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Tearfund Moçambique Análise Contextual sobre HIV/SIDA, Água e Saneamento, Gestão de Desastres Naturais, Advocacia e Mudanças Climáticas MAPUTO, OUTUBRO DE 2007

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Tearfund Moambique

Anlise Contextual sobre HIV/SIDA, gua e Saneamento, Gesto de Desastres Naturais,

Advocacia e Mudanas Climticas

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ANLISE CONTEXTUAL TEARFUND MOAMBIQUE

KULA: ESTUDOS E PESQUISAS APLICADAS, LDA

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NDICE FICHA TCNICA ...................................................................................................................................... 3 ABREVIATURAS ...................................................................................................................................... 4 I. INTRODUO ....................................................................................................................................... 6 II. A POBREZA: UM PROBLEMA GLOBAL ................................................................................................. 7

II.1. Objectivos de Desenvolvimento do Milnio (ODM) ................................................................ 7 III. CONTEXTO DE MOAMBIQUE ............................................................................................................. 9

III.1. Situao Geogrfica e Diviso Administrativa ....................................................................... 9 III.2 O Contexto Histrico .............................................................................................................. 11 III.3 Definio conceptual e percepes da pobreza .................................................................... 12 III.4 Situao geral da pobreza em Moambique ......................................................................... 13

IV. FACTORES DA POBREZA EM MOAMBIQUE ...................................................................................... 17 IV.1. HIV/SIDA .............................................................................................................................. 17

IV.1.1. Evoluo da Epidemia e Resposta Nacional ................................................................ 17 IV.1.2. O Impacto Demogrfico ................................................................................................ 19 IV.1.3. Estratgia da Resposta Nacional .................................................................................. 20

IV.2. gua e Saneamento ............................................................................................................ 21 IV.2. 1 Sade e nutrio ................................................................................................................ 26 IV.2. 2 Educao ........................................................................................................................... 27 IV.3 Gesto de Desastres Naturais .............................................................................................. 28 IV.4 Advocacia .............................................................................................................................. 38 IV.5. Mudanas Climticas ............................................................. Error! Bookmark not defined.

V. A RESPOSTA NACIONAL................................................................... ERROR! BOOKMARK NOT DEFINED. V.1. Principais Instrumentos de Luta Contra a Pobreza ............... Error! Bookmark not defined. V.2 Principais Actores .................................................................... Error! Bookmark not defined.

VI. RECOMENDAES ESTRATGICAS .................................................. ERROR! BOOKMARK NOT DEFINED. VII. REFERNCIAS ................................................................................................................................ 41

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FICHA TCNICA

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ABREVIATURAS

BM Banco Mundial CEP Centro de Estudos da Populao CNCS Conselho Nacional de Combate ao SIDA DAA Departamento de Arqueologia e Antropologia NPO Direco Nacional de Planificao e oramento NPCS Ncleo Provincial de Combate ao SIDA ESDEM Estatsticas Sociais, Demogrficas e Econmicas de Moambique FRELIMO Frente de Libertao de Moambique HIV Vrus de Imuno-Deficincia Humana IAF Inqurito sobre Agregados familiares IFT Inqurito sobre Fora de Trabalho IDH ndice de Desenvolvimento Humano IDS Estatsticas Internacionais de Desenvolvimento IDES Inqurito Demogrfico e de Sade IPCC Instituies de Participao e Consultas Comunitrias INE Instituto Nacional de Estatstica INJAD Inqurito nacional sobre Sade Reprodutiva e comportamento social de Jovens MPD Ministrio de Planificao e Desenvolvimento MADER Ex -Ministrio da Agricultura e Desenvolvimento Rural MICOA Ministrio Para a Coordenao da Aco Ambiental MISAU Ministrio da Sade MONASO Rede Moambicana de Organizaes na Luta Contra a SIDA ODM Objectivos de Desenvolvimento do Milnio OJM Organizao da Juventude Moambicana ONG Organizaes No- Governamentais ONU Organizaes das Naes Unidas OP Observatrio da pobreza OPN Observatrio Nacional da Pobreza PEN Plano Estratgico Nacional PES Plano Econmico e Social PIB Produto Interno Bruto

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PNUD Programa das Naes Unidas para desenvolvimento PQG Programa Quinquenal do Governo PSI Servio Internacional para Populao PARPA Plano de Aco Para a Reduo da Pobreza Absoluta QUIBB Questionrio de Indicadores Bsicos de Bem-estar RAP Relatrios Anuais Sobre a Pobreza RGPH Recenseamento geral de Populao e Habitao RENAMO Resistncia Nacional de Moambique SETSAN Secretariado Tcnico de Segurana Alimentar e Nutricional SADC Comunidade de Desenvolvimento da frica Austral SIDA Sndroma de Imuno Deficincia Adquirida SLE Centro de Formao Avanada em Desenvolvimento Rural TIA Trabalho de Inqurito Agrcola UEM Universidade Eduardo Mondlane UNICEF Fundo das Naes Unidas para a Infancia

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I. INTRODUO A Tearfund Moambique tem vindo a apoiar parcerias de desenvolvimento com organizaes locais crists em Moambique nos ltimos 13 anos. A Tearfund vem desenvolvendo planos estratgicos de cooperao para transformar vidas de mais de 50 milhes de pessoas pobres para poderem superar no mundo a pobreza espiritual e material, ajudando aproximadamente mais de 100,000 igrejas locais. A Tearfund vem reforando as capacidades de parcerias com igrejas locais de programas em algumas reas consideradas prioritrias por si identificadas, tendo em vista a realizao de um workshop envolvendo os seus parceiros, a decorrer no ms de Outubro de 2007 para estabelecer-se o Plano de Trabalho para os prximos seis anos em Moambique. O presente trabalho sobre macro indicadores da situao da pobreza em Moambique visa fornecer informao necessria para facilitar o desenho de estratgias relevantes de alvio pobreza. Interessa desta forma compreender quem so as pessoas pobres, qual o impacto da pobreza e que solues ou possveis estratgias podem fazer a diferena nas vidas dos pobres. Esta anlise contextual visa fortificar a capacidade das agncias locais crists de desenvolvimento e outros parceiros. A anlise contextual pretende extrapolar possveis capacidades dos parceiros e tambm possibilitar intervenes inovativas naquilo que os parceiros pretenderem em termos de capacidades. Esta anlise incluir sumrios especficos das reas de interveno da Tearfund (HIV/SIDA, gua e Saneamento, Advocacia, Gesto de Desastres Naturais, e Mudanas Climticas). A informao aqui exposta foi retirada da documentao que existe disponvel para cada uma das reas. Em primeiro lugar importante referir que no existe muita disponibilidade de informao sistematizada para algumas das reas mais especficas aqui abordadas (como Gesto de Desastres Naturais e Mudanas Climticas). Por outro lado muita da informao disponvel no se encontra desagregada at aos contextos geogrficos mais pequenos, como so os casos de distritos e postos administrativos.

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II. A POBREZA: UM PROBLEMA GLOBAL A pobreza um problema global que afecta maior parte das naes, pese embora ela tenha maior incidncia em pases em vias de desenvolvimento. Apesar do progressos de certos pases e regies, a extrema pobreza persiste como um probrema de difcil soluo na maior parte do mundo. Ganhos substanciais em alguns pases so acompanhados por grandes perdas em outros,e o nmero de pessoas que continua a ganhar menos de um dlar por dia, e sofrer com fome, falta de gua, saneamento, problemas de HIV/SIDA, desastres naturais, mudanas climticas e muito mais. Estas situaes tem acarretado ndices de pobreza muito elevados, da a resposta global para a sua erradicao ter preconizado metas para o alvio da pobreza expressos nos ODM.

II.1. OBJECTIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILNIO (ODM)

No incio dos anos 90 do sculo passado, as Naes Unidas organizaram uma srie de conferncias mundiais com o propsito de criar uma parceria comum do desenvolvimento global. Nessas conferncias traaram objectivos e metas comuns de desenvolvimento, incluindo objectivos quantitativos, metas com prazos definidos e indicadores numricos para realizar a monitoria do progresso. A lista desses objectivos e metas passou a ser designada por Metas Internacionais de Desenvolvimento. Estas conferncias tiveram o seu ponto mais alto em Setembro de 2000, perodo em que 147 chefes de Estado se encontraram na Cimeira do Milnio e adoptaram a declarao do Milnio. A Declarao do Milnio foi uma reafirmao, pelos lderes mundiais, em assumir uma maior responsabilidade conjunta de apoio aos princpios da dignidade humana, igualdade e equidade esfera global. A declarao estabeleceu um nmero de objectivos de desenvolvimento interligados e que se apoiam mutuamente, que poderiam constituir de alicerces para a definio de uma agenda de desenvolvimento global. A mesma reala preocupaes relativas Paz, Segurana e Desenvolvimento, nomeadamente nas reas do Ambiente, Direitos Humanos, Democracia e Boa Governao e tambm aponta as necessidades especficas do desenvolvimento do continente fricano. A Declarao reala que, embora as naes em desenvolvimento tenham a responsabilidade de incentivar reformas de polticas e de fortalecer cada vez mais a governao, elas no podero atingir os objectivos traados sem a ajuda da comunidade internacional, mediante novas formas de ajuda, de normas comerciais equilibradas e da minimizao da dvida. A maioria dos pases do mundo comprometeu-se a trabalhar em conjunto para reduzir a pobreza pela metade at 2015, quando assinaram a Declarao do Milnio. A Declarao do Milnio fixou oito objectivos a saber:

Erradicao da Fome e da Pobreza Conseguir uma educao primria universal e ensino tcnico profissional Promover a igualdade de gnero fortificando a mulher Reduzir a mortalidade infantil

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Promover a sade materna Combater o HIV/SIDA Assegurar a sustentabilidade do meio ambiente Desenvolver pareceria global para o desenvolvimento

De acordo com as Naes Unidas apesar do empenhamento de quase todas as naes no mundo para erradicar a pobreza, os objectivos s tero xito a nvel global se significarem alguma coisa para milhares de milhes de indivduos a que se destinam. Os objectivos tem que se tornar uma realidade nacional, incorporada pelos principais interessados: as pessoas e os governos. Eliminar a pobreza, aspirao primordial dos Objectivos de Desenvolvimento do Milnio, a maior prioridade de desenvolvimento do sculo XXI. Apesar do enorme progresso feito nos ltimos 50 anos, 1,2 bilies de pessoas (a quinta parte da populao mundial) subsiste com menos de um dlar por dia, sem acesso a muitos dos servios sociais considerados bsicos para uma vida digna. Esta situao nos leva a acreditar que apesar dos progressos em alguns pases e regies, a extrema pobreza persiste como um problema de difcil soluo na maior parte do mundo. Ganhos substanciais em alguns so acompanhados por grandes perdas em outros, e o nmero de pessoas que continua a ganhar menos de um dlar por dia e a sofrer com a fome e a falta de gua, saneamento e energia, ainda enorme. De um modo global os resultados at ao momento revelam um progresso bastante lento, seno vejamos:

23 pases de frica no conseguem mais do que metade dos objectivos do milnio; 12 pases no tem dados suficientes para serem avaliados O progresso lento para a mortalidade infantil, educao bsica, m nutrio, mortalidade

materna e discriminao no gnero; O desenvolvimento regional lento comparativamente a dcada de 1990 a 2000; Pouco ou nenhum progresso foi alcanado no que diz respeito a pandemia do HIV/SIDA.

Em resumo, apesar de os objectivos do milnio continuarem no realizados, eles so viveis e podem ser realizados at 2015.

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III. CONTEXTO DE MOAMBIQUE

III.1. SITUAO GEOGRFICA E DIVISO ADMINISTRATIVA

Moambique situa-se na costa oriental da frica austral, entre os paralelos 10 27 e 26 52 Latitude Sul e os meridianos 30 12 e 40 51Longitude Este. A Norte faz fronteira com a Tanznia, a Oeste com Malawi, Zmbia, Zimbabwe, frica do Sul e Suazilndia, a Sul faz fronteira com a frica do Sul e a Este banhado pelo Oceano ndico. Administrativamente o pas est dividido em 11 provncias, 128 distritos, postos administrativos e localidades. Existem 33 municpios que perfazem os maiores centros urbanos, agrupando 11 cidades com estatuto de capital provincial e Maputo capital do pas. O relevo Moambicano caracterizado por reas planas baixas nas proximidades da costa, observando-se um aumento da altitude medida que se caminhar em direco ao interior e para a regio Norte do territrio nacional. A altitude mdia de 340 metros, variando consideravelmente entre a regio a sul do Rio Save, com uma altitude mdia de apenas 120 m, e a regio a norte do Rio Save com uma altitude mdia de 435 m. O ponto mais alto do pas se localiza na provncia de Manica, o monte Binga com 2436 metros de altitude. Grande parte do territrio Moambicano localiza-se na zona inter-tropical, o que confere um clima de tipo tropical obedecendo a quatro variaes: tropical hmido, tropical seco, tropical semi-rido e clima modificado pela altitude. O clima tropical hmido o que mais predomina no territrio Moambicano, apresentando-se em duas estaes nomeadamente a fresca e seca que vai de Abril a Setembro e a quente e hmida que se estende de Outubro a Maro. O perodo chuvoso ocorre de entre Dezembro a Fevereiro. A precipitao mdia varia de 400 mm, por exemplo em Pafri, provncia de Gaza; a 2000 mm em Tacuane, provncia da Zambzia. Toda a zona da costa Moambicana recebe uma precipitao de quase 800 a 900 mm de precipitao ao longo do ano. Na regio Sul do pas a precipitao tende a ser elevada na zona litoral, facto que no se verifica medida que se caminha em direco ao interior, a precipitao volta a aumentar ao longo das encostas das montanhas dos Libombos, junto da fronteira com a Suazilndia e frica do Sul. As zonas do interior da provncia de Gaza e as regies fronteirias com frica do Sul e Zimbabwe so predominantemente ridas. O ponto mais seco do pas se encontra na provncia de Gaza, posto administrativo de Pafri, com uma precipitao mdia por ano de 300 mm. Moambique caracterizado, em termos de agro-climatologia, por trs reas, a regio a norte do Rio Zambeze mais hmida, onde pode-se encontrar a disponibilidade de gua para as culturas no perodo chuvoso, com mais de 80% de probabilidades das necessidades mnimas de gua serem satisfeitas em todo o ciclo vegetativo. A regio Centro do pas, a sul do Rio Zambeze e a norte do Rio Save, com uma probabilidade de at 60% das necessidades das culturas serem satisfeitas em gua. Isto significa que o risco de ocorrncia de seca seja de quatro anos em cada 10 para a zona Centro, e para a zona Sul em cada 10 anos, sete apresentam problemas de seca.

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As temperaturas do territrio Moambicano apresentam variaes regionais mediante a interferncia de factores de clima como a latitude, continentalidade e o prprio relevo. Os valores de temperatura tendem a aumentar para menores latitudes em contrapartida observa-se menores temperaturas nas regies mais altas e a Oeste do Pas, que se estende entre as provncias do Niassa, Zambzia, Tete, Manica e Maputo. As temperaturas mdias anuais distribuem-se da seguinte maneira: 18 a 20 C nas zonas montanhosas; 22 a 24 C nas regies centrais e planlticas do norte e do centro, bem como nas zonas Leste e Oeste das provncias do Sul, de 24 a 26 C, todo o Leste da regio norte e centro e interior das regies ao Sul do Pas. Moambique um Pas que possui um potencial razovel de recursos hdricos tanto superficiais como subterrneos. O territrio tem cerca de 103 bacias hidrogrficas, 13 das quais dispem de uma rea de drenagem superior a 10.000 km2 do norte ao sul do Pas nomeadamente: Rovuma, Messalo, Lrio, Ligonha, Licungo, Zambeze, Pungo, Bzi, Gorongosa, Inharrime, Govuro, Limpopo, e Incomti. Alm destas existem outras bacias importantes com reas de drenagem abaixo dos 10. 000 km2 , sos os casos de Montepuez, Monapo, Save, Umbelzi e Maputo. O Pas partilha cerca de 9 bacias hidrogrficas com outros pases vizinhos, membros da SADC, pois os principais rios nacionais nascem nesses pases vizinhos. De Norte para Sul, os principais cursos de gua doce so, Rovuma, Lrio, Ligonha, Zambeze, Pngo, Bzi, Save, Limpopo, Incomti, Umbelzi e Maputo, estes rios so de regime torrencial apresentando aumento de caudais durante o perodo chuvoso, nos meses de Outubro a Maro e caudais baixos nos meses de Abril a Setembro. Os rios cujas bacias so consideradas propensas a ocorrncia de cheias so: Incomti, Limpopo (na regio Sul) , Bzi, Pungo, Zambeze (Centro do Pas) e Licungo (na regio Norte). A populao Moambicana estimada em 18 milhes de habitantes. Desta, cerca de 80% vive nas zonas rurais e tm a agricultura como o principal meio de subsistncia. Em Moambique, a produo agrria exercida no geral, por dois sectores de produo: o sector familiar e o sector empresarial. O sector familiar o que engloba a maior parte da populao rural tendo tambm, uma contribuio maior na produo agrria nacional. A economia Moambicana, numa perspectiva de economia de mercado, esteve durante longo tempo condicionada, em primeiro lugar pelo modelo do sistema econmico adoptado aps a independncia e em segundo lugar pela guerra civil que durou 16 anos, afectando de forma severa as infra-estruturas produtivas e de servios. A agricultura, pecuria e a pesca so os mais importantes sectores da economia, ocupando a agricultura 80% da populao activa do Pas. As excelentes condies edafo-climticas, sobretudo nas regies Centro e Norte do Pas, potencial hdrico a superfcie, possibilitam a criao de esquemas de irrigao, favorecem o cultivo de culturas de rendimento, nomeadamente, castanha de caj, cana de acar, algodo, ch, copra, tabaco e frutas tropicais como tambm culturas designadas por alimentares: milho, arroz, feijo, mandioca, etc. O territrio Moambicano possui um grande potencial de flora e fauna, sobretudo as provncias da regio centro e norte de Moambique.

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O desenvolvimento da produo industrial, principalmente nos ltimos anos tem contado com a ajuda do investimento directo estrangeiro nas reas de construo civil, indstrias agro-alimentares, madeireira, txtil e outras. Tambm se verifica o crescimento do sector da metalurgia, do cimento, do vidro, tm sido acompanhados por outros projectos como o gs de Pande, a Mozal que o maior projecto Industrial em curso. Para alm destes aspectos referenciados o pas conta no seu subsolo com grande potencial em jazigos de carvo mineral, gs natural, de ferro, areias pesadas, nas regies do centro e norte. Recentemente decorre no pas trabalhos de prospeco de petrleo e gs natural em diversas regies como distrito de Cheringoma, bacia do Rovuma, banco de Sofala. O sector tercirio maioritariamente constitudo pelas actividades ligadas aos transportes e comunicaes, materializadas nos seus principais corredores (Maputo, Beira e Nacala), servindo os pases vizinhos sem sada para o mar. Em termos de energia Moambique goza de um enorme potencial de gs natural nos distritos de Pande e Temane, na provncia de Inhambane e tambm de um potencial de produo de energia elctrica, sobretudo na zona central do Pas (barragem de Cahora Bassa, provncia de Tete). Na rea de turismo o Pas goza de ptimas condies para se tornar um gigante (com praias, parques nacionais, guas trmicas, grutas, ilhas, etc). O sub-sector financeiro tende a se expandir cada vez mais, havendo necessidade de implantao de bancos comerciais nas zonas rurais, em relao aos bancos nas zonas urbanas a situao melhorou significativamente, tendo em conta o aparecimento de novas instituies bancrias, que vo procurando expandir-se em resposta ao processo de integrao regional.

III.2 O CONTEXTO HISTRICO

Moambique conquistou a independncia de Portugal em 1975, e sob a direco da FRELIMO (Frente de Libertao de Moambique), lanando em seguida um projecto de uma economia dirigida e planificada, ou seja, centralmente planificada. Aps a independncia muitos cidados portugueses abandonaram o pas entre o perodo de 1975 a 1976. Esta situao acabou por desequilibrar a evoluo econmica do Pas criando uma grande lacuna de falta de quadros qualificados. A Educao e Sade eram garantidas pelo Estado e observaram uma grande evoluo nesse perodo, mas esses resultados optimistas foram de curto prazo, pois em seguida a guerra civil que envolveu o governo da FRELIMO e a RENAMO (Resistncia Nacional de Moambique) destruiu muitas das infra-estruturas ora construdas. A guerra civil teve o seu incio no ano de 1976. O conflito armado conheceu um impacto social e econmico negativo para a populao em geral. Muitos Moambicanos perderam a vida devido ao conflito, outros tornaram-se refugiados quer internamente, bem como nos pases vizinhos, muitas das infra-estruturas socio-econmicas foram severamente afectadas sobretudo na dcada de 80, onde verificou-se a intensificao do conflito.

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Moambique um pas ainda em fase de reconstruo do ps-guerra, pelo que possui uma economia ainda muito debilitada, embora esforos tm sido feitos para que se reduza a pobreza absoluta que afecta grande parte das famlias Moambicanas. Logo aps a independncia nacional, o pas viu-se mergulhado numa guerra civil, o que inviabilizou muitas tentativa de se fazer estudos pormenorizados sobre os reais ndices da pobreza no pas. Segundo o Relatrio Sobre Os Objectivos De Desenvolvimento Do Milnio de Moambique de 2005, aps a assinatura do Acordo de Paz, em 1992, Moambique se apresentou como um pas bem sucedido na reconstruo ps-guerra e de recuperao econmica em frica, passando posteriormente de um sistema monopartidarista para o multipartidarista. Como corolrio destes acontecimentos importantes, o pas conheceu avanos significativos. Porm, apesar destes avanos, o Estado Moambicano encontra-se 15 anos depois da guerra civil numa situao de pobreza, e ainda perante grandes desafios no que diz respeito a alguns factores que perpetuam a pobreza da populao, como so os casos do problema do HIV/SIDA, gua e saneamento, desastres, problemas de advocacia e as mudanas climticas. Esses factores tm sido apontados como os que retardam o desenvolvimento das aces do governo e da sociedade em geral.

III.3 DEFINIO CONCEPTUAL E PERCEPES DA POBREZA

O conceito de pobreza muito complexo, existem pessoas que pensam que a pobreza s para aqueles que vivem na rua, sem habitao, emprego ou qualquer coisa. Para outras pessoas pobreza caracteriza quem tem casa, mas no possui condies, com reduzido apoio de governo, com um salrio magro. O conceito de pobreza varia de contexto para contexto. Portanto no h uma definio homognea da pobreza, a concepo mais geral centra-se na questo da carncia. Segundo Wikipedia, o conceito da pobreza pode ser analisado em vrios sentidos, sobretudo: carncia material, remetendo-nos para a satisfao das necessidades da vida diria (vesturio, alimentao, alojamento e cuidados de sade) ou seja carncias de bens e servios essenciais. Falta de recursos econmicos: carncia de rendimento ou riqueza, no necessariamente monetria, mas sim baseados em nveis de suficincia de recursos ou rendimentos relativos. Carncia social: pessoas excludas socialmente, que se mostram dependentes e incapazes de participar activamente na vida social, isto inclui a educao e a informao. A participao dos indivduos no processo de tomada de decises constitui elemento importante, na viso de organismos internacionais, para se compreender a pobreza para alm do foro econmico. Ainda para Wikipedia, a pobreza pode ser absoluta ou relativa. A pobreza absoluta se circunscreve a um padro que consistente ao longo do tempo entre as naes. O exemplo de indicador da pobreza absoluta a percentagens de indivduos com o consumo dirio de calorias inferior ao mnimo necessrio (que ronda entre 2000 a 2500 kilocalorias). As organizaes do Bretton Woods, como o caso do Banco Mundial (BM) concebem a pobreza absoluta como sendo pessoas que vivem com menos de 1 USD por dia e a pobreza relativa como viver com o consumo dirio entre 1 a 2 USD por dia. (http://pt.wikipedia.org/wiki/ Pobreza).

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Segundo o PARPA II (Plano de Aco para a Reduo da Pobreza Absoluta 2006-2009), a reduo da pobreza absoluta tem sido um dos grandes objectivos dos governos nacionais de vrios pases, mas em contrapartida a definio da pobreza continua ainda em discusso. Para efeitos de elaborao de polticas, a pobreza foi primeiramente relacionada com ausncia de rendimentos, dinheiro ou espcie necessrios para a satisfao das necessidades bsicas. O estudo sobre a Contribuio da Construo de Estradas Rurais na reduo da Pobreza? Anlise de impacto na provncia de Sofala de 2006 refere que pessoas diferentes podem ter percepes muito diferentes da pobreza. O mesmo estudo adverte sobre a necessidade do conceitos da pobreza a serem incorporados em estudos sejam adequados aos contextos locais e os mesmo se oriente para discusses a nvel local sobre o tema. O estudo qualitativo sobre a pobreza em Sofala e Inhambane-2005 realizado pelo Departamento de Arqueologia e Antropologia, Faculdade de Letras e Cincias Sociais da Universidade Eduardo Mondlane em parceria com a Direco Nacional de Planificao e Oramento (DNPO) do Ministrio de Planificao e Desenvolvimento (MPD) o que tenta captar percepes nas duas provncias em relao pobreza. As percepes nas duas provncias em relao a pobreza so bastante prximas, a pobreza aqui vista como carncia de alguma coisa como alimentao, vesturio, gua potvel, emprego, infra-estruturas, etc. No PARPA I, a pobreza era vista como, a incapacidade dos indivduos de assegurar para si e para os seus dependentes um conjunto de condies bsicas mnimas para a sua subsistncia e bem estar, segundo as normas da sociedade. (Repblica de Moambique, 2001). O PARPA II, por sua vez define a pobreza como a Impossibilidade por incapacidade, ou por falta de oportunidades de indivduos, famlias e comunidades de terem acesso a condies mnimas, segundo as normas bsicas da sociedade (Repblica de Moambique 2006:8). Para alm da falta de fontes de rendimento, este conceito de pobreza inclui tambm aspectos relacionados com a falta de acesso a educao, sade e saneamento e inclui factores sociais como isolamento, excluso social, falta de poder e vulnerabilidade entre outros. Este conceito apresenta-se como multidimensional e aberto, que possibilita a integrao de diversas percepes de diferentes actores. O presente estudo se baseia no conceito de pobreza estabelecido pelo PARPA II, a actual estratgia do governo Moambicano para o combate da pobreza absoluta.

III.4 SITUAO GERAL DA POBREZA EM MOAMBIQUE

Como se pde depreender a situao de Pobreza em Moambique aparece estreitamente ligada a factores histrico-sociais. Aps uma colonizao com fraca nfase no capital humano, foi implementada uma poltica socialista que falhou em termos econmicos, tudo isso acrescentado uma guerra civil que assolou o pas durante 16 anos consecutivos e seca de 1991-1992, uma das mais severas de todo o sculo XX. De acordo com o Plano de Aco para a Reduo da Pobreza Absoluta 2001-2005 (tambm designado PARPA I) os determinantes da pobreza em Moambique eram:

a) Crescimento econmico lento at ao incio dos anos 90; b) Baixos nveis de educao dos membros economicamente activos dos agregados

familiares, especialmente as mulheres; c) Elevadas taxas de dependncia nos agregados familiares;

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d) Baixa produtividade da agricultura familiar; e) Falta de oportunidade de emprego dentro e fora do sector agrcola; e f) Fraco desenvolvimento de infra-estruturas bsicas nas zonas rurais.

Em termos gerais os maiores afectados pela guerra foram as populaes vivendo nas reas rurais. Todavia, anlises que tm como base os Inquritos aos Agregados Familiares (IAF) de 1996/1997 e 2002/2003 (Maximiano et al, 2005), indicam que no h diferenas significativas entre os determinantes da pobreza nas reas rurais e urbanas. De acordo com essas mesmas anlises os elementos da populao com alta probabilidade de ser pobre incluem pessoas sem instruo, agregados familiares com taxas de dependncia elevada e agregados familiares chefiados por mulheres. Em termos geogrficos o PARPA I identificou as provncias de Sofala, Inhambane e Tete como as mais afectadas, com incidncias na ordem dos 87.9, 82.6 e 82.3%, respectivamente. O PARPA II (2006-2009) indica que nas zonas rurais a pobreza reduziu em 16%, contra apenas 11% de reduo nas reas urbanas. A maior reduo da pobreza verificou-se na provncia de Sofala onde houve um decrscimo de 50%. Zambzia e Tete tiveram redues da pobreza superiores a 22%. No sul do pas o cenrio foi inverso pois em duas provncias a pobreza aumentou (cidade e provncia de Maputo) e em Inhambane a reduo foi marginal (1.9%), passando esta a ser a provncia mais pobre do pas. Tabela 1: Evoluo da Pobreza por Provncia

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Fonte: MPF et al, 2004; Simler e Arndt, 2005

Em termos de nmeros absolutos os dados indicam que em todas as provncias existem pelo menos 500,000 pessoas pobres. Esses dados (Grfico 1) mostram igualmente o peso de Nampula e Zambzia no apenas na populao do pas como tambm na populao de pobres. Grfico 1: Populao e Pobreza por Provncia, 2002-03

Fonte: Elaborado com base no IAF (2002-03) INE (2003). A nvel distrital os dados da pobreza apenas foram possveis de se obter efectuando um cruzamento dos dados do IAF 96/97 com os do Recenseamento Geral da Populao e Habitao de 1997. Deste exerccio resultou que a incidncia da pobreza maior nos distritos do interior de Inhambane e os do norte da provncia de Gaza, para a zona Sul do pas. Na zona Centro do pas a incidncia estava acima de 80% para a maioria dos distritos da provncia de Sofala (especificamente a parte interior da provncia) com a excepo do distrito de Dondo e Cidade da Beira. Na provncia de Tete, as taxas de incidncia eram mais elevadas no norte da provncia, distritos de Zumbo, Chifunde e Angnia. As taxas mais baixas de incidncia da pobreza eram verificadas nas zonas costeiras da Zambzia e de Cabo Delgado, na provncia de Manica (distritos de Machaze e Mossurize), na zona sul da provncia de Gaza e na cidade de Maputo. Todas capitais provinciais, com a excepo de Inhambane, Nampula e Tete; apresentavam baixas taxas de incidncia da pobreza.

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Mapa 1: Incidncia da Pobreza por Distritos

Fonte: MPF, 2002

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IV. FACTORES DA POBREZA EM MOAMBIQUE

IV.1. HIV/SIDA

IV.1.1. Evoluo da Epidemia

O primeiro caso de HIV/SIDA em Moambique foi diagnosticado em 1986. A partir de Maro de 1987 foi levado a cabo em vrias cidades do pas um inqurito sero-epidemiolgico que detectou infeces pelo HIV na faixa de 2% no seio da populao estudada. A cidade mais afectada era Nampula com taxas a rondar os 2.5%, logo seguida por Lichinga e Inhambane. As cidades menos afectadas eram Pemba e Xai-Xai. Ainda no decurso do ano de 1987 so notificados os primeiros cinco casos clnicos em cidados nacionais. Em termos epidemiolgicos Moambique iniciou com taxas to baixas como 2% numa situao em que os mecanismos de vigilncia ainda no estavam muito desenvolvidos. O primeiro posto sentinela do HIV foi criado no Hospital Geral Jos Macamo (cidade de Maputo) em 1988. Em 1994 foram abertos trs novos postos, em Chimoio, em Tete e na Beira. At o ano 2000 os postos j existiam em nmero de 20, at aos actuais 36 que comearam a ser usados em 2001. At ao momento foram realizadas trs rondas de vigilncia epidemiolgica. Actualmente a taxa de prevalncia de HIV/SIDA em Moambique de 16.2%, sendo a zona Centro a mais afectada com uma taxa de mais de 20%, seguida da zona Sul com cerca de 18%. As provncias mais afectadas so Sofala, Maputo (provncia e cidade) e Gaza, com 26.5, 20.7 e 19.9%, respectivamente. As provncias menos afectadas so as da zona Norte, onde pontificam Cabo Delgado (8.6%, a mais baixa do pas), Nampula (9.2%) e Niassa (11.1%).

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Mapa 2: Prevalncia do HIV provincial, regional e nacional

9.3%

20.4%

18.1%

Nacional 16.2%

PREVALNCIA DO HIV, PROVINCIAL, REGIONAL E NACIONAL (15-49 ANOS) RONDA 2004

Fonte: MISAU/GTM, Ronda 2004 Agosto de 2005.

8.6%

9.2%

11.1%

18.4%

16.6%

26.5% 19.7%

11.7% 19.9%

20.7%

As taxas de prevalncia, a nvel nacional e provincial, tm demonstrado uma consistente subida ao longo das rondas de vigilncia epidemiolgica realizadas. De uma taxa nacional de 13% a epidemia evoluiu para os actuais 16.2%. Em termos regionais as subidas situam-se em volta de quatro pontos percentuais para as duas mais afectadas (Sul e Centro), enquanto que o crescimento mais lento na zona Norte, que em trs rondas de vigilncia cresceu apenas 2.5%. Todavia esse padro de crescimento contnuo nem sempre verificvel quando se analisa as taxas provinciais. Em vrios casos (Gaza, Zambzia e Tete) registou-se um decrscimo nas taxas entre a primeira e a segunda rondas, seguido de nova subida na terceira ronda. Tambm h a assinalar os casos de Sofala e Niassa que mantiveram as mesmas percentagens entre a segunda e a terceira rondas, para alm de Manica que registou uma subida insignificante (0.7%).

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Tabela 2: Comparao de taxas de prevalncia do HIV 2001-2004

Provncia 2001 2002 2004 Regio 2001 2002 2004 Maputo Cidade 15.5% 17.3% 20.7%

Sul 14.4% 14,8% 18.1% Maputo Provncia 14.9% 17.4% 20.7% Gaza 19.4% 16.4% 19.9% Inhambane 7.9% 8.6% 11.7% Zambzia 15.4% 12.5% 18.4%

Centro 16.8% 16.7% 20.4% Sofala 18.7% 26.5% 26.5% Manica 18.8% 19.0% 19.7% Tete 16.7% 14.2% 16.6% Niassa 5.9% 11.1% 11.1%

Norte 6.8% 8.4% 9.3% Nampula 7.9% 8.1% 9.2% Cabo Delgado 5.0% 7.5% 8.6%% Nacional 13.0% 13.6% 16.2%

Fonte: MISAU/GTM, 2005 Sob o ponto de vista de evoluo da epidemia, de acordo com relatrio anual do SE-CNCS (2006), as provncias do pas podem ser classificadas em trs principais tipos de perfis:

Perfil 1: de provncias de Sofala, Manica e Tete que mostram estabilizao das taxas de prevalncia num nvel elevado, apresentando nmeros elevados de novas infeces, de crianas rfs e vulnerveis, pessoas vivendo com HIV/SIDA e precisando de tratamento anti-retroviral.

Perfil 2: de provncias de Zambzia, Gaza, MaputoProvncia e MaputoCidade que mostram taxas de prevalncia em crescimento num nvel de infeco elevado, apresentando um ritmo de crescimento elevado do nmero de novas infeces, de mortalidade, de crianas rfs e vulnerveis e de pessoas precisando de TARV.

Perfil 3: de provncias de Niassa, Cabo Delgado, Nampula e Inhambane que mostram taxas de prevalncia em crescimento num ritmo relativamente menos elevado, caracterizado por um nmero menos elevado de novas infeces, crianas rfs e vulnerveis, pessoas precisando de TARV, comparativamente a outras provncias.

Em termos de taxas de prevalncia os dados para o nvel distrital so problemticos de se estimar uma vez que o sistema de vigilncia basea-se em 36 postos sentinela. Esses postos apenas cobrem um quarto de todos os distritos existentes no pas, consequentemente para cada distrito sem posto sentinela atribui-se a taxa referente a um distrito considerado similar que tenha posto. Este processo torna o exerccio pouco preciso em termos metodolgicos.

IV.1.2. O Impacto Demogrfico

De acordo com dados oficiais (INE et al, 2004) at finais de 2006, em Moambique, ocorriam mais de 500 novas infeces dirias, no que resultava mais de 1.600.000 pessoas vivendo com o HIV/SIDA. Deste nmero 98.000 eram crianas menores de 15 anos de idade, 645.000 eram homens e 911.000 mulheres. Ao longo de todo o ano ocorreram aproximadamente 135.000 novos

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casos de HIV/SIDA. De acordo com as projeces realizadas o nmero de novos casos pode subir at 170.000 em 2010. O SIDA tornou-se numa das principais causas de morte em Moambique. Em cinco anos (1999 a 2003) estima-se que mais de 300.000 pessoas tenham morrido por causa da SIDA (INE, 2004). A pandemia tambm a principal causa de mortalidade em crianas, com um nmero estimado em 20.000 crianas com menos de cinco anos a morrer de SIDA em 2006 (UNICEF, 2006). Grfico 2: bitos de Adultos por causa do HIV/SIDA

Fonte: INE et al, 2004 No ano de 2006 havia cerca de 146.000 mulheres grvidas seropositivas, cerca de 50% das quais nas quatro provnciais centrais do pas (UNICEF, 2006). Este facto paralelo ao nvel de desconhecimento sobre a transmisso de me para filho (transmisso vertical). O Inqurito Demogrfico e de Sade (IDS) de 2003 indicou que apenas 44% das mulheres e 43% dos homens por grupo etrio de 15 aos 49 anos, sabiam que o HIV podia ser transmitido da me para a criana durante a gravidez, o parto e a amamentao. O HIV/SIDA tem igualmente contribudo para um elevado nmero de crianas rfs. Mais de 95.000 crianas viviam em 2006 com o HIV/SIDA. Segundo as projeces este nmero pode vir a crescer para mais de 121.000 no ano 2010. Ao longo dos ltimos anos o nmero de novas infeces em crianas aumentou consideravelmente, de uma estimativa de 23.400 em 2000 este nmero passou para 37.300 em 2006, num rcio de 102 novas infeces/dia.

IV.1.3. Estratgia da Resposta Nacional

Em 1988 foi estabelecida no Ministrio da Sade a Comisso Nacional de Combate ao HIV/SIDA que era composta por membros do prprio ministrio, de congregaes religiosas, da Cruz Vermelha de Moambique, do Centro de Estudos Africanos (CEA) da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), bem como representantes de cinco outros ministrios (Defesa, Interior,

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Educao, Justia e Informao). Simultaneamente foi lanado o Programa Nacional de Preveno e Controle da SIDA (PNPCS). Depois do primeiro caso diagnosticado em 1986, entre 1987 e 1989 o nmero de casos duplica a cada ano tendo chegado a 41 em Julho de 1989. Seguindo um padro global o grupo etrio mais atingido o dos 20 aos 29 anos, mas verifica-se igualmente a existncia de casos de crianas (cinco no total). J por essas alturas existia a conscincia de os nmeros no estarem a traduzir a situao real do pas. Adicionalmente o esforo de guerra que o pas vivia fazia com que grande parte de recursos fosse drenado para a Defesa e a Comisso de Combate ao SIDA no conseguisse obter o engajamento de outros sectores. A situao viria a alterar-se em 1999 quando a liderana poltica decide comprometer-se mais seriamente e engajar-se no combate ao HIV/SIDA. Foi formado o Grupo Tcnico de Apoio Luta contra o HIV/SIDA, que inclua, alm do MISAU, outras instituies de investigao que poderiam contribuir para o melhor conhecimento da doena. A partir de um processo amplo de consulta (241 participantes em representao de todos os sectores sociais) nasceu o Plano Estratgico Nacional de Combate s DTS/HIV/SIDA 2000/2002 (tambm chamado PEN I). A aprovao do PEN I levou criao do Conselho Nacional de Combate ao HIV/SIDA (CNCS) com o objectivo de coordenar a implementao da estratgia nacional de combate ao HIV/SIDA. A estratgia Moambicana de luta contra o HIV/SIDA assenta no princpio de que para a sua resposta ao HIV/SIDA os Estados devem criar uma estrutura nacional que seja efectiva e que assegure uma abordagem coordenada, participada e transparente, integrando as polticas sobre o HIV/SIDA nos programas de todos os ramos do governo (UNAIDS, 1998). A elaborao do PEN I e a criao do CNCS corporizam a materializao dessa abordagem multi-sectorial. O CNCS presidido pela Primeira Ministra e integra dirigentes de seis reas ministeriais, para alm de individualidades representativas da sociedade civil. Essa estratgia vinha sendo seguida desde a primeira Comisso de Combate ao SIDA, e tanto o PEN I como o PEN II seguem essa perspectiva rigorosamente multi-sectorial pois que para alm de envolver todos os sectores pblicos prope-se a envolver num mesmo quadro de interveno a sociedade civil, o empresariado, os sindicatos, as organizaes religiosas, as ONGs e todas as outras parcerias que possam ser mobilizadas.

IV.2. GUA E SANEAMENTO

A gua, o saneamento e a higiene so componentes vitais para o desenvolvimento sustentvel e para a reduo da pobreza. (Salim Ahmed Salim, Embaixador da gua para frica). O acesso a gua potvel e a condies melhoradas de saneamento de extrema importncia para a sobrevivncia dos seres humanos. De acordo com a UNICEF em Moambique, devido ao consumo de gua no potvel e um saneamento muito deficitrio, morrem diariamente perto de 55 crianas. Em Moambique as guas superficiais constituem a maior fonte de gua, cerca de 216 000 milhes de metros cbicos de guas superficiais encontram-se disponveis, numa mdia de 50m3

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/dia/pessoa (em comparao com uma mdia mundial de 27m3 /dia/pessoa. Quase todos os principais rios de Moambique so rios internacionais e a captao da gua dos pases situados a monante reduz a disponibilildade de gua para os paises localizandos a jusante, como o caso de Moambique, afectado deste modo o desenvolvimento econmico do pas. Sendo a gua um recurso escasso, uma melhor distribuio e utilizao sutentavel requer uma gesto integrada de modo a se maximizar os beneficios da comunidade quer no presente como no futuro, desse modo a Lei de guas de 1991 atribuiu a Conselho Nacional de guas as responsabilidades de Coordenao Inter Sectorial e do desenho de Estratgias de Actuao no sector, neste contexo, grandes progressos foram verificados no sector de guas, mas mesmo assim o nvel de servios e o grau de cobertura ainda esto muito longe do desejvel, pois muitos Moambicanos ainda ainda no tem acesso a um regular abastecimento de gua potvel. Como forma de minimizar ainda mais os problemas do sector de gua e saneamento em Moambique foi aprovada em 1995 a Poltica Nacional de guas que tinha como objectivo principal garantir um abastecimento de gua sustentavel as populaes. Acesso a gua potvel e saneamento A Direco Nacional de guas (DNA) do Ministrio das Obras Pblicas e Habitao (MOPH) calculava que 40% da populao tinha acesso a gua potvel segura em 2004, com uma percentagem ligeiramente inferior nas reas urbanas (36%) do que nas rurais (41%). Em termos de saneamento, a estimativa de que 33% da populao tinha acesso a ptimas condies de saneamento em 2004, sem discrepncias entre reas urbanas e rurais. (UNICEF, 2006:117). O mesmo estudo refere que, o ltimo inqurito aos agregados familiares (IFTRAB 2004/2005) apontava que 36% da populao usa fonte de gua potvel para beber, havendo com isso grandes desnveis entre zonas urbanas (66%) e rurais (23%). Os dados apresentados pelo INE desde 2000 no apresentam avanos significativos no uso de fontes de gua, com valores que rondavam em 37% em 2000 (QUIBB), 36% em 2002/2003 (IAF) e 37% em 2003 (IDS). Em relao ao Saneamento, os IAF medem o uso de meios sanitrios para a eliminao de excrementos. Os dados existentes levantados pelo IFTRAB nos anos 2004/2005 demonstram que o uso de meios sanitrios para a eliminao de excrementos so de 46% a nvel nacional, com os habituais desnveis entre reas urbanas (78%) e rurais (32%). Nas zonas rurais maior parte dos agregados familiares usa gua do poo em comparao com as zonas urbanas que usam mais gua canalizada. Como demonstra a tabela a baixo:

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Tabela 3: Tipos de fontes de gua Tipo de Fonte de gua utilizada

reas rurais reas Urbanas

gua do poo no protegido 53% 19% gua do rio, lago, lagoa 20% 5% gua canalizada 1% 40% gua do fontenrio 1% 16% gua do poo ou furo com bomba manual

21% 10%

gua do poo protegido sem bomba

3% 7%

outro 1% 3% Fonte: IFTRAB 2004/2005 A tabela abaixo fornece os dados a nvel da provncias, uma informao bastante sugestiva no que concerne ao acesso e uso de gua potvel nas 11 provncias do pas, mas no fornece uma informao precisa sobre as disparidades em termos de distritos da mesma provncia com problemas de gua e saneamento. Tabela 4: Uso de gua potvel por provncia Provncia Uso de fontes

de gua potvel Uso de fontes de gua no potvel

Zambzia 19% 81% Nampula 20% 80% Niassa 22% 78% Inhambane 28% 72% Cabo Delgado 32% 68% Manica 36% 64% Tete 39% 61% Sofala 51% 49% Gaza 56% 44% Maputo Provcia 74% 26%

Maputo Cidade 96% 4% Fonte: IFTRAB 2004/2005 Anlise SWOT sector de gua FORAS

Definio clara dos objectivos do governo (PARPA) e existncia de documentos estratgicos de base

Polticas sectoriais boas e progressivas Existncia de uma liderana sectorial clara que promove a unidade sectorial

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Tradio da DNA fazer a capacitao das provncias Existncia de principios orientadores de implementao de programas de gua Rural

FRAQUEZAS So indentificados como os principais motivos da dificiente resposta do sector de gua em Moambique: Problema de acesso aos recursos financeiros Inexistncia de modelos e mecanismos de financiamento Fundos irregularmente distribudos pelas provncias/distritos Falta de transparncia na distribuio dos fundos nacionais Falta de informao adequada Falta de uma estratgia de monitoria e avaliao e de monitoria e avaliao fiveis Deficiente coordenao Fraca consulta intra-provincial e entre as provncias e os seus distritos Fraca coordenao das actividades ao nvel dos distritos Existncia de muitos projectos e pouca coordenao Limitada capacidade institutional a diferentes nveis Fraca capacidade de planificao das actividades ao nvel dos distritos Fraca capacidade das provncias para utilizarem eficientemente os fundos descentralizados e

monitorarem os distritos

Inadequados recursos humanos No existe motivao nos governos provinciais para alocao de recursos humanos necessrios

para intervir no apoio descentralizao Recursos humanos insuficientes e pouco motivados Pessoal tcnico com fracos conhecimentos

Inadequada operao e manuteno do patrimnio existente Focaliza-se na construo e reabilitao Problemas de organizao institucional Organizao institucional das Direces Provincias Obras Pblicas e Habitao no

harmonizada

Fraca interveno das administraes locais na assistncia s comunidades Confuso na aplicao do princpio de procura Fraca capacidade tcnica Pouca vontade de fazer monitoria e avaliao OPORTUNIDADES Elaborao de estratgias, planos e sistemas de infomao

Censo de 2007 e trabalho com o INE

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Preparao do Planos Director Provinciais gua e Saneamento so prioridades internacionais e o financiamento externo est a crescer Crescente interesse de diferentes actores em intervir nos assuntos de gua e saneamento rural no pas

Existncia de muitos parceiros, crescente interesse internacional Outros sectores incluem gua e saneamento rural nos seus programas Aumento da vontade de pagar

Processo de descentralizao distrital como elemento dinamizador de gua e saneamento rural AMEAAS As provncias/distritos tm que gerir muitos projectos Princpio de oferta predomina sobre o princpio de procura nas administraes distritais e provncias A vontade/financiamento internacional pode reduzir se o sector a nvel local no aumentar a taxa de implementao Problemas relacionados con o financiamento do sector

Forte dependncia dos fundos externos e lentido nos desembolsos Desembolsos para as provncias e desembolsos dos fundos descentralizados (OE)

tardios Atraso no financiamento de programas e projectos e procedimentos dspares por parte

dos financiadores Emergncias sistemticas (cheias, estiagem) Instituies de mbito nacional A Direco Nacional de guas, o Orgo do Ministrio das Obras Pblicas e Habitao responsvel pela gesto estratgica e Integrada dos recursos hidricos, bem como o abastecimento de gua potvel e saneamento s populaes. Para alm da DNA, outras instituies autnomas tm tambm actuao no sector das guas:

A gesto dos Recursos Hdricos operada por 5 Administraes Regionais de guas (ARA), com autonomia administrativa e financeira, sendo que as duas ltimas ARAs (Norte e Centro-Norte) esto ainda em fase de criao;

O Fundo de Investimento e Patrimnio do Abastecimento de gua (FIPAG) que tem como objectivos assumir a gesto financeira e de investimento para a reabilitao e expanso do patrimnio dos sistemas de abastecimento de gua em determinadas cidades, maximizar a eficincia e o retorno do patrimnio existente, estabelecer contratos de gesto com operadores privados e monitorar o cumprimento das obrigaes contratuais por parte destes operadores privados.

O Conselho de Regulao do Abastecimento de gua (CRA) que tem a responsabilidade de regular as operaes dos servios de gua e as relaes entre FIPAG e o operador privado, em particular no que diz respeito s tarifas ao consumidor, qualidade dos servios e programas de expanso das redes.

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O Centro de Formao Profissional de gua e Saneamento (CFPAS), com autonomia administrativa e financeira

No que diz respeito ao saneamento as responsabilidades dividem-se entre o Conselho Municipal e a DNA. O sector Privado No existe por enquanto um mercado privado estruturado para responder aos requerimentos do sector de gua, no entanto tem se refletido sobre as perspectivas da participao de empresas privadas, nacionais ou estrangeiras, grandes ou pequenas especificamente na multiplicao dos pequenos operadores informais nas periferias das grandes cidades. PRINCIPAIS PARCEIROS A PRIVILEGIAR Na rea de gua e saneamento constata-se maior envolvimento das instituies do Governo como o caso do MOPH (Ministrio de Obras Pblicas e Habitao), com a sua Direco Nacional de guas (DNA), e alguns parceiros do governo como por exemplo UNICEF, PNUD. OPORTUNIDADES DE INTERVENO Para assegurar o acesso gua potvel para as populaes nos distritos mais afectados necessrio que se promovam cursos para formao de formadores em mtodos de recolha e aproveitamento de gua;

Fazer um levantamento tcnico detalhado sobre opes viveis de melhoramento das fonte de gua;

Envolvimento e apoio tcnico das direces provinciais e distritais em projectos de pequena escala, comunitrios de aproveitamento hdrico e de gesto de guas;

Apoiar os distritos nos seus esforos de construo de pequenas barragens de reteno de gua;

Ajudar as comunidades a melhorar a qualidade de gua consumida atravs da clorao e adopo de outros mtodos de purificao da gua;

Melhor o acesso a gua e saneamento nas escolas, principalmente nas escolas primrias.

IV.2. 1 Sade e Nutrio

Tabela 5: Esperana de vida, Mortalidade materna e infantil

Esperana de vida aonascer(emanos)

Taxademortalidadeinfantil (por 1000hab)

TaxademortalidadeMaterna

Maputo 58.0 51.0% 0

Gaza 48.7 92 0.2

Inhambane 49.3 91 0.2

Sofala 44.5 149 0.2

Manica 46.2 128 0.1

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Tete 44.3 125 0.1

Zambzia 48.2 89 0.2

Nampula 43.7 164 0.2

CaboDelgado 41.9 178 0.3

Niassa 44.7 140 0.2Fonte:DPS. 2006. Relatrio Anual Provincial 2005 para o XXXI Conselho Nacional Coordenador de Sade, Maputo Fonte: INE.2005. Indicadores Scio Econmicos por Distritos-1997 PNUD et al.2006. Moambique, Reltorio Nacional de Desenvolvimento Humano 2005 INE et al. 2005. Moambique Inqurito Demogrfico e de Sade 2003. Maputo

Nota: os dados aqui apresentados sobre a Taxa de Mortalidade Materna, reflectem no s a incidncia da mortalidade materna mas tambm ao grau de cobertura do Sistema Nacional de Sade, sendo assim os nmeros aqui apresentados podero estar ligeiramente subestimados porque a cobertura do Sistema de Sade no total e uma percentagem significativa de mulheres do parto fora das Unidades Sanitrias.

IV.2. 2 Educao

O nvel educacional constitue um dos principais indicadores da capacidade que uma sociedade possui para resolver os seus problemas e proporcionar aos seus membros condies de vida dignas e assegurar o seu desenvolvimento sustentvel(PNUD, 2005). Nos primeiros anos da dcada de 1990 ainda sub os impactos da guerra civil que assolou o pas o sistema educacional Moambicano encontrava-se numa fase de estagnao, desestruturado e fragmentado, com metade (50%) das escolas existentes destruidas com maior incidencia nas zonas rurais do centro e norte do pas, e com tendencias decrescentes das taxas brutas de escolarizao (17% em 1990 e 14.4% em 1996). Em 1996, mais de 40% das crianas Moambicanas, de seis e 12 anos, no estavam escolarizadas, as limitaes de cobertura se adicionam tambm a extrema precariedade dos recursos didcticos ( falta de livro para alunos e professores, alunos sem cadernos, salas de aulas sem giz e quadros pretos etc) que a maioria das escolas enfrentam, ou seja, falta de recursos bsicos para se desenvolver o processo de ensino e aprendizagem de qualidade. Como forma de melhorar o sector de educao em 1995 o governo de Moambique aprova a Poltica Nacional de Educao (para crianas e adultos), e nesse contexto em 1997 aprovado o Plano Estratgico da Educao I, que tinha como principal objectivo a expanso e melhoria da qualidade de ensino, priorizando o atendimento das necessidades educativas das raparigas e mulheres, como forma de promover a equidade de genro, como factor decisivo em favor da igualdade social, do combate a pobreza e do desenvolvimento humano. Os crescimentos das taxas de escolarizao comeam a mostrar um rpido crescimento apartir de 1997, atravs de programas de reabilitao e construo de escolas, formao e capcitao de professores, sendo assim em 2004 no EP1 (Ensino Primrio do 1o grau) assiste-se a uma subida das taxas de escolarizao para 121.2%, representado um aumento de cerca de 40%

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comparativamente as taxas anterios (76.2% em 1997), no EP2 (Ensino Primrio do 2o grau) que cresce de 20.7%, em 1997, para 42.7% em 2004. Contudo existem diferenas regionais nas taxa de escolarizao onde as provincias de Nampula e Sofala registaram as taxas lquidas mais baixas do pas na ordem dos 59.1% e 71.2% respectivamente, enquanto a mais alta se registou na provincia e cidade de Maputo com 99.3% e 99.9% respectivamente, sem falar tambm das disparidades entre as zonas rurais (81.2%) e urbanas (125.6%). Apesar dos inumeros esforos realizados no sector de educao, o pas continua apresentando indices educacionais muito baixos, com uma em cada cinco crianas encontrando-se em situao de privao severa de educao 1 , havendo disparidades massivas por provncia, rea de residncia e sexo, nvel de escolaridade do chefe do agregado familiar e nvel de bem estar, afectado particularmente as crianas das provincias de Niassa, Nampula e Zambzia, onde mais de um tero das crianas dos 7 aos 18 anos nunca frequentaram a escola. (UNICEF, 2006) PRINCIPAIS PARCEIROS A PRIVILEGIAR DANIDA FINIDA GTZ CIDA-CANADA Espanha Holanda Irlanda OPORTUNIDADES DE INTERVENO

Reforar a monitoria de assiduidade tanto de alunos como de professores de modo a minimizar as desistncias nas escolas

Expanso dos programas de construo e reabilitao de escolas nas zonas rurais, principalmente a construo de Escolas Primrias Completas, com vista a reduzir as distncias que separam as escolas da residncia dos alunos,

Criar oportunidades de formao de professores para actualizar mtodos e contudos de ensino;

Proviso de recusos didticos tanto para alunos como professores; Para atingir a equidade de gnero, preciso atacar o problema enfrentado pelas

raparigas, como assiduidade, transitar de classe, terminar o ensino primrio e ingressar no ensino secundrio;

Criar mecanismos de envolvimento comunitrio na sensibilizao dos pas sobre a importncia da educao bsica.

IV.3 GESTO DE DESASTRES NATURAIS

Os desastres naturais esto fortemente relacionada com a as mudanas climticas. Estudos levados a cabo mostram que as as mudanas climticas que tem vindo a ocorrer a nvel global, podero aumentar o 1 Percentagem de crianas com idades compreendidas entre os 7 e os 18 anos que nunca foram a escola e que no esto presentemente a estudar

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risco de calamidades naturais e a exposio da populao aos seus efeitos negativos especialmente nos pases em desenvolvimento. Em 1990, o IPCC publicou um documento concluindo que a menos que fossem adoptadas medidas especiais para a reduo das emisses, a acumulao crescente de gases de estufa de natureza antropognica na atmosfera poderia piorar o efeito de estufa, resultando em mdia num aquecimento adicional da superfcie terrestre at finais do seclo seguinte (UNEP, sd). O referido relatrio veio confirmar a ameaa que as mudanas climticas constituem e apelou para a adopo de um tratado internacional sobre este problema. Esta ameaa reflecte-se nos chamados desastres ou calamidades naturais.

IV.3. 1 Grupos Vulnerveis

Apesar de todos sermos de alguma forma vulnerveis aos impactos ambientais, a capacidade das pessoas e das sociedades de se adaptarem s mudanas e de enfrent-las bastante variada. Os pases em desenvolvimento, particularmente os menos abastados, tm menor capacidade de adaptao a mudanas e so mais vulnerveis s ameaas ambientais e mudana global, assim como a outras presses. Essa condio mais extrema entre as pessoas mais carentes e os grupos desfavorecidos, como as mulheres e as crianas (UNDP, sd). A referida capacidade de adaptao, est, na maior parte das vezes relacionada com as condies da sociedade humana, que envolve a combinao entre todas as caractersticas naturais e sociais e os recursos disponveis na rea em causa, particular que podem ser usados para reduzir os impactos dos riscos o que inclui factores como riqueza, tecnologia, educao, informao, habilidades, infra-estrutura, acesso aos recursos e capacidade de gerenciamento. Partindo do pressuposto do pargrafo anterior, entende-se que os pases mais pobres so os mais vulnerveis devido a sua alta vulnerabilidade climtica e aos retrocessos que as variabilidades climticas podero causar aos esforos em busca do desenvolvimento. Moambique um destes pases que devido a sua localizao costeira e ao clima que favorecem a ocorrncia de eventos extremos, agravada pela falta de condies econmicas para se adaptar aos novos desafios climticos, alm da dependncia relativamente aos recursos naturais e a importncia econmica dos sectores sensveis variabilidade climtica como agricultura e pescas. O territrio Moambicano vulnervel s mudanas climticas devido sua situao geogrfica (com cerca de 2,700 km de costa, maior parte dos rios internacionais que nascem nos pases vizinhos, como o Zambeze que nasce no Zaire, atravessam o territrio antes de desaguarem no Oceano ndico, em superfcies abaixo do nvel do mar), temperaturas altas, aridez e pobreza dos solos, diversas enfermidades endmicas, falta de comunicao, alto nvel de analfabetismo, elevada taxa de crescimento populacional, pobreza absoluta e dependncia dos recursos naturais que por sua vez dependem das quedas pluviomtricas. A localizao geogrfica do pas constitui uma das principais razes para a vulnerabilidade do territrio nacional aos ventos extremos, na medida que alguns ciclones tropicais e depresses formam-se no Oceano ndico, atravessam o Canal de Moambique e fustigam a parte costeira. Com o aumento da temperatura global aumenta a frequncia e a severidade dos perodos secos no interior e dos perodos chuvosos nas zonas costeiras. O territrio Moambicano tem sido

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assolado por secas, cheias e ciclones. Sendo de destacar as cheias de 2000 no Sul do pas e 2001 no Centro.

IV.3. 2 Principais Desastres Naturais

Moambique est sujeito a calamidades naturais incluindo ciclones, cheias, secas persistentes e terramotos. Alguns destes fenmenos so de carcter cclico, enquanto que outros so ocasionais. Para alm dos desastres de origem climatrica, uma grande parte do territrio nacional assenta em falhas tectnicas, ficando assim sujeitos a abalos ssmicos. O territrio nacional est sujeito a abalos ssmicos porque encontra-se localizado entre o Vale do Rift e o Canal de Moambique. Estes eventos tm um impacto dramtico na vida das crianas, homens e mulheres, muitos dos quais j sofrem de vulnerabilidade crnica devido insegurana alimentar, HIV e SIDA, epidemias de sade e acesso inadequado servios sociais. As secas ocorrem frequentemente nas regies Centro e Sul de Moambique, verificando-se tambm em alguns focos das provncias do Norte. A seca resulta da escassez de chuvas. Este fenmeno tem causado diversas contrariedades para o pas em diferentes reas como: Perda de culturas Secagem de fontes de guas Reduo de reas de pastagem Aumento de preos de produtos agrcolas Subida de importaes de alimentos Aumento de apelos para apoio externo Perda de vidas humanas e animais Ecloso de doenas Perda de biodiversidade

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Mapa 3: Zonas de risco de seca em Moambique. As cores indicam a diferena na distribuio da precipitao no pas

Fonte: MICOA. 2005. Direco Nacional de Gesto Ambiental. Avaliao da Vulnerabilidade as mudanas climticas e Estratgias de Adaptao. As cheias em Moambique so causadas no s pela precipitao que ocorre no pas, mas tambm pelo escoamento de guas provenientes das descargas das barragens dos pases vizinhos situados a montante. Tendo em conta que Moambique possui nove bacias hidrogrficas internacionais e muitas pequenas bacias, pode-se afirmar que quase todo o pas vulnervel s cheias. Nos perodos compreendidos entre 2000 (regio Sul) e 2001(regio Centro), o pas foi afectado por graves cheias devido s chuvas torrenciais que se verificaram nos pases vizinhos e que originaram subidas de caudais dos seus principais rios (Limpopo e Zambeze). Os efeitos das cheias no vale do Zambeze voltaram a se verificar nos princpios do ano corrente (2007). O nmero de pessoas procurando os centro de acomodao temporrios em pocas de cheias tem vindo a aumentar consideravelmente ao longo do vale do Zambeze. Em 2007 mais de 26.000 pessoas estavam abrigadas em 53 centros de acomodao ao longo de quatro provncias do pas. (Organizao das Naes Unidas, 2007). Esta situao das cheias tem consequncias gravssimas para a vida da populao, sobretudo para aquelas que vivem nas zonas rurais ao longo dos rios. Em Moambique as cheias tem causado seguintes danos:

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Inundaes Perdas de vida e propriedades Perdas de culturas Aparecimentos de doenas Situaes de deslocados Perda da biodiversidade Ruptura das actividades normais Os locais mais vulnerveis ocorrncia de cheias no pas, distribudos por regio, provncia e distritos (Mapa 4).

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Mapa 4: Zonas de riscos de cheias em Moambique. As cores indicam o nvel de risco de cada zona

Fonte: MICOA. 2005. Direco Nacional de Gesto Ambiental. Avaliao da Vulnerabilidade as mudanas climticas e Estratgias de Adaptao. Risco de primeiro nivel Zonas maias susceptiveis a cheias Risco de segundo nivel Zonas menos susceptiveis as cheias Na Regio Sul Provncia de Maputo (distritos de Matutuine, Boane, Moamba, Marracuene, Manhia e Magude). Provncia de Gaza (distritos de Xai-Xai, Bilene, Chkw, Mabalane, Massingir, Chibuto e Massangena). Provncia de Inhambane (distritos de Inharrime, Vilanculos, Inhassoro e Guvuro). Na Regio Centro Provncia de Sofala (distritos de Machanga, Bzi, Dondo, Marromeu, Caia e Chemba). Provncia de Manica (distrito de Machaze, Mossurize, Sussundenga e Tambara). Provncia de Tete (distritos de Mgoe, Zumbo, Cahora Bassa, Chita e Mutarara). Provncia da Zambzia (distritos de Morrumbala, Mopeia, Chinde, Inhanssunge, Namacurra e Maganja da Costa).

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Na Regio Norte Provncia de Nampula (distritos de Moma, Angoche, Memba e Lalaua). Em relao aos ciclones, em Moambique ocorrem frequentemente ao longo da costa como resultado das depresses tropicais que ocorrem no Oceano ndico, mas que tambm tem assolado as zonas de interior. O perodo de ocorrncia de ventos ciclones vai de Outubro a Abril e a sua intensidade aumenta entre os meses de Fevereiro a Abril. Os ciclones tropicais so tidos como os mais fortes e destrutivos entre os sistemas meteorolgicos, a nvel global os mesmos ocorrem de forma cclica, acompanhados de ventos fortes e chuva torrencias. A passagem de ciclones tropicais ao alongo da costa Moambicana e alguma das reas do interior tem suscitado diversas consequncias como: Destruio de infra-estruturas Falhas no sistema de abastecimento de gua potvel Problemas no fornecimento de energia elctrica Aumenta o nmero de desalojados Agravamento das condies de saneamento do meio Problemas econmicos e sociais Perdas de vida e sofrimento humano Destruio de propriedades e degradao do meio ambiente Pertubaes das actividades normais As provncias mais afectadas pelos ciclones tropicais tm sido frequentemente as que se situam ao longo da costa (Mapa 3), nomeadamente, Maputo, Gaza, Inhambane, Sofala, Zambzia, Nampula e Cabo Delgado. Os distritos ao longo da costa so normalmente os mais visados pelos ciclones. Nas reas do interior, a provncia de Manica foi no ano 2000 afectado pelo ciclone Eline, que tambm afectou as reas costeiras acima referenciadas.

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Mapa 5: A regio de Oriental da frica Austral que mais afectada pelos ciclones e tempestades tropicais. As cores se referem a frequncias dos eventos

Fonte: MICOA. 2005. Direco Nacional de Gesto Ambiental. Avaliao da Vulnerabilidade as mudanas climticas e Estratgias de Adaptao

IV.3.3 Posio do Governo

No incio dos anos 80, o Governo de Moambique, para fazer face ao cenrio de extrema vulnerabilidade as desastres naturais, criou o departamento de combate as calamidades naturais que era liderado pelo Primeiro Ministro e que incluia vrios ministrios. Este departamento desempenhava um papel chave na distribuio de ajuda alimentar e na rede logstica do pas que permitia o transporte de bens, armazenagem e distribuio entre a populao afectada. Quando Moambique introduz a liberalizao do sistema econmico nacional, a natureza da gesto muda em funo dsa presses da comunidade internacional doadora, comeando, neste momento, as operaes de ajuda de emergncia, a enfocar-se tambm na preveno dos desastres. Nesta altura, o governo Moambicano passa de uma perspectiva reactiva pr-desastre, para uma instncia pr-activa, como consequncia desta mudana surgiu em 1999 o INGC. O INGC tem como mandato a gesto de calamidades e a coordenao das aces de preveno, socorro s vitimas das calamidades e reabilitao das infraestruturas afectadas. As aces levadas a cabo pelo rgo nacinal de gesto das calamidades naturais, em Moambique so orientadas pelo PARPA e pelos documentos de planificao interna como a Poltica Nacional d3e Gesto de Calamidades, o Plano Nacional de Aco de Gesto de Calamidades e os Planos de Contigncia.

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O PARPA, faz meno a este assunto atendendo que o Plano Director para Preveno e Mitigao das Calamidades Naturas (PDPMCN) parte integrante da estratgia do combate a pobreza

A Poltica ressalta a necessidade de se integrar a problemtica da preveno e gesto de calamidades nas polticas de desenvolvimento scio - econmico do pas; privilegia uma abordagem preventiva e enfatiza a responsabilidade do indivduo, famlia e comunidade na minimizao dos riscos.

O Plano Nacional de Aco para a Gesto de Calamidades traa as linhas orientadoras do processo de planificao, monitoria e avaliao da resposta nacional as calamidades. Este plano define as principais aces de planeamento, preveno e mitigao, e prontido e resposta a serem realizadas.

Os Planos de Contingncia so documentos anuais que tem como objectivo a identificao das actividades a realizar a todos os nveis assim como a orientao e mobilizao da populao nas zonas de risco, como forma de prevenir, reduzir o risco e mitigar as consequncias das calamidades.

O MICOA, no mbito da ratificao dos acordos acima mencionados:

conduz aces que visam promover com maior consciencializao e conhecimento sobre as mudanas climticas;

elaborou o Programa Nacional para Adaptao; estabeleceu um grupo inter-institucional (NAPA ), por meio do qual realizou uma avaliao rural

participativa em 31 distritos das 10 provncias, com vista a a avaliar a forma como as instituies locais lidam com as variabilidades climticas, identificar os eventos extrremos especficos de cada rea, priorizar as propostas de medidas necessrias sugeridas pelas comunidades e sectores locais para a reduo da vulnerabilidade.

O cenrio de extrema variabilidade climtica por um lado e extrema vulnerabilidade populacional por outro, que caracterizam o nosso pas, so reconhecidos pelos rgos do governo como sendo as factores que agravam a situao da pobreza absoluta em Moambique.

IV.3. 4 Aces propostas pelo Governo

Em Moambique esto programadas 4 aces que se distribuem em vrios sectores com vista a fazer face ao problema:

1. Fortalecimento do Sistema de Aviso Prvio Esta medida permite que a informao chegue em tempo til s comunidades afectadas de maneira e no formato que estas possam utiliz-la. Atravs da utilizao dos postos udomtricos que o MINAG tem espalhados pelo pas, pode-se padronizar num formato que permita melhorar a preciso das previses de tempo e da variabilidade climtica. Para um melhor alcance deste objectivo o Conselho Tcnico prev que se priorisem actividades relativas ao:

Mapeamento; Reabilitao ou Instalao de Estaes Sinpticas/Udomtricas; Treinamento; Educao e Sensibilizao; Seminrios;

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Melhoramento do sistema de comunicao; e Criao de um banco de dados sistematizados a nvel dos distritos sobre a ocorrncia e impactos

dos desastres naturais.

Intervenientes: INAM, INGC, Comit Tcnico de Gesto de Calamidades, MINAG, MTC, MEC, ONGs, MOPH, M pescas, MAE, INTC, Comunicao Social, Instituies de Investigao, Sector Privado e Sociedade Civil em Geral.

2. Fortalecimento das Capacidades dos Produtores Agrcolas a lidarem com as mudanas Climticas Esta medida permite desenvolver capacidades dos produtores agrrios para lidarem com a variabilidade e mudanas climticas. Para melhor alcance deste objectivo, o Conselho Tcnico prev que se implementem as seguintes aces:

Reduo de degradao dos solos devido a prticas agrrias inapropriadas; Reduo da perda de culturas e populao animal nas regies propensas s secas, cheis e

ciclones tropicais; e Estabelecimento de formas alternativas de subsistncia.

Intervenientes: MINAG, ME, MOPH, DNA, MIC, MF, MIREM, Ministrio da Defesa, ARAs, INAM, MITUR, MAE, DINAGECA e colaboradores do Sector Privado e Sociedade Civil. Para o desenvolvimento destas aces sero priorizados os distritos de Magude e Moamba (Maputo), Mabalane e Massangena (Gaza), Funhalouro e Mabote (Inhambane), Chemba e Muanza (Sofala), Machaze e Tambara (Manica), Angnia e Changara (Tete), Mueda e Macomia (Cabo Delgado), Chinde e Morrumbala (Zambzia), Moma e Memba (Nampula), Sanga e Cuamba (Niassa). Estes foram escolhidos de acordo com o seu grau de vulnerabilidade a seca, as cheias, ndices de pobreza e disponibilidade dos servios de extenso.

3. Reduo do Impacto das Mudanas Climticas nas Zonas Costeiras Este objectivo, fundamental para um pas como o nosso em que tem se desenvolvido muitas actividades econmicas ao longo da costa atravs de aces de pesca, explorao porturia, turismo e desporto bem como a minerao de areias pesadas, do gs e outros potenciais hidrocarbonetos ainda em prospeco. Visto que a linha da costa das feices mais dinmicas do planeta e que a sua posio no espao altera constantemente em escalas dirias, sazonais, decadais, seculares e milenares, a linha de costa de Moambique tem sido afectada por ciclones tropicais e chuvas como consequencia da aco erosiva que os caracteriza. As estratgias de aco para alcanar este objectivo, devem ser priorizadas tomando em conta que os focos de vulnerabilidade eroso na zona costeira do pas distribuem-se sul 20 S de latitud, onde a zona norte a que no apresenta eroso acentuada por ser protegida por recifes de corais que formam uma franja ao longo da costa, o mesmo j no acontece com a costa sul que por ser caracterizado por plancies muitas vezes inundveis no caso de eventos climticos extremos.

4. Gesto dos Recursos Hidrcos no mbito das Mudanas Climticas Uma m gesto dos recursos hidricos um grande impedimento para o desenvolvimento do pas, esta situao agrava-se, quando toma-se em conta o cenrio actual das mudanas climticas que se vive actualmente. O nosso pas tem vivido pocas de secas, alternadas por cheias por causa da m gesto dos recursos hdricos. Joga um papel fundamental para se viverem estes extremos no s a precipitao, mas tambm o facto de Moambique receber gua proveniente da descarga das barragens dos pases vizinhos, situados montante, visto que Moambique tem nove bacias hidrogrficas internacionais o que o torna ainda mais vulnervel. Para fazer face a tal vulnerabilidade indispenssvel a adopo de planos gesto

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por vezes at regionais. Porque os pases vizinhos na medida em que se sentem pressionados pelos efeitos nefastos das mudanas climticas manipulam os cursos de gua e algumas vezes o nosso pas sai prejudicado. PARCEIROS PRIVILEGIADOS: ARAs, MICOA, MINAG, INGC, MITUR, DINAGECA, Comit Tcnico de Gesto de Calamidades, MOPH, Sociedade Civil e algumas ONGs OPORTUNIDADES DE INTERVENO

Dificincia de Polticas que controlam e regulam a eroso costeira causada por factores antropognicos;

Poucos estudos relacionados com as adaptaes aos impactos das mudanas climticas e reduo dos impactos dos desastres naturais;

Ausncia de programas e polticas de desenvolvimento do conhecimento cientfico dos fenmenos associados eroso que devem ser incorporados nos planos sectoriais.

Est a faltar uma mapeamento claro das zonas de risco; Deficincia dos meios do sistema de aviso prvio por meio de emisso de informao antepada

sobre ciclones, chuvas, torrenciais e secas; Falta reforo da coordenao institucional inter-sectorial; Intensificao das aces de formao e educao cvica; Falta a promoo de encontros regionais para a discusso de assuntos relativos aos recursos

transfronteirios; Fraca divulgao do tipo e qualidade das condies ambientais em que vivemos; Disseminao e incentivo para a prtica de culturas resistentes aos desastres naturais, como

plantas que conservam a gua para as reas propensas as cheias;

IV.4 ADVOCACIA

O grande objectivo que se coloca sobre qualquer aspecto relacionado com a Advocacia no que diz respeito voz da Sociedade Civil para assuntos de natureza e interesse nacionais. Em Moambique actualmente podemos identificar quatro reas focais e que so alvo de alargada ateno:

IV.4. 1 Reduo da Pobreza Absoluta

IV.4.2 Combate ao HIV/SIDA

IV.4.3 Perdo da Dvida

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IV.4.4 Equilbrio Oramental

A nvel da instituies governamentais, as mesmas so impulsionadas a desenvolver aces que visem um maior envolvimento com outros sectores para a luta contra a pandemia do HIV/SIDA e a desigualdade de Gnero, problemas de sade e educao. As partes mais interessadas na questo de Advocacia em Moambique so, sem sombra de dvidas, as comunidades locais pois estas precisam de inputs para poderem fortalecer as suas capacidades de interveno no dia a dia das suas actividades e das decises de nvel local e nacional. No que concerne aos papis exercidos pelos diversos actores para contornar a situao em matria de Advocacia, com base nos estudos sobre o assunto consultados, frequente que se verifique uma maior concentrao dos indivduos em assuntos ligados ao HIV/SIDA, sobretudo nas instituies localizadas na provncia e cidade de Maputo, salvo os Ministrios que possuem uma abrangncia mais global. Difcil agrupar as aces de Advocacia em termos regionais, provinciais e distritais, mas tendo em conta a incidncia do problema, podemos aventar que quanto mais pretendermos sair da cidade de Maputo, menor o conhecimento sobre a Advocacia. Em geral as aces de Advocacia centram-se em aspectos distantes do problema da educao e sade. Pois ainda existem problemas desconhecidos sobre Malria e aspectos educacionais. Moambique est num processo de desenvolvimento em que participao dos cidados nos processos de governao ganha cada vez mais uma importncia crucial. Sendo uma democracia emegente a abertura de espaos institucionalizados de dilogo e consultas como observatrio da pobreza e os conselhos consultivos de diferentes nveis criados no mbito da reforma do sector pblico. No entanto a Sociedade Civil Moambicana, dada a sua natureza jovem do ponto de vista institucional, dispe de uma capacidade limitada de usar e ampliar estes espaos de forma efectiva e activa. A capacidade de organizao, gesto e de promoo de mecanismos efectivos de participao so algumas das reas em que a capacidade da maioria das organizaes da sociedade civil precisa de ser ampliada e reforada. Recentemente foi criado o Mecanismo de Apoio Sociedade Civil (MASC) com intuito de desenvolver e fortalecer a capacidades da sociedade civil no processo de tomada de decises para uma melhor monitoria e advocacia da governao, algo que no existia. Este Mecanismo de apoio a sociedade civil ter uma dimenso nacional e vai apoiar todas as organizaes dessa natureza pois muitas das pequenas actividades realizadas por algumas entidades ainda se concentram na capital do pas. Uma das questes principais de apoio Sociedade Civil o reforo das suas capacidades, nesta temtica sero realizadas diferentes aces de formao e de capacitao, a determinar tanto pelas prprias organizaes, bem como levantamento de um rol de necessidades de formao a ser efectuado no decoorer de todo o ano.

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Segundo Joo Cndido Pereira, director da Unidade de Gesto do MASC, Moambique se confronta com muitos desafios sendo os mais urgentes a erradicao da pobreza, o combate ao HIV/SIDA, a malria, a corrupo e a promoo do desenvolvimento socioeconmico . Referiu que perante estes desafios existe uma questo que parece incortonavel: a boa governao (Jornal notcias 13/10/2007)

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VII. REFERNCIAS Agenda 2025 (2004). Viso e Estratgia da Nao. Maputo: PNUD http://pt.wikipedia.org/wiki/ Pobreza). Instituto Chr. Michelsen (2005). Pobreza em Moambique: Discursos, Monitoria e Anlises. NORAD. MATSINHE, Cristiano (2005). Tbula Rasa: Dinmica de Resposta Moambicana ao HIV/SIDA. Maputo: Texto Editores. MICOA (2005). Avaliao das Capacidades de Gesto do Risco de Desastres. Maputo. MICOA (2007). Draft do Programa de Aco Nacional para a Adaptao s Mudanas Climticas. Maputo. MISAU (1997). A SIDA em Moambique: Informao para Jovens. Reblica de Moambique (2005). Relatrio Sobre Os Objectivos de Desenvolvimento do Milnio. Repblica de Moambique (2003). Relatrio Sobre Os Objectivos de Desenvolvimento do Milnio. Repblica de Moambique (2006). Plano de Aco para Reduo da pobreza Absoluta. Maputo. Repblica de Moambique (1996). Programa nacional de Gesto ambiental. Maputo: MICOA. UNICEF (2006). A Pobreza na infncia em Moambique: Uma Anlise da Situao e das Tendncias. UEM (2005). Estudo Qualitativo Sobre a Pobreza: Inhambane e Sofala. Maputo: DAA Universidade Humboldt Berlim. (SLE) Centro de Formao Avanada em Desenvolvimento Rural (2006). Contribuio de Estradas Rurais na Reduo da Pobreza?: Anlise de Impacto na Provncia de Sofala, Moambique. UNFCCC (S.D). Protocolo de quioto: conveno quadro das naes Unidas sobre Mudanas Climticas. Maputo: MICOA. UNEP (S.D.). Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Maputo: Imprensa Universitria/ UEM.