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ANA RITA ARAÚJO SILVA
ANÁLISE DA EXPRESSÃO DO MICRORNA-146a EM MURGANHOS
TRANSGÉNICOS K14-HPV16
Dissertação de Candidatura ao grau de Mestre em
Oncologia submetida ao Instituto de Ciências
Biomédicas de Abel Salazar da Universidade do Porto.
Orientador – Doutor Rui M. Gil da Costa Categoria – Investigador de pós-doutoramento Afiliação – LEPABE, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e Grupo de Oncologia Molecular e Patologia Viral, CI-IPOP, Instituto Português de Oncologia do Porto Co-Orientador- Professor Doutor Rui Manuel de Medeiros Melo Silva Categoria – Professor Associado com Agregação da Universidade Fernando Pessoa Afiliação - Grupo de Oncologia Molecular e Patologia Viral do IPO-Porto Co-Orientador –Mestre Sara dos Santos Teixeira da Silva Afiliação- Grupo de Oncologia Molecular e Patologia Viral do IPO-Porto, CI-IPOP
INFORMAÇÃO TÉCNICA
TÍTULO:
Análise da expressão de microRNA-146a em murganhos transgénicos K14-HPV16
Dissertação de Candidatura ao grau de Mestre em Oncologia, Especialização em
Oncologia Molecular, submetida ao Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da
Universidade do Porto
AUTOR:
Ana Rita Araújo Silva
DATA:
Setembro de 2016
E-MAIL:
I
AGRADECIMENTOS
Este trabalho não teria sido possível sem a colaboração e a boa vontade daqueles
a que agora me refiro. A todos os meus sinceros agradecimentos!
Ao Prof. Doutor Rui Medeiros e ao Doutor Gil da Costa, agradeço por toda ajuda,
apoio e atenção que sempre me dispensaram, pela disponibilidade, por todas as
críticas construtivas e pela orientação ao longo da elaboração desta tese.
À Sara Silva e à Mara Fernandes agradeço todo o apoio e prontidão em ajudar ao
longo da realização desta tese.
À Prof. Paula Oliveira, ao Carlos Santos, Tiago Neto, André Santos e todo o
pessoal do biotério da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro pela
disponibilidade e pela amabilidade com que nos receberam no biotério.
Aos meus pais, agradeço por serem portos de abrigo nas alturas em que quis
desistir, por nunca me terem deixado fazê-lo e por terem sempre acreditado em
mim.
Ao meu porto seguro e o meu maior suporte emocional, que me incentivou
sempre a continuar. Obrigada pela paciência!
Depois, sem querer deixar hierarquias definidas, agradeço em geral aos meus
colegas de curso pelos bons momentos passados, as partilhas feitas nas aulas e
também fora delas.
III
“Comece fazendo o que é necessário, depois o que é
possível, e de repente você estará fazendo o
impossível”.
- São Francisco de Assis
V
ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
bFGF - Basic fibroblast growth factor
CIN - Cervical intraepithelial neoplasia
CIS - Carcinoma in situ
Ct - Cycle Threshold
CRPV – Cottontail Rabbit Papillomavirus
DGCR8 – DiGeoge Syndrome chromosomal region 8
DNA – Deoxyribonucleic acid
dNTPs - Deoxynucleotide Triphosphates
EBV – Epstein-Barr Virus
HBV- Hepatitis B Virus
HCV – Hepatitis C Virus
HPV - Papilomavírus Humano
HTLV – Human T-cell linfocitic virus
Il – Interleucina
IκB - inhibitor of kappa B
IRAK1- Interleukin-1 receptor-associated kinase 1
K14 - Citoqueratina 14
KSHV- Kaposi’s Sarcoma Herpes Virus
L – Late
LCR - Long Control Region
miRNA – microRNA
MMTV – Mouse Mammary Tumor Virus
mRNA – RNA mensageiro
NF- κB - nuclear factor NF-κB
NMSC – Non Melanoma Skin Cancer
Nts - Nucleótidos
ORF - Open Reading Frame
Pb – Pares de base
PCR – Reação em cadeia da polimerase
VI
qRT-PCR – RT-PCR em tempo real
RB - Retinoblastoma
RISC – RNA induced silencing complex
RNA – Ribonucleic acid
RSV- Rous Sarcoma Virus
SCC- Squamous cell carcinoma
TAR- HIV-1 transactivating response
TLR- Toll-like receptor
TNF- Tumor necrosis factor
TRAF6- TNF receptor associated factor 6
TRBP – TAR RNA-binding protein
UTR – Untranslated Region
UV – Ultra-Violeta
VEGF -Vascular endotelial growth factor
VII
RESUMO
Em Portugal, o cancro do colo-do-útero é o mais comum dos cancros do
sistema reprodutor feminino e representa cerca de 4% de todos os cancros nas
mulheres. A infeção persistente por HPV é a principal causa de cancro no colo-do-
útero e a probabilidade de uma mulher ser infetada por HPV durante a sua vida
de é de 80-90% e em 5-10% das mulheres infetadas, a infeção pode persistir e
progredir para cancro.
Os microRNAs são pequenos RNAs não codificantes capazes de regular a
expressão de genes em nível pós-transcricional. Um número crescente de estudos
demonstra que os microRNAs desempenham papel importante na carcinogénese.
Estudos recentes sugerem que o miR-146a desempenha um papel importante na
carcinogénese mediada por HPV devido à sua interação em importantes vias de
sinalização.
Na realização deste trabalho foram utilizados 91 murganhos transgénicos
K14-HPV16 com diferentes idades que expressam genes da região early do
HPV16 (E6, E7, E1, E2, E4, E5) em células basais do epitélio queratinizado. A 9
murganhos foi administrado o anti-inflamatório celecoxib e a 11 murganhos foi
administrado o anti-inflamatório DMAPT (dimetilaminopartenolídeo).
Os resultados obtidos neste estudo indicam que os níveis de expressão de
mir-146a são superiores em murganhos transgénicos (HPV+/-
) comparativamente
com murganhos wild-type (HPV-/-
) (p=0,011). Os resultados revelaram ainda um
aumento significativo (p=0,036) na expressão do miR-146a em lesões cutâneas
displásicas de murganhos transgénicos de 28-30 semanas comparando com as
lesões predominantemente hiperplásicas de murganhos transgénicos de 24-26
semanas. Em amostras que manifestaram CIS verificamos diminuição significativa
da expressão do miR-146a.
Os resultados obtidos no presente trabalho demonstraram um aumento
significativo na expressão do miR-146a em murganhos transgénicos tratados
com fármacos anti-inflamatórios (celecoxib e DMAPT) em comparação com
murganhos transgénicos que não receberam tratamento.
Os resultados obtidos na comparação da expressão do miR-146a entre
murganhos transgénicos e wild-type sugerem que existe sobre-expressão do mir-
146a em murganhos transgénicos numa fase inicial da carcinogénese,
promovendo a proliferação celular. A diminuição da expressão do miR-146a
VIII
numa fase mais avançada da carcinogénese sugere controlo pelo HPV16,
promovendo invasão e metastização.
IX
ABSTRACT
In Portugal, cervical cancer is the most common of the female reproductive
system cancers and represents about 4% of all cancers in women. Persistent HPV
infection is the leading cause of cervical cancer and the likelihood of a woman to
be infected with HPV during her life is 80-90% and in 5-10% of infected women
the infection may persist and progress to cancer.
MicroRNAs are small non-coding RNAs capable of regulating gene
expression at a post-transcriptional level. A growing number of studies show that
miRNAs play a role in carcinogenesis. Recent studies suggest that miR-146a plays
an important role in HPV-mediated carcinogenesis due to its role in important
signaling pathways.
For this project 91 K14-HPV16 transgenic mice if different ages were used.
These mice express genes of the early region of HPV16 (E6, E7, E1, E2, E4, E5) in
basal cells of keratinized epithelium. Two anti-inflammatory drugs were tested,
celecoxib and dimethylaminoparthenolide (DMAPT). Celecoxib was administered
to 9 mice and DMAPT was administered to 11 mice.
The results of this study indicate that miR-146a expression levels were
higher in transgenic mice (HPV+/-
) mice compared to wild-type (HPV- / -
) (p=0.011).
The results also showed a significant increase (p=0.036) in the miR-146a
expression in displasic skin lesions of transgenic mice of 28-30 weeks compared
with hisperplasic lesions found in 24-26 weeks transgenic mice. In samples
demonstrating CIS we found a significant decrease in miR-146a expression.
The results obtained in this study demonstrated a significant increase in
miR-146a expression in transgenic mice treated with anti-inflammatory drugs
(celecoxib and dimetilaminopartenolídeo) compared to transgenic mice of the
same age who received no treatment.
The data obtained in comparing the miR-146a expression from transgenic
mice and wild-type suggest that overexpression of miR-146a in transgenic mice at
an early stage of carcinogenesis may promote cell proliferation. Decreased miR-
146a expression at a later stage of carcinogenesis suggests HPV16 control in
order to promote invasion and metastasis.
XI
ÍNDICE GERAL
Abreviaturas e Símbolos …………………………………………………….………………....I
Resumo …………………………………………………………..………………..…………...VII
Abstract …………………………………………………………..………………………………IX
Índice de Ilustrações……………………………………………..………….……….………XIII
Índice de Tabelas ……………………………………………………………………….….…XV
Capítulo I: Introdução………. …………………….…………………………………………1
1. Cancro …………………………………………………………………………………3
1.1 Vírus e Cancro ………………………………………….…………………3
2. O Papilomavírus Humano (HPV)………….……………….………………………5
2.1 Genoma…………..……………………………….…………………………6
2.2 Proteínas virais…………………………………….………………………7
2.3 Ciclo de vida do HPV…………………...…………………………………9
3. Cancro do Colo-do-Útero ………………………………………………………..11
3.1 História natural do cancro do colo-do-útero………..………..……12
4. MicroRNAs…………………………………………………………………..………13
4.1 MicroRNAs e Cancro ……….……………………………………..……14
4.2 Os miRNAs e HPV………………………………………………..………15
4.3 miR-146a …………………………………………………………….……16
5. Murganhos K14-HPV16…………………………………………………………...19
Capítulo II: Objetivos ……………………………………………….………………………21
2.1 Objetivo geral ………………….……..…………………………………23
2.2 Objetivos específicos ……..……………………………………………23
Capítulo III: Materiais E Métodos …………………….………….………………………25
1. Murganhos transgénicos K14-HPV16………………………………………..27
XII
2. Desenho experimental………………………………………………………….27
3. Colheita das amostras ………………………………………………………….28
4. Genotipagem: HPV16-E6 e HPV16-E2………………..………………………28
5. Análise histológica ………………………………………………………………29
6. Análise de expressão do miR-146a ………………………………………….29
6.1 PCR em tempo real…………………………………………………..29
6.2 Quantificação e análise estatística ………………………………30
Capítulo IV: Resultados …………………………………………………………………31
1. Análise macroscópica …………………………………………………………….33
2. Análise histológica ………………………………………………………..………33
3. Análise da expressão do mir-146a……………………………………..……..35
3.1. Murganhos transgénicos versus murganhos wild-type………………35
3.2. Expressão do miR-146a em diferentes lesões induzidas pelo
HPV16…………………………………………………………………………..36
4. Análise do efeito de anti-inflamatórios na expressão do miR-146a……39
4.1. Celecoxib…………………………………………….…………………………39
4.2. DMAPT……………………………………………………..……………………40
Capítulo V: Discussão ……………………………….…………………………………41
1. Análise da expressão do miR-146a………………………………………………45
1.1 Murganhos transgénicos versus murganhos wild-type…………..….45
1.2 Influência da progressão das lesões pré-neoplásicas…………….….46
2. Efeitos de fármacos anti-inflamatórios………………………………..………..49
2.1 Efeito do celecoxib sobre a expressão do miR-146a………….……..49
2.2 Efeito do DMAPT sobre a expressão do miR-146a……………….…..51
3. Discussão geral ……………………………………………………………………….53
Capítulo VI: Conclusões E Perspetivas Futuras …………………………………55
Capítulo VII: Referencias Bibliográficas …………………………..………………59
XIII
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1- Ilustração representativa do genoma HPV . ........................................... 7
Figura 2 - Ilustração da biogénese de miRNAs ..................................................... 4
Figura 3 – Ilustração do loop de feedback negativo onde participa o miR-146a .... 4
Figura 4 – Análise macroscópica de murganhos wild-type (HPV-/-) e transgénicos
(HPV16 +/-). ...................................................................................................... 33
Figura 5- Análise histológica de murganhos wild-type e murganhos transgénicos.
......................................................................................................................... 33
Figura 6- Expressão relativa normalizada do miR-146a em murganhos wild-type
(HPV16 -/-) e em murganhos transgénicos (HPV16 +/-). ..................................... 35
Figura 7– Expressão relativa normalizada do miR-146a em murganhos
transgénicos de 24-26 semanas e 28-30 semanas. ............................................ 36
Figura 8 - Expressão relativa normalizada do miR-146a em murganhos
transgénicos com diferentes lesões induzidas pelo HPV16. ............................... 37
Figura 9 - Expressão relativa normalizada do miR-146a em amostras de pele de
peito e pele de orelha de murganhos wild-type. ................................................. 38
Figura 10- Expressão relativa normalizada do miR-146a em murganhos
transgénicos que não receberam tratamento e em murganhos transgénicos que
receberam tratamento com celecoxib 75 mg/Kg/dia. ........................................ 39
Figura 11- Expressão relativa normalizada do miR-146a em murganhos
transgénicos que não receberam tratamento e em murganhos transgénicos que
receberam tratamento com DMAPT 100 mg/Kg/dia. .......................................... 39
XV
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 - Oncovírus descobertos em humanos, a sua taxonomia, genoma e
cancro ao qual se encontra associado. ................................................................. 4
Tabela 2 - Associação entre a idade, genótipo e tratamento em cada grupo de
murganhos em estudo. ........................................................................................ 3
Tabela 3 – Análise histológica dos grupos de murganhos. ................................ 33
Capítulo I: Introdução
3
1. Cancro
O cancro é conhecido há vários séculos tratando-se de um crescimento
celular aberrante e descontrolado capaz de invadir tecidos adjacentes e à
distancia (Cooper, 2000). O desenvolvimento de cancro deve-se à acumulação de
mutações espontâneas ou induzidas capazes de escapar aos mecanismos de
controlo celular possibilitando a reprodução de células resistentes à apoptose
(Alberts et al., 2002).
Embora o desenvolvimento de novos meios de diagnóstico e terapias
tenham diminuído a taxa de mortalidade por cancro, este continua a ser uma das
principais causas de morte nos países industrializados. Apenas 5-10% dos
cancros são causados diretamente por herança de mutações germinativas ou
somáticas. Os restantes 90-95% estão associados aos estilos de vida e condições
ambientais (Anand et al., 2008).
1.1. Vírus e Cancro
A associação de vírus e cancro tem sido explorada há várias décadas e
embora exista uma clara associação entre diversos vírus com diferentes
processos de carcinogénese, são poucos os vírus que apresentam evidência de
causa-efeito. Mundialmente, os vírus são responsáveis por aproximadamente 20%
de todas as formas de cancro em humanos (zur Hausen ,2009).
A descoberta do primeiro vírus causador de cancro, ou oncovírus foi
creditada a Peyton Rous, que identificou o RSV (vírus do sarcoma de Rous) em
sarcomas presentes em galinhas (Rous, 1911). Em 1933, Richard Shope descobriu
o primeiro oncovírus em mamíferos, o CRPV (Cottontail Rabbit Papillomavirus)
capaz de infetar coelhos do género Sylvilagus e em 1936 John Bittner descobriu o
MMTV (Mouse Mammary Tumor Virus) que era transmitido de mães para crias
pelo leite (Shope e Hurst, 1933; Bitnner 1936). Com a descoberta de cada vez
mais oncovírus, a possibilidade de existirem vírus como etiologia principal de
cancros humanos foi aumentando e a descoberta dos primeiros oncovírus
humanos tomou inicio na década de 60 com a descoberta do EBV (Epstein-Barr
Virus) em linfomas de Burkitt (World Health Organization, 1969).
Contudo, o reconhecimento da relação de causalidade entre vírus e o
desenvolvimento de cancro em humanos surgiu no inicio da década de 1980,
devido a 3 grandes descobertas. Em 1983 e 1984, os papilomavírus humanos16
e 18 foram isolados, pela primeira vez, em amostras de cancro do colo-do-útero
4
humanas (Durst et al, 1983; Boshart et al, 1984). Também no inicio da década de
80, um estudo epidemiológico de grande escala permitiu a associação entre
infeção persistente com vírus da Hepatite B (Hepatitis B Virus) e desenvolvimento
de cancro no fígado (Beasley R.P. et al, 1981). A terceira grande descoberta foi o
isolamento do vírus linfotrópico de células T humano (HTLV-I) em doentes com
linfomas e leucemias de células T (Poiesz,1980; Yoshida et al,1982). Desde os
anos 80 foram descobertos ainda o HCV (Hepatitis C Virus) e o KSHV (Kaposi's
sarcoma herpes virus) (tabela 1).
Tabela 1 - Oncovírus descobertos em humanos, a sua taxonomia, genoma e cancro ao
qual se encontra associado.
Vírus Taxonomia Genoma Cancro Humano
EBV
Herpesviridae
dsDNA, 172 kb ~90
ORFs
Carcinoma da nasofaringe,
Linfomas,
Linfoma de Burkitt,
Linfoma de Hodgkin
HBV Hepadnaviridae dsDNA, 3.2 Kb 4 ORFs Carcinoma Hepatocelular
HCV Flaviviridae DsRNA, 9.4 Kb 9 ORFs Carcinoma Hepatocelular
HPV
Papillomaviridae
dsDNA, 8 Kb 8-10 ORFs
Cancro do colo-do-útero,
Cancro de cabeça e pescoço,
Cancro anogenital
HTLV-I Retroviridae dsRNA, 9 Kb 6 ORFs Leucemia de células T do
adulto
KSHV Herpesviridae dsDNA, 165kb ~90 ORFs Sarcoma de Kaposi,
Linfoma de efusão primária
5
2. O Papilomavírus Humano (HPV)
Os papilomavírus são vírus relativamente pequenos, sem envelope, de 55
nm de diâmetro que fazem parte da família Papillomaviridae, anteriormente
Papovaviridae. São consitituidos por DNA circular de cadeia dupla, com cerca de
17,900 pares de bases associados a histonas (Favre, 1975; Baker et al, 1991).
Atualmente, já foram identificados e sequenciados mais de 200 papilomavírus
incluindo mais de 150 HPVs (Bernard et al., 2010).
O papilomavírus humano (HPV) pode ser associado a uma grande
variedade de condições clínicas que podem ir desde lesões inócuas até cancro. A
infeção por HPV é considerada a doença sexualmente transmissível com maior
prevalência no mundo (Roccio et al., 2012)
Os HPVs dividem-se entre aqueles que podem infetar
os queratinócitos da pele e aqueles com tropismo para as mucosas. Os primeiros
atuam principalmente sobre a pele nas mãos e pés enquanto que os últimos
podem afetar as mucosas da boca, garganta, trato respiratório e epitélio
anogenital (Burd, 2003). A probabilidade de uma mulher ser infetada por HPV
durante a sua vida é de 80-90%. Destas, 90% das infeções permanece indetetável
nos primeiros 2 anos e em 5-10% das mulheres infetadas, a infeção pode persistir
e progredir para carcinoma invasor (Sankaranarayanan et al., 2015). A
transmissão de HPV ocorre principalmente por contato pele-com-pele no entanto
a atividade sexual tem uma grande influencia no risco de contração de infeção
por HPV. O inicio de uma vida sexual precoce, múltiplos parceiros sexuais, idade
precoce da primeira gravidez, multiparidade, uso prolongado de contracetivos
orais e má higiene são os principais fatores de risco para infeção por HPV em
mulheres (Bouvard et al.,2009; Chelimo et al., 2013). Fumar, e mesmo a
predisposição genética podem ser fatores de risco na progressão da doença
(Castellsagué et al, 2003).
De acordo com a sua associação a lesões precursoras de cancro, os HPVs
podem ser agrupados em baixo risco ou alto risco. Os de baixo risco incluemos
HPVs 6,11,42,43 e 44 sendo estes ligados principalmente a verrugas genitais
benignas. HPVs de alto risco são considerados o agente etiológico de cancro do
colo-do-útero. Estudos epidemiológicos indicam os tipos de HPV de alto risco
associados a cancro do colo-do-útero, nomeadamente o HPV 16, 18, 31, 33, 34,
35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59, 66, 68 e 70 (Burd E.M., 2003).
6
Os HPV 16 e HPV 18 são os HPVs de alto risco considerados mais
carcinogénicos, sendo estes responsáveis por 50% e 20% dos casos de cancro do
colo-do-útero, respetivamente (Smith et al., 2007). A infeção por HPV pode levar a
diferentes resultados, dependendo do tipo de HPV contraído. As verrugas
anogenitais, tanto nas mulheres como nos homens, encontram-se normalmente
associados a HPV6 ou HPV11 e não progridem para neoplasia, sendo a maioria
assintomática e tratável. Quando uma infeção é latente ou inativa causa poucos
ou nenhum sintoma e as áreas afetadas parecem histologicamente normais. O
DNA viral pode ser encontrado em pelo menos 10% das mulheres com citologia
cervical normal. Uma infeção ativa, associada a HPVs de alto risco, em que o vírus
causa alterações nas células infetadas, pode resultar em neoplasia (Burd, 2003).
Foi gerada uma árvore filogenética que agrupa os diferentes tipos de HPV
em géneros: O género alfa inclui aproximadamente 30 tipos de HPVs que afetam
a mucosa do trato genital juntamente com vários tipos de HPV cutâneos. O
género beta inclui HPVs cutâneos que, juntamente com radiação UV provocam o
desenvolvimento de cancro de pele não melanoma (NMSC). Os restantes géneros
incluem HPV cutâneos normalmente ligados ao desenvolvimento de papilomas
cutâneos e verrugas (De Villiers et al., 2004).
2.1. Genoma
O genoma do HPV é constituído por aproximadamente 8 open reading
frames (ORF), possuindo 6 genes que se expressam precocemente e 2 genes que
se expressam tardiamente, denominados respetivamente de E (Early) e L (Late). A
região E é formada pelos genes E1, E2, E4, E5, E6 e E7 e a região L é formada
pelos genes L1 e L2, que codificam as proteínas estruturais da cápside. Somando-
se a isso, o genoma é dotado de uma região reguladora LCR (Long Control
Region) ou URR (Upstream Regulatory Region), variando de 400 a 1000 pbs,
localizadas entre as regiões L1 e E6 (Figura 1). Além da origem de replicação, o
genoma viral codifica também proteínas reguladoras que estimulam a entrada em
ciclo celular e proliferação (Fehrmann et al.,2003; Burd, 2003; Zheng et al.,
2006). Apesar do número limitado de genes no genoma dos papilomavírus, o
número de proteínas codificadas é muito maior devido à existência de múltiplos
promotores e de padrões de splicing complexos (Zheng et al., 2006).
Apesar de existir entre papilomavírus variações no tamanho e número de
ORFs em cada região, os genes envolvidos na replicação e montagem do vírus
7
encontram-se bem conservados. A maior diversidade ocorre nos restantes genes
responsáveis pela entrada em ciclo celular, evasão ao sistema imune das células
hospedeiras e libertação do vírus (Doorbar et al.,2012).
Figura 1- Ilustração representativa do genoma HPV (Doorbar,2006).
2.2. Proteínas virais
As proteínas virais E1 e E2 estão envolvidas na replicação do DNA viral e
regulação da transcrição. A proteína viral E1 codifica uma DNA-helicase específica
do vírus, necessária para a replicação do genoma viral e amplificação enquanto a
proteína viral E2 tem a capacidade de controlar a expressão das proteínas virais
E6 e E7 (Doorbar, 2006).
A proteína viral E5, que existe apenas em papilomavírus do género alfa,
downstream do E2, encontra-se envolvida na evasão ao sistema imune e interage
com várias proteínas transmembranares. As proteínas E6 e E7, reguladas pela
proteína E2, apresentam funções essenciais para entrada em ciclo celular,
replicação do DNA viral, inibição da imunidade inata e repressão da apoptose.
Estas proteínas virais contribuem para a transformação maligna para cancro do
colo-do-útero ao inativarem, as proteínas supressoras de tumores p53 e pRB,
respetivamente. Enquanto as proteínas virais E5, E6 e E7 estão diretamente
envolvidas no processo de transformação e repressão da resposta imune, os
8
restantes genes codificam proteínas que modificam o ambiente celular ou atuam
sobre outra forma (Doorbar et al.,2015).
Os genes virais L1 e L2 são responsáveis pela síntese de proteínas
estruturais da cápside (Doorbar et al.,2015). Além da formação da cápside, as
proteínas virais L1 e L2 tem outras funções. A proteína L1, atua na interação
entre o vírus e a célula hospedeira e a proteína L2 é responsável pela organização
do genoma viral (Day et al.,1998; Buck et al.,2013).
9
2.3. Ciclo de vida do HPV
O ciclo de vida dos Papilomavírus depende da diferenciação celular do
epitélio estratificado e o resultado da infeção depende da camada celular onde
ocorre. A infeção inicial por HPV ocorre nas camadas mais baixas do epitélio
estratificado, onde as células são menos diferenciadas (Stubenrauch et al.,1999;
Thomas et al., 1999; Pett et al., 2007). Após a entrada do HPV na célula, o
genoma viral estabiliza na forma de elementos extra-cromossómicos no núcleo e
o número de cópias virais aumenta para aproximadamente 50 por célula. A
infeção por HPV provoca a sobre expressão de E6 e E7 nas células basais do
epitélio proliferativo. A instabilidade genética provocada pela infeção por HPV
permite a acumulação de alterações genéticas e epigenéticas no genoma da
célula hospedeira, ajudando à progressão de um fenótipo maligno (Hebner et al.,
1993). Ao sofrerem divisão, essas células infetadas distribuem o DNA viral
equitativamente entre as células filhas. Uma das células filhas migra da camada
basal e inicia o processo de diferenciação e maturação celular. As restantes
células filhas continuam a dividir-se na camada basal e servem de reservatório de
DNA viral para as posteriores divisões celulares (zur Hausen et al, 2000; Doorbar
et al.,2005). Sendo a produção do HPV restrita às células suprabasais, as células
na camada basal não são lisadas pela produção de novos vírus, continuando a
proliferação. Para finalizar a síntese viral, o genoma viral codifica as duas
proteínas da cápside L1 e L2, que são expressas na camada suprabasal mais
diferenciada. Assim, são formadas partículas virais que são libertadas apenas
quando as células infetadas alcançam a superfície do epitélio (Ozbun et al.,
1997).
11
3. Cancro do Colo-do-Útero
O cancro de colo-do-útero apresenta um importante impacto na vida de
mulheres em todo mundo, maioritariamente em mulheres jovens, entre os 30 e
40 anos (Jucket e Hartman-Adams, 2010). A incidência deste cancro varia entre
países desenvolvidos e países em desenvolvimento, sendo muito mais frequente
em países em desenvolvimento onde ocorrem cerca de 80% dos novos casos
(Parkin e Bray ,2006). O cancro colo-do-útero é o mais comum dos cancros do
sistema reprodutor feminino e representa cerca de 4% de todos os cancros
diagnosticados (http://www.cdc.gov/cancer/international/statistics.htm).
A incidência de cancro do colo-do-útero tem vindo a alterar-se em países
desenvolvidos ao longo dos últimos 100 anos, verificando-se a partir dos anos 50
um aumento devido à evolução das técnicas de diagnóstico. A melhoria na
prevenção e nas abordagens clinicas, tal como implementação de programas de
rastreio ginecológico, levou à diminuição da taxa de incidência e de mortalidade
do cancro do colo-do-útero (Saslow et al., 2007).
A infeção persistente por HPV é a principal causa de cancro no colo-do-
útero, sendo que o cancro do colo-do-útero é uma consequência rara de uma
infeção persistente com um dos HPVs de alto risco (Bosch et al., 2002). Após a
infeção, acredita-se que o vírus mantenha o seu genoma com um número baixo
de cópias sob a forma epissomal, havendo um nível baixo de expressão dos
genes E6, E7, E1 e E2 mas suficiente para a manutenção do vírus (Doorbar, 2005).
A infeção por HPV de alto risco pode não ser o suficiente para desenvolver
cancro do colo-do-útero, dependendo de uma variedade de fatores adicionais que
atuam em conjunto com o vírus e patologias que diminuem a capacidade
imunológica das células aumentam o risco de haver progressão do vírus (Muñoz,
e Bosch, 1997).
Os HPV16 e HPV18 estão associados a 70-75% dos casos de cancro do
colo-do-útero em todo mundo (Schiffman et al.,2007). O conhecimento que a
infeção por HPV seja o principal fator responsável por este tipo de cancro
incentivou à criação de estratégias de controlo de doença, prevenção e deteção
precoce, com intuito de erradicar o cancro do colo-do-útero.
12
3.1 História natural do cancro do colo-do-útero
O desenvolvimento de uma neoplasia no colo-do-útero envolve 4 fases
distintas: transmissão de HPV, infeção por HPV persistente, progressão clonal de
célula infetadas por HPV persistente para lesões precursoras e carcinoma invasor.
O inverso também é possível, ou seja, ocorrer a eliminação natural da infeção por
HPV e, menos frequentemente, ocorrer a regressão de uma lesão precursora para
epitélio normal (Schiffman et al, 2007).
O processo desde a infeção por HPV até carcinoma invasor demora cerca
de 20-30 anos. Essas infeções atingem um pico em mulheres com idades perto
dos 25 anos e diminuem até atingir uma fase plateau entre os 30 e 35 anos. Em
alguns países em desenvolvimento ocorre um segundo pico em mulheres com
idades compreendidas entre os 45 e 50 anos. Assim, como a taxa de incidência
tem tendência a diminuir com a idade, infeções adquiridas em idade jovem
constituem a maioria dos casos de cancro do colo-do-útero (Stanley, 2006).
Alterações morfológicas pré-malignas caracterizadas como hiperplasia,
displasia e carcinoma in situ podem ser observadas antes do aparecimento do
quadro clinico do cancro do colo-do-útero. A maioria das displasias regride
espontaneamente e apenas uma percentagem pequena das infeções por HPV de
alto risco irão tornar-se persistentes e eventualmente, se não detetadas e
tratadas, poderão evoluir para lesões precursoras de alto grau e posteriormente
carcinoma invasor (Holowaty, et al.,1999). O cancro do colo-do-útero não é
associado a sintomas imediatos e muitas vezes, quando é detetado, já é
demasiado tarde para que possa ser realizada uma intervenção curativa.
.
13
4. MicroRNAs
Os microRNAs (miRNAs) são pequenos RNAs não codificantes constituídos
por 19 a 25 nucleótidos, capazes de regular a expressão de genes ao nível pós-
transcricional através da repressão da tradução ou degradação de moléculas-alvo
de RNA mensageiro (mRNA) (Garofalo et al., 2011). Os miRNAs lin-4 e let-7 foram
os primeiros a serem descritos como componentes de uma rede reguladora de
genes envolvidos no desenvolvimento larval em C. elegans (Lee et al.,1993).
Os miRNAs têm vindo a receber cada vez mais atenção não só devido ao
papel que desempenham em funções biológicas como o desenvolvimento,
diferenciação e apoptose, mas também na resposta imunitária ao nível de
mecanismos de tolerância e de auto-imunidade (Ambros, 2004; Bartel et al.,2004;
Pasquinelli et al.,2005; O’Connell et al.,2010; Simpson et al.,2015).
Os miRNAs celulares são transcritos pela RNA polimerase II em transcritos
primários (pri-miRNAs) longos caracterizados por uma estrutura em hairpin de
~80nts ( Cai et al., 2004; Lee et al., 2004). Os miRNAs maturos resultam do
processamento dos pri-miRNAs que consiste em duas clivagens sequenciais
mediadas por duas enzimas, Drosha e Dicer. A enzima Drosha, juntamente com a
proteína DGCR8 (DiGeorge syndrome chromosomal region 8) clivam o transcrito
dando origem ao pré-miRNA que é transferido do núcleo para o citoplasma pela
exportina-5 (Yi et al., 2003; Han et al., 2004). No citoplasma, a enzima Dicer
juntamente com a proteína TRBP (TAR RNA-binding protein) clivam o pré-miRNA,
resultando em duas cadeias de miRNA (Chendrimada et al,2005; Feng et
al.,2012).
As duas cadeias de miRNA, miRNA-5p e mi-RNA-3p são desenroladas e
enquanto uma das cadeias sofre maturação pelo complexo RISC (RNA-induced
silencing complex) a outra é normalmente degradada (figura2) (Khvorova et
al.,2003; Gregory et al.,2005).
14
4.1 MiRNAs e Cancro
Os miRNAs, tal como outras moléculas, podem regular mecanismos
importantes para a carcinogénese (He et al.,2004; Lu et al.,2005; Meltzer, 2005).
Um número crescente de estudos demonstram que os miRNAs desempenham um
papel importante na iniciação, promoção, invasão e metastização em diferentes
tipos de neoplasias (Sassen et al., 2008; Galasso et al., 2012; Iorio et al., 2012).
Os miRNAs foram implicados pela primeira vez no processo de carcinogénese em
2002, quando as sequências que codificam o miR-15 e o miR-16 foram
identificadas numa região crítica do cromossoma 13q/14, que se encontra
deletada na maioria dos casos de leucemia linfocítica crónica (Calin et al., 2002).
Desde então que a expressão alterada de miRNAs passou a ser estudada
originando associações de expressão com diversas neoplasias como leucemia
linfocítica crónica, cancro da mama e cancro do pulmão (Calin et al., 2005; Lin et
al., 2010; van Schooneveld et al.,2015).
Figura 2 - Ilustração da biogénese de miRNAs (Dias et al.,2013).
15
A análise da expressão de miRNAs tem sido um ponto focal da biologia
molecular no processo de compreender a carcinogénese e cada vez mais se
verifica a importância dos miRNAs na carcinogénese humana. Estudos recentes
sugerem que o papel regulador dos microRNAs não se limita apenas às células
tumorais mas também ao microambiente tumoral. Por exemplo, as células
tumorais podem escapar à ação das células B e T através da libertação de miRNAs
imunossupressores ou por diminuição dos níveis de miRNAs importantes para
ação do sistema imune (Ma et al., 2012; Soon et al.,2013).
Os miRNAs podem atuar como supressores tumorais em algumas neoplasias e
como oncogenes noutras e, eventualmente, com funções opostas (ativação de um
gene e desativação de outro) na mesma patologia dependendo das funções dos
seus alvos (Garofalo et al., 2011). Como os miRNAs participam na manutenção
das vias reguladoras que determinam o destino das células, a sua desregulação
contribui para a oncogénese e progressão tumoral (Calin e Croce, 2006).
4.2. Os miRNAs e HPV
Em infeções por HPV de alto risco, a regulação de miRNAs oncogénicos e
supressores tumorais encontra-se alterada. Estas alterações podem ocorrer
devido à ação de proteínas virais, principalmente E6 e E7 ou devido ao ganho do
cromossoma 5p provocando aumento da expressão da enzima Drosha (Wang et
al.,2008; Muralidhar et al.,2011)
Os miRNAs poderão estar envolvidos na regulação da replicação viral e
progressão tumoral (Wang et al., 2008). Vários estudos têm demonstrado
diferenças nos perfis de expressão de miRNAs em carcinomas de células
escamosas HPV positivas e linhas celulares HPV positivas comparadas com tecido
controlo (Martinez et al.,2008; Melar-New et al., 2010).
16
4.3 MiR-146a
O miR-146a executa um papel importante no controlo da resposta
imunológica evitando a inflamação excessiva, tendo sido identificado como
fundamental para a regulação da imunidade inata. Um estudo realizado em
leucemia monocitica aguda demonstrou que o miR-146a possui um papel
fundamental na sinalização induzida por recetores TLR (Toll-like receptor). Foi
observado um aumento de expressão do miR-146a em resposta apenas a TLRs da
superfície celular, sugerindo que este miRNA possa estar relacionado com a
diminuição da resposta inflamatória a agentes patogéneos extracelulares
(Taganov et al., 2006). Encontra-se bem documentado que o miR-146a apresenta
um papel importante em vários cancros e em doenças auto-imunes e anti-
inflamatórias (Baltimore et al., 2008; Ma et al., 2011). O miR-146a é altamente
expresso quando ocorre a ativação de cascatas de sinalização induzida pelos
recetores TLR ou citocinas inflamatórias como TNF-α e IL-1β. Entre os alvos de
regulação do miR-146a encontram-se elementos importantes para as vias de
sinalização ativadas por recetores TLR como IRAK1 e TRAF6 (Rusca e Monticelli,
2011).
O IRAK1 (Interleukin-1 receptor associated kinase) é um importante
mediador das sinalizações ativadas por TLR e IL1R (Interleukin-1 receptor)
(Rhyasen e Starczynowski, 2015).
A proteína TRAF6, um membro da família TRAF (TNF receptor associated
factor) é inibida pelo miR-146a, que se liga à região 3'UTR do seu mRNA. A
proteína TRAF6 atua como uma ubiquitina ligase (E3) que ativa a cinase IkB
(inibidor de kappa B), levando à degradação da IkB e à translocação nuclear e
ativação do fator de transcrição NF-kB (Konno et al., 2009; Nahid et al., 2009;
Yang et al., 2009).
17
Figura 3 – Ilustração do loop de feedback negativo onde participa o miR-146a (Rusca e
Monticelli, 2011).
Um dos eventos chave na carcinogénese é a inflamação, que conduz à
ativação do fator de transcrição NF-KB. Estudos reportaram a existência de um
mecanismo de regulação da via TRAF6/NF-kB, durante a inflamação ou provocado
por uma resposta a infeção viral. Este mecanismo atuaria por feedback negativo
atuando de forma a evitar uma reação inflamatória excessiva (Taganov et al.,
2006; Rusca e Monticelli, 2011). A estimulação da TRAF6 leva ao aumento da
atividade de NF-kB, que regula positivamente a expressão de miR-146a. O
aumento da expressão do miR-146a por sua vez, suprime a atividade TRAF6 e NF-
kB que termina a resposta imune, originando um loop de feedback negativo. O
miR-146a é, portanto, um componente chave na regulação da atividade do NF-KB,
ao direcionar componentes de várias vias de ativação (Rusca e Monticelli, 2011).
19
5. Murganhos K14-HPV16
Vários modelos de murganhos transgénicos foram desenvolvidos para a
investigação da tumorigénese induzida por HPV (Arbeit et al,1994; Herber et al.,
1996; Song et al., 1999). Um dos modelos de murganhos transgénicos
atualmente disponível para o estudo de neoplasias associadas a infeção por
HPV16 é o modelo transgénico K14-HPV16 (Arbeit et al., 1994). Estes murganhos
transgénicos transportam sequências de HPV16 a partir de nucleótidos (nt) 97-
6152 e incluem as ORFs (Open Reading Frames) para as oncoproteínas E6, E7, E1,
E2, E4, e E5 da região early do genoma do HPV16 (Coussens et al., 1996).
Estando sobre o controlo do promotor da queratina-14 (K14), a expressão dos
genes do HPV16 é direcionada para as células basais dos epitélios
queratinizados. Quando expostos a estrogénio, estes animais desenvolvem
patologias cervicais (Arbeit et al., 1994). O fenótipo surge às 5 semanas de idade
como hiperplasia, papilomatose epitelial, displasia e metaplasia. Apenas uma
pequena fração destes animais desenvolve tumores invasivos microscópicos
(Elson et al., 2000). Células obtidas de tumores do colo-do-útero destes animais
exibem padrões de expressão de biomarcadores semelhante ao dos humanos
(Brake et al., 2003).
Outro modelo, utilizando o mesmo promotor K14 para direcionar a
expressão do oncogene HPV16-E7 resultou no desenvolvimento de displasia
cervical de alto grau e outras malignidades cervicais invasivas em 80% dos
animais (Riley et al., 2003).
Na estirpe FVB/n, desenvolvem-se espontaneamente carcinomas de células
escamosas (SCCs) em 21% dos animais entre os 8 e 12 meses de idade. Os
carcinomas, resultantes de lesões pré-malignas, possuem graus distintos de
diferenciação de acordo com o grau de malignidade (Coussens et al.,1996). Na
pele destes animais desenvolvem-se focos de displasia entre os 3 e os 6 meses de
idade que progridem para carcinoma invasivo em metade dos animais até um ano
de idade. Esta progressão é acompanhada pelo aumento de expressão de fatores
pró-angiogénicos como VEGF e bFGF (Arbeit et al., 1996; Smith-McCune et
al.,1997).
Enquanto a estirpe FVB/n apresenta suscetibilidade à conversão maligna,
outras estirpes demonstram maior resistência. Por exemplo, a estirpe C57BL/6
apenas desenvolve hiperplasias, enquanto que as estirpes BALB/c e SSIN/SENCAR
20
desenvolvem apenas displasias e papilomas (Leder et al., 1990; Lambert et
al., 1993).
A capacidade para investigar os perfis de expressão de genes do HPV em
diferentes fases pré-neoplásicas e progressão do cancro é geralmente limitada
pela heterogeneidade celular das lesões.
Este trabalho vem com o principal objetivo de caracterizar a expressão do
miR-146a durante o processo de carcinogénese por HPV, dando seguimento aos
estudos e trabalhos desenvolvidos anteriormente no atual grupo de pesquisa,
usando murganhos K14-HPV16 (Paiva et al., 2014; Santos et al.,2015).
Capítulo II - OBJETIVOS
23
Objetivo geral
Estudar o perfil de expressão do miR-146a em amostras de pele de
murganhos transgénicos K14-HPV16.
Objetivos específicos
Estudar o efeito do HPV16 sobre a expressão do miR-146a
Avaliar a expressão do miR-146a em murganhos transgénicos K14-HPV16
com diferentes lesões pré-neoplásicas.
Estudar o efeito do celecoxib e do dimetilaminopartenolídeo sobre a
expressão do mir-146a em murganhos transgénicos K14-HPV16.
Capítulo III - MATERIAIS E MÉTODOS
27
1. Murganhos transgénicos K14-HPV1
Para este estudo foram utilizados murganhos do sexo feminino transgénicos
hemizigóticos K14-HPV16 (HPV16+/-
) e wild-type (HPV16-/-
), pertencentes à estirpe
FVB/n. Estes murganhos foram generosamente oferecidos à Faculdade de
Engenharia da Universidade do Porto pelo Doutor Jeffrey Arbeit e pelo Doutor
Douglas Hanahan da Universidade da Califórnia através do USA National Cancer
Institute Mouse Repository e foram mantidos e reproduzidos no biotério da
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. O desenvolvimento dos murganhos
transgénicos K14-HPV16 foi previamente relatado (Arbeit et al., 1994). O trabalho
foi parcialmente desenvolvido no âmbito de uma tese de mestrado anterior e de
uma tese de doutoramento em curso (Santos et al, 2015).
Os animais foram mantidos e reproduzidos de acordo com a legislação
Portuguesa (Portaria 1005/92 de 23 de outubro) e europeia (Directiva da UE / 63
/ UE 2010), sob condições controladas de temperatura (23 ± 2 ºC), ciclo luz-
escuridão (12h luz / 12h escuridão) e humidade relativa (50 ± 10%). Os animais
receberam uma dieta padrão na forma de “pellets” (4RF21 GLP, Mucedola, Itália) e
água ad libitum. A avaliação das condições de saúde de cada animal foi realizada
diariamente.
2. Desenho Experimental
Para a realização deste trabalho, foram utilizadas amostras obtidas
durante protocolos experimentais inseridos no âmbito de outros estudos, como
referido nos parágrafos anteriores. De acordo com esses protocolos
experimentais 106 murganhos foram divididos em 8 grupos experimentais de
acordo com a Tabela 2. Os fármacos foram administrados oralmente, como
anteriormente descrito (Santos et al., 2015).
28
Tabela 2 - Associação entre a idade, genótipo e tratamento em cada grupo de
murganhos em estudo.
Grupo Idade Genótipo Tratamento (dose por
dia)
Tecido
1 (n=27) 24-26
semanas
(HPV16-/-
) Sem tratamento Peito
2 (n=30) 24-26
semanas
(HPV16+/-
) Sem tratamento Peito
3 (n=9) 24-26
semanas
(HPV16+/-
) Celecoxib 75mg/kg Peito
4 (n=11) 24-26
semanas
(HPV16+/-
) DMAPT 100mg/Kg Peito
5 (n=7) 28-30
semanas
(HPV16-/-
) Sem tratamento Peito
6 (n=7) 28- 30
semanas
(HPV16+/-
) Sem tratamento Peito
7 (n=6) 24-26
semanas
(HPV16-/-
) Sem tratamento Orelha
8 (n=9) 24-26
semanas
(HPV16+/-
) Sem tratamento Orelha
3. Colheita das amostras
Os animais foram humanamente sacrificados por overdose de pentobarbital de
sódio por via intraperitoneal, seguido de punção intracardíaca e exsanguinação,
tal como indicado pela Federation for Laboratory Animal Science Association
(FELASA). As amostras de pele de peito e de orelha de murganhos foram
recolhidas em diferentes semanas de idade (24-26 semanas e 28-30 semanas)e
posteriormente maceradas e mantidas em TriPure (Roche® Applied Science) a -
80ºC até ao seu processamento. As amostras para análise histológica
(aproximadamente 1cm2
) foram colhidas em formaldeído tamponado a 10%.
4. Genotipagem: HPV16 -E6 E HPV16-E2
Para a genotipagem foram utilizados fragmentos das caudas dos murganhos.
A extração de ácidos nucleicos foi realizada depois de determinada a pureza do
DNA. A presença de DNA de HPV integrado foi avaliado pela amplificação dos
29
genes HPV-E2 e HPV-E6 usando a metodologia de PCR previamente descrita (Paiva
et al., 2014; Santos et al., 2015).
5. Análise Histológica
Secções histológicas (2 µm de espessura) foram coradas com hematoxilina e
eosina (H&E) para análise em microscópio ótico. As amostras foram classificadas
como pele normal, hiperplasia epidérmica, displasia epidérmica e carcinoma in
situ (CIS).
6. Análise da expressão do miR-146a
A extração especifica de miRNAs foi realizada utilizando o kit TripleXtractor
da GRISP de acordo com as instruções do fabricante. A qualidade do RNA foi
avaliada utilzando o NanoDrop® spectrophotometer v3.7 (Thermo Scientific,
Wilmington DE, EUA).
A expressão do hsa-miR146a-5p-000468 foi analisada utilizando os
protocolos two-step real-time PCR com recurso ao TaqMan® MicroRNA Assays
(Applied Biosystems®, Foster CA, USA). A conversão de miRNA em cDNA (DNA
complementar) foi realizada utilizando TaqMan®MicroRNA Reverse Transcription
Kit (Applied Biosystems®, Foster CA, EUA) em 10µL de volume total de mistura de
reação .
6.1 PCR em tempo real
Nesta etapa foi utilizada a técnica para análise de expressão baseada em
amplificação por qRT-PCR (PCR quantitativo em tempo real) utilizando primers
específicos e todas as análises por qRT-PCR foram realizadas em duplicado.
Recorremos à técnica de PCR quantitativo em tempo real para quantificação dado
ser uma técnica extremamente sensível, com boa reprodutibilidade e grande
capacidade de quantificação que possibilita a monitorização em tempo real da
quantificação de DNA e RNA.
A técnica de PCR em tempo real (qPCR) foi realizada no StepOne Real-time
PCR System (Applied Biosystems, Foster CA, EUA) a partir de 10 µL de volume
30
final. Todas as reações foram realizadas em duplicado e incluíram também dois
controlos negativos.
Foi utilizada esta técnica para determinar níveis de expressão do miR146a
com o objetivo de comparar as expressões entre amostras de murganhos de
grupos controlo (HPV-/-
) e transgénicos (HPV+/-
).
6.2 Quantificação e Análise Estatística
Para quantificar os resultados obtidos por qPCR foi utilizado o método de
comparação dos CT (ou método ΔCT).
O método ΔCT requer uma correção para as variações experimentais, obtida
pela normalização dos resultados. A cada valor CT médio do controlo endógeno
foi subtraído o valor de CT médio do miR em estudo. A fórmula utilizada
encontra-se apresentada a seguir:
Quantificação relativa = 2 -ΔΔCT
, onde ΔΔCT = ΔCT controlo endógeno - ΔCT miR-146a
A análise estatística dos dados foi realizada utilizando o software
IBM®SPSS®Statistics para Windows (versão 22.0). Juntamente com o método de
comparação dos CT, foi utilizado o teste t de Student, para avaliar as diferenças
na expressão normalizada do miR-146a. Para analisar a expressão normalizada
relativa (-ΔCT) dos diferentes grupos, consideram-se os resultados representativos
de 99% (X±2SD) e o valor considerado estatisticamente significante foi de p≤0.05.
Os resultados dos níveis de expressão relativa estão apresentados em forma
de diagrama de extremos e quartis.
Capítulo IV: RESULTADOS
33
1. Análise macroscópica
Os murganhos wild-type apresentavam o fenótipo normal da sua estirpe, sem
qualquer lesão cutânea, enquanto os murganhos transgénicos, demonstravam
vários tipos de lesões características, como alopécia cefálica, eritema auricular e
hiperqueratose (seborreia) difusa (Figura 4).
Figura 4 – Análise macroscópica de murganhos wild-type (hpv-/-) e transgénicos (hpv16 +/-). O
animal transgénico apresenta hiperqueratose e eritema auricular (b).
34
2. Análise histológica
Através da avaliação histológica dos diferentes grupos de murganhos,
conseguimos distinguir diferentes tipos de lesões pré-malignas (figura 6). Os
dados encontram-se na tabela 3.
Tabela 3 – Análise histológica dos grupos de murganhos.
Classificação histológica
Peito Orelha
Grupo Idade
(semanas)
Genótipo Tratamento Normal Hiperplasia Displasia Normal CIS
1(n=27) 24-26 (HPV16
-/-
) - 27/27(100%) 0/27(0%) 0/27(0%) - -
2 (n=30) 24-26 (HPV16
+/-
) - 0/30(0%) 30/30(100%) 6/30(20%) - -
3 (n=8) 24-26 (HPV16
+/-
) Celecoxib 0/8(0%) 8/8(100%) 1/8(12,5%)
- -
4 (n=11) 24-26 (HPV16
+/-
) DMAPT 0/11(0%) 11/11 (100%) 2/11(18,2%)
- -
5 (n=7) 28-30 (HPV16
-/-
) - 7/7(100%) 0/7(0%) 0/7(0%) - -
6 (n=6) 28-30 (HPV16
+/-
) - 0/6(0%) 3/6(50%) 6/6(100%) - -
7 (n=6) 24-26 (HPV16
-/-
) - - - - 6/6(100%) 0/6(0%)
8 (n=9) 24-26 (HPV16
+/-
) - - - - 0/9(0%) 9/9(100%)
n= número de amostras utilizadas para histologia.
Figura 5- Análise histológica de murganhos wild-type e murganhos transgénicos. H&E, 100x
a) pele de murganho wild-type com histologia normal. b) pele de murganho transgénico K14-
hpv16 apresentando hiperplasia epidérmica. c) pele de murganho transgénico K14-hpv16
apresentando displasia.
35
3. Análise da expressão do miR-146a
3.1Murganhos transgénicos versus murganhos wild-type
Com o objetivo de analisar a influencia do HPV16 na expressão do miR-
146a, quantificou-se a sua expressão em amostras de murganhos wild-type
(HPV16 -
/-
) e em amostras de murganhos transgénicos (HPV16 +
/-
). Observou-se
que amostras de murganhos transgénicos apresentavam níveis de expressão
mais altos quando comparado com murganhos wild-type (p=0,011) (Figura 6).
Figura 6- Expressão relativa normalizada do miR-146a em murganhos
wild-type ((HPV16 -/-
), n=40) e em murganhos transgénicos ((HPV16 +
/-
),
n= 45).
n
Exp
ressão
relativa n
orm
alizad
a (-ΔC
t)
miR
-1
46
a
36
3.2 Expressão do miR-146a em diferentes lesões induzidas pelo HPV16
Para avaliar a expressão do miR-146a em diferentes fases da transformação
neoplásica, foram utilizadas amostras dos grupos 2,6 e 8 (24-26 semanas, 28-30
semanas e pele de orelha) que apresentaram, histologicamente, maior
percentagem de hiperplasia, displasia e carcinoma in situ, respetivamente.
Observou-se um aumento significativo na expressão do miR-146a em
murganhos HPV+/-
de 28-30 semanas comparando com murganhos HPV+/-
de 24-
26 semanas (p=0,022) (figura 7).
Figura 7– Expressão relativa normalizada do miR-146a em murganhos
transgénicos (HPV16 +
/-
), de 24-26 semanas (n=30) e 28-30 semanas (n=6).
Exp
ressão
relativa n
orm
alizad
a (-ΔC
t)
miR
-1
46
a
Exp
ressão
relativa n
orm
alizad
a (-ΔC
t)
miR
-1
46
a
37
Ao comparar com amostras de pele de orelha de murganhos transgénicos
observamos uma diminuição significativa na expressão do miR-146a em CIS
comparando com displasia e hiperplasia (p=0,005) (figura 8).
Figura 8 - Expressão relativa normalizada do miR-146a em murganhos transgénicos com
diferentes lesões induzidas pelo HPV16, representadas por amostras de peito de
murganhos transgénicos com 24-26 semanas (n=30), amostras de peito de murganhos
transgénicos com 28-30 semanas (n=6) e amostras de orelha de murganhos transgénicos
com 24-26 semanas (n=9).
Para ser possível a comparação da expressão do miR-146a em tipos de
pele distintos, realizamos primeiro uma comparação da expressão do miR-146a
em murganhos wild-type e verificamos que não existem diferenças significativas
entre pele de peito e pele de orelha (p=0,675) (figura9).
Exp
ressão
relativa n
orm
alizad
a (-ΔC
t)
miR
-1
46
a
38
Figura 9 - Expressão relativa normalizada do miR-146a em amostras de pele de peito
(n=6) e pele de orelha (n=6) de murganhos wild-type.
Exp
ressão
relativa n
orm
alizad
a (-ΔC
t)
miR
-1
46
a
39
4.Análise do efeito de anti-inflamatórios na expressão do miR-146a
4.1 Celecoxib
No grupo de murganhos transgénicos ao qual foi administrado celecoxib
(grupo 4) verificamos um aumento significativo na expressão de miR-146a em
murganhos transgénicos que foram administrados com celecoxib comparado
com murganhos transgénicos que não receberam tratamento (grupos 2 e 3)
(p=0,009) (Figura 10).
Figura 10- Expressão relativa normalizada do miR-146a em murganhos
transgénicos de 24-26 semanas que não receberam tratamento (n=30) e
em murganhos transgénicos de 24-26 semanas que receberam
tratamento com celecoxib 75 mg/Kg/dia (n=9).
Exp
ressão
relativa n
orm
alizad
a (-ΔC
t)
miR
-1
46
a
40
4.2 DMAPT
Foi realizado, em paralelo, um estudo de expressão de miR-146a em
murganhos transgénicos aos quais foi administrado DMAPT, um inibidor do NF-
KB.
Tendo em conta que o efeito anti-inflamatório causado pelo celecoxib
advém do seu efeito sobre a COX-2 ou sobre NF-KB, foi realizada a avaliação de
expressão do miR-146a em murganhos tratados com DMAPT, um anti-
inflamatório de inibição direta sobre o NF-KB.
Neste caso foi observado um aumento significativo na expressão do miR-146a
em murganhos HPV16relativamente a murganhos não tratados (p=0,036) (Figura
11).
Figura 11- Expressão relativa normalizada do miR-146a em murganhos
transgénicos de 24-26 semanas que não receberam tratamento (n=30) e
em murganhos transgénicos que receberam tratamento com DMAPT 100
mg/Kg/dia (n=11).
Exp
ressão
relativa n
orm
alizad
a (-ΔC
t)
miR
-1
46
a
Capítulo V - DISCUSSÃO
43
O presente estudo foi realizado no Grupo de Oncologia Molecular e Patologia
Viral do IPO-Porto com a colaboração do Instituto de Ciências Biomédicas Abel
Salazar, do Departamento de Ciências Veterinárias da Universidade e Trás-os-
Montes e Alto Douro e do Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente,
Tecnologia e Ambiente da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Este trabalho foi proposto com o objetivo de comparar a expressão do miR-
146a em amostras de murganhos wild-type e murganhos transgénicos K14-
HPV16. Também foi proposto a investigação do papel deste microRNA no
controlo de inflamação em murganhos K14-HPV16 tratados com anti-
inflamatórios.
Novas abordagens terapêuticas e novas técnicas de diagnóstico poderão
surgir da melhor compreensão da expressão e função de miRNAs, podendo
permitir a identificação de lesões pré-neoplásicas e melhor follow-up de
pacientes. As variações de expressão do miRNAs em doenças especificas torna-os
um biomarcador valioso. O uso destes pequenos RNAs não codificantes como
possíveis marcadores para desenvolvimento de cancro associado a HPV poderá
ser uma nova abordagem a implementar no futuro (Wang et al,2008).
O HPV é responsável por um número elevado de infeções, que na maioria
das vezes são assintomáticas e de regressão espontânea. Estas infeções podem
originar lesões benignas, mas em situações raras, podem evoluir para cancro.
Em cancro do colo-do-útero, nas neoplasias mais associadas à infeção por
HPV, parece existir relação entre a infeção por HPV e a expressão do miR-146a.
Os murganhos transgénicos K14-HPV16 são modelos experimentais úteis
para estudar a progressão de carcinogénese induzida por HPV, permitindo a
distinção entre as várias etapas da progressão: hiperplasia, displasia e carcinoma
in situ. Todos os murganhos transgénicos K14-HPV16 acabam por desenvolver
lesões hiperplásicas e/ou displásicas observadas na epiderme do peito e tronco
(Arbeit et al., 1994). A estirpe FVB/n tem-se demonstrado particularmente
predisposta ao desenvolvimento de neoplasias associadas ao HPV (Lambert et
al.,1993).
45
1. Análise de expressão do miR-146a
1.1 Murganhos transgénicos versus wild-type
Os resultados obtidos neste estudo indicam que os níveis de expressão de
mir-146a são superiores em murganhos transgénicos (HPV+/-
) comparativamente
com murganhos wild-type (HPV-/-
) (p=0,011). Com base nestes resultados, a
expressão do miR-146a parece ser influenciada pela presença do genoma viral do
HPV. Especificamente, estes resultados sugerem que a sobre-expressão do miR-
146a poderá ter um impacto no desenvolvimento de lesões promovidas pelo HPV.
Dados da literatura sugerem haver sobre-expressão deste microRNA em cancro
do colo-do-útero. Vários estudos relataram aumento de expressão do mir-146a
em cancro do colo-do-útero e ainda que a introdução deste microRNA em linhas
celulares epiteliais cervicais provoca proliferação celular (Lee et al., 2008; Wang
et al.,2008; Gocze et al.,2013). Aumento de miR-146a verifica-se também em
carcinoma papilar da tiroide, carcinoma anaplásico da tiroide e verificou-se a
correlação entre aumento da expressão do miR-146a com progressão metastática
em tumores orais (He et al., 2005; Pacifico et al.,2010; Scapoli et al.,2010). Sendo
o miR-146a capaz de atuar como supressor tumoral ou como oncomir, o seu
papel pode variar em diferentes tipos de cancro humanos. Estudos verificaram
níveis baixos do miR-146a em cancro da próstata, cancro pancreático e cancro
gástrico (Lin et al., 2008; Li Y. et al., 2010; Hou et al.,2011; Kogo et al., 2011).
Um estudo recente demonstrou que a proteína viral E5 atua sobre o miR-
146a, provocando aumento de expressão (Greco et al.,2011). O miR-146a, sendo
também um importante promotor da proliferação celular, poderá ser crucial para
a progressão tumoral induzida pela infeção por HPV.
A proteína viral E5 contribui para o desenvolvimento e progressão de
cancro do colo-do-útero ao regular varias proteínas celulares, provocando
alterações ao nível da sinalização celular, transcrição e alterações nos processos
angiogénicos e apoptóticos. Além disso, encontra-se envolvida na evasão ao
sistema imune e interage com várias proteínas transmembranares (Doorbar et al.,
2010).
Em outro contexto, células T reguladoras (Treg) são capazes de facilitar a
evasão viral ao sistema imune. Estas células apresentam um fenótipo
CD4+
CD25+
FoxP3 e apresentam um papel importante na prevenção de agressões
46
pelo sistema imune. Por apresentarem função imunossupressora, células Treg
são muitas vezes associadas a infeção persistente e progressão tumoral. Estas
limitam os danos colaterais resultantes de imunidade contra infeções (Halvorsen
et al.,2014). Vários estudos constatam níveis elevados de expressão de mir-146a
em células Treg e um papel fundamental deste microRNA na tolerância
imunologia mediada por células Treg. O miR-146a poderá assim, participar desta
forma no controlo da resposta imune, permitindo ao HPV escapar à
imunovigilância.
O aumento do miR-146a sugere um papel como oncomir e uma vez que
este microRNA se encontra envolvido em vias de inflamação, resposta imune e
também apoptose, o aumento da sua expressão sugere um aumento da
inflamação em murganhos transgénicos. Com base nestes resultados, o HPV16
parece ter um impacto na expressão do miR-146a.
Estes resultados são importantes na determinação da utilidade da
expressão do miR-146a na descriminação de tecidos com maior predisposição ao
desenvolvimento de cancro.
1.2 Influência da progressão das lesões pré-neoplásicas
De acordo com a literatura, até ao fim do primeiro mês de idade, 100% dos
murganhos K14-HPV16 desenvolve hiperplasia. Lesões hiperplásicas progridem
focalmente para displasia entre os 3-6 meses de idade e aos 8-12 meses de idade
50% dos murganhos desenvolve um carcinoma epidermal de células escamosas.
Destes, 30% metastizam para os gânglios linfáticos (Arbeit J.M. et al.,1994;
Coussens et al., 1996).
Os resultados obtidos neste estudo revelam um aumento significativo
(p=0,022) na expressão do miR-146a em murganhos transgénicos de 28-30
semanas (grupo 6) comparando com murganhos transgénicos de 24-26 semanas
(grupo2). Este resultado indica que a progressão neoplásica é acompanhada pelo
aumento da expressão deste microRNA nas fases iniciais do desenvolvimento
neoplásico.
47
Existe uma ligação entre inflamação e predisposição para desenvolvimento
de cancro. A inflamação a longo termo leva ao desenvolvimento de displasia e em
células infetadas por HPV de alto risco pode levar ao desenvolvimento de cancro
do colo-do-útero (Rakoff-Nahoum, 2006).
A inflamação pode representar uma resposta imune contra o tumor ou
pode, por outro lado, estimular o crescimento tumoral. Durante a carcinogénese
a inflamação persiste para a obtenção de uma condição crónica. O estado
inflamatório pode contribuir para o desenvolvimento tumoral através de
diferentes mecanismos, como: indução de instabilidade genómica, alterações de
agentes epigenéticos e consequentemente, a expressão inapropriada de genes e
miRNAs (Mantovani et al,2008).
O fator de transcrição NF-KB parece ser constitutivamente ativo em
carcinoma in situ, por ação de HPV16. Em tecido normal e em lesões de baixo
grau as subunidades do NF-KB localizam-se principalmente no citoplasma, ao
contrário de lesões de alto grau e em carcinoma em que estas se encontram no
núcleo e a expressão do inibidor IKBα se encontra diminuída (Nair et al, 2003).
Vários estudos demonstraram a ativação do fator de transcrição NF-KB durante o
desenvolvimento de cancro do colo-do-útero (Nair et al.,2003; Prusty et al.,2005).
Outro ponto a considerar seria o facto do miR-146a apresentar funções
pró-proliferativas, mas anti-metastáticas. Um estudo demonstrou que PDZD2, um
dos alvos do miR-146a, encontra-se envolvido na aderência celular. A proteína
PDZD2 contêm um domínio PDZ, um componente que faz parte de complexos de
adesão celular. Como mir-146a exerce controlo pós-transcricional negativo sobre
este domínio PDZ, a diminuição do miR-146a permite uma menor aderência
celular, promovendo a metastização (Greco et al.,2011). O NF-KB pode atuar
como oncogene através da sua capacidade para estimular a inflamação e
considerando a ligação funcional entre o NF-KB e o miR-146a e os resultados
obtidos para a expressão do miR-146a em CIS, é possível que o miR-146a atue
como um elo de ligação importante entre a inflamação provocada pela infeção
com HPV e o desenvolvimento tumoral.
O fato de termos observado maior expressão durante fases de hiperplasia
e displasia e menor expressão durante CIS leva a acreditar que este miRNA sofra
expressão diferencial ao longo do desenvolvimento tumoral. Para a análise da
expressão do miR-146a em CIS foi utlizada pele de orelha devido ao facto de não
ter sido obtido nenhum caso de CIS em pele de peito.
49
2. Efeito de fármacos anti-inflamatórios
A inflamação é um componente importante na progressão tumoral uma vez
que muitos cancro tem origem em locais de infeção e inflamaçãoo (Rakoff-
Nahoum, 2006). A inflamação está presente nas diferentes etapas da
carcinogénese e assume mecanismos diversos dependendo do tipo e frequência
de estímulos recebidos. Nas etapas iniciais da carcinogénese a inflamação pode
combater e até eliminar células transformadas, no entanto, a inflamação crónica,
muitas vezes citotóxica, é um dos fatores de progressão importantes na história
natural de muitas neoplasias (Grivennikov et al., 2010). Muitas vezes,
principalmente após formada uma massa tumoral, existem células que escapam
aos mecanismos de imunovigilância, observando-se que o microambiente tumoral
é capaz de regular respostas inflamatórias, colaborando para a progressão
tumoral (Whiteside, 2008).
2.1 Efeito do celecoxib sobre a expressão do miR-146a
O celecoxib foi o primeiro inibidor específico da COX-2 aprovado para o
alívio de osteoartrite e dor de artrite reumatoide (Davies et al., 2000). Também
tem mostrado ser eficaz na redução de pólipos em pacientes com polipose
adenomatosa familiar (Steinbach et al., 2000). O celecoxib tem se mostrado
benéfico na prevenção do cancro, uma vez que também tem propriedades pró-
apoptóticas, anti-angiogénicas e anti-neoplásicas (Masferrer et al, 2000; Chow et
al, 2005). A sobre-expressão aberrante da COX-2 por si só não é capaz de
iniciação tumoral mas tem sido associada com a alterações pré-malignas em
tecidos epiteliais e já foi reportada numa variedade de cancros, incluindo o
cancro colo-rectal, o cancro do pulmão, gástrico, mama, próstata, bexiga e colo-
do-útero (Fosslien, 2000; Howe et al., 2001; Kulkarni et al., 2001; Turini e
Dubois, 2002; Fürstenberger et al., 2006). Além de causar inflamação crónica
sabe-se que produtos da COX, especialmente a prostaglandina E2 (PGE2), são de
interferir com atividade anti-tumoral do sistema imune. A PGE2 inibe a produção
de citocinas anti-tumorais TH1 pelos linfócitos T e inibe as funções anti-tumorais
de células NK (Natural Killer) e macrófagos (Fürstenberger et al., 2006). Um
estudo realizado em murganhos que sobre-expressam COX-2 em queratinócitos
desenvolveram hiperplasia e displasia, implicando uma ligação entre a expressão
de COX-2 e o desenvolvimento de lesões pré-malignas (Liu et al.,2001).
50
Recentemente, o nosso grupo demonstrou, usando este mesmo modelo
animal, que o celecoxib promove a desgranulação das células T citotóxicas em
lesões induzidas pelo HPV16 (Santos et al.,2015).
Anti-inflamatórios não esteroides (AINES), como o celecoxib, encontram-se
entre os fármacos mais prescritos a nível mundial, estando descritos como anti-
inflamatórios, analgésicos e antipiréticos. Ainda não se sabe ao certo de que
forma é que o celecoxib atua ao nível do tratamento de neoplasias, no entanto,
sabe-se, que pode atuar através de mecanismos dependentes e independentes da
COX (Lampiasi et al.,2012). No entanto, sabe-se que a inibição da ciclooxigenase
provoca a diminuição de prostaglandinas e outros prostanóides levando à
diminuição da proliferação celular (Nakanishi et al., 2013).
Vários estudos suportam a atividade anti-neoplásica d, especificamente do
celecoxib. Contudo. é de salientar que nem toda a atividade anti-neoplásica
associada ao celecoxib se deve à inibição da enzima COX. Vários estudos
demonstraram a existência de mecanismos independentes de COX-2. Os efeitos
anti-neoplásicos obtidos em concentrações superiores de celecoxib do que a
necessária para inibir a síntese de prostaglandinas e o facto de ocorrer inibição
da proliferação celular em células desprovidas de COX-2 suportam a existência de
um mecanismo independente de COX-2. Um estudo de Cervello et al. apoia a
existência de um mecanismo independente de COX-2 para celecoxib e propõe
ainda um papel como inibidor de atividade de NF-KB (Cervello et al., 2011).
Um estudo recente identificou o miR-146a como um regulador da COX-2
em cancro do pulmão. Em células de cancro do pulmão, na ausência de miR-
146a, a COX-2 torna-se sobre-expressa e a introdução do microRNA resultou na
redução de libertação de prostaglandinas. Estes efeitos biológicos são devidos
especificamente à regulação da COX-2 pelo miR-146a (Cornett et al., 2014). Outro
estudo confirma o papel funcional do miR-146a como regulador da COX-2 ao
demonstrar que o miR-146a se liga à região 3’UTR do mRNA da COX-2 (Sato et
al., 2010).
Os resultados obtidos no presente trabalho demonstraram um aumento
significativo na expressão do miR-146a em murganhos transgénicos tratados
com celecoxib em comparação com murganhos transgénicos que não receberam
tratamento.
51
2.2 Efeito do DMAPT sobre a expressão do miR-146a
O DMAPT (Di-metilaminopartenólido) é um fármaco recente, hidrossolúvel
e administrado pela via oral criado como análogo do partenolídeo, um composto
já testado com grande eficácia no tratamento de neoplasias, mas de uso
farmacológico difícil por ser pouco solúvel (Curry et al.,2004).
O DMAPT tem se mostrado eficaz na erradicação de células estaminais
leucémicas. Um estudo realizado em leucemia mieloide aguda demonstrou
utilizando inibidores de NF-kB em células CD34+
CD38-
, o DMAPT atuou apenas
sobre células tronco leucémicas, poupando as células tronco hematopoiéticas
normais. Esta observação in vitro foi verificada também in vivo em murganhos. O
tratamento com DMAPT em animais previamente enxertados com células de
leucemia mieloide aguda resultou na redução no número de blastos, reduzindo a
capacidade do enxerto tumoral de ser transplantado para um recetor secundário.
Os blastos provenientes dos murganhos tratados com DMAPT apresentaram
inibição substancial de NF-KB (Guzman et al.,2007). Outro artigo realizado em
murganhos afirma que o DMAPT foi eficaz na redução do crescimento de
xenotransplantes derivados de células de carcinoma mamário e aumentou
significativamente a sobrevivência dos murganhos tratados. Neste mesmo estudo
verificaram, através de imunohistoquimica, que DMAPT diminui a expressão do
componente p65 do fator de transcrição NF-KB (D’Anneo et al., 2013). Este
farmaco também já foi testado in vivo em cancro da prostata, cancro do pulmão e
bexiga onde confirmaram a sua ação de inibição do NF-KB (Shanmugam et al.,
2010; Shanmugam et al., 2011).
O NF-KB tem sido considerado um fator de transcrição anti-apoptótico por
ser capaz de regular a transcrição de genes que controlam a proliferação celular
bem como a sobrevivência. A ativação do NF-KB é um mecanismo usado por
células pré-malignas uma vez que pode bloquear a apoptose através da regulação
de proteínas anti-apoptóticas e ainda induzir a expressão de citocinas mantendo
assim um estado inflamatório propicio para iniciação da carcinogénese.
Os dados obtidos neste trabalho demonstraram um aumento da expressão
do miR-146a em murganhos transgénicos tratados com DMAPT (p=0,036) em
relação a murganhos transgénicos que não receberam tratamento, sugerindo o
52
efeito pretendido pela administração do fármaco. É possível que o DMAPT atue
em algum ponto da via do NF-KB, além da sua ação direta sobre p65,
promovendo a expressão do mir-146a para exercer a sua função como inibidor
fator de transcrição NF-KB. A diminuição da ativação do NF-KB, que advém da
administração do DMAPT e aumento da expressão do miR-146, provoca a
diminuição da expressão de fatores potenciadores da progressão tumoral.
53
3. Discussão geral
Os dados que obtivemos na comparação da expressão do miR-146a entre
murganhos transgénicos e wild-type sugerem que o existe sobre-expressão
significativa do mir-146a em murganhos transgénicos e que essa sobre-
expressão acompanha a progressão das lesões nas fases iniciais da
carcinogénese.
Considerando o papel que o miR-146a desempenha na regulação de
inflamação, esta tendência para o aumento da expressão do miR-146a ao longo
das etapas da carcinogénese sugere que em etapas iniciais da carcinogénese
ocorra uma sobre-expressão deste microRNA na tentativa de contrariar a
inflamação.
O facto do celecoxib ser um fármaco anti-inflamatório e incluindo o fato de
que o miR-146a ser capaz de regular negativamente a COX-2, que é o principal
alvo do celecoxib torna possível que o miR-146a atue no sentido de diminuir a
inflamação. De igual forma, a administração de DMAPT poderá ter potenciado a
inibição do NF-KB pelo mir-146a resultando no aumento de expressão obtido.
Estes resultados sugerem que, apesar das funções já conhecidas do miR-
146 no controlo de inflamação e resposta imune e o seu papel em diversas vias
de sinalização celular, este poderá também estar relacionado com a indução de
um microambiente mais favorável para a carcinogénese induzida por HPV.
Capítulo VI:
CONCLUSÕES E PERSPETIVAS FUTURAS
57
Os miRNAs constituem uma área em expansão e de destaque no cenário
científico atual. Sabe-se que a expressão de microRNAs é alterada durante a
progressão de vários cancros humanos. Alguns microRNAs são especificamente
expressos em cancro do colo-do-útero e têm a sua expressão aumentada de
forma aberrante e o miR-146a faz parte de um extenso número de microRNAs
que está desregulado em neoplasias.
O aumento no numero de estudos sobre o papel de microRNAs na
carcinogénese tem contribuído significativamente para a compreensão atual da
biologia do cancro A descrição detalhada do papel de miRNAs específicos pode
auxiliar na identificação de interações entre miRNAs virais e celulares e na
compreensão de patogénese do cancro do colo-do-útero.
O presente estudo foi proposto com o objetivo de investigar a influencia do
HPV16 na expressão do miR-146a. Embora muitos estudos já tenham sido
realizados sobre microRNAs e cancro do colo-do-útero, não se encontram
esclarecidas as redes de interação que influenciam o papel do HPV16 na
expressão do miR-146a.
Durante o desenvolvimento deste estudo foi investigado o efeito da
expressão do mir-146a sob o efeito de químicos anti-inflamatórios. Apesar dos
bons resultados alcançados pelo celecoxib, a forma como este fármaco atua no
tratamento de neoplasias ainda é pouco compreendida, levando à necessidade de
se realizarem mais estudos. Estudos sobre as vias de sinalização celular nas quais
a COX-2 atua poderão contribuir para a descoberta ou aperfeiçoamento de
fármacos capazes de inibir a proliferação de células neoplásicas.
Com base nos resultados obtidos, acreditamos que este miR-146a deve
exercer um papel importante na regulação de genes associados ao
desenvolvimento de cancro do colo-do-útero e o seu estudo aprofundado pode
contribuir para uma melhor compreensão do seu papel na carcinogénese.
Estudos futuros poderão comprovar a associação entre o perfil de
expressão do miR-146a e as alterações a nível imunitário, por exemplo, através
de estudos de quantificação de algumas citocinas inflamatórias. A análise de
58
expressão do miR-146a em outros locais anatómicos, como cavidade oral poderá
também ajudar a compreender melhor este processo.
Capítulo VII:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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