análise da peça os sete pecados capitais dos pequeno-burgueses de bertolt brecht

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  • 7/22/2019 Anlise Da Pea Os Sete Pecados Capitais Dos Pequeno-burgueses de Bertolt Brecht

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    ENREDO

    Duas irms, Anna I e Anna II, saem de sua terra natal em Louisiana, onde deixam

    sua famlia de pequeno-burgueses (o pai, a me e dois filhos), e partem para uma

    verdadeira odissia, passando por sete !idades, a maioria !uriosamente dos "#A$ %

    intento de ambas angariar dinheiro para construir uma pequena casa para si e para

    suas famlia (p$&')$ orm, para al!an*ar tal meta, elas tero de evitar !ometer os sete

    pe!ados !apitais, !ada um deles figurado em uma !idade$

    A primeira !idade em que as irms !hegam ser+ o pal!o da pregui*a$ ara

    !onseguirem o primeiro dinheiro, elas usam um truque Procuram encontrar casais.

    Anna II precipita-se sobre o homem como se j o conhecesse, abraa-o, censura-o, etc.,

    ou seja, deia-o numa situa!o de embarao, enquanto Anna I procura conter a irm!.

    A, de repente, Anna II "ai para cima da mulher e ameaa-a com sua sombrinha,

    enquanto Anna I procura etorquir dinheiro do homem com a promessa de afastar a

    irm!(p$&'&)$ Depois de prati!ado o golpe algumas vees, Anna I tem uma surpresa a

    irm em "e# de trabalhar, est no banco sentada dormindo (p$&'&)$ Anna I a

    repreende e a fa voltar para o trabalho$ Ao fim dessa primeira !ena, a famlia que

    espera ansiosamente pelo dinheiro para !onstruir a !asa, entoa uma !an*o, a qual dique A pre$uia% & o princpio de todos os "cios(p$&'.)$ Di ainda que Anna II no

    deve se !urvar frente a ele$

    /a segunda !idade, 01nfis, Anna II ter+ de dan*ar para alguns fregueses de

    aspe!to horrvel$ "la ini!ia sua dan*a dando o melhor de si$ 0as obrigada a parar, pois

    todos !ome*am a vai+-la pelo fato de se re!usar a dan*ar de forma sensual$ Anna I

    in!entiva a irm a dan*ar !om lhe pedem e arranca sua saia demasiado comprida e

    manda-a de "olta para o palco2 (p$&'.)$ Depois, em sua !an*o, ainda !ensura a irmpelo pe!ado Anna, or$ulho & coisa para $ente rica' (aa o que lhe pedem, n!o

    aquilo que $ostaria que lhe pedissem(p$&'')$

    "m Los Angeles, pr3xima parada das irms, Anna II trabalha !omo figurante numa

    filmagem$ % ator prin!ipal, o astro, salta a !avalo por !ima de um !esto de flores,

    quando o animal !ai$ Irritado, o 4astro2 o !hi!oteia$ Anna II, indignada !om a surra que

    o animal leva, retira o !hi!ote das mos do astro e lan*a-se sobre ele$ or isso ela

    demitida, mas sua irm fa# com que se ajoelhe aos p&s do astro e beije-lhe a m!o,

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    conse$uindo assim que ele no"amente a recomende ao diretor2 (p$&'5)$ /a !an*o que

    fe!ha a !ena, Anna I reprova o pe!ado da ira da irm % Aquele que se re"olta diante da

    brutalidade est buscando seu pr)prio t*mulo. Aquele que n!o tolera a inf+mia como

    ser tolerado(p$&'5)$

    /a quarta !idade, 6iladlfia, Anna II havia se tornado uma estrela$ "la assinou um

    !ontrato, segundo o qual teria de manter o peso e no poderia, portanto, !omer nada$

    0as um dia, ela rouba uma ma* e !ome-a es!ondida$ 7 pega e sua irm passa a vigi+-

    la$ /a !an*o que en!erra a !ena, a famlia mostra dese8os de que ela deixe de ser

    !omilona e !umpra seu !ontrato$

    "m 9oston, as irms a!abam brigando$ 4Anna II tem a$ora um ami$o muito rico

    que a ama e lhe tra# "estidos e j)ias e um amante que ela ama e que lhe rouba as

    j)ias (p$&':-;)$ Anna I a repreende e exige que ela deixe o amante e se dedique

    somente ao amigo$ orm, quando Anna II v1 a irm !om seu amante < ata!a$ =omo

    sempre, Anna I !onven!e a irm e a fa voltar para o amigo e deixar o amante$ /a

    !an*o, Anna I di que a irmo no podia dedi!ar-se a seu amor verdadeiro, se

    entregando a lux>ria, pois s) pode fa#er assim, quem n!o depende de nin$u&m

    (p$&';)$

    /a sexta !idade visitada pelas irms, ?ennessee, Anna II havia adquirido uma m+reputa*o, porque ela arruinara a vida de alguns homens, roubando-os e os levando ao

    sui!dio$ =omo todos passaram a evit+-la, por temerem sua !obi*a, Anna I interviu e

    salvou um outro homem, que estava a ponto de se enfor!ar$ @etoma o dinheiro que sua

    irm havia roubado e devolve-o, tentando readquirir a !onfian*a que todos tinham por

    ela$ A famlia, na !an*o, exorta a filha a !onter, ou melhor, a o!ultar sua avarea

    uem mostra sua a"are#a pro"oca um "a#io em torno de si (p$&')$

    ", por fim, na >ltima parada, em Bo 6ran!is!o, Anna II sente inve8a de outrasmulheres, todas tambm vestidas de Anna$ "ssas mulheres se entregam < o!iosidade,

    cometendo despreocupadas todos os pecados capitais que a ela s!o proibidos

    (p$&')$ orm, ela se !onsola e adquire ar triunfal !om a mensagem de um tema de um

    bal /s *ltimos ser!o os primeiros(p$&5C)$ @efor*ando essa idia, Anna I assegura

    em sua !an*o Irm!, me si$a e "er que no fim "oc0 triunfar sobre tudo, eles

    entretanto ficam, oh, terr"el mudana' 1remendo no nada diante da porta fechada

    (p$&5C)$ " na segunda !an*o, que serve desfe!ho da pe*a, afirma que elas haviam

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    al!an*ado seus ob8etivos, a!umulando durante sete anos o dinheiro para !onstruir a

    !asa% A$ora ela est construda, a$ora ela est l de p&, nossa pequena casa na

    2ouisiana(p$&5)$

    CARACTERIZAO DOS PERSONAGENS

    %s personagens bre!htianos, assim !omo as pe*as !omo um todo, no so

    portadores de verdades absolutas$ =omo disse ean-a!ques @oubine, eles se

    !ara!teriam mais por seus !omportamentos e opiniEes hist3ri!o-so!iais /

    persona$em brechtiano, enquanto indi"duo, ter uma certa opacidade. 3as seu

    comportamento ser, para o espectador, re"elador de um modo de inser!o na

    sociedade e na hist)ria (p$5&)$

    A//A I F 7 des!rita !omo empres+ria que usa a pr3pria irm !omo mer!adoria para

    !onseguir dinheiro$ =onsidera-se uma pessoa pr+ti!a e !om 8uo, o que signifi!a que

    ela !onhe!e e a!eita as regras do 8ogo so!ial em que est+ envolvidaG ela sabe o que tem

    de ser feito para obter 1xito$ Bua !onduta durante todas as !enas das pe*as, nas sete!idadesHpe!ados pelas quais passa, ser+ a de !onduir a irm para o !aminho 4!orreto2$

    "la tem a fun*o de impedir que Anna II !ometa os sete pe!ados, os quais a fariam

    perder a oportunidade de ganhar dinheiro para a !onstru*o da !asa$ %s pe!ados

    apare!em sempre !omo empe!ilhos para atingir o grande ob8etivo$ % interessante que

    Anna I pou!o fa nas atividades ou ardis usados para arre!adar dinheiro$ "la

    simplesmente orienta, ou melhor, ordena e !oordena as a*Ees da irm, levando-a a se

    submeter a tudo em tro!a do dinheiro$ Beu grande fim a !asa e, para isso, todos osmeios pare!em v+lidos$ Anna I representa a !ons!i1n!ia pr+ti!a dos pequeno-burgueses$

    Aquela que no tem apre*o pela belea, pela arte, pelos valores e preo!upa-se,

    sobretudo, em garantir a satisfa*o das ne!essidades materiais imediatas, no !aso, a

    !asa$ ?udo o que foge desse fim afigura-se !omo pe!ado$

    A//A II F "la o !ontraponto da irm$ Be Anna I uma mulher pr+ti!a e a8uiada,

    Anna II des!rita !omo bonita e tonta$ are!e-me aqui, que a belea apare!e !omo

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    signo do !ar+ter estti!o de seu !omportamento (no podemos esque!er que ela

    artista), isto , da sua preo!upa*o !om a belea das !oisas e no tanto !om sua

    prati!idade$ Isso fi!a evidente no epis3dio do !abar, em que Anna II se re!usa a faer

    uma dan*a apenas para mostrar seu !orpo e lu!rar !om isso, e prefere se entregar a uma

    dan*a mais artsti!a$ + !om rela*o < !ara!tersti!a 4tonta2, tenho a impresso de que

    ela revela a inaptido da mo*a para os neg3!ios, para a pr+ti!a, para o ganho de

    dinheiro$ Anna II preo!upa-se !om a frui*o dos praeres ( !hamada de !omilona,

    dorminho!a, las!iva) e guiada por valores humanos e no por interesses pr+ti!os

    (indigna-se !om a surra que o astro d+ em seu !avalo, re!usa-se a ser ob8eto sexual,

    dedi!a-se a um amor desinteressado)$ "la representa o lado mais humano da !ons!i1n!ia

    pequeno-burguesa$ Aquele que apre!ia a arte, a belea, que no passa por !ima dosvaloresG aquele que no adota a m+xima de que os fins 8ustifi!am os meios$ 0as em

    !ontrapartida, tambm aquele lado que no !onsegue o su!esso material$

    6A0LIA F A 6amlia o ter!eiro personagem mais importante da pe*a$ "la

    !onstituda pelo pai, me e dois irmos das Annas e um grande fator de presso sobre

    elas, exigindo que elas !onsigam o dinheiro para a !ompra da !asa$ /essa passagem isso

    fi!a muito !laro Isso n!o "ai para frente' / que elas mandam n!o & bastante para seconstruir uma casa' 4las de"oram tudo que $anham' (p$&'')$ "ntretanto, h+ alguns

    ind!ios de que a 6amlia adota o ponto de vista de Anna I na !ontradi*o que ir+ se

    desenvolver entre as duas irms$ /a primeira de suas !an*Ees, a 6amlia di que Anna II

    era realmente pregui*osa, que a pregui*a era um v!io e tor!ia para que ela se esfor*asse

    no trabalhoG na ter!eira, di que ela era !omilona e dese8a que ela !oma pou!o e !umpra

    o !ontratoG na quarta !an*o, a 6amlia adverte Anna II para no revelar sua avarea$ %u

    se8a, em todas essas falas h+ !ondena*o dos pe!ados !ometidos por Anna II e oendosso ao !omportamento de Anna I$ A 6amlia, portanto, tambm representa a

    !ons!i1n!ia pr+ti!a dos pequeno-burgueses$

    CONCLUSO

    6i!a !laro que as duas irms so e representam um mesmo indivduo, uma mesma

    figura so!ial o pequeno-burgu1s$ Beus nomes iguais so um grande indi!ativo disso,

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    assim !omo a pr3pria fala de uma delas 5o fundo n!o somos duas pessoas, mas uma

    s). 5)s duas nos chamamos Anna, temos um passado e um futuro, um cora!o e uma

    caderneta de poupana (p$&'-&)$ A !ontradi*o que h+ entre as duas nada mais do

    que a !ontradi*o que se desenrola no seio dessa !lasse so!ial e no interior de !ada

    indivduo que fa parte dela$ 7 uma !ontradi*o que no se limita a um mero !onflito

    individual, mas mostra a sobredetermina!o do indi"duo por um feie de foras

    socioecon6micas (@%#9I/" 5)$

    A presso da 6amlia e a ne!essidade da !asa pr3pria !ontra a frui*o dos praeresG

    os interesses pragm+ti!os !ontra os valores que no transformam o homem em meio

    mas em fim$ A!redito que essas so as for*as que esto em 8ogo e que impulsionam o

    !omportamento da Anna, quer dier, do pequeno-burgu1s$ Bo elas que tornamimpre!isa a no*o de pe!ado$ ois quem pe!aJ Anna II que se entrega a um amor

    desinteressado e abandona seu amante ri!o, no se preo!upando !om o dinheiro da !asa,

    ou Anna I que no se preo!upa !om o amor, mas dedi!a-se !om afin!o no ganho do

    dinheiro para a !ompra do larJ =omo 9re!ht no pro!ura demonstrar uma verdade final,

    no sabemos o que pe!ado nem quem pe!ador$ B3 uma !oisa me pare!e !erta na

    pe*a a vontade da Anna I e da 6amlia, e !onsequentemente a !ons!i1n!ia pr+ti!a,

    sempre prevale!em sobre a vontade fra!a de Anna II$

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    @%#9I/", ean-a!ques$ % esfa!elamento das apar1n!ias$ InIntrodu!o 7s $randesteorias do teatro$ @io de aneiro orge Kahar, p$5C-5'$

    9@"=?, 9ertolt$ %s sete pe!ados !apitais dos pequeno-burgueses$ In8ertolt 8recht%teatro completo$ @io de aneiro a e ?erra, C, Mol$ ', p$&.;-&5$