análise da influência do treinamento muscular respiratório

90
Universidade Federal do Triângulo Mineiro ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO TREINAMENTO MUSCULAR RESPIRATÓRIO AMBULATORIAL NO PREPARO PULMONAR PRÉ-OPERATÓRIO EM INDIVÍDUOS COM AFECÇÕES ESOFÁGICAS Taciana Freitas Agrelli Uberaba Minas Gerais 2008

Upload: doanmien

Post on 31-Dec-2016

216 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

  • Universidade Federal do Tringulo Mineiro

    ANLISE DA INFLUNCIA DO TREINAMENTO

    MUSCULAR RESPIRATRIO AMBULATORIAL NO

    PREPARO PULMONAR PR-OPERATRIO EM

    INDIVDUOS COM AFECES ESOFGICAS

    Taciana Freitas Agrelli

    Uberaba Minas Gerais

    2008

  • Universidade Federal do Tringulo Mineiro

    ANLISE DA INFLUNCIA DO TREINAMENTO MUSCULAR

    RESPIRATRIO AMBULATORIAL NO PREPARO PULMONAR PR-

    OPERATRIO EM INDIVDUOS COM AFECES ESOFGICAS

    Taciana Freitas Agrelli

    Uberaba Minas Gerais

    2008

  • Taciana Freitas Agrelli

    ANLISE DA INFLUNCIA DO TREINAMENTO MUSCULAR

    RESPIRATRIO AMBULATORIAL NO PREPARO PULMONAR PR-

    OPERATRIO EM INDIVDUOS COM AFECES ESOFGICAS

    Tese apresentada ao curso de Ps-Graduao

    em Patologia, rea de concentrao Patologia

    Geral, da Universidade Federal do Tringulo

    Mineiro, como requisito parcial para obteno

    do Ttulo de Mestre.

    Orientador: Eduardo Crema

    Uberaba Minas Gerais

    2008

  • Agrelli, Taciana Freitas, 1978-

    A277a Anlise da influncia do treinamento muscular respiratrio

    ambulatorial no preparo pulmonar pr-operatrio em indivduos com

    afeces esofgicas / Taciana Freitas Agrelli. -- 2008. 75f. : fig.; tab.; graf.; + anexos

    Dissertao (Mestrado em Patologia) Universidade Federal do

    Tringulo Mineiro, Uberaba, MG, 2008.

    Orientador: Prof. Dr. Eduardo Crema.

    1. Exerccios respiratrios. 2. Fisioterapia. 3. Megaesfago. 4.

    procedimentos cirrgicos.

    I. Crema, Eduardo. II. Universidade Federal do Tringulo Mineiro.

    III. Ttulo.

    CDU 615.8

  • iii

    A Deus, que a cada amanhecer renovou-me as foras e o nimo,

    sustentando-me com seu amor e fazendo-me seguir em frente

    confiante em sua invisvel presena.

  • iv

    Agradecimentos

    Este trabalho fruto da cooperao e dedicao de vrias pessoas. Seria impossvel

    registrar aqui o nome de todos aos que devo o mais profundo agradecimento.

  • v

    Aos meus pais Jackson e Elizabeth

    A vocs, que me deram a vida e me ensinaram a viv-la com dignidade. A

    vocs que iluminaram os caminhos obscuros com afeto e dedicao para que eu os

    trilha-se sem medo e cheia de esperana, no bastaria um muito obrigado.

  • vi

    A minha irm Daniela

    Por ter sido meu apoio nas horas de luta e amiga no riso e nas lgrimas.

    Impossvel expressar o seu valor em minha vida e agradecer por seu essencial papel

    nesta almejada conquista.

  • vii

    Ao meu orientador Eduardo Crema

    Por fazer nascer em meus olhos o brilho do amor pesquisa. Por, com sua

    indescritvel sabedoria, ter-me feito crescer como pessoa e como profissional. Por sua

    dedicao, seu empenho, sua compreenso e seu apoio, sem os quais eu no poderia ter

    prosseguido.

  • viii

    A amiga Rachel

    Anjo

    Anjo... amor em forma de pessoa

    Ser humano especial

    Pedi a Deus proteo e ele me mandou um anjo especial em forma de gente

    Anjo em forma de corao, em forma de amizade, em forma de carinho.

    Anjo...

  • ix

    - A toda minha famlia, em especial minha sobrinha Maria Eduarda, um presente

    em minha vida.

    - Aos professores da Ps-graduao, que foram mestres na arte de ensinar,

    transmitindo seus conhecimentos e experincias com grandeza.

    - Aos residentes da CAD: Renato Sousa Costa, Croider Franco Lacerda e em

    especial ao residente Hrlon Escorsi Valrio, pela inteligncia, apoio e por ter acreditado

    nessa pesquisa.

    - Ao professor Dr. Virmondes Rodrigues Junior, a professora Dra. Maria Helena de

    Castro Silva, a fisioterapeuta lida Mara Carneiro da Silva e a nutricionista Ana Lcia

    Lopes Moreira de Almeida, pela imprescindvel ajuda no desenvolvimento deste trabalho.

    - Aos funcionrios da UFTM: Jlio Csar Machado Rossi, Izildinha das Graas

    Fachinelli e Sandro Rogrio dos Santos, obrigada pela ateno e compreenso dedicada.

    Sem a colaborao de vocs no seria possvel a realizao deste trabalho.

    - As amigas Melanie Mahler, Luciana Machado, Jacqueline Souza e Camila

    Cavellani, me faltam palavras para agradecer pessoas especiais como vocs. Meu sincero

    carinho e gratido.

    - E a todos aqueles que de forma direta ou indireta contriburam para a realizao

    deste trabalho.

    Muito Obrigada!

  • x

    O presente trabalho foi realizado com os recursos financeiros da Universidade

    Federal do Tringulo Mineiro (UFTM), do Conselho Nacional de Desenvolvimento

    Cientifico e Tecnolgico (CNPq), da Fundao de Ensino e Pesquisa de Uberaba

    (FUNEPU), da Fundao de Amparo pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).

  • xi

    SUMRIO

    Lista de figuras ........................................................................................................................ xiii

    Lista de tabelas ........................................................................................................................ xv

    Lista de abreviaturas e siglas ................................................................................................. xvi

    Resumo ..................................................................................................................................... xviii

    Abstract .................................................................................................................................... xx

    Introduo ............................................................................................................................... 22

    1. Megaesfago ................................................................................................................. 22

    2. Tratamento cirrgico ..................................................................................................... 24

    3. Alteraes respiratrias e complicaes pulmonares ps-operatrias .......................... 27

    4. Fisioterapia .................................................................................................................... 33

    4.1. Avaliao pr-operatria ........................................................................................ 33

    4.2. Musculatura respiratria ........................................................................................ 35

    4.3. Preparo pulmonar pr-operatrio ........................................................................... 38

    Hiptese .................................................................................................................................... 43

    Objetivos gerais e especficos ................................................................................................. 44

    Casustica e mtodos ............................................................................................................... 45

    1. Amostra ......................................................................................................................... 45

    2. Critrios de incluso ..................................................................................................... 46

    3. Critrios de excluso ..................................................................................................... 46

    4. Tcnica cirrgica ........................................................................................................... 47

    4.1. Esofagectomia com esfago-gastroplastia ............................................................. 47

    4.2. Faringocologastroplastia ........................................................................................ 47

    5. Avaliao pulmonar pr-operatria .............................................................................. 47

    5.1. Espirometria ........................................................................................................... 48

  • xii

    5.2. Avaliao fisioteraputica ...................................................................................... 50

    5.2.1 Ficha de avaliao .................................................................................... 50

    5.2.2 Avaliao da fora muscular respiratria ................................................. 51

    5.2.3 Avaliao do pico de fluxo expiratrio .................................................... 53

    5.3 Radiografia de trax ................................................................................................ 53

    6. Complicaes clnicas pulmonares ............................................................................... 53

    7. Preparo pulmonar pr-operatrio .................................................................................. 54

    8. Anlise estatstica ......................................................................................................... 55

    9. Aspectos ticos ............................................................................................................. 56

    10. Normas para confeco do manuscrito ......................................................................... 56

    Resultados ................................................................................................................................ 57

    1. Caracterizao do estudo .............................................................................................. 57

    2. Tempo de internao ..................................................................................................... 59

    3. Complicaes pulmonares ps-operatrias .................................................................. 62

    4. Avaliao fisioteraputica ............................................................................................. 63

    4.1. Presso inspiratria mxima .................................................................................. 63

    4.2. Presso expiratria mxima ................................................................................... 66

    5. Testes espiromtricos .................................................................................................... 68

    5.1. Volume expiratrio forado no primeiro segundo ................................................. 68

    5.2. Capacidade vital forada ........................................................................................ 69

    5.3. Volume expiratrio forado no primeiro segundo/Capacidade vital forada ........ 70

    Discusso .................................................................................................................................. 72

    Concluso ................................................................................................................................. 78

    Referncias .............................................................................................................................. 79

    Anexos ...................................................................................................................................... 89

  • xiii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Espirmetro ........................................................................................................ 50

    Figura 2. Manovacumetro ................................................................................................ 52

    Figura 3. Peak-Flow .......................................................................................................... 52

    Figura 4. Threshold ............................................................................................................ 55

    Figura 5. Fluxograma da distribuio dos pacientes no estudo ......................................... 57

    Figura 6. O grfico apresenta a mediana do perodo de internao hospitalar pr e ps-

    operatrio dos indivduos que receberam o preparo pulmonar no ambulatrio ou

    internados .......................................................................................................... 61

    Figura 7. O grfico apresenta a mediana do perodo de permanncia no CTI e/ou em

    ventilao mecnica, dos pacientes que receberam o preparo pulmonar no

    ambulatrio ou internados ................................................................................ 62

    Figura 8. Expresso grfica do nmero de pacientes quanto presena, ou no, de

    complicaes pulmonares ps-operatrias ....................................................... 63

  • xiv

    Figura 9. O grfico apresenta os valores mdios da Presso inspiratria mxima (Pimx)

    no momento da avaliao inicial e semanalmente, aps o treinamento muscular

    respiratrio (TMR) ............................................................................................ 64

    Figura 10. Expresso grfica do percentual de pacientes quanto ao valor de Pimx dentro

    da normalidade, antes e aps o TMR ................................................................ 65

    Figura 11. O grfico apresenta os valores mdios da Presso expiratria mxima (Pemx)

    no momento da avaliao inicial e semanalmente, aps o TMR ...................... 67

    Figura 12. O grfico apresenta os valores mdios do pico de fluxo expiratrio no momento

    da avaliao inicial e semanalmente, aps o TMR ........................................... 68

    Figura 13. O grfico apresenta os valores mdios do volume expiratrio forado no

    primeiro segundo (VEF1) antes e aps o TMR ................................................. 69

    Figura 14. O grfico apresenta os valores mdios da capacidade vital forada (CVF) antes

    e aps o TMR .................................................................................................. 69

    Figura 15. O grfico apresenta os valores mdios da relao entre a capacidade vital

    forada e o volume expiratrio forado no primeiro segundo (VEF1/CVF) antes

    e aps o TMR .................................................................................................... 70

  • xv

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Distribuio dos pacientes quanto ao gnero e idade ........................................ 58

    Tabela 2. Distribuio dos pacientes quanto ao diagnstico ............................................. 59

    Tabela 3. Perodo de internao pr-operatrio (mdia de dias). Comparao entre os

    pacientes que receberam o preparo pulmonar ambulatorial com aqueles que

    receberam o preparo pulmonar internados ........................................................ 60

    Tabela 4. Perodo de internao ps-operatrio (mdia de dias).Comparao entre os

    pacientes que receberam o preparo pulmonar ambulatorial com aqueles que

    receberam o preparo pulmonar internados ....................................................... 60

    Tabela 5. Distribuio dos pacientes quanto presena, ou no, de CPPO ...................... 63

    Tabela 6. Valores mdios da Presso inspiratria mxima (Pimx), em todos os momentos

    estudados ........................................................................................................... 64

    Tabela 7. Valores mdios da Presso inspiratria mxima (Pimx), aps o TMR, em

    relao ao sexo dos pacientes estudados ........................................................... 65

    Tabela 8. Valores mdios da Presso expiratria mxima (Pemx), em todos os momentos

    estudados ........................................................................................................... 66

    Tabela 9. Valores mdios do pico de fluxo expiratrio, em todos os momentos estudados

    ......................................................................................................................... 67

    Tabela 10. Valores das presses respiratrias mximas (mdia 1 desvio padro) em

    indivduos normais. Resultados de diferentes estudos...................................... 77

  • xvi

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABNT: Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    CAD: Cirurgia do Aparelho Digestivo

    CEP/UFTM: Comit de tica em Pesquisa da Universidade Federal do Tringulo

    Mineiro

    cmH2O: Centmetros de gua

    CO2: Dixido de carbono

    CPPO: Complicaes pulmonares ps-operatrias

    CPT: Capacidade pulmonar total

    CRF: Capacidade residual funcional

    CTI: Centro de terapia intensiva

    CV: Capacidade vital

    CVF: Capacidade vital forada

    CVF/VEF1: Relao entre a capacidade vital forada e o volume expiratrio forado

    no primeiro segundo

    DPOC: Doena pulmonar obstrutiva crnica

    FC: Freqncia cardaca

    FEF: Fluxo expiratrio forado

    FR: Freqncia respiratria

    HE: Hospital escola

    MmHg: Milmetro de mercrio

    PA: Presso arterial

    Pimx: Presso inspiratria mxima

    Pemx: Presso expiratria mxima

  • xvii

    PFE/Peak-flow: Pico de fluxo expiratrio

    TMR: Treinamento muscular respiratrio

    UFTM: Universidade Federal do Triangulo Mineiro

    VEF1: Volume expiratrio forado no primeiro segundo

    VR: Volume residual

    VRI: Volume de reserva inspiratrio

    VRE: Volume de reserva expiratrio

    VVM: Ventilao voluntria mxima

  • xviii

    RESUMO

    O procedimento cirrgico interfere nas funes pulmonares levando ao aparecimento de

    disfunes no sistema respiratrio que so importantes causas de morbi-mortalidade. So

    observadas alteraes fisiopatolgicas respiratrias no ps-operatrio de indivduos

    portadores ou no de doenas pulmonares. Essas alteraes podem ser responsveis pelo

    aparecimento de complicaes pulmonares ps-operatrias e consequentemente ao

    aumento no perodo de internao hospitalar. O objetivo desse trabalho foi avaliar a

    eficcia do preparo pulmonar ambulatorial no perodo pr-operatrio por meio de um

    Treinamento Muscular Respiratrio (TMR) em indivduos portadores de afeces benignas

    do esfago. Para avaliar a eficcia do preparo pulmonar foram analisados dezessete

    pacientes (12 do sexo masculino e cinco do sexo feminino) com afeces do esfago.

    Desses 17, quatorze pacientes apresentavam diagnstico de megaesfago avanado e trs,

    diagnstico de estenose castica. Todos os pacientes receberam avaliao inicial que

    constava de: teste de funo pulmonar (espirometria), avaliao da fora muscular

    inspiratria (Pimx) e expiratria (Pemx), avaliao da obstruo das vias areas, por

    meio do Peak-flow e radiografia de trax. Aps a avaliao iniciou-se o TMR, realizado no

    ambulatrio, com sesses de trs series de dez repeties dirias, durante um perodo de 4

    semanas. Foram utilizados os testes no-paramtricos e T de Student conforme a

    distribuio da variveis de Kolmogorov e Bartlett para a anlise de normalidade e

    homogeneidade, respectivamente. O nvel de significncia adotado foi de p=0,005. Notou-

    se diminuio significativa no perodo de internao pr e ps-operatrio dos pacientes

    estudados. Foi verificado aumento significativo nos valores de Pimx, Pemx e Peak-flow,

    quando comparado os valores iniciais com os valores aps o TMR. O mesmo no ocorreu

    em relao aos valores de CVF, VEF1 e PEF. O presente estudo concluiu que o TMR

  • xix

    realizado ambulatorialmente foi eficaz no aumento da fora dos msculos inspiratrios e

    expiratrios e reduziu o tempo de internao hospitalar.

    Palavras-chave: Exerccios respiratrios, fisioterapia, megaesfago, procedimentos

    cirrgicos.

  • xx

    ABSTRACT

    Surgical procedures interferes the pulmonary functions leading the emergence of

    respiratory dysfunctions which are important causes of morbidity and mortality.

    Respiratory pathophysiological changes are observed in the postoperative period of

    individuals with or with no pulmonary diseases. These changes may be responsible for the

    occurrence of postoperative pulmonary complications and thus an increase of the

    hospitalization period. The aim of this study was to evaluate the effectiveness of outpatient

    pulmonary preparation in the preoperative period through a Muscular Respiratory Training

    (TMR) in individuals with benign diseases of the esophagus. To evaluate the effectiveness

    of pulmonary preparation were analyzed seventeen patients (12 males and 5 females) with

    disorders of the esophagus. Of these 17, fourteen patients had a diagnosis of advanced

    megaesophagus and three diagnosis of caustic stenosis. All patients received initial

    assessment that consisted of: Pulmonary function test (spirometry), evaluation of

    inspiratory (PImax) and expiratory (PEmax) muscle force, evaluation of airway obstruction

    through the Peak-flow and chest X-ray.

    After the evaluation, TMR was started up and performed at the clinic, with sessions of

    three sets of ten repetitions daily for a period of 4 weeks. Non-parametric test and T

    Students test was used in accordance to the distribution of the variables of Kolmogorov

    and Bartlett for the analysis of normality and homogeneity, respectively. The significance

    level was p = 0005. A significant decrease in the preoperative and postoperative

    hospitalization period was observed in the studied patients. Was verified a significant

    increase of the PImax, PEmax and Peak-flow values after the TMR, when compared to the

    initial values. The same did not happen in relation to the values of FVC, FEV1 and PEF.

    This study concluded that the TMR done outpatient was effective in increasing the strength

    of the inspiratory and expiratory muscles and reduced the hospitalization time.

  • xxi

    Keywords: Breathing exercises, physiotherapy, megaesophageal, surgical procedures .

  • Introduo 22

    1. Megaesfago

    O megaesfago caracteriza-se por ser uma esofagopatia que cursa com

    alteraes anatmicas e funcionais do esfago. No Brasil, a incidncia de megaesfago

    alta, pois est associada doena de Chagas e constitui-se a manifestao digestiva mais

    comum da doena. Estima-se que 5% a 8% dos portadores de doena de Chagas evoluam

    com megaesfago (Fernandes et al., 2004).

    O megaesfago seja de origem idioptica ou chagsica, caracterizase pela

    ausncia ou diminuio acentuada dos plexos mioentricos da parede esofgica. Essa

    caracterstica ocasiona incoordenao das contraes do corpo esofgico (aperistalse) e

    abertura ausente, incoordenada ou incompleta do esfncter inferior do esfago (acalsia).

    Isso resulta em estase esofgica, dilatao progressiva do rgo e diminuio da sua

    capacidade de contrao (Valezi et al., 2004). O termo acalasia tambm tem sido usado por

    muitos autores como sinnimo de megaesfago.

    O sintoma mais freqente da esofagopatia a disfagia progressiva, seguida

    pela regurgitao, pirose e dor torcica. Ao exame radiolgico encontrada reteno do

    meio de contraste no esfago, incoordenao e retardo no trnsito, afilamento regular da

    transio esofagogstrica e esfago dilatado (Dantas, 2003).

    Segundo Koeberle, (1955) as alteraes motoras do megaesfago surgem

    quando 50% das estruturas neurais so afetadas. E, para ocorrer dilatao do esfago

    necessrio haver pelo menos 90% dos neurnios destrudos.

    Koeberle revelou tambm que o parasitismo das camadas musculares do

    esfago ocasiona reao inflamatria, que determina leses irreversveis nas clulas

    nervosas dos plexos mioentricos com acentuada reduo de seu nmero. Essas alteraes

    foram consideradas patogneumnicas do megaesfago chagsico. Tal destruio ocorre

  • Introduo 23

    predominantemente na fase aguda da doena, porm os sintomas iniciam-se anos aps a

    infestao parasitria.

    A destruio do plexo mioentrico do esfago na doena de chagas e na

    acalsia idioptica, tem como conseqncia alteraes na amplitude das contraes. Dantas

    em 2000, ao analisar a hipocontratilidade do esfago nestas duas doenas, verificou que os

    pacientes com doena de chagas e pacientes com acalsia tm maior nmero de contraes

    com baixa amplitude do que pessoas normais. Os pacientes com doena de chagas e

    comprometimento radiolgico do esfago tm mais degluties seguidas de

    hipocontratilidade do que aqueles sem comprometimento radiolgico. Os pacientes com

    acalsia no foram diferentes dos indivduos portadores da doena de Chagas.

    No Brasil, o megaesfago idioptico tem sido diagnosticado em pequeno

    nmero de pacientes. De Paula (1995), relatou que a etiologia chagsica foi confirmada em

    90% da casustica e somente 10% referiam-se idioptica. Crema em 2005 observou trinta

    esofagectomias realizadas para o tratamento do megaesfago avanado, em que quatro

    (13,3%) eram idiopticas.

    Nos portadores de megaesfago avanado verifica-se estase alimentar crnica

    devido ao obstculo funcional conseqente a acalsia da crdia, o que, somado a

    desnutrio presente na maioria destes pacientes, favorece a proliferao bacteriana na luz

    do esfago (Crema et al., 2002).

    As principais complicaes do megaesfago so: desnutrio, pneumonia e

    carcinoma de esfago.

    A perda de peso relacionada ao agravamento da disfagia progressiva e leva

    ao emagrecimento de em mdia 80% dos pacientes (Domene, 1996). Nas fases avanadas

    da doena, os pacientes podem chegar caquexia, o que aumenta de maneira significativa

  • Introduo 24

    o risco operatrio. Alguns pacientes, entretanto, conseguem com a adaptao alimentar

    manter razovel estado nutricional.

    Indivduos portadores de megaesfago com estase esofgica apresentam risco

    elevado de desenvolverem pneumonia de repetio, devido possibilidade de

    broncoaspirao. Esse fato ocorre com mais freqncia quanto mais avanada for a

    esofagopatia. Nessas ocasies pode instalar-se a pneumonia aspirativa (Ranzani et al.,

    2004).

    Nas formas avanadas da doena, o esfago transforma-se em uma bolsa

    inerte, quase sempre com estase em seu interior e com conseqentes alteraes crnicas da

    parede. Nesse estagio, os pacientes podem apresentar displasia e/ou neoplasia em taxa de

    at 140 vezes maior que a populao geral (Crema, 2005). O megaesfago chagsico ou

    idioptico considerado condio clnica que predispe ao carcinoma epidermide, sendo

    a afeco mais importante associada ao megaesfago. A instalao desta complicao se

    faz, em geral, 10 anos aps o incio dos sintomas, e sua prevalncia de aproximadamente

    3% a 5% de todos os portadores de esofagopatia (Sakai et al., 2004).

    Com base nessas consideraes e com os maus resultados apresentados com o

    tratamento conservador, o tratamento cirrgico mantm posio de destaque, pois

    constitui-se quase exclusivamente na nica teraputica a ser empregada nos casos

    avanados da doena (Mendelssonh et al., 1984).

    2. Tratamento cirrgico

    Dos vrios procedimentos teraputicos preconizados para o tratamento do

    megaesfago, a interveno cirrgica representa a melhor forma de tratamento por

    proporcionar alvio dos sintomas e melhora do estado nutricional (Aquino et al., 2007).

  • Introduo 25

    O tratamento cirrgico na forma avanada da doena apresenta resultados

    insatisfatrios com o emprego de qualquer tcnica sobre a juno esfago-gstrica. Desse

    modo, a esofagectomia subtotal com a retirada dessa bolsa inerte, repleta de lquido de

    estase rico em enterobactrias e com importantes alteraes mucosas, constitui-se uma

    tcnica segura que traz excelentes resultados ps-operatrios (Crema, 2005).

    No entanto, a esofagectomia considerada uma cirurgia de grande porte com

    morbidade e mortalidade no-desprezveis. A morbidade da esofagectomia de cerca de

    35% em decorrncia principalmente, de complicaes pleuropulmonares, da anastomose e

    de complicaes relacionadas ao rgo transposto. As complicaes pleuropulmonares so

    as mais freqentes, cerca de 30% dos casos, geralmente de manifestao precoce variam

    desde atelectasias a derrame pleural e/ou pneumonia (Fernandes et al., 2004; Crema,

    2005).

    A mortalidade da esofagectomia pode chegar at prximo de 10%, porm a

    maior parte dos servios tem taxa inferior a 5%. Ocorre, principalmente, por complicaes

    pleuropulmonares (Fernandes et al., 2004).

    A prtica cirrgica por via laparoscpica, com a possibilidade de executar

    operaes com resultados semelhantes queles observados nos procedimentos cirrgicos

    convencionais, proporcionou significativo avano para o tratamento operatrio do

    megaesfago (Fernandes et al., 2004).

    Muitos estudos comparam as tcnicas cirrgicas realizadas por via

    laparoscpica ou aberta, e observaram que a cirurgia laparoscpica apresenta menor tempo

    cirrgico, menor trauma e menos disfunes respiratrias, por esses motivos esta cirurgia

    a opo preferencialmente utilizada (Joris et al., 1992; Cunningham e Sorin, 1993; Crema,

    1995; Chiavegato et al., 2000; Chaves e Massa, 1995).

  • Introduo 26

    Comparada a laparotomia, a cirurgia laparoscpica constitui-se num

    procedimento que combina benefcios e vantagens tais como menor tempo hospitalar,

    retorno mais rpido s atividades normais e reduo da dor (Cunningham e Sorin, 1993).

    A interveno cirrgica por via laparoscpica compreende uma gama de

    operaes modernas denominadas "minimamente invasivas". A diminuio da dor ps-

    operatria proporcionou um impacto humanstico, a diminuio da permanncia hospitalar

    e o retorno precoce s atividades do trabalho deram o impacto socioeconmico. As

    cicatrizes mnimas favoreceram os aspectos estticos (Normando et al., 2006).

    Entretanto, apesar de oferecer vantagens sobre a cirurgia aberta, no exclui

    totalmente as complicaes pulmonares ps-operatrias, principalmente devido

    necessidade de realizao do pneumoperitneo.

    O pneumoperitneo condio indispensvel para a visualizao do contedo

    abdominal, consiste na insuflao de gs carbnico na cavidade abdominal a uma presso

    de 10 a 15 mmHg. A insuflao da cavidade peritoneal resulta em alteraes funcionais no

    sistema cardiorrespiratrio, especialmente devido ao aumento da presso intra-abdominal

    (Botter et al., 2005).

    O aumento da presso intra-abdominal produz efeitos mecnicos sobre o

    abdmen e o trax com alteraes cardiovasculares e ventilatrias. O pneumoperitneo

    provoca o desvio do diafragma no sentido ceflico, com isso, aumenta a presso intra-

    torcica, restringe a expansibilidade pulmonar e diminui aproximadamente 50% da

    complacncia do pulmo. Alm das alteraes relacionadas ao efeito mecnico, o

    pneumoperitneo tambm leva ao aumento da absoro de CO2 (Carraretto et al., 2005;

    Normando et al., 2006; Hazebroek et al., 2002).

  • Introduo 27

    3. Alteraes respiratrias e complicaes pulmonares ps-operatrias

    O sistema respiratrio invariavelmente afetado durante e aps a cirurgia

    abdominal alta (Celli, 1993; Rossi e Bromberg, 2005; Ford et al., 1983; Weiner et al.,

    1998). O evento anestsico-cirrgico costuma refletir-se na funo pulmonar, impondo

    alteraes fisiopatolgicas mesmo em indivduos hgidos. Porm, os mecanismos

    fisiolgicos responsveis por tais alteraes no esto plenamente estabelecidos (Pinheiro,

    Barreto e Gottschall, 1994).

    A integridade das musculaturas torcica e abdominal importante para a

    manuteno da normalidade da dinmica respiratria. O comprometimento dessa dinmica

    pela interveno abdominal ocorrida no ato cirrgico, pode ocasionar restrio respiratria

    (Chaves e Massa, 1995).

    Acredita-se que a principal causa de prejuzos respiratrios ps-operatrios

    esteja relacionada direta ou indiretamente a fraqueza do diafragma e disfunes na

    mecnica muscular respiratria. Tais prejuzos so decorrentes da hemiparalisia

    diafragmtica secundria a leso do nervo frnico ou da prpria inciso da parede

    abdominal, torcica e/ou diafragmtica com conseqente perda da integridade muscular

    (Ford et al., 1983; Paisani, Chiavegato e Faresin, 2005).

    Pacientes com paralisia unilateral diafragmtica apresentam reduo da presso

    inspiratria mxima em torno de 60%. Alm disso, ocorre decrscimo nos volumes

    pulmonares dos pacientes com paralisia diafragmtica unilateral ou bilateral. Entretanto

    alguns pacientes apresentam valores normais ou prximos dos normais (Laghi e Tobin,

    2003). As alteraes na funo pulmonar e no padro respiratrio, aps a cirurgia

    abdominal alta, so similares aquelas descritas em pacientes com doena neurolgica

    grave, visto a ocorrncia de paralisia diafragmtica nesses pacientes (Ford et al., 1983).

  • Introduo 28

    Observa-se, aps procedimento cirrgico alteraes nos volumes e capacidades

    pulmonares. Dentre essas alteraes, cita-se: decrscimo na capacidade residual funcional

    (CRF), no volume de reserva inspiratrio (VRI) e expiratrio (VRE), na capacidade vital

    (CV) e no fluxo expiratrio forado (FEF), provavelmente mediado pela reduo na

    atividade diafragmtica (Celli, Rodriguez e Snider, 1984).

    Devido reduo da CRF, muitos pacientes respiram um volume menor de ar,

    diminuindo a capacidade pulmonar e ventilando pobremente alguns alvolos, resultando

    em hipoxemia (Ford et al., 1983). A causa mais freqente de hipoxemia, em casos de

    cirurgia abdominal e/ou torcica, a hipoventilao das bases pulmonares, devido a

    reduo da CRF e diminuio da expansibilidade pulmonar (Lima, 1980). Ocorre reduo

    em torno de 70% da CRF comparada aos valores pr-operatrios (Williams-Russo, 1992).

    A reduo da CRF est associada com o desenvolvimento de atelectasia intra-operatria

    (Cunningham e Brull, 1993; Hayhurst, 1993; Williams-Russo, 1992).

    Em pacientes submetidos colecistectomia, observou-se reduo do VEF1,

    capacidade vital forada (CVF) e dos FEF nos trs primeiros dias de ps-operatrio em

    ambos os grupos (laparotomia ou laparoscopia) quando comparados com os valores pr-

    operatrios. Contudo em pacientes submetidos a cirurgia aberta, observou-se significncia

    estatstica do VEF1 no primeiro, segundo e terceiro dia ps-operatrio e da CVF somente

    no primeiro dia ps-operatrio (Crema e Santana, 1995).

    A dor, considerada importante determinante de disfunes pulmonares ps-

    operatrias, menor nas cirurgias laparoscpicas (Rademarker, 1992). Observam-se

    mudanas no padro ventilatrio de abdominal para torcico devido a dor ps-operatria e

    disfuno diafragmtica (Silva, Guedes e Ribeiro, 2003).

  • Introduo 29

    O declneo na funo pulmonar observado aps a cirurgia abdominal pode ser

    responsvel pelo aparecimento de complicaes pulmonares ps-operatrias (CPPO) (Hall

    et al., 1996; Celli, 1993; Joris et al., 1992; Weiner et al., 1998).

    As CPPO so alteraes clinicamente significantes da funo pulmonar

    observadas no perodo ps-operatrio nas cirurgias abdominal e torcica. Essas alteraes

    so causas importantes de morbidade e mortalidade, aps um procedimento cirrgico

    (Bellinetti e Thomson, 2006). O mecanismo dessas complicaes est associado s

    disfunes diafragmticas, ao decrscimo na complacncia pulmonar, ao prejuzo no

    clearence mucociliar e s alteraes no padro respiratrio (Parreira et al., 2005).

    A incidncia de complicaes pulmonares aps cirurgia abdominal, varia muito

    na literatura (4,7 a 88%), conforme o critrio utilizado para definir essas complicaes

    (Hall et al., 1991; Lawrence, Page e Harris, 1989; Morran e Finlay, 1983; Faresin, 2005;

    Jung et al., 1980; Overend et al., 2001). Pereira (2000) refere que pacientes com sndrome

    pulmonar obstrutiva apresentam ps-operatrio de cirurgia abdominal alta mais conturbado

    e indivduos com pneumopatias apresentam maior risco de CPPO (37%) do que indivduos

    normais (6%).

    As CPPO podem ser responsveis por maior tempo de ventilao mecnica,

    com dificuldade de desmame e consequentemente, hospitalizao prolongada (Elias et al.,

    2000).

    As cirurgias torcicas e do aparelho digestivo, apresentam mais complicaes

    quando comparadas s cirurgias perifricas, atingindo indivduos saudveis e, em maior

    proporo queles portadores de fatores de risco.

    Diversos estudos relatam fatores de risco pr-operatrios que podem aumentar

    a incidncia de CPPO. Consideram-se fatores pr-operatrios aqueles relacionados s

    condies clnicas do paciente. Dentre eles: presena de doenas prvias (cardiopatias,

  • Introduo 30

    pneumopatias, diabetes, hipertenso arterial sistmica), cirurgias prvias (operaes sobre

    a transio esfago-gstrica), histria de tabagismo, pacientes idosos e pacientes com

    deficincia protico-calrica (Celli, Rodriguez e Snider, 1984; Hall et al., 1996; Condie,

    Hack e Ross, 1993; Morran e Finlay, 1983; Lima, 1980; Vodinh Bonnet, 1988; Christensen

    et al., 1991). A associao da obesidade s CPPO ainda motivo de controvrsias. Recente

    artigo de reviso no credenciou a obesidade como fator de risco para gnese de CPPO

    (Rossi e Bromberg, 2005).

    A ocorrncia de CPPO no depende somente das condies prvias do

    paciente, depende tambm de circunstncias inerentes ao prprio procedimento anestsico-

    cirrgico, como o local e o tamanho da inciso cirrgica, a durao da cirurgia e o tipo de

    anestesia utilizada (Pinheiro, Barreto e Gottschall, 1994).

    O local e a extenso da inciso abdominal tm relao direta com a disfuno

    pulmonar ps-operatria, quanto maior a extenso da inciso abdominal mais

    freqentemente ocorre problemas pulmonares. Notou-se, ainda, que as incises no andar

    superior do abdome e, principalmente, as longitudinais esto associadas a maior prejuzo

    pulmonar (Cunningham e Brull, 1993). O local e o tipo de inciso cirrgica esto

    relacionados a queda da capacidade vital (CV) e de outros volumes pulmonares (Chaves e

    Massa, 1995). Tm sido verificadas taxas de complicaes ps-operatrias de 40 a 70% em

    pacientes submetidos inciso na parede abdominal acima da cicatriz umbilical (Faresin,

    2005).

    Tambm tem sido notada correlao entre a durao da cirurgia e a incidncia

    de complicaes pulmonares. Tais complicaes so mais comuns nos procedimentos com

    durao acima de 210 minutos (Faresin, 2005).

    A anestesia modifica a forma, o volume e os movimentos torcicos. Essas

    modificaes se somam as encontradas na prpria interveno cirrgica e acarretam

  • Introduo 31

    alteraes da distribuio do ar inspirado, ou seja, alteraes ventilatrias. Por no serem

    acompanhadas de reajustes proporcionais da perfuso acabam modificando, tambm, as

    trocas gasosas (Chaves e Massa, 1995). A anestesia geral endovenosa e/ou inalatria leva

    reduo da capacidade residual funcional (CRF) em torno de 16%. Esse percentual

    suficiente para a formao de atelectasias, provavelmente devido ao relaxamento do

    diafragma com seu deslocamento ceflico (Faresin, 2005).

    Alm disso, a anestesia geral diminui a frao inspirada de oxignio, e resulta,

    frequentemente, em reduo da oxigenao do sangue (Rothen e Sporre, 1995).

    Embora alguns dos fatores de risco relacionados ao paciente ou ao

    procedimento no sejam modificveis, til identific-los para que a equipe, com o

    objetivo de prevenir as complicaes respiratrias ps-operatrias e o bito, intensifique a

    ateno em relao aos pacientes de maior risco (Bellinetti e Thomson, 2006).

    A incidncia de complicaes respiratrias mais elevada nas primeiras horas

    do perodo ps-operatrio. A atelectasia a complicao mais freqente, observada neste

    perodo, nas cirurgias que envolvam o andar superior do abdome ou na cirurgia

    laparoscpica (Auler Jnior et al., 2000).

    A ocorrncia de atelectasias predominantemente nas bases pulmonares est

    associada a alteraes no movimento do diafragma, esta hipocontratilidade diafragmtica

    decorrente do ato cirrgico em si ou do pneumoperitneo (Van de Leur et al., 2003; Hall et

    al., 1996; Celli, 1993; Weiner et al., 1998). A atelectasia nas bases pulmonares, resulta em

    colapso da ventilao alveolar nas reas dependentes do pulmo, com alteraes na

    ventilao-perfuso ou shunt pulmonar e, consequentemente hipoxemia (Chiavegato et al.,

    2000).

  • Introduo 32

    O pico da disfuno diafragmtica ps-operatrio, ocorre no perodo entre 2 e

    8 horas aps a cirurgia, retornando aos valores pr-operatrios entre 7 e 10 dias (Bellinetti

    e Thomson, 2006).

    A atelectasia basal favorecida pela modificao do padro ventilatrio

    abdominal para um padro ventilatrio torcico, aps a manipulao da cavidade

    abdominal. Isso leva a uma ventilao predominante no pice pulmonar, em reas de baixa

    relao ventilao-perfuso.

    Em ordem decrescente, a pneumonia ocorre habitualmente aps o segundo dia

    ps-operatrio e decorre, principalmente, da diminuio na defesa pulmonar. Tal

    diminuio se deve reduo na habilidade em expectorar secreo, conseqncia de uma

    tosse ineficaz e da reduo do movimento mucociliar que ocorre aps o uso de alguns

    agentes anestsicos, sendo agravada pela respirao superficial e imobilizao no leito. O

    aparecimento de infeces nas vias areas e no parnquima pulmonar responsvel pela

    maior taxa de morbidade e mortalidade.

    Admite-se que os avanos nas tcnicas de diagnstico, de anestesia, de cirurgia

    e o conhecimento mais aprimorado sobre os fatores de risco diminuem a incidncia de

    complicaes ps-operatrias (Pinheiro, Barreto e Gottschall, 1994). A seleo mais

    criteriosa dos pacientes, realizada pela identificao de anormalidades no pr-operatrio, e

    os cuidados direcionados s condies dos pacientes podem reduzir as complicaes

    pulmonares ps-operatrias (Lawrence, Page e Harris, 1989).

    Alm disso, vrios autores referem que a fisioterapia respiratria pode ser

    benfica na preveno de CPPO (Celli, Rodriguez e Snider, 1984; Hall et al., 1996;

    Paisani, Chiavegato e Faresin, 2005; Hallbk et al., 1984; Minschaert et al., 1982; Junj,

    1980; Morran e Finlay, 1983; Matte e Jacquet, 2000; Valado et al., 1994).

  • Introduo 33

    4. Fisioterapia

    4.1 Avaliao pr-operatria

    A avaliao clnica do portador de megaesfago de grande importncia, pois

    se tratam de indivduos normalmente desnutridos, que podem apresentar cardiopatia

    chagsica e complicaes pulmonares da doena. Alia-se a esse quadro a possibilidade de

    serem submetidos cirurgia de grande porte, como a esofagectomia (Fernandes et al.,

    2004).

    A avaliao pr-operatria das condies clnicas e da funo pulmonar,

    permite definir fatores de risco e identificar pacientes com risco aumentado de

    complicaes trans e ps-operatrias. Isso possibilita instituir as medidas que atenuem, ou

    inclusive, evitem tais complicaes (Pinheiro, Barreto e Gottschall, 1994).

    Dentre as avaliaes pr-operatrias cita-se a avaliao pulmonar e

    fisioteraputica. A avaliao da funo pulmonar (espirometria) tem o objetivo de

    quantificar e qualificar as medidas dos volumes, capacidades pulmonares e fluxos

    respiratrios. Essa avaliao til para diagnosticar algumas doenas respiratrias ou

    identificar as disfunes pulmonares, em pacientes assintomticos. A espirometria fornece

    medidas de capacidade vital (CV), capacidade vital forada (CVF), volume expiratrio

    forado no primeiro segundo (VEF1), de fluxo expiratrio forado (FEF), de pico mximo

    de fluxo expiratrio (PEF) e da relao entre a capacidade vital forada e o volume

    expiratrio forado no primeiro segundo (VEF1/CVF).

    Atualmente a espirometria pode ser usada para prever o risco de complicaes

    no perodo ps-operatrio. Considera-se com risco moderado quele paciente com medida

    de CVF e ventilao voluntria mxima (VVM) menor que 50% do volume previsto para o

  • Introduo 34

    paciente avaliado, volume expiratrio forado no primeiro segundo (VEF1) menor que 2L,

    VEF1/CVF menor que 70% e volume residual (VR) e capacidade pulmonar total (CPT)

    maior que 50% do previsto (Auler Jnior et al., 2000).

    A avaliao fisioteraputica consiste em anamnese, inspeo torcica esttica e

    dinmica, teste de fora muscular respiratria, alm das medidas do pico de fluxo

    expiratrio (PEF). O PEF detecta o grau de obstruo das vias areas e, indiretamente, a

    fora muscular expiratria. O PEF calculado de acordo com o sexo, a idade e a altura do

    paciente.

    A fora da musculatura respiratria definida como a presso mxima ou

    mnima desenvolvida dentro do sistema respiratrio a um especfico volume pulmonar. As

    presses geradas no sistema respiratrio dependem das foras geradas durante a contrao

    muscular e das propriedades elsticas do pulmo e parede torcica A fora contrtil dos

    msculos respiratrios normalmente avaliada por medidas de presses que esses

    msculos geram durante contraes voluntrias (Irwin e Tecklin, 1994).

    A tcnica utilizada para avaliar a fora muscular respiratria baseia-se na

    medida da presso inspiratria mxima (Pimx) e presso expiratria mxima (Pemx).

    Utiliza-se o manovacumetro para mensurar a fora muscular respiratria.

    As medidas de Pimx e Pemx so consideradas manobras estticas, ou seja,

    com fluxo igual a zero, em que a presso na boca vai ser a mesma da presso alveolar. As

    presses inspiratrias so maiores em volumes prximos do volume residual (VR) e as

    presses expiratrias maiores em volumes prximos da capacidade pulmonar total (CPT).

    Nos volumes prximos dos extremos da capacidade vital as variaes das presses

    mximas so menores, em conseqncia das pequenas variaes no volume gasoso

    pulmonar, aumentando assim a reprodutibilidade dos resultados (Camelo Jr., Filho e

    Mano, 1985).

  • Introduo 35

    A medida das presses mximas geradas durante esforo de inspirao e

    expirao um procedimento efetivo para a avaliao funcional dos msculos

    respiratrios, pois permite identificar e quantificar a progresso da fraqueza desses

    msculos (Camelo Jr., Filho e Mano, 1985). Em acrscimo, so procedimentos

    razoavelmente simples de serem realizados, que utilizam equipamentos pouco onerosos e

    consomem pouco tempo para as medidas (Chiavegato et al., 2000; Neder et al., 1999).

    Consideram-se valores normais de fora muscular quando a Pimx e Pemx

    forem igual ou maior que -80 cmH2O e 80 cmH2O respectivamente, onde pacientes com

    fora inspiratria mxima menor que -25 cmH2O apresentam alto risco de desenvolver

    falncia ventilatria. J os pacientes com fora expiratria menor que 30 cmH2O podem

    apresentar tosse ineficaz e com isso acumular secreo brnquica (Flamiano e Celli, 2001).

    4.2 Musculatura respiratria

    Os msculos respiratrios so componentes vitais para o funcionamento

    adequado da dinmica pulmonar (Abreu et al., 2000). Apesar de serem msculos

    esquelticos semelhantes aos perifricos, eles se diferenciam em alguns aspectos, uma vez

    que, esto sob controle voluntrio e involuntrio e trabalham com cargas elsticas e

    resistivas, enquanto a maioria dos outros msculos trabalha principalmente com inrcia

    (Godoy, 1982).

    Os msculos respiratrios podem ser divididos em msculos inspiratrios,

    constitudos pelo diafragma, intercostais externos e escalenos; msculos expiratrios, que

    so os intercostais internos e abdominais e ainda pelos msculos acessrios, como o

    esternocleidomastideo, peitoral maior e menor, serrtil anterior e o trapzio (Flamiano e

    Celli, 2001).

  • Introduo 36

    O msculo inspiratrio primrio o diafragma, o qual representa cerca de 70%

    da inspirao. Ele formado por feixes musculares delgados em forma de duas cpulas

    voltadas cranialmente e ainda por uma aponeurose central tendinosa (Azeredo, 1999). Esse

    msculo se insere anteriormente, na poro posterior do processo xifide, lateralmente, nas

    costelas inferiores, e posteriormente, nas vrtebras lombares (Flamiano e Cellli, 2001).

    O diafragma separa as cavidades torcica e abdominal, apresentando aberturas

    atravs das quais passam o esfago, vasos sanguneos e os nervos. Ele possui um alto

    potencial oxidativo e a maior capacidade de todos os msculos respiratrios em termos de

    encurtamento e de modificao volmica (McArdle, 2003).

    O processo de expirao realizado pelo relaxamento do diafragma e dos

    intercostais externos, sendo esse um ato passivo. Entretanto, durante um esforo

    respiratrio os msculos intercostais internos e abdominais atuam rigorosamente sobre as

    costelas e a cavidade abdominal reduzindo as dimenses torcicas (McArdle, 2003). Em

    condies de aumento da demanda ventilatria, os msculos acessrios tambm so

    utilizados (Flamiano e Celli, 2001).

    Durante a contrao muscular, a energia total consumida pelo msculo a

    soma da energia estocada mais a energia extrada do sangue, durante determinado tempo.

    A fadiga dos msculos esquelticos ocorre quando a taxa de consumo de energia, pelo

    msculo, maior do que a taxa de suprimento de energia, para o msculo. Quando ocorre a

    fadiga o msculo fica incapaz de produzir e manter determinada fora (Godoy, 1982).

    Os msculos respiratrios so estriados e microscopicamente classificados em

    dois grupos de fibras musculares. Os que possuem fibra muscular rpida com pouca

    atividade oxidativa e aqueles com fibra muscular lenta com grande atividade oxidativa e,

    portanto resistentes fadiga (Irwin e Tecklin, 1994).

  • Introduo 37

    A operao com anestesia geral, pode levar a uma sobrecarga pulmonar e um

    desequilbrio entre a energia fornecida e a energia gasta, de modo a reduzir a fora de

    contrao muscular. Com isso os msculos ventilatrios necessitam de incremento de

    energia para prevenir a fadiga muscular respiratria (Weiner et al., 1998).

    O estado nutricional um determinante importante da fadiga da musculatura

    respiratria, uma vez que, a m nutrio pode causar deficincias proticas, minerais e

    eletrolticas e dessa forma, reduzir a massa muscular e sua fora contrtil levando tambm

    a reduo da defesa pulmonar em funo da queda dos nveis de IgA secretora (Franco

    Laghi, 2003; Irwin e Tecklin, 1994). Foi observado decrscimo de 43% da massa

    diafragmtica em autopsias realizadas em indivduos que perderam cerca de 30% do seu

    peso habitual (Arora e Rochester, 1982).

    Alm disso, a repercusso da desnutrio na musculatura respiratria tem

    conseqncias clnicas importantes na insuficincia respiratria crnica, na diminuio da

    tolerncia aos esforos e na dificuldade para o desmame da ventilao artificial (Laaban,

    1990).

    A desnutrio progressiva e no controlada est quase sempre associada a

    alteraes histolgicas e funcionais do parnquima pulmonar e da musculatura respiratria.

    Os msculos responsveis pela dinmica respiratria esto sujeitos s mesmas condies

    de catabolismo de outros msculos esquelticos durante perodos de estresse (Mttar,

    1995). Assim, cirurgias de grande porte podem acarretar significativa perda protico-

    calrica no indivduo, podendo agravar seu estado de desnutrio. O planejamento

    nutricional minucioso e prvio ou precocemente instalado aps a operao torna-se

    necessrio para a reduo de morbidade (Crema, 1988).

  • Introduo 38

    A importncia do preparo adequado dos pacientes que sero submetidos a um

    tratamento cirrgico resulta em um ps-operatrio com menos intercorrncias e/ou

    complicaes ps-operatrias (Pereira, Faresin e Fernandes, 2000).

    4.3 Preparo pulmonar pr-operatrio

    A freqncia dos procedimentos cirrgicos aumentou progressivamente nas

    ltimas dcadas. Sabe-se que as complicaes pulmonares ps-operatrias (CPPO) so

    fonte significativa de morbidade e mortalidade, por esse motivo faz-se necessrio o

    preparo pr-operatrio com o intuito de prevenir tais complicaes (Leguisamo, Kalil e

    Furlani, 2005).

    O tratamento fisioteraputico profiltico no perodo pr-operatrio tem sido

    considerado importante e eficiente para prevenir e reduzir as complicaes aps cirurgia

    abdominal alta, tanto em pacientes considerados de alto ou baixo risco cirrgico, alm de

    otimizar o tratamento ps-operatrio uma vez que o paciente estar familiarizado e

    treinado com os procedimentos fisioteraputicos (Weiner et al., 1994; Roukema, Carol e

    Prins, 1988; Nomori et al., 1994;).

    Entretanto, nota-se que a maior parte dos trabalhos encontrados na literatura

    relacionados ao assunto, refere, preferencialmente, os benefcios encontrados no

    tratamento fisioteraputico realizado somente no perodo ps-operatrio (OConnor, 1988;

    Dohi e Gold, 1978; Schwieger et al., 1986; Kollef et al., 2000; Thomas e Mclntosh, 1994).

    Porm, a fisioterapia respiratria deve ser iniciada o mais precocemente possvel, de forma

    a avaliar, orientar e preparar melhor o paciente (Leguisamo, Kalil e Furlani, 2005).

  • Introduo 39

    Dos vrios procedimentos utilizados pela fisioterapia respiratria, encontra-se

    o treinamento muscular respiratrio (TMR), cujo objetivo aumentar a fora e/ou

    endurance (resistncia) dos msculos respiratrios.

    Aps interveno abdominal a musculatura respiratria encontra-se

    freqentemente prejudicada, especialmente aps cirurgias abertas (Silva, Guedes e Ribeiro,

    2003). Por esse motivo, faz-se necessrio o fortalecimento dos msculos respiratrios para

    a melhora da funo pulmonar e para a facilitao na desobstruo das vias areas, por

    intermdio da tosse efetiva (Garcia e Costa, 2002; Nomori, et al., 1994).

    Tem sido notado que, a fraqueza dos msculos respiratrios no perodo que

    antecede estas cirurgias pode retardar o perodo de restabelecimento esperado para as

    alteraes fisiopatolgicas (Nomori et al., 1994).

    Belinetti (2006), afirma que a funo muscular respiratria anormal, no perodo

    pr-operatrio das toracotomias e laparotomias superiores eletivas, est associada maior

    incidncia de complicaes pulmonares ps-operatria ou bito. A deteco dessa

    disfuno pelo fisioterapeuta tem sido til no auxilio da estratificao do risco cirrgico

    dos pacientes.

    Dentre as CPPO, as mais susceptveis de serem corrigidas ou prevenidas em

    pacientes ps-operados de cirurgia cardaca, so as relacionadas aos msculos

    respiratrios. Tal assertiva fundamenta-se no fato de os msculos inspiratrios serem,

    freqentemente, requisitados sob condio de sobrecarga do sistema respiratrio (Reid e

    Dechman, 1995).

    A eficincia dos msculos respiratrios, como dos outros msculos

    esquelticos, aumenta aps o treinamento. Os efeitos do treinamento sobre a ventilao

    pulmonar esto associados diminuio da freqncia respiratria e aumento da

  • Introduo 40

    profundidade respiratria, refletindo com isso, na melhora da funo pulmonar (Irwin e

    Tecklin, 1994).

    Um dos primeiros estudos, em que demonstrou o efeito de treinamento sobre as

    fibras musculares respiratrias, foi o trabalho de Lieberman, Maxwell e Faulkner, em

    1972. Esses autores estudaram cobaias aps o treinamento de endurance muscular

    respiratria, e observaram aumento de 20% das fibras de alta capacidade oxidativa em

    relao s no treinadas.

    Em 1976, Leith e Bradley treinaram dois grupos de indivduos normais, um

    grupo treinado especificamente para aumentar a fora muscular respiratria e outro, para

    aumento da endurance. Ficou claro, aps esse estudo, que, tanto a fora quanto a

    endurance dos msculos respiratrios podia ser seletivamente melhorada. Para tanto

    bastaria um programa especfico de treinamento.

    Portanto, os msculos respondem diferentemente aos exerccios orientados

    para melhorar a fora em comparao com os orientados para melhorar a resistncia. Desse

    modo, para se obter resposta ao treinamento, um estmulo apropriado deve ser aplicado ao

    msculo, visto que, a natureza da resposta depende do tipo de carga a que o msculo

    submetido (Irwin e Tecklin, 1994).

    Observa-se que, no treinamento da fora, a principal resposta do msculo

    esqueltico a hipertrofia das fibras brancas tipo II. Por outro lado, no treinamento da

    endurance as principais alteraes so: o aumento da capacidade oxidativa, do nmero e

    tamanho das mitocndrias e da densidade capilar.

    As tcnicas para aumentar a fora da musculatura respiratria fundamentam-se

    no oferecimento de determinada carga respirao espontnea do paciente. Essa carga

    pressrica pode ser linear ou alinear. Os incentivadores de carga pressrica alinear

    oferecem resistncia desconhecida ou varivel durante todo o movimento respiratrio. Os

  • Introduo 41

    incentivadores de carga pressrica linear so considerados incentivadores fluxo-

    independente, pois no dependem do fluxo respiratrio do paciente. Sendo que o fluxo de

    ar gerado somente quando uma presso inspiratria ou expiratria pr-estabelecida

    realizada (Abreu et al., 2000).

    Em relao s tcnicas de fortalecimento da musculatura respiratria destaca-se

    o fluxo-independente com carga pressrica linear sendo este o mais eficaz em funo do

    controle da carga inspirada (Garcia e Costa, 2002; Elias et al., 2000). Para tal, utiliza-se um

    resistor respiratrio denominado Threshold.

    O Threshold consiste em um aparelho que oferece resistncia respiratria por

    meio de vlvulas com molas e no depende do fluxo respiratrio do paciente (Elias et al.,

    2000).

    Lisboa et al., 1997, mostraram que o TMR com o resistor threshold, em

    pacientes com doenas pulmonares obstrutivas crnicas, amenizou a dispnia, aumentou a

    distncia percorrida numa caminhada de seis minutos e reduziu o custo metablico ao

    exerccio submximo.

    Um programa de TMR deve ser individualizado, tendo bem estabelecido

    variveis como o tipo de exerccio realizado, sua intensidade (carga), o nmero ou tempo

    de repeties (intermitente ou contnuo) e a durao total do programa de treinamento

    (Sarmento, 2005).

    Antes de iniciar o TMR, deve-se definir qual a carga ser utilizada para o

    fortalecimento muscular, atravs da avaliao da presso inspiratria (Pimx) e a presso

    expiratria mxima (Pemx), com o uso do aparelho manovacumetro (Abreu et al., 2000).

    O TMR alm de ser realizado em pacientes cirrgicos, tambm pode ser

    indicado em pacientes com DPOC, asma ou fibrose cstica, em pacientes com doenas

  • Introduo 42

    neuromusculares e em pacientes com dificuldades de desmame da ventilao mecnica

    (Sarmento, 2005).

    A pesquisa na literatura evidencia que embora alguns estudos apresentem os

    efeitos da fisioterapia respiratria, no perodo pr-operatrio, a maioria desses estudos, foi

    realizada com pacientes j internados. Dessa forma, faz-se necessrio a anlise de um

    estudo do preparo fisioteraputico pr-operatrio ambulatorial. Com este estudo, alm de

    observar os efeitos da fisioterapia, deve-se investigar outros fatores, tais como: a reduo

    do tempo de internao pr-operatria, conseqentemente a reduo da colonizao

    bacteriana com germes hospitalares, a reduo dos custos e a melhora das condies

    psicolgicas e sociais durante o perodo pr-operatrio.

  • Hiptese 43

    Hiptese

    O preparo pulmonar ambulatorial melhora a funo pulmonar e reduz o tempo

    de internao hospitalar (pr e ps-operatrio), as complicaes pulmonares ps-

    operatrias e o custo total de internao.

  • Objetivos 44

    Objetivo Geral

    Esse estudo teve o propsito de avaliar a eficcia do preparo pulmonar

    ambulatorial no perodo pr-operatrio por meio de um treinamento muscular respiratrio

    em indivduos portadores de afeces benignas do esfago.

    Objetivo especfico:

    Melhorar os parmetros da funo pulmonar quantificados por:

    I Espirometria

    II Presso inspiratria e expiratria mxima

    III Pico de fluxo expiratrio

  • Casustica e Mtodos 45

    1. Amostra

    Pesquisa com estudo experimental, prospectivo de coorte com abordagem

    quali-quantitativa, com o objetivo de avaliar o preparo pulmonar ambulatorial em

    indivduos portadores da forma avanada de esofagopatia que foram submetidos

    esofagectomia subtotal com esfago-gastroplastia ou a faringocologastroplastia Todos os

    pacientes receberam avaliao pulmonar pr-operatria, a qual se constituiu por avaliao

    fisioteraputica e espiromtrica, bem como ao preparo pulmonar realizado pelo

    Treinamento Muscular Respiratrio (TMR).

    O estudo foi desenvolvido na disciplina de Cirurgia do Aparelho Digestivo-

    CAD do Hospital Escola da Universidade Federal do Tringulo Mineiro (HE-UFTM), no

    perodo de agosto de 2005 a outubro de 2007. A amostra foi constituda de 23 pacientes

    adultos, 14 do sexo masculino e 9 do sexo feminino, com idade mdia de 50,34 anos ( 28-

    79 anos). Dos 23 pacientes, 14 apresentavam diagnstico de esofagopatia chagsica, 6

    eram portadores de megaesfago idioptico e 3 portadores de estenose castica do esfago.

    Fizeram parte do estudo 17 pacientes que foram submetidos cirurgia eletiva de

    reconstruo do trnsito digestivo (esofagectomia com esfago-gastroplastia laparoscpica

    ou faringocologastroplastia laparotmica). Dos 6 restantes, 4 foram submetidos a cirurgia

    da transio esfago-gstrica (cardiomiotomia a Heller) e 2 a dilatao esofgica, por isso,

    no foram includos no estudo.

    Os pacientes foram convidados a participar deste estudo e assinaram o termo

    de consentimento livre esclarecido (Anexo 1).

    No intuito de comparar o perodo de internao pr-operatrio e ps-operatrio

    e a necessidade e o nmero de dias que os pacientes permaneceram no CTI ou em

  • Casustica e Mtodos 46

    ventilao mecnica, utilizou-se, nesse estudo, 14 pacientes que foram submetidos

    esofagectomia subtotal e que receberam preparo pulmonar internados na enfermaria da

    CAD do HE-UFTM (grupo histrico). Desses pacientes, nove eram do sexo masculino e

    cinco do sexo feminino, com idade mdia de 56,64 anos (30-77 anos). Dos 14 pacientes,

    12 apresentavam diagnstico de esofagopatia chagsica e dois eram portadores de

    megaesfago idioptico.

    Todos os dados estudados foram includos em uma planilha Excel e esto

    apresentados em anexo (Anexo 2).

    2. Critrios de incluso

    Foram includos, nessa pesquisa, pacientes com idade superior a 18 anos,

    orientados, os quais foram encaminhados e admitidos em ambulatrio criado

    especificamente para este estudo, denominado Ambulatrio pr-operatrio CAD. Esses

    pacientes, posteriormente, foram submetidos a esofagectomia subtotal com esfago-

    gastroplastia ou faringocologastroplastia.

    3. Critrios de excluso

    Foram excludos os pacientes com incapacidade de realizar os exerccios

    fisioteraputicos, aqueles que durante o preparo recusaram a teraputica proposta neste

    projeto, os que no foram submetidos aos procedimentos cirrgicos inicialmente descritos,

    e sim dilatao esofgica ou cardiomiotomia a Heller.

  • Casustica e Mtodos 47

    4. Tcnica cirrgica

    4.1 Esofagectomia subtotal trans-hiatal com esfago-gastroplastia

    Quatorze pacientes (5 do sexo feminino e 9 do sexo masculino; 11 portadores

    de megaesfago chagsico e 3 portadores de megaesfago idioptico) foram submetidos a

    esofagectomia subtotal trans-hiatal realizada pela tcnica laparoscpica com esfago-

    gastroplastia atravs de cervicotomia esquerda. Iniciou-se o procedimento com a realizao

    do pneumoperitneo com 12 mmHg, onde foram feitas 5 punes para a disseco do

    esfago abdominal e torcico. A anastomose esfago-gstrica foi feita com sutura contnua

    manual com fio monofilamentado de polipropileno em plano nico.

    4.2 Faringocologastroplastia

    Trs pacientes do sexo masculino portadores de estenose castica do esfago

    foram submetidos a faringocologastroplastia, por meio de laparotomia mediana xifo-

    umbilical e cervicotomia esquerda. O segmento transposto retroesternal foi o clon

    transverso isoperistltico cuja vascularizao foi mantida pelos vasos clicos esquerdos. A

    anastomose faringo-colo, colo-gstrica e colo-clica foi feita com sutura contnua, com fio

    monofilamentado de prolene 000.

    5. Avaliao pulmonar pr-operatria

  • Casustica e Mtodos 48

    A avaliao pulmonar pr-operatria constitui-se da avaliao espiromtrica

    (espirometria), fisioteraputica e radiografia de trax.

    5.1 Espirometria

    A espirometria foi realizada por profissional especializado, no laboratrio de

    funo pulmonar da disciplina de Pneumologia da UFTM. Utilizou-se o espirmetro

    computadorizado MASTERSCREEN PFT JAEGER, (Figura 1) e o exame foi realizado

    conforme as recomendaes do Consenso Brasileiro de Espirometria. Para a realizao do

    exame o indivduo repousou de cinco a dez minutos antes do teste.

    O procedimento foi previamente descrito e demonstrado ao paciente, dando

    nfase na importncia de que no houvesse vazamentos de ar em torno da pea bucal. O

    teste de funo pulmonar foi realizado atravs de manobra expiratria lenta e aps uma

    manobra forada.

    O paciente estava com as narinas ocludas e foi colocado no espirmetro para

    inspirar e expirar normalmente pela boca somente o ar fornecido pelo aparelho.

    Posteriormente, ele foi orientado a realizar uma inspirao profunda at a capacidade

    pulmonar total (CPT) e uma expirao rpida e intensa o quanto possvel at o volume

    residual (VR).

    A avaliao da funo pulmonar atravs da espirometria um dos

    procedimentos pr-operatrios realizados rotineiramente nos pacientes da Cirurgia do

    Aparelho Digestivo e tem o intuito de identificar e quantificar alteraes funcionais

    pulmonares. A espirometria permite medir o volume de ar inspirado e expirado e os fluxos

    expiratrios.

    Neste estudo, a espirometria foi realizada em dois momentos, na avaliao

    inicial e um dia antes do procedimento cirrgico, sendo este, no mnimo, aps quatro

  • Casustica e Mtodos 49

    semanas de treinamento muscular respiratrio. Os parmetros utilizados neste projeto

    foram: Capacidade vital forada; Volume expiratrio forado no primeiro segundo, pico de

    fluxo expiratrio e a relao VEF1/CVF (litros e % do previsto).

    - Capacidade Vital Forada (CVF): uma das variveis espiromtricas

    utilizada pra determinar alteraes ventilatrias. A CVF obtida por meio da manobra

    expiratria forada. Ela representa o volume mximo de ar exalado com esforo mximo, a

    partir do ponto de mxima inspirao (CPT). O valor obtido expresso em litros e em

    porcentagem prevista.

    - Volume Expiratrio Forado no Primeiro Segundo (VEF1): representa a

    quantidade de ar eliminada no primeiro segundo da manobra de CVF. a medida de

    funo pulmonar utilizada para determinar distrbios ventilatrios obstrutivos. O VEF1

    medido com a introduo de medidas de tempo (um segundo) na manobra de CVF. O valor

    obtido expresso em litros e em porcentagem prevista.

    - Pico de fluxo expiratrio (PFE/Peak-Flow): O PEF reflete o calibre das vias

    areas proximais, pode ser utilizado como um ndice da capacidade de tossir ou,

    indiretamente, da fora expiratria. O PEF um parmetro expiratrio esforo-dependente,

    por isso a medida do PEF avalia a colaborao do paciente na fase precoce da expirao. O

    PEF medido pelo fluxo mximo durante a manobra de CVF, podendo ser medido

    tambm por aparelhos portteis. O valor obtido expresso em litros/segundo e em

    porcentagem prevista.

    Foram consideradas espirometrias com alteraes funcionais aquelas com

    valores da capacidade vital forada menores do que 80% do previsto e/ou ento com

    valores do volume expiratrio forado no primeiro segundo abaixo de 80% do previsto,

    alm dos valores da relao VEF1/CVF abaixo de 75%.

  • Casustica e Mtodos 50

    Os valores normais foram calculados de acordo com peso, idade, altura e sexo

    dos pacientes e interpretados segundo Knudson (1976).

    Figura 1. Espirmetro

    5.2 Avaliao fisioteraputica

    Para a avaliao fisioteraputica foi elaborado um protocolo contendo: Ficha

    de avaliao, avaliao da fora muscular respiratria e avaliao do pico de fluxo

    expiratrio (grau de obstruo das vias areas/calibre das vias areas).

    5.2.1 Ficha de avaliao

    Foram registrados os seguintes dados: anamnese, idade, gnero, presena de

    doenas prvias, histria de tabagismo e/ou etilismo, ausculta pulmonar, sinais vitais (P.A,

    F.C, F.R.), presena de tosse (produtiva/improdutiva), dispnia, anlise da dinmica

    respiratria (amplitude e padro respiratrio). A ficha de avaliao era preenchida na

    consulta inicial (Anexo 3).

  • Casustica e Mtodos 51

    5.2.2 Avaliao da fora muscular respiratria

    A tcnica utilizada para avaliar a fora muscular respiratria, baseou-se na

    medida das presses respiratrias mximas: Presso Inspiratria Mxima (Pimx) e

    Presso Expiratria Mxima (Pemx). Essas medidas permitem realizar uma avaliao

    simples, rpida e reproduzvel da fora muscular respiratria. As medidas de Pimx e

    Pemx foram obtidas pela leitura feita em um manovacumetro (Figura 2) graduado de

    120 a + 120 cmH20 (marca: Comercial Mdica) com o paciente sentado confortavelmente,

    utilizando clipe nasal e bocal plstico rgido.

    Todo o procedimento foi descrito e anteriormente apresentado para o paciente.

    Ressaltou-se a importncia da colaborao e esforo mximo do paciente, alm de se

    enfatizar o cuidado para evitar escape de ar entre a boca e o bocal, durante a manobra.

    Para a medida de Pimx, o paciente foi orientado a realizar um esforo

    inspiratrio mximo sustentado por pelo menos dois segundos a partir de uma expirao

    mxima (volume residual). A Pemx foi obtida no momento em que o paciente realizou

    um esforo expiratrio mximo sustentado por, no mnimo, dois segundos aps uma

    inspirao profunda (Capacidade pulmonar total). Nesse estudo foram considerados como

    valores de normalidade aqueles indivduos que apresentaram medidas de Pimx e Pemx

    maior ou igual a -80 cmH20 e +80 cmH20, respectivamente.

  • Casustica e Mtodos 52

    Figura 2. Manovacumetro

    Figura 3. Peak-flow

    As medidas de Pimx e Pemx foram realizadas trs vezes consecutivas com

    intervalo de dois minutos entre elas e o valor mais alto obtido foi registrado.

    Semanalmente, os valores de Pimx e Pemx foram coletados, durante o retorno ao

    ambulatrio pr-operatrio CAD.

  • Casustica e Mtodos 53

    5.2.3 Avaliao do pico de fluxo expiratrio

    A avaliao do pico de fluxo expiratrio (obstruo das vias areas) foi obtida

    por intermdio de manobra de esforo expiratrio mximo e rpido partindo-se de uma

    inspirao mxima (CPT). Para tanto, foi utilizado um aparelho porttil denominado Peak-

    Flow Meter (Figura 3) de 50 a 800L/min (marca: Vitalograph). Os valores quanto

    normalidade foram analisados conforme a tabela do Peak-flow que contm as seguintes

    variveis: idade, sexo e altura (Anexo 4).

    As medidas do pico de fluxo expiratrio foram realizadas trs vezes

    consecutivas com intervalo de dois minutos entre elas e o valor mais alto obtido foi

    registrado. Semanalmente, os valores do pico de fluxo expiratrio foram coletados, durante

    o retorno ao ambulatrio pr-operatrio CAD.

    5.3 Radiografia de trax

    Os pacientes tambm eram submetidos radiografia de trax, realizada aps a

    consulta inicial, e de acordo com as tcnicas de rotina do HE por profissional capacitado.

    6. Complicaes clnicas pulmonares

    Foram consideradas complicaes pulmonares ps-operatrias (CPPO):

    atelectasia, insuficincia respiratria aguda (IRA) e/ou intubao oro-traqueal (IOT)

    prolongada e pneumonia.

  • Casustica e Mtodos 54

    7. Preparo pulmonar pr-operatrio

    O preparo pulmonar pr-operatrio dos pacientes foi realizado s segundas-

    feiras s 7:00h, sala 305 (Ambulatrio pr-operatrio da CAD), no Ambulatrio Maria da

    Glria da Universidade Federal do Tringulo Mineiro.

    O preparo pulmonar consistiu-se no treinamento muscular respiratrio (TMR),

    realizado com o auxlio do resistor inspiratrio denominado Threshold (Respironics New

    Jersey, Inc), por, no mnimo, 4 semanas. A carga utilizada para o fortalecimento

    respiratrio foi de 50% do valor registrado na Pimx e individualizada. O paciente

    realizava o TMR uma vez por semana (3 sries de 10 repeties) no ambulatrio sob a

    superviso do fisioterapeuta, e era orientado e estimulado a realizar os exerccios em sua

    residncia nos demais dias da semana (3 sries de 10 repeties). Para tal, cada paciente

    recebeu um aparelho Threshold (figura 4) para utilizar durante todo o preparo pr-

    operatrio.

    A carga de fortalecimento muscular era reajustada, ou no, semanalmente, de

    acordo com as alteraes verificadas s reavaliaes da Pimx. Dessa forma, a carga

    utilizada para o fortalecimento era atualizada com base na ltima avaliao, em que

    empregava-se uma carga de 50% da ultima avaliao.

    Durante todo o perodo pr-operatrio, os pacientes foram orientados em

    relao ao procedimento cirrgico, quanto importncia do preparo pulmonar e, aos

    tabagistas foi enfatizada a importncia da interrupo do tabagismo. Os pacientes

    receberam informaes sobre os exerccios aplicados no ps-operatrio e sobre a

    necessidade deles. Ressaltou-se a importncia da deambulao precoce e da tosse aps a

    cirurgia.

  • Casustica e Mtodos 55

    A avaliao fisioteraputica e o preparo pulmonar foram realizados pelo autor

    deste trabalho durante o perodo pr-operatrio e todos os procedimentos foram realizados

    no mesmo horrio, s 7:00 horas da manh.

    Figura 4: Threshold

    8. Anlise estatstica

    Foi realizada inicialmente uma anlise exploratria dos dados (descritiva) em

    que as variveis numricas foram submetidas s medidas descritivas de centralidade

    (mediana e mdia) e de disperso (valor mnimo, mximo e desvio padro) e, para as

    variveis categricas, foram obtidas freqncias simples absolutas e percentuais.

    Para o estudo de comparao das variveis numricas quanto aos fatores de

    interesse, foi inicialmente considerado o teste de normalidade dos dados de Kolmogorov-

    Smirnov e o teste de homogeneidade de varincias de Bartlett. Foram aplicados testes

    paramtricos para variveis de distribuio normal e varincia homognea, no contrrio,

    foram aplicados testes no-paramtricos.

  • Casustica e Mtodos 56

    O nvel de significncia para todos os testes foi de 5% ( = 0,05). Os resultados

    com diferena estatisticamente significante foram grafados com asterisco (*).

    9. Aspectos ticos

    O projeto de pesquisa do presente estudo foi aprovado pelo Comit de tica

    em pesquisa da UFTM (CEP/UFTM), protocolo nmero 660 (Anexo 5).

    10. Normas para confeco do manuscrito

    Para a elaborao escrita do trabalho, foram consultadas as normas da ABNT-

    NBR 14724:2002.

  • Resultados

    57

    1. Caracterizao do estudo

    Dos 23 indivduos estudados, 6 foram excludos (2 realizaram dilatao

    esofgica e 4 realizaram cardiomiotomia a Heller). Foram includos 17 pacientes nesse

    estudo, e estes, foram submetidos avaliao pulmonar e ao preparo pulmonar pr-

    operatrio pelo treinamento muscular respiratrio (TMR), durante no mnimo 4 semanas.

    Elegveis

    (n= 23)

    Excludos

    (n= 6)

    Dilatao

    (n= 2)

    Heller

    (n= 4)

    Estenose castica

    do esfago

    (n= 3)

    Avaliao inicial

    (Fisioteraputica, espiromtrica,

    raio-X de trax)

    Preparo pulmonar pr-operatrio

    (TMR)

    Avaliao ps-preparo

    (Fisioteraputica, espiromtrica)

    Includos

    (n= 17)

    Megaesfago

    avanado

    (n= 14)

    Faringocologastro-

    plastia

    (n= 3)

    Esofagectomia

    (n= 14)

  • Resultados

    58

    Figura 5. Fluxograma da distribuio dos pacientes no estudo.

    Foram estudados 17 pacientes no perodo de agosto de 2005 a outubro de 2007.

    Destes, 12 (70,58%) pacientes, eram do sexo masculino e 5 (29,42%) do sexo feminino,

    mdia de idade de 51,29 anos (31 74 anos) (Tabela 1). Havia 14 pacientes com

    diagnstico de megaesfago avanado (11 de origem chagsica e trs idioptica) e estes

    foram submetidos a esofagectomia subtotal trans-hiatal por laparoscopia com esfago-

    gastroplastia cervical e 3 pacientes foram submetidos a faringocologastroplastia

    laparotmica por apresentarem estenose castica do esfago (Tabela 2).

    Tabela 1. Distribuio dos pacientes quanto ao gnero e idade.

    N (%)

    Gnero

    Feminino 5 (29,42)

    Masculino 12 (70,58)

    Faixa etria

    < que 20 anos 0

    entre 20 e 40 anos 4 (24)

    > que 40 anos 13 (76)

    Total 17 (100)

  • Resultados

    59

    Tabela 2. Distribuio dos pacientes quanto ao diagnstico.

    Diagnstico N (%)

    Megaesfago idioptico 3 (17,65)

    Megaesfago chagsico 11 (64,41)

    Estenose castica 3 (17,65)

    Total 17 (100)

    2. Tempo de internao

    O perodo mdio de internao pr-operatrio dos pacientes que receberam

    preparo pulmonar ambulatorial foi de 5,47 dias (2 e 17 dias). Quando se comparou estes

    perodos de internao com o perodo de internao dos pacientes que receberam preparo

    pulmonar internados, notou-se que houve reduo estatisticamente significante dos dia de

    internao no perodo pr-operatrio do grupo de pacientes preparados ambulatorialmente

    (p< 0,0001) (tabela 3, figura 6).

    O perodo mdio de internao ps-operatrio dos pacientes que receberam

    preparo pulmonar ambulatorial foi de 9,76 dias (5 e 15 dias). A anlise do perodo ps-

    operatrio revelou reduo significativa dos dias de internao no grupo de pacientes que

    receberam preparo pulmonar no ambulatrio (p< 0,0003) (tabela 4, figura 6).

  • Resultados

    60

    Tabela 3. Perodo de internao pr-operatrio (mdia de dias). Comparao entre os

    pacientes que receberam o preparo pulmonar ambulatorial e os que receberam o preparo

    pulmonar internados.

    Perodo de internao

    Pr-operatrio

    Mdia Valor p

    Preparo pulmonar ambulatorial

    (n= 17)

    5,47 0,001*

    Preparo pulmonar hospitalar

    (n= 14)

    15,50

    Tabela 4. Perodo de internao ps-operatrio (mdia de dias). Comparao entre os

    pacientes que receberam o preparo pulmonar ambulatorial com aqueles que receberam o

    preparo pulmonar internados.

    Perodo de internao

    Ps-operatrio

    Mdia Valor p

    Preparo pulmonar ambulatorial

    (n= 17)

    9,76 0,003*

    Preparo pulmonar hospitalar

    (n= 14)

    13,71

  • Resultados

    61

    Figura 6. O grfico apresenta a mediana do perodo de internao hospitalar pr e ps-

    operatrio dos indivduos que receberam o preparo pulmonar no ambulatrio ou

    internados.

    A comparao da mdia dos dias que os pacientes permaneceram no CTI no

    diferiu estatisticamente nos 2 grupos analisados (grupo ambulatorial: 2,94; grupo histrico:

    2,57). A necessidade (grupo ambulatria: 4 pacientes; grupo histrico: 1 paciente) e a

    mdia de dias (grupo ambulatorial: 0,64; grupo histrico: 0,07 dias) em que os pacientes

    permaneceram em ventilao mecnica no ps-operatrio tambm no mostrou diferena

    estatisticamente significante (figura 7).

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    Units

    Pr-op/ dias Ps-op/ dias

    ambulatrio

    internados

  • Resultados

    62

    Figura 7. O grfico apresenta a mediana do perodo de permanncia no CTI e/ou em

    ventilao mecnica, dos pacientes que receberam o preparo pulmonar no ambulatrio ou

    internados.

    3. Complicaes pulmonares ps-operatrias (CPPO)

    Com relao s CPPO, foram consideradas nesse estudo a atelectasia, a pneumonia,

    a insuficincia respiratria aguda (IRA) e a intubao oro-traqueal (IOT) prolongada. No

    grupo estudado detectou-se 2 casos de atelectasia e 2 de IRA/IOT prolongadas (Tabela 5,

    figura 8).

    -1

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    6

    7

    t

    CTI VM

    ambulatrio

    internados

  • Resultados

    63

    Tabela 5. Distribuio dos pacientes quanto presena, ou no, de CPPO.

    CPPO N (%)

    Sem complicaes 13 (76,47)

    Atelectasia 2 (11,76)

    IRA/IOT prolongada 2 (11,76)

    Pneumonia 0

    Total 17 (100)

    Figura 8. Expresso grfica do nmero de pacientes quanto presena, ou no, de

    complicaes pulmonares ps-operatrias.

    4. Avaliao fisioteraputica

    4.1 Presso inspiratria mxima (Pimx)

    Os valores da presso inspiratria mxima (Pimx) aumentaram

    gradativamente, aps o treinamento muscular respiratrio (TMR). Observou-se que aps o

    76,47%

    11,76%

    11,76% 0%

    Sem

    complicaes

    Atelectasia

    IRA/IOT

    prolongada

    Pneumonia

  • Resultados

    64

    TMR, houve aumento estatisticamente significante em todos os 4 momentos estudados,

    quando comparado com os valores iniciais. Entretanto, a maior significncia foi notada na

    comparao dos valores obtidos na quarta semana com os valores iniciais (p< 0,0001)

    (Tabela 6, Figura 9).

    Tambm houve significncia a comparao dos valores da quarta com a

    terceira semana de TMR (p

  • Resultados

    65

    Quanto aos valores considerados normais da Pimx (igual ou maior que -80

    cmH2O), antes do TMR, somente trs (17,65%) pacientes apresentavam valores dentro da

    normalidade, e aps 4 semanas de TMR, observou-se que 8 pacientes (47,06%) atingiram

    valores igual ou maior que -80 cmH2 (Figura 10).

    Quanto se analisou a mdia da Pimx em relao ao sexo, foi encontrado

    valores de 90 e 70,80 cmH2O, para mulheres e homens respectivamente, tais valores,

    foram obtidos aps o TMR (Tabela 7).

    17,65%

    47,06%

    0%

    10%

    20%

    30%

    40%

    50%

    Antes TMR Depois TMR

    Antes TMR Depois TMR

    Figura 10. Expresso grfica do percentual de pacientes quanto ao valor de Pimx dentro

    da normalidade, antes e aps o TMR.

    Tabela 7. Valores mdios da Presso inspiratria mxima (Pimx), aps o TMR, em

    relao ao sexo dos pacientes estudados.

    Pimx (cmH2O)

    Gnero

    Feminino

    Masculino

    90,00

    70,80

  • Resultados

    66

    4.2 Presso expiratria mxima (Pemx)

    A anlise dos resultados da Pemx mostrou aumento em todos os momentos

    estudados, aps o TMR, quando comparado com os valores iniciais (Tabela 8). Nota-se

    que os valores de Pemx obtidos na primeira, segunda e quarta semana foram

    significantemente maiores que os obtidos antes do TMR.

    Observou-se, ainda, que aps a terceira semana, houve menor variao do que

    nas duas primeiras semanas, sendo que a comparao estatstica dos valores obtidos na

    quarta semana no foram estatisticamente significantes quando comparados com a terceira

    e segunda semanas.

    Notou-se que os valores da Pemx foram maiores em todos os momentos

    estudados quando comparados com os valores iniciais. Contudo a diferena significante

    ocorreu somente na primeira, segunda e quarta semana (Figura 11).

    Tabela 8. Valores mdios da Presso expiratria mxima (Pemx), em todos os momentos

    estudados.

    Inicial 1 semana 2 semanas 3 semanas 4 semanas

    Pemx 55,61 66,82* 69,50* 65,73 72,22*

    * p < 0,05

  • Resultados

    67

    Figura 11. O grfico apresenta os valores mdios da Presso expiratria mxima (Pemx)

    no momento da avaliao inicial e semanalmente, aps o treinamento muscular

    respiratrio.

    4.3 Pico de fluxo expiratrio

    Os valores de pico de fluxo expiratrio foram maiores em todos os momentos

    estudados, quando comparados aos valores iniciais, contudo a diferena significante

    ocorreu na segunda, terceira e quarta semanas (Tabela 9, Figura 12).

    Tabela 9. Valores mdios do Pico de fluxo expiratrio, em todos os momentos estudados.

    Inicial 1 semana 2 semanas 3 semanas 4 semanas

    Peak-flow 274,76 330,22 350,94* 339,33* 316,11*

    * p < 0,05

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    Pe I Pe 1 Pe 2 Pe 3 Pe 4

    CmH2O

    Semanas

  • Resultados

    68

    Figura 12. O grfico apresenta os valores mdios do pico de fluxo expiratrio no momento

    da avaliao inicial e semanalmente, aps o treinamento muscular.

    5. Testes espiromtricos

    5.1 Volume expiratrio forado no primeiro segundo (VEF1)

    Os valores da mdia do volume expiratrio forado no primeiro segundo

    (VEF1) foram de 2,81 e 3,06 respectivamente antes e aps o TMR. Observou-se que houve

    aumento dos valores mdios aps o TMR, porm no foi significante estatisticamente

    (p=0,112) (Figura 13).

    200

    225

    250

    275

    300

    325

    350

    375

    400

    425

    450

    PF I PF 1 PF 2 PF 3 PF 4

    L/min

    Semanas

  • Resultados

    69

    Figura 13. O grfico apresenta os valores mdios do volume expiratrio forado no

    primeiro segundo (VEF1) antes e aps o treinamento muscular respiratrio.

    5.2 Capacidade vital forada (CVF)

    Os valores mdios da CVF dos pacientes participantes foram de 3,65 e 3,62

    antes e aps o TMR respectivamente. Sendo que o mesmo no foi estatisticamente

    significante (p=0,432) (figura 14).

  • Resultados

    70

    Figura 14. O grfico apresenta os valores mdios da capacidade vital forada (CVF) antes

    e aps o treinamento muscular respiratrio.

    5.3 Relao entre o volume expiratrio forado no primeiro segundo e a capacidade

    vital forada (VEF1/CVF).

    Na anlise da VEF1/CVF, os valores mdios encontrados foram 77,58 e 78,77 antes

    e aps o TMR respectivamente, sendo que o mesmo no apresentou significncia

    estatstica (p=0,469) (figura 15).

    2

    2,5

    3

    3,5

    4

    4,5

    5

    FVC1 FVC2

  • Resultados

    71

    Figura 15. O grfico apresenta os valores mdios da relao entre a capacidade vital

    forada e o volume expiratrio forado no primeiro segundo (VEF1/CVF) antes e aps o

    treinamento muscular respiratrio.

    65

    67,5

    70

    72,5

    75

    77,5

    80

    82,5