análise crítica - veja

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Centro Universitário UNA Felipe Augusto Oliveira de Carvalho Flávia Cristina da Silva Andrade O AUGE E A QUEDA DE FERNANDO AFFONSO COLLOR DE MELLO Uma análise dos fatos pela Revista VEJA Trabalho acadêmico apresentado ao Curso de Comunicação Social, Habilitação em Publicidade e Propaganda da Faculdade de Comunicação e Artes, do Centro Universitário UNA, como requisito parcial à obtenção de créditos na disciplina de Análise Crítica da Mídia. Profª . : Clara Alves Teixeira Belo Horizonte 2013

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Análise crítica da mídia VEJA com abordagem principal em suas capas do assunto Fernando Collor de Mello. O direcionamento da revista antes de sua eleição, no período eleitoral, durante seu governo e até o seu impeachment.

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Page 1: Análise Crítica - Veja

Centro Universitário UNA

Felipe Augusto Oliveira de Carvalho

Flávia Cristina da Silva Andrade

O AUGE E A QUEDA DE FERNANDO AFFONSO COLLOR DE MELLO

Uma análise dos fatos pela Revista VEJA

Trabalho acadêmico apresentado ao

Curso de Comunicação Social,

Habilitação em Publicidade e Propaganda

da Faculdade de Comunicação e Artes,

do Centro Universitário UNA, como

requisito parcial à obtenção de créditos na

disciplina de Análise Crítica da Mídia.

Profª.: Clara Alves Teixeira

Belo Horizonte

2013

Page 2: Análise Crítica - Veja

A presente crítica tem como objetivo apresentar como foi o processo eleitoral do

presidente Fernando Affonso Collor de Mello, primeiro presidente eleito em eleições

diretas no Brasil após o golpe militar iniciado em 1964, desde sua escolha pela

nação até chegar ao impeachment, ocorrido em 1992, sempre observando como o

fato foi apresentado pela Revista VEJA.

A Revista VEJA é um veículo de mídia impressa, com distribuição semanal e de

circulação nacional, lançada em 1968 por dois importantes jornalistas brasileiros:

Victor Civita e Mino Carta. A revista tem seu foco em temas políticos, econômicos e

culturais, e pouquíssimas vezes trás em sua capa assuntos como tecnologia,

ecologia e religião. Conhecida por suas reportagens polêmicas, a VEJA ainda é o

maior semanário do Brasil, com tiragem aproximada a um milhão de cópias/semana

sendo a maior parte referente a assinaturas. Desde seu surgimento, dentro dos

movimentos estudantis que tomavam conta do país durante o período da ditadura,

muitos acreditam que a VEJA é uma revista de extrema direita, que assume um lado

político só, demonstrando parcialidade em todas as suas publicações. Fatos que

podem ser observados nas publicações do site Paraíba.com.br, no site Carta

Capital nas publicações do jornalista e deputado Emiliano José e nas publicações do

jornalista Marco Antonio Araújo.

Fernando Affonso Collor de Mello é natural do Rio de Janeiro, mas começou sua

vida política em Maceió, sendo prefeito pelo partido ARENA no período

compreendido entre 1979 e 1982. Após seu mandato, migrou para o PDS e foi eleito

deputado federal entre 1982 e 1986. Em sua incumbência parlamentar, votou

favoravelmente à proposição mal sucedida das “Diretas Já” em 1984 e votou no

deputado federal Paulo Maluf na eleição presidencial brasileira de 1985. Em 1986,

filiou-se ao PMDB, que lançou sua candidatura a governador do estado de Alagoas.

Governou o estado entre os anos de 1987 a 1989. Opondo-se ao governo do

presidente José Sarney, filiou-se ao PRN, renunciou ao governo alagoano, e lançou

sua candidatura à presidência em 1989, de acordo com o site Sampa.art.br.

Durante todo o processo eleitoral, muito se falou que o candidato foi beneficiado

pela mídia televisiva e impressa, porém, a revista foi um tanto quanto contraditória.

Primeiro apoiou o (futuro) novo presidente, mas após a polêmica entrevista de seu

irmão à própria revista, foi contra o governo e deu grande destaque ao impeachment

de Collor.

Nas páginas seguintes podemos entender melhor como se deu esta mudança diante

das ocorrências de fatos e imagens das capas da revista VEJA na época.

Intencionalmente ou não a revista VEJA publicou a farra dos supersalários em sua

edição de nº 988 com a chamada Praga dos Marajás em 12/08/1987, a qual batia de

frente com o governo de Sarney e seus seguidores. Capa que ganhou destaque por

sua conexão com marajás de verdade, que observamos na figura 1.

Page 3: Análise Crítica - Veja

Figura 1 - Revista VEJA Nº 988 - 12/08/1987

Nas capas abaixo, Fernando Collor ainda era governador do estado de Alagoas e já

um forte candidato a assumir a cadeira de presidente. Como tantas outras matérias

de outras mídias, a revista caprichou na capa histórica de 23/03/1988, o que ajudou

a construir a imagem de Fernando Collor como um mítico caçador de marajás,

exemplo solitário e grandioso de político honesto. Foi uma das edições mais

vendidas na época e deu um grande impulso nas pesquisas eleitorais. Levou às

partes mais remotas do país a imagem de um político honesto, comprometido e do

bem. Seguida esta linha por todas outras edições ao citar o político a VEJA criou a

imagem de “salvador” da pátria de Fernando Collor.

Figura 2 – Revista VEJA - 23/03/1988

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Figura 3 - Revista VEJA Nº 1079 - 17/05/1989

Figura 4 – Revista VEJA Nº 1091 – 09/08/1989

Com a imagem de um governante sério e engajado com as causas do país era

questão de pouco tempo o então político se tornar o presidente eleito do país. Mas a

luta não foi assim tão fácil. Collor tinha a concorrência direta com os sindicalistas da

época representados por Luís Inácio Lula da Silva, que divida os votos no país,

sendo a eleição decidida no segundo turno. Abaixo seguem capas do período entre

o primeiro e segundo turno destas eleições.

Page 5: Análise Crítica - Veja

Figura 5 – Revista VEJA Nº 1108 – 06/12/1989

Figura 6 - Revista VEJA Nº 1109 – 13/12/1989

Figura 7 - Revista VEJA Nº 1109 – 13/12/1989

Page 6: Análise Crítica - Veja

Logo após sua posse, Collor já disparou a primeira bomba contra a alta inflação

brasileira: o confisco das cadernetas de poupança. Os indivíduos que tinham mais

de 50.000 cruzados novos poupados nos bancos sofreriam corte e teriam seu

dinheiro retirado. Segundo o presidente, essa medida seria decisiva e ajudaria a

abaixar a tão alta inflação que abalava a economia brasileira. Sua Ministra da

Fazenda, Zélia Cardoso de Mello, também já chegou causando alvoroço no Planalto,

com um ambicioso e polêmico plano econômico que previa a implantação de uma

moeda única no país. Começa a partir daí o posicionamento contrário da revista em

relação ao político. De certa forma percebe-se que se trata de uma artimanha para

desvincular a imagem de apoiadora do governo, a revista resolveu colocar para o

país as contraditórias ações do governo que iam contra o bem da população.

Reportagens e capas demonstram como o governo estava prestes a afundar o país,

a começar pelo desvio dos fundos das cadernetas de poupança dos brasileiros. Um

fator que pesava em sua opinião era o cenário econômico que o país atravessava.

Com inflação em alta os empresários estavam insatisfeitos com o governo.

Observamos tais dados nas capas a seguir.

Figura 8- Revista VEJA Nº 1129 - 21/03/1990

Figura 9 - Revista VEJA Nº 1126 - 18/04/1990

Page 7: Análise Crítica - Veja

Figura 10 - Revista VEJA Nº 1131 – 26/05/1990

Figura 11 - Revista VEJA Nº 1138 – 11/07/1990

Figura 12 – Revista VEJA Nº 1141 – 01/08/1990

Page 8: Análise Crítica - Veja

Figura 13 – Revista VEJA Nº 1155 – 07/11/1990

Segundo a própria revista VEJA em um artigo publicado em seu site na coluna

Coleções: Fernando Collor de Mello, “Os seguidos fracassos na área econômica,

acompanhados de trapalhadas políticas nos dois primeiros anos de mandato,

colocaram o governo Collor na berlinda. Mas o pior ainda estava por vir. Em maio de

1992, VEJA publicou uma histórica reportagem de capa com as denúncias de Pedro

Collor contra seu próprio irmão, o presidente Fernando. Nos quatro meses

seguintes, a revista lançou mais catorze capas sobre o esquema de corrupção

organizado pelo tesoureiro de campanha do presidente, Paulo César Farias, o PC.”.

Reforçando assim sua posição de mídia contrária as ações do governo e favorável à

sua cassação.

Figura 14 – Revista VEJA Nº 1235 - 20/05/1992

Numa polêmica entrevista exclusiva à revista VEJA, Pedro Collor revelou bastidores

do governo do irmão e expôs sua indignação com o que estava acontecendo em

Brasília.

Page 9: Análise Crítica - Veja

Já nos primeiros trechos da entrevista, Pedro mostra que não temia o que poderia

acontecer a ele e diz:

VEJA – O senhor tem dito que suas revelações

podem acabar com o governo de seu irmão. É isso

que o senhor quer?

PEDRO COLLOR – Não, mas qual foi o principal

mote da campanha do Fernando? Quem roubar

vai para a cadeia. Na prática, estou vendo uma

coisa completamente diferente. Ninguém pode

enrolar todo mundo o tempo todo.

Após a entrevista, uma avalanche de polêmicas e acusações contra Collor tomavam

as ruas do país e o desejo do “Fora Collor” ganhava mais adeptos. Uma série de

atos de corrupção foi sendo revelado aos poucos e a imagem do presidente

começou a ficar cada vez mais “manchada”. A partir daí surgiu o movimento dos

caras pintadas, que pedia o impeachment de Collor. Os jovens tomaram as ruas do

Brasil e esse evento marcou uma geração. Na imprensa, os discursos se inflamavam

favor de Collor, mas a revista VEJA ficava cada vez mais a favor da população,

publicando matérias que iam contra o governo e publicando cada vez mais

escândalos relacionados ao que acontecia no Planalto.

Figura 15 – Revista VEJA Nº 1249 – 19/08/1982

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Figura 16 – Revista VEJA Nº 1250 – 26/08/1982

Contra dizendo um de seus discursos no início dos anos 1990, a revista assumiu um

lado político e passou a ser ainda menos imparcial ao levar a informação ao

consumidor como percebemos nas capas das revistas a seguir em que a VEJA usa

termos mais coloquiais ao tratar a situação do governo Collor, chamando as atitudes

governamentais de “cafajestadas” e termos como “estourou”, “caiu”, entre outros.

Figura 17 – Capas da revista VEJA Nº 1253, 1254 e 1255 – 16, 23 e 30/09/1992.

Depois de um penoso processo de apuração e confirmação das acusações e da

mobilização da população por todo o país, o congresso nacional votou o

impeachment presidencial. Primeiramente, o processo foi apreciado na câmara dos

deputados, em 29 de setembro de 1992, e depois, no senado federal, em 29 de

dezembro de 1992, dados que podem ser verificados no próprio site da Câmara dos

Deputados. Dias antes da aprovação, a revista VEJA prenunciava a saída do

presidente e de sua equipe dos cargos que ocupavam no governo. Seis dias antes

de se confirmar oficialmente a saída de Collor, graças à pressão popular, o

presidente renunciou ao cargo.

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Figura 18 – Revista VEJA Nº 1268 – 30/12/1982

Conclui-se então o mais escandaloso e tenso período da história da política

brasileira pós-ditadura. Fica clara a influência da imprensa em todos os aspectos,

desde a eleição até a saída de Collor do poder. A revista VEJA, veículo midiático

aqui retratado, mostrou-se contraditória nesse período da história, pois esta foi quem

criou e moldou a imagem de Fernando Collor como um político de boa índole, de

forma a o apoiar até a sua eleição. Após o escândalo do confisco das cadernetas de

poupança a revista começa a adotar uma posição neutra ao mostrar os fatos que

viriam a seguir no cenário político da época. Ao notar que o governo não

correspondia aos anseios de parte da população e sobretudo os empresários a

VEJA resolve então desmistificar a imagem de bom moço do então presidente e

apoiar a população brasileira, mostrando indignação e retratando os fatos de forma

contrária aos desmandos do governo. Enfim, percebemos que a revista VEJA, molda

os seus artigos de acordo com seus interesses, pois caso ela apoiasse a

permanência de Fernando Collor no poder, corria o risco de perder a credibilidade e

a fidelidade de seus leitores em sua maioria empresários.

Page 12: Análise Crítica - Veja

REFERÊNCIAS:

Site Carta Maior: <<http://www.cartamaior.com/capas_veja/>> (Acesso em

01/04/2013.).

Site Imprença: <<http://www.imprenca.com/?p=846>> (Acesso em 01/04/2013.).

Site SampaArt: <<http://www.sampa.art.br/biografias/collor/>> (Acessso em

03/04/2013.).

Site Tudo em Cima: <<http://tudo-em-cima.blogspot.com.br/2011/09/revista-veja-

vinte-anos-servico-da.html>> (Acesso em 03/04/2013.).

Site Revista Veja: <<http://veja.abril.com.br/arquivo_veja/fernando-collor-de-mello-confisco-pc-farias-impeachment-casa-da-dinda.shtml>> (Acesso em 04/04/2013.).

Site Revista Veja: <<http://veja.abril.com.br/busca/resultado-

capas.shtml?Vyear=1988>> (Acesso em 20/04/2013.).

Site Revista Veja Especial- 35 anos:

<<http://veja.abril.com.br/especiais/35_anos/p_030.html>> (Acesso em 04/04/2013.).

Site Câmara dos Deputados: <http://www2.camara.leg.br/atividade-

legislativa/plenario/discursos/escrevendohistoria/20-anos-do-impeachment>>

(Acesso em 19/04/2013.).

Site Revista Carta Capital: << http://www.cartacapital.com.br/politica/o-jornalismo-

murdochiano/>> (Acesso em 22/04/2013.).

Site Paraiba: <<http://www.paraiba.com.br/2011/10/28/74476-wikileaks-eua-dizem-

que-veja-e-exagerada-e-estadao-e-o-globo-sao-de-direita>> (Acesso em

22/04/2013.).

Portal R7: <<http://noticias.r7.com/blogs/o-provocador/2011/07/13/com-alzheimer-

veja-enfim-se-lembra-da-ditadura-militar/>> (Acesso em 22/04/2013.).

Site Editora Abril: <<http://www.publiabril.com.br/tabelas-gerais/revistas/circulacao-

geral/imprimir>> (Acesso em 22/04/2013.).