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Análise das dificuldades enfrentadas pelas empresas incubadas de base
tecnológica por meio do Modelo Sistêmico
Daniele Silva Rodrigues1
Wender Fraga Miranda2
Jorge Alberto dos Santos3
Resumo
O objetivo desse estudo é descrever as dificuldades enfrentadas por empresas incubadas na
Incubadora de Empresas de Base Tecnológica/CENTEV/UFV de acordo com o relato de seus
administradores e analisá-las sob a ótica de um modelo sistêmico adaptado proposto por
Churchman (1976). O estudo foi constituído por uma amostra de 12 empresas incubadas e
executado em quatro etapas, sendo: a) coleta de dados primários, b) análise e codificação dos
dados primários, c) análise seletiva e d) levantamento global. Os dados para a análise foram
obtidos por meio de entrevistas semiestruturadas realizadas com os administradores de tais
empreendimentos e analisados sob a ótica do modelo sistêmico adaptado proposto por
Churchman (1976). Com base nos resultados obtidos através da análise das entrevistas, por
meio do modelo sistêmico, este estudo auferiu os seguintes resultados: a) apresentou para
cada empresa um diagnóstico do relato de suas dificuldades analisadas de forma sistêmica e
b) apresentou um modelo sistêmico de análise de dificuldades de empresas incubadas, com a
pretensão de ajudar às incubadoras na sua função de apoio às empresas incubadas. A análise
das inter-relações destas dificuldades em um modelo sistêmico foi um passo importante para
cada empresa entender seu estado real de dificuldades (ao menos no que se refere à sua
autopercepção) como também foi importante para que as incubadoras percebam com maior
profundidade os pontos em que um suporte adicional possa ser mais efetivo, buscando dessa
forma contribuir para amenizar os índices de mortalidade de pequenos empreendimentos.
Contudo, verificou-se que a análise das inter-relações existentes entre as dificuldades
enfrentadas pelas empresas incubadas, por meio do modelo sistêmico adaptado, não pode ser
realizada de modo global e sim de uma maneira individual, pois cada empresa possui as suas
peculiaridades. Vale ressaltar, que apesar de já existirem diversos estudos realizados sobre
este tema, o estudo inovou ao propor uma metodologia diferente, uma vez que não se
1 Graduanda em Ciências Contábeis pela Universidade Federal de Viçosa.
Endereço: Avenida Peter Henry Rolfs, s/n - Campus Universitário, Viçosa - MG, 36.570-900.
Email: [email protected]
2 Doutorando em Controladoria e Contabilidade pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da
Universidade de São Paulo (FEA/USP).
Endereço: Avenida Peter Henry Rolfs, s/n - Campus Universitário, Viçosa - MG, 36.570-900.
Email: [email protected]
3 Doutor em Management Learning and Leadership pela Lancaster University, LANCS, Inglaterra.
Endereço: Departamento de Administração da Universidade Federal de Viçosa, s/n - Campus Universitário,
Centro, Florestal-MG, 36.571-000.
Email: [email protected]
preocupou somente em identificar as dificuldades enfrentadas pelas empresas incubadas como
também mostrou a inter-relação existente entre elas por meio de um modelo sistêmico.
Palavras-chaves: Empresas incubadas; Dificuldades e Inovação Tecnológica.
Abstract
The aim of this study is to describe the difficulties faced by companies incubated in the
Business Incubator for Technological Base / CENTEV / UFV according to the report of its
managers and analyze them from the perspective of an adapted system model proposed by
Churchman (1976). The study comprised a sample of 12 companies incubated and
implemented in four stages, as follows: a) primary data collection, b) analysis and coding of
primary data, c) selective analysis ed) global survey. Data for the analysis were collected
through semi-structured interviews with the managers of such enterprises and analyzed from
the viewpoint of adapted systems model proposed by Churchman (1976). Based on the results
obtained by analyzing the interviews, through the systemic model, this study earned the
following results: a) presented for each company reported a diagnosis of its difficulties
analyzed systemically b) presented a systemic analysis model difficulties of incubated
companies, with the intention of helping the incubators in its supporting role to the incubated
companies. The analysis of the interrelationships of these difficulties in a systemic model was
an important step for every company to understand its true state of difficulty (at least with
regard to their self-perception) as it was also important to realize that incubators in greater
depth the points where additional support may be more effective, thus seeking help to mitigate
the mortality rate of small businesses. However, it was found that the analysis of the
interrelationships between the difficulties faced by companies incubated by means of the
adapted system model, can not be made global, but in an individual way so as each company
has its peculiarities. It is noteworthy that although there are already many studies on this
topic, the study broke new ground by proposing a different approach, since not only bothered
to identify the difficulties faced by incubated companies but also showed the interrelationship
between them by through a systemic model.
Keywords: Incubated Companies; Difficulties and Technological Innovation.
1 INTRODUÇÃO
O objetivo deste estudo consistiu em descrever as dificuldades encontradas por
empresas incubadas na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica – IEBT - do Centro
Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa – CENTEV - da Universidade Federal
de Viçosa – UFV de acordo com o relato de seus administradores e analisá-las sob a ótica do
modelo sistêmico adaptado proposto por Churchman (1976).
Na IEBT o apoio a novos negócios ocorre em duas etapas: a) a pré-incubação; e b) a
incubação. Com duração de seis meses, o período de pré-incubação se destina àqueles
“empreendedores que possuem uma ideia de produto ou serviço inovador, mas que precisam
de suporte e orientação para transformá-la em um negócio” 4. O período de incubação, que
tem duração máxima de 3 anos, visa à estruturação do negócio e à formação do
empreendedor. Em tal período de incubação é oferecida às empresas incubadas uma
infraestrutura de espaço e serviços com o objetivo de aumentar a probabilidade de sucesso do
empreendimento. A IEBT pensa atualmente em oferecer também um período de pós-
incubação para amadurecimento das empresas incubadas.
A Resolução 01/2012 do Conselho Universitário da UFV estabeleceu como missão da
IEBT “viabilizar a criação e o desenvolvimento de novos negócios de base tecnológica e
promover a difusão da cultura empreendedora e das tecnologias inovadoras oriundas da
comunidade acadêmica”. Nesta pesquisa o interesse está na primeira parte desta missão, ou
seja, em como viabilizar a criação de novos negócios de base tecnológica, com foco especial
nas dificuldades que tais empresas enfrentam em seus primeiros anos de desenvolvimento.
Vale ressaltar, que nem todo negócio nascente precisa de uma incubadora. Assim
como os recém-nascidos humanos, empresas podem nascer esbanjando saúde e crescer
saudáveis sem o auxílio de incubadoras. No entanto, o que tem preocupado governos e
entidades responsáveis pela prosperidade econômica na sociedade é que muitas das iniciativas
de empreendimento que são iniciadas (nascem) não conseguem sobreviver aos primeiros anos
de vida e são fechadas (morrem) ainda na infância. De acordo com o estudo realizado pelo
IBGE(2010), no Brasil 48,2% das empresas de pequeno porte encerram suas atividades em 3
4 Incubadora de Empresas de Base Tecnológica. Disponível em: http://www.centev.ufv.br/incubadora/.
anos. Isto não representa apenas prejuízo financeiro para o empreendedor, mas também
desperdício de recursos sociais. Estes males justificam a necessidade de intervenção da
sociedade para ajudar as empresas nascentes com dificuldades de sobrevivência a superar esta
fase. Neste sentido é que entram em cena as incubadoras de empresa.
De acordo com a Anprotec “uma incubadora é uma entidade que tem por objetivo
oferecer suporte a empreendedores para que eles possam desenvolver ideias inovadoras e
transformá-las em empreendimentos de sucesso.” Para atingirem esses objetivos as
incubadoras necessitam “oferece infraestrutura, capacitação e suporte gerencial, orientando os
empreendedores sobre aspectos administrativos, comerciais, financeiros e jurídicos, entre
outras questões essenciais ao desenvolvimento de uma empresa”.
Apesar de entenderem o seu papel no processo de incubação de empresas, as
incubadoras lidam com muitas dificuldades para viabilizar o sucesso das empresas incubadas.
Estas dificuldades se originam desde o processo de selecionar quais empresas devem ser
incubadas ou não, passam pelo tipo de apoio que se deve prestar aos negócios incubados e
culminam em quando considerar que o negócio incubado já possui maturidade suficiente para
atuar no mercado sem o auxílio da incubadora. Para compreender seu papel no auxílio às
empresas incubadas e também no desenvolvimento destas empresas, as incubadoras precisam
identificar as dificuldades das empresas incubadas e oferecer o apoio necessário.
De acordo com o Centro de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos -
CERNE – a incubadora deve ter uma equipe de gestão que identifique “as dificuldades e
oportunidades [das empresas incubadas], de forma a acelerar e ampliar o sucesso dos
empreendedores” (p. 7). Ainda segundo o documento, esta atenção da incubadora deve levar
em consideração os cinco eixos de desenvolvimento do negócio: “empreendedores, produto,
recursos, mercado e gestão” (p. 28).
Em suma, o oferecimento de um apoio adequado pressupõe o conhecimento das
dificuldades e das necessidades da empresa incubada. É neste ponto que esta pesquisa
pretende dar sua contribuição. Portanto, está pesquisa procurou responder a seguinte questão
problema: com base no ponto de vista dos empreendedores, quais são as dificuldades
encontradas pelas empresas incubadas? Para responder a essa questão foi realizada uma
análise dessas dificuldades sob a ótica do modelo sistêmico adaptado proposto por
Churchman (1976).
Este trabalho tem mais quatro seções, além desta introdução. A próxima seção
apresenta uma breve revisão da literatura acerca de estudos cujo foco foi à identificação das
dificuldades enfrentadas pelas empresas incubadas. A terceira abrange os procedimentos
metodológicos realizados no estudo para atender os objetivos propostos. A quarta descreve os
resultados encontrados. E por fim, na quinta seção são apresentadas as conclusões obtidas por
meio desse estudo.
2 ESTUDOS ANTERIORES
Diversos estudos têm feito levantamentos das dificuldades das empresas incubadas.
Pode-se citar o estudo realizado por Raupp e Beuren (2009), que em tal trabalho os autores
apontam uma série de dificuldades específicas enfrentadas por empresas incubadas, conforme
mostra a figura 1 a seguir, onde se destacam a falta de recursos financeiros e a falta de
conhecimento de gestão empresarial.
Figura 1 – Dificuldades Normalmente Encontradas pelas Empresas nas Diversas Fases de Incubação.
Fonte: Raupp e Beuren, 2009, p. 99.
Já o trabalho de Resende et al. (2009), que consistiu em identificar as dificuldades de
empresas incubadas do setor de agronegócio para certificar, registrar e regularizar os produtos
desenvolvidos, cita fatores como: as dificuldades para regulamentação do registro de alguns
tipos de produtos, os custos elevados para realização de testes de avaliação toxicológica em
institutos como IBAMA e ANVISA para produtos utilizados na alimentação, o peso das
obrigações trabalhistas na contratação de pessoal e a ineficiente burocracia estatal. A principal
conclusão do estudo é que o Estado é moroso e oneroso, o que, para as MPEs pode
representar um custo muito alto.
Estudos desta natureza, embora listem as dificuldades enfrentadas pelas empresas, não
se preocupam, no entanto, em discutir sistemicamente as dificuldades encontradas por
empresas incubadas, ou seja, não identificam a natureza das inter-relações entre estas
dificuldades. Para preencher esta lacuna, nesta pesquisa considerou-se a organização como
sendo um conjunto de atividades para atingir um propósito em um fluxo sistêmico
(Churchman, 1976) e se analisou as inter-relações das diversas atividades que constituem este
fluxo.
Figura 2 - Modelo Organizacional
Fonte: Dados da pesquisa.
O modelo organizacional (representado pela figura 2) funciona como um fluxo
sistêmico, onde cada elemento serve e é servido pelos outros, não tendo existência
independente. Embora, cada elemento precisou ser analisado separadamente para sua plena
compreensão, dificuldades encontradas em cada ponto necessitaram ser compreendidas em
suas relações com o restante do sistema. Desta forma foi preciso empreender a:
Análise das Dificuldades de Mercado: a análise das dificuldades de mercado lidou
com a avaliação que o empreendedor fez das suas dificuldades no relacionamento com
clientes. Como sugere Drucker (1984) nesta relação o empreendedor se questionou sobre
quem é o seu cliente e quem ele deveria ser.
Análise das Dificuldades com o Canal Distributivo: para atingir o mercado, toda
empresa precisa empregar canais distributivos (Drucker, 1964). Nesta fase, foram analisadas
as dificuldades percebidas pelo empreendedor quanto a seus canais de distribuição.
Análise das Dificuldades com Produtos: a análise das dificuldades com produtos
precisou começar com a definição do que é o produto (ou produtos) da organização e, na
análise sequencial, especificou qual o resultado esperado de cada linha de produto. Empresas
nascentes geralmente possuem diversos tipos de produtos que podem ser definidos de acordo
com seu grau de desenvolvimento: a) produtos em fase de comercialização; b) produtos em
desenvolvimento; c) ou protótipos de produtos. Para cada tipo de produto foram analisadas
suas dificuldades.
Análise das Dificuldades com os Recursos: a análise das dificuldades com recursos
foi dividida entre os três tipos básicos de recursos utilizados pelas organizações: pessoas,
materiais (processos) e financeiros.
Análise das Dificuldades com os Fornecedores: a análise das dificuldades com
fornecedores esteve intimamente ligada à análise das dificuldades com os recursos, sendo
classificados como fornecedores de pessoas, de materiais (processos) e financeiros.
Análise das Dificuldades com o Processo: a análise das dificuldades com o processo
se referiu ao fluxo de transformação de recursos em produtos e fez referência tanto a
processos físicos quanto conceituais.
Análise das Dificuldades com o Ambiente: a análise de dificuldades com o ambiente
referiu-se a fatores externos percebidos pelo empreendedor como inibidores da ação
organizacional.
Análise das Dificuldades com a Gestão: a análise de dificuldades com a gestão foi
uma auto reflexão do empreendedor das suas próprias dificuldades como gestor.
3 METODOLOGIA
A análise realizada teve um caráter sistêmico e funcionalista. Com isto, houve a
pretensão de esclarecer que o interesse estava no empreendimento como sendo um organismo
que tem uma função social e está inserido em uma sociedade capitalista de produção. Outra
perspectiva dessa análise implicou em elucidar que o intuito era analisar a organização do
ponto de vista dos seus proprietários. Isto não quer dizer que outras perspectivas não foram
importantes para a análise, mas que esta importância teve de ser percebida pelo empresário e
transformada em ação.
Metodologicamente, a pesquisa teve caráter exploratório e descritivo. Por ser
exploratória, teve-se a pretensão de mostrar que o estudo visou ganhar “familiaridade com a
área tema e no ganho de conhecimento para uma investigação mais rigorosa em estágio
posterior” (Collins e Hussey, 2005, p. 328). A pesquisa é descritiva, uma vez que procurou
descrever de forma sistemática a opinião dos entrevistados sobre as dificuldades encontradas.
A amostra da pesquisa foi constituída pelas empresas incubadas da IEBT conforme
quadro abaixo:
Quadro 1 – Empresas Incubadas.
EMPRESA ÁREA DE ATUAÇÃO
JT1 TI (Software)
ST2 TI (Software)
TT3 TI (Software)
PB1 Biotecnologia
HB2 Biotecnologia
EB3 Biotecnologia
FB4 Biotecnologia
CA1 Agronegócio
SA2 Agronegócio
RA3 Agronegócio
NSA1 Saúde Animal
CAL 1 Alimentos
Fonte: Dados da pesquisa.
A pesquisa foi realizada em quatro etapas, tendo como base a orientação de pesquisa
qualitativa proposta por Strauss e Corbin (2008):
a) Coleta de Dados Primários: a coleta de dados primários foi feita através de entrevistas
semiestruturadas com os responsáveis pela gerência do empreendimento. Em tal
entrevista, os responsáveis pela gerência discorreram sobre os desafios/dificuldades que
enfrentam em oito categorias: Produto, Mercado, Canais de Distribuição, Processos,
Recursos (Financeiros, Humanos, Materiais), Fornecedores, Ambiente e Gestão.
b) Análise e Codificação dos Dados Primários: após as entrevistas, as falas dos
entrevistados foram analisadas e codificadas. A análise e a codificação foram realizadas
por meio da técnica de Exame Microscópico de Dados (Strauss e Corbin, 2008) que
consistiu na “análise detalhada, linha por linha [ no nosso caso, frase por frase ] para gerar
categorias iniciais” (p. 65). Nesta etapa foram analisas as falas dos entrevistados buscando
fazer um levantamento dos desafios/dificuldades que cada empresa enfrenta, depois de tal
levantamento relacionou-se os desafios discorridos com as categorias de interesse dessa
pesquisa.
c) Análise Seletiva: nesta etapa os resultados das análises foram organizados por empresas,
fornecendo a cada uma um diagnóstico do que foi pesquisado em relação a ela.
Por meio dos dados levantados e codificados na etapa anterior, efetuou-se um
diagnóstico individual das empresas que compõe a amostra estudada, em tais diagnósticos
realizou-se uma análise por meio do modelo sistêmico, ou seja, pesquisou-se a inter-relação
existente entre os desafios/dificuldades enfrentados por cada empresa.
d) Levantamento Global: a última etapa consistiu no levantamento global dos
desafios/dificuldades enfrentados pelas empresas, nesta etapa fez-se uma análise
quantitativa dos desafios/dificuldades de todas as empresas que compõe a amostra de
estudo. Neste levantamento global das dificuldades, buscou-se destacar quais são os
desafios/dificuldades frequentes.
4 ANÁLISE DOS DADOS
O objetivo desta pesquisa consistiu em descrever as dificuldades encontradas por
empresas incubadas na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica/CENTEV/UFV de
acordo com o relato de seus administradores e analisá-las sob a ótica do modelo sistêmico
adaptado proposto por Churchman (1976). A análise buscou explicar as inter-relações
existentes entre as dificuldades encontradas nos diversos subsistemas do modelo (Mercado,
Produtos, Canais de Distribuição, Ambiente, Fornecedores, Processos, Recursos e Gestão).
A análise dos resultados abrangeu dois tópicos: o primeiro foi o levantamento dos
desafios/dificuldades relatados pelos empresários, conforme a Tabela 1, na qual é apresentada
a classificação dos desafios/dificuldades relatados pelos administradores de acordo com as
categorias analisadas nesta pesquisa (produto, mercado, canais de distribuição, processos,
recursos humanos, recursos materiais, recursos financeiros, fornecedores, ambiente e gestão).
Já o segundo tópico diz respeito à análise dos desafios/dificuldades por meio do modelo
sistêmico adaptado proposto por Churchman (1976).
Tabela 1 – Levantamento dos desafios/dificuldades enfrentadas pelas empresas incubadas
DE
SA
FIO
S E
DIF
ICU
LD
AD
ES
CATEGORIAS
PRODUTO/SERVIÇO
Resistência ao uso
Regularização do produto/serviço junto aos órgãos reguladores
Falhas no desenvolvimento
Características do produto (inovação e de base tecnológica)
Padronização dos treinamentos oferecidos
Interferência dos produtos meios (falta de atenção no desenvolvimento do produto principal)
Custo elevado do produto
MERCADO
Acessar o mercado
Conquistar novos Clientes
Concorrentes
Continua
DE
SA
FIO
S E
DIF
ICU
LD
AD
ES
CATEGORIAS
PRODUTO/SERVIÇO
Resistência ao uso
Regularização do produto/serviço junto aos órgãos reguladores
Falhas no desenvolvimento
Características do produto (inovação e de base tecnológica)
Padronização dos treinamentos oferecidos
Interferência dos produtos meios (falta de atenção no desenvolvimento do produto principal)
Custo elevado do produto
MERCADO
Acessar o mercado
Conquistar novos Clientes
Concorrentes
CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO
Restrição nos meios de distribuição do produto
Poucos representantes de venda
Encontrar e efetivar parcerias
Atrasos na entrega dos produtos
Burocracias nos processos licitatórios
Escolher um canal de distribuição adequado
PROCESSOS
Seguir adequadamente os procedimentos pré-estabelecidos
Melhoramento das técnicas de produção
Falta de controle dos processos produtivos
Serviços individualizados, impossibilidade de padronização dos processos.
Atraso no desenvolvimento do produto em virtude da falta de profissionais qualificados
RECURSOS HUMANOS
Contratar mão de obra apta e qualificada
Reter mão de obra apta e qualificada
Falta de profissionais qualificados
RECURSOS FINANCEIROS
Dependência de recursos advindos das agências de fomento
Escassez de recursos financeiros
Obtenção de recursos junto ás agências de fomento e outras instituições
RECURSOS MATERIAIS
Encontrar equipamentos que satisfação as necessidades da empresa
Custo elevado dos materiais
Desenvolver um componente do seu produto
FORNECEDORES
Encontrar fornecedor local
Fornecedor local com custo elevado
Negociação direta com o fornecedor
Má qualidade do atendimento
AMBIENTE
•Viçosa/Prefeitura de Viçosa
Ausência de incentivos para a criação de empresas
Localização de Viçosa
Estrutura da cidade
•Universidade
A visibilidade das empresas depende da universidade
•Burocracia dos órgãos públicos
Burocracia com relação aos processos da Incubadora
Burocracia com relação aos processos da Universidade
Burocracia de outras instituições públicas
•Ilegalidade nos processos de contratação de serviço ou compra de produto
•Economia e política
Continua
DE
SA
FIO
S E
DIF
ICU
LD
AD
ES
CATEGORIAS
•Incubadora
Fornecer parcerias com os órgãos pertencentes a UFV(empresas juniores)
Poucas ações a fim de atrair investidores
Infraestrutura oferecida
Apoio administrativo
Percepção inadequada sobre as necessidades da empresa
Cursos e capacitações
Imagem que o mercado tem em relação às empresas que participam do processo de incubação
GESTÃO
Falta de tempo e atenção dada a gestão
Falta de foco
Concentração da gestão em um único sócio
Interação com os stakeholders
Falta de conhecimento por parte do(s) sócio(s) sobre gestão de empresas.
Estrutura societária familiar
Planejamento financeiro
Evasão dós sócio
Fonte: Elaboração própria
Sob a ótica do modelo sistêmico proposto por Churchman (1976), buscou-se verificar
a inter-ligação entre os desafios e dificuldades enfrentados pelas empresas incubadas. Nesta
pesquisa observou-se que tal fato ocorre, contudo houve a necessidade de se fazer uma
adaptação neste modelo, uma vez que se constatou que alguns desses desafios/dificuldades
exercem maiores influências no surgimento de outros desafios. Com isso, por meio do modelo
sistêmico adaptado analisou-se a inter-relação entre os desafios/dificuldades e verificou quais
desses desafios tem maior influência no surgimento de outros desafios.
Ao analisar os desafios/dificuldades enfrentados nas categorias: Produto, Mercado,
Canais de Distribuição, Processos, Recursos (Humanos, Financeiros e Materiais),
Fornecedores, Ambiente e Gestão, constata-se que estes estão interligados, ou seja, um
desafio pode influenciar no surgimento de diversos desafios. Com base no diagnóstico
individual das empresas verifica-se que os desafios/dificuldades relacionados ao Produto,
Recursos Financeiros Gestão são os que provocam o surgimento de outros
desafios/dificuldades. Conforme pode ser ilustrado na Figura 3 abaixo:
Figura 3 – Modelo sistêmico adaptado para análise das empresas.
Fonte: Elaboração própria
Observa-se que da amostra constituída por 12 empresas:
10 empresas apresentaram os desafios decorrentes da categoria “produto” como um
desafio que influência no surgimento de outros desafios, mais especificamente, as
dificuldades para regularizar os produtos junto aos órgãos competentes e à
interferência dos “produtos meios” têm maior influência no surgimento de outros
desafios.
10 empresas apresentaram os desafios decorrentes da categoria “recursos financeiros”
como um desafio que influência no surgimento de outros desafios, mais
especificamente, as dificuldades relacionadas à escassez de recursos financeiros e para
obter recursos financeiros junto às agências de fomento e outras instituições são as
que mais influenciam no surgimento de outras desafios.
Mercado
Ambiente
Fornecedores
Recursos Humanos
Recursos Materiais
Canais de Distribuição
Processos
Produto
Recursos
Financeiros
Gestão
7 empresas apresentaram os desafios decorrentes da categoria “gestão” como um
desafio que influência no surgimento de outros desafios, mais especificamente, as
dificuldades em relacionadas a falta de tempo e atenção dada a gestão e a falta de
conhecimento por parte do(s) sócio(s) sobre gestão de empresas são as que mais
influenciam no surgimento de outras desafios. Ressalta-se que, das outras 5 empresas
que não apresentaram os desafios decorrentes da categoria gestão como desafios que
influenciam no surgimento de outros desafios, 3 dessas empresas revelaram que nem
todos os sócios têm conhecimentos sobre gestão, e por isso enfrentam obstáculos para
gerenciar a empresa, sendo a escolha das decisões ligadas a empresa concentradas no
sócio que possui formação/conhecimento em tal área.
Constatou-se que a análise dos desafios/dificuldades por meio de um modelo
sistêmico, com o intuito de estudar quais desafios estão interligados, não pode ser realizada de
modo global e sim de uma maneira individual, ou seja, analisar os e desafios/dificuldades de
cada empresa, pois cada empresa possui as suas peculiaridades.
A análise global permitiu fazer um levantamento de quais desafios tem maior
influência no surgimento de outros desafios, contudo o julgamento correto, de quais desafios
apresentam essa característica de influência é realizado de modo individualizado.
Por meio de da análise individual, visualizou-se que as empresas enfrentam
dificuldades para terminar o desenvolvimento do seu produto principal, sendo esse com
características de base tecnológica e inovação, tal fato ocasiona problemas para esta se manter
financeiramente, a fim de solucionar esse desafio tais instituições comercializam outros
produtos, denominados nessa pesquisa de “produtos meios”, contudo o desenvolvimento
desses produtos meios, na maioria das empresas estudadas, retarda o processo de
desenvolvimento do seu produto principal, pois existe uma inquietação na empresa em qual
pedido atender, “produzir os produtos meios para gerar entrada de caixa ou terminar o
desenvolvimento do produto principal?”, isso ocorre devido à restrição de mão de obra
enfrentada pelas empresas, que não possuem profissionais suficientes para atender a tais
demandas.
As empresas por possuírem poucos recursos financeiros não podem expandir o seu
quadro de funcionários e ainda estão sujeitas a perdê-los por não terem recursos financeiros
suficientes para oferecer melhores benefícios a tais funcionários, o que ocasiona em
dificuldades para reter mão de obra apta e qualificada. A principal fonte de recursos
financeiros para empresas de base tecnológica e inovação são as agências de fomento, no
entanto os editais de tais instituições, de acordo com o relato da maioria dos entrevistados,
não atendem as necessidades de recursos financeiros dessas empresas e possuem valores
insuficientes para essas organizações finalizarem o desenvolvimento de seus produtos
principais e se manterem, esses editais ainda apresentam restrições na aplicação dos recursos
disponibilizados.
Alinhado a todos esses desafios existe a falta de capacitação na área gerencial por
parte dos sócios dessas empresas, tais sócios, em sua grande maioria, são profissionais
altamente técnicos, entendem muito do desenvolvimento da tecnologia, mas não possuem
conhecimentos sobre gestão empresarial. Porém, a maioria desses sócios, que discorreram
terem dificuldades para gerenciar a sua empresa por falta de conhecimento na área
administrativa, não participam ativamente dos cursos e capacitações oferecidos pela
Incubadora, alguns justificam que não participam dessas atividades por não terem tempo.
Vale ressaltar, que as incubadoras de empresas são instituições que têm como um de
seus objetivos auxiliar na capacitação dos gestores das empresas que participam do processo
de incubação. Em seu site a Incubadora de Empresas de Base Tecnológica CENTEV/UFV
apresenta os seus objetivos, sendo alguns desses objetivos: “Oferecer orientação em áreas
estratégicas para o desenvolvimento da empresa, tais como marketing, contabilidade,
legislação e captação de recursos” e “Disponibilizar consultorias e treinamentos para as
empresas vinculadas; e Estimular a formação da cultura empreendedora”. É sabido que tal
Incubadora possui problemas em sua infraestrutura, como a sua localização, deficiência na
prestação de serviços de: transporte, internet, telefonia, alimentação e serviços bancários,
contudo, sobre a qualidade dos treinamentos oferecidos pela incubadora não foi discorrido um
número expressivo de dificuldades, os poucos que participam ativamente desses treinamentos
e cursos discorrem que estes são de grande auxilio na sua formação enquanto gestor.
Desse modo, com base nos resultados obtidos através da análise das entrevistas por
meio do modelo sistêmico adaptado proposto por Churchman (1976), esta pesquisa auferiu os
seguintes resultados:
a) apresentou para cada empresa um diagnóstico do relato de suas dificuldades analisadas
de forma sistêmica.
b) apresentou um modelo sistêmico de análise de dificuldades de empresas incubadas,
com a pretensão de ajudar às incubadoras na sua função de apoio às empresas
incubadas.
5 CONCLUSÃO
O objetivo dessa pesquisa consistiu em descrever as dificuldades encontradas por
empresas incubadas de acordo com o relato de seus administradores e analisá-las sob a ótica
do modelo sistêmico adaptado proposto por Churchman (1976). Essa análise buscou explicar
as inter-relações entre as dificuldades encontradas nos diversos subsistemas do modelo, sendo
estes: Mercado, Produto, Canais de Distribuição, Processos, Fornecedores, Recursos
(Humanos, Financeiros e Materiais), Ambiente e Gestão. Para o alcance desse objetivo,
realizou-se uma pesquisa exploratória e descritiva, com abordagem qualitativa, os dados dessa
pesquisa foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas junto a 12 empresas
participantes do processo de incubação da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica –
IEBT - do Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa – CENTEV - da
Universidade Federal de Viçosa – UFV.
Com base nos resultados obtidos por meio deste estudo, ficou evidente que as
empresas pesquisadas possuem dificuldades quanto ao processo de produção de seus
produtos, sendo mais frequentes os desafios relacionados ao aprimoramento do processo
produtivo. Em relação ao produto, houve consenso de que a principal dificuldade é a
interferência dos produtos meios no desenvolvimento dos produtos principais. Outro
problema encontrado é o de captar recursos financeiros junto às agências de fomento e outras
instituições. Muitas das vezes os recursos disponíveis não atendem as necessidades dos
empreendedores, uma vez que em alguns editais já é expresso onde o recurso deve ser
aplicado.
Relacionado ao mercado, os principais desafios, de acordo com o relato dos
administradores, ocorrem em virtude da dificuldade em acessar o mercado e em relação aos
concorrentes. Em se tratando dos canais de distribuição, fornecedores e de recursos materiais
utilizados na produção, não houve consenso nas dificuldades encontradas. Já em relação aos
recursos humanos a principal dificuldade exposta é a de contratar e reter mão de obra apta e
qualificada.
Quando o tema se volta para os desafios encontrados pelos empreendedores em
relação ao ambiente onde as empresas estão inseridas, a principal dificuldade relatada é a
burocracia existente nos órgãos públicos com os quais as empresas de relacionam.
Por fim, quanto à gestão a principal dificuldade é a falta de conhecimento por parte
dos sócios sobre como gerenciar a empresa o que ocasiona em desafios no gerenciamento das
mesmas. Na maioria desses empreendimentos seus sócios possuem um enorme conhecimento
(formação) sobre a parte técnica, ou seja, sobre o desenvolvimento do produto, mas carecem
de conhecimentos sobre a gestão do negócio, e por não buscarem ativamente cursos ou
capacitações na área de gestão essa situação é agravada.
Dificuldades similares com as identificadas nesta pesquisa são apontadas no estudo de
Raupp e Beuren (2009), em seu trabalho os autores destacam que as principais dificuldades
enfrentadas pelas empresas incubadas relacionam-se a inserção desses empreendimentos no
mercado, a falta de conhecimento em gestão empresarial e de recursos financeiros.
Além da identificação dos desafios, esta pesquisa propôs a análise desses desafios por
meio do modelo sistêmico, com isso contatou-se que os mesmos estão interligados, ou seja,
um desafio pode influenciar no surgimento de diversos outros. Com base no diagnóstico
individual das empresas verifica-se que os desafios/dificuldades relacionados ao Produto,
Recursos Financeiros Gestão são os que impulsionam o surgimento de outros
desafios/dificuldades.
Pode-se inferir que está pesquisa alcançou o objetivo ao qual se propôs - analisar as
dificuldades das empresas incubadas por meio do modelo sistêmico adaptado proposto por
Churchman (1976) – entretanto, observa-se que várias vertentes podem ser exploradas nessa
linha de pesquisa a fim de complementar esse estudo. Portanto, recomenda-se, para futuras
pesquisas, averiguar qual a percepção dos empresários sobre o papel da incubadora, investigar
se tais empresários compreendem o verdadeiro papel das incubadoras que, conforme
discorrem a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores
(ANPROTEC), as incubadoras de empresas e parques tecnológicos são “entidades promotoras
de empreendimentos inovadores que têm por objetivo oferecer suporte a empreendedores para
que eles possam desenvolver ideias inovadoras e transformá-las em empreendimentos de
sucesso.” A ANPROTEC ressalta que para o alcance desse objetivo as incubadoras precisam
“oferece infraestrutura e suporte gerencial, orientando os empreendedores quanto à gestão do
negócio e sua competitividade, entre outras questões essenciais ao desenvolvimento de uma
empresa”. Recomenda-se também, para futuras pesquisas, a aplicação desse estudo em outras
incubadoras de base tecnológica e de base tradicional, para investigar os desafios comuns
existentes entre estes tipos de incubadoras. Outra recomendação é o aprofundamento na
análise da inter-relação existente entre as dificuldades, sendo que tal análise poderá ser
realizada por setor.
REFERÊNCIAS
ANPROTEC- Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos
Inovadores. Disponível em: <http://anprotec.org.br/site/pt/incubadoras-e-parques/>. Acesso
em 28 de julho de 2013.
CENTEV- Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa. Disponível em: <
http://www.centev.ufv.br/interna.php?area=objetivo&idIdioma=1&sis=1 > Acesso em 28 de
julho de 2013.
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Referência. Brasília, DF, Anprotec.
CERNE - Centro de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos –(2011). Volume 1.
Sumário Executivo. Brasília, DF, Anprotec.
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<www.ufv.br>. Acessoe em: 29 de julho de 2013.
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RESENDE, J. M et al. (2009). Principais Dificuldades Enfrentadas pelas Micro e Pequenas
Empresas Incubadas no Setor de Agronegócios. Artigo apresentado no XIX Seminário
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SEBRAE. 48% das empresas brasileiras fecham as portas depois de três anos. Disponível
em: <http://www.sebraepr.com.br/PortalInternet/Noticia/ci.48%25-das-empresas-brasileiras-
fecham-as-portas-depois-de-tr%C3%AAs-anos.print>. Acesso em 02 de abril de 2014.
STRAUSS, A. e Corbin, J. (2008) Pesquisa Qualitativa: técnicas e procedimentos para o
desenvolvimento de teoria fundamentada. Porto Alegre: Artmed/Bookman.