análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

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FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ADMINISTRAÇÃO ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DO SETOR SUPERMERCADISTA BRASILEIRO: UMA VISÃO ESTRATÉGICA MARIANA PIRES DE CARVALHO E ALBUQUERQUE ORIENTADOR: PROF. DR. EDSON JOSÉ DALTO Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2007.

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Page 1: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM

ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA

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ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DO SETOR SUPERMERCADISTA BRASILEIRO:

UMA VISÃO ESTRATÉGICA

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Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2007.

Page 2: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

“ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DO SETOR SUPERMERCADISTA BRASI LEIRO: UMA VISÃO ESTRATÉGICA”

MARIANA PIRES DE CARVALHO E ALBUQUERQUE

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Administração Geral

ORIENTADOR: PROF. DR. EDSON JOSÉ DALTO

Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2007.

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“ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DO SETOR SUPERMERCADISTA BRASI LEIRO: UMA VISÃO ESTRATÉGICA”

MARIANA PIRES DE CARVALHO E ALBUQUERQUE

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Estratégia

Avaliação:

BANCA EXAMINADORA:

_____________________________________________________

PROF. DR. EDSON JOSÉ DALTO (Orientador) Instituição: IBMEC - RJ _____________________________________________________

PROF. DRª FÁTIMA CRISTINA TRINDDE BACELLAR Instituição: IBMEC - RJ _____________________________________________________

PROF. DR. PAULO ROBERTO DA COSTA VIEIRA Instituição: Estácio de Sá - RJ

Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2007.

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Albuquerque, Mariana Pires de Carvalho e. Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica / Mariana Pires de Carvalho e Albuquerque. - Rio de Janeiro: Faculdades Ibmec, 2007. Dissertação de Mestrado Profissionalizante apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração das Faculdades Ibmec, como requisito parcial necessário para a obtenção do título de Mestre em Administração. Área de concentração: Administração geral 1. Varejo (marketing). 2. Supermercados – Brasil - Grupo Pão de Açúcar. 3. Estratégia. 4. Vantagem competitiva.

658.87 A345

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v

DEDICATÓRIA

Ao Antonio, pelo amor incondicional que com muita paciência ajudou a tornar esse projeto em realidade.

Page 6: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

vi

AGRADECIMENTOS

À minha mãe, pela total compreensão nos momentos de ausência, pela força e amor

incomparáveis.

À minha irmã, pela paciência e solidariedade.

Ao meu padrasto, pelos oportunos e sábios conselhos.

Ao meu avô, por sempre acreditar em mim.

À minha avó, pelo carinho.

À Monica e Carlos Alberto, por sempre incentivarem-me a buscar meus objetivos.

Ao meu pai e a Denize, pelo amor.

Ao professor Dr. Edson Dalto, pela orientação do trabalho.

Page 7: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

vii

RESUMO

Esta dissertação se propõe a analisar a evolução do setor supermercadista brasileiro

evidenciando os movimentos estratégicos em busca da liderança do setor após a implantação

do Plano Real. A metodologia adotada está baseada em uma revisão bibliográfica da teoria

desenvolvida na área de estratégia e da evolução dos supermercados, apresentando os

modelos estratégicos, as diferentes definições e etapas evolutivas dos supermercados,

utilizando como referência o Grupo Pão de Açúcar. Após o confronto dos dados do Grupo

Pão de Açúcar com os elementos teóricos, constata-se que a empresa é líder do setor não

apenas pela sua estratégia mas pela sua visão ampla do mercado e da sua estrutura

organizacional.

Palavras Chave: Supermercados, estratégia, vantagem competitiva, Grupo Pão de Açúcar.

Page 8: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

viii

ABSTRACT

The purpose of this dissertation is to analyze the evolution of the supermarket segment,

focusing on the strategic movements towards its leadership after the Plano Real

implementation. The adopted methodology is based on the bibliographic review of the theory

developed in the strategy area and in the supermarkets’ evolution, by means of presenting the

strategic models, the different definitions and stages of the supermarket evolution, and always

taking as reference the Grupo Pão de Açúcar. After the comparison between the Grupo Pão de

Açúcar technical information and the theoretical doctrine, we shall conclude that the leader

company in the referred segment achieved such post not only for the adopted strategy, but

also for its ability to understand the segment and its own organizational structure.

Key words: Supermarket, strategy, competitive advantage, Grupo Pão de Açúcar.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Modelo de Cinco Forças de Porter..........................................................................22

Figura 2 - Três Estratégias Genéricas......................................................................................25

Figura 3 - Triângulo Estratégico..............................................................................................29

Figura 4 - Mapa de Atuação do Grupo Pão de Açúcar............................................................35

Page 10: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

x

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuição das Lojas do Grupo Pão de Açúcar por Formato...............................36

Tabela 2 - Ranking Mundial dos Supermercados (2006).........................................................45

Tabela 3 - Estrutura do Setor Supermercadista Brasileiro em 1989.........................................52

Tabela 4 - Estrutura do Setor Supermercadista Brasileiro em 1989.........................................61

Tabela 5 - Indicadores Financeiros do Grupo Pão de Açúcar..................................................68

Page 11: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

xi

LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Faturamento Total do Setor Supermercadista x Taxa de Crescimento do PIB (1989

a 1994)......................................................................................................................................52

Gráfico 2 - Faturamento Total do Setor Supermercadista x Taxa de Crescimento do PIB (1995

a

2006).........................................................................................................................................56

Gráfico 3 - Crescimento do Faturamento Total do Setor Supermercadista..............................59

Gráfico 4 – Market Share (2006)..............................................................................................61

Gráfico 5 – Participação dos Produtos Alimentícios e Não Alimentícios nas vendas Brutas..65

Gráfico 6 - Evolução da Distribuição por Formato de Loja x Vendas Líquidas Totais...........66

Gráfico 7 – Indicadores Operacionais do Grupo Pão de Açúcar..............................................69

Page 12: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

xii

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................1

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TRABALHO.........................................................1

1.2 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO......................................................................4

1.3 OBJETIVOS E IMPORTÂNCIA DA PESQUISA................................................5

1.4 ESCOPO DO ESTUDO..........................................................................................6

1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO.............................................................................7

2 REVISÃO DE LITERATURA...............................................................................8

2.1 VAREJO DE SUPERMERCADOS.......................................................................9

2.2 ESTRATÉGIAS E VANTAGENS COMPETITIVAS..........................................15

2.2.1 Competências Essenciais……………………………………………….......17

2.2.2 Escola de Posicionamento..…………………………………………………19

2.2.3 Visão baseada em recursos (Reosurce Based View – RBV)..........................26

2.2.4 Modelo Delta..................................................................................................27

2.3 O GRUPO PÃO DE AÇÚCAR...............................................................................30

2.3.1 Histórico...........................……………………………………………….......30

2.3.2 A Empresa...........................…………………………………………………34

Page 13: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

xiii

2.3.3 Formato das Lojas...........................................................................................36

3 METODOLOGIA....................................................................................................37

4 EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA DE SUPERMERCADOS..................................40

4.1 NO MUNDO...........................................................................................................40

4.4.1 Características Atuais.....................................................................................44

4.2 NO BRASIL............................................................................................................45

4.2.1 Brasil antes do Plano Real (até 1994).............................................................46

4.2.2 Brasil pós Plano Real (de 1995 a 2006)..........................................................54

4.2.3 Características Atuais......................................................................................59

5 O GRUPO PÃO DE AÇÚCAR................................................................................62

5.1 EVOLUÇÃO DAS VENDAS..................................................................................62

5.2 ANÁLISE DOS INDICADORES DE DESEMPENHO..........................................66

5.2.1 Indicadores Financeiros...................................................................................66

5.2.2 Indicadores Operacionais.................................................................................68

5.3 ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO GRUPO NO SETOR SUPERMERCADISTA

BRASILEIRO.................................................................................................................70

6 CONCLUSÃO............................................................................................................74

6.1 LIMITAÇÃO DO ESTUDO.....................................................................................76

6.2 SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS.......................................................77

REFERÊNCIAS BIBLIOFRÁCICAS........................................................................78

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1

1. INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TRABALHO

Os supermercados, inicialmente designados como lojas de auto-serviço1, surgiram no Brasil,

na década de 50, com as empresas paulistas ‘Sirva-se’ e ‘Peg-Pag’. Apesar de já extintas, esta

última é considerada pelos estudiosos2 do tema como a primeira grande cadeia de

supermercados brasileiros, por meio da qual se desenvolveu todo o know how que serviria,

futuramente, de base para as demais cadeias que a sucederiam, como, por exemplo, o Pão de

Açúcar.

Ultrapassada essa fase inaugural de implementação e expansão desenfreada dos domínios

territoriais, verificou-se nas grandes empresas supermercadistas, a partir da década de 80, uma

tendência oposta: reduzir-se o até então crescente número de estabelecimentos comerciais,

aumentando-se, em contrapartida, o tamanho físico dos estabelecimentos remanescentes. Em

outras palavras: optou-se por menos lojas, porém lojas que atendessem, na maior plenitude

possível, os anseios dos consumidores alvos.

1São lojas alimentares com a presença de caixas registradoras na saída da loja, carrinhos e cestas à disposição dos clientes( ROJO, 1998). 2 Associação Brasileira de Supermercados (Abras).

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2

Na verdade, se bem observado, os supermercados passaram – e continuam até hoje – a

impulsionar a criação de demandas que, no senso comum, transformaram-se em “primeira

necessidade”. E mais, a ida aos supermercados passou a ser considerada, em si mesma, uma

própria necessidade.

Nesse diapasão, importante se faz transcrever o bem lançado ponto de vista do professor

Francisco Weffort, à época Ministro de Estado da Cultura:

“Não se trata apenas de mudança econômica, material, já de si muito significativa.

Trata-se também de mudança de estilos de vida urbana, de mudança cultural que

acentua, junto com a propensão ao consumo, maior liberdade de movimento, e de

escolha das pessoas (...) Mas não tenho dúvidas quanto a um ponto: os

supermercados vão se incorporando, pouco a pouco, aos nossos hábitos e, deste

modo, vão ajudando a modernizar a cultura de nossa cidade”3 (ABRAS, 2002,

p.10).

Essa nova política, como já é possível antever, tinha como foco ampliar a oferta de produtos e

serviços aos consumidores e, conseqüentemente, majorar vendas. Para tanto, os

supermercados passaram a comprar em maior escala, o que, além de permitir a aquisição por

preços mais vantajosos, aumentou a variedade de produtos e, em decorrência, as almejadas

vendas, conforme empiricamente comprovado.

Vale destacar que o grupo Carrefour é considerado por muitos estudiosos4 como o pioneiro

nessa estratégia, a qual, mencione-se, permitiu-lhe conquistar, à época, a liderança no

mercado nacional de venda a varejo (ABRAS, 2002).

3 Weffort, Francisco, in Cinqüenta anos de supermercados no Brasil. São Paulo: 2002. 4 Associação Brasileira de Supermercados (Abras).

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3

No início da década de 90, a aceleração da inflação e a conseqüente perda do poder aquisitivo

da população, além dos sucessivos planos econômicos e o pífio crescimento do PIB, foram

fatores que ensejaram a redução da demanda nos supermercados. Nessa década, tanto o

faturamento quanto as vendas foram reduzidos a patamares preocupantes, os piores até então

verificados (ABRAS, 2002).

Ainda nessa década, mais precisamente no ano de 1994, foi implantado o Plano Real5, que,

como notório, ensejou a estabilização da economia e, destarte, propiciou às classes de baixa

renda aumentar o consumo geral, especialmente de bens de “primeira necessidade”, como

vestuário, alimentação e produtos de higiene pessoal.

Há que se abrir parêntese para destacar que o varejo brasileiro nunca mudou tanto como no

período subseqüente ao Plano Real. Mudanças essas fruto, principalmente, da abertura

comercial, integrante desse novo “pacote” econômico, a qual, além de aumentar o nível de

competitividade, trouxe um consumidor mais consciente e, conseqüentemente, mais exigente

e ciente de seus direitos6.

Fechado o parêntese, nota-se que essas alterações na política, tanto micro quanto

macroeconômica, importaram na premente necessidade de atualização, ou melhor, dizendo,

de adequação dos supermercados às novas demandas de seus clientes, tanto por melhores

produtos quanto por um atendimento de melhor qualidade.

5 O Plano Real foi implementado, inicialmente, por meio de Medidas Provisórias, que, após inúmeras vezes reeditadas, foram consolidadas, finalmente, pela Lei 9.069/95. 6 Além da abertura comercial, que permitiu aos consumidores “enxergarem” novos mercados e produtos, a conscientização dos consumidores também foi fruto do advento do Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078/90, que lhes deu um novo paradigma de direitos a serem exigidos.

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4

A esse respeito, cumpre notar que os atuais esforços de adequação têm, basicamente, se

concentrado na profissionalização das equipes, na informatização e na busca de informações

sobre o desempenho do estabelecimento (ABRAS, 2002).

Mas não é só. Essa nova realidade econômica redirecionou a atenção dos supermercados para

as atividades de compra e venda de mercadorias. Apesar de aparentemente contraditória –

afinal de contas, é natural pressupor-se que essa seria a principal atividade –, essa assertiva

tem por razão de ser o fato de que, no período pré Plano Real, no qual a inflação galopava a

passos largos, os consumidores se habituaram a, em uma única compra mensal, estocar

produtos. Diante disso, tornou-se mais vantajoso aos supermercados lucrarem com o capital e

não com o produto. Em outras palavras, a atividade era direcionada para o lucro financeiro.

Com a nova realidade econômica, porém, o lucro operacional, e não o financeiro, passou a

definir os novos planos estratégicos desse setor para alcançar um maior market share.

1.2 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

O trabalho está organizado da seguinte maneira: inicialmente será analisada a evolução dos

supermercados no mundo e no Brasil, demonstrando-se as novas estratégias e estruturas

utilizadas por estas empresas para se adequarem ao novo cenário mundial de concorrência,

cada vez mais acirrada pela guerra de preços.

Em seguida, será caracterizado o supermercado Grupo Pão de Açúcar, que, de acordo com o

ranking da revista SuperHiper de 2007, publicada pela Associação Brasileira de

Supermercados - ABRAS, está posicionado em primeiro lugar. Essa caracterização consistirá

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5

na apresentação dos dados financeiros e de mercado da empresa e, por meio deles, se poderá

melhor ilustrar a estratégia.

Finalmente, serão apresentados os posicionamentos e as diferenças estratégicas entre a

empresa estudada e o mercado.

Vê-se, portanto, que este estudo pretende facilitar o entendimento do setor, assim como

identificar os principais movimentos estratégicos da empresa e apresentar as possibilidades

para trabalhos futuros no cenário mais globalizado, o qual acarretará maior presença do

capital estrangeiro no mercado nacional, notadamente mediante instrumentos como fusões,

aquisições, joint-ventures e, ainda, a constituição de subsidiárias nacionais.

1.3 OBJETIVOS E IMPORTÂNCIA DA PESQUISA

A pesquisa que se propõe desenvolver por meio desta dissertação relaciona-se à indústria de

supermercados e visa a analisar (i) a evolução da indústria de supermercados até 2006, de

forma a apresentar seus principais fatores motivacionais de concorrência; (ii) historicamente o

supermercado Grupo Pão de Açúcar, aqui selecionado por estar na primeira posição no

ranking da revista SuperHiper de 2007, publicada pela Associação Brasileira de

Supermercados - ABRAS, focando nas principais mudanças pós Plano Real; e, por fim, (iii) o

posicionamento do Grupo Pão de Açúcar objetivando apresentar ao modelo estratégico

utilizado.

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6

Após a pesquisa na base de dados EBSCO até dezembro de 2006, notou-se que há

pouquíssimos artigos, dissertações ou papers que abordem o tema de estratégias em

supermercados no Brasil.

A participação no PIB total do setor de supermercados passou de 3,2% em 1994 para 5,3%

em 2006. Enquanto que nos Estados Unidos esse percentual é de 30 % (KUBAS, 2007). A

diferença de participação dos supermercados no PIB brasileiro e americano mostra quanto

esta área tem a melhorar no Brasil.

Note-se que o varejo de supermercados é utilizado, hoje, por mais de 90% da população

brasileira. Individualmente é a indústria com maior participação na geração de valor

adicionado da economia brasileira. Não bastasse isso, as grandes empresas componentes desse

setor já podem ser encontradas na relação das maiores empresas do país e, juntamente com o

avanço tecnológico, desempenham um papel importante na modernização do sistema de

distribuição da economia brasileira.

Tendo em vista essas constatações, é de fundamental importância o correto e aprofundado

entendimento do varejo de supermercado, assim como a disponibilidade de novos indicadores

destinados a mensurar, a evolução dessa importante atividade econômica.

1.4 ESCOPO DO ESTUDO

Esta dissertação pretende realizar uma análise histórica do Grupo Pão de Açúcar de maneira a

identificar o modelo estratégico utilizado pós Plano Real.

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7

Em nenhum momento serão desenvolvidos novos instrumentos e indicadores para mensurar o

desempenho e a eficiência dos supermercados. O estudo limitar-se-á aos dados apresentados

na edição anual da revista SuperHiper de 2007 e publicações de notícias da empresa em

jornais, revistas e em seu site institucional.

A intenção aqui proposta, vale frisar, não é apresentar dados da citada empresa para a

realização de um estudo de caso, mas sim ilustrar os movimentos estratégicos do setor

supermercadista tendo essa empresa como referência.

1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

Este estudo abrange a teoria e a prática de estratégias dos supermercados, mas não, contudo,

as diferentes aplicações de estratégia que os supermercados praticam nas diferentes linhas de

produtos.

O trabalho se dará por meio de uma pesquisa exploratória apoiada em dados secundários.

dados de mercado e relatórios da empresa estudada.

A empresa que será utilizada como referência neste trabalho foi selecionada por ser a número

1 (um) do Ranking dos Maiores Supermercados, conforme publicação anual realizada pela

Associação Brasileira de Supermercados.

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8

2. REVISÃO DE LITERATURA

Dentre as diversas peculiaridades que caracterizam o setor varejista, uma que merece ser aqui

destacada é a ausência de univocidade, tanto no meio acadêmico quanto nos órgãos oficias e

representativos, acerca da classificação de suas espécies.

De fato, o setor pode ser classificado sobre diversos enfoques, entre outros, pelo tipo de

consumidor final, pelo tamanho das lojas, pela presença e quantidade de checkouts, ou, ainda,

pelos processos de venda, que podem ser direta ou indireta.

Saliente-se, contudo, que, a despeito desse vasto leque de possibilidades e incertezas, o varejo

de alimentos – que será aprofundado neste trabalho – é exceção a essa regra, porquanto,

graças ao empenho da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), possui conceitos

precisamente definidos e estatísticas bem fundamentadas.

Assim, a revisão de literatura abrangerá os conceitos e definições mais importantes sobre o

setor de varejo, genericamente considerado, assim como de sua aqui pertinente subespécie: o

varejo de supermercados.

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Alcançará, também, a revisão sobre a escola de posicionamento e os modelos de estratégia

por ela adotados e o Modelo Delta de maneira a, com isso, permitir a melhor compreensão das

estratégias dos supermercados.

Esses assuntos que serão, ainda que brevemente, abordados nos itens subseqüentes.

2.1 VAREJO DE SUPERMERCADOS

Varejo é, basicamente, o negócio econômico final, em uma cadeia de distribuição produtiva,

que liga os fabricantes aos consumidores. Este o ciclo: os fabricantes fazem produtos para

vendê-los a varejistas ou atacadistas. Os atacadistas compram produtos de fabricantes para

revendê-los a varejistas, enquanto estes, a seu turno, revendem os produtos adquiridos aos

consumidores finais. A função do atacado é, como se vê, a satisfação das necessidades de

varejos, enquanto a dos varejos é satisfazer as necessidades de consumidores finais.

A despeito da aparente simplicidade do ciclo acima exposto, e da fácil compreensão de seu

significado, ao se passar para o plano acadêmico – no qual o conhecimento empírico cede

lugar à abordagens científicas, que importam em um maior aprofundamento teórico – o

cenário muda radicalmente, porquanto a doutrina digladia-se acerca do conteúdo material da

atividade varejista, apresentando-lhe diversas definições, muitas das quais subdivididas por

tipos e elementos caracterizadores.

Por ser assim, importa-nos ilustrar algumas dessas diversas definições, cujo conhecimento,

como é fácil constatar, se apresenta como premissa indispensável à compreensão do tema

objeto da dissertação.

Page 23: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

10

Na visão de Levy e Weitz (1998), por exemplo, a atividade de varejo deve ser considerada

como o conjunto de operações que adiciona valor a produtos e serviços vendidos para

consumidores, seja para seu uso pessoal, seja para uso familiar. Saliente-se que, para o autor,

as atividades varejistas também abrangem as vendas de serviços, tais como a hospedagem em

um hotel e a locação de fitas de vídeo.

Kotler (1994), por sua vez, inclui no conceito de varejo todas as atividades relacionadas à

venda de bens ou serviços diretamente aos consumidores finais, limitadas essas vendas,

porém, a produtos ou serviços de uso pessoal do cliente. É irrelevante para o conceito por ele

apresentado, portanto, os seguintes aspectos: para quem, como e onde são vendidos esses

produtos.

Esse autor, a despeito de mencionar o crescente número de classificações para o setor, adota

uma classificação escorada nos seguintes elementos: (a) varejo sem loja, (b) organizações de

varejo e (c) as lojas de varejo.

Assim, segundo a classificação por ele proposta, o varejo sem loja, espécie do gênero varejo,

seria caracterizado pelos seguintes tipos:

(i) Venda direta: sistema de vendas porta-a-porta, no qual o vendedor compra do

fabricante a preço de atacado e revende pelo preço por aquele sugerido. Um exemplo

disso é a Natura, que utiliza consultoras para apresentar e vender seus produtos, assim

como impõe o preço de venda ao consumidor final;

(ii) Venda por máquina: sistema que utiliza de máquinas automáticas, com número

limitado de produtos, na qual o cliente escolhe o que deseja, dentre as opções

Page 24: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

11

oferecidas, e paga o respectivo preço por meio da própria máquina, sem o auxílio,

portanto, de vendedores. Exemplo clássico é o das máquinas de refrigerantes; e

(iii) Serviços de compra.

Por sua vez, o segundo elemento caracterizador, ou seja, as organizações de varejo, também

chamadas de varejo corporativo, seria consubstanciado nestes tipos:

(i) Redes Corporativas;

(ii) Cooperativas7 de varejo: são entidades organizadas com o intuito de permitir que

seus associados executem as funções de atacado e, ainda, de fabricação de produtos.

Nesse modelo os cooperados realizam suas compras por meio da cooperativa - pessoa

jurídica com personalidade própria, distinta da de seus membros - e planejam

conjuntamente o trabalho de propaganda e divulgação dos produtos que

comercializam;

(iii) Cooperativas de consumidores;

(iv) Franchising8: sistema por meio do qual determinada empresa (franqueadora),

possuidora de know-how de produção ou distribuição de determinado produto ou

serviço, normalmente também possuidora de marca conceituada, cede a terceiros

(franqueados), detentores de capital, o direito exclusivo de distribuição de seus

7 Nos termos da Lei 5.764/71, que define a Política Nacional de Cooperativismo, celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de lucro. O artigo 4º dessa Lei acrescenta que as cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas à falência e constituídas para prestar serviços aos associados. 8 Consoante o artigo 2º da Lei 8955/94, que dispõe sobre o contrato de franquia empresarial, esta é “o sistema pelo qual um franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, também ao direito de uso de tecnologia de implantação e administração de negócio ou sistema operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta, sem que, no entanto, fique caracterizado vínculo empregatício”.

Page 25: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

12

produtos ou serviços em determinado local ou região, por determinado período de

tempo, seguindo os padrões de operação impostos por aquela; e

(v) Conglomerado de comercialização.

Finalmente, o terceiro elemento caracterizador (lojas de varejo) seria classificado consoante

os diferentes tipos de lojas:

(i) Lojas de especialidade: comercializam restritas linhas de produtos, porém com

grande sortimento de variedades dentro dessa linha;

(ii) Lojas de departamento: comercializam diversas linhas de produtos, sendo cada

linha operada como um departamento separado e administrada por compradores

especializados;

(iii) Supermercados: grandes organizações que, além de operarem com baixo custo,

margem pequena, volume elevado e auto-serviço, se destinam a atender as

necessidades totais dos consumidores, relativas especificamente a alimentos, higiene

pessoal e limpeza;

(iv) Lojas de conveniência: pequenas lojas, localizadas próximas a áreas residenciais,

que vendem uma linha limitada de produtos e serviços, porém com alta rotatividade;

(v) Hipermercados: grandes espaços de vendas, visando a atender as necessidades

totais dos consumidores, oferecendo não apenas alimentos, higiene pessoal e limpeza,

como também diversos outros serviços e bens de consumo, duráveis ou não;

(vi) Lojas de desconto: vendem mercadorias padronizadas a preços mais baixos,

porquanto trabalham com grande volume e margens baixas;

(vii) Varejos de liquidação: trabalham da mesma forma que as lojas de desconto,

porém com preços de atacado, margens menores e sortimento variável; e

Page 26: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

13

(viii) Centros comerciais: geralmente localizam-se nas áreas mais antigas das cidades,

nas quais há intenso tráfego de veículos, e comercializam os produtos mais

tradicionais.

Outros autores, como Dune e Lusch (1999), limitam-se a identificar o varejo como uma

atividade final e procuram definir os passos necessários para se colocar a mercadoria acabada

nas mãos do consumidor. Assim, apresentam um esquema no qual são propostos cinco

critérios diferenciados para classificar o varejo:

(i) Códigos Industriais do Censo Americano: classifica as empresas de acordo com o

código das indústrias a que pertencem; esse código é chamado de SIC (Standard

Industrial Classification). Os varejistas, por sua vez, são colocados em três grupos:

SIC com dois dígitos, com três dígitos e com quatro dígitos;

(ii) Número de lojas: leva em consideração o número de lojas que possuem. Classifica

o setor conforme tenha uma unidade, de duas a dez unidades e mais de onze unidades;

(iii) Características da margem e do giro: subdivide-se em quatro possibilidades:

margem baixa com giro baixo, margem baixa com giro alto, margem alta com giro

baixo e margem alta com giro alto;

(iv) Localização das lojas: subdivide-se em (a) tradicional, como as localizadas nas

ruas ou em shopping centers, e (b) não tradicionais, como as recentes e inovadoras

lojas virtuais; e

(v) Tamanho das empresas: leva em conta o tamanho das empresas sob duas óticas:

volume de vendas e número de funcionários.

Finalmente, há que se mencionar a conceituação apresentada por Parente (2000), para quem a

classificação de varejo deve, inicialmente, definir as empresas de acordo com o tipo de

Page 27: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

14

propriedade: independentes, cadeias, franquias, alugadas, propriedade de um fabricante ou

atacadista.

Em seguida, e da mesma maneira que Kotler (1994), Parente (2000) define o varejo com base

em dois elementos caracterizadores: (a) varejo com loja e (b) varejo sem loja.

O primeiro elemento, varejo com loja, seria sub-classificado em três espécies:

(i) Varejo alimentar: bares, mercearias, padarias, minimercados, supermercados,

hipermercados, lojas de conveniência, clubes atacadistas, etc;

(ii) Varejo não alimentar: lojas especializadas, lojas de departamento, lojas de fábricas,

magazines, etc; e

(iii) Varejo de serviços: por se tratar de venda de produtos intangíveis, o consumidor

não adquire a posse dos bens comprados, mas sim seus benefícios. Diante disso,

Parente (2000) classifica essa espécie de varejo a partir de alguns critérios, como o

grau de tangibilidade, o grau de competência, a intensidade da mão-de-obra, o grau de

contato com o cliente e, finalmente, por objetivo.

Seguindo a classificação proposta, os varejistas sem lojas seriam sub-classificados nestas

espécies: marketing direto, venda direta, máquina de venda automática e varejo virtual.

Postas, ainda que em breves linhas, as principais definições, classificações e tipos de varejo

lançados pela doutrina, cumpre agora abordar, especificamente, o conceito de varejo

alimentar, o qual, como já adiantado acima, consubstanciará o foco deste estudo acadêmico.

Page 28: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

15

Pois bem. A definição mais utilizada de varejo alimentar é dada por Nielsen (1997), que a faz

tendo em vista as lojas que comercializam alimentos: (i) auto-serviço, caracterizada pela

presença de checkout9, carrinhos e cestas; e (ii) tradicional, caracterizada pela presença de

balconistas ou vendedores.

Ressalte-se, finalmente, que os supermercados, tratados neste estudo, se enquadram na

característica de auto-serviço alimentar, porquanto oferecem uma ampla variedade de

produtos como mercearia, carnes frescas, hortifrutícolas, frios e laticínios, perfumaria e

limpeza.

2.2 ESTRATÉGIA E VANTAGENS COMPETITIVAS

Uma empresa está inserida em uma rede de sistemas sociais, culturais, tecnológicos e físicos,

os quais constituem o seu ambiente, e esta é uma combinação complexa de fatores, sendo

importante para a empresa ajustar suas estratégias e estrutura para responder da melhor forma

as condições mutáveis do ambiente.

De uma maneira geral, o conceito de estratégia é uma variável da relação entre a empresa e o

seu ambiente.

Henderson (1998) faz uma arguta comparação entre a origem da estratégia e a origem da

própria vida:

“... na competição comercial, o acaso aleatório é provavelmente o fator mais importante e mais abrangente. O acaso determina as mutações e variações dos organismos unicelulares que sobrevivem e florescem de geração em geração. As que

9 Na definição de Nielsen, checkout é um balcão na saída da loja com caixa registradora, terminal de ponto de venda e máquina de calcular.

Page 29: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

16

deixam relativamente poucos descendentes são deslocadas. As que melhor se adaptam deslocam as demais. As características físicas e estruturais evoluem e se adaptam para melhor corresponder ao ambiente competitivo”.

As empresas, para continuarem existindo e serem competitivas, necessitam ser adaptáveis ao

seu ambiente, ou seja, devem perceber os sinais ambientais e tê-los como referenciais para o

desenvolvimento de suas atitudes.

O ambiente é uma dos principais fatores para poder compreender a empresa em si. É evidente

que toda empresa depende de seu ambiente, e cada uma adota estratégias internas para

aprender a responder da maneira diferenciada às pressões ambientais percebidas.

Autores como Ansoff (1977) definem estratégia como sendo um conjunto de regras de tomada

de decisão. Outros, como Mintzberg et al (2000), tratam estratégia como a utilização mais

sofisticada da experiência militar nos negócios:

“... a estratégia eficaz desenvolve-se em torno de uns poucos conceitos e golpes-

chave, os quais lhe dão coesão, equilíbrio e foco, e também um senso de

posicionamento contra um oponente inteligente”. (QUINN apud MINTZBERG,

2000)

A definição proposta por Katz (1970), a seu turno, apresenta a estratégia como uma relação

entre a empresa e seu meio-ambiente. Na verdade, esse autor vai além, pois sustenta ser uma

relação atual da situação estratégica e da relação futura do plano estratégico para conseguir

atingir suas metas e objetivos.

Henderson (1998) propõe uma definição mais objetiva, por meio da qual sustenta que a

estratégia é um processo interativo de reconhecimento de quem somos e do que temos nesse

Page 30: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

17

momento, de maneira a, com isso, desenvolver e ajustar a vantagem competitiva de uma

empresa através de dedicação e comprometimento.

2.2.1 Competências Essenciais

Para melhor esclarecer o funcionamento das estratégias, faz-se impositivo compreender,

ainda, o conceito de competências essenciais e a maneira como elas podem contribuir para a

manutenção de uma estratégia eficaz.

Competências essenciais (core competences) são definidas pelos recursos e pela capacidade

de geração de fonte de vantagem competitiva de uma empresa em relação a seus concorrentes

(PRAHALAD & HAMEL, 1998).

As cores competences possuem três características básicas: são difíceis de serem imitadas, são

essenciais para oferecer produtos e serviços diferenciados e, ao mesmo tempo, são fatores de

aprendizado que agregam valor ao futuro da empresa.

Comparativamente, as competências essenciais são partes de uma estrutura que molda a

empresa, ou seja, que molda sua atuação, posição, esforços e conquistas para se estabelecer no

mercado. Assim sendo, são as atividades que fazem com que a empresa se destaque frente a

seus concorrentes, as quais acabam por se transformar em aprendizado e a agregar valor à

empresa.

Page 31: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

18

Ressalte-se que, ao mesmo tempo em que existem competências essenciais positivas, existem

competências essenciais negativas, que, estas, podem ser caracterizadas pela falta de um

determinado recurso, cuja ausência prejudica o desempenho da empresa.

Torna-se, portanto, necessário, por parte das empresas, a identificação das competências

essências. Isto é, a empresa que for capaz de desenvolver e explorar novas competências, e

com mais rapidez, será capaz de obter retornos maiores e, conseqüentemente, de possuir

vantagem frente a seus concorrentes.

Hitt et al (2003) citam dois instrumentos para ajudar na identificação de competências

essenciais:

1. A utilização de quatro critérios: todas as competências que não preencherem os quatro

critérios de vantagem competitiva sustentável não serão consideradas estratégias, ou seja,

essenciais:

• Capacidades valiosas: são aquelas que geram valor para empresa, explorando as

oportunidades e neutralizando as ameaças;

• Capacidades raras: como o próprio nome já diz, são aquelas competências que poucos

ou nenhum outro concorrente possui;

• Capacidades de imitação dispendiosa: são aquelas que os concorrentes não conseguem

copiar com facilidade; e

• Capacidades insubstituíveis: são aquelas que não existem iguais.

2. Análise da cadeia de valor: modelo utilizado para compreender a posição da empresa em

custos e identificar os meios para implementação de uma nova estratégia comercial. Para

tanto, as atividades da empresa são divididas em (a) primárias, diretamente relacionadas

ao processo de produção e entrega do produto ou serviço ao cliente, e (b) de suporte, que,

Page 32: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

19

como o nome já deixa antever, servem para apoiar as atividades primárias. Nesse sentido,

os lucros da empresa estão baseados na forma de gerenciamento da cadeia de valor.

Em reforço ao que ora é dito, Prahalad e Hamel (1990) afirmam que uma grande fonte de

vantagem competitiva está na capacidade dos gerentes das empresas em harmonizar os

recursos tecnológicos com as habilidades produtivas, transformando-os em competências

essenciais que ajudam o negócio da empresa a ganhar força e a responder rapidamente às

mudanças internas e externas.

Com a complementação das definições de competências essências e vantagem competitiva,

Hitt et al (2003) acrescentam que estratégia é um conjunto integrado e coordenado de

compromissos e ações, cujo objetivo é explorar as competências essenciais e alcançar

vantagem competitiva. Dessa maneira, uma estratégia eficaz ordena, integra e aloca os

recursos, capacidades e competências da empresa para enfrentar com sucesso seu ambiente

externo.

A chave para o sucesso, destarte, está em não se ater a uma idéia fixa e única do que seja sua

vantagem competitiva; como bem ponderou Stalk (1998) os melhores concorrentes sabem

como estar sempre em movimento e se manter à frente.

2.2.2 Escola de Posicionamento

Deve ser esclarecido, desde logo, que Mintzberg et al (2000) estabelecem as escolas de

estratégia de acordo com as diferentes naturezas de estratégia. Três, na visão desses autores,

são os grupos em que podem ser agrupadas essas escolas:

Page 33: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

20

• Natureza Prescritiva: neste grupo, a classificação leva em conta a maior preocupação

na forma como as estratégias devem ser formuladas. Nele podem ser enquadradas as

seguintes escolas:

(a) do Design: se preocupa em definir a estratégia como um processo deliberado, por

meio do qual a responsabilidade por sua criação é integralmente suportada pela alta

direção da empresa, a qual também é responsável por sua respectiva execução, que

deve se dar de forma simples e informal, resultando em uma estratégia que pode ser

compreendida com o seguinte mote: “primeiro formule, depois implemente”

(Mintzberg et al, 2000);

(b) do Planejamento: a estratégia faz parte de um processo controlado, consciente e

formal, em que a responsabilidade por sua criação é da alta direção, mas cuja execução

é transferida aos planejadores, que devem implementá-la por meio de objetivos,

orçamentos e planos; e

(c) do Posicionamento; a estratégia é um processo analítico cuja principal função é a

busca pela defesa de posições no mercado, o qual é visto como econômico e altamente

competitivo.

• Natureza Descritiva: neste grupo a classificação tem como foco a descrição de como

as estratégias são formuladas, diferentemente do grupo de Natureza Prescritiva, para o

qual o foco está na prescrição da formulação das estratégias. Descrevem o processo

em termos da criação da visão, o qual pode ser agrupado nas seguintes categorias (a)

empreendedora, derivada da teoria econômica e o foco não está em saber como o

capitalismo administra as estruturas existentes, mas sim como as cria ou destrói

(Schumpeter), (b) cognitiva, como o processo mental individual em que se estuda os

erros e as crenças produzidos pelo senso comum, associando, para tanto, os processos

Page 34: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

21

individuais aos coletivos; (c) aprendizado, como o processo emergente da integração

entre a visão e o aprendizado individual e dos outros agentes; (d) poder, tem sua

formação como processo de negociação e a formulação como processo político; (e)

cultural, como processo coletivo enraizado na cultura da organização, e, por último, a

escola (f) ambiental como processo reativo na qual a iniciativa está no ambiente

externo da organização.

• Natureza de Integração: apenas a escola da Configuração está neste grupo. Por meio

dela afirma-se que a formação das estratégias é um processo de transformação; a

estratégia é vista como mudança e continuidade.

Com base nessas descrições das escolas, apresentadas por Mintzberg et al (2000), analisar-se-

ão as perspectivas da Escola de Posicionamento, a qual pode ser compreendida no livro

Estratégia Competitiva, de Michael Porter (1979). Esclareça-se, por oportuno, que essa escola

sustenta a formulação da estratégia, mais do que um processo descritivo do procedimento,

impõe a análise do conteúdo real da forma como a empresa se encontra no mercado. Ademais,

essa escola ratifica que a posição da empresa no mercado é de fundamental importância para

se propiciar o destaque ante os demais concorrentes.

A propósito do assunto, vale mencionar que Porter, ao definir o conceito de estratégia,

enfatiza que a mesma, para sua correta compreensão, precisa ser harmonizada pelo Modelo

das Cinco Forças.

Por meio desse Modelo, compreende-se que, em qualquer indústria, as regras da concorrência

estão ligadas à existência de cinco forças: poder de barganha, tanto (i) dos fornecedores,

Page 35: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

22

quando dos (ii) clientes; das ameaças (iii) de produtos ou (iv) serviços substitutos e,

finalmente, (v) dos novos entrantes.

O conhecimento dessas forças básicas propicia o embasamento preliminar necessário à

elaboração de uma estratégia de ação. O objetivo estratégico da empresa, assim, há de

encontrar uma posição no setor que lhe permita se defender dessas forças ou, ao menos,

influenciá-las a seu favor.

Essa metodologia capacita a percepção da complexidade do ambiente interno e,

principalmente, externo de cada empresa e dos fatores críticos para concorrer em uma

indústria, bem como permite a identificação de inovações e melhorias para a obtenção de uma

maior rentabilidade.

A Figura 1 abaixo apresenta como o Modelo de Cinco Forças, desenvolvido por Porter,

influencia um setor.

Figura 1 - Modelo de Cinco Forças do Porter (Adaptado) Fonte: PORTER (1991)

1. Ameaça de Novos Entrantes – Os novos entrantes trazem um novo fôlego, novas

capacidades e vontade de ter participação no mercado. Todavia, esses novos entrantes

Concorrentes na indústria

Intensidade da rivalidade

Fornecedores Compradores

Substitutos

Novos Entrantes

Concorrentes na indústria

Intensidade da rivalidade

Fornecedores Compradores

Substitutos

Novos Entrantes

Concorrentes na indústria

Intensidade da rivalidade

Fornecedores Compradores

Substitutos

Novos Entrantes

Page 36: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

23

possuem barreiras (economias de escala, diferenciação do produto, necessidades de

capital, desvantagens de custo, acesso a canais de distribuição e política governamental) e

dependem da reação dos concorrentes existentes;

2. Poder de Barganha de Fornecedores – Os fornecedores podem exercer seu poder

aumentando preços ou reduzindo a qualidade das mercadorias e serviços oferecidos;

3. Poder de Barganha dos Clientes – Os clientes podem forçar os preços para baixo,

demandar maior qualidade ou novos serviços;

4. Ameaça de Produtos ou Serviços Substitutos – Pode ocorrer com a criação de um limite

aos preços a serem cobrados, ou com a criação de uma força para investir em uma nova

tecnologia de produto, processo ou modelo de negócio, quando produtos de novos surgem

no mercado;

5. A competição interna do setor é função dos fortes e numerosos concorrentes, do

crescimento da indústria, dos custos fixos, dos custos de mudança, da complexidade

informacional, dos interesses empresariais e barreiras de saída. Conquanto muitas vezes

esses diversos fatores tornem difícil o avanço da empresa, pode existir algum espaço para

melhorias através de mudanças estratégicas.

Porter (1991) sustenta que as escolhas de posicionamento determinam, não somente quais

atividades a empresa desempenhará e como essas atividades serão configuradas, mas também

como ambas se relacionarão entre si. Isso reforça a questão da relação da organização interna

com o posicionamento competitivo; a perspectiva de fora para dentro.

Dessa forma, quanto melhor for o posicionamento da empresa, mais representativa será sua

rentabilidade. Isto é, o posicionamento indica se a rentabilidade da empresa está acima ou

Page 37: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

24

abaixo da média da indústria. Logo, para uma empresa obter um desempenho acima da média

ela necessariamente precisará ter uma vantagem competitiva.

A esse respeito, deve ser esclarecido que vantagem competitiva sustentável é aquela que uma

determinada empresa possui e que seus concorrentes dificilmente conseguirão copiá-la.

Porter (1989) descreve que a vantagem competitiva pode ser obtida através de três tipos de

estratégias genéricas: baixo custo, diferenciação e enfoque. Contudo, para que as estratégias

funcionem é impositivo se estabelecer dois elementos fundamentais: objetivos e meios.

Aqueles impõem o direcionamento que terá a estratégia; estes, os meios, devem ser

claramente definidos. Sua definição deve contemplar: a meta geral, o tipo de melhoria

desejada, a meta numérica e o prazo no qual os objetivos devem ser atingidos. Ansoff (1991)

afirma que, devido à atual dinâmica do mundo dos negócios, os objetivos, isoladamente

considerados, são insuficientes como regras de tomada de decisão para guiar a estratégia da

empresa, na medida em que esta se adapta a novos desafios, ameaças e oportunidades.

Precisa-se, então, da análise dos meios como complemento para o desenho de estratégias.

Hitt et al (2003) definem um universo de quatro estratégias genéricas de âmbito de negócios

para estabelecer e explorar uma vantagem competitiva dentro de um alcance competitivo

específico: liderança em custos, diferenciação, liderança em custos focada e diferenciação

focada.

Porter (1989) completa que cada estratégia genérica combina uma escolha sobre o tipo de

vantagem competitiva buscada com o escopo do alvo estratégico onde ela deve ser alcançada.

As estratégias de liderança de custo e diferenciação buscam a vantagem competitiva em um

Page 38: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

25

limite amplo de segmentos, enquanto a estratégia de enfoque objetiva a vantagem de custo ou

uma diferenciação num segmento limitado.

A seguir a Figura 2 demonstra as Três estratégias genéricas de Porter.

Figura 2 - Três Estratégias Genéricas Fonte: PORTER (1989)

1. Liderança em custos – permite à empresa produzir ou fornecer bens ou serviços a custos

menores que o da concorrência e ainda a manter características aceitáveis pelo cliente. Os

líderes em custo costumam trabalhar com margens maiores que as da concorrência,

possibilitando a absorção de novos aumentos de preços pelos seus fornecedores. Com a

entrada de produtos substitutos, seriam também capazes de oferecer preços mais reduzidos

e produtos e serviços com a mesma qualidade, de maneira que seus clientes ainda os

prefiram diante dos novos produtos;

2. Diferenciação - permite à empresa produzir ou fornecer bens ou serviços, que na

percepção do cliente apresentem diferenças importantes. Para isso, “... a empresa deve ser

genuinamente singular em algo ou deve ser percebida como única” (Porter, 1985). As

empresas líderes em diferenciação destinam investimentos contínuos na criação e no

1. Liderança de Custo

2. Diferenciação

3b. Enfoque na Diferenciação

3a. Enfoque no Custo

Alvo Estreito

Alvo Amplo

Custo mais Baixo Diferenciação

VANTAGEM COMPETITIVAE

SC

OP

O C

OM

PE

TT

ITIV

O

1. Liderança de Custo

2. Diferenciação

3b. Enfoque na Diferenciação

3a. Enfoque no Custo

Alvo Estreito

Alvo Amplo

Custo mais Baixo Diferenciação

VANTAGEM COMPETITIVAE

SC

OP

O C

OM

PE

TT

ITIV

O

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26

desenvolvimento de características que permitam diferenciar um bem ou serviço,

valorizando-o para o cliente;

3. Enfoque – Diferente das anteriores, esta estratégia é baseada na escolha de um restrito

ambiente competitivo dentro de uma determinada indústria. A empresa, assim, adapta sua

estratégia para atender um nicho específico. O enfoque pode ser realizado de duas

maneiras, (a) no custo: uma empresa procura vantagem de custo no seu segmento, e (b) na

diferenciação.

Hitt et al (2003) citam a quarta estratégia, que seria a integração da estratégia de liderança em

custos com a diferenciação, desenvolvida a partir de esforços de uma organização para

identificar as formas mais eficazes de explorar suas vantagens competitivas.

A eficácia de cada estratégia dependerá das oportunidades e ameaças que possam existir no

ambiente externo da empresa e das competências essenciais da mesma.

Outro ponto importante é saber em qual estrutura da indústria as estratégias genéricas são

construídas. Existe um equilíbrio entre as estratégias e qualquer mudança estrutural pode

ameaçar a sustentabilidade de uma determinada delas ou até mesmo da vantagem competitiva

dela resultante.

2.2.3 Visão baseada em Recursos (Resource based view – RBV)

Fleury & Fleury (2003) citam uma abordagem alternativa construída a partir da “visão da

empresa baseada em recursos” (Resources based view of the firm). Esta abordagem considera

que portifólio de recursos (físicos, financeiros, intangíveis, organizacionais e recursos

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27

humanos), presente em toda empresa, é a base para criação de vantagens competitivas.

Dierickx & Cool (1989) ressaltam, contudo, que, apenas os recursos que não são negociáveis,

inimitáveis e insubstituíveis, são considerados como vantagem competitiva. Ou seja, cada

empresa difere de forma fundamental em seu modo de operar porque cada uma possui um

agrupamento singular de recursos.

Prahalad & Hamel (1998) defendem essa abordagem, sustentando que a definição das

estratégias competitivas deve partir das possibilidades estratégicas de serem operacionalizadas

e sustentadas por tais recursos. Caracterizando essa abordagem “de dentro para fora”.

Outro ponto da visão baseada em recursos é que essa abordagem é mais incrementalista,

funcionando como uma forma de aprendizagem e experiência corporativa em termos de

combinar maior eficiência e mudanças (FLEURY & FLEURY, 2003).

Em ambas as escolas, de posicionamento e de visão baseada em recursos, o foco principal é a

busca por vantagens competitivas sustentáveis e pela superação dos concorrentes. Na

primeira, a vantagem competitiva é obtida através de uma análise “de fora para dentro”

colocando a análise da indústria e de suas forças e a visão baseada em recursos com uma

visão “dentro para fora” mantendo o foco nos recursos da firma e suas competências. Assim,

nenhuma delas coloca o consumidor como fator essencial para formulação estratégica.

2.2.4 Modelo Delta

Em 2000, Hax & Wilde divulgaram uma pesquisa realizada durante quatro anos com cem

empresas dos Estados Unidos e concluíram que tanto a estrutura estratégica de Porter como as

Page 41: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

28

estruturas da Escola de Posicionamento não abrangiam todas as maneiras pelas quais as

empresas competiam no ambiente atual. Assim, esses autores elaboraram um novo modelo

estratégico, o Modelo Delta, pelo qual o objetivo principal da empresa deve ser o de atrair,

satisfazer e reter o cliente. Este, portanto, passa ser o centro da gestão dos negócios, atuando

como a força atrativa central da formulação estratégica.

Note-se que o modelo Delta foi desenvolvido sobre o pressuposto de que as empresas operam

em uma economia em rede, com alto grau de relacionamento entre clientes, fornecedores e

prestadores de serviço, o que enseja a alteração dos drivers de rentabilidade e,

conseqüentemente, a formulação da estratégia.

Assim, a aplicabilidade do modelo Delta começa com a escolha de uma posição estratégica

diferenciada e, depois, exige a integração dos processos operacionais, criando uma posição

competitiva singular e sustentável. Qualquer estratégia, ainda segundo os autores, necessita de

constante adaptação e a própria implantação precisa ser resultado das mudanças do mercado e

de uma compreensão do mercado ideal.

Assim, Hax & Wilde (2000) definiram o Triângulo Estratégico, no qual consideraram três

opções de posicionamento estratégico em diferentes níveis de customer bonding.10

10 Estabelecimento de um link inquebrável de profundo conhecimento com uma grande afinidade entre cliente empresa (HAX & WILDE,2000).

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29

Figura 3 - Triângulo Estratégico

Fonte: HAX & WILDE (2000)

A estratégia do melhor produto relaciona as formas clássicas de concorrência por meio de

baixo custo ou diferenciação. Na maioria das vezes as empresas criam laços com os clientes

por meio da superioridade intrínseca do seu produto ou serviço.

A estratégia de soluções totais para clientes baseia-se em uma oferta mais ampla de produtos e

serviços que satisfaçam a maior parte das necessidades do cliente e não do produto. O

relacionamento com o cliente é aprimorado com a personalização e o aprendizado.

No lock-in do sistema, ao invés de se concentrar ou no produto ou no cliente, a empresa leva

em consideração todos os principais participantes do sistema que contribuem, ainda que

indiretamente, para criação do valor econômico. Os laços entre fornecedores e clientes,

portanto, desempenham papel fundamental.

Na realidade, essas opções de estratégias não são excludentes. A empresa pode decidir utilizar

uma estratégia mista com diferentes tipos de alcances, escalas e laços de relacionamento.

Melhor ProdutoSolução Total

ao Cliente

Lock-in do sistema

Melhor ProdutoSolução Total

ao Cliente

Lock-in do sistema

Page 43: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

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Hax & Wilde (2000) ressaltam que, na maioria dos casos, o fracasso das estratégias das

empresas se deve a uma execução ineficaz. Todas as teorias relatam as melhores práticas para

se aumentarem a eficácia operacional, porém não as vinculam com a estratégia.

2.3 O GRUPO PÃO DE AÇÚCAR

2.3.1 Histórico

Em 1948, o português Valentim dos Santos Diniz fundou a doceira Pão de Açúcar em São

Paulo. Após quatro anos, com o desenvolvimento dos negócios, foram abertas duas filiais e,

em seguida, no ano de 1959, foi inaugurado o primeiro supermercado.

Em 1965, o Pão de Açúcar incorporou a cadeia de supermercados Sirva-se, fazendo a rede

chegar a 11 lojas. No ano seguinte, inaugurou em Santos a primeira loja fora da Cidade de

São Paulo.

Na década de 70, o Grupo, que já era composto por 64 lojas, passou por uma grande

expansão. Foi criada a Divisão Internacional, fazendo com que as lojas do Grupo Pão de

Açúcar chegassem a Portugal, Espanha e Angola. Essa mesma década foi marcada por

aquisições, como da rede Eletroradiobraz, Superbom, Peg-Pag e Mercantil, e pela inauguração

da primeira geração de hipermercados do país, as lojas Jumbo. Em 1979, o Grupo Pão de

Açúcar inaugurou a rede Minibox, com um conceito de lojas despojadas, reduzido número de

itens e preços muito competitivos, direcionada à população de baixa renda.

Page 44: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

31

Os anos 80 foram marcados pela diversificação dos negócios com a aquisição de cinco lojas

do Bazar 13 e mais seis da rede Morita. Além disso, foram inaugurados os dois primeiros

Superbox, com um novo conceito de grandes depósitos de produtos alimentícios, que

alcançou muito sucesso e, em curso espaço de tempo, já contava com mais nove lojas.

Em seguida, em 1989, o Grupo começou a atuar fortemente no cenário dos hipermercados de

segunda geração, mediante a criação das lojas Extra, que, além de operarem com grandes

áreas de vendas, ofereciam tecnologia de ponta e uma grande variedade de produtos

(http://www.gpa-ri.com.br/port/home/index.asp).

Após seguidos anos de rápido crescimento e perda da eficiência, o Grupo passou por uma das

maiores crises de sua história. Com problemas familiares e uma estrutura pesada e ineficiente,

o Grupo enfrentou problemas administrativos e de imagem no mercado (ROJO, 1998).

Assim, o Grupo assumiu o compromisso de qualidade, eficiência e produtividade. Iniciou-se

um processo de reengenharia, e o Grupo passou a concentrando seus negócios no varejo

alimentício, passando a operar com quatro formatos de loja: Pão de Açúcar, Extra, Superbox e

Eletro.

Em outubro de 1995, o Grupo, com o objetivo de obter fundos para financiar sua expansão,

fez sua primeira oferta pública inicial, sendo a primeira empresa varejista de alimentos a ser

listada na Bolsa de Valores de São Paulo; o total arrecadado foi de US$ 112,1 milhões. Em

maio de 1997, foram captados US$ 172,5 milhões na NYSE (primeiras ADRs listadas na

Bolsa de Nova York por uma empresa varejista brasileira) (http://www.gpa-

ri.com.br/port/home/index.asp).

Page 45: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

32

No mesmo ano, o modelo de operação independente de lojas foi substituído por um sistema

mais centralizado, com a responsabilidade pelas compras sendo transferida para a Divisão

Comercial. A distribuição e outras funções administrativas também foram centralizadas em

busca de maior economia de escala. O formato das lojas foi ajustado de acordo com as

expectativas e necessidades dos diferentes segmentos da população: Pão de Açúcar para um

público com maior poder aquisitivo e Barateiro, adquirido em 1998, com foco nas classes de

renda mais baixa.

O ano de 1999 foi considerado o ano das aquisições. Nele o Grupo adquiriu a rede Peralta de

Supermercados, composta por trinta e sete supermercados e um hipermercado, e arrendou as

lojas Paes Mendonça e duas lojas da falida Mappin.

Diante desse processo de aquisições de novas empresas o endividamento do grupo aumentou

significativamente e a solução foi celebrar contrato de parceira com um grupo estrangeiro que

não atuava no Brasil. Assim, em agosto de 1999, o Grupo se associou ao Grupo francês

Cassino, adquirindo 24,5% do respectivo controle. A operação previa um aumento de capital

em R$ 1,64 bilhão, o que permitiria ao Grupo enfrentar o alto endividamento

(http://www.gpa-ri.com.br/port/home/index.asp).

Nesse mesmo ano, o Grupo anunciou sua parceria com a GP Investimentos, de maneira a

ampliar os negócios virtuais - a tecnologia foi um dos pilares da nova fase de crescimento do

Pão de Açúcar. Somente em 1999 a rede investiu R$ 92 milhões em modernização.

Foram abertas dezesseis novas lojas e adquiridas outras sessenta e quatro, resultando em um

aumento de 23% na área de vendas. As principais redes adquiridas foram: Reimberg e

Page 46: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

33

Nagumo, na cidade de São Paulo; Parati, em Curitiba (PR); Rosado, na região do Vale do

Paraíba (SP) e Mercadinho São Luiz, em Fortaleza (CE).

O Grupo ainda reforçou sua estrutura de distribuição e de tecnologia: além da construção de

um novo Data Center, foram abertos três novos centros de distribuição no Estado de São

Paulo, além de depósitos regionais em Brasília, Curitiba e Fortaleza, totalizando uma área de

distribuição de cerca de 350 mil metros quadrados.

Os anos mais recentes foram de aquisições e reestruturação. Em 2001, foram adquiridas vinte

e seis lojas do supermercado ABC, no Estado do Rio de Janeiro, e o formato Barateiro foi

relançado com uma maior variedade de produtos e um melhor equilíbrio entre marcas líderes

de mercado, marcas próprias e produtos de baixo preço.

Em julho de 2002, o Grupo adquiriu a rede Sé Supermercados, que ocupava o sétimo lugar

no Ranking da ABRAS de 2001, com sessenta lojas distribuídas em vinte municípios do

Estado de São Paulo. Consolidou, assim, a liderança do Grupo Pão de Açúcar no setor

supermercadista.

Outro fato importante do ano foi a reintegração de doze lojas, em Recife (PE), da Rede

CompreBem.

No ano de 2003 o grupo associou-se à Rede Sendas, líder do segmento no Estado do Rio de

Janeiro, com o objetivo de fortalecer sua participação na região e consolidar a liderança no

mercado nacional.

Page 47: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

34

Em 2004, com objetivo desenvolver uma nova linha de produtos e serviços financeiros, o

Grupo fechou parceria com o Itaú, segundo maior banco privado do país em ativos totais, para

a criação de uma nova companhia (GOY, 2004).

Em 2005, com a criação da nova holding, o controle do grupo passou a ser dividido entre

Abílio Diniz (50%) e o Grupo Cassino (50%), alinhando-se os interesses entre os acionistas

controladores e minoritários (FACCHINI, 2005).

O ano de 2006 foi marcado pelo lançamento de um novo formato de loja, em Alphaville, São

Paulo, com layout inovador, variedade de serviços e produtos, eficácia no atendimento ao

cliente exigente da classe (A/B) de alta renda. A nova loja também se propôs a ser um ponto

de encontro, oferecendo espaços de convivência diferenciados, como uma grande varanda

com lugares para 100 pessoas. A intenção não foi aplicar esse novo formato em todas as lojas,

mas sim adaptá-lo a algumas já existentes (HILÁRIO, 2007).

2.3.2 A Empresa

O Grupo Pão de Açúcar ocupa atualmente o primeiro lugar no ranking da Revista SuperHiper

publicada pela Associação Brasileira de Supermercado - ABRAS, com market share de

13,3% e vendas totais de R$ 16,5 bilhões em 2006.

Page 48: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

35

Atualmente, o Grupo conta com 546 (quinhentos e quarenta e seis) lojas distribuídas em

quatorze estados das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Distrito Federal, que,

somadas, totalizam 1,2 milhão de metros quadrados de área de vendas. Além disso, possui

dezenove centrais de distribuição entre sete cidades brasileiras: São Paulo, Curitiba, Fortaleza,

Salvador, Brasília, Rio de Janeiro e Recife.

Figura 4 - Mapa de Atuação do Grupo Pão de Açúcar.

Fonte: IBGE (2007) e PÃO DE AÇÚCAR (2007)

Page 49: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

36

2.3.3 Formato de Lojas

O Grupo, hoje, atua com diferentes formatos de loja, visando a atender as diferentes

necessidades e expectativas dos consumidores. Com isso, atinge um equilíbrio de participação

entre supermercados e hipermercados:

• Pão de Açúcar - Supermercados de vizinhança, focado em consumidores das classes

A/B. Oferece melhor serviço, atendimento e qualidade de produtos e variedade;

• CompreBem e Sendas - Supermercados com baixo custo, direcionado para as

mulheres que desejam garantir o atendimento de todas as necessidades da sua família

dentro do orçamento familiar;

• Extra - Hipermercado do grupo com grande variedade de produtos alimentícios e não

alimentícios com preços competitivos;

• Extra Eletro - Especializada em produtos eletrônicos, oferecendo também móveis

focando na excelência em atendimento ao consumidor;

• Extra Perto - Supermercado com mix completo de alimentos e produtos não

alimentícios. Possui uma estrutura desenvolvida para oferecer um ambiente acolhedor

para os consumidores.

Tabela 4 – Distribuição das Lojas do Grupo Pão de Açúcar por Formato

Fonte: PÃO DE AÇÚÇAR (2007)

FORMATO DE LOJAS Nº. LOJAS

TOTAL 549

62

4

164

83

186

50

Page 50: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

37

3. METODOLOGIA

Para Demo (1992), metodologia é o estudo dos caminhos e dos instrumentos para se fazer

ciência, não se restringindo aos métodos e técnicas utilizadas na pesquisa, pois o lado

empírico a que estão vinculados esses métodos e técnicas abre oportunidade para a discussão

do problema.

A finalidade de uma pesquisa é descobrir respostas para questões mediante métodos

científicos. Isto é, conhecer os fenômenos, suas estruturas, funções, modo de operar, pontos

de influência e de controle.

A dissertação, portanto, se pautará pela pesquisa exploratória apoiada em dados secundários

devido a falta de informações primárias tanto do setor quanto da empresa estudada.

Dada dessa dificuldade de acesso aos dados, somada à falta de teorias satisfatórias, este

trabalho se limitará a analisar um grande supermercado, Grupo Pão de Açúcar, por meio da

compreensão de suas respectivas evoluções históricas e suas atuações na indústria.

Pondere-se, desde logo, que Flick (2004) definiu os aspectos essenciais da pesquisa pela

escolha certa de métodos e teorias oportunos, pelo reconhecimento e na análise de diferentes

Page 51: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

38

perspectivas, pelas reflexões dos pesquisadores a respeito de sua pesquisa como parte de

produção de conhecimento e na variedade de abordagens e métodos.

Vale mencionar, ademais, que esta pesquisa exploratória também poderá ser um ponto de

partida para que futuras pesquisas sejam desenvolvidas. A propósito, segundo Yin (1989),

estudo de caso é um dos caminhos para a realização de pesquisas de ciência social. E, em

geral, estudos de caso são as estratégias preferidas quando as questões "como" ou "por que"

estão presentes; quando o investigador tem um pequeno controle sobre os eventos, e o foco é

no fenômeno contemporâneo entre alguns contextos na vida real. As evidências desse método

são obtidas a partir de seis fontes de dados: documentos, registros de arquivos, entrevistas,

observação direta, observação participante e artefatos físicos e cada uma delas requer

habilidades específicas e procedimentos metodológicos específicos.

Dessa forma, pela definição apresentada por Yin (1989), esta pesquisa não será definida pela

metodologia de estudo de caso.

A pesquisa será composta pelas análises detalhadas (a) dos estudos científicos desenvolvidos

sobre varejo, supermercados, indústria de alimentos, Escola de Posicionamento, estratégia de

negócio, vantagem competitiva, visão baseada em recursos e o Modelo Delta, bem como (b)

do Grupo Pão de Açúcar. Para tanto, primeiramente será analisada a evolução e as principais

características de atuação dessa empresa na indústria e, em seguida, será identificado o tipo de

estratégia por ela utilizada.

Finalmente, cumpre esclarecer que a revisão bibliográfica contemplou o período de 1980 a

2006, sendo feita a partir de livros, artigos e textos científicos, estudos e artigos

Page 52: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

39

mercadológicos. Além disso, foi utilizada a base de dados EBSCO no intuito de ampliar o

campo de pesquisa. Utilizou-se na pesquisa exclusivamente dados secundários extraídos dos

sites da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), Valor Econômico, Gazeta

Mercantil, Revista Exame e sites das empresas do setor.

Page 53: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

40

4. EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA DE SUPERMERCADOS

4.1 NO MUNDO

Os primeiros registros de atividade comercial datam da Antiguidade. Henry Richter (1954)

diz: “Atenas, Alexandria e Roma foram grandes áreas comerciais e os gregos antigos eram

conhecidos como grandes comerciantes”.

Durante o império romano, as lojas proliferaram por todas as cidades do Império. Nesse

período encontram-se registros dos primeiros centros comerciais, com lojas reunidas em um

único local e, nas respectivas portas, se colocavam placas para mostrar o tipo de mercadoria

que era comercializada. No entanto, com a ruína do império romano esse início de comércio

(varejo), ainda incipiente, se perdeu.

Na metade do século XIV surgiram os guilds – locais onde comerciantes se instalavam para se

proteger de impostos e taxas. E, nos Estados Unidos e Inglaterra, nasceram as chamadas

general stores, ou mercearias gerais, onde se comercializava de tudo um pouco: desde tecidos

até armas. Essas mercearias serviam de centro de reuniões no setor rural. Surgiram, em

seguida, as estradas de ferro juntamente com as vendas por catálogo, o que, mais adiante,

Page 54: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

41

ensejou o surgimento de empresas especializadas neste tipo de venda: Montgomery Ward, em

1872, e a Sears, em 1886, ambas nos Estados Unidos.

A descentralização dos estabelecimentos varejistas para os bairros das cidades urbanas foi

provocada pelos chamados street cars, ou seja, bondes elétricos. As lojas se estabeleciam ao

longo dos trilhos, o que ensejou a constituição, em alguns locais, dos primeiros centros

comerciais de bairros.

O desenvolvimento do automóvel também colaborou para o deslocamento do comércio para

os bairros, principalmente diante da dificuldade antes existente de se adentrar com antigos

modelos nas ruas congestionadas dos centros das cidades, as quais, originariamente, eram

projetadas para carroças e cavalos.

No início do século XX, o varejo nos Estados Unidos foi dominado por lojas independentes e

cadeias de mercearias que adotavam, dentre outras inovações, o atendimento personalizado no

balcão, pedidos por telefone e entregas a domicilio. A expansão das redes de mercearias foi

impulsionada pela necessidade de dispersão dos pontos de venda devido a pequena

capacidade de deslocamento dos compradores, pois os meios de comunicação e transporte

eram escassos (CYRILLO, 1987).

Em 1916, surge nos Estados Unidos a primeira empresa a adotar o conceito de auto-serviço -

sistema no qual os clientes escolhem os produtos sem ajuda de funcionários -, se denominava

Piggly Wiggly e, hoje, é considerada a origem do supermercado moderno. Nesse

estabelecimento se utilizava catracas para controlar a entrada de clientes e somente se vendia

à vista.

Page 55: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

42

A adoção do auto-serviço diminuía os custos de mão-de-obra e as margens de

comercialização, ao mesmo tempo em que aumentava o giro das mercadorias.

O ano de 1920 foi considerado o ano da expansão do auto-serviço, basicamente por dois

fatores: (i) a implantação de imposto com alíquota progressiva conforme o número de lojas da

empresa, e (ii) a diminuição da vantagem de se obter economias em escala, pois lojas

independentes se associaram para obter maior volume de compras e maior poder de barganha

junto aos fornecedores (CYRILLO, 1987).

Com a Grande Depressão, no início da década de 30, e a conseqüente diminuição do poder

aquisitivo da população americana, os varejistas foram obrigados a implementar inovações.

Nesse período os supermercados, com um novo formato, ofereciam produtos a preços

menores, o que atraiu a parte carente da população, que sofria os efeitos da diminuição do

poder aquisitivo.

Os supermercados, nessa nova estratégia, transferiam a decisão de compra totalmente para o

cliente, o qual passava a ser influenciado pelas embalagens dos produtos, suas formas de

disposição no interior das lojas e meios de comunicação.

No período pós Segunda Guerra Mundial, os supermercados ficaram conhecidos como um

importante instrumento de distribuição de alimentos e outros produtos. Os donos dos

supermercados colocavam à disposição, nas prateleiras, produtos não-alimentícios para

melhorarem a aparências das lojas vazias, conseqüência principal da escassez de alimentos.

Nessa época parte do faturamento dos supermercados era representada pela venda de produtos

Page 56: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

43

não-alimentícios, o que demonstra que os clientes haviam se acostumado a comprar tanto

produtos alimentícios como não alimentícios nos supermercados.

O aumento do poder aquisitivo da população norte-americana estimulou a indústria a

aumentar o serviço e a conveniência de seus produtos. As empresas, diante do conseqüente

surto de consumo, não tinham tempo de desenvolver o produto: desenvolvido o novo produto,

imediatamente o colocava no mercado.

Contudo, os supermercados não dispunham de espaços suficientemente grandes para expor

todos esses novos produtos. Assim, as empresas varejistas, em adequação às novas

necessidades, acabaram por aumentar o tamanho de suas lojas, de maneira a oferecer um

maior número de itens, serviços, estacionamento próprio, carrinhos mais modernos e, até

mesmo, máquinas registradoras mais modernas; tudo isso para agradar o cliente e agilizar o

atendimento (CONNOR & SCHIEK, 1997).

Posteriormente, nas décadas de 60 e 70, em decorrência de fatores econômicos e sociais, tais

como a urbanização, o aumento da população e da renda per capita, as lojas foram motivadas

a se instalar em lugares ainda não explorados. Foi ainda nesse período que o conceito de auto-

serviço foi disseminado pelo mundo.

No final da década de 60, as inovações nas lojas eram tão grandes que causaram um aumento

dos custos operacionais, levando muitas empresas ao prejuízo e à necessidade de aumentar as

margens com a comercialização de produtos não alimentícios (CYRILLO, 1987).

Page 57: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

44

O quadro econômico da década de 70, como sabido, era de aumento da inflação,

produtividade decrescente, controle dos preços (tabelamento) e diminuição das margens

praticadas pelas empresas. Como conseqüência disso, as lojas independentes diminuíram a

participação nas vendas e as redes de lojas cortaram custos.

Connor & Schiek (1997) ressaltam, ainda, que neste período, face as menores margens de

comercialização e a estagnação do consumo, a competição entre as maiores empresas se

tornou ainda mais forte; a restrição da concorrência, na visão dos grandes varejistas, era a

única forma de garantir o crescimento.

Nas décadas de 80 e 90, finalmente, as lojas de auto-serviço passaram apresentar outro

formato, notadamente a venda de produtos por meio de lojas de conveniência (lojas menores e

mais acessíveis, com limitado mix de produtos), o que acirrou, ainda mais, a concorrência dos

supermercados.

4.1.1 Características Atuais

Atualmente o setor supermercadista mundial é bem concentrado: 50% do faturamento total

dos supermercados dos Estados Unidos é representado pelas 50 maiores empresas; na França

esse percentual é ainda maior, 63% (ABRAS, 2007).

Como se pode observar na Tabela 1, os dez maiores supermercados do mundo são originários

de cinco países e, em sua maioria, possuem lojas distribuídas em diversos outros países do

mundo.

Page 58: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

45

VENDAS(em US$ bilhões)

1 WAL MART EUA 345,00 6.779EUA, Reino Unido, Argentina, Brasil, Nicarágua, Porto Rico, México, Guatemala,

Honduras, Canadá, Japão, China, etc.

2 CARREFOUR França 97,70 12.558França, Egito, Brasil, China, Colômbia, Itália, Indonésia, Portugal, Grécia, Espanha,

Suíça, Cingapura, Taliândia, etc.

3 TESCO Inglaterra 78,50 3.265China, França, hungria, Irlanda, Japão, Malásia, Polônia, Coréia do Sul, Eslováquia, Tailândia, Turquia e Reino Unido.

4 METRO Alemanha 75,10 2.378Áustria, Bélgica, França, Alemanha, Hungria, Índia, Itália, Japão, Polônia, Portugal,

Espanha, Suécia, Suíça, Reino Unido, etc.5 KROGER EUA 66,10 3.659 EUA.6 COSTCO EUA 59,00 487 Canadá, Japão, México, Porto Rico, Coréia do Sul, Taiwan, EUA e Reino Unido.

7 AHOLD Holanda 56,30 6.302 Estónia,Lituânia, Noruega, Holanda, Portugal, Eslováquia, Suécia, EUA.

8 REWE Alemanha 54,50 11.948 Áustria, Bulgária, França, Alemanha, Hungria, Itália, Rússia, Suíça, Luxemburgo, etc.

9 SCHWARZ Alemanha 50,20 7.914Áustria, Bélgica, Bulgária, Croácia, Dinamarca, França, Alemanha, Holanda, Polônia, Portugal, Espanha, Suécia, Reino Unido, etc.

10 ALDI Alemanha 49,90 8.177Austrália, Áustria, Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Irlanda, Itália,

Luxemburgo, Holanda, Portugal, Espanha, Suíça, Reino Unido, EUA etc.TOTAL 932,30 63.467

REDES ORIGEM N.º LOJAS PAÍSES EM OPERAÇÃO

Tabela 1 - Ranking Mundial dos Supermercados (2006)

Fonte: SUPERMARKET NEWS (2007)

4.2 NO BRASIL

O varejo brasileiro teve suas raízes nas primeiras comercializações efetuadas ainda no período

do Brasil Colônia, quando a relação de dependência com Portugal ainda era muito forte. As

“Companhias de Comércio”, como eram chamadas, foram idealizadas por Padre Antonio

Viera com o objetivo de atingir uma economia de escala.

A economia do Brasil Colônia era sustentada por três atividades: agrícola, mineração e

pecuária. Primeiro foi o pau-brasil, seguido pelo açúcar, mineração e café.

Todavia, o Brasil passou por diversas dificuldades na evolução do comércio. Não existia

infra-estrutura (estradas de ferro, rodovias e meio de transportes), por isso surgiram os

tropeiros, que, segundo Bernardo Guimarães, “são os transportadores de mercadorias, de

Page 59: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

46

pessoas, de dinheiro, de notícias e da correspondência postal. Ele é o intermediário de todas

estas transações”.

No início do segundo Império, com o surgimento das estradas de ferro e de meios de

transportes, apareceram os primeiros estabelecimentos comerciais. E, em 1871, surgiu a Casa

Masson e, em 1906, as Casas Pernambucanas.

Para melhor se compreender a evolução dos supermercados no Brasil, importante se faz

separá-la em dois períodos: antes do Plano Real e após o Plano Real.

4.2.1 Brasil antes do Plano Real (até 1994)

Os supermercados apareceram no Brasil na década de 50, época marcada por grande

desenvolvimento apesar da existência de notórios problemas sociais e econômicos. Durante a

atuação dos dois governos de Getúlio Vargas e do de Juscelino Kubitschek, o crescimento da

economia foi sufocado pelo crescimento da inflação e o aumento da qualidade de vida

pretendida pelos governos não atingiu de forma igualitária aos brasileiros (acentuou-se a má-

distribuição da renda).

As lojas de auto-serviços, como eram chamados os supermercados, surgiram com a

inauguração, em 1953, do supermercado Americano, que tinha como slogan “para uma

supermetrópole, um supermercado”, e do Sirva-se, cujo layout e equipamentos seguiam o

modelo norte-americano e os produtos ofertados eram de alta qualidade, ambos em São Paulo.

Apesar da vantagem de economias de escala que os supermercados possuíam frente ao varejo

Page 60: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

47

tradicional, barreiras de entrada inibiram a rápida expansão das lojas de auto-serviço até o

início da década de 60 (CYRILLO, 1987).

Na década de 50, com a expansão das grandes cidades brasileiras e a decorrente

familiarização dos consumidores com os novos conceitos de compra e venda, assim como a

percepção, por estes, das vantagens do novo modelo de varejo (comodidade, redução do

tempo de compra e obtenção de produtos com menores preços), a distribuição de alimentos

aumentou a uma taxa anual de 4,5% (ABRAS, 2002).

Na década de 60, conhecida pelo longo período de incertezas, tanto no campo econômico,

como no campo político, o problema de abastecimento urbano se agravou, tornando

fundamental a reorganização do sistema de distribuição, de maneira a se controlar os custos

intermediários do fluxo de distribuição. O resultado desse esforço foi o surgimento dos

centros de abastecimentos estaduais.

A mudança do regime, em 1964, trouxe uma política rígida de controle anti-inflacionário

sobre os salários, o déficit público e o crédito. Várias empresas pequenas, por conta disso,

fecharam e, entre as maiores, ocorreram vários movimentos de fusões e aquisições. (ABRAS,

1993).

Mesmo com esse cenário, o novo regime favoreceu o setor supermercadistas, que conseguiu

se expandir, alcançando cidades menores e mais distantes das capitais. Dados da ABRAS

(2002) comprovam que em 1966 existiam 997 supermercados no país e, apenas quatro anos

depois, esse número passou para 2527, ou seja, um aumento de 153%.

Page 61: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

48

Em 13 de novembro de 1968, o governo, por meio da Lei n.º7.208, estimulou a

regulamentação das atividades dos supermercadistas, melhorando, com isso, o cenário de

incertezas que prejudicava os investimentos em novas lojas (ABRAS, 1993).

No período de 1968 a 1974, conhecido como o do “Milagre Econômico”, as taxas do Produto

Interno Bruto (PIB) apresentaram uma média de crescimento de 11,3% ao ano, o que

representou uma inversão da situação verificada no período de 1962 a 1967, no qual a média

do PIB era de 3,7% ao ano.

Na década de 70 o panorama do setor já era bem diferente. Com o primeiro Plano Nacional de

Desenvolvimento (I PND - 1972-1974) ocorreu a maior aproximação entre o governo e os

supermercadistas, essa medida objetivou modernizar o sistema de distribuição de alimentos

no país (ROJO, 1998).

Como resultado da iniciativa do I PND, e a decorrente diminuição das barreiras de

desenvolvimento, o modelo supermercado já havia alcançado todo o território nacional,

somando mais de três mil lojas. Isso estimulou o surgimento de um novo formato, proposto

pelo mesmo empreendedor que inaugurou o Sirva-se, Fernando Pacheco de Castro: o

hipermercado Peg-Pag, inaugurado em 1971.

O Peg-Pag também foi uma das pioneiras no setor de varejo, sendo considerada a “escola de

supermercado”. Nela, é oportuno mencionar, passou-se a utilizar o conceito de especialização

dos funcionários por departamentos ou secções. A estratégia de vendas, por sua vez, também,

era inovadora e abrangia todos os meios de comunicação.

Page 62: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

49

Os hipermercados apresentavam economias de escala devido ao seu maior tamanho e ao

grande mix de produtos. As lojas passaram a dividir espaço com farmácias, agências

bancárias, chaveiros entre outros com o objetivo de aumentar a circulação de pessoas dentro

das lojas, tudo isso para trazer mais comodidade ao cliente, cada vez com o tempo disponível

mais escasso.

Concomitantemente, empresas como a Eletro-Radiobraz (1965), Pão de Açúcar (1958), Real

(1958) e Paes Mendonça (1959) apostaram em lojas bem maiores que as existentes, com mix

de produtos até então inimaginável. Desde então o setor de supermercados passaram a se

desenvolver com forte ritmo e, naturalmente, acirrou-se a competitividade no setor.

Em 1973, ocorreram novos problemas econômicos. Com a primeira crise do petróleo, quando

os preços do petróleo no mercado internacional subiram exponencialmente, o governo decidiu

pagar os custos adicionais do uso de energia proveniente do petróleo com a manutenção de

altas taxas de crescimento do PIB, as quais foram financiadas pela poupança externa. Com o

segundo choque do petróleo, o governo foi obrigado a cortar subsídios à exportação e a

desvalorizar a moeda (ABRAS, 2002).

O período de 1973 a 1980 foi marcado pela diminuição das taxas de crescimento econômico

do país, o que inexoravelmente refletiu na diminuição do número de lojas e no faturamento

dos supermercados (CYRILLO, 1987).

Diante da diminuição do consumo, as grandes empresas seguiram a expansão através da

estratégia de fusões e aquisições, da busca de novos mercados e de novos formatos de lojas.

Page 63: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

50

Surgiu no mercado, assim, um novo formato de loja, de sortimento limitado, que apresentava

menor número de produtos alimentícios e limitação de marcas. A indústria de alimentos,

como não poderia de deixar de ser, se posicionou contrariamente a esse novo formato, que

diminuiu o poder de negociação dos fornecedores junto às empresas varejistas (CYRILLO,

1987).

Foi justamente a adaptação do mix de produtos e a abertura de novas lojas com diferentes

formatos que permitiu o aumento da receita total mesmo nos anos de maiores dificuldades. No

entanto, houve a diminuição do faturamento por loja, porquanto menores e menos sofisticadas

(CYRILLO, 1987).

Em 1975 foi inaugurado o primeiro Carrefour no Brasil, consolidando o conceito de

hipermercado. Até então, a indústria de supermercados era caracterizada por:

• Concorrência por região: lojas especializadas operando na esfera local, cadeias de

médio porte atuando regionalmente e poucas cadeias de loja atuando em âmbito

nacional;

• As maiores empresas se concentravam na região sudeste e sul;

• Relacionamento na cadeia de fornecimento restrito ao âmbito comercial;

• Precário fluxo de mercadorias entre fornecedor e varejista;

• Setor intensivo em mão de obra;

• Freqüente indefinição de foco no negócio;

• Elevado grau de endividamento de algumas empresas;

• Disparidade de qualidade entre padrões de controle interno (estoques e compras).

Page 64: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

51

José Sarney, o primeiro presidente a assumir, de fato, após o período militar, adotou políticas

salariais, estimulou as exportações e, com isso, a economia apresentou, no ano de 1985, uma

taxa de crescimento do PIB de 7,85% em relação ao ano anterior (IPEA). O cenário

econômico da época era caracterizado pelo processo inflacionário crônico, que, entre outros

motivos, fez com que as empresas brasileiras não procurassem competir com base em

estratégias voltadas para redução de preços e custos. O comportamento dos supermercadistas

era caracterizado pela prévia e constante remarcação de preços e o lucro financeiro, de tão

importante, era capaz de reverter os resultados operacionais.

Esses fatos trouxeram, entre as maiores empresas supermercadistas, uma tendência de

diminuição do número de lojas em prol do aumento do respectivo espaço físico, visando a

possibilitar o trabalho em maior escala, a redução de preços e a ampliação da oferta de

produtos e serviços aos consumidores. Paralelamente, os investimentos em hipermercados

diminuíram.

O resultado da crise econômica foi o menor crescimento dos supermercados em faturamento,

número de lojas, número de funcionários e área de vendas. A partir do final da década de 80,

o setor passou focar no modelo de gestão de negócios, no treinamento dos funcionários e

utilização, em maior escala, de equipamentos e ferramentas de alta tecnologia. Nesse mesmo

período foi introduzido o código de barras nos produtos, cujo processo inicial de adaptação foi

lento devido as grandes mudanças operacionais necessárias.

Page 65: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

52

DADOS 1989

N.o de lojas 32.950Faturamento Nominal (R$ bi) 0,15

N.o de empregos diretos 533.000

Área de vendas (milhões de m2) 8,0

N.o de check out 95.677Participação % do faturamento sobre PIB nd

Tabela 2 - Estrutura do Setor Supermercadista Brasileiro em 1989

Fonte: ABRAS (1994)

No início da década de 90, a aceleração da inflação, a perda do poder aquisitivo da população,

os sucessivos planos econômicos e os baixos crescimentos do PIB foram fatores redutores da

demanda nos supermercados. Nessa época, tanto o faturamento, quanto a taxa de crescimento

do PIB estiveram em níveis históricos notadamente baixos, como demonstra o gráfico 1.

Gráfico 1 - Faturamento Total do Setor Supermercadista x Taxa de Crescimento do PIB (1989 a 1994) Fonte: ABRAS (1995) e IPEA (2007)

A alta inflação continuou a favorecer as grandes redes e a afetar o comportamento dos

consumidores, que se programavam para fazer as compras logo após o recebimento do salário

e se preocupavam em adquirir todos os itens necessários em menor tempo possível, buscando,

para isso, lojas que oferecessem a maior quantidade e variedade de produtos. Assim, os

consumidores compravam apenas uma vez por mês e estocavam.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

1989 1990 1991 1992 1993 1994

-6%

-4%

-2%

0%

2%

4%

6%

Fat

uram

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R$

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resc

imen

todo

PIB

(%

)

Page 66: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

53

No início do ano de 1994, a tendência à retração do comércio se manteve. No início de julho

daquele ano foi implementado o Plano Real, considerado um marco no setor e, atualmente,

apontado como o plano de mudanças mais contundentes realizado no país.

Durante o primeiro mês da implantação do novo plano econômico ocorreram algumas quedas

nas vendas de determinados setores do varejo. Na medida em que a estabilização da inflação

reduziu as perdas dos assalariados entre o período de recebimento dos salários e o período em

que as despesas eram efetivamente realizadas houve um ganho real no poder aquisitivo da

população. Podemos considerar que a maior parte do crescimento das vendas foi devido a

fatores psicológicos: fim dos rendimentos ilusórios da correção monetária e da poupança, a

disponibilidade de crédito e o receio de que os preços voltassem a disparar depois de poucos

meses.

Junto a isso, com o aumento da competitividade, os supermercados foram “obrigados” a

buscar maior eficiência na administração do negócio. Conquanto com o acirramento da

concorrência o volume de vendas tenha crescido, as margens de lucro foram pressionadas

para baixo, levando as empresas a perseguir vantagens competitivas por meio de melhores

serviços e eficiência administrativa.

Levy Nogueira, ex-presidente da ABRAS, ressalta que, em uma situação econômica estável,

com preços relativos alinhados, sem as enormes diferenças ditadas pelo descontrole

inflacionário, é preciso controlar custos do negócio. Quanto menor for o gasto da operação,

maior será a capacidade de competição e de garantia de lucratividade (ABRAS, 2002).

Page 67: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

54

4.2.2 Brasil pós Plano Real (de 1995 a 2006)

Os brasileiros apresentaram uma grande sensação de alívio ao saírem de um período caótico,

tanto na vida política, quanto na econômica, e entrarem em um período de estabilização da

moeda e controle da inflação. Com o fortalecimento do Real frente ao dólar, os

supermercados começaram a importar mercadorias, além de insumos como hardware e

software para automatização de suas operações.

Em 1995, os consumidores de baixa renda aumentaram o consumo no supermercado e os

produtos populares apresentaram um índice maior que os demais. As lojas menores voltaram

a ter bom desempenho, tornando a ser procuradas para as compras, notadamente pela

conveniência proporcionada pela proximidade das áreas residenciais (ABRAS, 2002).

A competição entre as grandes redes se intensificou. A concorrência e a redução da alíquota

de importação de alguns alimentos mantiveram certa estabilidade nos preços dos

supermercados. Isso foi umas das conseqüências das medidas recessivas tomadas pelo

governo em abril de 1995.

Com isso, notaram-se duas tendências. A primeira, que os supermercados fecharam lojas

menores e menos rentáveis e aumentaram o tamanho médio dos estabelecimentos mais

lucrativos. A segunda, que os supermercados brasileiros, em sintonia com a tendência

mundial, reduziram a área de estoques, a fim de reduzir custos operacionais. O grande aliado

dessa tendência foi o desenvolvimento da automação comercial que, entre outras melhorias,

facilitou a comunicação entre indústria e varejo, possibilitando a otimização da administração

de estoques.

Page 68: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

55

Nesse mesmo ano, o Wal-Mart ingressou no mercado brasileiro com sua política de preços

baixos e com uma moderna tecnologia da informação, sustentando uma eficiente logística de

aquisição e distribuição (ROJO, 1998).

Em 1996, os supermercados apresentaram um enorme reflexo em seus caixas dos problemas

relacionados à inadimplência de cheques pré-datados. A partir desse momento, os

supermercados começaram a qualificar mais os cadastros de clientes e reformularam a forma

de venda com cheques pré-datados, passando a cobrar juros (ABRAS, 2002).

Dentre outras mudanças significativas no setor, os supermercados começaram a se

familiarizar com o conceito de loja virtual, vendas pela internet, e até mesmo com conceitos

muito utilizados no exterior como reengenharia, benchmarketing, foco no cliente e qualidade

total (ABRAS, 2002).

Nos últimos anos o varejo brasileiro sofreu enormes transformações. Em curto espaço de

tempo a sociedade brasileira viveu uma rápida abertura comercial, uma corrida em busca de

produtividade e competitividade e a interrupção do processo inflacionário, que já perdurava

por mais de 20 anos. Surgiu, ademais, um consumidor mais seguro dos seus direitos, com

maior consciência ambiental e com maior percepção de valor dos produtos e serviços

adquiridos.

Observando a Gráfico 2, percebe-se que o supermercadista está vendendo mais após o Real.

Esse movimento foi basicamente ocasionado pelo faturamento dos grandes supermercados; os

médios e pequenos supermercados tiveram problemas em atrair novos clientes e dificuldade

Page 69: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

56

em concorrer com as grandes redes. Nesse período, o faturamento dos pequenos e médios caiu

cerca de 60%.

Houve também a necessidade de se adaptar a linha de mercadorias aos novos tempos. Elas

foram ampliadas e melhoradas, havendo também um aumento forte da participação de

produtos importados nas vendas, assim como um investimento pesado no lançamento de

marcas próprias, que custavam entre 10% a 30% menos que as marcas líderes. Igual aumento

se deu nos investimentos em treinamento – passou-se a existir no setor a percepção do

diferencial que representa o bom atendimento na conquista do consumidor.

Gráfico 2 - Faturamento Total do Setor Supermercadista x Taxa de Crescimento do PIB (1995 a 2006) Fonte: ABRAS (2005) e IPEA (2007)

As falências e dificuldades de algumas redes especializadas na comercialização de bens

duráveis, e a própria concentração no setor supermercadista, que propiciou a abertura de

novas lojas de hipermercados, fez com que a indústria de eletroeletrônicos procurasse

aumentar a participação dos supermercados na distribuição, mediante negociação entabulada

com as grandes redes que também tinham interesse em passar a vender esses produtos. O

grande acontecimento do ano de 1999 foi a intensificação do processo de fusões e aquisições.

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1995 199619971998 199920002001 200220032004 20052006

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PIB

(%

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Page 70: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

57

Logo no primeiro trimestre do ano, o setor de supermercadista foi o segundo maior em fusões

e aquisições, perdendo apenas para o setor de telecomunicações. Alguns desses momentos

foram: a aquisição dos supermercados Peralta pelo Grupo Pão de Açúcar; Sonae assumiu o

controle do Grupo Exxtra Econômico (RS).

Com a recuperação econômica em 2000, o setor supermercadista respondeu lentamente à

melhora dos indicadores econômicos por englobar produtos menos sensíveis à renda se

comparados aos bens duráveis. O faturamento cresceu cerca de 12,4% em relação ao ano

anterior.

No ano de 2001, com o racionamento de energia, ocorreu uma mudança nos hábitos dos

consumidores, ou seja, com a redução do uso do freezer, a demanda por produtos congelados

diminuiu, fato que, conseqüentemente, ampliou a necessidade de visitas aos supermercados.

De certa forma, quem mais se beneficiou com esse cenário foram os supermercados de

bairros, também conhecidos com de vizinhança.

A desaceleração econômica, a escalada do dólar e a elevação da taxa de juros no ano de 2002,

abalaram a confiança do consumidor quanto aos rumos da economia brasileira e a manutenção

do emprego. A demanda por produtos de mercearias, como alimentos e produtos de limpeza e

higiene, tem menor sensibilidade às condições de crédito e às incertezas do que o mercado de

trabalho, mas a queda do rendimento e os aumentos de preços direcionaram a demanda para

artigos de menor valor, como marcas populares, e levaram o consumidor a priorizar

promoções e produtos essenciais. Esse movimento limitou o desempenho do setor.

Page 71: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

58

Os fatores econômicos não só abalaram a confiança do consumidor como, enquanto a

indústria tentava repassar aumentos de custos, as grandes redes, com forte poder de

negociação, não aceitaram elevações de preços.

Em 2003, o poder aquisitivo do consumidor foi diretamente afetado pela inflação e pelos

aumentos dos preços de tarifas de serviços como luz, água e telefonia, que, juntamente com o

desemprego, justificaram a retração da demanda. Os consumidores cortaram mercadorias

supérfluas partindo para substituições por produtos de menor valor agregado e por marcas

mais baratas.

Os reveses econômicos enfrentados pelos supermercadistas nos últimos anos revelaram sua

capacidade de enfrentar crises. Os supermercadistas intensificaram suas negociações com

fornecedores e adaptaram a oferta de produtos e serviços ao perfil dos consumidores.

O patamar do faturamento dos supermercados no ano de 2006 manteve-se constante. Na

verdade, em alguns casos os preços foram naturalmente reduzidos, principalmente pelo

fenômeno da deflação e também porque o consumidor, cada vez mais consciente, optou pela

substituição de marcas e, até mesmo, de produtos de menor valor agregado, como

demonstrado no gráfico 3.

Page 72: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

59

Gráfico 3 - Crescimento do Faturamento Total do Setor Supermercadista (ano base 1990) Fonte: ABRAS (1995, 2007).

Cada vez mais o processo de concentração dos supermercados fez com que as lojas de

utilidades domésticas, eletroeletrônicos, equipamentos de informática e, em menor grau,

padarias continuassem perdendo market-share, uma vez que os supermercados praticavam

preços mais baixos que a média do mercado.

4.2.3 Características Atuais

De modo geral, pode-se dizer que o setor nunca mudou tanto como nos últimos anos. Houve

uma luta por produtividade e o supermercadista está vendendo mais, tem uma linha de

mercadorias mais completa, trabalha com menos funcionários e está com praticamente a

mesma quantidade de lojas.

As comercializações de marcas próprias ainda estão sendo pouco praticadas no setor. O

começo de um novo padrão de relacionamento entre essas empresas, muito mais focado na

troca de informações e experiências do que na negociação de preços e espaços nas gôndolas.

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2005

2006

Plano Real

Page 73: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

60

A automação comercial facilitou a comunicação entre a indústria e o varejo, otimizando a

administração dos estoques e do negócio como um todo. Possibilitou-se, assim, a redução da

área destinada à estocagem, com a conseqüente transferência desse espaço à área de vendas e

redução dos custos operacionais.

O processo de fusões e aquisições ainda está presente no setor, mas em ritmo menos frenético

que nos anos anteriores. Ao mesmo tempo, o surgimento de novos formatos de lojas,

especialmente na linha “discount”, vem diferenciando cada vez mais a concorrência.

Globalização, aumento da concorrência, uso intensivo da tecnologia e novas ferramentas de

gestão vêm obrigando as empresas a procurar, de modo crescente, o desenvolvimento do

marketing e a melhoria da eficiência. Isso acaba por aumentar a distância entre os

supermercados de ponta e os menos avançados.

O varejo virtual ainda desperta grandes discussões entre os supermercadistas. As opiniões

ficam divididas entre os que, de um lado, acreditam fortemente nessa tendência e os que, de

outro lado, consideram a visita ao ponto de venda fundamental para a decisão de compra. Há,

entretanto, algo em comum: todos observam com grande interesse o desenrolar de

experiências nesse setor, mas poucos ainda se dispõem a "pagar para ver".

Anualmente a ABRAS realiza pesquisas para apurar as informações do setor e estrutura o

ranking das maiores empresas. Se propõe a ABRAS, com esses dados, tirar uma “foto” da

estrutura do setor. O quadro abaixo demonstra a atual estrutura do setor com dados de 2006.

Page 74: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

61

DADOS 2006

N.o de lojas 73.695Faturamento Nominal (R$ bi) 124,1

N.o de empregos diretos 838.047

Área de vendas (milhões de m2) 18,9

N.o de check out 175.621Participação % do faturamento sobre PIB 5,3%

Tabela 3 – Estrutura do Setor Supermercadista Brasileiro em 2006 Fonte: ABRAS (2007)

O faturamento das três maiores empresas do setor: Carrefour, Wal Mart e Pão de Açúcar

representam 34% do faturamento total do setor, o qual, comparativamente com países com

Estados Unidos e França, está no caminho para se tornar cada vez mais concentrado.

Gráfico 4 - Market Share (2006) Fonte: ABRAS (2007)

O fato é que o cenário desse setor está em constante mudança tanto do lado da oferta como da

demanda, proporcionando oportunidades de crescimento para alguns e ameaça de fracasso

para outros. A diferença entre vencedores e vencidos pode ser resumida na palavra eficiência.

O principal diferencial dos vencedores está na gestão eficiente da cadeia, a qual inclui, entre

outros, a automação de processos entre fornecedores e varejistas e a padronização de sistemas.

13,3%1,2%

10,4%

10,4%

1,2%63,5%

Grupo Pão de Açúcar Zaffari Carrefour Wal Mart G. Barbosa outros

Page 75: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

62

5. O GRUPO PÃO DE AÇÚCAR

5.1 EVOLUÇÃO DAS VENDAS

O Grupo Pão de Açúcar sempre esteve entre as maiores empresas do setor supermercadista

segundo o Ranking publicado anualmente pela ABRAS na Revista SuperHiper.

Em 1999, o Grupo Pão de Açúcar apresentava os seguintes formatos de lojas: Pão de Açúcar,

Extra, Eletro e Barateiro. Suas vendas líquidas apresentaram um crescimento de 39% em

relação ao ano anterior.

O ano 2000, como já apresentado, foi o ano de grandes mudanças no setor supermercadista.

As vendas do grupo cresceram 28% em relação ao ano anterior, a estratégia de segmentar as

lojas de vizinhança possibilitou a consolidação da bandeira Pão de Açúcar e o

reposicionamento do Barateiro, lojas com nova estrutura, mudança na disposição dos produtos

e nova comunicação visual, mas sem perder o objetivo principal de oferecer produtos de

qualidade a preços mais baixos.

Page 76: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

63

O cenário em 2001 era desfavorável para o crescimento da economia global. O racionamento

de energia refletiu diretamente na queda do poder aquisitivo da população e na diminuição da

demanda. Mesmo assim, o Grupo apresentou um crescimento de 8% em vendas líquidas em

relação ao ano anterior e ainda manteve a liderança nacional do setor.

Os supermercados Pão de Açúcar, por serem considerados supermercados de bairro,

direcionado às classes de maior poder aquisitivo, foi o único formato de loja do grupo que, em

2001, não apresentou uma queda em suas vendas e receitas.

Com objetivo de aumentar a participação das vendas eletrônicas, o Grupo integrou as suas

unidades de negócio a unidade de comércio eletrônico - o site Amélia. Assim, as bandeiras

Pão de Açúcar e Extra ganharam um site próprio para venda de seus produtos.

Após três anos consecutivos de expansão, o Grupo decidiu olhar para dentro da sua estrutura,

ajustando o que fosse necessário para se ter melhor desempenho, maior eficiência, mais

produtividade e lucratividade (http://www.gpa-

ri.com.br/port/conheca/relatorio_anual_2001.asp).

As reestruturações ocorridas no ano de 2001 foram ainda sentidas em 2002. Os avanços

operacionais e a consolidação das bandeiras favoreceram o aumento da força de negociação e

a redução dos custos operacionais (http://www.gpa-ri.com.br/port/home/index.asp).

De 2002 para 2003, o Grupo, no seu formato de loja de supermercados populares, passou a

operar sob a bandeira do CompreBem, o objetivo inicial era criar uma estrutura mais enxuta

Page 77: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

64

de custos com uma maior variedade de produtos e foco no cliente. Logo de início representou

18% das vendas líquidas totais.

A bandeira Eletro também se junta à bandeira Extra, passando a se chamar Extra Eletro. O

processo de compras e gerenciamento de categorias passou a ser único. Em continuidade à sua

reformulação e expansão, o Grupo se associou ao supermercado carioca Sendas, passando a

operar no Estado do Rio de Janeiro (FACCHINI 2003).

Segundo a ABRAS (2002), o ano de 2003 foi o pior ano para o setor supermercadista desde

1991. O Grupo, no entanto, respondeu a esse cenário com ajustes nos produtos de marca

própria, renegociação de contratos com os fornecedores, em busca de custos e prazos mais

competitivos, e promoveu ajustes nos estoques, o que resultou em ganhos operacionais e

qualitativos (FUOCO, 2003).

Os investimentos de 2003 foram basicamente direcionados para o reposicionamento dos

formatos de lojas. Assim, o supermercado Pão de Açúcar diminui sua participação nas vendas

líquidas e o hipermercado Extra ganhou mais representatividade. Esse movimento não afetou

a participação de produtos alimentícios e não alimentícios, muito pelo contrário, até 2000

esses percentuais se mantiveram estáveis, como demonstrado no gráfico 5.

Page 78: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

65

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1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Não Alimentícios Alimentícios

Gráfico 5 - Participação de Produtos Alimentícios e Não-Alimentícios nas Vendas Brutas.

Fonte: PÃO DE AÇÚCAR (2007)

Diante disso, o grupo registrou um incremento de 45% nas vendas de sua linha de produtos

com marcas próprias. Registrou também um aumento expressivo de market share, mediante o

oferecimento de produtos com valor agregado e preços diferenciados (http://www.gpa-

ri.com.br/port/conheca/relatorio_anual_2003.asp).

O crescimento das vendas líquidas nos anos de 2005 e 2006 foi, respectivamente, de 6,8% e

1,1%.

Page 79: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

66

0%

10%

20%

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50%

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1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

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Pão de Açúcar Extra SendasCompreBem Eletro BarateiroExtra Eletro Vendas Líquidas Totais

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Gráfico 6 - Evolução da Distribuição por Formato de Loja x Vendas Líquidas Totais.

Fonte: PÃO DE AÇÚCAR (2007)

5.2 ANÁLISE DOS INDICADORES DE DESEMPENHO

5.2.1 Indicadores Financeiros

Os trabalhos iniciados no ano de 1999, tais como controle e prevenção de perdas, melhores

negociações com fornecedores e desenvolvimento de produtos com alta margem de

contribuição beneficiaram o desempenho financeiro do ano.

O Grupo registrou um lucro bruto, em 2000, de R$ 2.101,4 milhões, o que representou um

crescimento de 34% em relação a 1999, mesmo operando em um ambiente de intensa

competição. Esse desempenho reflete positivamente nos investimentos realizados em

treinamento, tecnologia da informação, distribuição e conhecimento do consumidor e nas

Page 80: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

67

sessenta e quatro lojas recém adquiridas ou em reformulação (http://www.gpa-

ri.com.br/port/home/index.asp).

Os principais investimentos do Grupo em 2000 foram direcionados para aquisições, reformas,

conversões e abertura de novas de lojas, o que fez superar suas metas de crescimento

estabelecidas para o ano (http://www.gpa-ri.com.br/port/home/index.asp).

A implantação do sistema pd@net significou um importante avanço em relação ao tradicional

sistema EDI (Eletronic Data Interchange11), uma vez que possibilitou a troca de informações

com fornecedores via internet, fazendo com que mais de 80% das compras no final do ano

fossem realizadas eletronicamente (http://www.gpa-

ri.com.br/port/conheca/relatorio_anual_2000.asp).

As vendas totais cresceram de R$ 5,4 bilhões, em 1996, para R$ 16,8 bilhões, em 2006.

Apesar disso, o percentual do lucro líquido sobre as vendas totais vem reduzindo ao longo do

tempo. Em 1996 era de 2,23% e, após 10 anos, passou a ser de 1,6%, o que pode caracterizar

o longo período de reestruturação do Grupo, com altos investimentos e retornos a longo

prazo.

Ao longo dos anos o desempenho do Grupo vem evoluindo, porém, nos últimos anos

estudados, o resultado se manteve estável. Esses resultados conquistados foram construídos

pela qualidade dos resultados operacionais, bastante superiores se comparado com os anos

11 Significa Troca Eletrônica de Dados. É a troca de documentos via sistemas de teleinformática entre duas ou mais organizações de forma padronizada. Tem como um dos principais objetivos, ao substituir o fluxo de papéis entre elas, agilizar e reduzir os custos dos processos mercantis.

Page 81: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

68

anteriores, onde o aumento do lucro bruto e da EBITDA refletem positivamente a estratégia

adotada pelo Grupo.

Para ilustrar a evolução das vendas, assim como o posicionamento estratégico do Grupo no

setor supermercadista brasileiro se apresenta na Tabela 4 alguns indicadores financeiros.

Indicadores Financeiros (em milhões de R$)

Vendas Bruta 5.404 5.729 5.133 6.943 9.052 9.533 11.154 12.788 15.297 16.121 16.460Vendas Líquida 2.937 3.114 4.384 5.803 7.630 8.055 9.455 10.806 12.565 13.413 13.880Lucro bruto 739 830 1.189 1.567 2.101 2.247 2.645 3.042 3.674 3.975 3.971EBITDA 104 159 272 423 604 634 781 902 1.044 1.170 998Lucro líquido 121 144 159 62 332 251 245 226 370 257 220Lucro líquido / ações (R$ mil) 1,74 1,84 2,04 0,64 3,09 2,22 2,17 1,99 3,26 2,26 1,93(% de vendas brutas)Lucro bruto 13,7% 14,5% 17,1% 22,6% 23,2% 23,6% 23,7% 28,2%29,2% 29,6% 28,6%EBITDA 1,9% 2,8% 6,2% 7,3% 6,7% 6,7% 7,0% 8,3% 8,3% 8,7% 7,2%Lucro líquido 2,2% 2,5% 3,6% 1,1% 3,7% 2,6% 2,2% 2,1% 2,9% 1,9% 1,6%Total de ativos 1.401 2.079 3.204 5.154 6.691 7.281 9.188 8.940 10.443 10.923 11.672Total do patrimônio líquido 570 858 972 2.315 2.963 3.404 3.592 3.768 4.050 4.252 4.842Investimentos nd nd nd 785 1209 508 1062 539 532 889 857Número de Ações (em milhões) 69.491 78.116 78.116 97.261 107.372 113.061 113.186 113.442 113.522 113.667 113.771

2004 2005 20062000 2001 2002 20031996 1997 1998 1999

Tabela 5 – Indicadores Financeiros do Grupo Pão de Açúcar

Fonte: PÃO DE AÇÚCAR (2007)

5.2.2 Indicadores Operacionais

Pelo ranking da ABRAS são considerados indicadores operacionais a evolução do número de

lojas, de funcionários, check-out, área de vendas totais, número de transações e os índices de

venda por funcionários, venda por m2, venda por check-out e ticket médio.

No gráfico 7 observa-se um aumento representativo anual no número de funcionários e na

área de vendas totais em m2 do Grupo. Esse aumento pode ser explicado pela política de

expansão do Grupo, que, por meio de fusões e aquisições ocorridas ao longo dos anos de 1999

a 2003, aumentou o número de lojas e o total da área de venda.

Page 82: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

69

Gráfico 7 – Indicadores Operacionais do Grupo Pão de Açúcar

Fonte: PÃO DE AÇÚCAR (2007)

O ticket médio, valor correspondente das vendas líquidas sobre o número de transações,

também é um indicador operacional; demonstra quanto o cliente gasta em média por visita ao

supermercado. Em 1996, o ticket médio era de R$ 25,32 e, em 2007, passou para R$ 27,11,

evidenciando que o Grupo está vendendo mais em menos transações.

0

200.000

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600.000

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1.000.000

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1996 1998 2000 2002 2004 2006

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ÁREA DE VENDAS (M 2)

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1996 1998 2000 2002 2004 2006

N.o TRANSAÇÕES (em milhões)

0

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500

600

1996 1998 2000 2002 2004 2006

N.o LOJAS

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20.000

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40.000

50.000

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1996 1998 2000 2002 2004 2006

N.o FUNCIONÁRIOS

Page 83: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

70

5.3 ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO GRUPO NO SETOR SUPERMERCADISTA BRASILEIRO

Atualmente o Grupo Pão de Açúcar ocupa a liderança do ranking do setor, publicado na

Revista SuperHiper, da ABRAS, seguido pelo Wal Mart (SP), Carrefour (SP), G. Barbosa

(SE) e Cia Zaffari (RS) (SUPERHIPER, 2007).

O posicionamento desse Grupo no setor supermercadista brasileiro é um dos seus principais

diferenciais frente a concorrência O Grupo, desde 1991, esteve entre os 5 maiores

supermercadista do Brasil (BALANÇO ANUAL, 1992).

Para concorrer nesse ambiente de mudanças constantes, no qual apenas os cinco maiores

supermercados representam 36,5% do faturamento total do setor brasileiro, a estratégia do

Grupo Pão de Açúcar é direcionada para a busca por ganhos de eficiência, que permitam

operar com despesas menores e maior eficiência (http://www.gpa-

ri.com.br/port/home/index.asp).

Como observa Mintzberg et al (2000, as escolas de posicionamento são baseadas na busca

pela defesa de posições no mercado. O Grupo Pão de Açúcar está sempre em busca de sua

consolidação na indústria, procurando manter sua estratégia de crescimento concentrada,

principalmente, em regiões onde já atua, o que permite aproveitar os benefícios de sinergia

com as estruturas existentes.

Para que as estratégias funcionem, Porter (1991) ressalta a relevância de se estabelecer dois

elementos fundamentais nas suas elaborações: objetivos, direcionando as estratégias e os

Page 84: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

71

meios claramente definidos. Em sintonia com isso, o Grupo Pão de Açúcar define sua

estratégia baseada em três pilares:

• Tecnologia e Logística – desenvolvimento de tecnologia da informação e de sistemas

e um fluxo de atendimento de toda sua área de atuação com menor custo operacional e

maior eficácia;

• Recursos Humanos – valorização, reconhecimento e investimento em seus

funcionários e;

• Sólida Estrutura de Capital – que permita atuar de forma equilibrada no setor

(http://www.gpa-ri.com.br/port/conheca/estrategia.asp).

Porter (1991) ainda sustenta que as escolhas de posicionamento determinam, não somente

quais atividades a empresa desempenhará e como serão configuradas, mas também como

ambas se relacionarão entre si. Isso reforça a questão da relação da organização interna com o

posicionamento competitivo; é a perspectiva de fora para dentro.

Assim, a parceria estratégia com o Grupo Cassino permitiu um bom posicionamento do

Grupo Pão de Açúcar no setor. Isso se deve graças à troca de conhecimentos e informações,

além de sinergias entre áreas importantes dos dois grupos, como compras globais e marcas

próprias.

Outro importante diferencial foi o desenvolvimento de fornecedores regionais, de modo a

estreitar o relacionamento com os mesmos e auxiliar na retomada do market share de cada

região.

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72

Além disso, o grupo trabalha com uma política de valorização de sua equipe e, por cinco anos

consecutivos (1999 até 2004), foi considerado pela revista Exame uma das 100 melhores

empresas para trabalhar (AS MELHORES EMPRESAS PARA TRABALHAR, 2004).

A diversidade do formato de lojas também é considerada uma vantagem competitiva do

Grupo. A habilidade de administrar diversos formatos tem sido fundamental para garantir a

satisfação e a fidelidade do cliente. E é através dessa habilidade que o Grupo procura reforçar

e aperfeiçoar o conhecimento específico de cada mercado e buscar sempre as melhores

oportunidades (http://www.gpa-ri.com.br/port/home/index.asp).

Observa-se, portanto, que o Grupo apresenta diversas estratégias dependendo do formato de

loja, mas suas competências essenciais são constantes em todos os formatos e podem ser

consideradas como vantagem competitiva pelo simples fato de Grupo conseguir ao longo dos

anos se destacar frente aos seus concorrentes, pois, de acordo com o Dierickx & Cool (1989),

apenas os recursos que não são negociáveis, imitáveis e são insubstituíveis podem ser

considerados como vantagem competitiva.

É possível, ainda, verificar que o Grupo visualiza com clareza suas competências essenciais,

bem como analisa seu ambiente interno e externo, de modo a identificar e desenvolver a

melhor estratégia. Aplicando a teoria do Modelo Delta, por meio da qual Hax e Wilde (2000)

acreditam que o objetivo principal da empresa é o de atrair e reter clientes, integrando todos

os processos operacionais e criando uma posição sustentável, o Grupo consegue, com

diferentes enfoques e escopos do Triângulo Estratégico, atender às necessidades de sus

clientes independentemente do tipo de formato de loja.

Page 86: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

73

Com relação aos formatos de lojas, cumpre mencionar que o Grupo se utiliza destes:

• Pão de Açúcar, CompreBem e Sendas – Embora o foco desses supermercados sejam

diferenciados, o primeiro é direcionado para consumidores das classes A/B e os outros

para classes mais baixas, porém todos os três utilizam a estratégia de solução total para

o cliente, oferecendo uma maior variedade de produtos e serviços que satisfaçam as

necessidades dos clientes. Independente de ser através de diferenciação ou de custo

mais baixo;

• Extra e Extra Eletro – voltados para a estratégia de melhor produto, criando laços

com os clientes através de seus produtos e serviços.

• Extra Perto – adota a estratégia de satisfação total do cliente, criando um ambiente

acolhedor com produtos alimentícios e não alimentícios com lojas próximas ao seu

público alvo.

Page 87: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

74

6. CONCLUSÃO

O objetivo desta dissertação foi analisar a evolução da indústria de supermercados até 2006,

evidenciando os principais movimentos estratégicos. Para isso, foi utilizado como referência o

Grupo Pão de Açúcar, tendo sido analisada sua evolução ao longo do tempo e as principais

mudanças estratégicas que, após a implantação do Plano Real, realizou para se manter na

liderança do setor.

A pesquisa realizada conduz a importância da definição das competências essenciais de cada

empresa em busca de vantagens competitivas. Como Hitt et al (2003) observaram, o objetivo

de toda estratégia é explorar as competências essenciais para alcançar vantagens competitivas.

Diante disso, neste setor extremamente competitivo, o Grupo Pão de Açúcar se destaca por

manter sempre presente em sua estratégia a importância do desenvolvimento de suas

competências essenciais, a saber: tecnologia e recursos humanos, utilizando-as como

vantagem competitiva frente aos concorrentes. Um exemplo disso foi a implantação do

sistema de comunicação via internet com seus fornecedores.

Page 88: Análise da evolução do setor supermercadista brasileiro: uma visão estratégica

75

Nos últimos anos o setor supermercadista brasileiro vem refletindo acerca das estratégias

utilizadas pelas empresas líderes, que, usualmente, envolvem grandes investimentos em

expansão, internacionalização do capital, busca de maior participação no mercado,

segmentação de formatos e expansão de áreas geográficas de atuação.

Contudo, apenas as grandes empresas estão na disputa. Apesar das empresas menores, em sua

maioria, possuírem uma estrutura familiar e estarem focadas apenas em uma delimitada

região, elas começam a reagir ao grande movimento de concentração do setor. Para a

sobrevivência, estão transferindo o foco para o cliente.

Atualmente a disputa para ser o maior supermercado no Brasil está entre o Carrefour e o

Grupo Pão de Açúcar. A postura de cada empresa é diferente diante das ameaças e mudanças

no ambiente. Todavia, há alguns anos consecutivos, o Grupo Pão de Açúcar consegue se

manter na liderança do setor.

As empresas líderes, além de se preocuparem com a expansão, também estão preocupadas em

perder market share, em determinadas regiões para as empresas menores. Assim, procurando

maximizar a eficiência operacional e “fidelizar” o cliente, os líderes estão oferecendo um

formato de loja adequado, um atendimento diferenciado e serviços especiais, tais como

entrega à domicílio e cartões para clientes preferenciais.

O Grupo Pão de Açúcar, nesse sentido, vem aplicando essa estratégia. Sua forte atuação,

principalmente no Nordeste e Sudeste do país, pode ser explicada pelos diferentes formatos de

lojas adequados às necessidades e às demandas da clientela local. A estratégia de expansão e

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76

crescimento, como se demonstrou neste trabalho, visa sempre à consolidação de sua posição

no mercado.

Após longos anos de cenários desfavoráveis para o crescimento do setor supermercadista, o

Grupo Pão de Açúcar entendeu que a formulação de sua estratégia deveria ser realizada de

“dentro para fora”. Como bem observado por Fleury & Fleury (2003), o aprendizado e a

experiência devem ser trabalhados juntos para a obtenção de um equilíbrio entre a busca por

eficiência e as mudanças no ambiente.

Com essa estratégia o Grupo Pão de Açúcar ganha força nesse mercado. Sua intenção ainda é

ter um maior market share no Nordeste, assim como melhorar a qualidade e quantidade de

produtos de marca própria, respeitando o posicionamento de cada bandeira, aumentar as

vendas de produtos não-alimentícios e intensificar a busca por maior eficiência operacional,

sempre investindo na atração e retenção de talentos no Grupo.

6.1 LIMITAÇÃO DO ESTUDO

Por falta de dados disponíveis que pudessem demonstrar e comprovar as estratégias utilizadas

pelas empresas líderes do setor de supermercados no Brasil, a proposta deste estudo se limitou

aos dados e informações divulgadas em revistas, jornais e em sites da empresa estudada..

A segunda limitação deste estudo foi veicular uma pesquisa baseada em dados secundários, o

que, não necessariamente, reflete as ações na prática da empresa estudada assim como do

setor de supermercados no Brasil.

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6.2 SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS

O setor de supermercados, tanto no Brasil como no mundo, precisa de estudos mais

consistentes a demonstrar os movimentos estratégicos do setor supermercadista ainda não

estudados, tais como a centralização e a globalização do setor.

Além disso, as formas de se medir desempenho do setor não são 100% eficazes, os

indicadores são demasiadamente focados no desempenho operacional e não, como deveriam,

na sustentabilidade da posição estratégica da empresa.

Ainda que o Grupo Pão de Açúcar pareça ilustrar de forma consistente a sua posição no setor,

seria enriquecedor ampliar o contexto do trabalho de maneira a avaliar o desempenho

financeiro-operacional e sua sustentabilidade. Isso vale para as demais empresas do mercado.

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