análise comparativa do novo código de processo civil

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14 Revista Pesquisas Jurídicas ISSN 2316 6487 (v. 3, n. 2. jul./out. 2014) ANÁLISE COMPARATIVA DO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO DO ATUAL CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL COM O DO PROJETO DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL Danielle Rosado Targino de Oliveira RESUMO Atualmente, a justiça vem recebendo muitas críticas ante a falta de celeridade processual, razão pela qual, surgiu a proposta do anteprojeto do Novo Código de Processo Civil, que, por ser mais conciso e menos burocrático, vem trazer mudanças importantes no Processo Civil Brasileiro, a fim de se atingir uma maior eficiência da prestação jurisdicional. Nesse sentido, o presente trabalho pretende realizar uma análise comparativa entre o atual Código de Processo Civil e o anteprojeto, com enfoque no procedimento ordinário, por ser o mais complexo e de maior duração, trazendo à tona as mudanças pretendidas nessa área de conhecimento. Palavras-Chave: Celeridade Processual. Anteprojeto do Novo Código de Processo Civil. Procedimento Ordinário. 1 INTRODUÇÃO O clamor da sociedade atual é pela celeridade da prestação judicial, em acordo com a cláusula constitucional da duração razoável do processo. Exatamente por isso, o Senado Federal, trabalhando com o Judiciário, elaborou o anteprojeto do novo Código de Processo Civil, porque a parte não pode esperar décadas para que tenha seu litígio solucionado. Sob esse enfoque, a comissão trabalhou, procurando verificar de que maneira poderia, através da técnica, dar mais agilidade ao processo. As reformas não só se voltaram para a celeridade, como também para a simplicidade, de modo a facilitar o trabalho de todos os que de alguma maneira manejam os processos e dar efetividade a institutos através da resolução de temas controversos ainda existentes no que diz respeito ao sistema processualístico atual. Graduanda em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). E-mail: danny- [email protected].

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O autor faz uma comparação entre os dois códigos, analisando as principais mudanças.

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Page 1: Análise comparativa do Novo Código de Processo Civil

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Revista Pesquisas Jurídicas ISSN 2316 – 6487 (v. 3, n. 2. jul./out. 2014)

ANÁLISE COMPARATIVA DO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO DO ATUAL

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL COM O DO PROJETO DO NOVO CÓDIGO DE

PROCESSO CIVIL

Danielle Rosado Targino de Oliveira

RESUMO

Atualmente, a justiça vem recebendo muitas críticas ante a falta de

celeridade processual, razão pela qual, surgiu a proposta do

anteprojeto do Novo Código de Processo Civil, que, por ser mais

conciso e menos burocrático, vem trazer mudanças importantes no

Processo Civil Brasileiro, a fim de se atingir uma maior eficiência da

prestação jurisdicional. Nesse sentido, o presente trabalho pretende

realizar uma análise comparativa entre o atual Código de Processo

Civil e o anteprojeto, com enfoque no procedimento ordinário, por ser

o mais complexo e de maior duração, trazendo à tona as mudanças

pretendidas nessa área de conhecimento.

Palavras-Chave: Celeridade Processual. Anteprojeto do Novo

Código de Processo Civil. Procedimento Ordinário.

1 INTRODUÇÃO

O clamor da sociedade atual é pela celeridade da prestação judicial, em acordo com a

cláusula constitucional da duração razoável do processo. Exatamente por isso, o Senado

Federal, trabalhando com o Judiciário, elaborou o anteprojeto do novo Código de Processo

Civil, porque a parte não pode esperar décadas para que tenha seu litígio solucionado. Sob

esse enfoque, a comissão trabalhou, procurando verificar de que maneira poderia, através da

técnica, dar mais agilidade ao processo.

As reformas não só se voltaram para a celeridade, como também para a simplicidade,

de modo a facilitar o trabalho de todos os que de alguma maneira manejam os processos e dar

efetividade a institutos através da resolução de temas controversos ainda existentes no que diz

respeito ao sistema processualístico atual.

Graduanda em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). E-mail: [email protected].

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Assim, diversas soluções foram propostas, com grande destaque para as

modificações sugeridas ao procedimento ordinário, já que constitui o mais complexo e de

maior duração, o qual será o foco do presente trabalho.

Nesse contexto, sob o enfoque dos princípios da celeridade processual, do acesso à

justiça e da duração razoável do processo, serão apresentados, de maneira brevemente

comparativa, certos institutos presentes no atual sistema processualístico ordinário, pautado

no Código de Processo Civil de 1973, e como serão tratados no novo código, a partir da

análise do Anteprojeto de Código de Processo Civil, ainda em trâmite no Congresso Nacional.

2 DA PROPOSTA DO ANTEPROJETO DO NOVO CPC

O anteprojeto de lei do novo Código de Processo Civil (CPC) possui 200 artigos a

menos do que o código atual. O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, presidente

da comissão de juristas designada pelo Senado para formular o anteprojeto de lei do novo

Código de Processo Civil (CPC), esclareceu que trará importantes alterações ao atual Código,

em vigor no país desde 19731.

O anteprojeto altera o Código vigente, o que é percebido na extinção de recursos

como os embargos infringentes e agravos (que podem ser utilizados ilimitadamente num

processo). Destes ficará apenas o agravo de instrumento, que será válido apenas para as

hipóteses de concessão ou não de tutela de urgência; para as interlocutórias de mérito, para as

interlocutórias proferidas na execução e no cumprimento de sentença, e para os demais casos

previstos na lei (art. 9292 do anteprojeto do CPC).

1 BRASIL. Código de Processo Civil: anteprojeto/ Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de

Anteprojeto de Código de Processo Civil. Brasília: Senado Federal, Presidência, 2010. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf>. Acesso em: 1 dez 2011. 2 Art. 929. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias:

I – que versarem sobre tutelas de urgência ou da evidência;

II – que versarem sobre o mérito da causa;

III – proferidas na fase do cumprimento de sentença ou no processo de execução;

IV – em outros casos expressamente referidos neste Código ou na lei.

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A quantidade de recursos possíveis no processo brasileiro, que pode atingir o número

de 40 numa única ação, já é alvo de críticas há um bom tempo, logo, era de se esperar uma

redução neste número com a reforma do Código.

A proposta cria instrumentos que contribuirão para reduzir o tempo do trâmite das

ações na Justiça, e atende às queixas de empresários e advogados atinentes à penhora on-line

de contas bancárias e o bloqueio de bens de sócios de empresas. O projeto contempla ainda a

advocacia no que se refere ao pagamento dos honorários de sucumbência em relação à

Fazenda Pública (art. 73, § 3º do anteprojeto do CPC)3, estabelecendo um percentual mínimo

que não existe hoje e é fixado pelo juiz; e criando as “férias coletivas” para a categoria, no

período de 20 de dezembro a 20 de janeiro, com a suspensão dos prazos.

Entre as medidas, destacam-se os instrumentos processuais que levarão ao

fortalecimento da jurisprudência dos tribunais superiores, bem como à unificação dos prazos

recursais; a eliminação de alguns recursos e a criação do incidente de coletivização das ações

de massa, para evitar que milhares de ações individuais idênticas cheguem ao Poder

Judiciário. “O processo é um instrumento de realização de Justiça que precisa ser

implementado dentro de um prazo razoável, embora atualmente os juízes tenham que travar,

ao julgar, uma luta incansável contra o tempo4”, afirma o ministro Luiz Fux.

Com relação às modificações que estão sendo propostas no conhecimento (fase

introdutória do processo), o anteprojeto recomenda a ampliação dos poderes dos magistrados

e a extinção dos chamados incidentes processuais. Acrescenta o ministro Fux5:

Alguns direitos possuem vicissitudes que permitem aos juízes adaptar um

procedimento ao caso concreto. Há casos em que basta o depoimento do autor e do

réu para o juiz decidir. Por isso, estamos querendo fazer com que, em situações

como essas, sejam afastadas as liturgias. Estamos imaginando uma forma de permitir ao juiz, à luz da jurisprudência dominante, buscar soluções que permitam o

julgamento dos processos com maior celeridade.

3 Art. 73. § 3º. Nas causas em que for vencida a Fazenda Pública, os honorários serão fixados entre o mínimo de

cinco por cento e o máximo de dez por cento sobre o valor da condenação, do proveito, do benefício ou da

vantagem econômica obtidos, observados os parâmetros do § 2º. 4 Ministro Luiz Fux fala sobre anteprojeto do novo CPC na Câmara dos Deputados. Portal do STF, Brasília, 26

dez. 2011. Disponível em:

<http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=96619> Acesso em: 29 de

novembro de 2011. 5 Idem.

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3 DO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO

O procedimento comum ordinário é sem dúvida o mais complexo e de maior

duração, admitindo-se a prática de infindáveis atos processuais. Exatamente por isso, possui

longa duração se comparada à tramitação das ações que se desenvolvem pelos procedimentos

sumário e sumaríssimo. Nesse aspecto, múltiplas alterações foram introduzidas no CPC,

algumas se voltando à realidade específica do procedimento sumário. Poucas outras se

dirigiram ao procedimento comum ordinário, como a determinação do aperfeiçoamento da

citação pelos correios (art. 222), como regra.

O procedimento comum ordinário é, assim, considerado o mais completo da Lei de

Ritos, gerando frustrações à parte que intentava resolver o conflito de interesses em curto

espaço de tempo. Apesar disso, anotamos que é aplicado de forma geral, sendo apenas

afastada, quando for possível, a adoção do procedimento especial, do sumário ou do

sumaríssimo, tratando os dois últimos de questões de menor complexidade jurídica,

admitindo, por conseguinte, o desprezo de alguns atos e a concentração de outros, sobre eles

incidindo princípios processuais específicos, que norteiam o seu desenvolvimento. Conforme

preceitua Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart (2010, p. 69):

O processo de conhecimento se serve do procedimento comum e de procedimentos

especiais. O procedimento comum pode apresentar-se como procedimento ordinário

e, em alguns casos, como procedimento sumário. Portanto, quando não está previsto

o procedimento especial, e quando não é de observar-se o procedimento sumário,

aplica-se o procedimento ordinário, que em outras palavras é o procedimento padrão

e básico para a tutela dos direitos.

4 DA ANÁLISE COMPARATIVA DO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO ENTRE O

CÓDIGO DE 1973 E O ANTEPROJETO DO NOVO CÓDIGO

Em contraposição a essa sucessão infindável de atos processuais e a consequente

delonga do processo, o anteprojeto do CPC atenta para inúmeras e diversas modificações na

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matéria do procedimento ordinário, buscando evitar a supracitada frustração das partes em

virtude da lentidão do trâmite processual e o acúmulo de processos nos tribunais.

Sobre a matéria do procedimento ordinário, o Código de Processo Civil regula sua

dinâmica a partir do art. 274, já o anteprojeto trata do assunto a partir do art. 3026. A diferença

desde já reside no fato de que o novo código não nomeia o procedimento ordinário,

denominando-o somente como procedimento comum, diferentemente do Código em vigor

que aduz ser comum tanto o procedimento ordinário como o procedimento sumário.

4.1 Da petição inicial

De acordo com Humberto Theodoro Júnior (2011, p. 359), “o veículo de

manifestação formal da demanda é a petição inicial, que revela ao juiz a lide e contém o

pedido da providência jurisdicional, frente ao réu, que o autor julga necessário para compor o

litígio”.

Ademais, conforme preleciona Cândido Rangel Dinamarco (2009, p.365):

A petição inicial está sujeita a certos requisitos estruturais, que são aqueles postos

pelos incisos do art. 282 do Código de Processo Civil, bem como aos requisitos

puramente formais pertinentes aos atos processuais em geral. Há ainda os requisitos

extrínsecos, que não se referem à petição inicial mesma, mas à propositura da

demanda mediante ela; trata-se dos documentos que devem acompanhá-la (art. 283

etc.), da procuração ad judicia, do preparo inicial etc.

Sendo assim, quando o juiz verificar que a petição inicial não preenche os requisitos

determinados pelo Código ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o

julgamento de mérito, constata-se mudança no prazo para a sua emenda ou complementação;

o art. 284 do CPC estipula um prazo de 10 (dez) dias, enquanto o art. 305 do anteprojeto7

comina prazo de 15 (quinze) dias para o mesmo fim. Embora o CPC não estabeleça a

obrigação de o magistrado indicar no despacho que determina a emenda da inicial o requisito

6 BRASIL. Código de Processo Civil: anteprojeto/ Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de

Anteprojeto de Código de Processo Civil. Brasília: Senado Federal, Presidência, 2010. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf>. Acesso em: 1 dez. 2011. 7 BRASIL. Código de Processo Civil: anteprojeto/ Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de

Anteprojeto de Código de Processo Civil. Brasília: Senado Federal, Presidência, 2010. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf>. Acesso em: 1 dez. 2011.

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que reclama retificação ou complementação, entende-se que essa especificação é sadia,

devendo ser observada na prática forense, em atenção a critérios de razoabilidade, facilitando

a prática do ato pelo ator, esse entendimento foi assimilado pelo anteprojeto, já que a parte

final do seu art. 305 estabelece que o magistrado deve indicar com precisão o que deve ser

corrigido.

O autor deve fixar o foro competente e dentro dele o juízo. A equivocada indicação

de autoridade competente, com a consequente distribuição da ação para juízo diverso do que

recebeu delegação e constitucional para apreciá-la e julgá-la, pode configurar a incompetência

absoluta, acarretando a necessidade de encaminhamento dos autos ao juízo competente, com a

invalidação dos atos decisórios, incluindo sentença por ventura prolatada no processo (art.

113, parágrafo 2º, do CPC, correspondendo aos parágrafos 2º e 3º do anteprojeto8, com a

ressalva de que o parágrafo 3º textualiza a regra de que salvo decisão judicial em sentido

contrário, conservar-se-ão os efeitos das decisões proferidas pelo juízo incompetente, até que

outra seja proferida, se for o caso, pelo juízo competente).

O art. 49 do anteprojeto9 do novo CPC estabelece que a incompetência relativa deve

ser suscitada como preliminar da contestação (assim como a incompetência absoluta, não

mais através de incidente processual). O valor da causa pode servir como base para a fixação

de multa quando o magistrado considerar procrastinatório o recurso de embargos de

declaração interposto pela parte (parágrafo único do art. 538, correspondendo ao parágrafo 1º

do art. 94110

do anteprojeto do novo CPC, com a mesma orientação legal, diferenciando-se no

percentual da multa, que é elevada para até cinco por cento do valor da causa).

Inovando no assunto, com a pretensão de que o processo tenha curso mais célere, o

art. 256 do anteprojeto do novo CPC dispõe:

8 Idem. 9 Idem. 10 Art. 941. Os embargos de declaração não têm efeito suspensivo e, salvo quando intempestivos, interrompem o

prazo para a interposição de outros recursos por qualquer das partes.

§1º Quando manifestamente protelatórios os embargos, o juiz ou o tribunal condenará o embargante a pagar ao

embargado multa não excedente a cinco por cento sobre o valor da causa.

§ 2º Não serão admitidos novos embargos declaratórios, se os anteriores houverem sido considerados

protelatórios.

§ 3º A interposição de qualquer outro recurso fica condicionada ao depósito do valor de cada multa, ressalvados

a Fazenda Pública e os beneficiários da gratuidade de justiça.

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Art. 256. O réu poderá impugnar, em preliminar de contestação, o valor atribuído à

causa pelo autor, sob pena de preclusão; o juiz decidirá a respeito na sentença,

impondo, se for o caso, a complementação das custas.

Quando não há previsão na lei, o magistrado deve aguardar que o réu impugne o

valor dado à causa através do incidente processual. O parágrafo único do art. 255 do

anteprojeto11

estabelece a seguinte regra:

O juiz fixará, de ofício, por arbitramento, o valor da causa quando: I – verificar que

o valor atribuído não corresponde ao conteúdo patrimonial em discussão ou ao

proveito econômico perseguido pelo autor, caso em que se procederá ao

recolhimento das custas correspondentes; II – a causa não tenha conteúdo

econômico imediato.

Em face do requerimento para a citação do réu, o art. 29712

do anteprojeto inova na

matéria em detrimento do art. 263, ao estabelecer que a ação é considerada proposta quando a

petição inicial for protocolada.

Interposta a apelação, assistimos a um fenômeno que quebra a sistemática

processual, afastando a aplicação do art. 463 (correspondendo ao art. 47613

do anteprojeto do

novo CPC), peremptório em estabelecer que a prolação da sentença põe fim à atuação do

magistrado no processo (na fase de conhecimento), apenas admitindo-se nova intervenção da

sua parte para enfrentar o recurso de embargos de declaração ou para corrigir inexatidões

materiais ou erros de cálculos, com a ressalva que o inciso II do art. 476 do anteprojeto

estabelece a regra de que o magistrado também pode alterar a sentença para aplicar tese fixada

em julgamento de casos repetitivos.

Embora a lei processual não preveja a necessidade de o magistrado determinar o

aperfeiçoamento da intimação do réu para que ofereça contrarrazões no prazo previsto em lei,

antes de encaminhar os autos ao Tribunal, entende-se que, em respeito aos princípios do

contraditório e da ampla defesa, deve ser oportunizada ao réu a possibilidade de apresentar a

11 Idem. 12 Art. 297. Considera-se proposta a ação quando a petição inicial for protocolada. A propositura da ação,

todavia, só produz quanto ao réu os efeitos mencionados no art. 197 depois que for validamente citado. 13 Art. 476. Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la:

I – para corrigir nela, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais ou lhe retificar erros de cálculo;

II – para aplicar tese fixada em julgamento de casos repetitivos;

III – por meio de embargos de declaração.

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manifestação processual, em análise, limitando-se a defender as razões que conduziram o

magistrado a peça inicial. Esse pensamento é compreendido pelo anteprojeto no seu art. 316,

com a seguinte redação:

Art. 316. Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no

prazo de quarenta e oito horas, reformar sua decisão.

Parágrafo único. Não sendo reformada a decisão, o juiz mandará citar o réu para

responder ao recurso.

4.2 Da resposta do réu

Com as atenções voltadas para o anteprojeto do CPC, percebemos que a impugnação ao

valor da causa e a alegação de incompetência relativa passam a ser preliminares da

contestação (incisos II e III do art. 338 do anteprojeto), e que a reconvenção é definitivamente

substituída pelo pedido contraposto (art. 337), que deve ser formulado na contestação, técnica

que evita a proliferação de defesas, contribuindo para o encerramento do processo em espaço

de tempo menor.

O prazo para o oferecimento da resposta só começa a fluir da data da juntada aos

autos do mandado devidamente cumprido ou do aviso de recebimento, quando a citação for

aperfeiçoada pela via postal, como é a regra do art. 222, correspondendo ao art. 204 do

anteprojeto. Com a ressalva de que o anteprojeto propõe a adoção de regra diferenciada,

estabelecendo que a contestação deve ser apresentada no prazo de 15 (quinze) dias, contado

da audiência de conciliação, ou a partir da juntada do mandado ou de outro instrumento de

citação, quando a audiência não for designada por magistrado (art. 334 e 335)14

.

Na ação de procedimento ordinário, o prazo para a apresentação da defesa é de 15

(quinze) dias, exceto se o réu for beneficiado pela contagem de prazo ampliado nos casos da

ação proposta contra a Fazenda Pública ou Ministério Público, ou quando a ação é proposta

contra mais de um réu; nesses casos, o anteprojeto estabelece a regra de que o prazo é contado

em dobro.

14 Art. 334. O réu poderá oferecer contestação em petição escrita, no prazo de quinze dias contados da audiência

de conciliação.

Art. 335. Não havendo audiência de conciliação, o prazo da contestação será computado a partir da juntada do

mandado ou de outro instrumento de citação.

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4.3 Sobre o pedido

Quanto ao pedido, logo no primeiro artigo referente ao assunto, art. 286 e art. 307, do

CPC e do Anteprojeto, respectivamente, nota-se mínima modificação no inciso II. No CPC, é

lícito formular pedido genérico “quando não for possível determinar, de modo definitivo, as

consequências do ato ou do fato ilícito”, e no Anteprojeto é lícito formular pedido genérico

“quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato ilícito”15

.

E o inciso III do Anteprojeto acrescenta ser lícito formular pedido genérico não só “quando a

determinação do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu”, mas

também “quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que

deva ser praticado pelo réu”; acrescentando ainda parágrafo único concernente à aplicação do

disposto no artigo ao pedido contraposto.

O CPC estabelece em seu art. 290:

Art. 290. Quando a obrigação consistir em prestações periódicas, considerar-se-ão

elas incluídas no pedido, independentemente de declaração expressa do autor; se o

devedor, no curso do processo, deixar de pagá-las ou de consigná-las, a sentença as

incluirá na condenação, enquanto durar a obrigação.

Tal artigo é alterado pelo art. 310 do anteprojeto16

:

Art. 310. Na ação que tiver por objeto cumprimento de obrigação em prestações

sucessivas, estas serão consideradas incluídas no pedido, independentemente de

declaração expressa do autor; se o devedor, no curso do processo, deixar de pagá-las

ou de consigná-las, serão incluídas na condenação, enquanto durar a obrigação.

A mudança se dá na nomenclatura das obrigações periódicas (cujo significado remete

à reprodução com intervalos de tempos iguais), que passam a ser chamadas de sucessivas

(cujo significado remete à continuidade, ininterrupção).

15 BRASIL. Código de Processo Civil: anteprojeto/ Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de

Anteprojeto de Código de Processo Civil. Brasília: Senado Federal, Presidência, 2010. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf>. Acesso em: 1 dez. 2011. 16 Idem.

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Quanto à cumulação de pedidos contra o mesmo réu num único processo, dispõe o

art. 292, parágrafo primeiro, do CPC: “Quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso

de procedimento, admitir-se-á a cumulação, se o autor empregar o procedimento ordinário”.

Mas no anteprojeto, isso ocorre “se o autor empregar o procedimento comum e for este

adequado à pretensão” - art. 31217

. Como já foi dito, o anteprojeto não distingue o

procedimento comum em ordinário.

O anteprojeto, no seu art. 31318

adiciona ao art. 293 do CPC a correção monetária e

as verbas de sucumbência aos juros legais referentes aos pedidos, que devem ser interpretados

restritivamente.

No que diz respeito ao art. 294 do CPC: “Antes da citação, o autor poderá aditar o

pedido, correndo à sua conta as custas acrescidas em razão dessa iniciativa”; o anteprojeto o

modifica bastante, estabelecendo, destarte, em seu art. 314:

Art. 314. O autor poderá, enquanto não proferida a sentença, aditar ou alterar o

pedido e a causa de pedir, desde que o faça de boa-fé e que não importe em prejuízo ao réu, assegurado o contraditório mediante a possibilidade de manifestação deste no

prazo mínimo de quinze dias, facultada a produção de prova suplementar.

Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo ao pedido contraposto e à

respectiva causa de pedir.

No Código de Processo Civil atual, percebemos que, para o aditamento do pedido,

faz-se necessário o ônus do pagamento das custas processuais, bem como se restringe

somente ao momento anterior à citação. É importante ressaltar que também não se admitem

mudanças na causa de pedir. No anteprojeto do Novo CPC, por sua vez, o aditamento pode

ser feito até o momento da sentença, desde que seja de boa-fé e respeitados os requisitos

mínimos do contraditório, ou seja, resposta do réu com relação ao aditamento. Outra mudança

significativa é a possibilidade de se aditar a causa de pedir e a faculdade de provas

suplementares.

4.4 Indeferimento da petição inicial

17 Idem.

18 Art. 313. Os pedidos são interpretados restritivamente, compreendendo-se, entretanto, no principal, os juros

legais, a correção monetária e as verbas de sucumbência.

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Consoante os ensinamentos de Cândido Rangel Dinamarco (2009, p. 400-401),

“indeferir a petição inicial significa rejeitar o requerimento, que ela contém, de realizar o

processo e conduzi-lo em direção ao julgamento da pretensão deduzida pelo demandante”.

No atual CPC, a petição é indeferida quando o juiz verificar, desde logo, a

decadência ou a prescrição (art. 219, § 5o); quando o tipo de procedimento, escolhido pelo

autor, não corresponder à natureza da causa, ou ao valor da ação; caso em que só não será

indeferida se puder adaptar-se ao tipo de procedimento legal; quando não atendidas as

prescrições do art. 39, parágrafo único, primeira parte, e art. 284. O anteprojeto simplifica e

considera indeferida a petição quando não verificadas as situações de prescrição presentes nos

arts. 89 e 30519

.

Além disso, o anteprojeto, diferentemente do CPC, não explicita sobre a inépcia da

petição inicial quando o pedido for juridicamente impossível, talvez essa mudança tenha

ocorrido para enxugar o Código, tornando-se dispensável explicitar tal hipótese por sua

obviedade.

Ainda sobre o indeferimento da petição inicial, não sendo reformada a decisão pelo

juiz dentro das 48 (quarenta e oito) horas previstas por lei no caso de apelação do autor; no

CPC, os autos serão imediatamente encaminhados ao tribunal competente, no entanto, no

anteprojeto, o juiz mandará citar o réu para responder ao recurso.

4.5 Outras disposições

Quanto à dinâmica da propositura da ação e o despacho do magistrado ordenando a

citação do réu, bem assevera Misael Montenegro Filho (2011, p. 171):

19 Art. 89. Incumbe ao advogado ou à parte, quando postular em causa própria:

I – declarar na petição inicial ou na contestação, o endereço em que receberá intimação; II – comunicar ao juízo qualquer mudança de endereço.

§ 1º Se o advogado não cumprir o disposto no inciso I, o juiz, antes de determinar a citação do réu, mandará que

se supra a omissão no prazo de quarenta e oito horas, sob pena de indeferimento da petição.

§ 2º Se o advogado infringir o previsto no inciso II, serão consideradas válidas as intimações enviadas, em carta

registrada, para o endereço constante dos autos.

Art. 305. Verificando o juiz que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 303 e 304 ou que apresenta

defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de

quinze dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido.

Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial.

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Com a propositura da ação e o despacho do magistrado ordenando a citação do réu

(na hipótese de não ter ocorrido o indeferimento da inicial ou a determinação da sua

emenda – arts. 284 e 295), o promovido pode defender-se através da apresentação de

ampla defesa, desdobrando-se em contestação; reconvenção; exceções de

incompetência relativa, de impedimento e de suspeição e impugnação ao valor da

causa, com as ressalvas de que o anteprojeto do novo CPC propõe a modificação

dessa técnica, prevendo: I) que o recebimento da petição inicial é seguido da

designação da audiência de tentativa de conciliação; II) que a defesa do réu deve ser

apresentada de forma concentrada, sendo exclusivamente representada pela

contestação, admitindo que a impugnação ao valor da causa, a arguição da

incompetência relativa do juízo e o pedido contraposto sejam formulados como preliminar da contestação.

O inciso II do art. 338 do anteprojeto dispõe que a incompetência relativa deve ser

suscitada como preliminar da contestação, não mais como exceção, e que o impedimento ou a

suspeição do magistrado deve ser suscitado em petição específica dirigida ao juiz da causa.

Quanto à ação de execução e ação declaratória de nulidade, adverte-se que o

parágrafo único do art. 40 do anteprojeto estabelece a regra de que se aplica o disposto no

caput à execução de título extrajudicial e à ação de conhecimento relativas ao mesmo débito.

O anteprojeto inova na medida em que não faz mais referência à carência de ação,

como preliminar da contestação, mas à ausência de legitimidade ou de interesse processual,

tratando a eventual impossibilidade jurídica do pedido como matéria de mérito. Além disso,

se o réu alegar na contestação ser parte ilegítima, o juiz facultará ao autor, em quinze dias, a

emenda da inicial, para corrigir o vício (art. 33920

do Novo CPC). Também contempla que o

impedimento ocorre não apenas quando o cônjuge do magistrado participa do processo, como

também a sua companheira (art. 114, inciso IV21

do anteprojeto do CPC).

Quanto ao réu revel, com relação às mudanças na inicial, dispõe o art. 321 do

CPC: “Ainda que ocorra revelia, o autor não poderá alterar o pedido, ou a causa de pedir,

nem demandar declaração incidente, salvo promovendo nova citação do réu, a quem será

assegurado o direito de responder no prazo de 15 (quinze) dias”. Ao passo que o anteprojeto

não estabelece nada disso. E somente no CPC, o decorrer dos prazos contra o revel que não

tenha patrono nos autos independe de intimação. Para as alegações do réu, nos casos

20 Art. 339. Alegando o réu, na contestação, ser parte ilegítima, o juiz facultará ao autor, em quinze dias, a

emenda da inicial, para corrigir o vício. Nesse caso, o autor reembolsará as despesas e pagará honorários ao

procurador do réu excluído, moderadamente arbitrados pelo juiz. 21

Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções do processo:

IV – quando ele próprio ou seu cônjuge, companheiro ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou

colateral, até o segundo grau, inclusive, for parte no feito.

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previstos e explicitados no art. 327 do CPC e no art. 349 do anteprojeto, tem-se a mudança

dos prazos, no CPC o prazo é de 10 (dez) dias, já no anteprojeto, o prazo é de 15 (quinze)

dias.

No anteprojeto, percebe-se, em seu art. 333, que o legislador infraconstitucional

propõe a adoção de um sistema diferenciado, marcado pela designação da audiência de

tentativa de conciliação no início das ações de curso pelo rito comum ordinário (como

atualmente ocorre em relação ao rito sumário). Percebemos também que o legislador

infraconstitucional propõe no art. 354 a supressão da audiência preliminar, para estabelecer

que o saneamento deve ser realizado pelo magistrado no seu gabinete de trabalho,

independentemente da designação de audiência específica.

Do julgamento conforme o estado do processo, na parte referente à extinção do

processo, ocorrendo as hipóteses previstas no art. 329 do CPC, o juiz declarará extinto o

processo; enquanto no anteprojeto, no caso das hipóteses previstas no art. 35222

, o juiz

proferirá sentença. Tal modificação traz uma evolução na expressão, pois o termo “proferir

sentença” é mais bem colocado com relação ao cabimento de recurso, visto que a extinção do

processo, mesmo sendo cabível recurso, muitas vezes, aduz a ideia de coisa julgada.

Na parte do julgamento antecipado da lide, no caso do anteprojeto, o juiz proferirá

sentença, necessariamente, com resolução de mérito.

No âmbito da fase de instrução, explica Misael Montenegro Filho (2011, p.171):

Frustrada a tentativa de conciliação estimulada na abertura da audiência preliminar,

havendo necessidade de produção de prova pericial e/ou oral, é designada audiência

de instrução e julgamento, antecedida da intimação das partes e dos seus advogados,

bem como da apresentação do rol das testemunhas no prazo fixado pelo magistrado

ou, na ausência de fixação expressa, no mínimo dez dias antes da audiência de

instrução, com a ressalva de que o anteprojeto do novo CPC propõe a modificação

dessa técnica, prevendo que o rol de testemunhas deve acompanhar a petição inicial

e a contestação.

Com as atenções voltadas para o art. 429 do anteprojeto do novo CPC23

:

22 Art. 352. Ocorrendo qualquer das hipóteses previstas nos arts. 467 e 469, incisos II a V, o juiz proferirá

sentença. 23

BRASIL. Código de Processo Civil: anteprojeto/ Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de

Anteprojeto de Código de Processo Civil. Brasília: Senado Federal, Presidência, 2010. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf>. Acesso em: 1 dez. 2011.

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Art. 429. Incumbe às partes, na petição inicial e na contestação, apresentar o rolo de

testemunhas, precisando-lhes, se possível, o nome, a profissão, o estado civil, a

idade, o número do cadastro de pessoa física e do registro de identidade e o endereço

completo da residência e do local de trabalho.

Percebe-se, assim, que a obrigatoriedade da apresentação do rol de testemunhas em

companhia da petição inicial (como também da contestação) foi estendida para o rito comum

ordinário.

Retomando para o anteprojeto, nota-se que os atos preparatórios da audiência de

instrução e julgamento podem sofrer duas alterações, uma marcada pela exigência de que o

autor e o réu devem apresentar o rol de testemunhas na petição inicial ou na contestação, e a

outra marcada pela previsão de que cabe ao advogado informar a testemunha arrolada do

local, do dia e do horário da audiência designada, dispensando-se a intimação do juiz.

4.6 Sobre as provas

Das provas: do depoimento pessoal, no que diz respeito aos fatos de que a parte não é

obrigada a depor, o anteprojeto em acréscimo ao art. 347 do CPC, traz, em seu art. 36724

, dois

novos incisos referentes aos fatos a que a parte não possa responder sem desonra própria, de

seu cônjuge, de seu companheiro ou de parente em grau sucessível; e aos fatos que a

exponham ou as pessoas referidas anteriormente a perigo de vida ou a dano patrimonial

imediato. Além disso, altera o parágrafo único do referido artigo do CPC, disposição que não

se aplica às ações de filiação, de desquite e de anulação de casamento; ao passo que no

anteprojeto a disposição não se aplica às ações de estado e de família.

Ainda no tocante às provas, o anteprojeto adota a seguinte regra: “A

inadmissibilidade das provas obtidas por meio ilícito será apreciada à luz da ponderação dos

princípios e dos direitos fundamentais envolvidos” (art. 257, parágrafo único do anteprojeto

do CPC). E sobre a distribuição do ônus da prova, estabelece que considerando as

24 Art. 367. A parte não é obrigada a depor sofre fatos:

I – criminosos ou torpes que lhe forem imputados;

II – a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo;

III – a que não possa responder sem desonra própria, de seu cônjuge, de seu companheiro ou de parente em grau

sucessível;

IV – que a exponham ou as pessoas referidas no inciso III a perigo de vida ou a dano patrimonial imediato.

Parágrafo único. Esta disposição não se aplica às ações de estado e de família.

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circunstâncias da causa e as peculiaridades do fato a ser provado, o juiz poderá, em decisão

fundamentada, observado o contraditório, distribuir de modo diverso o ônus da prova,

impondo-o à parte que estiver em melhores condições de produzi-la.

Ainda das provas, sobre a confissão, nas ações que versarem a respeito de bens

imóveis ou direitos sobre imóveis alheios, a confissão de um cônjuge não valerá sem a do

outro, no entanto, o anteprojeto apresenta exceção ausente no CPC: “salvo se o regime de

casamento for de separação absoluta de bens” (art. 370, parágrafo único do anteprojeto).

Art. 351 do CPC: “Não vale como confissão a admissão, em juízo, de fatos relativos

a direitos indisponíveis”. Acrescenta o anteprojeto dois parágrafos ao referido artigo, em seu

art. 37125

:

§ 1º A confissão será ineficaz se feita por quem não for capaz de dispor do direito a

que se referem os fatos confessados;

§ 2º Prestada a confissão por um representante, somente é eficaz nos limites em que

este pode vincular o representado. Mas, apenas no CPC, a confissão, quando emanar

de erro, dolo ou coação pode ser revogada por ação rescisória.

Da exibição de documento ou coisa, o anteprojeto propõe parágrafo único no art.

379, inexistente no respectivo art. 359 do CPC: “Entendendo conveniente, pode o juiz adotar

medidas coercitivas, inclusive de natureza pecuniária, para que o documento seja exibido”.

Além disso, quando o documento ou a coisa estiver em poder de terceiro, o juiz mandará citá-

lo para responder no prazo de 10 (dez) dias, de acordo com o CPC; mas o anteprojeto

aumenta o prazo para 15 (quinze) dias.

No que concerne ao art. 362 do CPC, o anteprojeto acrescenta, em seu art. 382, o

pagamento de multa e outras medidas mandamentais, sub-rogatórias, indutivas e coercitivas;

se o terceiro descumprir a referida ordem, trazendo também o parágrafo único: “Das decisões

proferidas com fundamento no art. 381 e no caput deste artigo caberá agravo de instrumento”.

Incumbe à parte contra quem foi produzido documento particular alegar, no

anteprojeto, no prazo de 5 (cinco) dias, se admite ou não a autenticidade da assinatura e a

25 Brasil. Congresso Nacional. Senado Federal. Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de

Anteprojeto de Código de Processo Civil.Código de Processo Civil: anteprojeto / Comissão de Juristas

Responsável pela Elaboração de Anteprojeto de Código de Processo Civil. – Brasília: Senado Federal,

Presidência, 2010. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf> Acesso em

1 de dezembro de 2011.

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veracidade do contexto, presumindo-se, com o silêncio, que o tem por verdadeiro; enquanto

no CPC o prazo é de 10 (dez) dias. Suprime-se no anteprojeto o parágrafo único do CPC:

“Cessa, todavia, a eficácia da admissão expressa ou tácita, se o documento houver sido obtido

por erro, dolo ou coação”.

No caso do art. 377 do CPC, o anteprojeto, no seu art. 397, adiciona no parágrafo

único, além do preexistente documento que se achar em poder do devedor, aquele que se

achar em poder de terceiro.

Quanto ao mesmo valor probante da cópia de documento, o anteprojeto faz pequenas

modificações nos parágrafos do CPC (art.385) e acrescenta mais dois no seu art. 405, ficando

os quatro parágrafos assim formulados:

Art. 405. A cópia de documento particular tem o mesmo valor probante que o

original, cabendo ao escrivão, intimadas as partes, proceder à conferência e certificar

a conformidade entre a cópia e o original.

§ 1º Quando se tratar de fotografia obtida por meio convencional, será acompanhada

do respectivo negativo, caso impugnada a veracidade pela outra parte.

§ 2º Se a prova for uma fotografia publicada em jornal ou revista, será exigido um

exemplar original do periódico.

§ 3º A fotografia digital e as extraídas da rede mundial de computadores, se impugnada sua autenticidade, só terão força probatória quando apoiadas por prova

testemunhal ou pericial.

§ 4º Aplica-se o disposto no artigo e em seus parágrafos à forma impressa de

mensagem eletrônica26.

A arguição de falsidade, no anteprojeto deve ser suscitada no prazo de 5 (cinco) dias

contados a partir da intimação da juntada aos autos do documento; e no CPC o prazo é de 10

(dez) dias. O anteprojeto traz no capítulo das provas uma seção específica sobre os

documentos eletrônicos, inexistente no CPC.

Os códigos também se diferem no que diz respeito ao momento, que já foi falado, e

às especificações para a apresentação do rol de testemunhas, art. 407 do CPC e art. 429 do

anteprojeto.

Parágrafo único do art. 433 do anteprojeto adiciona ao art. 411 do CPC a última

parte, referente ao decurso de um mês sem manifestação da autoridade:

26 BRASIL. Código de Processo Civil: anteprojeto/ Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de

Anteprojeto de Código de Processo Civil. Brasília: Senado Federal, Presidência, 2010. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf>. Acesso em: 1 dez. 2011.

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Parágrafo único. O juiz solicitará à autoridade que designe dia, hora e local a fim de

ser inquirida, remetendo-lhe cópia da petição inicial ou da defesa oferecida pela

parte que a arrolou como testemunha; passado um mês sem manifestação da autoridade, o juiz designará dia, hora e local para o depoimento, preferencialmente

na sede do juízo27.

O anteprojeto adiciona também, no âmbito da inquirição das testemunhas, a

possibilidade da alteração da ordem (primeiro as testemunhas do autor e depois as do réu) em

caso de consenso entre as partes.

No campo da prova pericial, o anteprojeto no art. 446 acrescenta ao art. 422 do CPC

parágrafo único: “O perito deve assegurar aos assistentes das partes o acesso e o

acompanhamento das diligências e dos exames que realizar”.

Ainda da prova pericial, o art. 457 do anteprojeto traz mais três parágrafos ao art.

434 do CPC, constituindo-se quatro no total:

Art. 457. Quando o exame tiver por objeto a autenticidade ou falsidade de

documento ou for de natureza médico-legal, o perito será escolhido, de preferência,

entre os técnicos dos estabelecimentos oficiais especializados. O juiz autorizará a remessa dos autos, bem como do material sujeito a exame ao diretor do

estabelecimento.

§ 1º Nas hipóteses de gratuidade de justiça, os órgãos e as repartições oficiais

deverão cumprir a determinação judicial com preferência, no prazo estabelecido.

§ 2º Descumpridos os prazos do § 1º, poderá o juiz infligir multa ao órgão e a seu

dirigente, por cujo pagamento ambos responderão solidariamente.

§ 3º A prorrogação desses prazos pode ser requerida motivadamente.

§ 4º Quando o exame tiver por objeto a autenticidade da letra e da firma, o perito

poderá requisitar, para efeito de comparação, documentos existentes em repartições

públicas; na falta destes, poderá requerer ao juiz que a pessoa a quem se atribuir a

autoria do documento lance em folha de papel, por cópia ou sob ditado, dizeres diferentes, para fins de comparação28.

Enquanto no art. 434 do CPC o parágrafo é único:

27 Idem.

28 Brasil. Congresso Nacional. Senado Federal. Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de

Anteprojeto de Código de Processo Civil.Código de Processo Civil: anteprojeto / Comissão de Juristas

Responsável pela Elaboração de Anteprojeto de Código de Processo Civil. – Brasília: Senado Federal,

Presidência, 2010. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf> Acesso em

1 de dezembro de 2011.

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Art. 434. Parágrafo único. Quando o exame tiver por objeto a autenticidade da letra

e firma, o perito poderá requisitar, para efeito de comparação, documentos existentes

em repartições públicas; na falta destes, poderá requerer ao juiz que a pessoa, a

quem se atribuir a autoria do documento, lance em folha de papel, por cópia, ou sob

ditado, dizeres diferentes, para fins de comparação.

4.7 Sentença e coisa julgada

Quanto à sentença e a coisa julgada, tem-se grandes modificações. Percebemos que o

anteprojeto melhora o conceito de sentença ao prever que, ressalvadas as previsões expressas

nos procedimentos especiais, sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com

fundamento nos arts. 473 e 475, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como

o que extingue a execução.

Quanto ao anteprojeto, percebe-se que o parágrafo único do art. 469 textualiza a

regra de que a prescrição e a decadência não serão decretadas sem que antes seja dada às

partes oportunidade de se manifestar.

Do arbitramento de multa diária nas obrigações de fazer ou de não fazer e na

obrigação de dar, dispões os arts. 461, 461-A e o parágrafo 3º do CPC:

Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não

fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido,

determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do

adimplemento.

Art. 461-A. Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, ao conceder a

tutela específica, fixará o prazo para o cumprimento da obrigação.

§ 3o Aplica-se à ação prevista neste artigo o disposto nos §§ 1o a 6o do art. 461.

No anteprojeto a matéria está inicialmente disciplinada no seu art. 502:

Art. 502. Para cumprimento da sentença que reconheça obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, para a efetivação da tutela

específica ou a obtenção do resultado prático equivalente, determinar as medidas

necessárias à satisfação do credor, podendo requisitar o auxílio de força policial,

quando indispensável29.

29 Brasil. Congresso Nacional. Senado Federal. Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de

Anteprojeto de Código de Processo Civil.Código de Processo Civil: anteprojeto / Comissão de Juristas

Responsável pela Elaboração de Anteprojeto de Código de Processo Civil. – Brasília: Senado Federal,

Presidência, 2010. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf> Acesso em

1 de dezembro de 2011.

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Quanto à incompetência no anteprojeto, ela foi suprimida como fundamento para a

propositura da ação rescisória, remanescendo o impedimento.

A boa-fé processual, quando não observada, agindo uma das partes com deslealdade,

dá ensejo à aplicação da pena de multa, correspondendo a um por cento do valor da causa (art.

18 do CPC), com a ressalva de que o anteprojeto estabelece a regra de que a multa é de dois

por cento (art. 70).

A hipótese de cabimento da ação rescisória é ligeiramente modificada pelo

anteprojeto, já que prevê a possibilidade de ajuizamento da ação para o combate de sentença e

de acórdão de mérito que violarem manifestamente a norma jurídica, incorporando as

orientações da jurisprudência e as lições da doutrina. O anteprojeto estabelece que a

propositura da ação não impede o cumprimento da sentença ou do acórdão rescindendo,

ressalvada a concessão de tutelas de urgência ou da evidência (art. 887).

5 CONCLUSÃO

O anteprojeto do novo Código de Processo Civil, atendendo às necessidades sociais e

às queixas da doutrina, apresenta todas essas inovações no procedimento ordinário (suprime,

acrescenta, modifica e cria), com o intuito de promover a celeridade processual. Esperamos

que, com a sua vigência, atinja os seus objetivos. E torne-se imprescindível para a efetividade

da razoável duração do processo e o consequente impedimento do acúmulo de processos nos

gabinetes jurídicos.

Seria inevitável que houvesse mudança significativa da sistemática processualística

ante a obsolescência de um sistema em virtude das naturais diferenças existentes com o passar

do tempo entre as sociedades. Assim, um Código com mais de quarenta anos, como é o caso

do atual Código de Processo Civil, naturalmente sofreria mudanças.

Em primeiro momento, verificam-se avanços consideráveis na simplificação do

processo e na observância de mudanças necessárias baseadas nas práticas corriqueiras dos

tribunais brasileiros. Assim, exemplos como a supressão da reconvenção (utilizando-se, em

substituição, o pedido contraposto), bem como a simplificação do rol de recursos presentes

atualmente no Código de Processo Civil e a possibilidade do reconhecimento de ofício de

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atitudes protelatórias do réu poderão refletir positivamente na celeridade processual e

eficiência do judiciário.

Também se verifica uma maior proximidade da realidade do judiciário brasileiro com

as regras trazidas com o novo código. É cediço que o código vigente, ainda que com diversas

alterações ao longo do tempo, não poderia acompanhar de maneira satisfatória todos os

avanços legislativos e tecnológicos de uma sociedade, assim como soluções para a crescente

demanda do judiciário, totalmente diferente da época da sua criação.

Neste diapasão, a intenção do legislador foi oferecer um Processo Civil mais simples

e célere, com o intuito de atender aos diferentes anseios de uma sociedade que gerou novas

necessidades, principalmente a diminuição do tempo dos processos.

Portanto, o presente trabalho comparativo pôde dar uma ideia básica dos avanços que

a nova legislação pode trazer. Enfim, dadas as alterações feitas e explanadas ao longo deste

trabalho, temos uma noção primitiva do desenvolvimento do sistema judiciário brasileiro que

pode vir a ser acalentado em virtude do novo Código.

REFERÊNCIAS

DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. v. 3. 6. ed. São

Paulo: Malheiros, 2009.

MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil: processo

de conhecimento. v. 2. 8. ed. São Paulo: Atual, 2010.

MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral do processo

e processo do conhecimento. v. 1. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: teoria geral do direito

processual civil e processo do conhecimento. v. 1. 52 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011.

HEINEN, Juliano. As novíssimas reformas do Código de Processo Civil: um novo olhar, um

novo horizonte. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 978, 6 mar. 2006. Disponível

em: <http://jus.com.br/artigos/8048>. Acesso em: 3 dez. 2011.

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COMPARATIVE ANALYSIS OF THE ORDINARY PROCCESS OF THE ACTUAL

CIVIL PROCESS CODE WITH THE PROJECT OF THE NEW CIVIL PROCESS

CODE

ABSTRACT

Nowadays, the justice keep receiving lots of critics based on the lack

of agility with the processes, because of that, a proposal was born with

the project of the New Civil Process Code, which, by being more

concise and less bureaucratic, comes to bring important changes at the

Brazilian Civil Process, in order to reach more efficiency of

jurisdiction. This way, the work intends to realize a comparative

analysis between the actual Civil Process Code and the project,

focused on the ordinary process by being the most complex and the

longest, bringing to the view the changes intended in this knowledge

area.

Keywords: Process speediness. Project of the New Civil Process

Code. Ordinary Process.