analise comparativa da organização social dos cristãos primitivos e dos cristãos contemporâneos

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  • 7/23/2019 Analise Comparativa Da Organizao Social Dos Cristos Primitivos e Dos Cristos Contemporneos

    1/86

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA UFSC)

    CENTRO SCIO ECONMICO

    CINCIAS ECONMICAS

    CRISTIANISMO CAPITALISMO E

    SOCIALISMO:

    UMA

    N LISE

    COMPARATIVA DA

    ORG NIZ O

    SOCIAL DOS CRISTOS

    PRIMITIVOS

    E

    DOS CRISTOS

    C O N T E M P O R N E O S

    Richard Porto

    Matricula: 0610661-6

    Orientador

    Armando de Melo Lisboa

    Monografia

    inal de

    Graduao

    em

    Cincias Econmicas.

    Florianpolis - 2007

  • 7/23/2019 Analise Comparativa Da Organizao Social Dos Cristos Primitivos e Dos Cristos Contemporneos

    2/86

    Richard Porto

    Matricula: 0610661 6

    CRISTIANISMO CAPITALISMO

    SOCIALISMO:

    UMA ANLISE COMPARATIVA DA

    ORGANIZAO SOCIAL DOS CRISTOS

    PRIMITIVOS DOS CRISTOS

    CONTEMPORNEOS

    onografia

    apresentada ao Programa de

    Graduao da Universidade Federal de Santa

    Catarina corno requisito para a obteno do titulo

    de Bacharel em Economia

    Orientador: Armando de Melo Lisboa

    Florianpolis 2007

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    RICHARD PORTO

    CRISTIANISMO, CAPITALISMO

    E

    SOCIALISMO

    Monografia

    apresentada ao Programa de

    Graduao

    da Universidade Federal de Santa

    Catarina como requisito para a

    obteno

    do titulo

    de Bacharel em Economia

    A B anca Ex aminad ora compo sta pelos professores abaixo, sob a presidncia do

    primeiro, submeteu

    o candidato A .

    anlise da M onografia em

    nvel

    de B acharelado

    e

    a julgou nos seguintes

    termos: N Nctra 9, `;

    Prof. Armando de Melo Lisboa

    Julgamento:

    Prof. Jaime Cesar Coelho

    Julgamento:

    ss

    tura:

    Prof. Marcos Alves Valente

    Julgamento:

    ssinatura:

    2

    AL 1

    vti

    M E N O

    GERAL:

    Coordenador

    do Curso:

    Prof. Wagner Leal

    Arienti

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    DEDIC TRI

    Dedico

    este trabalho primeiramente a meus pais por

    serem pessoas

    integras, estimulando-me

    uma vida

    reta, it minha noiva Francisnia por se constituir

    enquanto pessoa, igualmente bela

    e admirvel em

    essncia estmulo que me impulsiona a algar

    vos

    mais

    altos, agradecendo-a por privar-se eni mull ) da minha

    presena para que pudesse dedicar-me a este trabalho

    e

    enfim

    a todos os cristdos que buscam ulna vida

    .

    fidedigna aos preceitos e ensinamentos bblicos.

    GR DECIMENTOS

    Primeiramente DEUS por

    dar-me sade

    sabedoria e

    entendimento concedendo m e

    a oportunidade de

    realizar-me

    ainda mais com a

    confeco

    deste

    trabalho.

    Aos meus pais EDSON

    e

    JOCELI em especial minha

    estimada me que me

    educou

    estimulando me a uma incessante busca pela verdade.

    Ao meu orientador Prof. ARMANDO DE MELO LISBOA pelo incentivo simpatia

    e

    presteza no

    auxilio

    s tivid des e discusses sobre

    o andamento

    e

    normatizao

    desta

    monografia de

    concluso de curso.

    Aos amigos ALEXANDRE

    MEINECKE

    e

    IVAN

    LOBOR CANCELIER que

    em

    momentos adversos no decorrer da graduao

    deram me

    o suporte necessrio

    manuteno

    do

    curso.

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    1.3 Metodologia

    e

    Modelo de Anlise

    A formulao terica tem seu embasamento em aspectos tericos teolgicos

    e

    conceituais

    e em trabalhos cientficos, como

    o

    de Max Weber em seu livro clssico

    tica

    Protestante

    o Espirito do Capitlismo.

    Satisfazer os objetivos sera

    possvel aps

    a formulao ou comprovao de que

    o cerne

    do cristianismo esta no ter tudo em comum , onde o amar ao prximo corno a si mesmo

    o maior e mais importante dos mandamentos, sobrepujando toda e qualquer doutrina

    adjacente, tendo por base os textos bblicos universalmente aceitos como os ensinamentos de

    Cristo nos evangelhos, as epistolas apostlicas e, ainda, o livro de Atos. que relata como

    viviam os prime iros cristos.

    A partir desta comprovao, buscar identificar as relaes de causa

    e

    efeito , como a

    sociedade interagiu sob as influncias do catolicismo e

    do protestantismo,

    e qual

    a

    importncia desta interao na formao de uma sociedade capitalista que, no ocidente.

    identifica-se em sua maioria como crista, apesar do contraste

    doutrinrio

    em relao aos

    ensinamentos bblicos.

    Enfim, comprovar que,

    o interesse

    econmico sobrepuja

    a tica e

    moral cristas, ou

    melhor, aid

    urna nova

    tica

    uma nova moral de acordo com

    o

    interesse e posio

    social do

    indivduo.

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    2 .

    ASPECTOS CONCEITUAIS

    2.1

    Socialismo

    Movimento social que, visando

    o bem estar da classe operria, busca urna forma de

    organizao econmica e

    social onde no h diferena ou luta de classes. Todos teriam tudo

    em comum. No se trata entretanto, de se dividir a riqueza entre todos. Simplesmente dividir

    ou distribuir os bens de consumo entre todos, no aboliria os

    desnveis

    sociais, uma vez que o

    meio de obteno de riquezas (meios de produo) ainda estaria concentrado nas

    mos de

    poucos

    e

    esta prtica geraria uma cam ada de ociosos que no teriam razo para trabalhar uma

    vez que desfrutariam dos bens de consumo independente de trabalharem ou no. Alm disto,

    bens de consumo, em especial os de consumo imediato, no duram para sempre. Urna vez

    consumidos, h a necessidade de novos bens para se consumir. No se trata ento de

    -

    dar

    esmola ao povo . Trata-se de disponibilizar, ou de se considerar os meios de produo corno

    propriedade comum . Todos seriam responsveis pela produo

    e

    teriam o s mesm os direitos na

    diviso

    e

    no consum o dos bens produzidos pela sociedade como um todo.

    No

    se pode, entretanto confundir socialismo ou comunismo, corn

    o

    que ocorreu nos

    pases

    do leste europeu. Ainda hoje, quando se fala em comunismo, principalmente no meio

    cristo, logo h urna comparao com

    o que ocorreu naqueles paises. Comunismo, quando

    assim imaginado

    considerado malvolo e o 6) e

    at diablico. Ainda hoje, pregadores que

    nunca sequer seguraram em suas mo uma obra de Karl Marx,

    o excomungam e

    dizem

    heresias a seu respeito, porque entendem por marxismo

    o que ocorreu

    no leste europeu.

    Aquilo no

    comunismo,

    socialismo ou marxismo de forma alguma. 0 desaparecimento da

    propriedade privada no implica socialismo porque, como observa Cornelius Castoriadis,

    a

    propriedade nacionalizada s pode ter um

    contedo socialista

    se a classe dominante

    for

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    proletariado

    (CASTORIADIS, 1949, p.227).

    Nesse mesmo sentido observa Herbert

    Marcuse:

    A

    nacionalizao

    e

    a abolio da propriedade privada dos meios de produo

    o

    constituem por si ss dijerenas essenciais medida que exercido

    e imposto

    um controle e utna centralizao

    da produo sobre a populao.

    -

    MARCUSE,

    1969, p, 80

    Observa-se que tanto Castoriadis quanto Marcuse esto apenas distinguindo estatizao

    de socialismo.

    Esta forma de organizao da produo ocorrida na extinta Unio Sovitica poderia at

    ser nomeada como Stalinism, mas seguindo

    o raciocnio d e Luiz Carlos Bresser Pereira, onde

    afirma: Com a eliminao

    do capital atravs da

    estatizado

    dos meios de produo

    desaparece o capitalismo e

    surge em

    seu lugar

    o

    modo de

    produo tecnoburocrtico ou

    estatismo

    .(BRESSER-PEREIRA, 1977, p.83), acredito que a forma mais correta seria

    conceituar esta forma organizacional como urn meio de produo capitalista, onde

    o Estado

    era detentor dos meios de produo. utilizando mo de obra semi-escrava pois

    o Os meios de

    produo na antiga Unido Sovitica, em p ouco diferiam da selvageria do capitalismo de todo

    o

    resto do mundo principalmente se comparado aos dias atuais. A diferena que o Estado era

    o detentor dos meios de produo

    e

    os operrios eram obrigados a aceitarem

    o trabalho que

    lhes era imposto. No resto do mundo os meios de produo esto concentrados nas mos dos

    detentores do capital (por todos aceito como privado)

    e o operrio

    quase tem o direito de

    escolher em que vai trabalhar.

    Esta pequena explanao do que ocorreu na ex-Unio Sovitica, aponta para a maior

    dificuldade: como organizar uma sociedade socialista?

    A amarga experincia vivenciada no passado por outras naes evidencia que um Estado

    totalitrio e

    ditaduras no so um meio adequado. Onde h poder h espao para corrupo

    e

    abusos, principalmente quando

    o poder 6 quase q ue absoluto.

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    R SUMO

    Este trabalho

    acadmico de

    concluso

    de

    curso

    trata da anlise das

    relaeies

    sociais do

    cristianismo em

    relao

    ao capitalismo

    e ao

    socialismo.

    Notoriamente o

    cristianismo como um todo veio a desviar-se de uma

    proposta inicial

    voltada ao socialismo

    ou ao ter tudo em

    comum passando

    a incorporar prticas

    capitalistas.

    Inclusive Max Weber credita ao puritanismo

    e

    ao calvinismo

    correntes da reforma

    protestante a mudana na

    tica e

    moral cristas

    onde o trabalho o

    lucro e a busca pelo

    acmulo

    pessoal de riquezas

    e no mais o ascetismo religioso passam a serem vistos como

    maneiras de se glorificar a Deus na vida do homem. Esta nova tica protestante cria

    o

    ambiente propicio ao

    desenvolvimento

    do capitalismo que segundo Weber

    um espirito

    que tem vida

    prpri

    e faz

    inicialmente uso da

    tica e pensamento

    religiosos para

    desenvolver-se mudando-os por completo e enfim acaba por descartar a igreja nos dias

    atuais por no

    mais necessitar desta para desenvolver-se.

    Nos dias atuais as igrejas

    cristas em sua maioria atuam como grandes empresas

    capitalistas onde no se buscam mais

    fieis

    e sim consumidores oferecendo A estes

    produtos que venham a satisfazer suas necessidades. A contabilidade

    no

    mais se

    d pelo

    nmero

    de almas convertidas e sim pelo lucro

    monetrio

    obtido por cada congregao.

    Esta busca desenfreada por consumidores tornou as

    igrejas

    crists

    refns do sistema

    capitalista e no

    mais se busca a

    mudana

    de vida das pessoas.

    Ao

    contrrio

    para garantir o

    lucro

    e o crescimento mudam-se os

    produtos

    oferecidos aos consumidores cada vez mais

    exigentes na

    satisfao

    de suas necessidades resultando num

    afastamento

    quase que total

    da igreja

    crist dos ensinamentos

    de Jesus.

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    SUMARIO

    INTRODUO

    I.

    PROBLEMTICA

    1 10bjetivo

    Geral

    6

    1.2

    Objetivos

    Especficos

    6

    1.3 Metodologia

    e

    Modelo de

    Anlise

    7

    2 .

    ASPECTOS CONCEITUAIS

    2.1

    Socialismo

    8

    2 . 2

    Capitalismo

    1 1

    2 . 3

    Espirito do Capitalismo

    13

    3 .

    CONTEXTUALIZAO HISTRICA 17

    4 0 SOCIALISMO DOS CRISTOS PRIMITIVOS

    1

    4 .1

    Modelo social adotado

    1

    4 .2

    A visa ) dos primeiros cristos quanto As posses

    5

    4 . 3 O

    Carter inclusivista

    do cristianismo

    9

    5 0 CAPITALISMO DOS CRISTOS

    CONTEMPORNEOS

    1

    5 .1 0

    Mercado Religioso

    35

    5 2

    A Teologia da Prosperidade

    39

    5 .3 0

    Cristianismo Como Busca por Recompensas

    3

    6.

    A RELAO DO CRISTIANISMO COM OS SISTEMAS ECONMICOS

    E

    TRANSFORMAES IDEOLGICAS

    9

    6 .1 0

    Cristianismo A nterior A Reforma

    0

    6 .1 .1 -

    De uma Roma paga A uma Roma crista

    50

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    10/86

    ) . 1 .2

    consolidao da Igreja Catlica

    53

    6 .1 . 2 .1

    A Igreja Constituda

    57

    6 .1 . 2 .2

    O s

    Conclios

    59

    6 . 1 . 2 . 3 A s ce ns o

    do Papado

    1

    6 .2 0

    Cristianismo Posterior Reforma

    4

    6 .2 .1 Primeira s

    Sementes da Revolta

    6

    6 .2 . 2

    Reforma Protestante

    70

    6 .3

    Uma Teoria Transio Ideolgica

    74

    7 CONCLUSA0

    7

    REFERNCI S BIBLIOGRFIC S

    9

  • 7/23/2019 Analise Comparativa Da Organizao Social Dos Cristos Primitivos e Dos Cristos Contemporneos

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    NTRODUO

    Uma breve

    e singela leitura

    bblica do texto constante no livro de Atos dos Apstolos.

    capitulo dois e versculos

    quarenta e qu tro qu rent e seis, nos indica que, no minim, lid

    uma discrepnci entre a forma de convvio e organizao

    social dos cristos primitivos, e a

    forma de convvio e organizao social dos cristos contemporneos.

    0

    supra m encionado texto

    bblico, relata

    o que

    se segue:

    Todos

    os que criam estavam juntos

    tinham

    ludo em comum. Vendiam suas

    propriedades e fazendas e

    repartiam con todos segundo cada um tinha

    necessidade. E, perseverando uncinimes todos os dias no templo e partindo o po

    em casa, comiam

    juntos

    corn alegria e singeleza de coracdo

    At 2.44-46

    5

    Independentemente do credo individual, h de se convir que

    o cristianismo

    se embasa na

    Bblia,

    em especial no Novo Testamento. Entretanto, a despeito do relatado na referncia

    acima, e

    ainda, na famosa passagem do jovem rico , mencionada em trs dos quatro

    evangelhos (Mateus 19.16-30; Marcos 10.17-31

    e

    Lucas 18.18-30), onde o prprio Cristo

    recomenda ao jovem rico que venda seus bens

    e d istribua

    aos pobres, vemos que, as

    prticas

    litrgicas e

    sociais dos cristos contempordneos, em

    muito se difere das prticas litargicas

    e

    sociais dos cristos primitivos.

    Aparentemente, os cristos primitivos viviam uma espcie de pr comunismo . onde o

    amar ao prximo como a si mesmo (Marcos 12.30-33; Joo 13.34,35; 15.12-14). mantendo

    Todas as

    citaes

    bblicas

    so retiradas da

    seguinte obra: Biblia Sagrada

    Letra Grande.

    TraduAo

    de J. F.

    Almeida, Revista e

    Corrigida,

    Barueri 1995 Sociedade

    Bblica

    do Brasil.

  • 7/23/2019 Analise Comparativa Da Organizao Social Dos Cristos Primitivos e Dos Cristos Contemporneos

    12/86

    todos os

    indivduos

    em um mesmo

    nvel

    social, sobrepujava todo

    e qualquer mandamento

    religioso,

    por m ais importante que fosse.

    At mesmo os apstolos, apesar de serem os lideres da ordem

    crist,

    punham-se A

    mesma posio dos demais.

    Todos eram

    irmos

    e

    portanto iguais, como sugere a

    carta de Paulo Filem on, senhor de

    um escravo fugitivo que se convertera na companhia do Apostolo. Este

    o envia novamente

    Filemon

    e

    em sua carta v.

    16 e

    pede que este o

    receba no mais como um escravo,

    e sim

    como um irmo.

    Esta orientao do Apostolo segue um preceito

    bsico

    determinado por Jesus

    e

    registrado

    em M ateus:

    Vas

    , porm, ncio queirais

    ser chamados Rabi

    , porque

    um s O vosso Mestre,a

    saber, o Cristo,

    e

    todos vs sois irmiio.

    E

    a ningum na terra chameis vosso pai,

    porque urn s

    vosso

    Pai, o qual est nos cus. Nem vos chameis mestres, porque

    um s o vosso Mestre, que o Cristo. Porem o maior dentre vs

    ser

    vosso

    servo. Mt.

    23.8-1

    I)

    latente que,

    o

    texto supra mencionado registrado em Mateus refere-se basicamente

    posio clerical do

    indivduo e

    este tema ser melhor abordado adiante

    mas como negar

    tambm seu carter

    social, mantendo-o apenas na esfera religiosa?

    impossvel

    separar

    o

    indivduo cristo

    em um ser religioso

    e

    em um ser social, com

    writer

    e posies

    distintas no que se refere A esfera religiosa

    e

    social. Cristianismo

    pressupe

    mudana de vida como um todo Cada ser

    um

    indivduo e

    no h espao para duplicidade de

    aes e pensamentos no ser

    cristo.

    A comunidade crist,

    conforme sugerem os textos bblicos neotestamentdrios,

    deveria

    ser igualitria, onde

    o propsito

    do indivduo

    o de servir A comunidade

    onde

    o

    maior serve

    ao m enor, suprimindo as ne cessidades bsicas individuais.

  • 7/23/2019 Analise Comparativa Da Organizao Social Dos Cristos Primitivos e Dos Cristos Contemporneos

    13/86

    Neste trabalho faremos uma

    anlise

    das discrepncias

    entre os preceitos bsicos do

    cristianismo em relao maneira com que as comunidades

    crists se comportam no que

    tange a esfera social.

    Irrelevante me ncionar que um abismo separa as primeiras com unidades crists das atuais

    no que se refere preocupao com o social.

    Entretanto este trabalho no pretende sugerir que as comunidades crists adotem uma

    postura radical e

    purista como as primeiras comunidades

    crists o fizeram at porque isto

    mostrou-se invivel, com o veremo s adiante.

    Tambm no

    se pretende adotar uma postura salvagista e tampouco arrogante e

    pretensiosa de apontar

    o

    caminho da salvao .

    Este trabalho pretende apenas chamar a ateno no sentido de se apontar que as

    comunidades crists h

    muito abandonaram os preceitos bsicos ensinados pelo seu

    nico

    Mestre, o

    Cristo.

    1 PROBLEMTICA

    No

    se faz necessrio muito esforo para constatar-se que

    hoje toda espcie de

    cristo,

    quer catlico tradicional catlico carismtico

    protestante pentecostal ou at neopentecostal

    no que diz respeito sua conduta moral

    e

    social vive uma realidade que difere ern muito do

    vivenciado e

    praticado pelos cristos primitivos

    o

    que independe de

    o fazer de forma

    consciente ou no. Ressalte-se que ter tudo em comum no era apenas uma prtica social.

    Fazia parte da liturgia religiosa.

  • 7/23/2019 Analise Comparativa Da Organizao Social Dos Cristos Primitivos e Dos Cristos Contemporneos

    14/86

    4

    Floje,

    as mais variadas denominaes

    crists detm

    um sofisticado meio capitalista de

    obteno de recursos financeiros, tendo como aparato emissoras de televiso, rdio, editoras

    de livros, produtoras de DVD's

    e

    CD's, etc. Fla ainda, cartes de crditos onde parte dos

    lucros vo para as entidades religiosas. No podemos esquecer. claro, dos tradicionais

    amuletos, prtica catlica, recenteme nte incorporada pelos protestantes em geral.

    Tudo parece diferir das origens crists. Mas a

    questo

    seria em que ponto exatamente a

    nau mudou

    o

    rumo. Teria sido a partir da reforma protestante? Ou a reforma j foi uma

    tentativa de corrigir distores religiosas

    e

    sociais, onde somente

    o

    clero e

    as altas castas

    sociais podiam usufruir das benesses do s lucros

    e

    do enriquecimento?

    evidente que o

    protestantismo trouxe uma nova viso com relao ao trabalho

    e ao

    enriquecimento. Em seu livro clssico

    A taw Protestante

    o

    Espirito do Capitalismo.

    Max

    W eber identifica

    o

    ethos

    capitalista com a tica

    protestante que se peculiariza por exaltar

    o

    trabalho

    como um meio de aproximao do homem para com Deus. Alm disso, segundo

    Weber, a vocao para

    o

    trabalho secular

    vista como expresso de amor ao prximo.

    O

    trabalho no s6 une

    os homens, como proporciona aos mesmos a certeza da concesso da

    graa. Diferentemente

    do catolicismo, para

    o

    protestantismo a nica maneira aceitvel de

    viver para Deus no est na superao da moralidade secular pela ascese

    monstica

    mas sim

    no cum primento das tarefas do sculo, impo stas ao indivduo pela sua posio no mundo.

    Logo,

    o efeito da Reforma

    em contraste com a religio catlica, teria sido

    o

    de

    engrandecer a

    nfase

    moral

    e o prmio religioso para com o trabalho secular

    e profissional.

    Constitui-se assim

    uma

    moral vinculada ao culto do trabalho. Este deve ser executado como

    um fim em si mesmo, como uma vocao que s6 pode ser encontrada atravs de um longo

    processo de Educao.

    O

    homem deve trabalhar

    independentemente das condies impostas

    pelo tipo de servio que ex ecuta, para ter a certeza de sua proximidade com Deus.

  • 7/23/2019 Analise Comparativa Da Organizao Social Dos Cristos Primitivos e Dos Cristos Contemporneos

    15/86

    Pois o 'eterno descansodasantidade'

    encontra-se no

    outro

    mundo; na

    Terra,

    o

    Homem

    deve, para estar seguro

    do seu estado de grew', 'trabalhar

    o dia lodo em

    favor do

    que lhe foi destinado'. No

    .

    pois o

    6c- iv

    e o prazer,

    mas apenas a

    atividade que serve para

    aumentar a

    glria

    de Deus, de acordo com a inequvoca

    manifestao da Sua vontade . WEBER, 2001, p. 125)

    O trabalho ocupa

    um lugar fundamental na

    tica protestante.

    Constitui a prpria

    finalidade da vida. 0

    cio e

    a preguia so encarados como um sintoma da ausncia do estado

    de graa. No basta apenas ganhar dinheiro, ou seja,

    o trabalho

    exercido no pode ser

    o

    do

    tipo aventureiro , politico ou especulativo. Max Weber distingue muito bem a

    tica

    do

    capitalismo aventureiro da tica do capitalismo racional.

    0 acumulo

    de riquezas que no se baseasse no

    ethos de uma organizao racional do

    capital

    e

    do trabalho no poderia se adaptar ao iderio protestante. Mesmo enriquecendo, o

    indivduo no pode se sujeitar ao

    cio para viver de renda ou especulao. 0 protestantismo

    lega ao trabalhador que enriquece uma responsabilidade moral que o inibe a consumir

    o luxo.

    Para Max Weber mesmo que o protestantismo tenha tentado inibir o abandono

    da ascese por

    parte do homem que teria enriquecido

    esse ethos

    voluntria ou involuntariamente, serviria de

    estimulo ao crescimento do capitalismo.

    ' Mas o

    que era ainda mais

    importante: a

    avaliao

    religiosa do infatigvel.

    constante

    e sistem tico labor vocacional secular,

    como o mais

    alto instrumento

    de

    ascese, e ao mesmo tempo,

    como o mais seguro meio de preservao da redeno

    da

    f e

    do homem, deve ter

    sido

    presumivelmente a mais

    poderosa alavanea

    da

    expresso

    dessa

    concepo

    de vida

    que aqui apontamos como 'espirito'

    do

    capitalismo .

    WEBER, 2001, p. 137)

    Em suma, Weber afirmava que a doutrina protestante, de predestinao e de santidade

    do trabalho, teria criado a men talidade cap italista e

    lanado os

    princpios da Era Ind ustrial.

    Neste sentido, como

    sabido, Weber argtiiu que o

    Calvinismo

    e o Puritanismo

    forneceram o clima

    e o

    veiculo necessrios para a ecloso do espirito capitalista

    , definindo

    este como unia simbiose de individualismo econmico,

    clculo econmico exato e

    comportamento econmico racional.

  • 7/23/2019 Analise Comparativa Da Organizao Social Dos Cristos Primitivos e Dos Cristos Contemporneos

    16/86

    6

    Entretanto, Weber tambm deixa claro, logo na introduo de seu trabalho, que as

    empresas capitalistas, inclusive corn uma considervel dose de racionalizao capitalistica

    existiram em todos os

    pases

    civilizados da terra. Da mesm a forma, afirma que o s burgueses j

    existiam de forma permanente antes do desenvolvimento da forma especifica do capitalismo

    ocidental, deixando claro que a busca por riqueza

    e

    poder so inerentes ao ser humano

    1.1

    Objetivo Geral

    Efetuar uma anlise comparativa entre a organizao social dos cristos primitivos

    e a

    organizao social dos cristos

    contemporneos,

    tendo por base textos extrados do Novo

    Testamento da

    Bblia e

    as consideraes de Max Weber em seu livro clssico tica

    Protestante

    o Espirito do Capitalismo.

    1.2 Objetivos

    especficos

    a Comprovar, pela

    anlise

    de textos bblicos neotestamentdrios, que os cristos

    primitivos viviam uma espcie de pr-comunismo;

    b

    Identificar

    a

    contribuio dos clrigos catlicos apostlicos romanos para a transio

    de um modelo pr-comunista para um modelo capitalista;

    C Identificar a contribuio da reforma protestante, tanto luterana como calvinista, para a

    formao de uma sociedade capitalista.

  • 7/23/2019 Analise Comparativa Da Organizao Social Dos Cristos Primitivos e Dos Cristos Contemporneos

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    1

    Uma alternativa seria a social democracia, onde os governantes seriam eleitos

    e o Estado

    seria absoluto, com diviso de poderes numa tentativa de evitar ou pelo menos minimizar os

    abusos individuais. 0 problema reside no fato de que, principalmente em pases como

    o nosso.

    a populao em sua maioria,

    absolutamente ignorante. 0 sistema educacional apenas garante

    a perpetuao das desigualdades sociais

    e

    educacionais. Nosso ensino bsico

    lastimvel. As

    crianas no aprendem a raciocinar

    somente sabem decorar

    e repetir. 0 ensino bsico

    o mais

    importante no desenvolvimento do

    indivduo

    de qualidade somente

    encontrado em escolas

    particulares. Ensino pblico de qualidade, somente

    o

    superior onde o acesso por concurso

    e

    somente os mais preparados, os que tiveram acesso uma educao de maior qualidade

    obtero ingresso. Este sistema perpetua a ignorncia. Urna populao ignorante, no tem

    condies de avaliar quais rumos a nao deve tomar,

    o que

    melhor ou pior para si prprio.

    Nestes termos, no sabe avaliar uma proposta de administrao pblica

    e conseqentemente

    no tem como avaliar qual candidato a um cargo pblico atende as suas expectativas ou

    expectativa que deveria ter , ou seja, um povo ignorante simplesmente no sabe votar. Nestas

    condies, independente do sistema de governo ser socialista ou capitalista,

    haver sempre a

    perpetuao das desigualdades, pois sempre haver abuso de poder

    e

    os interesses individuais

    ou d as classes dominantes sempre sobrepujaro

    o

    interesse coletivo.

    Nenhum sistema

    perfeito

    e

    tem todas as solues, at porque todos so criados por

    homens. Mas ao menos podemos optar pelo menos imperfeito, que penso ser a social

    democracia.

    0

    socialismo, se no tem todas as respostas

    e solues, ao menos parece ser uma

    alternativa mais justa, que busca o bem estar coletivo

    e abomina as desigualdades e

    discrepncias sociais, econmicas

    e

    educacionais.

    Ouso afirmar, ainda, que o

    socialismo, no por imposio mas por convico. o que

    mais se aproxima do que Jesus preconizou durante os trs anos de seu

    ministrio.

    que mais

  • 7/23/2019 Analise Comparativa Da Organizao Social Dos Cristos Primitivos e Dos Cristos Contemporneos

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    incitou

    o dio

    dos lideres religiosos de sua

    poc e o

    levou cruz foi sua insistncia de que

    diante de Deus, todos som os iguais.

    V6s, porm, no queirais

    ser chamados Rabi, porque um

    s

    o vosso Mestre,a

    saber,

    o

    Cristo,

    e todos vs sois irmo. E

    a ningum na terra cham eis vosso pai,

    porque um RS vosso Pai,

    qual est

    nos cus. Nem vos chameis mestres, porque

    um s6 o vosso Mestre que

    o

    Cristo. Porm

    o

    maior dentre vs

    ser vosso

    servo. (Mt.

    23.8-11,

    grifo meu)

    Esta era a forma com que os primeiros cristos conviviam,

    e est

    registr do no texto de

    Atos qu e se segue:

    Todos os

    clue criam estavam juntos e

    tinham ludo em comum. rendiam

    suas

    propriedades e fazendas e repartiam com todos,

    segundo cada Jim link)

    necessidade.

    E, perseverando uncinimes todos os clias no templo e partindo o po

    em cast,

    , comiam juntos com alegria e singeleza

    de corao

    At 2.44-46, grifo

    meu

    2.2 Capitalismo

    Sistema econmico

    e

    social predominante na maioria dos

    pases que

    baseia-se na

    interao entre os detentores dos meios

    de

    produo capitalistas) e

    os indivduos que vendem

    sua fora de trabalho aos prim eiros.

    Com nfase

    propriedade privada, o

    que g r nte

    o acmulo

    de riquezas

    e

    legitima a

    deteno dos meios de produo nas

    mos de poucos, o

    sistema cap italista se reprodu z a partir

    da apropriao por parte do capitalista do lucro, ou segundo Marx, da mais valia gerada pelo

    trabalhador.

    As desigualdades econmicas

    e

    sociais geradas pela m distribuio de renda so fatores

    preponderantes, em especial em

    pases

    subdesenvolvidos,

    o

    que gera

    o

    ch m do exercito

    industrial de reserva, garantindo mo de obra barata para uma indstria cada vez mais

  • 7/23/2019 Analise Comparativa Da Organizao Social Dos Cristos Primitivos e Dos Cristos Contemporneos

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    2

    globalizada. Com

    o advento da

    globalizao

    da economia, cresce tambm o

    fator da diviso

    internacional do trabalho, onde os

    pases pobres disponibilizam mo

    de obra barata para as

    multinacionais oriundas de pases desenvolvidos.

    0 acrscimo

    das

    injustias

    sociais produz a chamada luta de classes entre os detentores

    do capital e

    os trabalhadores, os primeiros lutando por mais lucro

    e

    os segundos lutando por

    melhores

    salrios e condies

    de trabalho.

    Nos

    pases mais

    desenvolvidos onde h uma conscincia social coletiva

    e os sindicatos

    ainda detem alguma fora, esta luta de classes ainda equilibrada. Entretanto, em Daises

    subdesenvolvidos esta luta

    desigual, pois alm da falta de uma conscincia social coletiva,

    os sindicatos quase nada podem fazer, pois sempre h interferncia do poder pblico, em

    especial

    o judicirio

    nas manifestaes por melhores salrios e

    at mesmo por simples

    reposio salarial. Nestas condies, os salrios praticamente so impostos pela classe

    patronal pois

    o nmero

    de desempregados to

    alto, que sempre h algum disposto (ou

    desesperado o bastante a aceitar salrios abaixo

    do considerado digno.

    Corn a consolidao da globalizao

    e

    da diviso internacional do trabalho, provvel

    que os sindicatos de

    pases desenvolvidos percam foras, pois com as atuais plantas das mais

    modernas indstrias, estas simplesmente podem mudar-se de um pais para outro em questo

    de poucos dias, transportando todo

    o ferramental necessrio produo. Assim sendo, a

    indstria pode migrar de um pais outro sempre que achar interessante, em busca de mo de

    obra m ais barata.

    No capitalismo, a busca desenfreada pelo lucro gera crescentes distores sociais,

    havendo a necessidade de

    intervenes

    dos governos, cada vez mais impotentes frente ao

    crescente poderio econmico das grandes indstrias.

  • 7/23/2019 Analise Comparativa Da Organizao Social Dos Cristos Primitivos e Dos Cristos Contemporneos

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    3

    Hi uma tendncia mundial de absoro das pequenas indstrias pelas grandes

    multinacionais, monopolizando a produo

    e inviabilizando a [lyre concorrncia, fator de

    Fundamental

    importncia

    no capitalismo para garantir a qualidade dos produtos, alm

    d

    preos razoveis para que a maioria dos consumidores tenha acesso its manuthturas, 0 que

    garante mais produo. gera mais renda

    e conseqentemente mais

    consumo que novamente

    impulsiona a produo, gerando um a espiral de crescim ento ou um circulo virtuoso.

    2.3 -

    Espirito do Capitalismo

    Expresso em pregada por Max W eber em seu livro tica

    Protestante e o

    Espirito do

    Capitalismo que no pode ser definida em uma nica

    frase. H muitas caractersticas

    pertinentes ao que Weber denomina Espirito do Capitalismo , tanto que dedica um capitulo

    inteiro de seu livro na tentativa de conceitu-lo, conseguindo apenas expor algumas de suas

    caractersticas.

    A primeira caracterstica

    a de que

    o

    Espirito do Capitalismo imp 6e uma nova tica,

    denominada

    ethos , que difere de tudo o

    que a sociedade e stava habituada.

    AO

    es que anteriormente seriam interpretadas como avarentas, ou na melhor das

    hipteses como born senso comercial, agora so encaradas como a razo de viver do

    indivduo .

    Buscar a reproduo do capital passa a ser o dever o ideal do homem honesto. A

    busca pelo lucro um fim em si, no im portando os m eios empregados, desde que n o firam a

    esfera da legalidade.

    Weber identifica com muita propriedade que

    o

    Espirito do Capitalismo se faz valer da

    ascese protestante para desenvolver o

    capitalismo. como se tivesse vida

    prpria:

    cria uma

    norma na forma se sano psicolgica ao

    indivduo protestante que funciona perfeitamente

  • 7/23/2019 Analise Comparativa Da Organizao Social Dos Cristos Primitivos e Dos Cristos Contemporneos

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    4

    nas

    duas pontas , no sentido da concepo do trabalho como vocao, como um meio de se

    alcanar a graa de Deus,

    e conseqentemente

    a salvao de sua a lma.

    Do lado burgus, criou-se um ethos no sentido de se fazer

    o melhor ou o mximo

    tanto

    para esta vida quanto para a vida eterna libertando

    o indivduo

    a acumular riquezas enquanto

    o fizesse

    por meios legais, seguindo

    o

    conceito do utilitarismo de Fran klin. I-IA uma muda na

    radical. Cai por terra a busca interior

    e

    individual pelo reino dos cus, ilustrada por Bunyam

    em 0 Peregrino

    que,

    e

    acordo com a editora Central Gospel atual detentora dos direitos

    de publicao no Brasil

    o

    segundo livro mais vendido no mundo, perdendo somente para a

    Bblia) e

    surge a figura do isolado homem econmico que tambm desenvolve atividades

    missionrias,

    na fantasiosa figura de Robinson Crusoe.

    Dentro do principio

    to make the most of both worlds ,

    ou fazer o mximo

    tanto nesta

    como para a outra vida, conceito

    reforado pelo metodismo, que orientava seus fiis a serem

    laboriosos

    e econmicos,

    W eber descreve muito bem este novo ethos burgus:

    Uma

    tica profissional especijicamente burguesa surgiu

    em seu lugar. Consciente

    de estar na plena graa de Deus, sob a sua visvel henviio.

    o

    empreendedor

    burgus, enquanto permanecesse dentro dos limites

    da correo forma enquanto

    sua conduta moral

    fasse sem manchas e neio fosse objetvel o uso

    de sua riqueza,

    podi gir segundo os seus

    interesses pecunirios e

    ssim devi

    proceder .

    WEB ER

    2001, p . 141

    E vlido lembrar que dentro deste

    ethos ,

    o indivduo trabalhava e acumulava riquezas

    no para si, mas para a glria de Deus e assim o sendo, ao cum prir a vontade divina, alcanava

    a certeza da obteno da graa de Deus.

    Na outra ponta. a dos trabalhadores. este Espirito do Capitalismo criou mecanismos a

    garantirem uma mo de obra e

    ciente e

    barata. A ascese

    crist foi o

    nascedouro da conduta

    racional que gerou o conceito de vocao, onde

    o

    trabalhador fiel e seu oficio eram

    glorificados. Este no deveria almejar riquezas, pois seu oficio era para a glria de Deus.

    dentro do modelo apostlico apresentado por Jesus no sermo da mon tanha:

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    15

    No ajunteis tesouros na

    terra, onde a traa

    a ferrugem tudo consomem, onde

    os ladres minam

    roubam. Mas ajuntai tesouros no cu

    , onde nem a traa nem a

    ferrugem consomem, e onde os ladres no minam

    nem roubam. Porque onde

    estiver

    o vosso tesouro,

    ai estar tambm o vosso corao.

    Mt 6.19-21)

    Assim a ascese religiosa legaliza a apropriao burguesa da vontade de trabalhar do

    operrio para a glria de Deus por urn tesouro no cu. E evidente a influncia imposta pela

    igreja classe

    operria

    principalmente ao trabalhador mais pobre dentro do conceito do

    preenchimento do dever vocacional resultando diretamente em uma melhor produtividade do

    trabalho atendendo diretamente ao interesse burgus

    e

    ao mesmo tempo gerando uma

    satisfao pessoal ao operrio atravs

    de uma sano psicolgica de que sua

    eficincia

    laboriosa

    constitui

    o

    cumprimento de seu de ver para com Deus.

    Este conceito

    reforado pela Epistola de Paulo aos Colossenses onde

    o apstolo

    instrui

    os servos ou trabalhadores a obedecerem a seus senhores ou patres

    e a efetuar as tarefas de

    corao como que se estivessem fazendo a Deu s

    e no aos homens:

    Vs,

    servos, obedecei em tudo a Voss() senhor segundo a carne. no servindo s na

    aparncia, como para agradar aos homens, mas em simplicidade de corao,

    temendo a Deus. E, tudo quando fizerdes, fazei-o de todo

    o corao como ao

    Senhor

    e no aos

    homens, sabendo que recebereis do Senhor) o

    galardo

    d

    herana.

    Porque a Cristo, o Senhor, servis. . CI 3.22-24)

    Mas acredito que

    no que tange este conceito imposto ao trabalhador pela igreja no

    sentido de este buscar

    o

    Reino de Deus atravs do preenchimento vocacional

    e

    ascetismo

    religioso We ber seja

    ainda mais especifico:

    O

    poder da ascese religiosa, alm disso, punha a sua disposio trabalhadores

    sbrios, conscientes

    e incomparavelmente industriosos, que

    se (Verna-am ao

    trabalho, como a uma finalidade de vida desejada por Deus. Dava-lhe. (dim disso,

    a tranqiiilizadora garantia que a desigual distribuio da riqueza deste mundo era

    obra especial da Divina Providncia, que com essas diferenas

    , e com

    a graa

    particular, perseguia seus fins secretos, desconhecidos do homem .

    WEBER,

    2001,

    p

    141 .

    Na seqncia Weber ainda menciona a posio calvinista de que a classe operria ou

    o

    povo somente se conse rvaria obediente a De us se mantidos pobres

    e

    vai alm:

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    16

    Os holandeses (Pieter de la Court e outros) 'secularizaram-na , afirmando que s

    massas s trabalhavam quando alguma necessidade a isso as forasse. Essa

    Prmulaa`o de um leitmotiv da economia capitalista iria desembocar mais tarde na

    torrente das teorias da produtividade atravs de baixos salrios . (WEBER, 2001,

    p.

    141).

    Dentro desta contextualizao da

    viso weberiana do Espirito do apitalismo

    onde este

    vivo e

    interage com o

    meio mas principalmente influencia quase que soberanamente o

    meio social o capitalismo vencedor ou este Espirito do Capitalismo vencedor no mais

    necessita abrigar-se no ascetismo religioso. Ele tem vida prpria

    independente e j alou

    seus objetivos levando

    o

    ascetismo religioso para a sociedade em geral saindo da esfera

    religiosa

    e

    atingindo a vida profissional influenciando a moral secular criando um novo

    ethos, ou uma nova tica protestante que contribuiu, ou at mesm o impulsionou, a sociedade a

    formar uma nova ordem econmica e

    tcnica voltada produo em srie atravs da m oderna

    indstria que determina a forma de se viver de todo

    indivduo

    nascido neste meio.

    aprisionando-o ao sistema.

    Este Espirito do Capitalismo vencedor no permite mais ao

    indivduo viver margem do

    sistema. 0 sujeito pode e

    at dever ser alienado quanto ao meio em que vive mas no pode

    fugir dele. Tendo atingido tal grau de desenvolvimento no mais necessita do abrigo da

    ascese religiosa:

    Desde

    que o ascetismo comeou

    a remodelar

    o mundo e

    a nele se desenvolver, os

    bens materiais foram assumindo uma crescente, e finalmente, uma inexorvel /ora

    sobre os homens, como nunca

    na Histria.

    Hoje em dia - ou definitivamente, quem

    sabe - seu espirito religioso sajbu-se da

    prisco. O capitalismo vencedor, apoiado

    numa base mecnica, ndo mais carece de seu abrigo. Tambm o rseo carter de

    sua risonha sucessora:

    a Aufklarung parece estar desvanecendo

    irremediavelmente, enquanto a

    crena religiosa do 'dever vocacionar, como um

    fantasma, ronda em torno de nossas vidas. Onde a 'plenitude vocacional' nib

    o pode

    ser relacionada, diretamente aos mais elevados valores culturais - ou onde, ao

    contrrio, ela tambm deve ser sentida como uma pressdo

    econmica - o individuo

    renuncia

    a toda a ientaliva de justifica la. No setor de seu mais alto

    desenvolvimento, nos Estados Unidos, a procura de riqueza

    , despida

    de roupagem

    tico-religiosa, tende

    cada vez mais a associar-se com pakrdes puramente

    mundanas, que freqentemente lhe

    do o

    carter de esporte.

    (WEBER, 2001, p.

    144

  • 7/23/2019 Analise Comparativa Da Organizao Social Dos Cristos Primitivos e Dos Cristos Contemporneos

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    3 CONTEXTUALIZACO HISTRICA

    Acredito que para se desenvolver com seriedade um trabalho analtico das influncias

    e

    raizes

    estruturais do cristianismo sobre a organizao social de pelo menos boa parte do

    ocidente e

    ainda de alguns povos orientais faz-se necessria urna breve anlise do contexto

    histrico

    e

    social vivenciado nos primrdios do cristianismo.

    Como muitos sabem

    o

    cristianismo desenvolveu-se no

    perodo

    do

    declnio do Imprio

    Romano na Roma antiga que fora rico

    e poderoso dominando

    o que hoje so Itlia

    Portugal

    e

    Espanha parte do que hoje so Frana Turquia

    e Palestina.

    0

    Estado romano organizava-se socialmente em um sistema com precria distribuio

    de renda havendo uma enorme discrepncia social

    e

    grande concentrao de recursos

    econmicos. Haviam alguns ricos gozando de luxria

    e

    prazeres que a fortuna pode trazer

    e

    uma grande massa de desgraados

    que sucumbiam A pobreza

    e

    misria.

    A e scravido

    constitua

    a base do sistema econmico do imprio

    e

    da organizao social

    romana que expandia-se com base na conquista militar subjugando outros povos.

    Na poca do processo de expanso territorial empreendido durante a Repblica o

    nmero de escravos aumentou consideravelmente

    o que obviamente nos deixa claro que a

    origem do escravo romano

    a guerra ou seja os derrotados pelo Exrcito eram capturados

    e

    escravizados

    constituindo a base da mo-de-obra agricola

    e

    de outras atividades produtivas

    que sustentavam a economia romana. A reduo do homem livre endividado A condio de

    escravo

    e o comrcio internacional alm

    da guerra de conquista foram outras importantes

    fontes de obteno de e scravos.

    Entretanto em 367 a.C. entrou em vigor a Lei Licinia que ps fim escravido por

    dividas proibindo assim que os plebe us endividados fossem e scravizados.

    7

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    8

    Mesmo aps a Lei Licinia, a pratica escravista continuou existindo, pois esta lei se

    referia apenas aos cidados romanos. Inmeros habitantes das

    provncias

    endividados

    continuaram sendo submetidos escravido.

    A condio de vida

    e o

    tratamen to dispensado ao escravo variavam de acordo com a sua

    origem a atividade que desempen hava e o meio em que vivia.

    Nas cidades, os cativos ocupavam-se de atividades, como a manufatura, o comereio ou

    os servios domsticos. Era comum os proprietrios utilizarem-nos como escravos de I u o .

    os quais desempenhavam as funes de cozinheiros, escribas, administradores, secretrios

    e

    vrios

    outros oficios a servio de seu senhor. No havia uma tarefa especifica destinada A

    mo-de-obra escrava, ou seja, o

    escravo no se definia pelo tipo de trabalho que realizava,

    mas sim como um homem explorado

    e privado do

    exerccio da cidadania e

    da liberdade.

    Dentro de sua

    poltica expansionista, aps dominar toda a peninsula

    itlica

    os romanos

    partiram para as conquistas de outros territrios. Com

    um

    exrcito

    bem preparado

    e

    muitos

    recursos, venceram os cartagineses nas Guerras Pnicas (sculo HI a.C),

    o

    que garantiu a

    supremacia romana no M ar Mediterrneo.

    Aps

    dominar Cartago, Roma ampliou suas conquistas, dominando a Grcia.

    o

    Egito a

    Maced nia a Galia a Germn ia a Tracia a

    Sria e

    a Palestina.

    Com as conquistas, a vida

    e

    a estrutura de R oma passaram por significativas muda nas.

    0 imprio romano passou a ser muito mais comercial do que

    agrrio. Povos conquistados

    foram escravizados ou passaram a pagar impostos para

    o

    imprio. As provncias (regies

    controladas por Roma renderam grandes recursos para Roma. A capital do Imprio Romano

    enriqueceu

    e

    a vida dos romanos mudou.

    Com o crescimento

    urbano vieram tambm os problemas sociais para Roma. A

    escravido

    gerou muito desemprego na zona rural. pois muitos camponeses perderam seus

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    empregos. Esta massa de desempregados migrou para as cidades romanas em busca de

    empregos

    e

    melhores condies de vida. Receoso de que pudesse acontecer alguma revolta de

    desempregados,

    o

    imperador criou a

    poltica

    do Po

    e

    Circo. Esta consistia em oferecer aos

    romanos alimentao

    e diverso.

    Quase todos os dias ocorriam lutas de gladiadores nos

    estdios, onde eram

    distribudos

    alimentos. Desta forma, a populao carente acabava

    esquecendo os problemas da vida, diminuindo as chances de revolta.

    Dessa forma, os proletrios romanos no viviam do trabalho

    mas das esmolas que o

    governo

    distribua.

    Este 6, basicamente,

    o cenrio

    encontrado pelo cristianismo em seus primrdios. Os

    primeiros cristos viviam em urna sociedade desigual. com

    enorme extratificao social onde

    os proletrios eram subjugados pelos soldados romanos. Quanta aos escravos, a situao era

    ainda pior, pois no havia Lei alguma que os amparassem, ficando estes A

    merc

    da vontade

    de seus senhores.

    Jesus deparou-se com este

    cenrio

    em seu ministrio

    e

    embora trouxesse uma m ensagem

    de amor ao prximo e

    de perdo, muitos no compreenderam sua pregao. Muitos judeus

    entendiam que

    o

    Cristo viesse A Terra estabelecer um novo reino, que den

    ubaria o imprio

    romano

    e que os

    judeus seriam novamente senhores da terra, com nos tempos da glria de

    Salomo.

    Estavam to havidos por verem-se livres do domnio

    romano, que no aceitaram sua

    mensagem de amor

    e

    de perdo. No conseguiam entender que Deus havia enviado seu lho

    no a destruir as cadeias

    e com entes fsicas,

    mas as cadeias

    e correntes do corao.

    Este

    o

    motivo pelo qual os judeus at hoje no aceitaram a Jesus como o -

    Cristo , pois

    no conseguem compreender que no tenha vindo estabelecer urn reino fsico, mas sim um

    reino espiritual, com um a mens gem de igualdade q ue, ai sim. reflete na vida terrena.

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    2

    Mas Jesus preocupava-se tambm

    com a

    questo social

    embora

    seu

    plano principal

    era

    a

    salvao

    espiritual do hom em. Isto fica evidente em seus ensinamentos atravs de parabolas.

    A passagem da mulher

    samaritana,

    relatada no Evangelho de Jesus, conforme

    escreveu

    Joo, no

    capitulo

    quatro, reflete

    bem esta

    condio

    de servos de Roma, a qua] estavam

    submetidos tanto judeus

    quanto

    samaritanos,

    ou reino do sul

    e reino do

    norte, divididos aps

    a

    morte de Salomo.

    Neste relato de

    Joo,

    Jesus trap um paralelo entre a

    condio

    de vida

    daquela mulher,

    e

    a

    situao

    vivida por Samaria.

    Isto no

    novidade no texto

    bblico. O

    profeta

    Osias

    j havia recebido a

    rdua

    misso

    de casar-se com um a prostituta

    que

    representava Israel. enquan to

    que

    ele prprio

    representava

    Deus. profeta

    apaixona-se

    de tal m aneira pela m ulher que

    apesar de suas traies,

    sempre a

    perdoa

    e

    a resgata em uma

    representao

    do am or de Deus por Israel.

    J

    no caso da mulher

    samaritana,

    Jesus pede-lhe que chame seu marido ao que a mulher

    responde dizendo

    que no tem marido. Jesus

    ento

    lhe diz que esta lhe

    respondeu

    corretamente,

    por que

    j tivera

    cinco maridos

    e mesmo

    o

    que tinha agora no era seu marido.

    Aqui

    Jesus referia-se a

    situao poltica

    de Samaria

    que havia sido

    invadida

    pelos

    Assrios

    em

    724 a.C. Quando desta

    invaso,

    os

    assrios

    trouxeram povos de Babel,

    Ava, Cuta, Hamate

    e

    Sefarvaim,

    conforme

    relatado

    no

    livro

    de II Reis capitulo dezessete,

    e o

    povo se Samaria

    passou a coabitar

    e

    casar-se com estes povos, alm de adorar os seus deuses,

    descurnprindo

    assim

    a Lei de Deus.

    sexto marido era uma referncia

    ao

    domnio

    romano

    esus

    lhe diz

    por parabolas, que

    chegado um novo tempo

    e

    que haveria um tempo em que

    o domnio

    romano cairia por terra.

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    Este relato, onde Jesus leva aquela mulher a mudar de vida, mostra claramente a

    preocupao de Jesus com a sociedade, no somente aquela mulher, mas tambm a situao

    de todo

    o

    povo samaritano.

    Fica evidente em todo

    o

    texto

    bblico o cenrio

    politico e

    social com que Jesus deparou

    se. Jesus tambm deixa transparecer que deseja urna mudana na organizao social, no de

    forma abrupta, revolucionria. Sua revoluo no viria atravs de meios blicos

    . Com earia

    no corao

    e

    mente dos homens. Suas palavras tinham

    o intuito de arrancar a espada das

    mos dos homens , transformando a todo homem em urn ser livre em uma sociedade

    igualitria

    e justa.

    4 0 SOCIALISMO

    DOS CRISTOS PRIMITIVOS

    4 1

    Modelo social adotado

    relato constante no livro de Atos dos A pstolos nos d a dimenso d e como a primeira

    comunidade

    crist

    se organizava. Conforme o

    depoimento de Lucas, os

    cristos

    viviam em

    plena comunho de bens. 0 j mencionado texto escrito por Lucas (Atos 2.44-46) passa a

    informao de urna sociedade, ou comunidade, que vivia em comunho exemplar, dividindo

    os recursos oriundos da venda de seus bens entre si

    e sendo considerado posse comum a

    propriedade ainda no vendida, considerando-se cumpridora da vontade de Deus ao proceder

    desta maneira.

    bem provvel

    e

    quase certo que esta comunho no tenha sido plena, havendo corno

    exemplo a citao dos fatos envolvendo Ananias

    e

    sua esposa Safira (Atos 5.1-10). Mas a

    simples exposio deste fato logo na seqncia dos relatos a respeito de Barnab so

    indcios

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    de que unia comunidade que tivesse plena comunho entre si era considerada a ideal pelos

    apstolos e

    a partir destes testemunhos po r eles incentivada.

    Sinto-me a vontade em classificar esta forma de organizao social como socialismo,

    tendo em vista que havia comunho de bens dentro da comunidade

    e

    portanto, uma

    espcie de

    comunismo

    primitivo , se considerarmos

    o significado

    original da expresso comunismo.

    que nada mais do que o

    ter tudo em comum.

    Os relatos tambm indicam que a comunho dos santos se dava na esfera do consumo.

    Este socialismo dos

    cristos primitivos era embasado no consumo dos recursos oriundos da

    venda das propriedades dos novos convertidos. No havia socialismo de produo

    provavelmente no havia preocupao com isto, pois. como

    sabido, os primeiros cristos

    aguardavam ardente

    e ansiosamente

    a volta de Jesus. 0 fim de todas as coisas estaria prximo

    e

    assim sendo, no haveria necessidade de organizarem uma produo conjunta em um mundo

    que em breve seria destruido. Com

    o

    tempo se esgotando, a prioridade era -

    ganhar almas .

    Entretanto, esta certamente no era a razo principal pela qual os primeiros cristos dividiam

    tudo o que tinham. Se

    o fosse, no haveria razo de ser deste trabalho de monografia. A

    investigao se encerraria por aqui, pois

    chegaramos

    precocemente

    e erroneamente

    concluso de que os primeiros cristos se precipitaram em organizar-se socialmente desta

    forma.

    Fato

    que o

    Evangelho novidade) anunciado por Jesus implicava nesta comunho. Ter

    tudo em comum

    inerente ao que Jesus anunciou e viveu, e

    muito provavelmente foi o que

    motivou sua condenao morte enfim, pois, creio, seria inaceitvel ao imprio Romano a

    idia de que todos os homens so iguais. Esta ideologia era uma ameaa aos pilares do

    imprio Ro mano, estruturado em um a sociedade escravista.

    Sendo inerente ao cristianismo amar ao prximo como a si mesmo,

    evidente que

    diferenas

    sociais no podem existir, pois

    indivduo algum

    quer estar

    abaixo na diviso de

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    3

    classes. Logo, o

    indivduo cristo no

    pode aceitar esta diviso de classes, pois ao aceit-la,

    seria o mesm o que admitir que no ama ao proximo como a si mesmo.

    Por isto todos, ou boa parte dos primeiros

    cristos,

    renunciavam A posse particular em

    prol de uma sociedad e igualitria, tornando-se assim , uma com unidade socialista.

    Os relatos

    e ensinamentos

    de Paulo, em II Tessalonissenses 2.3, onde atirma que quem

    no trabalhar, que no coma, alm do fato de ele mesmo,

    o Apostolo, trabalhar

    para seu

    sustento, tendo inclusive em seu oficio conhecido

    o casal Priscila e Aquila, indicam

    claramente que os cristos no viviam simplesmente As custas dos recursos oriundos da venda

    das propriedades dos novos convertidos.

    HA ainda claras evidncias bblicas, de que n m todas as propriedades eram vendidas.

    Suas casas eram mantidas, conforme vrios relatos ern Atos, como a casa de Maria, me de

    Joo Marcos At. 12.12), a casa de Ldia

    At. 16.40) e a casa do prprio Apstolo Paulo At.

    28.30 , onde este cumpriu priso domiciliar por dois anos.

    Isto significa que a posse de propriedades em si no era questionada. Ao contrrio

    era

    considerada legitima. As criticas no eram manifestas quanto A posse de bens

    e riquezas em

    si,

    mas ao amor excessivo A estes. Entretanto, sua viso quanto As posses. veremos no tpico

    seguinte.

    Apesar de considerar suficiente

    o texto

    bblico

    acredito que o

    relato de algum que no

    fizesse parte da comunidade crist

    de grande valia. A viso de uma pessoa que no estivesse

    inserida neste circulo social estaria livre de ser tendenciosa no que diz respeito ao pensam ento

    e

    liturgia crista. Poderia sim ocorrer

    o

    inverso. Este indivduo poderia estar propenso a julgar

    a sociedade crist, de acordo com

    o

    contexto social geral, mas no tenderia em

    hiptese

    alguma, a formar juizo seguindo

    o entendimento cristo. Assim

    o

    sendo, me aproprio do relato

    transcrito por Rosa Luxemburgo:

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    Foi,

    na verdade deste modo que as primeiras comunidades

    crists se

    organizaram. Um contemporcineo escreveu: 'Estas pessoas no acreditam em

    fortunas. mas pregam a propriedade coletiva

    nenhuma en/re elas possui mais do

    que as outras. Quem desejar entrar na sua ordem obrigado a pr sua fortuna

    como propriedade comum a essas mesmas pessoas. E por isso que no h entre eles

    nem pobreza, nem

    luxo

    todos possuindo tudo em comum, como irmos. No vivem

    numa cidade parte, mas em cada uma tern casas para eles prprios. Se quaisquer

    estrangeiros pert enemies sua religio aparecem. repartem a propriedade corn

    eles

    e podem

    se beneficiar dela como se fosse propriamente sua. Essas pessoas,

    mesmo que desconhecidas anteriormente umas das outras, do as boas-vindas

    uns

    aos outros

    as suas relaes, so muito amigveis. Quando viajam no levam nada

    seno uma arma para se defenderem dos ladres. Em cada cidade tiun

    o s u

    administradm que distribui roupa e alimento aos viajantes. Negcio nito existe

    entre ele. Contudo, se um dos membros oferece algum objeto de que ele precisa,

    recebe outros em troca. Mas tambm yacht um pode pedir o que precisa, mesmo que

    no possa dar nada ern troca'.

    - UXEM BU RGO: 1980 p.29

    Deste modo podemos concluir que os cristos primitivos foram adeptos do comunismo

    ou de um pr-comunismo. E o levavam ao extremo, tendo

    o dinheiro em um caixa comum

    administrado pelos apstolos fazendo suas refeies em comum dividindo uns com os outros

    sua propriedade ou seja viviam todos como uma grande famlia

    Talvez

    o nico e

    grande erro dos primeiros cristos tenha sido

    o

    de no preocuparem-se

    corn a produo.

    bem provvel que esta no preocupao estivesse ligado A crena de que

    o fim de

    todas as coisas estivesse prximo. Todos aguardavam ansiosamente

    o retorno

    de Jesus e

    acreditavam que isto se daria em breve. Assim, no se preocupavam com

    o futuro o que lhes

    impulsionou

    ao erro de produzirem um comunismo de consumo , esquecendo-se de

    organizarem uma produo conjunta. Este erro provocou a mdio prazo a derrocada desta

    forma de organizao social,

    to

    logo esta mostrou-se

    invivel, pois

    alm de mostrar-se

    incapaz de transformar a sociedade pondo fim A desigualdade, urna vez que os meios de

    produo ainda eram posse de poucos, mantendo as discrepncias

    sociais

    e a concentrao de

    renda, vivendo a maior parte dos novos cristos das esmolas dos mais ricos

    havia um outro

    problema que somente seria percebido mais tarde: se todos os novos cristos simplesmente

    vendessem suas propriedades e

    dividissem com os demais, sem que houvesse urna

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    preocupao

    em reproduzir o capital ou de organizar-se urna produo mesmo que

    e

    subsistncia coletiva da comu nidade fatalmente os recursos esgotar-se-iam mais cedo ou mais

    tarde.

    Os primeiros

    cristos

    foram no

    mnimo inocentes

    ao acreditarem que poderiam

    remediar a situao de p obreza apenas com esmolas oriundas dos mais ricos

    s m

    organizarem

    uma produo conjunta ou melhor sem tornarem propriedade comu m os meios de produo .

    Logo as comunidades crists iriam crescer inviabilizando as refeies em conjunto

    diminuindo a intimidade causando urn esfriamento natural do amor fraternal

    o que

    fatalmente

    culminaria corn a mudana nas prticas litrgicas cristas. Comunidades maiores

    inviabilizavam

    o viver

    debaixo do mesmo teto

    e logo cada um

    comeou a cuidar de sua

    propriedade deixando de viverem todos corno uma grande

    famlia e a prtica de repartir o

    total dos bens foi aos poucos substituida repartindo-se em parte

    e depois dando apenas

    pequenas esmolas conforme

    o

    entendimento e

    boa vontade de cada um. pratica adotada at os

    dias atuais.

    4 2

    viso dos primeiros cristos quanto as posses

    A igreja primitiva formou-se inicialmente por pessoas que acompanharam os trs anos

    do chamado ministrio de Jesus. Assim

    o

    sendo ha de se convir que ainda era latente em suas

    memrias os ensinamentos

    e

    doutrinas do Mestre to detalhadamente registrados por Lucas.

    Os demais evangelhos tambm os relatam entretanto de forma mais sucinta. Lucas chega a

    impressionar quanto riqueza de detalhes de sua narrativa.

    Estando ainda vivo em suas memrias os sermes do Cristo

    e considerando que assim

    o

    era datavania terem sido registrados nas Epistolas ensinamentos dos apstolos que se

    seguiram no mesmo sentido do que Jesus preconizava no h porque de se imaginar que as

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    6

    primeiras comunidades

    crists viviam

    de forma oposta estes ensinos. Havia, muito

    provavelmente, um esforo em mant-las neste rumo, considerado o fato de estes ensinos

    serem repetidos em mais narrativas. Mas isto no quer dizer que, os primeiros cristos no

    absorviam estes ensinos at porque, assim como os quatro evangelhos foram escritos

    direcionados a povos diferentes, as epistolas ou cartas tambm eram escritas para

    comunidades em diferentes cidades.

    Resolvido este problema, vamos viso dos primeiros

    cristos

    quanto posse.

    N a

    tica e moral destes cristos a questo em si no era

    o

    de se possuir ou no

    propriedade privada, bens e riqueza. Conforme ensinou Jesus a questo era o amor excessivo

    ao dinheiro e As posses:

    porque onde estiver

    o vosso tesouro,

    ali estar tambm o vosso

    corao (Lc 12:34). Paulo ainda

    refora,

    em sua carta ao jovem Timteo:

    Mas os que querem ser ricos caem em tentao, em loco. em muitas

    concupiscncias loucas e nocivas, que

    submergem Os homens na perdio e runa.

    Porque o amor do dinheiro a

    raiz

    de toda

    espcie

    de males;

    e nessa cobia alguns

    se desviaram da

    e

    se transpassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu.

    homem de Deus, lbge destas coisas

    segue a justia, a piedade. a f, a caridade. a

    pacincia, a mansiddo.

    I Tm 6.9-11)

    Quando as posses se tornam

    o

    centro da vida de algum, quando sua confiana estiver

    nestas posses, estas se tornam um

    dolo, conforme ensinou Jesus:

    Ent do, lhes recomendou:

    Tende cuidado

    e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porquea vida de um homem no

    consiste na abundncia dos bens que ele possui

    Lc 12.15). Sendo um

    dolo que produz

    o

    acmulo de riqueza de u

    ni

    em funo do empobrecimento de outrem, a recomendao de

    Jesus

    6: Nilo acumuleis

    para

    vs outros

    tesouros sobre a terra, onde a trap

    e

    a ferrugem

    corroem

    e onde ladres

    escavam

    e roubam

    Mt 6.19), cabendo, ainda, outra recomendao

    do M estre:

    E

    Jesus, .fitando-o,

    o

    amou

    e

    disse:

    S uma

    coisa te

    Alta: Vai, vende

    tudo

    o

    que

    tens, d-o

    aos

    pobres e

    ters

    um tesouro no cu:

    ento vem e

    segue-me

    (Mc. 10.21).

  • 7/23/2019 Analise Comparativa Da Organizao Social Dos Cristos Primitivos e Dos Cristos Contemporneos

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    7

    Jesus diz no As posses quando estas cativam o corao tornando-se

    o dolo

    pessoal.

    gerando

    acmulo

    de riquezas As custas do empobrecimento alheio quando h concentrao de

    renda.

    Dentro

    desta viso Deus criou todas as coisas em prol do homem. O relato no livro do

    Gnesis ainda no primeiro capitulo deixa claro que Deus alm de ter criado os bens naturais

    da Terra para servirem de mantimentos ao homem concedeu ainda ao homem domnio sobre

    todas as coisas para dom inar

    e

    governar.

    A

    Bblia ainda relata que

    D eus quem d sabedoria aos

    sbios e que

    nos ltimo s dias a

    cincia se multiplicaria sobre a face da Terra. Assim

    o

    sendo

    vontade de Deus que haja

    abundncia de bens que haja facilidades para

    o

    homem. Em outras palavras os bens esto ai

    para servirem ao homem ou melhor dizendo

    para satisfazerem as necessidades do hom em.

    Em todo o texto bblico

    Deus no se ope A riqueza tendo Ele concedido sabedoria e

    riqueza A Salomo. Abrao era rico

    e J tambm o

    era sendo que o texto bblico atribui A

    De us a origem de sua riqueza.

    Assim

    o que

    merece a critica de Jesus

    e

    por conseguinte dos cristos no a

    propriedade como tal tampouco a posse de bens em geral. mas sim

    o apego indevido a eles o

    culto A riqueza

    e

    sua conseqente concentrao nas

    mos

    de poucos. Os bens existem para

    satisfazerem as necessidades humanas no para escravizarem o

    homem tornando-se idolo.

    objeto de adorao. Sub entende-se que isto ocorre sempre que h pobreza em meio a uma

    sociedade que produz tambm ricos. Ou seja neste caso

    o cristo falta com

    o

    principal ensino

    ou o nico

    mandamento deixado por Jesus registrado nos quatro evangelhos: o de amar ao

    prximo corno a si mesmo. Segundo

    o

    Mestre. deste mandamento dependem toda a Lei de

    Deus

    e ainda o s profetas.

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    8

    O apstolo Paulo ainda advertiu:

    E no vos conformeis com este mundo

    ,

    mas

    transfbrrnai-vos pela renovao

    do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a

    boa, agradvel e perfeita vontade de Deus.

    Rm . 12.2)

    Subtrai-se destes relatos

    e

    ensinamentos que a sociedade

    crist no

    deve conformar-se

    com as desigualdades sociais com a existncia de pessoas que esto privadas da satisfao de

    suas necessidades simultaneamente existncia de pessoas com fartura de bens. 0 conformar-

    se neste caso equivaleria a no enquadrar-se no

    nico

    mandamento deixado por Cristo.

    registrado em M arcos 12.30-33

    e Joo 13.34,35,

    havendo ainda, um reforo:

    0

    meu mandamento este que vos ameis tins aos outros

    assim

    wino eu vas

    amei. Ningum tern amor maior do que este: de dar a sua vida pelos seus amigos.

    Vs sereis meus amigos se fizerdes o que eu vos mando.

    -

    Jo. 15.12-14. grifo

    meu).

    E

    era assim que os primeiros

    cristos

    compreendiam

    e vivenciavam

    estes ensinamentos.

    Fica evidente que esta era a forma com que entendiam estes mandamentos

    e

    os cumpriam, se

    considerarmos os relatos

    bblicos

    a respeito da organizao social

    e

    religiosa destes. Os

    reflexos desta viso critica de Jesus

    esto

    presentes em quase todo

    o

    Novo Testamento.

    O apstolo Paulo era um exemplo vivo da forma crist de se viver. Embora fosse doutor

    da Lei podendo ocupar um posto elevado por sua posio social sendo ainda

    cidado

    romano,

    abdicou de tudo isto para cumprir os ensinamentos de Cristo. No sendo

    o

    bastante,

    mesmo tendo direito a ser sustentado pelas comunidades

    cristo

    por ser pregador da palavra

    no aceitava remunerao. Antes trabalhava como armador de tendas para seu prprio

    sustento At. 18.3; I Co. 9.15; II Ts. 3.8).

    Dentro deste entendimento de que as riquezas eram dispensveis cabe a carta de Tiago

    irmo de Jesus exortando contra a explorao dos mais pobres

    o

    excessivo acmulo de

    riquezas e o

    fato de muitos fazerem acepo de pessoas dando preferncia

    e honrando

    aos

    mais ricos. Mesmo assim considera os bens como ddiva de Deus. 0 que Tiago critica

    o

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    9

    excessivo acmulo

    de

    riqueza, que produz

    avareza

    e

    falta de

    misericrdia.

    A

    misericrdia,

    o

    acudir

    o

    rfo,

    a

    viva e o

    necessitado

    so fatores

    indispensveis

    f

    crist. Complementa

    o

    raciocnio

    afirmando que a caridade

    obras

    de

    prova da f, que esta sem obras

    morta

    e

    conclui:

    ...mostra-me

    a tua f sem as tuas obras,

    e

    eu te mostrarei a minha fl pelas minhas

    obras .

    Tg. 2.18b).

    Em outras palavras, Tiago

    afirma que

    o problema no

    est

    no possuir

    bens

    e sim em no

    compartilhar

    os bens, em

    no dividir.

    O texto bblico

    fantstico, pois

    mesmo havendo

    diversos autores

    diferentes, no h

    contradio

    entre si.

    que

    exige-se do

    cristo, no uma vida

    asctica,

    abrindo-se mo dos

    bens e riquezas.

    Exige-se o

    repartir:

    ''Manda aos ricos deste mundo que no sejam altivos

    que faam o

    bem enriqueam

    em boas obras, repartam de boa mente...

    I Tm

    6.17,18)

    Quem, pois, tiver bens do mundo e, vendo

    o

    seu irmo necessitado, lhe cerrar

    o

    seu

    corao, como estar nele o amor de Deus?

    I

    Jo

    3.17 .

    0

    repartir est

    inserido na ortodoxia da f crist,

    que

    obrigatoriamente

    est

    comprometida com

    o esforo na busca por

    equilbrio

    social, como

    praticado pelos

    primeiros

    cristos,

    sob o risco de esta tornar-se vazia em si mesm a, carente de amo r, sendo este

    ltimo,

    o

    amor, o cerne do evangelho

    e

    da f

    crist,

    conforme mencionado

    por Cristo.

    4.3 O Ca

    i-iter

    inclusivist do cristi nismo

    Sendo

    o

    amor

    o

    principal cerne do cristianismo,

    e sendo

    que este como principal

    caracterstica no

    busca seus prprios interesses (I

    Co. 13.5), no pod e necessariamente

    ficar alheio as necessidades do

    prximo.

    De fato

    o

    verdadeiro

    cristo,

    o que foi tocado pelo

    amor de Deus, no pode ficar indiferente ao sofrimento humano. Buscar-se-

    auxilio.

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    3

    mobilizar-se-

    recursos repartir-se-

    em uma busca constante pelo fim das desigualdades, ou

    pelo menos, dos males causados pela falta de recursos.

    Foi assim que os primeiros cristos entenderam

    e

    se mobilizaram em torno disto,

    repartindo seus bens procurando atender o m andamento de Jesus.

    Isto

    incluso

    social. Alias, Jesus nunca fez acepo de pessoas, tendo levado sua

    mensagem de salvao tanto a ricos quanto a pobres. Sua pregao atinge todas as classes

    sociais de forma indistintiva, pois

    6 vontade do Pai, que nenhuma alma se perca

    (Mt.

    18.14).

    Em cumprimento desta palavra, recebeu o

    fariseu N icodemos,

    pousou na casa se Zaqueu

    e

    jantou com Mateus, estes ltimos publicanos. Mateus, tambm conhecido como Levi,

    tornou-se ainda discpulo,

    tendo escrito

    o

    Evangelho

    que leva seu nome. Pedro neste mesmo

    espirito, visitou

    o

    Centurio Cornlio.

    Neste sentido, as ltimas orientaes de Jesus aos discpulos

    foi: Ide por todo

    o mundo,

    pregai o evangelho a toda

    criatura.

    Mc. 16.15). 0 apstolo Paulo complementa:

    porque

    para com Deus, no h acepo de pessoas. (Rm. 2.11).

    A comunho criada por Jesus tem

    carter

    inclusivista, no exclusivista, pretendendo

    abranger a todos: Mas, a todos quantos o receber m

    (Jesus),

    deu-lhes

    o

    poder de serem feitos

    filhos de Deus, aos que

    crem no seu nome Jo 1:12). Ele no veio fundar mais uma religio

    ou apontar mais um caminho. Ele se coloca como sendo

    o

    caminho.

    A pregao de Jesus coloca todos os homens como sendo iguais, na condio de

    pecadores,

    destitudos da glria do Pai, sendo Jesus o elo

    de ligao entre criatura e criador.

    Se h algum m aior, este algum

    o Cristo:

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    3

    Vs,

    porm, no queirais ser chamados Rabi, porque um s

    o vosso Mestre.a

    saber, o Cristo,

    todos vs sois irmo. E

    a ningum na terra chameis vosso pai,

    porque um s6

    vosso Pai, o qual

    est

    170S

    cus. Nem vos chameis mestres, porque

    um s

    o

    vosso Mestre, que o Cristo.

    Mt.

    23.8 11)

    A partir deste principio de igualdade, Jesus cria uma nova comunidade. No h diferena

    de condio social cultura raa ou sexo.

    Nisto no h judeu nem grego; no h servo nem

    livre; no h macho nem lama; porque todos vs sois um em Cristo Jesus.

    GI. 3.28) .

    Cristianismo incluso

    social onde todos so iguais no mesmo amor na mesma f

    e

    no

    mesmo espirito. As necessidades individuais so na verdade necessidades coletivas:

    se um

    membro est doente, todo o corpo padece

    ICo. 1 2 .26)

    Assim ao repartirem seus bens os cristos primitivos estavam atendendo ao

    ensinamento de Jesus de serem todos iguais membros de um mesmo corpo portanto com

    funes diferentes, mas sendo um igualmente importante ao outro

    e onde Jesus

    a cabea.

    A igreja crist ou os cristos devem estar comprometidos com estes

    princpios

    de

    igualdade e fraternidade, pois Jesus no concorda com a existncia de necessitados.

    As diferenas sociais no seio do cristianismo refletem uma falta de amor para com o

    prximo

    que compromete a f crist e seu carter inclusivista e igualitrio.

    A extino das desigualdades sociais deve ser a busca constante do cristo caso

    contrrio este certamente per er sua identificao com Jesus.

    5 0 CAPITALISMO DOS CRISTOS CONTEMPORNEOS

    E lamentvel

    que a sociedade crista moderna

    no

    mais absorva os ensinamentos de

    Cristo no que diz respeito ao amar

    o prximo e quanto A liturgia crist

    diria. Ent retanto, seria

  • 7/23/2019 Analise Comparativa Da Organizao Social Dos Cristos Primitivos e Dos Cristos Contemporneos

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    32

    injusto cobrar esta postura dos fiis, haja visto, os pregadores atuais, em sua grande maioria,

    preconizarem um Evangelho diferente do encontrado na

    Bblia.

    A religio enquanto um fenmeno social muda a medida em que a sociedade passa por

    transformaes econmicas

    e polticas.

    Mas unia anlise

    das transformaes sofridas pelo

    cristianismo como religio bem como a quebra do

    monoplio catlico apostlico

    romano

    e

    a

    conseqente crescente diviso

    e at

    mesm o banalizao ser feita no proximo capitulo. Neste,

    o enfoque se

    dar

    na forma capitalista como

    o

    vivem os

    cristos comemporneos e

    principalmente, na organizao capitalista das igrejas

    crists. Quem

    quer que no

    se adapte

    seu modo de vida en condies do sucesso capitalista

    sobrepujado. ou pelo

    menos

    impedido de subir .

    (WEBER, MAX ; 1905

    P.

    60).

    Esta afirmao de W eber

    cabida e

    poderia explicar porque os

    cristos contemporneos

    vivem de forma diversa dos cristos primitivos. Entretanto, a questo no

    to simples.

    H

    um afirmao teolgica de que a

    Bblia

    se explica por si so, no necessitando de

    complementao.

    E

    de fato, quem se dispe a estud-la, mesmo que apenas poucos minutos

    diariamente, consegue extrair da Bblia, explicaes

    mais que satisfatrias a respeito de

    quaisquer assunto, sem contradies.

    Ante a afirmao weberiana acima transcrita, gostaria de complementa-la com uma das

    ltimas frases de Jesus, em orao ao Pai celeste : Ncio peo que os tires do mundo, mas

    que os livres do mal. No so do mundo, como eu do mundo no sou .

    Jo 17.15,16)

    De fato, como afirmou Weber, no ha como estarmos inseridos em uma sociedade de

    produo

    e consumo

    capitalista

    e estarmos alheios isto. Ou atentamos para

    o

    que nos rodeia

    e envolve, no caso esta forma de organizao social, ou seremos fatalmen te atropelados pelo

    sistema. Estarmos conscientes do meio em que vivemos nos prepararmos

    e

    nos adaptarmos a

    este,

    o mnimo que

    se pode esperar de qualquer indivduo

    que se considere inteligente.

  • 7/23/2019 Analise Comparativa Da Organizao Social Dos Cristos Primitivos e Dos Cristos Contemporneos

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    Entretanto, isto no significa necessariamente, concordar com estas regras , ou entregar-se

    ao sistema de forma tal, que isto venha a modificar nossas mentes

    e coraes

    fazendo-nos

    negar

    o

    que cremos

    e

    pensamos.

    Quando questionado

    a respeito do tributo imposto pelos romanos aos judeus, Jesus

    responde

    pois, a Cezar o que de Cezar e a Deus, o que g de Deus...

    (Mt. 22.21).

    Jesus consegue evadir-se da armadilha tramada pelos fariseus deixando implcito seu

    pensamento. Se todas as coisas pertencem A Deus, o que sobra para Cezar? Absolutamente

    nada. Isto nos indica claramente conforme j mencionado no Capitulo III deste trabalho que

    embora Jesus deseje uma mudana na organizao social, esta no seria de forma abrupta.

    revolucionria.

    A revoluo pretendida no do tipo vamos As armas . Jesus no questiona a

    autoridade

    constituda e complementa por meio

    do Apstolo Paulo dizendo que

    Toda a

    auforidade constituida por Deu.s. (Rm. 13.1). 0 que Jesus deseja,

    uma mudana que

    comea no interior dos homens, no uma mudana externa. Esta

    comearia

    no corao e

    mente dos homens, pois do corao

    saem todos os preceitos da vida (Pv. 4.23).

    lima

    mudana coletiva de pensamento e sentimento, transformaria a todo homem em um ser livre

    em uma sociedade igualitria e justa, sem a ne cessidade de se recorrer meios blicos.

    Assim, Jesus no deseja que revolucionemos

    o

    mundo. Mas deseja que no sejamos

    como o

    mundo, pois no somos do mundo. Deseja que estejamos livres do mal , neste caso,

    livres do Espirito do Capitalismo .

    Infelizmente, os cristos como um todo, independentemente da f que

    professam. esto

    muito aqum do desejado por Jesus. Nossos coraes esto apegados aos bens materiais,

    estamos possessos por este Espirito do Capitalismo . Neste sentido, Keynes afirmava em

    sua clebre obra que

    o consagrou,

    A Teoria Geral do Emprego do Juro

    e da Moeda que o

    que provoca

    desequilbrios

    na economia,

    um animal spirit

    ou espirito animal, que se

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    4

    apossa do homem, neste caso especifico, apossa-se do empresrio,

    levando-o

    a aes egoistas

    na busca por lucro

    e

    riqueza pe ssoal, provocando instabilidade no capitalismo.

    Embora tratassem de assuntos diversos, interessante notar que tanto Keynes, quanto

    Weber, identificassem urn fator externo , que possui vida prpria

    e

    interage com

    o

    homem,

    produzindo ganncia, avareza, falta de amor, enfim, produz urna sociedade desigual,

    desumana, amoral, resultando e m um capitalismo selvagem, sem escrpulos. Creio que ambos

    os autores, identificaram com propriedade

    o

    mesmo fator externo

    -

    , causador do

    -

    mal ,

    embora

    o

    tenham nome ado de forma distinta.

    E o cristo

    como um todo, esta no somente inserido em uma sociedade escravizada por

    este mal, como ele

    prprio est

    dominado.

    Mas h alguns pontos que necessitamos tratar, para compreender como funciona

    o

    capitalismo no meio cristo. Para tanto, h neste capitulo, trs

    subttulos.

    O primeiro,

    Mercado Religioso ,

    tratar

    de mostrar as cifras,

    o quanto

    se movime nta no mercado que mais

    cresce na economia. 0 segundo, Teologia da Prosperidade trata da principal corrente do

    pensame nto neopentecostal, que ve m m odificando seriamente as bases

    doutrinrias

    da maioria

    das igrejas

    crists, 0

    terceiro

    e derradeiro, 0

    Cristianismo Como Busca por Recompensas ,

    mostra a

    mudana

    de uma relao sacerdote -

    fiis

    para uma relao banqueiros de Deus

    consumidore s, sendo isto, fruto da massificao da Te ologia da Prosperidade .

    Entretanto,

    antes de adentrar nestes

    trs

    pontos, entendo fazer-se necessrio abrir-se um

    parnteses,

    para expor que, quando se utiliza

    o

    termo igreja , h dois sentidos

    possveis, e

    deve-se atentar para qual

    o

    sentido empregado pela expresso, de acordo com

    o

    contexto

    desejado.

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    5

    H

    a igreja como instituio, tendo personalidade juridica

    regida pela Lei deste pais,

    com sua constituio membros

    e departamentos.

    Existem alis diversas igrejas cada urna de

    acordo com a sua f

    e

    entendimento

    bblico, ou conforme urna suposta viso dada por Deus.

    H

    ainda, a igreja do Senhor Jesus, a noiva , a igreja do arrebatamento , que no

    compreende todos os membros da igreja instituio mas que segundo

    o texto

    bblico

    apenas

    uma parte destes. Esta igreja transcende a instituio, indo alm de seus

    domnios,

    abrangendo

    pessoas de diversas denominaes ou instituies religiosas que. segundo a

    Bblia,

    conservaram-se puros, no mancharam suas vestes. 0 livro do Apocalipse contm a carta de

    Joo As sete igrejas da Asia, que so urna representao espiritual das igrejas como instituio

    dos dias atuais ou do final dos tempos. Estas em geral

    esto

    reprovadas exceo de duas a

    igreja de Esmirna

    e

    Filadlfia. Mesmo estando as outras cinco reprovadas, a carta menciona

    que, sempre h nos meio destas, o remanescente fiel, os que no se desviaram, os que

    guardaram a f, mantendo-se puros

    e

    limpos.

    E

    importante que, estes conceitos distintos de igreja, sejam latentes no leitor deste

    trabalho, para a correta com preenso do que se deseja expressar.

    5.1 0

    Mercado Religioso

    A f que move montanhas tambm movimenta urna cifra

    milionria.

    Dados da agncia

    Data Popular especializada em pesquisa

    e consultoria

    de marketing voltada

    s

    classes C. D

    e

    E, indicam que

    o

    mercado religioso

    cristo -

    formado p or catlicos

    e

    evanglicos - movim enta

    anualmente em todo pais cerca de onze bilhes de Reais. Os nmeros foram obtidos aps

    estudos com base em pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia

    e Estatstica).

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    6

    So livros - o

    principal deles a Bblia - CDs

    e DVDs

    de msicas ou filmes gospel jias

    temticas, acessrios e roupas. Tudo visando atingir urn pblico que representa a grande

    maioria da populao os catlicos

    e

    evanglicos. Segundo

    o ltimo

    censo

    do IBGE , realizado

    em 2000, as duas religies dividiam 89% dos brasileiros.

    Mesmo

    com menos dinheiro per ca