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Um banho de 1987 pelos olhos de Vitor Azevedo + um conto na cidade da Horta no ano de 2100 por Miguel Valente + o saudosismo de Camões e dos açorianos por Vitor Rui Dores + um tesouro musical quase perdido por Luis Henriques + Hesse e os pseudos por Carla Cook + ’diapositivos’ de Tiago Araújo por Fernando Nunes + os tecidos impermeáveis do Albino + diário Corvo de Gonçalo Tocha + intervenções com ou sem plátano, com ou sem Steve Jobs e com ou sem tudo 1987: A dívida crescia e n tomávam banho. Hoje também. O BOLETIM DO QUE POR CA SE FAZ QUINZENAL 06 A 20 DE OUT 2011 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA º 66 ´

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Boletim do que por cá se faz

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Um banho de 1987 pelos olhos de Vitor Azevedo + um conto na cidade da Horta no ano de 2100 por Miguel Valente + o saudosismo de Camões e dos açorianos por Vitor Rui Dores + um tesouro musical quase perdido por Luis Henriques + Hesse e os pseudos por Carla Cook + ’diapositivos’ de Tiago Araújo por Fernando Nunes + os tecidos impermeáveis do Albino + diário Corvo de Gonçalo Tocha + intervenções com ou sem plátano, com ou sem Steve Jobs e com ou sem tudo

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O BOLETIM DO QUE POR CA SE FAZQUINZENAL 06 A 20 DE OUT 2011 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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“Lazer” (1987) Vitor Azevedo (Prémio Fazendo do Porto Pimtado 2011)

Vitor José de Vargas Azevedo, nasce na cidade da Horta, a 28 de Junho de 1938. Depois dos estudos primários, cursa o liceu de então.

Desde tenra idade sente-se vocacionado para a arte fotográfica e aos treze anos, de uma forma muito rudimentar constrói o seu primeiro laboratório.Em 1965 parte para Moçambique no cumprimento do serviço militar, onde em Vila Cabral (hoje Lichinga) lhe é dada a responsabilidade da secção fotográfica do Comando Operacional do Niassa.

Em Vila Cabral, num concurso fotográfico, pelo aniversário da cidade, obtém 3 dos 4 prémios atribuídos. São da sua autoria as fotografias da capa de vários números da Revista “O Tempo” publicada em Lourenço Marques (hoje denominada Maputo).Regressa à Horta em 1975 onde continua a fotografar, sendo mais tarde convidado a expor por três vezes nos aniversários da Marina da Horta.Em 1995 é convidado pelo Director do Museu da Horta a fazer uma exposição que ali se manteve por três meses com o nome de “Um Piscar D’Olho”, perfazendo um total de 30 fotografias.

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Também no ano de 1995, concorre ao 1º concurso nacional para fotógrafos amadores, organizado pela AGEFE, em que participaram 2232 concorrentes com um número total de 6169 fotografias, tendo obtido o 4º lugar, ex-aequo. A exposição teve lugar no Pavilhão da Feira Internacional de Lisboa, no decurso da Expovisão 95.O Júri era composto por três entidades, representadas pelos senhores:- Professor Eduardo Sérgio - Faculdade de Belas Artes - Universidade de Lisboa;- Dr. Moraes Sarmento - Instituto Português de Fotografia;- Sr. José Nunes - Jornal “A Capital”.Nos anos seguintes fez várias exposições sempre a convite de diversas entidades e organizações tais como, Junta Autónoma dos Portos, Junta de Freguesia da Matriz e Angústias, Semana das Pescas e Feira Agrícola.Em 1999 e 2000 fez as suas primeiras exposições durante a Semana do Mar, tendo esta última sido um autêntico sucesso, pois além da crítica positiva que lhe foi dada, teve a visita de 2848 pessoas.De 2009 até à presente data fez a reportagem fotográfica das obras do novo Porto da Horta.Em 2010 e 2011, participa no concurso “PortoPimtado” onde obteve em ambos o 3º lugar e no último ainda lhe foi atribuído o prémio Fazendo.

Capa

Domingo de manhã. Por um segundo a escuridão é interrompida pela luz dos números digitais do relógio despertador accionada pelo comando remoto. 07:03 AM. Daniel estava acordado há horas e já não aguentava mais estar na cama sem dormir. Cuidadosamente levantou-se, tentando não incomodar o corpo que dormia a seu lado. Após um duche rápido e [depois] de se ter arranjado dirigiu-se à cozinha para comer qualquer coisa. Ao entrar na sala foi banhado pelos primeiros raios de sol que entravam através da parede totalmente envidraçada. A visão da montanha do Pico entre o Monte da Guia e o Monte Queimado, sob a luz da aurora, melhorou a sua disposição não tendo sido, no entanto, suficiente para acabar com a neura de tantas noites mal dormidas. Preparou um chá verde com limão e, enquanto esperava que este ficasse a uma temperatura razoável para os seus lábios, ia trincando uns biscoitos e folheava a agenda cultural da cidade à procura de alguma coisa para fazer durante o dia.Do seu apartamento do 25º andar num dos inúmeros arranha-céus

de vidro e aço da rua do Castelo conseguia ver a metrópole que se estendia por todas as encostas, com excepção dos montes de Porto Pim, bem como a ponte de ligação rodoferroviária à ilha do Pico e os vários ferrys que, apesar da hora matutina de fim de semana, já cruzavam o canal a um ritmo alucinante.Daniel observava a cidade enquanto a sua cabeça vagueava por outras paragens. O barulho de água na casa de banho chamou a sua atenção e ficou a olhar para a entrada

da sala à

espera que um vulto feminino surgisse.- Já te levantaste?- Fui só à casa de banho mas estava a pensar voltar para a cama, se não te importares que não te faça companhia

hoje.- Claro que não. Sei que foi uma

semana cansativa para ti, por isso mereces

preguiçar o dia todo.

- E o que é

que pensas fazer hoje?- Para já estava a pensar se havia de tomar o pequeno almoço fora.- Parece-me um bom plano. Já decidiste onde?- Pois, esse é que é o problema. Não me lembro de nenhum sítio a que me apeteça ir.- Daniel, existem pelo menos 500 cafés neste lado da ilha, não me digas que não há nenhum que te encha as medidas.- Para ser sincero, não. (risos). Eu sei que parece estranho mas apetecia-me ir a um sítio calmo, com pouca gente. Apetecia-me ver um pouco de verde.

- Porque é que não vais até ao Roosevelt Park?- Está vento. Não me apetece andar ao vento.- (Risos). Sabes perfeitamente que naquele vale não corre uma aragem. Tu adoras aquele parque, o que é que te está a incomodar tanto?- É domingo de manhã e vai estar um belo dia de Verão. Daqui a uma ou duas horas vai estar cheio de gente. + em fazendofazendo.blogspot.com

Miguel Valente

Domingo de Manhã

Vitor Azevedo

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MUSICA´

Saudade

3 FAZENDO + 6 A 20 OUT 2011

MUS

ICA

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“Saudade” é uma canção triste, dolente, dorida e magoada. A nostalgia

toma forma poética:

“A saudade é um luto Uma dor uma aflição

É um cortinado roxoQue me cobre o coração”.

Cantada em todo o arquipélago açoriano, a linha melódica da “Saudade” varia de ilha para ilha, mas subordinada sempre à mesma raiz temática. É uma cantiga que sempre me impressionou pela maneira como insiste na dominante sem chegar à tónica.

De resto, a saudade tem sido, ao longo dos tempos, um modo português de estar no mundo – e é bem o símbolo da nossa tristeza em ré menor.

Saudade e lonjura são dois conceitos que são particularmente caros aos açorianos. É de admitir que a ausência

da terra-mãe dos primeiros povoadores destas ilhas lhes tivesse criado um estado

nostálgico bastante acentuado, e dele

ter nascido, como reflexo natural, a canção “Saudade”. A saudade do vivido e do sentido. A saudade dos que partiram. A saudade dos que ficaram. A saudade que está configurada nos dois corações da nossa viola da terra (ou viola de arame com quinze cordas na Terceira e doze nas restantes ilhas) – o coração de quem fica, o coração de quem parte. E, é sabido, o açoriano é um povo de muitas partidas e poucos regressos.

Este saudosismo tem origem em Bernardim Ribeiro, Camões, Garrett, mas é com Teixeira de Pascoaes que ele se transforma em movimento literário. Poetas como Correia de Oliveira, Afonso Lopes Vieira e António Sardinha encaram a

A Sé Catedral de Angra do Heroísmo possui um acervo musical que reúne cerca de quinhentas obras sacras. Estas distribuem-se por formas e géneros desde missas, motetes, responsórios, salmos, antífonas, etc. Este acervo musical destaca-se no contexto insular como provavelmente o mais importante acervo de música sacra existente no Arquipélago. Nele estão depositadas obras de cerca de

cinquenta compositores (insulares, continentais e estrangeiros).Compositores como Marcos Portugal, João José Baldi, Fr. José Marques e António José Soares, compositores

cujas obras se encontram em praticamente todas as sés de Portugal e Brasil. Pela observação dos manuscritos,

desgastados pelo uso, pode-se conjecturar que estas obras eram feitas na Sé regularmente e durante um largo período cronológico. Este facto coloca a Sé de Angra a par das principais sés do Reino no que à prática de música sacra diz respeito ao longo do século XIX.

Para o desenvolvimento desta prática terão contribuído decisivamente os bispos que governaram a Sé de Angra durante o século XIX. Partindo do repertório e, consequentemente, dos respectivos autores chega-se facilmente à conclusão de que D. Fr. José da Avé Maria, 23.º bispo de Angra de 1783 a 1785, terá sido o primeiro bispo a promover uma prática musical de larga dimensão. Para isso terá contribuído a aquisição do chamado “órgão grande” (hoje perdido) oferta da Rainha D. Maria I. A prática musical

na Sé expande-se durante o bispado de D. José Pegado de Azevedo (1802 a 1812). Este bispo resolve sagrar a Catedral por não haver qualquer documento atestando uma prévia sagração. Para esta cerimónia são propositadamente encomendadas a João José Baldi, um dos mais conhecidos compositores portugueses, as Matinas para a Sagração da Sé de Angra. Esta é uma de várias obras que só subsistem no arquivo da Sé de Angra. Outras referem-se essencialmente a compositores locais (alguns mestres de capela na Sé) como Mateus Pereira de Lacerda, Basílio Ferreira Mendes, Pedro Machado de Alcântara entre outros.

O arquivo musical existente na Sé de Angra também terá sido um pólo difusor de música sacra no Arquipélago. A prática desta música em igrejas como a Matriz de Ponta Delgada, Matriz da Horta e Matriz da Praia da Graciosa entre outras terá sido influenciada pela prática musical na Sé de Angra. A proximidade do Seminário da Sé a isso o conduz. Os seminaristas oriundos das outras ilhas e inclusive da ilha Terceira durante a sua formação

em Angra do Heroísmo estariam certamente expostos à prática musical da Sé e igrejas limítrofes. Desta forma, após a sua formação, levariam consigo o repertório para as paróquias onde iram exercer o seu ofício. Ainda hoje existe esta circulação de repertório entre as igrejas açorianas.

A catalogação em curso do arquivo existente na Sé de Angra assim como uma futura inventariação e catalogação dos outros arquivos espalhados pelas igrejas açorianas torna-se mais que urgente visto, a cada dia que passa, irem-se degradando. Só tomando esta medida se poderá começar a entender de uma forma clara a prática musical sacra no arquipélago dos Açores. Luís C. F. Henriques

saudade portuguesa como um foco de vida espiritual, centro e estímulo de energias raciais com possibilidade de fazer renascer vigorosamente a nação. Esta corrente nacionalista estendeu-se à música, tendo como seu expoente máximo o compositor Ruy Coelho, autor das famosas

“Sinfonias Camonianas”, num tempo em que se quis fazer da Camões um Super-Camões, um Super-Homem, no sentido nietzschiano.

Mas nada disto tem a ver com a “Saudade” açoriana, canção intemporal, cantada com tristeza e dignidade – nunca a ouvi cantada de forma piegas ou lamechas. É um cantado sentimento que nada tem a ver com a saudadezinha do fado nacional. E deixo-vos com esta curiosidade linguística: quem, nos Açores, canta a “Saudade” faz a acentuação do u, mantendo assim a estrutura arcaica da palavra. Victor Rui Dores

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4 FAZENDO + 6 A 20 OUT 2011

O Jogo das Contas

de Vidrode Herman

O Jogo das Contas de Vidro é um romance que joga com a utopia do conhecimento absoluto numa comunidade de intelectuais brilhantes versus a vida secular, vibrante de sensações.

Num local imaginado (com muitas semelhanças com a terra Natal do autor e sem dúvida bebendo das suas experiências educativas), Hesse conta a história de um grupo de escolas de elite, onde só os verdadeiramente dotados se dedicam ao estudo das ciências e das artes. O Jogo por eles gerado é a consagração de todas

as disciplinas em conjunto, espécie de linguagem universal onde se relacionam valores e símbolos. Os jogadores fazem conciliações harmónicas de temas inicialmente paradoxais, partindo de qualquer proposição científica ou questão artística. A simbologia inerente a esta batalha mental é a “busca da perfeição, uma aproximação ao espírito que, para além de todas as pluralidades, é Um em si mesmo.”

Limando a vida até à unidade máxima, espera-se dos jogadores que sejam o ideal do Homo Universalis. As escolas são uma comunidade fechada em si própria, vivendo num tempo futuro em relação ao nosso, desprezando os académicos vulgares e pseudo-intelectuais e criticando altivamente a mesquinha materialidade e a vaidade inflamada

da sociedade pública. Josef Knecht, magister ludi da Academia, homem empático e questionador, acaba por interrogar-se se sua tarefa é mais útil do que a vida de um preceptor juvenil ou do que a de um homem do campo. Dando-se conta da esterilidade que regula a vida da Academia, Knecht não pode continuar a defendê-la e abraça a vida “real”; por seu lado, a Academia teme-lhe a coragem e o carácter e etiqueta-o como perigoso.

Herman Hesse ganhou o Prémio Nobel em 1946 pela sua “escrita inspirada, que, embora sempre crescente em

ousadia e espírito de penetração, nunca deixou de ser exemplo dos ideais clássicos humanitários e das mais altas qualidades”. O Prémio surgiu após a supressão das suas obras na Alemanha nazi, de onde era natural. Hesse nunca acedeu a ser igual à sua “tribo”, apesar dos desconfortos. Trocou de nacionalidade e abraçou a multiculturalidade em pleno – “que a diversidade em todas as formas e cores possa viver neste mundo” proclamou Hesse aquando do Nobel. Carla Cook

Nada melhor do que abrir o primeiro livro de poemas de Tiago Araújo (“Diapositivos”-Quasi 2001) e ler no prefácio assinado pelo autor: “No final de uma viagem não somos apenas o corpo na estação com as malas ao lado. Somos também todas as paragens por onde passámos, todas as paisagens que olhámos de relance, a mulher que de nós se despediu no princípio da viagem”. Este périplo poético inicial de Tiago Araújo, para além de documentar a paixão pela fotografia, revela uma voz à procura urgentemente do poder de síntese. Na verdade, à semelhança dos poemas exigentes, o poeta quer aventurar-se no decalque do instante e a apreensão imediata da condensação. Tiago Araújo escreve com erudição pois também sabe que “entre Heraclito e Parménides continuamos a escrever com o peso do mundo sobre os cotovelos e os dedos entre os cabelos.” Fernando Nunes

Nunca a espera me foi tão envolvente como naqueles dias em que aguardei na cidade da Horta a chegada do ‘Windlise’, um veleiro proveniente das Caraíbas e com destino ao Porto Santo!

Por uma vez uma situação, ademais sonhada muitas vezes e ao detalhe, não só não saiu frustrada pelas expectativas como a inopinada suspeita, ‘Será o Windlise?!’, surgida ante a visão do veleiro que passava ao largo de Porto Pim, transformou a espera e os momentos passados a olhar o mar – sem dúvida uma das actividades a que mais me dediquei ao longo da vida – numa experiência única.

É desde criança que a presença do mar me acalma e desafia, mas esta foi a primeira vez que a senti próxima. Na verdade, nem ao mergulhar nas suas águas lograra a intimidade que senti ao inteirar-me de que aquele era o mar que traria o barco, cuja tripulação – a Astrid, o Dieter e o Achim – me enviara as ‘Boas-vindas a bordo’ de Antígua.

Olhar o mar e entrever, muito para além da linha do horizonte, o veleiro que me levaria mar afora, foi como se depois de ter passado anos a perscrutar um velho manuscrito sem qualquer resultado, tivesse lobrigado finalmente o sentido de uma frase que, apesar de mínima, me permitia sonhar com um íntimo e frutífero convívio. Olhar o mar, esquadrinhar o horizonte, ver os barcos a aproximarem-se do porto ou a entrarem na marina deixava de ser um acto ocioso por mais aprazível que também o fosse.

Não obstante as belezas naturais da ilha do Faial e a perspectiva privilegiada da ilha do Pico ou os Capelinhos, o vulcão que irrompeu a 28 de Setembro de 1957, e a área circundante, a

prioridade era estreitar esta incipiente e auspiciosa camaradagem. Degustar a crescente percepção de que a azáfama marítima com que tanto fantasiara já não me era totalmente alheia ou estranha.

Ao contrário das marinas, como a da cidade em que vivo, cheias de barcos remetidos à condição de brinquedos de Verão, de marinheiros… nem vê-los, a da Horta estava repleta de barcos e de homens e mulheres do mar, dos mais diversos escalões etários, muitos dos quais acabados de atravessar o Atlântico.

Não era um deles. Mesmo que o desejasse, estava ciente de quão irrisória e precipitada seria tal pretensão. Contudo, a circunstância de estar à espera do ‘Windlise’ e em vésperas de embarcar, permitia-me deambular pelos cais de atracação, observar as pinturas que cobrem os muros e os pisos minimamente lisos nas imediações da marina e sonhar com paragens recônditas e exóticas para que remetem, entrar no ‘Peter Café’, misturar-me com homens e mulheres do mar – sobretudo ao fim da tarde quando, após os trabalhos de manutenção, vão tomar um copo e cavaquear um pouco – sem me sentir um intruso. Com efeito, este ambiente tornou-se tão meu que me esqueci de que não era ainda um deles e não me preveni com os comprimidos que, atendendo à minha inexperiência, eram recomendáveis. António da Vargem Perdigão

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de HermanHesse

A história conta-se facilmente. Uma história sobre impermeabilização do solo possivelmente não interessa a ninguém, mas permitam-me partilhar algo sobre o qual recai a minha atenção profissional ou de simples observador quando sou chamado a desenhar e projectar uma obra ou quando me deparo com os excessos de “acção impermeabilizante”. O acontecido passou-se junto a um novo e futuro espaço comercial cá na ilha. Os intervenientes foram o arquitecto e o dono da obra. Debatia-se a proposta de arranjos exteriores do edifício - as superfícies a usar para receber as pessoas com os seus automóveis ou simplesmente elas próprias pelo seu próprio pé... A proposta centra--se na sensibilização para a não impermeabilização integral do solo, recorrendo a superfícies favadas (estas permitem o crescimento vegetal nos espaços intersticiais, podemos observar como exemplo o novo parque de estacionamento do DOP... recordo também um imenso parque de estacionamento junto ao rio em Ponte de Lima), e espaços-floreiras

com a intenção de plantar aromáticas. Propõe-se ainda uma zona de lajetas separadas com o fim de servir ao uso de esplanada. A consequência seria um espaço verde, menos impermeabilizado, equilibrando a ocupação impermeável do próprio edifício, já de si volumoso.A proposta não passou disso mesmo, uma intenção num cofronto de ideais. Argumentação do ideal impermeabilizado:- vai sujar muito e será muito custoso a manter, limpar, aparar relvas ...- já temos muito a cuidar- já pagamos uma multa por não cedência de área ajardinada- temos muitos alqueires de terrenos de pasto, já contribuimos muitoBom, o que pensar disto? Como fiquei, ainda nem consigo descortinar. Diria que “fiquei para a minha vida!”De qualquer forma e sem qualquer juízo de valor em relação aos argumentos, retive-me em um. Aquele em que se diz ter-se pago uma multa pela não cedência de área ajardinada. Multa paga à Câmara por certo! Existem legislados e aprovados

os índices de construção permitidos pelo novo PDM da Câmara Municipal. Variam dependendo da natureza do lugar onde se intervém e do programa que se pretende edificar. Até aí, parece equilibrado. E parece fazer sentido regular e legislar matéria para tal. Mas não será excessivo legislarmos sobre algo que deveria ser imperativo (não impositivo), antes compreendido como parte da nossa acção respeitadora da nossa relação carinhosa com o solo que nos suporta e alimenta o bem estar e

Impermeabilizando vamos indo,

repermeabilizar haveremos de conseguir!

mesmo a e x i s t ê n c i a ?

Pagar multas por impermeabilizar e não ceder

área ajardinada? Pergunto-me se não deveriam ser as Câmaras

Municipais a pagarem multas a nós por não serem capazes de uma

política simples de sensibilizar e fazer preservar o solo com o maior índice de permeabilidade possível? Quantos mais exemplos serão necessários sobre impermeabilizações nefastas e desajustadas à saudavel ocupação do território? Podemos recordar o acontecido na Madeira, como podemos encontrar tantos outros registos... A conclusão, por mais precipitada que possa parecer é: A TERRA PRECISA DE RESPIRAR. NÓS PRECISAMOS DE RESPIRAR ANTES DE PRECISARMOS DE CONSTRUIR. Sejamos sensatos. ACOLHAMOS A SUPERFÍCIE PERMEÁVEL COMO ROSTO DE BELEZA. Albino

Quando o anticiclone regressa por instantes, tudo brilha, o ar está mais limpo e as pessoas estão mais felizes prontas para ver o sol novamente, saem das suas casas.Mas os bancos molhados impelem os faialenses a não parar de andar e andar, sempre com roupa adequada ao exercício físico que é: não ver televisão.Felizmente um grupo de designers coreanos encontrou uma solução simples.São bancos cujo assento é rotativo tendo sempre uma zona seca pronta a ser usada pelo transeunte. Tomás Melo

Nesta ilha todos os plátanos são podados anualmente.

Parece que não querem que cresçam muito para não estragarem nenhum bocadinho de alcatrão ou nenhuma sarjeta (bens tão preciosos para a nossa sociedade).

Não adoras os dias após uma tempestade?

As árvores não estão minimamente doentes e se as deixarem crescer

vão “ver” as estações do ano porque os plátanos vivem intensamente as

estações do ano.

No Outono as suas folhas tornam- -se amarelas e no Inverno perdem

a folhagem ficando totalmente despidos. Na Primavera enchem-se

de rebentos e folhas verde claras e no Verão ficam frondosos. Tomás Melo

Os Plátanos começaram a ser decepados. O que fazer?

,INTERVENCAO~

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TEATRO

CINEMA

6 FAZENDO + 6 A 20 OUT 2011

Dia 4 - 24/09/11 00:00

Na noite anterior tinha dormido mal, com a preparação da sala e da projecção. Adormeci de cansaço no meio dos testes da sala do Multiusos quando às 5h da manhã houve corte de electricidade na central eléctrica e voltei para o meu quarto. Às 9h da manhã já estava de volta, ainda a fazer ajustes na montagem. Saio para a rua e na rotunda do Ribeirão encontro o Jorge Barros, “o fotógrafo do Corvo” (há 20 anos a fotografar o corvo), estava nas Flores e veio ao Corvo de propósito para acompanhar e fotografar esta exibição. Tomo o pequeno almoço no bar dos Bombeiros e dizem-me que o Santa Iria (o barco de carga) não tinha vindo no dia anterior e está para chegar agora, com toda a carga. Há duas semanas que não vem com legumes, frutas, iogurtes, etc... Se bem me lembro do que filmei, a descarga do Santa Iria é demorada e envolve grande parte da população. São os produtos para as lojas e cafés e os produtos que as pessoas individualmente encomendam. O

policia marítimo telefona ao homem da grua e confirma-me, o Santa Iria vai chegar às 12h30. Penso: tenho a sessão do filme estragada. Com o Santa Iria ninguém vai poder ir ver o filme. Espero o pior. Se aparecer pouca gente, vou adiando o horário. Às 14h20, os primeiros espectadores: a Srª e o Srº Inês, a descerem a estrada. Depois o ex--baleeiro Fernando Pimentel. E durante 30 minutos, são muitos os grupos a chegarem, em família., pela rua da esquerda e pela rua da direita. É bonito vê-los a chegar. Há sol, a tarde está amena. Imaginava isto, uma reunião, um encontro Corvino. Às 15h já temos a sala cheia. Eu e o Didio falamos e, como se diz, “embarga-se-me a voz”. Relembro como aqui chegámos, vindos do nada, sem conhecer

ninguém, a entrar, pouco a pouco e cada vez mais, na vida das pessoas e sobretudo a voltar mais tarde. Digo que o filme é uma dedicatória de amor pela ilha, pela “nossa” descoberta da ilha. É estranho como passaram 4 anos perceber que já não estamos no Corvo para filmar. É ainda difícil assumir que fechámos a rodagem, que tudo parece ter um fim, que este Corvo de 2011 já é um outro Corvo e que o que vivemos pertence agora a um outro mundo. Acabo de falar e sei que há empatia, há sorrisos, não há desconfiança. Há todas as gerações nesta sala. Gostei de falar antes do filme, assim como falamos sempre antes de filmar.Esta sessão tem direito a intervalo, tem direito a um bar com pipocas, sumos e

A Velhaum espectáculo intenso, um actor prodigioso

Saio, exaurido, do Teatro Faialense, após ter apreciado o intenso monólogo do actor Miguel Borges, e pergunto--me: como é possível meter aquele papel todo na cabeça e dizê-lo àquele ritmo alucinante?

Escrita por Daniil Harms, “A Velha” é uma comédia negra, com laivos vanguardistas e transgressores, que dá conta de um escritor em crise de inspiração e de uma velha que morre durante uma visita a sua casa. Como recuperar a criatividade e como fazer desaparecer o corpo da velha para prosseguir com a sua vida e escrita, são os dilemas que animam uma história que Miguel Borges representa vertiginosamente. O actor transfigura--se, fala de forma torrencial, trabalha todos os registos, desdobra-se em personagens que se cruzam com o

Gonçalo Tocha, que já tinha filmado os Açores (Açores-terra, Açores-gente e Açores-rota-mar) em “Balaou”, longa-metragem documental de 2007,

terminou há pouco o seu mais recente filme “É na Terra não é na Lua”, um doc-diário sobre a ilha do Corvo. No mês passado voltou aos Açores para

mostrar o filme aos corvinos.

Enquanto o filme não chega aos faialenses (poderá chegar em breve), podemos ler esta pequena peça de narrativa poética que reflecte não só a ilha, mas também o acto de filmar, o tempo, a arte e a vida. São 5 pequenos textos, um por

cada dia passado no Corvo aquando do regresso para a exibição do filme.

Transcrevemos um deles, os restantes podem ser encontrados no sitewww.naterranaonalua.com, no separador “Diário Corvo”. Aurora Ribeiro

Corvo

azarado escritor, multiplica-se em acções, as emoções desencadeiam--se freneticamente, havendo uma articulação perfeita em tudo isto.

E tudo isto só é possível porque em Miguel Borges a arte é o domínio da técnica. Estamos perante o pleno domínio técnico do corpo, da voz, da expressão, da respiração, do gesto e até da transpiração. Neste actor histriónico, a capacidade inventiva do jogo cénico alia-se a uma enorme capacidade física. Decididamente este não é um papel para qualquer actor. Senhores, que grande espectáculo! Que soberba representação! Miguel Borges (que muitos só conheciam por via de um spot televisivo) é um imenso actor. O seu desempenho nesta “A Velha” ficará na nossa memória.Victor Rui Dores

cervejas (o café Traineira fechou para vir para aqui).Há momentos entusiásticos, surpresas a acontecimentos, reacções a pessoas que já não estão na ilha, risos a pequenas comédias da vila. No final aplaudem, muito. Há qualquer coisa que se completa no final destas 3 horas. Estava bonito o ambiente da sessão, foi bonito ver o filme desta maneira. Estou feliz e neste rasgo de felicidade genuína algo muda. É esta ilha dentro de mim, a sua imagem transformada e cristalizada. Do orifício da lente para um dia a dia completo que sei que será longo. Da aventura e da permanência, foi esta projecção que tudo decidiu. Como e porquê cheguei até aqui ainda é um mistério para mim. Gonçalo Tocha

Diário

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7 FAZENDO + 6 A 20 OUT 2011

‘Desperados’

O escritor Raul Brandão deixou--se fascinar pelo Corvo em 1924, chegando mesmo a escrever nas “Ilhas Desconhecidas”: “Aqui acabam as palavras, aqui acaba o mundo que conheço; aqui neste tremendo isolamento onde a vida artificial está reduzida ao mínimo só as coisas eternas perduram.” E, eis que muitos anos depois, Gonçalo Tocha, numa demanda às suas raízes açorianas e com o objectivo de a fixar em película, revela-nos a ilha mais pequena do arquipélago tal como um gorro tecido por quem ainda o sabe fazer. O título do filme “É na Terra não é na Lua” remete para o afastamento e isolamento deste lugar terrestre com 17 quilómetros e 440 habitantes, mas com alma de gigante guardada no meio do atlântico. Acreditemos também que o gorro corvino – que dá o mote e encerra o filme de Gonçalo Tocha - possa também sobreviver, para alegria e memória literária de Raul Brandão e ainda para o frio que paira nas nossas cabeças. Fernando Nunes

Fábulas de encantar em banda desenhada. A emancipação e a individualidade foram resgatadas. Ninguém nos diz o que fazer - por causa da liberdade. Tentativa e erro, condicionamento operante. Igualdade de oportunidades, criatividade ao alcance de todos. Percebemos ser da nossa responsabilidade evoluir espiritualmente. Diz-se que o amor nos apanha desprevenidos. Depois veio o Ozzy Osbourne para termos quem desprezar à luz da actualidade. Protegemo-nos com dietas “Generation Index” e produtos de agricultura biológica. Redimimos as nossas culpas com campanhas humanitárias. Tivemos tempo para descobrir o Paulo Coelho e tempo para

A tal crise que o país atravessa está a levar muitas pessoas a situações financeiras delicadas. Mas em vez de olharmos para essas situações como uma fatalidade sem resolução podemos encará-las antes como um exercício pessoal de auto-procura. Quando alguém é despedido a questão que surge naturalmente é: “E o que é que eu vou fazer agora?” mas e se as perguntas forem antes ”Será que o emprego estável que eu tinha nos últimos 5 anos era mesmo o que eu queria para a minha vida? Podia continuar feliz a fazer o mesmo nos próximos 25 anos?” Numa vida em que tudo é estável, o que é que nos faz avançar? O que é que nos faz levantar de um só pulo da cama com entusiasmo para começar o dia? Steve Jobs, o co-fundador da Apple Inc. (empresa multinacional norte- -americana de produtos electrónicos como Macintosh, iPod, iPhone e iPad), faleceu no passado dia 5 de Outubro. Esta notícia levou-me a conhecer um discurso feito por ele em 2005 para

Será o gorro

corvino eterno?

Quem és tu?E o que queres?

(da vida)uma plateia de jovensrecém licenciadosda Universidadede Stanford, nosEstados Unidos.A sua mensagem principal? “Não te acomodes, continua à procura” (Don´t settle, keep looking). E para percebermos o que ele queria dizer com isso é necessário conhecer um pouco da sua história pessoal. Jobs fundou a Apple com mais 2 sócios em 1976 e depois de uma história de sucesso, o crescimento crescente levou-o a contractar um grupo de pessoas para gerir a sua empresa. Com cerca de 40 anos foi despedido da própria empresa pela direção compelida pelas pessoas que havia contratado anos antes. Ele mesmo afirma ter sido devastador e que durante meses ficou sem saber o que havia de fazer. Mas que por mais que o seu pensamento fosse que tinha falhado em algo, continuava a adorar o que fazia. “Embora não o tivesse visto na altura, ter sido despedido da Apple Inc foi o melhor que me podia ter

acontecido. O peso de ser um sucesso foi substituído pela ligeireza de um novo recomeço, menos certo de tudo”, diz... e a partir desse evento, toda a sua vida mudou. Entre várias das suas realizações profissionais e pessoais fica a criação de várias empresas, como a Pixar Animation, o estúdio de animação actualmente com maior sucesso no mundo. “Tenho a certeza de que nada disto teria acontecido se não tivesse sido despedido da Apple. Por vezes a vida vai lançar um tijolo à tua cabeça...! Não percas a fé!”Partilho do mesmo sentimento: a paixão pelo que fazemos é a nossa força impulsionadora na vida e se acharmos que tudo está bem na nossa vida nunca iremos partir nesta procura do que realmente nos apaixona...Por isso: Questiona-te! Age! Muda! Sai à rua... Sílvia Lino

nos fartar dele. Confortáveis intervalos entre cada um dos “Senhor dos Anéis” (para não cansar as vistas). O Elvis já tinha passado de moda e a Cindy Crawford já é uma pirosa. A Nastassja Kinski afinal envelheceu. Produziram

o Matrix e mais estilos musicais do que gostos. O Mick Hutchence deixou que algo dentro dele o matasse.Como podemos não ser uma geração de desperados?Lara Topa Mendes

,INTERVENCAO~

No dia 7 do corrente partiram para a Horta, os estudantes cedrenses que vão continuar os seus cursos no Liceu Manoel d’Arriaga. São eles os nossos amigos, Srs Constantino Freitas do Amaral, Manuel Antonio Correia, Antonio Leal da costa, Francisco Leal da Costa, Victor Azevedo Betencourt. Saudamos os briosos estudantes e desejamos que colham os melhores resultados dos seus estudos.

Eco Cedrense 10 Outubro 1929grafia conforme o original

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Gatafunhos

AgendaFAIAL

até Sáb_29 Out.

Biblioteca PúblicaA REPÚBLICA E A CIÊNCIAexposição sobre cientistas açorianos

até Seg_31 Out.

10h às 18hFábrica da BaleiaHISTÓRIAS QUE VÊM DO MARexposição

10h às 18hFábrica da Baleia - Sala das FarinhasA BALEAÇÃO NO FAIAL - FASE INDUSTRIAL (1940-84)exposição

Sáb_15 e Dom_16 Out.

21h30Teatro FaialenseTRANSFORMERS 3filme de Michael BayIdade: M/12

Dom_16 Out.

17hTeatro FaialenseZé Colmeiafilme de Eric BrevigIdade: M/6

Tomás Melo

HoráriosHorta - Madalena

PICO

Ficha TécnicaFAZENDO - DIRECÇÃO GERALJácome Armas

DIRECÇÃO EDITORIAL Pedro Lucas

COORDENADORES TEMÁTICOS Albino, Anabela Morais, Carla Cook, Fernando Nunes, Filipe Porteiro, Helena Krug, Luís Menezes, Pedro Gaspar, Pedro Afonso, Rosa Dart, Tomás Melo

CAPAVitor Azevedo

COLABORADORES António da Vargem Perdigão, Cristina Lourido, Gonçalo Tocha, Lara Topa Mendes, Luís C. F. Henriques, Mano, Margarida Melo Fernandes, Miguel Valente, Pedro Valim, Sílvia Lino, Victor Rui Dores

REVISÃOSara Soares

PROJECTO GRÁFICOLia Goulart

COORDENAÇÃO GERAL E PAGINAÇÃOAurora Ribeiro

PROPRIEDADE Associação Cultural Fazendo

SEDE Rua Rogério Gonçalves, nº 18 9900 Horta

PERIODICIDADE Quinzenal

TIRAGEM 500 exemplares

IMPRESSÃO Gráfica O Telégrapho

[email protected] fazendofazendo.blogspot.com967567254

até Dom_16 Out.

19h30Salão do C. C. e Social da SilveiraOFICINA DE EXPERIMENTAÇÃO TEATRALInscrições: [email protected]

até Sex_11 Nov.

Câmara Municipal da MadalenaMATRIZES QUE O PICO VESTIUexposição de pintura

Sex_14 Out.

21h30Auditório Municipal das LajesTRANSFORMERS 3filme de Michael BayIdade: M/12

Sáb_15 Out.

17hAuditório Municipal das LajesZé Colmeiafilme de Eric BrevigIdade: M/6

,INTERVENCAO~

Margarida Melo Fernandes