análise crítica do discurso e letramento crítico

8/4/2019 análise crítica do discurso e letramento crítico

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V Fórum Identidades e Alteridades

I Congresso Nacional Educação eDiversidade

ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO ELETRAMENTO CRÍTICO: RELAÇÃO ENTREDISCURSO, PODER E CONSTRUÇÃO DE

IDENTIDADES NAS PRÁTICAS DELETRAMENTO ESCOLAR

por Derli Machado (doutorando UFRN)[email protected]



Letramento

Na minha concepção o conceito de letramento está associado ao

conceito de plenitude: plenitude do ser, do saber, do conhecer, do

pertencer, do exercer... Nesse sentido, acredito que a questão do

(multi)letramento precisa ser melhor investigada e aplicada não só naescola como também nas diferentes práticas sociais, só assim “nada

do que foi será de novo do jeito que já foi um dia...”.

Privar as pessoas da leitura do mundo é muito pior do que privá-las

da leitura das palavras. A gente não quer só bolsa família, a gentequer letramento, diversão e arte. A gente não quer só bolsa família. A

gente quer saída... Para qualquer parte...

O letramento pleno pode ser uma saída para a compreensão do outro

e do próprio eu. Leio o mundo, logo existo! E se existo, sei quem eusou: sou cidadão letrado. E chega de papo furado.

Eu quero mais é ler e ser feliz daqui pra frente... E SEMPRE!Derli Machado



Antes de teorizar, vamos filosofar

Mãe da arte de ensinar, força que gera transformação, é você

Educação.

Letramento: começa em casa, continua na igreja, na escola, na

rua e termina ne-ni-no nunnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnca.

Letramento crítico: ferramenta essencial para o exercício pleno da

cidadania

Letramento pleno: plenitude do ser, do saber, do conhecer, dopertencer, do exercer...

Derli Machado



ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO –ACD

• Uma teoria e um método de análise do discurso consolidado noinício da década de 1990 – vertente anglo-saxã de AD.

• Estuda a fundo as estratégias e as estruturas de texto e de fala, afim de descobrir os padrões de dominação e de manipulação.

• É multidisciplinar: busca subsídios em áreas conexas (CiênciasSociais) para dar conta da interação entre discurso e estruturassociais

• Privilegia o estudo da interligação entre poder e ideologia com oobjetivo de desmistificar os discursos decifrando as ideologias

(cultiva uma perspectiva emancipatória).



Modelo semiótico• A ACD trabalha com um modelo semiótico de

linguagem: analisa não apenas o componentelinguístico, mas também o extra-linguístico



a língua é uma atividade dialética quemolda a sociedade e é moldada por ela



O discurso é visto como ummodo não apenas de

representação, mas tambémde ação sobre o mundo, mais

especificamente sobre as

pessoas, sendo uma práticade “significação do mundo,constituindo e construindo o

mundo em significados”(Fairclough, 2001:91).

PERSPECTIVAS TEÓRICAS



Crítico nas palavras de Fairclough“implica mostrar conexões e causas que

estão ocultas; implica também intervenção – por exemplo, fornecendo recursos por meio das mudanças para aqueles que

possam encontrar-se em desvantagem”.



A interface discurso e ideologia

• AS IDEOLOGIAS servem para estabelecer esustentar relações de dominação, reproduzindo aordem social que favorece indivíduos e grupos

dominantes.• De acordo com Fairclough (2008, p. 121), “[...] as

práticas discursivas são investidas

ideologicamente à medida que incorporamsignificações que contribuem para manter oureestruturar as relações de poder”.



• Na concepção da ACD, o discurso é uma práticaideológica que estrutura as relações de poder na sociedade e é por elas estruturado,mantendo ou transformando identidades e

relações sociais.• Segundo Heberle (2000, p. 291),• Em estudos de ACD há a preocupação com a

desconstrução ideológica dos textos, com asrelações complexas entre texto, conversa,cognição social, poder, sociedade e cultura [...].Consideram-se aspectos sócio-culturais que vãoalém de estudos tradicionais de descrição eexplicação de elementos linguisticos, mostrandocomo o discurso reforça e ao mesmo tempo éreforçado pelo ‘status quo’, pela estrutura social.



O PODER

• Na sociedade contemporânea, cada vez mais, asrelações de poder são estruturadas discursivamente

• é sinalizado não somente pelas formas gramaticais

presentes em um texto, mas também pelo controleque uma pessoa exerce sobre uma ocasião socialatravés do gênero do discurso.

• é justamente dentro dos gêneros associados a certasocasiões sociais que o poder é exercido oudesafiado.



Pelos poderes doPelos poderes doPelos poderes doPelos poderes doLETRAMENTO!LETRAMENTO!LETRAMENTO!LETRAMENTO!

eu tenho a for eu tenho a for eu tenho a for eu tenho a forçççça!a!a!a!



as ideologias permeiam os

“mundos de letramento”

• Para o desenvolvimentode um olhar crítico sobreos diferentes “mundos de

letramento” é precisoreconhecer que estesestão ligados a

processos sociais eculturais mais amplos.



As diferentes instituições e práticassociais veiculam ideologias.



eventos de letramento noeventos de letramento no

contexto escolar contexto escolar

•• Pr Pr áática socialtica social•• DiscursoDiscurso•• Qualquer aQualquer açção no mundo se dão no mundo se dáá a partir doa partir do

discurso e atravdiscurso e atravéés dele.s dele.•• Veicula significaVeicula significaçções e ideologias queões e ideologias que

constroem a realidadeconstroem a realidade

•• Pode favorecer as transformaPode favorecer as transformaçções, aoões, aoveicular um sentido fortalecedor eveicular um sentido fortalecedor eemancipatemancipatóóriorio

•• Pode ratificar o poder e a hegemoniaPode ratificar o poder e a hegemonia



RELAÇÕES DE CAUSA E EFEITO

MUDANÇAS NAS ESTRUTURASSOCIAIS

PRÁTICAS DELETRAMENTO

DISCURSO

IDEOLOGIA PODER HEGEMONIA



• Segundo Street (1984), o modelo ideológico deletramento apresenta uma perspectiva social,pois considera que as práticas de letramentodependem da sociedade em questão e dasideologias nela veiculadas.

• Segundo Kleiman (1995), o letramento éconsiderado um “conjunto de práticas sociais,cujos modos específicos de funcionamento têm

implicações importantes para as formas pelasquais os sujeitos envolvidos nessas práticasconstroem relações de identidade e de poder”.



RELAÇÃO ENTRE AS PRÁTICAS DELETRAMENTO E O PODER SOCIAL

• A produção e a recepção textuais podem

mudar a realidade social ao alterar osentendimentos e relações



Relações de poder e hegemonia que

estão atravessadas nas práticas deletramento

• O termo letramento é empregado,segundo Street (1984, p. 1), para designar “práticas sociais e concepções de leitura e

de escrita”• Acentua Street (1884), “as práticas de

letramento se circunscrevem ao contextosocial e incorporam não apenas eventosde letramento, mas também ideologias,valores e crenças”.



Perguntas que normalmente fazemos

aos textos

Interpretação de texto

Sobre o que é este texto?

Como sabemos?

Para quem é dirigido esse texto e por quê?

Por que estamos lendo e / ou visualizandoesse texto?

O que o autor do texto quis dizer?



Letramento CríticoHá várias perspectivas teóricas sobre o letramento

crítico. Todas requerem uma abordagem ativa edesafiadora em relação a leitura e as práticas sociais.

O letramento crítico envolve análise e crítica da relação

entre

textos

linguagem

podergrupos

sociais

práticassociais



L e t r am en

t o C r í t i c o

•Examinar o sentido que não está na superficie dotexto;

•Considerar o propósito do texto e as intenções doautor;

•Compreender que os textos não são neutros, elesrepresentam visões particulares, silenciam outros

pontos de vista e influenciam as pessoas;

•Questionar e desafiar as maneiras como os textossão construídos;



(MEURER, 2005, p. 105,106).

• Em termos de aplicação prática de ensino, com base naACD, os[as] professores[as] podem envolver os[as]alunos[as] em práticas que promovam o que Faircloughchama de conscientização quanto à linguagem, emespecial quanto ao papel constitutivo do discurso. Por

exemplo, os professores[as] podem utilizar com bonsresultados três perguntas gerais explorando o princípiode que a linguagem tem o poder de constituir formas deconhecimento e crenças, relações e identidades:



• (1) Como esse texto representa, em

termos de conhecimentos e crenças, a‘realidade específica’ a que estárelacionado?

• (2) Que tipo de relações sociais esse textoreflete ou estabelece?

• (3) Quais as identidades ou os papéissociais envolvidos nesse texto?



• A ACD permite aos[as] professores[as]

encorajar seus[suas] alunos[as] aobservar que tipos de texto precedem eseguem o uso de determinado gênero

específico e como ‘poêm em ação’ formasde “ver” o mundo, identidades, relações,

maneiras de construir e distribuir textos,refletindo ideologias e formas de poder (MEURER, p. 106)



L e t r am en

t o C r í t i c o

Perguntas, tais como,

problematizam as mudanças nasociedade – que estão ocorrendo de

forma muito rápida, e nos instiga a refletir a respeito delas.

há

interesse

de quem?

Com qual

propósito?Quem se

beneficia?

C í



L e t

r am en

t o C r í t i c o

Características de uma abordagem deletramento crítico

•Desconstrução da estrutura e das

características do texto ;

•Os textos não são considerados comoatemporais; universais e não-tendenciosos;

•Exploração de leitura alternativa (implicaquestionamento de valores subjacentes ao

texto);



“O letramento crítico busca engajar o

aluno em uma atividade crítica através dalinguagem, utilizando como estratégia oquestionamento das relações de poder,

das representações presentes nosdiscursos e das implicações que isto pode

trazer para o indivíduo em sua vida ecomunidade” MOTTA, 2008



L e t

r am en

t o C r í t i c o

Perguntas relativas ao letramento crítico

Construção de identidades

Como as identidades de crianças, adolescentes, jovens ou adultos são construídas neste texto?

Por que o autor do texto representou as

identidades de uma determinada maneira?Lacunas e silêncios

Existem "lacunas" e "silêncios" no texto?

Quem está ausente do texto?

Que perguntas sobre si mesmo, o texto não

levanta?

Perguntas relativas ao letramento crítico



L e t

r am en

t o C r í t i c o

Perguntas relativas ao letramento críticoPoder e interesse

Qual o interesse do texto? Quem se beneficia com o texto? É o texto justo?

Que conhecimento é que o leitor / espectador precisatrazer para entender isso? Que posições, vozes e interesses estão em jogo notexto?

Como é que o leitor ou espectador se posiciona emrelação com o autor do texto? Como o texto retrata a idade, sexo e / ou gruposculturais? Quais pontos de vista são excluídos ou privilegiados notexto? Quem está autorizado a falar?

Quem é citado? Como é citado?



Exemplo : estereótipo do índionos livros didáticos de Históriae Geografia

questão problema: Quais as imagensconstruídas pela historiografia do índiobrasileiro nos livros didáticos de História eGeografia do ensino fundamental (1ª a 4ªsérie)?



Letra da música da cantora e compositora Rita Lee,gravada em 1980, que serviu de texto de leitura para um

livro didático:MACEDO, 1996, p 34)

• Se Deus quiser, um dia eu quero ser índio

• Viver pelado, pintado de verde

• Num eterno Domingo,

• Ser um bicho preguiça

• Espantar turista• E tomar banho de sol (...)

• Baila comigo, como se baila na tribo. (...)



Imagens estereotipadas sedimentadas

ATRAVÉS DOS LIVROS DIDÁTICOS• A maioria das pessoas, quando pensa em um

índio brasileiro, visualiza um tupi ou um guaranipelado, caçando, pescando ou deitado em umarede. Nas escolas, a reação costuma ser amesma.

• Essas imagens estereotipadas foramsedimentadas na cabeça de várias gerações deestudantes através dos livros didáticos: eles são

primitivos e selvagens; pois vivem socados nomeio das matas, como “animais”. Eles sãopreguiçosos, pois não trabalham como nós, osbrancos.



Livros didáticos: a verdade de

quem?

• Para Rocha (1999, apud Oliveira 2005), oslivros didáticos carregam um valor de autoridadee ocupam um lugar de supostos donos daverdade. Os estudantes são testados, via deregra, em face do seu conteúdo, o que faz comque seu saber tende a ser visto como algo

“rigoroso”, “sério” e “científico” e as informaçõesneles contidas acabem se fixando no fundo damemória de todos nós.

Â



IMPORTÂNCIA da ACD no

LETRAMENTO escolar

• Formação de leitores críticos –encoraja os alunos a analisar textos de

forma que possam trazer significadossubmersos para a superfície.



O buraco é mais embaixo



Proposta de trabalho com a ACD em

letramento escolar

1 . Comece utilizando pequenos textos –propagandas são uma boa possibilidadepor serem breves / curtas.

2. Ao trabalhar com textos mais longos,escolha poucos aspectos do texto para

serem analisados – o professor podeanalisar o texto primeiro e depoischamar atenção dos alunos para osaspectos mais relevantes.



E lembrem-seNem só da estrutura formal-objetivista,

centrada nos códigos e habilidades, viveas práticas de letramento, mas de todaforma de poder que procede das relações

sociais. Todo letramento possui umaintencionalidade. Não existe prática deletramento inocente.

Derli machado de Oliveira.



REFERÊNCIAS• ALTHUSSER, Louis. [1996] Aparelhos ideológicos de Estado. 8. ed.

Rio de Janeiro: Graal, 2001.

• FAIRCLOUGH, N. Discurso e mudança social. Tradução de I.Magalhães et al. Brasília: Ed. UnB, 2001.• KLEIMAN, A. B. (Org.). Os significados do letramento: uma nova

perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas, SP:Mercado de Letras, 1995.

• OLIVEIRA, Derli Machado de. Estereótipo do índio nos livrosdidáticos de História e Geografia. Monografia, 2005.• MOTTA, Aracelle Palma Fávero. O letramento crítico no

ensino/aprendizagem de língua inglesa sob a perspectiva docente.• Disponível em

http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/379-4.pdf?PHPSESSID=2009051408162317. Acessado em 15.04.2011• STREET, V. B. Literacy in theory and practice. Cambridge:

Cambridge University Press, 1984.

análise crítica do discurso e letramento crítico

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