análise: bicho de sete cabeças
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Universidade Federal de Alagoas – UFAL
Comunicação Social – Jornalismo
Pedro Henrique do Rosário Correia
Estética da Comunicação
Maceió
2016
Bicho de Sete Cabeças – Laís Bodanzky
Drama – 2000
O filme desperta um sentimento de pena e preocupação. A situação dos internos nos
hospitais psiquiátricos do Brasil apontavam o descaso com a vida humana e a preocupação
com um eventual acordo com o governo por parte dos diretores de tais hospitais – o que
desperta a raiva no espectador, ciente das condições dos internos.
As imagens lembram curtas e clipes de David Lynch pela forma como são construídas:
parecidas com as capas do quadrinho Sandman, feitas por Dave McKean, as imagens mostram
muitas vezes, cortes com dupla exposição, câmera lenta, imagens superexpostas e confusões
visuais etali guísti as, o ue e ete ao lipe de Came Back Haunted da a da Nine Inch
Nails, dirigido por Lynch.
O fil e é u a adaptação do liv o Ca to dos Malditos , es ito po Aust egésilo Carrano Bueno – ou Neto pa a o fil e – interpretado por Rodrigo Santoro. De uma forma
geral, a obra aborda o nosso imaginário coletivo sobre questões como práticas marginais (uso
de drogas e pichação), relação com os pais, o sistema educacional e, principalmente, o sistema
de saúde brasileiro, especificamente a área da psiquiatria.
Por ignorância, o pai de Neto julga que o correto a ser feito depois de achar um cigarro
de maconha no bolso do casaco do filho é interna-lo num hospital psiquiátrico para fazer uma
reabilitação. Por desconhecer as condições do hospital e acreditar que os médicos eram os
mais bem preparados, o pai desacredita da palavra do filho por preocupação – e talvez essa
seja a característica mais importante do filme: ele não transforma o pai de Neto em um vilão,
apenas deixa claro sua visão limitada a respeito de assuntos que são delicados.
Por muitas vezes a figura do pai perde a rigidez por um evento ou outro, e numa
dessas vezes se abre a capacidade da história exigir uma atuação perfeita de Santoro. Após ser
desestruturado psicológica e fisicamente, Neto é levado para casa onde não consegue sair do
quarto, comer ou apresentar interesse em várias outras práticas que eram normais para ele
antes. Santoro apresenta uma atuação minimalista mas que consegue apresentar o sofrimento
interno do personagem, o que aponta para dois outros aspectos: o da psiquiatria e o
audiovisual.
Na questão da psiquiatria o impressionante é o filme abrir a discussão sobre o que as
situações adversas conseguem fazer com uma pessoa mentalmente sã: Neto era um jovem
comum e as situações que encontrou dentro do hospital, a falta de apoio de sua família, sua
privação do mundo exterior e a sua convivência com todo tipo de atrocidade que eram feitas
aos internos mudou sua personalidade de forma pontual. Por fim, o aspecto audiovisual é
justamente a capacidade de demonstrar isso sem diálogos: a narrativa gráfica do filme
consegue entregar ao espectador a informação de que Neto tinha sofrido uma série de
mudanças que o acompanhariam durante toda sua vida – e faz isso com cortes rápidos que se
quebram para continuar depois de mais dois ou três cortes, dando a ideia de repetição
exagerada, como se todos os dias fossem o mesmo.
No final, talvez, a parte mais importante para a narrativa do enredo é quando o
personagem tenta voltar a ter uma vida normal e vê que não se encaixa de novo no mundo, o
que deixa claro o fato de que suas lembranças do período no hospital psiquiátrico vão o
acompanhar durante sua vida inteira.
O filme é muito bom por conseguir abordar todos esses aspectos de forma clara e
pressionar as atuações de uma forma natural além de apresentar características visuais muitas
vezes abstratas mas que não atrapalhariam um espectador médio de ver o filme, talvez por
isso seja um clássico do ci e a asilei o (po ag ada es o os i éfilos ua to o espectador médio).
Direção (mixagem de som, movimentos de câmera e coloração): 8/10
Direção de Fotografia: 8/10
Atuações: 9/10
Efeitos Visuais: 7/10
Roteiro: 9/10
Nota geral: 8,2/10