabela 2.1 – Suscetibilidade à erosão pela textura dos solos (Llopis Trillo, 1999)

Símbolo Descrição do Solo - Classificação Unificada Erodibilidade

GW Pedregulho e mistura de pedregulho e areia bem

graduados, com poucos ou sem finos. Menos Erodível

GP Pedregulho e mistura de pedregulho e areia mal

graduados, com poucos ou sem finos.

SW Areias e areis pedregulhosas bem graduadas, com

poucos ou sem finos.

GM Cascalho siltoso, misturas de cascalho e areia, areia

e silte.

CH Argilas inorgânicas de plasticidade elevada, argilas

gordas.

CL

Argilas inorgânicas de plasticidade baixa ou média,

argilas pedregulhosas, argilas arenosas, argilas

siltosas, argilas magras.

OL Siltes orgânicos, siltes e argilas orgânicas de

plasticidade baixa.

MH Siltes inorgânicos, solos arenosos finos ou siltosos

micáceos e diatomáceos, solos elásticos

SC Areias argilosas

SM Areias siltosas

ML

Siltes inorgânicos e areias muito finas, pó-de-pedra,

areias finas siltosas ou argilosas e siltes argilosos

pouco plásticos

Mais Erodível

Wang (2013) argumenta que a erodibilidade deveria levar em consideração os diferentes

agentes erosivos atuantes, bem como as condições de superfície e climáticas às quais o

material está exposto, uma vez que tanto as forças exógenas quanto as propriedades do

solo variam em função do tempo e do espaço durante um mesmo evento. Assim, por

exemplo, no início de uma precipitação, o solo possui pouca quantidade de água à

medida que o evento chuvoso evolui, a saturação favorece o escoamento superficial,

com variações da permeabilidade in situ.

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24

Neste sentido, a erodibilidade constitui um fator intrínseco ao solo e uma série de

metodologias vem sendo desenvolvidas visando correlacionar algumas das propriedades

físicas e químicas dos solos com os processos erosivos, mediante a proposição e índices

ou experimentos específicos para avaliação do potencial erosivo dos solos estudados. A

seguir são expostas algumas metodologias básicas para a estimativa da suscetibilidade à

erosão dos solos.

2.4.2 Equação Universal de Perda de Solos

A Equação Universal de Perda de Solos, conhecida como USLE (Universal Soil Loss

Equation), foi desenvolvida pioneiramente por Wischmeier e Smith (1969) para áreas

cultivadas, sendo depois corrigida e extrapolada por outros pesquisadores. A equação é

expressa na forma de um produto de variáveis, considerando fatores ativos e passivos, a

partir de retroanálises de centenas de dados relativos a processos de erosão hídrica

superficial do tipo laminar, obtidos para diferentes condições de clima, solos, relevo e

condições de cultivo (padronizadas para um de comprimento de rampa de 22 m e 9 %

de inclinação, com superfície limpa e permanentemente arada):

(2.3)

sendo: A − taxa de erosão ou perda de solo por unidade de área e tempo, comumente

expressa em t/ha anuais; R − fator erosividade da chuva, que expressa a erosão potencial

ou poder erosivo da precipitação média anual; K − fator de erodibilidade do solo, que

representa a capacidade do mesmo em ser suscetível à erosão; L − fator topográfico,

também chamado de comprimento de rampa ou declive; S − inclinação da rampa; C −

fator relativo à presença de cobertura vegetal; P – fator relativo às práticas e cultivos de

manejo local.

Wischmeier e Smith (1962) estabeleceram o fator R como o produto entre a intensidade

máxima de uma precipitação de 30 minutos (I30) e o valor da energia cinética da chuva

(Ec). A energia cinética de uma chuva seria o resultado da soma da energia cinética de

todos os intervalos desta precipitação. O valor da soma dos produtos Ec x I30 para uma

determinada chuva representa a erosividade da chuva, enquanto a soma dos produtos em

um período de um ano representa o valor anual (Carvalho, 2008).

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25

A erodibilidade dos solos, expressa pelo fator K, tem sido avaliada quantitativamente

mediante correlações com certas propriedades do solo, uma vez que medidas diretas são

praticamente inviáveis. O comprimento de rampa e a declividade, representados na

equação pelos fatores L e S respectivamente, são comumente expressos como um fator

único topográfico (LS), determinado a partir de uma parcela padrão, conforme as

condições estabelecidas anteriormente, por meio da seguinte equação (Carvalho, 2008):

(2.4)

Os efeitos do comprimento e da declividade pressupõem declives essencialmente

uniformes, ou seja, não se considera taludes côncavos ou convexos, pois seus efeitos

nas perdas por erosão ainda não estão bem avaliados (Bertoni e Lombardi Neto, 2010).

A variável C representa a relação entre as quantidades de solo erodido sob uma cultura e

manejo específicos e aquela mantida, permanentemente, descoberta. Em áreas sem

nenhuma vegetação, o fator C tende a 1,0, enquanto que, em florestas virgens, tem um

valor próximo a 0,0001. Assim o valor do fator C depende do tipo, sequência, estágio

das culturas e práticas de manejo. A proteção da cobertura vegetal não depende apenas

do tipo de vegetação e de seu desenvolvimento, mas também varia nos diferentes meses

e estações do ano (Carvalho, 2008).

A variável P, relativo a práticas conservacionistas, corresponde à relação entre as perdas

de solo de um terreno cultivado com determinada prática conservacionista e as perdas

quando se planta no sentido do declive, mantendo-se as condições padrão de relevo, de

uso e manejo (Carvalho, 2008). Dentre as práticas conservacionistas mais comuns

destacam-se a rotação de culturas, plantio em curvas de nível, terraceamento, canais

escoadouros, plantio em faixas de contorno e cordões de vegetação permanente.

A USLE permite estimar a perda média anual de solo provocada pela erosão em

entressulcos e em sulcos, nas condições em que foram obtidos os valores de seus

componentes. Embora desenvolvida originalmente para as condições climáticas e

geológicas dos Estados Unidos, a partir de um extenso acervo de dados, a equação tem

sido adaptada a outras localidades, por meio da obtenção específica dos termos

componentes da equação (Lafayete, 2006).

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26

2.4.3 Índices de Ponderação da Erodibilidade dos Solos

A estimativa de índices de erodibilidade depende claramente do agente erosivo e, no

caso da erosão hídrica, será influenciado pelo processo envolvido, uma vez que as

forças atuantes sobre o solo dependerão da forma de como a erosão se desenvolve, seja

ela por fluxo superficial, por salpicamento, ou por fluxo subterrâneo. Existem diversas

proposições para a determinação da erodibilidade por meio de ensaios laboratoriais,

considerando as propriedades físicas e químicas, sendo que algumas são baseadas em

correlação com índices obtidos em laboratório e outros por meio de simulações

utilizando modelos reduzidos. A maioria destes estudos é voltada para soluções de

problemas da engenharia geotécnica relacionados à erosão hídrica de solos tropicais e

subtropicais (Bastos et al., 2000).

Historicamente, a primeira tentativa de proposição de índices para a estimativa de

erodibilidade de solos foi feita por Middleton (1930), que buscou esta correlação com

base em três propriedades: relação de dispersão; relação de coloides com equivalentes

de umidade e relação de erosão. A relação de dispersão (RD) foi definida como uma

porcentagem das frações silte e areia do solo, em seu estado natural e disperso. A

relação de coloides (RC) é chamada também de relação de percolação (quantidade de

coloides/umidade equivalente), traduzindo a capacidade de percolação e absorção do

solo. A relação de erosão (RE) é explicitada em termos das duas relações precedentes,

tal que:

(2.5)

Com base nesta relação, solos erodíveis seriam aqueles com relação de dispersão (RD)

superior a 15% e relação de erosão (RE) superior a 10%.

Bouyoucos (1935), considerando que a textura do solo e o grau de cimentação entre as

partículas deveriam ser critérios básicos para se avaliar o desencadeamento do processo

erosivo, propôs um índice de ponderação chamado Razão de Argila (RA), dado por:

(2.6)

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27

Um dos grandes problemas para a determinação da erodibilidade de um solo, a partir de

análises granulométricas, é o efeito de aglomeração das partículas em agregados. O

método de dispersão utilizado para a caracterização textural é muito importante, pois a

distribuição granulométrica varia conforme o tipo de dispersante e o tempo de dispersão

(Bacellar, 2000).

Para Bryan (1976), em solos quartzosos com granulação superior a 0,1 mm, a

granulometria expressaria com razoável precisão a erodibilidade, pois, nestes casos, a

coesão entre as partículas seria desprezível e a forma e a massa dos grãos relativamente

constantes; por outro lado, em solos mais finos, onde a agregação é comum, a

erodibilidade dependeria da forma, densidade e estabilidade dos agregados.

Voznesensky e Artsruui (1940) desenvolveram uma fórmula correlacionando o estado

de agregação e dispersão à capacidade de retenção de água, dada por:

(2.7)

sendo ‘d’ o índice de dispersão expresso pela razão entre a porcentagem das partículas

maiores que 0,05 mm sem dispersão e a percentagem de partículas maiores que 0,05

mm, depois de dispersas com cloreto de sódio. O fator h constitui uma medida da

capacidade de retenção de água pelo solo (retenção de água pelo solo em relação com a

retenção de 1,0 g de coloides). O índice a, por sua vez, está relacionado à agregação do

solo (porcentagem de agregados maiores que 0,25 mm depois de se submeter o solo a

um fluxo de água de 100 cm/min durante uma hora).

Wischmeier et al. (1971) estudaram a contribuição e a interação entre diversas

propriedades dos solos para a estimativa de um fator de erodibilidade K, a ser aplicado à

Equação Universal de Perda de Solos, passível de obtenção por um ábaco (Figura 2.5) e

dado pela seguinte relação:

(

) (2.8)

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28

Figura 2.5 – Ábaco de Wischmeier et al. (1971)

sendo: ‘M’ – parâmetro baseado na textura do solo, representado pelo produto da

porcentagem da fração silte mais areia fina (fração entre 0,002 a 0,1 mm) com a relação

(100% - % argila presente; ‘MO’ – teor de matéria orgânica (teor de carbono orgânico

total multiplicado por 1,72), expresso em percentagem; ‘X’ E ‘Y’ – parâmetros que

caracterizam, respectivamente, a estrutura e a permeabilidade do solo. O fator 0,1317 é

adotado para obter o parâmetro em unidades do Sistema Internacional.

Uma das primeiras metodologias brasileiras, relativas ao critério de erodibilidade de

solos, foi proposta por Denardin (1990), utilizando dados de erodibilidade de trinta e um

perfis de solos do Brasil e quarenta e seis perfis de solos dos Estados Unidos, por meio

de chuva natural e simulada. As variáveis utilizadas foram: ‘M’ – relação das

percentagens de silte, areia fina e areia grossa; ‘P’ – classes de permeabilidade definidas

por Wischmeier et al. (1971); ‘DMP’ – diâmetro médio ponderado das partículas

inferiores a 2,0 mm; ‘R’– relação entre o teor de matéria orgânica e o teor de areia. A

equação proposta e suas variáveis determinantes são expressas por:

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29

(2.9)

sendo:

(2.10)

(2.11)

(

) (2.12)

Denardin (1990) desenvolveu esta metodologia por meio de análises de regressão linear

múltipla, levando em conta as grandes diferenças edáficas dos solos do Brasil e dos

Estados Unidos, caracterizadas pela diversidade de unidades de solos envolvidos e pela

amplitude de parâmetros analisados. O modelo ajustado é capaz de estimar, não um

valor absoluto exato para o fator de erodibilidade, mas a sua ordem de magnitude, para

uma ampla variabilidade de solos.

2.4.4 Critérios de Erodibilidade Baseados na Metodologia MCT

A metodologia MCT (Nogami e Villibor, 1981) foi especialmente desenvolvida para a

aferição do comportamento geotécnico de solos formados em regiões tropicais de clima

quente e úmido e, neste contexto, incorpora um grande potencial como sistema de

avaliação da erodibilidade de solos brasileiros. A metodologia é executada em corpos de

prova moldados em cilindro de 50 mm de diâmetro interno e inclui um ensaio de

compactação mini – MCV (Moisture Condition Value) e um ensaio de perda de massa

por imersão. Embora de divulgação hoje generalizada no meio técnico, uma síntese da

metodologia é exposta a seguir.

a compactação deve ser iniciada com a preparação de, no mínimo, 5 porções do

solo com umidade variável (distribuídos nos ramos secos e saturados da curva),

que é introduzido no molde de compactação, sendo determinada a sua altura

inicial. Em seguida é aplicada uma série crescente de golpes de acordo com a

sequência: 2, 3, 4, 6, 8, 12, 16, 24, 32, 48, 64, 96, 128, 192 e 256, fazendo-se as

leituras das alturas finais ao término de cada série de golpes.

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30

Os critérios de paralisação de cada ensaio são os seguintes: a diferença de altura

observada entre duas séries de golpes sucessivas é inferior a 0,1 mm; o número

de golpes atinge 256; constata-se a expulsão de água do corpo de prova (Nogami

e Villibor, 1995).

Das alturas dos corpos de prova em compactação, calcula-se a massa específica

aparente seca e, com estes dados, traça-se uma família de curvas de compactação

de um mesmo solo em função do número de golpes aplicados: 6, 8, 12, 16, 24,

32 e 48 golpes. A inclinação da parte retilínea do ramo seco da curva de

compactação correspondente a 12 golpes, no trecho adjacente à massa específica

aparente seca máxima é o chamado coeficiente d’ (Figura 2.6).

Figura 2.6 – Família de curvas de compactação de ensaios Mini-MCV (Castro, 2002).

Para cada teor de umidade de compactação, torna-se necessário traçar uma curva

relacionando o número de golpes (n) em função das diferenças de altura dos

corpos de prova (an= An – A4n), utilizando escala monologarítmica; desta forma

obtêm-se as chamadas curvas de deformabilidade ou Mini-MCV (Figura 2.7).

Deste gráfico o ponto da curva que cruza a reta de equação a = 2,0 mm, paralela

ao eixo das abcissas, corresponde ao número de golpes Bi. O valor do Mini-

MCV para a curva que representa o solo em um estado particular de umidade, é

obtido pela seguinte equação:

(2.13)

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31

A variável Bi é um valor particular do número de golpes (n), correspondente a

um determinado teor de umidade de compactação. Portanto, haverá tantos Mini-

MCV, quanto o número de corpos de prova moldados com teores de umidade

diferentes (Nogami e Villibor, 1995). A inclinação da curva de deformabilidade

correspondente ao valor de Mini-MCV igual a 10 é chamada de coeficiente c’,

outro parâmetro utilizado no sistema de classificação MCT.

Figura 2.7 – Curvas de deformabilidade e de Mini-MCV (Nogami e Villibor, 1995).

Para classificação do solo segundo a metodologia MCT, impõe-se ainda a

determinação do coeficiente e’, obtido por meio do ensaio de perda de massa por

imersão, realizado em sequência ao de compactação Mini-MCV. O experimento

consiste em forçar o deslocamento, da ordem e 1cm, da massa de solo

compactada no molde e submersão do mesmo em água para determinação da

perda de massa, expressa pela seguinte relação:

(

) (2.14)

sendo Pi − a perda de massa por imersão; Md − massa que se desprende do

molde após cerca de 20 horas e Ms − massa seca do solo correspondente à

porção exposta do molde. A variável f, chamada de fator de correção, é tomada

igual a 0,5 no caso de desprendimento de blocos completos de material coeso e

igual a 1,0 nos demais casos.

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32

A partir dos valores de Pi e do coeficiente d’ determinado pelo ensaio de

compactação Mini-MCV, calcula-se o coeficiente e’ por meio da seguinte

expressão:

√(

)

(2.15)

O índice e’ foi estabelecido para indicar o comportamento laterítico ou não

laterítico dos solos; o comportamento laterítico tende a se manifestar quando o

parâmetro d’ é maior que 20 e Pi for inferior a 100, o que permite estabelecer um

limite horizontal - correspondente a um valor de ordenada para e’ = 1,15,

separando os solos lateríticos e não lateríticos (Nogami e Villibor, 1995). Para

solos com menor fração de finos, a transição tende a ocorrer para valores mais

elevados de Pi, o que levou os autores a estabelecer uma linha horizontal

secundária, correspondente a um valor de e’ igual a 1,4 (Nogami e Villibor,

1995).

Com base nos valores dos coeficientes c’ e e’, o solo é classificado como laterítico ou

não laterítico, em ábaco de classificação específico da metodologia (Figura 2.8), em sete

grandes grupos (Nogami e Villibor, 1981):

Areias não lateríticas (NA): os solos deste grupo são areias, siltes e misturas

destes, nos quais os grãos são constituídos essencialmente de quartzo e/ou mica.

Praticamente não possuem finos argilosos coesivos e siltes cauliníticos. Quando

compactados, possuem capacidade de suporte pequena a média e, geralmente,

são muito erodíveis;

Solos arenosos não-lateríticos (NA’): compostos basicamente por misturas de

areias quartzosas (ou de minerais de propriedades similares) com finos passantes

na peneira de 0,075 mm, de comportamento não laterítico. Geneticamente, os

tipos mais representativos são solos saprolíticos originados de rochas ricas em

quartzo tais como granitos, gnaisses, arenitos e quartzitos impuros. Quando a

areia for mal graduada ou contiver, na fração areia ou silte, mica ou

microcristais de caolinita e/ ou haloisita, eles podem ser totalmente

inapropriados para base de pavimentos;

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33

Figura 2.8 – Ábaco de Classificação MCT (Nogami e Villibor, 1981).

Solos siltosos não-lateríticos (NS’): compreendem os solos saprolíticos silto-

arenosos, resultantes do intemperismo tropical nas rochas eruptivas e

metamórficas, de constituição predominantemente feldspática-micácea-

quartzosa. Esses solos caracterizam-se principalmente por terem, quando

compactados na umidade ótima e massa específica aparente máxima da energia

normal, baixa capacidade de suporte quando imersos em água, baixo módulo de

resiliência, elevada erodibilidade e elevada expansibilidade;

Solos argilosos não-lateríticos (NG’): compreendem os solos saprolíticos

argilosos, que derivam de rochas sedimentares argilosas (folhelhos, argilitos,

siltitos) ou cristalinas, pobres em quartzo e ricas em anfibólio, piroxênios e

feldspatos cálcicos. Quando compactados nas condições de umidade ótima e

massa específica aparente máxima, apresentam características das argilas

tradicionais muito plásticas e expansivas;

Areias lateríticas (LA): insere-se neste grupo as areias com poucos finos de

comportamento laterítico, típicas do horizonte B dos solos conhecidos

pedologicamente como areias quartzosas e regossolos. A porcentagem de finos

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34

lateríticos destes solos é muito baixa, de maneira que mesmo quando

devidamente compactados podem ser relativamente permeáveis, pouco coesivos

e pouco contráteis quando secos;

Solos arenosos lateríticos (LA’): solos tipicamente arenosos e constituintes do

horizonte B dos solos conhecidos pedologicamente no Brasil por latossolos

arenosos e solos podzólicos ou podzolizados arenosos. Estes solos, além da

presença das matrizes vermelho-amarelas, dão cortes firmes (pouco ou não

erodíveis), nitidamente trincados quando expostos às intempéries. Quando

devidamente compactados, adquirem elevada capacidade de suporte, elevado

módulo de resiliência, baixa permeabilidade, baixa contração por perda de

umidade, razoável coesão e pequena expansão por imersão em água;

Solos argilosos lateríticos (LG’): compostos pelas argilas e argilas arenosas,

que constituem o horizonte B de solos conhecidos pedologicamente por

latossolos, solos podzólicos e terras rochas estruturadas. Quando apresentam

porcentagens elevadas de areia, tendem a apresentar comportamento semelhante

aos solos do grupo LA’, possuindo menores capacidades de suporte, menores

módulos de resiliência, maior plasticidade, menor massa específica aparente

seca e maior umidade ótima. São mais resistentes à erosão hidráulica quando

compactados adequadamente.

Complementarmente à sua proposição como sistema de classificação de solos tropicais,

a metodologia MCT foi adaptada para a aferição da erodibilidade dos solos (avaliada

sobre conceitos conjugados de infiltração/secagem), com base na proposição de dois

novos procedimentos experimentais: o ensaio de infiltrabilidade (determinada com base

no coeficiente de sorção) e a perda de massa por imersão (Pi) determinada por meio de

um método modificado, chamado de erodibilidade específica.

O ensaio de infiltrabilidade consiste em se submeter uma amostra cilíndrica confinada a

um fluxo ascendente por ascensão capilar (Bastos, 1999). A velocidade de infiltração é

quantificada por meio da cronometragem do fluxo a longo de um tubo capilar horizontal

no nível da base da amostra. Os resultados das distâncias percorridas pelo fluxo ao

longo do tubo capilar são plotados pelo tempo cronometrado (em min1/2

). A curva

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35

obtida pode apresentar um nítido encurvamento após trecho retilíneo inicial bem

desenvolvido, prosseguindo com tendência sensivelmente horizontal, significando que a

frente de umidade atingiu o topo do corpo de prova (Nogami e Villibor, 1995). O

gradiente do trecho retilíneo inicial da curva é chamado de coeficiente de sorção ‘s’

(unidade em cm/min1/2

).

A erodibilidade específica é determinada por meio de ensaio similar ao de perda de

massa por imersão, com as seguintes modificações: uso de corpos de prova previamente

submetidos ao ensaio de infiltrabilidade (colocando em uma das extremidades uma

pedra porosa para evitar o desprendimento de solo), determinação da perda de massa

com o corpo de prova totalmente posicionado dentro do molde de compactação, de

forma que a extremidade exposta coincida com a extremidade do tubo de amostragem,

sendo que a perda de massa será expressa em função da massa total do corpo de prova.

Com base nos valores do coeficiente de sorção (s) e da perda de massa por imersão (Pi),

Nogami e Villibor (1979) estabeleceram a relação relação Pi/s > 52 como característica

de solos potencialmente erodíveis (critério expresso graficamente pela Figura 2.9, de

Nogami e Villibor, 1995). Pejon (1992) sugeriu adotar este limite como Pi/s > 40,

baseado em um maior número de ensaios.

Figura 2.9 – Critério de Erodibilidade pela técnica MCT (Nogami e Villibor, 1995).

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36

Este critério de erodibilidade foi aplicado por Bastos (1999) em solos da região

metropolitana de Porto Alegre/RS, que concluiu que a relação Pi/s < 52 permitiu

separar, dentre os solos estudados, aqueles de média a baixa erodibilidade, para

amostras na umidade natural e secas ao ar, ressaltando que, para as amostras pré-

umedecidas, a dispersão dos resultados não permitiu identificar a erodibilidade.

Segundo o autor, o critério considera explicitamente a capacidade do solo em

desenvolver fluxo superficial e o potencial de desagregação do mesmo pela água,

propriedades importantes na interpretação da erodibilidade de solos tropicais.

Estudando a aplicação da metodologia MCT aos solos superficiais da Amazônia,

Vertamatti (1988) propôs uma reestruturação da sistemática dos grupos classificatórios,

chamada de MCT modificada (MCT–M), excluindo o grupo NA’ e incluindo os grupos

LA’G’, NS’G’, TA’, TA’G’ e TG’ dos chamados ‘solos transicionais’ (Figura 2.10).

Figura 2.10 – Ábaco de classificação MCT – M (Vertamatti e Araújo, 1990).

A classificação MCT modificada (MCT-M) foi também utilizada na estimativa da

erodibilidade (Vertamatti e Araújo, 1990). Avaliando o comportamento à erosão de

solos de taludes rodoviários do interior de São Paulo e dos aeroportos de Santarém/PA e

de Manaus /AM, foram definidos os seguintes graus de erodibilidade: talude intacto

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37

(grau 0), talude pouco erodido com sulcos esparsos (grau 1), talude medianamente

erodido com sulcos frequentes (grau 2) e talude muito erodido, com desconfiguração

total da face e presença de sulcos muito frequentes e interligados (grau 3).

Os autores propuseram a distinção de três faixas de erodibilidade no Ábaco MCT-M

(Figura 2.10); embora considerando a superposição de faixas com as classes de solos, de

uma maneira geral, os solos lateríticos correspondem ao grau zero, os transacionais aos

graus 1 e 2 e os solos saprolíticos ao grau 3 de erodibilidade.

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38

CAPÍTULO 3 – ÁREA DE ESTUDO

3.1 Contexto Geológico Regional

O Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais constitui uma das mais importantes províncias

minerais do Brasil, compreendendo três grandes conjuntos de unidades geológicas que,

da base para o topo, caracterizam os complexos metamórficos arqueanos, o Supergrupo

Rio das Velhas e o Supergrupo Minas (Tabela 3.1). Todo o conjunto é seccionado por

diques máficos, intrudidos por eventos de deformação posteriores, sendo localmente

identificadas ainda bacias terciárias de dimensões restritas (Dorr II, 1969).

Figura 3.1 – Mapa geológico do Quadrilátero Ferrífero (modificado de Endo, 1997).

Uma síntese mais abrangente da complexidade geológica que caracteriza a região do

Quadrilátero Ferrífero é apresentada na Tabela 3.1, que inclui também os principais

litotipos dos diferentes grupos e formações geológicas, o ambiente de formação,

espessuras máximas inferidas e correspondentes idades geológicas. Para fins de uma

exposição integrada, estas principais unidades geológicas são descritas resumidamente a

seguir, adotando-se integralmente a versão de Paganin Neto (2015).

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Tabela 3.1 – Coluna estratigráfica do Quadrilátero Ferrífero (Endo, 1997).

Era

Período Supergrupo Grupo Formação Litotipos

Ambiente

Sedimentar

Espessura

Máxima

Idade

(Ma)

Canga

Evento Sul-Atlantiano

Terciário Fonseca Sedimentos lacustrinos e linhito 100 54

Discordância Erosiva e Angular

Orogênese Brasiliana 650 Ma a 560 Ma

Orogênese Transamazônica – 2.250 Ma a 1.900 Ma

Itacolomi Quartzito, metaconglomerado e raramente

filito Molassa 2.000

Discordância Erosiva e Angular

Pal

eop

rote

rozó

ico

Orogênese Transamazônica – 2.250 Ma a 1.900 Ma e intrusões de granitoides

Minas

Sabará

Estrada

Real

Metarenito, metaconglomerado,

metadiamictito e quartzito Continental 200-750

Saramenha

Clorita xisto, filito, quartzito,

metadiamictito, itabirito, metagrauvaca e

metaconglomerado,

Flysh >985 2.650

U/Pb

Discordância Erosiva Local

Piracicaba

Barreiro Filito e filito carbonático Plataforma 150

Taboões Ortoquartzito Plataforma 125

Fecho do

Funil

Filito, filito dolomítico, mármore e

dolomito Plataforma 410

Cercadinho

Quartzito ferruginoso, quartzito, filito

prateado, filito ferruginoso, dolomito e

metaconglomerado

Plataforma 600

Discordância Erosiva Local

Itabira

Gandarela Dolomito, mármore, itabirito dolomítico,

filito dolomítico Plataforma 600

2.450

Pb/Pb

Cauê Itabirito (fácies óxido), itabirito dolomítico,

hematitito, filito dolomítico e dolosito Plataforma 350

1.830

Pb/Pb

Caraça

Batatal Filito Plataforma 250

Moeda Quartzito, metaconglomerado, filito Plataforma 1.000 2.608

Pb/Pb

Discordância Erosiva Local

Tamanduá

Morro

Grande

Sericita-clorita xisto com intercalações de

filito ferruginoso, clorita xisto, quartzo-

sericita xisto e filito coloração cinza

Plataforma

Cambotas

Quartzito com camadas de conglomerado

com seixos de formação ferrífera e lentes

de formação ferrífera no topo

Plataforma

Discordância Erosiva e Angular

Arq

uea

no

Orogênese Rio das Velhas – 2.800 Ma a 2650 Ma com intrusões de granitoides

Rio das

Velhas

Maquiné Casa Forte Quartzito, metaconglomerado e filito Molassa >400

Palmital Filito, quartzo xisto e metaconglomerado Molassa 1.400

Nova Lima Indiviso

Quartzo xisto, quartzito, metagrauvacas,

metaconglomerados, xistos carbonáticos,

metatufos, formações ferríferas, filitos,

metabasaltos, metakomatiítos, serpentinitos

e talco xistos

3.700

2.772

a 2780

U/Pb

Discordância Erosiva

Embasamento Gnaisse migmatítico de idade superior a

2.900 Ma

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40

Os complexos metamórficos de idade arqueana do Quadrilátero Ferrífero são

constituídos predominantemente por gnaisses bandados, com ou sem inclusões

anfibolíticas, migmatitos e granitos de composições variadas. O comportamento

metamórfico desta unidade é, em geral, polifásico, sendo afetada por um metamorfismo

regional em condições de fácies anfibolito médio a superior, tendo sido sujeita,

posteriormente, a transformações metamórficas retrógradas em condições de fácies

xisto-verde. São comuns rochas básicas tardi a pós-tectônicas preenchendo

descontinuidades produzidas por distensão crustal. Os contatos desses complexos com

as unidades sobrejacentes são, em geral, tectônicos, mostrando uma foliação de médio a

alto ângulo ou ainda concordantes.

O Supergrupo Rio das Velhas é composto, da base para o topo, pelos grupos Nova Lima

e Maquiné (Dorr, 1969). O Grupo Nova Lima é constituído por filitos, filitos grafitosos,

clorita xistos, sericita xistos, metagrauvacas, rochas máficas e ultramáficas, formações

ferríferas, metacherts e dolomitos. Sobrepõem-se em discordância erosional, com níveis

conglomeráticos na base, quartzitos maciços e sericíticos, sericita-quartzo xistos,

metaconglomerados oligo e polimíticos e filitos do Grupo Maquiné (Dorr, 1969;

Maxwell, 1972).

Segundo alguns autores, o metamorfismo original das rochas do Supergrupo Rio das

Velhas é discutível e não há indícios de ocorrência de metamorfismo retrógrado nos

xistos e filitos do Grupo Nova Lima. De forma global, as rochas desta unidade

encontram-se no domínio da fácies xisto-verde, na zona da biotita e clorita. Fácies

metamórficas mais elevadas tem sido registrada nas auréolas metamórficas dos

complexos metamórficos Bação e Belo Horizonte.

O Supergrupo Minas é uma sequência metassedimentar de idade paleoproterozóica com

pequena contribuição vulcânica. Sua estratigrafia é constituída essencialmente por

xistos, quartzitos, filitos, formação ferrífera e rochas carbonáticas, assentes

discordantemente sobre gnaisses e micaxistos. As rochas desta unidade recobrem as

unidades do Supergrupo Rio das Velhas e o complexo granito-gnáissico, em uma nítida

discordância erosiva e angular. Com base em ciclos deposicionais, o Supergrupo Minas

pode ser subdividido em seis grupos: Tamanduá, Caraça, Itabira, Piracicaba, Sabará e

Itacolomi (Figura 3.2).

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41

Figura 3.2 – Coluna estratigráfica do Quadrilátero Ferrífero (modificado de Alkmim e

Marshak, 1998).

Grupo Tamanduá

O Grupo Tamanduá é dividido em duas formações: Formação Cambotas, na base, que

inclui quartzitos, xistos e filitos, e, no topo, pela Formação Morro Grande, composta por

filitos, formação ferrífera dolomítica e xistos quartzosos.

Grupo Caraça

O Grupo Caraça é constituído essencialmente por metassedimentos de origem clástica e

engloba as formações Moeda e Batatal. Segundo Dorr (1969), a Formação Moeda

caracteriza-se por apresentar duas fácies intergradacionais de composição

predominantemente quartzosa. A inferior é constituída por um espesso pacote de

quartzito grosso com estruturas sedimentares preservadas. A superior é silicosa e de

granulometria fina e, em algumas regiões do Quadrilátero, chega a ser confundida com

os filitos da Formação Batatal.

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42

A Formação Batatal é subdividida em duas unidades litológicas. A unidade inferior é

composta de muscovita-sericita-xisto, localmente com brechas, níveis quartzíticos,

camadas lenticulares de turmalinito e localmente intercalados com delgadas lentes de

dolomito. A unidade superior compreende uma sequência de ‘greenstone belt’, rochas

máficas, talco-xisto, finas lentes de dolomito com xisto-verde e itabirito.

Grupo Itabira

O Grupo Itabira é constituído por duas formações, a Formação Cauê e a Formação

Gandarela. A Formação Cauê é a mais importante do ponto de vista econômico, por

conter grandes depósitos de ferro e por apresentar ampla distribuição no QF.

Caracteriza-se por três litotipos, ora intercalados com pequenas lentes de filito e rocha

carbonática: itabirito (quartzo, hematita, magnetita), itabirito dolomítico (quartzo,

hematita, magnetita e dolomita) e itabirito anfibolítico. A Formação Gandarela

constitui-se basicamente de dolomitos, calcários, filitos dolomíticos, formação ferrífera

dolomítica, filito e lentes quartzíticas. Quando alterada, a Formação Gandarela pode se

apresentar como um itabirito manganesífero.

Grupo Piracicaba

É constituído por quatro formações (Cercadinho, Fecho do Funil, Taboões e Barreiro).

Esse grupo consiste em metassedimentos clásticos, incluindo conglomerados finos,

quartzito e filito carbonoso, contendo esporadicamente precipitados químicos ou

bioquímicos. Na maioria das vezes, a individualização das formações que compõem

este grupo torna-se muito difícil devido à natureza dos contatos entre as mesmas. A

Formação Cercadinho constitui-se de intercalações de quartzitos e filitos ferruginosos e

lentes de dolomito. O contato superior com a Formação Fecho do Funil é de natureza

gradacional. O contato inferior, com o Grupo Itabira, pode ser uma discordância angular

ou uma desconformidade erosiva ao oeste do QF.

A Formação Fecho do Funil é composta por uma sequência de filitos dolomíticos

marrom e cinza escuros, dolomitos argilosos e silicosos, filitos cinza e marrom,

metassiltitos e dolomitos impuros. Alguns filitos são levemente ferruginosos. A

Formação Taboões é constituída por quartzitos finos e maciços e a Formação Barreiro,

por filitos e filitos grafitosos.

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43

Grupo Sabará

O Grupo Sabará é composto por um espesso pacote de rochas clásticas com

intercalações localizadas de sedimentos químicos e rochas vulcânicas. Ocorrem

principalmente metadiamictitos, filitos, clorita-xistos e xistos.

Grupo Itacolomi

O Grupo Itacolomi, definido por Dorr (1969), é constituído de duas fácies: uma fácies

quartzítica, denominada de tipo Itacolomi, e a outra filítica, designada de Santo

Antônio. A fácies quartzítica é constituída predominantemente de quartzitos, quartzitos

conglomeráticos, quartzitos ferruginosos de aspecto semelhante ao itabirito e filitos. Os

seixos são de quartzo, hematita, itabirito, quartzito, filito e granito. Esta unidade é

formada por vários maciços quartzíticos isolados e distribuídos ao longo das bordas sul

e leste do QF, apresentando intensidades e estilos variados de deformação. Este fato tem

dificultado os estudos de correlação com as unidades formalmente definidas. Nas

localidades-tipo, o Grupo Itacolomi repousa em discordância angular sobre as unidades

Sabará, Barreiro e Fecho do Funil. O valor angular máximo desta discordância é de

cerca de 12.

Embora o Supergrupo Minas esteja separado do Supergrupo Rio das Velhas por

discordância estrutural e estratigráfica, o grau metamórfico que afetou o Supergrupo

Minas não difere muito da unidade sotoposta sendo caracterizada por metamorfismo da

fácies xisto-verde atingindo a fácies anfibolito nas porções leste, sudeste e nordeste do

Quadrilátero Ferrífero.

3.2 Geomorfologia e Intemperismo Regional

A região do Quadrilátero Ferrífero foi palco de eventos extensionais e compressionais

superpostos, responsáveis pela formação de megaestruturas, como sinclinais, anticlinais

e grandes falhamentos, que impactam por completo a evolução geomorfológica e a

conformação do relevo atual. Essas estruturas, articuladas em sinclinais e anticlinais,

foram reconfiguradas e invertidas pela erosão desde o Cretáceo, de modo que os

anticlinais correspondem atualmente aos vales dissecados e as sinclinais constituem

muitos dos alinhamentos serranos da região.

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44

Desta forma, o relevo regional apresenta uma grande diversidade de feições

morfológicas, com altitudes variando entre 900 e 1.600 m, chegando a 2.000 m na Serra

do Caraça. A região constitui um divisor de águas das Bacias do Rio São Francisco, que

drena para o norte com seu afluente, o Rio das Velhas, que corta toda a parte central do

Quadrilátero como principal eixo da drenagem, e a do Rio Doce, a leste. Sua paisagem

alpestre encontra-se na confluência entre Floresta Atlântica e Cerrado, cujos elementos

intercalam-se na paisagem em padrão intrincado (Carvalho Filho et al., 2010).

Em face das características climáticas locais, marcadas por temperaturas amenas e

índices pluviométricos moderados a elevados, a região é condicionada por processos

intensos e constantes de intemperismo, que induzem uma contínua reconfiguração do

relevo regional. Um exemplo típico destes processos compreende a geração dos corpos

lavráveis de minério de ferro de alto teor através da lixiviação de SiO2 (Dorr, 1964) e

principalmente dos carbonatos por águas superficiais. O processo de intemperismo

próximo à superfície é responsável também pela oxidação e hidratação da magnetita e,

em menor proporção, da hematita, formando uma crosta laterítica (canga). A

profundidade dessa crosta varia de alguns metros até dezenas de metros e protege as

formações ferríferas subjacentes da oxidação e hidratação permitindo maior efetividade

da lixiviação do SiO2.

A sequência idealizada desse processo, da base para o topo, seria da forma: itabirito

duro → itabirito friável → itabirito brando → hematita friável → canga (Rosière e

Chemale Jr., 2000). A Tabela 3.2 apresenta os principais produtos de intemperismo dos

itabiritos, com uma síntese de suas principais características.

Tabela 3.2 – Produtos do intemperismo de itabiritos (Rosière e Chemale Jr., 2000).

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45

Na região do Quadrilátero Ferrífero, são marcantes as interferências das litologias e dos

processos macroestruturais sobre a evolução do relevo (Varajão et al., 2009). Em

correlação com os padrões geológicos e geomorfológicos vigentes, que definem um

dado ambiente regional, os solos tendem a exibir naturezas, características e formas

diferenciadas de distribuição.

Em trabalho recente, Carvalho Filho et al. (2010) apresentaram uma síntese bastante

abrangente e integrada da relação solo-paisagem no âmbito da região do Quadrilátero

Ferrífero, e afirmam textualmente: “em termos de uma avaliação global, sobressai-se na

área em estudo o grande domínio de solos pouco evoluídos, com forte influência do

material de origem em suas características. Infere-se, portanto, uma preponderância

geral dos processos erosivos sobre a pedogênese, condicionada tanto pelo relevo, em

geral acidentado, como pela forte resistência ao intemperismo da maior parte das rochas

regionais...”

Estes aspectos apenas evidenciam que a abordagem da erodibilidade dos solos deve ser

centrada na análise dos condicionantes do fenômeno induzidas pelas características

geomorfológicas da área e/ou pela influência da ação do intemperismo regional, uma

vez que, em princípio, tal condição prevalece na região do Quadrilátero Ferrífero de

Minas Gerais como em outra qualquer. A superposição destas contribuições tende a ser,

em quaisquer casos, algo complexa e tende a explicar, em grande escala, a enorme

dispersão dos resultados encontrados na literatura técnica especializada.

Assim, ao se pretender estudar a influência específica dos solos quanto aos efeitos de

erodibilidade, impõe-se estabelecer um padrão de uniformidade dos maciços em termos

de condições geomorfológicas/ambientais similares. Neste contexto, o presente trabalho

aborda a erodibilidade de solos no âmbito de taludes de corte da região do Quadrilátero

ferrífero de Minas Gerais, estabelecendo como padrão de referência taludes

conformados por dois horizontes tipicamente distintos em relação à ação de processos

erosivos. Ao se estudar as variáveis geotécnicas que tenderiam a condicionar o

comportamento distinto de ambos os horizontes, a partir de uma mesma referência

espacial e ambiental, torna-se viável estabelecer correlações diretamente associadas às

naturezas específicas das formações locais.

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46

Esta condição de escolha dos pontos amostrados é justificada pela minimização da

interferência dos demais fatores que regulam o processo erosivo; assim, tanto o solo

resistente como aquele suscetível à erosão estão submetidos às mesmas condições

climáticas (precipitação, temperatura, vento e consequentemente a um mesmo fator de

erosividade), de inclinação, comprimento de rampa e cobertura vegetal. Portanto, o

desencadeamento do processo erosivo estaria fortemente associado ao próprio solo, ou

seja, ao fator de erodibilidade K da Equação Universal de Perda de Solos.

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47

CAPÍTULO 4 – TALUDES DE REFERÊNCIA, AMOSTRAGEM E

CAMPANHA EXPERIMENTAL

4.1 Taludes de Referência

Com base na exposição direta de dois horizontes distintos aos processos erosivos, foram

escolhidos quatro taludes de corte situados na região do Quadrilátero Ferrífero,

designados pelas iniciais do município mineiro no qual estão localizados (Figura 4.1):

talude Itabira (identificado por ITA), talude Vargem Alegre (identificado por VAR),

talude Ouro Branco (identificado por OBR) e talude Mariana (identificado por MRN).

Figura 4.1 – Localização dos taludes estudados na região do Quadrilátero Ferrífero.

(Modificado de Alkimin & Marshak, 1998).

4.1.1 Talude Itabira MG – 129 (ITA)

Trata-se de ponto de amostragem localizado às margens da Rodovia MG - 129, que liga

a cidade de Conselheiro Lafaiete a BR-120, nas proximidades do município de Itabira.

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48

O talude em questão encontra-se localizado mais precisamente na localidade de

Chapada dos Tanoeiros (Figura 4.2). O horizonte superior (HS) encontra-se bastante

preservado, ao passo que o horizonte inferior (HI) apresenta alguns sulcos subparalelos,

evidenciando processo degradacional erosivo.

Figura 4.2 – Talude de Itabira, localizado às margens da Rodovia MG – 129.

O talude é constituído por um solo residual de gnaisse dos complexos metamórficos de

idade arqueana do Quadrilátero Ferrífero, que podem apresentar também inclusões

anfibolíticas, migmatitos e granitos de composições variadas, associadas a um amplo

espectro de metamorfismo regional.

O horizonte superior é constituído por um solo de cor vermelho-amarronzada,

apresentando granulometria silto-arenosa, com presença de quartzo e magnetita em

frações milimétricas, disseminadas de forma esparsa na matriz argilosa. O horizonte

inferior do talude, por sua vez, é composto por um solo de cor roxa, variando a

vermelho esbranquiçado, com granulação muito fina. O mesmo encontra-se bastante

alterado, com bandamento visível, friável e sem coesão, apresentando início de

desenvolvimento do processo erosivo, além de possuir veios de quartzo com

declividade 105/59.

As amostras retiradas nos horizontes superior e inferior do talude foram identificadas,

respectivamente, como ITAHS e ITAHI.

ITAHS

HSHSSu

ITAHI

r

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49

4.1.2 Talude Vargem Alegre (VAR)

O talude em questão possui cerca de 4 m de altura e está localizado em uma estrada

vicinal próxima ao trevo do município de Vargem Alegre, nas proximidades das

localidades de Una e Bamba. É bastante evidente a indução de processo erosivo no

horizonte inferior do talude, com a formação de sulcos rasos, contínuos e generalizados

(Figura 4.3).

Figura 4.3 – Talude localizado no município de Vargem Alegre – MG

Trata-se de talude também inserido na zona dos complexos metamórficos de idade

arqueana do Quadrilátero Ferrífero. O horizonte superior (HS) é constituído por um solo

amarelo esbranquiçado de granulometria silto-arenosa. Além da presença de alguns

argilominerais, nota-se a presença de grânulos de caulim, quartzo e magnetita em

frações milimétricas, disseminada de forma esparsa em meio ao solo. O solo apresenta

baixa coesão e sua consistência varia de macia a levemente endurecida.

O horizonte inferior (HI) é composto por um solo muito alterado, sem resquícios de

estruturas originais aparentes (caracteristicamente um perfil de transição entre os

horizontes B e C do solo), com baixa coesão e forte inserção de sílica. Possui

granulometria variando de silte a areia muito fina e cor vermelho esbranquiçada.

As amostras retiradas nos horizontes superior e inferior deste talude foram identificadas,

respectivamente, como VARHS e VARHI.

VARHS

VARHI

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50

4.1.3 Talude Ouro Branco MG – 443 (OBR)

Talude localizado próximo às margens da Rodovia MG – 443, nas proximidades do

município de Ouro Branco, no sentido da Rodovia BR – 040. Sua porção superior

apresenta-se sobre forma de uma crosta fortemente laterizada, enquanto o horizonte

inferior apresenta coloração diferenciada e intensa degradação por processos erosivos

(Figura 4.4).

Figura 4.4 – Talude localizado no município de Ouro Branco – MG

O talude é conformado por solos residuais de xistos, filitos e formações ferríferas do

Grupo Nova Lima, unidade litoestratigráfica da base do supergrupo Rio das Velhas. O

horizonte superior (HS) é composto por um solo de cor marrom-avermelhada, de

granulometria variando de areia fina a areia média. Visualmente o solo possui maior

concentração de quartzo quando comparado ao seu horizonte inferior.

O horizonte inferior (HI) é composto por solo alterado de cor marrom clara, e

granulometria silto-arenosa, com níveis conglomeráticos diversos (nódulos e seixos

disseminados na matriz arenosa). As amostras retiradas nos horizontes superior e

inferior deste talude foram identificadas, respectivamente, como OBRHS e OBRHI.

4.1.4 Talude Mariana MG – 129 (MRN)

Trata-se de um talude localizado próximo à Mina de Alegria, às margens da Rodovia

MG-129, no sentido Mariana a Catas Altas. Apresenta processos erosivos avançados em

sua porção inferior, além da ausência de cobertura vegetal (Figura 4.5).

OBRHS

OBRHI

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51

Figura 4.5 – Talude localizado no município de Mariana – MG

O talude encontra-se subdividido em duas bancadas, sendo analisados os solos

componentes da bancada superior, que possui um horizonte superficial preservado do

restante do maciço, em franco processo erosivo. A bancada inferior é conformada pelo

mesmo solo que constitui o horizonte inferior da bancada superior, e encontra-se em

franco processo de degradação erosiva (foto à esquerda da Figura 4.5). O maciço local

está inserido em faixa transicional entre as unidades litoestratigráficas do Grupo

Piracicaba e do Grupo Sabará, formadas por clorita-xistos e filitos, no conjunto de

falhas chamado Sistema de Falhas Água Quente.

O horizonte superior (HS) é composto por um solo de granulometria muito fina, de

coloração marrom-amarelado, com presença de argilominerais, sericita e quartzo, além

de intensa atividade radicular e microbiológica. Este material apresenta-se muito

resistente ao processo erosivo e, neste, caso, foram coletadas amostras deformadas e

indeformadas do mesmo.

O horizonte inferior (HI) possui granulometria fina, com coloração variando de rosa

esbranquiçada a arroxeada, com níveis milimétricos ferruginosos em alguns pontos,

apresentando também quartzo, caulim, argilominerais outros minerais acessórios. Este

material mostra ainda feições de preservação da rocha original, com processo erosivo

em nível bastante avançado.

As amostras retiradas nos horizontes superior e inferior deste talude foram identificadas,

respectivamente, como MRNHS e MRNHI.

MRNHI

MRNHS

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52

4.2 Amostragem

Para a realização da campanha experimental dos ensaios de caracterização geotécnica,

química e mineralógica dos solos superficiais dos taludes selecionados, foram coletadas

amostras deformadas e indeformadas, de acordo com os procedimentos estabelecidos

pela norma NBR 9604 - Abertura de poço e trincheira de inspeção em solo, com

retirada de amostras deformadas e indeformadas (ABNT, 1986). É importante ressaltar

que as operações de amostragem destes taludes foram feitas em condições difíceis, uma

vez que a maioria deles está localizado nas margens de rodovias de tráfego intenso, e a

baixas distâncias do pavimento.

As amostras foram retiradas, no mesmo dia e em sequência direta, tanto do horizonte

resistente à erosão como do horizonte suscetível à mobilização intensa dos processos

erosivos, condição típica de cada talude em campo. As amostras deformadas,

representativas de cada horizonte, foram retiradas após limpeza superficial e remoção da

vegetação, e acondicionadas em sacos plásticos, convenientemente etiquetadas e

identificadas.

As amostras indeformadas foram coletadas sob a forma de blocos de dimensões 30 x 30

x 30 cm (Figura 4.6), posteriormente impermeabilizados por uma cobertura de parafina,

acondicionados convenientemente em caixas de madeira e transportados em seguida

para a câmara úmida do Laboratório de Mecânica dos Solos do CTGA – NUGEO, da

Escola de Minas da UFOP.

Figura 4.6 – Coleta de amostras indeformadas em campo.

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53

4.3 Ensaios de Caracterização Geotécnica

Todos os solos correspondentes aos horizontes superior e inferior dos taludes de corte

selecionados foram submetidos previamente a ensaios de caracterização geotécnica.

Estes ensaios compreenderam basicamente a determinação da granulometria dos solos,

e os valores característicos dos mesmos em termos de limite de liquidez, limite de

plasticidade e massa específica real dos grãos; neste propósito, foram preparadas

amostras conforme os procedimentos estabelecidos pela norma NBR 6457: Amostras de

solo – Preparação para ensaios de compactação e ensaios de caracterização (ABNT,

1984). Todos os ensaios foram realizados no Centro Tecnológico de Geotecnia

Aplicada (CTGA) do NUGEO (UFOP).

A análise granulométrica dos solos estudados foi realizada por processos de

peneiramento e de sedimentação (Figura 4.7), seguindo-se as prescrições da norma

NBR – 7181: Solo – Análise Granulométrica (ABNT, 1986). Para a classificação das

frações, ou seja, das correspondentes distribuições dos tamanhos dos grãos, utilizou-se a

escala NBR – 6502 (ABNT, 1995).

Figura 4.7 – Análise granulométrica dos solos analisados em laboratório

O ensaio para adeterminação da massa específica real dos grãos foi realizado pelo

método do picnômetro, de acordo com os procedimentos da norma NBR – 6508: Grãos

de solos que passam na peneira de 4,8 mm – Determinação da massa específica (ABNT,

1984).

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54

Os limites de consistência foram obtidos (Figura 4.8) por meio dos procedimentos

estabelecidos pelas suas normas brasileiras específicas: limite de liquidez, pela norma

NBR – 6459: Solo – Determinação do limite de liquidez (ABNT, 1984) e limite de

plasticidade, pela norma NBR – 7180: Solo – determinação do limite de plasticidade

(ABNT, 1984).

Figura 4.8 – Determinação dos limites de liquidez e plasticidade dos solos analisados

A avaliação da condutibilidade hidráulica dos solos foi feita a partir da moldagem de

corpos de prova indeformados (Figura 4.9), submetidos a ensaios de percolação sob

carga variável – Método B prescrito pela norma NBR – 14.545: Solo – Determinação do

coeficiente de permeabilidade de solos argilosos a carga variável (ABNT, 2000), sendo

utilizada uma argila plástica do tipo bentonítica como elemento de confinamento e

vedação do espaço situado entre o corpo de prova e as paredes do permeâmetro.

Figura 4.9 – Corpo de prova indeformado para ensaio de permeabilidade

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55

4.4 Ensaios de Caracterização Química

A análise química dos solos constitui procedimento de análise relevante, pois possibilita

caracterizar e aferir o impacto decorrente dos processos de lixiviação e de degradação

química dos solos na natureza e magnitude dos efeitos correspondentes dos processos

erosivos (Lepsch, 2002; Lafayete, 2006).

A caracterização química dos solos estudados foi feita por meio de uma análise conjunta

pelo método de fluorescência de raios x e análise química da fração ‘terra fina’, termo

utilizado para referir-se à fração do solo com partículas inferiores a 2 mm de diâmetro.

A análise pelos dois métodos faz-se necessária visto que a fluorescência se aplica às

espécies em maior concentração no solo, ou seja, é focada na presença dos elementos

mais significativos (e também apresenta limitações para a aferição de elementos com

baixos números atômicos). A avaliação da fração ‘terra fina’ complementa as análises,

por permitir a caracterização específica dos elementos que estão presentes em menor

concentração, comumente designados como elementos traços.

Os ensaios de fluorescência foram realizados no NanoLab – Laboratório de Microscopia

Eletrônica, Microanálises e Caracterização de Materiais da REDEMAT – Escola de

Minas da UFOP), para análise dos elementos SiO2, Al2O3, Fe2O3, MnO, MgO, Na2O,

K2O e TiO2, presentes nas frações dos solos inferiores a 0,075 mm (passante na peneira

#200). Nas análises, utilizou-se um espectrofotômetro de fluorescência de raios X por

energia dispersiva (EDS) da marca RayNy Shimadzu (Figura 4.10). Um moinho de sílica

foi o dispositivo utilizado para promover a redução dos grãos à granulometria pré-

estabelecida dos ensaios.

A análise da fração ‘terra fina’ dos solos foi realizada pela empresa CAMPO – Centro

de Tecnologia Agrícola e Ambiental, de acordo com as metodologias prescritas pelo

Manual de Métodos de Análise de Solo da Empresa Brasileira de Pesquisa

Agropecuária (Embrapa, 2011). Os ensaios consistiram na determinação dos seguintes

parâmetros químicos: capacidade de troca catiônica (CTC), pH em água e em solução

de KCl, teor de matéria orgânica, teores de potássio (K), sódio (Na), magnésio (Mg) e

cálcio (Ca), acidez potencial (H + Al) e percentual de saturação por bases (V%).

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56

Figura 4.10 – Preparo de amostras e equipamento utilizado para ensaios de

fluorescência

Com o objetivo de se analisar a mineralogia da fração argila presente nos solos, foram

realizados ainda ensaios de difratometria de raios x no Laboratório de Difração de Raios

X do Departamento de Geologia (DEGEO) da Universidade Federal de Ouro Preto

(UFOP), pelo método do pó e para a argila coloidal. De forma similar ao ensaio de

fluorescência, foram utilizadas nestes ensaios amostras integralmente passantes na

peneira n° 200 (abertura 0,075 mm).

Para a avaliação da microestrutura dos solos, amostras dos mesmos foram submetidas a

análises por microscopia eletrônica de varredura (MEV). Os ensaios foram realizados

no NanoLab – Laboratório de Microscopia Eletrônica, Microanálises e Caracterização

de Materiais, da REDEMAT da Escola de Minas da UFOP. Foram utilizadas amostras

agregadas (torrões) de pequenas dimensões, provenientes do desprendimento do bloco

indeformado, e posteriormente observadas em aumentos de 500 a 3.000 x. Salienta-se

que este tipo de amostra pode ser empregado nas análises desde que não perca a sua

integridade quando submetida ao vácuo imposto pelo equipamento, o que permite, desta

forma, inferir a microestrutura dos solos de maneira muito próxima à condição real de

campo.

4.5 Ensaios da metodologia MCT

As amostras de solos coletadas foram submetidas aos ensaios de referência da

metodologia MCT, a saber: ensaio de compactação segundo o procedimento Mini-MCV

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57

(Moisture Condition Value) e ensaio de perda de massa por imersão. Estes ensaios

forma realizados pela empresa Pattrol – Investigações Geotécnicas Ltda.

As amostras foram preparadas de acordo com a norma DNER-ME 228: Solos -

Compactação em equipamento miniatura (DNER, 1994). Para tal, foram preparadas

cinco porções de cada solo, com 500 g cada, e homogeneizadas em diferentes teores de

umidade. Terminada esta etapa, as amostras foram colocadas em sacos plásticos e

acondicionadas em câmara úmida por um período de 24 horas.

Após o período de repouso, foram realizados os ensaios de compactação em miniatura.

Inicialmente, as paredes internas dos moldes cilíndricos foram lubrificadas com

vaselina, e inseridos discos de polietileno e um anel metálico para se evitar o contato

entre o solo e o metal. Posteriormente, foram depositados cerca de 200 g de material no

molde e iniciada a compactação do material (Figura 4.11), de acordo com a sistemática

e a sequência de golpes prescrita pela norma DNER-ME 228: Solos - Compactação em

equipamento miniatura (DNER, 1994).

Figura 4.11 – Preparo de amostras e compactação do solo pelo ensaio Mini – MCV.

Em seguida, os corpos de prova foram deslocados de maneira que o topo (superfície que

esteve em contato com o soquete de compactação) fosse exposto de 10 mm em relação

ao molde, por meio de operação suave e contínua. Após a extrusão, o corpo de prova foi

imposto à imersão em água por um período de cerca de 20 horas (Figura 4.12),

conforme disposições da norma DNER – ME 256: Solos compactados em equipamento

miniatura – determinação da perda de massa por imersão (DNER, 1994).

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58

Figura 4.12 – Execução de ensaios de perda de massa por imersão.

Após a realização do ensaio de perda de massa por imersão, os solos eventualmente

desprendidos foram secos em estufa e pesados, obtendo-se o percentual em relação à

massa saliente de 10 mm. De posse dos resultados da perda de massa por imersão e do

mini – MCV, foram obtidos os coeficientes e’, d’ e c’ que permitiram a classificação

geotécnica dos solos estudados pela metodologia MCT.

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59

CAPÍTULO 5 – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS

5.1 Parâmetros de Caracterização Geotécnica

Conforme exposto no capítulo anterior, foram coletadas amostras de quatro taludes de

corte da região do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, conformados tipicamente

pela mesma estruturação estratigráfica: um horizonte superior (HS) resistente à erosão e

um horizonte inferior (HI) muito suscetível à erosão. Estas amostras foram submetidas a

uma avaliação geotécnica global, baseada em ensaios de laboratório convencionais, para

fins de uma potencial associação com a erodibilidade destes solos.

Uma primeira propriedade avaliada consistiu na análise granulométrica dos solos, com

base na distribuição das frações dos tamanhos das partículas presentes e nos parâmetros

de granulometria coeficiente de curvatura e coeficiente de não uniformidade. A Tabela

5.1 sistematiza os resultados das análises granulométricas e destes parâmetros para os

solos estudados pelas técnicas de peneiramento grosso, peneiramento fino e

sedimentação, com utilização de aditivo defloculante.

Tabela 5.1 – Análise granulométrica dos solos estudados

Solo

Granulometria (Escala ABNT NBR 6502/1995)

Cc* Cu

** Argila

(%)

Silte

(%)

A. Fina

(%)

A. Média

(%)

A. Grossa

(%)

Pedreg.

(%)

ITAHS 10,0 40,2 43,6 4,6 1,4 0,2 1,6 45,0

ITAHI 7,5 47,5 24,2 8,5 4,2 8,1 1,0 19,5

VARHS 7,1 64,4 22,0 4,7 0,7 1,1 0,5 3,2

VARHI 6,9 61,4 25,7 4,6 1,0 0,4 0,5 7,5

OBRHS 10,5 21,3 49,1 11,4 4,3 0,4 3,2 65,0

OBRHI 7,7 83,8 3,0 3,7 1,3 0,5 1,0 1,9

MRNHS 6,0 62,8 17,7 2,0 2,9 8,6 0,5 4,8

MRNHI 7,8 44,2 27,6 16,9 3,4 0,1 0,3 11,0

*Cc − coeficiente de Curvatura;

**Cu − Coeficiente de Não Uniformidade.

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60

As frações de areia e silte tendem a ser predominantes e, em alguns casos, com

significativa concentração de pedregulho, como nos solos ITAHI e MRNHS. É

interessante ressaltar a reduzida variação dos teores de argila entre os horizontes

resistente e o suscetível à erosão, para todos os solos analisados. Tomadas variações

relativas entre percentuais de silte ou de areia fina, por exemplo, observa-se um padrão

de erodibilidade totalmente independente de alguma tendência específica. Neste sentido,

uma constatação imediata é óbvia: a granulometria, considerada isoladamente, não

constitui parâmetro definidor das características de erodibilidade de um dado solo,

devendo, portanto, ser inserida num contexto maior de fatores influenciantes na

natureza e na magnitude dos processos erosivos.

Assim, por exemplo, os horizontes HS e HI dos solos ITA e VAR apresentam variações

inexpressivas da fase silte, ao passo que tal variação é muito significativa para os

horizontes do solo OBR. Analogamente, a uma variação inespecífica da fase areia fina

(partículas com diâmetro compreendido entre 0,06 e 0,2 mm) do solo VAR, constata-se

um comportamento igualmente discrepante da erodibilidade para os horizontes do solo

OBR, para o qual estas frações são completamente diversas.

Analisemos a influência da granulometria em termos dos coeficientes de não

uniformidade (Cu) e de curvatura (Cc), que expressam padrões de uniformidade (ou não

uniformidade) e de graduação dos solos, respectivamente. Hénensal (1987) estabeleceu,

por exemplo, um critério de erodibilidade, para solos de regiões de clima temperado,

baseado no coeficiente de não uniformidade (Cu); solos com Cu < 5 seriam considerados

erodíveis, 5 < Cu < 15 seriam solos de erodibilidade média e solos apresentando Cu >

15, pouco erodíveis. Outros autores afirmam que solos mal graduados são mais

suscetíveis ao desencadeamento dos processos erosivos.

Os resultados da Tabela 5.1 não corroboram nenhuma destas observações e os valores

destes parâmetros, considerados isoladamente, são absolutamente inconsistentes para a

formulação de uma diretriz geral de resposta do solo à erodibilidade. Entretanto, é

interessante constatar os baixos valores de Cc, tipicamente Cc 1,0, para horizontes de

suscetibilidade à erosão (sem, entretanto, tal variação implicar necessariamente uma

tendência geral).

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61

Os valores dos coeficientes de não uniformidade Cu dos quatro grupos de solos estão

apresentados na Figura 5.1. As variações deste parâmetro foram máximas para o solo

OBR e mínimas para o solo VAR, com tendências de variações opostas. Note-se que

não se caracteriza nem mesmo um dado padrão de variação, ou uma faixa típica de

valores; os resultados evidenciam que este parâmetro é irrelevante na consideração

integrada dos efeitos de erodibilidade dos solos estudados. No âmbito do estudo,

evidencia-se que o parâmetro Cc tende a ser bem mais efetivo que o coeficiente de não

uniformidade Cu na abordagem preliminar do potencial de erodibilidade dos solos do

Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais.

Figura 5.1 – Valores dos coeficientes de não uniformidade (Cu) dos solos analisados

A Tabela 5.2 sistematiza os valores de alguns índices físicos calculados para os solos

estudados, a saber: peso específico das partículas sólidas (γs), umidade natural (w), grau

de saturação (S), índice de vazios (e) e porosidade (n) para as condições de campo.

Os parâmetros peso específico das partículas sólidas (γs), índice de vazios (e) e

porosidade (n) apresentam variações pouco expressivas para ambos os horizontes, a não

ser para as condições de compacidade in situ do horizonte inferior do solo MRN (valor

e = 0,654 para uma porosidade correspondente n = 39,5 %). Esta maior compacidade

ocorre por se tratar de um solo saprolítico de filito, que preserva muitas das feições da

rocha original.

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

ITA VAR OBR MRN

Co

efi

cie

nte

de

Un

ifo

rmid

ade

(C

u)

Amostra

Horizonte Superior (Hs)

Horizonte Inferior (Hi)

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62

Tabela 5.2 – Índices físicos dos solos estudados

Solo

Índices Físicos

γs (kN/m³) w (%) S (%) e n (%)

ITAHS 26,5 26,1 47,5 1,459 59,3

ITAHI 26,7 14,6 32,5 1,198 54,5

VARHS 25,9 26,2 48,1 1,202 54,6

VARHI 26,2 19,1 40,7 0,987 49,7

OBRHS 28,3 31,7 66,5 1,349 57,4

OBRHI 28,9 24,1 51,7 1,226 55,1

MRNHS 29,2 32,8 59,7 1,606 61,6

MRNHI 27,7 13,2 56,1 0,654 39,5

Os parâmetros umidade natural (w) e grau de saturação (S) tendem a ser

sistematicamente menores para os horizontes inferiores, fato que pode ser associado

diretamente à maior superfície de exposição destes solos em profundidade, ao longo das

variadas feições erosivas ao longo do talude. Salienta-se ainda que algumas amostras

apresentam saturação elevada, superiores a 60%, devido ao ganho de umidade oriundo

de eventos pluviométricos ocorridos previamente à data de amostragem.

A Tabela 5.3 apresenta os resultados dos índices de consistência obtidos para os solos

estudados, bem como os valores dos índices de atividade e da relação entre índices de

plasticidade e da porcentagem de finos (argila + silte) presentes nos solos. Neste caso,

impõe-se uma primeira diretriz geral que parece confirmar uma tendência: os valores

dos limites de liquidez foram sistematicamente elevados para os horizontes resistentes à

erosão, ao passo que os índices de plasticidade tenderam a ser sistematicamente

menores para os horizontes suscetíveis aos processos erosivos (Figura 5.2).

Com efeito, os valores de LL variaram entre 47,5% (solo MRN) e 69,3% (solo ITA)

para os horizontes superiores; enquanto os valores de IP caracterizaram os horizontes

suscetíveis à erosão como materiais de baixa plasticidade (6,4% IP 9,3%) a não

plásticos (solo MRN). Diversos autores (Henénsal, 1987; Bastos, 1999; Camapum de

Carvalho et al., 2006) postulam que solos com elevados valores de IP são menos

erodíveis, à exceção dos chamados solos dispersivos.

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63

Tabela 5.3 – Limites de consistência, atividade e relação (IP / % finos) dos solos

Solo LL

(%)

LP

(%) IP Plasticidade Atividade IP / % Finos

ITAHS 69,3 30,6 38,7 Alta 3,87 0,77

ITAHI 38,9 32,5 6,4 Baixa 0,85 0,12

VARHS 60,3 33,3 27,0 Alta 3,80 0,38

VARHI 40,3 31,0 9,3 Baixa 1,35 0,13

OBRHS 52,1 34,5 17,6 Média 1,68 0,55

OBRHI 57,1 50,3 6,8 Baixa 0,88 0,07

MRNHS 47,5 36,9 10,6 Média 1,67 0,15

MRNHI 28,3 NP - NP - -

NP* – Não Plástico.

Figura 5.2 – Índices de Plasticidade dos solos estudados

A plasticidade de um solo está diretamente relacionada com a mineralogia da fração

fina presente, mediante uma série de fenômenos físico-químicos de interação complexa.

Para correlacionar indiretamente estas influências, foram estimados os valores dos

índices de atividade e da relação entre IP e a porcentagem de finos (argila + silte)

presentes em cada solo (Tabela 5.3).

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

35,0

40,0

45,0

ITA VAR OBR MRN

Índ

ice

de

Pla

stic

idad

e (

%)

Amostra

Horizonte Superficial (HS)

Horizonte Inferior (HI)

NP

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64

Em relação aos horizontes resistentes, os índices de atividade foram sistematicamente

maiores que 1,25 (variando entre 1,67 para o solo MRN até 3,87 para o solo ITA),

caracterizando uma tendência geral de valores mais elevados do que aqueles associados

aos horizontes não resistentes. Uma condição particular ocorreu para o solo MRNHI,

que não exibiu características de plasticidade, sendo, então, identificado como NP –

‘Não Plástico’. A relação IP / % finos (fração argila + silte da Tabela 5.1) evidencia que

valores inferiores a 0,15 poderiam indicar uma tendência de suscetibilidade do solo à

erosão.

Com os dados das análises granulométricas, índices físicos e plasticidade dos solos

estudados, foram estabelecidas as suas respectivas classificações geotécnicas (Tabela

5.4): textural, Sistema Unificado de Classificação de Solos (SUCS) e da Associação

Americana de Rodovias Estaduais e Autoridades de Transportes (AASHTO).

Tabela 5.4 – Classificação Textural, SUCS e AASHTO dos solos estudados

Solo

Classificação de Solos

Textural SUCS AASHTO

ITAHS Areno - siltoso MH A-7-5

ITAHI Silto - arenoso ML A-4

VARHS Silto - arenoso MH A-7-5

VARHI Silto - arenoso ML A-4

OBRHS Areno - siltoso MH A-7-5

OBRHI Siltoso MH A-5

MRNHS Silto - arenoso ML A-5

MRNHI Silto - arenoso ML A-4

MH − Silte de elevada plasticidade; ML − Silte de baixa plasticidade.

De acordo com Llopis Trillo (1999), a suscetibilidade com base na classificação SUCS

para fins de caracterização da maior erodibilidade dos solos é definida pela sequência

MH SC SM ML (Tabela 2.1). Este padrão é ratificado para os solos ITA e

VAR, mas é inconsistente para a análise do comportamento distinto dos horizontes dos

solos OBR e MRN, que apresentam a mesma classificação pelo sistema.

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65

No âmbito do sistema AASHTO de classificação AASHTO, solos A-7-5 tipificam

horizontes resistentes e solos A-4 corresponderiam a materiais com baixa estabilidade

frente aos processos erosivos. Solos classificados como A-5 seriam intermediários,

podendo caracterizar tanto materiais resistentes (solo MRN) como não resistentes (solo

OBR) à erosão.

A Tabela 5.5 apresenta os resultados dos ensaios de condutividade hidráulica relativos

aos solos analisados, sob carga hidráulica variável. Em geral, os coeficientes de

permeabilidade dos solos suscetíveis à erosão foram inferiores às dos horizontes

resistentes (valores típicos entre 10-4

e 10-6

cm/s).

Tabela 5.5 – Parâmetros de porosidade e permeabilidade dos solos estudados

Solo n (%) k (cm/s) Snat (%) Sfinal (%) Fluxo

Preferencial

ITAHS 59,3 2,05 x 10-4

0,48 0,84 Sim

ITAHI 54,5 3,66 x 10-6

0,33 1,00 -

VARHS 54,6 1,12 x 10

-5 0,65 0,99 -

VARHI 49,7 1,30 x 10-5

0,52 1,00 Sim

OBRHS 57,4 1,09 x 10

-4 0,67 0,80 Sim

OBRHI 55,1 3,97 x 10-6

0,52 0,99 -

MRNHS 61,6 1,02 x 10

-4 0,60 0,99 -

MRNHI 39,5 8,20 x 10-7

0,56 1,00 -

n − porosidade;

Snat − saturação natural (antes do ensaio); Sfinal − saturação ao final do ensaio;

k − coeficiente de permeabilidade (cm/s).

Os ensaios realizados mostraram uma tendência de fluxo preferencial no caso dos solos

ITAHS, VARHI e OBRHS, ao longo de macroporos interconectados, facilmente

identificáveis na superfície superior dos corpos e prova ensaiados, pelo aparecimento de

bolhas de surgência concentrada (Figura 5.3). Este processo, mais comum do que se tem

registrado, é resultante da presença de feições radiculares extensas (condição mais

comum no caso de horizontes mais superficiais dos taludes) ou em função da existência

de feições mátricas descontínuas por anisotropias de alteração no caso de horizontes

mais profundos (horizontes inferiores).

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66

Figura 5.3 – Caracterização de fluxo preferencial durante os ensaios de permeabilidade.

5.2 Parâmetros de Caracterização Química

5.2.1 Análise Química da Fração ‘Terra Fina’

A Tabela 5.6 apresenta os resultados das análises químicas realizadas para a fração

‘terra fina’ (dimensões de partículas inferiores a 2,0 mm) dos solos analisados, que

contemplaram ensaios de pH (em H20 e KC), capacidade de troca catiônica (CTC),

teores de cátions (Ca, Mg, Na e K), acidez potencial, volume de saturação por bases

(V%) e teores de matéria orgânica.

A partir dos dados obtidos para o pH em solução de KC e em água, foi calculado o

parâmetro ∆ pH, dado por: ∆ pH = pH KC – pH água. Um valor negativo de ∆ pH indica

uma predominância de argilas silicatadas e, consequentemente, de cargas negativas no

solo, enquanto que valores positivos de ∆ pH estão relacionados com o predomínio nos

solos com óxidos de ferro e alumínio.

O valor do parâmetro ∆ pH constitui também um indicativo da quantidade de alumínio

intercambiável: valores negativos estão associados a uma elevada concentração deste

cátion no solo, ou seja, a determinação do ∆ pH indica se o alumínio presente está

vinculado em sua maior parte à sua fração intercambiável ou não (Kiehl, 1979 apud

Lima, 2003).

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67

Tabela 5.6 – Valores pH, CTC total, teores de cátions Ca, Mg, Na e K, acidez potencial, volume de saturação de bases e matéria orgânica

Solo

pH

CTC total

(cmolc/dm³)

Teores de Sais Dissolvidos

V

(%)

H + Al

(cmolc/dm³)

M. O.

(dag/Kg) H2O KCl ∆ pH

Ca+2

(cmolc/dm³)

Mg+2

(cmolc/dm³)

Na+

(mg/dm³)

K+

(mg/dm³)

ITAHS 4,8 4,3 -0,5 5,1 0,70 0,20 11,5 26,4 20,0 4,1 1,0

ITAHI 5,1 4,1 -1,0 1,7 0,20 0,20 6,9 24,8 29,0 1,2 0,2

VARHS 4,3 4,1 -0,2 4,0 0,20 0,10 8,1 27,4 10,0 3,6 0,8

VARHI 5,5 4,4 -1,1 1,7 0,10 0,10 6,9 12,3 12,0 1,5 0,1

OBRHS 6,0 5,5 -0,5 5,9 2,40 0,30 13,8 51,2 47,0 3,1 1,9

OBRHI 5,2 4,6 -0,6 2,4 0,20 0,10 9,2 9,8 12,0 2,1 0,2

MRNHS 4,8 4,3 -0,5 3,0 0,10 0,10 9,2 19,0 7,0 2,8 0,6

MRNHI 5,2 4,2 -1,0 0,9 0,10 0,10 6,8 11,0 29 0,5 0,1

sendo: ∆ pH = pH KC – pH H20;

CTC total − Capacidade de troca catiônica em pH = 7,0 (cmolc/dm³ = meq/100cm³ = meq/100g);

H + Al − Acidez potencial (cmolc/dm³);

V% − Volume por saturação de bases;

M. O. − Matéria orgânica (dag/Kg = %);

Obs.: mg/dm³ = mg/Kg = ppm.

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68

Os valores de pH em solução de KC foram inferiores aos encontrados em água, ou

seja, o parâmetro ∆pH das amostras é inferior a zero, indicando predomínio de cargas

negativas nos solos, além de grande concentração de alumínio intercambiável. O ∆ pH

de um solo também está relacionado ao grau de intemperismo, de modo que valores

positivos referem-se a solos extremamente intemperizados, com concentrações elevadas

de óxidos de ferro e alumínio em sua composição. Não foram obtidos valores positivos

de ∆ pH, porém, os solos apresentam uma tendência de diminuição do módulo do ∆pH

nos horizontes subsuperficiais (menos negativos), que se apresentam, portanto, mais

intemperizados, sendo caracterizados por uma maior resistência à erosão.

Outra importante propriedade analisada foi a capacidade de troca catiônica (CTC),

comumente definida como a capacidade que os coloides do solo possuem para reter

cátions, sendo diretamente dependente da quantidade de cargas negativas presentes

(Lima, 2003). Os valores encontrados para CTC de um solo estão diretamente

relacionados ao argilomineral e à matéria orgânica presente (Tabela 5.7).

Tabela 5.7 – Valores de CTC (adaptado de Brady e Weil, 2010)

Componentes do solo CTC total

(meq/100ml)

Argilas oxídicas (óxidos de Fe e Al) 4,0

Argilas 1:1 (caulinita) 8,0

Argilas 2:1 micáceas (ilita) 30

Argilas 2:1 do tipo vermiculita 150

Argilas 2:1 do tipo esmectita 100

Coloides orgânicos (húmus) 200

Os valores da capacidade de troca catiônica dos solos analisados foram baixos, variando

entre 0,9 e 5,9 cmolc/dm³, relativamente mais elevados nos horizontes superiores

(variação entre 3,0 e 5,9 cmolc/dm³) quando comparados com os horizontes inferiores

(variação entre 0,9 e 2,4 cmolc/dm³). Estes dados evidenciam as diferenças de potencial

da influência da capacidade catiônica dos solos analisados, dependente também, em

certa escala nos horizontes superiores, pela presença de teores mais elevados de matéria

orgânica.

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69

Diferentes pesquisadores têm buscado estabelecer correlações entre concentrações de

matéria orgânica presentes nos solos e índices de erodibilidade; uma das dificuldades

neste propósito é estabelecer o teor mínimo capaz de afetar a estabilidade dos agregados

e, consequentemente, ser diretamente associado ao início do processo erosivo.

Greeland et al. (1975) propuseram um valor de 3,5% para inferir esta condição de

instabilidade dos solos pela concentração de matéria orgânica. Para Ploey e Poesen

(1985), este valor seria de 2,0. Para todos os solos estudados, os teores de matéria

orgânica foram inferiores a 2,0%, independentemente de sua condição de locação no

horizonte superior ou no horizonte inferior dos taludes. O fato concreto é que estes

teores foram bastante reduzidos para os horizontes suscetíveis aos processos erosivos

(valores entre 0,1% e 0,2%).

Com efeito, Lepsch (2011) afirma que a capacidade de troca catiônica de um solo é

dependente de quatro variáveis: quantidade de argila presente (quanto maior sua

concentração, maior a CTC); a quantidade de matéria orgânica (por ser também uma

importante fonte de cargas negativas); o tipo de argila (existem argilas menos ativas –

por exemplo argilas 1:1 e argilas mais ativas – por exemplo, argilas 2:1); pH do solo

(quanto mais ácido o solo, menor o valor de sua CTC). A Figura 5.4 ratifica a

correlação de dependência da quantidade da matéria orgânica sobre a magnitude da

CTC dos solos analisados.

Figura 5.4 – Relação entre capacidade de troca catiônica x teores de matéria orgânica.

y = 0,3314x - 0,4108

R² = 0,8885

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

0,0 2,0 4,0 6,0

M. O

. (d

ag/k

g)

CTC (cmolc/dm³)

ITAHS

ITAHI

VARHS

VARHI

OBRHS

OBRHI

MRNHS

MRNHI

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70

O Valor V (%) indica o complexo de saturação de bases adsorventes no solo, sendo

representado pela soma dos cátions Ca+2

, Mg+2

, Na+ e K

+. O estudo desta variável está

comumente relacionado à disponibilidade de nutrientes para o crescimento vegetal,

porém é um parâmetro indireto para análise de outras características importantes do

solo. Segundo Brady (1979), solos com V inferiores a 80% podem ser considerados

ácidos, condição verificada para os solos estudados, visto a elevada concentração do

cátion alumínio (Al+3

), indicada pelo parâmetro acidez potencial.

A acidez do solo está estritamente relacionada com o processo de intemperismo;

segundo Bohn et al. (1979), em ambientes jovens, os minerais 2:1 dioctaedrais ainda

não sofreram intemperismo suficiente para liberar Al das lâminas octaedrais. A partir

deste ponto, a dissolução parcial destes minerais 2: 1 libera grande quantidade de Al no

solo, reduzindo o pH. Após esta etapa, ocorre a neoformação da caulinita a partir do

silício e do alumínio liberados e, posteriormente, o íon Al é estabilizado na estrutura da

gibbsita. De certa forma, pode-se associar este parâmetro ao intemperismo e,

consequentemente, à erosão, sendo que solos com acidez potencial elevada, associados

à presença dos argilominerais caulinita e gibbsita, estariam em elevado grau de

intemperismo, característica também evidenciada pelos altos teores de óxidos de ferro e

alumínio presentes, conferindo estabilidade aos agregados e resistência do solo à erosão.

5.2.2 Ensaios de Fluorescência de Raios X

Os resultados dos ensaios geoquímicos por fluorescência de raios x, realizadas para os

elementos primários (SiO2, Al2O3, Fe2O3, TiO2, MnO, K2O, SO3), estão sistematizados

na Tabela 5.8. Todas as análises foram realizadas em amostras integralmente passantes

na peneira de n° 200. A tabela apresenta também os valores correspondentes para as

relações moleculares Ki e Kr (Embrapa, 2011), que são utilizadas para indicar o estágio

de intemperização de um dado solo, conforme as seguintes expressões:

(5.1)

(5.2)

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71

Tabela 5.8 – Teores de óxidos determinados por fluorescência de raios x

Solo Elementos Primários (%)

SiO2 Al2O3 Fe2O3 TiO2 K20 MnO SO3 Ki Kr

ITAHS 29,59 33,63 31,45 2,26 1,05 0,14 1,75 1,50 0,94

ITAHI 43,40 32,12 14,97 1,49 6,57 0,12 1,22 2,30 1,77

VARHS 35,71 41,31 16,14 1,69 2,41 0,07 1,99 1,47 1,18

VARHI 40,46 39,33 12,22 1,30 3,99 0,05 2,12 1,75 1,46

OBRHS 21,27 50,83 24,02 2,32 0,00 0,00 1,17 0,71 0,55

OBRHI 31,46 43,78 21,48 1,90 0,09 0,06 1,10 1,22 0,93

MRNHS 39,91 42,37 10,38 0,69 5,47 0,15 0,86 1,60 1,38

MRNHI 46,51 39,59 6,26 0,34 6,58 - 0,69 2,00 1,81

Estes índices apresentam boa correlação com o grau de intemperismo do solo, visto que

o silício (Si) tem maior mobilidade, em detrimento do ferro (Fe) e do alumínio (Al) que

são de baixa mobilidade. Os índices Ki e Kr estão fundamentados no processo de

evolução dos solos, onde a fração fina, extremamente intemperizada em função da

decomposição da mica e dos feldspatos, formando a caulinita, que posteriormente será

convertida para gibbsita (Farias, 2012).

Desta forma, quanto menores as relações moleculares Ki e Kr, maior será o grau de

intemperismo do solo. Sendo o valor de Ki para a caulinita estabelecido como igual a 2

entre os solos muito intemperizados, então convencionou-se que a relação Ki ≤ 2 indica

solos muito intemperizados, entretanto Ki ≥ 2 são solos ditos pouco intemperizados

(Farias, 2012). O índice de Ki igual a 2 também dá uma boa ideia do tipo de

argilomineral presente no solo; valores superiores a 2,0 indicam a presença de argilas do

tipo 2:1 (como vermiculita e montmorilonita) e valores de Ki abaixo de 2,0 indicam que

parte do alumínio se encontra livre na forma de óxidos, como a gibbsita (Lepsch, 2011).

Outros autores, como Resende e Santana (1988), buscaram correlacionar os valores das

relações Ki e Kr ao argilomineral dominante na fração argila, bem como à presença de

sesquióxidos de ferro e alumínio, caracterizando os chamados solos oxídicos (ou bem

intemperizados).

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72

Estas correlações foram aplicadas aos solos estudados (Figura 5.5), obtendo-se valores

de Ki ≤ 2 para todos os solos, exceção feita ao solo ITAHI, com faixa de domínio

generalizado de argilominerais caulínicos, exceção feita ao solo OBR, que indica uma

tendência de migração dos horizontes mais intemperizados para a faixa rica em gibbsita

e demais óxidos de ferro e alumínio.

Figura 5.5 – Correlação entre valores de Ki e Kr e natureza do argilomineral dominante.

Os dados obtidos demonstram, por outro lado, que os horizontes subsuperficiais

(superiores) encontram-se em processo de intemperismo mais avançado em relação aos

solos dos horizontes inferiores, fato evidenciado pelos teores de SiO2, Al2O3, Fe2O3 e

TiO2, bem como pelos menores valores de Ki e Kr. Esta condição foi particularmente

crítica para o horizonte OBRHS, que apresentou os valores mínimos de Ki e Kr. Os

horizontes superiores tendem a apresentar menores teores de SiO2 e maiores percentuais

de Al2O3 e Fe2O3, fato justificado pela pedogênese, que envolve a alteração química dos

minerais, e o fenômeno da laterização, que implica na migração de íons entre os

horizontes do solo, variáveis que contribuem para a formação de novos argilominerais e

aumento da cimentação das partículas pela ação dos óxidos de ferro e alumínio.

Outros óxidos importantes nesta análise são aqueles relacionados ao potássio, uma vez

que estes estão associados à presença de argilominerais do tipo 2:1 (como, por exemplo,

a ilita); assim, solos com maiores teores de óxidos de potássio apresentam-se pouco

intemperizados e, consequentemente, mais suscetíveis à erosão, fato corroborado para

as amostras estudadas.

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3

Kr

Ki

ITAHS

ITAHI

VARHS

VARHI

OBRHS

OBRHI

MRNHS

MRNHI

Cauliníticos

Gibbsítico e

Oxídico Caulinítico-oxídico

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73

5.2.3 Ensaios de Difração de Raios X

Os resultados dos ensaios de difratometria estão apresentados na Tabela 5.9. Conforme

a metodologia exposta previamente, os ensaios foram realizados a partir de amostras da

fração pó total e da argila coloidal, esta última composta pela análise de difratograma da

argila em seu estado natural (normal), glicolada e aquecida. Observa-se que os solos

estudados são basicamente compostos por caulinita e quartzo, apresentando óxidos de

ferro e alumínio em sua composição. Em alguns casos, nota-se a presença de minerais

potássicos em diversos graus de alteração, sendo mais comuns as micas e o feldspato.

Tabela 5.9 – Caracterização mineralógica dos solos analisados por difratometria de

raios x (fração pó total e da argila coloidal)

Minerais

Identificados

Solo

ITAHS ITAHI VARHS VARHI OBRHS OBRHI MRNHS MRNHI

Caulinita X X X X X X X X

Quartzo X X X X X X X

Mic

as /

Esm

ecti

tas Muscovita X X X X X X

Ilita X X X X X

Vermiculita X

Esmectita X X

Feldsp. K X X X X

Hematita X X X X X X X X

Magnetita X X X

Goethita X X X

Gibbisita X X X X X X X X

Crissotila/Antigorita X X

Zeólitos X X

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74

Os solos saprolíticos apresentaram-se, além de caulinita e do quartzo, micáceos,

essencialmente compostos por ilita, mas também por muscovita, vermiculita, fengita e

flogopita. Estes solos também apresentam feldspato potássico em elevado grau de

alteração, justificando os elevados teores de óxidos de potássio na fluorescência quando

comparados com os horizontes subsuperficiais.

No horizonte superior do solo amostrado no município de Itabira (ITAHS), foram

encontrados traços de vermiculita, argilomineral expansível do tipo 2:1 com elevada

distância interplanar. A presença destes argilomineral pode ser associada à elevada

plasticidade apresentada por este solo (Tabela 5.3), conferindo ao mesmo uma elevada

resistência ao processo erosivo.

Quando submetidos ao intemperismo químico, os minerais componentes de uma rocha

alteram-se de formas diferentes, de maneira que alguns se intemperizam mais

rapidamente que outros. A estabilidade de um determinado mineral frente ao

intemperismo depende da dureza, clivagem, expansibilidade, solubilização, área

superficial específica, tamanho do grão e das condições do ambiente na qual estão

inseridos (Melo e Alleoni, 2009). Examinando partículas de dimensão areia e argila,

Goldich (1938) desenvolveu uma sequência de estabilidade baseada na série de

cristalização dos minerais em rochas ígneas, estabelecida por Bowen (1928). A Figura

5.6 apresenta um resumo adaptado desta sequência de estabilidade.

Figura 5.6 – Ordem de estabilidade dos minerais, adaptado de Goldich (1938).

Óxidos de Ferro

Hidróxidos de Ferro

Quartzo

Argilominerais

Muscovita

Feldspato K

Biotita

Albita

Anfibólio

Piroxênio

Anortita

Olivina

Calcita

Esta

bilid

ad

e d

os M

inera

is

Velo

cid

ad

e d

o In

tem

perism

o

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75

Minerais situados na parte superior do diagrama são resistentes ao intemperismo e

consequentemente à erosão, tais como os óxidos e hidróxidos de ferro, quartzo e

argilominerais, representados basicamente pela caulinita. A partir do diagrama, também

é verificado que o feldspato potássico (microclíneo) possui maior suscetibilidade à

degradação quando comparado à muscovita, óxidos de ferro e argilominerais em geral.

Desta forma, por meio da composição mineralógica dos solos estudados, pode-se inferir

sobre seu grau de intemperismo, ratificando a tendência geral dos horizontes superiores

mostrarem-se mais intemperizados.

A alteração de um determinado mineral não é função apenas de suas características

estruturais, mas também das diversas condições do ambiente no qual se encontra. Logo,

à medida que os solos evoluem, sua composição mineral começa a depender mais das

condições do meio que da sua rocha de origem. Por esta razão, as associações de

argilominerais nos solos são consideradas indicadoras do grau de desenvolvimento do

solo (Melo e Alleoni, 2009). Com base na frequência dos minerais do solo, Jackson

(1968) propôs uma sequência de estabilidade para minerais da fração argila de solos,

constituída por 13 estágios, conforme apresentados na Tabela 5.10.

Tabela 5.10 – Sequência de estabilidade para minerais da fração argila (Jackson, 1968)

Índice de

intemperismo Mineral

Est

ágio

rec

ente

(solo

s jo

ven

s) 1 Gipso, halita, sais solúveis

2 Calcita, dolomita e apatita

3 Olivina, anfibólios, piroxênios

4 Biotita, glauconita, clorita e nontronita

5 Albita, plagioclásios, feldspato potássico

6 Quartzo, cristobalita, tridimita

Est

ágio

Méd

io 7 Muscovita, ilita

8 Vermiculita

9 Esmectitas (montmorilonita, beidelita)

Clorita, vermiculita e esmectita

Est

ágio

Avan

çad

o 10 Caulinita, haloisita

11 Gibbsita

12 Óxidos de Ferro (goethita e hematita)

13 Óxidos de titânio (anatásio, rutilo), zirconita e coríndon

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76

Minerais em solos jovens (até o índice 5) são altamente suscetíveis ao intemperismo,

sendo que, de acordo com as condições do meio, podem ser degradados rapidamente,

principalmente quando existe elevada disponibilidade de água. Por outro lado, solos em

estágio avançado, com predominância de minerais dos grupos 10 a 13 (caulinita e

óxidos), são muito resistentes a intemperização, pois normalmente já são produtos do

intemperismo.

Constata-se, então, que os horizontes superiores estão inseridos em estágios variando de

médio a avançado de intemperismo, apresentando caulinita, quartzo, óxidos de ferro e

hidróxido de alumínio. Por outro lado, os horizontes saprolíticos inferiores apresentam

também feldspato potássico e minerais micáceos em sua composição, variando de solos

jovens a intermediários.

O talude amostrado no município de Mariana (MRN) apresentou grande variedade de

minerais micáceos em seus dois horizontes, com o horizonte superior rico em ilita e

muscovita, ao passo que o horizonte inferior inclui também a esmectita e feldspatos

potássicos. Desta forma, embora ambos os horizontes apresentem minerais micáceos em

suas composições, conclui-se que o horizonte superficial encontra-se mais

intemperizado.

5.2.4 Ensaios de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)

As imagens obtidas pelos ensaios de microscopia eletrônica de varredura (MEV) dos

solos estudados são apresentadas nas Figuras 5.7 a 5.10. Para fins de comparação, as

amostras de ambos os horizontes foram analisadas sob a mesma resolução, de forma a

permitir avaliações qualitativas diretas das similitudes ou diferenças dos arranjos

estruturais de cada solo.

De maneira geral, os horizontes superiores de todos os solos analisados (ITAHS,

VARHS, OBRHS e MRNHS) tenderam a apresentar uma estrutura mais compacta

quando comparada aos horizontes inferiores saprolíticos, devido a um maior efeito de

agregação das partículas argilosas por meio de uma matriz cimentante de óxidos de

ferro (ver Figura 5.7, por exemplo). Para os solos saprolíticos, nota-se uma estrutura

desordenada, que confere um arranjo estrutural mais frágil (estrutura tipo ‘castelo de

cartas’), em função principalmente da estrutura lamelar dos minerais micáceos.

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77

Figura 5.7 – Ensaio de MEV para solo ITA (3.000x): (esq.) ITAHS; (dir.) ITAHI.

Figura 5.8 – Ensaio de MEV para solo VAR (1.000x): (esq.) VARHS; (dir.) VARHI.

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78

Figura 5.9 – Ensaio de MEV para solo OBR (1.000x): (esq.) OBRHS; (dir.) OBRHI.

Figura 5.10 – Ensaio de MEV para solo MRN (1.000x): (esq.) MRNHS; (dir.) MRNHI.

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79

Outra característica importante observada nos ensaios de microscopia eletrônica de

varredura foi a presença de macroporos nos horizontes superiores (Figura 5.11), que

favorecem a maior permeabilidade por induzir caminhos preferenciais e fluxo (ver

também Figura 5.3) e a lixiviação dos íons oriundos dos processos de intemperização.

Figura 5.11 – Presença de macroporos em amostra de horizonte superior – 500x (solo

ITAHS)

5.3 Ensaios da metodologia MCT

Os coeficientes classificatórios da metodologia MCT dos solos analisados – parâmetros

c’, d’, e’ e Pi, obtidos por meio dos ensaios de compactação Mini-MCV e perda de

massa por imersão, estão sistematizados na Tabela 5.11, sendo as classificações dos

mesmos apresentadas no ábaco da Figura 5.12.

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80

Tabela 5.11 – Parâmetros da Metodologia MCT para os solos analisados

Solo

Parâmetros de compactação Mini -MCV

d' c' Pi (%) e'

ITAHS 77,73 2,18 17,1 0,75

ITAHI 38,04 0,50 318,1 1,59

VARHS 51,69 1,81 30,1 0,88

VARHI 20,89 1,11 286,1 1,56

OBRHS 44,15 0,18 123,5 1,19

OBRHI 43,21 0,95 179,5 1,35

MRNHS 27,77 0,76 283,1 1,53

MRNHI 22,06 0,58 300,7 1,61

Figura 5.12 – Classificação MCT para os materiais estudados.

Os coeficientes c’ e d’, obtidos pelos ensaios de compactação Mini-MCV, mostraram

uma significativa variação, devido, principalmente às características granulométricas e

mineralógicas distintas de cada solo. Materiais com características lateríticas e argilosas

possuem valores elevados para estes dois parâmetros, ao contrário de materiais

derivados de solos saprolíticos.

0,5

0,7

0,9

1,1

1,3

1,5

1,7

1,9

2,1

0 0,5 1 1,5 2 2,5

ITAHS

ITAHI

VARHS

VARHI

OBRHS

OBRHI

MRNHS

MRNHI

NG '

NS '

NA'

NA

LA LA '

c'

e'

LG

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81

Os valores das perdas de massa por imersão e da erodibilidade específica (e’)

mostraram-se mais elevados para os horizontes inferiores (variações de até 300 % em

relação aos horizontes superiores para algumas amostras), evidenciando as propriedades

expansivas destes materiais e sua suscetibilidade aos processos erosivos.

Os solos dos horizontes superiores ITAHS e VARHS apresentaram nítidas

características lateríticas e, devido aos elevados valores dos coeficientes c’, foram

classificados como LG’ (solos lateríticos argilosos), evidenciando uma boa resistência à

erosão. A amostra superficial do talude de Ouro Branco (OBRHS) também apresentou

propriedades lateríticas; porém, devido às suas características mais arenosas, o valor do

parâmetro c’ foi baixo, resultando em sua classificando como LA (areia laterítica).

As amostras oriundas dos horizontes saprolíticos se enquadraram nas classes com baixo

valor de c’ e alta perda de massa por imersão, confirmando o caráter mais erodível

destes solos, classificados como NA - areia não-laterítica, NA’ - não-laterítico arenoso e

NS’ - não-laterítico siltoso (Figura 5.11).

No caso do talude de Mariana (MRN), ambos os horizontes apresentaram perdas de

massa elevadas, sendo mais intensa na amostra do horizonte superior, principalmente

devido ao maior percentual de silte.

Nogami e Villibor (1995) buscaram estimar o potencial de erodibilidade de taludes de

corte, com base na resistência dos agregados e na perda de massa por imersão, obtidos

por índices da classificação MCT (Tabela 5.12). Os resultados obtidos em laboratório

foram ratificados pelas observações de campo, com os solos erodíveis classificados

como NS’, NA’ e NA e aqueles resistentes aos processos erosivos pertencentes ao

grupo LG’.

Villibor (1986) enfatiza que solos dos grupos LA e LA’ podem ser potencialmente

erodíveis, dependendo das condições locais. O grupo NS’ pode apresentar diferentes

níveis de erodibilidade (baixa, média ou elevada), dependendo de outros parâmetros

intrínsecos (como mineralogia, plasticidade, matéria orgânica, etc.), justificando desta

forma a maior resistência da amostra MRNHS aos processos erosivos.

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82

Tabela 5.12 – Estimativa da Erodibilidade de solos pelos parâmetros MCT

Grupo MCT NA NA' NS' NG' LA LA' LG'

Resistência dos

Agregados N N N, B, M B B B B

Perdas de massa

por imersão E B/E, M E M, E B B B

Erodibilidade* B, M, E B, M, E B, M, E M, E B B B

Forma* DES.E DES.M

Sulcos

E

Sulcos;

DES. E firme DES.B DES.B

Obs: DES. − desagregação; índices: B − baixo; M − médio; E − elevado; N − nulo; *

a erodibilidade e a forma do processo erosivo estão baseados em análises de taludes de corte executados

em solos homogêneos e isotrópicos para as condições climáticas do estado de São Paulo.

5.4 Critérios de Erodibilidade dos Solos por Parâmetros de Laboratório

A erodibilidade não pode ser condicionada exclusivamente à contribuição de uma única

variável, visto que o processo erosivo é decorrente de uma série de parâmetros inter-

relacionados. Desta forma, uma análise da erodibilidade deve contemplar o efeito

integrado de diferentes fatores, sistemática que tem sido proposta por diferentes

pesquisas, comumente subsidiadas por parâmetros obtidos em ensaios de laboratório.

Na sequência, estes procedimentos são aplicados ao grupo dos solos estudados,

utilizando-se os seguintes critérios:

Estimativa do fator erodibilidade K da equação Universal de Perda de Solos por

meio do Nomograma de Wischmeier et al. (1971);

Critério da Classificação de Alcântara (1997);

Critério de Meireles (1967);

Critério de Erodibilidade baseada na Metodologia MCT Modificada (MCT-M)

segundo Vertamatti e Araújo (1990).

A Tabela 5.13 sistematiza os dados utilizados para a estimativa do chamado fator

erodibilidade K da Equação Universal de Perda de Solos. Os parâmetros de entrada são

os seguintes: teores de silte + areia muito fina (partículas com dimensões entre 0,002

mm e 0,1 mm; diferente, portanto, da fração similar estabelecida pela norma NBR 6502

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83

(ABNT, 1995), teor de areia (entre 0,1 a 2,0 mm; diferente, portanto, da fração similar

estabelecida pela norma NBR 6502 (ABNT, 1995), teor de matéria orgânica (expresso

em %), tipo de estrutura e a classe de permeabilidade do solo investigado.

Neste estudo, a estrutura do solo foi classificada de acordo com o Manual de Descrição

e Coleta de Solos em Campo (Lemos e Santos, 1982) e a permeabilidade foi avaliada de

acordo com os critérios estabelecidos por Hann et al. (1994). O parâmetro K foi obtido,

então, do ábaco (Figura 2.5) de Wischmeier et al. (1971).

Tabela 5.13 – Fator de erodibilidade K dos solos analisados (Wischmeier et al., 1971)

Solo

Silte +

Areia fina

(%)

Areia

(%)

Matéria

Orgânica

(%)

Tipo de

Estrutura

Classe de

Permeab. K

ITAHS 66,0 33,8 1,0 1 4 0,188

ITAHI 65,0 26,9 0,2 1 6 0,219

VARHS 85,0 13,9 0,8 2 5 0,166

VARHI 81,6 18,4 0,1 2 6 0,239

OBRHS 50,0 49,6 1,9 2 4 0,239

OBRHI 90,0 9,5 0,2 2 6 0,174

MRNHS 74,0 17,4 0,6 1 5 0,134

MRNHI 65,0 34,9 0,1 2 6 0,321

Não existe um consenso em relação a um valor limite de K que permita a distinção

objetiva entre solos suscetíveis e solos resistentes à erodibilidade; Bastos (1999) sugere

que solos erodíveis seriam aqueles com K > 0,20. Esta condição seria admissível para

caracterizar os horizontes inferiores erodíveis de três dos taludes analisados (ITA, VAR

e MRN), mas inadequada e falseada para o caso do talude OBR, o que pode ser um

indicativo da limitação desta metodologia para solos uniformes como o solo OBRHI

(90% de silte + areia fina e coeficiente de não uniformidade Cu igual a 1,9).

A influência integrada dos teores de finos e das características de plasticidade dos solos

foram analisadas aplicando-se as correlações propostas por Alcântara (1997), entre os

valores de IP (índices de plasticidade) com as correspondentes porcentagens passantes

na peneira 200, as quais permitem inferir a maior ou a menor erodibilidade dos solos

(Figura 5.13).

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84

Figura 5.13 – Aplicação do critério de erodibilidade de Alcântara (1997)

Os solos analisados ficaram incluídos numa zona de domínio de solos de ‘baixa

erodibilidade’, o que apenas ratifica que critérios baseados apenas em valores

conjugados de um único parâmetro de granulometria com um único parâmetro de

plasticidade são demasiado simplistas e inadequados para caracterizar e distinguir a

complexidade das influências do próprio solo no porte e na natureza das feições

erosivas resultantes. Por outro lado, é interessante notar, pelo menos em princípio, uma

clara tendência de separação entre os horizontes suscetíveis e resistentes à erosão dos

solos analisados pela escala vertical (valores de IP), caracterizando um padrão objetivo

de distinção de comportamentos (horizontal definida por IP = 10%).

Esta limitação poderia ser superada numa abordagem mais abrangente de parâmetros de

classificação geotécnica dos solos? Um critério dessa natureza foi introduzido por

Meireles (1967), incluindo, nas análises, valores de IP, LL e porcentagem passante

(P%) na peneira 200, de tal forma que os solos erodíveis são caracterizados pelos

seguintes critérios:

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

35,0

40,0

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0

IP (

%)

% passante na peneira # 200

ITAHS

ITAHI

VARHS

VARHI

OBRHS

OBRHI

MRNHS

MRNHI

Baixa

Erodibilidade

Média

Erodibilidade

Alta

Erodibilidade

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85

LL < 21%;

IP < 8%;

O critério granulométrico é aplicado para inferir o potencial de erodibilidade dos

solos (possibilidade de uma maior ou menor incidência de feições erosivas de

porte): EPE – elevado potencial de erodibilidade (P% ≤ 20%), MPE – moderado

potencial de erodibilidade (quando 20 % < P% < 40 %) e BPE – baixo potencial

de erodibilidade (P% ≥ 40%).

A Tabela 5.14 resume a aplicação destes critérios para o âmbito dos solos estudados.

Constata-se que os critérios adotados foram bastante efetivos para caracterizar os

horizontes resistentes à erosão (3 resultados BPE para ITAHS, VARHS e MRNHS e 2

resultados BPE e 1 resultado MPE para o solo OBRHS).

Tabela 5.14 – Erodibilidade dos materiais estudados segundo Meireles (1967)

Solo

Parâmetros Geotécnicos Critério de Meireles (1967)

% pass.

n° 200

LL

(%)

IP

(%)

% pass.

n° 200

LL

(%)

IP

(%)

ITAHS 56,0 69,3 38,7 BPE BPE BPE

ITAHI 58,0 38,9 6,4 BPE BPE EPE

VARHS 81,7 60,3 27,0 BPE BPE BPE

VARHI 73,6 40,3 9,3 BPE BPE BPE

OBRHS 36,0 52,1 17,6 MPE BPE BPE

OBRHI 92,8 57,1 6,8 BPE BPE EPE

MRNHS 71,6 46,9 10,0 BPE BPE BPE

MRNHI 56,2 28,3 NP BPE BPE EPE

BPE – baixo potencial de erodibilidade; MPE – moderado potencial de erodibilidade;

EPE – elevado potencial de erodibilidade.

Para o caso dos horizontes inferiores, entretanto, o critério resulta bastante conservativo,

inconsistente e igualmente inadequado como o da proposição anterior, sendo que os

parâmetros LL e a porcentagem passante na peneira 200 (ou os critérios associados a

estes parâmetros) mascaram completamente a real suscetibilidade do talude aos

processos erosivos, que fica praticamente dependente da análise do critério baseado em

valores de IP.

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86

Como critério complementar, foi utilizada a Metodologia MCT modificada (MCT-M)

elaborada por Vertamatti e Araújo (1990), para caracterização do grau de erodibilidade

dos solos analisados (Figura 5.14). Os solos OBRHI, MRNHS e MRNHI, previamente

classificados como solos arenosos não lateríticos’ passam a ser solos TA’ (transicionais

arenosos).

Figura 5.14 – Classificação MCT – Modificada e aferição do grau de erodibilidade dos

solos estudados (adaptado de Vertamatti e Araújo, 1990).

Em termos da avaliação da suscetibilidade à erosão, os resultados foram razoavelmente

consistentes no geral. Os horizontes suscetíveis à erosão foram aferidos basicamente

com grau 2 - taludes medianamente erodidos com sulcos frequentes, com o solo OBRHI

incluído como grau 1 - talude pouco erodido com sulcos esparsos.

Os solos resistentes à erosão foram, por outro lado, coerentemente avaliados como

sendo de grau 0 – taludes intactos, à exceção do solo MRNHS, cujo grau de

erodibilidade foi aferido como sendo equivalente ao do horizonte inferior MRNHI. É

interessante atentar-se que este solo apresenta um índice de plasticidade muito baixo e

mostra uma tendência repetitiva de se interpor numa faixa de domínio comum com os

solos estudados de baixa resistência à erodibilidade (ver Figuras 5.12 e 5.13).

0,5

0,7

0,9

1,1

1,3

1,5

1,7

1,9

2,1

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3

ITAHS

ITAHI

VARHS

VARHI

OBRHS

OBRHI

MRNHS

MRNHI

NG'

NS'

TA'

NA

LA LA '

c'

e'

LG'

TA'G'

NS'G'

TG'

LA'G' Grau 0

Grau 1

Grau 2

Grau 3

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87

5.5 Proposição de Critério para Avaliação da Erodibilidade dos Solos

Conforme discutido previamente, o desencadeamento dos processos erosivos não é

determinado por um fator exclusivo, mas por um conjunto de diferentes variáveis inter-

relacionadas. Estabelecer a interação de fatores de forma consistente, de modo que se

possa formular critérios de estimativa prévia sobre o potencial à erodibilidade dos solos

constitui, portanto, uma metodologia de grande impacto em obras geotécnicas, em

particular sobre o projeto e dimensionamento de taludes em solos.

Embora o presente trabalho tenha o objetivo básico de estabelecer algumas diretrizes

gerais para tais estudos, pela minimização da interferência dos fatores climáticos e

ambientais intervenientes num grupamento bastante limitado de taludes da região do

Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, propõe-se em caráter absolutamente preliminar,

um critério alternativo que possa correlacionar, de forma geral, parâmetros geotécnicos

de referência com padrões de erodibilidade observados nos taludes analisados em

campo. O acúmulo de dados em grande escala poderá propiciar uma maior ou menor

aferição da viabilidade do critério inicialmente proposto.

Existem propriedades que tendem a induzir um comportamento à suscetibilidade de um

solo à erosão e outras que, em sentido oposto, são claramente relacionadas à resistência

do mesmo. Por exemplo, solos expansíveis são mais suscetíveis à erosão, ao passo que

aqueles que exibem índices de plasticidade elevados tendem a ser mais resistentes aos

processos erosivos. Neste contexto, foram selecionados dois conjuntos de fatores: o

primeiro relacionado às propriedades do solo que aumentam a suscetibilidade ao

processo erosivo, chamado de ‘Relação de Erodibilidade’ (ε), e o segundo baseado nos

parâmetros que conferem resistência das partículas e dos agregados ao processo erosivo,

chamado de Índice de Resistência à Erosão (IRε).

Para a estimativa da Relação de Erodibilidade’ (ε), foram consideradas como

propriedades - índices aquelas que apresentam uma relação direta com o

desencadeamento dos processos erosivos, e que expressam efeitos efetivamente

associados com o grau e a magnitude do intemperismo atuante e com as características

expansivas e de desagregação dos materiais presentes nos taludes, expressas pelos

seguintes parâmetros:

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88

erodibilidade específica (e’): parâmetro obtido a partir do ensaio de perda de

massa por imersão da metodologia MCT;

coeficiente de erodibilidade devido ao intemperismo atuante (Ke): determinado

de forma similar aos coeficientes Ki e Kr, mas incluindo na relação a

porcentagem de óxido de titânio (TiO2) presente no solo, uma vez que o

composto, associado à ocorrência do mineral anatásio, é fonte de elevada

resistência ao intemperismo (Tabela 5.10). A determinação do parâmetro Ke é

feita por meio da seguinte relação (os denominadores expressam os respectivos

pesos moleculares dos compostos):

(5.1)

parâmetro , função do índice ∆ pH, que expressa a variação do pH medido em

cloreto de potássio e em água destilada, tal que ∆pH = pH KCl – pH água , tal que:

(5.2)

Onde a variável “e” é a chamada Constante de Euler, que vale aproximadamente 2,718.

A Relação de Erodibilidade’ (ε) é dada, então, pela seguinte relação:

(5.3)

Para a estimativa do Índice de Resistência à Erosão (IRε), foram consideradas

analogamente como propriedades - índices aquelas que apresentam uma relação direta

com a preservação da superfície exposta do talude aos agentes erosivos, sendo adotados

os seguintes parâmetros:

índice de atividade das argilas (A): parâmetro geotécnico definido por Skempton

(1953) que associa características granulométricas e de plasticidade dos solos,

dado por:

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89

(5.4)

sendo a % em peso da fração argila correspondendo à fração < 0.002 mm.

Em função dos valores do índice de atividade, as argilas podem ser classificadas como

ativas (valores superiores a 1,25), inativas (inferiores a 0,75) e normais (valores

compreendidos entre 0,75 e 1,25). Quando o solo for NP (‘Não Plástico’), para fins da

estimativa de IRε, adotar A = 0,75.

capacidade de troca catiônica (CTC): parâmetro associado à quantidade de argila

presente no solo, à quantidade de matéria orgânica, ao tipo de argilomineral e ao

pH do solo;

índice de vazios do solo: parâmetro associado diretamente ao estado de

compacidade do solo, incluindo o padrão estrutural do arcabouço sólido do solo,

tamanho de poros e trajetórias de fluxo (seria mais interessante inclusive adotar

neste parâmetro a compacidade relativa, em função dos valores dos índices de

vazios máximo e mínimo do solo).

O Índice de Resistência à Erosão (IRε) de um solo é estimado, então, pela seguinte

relação:

(5.5)

A Tabela 5. 15 sistematiza os dois conjuntos de parâmetros e os valores das Relações de

Erodibilidade’ (ε) e dos Índices de Resistência à Erosão (IRε) para os solos que

compõem horizontes conjugados de taludes da região do Quadrilátero Ferrífero de

Minas Gerais. Da tabela, obtém-se o seguinte grupo de faixas de variações dos índices

adotados:

e’: 0,75 a 1,61;

Ke: 0,52 a 1,80;

: 1,22 a 3,00;

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90

A: 0,5 a 3,87;

CTC: 0,9 a 5,1;

e: 0,7 a 1,6.

Os valores obtidos das Relações de Erodibilidade’ (ε) e para os Índices de Resistência à

Erosão (IRε) foram bastante distintos para os horizontes susceptíveis e resistentes à

erosão, quando representados conjugadamente (Figura 5.15).

Tabela 5.15 – Parâmetros e valores da relação de erodibilidade e do índice de resistência

à erosão

Solo

Parâmetros para ε Relações

e' Ke A CTC e ε IR(ε)

ITAHS 0,75 0,89 1,65 3,87 5,1 1,5 1,10 29,61

ITAHI 1,59 1,69 2,72 0,85 1,7 1,2 7,31 1,73

VARHS 0,88 1,13 1,22 3,80 4,0 1,2 1,21 18,24

VARHI 1,56 1,41 3,00 1,35 1,7 1,0 6,60 2,30

OBRHS 1,19 0,52 1,65 1,68 5,9 1,3 1,02 12,89

OBRHI 1,35 0,89 1,82 0,88 2,4 1,2 2,19 2,53

MRNHS 1,53 1,36 1,65 1,67 3,0 1,6 3,43 8,02

MRNHI 1,61 1,80 2,72 0,75 0,9 0,65 7,88 0,44

Obs.: e’ − erodibilidade específica; Ke − coeficiente de intemperismo aplicado à erosão; −

parâmetro dependente da variação de pH em KC e água; A − índice de atividade de Skempton;

CTC – capacidade de troca catiônica; e − índice de vazios; ε − relação de erodibilidade; IRε −

índice de resistência à erosão.

Em relação aos solos erodíveis, as relações de erodibilidade (ε) variaram entre 2,19 e

7,88, com índices de resistência (IRε) inferiores a 2,53. Os solos com características

resistentes, por outro lado, apresentaram valores de ε inferiores a 3,43 e índices de

resistência variando entre 8,02 e 29,61.

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91

Figura 5.15 – Relações de Erodibilidade’ (ε) e Índices de Resistência à Erosão (IRε)

para os solos estudados.

A representação gráfica dos pares de valores (ε, IRε) mostra a compartimentação

francamente distinta dos dois grupos de solos, de tal forma que solos suscetíveis à

erosão tendem a apresentar baixos valores de IRε associados a valores elevados de ε,

enquanto os solos resistentes tendem a apresentar parâmetros inversos: valores elevados

de IRε associados a baixos valores de ε.

De outra forma, estes resultados (sempre considerando a condição preliminar da

sistemática proposta) permitem inferir os seguintes critérios de distinção:

solos erodíveis: IRε 5,0;

solos resistentes à erosão: ε 5,0 e IRε ≥ 5,0.

Apesar do pequeno número reduzido das análises, estes critérios permitem uma clara

separação entre solos erodíveis e resistentes. No primeiro caso, ficaram incluídos todos

os solos dos horizontes inferiores dos taludes estudados – ITAHI, VARHI, OBRHI e

MRNHI, sendo a segunda proposição válida para todos os solos dos horizontes

superiores dos taludes analisados - ITAHS, VARHS, OBRHS e MRNHS.

Erodível

Não

Erodível

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92

CAPÍTULO 6 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES

6.1 Conclusões

A erodibilidade é considerada a propriedade mais complexa que regula o processo

erosivo, devido ao grande número de variáveis físicas, químicas, biológicas e

morfológicas que a controlam. Inicialmente estudada no meio agronômico, passou a ter

interesse geotécnico relevante, principalmente devido aos problemas ocasionados pela

erosão hídrica acelerada verificada em muitas áreas destinadas à ocupação urbana.

Uma das linhas de pesquisa relacionadas ao estudo da erodibilidade é a aplicação de

metodologias indiretas, sendo estas diretamente associadas às condições de formação e

de intemperização dos solos, de maneira que modelos consagrados em outros países

apresentam respostas adequadas para regiões de climas tropicais, demandando,

portanto, a necessidade de proposição de estudos e modelos específicos de abordagem

para solos e taludes no território brasileiro.

O presente trabalho foi fundamentado na avaliação da erodibilidade de solos da região

do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, a partir de uma proposição particular: os

solos amostrados são representativos de horizontes conjugados e expostos de um

mesmo talude, com respostas francamente antagônicas aos processos erosivos. Esta

condição propicia a possibilidade de se analisar apenas a influência das características

intrínsecas aos solos em si – a erodibilidade – no fomento aos processos erosivos,

eliminando ou minimizando a interferência dos fatores naturais e ambientais, como

efeitos das precipitações, variações sazonais de temperaturas, ação de ventos, posição

espacial da superfície exposta, inclinação e cobertura vegetal dos taludes, etc.

Por outro lado, o estudo contemplou uma abordagem múltipla e integrada da natureza

dos solos, em termos de sua caracterização física, química e mineralógica, com base em

resultados de ensaios geotécnicos convencionais e não geotécnicos realizados em

amostras representativas (indeformadas) de ambos os horizontes (degradado e não

degradado por processos erosivos) dos taludes analisados.

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93

As frações de areia e silte tenderam a ser predominantes e, em alguns casos, com

significativa concentração de pedregulho, como no caso dos solos ITAHI e MRNHS. É

interessante ressaltar a reduzida variação dos teores de argila entre os horizontes

resistente e o suscetível à erosão, para todos os solos analisados. Os parâmetros de

graduação e de não uniformidade do solo não são parâmetros de referência específica

para estudos de erodibilidade, mas é interessante constatar os baixos valores obtidos de

Cc, tipicamente Cc 1,0, para horizontes de suscetibilidade à erosão (sem, entretanto, tal

variação implicar necessariamente uma tendência geral). Em geral, a granulometria,

considerada isoladamente, não constitui parâmetro definidor das características de

erodibilidade de um dado solo, devendo, portanto, ser inserida num contexto maior de

fatores que influenciam na natureza e na magnitude dos processos erosivos.

Dentre os parâmetros físicos, os índices de vazios constituem um potencial fator de

referência, pela associação direta do mesmo com o arcabouço estrutural e o estado de

compacidade do solo. No caso do horizonte inferior do solo MRN, o índice de vazios in

situ foi de 0,654 (porosidade de 39,5 %), correspondente a uma maior compacidade de

um solo saprolítico de filito, que preserva ainda muitas das feições da rocha original.

Os parâmetros de umidade natural e de saturação tenderam a ser sistematicamente

menores para os horizontes inferiores, fato que pode ser associado diretamente à maior

superfície de exposição destes solos em profundidade, ao longo das variadas feições

erosivas ao longo do talude.

Quanto aos parâmetros de consistência, constata-se que os valores dos limites de

liquidez foram sistematicamente elevados para os horizontes resistentes à erosão, ao

passo que os índices de plasticidade tenderam a ser sistematicamente menores para os

horizontes suscetíveis aos processos erosivos. Assim, pode-se associar a erodibilidade

dos solos a baixos valores de IP ou até mesmo à ausência de plasticidade, ratificando

outras observações disponíveis na literatura técnica. Os índices de atividade (Skempton,

1953) apresentaram uma tendência geral de valores mais elevados para os horizontes

resistentes em relação aos não resistentes, constituindo, portanto, um potencial índice de

referência para avaliação da erodibilidade dos solos.

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94

Os resultados limitados de uma correlação direta entre erodibilidade e classificações

geotécnicas convencionais dos solos é esperada, em face destas classificações estarem

centradas apenas em parâmetros da granulometria e da plasticidade dos solos. Neste

contexto, os resultados da metodologia MCT foram bem mais expressivos. As amostras

oriundas dos horizontes saprolíticos (inferiores) se enquadraram nas classes com baixo

valor de c’ e alta perda de massa por imersão, confirmando o caráter mais erodível

destes solos, classificados como NA - areia não-laterítica, NA’ - não-laterítico arenoso e

NS’ - não-laterítico siltoso. No caso do talude de Mariana (MRN), ambos os horizontes

apresentaram perdas de massa elevadas, sendo mais intensa na amostra subsuperficial,

principalmente devido ao maior percentual de silte presente.

Os valores das perdas de massa por imersão e, principalmente, da erodibilidade

específica (e’) mostraram-se mais elevados para os horizontes inferiores (variações de

até 300 % em relação aos horizontes superiores para algumas amostras), evidenciando

as propriedades expansivas destes materiais e sua suscetibilidade aos processos

erosivos. Em função destes resultados, a erodibilidade específica (e’) constituiu um dos

parâmetros de referência para a caracterização das chamadas relações de erodibilidade

dos solos estudados.

Com base em resultados de ensaios de permeabilidade dos solos sob carga variável, os

coeficientes de permeabilidade dos horizontes suscetíveis à erosão foram inferiores às

dos horizontes resistentes (valores típicos entre 10-4

e 10-6

cm/s). Tais parâmetros,

entretanto, devem ser avaliados com cautela devido a problemas de fluxo preferencial

que tendem a ocorrer ao longo de macroporos interconectados (detectados em amostras

dos solos ITAHS, VARHI e OBRHS).

As análises químicas realizadas, sobre a fração ‘terra fina’ (dimensões de partículas

inferiores a 2,0 mm) dos solos analisados, contemplaram ensaios de pH (em H20 e

KC), para a determinação do parâmetro ∆ pH = pH KC – pH água; capacidade de troca

catiônica (CTC), teores de cátions (Ca, Mg, Na e K), acidez potencial, volume de

saturação por bases (V%) e teores de matéria orgânica.

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Dentre estes parâmetros, o pH (ou ∆ pH), a capacidade de troca catiônica (CTC) e

teores de matéria orgânica mostraram-se mais relevantes nas análises. Estes parâmetros

estão diretamente vinculados aos efeitos do intemperismo sobre um determinado solo.

Todos os solos analisados apresentaram ∆ pH < 0; valores negativos de ∆ pH indicam

uma predominância de argilas silicatadas, cargas negativas e presença de maiores

frações de alumínio intercambiável, caracterizando solos pouco intemperizados, feições

que foram ratificadas pelos valores correspondentes de CTC e de matéria orgânica.

Os ensaios de fluorescência de raios x permitiram a determinação dos teores dos óxidos

presentes nos solos e a estimativa das relações de intemperização dos solos (índices Ki e

Kr). Os solos subsuperficiais tenderam a apresentar menores teores de SiO2 e maiores

percentuais de Al2O3 e Fe2O3. Em relação aos resultados, quanto menores as relações Ki

e Kr, maior é o grau de intemperismo do solo; o índice Ki permite ainda uma boa

previsão do tipo de argilomineral presente no solo.

Com base nestes princípios, foi proposta uma nova relação de equivalência para o

intemperismo (parâmetro Ke), incluindo na relação a porcentagem de óxido de titânio

(TiO2) presente no solo, uma vez que o composto, associado à ocorrência do mineral

anatásio, é fonte de elevada resistência ao intemperismo, que foi utilizada nos critérios

propostos para a avaliação da erodibilidade dos solos estudados.

Os ensaios de difratometria de raios x mostraram que os solos saprolíticos (inferiores)

são micáceos, além e conter caulinita e quartzo, sendo essencialmente compostos por

ilita, mas também por muscovita, vermiculita, fengita e flogopita. Estes solos também

apresentam feldspato potássico em elevado grau de alteração, justificando os elevados

teores de óxidos de potássio na fluorescência quando comparados com os horizontes

subsuperficiais.

As imagens obtidas pelos ensaios de microscopia eletrônica de varredura (MEV)

mostraram que, de uma maneira geral, os horizontes superiores de todos os solos

analisados tenderam a apresentar uma estrutura mais compacta quando comparada aos

horizontes inferiores saprolíticos, devido a um maior efeito de agregação das partículas

argilosas por meio de uma matriz cimentante de óxidos de ferro. No caso dos solos

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inferiores, observou-se uma estrutura desordenada, que confere um arranjo estrutural

mais frágil (estrutura tipo ‘castelo de cartas’), em função principalmente da estrutura

lamelar dos minerais micáceos.

Com base nos resultados obtidos, foram aplicadas algumas metodologias propostas na

literatura técnica para a avaliação do potencial e erodibilidade dos solos, com resultados

limitados e inconclusivos. Isso se deve basicamente ao fato de que o desencadeamento

dos processos erosivos não é determinado por um fator exclusivo, mas por um conjunto

de diferentes variáveis inter-relacionadas e que devem ser abordadas num contexto

distinto das variáveis naturais e ambientais atuantes.

Embora não sendo o escopo direto deste trabalho, e ainda que considerando o conjunto

bastante limitado dos taludes analisados, propôs-se, em caráter absolutamente

preliminar, um critério alternativo para tais correlações, baseadas na seleção de dois

conjuntos de fatores adotados como propriedades – índices da avaliação: o primeiro

relacionado às propriedades do solo que tendem a aumentar a suscetibilidade ao

processo erosivo, chamado de ‘Relação de Erodibilidade’ (ε), e o segundo baseado nos

parâmetros que tendem a conferir uma maior resistência das partículas e dos agregados

ao processo erosivo, chamado de Índice de Resistência à Erosão (IRε).

Os valores obtidos das Relações de Erodibilidade’ (ε) e para os Índices de Resistência à

Erosão (IRε) foram bastante distintos para os horizontes susceptíveis e resistentes à

erodibilidade dos solos estudados, quando representados conjugadamente, e permitiram

o estabelecimento dos seguintes critérios de distinção:

solos erodíveis: IRε 5,0;

solos resistentes à erosão: ε 5,0 e IRε ≥ 5,0.

Apesar do pequeno número reduzido das análises, estes critérios permitiram uma clara

compartimentação dos dois grupos de solos. Sob o primeiro critério, ficaram incluídos

todos os solos dos horizontes inferiores dos taludes estudados – ITAHI, VARHI,

OBRHI e MRNHI, sendo a segunda proposição válida para todos os solos dos

horizontes superiores dos taludes analisados - ITAHS, VARHS, OBRHS e MRNHS.

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6.2 Sugestões para Pesquisas Complementares

Com base nas análises realizadas, confrontadas positivamente com as feições presentes

nos taludes em campo, a recomendação básica seria pela continuidade dos estudos, num

escopo e numa abrangência muito maiores, envolvendo padrões de taludes similares aos

investigados e a aplicação das relações de erodibilidade propostas nesta dissertação.

Neste sentido, no âmbito do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, taludes de cavas de

mineração constituem uma fonte enorme de potencial para a correlação em campo dos

resultados das análises feitas por meio de ensaios de laboratório. Como sugestões

complementares, citam-se as seguintes proposições:

extrapolação destas análises a outras regiões do país, conformadas por uma

geologia regional consolidada;

estudos de erodibilidade envolvendo a combinação integrada de outras variáveis

geotécnicas obtidas por meio de ensaios de laboratório (consideradas ou não no

presente trabalho) ou ensaios de campo;

estudos da erodibilidade dos solos de forma direta, por meio dos ensaios de

desagregação, dispersividade, método expedito das pastilhas da metodologia

MCT, ensaio do furo de agulha (‘pinhole test’), etc.;

Estudos da erodibilidade direta por meio de ensaios de Inderbitzen com

adaptações para simulação dos efeitos ambientais, inclusão de análises sobre a

desagregação pelos impactos das gotas de chuva (efeito splash) e infiltração;

Estudos do efeito da sucção na erosão de solos, por meio de ensaios especiais de

infiltrabilidade (metodologia MCT), ensaios de laboratório ou medições diretas

em campo.

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