anÁlise de conteÚdo dos memoriais da disciplina … coninter 4/gt 14/30. analise de...

18
ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA PRATICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA AZEVEDO, Ana Beatriz Vaz de. COELHO, Débora Miranda. FERNANDES, Edicléa Mascarenhas Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4 409 ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA PRATICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA AZEVEDO, Ana Beatriz Vaz de Licenciando em Física pela Universidade do Estado do Rio de janeiro Bolsista do núcleo de educação especial e inclusiva da UERJ [email protected] COELHO, Débora Miranda Psicóloga pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro Bolsista do núcleo de educação especial e inclusiva da UERJ [email protected] FERNANDES, Edicléa Mascarenhas Professora Adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Professora do Mestrado em Diversidade e Inclusão da UFF [email protected] RESUMO : Este trabalho visa, por meio da análise de conteúdo categorial dos memoriais, levantar os principais assuntos que os futuros professores mencionam ao relatar suas experiências com a disciplina de Práticas Pedagógicas em Educação Inclusiva, que é oferecida pela faculdade de educação na Universidade do Estado do Rio de Janeiro aos cursos de licenciatura e tem como objetivo capacitar minimamente os futuros docentes a lidar com a diversidade encontrada nas salas de aula. A disciplina possui uma carga horária teórica e outra prática onde os alunos tem a oportunidade de participar de oficinas introdutórias de LIBRAS, Braille, tecnologia assistiva e material adaptado. Na análise categorial, foram criadas oito categorias a partir de trechos destacados dos relatos dos próprios alunos. Os assuntos mais recorrentes foram sobre a importância da disciplina, o que é gratificante para nós por percebermos que estamos formando professores mais sensíveis as necessidades alheias. Palavras-chave: Educação inclusiva. Formação de professores. Práticas Pedagógicas. ABSTRACT This work aims, through the content of the memorials analysis, raise the main issues that future teachers mention when reporting their experiences with the issue of discipline Pedagogical Practices in Inclusive Education. It is offered by the education faculty at the University of the State of Rio de Janeiro to degree courses and it aims minimally to train future teachers to deal with the diversity found in classrooms. The course has a theoretical work and other practices where students have the opportunity to participate in introductory Brazilian sign language, Braille, assistive technology and adapted material‟s workshops. Eight categories were created from highlighted sections. By analyzing the memorials, we observed that the most frequent subjects were the importance of discipline and it is gratifying for us to form more teachers with sensibility to the needs of other people. Key-words: Inclusive Education. Teacher´s training. Pedagogical Practices.

Upload: lydang

Post on 20-Jan-2019

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA … Coninter 4/GT 14/30. ANALISE DE CONTEUDO... · A Educação Especial e Inclusiva tem sua defesa assegurada no âmbito internacional

ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA PRATICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA

AZEVEDO, Ana Beatriz Vaz de. COELHO, Débora Miranda. FERNANDES, Edicléa Mascarenhas

Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de

dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4

409

ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA

PRATICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA

AZEVEDO, Ana Beatriz Vaz de

Licenciando em Física pela Universidade do Estado do Rio de janeiro

Bolsista do núcleo de educação especial e inclusiva da UERJ

[email protected]

COELHO, Débora Miranda

Psicóloga pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Bolsista do núcleo de educação especial e inclusiva da UERJ

[email protected]

FERNANDES, Edicléa Mascarenhas

Professora Adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Professora do Mestrado em Diversidade e Inclusão da UFF

[email protected]

RESUMO : Este trabalho visa, por meio da análise de conteúdo categorial dos memoriais, levantar os principais

assuntos que os futuros professores mencionam ao relatar suas experiências com a disciplina de

Práticas Pedagógicas em Educação Inclusiva, que é oferecida pela faculdade de educação na

Universidade do Estado do Rio de Janeiro aos cursos de licenciatura e tem como objetivo capacitar

minimamente os futuros docentes a lidar com a diversidade encontrada nas salas de aula. A disciplina

possui uma carga horária teórica e outra prática onde os alunos tem a oportunidade de participar de

oficinas introdutórias de LIBRAS, Braille, tecnologia assistiva e material adaptado. Na análise

categorial, foram criadas oito categorias a partir de trechos destacados dos relatos dos próprios alunos.

Os assuntos mais recorrentes foram sobre a importância da disciplina, o que é gratificante para nós por

percebermos que estamos formando professores mais sensíveis as necessidades alheias.

Palavras-chave: Educação inclusiva. Formação de professores. Práticas Pedagógicas.

ABSTRACT

This work aims, through the content of the memorials analysis, raise the main issues that future

teachers mention when reporting their experiences with the issue of discipline Pedagogical Practices in

Inclusive Education. It is offered by the education faculty at the University of the State of Rio de

Janeiro to degree courses and it aims minimally to train future teachers to deal with the diversity found

in classrooms. The course has a theoretical work and other practices where students have the

opportunity to participate in introductory Brazilian sign language, Braille, assistive technology and

adapted material‟s workshops. Eight categories were created from highlighted sections. By analyzing

the memorials, we observed that the most frequent subjects were the importance of discipline and it is

gratifying for us to form more teachers with sensibility to the needs of other people.

Key-words: Inclusive Education. Teacher´s training. Pedagogical Practices.

Page 2: ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA … Coninter 4/GT 14/30. ANALISE DE CONTEUDO... · A Educação Especial e Inclusiva tem sua defesa assegurada no âmbito internacional

ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA PRATICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA

AZEVEDO, Ana Beatriz Vaz de. COELHO, Débora Miranda. FERNANDES, Edicléa Mascarenhas

Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de

dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4

410

INTRODUÇÃO

A disciplina Práticas Pedagógicas em Educação Inclusiva foi criada em 2006, em

cumprimento à portaria 1793 de 1994 que discursa sobre a criação de uma disciplina que

aborde “aspectos ético-político-educacionais” na educação de pessoas com necessidades

especiais nos currículos do curso de Pedagogia, Psicologia e licenciaturas a fim de preparar

estes profissionais para lidar com a diversidade das salas de aula. Ela possui uma carga

horária de 60 horas, incluindo aulas teóricas e práticas, onde, por estar ligada ao NEEI

(Núcleo de Educação Especial e Inclusiva), permite oferecer a esses alunos oficinas

introdutórias de Braille, LIBRAS, tecnologia assistiva e produção de material acessível.

Os memoriais que analisamos neste trabalho são trabalhos feitos pelos alunos da

disciplina de Práticas Pedagógicas em educação inclusiva, da Universidade do Estado do Rio

de Janeiro pela Faculdade de Educação, que está alocada no Departamento de Educação

Inclusiva e Continuada. Ela é oferecida às licenciaturas dos cursos de Artes Visuais, Ciências

Biológicas, Ciências Sociais, Educação Física, Filosofia, Física, Geografia, Historia, Letras,

Matemática, Psicologia e Química. Para alguns desses cursos, a disciplina é tida como

obrigatória e, para outras, é apenas uma eletiva, em que o aluno pode escolher cursá-la, ou

não (FERNANDES, 2012).

A disciplina possui seis turmas ao todo, com cerca de 50 alunos em cada turma. Esta

análise foi feita a partir dos memoriais das turmas da manhã da disciplina Práticas

Pedagógicas em Educação Inclusiva que cursaram o período letivo 2015.1.

A tabela abaixo auxilia na visualização dos cursos em que a disciplina é oferecida:

Tabela 1 –Curso, Situação e Período em que Práticas Pedagógicas é oferecida às Licenciaturas

CURSO SITUACAO PERIODO LETIVO

ARTES VISUAIS ELETIVA ———————————

CIENCIAS BIOLOGICAS OBRIGATORIA OITAVO PERIODO

CIENCIAS SOCIAIS ELETIVA ———————————

EDUCACAO FISICA OBRIGATORIA SETIMO PERIODO

FILOSOFIA OBRIGATORIA NONO PERIODO

FISICA OBRIGATORIA SETIMO PERIODO

Page 3: ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA … Coninter 4/GT 14/30. ANALISE DE CONTEUDO... · A Educação Especial e Inclusiva tem sua defesa assegurada no âmbito internacional

ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA PRATICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA

AZEVEDO, Ana Beatriz Vaz de. COELHO, Débora Miranda. FERNANDES, Edicléa Mascarenhas

Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de

dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4

411

Tabela 1 –Curso, Situação e Período em que Práticas Pedagógicas é oferecida às Licenciaturas

CURSO SITUACAO PERIODO LETIVO

GEOGRAFIA OBRIGATORIA QUINTO PERIODO

HISTORIA OBRIGATORIA TERCEIRO PERIODO

LETRAS ELETIVA ———————————

MATEMATICA ELETIVA ———————————

PSICOLOGIA ELETIVA ———————————

QUIMICA OBRIGATORIA SEGUNDO PERIODO

Na abordagem da disciplina, é feito um resgate histórico em que é construído com os

alunos as ideias que cada momento da educação possuía e porque o método usado era, ou não,

eficiente, buscando, a partir das percepções dos alunos, as críticas que levaram ao surgimento

da educação inclusiva.

Os memoriais consistem em trabalhos onde os alunos podem expressar suas angústias

e suas ideias sobre a temática da disciplina de maneira livre, cabendo a eles estabelecer o

tema de seus textos a partir de suas memórias e dos discursos abordados pela disciplina

durante o período letivo.

Buscamos destacar alguns trechos dos memoriais e dividi-los em categorias, a partir

das quais fizemos a análise de conteúdo (Bardin, 1997). A medida que observamos a

necessidade de criarmos uma categoria, adicionamos a ela os trechos retirados dos memoriais.

Foram feitos destaques de trechos como o seguinte:

Essa disciplina me ajudou a entender melhor a diversidade existente em sala

de aula, a ser flexível e a me adaptar no contexto de uma sala de aula.

Ajudou-me também a refletir sobre as minhas próprias limitações. E que se

antes eu tinha medo de não conseguir dar aula e ser rotulada como uma

professora incapaz, hoje eu acredito muito em mim e nos meus futuros

alunos. (Aluna do curso de Química)

Na fala, a perspectiva pessoal, a inclusão e a disciplina são temas que aparecem de

forma entrelaçada por meio da reflexão que esta aluna fez sobre as mudanças que ela percebia

a partir do que a disciplina lhe trouxe: ajudou na percepção de que existe diversidade na sala

de aula, ajudou a ser flexível e entender que precisará também se adaptar ao contexto da sala

Page 4: ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA … Coninter 4/GT 14/30. ANALISE DE CONTEUDO... · A Educação Especial e Inclusiva tem sua defesa assegurada no âmbito internacional

ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA PRATICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA

AZEVEDO, Ana Beatriz Vaz de. COELHO, Débora Miranda. FERNANDES, Edicléa Mascarenhas

Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de

dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4

412

de aula, ajudou a perceber suas limitações e pensar a respeito das mesmas, ajudou a acreditar

mais em si e em seus futuros alunos. A análise do conteúdo das falas, portanto, é um recurso

que auxilia na percepção do real impacto da disciplina na formação dos docentes

(SANTIAGO, MATTOS e FERNANDES, 2011).

1. FUNDAMENTOS LEGISLATIVOS

A Educação Especial e Inclusiva tem sua defesa assegurada no âmbito internacional

pela Declaração de Salamanca que consiste num pacto entre diversos países a fim de garantir

oportunidades de educação e cidadania para todas as pessoas, inclusive aquelas com alguma

deficiência.

Na esfera nacional temos a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (9394/96) e a Lei

10172/2001 que entendem a educação especial como uma modalidade de oferta de serviço. O

artigo 208 da Constituição Federal diz que alunos com necessidades educacionais

diferenciadas devem receber atendimento educacional especializado prioritariamente na rede

regular de ensino. Em seu artigo 59, do capítulo V, que versa sobre a inclusão de alunos com

necessidades educacionais diferenciadas em classes regulares de ensino, há o informe de que

estes alunos devem ser assistidos por profissionais especializados, que devem ter tal formação

em nível superior ou em nível médio.

Segundo Fernandes (2012), data de 1978 o primeiro projeto educacional para pessoas

com deficiência e altas habilidades. Neste, os parâmetros para atendimento de pessoas com

necessidades educacionais especiais seguia o modelo clínico e diferia do currículo previsto

para o ensino fundamental. Então, havia a compreensão de que a Educação Especial ocorreria

em paralelo com o Ensino Básico. Por esta razão, a formação de professores na Graduação

também se dava em separado, com técnicas e métodos específicos. Atualmente, a

recomendação para a educação nacional é a de que o atendimento se dê preferencialmente na

rede regular de ensino.

Neste sentido, a disciplina de Práticas Pedagógicas em Educação Inclusiva atende às

colocações que o âmbito legislativo vem demandando. Além disso, ela rompe com a

formação de docentes em paradigmas excludentes, permitindo que os alunos resignifiquem

estes modelos, como no caso da homogeneização, ou no de „aluno ideal‟, por entender o

fenômeno da deficiência a partir do paradigma da complexidade, visando o trabalho

interdisciplinar entre diferentes áreas de saber (FERNANDES, 2012).

Page 5: ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA … Coninter 4/GT 14/30. ANALISE DE CONTEUDO... · A Educação Especial e Inclusiva tem sua defesa assegurada no âmbito internacional

ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA PRATICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA

AZEVEDO, Ana Beatriz Vaz de. COELHO, Débora Miranda. FERNANDES, Edicléa Mascarenhas

Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de

dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4

413

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Baseamo-nos principalmente no que Eduardo Vasconcelos (2002) entende por

interdisciplinaridade. Para ele, o prefixo „inter‟ diz respeito à diversas fronteiras de saber que

não se limitam apenas ao trabalho com disciplinas e paradigmas de campos diversos, mas

abarca também a arte e a cultura popular como racionalidade estético-expressiva a fim de

construir um senso comum emancipatório. Este autor defende ainda que práticas „inter‟ não

devem ficar restritas aos ambientes de pesquisa, mas se ampliar para a formação básica no

sentido de modificar currículos e cursos de graduação e pós-graduação. Para este autor, o

objetivo é ir em direção à reprofissionalização mais complexa por meio do contato com outras

áreas de conhecimento ao longo da formação, além da inserção em projetos de estágio,

pesquisa e extensão que envolvam diferentes profissionais.

Nesta perspectiva, há a valorização da complexidade do objeto, assim como da própria

subjetividade do pesquisador e daqueles com quem trabalha, o que, em geral, ultrapassa a

formação específica e acadêmica que possui. Por esta razão, Vasconcelos (2002) incentiva o

uso de habilidades extraprofissionais, como artes plásticas, música, dança, e outras, por parte

dos profissionais que, em seu caso, lidam com saúde mental.

Na disciplina de Práticas Pedagógicas de Educação Inclusiva, o uso de habilidades

outras, para além das acadêmicas, é estimulada por meio da proposta de construção de uma

adaptação, que consiste em um recurso a ser utilizado por alunos de diversas áreas para dar

uma aula inclusiva, ou seja, uma aula que atenda a necessidade de um suposto aluno com

algum deficiência e os demais alunos.

Outra recomendação deste autor diz respeito a dar voz àqueles com quem trabalhamos

de forma direta para que possam identificar a complexidade de suas próprias demandas e

realidades. Isto permitiria também a construção de profissionais e clientela (que no caso de

professores, serão seus alunos), de recursos, dispositivos, que reinventem suas histórias e não

os mantenha numa posição de receber assistência. Para ele, a produção de conhecimento deve

tomar o fenômeno social humano em sua dimensão complexa e multidimensional, trazendo,

portanto, contribuições de outras maneiras de teorizar e compreender o mundo, que

favoreçam um processo autoral na produção de conhecimento.

Page 6: ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA … Coninter 4/GT 14/30. ANALISE DE CONTEUDO... · A Educação Especial e Inclusiva tem sua defesa assegurada no âmbito internacional

ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA PRATICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA

AZEVEDO, Ana Beatriz Vaz de. COELHO, Débora Miranda. FERNANDES, Edicléa Mascarenhas

Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de

dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4

414

3. RESULTADOS ALCANÇADOS

Ao todo foram analisados 75 (setenta e cinco) memoriais e deles foram destacados 56

(cinquenta e seis) trechos por sua relação com a temática da disciplina. Esses trechos foram

sub-divididos em 8 (oito) categorias que foram criadas com a medida em que um novo tema

ou conteúdo era mencionado.

A análise de conteúdo foi feita de forma quanti-qualitativa, onde analisamos a

freqüência em que os temas apareciam. Na análise qualitativa, buscamos aprofundar as

colocações de alguns trechos que nos saltaram mais aos olhos.

Ao analisar os memoriais, observamos que os assuntos mais recorrentes foram acerca

da importância da disciplina, sobre experiências vividas de inclusão, experiências de

exclusão, sobre acessibilidade e sobre a postura dos docentes quanto à educação inclusiva.

Dentre as categorias, a que tem maior frequência (cerca de 25,9%) é a importância da

disciplina para os futuros professores. Há muitos agradecimentos e declarações de que a

disciplina os prepara para lidar com a diferença de cada aluno e a inclusão de todos. Isto

corrobora com os resultados encontrados por Santiago, Mattos e Fernandes (2011), quando

relataram encontrar nos memoriais trabalhados descrições dos licenciandos a respeito da

contribuição que a disciplina teve para modificar a maneira de pensar a inclusão em sala de

aula.

3.1. ANÁLISE QUANTITATIVA

As categorias criadas foram: inclusão, acessibilidade, postura docente, exclusão,

percepção dos outros, importância da disciplina, primeiros contatos com educação inclusiva,

políticas publicas e relato de superação. Na tabela está o número de trechos destacados em

cada categoria e a sua porcentagem em relação ao total de trechos destacados.

Tabela 2 – Categorias e número de vezes em que aparecem no texto

Categoria Número de vezes que

aparece

Porcentagem (%)

Inclusão 7 12,5

Acessibilidade 9 16,07

Page 7: ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA … Coninter 4/GT 14/30. ANALISE DE CONTEUDO... · A Educação Especial e Inclusiva tem sua defesa assegurada no âmbito internacional

ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA PRATICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA

AZEVEDO, Ana Beatriz Vaz de. COELHO, Débora Miranda. FERNANDES, Edicléa Mascarenhas

Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de

dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4

415

Tabela 2 – Categorias e número de vezes em que aparecem no texto

Categoria Número de vezes que

aparece

Porcentagem (%)

Postura docente 9 16,07

Exclusão 7 12,5

Percepção dos

outros

3 3,35

Importância da

disciplina

14 25,0

Primeiros

contatos com educação

inclusiva

5 8,93

Políticas públicas 1 1,79

Relatos de

superação

1 1,79

Page 8: ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA … Coninter 4/GT 14/30. ANALISE DE CONTEUDO... · A Educação Especial e Inclusiva tem sua defesa assegurada no âmbito internacional

ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA PRATICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA

AZEVEDO, Ana Beatriz Vaz de. COELHO, Débora Miranda. FERNANDES, Edicléa Mascarenhas

Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de

dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4

416

Com este tipo de dados, notamos que o tema mais abordado, com cerca de 25%, diz

respeito à importância da disciplina, em segundo lugar temos a acessibilidade e a postura

docente (ambas com 16,07%), seguidos da inclusão e exclusão (ambas com 12,5%), primeiros

contatos com educação inclusiva (com 8,39%), percepção dos outros (com 3,35%) e políticas

públicas e relatos de inclusão (ambas com 1,79%).

2.2. ANÁLISE QUALITATIVA

Falas que apontam para a importância da disciplina com vistas a preparar os futuros

docentes para o trato com as diferenças foram explicitadas em relatos como os que estão

abaixo:

Com o contato com a matéria fiquei mais atenta, mais crítica [...]

É possível e viável adaptar uma aula, e deve ser pensada para seu aluno com

limitação em um processo de integração, é trabalhoso o seu

desenvolvimento, mas é satisfatório na mesma medida, ver a gratidão de

Page 9: ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA … Coninter 4/GT 14/30. ANALISE DE CONTEUDO... · A Educação Especial e Inclusiva tem sua defesa assegurada no âmbito internacional

ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA PRATICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA

AZEVEDO, Ana Beatriz Vaz de. COELHO, Débora Miranda. FERNANDES, Edicléa Mascarenhas

Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de

dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4

417

alguém no olhar, no sorriso, em um abraço, é sinônimo de esperança.(Aluna

de História)

Bom, mas com tudo o que pude aprender ao longo desse semestre com a

prática em educação inclusiva, me resta como uma professora mais

conscientizada buscar descobrir mais a fundo sobre os meus alunos e assim

obter a melhor prática possível para poder atender e entender ainda mais os

meus alunos especiais ou não. (Aluna Letras/Inglês)

Para o licenciando em formação, futuro professor, a grande contribuição da

disciplina para sua futura pratica docente reside justamente num despertar de

consciência, numa sensibilização acerca das dificuldades e desafios que os

portadores de qualquer necessidade educativas especiais se veem postos a

encarar, cotidianamente, nas escolas. (Aluno de filosofia)

Essa materia contribuiu para minha formação, pois alem de me tornar apta a

dar aula para todos os tipos de pessoa, nos ensina, acima de tudo, a respeitar

a todos. Aprendemos também como montar um planejamento de aula e a

sempre procurar alternativas para que todos sejam incluídos. (Aluna de

Química)

Essa disciplina me ajudou a entender melhor a diversidade existente em sala

de aula, a ser flexível e a me adaptar no contexto de uma sala de aula.

Ajudou-me também a refletir sobre as minhas próprias limitações. E que se

antes eu tinha medo de não conseguir dar aula e ser rotulada com uma

professora incapaz, hoje eu acredito muito em mim e nos meus futuros

alunos.( Aluna de Química)

Essa inexperiência no assunto foi um dos motivos pelos quais me interessei

na disciplina. Além disso, nossa formação profissional ainda deixa muito a

desejar nesse quesito. Por isso, fiz questão de cursar a disciplina, sem ela

estaria completamente despreparada para enfrentar o desafio de ter um aluno

incluído em minha sala de aula. Ela me abriu os olhos para a questão da

educação inclusiva. Antes era contra a integração de alunos com

necessidades especiais em turmas regulares. Acreditava que a escola

especializada era a melhor opção para estes alunos, pois teriam um ensino

individualizado. Hoje entendo a importância da inclusão. (Aluna de letras-

inglês)

Cada uma das falas guarda peculiaridades a respeito da escolha e da experiência que a

disciplina deixou nos alunos, porém todas apontam para a mudança que foi produzida neles

no sentido de procurarem adaptar a aula levando em consideração as limitações e

necessidades que seus alunos apresentem.

Nestas falas, está presente também o destaque para a dimensão sensível que tem a

educação, por exemplo, quando um dos alunos diz “a grande contribuiçao da disciplina para

sua futura prática docente reside justamente num despertar de consciência, numa

Page 10: ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA … Coninter 4/GT 14/30. ANALISE DE CONTEUDO... · A Educação Especial e Inclusiva tem sua defesa assegurada no âmbito internacional

ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA PRATICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA

AZEVEDO, Ana Beatriz Vaz de. COELHO, Débora Miranda. FERNANDES, Edicléa Mascarenhas

Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de

dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4

418

sensibilização acercadas dificuldades e desafios que os portadores de qualquer necessidade

educativas especiais”(Aluno de Filosofia). Vasconcelos (2002), ao falar sobre o paradigma da

complexidade, destaca o aspecto estético e popular como componentes necessários na

compreensão de fenômenos humanos e, talvez, esteja precisamente aí a retomada da dimensão

sensível necessária na educação de pessoas que desafiam um saber/fazer instituído e

homogeneizador.

Outro aspecto destacado nas falas diz respeito à valorização dos aspectos práticos e da

participação de eventos, como o da Síndrome de Willians, por permitirem que a aula não se

restrinja à transmissão de conhecimentos, mas também permita uma aproximação da forma

como a pessoa com deficiência experiencia o mundo. A partir do relato abaixo, percebemos

que o aspecto prático da disciplina aumentou significativamente o interesse da aluna pelos

assuntos abordados, o que a levou a participar de outros espaços, fora dos da sala de aula, em

busca de conhecimento. Ela diz:

O interesse cresceu de forma exponencial e me levou a uma palestra

ministrada pela professora sobre a síndrome de Williams, estar perto de

crianças que me mostraram algo que só conhecia por fotos ou citações foi

uma experiência única e nenhum livro me faria ter o mesmo aprendizado ou

sensibilidade conquistados naqueles momentos de troca. (Aluna de

Matemática)

Ainda sobre as contribuições práticas, os dois relatos abaixo apontam para as

possibilidades que as oficinas disponibilizadas na disciplina trouxeram por ajudá-los a

repensar sua formação docente:

Durante as práticas pude perceber que não são necessários grandes esforços

ou adaptações para incluir-se um deficiente. Às vezes, pequenas adaptações

ou simplesmente o ganho de pequenos conhecimentos são o suficiente. Isto

ficou muito claro ao realizar a tarefa final da disciplina. Pois como havíamos

escolhido a cegueira foi necessário confeccionar alguns pequenos textos em

Braile. Durante esta prática, ficou claro que com um pouco de conhecimento

(realmente pouco) podemos dar grandes auxílios a um portador de

deficiência, o que realmente nos incentiva a buscar outros recursos e

contribuir ainda mais.(Aluno de História)

São oferecidas também as oficinas, que nos colocam em contato com

materiais e tecnologias direcionadas às pessoas com necessidades

específicas. Foi muito bom para minha formação, pois tive contato com

tecnologias assistivas (as quais eu não conhecia!), pude aprender e usar um

Page 11: ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA … Coninter 4/GT 14/30. ANALISE DE CONTEUDO... · A Educação Especial e Inclusiva tem sua defesa assegurada no âmbito internacional

ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA PRATICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA

AZEVEDO, Ana Beatriz Vaz de. COELHO, Débora Miranda. FERNANDES, Edicléa Mascarenhas

Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de

dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4

419

pouco o Braile, participar de um pequeno diálogo usando LIBRAS e ver

várias ideias de materiais adaptados. (Aluno de História)

A disciplina de Práticas Pedagógicas em Educação Inclusiva também se torna

enriquecedora por trazer diferentes profissionais e algumas falas fazem menção à experiência

de educar em um hospital. As alunas disseram:

Uma das aulas cujo conteúdo mais chamou minha atenção foi a aula que

tratou acerca dos projetos de aulas para crianças internadas. Minha

experiência pessoal dialoga diretamente com este tópico, pois trabalho em

um hospital de grande porte há cinco anos. Em toda minha experiência de

vida no hospital estadual nao presenciei qualquer atividade voltada para esse

sentido. […] A parte da minha experiência profissional, busquei novamente

a universidade para formar-me professora. A experiência desse curso e em

especial dessa aula mostra quão importante e urgente é o contato entre as

duas áreas técnicas do saber de saúde e educação. […] Pensar essas questões

no cenário de formação da universidade é essencial para futuros

profissionais de ambas as áreas, o que torna essa aula muito relevante no

curso de licenciatura.(Aluna de Pedagogia)

A única forma de integração das crianças internadas eram as “tias da

história”, voluntárias que assim como eu possuíam um motivo para estar ali

(a proximidade com algum paciente), porém eu achava que era uma forma

interessante do hospital “distrair as crianças”, mas durante uma das aulas

desse ano, fiz uma reflexão e cheguei a conclusão que era para haver uma

classe hospitalar, voltada para demanda das crianças, pois é direito delas ter

acesso à educação. (Aluna de História)

Houve um relato de superação, onde percebemos uma admiração por parte do aluno a

um colega que mesmo com dificuldades conseguiu alcançar seus objetivos, este está

devidamente apresentado no trecho abaixo:

Ele se formou no 3º ano, e decidiu entrar para o pré-vestibular no ano

seguinte estudando na mesma escola, os alunos que cursavam o pré-

vestibular ficavam o ano todo estudando na sala que fica no térreo, com

muito esforço conseguiu ser aprovado na UERJ para o curso de ciências da

computação, atualmente ele continua estudando na UERJ, cursa o 5º

período. (Aluno do curso de Química)

Com este relato podemos observar que as universidades estão recebendo os alunos

com necessidades educacionais especiais e que mais políticas públicas são necessárias para

atendê-los. Esta constatação se aproxima do relato de um aluno de Geografia que diz que de

fato, as políticas públicas voltadas aos portadores de necessidades especiais evoluíram muito

Page 12: ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA … Coninter 4/GT 14/30. ANALISE DE CONTEUDO... · A Educação Especial e Inclusiva tem sua defesa assegurada no âmbito internacional

ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA PRATICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA

AZEVEDO, Ana Beatriz Vaz de. COELHO, Débora Miranda. FERNANDES, Edicléa Mascarenhas

Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de

dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4

420

nas últimas décadas, mas, principalmente, no Brasil precisamos de maiores transformações,

mais respeito, mais sentimento humanitário e principalmente uma consciência de cidadania.

Uma cidadania que não condição de povo, estamos muito longe de conquistar (sic).

Fernandes e Glat (2005) mencionam a necessidade de incentivar o envolvimento do

corpo pedagógico e de dicentes para elaboração de estratégias que tornem o espaço escolar

mais inclusivo, a partir do que já existe neste ambiente, e considerando as particularidades do

mesmo.

Nesse contexto, temos também a declaração de Salamanca (UNESCO, 1994) que em

um de seus pontos orienta que priorizem política e financeiramente os sentidos educacionais

para incluir crianças, independente de suas diferenças e dificuldades individuais. Contudo,

ainda não vemos tal prática em nosso país, como relatado na fala a seguir:

Eu estava no C.A. quando mudei de escola pela primeira vez. Foi a primeira

vez, também, que conheci uma pessoa com deficiência auditiva. C era um

pouco mais velha que as outras pessoas da turma, mas eu não via problema

nisso. Apesar de ela ser muito carinhosa, eu não sabia como estabelecer

nenhum tipo de comunicação com ela e isso nos afastava. Não queria sentir

pena, mas era inevitável. C. tinha dificuldades para acompanhar a aula, que

ninguém preparava pensando nela. A aula não era inclusiva. C. não era

incluída." (aluna de Química)

A inclusão seria mais eficiente com uma melhor capacitação dos docentes e é isto que

buscamos fazer na disciplina. Às vezes, apenas uma postura diferente da parte do professaor

ja é um grande avanço. As crianças, em geral, tem uma tendência a lidar mais facilmente com

a diversidade, por não terem uma pre-concepção sobre elas. É o que podemos perceber na fala

a seguir.

(…) nossa professora utilizava constantemente trabalhos relacionados a

artes, fazíamos muitos desenhos e era nítida a dificuldade dele em preenchê-

los. Nunca fiquei sabendo qual era sua deficiência, ou porque ele não

conseguia escrever e desenhar como as outras crianças, por mais que todos

soubessem que ele era diferente por algum motivo, nenhum dos alunos

comentava sobre e nem tiravam sarro dele por causa disso, seu

relacionamento com a turma era absolutamente normal.(Aluna de História)

Segundo Lippe e Camargo (2009), docentes tendem a homogeneizar seus alunos de

forma involuntária, simplesmente, por desconhecerem suas necessidades específicas e

gerando prejuízo para seu aprendizado. A capacitação dos profissionais é essencial para o

Page 13: ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA … Coninter 4/GT 14/30. ANALISE DE CONTEUDO... · A Educação Especial e Inclusiva tem sua defesa assegurada no âmbito internacional

ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA PRATICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA

AZEVEDO, Ana Beatriz Vaz de. COELHO, Débora Miranda. FERNANDES, Edicléa Mascarenhas

Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de

dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4

421

processo de aprendizagem de alunos com necessidades educacionais especificas. Algumas

vezes pode faltar por parte dos docentes iniciativa para lidar com a diversidade, ou por falta

de tempo e muitas vezes exaustão com as praticas diárias, no entanto, muitas vezes é bem

simples fazer o auxilio a um aluno especial. Nesta disciplina, com as oficinas vemos que não

é tão difícil assim.

Ao longo do semestre o curso permite aos estudantes tomarem conhecimento

da existência de diversas condições, técnicas, ferramentas didáticas e

tecnologias assistivas que se revelam praticamente indispensáveis a

iniciativa de educação inclusiva (aluno de filosofia)

A inclusão de alunos com deficiências não é apenas bom para eles que estão

vivenciando o processo de fazer parte de um grupo, mas para toda a sociedade. Conviver com

a diferença nos faz saber lidar melhor com a diversidade humana. É esta a percepção desta

aluna de Educação Física:

Alunos com deficiência visual e física passaram por mim, deixando não

apenas a ideia de que precisam ser incluídos na sociedade de acordo com

suas necessidades, mas também o pensamento de superação e de

normalidade de vida como qualquer outra pessoas não portadora de

deficiência. O indivíduo deficiente pauta-se bastante nas questões das

experiências positivas e negativas. As positivas ocorrem quando o

sentimento de pertencimento é cativado, ou seja, o aluno sente-se parte do

todo. Se isso fosse por muitas vezes cultivado, o quadro da educação

inclusiva poderia ser um pouco melhor diferenciado.

Falta de capacitação de profissionais e a falta de informação atrapalham o processo de

inclusão nas falas a seguir observamos isso.

Quando trabalhei em uma determinada creche, havia um aluno autista de

oito anos que era tratado claramente como diferente dos outros alunos de

uma maneira muito excludente. Ele não participava das aulas com os demais

e muito menos era colocado em alguma sala de aula. Simplesmente o

deixavam, com sua agitação, correndo ao redor de uma arvore no pátio da

creche sem nenhuma consideração. Eu perguntava para minhas colegas de

trabalho na época, e elas diziam que era a única coisa que podiam fazer, já

que não havia formação para lidar com esse caso de aluno autista e não

sabem como mantê-lo “controlado” para dar aula e fazê-lo aprender ou

participar de trabalhos em sala de aula. Eu falava com a diretora da creche,

mas não me davam atenção em relação como eles tratavam o aluno. (Aluna

de Ciências Sociais)

Page 14: ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA … Coninter 4/GT 14/30. ANALISE DE CONTEUDO... · A Educação Especial e Inclusiva tem sua defesa assegurada no âmbito internacional

ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA PRATICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA

AZEVEDO, Ana Beatriz Vaz de. COELHO, Débora Miranda. FERNANDES, Edicléa Mascarenhas

Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de

dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4

422

Um exemplo de falta de preparo dos professores aconteceu na escola do meu

primo Felipe. Assim que ele chegou nessa escola, acompanhado da minha

tia, a professora o viu e entrou em desespero. Ela ficou dizendo, na frente do

meu primo e da minha tia, que não sabia trabalhar com crianças com

Síndrome de Donw. Claro que foi absurdo ela ter feito isso, mas isso é

reflexo da má preparação dos docentes. (Aluna de História)

No decorrer de minha experiência escolar, do ensino fundamental ao ensino

médio, não lembro de ter tido algum colega de classe com necessidades

especiais, pelo contrário, as pessoas com deficiências que soube existir no

bairro ou nas cercanias de onde morava geralmente ficavam “escondidas”

em suas casas. Lembro que meu coraçãozinho de criança percebia um certo

ar de 'sina', de 'má sorte' na vida dessas pessoas com deficiência, uma

espécie de 'lepra' cultural que nos indicava a manter distância; uma espécie

de fatalidade com que se tinha de baixar as cabeças e seguir com a vida da

maneira que fosse possível. Raciocinando nos dias atuais, tanto a família

como o Estado, em sua extensão nas escolas públicas onde estudei, não

pareciam muito dispostos a considerar essa ideia de inclusão.(Aluno de

Letras)

Hoje em dia, o acesso ao conhecimento se dá de forma mais fácil. A falta de interesse

também não pode ser confundida com a falta de possibilidades. A conscientização das

especificidades de cada ser humano não é algo tão difícil de ser entendida que não possa ser

abordada pela sociedade em geral. No relato abaixo, vemos que uma única pessoa pode

começar fazendo a sua parte.

Atualmente, combater o preconceito em sala de aula é um dos principais

deveres do professor, porém, o que realmente vemos é um certo descaso do

docente em relação a essa questão. Muitos nao tentam mudar essa

problemática e outros até praticam com os próprios alunos.(Aluno de

Química).

Estamos buscando abordar a inclusão no aspecto educacional, mas a inclusão é

fundamentalmente um fenômeno social, como relatado a seguir:

A inclusão, na escola nao deve ser encarada apenas do ponto de vista

cognitivo, deve ser encarada do ponto de vista social também. É claro que

algumas crianças com certas deficiências nao vai consegui aprender todo o

conteúdo da mesma maneira que os outros. Cabe aos professores aprender a

lidar com seus alunos, adaptar sua aula e acreditar no potencial dos alunos.

(Aluna de Química)

No que tange a inclusão, posturas docentes e adaptações curriculares não podem fazer

uma inclusão adequada sem a acessibilidade aos locais. Notamos que muitos alunos ao relatar

Page 15: ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA … Coninter 4/GT 14/30. ANALISE DE CONTEUDO... · A Educação Especial e Inclusiva tem sua defesa assegurada no âmbito internacional

ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA PRATICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA

AZEVEDO, Ana Beatriz Vaz de. COELHO, Débora Miranda. FERNANDES, Edicléa Mascarenhas

Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de

dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4

423

problemas de acessibilidade falaram mais sobre a acessibilidade relacionada a uma

deficiência física, como vistos nos relatos abaixo:

O único problema era durante as aulas da educação física, ele nunca fez

nenhuma atividade relacionada aos esportes do 9º ano até a 2ª série do

ensino médio (na minha escola, não tínhamos aula de educação física na 3ª

série do ensino médio), durante as aulas de educação física ele ficava no

canto da quadra, normalmente conversando com o pessoal, os que não

faziam aula e também os que faziam aula e podiam ficar sentados no banco,

normalmente esperando para participar de alguma atividade, ou esperando

uma atividade acabar, por exemplo, as garotas que ficavam olhando os

meninos jogarem futsal, ou os garotos, que ficavam esperando as meninas

jogarem handball, para passar em educação física, ele entregava ao professor

um trabalho escrito relacionado a matéria, ou seja, ele possuía um método

diferente de ser avaliado na matéria, normalmente, o sistema da escola,

consistia na nota ser baseada no número de aulas que o aluno realizava a

cada trimestre.(Aluno de Química)

Meu segundo contato com uma pessoa com deficiência não foi de forma

direta, às vezes eu só observava, era uma menina da outra turma com

paralisia, suponho que ela estava no oitavo ano do ciclo. As vezes, via ela

(sic) chegar de carro com a mãe ou junto de algumas colegas que ajudavam

comer algum lanche. A condição dela trazia dificuldades em um colégio que

nao era adaptado para cadeirantes, nao haviam rampas, nem elevadores,

apenas escadas. Ela ficava restrita em estudar apenas nas salas do primeiro

andar, quando era necessário exibir algum filme no auditório, que ficava no

terceiro andar, ela tinha que ser carregada no colo.(Aluna de historia)

Em um, dentre os casos que me lembro, o de um colega cadeirante é um

exemplo que infelizmente ainda ocorre muito em escolas. Sua acessibilidade

diária para chegar à sala de aula era dificultosa. Porque não havia rampas

muito menos um elevador ou equipamento equivalente para levá-lo a sua

sala de aula e assim, assistir as aulas. Todos os dias funcionários com o pai

do meu colega ajudavam no seu deslocamento trabalhoso que poderia ser

evitado com a acessibilidade adequada em que ele e tantos outros têm

direito. (Aluna de Ciências Sociais)

Durante toda a caminhada de visitas a fisioterapeutas, neurologista, pediatra,

escolas, dentre outros profissionais que poderiam ajudar no desenvolvimento

do meu irmão, me recordo de um obstáculo que me dói: acessibilidade. Até

os 14 anos do Raí, meus pais não tinham condições financeiras para adquirir

um automóvel próprio, e passada uma certa idade tanto dos meus pais que

ficavam velhos, tanto do meu irmão que estava crescendo, ficava cada vez

mais difícil deslocá-lo de um lado para o outro nos braços. Era motoristas

que não paravam, ônibus "quebrado", às vezes meu pai ficava até uma hora

aguardando a "boa vontade" de um motorista que quisesse parar. Até a

entrada do primeiro processo em uma das empresas de onibus, que por sinal,

está rolando até os dias de hoje.(Aluna de História)

Page 16: ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA … Coninter 4/GT 14/30. ANALISE DE CONTEUDO... · A Educação Especial e Inclusiva tem sua defesa assegurada no âmbito internacional

ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA PRATICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA

AZEVEDO, Ana Beatriz Vaz de. COELHO, Débora Miranda. FERNANDES, Edicléa Mascarenhas

Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de

dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4

424

Existem grandes desafios para um local se tornar acessível. Não se pode pensar

somente em acessibilidade do espaço físico. No entanto, uma aluna relatou uma percepção

diferente de acessibilidade, neste caso para com um deficiente auditivo.

A acessibilidade para deficientes auditivos é relativamente tranquila, por ser

uma 'deficiência invisível, nao aparente à primeira vista. A acessibilidade era

difícil quando era necessária a fala, e boa parte dos locais públicos, de escola

regulares e médicos à bancos e lojas, nao tem a presença de um tradutor de

libras ou alguém que saiba a linguagem de sinais, dificultando e muito a

interação dessas pessoas. (Aluna de Química)

Este relato de acessibilidade nos mostra que a escola se adaptou ao aluno e não o

aluno a sua escola. Esse é um desafio enfrentado pelas escolas, elas não tem que receber os

alunos apenas, mas dar a eles a melhor formação possível, com as devidas adaptações. Não

são todos os colégios que estão aptos a receber alunos diferenciados. As escolas e

universidade tem que ir se adaptando, a demanda existe e a cada dia aumenta mais. Em nossa

Universidade mesmo a inclusão não é feita adequadamente como relatado pela aluna.

Ainda sobre a conversa, o aluno me disse que assistia às aulas na maioria das

vezes com um gravador próprio, as provas eram orais, lembro-me dele dizer

que as condições de adaptações não eram muito boas, o que me levou a

refletir sobre minha vida e de como reclamo às vezes de coisas tão poucas,

entendendo assim que o benefício que ganhei naquele dia foi de ouvir aquela

experiência de vida que me tornou uma pessoa muito melhor, ao imaginar

quantos desafios esse graduando enfrentava diariamente com força e

coragem, tentando a todo tempo superar um obstáculo. (Aluna*)

A inclusão é um desafio social que o Brasil aceitou, ao qual nos unimos também a

partir da Declaração de Salamanca (1994), e agora vemos futuros professores lutando por

isso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos relatos, percebemos, então, que a disciplina de Práticas Pedagógicas em

Educação Inclusiva tem contribuído para despertar seus alunos para a necessidade de se

preparar para as diferenças presentes na sala de aula. Nas falas, são trazidas temáticas diversas

que repensam a forma de ensinar e aprender, assim como são discutidas questões relacionadas

ao que seria acessibilidade, o que seria inclusão e como esta pode, ou não, ocorrer. Enfim, por

Page 17: ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA … Coninter 4/GT 14/30. ANALISE DE CONTEUDO... · A Educação Especial e Inclusiva tem sua defesa assegurada no âmbito internacional

ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA PRATICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA

AZEVEDO, Ana Beatriz Vaz de. COELHO, Débora Miranda. FERNANDES, Edicléa Mascarenhas

Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de

dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4

425

meio dos relatos, notamos que a disciplina tem contribuído para formar professores que

atendam não só às demandas legislativas e às declarações internacionais, mas também aptos a

se sensibilizar com às necessidades alheias.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Editora setenta, 1977.

BRASIL. Lei 10172, 2001. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/L10172.pdf.

Acessado em: 02 de setembro de 2015.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acessado em: 02 de

setembro de 2015

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394, 1996. Disponível em:

http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf. Acessado em: 02 de setembro de 2015.

ESPANHA. Declaração de Salamanca _ Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das

Necessidades Educativas Especiais. Disponível em:

http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf

FERNANDES, Edicléa Mascarenhas et alii. Princípios metodológicos da disciplina prática

pedagógica em educação inclusiva na formação de professores em cursos de licenciatura da

UERJ. In: MENDES, Enicéia Gonçalves; ALMEIDA, Maria Amélia (Org.). A pesquisa sobre

inclusão escolar em suas múltiplas dimensões: teoria, política e formação. 1ªed. Marília:

Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial, 2012, v. 1, p. 281-296.

FERNANDES, Ediclea Mascarenhas et alii. A disciplina Prática Pedagógica em Educação

Inclusiva no Currículo das Licenciaturas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro: uma

proposta de formação reflexiva. Anais do IV Congresso Multidisciplinar de Educação

Especial. Londrina, 2007.

SANTIAGO, Carine Layse Vieira, MATTOS, Thiago Caeiro e FERNANDES, Ediclea

Mascarenhas. O impacto da disciplina de Práticas Pedagógicas em Educação Inclusiva nos

alunos de licenciaturas. VII Encontro da Associação Brasileira de Pesquisadores em

Educação Especial. Londrina, 2011.

VASCONCELOS, Eduardo Mourão. Os conceitos e tipos de práticas interdisciplinares e

interparadigmáticas. In.: ______.Complexidade e pesquisa interdisciplinar. Epistemologia e

metodologia participativa. Petrópolis: Vozes, 2002.

______. A fundamentação teórica e conceitual em pesquisas complexas e interdisciplinares.

In.: ______.Complexidade e pesquisa interdisciplinar. Epistemologia e metodologia

participativa. Petrópolis: Vozes, 2002.

Page 18: ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA … Coninter 4/GT 14/30. ANALISE DE CONTEUDO... · A Educação Especial e Inclusiva tem sua defesa assegurada no âmbito internacional

ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MEMORIAIS DA DISCIPLINA PRATICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA

AZEVEDO, Ana Beatriz Vaz de. COELHO, Débora Miranda. FERNANDES, Edicléa Mascarenhas

Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de

dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4

426

GLAT, Rosana e FERNANDES, Ediclea Mascarenhas. Da Educação Segregada à Educação

Inclusiva: uma Breve Reflexão sobre os Paradigmas Educacionais no Contexto da Educação

Especial Brasileira.Revista Inclusão: MEC, 2005.

UNESCO. Declaração de Salamanca e Linha de Ação sobre Necessidades Educativas

Especiais. Brasília: CORDE, 1994.

LIPPE, Elisa Márcia Oliveira; CAMARGO, Eder Pires de. O ensino de ciências e seus

desafios para a inclusão: o papel do professor especialista. In: NARDI, Roberto. (Org.).

Ensino de ciências e Matemática I. 1ed.São Paulo: Editora Unesp, 2009, v. 1, p. 133-144.