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UN VIII SEMINÁRIO UFPE V Centro d NIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS, 23 e 24 de Outubro de ANAIS VOLUME I de Ciências Sociais Aplicadas / U e 2014, CCSA/UFPE I UFPE

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCOVIII SEMINÁRIO UFPE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS, 23 e 24 de Outubro de 2014, CCSA/UFPE

VOLUME I

Centro de Ciências Sociais Aplicadas / UFPE

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO SEMINÁRIO UFPE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS, 23 e 24 de Outubro de 2014, CCSA/UFPE

ANAIS

VOLUME I

Centro de Ciências Sociais Aplicadas / UFPE

SEMINÁRIO UFPE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS, 23 e 24 de Outubro de 2014, CCSA/UFPE

VOLUME I

Centro de Ciências Sociais Aplicadas / UFPE

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO Reitor: Prof. Anísio Brasileiro de Freitas Vice-Reitor: Prof. Silvio Romero de Barros Marques CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS Diretor: Prof. Jeronymo José Libonati DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ATUARIAIS Chefe: Prof. Evaldo Santana de Souza MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS Coordenador: Prof. Aldemar de Araújo Santos, Vice-Coordenadora: Profª Umbelina Cravo Teixeira Lagióia Torres COMISSÃO ORGANIZADORA Coordenadora: Profª Umbelina Cravo Teixeira Lagióia Torres Vice-Coordenador: Prof. Aldemar de Araújo Santos COMISSÃO CIÊNTÍFICA Aldemar de Araújo Santos Ana Lúcia Fontes de Souza Vasconcelos Ana Rosa Gomes Cunha Arnaldo Antônio Duarte Ribeiro Cacilda Soares de Andrade Celma Duque Ferreira Cláudio de Araújo Wanderley Dieliton Oliveira Edna Maria de Melo Vieira Eduardo Dória Silva Esdras dos Santos Carvalho Evaldo Santana de Souza Francisco de Assis Carlos Filho Francisco Jean Carlos de Souza Sampaio Gutembergue Leal de Mesquita Irani Maria da Silva Oliveira Ismael Gomes Barreto Jarciley Lemos José Augusto de Medeiros Monteiro José Trigueiro Josimar Farias Cordeiro Kécia da Silveira Galvão Medeiros Lavoisiene Rodrigues De Lima Leandro da Costa Lopes Lívia Vilar Lemos Lucivaldo Lourenço da Silva Filho Luiz Carlos Miranda Marcelo Jota Gomes Marco Tullio de Castro Vasconcelos Marcos Antônio Granha Maria da Silva Oliveira

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Maria do Socorro Coelho Bezerra Priscila Barbosa Dantas Regiane Cunha da Silva Rone Cesário da Silva Sheila Sayuri Kataoka Umbelina Cravo Teixeira Lagióia Torres. Vera Lúcia Cruz Vladênia Letieri Gonçalves EQUIPE OPERACIONAL Sebastião Luciano da Silva (Secretário do Mestrado em Ciências Contábeis) Dinamérico L. Lopes (Secretário dos Cursos de Especialização em C. Contábeis) Luciana Firmino Tavares (Assistente em Administração) Adelmo Bezerra Oliveira Filho (Bolsista) Lorena Vilaça Montenegro (Bolsista) Aline Rúbia Ferraz de Freitas (Mestranda) Cosmo Alves da Silva (Mestrando) David Neumann (Mestrando) Dayvison Spindola Soares Bezerra (Mestrando) Douglas Almeida Lima (Mestrando) Eddie Raoni de Lima Marques (Mestrando) Gustavo Henrique Costa Souza (Mestrando) Jardson Edson Guedes da Silva Almeida (Mestrando) Lívia Albuquerque Carrascoso (Mestranda) Luiz Antônio Felix Junior (Mestrando) Marco Túlio José de Barros Ribeiro (Mestrando) Marina Fidelis Jerônimo de Oliveira (Mestranda) Nadielli Maria dos Santos Galvão (Mestranda) Priscilla Milfont de Medeiros (Mestranda) Vanessa Janiszewski (Mestranda)

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APRESENTAÇÃO

O Seminário UFPE de Ciências Contábeis constitui-se em um encontro científico anual, com objetivo de promover um espaço científico que estimule a discussão e a reflexão sobre temas atuais e as tendências mundiais da Contabilidade.

Estando em sua oitava edição traz o tema: “Direcionamentos das Pesquisas em Contabilidade, Finanças e Governança Corporativa.”

Com um público para estudantes, professores, pesquisadores e profissionais da área de Ciências Contábeis e áreas afins, bem como, representantes de entidades de classe.

O evento é realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da UFPE – Mestrado Acadêmico em Ciências Contábeis.

ÁREAS TEMÁTICAS

Contabilidade e Controladoria Empresarial Contabilidade e Controladoria Gerencial Educação e Pesquisa em Contabilidade Informação Contábil para Usuários Externos Informação Contábil para Usuários Internos Mercados Financeiros, de Crédito e de Capitais Tema Livre

DATAS IMPORTANTES

Início da submissão de trabalhos – 01 de julho de 2014 Último dia de submissão dos trabalhos –14 de setembro de 2014 Divulgação dos resultados – 22 de setembro de 2014 Último dia para inscrição dos trabalhos aprovados – 20 de outubro de 2014 Período do Seminário – 23 e 24 de outubro de 2014

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ÍNDICE

Avaliação de Desempenho Econômico-Financeiro por Meio da Análise Discriminante: um estudo com índices de caixa e competência das empresas listadas na Bm&Fbovespa.........................................................................007

Percepção dos Analistas do Mercado de Capitais sobre quais os Melhores Demonstrativos e Grupo de Índices (Caixa e/ou Competência) para Avaliação de Desempenho Econômico-Financeiro das Empresas ....................025

O Processo Eleitoral sob a Ótica do Usuário Externo da Informação Contábil: uma análise dos demonstrativos financeiros padronizados publicados pelas empresas listadas na Bm&Fbovespa que financiaram Partidos Políticos nas Eleições de 2008 e 2012 .................................................................................................................043

Relação entre Estrutura de Propriedade e Assimetria de Informação no Mercado Acionário Brasileiro...............................................................................................................................................................059

Um Estudo sobre a Ética do Profissional Contábil na Percepção de Estudantes..............................................................................................................................................................076

O Código de Ética do Profissional Contador: a percepção dos concluintes de Ciências Contábeis da UFPE.....................................................................................................................................................................092

Um Estudo sobre a Percepção de Discentes e Docentes sobre as Competências de um Professor de Contabilidade........................................................................................................................................................109

Análise das Ementas da Disciplina de Contabilidade Aplicada ao Terceiro Setor em Instituições de Ensino Superior do Estado de Pernambuco......................................................................................................................126

A Eficácia da Prestação de Serviços Contínuos Licitados pela Modalidade Pregão Contratados pelo Menor Preço......................................................................................................................................................................138

Processo de Convergência da Contabilidade Pública: uma análise sobre o conhecimento dos discentes de Ciências Contábeis................................................................................................................................................152

Análise das Percepções dos Profissionais Contábeis de Prefeituras Municipais quanto à Relevância das Mudanças Introduzidas pela Adoção das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público...................................................................................................................................................................167

Um Estudo Comparativo entre as Práticas de Controle Interno Utilizadas em um Órgão da Marinha do Brasil e o Modelo COSO I....................................................................................................................................................184

Um Estudo sobre a Utilização da Contabilidade e do Controle Gerencial pelos Profissionais da Feira da Sulanca de Caruaru: algumas evidências............................................................................................................................201

O Perfil do Profissional de Auditoria Interna sob a Ótica do Mercado de Trabalho Nordestino.........................214

Avaliação das Práticas de Controle Interno sob as Perspectivas do COSO II: um estudo na Região Metropolitana do Recife – PE.......................................................................................................................................................226

Gestão de Riscos: um estudo exploratório no arranjo produtivo local gesseiro do estado de Pernambuco...........................................................................................................................................................242

Um Estudo sobre as Implicações da Implantação do Sistema Público de Escrituração Digital (SPED) para com os Profissionais Contábeis.....................................................................................................................................254

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Integração entre Sistemas Contábeis Financeiro e Gerencial: um estudo multimétodo em três empresas nordestinas.............................................................................................................................................................269

Contabilização de Parcerias Público-Privadas: aspectos práticos e normativos à luz da 11.079/04 e ICPC 01...........................................................................................................................................................................282

Investimento em Mão-de-Obra e Valorização no Mercado de Capitais: uma comparação entre o valor de mercado e a satisfação no emprego.......................................................................................................................299

Estudo da Estrutura de Capital das Empresas do Brasil e China Mediante a Crise Financeira Mundial.................................................................................................................................................................315

Análise dos Fatores Determinantes do Endividamento: um Estudo Empírico no Setor de Telecomunicações Brasileiro...............................................................................................................................................................333

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APRESENTAÇÃO ORAL

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO ECONÔMICO-FINANCEIRO POR MEIO DA ANÁLISE DISCRIMINANTE: UM ESTUDO COM ÍNDICES DE CAIXA E

COMPETÊNCIA DAS EMPRESAS LISTADAS NA BM&FBOVESPA

AUTORES: Edna Maria de Melo Vieira, Umbelina Cravo Teixeira Lagioia, Aldemar de Araújo Santos, Gilberto Fernandes Vieira e Lívia Vilar Lemos.

RESUMO

O objetivo deste estudo foi verificar, por meio da Análise Discriminante, quais os índices de caixa e/ou competência expressam o desempenho econômico-financeiro das empresas brasileiras listadas na Bovespa. Para coleta de dados e cálculo dos índices financeiros utilizou-se o banco de dados do Economática. A amostra foi composta por 112 empresas, das quais foram calculados doze índices com base no regime de competência e doze índices com base no regime de caixa, no período de 2008 a 2012. Para atingir o objetivo, realizou-se a Análise Discriminante através do método Stepwise, com todos os índices (caixa e competência) de forma conjunta, para encontrar a função que expressasse o desempenho econômico-financeiro das empresas estudadas e, a partir dela, evidenciar os índices mais significativos na predição desse desempenho. Com base nos resultados encontrados, constatou-se que tanto os índices de caixa como os índices de competência conseguem predizer com alta eficácia classificatória a situação financeira das empresas. Isto não significou que se poderia tomar qualquer grupo de índices, isoladamente. Ao contrário, o estudo revelou que os dois grupos deveriam ser considerados simultaneamente. No entanto, dos 24 índices analisados, os que mais expressaram o desempenho econômico-financeiro das empresas, presentes nas funções discriminantes durante os cincos anos analisados (2008 a 2012), foram apenas 10: RA, LC, RV, ICG, IEF, RCP, IFC, IRCCP, IRCV, IQR, sendo os seis primeiros pertencentes ao regime de competência e os outros quatro ao de caixa. Assim, para se ter resultados mais seguros em relação à avaliação do desempenho econômico-financeiro das empresas, é importante considerar os índices de caixa e competência em conjunto.

1. INTRODUÇÃO

Segundo Duarte e Lamounier (2007), o número de empresas que tem demonstrado interesse em posicionarem-se diante dos concorrentes no mercado vem aumentando e, por isso, estão cada vez mais utilizando análises financeiras e econômicas como forma de avaliação de desempenho, tendo em vista que, além de proporcionar parâmetros de comparação entre empresas concorrentes, permitem identificar, entre várias características, a situação em que a organização se encontra em determinado período.

De acordo com Neves Júnior e Faria (2007, p. 3) “a necessidade de se utilizar essa ferramenta quando da comparação e avaliação das empresas de determinado ramo é imprescindível”. Além disso, ainda segundo os autores, a análise com base em indicadores econômico-financeiros é relevante porque serve como ponto de partida para delinear o

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comportamento futuro de uma empresa, permitindo também que se estabeleçam qualificações como: favorável, suficiente, insuficiente etc.

Contudo, uma das dificuldade encontradas é a quantidade ampla de indicadores existentes no mercado. De acordo com Miranda e Silva (2002), a escolha dos indicadores que melhor atendam às necessidades dos analistas e gestores representa um dos maiores desafios quando da implantação de um sistema de avaliação de desempenho em uma organização.

Neste sentido, conforme apresenta Bezerra e Corrar (2006), para criação dos critérios de seleção dos indicadores financeiros, é importante a utilização de uma metodologia que venha diminuir o grau de subjetividade na escolha dos indicadores que deverão compor a avaliação das empresas e que também permita uma análise simultânea do comportamento de vários indicadores.

Para atender esse propósito descrito acima, podem-se utilizar técnicas de análise multivariadas de dados, a exemplo da Análise Discriminante, que permite identificar os índices mais significativos na avaliação do desempenho das empresas (BARAC, 2010; CORRAR; PAULO; DIAS FILHO, 2007). Mello e Slomski (2007), através da função discriminante, identificaram os indicadores que representavam a situação financeira dos estados brasileiros. Seus resultados demonstraram que a situação financeira destes estados não se explica por um único indicador, mas sim por um conjunto de indicadores reunidos.

De acordo com Scarpel e Milioni (2001), a Análise Discriminante, além de identificar um grupo de índices com capacidade de separar empresas boas de empresas ruins, determina um peso para cada índice, o qual é decorrente da sua ordem de grandeza e da sua importância relativa, sem que prevaleçam critérios arbitrários para a determinação desses pesos. Essa análise permite ao pesquisador identificar quais e quantos índices de caixa e/ou competência são necessários para avaliar o desempenho econômico-financeiro de uma empresa e para isso, gera funções discriminantes que permitem detectar os índices mais significativos.

Outra dificuldade evidenciada é que mesmo existindo várias pesquisas que avaliaram o desempenho econômico-financeiro de empresas através dos indicadores de competência (calculados com base no Balanço e Demonstração do Resultado) e de caixa (calculados principalmente com base na Demonstração do fluxo de caixa) ainda não existe consenso na literatura pesquisada sobre quais indicadores econômico-financeiros são os mais adequados para avaliação de desempenho da empresa.

Alguns estudos asseguram que ambos os grupos de indicadores (caixa e competência) apresentam os mesmos resultados (VIEIRA et al. 2013a; BORGES; NUNES; ALVES, 2012).

Outros afirmam que os índices de fluxo de caixa são superiores aos índices de competência por apresentarem melhores resultados (BARAC, 2010; Beaver, 1968). Em contrapartida, Vieira et al. (2013a), em sua pesquisa, demonstraram que os índices de competência apresentaram melhores resultados em relação ao desempenho das empresas estudadas. Gombola et al. (1987), em sua pesquisa sobre fluxo de caixa na previsão de falências, não encontrou nenhum dos índices de fluxo de caixa como preditores significativos do desempenho da empresa.

Diante disso, pretende-se propor, por meio da Análise Discriminante um modelo para avaliação de desempenho econômico-financeiro, considerando os indicadores de caixa e

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competência de forma associada (conjunta), para, assim, permitir que essa técnica identifique, sem interferência do autor, os indicadores mais representativos para avaliação do desempenho econômico-financeiro das empresas brasileiras de capital aberto listadas na Bovespa. Assim, este trabalho demonstra sua originalidade, haja vista que ainda não se evidencia na literatura nenhum estudo que analisou de forma associada tais indicadores.

Neste sentido, como a análise econômico-financeira de uma empresa vem sendo realizada tanto por meio dos índices de competência como por índices de caixa, é importante identificar quais índices melhor expressam o desempenho econômico-financeiro de uma empresa. Diante de tais informações, a presente pesquisa tem como objetivo verificar, através da Análise Discriminante, quais os índices de caixa e/ou competência expressam o desempenho econômico-financeiro das empresas brasileiras listadas na Bovespa.

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Avaliação de desempenho Econômico-Financeira

A avaliação de desempenho econômico-financeiro das organizações normalmente é realizada através da análise dos demonstrativos financeiros, entre eles: BP, DR e DFC. De acordo com Bortoluzzi et al. (2011, p. 201) “[...] a técnica de análise das demonstrações contábeis é uma forma de avaliar o desempenho econômico-financeiro, com o objetivo de apresentar aos gestores das organizações informações que auxiliem no processo de tomada de decisão”.

A análise dos demonstrativos contábeis do BP e da DR é relevante para analisar a situação econômica da empresa, porque ambos, além demonstrarem suas reais condições, evidenciam se ela terá ou não como cumprir suas obrigações (QUINTANA; QUARESMA; MACHADO, 2007). Já a análise da DFC possibilita identificar a capacidade da empresa em gerar e utilizar seus meios monetários (BARAC, 2010; BORGES; NUNES; ALVES, 2012).

A análise das demonstrações contábeis pode ser definida como uma técnica que evidencia a situação econômico-financeira da empresa e seu principal objetivo é diagnosticar a saúde da empresa em determinado período, bem como contribuir com os usuários das informações contábeis, fornecendo informações que subsidiem sua tomada de decisão (BORGES; NUNES; ALVES, 2012; OLIVEIRA et al. 2010; VIEIRA; SANTOS, 2005).

Corroborando, Barbosa (2010) ressalta que tal análise é um dos temas mais importantes e discutidos na administração financeira, pois consideram que demonstrações contábeis fornecem uma série de dados relevantes sobre a empresa. Ainda segundo o autor, a análise transforma, por meios de técnicas, dados em informações, e considerando a qualidade e confiabilidade dessas informações é que se pode medir a eficiência dessa relação entre a administração financeira e a contabilidade.

Verificou-se, por meio da literatura pesquisada, vários estudos que abordaram a temática da avaliação de desempenho econômico-financeiro. Alguns utilizaram indicadores tradicionais (competência), outros de fluxo de caixa; também tiveram aqueles que, além de adotarem alguns indicadores, utilizaram também uma metodologia específica para realizar essa avaliação. Na Tabela 1, apresenta-se o objetivo e os principais resultados dos trabalhos encontrados sobre Avaliação de Desempenho por meio dos indicadores econômico-financeiro.

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Tabela 1 - Objetivo e principais resultados de estudos sobre avaliação de desempenho econômico-financeiro

Objetivo Resultados Autor(es)

Verificar se os índices extraídos da Demonstração dos Fluxos de Caixa apresentam maiores valores informacionais na avaliação do desempenho econômico-financeiro que os índices extraídos do Balanço Patrimonial e Demonstração do Resultado.

Com base nos resultados encontrados, confirmou-se que tanto os índices da DFC como os índices do BP & DR conseguem predizer, com ótima eficácia classificatória, o estado financeiro das empresas. Conforme os autores, as informações extraídas de ambas as análises ofereceram subsídio similar na avaliação do desempenho das empresas estudadas.

Vieira et

al. (2013b)

Analisar a situação financeira de um grupo de quatro empresas do setor de tecnologia da informação, avaliadas em relação aos dados da controladora, por meio das técnicas do Modelo Fleuriet e de análises da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC).

Os resultados da aplicação destes métodos para análise financeira demonstraram serem consistentes para sinalizar a posição econômico-financeira das empresas estudas, e tanto as análises através do Modelo Fleuriet quanto às análises da Demonstração dos Fluxos de Caixa sinalizaram uma posição de baixa liquidez e possibilidade de insolvência para as empresas estudadas.

Cruz e Bressan (2011)

Analisar a associação entre indicadores tradicionais e de fluxos de caixa, que expressam o desempenho e a competitividade empresarial e setorial, em setores que englobam as empresas brasileiras de capital aberto.

Os resultados obtidos mostraram que as associações existentes no grupo de indicadores tradicionais e no grupo de indicadores de fluxos de caixa são mais acentuadas do que a existente entre os dois grupos de indicadores e que o uso conjunto de indicadores, tradicionais e de fluxos de caixa, fortalece a avaliação do desempenho e da competitividade empresarial, úteis aos stakeholders.

Claudino Filho (2009)

Identificar quais índices financeiros influenciam na criação e destruição de valor das empresas, mensurada pelos seus Valores Econômicos Adicionados (EVA’S).

Os resultados demonstraram que a equação encontrada se mostrou bastante significativa e apresentou, como índices que influenciaram na criação de valor, a capacidade de geração de lucros, o retorno do ativo total, o retorno sobre capital próprio e o índice de endividamento geral, e apresentou, como índices que influenciaram na destruição de valor, o índice de liquidez geral.

Silva, Ferreira e Calegario (2009)

Comparar a avaliação de desempenho realizada com base nos índices de fluxo de caixa das empresas Sul-Africanas (SA) da indústria eletrônica, química e de alimentos pertencentes a um país em desenvolvimento com indústrias semelhantes dos EUA, considerado um país de primeiro mundo.

Os índices de suficiência do fluxo de caixa mostraram que as indústrias SA tinham dinheiro suficiente para pagar as obrigações principais, enquanto que as indústrias norte-americanas não tinham. O fluxo de caixa gerado pelos ativos utilizados em empresas SA também é mais do que aquele gerado por empresas dos Estados Unidos, mas, as indústrias norte-americanas aposentam dívidas de longo prazo em um período mais curto do que as indústrias SA.

Jooste (2006)

Analisar o desempenho econômico-financeiro e a criação de sinergias em algumas sociedades anônimas brasileiras de capital aberto que passaram por processos de fusão ou aquisição entre 1995 e 1999.

Identificou-se uma piora na situação financeira das empresas analisadas. No entanto, após a combinação, contatou-se uma melhora na situação econômica e que tais processos geraram sinergias operacionais e gerenciais.

Camargos e Barbosa (2005)

Fonte: Dados da pesquisa, 2013

Ressalta-se, ainda, que apesar de tais pesquisas também terem analisado os indicadores econômico-financeiros de caixa e/ou competência, todas tiveram um enfoque diferente do que é proposto nesta pesquisa. Portanto, com base nos pressupostos abordados, este estudo faz empiricamente uma abordagem sobre a avaliação do desempenho empresarial, analisando o comportamento dos indicadores tanto de competência como de fluxos de caixa e, assim,

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contribui com informações que acrescentam subsídios à tomada de decisão dos usuários das informações contábeis.

3. METODOLOGIA

O presente trabalho teve como objetivo verificar através da Análise Discriminante quais índices de caixa e/ou competência expressam o desempenho econômico-financeiro das empresas brasileiras listadas na Bovespa. Fizeram parte da população as empresas cadastradas na Bovespa e cujas demonstrações contábeis, quais sejam: Balanço Patrimonial, Demonstração dos Resultados e Demonstração dos Fluxos de Caixa, estiveram disponíveis na base de dados Economática no período de 2008 a 2012, perfazendo um total de 688 empresas. Para definição da amostra adotaram-se critérios semelhantes aos de Vieira et al. (2013b), Barac (2010), Borges, Nunes e Alves (2012), Altman e Hotchkiss (2006) e Beaver (1968), considerando apenas as:

a) Empresas que têm seus títulos negociados na BM&FBovespa Bolsa de Valores S.A; b) Empresas que possuem as informações financeiras disponíveis na base de dados

Economática no período de 2008 a 2012; c) Empresas que apresentam todos os valores para os indicadores financeiros durante

os cinco anos: de 2008 a 2012, e d) Empresas do setor bancário, seguros e fundos foram excluídas da amostra.

O primeiro critério justifica-se pela facilidade de acesso às informações (relatórios)

necessárias a esta pesquisa, haja vista serem de fácil acesso e também disponibilizadas de forma gratuita. O segundo critério foi adotado com base em estudos anteriores em que um período de observação de 5 anos foi utilizado. O terceiro, que consistiu em retirar os missing values (valores perdidos), justifica-se pela necessidade de considerar apenas as empresas que apresentaram valores referentes aos indicadores financeiros para o período de 2008 a 2012, possibilitando realizar comparações entre as funções discriminantes de cada ano. O último critério está de acordo com pesquisas relevantes semelhantes em que excluíram os mesmos setores por causa das diferenças de estrutura dos ativos em relação aos outros setores, dificultando sua comparabilidade. (ALTMAN; HOTCHKISS, 2006; BARAC, 2010; BORGES; NUNES; ALVES, 2012).

Após o cumprimento das condições acima, a amostra desta pesquisa ficou formada por

112 empresas. Destaca-se também, que antes de se aplicar a análise discriminante, as seguintes premissas foram observadas: normalidade multivariada das variáveis independentes, ausência de multicolinearidade e homogeneidade das matrizes de variância e covariância.

A coleta de dados e o cálculo dos índices econômico-financeiros foram obtidos através

do banco de dados Economática. Assim, para obter os valores das variáveis independentes (índices de caixa e competência) e, consequentemente, o resultado das empresas em cada ano, calculou-se inicialmente, para cada empresa, 12 índices com base no BP & DR e 12 índices com base na DFC, conforme ilustra a Tabela 2. Tabela 2 – Índices econômico-financeiros utilizados na pesquisa

Índices de Liquidez Índices de Endividamento Índices de Rentabilidade

Regime de Competência

Liquidez Corrente (LC)

Ativo corrente Índice de Endividamento (EG)

Passivo Total Rentabilidade do Ativo (RA)

EBIT

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Passivo corrente Ativo Total Ativo Total

Liquidez Seca (LS)

(Ativo corrente –

Estoques)

Passivo Corrente

Índice de Cobertura de Juros (ICJ)

EBIT/

Despesas Financeiras

Rentabilidade do Capital Próprio (RCP)

Lucro Líquido

Patrimônio Líquido

Índice de Capital de Giro (ICG)

(Ativo corrente –

Passivo corrente)

Ativo Total

Índice de Estabilidade Financeira (IEF)

Cap. Social + Passivo não Circulante.

Ativo não Circulante. + Estoques

Rentabilidade das Vendas (RV)

Lucro Líquido

Receita Líquida

Ativo Corrente vs. Ativo Total (ACAT)

Ativo corrente / Ativo Total

Regime de Caixa

Índice do Fluxo de Caixa (IFC)

FCO /Passivo Corrente

Índice de Caixa para Dívida Total (ICDT)

FCO /Passivo Total

Índice de Retorno de Caixa sobre Ativos (IRCA)

FCO/Ativo Total

Índice de Caixa de Cobertura Necessidades Críticas (INCN)

FCO/ (Emprést. e Financ. a curto e LP + Dividendo a CP)

Índice de Caixa de Cobertura de Juros (ICCJ)

FCO

Desp.Finan.

Índice de Retorno do Caixa sobre Capital Próprio (IRCCP)

FCO/ Patrimônio Líquido

Índice de Fluxo de Caixa Livre (IFCL)

FCO – Capex

FCO

Índice de Solidez Financeira (ISF)

(Lucro Líq.+ Depr, Amort, Exaustão) x4/

Passivo Total

Índice de Retorno de Caixa sobre Vendas (IRCV)

FCO/Receita de vendas

Índice de Qualidade dos Resultados (IQR)

FCO/EBIT

Índices de eficiência de Investimento

Lucro por Ação (Lucro líquido – dividendos) / Número de ações Dividendos Yield

(Preço Médio de Mercado da ação) / Lucro por ação

Fluxo de Caixa por Ação (FCA)

(Fluxo de Caixa Operacional – Dividendos) / Número de ações

Preço para Índice do Fluxo de Caixa (PIFC)

(Preço Médio de Mercado da ação) / Fluxo de Caixa por Ação

Fonte: Adaptado de Barac (2010).

Utilizou-se a Análise Discriminante para identificar quais índices de caixa e/ou competência são mais significativos para avaliar o desempenho econômico-financeiro das empresas. O método utilizado para a aplicação da Análise Discriminante foi o Stepwise (passo a passo) que seleciona as variáveis independentes com maiores poderes discriminatórios para comporem as funções discriminantes.

Assim, seguindo a etapa inicial da Análise Discriminante, dividiu-se a amostra em

dois grupos – empresas com "resultados satisfatórios" e empresas com "resultados insatisfatórios" – de acordo com o Resultado Líquido do Exercício (RLE) em cada ano analisado. Assim, as empresas que possuíam um RLE positivo foram classificadas no grupo de empresas "resultado satisfatório". Já as empresas que apresentaram um RLE negativo foram classificadas no grupo "resultado insatisfatório". Desta forma, em cada função (uma para cada ano), foi analisado o poder discriminante que cada indicador possui para que se tenha uma resposta de quais os índices (de caixa e de competência) apresentam maior poder

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discriminante e, consequentemente, quais expressam o desempenho econômico-financeiro das empresas. A classificação pelas funções nos dois grupos foi feita mediante o escore de corte (também chamado de valor Z crítico ou Zc), calculado para cada função discriminante. Para verificar a precisão de classificação do modelo discriminante das empresas por grupo, realizou-se ainda o teste de McNemar, com um nível de significância de 5%, que avalia a eficiência de situações “antes” e “depois”, isto é, compara a classificação original com aquela obtida pela Análise Discriminante. O tratamento dos dados foi realizado utilizando-se o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20.0.

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

No intuito de identificar por meio da Análise Discriminante quais índices de caixa e/ou competência expressam o desempenho econômico-financeiro das empresas brasileiras listadas na Bovespa, aplicou-se todos os testes específicos da Análise Discriminante nos 24 índices econômico-financeiros em cada ano, desde 2008 até 2012. A Tabela 3 apresenta as estatísticas associadas à Análise Discriminante aplicadas neste estudo.

Tabela 3 – Estatísticas associadas à Análise Discriminante

Determinação Considerações

Correlação Canônica Valor varia entre 0 e 1. Mede o alcance entre os scores discriminantes e os grupos. Seu quadrado mede o poder explicativo da função discriminante.

Centroide Média dos scores discriminantes do grupo.

Scores discriminantes Os coeficientes das variáveis.

Matriz de Classificação Apresenta o percentual total dos casos classificados corretamente e mal classificados

Lambda de Wilks Valor varia entre 0 e 1. Está relacionado com a diferença entre as médias dos grupos. Quanto menor o seu valor, maior a diferença entre as médias.

Fonte: Corrar, Paulo e Dias Filho (2007).

A Tabela 4 apresenta os valores referentes à Correlação Canônica, que demonstra o grau de associação entre os grupos e os escores discriminantes, e seu quadrado mensura o poder explicativo da função discriminante (HAIR et al. 2009). Tabela 4 – Correlação canônica

Função Correlação Canônica Poder Explicativo 2008 0,728 0,5300 2009 0,782 0,6115 2010 0,714 0,5097 2011 0,767 0,5883 2012 0,820 0,6724

Fonte: Dados da pesquisa, 2013

Com base na Tabela 4, observa-se que todas as funções discriminantes (2008 a 2012) apresentaram poderes explicativos muito próximos e com graus de confiabilidade bem aceitáveis, uma vez que os valores das correlações canônicas são bem próximos de 1, nos cinco anos analisados. O poder explicativo da função discriminante, como dito no parágrafo anterior, é encontrado elevando-se o resultado da correlação ao quadrado.

Percebe-se ainda, que a função discriminante no ano de 2012 apresentou maior

correlação canônica (0,820), ou seja, explica aproximadamente (0,820)2 = 67,24% da

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classificação do desempenho-econômico das empresas. Nesse caso, pode-se afirmar que é possível explicar com esse modelo cerca de 67% de sua classificação. Já a função discriminante para o ano de 2010 tem o menor poder explicativo (menor correlação canônica = 0,714); explicando aproximadamente (0,714)2 = 50,97% da classificação do desempenho das empresas. Mesmo neste caso, pode-se observar que possui um poder explicativo considerável.

Outro teste de validação do modelo é o Lambda de Wilks que, segundo Maroco (2003, p. 344) serve para testar a significância das funções discriminantes, e é aplicado com o fim de obter diferentes médias dos grupos (obter p < 0,05), e assim, melhor discriminar os grupos. A estatística Lambda de Wilks é uma medida inversa do grau de diferenciação entre os grupos: quanto menor o seu valor, maior esse grau de diferenciação. Além disso, esse teste avalia se o modelo consegue separar e classificar bem os grupos (CORRAR; PAULO; DIAS FILHO, 2007, p. 256). A Tabela 5 apresenta os valores do Lambda de Wilks para cada ano. Tabela 5 – Lambda Wilks

Teste da função(s)

Wilks' Lambda Qui-quadrado Sig.

2008 0,471 61,420 0,000 2009 0,389 74,627 0,000 2010 0,490 56,991 0,000 2011 0,412 70,854 0,000 2012 0,328 88,526 0,000

Fonte: Dados da pesquisa, 2013

Conforme apresenta a Tabela 5, percebe-se que os modelos, em todos os anos, são altamente significativos, pois os p-values são muito menores que o nível de significância de 0,05, e ainda os valores de Lambda de Wilks, que variam de 0 a 1, estão mais próximos de zero do que de 1, apresentando o menor valor para o ano de 2012 (0,328) e o maior valor para o ano de 2010 (0,490). Com base nos testes realizados e apresentados na Tabela 6, constata-se que o modelo de Análise Discriminante foi válido em todos os anos, e pôde-se aplicá-lo para identificar quais indicadores representam o desempenho econômico-financeiro das empresas nos 5 anos analisados. Deste modo, as funções discriminantes lineares, foram, respectivamente, as seguintes:

F_2008 = 0,120 RA – 0,335 F_2009 = – 0,678 LC+ 0,048 RA + 0,959 RV + 3,754 ICG + 0,945 IFC – 0,150 IRCCP + 0,225 F_2010 = 0,121 RA + 1,859 RV – 0,581 IEF – 1,453 IRCCP + 0,101 F_2011 = 0,119 RA – 0,407 IEF + 0,503 IRCV + 0,210 IQR – 0,065 F_2012 = 0,187 RA + 1,707 RCP – 1,221 IRCCP + 0,735 IRCV + 0,132 IQR –0,749

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Observa-se que tais funções apresentam apenas alguns dos índices propostos no Quadro 2, calculados para medir o desempenho econômico-financeiro das empresas. Estes índices são os que mais influenciam na análise de desempenho das empresas, conforme funções obtidas.

Assim, com o objetivo de estudar a influência que as variáveis possuem na avaliação

do desempenho econômico-financeiro das empresas, apresenta-se a seguir uma análise individual para cada uma das cinco funções discriminantes estabelecidas.

4.2.2. Função discriminante do ano de 2008

F_2008 = 0,120 RA – 0,335

Percebe-se que, neste ano, a função é composta por apenas um índice de competência, a saber, Rentabilidade do Ativo (RA), calculado a partir do BP & DR, além da constante (–0,335). Segundo Morante (2009), a rentabilidade do ativo total indica a lucratividade em relação às aplicações que destinou o ativo da empresa e quanto maior esse indicador melhor para a empresa. Neste caso, o índice RA expressou de forma positiva o desempenho das empresas, já que seu coeficiente apresentou valor positivo (+ 0,120).

Diante disso, a função discriminante encontrada no ano de 2008 revelou que apenas a

variável RA é suficiente para representar o desempenho econômico-financeiro das empresas. Assim, com base na análise discriminante do ano de 2008, os índices do BP & DR são melhores para avaliar o desempenho das empresas do que os índices calculados com base na DFC.

4.2.3. Função discriminante do ano de 2009

F_2009 = – 0,678 LC+ 0,048 RA + 0,959 RV + 3,754 ICG + 0,945 IFC – 0,150 IRCCP + 0,225

Diferente do ano de 2008, observa-se que para 2009 a função discriminante foi composta por mais variáveis, neste caso, seis, sendo 4 índices (LC, RA, RV, ICG) de competência e 2 (IFC e IRCCP) de caixa. Neste ano, percebe-se que os índices de competência prevaleceram sobre os de caixa tanto em quantidade quanto pelos seus coeficientes.

Nota-se que dois índices de competência (LC, ICG) que compõem a função discriminante fazem parte do grupo de liquidez, e os outros dois (RA e o RV) pertencem ao grupo de rentabilidade. Os índices de liquidez, em sua essência, medem a capacidade que a empresa possui de pagar suas obrigações, ou seja, medem o grau de solvência da empresa. Já os índices de rentabilidade medem a capacidade econômica da empresa, em outras palavras, a lucratividade do negócio (VIEIRA; SANTOS, 2005). Semelhante aos índices de competência, os índices de caixa (IFC e IRCCP) presentes na função discriminante pertencem aos grupos de liquidez e rentabilidade, respectivamente. Sendo o Índice de Fluxo de Caixa (IFC) pertencente ao grupo de liquidez e o índice de Retorno do Caixa sobre Capital Próprio (IRCCP), ao grupo de rentabilidade.

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Dos quatro índices (RA, RV, ICG e IFC), o índice de competência ICG é o que mais influencia positivamente o desempenho das empresas, tendo em vista que este possui o maior peso discriminante. Por outro lado, a função discriminante também revelou que dois índices, LC e IRCCP afetam o desempenho econômico-financeiro das empresas de forma negativa. No entanto, observando-se os pesos da função discriminante para o ano de 2009, pode-se afirmar, a priori, que se uma empresa apresenta alto valor para o ICG e demais valores aproximados, terá um bom desempenho, uma vez que os valores de RA, RV e IFC, que são positivos, equilibram os valores negativos dos índices LC e IRCCP.

4.2.4. Função discriminante do ano de 2010

F_2010 = 0,121 RA + 1,859 RV – 0,581 IEF – 1,453 IRCCP + 0,101

Percebe-se que apenas um índice de caixa (IRCCP) faz parte dos que discriminam o desempenho econômico-financeiro das empresas. Esse índice é importante porque mede a lucratividade da empresa em relação aos capitais próprios concernentes aos investimentos realizados (MORANTE, 2009). No entanto, conforme demonstra a função, o indicador IRCCP apresentou impacto significativo, porém, negativo (– 1,453) sobre o desempenho das empresas, apresentando um comportamento idêntico ao observado no ano de 2009. Também foram selecionados três índices de competência: RA, RV e IEF. Neste ano de 2010, a função discriminante foi composta mais por indicadores de competência do que por indicadores de caixa.

Nota-se ainda que apenas um índice de competência, o Índice de Estabilidade

Financeira (IEF), pertencente ao grupo de endividamento, esteve presente nesta função de 2010. Segundo Matarazzo (2010), os índices pertencentes a esse grupo indicam, em termos gerais, a proporção de recursos próprios e de terceiros mantidos pela empresa, ou seja, sua dependência financeira, bem como a natureza de suas exigibilidades. Como visto na função, o coeficiente negativo desse indicador é coerente com sua característica para avaliação da empresa, já que, para fins de análise econômico-financeira, é interessante que o valor para este indicador seja baixo. Sendo assim, esse indicador deve ser bem gerenciado pela empresa.

4.2.5. Função discriminante do ano de 2011

F_2011 = 0,119 RA – 0,407 IEF + 0,503 IRCV + 0,210 IQR – 0,065

Observa-se que esta função foi composta pelos dois grupos de índices (caixa e competência), sendo dois índices de cada grupo, RA e IEF, calculados a partir do BP & DR e o IRCV e IQR, calculados com base na DFC.

Analisando apenas as variáveis de competência (RA e IEF), percebe-se que a

Rentabilidade de Ativos que discrimina o desempenho das empresas neste ano apresentou coeficiente positivo. No entanto, o IEF, que faz parte do grupo endividamento, apresentou coeficiente negativo. Os sinais positivos dos coeficientes dos indicadores de rentabilidade, bem como o sinal negativo do coeficiente do indicador de endividamento são coerentes com a característica do indicador correspondente; isto é um aspecto positivo para a função, indicando aceitabilidade da Análise Discriminante, pois oferece uma boa função para avaliar o desempenho econômico-financeiro das empresas.

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Em relação aos índices de caixa, o IRCV e o IQR, pertencentes ao grupo de rentabilidade, apresentaram coeficientes positivos. Destaca-se que, conforme visto na função de 2011, tanto os índices de caixa (IRCV e IQR) como o de competência (RA) discriminaram a rentabilidade da empresa, demonstrando que ambos os grupos são eficientes para avaliar o desempenho econômico da empresa. Dessa forma, constatou-se neste ano que tanto os índices de competência como os de caixa discriminam, de forma semelhante, o desempenho econômico-financeiro das empresas.

4.2.6. Função discriminante do ano de 2012

F_2012 = 0,187 RA + 1,707 RCP – 1,221 IRCCP + 0,735 IRCV + 0,132 IQR – 0,749

Observa-se que a composição da função discriminante neste ano diferencia-se dos demais, apresentando, em sua maioria, índices de caixa. São três índices de caixa (IRCCP, IRCV e IQR) contra dois índices de competência (RA e RCP). Destes cinco índices, apenas um, o Índice de Retorno do Caixa sobre Capital Próprio (IRCCP), pertencente ao regime de caixa, apresenta impacto negativo para o desempenho das empresas.

Nota-se que assim como nos anos de 2009 e 2010, o Índice de Retorno do Caixa sobre Capital Próprio (IRCCP), calculado com base na DFC, mais uma vez apresentou coeficiente negativo. Por outro lado, os outros quatro índices (IRCV, RCP, IQR, RA) presentes na função apresentaram coeficientes positivos, sendo que o RCP apresentou maior coeficiente e, consequentemente, destacou-se entre os demais.

Outro ponto de destaque é que o índice RCP não esteve presente em nenhuma das

funções dos anos anteriores, apenas neste ano de 2012. O índice IRCCP discriminou o desempenho das empresas nos anos de 2009, 2010 e 2012. Tanto o IRCV como o IQR compuseram as funções nos anos de 2011 e 2012. Já o RA foi um indicador que compôs a função discriminante em todos os anos analisados, ou seja, de 2008 a 2012.

Desta forma, com o objetivo de compreender melhor quais variáveis aparecem com

maior frequência, bem como suas importâncias na classificação dos grupos e possíveis relações que possam existir entre elas, as cinco funções discriminantes, desde 2008 até 2012 estabelecidas anteriormente são apresentadas na Tabela 3. Destaca-se que os seis primeiros índices (de cima para baixo) da Tabela 6 pertencem ao regime de competência, os outros quatro são do regime de caixa.

Tabela 6 – Coeficientes das funções discriminantes canônicas

Função Discriminante

Índices Pesos discriminantes 2008 2009 2010 2011 2012

Rentabilidade do Ativo – (RA) 0,120 0,048 0,121 0,119 0,187 Liquidez Corrente – (LC) – 0,678 Rentabilidade das Vendas – (RV) 0,959 1,859 Índice de Capital de Giro – (ICG) 3,754 Índice de Estabilidade Financeira – (IEF) – 0,581 – 0,407 Rentabilidade do Capital Próprio – (RCP) 1,707 Índice do Fluxo de Caixa – (IFC) 0,945 Índ. Retorno do CX sobre CP – (IRCCP) – 0,150 – 1,453 – 1,221 Ind_Retorno de CX sobre Vendas (IRCV) 0,503 0,735 Índ. de Qualidade dos Resultados – (IQR) 0,210 0,132 (Constant) – 0,335 0,225 0,101 – 0,065 – 0,749 Fonte: Dados da pesquisa, 2013

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De modo geral, analisando apenas os índices que expressaram o desempenho econômico-

financeiro das empresas, presentes nas funções discriminantes durante os cincos anos analisados (2008 a 2012), destacaram-se alguns pontos importantes:

1) A variável de competência Rentabilidade do Ativo (RA) é o único índice que aparece em todos os anos; isto mostra sua importância na análise do desempenho das empresas. Além disso, constatou-se também que os coeficientes do RA foram positivos em todos os anos. Neste sentido, quanto maiores os valores do índice RA, melhor será o desempenho das empresas.

2) O segundo índice (de caixa) mais frequente nas funções discriminantes foi o Índice de Retorno do Caixa sobre Capital Próprio (IRCCP), que esteve presente nos anos de 2009, 2010 e 2012, apresentando coeficientes negativos e relativamente altos nos três anos. Percebe-se que este índice é importante na análise do desempenho das empresas e vem afetando-o de forma negativa.

3) Com base somente nas funções, não se pode dizer que apenas um grupo de índices pode ser considerado e o outro não. Na verdade, para o ano de 2008, apenas os índices de competência foram necessários para explicar o desempenho das empresas. Porém, de ano a ano, observa-se a importância dos índices de caixa, de forma que no ano de 2012 estes índices prevalecem aos de competência, em número.

4) Finalmente, consoante às funções encontradas, pode-se afirmar que das 24 varáveis calculadas, apenas 10 se revelaram como significativas para avaliar o desempenho econômico-financeiro das empresas.

Outra etapa importante da Análise Discriminante é a determinação do ponto de corte (Zc) ou escore crítico, usado para que a função discrimine em qual grupo: com “resultado satisfatório” ou “resultado insatisfatório” pertence uma determinada empresa. Assim, para cada uma das funções, calculou-se o ponto de corte ou Z crítico (��) segundo a fórmula:

�� = ���� + ������ + ��

Onde:

• ��- é o centroide do grupo 1: RLE < 0; ��- é o centroide do grupo 2: RLE > 0;

• ��- é o número de observações do grupo 1 da amostra de análise;

• ��- é o número de observações do grupo 2 da amostra de análise.

Com base na função Zc, classifica-se uma empresa no grupo “resultado satisfatório” se o valor da função discriminante for maior que ��, e no grupo “resultado insatisfatório” se o valor da função for menor do que ��. A partir disso, calculou-se no SPSS os centroides Z1 e Z2, os valores de N1 e N2. Dessa forma, foi possível calcular os valores de �� para cada função,

conforme apresentados na Tabela 7. Assim, calculando, por exemplo, para o ano de 2008, o valor referente ao ponto de corte, tem-se:

�� = ���� + ������ + ��

= 21 × 0,605 + 63 × (−1,815)21 + 63 = −1,21

Procedendo de forma inteiramente análoga aos demais anos (2009 a 2012), obteve-se os valores de �� (pontos de corte), os quais são apresentados na Tabela 7.

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Tabela 7 – Pontos de Corte

Ano 2008 2009 2010 2011 2012

�� –1,21 –2,36 –1,92 –1,36 –1,34

Fonte: Dados da pesquisa, 2013

Assim, em 2008, se o valor da função for menor do que ��= –1,21, a empresa será classificada no grupo “resultado insatisfatório”; porém, se o valor da função for maior do que �� = –1,21, a empresa será classificada no grupo “resultado satisfatório”. Procede-se de forma semelhante para os outros anos.

Com o auxílio do SPSS, obtém-se também a porcentagem de todas as empresas

corretamente classificadas quando observada a classificação original. Isto é feito da seguinte forma: aplica-se a função discriminante às empresas da amostra e utiliza-se o critério do Z crítico e, em seguida, compara-se o resultado obtido com a pré-classificação inicialmente feita antes de aplicar a Análise Discriminante, a saber:

• As empresas que possuíam um RLE positivo foram classificadas no grupo de empresas com "resultado satisfatório";

• As empresas que apresentaram um RLE negativo foram classificadas no grupo de empresas com "resultado insatisfatório".

Então, considera-se a taxa de acerto que a função obteve em relação à classificação original. Neste sentido, a Tabela 8 apresenta o percentual de acertos em relação à classificação correta referente aos cinco anos analisados. Tabela 8 – Nível de acertos de classificação das empresas

Classificação Total de Empresas Empresas com “Resultado insatisfatório”

Empresas com “Resultado satisfatório”

2008 Empresas da Amostra 86,9% 47,6% 100% Outras Empresas 92,9% 0% 100%

2009 Empresas da Amostra 96,4% 76,9% 100% Outras Empresas 96,4% 50% 100%

2010 Empresas da Amostra 92,9% 61,5% 98,6% Outras Empresas 89,3% 0% 96,2%

2011 Empresas da Amostra 90,5% 66,7% 98,4% Outras Empresas 89,3% 50% 92,3%

2012 Empresas da Amostra 96,4% 87,5% 100% Outras Empresas 100% 100% 100%

Fonte: Dados da pesquisa, 2013

A Tabela 8 mostra que a função que modela o desempenho das empresas para o ano de 2012 apresentou a maior eficácia classificatória (quando comparada a dos outros anos) para todos os grupos de empresas, quer sejam da amostra ou não. Em outras palavras, a função ofereceu melhor nível de classificação para “todas” as empresas juntas; para as empresas do grupo “resultado satisfatório”; e para as empresas do grupo “resultado insatisfatório”. Inclusive, o erro na classificação de empresas alheias à amostra foi zero.

Agora, considerando apenas as empresas da amostra, o modelo para o ano de 2008

foi o que apresentou menor percentual de acerto em relação aos cinco anos, tanto para todas as empresas juntas, com 86,9%, como para as empresas do grupo de “resultado insatisfatório”,

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com 47,6%. Por outro lado, para as empresas pertencentes ao grupo de “resultado satisfatório”, o modelo com menor nível de acerto classificatório é aquele relativo ao ano de 2011 com 98,4% de acerto.

Considerando a classificação para a análise das outras empresas (que não estão na

amostra) apresentada na Tabela 8, o modelo de 2011 também é o que apresenta o mais baixo nível de classificação, tanto para todas as empresas (89,3%) como para as empresas do grupo de “resultado satisfatório” (92,3%). Mesmo assim, estes níveis “baixos” podem ser considerados bons, pois apresentam um nível de acerto acima de 80%. Por outro lado, para as empresas pertencentes ao grupo de “resultado insatisfatório”, e que não estão na amostra, os modelos que não apresentaram percentuais de acertos satisfatórios foram os dos anos de 2008 e 2010, ambos com 0% de acerto. Assim, considerando apenas empresas do grupo de “resultado insatisfatório", os modelos dos anos 2008 e 2010 só devem ser utilizados para empresas da amostra de análise.

Entretanto, nos cinco anos (2008 a 2012), é notória a ótima eficácia classificatória para

“todas” as empresas e para as empresas do grupo de “resultado satisfatório”, estando as empresas na amostra ou não. Para as empresas da amostra pertencentes ao grupo de “resultado satisfatório” a eficácia classificatória é bem aceitável; porém, para as empresas que não estão na amostra, o erro na classificação é considerável para os anos 2008 e 2010, mas para os outros anos, o poder discriminante é bem satisfatório, sendo ótimo no ano de 2012, com 100% de acerto.

Convém observar que o modelo discriminante para o ano de 2012, sendo o de maior poder classificatório para qualquer empresa, deve ser utilizado para prever, a partir deste ano (NÓBREGA, 2010), a situação financeira das empresas, estando elas na amostra ou não.

Dessa forma, apesar de que em alguns anos (2008 a 2010) os índices de competência

apareceram em maior número que os índices de caixa, não se pode desprezar nenhum destes grupos de índices; ou melhor, nenhum destes grupos é mais importante que o outro, haja vista a função apresentar índices tanto de competência quanto de caixa.

Também foi executado o teste de McNemar para verificar a igualdade ou diferença

entre a classificação real (original, no caso das empresas da amostra, ou seja, a classificação inicialmente feita com base no RLE) e a classificação prevista (obtida pela função discriminante). Isto foi feito para analisar a precisão das funções discriminantes em predizer o desempenho das empresas. Como este teste verifica a igualdade nos resultados, o valor de significância deve ser superior a 0,05 para que haja igualdade (precisão) entre a classificação real e a classificação prevista pela função discriminante.

O teste de McNemar revelou que só há diferença estatisticamente significativa entre a

classificação real e a gerada pelo modelo discriminante no ano de 2008, pois apresentou nível de significância igual a 0,000 e, portanto, menor do que 0,05; nos demais anos, essa diferença não existe significativamente, pois todos os valores de significância são superiores a 0,05.

Assim, as funções obtidas para os anos de 2009 a 2012 são, realmente, válidas para

discriminar o desempenho das empresas e classificá-las em “desempenho satisfatório” ou “desempenho insatisfatório”, com um elevado poder de acerto, principalmente a função discriminante de 2012, a qual apresenta a maior significância dentre todas, isto é, a menor diferença entre a classificação real e a discriminada pela função. Dessa forma, essas funções podem auxiliar os gestores quanto ao desempenho econômico-financeiro de suas empresas.

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A partir destes resultados, constata-se que a função encontrada em 2012 foi a melhor para avaliar o desempenho econômico-financeiro das empresas e pode ser utilizada para avaliar o desempenho nos demais anos (NÓBREGA, 2010). Além disso, ressalta-se que tal função foi composta tanto por índices de competência como de caixa. Assim, em meio a tantas aproximações não se pode dizer que os índices de competência são os únicos responsáveis pelo sucesso ou fracasso de uma empresa; pelo contrário, os de caixa também discriminam, de forma satisfatória, o desempenho econômico-financeiro das empresas. E conforme os resultados obtidos, é aconselhável reunir os índices de competência com os índices de caixa para se obter uma função discriminante, pelo método Stepwise, que contenha uma seleção de índices dos dois grupos que melhor explique a situação financeira das empresas. Este fato já fora comprovado pelos testes da Correlação Canônica e do Lambda de Wilks.

Em comparação a outros estudos semelhantes já realizados em relação ao poder

classificatório, destaca-se que o resultado aqui obtido encontra-se em conformidade com os achados na literatura tanto nacional quanto internacional. No estudo de Vieira et al. (2013b) e Borges, Nunes e Alves (2012), foi evidenciado que tanto o modelo baseado nos índices de competência, como o modelo baseado nos índices dos fluxos de caixa, são capazes de atingir uma eficácia classificatória satisfatória. Por outro lado, Barac (2010) apontou que o modelo de previsão e classificação do desempenho das empresas baseado nos índices de fluxo de caixa apresenta melhor poder discriminatório do que o modelo com base em índices de competência.

No entanto, enquanto as funções obtidas por Borges, Nunes e Alves (2012), assim

como por Barac (2010) classificaram melhor as empresas no grupo com “resultado insatisfatório”, as funções obtidas no presente trabalho classificaram melhor as empresas com “resultado satisfatório”. Além disso, ressalta-se que os resultados desse trabalho foram melhores do que aqueles porque os testes realizados apresentaram melhores valores e obtiveram um resultado de classificação muito superior. Entretanto, é importante ressaltar que essas evidências empíricas utilizaram, para realização dos seus resultados, a Análise Discriminante juntamente com a análise fatorial, diferentemente deste estudo que utilizou apenas a Análise Discriminante.

Assim, semelhante aos estudos anteriores, os resultados desta pesquisa confirmaram que

as informações fornecidas tanto pelos índices de caixa como pelos de competência são úteis para avaliar o desempenho econômico de uma empresa e, quando utilizados de forma conjunta, os resultados proporcionam uma melhor previsão quanto à situação futura de uma empresa.

5. CONCLUSÃO

O objetivo desta pesquisa foi verificar através da Análise Discriminante quais os índices de caixa e/ou competência expressam o desempenho econômico-financeiro das empresas brasileiras listadas na Bovespa. Para atingir o objetivo, realizada a Análise Discriminante através do método Stepwise, com todos os índices em conjunto (caixa e competência), para encontrar a função que expressasse o desempenho econômico-financeiro das empresas estudadas e, a partir dela, evidenciar os índices mais significativos na predição desse desempenho.

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Constatou-se através da Análise Discriminante, que tanto os índices de caixa como os índices de competência conseguem predizer com alta eficácia classificatória a situação financeira das empresas. No entanto, dos 24 índices analisados, os que mais expressaram o desempenho econômico-financeiro das empresas presentes nas funções discriminantes durante os cincos anos analisados (2008 a 2012), foram apenas 10: RA, LC, RV, ICG, IEF, RCP, IFC, IRCCP, IRCV e IQR.

Observou-se também que as funções discriminantes encontradas apresentaram

percentuais de acertos válidos em todos os anos. No entanto, dos cinco anos analisados, a função mais precisa, conforme os testes de Correlação Canônica e Lambda de Wilks, nível de classificação das empresas e pelo teste de McNemar, foi a concernente ao ano de 2012, sendo, portanto, a mais indicada para avaliar o desempenho das empresas a partir deste ano. Esta função foi composta tanto por índices de caixa quanto de competência.

Desta forma, como todas as funções discriminantes que passaram no teste de McNemar

apresentaram índices de caixa e de competência, não se pode afirmar qual grupo de índices (caixa ou competência) foi melhor para avaliar o desempenho das empresas. Isto não significa que se poderia tomar qualquer grupo de índices isoladamente. Ao contrário, o estudo revelou que os dois grupos deveriam ser considerados simultaneamente. Neste sentido, para ter resultados mais seguros em relação à avaliação do desempenho econômico-financeiro das empresas, é importante considerar os índices de caixa e competência em conjunto.

Como limitações destaca-se a quantidade limitada da amostra e poucos estudos

semelhantes para traçar comparações, o que impossibilitou a realização de maiores análises comparativas dos resultados com os achados deste estudo. Sugere-se, para pesquisas futuras, aumentar o número da amostra com objetivo de serem mais representativas da população, além de também abranger outros setores que esta pesquisa se limitou, a saber, finanças, fundos e seguros. Sugere-se, ainda, acrescentar novos índices financeiros para procurar, também, através da Análise Discriminante, a confirmação dos resultados aqui alcançados.

6. REFERÊNCIAS

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PERCEPÇÃO DOS ANALISTAS DO MERCADO DE CAPITAIS SOBRE QUAIS OS MELHORES DEMONSTRATIVOS E GRUPO DE ÍNDICES (CAIXA E/OU COMPETÊNCIA) PARA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO ECONÔMICO-

FINANCEIRO DAS EMPRESAS

AUTORES: Edna Maria de Melo Vieira, Aldemar de Araújo Santos, Umbelina Cravo Teixeira Lagioia, Gilberto Fernandes Vieira e Josete Florêncio dos Santos.

RESUMO

O objetivo desta pesquisa foi verificar a percepção dos analistas do mercado de capitais sobre quais os melhores demonstrativos e grupo de índices (caixa e/ou competência) para avaliação de desempenho econômico-financeiro das empresas. A metodologia adotada baseou-se numa abordagem descritiva e exploratória, que para tal foi utilizado um questionário semiestruturado com base em estudos já realizados por outros autores que, de alguma forma, também abordaram a importância das demonstrações financeiras e da análise dos índices econômico-financeiros. O questionário só podia ser acessado através de uma plataforma de coleta de dados na internet, o SurveyMonkey. Destaca-se que O link de acesso ao questionário foi repassado para os analistas pela própria Apimec-Ne. O tratamento dos dados foi realizado utilizando-se o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20.0. Os dados foram analisados através das análises descritiva e inferencial e utilizou-se os testes de Mann-Whitney e Exato de Fisher. Com base nos resultados encontrados identificou-se que boa parte dos analistas, além de considerar importantes os índices de caixa e competência para identificar a situação econômico-financeira de uma empresa, utiliza-os em suas atividades. Constatou-se ainda que os 11 indicadores mais utilizados pelos analistas foram: RA, EG, LPA, RV, ICG, LC, RCP, DY, ACAT, ICJ e IFC. Destes, apenas o último, o IFC, é do regime de caixa; os demais são índices de competência. Estes resultados permitiram concluir que os índices do regime de competência são mais empregados pelos analistas do que os do regime de caixa, demonstrando, portanto, a preferência destes profissionais por tais indicadores.

1. INTRODUÇÃO

Conforme apresenta Barac (2010), nos últimos anos alguns profissionais como contadores, economistas e administradores, vêm tentando gerar modelos ideais que poderiam ajudar os gestores no processo de tomada de decisão através da avaliação do desempenho econômico-financeiro das empresas. Os tipos de dados utilizados para essa avaliação, normalmente, são diferentes; alguns são qualitativos e outros são quantitativos e umas das principais fontes de dados são as demonstrações financeiras que, ainda segundo o autor, possuem algumas características essenciais, tais como: são formalizadas, comparáveis, disponíveis ao público e gratuitas.

A avaliação de desempenho econômico-financeiro geralmente é realizada através dos indicadores de competência, referenciado também na literatura como indicadores tradicionais, que são aqueles índices provenientes das relações entre contas e grupos de contas das demonstrações contábeis: Balanço Patrimonial e Demonstração dos Resultados. Outra forma de avaliar o desempenho econômico é por meio dos indicadores de fluxos de caixa, que são aqueles provenientes das relações entre contas e grupos de contas do Balanço Patrimonial, da

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Demonstração dos Resultados e da Demonstração dos Fluxos de Caixa (CLAUDINO FILHO, 2009).

Como a Demonstração dos Fluxos de Caixa passou a fazer parte integrante dos demonstrativos elaborados e divulgados pelas empresas, em vários países tem aumentado consideravelmente os estudos que evidenciam a importância de se avaliar o desempenho econômico financeiro também por esse demonstrativo. Conforme Azevedo (2012) a análise econômico-financeira da DFC tem-se revelado, ao longo de várias décadas, uma ferramenta de grande utilidade para determinar se a entidade está ou não numa situação financeira favorável.

Percebe-se que, apesar de os conjuntos de índices de caixa e competência terem suas próprias características e serem calculados a partir de relatórios diferentes, ambos vem sendo ao longo dos anos utilizados por acadêmicos e diferentes categorias de profissionais para analisar o desempenho econômico-financeiro das empresas. No entanto, uma das dificuldades evidenciadas no momento é saber quais são os indicadores mais importantes e mais utilizados no mercado pelos profissionais da área.

Diante disso, a presente pesquisa tem por objetivo verificar a percepção dos analistas do mercado de capitais sobre quais os melhores demonstrativos e grupo de índices (caixa e/ou competência) para avaliação de desempenho econômico-financeiro das empresas. O estudo justifica-se pelo fato de ser importante saber quais indicadores (caixa e/ou competência) são mais significativos para avaliação do desempenho econômico-financeiro conforme a percepção dos analistas e assim, também contribuir com informações úteis para a tomada de decisões de acadêmicos, analistas, investidores e gestores.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

a. As demonstrações financeiras como meio de divulgação das informações econômico-financeiras

No ambiente empresarial muitas decisões que podem determinar o sucesso ou o fracasso de uma empresa são tomadas constantemente. No entanto, conforme expõem Silva e Souza (2011), para que tais decisões sejam tomadas de forma mais acertada é imprescindível que os tomadores de decisão tenham à disposição informações confiáveis, úteis e tempestivas, dando mais racionalidade ao processo. Diante disso, "a contabilidade pode, através das demonstrações financeiras e da aplicação das técnicas de análise, propiciar tais informações que auxiliam na busca pelo aumento da eficiência e competitividade das empresas" (SILVA; SOUZA, 2011, p.1).

Segundo Quintana (2009, p.47) as demonstrações financeiras, também conhecidas como demonstrações contábeis, ou até mesmo relatórios financeiros, evidenciam com clareza a situação patrimonial da empresa e as variações ocorridas em determinado período. Iudícibus (2010, p.26) define demonstração ou relatório contábil como "a exposição resumida e ordenada dos principais fatos registrados pela contabilidade, em determinado período". Segundo Azevedo (2012) as demonstrações financeiras são os melhores instrumentos que apresentam resumidamente a situação ou estado não só de uma empresa, mas também de um governo.

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De acordo com Zanolla e Lima (2011), nos últimos anos, a capacidade informativa das demonstrações contábeis têm sido tema de discussões acadêmicas e profissionais, principalmente devido ao processo de convergências contábeis, internacionalização da economia e até mesmo às inúmeras operações de reorganização societária, como fusões, incorporações e cisões. Dentre desse contexto, as questões sobre medidas de avaliação do desempenho econômico e financeiro foram as que mais ganharam destaque e importância no ambiente empresarial nacional e internacional.

No mesmo entendimento, Jooste (2006, p.569) destaca que “com a introdução da demonstração dos fluxos de caixa como parte integrante das demonstrações financeiras, novas informações tornaram-se disponíveis para serem incluídas na avaliação financeira”. Assim, informações como liquidez, solvência e rentabilidade, que antes eram extraídas por meio da análise de outros demonstrativos, entre eles o BP e a DR, passaram a ser também extraídas através da análise da DFC.

Portanto, conforme evidenciado, as demonstrações contábeis apresentam informações econômicas, financeiras e patrimoniais das entidades, e seu principal objetivo é atender às necessidades dos diversos usuários da informação contábil, sejam eles externos ou internos. Além disso, é a partir das informações contidas nesses demonstrativos que a análise econômico-financeira é realizada. No entanto, neste trabalho, foram analisadas efetivamente apenas as demonstrações: Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado; e a Demonstração dos Fluxos de Caixa, tendo em vista, ser o objeto de estudo desta pesquisa.

b. Importância dos Índices Econômicos e Financeiros

Dentre as diversas formas de medir o desempenho empresarial, destacam-se os índices econômico-financeiros que, segundo Fontes e Macedo (2003), possibilitam a identificação dos pontos fortes e fracos dos diferentes aspectos organizacionais. De acordo com Fortes (2004), os índices financeiros são relações expressas em valores, entre contas ou grupos de contas das demonstrações financeiras que têm como principal finalidade fornecer informações que não se evidenciam em um simples olhar dos números de tais demonstrativos, mas sim através da análise econômico-financeira que podem expressar a situação real da empresa.

A técnica de análise das demonstrações contábeis por meio de índices consiste em

relacionar contas e grupos de contas para extrair conclusões sobre tendências e situações econômico‐financeiras das empresas ao longo do tempo (HOJI, 2004). A relevância de tal análise está atrelada ao fato de ser uma técnica capaz de sintetizar uma enorme quantidade de informação, permitindo a comparação com o desempenho econômico-financeiro de outras empresas. Neste sentido, Scarpel e Milioni (2001) apresentam que a análise financeira feita por meio de índices calculados a partir das demonstrações financeiras surgiu da necessidade prática de avaliar o quão saudável financeiramente uma empresa está, auxiliando investidores, credores e administradores na predição de situações favoráveis ou dificuldades financeiras. Contudo, não se deve focalizar um índice isoladamente, mas olhar para o todo, uma vez que as análises de liquidez, endividamento, atividade e lucratividade se completam, fazendo-se necessário selecionar os índices financeiros capazes de diferenciar empresas solventes e insolventes, bem como atribuir pesos relativos à sua importância.

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Atualmente existe um número relativamente grande de índices que, através da análise econômico-financeira, evidencia a situação da empresa. Alguns utiliza como fonte dos demonstrativos BP e DR como também pela DFC. Geralmente os índices são agrupados em cinco em categorias principais, a saber: índices de liquidez; índices de atividades; índices de endividamento; índices de rentabilidade; índices de mercado de ações. Para melhor detalhamento dos principais índices utilizados na análise econômico-financeira, estão elencados na Tabela 1, os índices considerados mais relevantes pela literatura estudada:

Tabela 1 – Indicadores Econômicos e Financeiros

Grupo de índices

Principais índices Função Autores

Índices de Liquidez

• Liquidez imediata • Liquidez corrente • Liquidez seca • Liquidez geral

Os índices desse grupo são utilizados para avaliar a capacidade de pagamento da empresa. A regra geral para interpretação é que quanto maior for o valor desses índices, maior será a capacidade da empresa pagar suas dívidas, ou seja, melhor sua situação financeira.

Zanolla e Lima (2011); Barac (2010); Oliveira et al.(2010); Iudícibus, (2010); Gitman (2010); Quintana (2009);

Índices de Endividamento

• Participação de capitais de terceiros sobre os recursos totais • Capitais de terceiros • Capitais próprios • Participações das dívidas de curto prazo sobre o endividamento total

Também chamados de índice de estrutura de capitais, esse grupo tem por objetivo avaliar o grau de dependência da empresa em relação aos capitais de terceiros, através da medição da relação entre capitais próprios, capitais de terceiros e capitais aplicados. Indica o montante de recursos de capitais de terceiros que está sendo usado, na tentativa de gerar lucro. A regra geral para sua interpretação é que quanto menor for melhor.

Borges, Nunes, Alves, (2012); Zanolla e Lima (2011); Oliveira et al.(2010); Iudícibus, (2010); Gitman 2010); Quintana (2009); Largay e Stickney (1980);

Índices de atividade

• Rotação de estoques • Prazo médio de

recebimento de contas a receber

• Prazo médio de pagamento de contas a pagar

Representam relações entre grupos de contas que de alguma forma participam do cálculo dos resultados da empresa. Para fins de análise, quanto maior for a velocidade de recebimento de vendas e de renovação de estoques, melhor. A regra geral para sua interpretação é que quanto menor melhor.

Barbosa (2010), Oliveira et al.(2010), Iudícibus (2010), Gitman (2010), Quintana (2009), Ebaid (2011).

Índices de rentabilidade

• Margem operacional • Margem líquida • Giro do ativo • Retorno sobre o

investimento • Retorno sobre o

patrimônio líquido

Medem, em regra geral, os retornos de capitais através de lucros ou receitas. Esses indicadores informam quanto o lucro da empresa se relaciona com outro parâmetro de comparabilidade. A regra geral para sua interpretação é que quanto maior for melhor.

Borges, Nunes, Alves, (2012); Barac (2010);

Oliveira et al.(2010); Iudícibus (2010); Gitman 2010);

Quintana (2009);

Ebaid (2011).

Índices de mercado

• Valor de mercado • Lucro por ação • Dividendo por Ação • Dividendos Yield • Coeficiente Beta

Referem-se aos preços e volumes das ações negociadas no mercado, com o objetivo de quantificarem o valor das ações das empresas. Eles demonstram a liquidez do mercado. Utilizam-se desses índices para conhecer o comportamento do mercado como um todo ou segmentos específicos.

Barac (2010) Silva, Ferreira, e Calegário (2009) Costa Jr e Neves (2000)

Fonte: Elaboração Própria

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Destaca-se ainda que a análise das demonstrações financeiras geralmente é dividida em duas categorias distintas: Análise Financeira e Análise Econômica. A Análise Financeira refere-se ao estudo da a situação financeira e patrimonial da empresa. Ela possibilita identificar a saúde da empresa. Essa análise é realizada através de alguns índices, entre eles, o de liquidez (que representa a capacidade da empresa honrar suas obrigações) e os índices de solvência (que representa o grau de endividamento relacionado às origens e aplicações de recursos) (OLIVEIRA et al.,2010; IUDÍCIBUS, 2010; HOJI, 2004 e EBAID, 2011).

A Análise Econômica geralmente é representada pelos índices de rentabilidade e

lucratividade, o lucro líquido por ação e o retorno de investimentos operacionais; permite avaliar como a empresa vem utilizando os recursos investidos, além de também possibilitar a interpretação das variações do patrimônio e da riqueza gerada pela empresa. A escolha de qual análise realizar, se a financeira, a econômica, ou ambas, está relacionada à necessidade e interesse de cada usuário. No entanto, ambas as análises devem ser elaboradas e avaliadas conforme suas próprias particularidades (OLIVEIRA et al.,2010; IUDÍCIBUS, 2010; HOJI, 2004 e EBAID, 2011).

3. METODOLOGIA

Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa descritiva e exploratória e teve por objetivo verificar a percepção dos analistas do mercado de capitais sobre quais os melhores demonstrativos e grupo de índices (caixa e/ou competência) para avaliação de desempenho econômico-financeiro das empresas. A população deste estudo compreende todos os analistas do mercado de capitais cadastrados na Apimec da região Nordeste. Conforme informações fornecidas por sua representante, a base da Apimec NE é formada por 200 analistas cadastrados. A amostra da pesquisa foi constituída por 20 analistas que aceitaram fazer parte da pesquisa respondendo ao questionário enviado.

O instrumento escolhido para a coleta de dados foi o questionário, sendo do tipo semi-

estruturado e composto por 13 questões que, em sua maioria, eram fechadas. Sua elaboração ocorreu a partir da revisão da literatura e com base em outros questionários aplicados em pesquisas semelhantes que de alguma forma, abordaram a importância da análise dos índices econômico-financeiros.

O questionário foi segmentado em três partes: A Parte I foi composta por questões que

traçam o perfil do respondente; as questões da Parte II caracterizavam a percepção dos analistas quanto aos aspectos relativos às demonstrações contábeis, e a Parte III, mais relacionada com o objetivo da pesquisa, apresentou questões que tratam especificamente sobre os índices econômico-financeiros.

O questionário foi transmitido para Apimec NE no dia 01/05/2013 e no dia seguinte,

02/05/2013, foi repassado por sua própria representante o link de acesso para todos os analistas pertencentes à região Nordeste cadastrado em sua base de dados. Destaca-se que o questionário só podia ser acessado através de uma plataforma de coleta de dados na internet, o SurveyMonkey, e ficou disponível até o dia 30/10/2013.

O tratamento dos dados foi realizado utilizando-se o software Statistical Package for

the Social Sciences (SPSS), versão 20.0. Os dados foram analisados através das análises descritiva e inferencial. A análise descritiva fora realizada para todas as seções do

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questionário e seus resultados foram apresentados em tabelas contendo a frequência e o percentual dos dados relativos a suas informações.

Por outro lado, a análise inferencial, que consistiu no cruzamento das variáveis com

base nos testes não paramétricos Mann-Whitney e Exato de Fisher, só fora realizada a partir da Parte II do questionário, mais precisamente da questão 9 até a questão 12. Destaca-se que ambos os testes foram aplicados a um nível de significância de 5%, o qual é um valor comumente adotado em pesquisas, embora outros valores sejam também utilizados (SIEGEL, 1975).

Neste trabalho, o teste de Mann-Whitney fora utilizado para verificar se os indicadores

financeiros do regime de competência eram mais importantes e mais utilizados pelos analistas de mercado do que os indicadores do regime de caixa. Já o teste Exato de Fisher fora empregado para verificar a existência ou não existência de associação (relação de dependência) entre a importância dos indicadores financeiros, na concepção dos analistas, e o grau de utilização dos mesmos (indicadores) por parte desses profissionais.

No que diz respeito à questão sobre o grau de importância dos indicadores financeiros,

suas alternativas foram apresentadas no questionário em escala do tipo Likert, com graus variando de 0 a 4 (cinco categorias) e considerando a seguinte escala: 0 - nenhuma importância; 1 - pouco importante; 2 - indiferente; 3 - importante; 4 - muito importante. Na análise, estas categorias foram reduzidas a duas: sem importância (categorias iniciais de 0 a 1) e importante (categorias iniciais 3 e 4).

Para melhor exposição dos resultados, abreviamos os índices conforme apresentado na

Tabela 2, abaixo: Tabela 2 – Índices econômico-financeiros utilizados na pesquisa

Índices de Liquidez Índices de Endividamento Índices de Rentabilidade

Regime de Competência

Liquidez Corrente (LC)

Ativo corrente

Passivo corrente

Índice de Endividamento (EG)

Passivo Total

Ativo Total

Rentabilidade do Ativo (RA)

EBIT

Ativo Total

Liquidez Seca (LS)

(Ativo corrente –

Estoques)

Passivo Corrente

Índice de Cobertura de Juros (ICJ)

EBIT/

Despesas Financeiras

Rentabilidade do Capital Próprio (RCP)

Lucro Líquido

Patrimônio Líquido

Índice de Capital de Giro (ICG)

(Ativo corrente –

Passivo corrente)

Ativo Total

Índice de Estabilidade Financeira (IEF)

Cap. Social + Passivo não Circulante.

Ativo não Circulante. + Estoques

Rentabilidade das Vendas (RV)

Lucro Líquido

Receita Líquida

Ativo Corrente vs. Ativo Total (ACAT)

Ativo corrente / Ativo Total

Regime de Caixa

Índice do Fluxo de Caixa (IFC)

FCO /Passivo Corrente

Índice de Caixa para Dívida Total (ICDT)

FCO /Passivo Total

Índice de Retorno de Caixa sobre Ativos (IRCA)

FCO/Ativo Total

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Índice de Caixa de Cobertura Necessidades Críticas (INCN)

FCO/ (Emprést. e Financ. a curto e LP + Dividendo a CP)

Índice de Caixa de Cobertura de Juros (ICCJ)

FCO

Desp.Finan.

Índice de Retorno do Caixa sobre Capital Próprio (IRCCP)

FCO/ Patrimônio Líquido

Índice de Fluxo de Caixa Livre (IFCL)

FCO – Capex

FCO

Índice de Solidez Financeira (ISF)

(Lucro Líq.+ Depr, Amort, Exaustão) x4/

Passivo Total

Índice de Retorno de Caixa sobre Vendas (IRCV)

FCO/Receita de vendas

Índice de Qualidade dos Resultados (IQR)

FCO/EBIT

Índices de eficiência de Investimento

Lucro por Ação (Lucro líquido – dividendos) / Número de ações Dividendos Yield

(Preço Médio de Mercado da ação) / Lucro por ação

Fluxo de Caixa por Ação (FCA)

(Fluxo de Caixa Operacional – Dividendos) / Número de ações

Preço para Índice do Fluxo de Caixa (PIFC)

(Preço Médio de Mercado da ação) / Fluxo de Caixa por Ação

Fonte: Adaptado de Barac (2010).

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Para melhor exposição dos resultados, a análise dos dados foi apresentada em três seções, conforme a estrutura adotada no questionário: a primeira relativa aos dados socioeconômicos (seção 1); a segunda concernente à percepção dos analistas sobre alguns aspectos relativos às demonstrações contábeis (seção 2), e a terceira, referente à importância dos Indicadores Econômico-Financeiros (seção3).

4.1 Seção1: perfil dos respondentes

A primeira questão apresentada aos respondentes foi referente ao gênero. Observou-se, conforme respostas do questionário, que todos os entrevistados são do sexo masculino. Quanto à idade, verificou-se que a maioria dos respondentes, 44,4% dos dados válidos, estão na faixa de 25 a 40 anos. Sequencialmente, tem-se que 33,3% estão no intervalo de 41 a 55 anos; 16,7% na faixa dos 56 a 70 anos e apenas 5,7% possuem mais de 70 anos. Verificou-se ainda que os respondentes têm idade média de 42,4 anos, sendo que o mais novo possui 26 anos e o mais velho 72 anos. Destaca-se ainda que os dados válidos para esta questão representam 90% da amostra; consequentemente, observa-se que 10% dos analistas não responderam a este questionamento.

Em relação ao nível de escolaridade, todos os analistas que participaram da pesquisa

possuíam nível superior completo, sendo que a maioria (70%), cursaram até a pós-graduação, e os outros 30% possuíam apenas a graduação.

No intuito de conhecer a especialidade de cada analista, foi-lhes solicitado que

informassem seu tipo de formação. Conforme a análise dos dados, 15% dos analistas são formados em Contabilidade, 20% em Economia, 45% da amostra têm formação em Administração, outros 15% em Engenharia e apenas 5% concluíram o curso de Direito, Medicina e Medicina Veterinária. Observou-se também que a maioria dos analistas - 50% - é formada em Administração e 80% (percentual acumulado) da amostra é formada por contadores, administradores ou economistas.

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Procurou-se também saber se os analistas eram filiados a alguma associação, além da Apimec-NE. Por meio das informações obtidas, percebeu-se que 60% dos entrevistados são filiados exclusivamente à Apimec-NE; 25% são filiados à Apimec-NE e à Finacap (Consultoria Financeira e Mercado de Capitais), e os outros 15% são filiados, além da Apimec, ao Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças – IBEF, que é uma entidade sem fins lucrativos, considerada de utilidade pública federal, estadual e municipal, apartidária e que reúne os principais executivos e empresários do país.

Em relação à experiência profissional, buscou-se saber dos respondentes o tempo em

que já atuavam como analistas de mercado. Como um analista não respondeu a esta questão, foram considerados apenas os percentuais relativos aos 19 analistas que a responderam.

Ao se analisar os dados válidos, verificou-se que 31,6% dos respondentes possuíam até

5 anos de experiência; 26,3% de 6 a 10 anos; 21,1% possuíam um tempo de atuação de 11 a 15 anos, e apenas 21,1% possuíam de 16 a 20 anos de experiência nesse mercado. Verificou-se também algumas estatísticas descritivas, em que o tempo médio de atuação como analistas de mercado é de quase 10 anos (9,94), igual ao ponto médio dos dados, que foi 10 anos (mediana). Com base na amostra estudada, o analista menos experiente possui apenas 2 anos de atuação, e o mais experiente atua há 20 anos no mercado.

4.2 Seção 2: Aspectos relativos às demonstrações financeiras

Nessa seção apresentam-se os resultados concernentes à percepção dos analistas quanto à importância e utilização das demonstrações financeiras como auxílio à sua tomada de decisão. Assim, foi solicitado no questionário que o respondente informasse se utilizava as informações fornecidas pelas demonstrações financeiras antes de decidir por algum investimento. As respostas estão sumarizadas na Tabela 3, a seguir. Tabela 3 – Uso de demonstrações financeiras na tomada de decisão

Frequência Percentual %

Percentual Acumulado %

Sim, utilizo apenas as Demonstrações Financeiras 4 20 20 Sim, mas complemento a análise com outros relatórios 15 75 95 Não uso as Demonstrações Financeiras. Utilizo outros relatórios

1 5 100

Total 20 100 - Fonte: Dados da Pesquisa, 2013

Por meio dos dados coletados, percebe-se que exclusivamente 20% dos analistas de

mercado utilizavam apenas as informações das demonstrações financeiras, como auxílio à tomada de decisão, principalmente quanto à escolha de seus investimentos. Observa-se ainda que a maioria (75%) utilizava, além das demonstrações financeiras, outros relatórios como complemento e auxílio à sua decisão. Dentre esses relatórios, os analistas mencionaram: relatório de conjuntura econômica; relatório dos auditores independentes; análise do comportamento da economia nacional e da economia internacional; prospectos e escrituras de emissão de debêntures.

Destaca-se que o relatório dos auditores independentes foi o que mais se repetiu entre os

demais citados pelos analistas. Corroborando com essa informação, uma pesquisa realizada por Santos et al. (2013) sobre a avaliação dos analistas de mercado a respeito da relevância dos trabalhos dos auditores independentes na análise financeira das Sociedades Anônimas

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(S.A) de capital aberto, revelou que os analistas consideram as informações fornecidas pelos auditores independentes, por meio de seus relatórios, de extrema importância para as empresas.

Ainda com base na Tabela 3, apenas 5% da amostra (1 respondente) afirmou não

utilizar as demonstrações financeiras antes de se decidir por algum investimento, porém utilizavam outros relatórios, por exemplo, a análise gráfica. Observa-se então, que a grande maioria dos analistas (95%), utilizava as informações fornecidas pelos demonstrativos financeiros como auxílio à tomada de decisão. E ainda, 80% dos analistas utilizavam também as informações de outros relatórios antes de se decidirem por algum investimento.

Quanto à opinião dos analistas de mercado sobre quais os demonstrativos financeiros

mais importantes para analisar o desempenho econômico-financeiro das empresas, foi formulada uma questão que permitiu mais de uma resposta. O resultado foi organizado na Tabela 4, a seguir.

Tabela 4 –Demonstrativos Financeiros mais importantes

Analista Demonstrativos Financeiros

BP DRE DFC DMPL DVA

Total F 16 18 18 6 5 % 80 90 90 30 25

Fonte: Dados da Pesquisa, 2013

Observa-se na Tabela 4 que cada percentual pode chegar aos 100%, pois os respondentes podiam marcar mais de uma opção, e as respostas não eram mutuamente excludentes. Assim, conforme consta a referida Tabela, os demonstrativos financeiros mais importantes para analisar o desempenho econômico-financeiro de uma empresa, conforme percepção dos analistas, foram:

• Demonstração do resultado (90%); • Demonstração do Fluxo de Caixa (90%); • Balanço Patrimonial (80%); • Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (30%); • Demonstração do Valor Adicionado (25%).

Apesar de ser possível realizar a análise de todos os demonstrativos apresentados, percebe-se que a maioria dos analistas considerou como os mais importantes: a DR, a DFC, e o BP, nesta ordem (Tabela 4), sendo que a DR e a DFC apresentaram percentuais iguais (90%) de importância.

Tais resultados estão de acordo com a pesquisa de Silva e Sousa (2011), sobre a análise

das demonstrações financeiras como instrumento para tomada de decisão, na qual relataram que, normalmente, para avaliação do desempenho econômico-financeiro, as atenções se concentram de forma especial no BP e na DR, pois, segundo esses autores, é através dessas informações que se evidenciam, de uma forma mais objetiva, a situação econômico-financeira da empresa.

Ainda nesse contexto, foi solicitado que o respondente informasse quais demonstrativos

financeiros ele utilizava para avaliar o desempenho econômico-financeiro das empresas. As respostas foram elencadas na Tabela 5. Novamente, tal como na Tabela 3, os percentuais de

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cada indicador podem atingir os 100%, pois a questão direcionada a este aspecto permitiu mais de uma resposta. Tabela 5 – Demonstrativos Financeiros utilizados pelos analistas.

Analista Demonstrativos Financeiros

BP DRE DFC DMPL DVA Nenhum

Total F 14 17 14 4 4 1 % 70 85 70 20 20 5

Fonte: Dados da Pesquisa, 2013

Conforme visualizados na Tabela 5, os demonstrativos financeiros utilizados pelos analistas na avaliação do desempenho econômico-financeiro das empresas foram:

• Demonstração do resultado do exercício (85%); • Balanço Patrimonial (70%); • Demonstração do Fluxo de Caixa (70%); • Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (20%); • Demonstração do Valor Adicionado (20%).

Nota-se que as demonstrações mais utilizadas pela maioria (70% ou mais) dos analistas para analisar o desempenho econômico-financeiro das empresas são a DR e/ou a DFC e/ou o BP; e as menos utilizadas foram a DMPL e a DVA (Tabela 4).

Confirmando estes resultados, um estudo anterior realizado por Tártari (2005),

constatou que apesar de as demonstrações contábeis serem utilizadas na gestão das maiores indústrias do setor de confecções do estado do Paraná para fins de análise, nem todas as informações eram utilizadas em sua totalidade. Dessa forma, dentre as 14 empresas pesquisadas por esse autor, as demonstrações contábeis mais utilizadas pelas empresas para análise e, consequentemente, para auxiliar seu processo de gestão foram: Balanço Patrimonial, Demonstração de Resultados e Demonstração de Fluxo de Caixa, mostrando, portanto, a relevância desses demonstrativos para a análise econômico-financeira das empresas.

Assim, com o intuito de verificar se existe associação (relação) entre a importância do

demonstrativo financeiro para avaliar o desempenho das empresas e seu uso por parte dos analistas de mercado, foi aplicado o teste Exato de Fisher a um nível de significância de 5%. Se o valor de significância p-value encontrado for superior a 5%, não existirá relação ou associação entre as variáveis envolvidas; por outro lado, se o p-value for igual ou inferior a 5%, haverá relação entre as variáveis. O resultado do teste está apresentado na Tabela 6. Tabela 6 – Importância versus Utilização dos Demonstrativos Financeiros

Demonstrativos Financeiros Teste Exato de Fisher

p-value Frequência Balanço Patrimonial 0,3% 20 Demonstração do Resultado do Exercício 1,6% 20 Demonstração do Fluxo de Caixa 7,9% 20 Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido 0,3% 20 Demonstração do Valor Adicionado – 0,1% 20

Fonte: Dados da Pesquisa, 2013

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De acordo com os resultados do Teste Exato de Fisher, mostrado na Tabela 6, é possível observar que as opiniões dos respondentes em relação aos demonstrativos financeiros mais importantes na avaliação do desempenho das empresas estão relacionadas com a sua utilização. Para os demonstrativos BP, DR, DMLP e DVA, verificou-se a existência de relação entre estas variáveis, pois os p-values correspondentes foram menores do que 5%. Isto mostrou que a importância atribuída pelos analistas a estes demonstrativos influenciou sua utilização. Desta forma, pode-se dizer que os analistas que consideravam estes demonstrativos importantes e os utilizavam para avaliar o desempenho econômico-financeiro das empresas.

Por outro lado, esta associação não existe no que diz respeito ao demonstrativo DFC,

pois o valor do p-value de 7,9% foi superior a 5%. Deste modo, apesar da maioria dos analistas julgarem importante este demonstrativo e utilizá-lo na avaliação do desempenho das empresas, a falta de associação entre as variáveis acusada pelo teste estatístico significa que os analistas podem utilizar esse demonstrativo, embora não o considerem muito importante, ou, alternativamente, possam julgar importante e não utilizá-lo, pois utilizam outros demonstrativos para análise.

4.3 Seção 3: Importância dos indicadores econômico-financeiros

Esta seção aborda a principal questão deste estudo, que foi verificar quais índices econômico-financeiros (caixa e/ou competência) são considerados mais importantes e utilizados pelos analistas de mercado de capitais. Para isso, foi apresentada aos respondentes uma lista contendo 24 indicadores econômico-financeiros para que eles, além de informar se os utilizavam, também pudessem atribuir notas a cada um desses indicadores, em uma escala tipo Likert de cinco pontos (0 a 4), de acordo com o grau de importância estabelecido.

A Tabela 7 sumariza as respostas dos analistas para um estudo comparativo. Salienta-se

que, como alguns analistas não responderam à questão relacionada (alguns índices), os percentuais apresentados nessa tabela referem-se apenas aos dados válidos, ou seja, dos analistas que avaliaram o índice. Tabela 7 – Importância dos indicadores econômico-financeiros

Indicadores Financeiros

Grau de Importância

Nenhuma Importância

Pouco Importante

Indiferente Importante Muito Importante

Fr. % Fr.

% Fr.

% Fr.

% Fr.

%

LC - - 1 5 3 15 9 45 7 35 LS 1 5,6 - - 6 33,3 5 27,8 6 33,3 ICG 1 5,6 - - 2 11,1 8 44,4 7 38,9 ACAT - - 2 11,8 4 23,5 9 52,9 2 11,8 EG - - - - - - 9 45 11 55 ICJ - - 1 5,6 3 16,7 5 27,8 9 50 IEF - - 2 14,3 2 14,3 3 21,4 7 50 RA - - - - - - 7 36,8 12 63,2 RCP - - - - 2 10 3 15 15 75 RV - - - - 3 15 3 15 14 70 LPA - - 2 10 2 10 2 10 14 70 DY 1 5 1 5 3 15 1 5 14 70 IFC - - 2 10 3 15 4 20 11 55 ICNC - - 1 6,3 2 12,5 1 6,3 12 75 IFCL - - 1 5 2 10 4 20 13 65 ICDT - - 1 5,3 7 36,8 2 10,5 9 47,4 ICCJ - - 1 5,9 2 11,8 2 11,8 12 70,6

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ISF - - 1 5,3 4 21,1 3 15,8 11 57,9 IRCA - - 1 5,9 4 23,5 5 29,4 7 41,2 IRCCP - - 1 5,6 4 22,2 2 11,1 11 61,1 IRCV - - 1 5,6 4 22,2 1 5,6 12 66,7 IQR 1 5,6 1 5,6 3 16,7 2 11,1 11 61,1 FCA - - 1 5,6 4 22,2 3 16,7 10 55,6 PIFC - - 1 5,9 4 23,5 3 17,6 9 52,9

Fonte: Dados da Pesquisa, 2013

Ao se analisar a importância do indicador financeiro LC, observou-se que: nenhum

analista o considerou sem importância; apenas 5% o julgaram pouco importante. Por outro lado, 15% consideraram como indiferente; outros 45% julgaram que esse indicador é importante e para 35%, muito importante. Análise semelhante pode ser feita para os demais indicadores presentes na Tabela 7.

Observa-se também que somente os indicadores LS, ICG, DY e IQR foram

considerados sem importância para apenas 5,6% dos analistas. O índice mais considerado como “pouco importante” foi o IEF, avaliado por 14,3% dos analistas; o mais “indiferente” foi o ICDT, avaliado por 36,8% dos analistas; o indicador ACAT foi o mais apontado como “importante” pelos analistas (52,9%).

Em relação à coluna “muito importante”, o ACAT foi o indicador com percentual mais

baixo (11,8%), e os indicadores mais considerados como "muito importante" foram o RCP, pertencente ao regime de competência, e o ICNC do regime de caixa, ambos com 75%. Considerando conjuntamente as colunas “importante” e “muito importante”, constata-se que para a maioria dos indicadores financeiros os percentuais foram elevados, indicando sua importância para os analistas.

Destaca-se ainda que as variáveis RCP, RV, LPA, DY, IFC, ICNC, IEF, IRCV, RA,

ICJ, IFCL presentes na Tabela 7, que apresentaram um percentual maior, estão presentes na coluna “muito importante”. Isto significa que, provavelmente, estes indicadores de caixa ou competência são os mais importantes na opinião dos analistas de mercado que participaram da amostra. Neste sentido, é razoável dizer que os analistas de mercado percebem a importância destes indicadores na avaliação do desempenho econômico-financeiro das empresas.

A seguir, foi calculada a média ponderada das atribuições de importância de cada

indicador (Tabela 8). Este valor foi calculado a partir da multiplicação da frequência pelo grau de importância. A exemplo, considere o indicador da liquidez corrente: (0x0 + 1x1 + 3x2 + 9x3 + 7x4) / (1+3+9+7) = 3,1.

Tabela 8 – Análise descritiva da importância dos indicadores econômico-financeiros

Grau de Importância

Indicadores Frequência Média Mediana Desvio Padrão RCP 20 3,65 4,00 0,671 RA 19 3,63 4,00 0,496 EG 20 3,55 4,00 0,510 RV 20 3,55 4,00 0,759 ICNC 16 3,50 4,00 0,966 ICCJ 17 3,47 4,00 0,943 IFCL 20 3,45 4,00 0,887 LPA 20 3,40 4,00 1,046 IRCV 18 3,33 4,00 1,029 DY 20 3,30 4,00 1,218 IRCCP 18 3,28 4,00 1,018

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ISF 19 3,26 4,00 0,991 ICJ 18 3,22 3,50 0,943 FCA 18 3,22 4,00 1,003 IFC 20 3,20 4,00 1,056 PIFC 17 3,18 4,00 1,015 IQR 18 3,17 4,00 1,249 ICG 18 3,11 3,00 1,023 LC 20 3,10 3,00 0,852 IEF 14 3,07 3,50 1,141 IRCA 17 3,06 3,00 0,966 ICDT 19 3,00 3,00 1,054 LS 18 2,83 3,00 1,098 ACAT 17 2,65 3,00 0,862

Fonte: Dados da Pesquisa, 2013 A Tabela 8 apresenta as principais medidas estatísticas dos indicadores, calculadas para

identificar os índices mais importantes na opinião dos analistas de mercado incluídos no estudo. É possível perceber que quase todos os indicadores apresentaram médias superiores a 3, exceto os índices ACAT e LS, com médias iguais a 2,65 e 2,83, respectivamente. Isto revela que para os analistas de mercado, estes indicadores, de fato, são importantes para avaliar o desempenho econômico-financeiro das empresas.

Em relação aos índices de competência presentes na Tabela 8, observa-se que para os

analistas de mercado, o indicador mais importante foi o RCP, com média 3,65; em segundo lugar, destacou-se o RA (média 3,63); o terceiro índice mais importante foi o EG (média 3,55). O indicador financeiro que se apresentou como menos importante foi o ACAT (média 2,65). Nota-se que estes indicadores apresentaram valores aproximados para os desvios padrões e medianas iguais, demonstrando semelhança na distribuição dos dados.

Concernente aos índices de caixa, nota-se que o indicador considerado pelos analistas

como o mais importante foi o ICNC (média 3,50), seguido pelo ICCJ (média 3,47); e o terceiro foi o IFCL (média 3,45). Por outro lado, o indicador menos importante desse grupo foi o ICDT (média 3,00). Estes indicadores apresentaram também as mesmas medianas e valores aproximados para os desvios padrões.

No intuito de identificar quais índices de caixa e/ou competência são utilizados na

avaliação de desempenho econômico-financeiro pelos analistas de mercados de capitais, foi solicitado aos respondentes, com base nos índices apresentados no Tabela 1, que informassem quais índices eles utilizavam. A Tabela 9 apresenta, para cada indicador, o número de analistas que afirmaram utilizá-lo ou não, bem como quantos analistas desconheciam determinados índices.

Assim, ao analisar o indicador LS, percebe-se que 69,2% dos analistas o utilizavam;

30,8% não o utilizavam e apenas 7,7% não conheciam esse indicador. Análises semelhantes podem ser feitas para os demais índices na Tabela 9.

Tabela 9 –Utilização dos indicadores financeiros pelos analistas de mercado.

Indicadores Analisados

Utiliza Não Utiliza Não Conhece

Frequência Percentual Válido %

Frequência Percentual Válido %

Fr. %

LC 11 91,7 1 9,3 LS 9 69,2 4 30,8 1 7,7 ICG 11 91,7 1 9,3

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ACAT 10 83,3 2 16,7 EG 11 100 - - ICJ 10 83,3 2 16,7 IEF 7 53,8 6 46,2 3 23,1 RA 12 100 - - RCP 11 91,7 1 9,3

RV 12 92,3 1 7,7 LPA 12 92,3 1 7,7 DY 10 90,9 1 9,1 IFC 10 83,3 2 16,7 ICNC 7 53,8 6 46,2 2 15,4 IFCL 10 76,9 3 23,1 ICDT 8 61,5 5 38,5 ICCJ 9 69,2 4 30,8 ISF 9 64,3 5 35,7 2 14,3 IRCA 10 71,4 4 28,6 IRCCP 10 71,4 4 28,6 IRCV 9 64,3 5 35,7 IQR 8 80 2 20 FCA 9 64,3 5 35,7 PIFC 9 69,2 4 30,8 Teste Estatístico Resultado do Teste (Exato) de Mann-Whitney para verificação das médias entre os índices de caixa e competência: p = 0,1% (bilateral)

Fonte: Dados da Pesquisa, 2013

Na Tabela 9, observa-se que os índices mais utilizados pelos analistas foram o RA e o

EG, ambos com 100% de aceitação. Em seguida, o RV e o LPA com 92,3%; em terceiro, o RC, o ICG e o RCP com 91,7%. Todos esses índices são do regime de competência. Em relação aos indicadores do regime de caixa, o mais utilizado foi o IFC (83,3%), seguido do IQR (80%); em terceiro lugar vem o IFCL (76,9%). Nota-se que o índice mais utilizado do regime de caixa apresentou percentual igual ao oitavo e nono índices mais utilizados do regime de competência, a saber, o ICJ e o ACAT, ambos com 83,3%.

Por outro lado, tomando como parâmetro os indicadores que apresentaram percentuais

de utilização acima de 80%, apenas 11 foram identificados: RA, EG, LPA, RV, RCP, ICG, LC, DY, IFC, ICJ, ACAT (Tabela 9). Destes, somente um (IFC) pertence ao regime de caixa, os demais são do regime de competência. Logo, conforme as respostas dos questionários, percebe-se que os índices de competência são mais utilizados pelos analistas do que os índices de caixa.

Esta informação também foi comprovada pelo teste estatístico de Mann-Whitney, o qual

confirmou com p-value igual a 0,1% (menor do que 5%), diferença estatisticamente significativa entre os grupos de caixa e de competência. Dessa forma, os índices do regime de caixa são significativamente menos utilizados do que os índices do regime de competência. De fato, conforme evidenciado na Tabela 8, dos seis índices menos utilizados: IEF (46,2%), ICNC (46,2%), ICDT (38,5%), ISF (35,7%), IRCV (35,7%) e FCA (35,7%), apenas o primeiro pertence ao regime de competência, os demais são todos do regime de caixa; o segundo índice de competência menos utilizado foi o LS (30,8%).

Observa-se ainda, com base na Tabela 9, que os analistas pesquisados não conheciam

alguns índices financeiros dentre os vinte e quatro (24) listados no questionário. No total, foram 4 indicadores desconhecidos, sendo dois do regime de competência: LS (7,7%) e IEF (23,1%), e dois do regime de caixa: ICNC (15,4%) e ISF (14,3%).

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No intuito de identificar outros indicadores utilizados pelos analistas e que não foram abordados no questionário, foi-lhes solicitado que acrescentassem aqueles que eles utilizavam em suas atividades. Diante disso, foram mencionados pelos analistas os seguintes indicadores: Taxa WACC, Valuation, EBITDA, Margem EBITDA, ROIC, EV/EBITDA, Net Interst, Net

Income, FCFF, FCFE, Taxes, Capex, Working capital, Net Debit/EBITDA, SHARE, FV/EBITDA, P/L, P/VPA, P/VP, VPA, Valores do Equity/Vendas e Preço da ação/LPA.

Com base nas Tabelas 7 e 9, buscou-se, através de testes estatísticos, verificar se há

associação entre a percepção dos analistas de mercado sobre a importância atribuída aos indicadores econômico-financeiros e a sua utilização. Os dados podem ser visualizados na Tabela 10, a seguir.

Tabela 10 – importância versus utilização dos indicadores financeiros

Indicadores Analisados

Não se aplica

Frequência Teste Exato de Fisher

I – Import. P – Pouco I

S – Sim N – Não

I P S N

LC 12 - 12 - 11 1 LS 12 1,8% ICG 13 1,3% ACAT 10 2,2% EG 11 - 11 11 ICJ 12 4,5% IEF 9 2,8% RA 12 - 12 12 RCP 12 16,7% RV 14 1,1% LPA 13 15,4% DY 11 27,3% IFC 12 1,5% ICNC 12 4,5% IFCL 13 0,3% ICDT 13 2,1% ICCJ 12 4,5% ISF 12 0,5% IRCA 12 4,5% IRCCP 12 4,5% IRCV 12 12,7% IQR 10 2,2% FCA 12 23,6% PIFC 11 10,9%

Fonte: Dados da Pesquisa, 2013

Aplicado o teste Exato de Fisher, verificou-se independência entre a percepção sobre a

importância e uso de alguns indicadores financeiros pelos analistas de mercado. Isto ocorreu apenas em três índices de competência, o RCP, o LPA, o DY, e três índices de caixa, o IRCV, o FCA e o PIFC, pois apresentaram p-values maiores do que o nível de significância estabelecido (5%). Isto significa que o fato de os analistas utilizarem tais índices independe, estatisticamente falando, do grau de importância atribuída (aos índices) por esses profissionais.

O teste Exato de Fisher não pôde ser aplicado aos índices LC, EG e RA porque o grau

de importância desses indicadores foi constante, ou seja, todos os analista que os utilizavam consideraram-nos exclusivamente “importantes”. Todavia, como quase todos os analistas utilizaram esses índices e os julgaram importantes (Tabela 7), entende-se que sua utilização

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está atrelada à importância a eles atribuída. Para os demais índices da Tabela 10, o Teste Exato de Fisher apresentou p-values menores do que 5%, e isto indicou que deve ser rejeitada a independência, o que mostrou que houve associação entre a importância dos indicadores financeiros e suas utilizações pelos analistas de mercado. Portanto, o fato de os analistas terem utilizado esses índices é porque os consideravam importantes para a avaliação econômico-financeira das empresas.

5. CONCLUSÃO

O objetivo desta pesquisa foi verificar a percepção dos analistas do mercado de capitais sobre quais os melhores demonstrativos e grupo de índices (caixa e/ou competência) para avaliação de desempenho econômico-financeiro das empresas. Para atingir tal objetivo, aplicou-se um questionário aos analistas de mercado de capitais da região Nordeste para identificar a importância e utilização destes índices, bem como saber se o grupo de indicadores do regime de competência era mais utilizado (ou não) do que o do regime de caixa.

Com base nos resultados encontrados constatou-se que os índices mais utilizados pelos analistas foram o RA e o EG. Em seguida, o RV e o LPA com 92,3%; em terceiro, o RC, o ICG e o RCP com 91,7%. Todos esses índices são do regime de competência. Em relação aos indicadores do regime de caixa, o mais utilizado foi o IFC (83,3%), seguido do IQR (80%); em terceiro lugar vem o IFCL (76,9%). Verificou-se também que os 11 indicadores mais utilizados pelos analistas foram: RA, EG, LPA, RV, ICG, LC, RCP, DY, ACAT, ICJ e IFC. Destes, apenas o último, o IFC, é do regime de caixa, os demais são índices de competência. revelando, portanto, sua utilidade e importância na avaliação de desempenho econômico-financeiro das empresas.

Observou-se, ainda, que boa parte dos analistas, além de considerar importantes os índices de caixa e competência para identificar a situação econômico-financeira de uma empresa, utiliza-os em suas atividades. Agora, considerando apenas os índices informados como os mais utilizados, constatou-se que os do regime de competência são mais empregados pelos analistas do que os do regime de caixa. Esta informação também foi comprovada pelo teste estatístico de Mann-Whitney, o qual confirmou com p-value igual a 0,1% (menor do que 5%), diferença estatisticamente significativa entre os grupos de caixa e de competência, demonstrando, então, que os índices de competência são mais utilizados pelos analistas do que os índices de caixa, indicando portanto, a preferência destes profissionais por tais indicadores. Por fim, os resultados encontrados neste estudo podem não só contribuir acrescentando novas informações, como também facilitar a tomada de decisões dos analistas, investidores e gestores quanto à escolha dos indicadores mais utilizados e importantes para a análise econômico-financeira das empresas.

Esta pesquisa possui algumas limitações, como a quantidade limitada da amostra e o número reduzido de estudos semelhantes para traçar comparações, o que impossibilitou a realização de maiores análises comparativas dos resultados com os achados deste estudo. Sugere-se, para pesquisas futuras, aumentar o número da amostra com objetivo de serem mais representativas da população e verificar se o resultado encontrado se aplica quando são analisadas as concepções de analistas de outras regiões, ou se os resultados obtidos são influenciados pelo desenvolvimento da região, por questões culturais etc.

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O PROCESSO ELEITORAL SOB A ÓTICA DO USUÁRIO EXTERNO DA INFORMAÇÃO CONTÁBIL: UMA ANÁLISE DOS DEMONSTRATIVOS

FINANCEIROS PADRONIZADOS PUBLICADOS PELAS EMPRESAS LISTADAS NA BM&FBOVESPA QUE FINANCIARAM PARTIDOS POLÍTICOS NAS

ELEIÇÕES DE 2008 E 2012

AUTORES: Umbelina Cravo Teixeira Lagioia, Jardson Edson Guedes da Silva Almeida e Luiz Antônio Félix Júnior.

RESUMO

A motivação deste trabalho foi a observação do processo eleitoral sob o ponto de vista do usuário externo das informações contábeis, buscando investigar como se dá a divulgação de informações sobre o processo eleitoral pelas empresas envolvidas nele. O objetivo geral deste estudo foi analisar se as empresas listadas na BM&FBOVESPA que fizeram doações a partidos políticos nas eleições municipais de 2008 e 2012 evidenciaram esse fato nos seus demonstrativos financeiros. Através do sistema Divulgação Externa da BM&FBOVESPA foram obtidas as Informações Anuais (IAN) e os Demonstrativos Financeiros Padronizados (DFP) referentes ao ano de 2008 e 2012 de onze empresas selecionadas, analisando-se os dados referentes ao controle sobre outras empresas além da DR, DFC, Nota Explicativa e o Relatório da Administração das empresas estudadas em busca de referência a doações efetuadas a partidos políticos. Concluiu-se que apenas uma das onze empresas selecionadas neste estudo evidenciou a realização de doações a partidos políticos na publicação dos DFP e apenas no ano de 2008. Ainda assim, não foi possível identificar quais os valores doados nem os parâmetros e critérios adotados por ela para escolha dos partidos contemplados, gerando um ambiente de assimetria informacional para os usuários externos da entidade.

Palavras-chaves: Disclosure; evidenciação; partidos políticos; informação contábil.

1. INTRODUÇÃO

A receita dos partidos políticos tem sua origem em doações e contribuições de recursos financeiros de pessoas físicas e jurídicas, além das cotas do Fundo Especial de Assistência aos Partidos Políticos (Fundo Partidário), constituído pelas multas e penalidades eleitorais, recursos financeiros legais, doações espontâneas privadas e dotações orçamentárias públicas. De acordo com os artigos 32 e 33 da lei dos partidos políticos, em suas prestações de contas à Justiça Eleitoral os partidos devem apresentar a discriminação e a destinação dos valores recebidos do Fundo Partidário, além do valor e da origem das contribuições e doações recebidas.

A divulgação das pessoas físicas e jurídicas que realizaram essas doações é um grande instrumento de controle social do processo eleitoral, trazendo a possibilidade de acompanhamento pela população da movimentação financeira dos partidos políticos. Porém, este é apenas um lado da questão, visto que por si só a divulgação das empresas que contribuíram para as campanhas não é suficiente para garantir a transparência do processo eleitoral. Para isso é preciso ainda observar essa questão sob um ponto de vista diferente, buscando analisar informações destas empresas que participam do processo eleitoral como doadoras de recursos a candidatos ou partidos políticos.

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Nem todas as empresas sofrem a imposição legal de divulgação de informações ao público, entretanto as companhias de capital aberto que negociam suas ações na BM&FBOVESPA devem cumprir algumas exigências no que diz respeito à divulgação de informações econômico-financeiras e administrativas sobre a entidade. Essas informações ficam disponíveis na internet para acesso tanto pelos acionistas como pela população em geral interessada.

Schultz, Marques e Hofer (2010) comentam que os maiores níveis de evidenciação compulsória são registrados junto às companhias de capital aberto, com o objetivo de proteger interesses dos usuários externos (acionistas, associados, fornecedores, credores, bancos, governo, sociedade, etc.) e dar estabilidade e transparência ao mercado de capitais como um todo. Nas demais empresas existem diferentes níveis de evidenciação compulsória, geralmente bem mais modestos e, até mesmo, há a desobrigação da publicação de informações a respeito da empresa.

Pereira (2008) comenta que a teoria contábil contemporânea se preocupa com as questões sobre a quantidade e a qualidade das informações fornecidas aos usuários externos à entidade empresarial. A motivação deste trabalho surge a partir deste ponto, no sentido de observar o processo eleitoral sob o ponto de vista do usuário externo das informações contábeis, buscando investigar de que maneira se dá a divulgação de informações relativas ao processo eleitoral por parte das empresas nele envolvido.

Desta forma, o estudo objetivou analisar se as empresas listadas na BM&FBOVESPA que fizeram doações a partidos políticos nas eleições de 2008 e 2012 evidenciaram esse fato nos seus demonstrativos financeiros.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 SEGMENTOS ESPECIAIS DE LISTAGEM NA BM&FBOVESPA

A abordagem de Governança Corporativa no Brasil está intimamente ligada ao mercado de capitais. Nesse sentido, Lagioia (2007; 107) define Governança Corporativa como “conjunto de regras, normas, e práticas de conduta definidas pela BM&FBOVESPA e destinadas a oferecer maior transparência aos investidores e melhor preço/custo de captação para as empresas.” A BM&FBOVESPA (2005) define que as práticas diferenciadas de governança corporativa formam “um conjunto de normas de conduta para empresas, administradores e controladores, considerados importantes para a valorização das ações e outros ativos emitidos pelas companhias”.

Em 2000, foram criados os segmentos de governança corporativa para determinar às empresas já listadas na BM&FBOVESPA uma série de práticas e comportamentos relevantes a serem contemplados pelos seus gestores. Diante do elevado rigor e da expectativa do não atendimento por muitas empresas no que diz respeito ao segmento Novo Mercado, a BM&FBOVESPA decidiu pela criação de dois novos níveis de governança corporativa, o nível 1 e o nível 2. A BM&FBOVESPA instituiu tais níveis distinguindo as empresas de acordo com o grau de compromisso assumido com a prática de boa governança. O Novo Mercado foi criado para constituir-se no segmento da BM&FBOVESPA destinado às empresas que se comprometem com práticas e regras societárias mais rígidas do que as exigidas pela legislação brasileira. Aderindo ao Novo Mercado, as empresas deveriam

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expandir os direitos dos acionistas e divulgar suas informações de maneira ordenada e mais transparente aos usuários, otimizando a liquidez e a valorização das ações.

As empresas contempladas no nível 1 se comprometem, principalmente, com melhorias na prestação de informações ao mercado e com a dispersão acionária. O principal ponto a ser observado pelas empresas que ingressam nesse nível se refere à qualidade e à quantidade das informações de suas responsabilidades nas Demonstrações Contábeis Trimestrais, nas Demonstrações Financeiras Padronizadas e nos Informes Anuais. Tais relatórios já eram obrigatórios às empresas antes do surgimento dos níveis diferenciados de governança, assim, a mudança está na profundidade da evidência de tais informações. Isso pode explicar o porquê de algumas empresas terem aderido ao Nível 1 no primeiro mês de existência, junho de 2001.

Outra vertente a ser analisada nas normas iniciais, relativamente ao primeiro estágio de transição para o Novo Mercado, refere-se ao percentual de ações emitidas que deveria permanecer em circulação, que era de, no mínimo, 25%. Tal percentual nem sempre era possível de ser atendido de imediato, o que provocou a reformulação do critério e o percentual passou a ser contemplado como meta a ser atingida em um prazo negociado entre a BM&FBOVESPA e a própria empresa.

No que diz respeito à classificação de nível 2, além da aceitação das obrigações contidas no nível 1, a empresa e seus gestores devem utilizar um conjunto bem mais amplo de práticas de governança e de direitos adicionais para os acionistas minoritários. No Nível 2, além de cumprirem as exigências do Nível I, as empresas devem divulgar suas informações contábeis anuais segundo os padrões estabelecidos pelo International Accounting Standards Board - IASB - ou pelo Financial Accounting Standards Board – FASB. Além disso, há a exigência de extensão das mesmas condições obtidas pelos gestores quando da venda da companhia para todos os acionistas detentores de ações ordinárias e de, no mínimo, 70% desse valor para os detentores de ações preferenciais.

A criação do Novo Mercado marcou uma nova fase do mercado de capitais no Brasil, onde o setor privado assumiu a liderança na condução das reformas. A criação do Novo Mercado foi bem recebida por investidores, empresas, órgãos reguladores e governo. É interessante notar que essa iniciativa marcou também uma mudança de postura da BM&FBOVESPA. Como o contrato de adesão é administrado pela BM&FBOVESPA, essa instituição passa a ser a guardiã das práticas de governança corporativa. Isso sugere a adoção da prática da auto-regulação e que a promoção do mercado de capitais pode ser feita sem as amarras do Estado. Deve-se notar que o Novo Mercado não requer um sistema operacional diferenciado do mercado tradicional. Ele funciona como um selo de qualidade, cujo valor reside nas obrigações contratuais assumidas pela empresa e na maneira como a BM&FBOVESPA administra tais contratos. As companhias que aderirem ao Novo Mercado devem seguir regulamentações mais rígidas que as referentes ao Nível 2, porém, tendo como principal diferença o fato de ficarem restritas à emissão de ações ordinárias.

Inserido nesse contexto e para resolver os conflitos que surgirem entre acionistas e companhias que aderirem ao Nível 2 ou ao Novo Mercado a BM&FBOVESPA criou a Câmara de Arbitragem, objetivando determinar a solução adequada de cada caso com tempestividade, propiciando melhor eficiência na resolução de controvérsias, já que os processos tendem a ser concluídos mais rapidamente, pois são tratados na esfera privada, por

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intermédio de árbitros. A seguir apresenta-se de forma simplificada uma comparação entre os segmentos especiais de listagem na BM&FBOVESPA.

Tabela 1 – Segmentos especiais de listagem na BM&FBOVESPA.

Nível 1 Nível 2 Novo Mercado

Característica Essencial Transparência. Transparência e mais poder aos minoritários.

Transparência e poder igual para todos os acionistas.

Características das Ações Emitidas

Permite a existência de ações ordinárias e ações preferenciais.

Permite a existência de ações ordinárias e ações preferenciais com direitos adicionais.

Permite apenas a existência de ações ordinárias.

Conselho de Administração

Mínimo de 3 membros conforme legislação.

Mínimo de 5 membros, sendo pelo menos 1 independente.

Demonstrações Financeiras Anuais em Padrão Internacional

Facultativo. US GAAP ou IFRS.

Adoção da Câmara de Arbitragem do Mercado

Facultativo. Obrigatório.

Percentual Mínimo de Ações em Circulação

No mínimo 25% de free float.

Fonte: Elaboração do autor com base nas informações da BM&FBOVESPA

A entrada em um desses segmentos significa, para a empresa ingressante, a conquista de uma melhora de imagem para com a sociedade e com o mercado, uma vez que passa a ser de conhecimento público a aderência de um exigente conjunto de regras societárias, conhecidas como “práticas diferenciadas de governança corporativa”. Inicialmente, a definição de governança corporativa era utilizada pelo prisma da transparência das práticas contábeis de empresa de capital aberto. Atualmente, passou a ser vista como aspecto basilar para o sucesso das organizações.

2.2 RELATÓRIO DA ADMINISTRAÇÃO

Para Hendriksen e Van Breda (1999) a divulgação de informações financeiras tradicionalmente visa dar suporte à tomada de decisões dos investidores sobre a melhor forma de alocação dos seus recursos. Dentre as várias formas de divulgação de informações, Iudícibus (2006) relaciona as seguintes: a) forma e apresentação das demonstrações contábeis; b) informações entre parênteses; c) notas explicativas; d) quadro e demonstrativos suplementares; e) comentários do auditor; e f) relatório da administração.

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Conforme explicam Iudícibus, Martins e Gelbcke (2007), no Brasil, existe um conjunto de documentos apreciados pela Assembleia Geral que representam a “prestação de contas” das sociedades anônimas por ações. E entre eles está o Relatório da Administração. Este conjunto de documentos é de publicação obrigatória segundo o art. 133 da Lei nº 6.404 de 15 de Dezembro de 1976, alterado pela Lei nº 10.303/01.

Yuthas, Rogers e Dillard (2002) consideram que o texto contido nos relatórios da administração é amplamente lido por uma variedade de stakeholders e analistas. Distorções significativas feitas pelos gestores podem trazer malefícios a longo prazo, se for descoberto que estas distorções informacionais teriam afetado a percepção dos demonstrativos financeiros.

A prática de realizar relatos sobre operações da companhia é realizada desde a década de 60 nos Estados Unidos por meio do Interim e do Segment Reporting. O relatório de administração surgiu com várias empresas que, por atuarem em diferentes segmentos econômicos passaram a evidenciar voluntariamente essas informações juntamente com as demonstrações financeiras anuais.

Em 1970, esse relatório foi regulamentado pela SEC e passou a integrar os relatórios financeiros anuais das companhias. Apesar dos benefícios, como a apresentação de “dados escondidos” pelas demonstrações financeiras, Delaney et al (1996) apresentam alguns argumentos usados nos Estados Unidos contra a publicação sobre as operações da empresa como a evidenciação de informações aos concorrentes, sindicatos e governo podem trazer danos à empresa e essa divulgação desencoraja a administração a tomar decisões com risco razoável em virtude da obrigação de reportar resultados desfavoráveis.

No Brasil, o art. 133 da Lei nº 6.404 de 15 de Dezembro de 1976, alterado pela Lei nº 10.303/01 determina também que os administradores divulguem até um mês antes da assembleia geral ordinária o Relatório da Administração contendo informações sobre “os negócios sociais e os principais fatos administrativos do exercício findo”. No entanto, uma regulamentação mais clara sobre o conteúdo do RAd só ocorreu em 1987 com o Parecer de Orientação nº 15/87 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Em 3 de outubro de 2005, a CVM através da Deliberação nº 488 aprovou o Pronunciamento Ibracon NPC nº 27 que comenta sobre o conteúdo mínimo dos relatórios.

Outro ponto que deve ser observado na confecção dos relatórios diz respeito ao conteúdo, não sendo válida a simples apresentação de percentuais que podem ser obtidos por qualquer leitor das demonstrações contábeis visto que a informação relevante diz respeito ao comentário ou apreciação dos fatores endógenos e exógenos que influenciaram as variações incorridas.

O relatório da administração, como peça integrante das demonstrações financeiras, deverá complementar as peças contábeis e notas explicativas, observada a devida coerência com a situação nelas espelhada, formando um quadro completo das posturas e do desempenho da administração na gestão e alocação dos recursos que se encontram a elas confiados. A seguir, apresenta-se um quadro que contempla tais informações.

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Tabela 2 – Informações Obrigatórias contidas no Relatório da Administração.

Elemento Descrições

Descrição dos negócios, produtos e serviços.

� Ramo da atividade da companhia; � Principais produtos; � Áreas de atuação; � Dados físicos sobre vendas; � Informações sobre o segmento de atuação

Comentários sobre a conjuntura econômica geral

� Variáveis econômicas; � Variáveis legais e fiscais; � Variáveis governamentais; � Variáveis políticas; � Variáveis ambientais; � Variáveis sociais; � Outros fatores exógenos.

Recursos Humanos

� Quantidade de empregados; � Divisão geográfica da mão-de-obra; � Nível educacional; � Investimentos em treinamento.

Investimentos

� Inversões de recursos em imobilizado; � Aplicações no diferido; � Outras inversões para futura imobilização.

Pesquisa e Desenvolvimento � Atual estágio dos projetos, recursos alocados e montantes aplicados.

Novos produtos e serviços � Novos produtos e serviços colocados no mercado; � Expectativas relativas a esses produtos e serviços.

Proteção ao meio ambiente � Inversões em projetos de proteção ecológica; � Objetivos das inversões e valores envolvidos.

Reformulação administrativa ou societária

� Mudanças efetuadas; � Reorganizações societárias; � Programas de racionalização.

Investimentos em controladas e coligadas

� Objetivos pretendidos com as inversões ou alienações realizadas nas controladas ou coligadas.

Direitos dos acionistas e dados do mercado

� Políticas relativas à distribuição de dividendos; � Desdobramentos e grupamentos de ações. � Valor patrimonial por ação; � Volume negociado no período; � Cotação das ações em bolsa de valores.

Perspectivas e planos para o exercício em curso e futuros

� Expectativas quanto aos exercícios correntes e futuros baseados em premissas e fundamentos explicitamente colocados.

Empresas investidoras � Informações anteriormente recomendadas relativas a empresa investidas.

Fonte: Adaptado de Iudicibus, Martins e Gelbcke apud Pereira (2008, p. 33)

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Para Hendriksen e Van Breda (1999) é muito forte a tendência de que as companhias divulgarão toda a informação necessária para o bom funcionamento do mercado. Embora não exista um consenso sobre quais seriam as informações de natureza voluntária em relatórios anuais das companhias. A seguir, apresenta-se um quadro contemplando tais informações.

Tabela 3 – Informações voluntárias contidas no Relatório da Administração

Elemento Descrições

Informações gerais e não financeiras

� Principais mercados e market share; � Estratégia (metas e objetivos); � Ambiente de negócios e fatores críticos de acesso; � Eventos importantes no ano; � Estrutura organizacional; � Relatório social ou Demonstração do Valor Adicionado; � Eficiência operacional.

Informações Financeiras Adicionadas

� Unidades vendidas; � Retorno sobre o Patrimônio; � Retorno sobre o Ativo; � EBITDA; � Demonstração do Fluxo de Caixa.

Análise de Tendências e Discussão e análise gerencial

� Tendência da receita ao longo dos últimos anos; � Vendas por região e/ou unidade de negócio; � Tendência do lucro operacional ao longo dos últimos anos; � Investimento por região e/ou unidade de negócio; � Tendência de comportamento das ações e retorno total para o acionista; � Discussão sobre mudanças no lucro operacional.

Risco, criação de valor e projeções

� Uso e implementação de gestão de risco; � Exposição ao risco cambial; � Medidas quantitativas de criação de valor para o acionista; � Compensação gerencial; � Perspectivas de novos projetos; � Projeções de lucro, vendas e crescimento;

Fonte: Adaptado de Lanzana apud Pereira (2008, p. 35)

3. METODOLOGIA

Objetivando analisar se as empresas listadas na BM&FBOVESPA que fizeram doações a partidos políticos nas eleições municipais de 2008 e 2012 evidenciaram esse fato nos seus demonstrativos financeiros, o estudo utilizou-se de uma metodologia que seguiu uma estratégia exploratória e descritiva, tendo em vista que o objetivo da presente pesquisa foi explorar uma realidade não conhecida.

A base inicial de dados foi composta pelos processos de prestação de contas anual dos diretórios nacionais de cada partido político submetidos ao Tribunal Superior Eleitoral -TSE (disponíveis em www.tse.jus.br), referentes aos anos de 2008 e 2012, ou seja, apenas de eleições municipais, não levando em consideração os dados correspondentes às eleições de 2010. Em cada processo consta uma listagem constituída dos valores recebidos por doação e os respectivos doadores, estando estes valores apresentados em ordem cronológica por dia do ano. Para se definir as empresas a serem pesquisadas em relação às informações referentes ao

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ano de 2008, realizou-se uma separação entre pessoas físicas e jurídicas, por meio de uma reorganização dos dados de maneira a descobrir quanto cada uma das empresas doou aos partidos políticos. Obteve-se então uma planilha com mais de 300 linhas, contendo os nomes de cerca de 230 empresas.

Buscou-se então averiguar quais destas empresas estavam listadas na BM&FBOVESPA, além de informações a respeito do controle de cada uma, pois uma empresa não listada poderia ser controlada por outra empresa que estivesse listada. Foram excluídas da base de dados as empresas que não estavam listadas na BM&FBOVESPA, além daquelas que não eram controladas por alguma empresa que fosse listada.

Estabeleceu-se então um recorte pelo critério do valor total das doações, com intuito de obter as doações mais significativas. Foram excluídas da base de dados as empresas que realizaram doações menores que R$ 1.000.000,00 (Hum Milhão de Reais). Dessa forma obteve-se a planilha final, composta de onze empresas. Para análise dos valores correspondentes às doações correspondentes às eleições de 2012, foram consideradas apenas as onze empresas pesquisadas em 2008, conforme o critério acima exposto, a saber: Andrade Gutierrez Participações S/A, Banco Bradesco S/A, Banco Santander (Brasil) S/A, Camargo Correia Cimentos S/A, Companhia Siderúrgica Nacional, Contax Participações S/A, Gerdau S/A, JBS S/A, JHSF Participações, Suzano Papel e Celulose S/A e Vale S/A.

Através do sistema de Divulgação Externa (DivExt) da BM&FBOVESPA foram obtidas as Informações Anuais (IAN) e os Demonstrativos Financeiros Padronizados (DFP) referentes aos anos de 2008 e 2012 das onze empresas selecionadas, analisando-se naquelas os dados referentes ao controle sobre outras empresas e nestes as Demonstrações do Resultado do Exercício, as Demonstrações do Fluxo de Caixa, as Notas Explicativas e os Relatórios da Administração em busca de referências a doações efetuadas a partidos políticos.

4. ANÁLISE DE RESULTADOS

O valor total de doações recebidas pelos partidos políticos nas eleições do ano de 2008 foi de R$ 143.651.817,00. Deste valor, R$ 52.935.660,00 (36,85%) foram doados pelas empresas listadas na BM&FBovespa que foram selecionadas para as análises deste estudo, enquanto R$ 90.716.157,00 (63,15%) foram doados pelas demais empresas.

Já em relação ao ano de 2012, as doações de Pessoas Jurídicas aos Partidos Políticos brasileiros, totalizaram R$ 451.356.543,94; valor bastante superior àqueles arrecadados quatro anos antes. Deste montante, as onze empresas pesquisadas foram responsáveis pela transferência de R$ 113.825.000,00; o que representa 25,21% do total. Este valor corresponde a mais que o dobro das doações feitas por elas nas eleições municipais anteriores.

A seguir são apresentados os valores das doações efetuadas por cada uma das onze empresas aos partidos políticos. Os valores explicitados são o resultado da soma das doações efetuadas pelas empresas selecionadas e pelas suas controladas. Para melhor visualização dos dados, nesta tabela não foi considerado o destino das doações efetuadas, sendo expostos apenas os valores doados em sua totalidade.

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Tabela 4

Empresas Andrade Gutierrez Participações S/ABanco Bradesco S/A Banco Santander (Brasil) S/A Camargo Correa Cimento S/A Companhia Siderúrgica Nacional Contax Participações S/A Gerdau S/A JBS S/A JHSF Participações Suzano Papel e Celulose S/A Vale S/A Total

Fonte: elaboração própria com base nos dados do site do TSE

Nas Eleições Municipais de 2008, dpesquisa, 03 fizeram doações a apenas um partido político: a Camargo Correa Cimentos S/A, a JBS S/A e a JHSF Incorporações. As demais distribuíram suas doações a mais de um partido. Observou-se ainda que todas as quantias ao DEM e ao PT. Apenas a JBS S/A e a Camargo Correa Cimentos S/A não doaram valores ao DEM, assim como apenas a JHSF Incorporações S/A e a Camargo Correa Cimentos S/A não fizeram doações ao PT.

Dos 08 partidos políticos contemplados com doações das efoi o partido que recebeu mais doações, somando R$ 24.300.000,00. Por outro lado o PTB foi o partido que recebeu menos doações, totalizando R$ 750.000,00. Percebeucentralização das quantias doadas, pois a soma das doaçõcom menores doações não alcança o montante recebido pelo terceiro partido com maiores valores doados.

Em se tratando de valores doados em 2012, os partidos que menos receberam recursos foram o PEN e o PPL, com R$ 50.000,0recebeu doações de empresas listadas na Bolsa, foi o PMDB, somando R$ 33.390.000,00.

Os dados percentuais da distribuição dos valores recebidos por partido político podem ser visualizados no quadro a segui

Quadro 1 – Distribuição percentual das doações entre os partidos políticos em 2008

Fonte: elaboração própria com base nos dados do site do TSE

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Tabela 4 – Empresas e Respectivas Doações aos Partidos Políticos

2008 2012 Andrade Gutierrez Participações S/A 13.475.000,00 56.785.000,00

9.050.000,00 2.575.000,00 4.730.000,00 4.550.000,00 2.500.000,00 13.340.000,00 1.535.660,00 - 5.500.000,00 5.840.000,00 3.400.000,00 1.180.000,00 1.500.000,00 11.660.000,00 1.200.000,00 1.400.000,00 2.515.000,00 675.000,00 7.530.000,00 15.820.000,00 52.935.660,00 113.825.000,00

com base nos dados do site do TSE

Municipais de 2008, das 11 empresas selecionadas3 fizeram doações a apenas um partido político: a Camargo Correa Cimentos S/A,

a JBS S/A e a JHSF Incorporações. As demais distribuíram suas doações a mais de um se ainda que todas as 08 empresas que diversificaram suas doações doaram

ntias ao DEM e ao PT. Apenas a JBS S/A e a Camargo Correa Cimentos S/A não doaram valores ao DEM, assim como apenas a JHSF Incorporações S/A e a Camargo Correa Cimentos S/A não fizeram doações ao PT.

8 partidos políticos contemplados com doações das empresas selecionadas, o PT foi o partido que recebeu mais doações, somando R$ 24.300.000,00. Por outro lado o PTB foi o partido que recebeu menos doações, totalizando R$ 750.000,00. Percebeucentralização das quantias doadas, pois a soma das doações recebidas pelos cinco partidos com menores doações não alcança o montante recebido pelo terceiro partido com maiores

Em se tratando de valores doados em 2012, os partidos que menos receberam recursos foram o PEN e o PPL, com R$ 50.000,00 e 100.000,00 respectivamente. O partido que mais recebeu doações de empresas listadas na Bolsa, foi o PMDB, somando R$ 33.390.000,00.

Os dados percentuais da distribuição dos valores recebidos por partido político podem ser visualizados no quadro a seguir:

Distribuição percentual das doações entre os partidos políticos em 2008

com base nos dados do site do TSE

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Empresas e Respectivas Doações aos Partidos Políticos

Total 70.260.000,00 11.625.000,00 9.280.000,00 15.840.000,00 1.535.660,00 11.340.000,00 4.580.000,00 13.160.000,00 2.600.000,00 3.190.000,00 23.350.000,00 166.760.660,00

as 11 empresas selecionadas para este trabalho de 3 fizeram doações a apenas um partido político: a Camargo Correa Cimentos S/A,

a JBS S/A e a JHSF Incorporações. As demais distribuíram suas doações a mais de um 8 empresas que diversificaram suas doações doaram

ntias ao DEM e ao PT. Apenas a JBS S/A e a Camargo Correa Cimentos S/A não doaram valores ao DEM, assim como apenas a JHSF Incorporações S/A e a Camargo Correa

mpresas selecionadas, o PT foi o partido que recebeu mais doações, somando R$ 24.300.000,00. Por outro lado o PTB foi o partido que recebeu menos doações, totalizando R$ 750.000,00. Percebeu-se certa

es recebidas pelos cinco partidos com menores doações não alcança o montante recebido pelo terceiro partido com maiores

Em se tratando de valores doados em 2012, os partidos que menos receberam recursos 0 e 100.000,00 respectivamente. O partido que mais

recebeu doações de empresas listadas na Bolsa, foi o PMDB, somando R$ 33.390.000,00.

Os dados percentuais da distribuição dos valores recebidos por partido político podem

Distribuição percentual das doações entre os partidos políticos em 2008

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Quadro 2 – Distribuição percentual das doações entre os partidos políticos

Fonte: elaboração própria com base nos dados do site do TSE

A seguir são apresentados dados mais detalhados sobre as doações, além do resultado das análises dos demonstrativos financeiros de cada empresa selecionada neste estudo.

Todas as doações da meio de sua controlada Construtora Andrade Gutierrez S/A. Ela também foi responsável pela maior soma doada a um partido político no ano de 2008, destinada ao PT, no valor de R$ 5.850.000,00. Além disso, ecom as demais empresas, totalizando o2012, a empresa continuou sendo a que proporcionou o maior volume de doações, atingindo R$ 56.785.000,00. O Partido que mais recebeu recursos vindos da referida empresa foi o PMDB (R$ 15.875.000,00). listagem na BM&FBOVESPA(Demonstrativos Financeiros Padronizados) publicados pela empresa, além do relatório da administração, não foi encontrada nenhuma referência a doações realizadas a partidos políticos em nenhum dos anos

O Banco Bradesco S/ABanco Alvorada S/A e Alvorada Cartões Crédito e Financiamentos S/A, sendo aquele responsável por 57% e esta por 43% do total das doações, que foi R$ 9.050.000,00. A companhia faz parte do Nível Diferenciado de Governança CorporatiBM&FBOVESPA. Na análise das demonstrações contábeis inseridas nos DFP publicados pela empresa, além do relatório da administração, não foi encontrada nenhuma referência a doações realizadas a partidos políticos.de R$ 2.575.000,00 aos partidos políticos. As maiores doações foram realizadas ao DEM e PMDB, somando R$ 1.450.000,00 e R$ 625.000,00 respectivamente.

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Distribuição percentual das doações entre os partidos políticos em 2012

com base nos dados do site do TSE

A seguir são apresentados dados mais detalhados sobre as doações, além do resultado das análises dos demonstrativos financeiros de cada empresa selecionada neste estudo.

Todas as doações da Andrade Gutierrez Participações S/A meio de sua controlada Construtora Andrade Gutierrez S/A. Ela também foi responsável pela maior soma doada a um partido político no ano de 2008, destinada ao PT, no valor de R$ 5.850.000,00. Além disso, esta foi a empresa que teve a maior soma doada, em comparação

totalizando o valor de R$ 13.475.000,00. Relativamente ao ano de 2012, a empresa continuou sendo a que proporcionou o maior volume de doações, atingindo

O Partido que mais recebeu recursos vindos da referida empresa foi o PMDB (R$ 15.875.000,00). A companhia não faz parte de nenhum segmento especial de

BM&FBOVESPA. Na análise das demonstrações contábeis inseridas nos DFP iros Padronizados) publicados pela empresa, além do relatório da

administração, não foi encontrada nenhuma referência a doações realizadas a partidos em nenhum dos anos.

Banco Bradesco S/A fez suas doações, no ano de 2008, por meio das controladas Banco Alvorada S/A e Alvorada Cartões Crédito e Financiamentos S/A, sendo aquele responsável por 57% e esta por 43% do total das doações, que foi R$ 9.050.000,00. A companhia faz parte do Nível Diferenciado de Governança Corporati

. Na análise das demonstrações contábeis inseridas nos DFP publicados pela empresa, além do relatório da administração, não foi encontrada nenhuma referência a doações realizadas a partidos políticos. No ano de 2012 o Banco foi responsável pela doação de R$ 2.575.000,00 aos partidos políticos. As maiores doações foram realizadas ao DEM e PMDB, somando R$ 1.450.000,00 e R$ 625.000,00 respectivamente.

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A seguir são apresentados dados mais detalhados sobre as doações, além do resultado das análises dos demonstrativos financeiros de cada empresa selecionada neste estudo.

foram realizadas por meio de sua controlada Construtora Andrade Gutierrez S/A. Ela também foi responsável pela maior soma doada a um partido político no ano de 2008, destinada ao PT, no valor de R$

sta foi a empresa que teve a maior soma doada, em comparação Relativamente ao ano de

2012, a empresa continuou sendo a que proporcionou o maior volume de doações, atingindo O Partido que mais recebeu recursos vindos da referida empresa foi o

A companhia não faz parte de nenhum segmento especial de . Na análise das demonstrações contábeis inseridas nos DFP

iros Padronizados) publicados pela empresa, além do relatório da administração, não foi encontrada nenhuma referência a doações realizadas a partidos

por meio das controladas Banco Alvorada S/A e Alvorada Cartões Crédito e Financiamentos S/A, sendo aquele responsável por 57% e esta por 43% do total das doações, que foi R$ 9.050.000,00. A companhia faz parte do Nível Diferenciado de Governança Corporativa – Nível 1 na

. Na análise das demonstrações contábeis inseridas nos DFP publicados pela empresa, além do relatório da administração, não foi encontrada nenhuma referência a

esponsável pela doação de R$ 2.575.000,00 aos partidos políticos. As maiores doações foram realizadas ao DEM e

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O Banco Santander S/A doou um total de R$ 4.730.000,00 em 2008 e R$ 4.550.000,00 em 2012. A companhia faz parte do Nível Diferenciado de Governança Corporativa – Nível 2 na BM&FBOVESPA. Na análise das demonstrações contábeis inseridas nos DFP publicados pela empresa, além do relatório da administração, não foi encontrada nenhuma referência a doações realizadas a partidos políticos.

As doações da Cia Siderúrgica Nacional somaram R$ 1.535.660,00 em 2008, dos quais R$ 1.235.660,00 foram doados pela sua controlada Galvasud S/A. A companhia não faz parte de nenhum segmento especial de listagem na BM&FBOVESPA. Na análise das demonstrações contábeis inseridas nos DFP publicados pela empresa, além do relatório da administração, não foi encontrada nenhuma referência a doações realizadas a partidos políticos.

A Contax Participações foi a empresa que fez doações à maior quantidade de partidos políticos nas eleições de 2008, num total de 8. Todas as doações foram feitas por meio de sua controlada TNL Contax S/A. Em 2012 as doações somaram R$ 5.840.000,00 divididos para apenas 04 partidos, DEM, PMDB, PSB e PSD. Quem mais recebeu recursos foi o PSD (R$ 2.130.000,00). A companhia não faz parte de nenhum segmento especial de listagem na BM&FBOVESPA. Na análise das demonstrações contábeis inseridas nos DFP publicados pela empresa, além do relatório da administração, não foi encontrada nenhuma referência a doações realizadas a partidos políticos.

Dos R$ 3.440.000,00 doados pela Gerdau S/A em 2008, R$ 2.440.000,00 foram por meio de suas controladas Gerdau Comercial de Aços S/A e Gerdau Aços Longos S/A. Entre as empresas pesquisadas e conforme os dados correspondentes às doações em 2012, a Gerdau é a que provavelmente tenha estabelecido algum critério para doações a partidos políticos, haja vista os valores serem equivalentes, R$ 100.000,00 (PMDB e PT), R$ 150.000,00 (PP), R$ 200.000,00 (DEM e PCdoB), muito embora o PSDB tenha recebido R$ 430.000,00. A companhia faz parte do Nível Diferenciado de Governança Corporativa – Nível 1 na BM&FBOVESPA. Na análise das demonstrações contábeis inseridas nos DFP publicados pela empresa, além do relatório da administração, não foi encontrada nenhuma referência a doações realizadas a partidos políticos.

As doações da Vale S/A somaram R$ 7.530.000,00 em 2008. Todas as doações foram feitas por meio de suas controladas: a Minerações Brasileiras Reunidas MBR S/A, Vale Manganês S/A e Rio Doce Manganês S/A. A companhia faz parte do Nível Diferenciado de Governança Corporativa – Nível 1 na BM&FBOVESPA. Em 2012, as doações totalizaram 15.820.000,00. Na análise das demonstrações contábeis inseridas nos DFP publicados pela empresa, além do relatório da administração, não foi encontrada nenhuma referência a doações realizadas a partidos políticos.

A JHSF Incorporações S/A (que doou R$ 1.200.000,00), a JBS S/A (que doou R$ 1.500.000,00) e a Camargo Correa Cimentos S/A (que doou R$ 2.500.000,00) fizeram doações a apenas um partido político, a saber: DEM, PT e PSDB respectivamente, em 2008. A Suzano Papel e Celulose S/A doou R$ 2.515.000,00 a dois partidos, com uma notável discrepância nos valores doados a cada um deles. As doações realizadas por estas empresas durante o ano de 2012 são: JHSF Incorporações S/A (R$ 1.400.000,00), JBS S/A (R$ 11.660.000,00), Camargo Correa Cimentos S/A (R$ 13.340.000,00) e Suzano Papel e Celulose S/A (R$ 675.000,00). A JHSF S/A e a JBS S/A fazem parte do segmento especial de listagem Novo Mercado, a Camargo Correa Cimentos S/A não faz parte de nenhum segmento

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especial de listagem e a Suzano Papel e Celulose S/A faz parte do Nível Diferenciado de Governança Corporativa – Nível 1 na BM&FBOVESPA. Na análise das demonstrações contábeis inseridas nos DFP publicados pelas empresas JHSF S/A, JBS S/A e Camargo Correa Cimentos S/A, além dos respectivos relatórios da administração, não foi encontrada nenhuma referência a doações realizadas a partidos políticos.

A Suzano Papel e Celulose S/A foi a única empresa dentre as selecionadas neste estudo que apresentou algum tipo de evidenciação referente à doação realizada a partidos políticos. No seu relatório da administração do ano de 2008 (e apenas neste ano), ela publicou o trecho reproduzido no quadro a seguir. Apesar de se destacar das demais entidades, a informação publicada pela Suzano é insuficiente, pois não discrimina a quais partidos as doações foram feitas e nem são expostos quais foram os critérios adotados para a determinação dos valores doados e dos destinatários.

Quadro 3 – Trecho retirado do relatório da administração da Suzano Papel e Celulose S/A - 2008

Fonte: Divulgação Externa - BM&FBOVESPA

Os resultados encontrados neste estudo confirmam o que outros autores observaram ao analisar os níveis de evidenciação da informação no ambiente empresarial. Dantas, Zendersky e Niyama (2004) comentam que as empresas limitam-se a evidenciarem o que é exigido pela legislação ou normas dos órgãos reguladores e relutam em aumentar o nível de evidenciação com o intuito de protegerem informações de natureza estratégica. Dias Filho e Nakagawa (2001) mostram que mais importante do que fornecer um elevado número de informação é informar o que seja necessário e de forma compreensível, possibilitando melhores resultados no processo decisório.

A falta de esclarecimentos a respeito das doações efetuadas para financiamento de campanhas eleitorais cria um ambiente de assimetria informacional no relacionamento entre a empresa e seus usuários externos, uma vez que esses gastos não podem ser visualizados nos demonstrativos publicados pelas companhias. Essa assimetria se mostra presente pelo fato de que não é possível identificar quem foram as pessoas responsáveis pela decisão de realizar as doações aos partidos e dos valores a serem doados, nem tampouco saber quais os parâmetros adotados para a entrega dos recursos. Pela leitura dos DFP não é possível visualizar qual a relação entre as empresas selecionadas neste estudo e os partidos políticos, nem a motivação para estas contribuírem voluntariamente com o financiamento das campanhas eleitorais de um determinado partido em detrimento de outro qualquer.

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Como explicar, no ano de 2008, a decisão da Suzano Papel e Celulose S/A de doar R$ 2.500.000,00 ao PT e R$ 15.000,00 ao DEM? Ou a da Vale S/A de doar R$ 5.750.000,00 ao PT e R$ 50.000,00 ao PTB? Ou a da Gerdau, que doou R$ 1.000.000,00 ao PSDB, ao PR e ao PT? Como explicar a Contax Participações S/A ter feito doações a 8 partidos diferentes e a JHSF Incorporações S/A ter doado a apenas um partido? Por que a JBS S/A só fez doações ao PT e a Camargo Correa Cimentos S/A só fez doações ao PSDB? Os usuários externos das empresas selecionadas para este estudo que fizerem estes questionamentos ao ler os DFP ficarão sem resposta.

Durante o ano de 2012, a falta de critério nas doações, bem como a não apresentação de informações nos relatórios específicos das referidas empresas permanecem, assim como ocorrido em 2008. O Bradesco, por exemplo, fez doações que variaram de R$ 75.000,00 (PSDB) a R$ 1.450.000,00 (DEM). O PT recebeu apenas 2.000.000,00; valor muito baixo se comparado aos R$ 24.300.000,00 no ano de 2008.

Uma possível explicação para a ausência de evidenciação dessas informações poderia recair sobre o princípio da materialidade na elaboração dos demonstrativos. Porém, é possível perceber que a materialidade se rende à conveniência e oportunidade de divulgar determinado fato, a depender dos possíveis benefícios que a divulgação trará à empresa. Isso fica claro ao se observar um trecho do relatório da administração do Banco Bradesco S/A:

Quadro 4 – Trecho retirado do relatório da administração do Banco Bradesco S/A - 2008

Fonte: Divulgação Externa - BM&FBOVESPA

Distribuindo-se uniformemente os R$ 74.000.000,00 investidos em áreas remanescentes da Mata Atlântica no período de 20 anos citado, tem-se uma média de R$ 3.700.000,00 investidos por ano, bem abaixo dos R$ 9.050.000,00 doados durante o ano de 2008, aos quais não foi feita nenhuma referência no relatório.

Ao tratar da temática da produção e utilização de informações, Kam (1986) apud Lima et al (2010) ensina que a informação é relevante para uma decisão se ela pode reduzir a incerteza sobre as variáveis inseridas no processo decisório. A falta de divulgação de informações que respondam a alguns dos questionamentos propostos anteriormente fragiliza a relevância e a confiabilidade das peças contábeis produzidas e publicadas aos usuários externos das empresas selecionadas, aumentando assim as incertezas sobre as variáveis envolvidas no processo de tomada de decisão.

A evidenciação não é uma convenção ou princípio contábil. Ela está relacionada ao objetivo da Contabilidade de garantir informações de acordo com as necessidades dos usuários de forma que as demonstrações não se tornem enganosas (IUDÍCIBUS, 2006).

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A Ciência Contábil, por sua natureza social, está sujeita a inexatidões provocadas pelo aspecto comportamental e a níveis de subjetividade inerentes ao processo de construção de seus demonstrativos. O que deve ser observado com cautela no momento da manipulação das informações é o limite entre a discricionariedade e arbitrariedade de quem as detém. A influência de convicções políticas e a possível intenção de troca de interesses escusos camuflados sob o princípio da materialidade – ou outra justificativa qualquer – na construção das demonstrações deturpam a essência e a finalidade da ciência, que é a de produzir informações relevantes e, acima de tudo, verdadeiras.

5. CONCLUSÃO

Em resposta ao objetivo proposto, concluiu-se que apenas uma das onze empresas selecionadas neste estudo evidenciou a realização de doações a partidos políticos na publicação dos DFP – Demonstrativos Financeiros Padronizados e apenas no ano de 2008. Ainda assim, não foi possível identificar quais os valores doados nem os parâmetros e critérios adotados por ela para escolha dos partidos contemplados, gerando um ambiente de assimetria informacional para os usuários externos da entidade.

Os usuários externos à entidade têm nas informações contábeis um arcabouço teórico que os guiará no conhecimento da situação econômica, financeira e administrativa em que a empresa se encontra. A maior disponibilidade de informações diminui o grau de incerteza destes usuários a respeito dos resultados futuros da empresa, o que os auxiliará no processo de tomada de decisão. Para que seu objetivo seja alcançado, a contabilidade deve ser capaz de produzir informações relevantes sobre a entidade, visto que a comunicação destas informações se torna inócua se não houver utilidade para quem as recebe.

Nesse ambiente a contabilidade deve atuar como o elo entre o meio corporativo e a sociedade, funcionando como agente de redução da assimetria informacional existente entre as vontades dos administradores e as necessidades dos usuários da informação (LOPES e MARTINS, 2005).

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RELAÇÃO ENTRE ESTRUTURA DE PROPRIEDADE E ASSIMETRIA DE INFORMAÇÃO NO MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO

AUTORES: Thamirys de Sousa Correia e Orleans Silva Martins

RESUMO

Esta pesquisa teve o objetivo de investigar as relações existentes entre as estruturas de propriedade e controle das empresas e a assimetria da informação nas negociações de suas ações. Para isso, apoiou-se em um referencial acerca da Teoria da Agência, reportando as principais evidências da literatura de estrutura de propriedade e assimetria de informação. Assim, foram coletados os dados das empresas abertas que negociaram ações na BM&FBOVESPA, no período de 2008 a 2013, a partir do banco de dados da Economatica®, considerando a mudança do padrão contábil brasileiro ao padrão internacional diante da Lei Nº 11.638/2007. Constatou-se que empresas com elevada concentração de propriedade apresentaram indícios de maior assimetria de informação quando não estão listadas no segmento Novo Mercado de governança corporativa. Ainda, a assimetria apresentou indícios de relação mais forte com a concentração de controle do que com a concentração de propriedade. Por fim, empresas listadas no segmento Novo Mercado possuíram relação entre as concentrações de propriedade e de controle e a assimetria informacional de forma semelhante àquela identificada nos mercado de capitais desenvolvidos, nos quais a assimetria é reduzida com a pulverização das ações entre diversos acionistas, sugerindo existência do efeito entrincheiramento. Contudo, nas empresas fora desse segmento as concentrações de propriedade e de controle tenderam a reduzir a assimetria de informação, indicando o efeito alinhamento.

Palavras-chave: Estrutura de propriedade. Estrutura de Controle. Assimetria da informação.

1 INTRODUÇÃO

Em pleno século XXI, a análise da estrutura de propriedade e controle das empresas tem se tornado importante no mercado de capitais, principalmente em países nos quais a concentração das ações entre poucos investidores é evidente, como no Brasil (CAIXE; KRAUTER, 2013), para que se possa compreender o reflexo desse fenômeno tanto sobre as práticas de governança corporativa como sobre o desempenho das organizações.

Segundo Caixe e Krauter (2013), uma grande concentração acionária pode vir a beneficiar os acionistas controladores de uma empresa, no sentido de dominar o processo decisório, além de proceder à expropriação da riqueza dos acionistas minoritários. Ainda, de acordo de Silveira (2008), boa parte da literatura tem buscado avaliar se a distinção na proteção aos investidores em ambientes contratuais diferentes, no que tange à estrutura de propriedade comparada entre empresas de diversas nações, ocasiona maior concentração acionária. Contudo, por causa de peculiaridades intrínsecas ao seu setor de atividade, empresas de um mesmo país podem ter níveis de concentração de propriedade distintos.

No caso do mercado brasileiro, Campos (2006) verificou que as empresas abertas se caracterizam por ter uma grande concentração acionária e reduzido número de acionistas que possuem o controle de suas ações, ao passo em que há duas classes diferentes de ações, as

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ordinárias (com direito de voto) e as preferenciais (sem direito de voto). Nesse contexto se verifica a Teoria da Agência como sendo um arcabouço teórico voltado à análise das relações existentes entre os que participam da organização, em que o controle e a propriedade são destinados a diferentes indivíduos, podendo ocasionar conflitos de interesse (JENSEN; MECKLING, 1976).

Nesse sentido, Chaganti e Wood (1984), observam que os investidores se dividem em duas categorias: insiders, aqueles que possuem grande participação acionária e atuam na gestão da empresa; e outsiders, que apesar de terem ações, não têm o poder de influência nas decisões da empresa. Assim, os insiders podem vir a praticar insiders trading, ou negociações com informação privilegiada, consequência de diferente nível informacional existente entre as partes envolvidas no contrato, isto é, principal e agente (JENSEN; MECKLING, 1976). Dessa forma, além de possuir um conhecimento privilegiado sobre a empresa, em relação ao outsiders, os insiders obtêm maior eficiência em sua tomada de decisões (DENARDIN, 2007).

Com isso, devido à possível existência de assimetria informacional entre o principal e o agente, ou acionistas controladores e minoritários, conflitos de interesses podem vir a ocorrer. Belo e Brasil (2006) destacam dois tipos de conflitos: a seleção adversa, que surge no momento em que um lado do mercado não tem conhecimento sobre o tipo ou a qualidade de bens e serviços que estão à disposição do outro (lado). Ocorre quando uma das partes age de forma oportunista antes da elaboração do contrato por deter informação exclusiva; e o risco moral, que ocorre no momento em que um lado do mercado não pode observar as atitudes do outro, ou seja, impossibilidade de o principal observar o nível de esforço do agente ou a utilização de informações por parte do agente em benefício próprio, trazendo prejuízo ao principal.

Nesse contexto surge a questão de pesquisa que norteia este estudo: quais são as relações das estruturas de propriedade e de controle das empresas que compõem o mercado acionário brasileiro com a assimetria de informação existente na negociação de suas ações? De acordo com isso, tem-se como objetivo de investigar as relações entre as estruturas de propriedade e de controle das firmas listadas na BM&FBOVESPA e a assimetria de informação existente na negociação de suas ações entre os anos de 2008 e 2013. Para tanto, foi analisado um painel de dados de 226 empresas por meio de modelos de regressão Tobit, sendo possível verificar que as práticas de governança corporativa exercem uma influência negativa sobre as relações dessas estruturas com a assimetria, uma vez que o aumento da concentração de propriedade e controle sugeriu aumento da assimetria de informação entre as empresas listadas no Novo Mercado e redução entre as empresas não listadas nesse segmento.

2. REFERÊNCIAL TEÓRICO

2.1 ESTRUTURA DE PROPRIEDADE E TEORIA DA AGENCIA

Um dos primeiros relatos da separação entre propriedade, representada pelos acionistas, e controle, representada por gestores, foi realizada por Smith (1989) em seu estudo intitulado “The Wealth of Nations”. Nele esse autor abordou a preocupação com a estrutura de propriedade da organização, evidenciando os custos que podem ocasionar caso o administrador não levasse em consideração os anseios dos proprietários. E Berle e Means (1932), na obra “The Modern Corporation and a Private Property” observaram o quanto as

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empresas estavam crescendo e a dificuldade de mantê-las nas mãos de um único dono, na medida em que o controle estava sendo repassado para administradores.

No século XXI, Balassiano (2012) argumenta que a estrutura de propriedade se refere à estrutura societária da organização, evidenciando o percentual de ações de um acionista em relação ao total de ações da empresa, bem como, é a relação entre a quantidade de recursos alocados por acionistas internos (gestores da companhia) e externos (investidores sem atuação na gestão). Além disso, pode ser determinada sob dois parâmetros: a identidade do acionista majoritário, ou seja, categoria com controle acionário da organização, tais como uma família, um governo, um banco, um investidor institucional ou uma companhia não financeira; além da concentração da propriedade, que diz respeito às ações detidas por acionista ou grupo de acionistas (CAMPOS, 2006).

A estrutura de controle se refere ao percentual de ações com direito ao voto que possui um acionista, em relação ao total de ações com direito a voto, na medida em há duas classes diferentes de ações, as ordinárias (ON), com direito a voto, e as preferenciais (PN), sem direito a voto, em que, no caso brasileiro, é evidente a participação de acionistas controladores com bastante poder, porém com pouca alocação de recursos (BALASSIANO, 2012). Claessens e Fan (2002) e Andrade e Rossetti (2006) determinam os efeitos incentivo e entrincheiramento da estrutura de propriedade e controle na valorização da empresa, em que no efeito-alinhamento (ou incentivo), havendo uma concentração na propriedade, ocorrerão impactos positivos no desempenho corporativo por meio de possíveis reduções nos custos de agência, enquanto que no efeito-entrincheiramento, na medida em que é ampliada a concentração de propriedade e controle, pela participação dos grandes acionistas, principalmente no controle da organização, o conselho de administração perde espaço para o poder exercido pelo controlador.

A concentração da propriedade pode influenciar na expropriação do fluxo de caixa da empresa de diversas maneiras, desde pagamento de salário a si próprio até a autonomeação em cargos executivos privilegiados (OKIMURA, 2003). De acordo com La Porta et al. (1998) é observada a concentração da propriedade e controle na maioria dos países. Demsetz e Lehn (1985) e Himmelberg et al. (1999) apresentam os motivos que podem vir a determinar a concentração da estrutura de propriedade: escopo para gastos definidos pelo livre-arbítrio do gestor ou natureza da operação da empresa; tamanho da empresa; nível do fluxo de caixa livre; taxa de investimento; risco idiossincrático; desempenho corporativo; setor de atividade; e tipo do acionista controlador. Dessa maneira, Campos (2006) identificou que o acionista majoritário possuía em média 61,01% das ações ordinárias das empresas analisadas, detendo o controle, bem como evidenciando o grau de concentração da propriedade. Quanto às categorias, foi constatado que o governo é o acionista maior apenas no setor de eletricidade, já a presença das famílias ocorre nos empreendimentos mais tradicionais, como alimentos e comércio.

Nesse aspecto, Young et al. (2008) destaca que a expropriação dos acionistas minoritários pode ser acompanhada por colocar membros da família menos qualificados e engajar-se em estratégias com avanço pessoal, familiar ou agendas políticas em detrimento do desempenho da empresa. Aliado a isso, La Porta et al. (1998) afirma que isso pode ocasionar em interesses da família como sendo mais evidentes que os dos acionistas e demais stakeholders da organização, devido ao poder de voto predominante, além do envolvimento com a gestão, contribuindo com políticas e projetos que beneficiam a si próprio, em detrimento da organização. Mas, por outro lado, Okimura (2003) afirma que a família

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controladora contribui para um maior monitoramento da administração por meio de seus membros na gestão, minimizando os custos incorridos.

Quanto à Teoria da Agência, serve como base para a análise da estrutura de propriedade, em que pode variar de acordo com os conflitos de agência, podendo determinar o papel do agente e do principal, onde o primeiro detém a informação que influenciará a decisão dos acionistas minoritários, ocasionando um retorno satisfatório ou não para o segundo. Dessa forma, o principal deverá proporcionar meios de induzir o agente a prestar um bom serviço que atenda também aos seus interesses, ou seja, o principal se compromete a remunerar satisfatoriamente o agente. Além disso, o principal tem de arcar com o risco do empreendimento. Isso surge como problema quando principal e agente têm diferentes propensões ao risco e, em função disso, podem adaptar diferentes ações (HENDRIKSEN; BREDA, 1999).

Assaf Neto (2010) argumenta que os conflitos de interesses podem ocorrer também entre administradores proprietários e acionistas externos. Como exemplo, os gestores que possuem uma pequena parte de “ações” desejam não apenas o crescimento da organização, mas também melhores salários, benefícios e regalias. Nisso os acionistas podem se achar prejudicados por optar em dar ênfase à agregação de valor da empresa. Ainda, Assaf Neto (2010) relata os conflitos de agências entre os acionistas e credores.

No caso do Brasil, contudo, esse conflito entre gestor e acionista é menos relevante quando comparado a outros países, como exemplo, os Estados Unidos, onde o capital das empresas é bastante pulverizado. As empresas brasileiras apresentam, em sua maioria, um controlador (ou bloco controlador) que detém a maior parte das ações ON (ordinárias), que dão direito a voto, conquistando assim o controle da empresa (BALASSIANO, 2012). Ou seja, esse é o conflito de agência mais evidente no Brasil, de acordo com Campos (2006), pois diz respeito aos acionistas majoritários e minoritários, uma vez que os majoritários podem vir a expropriar os ganhos dos minoritários.

Coutinho et al. (2006) afirmam que os conflitos de agência influenciam de maneira direta as decisões de investimento e financiamento da organização, aspectos centrais de sua gestão. O futuro da empresa é decidido por seus gerentes e não por seus proprietários e os interesses desses dois grupos nem sempre convergem, ao passo que aspectos importantes do cotidiano da organização são decididos sem que os proprietários os influenciem. Diante do exposto ainda vale lembrar que, os autores evidenciam o custo de agência, em que é o resultado das perdas de riqueza da organização como fruto dos conflitos que ocorrem no caso dos agentes e principais. Jensen e Meckling (1976) relatam que para minimizar os conflitos, devem ser criados mecanismos (sistemas de monitoramento e incentivos) para garantir que o comportamento dos executivos esteja alinhado com o interesse dos acionistas, assim incorre-se em custos de agência, que incluem custos de monitoramento pelo principal, custos de comprometimento do agente e perda residual.

2.2 ASSIMETRIA DE INFORMAÇÃO

Inicialmente a assimetria da informação foi discutida por Akerlof (1970), sendo ilustrado o caso do mercado norte-americano de carros usados, na pesquisa referente à market

for lemons, em que os carros já velhos são conhecidos como lemons (limões), ao passo que, quem vende o automóvel tem pleno conhecimento das condições do veículo, enquanto quem compra desconhece tais condições e, ainda, o comprador já vai disposto a pagar um preço

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mais baixo pelo veículo. Em consequência, quem tem um carro bom não quer vender, pois vai receber aquém do valor real do seu veículo. Ou seja, em muitos casos o vendedor de um determinado produto conhece mais a respeito de sua qualidade do que o comprador. Em outro exemplo, os administradores de empresa podem vir a ter mais conhecimento a respeito dos custos, da posição competitiva e das oportunidades de investimentos da organização do que até mesmo os proprietários (HENDRIKSEN; BREDA, 1999; PINDYCK; RUBINFELD, 2002).

Segundo Fama (1965) um mercado de capitais que possa ser considerado eficiente é aquele em que dadas às informações disponíveis, os preços reais em cada ponto do tempo representam boas estimativas de valores intrínsecos. Dessa maneira, um mercado passa a mostrar resultados no momento em que não há a assimetria informacional, sendo assim é verificada a importância dos investidores possuírem informações adequadas no processo de tomada de decisão, auxiliando na correta precificação dos ativos, caso contrário, a informação inadequada acarretará em precificação incorreta, além da demora nos ajustes dos preços, pois com mercado eficiente os preços dos ativos passarão sinais eficazes para a adequada alocação dos recursos, afinal as informações são simétricas (BELO; BRASIL, 2006).

No que diz respeito à assimetria informacional no mercado de capitais, como medida para sua mensuração se deve atentar para alguns modelos, bem como proxies para essa assimetria. Dierkens (1991) aborda quatro proxies, são eles: volatilidade dos retornos acionários, os lucros anormais em torno dos resultados trimestrais da empresa, o número de anúncios públicos sobre a empresa e a intensidade de negociação. No Brasil, algumas pesquisas têm feito uso de proxies tais como dispersão do retorno das ações, o fato de possuir American Depository Receipts (ADR) cotado na NYSE e de aderirem aos níveis diferenciados de governança corporativa da BM&FBOVESPA (ALBANEZ, 2008).

Charke e Shastri (2000) abordam três modelos de proxies em âmbito internacional para a assimetria, são eles: previsões dos analistas, que possuem uma tendência a convergir com as informações disponibilizadas sobre o ativo; conjunto de oportunidades de investimento da empresa, que demonstra o fato de que administradores de organização em crescimento têm maior conhecimento sobre as oportunidades de investimento que os investidores; e microestrutura de mercado (como a probability of informed trading), realizado através de pesquisas de processo e efeitos de negociação de ativos no mercado de capitais, com vantagens maiores, em relação aos demais, pois possibilita a estimação através de uma série temporal de dados mais curtos em torno de eventos de interesse.

Havendo a assimetria informacional, podem ocorrer conflitos de interesse. Assim, Lanzana (2004) constatou que a assimetria da informação surge quando a empresa possui informações relevantes que ainda não foram disponibilizadas ao público, contudo, podem ser obtidas de forma privada por alguns investidores. Até que esta informação esteja disponível no preço das ações, cria-se um problema de seleção adversa, impondo risco informacional aos participantes de mercado não informados. Ou seja, a seleção adversa ocorre no momento em que existe a assimetria informacional, a priori, onde uma das partes que possui envolvimento nos negócios. Como exemplo, um contrato realizado por clientes com certa frequência de consumo, ou seja, o grau de risco de uma seguradora. Contudo, no momento em que é lançado ao mercado ele atrai clientes com frequência de consumo mais evidente, sem que quem estiver ofertando tenha conhecimento a princípio do nível de risco dos clientes. Quanto ao risco moral, esta surge quando a assimetria em situação ex post ao firmamento do contrato, em que os agentes não arcam com a totalidade de custos de suas atitudes (BRUNETTI, 2010).

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Uma forma de minimizar um dos problemas da informação assimétrica, a seleção adversa, é a utilização de sinalização (signalling). Nesse caso, o agente toma a iniciativa de “sinalizar” o seu tipo ou qualidade antes de assinar o contrato, de tal forma que o principal possa saber qual é o seu tipo ou qualidade (o agente se movimenta primeiro). Dessa forma, o agente pode (através da emissão do sinal) antes do principal ofertar o contrato, influenciar as crenças do principal sobre sua verdadeira identidade. A filtragem (screening) é outra forma de reduzir conflitos ocasionados pela seleção adversa. Em que, o principal realiza uma ação a fim de determinar o tipo ou qualidade do agente (o principal se movimenta primeiro). Assim, o principal pode obter indiretamente as características do agente. O principal deve estruturar um contrato em torno de uma variável que induza a auto-seleção, ou seja, agentes com diferentes tipos tenham escolhas diferentes. (BRESSAN et al., 2007).

2.3 HIPÓTESES

O estudo foi estruturado por meio de um conjunto de três hipóteses, nas quais suas verificações são possíveis a partir das análises estatísticas. Sendo que a primeira relaciona-se a concentração de propriedade com o nível de assimetria, pois Albanez e Valle (2009) observaram que é possível afirmar que a assimetria da informação é um dos determinantes da estrutura de capital das empresas de no Brasil, visto a significância estatística e econômica encontrada com utilização de proxies representativas, bem como pelas análises de dados em painel que foram realizadas. Assim, tem-se a primeira hipótese de pesquisa deste estudo:

H1: Empresas que possuem maior concentração de propriedade apresentam indícios de maior assimetria de informação.

De forma similar, é possível esperar que a concentração de controle possua relação notável com a assimetria da informação. Pois, com base em Duarte e Young (2009), nos mercados emergentes, como o Brasil, devido à concentração de ações nas mãos de poucos investidores, aliada à baixa liquidez de alguns papéis e às deficiências do sistema de regulação, é aberto espaço para a prática de insider trading, potencializando a assimetria de informação existente na negociação de ações. Com isso, presume-se:

H2: Empresas que possuem maior concentração de controle apresentam indícios de maior assimetria de informação.

Por fim, a terceira hipótese sugere que a relação entre a assimetria informacional e a concentração de controle seja mais evidente, em comparação à concentração de propriedade, pois de acordo com Campos (2006) as empresas de capital aberto no Brasil se caracterizam por grande concentração de controle, uma vez que sua pulverização de propriedade é caracterizada pela emissão de ações preferenciais, que não dão direito a voto. Assim, conjetura-se a última hipótese deste estudo:

H3: A assimetria de informação apresenta indícios de relação mais forte com a concentração de controle do que com a concentração de propriedade.

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3 METODOLOGIA

3.1 POPULAÇÃO E AMOSTRA

Os dados para realização desta pesquisa foram coletados a partir do banco de dados da Economatica® para todas as empresas abertas que negociaram suas ações na Bolsa de Valores, Mercados e Futuros (BM&FBOVESPA), no período de 2008 e 2013. A escolha do período a partir do ano de 2008 se deu por conta da mudança do padrão contábil brasileiro ao padrão internacional das International Financial Reporting Standards (IFRS), com o advento da Lei Nº 11.638/2007. Na sua amostra foram mantidas apenas as empresas que possuíam informações disponíveis sobre todas as variáveis econômico-financeiras investigadas, além de estarem classificadas como ativas na Bolsa, isto é, que atualmente negociam ações. Ainda, para aquelas firmas que possuíam mais de uma classe de ação sendo negociada, foi considerada apenas 1 (uma) ação por empresa, sendo aquela com maior liquidez. Ao passo que a Tabela 1 demonstra quantas empresas foram retiradas da amostra por não possuírem informações necessárias à pesquisa.

Tabela 1: Amostra das companhias abertas que negociam ações na BM&FBOVESPA.

Critérios Nº de Empresas %

Empresas ativas que negociam ações na BM&FBOVESPA 370 100,0

Empresas com ausência de informações 144 38,9

Amostra Final 226 61,1

3.2 VARIÁVEIS PARA ESTRUTURA DE PROPRIEDADE E CONTROLE

As variáveis para “estrutura de propriedade” e “estrutura de controle” foram coletadas a partir do Economatica®, sendo observada a média anual do percentual total de ações totais (ordinárias e preferenciais) para a concentração de propriedade e do percentual total de ações ordinárias para a concentração de controle. Essas variáveis foram obtidas para o maior, os 3 (três) maiores e os 5 (cinco) maiores acionistas, representando a concentração percentual de ações por cada um desses grupos. Dessa forma, teve-se seis variáveis dependentes.

3.3. PROXIES PARA ASSIMETRIA DA INFORMAÇÃO

a) Retorno Anormal da Ação

De acordo com Brown e Warner (1985) o retorno anormal da ação consiste na diferença entre o retorno estimado e o retorno efetivo da ação na data do evento, em que há três modelos para a sua mensuração: retorno ajustado à média, retorno ajustado ao risco e ao mercado, além do retorno ajustado ao mercado. Esse último é adotado na presente pesquisa, sendo calculado para a ação mais líquida de cada organização o excesso de retorno esperado, por meio da distinção entre o retorno da ação e o retorno da carteira de mercado do período, representado pela carteira teórica do Índice Bovespa. Dessa forma o retorno anormal foi determinado conforme Brown (1985), de acordo com a Equação 1, em que, ARit é o retorno anormal da ação i no período t, Rit é o retorno da ação i no período t, e E(Rit/Xt) evidencia o retorno estimado da ação i no período t, dado o retorno de Xt (Xt mostra o comportamento do mercado por meio da Ibovespa).

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���� = ��� – � ���� � ! (1)

Nesse contexto, espera-se uma relação negativa do retorno anormal com a estrutura de propriedade, além da concentração de controle.

b) Volatilidade

Sabendo-se que volatilidade é a variação no preço das ações, em que é definido o risco de mercado, o desvio-padrão dos retornos contínuos das ações, foi calculada pela Equação 2, em que o Volatit representa a volatilidade i no período t, Si é o logaritmo neperiano das cotações das ações i no período t (di/di-1) , i=1,..., n; Sm é a média de S1, S2, S3, ...Sn; e PPA são os períodos por ano.

"#$%���&∑((�)(*)+, - ../ (2)

A alta volatilidade indica elevado custo de seleção adversa, implicando em maior assimetria de informação entre os investidores (HALOV; HEIDER, 2011), dessa forma, sabendo-se que uma alta volatilidade do mercado acionário brasileiro pode vir a provocar um aumento do nível de incerteza em relação aos eventos futuros, espera-se uma relação significativa e negativa no que tange a estrutura de propriedade e controle.

c) Beta (β)

O coeficiente Beta (β) representa o risco. Segundo Damodaran (1999) o risco é a probabilidade de perda ou dano ocasionado por exposições em situações em que há uma expectativa de ganho, além de poder ser sistemático, ou não diversificável. O primeiro ocorre no momento em que se referiram a fatores que afetam somente a uma empresa ou a um número pequeno de empresas. O segundo, o risco não diversificável, é a parcela de risco que afeta o mercado como um todo, estando relacionado às oscilações no comportamento dos instrumentos financeiros. Sendo assim, a variável Beta (β) foi calculada de acordo com a Equação 3, em que, βi representa a covariância do retorno da ação com o retorno de mercado pela variância do retorno de mercado:

β� = 012((3��),(34�)) σ²(34�) (3)

Segundo Himmelberg et al. (1999) quanto maior for o risco idiossincrático da empresa, ou seja, o risco não sistemático, menor será a concentração de propriedade desejada, pois tal risco torna mais cara a posse das ações da organização por parte da empresa. Nesse aspecto, no caso do coeficiente beta, representado pelo risco sistemático, espera-se uma relação negativa para com a estrutura de propriedade.

d) Market-to-book

O Market-to-book foi determinado pela relação entre o Valor de mercado e Ativo Total da amostra selecionada de empresas. De acordo com Chen e Zhao (2006), o Market-to-book é um indicador com função de medir as diversas oportunidades de crescimento das firmas, pois relaxa as premissas do Q de Tobin de que a informação no mercado de capitais é perfeita, além de armazenar a assimetria da informação do

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mercado mostrando a variação nas decisões de investimento para maximização de valor. O índice Market-to-book é determinado pela Equação 4, em que O MBit é o índice do Market-to-book que é a relação do valor de mercado com o valor contábil da empresa i no período t; VMit diz respeito ao valor de mercado da empresa i no final do período t; e Ait é o valor contábil do ativo total da empresa i no final do período t.

MB�� = 78��/�� (4)

Ainda, para Clarke e Shastri (2000) uma maneira de mensurar a assimetria da informação do mercado de capitais é observar a oportunidade de avanços na empresa, tais como a proxies de Market-to-book, para que seja verificada expectativa de futuros investidores. Pelos motivos apresentados espera-se uma relação negativa para com a estrutura de propriedade.

e) Governança Corporativa

Sabendo-se que a Governança Corporativa tem papel fundamental no que tange ao desempenho dos processos, políticas, leis, costumes e princípios enfatizados para a boa gestão da organização, bem como participar do processo decisório, foram destacadas entre as empresas que emitem ações na BM&FBOVESPA, àquelas que também fazem uso dos mecanismos de Governança Corporativa. Pois, para Terra e Lima (2006) com ambiente de equilíbrio e informações simétricas, em que todos os envolvidos na transação possam estabelecer contratos completos, a governança corporativa teria papel nulo, sendo assim, a governança corporativa é a resposta às assimetrias da informação e contratuais nas organizações.

Almeida et al. (2008) relata que a Bovespa, em 2000, implantou os níveis diferenciados de governança corporativa para proporcionar melhorias nas práticas de governança corporativa, aumentando os direitos dos acionistas minoritários evidenciando a transparência das informações divulgadas ao mercado. A adesão das companhias, ao Nível 1 ou ao Nível 2, depende do grau do compromisso assumido através do contrato firmado entre a companhia e a Bovespa. Em que, as que estão classificadas no Nível 1 devem melhorar a prestação de informações ao mercado, entre outras obrigações adicionais à legislação. Já as listadas no Nível 2 comprometem-se a cumprir as exigências estabelecidas para o Nível 1, além de adotar regras mais amplas de práticas de governança, ampliando os direitos dos acionistas minoritários. Já no Novo Mercado, a empresa deve assinar um contrato no qual se compromete a utilizar um conjunto de regras societárias que aumentam os direitos dos acionistas e melhora a qualidade das informações prestadas para os usuários externos, em que a firma deve possuir apenas ações ordinárias, ou seja, ações que possuem direito de voto. Na presente pesquisa, como forma de mensurar a Governança, foi atribuído o valor 1 às companhias que estão no Novo Mercado e valor 0 aos demais casos.

f) Emissão de American Depositary Receipts (ADR)

Sakamoto (2011) afirma que Depositary Receipts (DR) são títulos emitidos pelas empresas, em que são negociados fora do mercado doméstico, sendo que para cada mercado internacional, em geral existe uma denominação em particular, na qual DR no mercado norte americano, de acordo com as regras da Security and Exchange

Comission (SEC), são denominados American Depository Receipts (ADR), tendo

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como vantagens ampliar a quantidade de investidores, melhorar a imagem da empresa, facilitar fusões e aquisições internacionais, e outros. Dessa forma, Iquiapaza et al. (2007) relatam que havendo maior acesso ao mercado americano, a divulgação de informações necessita que seja realizado com maior rigor por parte da organização, diminuindo a assimetria da informação. Sendo assim foram analisadas todas as empresas da amostra que emitiram ADR no mercado norte-americano no período compreendido para a pesquisa. Para isso criou-se uma variável binária que assumiu valor 1 (um) quando a empresa emitiu e negociou ADR na bolsa de Nova York e 0 (zero), caso contrário.

3.4 MODELO DE REGRESSÃO

Neste trabalho foram utilizados modelos de regressão múltipla, com dados em painel. Suas variáveis dependentes foram as concentrações de ações no maior, três e cinco maiores acionistas, respectivamente, e suas variáveis independentes forma as proxies de assimetria de informação utilizadas neste caso: retorno anormal, volatilidade, beta, market-to-book, governança e emissão de ADR.

Além dos dados serem organizados em painel, foram utilizados os testes de Breusch-Pagan para decidir entre estimação por pooled ou efeitos aleatórios, de Chow para decidir por pooled ou efeitos fixos e de Hausman para decidir por efeitos fixos ou aleatórios. A final verificou-se que a estimação por pooled era a mais constitente. Todavia, como as variáveis dependentes são probabilidades, isto é, truncadas entre 0% e 100%, optou-se por utilizar o modelo Tobit estimado por máxima verossimilhança. O modelo Tobit assume uma distribuição normal truncada ou censurada, sendo um eficiente método para estimar a relação entre esse tipo de variável dependente e outras variáveis explicativas. Seu diferencial é que o Tobit usa todas as informações em sua estimativa, incluindo a referente ao truncamento, fornecendo parâmetros mais consistentes.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Nessa seção são apresentados os resultados das estimações das regressões múltiplas com dados em painel, em que no primeiro momento a análise se refere à relação entre a concentração de propriedade do maior, dos 3 (três) maiores e dos 5 (maiores) acionistas, em termos de ações totais (ordinárias e preferenciais) e, em seguida, são enfatizadas as relações entre a concentração de controle do maior, dos 3 (três) maiores e dos 5 (maiores) controladores, considerando apenas as ações ordinárias possuídas.

Em se tratando da estrutura de propriedade, foram analisadas as relações das variáveis de controle American Depository Receipts (ADR) e governança corporativa (GC). A variável ADR não apresentou significância estatística na relação com a estrutura de propriedade e, por essa razão, não foi mantida na análise. Já a variável GC apresentou significância e relação negativa com essa estrutura, indicando que o fato de a empresa estar listada no Novo Mercado tende a reduzir a concentração de sua propriedade. Isso condiz com Silveira (2004), que ratifica que a GC é determinante da estrutura de propriedade. Segundo esse autor, quanto maior for o percentual de ações ordinárias (ON) em posse do controlador, na teoria, maior será a possibilidade de ocorrer expropriação dos acionistas minoritários, além de diminuir o nível de governança corporativa devido à concentração de controle.

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Por outro lado, a companhia poderia apresentar uma melhor GC como uma maneira de compensar o aumento na possibilidade de expropriação. Silveira (2004) ainda argumenta que quanto maior as ações em posse dos controladores, maiores poderiam vir a ocorrer expropriações, o que poderia a desencadear ao melhor nível de GC em decorrência do aumento da participação do controlador nos direitos de fluxo de caixa, como também levar a um pior nível de GC pela participação do controlador no capital total ser evidente, e um mecanismo de governança, diminuindo assim a necessidade de adotar melhores práticas.

Na relação entre a concentração de propriedade e a assimetria de informação, a partir da análise dos dados foi possível observar que essa concentração no maior acionista apresentou relação negativa e significante com a volatilidade do preço das ações da empresa (coeficiente = -0,020) e com seu Beta de risco (-10,973), indicando que o aumento da concentração de propriedade tende a diminuir essas varáveis. Ainda, verificou-se a relação positiva e significante com a variável Market-to-book (0,721). Já a variável de controle “governança corporativa” apresentou efeito negativo e significante sobre a concentração de propriedade (-7,784). Assim, as empresas que estão listadas nos níveis diferenciados de governança apresentaram relação positiva e significante com a volatilidade (0,134) e negativa com o índice Market-to-book (-2,737), como pode ser observado na Tabela 2.

Em se tratando dessa relação com a concentração de propriedade dos 3 (três) maiores acionistas, conforme a Tabela 2, a variável Beta de risco (-19,301), bem como a volatilidade (-0,032) também apresentaram uma relação negativa, na medida em que se pode verificar uma relação positiva no que tange à variável Market-to-book (0,400). A “governança corporativa” demonstrou uma relação inversa com estrutura de propriedade, assim como na relação com o maior acionista. Dessa forma, entre as empresas listadas no Novo Mercado a relação da concentração de propriedade com as proxies de assimetria foi positiva e significante com a volatilidade (0,186) e negativo com o Market-to-book (-2,617). Ainda, diferente do resultado encontrado no maior acionista, nos 3 (três) maiores ocorre uma relação significante entre a concentração de propriedade e a variável de risco Beta (7,177), prevalecendo a relação positiva.

Tabela 2: Regressões da Estrutura de Propriedade com as proxies da Assimetria de Informação

Dependente Maior 3 Maiores 5 Maiores

Explicativas Coeficiente Estatística t Coeficiente Estatística t Coeficiente Estatística t

Constante 45,511 21,046*** 68,982 33,459*** 75,404 39,686***

Retorno Anormal -0,002 -0,154 0,014 0,871 0,022 1,476

Volatilidade -0,020 -1,876* -0,032 -2,511** -0,040 -3,085***

Beta -10,973 -4,018*** -19,301 -7,151*** -20,886 -8,111***

Market-to-Book 0,721 5,711*** 0,400 4,975*** 0,303 4,572***

DummyGC -7,784 -2,301** -13,412 -4,349*** -13,699 -4,719***

DGC x RA 0,024 1,135 0,007 0,359 0,001 0,088

DGC x Volat 0,134 2,455** 0,186 3,635*** 0,212 4,149***

DGC x Beta 2,318 0,635 7,177 1,953* 6,909 1,926*

DGC x MB -2,737 -3,240*** -2,617 -3,551*** -2,772 -3,826***

O resultado obtido entre a concentração de propriedade e os 5 (cinco) maiores acionistas em empresas da amostra evidenciam a relação negativa e significante no que se refere à volatilidade (-0,040), bem com o beta (-20,886). Ainda deve ser ressaltado a relação positiva com o Market-to-book (0,303) e a relação negativa verificada com a “governança corporativa”

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(-13,699). Entre as empresas do Novo Mercado houve relação positiva e significante com a volatilidade (0,212) e o beta (6,909), enquanto com o Market-to-book (-2,772) a relação foi significante e negativa, assim como nos resultados anteriores. Vale ressaltar que as demais variáveis não foram analisadas porque não apresentaram significância estatística.

Dessa forma, tanto a volatilidade quanto o Beta apresentou uma relação negativa para o maior, os 3 (três) e os 5 (maiores) acionistas, conforme esperado, enquanto o Market-to-book

teve relação positiva com a concentração de propriedade, contradizendo os resultados esperados. Por outro lado, no nível diferenciado de governança corporativa foi constatada uma volatilidade positiva para o maior, os 3 (três) e os 5 (maiores) acionistas, enquanto positiva para o Beta entre os 3 (três) e os 5 (maiores) acionistas. Já com o Market-to-book prevaleceu a relação negativa. Isto sugere que entre empresas com práticas diferenciadas de governança corporativa as relações entre a concentração de propriedade e as proxies de assimetria de informação são diferentes das demais firmas, não listadas no segmento Novo Mercado de governança.

É intuitiva a conclusão de que a governança corporativa é determinante da estrutura de propriedade (SILVEIRA, 2006). Iquiapaza, Lamounier e Amaral (2007) utilizaram variáveis dummies para verificar a presença de menor ou maior assimetria da informação, representadas pela adesão da organização aos níveis diferenciados de governança corporativa da BM&FBOVESPA, quando verificou que a governança exige das firmas maior divulgação de informações, minimizando a assimetria da informação. Neste estudo, entre as empresas listadas no Novo Mercado, a concentração de propriedade tem apresentado aumento da assimetria de informação. Assim, entre essas empresas, pode-se dizer que a concentração de ações aumenta a assimetria de informação (conforme BYUN; HWANG; LEE, 2011), enquanto que entre as empresas que estão fora desse segmento a concentração de propriedade apresenta relação inversa com a assimetria, sugerindo que a concentração de ações reduz a assimetria de informação (conforme TERRA; LIMA, 2006).

Na Tabela 3 são apresentadas as relações da estrutura de controle com a assimetria de informação. Nela a variável dependente é o percentual de ações com direito de voto do(s) principal(is) acionista(s) em relação ao total de ações com direito de voto. Para o maior acionista, o retorno anormal apresentou coeficiente negativo (-0,039), assim como a volatilidade (-0,054). Já o Market-to-book teve coeficiente positivo e significante (0,303). Já a variável dummy “governança corporativa” apresentou-se significante, contudo negativa (-27,016). Com isso, a concentração de controle das empresas do Novo Mercado apresentaram relação positiva e significante com o retorno anormal (0,061) e a volatilidade (0,170) e relação negativa com o Market-to-book (-2,328).

Tabela 3: Regressões da Estrutura de Controle com as proxies da Assimetria de Informação

Dependente Maior 3 Maiores 5 Maiores Explicativas Coeficiente Estatística t Coeficiente Estatística t Coeficiente Estatística t Constante 64,751 24,558*** 85,724 43,216*** 89,734 53,385*** Retorno Anormal -0,039 -1,666* -0,013 -0,684 -0,005 -0,321 Volatilidade -0,054 -3,942*** -0,061 -4,488*** -0,064 -5,108*** Beta -3,240 -0,913 -6,242 -2,195** -6,529 -2,630*** Market-to-Book 0,303 4,720*** -0,014 -0,201 -0,082 -0,999*** DummyGC -27,016 -7,292*** -30,149 -9,944*** -28,024 -10,141 DGC x RA 0,061 2,272** 0,034 1,555 0,029 1,517 DGC x Volat 0,170 3,043*** 0,217 4,194*** 0,238 4,644*** DGC x Beta -5,412 -1,259 -5,882 -1,555 -7,447 -2,114**

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DGC x MB -2,328 -2,779*** -2,212 -3,003*** -2,396 -3,299***

Quanto a análise referente aos 3 (três) maiores acionistas, há significância da concentração de controle, sendo negativa a volatilidade (-0,061) e o Beta de risco (-6,242). A “governança corporativa” mantém seu efeito negativo (-30,149) sobre essas relações, de modo que a volatilidade (0,217) demonstra relação positiva e o Market-to-book (-2,212) negativo, entre as empresas do Novo Mercado.

Na relação para os 5 (cinco) maiores acionistas, tanto a volatilidade (-0,064) quanto o Beta (-6,529) e o Market-to-book (-0,082) possuem relação negativa, ou seja, quanto maior a concentração de controle, menor tendem a ser tais variáveis (proxies de assimetria de informação). Ainda como resultado dessa análise, entre as empresas do Novo Mercado a volatilidade (0,238) teve relação positiva e o Market-to-book (-2,396) negativa. Assim, percebe-se que entre as empresas listadas no segmento Novo Mercado de governança corporativa a assimetria de informação tende a reduzir com a pulverização das ações das empresas, como observado por Byun, Hwang e Lee (2011), já entre as empresas não listadas nesse segmento, de forma contrária, a assimetria tende a diminuir com a concentração de controle, ratificando Terra e Lima (2006).

Vale destacar que o Beta apresentou relação inversa tanto entre as empresas do Novo Mercado, quanto com aquelas fora desse segmento, sugerindo que as práticas de governança corporativa não afetam tal relação, permanecendo a relação inversa, em que a assimetria reduz com o aumento da concentração, e vice-versa. O mesmo pode ser observado para o Market-

to-book para as ações acumuladas pelos 5 (cinco) maiores acionistas. Ademais, as variáveis que não apresentaram significância estatística não foram analisadas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo buscou verificar as relações das estruturas de propriedade e de controle de empresas que compõem o mercado acionário brasileiro com a assimetria de informação existente na negociação de suas ações. No tocante às hipóteses de pesquisa, a primeira hipótese (H1) sugeriu que empresas que possuem maior concentração de propriedade apresentariam indícios de maior assimetria de informação, o que pode ser verificado apenas entre as empresas que não estão listadas no segmento Novo Mercado de governança corporativa. A exceção foi a variável Market-to-book que apresentou relação positiva. Por outro lado, para empresas listadas no Novo Mercado, H1 pode ser rejeitada, pois a relação da concentração de propriedade com as proxies foi positiva, indicando que a assimetria só pode ser reduzida com a pulverização das ações das empresas.

Em se tratando da segunda hipótese (H2), que pressupôs que as firmas que possuem maior concentração de controle apresentariam indícios de maior assimetria de informação, os resultados foram ainda mais significantes. Assim, entre empresas não listadas no Novo Mercado é perceptível que maior concentração de controle indica menor assimetria de informação, ratificando H2, haja vista as relações inversas com o retorno anormal, a volatilidade, o Beta e, ainda, o Market-to-book para o grupo de 5 (cinco) maiores acionistas. Por outro lado, H2 pode ser rejeitada para as empresas que estão listadas nesse segmento de governança corporativa, tendo em vista as relações positivas entre as variáveis. Mais uma vez, a exceção fica por conta da variável Market-to-book, além do Beta para o grupo de 5 (cinco) maiores acionistas.

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A última hipótese de pesquisa (H3) indicou que a assimetria de informação apresentaria indícios de relação mais forte com a concentração de controle do que com a concentração de propriedade. Na análise com a concentração de propriedade, a variável retorno anormal não apresentou relação significativa em nenhum caso. Já no modelo com a concentração de controle todas as variáveis apresentaram pelo menos uma relação significante. Ainda, a variável Beta e Market-to-book tiveram relações negativas tanto entre as empresas listadas no Novo Mercado quanto naquelas fora dele. Dessa forma, observa-se que H3 não pode ser rejeitada.

Percebe-se que empresas que possuem práticas diferenciadas de GC e estão listadas no segmento Novo Mercado apresentam relação entre as concentrações de propriedade e de controle e a assimetria informacional de forma semelhante àquela identificada nos mercado de capitais desenvolvidos, nos quais a assimetria é reduzida com a pulverização das ações entre diversos acionistas, caracterizando o efeito entrincheiramento. Por outro lado, verifica-se que entre aquelas empresas fora desse segmento as concentrações de propriedade e de controle tendem a reduzir a assimetria de informação, caracterizando o efeito alinhamento (ou incentivo), o que é comum em mercados emergentes onde há fraca proteção legal aos acionistas.

Por fim, atenta-se para as principais limitações deste estudo, como o fato de ter analisado uma amostra limitada de empresas da BM&FBOVESPA, entre o período de 2008 e 2013. Ainda, as proxies adotadas para a assimetria de informação, não mensurável diretamente, que apesar de sua escolha ter se pautado na literatura adjacente, apenas representam uma parte da realidade em questão. Por isso, seus resultados não devem ser generalizados. Não obstante, destaca-se que tais limitações não invalidam o estudo.

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UM ESTUDO SOBRE A ÉTICA DO PROFISSIONAL CONTÁBIL NA PERCEPÇÃO DE ESTUDANTES

AUTORES: Carlos Eduardo Lima dos Anjos, Aline Alcântara Bezerra de Sousa, Marcleide Maria Macêdo Pederneiras, Jorge Expedito de Gusmão Lopes e Daniela Cíntia de Carvalho Leite Menezes.

RESUMO Há tempos que a formação ética e humanística dos contabilistas vem sendo alvo de críticas por parte da sociedade. A discussão das questões éticas referentes ao exercício da profissão contábil contribui para o esclarecimento do verdadeiro intuito dessa classe profissional para com a sociedade. Com o objetivo de conhecer a percepção dos estudantes do curso de Ciências Contábeis do Campus IV- UFPB acerca da ética na profissão contábil, realizou-se uma pesquisa do tipo levantamento, com análise quantitativa, da qual fizeram parte 249 respondentes. A análise dos dados permitiu inferir que, apesar da lacuna existente em sua formação ética como parte da formação profissional, a julgar pela existência de alunos que não conhecem ou não leram o CEPC, mesmo estando em períodos finais do curso, os estudantes estão dispostos a exercer a profissão contábil de acordo com as imposições e normas do código e consideram a ética uma ferramenta de valorização profissional e reconhecimento social. Portanto, futuros profissionais que podem contribuir para o enobrecimento e credibilidade da classe à qual pertencerão, derrubando os estereótipos negativos e equivocados atribuídos aos contabilistas pela sociedade, ao longo de sua história. Palavras-chave: Ética. Profissão Contábil. Percepção Estudantil. 1 INTRODUÇÃO

O profissional contábil desempenha uma função de extrema relevância e responsabilidade dentro de uma sociedade, tendo em vista que é de sua incumbência cuidar do patrimônio daqueles que lhe demandam serviços, controlando-o e, quando possível, por meio de práticas legais, fazendo-o crescer. Contudo, apesar de sua relevância no contexto econômico-social, não raro, tem sua imagem atrelada a casos de desvios de dinheiro, conduta antiética e escândalos empresariais, passível de julgamentos e rotulagem por parte até de pessoas que nunca lhe demandaram um único serviço.

Essa visão generalizada e, portanto, equivocada, que se criou acerca da classe contabilista é histórica e se perpetua; escândalos passados de fraudes empresariais que tiveram grande repercussão na mídia envolvendo esses profissionais (como exemplos, os casos Enron, Arthur Andersen, WorldCom), bem como a conduta antiética e, consequentemente, antiprofissional de um mínimo de contabilistas, tem manchado a imagem de toda a classe contábil e contribuído com a sua desvalorização perante a sociedade.

Acerca da conduta antiética de alguns profissionais da contabilidade, que acabam transgredindo as normas e os padrões de comportamento para o exercício dessa profissão, Carvalho (2002) comenta que, em certos casos, é a relação de poder que os obriga a agirem em contrário à ética profissional, ao temerem perder o emprego ou o cliente. Contudo, como

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afirma o próprio autor, “se todos os profissionais agissem conforme a ética, esses que detêm o poder econômico não conseguiriam forçá-los a agirem de modo contrário, pois não encontrariam quem o fizesse” (CARVALHO, 2002, p. 38).

Autores como Mussolini (1994) e Fari e Nogueira (2007) destacam o papel da conduta ética aliada aos conhecimentos técnicos na busca pela valorização profissional e de uma imagem qualificada perante a sociedade. Nessa mesma linha, “o valor profissional deve acompanhar-se de um valor ético para que exista uma integral imagem de qualidade” (SÁ, 2001, p. 138). Isso posto, fica evidente que não bastam o conhecimento e a capacidade técnica do contabilista para que ele alcance a valorização profissional e o reconhecimento social, sendo, de suma relevância nesse processo, o seu comportamento ético, baseado em um padrão de conduta irrepreensível.

Desta forma, faz-se necessário que os próprios profissionais da contabilidade trabalhem para mudar a sua imagem na sociedade. A adoção de um comportamento ético, de uma conduta idônea, norteada a partir de princípios que garantam não só a legalidade de seus atos, mas também a sua valorização, é primordial para que os contabilistas livrem-se dos estereótipos distorcidos acerca de sua imagem e postura ética, construídos equivocadamente pela sociedade, e iniciem a construção de uma nova representação social.

Diante da relevância da conduta ética no exercício profissional do contabilista e da necessidade de mudar o status desses profissionais na sociedade, o objetivo deste trabalho é conhecer a percepção dos estudantes do curso de Ciências Contábeis do Campus IV- UFPB acerca da ética na profissão contábil. A importância de se conhecer a percepção desses estudantes se justifica por serem futuros profissionais que atuarão no mercado, representando toda uma categoria profissional, sendo, portanto, já responsáveis por contribuir para mudar a imagem distorcida da classe à qual pertencerão.

De forma a atender ao objetivo acima mencionado, utilizou-se de uma pesquisa do tipo levantamento, com abordagem quantitativa, da qual participou uma amostra final de 249 alunos do curso de Ciências Contábeis do campus da referida instituição.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 ÉTICA E MORAL: diferenças e conceitos

Os vocábulos ética e moral apresentam uma forte ligação conceitual entre si. Essa relação intrínseca existente entre ambas colabora para que muitos leigos e alguns estudiosos do assunto utilizem-nas como sinônimos, assim como fez Coimbra (2002), ao afirmar que a “ética e moral são sinônimos de origens distintas, que em si uma é a mesma coisa” (COIMBRA, 2002, p.75), isto é, possuem os mesmos significados.

Todavia, o emprego destas palavras com grandes similitudes faz-se perfeitamente compreensível diante da origem etimológica das mesmas, haja vista que as duas possuem conteúdos semânticos iguais.

Confirmando o pensamento acima, Coelho (2010), expõe a razão pela qual ocorre essa sinonímia entre eticidade e moralidade, colocando em xeque a influência greco-romana. A priori, foi por parte dos filósofos gregos que partiu a classificação do ramo da filosofia que se ocupa com as ações cotidianas do indivíduo, criando assim, a expressão "ethiké epistéme",

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"ética". Já os filósofos romanos, ao traduzirem "ethiké epistéme" para o latim, utilizaram uma expressão equivalente em sua língua e deram origem a "scientia moralis", que significa "ciência dos costumes", "moral" (COELHO, 2010).

Entretanto, embora exista essa correlação entre ética e moral, ambas as palavras assumem significados diferentes e são muito distintas entre si, apesar de ainda não ser tão simples dissociá-las.

Diante desse argumento, Savater (2004, p.57) esclarece:

Aqui vai um esclarecimento terminológico. Embora eu vá utilizar as palavras ‘moral’ e ‘ética’ como equivalentes, de um ponto de vista técnico (desculpe-me estar mais professoral do que de hábito) elas não têm significado idêntico. ‘Moral’ é o conjunto de comportamentos e normas que você, eu e algumas das pessoas que nos cercam costumamos aceitar como válidos; ‘ética’ é a reflexão sobre por que os consideramos válidos e a comparação com outras ‘morais’ de pessoas diferentes. Mas, enfim, aqui continuarei utilizando as duas palavras indistintamente, sempre como arte de viver. A academia que me perdoe... (SAVATER, 2004, p. 57).

Corroborando com Savater (2004), Camargo e Fonseca (2006, p. 02) apontam que “no âmbito da filosofia faz-se uma distinção entre eles, definindo a moral como um conjunto de princípios, crenças, regras que orientam o comportamento dos indivíduos nas diversas sociedades, e a ética como a reflexão crítica sobre a moral”.

Em concordância com as linhas citadas acima, parafraseando Silva (2006), podem-se entender algumas diferenciações entre os termos, ética e moral.

No tange à moral, esta apresenta um caráter prático, fazendo-se parte integrante da vida cotidiana das sociedades, não apenas por ser um conjunto de regras que regem cada indivíduo, como foi dito por Savater (2004) e Camargo e Fonseca (2006), mas também por guiar-nos pelo caminho certo, influenciando juízos e opiniões, diferentemente da ética, que é uma reflexão filosófica, racional, sobre a moral, que procura justificá-la e fundamentá-la por meio de regras que possam ser entendidas como uma boa conduta aplicável a todos os indivíduos.

Em suma, o pensamento de Silva (2006) também nos remete a uma ética de caráter universalista, o que evidencia mais um ponto de diferenciação entre ética e moral, haja vista que a moral apresenta um caráter mais restrito, visto que esta pertence a indivíduos, e varia de pessoa para pessoa, de sociedade para sociedade.

2.2 ÉTICA NA PROFISSÃO CONTÁBIL

Exercida habitualmente nas células sociais (SÁ, 2001), a profissão contábil é, dentre todas as profissões, uma das que mais exige a todo instante um apelo ao comportamento ético (KRAEMER, 2001), pois, “no desenvolver de suas atividades profissionais, o contador tem acesso a dados e informações gerais da empresa, além de informações confidenciais, que tratam muitas vezes da estratégia empresarial da entidade e de processos decisórios da mesma” (SOARES et al, 2009, p. 8). Portanto, tão importante quanto deterem capacidade e conhecimentos técnicos, é possuírem os contabilistas responsabilidade, sigilo e diligência profissional.

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Para a realização de um bom trabalho, que atenda principalmente às necessidades dos clientes, somente a aptidão profissional, fruto dos conhecimentos e da capacidade técnica, não se faz suficiente. Nesse sentido, expõe Kraemer (2001) ser inadmissível ao contabilista deter todos os conhecimentos técnicos, para exercer sua profissão com maestria, sem que desenvolva as atividades baseando-se em um comportamento ético em relação aos colegas de classe e a terceiros interessados.

Acerca da formação do contabilista, Siqueira (2005) destaca que a formação técnica e, principalmente, ética desse profissional é vista como um cartão de visita pelas empresas. Tal visão, explica o autor, reflete na classe contábil como um todo, podendo exaltá-la como uma classe confiável, com profissionais competentes, se a conduta do contabilista seguir os preceitos éticos da profissão, ou denegri-la, caso o contabilista adote uma conduta antiética. Nesse último caso, “a imagem do profissional ganha, no mercado, a mancha vermelha da desconfiança” (JACOMINO, 2000, p. 28).

A profissão contábil, quando exercida na combinação da competência com a ética, repercute na boa reputação da classe, na atuação social (FARI; NOGUEIRA, 2007). O contabilista não deve se esquecer da ética ao exercer sua profissão; apesar da alta competitividade existente no mercado, ele deve ser capaz de integrá-la ao seu conhecimento técnico (LOPES et al, 2006) e manter padrões de comportamento ético junto à sociedade, sendo esse comportamento uma questão de sobrevivência de sua profissão (ALVES, 2007).

Fica denotada a importância da ética na profissão contábil, cujos profissionais lidam constantemente com questões e dilemas que podem desencaminhá-los de uma conduta ética em seu exercício laboral, o que pode comprometer não somente a sua carreira, mas também denegrir a imagem e a credibilidade de toda a classe à qual pertencem.

A questão ética no campo profissional apresenta-se, portanto, como uma obrigação, e não como uma opção, como uma alternativa. Ser ético na profissão contábil e em todas as outras profissões, além contribuir para a carreira profissional, é cumprir uma regra, um dever, uma obrigação; é um compromisso assumido com a sociedade e com o próprio grupo profissional do qual se faz parte.

2.3 CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO CONTADOR

De forma similar a todas as profissões legalmente regulamentadas, a profissão contábil também possui um código de ética que cria normas aplicadas ao comportamento profissional, social e moral dos membros pertencentes a esta profissão (FORTES, 2001), denominado Código de Ética Profissional do Contador (CEPC), editado em 04 de setembro de 1970, pela resolução CFC n°. 290, e atualizado, a partir de 1996, por meio da resolução CFC n°. 803/96 e suas alterações posteriores.

Ao contador, o código de ética tem o objetivo de habilitá-lo a adotar uma atitude pessoal em consonância com os princípios éticos conhecidos e aceitos pela sociedade (FIPECAFI, 1997), quando no exercício profissional e nos assuntos relacionados à profissão e à classe. Para tanto, estabelece os princípios, deveres e proibições que regem a conduta do profissional contábil, além de fazer referência ao valor dos serviços cobrados por estes profissionais, às penalidades e aos deveres para com os seus colegas e com a classe profissional (ANTONOVZ, 2010).

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Devendo ser observado tanto pelos contadores quando pelos técnicos em contabilidade, o CEPC estabelece que estes profissionais exerçam a profissão com zelo, diligência, honestidade e capacidade técnica, buscando o prestígio da classe, a dignidade profissional e o aperfeiçoamento de suas instituições, sob a pena de sofrer, em caso de infração ética, uma das seguintes penalidades- advertência reservada, censura reservada ou censura pública.

O CEPC, como orientador da conduta dos profissionais da classe contábil brasileira, fixa a forma pela qual eles devem se conduzir no exercício das suas atividades e prerrogativas profissionais estabelecidas na legislação vigente (FORTES, 2002). Para esse mesmo autor, o CEPC apresenta normas que devem ser observadas e respeitadas pelos contabilistas no exercício profissional, o que abrange a relação desses profissionais entre si, com a sociedade e seus clientes, relação essa pautada em uma conduta ética, vinculadas ao aspecto do bem, da moral e da justiça.

Na concepção de Carvalho (2002, p. 39), o CEPC “é um direcionador, pois, ao delinear os deveres, desvela também os direitos dos contabilistas em suas relações profissionais com seus pares e com seus clientes ou empregadores”. Para Lisboa (1997), além de guiar a ação moral desses profissionais, possibilita que os contadores declarem sua intenção de obedecer a preceitos sociais, exercer sua profissão com lealdade e diligência e respeitar a si próprios e a classe à qual pertencem.

Denota-se que, além de estabelecer a forma pela qual os contabilistas devem agir no exercício de sua profissão, perante a sociedade e com seus colegas de trabalho, o CEPC busca assegurar o prestígio social desses profissionais. Percebe-se que o CEPC tem a função de garantir, dentro de valores indispensáveis à relação desses profissionais com a sociedade e vice-versa, um padrão de conduta que fortaleça o reconhecimento dessa categoria profissional por parte da sociedade, revelando-se, portanto, indispensável aos contabilistas.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa descritiva, do tipo levantamento ou survey, na qual se realizou uma análise quantitativa dos dados coletados.

Com o objetivo de conhecer a percepção dos estudantes do curso de Ciências Contábeis do Campus IV- UFPB acerca da ética na profissão contábil, foi-lhes aplicado um questionário fechado, composto por 17 questões referentes à temática. A amostra final, depois de eliminados questionários de 9 alunos, por estarem parcialmente em branco ou conterem questões com mais de uma alternativa assinalada, constitui-se de 249 respondentes, número que representa 42,56% da população de estudantes (585 alunos) atualmente matriculados no curso.

O questionário é composto por questões adaptadas de Sampaio, Noya e Carvalho (2001), autores da monografia intitulada “Ética Sefaz- Código de Ética para o Grupo Fisco”, apresentada ao curso de especialização em auditoria fiscal contábil, da Universidade Federal da Bahia, e por questões elaboradas pelos autores deste estudo.

Os dados obtidos foram tabulados em planilhas do programa Microsoft Excel®, que permitiu a construção de gráficos em barras, nos quais foi quantificada, por meio de

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frequências simples relativas, a escolha das alternativas pelos questionados como forma de resposta às questões, conform

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Os três primeiros questionamentos, “sexo?”, “idade?” e “período?”, visaram à caracterização da amostra, composta então por 123 estudantes do gênero masculino e 126 do gênero feminino, totalizando 24926 a 30 anos, e 8,8%, acima de 30 anos. Ainda, de acordo com as respostas obtidas, 50,2% dos questionados cursam um dos 5 primeiros períodos iniciais do curso (do 1º ao 5º período) e 49,8% estão cursando um dos 5 períodos finais (do 6º ao 10º período).

As demais questões, apresentadas nos gráficos abaixo, buscaram conhecer a percepção dos respondentes sobre ética em geral e ética na profissão contábil.

Gráfico 1- O que você entende por comportamento

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

A questão acima buscou conhecer o que os respondentes entendem por comportamento ético. Dentre as alternativas apresentadas, a que mais se destacou, escolhida por 67,5% dos respondentes, foi “o mesmo que Lisboa (1997) define como sendo tudo que está em consonância com os princípios de conduta humana e afirma ser comum o uso dos termos justo, certo, honesto como sinônimos de ético. Explica-se, com isso, o resultacomportamento ético a um comportamento justo, a uma concepção de ética baseada na justiça. A associação entre ética e justiça também pode ser explicada por Guareschi (2008), que afirma haver um elo necessário,fato de serem resultado das relações entre os seres humanos.

O que os meus sentimentos me dizem estar certo

O que está de acordo com as minhas convicções

O que promove maior bem para a maioria das pessoas

Comportamento tradicional da nossa sociedade

O que corresponde aos meus interesses pessoais

O mesmo que comportamento justo

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frequências simples relativas, a escolha das alternativas pelos questionados como forma de resposta às questões, conforme se observa no tópico abaixo.

ANÁLISE DOS RESULTADOS

Os três primeiros questionamentos, “sexo?”, “idade?” e “período?”, visaram à caracterização da amostra, composta então por 123 estudantes do gênero masculino e 126 do gênero feminino, totalizando 249 respondentes, dos quais 70,7% têm até 25 anos, 20,5%, de 26 a 30 anos, e 8,8%, acima de 30 anos. Ainda, de acordo com as respostas obtidas, 50,2% dos questionados cursam um dos 5 primeiros períodos iniciais do curso (do 1º ao 5º período) e

sando um dos 5 períodos finais (do 6º ao 10º período).

As demais questões, apresentadas nos gráficos abaixo, buscaram conhecer a percepção dos respondentes sobre ética em geral e ética na profissão contábil.

O que você entende por comportamento ético?

A questão acima buscou conhecer o que os respondentes entendem por comportamento ético. Dentre as alternativas apresentadas, a que mais se destacou, escolhida por 67,5% dos respondentes, foi “o mesmo que comportamento justo”. Acerca do que é ético, Lisboa (1997) define como sendo tudo que está em consonância com os princípios de conduta humana e afirma ser comum o uso dos termos justo, certo, honesto como sinônimos de ético.

se, com isso, o resultado observado, o fato de relacionarem a maioria dos alunos o comportamento ético a um comportamento justo, a uma concepção de ética baseada na justiça. A associação entre ética e justiça também pode ser explicada por Guareschi (2008),

o necessário, inseparável, entre essas duas realidades, a começar pelo fato de serem resultado das relações entre os seres humanos.

2,0%

2,4%

4,8%

14,1%

8,0%

1,2%

Outro

O que os meus sentimentos me dizem estar

O que está de acordo com as minhas convicções

O que promove maior bem para a maioria das

Comportamento tradicional da nossa sociedade

O que corresponde aos meus interesses pessoais

O mesmo que comportamento justo

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frequências simples relativas, a escolha das alternativas pelos questionados como forma de

Os três primeiros questionamentos, “sexo?”, “idade?” e “período?”, visaram à caracterização da amostra, composta então por 123 estudantes do gênero masculino e 126 do

respondentes, dos quais 70,7% têm até 25 anos, 20,5%, de 26 a 30 anos, e 8,8%, acima de 30 anos. Ainda, de acordo com as respostas obtidas, 50,2% dos questionados cursam um dos 5 primeiros períodos iniciais do curso (do 1º ao 5º período) e

As demais questões, apresentadas nos gráficos abaixo, buscaram conhecer a percepção

A questão acima buscou conhecer o que os respondentes entendem por comportamento ético. Dentre as alternativas apresentadas, a que mais se destacou, escolhida

comportamento justo”. Acerca do que é ético, Lisboa (1997) define como sendo tudo que está em consonância com os princípios de conduta humana e afirma ser comum o uso dos termos justo, certo, honesto como sinônimos de ético.

do observado, o fato de relacionarem a maioria dos alunos o comportamento ético a um comportamento justo, a uma concepção de ética baseada na justiça. A associação entre ética e justiça também pode ser explicada por Guareschi (2008),

el, entre essas duas realidades, a começar pelo

67,5%

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Gráfico 2- Qual o motivo que o mais influencia para atuar eticamente?

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Quando questionados sobre o motivo que mais os influencia a agirem eticamente, 79,1% dos respondentes assinalaram a alternativa “princípios morais”. Os princípios morais, a exemplo de honestidade, bondade, respeito, virtude, orientam diante das diretrizes estabelecidas pela sociedade (KARAprincípios morais servem como escrúpulos que não deixam o homem desvirtuar seu comportamento, agir de forma contrária àquilo que

Apesar de “medo de punições” ter sido assinalada por apenas 8,8% dos respondentes, há que se destacar a importância das punições estabelecidas pelos órgãos reguladores, mantendo em atuação somente aqueles profisociedade que lhe demanda serviços. Eque cometem atos desabonadores àantiética se concretizem.

Gráfico 3- Quem tem mais influencia para você agir eticamen

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

0,9%

6,0%

5,2%

Outro

Convenções sociais

Convicções religiosas

Medo de punições

Princípios morais

10,8%

12,9%

1,2%

4,0%

0,8%

Outro

Religiosos

Patrão

Professor

Pais

Esposo (a)

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Qual o motivo que o mais influencia para atuar eticamente?

Quando questionados sobre o motivo que mais os influencia a agirem eticamente, 79,1% dos respondentes assinalaram a alternativa “princípios morais”. Os princípios morais, a exemplo de honestidade, bondade, respeito, virtude, orientam o comportamento humano

estabelecidas pela sociedade (KARA-JÚNIOR, 2013). Pprincípios morais servem como escrúpulos que não deixam o homem desvirtuar seu

e forma contrária àquilo que acredita ser correto.

do de punições” ter sido assinalada por apenas 8,8% dos respondentes, há que se destacar a importância das punições estabelecidas pelos órgãos reguladores,

em atuação somente aqueles profissionais comprometidos com ae lhe demanda serviços. Esses órgãos, ao estabelecerem punições a profissionais

ue cometem atos desabonadores à sua profissão, estarão evitando que mais casos de con

Quem tem mais influencia para você agir eticamen

0,9%

6,0%

5,2%

8,8%

79,1%

10,8%

12,9%

70,3%

SEMINÁRIO UFPE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS, 23 e 24 de Outubro de 2014, CCSA/UFPE

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Quando questionados sobre o motivo que mais os influencia a agirem eticamente, 79,1% dos respondentes assinalaram a alternativa “princípios morais”. Os princípios morais, a

o comportamento humano JÚNIOR, 2013). Percebe-se que os

princípios morais servem como escrúpulos que não deixam o homem desvirtuar seu acredita ser correto.

do de punições” ter sido assinalada por apenas 8,8% dos respondentes, há que se destacar a importância das punições estabelecidas pelos órgãos reguladores,

ssionais comprometidos com a profissão e com a sses órgãos, ao estabelecerem punições a profissionais

sua profissão, estarão evitando que mais casos de conduta

Quem tem mais influencia para você agir eticamente?

70,3%

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCOVIII SEMINÁRIO UFPE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS, 23 e 24 de Outubro de 2014, CCSA/UFPE

Ao serem questionados sobre quem tem mais influência para que ajam eticamente,como se vê no gráfico acima, 70,3maiores responsáveis por agirem eticamente. Esse resulta(2001), ao comentar que os pais têm a responsabilidade de formar o carátereducá-los para enfrentar os(1980, p.33), ao afirmar quedesenvolvimento da personalidade e do caráter das pess

Gráfico 4- Em sua opinião, quais as razões que levariam um profissional a adotar uma conduta antiética?

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Acerca das razões que levariam um profissional a adotar uma conduta antiética, como se visualiza no gráfico acima, 45% dos respondentes interesses pessoais. Sobrepor os interesses pessoais aos interesses da coletividade, no profissional, pode levar o contabilista aéticos aplicáveis à profissãomontantes de dinheiro para que ações fraudulentas sejam cometidas.profissionais precisam ter uma ampla formação moral e muito preparo, para que aprendam a lidar com dilemas éticos que podemcontador manter um comportamento profissional e socialfeitas pela sociedade, do ponto de vistde contribuir positivamente para a sociedade e resguardando a imagem e integridade da classe contábil.

Falta de uma formação familiar

Ausência de respeito ao próximo

Necessidade de exercer o poder

Pressões de superiores hierárquicos/ clientes

Necessidades materiais não atendidas

Supremacia dos interesses pessoais

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Ao serem questionados sobre quem tem mais influência para que ajam eticamente,como se vê no gráfico acima, 70,3% dos questionados responderam que os pais maiores responsáveis por agirem eticamente. Esse resultado pode ser explicado(2001), ao comentar que os pais têm a responsabilidade de formar o caráter

los para enfrentar os desafios da vida, de perpetuar valores éticos e morais, e Gokhale , ao afirmar que “a família tem sido, é e será a influência mais poderosa para o

desenvolvimento da personalidade e do caráter das pessoas”.

Em sua opinião, quais as razões que levariam um profissional a adotar uma conduta antiética?

Acerca das razões que levariam um profissional a adotar uma conduta antiética, como fico acima, 45% dos respondentes atribuíram-nas à supremacia dos

interesses pessoais. Sobrepor os interesses pessoais aos interesses da coletividade, no profissional, pode levar o contabilista a submeter-se a situações que infringirão os preceitos éticos aplicáveis à profissão. Essas situações, na maioria dos casos, envolvem grandes montantes de dinheiro para que ações fraudulentas sejam cometidas.

uma ampla formação moral e muito preparo, para que aprendam a com dilemas éticos que podem levar uma carreira à completa ruína.

r manter um comportamento profissional e social adequado às exigências que lhe são feitas pela sociedade, do ponto de vista ético, demonstrando, dessa forma, o verdadeiro intuito de contribuir positivamente para a sociedade e resguardando a imagem e integridade da classe

1,6%

14,4%

14,9%

6,0%

14,9%

3,2%

Outro

Falta de uma formação familiar

Ausência de respeito ao próximo

Necessidade de exercer o poder

Pressões de superiores hierárquicos/ clientes

Necessidades materiais não atendidas

Supremacia dos interesses pessoais

SEMINÁRIO UFPE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS, 23 e 24 de Outubro de 2014, CCSA/UFPE

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Ao serem questionados sobre quem tem mais influência para que ajam eticamente, ionados responderam que os pais são os

do pode ser explicado por Chalita (2001), ao comentar que os pais têm a responsabilidade de formar o caráter dos filhos, de

rpetuar valores éticos e morais, e Gokhale a tem sido, é e será a influência mais poderosa para o

Em sua opinião, quais as razões que levariam um profissional a adotar uma conduta antiética?

Acerca das razões que levariam um profissional a adotar uma conduta antiética, como nas à supremacia dos

interesses pessoais. Sobrepor os interesses pessoais aos interesses da coletividade, no âmbito ões que infringirão os preceitos

. Essas situações, na maioria dos casos, envolvem grandes montantes de dinheiro para que ações fraudulentas sejam cometidas. Nesse sentido, esses

uma ampla formação moral e muito preparo, para que aprendam a completa ruína. Portanto, cabe ao dequado às exigências que lhe são

a ético, demonstrando, dessa forma, o verdadeiro intuito de contribuir positivamente para a sociedade e resguardando a imagem e integridade da classe

45,0%

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCOVIII SEMINÁRIO UFPE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS, 23 e 24 de Outubro de 2014, CCSA/UFPE

Gráfico 5- Você conhece o código de ética de sua classe profissional?

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Ao questionamento acima, “Você conhece o código de ética de sua classe profissional?”, 58,6% (146 alunos) dos questionados responderam “sim” e, consequentemente, 41,4%, disseram não conhecer o código de ética do contador, 34%, isto é, 35 estudantes, cursam um dos cinco últimos períodos do curso e, teoricamente, já cursaram a disciplina ética profissional, componente curricular oferecida no 5° período do curso de Ciências Contábeis da instituição na qual estudam os questionados que compuseram a amostra desta pesquisa.

Esses dados são preocupantes e merecem atenção. Não se podem imaginar estudantes, prestes a entrar no mercado de trabalho, desconhecedores de que existe um código de ética que prescreve e impõe normas de conduta que devem ser observadas pelos contabilistas, quando do exercício profissional, na relação com seus pares e com a sociedade.onde está a formação ética, humanística?

Gráfico 6- Caso a resposta anterior tenha sido “Sim”, você já o leu?

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Dos 58,6% que responderam afirmativamealunos) disseram ter lido o código de ética do contabilista. Se comparados ao total de respondentes, esses números são ainda mais preocupantes: apenas 43,8% de um total de 249 estudantes já leram o manual de conduta pelo qual deverão guiar seus profissional.

É evidente que apenas a leitura do código de ética não garantiráprincípios éticos e às imposições do código pelos estudantes, quando profissionais. Contudo, se, no decorrer da sua formação

Não

Sim

Não

Sim

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO SEMINÁRIO UFPE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS, 23 e 24 de Outubro de 2014, CCSA/UFPE

ece o código de ética de sua classe profissional?

Ao questionamento acima, “Você conhece o código de ética de sua classe , 58,6% (146 alunos) dos questionados responderam “sim” e,

consequentemente, 41,4%, “não”, percentual equivalente a 103 respondentes. Dos alunos que disseram não conhecer o código de ética do contador, 34%, isto é, 35 estudantes, cursam um dos cinco últimos períodos do curso e, teoricamente, já cursaram a disciplina ética

mponente curricular oferecida no 5° período do curso de Ciências Contábeis da instituição na qual estudam os questionados que compuseram a amostra desta pesquisa.

Esses dados são preocupantes e merecem atenção. Não se podem imaginar estudantes, entrar no mercado de trabalho, desconhecedores de que existe um código de ética

que prescreve e impõe normas de conduta que devem ser observadas pelos contabilistas, quando do exercício profissional, na relação com seus pares e com a sociedade.onde está a formação ética, humanística?

Caso a resposta anterior tenha sido “Sim”, você já o leu?

Dos 58,6% que responderam afirmativamente ao questionamento anterior, alunos) disseram ter lido o código de ética do contabilista. Se comparados ao total de respondentes, esses números são ainda mais preocupantes: apenas 43,8% de um total de 249 estudantes já leram o manual de conduta pelo qual deverão guiar seus

É evidente que apenas a leitura do código de ética não garantiráprincípios éticos e às imposições do código pelos estudantes, quando profissionais. Contudo,

no decorrer da sua formação, como explica Carvalho (2002), esses futuros profissionais se

41,4%

58,6%

25,3%

74,7%

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Ao questionamento acima, “Você conhece o código de ética de sua classe , 58,6% (146 alunos) dos questionados responderam “sim” e,

“não”, percentual equivalente a 103 respondentes. Dos alunos que disseram não conhecer o código de ética do contador, 34%, isto é, 35 estudantes, cursam um dos cinco últimos períodos do curso e, teoricamente, já cursaram a disciplina ética

mponente curricular oferecida no 5° período do curso de Ciências Contábeis da instituição na qual estudam os questionados que compuseram a amostra desta pesquisa.

Esses dados são preocupantes e merecem atenção. Não se podem imaginar estudantes, entrar no mercado de trabalho, desconhecedores de que existe um código de ética

que prescreve e impõe normas de conduta que devem ser observadas pelos contabilistas, quando do exercício profissional, na relação com seus pares e com a sociedade. Questiona-se:

nte ao questionamento anterior, 74,7% (109 alunos) disseram ter lido o código de ética do contabilista. Se comparados ao total de respondentes, esses números são ainda mais preocupantes: apenas 43,8% de um total de 249 estudantes já leram o manual de conduta pelo qual deverão guiar seus atos no exercício

É evidente que apenas a leitura do código de ética não garantirá a adesão aos princípios éticos e às imposições do código pelos estudantes, quando profissionais. Contudo,

lho (2002), esses futuros profissionais se

74,7%

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCOVIII SEMINÁRIO UFPE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS, 23 e 24 de Outubro de 2014, CCSA/UFPE

conscientizarem dos valores éticos da profissão, de sua importância na sociedade e das implicâncias que as condutas antiéticas provocam na classe contábil, eles certamente adotarão um conduta ilibada, da qual depe

Diante de resultados tão expressivos (negativamente), surgem questionamentos e reflexões: estariam as discussões éticas sendo deixadas em segundo plano? A formação profissional não estaria contemplando a formação ét

Gráfico 7- Para você, o código de ética de sua classe profissional é suficiente para nortear uma conduta ética?

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Ao serem questionados se o código de ética de sua classe é suficiente para nortear uma conduta ética, 69,1% dos discentes responderam “não”. Diante das respostas, arriscaque, talvez, acreditem os respondentes que a conduta ética não é fruto somente de imposições, de obrigações e regras a serem cumpridas e, portanto, não ser o código desuficiente à condução desse tipo de comportamento. Nesse sentido, conforme explica Alves (2005), somente o caráter punitivo do CEPC, se descumprido, não garante a adesão do contador aos seus preceitosprincipalmente de que este profissional perceba que esse conjunto normativo é útil como guia de conduta e o reconheça, de forma espontânea, como um importante aspecto da atividade profissional.

Gráfico 8- Você considera importante a e

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Mesmo que os respondentes não considerem suficiente para nortear uma conduta ética, conforme exposto no gráfico anterior, um percentual ainda maior (96,4%) afirma a importância de sua existência. Esperaalunos tenham a consciência de que o código de ética de sua profissão vai além de obrigações

Não

Sim

3,6%Não

Sim

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conscientizarem dos valores éticos da profissão, de sua importância na sociedade e das implicâncias que as condutas antiéticas provocam na classe contábil, eles certamente adotarão um conduta ilibada, da qual dependerá a sua sobrevivência profissional.

Diante de resultados tão expressivos (negativamente), surgem questionamentos e reflexões: estariam as discussões éticas sendo deixadas em segundo plano? A formação profissional não estaria contemplando a formação ética, humanística?

Para você, o código de ética de sua classe profissional é suficiente para nortear uma conduta ética?

Ao serem questionados se o código de ética de sua classe é suficiente para nortear uma uta ética, 69,1% dos discentes responderam “não”. Diante das respostas, arrisca

que, talvez, acreditem os respondentes que a conduta ética não é fruto somente de imposições, de obrigações e regras a serem cumpridas e, portanto, não ser o código desuficiente à condução desse tipo de comportamento. Nesse sentido, conforme explica Alves (2005), somente o caráter punitivo do CEPC, se descumprido, não garante a adesão do contador aos seus preceitos éticos; a obediência ao código, segundo o autor, decorre principalmente de que este profissional perceba que esse conjunto normativo é útil como guia de conduta e o reconheça, de forma espontânea, como um importante aspecto da atividade

Você considera importante a existência de um código de ética profissional?

e os respondentes não considerem ser o código de ética profissional suficiente para nortear uma conduta ética, conforme exposto no gráfico anterior, um

maior (96,4%) afirma a importância de sua existência. Esperaalunos tenham a consciência de que o código de ética de sua profissão vai além de obrigações

69,1%

30,9%

96,4%

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conscientizarem dos valores éticos da profissão, de sua importância na sociedade e das implicâncias que as condutas antiéticas provocam na classe contábil, eles certamente adotarão

Diante de resultados tão expressivos (negativamente), surgem questionamentos e reflexões: estariam as discussões éticas sendo deixadas em segundo plano? A formação

Para você, o código de ética de sua classe profissional é suficiente para nortear uma conduta ética?

Ao serem questionados se o código de ética de sua classe é suficiente para nortear uma uta ética, 69,1% dos discentes responderam “não”. Diante das respostas, arrisca-se supor

que, talvez, acreditem os respondentes que a conduta ética não é fruto somente de imposições, de obrigações e regras a serem cumpridas e, portanto, não ser o código de ética profissional suficiente à condução desse tipo de comportamento. Nesse sentido, conforme explica Alves (2005), somente o caráter punitivo do CEPC, se descumprido, não garante a adesão do

undo o autor, decorre principalmente de que este profissional perceba que esse conjunto normativo é útil como guia de conduta e o reconheça, de forma espontânea, como um importante aspecto da atividade

xistência de um código de ética profissional?

ser o código de ética profissional suficiente para nortear uma conduta ética, conforme exposto no gráfico anterior, um

maior (96,4%) afirma a importância de sua existência. Espera-se que os alunos tenham a consciência de que o código de ética de sua profissão vai além de obrigações

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCOVIII SEMINÁRIO UFPE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS, 23 e 24 de Outubro de 2014, CCSA/UFPE

a serem cumpridas; é um norteador de conduta ética que também os auxiliará na condução de sua carreira profissional, podendo

Gráfico 9- Em sua opinião, o código de ética do contabilista eleva o nível ético desses profissionais?

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Ao questionamento acima, 74,3contabilistas eleva o nível de ética desses profissionaiscerta forma, contrário ao observado no gráfico 7,expressa pelos alunos, na questão anterior. Desta forma, esomente essa consciência, mas ajam eticamente, ponhamprofissão contábil.

Gráfico 10- Se você já leu o CEPC, sabe que ele impõe obrigações quanto a honoráriocobrados, estabelece normas concernentes à relação dos profissionais para com a sociedade e com a própria classe profissional. Você está disposto a obedecer à imposição dessas obrigações e normas?

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Como se pode observardispostos a cumprir o que estabelece o CEPC, rescomprometimento desses discentes com a profissão que escolheram exercer, no que concerne aos aspectos éticos, e que também pode indicar que estão comprometidos em mudar a imagem da classe profissional perante a sociedadalegaram obediência ao CEPC, são as imposições do código, mesmo assim declararam obediência aos seus imperativos.

Espera-se que, ao conhecer o código em sua totalidade, as obrigações e as proibições impostas, os deveres perante os colegas e a classe e as penalidades a serem aplicadde infração, esses alunos, quando profissionais e vivenciadores dos dilemas éticos rotineiros nessa profissão, continuem com essa opinião e ponhamsuas qualidades de conduta às de competência e capacidade ta valorização e reconhecimento de sua profissão

Não

Sim

9,6%Não

Sim

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO SEMINÁRIO UFPE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS, 23 e 24 de Outubro de 2014, CCSA/UFPE

a serem cumpridas; é um norteador de conduta ética que também os auxiliará na condução de ua carreira profissional, podendo ser um fator decisivo ao sucesso profissional.

Em sua opinião, o código de ética do contabilista eleva o nível ético desses profissionais?

questionamento acima, 74,3% dos discentes disseram “sim”, l de ética desses profissionais. Apesar de o resultado obtido

certa forma, contrário ao observado no gráfico 7, confirma a importância do código ética questão anterior. Desta forma, espera-se que

somente essa consciência, mas ajam eticamente, ponham-na em prática quando exercerem a

Se você já leu o CEPC, sabe que ele impõe obrigações quanto a honoráriocobrados, estabelece normas concernentes à relação dos profissionais para com a sociedade e com a própria classe profissional. Você está disposto a obedecer à imposição dessas obrigações e normas?

e pode observar no gráfico acima, 90,4% dos questionados afirmaramdispostos a cumprir o que estabelece o CEPC, resultado que pode demonstrar o comprometimento desses discentes com a profissão que escolheram exercer, no que concerne

os, e que também pode indicar que estão comprometidos em mudar a imagem da classe profissional perante a sociedade. É importante salientar aqui que, dalegaram obediência ao CEPC, grande parte não o leu e, portanto, desconhece na íntegra qusão as imposições do código, mesmo assim declararam obediência aos seus imperativos.

se que, ao conhecer o código em sua totalidade, as obrigações e as proibições impostas, os deveres perante os colegas e a classe e as penalidades a serem aplicadde infração, esses alunos, quando profissionais e vivenciadores dos dilemas éticos rotineiros nessa profissão, continuem com essa opinião e ponham-na em prática ao exercêsuas qualidades de conduta às de competência e capacidade técnicas, contribuindo assim para a valorização e reconhecimento de sua profissão.

25,7%

74,3%

90,4%

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a serem cumpridas; é um norteador de conduta ética que também os auxiliará na condução de profissional.

Em sua opinião, o código de ética do contabilista eleva o nível ético desses profissionais?

centes disseram “sim”, o código de ética dos resultado obtido ser, de

confirma a importância do código ética se que os alunos não tenham

na em prática quando exercerem a

Se você já leu o CEPC, sabe que ele impõe obrigações quanto a honorários, valores a serem cobrados, estabelece normas concernentes à relação dos profissionais para com a sociedade e com a própria classe profissional. Você está disposto a obedecer à imposição dessas obrigações e normas?

questionados afirmaram estar que pode demonstrar o

comprometimento desses discentes com a profissão que escolheram exercer, no que concerne os, e que também pode indicar que estão comprometidos em mudar a imagem

É importante salientar aqui que, desses 90,4% que , portanto, desconhece na íntegra quais

são as imposições do código, mesmo assim declararam obediência aos seus imperativos.

se que, ao conhecer o código em sua totalidade, as obrigações e as proibições impostas, os deveres perante os colegas e a classe e as penalidades a serem aplicadas em caso de infração, esses alunos, quando profissionais e vivenciadores dos dilemas éticos rotineiros

na em prática ao exercê-la, aliando as , contribuindo assim para

74,3%

90,4%

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCOVIII SEMINÁRIO UFPE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS, 23 e 24 de Outubro de 2014, CCSA/UFPE

Gráfico 11- Para você, penalidades promovem ações éticas?

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Quando questionados se penalidades promovem ações éticas, 62,7% dos questionados disseram “sim”. Esse resultado confirma a importância do código de ética na fixação de normas de conduta e punições aplicáveis aos contabilistas, no exercício da profissão, e ser explicado por Fortes (2005), que afirma que asnormas não por consciência moral, mas com receio de aspectos punitivos.

Gráfico 12- Para você, valorizar-

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Quando questionados sobre o que lhes significa valorizardos respondentes assinalaram a alternativa “manter a sua integridade profissional, atuando de forma eficaz e sob as exigências do código de ética de sua p“os benefícios que os profissionais propiciam, [...], passam a daro grau de satisfação em relação a eles e quase criando uma obrigação de retribuição moral por parte dos beneficiários” (SÁ, 2001,

Pressupõe-se, diante do resultado, que adotarão os alunos uma conduta ética, idônea, norteada a partir de princípios éticos e em observância ao que estabelece o CEPC, quando profissionais, caso almejem a valorização profissional.

Não

Sim

Ganhar dinheiro a qualquer custo?

Manter a sua integridade profissional atuando de forma eficaz e sob as exigências do código de ética

de sua profissão?

Satisfazer às expectativas dos clientes mesmo que isso implique infringir o código de ética de sua

profissão?

Prestar um serviço de forma que sua satisfação pessoal se sobressaia à satisfação de seu cliente?

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Para você, penalidades promovem ações éticas?

Quando questionados se penalidades promovem ações éticas, 62,7% dos questionados disseram “sim”. Esse resultado confirma a importância do código de ética na fixação de normas de conduta e punições aplicáveis aos contabilistas, no exercício da profissão, e

2005), que afirma que as pessoas normalmente sempre cumprem as normas não por consciência moral, mas com receio de aspectos punitivos.

-se profissionalmente significa:

Quando questionados sobre o que lhes significa valorizar-se profissassinalaram a alternativa “manter a sua integridade profissional, atuando de

forma eficaz e sob as exigências do código de ética de sua profissão”. Atuando dessa forma, os benefícios que os profissionais propiciam, [...], passam a dar-lhes notoriedade, ampliando

o grau de satisfação em relação a eles e quase criando uma obrigação de retribuição moral por (SÁ, 2001, p. 134).

se, diante do resultado, que adotarão os alunos uma conduta ética, idônea, norteada a partir de princípios éticos e em observância ao que estabelece o CEPC, quando profissionais, caso almejem a valorização profissional.

37,3%

62,7%

0,4%

0,4%

6,0%

10,5%

Outro

Ganhar dinheiro a qualquer custo?

Manter a sua integridade profissional atuando de forma eficaz e sob as exigências do código de ética

de sua profissão?

Satisfazer às expectativas dos clientes mesmo que isso implique infringir o código de ética de sua

profissão?

Prestar um serviço de forma que sua satisfação pessoal se sobressaia à satisfação de seu cliente?

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Quando questionados se penalidades promovem ações éticas, 62,7% dos questionados disseram “sim”. Esse resultado confirma a importância do código de ética na fixação de normas de conduta e punições aplicáveis aos contabilistas, no exercício da profissão, e pode

almente sempre cumprem as normas não por consciência moral, mas com receio de aspectos punitivos.

se profissionalmente, 82,7% assinalaram a alternativa “manter a sua integridade profissional, atuando de

rofissão”. Atuando dessa forma, lhes notoriedade, ampliando

o grau de satisfação em relação a eles e quase criando uma obrigação de retribuição moral por

se, diante do resultado, que adotarão os alunos uma conduta ética, idônea, norteada a partir de princípios éticos e em observância ao que estabelece o CEPC, quando

62,7%

82,7%

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCOVIII SEMINÁRIO UFPE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS, 23 e 24 de Outubro de 2014, CCSA/UFPE

Gráfico 13- Você, no exercício de sua profissão, estará disposto a aceitar propostas de trabalho que lhe exijam um comportamento antiético em troca de um ganho numerário maior?

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Ao questionamento acima, 96propostas que lhes exijam um comportamento antiético, mesmo que o ganho numerário lhes seja tentador. Esse resultado10- é ainda mais expressivocomportamento, enquanto profissionais da contabilidade, em consonância com as normas de conduta estabelecidas pelo CEPC.questionamento, propensos a serem comportamento irrepreensível no exercício de sua profissão.

Gráfico 14- Você considera a ética uma ferramenta de valorização profissional e reconhecimento social?

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Corroborando com os resultadosestudantes que disseram não estar dispostos a agir de forma antiética, mesmo que a recompensa oferecida lhes seja tentadora, afirmou considerar a ética uma ferramenta de valorização profissional e reconhecimento objetivam valorizar-se profissionalmente e terferramenta ao exercerem a sua profissão.

5 CONCLUSÃO

Este estudo buscou conhecer a percepção dos estudantes do Contábeis do Campus IV- UFPB acerca de ética na profissão contábil.

Constatou-se, por meio da análise dos dados coletados, integra a formação profissional dos estudantes que compuseram a amostra deste estudo, a julgar pelo baixo percentual de respondentes que afirmaram conhecer o de alunos que, apesar de estarem matriculados em períodos fina

4,0%

Não

Sim

4,0%Não

Sim

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cê, no exercício de sua profissão, estará disposto a aceitar propostas de trabalho que lhe exijam um comportamento antiético em troca de um ganho numerário maior?

questionamento acima, 96% dos discentes responderem “nãopropostas que lhes exijam um comportamento antiético, mesmo que o ganho numerário lhes seja tentador. Esse resultado confirma o que se pôde observar no questionamento do gráfico

é ainda mais expressivo- e aponta a propensão desses estudantes comportamento, enquanto profissionais da contabilidade, em consonância com as normas de conduta estabelecidas pelo CEPC. Portanto, em inferência ao resultado apresentado no

propensos a serem profissionais que atuarão de forma ética, donos de um comportamento irrepreensível no exercício de sua profissão.

Você considera a ética uma ferramenta de valorização profissional e reconhecimento social?

Corroborando com os resultados da questão anterior, o mesmo percentual de estudantes que disseram não estar dispostos a agir de forma antiética, mesmo que a

lhes seja tentadora, afirmou considerar a ética uma ferramenta de valorização profissional e reconhecimento social, como exposto no gráfico acima. Po

se profissionalmente e ter o reconhecimento social, vão utilizáferramenta ao exercerem a sua profissão.

Este estudo buscou conhecer a percepção dos estudantes do UFPB acerca de ética na profissão contábil.

se, por meio da análise dos dados coletados, que a formação ética não integra a formação profissional dos estudantes que compuseram a amostra deste estudo, a

o baixo percentual de respondentes que afirmaram conhecer o de alunos que, apesar de estarem matriculados em períodos finais do curso e já terem

96,0%

96,0%

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cê, no exercício de sua profissão, estará disposto a aceitar propostas de trabalho que lhe exijam

% dos discentes responderem “não”, não aceitarão propostas que lhes exijam um comportamento antiético, mesmo que o ganho numerário lhes

rvar no questionamento do gráfico dantes a nortearem seu

comportamento, enquanto profissionais da contabilidade, em consonância com as normas de cia ao resultado apresentado no

de forma ética, donos de um

Você considera a ética uma ferramenta de valorização profissional e reconhecimento social?

da questão anterior, o mesmo percentual de estudantes que disseram não estar dispostos a agir de forma antiética, mesmo que a

lhes seja tentadora, afirmou considerar a ética uma ferramenta de social, como exposto no gráfico acima. Portanto, se

o reconhecimento social, vão utilizá-la como

Este estudo buscou conhecer a percepção dos estudantes do curso de Ciências

que a formação ética não integra a formação profissional dos estudantes que compuseram a amostra deste estudo, a

o baixo percentual de respondentes que afirmaram conhecer o CEPC e da existência is do curso e já terem cursado

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a disciplina ética profissional, ainda não o leram (o código). Contudo, apesar da lacuna identificada, pôde-se concluir, diante dos resultados obtidos, que esses futuros profissionais estão dispostos a exercer a profissão contábil de acordo com as imposições e normas do código, baseando o seu comportamento em princípios que garantam a legalidade de seus atos, e consideram a ética uma ferramenta de valorização profissional e reconhecimento social. Portanto, futuros profissionais que podem contribuir para o enobrecimento e credibilidade da classe à qual pertencerão, derrubando os estereótipos negativos e equivocados atribuídos aos contabilistas pela sociedade, ao longo de sua história.

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O CÓDIGO DE ÉTICA DO PROFISSIONAL CONTADOR: A PERCEPÇÃO DOS CONCLUINTES DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS DA UFPE

AUTORES: Geiverson Neves Sena, Miguel Lopes de Oliveira Filho, João Gabriel

Nascimento de Araújo, Juliana Gonçalves de Araujo e Marina Fidelis Jerônimo de Oliveira.

RESUMO Este trabalho teve como objetivo geral examinar qual a percepção dos alunos de Ciências Contábeis da UFPE quanto aos preceitos emanados do Código de Ética Profissional do Contador, dado a fundamental importância da ética e da observância ao Código de Ética Profissional no exercício da profissão contábil. A coleta de dados ocorreu através de uma pesquisa direcionada aos formandos do primeiro semestre de 2014 do curso de Ciências Contábeis da UFPE, os quais responderam a um questionário construído com base em questões que buscavam responder ao problema de pesquisa proposto. Para este estudo, a amostra foi de 93 alunos, sendo obtidos 80 questionários respondidos. A pesquisa concluiu que, para os formandos, existe uma necessidade enorme do ensino da ética durante o curso, que a maioria dos formandos termina o curso e pouco tem conhecimento sobre o CEPC, e que existe um número considerável de casos de atos antiéticos nos locais de trabalho. Palavras-chave: Ética; Código de Ética Profissional do Contador; Contabilistas.

1 INTRODUÇÃO

Em uma sociedade em que, cada vez mais, cresce o desejo pelo poder, as pessoas acabam se esquecendo dos princípios éticos e morais, e das regras de boa convivência. E isto atinge alguns profissionais da área contábil, onde a busca por novos clientes e sócios acaba deixando de lado certos princípios que deveriam estar sempre presentes nas relações humanas, e que agora estão, cada vez mais, sendo desobedecidos. A busca pela realização dos objetivos individuais, tais como: poder, reconhecimento, dinheiro, entre outros, está sendo colocada acima de tudo e de todos, por parte de alguns contadores.

É necessário que todos os profissionais sejam éticos e morais, que honrem sua profissão, pois se apenas um assim não for, poderá vir a denegrir a imagem do contador, que é peça fundamental para a sobrevivência e crescimento das empresas. Segundo Decoster (1971), é sabido que os estudantes consideram estereótipos sobre as diferentes carreiras ao decidir pela formação acadêmica que pretendem trilhar. Nesse sentido, a profissão contábil carece de projetar uma imagem de confiança e respeitabilidade. Se os estudantes perceberem a contabilidade como uma ciência que está “em falta” com a ética, tenderão a não escolher seguir nessa área.

Portanto, o trabalho em estudo preocupa-se em discorrer sobre a observância aos princípios éticos e ao Código de Ética Profissional do Contador, como instrumentos fundamentais para uma conduta digna dos profissionais da área contábil.

Diante do exposto, procura-se responder à seguinte questão: qual a percepção dos alunos de Ciências Contábeis da UFPE quanto aos preceitos emanados do Código de Ética Profissional do Contador?

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 O Código de Ética Profissional do Contador

Um Código de Ética Profissional é o conjunto de princípios que regem a conduta funcional e de comportamento daqueles que exercem uma determinada profissão. Da mesma forma que nas outras profissões, a contabilidade precisa de um Código de Ética para regular a conduta de seus profissionais.

O CEPC foi aprovado pelo então presidente do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), o Contador José Maria Martins Mendes. Antes dele já existia o Código de Ética Profissional do Profissional da Contabilidade, aprovado em 1970, porém com a intensificação do relacionamento do Profissional da Contabilidade com a sociedade e com o próprio grupo profissional, houve uma necessidade de atualização dos conceitos éticos na área da atividade contábil.

Após várias sugestões de diversos segmentos da comunidade contábil com o intuito de aprimorar os princípios do Código de Ética Profissional do Profissional da Contabilidade, e após um profundo estudo dessas sugestões, por parte dos integrantes da Câmara de Ética do Conselho Federal de Contabilidade, foi aprovada a Resolução CFC Nº 803/96 em 10 de outubro de 1996.

O Código de Ética deve orientar a conduta do contabilista, que deve consultá-lo

sempre que estiver em dúvida sobre a ética de um ato a ser praticado em sua vida profissional. Assim, de acordo com Lisboa e Jreige (2001, p. 20):

“De qualquer maneira, mesmo que sofra uma série de imperfeições, um código de ética é importante, especialmente para servir como base para uma cultura própria para o Profissional da contabilidade. Por definir os padrões de comportamento, o código minimiza ambiguidades, reduzindo a intensidade dos dilemas éticos e positivamente impactando no comportamento e no raciocínio moral do profissional de contabilidade”.

O Código de Ética também tem uma função social, pois ele é necessário para que a

sociedade possa ter confiança na classe contábil. Se ele não existisse, a classe não teria uma norma a seguir, e poderia desempenhar seus trabalhos como bem entendesse, e não receberia nenhuma penalidade por conta disso.

Espera-se que o Código de Ética estabeleça todos os parâmetros que um contabilista

necessita: deve conter todos os deveres destes, para que o profissional saiba a sua responsabilidade perante os usuários da contabilidade; deve explicitar suas proibições, para que o profissional saiba quais são as condutas que vão de encontro aos princípios éticos, e assim não as praticar; deve estabelecer como deve ser a relação do profissional com os outros profissionais da classe, entre outros parâmetros.

Portanto, o Código de Ética do Contador é a norma que regulamenta a atividade

profissional dos contabilistas. Estes estão subordinados àquele em tudo, devendo sempre observá-lo em todos os seus atos.

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Esse Código de Ética é composto por seis capítulos: do objetivo; dos deveres e das proibições; do valor dos serviços profissionais; dos deveres em relação aos colegas e à classe; das penalidades; e das disposições gerais.

2.3 Estudos Anteriores

A ética em contabilidade tem sido discutida em vários estudos ao longo dos últimos anos, dentre os quais, pode-se destacar os trabalhos de Cunha (2005), Cova (2005), Borges e Medeiros (2007), Antonovzet al (2010), Moraes, Silva e Carvalho (2010), Lustosa et al (2012) e Sallaberry e Sallaberry (2012).

No Quadro 1 está apresentado um resumo com informações sobre esses estudos anteriores: seus autores, objetivos e principais resultados.

Quadro 1 – Resumo dos estudos anteriores.

Autores Objetivo Resultados Cunha (2005) Discutir a ética e a contabilidade inseridas no

espaço público. Instigar o debate, sob o viés sociológico, da ética e da contabilidade.

Cova (2005) Demonstrar a importância que a Contabilidade possui para o pleno funcionamento dos mercados financeiros, e, consequentemente, para a correta alocação dos recursos na sociedade, de tal forma a garantir a eficiência do sistema econômico.

Inferiu que o ambiente de mercado é bastante influenciado pela ação cotidiana de seus atores, no que concerne aos princípios éticos que as norteiam.

Borges e Medeiros (2007)

Conhecer os preceitos éticos presentes na atuação profissional dos contabilistas.

Evidenciou-se que os profissionais utilizam os elementos mínimos que devem constar num código de ética.

Antonovzet al (2010)

Verificar a percepção ética dos contadores, mapeada por evidências de profissionais e estudantes de contabilidade sob a perspectiva de gênero.

Demonstrou um perfil mais ético por parte das mulheres.

Moraes, Silva e Carvalho (2010)

Analisar a atitude de estudantes da área contábil quando confrontados com questões antiéticas.

Observou que o gênero, idade e tempo de trabalho influenciaram o posicionamento ético dos estudantes de contabilidade entrevistados nesta pesquisa, em relação aos dilemas éticos apresentados.

Lustosa et al

(2012) Avaliar o nível moral dos contadores brasileiros, com base no julgamento desses sobre decisões que envolvem conflitos éticos.

Revelam que o julgamento moral dos respondentes é diretamente relacionado com o que eles preveem para o próprio comportamento.

Sallaberry e Sallaberry (2012)

Identificar os aspectos da contabilidade voltados às ações de inclusão social, com foco na acessibilidade das pessoas com necessidade especial.

Apesar de não constar a expressa obrigação aos profissionais contábeis de desenvolver políticas de inclusão social já se percebe na prática algumas ações afirmativas no âmbito dos Conselhos de Contabilidade, inclusive com ações voltadas à acessibilidade das instalações e a contratação de pessoas deficientes.

Fonte: Elaboração própria

Este estudo se diferencia em relação aos demais uma vez que se propõe a analisar a ética sob a perspectiva de alunos concluintes.

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3 METODOLOGIA

A população utilizada para a pesquisa foi a de formandos do primeiro semestre de 2014 do curso de Ciências Contábeis da UFPE. De acordo com consulta feita junto à coordenação do curso, há uma previsão de 145 alunos para terminar o curso no período determinado. A amostra utilizada na pesquisa foi de 93 estudantes. Do total de questionários aplicados, 80 foram respondidos, o que representa 86,02% da amostra.

Foi aplicado um questionário, através de mensagem eletrônica e presencialmente, com perguntas objetivas, de múltipla escolha, voltadas à ética pessoal e profissional, com o intuito de responder ao problema de pesquisa proposto.

Os dados da pesquisa foram apresentados quantitativamente, e a partir deles foram elaboradas tabelas, juntamente com a interpretação dos dados para solucionar o problema de pesquisa. O questionário proposto foi elaborado com base nas informações propostas no Código de Ética do Profissional Contador.

4 ANÁLISE E RESULTADOS DA PESQUISA

O questionário aplicado foi dividido em duas partes: a primeira parte trata da caracterização do perfil dos respondentes, indicando seu sexo, idade, se ele trabalha, e o local e área de seu trabalho; a segunda parte trata de questões relacionadas diretamente à Ética e ao CEPC, questões estas que ajudarão a responder o problema de pesquisa proposto no início do trabalho.

4.1 PERFIL DOS RESPONDENTES

A primeira questão tratou sobre o sexo dos respondentes. Dos 80 estudantes que responderam ao questionário, 36 eram do sexo masculino, representando 45% dos respondentes, e 44 eram do sexo feminino, representando 55% dos respondentes.

A segunda pergunta questionava a idade dos respondentes. Foram postas três

alternativas: a primeira marcaria os que tinham até 25 anos, e contou com um total de 64 estudantes, representando 80% do total de respondentes; a segunda alternativa tinha como opção os que tinham de 26 a 35 anos, e contou com 12 estudantes, representando 15% do total de respondentes; e a última alternativa marcaria os que tinham mais de 35 anos de idade, e contou apenas 4 estudantes, representando 5% do total de respondentes.

A terceira questão perguntava se o respondente trabalhava. Vale destacar, que não era necessário ter um vínculo empregatício para responder que sim. Estagiários, empresários, e outros profissionais que não tem sua Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) assinada, também deveriam responder “sim” à essa questão. Dos 80 respondentes, 78 responderam que trabalhavam, representando 97,50% deles, e apenas 2 responderam que não trabalhavam, representando 2,50% dos respondentes. A partir disso, pode-se ressaltar que o curso de Ciências Contábeis tem um vasto mercado de trabalho, com muitas vagas para grande parte dos profissionais.

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A quarta questão foi feita especificamente para os que trabalham, ou seja, àqueles que responderam “sim” na questão anterior, motivo pelo qual tivemos 78 respondentes. Ela perguntava se eles trabalhavam na área contábil. 53 estudantes disseram que tinham seu vínculo profissional na área contábil, o que representa 67,95% dos respondentes, enquanto 25 estudantes disseram não ter seu vínculo profissional na área contábil, o que representa 32,05% dos respondentes.

A última questão da primeira parte do questionário, perguntava a natureza/tipo do local de trabalho dos respondentes. Mais especificamente, perguntava se eles trabalhavam em um órgão público ou privado, ou se eles eram profissionais autônomos, aqueles que exercem seu trabalho por conta própria, sem ter uma relação de emprego. Também só poderiam respondê-la, aqueles que responderam “sim” na terceira questão.

Dos 78 estudantes que responderam que trabalhavam, 31 disseram trabalhar em um órgão público, o que representa 39,74%, 45 estudantes disseram trabalhar em um órgão privado, o que representa 57,69% dos trabalhadores, e apenas 2 deles responderam prestar serviços autônomos, o que representa 2,57% dos que trabalham.

4.2 PERCEPÇÃO SOBRE ÉTICA

A partir daqui, foi tratada a segunda parte do questionário, que trata de questões relacionadas diretamente à Ética. Foram feitas questões sobre a importância da Ética durante o curso, o CEPC e sua aplicabilidade, a prática da ética no dia-a-dia no trabalho, etc. Tabela 6 – Grau de importância do ensino da Ética no curso de Ciências Contábeis da UFPE

Grau Frequência Percentual (%) Percentual Acumulado (%)

1 0 0,00 0,00

2 0 0,00 0,00

3 0 0,00 0,00

4 0 0,00 0,00

5 5 6,25 6,25

6 0 0,00 0,00

7 5 6,25 12,50

8 13 16,25 28,75

9 23 28,75 57,50

10 34 42,50 100,00

Total 80 100,00 100,00

Análise Descritiva Grau

Média 8,89

Mediana 9

Moda 10

Mínimo 5

Máximo 10

Fonte: Dados da Pesquisa

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Da análise dos dados, podemos observar que os estudantes atribuíram um grau de importância bastante elevado. O grau 10 foi o que mais se repetiu, tendo sido respondido por 34 alunos, a média das avaliações foi de 8,89, uma média bastante alta, mostrando o quão importante é o ensino da ética, e a mediana foi de 9. Também podemos observar que nenhum respondente atribuiu grau menor que 5. O ensino da ética é muito importante, segundo a análise dos próprios estudantes, para que a profissão e os profissionais sejam mais respeitados e estimados por todos. Tabela 7 – Grau de ensino e enfatização da ética durante o curso de Ciências Contábeis da UFPE

Grau Frequência Percentual (%) Percentual Acumulado (%)

1 0 0,00 0,00

2 6 7,50 7,50

3 2 2,50 10,00

4 12 15,00 25,00

5 11 13,75 38,75

6 8 10,00 48,75

7 24 30,00 78,75

8 13 16,25 95,00

9 4 5,00 100,00

10 0 0,00 100,00

Total 80 100,00 100,00

Análise Descritiva Grau

Média 5,96

Mediana 7

Moda 7

Mínimo 2

Máximo 9

Fonte: Dados da Pesquisa

A sétima questão pediu aos respondentes para avaliarem o grau de ensino e enfatização da ética durante o curso de Ciências Contábeis da UFPE.

Podemos observar que a média das avaliações foi de 5,96, uma média considerada

abaixo do desejável, enquanto a mediana e a moda foi de 7, consideradas regulares, porém também abaixo do desejável.

Apesar do resultado regular, 20 estudantes atribuíram nota abaixo de 5, o que é motivo

de preocupação, pois trata-se de um assunto muito importante, e que deve ser bastante enfatizado para formar profissionais éticos e, consequentemente, trazer uma boa imagem ao profissional contábil.

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Tabela 8 – Observância dos princípios éticos nos locais de trabalho dos respondentes

Grau Frequência Percentual (%) Percentual Acumulado (%)

1 0 0,00 0,00

2 2 2,56 2,56

3 0 0,00 2,56

4 0 0,00 2,56

5 8 10,26 12,82

6 4 5,13 17,95

7 14 17,95 35,90

8 20 25,64 61,54

9 17 21,79 83,33

10 13 16,67 100,00

Total 78 100,00 100,00

Análise Descritiva Grau

Média 7,81

Mediana 8

Moda 8

Mínimo 2

Máximo 10

Fonte: Dados da Pesquisa

A oitava questão pedia aos respondentes para avaliarem a observância e o respeito aos princípios éticos em seus respectivos locais de trabalho. Note que nesta questão a quantidade de respondentes também foi de 78, pois se trata de uma questão exclusiva àqueles que trabalham.

Pelo resultado obtido, podemos considerar, de uma maneira geral, uma avaliação boa. Apenas 17,95% dos respondentes avaliou abaixo de 7, e 64,10% deles avaliaram com notas 8, 9 ou 10. A média da avaliação foi de 7,81, a mediana e a moda foram de 8. Apesar do bom resultado encontrado, há uma preocupação por conta de algumas avaliações que foram muito baixas, como 2 avaliações com nota 2, e 8 avaliações com nota 5, que mesmo sendo uma pequena minoria em relação ao total de respondentes, essa minoria pode atentar contra os princípios éticos e “destruir” planejamentos de melhoria nas condutas éticas empresariais, e fazer com que toda uma classe seja mal vista por conta de alguns poucos profissionais.

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Tabela 9 – Conhecimento dos deveres previstos aos contabilistas no CEPC

Grau Frequência Percentual (%) Percentual Acumulado (%)

1 0 0,00 0,00

2 2 2,50 2,50

3 0 0,00 2,50

4 2 2,50 5,00

5 6 7,50 12,50

6 20 25,00 37,50

7 27 33,75 71,25

8 20 25,00 96,25

9 3 3,75 100,00

10 0 0,00 100,00

Total 80 100,00 100,00

Análise Descritiva Grau

Média 6,72

Mediana 7

Moda 7

Mínimo 2

Máximo 9

Fonte: Dados da Pesquisa

A nona questão pediu aos formandos para avaliarem seus conhecimentos sobre os deveres previstos aos contabilistas no CEPC. Neste quesito podemos considerar uma avaliação regular por parte dos formandos. A média encontrada foi de 6,72, considerada regular, assim como a mediana e a moda que foram de 7.

Algumas avaliações foram muito baixas, como 4 formandos que lhe atribuíram nota abaixo de 5, que mesmo sendo uma quantidade muito pequena em relação ao total de respondentes, preocupa pelo fato de alguns alunos saírem da universidade com tão pouco conhecimento sobre um assunto tão importante. Da mesma forma, apenas 3 formandos avaliaram notas aos seus conhecimentos acima de 8. As notas ficaram concentradas entre 6 e 8, que foram avaliadas por 67 respondentes, o que representou 83,75% deles.

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Tabela 10 – Observância ao CEPC, por parte dos contabilistas em geral

Grau Frequência Percentual (%) Percentual Acumulado (%)

1 0 0,00 0,00

2 2 2,50 2,50

3 0 0,00 2,50

4 2 2,50 5,00

5 8 10,00 15,00

6 4 5,00 20,00

7 34 42,50 62,50

8 22 27,50 90,00

9 5 6,25 96,25

10 3 3,75 100,00

Total 80 100,00 100,00

Análise Descritiva Grau

Média 7,06

Mediana 7

Moda 7

Mínimo 2

Máximo 10

Fonte: Dados da Pesquisa

A décima questão pediu para os respondentes avaliarem o grau de observância ao CEPC, por parte dos contabilistas em geral, no exercício da profissão.

Mais uma vez tivemos uma avaliação regular, por parte dos formandos. A média foi de 7,06, a moda e a mediana foram de 7, todas consideradas regulares. Como na questão anterior, tivemos 4 avaliações abaixo de 5, proporcionalmente baixa em relação ao total de respondentes e, dessa vez, 8 avaliações acima da nota 8. As avaliações se concentraram nas notas 7 e 8, que foram avaliadas por 70% dos respondentes, a grande maioria. Tabela 11 – Conhecimentos dos preceitos emanados do CEPC

Alternativas Frequência Percentual (%)

Sim 34 42,50

Não 46 57,50

Total 80 100,00

Fonte: Dados da Pesquisa

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Gráfico 1 - Conhecimentos dos preceitos emanados do CEPC Fonte: Dados da Pesquisa

A décima primeira questão pediu para que os formandos dissessem se acreditavam ter

conhecimentos suficientes sobre o CEPC. Quando se fala em conhecimentos suficientes, quer dizer se tinham conhecimentos necessários para o bom e ético exercício da profissão.

Como podemos observar na tabela, 34 formandos responderam que tinham conhecimentos suficientes, o que representa 42,50% deles, enquanto 46 formandos disseram não ter conhecimentos suficientes sobre os preceitos emanados do CEPC, o que representa 57,50% do total. O resultado dessa pesquisa é preocupante, pois a maioria dos respondentes disse não ter conhecimentos suficientes. Resta saber o porquê desse resultado, se faltou interesse dos formandos em estudar o CEPC, se não há uma divulgação necessária e um incentivo ao cumprimento do CEPC pelos órgãos responsáveis, se o CEPC não foi ensinado e discutido durante o curso etc., vários motivos podem ter levado a esse resultado. Tabela 12 – Divulgação do CEPC pelos organismos responsáveis

Alternativas Frequência Percentual (%)

Sim 16 20,00

Não 64 80,00

Total 80 100,00

Fonte: Dados da Pesquisa

42,50%

57,50%

Sim Não

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Gráfico 2 - Divulgação do CEPC pelos organismos responsáveis Fonte: Dados da Pesquisa

A décima segunda questão perguntou a opinião dos formandos, sobre se eles achavam

que os organismos responsáveis pela fiscalização da profissão contábil, divulgavam amplamente o CEPC entre os profissionais da área.

O resultado mostra que apenas 16 respondentes disseram que os organismos divulgavam amplamente, o que representa 20% do total, enquanto a grande maioria, 64 respondentes, o que representa 80% destes, disse que os organismos responsáveis não divulgavam amplamente o CEPC entre os profissionais da área. Perguntados sobre o porquê de suas respostas, algumas explicações dos que responderam “não”, foram: pouco se fala sobre o CEPC nas palestras e seminários da área contábil; os órgãos responsáveis pouco falam ou discutem sobre o CEPC em seus sites oficiais; há pouco incentivo à leitura do CEPC por parte dos órgãos responsáveis, etc. O que mais chamou atenção foi o fato de dois respondentes terem dito que não sabiam sobre a existência do CEPC. Esse resultado serve de alerta para os organismos responsáveis, que devem realizar ações no sentido de aumentar a divulgação do CEPC entre os profissionais e estudantes da área. Tabela 13 – A eficiência da disciplina responsável por divulgar o CEPC para a inibição dos casos de escândalos na área contábil

Alternativas Frequência Percentual (%)

Sim 3 3,75

Não 77 96,25

Total 80 100,00

Fonte: Dados da Pesquisa

20%

80%

Sim Não

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Gráfico 3 - A eficiência da disciplina responsável por divulgar o CEPC para a inibição dos casos de escândalos na área contábil Fonte: Dados da Pesquisa

Na questão 13, os formandos foram perguntados se a disciplina, do curso de Ciências

Contábeis da UFPE, responsável por divulgar o CEPC é suficiente para inibir os casos de escândalos presentes na área contábil.

Dos 80 respondentes, apenas 3 responderam que a disciplina era suficiente,

correspondendo a 3,75%, já a grande maioria, 77 respondentes, o que corresponde a 96,25%, disseram que a disciplina não é suficiente para inibir os casos de escândalos contábeis.

Das questões que foram aplicadas, essa foi a que teve o maior índice de concordância

entre os formandos. De fato, a única disciplina do curso de Ciências Contábeis da UFPE, que trata especificamente sobre esse assunto é Ética e Normas da Profissão Contábil, que por mais que ensine e enfatize sobre os princípios éticos e o CEPC, é muito pouco em relação à relevância do assunto.

Alguns respondentes disseram que a disciplina não era suficiente, pois a ética era algo

que era aprendido durante a formação do cidadão, e que uma disciplina ensinada na universidade não iria mudar o caráter deste. De fato, essa afirmação não está completamente equivocada, mas a ética precisa sim ser ensinada e enfatizada, pois o homem sempre aprende novas coisas durante sua vida, e os conhecimentos aprendidos durante o curso poderiam sim mudar sua forma de agir e o seu caráter.

Tabela 14 – A suficiência das penalidades previstas no CEPC para coibir abusos éticos

Alternativas Frequência Percentual (%)

Sim 20 25,00

Não 60 75,00

Total 80 100,00

Fonte: Dados da Pesquisa

3,75%

96,25%

Sim Não

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Gráfico 4 - A suficiência das penalidades previstas no CEPC para coibir abusos éticos Fonte: Dados da Pesquisa

A décima quarta questão perguntou aos respondentes se achavam que as penalidades

previstas no CEPC são suficientes para coibir a prática de abusos éticos por parte de alguns profissionais da área contábil.

O resultado mostra que 20 respondentes disseram que as penalidades são suficientes, o

que representa 25%, enquanto 60 respondentes disseram que as penalidades não são suficientes, o que representa a grande maioria, 75%.

As penalidades previstas no CEPC são: advertência reservada, censura reservada e

censura pública. Entre as explicações dos que responderam que as penalidades não são suficientes estão: as penalidades são pouco severas, o que leva alguns profissionais a praticar algumas infrações sem temor das consequências; não há uma uniformidade na aplicação das penalidades, algumas faltas que deveriam ser punidas com uma pena mais grave, são punidas “levemente”, etc.

Tabela 15 – Opinião a respeito do cometimento de atos antiéticos em decorrência de ordem dos

superiores hierárquicos

Alternativas Frequência Percentual (%)

Sim 62 77,50

Não 18 22,50

Total 80 100,00

Fonte: Dados da Pesquisa

25%

75%

Sim Não

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Gráfico 5 - Opinião a respeito do cometimento de atos antiéticos em decorrência de ordem dos superiores hierárquicos Fonte: Dados da Pesquisa

Perguntados sobre se acreditavam que alguns profissionais da área cometiam atitudes

antiéticas em virtude de receberem ordens de seus superiores hierárquicos e, consequentemente, para não perder seu emprego, 62 respondentes disseram acreditar que sim, o que representa 77,50% deles, enquanto apenas 18 respondentes disseram não acreditar, o que representa 22,50% do total de respondentes.

O grande argumento dos que disseram não acreditar, era que a ética é uma virtude

pessoal e que, independentemente de receber ordens, uma pessoa que tem essas virtudes, não praticaria atitudes antiéticas. Já os que disseram acreditar, explicaram sua resposta por já ter passado por essas situações, alguns por experiência própria, e outros por colegas de trabalho.

Tabela 16 – Cometimento próprio de atos antiéticos em decorrência de ordens dos superiores hierárquicos

Alternativas Frequência Percentual (%)

Sim 18 22,50

Não 62 77,50 Total 80 100,00

Fonte: Dados da Pesquisa

77,50%

22,50%

Sim Não

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Gráfico 6 - Cometimento próprio de atos antiéticos em decorrência de ordem dos superiores hierárquicos Fonte: Dados da Pesquisa

Após suas opiniões a respeito desse assunto na questão 15, os formandos foram

perguntados se já praticaram atos antiéticos em virtude de ordens superiores. Dos 80 respondentes, 18 deles responderam que já praticaram, o que representa

22,50%, enquanto 62 deles disseram nunca ter praticado atos antiéticos por ordens de seus superiores, o que representa 77,50%.

Apesar de a minoria ter dito haver praticado, esses números preocupam, pois foram 18

formandos que estão em início de carreira, uma grande parte ainda como estagiários, e já chegaram a praticar esses atos. Provavelmente, no decorrer de suas carreiras profissionais, outros vão passar por essa situação e, consequentemente, essa estatística irá aumentar, podendo até se tornar maioria.

Ainda, alguns profissionais podem ter dito nunca ter praticado, mesmo tendo cometido

pequenas infrações, que para eles não são considerados atos antiéticos e, ainda, alguns podem não ter marcado que cometeram, por vergonha ou medo. 5 CONCLUSÃO

Este trabalho procurou responder ao seguinte problema de pesquisa: “Sob o ponto de

vista dos formandos do primeiro semestre de 2014 do curso de Ciências Contábeis da UFPE, qual o real significado da observância aos preceitos emanados do Código de Ética Profissional do Contador?”

Os resultados encontrados apontam para um alto grau de importância da ética na

contabilidade, pois foi obtida uma média de 8,89, em uma escala de 1 a 10, na pesquisa feita com os formandos, para a importância do ensino da ética durante o curso. Segundo os formandos, a ética contribui para o crescimento dos profissionais, que passa a ser respeitado pela sociedade de maneira geral, e para a valorização da profissão contábil.

Apesar da grande importância do ensino da ética, o resultado obtido da avaliação dos estudantes em relação ao seu ensino, que realmente ocorreu durante o curso, foi de apenas 5,96 de média. Ainda, em relação aos seus conhecimentos sobre os deveres previstos aos

22,50%

77,50%

Sim Não

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contabilistas no CEPC, a avaliação dos formandos obteve uma média de 6,72, uma média baixa se considerada a relevância do assunto. Também, 57,50% dos respondentes disseram não ter conhecimentos suficientes sobre o CEPC. Isto serve de alerta para as instituições de ensino, que devem fazer algo para melhorar essa situação, pois o CEPC é o instrumento maior que deve ser seguido pelos profissionais, para uma boa conduta ético-profissional.

Em relação à observância dos princípios éticos nos locais de trabalho dos

respondentes, foi obtida uma média de 7,81. Enquanto a avaliação a respeito da observância do CEPC por parte dos profissionais da área contábil, em geral, obteve uma média de 7,06. Os dados mostram um resultado regular, porém abaixo do desejado.

Uma questão importante perguntou aos formandos se já foram obrigados a praticar atitudes antiéticas em virtude de ordens superiores. O resultado mostrou que 22,50% deles se encaixam nessa situação.

Conclui-se que o ensino da ética é muito importante para a formação de grandes profissionais, e para que a profissão contábil seja mais respeitada e estimada pela sociedade em geral.

O objetivo geral do trabalho foi alcançado, pois foi feito um exame detalhado

daimportância da ética e da observância ao Código de Ética Profissional do Contador no exercício da profissão contábil com os formandos do primeiro semestre de 2014 do curso de Ciências Contábeis da UFPE. REFERÊNCIAS ANTONOVZ, T.; ESPEJO; M. . B.; STEINER NETO, P. J.; VOESE, S. B.. Atitudes éticas dos contadores: evidências recentes de uma pesquisa com alunos e profissionais contábeis sob perspectiva de gênero. RCO – Revista de Contabilidade e Organizações – FEA-RP/USP, v. 4, n. 10, p. 89-105, set-dez 2010.

BORGES, E. F.; MEDEIROS, C. A. F.. Preceitos e regras éticas: como se dá a introjeção de preceitos éticos por contadores e técnicos em contabilidade na sua atuação profissional. RevistaContabilidade Vista & Revista, v. 18, n.2., p. 49-72, abr./jun. 2007.

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE (Brasil). Resolução CFC nº 803, de 10 de outubro de 1996. Aprova o Código de Ética Profissional do Contador – CEPC. Brasília, 1996. Disponível em: <www.cfc.org.br/sisweb/sre/docs/RES_803.doc> Acesso em: 11 maio 2014.

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UM ESTUDO SOBRE A PERCEPÇÃO DE DISCENTES E DOCENTES SOBRE AS COMPETÊNCIAS DE UM PROFESSOR DE CONTABILIDADE

AUTORES: João Gabriel Nascimento de Araújo, Priscilla Milfont de Medeiros, Juliana Gonçalves de Araujo, Tiago de Moura Soeiro e Francisco de Assis Carlos Filho.

RESUMO

Este trabalho teve por objetivo investigar qual a percepção dos discentes e docentes sobre as competências de um professor de Contabilidade. Esta pesquisa teve como amostra 199 estudantes do curso de Ciências Contábeis do Estado de Pernambuco, incluindo os cursos de nível técnico, superior e pós-graduação lato sensu. Além da análise de opinião dos discentes, o estudo procurou a opinião de docentes, obtendo-se o total de 19 respondentes. O instrumento de coleta é composto por uma seção de perguntas de identificação do respondente, as quais tentam traçar o perfil do estudante e docente, tais como curso, natureza da instituição vinculada, faixa etária e sexo. A segunda seção abordou 03 questões sobre cada perspectiva das competências do professor (prática, técnico-científica, pedagógica e social e política). Pôde-se concluir que, de forma geral, existe um alinhamento entre a literatura e a presente pesquisa quanto às perspectivas técnico-científica, e principalmente a prática e a pedagógica. Entretanto, observa-se certo distanciamento entre literatura e a pesquisa sobre a relevância da perspectiva política e social, tanto por parte dos docentes, quanto por parte dos discentes.

Palavras-chave: Ensino em Contabilidade; Competências do professor; Discentes e docentes.

1 INTRODUÇÃO

Estudos na área de educação, que abordam profissão docente e sua qualificação, estão sendo desenvolvidos com mais freqüência, visto que este tema tem sido considerado objeto deinteresse tanto pelos próprios educadores, como pelos pesquisadores, os quais buscam refletir e compreender aspectos relacionados aos conhecimentos e saberes que são demandados do docente (SLOMSKI et al., 2009).

Mas, os questionamentos sobre a formação dos docentes do ensino superior no Brasil surgiram por volta de três décadas passadas, onde foi possível começar a verificar sobre a formação destes docentes e de suas competências específicas (MASETTO, 1998). Em 1980, muitos dos pesquisadores dedicaram seus esforços para investigar, estudar e sistematizar os saberes que são considerados como base para a profissionalização da docência (PUENTES, AQUINO E QUILLICI NETO, 2009).

Há diversos estudos que tratam do temaeducação; dentre eles, alguns se dedicam à abordagem sobre a formação do universo geral dos professores - incluindo também os bacharéis,bem como as lacunas existentes nesse processo de formação, tanto no cenário nacional, quanto no internacional (SHULMAN, 1986; MASETTO, 1998; CUNHA, 1998; LEITE, 1999; VEIGA; CASTANHO, 2000; PIMENTA E ANASTASIOU, 2002).

Especificamente em Ciências Contábeis, corroborando com a leva supracitada de estudos, há, por conseguinte, os que se dedicam à pesquisa no campo da educação e da

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formação do professor, separados, conforme aponta Miranda, Casa Nova e Cornacchione (2013) em três dimensões: qualificação acadêmica, referente à preparação do docente para a pesquisa; qualificação profissional, que estuda a relação entre a docência e a prática profissional; e qualificação pedagógica, que é a preparação para o exercício da docência. O presente estudo foca nessa terceira dimensão, a qualificação pedagógica.

Os estudos que focam na qualificação pedagógica possuem relação com o domínio didático pedagógico do docente, metodologias de ensino em Contabilidade epolítica e programas de apoio à formação contínua do docente (ANDERE, ARAÚJO, 2008; SLOMSKIet al., 2009; FRECKA, RECKERS, 2010; MARSHALL et al., 2010; MIRANDA, 2010; CATAPAN, COLAUTO, SILLAS, 2012; MIRANDA, CASA NOVA, CORNACCHIONE, 2012; MIRANDA, CASA NOVA, CORNACCHIONE, 2013).

Este estudo sustenta sua relevância em decorrência do alto número de cursos de Ciências Contábeis no Brasil, sendo o sexto em número de matrículas, conforme o INEP (2010), além da relevância em si que a atividade docente possui. Então, estudar sobre a educação e sua qualidade traz grande contribuição para promover o progresso da sociedade, principalmente com a expansão do quantitativo dos cursos de Contabilidade no Brasil (ANDERE E ARAÚJO, 2008).

Amparado nas pesquisas anteriores, especialmente na de Andere e Araújo (2008), este trabalho busca investigar: qual a percepção dos discentes e docentes sobre as competências de um professor de Contabilidade?

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 COMPETÊNCIAS DA PROFISSÃO DOCENTE

Relacionado à qualidade dos cursos e da educação, encontra-se o papel desenvolvido pelos docentes. Até certo tempo atrás, os docentes do ensino superior não eram foco de discussões e pesquisas, já que acreditava-se que apenas o domínio do conhecimento específico de uma área era suficiente para ser professor, além da crença de que os alunos do ensino superior eram adultos e possuíam capacidade suficiente para aprender, sem necessidade de um professor com habilidades didático-pedagógicas (MIRANDA, CASA NOVA, CORNACCHIONE, 2013).

Especificamente sobre os professores de Contabilidade, estes não devem se deter a conhecer e dominar apenas a prática contábil, eles também precisam conhecer a arte de ensinar, pois não só a formação prática e técnica é importante, mas a pedagógica também (ANDERE E ARAÚJO, 2008). A articulação entre Pedagogia e os trabalhos da Contabilidade em muitos momentos se restringem à transmissão de conhecimentos contábeis meramente técnicos e mecanicistas (LAFFIN, 2005).

Devido ao seu papel na formação de novos profissionais, o docente precisa assegurar suas competências intelectuais, técnicas, pedagógicas e políticas (GUERRA, 2003). Essas competências estão intimamente ligadas ao papel da docência e fazem parte de um modelo de formação de professor desenvolvido por Vasconcelos (2000) e apresentado por Andere e Araújo (2008): formação prática, formação técnico-científica, formação pedagógica e formação social e política.

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2.1.1 Formação Prática

Quando tratada da formação prática dos docentes, esta se refere ao conhecimento adquirido pela prática profissional do docente, de forma que proporciona aos discentes um cenário mais real e atualizado para dar significado ao conteúdo ensinado em sala de aula (ANDERE E ARAÚJO, 2008). Ou seja, a formação prática do docente está relacionada com sua aquisição de conhecimento prático da profissão contábil, a fim de que com esse conhecimento possa demonstrar a realidade para os alunos, facilitando o processo de aprendizagem e assimilação da teoria com a prática.

A prática também está muito vinculada ao conhecimento e domínio do conteúdo, e pode ser chamada de “saberes experienciais” (MIRANDA, CASA NOVA, CORNACCHIONE, 2012). Os saberes experienciais se relacionam bem com a aprendizagem docente através da própria prática da docência (PIMENTA E ANASTASIOU, 2002).A formação para criar esses saberes experienciais dificilmente pode ser adquirida durante cursos e aulas de pós-graduação, mas o incentivo para adquirir esses conhecimentos deve ser enfatizado e cobrado pelas IES (Instituições do Ensino Superior) (ANDERE E ARAÚJO, 2008).

A formação prática se vincula a vivência profissional dentro e fora da carreira de docência, de maneira que com o auxilio dos conteúdos acadêmicos, o professor poderá através de seus conhecimentos práticos melhorar sua dinâmica de aula e demonstrar os conceitos teóricos através de exemplos reais com mais facilidade. Pois, conforme Andere e Araujo (2008) apontam “o processo de ensino-aprendizagem torna-se mais fácil quando o professor possui condições de trazer para a sala de aula dados efetivos de um mundo verdadeiro [...]”.

2.1.2 Formação Técnico-Científica

Quando se fala sobre uma formação técnico-científica para os docentes, se aborda questões que abarcam tanto sua formação para a prática docente, ou seja, especialização, mestrado e doutorado, quanto sua capacidade de entendimento e conhecimento de conteúdos teóricos específicos.

Na formação técnico-científica, o conhecimento de determinados assuntos específicos da área deve estar acompanhado do entendimento das teorias, dos aspectos mais teóricos que ficam no entorno do assunto em pauta (CATAPAN, COLAUTO, SILLAS, 2012; ANDERE E ARAÚJO, 2008). Ou seja, a dimensão técnica é aquela que, dentre outros pontos, é responsável por demonstrar o amplo domínio sobre um conteúdo específico que será desenvolvido, além de tratar do conhecimento das melhores formas possíveis para desenvolver tais conteúdos com os alunos (MIRANDA, 2010).

O professor universitário, então, deve ser guarnecido dos itens que fazem parte da competência técnica, na área de sua especialidade, além da competência científica, que é voltada para a criação e construção de novos conhecimentos, o que significa dizer que é habilidade de realizar pesquisas em sua área temática, se tornando também um professor-pesquisador (ANDERE E ARAÚJO, 2008). A função das pesquisas representa grande valor no perfil do docente, repercutindo também sobre sua formação prática e pedagógica (SLOMSKI, 2007).

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2.1.3 Formação Pedagógica

A formação pedagógica de um docente não corresponde apenas ao conhecimento de técnicas de didática, ela consegue se concentrar em outras atividades além de ministrar aulas. Esse tipo de formação se remete a todo o processo de planejamento de ensino (cronograma), o que inclui os objetivos gerais da disciplina a ser lecionada, a forma de avaliação dessa aprendizagem e as formas de construção e reconstrução do conhecimento (CATAPAN, COLAUTO, SILLAS, 2012; ANDERE E ARAÚJO, 2008).

Para a formação pedagógica, o docente também pode buscar incitar a discussão e o debate, pois essa é uma forma de construir e reconstruir o conhecimento, fortalecendo o ensino-aprendizagem. Ou seja, um dos papéis pedagógicos do docente é saber trabalhar com estímulos para os alunos, com o intuito de propor desafios intelectuais, problemas, situações abertas e estimulantes (ANDERE E ARAÚJO, 2008).

Mas, uma formação didático-pedagógica consistente também deve abarcar algumas competências essenciais, como saber envolver os alunos nesses momentos de aprendizagem, desenvolvendo neles o desejo do saber, a decisão de aprender e a capacidade de realizar uma auto-avaliação (ANDERE E ARAÚJO, 2008)

2.1.4 Formação Social e Política

Essa dimensão da formação do docente corresponde ao processo de estabelecimento de que alunos e professores são pessoas que já possuem uma história vida e tem sua cultura específica, onde o contexto em que vivem é norteado por diversas políticas, como políticas de saúde, econômicas e educacionais (MIRANDA, 2010). Ou seja, é nessa formação que o docente e o discente podem expressar suas posições políticas e sociais.

Para Andere e Araújo (2008), a formação social e política pode ser considerada essencial para um docente, pois permite que ele reconheça a pessoa do aluno e visualize o meio onde ele vive, sempre atento e preocupado com questões que envolvam o meio social, político, ético e humano. Essa formação ética e humana possibilita o professor a entender e tratar com respeito as diferenças.

A formação política e social não se restringe somente aos critérios supramencionados, ela também deve proporcionar ao docente uma segurança, de forma que o torne apto para discussões e diálogos sobre outras disciplinas, tais como Sociologia, Filosofia e Economia, além de uma formação política para debates sobre o que ocorre no país e no mundo (ANDERE E ARAÚJO, 2008).

2.2 ESTUDOS ANTERIORES

Alguns trabalhos foram realizados sob a dimensão da qualificação pedagógica (ANDERE, ARAÚJO, 2008; SLOMSKI, 2009; FRECKA, RECKERS, 2010; MARSHALL et

al, 2010; MIRANDA, 2010; CATAPLAN, COLAUTO, SILLAS, 2012; MIRANDA, CASA NOVA, CORNACCHIONE, 2012; MIRANDA, CASA NOVA, CORNACCHIONE, 2013).No Quadro 1 está apresentado um resumo que contém informações sobre estudos anteriores ligados diretamente a Contabilidade, contendo seus autores, objetivos e principais resultados.

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Quadro 1– Resumo dos estudos anteriores em Contabilidade

Autores Objetivo Resultados Andere e Araújo (2008)

Verificar a importância que é atribuída pelos programas de pós-graduação stricto sensu em Contabilidade à formação prática, técnico-científica, pedagógica e social e política dos docentes, junto aos discentes e coordenadores dos programas.

Os programas investigados estão direcionados primeiramente aos conhecimentos teóricos específicos da área contábil, seguido porformação pedagógica. Em terceiro lugar, para os discentes, vem a formação prática, e por último à formação social e política. Já para os coordenadores, a ordem de importância é: formação teórica, formação pedagógica, formação social e política e formação prática.

Slomski (2009) Apresentar e discutir os dados de uma pesquisa sobre educação contábil que conheceu, analisou e caracterizou os saberes dos professores dos cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis.

A prática de ensino dos professores estudados advém originariamente da experiência como profissional contábil, de magistério superior, formação escolar anterior, contexto de atuação, materiais e livros didáticos e capacidade para enfrentar os desafios na sala de aula da universidade.

Frecka e Reckers (2010)

Avaliar a qualidade, nível de satisfação com programas de Mestrado em Contabilidade e a relevância atual do curso para identificar e priorizar iniciativas futuras.

As respostas obtidas foram o primeiro passo para identificar os problemas nos programas, apesar do artigo não fornecer uma discussão substantiva sobre o que poderia ser feito para complementar o que está fraco, já que o objetivo era identificar e incentivar ainda mais o debate.

Marshall et al

(2010) Apresentar perspectivas sobre a prática e a educação contábil.

Apresenta diferentes perspectivas sobre a diferença entre a prática e a educação contábil, assim como a formação dos membros da faculdade de contabilidade. Também oferecem novas perspectivas.

Miranda (2010) Investigar quais disciplinas e conteúdos didático/pedagógicos são oferecidos nos programas de pós-graduação stricto

sensu em Ciências contábeis e as dimensões da formação pedagógica que predominam nesses programas.

Dentre os mestrados e doutorados estudados, somente dois mestrados possuem a obrigatoriedade de se cursar disciplinas didático-pedagógicas. E dentre as dimensões da didática, a dimensão técnica é a mais comum nas ementas das disciplinas, com ausência da dimensão humana assim como relações aluno-professor. Dimensão sociopolítica aparece com foco nas questões institucionais.

Catapan, Colauto e Sillas (2012)

Analisar as principais práticas pedagógicas e atributos adotados pelos professores contabilidade que possuem êxito em sala de aula de acordo com os discentes das universidades estudadas.

Domínio de conteúdo, clareza e o despertar de interesse são razões para o bom desempenho de um docente. Quanto à Dimensão Estímulo Intelectual, as principais características foram: preparado, claro e organizado. Na Dimensão Relação Interpessoal as principais características foram: respeitoso e interessado.

Miranda, Casa Nova e Cornacchione (2012)

Identificar os professores-referência (são docentes que se destacaram de maneira positiva junto aos discentes) para, depois investigar os saberes detidos por esses docentes.

As disciplinas apontadas como mais significativas de aprendizagem eram as percebidas como base do curso. Os docentes foram escolhidos pela: didática ou metodologia de ensino, atitudes e qualidades pessoais. E os três saberes que mais foram destacados: conhecimento didático, domínio do conteúdo e saberes experienciais.

Miranda, Casa Nova e Cornacchione (2013)

Investigar as relações existentes entre o desempenho discente e a qualificação docente.

Os cursos estudados que apresentaram as maiores notas na avaliação ENADE são aqueles que também apresentaram os maiores níveis de qualificação acadêmica.

Fonte: Elaboração própria

Este estudo se diferencia em relação aos demais por investigar a perspectiva dos discentes e docentes em relação às competências de um professor de contabilidade tanto no ambiente universitário de graduação e pós-graduação, como no ambiente dos cursos técnicos de contabilidade.

3 METODOLOGIA

Esta pesquisa teve como amostra 199 estudantes do curso de Ciências Contábeis do Estado de Pernambuco, incluindo os cursos de nível técnico, superior e pós-graduaçãolato

sensu. Além da análise de opinião dos discentes, o estudo procurou a opinião de docentes,

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obtendo-se o total de 19 respondentes, sendo possível somente a realização de uma análise descritiva devido à pequena quantidade de docentes participantes.

Os questionários foram aplicados in loco, durante o período de aulas, entre os meses de junho e agosto de 2014 e os alunos não apresentaram dificuldades ou resistência. O instrumento de coleta é composto por uma seção de perguntas de identificação do respondente, as quais tentam traçar o perfil do estudante e docente, tais como curso, natureza da instituição vinculada, faixa etária e sexo.O segundo bloco trata de requisitos que os docentes podem ou não julgar necessários para a competência do professor. São expostos 12 requisitos e estes devem ser valorados de acordo com as escala likert de 5 pontos, onde 1 significa “discordo totalmente” e 5 significa “concordo totalmente”.

Quanto à organização das perguntas no questionário utilizado como instrumento de coleta de dados do presente trabalho, estas foram dispostas de forma desordenada, ou seja, as questõessobre a mesma competência não ficaram juntas e de forma ordenada, para evitar algum viés, entretanto, seu tratamento no tópico de análise foi dado de acordo com os grupos de competência a que pertencem.No Quadro 2, podem ser observadas as competências (prática, técnico-científica, pedagógica e social e política) e suas respectivas questões, conforme abordado no questionário.

Quadro 2– Competências e suas respectivas questões

Formação Prática

Possuir um bom alinhamento entre teoria e prática (Questão 02)

Seu tempo de experiência na docência (Questão 07)

Seus saberes adquiridos na esfera profissional, na prática (Questão 11)

Formação Técnico-Científica

O domínio do conteúdo lecionado (Questão 04)

Seu tempo dedicado aos estudos específicos (Questão 08)

Ter produção cientifica relevante (livros e trabalhos científicos) (Questão 12)

Formação Pedagógica

Oferecer e seguir um cronograma (Questão 01)

Incitar a discussão, o debate (Questão 05)

Ter um bom relacionamento com os alunos (Questão 10)

Formação Social e Política

Seus valores éticos (Questão 03)

Suas posições políticas e sociais (Questão 06)

Demonstrar ter conhecimento em outras áreas do saber e do cotidiano (Questão 09)

Fonte: Elaboração própria

Quanto às inferências realizadas, hipótese norteadora da terceira parte da análise desse estudo é a que segue:

H0: As variáveis de perfil não influenciam o comportamento das variáveis de competência do docente.

Para tanto, neste bloco de análise são realizados testes para aceitação ou rejeição desta hipótese.

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4 ANÁLISE DOS DADOS 4.1 BLOCO 1: PERFIL DOS RESPONDENTES

Os alunos pertencentes ao curso de nível técnico representam 45% da amostra estudada, enquanto os discentes de nível superior representaram 51%. Os alunos de pós-graduação tiveram menor representatividade, com 3,5%. Assim, posteriormente em análises de cruzamento, os alunos de pós-graduação não serão considerados de forma significante nas relações. Os alunos que pertencem ao nível superior não apresentam restrições quanto ao período vinculado.

Quanto à natureza da instituição é visto que a maioria dos estudantes desta amostra pertence às instituições particulares (67%, aproximadamente), enquanto os estudantes de instituições públicas representam 33%.

A maioria dos estudantes pertence à faixa etária de 18 a 24 anos (51%), seguida por alunos de 25 a 35 anos (38%, aproximadamente). Os estudantes que têm idade superior a 35 anos representam 11% da amostra.

O último questionamento acerca do perfil dos alunos abordou o sexo. O sexo feminino é representado por 58% da amostra, enquanto o sexo masculino tem o percentual de 42%, aproximadamente.

Os docentes respondentes desta pesquisa totalizaram 19, e a primeira pergunta de perfil foi sobre a titulação dos mesmos. Observou-se que 21% têm o nível de graduação, e 37% possuem especialização e os docentes com titulação de mestrado e doutorado com 21% cada um.

O segundo questionamento trata da natureza da instituição em que o docente ensina, se é em instituição pública ou privada. Cerca de 58% são professores de instituições particulares e 42% de instituições públicas.

Quanto à idade dos professores verifica-se que 48% tem de 25 a 35 anos, 16% tem idade de 36 a 50 anos, e o mesmo percentual é encontrado para os professores que tem idade acima de 50 anos. Já os professores que tem de 18 a 24 anos apresentam o percentual de 21% de participação. Percebe-se que apesar de docentes, os professores demonstram uma idade relativamente baixa.

A última questão sobre o perfil dos professores trata do sexo e 79% destes são do sexo masculino, enquanto o sexo feminino é representado por 21%, características estas que divergem do perfil dos alunos, onde naquele grupo a maioria é representada pelo sexo feminino.

4.2 BLOCO 2: REQUISITOS DO DOCENTE

O bloco 2 é formado por 12 itens que devem ser valorados pelo discente em grau de concordância numa escala de 5 pontos.

A apresentação e a discussão dos resultados obtidos nesse bloco estão subdividas de acordo com as competências de um professor, de forma que primeiro demonstra sobre a formação prática, seguida da formação técnico-científica, pedagógica e social e política.

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4.2.1 Formação Prática

A formação prática para um docente está vinculada tanto ao conhecimento profissional adquirido fora da sala de aula, como também ao conhecimento adquirido dentro de sala de aula juntamente com o domínio do conteúdo, permitindo a criação de um ambiente propício para o entendimento da teoria na prática.

A questão dois disposta no questionário foi “possuir um bom alinhamento entre teoria e prática”. Os respondentes, em sua maioria, consideraram este item como requisito de competência de um professor. Aproximadamente 83% concordaram totalmente com a assertiva, considerando item relevante para o processo de ensino-aprendizagem, enquanto 11% concordaram de forma parcial. Apenas 2,5% discordam da assertiva, de maneira total (1%) e parcial (1,5%).

É relevante destacar que aqueles que se mostraram indiferente a este item (3,5%) são vinculados às instituições de natureza particular. Boa parte daqueles que concordam totalmente também são de natureza particular, 68,5%, enquanto 31,5% dos que atribuíram o mesmo valor pertencem às instituições públicas.

Neste item os docentes atribuíram o nível de concordância de 95%, e apenas 5% de indiferença, indicando que os docentes consideram este alinhamento essencial para docência.

Conforme demonstrado pela literatura, o processo de ensino-aprendizagem acaba se tornando mais fácil quando o docente possui condições de demonstrar as questões reais alinhadas à teoria. (ANDERE E ARAÚJO, 2008). E dessa forma, o resultado obtido corrobora com o referencial teórico, pois nota-se um alto nível de concordância como sento um item essencial para um bom docente.

O tempo de experiência na docência, por vezes, pode causar diferença na forma como o discente enxerga o professor. No entanto, os resultados mostraram uma distribuição das respostas entre as alternativas de concordância e indiferença.

A maioria dos alunos concorda parcialmente com o fato de a experiência docente dos professores ser um importante requisito (36%), 23% concordam totalmente, enquanto 24% acham indiferente este fator para a competência do docente. O percentual de discordância foi de 17%, 4% de discordância total e 13% de discordância parcial.

Os professores tratam da experiência de forma distribuída. O percentual de indiferença e concordância parcial encontrado foram os mesmos: 37%. Cerca de 10% discordam parcialmente desta assertiva, e 16% concordam totalmente.

Para Pimenta e Anastasiou (2002), o conhecimento e o domínio do conteúdo estão bem relacionados com os saberes adquiridos durando a prática da docência. Assim, a prática da docência é um instrumento que com experiência pode auxiliar o professor em sala de aula. Entretanto, essa proposta apresentada pela literatura é aceita em partes pelos respondentes desta investigação, visto que a maior concorda parcialmente que a experiência na docência é um fator primordial para ser um bom professor.

O quesito sobre experiência prática do professor é o item que mais se destacou com o nível de concordância de 92%. Onde, 31% dos alunos concordam parcialmente com esta

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assertiva, enquanto 61% concordam totalmente. Assim, além de domínio de assunto, estudo específico e de outros conhecimentos, os alunos esperam que os professores consigam transmitir o assunto com um teor prático, tangenciando os aspectos cotidianos da disciplina e profissão, aplicando situações reais durante o processo de ensino-aprendizagem. Os professores, em contrapartida, apresentam um percentual de 74% de concordância, demonstrando concordar que a experiência profissional influencia positivamente e 26% se mostram indiferentes a este requisito.

A vivência da profissão fora de sala de aula permite que o docente crie cenários mais reais e atualizados com o intuito de criar significado ao conteúdo explanado em sala de aula (ANDERE E ARAÚJO, 2008). E, essa visão de conhecimento prático para auxiliar no ato de lecionar é também partilhada como um requisito importante para os docentes, conforme opinião dos discentes questionados, assim como de 74% dos docentes.

Diante desses três aspectos que remetem a formação prática do professor, os participantes da presente pesquisa demonstram que estão em acordo, em diferentes graus de aceitação, com as perspectivas de boa formação para os docentes.

4.2.2 Formação Técnico-Científica

A formação técnico-científica representa uma dimensão específica para os docentes, onde é possível encontrar aspectos sobre a formação específica para docência, como mestrado e doutorado, e sobre o domínio de conhecimentos mais específicos e desenvoltura acadêmica no que tange produção de material científico.

O quarto item do questionário trata sobre o domínio do conteúdo lecionado, buscando saber se os discentes levam em consideração a importância deste aspecto para a docência. O domínio do assunto obteve uma concordância total de 85% e 13% de concordância parcial, em contraste com o nível de indiferença de 2%, e apenas 0,5% de discordância. Os docentes também compartilham da importância do domínio de conteúdo e atribuem o percentual de 100% de concordância, sendo 95% concordância total e 5% parcial.

É relevante ressaltar que 65% dos que concordam totalmente pertencem a alguma instituição de ensino particular. Essa diferença também é percebida quando analisados os resultados para quem concordou parcialmente, onde 76% dos respondentes são de instituições privadas e 24% públicas.

O conhecimento de assuntos específicos de uma área é uma característica do conhecimento técnico científico, onde esse conhecimento deve estar acompanhado do entendimento das teorias que entornam determinada área de estudo (CATAPAN, COLAUTO, SILLAS, 2012; ANDERE E ARAÚJO, 2008). A literatura demonstra que o domínio do conteúdo é um ponto importante para a formação técnico-científica e, corroborando com essa afirmação, a pesquisa conseguiu identificar que os discentes e os docentes acreditam que o domínio do conteúdo é item relevante para ser um bom professor.

Este resultado também sugere que pode haver uma diferença entre a visão do aluno para com o professor a depender da natureza da instituição. O discente de uma instituição pública pode desenvolver maior independência do docente, tendo a ideia de este ser somente um facilitador, ou, simplesmente, por essas instituições possuírem diferenças em seu modo de ensino-aprendizado. No entanto, este estudo não se aprofundou neste quesito, sugerindo a

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oportunidade de uma posterior análise para identificar possíveis causas dessa percepção entre os alunos.

Quadro 3 - Tabela Cruzada – Domínio do Assunto e Natureza da Instituição Natureza Total

Particular Pública

Domínio

Discordo totalmente Count 1 0 1

% within Domínio 100,0% 0,0% 100,0% % within Natureza 0,8% 0,0% 0,5%

Nem discordo nem concordo

Count 3 1 4 % within Domínio 75,0% 25,0% 100,0% % within Natureza 2,3% 1,5% 2,0%

Concordo parcialmente Count 19 6 25 % within Domínio 76,0% 24,0% 100,0% % within Natureza 14,3% 9,1% 12,6%

Concordo totalmente Count 110 59 169 % within Domínio 65,1% 34,9% 100,0% % within Natureza 82,7% 89,4% 84,9%

Total Count 133 66 199 % within Domínio 66,8% 33,2% 100,0% % within Natureza 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: Dados da pesquisa.

Dá-se relevante acrescentar que os dados do Quadro 3 utilizados para análise, correspondem a um indício e não uma conformação estatística, pois não obteve-se significância estatística relevante, onde foi utilizada uma escala de 05 pontos.

O oitavo item do questionário trata do tempo dedicado aos estudos específicos a que o docente está vinculado. No geral, os alunos concordam com a atribuição deste item como requisito para competência do professor. 38% dos alunos concordam parcialmente com esta assertiva e 37% concordam totalmente, atingindo um percentual de 75% de concordância. Já 21% dos alunos se declaram indiferentes, não demonstrando relevância a este tópico. O percentual de discordância foi de 4,5%.

Se comparado com o aspecto de domínio de conteúdo (4º item) é visto que o tempo dedicado ao estudo específico foi valorado com 10% a menos de concordância, e, apesar de este tópico estar relacionado ao domínio do assunto do docente, os alunos preferem um domínio do assunto elevado em detrimento de um estudo específico mais aprofundado, o qual obteve um percentual de indiferença significativo.

Já os professores atribuíram concordância de 74% quanto à dedicação dos estudos específicos como requisito, e 26% se mostraram indiferentes.

O último questionamento apontado no questionário abordou sobre a produção científica do professor, como a publicação de trabalhos científicos e livros. Diferentemente da observação anterior, este requisito obteve maior nível de indiferença por parte dos alunos, 31%. O total de alunos que concordam com este requisito é de 57%, sendo 35% de concordância parcial e de 22% de concordância total. Já os professores concordam em um grau de 79%, enquanto 16% são indiferentes e 5% discordam totalmente da influência da produção científica como competência do docente.

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A pesquisa científica tem papel importante na formação de um docente, pois ela agrega valor ao seu perfil, repercutindo também na formação prática e pedagógica (SLOMSKI, 2007). Mas, apesar de ser item relevante na literatura, não é dos mais considerados para atribuir como requisito importante no processo de ensino do docente, tendo a experiência prática mais destaque e interesse conforme aponta os respondentes da pesquisa. Isto pode indicar também o perfil dos estudantes, de não ter interesse ou incentivo à pesquisa e que estão mais voltados ao mercado de trabalho.

Através dos três pontos abordados sobre a formação técnico-científica de um docente, nota-se que existe um acordo sobre o domínio do conteúdo como parte importante para um professor, entretanto a formação específica e a produção científica representam uma menor fatia de relevância para uma boa formação dos docentes.

4.2.3 Formação Pedagógica

A formação pedagógica trata de diversos aspectos da vida docente, e é nela que pode ser encontrado o empenho em desenvolver um planejamento de aula, um bom relacionamento com os alunos que favorece um ambiente para discussões e debates engrandecedores para o ambiente acadêmico.

O primeiro item do questionário se refere ao cronograma, onde os discentes devem avaliar se consideram como requisito o fato de o professor oferecer e seguir um cronograma. Para este ponto foi encontrado que 90,5% dos discentes concordam que o cronograma deve ser considerado requisito como competência do docente. Apenas 4% se mostraram indiferentes a esta assertiva, enquanto 5,5% discordam deste item como requisito (2% discordando totalmente e 3,5% discordando parcialmente).

Os docentes também consideram este item importante, apresentando um percentual de concordância de 74%, e indiferença de 26%. Nenhum dos docentes considerou a discordância.

A formação pedagógica está relacionada com o processo de planejamento, onde é criado um cronograma para auxiliar no desenvolvimento das atividades. Dessa forma, a literatura aponta como um item importante para a formação de um professor, e os respondentes também concordam com essa visão, principalmente os docentes, com um pequeno percentual de discordância dos discentes.

O quinto item do questionário aborda a discussão e o debate sobre os temas, sugerindo a valoração da importância de incitar o debate ou discussão acerca de determinado conteúdo que esteja sendo abordado. Quanto a este tópico os discentes demonstram atribuir concordância com a relevância do debate como requisito do docente,mas não de forma contundente, concordando totalmente. Assim, cerca de 40% dos alunos concordam totalmente, 45%, maior parte, concorda parcialmente e 11% não concorda nem discorda, sendo 4% o percentual de discordância. Já os docentes atribuem 95% de concordância, e apenas 5% de indiferença.

Do mesmo modo que na questão anterior, os alunos de instituição particular atribuíram maior importância a este requisito, representando a participação de aproximadamente 70% nos graus de concordância.

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O debate é um momento de crescimento em sala de aula, onde, de acordo com Andere e Araújo (2008), deve servir como estímulo para os alunos, proporcionando momentos de desafios intelectuais com problemas estimulantes, sendo este um dos papéis pedagógicos do docente. Os docentes questionados estão ratificando a idéia proposta pela literatura do debate como um item do papel do professor. Já os discentes também concordam com esse papel, mas apresentam um percentual de discordância.

A relação com o aluno também foi analisada. O décimo questionamento apresenta a seguinte assertiva como requisito: ter um bom relacionamento com os alunos, e os docentes apresentaram um nível de concordância em 90%, se mostrando indiferentes apenas 5%, assim como aqueles que se mostraram em discordância parcial.

Nesta questão é perceptível a concordância elevada com este requisito. Aproximadamente 73% concordam de forma total com um bom relacionamento entre docente e discente, 20% concordam parcialmente, o que forma um percentual de 93% de concordância neste requisito. Apenas 4% mostraram-se indiferentes, e 2% discordam. O bom relacionamento é o item mais concordado como requisito, para os alunos este item é essencial, ajudando no processo de ensino e aprendizagem.

Corroborando com a literatura de que o bom relacionamento com os alunos proporciona um ambiente de aprendizagem, onde é possível desenvolver o desejo de saber (ANDERE E ARAÚJO, 2008), os respondentes da pesquisa também acham que o bom relacionamento é um requisito essencial para a formação de um bom professor.

4.2.4 Formação Social e Política

O terceiro questionamento é sobre os valores éticos do docente. A ética, por parte dos discentes, é considerada como requisito importante, como fundamentado pelas respostas obtidas, apresentando um percentual de 69% de concordância total com esta assertiva, e 23% concorda parcialmente. Este resultado demonstra 70% de concordância com a importância da ética, tendo, somente, 7% de indiferença e 1% de discordância total.

Jáquanto aos docentes, 21% apresentaram indiferença, enquanto 79% demonstraram concordância com a importância da ética como requisito.

A literatura demonstra que a formação social e política é essencial para o docente, pois permite reconhecer o aluno em seus vários aspectos (ANDERE E ARAÚJO, 2008), possibilitando que o professor entenda e trate com respeito as diferenças. Conforme respostas obtidas, as afirmações da literatura estão em congruência com a opinião dos discentes e docentes, em sua maioria, de que a ética é um requisito importante para um professor.

O sexto questionamento trata das posições políticas e sociais como requisito de competências de um professor. As respostas a este requisito apresentaram um comportamento diferente das análises anteriores. Neste ponto, os respondentes tenderam a serem indiferentes, com um percentual de 31%, e 30% apresentou concordância parcial. O destaque é para discordância, que desta vez apresentou 11% de forma parcial e 14% de discordância total quanto ao requisito. Este achado demonstra que opções pessoais sociais ou políticas não são observados como requisito para a prática da docência.

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Diferentemente das questões anteriores, os professores também apresentaram discordância. Aproximadamente 47% dos docentes apresentam discordância, apontando para uma não relevância deste quesito para docência. Quanto aos que são indiferentes o percentual atingido foi de 37%, enquanto a concordância obteve um grau de 15%.

O processo de estabelecer que os alunos e professores são pessoas que já possuem seus valores e histórias de vida e que são norteados por diversos fatores (política, economia, educação) corresponde a mais uma dimensão da formação do professor (MIRANDA, 2010), e é com esse conhecimento que docente e discente podem expressar suas posições políticas e sociais. Mas, diferentemente da literatura apresentada, tanto os discente quanto os docentes reagiram de forma diferenciada, pois eles demonstram que a posição social e política não são importantes requisitos para um docente.

O questionamento seguinte (q9) tratou do conhecimento do docente em outras áreas do saber e cotidiano. Este requisito teve um percentual de 40% de concordância parcial e 36% de concordância total, e de indiferença de 19%. Assim, o professor, na visão dos alunos, é melhor visto quando consegue dominar o assunto e relacionar o conhecimento repassado com informações do cotidiano e de outras disciplinas, facilitando a compreensão holística e consequente relevância do estudo de certo tema para o entendimento do todo.

Os docentes concordam com a expansão do conhecimento no nível de 79%, enquanto 16% se mostram indiferentes e apenas 5% discordam parcialmente.

Sobre sua formação política e social, o docente deve proporcionar, de forma segura, discussões e diálogos sobre outras disciplinas e debates sobre o que ocorre no país e no mundo (ANDERE E ARAÚJO, 2008). Os respondentes (discentes e docentes) apontam que esse aspecto da formação política e social demonstrado pela literatura é um requisito importante para a formação de um professor.

Sobre a formação política e social, de uma maneira geral, verifica-se que em conformidade com a literatura, é importante ter seus valores éticos definidos quando se é um docente, assim como ter interdisciplinaridade, para aumentar a riqueza na exposição de determinados assuntos. Entretanto, a relevância do posicionamento político e social do docente é questionada.

4.3 BLOCO 3: INFERÊNCIAS

O objetivo deste bloco foi de analisar relações estatisticamente significantes entre as variáveis de perfil (bloco 1) e os requisitos de competência (bloco 2).

As relações buscadas entre essas variáveis não apresentaram significância quando analisadas através escalas de 5 pontos, portanto, não sendo possível identificar diferenças entre o grau de concordância e discordância. No entanto, a fim de tentar observar qualquer indício de relação, as variáveis foram agrupadas para formação de 3 níveis de concordância: discordância, indiferença e concordância. Mesmo para este agrupamento a única relação encontrada foi a de Natureza da Instituição com as Posições Políticas e Sociais.

O teste utilizado foi o U de Mann-Whitney e a significância apresentada foi de 0,037, estando dentro do intervalo de confiança de 95%. Todas as outras relações apresentaram um

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nível de significância fora do intervalo de confiança, mesmo se adotado um intervalo de confiança de 90%.

Analisando este resultado percebe-se a diferença de comportamento quanto a valoração desta alternativa como um requisito da competência docente, como apresentado no Quadro 4.

Quadro 4 - Natureza da Instituição e Posições Políticas

Posições Políticas e Sociais Total

Discordo Indiferente Concordo

Natureza

Particular

Count 30 41 65 136 % within Natureza 22,1% 30,1% 47,8% 100,0% % within Posições Políticas e Sociais

55,6% 71,9% 73,9% 68,3%

% of Total 15,1% 20,6% 32,7% 68,3%

Pública

Count 24 16 23 63 % within Natureza 38,1% 25,4% 36,5% 100,0% % within Posições Políticas e Sociais

44,4% 28,1% 26,1% 31,7%

% of Total 12,1% 8,0% 11,6% 31,7%

Total

Count 54 57 88 199 % within Natureza 27,1% 28,6% 44,2% 100,0% % within Posições Políticas e Sociais

100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

% of Total 27,1% 28,6% 44,2% 100,0%

Fonte: Dados da pesquisa.

Tomando por base os resultados expostos, observa-se que aqueles que são vinculados às instituições públicas tendem a não concordar com a relevância deste requisito como competência do professor.

Aqueles que concordam com as posições políticas e sociais – 44% da amostra, são de predominância privada, os quais representam 74% dos que concordam, enquanto 26% são de instituições públicas. Este ponto poderia ser discutido não fosse a análise do comportamento específico dos alunos públicos, e nota-se que 45% desses alunos discordam deste requisito, enquanto 28% se mostram indiferentes e 26% concordam. Esse comportamento indica que a maioria dos estudantes vinculados às instituições públicas discorda da assertiva e apresenta menor percentual de concordância.

Assim, com este resultado pode-se rejeitar parcialmente a hipótese nula, pois uma das variáveis de perfil apresentou relação significante com variáveis de competência, indicando que a natureza da instituição que o discente está vinculado interfere na sua visão de docente.

Este resultado pode indicar maiores diferenças entre a natureza da instituição dos alunos e outras características do ensino-aprendizagem, e, por consequência, sugerindo estudos mais aprofundados sobre uma possível maior independênciado discente de instituição pública em relação à figura do professor.

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5 CONCLUSÃO

Esta pesquisa teve por objetivo investigar: qual a percepção dos discentes e docentes sobre as competências de um professor de Contabilidade. Diante dessa proposta, o objetivo geral da pesquisa foi alcançado através da identificação da opinião dos discentes vinculados à graduação em Ciências Contábeis, pós-graduação em contabilidade e a curso técnico de contabilidade e dos docentes da área de contabilidade sobre as competências necessárias para um bom professor.

Após a elaboração e aplicação dos questionários na amostra de 199 discentes (nível técnico, superior e pós-graduação) e 19 docentes, foi possível, primeiramente, conhecer o perfil dos respondentes e suas percepções sobre as competências essências para um professor. E, em um segundo momento, realizar uma análise das relações estatisticamente significantes entre o perfil dos respondentes e os requisitos de competência.

Sobre as competências, os respondentes, tanto docentes quanto discentes, concordam em sua maioria com a literatura no que tange à formação prática, afirmando que o conhecimento prático representado em itens como o alinhamento entre teoria e prática, a experiência na docência e a aquisição de saberes na prática profissional, são requisitos para um bom professor. Já sobre as competências referentes à formação técnico-científica, verifica-se que existe uma aceitação comum entre discentes e docentes sobre o domínio do conteúdo, enquanto aspectos sobre uma formação específica se encontram dentro uma faixa de menor relevância para formação de um professor, conforme opinião dos discentes e docentes da amostra. Assim como sobre a produção científica, os docentes acreditam que esse aspecto é importante para um bom professor, enquanto os discentes concordam com um menor percentual.

As competências que envolvem a formação pedagógica também apresentam, em termos gerais, concordância com o apresentado pela literatura, onde seguir um cronograma, incitar o debate e ter bom relacionamento com os alunos, é um requisito necessário para um professor, foram apresentados baixos índices de discordância sobre as assertivas entre os discentes e os docentes. Já a formação política e social apresenta maiores discordâncias em relação a literatura, onde a relevância do posicionamento social e político do professor é colocada em xeque, mas os valores éticos definidos e a interdisciplinaridade foram itens aceitos como importantes para ambos os questionados.

Sobre as inferências através da busca de relações estatisticamente significantes entre o perfil e os requisitos de competência, encontrou-se a relação entre a Natureza da Instituição e as Posições Políticas e Sociais. Dessa forma, os vinculados às instituições públicas tentem a não concordar mais com a relevância da posição política e social como uma competência do professor, que aqueles oriundos de instituições privadas. Esse resultado rejeita parcialmente a hipótese nula.

Portanto, pode-se concluir que, de forma geral, existe um alinhamento entre a literatura e a presente pesquisa quanto as perspectivas técnico-científica, e principalmente a prática e a pedagógica. Entretanto, observa-se certo distanciamento entre literatura e a pesquisa sobre a relevância da perspectiva política e social, tanto por parte dos docentes – em consonância com Andere e Araújo (2008), que observaram em seu trabalho a pouca relevância dada a essa perspectiva na formação de professores de Contabilidade -, quanto por

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parte dos discentes, que também se mostraram de certa forma indiferentes a algumas características políticas e sociais como sendo relevantes a atividade docente.

O presente estudo limitou-se a investigar a perspectiva dos discentes e docentes em relação às competências de um professor de contabilidade tanto no ambiente universitário de graduação em Ciências Contábeis, como no ambiente dos cursos técnicos de contabilidade. E, como sugestão para novas pesquisas, recomenda-se o aumento da população, onde pode ser incluso o grupo de discentes de pós-graduação, bem como replicação da pesquisa em outros cursos, como Economia e Administração.

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ANÁLISE DAS EMENTAS DA DISCIPLINA DE CONTABILIDADE APLICADA AO TERCEIRO SETOR EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR DO ESTADO DE

PERNAMBUCO

AUTORES: Nadielli Maria dos Santos Galvão e Ana Lucia Fontes de Souza Vasconcelos.

RESUMO

Este estudo tem por objetivo verificar se as Instituições de Ensino Superior localizadas em Pernambuco que oferecem o curso de Ciências Contábeis estão abordando o conteúdo recomendado pelo CFC acerca dos aspectos específicos do Terceiro Setor. A justificativa para a realização deste trabalho consiste no fato das entidades sem fins lucrativos possuírem aspectos contábeis (conforme a ITG 2002) e tributários específicos (conforme a Constituição Federal 1988), tornando-se necessário um olhar diferenciado para estas entidades por parte dos profissionais da área da contabilidade. Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada através do método de análise documental. Das 29 instituições que oferecem o curso de Ciências Contábeis de forma presencial no Estado de Pernambuco 13 ofertam a disciplina do terceiro setor sendo quea pesquisa contou com as ementas de 9 instituições.As ementas foram confrontadas com a Proposta Nacional de Conteúdo para o curso de graduação em Ciências Contábeis proposto em 2009 pelo CFC. Ao fim da pesquisa, foi possível constatar que apenas duas instituições abordam todo o conteúdo proposto. Os temasPlano de contas e Demonstrações contábeis obrigatórias foram abordados pelas 9 instituições analisadas e os temas queabordam os procedimentos para constituição das entidades do terceiro setor e os títulos e registros concedidos a estas entidades foram destacado por apenas duas instituições.

Palavras-chaves:Educação Contábil. Profissional Contábil. Terceiro Setor.

1. INTRODUÇÃO

Diante das dificuldades que o Estado enfrenta no que se refere a suprir as necessidades públicas, surgiram empresas privadas sem fins lucrativos com o objetivo de auxiliar o Estado na assistência social. Mañas e Medeiros (2012) afirmam que o Terceiro Setor “tem sido visto como um conjunto de organizações e iniciativas privadas que visam a produção de bens e serviços públicos que não geram lucro, mas respondem às necessidades coletivas.”

Essas entidades possuem aspectos contábeis específicos, abordados na Resolução 1.409 de 2012 que aprovou a ITG 2002. Quanto aos aspectos tributários estas são imunes a impostos, visto que o artigo 150 da Constituição Federal de 1988 veda o Estado, Distrito Federal, e os Municípios de cobrarem tributos de templos de qualquer culto, patrimônio, renda ou serviços de partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos.

Diante disso é necessário que o contador tenha um olhar diferenciado para essas organizações, sendo necessária uma formação que aborde as características e peculiaridades dessas entidades. O Conselho Federal de Contabilidade (2009) entendendo a relevância da abordagem dos aspectos específicos para as Entidades Sem fins lucrativos durante a Graduação em Ciências Contábeis propôs um conteúdo programático com assuntos que abordam desde o Contexto Histórico das Entidades do Terceiro Setor, passando pela Gestão Contábil, Demonstrações Contábeis Obrigatórias, até a prestação de contas das entidades. A

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Organização das Nações Unidas (1998) também traz as entidades sem fins lucrativos como item que deve ser abordado visando à formação do contador mundial.

No Brasil existem 940 Instituições de Ensino superior que ofertam o curso de ciências contábeis, sendo que no Estado de Pernambuco, existem 29 instituições que oferecem o curso de forma presencial.1. Estas instituições tornam-se responsáveis pela formação dos profissionais contábeis que irão atuar nos diversos ramos, inclusive o terceiro setor. Setor este que em 2010 atingiu o número de 290,7 mil Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos (Fasfil) em todo o país empregando 2,1 milhões de pessoas (IBGE, 2010), ou seja, existe um mercado amplo para a atuação dos profissionais da contabilidade.

O objetivo desta pesquisa será analisar se as IES que atuam no Estado de Pernambuco têm abordado os temas que a proposta elaborada pelo Conselho Federal de Contabilidade recomenda para a formação dos bacharéis em Ciências Contábeis. A pesquisa tem como justificativa o fato de evidenciar como os contadores estão sendo formados e se do ponto de vista teórico, estes tem recebido uma formação que garanta uma base para que esses profissionais atuem no Terceiro Setor.

Outros estudos com objetivo de analisar as ementas de disciplinas ofertadas nos cursos de ciências contábeis foram realizados.Anteriormente foi realizada a análiseda adequação de 15 Instituições ao currículo proposto pelo CFC para a disciplina de Contabilidade pública e perceberam que as ementas das instituições participantes possuem mais aspectos legais e normativos existindo divergência entre o que propõe o CFC principalmente no que se refere ao ensino dos conceitos relacionados à licitações e aos controles externos e internos (SOARES e DOMINGUES, 2010).

Ao verificar o grau de aderência ao conteúdo sugerido pela literatura internacional aos temas ligados à área gerencial no curso de ciências contábeis de Instituições Públicas Estaduais Brasileiras averiguou-se que a USP é a instituição com maior amplitude em relação aos conteúdos distribuídos nos tópicos sendo que apenas o tema benchmarking não se fez presente em nenhuma das ementas (MACEDO et al, 2014).

Ao analisar o grau de adequação da disciplina de contabilidade tributária ao currículo internacional proposto pela ONU foi possível identificar que as Instituições de Ensino Superior Públicas possuem um percentual médio de aderência de 44,3% do conteúdo proposto, enquanto as Instituições particulares possuem um percentual médio de 29,7% (MENDES, SILVA e NIYAMA, 2011).

Diante dos aspectos específicos às entidades do terceiro setor torna-se relevante entender se os contadores estão recebendo por parte das Instituições de Ensino Superior o conteúdo teórico básico para que estes profissionais atuem com qualidade neste ramo.

1 Consulta Realizada no site http://emec.mec.gov.br/

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Aspectos específicos do Terceiro Setor

A Constituição Federal no seu artigo 6º aborda que é direito da sociedade o acesso à educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, lazer, previdência social, proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados. Porém, com o crescimento da população, o Estado passou a ter dificuldades em prestar esses serviços de forma eficiente à sociedade. Diante dessas dificuldades, o Estado (o primeiro setor) permitiu que entidades privadas (segundo setor) explorassem estes nichos cuidando desses serviços, sendo que para isto estas precisariam se adequar a certos requisitos e assim receber a autorização de atuar nas atividades sociais. Essas entidades constituem o chamado Terceiro Setor. (ALMEIDA e ESPEJO, 2012, pg.10).

ALBUQUERQUE (2006) afirma que as entidades que compões o terceiro setor têm características comuns que se manifestam das seguintes formas:

• Fazendo contraponto às ações do governo: os bens e serviços públicos resultam da atuação do Estado e também de iniciativas particulares

• Fazendo contraponto às ações do mercado: abrem o campo dos interesses coletivos para a iniciativa individual.

• Dão maior dimensão aos elementos que ascompõe: realçam o valor tanto político quanto econômico das ações voluntárias sem fins lucrativos.

• Projetam uma visão integradora da vida pública: enfatizam a complementação entre ações públicas e privadas.

As entidades de terceiro setor possuem alguns aspectos específicos que as diferenciam das demais. Uma dessas características está descrita no art. 150 da Constituição Federal Brasileira de 1988 que veda à União, Estados, Distrito Federal e aos Municípios de exigir tributo sobre o patrimônio, renda, ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos.

No que se refere aos procedimentos contábeis o Conselho Federal de Contabilidade aprovou a Resolução CFC nº 1.409 de 2012 (ITG 2002) que aborda aspectos específicos das entidades sem fins lucrativos. A Resolução afirma que as atividades exercidas por essas entidades podem ser de:

[...]assistência social, saúde, educação, técnico-científica, esportiva, religiosa, política, cultural, beneficente, social e outras, administrando pessoas, coisas, fatos e interesses coexistentes, e coordenados em torno de um patrimônio com finalidade comum ou comunitária.

A Resolução elenca as Demonstrações contábeis obrigatórias para essas entidades (Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado do Período, a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, a Demonstração dos Fluxos de Caixa e as Notas Explicativas). Destaca os itens essenciais para compor as notas explicativas. Traz o critério de reconhecimento de despesas e receitas, subvenções, benefícios concedidos, trabalho voluntário, convênio e parceria, gratuidades e etc.

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Diante dos aspectos específicos e necessidades inerentes às atividades das Entidades do Terceiro Setor, faz-se necessário que o contador esteja preparado para atuar nessas organizações e tenha conhecimento de suas peculiaridades. Para isso, é indispensável uma formação que aborde esses aspectos preparando o profissional contábil para atuar nessas organizações.

2.2 O Currículo de formação dos contadores

Em 2004 o Ministério da Educação publicou a Resolução CNE/CES nº 10, onde instituiu as diretrizes para os cursos de ciências contábeis, afirmando que este deve abranger:

a) Conteúdos de Formação Básica: estudos relacionados com outras áreas do conhecimento, sobretudo Administração, Economia, Direito, Métodos Quantitativos, Matemática e Estatística;

b) Conteúdos de Formação Profissional: estudos específicos atinentes às Teorias da Contabilidade, incluindo as noções das atividades atuariais e de quantificações de informações financeiras, patrimoniais, governamentais e não governamentais, de auditorias, perícias, arbitragens e controladoria, com suas aplicações peculiares ao setor público e privado;

c) Conteúdos de Formação Teórico-Prática: Estágio Curricular Supervisionado, Atividades Complementares, Estudos Independentes, Conteúdos Optativos, Prática em Laboratório de Informática utilizando softwares atualizados para Contabilidade.

Apesar da Resolução Brasileira ter sido aprovada em 2004, em 1998 a Organização das Nações Unidas, traçou um currículo para o contador mundial, onde no item 1.3.7 do mesmo, fica claro que para uma formação contábil completa é preciso abordar o conteúdo referente às organizações sem fins lucrativos, seus objetivos, compará-las com as organizações com fins lucrativos, e a mensuração da eficiência das mesmas.

CAMPOS (2012) ao analisar o currículo de quatro universidades federais mineiras, observou que o nível de adequação ao currículo da ONU das disciplinas obrigatórias é maior do que nas disciplinas eletivas. CAVALCANTE et al (2011) analisaram currículos das Universidades federais brasileiras e perceberam que a que mais se adequou ao currículo da ONU, tinha 48,94% do seu conteúdo semelhante ao proposto.

Em 2009 o Conselho Federal de Contabilidade emitiu uma proposta de conteúdo para os Cursos de Ciências Contábeis, e incluiu a disciplina de Contabilidade aplicada às Entidades de Interesse Social, com o objetivo de Proporcionar a compreensão do funcionamento das entidades de interesse social, denominadas associações, fundações, organizações sociais, bem como da gestão contábil, prestação de contas, benefícios e obrigações.

O Conteúdo programático proposto pelo CFC aborda a contextualização histórica das entidades do Terceiro Setor, os procedimentos para abertura dessas entidades, os benefícios concedidos pelo poder público, os títulos e registros dessas entidades, a gestão contábil e a prestação de contas.

Diante disso, torna-se relevante entender se as Instituições de Ensino Superior têm abordado as Entidades do Terceiro Setor, conforme destacado o conteúdo proposto pelo CFC.

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3 METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, utilizando-se do método documental. Foram analisadas as ementas das disciplinas de “Contabilidade aplicada ao Terceiro Setor”2, das IES situadas na cidade de Recife que possuem o curso de Ciências Contábeis de forma presencial. Através do site do MEC foi realizado um levantamento de 29 instituições sendo que 2 destas não possuíam site na internet para que fosse possível realizar a consulta das disciplinas abordadas durante o curso. Destas 27 instituições que possuíam uma página eletrônica apenas uma não destacou a sua grade curricular. Foi enviado e-mail para a ouvidoria da instituição com a finalidade de saber se a instituição oferecia ou não a disciplina de terceiro setor, o coordenador do curso respondeu o e-mail afirmando que a instituição estava estudando a possibilidade de iniciar esta disciplina.

No site das instituições que divulgaram sua grade curricular foi feito um levantamento de quantas possuíam disciplinas referentes às instituições do terceiro setor. Destas, 13 possuem disciplinas dessa área, sendo que apenas 3 divulgaram suas ementas no site para consulta. Sendo assim, foi realizada a solicitação via e-mail aos coordenadores das outras dez instituições.6 responderam favoravelmente com a ementa, 3 não responderam, e um afirmou que o enviou da ementa era permitido apenas para os estudantes da instituição que já pagaram a disciplina. Diante disso, a pesquisa contou com as ementas das Instituições de Ensino Superior listadas no quadro abaixo:

Quadro 1: Instituições analisadas

Instituição Sigla Ano de fundação

Ano de Início do curso

Início da disciplina

Situação da disciplina

Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina FACAPE 1976 1993 2012 Eletiva

Faculdade de Ciências de Timbaúba FACET 1998 1998 2009 Obrigatória

Faculdade Joaquim Nabuco (Paulista) FJN 2007 2008 2011 Obrigatória

Faculdade Santa Catarina FASC 2003 2006 2006 Obrigatória

Faculdade dos Guararapes FG 2002 2010 2010 Obrigatória

Faculdade de Olinda FOCCA 1972 1986 2005 Obrigatória

Faculdade Santa Helena FSH 2000 2000 2000 Obrigatória

Universidade Católica de Pernambuco UNICAP 1951 1970 2003 Obrigatória

Universidade Federal de Pernambuco UFPE 1946 1951 2012 Eletiva

Fonte: Dados da Pesquisa

Visto que algumas destas enviaram as ementas por e-mail e que o objetivo da pesquisa não é estabelecer um ranking das “melhores instituições de ensino” e que alguns coordenadores de curso aceitaram o envio das ementas caso houvesse o sigilo da sua situação quanto à adequação curricular, a partir de agora estas instituições serão denominadas como Instituição A, B, C e assim sucessivamente. A ordem em que estas instituições serão apresentadas nos próximos quadros não faz referência a esta ordem destacada no quadro 2.

2 Foram considerados também os demais termos que referem-se às entidades do Terceiro Setor

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Foi realizada uma análise de conteúdo, com uma abordagem qualitativa. As Ementas foram comparadas com a proposta elaborada pelo CFC para o curso de ciências contábeis, e os temas propostos foram divididos em quatro grupos, a saber: Caracterização do Terceiro Setor, Aspectos legais; Gestão Contábil; e Divulgação de informações.

Após a análise, foram estabelecidas pontuações para cada uma das entidades, onde para cada tema da proposta do CFC encontrada na ementa da instituição esta ganhava 1 ponto, totalizando 12 pontos caso a ementa abordasse todos os pontos.

4 RESULTADOS DA PESQUISA

Das 29 Instituições de Ensino Superior localizadas no Estado de Pernambuco 13 possuem a disciplina de Contabilidade aplicada ao Terceiro Setor na grade curricular do curso de Ciências Contábeis. Destas 13 instituições, a pesquisa contou com a ementa da disciplina de 9 instituições o que significa que a pesquisa analisou 69% das Instituições que possuem ao menos uma disciplina que aborde os aspectos específicos das entidades sem fins lucrativos.

Através da proposta elaborada pelo CFC de conteúdo programático para as disciplinas dos cursos de ciências contábeis foram elaborados os pontos que nortearam a análise das ementas (conforme foi destacado na metodologia deste trabalho). Assim foi possível verificar se as Instituições estão abordando o conteúdo queo CFC destaca.

A primeira parte do conteúdo proposto trata daorigem das entidades do terceiro setor e dos tipos de entidades que compõe esse grupo (estrutura do terceiro setor), a saber: Associações, Fundações e Organizações sociais.Foi observado que quanto à origem do terceiro setor5 instituições abordam em suas ementas, já no que se refere ao conteúdo que aborda a estrutura do terceiro setor todas as instituições abordam em suas ementas.

Gráfico 1: Análise do Conteúdo referente à Caracterização do Terceiro Setor

Fonte: Dados da Pesquisa

O segundo grupo de conteúdo abordou osaspectos legais das Entidades de Interesse social destacando os procedimentos para a abertura de entidades, os benefícios concedidos pelo poder público, e os títulos e registros para a obtenção de benefícios fiscais. Apenas 2

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10

Origem do Terceiro Setor Estrutura do Terceiro Setor

Sim

Não

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instituições abordaram os três temas desse grupo, e uma destacou os benefícios concedidos pelo poder público, sem pontuar os demais assuntos.

Gráfico 2: Análise do Conteúdo referente aosAspectos Legais

Fonte: Dados da Pesquisa

O terceiro grupo de conteúdo abordou a Gestão contábil através do estudo de um plano de contas específico, o reconhecimento de receitas e despesas, reconhecimento dos benefícios recebidos pelas entidades, o Reconhecimento de Convênios e do Serviço Voluntário. Uma instituição abordou apenas o plano de contas aplicado às entidades do terceiro setor (este tema foi destacado por todas as instituições), sem destacar como conteúdo a ser discutido na disciplina a contabilização destes eventos específicos das entidades sem fins lucrativos.3 Os resultados desta análise podem ser visualizados no gráfico abaixo:

33Apesar de nas ementas de algumas instituições não constar os dados de forma detalhada, caso a instituição destaca-se que seria abordado o reconhecimento dos eventos específicos a estas entidades foi considerado que os pontos destacados por esta pesquisa foram abordados em classe.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Constituição de Entidades Benefícios concedidos pelo Poder Público

Títulos e registros

Sim

Não

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Gráfico 3: Análise do Conteúdo referente à Gestão Contábil

Fonte: Dados da Pesquisa

O último grupo de conteúdo abordou as Demonstrações contábeis e a prestação de contas obrigatória para as entidades do terceiro setor. Foi possível destacar que apenas umaentidade não aborda a prestação de contas em sua ementa e que todas as instituições abordam as Demonstrações contábeis paras as organizações do terceiro setor no conteúdo programático da disciplina. Esses dados podem ser visualizados no gráfico abaixo:]

Gráfico 4: Análise do Conteúdo referente àDivulgação de Informações

Fonte: Dados da Pesquisa

Conforme foi observado na pesquisa as Instituições de Ensino Superior em Pernambuco, abordam em suas disciplinas de Contabilidade aplicada ao Terceiro Setor aspectos mais específicos ao reconhecimento e mensuração dos itens específicos a estas entidades e assuntos relacionados às Demonstrações Contábeis obrigatórias e Prestação de Contas. Aspectos referentes à historicidade do terceiro setor, bem como o processo de abertura de uma entidade sem fins lucrativos não são abordados com destaque no conteúdo programático das instituições analisadas.

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10

Plano de Contas Regime de Competência

Reconhecimento contábil dos benefícios

Reconhecimento Contábil do

Trabalho Voluntário

Reconhecimento Contábil de Convênios

Sim

Não

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Demonstrações Contábeis Prestação de Contas

Sim

Não

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Os temas mais abordados pelas instituições foram Plano de Contas e Demonstrações Contábeis (9 instituições) os menos abordadosforam Procedimentos para constituição das entidades do terceiro setor e Títulos e registros destas entidades, abordado por apenas duas instituições. Conforme pode ser visualizado no quadro abaixo:

Quadro 2: Conteúdo x Número de Instituições que abordam

Conteúdo Quantidade de Instituições

Origem do Terceiro Setor 5

Estrutura do Terceiro Setor 9

Constituição de Entidades 2

Benefícios concedidos pelo Poder Público 3

Títulos e registros 2

Plano de Contas 9

Regime de Competência 8

Reconhecimento Contábil de benefícios 7

Reconhecimento Contábil do Trabalho Voluntário 6

Reconhecimento Contábil de Convênios 6

Demonstrações Contábeis 9

Prestação de Contas 8

Fonte: Dados da Pesquisa

Após a realização destas análises, foi dada a pontuação 1 para cada item que consta na proposta do CFC encontrado na ementa da instituição, podendo a pontuação total chegar a 12 pontos. Apenas duas instituições alcançaram a pontuação máxima, sendo que o número de pontos mínimos alcançados por uma instituição foi 4, o que significa que apenas 4 dos temaspropostos pelo CFC constavam na ementa para a discussão em classe. A pontuação das instituições pode ser visualizada no quadro abaixo:

Quadro 3: Pontuação das Instituições

Instituições Participantes Pontuação

Instituição A 12

Instituição B 12

Instituição C 10

Instituição D 9

Instituição E 8

Instituição F 8

Instituição G 6

Instituição H 5

Instituição I 4

Fonte: Dados da Pesquisa

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Apenas duas entidades abordaram todo conteúdo proposto pelo CFC, sendo que uma abordou apenas 4 temas (estrutura do terceiro setor, plano de contas, regime de competência e demonstrações contábeis). A média da pontuação das instituições foi 8,2 o que significa que em média são abordados aproximadamente 8 dos conteúdos propostos pelo CFC. O desvio padrão foi de ±2,86 pontos, ou seja, a adequação do conteúdo das ementas ao currículo proposto pelo CFC possui uma dispersão da média de 5,36 a 11,08 assuntos abordados nas instituições analisadas.

CONCLUSÃO

O objetivo desta pesquisa foi verificar se as Instituições de Ensino Superior localizadas em Pernambuco estão abordando o conteúdo proposto pelo CFC para que o profissional contábil atue nas entidades do terceiro setor, visto que estas organizações possuem aspectos específicos tanto tributários (conforme consta na Constituição Federal de 1988) e aspectos contábeis (abordados na ITG 2002).

Como parâmetro foi utilizado a Proposta Nacional de Conteúdo para o curso de graduação em Ciências Contábeis elaborada pelo CFC (2009). Esta destaca temas a serem discutidos em sala que vão desde o contexto histórico das entidades do terceiro setor, passando pelo funcionamento dessas entidades, procedimentos para constituição destas, a gestão contábil, as demonstrações contábeis obrigatórias e a prestação de contas.

Para o alcance dos objetivos da pesquisa as ementas de 9 IES que ofertaram a disciplina de “Contabilidade aplicada ao terceiro setor” ou afins nos cursos de graduação em Ciências Contábeis foram comparadas com a proposta do CFC, através de uma abordagem qualitativa utilizando-se da análise documental.

Apenas duas instituições abordaram em suas ementas o tema referente à Constituição de entidades do terceiro setor e os Títulos e registros concedidos a estas entidades, já os temas plano de contas e demonstrações contábeis constam nas ementas das9 instituições analisadas.

Pode-se observar que as instituições prezam mais pelos temas referentes à gestão contábil e divulgação de informações. Uma justificativa para este resultado pode ser o fato da obrigatoriedade por parte das instituições sem fins lucrativos de prestarem contas4 e que os Demonstrativos contábeis devem ter como objetivo fornecer informações aos mais diversos usuários (CPC 00), sendo assim as Instituições podem preocupar-se em abordar esse conteúdo devido a normatização que norteia estes temas.

Como limitação desta pesquisa está o fato da análise se restringir apenas ao conteúdo destacado nas ementas, visto que o conteúdo abordado em sala de aula pode ser em alguns pontos diferentes, pois dependendo da entidade o professor tem a liberdade de em sala discutir outros temas. Existe também a limitação de que as ementas disponíveis nos sites das IES podem ter sofrido alterações e as novas versões podem não estar disponíveis para consulta pública. Uma última limitação se dá pelo fato de duas instituições oferecerem a disciplina de forma eletiva, ou seja, mesmo que o conteúdo abordado em sala de aula possua o arcabouço teórico necessário para a atuação no terceiro setor esse atinge um número restrito de alunos visto que nem todos fazem a opção por esta disciplina.

4(Art. 70 da Constituição Federal de 1988 destaca que as entidades que de alguma forma utilizem recursos públicos devem prestar contas)

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Como proposta para futuras pesquisas pode ser realizado um levantamento junto aos estudantes das IES pesquisadas com a finalidade de verificar se o conteúdo abordado nas ementas tem sido discutido em sala de aula. Verificar quais assuntos constam no documento das entidades e não foram abordados em classe, bem como aqueles que as IES não destacaram no conteúdo programático mas que constam na proposta do CFC e que foram abordados em sala de aula.

Esta pesquisa contribuiu por trazer a tona uma realidade das Instituições de Ensino superior que formam contadores no Estado de Pernambuco no que se refere ao conteúdo necessário para que estes profissionais atuem no terceiro setor. Através deste trabalho as instituições que ofertam disciplinas aplicadas às entidades do terceiro setor poderão verificar se o conteúdo abordado em sala de aula está de acordo com o proposto pelo CFC e aquelas instituições que não ofertam esta disciplina poderão perceber a necessidade de abordar esse tema em sala diante das necessidades específicas das entidades sem fins lucrativos.

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MAÑAS, Antonio Vico. Terceiro Setor: Um estudo sobre sua importância no processo de desenvolvimento sócio-econômico. Revista Perspectivas em Gestão & Conhecimento. V.2, n.2, 2012.

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A EFICÁCIA DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS CONTÍNUOS LICITADOS PELA MODALIDADE PREGÃO CONTRATADOS PELO MENOR PREÇO

AUTOR: Cristiane Tomaz de Carvalho Ferreira

RESUMO

O artigo é um estudo de caso realizado na Caixa Econômica Federal para investigar se existe eficácia nos contratos de prestação de serviços contínuos licitados pela modalidade pregão e verificar se o critério de contratação baseado no menor preço explica os cursos anormais destes contratos. Foram verificados por ficha de observação os contratos licitados pela modalidade pregão entre 2008 e 2012, e que 20,41% destes contratos tiveram rescisões antecipadas e foram homologados com valores inferiores a 25% do preço estimado. O órgão aplicou aos contratos, as sanções de penalidades conforme a Lei 8666-93. Foi observado que existiam mais 31,97% do total dos contratos que foram homologados com preços inferiores aos 25%, os quais, no entanto, ainda não foram rescindidos antecipadamente. Aplicou-se um questionário de múltipla escolha respondido pelos gestores operacionais sobre a satisfação do serviço prestado nestes contratos e, de acordo com suas respostas, chegou-se à conclusão de que existem 23,40% de chances destes serem cancelados antecipadamente devido a não cumprimentos de diversas cláusulas contratuais. Da amostra pesquisada, chegou-se ao número de 43,81% de contratos de prestação de serviços homologados com preços inferiores a 25% do preço estimado, os quais podem ser ineficazes e gerar danos ao erário público. As exigências na qualificação técnica do edital devem ser mais rígidas, ou deve-se aplicar critério de avaliação de classificação por preço e técnica. Sugere-se efetuar outras pesquisas em outros órgãos públicos e verificar se esse percentual ocorre nos contratos de serviços contínuos e assim criar um padrão de eficácia.

Palavras-chave: Eficácia. Licitação. Pregão.

Área Temática: Custos Aplicados ao Setor Público

1. INTRODUÇÃO

A Lei nº. 8.666 de 21 de junho de 1993, e suas alterações, legaliza o processo de licitação e trata do procedimento administrativo formal no qual a Administração Pública elabora editais, no âmbito da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, tendo origem demandada da necessidade de contratação de serviços complementares às atribuições operacionais da Administração Pública.

O artigo 3º do Decreto 3.555/2000 determina que os contratos para aquisição de bens e serviços comuns da Administração Pública, sejam preferencialmente precedidos por licitações na modalidade de pregão, para garantir através de competitividade justa a aquisição mais econômica, segura e eficiente.

O processo de licitação segue os princípios que regem os atos da Administração Pública que são: o princípio da legalidade, da finalidade, da isonomia, da moralidade administrativa e da publicidade, que se propõe tornar a Administração Pública transparente, possibilitando o seu controle (Meirelles, 1997).

Além desses princípios constitucionais, é função da licitação selecionar para a Administração a proposta com preço e condições mais vantajosas, obedecendo aos princípios,

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da probidade administrativa, da vinculação ao edital de convocação, do julgamento objetivo e da impessoalidade (Brasil, 1993).

A Constituição Federal de 1988 significou um grande avanço em nosso país, como na questão dos direitos sociais e individuais. Em 1998, houve uma revisão com alterações significativas para Administração Pública, na qual foi aprovada a Emenda Constitucional nº 19, de 04 de junho de 1998. Ela estabeleceu a adoção do Princípio da Eficiência na Administração Pública brasileira possibilitando várias inovações na área pública. Entre elas, pode-se citar o Princípio da Eficiência:

“Art. 37- A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...]”

[...] o Princípio da Eficiência exige que a atividade administrativa seja exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno princípio da função administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e seus membros (Meirelles, 2002:94).

Moraes (2000) diz que o princípio da eficiência obriga a Administração direta e indireta e seus agentes a prática do bem por meio do manejo de suas competências de maneira imparcial, neutra, transparente, participativa, eficaz, sem burocracia e sempre almejando a qualidade, bem como adotando os critérios necessários para melhor utilização dos recursos públicos, ou seja, princípio da boa administração.

O artigo 74 da Constituição Federal traz o tema de Controle Interno para a Administração Pública e sofreu muita influência da Ciência da Administração, a qual menciona a eficiência e eficácia. Na redação da EC 19 se deu outra realidade. O que se buscava era a modernização da administração pública. Uma mudança de paradigmas do modelo burocrático, que se preocupava principalmente com meios, para o modelo gerencial, com ênfase em resultados.

Os conceitos de eficiência e eficácia normalmente são confundidos. Unir os dois conceitos é essencial para o cumprimento de objetivos, porém, nem sempre é fácil. A eficiência é fazer a coisa de forma certa e contribuir para a eficácia, é fazer bem feito as ações a serem realizadas, é fazer mais com o mínimo de recursos possíveis. Já eficácia é atingir o objetivo, é cumprir as metas propostas, é a relação entre os resultados almejados e os previstos.

Baseado no princípio da economicidade e eficiência, as contratações públicas dão mais importância à eficiência e deixam de lado a sua eficácia. Não resta dúvida de que o pregão agiliza o processo burocrático, mas existe a possibilidade de não estar sendo levada em consideração a qualidade dos serviços adquiridos. Nem sempre a proposta de menor preço é a mais vantajosa, pois um serviço de má qualidade pode ser bem mais lesivo ao erário público do que a contratação por um preço um pouco maior.

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O princípio da economicidade está previsto no art. 70 da CF/88 e diz que a administração pública deve, ao contratar prestação de serviço ou compra de bens públicos, unir qualidade, celeridade e sempre ao menor custo.

A introdução do Princípio da Eficiência significa um norte, um estímulo, uma indicação de caminho para a Administração Pública. Ela satisfaz tanto o controle, quanto exige resultados.

Na área da Nova Economia Institucional, existem alguns pressupostos como: assimetria de informação, oportunismo, racionalidade limitada e custos de transação, que podem afetar a eficiência do processo de licitação, gerando a insatisfação contratual. Esta insatisfação dos contratos Administrativos se caracteriza pela não renovação ou rescisão de contratos de serviços contínuos que a legislação permite que sejam renovados em períodos seqüenciais de até 60 (sessenta) meses conforme artigo 57 parágrafo II da Lei 8.666/93 (Valle e Filho, 2001).

No entendimento de Amaral (2002), o princípio contido no art. 37 da CF aborda apenas o conceito de eficiência, não englobando o da eficácia. A própria Constituição reconhece a diferença entre eficiência e eficácia. É o que fica patente com a leitura do artigo 74, que trata de um sistema de controle interno integrado entre os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, inciso II: “comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência da gestão orçamentária, [...]”

Ainda na visão de Amaral (2002), não se pode admitir que a Constituição reconheça a distinção entre conceitos em um artigo e não o faça em outro. Assim, verifica-se que a CF, ao tratar do princípio da eficiência, não faz menção à eficácia.

Um Estado não pode ser eficiente e ao mesmo tempo ineficaz. O que se observa em diversos artigos que tratam do assunto, tais como os escritos por Castro (2012), Nóbrega (2012) e Fernandes (2012), é que a licitação homologada via modalidade pregão para prestação de serviços contínuos são eficientes nos preços, mas não são eficazes em sua qualidade. Ocorre recontratação por falta da eficácia (cancelamento e abertura de uma nova licitação), que torna o pregão ineficiente, visto que os custos para uma nova abertura de processo licitatório é alta e muitas vezes essa demora deteriora o patrimônio público.

Deste modo, o objetivo geral da pesquisa foi investigar se existe eficácia na prestação de serviços contínuos licitados pela modalidade pregão verificando se o critério de contratação baseado no menor preço pode explicar anormalidades nos contratos.

O trabalho ainda procurou identificar o quantitativo das punições legais, cancelamentos de contratos e não recontratações; Investigar motivos do cancelamento dos contratos ou não recontratações; verificar se a execução de serviços prestados por empresas que foram vencedoras em certames licitatórios com valores inferiores a 25% do valor estimado está sendo satisfatória, e verificar se o monitoramento de contratos em situação de risco tem apontado para ações que conduz a rescisões antecipadas.

Não foi questionada nesta pesquisa a eficiência do pregão quanto às suas vantagens em relação à sua utilização para compra de bens, mas se o seu uso o torna ineficiente junto à contratação de serviços contínuos na administração pública, uma vez que não existindo

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amostra deste tipo de contratação, só se sabe que o serviço contratado não é eficaz depois de algum tempo do serviço prestado.

2. REVISÃO DE LITERATURA

A Constituição Federal prevê no seu artigo nº 37 que todas as compras ou serviços para o setor público sejam feitas preferencialmente via licitação, para que seja garantida transparência durante o processo, evitando assim desperdícios e desvios de recursos.

Licitação pública pode ser definida como: “[...] procedimento administrativo pelo qual a Administração Pública opta pela oferta mais vantajosa para a celebração de contrato de seu interesse” (Maurano, 2004:2).

Existem de acordo com a Lei de Licitações 8666/93 no seu artigo 23, várias modalidades de compra, entre elas: Convite, Tomada de Preços e Concorrência. A modalidade pregão foi instituída pela Lei 10520/2002 e o Decreto Lei nº 5450/05 instituiu o pregão em sua forma eletrônica, para aquisição de bens e serviços comuns.

O Convite é a modalidade de licitação entre interessados do ramo pertinente ao seu objeto, cadastrados ou não, escolhidos e convidados em número mínimo de 3 (três) pela unidade administrativa, a qual afixará, em local apropriado, cópia do instrumento convocatório e o estenderá aos demais cadastrados na correspondente especialidade que manifestarem seu interesse com antecedência de até 24 (vinte e quatro) horas da apresentação das propostas.

A Tomada de preços é a modalidade de licitação entre interessados devidamente cadastrados ou que atenderem a todas as condições exigidas para cadastramento até o terceiro dia anterior à data do recebimento das propostas, observada a necessária qualificação.

A Concorrência é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados que, na fase inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir os requisitos mínimos de qualificação exigidos no edital para execução de seu objeto.

De acordo com Motta (2002), o pregão no Brasil é um instrumento utilizado pelo setor público para comparar e selecionar propostas de bens e serviços, oportunidade em que as ofertas são apregoadas em sessão pública, com presença de interessados e onde lances podem ser continuamente melhorados.

O Decreto 5450/05 em seu artigo 2º, parágrafo 1º, “considera bens e serviços comuns, aqueles cujos padrões de desempenho e qualidade possam ser objetivamente definidos pelo edital, por meio de especificações usuais de mercado”. O artigo 6º trata que o pregão não poderá ser eletrônico para contratações de obra e serviços de engenharia.

O pregão foi oficialmente instituído por meio de Medida Provisória nº. 2.026 de 28 de julho de 2000, regulamentado pelo Decreto nº. 3.555 de 08 de agosto de 2000, que o inseriu no âmbito da União dando origem a atual Lei nº. 10.520, de 17 de julho de 2002 e permitiu que o governo Federal estendesse esta nova modalidade de licitação pública também para o âmbito dos Estados, Distrito Federal e Municípios. Com o advento do Decreto nº. 5.450 de 31 de maio de 2005 foi regulamentado o pregão realizado por meio eletrônico.

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O Pregão começou a ser utilizado em 2000 para reduzir os custos e agilizar a realização de licitações e contratação de bens e serviços realizados pelos órgãos públicos com empresas privadas, sem limite de valor para sua utilização. Por ter natureza simplificadora para aquisição de bens e serviços comuns, deve ser utilizada prioritariamente como regra, e só pode ser substituída se for justificada pela Administração Pública demonstrando sua inconveniência, fundamentada e embasada em preceitos legais ou fatos que apontem para sua impossibilidade de utilização.

A modalidade de pregão é uma nova modalidade de licitação pública, na qual o processo se dá em uma única sessão, através da apresentação inicial de proposta de preço. Após a aceitabilidade das propostas e a verificação dos termos do edital, pode em seguida, haver uma seqüência de lances decrescentes entre os licitantes considerados aptos. Posteriormente, é analisada a documentação da proposta vencedora, para em seguida ser adjudicado ao vencedor e homologado, caso não haja recursos.

As principais vantagens caracterizadas no pregão são: 1) redução do tempo de processamento da licitação, 2) redução de custos para a administração, e 3) maior participação de concorrentes devido à possibilidade de disputa aberta. Além disso, há também ganhos associados à simplificação e racionalização do processo, minimizando deslocamentos até os órgãos contratantes. No pregão eletrônico, a apresentação das propostas por meio magnético permite a participação de um mesmo fornecedor em pregões realizados de forma simultânea, com aumento da competitividade (TCU, 2006).

2.1. Teoria da eficiência e eficácia na administração pública

Idalberto Chiavenato menciona que toda organização deve ser analisada sob o a visão da eficácia e da eficiência:

Eficácia é uma medida normativa do alcance dos resultados, enquanto eficiência é uma medida normativa da utilização dos recursos nesse processo. [...] A eficiência é uma relação entre custos e benefícios. Assim, a eficiência está voltada para a melhor maneira pela qual as coisas devem ser feitas ou executadas (métodos), a fim de que os recursos sejam aplicados da forma mais racional possível [...] (Chiavenato, 1994:70).

A eficiência não se preocupa com os fins, mas apenas com os meios, ela se insere nas operações, voltada para os aspectos internos da organização. Logo, quem se preocupa com os fins, em atingir os objetivos é a eficácia, que se insere no êxito do alcance dos objetivos, com foco nos aspectos externos da organização.

À medida que o administrador se preocupa em fazer corretamente as coisas, ele está se voltando para a eficiência (melhor utilização dos recursos disponíveis). Porém, quando ele utiliza estes instrumentos fornecidos por aqueles que executam para avaliar o alcance dos resultados, isto é, para verificar se as coisas bem feitas são as que realmente deveriam ser feitas, então ele está se voltando para a eficácia (alcance dos objetivos através dos recursos disponíveis) (Chiavenato, 1994:70).

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O autor diz que nem sempre se é eficiente e eficaz ao mesmo tempo. Uma organização pode ser eficiente e não ser eficaz e vice-versa. O ideal é ser igualmente eficiente e eficaz. Chiavenato oferece pitorescos exemplos para diferenciar os conceitos: eficiência é ir à igreja, enquanto eficácia é praticar os valores religiosos; eficiência é rezar, enquanto eficácia é ganhar o céu; ou ainda utilizando um exemplo tão oportuno para a Copa do Mundo de Futebol, eficiência é jogar futebol com arte, enquanto eficácia é ganhar o jogo.

Uma empresa eficiente é aquela que consegue o seu volume de produção com o menor dispêndio possível de recursos. Portanto, “ao menor custo por unidade produzida”. Já a “eficácia diz respeito a resultados, a produtos decorrentes de uma atividade qualquer”. Trata-se da escolha da solução certa para determinado problema ou necessidade. “[...] Uma empresa eficaz coloca no mercado o volume pretendido do produto certo para determinada necessidade” (Bio, 1996:21).

Torres (2004) traz os dois conceitos para a área pública:

Eficácia: a preocupação maior que o conceito revela se relaciona simplesmente com o atendimento dos objetivos desejados por determinada ação estatal, pouco se importando com os meios e os mecanismos utilizados para atingir tais objetivos. Eficiência: o mais importante que o simples alcance dos objetivos estabelecidos é deixar explícito como esses foram conseguidos. Existe claramente a preocupação com os mecanismos utilizados para obtenção do êxito da ação estatal, ou seja, é preciso buscar os meios mais econômicos e viáveis, utilizando a racionalidade econômica que busca maximizar os resultados e minimizar os custos, ou seja, fazer o melhor com menores custos, gastando com inteligência os recursos pagos pelo contribuinte (Torres, 2004:175).

Portanto, a introdução do Princípio da Eficiência na Constituição Federal, através da Emenda Constitucional nº. 19 representou um marco para a Administração Pública brasileira.

2.2. Os problemas levantados no pregão

A modalidade de pregão veio para desburocratizar e agilizar a contratação de bens e serviços na Administração Pública.

O pregão eletrônico que é realizado pela internet é atualmente a maneira mais avançada de licitação e vem sendo utilizada já há algum tempo dentro de portais de compras do Governo Federal, como o Comprasnet, o e-licite e outros. Este procedimento cumpre com os objetivos aos quais foi concebido, porém, estão sendo observadas algumas inconveniências por alguns participantes para que a sociedade não seja lesada dentro dos princípios do direito administrativo.

Um ponto discutível que gera polêmica entre vários juristas, administradores e participantes das licitações, como Tisaka (2012) e Nóbrega (2012); é que os Decretos 3.555/00, 3.693/00 e 3.697/00 que regularam as medidas provisórias e depois deram origem à Lei 10.520/02 e o Decreto 5.450/05, prevêem que essa modalidade pode ser utilizada para compra de bens e serviços comuns. O que não foi especificado é o que são esses serviços comuns, gerando várias interpretações de acordo com cada comissão de licitação.

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Ocorrem homologações junto a órgãos da Administração Pública em que serviços contínuos de prestação de serviços específicos como segurança eletrônica, contratação de serviços de auditoria, contabilidade e advocacia, que não podem ser contratos via pregão eletrônico, pois exigem profissionais gabaritados, registrados em órgãos competentes de classe como CREA, CRC e OAB para execução dos contratos de serviços contínuos, pois são fiscalizados por esses órgãos. Este procedimento é feito para aumentar o número de participantes e se efetuar uma contratação com menor preço. No entanto o pregão ocasiona a queda do preço e em muitas vezes, a queda da qualidade do serviço prestado onde não se consegue prestar um serviço de qualidade, com profissionais gabaritados com preços abaixo do mercado e às vezes até impossíveis de se praticar.

Os órgãos da Administração Pública também têm se valido do pregão eletrônico para contratar serviços contínuos de engenharia, descumprindo o artigo 6º do Decreto 5.450/05 que diz que o pregão em forma eletrônica não se aplica às contratações de obras de engenharia, pois esses tipos de serviços são regulamentados pela legislação que disciplina as atividades de engenheiros e empresas de engenharia.

Pode-se usar a mesma linha de pensamento para os serviços de contratações de consultoria em contabilidade e advocacia, os quais são disciplinados por uma legislação e regulamentação de órgãos competentes, na qual esses profissionais registrados podem exercer essa função; ou seja, não pode ser considerado serviço comum se exige que se tenha profissional específico para realizá-lo. Tais serviços dependem da inteligência, formação técnica, da especialização e da experiência de quem os irá elaborar ou executar.

De acordo com a Lei 8.666/93, Lei 10.520/02 e demais Decretos que tratam do assunto, existem algumas razões para que o pregão eletrônico não seja utilizado em contratações de serviços contínuos que envolvam serviços específicos tais como:

I. Quando a Administração Pública exige que o contrato tenha em seu quadro de funcionários profissional competente com registro em órgão de classe para fiscalização, não se pode ser considerado serviço comum, pois não é toda empresa e pessoa que pode realizar o serviço;

II. Quando a Administração Pública trata o serviço como comum, aplica o princípio da competitividade, fazendo com que através da modalidade de pregão, o preço contratado seja o menor possível, porém não analisa a eficácia do serviço, que só será verificada após um tempo do contrato iniciado, pois ao contrário de bens comuns que podem ser vistos e verificados a sua qualidade e desempenho através de amostras, os serviços contínuos passam por execução ao longo do período do contrato e não podem ser confundidos com serviços comuns porque são altamente especializados. Não há como pedir amostra de serviços a serem executados, são julgados pela análise da capacidade e experiência dos profissionais que estarão envolvidos no projeto ou execução.

Para que essa polêmica deixasse de existir, a alteração do Decreto sanaria estas deficiências, evitando assim prejuízos maiores para a sociedade e ao erário público; pois se nada for mudado, provavelmente a contratação de serviços contínuos com baixa qualidade será uma constância o que poderá colocar em risco a qualidade dos serviços prestados à sociedade e ao patrimônio do Estado e danos irreparáveis para o futuro das empresas idôneas de consultoria, projetos e serviços específicos.

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Outro grande problema levantado na utilização do pregão é a inexistência de uma fórmula para preços ofertados manifestamente inexeqüíveis, como nas outras modalidades, conforme a Lei 8.666/93 em seu artigo nº 48 orienta.

Muitos concorrentes com a ânsia de “ganhar” o processo licitatório acabam se “empolgando” e se esquecendo dos custos mínimos para manter o contrato de prestação de serviços contínuos, e só percebem que o valor recebido não é suficiente para manter tal prestação, após alguns meses.

O órgão só verifica que o serviço não está sendo eficaz após algum tempo, o que gera processo de advertências, multas, rescisões contratuais, seja por parte da contratada ou do contratante. Tudo isso gera retrabalho, mais custos com pessoal, telefonemas, geração de processos de penalidades, novos contratos, novo processo de licitação e o mais danoso ao erário público: a condenação do equipamento que deveria ter sido cuidado através da manutenção corretiva e preventiva para que sua vida útil pudesse ser prolongada e muitas vezes colocando a segurança da população em risco, uma vez que um equipamento sem manutenção pode causar dano pessoal.

Só resta então adquirir um novo equipamento para substituir aquele que já não é mais passível de manutenção, pois foi deteriorado por uma má qualidade de prestação de serviço.

Se houvesse uma forma de analisar os preços inexeqüíveis, provavelmente a Administração Pública teria chances de ter menos problemas como esses que vêm ocorrendo com frequência.

A modalidade pregão eletrônico tem como uma de suas premissas aumentar o número de concorrentes, pois pode-se participar de qualquer lugar do país em várias licitações ao mesmo tempo, mas o que se verificou é que para a contratação de prestação de serviços contínuos é que a qualificação técnica tem sido deixada de lado, o que faz também com que os preços caiam muito, e entrem empresas com poucas qualificações o que pode também ser um dos pontos a ser analisados, sendo este um possível causador do dano ao erário. Empresas sem qualificação tendem a não conhecer o mercado em que pretendem atuar ter um preço mais baixo de seus serviços.

Talvez, uma das soluções seria unir uma qualificação técnica mais exigente junto com uma fórmula de preços inexeqüíveis o que provavelmente geraria uma maior eficácia no serviço contratado.

3. METODOLOGIA

Para se alcançar o objetivo proposto, foi efetuada pesquisa de campo exploratória e como técnica de pesquisa Estudo de Caso, na Caixa Econômica Federal, doravante denominada Caixa, na qual foram analisados os pregões realizados para prestação de serviços contínuos durante o período de 2008 a 2012. A escolha desta instituição se deveu por duas razões: ser relevante na contratação dos serviços objeto do estudo e por ter aceitado colaborar com a pesquisa quanto contatada. Verificaram-se quantos destes contratos foram cancelados antes do término previsto e quais foram suas penalidades conforme previstas em lei.

Yin (1994:13) define “estudo de caso” com base nas características do fenômeno em estudo e em um conjunto de características associadas ao processo de coleta de dados e às

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estratégias de análise dos mesmos. Para este autor, o estudo de caso é um processo de investigação empírica em que se pretende estudar um fenômeno contemporâneo no contexto real em que este ocorre, devendo adequar o seu uso quando as fronteiras entre o fenômeno em estudo e o contexto em que ele ocorre não são claramente evidentes.

Para Marconi & Lakatos (2011), a pesquisa de campo é realizada após o estudo bibliográfico, para que o pesquisador tenha um bom conhecimento sobre o assunto, e irá definir os objetivos da pesquisa, as hipóteses, qual é o meio de coleta de dados, tamanho da amostra e como os dados serão tabulados e analisados.

A pesquisa de campo exploratória tem como finalidade aprofundar o conhecimento do pesquisador sobre o assunto estudado. Pode ser usada para facilitar a elaboração de um questionário ou para servir de base a uma futura pesquisa, ajudando a formular hipóteses, ou na formulação mais precisa dos problemas de pesquisa, visando clarificar conceitos e ajudando o delineamento do projeto final da pesquisa verificando seus métodos e resultados. (Mattar, 1996).

Os tipos de contratos analisados foram os de serviços contínuos licitados através da modalidade pregão, independente do seu objeto de contratação.

O período escolhido para análise de 2008 a 2012 se deu pela relevância de quando o pregão começou a ser mais utilizado para as contratações de serviços.

A delimitação geográfica foi realizada nos Estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte que está atrelado à coordenação do órgão da Administração Pública selecionada, localizado na cidade de Recife.

Foi feito um levantamento dos contratos licitados por pregão no período analisado e chegou-se ao número de 499 contratos, no qual 147 destes foram para contratos de prestação de serviços contínuos, sendo que 30 destes tiveram as rescisões antecipadas.

Esses 30 contratos foram analisados através de ficha de observação, para verificar os motivos de suas rescisões antes do prazo contratual e quais foram suas penalidades.

Através do valor médio orçado para o objeto licitado que é divulgado no edital, fez-se a comparação com o valor real contratado e verificou-se que todos os 30 contratos que foram rescindidos antecipadamente foram contratados com valores inferiores a 25% do valor orçado pela administração, portanto, estipulou-se este percentual como corte de satisfação do cliente; ou seja, contratos assinados com valores inferiores de 25% do estimado, possuem mais chances de serem ineficazes que os demais.

Foram observados 47 contratos assinados com valores inferiores a 25% do preço estimado e que não receberam sanção de cancelamento antecipado, mas por possuírem esse percentual estão em estado de “alerta” podendo apresentar situação de risco e conduzir para uma rescisão antecipada, e exigindo monitoramento do seu gestor operacional.

Foi realizado um questionário com questões dicotômicas e de múltipla escolha para que o gestor operacional respondesse sobre a qualidade do serviço prestado e se essa qualidade está satisfazendo todas as cláusulas do contrato.

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4. ANÁLISE E RESULTADOS

A Caixa colaborou fortemente com o processo de coleta de dados, havendo disposição de sua equipe gestora que, além de permitir o acesso aos seus arquivos, ainda disponibilizou uma equipe de estagiários para apoiar o levantamento dos dados, como o número de pregões realizados no período pesquisado, o número de contratos de prestação de serviços contínuos e quantos destes contratos geraram rescisões antecipadas tanto por parte da Caixa quanto da contratada.

Em junho de 2013, foram recebidos os quantitativos para análise dos dados. No período de 2008 a 2012, forma realizados 499 pregões eletrônicos, dos quais 147 foram para contratos de prestação de serviços contínuos e 30 tiveram rescisões antecipadas por motivos diversos. A análise individual das penalidades ocorridas nos contratos foi realizada entre julho a agosto através da ficha de observação na qual foram anotados os dados relevantes de cada processo de penalidade, destacando-se as motivações e as sanções aplicadas. Esses dados podem ser visualizados no Quadro 1.

Quadro 1 - Resumo Geral da Pesquisa

Fonte: os autores

Observou-se que 147 contratos de prestação de serviços contínuos ou 29,46% do total licitado por pregão e que 20,41% destes contratos de prestação de serviços contínuos tiveram rescisões antecipadas com penalizações. Os 30 contratos receberam sanções administrativas de acordo com a lei e podendo-se verificar que a Caixa cumpriu a legislação aplicando as penalidades conforme o Quadro 02:

Quadro 2 - Penalidades aplicadas aos contratos rescindidos

Fonte: os autores

Ano/Tipo de Serviço 2008 % 2009 % 2010 % 2011 % 2012 % Totais % Total

total Licitado por pregão 119 100,00% 115 100,00% 110 100,00% 58 100,00% 97 100,00% 499 100,00%

serv de engenharia por pregão 6 5,04% 9 7,83% 6 5,45% 4 6,90% 22 22,68% 47 9,42%serviços contínuos por pregão 42 35,29% 31 26,96% 31 28,18% 19 32,76% 24 24,74% 147 29,46%outros serviços ou compras 71 59,66% 75 65,22% 73 66,36% 35 60,34% 51 52,58% 305 61,12%Cancelamentos antecipados com geração de

penalidade + suspensos por cancelamento

de outros contratos 9 21,43% 5 16,13% 7 22,58% 2 10,53% 7 29,17% 30 20,41%

Probabilidades de cancelamentosantecipados 12 28,57% 13 41,94% 7 22,58% 9 47,37% 6 25,00% 47 31,97%

Penalidades geradas por cancelamento antecipado 2008 2009 2010 2011 2012 Totais %

Suspensão de licitar com o órgão por 6meses 0 0,00%

Suspensão de licitar com o órgão por 9meses 1 1 2 6,67%Suspensão de licitar com o órgão por 1 ano 1 2 2 5 16,67%Suspensão de licitar com o órgão por 2 anos 3 3 4 1 5 16 53,33%Suspensão de licitar com o órgão por 5 anos 4 1 1 6 20,00%Atestado de inidoneidade 1 1 3,33%

TOTAIS 9 5 7 2 7 30 100,00%

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No quadro 03 se tem 31,97% de contratos em estado de “alerta”, pois foram contratados com valores inferiores a 25% do estimado pela administração, o que pode gerar um risco de cancelamento antecipado.

Essa nova amostra permitiu a pesquisa adicional em 52,38% dos 147 contratos de prestação de serviços contínuos, na qual 20,41% já foram cancelados antecipadamente por ineficácia na sua prestação e 31,97% podendo estar em situação de risco.

Quadro 3 - Total de serviços contínuos

Fonte: os autores

Somando-se os contratos cancelados com os de risco, chegou-se a um novo quadro de amostra para a pesquisa que demonstra que 77 contratos de prestação de serviços contínuos foram homologados com valores inferiores a 25% do valor estimado conforme demonstrado no quadro 04:

Quadro 4 - Total dos contratos em risco/penalidades

Fonte: os autores

Ou seja, os percentuais de contratos já cancelados são 38,96% do total da nova amostra de interesse e 61,04% estão em situação de risco e necessitam o monitoramento especial dos gestores operacionais.

Para esse monitoramento foi enviado questionário aos gestores operacionais de cada área especifica dentro da Caixa, pois o gestor operacional é quem monitora e acompanha o andamento dos contratos e pode responder se a qualidade do serviço está sendo realizada conforme as cláusulas contratuais. É ele quem informa o Gestor Formal que um determinado contrato não está sendo satisfatório e encaminha o pedido de aplicação de penalidade por descumprimento de cláusulas contratuais. As questões de múltipla escolha tiveram as seguintes respostas conforme o quadro 05:

Total Licitado de 2008 a 2012 147 100,00%Cancelamentos com penalidade 30 20,41%

contratos de risco 47 31,97%Nova amostra de interesse na pesquisa 77 52,38%

Nova amostra de Interesse 77 100,00%cancelados com penalidade 30 38,96%contratos de risco 47 61,04%

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Quadro 5 - Questionário aos gestores operacionais

Fonte: os autores

De acordo com as respostas apresentadas, dos 47 contratos em situação de risco, 11 apresentam índice de satisfação ruim ou péssimo, ou seja, 23,40% deste total. E que destes 11 contratos, 63,64% receberam advertências e 36,36% receberam multas. Os gestores disseram que as reincidências podem ser determinantes para o envio da sugestão ao gestor formal para uma possível rescisão antecipada. Neste caso foram obtidos 45,45% contratos com reincidência de penalidades.

As respostas da questão 04 se justificaram com número de 24 do total de 47 contratos respondidos, pois os gerentes operacionais expressaram suas opiniões pessoais em dizer que a reincidência de penalidade é determinante para a solicitação de rescisão antecipada. Os demais não responderam a questão.

Apesar de os gestores operacionais sugerirem o pedido de cancelamento antecipado por ineficácia do serviço prestado, tal pedido, administrativamente, torna-se um pouco demorado devido ao trâmite burocrático entre os setores, pois é necessária uma nova cotação de preços mercadológica, análise jurídica, formalização do pedido de cancelamento e muitas vezes o serviço é de extrema necessidade e o órgão não pode ficar sem este serviço até que ocorra uma nova licitação. É aguardado então o término do período vigente do contrato para que nova licitação ocorra e então iniciar a realização de processo jurídico de penalidade por ineficácia do contrato.

CONCLUSÃO

Após as análises ficou evidenciado que contratos homologados com preços inferiores a 25% do valor estimado possuem 43,80% de chances de serem rescindidos antecipadamente por não terem cumprido as condições contratuais. Foi identificado que no órgão em que se realizou a pesquisa ocorrem as punições legais e que os motivos de cancelamento dos contratos antecipadamente se dão devido à ineficácia nos serviços prestados. Foram verificados os contratos de empresas que venceram os certames licitatórios com valores inferiores a 25% do valor estimado e detectado que 52,38% estavam nessa situação. Destes, 20,41% tiveram suas rescisões concluídas antecipadamente e receberam penalidades conforme a lei e 31,97% estavam em situação de risco e mereceram um monitoramento para que se soubesse s estes estavam se encaminhando para a rescisão antecipada. Após questionário aplicado aos gestores operacionais para analisar os 47 contratos em situação de risco, verificou-se que contratos homologados com preços inferiores aos 25% do valor

Análise do gestor operacional dos contratos com risco de rescisão

Questão 1 - Qual é/foi o índice de satisfação do usuário final (agências)em relação aos serviços prestados do contrato em questão?

Excelente Bom Ruim Péssimo Total Geral

14 22 10 1 47

Questão 2 - Se RUIM ou PÉSSIMO, foi efetuada alguma aplicação depenalidade conforme previsto no contrato? Qual?

Advertencia Multa Cancelamento

7 4 0 11

Questão 3 - Quantas vezes houve reincidência de aplicação de uma daspenalidades acima? 1 a 2 vezes 3 a 4 vezes 5 ou mais

Total Geral

5 5

Questão 4 - O critério de reincidência de penalidades é/foi determinantepara se solicitar/formalizar o pedido de cancelamento ou rescisãocontratual?

SIM NÃO Total Geral

24 24

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estimado pelo órgão da administração pública têm 23,40% mais chances de serem rescindidos antecipadamente, pois tiveram índice de satisfação péssimo ou ruim.

Verificou-se ainda que o órgão em que se efetuou a pesquisa faz licitações através de pregão eletrônico para serviços contínuos com exigência de profissionais capacitados e fiscalizados por órgãos de classe, pois já existem jurisprudências sobre o assunto permitindo esta modalidade para este serviço para ampliação de concorrência.

Para ampliar a pesquisa, sugere-se aplicar as mesmas análises em outros órgãos da administração pública, para poder verificar se esses percentuais são constantes e contribuir assim para uma criação de um índice de eficácia para prestação de serviços contínuos licitados pela modalidade pregão.

REFERÊNCIAS

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PROCESSO DE CONVERGÊNCIA DA CONTABILIDADE PÚBLICA: uma análise sobre o conhecimento dos discentes de ciências contábeis

AUTORES: Fabiana Sales da Silva, Luiz Gustavo de Sena Brandão e Daniela Cíntia de Carvalho Leite Menezes.

RESUMO

A contabilidade pública no Brasil assim como a contabilidade privada esta em processo de convergência para atender a necessidade de seus usuários independente de sua localização, por meio de demonstrações tempestivas, fidedignas e comparáveis com o menor custo possível. Neste sentido este trabalho teve o objetivo de verificar as alterações provocadas pela convergência internacional da contabilidade aplicada ao setor público, evidenciando o conhecimento dos discentes do curso de ciências contábeis. Para alcançar o objetivo proposto foram pesquisados 104 discentes, de diversas Instituições de Ensino Superior - IES no Brasil, que tenham cursado a disciplina de contabilidade pública ou semelhante, os questionários impressos e eletrônicos foram compostos de questões abertas e fechadas. Após análise indutiva dos dados coletados foi possível verificar que os discentes de Ciências Contábeis possuem conhecimento insuficiente sobre o processo de convergência, aparecendo como destaque para causas que o conteúdo não esta sendo abordado como deveria nas disciplinas de contabilidade pública, e as IES contemplarem apenas uma ou duas disciplinas do setor público.

Palavras-chave: Convergência. Contabilidade Pública. Ensino.

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, a Contabilidade brasileira vem passando por mudanças provocadas pela Convergência das práticas contábeis para tentar harmonizar com as Normas Internacionais, para assim ter demonstrações que atenda aos diversos usuários, independente do país onde estejam localizados. As Normas Internacionais de Contabilidade para o setor público representam um conjunto de normas desenvolvidas com base nos interesses dos diversos usuários das informações contidas nas demonstrações contábeis dos entes governamentais e que se destinam a garantir o fortalecimento da transparência na gestão dos recursos públicos (LIMA; CASTRO, 2012).

Com as modificações nas práticas contábeis no setor público, a atualização do ensino deve ser fundamental, pois é indispensável para a formação de novos profissionais de contabilidade pública no Brasil. Soares e Domingues (2010) afirmam que as Instituições de Ensino Superior devem ser capazes de formar bacharéis em Ciências Contábeis, viabilizando, através dos currículos do curso, o desenvolvimento e o aprimoramento das habilidades e dos conhecimentos necessários para que os mesmos possam desempenhar de maneira adequada suas atividades.

Devido às alterações ocorridas com a nova contabilidade pública, o presente estudo propõe a seguinte questão de pesquisa: Qual o conhecimento dos discentes do curso de ciências contábeis sobre o processo de convergência da contabilidade pública?

Este trabalho tem, portanto, o objetivo geral de identificar o conhecimento dos discentes do curso de Ciências contábeis de diversas instituições de ensino superior, sobre o

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processo de convergência da contabilidade pública, e os objetivos específicos de demonstrar as principais alterações provocadas pelas novas normas de contabilidade aplicadas ao setor público e verificar a relação, entre as mudanças com processo de convergência e o ensino de contabilidade pública.

A presente pesquisa justifica-se pela relevância em examinar o conhecimento dos discentes em ciências contábeis, visto a necessidade de averiguar como as alterações provocadas pela convergência estão sendo inseridas ao ensino, uma vez que a educação superior tem por finalidade, “formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira. (BRASIL, 1996)”.

As alterações na contabilidade pública necessitaram de profissionais que se adequem e se atualizem sobre as novas normas, conforme Santos e Almeida (2012, p. 22), que considera, “mais do que modificações normativas, esta convergência se mostra também como um grande desafio para o profissional que trabalha com contabilidade pública e para o aperfeiçoamento dos programas acadêmicos”.

Assim, o nível de conhecimento e a relação com o aprendizado sobre conceitos, práticas e novas normas e padronização internacional de atuação sobre a Contabilidade Pública tem relevância para a disseminação das informações a partir da formação nas universidades, como instrução inicial em busca das melhores práticas contábeis no setor público.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 PROCESSO DE CONVERGÊNCIA

A Contabilidade participa ativamente do processo de globalização dos negócios, que com a quebra de fronteiras de mercado deve transmitir e compreender fatores internacionais que afetam o patrimônio das empresas envolvidas sempre em busca da maximização de resultados positivos e continuidade.

A Contabilidade Pública no Brasil esta em transmutação para se igualar as práticas internacionais, como forma de aprimorar as informações geradas, para auxiliar os diversos usuários no gerenciamento e na tomada de decisões. Santos e Almeida (2012, p. 22) considera que alguns dos fatores determinantes para o processo de convergência foi, por exemplo, o atual estágio da globalização e o desenvolvimento da tecnologia e do mercado de capitais, devido o aumento da quantidade de investimentos externos. Esse processo trará uma redução dos custos com demonstrativos contábeis, pois não precisará fazer demonstrações de acordo com as normas de cada país a não ser que sejam demonstrações apenas gerenciais.

Feijó (2013, p. 60) “considera que o processo de convergência se caracteriza por observar cada uma das normas internacionais e avaliar sua aplicabilidade segundo a legislação e a cultura do país.” Sendo assim para iniciar a convergência no Brasil era fundamental a tradução das IPSAS (International Public Sector Accounting Standards).

O processo de convergência da contabilidade pública brasileira teve início após a tradução das IPSAS, com a publicação das primeiras Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (NBCASP), do Conselho Federal de Contabilidade, e foi

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operacionalizado com a publicação pela Secretaria do Tesouro Nacional do Manual de Contabilidade Aplicado ao Setor Público (MCASP) com base nas normas do Conselho Federal de Contabilidade e das IPSAS - International Public Sector Accounting Standards.

A tradução das IPSAS surgiu de um trabalho conduzido pelo Comitê Gestor da Convergência no Brasil, em uma ação conjunta do CFC com o IBRACON – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil, com a cooperação técnica do STN – Secretaria do Tesouro Nacional, sendo de fundamental importância para o processo de convergência. (STN, 2013). Traduzidas em 2010 pelo CFC as IPSAS formam 31 normas que devem ser aplicadas a contabilidade pública, com o objetivo de,

Servir ao interesse público, fortalecer a profissão contábil ao redor do mundo e contribuir ao desenvolvimento de economias internacionais fortes pelo estabelecimento e pela promoção da adesão a normas profissionais de alta qualidade, estimulando a convergência internacional a essas normas, e pronunciando-se sobre temas de interesse público onde o conhecimento especializado da profissão tem o mais alto grau de relevância (CFC, 2010).

A Resolução do CFC nº 1.328/11, determina que as normas brasileiras de contabilidade sejam elas para empresas privadas ou públicas, sigam os mesmos padrões de elaboração e estilo utilizados nas normas internacionais e compreendem as Normas propriamente ditas, as Interpretações Técnicas e os Comunicados Técnicos.

2.2 CONTABILIDADE PÚBLICA

A contabilidade pública busca auxiliar o gestor na administração do patrimônio público, com informações uteis que sejam fieis, compreensíveis e tempestivas, seja na execução orçamentaria, financeira ou patrimonial. Como afirma Carvalho (2010, p. 192).

É o ramo da ciência contábil que tem como objetivo aplicar os conceitos, os princípios e as normas contábeis nos atos e fatos de gestões orçamentarias, financeiras, patrimonial e de compensação, nos órgãos e entidades da Administração Pública, direta e indireta e ainda fornecer informações tempestivas, compreensíveis e fidedignas a sociedade e aos gestores.

A NBC T 16.1 conceitua contabilidade pública como sendo, “o ramo da ciência contábil que aplica, no processo gerador de informações, os Princípios Fundamentais de Contabilidade e as normas contábeis direcionados ao controle patrimonial de entidades públicas (CFC, 2012)”. Soares e Domingues (2010) consideram que,

A contabilidade pública estuda o patrimônio dos órgãos e entidades da Administração Pública, o orçamento e os atos praticados pelo administrador, que potencialmente possam alterar qualitativa ou quantitativamente o patrimônio, buscando munir de informações o processo decisório dos gestores públicos e prestar contas à sociedade sobre a aplicação dos recursos arrecadados.

Segundo Slomski (2010), as entidades públicas brasileiras produziram um sistema de contabilidade altamente sofisticado, definindo claramente em sua estrutura o sistema orçamentário, que demonstra as origens de recursos e suas aplicações; o sistema financeiro, que evidencia o fluxo de caixa da entidade; o sistema patrimonial, que apresenta a composição patrimonial da entidade, e o sistema de compensação, que evidência presunções de direitos e obrigações da entidade pública.

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A Lei nº 4.320/1964, diz que o Balanço Financeiro demonstrará a receita e a despesa orçamentária bem como os recebimentos e os pagamentos de natureza extra orçamentária, conjugados com os saldos em espécie, provenientes do exercício anterior, e os que se transferem para o exercício seguinte. O Balanço Orçamentário demonstrará as receitas e despesas previstas em confronto com as realizadas.

NBC T 16 - Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público

A contabilidade pública brasileira foi normatizada pela Lei nº 4.320 de 1964, que “Institui normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Munícipios e do Distrito Federal”. A referida lei estabelece que, os serviços de contabilidade deverão ser organizados de forma a permitir o acompanhamento da execução orçamentária, o conhecimento da composição patrimonial, a determinação dos custos dos serviços industriais, o levantamento dos balanços gerais, a análise e a interpretação dos resultados econômicos e financeiros (BRASIL, 1964).

As Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao setor Público estão definidas na NBC T 16.1 como,

O conjunto das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público, seus conceitos e procedimentos de avaliação e mensuração, registro e divulgação de demonstrações contábeis, aplicação de técnicas que decorrem da evolução científica da Contabilidade, bem como quaisquer procedimentos técnicos de controle contábil e prestação de contas previstos, que propiciem o controle social, além da observância das normas aplicáveis.

Em 2008 já haviam sido elaboradas, discutidas e aprovadas em seminários, e colocadas a termo, inicialmente, as seguintes Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicada ao Setor Público, por resoluções do CFC – Conselho Federal de Contabilidade (NBC T), e em 2011 foi acrescida a norma de custos para o setor público:

Quadro 1: Relação das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público

Resolução CFC Descrição Objetivo

1.128/2008 NBC T 16.1 – Conceituação, Objeto de Campo de Aplicação

Conceituação, o objeto e o campo de aplicação da Contabilidade Aplicada ao Setor Público.

1.129/2008 NBC T 16.2 – Patrimônio e Sistemas Contábeis

Conceito de patrimônio público, sua classificação sob o enfoque contábil, o conceito e a estrutura do sistema de informação contábil.

1.130/2008 NBC T 16.3 – Planejamento e seus Instrumentos sob o Enfoque Contábil

Bases para controle contábil do planejamento desenvolvido pelas entidades do setor público, expresso em planos hierarquicamente interligados.

1.131/2008 NBC T 16.4 – Transações no Setor

Público

Conceitos, natureza e tipicidades das transações no setor público.

1.132/2008 NBC T 16.5 – Registro Contábil Critérios para o registro contábil dos atos e dos fatos que afetam ou possam vir a afetar o patrimônio das entidades do setor público.

1.133/2008 NBC T 16.6 – Demonstrações Contábeis

Demonstrações contábeis a serem elaboradas e divulgadas pelas entidades do setor público.

1.134/2008 NBC T 16.7 – Consolidação das

Demonstrações Contábeis

Conceitos, abrangência e procedimentos para consolidação das demonstrações contábeis no setor público.

1.135/2008 NBC T 16.8 – Controle Interno Referenciais para o controle interno como suporte do sistema de informação contábil.

1.136/2008 NBC T 16.9 – Depreciação, Critérios e procedimentos para o registro contábil da

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Amortização e Exaustão depreciação, da amortização e da exaustão.

1.137/2008

NBC T 16.10 – Avaliação e

Mensuração de Ativos e Passivos em Entidades do Setor Público

Critérios e procedimentos para a avaliação e a mensuração de ativos e passivos integrantes do patrimônio de entidades do setor público.

1.336/2011 NBC T 16.11 – Sistemas de Informação de Custos do Setor Público

Conceituação, o objeto, os objetivos e as regras básicas para mensuração e evidenciação dos custos no setor público.

Fonte: CNM (2012).

2.2.2 ORÇAMENTO X PATRIMÔNIO

Com as modificações trazidas pela convergência das práticas contábeis, o objeto da contabilidade “O Patrimônio” devera ganhar ênfase, pois, o sistema patrimonial registrará analiticamente todos os bens de caráter permanente, com indicação dos elementos necessários para a perfeita caracterização de cada um deles e dos agentes responsáveis por sua guarda e administração (SLOMSKI, 2010). Trata de uma contabilidade patrimonial integral, o que requer o registro de todas as contas patrimoniais, ou seja, bens, direitos e obrigações da entidade, e estabelecem o regime de competência para o reconhecimento de receitas e despesas, onde os fatos são registrados no momento do fato gerador.

É preciso destacar que o regime de competência é utilizado para o registro patrimonial, permanecendo o regime misto para o sistema orçamentário. Conforme a CNM ( 2012, p. 12),

Pela nova contabilidade, permanece do ponto de vista orçamentário o tratamento da receita pública (valores efetivamente arrecadados) e para a despesa pública (valores empenhados), mas agora passam a ser reconhecidos como natureza de informação patrimonial o direito e a obrigação pelo fato gerador (regime de competência integral).

2.3 ENSINO DE CONTABILIDADE PÚBLICA

As mudanças provocadas nos últimos anos, no cenário nacional para se comparar ao internacional, traz consigo inúmeros desafios para os discentes, que precisam de um eficiente ensino para suportar a real necessidade de informações oportunas para a prática contábil pública e o exigente mercado de trabalho.

Quando existe uma deficiência no ensino das práticas contábeis no Setor Público, os discentes podem tornar-se profissionais vazios de informações básicas que valem como suporte para a obtenção de conhecimento específico e detalhado no exercício da profissão.

Viana et al. (2012), constata que os conteúdos programáticos das Instituições de Ensino Superior - IES, em sua maioria é baseado exclusivamente por assuntos da Lei nº 4.320/64 e Lei nº 101/2000, portanto as IES podem não estar preparando efetivamente os seus alunos para o mercado de trabalho, com informações sobre as novas normas da contabilidade pública.

O mercado de trabalho cada vez mais exige de seus profissionais, qualificação e conhecimentos atualizados, sendo assim a falta de introdução ao processo de convergência e as NBCASP as grades curriculares podem acarretar, em alunos, apenas com base as entidades societárias e falta de conhecimento e atrativos a área pública. A Resolução CNE/CES

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10/2004, Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em ciências contábeis, bacharelado.

E considera em seu Art 5º que os cursos de graduação em Ciências Contábeis, bacharelado, deverão contemplar, em seus projetos pedagógicos e em sua organização curricular, conteúdos que revelem conhecimento do cenário econômico e financeiro, nacional e internacional, de forma a proporcionar a harmonização das normas e padrões internacionais de contabilidade, em conformidade com a formação exigida pela Organização Mundial do Comércio e pelas peculiaridades das organizações governamentais (BRASIL, 2004).

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A presente pesquisa caracterizou-se como descritiva, pois tem como principal objetivo demonstrar o conhecimento dos discentes do curso de ciências contábeis, sobre a reforma da Contabilidade Aplicada ao Setor Público no Brasil. A utilização da pesquisa de campo se fez necessária para coletar as informações e respostas acerca da problemática da pesquisa.

A abordagem ao problema da pesquisa foi qualitativa e quantitativa. A pesquisa qualitativa busca a analise mais profunda em relação ao fenômeno que esta sendo estudado. A abordagem qualitativa visa destacar características não observadas por meio de um estudo quantitativo, e a pesquisa quantitativa tem a intenção de garantir a precisão dos resultados, evitando distorções de análise e interpretação, possibilitando uma margem de segurança quanto às inferências feita (BEUREN et al., 2006).

A realização desta pesquisa implicou em utilizar o método indutivo por indução estatística. Pois a conclusão expressa no consequente não poderá ter extensão maior do que a extensão proporcional da própria amostra, ou seja, dos questionários respondidos (RUIZ, 2008).

Essa pesquisa foi realizada através da aplicação de questionários impressos e eletrônicos para verificar a percepção dos discentes de ciências contábeis de diversas instituições de ensino superior, que tenham cursado a disciplina de contabilidade pública ou semelhante. O questionário estruturado, composto de questões abertas e fechadas, foi baseado em livros e no exame de suficiência do CFC. As análises dos dados foram feitas com a utilização do programa, SPSS Statistics, para analise estatística descritiva, elaborando tabelas de frequência, e verificar as variáveis quantitativas.

Para obter os dados, foram enviados e-mails e divulgado em rede social, para alunos e professores solicitando a divulgação entre seus colegas de curso e seus alunos. Como também foram distribuídos questionários impressos aos alunos da UFPB – Campus IV, durante o mês de julho de 2014.

A amostra da pesquisa correspondeu 104 discentes de 08 Instituições de Ensino Superior, tais como: Universidade Federal da Paraíba - UFPB – Campus IV, Mamanguape – PB, Universidade Católica de Santa Catarina, Jaraguá do Sul – SC, Instituto de Educação Superior da Paraíba – IESP, Cabedelo – PB, Universidade Estadual de Roraima – UERR, Roraima, Universidade Federal da Paraíba - UFPB – Campus I, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Natal – RN, UNIFAVIP, Caruaru – PE, Centro Universitário da Paraíba – UNIPÊ, João Pessoa e Universidade de Brasília – UNB, Brasília – DF.

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Como limitação a pesquisa, a obtenção de apenas 104 discentes respondentes e sendo 90 destes discentes do curso de ciências contábeis da UFPB - Campus IV, que abordar o processo de convergência da contabilidade pública apenas na disciplina de Estágio IV, apresenta impossibilidade de estender os resultados a todos os alunos de graduação, dos cursos ofertados no Brasil. Sendo assim a análise e a conclusão representa o conhecimento dentre os respondentes.

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Foram analisados 104 questionários de discentes do curso de ciências contábeis de oito Instituições de Ensino Superior. Abordados sobre quais as disciplinas que contemplam os conteúdos de contabilidade pública, obteve-se que estão divididos em disciplinas como: Contabilidade Pública, CASP 1 e 2, Contabilidade Governamental, Estágio IV, Controle e Avaliação da Gestão Pública, Orçamento e Financiamento Público, Orçamento Público e Tópicos Especiais III - Planejamento governamental, onde os cursos comportam apenas uma ou duas disciplinas relacionadas ao setor público durante todo o curso.

Dentre os discentes participantes da pesquisa, 34,6% deles trabalham ou prestam serviços a órgãos públicos e 65,4% não realizam nenhuma atividade no setor público. O que pode influenciar os profissionais que atuam na área pública a buscarem maior conhecimento sobre este processo.

Tabela 1 – Qual o interesse em estudar contabilidade pública

Opções de resposta Frequência Percentual Percentual Válido Percentual Cumulativo

Apenas como disciplina curricular; 34 32,7 33,0 33,0 Para concurso; 35 33,7 34,0 67,0 Pretende trabalhar na área; 32 30,8 31,1 98,1 Outros - Qual? 2 1,9 1,9 100,0 Total 103 99,0 100,0 Sistema 1 1,0 Total 104 100,0

Fonte: Elaboração própria, 2014

Verifica-se, na tabela 1, que o interesse dos discentes em estudar contabilidade pública, na maior parte 34% é buscando uma preparação para concursos públicos e 33% apenas como disciplina curricular. Já os discentes que demonstram interesse em atuar na área representam 31,1% dos respondentes e 1,9% corresponde aos discentes que não especificaram qual o interesse em estudar contabilidade pública. Uma vez que o interesse em estudar tal assunto, contribui na busca de atualização e acompanhamento das modificações impostas pelo processo de convergência, seja para atualização profissional como é o caso dos discentes que já trabalham no setor público, seja para os que pretendem trabalhar na área pública.

Ao relacionarem o Balanço Orçamentário, Balanço Financeiro e Balanço patrimonial aos seus respectivos conceitos obtiveram-se as seguintes respostas, conforme tabelas 2, 3 e 4, abaixo:

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Tabela 2 – Relação Balanço Orçamentário x Conceito

Respostas Frequência Percentual Percentual Válido Percentual Cumulativo Certo 69 66,3 66,3 66,3 Errado 32 30,8 30,8 97,1 Em Branco 3 2,9 2,9 100,0 Total 104 100,0 100,0

Fonte: Elaboração própria, 2014

Percebe-se que 66,3% dos discentes correlacionaram de forma correta o demonstrativo orçamentário com seu respectivo conceito, 30,8% erraram ao relacionar e 2,9% não responderam a questão. Pode-se observar que em relação ao balanço orçamento, é discutido com maior ênfase no ensino, visto que houve maior percentual de acertos.

Tabela 3 - Relação Balanço Financeiro x Conceito

Respostas Frequência Percentual Percentual Válido Percentual Cumulativo Certo 67 64,4 64,4 64,4 Errado 37 35,6 35,6 100,0 Total 104 100,0 100,0

Fonte: Elaboração própria, 2014

Constata-se que 64,4% dos discentes relacionam de forma correta o demonstrativo financeiro com seu respectivo conceito e 35,6% relacionaram erradamente, demonstrando que maior parte dos respondentes possui conhecimento sobre o balanço financeiro, e tal demonstrativo estar sendo discutido em sala de aula ou ate mesmo em conteúdos para concursos, tendo em vista que a maioria dos respondentes estuda contabilidade pública para concurso. Tabela 4 - Relação Balanço Patrimonial x Conceito Respostas Frequência Percentual Percentual Válido Percentual Cumulativo Certo 87 83,7 83,7 83,7 Errado 17 16,3 16,3 100,0 Total 104 100,0 100,0

Fonte: Elaboração própria, 2014

Percebe-se que 83,7% dos discentes correlacionaram de forma correta o demonstrativo patrimonial com seu respectivo conceito. Demonstram que mesmo não vivenciando na prática a contabilidade, e possuindo objetivo em concursos tem formado entendimento do setor.

De acordo com as Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público - NBC T 16.6 – Demonstrações Contábeis, que altera a Lei nº. 4.320/64 são demonstrações contábeis das entidades definidas no campo da contabilidade aplicada ao setor público: O Balanço Patrimonial, Balanço Orçamentário, Balanço Financeiro, Demonstração das Variações Patrimoniais, Demonstração dos Fluxos de Caixa e Demonstração do Resultado Econômico.

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Tabela 5 - Identificação das Demonstrações Obrigatórias ao Setor Público Respostas Frequência Percentual Percentual Válido Percentual Cumulativo Certo 59 56,7 56,7 56,7 Errado 45 43,3 43,3 100,0 Total 104 100,0 100,0

Fonte: Elaboração própria, 2014

Questionados sobre quais as demonstrações obrigatórias do setor público foi verificado na tabela 5 que apenas 56,7% possuem conhecimento sobre quais as demonstrações obrigatórias, enquanto 43,3% não sabem as demonstrações obrigatórias do setor público. Sendo assim, é possível verificar que relacionado às demonstrações, embora que em uma pequena diferença percentual, maior parte dos discentes possui conhecimentos sobre as novas demonstrações obrigatórias aplicadas ao Setor Público. Conhecer as demonstrações obrigatórias é essencial aos futuros contadores que pretendem desenvolver suas atividades no setor público.

A NBC T 16.2 diz que a Contabilidade Aplicada ao Setor Público é organizada na forma de sistemas de informações, cujos subsistemas, conquanto possam oferecer produtos diferentes em razão da respectiva especificidade, convergem para o produto final, que é a informação sobre o patrimônio público. Esses subsistemas são orçamentário, compensação, custos e patrimonial. Dados os subsistemas e seus respectivos objetivos, os discentes relacionaram:

Tabela 6 - Relação do subsistema orçamentário x objetivos Respostas Frequência Percentual Percentual Válido Percentual Cumulativo Certo 87 83,7 83,7 83,7 Errado 17 16,3 16,3 100,0 Total 104 100,0 100,0

Fonte: Elaboração própria, 2014

Percebe-se que 83,7% dos discentes relacionam de forma correta o subsistema orçamentário com seu respectivo objetivo, enquanto 16,3% erraram. Pode-se perceber que em relação ao subsistema orçamentário os discentes compreendem melhor sua utilização na prestação de informações aos seus usuários.

Tabela 7 - Relação do subsistema de compensação x objetivo

Respostas Frequência Percentual Percentual Válido Percentual Cumulativo Certo 29 27,9 27,9 27,9 Errado 75 72,1 72,1 100,0 Total 104 100,0 100,0

Fonte: Elaboração própria, 2014

Constata-se que 72,1% dos discentes que responderam relacionaram de forma errada o subsistema de compensação com seu respectivo objetivo, e que apenas 27,9% relacionaram corretamente, demonstrando dentre os respondentes pouco conhecimento em relação a este subsistema. O conhecimento dos subsistemas se faz necessários para a alocação dos dados e a possibilidade de prestar informações fidedignas, tempestivas e comparáveis sobre o patrimônio público.

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Tabela 8 - Relação do subsistema de Custo x objetivos Respostas Frequência Percentual Percentual Válido Percentual Cumulativo Certo 93 89,4 89,4 89,4 Errado 11 10,6 10,6 100,0 Total 104 100,0 100,0

Fonte: Elaboração própria, 2014

Verifica-se que 89,4% dos discentes respondentes relacionaram de forma correta o subsistema de custo com seu respectivo objetivo, enquanto apenas 10,6% erraram, podendo perceber que em relação ao sistema de custos os discentes obtiveram o maior percentual de acertos em comparação aos outros subsistemas, sendo sua utilização para prestação de informações dos custos, e melhor utilização dos recursos públicos.

Tabela 9 - Relação do subsistema Patrimonial x Objetivos Respostas Frequência Percentual Percentual Válido Percentual Cumulativo Certo 33 31,7 31,7 31,7 Errado 71 68,3 68,3 100,0 Total 104 100,0 100,0

Fonte: Elaboração própria, 2014

Certifica-se que em relação ao subsistema patrimonial apenas 31,7% dos discentes acertaram, enquanto 68,3% erraram ao relacionar o subsistema patrimonial ao seu respectivo objetivo, demonstrando maior percentual de erros. A partir dos dados evidenciados acima, torna-se possível verificar que os discentes respondentes possuem um conhecimento considerável, em relação ao subsistema orçamentário e de custos. Por outro lado, em relação aos subsistemas de compensação e patrimonial houve uma troca nos objetivos. Como já visto anteriormente, em relação à parte orçamentaria os alunos possuem certo conhecimento, isso demonstra que o conteúdo é bem explorado no ensino.

O processo de convergência trouxe algumas mudanças na contabilidade pública, tais alterações serão um desafio aos profissionais deste setor e aos discentes que nele pretendem desenvolver suas atividades. Sendo as principais alterações citadas pela CNM (2012) elencadas a seguir:

• Adoção de plano de contas único; • Adoção de um novo regime contábil (competência apenas para o patrimônio, o orçamento continuará utilizando o regime misto); • Adoção de novos procedimentos contábeis (depreciação, provisão, reavaliação etc.); • Novas demonstrações contábeis; • Implantação de sistema de custos.

Diante dessas mudanças no setor público com a inclusão de novas normas, foi dada as alternativas e questionado aos discentes, com as Novas Normas o que muda na Contabilidade Pública.

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Tabela 10 - Mudança na Contabilidade Pública em relação às Novas Normas Respostas Frequência Percentual Percentual Válido Percentual Cumulativo Certo 40 38,5 38,5 38,5 Errado 64 61,5 61,5 100,0

Total 104 100,0 100,0

Fonte: Elaboração própria, 2014

Percebe-se que 61,5% dos respondentes erraram, demonstrando que não reconhecem as principais alterações impostas pelas mudanças das normas do setor público. Como pode ser verificado na tabela 10. É necessário que as modificações no setor público já estejam incorporadas ao ensino, tendo em vista que os discentes precisam estar atualizados, para encarar o mercado de trabalho, que cada vez mais exige de seus profissionais conhecimentos e domínio sobre o setor de atuação.

Quadro 2 - Analise das principais alterações provocadas pelo processo de convergência da contabilidade pública no Brasil

Respostas %

Não souberam responder as alterações provocadas pela convergência. 78,8%

Consideraram a implantação do sistema de custos; adoção de plano de contas único; aderência ao regime contábil de competência; são baseadas em normas internacionais de contabilidade pública; controle patrimonial e das contas públicas; registro de depreciação e novas demonstrações contábeis.

21,2%

Total 100%

Fonte: Elaboração própria, 2014

Em questão aberta relacionada às principais alterações provocadas pelo processo de convergência da contabilidade pública no Brasil, 78,8% dos respondentes não sabem as alterações provocadas pela convergência embora, saiba que o setor público está se modificando. E apenas 21,2% dos discentes demonstraram conhecer o processo de convergência, confirmando que tal conteúdo não esta sendo abordado ao ensino.

As IPSAS são peça fundamental no processo de convergência, sendo assim verificou-se qual o conhecimento dos discentes, conforme quadro 3 abaixo:

Quadro 3 - Analise do conhecimento sobre as IPSAS

Respostas %

NÃO conhecem as IPSAS. 80%

Considera como órgão internacional emissor de normas públicas. 1%

Considera como instruções acerca da aplicação da contabilidade pública. 1%

Consideram Normas Internacionais de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público 18%

Total 100%

Fonte: Elaboração própria, 2014

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Observa-se que 80% não conhecem as IPSAS, e 18% que as conhecem disseram que: trazem informações sobre a convergência no setor público, padronizando as normas e procedimentos contábeis, fazem parte do processo de convergência, são para o setor público assim como as IFRS para o setor privado, são editadas pelo IFAC com o objetivo de servir ao interesse público, facilitando a convergência das normas em cada país, contribuindo para a qualidade e uniformidade das demonstrações contábeis, os governos mundiais procuram segui-las para implantação da contabilidade unificada e convergida aos padrões mundiais, são em níveis globais, de alta qualidade para a preparação de demonstrações contábeis por entidades do setor público. Conhecer as IPSAS se faz necessários, pois foi por meio de sua tradução que pode incorporar as praticas internacionais as normas do Brasil.

Quadro 4 - Analise da expectativas do processo de convergência da contabilidade pública

Respostas %

Não souberam responder, justificando desconhecer tal processo de convergência. 65,4% Esperam que o processo de convergência contribua com maior compreensão, acesso, interpretação e transparência das informações contábeis, que todos falem uma mesma linguagem, importantes para a contabilidade brasileira se adequarem aos usuários externos, melhor gestão do orçamento público e controle dos gastos, ocorre de forma harmoniosa com as particularidades de cada país, melhor planejamento e tomada de decisões, minimizar os riscos de corrupção, redução de custos e tempo na elaboração das demonstrações contábeis, e enriquecimento da estrutura teórica, e enfatiza que a cultura será um problema para o país.

34,6%

Total 100%

Fonte: Elaboração própria, 2014

Questionando os discentes sobre as expectativas do processo de convergência da contabilidade pública, 65,4% não souberam responder, e apenas 34,6% dos discentes possuem expectativas que tragam melhorias para o setor público no Brasil, como pode ser visto no quadro 4 acima. A convergência no Brasil tem o objetivo de colaborar de forma resolutiva ao desenvolvimento sustentável, por meio da reforma contábil que resulte numa maior transparência das informações financeiras utilizadas pelo mercado, como também aperfeiçoamento das práticas profissionais. Com perspectivas que os profissionais do setor público sejam capazes de cumpri metas elevando os níveis de eficiência, eficácia e efetividade dos gastos, definirem o planejamento como processo essencial baseado em diretrizes dos orçamentos e dos sistemas de informação de custos, autonomia e capacidade para reconhecer, mensurar, registar, evidenciar e gerar informações úteis, compreensíveis, tempestivas e fidedignas.

Tabela 11 – Demonstrativo da auto avaliação dos respondentes

Opções de Respostas Frequência Percentual Percentual Válido Percentual Cumulativo Ótimo 2 1,9 2,6 2,6 Bom 9 8,7 11,5 14,1 Regular 45 43,3 57,7 71,8 Péssimo 22 21,2 28,2 100,0 Total 78 75,0 100,0 Sistema 26 25,0

Total 104 100,0

Fonte: Elaboração própria, 2014

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Ao final do questionário, os respondentes puderam fazer uma auto avaliação sobre seus conhecimentos a respeito da contabilidade pública e o processo de convergência, os mesmos reconhecem suas deficiências, visto que 57,7% se classificaram em regular e 28,2% péssimo. Como pode ser visto na tabela 11.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A contabilidade pública no Brasil esta em processo de convergência, para atender aos diversos usuários, com informações com elevada transparência, tempestividade e confiabilidade. A partir da tradução das IPSAS, que proporcionando a base conceitual para elaboração das NBCASP.

Por meio da análise dos dados coletados, de discentes, de diversas IES distribuídas no Brasil, de forma indutiva, foi possível atender o objetivo e responder a problemática a respeito do conhecimento dos discentes sobre o processo de convergência da contabilidade pública. E demonstrar quais as principais alterações provocadas pela convergência das praticas contábeis, no setor público. E a relação entre as mudanças e o ensino.

Conclui-se que os discentes de ciências contábeis possuem conhecimento insuficiente sobre o processo de convergência, sendo possível verificar ao introduzir questões que abordam tal processo, o relativo percentual de erros e a grande maioria, responderem desconhecer tal processo.

O ensino de contabilidade pública não aborda, segundo os respondentes, como deveria o processo de convergência, tendo visto que uma das instituições de ensino só a incorporam o processo de convergência em uma disciplina no último período de curso.

A pequena quantidade de disciplinas nos cursos dos discentes que responderam a pesquisa traz consigo um problema para os profissionais que pretendem trabalhar no setor público, pois durante o curso só verá os conteúdos relacionados ao setor em uma ou duas disciplinas relacionadas à contabilidade pública ou semelhante, e mesmo assim não sendo abordados com conteúdos atualizados, sendo estes cursos de graduação voltados suas disciplinas à contabilidade societária. E respectivamente não alcançando o que propõe a resolução CNE/CES 10/2004 onde estabelece que os cursos de ciências contábeis “devam contemplar, em seus projetos pedagógicos e em sua organização curricular, conteúdos que revelem conhecimento do cenário econômico e financeiro, nacional e internacional, de forma a proporcionar a harmonização das normas e padrões internacionais de contabilidade”.

Uma pesquisa mais detalhada em relação à atualização das ementas das disciplinas de contabilidade pública ou semelhantes poderá ser útil, para verificar como as alterações normativas sobre a contabilidade estão sendo incorporadas ao ensino.

REFERÊNCIAS

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ANÁLISE DAS PERCEPÇÕES DOS PROFISSIONAIS CONTÁBEIS DE PREFEITURAS MUNICIPAIS QUANTO À RELEVÂNCIA DAS MUDANÇAS

INTRODUZIDAS PELA ADOÇÃO DAS NORMAS BRASILEIRAS DE CONTABILIDADE APLICADAS AO SETOR PÚBLICO

AUTORES: Jardson Edson Guedes da Silva Almeida, Luiz Carlos Miranda, Marco Tullio de Castro Vasconcelos, Umbelina Cravo Teixeira Lagioia e Luiz Antônio Félix Júnior.

RESUMO

Tem-se vivenciado na contabilidade pública brasileira, mudanças significativas em sua estrutura e procedimentos em virtude da convergência às normas internacionais de contabilidade. Neste sentido, esta pesquisa tem por objetivo analisar as percepções dos profissionais de contabilidade de prefeituras municipais do estado de Alagoas quanto à relevância das mudanças introduzidas pela adoção das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público - NBCASP. Para isto, realizou-se uma pesquisa descritiva, fundamentada em pesquisa bibliográfica. O método de pesquisa adotado foi o levantamento, através de aplicação de questionário on line por meio da ferramenta Google Docs, chegando-se a obter resposta de 33 profissionais de contabilidade de prefeituras municipais do referido estado. Para análise dos dados foi utilizado a Escala de Classificação de Likert avaliando as percepções dos pesquisados em relação ao acompanhamento do processo de convergência da contabilidade pública e a percepção dos mesmos sobre as melhorias que a contabilidade pode gerar para a gestão pública em decorrência da internacionalização das normas contábeis públicas brasileiras. Os resultados indicam que, na percepção dos respondentes, 66,7% possuem um grau elevado de conhecimento em relação à matéria. Além disso, Todos os pesquisados acreditam que as mudanças nos demonstrativos contábeis poderão torná-los mais úteis no processo de tomada de decisão, bem como afirmam que as mudanças advindas da implantação das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público proporcionarão maiores benefícios para a gestão pública dos municípios brasileiros.

Palavras-chaves: NBCASP, Convergência, Nova Administração Pública

1. INTRODUÇÃO

A contabilidade pública brasileira passa por mudanças significativas em virtude da necessidade de convergência às normas internacionais de contabilidade. Dentre tantas mudanças talvez uma das mais significativas resida na obrigatoriedade legal de elaboração e apresentação das demonstrações contábeis sob um enfoque patrimonial e não apenas orçamentário, como, até então, acontecia na contabilidade pública brasileira.

No Brasil, a partir de 2012, passou-se a praticar, na contabilidade pública, a convergência às IPSAS (International Public Sector Accounting Standards), editadas pela IFAC (International Federation of Accountants) e o alinhamento às normas internacionais de contabilidade vem ocorrendo por meio da edição das NBCASP (Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público), sob a responsabilidade de um Comitê Gestor da Convergência, criado para este fim e composto por representantes do Ibracon (Instituto dos Auditores Independentes do Brasil), do Banco Central, da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), da Susep (Superintendência de Seguros Privados) e da STN (Secretaria do Tesouro Nacional).

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Essa internacionalização das normas contábeis públicas e sua convergência nos mais diversos países correspondem a uma reforma contábil bastante ampla, conhecida como New Public Management – NPM, a qual valoriza o enfoque gerencial da contabilidade pública, bem como prioriza o resultado das atividades governamentais.

Em virtude de todas essas mudanças na contabilidade pública brasileira, percebe-se um aumento significativo no número de pesquisas relacionadas à área, principalmente em virtude da obrigatoriedade de convergência às normas internacionais de contabilidade. Neste sentido, diversos são os trabalhos realizados com o intuito de aprofundar a discussão sobre as normas vigentes no país aplicáveis à contabilidade pública.

Entre tais trabalhos, pode-se citar o de Macedo et. al (2010) que buscou apreender as evidências por meio da percepção dos auditores do TCE, dos gestores e contadores públicos dos estados de Pernambuco e da Paraíba quanto à aplicabilidade dos conceitos true and fair view e accountability na contabilidade pública brasileira e especificamente os padrões internacionais, para os quais nossas normas irão convergir. Neste trabalho, verificou-se que para serem percebidas pela população em geral as boas práticas de gestão e de contabilidade pública, bem como as transformações resultantes da mudança do foco para a contabilidade patrimonial, necessitam de “desenvolvimento social”, aliado a um maior grau de “transparência”.

Por sua vez, Xavier Júnior (2011) desenvolveu um estudo com o objetivo de captar qual a percepção que os contadores de instituições vinculadas ao Ministério da Educação (MEC) têm em relação à utilidade da informação contábil a partir da adoção das NBCASP. Ao final do trabalho, foi constatado que as informações contábeis disponibilizadas atualmente são importantes para as decisões de caráter orçamentário e indiferentes para as demais decisões. Também se constatou que, segundo os pesquisados, as informações que serão produzidas em decorrência das alterações introduzidas pelas NBCASP serão capazes de maximizar a utilidade da informação contábil no processo de tomada de decisão, sinalizando que esses profissionais estão afirmativos quanto à futura contribuição da contabilidade à gestão dos recursos públicos e receptivos às mudanças que dela decorrerão.

O trabalho de Ribeiro e Bizerra (2011) teve por objetivo investigar a percepção dos contadores governamentais sobre as melhorias que a contabilidade pode gerar para a gestão pública em decorrência da convergência das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBCASP).

Já a pesquisa de Vasconcelos et al (2012) teve como objetivo examinar a percepção dos usuários e preparadores da informação contábil do setor público brasileiro sobre a alteração do regime de contabilização misto para o baseado na competência, quanto à capacidade deste último produzir potenciais benefícios informacionais para a tomada de decisões e de gestão das entidades públicas. Os resultaram indicaram que, na percepção dos respondentes, o regime de competência pode produzir benefícios informacionais para a tomada de decisão das entidades públicas, sendo o regime de caixa percebido como mais apropriado para as decisões quanto ao fluxo de caixa.

Mais recentemente, o trabalho de Vicente, Morais e Platt Neto (2012) buscaram identificar as implicações e perspectivas decorrentes da reforma promovida na Contabilidade Pública Brasileira, com o processo de convergência decorrente da implantação das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBCASP), que está sendo conduzido pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN). Como resultado, concluíram que a reforma promoverá a devida distinção

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entre o orçamento público e a Contabilidade, a adoção do regime de competência para a contabilização do patrimônio público e alterações no conteúdo das demonstrações contábeis que ampliarão a transparência fiscal dos governos.

Considerando todas as alterações na legislação contábil brasileira, mais especificamente no que diz respeito à adoção de um enfoque patrimonial e não mais apenas orçamentário, este estudo buscou, a partir da metodologia do trabalho de Ribeiro e Bizerra (2011), responder a seguinte questão central: Qual é a percepção dos profissionais contábeis de prefeituras municipais do estado de Alagoas sobre a possibilidade de melhora na gestão pública decorrente da adoção das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público?

Assim, para responder o problema de pesquisa, o presente trabalho teve como objetivo geral investigar a percepção dos profissionais contábeis de prefeituras municipais de Alagoas sobre a possibilidade de melhora na gestão pública decorrente da adoção das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público.

O trabalho está estruturado em quatro seções, além desta introdução, as quais são: Metodologia da Pesquisa, Referencial Teórico, Análise de Resultados e Conclusão. Por último, é apresentada uma lista de referências utilizadas para realização do estudo.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 NOVA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Ao longo dos anos, tem-se buscado mecanismos que tornem as entidades públicas mais eficientes, eficazes e responsáveis na prestação de contas dos recursos por elas utilizados para atendimento das necessidades da população.

No Brasil, pode-se identificar pelo menos três importantes reformas em sua administração pública: a primeira delas, conhecida como reforma burocrática, se deu em 1936 e possibilitou a implantação de um modelo burocrático, contradizendo o modelo patrimonialista existente. Em seguida, vivenciou-se uma melhoria na rigidez da burocracia instalada com a descentralização, através da reforma de 1967; e, por último, a reforma pública gerencial iniciada em 1995, na tentativa de substituição do modelo burocrático. (BRESSER-PEREIRA, 2001)

A partir de uma busca constante pela transparência na gestão pública, mais precisamente a partir da década de 80, surge um novo conceito na administração de entidades governamentais, a New Public Management (NPM). As administrações distanciam-se de um enfoque estritamente burocrático e passam a valorização de aspectos gerenciais. Esse processo, busca a implementação de uma cultura empresarial nos governos, tornando-os mais autônomos e responsáveis e, ainda, responsabilizando-os pelos seus desempenhos (CHRISTIAENS, 2004).

Essa Nova Administração Pública, segundo Galera e Bolívar (2007), tem como postulados: (a) maior ênfase na satisfação dos cidadãos, "clientes" dos serviços do setor público; (b) maior ênfase na Contabilidade de gestão e métodos de avaliação; (c) uma

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abertura de entidades do setor público à concorrência; (d) desenvolvimento da comparação sistemática das atividades entre as unidades de gestão (benchmarking), e (e) a separação da formulação de políticas da prestação de serviços, além da criação de agências reguladoras

Aumenta-se a exigência por uma contabilidade por desempenho, com foco nos resultados. Dentro desta perspectiva, ganha espaço na gestão pública o conceito de accountability como condição essencial para uma boa gestão.

2.2 CONTABILIDADE PATRIMONIAL (ACCRUAL ACCOUNTING)

Em virtude da internacionalização das normas contábeis no setor público, tem-se buscado, a partir das NBCASP’s, uma maior evidenciação nos demonstrativos contábeis de uma contabilidade com enfoque patrimonial, ao contrário do que até então se praticava: uma contabilidade orçamentária.

Com base no que preceitua Torres (2004) aqueles que defendem a Contabilidade patrimonial, geralmente, argumentam que, no nível agregado, indicadores fiscais baseados no regime de competência fornecem uma melhor informação sobre a sustentabilidade das políticas fiscais, uma base mais sólida para a responsabilização do governo e uma melhor medida dos efeitos das políticas governamentais. Para Christiaens (2004), a Contabilidade patrimonial visa principalmente proporcionar ao governo uma ferramenta para aperfeiçoamento de sua gestão patrimonial e financeira. Não pode ser considerada apenas como um sistema de gravação (entrada) de dados financeiros e orçamentários, sua importância vai muito mais além.

De acordo com a Contabilidade Patrimonial, aplica-se nos registros contábeis públicos o regime de competência para receitas e despesas, todas as transações devem ser registradas no momento em que ocorrem, independentemente das entradas e saídas de caixa no ente público.

2.3. INTERNATIONAL PUBLIC SECTOR ACCOUNTING STANDARDS - IPSAS

A Contabilidade Pública brasileira atualmente passa por uma transformação significativa em sua estrutura conceitual, bem como em seus procedimentos de avaliação/mensuração patrimonial. Até então, não eram registradas as receitas e despesas segundo o regime de competência, há muito já utilizado na contabilidade empresarial. Por este motivo, não se pode, de fato, consolidar todas as contas públicas.

Na tentativa de convergência às normas internacionais de contabilidade, o Conselho Federal de Contabilidade – CFC vem, ao longo dos anos, contribuindo para a implantação de novas metodologias contábeis aplicadas ao setor público. Entre elas, destaca-se a edição de normas técnicas aplicadas especificamente a esse setor, implantação de novos planos de contas e demonstrativos, bem como convergência às IPSAS.

O comitê responsável pelos pronunciamentos relativos ao setor público, o IPSASB, é um órgão de normatização independente que trabalha com o apoio do IFAC e usa as normas internacionais de Contabilidade (NIC) emitidas pelo IASB como ponto de partida (ERNEST & YOUNG TERCO, 2010).

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O conceito de IPSAS, quando traduzido para o português, pode ser considerado como sendo Normas Internacionais de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público – NICASP. Tais normas especificam as informações correspondentes a relatórios contábeis, financeiros e de auditoria, inclusive discriminando sua forma de apresentação. Os tradutores oficiais de tais normas no Brasil são o CFC e o IBRACON, que possuem convênio firmado com a IFAC para tradução das IPSAS.

De modo geral, as IPSAS, editadas pela IFAC (International Federation of Accountants), são normas com a finalidade precípua de convergir os critérios de reconhecimento de receitas e despesas, bem como dos ativos e passivos. Além disso, objetiva a convergência da forma de evidenciação dos resultados do exercício, da situação financeira, das mutações no patrimônio líquido e das mutações da posição financeira no âmbito do setor público.

As IPSAS estão totalmente voltadas para uma Contabilidade Patrimonial, ao contrário daquela anteriormente praticada no Brasil que apresenta um enfoque estritamente orçamentário (confronto entre o previsto e o realizado). Para tanto, necessário se faz o registro de todos os bens, direitos, obrigações e patrimônio líquido do ente público considerado. Outra inovação advinda da convergência às IPSAS é o estabelecimento do regime de competência para o reconhecimento de receitas e despesas, ao contrário do regime misto (regime de caixa para as receitas e de competência para as despesas). Sem a adoção da competência para registro patrimonial, diversos ativos e passivos podem não ser reconhecidos, não se atingindo, portanto, o objetivo de evidenciar a situação financeira, prejudicando os resultados do exercício.

2.4 NORMAS BRASILEIRAS DE CONTABILIDADE APLICADAS AO SETOR PÚBLICO E A CONVERGÊNCIA DA CONTABILIDADE PÚBLICA NO BRASIL

Nesse processo de convergência às normas internacionais, se faz necessário a adaptação das normas brasileiras às IPSAS. No Brasil, as dez primeiras IPSAS foram traduzidas e aprovadas pelo Conselho Federal de Contabilidade – CFC, em 21 de novembro de 2008, como sendo obrigatórias. Em 2011 mais uma norma foi aprovada, tratando da questão de um sistema de informação de Custos no Setor Público. O objetivo das referidas normas é disciplinar/regulamentar os procedimentos a serem adotados na contabilização dos fatos ocorridos nos entes públicos brasileiros.

Além dessas dez normas aprovadas pelo CFC, o Ministério da Fazenda também buscou regulamentar referido processo de convergência, através da aprovação em 25 de agosto de 2008 da Portaria nº 184:

Art. 1º Determinar à Secretaria do Tesouro Nacional – STN, [...], o desenvolvimento das [...] ações no sentido de promover a convergência às Normas Internacionais de Contabilidade publicadas pela International Federation of Accountants – IFAC e às Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas ao Setor Público editadas pelo Conselho Federal de Contabilidade – CFC, respeitados os aspectos formais e conceituais estabelecidos na legislação vigente.

O objetivo é adaptar-se a um contexto mundial em que se busca uniformizar padrões nacionais e internacionais de contabilidade. Com isso, espera-se uma maior proteção do patrimônio público e maior transparência à sociedade da aplicação dos recursos públicos.

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A obrigatoriedade de cumprimento das NBCASP para 2008 (ano de publicação das mesmas), bem como no exercício de 2009, era facultativa, porém, para fatos ocorridos a partir de janeiro de 2010, a adoção das dez primeiras normas (NBC T SP 16.1 a NBC T SP 16.10) passou a ser obrigatória.

Quadro 1 – Relação e finalidade das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público

NBC T 16 Finalidade

NBC T SP 16.1

Conceituar a contabilidade aplicada ao setor público, bem como delimitar o patrimônio público como sendo o seu objeto de estudo. Já em relação ao seu campo de aplicação, dispõe que será obrigatória em entidades do setor público, bem como, no tocante aos aspectos contábeis de prestação de contas, em quaisquer entidades que mantenham algum tipo de vínculo com aquelas em relacionado a recebimento, guarda, movimentação, gerenciamento ou aplicação de recursos públicos.

NBC T SP 16.2

Conceituar o patrimônio público, sua classificação sob o enfoque contábil, o conceito e a estrutura do sistema de informação contábil. Estabelecer a classificação dos componentes patrimoniais (Ativo e Passivo) sob a forma de Circulante e Não-Circulante, com base nos atributos de Conversibilidade e Exigibilidade. Definir a composição do Sistema Contábil Público: Subsistemas de Informações Contábeis Orçamentário, Financeiro, Patrimonial, de Compensação e de Custos.

NBC T SP 16.3

Estabelecer as bases para o controle contábil sobre o planejamento das entidades do setor público. Busca propiciar a avaliação e a instrumentalização do controle.

NBC T SP 16.4

Definir as espécies de transações no setor público. Disciplinar o registro contábil com base nos Princípios Fundamentais de Contabilidade e às Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público. Classificar as transações no setor público em econômico-financeiras (originadas de fatos que afetam o patrimônio público) e administrativas (não afetam o patrimônio público).

NBC T SP 16.5

Estabelecer critérios para o registro contábil dos atos e fatos que afetam ou possam vir a afetar o patrimônio das entidades do setor público.

NBC T SP 16.6

Estabelecer as Demonstrações Contábeis a serem elaboradas e divulgadas pelas entidades públicas.

NBC T SP 16.7

Estabelecer conceitos, abrangência e procedimentos para a Consolidação das Demonstrações Contábeis a serem elaboradas e divulgadas pelas entidades públicas.

NBC T SP 16.8

Estabelecer referenciais para o controle interno como suporte do sistema de informação contábil. Tem como objetivo contribuir para o alcance dos objetivos das entidades públicas.

NBC T SP 16.9

Estabelecer critérios e procedimentos para o registro contábil da depreciação, da amortização e da exaustão.

NBC T SP 16.10

Estabelecer critérios e procedimentos para a avaliação e mensuração de ativos e passivos pertencentes às entidades públicas.

NBC T SP 16.11

Estabelecer a conceituação, o objeto, os objetivos e as regras básicas para mensuração e evidenciação dos custos no setor público.

Fonte: Adaptado de Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público

A aprovação de tais normas pelo CFC é considerada o marco regulatório nesse processo de convergência. Neste sentido, deve-se adotar, a partir de então, o enfoque patrimonial na contabilidade pública, por meio da utilização das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público – NBCASP.

As NBCASP possibilitam a implementação de dispositivos previstos na Lei 4.320/64, como por exemplo a implantação de sistemas de custos e ampliação do controle contábil.

Muito embora exista a obrigatoriedade de cumprimento das NBCASP por parte dos contadores de entes públicos, muitos serão os desafios a serem vencidos para tal adaptação, tal como uma mudança de um perfil cultural dentro da administração pública, por exemplo. Segundo Dáros e Pereira (2009) as novas normas são um instrumento para elevar a eficácia e efetividade das Leis quanto aos seus objetivos de promover o planejamento, a transparência e responsabilidade da gestão fiscal.

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De acordo com Silva (2011), a mudança mais importante proveniente das normas é que o orçamento público passa a ser um simples personagem da história e que o patrimônio passa a ser o autor principal da administração pública.

Além disso, as alterações nos demonstrativos não foram apenas quanto a sua obrigatoriedade, mas principalmente quanto à sua estrutura, na busca pela transparência das contas públicas, bem como pela padronização dos procedimentos contábeis nas três esferas de governo. Uma outra mudança significativa é a adoção de um Plano de Contas Único em todo o território nacional.

A partir da padronização destes procedimentos em virtude da convergência das normas contábeis no setor público às normas internacionais, passou-se a ser exigido, também, a implementação de procedimentos até então vivenciados apenas na iniciativa privada, como amortização, exaustão, depreciação, reavaliação e provisão de férias e décimo terceiro.

Para Niyama e Silva (2011), as NBCT SP representam um avanço, pois aumentará a transparência e a comparabilidade das informações contábeis dos entes públicos, e, consequentemente os usuários da informação terão mais facilidade de compreensão.

3. METODOLOGIA

3.1 TIPO E MÉTODO DE PESQUISA

O presente estudo classifica-se como uma pesquisa descritiva, pois a mesma busca descrever as características de determinada população em relação a sua percepção sobre a possibilidade de melhora na gestão pública decorrente da adoção das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público. Utilizou-se também de pesquisa bibliográfica para fundamentar o estudo e subsidiar a análise dos resultados e os testes estatísticos empregados.

Como método de pesquisa adotou-se o levantamento, analisando-se diretamente o comportamento dos pesquisados, para que quantitativamente se chegue às conclusões em relação aos dados coletados. As pesquisas do tipo levantamento, usam técnicas estatísticas e análise quantitativa permitindo, assim, a generalização das conclusões para o total da população pesquisada.

3.2 COLETA, TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

A partir da metodologia do estudo de Ribeiro e Bizerra (2011), a presente pesquisa utilizou-se de um questionário como método de coleta de dados. O questionário foi estruturado em três seções. A primeira delas, refere-se a caracterização dos respondentes e compõe-se de cinco perguntas. A segunda, com seis perguntas, trata do acompanhamento dos profissionais contábeis de prefeituras municipais em relação ao processo de convergência; e a terceira e última, composta de três perguntas objetiva identificar à percepção dos referidos profissionais sobre as melhorias que a contabilidade pode gerar para a gestão pública em decorrência da convergência às normas internacionais de contabilidade.

Os questionários foram disponibilizados por meio da ferramenta Google Docs. Após a elaboração do mesmo, o link foi encaminhado para os contadores de Prefeituras Municipais do Estado de Alagoas, por meio dos endereços eletrônicos disponíveis nos sites das respectivas entidades. Em alguns casos, foram encaminhados questionários diretamente para

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os e-mails dos contadores responsáveis pelas mesmas, com base em lista de contato dos pesquisadores. Dos 102 municípios alagoanos, conseguiu-se encaminhamento para os profissionais responsáveis pela contabilidade de 85 deles. Os questionários eletrônicos foram aplicados entre os meses de abril e junho do ano de 2014 e ao final, obteve-se êxito em 33 pesquisados, os quais responderam completamente a referida pesquisa.

Foi utilizado a Escala de Classificação de Likert permitindo por meio de um valor numérico seja dado uma opinião. Nesta escala, o zero representa nulo; de 1 a 2 baixíssimo/fraquíssimo; de 3 a 4 baixo/fraco; de 5 a 6 médio; de 7 a 8 alto/forte; e, de 9 a 10 altíssimo/plenamente.

4. ANÁLISE DE RESULTADOS

4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS RESPONDENTES

Conforme apresentado, a pesquisa teve seu escopo limitado ao grupo de profissionais contábeis de prefeituras municipais do estado de Alagoas quanto à percepção dos mesmos em relação à relevância das mudanças introduzidas pela adoção das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público. A pesquisa teve um total de 33 respondentes, sendo 18 deles do sexo masculino e 15 do sexo feminino.

Entre os respondentes, percebe-se que praticamente 80% dos pesquisados possuem idade de até 35 anos, sendo que a maior frequência encontra-se na faixa etária entre 31 e 35 anos representando um total de 42,40% da amostra. Aqueles que possuem menos de 25 anos, representam 15,2% e os que possuem idade entre 25 e 30 anos, totalizam 21,2%.

Dentre os membros participantes da pesquisa, 18 deles possuem graduação, 9 possuem especialização e 6 já concluíram o mestrado.

Foi ainda constatado que 81,8% dos respondentes atuam na área de contabilidade pública há, no máximo 10 anos, o que corresponde a 27 profissionais.

Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent Menos de 1 ano 2 6,1 6,1 6,1 De 1 a 5 anos 9 27,3 27,3 33,3 De 6 a 10 anos 16 48,5 48,5 81,8 De 11 a 15 anos 2 6,1 6,1 87,9 Mais de 15 anos 4 12,1 12,1 100,0 Total 33 100,0 100,0

Tabela 1 – Tempo de atuação na função.

Em se tratando de vínculo com o município ao qual prestam serviços contábeis, a pesquisa identificou que 39,4% são contadores concursados, 10% contratados e outros 10% são funcionários de empresas contratadas.

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4.2 ACOMPANHAMENTO E PREPARAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE CONTABILIDADE PÚBLICA EM RELAÇÃO AO PROCESSO DE CONVERGÊNCIA;

Observa-se uma variação entre os níveis de acompanhamento em relação ao processo de convergência na contabilidade pública pelos contadores pesquisados responsáveis pelas prefeituras municipais alagoanas. Na escala em estudo, os dados encontram-se agrupados da seguinte forma entre os respondentes: 2 (6,1%) grau de acompanhamento baixíssimo, 9 (27,2%) médio, 18 (54,6%) alto e 4 (12,1%) altíssimo.

Pelos dados apresentados, percebe-se que cerca de 66,7% dos respondentes estão acompanhando bem este processo de convergência (grau alto ou altíssimo), enquanto que 33,3% acompanham em nível baixo ou mediano.

Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent Baixíssimo/Fraquíssimo 2 6,1 6,1 6,1 Médio 9 27,2 27,2 33,3 Alto/Forte 18 54,6 54,6 87,9 Altíssimo/Plenamente 4 12,1 12,1 100,0 Total 33 100,0 100,0

Tabela 2 – Grau de Acompanhamento do processo de convergência.

Quando questionados sobre o seu grau de conhecimento sobre as alterações nos Manuais de Contabilidade Aplicados ao Setor Público – MCASP, 48,5% dos profissionais contábeis afirmaram ter conhecimento médio em relação às mesmas, enquanto que 27,3% tem conhecimento alto.

Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent Baixíssimo/Fraquíssimo 1 3,0 3,0 3,0 Baixo/Fraco 2 6,1 6,1 9,1 Médio 16 48,5 48,5 57,6 Alto/Forte 9 27,3 27,3 84,9 Altíssimo/Plenamente 5 15,1 15,1 100,0 Total 33 100,0 100,0

Tabela 3 – Grau de conhecimento sobre as alterações nos MCASP

Pode-se constatar que o Grau de conhecimento sobre Depreciação, Amortização, Exaustão e Reavaliação no setor público entre os profissionais contábeis dos municípios pesquisados é, predominantemente, médio, o que representa 57,5% dos mesmos. No geral, percebe-se que 78,8% dos pesquisados possuem conhecimento variando entre médio e pleno sobre os referidos procedimentos obrigatórios para os municípios a partir de 2013.

Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent Baixíssimo/Fraquíssimo 3 9,1 9,1 9,1 Baixo/Fraco 1 3,0 3,0 12,1 Médio 19 57,5 57,5 69,6 Alto/Forte 4 12,1 12,1 81,7 Altíssimo/Plenamente 6 18,3 18,3 100,0 Total 33 100,0 100,0

Tabela 4 – Grau de conhecimento sobre Depreciação, Amortização, Exaustão e Reavaliação no setor público

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Os contabilistas pesquisados, em se tratando do grau de conhecimento sobre o procedimento de provisões no setor público, 4 (12,1%) possuem grau baixíssimo, 8 (24,2%) baixo, 6 (18,2%) médio, enquanto que 10 (30,3%) possui conhecimento alto e 5 (15,2%) altíssimo.

Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent Baixíssimo/Fraquíssimo 4 12,1 12,1 12,1 Baixo/Fraco 8 24,2 24,2 36,3 Médio 6 18,2 18,2 54,5 Alto/Forte 10 30,3 30,3 84,8 Altíssimo/Plenamente 5 15,2 15,2 100,0 Total 33 100,0 100,0

Tabela 5 – Grau de conhecimento sobre Provisões no setor público

Os profissionais de contabilidade pesquisados possuem predominantemente um grau de conhecimento alto ou altíssimo sobre as alterações nos demonstrativos contábeis do setor público a partir de 2013, o que totaliza 16 (48,4%) dos participantes da amostra. Aqueles que afirmam ter conhecimento baixíssimo soma apenas 3%, enquanto os que tem conhecimento baixo totaliza 9 (27,3%) e médio 7 (21,3%).

Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent Baixíssimo/Fraquíssimo 1 3,0 3,0 3,0 Baixo/Fraco 9 27,3 27,3 30,3 Médio 7 21,3 21,3 51,6 Alto/Forte 12 36,3 36,3 87,9 Altíssimo/Plenamente 4 12,1 12,1 100,0 Total 33 100,0 100,0

Tabela 6 – Grau de conhecimento sobre alterações nos demonstrativos contábeis a partir de 2013

Quando questionados sobre o seu grau de conhecimento em relação ao subsistema de custos na administração municipal, 66,6% dos respondentes afirmaram possuir conhecimento médio ou alto sobre o assunto. O percentual daqueles que possuem conhecimento baixíssimo se iguala ao daqueles que possuem conhecimento altíssimo, totalizando cada um 9,1%.

Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent Baixíssimo/Fraquíssimo 3 9,1 9,1 9,1 Baixo/Fraco 6 18,2 18,2 27,3 Médio 10 30,3 30,3 57,6 Alto/Forte 11 33,3 33,3 90,9 Altíssimo/Plenamente 3 9,1 9,1 100,0 Total 33 100,0 100,0

Tabela 7 – Grau de conhecimento sobre subsistemas de custos na administração municipal

4.3 PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS SOBRE AS MELHORIAS QUE A CONTABILIDADE PODE GERAR PARA A GESTÃO PÚBLICA EM DECORRÊNCIA DA CONVERGÊNCIA DAS NBCASP ÀS NORMAS INTERNACIONAIS

A partir da análise dos dados obtidos com o questionário, pode-se afirmar que os contadores responsáveis pelas prefeituras municipais acreditam que as mudanças na

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contabilidade pública brasileira, decorrentes do processo de convergência irão ajudar a melhorar a gestão pública.

Analisando-se a percepção dos contabilistas pesquisados em relação à mudança do foco da contabilidade pública em virtude da convergência às normas internacionais de contabilidade a grande maioria, totalizando 69,7% (23 contabilistas), afirma que a gestão pública deixará de ser burocrática e privilegiará os resultados.

Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent Baixo/Fraco 6 18,2 18,2 18,2 Médio 4 12,1 12,1 30,3 Alto/Forte 7 21,2 21,2 51,5 Altíssimo/Plenamente 16 48,5 48,5 100,0 Total 33 100,0 100,0

Tabela 8 – Grau de percepção em relação à mudança do foco da contabilidade pública em virtude da convergência às normas internacionais de contabilidade

Por outro lado, analisou-se a percepção dos referidos contabilistas em relação às mudanças nos demonstrativos contábeis e a possibilidade de torná-los mais úteis para o processo decisório. Entre os pesquisados, todos acreditam que tais mudanças os tornaram mais úteis no processo de tomada de decisão, sendo que 42,4% de forma mediana, 24,3% fortemente e 33,3% plenamente.

Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent Médio 14 42,4 42,4 42,4 Alto/Forte 8 24,3 24,3 66,7 Altíssimo/Plenamente 11 33,3 33,3 100,0 Total 33 100,0 100,0

Tabela 9 – Grau de percepção em relação à utilidade das demonstrações contábeis para a tomada de decisão em virtude das mudanças nas mesmas

Já em relação aos benefícios para a gestão pública advindos das mudanças na contabilidade do setor público, todos afirmam que a mesma proporcionará significativos avanços, sendo que 66,7% possuem percepção mediana e 33,3% percepção plena.

Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent Médio 22 66,7 66,7 66,7 Altíssimo/Plenamente 11 33,3 33,3 100,0 Total 33 100,0 100,0

Tabela 10 – Grau de percepção em relação ao benefícios para à gestão pública advindos das mudanças na contabilidade do setor público

4.4 COMPARATIVO ENTRE DADOS RELEVANTES SOBRE IDENTIFICAÇÃO DOS RESPONDENTES, ACOMPANHAMENTO DO PROCESSO DE CONVERGÊNCIA E PERCEPÇÕES SOBRE AS MELHORIAS ADVINDAS DE SUA IMPLANTAÇÃO.

Fazendo uma análise mais criteriosa em relação aos aspectos estudados, pode-se constatar que os profissionais com mestrado possuem um nível de acompanhamento em relação ao processo de convergência da Contabilidade Pública que varia de Alto a Pleno, enquanto aqueles que possuem apenas a graduação e/ou especialização tem o seu grau de

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acompanhamento variando entre médio e forte. Isso demonstra que a qualificação profissional pode implicar em uma maior busca pela atualização em relação às mudanças na legislação contábil vigente.

Nível de Formação Total Graduação Especialização Mestrado

Acompanhamento do processo de convergência da Contabilidade Pública

Baixíssimo/Fraquíssimo 2 0 0 2 Médio 6 3 0 9 Alto/Forte 10 6 2 18 Altíssimo/Plenamente 0 0 4 4

Total 18 9 6 33

Tabela 11 – Crosstabulation Nível de Formação e acompanhamento do processo de convergência da Contabilidade Pública

Conforme exposto na Tabela 14, os profissionais que mais possuem conhecimentos sobre as alterações nos Manuais de Contabilidade Aplicados ao Setor Público são aqueles que possuem entre 6 e 10 anos de exercício da função, com predominância entre os graus médio e alto, totalizando 15 dos entrevistados.

Tempo de exercício na função de contador Total Menos de 1

ano De 1 a 5 anos

De 6 a 10 anos

De 11 a 15 anos

Mais de 15 anos

Grau de conhecimento sobre alterações nos MCASP

Baixíssimo/Fraquíssimo 0 0 0 1 0 1 Baixo/Fraco 1 1 0 0 0 2 Médio 1 1 13 0 1 16 Alto/Forte 0 7 2 0 0 9 Altíssimo/Plenamente 0 0 1 1 3 5

Total 2 9 16 2 4 33

Tabela 12 – Crosstabulation Tempo na função exercida e grau de conhecimento sobre alterações nos MCASP

Por sua vez, os profissionais que possuem apenas a graduação ou especialização possuem um grau de conhecimento em relação às alterações no MCASP, variando predominantemente de médio a forte. Já entre os profissionais com mestrado, 5 deles possui um grau de conhecimento altíssimo sobre o assunto, enquanto que 1 possui conhecimento alto.

Nível de Formação

Total Graduação Especialização Mestrado

Grau de conhecimento sobre alterações no MCASP

Baixíssimo/Fraquíssimo 1 0 0 1 Baixo/Fraco 2 0 0 2 Médio 9 7 0 16 Alto/Forte 6 2 1 9 Altíssimo/Plenamente 0 0 5 5

Total 18 9 6 33

Tabela 13 – Crosstabulation Nível de Formação e Grau de conhecimento sobre alterações nos MCASP.

No que diz respeito aos procedimentos de depreciação, amortização, exaustão e reavaliação no setor público, 19 dos contabilistas analisados possuem um grau médio de conhecimento em relação ao assunto. Destes, 7 afirmaram possuir um nível médio de conhecimento em relação ao processo de convergência da contabilidade pública, enquanto que 12 possui conhecimento alto sobre a matéria.

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Grau de acompanhamento do processo de convergência da Cont. Pública.

Baixíssimo/

Fraquíssimo Médio

Alto/

Forte

Altíssimo/

Plenamente Total

Grau de conhecimento sobre procedimentos de Depreciação, Amortização, Exaustão e Reavaliação no Setor público

Baixíssimo/Fraquíssimo 2 1 0 0 3 Baixo/Fraco 0 1 0 0 1 Médio 0 7 12 0 19 Alto/Forte 0 0 4 0 4

Altíssimo/Plenamente 0 0 2 4 6

Total 2 9 18 4 33

Tabela 14 – Crosstabulation Grau de Acompanhamento do processo de convergência da Contabilidade Pública e Grau de conhecimento sobre procedimentos de Depreciação, Amortização, Exaustão e Reavaliação no Setor Público.

Com base na tabela a seguir, percebe-se que em virtude do alto grau de acompanhamento do processo de convergência, dos 22 contadores que afirmaram ter níveis alto ou altíssimo de conhecimento sobre a convergência das normas, 12 deles possui conhecimento sobre subsistemas de custos no setor público no mesmo nível, sendo que 9 considera que possui nível alto e 3, altíssimo.

Grau de conhecimento sobre subsistemas de custos no setor público

Baixíssimo/ Fraquíssimo

Baixo/

Fraco Médio

Alto/

Forte

Altíssimo/ Plenamente

Total

Grau de acompanhamento do processo de convergência da Contabilidade Pública

Baixíssimo/ Fraquíssimo 2 0 0 0 0 2 Médio 1 2 4 2 0 9 Alto/Forte 0 4 5 9 0 18 Altíssimo/Plenamente 0 0 1 0 3 4

Total 3 6 10 11 3 33

Tabela 15 – Crosstabulation Grau de Acompanhamento do processo de convergência da Contabilidade Pública e Grau de conhecimento sobre Subsistemas de Custos no Setor Público

Analisando o grau de mudança no foco da gestão pública devido às mudanças com o processo de convergência em relação ao grau de percepção dos profissionais em relação aos benefícios para a gestão pública em virtude dessa internacionalização das normas, percebe-se que dos 16 respondentes que acreditam que a contabilidade pública passará de burocrática para uma contabilidade voltada a resultados, a metade deles acredita que os benefícios serão percebidos no mesmo nível.

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Grau de benefícios para a gestão pública em virtude da internacionalização das normas

Médio Alto/Forte Altíssimo/Plenamente Total

Grau de mudança no foco da gestão pública devido às mudanças com a convergência

Baixo/Fraco 1 4 1 6 Médio 2 2 0 4 Alto/Forte 1 4 2 7 Altíssimo/Plenamente 5 3 8 16

Total 9 13 11 33

Tabela 16 – Crosstabulation Grau de Acompanhamento do processo de convergência da Contabilidade Pública e Grau de conhecimento sobre Subsistemas de Custos no Setor Público

5. CONCLUSÃO

O presente trabalho de pesquisa objetivou verificar como os contadores de prefeituras municipais estão acompanhando o processo de convergência às normas internacionais de contabilidade, bem como investigar quais as suas percepções em relação à possibilidade de melhora na gestão pública em virtude da implantação das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público.

Entre aqueles que vêm acompanhando o processo de convergência das normas de

contabilidade pública brasileira às normas internacionais de contabilidade, 66,7% afirmam possuir um grau elevado em relação à matéria. Já no que diz respeito às alterações nos Manuais de Contabilidade Aplicados ao Setor Público, 48,5% dos pesquisados possuem conhecimento médio sobre o assunto.

A partir de 2013 os municípios estão obrigados a realizar os procedimentos de

depreciação, amortização, exaustão e reavaliação dos seus bens, porém 57,5% dos contabilistas possuem apenas conhecimento médio sobre referidos procedimentos. Já em relação ao conhecimento sobre provisões, 30,3% possui conhecimento alto e 15,2%, altíssimo.

Todos os pesquisados acreditam que as mudanças nos demonstrativos contábeis

poderão torná-los mais úteis no processo de tomada de decisão, bem como afirmam que as mudanças advindas da implantação das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público – NBCASP proporcionará maiores benefícios para a gestão pública nos municípios brasileiros.

Os profissionais com mestrado destacam-se em relação aos demais quanto ao

conhecimento e acompanhamento do processo de convergência da Contabilidade Pública. Levando-se em consideração o tempo de exercício da profissão, em relação às

alterações nos Manuais de Contabilidade Aplicados ao Setor Público, os contadores com experiência de 6 a 10 anos de exercício da função possuem um maior conhecimento sobre o assunto.

No que diz respeito aos procedimentos de depreciação, amortização, exaustão e

reavaliação no setor público, 19 dos contabilistas analisados possuem um grau médio de conhecimento em relação ao assunto.

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Diante do alto grau de acompanhamento do processo de convergência, dos 22 contadores que afirmaram ter níveis alto ou altíssimo de conhecimento sobre a convergência das normas, 12 deles possuem conhecimento sobre subsistemas de custos no setor público no mesmo nível, sendo que 9 considera que possui nível alto e 3, altíssimo.

Todo processo de mudança requer um período de adaptação. Com as NBCASP não

poderia ser diferente. Percebe-se que não há consenso em nenhuma das variáveis analisadas, podendo inferir que os contabilistas, em sua maioria, estão em fase de conhecimento de tais normas para posterior aplicação em suas atividades profissionais.

Portanto, recomenda-se a realização de pesquisas que aprofundem a discussão sobre as

NBCASP, bem como em relação ao processo de implantação não apenas em prefeituras municipais, mas em outros entes da federação.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 05 de outubro de 1988.

________ Lei n° 4.320, de 17 de março de 1964. Dispõe sobre normas gerais de direito financeiro, orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal.

________ Lei Complementar n° 101, de 04 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, e dá outras providências.

________ Ministério da Fazenda. Portaria nº 184, de 25 de agosto de 2008. Dispõe sobre as diretrizes a serem observadas no setor público (pelos entes públicos) quanto aos procedimentos, práticas, laboração e divulgação das demonstrações contábeis, de forma a torná-los convergentes com as Normas Internacionais de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público. Disponível em: <http://www.fazenda.gov.br/portugues/ legislacao/portarias/2008/ portaria184.asp>. Acesso em: 13 maio 2014.

BRESSER-PEREIRA, L. C. Da administração pública burocrática à gerencial. In Reforma do estado e administração pública gerencial. Orgs. Luiz Carlos Bresser Pereira e Peter Kevin Spink; Trad. Carolina Andrade. 4ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2001.

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UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE AS PRÁTICAS DE CONTROLE INTERNO UTILIZADAS EM UM ÓRGÃO DA MARINHA DO BRASIL E O MODELO COSO I

AUTORES: Weydson Barreto Sales dos Santos, Vera Lúcia Cruz Daniel Amaro da Rocha Coutinho, Geisa Cassiana Paulino da Silva e Rayssa Silva de Morais. RESUMO O presente estudo objetivou evidenciar as atividades de controle interno de um órgão público, por meio de uma comparação entre os aspectos do sistema de controle interno com os conceitos do modelo de referência COSO I (Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission). O método utilizado para realização da pesquisa foi um estudo de caso, foram realizadas visitas às instalações da Capitania dos Portos da Paraíba, bem como foi aplicado um questionário com perguntas fechadas em escala Likert.Houve também uma pesquisa documental através de consultas às legislações e observação das práticas adotadas pela unidade. Para análise dos dados, elaborou-se um instrumento de avaliação do controle interno adequado à realidade da entidade para que, em seguida, com o apoio dessa ferramenta, fosse verificado o nível de harmonização.Concluiu-se que a Capitania possui um alto nível (70,95%) de harmonização quando comparado, por exemplo, com o nível de harmonização encontrado por Silva (2009) em pesquisa realizada com 37 prefeituras pernambucanas. Tomando ainda como parâmetro para esta análise o Termômetro de Estruturação de Silva (2009), considerou-se o nível de harmonização da Capitania como alto.

Palavras-chave: Controle Interno. COSO I.Capitania dos Portos da Paraíba. Área Temática:Contabilidade e Controladoria Governamental.

INTRODUÇÃO

Mesmo diante das diversas atribuições conferidas aos militares das Forças Armadas, principalmente as de caráter essencialmente operacional, em que homens e mulheres são preparados para enfrentar situações adversas, esses profissionais ainda têm que enfrentar diariamente funções administrativas dentro dos quartéis,tendo que lidar com assuntos diferentes de sua formação.

Por essa razão, o comando da Marinha do Brasil (MB) tem dado cada vez mais importância à área administrativa, considerando ponto vital para o bom andamento de suas atribuições, uma vez que a cobrança dos órgãos fiscalizadores tem se tornado mais rígida (SGM-601). A Diretoria de Contas da Marinha (DCoM), aliada às demais Diretorias Especializadas (DE) participantes do Sistema de Controle Interno da Marinha do Brasil (SCIMB), busca estar cada vez mais próxima às organizações da administração direta ou indireta subordinadas à Marinha do Brasil, de modo a reduzir a necessidade de correções por meio de tempestiva orientação (SGM-601).

A Diretoria-Geral do Pessoal da Marinha (DGPM) ou o Comando de Pessoal do Corpo de Fuzileiros Navais (no caso específico dos Fuzileiros Navais) procuram prover as necessidades das Organizações Militares da Marinha de acordo com suas tabelas de lotação, que define o posto/graduação e a especialidade do militar em cada função a ser exercida. A grande rotatividade de pessoal em diversas Organizações da Marinha do Brasil dificulta o

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aprimoramento das atividades e ao assumir funções tipicamente burocráticas, os militares buscam iniciar sua preparação lendo publicações, manuais e legislações que tratam de questões relacionadas à sua função, recebem treinamento de pessoas que estão deixando a pasta, como também de pessoal especializado que trabalha na área, podendo assim assumir o posto que lhe foi confiado.

Percebendo essa problemática, a Marinha do Brasil (MB) vem buscando preparar seus militares com o objetivo de minimizar as dificuldades enfrentadas na assunção de nova função, introduzindo atividades como:detalhe semanal de adestramento, palestras e cursos à distância.

A complexidade das organizações da Marinha brasileira impôs a diversificação das atividades de auditoria, passando da tradicional fiscalização de documentos para a avaliação da eficiência, eficácia, efetividade e economicidade dos atos de gestão praticados pelos agentes públicos. Atualmente, a estrutura administrativa da MB, voltada para o controle interno, atende às demandas da Controladoria-Geral da União (CGU), do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Secretaria de Controle Internodo Ministério da Defesa (SGM-601). Nesse diapasão, a Diretoria de Contas da Marinha estabelece procedimentos para execução das tarefas de auditoria, análise e apresentação de contas sobre os atos de gestão orçamentária, financeira e patrimonial praticados pelos agentes públicos.

Com base nessas informações, surge a necessidade de se aprofundar no estudo do controle interno da Capitania dos Portos da Paraíba, de modo a verificar, analisar e comparar os procedimentos de controle interno nela adotados com relação ao previsto nas orientações emanadas no modelo de referência COSO I.

Com base no exposto, tem-se o seguinte questionamento: qual o nível de harmonização entre os procedimentos operacionais de controle interno utilizados na Capitania dos Portos da Paraíba e o modelo de referência COSO I? Para respondê-lo, traçou-se como objetivo geral identificar o nível de harmonização das atividades de controle interno da Capitania com o modeloCOSO I. E como específicos:evidenciar os procedimentos operacionais de controle interno da Capitania dos Portos da Paraíba; especificar as proximidades da prática realizada na Capitania com as orientações do COSO I; e especificar os afastamentos da prática realizada na Capitania com as orientações do COSO I.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Controle Interno

A Norma Brasileira de Contabilidade T-16.8 do CFC(Conselho Federal de Contabilidade), aprovada pela Resolução nº 1.135/08 do CFC, determina que o controle interno deva fornecer suporte ao sistema de informação contábil para que seja possível minimizar riscos e oferecer efetividade às informações contábeis, contribuindo, desta forma, para o alcance dos objetivos da entidade pública. Nesse contexto, o CFC instituiu que o controle interno precisa ser exercido em todos os níveis da entidade pública, compreendendo o conjunto de recursos, métodos, procedimentos e processos nela adotados, com a finalidade de:

(a) Salvaguardar ativos e garantir a veracidade dos componentes patrimoniais; (b) Oferecer conformidade ao registro contábil em relação ao ato correspondente;

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(c) Propiciar informação oportuna e adequada; (d) Estimular adesão às normas e às diretrizes estabelecidas; (e) Cooperar para a eficiência operacional da entidade; (f) Contribuir para a prevenção de práticas ineficientes e antieconômicas, erros,

fraudes, malversação, abusos, desvios e outras inadequações.

Já o American InstituteofCertifiedPublicAccountant – AICPA- emitiu a seguinte definição de controle interno (ATTIE, 1998, p.110):

O controle interno compreende o plano de organização e todos os métodos e medidas adotadas numa empresa para proteger seu ativo, verificar a exatidão e a fidelidade de seus dados contábeis, incrementar a eficiência operacional e promover a obediência às diretrizes administrativas estabelecidas.

Sendo assim, o próprio AICPA subdividiu o controle interno em controles contábeis e administrativos. Os controles contábeis buscam a salvaguarda do patrimônio e a fidedignidade dos registros contábeis, já os controles administrativos dizem respeito à eficiência operacional e à decisão política traçada pela administração (CASTRO, 2008).

Na Marinha do Brasil, esses princípios são seguidos no dia a dia da administração, visando assegurar a fiel observância à legislação, para que os procedimentos operacionais reflitam em economicidade, eficiência e eficácia.

Modelo de Referência COSO I

Em 1992, foi publicado o trabalho InternalControl - Integrated Framework (Controle Interno - Um Modelo Integrado), também chamado de The COSO Report(metodologia COSO I), que se tornou referência mundial para o estudo e aplicação dos controles internos (PEREIRAet. al, 2008).

A abrangência e a importância do documento publicado pelo COSO foram de tal magnitude que as principais organizações internacionais que editam orientações sobre controles internos, tanto para o setor privado quanto para o setor público, revisaram suas publicações, no sentido de incorporarem o arcabouço conceitual e os elementos introduzidos pelo COSO (WASSALY, 2008).

Diante disso, o TCU (2009) elencou cinco razões que fizeram o modelo COSO I se tornar uma referência em todo o mundo:

1- Uniformizar definições de controle interno; 2- Definir componentes, objetivos e objetos do controle interno em um modelo

integrado; 3- Delinear papéis e responsabilidades da administração; 4- Estabelecer padrões para implementação e validação; 5- Criar um meio para monitorar, avaliar e reportar controles internos.

No que diz respeito à integração dos controles, o modelo COSO I se baseia no uso de uma estrutura tridimensional (o chamado cubo do COSO), cujas dimensões compreendem os objetivos da organização, as unidades da organização e os componentes de controle

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(NAKANO, 2009). A figura 1 representa uma visão tridimensional do COSO I, apresentando os objetivos, os componentes dos controles internos e as atividades/unidades.

Figura 1 – Cubo do COSO

Fonte: NAKANO, 2009.

ParaBoynton, Johnson e Kell (2002),“o controle interno é constituído de cinco componentes que se relacionam entre si. Assim, a avaliação dos controles internos é realizada por meio da verificação do alinhamento ou integração que deve existir entre esses componentes”.

Na seção que se segue, serão detalhados os cinco componentes dos controles internos, de acordo com o modelo de referência COSO I.

Ambiente de Controle

O ambiente de controle é a base para todos os outros componentes, fornecendo disciplina e estrutura. Esse ambiente influencia o modo pelo qual as estratégias e os objetivos são estabelecidos, como os negócios são estruturados e como os riscos são identificados, avaliados e geridos; além de influenciar o desenho e o funcionamento das atividades de controle, dos sistemas de informação e comunicação, bem como das atividades de monitoramento (COSO, 2007).

Ademais, esse ambiente define o padrão de uma organização e exerce influência sobre a consciência de seu pessoal. Ele é efetivo quando as pessoas da entidade sabem quais são suas responsabilidades, os limites de sua autoridade e a percepção de que se têm ou não a competência e o comprometimento de fazerem o que é correto demodo acertado (DIAS, 2006).

Avaliação e Gerenciamento de Riscos

Uma precondição para a avaliação de riscos é que a definição de metas e objetivos do órgão sejam claros e coerentestanto no nível da entidade quanto de suas atividades (programa ou missão). Uma vez definidos os objetivos, o órgão deve identificar os riscos que poderiam obstar a consecução eficiente e efetiva desses objetivos no nível da entidade e das atividades e analisá-los em relação ao seu possível efeito. A direção do órgão, então, deve formular uma

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abordagem para a gestão de riscos e definir as atividades de controle interno necessárias para mitigar esses riscos (GAO, 2001).

A avaliação de riscos permite que uma organização considere até que ponto eventos em potencial podem impactar a realização dos objetivos. A administração avalia os eventos com base em duas perspectivas – probabilidade e impacto – e, geralmente, utiliza uma combinação de métodos qualitativos e quantitativos. Os riscos são avaliados com base em suas características inerentes e residuais (COSO, 2007).

Atividades de Controle

Para o COSO (2007), a melhor maneira de minimizar o risco é através de procedimentos de controle, os quais são políticas e ações estabelecidas para diminuir os riscos e alcançar os objetivos da entidade. Os procedimentos de controle podem ser preventivos e/ou detectivos. São exemplos desses procedimentos (INTOSAI, 2007): procedimentos de autorização e aprovação; segregação de funções (autorização, execução, registro, controle); controles de acesso a recursos e registros; verificações; conciliações; avaliação de desempenho operacional; avaliação das operações, processos e atividades; supervisão (alocação, revisão e aprovação), etc.

Informação e Comunicação

O COSO (2007) propõe o conceito de informação adequada, advertindo que seu entendimento é amplo e implica que a informação deva ser útil dentro do contexto ao qual se destina.

Monitoramento

Monitoramento é um processo que avaliaa qualidade do desempenho dos controles internos ao longo do tempo (BOYNTON, JOHNSON e KELL, 2002). É um processo no qual se olha para a qualidade do desempenho em todos os momentos (PEREIRAet. al, 2008).

Para o COSO (2007), o gerenciamento de riscos corporativos é monitorado, avaliando-se a presença e o funcionamento de seus componentes ao longo do tempo. Essa tarefa é realizada mediante atividades contínuas de monitoramento, avaliações independentes ou uma combinação de ambas. O monitoramento contínuo ocorre no decurso normal das atividades de administração.

Segundo os autores, o COSO I é constituído de cinco elementos que estabelece um conjunto de regras, de modo a avaliar os riscos e minimizá-los através de um controle que, por sua vez, é monitorado para assegurar que o controle interno esteja em sintonia com os objetivos.

Capitania dos Portos da Paraíba

A Capitania dos Portos da Paraíba é uma Organização Militar da Marinha do Brasil subordinada ao Comando do 3º Distrito Naval, sendo de natureza pública e ligada ao Ministério da Defesa. Ela foi criada pelo Decreto nº 539, de 03 de outubro de 1847 e atualmente funciona em um prédio de propriedade da União, situada em João Pessoa/PB.

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Em conformidade com a Portaria nº 54/2011, do Comando de Operações Navais, a Capitania dos Portos da Paraíba tem o propósito de contribuir para a orientação, a coordenação e o controle das atividades relativas à Marinha Mercante e organizações correlatas no que se refere à defesa nacional, à salvaguarda da vida humana e à segurança da navegação, no mar aberto e nas hidrovias e açudes interiores, e à prevenção da poluição hídrica por parte de embarcações, plataformas ou suas instalações de apoio (BRASIL, 2013).

Sistema de Controle Interno da Marinha do Brasil

Na Marinha do Brasil, a publicação denominada SGM-601 consolida as diversas informações contidas na legislação vigente e nas instruções normativas do TCU e da Secretaria Federal de Controle Interno (SFC), bem como portarias e decisões normativas da CGU e da CISET-MD, que regulamentam as atividades de auditoria, análise, tomada e prestação de contas, no âmbito do Comando da Marinha (NASCIMENTO, 2010).

Assim, o Sistema de Controle Interno da Marinha tem como intento a avaliação da ação governamental e da gestão dos administradores públicos na MB. Nesse contexto, da mesma forma como vem ocorrendo com a administração pública federal, o aumento da complexidade da estrutura organizacional na MB impôs a diversificação das atividades de controle interno, passando da tradicional fiscalização de documentos (legalidade) para uma abordagem gerencial, com a avaliação do desempenho (eficiência, eficácia e economicidade) dos atos de gestão praticados pelos agentes públicos (NASCIMENTO, 2010).

O controle interno da Marinha do Brasil está atualmente presente tanto no mais alto nível da administração naval, mediante a atuação do Conselho Financeiro e Administrativo da Marinha quanto no menor nível de execução, devido à atuação dos Conselhos Econômicos das Organizações Militares.

Evidências Empíricas de Controle Interno

Silva (2009) em seu trabalho “Estruturação dos Sistemas de Controle Interno de Prefeituras Municipais do Estado de Pernambuco: uma verificação baseada no modelo conceitual do COSO, adotado pela INTOSA”, observou que as pesquisas e ações que contribuem para o fortalecimento do controle social são oportunas, tendo em vista que esse nível de controle, uma vez desenvolvido, é capaz de estimular o aperfeiçoamento dos Controles Externo e Interno.

Já Mazulo (2011), através de sua obra: “A Imagem e o Desempenho Percebido do Controle Interno no Exército Brasileiro: Uma Abordagem Utilizando Análise Fatorial e Regressão Múltipla” apresentou como resultado que existem duas dimensões da imagem do controle interno pela análise fatorial: a contábil e o orçamento. No entanto, da análise da regressão múltipla apenas a dimensão Orçamento exerceu impacto sobre a avaliação do controle interno.

Buscando informações de alinhamento do controle interno com o COSO I, a pesquisa “A Utilização Do Controle Interno Nas Organizações Militares:uma investigação comparativa entre as práticas de controle nos quartéis do estado da Paraíba e o modelo COSO I”, realizada por Cambuim (2013), concluiu que a aderência dos procedimentos de controle interno das organizações militares ao modelo COSO I já está fundamentada nas legislações há alguns

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anos, entretanto não exime o quartel de melhorias e atualizações, pois na prática essa aderência vem ocorrendo de maneira gradual e lenta.

Através de tais pesquisas empíricas apresentadas, evidencia-se que alguns estudos são apresentados sobre o controle interno nas organizações militares, no entanto com foco diferente, mesmo assim, os trabalhos apresentam que o controle interno pode ser utilizado por esse seguimento desde que implantando adequadamente a sua realidade e necessidade de informações.

METODOLOGIA

A metodologia empregada neste estudo foi de natureza qualitativa, pois de acordo com o pensamento de Gil (2007), esta pesquisa não se preocupa com representatividade numérica, mas sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização e etc.

Quanto à finalidade, esta pesquisa foi exploratória, tendo em vista que a Organização Militar analisada possui assuntos pouco conhecidos e pouco explorados.No que concerne aos meios de investigação, trata-se de uma pesquisa documental, bibliográfica e de estudo de caso.

A respeito da pesquisa documental, seguiu-se a conceituação de Gil (2007), o qual declara que a pesquisa documental se vale de materiais que não recebem ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos de pesquisa; uma pesquisa bibliográfica, segundo Cooper e Schindler (2003), consolida a fundamentação teórico-metodológica do trabalho; dessa forma, foram examinados documentos internos, normas, publicações e regulamentos referentes à Marinha. Na análise bibliográfica, trabalhou-se com a consulta de artigos, periódicos, revistas científicas, livros e etc.

Já o estudo de caso, conforme a descrição de Gil (2007),é um estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permite seu amplo e detalhado conhecimento. Desta forma, para o estudo de caso deste trabalho considerou-se a observação de um único objeto, a Capitania dos Portos da Paraíba. A população da amostra foi formada por militares (Capitães, Tenentes, Suboficiais e Sargentos) e por servidores civis. Foram coletadas informações de 58 servidores, de um total de 72 existentes, representando cerca de 80,55% do efetivo.

Com a finalidade de coletar os dados necessários para a concretização do presente estudo, foi realizada uma pesquisa em documentações internas, legislações e normas que tratam sobre as ações de controle interno. Assim como também foi aplicado um questionário estruturado, para colher informações inerentes ao estudo. Após verificar as documentações internas,o suporte legal para os procedimentos realizados, os resultados dos questionários e as análises das observações diretas, foram pesquisados também pontos de proximidade e afastamento em relaçãoao modelo de referência COSO I.

O questionário aplicado para complementar a base de dados da pesquisa foi baseado no estudo de Cunha (2012), sendo adaptado para a realidade da Capitania dos Portos.Este questionário continha duas perguntas relativas à qualificação do respondente; uma referente ao conhecimentoda estrutura do COSO I por parte dos questionados; e dezoito perguntas fechadas em uma escala Likert de cinco pontos que abrangem os componentes do modelo

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COSO I. Todas as perguntas continham opçõesde classificação que vão desde“discordo plenamente”, “discordo mais que concordo”, “indiferente”, “concordo mais que discordo” até “concordo plenamente”, as quais tinham o intuito de alcançar um nível de concordância, como também de facilitar a compilação.

Para análise dos dados foi elaborada uma lista baseada no modelo de referência denominado InternalControl – Integrated Framework (COSO I) e na realidade da organização, sob a ótica do pesquisador.

A análise dos dados foi realizada utilizando uma ferramenta de avaliação de controle interno, implementada por Silva (2009), que visa comparar a situação atual de controle interno da organização com o modelo de referência COSO I. Para Pagliuso, Cardoso e Spigel (2010), essa ferramenta pode ser classificada como um modelo de gestão.

A fim de identificar a definição do que seja proximidade ou afastamento com o modelo, a variável era classificada como proximidade, quando atendesse pelo menos dois itens da triangulação de forma positiva, senão correspondesse, era considerada como afastamento, conforme evidenciado na Tabela 1.

Tabela 1–Classificação da triangulação dos dados.

Triangulação dos dados Classificação Respostas do

questionário Observação direta

Observação de documentos

X X X Proximidade X X - Proximidade - X X Proximidade X - X Proximidade X - - Afastamento - X - Afastamento - - X Afastamento - - - Afastamento

Fonte: Elaboração própria, 2014.

Já para medir o grau de concordância das vinte e cinco variáveis constituídas, foi utilizado o cálculo empregado na metodologia aplicada por Silva (2009). Essa metodologia determinouo grau de harmonização de cada componente, que por sua vez, foi calculado em função das variáveis avaliadas como proximidade em relação ao total de variáveis do componente. Já para calcular o grau de harmonização da Capitania dos Portos, utilizou-se a média da harmonização dos componentes.

As equações apresentadas nas figuras 1 e 2 apresentam as formas de obtenção dos graus de harmonização de cada componente e do controle interno, adotado por Silva (2009).

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Figura2 – Harmonização do componente

Fonte: Silva, 2009.

Figura 3 – Harmonização do controle interno

Fonte: Silva, 2009.

Onde:

Hcomp i = grau de harmonização do componente i; e

Hci = grau de harmonização do controle interno com o modelo COSO I.

A escolha dessa metodologia se deu em função de poder atribuir o mesmo grau de importância para cada um dos componentes.

Para favorecer a visualização, Silva (2009) criou um termômetro constituído por três níveis, os quais indicam o nível de estruturação dos sistemas de controles internos. A figura4 mostra o termômetro criado por Silva:

Figura 4 – Termômetro de estruturação do sistema de controle interno

Fonte: Silva, 2009.

De acordo com Silva (2009), com esse termômetro, o órgão que obtiver um grau entre 0,00 e 5,00 apresenta um nível baixo, o que dá poucas garantias de que os objetivos institucionais serão atingidos. O que obtiver um grau entre 5,00 e 7,00 possui nível intermediário de estruturação já o que apresenta um grau acima de 7,00 indica que a

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estruturação possui nível alto, o que representa uma situação de estabilidade que dá sustentação à implementação dos diversos controles internos da entidade.

ANÁLISE DOS RESULTADOS

Com base nos dados obtidos, foi verificado que das sete variáveis analisadas, duas mostraram obter um afastamento com o modelo de referência: as variáveis “Rotatividade de pessoal” e “Conselho de administração”. Dessa forma, o nível de harmonização do Ambiente de Controle corresponde a 71,42%. A Tabela 2 sintetiza a análise do “Ambiente de Controle”.

Tabela 2 – Análise da avalição do Ambiente Controle

VARIÁVEIS AVALIAÇÃO Integridade e valores éticos Proximidade Nível de conhecimento administrativo Proximidade Treinamentos periódicos Proximidade Definição de atribuições Proximidade Rotatividade de pessoal Afastamento Penalidades aplicadas Proximidade Conselho de Administração Afastamento

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Conforme evidenciado na Tabela 2, de cada variável do componente “Ambiente de Controle”,o resultado do questionário aponta que a maioria dos respondentes (91%) concorda que há uma preocupação com a manutenção dos valores éticos da direção e do quadro de pessoal. Observou-se também que os valores éticos são conhecidos e compartilhados entre os militares e servidores civis e que está normatizado no Estatuto dos Militares.Em face da constatação acima, entende-se que a variável “Integridade e Valores Éticos” pode ser considerada uma proximidade com o modelo COSO I.

O resultado do questionário evidenciou também que 75% dos respondentes consideram que o nível de conhecimento administrativo, mesmo com a aparente incompatibilidade de função, é satisfatório. Em face da constatação, entende-se que a variável “Nível de conhecimento administrativo” pode ser considerada uma proximidade do modelo COSO I.

O modelo COSO I garante que a rotação de pessoal em funções críticas não deve ser considerada excessiva, o que pode gerar problema no controle interno da entidade. Cerca de 60% dos respondentes do questionário afirmaram considerar excessiva a rotação de pessoal em funções críticas dentro da organização e a respeito disso não foi encontrado documento normativo que tratasse da temática.

O resultado do questionário também apontou que 95% dos respondentes entendem que é cabível a adoção de penas disciplinares para quem violar os padrões éticos ou tiver um comportamento inadequado. Como demonstrado, é possível concluir que a variável “Penalidades aplicadas” seja considerada como uma proximidade com o modelo de referência COSOI.

Segundo o modelo COSO I, para que o ambiente interno seja eficaz, o conselho de administraçãodeve ser composto em sua maioria por membros externos independentes. Foi verificado que na composição do Conselho de Gestão da Administração existe somente um

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membro externo independente. Dessa forma,pode se ponderar a variável “Conselho de Administração” um afastamento com o modelo COSOI.

Foi constatada na análise de Avaliação de Risco, que somente uma variável teve proximidade com o modelo de referência COSO I. Desse modo, o nível de harmonização da Avaliação de Risco corresponde a 25%. A Tabela 3 sintetiza a análise da “Avaliação de Risco”.

Tabela 3 - Análise da Avaliação do Risco

VARIÁVEIS AVALIAÇÃO Estimativa de probabilidade Proximidade Metodologia de avaliação do risco Afastamento Identificação de riscos internos e externos Afastamento Procedimento para análise do risco Afastamento

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

A seguir são apresentados os resultados da avaliação, conforme evidenciado na Tabela 3, de cada variável do componente “Avaliação de Risco”:

Segundo o modelo COSO I, a metodologia de avalição é uma técnica de avaliação de riscos de determinada organização que inclui uma combinação de técnicas qualitativas e quantitativas.

Todos os respondentes do questionário em questão desconhecem qualquer tipo de metodologia de identificação de risco empregada na organização. Em virtude da inexistência de uma metodologia, entende-se que esta variável pode ser considerada como um afastamento do modelo COSO I.

Nenhum respondente indicou qualquer existência desse mecanismo e não foram encontrados documentos normativos que tratassem do assunto.Nesse sentido, a variável “Identificação de riscos internos e externos” corresponde a um afastamento do modelo COSO I.Diante das variáveis analisadas, somente uma teve um afastamento com o modelo COSO I. Dessa forma, o nível de harmonização das Atividades de Controle é de 83,33%. A Tabela 4 sintetiza a análise das “Atividades de Controle”.

Tabela 4 – Análise da avalição das Atividades de Controle

VARIÁVEIS AVALIAÇÃO Políticas e procedimentos Proximidade Segregação de funções Proximidade Arquivamento Proximidade Controle contra acesso não autorizado Afastamento Procedimentos de segurança da informação Proximidade Controle físico Proximidade

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

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A seguir são apresentados os resultados da avaliação, conforme evidenciado na Tabela 4, de cada variável do componente “Atividade de Controle”:

Foi verificado que os procedimentos de controle interno estão previstos em Ordem Interna, nesse sentido 90% dos respondentes informaram que as políticas e procedimentos para cada atividade são bem definidos, sendo revistos a cada dois anos ou a critério do Comandante.

Assim, é possível concluir que a variável “Política e procedimentos” deve ser considerada como proximidade juntoao modelo COSO I.Referente ao questionário, 93% dos respondentes afirmou que suas funções são bem definidas. Não foi observada a ocorrência de situações em que uma mesma pessoa possa vir a executar duas ou mais etapas do mesmo procedimento.

Em face da constatação acima, é possível classificar a variável “Segregação de funções” como uma proximidade com o COSO I.Foi observado que todas as variáveis referentes à Comunicação e Informação tiveram uma aproximação com o modelo COSO I, portanto o nível de harmonização corresponde a 100%. A Tabela 5 sintetiza a análise da “Comunicação e Informação”.

Tabela 5 - Análise da avalição Comunicação e Informação

VARIÁVEIS AVALIAÇÃO Comunicação Interna Proximidade Meio de Comunicação Proximidade Meio externo de comunicação Proximidade Informações Confiáveis Proximidade

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

A seguir são apresentados os resultados da avaliação, conforme evidenciado na Tabela 5, de cada variável do componente “Comunicação e Informação”:

O resultado do questionário mostrou que todos os respondentes têm o conhecimento das comunicações internas que abordam as expectativas de comportamentos e responsabilidades, as quais são disseminadas por meio de reuniões periódicas.

Todos os respondentes informaram que os documentos normativos internos são disponibilizados na rede da organização, podendo ser acessado por todos os usuários.Foi observado que todos os respondentes do questionário concordam que as informações geradas pelos diversos sistemas corporativos, que são utilizados pela Capitania dos Portos, são confiáveis.

Diante das quatro variáveis analisadas, somente uma teve um afastamento com o modelo COSO I. Dessa forma, o nível de harmonização do componente Monitoramento com o modelo COSO I é de 75%. A Tabela 6 sintetiza a análise do “Monitoramento”.

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Tabela 6 - Análise da avalição “Monitoramento”

VARIÁVEIS AVALIAÇÃO Avaliações Periódicas Proximidade Atendimento das Recomendações das Avaliações Periódicas Proximidade Realimentação Proximidade Realização de Avaliação Interna Afastamento

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

A seguir são apresentados os resultados da avaliação, conforme apresentado na Tabela 6, de cada variável do componente “Monitoramento”:

Em relação aos respondentes do questionário, 100% dos respondentes informaram que já sofreram algum tipo de avaliação. Assim, a variável “Avaliação Periódica” deve ser considerada como uma aproximação ao modelo COSO I.

Cerca de 85% deles concordam que as reuniões com os servidores contribuem para a avaliação da funcionalidade dos procedimentos de controle e que pequenos ajustes nos procedimentos de controle são decorrentes de reuniões, formais ou informais, com os subordinados. Foi observado também que, pelo menos duas vezes por semana, existem reuniões que tratam de procedimentos de controle.Dessa forma é possível avaliar a variável “Realimentação” como sendo uma proximidade com o modelo COSO I.

Diante das evidências verificadas ao longo da seção 4.1, constatou-se que o controle interno da Capitania dos Portos da Paraíba apresenta similaridades e diferenças com o modelo COSO I. A Tabela 7 resume os níveis de harmonização pesquisados, baseado no modelo de referência COSO I.

Tabela 7 – Harmonização do controle interno da CPPB

Componentes Total de variáveis Proximidades Afastamentos Harmonização Ambiente de controle 7 5 2 71,43% Avaliação de riscos 4 1 3 25,00% Atividades de controle 6 5 1 83,33% Informação e comunicação 4 4 0 100,00% Monitoramento 4 3 1 75,00%

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

A Tabela 7 evidencia o nível de harmonização do controle interno da Capitania dos Portos da Paraíba. Dos cinco componentes avaliados, somente “Avaliação de riscos” não está alinhada com as orientações prescritas no modelo de referência COSO I.

Das vinte e cinco variáveis analisadas, dezoito apresentaram proximidades com o modelo de referência e sete resultaram em afastamentos. Portanto, o grau de harmonização do controle interno da Capitania dos Portos da Paraíba, baseada no modelo COSO I, definido pela média das harmonizações, foi de 70,95%.

O componente “Atividade de Controle” teve um afastamento observado na variável “Rotatividade de pessoal”. A OM não tem a liberdade de contratar pessoal, cabendo à organização somente informar suas necessidades à Diretoria Especializada.

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No que se refere à Avaliação de Riscos, todos os afastamentos estão relacionados à forma com que a Organização Militar trata o risco. Mesmo que a organização identificasse algum, não seria possível apontar a existência de qualquer processo de avaliação e gestão de risco.

Outro afastamento observado foi no Ambiente de Controle, na variável “Controle de acesso”, poisos dispositivos de segurança implementados nos Sistemas Corporativos utilizados pela Capitania não conseguem identificar responsáveis por um eventual acesso não autorizado, somente impede o acesso por meio de bloqueio de usuário após três tentativas fracassadas e não consegue identificar o computador da qual a tentativa tenha ocorrido.

Já o componente monitoramento apresenta a variável “Realização de avaliação interna” como sendo um afastamento com o modelo COSO I, pois não foi encontrado nenhuma norma ou procedimento interno que tratasse do assunto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo do presente trabalho foi verificar o nível de harmonização entre os procedimentos adotados pelos controles internos, por meio de um estudo de caso, e os conceitos disseminados pelo COSO I.

Com a aplicação do modelo de referência COSO I em uma Organização Militar da Marinha, foi possível identificar pontos de proximidades e afastamentos nos procedimentos de controle interno utilizados pela Capitania dos Portos da Paraíba.

Diante das vinte e cinco variáveis analisadas, sete foram observadas como afastamento do modelo COSOI, sendo que cinco estão relacionadas a fatores externos a organização, por não possuir autonomia para gerir com procedimentos operacionais, sendo obrigada a cumprir as normas e ordens de seu Comando Superior, já as duas outras variáveis estão atreladas ao sistema de controle interno do próprio órgão.

No que se refere a “Avaliação de Riscos”, foi observado que 43% dos afastamentos encontram-se neste componente. Nesse sentido, a avaliação do risco, baseada no modelo COSO-I, evidenciou uma necessidade de inserir no sistema de controle interno uma visão gerencial mais abrangente para melhorar a avaliação dos riscos a que a unidade está susceptível.

Outro ponto que apresentou afastamento foi a gestão por recursos humanos, pois a Capitania dos Portos da Paraíba não possui autonomia para gerir pessoal, sendo obrigada a cumprir com as normas e ordens da Diretoria do Pessoal da Marinha.

Alcançados os três objetivos específicos, foi possível evidenciar o nível de harmonização das atividades de controle interno da Capitania dos Portos da Paraíba sobre a influência das orientações emanadas pelo modelo de referência COSO I. Em função das médias percentuais de proximidades dos cinco componentes, a harmonização resultou em 70,95%, a qual, quando aplicada ao Termômetro de Silva (2009), é considerada alta.

Diante das verificações realizadas, concluiu-se com base nos dados, que a Capitania dos Portos da Paraíba possui um nível altode harmonização quando comparado, por exemplo, com o nível de harmonização encontrado por Silva (2009) em pesquisa anterior, com a mínima de

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27,7% e a máxima de 77,8%, no estudo de 37 prefeituras pernambucanas. Tomando ainda como parâmetro para esta análise o Termômetro de estruturação de Silva (2009), é possível considerar o nível de harmonização da Capitania como alto, pois está entre os limites estabelecidos como tal, sendo superior a 7,00.

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UM ESTUDO SOBRE A UTILIZAÇÃO DA CONTABILIDADE E DO CONTROLE GERENCIAL PELOS PROFISSIONAIS DA FEIRA DA SULANCA DE CARUARU:

Algumas evidências

AUTORES: Amanda Gouveia Alves da Silva, Rhoger Fellipe Marinho, Livia Vilar Lemos e Valter dos Santos Soares.

RESUMO

O objetivo geral do presente trabalho foi verificar a utilização da contabilidade mesmo que de forma intuitiva/primitiva como ferramenta gerencial e de controle para os profissionais da Feira da Sulanca de Caruaru. Para tanto, utilizou-se a pesquisa descritiva, tendo o levantamento e a pesquisa bibliográfica como os seus procedimentos e as pesquisas qualitativa e quantitativa para abordagem do problema, com a aplicação de questionário semi estruturado, contendo 17 questões fechadas e organizadas em dois blocos: o primeiro, referente aos dados demográficos e o segundo, mais pertinentes à consecução do objetivo da pesquisa, relativo as características do negócio e do controle operacional e financeiro. Através da análise de dados, observou-se a ausência de um acompanhamento contábil em grande parte dos profissionais da feira, no entanto, a maioria executa o controle, mesmo que em forma de anotações básicas no caderno. Portanto, concluiu-se que dos feirantes entrevistados a maioria executa alguma prática de controle, mesmo não tendo um conhecimento teórico, controlando a sua maneira com as suas noções na prática, no entanto, a Feira da Sulanca como espaço econômico de grande visibilidade dispõe de empreendedores que necessitam de um acompanhamento funcional de profissionais da área contábil, assim os contadores poderiam encontrar nesse espaço, clientes em potencial, para nessa relação de reciprocidade um auxiliar no crescimento profissional e econômico do outro.

Palavras-chave: Contabilidade. Controle operacional e financeiro. Feira da Sulanca.

ABSTRACT

The general objective of this work was to verify the use of accounting even if intuitive / primitive form as a management and control tool for professionals in the Sulanca Caruaru Fair. For this we used the descriptive research with the survey and literature review its procedures to qualitative and quantitative research approach to the problem with the application of semi -structured questionnaire containing 17 closed and arranged in two blocks issues: first for more relevant to achieving the objective of the research on the characteristics of business and operational and financial control demographics and second. Through data analysis we observed the absence of an accounting monitoring in most professional of the fair however the majority performs control even in basic form of notes in notebook. Therefore it was concluded that the majority of stallholders interviewed performs some control practice even without having a theoretical knowledge controlling its way with its notions in practice however the Fair Sulanca as an economic space has high visibility entrepreneurs who need a functional monitoring of professional accounting area so the counters could find that space potential customers for this reciprocal relationship aids in the professional and economic growth on the other.

Keywords: Accounting. Operational and financial control. Fair Sulanca.

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1 INTRODUÇÃO

A contabilidade é a ciência responsável por estudar, analisar e controlar o patrimônio das entidades apresentando como finalidades da informação contábil o controle e o planejamento. Dessa forma, Franco (1996) afirma que a finalidade da contabilidade é controlar os fenômenos ocorridos no patrimônio de uma entidade, através do registro, da classificação, da demonstração expositiva, da análise e interpretação dos fatos neles ocorridos, objetivando fornecer informações e orientações necessárias à tomada de decisões sobre sua composição e variações, bem como sobre o resultado econômico decorrente da gestão da riqueza patrimonial.

Para Horngren (2010 p. 4), “o conhecimento contábil propicia a tomada de uma decisão melhor e mais bem fundamentada”. Neste sentido, Raza (2011) entende que, sem o conhecimento do mercado, da concorrência, do controle dos gastos e dos estoques, do fluxo de caixa, de um planejamento tributário, os empresários tomam decisões incompatíveis com os objetivos das empresas levando-as a morte precocemente. Ao que Marion (2009) reitera que conhecer a contabilidade é imprescindível no mundo dos negócios.

Diante do exposto, e com base no estudo dessa teoria, a presente pesquisa teve como objetivo analisar a utilização da contabilidade, mesmo que de forma dedutiva/intuitiva, como ferramenta gerencial e de controle, no espaço onde funciona a maior atividade econômica da cidade de Caruaru e cidades circunvizinhas, a Feira da Sulanca. Assim como informa a Prefeitura de Caruaru (2011), “conhecida nacional e internacionalmente a Feira de Caruaru é a maior representante da cultura material e imaterial do município. A Feira é uma referência viva histórica e cultural que representa as expressões tradicionais do povo”. Além de representar uma parcela importante na receita econômica da cidade de Caruaru e contribuir para o desenvolvimento da região.

Assim, emerge a seguinte pergunta norteadora desta pesquisa: Estarão os profissionais da Feira da Sulanca de Caruaru utilizando-se de práticas contábeis para auxílio no controle e tomada de decisão?

Portanto, esse estudo se justifica por discutir a ciência contábil como ferramenta responsável pelo controle do patrimônio, em um espaço apresentado como renda principal da economia local, além de possuir uma quantidade relevante de empreendedores em áreas diversas. Tal espaço, conhecido como a Feira da Sulanca, é importante por sua representação histórica e econômica para a região, já que muitos historiadores discutem que a cidade organizou-se ao redor da feira, hoje conhecida como a Feira de Caruaru, na qual a Sulanca está inserida.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 A CONTABILIDADE E A TOMADA DE DECISÃO

De acordo com a Equipe de professores da FEA/USP (2010), as finalidades da contabilidade são agrupadas em basicamente planejamento e controle e auxílio no processo decisório; quanto ao planejamento, trata-se de um estudo prévio das variáveis, já controle diz respeito ao acompanhamento das conformidades do caminho seguido pela organização em relação aos planos e políticas traçados, e o processo decisório está relacionado com a tomada

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de decisões (planejadas ou corretivas) no caminho em busca da obtenção dos objetivos desejados e definidos pelo planejamento.

Sendo assim, a contabilidade necessita de elementos que norteiem suas ações, para isso foram criados os Princípios da Contabilidade. Dentre os princípios, ressalta-se os da Entidade e da Continuidade. Pois, segundo Marion (2009) afirma, esses dois princípios são considerados os pilares da contabilidade, uma vez que, para que haja contabilidade é necessário a existência da entidade, se não há entidade, não há contabilidade aplicada e a continuidade parte do pressuposto de que a empresa é algo que está em andamento.

De acordo com Niyama e Silva (2008) a idéia que rege o Princípio da Entidade é a autonomia do patrimônio das entidades, ou seja, os patrimônios dos sócios e da entidade não devem misturar-se. Já com relação ao Princípio da Continuidade, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), em sua Resolução nº 1.282/10 entende que este “pressupõe que a Entidade continuará em operação no futuro e, portanto, a mensuração e a apresentação dos componentes do patrimônio levam em conta esta circunstância”.

Ademais, Figueiredo e Caggiano (2008), afirmam que o processo de decisão é uma sequência de etapas que expressam a racionalidade com a qual os gestores buscam soluções para os problemas da empresa. Nesse sentido a contabilidade gerencial não é um conceito já pronto, é uma prática, uma ação que precisa ser realizada em todo momento. Assim, Horngren (2010) acrescenta que a contabilidade gerencial se destina a informação contábil gerada dentro da organização e que esta é o processo de interpretar informações que auxiliem os gestores a atingir os objetivos organizacionais. Horngren (2010, p.4) ainda diz que “independente de quem está tomando a decisão, o entendimento da informação contábil propicia a tomada de uma decisão melhor e mais bem fundamentada”.

Uma importante prática de controle para o negócio é a apuração do resultado do exercício. De acordo com Ribeiro (2009) de uma forma fácil, esta apuração pode ser resumida em um único procedimento, fazer o levantamento e o confronto de tudo que é receita (incrementos provenientes da venda de bens e da prestação de serviços) e despesa (consumo de bens e utilização de serviços provenientes da geração de receita) para ao final saber se a empresa apresentou lucro ou prejuízo.

Para que ao final desta apuração a empresa apresente lucro, é necessário que as receitas sejam maiores do que as despesas, do contrário, as despesas terão superado as receitas e assim a empresa precisará de uma maior atenção com relação aos administradores/sócios.

A escolha dos fornecedores encontra-se entre as tomadas de decisão. Segundo Moreira (2013), um bom fornecedor é aquele que dispõe de tecnologia para produzir na qualidade exigida e na quantidade necessária e administrar seu negócio com eficiência suficiente para ter lucros e vender seus produtos a preços competitivos no mercado. Portanto, a escolha do fornecedor é de grande importância no planejamento da empresa. Pois, de acordo com o SEBRAE (2013) é preciso saber localizar os fornecedores e analisar quais os mais adequados para cada negócio.

No planejamento para escolha dos fornecedores, existem fatores que não podem ser desconsiderados, como a distância física/localização do fornecedor, capacidade produtiva, custo do frete, qualidade, confiabilidade, capacidade de fornecimento, preço, prazo, forma de pagamento e de entrega. Ainda, de acordo com o SEBRAE (2013), outro procedimento de

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grande relevância é o cadastro dos fornecedores, visto que faz-se necessário ter mais de um fornecedor por produto, para que o cliente/empreendedor não fique dependente de uma única empresa e que em alguma circunstância venha a ficar sem mercadoria.

Assim, como informa Martins (2005 apud MOREIRA, 2013), a seleção de fornecedores vem se destacando cada vez mais, dada a facilidade na compra de produtos pela globalização a preços competitivos, a crescente velocidade de mudança de tecnologia acompanhada por uma redução do ciclo de vida dos produtos.

Ainda no que concerne o processo de escolha dos fornecedores, faz-se relevante observar os prazos conseguidos frente estes, para assim poder, com base nestes conceder prazos aos clientes. Tais prazos medem a eficiência de gerenciamento operacional da empresa frente a seus ativos. Pois uma empresa que apresente ciclos operacional e financeiro muito elevados, pode necessitar de recursos para financiar seus clientes, visto que quanto maior este ciclo, mais recursos próprios e de terceiros serão necessários. Dessa forma, o ciclo operacional é representado pelo período compreendido entre a compra de matéria-prima/mercadoria para estoque e a data na qual as contas a receber são pagas pelos clientes. Em contrapartida, o ciclo financeiro é representado pelo período em que ocorreram movimentação de caixa, compreendido entre o pagamento aos fornecedores e o recebimento das vendas (SILVA, 2010).

Ademais, o gestor ainda pode optar por trabalhar com estoques em consignação, que de acordo com o art. 534 do Código Civil, “pelo contrato estimatório, o consignante entrega bens móveis ao consignatário, que fica autorizado a vendê-los, pagando àquele o preço ajustado, salvo se preferir, no prazo estabelecido, restituir-lhe a coisa consignada”. Essa prática facilita a comercialização de produtos, principalmente para aqueles que não tem condições ou que não desejem produzir mercadoria própria, devendo-se apenas prestar conta do que foi vendido e devolver o que não conseguiu negociar.

Segundo Crepaldi (2012), as empresas de pequeno porte em sua grande maioria são administradas pelos seus próprios sócios. Isso favorece um grande número de empresas falidas nos seus primeiros anos de vida, em virtude de estes administradores possuírem uma formação técnica ligada ao seu negócio, mas sem a formação administrativa de gestão, como nas áreas de administração, finanças ou economia.

Dessa forma, de acordo com o SEBRAE (2010), em um estudo feito em empresas de São Paulo, 27% das empresas fecham logo no 1º ano de existência e no 5º ano apenas 42% destas continuam suas atividades. O diferencial para as empresas que sobreviveram aos 5 anos está na maneira como estas gerem o seu negócio, como se comportam à frente do seu empreendimento, investindo em capacitação, buscando sempre aperfeiçoar os produtos, fazendo o acompanhamento das receitas e despesas, inovando em processos e procedimentos, estabelecendo objetivos e metas, estando à procura de fornecedores com qualidade e preços, prezando sempre pela qualidade e eficiência e buscando intensamente informações.

Para Crepaldi (2012), a formação do preço de venda é um fator decisivo de sobrevivência de qualquer atividade, devendo-se levar em consideração nesse processo, o mercado, no entanto, este não pode ser o único requisito para obtenção do valor. Nesse sentido o SEBRAE (2013) complementa que, para se definir o preço de venda, devem ser levadas em consideração as individualidades de cada negócio, o tipo de atuação da empresa.

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Os custos tem papel fundamental na formação do preço de venda. Para Bruni e Famá (2004) os custos são gastos relativos ao bem ou serviço utilizados na produção de outros bens e serviços, podendo ser diretos e indiretos. Crepaldi (2012, p.313) acrescenta que “o produtor deve aprender a calcular os custos reais de sua atividade, fazer a gestão estratégica dos custos e trabalhar identificando oportunidades de mercado e ganho”.

Bruni e Famá (2004, p. 323), explicam que “além dos custos, o processo de formação do preço de venda está ligado às condições do mercado, ao nível de atividade e à remuneração do capital investido”. Este preço deve atingir um valor que traga a empresa o maior rendimento possível, atenda as pretensões do mercado e melhor aproveite os níveis de produção.

No entendimento de Crepaldi (2012), existem vários métodos para formação do preço de venda, quais sejam, com base no custo por absorção (pleno), no custo de transformação, no custo variável (marginal) e no rendimento sobre o capital empregado. Embora a diferença entre os métodos encontre-se basicamente na forma de calcular a margem de lucro, a maioria destes são de aplicabilidade na indústria. Entretanto, o custo por absorção pode ser aplicado também em empresas comerciais, pois, de acordo com Crepaldi (2012), este equivale ao custo total da produção (aquisição de mercadoria), acrescido de um percentual para cobrir as despesas operacionais, de vendas e administrativas e proporcionar uma margem de lucro desejada.

3 METODOLOGIA

Com relação ao objetivo, a presente pesquisa será do tipo descritiva, Andrade (2002) afirma que essa pesquisa se preocupa em observar, registrar, analisar, classificar e interpretar os fatos e que não há interferência do pesquisador nestes fatos. Silva (2010) acrescenta que esse tipo de pesquisa utiliza-se de técnicas padronizadas como o questionário.

Quanto aos procedimentos, será baseada no levantamento e na pesquisa bibliográfica, Silva (2010) afirma que o levantamento consiste em coletar dados baseados em uma amostra selecionada utilizando técnicas estatísticas e análise quantitativa e permitindo generalizar os resultados para toda a população. Gil (1999) explica que a pesquisa bibliográfica é desenvolvida mediante materiais já elaborados, os materiais que são consultados nesse tipo de pesquisa abrangem o conteúdo de um determinado assunto já publicado em livros, artigos, jornais.

Quanto à abordagem do problema esse trabalho utilizará das pesquisas quantitativa e qualitativa. A pesquisa quantitativa, assim como o nome já deixa subentendido, traduz em números as informações analisadas, Raupp e Beuren (2010) afirmam que esse método de pesquisa caracteriza-se pelo emprego da quantificação nas modalidades de coleta e no tratamento das informações utilizando-se de técnicas estatísticas. Ainda de acordo com Raupp e Beuren (2010) a pesquisa qualitativa analisa com maior profundidade os fenômenos que estão sendo estudados. Eles acrescentam que este tipo de pesquisa visa destacar características não observadas por meio de um estudo quantitativo e que abordar um problema qualitativamente pode ser uma forma mais adequada para conhecer a natureza de um fenômeno social.

Para atingir o objetivo proposto, elaborou-se um questionário semi estruturado, contendo 17 questões fechadas e organizadas em dois blocos: o primeiro, das questões 1 a 4,

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são referentes aos dados demográficos e foram formulados tomando-se por base a pesquisa do SEBRAE (2010). Já o segundo, mais pertinente a consecução do objetivo da pesquisa, trata das características do negócio e do controle operacional e financeiro. Neste caso, as questões tiveram como base para formulação a pesquisa de Lopes, Vieira, Siqueira e Wanderley (2013) e a teoria constante na plataforma teórica de modo a retratar a realidade dos feirantes em consonância com o tema proposto, visando auxiliar a resolução do problema de pesquisa.

O referido instrumento de coleta de dados foi aplicado de forma presencial, na modalidade de entrevista, sendo o pesquisador responsável por seu preenchimento, a partir da opção que o entrevistado entendesse que estivesse em maior conformidade com sua realidade.

Esta pesquisa teve como população os feirantes de Caruaru – PE que trabalham com o setor de vestuário, das feiras da Fundac e Brasilit, no período de outubro e novembro de 2013. A amostra foi composta por 200 feirantes, selecionada de forma aleatória e por conveniência, pelos feirantes que aceitaram responder a pesquisa.

Após a aplicação dos questionários, utilizou-se de planilhas eletrônicas do Microsoft Excel® para a tabulação e análise dos dados. Para a análise buscou-se sintetizar os resultados, recorrendo-se a medidas de estatística descritiva e a métodos gráficos, a fim de facilitar a leitura e entendimento dos mesmos, e, por fim, apresentou-se tais resultados em forma de relatório levando-se em consideração os vários aspectos do estudo.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Iniciou-se a pesquisa fazendo um levantamento sobre os dados demográficos dos entrevistados, ao que se pôde constatar que, dos 200 entrevistados, 16% correspondem a faixa etária de 18 a 24 anos, 39% estão entre 25 a 39 anos, 26% entre 40 a 49 anos e 19% estão com 50 anos ou mais, denotando um perfil mais jovem dos entrevistados. Já no que se refere ao nível de escolaridade dos feirantes, o número de analfabetismo dos entrevistados foi pequeno, atingindo apenas 2% em comparação aos 6% de feirantes com superior completo e 4% com superior incompleto. Ainda 13% chegaram a concluir o ensino fundamental e 10% não concluíram o ensino médio. O maior percentual foi 33% de feirantes que não concluíram o ensino fundamental, seguido por 32% que conseguiram concluir o ensino médio.

Com relação ao tempo de atuação na feira a maioria dos feirantes responderam que trabalham há 5 anos ou mais, atingindo 74% do total de entrevistados, ao que pode-se observar que tal resultado deve-se mais ao fato de serem empresas familiares, não possuindo muitos gastos para manter seu negócio, ademais seus produtos são comercializados por eles próprios, e, como trabalham na informalidade, não pagam os impostos devidos, o que difere do que apontam os resultados da pesquisa do SEBRAE (2010). As demais respostas ficaram com 8% e 10%, para o grupo dos que atuam como feirantes a 1 e 4 anos, respectivamente, já para os que trabalham como feirantes a 2 e 3 anos, o percentual observado foi de 5% para ambos.

Partindo para a questão sobre o principal motivo que os levaram a desenvolver a atividade na Feira da Sulanca, 40% dos entrevistados responderam que essa atividade é responsável pela obtenção de sua renda total, 35% informaram que recorreram a feira, pois desejavam ter seu próprio negócio, 20% disseram que a feira complementa sua renda, 2% alegaram não ter formação suficiente para o mercado de trabalho, estando na feira por única opção e 3% não se enquadraram em nenhuma das opções. Dessa forma, pôde-se observar que

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a maioria dos respondentes atuam na feira como opção para obtenção de renda, uma vez que esta é a maior atividade econômica da cidade, que emprega diversas pessoas e que possibilitam a estes uma liberdade maior de como trabalhar, vantagem de quem é dono do seu próprio negócio.

Ao serem questionados se já haviam feito ou se tinham interesse em fazer algum curso que lhes auxiliassem na forma de gerir seu negócio e controlar seus bens, a grande maioria dos entrevistados, 72% alegaram não ter feito, 24% dos respondentes disseram já ter feito algum curso, sendo destes, 10% de controle de finanças e 14% de empreendedorismo, incluído nesses números constam alguns feirantes que já fizeram cursos referentes a ambos os temas, e 6% disseram que já fizeram cursos, mas em outras áreas que eles consideraram importantes, como técnicas de vendas por exemplo. Tal fato vem reforçar que a maioria dos feirantes ainda não atentou para buscar novos conhecimentos, aprender novas técnicas de melhoria dos negócios, se atualizar, utilizando ferramentas importantes e necessárias como a busca da capacitação e dessa forma agregar conhecimento administrativo ao conhecimento técnico que eles já possuem.

Partindo para as questões que mais coadunam com o objetivo da presente pesquisa, quando perguntados sobre terem acompanhamento de um profissional contábil, 33% dos feirantes afirmaram ter a presença deste profissional lhes auxiliando nos negócios, o restante, 67% alegaram não contratar esses serviços.

Já na questão sobre a atuação desse profissional ter melhorado seus rendimentos, 36% entendem que sim, tais profissionais atuam na melhoria do retorno financeiro do negócio. Nessas respostas estão incluídos também os feirantes que, mesmo não tendo o acompanhamento deste profissional, acreditam que sua atuação interfere de maneira positiva nesse retorno. Os 64% restantes estão entre os que responderam ter acompanhamento com contador, no entanto não acreditam que estes profissionais sejam responsáveis por esse maior retorno financeiro, além dos que não responderam esta questão por não ter acompanhamento com este profissional.

Na natureza das mercadorias comercializadas, onde os entrevistados poderiam escolher mais de uma opção, 64% dos feirantes responderam que comercializam mercadorias próprias, 33% comercializam mercadorias de terceiros em consignação, 14% comercializam mercadorias de terceiros sem devolução e 3% não se enquadraram em nenhuma das opções, ademais, nessas porcentagens constam feirantes que trabalham com mais de um tipo de mercadoria. Esse resultado vem a reforçar a estrutura da feira da Sulanca, que é formada por grupos familiares, onde eles mesmos fabricam e vendem suas mercadorias, conforme consta no gráfico 1.

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Gráfico 1 – Natureza das mercadorias come

Fonte: Dados da pesquisa, 2013

A respeito da forma de pagamento que os feirantes comercializam as mercadorias, a opção totalmente aceita ainda é o dinheiro a vista com 99%, apenas 1% dos entrevistados informaram não trabalhar com dinheiro aos clientes já certos. Do total dos entrevistados, 35% também aceitam cheque, 10% dos feirantes aceitam cartão de crédito e 6% ainda trabalham utilizando o caderno do fiado.

Quanto aos fornecedores, cescolhê-los, observou-se que 58% dos respondentes afirmaram que levam em consideração o preço baixo, 22% levam em consideração o prazo para pagamento. Já 18% dos respondentes informaram que fazem a escolha pelos fornecedores que trabalham com as mercadorias em condições de venda de consignação, onde o que não é vendido pelo feirante ele apenas devolve. Observou-se ainda que 17% dos respondentes escolhem seus fornecedores apenas por comodidade/proximidade, ao que foi apontado pelos entrevistados como item importante para a escolha destes. O item que tratava da escolha do fornecedor por indicação de outros feirantes, 14% dos respondentes disseram utilizar dessa estratégia. Por fim, 26% ficaram com a opção de outros, onde a qualidade da mercadoria, não citada no questionário, foi a mais indicada pelos respondentes para a escolha do fornecedor. Nesta questão os entrevistados puderam analisar os 6 itens apresentados, e escolher quais eles consideram importaesta seleção, portanto, podepara pagamento são os principais itens na escolha de um fornecedor, conforme indicado no gráfico 2.

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Natureza das mercadorias comercializadas

A respeito da forma de pagamento que os feirantes comercializam as mercadorias, a opção totalmente aceita ainda é o dinheiro a vista com 99%, apenas 1% dos entrevistados informaram não trabalhar com dinheiro já que vão a feira apenas para entregar as mercadorias aos clientes já certos. Do total dos entrevistados, 35% também aceitam cheque, 10% dos feirantes aceitam cartão de crédito e 6% ainda trabalham utilizando o caderno do fiado.

Quanto aos fornecedores, com relação ao que os feirantes levam em consideração para se que 58% dos respondentes afirmaram que levam em consideração o

preço baixo, 22% levam em consideração o prazo para pagamento. Já 18% dos respondentes escolha pelos fornecedores que trabalham com as mercadorias em

condições de venda de consignação, onde o que não é vendido pelo feirante ele apenas se ainda que 17% dos respondentes escolhem seus fornecedores apenas

dade, ao que foi apontado pelos entrevistados como item importante para a escolha destes. O item que tratava da escolha do fornecedor por indicação de outros feirantes, 14% dos respondentes disseram utilizar dessa estratégia. Por fim, 26% ficaram com

ão de outros, onde a qualidade da mercadoria, não citada no questionário, foi a mais indicada pelos respondentes para a escolha do fornecedor. Nesta questão os entrevistados puderam analisar os 6 itens apresentados, e escolher quais eles consideram importaesta seleção, portanto, pode-se afirmar que, para esses feirantes, o preço, a qualidade e prazo para pagamento são os principais itens na escolha de um fornecedor, conforme indicado no

0% 20% 40%

Mercadorias Próprias

Mercadorias de …

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A respeito da forma de pagamento que os feirantes comercializam as mercadorias, a opção totalmente aceita ainda é o dinheiro a vista com 99%, apenas 1% dos entrevistados

já que vão a feira apenas para entregar as mercadorias aos clientes já certos. Do total dos entrevistados, 35% também aceitam cheque, 10% dos feirantes aceitam cartão de crédito e 6% ainda trabalham utilizando o caderno do fiado.

om relação ao que os feirantes levam em consideração para se que 58% dos respondentes afirmaram que levam em consideração o

preço baixo, 22% levam em consideração o prazo para pagamento. Já 18% dos respondentes escolha pelos fornecedores que trabalham com as mercadorias em

condições de venda de consignação, onde o que não é vendido pelo feirante ele apenas se ainda que 17% dos respondentes escolhem seus fornecedores apenas

dade, ao que foi apontado pelos entrevistados como item importante para a escolha destes. O item que tratava da escolha do fornecedor por indicação de outros feirantes, 14% dos respondentes disseram utilizar dessa estratégia. Por fim, 26% ficaram com

ão de outros, onde a qualidade da mercadoria, não citada no questionário, foi a mais indicada pelos respondentes para a escolha do fornecedor. Nesta questão os entrevistados puderam analisar os 6 itens apresentados, e escolher quais eles consideram importantes para

se afirmar que, para esses feirantes, o preço, a qualidade e prazo para pagamento são os principais itens na escolha de um fornecedor, conforme indicado no

40% 60% 80%

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Gráfico 2 – Escolha dos fornecedores

Fonte: Dados da pesquisa, 2013

A escolha do fornecedor não deve ser feita de qualquer maneira, assim como demonstrado na pesquisa, preço, prazo e qualidade são muito importantes para esta escolha, mas não devem ser os únicos fatores considerados, é necessáriopontos importantes, como localização dos fornecedores mais adequados para cada tipo de negócio, saber sobre sua capacidade produtiva e de fornecimento e não ter apenas um fornecedor, pois dessa maneira correAdemais, é preciso também avaliar outros fatores como confiabilidade, custo de frete e forma de entrega.

Ao serem questionados sobre a forma de pagamento que eles compram as mercadorias, 78% alegaram comprar a vista. No entcompram na promissória, já 13% procuram comprar em consignação e 8% compram também utilizando o cartão de crédito. Para esta questão os entrevistados puderam escolher várias das opções indicadas.

Quanto ao controle das contautilizando anotações em caderno e 15% afirmaram fazer uso de planilhas no computador para controle dos pagamentos e recebimentos. No entanto, 22% responderam que a única forma de controle feita é utilizando a memória e 8% comentaram que não costumam fazer nenhum tipo de controle. Observou-se ainda que 2% escolheram outros como forma de responder essa questão, por não se enquadrar em nenhuma das opções apresentadas. Ademais, como não constava uma opção que se encaixasse com o fato de não haver necessidade de controlar para os feirantes, observou-se que 8% dos entrevistados não responderam esta questão, pois trabalham unicamente com a forma de pagamento em dinheiro e de acordo com o entendimento deles, não há necessidade de realizar esse procedimento. Nesta questão os entrevistados também puderam escolher várias das opções indicadas, de acordo com o gráfico 3.

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Escolha dos fornecedores

A escolha do fornecedor não deve ser feita de qualquer maneira, assim como demonstrado na pesquisa, preço, prazo e qualidade são muito importantes para esta escolha, mas não devem ser os únicos fatores considerados, é necessário se basear em alguns outros pontos importantes, como localização dos fornecedores mais adequados para cada tipo de negócio, saber sobre sua capacidade produtiva e de fornecimento e não ter apenas um fornecedor, pois dessa maneira corre-se o risco de em algum momento ficar sem mercadoria. Ademais, é preciso também avaliar outros fatores como confiabilidade, custo de frete e forma

Ao serem questionados sobre a forma de pagamento que eles compram as mercadorias, 78% alegaram comprar a vista. No entanto, 32% utilizam cheque e 17% compram na promissória, já 13% procuram comprar em consignação e 8% compram também utilizando o cartão de crédito. Para esta questão os entrevistados puderam escolher várias das

Quanto ao controle das contas a pagar e receber, 50% alegaram que fazem o controle utilizando anotações em caderno e 15% afirmaram fazer uso de planilhas no computador para controle dos pagamentos e recebimentos. No entanto, 22% responderam que a única forma de

zando a memória e 8% comentaram que não costumam fazer nenhum tipo se ainda que 2% escolheram outros como forma de responder essa

questão, por não se enquadrar em nenhuma das opções apresentadas. Ademais, como não ue se encaixasse com o fato de não haver necessidade de controlar para

se que 8% dos entrevistados não responderam esta questão, pois trabalham unicamente com a forma de pagamento em dinheiro e de acordo com o

há necessidade de realizar esse procedimento. Nesta questão os entrevistados também puderam escolher várias das opções indicadas, de acordo com o gráfico

0% 20% 40%

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A escolha do fornecedor não deve ser feita de qualquer maneira, assim como demonstrado na pesquisa, preço, prazo e qualidade são muito importantes para esta escolha,

se basear em alguns outros pontos importantes, como localização dos fornecedores mais adequados para cada tipo de negócio, saber sobre sua capacidade produtiva e de fornecimento e não ter apenas um

um momento ficar sem mercadoria. Ademais, é preciso também avaliar outros fatores como confiabilidade, custo de frete e forma

Ao serem questionados sobre a forma de pagamento que eles compram as anto, 32% utilizam cheque e 17%

compram na promissória, já 13% procuram comprar em consignação e 8% compram também utilizando o cartão de crédito. Para esta questão os entrevistados puderam escolher várias das

s a pagar e receber, 50% alegaram que fazem o controle utilizando anotações em caderno e 15% afirmaram fazer uso de planilhas no computador para controle dos pagamentos e recebimentos. No entanto, 22% responderam que a única forma de

zando a memória e 8% comentaram que não costumam fazer nenhum tipo se ainda que 2% escolheram outros como forma de responder essa

questão, por não se enquadrar em nenhuma das opções apresentadas. Ademais, como não ue se encaixasse com o fato de não haver necessidade de controlar para

se que 8% dos entrevistados não responderam esta questão, pois trabalham unicamente com a forma de pagamento em dinheiro e de acordo com o

há necessidade de realizar esse procedimento. Nesta questão os entrevistados também puderam escolher várias das opções indicadas, de acordo com o gráfico

60% 80%

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Gráfico 3 – Controle das contas a pagar e receber

Fonte: Dados da pesquisa, 2013

Dessa forma, pode-de controle, quando esta se faz necessária, da forma mais básica, a partir de anotações em cadernos, ou ainda buscando fazer um controle em planilhas eletrônicas.

Na pergunta referente a organização quanto ao prazo para pagamento dos fornecedores e recebimento dos clientes 24% dos respondentes informaram que procuram vender observando a data de pagamento, dando um prazo menor aos clientes, para assim controlar seus pagamentos. Entretanto, 12% dos entrevistados responderam que não observam esses prazos em seus controles e 13% disseram que não organizam suas vendas baseandocompras, no entanto esperam receber dos clientes para então pagar aos fornecedores, mesmo que já tenha passado o prazo do cumprimento da obrigação. A opção com maior percentual de respondentes foi outros com 43%. Ainda, igualmente a questão anterior, 8% não responderam essa questão, uma vez que as compras e vendas são realizadas exclusivamente em dinheiro.

Faz-se relevante observar os prazos conseguidos pelos fornecedores, para assim, com base nestes conceder prazos aos clientes, pois do contrário, a empresa pode necessitar de recursos para financiar seus clientes, visto que quanto maior os ciclos operaciofinanceiro, mais recursos próprios e de terceiros serão necessários.

Na questão referente ao preço de venda, onde foi pesquisado quais os valores que eles consideram importantes para formação do preço de venda, 70% dos entrevistados responderam que utilizam o valor bruto da mercadoria e a margem de lucro desejada, 60% alegaram que para formar seu preço de venda consideram também os gastos envolvidos no processo, 19% alegaram que não calculam, observam apenas o preço da concorrência e 6% escolheram outros como melhor resposta para essa pergunta, dentro desse grupo alguns entrevistados informaram que não calculam o preço em virtude deste já ser tabelado para todos que revendem uma mesma marca de produto. Dessa forma, observaformação do preço de venda, quando não tabelado, os feirantes, em geral, levam em consideração os custos da mercadoria e operacionais, além da margem de lucro desejada, ao que reforça a importância da formação de preço de venda para o negócio, pois mesmo os feirantes não tendo uma formação contábil, de acordo com o resultado da pesquisa, eles identificam que é o preço o fator decisivo para sobrevivência de qualquer atividade e dessa maneira procuram calcular esse preço considerando o mercado, a concorrência, mas principalmente calculando os custos e obtendo um valor real e que lhes dê retorno financeiro, conforme demonstrado no gráfico 4.

Não controla

Caderno

Memória

Computador

Outros

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Controle das contas a pagar e receber

-se afirmar que a maioria dos respondentes utilizam alguma forma de controle, quando esta se faz necessária, da forma mais básica, a partir de anotações em cadernos, ou ainda buscando fazer um controle em planilhas eletrônicas.

ferente a organização quanto ao prazo para pagamento dos fornecedores e recebimento dos clientes 24% dos respondentes informaram que procuram vender observando a data de pagamento, dando um prazo menor aos clientes, para assim controlar

tretanto, 12% dos entrevistados responderam que não observam esses prazos em seus controles e 13% disseram que não organizam suas vendas baseandocompras, no entanto esperam receber dos clientes para então pagar aos fornecedores, mesmo

passado o prazo do cumprimento da obrigação. A opção com maior percentual de respondentes foi outros com 43%. Ainda, igualmente a questão anterior, 8% não responderam essa questão, uma vez que as compras e vendas são realizadas exclusivamente em dinheiro.

se relevante observar os prazos conseguidos pelos fornecedores, para assim, com base nestes conceder prazos aos clientes, pois do contrário, a empresa pode necessitar de recursos para financiar seus clientes, visto que quanto maior os ciclos operaciofinanceiro, mais recursos próprios e de terceiros serão necessários.

Na questão referente ao preço de venda, onde foi pesquisado quais os valores que eles consideram importantes para formação do preço de venda, 70% dos entrevistados

utilizam o valor bruto da mercadoria e a margem de lucro desejada, 60% alegaram que para formar seu preço de venda consideram também os gastos envolvidos no processo, 19% alegaram que não calculam, observam apenas o preço da concorrência e 6%

tros como melhor resposta para essa pergunta, dentro desse grupo alguns entrevistados informaram que não calculam o preço em virtude deste já ser tabelado para todos que revendem uma mesma marca de produto. Dessa forma, observa

reço de venda, quando não tabelado, os feirantes, em geral, levam em consideração os custos da mercadoria e operacionais, além da margem de lucro desejada, ao que reforça a importância da formação de preço de venda para o negócio, pois mesmo os

ão tendo uma formação contábil, de acordo com o resultado da pesquisa, eles identificam que é o preço o fator decisivo para sobrevivência de qualquer atividade e dessa maneira procuram calcular esse preço considerando o mercado, a concorrência, mas

almente calculando os custos e obtendo um valor real e que lhes dê retorno financeiro, conforme demonstrado no gráfico 4.

0% 20% 40%

Não controla

Caderno

Memória

Computador

Outros

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se afirmar que a maioria dos respondentes utilizam alguma forma de controle, quando esta se faz necessária, da forma mais básica, a partir de anotações em cadernos, ou ainda buscando fazer um controle em planilhas eletrônicas.

ferente a organização quanto ao prazo para pagamento dos fornecedores e recebimento dos clientes 24% dos respondentes informaram que procuram vender observando a data de pagamento, dando um prazo menor aos clientes, para assim controlar

tretanto, 12% dos entrevistados responderam que não observam esses prazos em seus controles e 13% disseram que não organizam suas vendas baseando-se nas compras, no entanto esperam receber dos clientes para então pagar aos fornecedores, mesmo

passado o prazo do cumprimento da obrigação. A opção com maior percentual de respondentes foi outros com 43%. Ainda, igualmente a questão anterior, 8% não responderam essa questão, uma vez que as compras e vendas são realizadas exclusivamente em dinheiro.

se relevante observar os prazos conseguidos pelos fornecedores, para assim, com base nestes conceder prazos aos clientes, pois do contrário, a empresa pode necessitar de recursos para financiar seus clientes, visto que quanto maior os ciclos operacional e

Na questão referente ao preço de venda, onde foi pesquisado quais os valores que eles consideram importantes para formação do preço de venda, 70% dos entrevistados

utilizam o valor bruto da mercadoria e a margem de lucro desejada, 60% alegaram que para formar seu preço de venda consideram também os gastos envolvidos no processo, 19% alegaram que não calculam, observam apenas o preço da concorrência e 6%

tros como melhor resposta para essa pergunta, dentro desse grupo alguns entrevistados informaram que não calculam o preço em virtude deste já ser tabelado para todos que revendem uma mesma marca de produto. Dessa forma, observa-se que, para a

reço de venda, quando não tabelado, os feirantes, em geral, levam em consideração os custos da mercadoria e operacionais, além da margem de lucro desejada, ao que reforça a importância da formação de preço de venda para o negócio, pois mesmo os

ão tendo uma formação contábil, de acordo com o resultado da pesquisa, eles identificam que é o preço o fator decisivo para sobrevivência de qualquer atividade e dessa maneira procuram calcular esse preço considerando o mercado, a concorrência, mas

almente calculando os custos e obtendo um valor real e que lhes dê retorno financeiro,

60%

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Gráfico 4 – Formação de preço de venda

Fonte: Dados da pesquisa, 2013

No que se refere ao feirante fazer a separação do que é lucro e apurado, 73% dos entrevistados informaram que ao fim da feira conseguem fazer essa separação, e uma boa parte destes ainda explicaram que este procedimento é muito importante para ter o mínimocontrole sobre o resultado de cada feira, além de acharem esta separação fundamental para pagar os fornecedores e comprar mais mercadorias. O restante dos entrevistados (27%) alegaram não conseguir separar em virtude de utilizar todo o apurado para asscompromissos. Finalizando a entrevista, ao serem questionados se conseguem retirar um valor fixo semanal/mensal para pagar suas despesas pessoais, 47% alegaram conseguir retirar da feira um salário para pagar suas próprias contas e dessa maneira nãcom as contas dos seus negócios. No entanto, os 53% restantes informaram que não conseguem retirar um valor fixo, uns em virtude de não saber o quanto ganham e o quanto daria pra tirar, por não manterem um melhor controle, e outrao movimento da feira.

Esse resultado demonstra que mesmo sem o devido conhecimento contábil, ao fazer essa separação e distinção dos elementos, lucro e apurado, receitas e despesas, ao identificar o resultado da atividade econômica no final da feira ou mensalmente, os feirantes estão agindo em conformidade com o princípio da continuidade, onde reforça a importância da mensuração e da apresentação dos elementos que compõem o patrimônio. Ademais, mesmo a maioria dos entrevistados fazendo um controle do seu apurado e lucro da feira, a maioria ainda fere o princípio da entidade, ao qual diz que o patrimônio da empresa não deve se misturar com o patrimônio dos sócios, uma vez que não se separa os patrimônios. Isso acarreta em uemaranhado de procedimentos desorganizados, onde os feirantes que não conseguem controlar e retirar um valor fixo semanal/mensal utilizam o dinheiro do apurado da feira para pagar o que estiver mais atrasado ou mais próximo do vencimento independente de referente a obrigações contraídas pelo empreendimento ou pelo empreendedor.

5 CONCLUSÃO

A Feira da Sulanca é uma importante atividade financeira para a cidade de Caruaru e circunvizinhas. Como resultado da pesquisa encontrouque trabalham nesse espaço há muito tempo, que cresceram vendo seus pais trabalharem e que continuam; que tem na feira sua única renda e que enxergam nesse espaço a possibilidade de terem seus próprios negócios. Em geral, esses feirantes não consepotencial desse mercado e investir em sua atividade, quer seja fazendo um curso de capacitação, quer seja melhorando a qualidade de seus produtos, ou aprendendo a administrar de uma forma mais eficaz, buscando agregar conhecimento à

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Formação de preço de venda

No que se refere ao feirante fazer a separação do que é lucro e apurado, 73% dos entrevistados informaram que ao fim da feira conseguem fazer essa separação, e uma boa parte destes ainda explicaram que este procedimento é muito importante para ter o mínimocontrole sobre o resultado de cada feira, além de acharem esta separação fundamental para pagar os fornecedores e comprar mais mercadorias. O restante dos entrevistados (27%) alegaram não conseguir separar em virtude de utilizar todo o apurado para asscompromissos. Finalizando a entrevista, ao serem questionados se conseguem retirar um valor fixo semanal/mensal para pagar suas despesas pessoais, 47% alegaram conseguir retirar da feira um salário para pagar suas próprias contas e dessa maneira não misturar contas pessoais com as contas dos seus negócios. No entanto, os 53% restantes informaram que não conseguem retirar um valor fixo, uns em virtude de não saber o quanto ganham e o quanto daria pra tirar, por não manterem um melhor controle, e outros em virtude da incerteza quanto

Esse resultado demonstra que mesmo sem o devido conhecimento contábil, ao fazer essa separação e distinção dos elementos, lucro e apurado, receitas e despesas, ao identificar o

e econômica no final da feira ou mensalmente, os feirantes estão agindo em conformidade com o princípio da continuidade, onde reforça a importância da mensuração e da apresentação dos elementos que compõem o patrimônio. Ademais, mesmo a maioria dos

stados fazendo um controle do seu apurado e lucro da feira, a maioria ainda fere o princípio da entidade, ao qual diz que o patrimônio da empresa não deve se misturar com o patrimônio dos sócios, uma vez que não se separa os patrimônios. Isso acarreta em uemaranhado de procedimentos desorganizados, onde os feirantes que não conseguem controlar e retirar um valor fixo semanal/mensal utilizam o dinheiro do apurado da feira para pagar o que estiver mais atrasado ou mais próximo do vencimento independente de referente a obrigações contraídas pelo empreendimento ou pelo empreendedor.

A Feira da Sulanca é uma importante atividade financeira para a cidade de Caruaru e circunvizinhas. Como resultado da pesquisa encontrou-se em sua grande maioria, fque trabalham nesse espaço há muito tempo, que cresceram vendo seus pais trabalharem e que continuam; que tem na feira sua única renda e que enxergam nesse espaço a possibilidade de terem seus próprios negócios. Em geral, esses feirantes não conseguem enxergar o grande potencial desse mercado e investir em sua atividade, quer seja fazendo um curso de capacitação, quer seja melhorando a qualidade de seus produtos, ou aprendendo a administrar de uma forma mais eficaz, buscando agregar conhecimento à prática que já possuem.

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No que se refere ao feirante fazer a separação do que é lucro e apurado, 73% dos entrevistados informaram que ao fim da feira conseguem fazer essa separação, e uma boa parte destes ainda explicaram que este procedimento é muito importante para ter o mínimo de controle sobre o resultado de cada feira, além de acharem esta separação fundamental para pagar os fornecedores e comprar mais mercadorias. O restante dos entrevistados (27%) alegaram não conseguir separar em virtude de utilizar todo o apurado para assumir os compromissos. Finalizando a entrevista, ao serem questionados se conseguem retirar um valor fixo semanal/mensal para pagar suas despesas pessoais, 47% alegaram conseguir retirar da

o misturar contas pessoais com as contas dos seus negócios. No entanto, os 53% restantes informaram que não conseguem retirar um valor fixo, uns em virtude de não saber o quanto ganham e o quanto

os em virtude da incerteza quanto

Esse resultado demonstra que mesmo sem o devido conhecimento contábil, ao fazer essa separação e distinção dos elementos, lucro e apurado, receitas e despesas, ao identificar o

e econômica no final da feira ou mensalmente, os feirantes estão agindo em conformidade com o princípio da continuidade, onde reforça a importância da mensuração e da apresentação dos elementos que compõem o patrimônio. Ademais, mesmo a maioria dos

stados fazendo um controle do seu apurado e lucro da feira, a maioria ainda fere o princípio da entidade, ao qual diz que o patrimônio da empresa não deve se misturar com o patrimônio dos sócios, uma vez que não se separa os patrimônios. Isso acarreta em um emaranhado de procedimentos desorganizados, onde os feirantes que não conseguem controlar e retirar um valor fixo semanal/mensal utilizam o dinheiro do apurado da feira para pagar o que estiver mais atrasado ou mais próximo do vencimento independente de ser referente a obrigações contraídas pelo empreendimento ou pelo empreendedor.

A Feira da Sulanca é uma importante atividade financeira para a cidade de Caruaru e se em sua grande maioria, feirantes

que trabalham nesse espaço há muito tempo, que cresceram vendo seus pais trabalharem e que continuam; que tem na feira sua única renda e que enxergam nesse espaço a possibilidade de

guem enxergar o grande potencial desse mercado e investir em sua atividade, quer seja fazendo um curso de capacitação, quer seja melhorando a qualidade de seus produtos, ou aprendendo a administrar

prática que já possuem.

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Merece destaque o grau de escolaridade, pois observou-se que poucos feirantes entrevistados eram analfabetos, no entanto, percebeu-se que ainda que de forma tímida alguns entrevistados já concluíram ou estão cursando o ensino superior. Pôde-se perceber também que a maioria, mesmo sem conhecimento contábil, busca calcular o preço da mercadoria considerando todos os custos diretamente atribuíveis, poucos foram os que consideram como fator de preço de venda apenas a mercadoria do concorrente.

Outro fator que merece destaque é a consciência que os feirantes já tem de fazer a separação do que é lucro e do que é apurado, o que eles podem retirar para pagamento de suas contas pessoais, o que é necessário para cumprir suas obrigações e o que eles podem investir.

Portanto, concluiu-se que dos feirantes entrevistados a maioria executa alguma prática de controle, mesmo não tendo um conhecimento teórico, controlando a sua maneira com as suas noções na prática. No entanto, a Feira da Sulanca como espaço econômico de grande visibilidade dispõe de empreendedores que necessitam e acreditam ser importante o acompanhamento funcional de profissionais da área contábil. Dessa forma, os contadores podem encontrar nesse espaço, clientes em potencial, e, em uma relação de reciprocidade, um auxiliar no crescimento profissional e econômico do outro.

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O PERFIL DO PROFISSIONAL DE AUDITORIA INTERNA SOB A ÓTICA DO MERCADO DE TRABALHO NORDESTINO

AUTORES: Carla Poliane Braz de Lucena, Rhoger Fellipe Marinho, Karina Simões Campelo

e Rafael Becker Ferreira Rodrigues. RESUMO O objetivo geral do presente trabalho foi verificar o perfil do profissional de auditoria interna sob a ótica do mercado de trabalho nordestino. Para tanto, utilizou-se o método dedutivo, procedimento de estudo bibliográfico e pesquisa documental. Assim, o estudo foi realizado através dos endereços eletrônicos Catho e Manager. Nesses sites foram coletados e analisados os anúncios ofertados para os profissionais de auditoria interna. Assim, constatou-se que os estados da Região Nordeste em que há mais ofertas de trabalho para o profissional de auditoria interna são a Bahia, o Ceará e Pernambuco, respectivamente. No entanto, embora a teoria evidencie que a auditoria seja uma formação específica do curso de Ciências Contábeis, percebe-se que, no mercado, há uma tendência em tratá-la como área administrativa gerencial. Dessa forma, concluiu-se que o mercado não exige que o profissional de auditoria interna seja formado em ciências contábeis, em contrapartida, prefere-se aos que possuem experiência em auditoria e conhecimento de áreas que não são especificamente de contabilidade, como o inglês e informática, ademais, espera-se que o profissional seja capaz de elaborar relatórios, o que infere que o mesmo deva possuir um bom português, entre outros. PALAVRAS-CHAVE: Auditoria interna. Auditor Interno. Mercado de trabalho. 1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, as empresas brasileiras se expandiram, desde a região Sul até a região Nordeste, seus efeitos econômicos e sociais refletidos no aumento de produção com custos mais baixos, e, consequentemente, com produtos vendidos a um preço mais atrativo. Dessa forma, com o crescimento da produção e vendas nas empresas, é necessária a contratação de novos funcionários para a fabricação do produto até sua venda. Sendo assim, a empresa vai criando novos departamentos e abrindo novas filiais.

O mercado de trabalho da Região Nordeste vem melhorando muito e diante disso quem se forma na região não necessita ir para outros lugares em busca de oportunidades. Os bons negócios estão em todos os setores nordestinos, com inúmeras vantagens comparativas e competitivas. Como o mercado se expande cada vez mais, o nordeste aquece mais o mercado de trabalho para várias as profissões, principalmente para a área contábil e especialmente para os auditores.

Com a ampliação dos negócios, a administração da empresa sentiu necessidade em dar maior atenção e prioridade aos procedimentos internos, devido à impossibilidade da diretoria da empresa supervisionar todos os seus setores pessoalmente. Nesse contexto, surgiu a necessidade da auditoria interna.

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A responsabilidade da auditoria interna, portanto, é desenvolver suas atividades nas empresas, avaliando as políticas, comportamentos internos e métodos utilizados em suas operações e atividades. A auditoria tem o compromisso de revisar todos os setores da empresa em intervalos regulares, assegurando seu compromisso e instruções recebidas de acordo com as políticas e procedimentos instalados pela empresa auditada, e, em seguida, relatando seus resultados formalmente, e opinando na tomada de decisões em busca de soluções (ATTIE, 2007).

Em virtude disso, apresenta-se a seguinte questão de pesquisa: Qual o perfil do profissional de Auditoria Interna sob a ótica do mercado de trabalho Nordestino?

Considerando a premissa exposta, o artigo tem como objetivo geral verificar o perfil do profissional de auditoria interna sob a ótica do mercado de trabalho Nordestino. E, como objetivos específicos, estudar as perspectivas da função da auditoria interna; identificar as características inerentes às atividades do auditor interno e analisar o mercado Nordestino para o profissional de auditoria interna através das vagas listadas.

O trabalho é importante por mostrar as perspectivas para o profissional de auditoria interna, ajudando-os a aperfeiçoar seus conhecimentos na área, objetivando o aprimoramento do seu trabalho, além de caracterizar-se como fonte de consulta para os que futuramente desejem trilhar carreira na área. Sua relevância, em geral, está em contribuir indiretamente para aqueles que estão à procura de trabalho no campo de auditoria interna.

O presente estudo limitou-se a analisar as ofertas de emprego na área de auditoria interna para os Estados do Nordeste, nos sites Catho, Manager, e Michel Page, especializados em seleção e recrutamento, no mês de maio de 2014.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 A FUNÇÃO DA AUDITORIA

A auditoria interna teve início em 1923, nos Estados Unidos da América, com o auditor interno Brandford Cadmus, mas só após 1941, entrou em vigor efetivamente naquele país (CREPALDI, 2010).

No Brasil, a auditoria interna começou em 1967, quando foi adotado o lema “Progresso pelo Intercâmbio” pelo instituto dos Auditores Internos do Brasil em São Paulo. Também nesse ano foi inscrito um livro de auditoria interna, pelo contador auditor interno, Kurt F. Schrader, fundador do Instituto dos auditores internos do Brasil (CREPALDI, 2010).

A auditoria de empresas começou com legislação britânica que foi obrigado a se tornar oficialmente pública durante a revolução industrial, isso ocorreu na metade do século XIX. Nessa época, as auditorias tinham que ser realizadas pelos próprios acionistas das empresas, que não eram os administradores, mas os mesmos recebiam autorização dos demais acionistas. Diante desses acontecimentos e exigências do mercado, a profissão contábil imediatamente se apresentou e logo a legislação foi alterada, permitindo que outros candidatos não acionistas da mesma empresa realizassem as auditorias, e, com essa necessidade no mercado, surgiram as empresas de auditoria (BOYNTON, JOHNSON E KELL, 2002).

O auditor interno é funcionário da empresa e tem como função examinar os controles operacionais da empresa (CREPALDI, 2010). Segundo Almeida (2012), a importância da

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auditoria interna é ajudar nas organizações e controles internos da empresa, eliminar desperdícios, simplificar tarefas, transmitir as informações necessárias aos seus administradores, e servir de ferramenta de apoio na tomada de decisão.

Boynton, Johnson e Kell (2002) entendem que a auditoria interna faz parte do controle interno de uma entidade. Sendo útil nas providencias das atividades da entidade.

O institute of Internal Auditors (IIA) (apud Boynton, Johnson e Kell 2002) define que a auditoria interna é considerada uma atividade de avaliação, transmitindo maior confiabilidade nas operações realizadas pela organização, proporcionando efeito eficaz nos objetivos traçados no planejamento.

A auditoria interna tem por objetivo avaliar o controle interno da empresa auditada. Esse controle interno é representado através de conjunto de procedimentos e métodos a fim de proteger os bens da empresa, produzir dados confiáveis e orientar a administração a conduzir seus negócios (ALMEIDA, 2012).

Segundo Almeida (2012, p. 57),

Um bom sistema de controle interno funciona como uma “peneira” na detecção desses erros ou irregularidades. Portanto, o auditor pode reduzir o volume de testes de auditoria na hipótese de a empresa ter um sistema de controle interno forte; caso contrário, o auditor deve aumentá-lo.

De acordo com as Normas de Auditoria Interna do Conselho Federal de Contabilidade (2014) a auditoria interna tem várias atividades relacionadas ao controle interno. Está sob sua responsabilidade revisar todos os controles, funcionamentos e está inovando frequentemente os procedimentos de avaliação a fim de passar segurança à gerência pra sua tomada de decisão.

A NBC TA 610 (2014) estabelece que:

A auditoria interna pode ter responsabilidade específica para revisar controles, avaliar o seu funcionamento e recomendar melhorias a esses controles. Ao fazê-las, a auditoria interna fornece segurança sobre o controle. Por exemplo, a auditoria interna pode planejar e executar testes ou outros procedimentos para fornecer segurança a gerencia e aos responsáveis pela governança relativos ao planejamento, implantação e eficácia operacional do controle interno, incluindo os controles que sejam relevantes para a auditoria.

Gonçalves (1967, apud PEREIRA e NASCIMENTO, 2005, p. 48) afirma que “A auditoria interna é a função superior do controle econômico-financeiro da empresa. Nela repousa a base do controle interno da empresa”.

Quando se determinam as funções e os objetivos que a direção da empresa deseja de uma auditoria interna, todas as áreas se juntam e se organizam com a auditoria, de forma a alcançar seus objetivos (ATTIE, 2007).

Ainda de acordo com Attie (2007), a indicação de equipes equilibradas proporciona os serviços com qualidade e eficácia, por ter uma boa harmonização e troca de experiências. O departamento de auditoria interna precisa ter certeza de que os auditores possuem

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competência no nível das tarefas que executarão.

Segundo a NBCT TA 610 (2014), em seu parágrafo 27, o trabalho da auditoria interna também poderá ser utilizado para a auditoria externa. Caso o auditor externo precise dos serviços da auditoria interna deve entrar em acordo com o auditor interno, de como coordenarão respectivo trabalho. Ainda como afirma a norma, isso é o caso que não esteja proibido por lei ou regulamento, que a auditoria externa utilize os serviços da auditoria interna. Que é o caso do Brasil, que não existe tal proibição.

Pereira e Nascimento (2005) afirmam que as ferramentas utilizadas em todos os trabalhos de auditoria interna são as mesmas que a auditoria externa utiliza em suas atividades.

Segundo Pereira e Nascimento (2005, p. 50),

Em todo o trabalho de auditoria interna as ferramentas utilizadas no cumprimento de seus objetivos são baseadas nos instrumentos desenvolvidos e aplicados na auditoria externa. As ferramentas de auditoria, portanto, são os instrumentos que o auditor possui para atingir suas metas, definidas no planejamento de auditoria, independente do tipo de auditoria praticada.

Todo trabalho desenvolvido pelos auditores segue as normas legais que também são aplicadas pelo auditor independente. Para obter o resultado eficaz, o auditor utiliza-se de meios específicos para o que está sendo analisado, sendo assim, corrige o que for necessário e conclui (PEREIRA E NASCIMENTO, 2005).

2.2 A ATIVIDADE DO AUDITOR

Com a ampliação das empresas, o aumento da produção e aumento do número de funcionários para diversos departamentos, as empresas necessitam de uma auditoria mais detalhada. E como o auditor externo passava um período muito curto na empresa, seria preciso uma auditoria mais aprofundada, visando também as áreas que não são relacionadas com a contabilidade como o exemplo da administração de pessoal, sistema de controle de qualidade etc.

Segundo Almeida (2012), o auditor interno é funcionário da empresa, uma das atividades que ele não deve realizar é elaborar lançamentos contábeis, para que não possa vir um dia a examinar e que não interfira em sua independência. Ainda de acordo com o autor, a auditoria interna em uma estrutura organizacional fica subordinada apenas à alta administração.

Boynton, Johnson e Kell (2002) afirmam que os auditores internos são funcionários da empresa na qual eles desenvolvem atividades com a finalidade de ajudar as equipes da administração com o controle interno.

Segundo Boynton, Johnson e Kell (2002, p. 33),

Auditores internos são empregados das organizações que auditam. Desenvolvem uma atividade de avaliação dentro da organização, como um centro de serviços. A atividade é denominada auditoria interna e tem como objetivo ajudar a administração da organização a cumprir eficazmente suas responsabilidades.

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Não adianta só a empresa investir em um excelente controle interno sem ter um profissional qualificado que fiscalize frequentemente se os funcionários estão cumprindo o que foi determinado no sistema, ou até mesmo se o sistema necessita ser adaptado à novas circunstâncias (ALMEIDA, 2012).

Ainda se referindo ao controle interno, Almeida (2012, p. 57) diz que “O controle interno representa em uma organização o conjunto de procedimentos, métodos ou rotinas com os objetivos de proteger os ativos, produzir dados contábeis confiáveis e ajudar a administração na condução ordenada dos negócios da empresa”

O dirigente da auditoria interna tem responsabilidade de supervisionar todos os trabalhos elaborados pelo departamento de auditoria. Esse processo de supervisão é contínuo, se inicia no planejamento e se estende da execução até o término do trabalho (ATTIE, 2007).

De acordo com Attie (2007), os auditores internos devem manter sua competência, com seu conhecimento das Normas Brasileiras de Contabilidade atualizados, das técnicas contábeis, em especial na área de auditoria. O autor ainda complementa que os auditores devem saber se comunicar bem, oralmente e por escrito. O autor ainda afirma que eles devem entender de relações humanas, e manter um bom relacionamento com os setores submetidos a exames. Precisam continuar sua educação participando de eventos, cursos, assistindo conferências, entre outros.

O auditor precisará ter alto grau de determinação, satisfazendo todas as atribuições que estão sob sua responsabilidade. O auditor também tem que apresentar uma boa qualidade nos seus relatórios, deixando-os claros, justos e completos (ATTIE, 2007).

Boynton, Johnson e Kell (2002) afirmam que é necessário o auditor e a administração da empresa auditada tenham uma boa interação durante a auditoria. O auditor muitas vezes necessita de dados confidenciais daquela empresa, e é só com a administração que ele obterá certas informações. Portanto, é essencial que ambos mantenham boas relações. Caso contrário a atividade não funcionará. Os autores ainda afirmam que o auditor tem que estar sempre atento com a veracidade das informações obtidas pela administração. Também não deve duvidar dos dados, mas avaliar as condições constatadas durante a auditoria.

É necessário que o auditor interno tenha um breve conhecimento das atividades antes de serem examinadas para que ele possa traçar uma ideia de até onde realizará o trabalho (FRANCO E REIS, 2004). Ainda de acordo com Franco e Reis (2004, p. 969), “É importante que o auditor tenha um conhecimento prévio dos itens a serem examinados para permitir sua visualização global e desta forma traçar a linha de consulta, os parâmetros a serem utilizados e até onde se deve realizar o trabalho”.

Para se obter um resultado satisfatório em uma auditoria, os auditores internos necessitam de uma boa preparação do programa de trabalho. Os auditores têm que se familiarizar com os controles e procedimentos do objeto em exame, conhecimento dos relatórios anteriores e um estudo da evolução das atividades. Para facilitar a execução dos testes, deve selecionar os testes específicos e anotar nos papéis de trabalho os procedimentos em ordem de cumprimento. Esses testes e procedimentos devem ser detalhados minuciosamente. Concluindo seu trabalho de auditoria, realizando comentários sobre sua atividade, esclarecendo os pontos relevantes, resultados obtidos e recomendações a direção da empresa auditada (FRANCO E REIS, 2004).

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Muitas vezes os trabalhos examinados pelo auditor interno são os mesmos examinados pelo auditor externo. Que é o caso da contagem de caixa, contagem física de estoques, confirmações de saldos de clientes, bancos, fornecedores, entre outros. Ficando claro que se houver algum erro em seus trabalhos ou se intencionalmente cause prejuízos a terceiros sofrerá punições podendo ser impedido de exercer sua profissão (CREPALDI, 2010).

Os auditores internos devem deixar claro ao responsável, na administração, caso eles suspeitem de irregularidades intencionais. Também está sob responsabilidade fazer as recomendações para investigar o necessário. E diante disso tem que evidenciar o desenvolvimento dos procedimentos para certificarem a eficácia de seus trabalhos (ATTIE, 2007).

3 METODOLOGIA

A metodologia utilizada para elaboração desse estudo foi a partir do método dedutivo. Como afirma Silva (2010, p.34), “Método dedutivo transforma enunciados universais em particulares. O ponto de partida é a premissa antecedente, que tem valor universal, e o ponto de chegada é o conseqüente (premissa particular)”.

Quanto ao objetivo, essa pesquisa tem seu caráter descritivo, como relata Gil (1999) apud Beuren (2009, p. 81) “Pesquisa descritiva tem objetivo de descrever determinadas características população ou fenômeno. Sua característica mais significativa está na utilização de coleta de dados”.

Quanto aos procedimentos, partirá do estudo bibliográfico que, de acordo com Silva (2010, p.54) “Pesquisa bibliográfica explica e discute um tema ou problema com base em referências teóricas já publicadas em livros, revistas, periódicos, artigos científicos etc. Podem ocorrer pesquisas exclusivamente com base em fontes bibliográficas”. Posteriormente utilizará à documental, como afirma Trujillo (1982) apud Silva (2010, p.55) “pesquisa documental tem por finalidade reunir, classificar e distribuir os documentos de todo gênero dos diferentes domínios da atividade humana”. Ao que Beuren (2009, p. 89) complementa que “Já a pesquisa documental baseia-se em materiais que ainda não receberam um tratamento analítico ou que podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa”.

E quanto à abordagem do problema, é qualitativo, como relata Richardson (1999) apud Beuren (2009, p. 91) “os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais”.

A realização dessa pesquisa é focada no prosseguimento do trabalho de Oro, Carpes, Dittadi e Benoit, (2009). Cujo estudo foi idealizado através dos endereços eletrônicos (sites) Catho, Manager e Michel Page. Nesses sites foram coletados os anúncios ofertados para os profissionais de controladoria em todo Brasil. Assim, a presente pesquisa, aplicará a mesma metodologia, com foco na área de auditoria interna, limitada a região do Nordeste.

A população refere-se aos sujeitos que se constituem objetos de estudo. A amostra definida para essa pesquisa são anúncios de ofertas de trabalho para os profissionais de auditoria interna, nos sites Catho (www.catho.com.br), Manager (www.manager.com.br) e Michel Page (www.michelpage.com.br), especializados em recrutamento. Foi utilizado como primeiro critério a nomenclatura denominada nos itens “título de cargo”, pois a mesma

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apresentou-se comum a todos os elementos da amostra. Utilizou-se também da seleção dos estados do Nordeste, a fim de filtrar os resultados.

Ressaltando que o site Michel Page não obteve nenhum resultado de oferta de trabalho no período de realização da pesquisa.

Segundo Oro, Carpes, Dittadi e Benoit (2009), a escolha desses endereços para a pesquisa foi o grande número de acessos a estes locais para a procura de oferta de trabalho.

É importante ressaltar que apesar de suas limitações, os anúncios são fontes ricas de informações, principalmente para identificar como está o perfil do profissional de auditoria interna sob a ótica do mercado de trabalho Nordestino.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Os dados coletados estão exibidos sob forma de tabela para facilitar a visualização dos resultados. Os resultados obtidos da pesquisa foram divididos em caracterização dos anúncios, região da pesquisa, formação dos profissionais, atribuições e requisitos do profissional de auditoria interna.

4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS ANÚNCIOS

Inicialmente, buscou-se distinguir as fontes pesquisadas. Os sites que foram utilizados para a pesquisa foram: Catho, Maneger e Michel Page. Outrossim, no período da pesquisa, o site Michel Page não apresentou nenhuma oferta de trabalho para o profissional de auditoria interna.

A coleta de anúncios obteve um resultado de 17 anúncios de oferta de trabalho, conforme a tabela 1.

Tabela 1 – Ofertas por Site

Opções Quantidade %

Site Catho 15 88,24

Site Manager 2 11,76

Total 17 100 %

Fonte: Dados de Pesquisa, 2014

Constatou-se 17 anúncios nos sites pesquisados, sendo 15 no site Catho que deu uma porcentagem igual a 88,24%, e 2 anúncios no site Manager com sua porcentagem de 11,76%.

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Tabela 2 – Ofertas por Estado

Opções Quantidade %

Bahia 5 29,41

Ceará 4 23,53

Maranhão 1 5,88

Paraíba 2 11,76

Pernambuco 3 17,65

Rio G. do Note 2 11,76

Total 17 100%

Fonte: Dados de Pesquisa, 2014

Foi constatado através dos sites Catho e Manager que a maioria dos anúncios de oferta de emprego para o profissional de auditoria interna da Região Nordeste, está localizada no Estado da Bahia, com 5 ofertas e com uma porcentagem de 29,41%. Em segundo lugar a pesquisa pontuou o Estado do Ceará com 4 ofertas (23,53%). Pernambuco obteve um resultado de 3 ofertas (17,65%). Os Estados da Paraíba e Rio Grande do Norte se igualaram no resultado com 2 ofertas (11,76%) para cada. E o Estado do Maranhão foi o que obteve menor resultado na pesquisa, com apenas 1 oferta de trabalho (5,88%). Os demais Estados: Alagoas, Piauí e Sergipe não obtiveram nenhum resultado no período da pesquisa.

Tabela 3 – Formação acadêmica do profissional de auditoria interna

Opções Quantidade %

Administração 10 58,82

Contabilidade 10 58,82

Economia 4 23,52

Logística 1 5,88

Recursos Humanos 1 5,88

Direito 1 5,88

Engenharia 1 5,88

Engenharia Civil 1 5,88

Hotelaria 1 5,88

Não Evidenciado 4 23,52

Fonte: Dados de Pesquisa, 2014

Verificou-se que, dez cursos foram evidenciados na pesquisa. Os cursos mais requisitados nas vagas ofertadas foram os de Administração e Ciências Contábeis, com dez solicitações para cada curso. Em terceiro lugar foi pontuado com quatro solicitações o curso de Economia. O restante dos cursos ficaram com uma só solicitação para cada. E em quatro ofertas de trabalho não especificaram a formação acadêmica desejada, conforme demonstrado na tabela 3.

Observou-se, durante a análise de ofertas, que na descrição de uma vaga de auditor noturno suas atribuições batiam com as descrições de auditoria interna, no entanto foi pedido, especificamente, formação em hotelaria.

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Tabela 4 – Requisitos solicitados nas vagas de emprego

Opções Quantidade %

Experiência em auditoria 10 58,82

Experiência em Sistema ERP 1 5,88

Experiência em gestão 1 5,88

Experiência c/ estoque 1 5,88

Experiência c/ Departamento Pessoal 1 5,88

Experiência c/ contabilidade 2 11,76

Experiência c/ varejo 1 5,88

Experiência c/ administração 1 5,88

Experiência em matemática financeira 1 5,88

Experiência em informática 5 29,41

Raciocínio lógico 1 5,88

Boa digitação 1 5,88

Possuir CNH A/B 1 5,88

Possuir registro no CRC/PE 1 5,88

Inglês básico 3 17,64

Espanhol intermediário 1 5,88

Técnicas de vendas 1 5,88

Comunicativo / Boa fluência verbal 2 11,76

Se relacionar bem 2 11,76

Gostar de trabalhar em equipe 1 5,88

Boa capacidade de redação 1 5,88

Conhec. dos sistemas IDEA, ACL ou Trusty 1 5,88

Conhecimento na área tributaria 1 5,88

Fonte: Dados de Pesquisa, 2014

Na tabela 4 evidenciou-se os requisitos cobrados para preencher as ofertas de trabalho. A solicitação do profissional com experiência em auditoria é a que mais se destaca, com dez solicitações entre vinte e três requisitos.

Ademais, observou-se que o mercado tem cobrado, com mais frequência, aos candidatos experiência em informática (29,41%), inglês básico (17,64%), boa fluência verbal (11,76%), e saber se relacionar bem (11,76%). Foram observadas apenas duas solicitações para o profissional conter experiência em contabilidade e uma só solicitação que o mesmo possuísse registro no CRC.

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Tabela 5 – Atribuições das vagas ofertadas

Opções Quantidade %

Atuar na auditoria interna em geral 7 41,17

Controlar estoques e inventários 6 35,29

Auditar processos 5 29,41

Elaborar relatórios 5 29,41

Preparar planejamentos 1 5,88

Controle de consolidação de notas 1 5,88

Suporte tecn. do sist. de gestão em auditoria 1 5,88

Conferências na folha de pagamento 1 5,88

Capacitar a equipe p/ atingir o obj. da empresa 1 5,88

Atuar na área tributária 1 5,88

Fonte: Dados de Pesquisa, 2014

No que se refere as atribuições solicitadas pelo mercado, as que se destacaram durante a análise foram: Atuar na auditoria interna em geral, com sete observações, seguida por controlar estoques e inventários, com seis incidências e, por fim, auditar processos e elaborar relatórios, com cinco solicitações. As demais atribuições, de cunho mais específico, não obtiveram mais que uma ocorrência.

5 CONCLUSÃO

O objetivo do presente artigo foi investigar as competências do profissional de auditoria interna exigido pelo mercado Nordestino, a partir de anúncios de ofertas de emprego em 3 sites especializados em seleção e recrutamento. Assim, constatou-se que, dos estados da Região Nordeste, apenas 5 tiveram ofertas de trabalho para o profissional de auditoria interna, sendo a Bahia, o Ceará e Pernambuco, os que há mais ofertas de trabalho, respectivamente. No entanto, embora a teoria evidencie que a auditoria seja uma formação específica do curso de Ciências Contábeis, foram observadas apenas duas solicitações para o profissional conter experiência em contabilidade e uma só solicitação que o mesmo possuísse registro no CRC. Ademais, percebe-se que, no mercado, há uma tendência em tratá-la como área administrativa gerencial, sendo solicitados, em sua maioria, nas vagas analisadas, profissionais formados nos cursos de Administração e Ciências Contábeis, com a mesma quantidade de solicitações nas ofertas, dentre outros cursos. Pôde-se inferir também que, apenas cerca de 30% das ofertas de emprego para auditor interno, no nordeste, são destinadas a profissionais de Contabilidade, fato que pode sugerir que os formados em Ciências Contábeis não possuem os requisitos e competências exigidos pelo mercado, e, consequentemente, as demais vagas estão sendo voltadas a profissionais de áreas afins ou outras áreas adversas. Dessa forma, concluiu-se que o mercado não exige que o profissional de auditoria interna seja formado em ciências contábeis, em contrapartida, prefere-se aos que possuem experiência em auditoria e conhecimento de áreas que não são especificamente de contabilidade, como o inglês e informática, ademais, espera-se que o profissional seja capaz de elaborar relatórios, o que infere que o mesmo deva possuir um bom português, entre outros. Observou-se a abordagem dos 3 sites como um fator limitante da pesquisa e propõe-se como trabalhos futuros que sejam incluídos outros sites de seleção e recrutamento e a

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abrangência de todo o Brasil, a fim de confirmar os presentes achados e a tendência do mercado de trabalho nordestino para os profissionais de auditoria interna. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Marcelo Cavalcante. Auditoria: um curso moderno e completo. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

ATTIE, William. Auditoria interna. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

BEUREN, Ilse Maria (Org.). Como elaborar trabalhos monográficos em contabilidade: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.

BOYTON, Willian C.; JOHNSON, Raymond N.; KELL, Walter G. Auditoria. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE.– NBC TA 610 que dispõe sobre a utilização do trabalho de auditoria interna.

Disponível em: <http://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2014/NBCTA610> Acesso em:16 abr. 2014.

CREPALDI, Silvio Aparecido. Auditoria contábil: teoria e prática. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

FRANCO, Adriana Dellú; REIS, Jorge Augusto Gonçalves. O Papel da Auditoria Interna nas Empresas. In: ENCONTRO LATINO AMERICANO DE INICIAÇÃO CIENTIFICA E ENCONTRO LATINO AMERICANO DE PÓS-GRADUAÇÃO – UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAIBA, 2004, São José dos Campos - SP Disponível em: <http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2004/trabalhos/inic/pdf/IC6-106.pdf> Acesso em: 21 abr. 2014. ORO, Ieda Margarete; CARPES, Antonio Maria da Silva, DITTADI, Jadir Roberto; BENOIT. O Perfil do Profissional de Controladoria Sob a Óptica do Mercado de Trabalho Brasileiro. Revista Pensar Contábil. Rio de Janeiro, v. 11, n. 44, p. 5-15, abr./jun.2009 Disponível em: <https://www.google.com.br/#q=revista+pensar+cont%C3%A1bil+%2B+o+perfil+do+profissional+de+controladoria+sob+a+optica+do+mercado+de+trabalho+brasileiro> Acesso em: 16 fev. 2014 PEREIRA, Anisio Candido; NASCIMENTO, Weslley Souza do. Um estudo sobre a atuação da auditoria interna na detecção de fraudes nas empresas do setor privado no estado de São

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AVALIAÇÃO DAS PRÁTICAS DE CONTROLE INTERNO SOB AS PERSPECTIVAS DO COSO II: UM ESTUDO NA REGIÃO METROPOLITANA DO

RECIFE – PE

AUTORES: Davi Jônatas Cunha Araújo, Abinair Bernardes da Silva, Jeronymo José Libonati, Cláudio de Araújo Wanderley e Luiz Carlos Miranda.

RESUMO Esta pesquisa tem por objetivo identificar como as práticas de controle interno dos municípios da Região Metropolitana do Recife – Pernambuco encontra-se estruturadas, quando investigadas à luz do modelo COSO II. Para que este fosse alcançado, a pesquisa utilizou-se de um questionário estruturado nas oito dimensões do COSO II e adaptado do estudo de Ferreira (2013). Os dados foram obtidos por meio da aplicação dos questionários“in

loco”com os responsáveis pelas Unidades Centrais de Controle Interno dos municípios da RMR. As técnicas utilizadas para análise dos dados consistiu na estatística descritiva e na análise do discurso. Como principais resultados, o estudo identificouque os controladores dos municípios concordaram que a comunicação entre os níveis de gestão ocorre de forma adequada e eficiente, consequentemente, grande parte dos municípios possuíam seus objetivos, políticas e procedimentos formalizados e comunicados. Uma das fragilidades de controle identificadas nos municípios consistiu na falta de identificação dos riscos no desempenho das atividades operacionais da prefeitura. Concluiu-se, portanto, quede acordo com as recomendações das diretrizes técnicas do COSO, algumas práticas de controle interno desses municípios enquadraram-se em um nível de controle aproximado das recomendações do framework, contudo, pelas fragilidades apresentadas por meio das diretrizes investigadas, acredita-se que estas podem interferir no direcionamento de outras atividades e, consequentemente, influenciarem no alcance das metas traçadas em outras dimensões. Palavras Chave: Controle Interno; COSO; prefeituras. 1 INTRODUÇÃO

No Brasil, as mudanças provenientes da influência do novo gerencialismo público podem ser identificadas na estrutura de gestão das esferas da Administração Pública e consequentemente, no formato com que estas transmitem as informações referentes ao desempenho de suas atividades.

Os enfoques dados à eficiência nos processos e a eficácia na utilização dos recursos públicos também podem ser observadas como características desse novo modelo de gestão. Até então, um das iniciativas de controle da Administração Pública exercido sobre essas atividades resumia-se ao contingenciamento legal da Lei de Responsabilidade Fiscal sobre as finanças do Poder Executivo. Apesar do que Silva (2004) afirma que a LRF forneceu base legal ao Executivo para exercitar o controle das finanças para alcançar metas fiscais e exigiu maior transparência na definição dos critérios para esse controle, ações que envolvessem uma amplitude de controle além do contingenciamento de receitas e despesas foram requeridas.

Observou-se também que a legislação nacional legitima o modelo de administração pública e esta abrange a estrutura de gestão e a obrigatoriedade da prestação de contas, porém, não assegura que as atividades desenvolvidas pelos órgãos públicos serão desempenhadas

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conforme as próprias determinações legais ou compreendidas pela eficiência nos processos e eficácia nos resultados.

As práticas de controle podem ser geridas pelo cumprimento dos normativos legais ou como ferramenta adotada para melhorias dos níveis de controle de determinado órgão ou entidade. Quando a administração não implementa ações de controle que englobem todas as áreas de gestão, esta torna-se vulnerável a ocorrência de fraudes.Huefner (2011) concorda que os governos municipais podem ser especialmente vulneráveis à fraude. Destarte, a corrupção entre os agentes públicos e os baixos níveis de controle implementados podem representar fatores facilitadores para sua ocorrência.

As pontuações apresentadas por Trevisan et al. (2003) apontam que a falta de transparência nos atos administrativos dos governantes em conjunto a ausência de controles administrativos e financeiros, além de representarem fatores que facilitam a execução desses atos ilícitos, também representam sinais de irregularidades na Administração Municipal.

A Constituição Federal (1988), em seu Artigo 74, determina que os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário deverão manter o sistema de controle interno de forma integrada, com a finalidade de, dentre outras disposições, avaliar a execução dos programas de governo e dos orçamentos da União e apoiar o controle externo no exercício de sua missão institucional.

Nesse contexto, a Unidade Central de Controle dos Municípios representa o órgão responsável pela coordenação das atividades nessas entidades e o seu titularconsiste no agente encarregado para essa supervisão. Dentre outras atribuições, as competências a serem desempenhadas por esta unidade central consistem na medição e avaliação da eficiência e eficácia dos procedimentos de controle interno adotados pelos Órgãos Setoriais do Sistema, estabelecer mecanismos voltados a comprovar a legalidade e a legitimidade dos atos de gestão e avaliar os resultados, quanto à eficácia, eficiência e economicidade na gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da Administração Pública municipal (CRUZ e GLOCK, 2008).

Nesta perspectiva, a Comissão Nacional sobre Fraudes em Relatórios Financeiros (National Commission on Fraudulent Financial Reporting – COSO) dedicou-se ao estudodos fatores que podem levar a ocorrência de fraudes nos relatórios e desenvolveu orientações sobre gerenciamento de riscos corporativos, controles internos e dissuasão de fraude(COSO, 2014).

Uma das iniciativas do COSO foi avaliar os relatórios das organizações a partir do entendimento dos fatores que levam a elaboração de relatórios fraudulentos e a partir disto estabelecer recomendações para o controle interno, por meio dos componentes de gerenciamento de riscos nas atividades das entidades.

Nesse contexto, a pesquisa busca identificar a estrutura das práticas de controle interno dos municípios da Região Metropolitana do Recife – Pernambuco, investigando-aspor meio das diretrizes técnicas do COSO II. Por estas diretrizes representaremas melhores práticas recomendadas pelo COSO para o Controle Interno no setor público, a utilização dessas recomendações poderão servir como base para análise das atividades desempenhadas por estes municípios.

O levantamento das práticas desempenhadas nesses municípios será feito mediante o enquadramento de cada diretriz nos respectivos componentes de gerenciamento de risco da comissão.No contexto em que os órgãos e entidades públicas do Brasil afirmam implantar as diretrizes do COSO em suas estruturas de governança, a avaliação dessa implantação nos

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municípios, também se torna possível por intermédiodo levantamento das práticas de controlecom baseno próprio framework do comitê.

As diretrizes técnicas do COSO representam uma base conceitual para que as práticas de controle dessesmunicípios sejam avaliadas. Diante disso, a pesquisa se propõe a responder o seguinte questionamento: Como as práticas de controle interno dos municípios da RegiãoMetropolitana do Recife – Pernambuco encontram-se estruturadas, quando investigadasà luz do modelo COSO II?

Com o objetivo de identificar a estruturadessas práticas, o levantamento será feito com os responsáveis pela manutenção do controle nas atividades dos municípios. Após identificadas, estas serão analisadas por meio dasdiretrizes técnicas do COSO II que servirão de base para verificar essa estrutura.

Esta pesquisaencontra-se estruturadaem quatro seções que seguem a esta introdução.Consequentemente, a segunda seção apresentará a revisão de literatura que abordará o controle interno nos municípios, o Comitê de Organizações Patrocinadoras da Comissão Treadway (COSO) e os estudos com mesmo enfoque que foram anteriormente desenvolvidos, por sua vez, à terceira seção detalhará a metodologia da pesquisa e a quarta trará a análise dos resultados. Por fim, a quinta seção apresentará a conclusão deste estudo.

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Controle Interno nos Municípios

A Lei n.º 4.320/64, em seu Art. 76, foi responsável pela introdução dos termos controle interno e controle externo na Administração Pública, em que o Poder Executivo é o responsável pelo controle interno e o Poder Legislativo pelo controle externo, de forma que, anualmente, o Poder Executivo deve prestar contas ao Poder Legislativo.

O Decreto-lei nº 200/67 em seu Art. 6º, estabeleceu o Controle como um dos princípios fundamentais da Administração Pública e determinou que o controle das atividades da Administração Federal fosse exercido em todos os níveis e em todos os órgãos. Em 1994, a Medida Provisória nº 480 organizou e disciplinou o Sistema de Controle Interno, no entanto, foi com a Lei nº 10.180 de 2001 que houve a consolidação desse sistema no Poder Executivo Federal, possuindo como órgão central a Secretaria Federal de Controle Interno (SFC).

A Constituição Federal (1988), em seu artigo 74, estabelece que os sistemas de controle interno deverão ser mantidos de forma integrada com o objetivo de verificar o cumprimento das metas previstas nos planos plurianuais, a execução de programas do governo, comprovar a legalidade e avaliar os resultados quanto a eficiência e eficácia na gestão orçamentária, patrimonial e financeira nos órgãos e ainda fornecer apoio ao controle externo no alcance da sua missão institucional.

A partir dessa determinação, a posterior promulgação da Lei Complementar nº 101/2000, conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal, estabeleceu normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, com diretrizes para prevenção de riscos e correções de desvios que poderiam afetar as contas públicas (LRF, Art. 1, § 1º). Até então, os parâmetros de controle interno estabelecidos legalmente para os níveis da Administração Pública resumiam-se ao alcance de metas financeiras e fiscais, acompanhamento de processos e apoio ao controle externo.

No âmbito internacional, em 1949, o Instituto Americano de Contadores Públicos Certificados (American Institute of Certifield Public Accountants – AICPA) publica um

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relatório específico onde delibera uma proposta de conceito para controle interno. Este conceito compreendia o plano de organização e todos os métodos coordenados e medidas adotadas dentro de uma organização para proteger seus ativos, verificar a exatidão e fidedignidade de seus dados contábeis, melhorar a eficiência operacional e promover a execução das diretrizes administrativas estabelecidas (ANTUNES, 1998).

A segregação conceitual de controle que identificasse as práticas executadas nas diversas áreas da entidade ainda não havia sido proposta. Por este motivo, o AICPA, em 1958, considerou as diferenças existentes entre o controle administrativo e contábil e com isso propôs, por meio da Norma de Auditoria sobre Demonstrações - 29 (Statements on Auditing

Standards, SAS - 29), a ampliação e divisão dos conceitos já estabelecidos. A partir da divisão proposta, o conceito de controle administrativo passou a considerar apenas a melhoria da eficiência operacional e a execução das diretrizes estabelecidas como seus componentes, em detrimento ao controle contábil, que passou a abordar os métodos para proteção de ativos, a exatidão e a fidedignidade dos registros contábeis como propriamente seus. O AICPA considerou que estes conceitos não são mutuamente excludentes, com isto, a posterior divulgação da SAS 1 explicitou que os procedimentos que compõe o controle administrativo podem compor o controle contábil (ANTUNES, 1998).

Em abril de 1988, ano em que as diretrizes de controle interno foram inicialmente normatizadas no Brasil, a Organização Internacional de Entidades Fiscalizadoras Superiores (The International Organisation of Supreme Audit Institutions - INTOSAI) estabelecia normas e recomendava orientações para melhoria das práticas das auditorias governamentais efetuadas (INTOSAI, 2014).

A INTOSAI (2004) aponta o controle como um processo integral dinâmico que constantemente deverá adaptar-se as mudanças enfrentadas por uma entidade. Desse modo, em seu arquivo que disponibiliza as diretrizes das normas que definem o controle interno, a conceituação deste é estabelecida como um processo integral efetuado pela gestão e pelo pessoal de uma entidade e projetado para lidar com os riscos, bem como, para fornecer segurança razoável de que em busca da missão da entidade, os seguintes objetivos gerais serão alcançados:

• execução de operações ordenada de forma ética, econômica, eficiente e eficaz;

• cumprimento das obrigações frente à prestação de contas;

• cumprimento das leis e regulamentos aplicáveis;

• salvaguarda dos recursos contra a perda, mau uso e dano.

A Lei Sarbanes Oxley (SOX Act) representou outro exemplo de regulamentação de controle emergente. De acordo com Santos e Lemes (2004), o principal objetivo da SOX é transformar os princípios de uma boa governança corporativa em leis para evitar o surgimento de novas fraudes nas empresas. Apesar de serem geradas com o objetivo de reduzir a extensão de fraudes nas empresas privadas,as diretrizes de controle normatizadas pela SOX também foram aderidas pelas organizações públicas.

O controle interno, sinteticamente, é aquele que cada órgão exerce sobre seus próprios atos e agentes (BONATTO, 2007). Nos municípios do Brasil, a execução das ações de controle deve levar em consideração à normatização estabelecida pelos órgãos de controle externo, sendo estes exemplificados pela Controladoria Geral da União (CGU), o Tribunal de Contas da União, dos Tribunais de Contas dos respectivos estados (TCE’s) e dos Tribunais de Contas dos próprios municípios, onde existir (CF, ART. 31, §1º).

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Como resultado da convergência entre a execução do regulamento legal ora estabelecido e as diretrizes conceituais dos órgãos internacionais, o sistema de controle interno do Poder Executivo Municipal fiscaliza as práticas desempenhadas pelos próprios municípios, conforme determinação da Constituição Federal (1988), em seu artigo 31: “A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei”.

Para Castro (2011) o controle interno representa a segurança do administrador, sendo sua responsabilidade a organização, cabendo a ele gerir o patrimônio e os recursos da instituição, bem como manter as condições que demonstrem a prática da boa administração.Destarte, a fiscalização e o controle interno na administração pública incorporaram aspectos mais gerenciais, no que diz respeito à perspectiva da economicidade no gasto público, além de aspectos referente à legalidade, legitimidade, da eficiência da gestão, dentre outros (CAVALCANTE e LUCA, 2011).

Para que as atividades dos municípios sejam desempenhadas de acordo com estas perspectivas, a fiscalização desses atos requerem do titular da Unidade de Coordenação do Controle Interno, postura responsável, independência mental e, principalmente, identificação e fidelidade à função que lhes é atribuída (CRUZ e GLOCK, 2008).

Quanto à validação dos controles internos, o próprio controle representapeça-chave para a auditoria, pois esta avalia os mecanismos de controle executados nos municípios e a partir desta avaliação, busca garantirque os objetivos da organização pública sejam alcançados de forma eficiente, eficaz e econômica, salvaguardando os recursos contra desperdícios, erros, fraudes e irregularidades.

2.2 Comitê de Organizações Patrocinadoras da Comissão Treadway (COSO)

O COSO consiste em uma associação de cinco instituições privadas: Associação Americana de Contabilidade – AAA, Instituto Americano de Contadores Públicos Certificados- AICPA, Executivos Financeiros Internacionais – FEI, Associação dos Contabilistas e Profissionais da área financeira em negócios – IMA e do Instituto dos Auditores Internos – IIA, com o objetivo de fornecer diretrizes conceituais e técnicas que alcancem três áreas das organizações: gerenciamento de riscos, controles internos e dissuasão de fraudes (COSO, 2014).

Com objetivo de entender quais os motivos da ocorrência de fraudes, o COSO começou a analisar as estruturas de controle interno das empresas em que as fraudes ocorriam, a partir disso, o foco inicial do COSO na definição de controle interno envolveu a eficiência e a eficácia das operações, confiabilidade dos relatórios financeiros e a conformidade com leis e regulamentos (ROOT, 1998).

A versão preliminar do framework incluiu nove componentes de controle interno, como parte da definição de controle. Em resposta aos comentários recebidos durante o processo de exposição, o quadro final reduziu os componentes do controle interno para cinco perspectivas, isto com base na redução do conceito inicial, sendo estes: ambiente de controle, avaliação de risco, atividades de controle, informação e comunicação e monitoramento (ROOT, 1998).

O ambiente de controle representa a base do sistema de controle interno e ainda fornece a disciplina e estrutura, bem como o espaço que influencia a qualidade geral do controle interno (INTOSAI, 2004). No que concerne à avaliação de risco, Ferreira (2013) diz que esta deva ser executada mediante os riscos provenientes de fontes externas e internas a

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entidade, quanto às atividades de controle, Ferreira (2013) afirma que estas representam os procedimentos que garantem que os objetivos da entidade serão alcançados.

Quanto à perspectiva “informação e comunicação”, o INTOSAI (2004) diz que a informação eficaz e a comunicação são vitais para que uma entidade possa executar e controlar suas operações. No que diz respeito ao monitoramento, este é necessário para ajudar a garantir que o controle interno permaneça atento aos objetivos alterados, meio ambiente, recursos e riscos (INTOSAI, 2004).

Depreendendo essas disposições, o COSO passou a levar em consideração outras variáveis que influenciavam a execução do controle e a partir disso, inseriu outras perspectivas nas dimensões estabelecidas no primeiro framework.

Como resultadodessas mudanças, a publicação do sumário executivo do COSO, em 2004, dispôs de uma relação direta entre os objetivos que a entidade busca alcançar e os componentes para gerenciar seus riscos corporativos. Nesse contexto, a nova abordagem foi estruturada em formato de cubo e relacionou os oito componentes do gerenciamento de riscos das entidades com os objetivos que estas devem alcançar e que influenciamo nível de risco de suas atividadesem suas áreas de gestão.

Neste caso, a visualização tridimensional do risco nas organizações representou uma das características do novo modelo do COSO, denominado COSO II ou COSO ERM (Enterprise Risk Management).A diferença desse novo modelo para o primeiro framework consistiu na introdução da identificação de eventos, resposta a risco e a definição de objetivos como componentes de gerenciamento de riscos.

Para a identificação de eventos, o COSO (2004) estabelece que os riscos e as oportunidades devem ser distinguidos entre os eventos internos e externos que afetam o alcance dos objetivos na entidade. Por sua vez, a resposta a risco significa o desenvolvimento de um conjunto de ações para alinhar os riscos com tolerâncias deste na entidade e a definição de objetivos representa a antecipação de eventos em potencial, pela entidade, que podem afetar o alcance de seus objetivos.

2.3 Estudos Anteriores

Os estudos que trataram sobre a avaliação de controle interno em municípios possuem abordagens diversificadas. Embora uma parte desses estudos buscasse identificar como os controles internos nos municípios encontram-se estruturados, esta pesquisa propõe-seavaliar as práticas que estruturam os sistemas de controle desses municípios e a partir disso, verificar o nível de controleimplementadonas atividades de municípios do Brasil.

Em pesquisa que buscou avaliar os níveis de controle interno de municípios do Brasil por meio da análise de relatórios de controle, Lima (2012) constatou que as funções desses relatórios, em alguns dos municípios pesquisados,concentravam-se entre a prestação de contas e a evidenciação e fiscalização dos resultados das atividades desempenhadas.Consequentemente, a autora ainda identificou fragilidades no que concerne a garantia do controle, da transparência e do uso dos recursos públicos.

Naabordagem referente aocontrole na gestão,o estudo deSodré e Alves (2010) identificou que irregularidades comprovadas como realização de pagamentos indevidos, falta de divulgação de licitações e a falta de prestação de contas indicava falta de controle sobre os recursos recebidos e despendidos pelos municípios brasileiros.

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Já a pesquisaefetuada por Zhang et al.(2007), que examinava a avaliação do controle interno por meio da relação entre a qualidade da auditoria e a divulgação das deficiências desse controle, destacou que estas deficiências ocorrem quando o projeto ou operação de um controle não permite que os administradores ou os empregados, no curso normal da execução de suas funções, possam prevenir ou detectar distorções em tempo hábil.

Na perspectiva do controle social sobre o desempenho financeiro dos municípios, o estudo de Barcelos (2007), que buscou investigar o comportamento da despesa pública mediante fatores socioeconômicos, identificou que a população total dos municípios contribuiu para explicar o comportamento fiscal desta esfera governamental.

Lubambo (2006) investigou o poder explicativo de variáveis do desempenho fiscal sobre o desempenho da gestão e para isso, foram realizados testes empíricos com indicadores de evolução das receitas e gastos nas gestões municipais.

O objetivo desses estudos remete a análise dos controles sobre o desempenho financeiro ou da gestão, sejam estes executados em ambiente interno (órgãos administrativos) ou externo (social). É sabido que o entendimento da relação entre a execução do controle e o desempenho da administração pode contribuir para análise do nível de controle implementado nas atividades dos municípios, porém, estudos que busquem entender as práticas que estruturam estes sistemas podem servir para verificar o nível de controle implementado e executado nas atividades, logo, esta abordagem representou fator motivador para efetuar esta investigação.

3 METODOLOGIA

Mediante o objetivo do estudo em verificar como as práticas de controle interno de municípios podem ser avaliadas a luz do COSO II, optou-se por uma pesquisa de cunho qualitativo e de caráter exploratório. Para que este objetivo fosse alcançado, a técnica de coleta dos dados selecionados foi um questionário semiestruturado.

A pesquisa bibliográfica também foi utilizada para elaboração do questionário de pesquisa. Como resultado, o questionário foi estruturado de acordo com asdiretrizesestabelecidas pelo sumário executivo do COSO II, em que este segmenta os oito componentes de gerenciamento de riscos em formato de cubo.

Após essa segmentação, as diretrizes técnicas de cada componente de gerenciamento de risco foram utilizadas para levantamento e avaliação das práticas de controle nos municípios. As diretrizes foram adaptadas do estudo efetuado por Ferreira (2013) que verificou a validade do sistema de controle interno de uma instituição pública federal por meio da aplicação do modelo COSO II. O questionário de avaliação de práticas de controle interno “Governança na prática”, divulgado pelo próprio COSO, também foi utilizado como referência para conferir as diretrizes que foram adaptadas do estudo de Ferreira (2013).

Para este estudo,foram considerados os quatorze municípios da região metropolitana do Recife-Pernambuco, dos quais puderam participar apenas seis municípios. A impossibilidade dos demais municípios participarem da pesquisa foi justificada pelos seguintes fatores: realização da prestação de contas no período de levantamento dos dados e a não obtenção de respostas de quatro municípios em tempo hábil para conclusão do estudo.

O instrumento para coleta dos dados foi aplicado junto aos titulares responsáveis pelas Unidades Centrais de Controle Interno desses municípios e em um dos casos, o questionário foi respondido por um funcionário que acompanha os processos operacionais da controladoria

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geral desse respectivo município.Estes foram selecionados por serem responsáveis pela implementação dos mecanismos de controle nas atividades, bem como pela execução desses mecanismos durante o desempenho das atividades pelas entidades.

A partir da aplicação dos questionários “in loco”e em alguns casos,por meio de envio desses questionários aos controladores dos municípios,também foram realizadas entrevistas com os responsáveis pelas Unidades Centrais de Controle Interno. Inicialmente, o objetivo dessas entrevistasconsistiu no esclarecimento das respostas obtidas nos questionários, após esse esclarecimento, outras informações referentesà estrutura organizacional de controle desses municípios também foram coletadas.

Para análise dos dados foram utilizadas a análise descritiva e a análise do discurso. A análise descritivafoi utilizada com o objetivo de verificar a predominância das práticas executadas nas atividades das prefeituras que estejam de acordo com as diretrizes de controleinternodo COSO II e a análise do discursofoi selecionada com o objetivo deampliara análise das respostas obtidas e ainda apresentar prováveis justificativas dadas durantea investigação.

Aidentificação da estrutura das práticas de controle dos municípiosfoi feita pela análise da predominânciadas atividades das prefeituras às diretrizes técnicas do COSO II e consequentemente, peloenquadramento dessas atividadesaos componentes de gerenciamento de risco de acordo com a estrutura delimitada no framework do comitê.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 Ambiente Interno

O COSO (2007) estabelece que a dimensão “ambiente interno” compreende o tom de uma organizaçãoe fornece a base pela qual os riscos sãoidentificados e abordados pelo seu pessoal,inclusive a integridade e os valores éticos, além do ambiente em que estes estão.

Desse modo, o questionário adaptado do estudo de Ferreira (2013) para esta investigação, apresentou as diretrizes técnicas que materializam as aplicações dessa dimensão na estrutura de controle das atividades. A partir disso, nos municípios pesquisados, 83% (5) dos controladores afirmaram que a Administração Municipal dá suporte adequado para o funcionamento do controle interno, bem como delimitaram que os servidores e funcionários percebem os mecanismos gerais de controle que são instituídos para alcance dos objetivos da entidade.

Apesar da maioria dos controladores afirmarem que os servidores e funcionários percebem os mecanismos de controle, nenhum dos municípios pesquisados utiliza código de ética ou de conduta para estabelecer diretrizes comportamentais para os usuários internos. Em um dos municípios pesquisados, o código encontrava-se elaborado e estava em fase de institucionalização na entidade.

Quando indagados sobre a comunicação entre os níveis de gestão ocorrer de forma adequada e eficiente, observou-se que 67% (4) afirmaram existir tal fluência na estrutura de comunicação dessas prefeituras e 33% (2) informaram que esta não era adequada e consequentemente, não possuía eficiência. Sobre essa questão, um dos responsáveis pelo controle informou que “a comunicação ocorre e é adequada, porém não é eficiente”.

Quanto à formalização e comunicação de objetivos, metas, políticas e procedimentos pela Administração Municipal, todos os controladores informaram que isto ocorria na

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entidade. Já quando indagados sobre a existência de mecanismos que garantem ou incentivam a participação dos servidores nos níveis de estrutura e na elaboração dos planos operacionais ou do código de ética e de conduta, 83% (5) controladores afirmaram que estes não existem, em contrapartida, um controlador (17%) de um dos municípios afirmou existir estes mecanismos.

Por fim, quando indagados sobre a existência nas prefeituras de uma Política dirigida à segurança da informação e de recursos materiais concomitantemente, 50% (3) dos controladores informaram que existia tal política em contrapartida aos demais 50% (3) que informaram não existir. Um dos municípios que afirmou existir, o respondente apresentou que apenas a política referente ao controle de materiais encontrava-se implementada, já do grupo de controladores que informaram não existir, um dos respondentes afirmou que tal política encontrava-se em fase de implementação.

4.2 Definição de Objetivos

O COSO (2007) também estabelece que os objetivos das entidades devam existir antes que a administração possa identificar os eventos que poderão afetar a realização da fixação dos próprios objetivos. Diante disso, os controladores foram indagados a respeito da definição dos objetivos estratégicos das prefeituras e como estes são identificadosno desempenho de suas atividades.

Quando os controladores foram indagados a respeito dos objetivos estratégicos e as metas dos municípios estarem formalizados em manuais ou documentos, bem como serem divulgados e atualizados, 50% dos municípios (3) afirmaram que sim e consequentemente, 50% (3) informaram que não. Sobre essa indagação, um dos controladores afirmou que a definição desses objetivos ainda estava em fase de implementação.

Os controladores também foram indagados sobre a definição e divulgação dos objetivos serem efetuados em conformidade as questões legais. 67% (4) dos respondentes afirmaram que os objetivos eram definidos em conformidade as exigências normativas do TCE e CGU, em contrapartida, 33% (2) dos controladores afirmaram que estes objetivos não eram definidos conforme os normativos dos órgãos de controle externo.

Sobre a identificação dos objetivos estratégicos durante o desempenho das atividades, quando os controladores foram indagados se os objetivos referente a eficácia e a efetividade nas atividades eram definidos, divulgados e atualizados, 83% (5) dos respondentes afirmaram que sim, em contrapartida a 17% (1) que afirmaram não serem definidos, divulgados e nem atualizados. Daqueles que responderam “sim”, um dos respondentes ainda informou que os objetivos referentesà eficácia e a efetividade ainda estavam em fase de implementação.

Quanto à materialização destes objetivos e metas, todos os controladores afirmaram que os objetivos estratégicos das prefeituras são definidos em consonância ao Plano Plurianual desses municípios. Neste contexto, todos os respondentestambém afirmaram que o desempenho das atividades das prefeituras são alinhados a sua missão e seus objetivos estratégicos, contudo, as justificativas dadas pelos controladores sobre essa indagação, apresentou que uma das prefeituras o desempenham em parte e outro afirmou que esta estruturação ainda encontrava-se em fase de implementação.

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4.3 Identificação de Eventos

Para identificação de eventos, o COSO (2007) estabelece que os eventos internos e externos que influenciam o cumprimento dos objetivos de uma organização devem ser identificados e consequentemente, classificados entre riscos e oportunidades.Em conformidade ao estabelecido pelo sumário executivo do comitê, nesta dimensão, os controladores foram indagados a respeito da estrutura das prefeituras para identificação e classificação dos eventos entre riscos e oportunidades.

Diante disso, quando indagados a respeito da existência,nas prefeituras, de meios ou técnicas que identifiquem essas oportunidades ou ameaças nas atividades, todos os respondentes afirmaram que estes existem nos municípios. As justificativas dadas pelos respondentes apresentaram que, em alguns municípios (2), estes meios e técnicas estavam parcialmente implementados ou existiam em parte na estrutura de controle interno dos respectivos municípios.

Os controladores foram indagados sobre a percepção dos servidores quanto aos fatores internos e externos ou os tipos de eventos que podem afetar os objetivos da administração municipal, daí, 50% (3) dos controladores afirmaram que os servidores percebem esses fatores/tipos de eventos e 50% (3) afirmaram que não. Destes últimos, um dos respondentes afirmou que esta diretriz ainda encontrava-se em fase de reestruturação.

Quando os controladores foram questionados sobre a compreensão dos gestores das unidades sobre a relação entre os eventos e da distinção destes entre riscos e oportunidades, 67% (4) dos respondentes afirmaram que os gestores compreendiam estes eventos e os distinguia entre riscos e oportunidades, em contrapartida a 33% (2) que concordaram sobre os gestores não compreenderem os eventos e os segregar entre riscos e oportunidades.

Por fim, 83% (5) dos controladores afirmaram que na estrutura de controle dos respectivos municípios, os eventos internos e externos que influenciam o alcance dos objetivos nas prefeituras (no Plano Plurianual, por exemplo) são identificados e segregados entre riscos e oportunidades.

4.4 Avaliação de Risco

Para os riscos serem avaliados, estes devem ser analisados sendo levada em consideração a sua probabilidade de ocorrência e o impacto como base para determinar como estes deverão ser administrados (COSO, 2007). Desse modo, as diretrizes técnicas que foram analisadas nesta dimensão, buscaram avaliar como os riscos são gerenciados e o impacto causado mediante sua ocorrência.

Para investigar a estrutura da avaliação dos riscos, os controladores foram entrevistados sobre a descrição dos objetivos e metas das prefeituras estarem formalizados em documentos e manuais, daí, 67% (4) afirmou que estes estavam registrados, em contrapartida a 33% (2) que afirmaram não utilizar estes instrumentos. Dos que afirmaram utilizar, um dos respondentes informou utilizar-se apenas de documentos para descrever os objetivos e as metas, bem como, outro respondente afirmou que essa definição na estrutura de controle do município existe em parte.

Quando indagados sobre a existência de histórico de fraudes e perdas decorrentes de fragilidades nos processos internos da prefeitura, 67% (4) dos controladores afirmaram existir tal histórico, em contraparte a 33% (2) que afirmaram não ter ocorrido estes fatos nos municípios. Dos que afirmaram, os respondentes relataram a perda de notas de empenho que

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foram efetuados na gestão anterior do município.Após esta exemplificação, um dos respondentes informou que a perda desse documento chegou a “dificultar a avaliação dos controles internos pela Auditoria”.

Consequentemente, os controladores foram indagados sobre a instauração de sindicância mediante a ocorrência de fraudes ou perdas para apurar responsabilidades e exigir ressarcimentos. Diante disso, 50% (3) afirmaram ter efetuado esta prática e 50% (3) não a efetuaram.

Como medida para prevenção desses riscos, os respondentes foram questionados sobre a existência de alguma norma ou regulamento para as atividades de guarda, estoque e inventário de bens e valores de responsabilidade do seu setor. Como resultado, 50% (3) afirmaram possuir e 50% (3) não mantinham esta prática em suas respectivas estruturas de controle, em que, dos que afirmaram possuir, um dos respondentes afirmou existir em parte esta prática em sua estrutura de controle interno e dos que afirmaram não possuir, dois respondentes informaram que esta prática encontrava-se em fase de implementação.

Sobre o trabalho de avaliação de análise de risco e de ocorrência de descumprimento de normas, políticas ou procedimentos legais pela prefeitura, 50% (3) dos controladores afirmaram existir esta prática na estrutura de controle desses municípios e consequentemente 50% (3) afirmaram não existir tal prática em sua estrutura de controle. Neste contexto, em um dos municípios pesquisados, o respondente afirmou que o município por meio de uma instrução normativa,estabelecia multas e juros para servidores que descumprissem normas.

Quando os controladores foram indagados sobre a identificação dos riscos nos principais processos operacionais da prefeitura e se os riscos da instituição eram gerenciados pela Auditoria Interna, no primeiro questionamento, apenas 33% (2) dos respondentes afirmaram identificar riscos nas atividades da prefeitura. No segundo questionamento, 67% (4) dos respondentes informaram que a auditora interna é responsável pelo gerenciamento dos riscos nas atividades da instituição.

4.5 Resposta a Risco

Segundo COSO (2007) a dimensão "Resposta ao Risco" é quando a administração escolhe as respostas aos riscos, ou seja, os empregados identificam e avaliam as possíveis respostas aos riscos, evitando, aceitando, reduzindo ou compartilhando, desenvolvendo uma série de medidas para alinhar os riscos com a tolerância e com o apetite a risco. Ou seja, após ter conduzido uma avaliação dos riscos pertinentes, a administração determina como responderá aos riscos, considerando a própria resposta, a administração avalia o efeito sobre a probabilidade de ocorrência e o impacto do risco.

Ao analisar essa dimensão nas prefeituras, todos os respondentes afirmaram que Administração Municipal toma medidas para reduzir os riscos nas atividades e 83% (5)afirmaram que a administração tomam atitudes para evitar, divulgar e admitir os riscos nas atividades.

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4.6 Procedimentos de Controle

As atividades de Controle dizem respeito a políticas e procedimentos estabelecidos e implementados para assegurar que as respostas aos riscos sejam executadas com eficácia. As atividades de controle são importantes no processo pelo meio qual uma organização busca atingir os objetivos do negócio, servindo como mecanismos de gestão do cumprimento desses objetivos (COSO, 2007).

Assim, examinou-se que em todas as prefeituras pesquisadas, os limites de autoridades são claramente estabelecidos, em 83% (5) dos respondentes afirmaramque há segregação de funções e existe políticas e ações, de natureza preventiva ou de detecção, para diminuir os riscos e alcançar os objetivos, e mais,as aprovações, autorizações e verificações dos procedimentos operacionais na prefeitura não são realizadas por uma só pessoa.

4.7 Informação e Comunicação

A dimensão Informação e Comunicações tratada pelo COSO (2007) refere-se as informações relevantes que são identificadas, colhidas e comunicadas de forma e no prazo que permitam que cumpram suas responsabilidades. Ou seja, a forma eo prazo em que as informações relevantessão identificadas, colhidas e comunicadaspermitem que as pessoas cumpram com suasatribuições. A comunicação eficaz irá ocorrer quando esta fluir na organização em todas as direções, e quando os empregados receberem informações claras quanto às suas funções e responsabilidades.

A comunicação é inerente a todos os sistemas de informações, e a comunicação apropriada é necessária, não somente dentro da organização, como também fora dela. A comunicação, então, é interna e externa. Por meio de canais de comunicação abertos,clientes e fornecedores podem fornecer informações significativas (COSO, 2007).

Assim, todos os controladores municipais afirmaram que a informação disponível pela Administração Municipal é precisa, confiável e acessível, 83% (5) dos respondentes afirmaram que existe um fluxo regular de informações dirigido às necessidades dos gestores, onde a informação relevante para tomada de decisão da Administração do Município é devidamente identificada e comunicada às pessoas adequadas, e, que a informação divulgada internamente atende às expectativas dos usuários contribuindo para a execução das suas responsabilidades de forma eficaz.

4.8 Monitoramento

O monitoramento é quando a integridade da gestão de riscos corporativos é monitorada e são feitasas modificações necessárias, sendo esse monitoramento é realizado através de atividades gerenciais contínuas ou avaliações independentes ou de ambas as formas. Desse modo, a organização poderá reagir ativamente e mudar segundo as circunstâncias(COSO, 2007).

Todos os controladores afirmaram que as deficiências identificadas capazes de afetar de modo geral a Administração do Município são relatadas às unidades com condições de tomar as medidas necessárias e corretivas, eles disseram também que o sistema de controle interno do município tem contribuído para a melhoria de seu desempenho, no entanto, não sabem seo sistema de controle interno município tem sido considerado pela CGU e TCE adequado e efetivo pelas avaliações sofridas, pois não receberam resposta do controle externo quando às informações prestadas. Dessa forma, 83% (5) dos respondentes afirmaram que o

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sistema de controle interno do município é constantemente monitorado para avaliar sua validade e qualidade ao longo do tempo e que a segregação das atividades atribuídas aos servidores do município sãomonitoradas de forma que seja evitado os conflitos de interesses prejudiciais ao desempenho funcional.

5 CONCLUSÃO

A pesquisa buscou identificar a estruturadas práticas de controle dos municípios da Região Metropolitana do Recife a partir da investigação destas à luz do modelo COSO II.Nesse contexto, as práticas de controle nos municípios foram identificadas por meio das diretrizes técnicas enquadradas nas oito dimensões do COSO II.Nesta observação, o ambiente interno das prefeituras apresentou que apesar da Administração Municipal fornecer suporte adequado para o funcionamento do controle interno, este apresenta fragilidade no que concerne a estabelecer diretrizes comportamentais para os usuários internos, apesar de alguns estarem em fase de implementação.

O estudo apresentou que os controladores dos municípios concordam que a comunicação entre os níveis de gestão ocorre de forma adequada e eficiente, consequentemente, grande parte dos municípios possuíam seus objetivos, políticas e procedimentos formalizados e comunicados.Consequentemente, a maioria dos controladores concordou que os objetivos encontravam-se definidos em conformidade as exigências normativas do controle externo e consideram os parâmetros da eficácia e da efetividade.

A pesquisa investigou sob ótica dos gestores e dos servidores, a identificação de eventos que influenciam no alcance desses objetivos, os controladores concordaram que, em ambas, os fatores internos e externos que podem impedir que um objetivo seja alcançado, são percebidos e compreendidos, representando, neste caso, um fator que contribui para mitigação das fragilidades de controle e como resultado, a diminuição do risco de ocorrência de fraudes ou perdas sob a análise deste aspecto.

Apesar dametade dos municípios apresentarem que desenvolvem práticas para prevenir esses riscos e para avaliá-los, quando as práticas de controle interno dos municípios são avaliadas sob as diretrizes da dimensão “análise de risco”, uma fragilidade é encontrada no que concerne à identificação desses riscos durante o desempenho das atividades operacionais da prefeitura.

Quanto às práticas que correspondem à resposta ao risco, todos os controladores afirmaram existir nos municípios ações para evitar, divulgar e admitir esses riscos nas atividades. Daí, os procedimentos para o controle que permitem oferecer resposta aos riscos, à maioria dos controladores informou existir segregação de funções e descentralização nos procedimentos operacionais das prefeituras, tais procedimentos apresentam fatores que contribuem para mitigar a fragilidade do controle nas atividades.

A maioria dos respondentes admitiu que existeuma informação precisa, confiável e acessível, consequentemente o monitoramento é consolidado pela avaliação constante do sistema de controle interno desses municípios. Outro fator positivo identificado na avaliação das práticas de controle consistiu no relato às unidades com condições de tomar as medidas necessárias e corretivas das deficiências identificadas no próprio controle.

Por fim, o COSO (2007) admite o gerenciamento de riscos como um processo interativo segundo o qual quase todos os componentes influenciam os outros, nesse estudo, os municípios pesquisados admitiram concordância com a maioria das diretrizes analisadas,

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concluindo dessa forma, que segundo as recomendações das diretrizes técnicas do COSO, as práticas de controle interno dos municípios apresentaram umaestrutura de controle aproximado dessas recomendações.

Apesar disso, as fragilidades apresentadas em algumas diretrizes, podem interferir no direcionamento de outras atividades e estas influenciarem no alcance das metas traçadas em outras dimensões e que contribuem para fragilizara estrutura do controle interno desses municípios.

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GESTÃO DE RISCOS: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO NO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL GESSEIRO DO ESTADO DE PERNAMBUCO

AUTORES: Lucivaldo Lourenço da Silva Filho, Umbelina Cravo Teixeira Lagioia, João Gabriel Nascimento de Araújo, Juliana Gonçalves de Araujo e Francisco de Assis Carlos Filho.

RESUMO Esta pesquisa teve como objetivo geral investigar se os gestores do Arranjo produtivo local (APL) gesseiro do estado de Pernambuco conhecem, atribuem importância e utilizam informações para a tomada de decisão, decorrentes da Gestão de Risco Operacional. O estudo fez uso das análises descritiva e inferencial. Para a última análise, utilizou-se o teste não paramétrico exato de Fisher, com a Tabulação Cruzada. Este cruzamento foi realizado com o objetivo de verificar possíveis associações entre o nível de conhecimento, o grau de importância e o uso das informações na Gestão de Risco Operacional. Os dados foram coletados por meio da aplicação de questionários in loco, onde obteve-se a participação de 53 empresas. Identificou-se que, de forma geral, os gestores das empresas pertencentes ao APL gesseiro, não conhecem os conceitos de risco operacional, no entanto, eles atribuem um alto grau de importância para as informações geradas decorrentes do mesmo. Em relação às associações obtidas com a Tabulação Cruzada, para todas as dimensões estudadas, identificou-se que os gestores atribuem importância, mesmo que não tenham conhecimento em relação a risco operacional. Em relação à importância atribuída, também foi verificado que não há uma associação estatisticamente significativa entre o nível de importância atribuída e a utilização da gestão do risco operacional, o que implica em concluir que a sua utilização independe do nível de importância atribuída. Palavras-chave: APL; Gestão de risco operacional; Polo Gesseiro.

1. INTRODUÇÃO

O Arranjo Produtivo Local (APL) caracteriza-se por um aglomerado de empreendimentos em determinado território com indivíduos que atuam em torno de uma atividade produtiva predominante, compartilhando formas de cooperação e algum mecanismo de governança, e pode incluir pequenas, médias e grandes empresas. Neste espaço encontram-se presentes agentes econômicos, políticos e sociais com um objetivo em comum para o desenvolvimento de atividades econômicas interdependentes(MDIC, 2006; REDESIST, 2012).

Como a atividade se consolida numa região, a criação de um APL atrai investimentos, geralmente cria ou reforça a aglomeração de empresas, proporciona elevação da renda e induz investimentos públicos em infraestrutura (SANTOS, DINIZ, BARBOSA, 2004).

A origem do APL não é recente, remonta há mais de um século e baseia-se nas ideias de Alfred Marshall (1890) sobre regiões de desenvolvimento têxteis e metal - mecânica da Alemanha, Inglaterra e França. O entendimento de Marshall se baseava na formação das “fazendas industriais”, tais fazendas poderiam proporcionar uma redução de custos, à medida que o conjunto maquinário utilizado seria específico, economizando recursos e evitando desperdícios, tornando-se viável a utilização de subprodutos.

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São encontrados vários APL´s no Estado de Pernambuco, um deles é o gesseiro, que será objeto de estudo desta pesquisa.Este APL é relevante em virtude de ser considerado como o maior polo gesseiro do Brasil, chegando a produzir 95% do total da produção nacional. As empresas deste APL oferecem cerca de 13.200 empregos diretos e aproximadamente 66.000 indiretos, sendoestas de diversos portes, desde micro e pequeno a empresas de médio porte(SINDUSGESSO, 2012). Entretanto, ressalta-se que no decorrer da pesquisa também foi observada a existência de empresas de grande porte.

Independente doportefaz-se necessário para a continuidade dessas entidades uma boa gestão. No processo de gestão, a tomada de decisão é realizada constantemente em todos os níveis da empresa.E para a tomada de uma decisão mais acertada o gestor precisa ser subsidiado por informações que o possibilitema percepção de qual a melhor decisão a ser tomada.

Neste contexto, Hall et al. (2012) enfatiza que a contabilidade por meio de suas ferramentas ou de seus instrumentos de subsídio à gestão é capaz de contribuir na redução da mortalidade das pequenas empresas. A partir de constatações empíricas, os referidos autores identificaram que os empresários utilizam as informações contábeis muito timidamente, sendo suas decisões baseadas mais no conhecimento do negócio do que nestas informações. Pelissari, Vanalle e Gonçalvez (2006) também constataram que 40% dos gestores de micro e pequenas empresas tomam decisões estratégicas com base em suas experiências ou de terceiros.

Caso este comportamento seja identificado no APL gesseiro pode influenciar na sobrevivência das empresas deste arranjo. Visto que,o atual ambiente de negócios está cada vez mais interdependente e caracterizado pelo elevado grau de mudança e incerteza, assim, é relevante a utilização das informações geradas pela contabilidade na gestão empresarial.

Neste cenário, observa-se a necessidade das empresas, dos proprietários e dos gerentes de conhecerem os seus empreendimentos com a finalidade de entender e controlar efetivamente seus riscos operacionais.

Diante do que foi exposto, o estudo terá como objetivo responder ao seguinte questionamento: Os proprietários/gestores do APL gesseiro do Estado de Pernambuco conhecem, atribuem importância e utilizam as informações advindas da gestão de risco operacional na tomada de decisão gerencial?

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. ARRANJO PRODUTIVO LOCAL

Arranjos Produtivos Locais (APL), segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC (2012) são grupos territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais que possuem os seus objetivos voltados para um segmento de atividade econômica, envolvendo interações entre as entidades relacionadas. Estes grupos podem ser fornecedores, produtores de bens e serviços ou comercializadores, e envolvem uma cadeia de interessados no ramo da atividade econômica estabelecido.

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Estas aglomerações de empresas em áreas geográficas com objetivos voltados a uma atividade econômica são objetos de estudo e debate em diversas áreas do conhecimento. No entanto, a referência histórica para os estudos relacionados a estas aglomerações é Alfred Marshall (1890), que segundo Kukalis (2010) “foi o primeiro estudioso a investigar a concentração de comércios especializados em certas localidades”.

De acordo com Stainsack (2005), um APL deve ter uma quantidade significativa de empreendimentos e indivíduos que operam sob uma atividade produtiva e atuam em um mesmo território, e atuam compartilhando o conhecimento percebido da cooperação e mecanismo de governança, podendo ter empresas de pequeno, médio e grande porte.

Devido aos benefícios gerados por um APL, conforme Galdámez, Carpinetti, e Gerolamo (2009) há uma tendência dos países promoverem a concentração de Pequenas e Médias Empresas (PMEs) que atuam sob o mesmo tipo de negócio ou atividade econômica, e este fenômeno de aglomerações de PMEs é denominado na literatura como Clusters, no entanto, os autores ressaltam que o termo mais comum no Brasil é o de Arranjo Produtivo Local (APL).

Porter (1998) conceitua cluster como “um agrupamento geograficamente concentrado de empresas inter-relacionadas e instituições correlatas numa determinada área, vinculadas por elementos comuns ou complementares”. Mas que conforme o autor esta concentração pede contemplar apenas uma cidade, cidades vizinhas, uma região de um país, todo o país, ou até uma rede de países próximos.

Seja considerado APL ou clusters, Matos e Machado (2013) consideram ambas como novas formas organizacionais que podem possibilitar as micro e pequenas empresas a conseguir ganhos em economias de escala de escopo, devido elas se tornarem altamente competitivas.

Diversos trabalhos abordaram essa temática, tais como Sörvell (2007), Galdámez, Carpinetti, e Gerolamo (2009),Vilela Junior (2010), Diez-Vial (2011).Observando o contexto brasileiro, Correia, Mariani, e Ferreira (2012) e Matos e Machado (2013).Nesses estudos, observa-se na literatura diversos benefícios provenientes da prática de atuação produtiva e econômica em formato de APL, contudo, também identifica-se alguns procedimentos inadequados que podem prejudicar as empresas destes arranjos.

2.1.1 ARRANJO PRODUTIVO LOCAL GESSEIRO

O estado pioneiro no país na produção gipsita e de gesso foi o Rio Grande do Norte, o qual iniciou suas atividades em 1938 e conseguiu o monopólio deste mercado durante 20 anos (CUNHA, et al., 2008). Contudo, na década de 60, Pernambuco assumiu a posição de maior produtor nacional e mantém esta posição até hoje (SINDUSGESSO, 2012).

O Polo Gesseiro do Estado de Pernambuco compreende as cidades de Araripina, Ipubí, Ouricuri, Bodocó e Trindade, as quais ficam situadas no extremo oeste do Estado, sendo equidistantes cerca de 800 km das principais capitais (Recife, Salvador, Fortaleza, Aracaju, Maceió, João Pessoa e Natal). (SINDUSGESSO, 2012).

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Este polo é considerado tanto em âmbito estadual quanto federal como Arranjo Produtivo Local-APL. Ele tem uma reserva estimada 1,22 bilhão de toneladas o que corresponde a uma das reservas mais expressivas do mundo e a maior medida no Brasil (FALCÃO, 2009).

A produção de gesso desta região quando comparada a produção mundial, chega a cerca de 45% da produção mundial de gesso, fazendo com que essa região seja considerada uma das maiores jazidas do mundo (ANDRADE, FARIAS, MOUTINHO, 2013).

O pólo gesseiro além de ser considerado um APL pelos entes públicos, e ser o maior produtor do gesso consumido no país, segundo Luz e Lins (2005) as jazidas de minério da região do Araripe apresentam uma excelente condição de mineração, assim como, também tem o minério de melhor qualidade do mundo. Deste modo, percebe-se que além de sua reconhecida importância e grande capacidade de exploração, este arranjo também oferece uma qualidade de seus produtos que podem abrir novos mercados consumidores.

2.2. GESTÃO DE RISCO OPERACIONAL

O risco para a maioria das pessoas é a probabilidade de se obter maus resultados nos “jogos da vida”. Como por exemplo, ao dirigir um carro em alta velocidade, há o risco de sofrer um acidente, de receber uma multa. O risco tem uma conotação quase inteiramente negativa. Mas, em finanças o conceito de risco é bem mais abrangente, porque ele inclui não exclusivamente os resultados indesejáveis, mas também os bons resultados, que seria o retorno acima do inicialmente esperado (DAMODARAN, 2010).

A visão tradicional do risco é um conceito que é amplamente discutido na literatura de finanças, (JORION, 2003; DAMODARAN, 2004; ASSAF NETO, 2009), contudo, este conceito também é utilizado na controladoria, como uma das ferramentas que possibilitam a identificação de riscos cujo podem ou poderiam influenciar no resultado das empresas (PADOVEZE, 2011)

AssafNeto (2009, p.215) afirma que “o risco pode ser entendido pela capacidade de se mensurar o estado de incerteza de uma decisão mediante o conhecimento das probabilidades associadas à ocorrência de determinados resultados ou valores”.

Para Padoveze (2011, p. 135 e 136) o conceito geral de risco é “definido como eventos futuros incertos, que podem influenciar o alcance dos objetivos estratégicos, operacionais e financeiros da organização”. Para tanto o autor propõe a gestão dos riscos da empresa, cujo foco seria o de “manter um processo sustentável de criação de valor para os acionistas, uma vez que qualquer negócio sempre está exposto a um conjunto de riscos”.

Ainda de acordo com Padoveze (2011), para a consecução da gestão de risco se faz necessário criar uma “arquitetura informacional” para monitorar a exposição da empresa ao risco. Assim, o autor defende a relação sistêmica do ambiente externo e interno, no qual, é considerado o ambiente interno, quando a gestão do risco percebe o risco em uma perspectiva de conformidade, e o ambiente externo percebendo o risco como uma perspectiva de desempenho.

O risco operacional está relacionado a possíveis perdas relativas à má gestão operacional seja como resultado de sistemas e/ou controles inadequados, falhas de gerenciamento e erros humanos (JORION, 2003). Deste modo, Duarte (2001) define que o risco operacional “é uma medida das possíveis perdas em uma instituição caso seus sistemas,

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práticas e medidas de controle não sejam capazes de resistir a falhas humanas ou situações adversas de mercado”.

Brasiliano (2003) classifica 16 (dezesseis) tipos de riscos operacionaisem4 (quatro) subáreas, classificando-os se estão relacionados a proteção do patrimônio, a segurança das informações, a administração dos recursos humanos, ou riscos provocados pela atividade fim da organização e suas estratégias. São elas: Riscos relacionados à proteção patrimonial: risco de overload, risco de obsolescência,risco de equipamento e risco de catástrofe; Riscos relacionados à segurança das informações: risco de presteza e confiabilidade e risco de modelagem; Riscos decorrentes diretamente da administração dos recursos humanos: risco de erro não intencional, risco de fraudes e risco de qualificação; e Riscos provocados pela atividade fim da organização e suas estratégias: risco de produtos e serviços, risco de regulamentação, risco de liquidação financeira, risco sistêmico, risco de concentração, risco de imagem.

Esta indicação da quantidade de categoria de riscos coaduna com Marshall (2002), que defende que o risco operacional é bem amplo e abrangente, devido à grande quantidade de situações em que as entidades estão expostas do ponto de vista operacional.

3. METODOLOGIA

A pesquisa teve como população as empresas situadas no arranjo produtivo local gesseiro do estado de Pernambuco composto pelas cidades de Araripina, Trindade, Ipubi, Ouricuri e Bodocó.A escolha das empresas que fizeram parte da amostra foi definida utilizando-se do processo denominado bola-de-neve. Dessa forma, obteve-se a participação de 53 empresas que se disponibilizaram a responder o questionário de pesquisa.Salienta-se que inicialmente foi utilizada uma lista das empresas de gesso associadas à Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (FIEPE). A partir dessa lista, foram realizados contatos para a realização de agendamentos por telefone e e-mails, no entanto, parte significativa dos dados não estava atualizada, o que inviabilizou o agendamento com todas as empresas associadas.

A coleta dos dados realizou-sepor meio da aplicaçãode questionário juntos aos proprietários/gestores das empresas pesquisadas, sendo coletadosin loco pelo próprio pesquisador durante o mês de agosto de 2013. O instrumento de coleta de dados utilizado foi dividido em dois grupos. No primeiro, estão contidas as informações socioeconômicas do respondente e da empresa (cargo, formação, tempo de atuação no mercado, ramo de atividade,produtos comercializados, quantidade de empregados, faturamento médio e estilo de gerenciamento).

O segundo grupo foidedicado à gestão de risco operacional,buscando identificar se os respondentes conheciam adequadamente as dimensões estudadas, qual o grau de importância atribuída a elas.Posteriormente, abordou-se a utilização destas dimensões no processo de tomada de decisão.

Os dados coletados em campo foram tratados e analisados com o auxílio do SPSS versão 20.0. A princípio, foi realizada a análise descritiva dos dados e posteriormente fez-se uso da análise inferencial por meio dos testes de hipóteses Qui-quadrado e teste exato de Fisher, utilizados no intuito de verificara existência de associação entre as variáveis estudadas.

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4. ANÁLISE DOS DADOS

4.1. ANÁLISE DOS DADOS SOCIOECONÔMICOS

Foram entrevistadas 53 empresas, nas quais foram consultadas as pessoas que estivessem ligadas diretamente ao processo de gestão. Deste modo, foram entrevistados os proprietários, sócios, gerentes ou assistentes dos proprietários.A maior parte da amostra foi composta por gerentes (54,72%), seguido dos proprietários e assistentes dos proprietários (35,85% e 9,43% da amostra, respectivamente).

Foi verificado também qual o grau de instrução dos entrevistados, no qual foi identificado que dos 19 proprietários, 11 detêm o ensino médio e 8 a formação em curso superior. Dos 29 gerentes, 12 possuem o ensino médio, 17 possuem formação em curso superior, nos quais, apenas 1 possui além da graduação uma pós-graduação. Dos 5 assistentes, 2 deles possuem o ensino médio, e 3 possuem um curso superior, sendo que 1 destes possui uma pós-graduação.

A partir dos dados encontrados, percebeu-se que mais de 50% dos entrevistados possuem formação superior de natureza diversa. Os dados evidenciam que dentre os cursos mais citados, o de Ciências Biológicas prevaleceu dentre os demais (15%), seguido por Ciências Contábeis e Letras (14%). Outros cursos, que foram citados apenas uma vez pelos respondentes, representam 32% da amostra.

Das empresas estudadas, 47,17% (25 empresas) já estão consolidadas no mercado, pois possuem mais de 5 anos de atuação no pólo gesseiro. Por outro lado 30,19% (16 empresas) possuem de 2 a 5 anos; e 22,64% (12 empresas) possuem até 2 anos.

Em relação aos produtos comercializados, verificou-se que a maioria das empresas pesquisadas 50,94% (27 empresas) trabalha apenas com a calcinação, enquanto 15,09% (8 empresas) vendem o gesso em forma de pré-moldado, 28,30% (15 empresas) vão desde a calcinação até a fabricação de pré-moldados, 3,77% (2 empresas) exploram apenas a mineração e apenas 1,89% (1 empresa) produzgessos especiais.

Em relação à quantidade de funcionários, optou-se pela classificação oferecida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a qual agrupa as empresas de acordo com o critério do número de funcionários. A partir desse critério, foi identificado que apenas 1 empresa é considerada empresa de médio porte, o que revela uma predominância no estudo de empresas Micro 52,83% (28 empresas) e de pequeno porte 45,28% (24 empresas).

Também foi analisado o faturamento anual das empresas pesquisadas. Neste tópico a categorização das faixas de faturamento foi embasada na Lei Complementar 123/06, que trata do Regime Tributário do Simples Nacional. Diante do critério utilizado, constatou-se que das 53 empresas estudadas, apenas 7 (13,21% da amostra) são empresas de médio a grande porte, enquanto 12 empresas (22,64%) são Microempresas. A maioria da amostra estudada, representada por 34empresas (64,15%), são Empresas de Pequeno Porte. Esse resultado enfatiza a predominância na amostra desse estudo de Microempresas (ME) e Empresas de Pequeno Porte (EPP) as quais representam 86,79% da amostra.

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Com o objetivo de verificar como estas empresas tratam os seus dados patrimoniais, foi verificado se a Contabilidade delas é realizada internamente ou se é terceirizada por escritórios de contabilidade.Foi constatado que a grande maioria delas (92,5%) contrata escritórios para o atendimento das suas obrigações legais e para o atendimento de suas necessidades internas.

Foi verificado ainda que não existe uma relação entre o porte da empresa e a decisão de se terceirizar os serviços de contabilidade. Das 4 empresas que afirmaram ter um departamento de Contabilidade, 2 delas faturam entre R$ 360.000,00 e R$ 3.600.000,00 por ano, e as outras 2 detém um faturamento acima R$ 3.600.000,00. Por outro lado, das 49 empresas restantes, 12 faturam abaixo de R$ 360.000,00 ano, 32 faturam entre R$ 360.000,00 e R$ 3.600.000,00 por ano, e 5 acima de R$ 3.600.000.

Já com relação ao modelo de gestão da amostra estudada, 69,81% dos respondentes relataram que, na maioria das vezes, as decisões são delegadas para os funcionários, enquanto 30,19% concentram as decisões. Este resultado evidencia uma predominância de gestões menos centralizadoras, o que permite uma maior participação dos colaboradores da empresa.

Com relação ao processo de tomada de decisão, foi questionado junto aos pesquisados como normalmente são tomadas as decisões na empresa. Os resultados demonstram que em 83,02% das empresas pesquisadas as decisões são baseadas tanto em fatores intuitivos quanto em relatórios e indicadores gerenciais, seguido por 15,09% que baseiam suas decisões exclusivamente em suas intuições, e apenas 1,89% das empresas escolheram a opção de utilizar os relatórios e indicadores gerenciais, e a partir desses dados escolherem a melhor opção.

4.2. ANÁLISE DA GESTÃO DO RISCO OPERACIONAL

No que se refere à Gestão do risco operacional, foi investigado se os pesquisados conhecem o Risco Operacional em conformidade com o concebido peloComitê da Basiléia (BIS, 2004, p. 137) “como o risco de perda resultante de processos internos inadequados oufalhos, pessoas e sistemas, ou eventos externos”.(Tradução Livre)

Deste modo, dentre os respondentes, foi considerado como quem entendem corretamente risco operacional aqueles que escolheram “exclusivamente” a opção “Riscos de perdas associadas a falhas nos processos internos, pessoas e sistemas, ou, ainda, a eventos externos”, e aqueles que além desta opção, também escolheram a opção “Possibilidade de perdas resultantes de multas, penalidades ou indenizações”.

Assim, apenas 30,19% (16) dos respondentes entenderam de forma adequada o conceito de risco operacional.

Diante os resultados da pesquisa, foi verificado que o erro mais comum dos respondentes foi o de escolher a opção que abordava orisco operacional em conjunto com a opção que tratavado risco de crédito, seguido por aqueles que além de escolher a opção que contempla o risco operacional também declararam que esse tipo de risco está associado à desvalorização de seu produto no mercado. Esses equívocos ocorreram respectivamente com 39,62%, e 18,87% dos respondentes.

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Conforme já apresentado anteriormente, a maioria dos respondentes (69,81%) não entendem o risco operacional adequadamente, no entanto, eles atribuem um alto grau de importância a esta variável de pesquisa, pois, a gestão de risco operacional é tida para os pesquisados como Importante (28,30%), ou muito importante (71,70%), não havendo nenhum considerado como sem ou pouco importante.

No que se refere às fraudes internas, verificou-se que 90,57% das empresas monitoram a possibilidade erros, falhas ou fraudes dos funcionários.

Quanto às práticas empregatícias das empresas e da segurança no ambiente de trabalho, 96,23% delas declararam atender aos padrões trabalhistas previstos em lei, já quanto à segurança do ambiente de trabalho 83,02% dos respondentes consideram que a atividade da empresa é insalubre e perigosa, contudo, 96,23% disponibilizam equipamentos de proteção (E.P.I) para os seus funcionários.

Para a averiguação do controle dos danos nos ativos físicos, foi inicialmente verificado se a empresa possuem ativos fixos sujeito a danos, no qual, 96,23% afirmaram deter esses ativos, das quais 94,34% das empresas realizam o monitoramento dos seus ativos, assim como, 100% delas declararam realizarem revisão periódica em suas instalações físicas, e para evitar as falhas de sistemas, 77,36% das empresas informaram que investem em tecnologia para a gestão da empresa.

Com relação aos processos, observou-se que 37,74% das empresas formalizam as rotinas operacionais e administrativas com o fim de facilitar o controle das rotinas, 58,49% faz uso de formulário ou relatório de revisão das rotinas operacionais e administrativas, assim como, 62,26% se utilizam de mecanismos de identificação e análise dos riscos inerentes às operações da empresa.

E no âmbito das situações relacionadas aos clientes, produtos e as práticas de negócio, verificou-se que 83,02% afirmam controlar possíveis insuficiências de infraestrutura, recursos humanose materiais, enquanto, 100% das empresas defenderam adquirir matérias-primas que atendem a atividade operacional, 88,68% previnem perdas com seus fornecedores, e também previnem a ocorrência de danos aos produtos, durante o desenvolvimento das atividades, 92,45% realizam o monitoramento de falhas não intencionais em seus produtos, assim como, 94,34% declararam oferecer produtos e serviços adequados e devidamente formalizados, e também fornecem produtos suficientes para atender a demanda externa, contudo, apenas 41,51% elaboram estratégias para o transporte dos seus produtos desde a origem até o destino.

Também foi verificado se teria algum motivo que levaria a empresa a não realizar a gestão de risco operacional, no entanto, nenhum respondente se posicionou, deste modo, a partir dos dados apresentados constata-se que as empresas estudadas utilizam a gestão de risco operacional na gestão de suas respectivas empresas, e neste contexto, também foi verificado se estas empresas levam em consideração a gestão do risco operacional em seu processo decisório.

Esse resultado demonstra que a maioria das empresas representada por 86,79% delas utilizam a variável “Gestão de risco operacional” objeto de estudo deste trabalho em seu processo decisório.

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Em seguida observou-se a finalidade com que as empresas pesquisadas utilizavam a gestão de risco operacional, no qual verificou-se que das 46 que anteriormente declararam utilizar essa variável, 50,0% utilizam para análise de desempenho, 58,47% para obter uma vantagem competitiva, enquanto, 71,74% utilizam para obter um maior controle organizacional.

Deste modo, infere-se que a maioria das empresas utiliza a gestão de risco operacional em sua gestão e no seu respectivo processo decisório, tendo como principal finalidade o controle organizacional.

4.3. ANÁLISE INFERENCIAL DA GESTÃO DE RISCO OPERACIONAL

Quanto às relações testadas sobre as questões de risco foram encontradas algumas estatisticamente significantes.

Foi verificada a relação existente entre a gestão do risco operacional com a utilização de alguns eventos relacionados aos riscos inerentes a fraudes internas, práticas empregatícias e segurança no ambiente de trabalho, possíveis danos aos ativos físicos da empresa, falhas de sistemas, processos operacionais da empresa, e seus produtos. Os dados encontrados estão dispostos na Tabela 11:

Tabela 1 – Nível de importância da gestão de risco operacional x Eventos de riscos operacionais

Riscos inerentes aos processos operacionais da empresa

Utiliza a gestão de risco operacional no processo decisório

Utilizam mecanismos de identificação e análise dos riscos inerentes às operações da empresa p-valor

Sim Não

Sim 32 (69,6%) 14 (30,4%) 0,009

Não 1 (14,3%) 6 (85,7%)

Riscos inerentes aos produtos

Utiliza a gestão de risco operacional no processo decisório

Realiza o monitoramento de falhas não intencionais relacionados aos seus produtos p-valor

Sim Não

Sim 45 (97,8%) 1 (2,2%) 0,006

Não 4 (57,1%) 3 (42,09%)

Utiliza a gestão de risco operacional no processo decisório

Oferece produtos e serviços adequados e formalizados p-valor Sim Não

Sim 45 (97,8%) 1 (2,2%) 0,043

Não 5 (71,4%) 2 (28,6%)

Fonte: Dados da pesquisa.

As práticas preventivas realizadas pelas empresas que obtiveram significância ao nível de 5% foram os riscos inerentes aos processos operacionais da empresa, e os riscos inerentes aos produtos das empresas.

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Em relação aos riscos inerentes aos processos operacionais, dos 86,79% que utilizam a gestão de risco operacional em seu processo decisório, 69,6% também acompanham os riscos originados dos processos operacionais. Deste modo, infere-se que para as empresas pesquisadas, aquelas que utilizam a gestão de risco operacional tendem a também utilizar mecanismos de identificação e análise dos riscos inerentes às operações da empresa.

Já para os riscos relacionados aos produtos, verificou-se que a maioria das empresas que utiliza a gestão de risco operacional, tende a também realizar o monitoramento de falhas não intencionais relacionados aos seus produtos, e também oferecem produtos adequados e formalizados.

5. CONCLUSÃO

O presente estudo teve como objetivo geral investigar se os gestores do APL gesseiro do estado de Pernambuco conhecem, atribuem importância e utilizam as informações para a tomada de decisão gerencial, decorrentes da Gestão de Risco Operacional.

Deste modo, conforme análise, concluiu-se que predominantemente os gestores nãoconhecem os conceitos de risco operacional, mas atribuem a ele um alto grau de importância, e as suas respectivas empresas de maneira geral utilizam a gestão de risco operacional em seu processo de tomada de tomada de decisão gerencial.

Quanto aos riscos relacionados aos produtos, verificou-se que a maioria das empresas que utiliza a gestão de risco operacional, tende a também realizar o monitoramento de falhas não intencionais relacionados aos seus produtos, e também oferecem produtos adequados e formalizados.

Devido à escassez de estudos que abordem a mesma temática ou variáveis semelhantes em outros APLs, este trabalho teve como uma de suas principais limitações a falta de estudos publicados que permitissem a realização de uma análise comparativa. Outra limitação desse estudo foi à quantidade de empresas pesquisadas em detrimento a população que compõem o APL investigado, fazendo com que os resultados dessa pesquisa estejam restritos a amostra desse estudo.

Sugere-se para pesquisas futuras a realização de estudos com um número maior de variáveis a serem investigadas, o que permitirá um amplo entendimento do APL gesseiro. Assim como a realização de pesquisas semelhantes em outros arranjos produtivos locais do país, permitindo a realização de análise comparativa, a fimde possibilitar um confronto entre os resultados.

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UM ESTUDO SOBRE AS IMPLICAÇÕES DA IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA PÚBLICO DE ESCRITURAÇÃO DIGITAL (SPED) PARA COM OS

PROFISSIONAIS CONTÁBEIS

AUTORES: André Ribeiro de Lira e Ilka Gislayne de Melo Souza

RESUMO

O sistema publico de escrituração digital (SPED) foi implantado em 2007, com o objetivo de agilizar e tornar mais eficiente a fiscalização, através de uma informação unificada, confrontando os dados das três esferas: Municipal, Estadual e Federal. Com base neste contexto o presente estudo traz como objetivo evidenciar as implicações trazidas pela implantação do sistema público de escrituração digital (SPED) nos escritórios contábeis. A pesquisa foi subsidiada por um questionário onde os entrevistados foram os contadores e responsáveis pela elaboração e apresentação das declarações. Com base nos resultados obtidos, ficou constatado que as implicações ocorreram de maneira negativa para os escritórios contábeis, pois os mesmos tiveram que modificar sua rotina, disponibilizando mais tempo e recurso para tais implantações, onde as informações exigidas pelo SPED são as mesmas apresentadas em outras declarações, sobrecarregando os escritórios, causando involuntariamente um esquecimento do verdadeiro objetivo da contabilidade.

Palavra Chave:Implicações do SPED, Nota Fiscal Eletrônica (NFE), Escrituração Fiscal Digital (EFD), Escrituração Contábil digital (ECD)

1.INTRODUÇÃO

A Era Digital vem trazendo grandes dificuldades para os profissionais da área contábil, no quesito rapidez de processamentos das informações contábeis e grandes quantidades de declarações para atender o ente federativo na esfera Municipal, Estadual e Federal.

O governo com o intuito de controlar e fiscalizar as empresas criou programas onde são

processadas as informações, de forma rápida e precisa, com o apoio da tecnologia começaram a demandar uma serie de declarações especificas para cada ente federativo, Municipal, Estadual ou Federal, e podem ser exigidas de forma mensal, trimestral ou anualmente, cujas declarações já existentes eram: Demonstrativo de Apuração de Contribuições Sociais (Dacon), Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais (DCTF), Declaração de Informações Econômico-fiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ), Sistema de Escrituração Fiscal (SEF), Guia de Informação Mensal (GIM) e Guia de Informação e Apuração do ICMS GIA/ICMS.

Com o passar dos anos o governo sentiu a necessidade de uma fiscalização mais rígida, e

de forma mais rápida, eliminando assim o meio manuscrito, ou vulgarmente chamado como meio de papel, chegando a era digital a fim de facilitar a comunicação entre os fiscos, surge então o Sistema Publico de Escrituração Digital (SPED) entre os anos de 2007 – 2010 como medida do programa de aceleração do crescimento (PAC). O SPED é dividido em três grandes programas, são exemplos: Nota Fiscal Eletrônica (NF-e), Escrituração Fiscal Digital (EFD) e Escrituração Contábil Digital (ECD).

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Com base em pesquisa realizada por Krüger e Feksa (2013 p. 13) Demonstram que com isso surgem os primeiros problemas: o SPED foi desenvolvido em 2008 e tendo sua obrigatoriedade em 2009 para as chamadas empresas de grande porte.

Com tamanha velocidade as empresas tiveram dificuldades em se adequar, pois muitas

não detinham mão de obra qualificada e adequados sistemas de informações, as dificuldades não só assombravam as empresas mais também os técnicos de TI, pois também precisavam adequar seus programas a nova realidade, fazendo com que os softwares não só gerassem informações para os administradores, como controle de estoque e etc.

Os programas tinham que manter uma comunicação intensa com a área contábil por se

tratar de uma tecnologia nova, os programas de transmissão apresentam diversos conflitos, como erros de estrutura digital, má funcionamento das ferramentas, conflitos de informações, campos bloqueados e etc. Com isso sente-se a necessidade de lançar diversas atualizações para tentar solucionar tais erros, e por consequência prorrogação de prazos.

Krüger e Feksa (2013) Mencionam que outro ponto crítico que não pode ser deixado de lado é a falta de prazos, o governo lança seus programas e um curtíssimo prazo para apresentação das informações, onde os contadores necessitam não só dar conta de suas obrigações diárias, mas também se dedicar a aprender as funcionalidades dos novos softwares, se aventurando nos complexos manuais eletrônicos.

Diante desse contexto surge a questão que norteou esta pesquisa: De acordo com as mudanças trazidas pelo sistema publico de escrituração digital (SPED), quais as implicações aos escritórios contábeis na cidade de caruaru? E teve como objetivos, evidenciar as principais mudanças trazidas pela era digital, demonstrar os benefícios e dificuldades trazidas pelo SPED e verificar se existe algum tipo de resistência por parte dos empresários clientes em relação à modernização trazida pela era digital.

A realização do presente estudo torna-se viável visto que evidencia a importância dos empresários contábeis em conhecer e aceitar as novas mudanças trazidas pela era digital. A profissão Contábil se encontra atualmente em constante evolução, as informações contábeis vêm evoluindo muito rápido, e tamanha velocidade pode trazer uma serie de problemas tanto no lado governamental como no lado organizacional.

Estudos já foram produzidos, e o presente artigo tomou como base outras pesquisas já realizadas neste assunto(MANOEL et al 2011; ALBERTIN 2005; MOTA E CIRINO; MAIDA 2007; FRANCISCO 2008; DIAS 2000)

Manoel et al (2011 p. 3), demonstram em seu estudo como ocorreram e ocorrem as mudanças da escrituração contábil para a escrituração contábil digital, como isto afeta a profissão contábil e todos os demais usuários da contabilidade.

Numa perspectiva diferenciada Albertin (2005) evidencia a importância do uso da tecnologia da informação (TI) no meio empresarial, demonstrando os benefícios relevantes para uma boa administração, seu estudo foi produzido em cima de um estudo de caso em uma empresa industrial de nome não revelado para preservar o anonimato da mesma.

Por outro lado Mota e Cirino (2010) demonstram em seu trabalho os benefícios trazidos pela implantação do Sistema Publico de Escrituração Digital (SPED) junto com sua

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ramificação a Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) através de uma pesquisa bibliográfica, os autores concluem seu estudo afirmando que a implantação do SPED e em especial a NF-e revolucionam as obrigações tributarias das empresas através do cruzamento de dados, simplificando a apuração dos impostos e reduzindo o tempo gasto para o cumprimento das atividades, e assim aumentar a arrecadação de impostos,

Enquanto Francisco (2008) evidencia em seu trabalho o impacto da implantação do sistema publico de escrituração digital na gestão de micro e pequenas empresas, e obteve resultado através de livros, periódicos, sítios eletrônicos e entrevistas com contadores, seu estudo demonstrou que a implantação do SPED resultará na necessidade de utilização de sistemas de informação gerencial em micro e pequenas empresas, uma vez que um de seus princípios é a transmissão informatizada de dados aos órgãos fiscalizadores, aumentando assim a necessidades de um banco de dados confiável e lícito por parte das empresas.

O presente estudo traz como diferencial, demonstrar como está a implantação das novas mudanças, a adaptação e aceitação da era digital em escritórios contábeis, focando nos seguintes aspectos: velocidade da evolução da informação contábil, e quantidade de informações exigidas pelos Fiscos.

2. Referencial Teórico

2.1. Sistema Público de Escrituração Digital (SPED)

2.1.1. Criação

Instituído pelo Decreto nº 6.022, de 22 de janeiro de 2007, o Sistema Público de Escrituração Digital (SPED) faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal (PAC 2007-2010) e constitui-se em mais um avanço na informatização da relação entre o fisco e os contribuintes. (RECEITA FEDERAL 2013)

De Acordo com Tavares (2003) SPED parte da iniciativa das três esferas (Municipal, Estadual e Federal) a fim de se ter uma informação uniformizada e maior facilidade na comunicação de informações.

2.1.2. Objetivos do SPED

Conforme a economia brasileira cresce, o numero de informações exigidas pelogoverno também segue o mesmo ritmo, com isso o governo sentiu a necessidade de criar uma forma de fiscalização mais rápida e eficiente, pois muitas empresas tem uma movimentação financeira imensa, sendo humanamente impossível de fiscalizar, dai a necessidade da integração dessa ferramenta digital o SPED,cujo o mesmo tem a capacidade de confrontar as informações de diversos bancos de dados, podendo assim não necessitar de fiscalização presencial.

Com a criação e implantação do SPED as secretarias da fazenda se comunicam entre si, tendo um padrão de informações que são rapidamente acessadas, facilitando as fiscalizações e o controle dos processos.

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A Receita Federal (2013) Informa que o objetivo do SPED é:

Promover à integração dos fiscos, mediante a padronização e compartilhamento das informações contábeis e fiscais, respeitadas as restrições legais. Racionalizar e uniformizar as obrigações acessórias para os contribuintes, com o estabelecimento de transmissão única de distintas obrigações acessórias de diferentes órgãos fiscalizadores. Tornar mais célere a identificação de ilícitos tributários, com a melhoria do controle dos processos, a rapidez no acesso às informações e a fiscalização mais efetiva das operações com o cruzamento de dados e auditoria eletrônica.

Mota e Cirino (2010 p. 4) reforçam que: “O objetivo principal é aprimorar e proporcionar maior eficiência, eficácia e efetividade na administração tributária brasileira, por meio da integração, racionalização de esforços e recursos, pela obtenção de sinergia entre setores”.

2.1.3. Benefícios do SPED

De acordo com pesquisas já realizadas na área, ficou constatado que o SPED contribui intensivamente para a revolução da profissão contábil “No novo cenário, o profissional contábil se torna ainda mais importante, pois a contabilidade deixa de ter exclusivamente o foco fiscal e passa a ser uma ferramenta digital para tomada de decisões.” (FRANCISCO 2008 p. 36)

Com a era digital, mais especificamente a era SPED a contabilidade deixou de ser apenas uma profissão mecânica, onde o contador apenas se preocupava com a apuração de impostos, e obrigações trabalhistas de seus clientes, o contabilista passa a ser uma peça fundamental dentro de uma entidade, onde as informações são enviadas para o governo por meio de arquivo digital, e ao mesmo tempo o mesmo tem uma informação atualizada e segura, tudo isso com muito mais rapidez e segurança.

2.2. Ramificações do SPED

O SPED não é uma ferramenta única, como seu próprio nome já diz, O Sistema Público de Escrituração Digital, é um sistema onde esta contido toda a informação de uma entidade, tanto a parte Fiscal, como a parte contábil. Tavares (2013) Confirma “O SPED, na sua forma atual, é basicamente dividido em três partes: Escrituração Contábil Digital (ECD ou SPED Contábil), Escrituração Fiscal Digital (SPED Fiscal) e a Nota Fiscal Eletrônica (NF-e).”

2.2.1. Nota Fiscal Eletrônica (NF-e)

A primeira medida tomada pelo sistema SPED foi a implantação da NF-e que é um documento comercial, que pode representar qualquer operação de transição de algum ativo, essa ferramenta veio para substituir o conhecido talão modelo 1A que representava operações interestaduais ou D1 conhecido como talão de balcão, a NF-e é nada mais que a própria Nota Fiscal que antes emitida em meio papel, e com a implantação da NF-e passou a ser emitido em meio digital.(CLETO, 2006)

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2.2.2. Objetivos da NF-e

A NFE foi implantada em 2007 com o intuito de padronizar as operações comerciais, e assim substituir o antigo modelo que era feito com a emissão do papel, através desse documento digital conhecido como a Nota Fiscal Eletrônica o contribuinte ganhou mais agilidade nos processos, e o fisco maior controle sobre as operações comerciais (RECEITA FEDERAL, 2013).

Cleto (2006) menciona que a NF-e é uma forma muito eficaz e quase perfeita para aperfeiçoar os controles fiscais, combater a sonegação e, por conseguinte, prover o aumento da arrecadação de tributos

2.2.3. Procedimentos da NF-e

Para que possa ser emitida uma NF-e é necessário que a Pessoa Jurídica, obtenha um certificado digital, que é um desenvolvimento do governo federal através do ICP-Brasil, com o objetivo de dar maior credibilidade e veracidade nas informações, o certificado pode ser encontrado nas seguintes opções: e-NFE, e-CPF ou e-CNPJ, cada um com seus objetivos, sendo o mais completo o e-CNPJ, que não só é capaz de assinar uma NFE como ter total acesso as informações empresariais em todas as esferas. O certificado digital é a assinatura do empresário só que em meio digital, que dar o poder ao mesmo assinar declarações, fazer solicitações de documentos, envio de declarações etc, esse tipo de certificado pode ser armazenador em Token, Cartão, ou Arquivo Digital. O certificado pode ser emitido através de empresas credenciadas, com autonomia legal para executar e fornecer a assinatura digital a seus respectivos usuários.Conforme Instruções da Receita Federal (2013)

De maneira simplificada, a empresa emissora de NF-e gerará um arquivo eletrônico contendo as informações fiscais da operação comercial, o qual deverá ser assinado digitalmente, de maneira a garantir a integridade dos dados e a autoria do emissor. Este arquivo eletrônico, que corresponderá à Nota Fiscal Eletrônica (NF-e), será então transmitido pela Internet para a Secretaria da Fazenda de jurisdição do contribuinte que fará uma pré-validação do arquivo e devolverá um protocolo de recebimento (Autorização de Uso), sem o qual não poderá haver o trânsito da mercadoria.

Vale Salientar que após todo o procedimento da emissão da Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) o programa gerador ira emitir um DANFE que significa Documento Auxiliar de Nota Fiscal Eletrônica, este documento não tem validade fiscal, apenas ira servir para seguir junto a mercadoria e disponibilizar uma chave de acesso, na qual pode ser consultada pelo portal da nota fiscal eletrônica, e assim comprovando a efetiva existência do processo. (RECEITA FEDERAL 2013)

Através da mesma perspectiva Cleto (2006 p. 5) Afirma que:

O DANFE- Documento Auxiliar da Nota Fiscal Eletrônica não é uma nota fiscal, nem substitui uma nota fiscal. Tem a finalidade de acompanhar a mercadoria da origem até o destino, sendo também um instrumento auxiliar para consulta da NF-e, pois contém a chave de acesso desse documento, permitindo ao seu detentor confirmar a efetiva existência da NF-e através do Ambiente Nacional ou do site da SEFAZ na Internet.

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2.3. Escrituração Contábil Digital (ECD) 2.3.1. Evolução da ECD

A escrituração contábil veio evoluindo com o passar dos anos, em uma velocidade impressionante, os lançamento contábeis, fechamento de balanço, apurações de resultado, que antes eram desenvolvidos em meio manual, ou vulgarmente falando meio de papel, passa a ganhar novas ferramentas, surge os programas de automação contábil, que trouxe aos profissionais contábeis mais agilidade para o seu dia a dia, onde dependendo do programa apenas com um comando, o sistema debita, credita e informa o histórico do lançamento.

Em consonância com a evolução da escrituração contábil a Secretaria da Receita Federal do Brasil (SRF) por meio da instrução normativa nº 787 de 19 de novembro de 2007, desenvolve a escrituração Contábil Digital (ECD), que se trata de uma ramificação do SPED que segue os mesmos objetivos do projeto, substituir o meio manual, através de arquivo digital, o SPED Contábil tem a obrigação de transmitir em meio digital os livros diário, razão, balanço patrimonial, (RECEITA FEDERAL 2013)

Segundo a Instrução Normativa RFB nº 787/07, estão obrigadas a adotar a ECD:

I - em relação aos fatos contábeis ocorridos a partir de 1º de janeiro de 2008, as sociedades empresárias sujeitas a acompanhamento econômico-tributário diferenciado, nos termos da Portaria RFB nº 11.211, de 7 de novembro de 2007, e sujeitas à tributação do Imposto de Renda com base no Lucro Real.

II - em relação aos fatos contábeis ocorridos a partir de 1º de janeiro de 2009, as demais sociedades empresárias sujeitas à tributação do Imposto de Renda com base no Lucro Real.

Portanto fica claro que a obrigatoriedade da ECD fica limitada as empresas tributadas pelo Lucro Real, as empresas optantes pelo simples nacional estão dispensadas dessas obrigações.

2.3.2. Objetivos da ECD

De acordo com Manoel et al (2010 p. 4 e 5) Como citado anteriormente a ECD vem com o intuito de substituir a escrituração manual, mas com o objetivo maior de padronizar as informações transmitidas, para isso foi disponibilizado um plano de contas referencial, e com isso os profissionais contábeis terão que vincular suas contas analíticas ao plano de contas referencial que esta integrado ao Programa Validador e Assinador (PVA)

2.3.3. Procedimentos da ECD

Após a escrituração estar toda registrada e devidamente encerrada no programa contábil, o mesmo ira gerar um arquivo digital em formato texto, e terá que validar no Programa Validador e Assinador (PVA) disponibilizado pelo sitio do SPED, esse programa tem a função de verificar a compatibilidade dos leiaute, se existe alguma erro de estrutura, após o êxito da operação o profissional contábil devera assinar a declaração através de seu certificado digital para que tenham validade e credibilidade tais informações. Manoel et al (2011) comentam que “A ECD, assim como a escrituração contábil em papel, deverá ser registrada na junta comercial do estado, por meio de arquivo devidamente validado em

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programa próprio, de acordo com a IN/DNRC nº 107 de 23 de maio de 2008. (RECEITA FEDERAL, 2013)”

2.4. Escrituração Fiscal Digital (EFD) 2.4.1. Implantação da EFD

A Escrituração Fiscal Digital (EFD) ou conhecido como SPED fiscal foi instituída em no dia 15 de dezembro de 2006, através da “União, representada pela Secretaria da Receita Federal - SRF e o Conselho Nacional de Política Fazendária - CONFAZ, na 124ª reunião ordinária realizada em Macapá – AP” (CONVÊNIO ICMS 143/06 grifo do autor)

2.4.2. Definição da EFD

A EFD é o conjunto de informações fiscais, ou seja, é o registro da movimentação de entrada e saída de uma empresa, Costa etall (2010 p. 7) comenta que então inclusos na escrituração fiscal digital o “Imposto Sobre Circulação de Mercadoria e Serviços de Transporte e Telecomunicações (ICMS), Programa de Integração Social (PIS), Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) e Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)".

2.4.3. Objetivos da EFD

O objetivo da EFD é substituir a emissão dos livros fiscais, e agilizar o compartilhamento de informações entre empresa e os fiscos,

Conforme o Convênio ICMS 143/06 Clausula Sétima :A escrituração prevista na forma deste convênio substitui a escrituração e impressão dos seguintes livros: I - Registro de Entradas;II - Registro de Saídas;III - Registro de Inventário;IV - Registro de Apuração do IPI;V - Registro de Apuração do ICMS.

2.4.4. Procedimento da EF

O responsável pela escrita fiscal terá que gerar um arquivo digital de seu programa de gestão, de acordo com o leiaute estabelecido pelo Ato COTEPE/ICMS 11/2007 que será validado pelo PVA, após a validação o arquivo será importado e terá que ser devidamente assinado através de um certificado digital.(RECEITA FEDERAL, 2013)

3. METODOLOGIA

A pesquisa quanto ao objetivo, foi descritiva, pois descreve a real situação dos contadores perante o SPED.Silva (2003) afirma que:

Pesquisa descritiva tem como objetivo principal a descrição das características de determinada população ou fenômeno, estabelecendo relações entre as variáveis. A coleta de dados nesse tipo de pesquisa possui técnicas padronizadas, como o questionário e a observação sistemática.

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Quanto aos procedimentos foi realizada uma pesquisa de campo, pois os dados foram coletados através de um questionário com perguntas de múltiplas escolhas e perguntas qualitativas, onde tem como objetivo principal evidenciar quais as implicações da era digital para os profissionais contábeis e teve sua aplicabilidade na cidade de Caruaru-PE.

De acordo com Silva (2003, p 63) “Pesquisa de campo consiste na coleta direta de informações no local em que acontecem os fenômenos; é a que se utiliza fora dos laboratórios, no próprio terreno das ocorrências”

O presente trabalho foi fundamentado através de uma pesquisa bibliográfica, pois se baseia em obras publicadas de outros autores acerca de: Nota Fiscal Eletrônica (NF-e), Escrituração Contábil Digital (ECD) e Escrituração Fiscal Digital (EFD) que é conhecido como as primeiras ramificações do SPED.

Cervo e Bervian (1983, p.55) Definem a pesquisa bibliográfica

Explica um problema a partir de referenciais teóricos publicados em documentos. Pode ser realizada independentemente ou como parte da pesquisa descritiva ou experimental. Ambos os casos buscam conhecer e analisar as contribuições culturais ou cientificas do passado existente sobre um determinado, tema ou problema.

A pesquisa partiu de dados específicos, a coleta de dados foi feita individualmente com cada profissional contábil tendo assim respostas especificas, a após a analise dos dados foi elaborado uma conclusão, sendo assim enquadrada como método indutivo.

Silva (2003) Comenta que: “a indução parte de registros menos gerais para enunciados mais gerais.”

O presente artigo tem uma abordagem quantitativa, se utilizou de instrumentos estatísticos, foi feito uma analise dos resultados obtidos pela coleta de dados, transformando os mesmo em dados percentuais.

A pesquisa foi aplicada em 30 escritórios contábeis, e tinha como respondentes contadores, contabilistas e pessoas responsáveis pela emissão das obrigações em questão.

Richardson (1999, p. 70) afirma que a abordagem quantitativa “caracteriza-se pelo emprego de quantificação tanto nas modalidades de coleta de informações, quanto no tratamento delas por meio de técnicas estatísticas, desde as mais simples como percentual, média, desvio-padrão as mais complexas, como coeficiente de correlação, analise de regressão etc.”

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4. ANÁLISE DOS DADOS

4.1.Perfil do Escritório Contábil

O gráfico 1 faz um comparativo de empresas enquadradas em cada regime.

Gráfico 1: Regime de Tributação

Fonte: Dados da pesquisa,( 2013)

Com base na analise realizada no gráfico 1 poderegião os escritórios contábeis optam posimples nacional, não esquecendo também do contexto econômico, grande parte das empresas detém de um faturamento reduzido, sendo mais viável a opção pelo sistema simplificado, e também pelo fato desse sistema ainda não ser obrigado a se adequar ao SPED.

.A tabela 1 demonstra se os programas de automação contábil fornecem as ferramentas necessárias para se trabalhar com as exigibilidades do SPED

Tabela 1 - Sistema de automação contábil.

O Sistema de automação contábil utilizado no escritório atende as exigências do SPED?

Fonte: Dados da pesquisa, 2013

De acordo com os dados apresentados pelos respondentes, fica constatado que os programas contábeis estão sempre em busca de atualização, podendo assim oferecer ao empresário contábil um serviço mais eficiente e confiável.

ate 10

0,00%

56,67%

33,33%

53,33%

Simples Nacional

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NÁLISE DOS DADOS

Perfil do Escritório Contábil

1 faz um comparativo de empresas enquadradas em cada regime.

Regime de Tributação

Dados da pesquisa,( 2013)

Com base na analise realizada no gráfico 1 pode-se verificar que no contexto atual da região os escritórios contábeis optam por manter uma carteira maior de clientes optantes pelo simples nacional, não esquecendo também do contexto econômico, grande parte das empresas detém de um faturamento reduzido, sendo mais viável a opção pelo sistema simplificado, e

istema ainda não ser obrigado a se adequar ao SPED.

1 demonstra se os programas de automação contábil fornecem as ferramentas necessárias para se trabalhar com as exigibilidades do SPED

Sistema de automação contábil.

O Sistema de automação contábil utilizado no escritório atende as SIM

NÃO

PARCIALMENTE

De acordo com os dados apresentados pelos respondentes, fica constatado que os contábeis estão sempre em busca de atualização, podendo assim oferecer ao

empresário contábil um serviço mais eficiente e confiável.

11 a 20 21 a 30 Mais de 30

20,00% 23,33%

56,67%

16,67%

6,67%0,00%

16,67%10,00%

6,67%

53,33%

0,00% 0,00% 0,00%

Simples Nacional Lucro Real Lucro Presumido MEI

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1 faz um comparativo de empresas enquadradas em cada regime.

se verificar que no contexto atual da r manter uma carteira maior de clientes optantes pelo

simples nacional, não esquecendo também do contexto econômico, grande parte das empresas detém de um faturamento reduzido, sendo mais viável a opção pelo sistema simplificado, e

istema ainda não ser obrigado a se adequar ao SPED.

1 demonstra se os programas de automação contábil fornecem as ferramentas

76,67%

0,00%

23,33%

De acordo com os dados apresentados pelos respondentes, fica constatado que os contábeis estão sempre em busca de atualização, podendo assim oferecer ao

Mais de 30

6,67%

0,00%

MEI

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4.2.Perguntas relacionadas ao SPED

O Gráfico abaixo demonstra o percentual de empresas de cada escritório analisado, obrigadas a algum tipo de SPED

Gráfico 2 - Empresas Obrigadas ao SPED

Fonte: Dados da pesquisa, (2013)

Atualmente o SPED só é obrigatório para as empresas optantes pelo Lucro Presumido e Lucro Real, portanto a obrigatoriedade segue a mesma proporção do gráfico 1demonstra que a maior parte das empresas dos escritórios analisados são optantes pelo simples nacional, com base nas informações coletadas de maneira qualitativa, fica claro que para que o escritório tenha a capacidade de oferecer serviços com fimfisco, faz necessário manter um quadro de colaboradores um pouco extenso, pois o SPED exige informações mais complexas, exigindo maior investimento de mão de obra.

A tabela 2 demonstra através de percentuais, se os escritórios contpassaram por alguma modificação em sua rotina de trabalho diário.

Tabela 2 - Rotina do Escritório

Houve alguma mudança para adaptação ao SPED na rotina do escritório?

Fonte: Dados da pesquisa, 2013

Como citado anteriormente, o SPED é um programa de fiscalização, e unificação da informação contábil, com isso é necessário uma grande exigibilidade de informações, aumentando o tempo despedido na elaboração desses relatórios, com isso percebenecessidade de adequar a rotina do escritório.

ate 5

30,00%

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Perguntas relacionadas ao SPED

O Gráfico abaixo demonstra o percentual de empresas de cada escritório analisado, a algum tipo de SPED

Empresas Obrigadas ao SPED

Dados da pesquisa, (2013)

Atualmente o SPED só é obrigatório para as empresas optantes pelo Lucro Presumido e Lucro Real, portanto a obrigatoriedade segue a mesma proporção do gráfico 1demonstra que a maior parte das empresas dos escritórios analisados são optantes pelo simples nacional, com base nas informações coletadas de maneira qualitativa, fica claro que para que o escritório tenha a capacidade de oferecer serviços com fim fisco, faz necessário manter um quadro de colaboradores um pouco extenso, pois o SPED exige informações mais complexas, exigindo maior investimento de mão de obra.

2 demonstra através de percentuais, se os escritórios contpassaram por alguma modificação em sua rotina de trabalho diário.

Houve alguma mudança para adaptação ao SPED na rotina do escritório? SIM

NÃO

anteriormente, o SPED é um programa de fiscalização, e unificação da informação contábil, com isso é necessário uma grande exigibilidade de informações, aumentando o tempo despedido na elaboração desses relatórios, com isso percebe

uar a rotina do escritório.

6 a 10 11 a 20 Mais de 20

16,67% 13,33%13,33%

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O Gráfico abaixo demonstra o percentual de empresas de cada escritório analisado,

Atualmente o SPED só é obrigatório para as empresas optantes pelo Lucro Presumido e Lucro Real, portanto a obrigatoriedade segue a mesma proporção do gráfico 1, quando demonstra que a maior parte das empresas dos escritórios analisados são optantes pelo simples nacional, com base nas informações coletadas de maneira qualitativa, fica claro que

especial de atender ao fisco, faz necessário manter um quadro de colaboradores um pouco extenso, pois o SPED exige informações mais complexas, exigindo maior investimento de mão de obra.

2 demonstra através de percentuais, se os escritórios contábeis analisados

73,33%

26,67%

anteriormente, o SPED é um programa de fiscalização, e unificação da informação contábil, com isso é necessário uma grande exigibilidade de informações, aumentando o tempo despedido na elaboração desses relatórios, com isso percebe-se a

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A tabela 3 mostra quais as percepções dos profissionais contábeis quando se trata de benefícios trazidos pelo SPED.

Tabela 3 - Benefícios do SPED

Fortalecimento e controle da fiscalização por meio de intercâmbio de informações entre os Fiscos; 66,67%

Rapidez no acesso às informações; 43,33%

Possibilidade de Cruzamento entre os dados contábeis e fiscais; 53,33%

Aperfeiçoamento no combate à sonegação; 40,00%

Redução do tempo despendido com a presença de auditores fiscais nas instalações do contribuinte; 23,33%

Redução de Custos com a dispensa de emissão e armazenamento de documentos em papel; 23,33%

Uniformização das informações que o contribuinte presta as diversas unidades Federadas; 30,00%

Redução de custos com a racionalização e simplificação das obrigações acessórias; 3,33%

Disponibilidade de cópias autênticas e válidas da escrituração para usos distintos e concomitantes 3,33%

Fonte: Dados da Pesquisa, 2013

De acordo com os resultados apresentados acima, percebe-se que o maior benefício observado pelos respondentes é o fortalecimento da fiscalização, que passou a ser de forma manual para a digital, agilizando e tornando-a muito mais minuciosa e eficaz.

A tabela 4 demonstra as principais dificuldades encontradas pelos profissionais contábeis em trabalhar com a implantação do sistema publico de escrituração digital.

Tabela 4 - Dificuldades relatadas pelos profissionais Contábeis

Fonte: Dados da pesquisa, 2013

A tabela 4 demonstra quais as principais dificuldades encontradas em trabalhar com o SPED, a maior parte dos entrevistados concorda que a maior dificuldade é a resistência dos clientes, seguido de falta de suporte, com isso o profissional contábil perde muito tempo tentando achar soluções que deveriam ser fornecidas pelas entidades competentes.

Problemas quanto aos dados da Escrituração Fiscal Digital; 30,00%

Resistência das empresas-clientes em adequar-se; 70,00%

Incompatibilidade dos sistemas de Automação Contábil e Automação Empresarial; 43,33%

Falta de Suporte do departamento de TI do SPED; 56,67%

Falhas nos programas de Validação e Transmissão do SPED; 30,00%

Outra: 0,00%

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4.3.Perguntas relacionadas ao SPED

O gráfico 3 faz uma comparação entre as ramificações do SPED, classificando em implicações positivas e negativas.

Gráfico 3 - Implicações das ramificações do SPED

Fonte: Dados da pesquisa, (2013)

Através das informações coletadas pelos entrevistados, observaEletrônica NFE esta sendo bem aceita pelos escritórios responsáveis pelos setores, afirmam na analise qualitativa que a implantação só abenefícios, pois agiliza a escrituração, permite a emissão de segundas vias, e diminui o tempo gasto em cada nota fiscal.

Já a Escrituração Fiscal Digital (EFD) mantém um publico dividido, pois o sistema exige uma informação detalhada das informações fiscais, sendo exigida pelo lucro presumido apenas o total do Faturamento, e para as empresas do Lucro Real uma informação detalhadapor itens, com isso os escritórios contábeis dependem de compartilhamento de arquivos digitais entre programas contábeis e gerenciais, retardando um pouco o cumprimento da exigência, foi constatado também uma grande dificuldade de comunicação entre progracomerciais e programas de automação contábil, o que causa um pouco de receio em trabalhar com essa implantação.

Já a Escrituração Contábil Digital (ECD) 46,67% dosentrevistados demonstraram um pouco de insegurança com a implantação, os mesmos alegaram de treinamentos para se trabalhar com esse sistema, informaram também dificuldades com os layouts, outro ponto critico levantado pelos entrevistados foi que o governo não dispõe de um suporte eficiente, o profissional é obrigapouco de conhecimento em linguagem de programação para que possam identificar a solução dos erros a hora da validação do arquivo digital.

Positivas

90,00%

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Perguntas relacionadas ao SPED

O gráfico 3 faz uma comparação entre as ramificações do SPED, classificando em positivas e negativas.

Implicações das ramificações do SPED

Dados da pesquisa, (2013)

Através das informações coletadas pelos entrevistados, observaEletrônica NFE esta sendo bem aceita pelos escritórios contábeis, a maioria dos contadores e responsáveis pelos setores, afirmam na analise qualitativa que a implantação só a

a a escrituração, permite a emissão de segundas vias, e diminui o tempo

Escrituração Fiscal Digital (EFD) mantém um publico dividido, pois o sistema exige uma informação detalhada das informações fiscais, sendo exigida pelo lucro presumido apenas o total do Faturamento, e para as empresas do Lucro Real uma informação detalhadapor itens, com isso os escritórios contábeis dependem de compartilhamento de arquivos digitais entre programas contábeis e gerenciais, retardando um pouco o cumprimento da exigência, foi constatado também uma grande dificuldade de comunicação entre progracomerciais e programas de automação contábil, o que causa um pouco de receio em trabalhar

Já a Escrituração Contábil Digital (ECD) 46,67% dosentrevistados demonstraram um pouco de insegurança com a implantação, os mesmos alegaram que ainda é precário a oferta de treinamentos para se trabalhar com esse sistema, informaram também dificuldades com os layouts, outro ponto critico levantado pelos entrevistados foi que o governo não dispõe de um suporte eficiente, o profissional é obrigado a se aventurar nos complexos manuais, e ter um pouco de conhecimento em linguagem de programação para que possam identificar a solução dos erros a hora da validação do arquivo digital.

Positivas Negativas

90,00%

10,00%

46,67% 53,33%

33,33%

66,67%

NFE EFD ECD

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O gráfico 3 faz uma comparação entre as ramificações do SPED, classificando em

Através das informações coletadas pelos entrevistados, observa-se que a Nota Fiscal contábeis, a maioria dos contadores e

responsáveis pelos setores, afirmam na analise qualitativa que a implantação só apresenta a a escrituração, permite a emissão de segundas vias, e diminui o tempo

Escrituração Fiscal Digital (EFD) mantém um publico dividido, pois o sistema exige uma informação detalhada das informações fiscais, sendo exigida pelo lucro presumido apenas o total do Faturamento, e para as empresas do Lucro Real uma informação detalhada por itens, com isso os escritórios contábeis dependem de compartilhamento de arquivos digitais entre programas contábeis e gerenciais, retardando um pouco o cumprimento da exigência, foi constatado também uma grande dificuldade de comunicação entre programas comerciais e programas de automação contábil, o que causa um pouco de receio em trabalhar

Já a Escrituração Contábil Digital (ECD) 46,67% dosentrevistados demonstraram um que ainda é precário a oferta

de treinamentos para se trabalhar com esse sistema, informaram também dificuldades com os layouts, outro ponto critico levantado pelos entrevistados foi que o governo não dispõe de um

do a se aventurar nos complexos manuais, e ter um pouco de conhecimento em linguagem de programação para que possam identificar a solução

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4.4.Quanto ao Empresário (Cliente)

A Tabela 5 mostra como relacionamento do cliente com as obrigações exigidas pelo SPED.

Tabela 5 - Relação cliente x SPED

O Cliente esta ciente de todas as obrigações do SPED? SIM 83,33%

Não 16,67%

O Cliente esta sempre disposto a investir em novas tecnologias para se adequar ao SPED?

SIM 3,33%

Não 96,67%

Em relação aos prazos, os clientes mandam as informações necessárias em tempo hábil?

SIM 33,33%

Não 66,67%

Fonte: Dados da pesquisa, 2013

A Tabela 5 demonstra o relacionamento entre o empresário cliente e as obrigações oferecidas pelo SPED, as informações coletadas apresentam de certa forma um pouco de contradição do cliente, pois o mesmo esta ciente das obrigações exigidas pelo SPED, mas não procura se adequar, investindo em capacitação de seus colaboradores nem investir em novas tecnologias através de melhores programas de gestão comercial, é percebido que grande parte dos empresários ainda tem uma mentalidade um pouco antiga, onde a única preocupação era comprar e vender, sem o mínimo de controle gerencial.

5. CONCLUSÃO

Com base nos resultados obtidos, fica claro que os maiores beneficiados com a implantação do SPED é o governo, pois a implantação esta proporcionando uma fiscalização mais rápida e eficiente, onde é possível o cruzamentos de grande parte das operações da entidade, gerando assim uma informação mais unificada. Foi verificado também uma deficiência bastante significativa quando relacionado o cliente com as novas exigências da era digital, pois muitos empresários ainda não estão integrados no novo contexto, mantendo uma enorme resistência em atualizar-se e investirem em novas tecnologias.

Um ponto muito importante foi levantado no decorrer da pesquisa, referente a tecnologia da informação (TI), quando as informações digitais são analisadas pelos programas validadores do SPED, são apresentados constantemente erros de escrituração e de estrutura de layouts, e os profissionais contábeis são obrigados a ter um pouco de conhecimento de TI para que possam identificar e solucionar os erros apresentados, outra implicação negativa é a dificuldade de comunicação que alguns softwares estão encontrando quando surge a necessidade de captação de informações gerenciais.

Diante de todo o conteúdo apresentado fica claro que o Sistema publico de escrituração digital (SPED) ainda esta trazendo implicações negativas aos escritórios contábeis, pois existe um grande numero de declarações exigidas e um curtíssimo prazo para cumprimento, foi verificado uma grande dificuldade na comunicação entre os sistemas de informações contábil e gerenciais dificultando o dia-a-dia do contabilista, pois existem

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determinadas informações que não é possível obter apenas com os documentos que são enviados aos escritórios contábeis. Nos dias atuais ainda foi percebido uma grande resistência dos empresários clientes em se modernizarem, impossibilitando que o contabilista obtenha as informações necessárias para o cumprimento do SPED. Involuntariamente a contabilidade esta perdendo sua essência, onde os profissionais estão apenas trabalhando para cumprir as exigências do governo, não sobrando muito tempo para se empenhar em controlar e aumentar o patrimônio do seu cliente.

O presente artigo tratou da iniciativa SPED, ou seja as primeiras exigências e implantações, como a EFD e ECD. Surgindo algumas sugestões de pesquisa, como o aprofundamento em cada ramificação, por exemplo, atualmente já esta em vigor o EFD contribuições, EFD Icms-IPI, Fcont e EFD IRPJ.

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INTEGRAÇÃO ENTRE SISTEMAS CONTÁBEIS FINANCEIRO E GERENCIAL: um estudo multimétodo em três empresas nordestinas

AUTORES: José Augusto de Medeiros Monteiro, Marco Antônio Granha, Cláudio de Araújo

Wanderley e Jeronymo José Libonati.

RESUMO Esta pesquisa teve como objetivo investigar a relação entre a contabilidade financeira e a contabilidade gerencial em três empresas nordestinas que atuam no município de Recife-PE, sendo uma do setor de serviços, uma do setor comercial e outra do setor industrial. Para o alcance do objetivo foi adotada uma estratégia multimétodo, sendo inicialmente aplicados questionáriosaosControllers das empresas do setor de serviços e do setor industrial e ao Diretor Financeiro da empresa do setorcomercial, e sequentemente uma entrevista semiestruturada aplicada ao Diretor Financeiro da empresa do setor de comércio,a qual buscou compreender o porquê das respostas aos questionários. Os resultados apontaram que todas as empresas estudadas possuem um sistema único de contabilidade, que atende tanto à contabilidade financeira quanto à contabilidade gerencial,e que o nível de integração entre a contabilidade financeira e gerencial possui um nível de mediano a máximo, o que é explicado pelo fato de que apesar da base de dados da Contabilidade Gerencial ser a Contabilidade Financeira os Controllers podem realizar ajustes para produzir relatórios gerenciais. PALAVRAS-CHAVE: Contabilidade Financeira; Contabilidade Gerencial; Integração 1. INTRODUÇÃO

Apesar de serem tratadas como distintas, as contabilidades financeira e gerencial possuem conceitos e critérios similares, podendo desta forma na prática partirem de uma base de dados comum às duas ou serem mantidas de formas distintas (GILIO e AFONSO, 2012).

No século XIX, a contabilidade nas empresas era voltada para atender às tomadas de decisões e às necessidades de controle dos administradores, porém, durante o século XX contabilidade voltada para o usuário externo da informação contábil passou a exercer forte influência sobre a contabilidade gerencial, devido ao crescimento de regulamentações e da quantidade de relatórios externos padronizados (ATKINSON et al. 2000). Esta hegemonia da contabilidade financeira sobre a contabilidade gerencial foi um dos motivos que levou os professores Johnson e Kaplan a defenderem a tese de que a contabilidade gerencial havia perdido sua relevância após a segunda-guerra mundial (JOHNSON e KAPLAN, 1987).

Esta hegemonia é percebida através das funções comumente assumidas pelos controllers de empresas anglo-americanas, que além das funções de apoio gerencial assumem as funções de contabilidade financeira, contabilidade fiscal, auditoria interna, gestão de recursos humanos e de serviços de informática (ANGELKORT, SANDT E WEIBENßERGER, 2008).

Considerando, que o ensino da contabilidade no Brasil é fortemente influenciado pela escola norte-americana, os controllers brasileiros também assumem tais funções.Isto é comprovado através da pesquisa realizada por Borinelli e Rocha (2007), a qual investigou, por meio de entrevistas, quais as principais práticas de controladoria das cem maiores empresasprivadas que operam no Brasil. A pesquisa conseguiu abranger 88 das cem maiores

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empresas do Brasil, e destacou que as funções mais frequentes da controladoria nas empresas pesquisadas são as de Contabilidade (67,05%), Fiscal/Tributário/Impostos (48,86%), Custos (32,95%) e Orçamento (32,95%).

Diferentemente das empresas anglo-americanas e das por elas influenciadas, as empresas germânicas comumente mantinham sua contabilidade gerencial sem compartilhar dados com a contabilidade financeira, porém, após o processo deharmonização tem sido percebido pelas pesquisas acerca do tema realizadas nos países germânicos que as empresas germânicas estão passando a adotar uma base de dados únicapara as duas contabilidades (ANGELKORT, SANDT E WEIBENßERGER, 2008; WEIBENßERGER E ANGELKORT, 2011).

Embora essa integração entre contabilidade financeira e gerencial seja percebida na prática, muitos estudiosos defendem que por serem destinadas a usuários distintos elas devam ser tratadas também de formas distintas, pois enquanto a contabilidade financeira, destinada a usuários externos, possui forte regulação, refletindo apenas o que é permitido ou obrigatório, a contabilidade gerencial possui liberdade para produzir as informações contábeis que considere relevantes para o apoio gerencial. Neste sentido são sugeridos sistemas de mensuração como o GECON (Gestão Econômica) e o EVA (EconomicValueAdded).

Muito embora os critérios de mensuração propostos pelo GECON e pelo EVA possam partir da base de dados da contabilidade financeira eles produzem informações completamente distintas das produzidas pela contabilidade financeira, pois eles sugerem ajustes exatamente para tornar a informação produzida pela contabilidade financeira com maior valor gerencial.

Neste sentido o objetivo desta pesquisa é investigar a relação entre a contabilidade financeira e a contabilidade gerencial em três empresas nordestinas que atuam no município de Recife-PE, sendo uma empresa do setor de serviços, uma do setor industrial e outra do setor comercial.

Além desta introdução este artigo apresenta uma revisão da literatura contemplando os estudos realizados acerca da relação entre a contabilidade financeira e gerencial, a metodologia utilizada para o alcance de seu objetivo de pesquisa, a apresentação e a análise dos resultados e, por fim, suas conclusões.

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2. RELAÇÃO ENTRE A CONTABILIDADE FINANCEIRA E GERENCIAL

A literatura contábil aponta algumas diferenças entre a contabilidade gerencial e financeira, conforme Atkinson et al. (2000), algumas das diferenças dentre elas são:

Quadro 1: Divergências entre a contabilidade financeira e a contabilidade gerencial

Contabilidade Financeira Contabilidade Gerencial Clientela Externa: Acionistas, credores,

autoridades tributárias Interna: Funcionários, administradores, executivos

Propósito Reportar o desempenho passado às partes externas; contratos com proprietários e credores

Informar decisões internas tomadas pelos funcionários e gerentes, feedback e controle sobre desempenho operacional; contratos com proprietários e credores

Data Histórica, atrasada Atual, orientada para o futuro Restrições Regulamenta: dirigida por regras e

princípios fundamentais da contabilidade e por autoridades governamentais

Desregulamentada: sistemas e informações determinadas pela administração para satisfazer necessidades estratégicas e operacionais

Tipo de informação Somente para mensuração financeira Mensuração física e operacional dos processos, tecnologia, fornecedores e competidores

Natureza da informação Objetiva, auditável, confiável, consistente, precisa

Mais subjetiva e sujeita a Juízo de valor, válida, relevante, acurada

Escopo Muito agregada; reporta toda a empresa

Desagregada; informa as decisões e ações locais

Fonte: Atkinson et al. (2000)

Apesar dessas divergências, a contabilidade gerencial sofreu severas críticas durante as décadas de 80 e 90, influenciadas pela obra de Johnson e Kaplan (1987), sob o argumento de subserviência da Contabilidade Gerencial à Contabilidade Financeira. Conforme Atkinson et

al. (2000), essa supremacia da Contabilidade Financeira foi derivada do crescimento das demandas da clientela externa por informações contábeis ocasionando ou provocando um aumento de regulamentações e quantidade de relatórios financeiros padronizados, o que levou muitas empresas a darem mais ênfase na elaboração de informações financeiras para usuários externos do que para tomada de decisão e controle gerencial.

Para testara crítica de Johnson e Kaplan (1987) de supremacia da Contabilidade Financeira sobre a Contabilidade Gerencial, Hoperet al. (1992) desenvolveram um estudo piloto através de entrevistas semiestruturadas a contadores gerenciais, contadores financeiros e gerentes de 6 empresas públicas inglesas. O estudo teve como foco as ligações entre os relatórios financeiros e os sistemas de Contabilidade Gerencial e o uso da informação contábil nas decisões gerenciais. Os resultados apontaram que apenas uma das empresas estudadas apresentou um sistema integrado para capturar dados contábeis financeiros e gerenciais, enquanto que as demais possuíam sistemas separados. As pessoas entrevistadas não percebem influência direta dos relatórios financeiros sobre a Contabilidade Gerencial. Foram encontrados casos em que os relatórios da contabilidade financeira eram ajustados para atender às preocupações dos gestores, enquanto que não foram encontrados casos de sistemas de contabilidade gerencial sendo ajustados para atender a requisitos da Contabilidade Financeira.

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Hoperet al. (1992) ressaltam as limitações do estudo desenvolvido por eles, mas diante dos resultados encontrados reforçam que as críticas de Johnson e Kaplan (1987) são amplamente focadas em evidências Norte Americanas. Conforme Angelkort, Sandt e Weibenßerger (2008) são incorporadas pelos controllers de empresas anglo-americanas, além das funções de apoio gerencial, as funções de contabilidade financeira, contabilidade fiscal, auditoria interna, gestão de recursos humanos e de serviços de informática.

Angelkort, Sandt e Weibenßerger (2008) ressaltam que em países de língua alemã a controladoria foi criada após a Segunda Guerra Mundial assumindo a função de apoio gerencial através de tarefas relacionadas com a contabilidade gerencial. Deste modo, diferentemente das empresas anglo-americanas as funções típicas de controllersde empresas anglo-americanas citadas acima, exceto as funções de apoio gerencial, não fazem parte da descrição de trabalho de um controller típico da Áustria e Alemanhã. (ANGELKORT, SANDT e WEIBENßERGER, 2008).

Alguns estudos então foram realizados buscando identificar como se relacionam a contabilidade financeira e gerencial nas empresas, dentre estes, aqui os de Angelkort, Sandt e Weibenßerger (2008), Weibenßerger e Angelkort (2011), Gilio (2011), Halbouni e Hassan (2012), Dani (2012).

A motivação do estudo realizado por Angelkort, Sandt e Weibenßerger (2008) foi a de que tradicionalmente nos países de língua alemã são identificadas duas características da controladoria: primeiramente os papéis dos controllers são dois, o de provedor de informações para tomada de decisão e controle e o de consultor administrativo, e a segunda é que o sistema de informação principal utilizado pelos controllers para cumprir seus dois papéis é um sistema que tradicionalmente não deriva do banco de dados da contabilidade financeira. Porém, a partir da década de 90 essas características mudaram gradualmente. Conforme os autores, hoje a maioria das empresas listadas na Áustria ou na Alemanha que adotaram os padrões IFRS adotaram os sistemas integrados de contabilidade, passando a utilizar a base de dados da contabilidade financeira para fins de medição de desempenho.

Deste modo Angelkort, Sandt e Weibenßerger (2008) realizaram o estudo objetivando explorar o impacto das normas IFRS na controladoria em países de língua alemã. Para alcançarem o objetivo proposto enviaram questionários a 159 empresas austríacas reconhecidas por adotarem IFRS, obtendo 51 respostas. A pesquisa apontou que a maioria dos usuários de IFRS possuem um sistema integrado de contabilidade gerencial e contabilidade financeira, porém de forma parcial. Foi identificado ainda que os controladores passaram a assumir um novo papel de provedor de informações para o departamento de contabilidade financeira. A pesquisa também identificou que o uso ativo de IFRS tem um impacto positivo nas variáveis de satisfação gerencial.

Já a pesquisa realizada por Weibenßerger e Angelkort (2011), motivada também pelo crescente nível de integração entre os sistemas de contabilidade gerencial e financeira para fins de controle gerencial em países de língua alemã, objetivou analisar empiricamente se a integração entre os sistemas contábeis financeiro e gerencial tem impacto positivo na eficácia da controladoria. A modelagem de equações estruturais para uma amostra de 159 das 1.500 maiores empresas alemãs em volume de vendas, excluindo-se instituições financeiras, indicou que há um impacto significativo positivo adicionado pela consistência da linguagem financeira resultante de um aumento no nível de integração dos sistemas de contabilidade gerencial e financeira.

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Para Weibenßerger e Angelkort (2011), esta integração entre os sistemas contábeis gerencial e financeiro nos países de língua alemã provavelmente foi facilitado e mais bem sucedido, devido ao fato de os padrões de contabilidade financeira em IFRS ou US (United

States) GAAP (GenerallyAcceptedAccountingPrinciples) serem mais adequados para a tomada de decisão interna do que os GAAP alemães.

Partindo-se das hipóteses de que por serem as normas IFRS norteadas pela primazia da essência sobre a forma e a de que a contabilidade gerencial possui base referencial atrelada à essência econômica na apuração de transações para apoiar as decisões de usuários internos das informações contábeis, Gilio (2011) investigou através de um survey se a adoção das normas IFRS pelas companhias brasileiras resultou em uma aproximação significativa dos conceitos usados pela contabilidade gerencial e pela contabilidade financeira. O estudo identificou que ocorreram aproximações entre as contabilidades financeira e gerencial, ainda que não em todos os processos considerados na pesquisa.

Já Halbouni e Hassan (2012) buscaram examinar se a alagação de Johnson e Kaplan de que a contabilidade financeira influencia as informações contábeis gerenciais é verdadeira nos Emirados Árabes Unidos. Os referidos pesquisadores se utilizaram de um questionário para atender o objetivo da pesquisa. Tal questionário foi enviado a 126 contabilistas financeiros e gerenciais de empresas cotadas nos Emirados Árabes Unidos, dentre os quais 98 responderam, porém 9 questionários foram descartados para manter a homogeneidade dos dados, restando 89 questionários que foram utilizados na análise. O estudo apontou evidências de que há um domínio de informações contábeis financeiras sobre as informações contábeis gerenciais nos Emirados Árabes Unidos.

Dani (2012) investigou a relação entre o nível de integração dos sistemas de contabilidade gerencial e financeira, em decorrência do processo de convergência às normas internacionais de contabilidade, e a efetividade da controladoria em empresas brasileiras. A população da pesquisa foi as 500 melhores e maiores empresas listadas pela Revista Exame em 2011, porém apenas 32 empresas compuseram a amostra do estudo. O instrumento de coleta de dados foi baseado no questionário desenvolvido por Weibenßerger e Angelkort (2011). Os resultados apontaram que existiam um nível de integração menor entre os sistemas de Contabilidade Financeira e de Contabilidade Gerencial antes da convergência, concluindo que o processo de convergência afetou o nível de integração entre as Contabilidades Financeira e Gerencial.

3. METODOLOGIA

Para atender ao objetivo da pesquisa foi adotada a estratégia surveyjuntamente com entrevistas semiestruturadas, caracterizando desta forma um método misto, também denominado multimétodo, que, para Creswell (2007) caracteriza-se pela combinação de métodos quantitativos e qualitativos num mesmo estudo e, tendo como objetivo o alcance de um maior entendimento sobre o problema de pesquisa. O reconhecimento das limitações de todos os métodos de pesquisa e a admissão de que eles não são rivais, mas sim complementares, justifica a utilização de métodos mistos (CRESLWELL, 2007; JICK, 1979).

A estratégia de utilização da abordagem de métodos mistos que foi utilizada nesta pesquisa foi a sequencial (CRESWELL, 2007), sendo primeiramenteaplicados questionários, representando a parte quantitativa da pesquisa, e posteriormente realizadas entrevistas com um dos respondentes para buscar entender o porquê de suas respostas.

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A amostra do estudo compreendeu três empresas nordestinas que atuam no município de Recife-PE, sendo uma do setor de serviços, uma do setor de comércio e outra do setor industrial. Para preservar a identidade das três empresas participantes do estudo elas serão referidas daqui por diante, de acordo com seus setores, como Serviço, Comércio e Industrial.

Os questionários foram enviados e recebidos via e-mail, e a entrevista realizada contou com a participação de apenas uma das empresas da amostra, a Comércio, e durou cerca de 50 minutos.

A empresa do segmento de serviço atua no mercado há 69 anos, sendo considerada um dos maiores provedores de soluções logísticas do país. Tem atualmente um quadro efetivo de cerca de8 mil funcionários e está presente em todos os estados brasileiros com 184 pontos de atendimento e 42 filiais que atendem mais de 5 mil localidades. Possui mais de 650 mil m² de área construída e de pátio. Em parceria comercial com uma empresa dos Estados Unidos, atua também no transporte aéreo de cargas para 220 países. A empresa é certificada pela ISO 9001 desde 1997, possui mais de 17 mil clientes ativos e uma frota de mais de 3 mil veículos.

Já a empresa do setor comercial é uma varejista surgiu no bairro de Casa Amarela, zona Norte do Recife, em 1994 com apenas duas lojas. Desta primeira loja até chegar ao número atual, de 139 unidades em cinco estados do Nordeste, a expansão da rede foi gradual e permanente. Em 2000, a empresa abriu a primeira loja fora de Pernambuco, na Paraíba. Sete anos depois, adquiriu 31 pontos de outra rede pernambucana e em 2010, comprou outras 26 unidades de outra concorrente que havia entrado em um processo de recuperação judicial. A compra de unidades das concorrentes permitiu acelerar a expansão da empresa e em 2012, através da aquisição de 16 pontos de venda de uma varejista cearense, passou a atuar nesta região do nordeste, cujas unidades estão espalhadas por Fortaleza e pela Região Metropolitana, além de cidades do interior, como Crato e Juazeiro do Norte. Atualmente, a empresa tem um quadro efetivo de 2.200 funcionários espalhados pelos estados de Pernambuco (95 lojas), Ceará (3 lojas), Paraíba (9 lojas), Alagoas (9 lojas) e no Rio Grande do Norte (3 lojas).

Por fim, a empresa do segmento industrial fabricante de embalagens metálicas e plásticas. Originária de Porto Alegre/RS, a empresa foi fundada por um jovem imigrante da Itália que veio junto com seu pai em função da I Guerra Mundial, em busca de novas alternativas de trabalho. Com uma surpreendente visão empreendedora, decidiu abrir uma pequena fábrica de balas. Como a fabricação de seus produtos dependia do açúcar trazido do Recife, decidiram se mudar para lá, a fim de facilitar o processo de produção. Ao aportar no Nordeste, a Empresa diversificou seus negócios e ingressou no ramo de embalagens, mais especificamente latas e rolhas metálicas, decisão que mudou a história da Companhia. Em 2002, seguindo o caminho da inovação, a empresa investiu no desenvolvimento e produção de embalagens de qualidade a partir de polímeros plásticos. Atualmente sediada no município de Abreu e Lima, localizado a 20 km da capital pernambucana, é considerada uma das mais importantes e tradicionais fábrica de embalagens do País, com atuação e qualidade comprovadas pelos seus clientes nesses quase cem anos de história.

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4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Nesta seção serão apresentados os resultados da pesquisa. Como pode-se observar na Tabela 1, adotando o critério de quantidade de funcionários, a maior empresa participante do estudo é a empresa Serviço, que possui 8.933 funcionários. Também observa-se que todos os entrevistados são formados em Ciências Contábeis e possuem especialização, além disso dois deles ocupam o cargo de Controller, e o da empresa Comércio ocupa o cargo de Diretor Financeiro.

Tabela 1: Perfil das empresas e dos entrevistados.

PERFIL DAS EMPRESAS PERFIL DOS ENTREVISTADOS

EMPRESA Nº DE FUNCIONÁRIOS

CARGO FORMAÇAO NÍVEL DE INSTRUÇÃO

Serviço 8.933 Controller Ciências Contábeis Especialista

Comércio 3.200 Diretor Financeiro Ciências Contábeis Especialista

Industrial 558 Controller Ciências Contábeis Especialista

Na tabela 2 são apresentadas as características da controladoria nas empresas estudadas. Observa-se que nas três empresas componentes da amostra do estudo a Controladoria é formalizada, ou seja, existe um setor de controladoria na empresa. Quanto às funções da controladoria em cada uma destas empresas, percebe-se que na maior das empresas participantes do estudo é que a controladoria assume mais funções, enquanto na menor é que ela assume menos funções, evidenciando que quanto maior a empresa maior a importância da controladoria.

As funções assumidas pela controladoria nas empresas estudadas foram a de Planejamento, Controle, Elaboração e Interpretação de Relatórios, Auditoria, Administração de Impostos, Proteção de Ativos, Análise e Avaliação Econômica, e Contábil Financeira, a única comum às controladorias das três empresas, o que corrobora a afirmação de Angelkort, Sandt e Weibenßerger (2008) e os resultados encontrados por Borinelli e Rocha (2007), de que os Controllers assumem funções de Contabilidade Financeira.

O Diretor Financeiroda Comércio, afirmou que a controladoria em sua empresa é constantemente requisitada para auxiliar na tomada de decisão e participa com influência na gestão, atuando como conselho financeiro e de estratégia empresarial para a alta gestão, pincipalmente após passar a utilizar e acompanhar orçamentos com periodicidade mensal, que a controladoria passou a identificar desvios e propor soluções para correções, permitindo que a controladoria ajude no controle e na redução de custos.

Tabela 2:Características da controladoria nas empresas componentes da amostra do estudo.

CARACTERÍSTICAS DA CONTROLADORIA NAS EMPRESAS COMPONENTES DA AMOSTRA DO ESTUDO

EMPRESA FORMALIZADA FUNÇÕES

Serviço SIM Planejamento, Controle, Elaboração e Interpretação de Relatórios, Contábil Financeira, Auditoria, Administração de Impostos, Proteção de Ativos e Análise e Avaliação Econômica

Comércio SIM Controle, Elaboração e Interpretação de Relatórios, Controle Interno

Industrial SIM Contábil Financeira

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A Tabela 3 demonstra o nível da adoção das Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS) pelas empresas estudadas, o motivo da adoção e o impacto dela na Contabilidade Gerencial. A única empresa que adotou completamente as Normas Internacionais de Contabilidade foi a Serviço, com as outras duas empresas adotando apenas parcialmente. O motivo da adoção pela Serviço foi a imposição regulatória, enquanto que as demais foi por decisão administrativa. Quanto ao nível de mudanças ocorridas na Contabilidade Gerencial devido à adoção das Normas Internacionais, a que sofreu mais mudanças foi a Serviços enquanto que a que menos sofreu mudanças foi aempresa Industrial.

De acordo com seu Diretor Financeiro, a Comércio está em fase de implantação das normas internacionais de contabilidade e está atendendo aos CPCs que são requisitados pela auditoria, destacando a adoção dos CPCs relacionados a Valor Justo e a Imobilizado. A alta direção percebeu benefícios na adoção das normas, principalmente em relação à adoção da mensuração a valor justo.

Tabela 3: Adoção das Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS).

ADOÇÃO DAS NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE (IFRS)

EMPRESA NÍVEL DE ADOÇÃO MOTIVO DA ADOÇÃO IMPACTO NA CONTABILIDADE GERENCIAL

Serviço Total Imposição regulatória Provocou muitas mudanças

Comércio Parcial Decisão da administração Provocou poucas mudanças

Industrial Parcial Decisão da administração Provocou mudanças

A Tabela 4 evidencia que o tipo de indicador de desempenho mais utilizado pelas companhias estudadas são os financeiros, sendo o Lucro Contábil mensurado pela Contabilidade Financeira o único indicador financeiro comum a todas as empresas estudadas. Além do Lucro Contábil, as empresas Comércio e Industrial também indicaram que utilizam o faturamento como indicador de desempenho financeiro.

Tabela 4: Principais Indicadores de Desempenho utilizados.

PRINCIPAIS INDICADORES DE DESEMPENHO

EMPRESA TIPO DOS INDICADORES INDICADORES

Serviço Financeiros Lucro Contábil mensurado pela contabilidade financeira

Comércio Financeiros Faturamento e Lucro Contábil mensurado pela contabilidade financeira

Industrial Financeiros Faturamento e Lucro Contábil mensurado pela contabilidade financeira

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A Tabela 5 agrega as perguntas e respostas acerca da utilização da Contabilidade Financeira para fins gerenciais e o nível de integração entre a Contabilidade Financeira e Gerencial.

Tabela 5: Utilização da Contabilidade Financeira para fins gerenciais.

PERGUNTAS Nenhum Mínimo Mediano Alto Máximo

1 2 3 4 5

1 Qual o nível de integração entre a contabilidade financeira e a contabilidade gerencial na empresa onde você trabalha?

Comércio Industrial Serviço

2 Qual o nível de utilização de informações da contabilidade financeira para a elaboração de orçamentos?

Comércio Industrial Serviço

3 Qual o nível de utilização da contabilidade financeira para acompanhar a realização do orçamento?

Comércio Industrial Serviço

4 Qual o nível de utilização das informações da contabilidade financeira para apoiar as decisões da gestão?

Comércio Industrial Serviço

5 Qual o nível de utilização de indicadores calculados a partir da contabilidade financeira para fins de avaliação de desempenho?

Comércio Serviço

Industrial

6 Qual o nível de utilização dos relatórios da contabilidade financeira para fins de avaliação de desempenho?

Comércio Industrial Serviço

7 Qual o nível de diferença entre o lucro contábil e o lucro utilizado para a avaliação de desempenho?

Industrial Serviço Comércio

8 Em qual nível a contabilidade financeira representa a essência econômica da empresa em que você trabalha?

Serviço

Comércio

Industrial

9 Qual o nível de utilização do Balanço Patrimonial elaborado pela contabilidade financeira para fins gerenciais?

Serviço Comércio

Industrial

10 Qual o nível de utilização da Demonstração do Resultado elaborada pela contabilidade financeira para fins gerenciais?

Comércio Serviço

Industrial

11 Qual o nível de utilização da Demonstração de Fluxo de Caixa elaborada pela contabilidade financeira para fins gerenciais?

Comércio Serviço

Industrial

12 Qual o nível de utilidade da contabilidade financeira para fins gerenciais na sua empresa?

Comércio Serviço

Industrial

A primeira pergunta da Tabela 5 buscou saber qual o nível de integração entre a Contabilidade Financeira e a Contabilidade Gerencial nas empresas pesquisadas. A empresa Serviço foi a que afirmou possuir um nível máximo de integração entre as Contabilidade Financeira e Gerencial, enquanto que a Comércio afirmou ter uma integração mediana e a Industrial um alto nível de integração.

O nível de integração mediano informado pela Comércio não indica que ela tenha base de dados separada, mas que ela ajusta as informações da Contabilidade Financeira para preparar relatórios contábeis gerenciais. Conforme o Diretor Financeiroda Comércio, a maior parte dos relatórios de contabilidade gerencial são elaborados em planilhas acessórias, mas

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extraídos do sistema de contabilidade financeira. Essa cultura de uso da contabilidade financeira para extrair dados para a contabilidade gerencial já existia na empresa desde antes da harmonização contábil, porém o entrevistado reconhece que a harmonização provocou uma melhoria no valor informativo da contabilidade financeira.

A segunda e terceira perguntas da Tabela 5 buscaram saber o nível de utilização das informações da Contabilidade Financeira para fins de elaboração e acompanhamento de orçamentos, e as respostas à elas estiveram em congruência às respostas a primeira pergunta, pois o nível de utilização das informações da Contabilidade Financeira para elaboração e acompanhamento dos orçamentos foi igual ao nível de integração entre as Contabilidades Financeira e Gerencial nas empresas estudadas. Sendo assim, a Serviço indicou ter um nível máximo de utilização das informações da Contabilidade Financeira para fins orçamentários, a Industrial um nível alto, e a Comércio um nível mediano de utilização.

A quarta pergunta procurou identificar o nível de utilização das informações da Contabilidade Financeira para apoiar as decisões da gestão. As empresas Industrial e Serviço responderam em congruência com a o nível de integração das Contabilidades Financeira e Gerencial, afirmando, respectivamente, um nível máximo e um nível alto de utilização, enquanto que a Comércio afirmou uma utilização mínima.

A quinta pergunta tratou do nível de utilização de indicadores calculados a partir da contabilidade financeira para fins de avaliação de desempenho. A Comércio e a Industrialafirmaram ter um nível de utilização mediano, enquanto que a Serviço afirmou ter um nível de utilização alto.

As respostas à sexta pergunta, que buscou identificar o nível de utilização dos relatórios da Contabilidade Financeira para fins de avaliação de desempenho, assim como as respostas às segunda e terceira questões, tiveram congruência com o nível de integração entre a Contabilidade Financeira e a Contabilidade Gerencial. A empresa Serviço afirmou possuir um nível de utilização máximo, a Industrialum nível de utilização alto e a Comércio um nível mediano.

Na sétima pergunta buscou-se saber se existe diferença entre o Lucro Contábil demonstrado pela Contabilidade Financeira e o Lucro utilizado para fins gerenciais, e se caso existisse diferença, qual o nível delas. A empresa Industrial afirmou que não existe diferença alguma entre o Lucro Contábil demonstrado pela Contabilidade Financeira e o utilizado para fins gerenciais. Já a Serviço e a Comércio afirmaram haver diferença entre o Lucro Contábil Financeiro e o Lucro para fins gerenciais, havendo uma diferença mínima na empresa Serviço e uma diferença mediana da Comércio.

Todos os entrevistados responderam que o nível de representação pela Contabilidade Financeira da essência econômica da empresa onde trabalham é alto. Isto pode ser uma justificativapara a utilização das informações provenientes da Contabilidade Financeira para fins gerenciais e para a integração entre as Contabilidade Financeira e Gerencial.

As perguntas 9, 10 e 11 buscaram identificar o nível de utilização do Balanço Patrimonial, da Demonstração do Resultado e da Demonstração de Fluxo de Caixa para fins gerenciais. Conforme pode-se observar na Tabela 5, o Balanço Patrimonial apresentou um nível de utilização alto pelas empresas Comércio e Industrial e um nível mediano pela empresa Serviço. A Demonstração do Resultado, diferentemente do Balanço Patrimonial,

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apresentou um nível de utilização máximo pela empresa Serviço, enquanto que as empresas Comércio e Industrial afirmaram utilizá-la com a mesma intensidade que utiliza o Balanço Patrimonial. A demonstração de Fluxo de Caixa apresentou um nível de utilização mediano pela Comércio e pela Industrial e um nível alto pela Serviço.

Segundo o Diretor Financeiro da Comércio, a direção entende a importância da contabilidade,sendo os prazos mensais dos relatórios bastante exigidos para apoiar decisões e avaliar desempenho, com a Demonstração do Resultado sendo o demonstrativo mais exigido pela administração para acompanhar os resultados.

A última pergunta apresenta na Tabela 5 buscou testar se o nível de utilização das informações da contabilidade financeira para apoiar as decisões da gestão (Pergunta 4) está em consonância com a percepção dos entrevistados acerca da utilidade destas mesmas informações para fins gerenciais. A única empresa que não apresentou consonância nas respostas foi a Comércio, que afirmou ter um nível de utilização mínimo ao mesmo tempo que afirmou que a utilidade de tais informações para fins gerenciais é alto. Já as empresas Industrial e Serviço, da mesma forma que afirmaram um nível de utilização, respectivamente, alto e máximo, responderam acerca da utilidade das informações contábeis financeiras para fins gerenciais.

5. CONCLUSÕES

Este estudo teve como objetivo a investigação da relação entre a contabilidade financeira e gerencial em três empresas que atuam no município de Recife-PE, sendo uma do setor industrial, uma do setor de comércio e outra do setor de serviços. Tais empresas receberam os nomes fictícios fazendo alusão ao setor a que pertencem, sendo então respectivamente chamadas de Industrial, Comércio e Serviço. Para o alcance do objetivo da pesquisa foi utilizada uma estratégia survey aliada a uma entrevista semiestruturada que buscou compreender o porquê das respostas ao questionário da pesquisa, caracterizando assim uma estratégia multimétodos.

Os resultados da pesquisa apontaram que todas as empresas componentes do estudo possuem um órgão de Controladoria formalizado, o qual assume apenas uma função na empresa do setorIndustrial, que é a que possui menos funcionários entre as empresas estudadas e assume oito funções na empresa Serviço, que é a que possui mais funcionários, levando a entender que quanto maior a empresa maior a importância da controladoria dentro da organização, porém esta conclusão precisa ser verificada em estudos posteriores contendo um maior número de empresas de modo a permitir generalizações.

Na empresa comércio, a controladoria é constantemente requisitada pela administração e participa ativamente nas decisões da empresa, e isto se tornou mais nítido após a implementação e acompanhamento mensal de orçamentos.

Apenas uma das empresasestudadas, a Serviço, adotou as Normas Internacionais de Contabilidade completamente, e isso se deu por imposição regulatória. As duas outras adotaram apenas parcialmente e por decisão da administração. Conforme os entrevistados esta adoção provocou mudanças em seus sistemas de Contabilidade Gerencial.

O indicador financeiro mais importante utilizado pelas empresas estudadas é o Lucro Contábil, muito embora as empresas comércio e serviço afirmem haver uma diferença de

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mínima à mediana entre o Lucro Contábil mensurado pela Contabilidade Financeira e o Lucro utilizado para fins gerenciais. Elas também indicaram que os seus sistemas de Contabilidade Financeiro e Gerencial são integrados, sendo o nível dessa integração de mediano a máximo. Se apoiando na entrevista realizada com o Diretor Financeiroda Comércio, percebe-se que esse nível de integração não é máximo porque muitos dos dados provenientes da Contabilidade Financeira são ajustados para preparar relatórios contábeis gerenciais. Foi evidenciado que a utilização de informações da contabilidade financeira pela contabilidade gerencial se deu na mesma medida do nível desta integração, exatamente porque, de acordo com a entrevista com o Diretor Financeiroda Comércio, alguns dados não são ajustados para a preparação de relatórios contábeis gerenciais. Além disso observou-se que todas as empresas estudadas utilizam informações da Contabilidade Financeira para apoiar decisões gerenciais.

Além da realização de um estudo com uma maior amostra, recomenta-se para futuras pesquisas que seja feito um estudo de caso para entender melhor como se dá a integração entre a Contabilidade Financeira e a Contabilidade Gerencial nas empresas brasileiras.

REFERÊNCIAS

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CONTABILIZAÇÃO DE PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS: ASPECTOS PRÁTICOS E NORMATIVOS À LUZ DA 11.079/04 E ICPC 01

AUTORES: Juliana Gonçalves de Araujo, Umbelina Cravo Teixeira Lagioia, Lucivaldo Lourenço da Silva Filho, João Gabriel Nascimento de Araújo e Iracivaldo Bezerra.

RESUMO

Tendo em vista a necessidade do atendimento ao interesse coletivo por parte da Administração Pública de forma eficiente, cresce a utilização da modalidade de delegação de serviços públicos a iniciativa privada no Brasil: Parceria Público-Privada. Utilizando-se desta premissa, o objetivo deste estudo foi verificar como ocorre a contabilização da PPP celebrada entre a Compesa (Companhia Pernambucana de Saneamento); e uma empresa Privada, a qual é responsável por prestação de serviço e extensão do atendimento do esgotamento sanitário e distribuição de água.Este trabalho é resultado de uma discussão prática e teórica acerca da adequada contabilização dos aspectos contratuais dessa parceria que possui a finalidade de melhoria e expansão de atendimento à uma das necessidades básicas da sociedade pernambucana. O trabalho contribui para maior despontamento da discussão de aspectos contábeis no atendimento às necessidades públicas através das parcerias público-privadas, esperando proporcionar percepção sobre a interdisciplinaridade da contabilidade com a Administração Pública. Palavras-Chave: Parceria Público-Privada; ICPC 01; Contabilização; Saneamento.

1. INTRODUÇÃO

A Lei nº 11.079/04 e as PPPs

Instituídas no Brasil por meio da Lei nº 11.079/2004, que estabelece normas gerais para licitação e contratação de parceria público-privada no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, as Parcerias Público-Privadas são uma forma de contratação por meio da qual o Governo transfere a uma empresa privada a atribuição de realizar um projeto de interesse público.

A existência das PPPs apoia-se na ideia da alavancagem dos investimentos em infraestrutura do país, funcionando como um estímulo à iniciativa privada, evitando a redução do crescimento econômico ocasionado pela falta de investimento público.

O contratante de uma PPP é o parceiro público, que pode ser órgão da Administração Pública direta, fundos especiais, as autarquias, as fundações públicas, empresas públicas, as sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

O parceiro privado contratado é sempre uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), constituída por uma empresa privada vencedora do processo de licitação da PPP.

Embora o termo PPP seja bastante difundido, a conceituação destes contratos pode ser adaptada por cada país em que se aplica (WEIHE, 2008). Portanto, no Brasil, a Lei nº 11.079/04 não é somente uma diretriz a respeito das especificidades de tais parcerias, mas também é responsável por orientar e definir requisitos, conceitos, modalidades e outros aspectos deste instituto.

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No entanto, apesar de a lei passar a vigorar em 2004, os estados de Minas Gerais e de São Paulo já exibiam a celebração de contratos que configuravam parcerias público-privadas. Posteriormente, os estados do Ceará, Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia, Goiás, Pernambuco e Santa Catarina também passaram a executar contratos semelhantes. A gestão privada da Penitenciária Industrial Regional do Cariri (Ceará), e a manutenção da malha rodoviária em Goiás por empresas privadas, a qual está inserida no programa Terceira Via, são exemplos destas parcerias (MESQUITA e MARTINS, 2008).

Quanto à sua aplicação, a Lei destaca a distinção entre a concessão convencional e a parceria público-privada, em que a primeira é tida como a concessão de serviços ou obras públicas que é tratada pela Lei nº 8.987/95, a qual se caracteriza quando da não prestação pecuniária por parte do poder concedente ao ente privado. Já nas PPPs, existe uma contraprestação pecuniária do parceiro público, proporcionando um compartilhamento de riscos.

Outro ponto que pode diferenciar as concessões comuns das parcerias está diretamente atrelado ao risco de operacionalização. Enquanto nas primeiras o risco assumido recai tão somente a concessionária, nas segundas este risco é compartilhado entre as partes acordadas, assim também como são partilhados os ganhos obtidos através do projeto executado.

A aplicabilidade da Lei nº 11.079/04 recai aos órgãos da Administração Pública direta, aos fundos especiais, às autarquias, às fundações públicas, às empresas públicas, às sociedades de economia mista e às demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

Na Lei supracitada, em seu artigo 2º, no § 4º, está explícito que é vedada a celebração de contrato conhecido como de parceria público-privada quando o valor do contrato for inferior a R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais); quando o período de prestação do serviço seja inferior a 05 (cinco) anos; ou que tenham como objeto único o fornecimento de mãodeobra, o fornecimento de instalação de equipamentos ou a execução da obra pública.

A contratação da PPP sempre terá como fase anterior o processo licitatório, e a lei impõe que este seja na modalidade de concorrência. Segundo Meirelles (2004, p.34) a concorrência é a “modalidade de licitação própria para contratos de grande valor, em que se admite a participação de quaisquer interessados, cadastrados ou não, que satisfaçam as condições do edital, convocados com antecedência mínima prevista na lei, com ampla publicidade pelo órgão oficial e pela imprensa particular”.

Sendo assim, ao observar o exposto na Lei, é notável a relevância dos aspectos pré-contratuais que precisam ser atendidos, os quais demandam por profissionais qualificados, informações fidedignas e, também, promover a adequada publicidade dos procedimentos adotados para fins de conhecimento público.

As Parcerias Público-Privadas podem ser de dois tipos: patrocinada ou administrativa.

Para Mukai, et al (2005), a parceria patrocinada nada mais representa do que a concessão de serviço público ou concessão de serviço precedida de obra pública, previstas na Lei nº 8.987/1995, com a única diferença de que não existem o poder concedente e o concessionário, mas sim o parceiro público e o privado, com a contrapartida do Poder Público. Para o mesmo autor, a concessão administrativa é definida como o instrumento pelo qual a Administração Pública é a usuária direta ou indireta de um serviço prestado pelo parceiro privado, envolvendo ou não execução de obra ou fornecimento e instalação de bens, ou seja, por meio das parcerias, a Administração Pública cria uma figura ou alternativa nova para atender às necessidades estatais.

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Câmara (2005) sintetiza a diferença entre concessões administrativas e patrocinadas. Estas apresentam como peculiaridade a previsão legal de participação do parceiro público no pagamento do concessionário, juntamente com o usuário, de quem são cobradas tarifas; ao passo que aquelas são caracterizadas pelo fato de a Administração Pública receber, direta ou indiretamente, o serviço a ser prestado pelo parceiro privado e, nessa condição, assumir o ônus relativo ao pagamento.

Vale ressaltar que as concessões em que não há contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado não são PPPs e permanecem regidas pela Lei nº 8.987/95 (Lei de Concessão e Permissão para prestação de serviços públicos), sendo chamadas de concessões comuns.

Ressalta-se ainda que não são consideradas PPPs as contratações que tenham como objeto único o fornecimento de mão-de-obra, o fornecimento e instalação de equipamentos, ou a execução de obra pública.

Aspectos contábeis das Parcerias Público-Privadas

A EUROSTAT recomenda que os ativos envolvidos em uma parceria público-privada devem ser classificados como compromissos financeiros no balanço do parceiro privado contanto que este assuma o risco de construção do projeto e, além disso, assuma o risco de demanda. Desta forma, o posicionamento da EUROSTAT quanto à contabilização das PPP’s é de que se deve levar em consideração a parte envolvida que está assumindo o risco da operação, tanto o de construção (se for o caso), e o de demanda.

Este posicionamento demonstra a necessidade de atenção quanto à assunção dos riscos inerentes à parceria no momento da contabilização da transação. E, assim como ocorre legalmente quanto às modalidades das parcerias, a contabilidade observa o comportamento dos riscos quando da classificação dos seus ativos e compromissos.

Para adequada contabilização das transações relacionadas à Parceria Público-Privada faz-se necessário levar em consideração a essência econômica da transação, princípio constante na Resolução CFC nº 1.282/10, onde em seu artigo primeiro e parágrafo segundo explana que “na aplicação dos Princípios de Contabilidade há situações concretas há situações concretas e a essência das transações deve prevalecer sobre seus aspectos formais”. Desta forma, ao se debruçar no âmbito contábil, deve-se buscar a essência econômica e jurídica de tal aspecto, com a finalidade de atender às características qualitativas da contabilidade - quais sejam as fundamentais e de melhoria.

Neste sentindo, a declaração encontrada na nota técnica emitida pelo HM Treasury corrobora com a ideia de atenção aos riscos quando explicita: “se um parceiro tem a propriedade de um ativo dependerá da distribuição dos benefícios decorrentes daquela propriedade e da correspondente exposição a riscos” (HMT, 1999, item 4.2).

A questão dos riscos não é tratada apenas pela legislação regulamentar das PPPs, mas também se torna objeto de observação nas normas contábeis.

O Comitê de Pronunciamentos Contábeis emitiu uma Interpretação Técnica (ICPC - 01) a qual tem como objeto de discussão o contrato de concessão, ademais, houve a publicação da Orientação (OCPC - 05), que por sua vez também aborda questões referentes aos contratos de concessão. Tais publicações visam explanar de forma mais aprofundada transações de questões específicas da contabilidade, assim como o é o contrato de concessão. Cabe ressaltar que tais publicações são destinadas à contabilização de entidades consideradas privadas.

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De acordo com a Interpretação Técnica 01 - Contratos de Concessão, a empresa concessionária deverá registrar, pelo valor justo, o recebimento dos recursos pela parte concedente como um ativo financeiro ou ativo intangível, a depender da caracterização de pagamento, se incondicional ou não, assim, observado o risco envolvido no negócio.

A influência da legislação nos procedimentos contábeis das concessões

Das Relações Legais e Normativas

A contabilização de cada direito ou obrigação está intrinsecamente relacionada com as características econômicas e contratuais da parceria, os quais em alinhamento fornecerão subsídios para correta classificação do evento.

Ao ter como fundamento a Interpretação Técnica (ICPC - 01) é possível extrair que o ativo financeiro será reconhecido “à medida que tem o direito contratual incondicional de receber dinheiro ou outro ativo financeiro do Concedente pelos serviços de construção”, desta forma, restando ao poder concedente pouca ou nenhuma opção de evitar o pagamento, geralmente pro ser o contrato legalmente imponível.

Já o ativo intangível é reconhecido, pela concessionária, “à medida que recebe o direito (autorização) de cobrar os usuários dos serviços públicos”, segundo a mesma Interpretação.

O Quadro 2 apresenta conceitos extraídos das normas contábeis e da legislação pertinente a este evento, destacando semelhanças entre elas.

Quadro 1 - Aspectos Contábeis e Legais das Modalidades

Lei 11.079/04 ICPC 01 - Contratos de Concessão

Concessão Patrocinada

“Concessão patrocinada é a concessão de serviços públicos ou de obras públicas de que trata a Lei no 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, quando envolver, adicionalmente à tarifa cobrada dos usuários contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado.”

“O Concessionário deve reconhecer um ativo intangível à medida que recebe o direito (autorização) de cobrar os usuários dos serviços públicos. Esse direito não constitui um direito incondicional de receber dinheiro porque os valores são condicionados à utilização do serviço pelo público”.

Concessão Administrativa

“Concessão administrativa é o contrato de prestação de serviços de que a Administração Pública seja a usuária direta ou indireta, ainda que envolva execução de obra ou fornecimento e instalação de bens.”

“O Concessionário deve reconhecer um ativo financeiro à medida em que tem o direito contratual incondicional de receber dinheiro ou outro ativo financeiro do Concedente”.

Fonte: adaptado do OCPC 05 e Lei 11.079/04

O quadro acima evidencia conceitos que, ao serem analisados a partir do ponto jurídico e contábil, apresentam semelhanças quanto às características de recebimento/pagamento. Os conceitos supracitados não objetivam definir que tipo de classificação será realizada quando da tipicidade estabelecida por lei, apenas ressaltar as congruências que existem entre elas.

Ao se observar o contrato de concessão patrocinada, verifica-se que neste caso há assunção de riscos por parte da concessionária, não estando em garantia o pagamento incondicional a esta. Assim, tal fatia não garantida iria ser caracterizada como um ativo intangível, o direito de cobrar junto aos usuários uma tarifa referente ao serviço prestado.

Já quando da análise do que trata a legislação a respeito dos contratos de concessão administrativa, vê-se que há a caracterização de garantia dos pagamentos à parte concessionária. Tal característica assemelha-se a incondicionalidade de não pagamento e

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caracterização de imponência do contrato, como explicita a ICPC 01 quando do reconhecimento de um ativo financeiro.

A Orientação (OCPC - 05) é mais clara quanto ao reconhecimento dos ativos por parte da concessionária. Em seu item 17, a Orientação explicita que quando um concessionário recebe o direito de cobrar, a um determinado preço, os usuários do serviço público pela prestação de serviço contratada, “o valor despendido pelo concessionário na aquisição desse direito deve ser reconhecido no ativo intangível”.

No item 18 da mesma Orientação, define-se a ocasião em que será reconhecido um ativo financeiro. O ativo financeiro será reconhecido quando “o responsável pela remuneração dos investimentos feitos pelo concessionário for o poder concedente e o contrato estabelecer que há o direito contratual incondicional de receber caixa ou outro ativo financeiro”, tal contabilização ocorre independente do risco de demanda que o serviço está sujeito durante o prazo da concessão.

Ademais, há outra possibilidade de reconhecimentos dos ativos pela parte concessionária. Ainda poderá existir a remuneração que ocorre em parte garantida (recebida através de valor disposto em contrato), e em parte pelo direito de cobrança direta aos usuários. Nesses casos, a Orientação, no item 19, caracteriza este evento como um fenômeno híbrido, onde serão reconhecidos ativos financeiros e intangíveis. Segundo a mesma Orientação, para o reconhecimento do ativo financeiro é necessário ter base confiável de sua estimativa e de representação do direito incondicional de receber caixa ou outro ativo financeiro.

Estudo de Caso: FOZ Atlântico Saneamento S/A

Em 31.12.2012 a COMPESA explorava a prestação de Serviço de Abastecimento de Água e Coleta de Esgoto em 173 municípios no Estado da Pernambuco. Em 15 de fevereiro de 2013, a COMPESA celebrou contrato para a exploração do sistema de esgotamento sanitário da região metropolitana do Recife e do Município de Goiana tendo como concessionária a Foz Atlântico Saneamento S.A (FOZ). Nos tópicos a seguir descreveremos de forma sumária os principais aspectos inerentes a este contrato.

Caracterização e objeto do Contrato

Em 15 de fevereiro de 2013, a COMPESA celebrou, na condição de concedente, o contrato de concessão administrativa para a exploração do sistema de esgotamento sanitário da região metropolitana do Recife e do Município de Goiana tendo como concessionária a Foz Atlântico Saneamento S.A (FOZ).

O objeto da concessão administrativa celebrado é a exploração do sistema de esgotamento sanitário da região metropolitana do Recife e do município de Goiana, e a execução das obras de construção do sistema.

A prestação de serviços pela concessionária compreenderá, também:

1. Execução, gestão e fiscalização dos serviços delegados, 2. Apoio na execução dos serviços não delegados, 3. Execução, gestão e fiscalização dos serviços associados.

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Não se incluem no escopo de responsabilidades da concessionária os investimentos governamentais, exceto no que diz respeito à interligação das respectivas obras, instalações e infraestruturas que os integram à rede de esgotamento já existente ou por ela ocupada.

Natureza da concessão administrativa

A concessão administrativa será explorada em regime de cobrança da Contraprestação da Concedente para a Operação do Sistema (COS), visando o interesse dos usuários e da concedente.

A concessionária fará jus às fontes de receitas alternativas, complementares, acessórias ou de projetos associados. As fontes de recursos alternativas serão partilhadas na proporção de 70% a concessionária e 30% a concedente, após a dedução de tributos devidos e custos e despesas operacionais.

Prazo e valor da concessão

A vigência da concessão é de 35 anos a contar do primeiro dia útil seguinte a emissão da ordem de serviço, e o valor estimado do contrato é de R$ 5.284.831.263,47 resultante do somatório do Valor Presente Líquido do Fluxo da Contraprestação Básica da Concedente para a Operação do Sistema (CBOS) e do valor presente líquido dos serviços associados.

Bens integrantes da concessão administrativa

Integram a concessão:

1) Todos os equipamentos, infraestruturas, máquinas, aparelhos, acessórios e de modo geral os demais bens e direitos vinculados ao sistema a prestação dos serviços transferidos pela concedente a concessionária, incluindo os investimentos governamentais;

2) Os bens construídos ou adquiridos pela concessionária ao longo do prazo da concessão administrativa, que sejam utilizados na prestação de serviço.

A concessionária somente poderá alienar os bens não afetados, que integram a concessão administrativa, ou, no caso dos bens afetados e reversíveis, quando proceder a sua imediata substituição por outros em condições de operacionalidade e funcionamento idênticas. (item 8.3). Entende-se por bens afetados todos os bens destinados a prestação de serviços no sistema.

Bens afetados aos serviços

Os bens do sistema, incluindo os bens imóveis adquiridos pela concessionária que sejam necessários à prestação de serviço e a execução de obras de construção do sistema, afetados em decorrência de sua destinação especial de utilização para os usuários por se tratar de bens fora do comércio, não poderão ser cedidos, alugados, arrendados ou dados em comodato, penhora e outros.

Financiamentos

A concessionária é a responsável pela obtenção dos financiamentos necessários ao normal desenvolvimento do serviço abrangido na concessão.

A concedente poderá autorizar a concessionária a oferecer em garantia, nos contratos de financiamento, os direitos emergentes da concessão administrativa.

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Caso a concessionária descumpra as metas de atendimentos decorrentes das obras de construção do sistema (investimentos da concessionária vinculados a investimentos governamentais e investimentos firmes da concessionária) de qualquer sistema, mesmo que individualmente, durante 24 meses do contrato a contar da sua assinatura, a concessionária deverá apresentar a concedente os contratos de financiamento relativo aos 4 primeiros anos da concessão, sob pena de retorno da COS ao percentual de 70% do faturamento dos serviços, pelo prazo de 12 meses.

Superado o prazo de 36 meses de assinatura do contrato, sem a apresentação dos contratos de financiamento, a concessionária deverá comprovar a sua capacidade de honrar com os investimentos previstos para o quarto ano da concessão, caso contrário, a concedente poderá decretar a caducidade do contrato.

Compartilhamento de Ganhos Econômicos

Os ganhos econômicos efetivos resultantes para a Compesa, decorrentes da redução do risco de crédito dos financiamentos utilizados para a execução dos investimentos requeridos para a prestação do serviço adequado, serão compartilhados entre as partes na proporção de 50% (cinquenta por cento) para a Concessionária (Compesa) e de 50% (cinquenta por cento) para a Concedente (Foz do Atlântico).

Entende-se por risco de crédito dos financiamentos, o spread de risco ou “delcredere” cobrado pelo financiador, de acordo com a classificação de risco dada ao tomador do financiamento, e que é somado ao custo básico para compor a taxa de juros do financiamento.

A parcela dos ganhos ou resultados econômicos destinada à Concedente poderá ser utilizada na correspondente redução da CBOS a ser paga à Concessionária ou no custeio de intervenções no sistema que sejam decididas pela Concedente

Equilíbrio econômico-financeiro

A concessionária é integral e exclusiva responsável pelos seguintes riscos relacionados à concessão:

1) Na obtenção do retorno econômico previsto pela concessionária; 2) Custos excedentes relacionados às obras e a prestação dos serviços; 3) Obtenção de licenças, permissões e autorizações necessárias à execução do objeto; 4) Defasagem da tecnologia empregada ou necessidade de atualidade; 5) Perecimento, invasões, destruições, roubo, furto, perda e outros; 6) Aumento no custo do capital, inclusive resultantes de aumento das taxas de juros; 7) Variação das taxas de câmbio; 8) Prejuízos decorrentes da gestão ineficiente dos serviços; 9) Falhas nos projetos executivos, na execução de obras de construção do sistema e na

infraestrutura aplicada nos serviços, sob responsabilidade da concessionária; 10) Responsabilidade civil e criminal por danos ambientais decorrentes da operação,

manutenção e conservação do sistema; 11) Ocorrência de greve de seu pessoal; 12) Ocorrência de dissídio, acordo ou convenção coletiva, dentre outros.

A concessionária e a concedente terão direito, conforme o caso, de reequilíbrio econômico-financeiro, como descumprimento pela concedente de suas obrigações contratuais; modificação unilateral do contrato que importe variação dos custos e/ou receitas da

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concessionária, alteração de critério de tarifação social; perda de concessão de serviços de saneamento, dentre outros.

Não resultará reequilíbrio financeiro, em favor da concedente, os ganhos econômicos resultantes de ganhos de produtividade e de redução de custos operacionais.

Risco de construção

As desapropriações e a instituição de servidões administrativas necessárias à prestação dos serviços objeto da concessão administrativa serão efetuadas pela concessionária, às suas expensas e sob sua responsabilidade, com obediência às disposições da legislação aplicável.

As instalações, infraestruturas e equipamentos integrantes do sistema já existente na data de assinatura deste contrato serão transferidos pela concedente à concessionária, sem quaisquer ônus e/ou impedimentos de qualquer natureza, por meio de termo de transferência do sistema existente.

Para dar cumprimento às suas obrigações relacionadas com as desapropriações ou instituição de servidões administrativas, a concessionária deverá:

a) Apresentar à concedente, quando necessário, todos os elementos e documentos necessários à declaração de utilidade pública dos imóveis a serem desapropriados ou sobre os quais serão instituídas servidões administrativas, nos termos da legislação vigente;

b) Conduzir os processos de desapropriação ou de instituição de servidões administrativas, responsabilizando-se por todos os custos relacionados a estes, incluindo os referentes à aquisição dos imóveis e ao pagamento de indenizações ou de quaisquer outras compensações decorrentes da desapropriação ou da instituição de servidões ou de outros ônus ou encargos relacionados, incluindo eventual uso temporário de bens imóveis ou a realocação de bens ou pessoas, bem como as despesas com custas processuais, honorários advocatícios e de peritos;

c) Proceder, às suas expensas, e na presença da fiscalização da concedente, que lavrará o respectivo auto, a demarcação dos terrenos que façam parte integrante da prestação do serviço, incluindo o levantamento da respectiva planta cadastral, e com a identificação dos terrenos que integram a concessão administrativa e as áreas remanescentes.

A concessionária é responsável por realizar, por sua conta e risco, as investigações, os estudos e elaborar e manter atualizados os projetos executivos de engenharia relativos às obras de construção do sistema, julgadas adequadas ou necessárias para a prestação dos serviços e para atendimento aos indicadores.

Risco de demanda de serviços

O risco relacionado à variação do faturamento dos serviços do sistema em relação ao faturamento dos serviços projetado, observado o limite do faturamento dos serviços previsto no Estudo de Viabilidade da PPP, em decorrência de variações de demanda pelos serviços operacionais oferecidos pelo sistema, serão compartilhados entre as partes, da seguinte forma:

1) Havendo variações de faturamento dos serviços a maior, verificadas dentro da faixa de 100% a 110%, inclusive as receitas excedentes serão exclusivamente da concessionária;

2) Havendo variações de faturamento dos serviços a maior que 110%, exclusive as correspondentes as receitas liquidas, que excederem aquelas associadas ao patamar de

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110% acima referido, serão compartilhadas entre a concessionária e a concedente, na proporção de 50% para cada uma das partes;

3) Ocorrendo variações de faturamento dos serviços a menor, verificadas dentro da faixa de 100% exclusive, a 90%, inclusive, as correspondentes perdas de receitas advindas do faturamento de serviços a menor serão de responsabilidade exclusiva da concessionária.

4) Ocorrendo variações de faturamento dos serviços a menor, verificadas dentro da faixa verificadas dentro da faixa de 90% exclusive, a 80%, inclusive, as correspondentes perdas de receitas advindas do faturamento de serviços a menor serão compartilhadas entre a concessionária e a concedente na proporção de 50% para cada.

5) Ocorrendo variações de faturamento dos serviços a menor, verificadas abaixo da faixa de 80% exclusive, as perdas de receitas da concessionária serão de responsabilidade exclusiva da concedente.

Diante do exposto, e consoante o mencionado nos normativos legais, o contrato celebrado entre a Foz Atlântico Saneamento S.A e a COMPESA é enquadrado como uma PPP Administrativa, conforme resumo expostos no Quadro 3:

Quadro 2 - Resumo do Contrato entre a FOZ e a Compesa

Item Contrato FOZ PPP Administrativa Contrato de Terceirização

Prazo do Contrato

35 anos Entre 05 e 35 anos 05 anos (Lei 8.666/93)

Valor do Contrato

R$ 5,3 bilhões Mínimo de R$ 20 milhões Não estabelecido

Risco de Demanda

Compartilhado entre parceiro público e privado

Compartilhado entre parceiro público e privado

Não aplicável

Fonte: Os autores

Desta forma, conforme enquadramento legal, entende-se que o Contrato celebrado entre a FOZ e a Compesa é uma PPP Administrativa e não como um Contrato de Terceirização.

Contabilização da Parceria Público Privada

Elementos da Parceria Público Privada

A PPP firmada entre a Compesa e a FOZ foi estabelecida com base em um Edital de Licitação Pública. Neste instrumento legal foi apresentado pela FOZ um fluxo de caixa a ser cumprido e que possui os seguintes elementos principais:

Quadro 3 - Dados Financeiros do Contrato

Fluxo de Caixa da FOZ %

R$ (mil)

2013 – 2047

Receita 100,00% 18.020.220

Investimentos 17,01% -3.066.106

Custo operacional 17,33% -3.122.551

Despesa Administrativa 19,08% -3.437.540

(-) Outras despesas 12,62% -2.273.464

(-) IR/CSLL 11,54% -2.079.010

Resultado contábil 22,43% 4.041.549

Fonte: Edital de Concessão Foz do Atlântico, 2013

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As receitas representam as faturas emitidas pela Foz e correspondem a remuneração pelas seguintes atividades desenvolvidas:

(i) Investimentos novos (ii) Recuperação de ativos operacionais envolvidos no contrato (iii) Manutenção de ativos operacionais envolvidos no contrato (iv) Prestação de serviços de esgotamento sanitário

Os investimentos correspondem as atividades desenvolvidas pela FOZ para construção de investimentos novos ou recuperação de ativos operacionais envolvidos no contrato (itens i e ii)

Os custos operacionais correspondem àmanutenção de ativos operacionais envolvidos no contrato a efetiva prestação de serviços de esgotamento sanitário (itens iii e iv)

As despesas administrativas e as outras despesas correspondem aos demais gastos associadas à geração da receita (incluindo tributos e resultado financeiro).

O IR e CSLL correspondem aos tributos indiretos incidentes sobre a renda e o resultado contábil, ao resultado líquido da operação como um todo.

A fatura emitida pela Foz não discrimina a importância devida a cada um destes itens. Pelo contrário, o valor apresentado engloba todos os itens descritos. Tendo em vista esta particularidade, foi necessário estipular um percentual destinado a cobrir cada um destes elementos.

Desta forma, tomando-se por base a receita total a ser faturada nos 35 anos do contrato (R$ 18,020 bilhões), observa-se que o valor dos investimentos perfazem o total de 17,01% (R$ 3,066 bilhões).

Então, em cada fatura emitida existe um percentual de 17,01% relativo a este item (investimentos novos e recuperação de ativos operacionais envolvidos no contrato).

Isto, contudo, não equivale a dizer que tais investimentos serão efetivamente realizados em cada pagamento de fatura feita pela Compesa. Nesta perspectiva, pode haver exercícios sociais em que o investimento realizado pela Foz seja bem superior a parcela de repasse de recursos pela Compesa. Por outro lado, pode haver exercícios sociais em que o repasse de recursos pela Compesa seja superior aos investimentos feitos pela Foz.

A representação contábil destes eventos pela Compesase dá através do reconhecimento de um ativo financeiro, referente aos 17% de investimentos que são repassados a cada fatura, e de um passivo financeiro, pelos valores que correspondem aos investimentos efetivos realizados pela Foz.

O subsídio para que tal ativo financeiro seja reconhecido pela Compesa se dá a partir da evidência de que tal elemento representa um recurso que a entidade possui controle, e que se espera que gere benefícios econômicos futuros sob a forma de ser utilizado para liquidar um passivo (no caso, o passivo financeiro decorrente).

Ademais, o reconhecimento do ativo financeiro se consubstancia na medida em que existe a probabilidade de que o benefício econômico futuro fluirá para a Compesa e da sua mensuração ser efetuada em bases confiáveis.

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Lançamentos Contábeis

A seguir são evidenciados os lançamentos contábeis realizados para a contabilização da Parceria Público Privada Foz x Compesa, no período de Agosto a Dezembro de 2013:

Quadro 4 - Lançamentos Contábeis do Ano de 2013

Mês ago-13 set-13 out-13 nov-13 dez-13

Valor da Fatura 6.855.282 6.937.276 6.909.958 6.471.444 6.506.276

Ativo Financeiro 1.165.398 2.347.021 3.526.319 4.633.383 5.748.541

Contabilização fiscal (1)

D DESPESA SERVIÇOS 6.855.282 6.937.276 6.909.958 6.471.444 6.506.276

C FORNECEDOR 6.855.282 6.937.276 6.909.958 6.471.444 6.506.276

Contabilização Societária (2)

D ATIVO FINANCEIRO 1.165.398 1.179.337 1.174.693 1.100.145 1.106.067

C DESPESA DE SERVIÇOS 1.165.398 1.179.337 1.174.693 1.100.145 1.106.067

Juros Anuais (3) 2,38% 2,38% 2,38% 2,38% 2,38%

Equivalente mês 0,20% 0,20% 0,20% 0,20% 0,20%

D ATIVO FINANCEIRO (3) 0 2.287 4.605 6.919 9.091

C RECEITA DE JUROS 0 2.287 4.605 6.919 9.091

(1) A Contabilização fiscal corresponde aos lançamentos que foram realizados para atender à legislação fiscal. Desta forma, do ponto de vista fiscal, toda fatura que a FOZ apresenta para pagamento à COMPESA corresponde a uma despesa, que terá como contrapartida uma conta de fornecedor a ser paga.

(2) Do ponto de vista societário, a contabilização atende ao que preconiza a ICPC 01. Desta forma, quando a COMPESA recebe a fatura da FOZ, é realizado um lançamento de estorno na despesa de serviço, haja vista que nem todo este valor corresponde, de fato, a uma despesa. Dentro deste montante, existe um valor correspondente a um ativo financeiro, que representa o percentual de 17% sobre a fatura emitida pela FOZ, tal como explicado anteriormente.

(3) Este ativo financeiro é atualizado monetariamente pela mesma taxa de juros utilizada pela FOZ. Estes lançamentos são realizados sistematicamente todo mês, por cada fatura emitida. Desta forma, em cada fatura paga pela Compesa, é formado o ativo financeiro da Companhia, correspondente ao percentual de 17% sobre o valor da fatura.

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A medida que a obra vai sendo construída pela FOZ, são realizados os seguintes lançamentos na COMPESA:

Quadro 5 - Lançamentos Contábeis pela Construção em 2013

Mês ago-13 set-13 out-13 nov-13 dez-13

Ativo Intangível em Construção 5.748.843 11.497.687 17.246.530 22.995.374 28.744.217

Passivo Financeiro 5.748.843 11.508.966 17.280.390 23.063.138 28.857.232

Contabilização fiscal (1)

D DESPESA 6.855.282 6.937.276 6.909.958 6.471.444 6.506.276

C FORNECEDOR 6.855.282 6.937.276 6.909.958 6.471.444 6.506.276

Contabilização Societária (2)

D ATIVO FINANCEIRO 1.165.398 1.179.337 1.174.693 1.100.145 1.106.067

C REDUTORA DA DESPESA 1.165.398 1.179.337 1.174.693 1.100.145 1.106.067

Juros Anuais 2,38% 2,38% 2,38% 2,38% 2,38%

Equivalente mês 0,20% 0,20% 0,20% 0,20% 0,20%

D ATIVO FINANCEIRO (3) 0 2.287 4.605 6.919 9.091

C RECEITA DE JUROS 0 2.287 4.605 6.919 9.091

D IMOBILIZADO EM CONSTRUÇÃO (4)

5.748.843 5.748.843 5.748.843 5.748.843 5.748.843

C RECEITA DE CONSTRUÇÃO 5.748.843 5.748.843 5.748.843 5.748.843 5.748.843

D CUSTOS DE CONSTRUÇÃO (5) 5.748.843 5.748.843 5.748.843 5.748.843 5.748.843

C PASSIVO FINANCEIRO 5.748.843 5.748.843 5.748.843 5.748.843 5.748.843

D INTANGÍVEIS EM CONSTRUÇÃO (6)

5.748.843 5.748.843 5.748.843 5.748.843 5.748.843

C IMOBILIZADO EM CONSTRUÇÃO

5.748.843 5.748.843 5.748.843 5.748.843 5.748.843

Juros Anuais (7) 2,38% 2,38% 2,38% 2,38% 2,38%

Equivalente mês 0,20% 0,20% 0,20% 0,20% 0,20%

D DESPESA FINANCEIRA - 11.279,36 22.580,84 33.904,50 45.250,38

C PASSIVO FINANCEIRO - 11.279,36 22.580,84 33.904,50 45.250,38

(1) Contabilização fiscal, tal como explicado anteriormente. (2) Ajuste para contabilização societária, tal como explicado anteriormente. (3) Atualização monetária do ativo financeiro, tal como explicado anteriormente. (4) Contabilização da construção dos ativos realizadas pela FOZ. Na COMPESA,

contabiliza-se inicialmente o imobilizado, para fins de controle fiscal. Posteriormente este lançamento é ajustado para o reconhecimento do ativo intangível, conforme orientação do ICPC 01 (ver item 6, a seguir). Observa-se que na COMPESA, não é reconhecida margem de lucro para as construções. As receitas são equivalentes aos custos.

(5) À medida em que a FOZ realiza a construção dos ativos relativos à concessão, a COMPESA reconhece um passivo financeiro em seu Balanço Patrimonial. Este passivo representa o montante desembolsado pela FOZ na construção, o qual ao final dos 35 anos da vigência do contrato, corresponderá ao mesmo valor do ativo

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financeiro, que também está sendo reconhecido na companhia. Desta forma, o valor do ativo financeiro e o valor do passivo financeiro são equivalentes, e correspondem ao percentual de 17% sobre o fluxo de caixa previsto e acordado no contrato, de maneira que se a FOZ investir mais do que o originalmente contratado, a COMPESA não remunerará por isto.Ressalta-se, contudo, que nos primeiros anos do contrato, o valor do ativo financeiro será bem menor que o passivo financeiro. Isto se explica porque no início o valor das construções será maior que o valor dos adiantamentos feitos (que correspondem ao ativo financeiro). Convém lembrar ainda que a taxa de juros que ajusta o ativo financeiro da COMPESA é equivalente à que reajusta o passivo financeiro, de maneira que, ao final do período estas duas contas (ativo e passivo financeiro) são compensadas e encerradas. Se houver saldo algum saldo residual, este será levado a resultado, seja por uma redução do ativo (neste caso, sendo reconhecida uma despesa), seja pela redução do passivo (quando se reconhecerá uma receita).

(6) Reconhecimento do ativo intangível, conforme orientação do ICPC 01. (7) Atualização do passivo financeiro da COMPESA por meio da utilização da mesma

taxa de juros que ajusta o ativo financeiro.

Observação: O reconhecimento do ativo em construção finaliza quando a obra estiver acabada. A partir deste momento, transfere-se o saldo desta conta para ativos intangíveis de bens em operação, e inicia-se a amortização do mesmo pelo tempo da concessão com o município (poder concedente).

2. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste estudo foi verificar como ocorre a contabilização da PPP celebrada entre a Compesa e uma empresa Privada, a qual é responsável por prestação de serviço e extensão do atendimento do esgotamento sanitário e distribuição de água.

Através do estudo da legislação aplicada e de alguns estudos realizados sobre as PPP’s

no Brasil, e fora deste, foi possível construir um embasamento teórico capaz de promover discussões acerca dos procedimentos contábeis aplicáveis à especificidade da PPP. A aplicação de princípios contábeis, como a essência sobre a forma, e adaptação das publicações contábeis que discorrem sobre a concessão foram essenciais.

A observação do contrato celebrado entre as entidades permitiu retirar informações

determinantes para a contabilização específica deste evento, como o risco de construção e o risco de demanda, por exemplo, foi possível determinar a valoração de ativos e passivos. A determinação de valores do ativo intangível e financeiro da Compesa teve por base as definições presentes no ICPC 01 e na OCPC 05.

É sabido que o normativo contábil não trata especificamente de contabilizações de

eventos gerados por uma PPP, portanto, o princípio contábil de essência sobre a forma fez-se basilar para com as equiparações de eventos da concessão em si.

A relevância deste trabalho se dá pela aplicação prática dos conceitos contábeis em um

evento de interesse social, que trata de direitos básicos à sociedade – água e esgotamento sanitário. Além da relevância social e do ineditismo da contabilização de um evento de PPP

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na literatura, admite-se a relevância dos valores acordados entre as entidades, reforçando a ideia da importância e complexidade de aspectos contábeis e sua interdisciplinaridade com o direito e outras linhas de estudo.

REFERÊNCIAS

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BELLO, B. V. Modelagem de Garantias Governamentais em Project Finance e Parcerias Público-Privadas Através da Aplicação da Teoria de Opções Reais. 2009. 96f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,2009.

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INVESTIMENTO EM MÃO-DE-OBRA E VALORIZAÇÃO NO MERCADO DE CAPITAIS: Uma Comparação Entre o Valor de Mercado e a Satisfação no Emprego

AUTORES: José Wellington Honório da Silva, Vladênia Letieri Gonçalves e Ricardo Cavalcanti Galvão.

Área temática: Finanças e Mercado de Capitais

RESUMO

Este trabalho objetivou identificar se as empresas que são reconhecidas como melhores para se trabalhar também possuem maior valor de mercado. Trata-se de um estudo descritivo com abordagem quantitativa. A amostra foi composta por dezessete empresas de energia elétrica com ações cotadas na BOVESPA e volume de negociação diário positivo durante o ano de 2013. Como variáveis independentes foram utilizados índices contábeis e uma dummy para a presença no ranking de melhores para se trabalhar. Como variável dependente foi utilizado o logaritmo natural do valor de mercado agregado (MVA) dividido pelo patrimônio líquido. Os dados foram submetidos à aplicação de regressão por Mínimos Quadrados Ordinários - MQO. Dentre os resultados do estudo, destaca-se a significância marginal da presença no ranking das melhores para se trabalhar, com um p-valor de 0,06. Dos indicadores contábeis utilizados, houve significância estatística apenas para a rentabilidade sobre o patrimônio líquido na forma log-log. Conclui-se que foram encontradas evidências de que estar entre as melhores empresas para se trabalhar elevou o valor de mercado das empresas contidas na amostra, por ser considerado um agregador de valor pelos acionistas.

PALAVRAS-CHAVE: Investimento. Valorização. Melhores empresas. Setor elétrico.

1 INTRODUÇÃO

Com o passar dos anos, muitas empresas perceberam a necessidade de adaptação à dinâmica do mercado de trabalho. Com o processo de globalização, muitas delas mudaram sua estrutura, investindo em um corpo de funcionários qualificado e produtivo.

Algumas empresas acreditam que estimular a manutenção de bons profissionais pode torná-las capazes de concorrer nos mercados mais disputados. Um exemplo desse tipo de organização é a empresa Google Inc., que possui um diferenciado modelo de gestão de pessoas com inclusão de itens de lazer no ambiente de trabalho, além de oferecer 30% do horário de trabalho para pesquisas de interesse pessoal e lazer (AMERICANO, 2013).

Tal modo advém da necessidade constante de aumento de valor da empresa para o acionista, característica marcante nos mercados a partir da década de 1980 (COPELAND, KOLLER e MURRIN 2002).

A cobrança por um controle mais intenso por parte dos diretores e acionistas, fez com que as organizações se profissionalizassem de tal modo que funções como projetar,

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administrar, preparar e controlar, se tornaram necessários para a sustentação das empresas e ainda dissolver conflitos de interesse entre diretores e acionistas (BEUREN, 2008).

Para manter no seu corpo técnico os melhores profissionais, foram desenvolvidas várias técnicas. A valorização da mão de obra é também avaliada pelas remunerações recebidas como contrapartida do trabalho para a devida organização. Essas remunerações são entendidas como cumprimento das expectativas e necessidades pessoais, que são: crescimento pessoal, projeção social, segurança, reconhecimento, liberdade de expressão no ambiente de trabalho, gratificações (DUTRA, 2001).

Com essas idéias, os funcionários tendem a produzir mais ao exercerem sua função com satisfação. Um colaborador que se encontra em tal situação tende a ser mais produtivo e contribui com a organização. A esse respeito, pondera Edmans (2011, p. 634, tradução nossa) que “Parece ser intuitivo que a satisfação do empregado deveria melhorar o desempenho da firma, talvez até removendo a necessidade de demonstrar empiricamente tal relação”.

É de grande importância lembrar que a busca pelos objetivos acima citados procuram atender ao principal propósito da organização, que é a criação de valor. Figueiredo e Caggiano (2008, p. 60) afirmam que “O objetivo do negócio é também a maximização da riqueza dos acionistas”. Com base neste contexto, concordam Copeland, Koller e Murrin (2002, p. 4) quando afirmam que “As economias voltadas para o acionista parecem ter melhor desempenho em relação a outros modelos econômicos, e as demais partes interessadas não são exploradas pelos acionistas”.

É de interesse dos investidores e gestores das empresas que os recursos gerados por seus ativos sejam eficientemente alocados para o alcance de seus objetivos. No entanto, tudo isso torna-se a principal preocupação dos investidores e gestores das organizações, na qual ambos fazem estimativas de fluxo de caixa com total prudência para que os resultados não venham a ser negativos.

Um instrumento de criação de valor é a contabilidade gerencial, que tem como definição ser um processo de mensuração, identificação, acumulação, preparação, análise, interpretação e comunicação de informal para a gestão operacional ou financeira; onde a administração utiliza para realizar planejamento, controle e avaliação organizacional para garantir utilização e a responsabilidade dos seus recursos (PADOVEZE, 1999).

Outro instrumento capaz de criar valor é a qualidade de vida no trabalho possui diversos aspectos relacionados, que são: condições de trabalho, motivação, satisfação, entre outros. A partir desses aspectos, é que se pode compor a ampla lista de pontos negativos e positivos do trabalho (TOLFO, 2001). A criação de vínculo entre empregador e empregado através da qualidade de vida no trabalho pode repercutir positivamente nos objetivos da organização. Sendo assim, oferecer um ambiente que traz satisfação ao funcionário pode criar valor ao acionista.

Diante disso questiona-se: As empresas que são reconhecidas como melhores para se trabalhar também possuem maior valor de mercado?

Para resposta à questão problema, tem-se como objetivo geral evidenciar se as empresas que se destacam como melhores para se trabalhar apresentam também valorização superior à média do mercado, observado através do valor de mercado.

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Para atingir o objetivo geral, foram traçados os seguintes objetivos específicos: revisar a literatura sobre criação de valor, MVA e valorização de pessoal; coletar indicadores contábeis das empresas do setor de energia e incluir uma variável dummy naquelas consideradas pela revista exame como melhores para se trabalhar; comparar o Market Value Added (Valor de Mercado Agregado) das empresas escolhidas com o restante do mercado através de uma regressão linear do tipo cross-section; e comparar a valorização das duas carteiras com o intuito de verificar se é relevante o investimento na satisfação no trabalho.

Este trabalho se justifica por gerar informações úteis à tomada de decisão. Portanto, esta pesquisa trará uma contribuição na geração de informação para a sociedade, empresários e colaboradores por oferecer conhecimento acerca do retorno sobre investimento em mão-de-obra.

Para as empresas, a criação de valor é de extrema importância, pois contribui para a sobrevivência e valorização de suas ações, onde o mercado de trabalho é bastante competitivo, por isso o empresário deve estar preparado para adequar-se a mudanças que possam ser constantes em seu cotidiano. Quando esta valorização trata-se de manutenção de bons profissionais, o único objetivo da organização é agregar valor para seus sócios e elevar o preço de suas ações diante da bolsa.

Através do MVA, será analisado se as empresas que se destacam como melhores para se trabalhar apresentam também valorização superior à média de mercado, Diante disso o profissional contábil poderá auxiliar a empresa, pois através da busca por novas informações, pode torná-la capaz de melhor atender a influência da equipe colaboradora na geração dos resultados, utilizando critérios coerentes no reconhecimento do desempenho dos funcionários e podendo escolher a medida de desempenho mais vantajosa.

Como contribuição acadêmica, busca-se ampliar os conhecimentos na área contábil que sirvam também de referência para estudos e consultas futuras, além de produzir material que sirva como conteúdo de estudo para profissionais e estudantes tanto de Contabilidade como de outras Áreas.

O presente estudo torna-se viável à medida em que demonstrar aos demais usuários das informações de uma das possíveis maneiras de criar valor para a empresa. Os gestores devem está preparados para a real necessidade de se planejar, sendo viável dedicar atenção a este tema pela elevada competitividade do mercado.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 CRIAÇÃO DE VALOR

Por se tratar de um fator capaz de alterar o desempenho da organização, o desempenho dos funcionários está correlacionado com a criação de valor. Por estar ligado a fatores subjetivos, o desempenho dos funcionários não pode ser objetivamente mensurado. Para tanto, recorre-se a instrumentos capazes de aumentar esses rendimentos e, entre estes, encontra-se a qualidade de vida no trabalho.

Toda empresa tem como objetivo principal criar valor para seus acionistas, buscando primeiramente ter uma equipe de colaboradores e uma diretoria bem preparada, para poder manter-se no mercado e conseqüentemente subir o preço de suas ações.

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Segundo Van Horne (1998, p. 3, apud PADOVEZE, 1999, p. 1)

O objetivo de uma companhia deve-se da criação de valor para os acionistas. A representação do valor é pelo preço de mercado da ação ordinária de uma companhia, além de função das decisões de investimento, dividendos e financiamento da empresa. Tratando-se unicamente da criação de valor.

Como o objetivo da organização é maximizar o valor de suas ações, é preciso que seus diretores aprendam a analisar os investimentos e combinações de financiamento, verificando se causa impactos favoráveis sobre o valor da ação. Independentemente do tipo de empresa, decisões proativas aumentam o valor de mercado do patrimônio dos proprietários. Verifica-se que diretores financeiros atendem melhor aos proprietários, oferecendo serviços que lhe agregam valor, almejando cada vez mais valorização no mercado (ROSS, 2008).

Freqüentemente, as organizações têm incentivado de forma significativa seus diretores e executivos, oferecendo opções de compras de ações, onde esta oportunidade cabe aos funcionários de todos os setores, não apenas aos de primeiro escalão. Pois quanto mais valer a ação, mais significativa fica a opção. Diante deste contexto, observa-se que opções de compras de ações são bastante utilizadas para motivar seus colaboradores (ROSS, 2008).

Geralmente, gestores se baseiam em maximizar o valor das ações da empresa, contudo, essas entidades têm como prioridade investir em diversidades de ativos, utilizando técnicas orientadas e estudadas para subir o preço de suas ações. Desse modo, as evidências direcionam ao valor aplicado, sendo o custo de capital o mais utilizado, agregando ativos com maior valor para a organização, fazendo com que seus gestores e acionistas se utilizem de medidas proativas que traduzam estas informações (ARAÚJO, 2003).

No linguajar financeiro, seria feito um investimento em ativos, tais como estoques, máquinas, terrenos e mão-de-obra. O dinheiro aplicado em ativos deve ser contrabalançado por uma quantia idêntica de dinheiro gerado por algum financiamento. Quando começar a vender, sua empresa irá gerar dinheiro. A finalidade da empresa é criar valor para o seu proprietário. O valor está refletido no modelo básico da empresa, representado pelo seu balanço patrimonial (ROSS, 1995, p. 26, apud PADOVEZE, 1999, p. 6).

Em relação às interações com os fornecedores e clientes, a empresa pode gerar mais valor e ampliar as fronteiras da disposição a pagar e o custo de oportunidade. Os aspectos sociais e dinâmicos influenciam a forma de importância do valor criado por parte das pessoas envolvidas (BLYLER e COFF, 2003, tradução nossa).

Observa-se que as empresas com maior produtividade do trabalho possuem maiores oportunidades em criar valor do que as que apresentam uma menor produtividade. Segundo Copeland, Koller e Murrin (2002, p. 14)

Nas atuais circunstâncias, acreditamos que as empresas que se concentram na construção de valor para o acionista estarão sendo boas cidadãs. Por quê? Simplesmente porque tais empresas criarão mais valor para seus acionistas. Tomemos a parte interessada representada pelos empregados. Empresas que procurarem elevar seus lucros por meio de más condições de trabalho, salários baixos e sonegação de benefícios terão dificuldades para atrair e manter empregados de alta qualidade.

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2.2 MARKET VALUE ADDED5

Com o processo de globalização que o mercado atravessa no momento, empresas tentam se adaptar com várias mudanças, investindo em marketing e qualificação de mão de obra para se ter um retorno a altura esperada por seus acionistas, que investiram seu capital com o objetivo de criar riqueza. Nota-se que muitas medidas estão sendo tomadas, como, por exemplo, a diminuição de custos sem perda da qualidade nos serviços prestados, tentando fortalecer a marca da empresa para que suas ações permaneçam sempre em alta. De acordo com Ehrbar (1999, p. 36), o Valor de Mercado Agregado (MVA) trata-se de uma medida de desempenho de empresas que direcionam suas atenções ao retorno sobre o investimento, em muitos casos organizações de setores diferentes e até de outras regiões, tentam ajustar seus riscos e analisam se determinado custo trará retorno suficiente para seus acionistas.

Segundo Ehrbar, MVA trata-se de um maior investimento para a empresa, mais do que os investidores poderiam conseguir na carteira de mercado:

[...] o MVA® é automaticamente ajustado para o risco, já que os valores de mercado de empresas incorporam julgamentos de investidores quanto a risco além de desempenho [...] é uma medida que pode ser utilizada para comparar diretamente os desempenhos de empresas em setores diferentes ou até mesmo em países diferentes [...] o objetivo financeiro maior de toda empresa deveria ser criar tanta riqueza para acionistas - tanto MVA - quanto possível. (EHRBAR, 1999, p.36).

Por tanto, nota-se que quando se trata de MVA, os acionistas exigem sempre transparência nas informações e valor para entidade, dando ênfase ao fator comunicação que é fundamental dentro de uma organização. Valorização de capital e desempenho melhor passa a ser exigidos pelos acionistas quando se trata de recursos que ambos depositam na empresa, identificando como capital investido. Frezatti (2001) afirma que a relação entre MVA e valor da empresa é relevante, não define qual intenção precisaria ser a mais adaptada e possível para cada organização, ponto de vista e ocasião, e reais possibilidades do seu momento de vida. No inicio, o MVA positivo deveria ser portanto a grande vontade do controlador de captar cada vez mais recursos para sua empresa a partir de aplicações consistentes com o objetivo de evitar distorções.

O MVA é a diferença entre o valor de marcado e o capital social da empresa. De acordo com Ehrbar (1999) o valor de mercado agregado (MVA) é um conceito definitivo de criação de riqueza. Superando outras medidas por se tratar da diferença entre entrada de caixa e saída de caixa, ou seja, o que acionistas colocam na organização como capital e o que poderiam receber na venda das ações no mercado corrente.

O PBV é obtido pela divisão do valor de mercado pelo capital social, indica a comparação do valor de mercado com o capital social. Damodaran (2009, p.546) afirma que “O PBV é calculado pela divisão de preço de mercado por ação pelo valor contábil corrente do patrimônio líquido por ação”.

5 Valor de Mercado Agregado

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2.3 SATISFAÇÃO NO TRABALHO

Considerando a necessidade de criação de valor, a empresa deve buscar toda forma lícita para aumentar sua produtividade, para melhorar o ambiente de trabalho. Lobato (2003, p. 105), relata que:

Hoje, na maioria dos setores, é possível comprar no mercado internacional de máquinas e equipamentos comparáveis aos das principais organizações globais. Acesso a itens do ativo fixo não representa o fator diferenciador; atualmente, a distinção resulta da capacidade de usar esses recursos com eficácia. A organização que perder todos os seus equipamentos, mas preservar as habilidades e conhecimentos da força de trabalho retornará aos negócios com razoável rapidez. A organização que perder sua força de trabalho, mas mantiver seus equipamentos, jamais se recuperará.

Para manter a força de trabalho produtiva o ambiente deve ser o mais propício possível, onde toda a equipe se envolva contribuindo positivamente nos resultados da organização, e o vinculo entre empresa e funcionário venha a ser o mais agradável possível, segundo Luz (2003, p. 99),

O clima retrata o grau de satisfação material e emocional das pessoas no trabalho. Observa-se que este clima influencia profundamente a produtividade do indivíduo e, conseqüentemente da empresa. Assim sendo, o mesmo deve ser favorável e proporcionar motivação e interesse nos colaboradores, além de uma boa relação entre os funcionários e a empresa.

Desta forma, entende-se que a convivência no ambiente de trabalho poderá influenciar no desempenho dos colaboradores onde o clima deve ser favorável para que estes tenham satisfação em produzir. Portanto, é vantajoso criar um vínculo positivo entre empregado e empregador na busca do sucesso da organização.

Em relação aos novos padrões de valorização e os tradicionais, destacam-se que: houve uma modificação na forma da pessoa ser vista pela empresa, como também sua valorização, antes as pessoas eram avaliadas pelo o que faziam, atualmente são avaliadas pela contribuição para o sucesso da empresa; ao se medir as pessoas pela função que exerce, descreve-se todas as tarefas que executa e sua posição na empresa, onde esta pessoa também ocupa vários espaços da empresa, quando se faz uma medição em relação a complexidade de suas contribuições e seus respectivos cargos de confiança, verifica-se seu crescimento profissional, ao ponto de valorizar esses colaboradores da maneira mais adequada possível (DUTRA, 2002).

Em consonância com a avaliação dos padrões de valorização, Edmans (2011) estudou a relação entre satisfação no trabalho e o retorno a longo prazo das ações nos Estados Unidos. O autor apresentou uma carteira teórica com as cem melhores empresas para se trabalhar e comparou o seu desempenho com o restante das empresas. Como resultado, foi verificado que, além de ter um melhor desempenho, a carteira com as melhores empresas para se trabalhar também apresentava melhores surpresas positivas nos retornos e nos anúncios de resultados. O estudo conclui que a satisfação no trabalho está positivamente relacionada com o desempenho da empresa, o mercado não avalia perfeitamente os intangíveis e investimentos socialmente responsáveis podem melhorar os retornos.

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De acordo com Nascimento, Gonçalves e Cherobim (2012), nota-se a importância e necessidade de estrutura na parte gerencial, como também na busca e manutenção com o objetivo de ter um corpo profissional capacitado e comprometido com a empresa. Neste contexto, torna-se válido a necessidade da aplicação de novas políticas de gratificação e promoção como mecanismo de motivação e também de empenho do colaborador para com a empresa.

É provável que, ao motivar uma equipe, pode-se gerar um estímulo para que todos os envolvidos criem um diferencial competitivo, levantando assim as ações da empresa e conseqüentemente tornado-a mais forte e preparada para enfrentar o mercado. Segundo Nascimento, Gonçalves e Cherobim (2012, p.24)

A remuneração de pessoal pode assumir papel de destaque nas empresas que disputam a preferência de consumidores e investidores. Os aspectos inerentes as práticas de gestão de pessoal costuma ser identificados nos relatórios da administração das companhias abertas, por vezes de forma implícita. Afinal, a política de remuneração pode encontrar-se delineada a partir de um planejamento estratégico, portanto deve ser protegido dos concorrentes.

Satisfação no trabalho tem várias maneiras para ser entendido, dependendo do referencial teórico seguido. Os conceitos freqüentemente apontam a satisfação no emprego como caminho que leva um colaborador a se motivar, com atitudes proativas e contribuindo para seu estado emocional se mantenha em alto, portanto existem ainda os que acreditam que satisfação e insatisfação são fenômenos opostos, contrários (MARTINEZ e PARAGUAY, 2003).

Tavares et al. (2010, p. 5), asseguram que,

Portanto, a qualidade de vida no trabalho é uma questão competitividade, um diferencial que pode significar muito em termos de produtividade e lucratividade, produzindo também, valor social que pode ser objeto de reduções tributárias ou outros incentivos legais. Não pode haver qualidade nos serviços e produtos de uma empresa, se não há satisfação no trabalho por parte de seus funcionários. Assim, pode-se medir, através dos indicadores adequados e da avaliação de suas interações , a satisfação dos trabalhadores com suas condições de trabalho sendo um dado central para o sucesso de uma organização.

Nascimento, Gonçalves e Cherobim, em 2012, realizaram um estudo com o objetivo de verificar se existe relação entre os índices contábeis financeiros e as práticas de remuneração variável nas empresas do setor elétrico do Brasil, elaboraram uma análise descritiva e aplicaram no estudo avaliação estatísticas, onde no final do estudo com ausência de significância na análise estatísticas de correlação entre as variáveis observa-se a hipótese nula, ou seja, como termo para medir, as práticas de remuneração variável não têm influência positiva nas avaliações dos índices de lucratividade e rentabilidade das empresas do setor abordado na pesquisa, com base em estudos de motivações entre outros, os resultados permitem a conclusão sobre o indicativo de que a prática de remuneração variável como incentivo a um maior empenho organizacional, considerada de forma independente, não representa fator de satisfação entre os profissionais que atuam no setor elétrico.

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Portanto se tem à hipótese de quê cabe às empresas estimularem seus colaboradores a concluir suas tarefas sempre com resultados satisfatórios.

3 PROCEDER METODOLÓGICO

O método utilizado para consecução da pesquisa foi o dedutivo, por apresentar uma modalidade de entendimento que faz uso da dedução para obter uma conclusão a respeito de determinadas premissas. Basicamente as razões dedutivas se diferenciam por oferecerem conclusões que precisam primeiramente serem exatas caso todas as premissas sejam verdadeiras, que segundo Michel (2009, p. 60-61),

É um tipo de raciocínio que ocorre de modo contrário ao anterior. Parte-se de uma verdade estabelecida (geral) para provar a validade de um fato particular. Caminha-se da causa para o efeito. Nesse tipo de raciocínio, a premissa maior é uma verdade absoluta, comprovada e que contempla toda a proposição contida na premissa menor. Assim, a conclusão deverá ser necessariamente verdadeira.

Quanto aos objetivos da pesquisa caracterizou-se como descritiva por abordar dados coletados e vinculados, descrevendo a relação que foi encontrada. De acordo com Beuren (2008, p. 81), “a pesquisa descritiva trata-se de uma estrutura intermediária entre a pesquisa exploratória e descritiva, sendo assim descrever significa identificar, relatar, comparar, entre outros aspectos”.

Em relação a abordagem do problema, foi determinado como quantitativo. Beuren (2008, p. 93), destaca que “[...] a abordagem quantitativa geralmente é aplicada nos estudos descritivos, que buscam descobrir e classificar a relação entre variáveis e causalidade entre fenômenos”.

Em relação aos procedimentos, utilizou-se de um levantamento, achando dessa maneira, dados de uma amostra e população. Segundo Beuren (2008, p. 86), a:

Pesquisa de levantamento e sua utilização na contabilidade, trata-se de uma tipologia de pesquisa com grande importância na contabilidade, onde levanta informações bastante úteis para futuros estudos especificados como também mapear a realidade de uma determinada população ou amostragem de empresas nas questões contábeis.

Quanto aos procedimentos foi utilizada a pesquisa bibliográfica, elaborada através de material já publicado, constituído por livros, artigos de periódicos e atualmente com material disponibilizado na Internet, onde recupera o conhecimento acumulado sobre um determinado problema (GIL, 1999 apud BEUREN, 2008).

O tratamento dos dados se deu através de regressão que teve por objetivo verificar a existência de significância estatística no aspecto valorização do funcionário; de acordo com Gujarati (2000, p. 4),

A análise de regressão ocupa-se do estudo da dependência de uma variável, a variável dependente, em relação a uma ou mais variáveis, as variáveis explicativas, com o objetivo de estimar e/ou prever a média (da população) ou o valor médio da dependente em termos dos valores conhecidos ou fixos (em amostragem repetida) das explicativas.

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Na coleta dos dados, foi considerado apenas o ano de 2013, no qual foram utilizados dados do tipo cross-section, que segundo Gujarati (2000, p. 12) “São dados de uma ou mais variáveis coletados no mesmo ponto de tempo”.

3.1 POPULAÇÃO E AMOSTRA

A população compreende as empresas do setor de energia elétrica que operam no Brasil. O objetivo da delimitação a um setor se deu pela restrição da regressão de mínimos quadrados ordinários, que tem como pressuposto a linearidade nos parâmetros da regressão. Com mais setores, diferentes características poderiam ser valoradas de maneiras distintas pelo mercado, impossibilitando a manutenção de um coeficiente angular para cada característica.

A opção pelo setor de energia elétrica se deu pela maior quantidade de empresas com ações cotadas em bolsa no ranking de melhores para se trabalhar da revista Exame. Mais empresas representam mais graus de liberdade na regressão, que aumenta a precisão dos resultados.

A amostra contém dezessete empresas de energia elétrica com ações cotadas em bolsa de valores e volume de negociação superior a zero durante o ano de 2013. As informações foram coletadas no site da Bolsa de Valores de São Paulo. Os dados referentes ao ranking contendo as melhores empresas para se trabalhar, foram coletados no site da Revista Exame (Melhores empresas para trabalhar, 2012) 6.

No quadro abaixo está à lista das empresas listadas como melhores para trabalhar:

Quadro 1 – Lista das melhores empresas para trabalhar

EMPRESAS Elektro AES Sul Ampla CEMAR Coelce CPFL Energia Eletrobras Eletronorte Superintendência de Geração Hidráulica Endesa Geração Grupo São Martinho Tractebel Energia Transocean

Fonte: Adaptado do site da revista exame, 2013

Do total de onze empresas do setor de energia melhores para trabalhar, três possuem ações cotadas em bolsa com volume superior a zero nos cinco primeiros meses de 2013, que serão utilizadas como amostra na pesquisa, são elas: Coelce, CPFL Energia e Tractebel. Desta forma, há um total de dezessete empresas na amostra, sendo atribuída uma variável dummy com valor um para aquelas que pertencem ao ranking e zero para aquelas fora do ranking.

Quadro 2 – Lista das empresas analisadas

6 Disponível em: <http://exame.abril.com.br/revista-voce-sa/melhores-empresas-para-trabalhar/2012/> Acesso em: 30 mai. 2013.

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Fonte: Dados da pesquisa (

3.2 VARIÁVEIS

Como variável dependente será utilizado o Valor de Mercado Agregado (MVA) das empresas, que apresenta o percentual que o mercado avalia a empresa em relação ao capital próprio. Segundo Copeland, Koller e Murrin (2002, p. 63), “O MVA é a diferença entre o valor de mercado do endividamento e do capital social de uma empresa e a quanticapital por ela investida”. Para relativizar o impacto do tamanho das organizações, o MVA foi divido pelo Patrimônio Líquid

Quadro 3 – Equação

Onde é o coeficiente que representa quantas vezes o valor de mercado supera o capital próprio. Em consonância com a relação adotada, Damodaran (2009, p. 545) afirma que “o valor contábil fornece uma medida relativamente estável e intuitiva de valor que pode secomparada com o preço do mercado”.uma dummy indicando a presença no ranking de melhores empresas para se trabalhar, os seguintes indicadores contábeis:

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EMPRESAS

AES ELPA

CELESC

CEMIG

CESP

COELCE

COPEL

CPFL ENERGIA

ELETROBRAS

ELETROPAULO

ENERGIAS BR

ENERGISA

EQUATORIAL

LIGHT S/A

MPX ENERGIA

TAESA

TRACTEBEL

TRAN PAULIST

Dados da pesquisa (2013)

Como variável dependente será utilizado o Valor de Mercado Agregado (MVA) das empresas, que apresenta o percentual que o mercado avalia a empresa em relação ao capital próprio. Segundo Copeland, Koller e Murrin (2002, p. 63), “O MVA é a diferença entre o valor de mercado do endividamento e do capital social de uma empresa e a quanticapital por ela investida”. Para relativizar o impacto do tamanho das organizações, o MVA foi divido pelo Patrimônio Líquido da empresa, conforme quadro abaixo:

Fonte: Adaptado de Damodaran (2009)

é o coeficiente que representa quantas vezes o valor de mercado supera o capital próprio. Em consonância com a relação adotada, Damodaran (2009, p. 545) afirma que “o valor contábil fornece uma medida relativamente estável e intuitiva de valor que pode secomparada com o preço do mercado”. As variáveis independentes utilizadas foram, além de

indicando a presença no ranking de melhores empresas para se trabalhar, os seguintes indicadores contábeis:

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Como variável dependente será utilizado o Valor de Mercado Agregado (MVA) das empresas, que apresenta o percentual que o mercado avalia a empresa em relação ao capital próprio. Segundo Copeland, Koller e Murrin (2002, p. 63), “O MVA é a diferença entre o valor de mercado do endividamento e do capital social de uma empresa e a quantidade de capital por ela investida”. Para relativizar o impacto do tamanho das organizações, o MVA foi

é o coeficiente que representa quantas vezes o valor de mercado supera o capital próprio. Em consonância com a relação adotada, Damodaran (2009, p. 545) afirma que “o valor contábil fornece uma medida relativamente estável e intuitiva de valor que pode ser

As variáveis independentes utilizadas foram, além de indicando a presença no ranking de melhores empresas para se trabalhar, os

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Quadro 4 – Indicadores contábeis

ÍNDICE FÓRMULA

Imobilização do patrimônio líquido Permanente / Patrimônio Líquido

Retorno sobre o patrimônio líquido Lucro líquido / Patrimônio líquido

Margem operacional Lucro operacional / Receita líquida

Giro do ativo Receita líquida / Ativo total

Liquidez corrente Ativo Circulante / Passivo Circulante

Margem EBITDA Lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização / Receita Líquida

Fonte: Adaptado de Corrêa et al (2012)

O uso de indicadores contábeis teve como objetivo evitar qualquer viés relativo ao desempenho econômico-financeiro da organização, visto que não considerando os indicadores a influência exercida por eles seria desprezada. Desta forma, torna-se possível retirar qualquer relação espúria entre as variáveis.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

A análise regressiva se da em procedimento análogo ao stepwise, que consiste na elaboração e teste de várias combinações de diferentes variáveis com o intuito de detectar a relação mais adequada entre as variáveis selecionadas.

Em conjunto com a variável Dummy referente às empresas que foram eleitas como as melhores para se trabalhar, foi adicionado ao modelo variáveis representativas de índices contábeis. Desta forma, pôde-se isolar o efeito da inclusão da variável desejada além de atender aos pressupostos de homocedasticidade, ausência de falha estrutural e normalidade dos resíduos.

Com o objetivo de identificar a correta relação entre as variáveis, além das formas lineares, também foram incluídas as formas logarítmicas dessas. Para análise de regressão foram utilizadas todas as empresas da amostra, sendo o resultado válido para todas. Foi feita a regressão com todo setor por considerar peso zero as empresas que não fazem parte da lista das melhores para trabalhar, verificando assim que as empresas não listadas não contaram com a variável qualidade ao empregado.

A primeira rodada de regressões incluiu todas as variáveis, sendo excluídas aquelas que não apresentaram relação significativa com a variável dependente. O modelo final apresentou significância estatística quanto à rentabilidade sobre o patrimônio líquido e marginalmente na variável representativa do ranking de melhores empresas para se trabalhar, conforme quadro 5, a seguir:

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Quadro 5 – Significância estatística

Coeficiente Erro

Padrão razão-t p-valor

Constante 2,27913 0,2951 7,723 9,11E-06

Ln(LL/PL) 0,573408 0,10558 5,431 0,0002

Melhores 0,562246 0,268496 2,094 0,0602

Fonte: Elaboração própria (2013)

Os resultados anteriores demonstram que, apesar de se considerar uma relação cientificamente válida caso o resultado observado do p-valor seja inferior a 0,05, indicando que há cinco por cento de chance da relação ter se dado ao acaso, observa-se que o valor de 0,06 encontrado pode ser considerado marginalmente significativo e passível de consideração. Os resultados observados indicam que a presença no ranking de melhores empresas para se trabalhar levaram a um incremento de 56,22% na variável dependente.

O fator rentabilidade sobre o patrimônio líquido foi o único indicador contábil que apresentou significância estatística, sendo a sua elasticidade na ordem de 0,57. Este resultado indica que um aumento de um ponto percentual no coeficiente de rentabilidade da empresa é acompanhado por um aumento de 0,57 ponto percentual no valor da empresa.

Os resultados também indicaram significância na rentabilidade sobre o patrimônio líquido como fator criador de valor para o acionista. O coeficiente de 0,573408 indica que um aumento de um ponto percentual na rentabilidade da empresa eleva o valor da relação MVA/PL em 0,57%.

O quadro 6, a seguir, apresenta os resultados dos testes validadores da regressão:

Quadro 6 – Testes da regressão

Teste Estatística Valor P-valor H0

RESET F(2-9) 0,863184 0,453998 Não rejeita

White X² 3,66015 0,453948 Não rejeita

Doornik-Hansen X² 0,728586 0,694688 Não rejeita

Chow F(3-8) 0,385832 0,766331 Não rejeita

Fonte: Elaboração própria (2013)

Os testes de especificação, homocedasticidade, normalidade dos resíduos e falha estrutural não rejeitaram suas hipóteses nulas, o que permite afirmar que a regressão calculada atende às hipóteses do modelo de Mínimos Quadrados Ordinários.

O resultado engloba as empresas listadas como melhores para trabalhar e as demais da amostra, desta forma foi possível identificar que as empresas listadas sofrem a influência da qualidade do trabalho e da variável contábil rentabilidade sobre patrimônio líquido. As demais sofrem apenas a influência da variável contábil, demonstrando que as empresas listadas terão

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um maior valor de mercado por ser considerada a qualidade do trabalho um agregador de valor pelos acionistas.

5 CONCLUSÃO

Este trabalho objetivou identificar se as empresas que são reconhecidas como melhores para se trabalhar também possuem maior valor de mercado. Os dados foram submetidos à aplicação de análise dados do tipo cross-section na qual, além dos indicadores contábeis constantes, foi considerada como variável independente uma dummy indicando a presença da empresa no ranking de melhores empresas para se trabalhar da Revista Exame.

Conclui-se que foram encontradas evidências de que estar entre as melhores empresas para se trabalhar elevou o valor de mercado das empresas contidas na amostra, por ser considerado um agregador de valor pelos acionistas.

Por se tratar de uma amostra muito restrita, não foi possível aferir a influência no ranking com a precisão esperada, sendo esta a limitação do presente estudo, que sugeriu que a presença no ranking mencionado aumentou o valor de mercado da empresa entre trinta a oitenta e dois pontos percentuais aproximadamente.

Uma vez que apresentou evidências da existência de relação entre a satisfação no trabalho e no valor de mercado das empresas do setor de energia, sugere-se que sejam feitos novos estudos a esse respeito para que se possa descobrir e quantificar esta relação.

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ESTUDO DA ESTRUTURA DE CAPITAL DAS EMPRESAS DO BRASIL E CHINA MEDIANTE A CRISE FINANCEIRA MUNDIAL

AUTORES: Marcela Stéphanie Coutinho de Vasconcelos, Joséte Florêncio dos Santos e Moisés Araújo Almeida.

RESUMO

Este trabalho teve como objetivo principal analisar as estruturas de capital das empresas do Brasil e da China, mediante a crise financeira mundial iniciada nos Estados Unidos em 2007. Esta é uma pesquisa de caráter descritivo e explicativo, com o uso da abordagem quantitativa. Têm-se como população da pesquisa as empresas listadas nas Bolsas de Valores dos dois países analisados. Para a análise dos dados foi utilizado o modelo de painel desbalanceado com efeitos fixos. Os resultados expõem uma relação inversa entre crise subprime e o endividamento de todas as empresas do estudo, além de expor a importância dos fatores macroeconômicos na definição da estrutura de capital, assim como das relações que comprovam o previsto pelas teorias de Tradeoff e Pecking Order. Assim, em momentos de crise, há um indicativo para que as empresas ajustem a estrutura de capital.

Palavras-chave: Crise financeira; Estrutura de capital; Tradeoff Theory; Pecking Order

Theory

1. INTRODUÇÃO

Após a publicação do trabalho pioneiro de Modigliani e Miller (1958) que se apoia no pressuposto de existência de um mercado de capital perfeito e na irrelevância da estrutura de capital para maximizar o valor da empresa, houve um desenvolvimento da teoria de estrutura de capital e as duas teorias que mais se destacam nos estudos sobre esse tema são Tradeoff e Pecking Order. A teoria de Tradeoff, desenvolvida por Myers (1984), propõe uma estrutura de capital ótima para obter a maximização do valor da empresa, ou seja, busca-se um equilíbrio do endividamento com recursos de capital próprio e de terceiros, ao ponderar os custos de dificuldades financeiras e os benefícios fiscais. Por sua vez, a teoria de Pecking

Order, proposta por Myers (1984) e Myers e Majluf (1984), sustenta que há uma hierarquia na captação de recursos por parte das empresas, as quais preferem recursos internos (lucros acumulados) aos externos (aquisição de dívida ou emissão de novas ações), visto que esta teoria considera a existência de assimetria de informações no mercado de capitais.

Com base nestas teorias, diversas pesquisas buscam compreender as variáveis clássicas que determinam a estrutura de capital das empresas. Mas apenas recentemente encontram-se evidências da influência de outros aspectos, tais como as variáveis institucionais e macroeconômicas, que também expliquem essa estrutura de capital. Nesse contexto, os períodos de recessão e crise vêm se tornando relevantes para novas pesquisas. Porém, os países desenvolvidos ainda são base da maioria dessas pesquisas, mesmo que os países emergentes também sejam impactados por crises. No entanto, os países emergentes constituem importantes cenários de pesquisa. É o caso da China e do Brasil, que são destaques econômicos da atualidade e têm entre si fortes relações comerciais.

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Diante do exposto, este artigo tem por objetivo identificar de que forma a crise financeira mundial impactou nas decisões de estrutura de capital das empresas de capital aberto do Brasil e da China.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

O tema estrutura de capital alcançou maior destaque a partir de Modigliani e Miller (1958), doravante chamados de M&M, ao contrapor a ideia tradicionalista de Durand (1952), que defendia a maximização do valor da empresa por meio da combinação ótima do capital próprio e de terceiros. Então, sob um cenário ideal, M&M (1958) assumem a não influência da estrutura de capital no valor da empresa, levando a surgir críticas à sua tese por ser considerada irreal a existência de um mercado perfeito. Assim, as Finanças Corporativas ganharam diversas teorias sobre estrutura de capital utilizando os ensinamentos e as falhas dos estudos de autoria de M&M (1958). A seguir são destacadas duas dessas teorias.

2.1 Teoria de Tradeoff

Uma das principais teorias desenvolvidas após os estudos de M&M foi a teoria de Tradeoff. De acordo com Myers (1984), esta teoria considera que os benefícios fiscais e os custos de dificuldades financeiras devem ser analisados à medida que a empresa aumenta sua dívida. O maior endividamento aumentará os benefícios para a empresa, porém ao ultrapassar o chamado ponto ótimo (ponto de endividamento em que a empresa maximizará seu valor) os custos de dívida se sobressaem aos benefícios fiscais, resultando em um efeito contrário ao esperado. Dessa forma, essa teoria assume que as empresas devem buscar uma estrutura ótima de capital através da minimização dos custos e maximização dos benefícios fiscais.

Entre os benefícios do endividamento, o tributário ou fiscal é considerado o de maior relevância desde os estudos de M&M (1963), quando os autores observaram que ao alavancar a empresa, os impostos a serem pagos sofrem deduções referentes às despesas com juros. Já entre os custos da dívida, o custo de falência aparece como destaque, pois relaciona o endividamento da empresa com a possibilidade da mesma quebrar, ou seja, o aumento de dívida aumenta as chances de falência da mesma (NAKAMURA et al. 2007).

2.2 Teoria de Pecking Order

A segunda é a teoria de Pecking Order, criada por Myers (1984) e Myers e Majluf (1984), que refuta a concepção de nível ótimo de capital a partir do princípio de que o financiamento de uma empresa é feito de forma preferencial e hierárquica ao decidir por apenas uma forma de financiamento. Conforme Myers (1984), a preferência de financiamento das empresas se dá, primeiramente, com seus recursos próprios até o momento em que esse capital seja capaz de financiar seus investimentos. Porém, quando isso não é mais possível, ou seja, as obrigações de pagamento a serem assumidas ultrapassam a capacidade de quitação da empresa, os recursos externos tornam-se necessários. Portanto, em ordem decrescente de preferência, espera-se que o fluxo de caixa seja o mais utilizado, seguido pela emissão de novas dívidas quando ocorre o déficit financeiro e, por último, a emissão de novas ações.

Contudo, essas formas de financiamento podem ser interpretadas de forma negativa por mercado e acionistas, visto que a imagem e o valor da empresa tendem a ser influenciados pela assimetria de informação. Essa, por sua vez, considera que as partes envolvidas em uma transação são diferentemente informadas, o que leva determinados agentes a obter vantagem

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informacional por possuir informações privilegiadas em relação aos outros (IQUIAPAZA; AMARAL; ARAÚJO, 2008). Dessa forma, torna-se fundamental a fiscalização e regulação dessas negociações, pois esse desequilíbrio propicia o aumento da desconfiança dos informacionalmente desfavorecidos, assim como do custo de transação. A partir desse princípio, Myers e Majluf (1984) identificaram a relevância de relacionar a assimetria de informações com as decisões de estrutura de capital.

2.3 Determinantes da estrutura de capital

Apesar de estrutura de capital ser um dos temas mais complexos das finanças corporativas, devido à ausência de padrões teóricos a serem seguidos, assim como a existência de diversos fatores determinantes da estrutura de capital que influenciam de forma distinta as tomadas de decisão das empresas, foram vários os autores que testaram empiricamente as diversas relações dos determinantes com o grau de endividamento, fundamental para identificar os motivos pelos quais as empresas realizam financiamentos. Além disso, essas pesquisas permitiram verificar a validade das teorias clássicas e modernas no que diz respeito à estrutura de capital. Contudo, os resultados desses estudos empíricos são divergentes entre si, consequentemente aumenta a dificuldade de encontrar padrões referentes à área estudada.

2.3.1 Rentabilidade ou Lucratividade

Segundo a teoria de Pecking Order, a variável rentabilidade tem relação inversa com a dívida da empresa, ou seja, quanto mais rentável for a empresa menor deverá ser o seu nível de endividamento. A explicação é que a empresa sob a posse de mais capital próprio irá usá-lo como fonte principal de investimento no negócio, caso os lucros não sejam distribuídos aos acionistas. Diversos são os trabalhos empíricos que confirmaram esta relação (VALLE, 2008; FUTEMA; BASSO; KAYO, 2009; VALLE; ALBANEZ, 2012; CORREA; BASSO; NAKUMURA, 2013; FORTE; NAKAMURA; BASTOS, 2013).

Por outro lado, a teoria de Tradeoff assume uma relação positiva da lucratividade com o endividamento, ao levar em consideração o benefício de maior dedução de juros sobre o imposto resultante de maiores lucros, quando esses não forem distribuídos. Essa relação é mais escassa nos trabalhos empíricos, poucos são os autores como Antoniou, Guney e Paudyal (2008) que a identificaram.

2.3.2 Risco do Negócio

O fator risco é fundamental aos tomadores de decisão e torna-se mais relevante na presença de forças que atingem vários ativos em diversas intensidades, como o risco sistemático da crise financeira, o qual é cenário deste estudo. Assim, quanto maior o risco de negócio maior será a exposição da empresa às situações de falência. Quanto menos arriscada ela for, maior a probabilidade dela conseguir captar recursos de terceiros. Dessa forma, existe uma relação inversa entre o risco do negócio e o grau de financiamento com dívidas, de acordo com ambas as teorias (NAKAMURA et al., 2007; CORREA; BASSO; NAKAMURA, 2013). Os resultados empíricos confirmam esta relação negativa prevista pelas teorias (FAVATO; ROGERS, 2008; VALLE; ALBANEZ, 2012).

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2.3.3 Tamanho da Empresa

A variável tamanho tem relação positiva com o nível de endividamento como preconizam as teorias de Tradeoff e Pecking Order, devido ao fato de que as empresas de maior porte tendem a ser mais diversificadas e a ter menor risco de negócio, o que as torna capazes de reduzir os custos envolvidos na contratação de dívida externa (NAKAMURA et al., 2007). Corroborando com as previsões teóricas, os trabalhos empíricos confirmam esta relação positiva (RAJAN; ZINGALES, 1995; BARROS; SILVEIRA, 2008; MEDEIROS, DAHER, 2008; ESPINOSA et al., 2012; FORTE; NAKAMURA; BASTOS, 2013).

Contudo a teoria de Pecking Order tem características ambíguas quanto a esta variável quando também considera a relação negativa entre as variáveis ao identificar que as empresas maiores têm menor assimetria de informações entre os insiders e o mercado de capitais. Isso as leva a preferir a emissão de títulos mais sensíveis à informação como é o caso das ações em detrimento das dívidas (RAJAN; ZINGALES, 1995).

2.3.4 Tangibilidade dos Ativos

Os ativos tangíveis podem ser utilizados como garantias nas operações financeiras, dando aos credores mais confiança para fazer o financiamento. Isso reduz os custos financeiros e de agência e incentiva o aumento da alavancagem das empresas (BASTOS; NAKAMURA; BASSO, 2009; CORREA; BASSO; NAKAMURA, 2013).

A teoria defende a existência de um relacionamento positivo entre o nível de tangibilidade dos ativos e o endividamento. Corroborando com a teoria de Tradeoff, essa relação positiva foi observada por Barros e Silveira (2008), Albanez e Valle (2009), Tristão e Dutra (2012) e Valle e Albanez (2012), dentre outros.

Com base na teoria de Pecking Order é esperada uma relação negativa, haja vista que as empresas com menos ativos tangíveis são mais propensas a ter maior nível de assimetria de informações, o que leva a empresa a captar mais recursos externos (BASTOS; NAKAMURA; BASSO, 2009). Esse sinal negativo foi encontrado por autores como Favato e Rogers (2008), Medeiros e Daher (2008), Kayo e Kimura (2011) e Correa, Basso e Nakumura (2013).

2.3.5 Oportunidade de crescimento

A teoria de Tradeoff também prevê que o endividamento se relaciona negativamente com o crescimento. Isso se justifica pelo fato de que o crescimento de uma empresa poderá ser comprometido caso ela tenha adquirido altos níveis de dívida.

Da mesma forma, a teoria de Pecking Order também considera um relacionamento negativo ao defender que as empresas com alta perspectiva de crescimento, para não comprometer sua capacidade de crédito, buscam reduzir seu nível de endividamento. Essa relação inversa foi encontrada nos estudos de Huang e Song (2006), Nakamura et al. (2007), Valle (2008), Iquiapaza, Amaral e Araújo (2008), Bastos, Nakamura e Basso (2009), Espinosa et al. (2012).

No entanto, a teoria de Pecking Order também assume a possibilidade de uma relação positiva entre crescimento e endividamento, pois quando uma empresa necessita de investimentos para expandir é comum acumular mais dívida (FAVATO; ROGERS, 2008;

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BASTOS; NAKAMURA; BASSO, 2009). Essa relação positiva pode ser observada no trabalho de Forte, Nakamura e Bastos (2013).

2.3.6 Taxa de crescimento do PIB

O crescimento do PIB como fator macroeconômico e específico do país também exerce influência sobre a estrutura de capital das empresas. Evidências empíricas são encontradas no estudo de Terra (2007) e no de Bastos, Nakamura e Basso (2009), que verificaram uma relação negativa entre o PIB e o endividamento total ao perceber a diminuição de captação de dívidas, por parte das empresas, quando há crescimento econômico. Para os últimos autores, o PIB foi a variável macroeconômica mais relevante estatisticamente no seu estudo. Isso ocorre devido ao aumento de recursos internos para o próprio financiamento das empresas, o que faz com que o endividamento deixe de ser atrativo. Dessa forma, esse resultado corrobora com a teoria de Pecking Order (MYERS, 1984).

Além disso, “os fatores macroeconômicos e institucionais não podem mais ser desconsiderados, pois são fatores que ajudam a explicar o comportamento das empresas, embora ainda haja muito que se pesquisar nesse campo” (BASTOS; NAKAMURA; BASTOS, 2009, p. 76), aumentado assim a relevância do PIB neste estudo.

2.3.7 Taxa de Inflação

Por fim, embora a variável inflação seja pouco tratada nos estudos de estrutura de capital, sabe-se que ela pode influenciar de forma positiva a alavancagem, como pressupõe a teoria de Tradeoff. Quanto mais alta é a inflação sobre as taxas de juros, maiores serão os montantes de dívidas emitidos (FRANK; GOYAL, 2007). Para Lima et al. (2011), as empresas tendem a aumentar seus níveis de endividamento em períodos de controle inflacionário.

2.3.8 Crise financeira

Muitos são os estudos que analisam os efeitos da crise financeira nas decisões de financiamento das empresas nas empresas de capital aberto. Porém, esses estudos ainda são voltados para os mercados mais desenvolvidos (AKBAR et al., 2013). Neste contexto, torna-se relevante verificar a influência de períodos de recessão e crise nas tomadas de decisões de financiamento das empresas de capital aberto de países em desenvolvimento, como Brasil e China, para verificar se as empresas se veem obrigadas a recorrer a fontes externas de capital nos momentos em que os lucros diminuem de maneira anormal, medida que aumentaria sua alavancagem.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A fim de compreender o problema elencado, a pesquisa qualifica-se a partir dos objetivos e procedimentos técnicos utilizados. Quanto aos objetivos, este estudo tem caráter descritivo e explicativo.

Já para analisar e mensurar os dados, esta pesquisa utiliza a abordagem quantitativa, ao envolver métodos estatísticos para relacionar a teoria com os dados práticos e estabelecer inferências (GIL, 2010).

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3.1 População e Amostra

A população da pesquisa foi constituída por empresas brasileiras e chinesas de capital aberto listadas na BM&FBOVESPA e na Shanghai Stock Exchange (SSE), respectivamente, no período de 2002 a 2011, constantes na base de dados Compustat. No entanto, foram excluídas da amostra as empresas que apresentavam patrimônio líquido negativo, as que estavam inseridas no setor financeiro – por serem um grupo particular de empresas, com características distintas das demais – e as que não dispunham de informações suficientes. Após esse filtro, obteve-se a amostra final da pesquisa, a qual variou de forma crescente ao longo do período analisado.

3.2 Coleta e Tratamento dos Dados

Os dados contábeis utilizados são públicos e oriundos de balanços patrimoniais e das demonstrações do resultado do exercício das empresas no período de 2002 a 2011, que podem ser encontrados na base de dados Compustat. Por sua vez, os dados macroeconômicos, a taxa de crescimento do PIB (% anual) e a taxa de inflação foram retirados do site do International

Finance Corporation (Banco Mundial).

Com o auxílio do Microsoft Excel foi possível, inicialmente, tratar os dados por meio da elaboração de planilhas, histogramas e gráficos. Para as questões econométricas, foi utilizado o software Stata 12.

3.3 Definição Operacional das Variáveis

As variáveis foram operacionalizadas conforme descrito a seguir, tendo como base a discussão apresentada no referencial teórico.

3.3.1 Variável Dependente

A variável dependente usada neste estudo para mensurar a estrutura de capital das empresas é o endividamento de longo prazo. Alternativamente, serão utilizados o endividamento total e o endividamento de curto prazo. No Quadro 1, a seguir, são apresentadas as fórmulas usadas para calcular cada uma destas variáveis.

Quadro 1 – Variáveis dependentes

Variável Dependente Sigla Fórmula

Endividamento Total ET Passivo Total / Ativo Total

Endividamento de Curto Prazo ECP Passivo Circulante / Ativo Total

Endividamento de Longo Prazo ELP Passivo Não Circulante / Ativo Total

Fonte: Elaborado pelo autor.

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3.3.2 Variável de Controle (Independente)

Os fatores determinantes da estrutura de capital das empresas são definidos como variáveis de controle. No Quadro 2 se encontram, de forma resumida, as fórmulas utilizadas para calculá-las.

Quadro 2 – Variáveis de controle

Descrição Sigla Operacionalização Autores

Tangibilidade TANG Ativo Imobilizado / Total de Ativos Favato e Rogers (2008) e Albanez e Valle (2009)

Retorno sobre o Ativo ROA EBIT / Total de Ativos

Iquiapaza, Amaral e Araújo (2008), Bastos, Nakamura e Basso (2009), Bastos e Nakamura (2009), Ceretta et. al. (2009)

Oportunidade de Crescimento

CRESC (Ativo Total - Patrimônio Líquido + Valor de Mercado das Ações) / Ativo Total

Jong, Kabir e Nguyen (2008)

Tamanho da Empresa TAM Logaritmo do Total de Ativos Titman e Wessels (1988), David, Nakamura e Bastos (2009) e Albanez e Valle (2009)

Risco do Negócio RISC Desvio Padrão do EBIT / Total de Ativos Correa, Basso e Nakumura (2013)

Taxa de crescimento do PIB

TPIB Taxa anual do crescimento do PIB site do International Finance

Corporation (Banco Mundial)

Taxa de inflação TINF Taxa anual de inflação site do International Finance

Corporation (Banco Mundial)

Crise financeira CRISE Variável dummy que captura os efeitos da crise

Huang, Kabir e Zubair (2014)

Fonte: Elaborado pelo autor.

Utilizou-se ainda a variável dummy crise (CRISE) que assume o valor 0 para o período anterior à crise (2002 a 2006) e o valor 1 no período seguinte (2007-2011), a fim de verificar o impacto da crise financeira mundial no endividamento.

As relações de todas essas variáveis com o endividamento, encontradas pelos autores estudados sob a ótica da teoria de Tradeoff e Pecking Order, estão no Quadro 3.

Quadro 3 – Relação esperada para as variáveis de controle da estrutura de capital segundo as teorias de Tradeoff e Pecking Order

Variável Teoria de Tradeoff Teoria de Pecking Order Sinal Evidência empírica Sinal Evidência empírica

Tangibilidade +

Barros e Silveira (2008), Albanez e Valle (2009), Tristão e Dutra (2012), Espinosa et al. (2012), Valle e Albanez (2012)

- Favato e Rogers (2008), Medeiros e Daher (2008), Kayo e Kimura (2011), Correa, Basso e Nakumura (2013)

Retorno do Ativo + Antoniou, Guney e Paudyal (2008) -

Valle (2008), Futema, Basso e Kayo (2009), Valle e Albanez (2012), Correa, Basso e Nakamura (2013), Forte, Nakamura e Bastos (2013)

Oportunidade de Crescimento

- Huang e Song (2006), Nakamura et. al. (2007), Valle (2008), Iquiapaza,

+ / - Bastos, Nakamura e Basso (2009)

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Amaral e Araújo (2008), Bastos, Nakamura e Basso (2009), Espinosa et al. (2012)

Tamanho da Empresa

+ Barros e Silveira (2008), Medeiros e Daher (2008), Espinosa et al. (2012), Forte, Nakamura e Bastos (2013)

+/- Rajan e Zingales (1995)

Risco do Negócio - Favato e Rogers (2008), Valle e Albanez (2012)

- Favato e Rogers (2008), Valle e Albanez (2012)

Taxa de crescimento do PIB

Indefinido - Bastos, Nakamura e Basso (2009); Terra (2007);

Taxa de Inflação + Frank e Goyal (2007) Indefinido

Fonte: Elaborado pelo autor

Essas relações dos determinantes com o endividamento permitirão a comparação dos resultados desta pesquisa com o previsto pelas teorias de estrutura de capital Tradeoff e Pecking Order, a fim de testar a validade das mesmas no cenário brasileiro e chinês.

3.3.4 Análise dos Dados

Para a análise dos dados foi utilizada a técnica de painel desbalanceado, o qual se refere a um painel com falta de dados em no mínimo um período de tempo para pelo menos uma empresa – ou seja, quando há número de observações diferentes entre os dados ao longo do tempo, resultando em coeficientes de regressão variados entre as empresas. Além disso, utilizou-se o modelo de efeitos fixos que controla os efeitos específicos de uma amostra ou faz previsões sobre a mesma, o modelo de efeitos fixos possibilita estimações mais precisas dos coeficientes ao tratar as diferenças individuais sistematicamente (FREES, 2003). Assim, possibilitou avaliar a efetividade dos determinantes utilizados nesta pesquisa. A seguir, a fórmula geral desta pesquisa é apresentada:

9:;<=>? = @> + ABCD:E>? + AFGHD>? + AIJG9KJ>? + ALCDM>? + ANG<KJ>? +AOCP<Q>? + ARC<:S>? + ATJG<K9>? + U> + V>?

(Equação 4)

Onde:

ENDIV - endividamento da empresa;

TANG - tangibilidade dos ativos;

ROA - retorno sobre o ativo;

CRESC - oportunidade de crescimento;

TAM - tamanho;

RISC - risco do negócio;

TPIB - taxa de crescimento do produto interno bruto;

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TINF - taxa de inflação;

CRISE - variável dummy que captura os efeitos da crise sobre a empresa

W - intercepto; X�, X�, … , XZ - coeficientes da regressão; [ - termo de erro estocástico; \ - termo de erro estocástico; i - representa a i-ésima empresa; t - representa o t-ésimo período de tempo.

4. RESULTADOS

Este capítulo apresenta as análises de resultados desta pesquisa, as quais estão divididas em três etapas com o propósito de atingir os objetivos estabelecidos anteriormente. Portanto, iniciam-se com as análises das estatísticas descritivas e das correlações das variáveis estudadas. Depois disso, foi examinado se a teoria de Tradeoff ou a de Pecking Order sustentam as estruturas de capital das empresas brasileiras e chinesas. O seguinte passo será investigar a estrutura de capital das empresas do Brasil e da China nos períodos antes e depois da crise das hipotecas subprime, bem como apontar se houve alterações nas estratégias de financiamento dessas companhias.

4.1 Análise das Estatísticas Descritivas

Nesta primeira fase de análise, encontram-se as estatísticas descritivas (média, desvio padrão, mínimo e máximo) das variáveis estudadas, a fim de observar suas relações com a estrutura de capital à luz das teorias de Tradeoff e Pecking Order. Primeiramente, têm-se como destaque as médias das proxies de endividamento, elencados na seção 3.3.1 do método, no período de 2002 a 2011, nas empresas do Brasil e da China. Então, ao analisar a Figura 1 que contém esses valores, verifica-se nesse período um comportamento semelhante em ambos os países estudados. O nível de endividamento médio tendeu a diminuir, com uma queda acentuada no ano da crise de hipotecas, enquanto no ano de 2008 houve um aumento considerável. A partir do ano seguinte voltou a reduzir com um leve aumento em 2011. Contudo, os níveis de endividamento médio das empresas chinesas são maiores do que os das brasileiras.

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Figura 1 – Endividamento médio no período (2002-2011) para o Brasil e China

Nota: Endividamento Total (ET = passivo total / ativo total), Endividamento de Curto Prazo (ECP = passivo circulante / ativo total), Endividamento de Longo Prazo (ELP = dívida total líquida / ativo total).

Fonte: Elaborada pelo autor.

Nota-se na Figura 2 uma inclinação para cima da taxa de crescimento do PIB nos anos anteriores à crise subprime apesar de suas oscilações, ou seja, de uma maneira geral, foi registrado um crescimento econômico nos países antes da crise eclodir. Porém, nos anos seguintes, supostamente os países sentiram os efeitos da crise ao apresentarem níveis mais baixos da taxa de crescimento do PIB.

Além disso, as oscilações do nível de endividamento dos dois países analisados podem estar relacionadas a essas mudanças da taxa de crescimento do PIB, principalmente quando se observa a relação inversa no ano da crise ao verificar uma alta do PIB (ver Figura 2) e baixa do nível de endividamento das empresas brasileiras e chinesas. No entanto, essa relação negativa não é um padrão nos anos analisados, o que aparentemente pode indicar a não influência do PIB no endividamento dessas empresas.

0%

20%

40%

60%

80%

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2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Méd

ia

Ano

ET ECP ELP ET ECP ELPBrasil China

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Figura 2 – Taxa de crescimento do PIB no período (2002-2011) para o Brasil e China

Fonte: Elaborada pelo autor.

Na Figura 3, verificamos que a taxa de inflação no Brasil apresentou tendência de queda antes da crise, ao passo que a China seguiu na direção oposta. No país asiático, o índice inflacionário cresceu no mesmo período analisado. No entanto, houve aumento da inflação no Brasil no ano posterior à crise subprime, seguido de um leve decréscimo em 2009 e de uma ascensão nos anos subsequentes.

Figura 3 – Taxa de inflação no período (2002-2011) para o Brasil e China

Fonte: Elaborada pelo autor

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2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Brasil

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-2,0

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4,0

6,0

8,0

10,0

12,0

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2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

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As estatísticas descritivas das variáveis em análise nas empresas do Brasil são dispostas no Apêndice A e, nas empresas da China, no Apêndice B.

As estatísticas descritivas apresentam os fatores específicos (características das empresas) dos dois países analisados, em que se verificam pequenas oscilações nos valores médios de tangibilidade (TANG) dos dois países, mas, de modo geral, há uma tendência de diminuição da sua média no período estudado. Isso é perceptível ao observar a redução média de 58,11% em 2002 para 40,81% em 2011 nas empresas chinesas – assim como nas brasileiras com 74,65% no primeiro ano e 45,62% no último. Essa queda na média da tangibilidade pode ter relação positiva com a redução da média do nível de endividamento das empresas de ambos os países confirmando a previsão da teoria de Tradeoff. Já a média do retorno sobre o ativo (ROA) das empresas apresenta uma evolução diferente nos dois países.

O retorno sobre o ativo (ROA) do caso brasileiro se relaciona positivamente com o nível de endividamento, haja vista que as médias das duas variáveis diminuem do primeiro ano para o último, 11,20% para 8,2% e 30,59% para 27,56%, respectivamente, apoiando também a teoria de Tradeoff. Por sua vez, o retorno sobre o ativo (ROA) das empresas chinesas sofreu um aumento de 4,23% em 2002 para 5,01% em 2011, inversamente relacionado com diminuição do nível de endividamento médio que saiu de 22,21% em 2002 para 18,01% no último ano, estando de acordo com a teoria de Pecking Order.

Nas empresas do Brasil e da China o maior crescimento (CRESC) médio ocorreu no ano da crise de hipotecas com 194,79% e 345,81%, respectivamente, em consonância com o crescimento do PIB em 2007. No Brasil, o menor risco de negócio (RISC) médio foi observado no ano de 2007 em meio à crise financeira.

Em seguida, foi calculado o coeficiente de correlação de Pearson (r), a fim de identificar o comportamento das variáveis de controle e o nível de correlação com o endividamento. Assim, observou-se que no ano de 2011 (vide Tabela 3 e 5), a variável tamanho (TAM) apresenta, significativamente, um maior grau de correlação com o endividamento para as empresas de ambos os países estudados. Além disso, essa variável juntamente com a tangibilidade (TANG) é positivamente correlacionada com o endividamento. No caso desta última, há exceção em relação ao endividamento total (ET) e o endividamento de longo prazo (ELP) das empresas brasileiras. Por outro lado, o retorno sobre o ativo (ROA) e a oportunidade de crescimento (CRESC) se correlacionam negativamente, a não ser pelo ROA para com o ELP, no caso brasileiro. Por fim, nota-se o risco de negócio (RISC) como a única variável sem significância de correlação com nenhuma proxy do endividamento nos dois casos.

Tabela 4 – Matriz de correlação das variáveis das empresas brasileiras (2011)

Para o teste de correlação foram utilizadas as proxies de endividamento, medidas pelo endividamento total (ET = passivo total / ativo total), endividamento de curto prazo (ECP = passivo circulante / ativo total), o endividamento de longo prazo (ELP = passivo não circulante / ativo total), a tangibilidade (TANG), o retorno sobre o ativo (ROA), a oportunidade de crescimento (CRESC), o tamanho (TAM), o risco do negócio (RISC). A caracterização operacional das variáveis de controle é apresentada na seção 3.2. * representam os valores significativos ao nível de 5%.

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Variável ET ECP ELP TANG ROA CRESC TAM RISC ET 1

ECP 0,8682* 1

ELP 0,8407* 0,6851* 1

TANG 0,0422 0,1594* 0,0052 1

ROA -0,1055 -0,2719* 0,0089 -0,0827 1

CRESC -0,1898* -0,4101* -0,1231 -0,1699* 0,6459* 1

TAM 0,2639* 0,1999* 0,4078* 0,0888 0,2337* 0,0152 1

RISC 0,0076 0,0266 -0,0219 -0,0098 -0,1062 -0,0482 -0,2941* 1 Fonte: Elaborada pelo autor.

Tabela 5 – Matriz de correlação das variáveis das empresas chinesas (2011)

Para o teste de correlação foram utilizadas as proxies de endividamento, medidas pelo endividamento total (ET = passivo total / ativo total), endividamento de curto prazo (ECP = passivo circulante / ativo total), o endividamento de longo prazo (ELP = passivo não circulante / ativo total), a tangibilidade (TANG), o retorno sobre o ativo (ROA), a oportunidade de crescimento (CRESC), o tamanho (TAM), o risco do negócio (RISC). A caracterização operacional das variáveis de controle é apresentada na seção 3.2. * representam os valores significativos ao nível de 5%.

Variável ET ECP ELP TANG ROA CRESC TAM RISC ET 1

ECP 0,9046* 1

ELP 0,6936* 0,7217* 1

TANG 0,3624* 0,3545* 0,3332* 1

ROA -0,2224* -0,2079* -0,0968* -0,1552* 1

CRESC -0,2885* -0,4003* -0,2346* -0,0482* 0,1089* 1

TAM 0,4191* 0,5147* 0,4602* 0,1758* 0,1245* -0,4199* 1

RISC -0,0092 -0,039 -0,034 0,3708* -0,0493* 0,3050* -0,0893* 1

Fonte: Elaborada pelo autor.

4.2 Relações entre as Determinantes e a Estrutura de Capital

Nesta seção, analisam-se os determinantes da estrutura de capital apresentadas no procedimento metodológico (item 3.2) e suas relações com essa estrutura, ao fazer um comparativo com o considerado pelas teorias de Tradeoff e Pecking Order por meio da análise de dados em painel.

Com relação à crise (CRISE), verifica-se que essa variável apresenta uma relação inversa com o endividamento das empresas brasileiras, embora não tenha sido encontrada significância estatística. Já nas empresas chinesas observa-se que essa mesma relação tem significância. Logo, em períodos de crise as empresas de ambos os países não recorrem ao financiamento com fontes externas.

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A tangibilidade (TANG) apresenta significância estatística na sua relação positiva com o grau de endividamento das empresas brasileiras – e negativa com o das empresas chinesas. O primeiro cenário ocorre, de acordo com a teoria de Tradeoff, devido à possibilidade das empresas usarem sua maior quantidade de ativos tangíveis como garantia para novos empréstimos, aumentando seu endividamento. Por outro lado, o cenário chinês relaciona-se com a teoria de Pecking Order, segundo Medeiros e Daher (2008), na qual as empresas com mais ativos tangíveis têm propensão a emitir novas ações, ao invés de emitir dívida para se financiarem.

Já o retorno sobre o ativo (ROA) comportou-se como o esperado pela teoria de Pecking Order, ao encontrar sempre significativamente uma relação negativa com o nível de endividamento para as empresas de ambos os países estudados. Isso mostra que empresas mais rentáveis geram mais recursos internos, sem a necessidade de se endividar mais, diminuindo assim a captação de recursos externos. Essa relação negativa também foi encontrada por diversos autores nos seus trabalhos empíricos (VALLE, 2008; FUTEMA; KAYO; BASSO, 2009; VALLE; ALBANEZ, 2012; CORREA; BASSO; NAKAMURA, 2013; FORTE; NAKAMURA; BASTOS, 2013).

Quanto à oportunidade de crescimento (CRESC), percebe-se o sinal negativo na relação com a alavancagem das empresas dos dois países, o que é significante em todas as empresas analisadas do Brasil mas, nas chinesas, apenas na segunda proxy do endividamento (ECP). O sinal encontrado confirma o previsto pelas duas teorias estudadas, o que pode ser explicado pelo maior fluxo de caixa gerado por esse crescimento e consequentemente a menor necessidade de captação de recursos externos.

O Tamanho (TAM) mostrou-se significante para todas as proxies do endividamento dos dois países, exceto para o endividamento de curto prazo (ECP) das empresas brasileiras, que trazem uma relação positiva esperada ao considerar a menor probabilidade de falência das empresas de maior porte (maior diversificação). Tal fato aumenta a credibilidade delas para conseguir mais empréstimos, segundo as duas teorias estudadas. Não se confirma, assim, a relação negativa que a teoria de Peking Order também defende.

Já os resultados para o risco de negócio (RISC) apontam que quanto maior o risco das empresas chinesas maior será sua propensão a se endividarem mais (relação significativa) – embora o endividamento de longo prazo dessas empresas tenha confirmado uma relação negativa, assim como em todas as proxies de endividamento das empresas brasileiras, porém não significativas estatisticamente. Dessa forma, verifica-se um desacordo das relações significativas com o preconizado pelas teorias de Tradeoff e Pecking Order.

A relação da variável macroeconômica taxa de crescimento do PIB (TPIB) apresentou significância apenas na relação com a média do endividamento total e de curto prazo das empresas chinesas, sendo a primeira uma relação positiva (não esperada) e a última uma relação inversa como esperado pela teoria de Pecking Order. Essa relação inversa também foi vista entre a taxa média de crescimento do PIB (TPIB) e a média de todas as proxies do endividamento das empresas brasileiras, porém sem apresentar significância estatística.

Por fim, ao contrário da maioria dos trabalhos estudados, verifica-se nesta pesquisa a significância para a taxa de inflação (TINF) quanto a sua relação com o endividamento. Observa-se, então, que esta variável está em concordância com a teoria de Tradeoff no caso

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brasileiro, enquanto o contrário ocorre no caso chinês, em relação à proxy de endividamento de longo prazo (ELP).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados obtidos, concluiu-se que, na amostra estudada, há manifestação tanto da teoria de Tradeoff como da teoria de Pecking Order, sem que uma prevaleça sobre a outra, seja antes ou depois do período de crise estudado. Dessa forma, há um indicativo de que essas empresas, ao passar por períodos de crise semelhantes, deveriam atentar para que tipo de relação (positiva ou negativa) as variáveis clássicas e modernas estudadas mantém com o endividamento. Assim, em momentos de crise, sugere-se que as empresas ajustem a estrutura de capital.

Por fim, considera-se que este trabalho sugere a necessidade de mais estudos sobre o tema, com tempo maior para análise. Também se vislumbra a possibilidade de lançar mão de outras ferramentas estatístico-econométricas que possam ajudar na compreensão do comportamento das empresas.

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ANÁLISE DOS FATORES DETERMINANTES DO ENDIVIDAMENTO: UM ESTUDO EMPÍRICO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES BRASILEIRO

AUTORES: Rodrigo Vicente dos Prazeres, Yony de Sá Barreto Sampaio e Luiz Carlos

Miranda. RESUMO O objetivo deste trabalho é o de analisar os fatores determinantes do endividamento das empresas do setor de telecomunicações à luz das Teorias do Static Trade-Off (STT) e da Pecking Order (POT). A metodologia utilizada foi a de análise de regressão com dados em painel. Como variáveis dependentes foram utilizados o endividamento de curto prazo e o endividamento de longo prazo e como variáveis independentes a rentabilidade, a tangibilidade, o crescimento, o tamanho e o risco. O período de análise compreende os anos de 2002 à 2013. A coleta de dados foi realizada através do Sistema de Divulgação Externa ITR/DFP/IAN (DIVEXT) da Comissão de Valores Mobiliários. Como resultados observou-se que a rentabilidade, o tamanho e o risco são fatores determinantes do endividamento de curto prazo, e o tamanho e o risco são determinantes do endividamento de longo prazo. Com base nos resultados obtidos não se pode concluir sobre qual teoria melhor explica o comportamento do endividamento das empresas do setor, podendo-se observar apenas que para o endividamento de curto prazo, a POT possui um maior potencial explicativo do que o STT. Palavras-chave: Endividamento. Pecking Order. Static Trade-Off. Telecomunicações. 1 INTRODUÇÃO

As correntes teóricas que versam sobre a estrutura de capital, de longa data buscam compreender se a estrutura de capital é capaz ou não de influenciar na criação de valor para as organizações. Tais correntes teóricas podem ser divididas em duas, sendo a primeira delas a corrente tradicionalista, que defende que a estrutura de capital é capaz de contribuir para a criação de valor (DURAND, 1952), e a segunda que tem como expoente o trabalho de Modigliani e Miller (1958) que aponta para a irrelevância da estrutura de capital na criação de valor.

No entanto, empiricamente não é verificado um padrão no comportamento das fontes de financiamento das empresas, dificultando a aceitação por uma ou outra corrente. A partir disso, diversas teorias foram buscaram fornecer a compreensão dos possíveis fatores determinantes das estratégias de financiamento das empresas.

Dentre as diversas teorias voltadas para a análise da estrutura de financiamento das empresas, neste estudo são abordadas a Teoria do Static Trade-Off (STT) e a Teoria do Pecking Order (POT). A primeira pressupõe a existência de uma estrutura ótima de capital, capaz de contribuir para criação de valor empresarial quando o valor presente dos benefícios fiscais derivados da dívida são superiores ao valor presente dos custos de dificuldades financeiras (SHYAM-SUNDER; MYERS, 1999).

Já a POT, toma a assimetria de informações como pressuposto básico, assumindo que os gestores tem maior conhecimento sobre os riscos e oportunidades de crescimento do negócio em relação aos agentes externos. Tais fatores levariam os gestores à estabelecer uma

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hierarquia entre as fontes de financiamento, instituindo uma ordem de preferência por fontes de recursos menos arriscadas para o financiamento dos futuros investimentos voltados ao crescimento do negócio (MYERS; MAJLUF, 1984).

Considerando os arcabouços teóricos acima, este trabalho possui como objetivo analisar quais os possíveis fatores determinantes do endividamento das companhias abertas do setor de telecomunicações brasileiro à luz das Teorias do STT e POT. A escolha por este setor se deu devido a sua caracterização de grandes gastos com investimentos no período pós privatizações.

Dessa forma, esta análise se faz relevante a partir do momento em que se considera que as decisões de financiamento estão diretamente ligadas ao nível de investimentos (WHITED, 1992). Assim, a compreensão dos fatores determinantes do endividamento tem também por finalidade fornecer evidências que contribuam para futuras avaliações sobre a influência do endividamento no financiamento dos investimentos realizados por este setor.

Com base no acima exposto, este trabalho apresenta a seguinte questão: Quais os fatores determinantes do endividamento das companhias do setor de telecomunicações?

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES

O atual contexto do setor de telecomunicações brasileiro é resultante do processo de privatizações que teve por finalidade contribuir para o beneficiamento das finanças públicas, bem como reorganizar e expandir a infraestrutura dos serviços de telecomunicações no Brasil, podendo-se destacar também o baixo retorno gerado pelo setor, que era responsável por boa parte dos investimento estatais.

Outros motivos para a adoção da política de privatizações do setor foram a crise fiscal enfrentada pelo país, bem como a utilização das empresas estatais como ferramenta de política econômica, fatores esses que engessavam o desempenho financeiro e operacional do setor (RIGOLON, 1998; PINHEIRO, 1999).

Como um dos reflexos desse cenário, o fraco desempenho financeiro do setor foi evidenciado por Pinheiro e Giambiagi (1997) que analisaram a lucratividade, o pagamento de dividendos e os investimentos para diversas Empresas Estatais (EE) - dentre elas, as empresas do setor de telecomunicações - entre os anos de 1981 a 1994.

Os autores concluíram que dentre as EE analisadas, o setor de telecomunicações foi responsável pela maior parcela dos investimentos entre os anos de 1989 e 1994, no entanto o setor foi incapaz de gerar um retorno compatível ao nível de investimentos no período, devido a baixa rentabilidade e ao baixo nível de pagamento de dividendos. Para os autores, tais resultados reforçavam a privatização do setor, devido à sua incapacidade de corresponder satisfatoriamente ao alto nível de investimentos realizados quando as empresas estatais eram comparas a empresas consideradas "normais".

Com o advento das privatizações, mudanças significativas ocorreram no setor, tais como a introdução da concorrência e da regulação (MATOS; COUTINHO, 2010), bem como a reorganização da estrutura de propriedade das empresas do setor.

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A transformação da estrutura de propriedade buscou contribuir para que as empresas do setor tivessem uma maior flexibilidade na captação de recursos, sobretudo com a finalidade de expansão e universalização dos serviços através do aumento do nível de investimentos, para que as companhias do setor pudessem tanto satisfazer as metas impostas pela regulação quanto ter continuidade no ambiente de concorrência.

Dadas tais circunstâncias, a privatização representou uma oportunidade de crescimento do setor, sobretudo para ganhos em escala, dada à demanda reprimida por serviços, anteriormente não atendida pelas EE (MOCELIN; BARCELOS, 2012).

De fato, a reestruturação da estrutura de propriedade das empresas do setor contribuiu para um maior acesso à fontes de recursos, o que proporcionou o crescimento do nível de investimentos do setor. A Tabela 1, com dados coletados da Associação Brasileira de Telecomunicações (TELEBRASIL, 2014), expõe o gasto anual com investimentos partir do ano de 1998, ano da privatização do setor de telecomunicações.

Com base em tais dados, pode-se caracterizar o período pós-privatizações pelo aumento do nível de investimentos, que ao final do ano de 1998 correspondia a um patamar de 12,30 bilhões, e, a partir desse ano, passou a apresentar sempre um incremento em relação ao ano anterior, destacando-se o gasto relativo ao de 2013, por ser este o maior registrado no período analisando, sendo na ordem de 26,54 bilhões.

Tabela 6 - Gasto Anual com Investimentos em Bilhões

Ano Investimento Ano Investimento 1998 R$ 12,30 2006 R$ 13,06 1999 R$ 12,20 2007 R$ 14,54 2000 R$ 15,96 2008 R$ 19,64 2001 R$ 24,49 2009 R$ 18,93 2002 R$ 10,05 2010 R$ 18,77 2003 R$ 9,86 2011 R$ 22,70 2004 R$ 14,26 2012 R$ 25,30 2005 R$ 14,72 2013 R$ 26,54

Fonte: Adaptado Telebrasil

A evolução dos gastos com investimentos do setor é inegavel, no entanto, posto tal crescimento, surgem questionamentos sobre quais fontes de recursos foram utilizadas pelas empresas do setor para financiar tal expansão, bem como quais fatores determinaram a escolha por uma ou outra fonte de recursos.

Assim, há de se considerar que a estrutra de capital e o nível de investimentos são temas relacionados (AHN; DENIS; DENIS, 2006), assumindo-se que a captação de recursos de terceiros pode vir a significar um maior nível de investimentos.

Whited (1992) relata que os investimentos das empresas podem sofrer impactos quando as organizações econtram dificuldade de acesso à dívidas, apontando que empresas que tem maior acesso ao endividamento possuem maior possibilidade de aumentar o nível de investimentos, aproveitando as oportunidades de crescimento.

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Em posicionamento contrário, Myers (1977) aponta que as oportunidades de crescimento das organizações ensejam um maior nível de investimentos, no entanto o aumento no nível de investimentos possui uma relação negativa com o endividamento. No mesmo sentido Dang (2011) ressalta que quando se considera que as decisões de investimentos e de financiamentos são interligadas, empresas com altas taxas de crescimento tendem a reduzir o endividamento, financiando o aumento dos investimentos com capital próprio.

É com base nessas perspectivas que o presente estudo se propõe a análisar os fatores determinantes do endividamento, buscando com base nesse cenário compreender quais fatores influenciam na política de endividamento, tomando como premissa subjacente o aumento do patamar de investimentos do setor.

2.2 A TEORIA DO STATIC TRADE-OFF (STT)

A Teoria do STT aponta a existência de uma estrutura ótima de capital capaz de contribuir para a criação de valor de mercado para as companhias. Tal estrutura seria obtida a partir do equilíbrio entre os custos e benefícios marginais do endividamento (MYERS, 1984), sendo os benefícios o valor descontado dos juros dedutíveis derivados da tributação, ao passo que os custos representam os riscos de falência ou de dificuldades financeiras.

Assim, a premissa subjacente do STT é a de que uma maior proporção de dívidas na estrutura de capital das empresas pode contribuir para a maximização de valor reduzindo o custo da estrutura de capital, posto que o custo do capital de terceiros via de regra é menor.

É necessário levar em consideração também que o excesso de dívidas pode resultar no aumento do custo da estrutura de capital, devido aos riscos de falência (BAXTER, 1967).

Dessa forma, o endividamento só irá gerar benefícios até uma determinada proporção de capital de terceiros na estrutura de capital, dado que um nível excessivo de endividamento gradualmente eleva os riscos das fontes de financiamento, dado um maior risco de dificuldades financeiras ocasionadas pelo excesso de dívidas.

Tomando por base tais premissas, Fama e French (2002) apontam que firmas mais lucrativas, menor crescimento e menor risco, tendem a ser mais endividadas.

2.3 TEORIA DO PECKING ORDER (POT)

A POT pressupõe que a estrutura de capital das organizações é influenciada pela assimetria de informações existente entre os gestores e os agentes externos e que por esse motivo existiria uma hierarquia entre as fontes de financiamento, onde inicialmente seriam escolhidas àquelas que possuem menor risco.

Assim, a assimetria de informações influencia a estrutura de capital a partir do momento em que as organizações necessitam recorrer a fontes externas de financiamento. Junqueira et al (2010) apontam que para captar fundos externamente, as organizações preocupam-se em sinalizar sinais positivos ao mercado, com o intuito reduzir a assimetria de informações, bem como o risco das fontes de financiamento.

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A opção por dívidas tende a ser uma boa sinalização ao mercado, já que os credores tendem a exigir um maior grau de informação para prover os recursos exigidos, reduzindo o grau de assimetria de informações (MYERS; MAJLUF, 1984).

A emissão de ações quase sempre é entendida com uma sinalização negativa pelo mercado, posto que para os sócios que já detém ações, a oferta de novas ações significa a divisão de lucros futuros com um maior número de acionistas (JUNQUEIRA ET AL, 2010), o que segundo Medeiros e Daher (2008, p.180) funcionaria como uma forma de "transferência de riqueza dos investidores antigos para os novos", posto que a assimetria de informações faria com que os novos acionistas subavaliassem o valor das ações. Tais situações, segundo Albanez e Valle (2009) explicam porque grande parte do financiamento externo é derivado de dívidas ao invés da oferta de novas ações.

Com base nesses pressupostos, Myers (1984) pontua que o comportamento esperado para a estrutura de capital de acordo com a POT é de que as organizações inicialmente se financiem através de recursos próprios, devido ao reduzido grau de assimetria de informações, ao passo que fontes mais arriscadas como empréstimos, emissões de títulos de dívida e oferta de novas ações constituem alternativas de financiamento menos atrativas.

Há de se perceber dessa forma, que enquanto o STT pressupõe o alcance de um nível meta de endividamento capaz de criar valor para as organizações, a POT prediz uma hierarquia das fontes de financiamento, dando maior importância ao custo relacionado à captação recursos em um ambiente caracterizado pela assimetria de informações dos agentes internos para com os agentes externos.

Dessa forma, para Myers (1984) as organizações mais lucrativas e com boas expectativas de crescimento tendem a ser menos endividadas, isto, porque de acordo com a POT os lucros tendem a ser retidos para o financiamento de futuros investimentos com menor risco.

3 ESTUDOS EMPÍRICOS

Nesta seção, são apresentados estudos que investigaram os fatores determinantes do endividamento, quanto estudos que testaram as predições do STT e da POT.

O primeiro trabalho apresentado é o de Titman e Wessels (1988). Os autores utilizaram a técnica da modelagem estrutural linear para testar a relação do endividamento com a rentabilidade, tamanho, volatilidade dos lucros, tangibilidade, singularidade, classificação industrial, crescimento e benefícios fiscais não derivados da dívida. O estudo analisou 469 empresas entre os anos de 1974 e 1982. Os resultados indicaram que empresas menores tendem a utilizar mais endividamento de curto prazo, observando uma relação negativa do endividamento de curto prazo com o tamanho. Os autores ainda relatam uma relação negativa da lucratividade com o endividamento. Porém, não foram encontradas relações significativas para benefícios fiscais não derivados da dívida, volatilidade, crescimento ou tangibilidade dos ativos.

Rajan e Zingales (1995) analisaram se os determinantes do endividamento são os mesmos para os países mais industrializados (Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Itália, França, Japão e Inglaterra). Os autores analisaram 4.557 firmas no período de 1987 a 1991, utilizando variáveis independentes como a rentabilidade, o book-to-market, a tangibilidade e o

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tamanho das empresas. Os resultados indicaram que a rentabilidade é negativamente relacionada com o endividamento para todos os países com exceção da Alemanha e da França; a relação book-to-market apresentou relação negativa com o endividamento em todos os países. Já a tangibilidade dos ativos apresentou relação positiva com o endividamento em todos os países, e o tamanho apresentou relação positiva com o endividamento em todos exceto a Alemanha.

Fama e French (2002) realizaram um estudo contrapondo as Teorias do STT e da POT testando previsões sobre o endividamento e sobre os dividendos, relativas ao endividamento meta (ótimo), à reversão média do endividamento, e a reação de curto prazo do pagamento de dividendos e do endividamento à variações nos lucros e no investimento. A amostra utilizada compreendeu três mil empresas da base de dados COMPUSTAT para o período entre 1965 e 1999. Os resultados apontaram que firmas mais lucrativas possuem menor endividamento, conforme a POT. Já firmas com maiores investimentos possuem maior endividamento, corroborando como o STT e com a POT. Assim os autores encontraram indícios mais robustos em favor da POT no que diz respeito à variação dos lucros e dos investimentos de curto prazo, por estes gerarem maiores reflexos no endividamento. No entanto os autores não concluíram em favor de uma ou outra teoria.

Perobelli e Famá (2002), replicaram a metodologia de Titman e Wessels (1988) no Brasil. Os autores analisaram 165 empresas entre 1995 e 2000, obtendo como resultados que o endividamento de curto prazo é negativamente relacionado ao tamanho, a lucratividade e ao crescimento, indicando que no Brasil empresas menores incorrem em mais dívidas de curto prazo, ao passo que empresas em crescimento assumem menor nível de dívida de curto prazo. Outro resultado observado diz respeito à rentabilidade, onde os autores concluíram que empresas que apresentam alto giro tendem a ser menos endividadas que empresas com baixo giro, enquanto a margem não apresentou relação significativa com o endividamento de curto prazo.

Brito, Corrar e Batistella (2007) analisaram 185 empresas de capital aberto e 281 de capital fechado no período de 1998 a 2002, através dos fatores determinantes do endividamento mais recorrentes na literatura, tais como a rentabilidade, o risco, tamanho, composição dos ativos, crescimento e tipo de capital. Como resultados, os foi observado que o risco, o tamanho, e o crescimento são positivamente relacionados ao endividamento de longo prazo e ao endividamento total, enquanto a composição dos ativos é positivamente relacionada ao endividamento de longo prazo. Já a rentabilidade e o tipo de capital não se mostraram relevantes. Quanto ao endividamento de curto prazo, apenas o risco e a composição dos ativos se mostraram significativos, este demonstrando uma relação negativa, e, aquele demonstrando uma relação positiva.

Nakamura et al (2007) investigaram os determinantes da estrutura de capital de empresas abertas brasileiras testando o STT e a POT, utilizando uma amostra de 91 empresas para os anos de 1999 a 2003. Os autores encontraram resultados consistentes com as duas teorias, indicando que o endividamento segue uma hierarquia, porém atrelado a um ajuste de grau de endividamento ótimo no curto prazo.

Além desses, outros estudos verificam empiricamente os determinantes do endividamento, a saber: Frank e Goyal (2003); Hovakimian, Hovakimian e Tehranian (2004); Frank e Goyal (2009); Silva e Brito (2005); Medeiros e Daher (2008); Bastos, Nakamura e Basso (2009); David, Nakamura e Bastos (2009), dentre outros.

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4 METODOLOGIA

4.1 POPULAÇÃO PESQUISADA E COLETA DE DADOS

O estudo tem como população as empresas do setor de telecomunicações que possuem registro ativo na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), as quais são: Algar Telecom S/A, Cemig Telecomunicações, Embratel Participações S.A., Inepar Telecomunicações S.A., Jereissati Participações S.A., Jereissati Telecom S.A. (La Fonte Tel.), LF Tel S.A., Net Serviços de Comunicação, Oi S.A., Telebrás Participações, Telefônica Brasil S.A., Telemar Participações S.A., e a Tim Participações S.A.

Partindo desse universo, os dados foram coletados durante o mês de maio de 2014,

tendo sido a coleta procedida através do Sistema de Divulgação Externa ITR/DFP/IAN (DIVEXT) da CVM, de onde foram coletadas as informações financeiras trimestrais e anuais das companhias que compõem a população pesquisada.

Os dados coletados são relativos às demonstrações entre o final de 2001 e o final de

2013, sendo este período escolhido em decorrência da disponibilidade dos relatórios trimestrais e anuais no Sistema DIVEXT de forma conjunta para a população pesquisada. Sendo o período de análise relativo aos anos de 2002 e 2013.

Após a coleta dos dados, foram analisados os demonstrativos financeiros de todas as

companhias, de onde foi excluída a Inepar Telecomunicações S.A. por apresentar Patrimônio Líquido negativo, inviabilizando o cálculo de algumas das variáveis a frente expostas. Já a companhia Algar Telecom S/A foi excluída do estudo devido à indisponibilidade dos dados para a totalidade do período analisado.

Posteriormente, a Jereissati Participações S.A., LF Tel S.A. e Telebrás Participações

foram excluídas por caracterizarem holdings. Por fim, a La Fonte foi excluída por estar passando por um processo de reestruturação

societária iniciado durante o ano de 2013, o que fez com que algumas das demonstrações não fossem divulgadas ao mercado de acordo com a premissa da continuidade, inviabilizando o cálculo das variáveis utilizadas no trabalho.

Após tais ajustes, a população pesquisada contemplou 7 empresas, sendo elas: Cemig

Telecomunicações; Embratel Participações S.A.; Net Serviços de Comunicação; Oi S.A.; Telefônica Brasil S.A.; Telemar Participações S.A.; e a Tim Participações S.A.

4.2 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS E MODELO ECONOMÉTRICO

Este trabalho apresenta as seguintes variáveis dependentes:

ECP = ]^_^]`a ]b cd�ef g�`hf

`e^_f efe`i

Onde o ECP corresponde ao Endividamento de Curto Prazo, representado pela razão

entre as Dívidas de Curto Prazo - compostas pelo Empréstimos, Financiamentos, Debêntures e Arrendamentos de Curto Prazo - e o Ativo Total;

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ELP = jk7kj/( jl mnopn .3/qn

`e^_f efe`i

Onde o ELP corresponde ao Endividamento de Longo Prazo, representado pela razão entre o as Dívidas de Longo Prazo - compostas pelo Empréstimos, Financiamentos, Debêntures e Arrendamentos de Longo Prazo - e o Ativo Total.

Quanto às variáveis independentes, foram utilizadas as seguintes variáveis para o teste das teorias do STT e da POT da acordo com a Tabela 2:

Tabela 2: Definição das Variáveis Independentes

Variáveis Definições das Proxies Refências Rentabilidade Ebit/Ativo Total Bastos, Nakamura & Basso (2009) Tangibilidade Imobilizado Líquido/Ativo Total Rajan & Zingales (1995) Crescimento Ativo em t/Ativo em t-1 Titman & Wessels (1988) Tamanho Logaritmo Natural da Receita Líquida Brito, Corrar & Batistella (2007) Risco Desvio Padrão do Ebit/Ativo Total Bastos, Nakamura & Basso (2009)

Fonte: Elaboração Própria.

1. Rentabilidade (RENT): Para o STT empresas mais lucrativas tendem a uma utilização do endividamento como forma de proteção dos fluxos de caixa através da dedutibilidade fiscal de parte dos juros derivados do endividamento. Já a POT, considerando a hierarquia das fontes de financiamento, aponta que as organizações inicialmente optam por reinvestir os lucros, pressupondo uma relação negativa entre o endividamento e a rentabilidade (FAMA; FRENCH, 2002; RAJAN; ZINGALES, 1995; BASTOS; NAKAMURA; BASSO, 2009; BRITO; CORRAR; BATISTELLA, 2007).

2. Tangibilidade (TANG): O STT pressupõe uma relação positiva entre a tangiblidade e o endividamento, posta a garantia que este tipo de ativo representa em relação à dívida, bem como a POT que aponta que os credores tendem a emprestar para empresas que tem alto grau de tangibilidade pois a utilização de dívidas reduz a assimetria de informações, esperando-se assim uma relação positiva entre a tangibilidade com o endividamento de acordo com a POT. (PEROBELLI; FAMÁ, 2002; BRITO; CORRAR; BATISTELLA, 2007; RAJAN; ZINGALES, 1995)

3. Crescimento (CRESC): Tanto o STT quando a POT preconizam uma relação negativa entre o endividamento e o crescimento, posto que empresas com perspectiva de crescimento tendem a ser mais arriscadas, sendo portanto forçadas a trabalhar com capital próprio (RAJAN; ZINGALES, 1995) e que empresas em crescimento possuem maior risco de falência, dado que seu valor está relacionado à expectativa futura de geração de benefícios econômicos (BRITO; CORRAR; BATISTELLA, 2007).

4. Tamanho (TAM): O STT aponta para uma relação positiva entre o endividamento e o tamanho, posto que empresas maiores por serem mais diversificadas possuem menor risco de falência (RAJAN; ZINGALES, 1995; BRITO; CORRAR; BATISTELLA, 2007; TITMAN; WESSELS, 1988; SILVA; BRITO, 2005). Para a POT, a literatura aponta vários posicionamentos considerados ambíguos, sendo nesse trabalho adotado o posicionamento de Fama e French (2002) que assume que quanto maior o tamanho das empresas, menor a

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assimetria de informações, resultando numa relação positiva entre o endividamento, principalmente de longo prazo, e o tamanho.

5. Risco (RSC): Empresas mais voláteis e com maiores riscos do negócio tendem a assumir menor nível de endividamento, dado que um maior risco significa uma maior dificuldade de acesso ao capital de terceiros devido aos riscos de dificuldades financeiras (MEDEIROS; DAHER, 2008; BRITO; CORRAR; BATISTELLA, 2007; FAMA; FRENCH, 2002), sendo dessa forma considerada uma relação negativa entre o risco e o endividamento tanto para o STT quanto para a POT.

Assim, este trabalho apresenta o seguinte modelo: �[r��= Xs + X�*RENT + X�*TANG + Xt*CRESC + Xu*TAM + Xv*RSC + ε Onde: 9Uw>? representa a variável dependente do endividamento da empresa i no tempo t, e; ε representa o termo de erro estocástico.

4.3 PROCEDIMENTOS ESTATÍSTICOS

O método utilizado para a realização da análise de regressão foi o de Mínimos Quadrados Ordinários, com dados em painel a partir de observações trimestrais, totalizando 336 observações, sendo para tanto utilizado o software Eviews.

A necessidade de utilização de dados em painel se deu devido a possibilidade de

combinação do aspecto temporal e do aspecto de corte transversal. Dada essa necessidade, os dados em painel podem ser trabalhados através de três

modelos, sendo eles: O modelo de dados empilhados (Pooled), o modelo de Efeitos Fixos e o modelo de Efeitos Aleatórios. O primeiro modelo despreza a natureza de cortes transversais e de séries temporais dos dados (GUJARATI; PORTER, 2011) pressupondo que os coeficientes obtidos a partir da regressão sejam os mesmos para todas as empresas inclusas na análise, o que leva a homogeneidade dos resultados.

O modelo de efeitos fixos ao contrário do painel de dados empilhados considera a

heterogeneidade dos resultados, partindo do pressuposto que cada empresa possui seu próprio intercepto constante no tempo, permitindo apenas a variação dos coeficientes ao longo do tempo (GUJARATI; PORTER, 2011).

Por fim, o modelo de efeitos aleatórios consiste em presumir que o comportamento

dos indivíduos é não observado (WOOLDRIDGE, 2011) assumindo que tanto o comportamento específico das empresas inclusas na análise quanto o período de tempo são desconhecidos, fazendo com que tanto o intecepto quanto os coeficientes variem. Este modelo assume também que os efeitos do modelo eleatório são não correlacionados com os regressores (GUJARATI; PORTER, 2011).

Assim, para que os resultados da análise de regressão sejam considerados consistentes

foram verificados inicalmente a colinearidade, heterocedasticidade, autocorrelação, para posteriormente se definir qual o modelo de painel mais adequado.

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A colinearidade foi testada através da matriz de correlação das variáveis independentes, onde de acordo com Wooldridge (2006) pode vir a desestabilizar a estimação caso o coeficiente de correlação ultrapasse 0,60.

Tabela 3 - Matriz de Correlação das Variáveis Independentes

Variáveis RENT TANG CRESC TAM RSC

RENT 1 0.048542006 -0.009231405 0.034791233 0.020385178

TANG 0.048542006 1 -0.114267458 -0.569482788 -0.02994737

CRESC -0.009231405 -0.114267458 1 0.077694768 -0.034978726

TAM 0.034791233 -0.569482788 0.077694768 1 -0.187288722

RSC 0.020385178 -0.02994737 -0.034978726 -0.187288722 1

Fonte: Elaboração Própria

A partir da análise dos coeficientes de correlação das variáveis independentes na Tabela 3, pode-se perceber que a maior correlação encontrada foi entre as variáveis tamanho e tangibilidade, na ordem de -0.569482, não sendo observada presença de altas correlações entre as variáveis independentes.

Posteriormente foram realizadas regressões com dados empilhados no intuito de

verificar possíveis problemas de heterocedasticidade e de autocorrelação, sendo estes pressupostos testados através dos testes de Breusch-Pagan-Godfrey e Breusch-Pagan para cada regressão.

Abaixo a Tabela 4 expõe os resultados destes testes para as variáveis dependentes.

Tabela 4 - Resultados dos Testes de Heterocedasticidade e Autocorrelação

Variáveis Dependentes Endividamento de Curto Prazo Endividamento de Longo Prazo Testes p-valor Hipótese Nula p-valor Hipótese Nula Breusch-Pagan-Godfrey 0,0059 Rejeita 0,0417 Rejeita Breusch-Pagan 0 Rejeita 0 Rejeita

Fonte: Elaboração Própria Como resultados, tanto a hipótese nula para a ausência de heterocedasticidade quanto

a hipótese nula para a ausência de autocorrelação foram rejeitadas, indicando a presença de resíduos heterocedasticos e a presença de autocorrelação.

A partir destas constatações, tornou-se necessária a correção destes pressupostos para que os estimadores das regressões venham a possuir maior precisão. Assim, os resultados posteriormente expostos foram estimados a partir do método dos mínimos quadrados generalizados (MQG), que segundo Wooldridge (2011) consiste em uma das formas de corrir eventuais presenças de heterocedasticidade e de autocorrelação.

Em seguida, foram estimadas regressões afim de decidir pelo modelo de dados em

painel mais adequado para proceder a estimação dos coeficientes estatísticos.

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Nesse sentido, foram realizados os testes de Chow e de Hausman. O primeiro consiste em detectar a ausência de falha estrutural que segundo Gujarati e Porter (2011, p.266) ocorre quando "os valores dos parâmetros do modelo não se mantém iguais durante todo o período de tempo", sendo sua hipótese nula a aceitação de ausência de falha estrutural, o que pressupõe a utilização de dados em painel com dados empilhados.

Como resultado do teste de Chow, a hipótese nula foi rejeitada para as regressões, indicando falha estrutural, o que implica na não consideração dos parâmetros das regressões como únicos, invalidando a utilização de dados em painel com dados empilhados (Pooled).

Dada a rejeição pelo painel com dados empilhados, procedeu-se o teste de Hausman

para decidir entre a dados em painel com efeitos fixos ou aleatórios. Segundo Gujarati e Porter (2011, p.600) a hipótese nula do teste de Hausman indica a utilização de dados em painel com efeitos aleatórios e que caso rejeitada, "a conclusão é de que o modelo de componentes de erro não é adequado, porque os efeitos aleatórios provavelmente estão correlacionados com um ou mais regressores". A Tabela 5 apresenta o resultado do teste de Chow e de Hausman para as regressões realizadas.

Tabela 5 - Resultado dos teste de Chow e Hausman

Variáveis Dependentes Endividamento de Curto Prazo Endividamento de Longo Prazo Testes p-valor Hipótese Nula p-valor Hipótese Nula Chow 0 Rejeita 0 Rejeita

Hausman 0 Rejeita 0.0024 Rejeita

Fonte: Elaboração Própria. Como resultados do teste de Hausman, o p-valor indicou a rejeição da hipótese nula

para ambas as variáveis dependentes, indicando que o modelo de efeitos aleatórios não é adequado para esta análise, demonstrando que os componentes de erro são correlacionados com um ou mais regressores.

Tomando por base os testes acima apresentados, este trabalho apresenta e analisa, os

resultados estatísticos a patir da estimação de regressões com dados em painel de efeitos fixos, sendo esta estimação realizada através do MQG, dada a verificação prévia da presentaça de heterocedasticidade e de autocorrelação.

Por fim, ainda testou-se a normalidade de resíduos através da estatística de Jarque-

Bera. Este teste possui como hipótese nula a de que os resíduos das regressões seguem uma distribuição normal. Os resultados indicaram a rejeição da hipótese nula para o endividamento de curto prazo dado um p-valor de zero, indicando que os dados estão assimetricamente dispersos em torno da média. Já para o endividamento de longo prazo, o teste indicou a aceitação da hipótese nula dado um p-valor de 0,053.

3. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Após apresentados os resultados dos testes estatísticos anteriormente citados, nesta

seção são apresentadas as interpretações dos resultados obtidos a partir da análise de regressão de dados em painel com efeitos fixos através do MQG, demonstrando como as variáveis independentes utilizadas no modelo explicam a variação das variáveis dependentes.

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Adicionalmente, os resultados obtidos para as variáveis independentes são comparados também com as predições das teorias utilizadas neste trabalho bem como com resultados observados em outros estudos.

As Tabelas 6 e 7 abaixo apresentam os resultados das regressões para o endividamento

de curto e de longo prazo respectivamente.

Tabela 6 - Resultados da Regressão da Variável Dependente Endividamento de Curto Prazo

Variável Coeficiente Estatística t p-valor

Rentabilidade -0.17234 -2.881924 0.0042

Tangiblidade 0.020821 0.406627 0.6846

Crescimento -0.026246 -1.548067 0.1226

Tamanho -0.158098 -3.657979 0.0003

Risco -0.710774 -2.041185 0.042

R2 0.242722

R2 Ajustado 0.217012

p-valor 0

Fonte: Elaboração Própria. Para a regressão com o endividamento de curto prazo como variável dependente, a

hipótese nula para o intervalo de 5% não foi rejeitada, indicando a capacidade de explicação das variáveis independentes sobre o comportamento da variável dependente.

Tabela 7 - Resultados da Regressão da Variável Dependente Endividamento de Longo Prazo

Variável Coeficiente Estatística t p-valor

Rentabilidade -0.163371 -1.521475 0.1291

Tangiblidade -0.065433 -1.509405 0.1322

Crescimento 0.002141 0.128395 0.8979

Tamanho -0.058183 -1.92451 0.0552

Risco -1.3452 -4.663767 0

R2 0.536192

R2 Ajustado 0.520446

p-valor 0

Fonte: Elaboração Própria Para a regressão com o endividamento de longo prazo como variável dependente, a

hipótese nula para o intervalo de 5% também não foi rejeitada, indicando a capacidade de explicação das variáveis independentes, conforme a Tabela 7.

No entanto, a variável dependente endividamento de longo prazo obteve melhores

resultados explicativos dado que o coeficiente de determinação (R2 Ajustado) observado foi na ordem de 52,04% ao passo que para a variável depentende endividamento de curto prazo o coeficiente de determinação observado foi de 21,70%, indicando que o conjunto de variáveis independentes utilizados no modelo tem maior poder explicativo sobre o endividamento de

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longo prazo, ao passo que o endividamento de curto prazo é explicado em 78,30% por variáveis não contempladas no modelo.

De modo geral, comparando as predições teóricas com os resultados obtidos a partir da

análise de regressão, não é possível concluir em favor de nenhuma das teorias utilizadas neste trabalho, embora seja possível afirmar que a rentabilidade, o tamanho e o risco são fatores determinantes do endividamento de curto prazo e o tamanho e o risco são determinantes para o endividamento de longo prazo, corroborando com algumas das predições da POT, sugerindo que estes são fatores a serem considerados caso exista uma hierarquina nas fontes de financiamento.

A Tabela 8 abaixo expõe a comparação entre as predições teóricas do STT e da POT

com os resultados observados.

Tabela 87 - Relações Teóricas x Relações Observadas

Relações Esperadas Observadas

Variáveis Static Trade-Off Pecking Order ECP ELP

Rentabilidade Positivo Negativo Negativo não significante

Tangibilidade Positivo Positivo não significante não significante

Crescimento Negativo Negativo não significante não significante

Tamanho Positivo Positivo Negativo Negativo

Risco Negativo Negativo Negativo Negativo

Fonte: Elaboração Própria. A seguir, são apresentadas as análises para cada variável contemplada no estudo.

Também são apresentadas comparações com outros estudos, na tentativa de contribuir para um melhor posicionamento de acordo com outros achados de estudos anteriores.

Rentabilidade Os resultados das regressões indicam que a variável rentabilidade se mostra

significante apenas para o endividamento de curto prazo. Teoricamente, o STT pressupõe uma relação positiva entre o endividamento e a

rentabilidade, ao passo que a POT prediz uma relação negativa. Para este trabalho observou-se uma relação negativa entre o endividamento de curto

prazo e a rentabilidade, o que corrobora com a POT, que aponta que empresas mais rentáveis tendem a possuir um menor endividamento (MYERS, 1984), posta a priorização do reinvestimento de lucros gerados internamente.

Diversos estudos concluiram que a rentabilidade é relacionada negativamente com o

endividamento dentre eles, Titman e Wessels (1988); Rajan e Zingales (1994); Fama e French (2002); Perobelli e Famá (2002); Nakamura et al (2007), conforme apresentado na seção de estudos empíricos, corroborando com a relação negativa observada neste trabalho entre o endividamento de curto prazo e a rentabilidade.

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Cabe dizer também que o resultado observado neste trabalho condiz com o de Brito, Corrar e Batistella (2007), não observando uma relação significante entre a rentabilidade e o endividamento de longo prazo.

Tangibilidade A variável Tangibilidade é um ponto convergente entre as teorias do STT e da POT

que preconizam uma relação positiva para com o endividamento, apontanto que quanto maior o nível de tangibilidade dos ativos maior será o endividamento.

Confirmando esta predição, Rajan e Zingales (1995) encontram uma relação positiva

da tangibilidade para com o endividamento. No entanto, dentre os resultados observados neste trabalho a Tangibilidade não se mostrou significativa.

Os resultados aqui encontrados corroboram com os resultados de Titman e Wessels

(1988) que não encontraram relação significante entre o endividamento e a tangibilidade. Adversamente, Brito, Corrar e Batistella (2007) constataram em seu estudo que a tangibilidade (chamado pelos autores de composição dos ativos) estava positivamente relacionada ao endividamento de longo prazo, enquanto que para o endividamento de curto prazo esta relação se mostrou negativa.

Crescimento Teoricamente, para a variável crescimento espera-se uma relação negativa com o

endividamento, tanto de acordo com o STT quanto de acordo com a POT. Para a POT esta predição se justifica em uma possível desaceleração na taxa de crescimento para empresas com maior nível de endividamento.

Para o STT, pressupõe-se que esta relação deve ser negativa devido ao risco que

empresas em crescimento incorrem, por possuirem um maior risco de falência. Para este trabalho, não foi observada uma relação significante entre esta variável e o

endividamento. Estudos como o de Fama e French (2002) e Nakamura et al (2007) confirmaram as predições realizadas pelo STT e para a POT, observando uma relação negativa entre o crescimento e o endividamento. Contrariamente, Brito, Corrar e Batistella (2007) observaram uma relação positiva.

Tamanho A variável tamanho se mostrou significativa para o endividamento de curto prazo com

um nível de significancia de 5%, enquanto sua relação com o endividamento de longo prazo se mostrou significante para um nível de significancia de 10%.

Em convergência, o STT e a POT prevêem relação positiva entre o tamanho e o endividamento, relação esta que conforme Fama e French (2002) se justifica pelo fato de empresas maiores possuirem uma maior capacidade de endividamento.

No entanto, a variável tamanho se mostrou negativamente relacionada tanto com o

endividamento de curto quanto de longo prazo, indo em direção contrária as predições teóricas. O observado neste trabalho converge com os achados de Nakamura et al (2007) que observaram uma relação negativa do endividamento para com o tamanho.

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Em contrapartida, estudos como o de Titman e Wessels (1988); Rajan e Zingales (1994); Brito, Corrar e Batistella (2007) confirmaram as predições teóricas do STT e da POT observando uma relação positiva entre o endividamento e o tamanho.

Risco A variável risco apresenta-se significante tanto para o endividamento de curto quanto

de longo prazo para um nível de significância de 5%. De acordo com as teorias do STT e do POT, espera-se que o endividamento seja

negativamente relacionado com o risco, apontando que empresas mais arricadas tendem a possuir maior dificuldade de acesso ao capital de terceiros, devido aos custos de falência para o caso do STT; bem como devido à uma maior preferência pela utilização de fontes de capital menos arriscadas para o caso da POT.

Os resultados observados neste estudo confirmam as predições teóricas tanto para o endividamento de curto prazo quanto para o endividamento de longo prazo, corroborando com os achados de Fama e French (2002) e de Nakamura et al (2007).

Adicionalmente, os resultados encontrados por Brito, Corrar e Batistella (2007) pressupõem uma relação positiva para com o endividamento de longo prazo, e, uma relação negativa entre o endividamento de curto prazo e o risco, refutando as predições teóricas em relação ao primeiro e reforçando as predições teóricas para o segundo.

4. CONCLUSÃO

Este trabalho teve por objetivo identificar os fatores determinantes do endividamento

das empresas do setor de telecomunicações, buscando através das teorias do STT e da POT identificar qual dos dois arcabouços teóricos melhor explica o comportamento do endividamento das empresas do setor.

Para que esta pesquisa, utilizou-se a técnica de análise de regressão com dados em

painel, totalizando 336 observações para 7 empresas no período que compreende os anos de 2002 à 2013. A coleta de dados foi realizada através do Sistema DIVEXT da CVM, de onde foram coletadas as informações financeiras trimestrais e anuais das companhias que compõem a população pesquisada.

Como variáveis independentes foram utilizadas a rentabilidade, a tangibilidade, o

crescimento, o tamanho e o risco. Os resultados indicaram que o endividamento de curto prazo é negativamente relacionado a rentabilidade, o tamanho e o risco; ao passo que o endividamento de longo prazo se mostrou negativamente relacionado ao tamanho e ao risco, não sendo observada qualquer relação significante para as outras variáveis.

Assim, não é possível concluir em favor do STT ou da POT, podendo-se afirmar

apenas que a POT possui um melhor potencial explicativo sobre o comportamento do endividamento da população pesquisa, tendo por base as relações observadas.

Como principais limitações deste trabalho, ressaltam-se a reduzida quantidade de

empresas, impossibilitando a generalização dos resultados aqui encontrados para todas as

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empresas do setor, bem como a indisponibilidade de dados para um maior horizonte temporal, o que possibilitaria um maior número de observações.

Como sugestões para pesquisas futuras, destaca-se a possibilidade de investigação dos

determinantes do endividamento de forma heterogênea, conforme Póvoa e Nakamura (2014), dado que grande parte dos estudos sobre endividamento, inclusive este, testam o endividamento de forma homogênea. REFERÊNCIAS AHN, S.; DENIS, D. J.; DENIS, D. K. Leverage and investment in diversified firms. Journal of Financial Economics, Amsterdan, v. 79, n. 2, p. 317-337, Feb., 2006.

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