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ANAIS
XXV Semana de Geografia – 2018
“Novas Tecnologias: aplicações na Geografia” ISSN 2317-9759
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ANAIS XXV Semana da Geografia
ISSN 2317-9759
Ponta Grossa
2018
XXV SEMANA DA GEOGRAFIA
VII SEMANA DO ENSINO A DISTÂNCIA DA UEPG
IX JORNADA CIENTÍFICA DA GEOGRAFIA
XII ENCONTRO DO SABER ESCOLAR E
CONHECIMENTO GEOGRÁFICO
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PONTA GROSSA
26 A 29 DE NOVEMBRO DE 2018
XXV Semana de Geografia – 2018
“Novas Tecnologias: aplicações na Geografia” ISSN 2317-9759
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Capa
Pedro Crist
Projeto gráfico e diagramação
Pedro Crist
Comissão Técnico-Científica
Prof. Dr. Almir Nabozny
Prof.ª Dr.ª Ana Paula Aparecida Ferreira
Alves
Profª. Drª. Carla Sílvia Pimentel
Prof. Dr. Antonio Liccardo
Prof. Dr. Celbo Antonio Fonseca Rosas
Prof. Dr. Gilson Campos Ferreira da
Cruz
Prof.ª Drª. Joseli Maria Silva
Prof. Dr. Leonel Brizolla Monastirsky
Prof. Dr. Isonel Sandino Meneguzzo
Prof. Dr. Marcio Ornat
Prof. Dr. Paulo Rogerio Moro
Prof.ª Drª. Andréa Tedesco
Prof. Ricardo Letenski
Profª. Drª. Marcia Alves Soares da Silva
Profª. Drª. Karina Eugenia Fioravante
Prof. Msc. Fernando Bertani Gomes
Prof. Dr. Gilson Burigo Guimarães
Profª.Drª Adrina Salviato Uller
Prof. Dr. Edson Belo Clemente de
Souza
Prof. Msc. Vagner André Morais Pinto
Comissão Organizadora
Docentes
Profª. Drª. Silvia Méri Carvalho
Prof. Me. Pedro Crist
Discentes
Alison Diego Leajanski
Ingrid Ligoski
Andre Lucas dos Anjos
Andresa Aparecida Alves Santos
Barbara de Carvalho Macedo
Brunna Adla Ferreira
Christopher Vinicius Santos
Leandro Degani
Denny Wilson Jobbins Haas
Diely Cristina Pereira
Edson Morczinski
Everton de Deus
Glauciane Carolina de Almeida
Joao Emanuel de Souza
Leonardo de Andrade
Luana França
Paloma de Freitas
Paulo Roberto Banckes
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Soeli Trzeciok Prestes
Secretária
Mariana Fernandes Siqueira
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
Reitor
Miguel Sanches Neto
Vice-Reitor
Everson Augusto Krum
SETOR DE CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS
Diretor
Luiz Alexandre Gonçalves Cunha
DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS
Chefe
Celbo Antonio Ramos da Fonseca Rosas
CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA
Coordenação
Isonel Sandino Meneguzzo
CURSO DE BACHARELADO EM GEOGRAFIA
Coordenação
Sílvia Méri Carvalho
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• SUMÁRIO •
RESUMOS ................................................................................................................................ 8
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS METEORITOS BENDEGÓ E CAMPO DEL CIELO ....... 9
MONITORAMENTO DO CADASTRO AMBIENTAL RURAL, NA PORÇÃO SUL
PARQUE NACIONAL DOS CAMPOS GERAIS .................................................................. 10
O PATRIMÔNIO GEOLÓGICO DO BAIXO CURSO DO RIO SÃO JOÃO,
PRUDENTÓPOLIS – PR......................................................................................................... 11
ANÁLISE QUALITATIVA DO WEBSITE GEOCULTURA.NET PARA A DIVULGAÇÃO
GEOCIENTÍFICA ................................................................................................................... 12
CIDADES GÊMEAS: ASPECTOS SOCIOESPACIAIS DE FOZ DO IGUAÇU ................. 13
ECONOMIA INCLUSIVA E O DESENVOLVIMENTO HORIZONTAL ........................... 14
VALE DO SILÍCIO, O BERÇO DA TECNOLOGIA ............................................................ 15
RESUMOS EXPANDIDOS ................................................................................................... 16
INFLUÊNCIA DAS UNIVERSIDADES ESTADUAIS E FEDERAIS TECNOLÓGICAS DO
PARANÁ NA ECONOMIA REGIONAL ............................................................................... 17
INFLUÊNCIA E COMPORTAMENTO DAS LITO-ESTRUTURAS GEOLÓGICAS NA
CONSTITUIÇÃO DOS CANYONS DOS RIOS DOS PATOS E SÃO JOÃO, ALTO CURSO
DO RIO IVAÍ ........................................................................................................................... 22
A PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES DA MARGEM DO ARROIOPILÃO
DE PEDRA .............................................................................................................................. 27
TENDÊNCIAS DE PESQUISA EM ARBORIZAÇÃO DE VIAS PÚBLICAS COM O USO
DE GEOTECNOLOGIAS ....................................................................................................... 31
AS PRÁTICAS CULTURAIS TRADICIONAIS DOS KAINGANG DA TERRA INDÍGENA
FAXINAL NA ATUALIDADE ............................................................................................... 36
BIOGEOGRAFIA DOS CAMPOS DO PARANÁ: PASSADO, PRESENTE E FUTURO ... 41
DINÂMICA DO USO E OCUPAÇÃO DA TERRA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO
ARROIO DA RONDA NO MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA (PR) ENTRE OS ANOS DE
1980 E 2014 ............................................................................................................................. 46
EXPERIÊNCIA DE PESQUISA COM O POVO PARINTINTIN: AS EXCURSÕES NA
FLORESTA .............................................................................................................................. 51
O USO DE IMAGENS DE SATÉLITE SENTINEL-2 NA ANÁLISE DE IMPACTOS
AMBIENTAIS: UM CASO DE INCÊNDIO NO PARQUE ESTADUAL DE VILA VELHA,
PONTA GROSSA, PARANÁ. ................................................................................................ 56
A GEOGRAFIA DAS DISCUSSÕES SOBRE 'IDEOLOGIA DE GÊNERO' ATRAVÉS
DAS NOTÍCIAS VEICULADAS NA INTERNET ENTRE OS ANOS DE 2015 À 2018
NO BRASIL............................................................................................................................. 61
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A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DA RELAÇÃO ENTRE MULHERES E
VULNERABILIDADE SOCIAL NO ESPAÇO URBANO DE PONTA GROSSA, PARANÁ.
.................................................................................................................................................. 65
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MEDO E ESPAÇO NA
VIVÊNCIA COTIDIANA DE DISCENTES NO CAMPUS UVARANAS DA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA, PARANÁ. ..................................... 69
CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE COMO AS MULHERES VIÚVAS DO DISTRITO
DE ITAIACOCA PONTA GROSSA – PR SIGNIFICAM O TRABALHO DOMÉSTICO
NÃO REMUNERADO ............................................................................................................ 74
ESPAÇO E AS SIGNIFICAÇÕES DE MULHERES PROFISSIONAIS DO SERVIÇO DE
LIMPEZA DA UEPG / PONTA GROSSA –PR ..................................................................... 78
ESPAÇO E LESBOFOBIA NA CIDADE DE PONTA GROSSA, PARANÁ ....................... 82
ESPAÇO E MOVIMENTOS SOCIAIS COMO ARTICULADORES DO PROCESSO DE
CONSTRUÇÃO DE UMA CIDADANIA PARA PESSOAS LGBTT NO BRASIL (2000-
2015) ......................................................................................................................................... 87
ESTADO DE ARTE DAS PESQUISAS SOCIALIZADAS NOS PERIÓDICOS QUALIS
CAPES COM FATOR DE IMPACTO SOBRE GEOGRAFIA
FEMINISTA/SEXUALIDADE NO BRASIL ......................................................................... 93
TERRITÓRIOS E TERRITORIALIDADES: PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO
CONTRA RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS NA ÁREA URBANA DE PONTA
GROSSA-PR (2015-2016) ....................................................................................................... 98
ATLAS DO COMPLEXO FERROVIÁRIO E HIDROVIÁRIO DO PARANÁ
TRADICIONAL: UMA PROPOSTA DE CARTOGRAFIA MULTIMÍDIA ...................... 103
DINÂMICA DE FRAGMENTOS DE VEGETAÇÃO NATIVA NA REGIÃO NORTE DO
RIO GRANDE DO SUL ........................................................................................................ 109
APROXIMAÇÕES DO CORPO NA ANÁLISE FENOMENOLÓGICA-GEOGRÁFICA . 115
MOVIMENTO CIENTÍFICO: DA EPISTEMOLOGIA À FENOMENOLOGIA NA
GEOGRAFIA ......................................................................................................................... 120
UMA GEOGRAFIA DAQUELES QUE À EXPERENCIEM EM UM
CONDICIONAMENTO ESPACIAL: ROMPENDO COM A SALA DE AULA
UNIVERSITÁRIA ................................................................................................................. 124
A TEORIA DOS DOIS CIRCUITOS DA ECONOMIA URBANA DE MILTON SANTOS:
SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA ECONOMIA URBANA CONTEMPORÂNEA ....... 129
ESPAÇOS HETEROGÊNEOS E AS UNIDADES DE SAÚDE ESF EM CURITIBA,
PARANÁ ............................................................................................................................... 134
A UTILIZAÇÃO DA MÚSICA EM AULAS DE GEOGRAFIA COM FOCO EM
PROBLEMAS AMBIENTAIS .............................................................................................. 139
A UTILIZAÇÃO DE IMAGENS EM BANNER COMO RECURSO DIDÁTICO NAS
AULAS DE GEOGRAFIA DO ENSINO FUNDAMENTAL .............................................. 144
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AS TECNOLOGIAS NO ENSINO E APRENDIZAGEM: O USO DO GOOGLE EARTH
NA CARTOGRAFIA ESCOLAR PARA A CONSTRUÇÃO COLETIVA DO
CONHECIMENTO ................................................................................................................ 149
COPA DO MUNDO E ALFABETIZAÇÃO CARTOGRÁFICA: UMA AÇÃO
DESENVOLVIDA COM ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL ...................... 154
DIDÁTICA E AUSÊNCIA DE INFRAESTRUTURA COMO FATORES PRESENTES NO
ENSINO DE GEOGRAFIA: UMA LEITURA ACADÊMICA PRELIMINAR ................... 159
ELEMENTOS DA CARTOGRAFIA SOCIAL E A REPRESENTATIVIDADE DO ESPAÇO
GEOGRÁFICO NO ENSINO DE GEOGRAFIA ................................................................. 164
FENÔMENOS ATMOSFÉRICOS E PARÓDIA MUSICAL: UMA PROPOSTA DE
TRABALHO DESENVOLVIDA COM ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL 168
GEOGRAFIA E IMAGENS EM MOVIMENTO NO FILME MOANA: ANÁLISE DAS
REPRESENTAÇÕES ESPACIAIS ....................................................................................... 172
OFICINAS E JOGOS EDUCACIONAIS COMO INSTRUMENTO DE ENSINO DA
GEOGRAFIA:UM RELATO DE EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS NO PIBID .............. 177
TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO ENSINO DE GEOGRAFIA:
ELABORAÇÃO DE APLICATIVO (APP) PARA EDUCAÇÃO EM SOLOS ................... 182
CLASSIFICAÇÃO DE ORTOFOTO ADQUIRIDA POR RPA E BANDA AUXILIAR NDVI
- ESTUDO DE CASO PARA A FAZENDA ESCOLA CAPÃO DA ONÇA ..................... 187
MAPEAMENTO DO USO E COBERTURA DA TERRA EM PONTA GROSSA-PR COM
USO DE IMAGEM LANDSAT OLI 8 .................................................................................. 193
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RESUMOS
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COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS METEORITOS BENDEGÓ E CAMPO
DEL CIELO
Karuane Schechtel Kodum
Nos dias de hoje (2018) temos a oportunidade de manusear meteoritos e estuda-los diretamente em laboratórios,
aplicando métodos modernos de investigação. Usualmente são utilizados microscópios petrográficos e análise
INAA (Instrumental Neutron Atomic Activation) para analisar de forma estrutural e química destes corpos
celestes. Tendo em mente a importância e raridade destes “mensageiros do universo” sempre é buscado aplicar
técnicas não destrutivas em suas investigações. Os meteoritos são classificados em três grandes grupos:
Aerólitos, Siderólitos e Sideritos. Os sideritos são constituídos essencialmente da liga Fe-Ni e dependendo do seu
grupo químico podem também conter inclusões de: troilita, grafita, cohenita e silicatos. O acervo do projeto de
“Geodiversidade na Educação”, da Universidade Estadual de Ponta Grossa, disponibilizou para estudo duas
amostras de meteoritos: Campo del Cielo (CDC, primeiro fragmento achado em 1576, na Argentina,
classificado como grupo: IAB, Og) e Bendegó (BDG, achado em 1784, no sertão da Bahia, classificado como
grupo: IC, Og). A amostra CDC foi seccionada em 5 partes com ajuda de uma serra de disco diamantado, e a
BDG- até então imersa em resina - foi desgastada (com lixa d’água 100 e lixa de ferro 80) até que a superfície
do meteorito ficasse exposta. Após serem limpas com álcool 100% foram encaminhadas para análise das
técnicas de Fluorescência de Raio X por Energia Dispersiva (FRX-EDS, operando em 15kV na faixa Na-Sc e
50kV na Ti-U, em modo ar) e Microscopia Eletrônica de Varredura por Emissão de Campo (MEV-FEG).
Mediante a estas técnicas foram encontrados os elementos dos fragmentos de maneira semiquantitativa,
apresentando uma média de: 6,1% de níquel e 20% de cohenita para BDG; 7% de níquel e uma soma de 4% das
inclusões de grafita, troilita e cohenita para CDC. Estas porcentagens ratificam suas classificações químicas e
referendam estas técnicas como apropriadas ao estudo de meteoritos.
Palavras-chave: Sideritos. Meteorítica. Composição.
Apoio: Fundação Araucária.
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MONITORAMENTO DO CADASTRO AMBIENTAL RURAL, NA
PORÇÃO SUL PARQUE NACIONAL DOS CAMPOS GERAIS
Caroline Almeida Ribeiro;
Ricardo Letenski.
O Cadastro Ambiental Rural (CAR) é um registro eletrônico, obrigatório para todos imóveis
rurais, que tem como objetivo promover a identificação e integração das informações
ambientais, necessárias para o planejamento ambiental, combate ao desmatamento,
monitoramento e regularização ambiental. O Parque Nacional dos Campos Gerais (PNCG) é
uma Unidade de Conservação administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação de
Biodiversidade (ICMBio), localizada nos municípios de Ponta Grossa, Carambeí e Castro.
Este trabalho teve como objetivo investigar o CAR dos imóveis situados na a porção sul do
PNCG. No primeiro momento foram identificados vinte e três (23) imóveis cadastrados
pertencentes à porção sul do PNCG, os dados foram adquiridas no Sistema Nacional de
Cadastro Ambiental Rural (SICAR). Seguido da verificação e interpretação das informações,
ou seja, se a Reserva Legal era compatível com 20% da área da propriedade, se as Áreas de
Preservação Permanente estavam de acordo e se haviam sobreposições entre áreas. Isso com o
suporte de ortoimagens (fornecidas pela prefeitura de Ponta Grossa). Estes dados foram
modelados no software ArcMap 10. Os resultados apresentaram propriedades irregulares,
destas, cinco (5) sem o Cadastro Ambiental Rural, quatro (4) propriedades sobrepostas, cinco
(5) com valor inferior ao ideal de Reserva Legal, e quatro (4) com Área de Preservação
Permanentes não declaradas.
Palavras chave: CAR. PNCG. SICAR.
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O PATRIMÔNIO GEOLÓGICO DO BAIXO CURSO DO RIO SÃO
JOÃO, PRUDENTÓPOLIS – PR
Carlos Alexandre Rogoski
RESUMO: Neste trabalho identificam-se os principais geossítios do baixo curso do Rio São
João, no município de Prudentópolis, estado do Paraná, assim como os valores de seu
patrimônio geológico. Na sua confluência com o Rio dos Patos forma-se o Rio Ivaí, rios que
contribuem significativamente com a economia das cidades ao redor. O trabalho foi realizado
a partir de um levantamento bibliográfico pertinente ao tema e, trabalhos de campo,
destinados ao reconhecimento da paisagem e conversas informais com a comunidade. Na área
de estudo foram visitados quatro geossítios e, para eles identificados os valores da
geodiversidade conforme Murray Gray (2004) (intrínseco, cultural, estético, econômico,
funcional, didático e científico). A escolha dos geossítios ocorreu em função de: (a) presença
de geoformas singulares; (b) beleza cênica; (c) importância para a comunidade local. Pela
subjetividade que possui o valor intrínseco, mostra-se presente em toda a geodiversidade.
Analisando os geossítios foram reconhecidos diversos valores em cada um deles, os mais
expressivos foram: o valor cultural para o geossítio “Cabeça do Lobo” ou “Igrejinha”,
associado principalmente a imagens conhecidas pela comunidade local; o valor estético
principalmente para o geossítio Salto São João e o seu canyon; o valor econômico está
associado principalmente ao turismo de aventura no Rio e Salto São João, que fomenta a
economia local; o valor funcional é expressivo na nascente do Rio Ivaí, importante fonte de
abastecimento para diversos municípios paranaenses; os valores científico e didático podem
ser constatados em todos os geossítios, possuindo desde registros da história da Terra até
registro de populações antigas com registros arqueológicos. Em decorrência de sua enorme
geodiversidade, o alto curso do Rio São João possui relevante patrimônio geológico, com
destaque para os valores culturais, científicos e didáticos. Acredita-se que maiores estudos e
divulgação, tanto em questões científicas como turísticas podem promover políticas de
geoconservação na área.
Palavras-chave: Patrimônio Geológico. Geoconservação. Rio São João.
Referências: GRAY, Murray. Geodiversity: valuing and conserving abiotic nature. Londres:
John Wiley & Sons Ltd, 2004.
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ANÁLISE QUALITATIVA DO WEBSITE GEOCULTURA.NET PARA A
DIVULGAÇÃO GEOCIENTÍFICA
CARNEIRO, J. R. F.
1;
GONÇALVES FILHO, M. A.2
PALAVRAS-CHAVE: GEODIVERSIDADE. EDUCAÇÃO NÃO FORMAL. WEBSITE.
RESUMO: O website geocultura.net foi criado no ano de 2014, fazendo parte do projeto
Geodiversidade na Educação. O site veio com o objetivo de elucidar conteúdos geociêntíficos
que são abordados pelo projeto e transmitir conhecimentos que em maior parte ficam restritos
ao meio acadêmico. O site é visitado por acadêmicos de diversas universidades como também
professores universitários, alunos do ensino regular e professores do ensino fundamental e
médio. Como auxílio de interligar os conteúdos e produtos realizados pelo projeto
Geodiversidade na Educação foi utilizado o recurso dos códigos QR (Quick Response),
fazendo a rápida ligação com o conteúdo disponibilizado no site, com variados objetivos,
enriquecendo o conhecimento individual de quem acessa. As estatísticas fornecidas pelo
provedor apontaram a viabilidade desta estratégia e indicaram várias tendências, o website já
havia registrado mais de 10 mil visitas nos quatro meses iniciais desde sua ativação. Até
agosto de 2018 foram registradas ao todo 244.373 mil visitas. O site dispõe de diversas
categorias e nichos que contemplam os ramos das geociências, como a geodiversidade,
palentologia, patrimônio geológico, geoconservação entre outros. Comparando-se os dados
parciais de 2014 com os dados integrais de 2018 (até julho) é possível notar um relevante
número de acessos, que acaba demonstrando a importância desse novo ambiente virtual do
conhecimento. Além dos nichos disponibilizados no site, também é possível acessar os
artigos, e-books, vídeos e aulas que entram num processo de complementaridade com o
ensino das práticas das ciências geográficas. Essa atmosfera que conecta os indivíduos tem
outra vantagem: democratiza o acesso, que se não estivesse inserido nesse ambiente virtual,
não teria a mesma quantidade de reconhecimento e visualização, tornando o site, um ambiente
que promove a difusão irrestrita de conhecimentos geocientíficos.
Palavras-chave: Geodiversidade. Educação não formal. Website.
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CIDADES GÊMEAS: ASPECTOS SOCIOESPACIAIS DE FOZ DO
IGUAÇU
Autor: Beatriz Quast;
Edson Belo Clemente de Souza.
Foz do Iguaçu é uma cidade de porte médio, dinamizada, especialmente, pelo comércio
de fronteira e pela atividade turística, devido ao Parque Nacional do Iguaçu, às Cataratas de
Iguaçu e à própria Usina Hidrelétrica Itaipu Binacional, destacando-se dentre os centros
urbanos brasileiros. O objetivo dessa apresentação é analisar suscintamente o papel central de
Foz do Iguaçu no desenvolvimento da região de influência (hinterlândia) das cidades gêmeas
com Ciudad del Este (Paraguai) e Puerto Iguassu (Argentina). A concentração de serviços e
equipamentos, bem como uma avantajada infraestrutura urbana, comparado, sobretudo, às
cidades de Ciudad del Este (Paraguai) e Puerto Iguassu (Argentina), faz com que Foz do
Iguaçu contribua na dinâmica territorial de uma região que apresenta um fluxo de atividades
econômicas que se destaca pelo turismo. Metodologicamente, os dados socioeconômicos
confirmam a supremacia da cidade de Foz do Iguaçu no contexto regional, assim como o
volume de recursos alavancados pela Itaipu Binacional, na forma de royalties, e dentre outros,
corroboram a centralidade urbana. Levantamentos juntos aos órgãos estatísticos, bem como
fontes primárias (entrevistas) e secundárias (revisão de literatura, consulta a documentos,
planos, projetos, programas e ações institucionais) subsidiarão a apresentação. Como
representação cartográfica foram utilizadas bases do IBGE, Indec e Dgeec. O software
ArcGis foi utilizado para a confecção dos mapas. As cidades gêmeas se tornam um caso
específico de estudo, onde mesmo não tendo um governo comum, as relações de vizinhança e
complementaridade fazem com que reações em diversos setores que ocorrem em uma cidade,
impactem de certa maneira a outra, vizinha, e vice versa. Enquanto apontamentos, o estudo
demonstra a necessidade de uma política territorial de coesão econômica e social entre as
cidades da tríplice fronteira.
Palavras-Chave: Transfronteirização. Circulação. Centro urbano.
Apoio: Fundação Araucária.
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ECONOMIA INCLUSIVA E O DESENVOLVIMENTO HORIZONTAL
Maikom Aparecido da Luz
O presente trabalho tem como objetivo analisar a inclusão social na economia solidária.
Entende-se como Economia Solidária o alcance de princípios humanitários de
desenvolvimento comum e socializado. O surgimento da Economia Solidária teve início após
o capitalismo industrial na primeira década do sec. XIX, para suprir as segregações sociais
advindas das contradições do capitalismo. Atualmente esta iniciativa de economia está
presente em vários países, inclusive no Brasil, que estabeleceu no seu território instituições de
cunho social com princípios da Economia Solidária: autogestão, democracia, cooperação,
emancipação, saber local, justiça social, meio ambiente, diversidade e valores humanos. Em
Ponta Grossa-PR a experiência tem sido aplicada com várias atividades exitosas, destacando-
se o pré-assentamento Emiliano Zapata, um dos treze empreendimentos solidários que a
IESOL/UEPG atende. Em face da atual circunstância da sociedade capitalista e diante da
precariedade de produção e distribuição de recursos econômicos para todos os indivíduos,
resultante da competitividade, os empreendimentos solidários são uma alternativa,
extremamente viável para a economia sofrer uma metanóia, usando da cooperação ao invés da
competição. O capitalismo se autorregula-se, porém o grande problema dessa afirmação que
ela serve apenas para os indivíduos ou grupos que já fazem parte desse sistema econômico,
com isso aqueles que não têm renda e estão inseridos dentro do capitalismo vivem de forma
passiva. A economia solidaria nos propõem métodos e princípios sociais na busca de incluir
essa parte da população de forma ativa no giro do capital. Em trabalhos já realizados no
tocante ao empreendimento Zapata, percebe-se uma visão clara de que a horta agroecológica
impulsiona um desenvolvimento horizontal e a diminuição da porosidade nos fluxos,
contribuindo fortemente na redução das desigualdades sociais e na distribuição de renda,
criando assim uma rede de consumo baseado na sustentabilidade.
Palavra Chave: Economia Solidária. Redes. Justiça Social.
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VALE DO SILÍCIO, O BERÇO DA TECNOLOGIA
Tatiane Vieira Domingues
Resumo: O presente trabalho versa sobre a historia do Vale do Sílicio; localizado na
Califórnia (Estados Unidos), uma região em que conhecimento, tecnologia, e dinheiro são
coisas presentes no cotidiano dos moradores que lá habitam. Nesse vale surgem inovações que
estão presentes em nossa sociedade, e na maior parte do resto do mundo, empresas como a
Aplle, Facebook, Google, Windows, Hp, e muitas outras sairam desse recorte espacial. Um
local em que grandes empresarios apoiam os que estão vindo agora, onde é normal errar, e
que os grandes ensinam e incetivam os novos no ramo. Geografizando com os conceitos de
região e rede. Com duas das melhores universidades dos Estados Unidos Stanford e
Universidade da Califórnia presentes nessa região, o conhecimento na area das engenharias é
imenso.
Palavras-chave: Califórnia. Inovação. Região
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RESUMOS EXPANDIDOS
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INFLUÊNCIA DAS UNIVERSIDADES ESTADUAIS E FEDERAIS
TECNOLÓGICAS DO PARANÁ NA ECONOMIA REGIONAL
David Lucas Ramos Dias;
Larissa Silveira Prestes
Introdução O presente trabalho tem o objetivo caracterizar as universidades estaduais e federais
tecnológicas do Paraná, que foram contempladas com bolsas pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), as mesmas foram indicadas através de
um mapa e projeções gráficas realizado. Nota-se também que a influência que as
universidades geram no ambiente onde estão inseridas, causando um grande impacto na
economia regional levando á um crescimento qualitativo e quantitativo da região, com isso
um levantamento bibliográfico foi realizado que vai da ênfase nesse impacto gerado pelas
universidades no decorrer do trabalho.
Arcabouço teórico conceitual
Contextualização do objeto
Análise propriamente dita
Objetivos - Discutir a participação das universidades Estaduais e Federais Tecnológicas do Paraná no desenvolvimento da economia no estado. - Compreender o impacto regional das universidades Estaduais e Federais Tecnológicas do Paraná no meio em que estão inseridas. - Identificar a quantidade de bolsas concedidas para as universidades Estaduais e Federais
Tecnológicas do Paraná pelo Conselho Nacional de desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. Metodologia
Desde o princípio da pesquisa, o trabalho ficou separado em partes. Essas partes foram
realizadas em ordem para que as etapas finais pudessem se concretizar. Isso não se aplica ao
levantamento bibliográfico que foi realizado ao longo de todo o processo de criação do
trabalho. Primeiramente, foram levantados dados das universidades estaduais e federais
tecnológicas que receberam bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPQ). Esses dados foram coletados no site do CNPQ, que possui acesso livre.
Para organizar os dados foram criadas planilhas, uma para cada ano, no período de 2007 a
2016, considerando que, em 2015, não houve chamada. As bolsas foram separadas em faixas
de acordo com o site “A”, “B” e “C” referentes ao valor do financiamento do edital universal
que pode ser de até R$150.000,00 por projeto aprovado. Além disso, foram levantados os
nomes dos professores coordenadores dos projetos aprovados, instituição em que
desenvolviam a pesquisa e os cursos contemplados. Na posse dos dados coletados foram
realizadas projeções de gráficos para ilustrar as discrepâncias na distribuição das bolsas entre
as universidades, variação anual de bolsas cedidas para universidades estaduais do Paraná, a
quantidade de bolsas por faixa anual de cada universidade. Na sequência foi elaborado um
mapa localizando as cidades sede das universidades estaduais e federais tecnológicas do
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Paraná, para espacializar os dados, onde é contabilizada a quantidade de bolsas concedidas através dos gráficos que estão na sequência do mapa.
Os dados foram retirados dos editais universais nos anos...
Resultados e discussões
A partir do levantamento bibliográfico foi possível perceber a influência da
universidade na região em que está inserida. Seja a curto ou médio prazo com os gastos dos
alunos, com moradia, alimentação, lazer, entre outras coisas, que atraem um grande interesse
econômico. Também ocorre a influência em longo prazo, que teria uma função mais
complexa, já que se trata da qualificação da mão de obra, que seria o período em que os
alunos já formados atuam no mercado de trabalho da região.
As universidades têm papel vital no desenvolvimento econômico, social, cultural dos
países. Essas instituições são destinadas ao ensino superior englobando pesquisa e ensino e
extensão, gerando inovação e tecnologia, em diversas áreas do conhecimento. Dentro das
universidades são gerados programas que beneficiam os estudantes, dando condições de
desenvolver seu conhecimento e se qualificar para sua futura vida profissional.
Segundo Rolim e Serra, 2009, as universidades têm influência sobre o
desenvolvimento regional, porque são elas as principais entidades que proporcionam inovação
através das pesquisas realizadas em seu âmbito. No século XXI, o que mais é valorizado economicamente é a inovação, principalmente a tecnológica (Rolim e Serra, 2009).
De acordo com Caldarelli, et. al., 2017, para um melhor aproveitamento ou retorno
dos recursos públicos, é necessária uma boa seleção dos professores que ingressam nas
universidades, pois quem está mais capacitado para repassar conhecimento aos alunos
proporciona profissionais mais capacitados, além de sua produção científica e tecnológica. No
caso do Paraná essa seleção é rigorosa, pois exige alta qualificação do profissional.
(Caldarelli, et. al., 2017).
Segundo Rufini, (2017) é essencial para o desenvolvimento de um país, no século XXI, a presença e desenvolvimento de ciência, tecnologia e inovação, pois esses caracterizam
a terceira revolução industrial (Rufini, 2017).
Isso se deve ao avanço da globalização, pois está cada vez mais difícil não seguir os
padrões do avanço tecnológico dos países desenvolvidos, quando um país não segue esse
padrão ele regride economicamente, quase que de forma imediata. Considerando que o modo
de vida mudou de acordo com essa revolução e descobertas do ser humano, é de fato
inevitável a presença desses elementos nos países considerados desenvolvidos, ou mesmo nos
emergentes, em menor proporção.
Rufini, (2017), expõe de forma esclarecedora a diferença entre ciência, como geradora
de conhecimento, e tecnologia que corresponde a aplicação dos resultados dos projetos científicos, o desenvolvimento da ciência e da tecnologia ocorre nas IES, enquanto a inovação
é aplicada nas empresas (Rufini, 2017).
Segundo Caldarelli, et. al, “...o propósito da universidade é combinar suas funções de
ensino e de pesquisa para o desenvolvimento,” (CALDARELLI, et. al., 2017, p. 21).Da
mesma forma os alunos que nela se formam levam consigo o conhecimento que lá adquiriram
se não atuarem na área não irá retornar à sociedade o investimento neles feito, na forma de
qualificação profissional. Esse investimento em conhecimento, retido pelos acadêmicos é
chamado de capital humano, pois é muito semelhante a qualquer outro investimento, onde se
aplica um montante do qual se espera um retorno positivo, porém tem-se a noção de que pode
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ser que não retorne da forma esperada, ou mesmo que não retorne. (CALDARELLI, et. al., 2017, p. 21).
Segundo Rolim e Kureski, 2007, o impacto econômico causado por uma IES, em curto
prazo, é estudado da mesma forma que os impactos causados pela presença de uma atividade
econômica. São considerados, em custo prazo, os gastos com bens de consumo corrente e de
investimento realizados pela instituição; os gastos em consumo dos seus membros
(professores e funcionários); os gastos em consumo dos alunos oriundos de fora da região; e
os gastos dos visitantes residentes fora da região. (Rolim e Kureski, 2007)
Figura 1: mapa das universidades tecnológicas federais e estaduais do Paraná.
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Figura 2: total de bolsas concedidas às universidades estaduais do Paraná no período considerado.
Figura 3: total de bolsas concedidas ás universidades tecnológicas federais no período de 2012, 2013,2014 e
2016.
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Conclusão
As universidades são tão capazes de influenciar na economia regional, tanto quanto um
empreendimento que gera lucro e circulação de dinheiro onde se encontra. Porém é melhor
que isso, pois além da influência em curto prazo onde pode ser comparada a um
empreendimento, influencia a médio e em longo prazo, através do capital, que é utilizado e
aplicado pelos alunos para a vida toda. Diante das alterações na universidade é possível
perceber que quanto mais uma universidade gera pesquisas mais ela recebe investimento, e
assim consegue progredir cada vez mais e oferecer mais qualidade de ensino.
Referências:
CALDARELLI, C. E. et. al. Análise de indicadores de produção científica e geração de
conhecimento nas universidades estaduais paranaenses. In. RAIHER, A.P. As universidades
estaduais e o desenvolvimento regional do Paraná. Ponta Grossa: editora uepg, 2017. Pág. 21-47.
RUFINI, S. E. Caracterização do sistema de ciência e tecnologia do estado do Paraná. In.
RAIHER, A.P. As universidades estaduais e o desenvolvimento regional do Paraná. Ponta
Grossa: editora uepg, 2017. Pág. 13-20.
ROLIM, C.; M. SERRA. Instituições de Ensino Superior e Desenvolvimento Regional: O
Caso da Região Norte do Paraná. Revista de Economia, v. 35, n. 3 (ano 33), p. 87-102,
set./dez. 2009. Editora UFPR.
ROLIM, C.; KURESKI, R. Impacto econômico de curto prazo das universidades estaduais paranaenses – 2004. Revista paranaense de desenvolvimento, Curitiba, n. 112 p. 111-130, jan/jun. 2007.
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INFLUÊNCIA E COMPORTAMENTO DAS LITO-
ESTRUTURAS GEOLÓGICAS NA CONSTITUIÇÃO DOS
CANYONS DOS RIOS DOS PATOS E SÃO JOÃO, ALTO
CURSO DO RIO IVAÍ Carlos Alexandre Rogoski;
Jocemar Smaha;
Maria Ligia Cassol Pinto;
Saulo Vaz Rocco de Lima
Introdução
O presente trabalho foi realizado com objetivo de contribuir com os estudos nos rios
formadores de uma das mais importantes bacias hidrográficas do Paraná, a Bacia Hidrográfica
do Rio Ivaí. O estudo, que trata da influência tecto-litoestrutural nos vales fluviais do Rio dos
Patos e Rio São João possui grande importância no campo da geomorfologia.
Os estudos de geomorfologia são importantes, pois apresentam as bases para o
entendimento de estruturas espaciais, bem como dos processos responsáveis pela esculturação
do relevo. A aplicação dos conhecimentos geomorfológicos é de grande relevância em
qualquer tempo, pois se insere no diagnóstico das condições ambientais contribuindo para
orientar a alocação e o assentamento das atividades humanas (CHRISTOFOLETTI, 2007).
A área de estudo, encontra-se na Mesorregião Sudeste Paranaense, sob condições de
clima temperado sempre úmido, Cfb (MAACK, 1969), onde se desenvolve uma cobertura
florestal constituída de Floresta Ombrófila Mista e manchas de gramíneas dos Campos Gerais,
comuns no Segundo Planalto Paranaense. Sua geomorfologia reflete o fato de estar no reverso
da Escarpa “devoniana” e junto ao front da Escarpa da Boa Esperança, esculpida sobre as
litologias do Grupo Passa Dois, principalmente da Formação Teresina.
Entre as principais geoformas ali encontradas, destacam-se os relevos residuais -
morros testemunhas e os vales fluviais em V -, encaixados entre vertentes declivosas (> 30°),
com feições ruiniformes, atestando a intensa ação do intemperismo químico-biológico. Os
canais fluviais apresentam leitos pedregosos, fluxos turbulentos e, diversas cachoeiras.
Este trabalho apresenta resultados de uma pesquisa de Rogoski e Smaha (2017) para
um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). A pesquisa foi realizada a partir de levantamento
bibliográfico pertinente ao tema, trabalhos de campo, destinados ao reconhecimento da
paisagem e, trabalhos em gabinete. Em campo realizou-se registros fotográficos e coletas de
dados GPS. Em gabinete foram realizados realces de Azimute a partir de imagens
TOPODATA, e SRTM (Shuttle Radar Topography Mission), para identificar lineamentos de
relevo e interpretar eventos tectônicos na área.
Como resultados principais, apontam-se a identificação de feições e formas que criam
uma paisagem singular, com um relevo bastante movimentado, apresentando, na escarpa,
declividades que chegam a 63° com rupturas com desníveis de até 100 metros. Os principais
lineamentos apresentam frequência absoluta com direção N30W e, sucessivamente N50W e
N40W. O comprimento absoluto mostra que os lineamentos mais longos são aqueles de
direção NW entre os azimutes 30 e 50.
Objetivos
Discutir a influência e comportamento das lito-estruturas geológicas na constituição
dos canyons dos Rios dos Patos e São João, alto curso do Rio Ivaí.
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Metodologia
Como pesquisa, intercala metodologias quali-quantitativas, num estudo de caso, sobre
evento regional, cuja análise se deu com um enfoque sistêmico.
O procedimento metodológico foi realizado, inicialmente, a partir de um levantamento
bibliográfico, que permitiu estabelecer o Estado da Arte sobre: o tema em questão; os
aspectos naturais da região; o comportamento das estruturas geológicas na constituição de
relevos; uma melhor compreensão sobre o sistema de lineamentos estruturais, e como pode
nos levar a interpretar eventos tectônicos antigos assim como recentes. Em um segundo
momento realizou-se um levantamento cartográfico e de dados em formato digital.
Para o auxílio da interpretação tectônica da área, buscou-se identificar feições lineares,
principalmente nos canyons. Sendo assim, foram destacados apenas os principais lineamentos
de interesse para a pesquisa e ligados a formação dos mesmos. Por meio do trabalho com
realce de Azimute, no Software ArcGIS 10.4, foi possível identificar algumas feições
retilíneas ou levemente encurvadas, interpretadas visualmente. A análise foi realizada
utilizando-se de imagens TOPODATA, de relevo sombreado, com resolução 30 metros e
Imagens SRTM (Shuttle Radar Topography Mission).
Foi realizado ainda, trabalhos em campo, dedicados à observação e reconhecimento da
paisagem, onde, utilizou-se registros fotográficos e coletas de dados GPS, para posteriormente
processar esses dados e utiliza-los em Sistemas de Informações Geográficas (SIG) e, dessa
forma, ajudar na interpretação tectônica da área.
Resultados e Discussões
A paisagem formada no alto curso do Rio Ivaí apresenta dois canyons, de grande beleza
cênica e história evolutiva praticamente não estudada. O canyon do Rio dos Patos possui uma
extensão de aproximadamente 15 km, da base do Salto Barão do Rio Branco até a sua junção com
o rio São João. Esse, por sua vez, apresenta um canyon de, aproximadamente 6 km. Apresentam,
em alguns pontos rupturas com desníveis de até 100 metros e, as altitudes mais baixas estão
próximo da confluência dos dois rios principais, onde atingem cerca de 500 metros, as mais altas
atingem, aproximadamente 980 metros (Figura1) (ROGOSKI, SMAHA, 2017).
Figura 1 - Hipsometria da área de estudo
Fonte: ROGOSKI, SMAHA, 2017
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Ao longo da escarpa é possível observar diversos morros testemunhos que, conforme
Ab’Sáber (1977) é sempre “um retalho de uma estrutura sedimentar que, anteriormente,
possuía maior extensão no território considerado. Tais restos da extensão antiga de uma
camada, ou de um conjunto de camadas, são acidentes entalhados e destacados da frente de
escarpas estruturais ou de bordas de chapadas sedimentares”.
Esses morros testemunhos, mantidos por uma camada resistente representam um
testemunho da antiga posição da cuestra antes do recuo do relevo. Existem, no topo de alguns
morros, feições ruiniformes, formas de relevos que ocorrem em consequência da erosão,
elaborando esculturas naturais na paisagem, em consequência da ação da água das chuvas, do
sol e de atividade biológica. Este tipo de relevo aparece principalmente em morros
testemunhos ou em áreas escarpadas, onde os processos erosivos são mais efetivos
(MENEGUZZO E MELO 2017).
A área estudada apresenta formas e feições de relevo resultantes da ação conjunta de
fatores exógenos e endógenos, influenciando passiva e ativamente a morfologia da paisagem.
Tem como característica um relevo bastante movimentado, apresentando, na escarpa,
declividades que chegam a 63°. As áreas planas (0 – 4,7°), correspondem a partes do vale
fluvial onde aparecem inúmeros canais sinuosos, com meandros isolados, com curvas
acentuadas, anômalas ao padrão de drenagem (Figura 2) (ROGOSKI, SMAHA, 2017).
Figura 2 - Declividade da área de estudo
Fonte: ROGOSKI, SMAHA, 2017
Os lineamentos de relevo, dizem respeito a feições retilíneas de drenagem e cristas
lineares de relevo (figura 3).
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Figura 3 - Lineamentos do relevo na área de estudo
Fonte: ROGOSKI, SMAHA, 2017
Pode-se observar, no diagrama de roseta (Figura 4), que a frequência absoluta
expressa lineamentos com direção N30W e, sucessivamente N50W e N40W. A rosácea de
comprimento absoluto mostra que os lineamentos mais longos são aqueles de direção NW
entre os azimutes 30 e 50.
Figura 10 - Diagramas de roseta referentes à frequência absoluta e comprimento absoluto dos
lineamentos do relevo da área de estudo
Fonte: ROGOSKI, SMAHA, 2017
A presença marcante de lineamento, na área deste estudo, deve-se à influência da ação
tectônica mesozoica que reativou a placa americana, expressa no basculamento em forma de arco,
conhecido como Arco de Ponta Grossa. Os lineamentos secundários, perpendiculares à orientação
SE/NW, influenciaram no comportamento da rede de drenagem que apresenta um padrão geral do
tipo dendrítico, e em detalhe padrão angular (ROGOSKI, SMAHA, 2017).
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Considerações Finais
A partir dos estudos bibliográficos, trabalhos e analises em campo, e interpretação tectônica
por meio dos lineamentos da paisagem, é possível concluir que, a presença marcante de
lineamentos na área deste estudo, deve-se a influência da ação tectônica mesozoica que
reativou a placa americana, expressa no basculamento em forma de arco, conhecido como
Arco de Ponta Grossa. Os lineamentos secundários, perpendiculares à orientação SE/NW,
influenciaram no comportamento da rede de drenagem que apresenta um padrão geral do tipo
dendrítico, e em detalhe padrão angular.
Nesse sentido, entende-se que a atual morfologia dos canyons está ligada tanto pelo
controle geológico, exercido pelos sistemas de falha e litologias, quanto pela atuação de
processos de erosão fluvial esculpidos lentamente através do tempo (ROGOSKI, SMAHA,
2017).
Referências Bibliográficas
AB’SÁBER, Aziz Nacib. Topografias ruineformes no Brasil. Geomorfologia, Instituto de Geografia, Universidade de São Paulo, Boletim, v. 50, p. 14, 1977.
CHRISTOFOLETTI, A. Aplicabilidade do conhecimento geomorfológico nos projetos de
planejamento. In: GUERRA, A. J. T; CUNHA, S. B. Geomorfologia: uma atualização de
bases e conceitos. 7. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. p.415‐437.
MAACK, R. Geografia física do Estado do Paraná. 2° ed. Rio de Janeiro, 1981.
MENEGUZZO I. S; MELO, M. S. Dicionário Histórico e Geográfico dos Campos Gerais.
Disponível em: <http://www.uepg.br/dicion/verbetes/n-z/relevo.htm> acesso 13/08/2018.
ROGOSKI, C. A; SMAHA, J. CARACTERIZAÇÃO DA PAISAGEM NA
CONFLUÊNCIA DOS RIOS PATOS E SÃO JOÃO (PR), PELO SEU POTENCIAL
PARA O GEOTURISMO E A GEOCONSERVAÇÃO. Trabalho de Conclusão de Curso
(TCC). Universidade Estadual de Ponta Grossa, 2017.
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A PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES DA MARGEM DO
ARROIOPILÃO DE PEDRA
Leonardo de Andrade (uepg); Almir Nabozny (orientador);
Everton de Deus (co-orientador) .
Resumo
A presente pesquisa visou compreender a percepção ambiental dos moradores da margem do
arroio Pilão de Pedra no espaço urbano de Ponta Grossa-PR por meio da dimensão do Espaço
Vivido. De acordo com Lívia de Oliveira (1996) a percepção ambiental visa identificar a
interação entre ambiente e sujeito. Os procedimentos de pesquisas envolveram entrevistas
semiestruturadas, trabalhos de campo (com diário de campo e registros fotográficos), buscas
de imagens em arquivos historiográficos e análise bibliográfica. Como resultados destaca-se
que cada morador possui uma percepção única sobre o arroio, tal percepção é lastreada pelo
tempo de vivência nas margens do arroio, por episódios intensos e pelas possibilidades de
acesso a cidade.
Introdução
A cidade de Ponta Grossa se demonstra geograficamente em um importante eixo
rodoferroviário no Estado do Paraná. Historicamente os tropeiros atravessavam a região
transportando as mais diversas mercadorias entre Viamão (RS) – Sorocaba (SP). Através
desse caminho trilhado que se desenvolveram as atuais linhas férreas e estradas, pois durante
as viagens os tropeiros realizavam paradas na região, e essas paradas acarretaram no
desenvolvimento de pequenos comércios e que com o passar dos anos foi se consolidando
enquanto cidade, como é o caso de Ponta Grossa, Castro, entre outras cidades que se
formaram devido à influência do fluxo de passagem em sua região (SAHR, 2001). De acordo com Oliveira (1996) a percepção do ambiente pode se dar tanto no urbano
quanto no rural, assim como, no construído e no não construído, na Percepção Ambiental
envolvem-se vários estágios para sua apreensão. Começando a obter inicialmente a sensação,
a partir dos órgãos sensoriais em que as experiências produzidas pela audição, tato, paladar e
os demais sentidos configuram um primeiro estágio da percepção. Após as sensações, passa
se a atividade cognitiva em que o sujeito impõe seu interesse na “percepção”, e a interpreta
sob os auspícios de suas experiências vividas.
O Arroio Pilão de Pedra nasce no centro da cidade, próximo a Praça Barão do Rio
Branco. Quase no exato local da nascente do arroio foi fundado em 1939 o Cine Império, o
qual durante uma inundação teve as suas estruturas danificadas e assim o edifício foi
interditado até sua demolição no ano de 2014. Durante o início do século XX, a atual praça
possuía uma função social diferente, ela não era constituída enquanto uma praça, mas sim um
Largo, isto é, uma área em que as pessoas deixavam seus cavalos no momento em que faziam
compras (entre outras atividades) no centro, ainda havia pouca urbanização na área
destacando-se os prédios do extinto Colégio São Luiz e o Colégio Estadual Regente Feijó.
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Em meados da década de 1920 o arroio Pilão de Pedra era uma fonte de água natural,
localizada na Rua Engenheiro Schamber próximo ao Ponto Azul, onde moradores de
qualquer cidade que por ali transitasse teriam acesso a fonte de água. Essa vertente ainda é a
mesma, porém não há mais a fonte e a sua utilização para o consumo hídrico. Com a
urbanização em seu leito e com o passar dos anos o seu fluxo foi canalizado à medida que a
malha urbana se estendia enquanto demanda de aumento de construções do centro da cidade
(SILVA, 2017).
Fotografia 01- Rua General Carneiro Fotografia 02-Rua General Carneiro
esquina com a Rua do Rosário
Fonte: Fotografia 01 extraída dos arquivos digitais da Casa da Memória (Ponta Grossa, acessado no ano de 2018). Fotografia 02 extraída do site Google Earthem 2018.
Conforme algumas percepções em campo destacam-se das fotografias 01, 02 a
construção social do espaço urbano, à medida que se desenvolve, transforma o ambiente de
acordo com interesses e, com a evolução das técnicas e equipamentos de construção se tornou
possível canalizar um arroio em parte significativa de sua extensão, permitindo com que se
construíssem ruas e edifícios sob o fluxo d'água canalizado. Atualmente o arroio é canalizado
até a Rua Catão Monclaro e segue seu fluxo entre as vilas Ana Rita, 31 de Março, possui uma
urbanização gradativa desde meados da década de 1920. A água atualmente não é potável, é
contaminado por diversas fontes de poluição. O arroio possui duas ruas que interligam as suas margens na Rua Prof. Bruning onde
possui um pequeno trecho de canalização subterrânea e na Rua Zacarias de Góes Vasconcelos
onde há uma ponte. Desde o início do fluxo do arroio em céu aberto não se é possível passar
sob o vale sem serem por essas duas ruas que se concretizam também como divisores
espaciais. Portanto, há uma profunda intervenção social no arroio, mas ao mesmo tempo
enquanto uma dimensão biofísica o arroio também existe sob as leis naturais, de tal modo que
gera uma interessante condição ambiental para aqueles que residem justamente nas margens
do arroio.
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Materiais e Métodos
Em termos de procedimentos operacionais e análise dos dados foram realizados
trabalhos de campo com a realização de entrevistas semiestruturadas (com assinatura de
termo de livre consentimento) por ser uma abordagem coerente para análise do discurso
posteriormente desenvolvida na perspectiva de Gill (2008). Nas entrevistas utilizou-se de um
minigravador para possibilitar a transcrição das entrevistas. Também se utilizou a leitura do
Plano Diretor Municipal (2010) em relação aos usos do espaço possíveis na área de estudo. A percepção ambiental é composta pelos estímulos que nossos órgãos sensoriais nos
proporcionam, e a partir dessas informações há uma interpretação de acordo com o interesse
do sujeito, e esse interesse carrega consigo aspectos individuais do sujeito, seu propósito, a
cultura em que é influenciado e também as experiências de vida.
Resultados e Discussão
As entrevistas se deram a partir que os moradores aceitaram serem entrevistados,
concordando com a gravação do áudio, muitos moradores se recusaram ou não estavam em
casa (e assinatura do termo de livre esclarecimento). Os moradores se demonstraram
familiarizados com pesquisas já realizadas anteriormente, na maioria das vezes realizadas por
agentes da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa (PMPG). Os moradores entrevistados possuem as mais diversas características socioeconômicas
que também compõem suas percepções do ambiente. Observou-se que um fator que
influencia bastante na percepção do arroio é o tempo de moradia, quanto mais tempo se
convive com arroio, em específico, reflete em extensão espaço temporal de experiências
vivenciadas, porém não podemos afirmar o mesmo sobre a intensidade, pois um sujeito pode
vivenciar uma situação mais intensa, na composição da percepção ambiental, passando
somente uma vez em um lugar e vivenciando uma experiência marcante. Em resumo
quantidade de experiência não significa qualidade de percepção. Os moradores que vivenciam
por mais tempo o espaço pode notar melhor sua transformação. O espaço urbano se
concretiza na cidade, que utiliza o meio natural para sua reprodução social, exigindo sempre a
expansão do perímetro urbano. As pessoas que vivenciam essa transformação vêm o natural
se tornar construídas até certo ponto que o natural chega a ser o atrativo. Os relatos revelam que a expansão da cidade e por consequência a poluição do arroio
mudou a visão e a percepção sobre arroio que observamos hoje. O arroio é visto como esgoto
para a maioria dos moradores, mas somente para aqueles que vivenciaram as diferentes
transformações desse curso d'água há muitos anos é que consegue ter a percepção que
anteriormente o fluxo d'água era limpo.
Conclusões
O espaço é experienciado diferencialmente por cada um, existindo diversas percepções sobre um mesmo lugar, tornando impossível obter uma única percepção verdadeira, mas observar e estudar várias percepções e compreender como o arroio é percebido pelos moradores de sua margem.
A expansão urbana juntamente a canalização do arroio é um grande influenciador para
sua poluição, alterando sua composição química e física do fluxo d'água. Os moradores de
sua proximidade vivenciam o arroio diariamente e possuem um acúmulo de experiências
positivas e negativas que com sua relação com espaço pode criar uma percepção topofílica,
pertencimento e identificação, como também produzir topofobias, tais como, medos inerentes
a experiências vividas. A percepção do arroio carrega consigo aspectos vividos pelo sujeito
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direta ou indiretamente, compondo a relação do sujeito com o ambiente forjando a percepção ao
percebê-lo.
Agradecimentos
Quero agradecer a Universidade Estadual de Ponta Grossa por manter ativo um Programa
anual de Iniciação Científica em que podem desenvolver pesquisas tanto alunos bolsistas como
voluntários, como foi o meu caso. Agradeço também a meu orientador Almir Nabozny e ao co-
orientador Everton de Deus que ajudaram na composição dessa pesquisa científica.
Referências
GILL, Rosalind. Análise de discurso. In: BAUER, Martin W; GASKELL, George (orgs.). Pesquisa Qualitativa Com Texto, Imagem e Som: um manual prático. 7 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. p.244-270.
OLIVEIRA, Lívia de. Percepção e Representação do Espaço Geográfico. In: DEL RIO, Vicente; OLIVEIRA, Lívia de (orgs.). Percepção ambiental: a experiência brasileira. São Paulo: Studio Nobel, 1996. p.187-212.
Plano Diretor da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa e Geoprocessamento. Disponível em . Acesso em 22 de junho de 2018.
SAHR, Cicilian Luiza Löwen. Estrutura interna e dinâmica social na cidade de Ponta Grossa. In: DITZEL, Carmencita de Holleben Mello; SAHR, Cicilian Luiza Löwen (orgs.). Espaço e Cultura: Ponta Grossa e os Campos Gerais. Ponta Grossa: UEPG, 2001. p.13-36. SILVA, Thiago Luiz Bohatch da. Os arroios no processo de urbanização de Ponta Grossa–PR(1900-1950).2017, 118 f. Dissertação (Mestrado em História). Programa de Pós Graduação em História, Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa 2017.
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TENDÊNCIAS DE PESQUISA EM ARBORIZAÇÃO DE VIAS PÚBLICAS
COM O USO DE GEOTECNOLOGIAS
Miguel Paes Crispim;
Everton de Oliveira Palhano;
Silvia Méri Carvalho
INTRODUÇÃO
Não é difícil perceber como a arborização urbana se faz importante em uma cidade/sociedade,
seja pelas sensações de felicidade ao perceber que determinado parque tem muitas árvores e que
delas emanam boas energias, seja pelas sensações proporcionadas por uma rua bem arborizada.
Para que isso efetivamente ocorra é necessário que os órgãos públicos, assim como a sociedade
civil, preocupem-se em ter uma cidade com índices de arborização adequados.
A arborização urbana proporciona e influencia importantes e inúmeros fatores tais
como: o bem estar psíquico das pessoas, no realce paisagístico dado pelas diferentes espécies,
no ciclo hidrológico dentro de uma cidade, entre outros. Shuch (2006, p.1) reforça que a
arborização traz “...benefícios tais como: conforto térmico, sombra, redução da poluição e de
ruídos. Esses benefícios contribuem para o equilíbrio físico-ambiental das cidades”.
Segundo Biondi (2008).
A arborização urbana tem como conceito toda vegetação, independente de porte
(plantas lenhosas e herbáceas), que compõe o cenário ou a paisagem urbana. A
arborização urbana é um dos componentes bióticos mais importantes da cidade
porque está diretamente relacionado com o conforto ambiental. (BIONDI, 2008,
p.33).
A arborização de vias públicas é composta pelas árvores plantadas linearmente nas
calçadas ao longo de ruas, avenidas e canteiros centrais constituindo um patrimônio público, o
qual deve ser planejado e mantido exclusivamente pelas prefeituras (BIONDI, 2008).
O emprego de geotecnologias juntamente com técnicas associadas ao uso de imagens
de satélites e fotos aéreas propicia o mapeamento da vegetação urbana, auxiliando nas
pesquisas a respeito desse assunto (VANI, 2011).
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Para a compreensão do cenário sobre os estudos relacionados a arborização urbana
diversas são as fontes de busca no Brasil, um exemplo é a Revista da Sociedade Brasileira de
Arborização Urbana (REVSBAU), fonte específica para esse tem (MUNIZ et al (2017), além
do Google Acadêmico, sistema que oferece ferramenta de busca relacionada a literatura
acadêmica online. Nesse sistema é possível ter acesso a trabalhos já revisados, como teses,
livros, resumos e artigos de editoras acadêmicas, organizações profissionais, universidades e
outras entidades acadêmicas. De acordo com Ceregnato (2011, p. 76) “o Google Acadêmico
coleta dados a partir de um software que rastreia a web e reconhece automaticamente os
campos que compõem os documentos científicos e suas referências”. Tendo em vista essas
possibilidades, o Google Acadêmico foi a base para o desenvolvimento desta pesquisa sobre
as publicações referentes a arborização urbana com o uso de geotecnologias.
OBJETIVOS
O presente trabalho tem por objetivo inventariar a produção de artigos de cunho
científico publicados no Google Acadêmico, relacionados à arborização urbana com o uso de
geotecnologias e com isso organizar um panorama sobre como este tema tem sido tratado.
METODOLOGIA
A metodologia utilizada para esta pesquisa baseou-se primariamente em um
levantamento da base de dados do Google Acadêmico, nos últimos dez anos, sobre
arborização urbana, a partir das palavras-chave: arborização urbana; arborização de vias
públicas, arborização e uso de geotecnologias. Foi organizada uma tabela de atributos
relacionados aos artigos encontrados, onde cada um recebeu um número de identificação
próprio (ID), e foram coletadas as seguintes informações: ano de publicação, autores, área de
formação dos autores, título, recorte espacial, metodologia, tipos de dados coletados, o tipo de
censo e foram analisados os pontos onde os trabalhos encontram convergências e
congruências.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir dos artigos do Google Acadêmico foi possível obter um panorama sobre a
temática arborização de vias públicas com uso de geotecnologias. Foram listados inicialmente
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323 resultados divididos em 32 (trinta e duas) páginas. Após uma primeira análise o número
de artigos ligados ao tema foi reduzido para 19, tendo em vista que os demais artigos
encontrados pelo Google Acadêmico não satisfaziam a temática dá pesquisa, ou seja,
abordavam temas que não eram estritamente ligados a arborização de vias públicas e
geotecnologias.
Os anos de 2013, 2014 e 2016 apresentaram a maior concentração de publicações
(15,8%), seguidos de 2011, 2012 e 2015 com 10,52% e 2008, 2009, 2010 e 2017 com 5,26%
cada um.
Dos 41 autores predominaram aqueles da Engenharia Florestal, tendo em vista que
esses profissionais foram responsáveis por 52,63% da autoria das publicações. Autores
ligados à Geografia representaram 15,78% e da Agronomia 10,52%. As demais áreas do
conhecimento, como Matemática, Engenharia Sanitária, Estatística, Engenharia Computação,
Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Ciências Biológicas, Engenharia Cartográfica,
Engenharia Geodésica e Tecnologia em Geoprocessamento, juntas somaram 15,26%.
Quanto ao recorte espacial, os trabalhos que apresentam maior volume (52,63%), são
aqueles que utilizam a cidade como um todo para o levantamento arbóreo. Este recorte
espacial foi muito utilizado por profissionais que buscavam mapear e analisar a arborização
urbana, ou seja, buscavam saber como se dava a distribuição espacial das árvores existentes
nas vias públicas, a partir de uma visada nadir (vertical) ou por meio de indicadores de
densidade.
Os trabalhos que utilizam bairros como unidade amostral, seja um ou mais, somaram
21%. Os demais recortes espaciais que incluem a utilização de diversas vias ou uma única
avenida, juntos totalizaram 15,80%.
O censo arbóreo mais utilizado nas pesquisas foi o qualiquantitativo apresentando
63%, em detrimento do censo qualitativo com 27% e do quantitativo com 10%. Este resultado
demonstra que não há preocupação apenas com informações numéricas, mas também com os
aspectos que atribuem alguma qualidade a informação relacionada aquela vegetação, desta
forma sendo mais adequada aos estudos de arborização de vias públicas.
As metodologias utilizadas apresentaram diversificação e uso simultâneo de mais de
uma metodologia. Predominam os inventários de campo associados ou não ao
geoprocessamento para o levantamento arbóreo (63,18%), seguido do emprego da
classificação supervisionada (10,52%), índice Kappa (5,26%), Classificação Arbórea e NDVI
-Índice de Vegetação da Diferença Normalizada (5,26%), amostragem do número de árvores
por metro linear de rua (5,26%), estimativa de densidade de Kernel (5,26) e levantamento
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arbóreo a partir do Google Street View (5,26). A busca pelos dados de localização dos
indivíduos arbóreos com o uso do GPS (Sistema de Posicionamento Global) aparece em
26,31% dos trabalhos.
No que concerne ao Geoprocessamento e uso de software a fim de atender as
demandas de cada pesquisa, o software ArcGis foi o mais empregado (47,36%) fazendo uso
das versões 8.3 até 10.2, seguido pelo software livre Quantum Gis (21,05%), espacial PostGis
(10,52%), SPRING (10,52%), MultiSpec (10,52), Global Mapper (5,26%), ENVI (5,26%),
GeoMedia (5,26%), gvSIG (5,26%), Kosmo (5,26%) e AutoCAD Map 2013 (5,26%). Os
bancos de dados mais utilizados foram PostgreSQL (40%), Excel (40%) e Geokey (20%).
A utilização de imagens de satélite ou fotos aéreas de alta resolução é imprescindível
para o mapeamento da arborização de vias públicas. O satélite mais utilizado foi o GeoEye
com resolução espacial de 40 cm (33,33%), seguindo do satélite Quickbird que possui uma
resolução espacial de 60 cm (22,22%), ALOS com resolução espacial de 70 cm (11,11%),
RapidEye com resolução espacial de 6,5 m (11,11%) e fotos aéreas na escala de 1:1.000
juntamente com uma imagem não identificada somaram (22,22%).
Os dados analisados sobre a arborização de vias tratam principalmente da copa da
árvore (13,33%), uma vez que é a copa das árvores que possibilita a identificação da
existência do indivíduo arbóreo. Outros elementos considerados foram o nome científico
(5%), fiação elétrica (5%), espécie (5%) e classe vegetal (5%). Já com menos expressividade,
também aparecem poda, número de árvores, identificação do bairro, fitossanidade, altura da
primeira bifurcação, DAP, fuste, foto e classes de vegetação, que juntos somam 29,97%.
Ainda são citados o setor, quadra, situação da raiz, largura do passeio, afastamento predial,
circunferência do tronco, altura total, projeção da copa, MCAP e NDVI em 19,92% dos
trabalhos catalogados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de aparecerem muitos resultados com as palavras-chave usadas na busca, a
maioria dos artigos acabaram por ficar de fora por não apresentarem os dados de interesse da
pesquisa, são poucos ainda os trabalhos que realmente dizem respeito a arborização de vias
públicas. Fica visível também a pouca produção destas pesquisas por Geógrafos, sendo que os
profissionais que mais se encarregam desta área pertencem à Engenharia Florestal.
Com relação aos trabalhos a maioria dos profissionais preocupa-se em utilizar os
dados de forma quantitativa fazendo analise quali-quantitativa com o objetivo de identificar
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possíveis problemas decorrentes da inadequação arbórea e conflitos ambientais no espaço
da pesquisa. Com relação ao uso de geotecnologias para auxiliar no desenvolvimento da
pesquisa, todos de alguma forma utilizaram-se de algum tipo de ferramental e isso
demonstra a importância deste para a análise não somente da arborização, mas para
qualquer área que envolva a localização espacial. Deste modo, para os futuros
profissionais, como o Geógrafo, por exemplo, o domínio de tais técnicas/ferramentas se
faz necessário para que seus estudos tornem-se mais precisos, ágeis e confiáveis, assim
como o uso de plataformas de acesso, como o Google Acadêmico, tanto para consulta
como para disponibilização de suas pesquisas.
REFERÊNCIAS
BIONDI, D. Arborização Urbana: aplicação à educação ambiental nas escolas. Curitiba: O Autor, 2008.120p.
CEREGNATO, S.E. Google Acadêmico como ferramenta para os estudos de citações: Avaliação da Precisão das Buscas por Autor. Ponto de Acesso, Salvador, V.5, n.3 p. 72-86 dez 2011. Disponível em: < https://rigs.ufba.br/index.php/revistaici/article/view/5682/4106>. Acesso em: 28/08/2018.
MUNIZ, M. R; CRISPIM, M. P; CARVALHO, S. M. Tendências da pesquisa em
arborização de vias públicas, a partir das produções publicadas na Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana. In: XXIV Semana de Geografia da UEPG, 2017, Ponta
Grossa. Anais. Ponta Grossa: 2017, p. 1-4.
SHUCH, M.I.S. Arborização urbana: Uma contribuição à qualidade de vida com uso de geotecnologias. 2006. Dissertação (Mestrado em Geomática) – Universidade federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul. Disponível em: <
https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/9600/Mara%20Ione.pdf>. Acesso
em: 24/08/2018.
VANI, B.C. Concepção e Implementação de um Sistema de Controle de Arborização Urbana através da Integração de Softwares Livres e de Código Aberto. Trabalho de
conclusão de curso (Graduação). 2011. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho". Presidente Prudente. Disponível em: <
https://repositorio.unesp.br/handle/11449/121666>. Acesso em: 24/08/2018.
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AS PRÁTICAS CULTURAIS TRADICIONAIS DOS KAINGANG DA
TERRA INDÍGENA FAXINAL NA ATUALIDADE
Juliano Strachulski
Introdução
A cultura Kaingang desenvolveu-se na floresta com Araucárias, em especial nos
territórios do sul do Brasil. Ao longo do tempo perdeu a maior parte de seus territórios
ancestrais e com isso muitos elementos de sua cultura. Contudo, apesar das perdas territoriais, em várias aldeias se mantém muitas práticas tradicionais.
Assim, o presente texto busca apresentar e interpretar as práticas culturais tradicionais que estão presentes na vida dos Kaingang da Terra Indígena Faxinal (T.I.F), localizada no município de Cândido de Abreu, Estado do Paraná (Figura 1).
Apesar das perdas territoriais também sofridas pela T.I.F – já teve 20.000 ha e hoje possui 2.000 ha –, muitas práticas persistem entre os Kaingang, destacando-se aquelas de subsistência, medicinais, religiosas/crenças, dentre outras.
Figura 1 - Localização da área de estudo
Objetivos
Trata-se de apresentar e interpretar as práticas culturais tradicionais atuais dos
Kaingang da Terra Indígena Faxinal, localizada no município de Cândido de Abreu, Estado do Paraná.
Metodologia
A metodologia consistiu em convivência diária com os moradores locais por 45
dias, entre os meses de abril e junho do ano de 2015. Primeiramente, procedeu-se a
técnica de observação simples, buscando uma visão externa e geral ao povo e à situação
estudada. Posteriormente, buscou-se uma aproximação com os moradores, fazendo-se
uso da observação participante, que permite uma percepção ativa da realidade com
interação nos momentos do cotidiana local. Concomitantemente a ultima técnica, fez-se
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uso de entrevistas não-estruturadas ou informais, sendo utilizadas em estudos exploratórios, oferecendo uma visão aproximativa do problema estudado (GIL, 2008).
Resultados e Discussões
Práticas de subsistência
Apesar dos avanços da modernização da agricultura já terem invadido o meio rural do município de Cândido de Abreu, e inclusive se fazerem presentes na T.I.F, ainda persiste uma prática agrícola denominada de coivara ou roça no toco, praticada por indígenas mais velhos (com mais de 50 anos).
Essa forma de agricultura é baseada na roçada e queimada da vegetação arbórea,
normalmente uma capoeira (formação florestal em sucessão ecológica secundária), com
sua posterior queimada (VALVERDE, 1968). Também há uma rotação de áreas e cultivos. Ao que tange aos cultivos, ainda são plantados aqueles considerados
tradicionais, como a mandioca, o feijão e o milho, havendo sementes crioulas. Além da agricultura, há outras práticas de subsistência desenvolvidas
localmente, como a caça e a pesca. A caça, comumente é realizada por aramas de fogo,
como espingardas. Por outro lado, há a elaboração de armadilhas, porém poucas são as
pessoas que as fazem. Deve-se destacar também que a caça não é muito praticada em
detrimento do reduzido tamanho da terra indígena e da baixa porcentagem de floresta
existente. Os animais mais caçados são: cateto (Tayassu tajacu), tatu (Dasypus spp),
paca (Cuniculus paca), quati (Nasua nasua) e cutia (Dasyprocta azarae). A prática da caça ainda pode ser regulada por crenças, como na existência de
deuses dos animais que puniriam aqueles que caçam em grande quantidade, tendo em vista que perturbariam o equilíbrio da natureza.
Outra atividade de subsistência é a pesca, que pode ser realizada com vara de taquara, mais comum, ou com a técnica do pari, pouco praticado. O pari é uma prática tradicional de pesca, que consiste em trançar taquara (Chusquea sp.). Faz-se uma esteira - coloca-se sobre uma armação feita de galhos de árvores que se eleva para cima do nível da água - introduzida dentro de um funil constituído de uma parede de pedras, na qual direciona-se a água e os peixes, sendo construída em uma corredeira.
Práticas medicinais
Os Kaingang mostraram possuir um saber medicinal prático e simbólico (crenças)
no que concerne ao tratamento da saúde. Porém, inicialmente percebeu-se mais um saber
prático, como exemplo, um remédio utilizado na cura da picada de cobra:
“Esses bicho que morde a gente, cobra né, daí tem remédio pra aquele
também. Se você pisa no osso da cobra ele fica preto assim o teu pé. Daí
ponha aquele remédio (...) esse remédio banana imbé como diz (...). Daí você
tira um pedaço assim com a faca e daí você passa no quarqué lata assim, daí
soca com um pau, socar bem socadinho, daí você punha alí e amarra com
um pano (...) ele puxa tudo veneno, volta de novo. Se morde você no mato,
daí você vem e logo você anda (quando coloca o remédio)” (informante B).
A referida espécie vegetal denominada de banana-imbé (Philodendron bipinnatifidum) pode ser encontrada na mata e ou capoeiras, localizadas na serra ao fundo da T.I.F.
Essa forma de conhecimento é considerado prático, mas também fruto de crenças e imaginação, lotado de cultura e repleto de significados, baseado em
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observações e replicação, sendo desenvolvido coletivamente, pelos vínculos entre os indivíduos, que a partir do contato diário com os seus possibilita a disseminação de saberes e crenças, transmitido oralmente entre as gerações (STRACHULSKI, 2014).
A observação da natureza é uma das formas de desenvolvimento dos conhecimentos tradicionais. Saber para que serve uma determinada espécie vegetal está atrelada a conservação da saúde das pessoas e mostra a capacidade sine qua non de interpretação dos significados da natureza pelos povos indígenas.
Seus saberes também são de base simbólica, fundados em crenças, pois “Para curar mordida de cobra, tem que cortar o rabo da cobra e colocar no lugar que foi picado, mas tem que fazer o benzimento, é a fé da pessoa que cura” (informante D).
Na vivência com os indígenas, buscou-se acompanhá-los em seus afazeres. Em
um certo dia percorremos um trajeto na floresta com um indígena, que foi apontando
algumas espécies, sem nomeá-las, destacando seus significados ou para que serviam.
Indicou uma planta que se fazer chá e a criança tomar, ajuda a subir melhor nas árvores.
Uma outra espécie relatou que ajudava a falar melhor o português. Em outra conversa,
disseram que há remédio para pegar tigre, que dá coragem para o sujeito. Já para o
„informante E‟ “... folha de guavirova é remédio para pegar peixe”. Em determinado momento indicaram um homem como conhecedor de práticas e
espécies medicinais tradicionais, mas quando iniciou-se a conversa, chegou uma visita, e ele disse que não poderia falar na frente de outras pessoas. Nota-se que há um grande
receio em transmitir seus saberes, em especial para aqueles de fora de sua cultura. Atualmente, enfrenta-se uma dificuldade na transmissão de conhecimentos mais
aprofundados como sobre plantas medicinais e ritualísticas, devido o transmissor, em sua concepção de mundo, não poder transmiti-lo para qualquer pessoa e em quaisquer
circunstâncias, além de, normalmente, já se encontrar em idade elevada, o que dificulta a transmissão do saber tradicional.
Uma prática que tem um grande potencial em oportunizar maior disseminação e transmissão de conhecimentos medicinais tradicionais é a realização de uma mostra cultural, em que se reserva um espaço somente para a exposição de espécies medicinais.
Práticas religiosas/crenças: a espiritualidade Kaingang
Em consonância ou não com a medicina tradicional e o uso de plantas, se apresenta uma espiritualidade assente na concepção do ser Kaingang no mundo, em especial a vida e a morte.
Em relação a vida, em específico aos bebês, a „informante F‟ relatava que os
Kaingang possuem dois e até três batismos, pois segundo ela, um é para chamar as
comadres (madrinhas) e dar o nome Kaingang, na casa, e o segundo é para dar o nome
em português, na igreja. Segundo ela, as benzedeiras dizem que é necessário fazer três
batismos, acreditando que as pessoas possuem três espíritos (um batismo para cada
espírito) e se faltar um batismo, o espírito que não o recebeu pode sair do corpo e a
criança adoecer. Para isso não ocorrer é necessário realizar dois batismos na casa e um
na igreja. No primeiro batismo na casa é que se atribui o nome Kaingang. Normalmente
quem dá o nome são as madrinhas ou as avós. Em conversa com um homem indígena, esse me reportava que deve-se realizar o
batismo das crianças na casa e que para isso dever-se-ia usar uma gamela com água
quente, passando uma pedra pelo corpo da criança, fazendo orações e benzimentos, para a criança viver bastante tempo e com saúde. Depois de batizar a criança, a pedra deveria
ser colocada no lugar de onde foi retirada, pisando-se em cima dela, firmando-a no chão, para que a criança também ficasse firme.
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No tocante a morte, segundo um dos professores não indígenas, quando morre
alguém: “parece que nem o galo canta, nem os cachorros latem”. Pouco tempo depois
pudemos constar o que o professor não indígena havia relatado. Ocorrera o falecimento
de uma criança de colo. Nesse dia, até o sol que se impunha de forma escaldante,
concomitantemente ao surgimento da notícia, se escondeu entre as nuvens e abriu
espaço para a chuva. Quando o corpo do falecido sai para o enterro, o sino da igreja católica anuncia,
batendo uma vez forte e outra vez fraco. E segundo professores e funcionários da escola o sino bate de forma diferenciada para a festa, para velórios e outras ocasiões.
No dia do enterro, havia um silêncio sepulcral, até a hora de enterrar o corpo. As crianças estavam quietas e os cães que ali estavam não latiam. Na hora de colocar o caixão na sepultura a mãe profere o que parecem ser palavras de lamento, como se estivesse querendo dizer ao bebê: “porque você me deixou, porque você se foi”.
Apesar de termos convivido pouco tempo com os Kaingang, e não termos percebido a presença de um kuiâ (xamã), ainda assim pudemos ter uma mínima
compreensão de qual seria o ritual para que uma pessoa pudesse se tornar um xamã:
“O meu vô conta que pra ser curandeiro tinha que pega e corta um pé de
palmito e colocar aquele coisa (cacho) em volta dele de pé. Só que tinha que
cortar do lado que ele nasce senão não dava certo. Daí dexava lá uns cinco
dia e voltava pra ver se a água tinha sido bebida. Só que não era pra beber a
água antes, senão a onça comia a gente, contava o meu vô. Então o que
sobrava da água podia passar no rosto, no pescoço, no cabelo, e tinha que
fazer isso cada cinco dia, daí vinha o espírito dizia meu vô” (informante C).
A fala acima comporta parte do ritual, não ele em sua plenitude, pois para se
tornar um kuiâ (homem ou mulher), o sujeito deve ser iniciado por outro, o qual lhe
indicará os remédios que deverá tomar e se banhar para que receba seu iangrẽ (espírito).
“Esse remédio deve ser usado durante nove dias. Cumprida essa prescrição, o iangrẽ
vem ao encontro da pessoa [...] A pessoa que tem um iangrẽ deve evitar matar animais
daquela espécie” (VEIGA, 2006, p. 172). Assim, na fala do indígena e na interpretação
da autora, evidencia-se a necessidade de se banhar durante determinado tempo e se o
ritual for cumprido corretamente o espírito vem ao encontro da pessoa, tornando-o kuiâ.
Outras práticas culturais
Atualmente há várias outras práticas culturais, além das já elencadas e interpretadas. Uma de grande importância é a confecção de artesanato, realizado tanto
por homens como por mulheres, em especial a cestaria, pois deslocam-se para as cidades vizinhas, como Reserva, Ipiranga, Ponta grossa e outras com vistas a manter
viva uma antiga prática de expansão de suas territorialidades, além da geração de renda. A confecção de artesanato congrega uma prática que também pode ser aplicada a
atividade agrícola, que é o puxirão ou puxirãozinho. Ela consiste em várias pessoas se
reunirem para ajudarem outra a confeccionar seu artesanato. As mulheres que possuem
crianças de colo podem ter maior dificuldade em realizar tal atividade. Contudo, podem
usar vẽjánh (alça), que ajuda a desenvolverem seus afazeres e ao mesmo tempo
cuidarem das crianças. Elas podem ir andando e trançando artesanato com a criança
fixada pela alça, que é presa a cabeça da mãe, segurando-a nas suas costas. Há rodas de conversa em volta do fogo ao fim de tarde, momentos em que
relembram do passado, contam histórias para os mais novos e transmitem seus saberes.
Também ocorre o casamento entre as metades Kamẽ – pintura facial com motivos
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compridos (râ téi) e Kanhru – com motivos redondos (râ rôr) (VEIGA, 2006). Acreditam que “Os redondo diz que são muito nervoso demais, os riscado diz que não.
Diz que é mais respeitado o riscado. Mas diz que a marca redondo casar com rapaz riscado, diz que se dá bem, diz que não se separa” (informante E).
Em conjunto tanto com a confecção de artesanato, como as rodas de conversas em volta do fogo, pode-se ingerir o chimarrão, bebida que também se torna uma forma de convidar o outro, lhe oferecer sua hospitalidade e aceitá-lo.
Outras práticas tradicionais atuais são banhar-se nos rios locais, como o Rio Faxinal que dá nome a terra indígena, situação em que crianças e adultos tem um momento de lazer e renovam suas energias físicas e espirituais.
Apesar de moraram em casas de alvenaria, aqueles que possuem áreas de lavoura
na serra, também fazem seus paióis de varas e cobertos com folhas de palmeiras e/ou capim sapé. Podem passar a semana neles, poucas pessoas fazem isso, cerca de duas ou
três, retornando ao final de semana para suas casas. Também falam em sua língua materna, sendo difícil encontrar uma pessoa que
não seja falante. As crianças nascem falando em Kaingang e aprendem o português na
escola. Fazem bolo azedo e pixé, em especial quando ocorre algum evento cultural. O
pixé consiste em colocar cinza e milho em grão em uma panela até torrá-lo. Depois penera-se para retira as cinzas, sendo socado no pilão, virando uma espécie de farinha.
Considerações Finais
O presente texto buscou apontar e interpretar as principais práticas culturais
tradicionais dos Kaingang da T.I.F, de modo a se poder compreender que apesar das perdas culturais decorrentes do contato e convívio com a sociedade não indígena, muitas
práticas tradicionais persistem, algumas mais e outras menos intensamente reproduzidas. As práticas de subsistência (agricultura, pesca e caça), as medicinais (saberes
práticos e simbólicos), a religiosidade e as crenças, além de falar a língua materna, fazer
artesanato, dentre outras, mostram que continuam vivas não só na memória, como no cotidiano local, configurando o modo de vida Kaingang ao longo do tempo no seu
território, regendo suas vidas e traçando seus caminhos.
Referências
GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2008.
STRACHULSKI, J. Os saberes ecológicos tradicionais de agricultores da
comunidade rural Linha Criciumal e sua relação com a paisagem rural - Cândido
de Abreu, PR. 2014. 176 f. Dissertação (Mestrado em Gestão do Território) -
Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2014.
VALVERDE, O. Sistema de roças: agricultura nômade ou itinerante. Revista
Portuguesa de Geografia, Lisboa, v. 3, n. 6, p. 225-239, 1968. Disponível em:
<http://www.ceg.ul.pt/finisterra/numeros/1968-06/06_07.pdf>. Acesso em: 25/10/2012.
VEIGA, J. Aspectos fundamentais da cultura Kaingang. Campinas: Curt
Nimuendajú, 2006.
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BIOGEOGRAFIA DOS CAMPOS DO PARANÁ: PASSADO, PRESENTE
E FUTURO
Weverton Carlos Ferreira Trindade;
Roberto Ferreira Artoni;
Mateus Henrique Santos.
Introdução A vegetação campestre constitui a vegetação mais antiga do Estado do Paraná, relictos de
climas semiáridos do Pleistoceno, preservada graças ao clima, solo e barreiras geomorfológicas.
Segundo Maack (2002), no Paraná já existiram 4 regiões distintas de campos (Figura 1): Campos
de Curitiba, Campos Gerais, Campos de Palmas e Campos de Guarapuava.
Figura 1. Campos naturais no Estado do Paraná segundo Maack (2002). Editado em QGIS 3.0.1.
Os Campos de Curitiba e de Guarapuava estão quase extintos, restritos a pequenos
fragmentos dentro de propriedades rurais. Por apresentarem condições edafoclimáticas favoráveis, os remanescentes restantes correm grande risco de também serem transformados
em lavouras, pastagens cultivadas e plantações de árvores. A fragmentação de habitats e as mudanças climáticas são as principais causas de
extinção e perda de biodiversidade (SELWOOD; MCGEOCH; MAC NALLY, 2015). Planos
de conservação para diminuir essa perda de ecossistemas requerem conhecimento sobre a
identidade e distribuição de espécies, mas este conhecimento costuma apresentar muitas
lacunas, com muitas espécies ainda não descritas ou catalogadas. Uma estratégia que pode
amenizar o efeito destas lacunas é estimar a distribuição geográfica real ou potencial de uma
espécie, caracterizando os ambientes com condições ambientais que são adequadas para a
espécie e identificando onde e como estes ambientes adequados estão distribuídos no espaço. Uma das ferramentas mais populares utilizadas para estimar a distribuição de espécies
- o programa MaxEnt, que associa pontos de ocorrência a variáveis ambientais, dados que
podem ser obtidos gratuitamente na Internet. Além de estimar a distribuição de espécies no presente, o MaxEnt é capaz de fazer projeções da distribuição no passado e no futuro
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(PHILLIPS; ANDERSON; SCHAPIRE, 2006), o que ajuda a entender o padrão de distribuição
atual de espécies e pressupor como as espécies irão responder às mudanças climáticas futuras.
Objetivos Considerando que o Paraná é uma das áreas mais ricas em matas e campos do Brasil e
que a preservação da biodiversidade encontrada nos Campos encontra-se em risco devido à
ações antrópicas ligadas ao desmatamento para uso de terra e mudanças climáticas, esta
pesquisa tem como objetivo estimar a distribuição da vegetação campestre no Estado,
analisando sua potencial distribuição no presente e no passado, além de estimar sua
distribuição no futuro frente às alterações climáticas intensificadas por ações antrópicas.
Metodologia Utilizando as informações disponíveis no site Flora do Brasil, foram identificadas 91
espécies de Campo com distribuição concentrada no Estado do Paraná. Pontos de ocorrência B destas espécies foram obtidos nos sites SpeciesLink e GBIF, sendo estes pontos conferidos e validados utilizando ferramentas do Excel e do Google Earth.
O download das variáveis bioclimáticas foi feito no site WorldClim, sendo utilizadas as
variáveis para o tempo presente, do passado (projeções para o Último Máximo Glacial, cerca de
21 mil anos atrás) e futuro (projeções para 2070). O conjunto de 19 variáveis bioclimáticas foi
reduzido para 6 variáveis que podem ter impacto na distribuição da vegetação do Estado: Bio07
(faixa anual de temperatura), Bio10 (média de temperatura do trimestre mais quente), Bio11
(média de temperatura do trimestre mais frio), Bio15 (sazonalidade de precipitação), Bio16
(precipitação do trimestre mais úmido) e Bio17 (Precipitação do trimestre mais seco). Baseado na premissa de que considerar os cenários mais otimistas e pessimistas podem ser
importantes em negociações políticas, foram escolhidos os modelos climáticos (GCM) que
projetam cenários mais extremos em relação a temperatura e precipitação. Para o Último Máximo
Glacial (LGM) foi utilizado a projeção de MPI-ESM-P. Para o futuro (2070), foram considerados
dois cenários: um otimista, com menores temperaturas, projetado pelo GCM MIROC5; e um
pessimista, com temperaturas mais altas, projetado pelo GCM GFDL-CM3. O pré-tratamento destes dados, que envolveu corte, conversão e padronização dos
mapas, foi realizado utilizando scripts da ferramenta GDAL no OSGeo4W Shell. Os pontos de ocorrências e as variáveis ambientais foram utilizados para construir os
modelos de distribuição no software MaxEnt (3.4.1). Os mapas de saída foram tratados no
software QGIS 3.0.1. Para validação do modelo, foram utilizados os valores de Area Under the Curve (AUC) calculados pelo próprio MaxEnt, além dos valores de True Skill Statistic
(TSS) e Boyce Index calculados no software R (3.5.1).
Resultados e Discussão As estatísticas de validação sugerem boa performance do modelo (AUC = 0.917, TSS
= 0.703 e Boyce Index = 0.959). O modelo de distribuição para o tempo presente (Figura 2)
mostra que as áreas com maior valor de adequabilidade se concentram em torno dos Campos
definidos por Maack (2002). As curvas de resposta geradas pelo Maxent mostram que as áreas
com alto valor de adequabilidade (>0.8) foram aquelas com baixas temperaturas (Bio10 ≈
17.2ºC e Bio11 ≈ 10.1ºC), grandes variações de temperatura durante o ano (Bio07 ≈ 20.8ºC) e
valores moderados de precipitação e variação de precipitação (Bio15 ≈ 30, Bio16 ≈ 684mm e
Bio17 ≈ 253mm).
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Figura 2. Modelo de Distribuição de Campos no Estado do Paraná para o tempo atual gerado pelo MaxEnt (Cloglog). Editado em QGIS 3.0.1.
No modelo de distribuição para o Último Máximo Glacial (Figura 3) pode-se ver uma
grande área do Paraná com alto valor de adequabilidade para os Campos, o que corrobora
outros trabalhos paleopalinológicos que mostram que no passado a vegetação campestre era dominante no Estado (BEHLING, 2002).
Figura 3. Modelo de Distribuição de Campos no Estado do Paraná para o passado (Último Máximo Glacial) gerado pelo Maxent (Cloglog). Editado em QGIS 3.0.1.
Considerando um cenário futuro otimista, com Representative Concentration Pathways
(RCP) de 2.6, objetivo do Acordo de Paris onde a temperatura global aumentaria em média 1ºC
até 2100, pode-se ver que a tendência é haver um recuo da vegetação campestre (Figura 4). A
partir deste modelo é possível identificar áreas mais estáveis frente a estas projeções climáticas,
com destaque para os Campos de Palmas, a borda da Escarpa Devoniana nos Campos Gerais,
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Serra da Esperança nos Campos de Guarapuava e as áreas de altas altitudes do primeiro planalto, como o Pico do Paraná.
Figura 4. Modelo de Distribuição de Campos no Estado do Paraná considerando um cenário futuro otimista (2070 – RCP 2.6) gerado pelo Maxent (Cloglog). Editado em QGIS 3.0.1.
Essas áreas que apresentaram maior estabilidade climática e alto valor de
adequabilidade no passado, presente e futuro estão associadas a refúgios vegetacionais e centros de endemismo (HARRISON; NOSS, 2017). Estas áreas merecem maior atenção, já
que funcionam como núcleos de re-expansão populacional e reservatório genético. Já o modelo construído considerando um cenário pessimista (Figura 5), com RCP 8.5,
onde a temperatura global aumentaria cerca de 3.7ºC até 2100, mostra que um aumento desenfreado de gás carbônico na atmosfera pode levar a extinção da vegetação campestre no
Estado, com baixo valor de adequabilidade mesmo em refúgios vegetacionais estimados pelo cenário otimista.
Figura 5. Modelo de Distribuição de Campos no Estado do Paraná considerando um cenário futuro pessimista (2070 – RCP 8.5) gerado pelo Maxent (Cloglog). Editado em QGIS 3.0.1.
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Considerações finais
A distribuição dos Campos Naturais paranaenses estimada pelo Maxent foi semelhante
a distribuição estabelecida por Maack, estando este tipo de vegetação associado a regiões de
menores temperaturas e precipitação moderada. A projeção para o Último Máximo Glacial
está de acordo com outros trabalhos paleopalinológicos que indicam que no passado os
campos dominavam a vegetação paranaense, sendo atualmente relictos de climas semiáridos
do pleistoceno. As projeções para o futuro permitiram identificar previamente áreas climaticamente
estáveis em um cenário otimista, que estão associadas a refúgios vegetacionais e centros de
endemismo, que podem auxiliar na elaboração de políticas de conservação. Porém, a projeção
considerando um cenário pessimista evidencia a importância de políticas globais de redução
de emissão de gases que contribuem para as mudanças climáticas, que pode levar a extinção
não só de espécies, mas de todo um Domínio Fitogeográfico que caracteriza uma paisagem.
Referências BEHLING, H. South and southeast Brazilian grasslands during Late Quaternary times: a synthesis. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, v. 177, n. 1–2, p. 19–27, 2002.
HARRISON, S.; NOSS, R. Endemism hotspots are linked to stable climatic refugia. Annals
of Botany, v. 119, n. 2, p. 207–214, 2017.
MAACK, R. Geografia Física do Estado do Paraná. 3. ed. Curitiba: Imprensa Oficial, 2002.
PHILLIPS, S. J.; ANDERSON, R. P.; SCHAPIRE, R. E. Maximum entropy modeling of species geographic distributions. Ecological Modelling, v. 190, n. 3, p. 231–259, 2006.
SELWOOD, K. E.; MCGEOCH, M. A.; MAC NALLY, R. The effects of climate change and
land-use change on demographic rates and population viability. Biological Reviews, v. 90, n. 3, p. 837–853, 2015.
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DINÂMICA DO USO E OCUPAÇÃO DA TERRA NA BACIA
HIDROGRÁFICA DO ARROIO DA RONDA NO MUNICÍPIO DE
PONTA GROSSA (PR) ENTRE OS ANOS DE 1980 E 2014
Ariadne Patrícia Alves1;
Janaina Santana dos Santos2;
Silvia Méri Carvalho3.
Resumo
O presente trabalho tem por objetivo analisar a dinâmica do uso e ocupação da terra da bacia
hidrográfica do Arroio da Ronda no município de Ponta Grossa (PR) entre os anos de 1980 e
2014. Para a elaboração dos mapas temáticos foi utilizado a técnica de fotointerpretação das
imagens, tanto para as fotografias aéreas de 1980, quanto para a imagem de satélite RapidEye
de 2014. O manual técnico de uso da terra do IBGE foi essencial para estabelecer as classes
de uso da terra da área de estudo, seguindo uma padronização de informações. Pode-se
observar que houve o aumento da área urbana no mapeamento para o ano de 2014, assim
como, houve o aumento da vegetação nativa nas porções próximas do médio curso do Arroio
da Ronda. Houve também a partir do ano de 1992 a criação de 7 parques municipais no
município de Ponta Grossa, dos quais, dois se localizam na área de estudo, nas nascentes do
Arroio da Ronda. O cultivo temporário diversificado também foi uma classe que obteve
destaque, pois este avançou em todo médio curso do arroio, cuja maior porção se situa na área
rural do município de Ponta Grossa.
Palavras-chaves: Expansão urbana; Cobertura da terra; Vegetação nativa.
Introdução
A bacia hidrográfica do Arroio da Ronda está localizada no município de Ponta
Grossa e possui uma área total de 35,76 km2, sendo que 24,03 km
2 estão situados no
perímetro urbano e 11,73 km2 na área rural (MENEGUZZO, 2009). As nascentes do Arroio
da Ronda se localizam na porção central da cidade e a sua foz no rio Tibagi. Por ser uma bacia hidrográfica que possui terras na área urbana e na área rural, os usos e ocupações da terra são consequentemente diversificados e fornecem características distintas a área de estudo. O recorte temporal deste trabalho refere-se à análise das dinâmicas naturais, de uso e ocupação da terra da bacia hidrográfica do ano de 1980 e 2014.
As bacias hidrográficas são unidades básicas de planejamento e gestão, permitindo que
se realizem análises integradas dos seus diferentes elementos (físicos e socioeconômicos).
Estudos utilizando a bacia hidrográfica como unidade de análise permitem colocar em
evidência os conflitos de ordem ambiental provocados principalmente pelas ações antrópicas.
Desta forma, estes estudos podem potencializar ações sustentáveis para a correção ou
minimização dos problemas ambientais ocasionados pelas atividades humanas (LIMA e
FONTES, 2009). Portanto, “o conhecimento da distribuição espacial dos tipos de uso e da
cobertura da terra é fundamental para orientar a utilização racional do espaço” (IBGE, 2013,
p. 38). - Graduanda do curso de Bacharelado em Geografia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), estagiária do Laboratório de Estudos Socioambientais (LAESA).
- Licenciada em Geografia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, Mestranda em Gestão do Território pela UEPG.
- Professora Doutora do Departamento de Geociências, do Programa de Pós-Graduação em Geografia, Coordenadora do Curso de Bacharelado em Geografia e do Laboratório de Estudos Socioambientais (LAESA).
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Objetivos
Objetivo Geral
Analisar a dinâmica do uso e ocupação da terra na bacia hidrográfica do Arroio da Ronda no período de 1980 e 2014.
Objetivos Específicos
Demonstrar a partir do mapeamento as transformações do uso da terra na área de estudo;
Identificar as alterações ocorridas na vegetação nativa da área de estudo;
Verificar as condições da expansão urbana na área de estudo.
Metodologia
Primeiramente, foi realizada uma busca de arquivos para elaboração da base
cartográfica em sites oficiais, órgãos públicos e bibliografias especializadas. Foram utilizadas
fotografias aéreas do município de Ponta Grossa do ano de 1980, em escala 1:25:000
fornecidas pelo Instituto de Terras e Cartografia e Geologia do Paraná (ITCG, 1980) e pelo
Laboratório de Cartografia do Departamento de Geociências da UEPG. Também foi utilizada
imagem de satélite RapidEye do município de Ponta Grossa do ano de 2014, com resolução
espacial de 5 metros, fornecida pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2014) e pelo
Laboratório de Geoprocessamento do DEGEO. Foi utilizada a carta topográfica de Ponta Grossa, escala 1:50.000 com equidistância
entre as curvas de níveis de 20 metros, fornecidas pelo ITCG (ITCG, 1996; FOLHA SG-22-
X-C-II-2/MI-2840-2), para determinação do limite da bacia hidrográfica do Arroio da Ronda.
Também para a delimitação da bacia hidrográfica foram utilizadas as curvas de níveis do
estado do Paraná fornecidas pelo Paranacidade e pelo Laboratório de Geoprocessamento do
DEGEO, para obter maior confiabilidade dos resultados. Além disso, foi realizado o
mapeamento da drenagem do Arroio da Ronda e seus afluentes, seguindo a classificação
proposta por Strahler (1952). Posteriormente, foi estabelecida a utilização no nível III do Manual do Uso da Terra
do IBGE (IBGE, 2013), que explicita os usos propriamente ditos e comporta inúmeras
combinações entre os tipos de uso, sendo um nível que apresenta maior riqueza de detalhes
em relação à quantidade de classes. "Neste patamar é imprescindível a utilização de dados
exógenos aos sensores remotos, como aqueles obtidos a partir de observações em campo,
inventários, entrevistas e documentação em geral” (IBGE, 2013, p. 45). As classes definidas para o ano de 1980 e 2014 foram organizadas em fluxogramas
com a finalidade de facilitar a compreensão do nível III do manual, como mostra a figura 1.
Para o ano de 1980 as classes estabelecidas para o nível III foram: cidades, praças, mineração,
cultivo temporário diversificado, reflorestamento, campo, vegetação nativa e áreas úmidas.
Para o ano de 2014 as classes estabelecidas foram: cidades, praças, solo exposto, temporário
diversificado, reflorestamento, campo, vegetação nativa, unidades de conservação de proteção
integral (parques municipais) e ETE (estação de tratamento de efluentes).
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Figura 1: Classes de uso da terra definidas para o ano de 1980 e 2014-Bacia Hidrográfica Arroio da Ronda
1980 2014
Fonte: Adaptado de IBGE (2013)
Org.: As autoras
A partir das classes definidas, a etapa seguinte correspondeu ao mapeamento de uso e ocupação da terra, sendo utilizada a técnica de fotointerpretação, tanto para as fotografias aéreas, quanto para a imagem de satélite RapidEye.
Para o mapeamento do ano de 1980 utilizou-se fotografias aéreas e por meio da técnica
da estereoscopia, com uso de estereoscópio de espelho, foi possível interpretar os elementos
visuais das imagens, no qual se identificou a ausência e presença dos elementos: sombra,
textura, padrão, cor, forma e tamanho. Com a identificação do uso da terra e delimitação das
classes, foi realizada a vetorização sobre um mosaico das fotografias aéreas, com o uso do
Software ArcGIS (versão 9.3) fornecido pelo Laboratório de Estudos Socioambientais do
DEGEO da UEPG. Para o mapeamento do ano de 2014 utilizou-se a imagem RapidEye (MMA, 2014),
juntamente com o auxílio do Google Earth que possibilitou melhor visibilidade da cobertura
da terra da área de estudo. O Google Earth é uma ferramenta gratuita, de fácil manuseio e
atualizada e apesar das imagens do Google Earth serem datadas do ano de 2017 e a imagem
RapidEye de 2014, esta ferramenta auxiliou na identificação de determinados usos da terra
em locais onde não houve modificação acentuada nos três anos de diferença entre as imagens.
O procedimento do mapeamento para o ano de 2014 ocorreu a partir dos mesmos elementos
visuais utilizados nas fotografias aéreas e também foi realizada a vetorização em tela.
Resultados e Discussões
Como resultado obteve-se dois mapas de uso da terra (Figuras 2A e 2B) para os dois anos distintos e que permitiram realizar a interpretação das dinâmicas das transformações do uso da terra da área de estudo.
Para o ano de 1980 observou-se que a maior mancha é a área urbana abrangendo toda
a porção norte da bacia, em seu alto curso, na qual a concentração da população residente da
malha urbana está concentrada até o limite da BR-376. A vegetação nativa presente possui
maiores manchas nas áreas das cabeceiras do Arroio da Ronda, ou seja, também no curso
superior do mesmo. Os campos possuem maiores manchas no curso médio do arroio. Já no
curso inferior, em direção a foz no rio Tibagi, as maiores manchas são de cultivos temporários
diversificados. Também no curso inferior aparecem pequenas manchas de campos, algumas
manchas de mata nativa, principalmente matas ciliares ao longo do arroio e algumas manchas
de reflorestamento.
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Figura 2: Mapeamento do uso e ocupação da terra da bacia hidrográfica do Arroio da Ronda nos ano de 1980 e 2014.
2ª 2B
Org: as autoras
Já no ano de 2014 verificou-se que a malha urbana, no curso médio, expandiu
ultrapassando a BR-376, chegando à porção sudeste e sudoeste da bacia do Arroio da Ronda.
As áreas de mata nativa nas cabeceiras diminuíram, apesar de no ano de 1992 serem criados
sete Parques Municipais, através da Lei nº 4.832 (ARNAUD, 2013), dentre eles o Parque
Municipal Mata Boca da Ronda e o Parque Municipal Margherita Sannini Masini, com
remanescentes da Floresta Ombrófila Mista, inseridos nessa bacia hidrográfica. Esse tipo de
floresta foi muito devastada para fomentar a economia e expansão urbana do município de
Ponta Grossa (ARNAUD, 2013). No curso médio do Arroio da Ronda, observou-se um aumento da vegetação nativa,
nas proximidades da BR-376, no médio curso do arroio. A explicação pode estar em um
maior rigor em relação ao cumprimento das legislações ambientais, mais especificadamente o
Código Florestal, que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa. Já nos cursos médio e
inferior houve o aumento do cultivo temporário diversificado e diminuição das áreas de
campo.
Considerações Finais
O mapeamento realizado pôde demonstrar uma cobertura diversificada da área de
estudo, tanto para o ano de 1980 com 8 classes, quanto para o ano de 2014 com 10 classes. O
aumento da área urbana é expressivo no ano de 2014, uma vez que está presente em todas as
porções da bacia do Arroio da Ronda. Um aumento significativo no médio curso do arroio foi
a classe de vegetação nativa e a classe do cultivo temporário diversificado. Apesar da criação
de dois parques municipais nestas áreas, na década de 1990, houve diminuição da mata nativa
no alto curso do arroio, onde estão as nascentes.
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Outro aspecto observado foi em relação a expansão urbana, pois até 1980 a BR-376
configurava-se como um limitador, porém no ano de 2014 observa-se uma expansão para
além da BR, pois a ocupação urbana já estava presente no baixo curso do arroio em direção a sua foz.
Analisar a dinâmica do uso e ocupação da terra da área estudada é de fundamental
importância, pois muitas vezes os usos da terra representam atividades humanas que podem
estar impactando o meio ambiente e a partir disto, fornecer subsídios para que os órgãos públicos tomem providências para um adequado planejamento ambiental e urbano da área.
Referências
ARNAUD, A. C. O Potencial Ecoturístico do Parque Municipal Mata Boca da Ronda: Estudo de Caso de Uma Unidade de Conservação Urbana na Cidade de Ponta Grossa – Pr. 2013, 55f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação Bacharelado em Turismo) Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2013.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Manual técnico de uso da terra. 3 ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/liv ros/liv81615.pdf> Acesso em 06/08/2018.
ITCG. Instituto de Terras, Cartografia e Geologia do Paraná. Fotografias aéreas de Ponta Grossa. 1:25.000, 1980.
ITCG. Instituto de Terras, Cartografia e Geologia do Paraná. Carta topográfica de Ponta Grossa. 1:50.000. Folha SG-22-X-C-II-2 MI-2840-2, Paraná, 1996. Disponível em <http//www.itcg.pr.gov.br/modules/conteúdo/conteúdo.php?conteudo=51> Acesso em 23/03/2018
LIMA, A. S.; FONTES, A. L. A bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gestão. In: SOUZA, R. M. Território, planejamento e sustentabilidade: Conceitos e Práticas. São Cristóvão: Editora UFS, 2009, p. 83-100.
MENEGUZZO, P. M. Evolução no uso da terra na bacia do Arroio da Ronda (Ponta
Grossa - PR) e sua influência nos processos geomorfológicos. 148 f., 2009. Dissertação
(Mestrado em Gestão do Território), Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade
Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2009. Disponível em:
<http://tede2.uepg.br/jspui/bitstream/prefix/520/1/Paula%20Meneguzzo.pdf> Acesso em
21/03/2018.
MMA. Ministério do Meio Ambiente. Imagem de satélite RapidEye. Resolução espacial de 5 m, 2014.
STRAHLER, A. N. Hypsometric (area-altitude) – analysis of erosion al topography.
Geological Society of America Bulletin, v.63, n.10, p.1117-1142, 1952.
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EXPERIÊNCIA DE PESQUISA COM O POVO PARINTINTIN: AS
EXCURSÕES NA FLORESTA
Juliano Strachulski
Introdução
O objetivo desse texto foi o de retratar a vivência de um pesquisador, no tocante as
excursões na floresta, com os colaboradores da pesquisa, nesse caso, os indígenas Parintintin da Aldeia Traíra na Terra Indígena Nove de Janeiro, localizada em Humaitá – AM (Figura 1).
Figura 1 - Localização da área de estudo
A floresta para os Parintintin é um local que proporciona uma volta ao passado e de uma maior integração com a natureza, assumindo também uma forma de sacralidade, pois dali é que provém a maior parte de seu sustento e de onde se originam seus mitos.
Apesar de trazerem consigo elementos da vida em aldeia da cultura não indígena, parecem desenvolver com maior liberdade suas práticas tradicionais, sentindo menos a influência dos elementos extraculturais.
Afirmam que o ar da floresta é bom e representa saúde, por isso se sentem bem com
seus demais parentes (vegetais e animais), reforçando sua espiritualidade, que os respalda e os
orienta na hora de buscar um elemento da floresta, evitando que haja desperdícios. É onde se
(re)encontram com os seres e não seres, revivem o passado e adquirem os aprendizados.
Entrar na floresta para os indígenas é como se aprofundar “[...] num mundo sem limite [...]
numa potencialidade da imensidão que se revela num valor” (BACHELARD, 1978, p. 317-
320, grifo nosso).
Objetivo
O objetivo desse texto é o de retratar a vivência de um pesquisador, no tocante as
excursões na floresta, com os indígenas Parintintin da Aldeia Traíra na Terra Indígena Nove de Janeiro, localizada em Humaitá – AM.
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Metodologia
A metodologia consistiu em vivência diária com os indígenas por cerca de 6 meses,
divididos em duas grandes estadias – uma realizada em 2015, que durou mais de 4 meses e
outra em 2017, que durou 45 dias –, buscando participar das atividades cotidianas tanto na
aldeia como nas excursões na floresta. Nesse texto, abordar-se-á a ultima perspectiva. Para
tanto, fez-se uso da técnica de observação participante e das entrevistas informais (GIL,
2008), buscando-se uma aproximação aos moradores e a realidade local.
Resultados e discussões
Buscamos acompanhá-los na floresta com vistas a compreender de forma mais
profunda essa relação que os Parintintin estabelecem com a natureza, por meio de seus
saberes e se ocorria algum comportamento distinto em relação à vida na aldeia. A primeira
vez que acompanhamos os Parintintin à floresta, ocorreu um pouco antes do início do ritual
Yrerupykyhu – na segunda quinzena de agosto de 2015 –, tendo como finalidade a realização
de uma primeira aproximação aos seus valores sociais, culturais e espirituais e sua relação
com a natureza, de modo que ficamos acampados em três locais diferentes durante três dias. A excursão e/ou expedição, teve como desígnio a realização da caça e pesca, visando
conseguir alimento para concretizar o referido ritual e contou com doze pessoas, incluindo o
pesquisador. Os locais de pesca e caça situavam-se ao longo do Rio Maici-Mirim ou Maicizinho, localizados a aproximadamente 35 quilômetros da Aldeia Traíra, em linha reta.
Dormimos em redes atadas nas árvores, sob a luz das estrelas, pois não havia cobertura. À noite, saíam em média três pessoas para realizar a caça e retornavam de
madrugada com algum animal, quase sempre uma paca (Cuniculus paca). Durante o dia os homens se dedicavam mais à pesca com rede, mas também com arco e flecha e linha de mão.
Acordava-se cedo, muito antes do sol nascer, preparava-se o café em um bule e uma lata, o qual poderia ser coado ou não. A comida basicamente era farinha d’água e peixe,
assado a partir da técnica de moquear, em que uma parte do pescado foi ingerida na hora e a outra também moqueada – para conservação – foi levada para o ritual Yrerupykyhu. O
armazenamento do pescado moqueado se deu mediante a utilização de caixas de isopor. Ao longo destes três dias, evidenciamos que havia muita felicidade por parte dos
indígenas, por realizarem trocas com a floresta, que apesar da responsabilidade de conseguir
alimento pareciam despreocupados com as dificuldades, apresentando um semblante sereno. Pois, para os Parintintin a floresta emana uma paz de espírito, transportando-os para um outro
nível espiritual. Como infere Bachellard (1978, p. 318) “A paz da floresta é [...] uma paz da
alma. A floresta é um estado de alma” (BACHELARD, 1978, p. 318). Propicia-se entrarem em contato com seus parentes da floresta, reviverem suas
memórias e reverenciarem os espíritos de seus antepassados, fortalecendo um sentimento de
pertencimento. É como se a floresta se fundisse com o inconsciente dos indígenas e ambos entrassem em sintonia, proporcionando um encontro consigo mesmos, momento em que
ficam introspectivos, nutrido pelo silencio afagador dos ruídos da floresta. Outro momento importante de contato com a floresta, longe dos arredores da aldeia foi
no acompanhamento dos Parintintin na vigilância realizada em outubro, uma espécie de
fiscalização da Terra Indígena (TI), com a duração de seis dias e contou com a participação de
aproximadamente vinte e cinco indígenas entre homens, mulheres e crianças, visto que as famílias, ou parte delas, vão juntas, em virtude de uma herança cultural.
Ao contrário da primeira excursão à floresta, em que a comida era o objetivo central da jornada, aqui era o de percorrer parte da Terra Indígena Nove de Janeiro (T.IN.J) e verificar se ocorriam sinais de pesca, caça ou outras atividades irregulares e invasores
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(madeireiros, garimpeiros, etc.). Não se ouviu nenhum relato por parte dos indígenas terem encontrado algum invasor, somente vestígios da presença de uma pessoa que estaria a pesquisar a vida animal no passado.
Em um primeiro momento, montou-se um apyipevuhu, conhecido também como tapiri, ou seja, abrigo temporário, no qual foi estendida uma lona sob uma estrutura feita com varas retiradas do ambiente de igapó – vegetação localizada em terrenos baixos, próximos a rios e comumente inundados.
Erigir as estruturas do acampamento, como fixar as varas utilizadas e esticar a lona, se deu somente pelos homens indígenas, enquanto as mulheres começavam a organizar os
materiais referentes a alimentação, acomodação, vestimentas e demais utensílios. Durante a
constituição do acampamento, ficamos observando, ajudando quando solicitado, e fazendo várias perguntas: que tipo de abrigo era este, quanto tempo haviam estado desde a ultima vez,
se há alguma espécie vegetal em particular utilizada na estrutura, dentre outras questões. Nessa estrutura foram atadas as redes. Como era uma missão organizada pela FUNAI,
vieram mantimentos industrializados, como arroz, bolachas, café, sal, dentre outros, além da farinha d’água trazida pelos indígenas, completando a dieta alimentar: alimentávamo-nos de peixe, aves e roedores. O acampamento foi fixado em um local denominado Praia da Marta.
No máximo, até nove horas da noite todos dormiam em suas redes atadas no alicerce
do tapiri. Acordávamos antes de o sol nascer, tomávamos o café preparado pelas mulheres e
saíamos em seguida e, posteriormente, retornávamos antes do almoço. No período da tarde, os
homens Parintintin saíam sozinhos, na maioria das vezes, e quase sempre retornavam com
alguma caça. Enquanto acompanhávamos os homens na vigilância da TI, as mulheres ficavam
no acampamento, preparavam as refeições, lavavam a roupa e a louça. Mas, não somente
trabalhavam, pois haviam momentos de conversas e algumas risadas. No acampamento, fazia-se fogo com galhos encontrados no ambiente de igapó, sendo
que havia uma base com quatro forquilhas sustentando uma espécie de grelha de ferro, cujos alimentos eram cozidos e servidos em utensílios trazidos da aldeia, como panelas e pratos ou
poderiam ser assados sobre a grelha, que lembra um moquém. A refeição era farta, não se comia em horários específicos como na aldeia, mas a todo
o momento que alguém pescava peixes e/ou pegava uma caça, sendo imediatamente
preparada pelas mulheres. Quem quisesse poderia comer até que acabasse a carne e houvesse
a necessidade de procurar mais alimento. Eram momentos de descontração, de recordar
histórias, contar causos, falar dos seus conhecimentos, mas, principalmente, de expressar sua
identidade territorial. Nestes momentos sempre procuramos fazer perguntas relacionadas a
seus conhecimentos tradicionais. A busca por alimentos na floresta e a fartura oferecida pode ser entendida como uma
relação de reciprocidade, que vai além de uma simples busca por alimento, retirando e em nada retribuindo.
No acampamento, em boa parte do tempo, os homens indígenas se refrescavam no rio,
tomavam banho, disputavam quem ficava mais tempo sem respirar embaixo d’água e
tentavam capturar os peixes com as mãos. As mulheres também passavam um bom tempo na
água, tanto em seus afazeres como na diversão. Como não sabíamos nadar, observávamos a
movimentação deles em entrar e sair do Rio Maici-Mirim e somente ingressávamos na água,
normalmente, duas vezes por dia, na hora do banho e em local seguro. Ao caminharmos pela floresta percebíamos que eles ficavam mais à vontade, pareciam
livres de qualquer preocupação, inclusive quando estavam longe uns dos outros se
comunicavam por meio de gritos como “huuuuu” ou “uuuuuuu”, que auxiliavam na
localização das pessoas na mata. Andamos por antigos caminhos como aqueles dos
nhandyvuhu (castanhais), muitas memórias afloravam na cabeça dos mais idosos como
aqueles do tempo em que não havia barcos a motor. As histórias envolviam seres, como as
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criaturas vivas: takapé ou onça-d’água (Pteronura brasiliensis) conhecida como ariranha e os não seres: Curupira e demais espíritos protetores da floresta.
Como infere Bachelard (1978, p. 317) “A floresta sobretudo, com o mistério de seu
espaço indefinidamente prolongado além da cortina de seus troncos e de suas folhas, espaço
encoberto para os olhos, mas transparente para a ação, é um verdadeiro transcendente
psicológico”. A floresta acaba manifestando toda sua força, poder, exuberância e magnitude
física e espiritual. Ela possibilita aos indígenas realizarem a completitude de suas concepções
de mundo, pois é um espaço aonde se conectam elementos materiais e simbólicos, em que se
fundem os anseios do corpo, da mente e da alma. Pois os elementos que a permeiam
constroem um espaço repleto de significados que só podem ser apreendidos se a floresta for
interpretada e sentida em toda a sua plenitude. Na excursão/expedição constatamos que os Parintintin tinham uma aguçada percepção
acerca das caças, avistavam ou sentiam a presença de animas a uma grande distância de onde
estavam, seja pelo cheiro, pegadas, marcas ou outros sinais, além do mais encontravam e
capturavam somente um animal, o suficiente para saciar a fome naquele momento. Não apenas
percebiam os animais que seriam o alimento, mas aqueles perigosos como cobras e onças,
pressentiam sua presença e/ou sabiam que haviam passado por determinado local. Durante todos os momentos em que os acompanhamos durante a caminhada pela
floresta, notamos que havia uma constante preocupação para conosco, pois estavam presentes
o tempo todo e colocavam-nos no meio do grupo. Durante os percursos sempre
perguntávamos, tanto aos jovens como aos mais idosos se conheciam espécies vegetais que
encontrávamos e quais eram suas utilidades ou crenças sobre elas. Muitas espécies foram
citadas, principalmente, pelos mais idosos. Questionávamos se faziam diferenciações entre o
ambiente do igapó e o da floresta, bem como da localização dos castanhais e a maioria dos
Parintintin demonstrou possuir uma clara distinção desses ambientes. Os jovens mostravam-se sempre atenciosos, pois ao andar pela floresta, sempre que
conheciam uma espécie vegetal e sabiam a sua utilidade, se prontificavam a apresentá-la e dizer e/ou demonstrar o seu uso específico.
Assim como os idosos, os jovens também conheciam os caminhos de alguns
castanhais, em especial aqueles que sua família manejava, sendo que percebiam claramente algumas mudanças como árvores caídas, alterando o caminho original, outras crescendo,
vestígios da presença de animais e outras alterações locais. Nas caminhadas pela floresta, os homens, a partir de suas vivências e conhecimentos,
sempre apanhavam cascas de árvores ou cipós para fazer chá e outros para fazer vassouras, enquanto as mulheres se entretinham com os cipós e os desfiavam. À noite, eram preparados e
servidos chás com os vegetais coletados durante as caminhadas. A vigilância, de fato, era uma forma de interação dos indígenas com a natureza e toda
a sua exuberância física e espiritual, a qual permitia que transcendessem ao seu modo de vida
na aldeia e vivessem mais de acordo com seus valores e conhecimentos, longe dos preceitos
culturais oriundos da sociedade envolvente. também sabiam aonde ir e o que identificar para interpretar se algum local havia sido
violado. Encontramos acampamentos do povo Pirahã que havia passado pelo Rio Maici-
Mirim. Posteriormente, deparamos com eles em passagem por nosso acampamento. Nessa
ocasião, os Parintintin realizaram uma troca de mantimentos (como farinha d’água, sal, café e
tucumã) por pacas, flechas e zagaias produzidas pelo outro povo originário. Os Pirahã
seguiram seu caminho logo após as trocas. Pouco tempo depois, retornamos para a aldeia. No caminhar pela floresta sempre perguntávamos acerca de seus conhecimentos
tradicionais relativos tanto ao uso das espécies vegetais, como aos animais. Assim, relatavam
os conhecimentos de vegetação, bem como nos mostravam os principais locais de caça, que são os barreiros, onde fazem ceva e esperam os animais para capturá-los, além dos demais
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elementos considerados importantes por eles como cemitério, fontes de alimento como os
açaizais e outros ambientes. Percebíamos que se sentiam mais confortáveis em conversar e,
mesmo quando caminhávamos nas proximidades da aldeia, até seu semblante parecia
rejuvenescer com a beleza, riqueza e paz da floresta. Pois sua tranqüilidade estremecia-os,
arrepiava-os, e os animava com o poder de mil vidas (BACHELARD, 1978), porque na
floresta encontram a felicidade que os completa. Apesar de ter passado nove dias na floresta, longe da aldeia, somadas as duas
excursões, o mais comum era andarmos com os indígenas pela floresta nos arredores da
Aldeia Traíra, e em companhia de apenas uma pessoa, o que dependia de sua disponibilidade
de tempo, de modo a respeitar seu cotidiano. Em algumas ocasiões, combinávamos com eles
para irmos em um determinado dia na floresta, em outras sabiam da nossa intenção e
chamavam para fazer uma caminhada; além disso, aproveitávamos para acompanhá-los no
trabalho na roça ou na visita à casa de algum “parente” que morava em local mais afastado. Normalmente as excursões na floresta, perto da aldeia, duravam cerca de três horas,
saíamos após o café da manhã e retornávamos antes do almoço. Em todas as ocasiões,
levávamos uma prancheta e ainda o diário de campo para fazer anotações dos diálogos e das explicações dos indígenas. Normalmente navegávamos alguns metros no Igarapé Traíra e
chegávamos à outra margem, então percorríamos alguns dos vários caminhos antigos. O andar pela floresta no entorno da Aldeia Traíra ou distante dela representava uma
viagem em que éramos conduzidos para uma grande aventura pelos caminhos e descobríamos
seus segredos, a partir dos saberes indígenas. Além de sua espiritualidade, a partir do relato
das memórias históricas, mitológicas e lendísticas e as trocas dos Parintintin com a floresta,
atingíamos outras dimensões que o lado urbano e a cultura da sociedade abrangente não
conseguem oportunizar.
Considerações finais
Na floresta, os Parintintin se reencontram consigo mesmo e vivem a plenitude, celebram a vida, se harmonizam com o meio, avivam as memórias e com isso se fortalecem cultural, social e espiritualmente.
Para nós, a convivência com os Parintintin foi não somente uma experiência de
pesquisa, mas também de vida. A calma no saber-fazer de suas práticas diárias nas excursões na floresta fizeram com que entendêssemos o modo de vida indígena, como também
influenciaram nos momentos que juntos passamos: a calma e a tranquilidade proporcionada naquele ambiente contagiam, envolvem e nos colocam a viver num ritmo parecido ao que o
povo empreende no cotidiano. Acreditamos que essa vivência não sairá da memória, nem o que aprendemos com eles
e sobre eles em sua relação de mundo. Levaremos um pouco de sua sabedoria, de seu modo de viver e de sua amizade e reciprocidade, tanto para a vida profissional como pessoal, pois
naquele ambiente aprendemos e encontramos a humanidade, a qual é tão cara nos dias atuais, na sociedade não indígena, regulada pela instantaneidade e pela monetização, inclusive dos
valores fundamentais – no caso, a vida.
REFERÊNCIAS
BACHELARD, G. A poética do espaço. In: PESSANHA, J. A. M. (Org.). A filosofia do não;
O novo espírito científico; A poética do espaço. Tradução de Antônio da Costa Leal e Lídia do Valle Santos Leal. São Paulo: Abril Cultural, 1978. p. 182-354.
GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
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O USO DE IMAGENS DE SATÉLITE SENTINEL-2 NA ANÁLISE DE
IMPACTOS AMBIENTAIS: UM CASO DE INCÊNDIO NO PARQUE
ESTADUAL DE VILA VELHA, PONTA GROSSA, PARANÁ.
Weverton Carlos Ferreira Trindade;
Jorge Iarmul.
Introdução Geoprocessamento pode ser definido como um conjunto de técnicas e tecnologias que
permitem a coleta, visualização, manipulação e análise de dados geoespaciais. Devido a
facilidade de integração de dados espaciais e não-espaciais, o geoprocessamento tem sido
utilizado em diversos estudos e aplicações, tais como conservação de recursos naturais, saúde pública, comércio, planejamento urbano e arquitetônico, gestão de áreas agrícolas e estudos
biogeográficos. O sensoriamento remoto, que permite a obtenção de informações sobre a superfície
terrestre através de radiação eletromagnética, tem se mostrado um instrumento de grande utilidade para o monitoramento de grandes áreas (MASCARENHAS; FERREIRA; FERREIRA, 2009). Por meio destas imagens pode-se identificar os diferentes tipos de usos e cobertura da terra de acordo com o valor de refletância de cada pixel.
Uma das ferramentas disponíveis para o tratamento e análise de imagens derivadas de sensoriamento remoto é o Semi-Automatic Classification Plugin (SCP) (CONGEDO, 2018),
um complemento para o software de uso livre QGIS. O SCP tem sido amplamente utilizado nos mais diversos campos de estudo, como análises de catástrofes ambientais e impactos
ecológicos, efeitos da urbanização e análise de áreas agrícolas. Além disso, o complemento serve de apoio no pré-tratamento de imagens que posteriormente não usadas para cálculos de
alguns índices que são indicativos da saúde da vegetação, como o Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (DNVI) e o Índice de Queimada Normalizado (NBR).
Os incêndios são um dos principais fatores que causam perturbações em alguns tipos de vegetação, como os campos, causando grandes impactos na estrutura e composição da
paisagem. Muitos ecossistemas são adaptados a ocorrência de incêndios esporádicos. Desta
forma, é comum o uso da técnica de manejo com fogo controlado para recuperar a biodiversidade deste tipo de ecossistema, principalmente daqueles onde há ocorrência de
espécies invasoras, uma das principais causas de perda de biodiversidade. No dia 04 de setembro de 2017 um incêndio controlado feito por pesquisadores dentro do
Parque Estadual de Vila Velha (Ponta Grossa, Paraná) acabou se espalhando após uma rajada de
vento, sendo necessário o trabalho dos bombeiros para combater as chamas. Este trabalho utilizou
o SCP no processamento de imagens do Parque Estadual de Vila Velha captadas pelo satélite
Sentinel-2 antes e depois deste incêndio, a fim de demonstrar a capacidade desta ferramenta na
análise de impactos ambientais, em especial, a ocorrência de incêndios.
Objetivos Demonstrar o uso de imagens do satélite Sentinel-2 na análise de impactos ambientais,
utilizando como o exemplo o incêndio que ocorreu no Parque Estadual de Vila Velha (Ponta Grossa, Paraná) no dia 04 de Setembro de 2017.
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Metodologia
Área de Estudo O Parque Estadual de Vila Velha está localizado no município de Ponta Grossa, no
Estado do Paraná, entre as coordenadas 25° 12’ 34’’ e 25° 15’ 35’’ S e 49° 58’ 04’’ e 50° 03’ 37’’ O, a uma altitude que varia de 800 a 1068 m, às margens do KM 515 da rodovia BR-376 (Figura 1). Possui uma área de 3122 hectares, tendo sido criado por meio da Lei n° 1.292, de 12 de outubro de 1953.
Figura 1. Localização do Parque Estadual de Vila Velha (PEVV). Editado em QGIS 3.2.2.
A cobertura vegetacional predominante é formada por campos naturais, formado tanto por espécies campestres quanto espécies típicas do Cerrado, com ocorrência de capões de Floresta Ombrófila Mista.
Download e pré-processamento de imagens Foram utilizadas imagens do satélite Sentinel-2, que são imagens de boa resolução (10
metros) disponibilizadas gratuitamente no site da United States Geological Survey (https://earthexplorer.usgs.gov). Foram utilizadas imagens de alguns dias antes do incêndio
(27 de Julho de 2017), um dia após o incêndio (05 de Setembro de 2017) e dos dias atuais (11
de Agosto de 2018). Estas imagens foram escolhidas por apresentarem boa visibilidade, com poucas nuvens cobrindo as cenas.
O processamento e análise das imagens foram realizados no software QGIS 3.2.2, por
meio do complemento Semi-Automatic Classification Plugin (SCP) 6.2.3. Foi realizada a
conversão dos valores das bandas espectrais de Digital Number (DN) para Top Of Atmosphere (TOA) reflectance. Após o pré-processamento, as imagens foram cortadas utilizando como
máscara um shapefile dos limites do Parque Estadual de Vila Velha disponibilizado no site do IBGE (https://mapas.ibge.gov.br/tematicos/unidades-de-conservacao.html).
Para melhor visualização da área atingida pelo incêndio, foram testadas diferentes combinações de bandas RGB, sendo escolhidas aquelas que apresentavam maior contraste.
Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) e Índice de Queimada Normalizado (NBR)
O NDVI e o NBR foram gerados utilizando a Calculadora Raster do QGIS. Para o cálculo do NDVI foram utilizadas as bandas vermelha (Red) e Infravermelha próxima (NIR),
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enquanto que para o cálculo do NBR foram utilizadas as bandas de infravermelho próximo (NIR) e o infravermelho de ondas curtas (SWIR):
=
−
=
−
+ +
Foi criado um polígono cobrindo a área atingida pelo incêndio. Após criação de rasters com os pixels representando os valores de NDVI, NBR e ∆NBR (diferença de NBR antes e depois do incêndio), foi utilizada a ferramenta Estatísticas Zonais para obter a média destes índices dentro deste polígono, possibilitando a comparação da vegetação antes e depois do incêndio. Este mesmo polígono foi utilizado para quantificar a área atingida pelo incêndio.
Resultados e Discussão A Figura 2 mostra que a área atingida pelo incêndio fica próximo à região do Parque
conhecida como Fortaleza. A composição de bandas que confere cor natural para a imagem (R:
(4) Red, G: (3) Green, B: (2) Blue) foi suficiente para identificar a área atingida pelo fogo.
Figura 2. Parque Estadual de Vila Velha (Ponta Grossa, Paraná). Imagens de Sentinel-2 (Cor Natural) mostram área
próximo à Fortaleza atingida pelo incêndio no dia 04 de Setembro de 2017. Editado em QGIS 3.2.2.
Utilizando outra composição de bandas (R: (12) SWIR, G: (8) NIR, B: (2) Blue) é possível ver a área atingida pelo incêndio com ainda mais destaque (Figura 3):
Figura 3. Imagens de Sentinel-2 com composição de bandas “R: (12) SWIR, G: (8) NIR, B: Blue (2)”.
O NDVI também foi eficiente na diferenciação da área atingida pelo incêndio (Figura 4), indicando ausência de vegetação desta área (NDVI ≈ 0).
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Figura 4. NDVI da região do Parque Estadual de Vila Velha. Em vermelho, área com ausência de vegetação, devido ao incêndio que atingiu a área no dia 04 de Setembro de 2017. Editado em QGIS 3.2.2.
O ∆NBR, que é a diferença de NBR antes e depois do incêndio, também foi capaz de evidenciar a área atingida pelo incêndio. De acordo com Lutes et al. (2006), os valores de ∆NBR podem ser utilizados para medir o grau de severidade do incêndio, que é mostrado na Figura 5:
Figura 5. Classes de severidade do incêndio de acordo com os resultados do ∆NBR. Editado em QGIS 3.2.2.
De acordo com o polígono criado, o incêndio atingiu uma área de 114 hectares, pouco menos que os 132 hectares noticiados pelo IAP. Esta diferença deve-se possivelmente pela vegetação dentro deste polígono que não foi atingida pelo incêndio, mas que acabou entrando nas estimativas do IAP.
A Tabela 1 mostra os valores médios de NDVI e de NBR dentro deste polígono que representa área atingida pelo incêndio. O NDVI indica uma brusca perda de vegetação após o incêndio do dia 04 de setembro, mas que se recuperou no ano seguinte. A variação do NBR
após o incêndio (∆NBR = 0.331) indica que no geral a severidade do incêndio foi de moderada a baixa.
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Tabela 1.Valores médios de NDVI e NBR dentro do polígono que representa a área atingida pelo fogo.
27 de julho de 2017 05 de setembro de 2017 11 de agosto de 2018
NDVI 0.444 0.087 0.495
NBR 0.262 -0.069 0.300
São frequentes os incêndios no Parque Estadual de Vila Velha, principalmente nos meses
mais secos (RODRIGUES et al., 2017), o que ressalta a importância da avaliações de áreas
susceptíveis a este tipo de impacto ambiental. De acordo com Escuin, Navarro e Fernández (2008),
tanto o NDVI quanto o NBR são índices que podem ser utilizados na avaliação de áreas atingidas
por incêndios, sendo o NBR e o ∆NBR mais sensíveis que o NDVI.
Considerações finais Os resultados deste trabalho mostram que imagens derivadas do satélite Sentinel-2
podem ser utilizadas para avaliação de áreas atingidas por incêndios. Tanto o NDVI quanto o NBR se mostraram capazes de dar ainda mais destaque a área atingida pelo incêndio. O NDVI pode ser utilizado para mostrar a perda de vegetação, enquanto os valores de NBR servem como parâmetros para quantificar a severidade do incêndio.
A determinação do perímetro do incêndio, bem como sua distribuição e severidade, ajuda em tomadas de decisão quanto a restauração da área, além de oferecer informações de como a vegetação do próximo estágio sucessional pode responder a um novo incêndio.
Referências CONGEDO, L. Semi-Automatic Classification Plugin Documentation. Disponível em: <https://fromgistors.blogspot.com/p/user-manual.html?spref=scp>. Acesso em: 27 jul. 2018.
ESCUIN, S.; NAVARRO, R.; FERNÁNDEZ, P. Fire severity assessment by using NBR (Normalized Burn Ratio) and NDVI (Normalized Difference Vegetation Index) derived from LANDSAT TM/ETM images. International Journal of Remote Sensing, v. 29, n. 4, p. 1053– 1073, fev. 2008.
LUTES, D. C. et al. FIREMON: Fire Effects Monitoring and Inventory System. Fort
Collins: United States Department of Agriculture, 2006.
MASCARENHAS, L. M. D. A.; FERREIRA, M. E.; FERREIRA, L. G. Sensoriamento remoto
como instrumento de controle e proteção ambiental: análise da cobertura vegetal remanescente na
Bacia do Rio Araguaia. Sociedade & Natureza (Online), v. 21, n. 1, p. 5–18, 2009.
RODRIGUES, A. et al. Ocorrência de incêndios florestais no Parque Estadual de Vila Velha (Paraná, Brasil) e propostas de prevenção e combate Forest fire occurrence in Vila Velha State Park (Paraná, Brazil) and proposals of prevention and combat. Revista Espacios, v. 38, n. 43, 2017.
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A GEOGRAFIA DAS DISCUSSÕES SOBRE 'IDEOLOGIA DE GÊNERO'
ATRAVÉS DAS NOTÍCIAS VEICULADAS NA INTERNET ENTRE OS
ANOS DE 2015 À 2018 NO BRASIL
Paulo Gabriel dos Santos Noga;
Marcio Jose Ornat
Palavras-chave: Geografia, Ideologia de Gênero, Estudos de Gênero, Notícias na Internet.
Resumo
Este subprojeto de iniciação científica objetivou mapear a geografia das discussões sobre 'ideologia de gênero' através das notícias veiculadas na internet entre os anos de 2015 à 2018 no Brasil. Tivemos por base de análise os resultados obtidos a partir do 'Alerta Google' com o termo 'Ideologia de Gênero', segundo as notícias veiculadas entre os anos de 2015 a 2018 no Brasil. De forma geral, temos uma indicação de que toda estas discussões, localizadas em notícias obtidas com o termo de busca ‘ideologia de gênero’ tem afirmado que os estudos de gênero tem por objetivo geral a destruição da família e da sociedade como nós a conhecemos. Tendo por recorte temporal o período de julho de 2015 a julho de 2018, levantamos um total de 6.592 notícias relacionadas a este termo de busca. A média mensal foi de 178,16 notícias por mês, obtendo um ‘pico’ em agosto de 2015, com 287 notícias, e o menor valor com 112 notícias em fevereiro de 2018. Mesmo que a linha de tendência geométrica indique uma diminuição futura nestas notícias veiculadas, evidencia-se a necessidade de tratamento destas reflexões com objetivo de ampliar o debate sobre as questões referentes a gênero e diversidades.
Introdução
Este subprojeto de iniciação científica objetivou mapear a “geografia” das discussões sobre 'ideologia de gênero' através das notícias veiculadas na internet entre os anos de 2015 à 2018 no Brasil. Tendo visto o fato de que tal levantamento produziu considerável volume de dados, temos por foco neste momento de reflexão tratar da configuração discursiva do mês com maior número de notícias, relacionado ao mês de gosto de 2015, com 287 notícias. Não desconsideramos o valor do
restante do comportamento temporal de notícias. Contudo, chamamos a atenção para o início destas veiculações, até porque os conteúdos, salvo algumas especificidades, não apresentam grande variação. Todas as notícias, de forma geral indicam que os estudos de gênero tem por objetivo geral a destruição da família e da sociedade como nós a conhecemos. Assim, analisamos em profundidade neste relatório os dados relacionados ao mês de agosto de 2015.
Materiais e Métodos
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Tivemos por base de análise os resultados obtidos a partir do 'Alerta Google'
com o termo 'Ideologia de Gênero', segundo as notícias veiculadas na internet entre os anos de 2015 a 2018 no Brasil. Todas as informações levantada a partir deste ‘alerta’ alimentaram um banco de dados construído no Libre Office Base . Na
sequência, todos os dados foram analisados, produzindo a indicação de que há uma
periodicidade anual, com um ‘pico’ de veiculação de notícias no mês de agosto de
2015, período este que sera o objeto a ser analisado em profundidade neste
relatório.
Resultados e Discussão Esta pesquisa está ancorada naquilo que foi vivido pelos membros do Grupo
de Estudos Territoriais na discussão do Plano Municipal de Educação (PME) de Ponta Grossa. Este PME foi aprovado em 22/06/2015 após exaustiva discussão. As forças hegemônicas colocadas neste dia buscavam excluir os termos de gênero e orientação sexual do PME, e pressionados, os vereadores excluíram estas discussões do mesmo. Esta pressão se fez pelo fato da Câmara Municipal de Ponta Grossa ter sido 'tomada de assalto' por grupos católicos e evangélicos fundamentalistas.
Portanto, tendo por base as respostas, entre o período de 2015 -2018, de 'Alertas Google' com o termo 'Ideologia de Gênero', objetivou-se mapear a geografia das discussões sobre 'ideologia de gênero' através das notícias veiculadas na internet, entre os anos de 2015 a 2018 no Brasil.
Tivemos por análise do gráfico abaixo, que os meses de Agosto de 2015, 2016, 2017 e 2018 são os meses com 'picos cíclicos' significativos, mesmo tendo uma tendência de diminuição. Haja vista, os meses de Janeiro de 2015, 2016, 2017 e Fevereiro de 2018 são os que tem o menor número de alertas. Contudo, tudo que está relacionado no gráfico tem relação direta com o 'pico' que tivemos em Agosto de 2015, com 287 alertas, pois em 2015 ocorreu a discussão dos planos municipais e estaduais de Educação.
Gráfico 1.
350
300
250
200
150
100
50
0 2015/08 2015/10 2015/12 2016/02 2016/04 2016/06 2016/08 2016/10 2016/12 2017/02 2017/04 2017/06 2017/08 2017/10 2017/12 2018/02 2018/04
2018/06 2015/07 2015/09 2015/11 2016/01 2016/03 2016/05 2016/07 2016/09 2016/11 2017/01 2017/03 2017/05 2017/07 2017/09 2017/11 2018/01
2018/03 2018/05 2018/07
Podemos também pensar que daqui há 100 anos talvez isso nem seja mais
discutido, pois a tendência é a diminuição do número de Alertas, Salvo a ocorrência de alguma outra forma de manifestação que realimente este processo. Para análise
do recorte estabelecido, utilizamos as informações que foram alimentadas no banco
de dados acima indicado, a saber: Título das Notícias; Texto da notícia; Escala
geográfica das notícias; e, Tipo da Notícia. A partir dos títulos das notícias
veiculadas na Internet, localizadas pelo alerta do Google, elaboramos uma rede semântica utilizando as seguintes ferramentas: OpenRefine; Gephi.
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Como demonstrado nas análises, os títulos das 287 notícias do mês de agosto de 2015, evidencia-se um fio condutor relacionado ao combate àquilo que for denominado enquanto ideologia de gênero, na relação com os planos estaduais e municipais de educação.
Sobre a análise do conteúdo das notícias, as orientações continuam as mesmas, no sentido de que aquilo que estrutura as pesquisas sobre a diversidade humana tem um cunho perverso de combate aos preceitos humanos historicamente estabelecidos. Basicamente, podemos evidenciar que o tensionamento se estrutura sob o embate entre conservação dos sistemas de opressão e a possibilidade real da transformação social. Um dos exemplos pode ser retirado de um dos trechos de do conteúdo de uma das notícias: “Um recém nascido aprende a falar Papá e Maman (Pai e Mãe). Ela nunca errará trocando a identificação. Para a criancinha, as coisas não se misturam, ela naturalmente consegue separar o semblante masculino e feminino. Já vi uma criança se confundido e chamando outro homem de papá. Mas nunca vi uma criança se confundido invertendo sexo. Ta vendo? até as criancinhas sabem discernir! Quem não for como as criancinhas no Céu não entrarão!”.
Sobre a categorização dos tipos das notícias, mesmo que indique um grande total de notícias que foram retiradas na internet (49,83%), estes conteúdos continuaram a se reverberar através de outros sites, corroborando àquilo que é evidenciado no gráfico 1 acima, sobre a continuidade das notícias relacionadas ao termo “ideologia de gênero”. Além, se tomarmos os outros totais que restam, temos que mais de 50% das notícias são constituídas por críticas relacionadas àquilo que se entende por “Ideologia de gênero”. Sobre o comportamento escalar destas discussões no Brasil, temos que o maior percentual está relacionado a escala municipal, pelo simples fato que fora no ano de 2015 que os municípios brasileiros deveria elaborar seus planos municipais de educação. Todavia, estas discussões não estiveram desconectadas de outras escalas, pois foi também neste ano que os
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estados da federação brasileira deveria elaborar seus Planos Estaduais de Educação.
Podemos considerar que a ideologia de gênero existe na medida em que é um termo que nasce de um processo através do qual as ideias da classe dominante, e neste sentido, relacionadas a grupos religiosos fundamentalistas, são transformadas para ideias de toda a sociedade, de modo que a classe que domina no plano material (econômico, social e político) também domina no plano espiritual, ou seja, no plano das ideias.
Esta ação tem alimentando aquilo que pode ser considerada uma
verdadeira cruzada contra pesquisadores, pesquisadoras e temáticas
relacionadas a gênero e sexualidades, ainda mais quando se tratando de
educação.
Conclusões
Portanto, reafirmamos que o termo ideologia de gênero existe, pois nasce
de um processo de transformação de ideias específicas de um grupo específico
para ideias de muitas pessoas, pois são estas pessoas que produziram estas
ideias que dominam a sociedade no plano econômico, social, político e espiritual,
sustentadas na concepção de um conceito de família tradicional que
desconsidera a existência da diversidade humana.
Agradecimentos
Agradeço ao professor Marcio Jose Ornat, pelo suporte dado durante os
doze meses trabalhados na pesquisa. À coorientadora, Adelaine Ellis Carbonar
dos Santos pelo apoio. À Fundação Araucária, pela contribuição da bolsa, para o
desenvolvimento da pesquisa, ao laboratório 'GETE' e seus integrantes que foram
importantes na pesquisa e a UEPG, pela oportunidade.
Referências BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.
LIONÇO, Tatiana. “Ideologia de gênero”: a emergência de uma teoria religiosa
sobre os riscos da democracia sexual. Portal Fórum. Disponível em
http://www.revistaforum.com.br/2014/09/27/ideologia-de-genero-emergencia-
deuma-teoria-religiosa-sobre-os-riscos-da-democracia-sexual/ . Acesso em 4 de
junho de 2017.
SANTOS, Adelaine Ellis Carbonar dos; ORNAT, Marcio Jose. Pelo Espelho de
Alice. Homofobia, Espaço Escolar e Prática Discursiva Docente. Curitiba:
Editora Appris, 2017.
SCALA, Jorge. La Ideología del Género o El Género como herramienta del
poder. Rosario: Ediciones Logos Ar, 2010.
SHELDON, Louis. A Estratéga. O Plano dos Homossexuais para Transformar
a Sociedade. Rio de Janeiro: Editora Central Gospel Ltda, 2012 [2005].
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A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DA RELAÇÃO ENTRE MULHERES E
VULNERABILIDADE SOCIAL NO ESPAÇO URBANO DE PONTA
GROSSA, PARANÁ.
Jessica Palanchuk;
Marcio Jose Ornat (Orientador)
Resumo Esta pesquisa compreende como a relação entre mulheres e vulnerabilidade social organiza-se no espaço urbano de Ponta Grossa, Paraná. O urbano é produto social e as ações e vivências dos grupos sociais são elementos integrantes desta organização espacial (CORRÊA, 2003). As diferentes espacialidades desenvolvidas por homens e mulheres fazem parte da produção do espaço da cidade, embora seja um tema ainda pouco explorado na ciência geográfica brasileira. Sendo este espaço organizado como reflexo e condição dos seres humanos (SANTOS, 1978), esta organização espacial, que se coloca enquanto desigual, produz e alimenta um conjunto de vulnerabilidades sociais, constituindo a vivência cotidiana de mulheres moradoras das periferias pobres das cidades (PRZYBYSZ, 2011). Analisamos o Censo Demográfico IBGE 2010, segundo 279 variáveis, localizando clusters de vulnerabilidade social na vivência urbana de mulheres moradoras da cidade de Ponta Grossa, Paraná. Introdução
O presente subprojeto de iniciação científica teve por objetivo geral compreender
como a relação de mulheres e vulnerabilidade social é organizada no espaço urbano de Ponta
Grossa, Paraná. O espaço da cidade é produto social, e as ações e vivências dos grupos e/ou
indivíduos são elementos integrantes desta organização espacial.
De forma mais específica, as diferentes espacialidades desenvolvidas por homens e
mulheres fazem parte da produção do espaço da cidade, embora seja um tema ainda pouco
explorado na ciência geográfica. Corrêa (2003) ao abordar o espaço enquanto uma instância,
reflexo e condição da sociedade, produzido pela/na relação entre os indivíduos, abre a
possibilidade de inúmeros recortes grupais e relações espaciais. Sendo este espaço organizado
como reflexo e condição dos seres humanos, como propõe Santos (1978), esta organização
espacial, que se coloca enquanto desigual, produz e alimenta um conjunto de vulnerabilidades
sociais, constituindo a vivência cotidiana de mulheres moradoras das periferias pobres
(PRZYBYSZ, 2011). Portanto, com o objetivo geral proposto para esta pesquisa, as análises
se dão com base no material empírico do Censo Demográfico IBGE 2010,Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística. Todos os dados deste Censo são analisados segundo sua
distribuição espacial por setores censitários, segundo suas 279 variáveis (características dos
domicílios, responsáveis e características das pessoas), localizando padrões espaciais de
vulnerabilidade social na vivência urbana de mulheres em Ponta Grossa, Paraná. Sabemos que a realidade do nosso país vem mudando com os anos, e que o número de
famílias chefiadas apenas por mulheres vem crescendo e ganhando espaço. Entre 2001 e
2015, o número de famílias chefiadas por mulheres, no Brasil, passou de 14,1 milhões para
28,9 milhões, um aumento de 105%. Esses dados, são trazidos pelo Pnad, Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios de 2001 a 2015, do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e
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Estatística. É necessário compreender essa nova lógica familiar, e ainda mais importante, qual
a estrutura que esse arranjo possui. Materiais e Métodos
Para atender o objetivo geral do presente subprojeto de iniciação científica, utilizamos
os dados do Censo Demográfico 2010, disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística.
O primeiro procedimento esteve relacionado ao tratamento dos dados do Censo
Demográfico IBGE 2010, na escolha das variáveis que, em nossa compreensão, tinha estreita
relação com a situação de vulnerabilidade social vivenciada cotidianamente por mulheres
responsáveis pelos domicílios particulares permanentes. Este recorte estão relacionados às
informações de características de ‘domicílios’, ‘responsáveis’ e ‘características das pessoas’. No segundo procedimento utilizamos o software GeoDa, no estabelecimento do
‘Índice de Moran’ de cada variável, além da criação de Clusters destas mesmas informações. Utilizamos o Índice de Moran Local, uma das áreas da estatística, que compara a autocorrelação espacial local entre uma área e seus vizinhos. Essa dinâmica, tem como objetivo mostrar a presença de agrupamentos de áreas que tem um resultado semelhante, que chamamos aqui de Clusters,ou ainda áreas que não segue o padrão da região, Outliers.
Tendo visto a baixa resolução da imagem de saída do software GeoDa, em nosso terceiro procedimento optamos por capturar a tela do software, elaborando 279 layouts de clustersreferentes a 279 variáveis que estava localizadas no Censo Demográfico IBGE 2010.
Após, enquanto quarto e último procedimento, cruzamos todos os layouts de Cluster destas informações, com suas respectivas variáveis, localizando áreas urbanas que possuíam sobreposição de características de vulnerabilidade social, referentes a: alta densidade demográfica, baixa renda, situação dos domicílios particulares permanentes, alfabetização, e características sócio econômicas, resultando em um último cartograma, localizando e destacando as áreas que se encontram e maior vulnerabilidade social.
O Cluster acima, é um exemplo das variáveis trabalhadas, mostra espacialmente onde se encontram “Mulheres moradoras em domicílios particulares com banheiro de uso exclusivo dos moradores ou sanitário e esgotamento sanitário via fossa rudimentar”, segundo os dados do Censo IBGE 2010.
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Resultados e Discussão Ao colocar em análise todos os dados obtidos, tínhamos como propósito, identificar
áreas mais vulneráveis socialmente, em Ponta Grossa.
Vignoli (2001), compreende a vulnerabilidade como a falta de acesso às estruturas de
oportunidade oferecidas pelo mercado, Estado ou sociedade, apontando a carência de um
conjunto de atributos necessários para o aproveitamento efetivo da estrutura de
oportunidades.
Seguindo essa lógica, trabalhamos com características específicas de diferentes
setores da cidade, e quanto mais característica/informações esse setor possuísse, aumentava
sua repetição. Sendo assim, encontramos 8 áreas, separadas em 4 bairros em Ponta Grossa,
onde o número de informações foram elevadas. Essas informações são em relação aos
moradores, idades das mulheres responsáveis, condições de moradias e renda.
Os bairros que estão em destaque em relação a vulnerabilidade são Boa Vista, Cara-
Cará, Oficinas e Uvaranas. Esses bairros possuem características semelhantes, como falta de
infra-estrutura, falta de pavimentação, bueiros, esgotamento sanitário, lixo a céu aberto e a
utilização de fossa rudimentar. Maioria dos domicílios são, particulares ou então coletivos,
ressalto alguns que são domicílios alugados, cedidos ou ainda ocupados.
O rendimento nominal mensal, da maioria, dos domicílios nos quatro bairros, em
média, variam de ⅛ do salário mínimo, a ½ salário mínimo, lembrando que o salário mínimo
em 2010 era de R$510,00 reais1,. Esse valor variava de R$ 63,00 reais a R$ 225,00 reais ao
mês. Esses valores se repetiram em outras informações, como rendimento nominal mensal de
pessoas do sexo feminino, levando em consideração de ½ a 1 salário mínimo,esse valor varia
de R$225,00 reais a R$510,00 reais. Também foi encontrado um elevado número de pessoas
de 10 anos ou mais de idade, com rendimento nominal mensal de mais de ½ a 1 salário
mínimo, e mulheres de 10 anos ou mais de idade,com rendimento nominal mensal de ½
salário mínimo. O número de dependentes que as mulheres responsáveis possuem variam de
1 pessoa a mais de 6, alertando que nem sempre se tratam de filhos. Devemos analisar as características desses bairros, para compreender como se
estrutura a vulnerabilidade social. Em suma, todas essas informações aqui apresentadas foram
retiradas do Censo do IBGE 2010, e analisadas cada uma, sempre focando na situação das
mulheres chefes de família, pois são essas informações que nos mostram quanto um bairro
pode ser vulnerável, e quanto ele pode influenciar no cotidiano das pessoas.
Ao tratar de pessoas em situação de vulnerabilidade social, devemos analisar que tais
indivíduos estão mais suscetíveis aos danos, que podem não ocorrer de maneira clara e direta,
mostrando as suas desvantagens para a mobilidade social, sendo limitado a conseguir uma
qualidade de vida melhor, já que seus recursos são poucos e frágeis.
Conclusões O presente subprojeto de iniciação científica, nos deu a oportunidade de espacializar a
vulnerabilidade social em Ponta Grossa, Paraná, possibilitando localizar, cartograficamente,
onde estão localizadas as áreas com maior índice de vulnerabilidade social.
- necessário compreender que a vulnerabilidade social se trata da disponibilidade
entre os recursos materiais e simbólicos dos indivíduos, e o acesso a estrutura de
oportunidades do meio em que vive, cujo descompasso torna-se empecilho à ascensão social
desses mesmo indivíduos (MOSER, 1998).
De maneira geral, foi possível evidenciar que os bairros aqui trabalhados se
encontram em áreas de vulnerabilidade social, possuindo muitas características em comum. É D S segundo a Lei Nº 12.255, de 15 de Junho de 2010.
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preciso uma maior atenção à infraestrutura oferecida pelo Estado de forma geral. Se faz faz se
necessário a proposição de políticas públicas para auxiliar essas mulheres que são chefes de
família e que possuem uma renda tão baixa,seja na complementação dos estudos, ou na busca de
um emprego melhor, ou ainda oferecendo maiores recursos em relação aos filhos, como creches
e escolas. Além destes fatores, há a existência de moradias precárias, e o elevado número de
indivíduos que são seus dependentes. Todos esses fatores aumentam a vulnerabilidade social
destas mulheres. Devemos ter em mente que estar em situação de vulnerabilidade social não diz que os
indivíduos nesta situação estarão sempre sujeitos a isso, se tratando de um momento, e que pode
ser revertido. Para isso, é necessário conhecer os problemas e desenvolver meios de resolvê-los
ou amenizá-los, para diminuir os números de famílias em situação de vulnerabilidade social.
Referências CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano.4ª Edição, São Paulo, Editora Ática, 2003. MOSER,C. The Asset Vulnerability Framework: Reassessing Urban Poverty Reduction Strategies.World Development, vol 26. No 1 pp.1-19. PRZYBYSZ, Juliana. Articulando os espaços público e privado: transformações das espacialidades vividas por mulheres responsáveis pelo domicílio após a dissolução conjugal na cidade de Ponta Grossa, Paraná.2011. Dissertação (Mestrado em Gestão do Território) – Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, Paraná. SANTOS, Milton. Por Uma Geografia Nova.São Paulo, HUCITEC, 1978.
VIGNOLI,J.R. Vulnerabilidad y grupos vulnerables: un marco de referencia conceptual
mirando a los jóvenes. Santiago de Chile: CEPAL, 2001.( Serie Población y Desarrollo, n. 17)
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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MEDO E
ESPAÇO NA VIVÊNCIA COTIDIANA DE DISCENTES NO CAMPUS
UVARANAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA,
PARANÁ.
Bianca Hoffmann de Oliveira; Marcio Jose Ornat
1. Introdução
A presente reflexão tem por objetivo realizar algumas considerações sobre a relação entre o sentimento de medo e a vivência espacial cotidiana no Campus Uvaranas da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paraná. Como veiculado na mídia local, evidencia-se considerável número de casos de assalto e tentativas de estupro que tem ocorrido nos últimos anos no Campus Uvaranas da UEPG.
A partir dos temas de busca “assalto no campus uvaranas”, “estupro no campus uvaranas” e “tentativa de estupro no campus uvaranas”, foi encontrado uma série de notícias veiculadas em jornais locais. O termo “assalto no campus uvaranas” foi o que mais teve
destaque pela mídia e a primeira notícia é datada de 04/11/20161, onde um estudante estava
passando pela pista de atletismo e um rapaz de bicicleta fez menção de estar armado e levou o celular da vítima, que frequentava a escola estadual e estava pegando um atalho pelo campus.
A última notícia encontrada é de 21/10/20172, onde um rapaz, também de bicicleta, ameaçou
estudantes em um ponto de ônibus e chegou a agredir fisicamente uma delas, levando o celular das vítimas e tomando rumo desconhecido.
O que vale ainda destacar é que, como indicado pelas notícais, estas situações não ocorreram apenas com pessoas que andavam sozinhas, mas pessoas que estavam em grupo,
conforme a notícia de 05/04/20173, onde 4 discentes foram abordados no estacionamento da
Central de Salas de Aula, no período noturno. O termo “estupro no campus uvaranas”,
mostrou duas notícias, ambas datadas do ano de 2016. Em 15/02/20164, o indivíduo, de
aproximadamente 30 anos, estava próximo ao Bloco F da instituição e tentou molestar uma
aluna. A outra é de apenas 3 dias depois, em 15/02/20165, mostrando que um homem é
perseguido pela polícia militar dentro do campus. O último termo de busca, “tentativa de estupro no campus uvaranas”, mostrou a notícia relatada acima de 15/02. Como visto acima, não há situações cotidianas de assalto ou tentativa de estupro no Campus Uvaranas. Contudo, segundo Santos (2009), “A mídia, por exemplo, além de informar, contribui para o aumento do imaginário do medo, ao noticiar ocorrências de atos violentos que se dão com frequência em determinados espaços urbanos.”
Segundo esta compreensão, nossa argumentação está sustentada no pressuposto de que
o sentimento de medo é vivido espacialmente de forma interseccional, já em um primeiro momento no que se refere a gênero, idade e grupo de renda. Também, compreendemos que as
situações de medo na vivência espacial destes discentes varia conforme o horário, indicando a imbricação entre medo, espaço, tempo e interseccionalidade, conforme indicações
bibliográficas presentes no texto.
- http://m.arede.info/ponta-grossa/132677/estudante-e-assaltado-dentro-do-campus-da-uepg
- https://www.diariodoscampos.com.br/noticia/rapaz-armado-com-faca-assalta-estudantes-no-campus-de-uvaranas
- http://m.arede.info/ponta-grossa/151691/bandidos-armados-assaltam-estudantes-na-uepg
- https://massanews.com/noticias/plantao/estudante-da-uepg-relata-tentativa-de-estupro-dentro-de-campus.html
- https://massanews.com/noticias/plantao/estudante-da-uepg-relata-tentativa-de-estupro-dentro-de-campus.html
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A partir destas indicações, aplicamos um questionário on-line à discentes dos cursos de graduação e pós-graduação localizados no Campus Uvaranas, da Universidade Estadual de Ponta Grossa, buscando compreender a relação entre o sentimento de medo e a vivência espacial cotidiana no Campus Uvaranas, análise esta que realizamos neste texto com o total de BBBB respostas.
Objetivos O desenvolvimento destas reflexões estão orientadas no objetivo geral de
“compreender a relação entre o sentimento de medo e a vivência espacial cotidiana no
Campus Uvaranas da UEPG”. Enquanto objetivos específicos temos: a) mapear a distribuição espacial dos ‘locais de medo’ no Campus Uvaranas da UEPG; b) analisar as especificidades
do sentimento de medo, no que se refere a gênero, idade e grupo de renda; c) compreender como o tempo é um dos componentes do sentimento de medo de discentes no Campus
Uvaranas da UEPG.
3. Metodologia Todo o material empírico que aqui analisamos nasceu da aplicação de um questionário
on-line à discentes dos cursos de graduação e pós-graduação localizados no Campus Uvaranas, da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Utilizamos a ferramenta ‘Google
Formulário’, estruturando um questionário segundo as seguintes direções de informação: ‘locais de medo’ no Campus Uvaranas da UEPG; ‘temporalidade de medo’ no Campus
Uvaranas da UEPG; especificidades do sentimento de medo, no que se refere a gênero, idade
e grupo de renda.
4. Resultados e Discussões
O questionário mostrou os seguintes resultados mais relevantes, a partir das perguntas objetivas: cerca de 42,5% possui idade entre 18 a 20 anos e 35% entre 21 e 25 anos, o que caracteriza um público-alvo relativamente jovem/adultos. No que se refere a identidade de gênero, 58,8% das pessoas respondentes foram mulheres mulheres, 40% homens e 1,2% como homem trans.
A orientação sexual ficou distribuída com as porcentagens de 72,5% heterossexual,
16,3% bissexual e 11,3% homossexual. O horário do curso mostrou que 66,3% estudam no período noturno, 15% no período integral e 13,8% no período matutino. Sobre os cursos,
67,7% das pessoas respondentes são dos cursos de licenciatura, 25% de bacharelado, 5% discentes de doutorado e 2,5% de mestrado. Sobre o ano que estão cursando atualmente,
36,3% estão no terceiro ano, 23,7% no segundo ano, 27,5% no primeiro ano e 12,5% no quarto ano.
Foram realizadas as seguintes perguntas sobre tentativa de assalto. “se já foi assaltado” e “sofreu assédio sexual dentro do Campus Uvaranas”. Os resultados evidenciam
que 90% dos discentes que responderam nunca sofreram tentativas de assalto, 92,5% não sofreram assédio sexual e 96,3% não foram assaltado. Esses números são relativamente
pequenos, levando em conta o alcance do questionário e o tempo que ele ficou à disposição para respostas (15/08/2018 a 26/08/2018).
Porém, quando se fala de como as pessoas se sentem dentro de um espaço de vivência cotidiana, é uma questão a ser pensada, pois como foi visto no questionário, a maioria dos discentes são mulheres, e estas possuem medos que muitos dos homens não têm. Por isso, deve-se pensar em propostas diferentes, pois, segundo Monk (1992) homens e mulheres são diferentes, portanto a sua vivência espacial é distinta.
O corpo das mulheres é visto de forma sexualizada, irracional, sensual e irracional e os homens como intelecto, racionalidade e com controle das emoções. Isso construiu uma
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relação dual e oposicional entre corpo (polo feminino) e mente (polo masculino), sendo que o corpo precisa ser comandado pela razão (SILVA et al, 2013).
As respostas sobre os locais de medo dentro do Campus Uvaranas mostraram que o medo não está presente nos blocos, mas sim no deslocamento entre eles, pois muitos discentes
têm aula em diferentes blocos. Segundo Santos (2009), há “medo de frequentar determinados espaços, e de circular pelas ruas, limitando-se a certos lugares e horários específicos”.
Cerca de 46,25% dos que responderam assistem aula somente na “Central de Salas”, enquanto 27,5% assiste aula na “Central de Salas e Bloco L”, conforme mostra os gráfico 1:
Gráfico 1 - Relação dos Blocos onde os discentes assistem aula.
Normalmente, a aula não é somente em um dos blocos por dia, ou seja, é necessário fazer um deslocamento entre os blocos. Nesta pergunta, também foi apontado que o medo está presente, principalmente no período noturno, e por dedução que a maioria das que responderam o questionário são mulheres, elas são as que mais sentem medo. Conforme aponta a imagem abaixo, as rotas utilizadas pelos discentes do Campus Uvaranas:
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Imagem 1.
Uma resposta sobre os ”medos presentes na vivência espacial cotidiana no Campus
Uvaranas”, que difere das demais está relacionada a homofobia, considerando que 11,3% dos
discentes que responderam ao questionário on-line são homossexuais. Portanto, a homofobia, com base na interseccionalidade, atinge parte destas pessoas. De acordo com Borrillo (2010,
p. 13), “a homofobia é a atitude de hostilidade contra as/os homossexuais”. Considerado um fenômeno complexo e variável, a homofobia é percebida nas piadas, podendo ainda, assumir
formas violentas que culminam em morte (BORRILLO, 2010). Os transportes utilizados para ir até o Campus possuem influência no modo de como
os alunos da instituição se sentem, pois, a maior parte chega através de transporte público, e conforme foi respondido na pergunta ”medos presentes na vivência espacial cotidiana no
Campus Uvaranas”, alguns discentes relataram medo de esperar ônibus no período noturno, pois “o ponto é bem iluminado, mas ao seu redor não”. Outros se indicaram a má iluminação,
pois utilizam a caminhada e a bicicleta como meio de transporte, como mostra o gráfico 2:
Gráfico 2: Transporte utilizado no acesso ao Campus Uvaranas –UEPG.
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Muitas vezes o medo é algo criado, pois, conforme o questionário on-line , a maior parte dos discentes nunca foi assaltada, assediada ou sofreu tentativas dentro do Campus Uvaranas. Porém, sentem medo do mesmo jeito, devido a relatos de outros discentes e à mídia, o que causa uma seletividade espacial, ou seja, não frequentar determinados locais, medo de se deslocar de um lugar para outro e assim por diante, conforme afirma Fernandes (2009):
O medo produz seletividade espacial. A definição de critérios sobre insegurança em uma área atravessa um conjunto de fatores, que vão de fatos concretos a suposições baseadas em falsas prerrogativas, porém alimentadas fortemente por um conjunto de referências que ajudam a sustentar o sentimento de medo e insegurança. (FERNANDES, 2009, p 225).
= Considerações Finais
Pode-se concluir que os locais de medo presentes no Campus Uvaranas UEPG não são
necessariamente os blocos (central de salas, blocos E,F,L) centro de convivência (antiga
biblioteca), RU e os demais citados, mas sim no deslocamento entre eles, principalmente no período noturno, pois, de acordo com o questionário, a maioria dos discentes que responderam
são mulheres, somando 58,8 % e especificamente seus medos, além de assaltos, são estupro e assédio sexual, o que alimenta a hipótese de que as mulheres possuem mais medo que os
homens, visto que o corpo das mulheres é visto como sexual.
6. Referências
BORRILLO, Daniel. Homofobia: história e crítica de um preconceito. Tradução
Guilherme João de Freitas Teixeira. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. p. 144.
MONK, Janice. Gender in the Landscape: Expressions of Power and Meaning. In:
ANDERSON, Kay; GALE, Fay. (Eds.). Inventing places: studies in cultural geography.
Melbourne: Longman, 1992, p. 123-138.
SANTOS, Márcia Andréia Ferreira. RAMIRES, Julio Cesar de Lima. Percepção espacial da violência e do medo pelos moradores dos Bairros Morumbi e Luizote de Freitas em Uberlândia/MG. Sociedade e Natureza, Uberlândia, v. 21, n. 1, p. 131-145, abr. 2009. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/sn/v21n1/v21n1a09.pdf >. Acesso em: 30 ago. 2018.
FERNANDES, Fernando Lannes. Violência, Medo e Estigma: Efeitos sócio-espaciais da “atualização” do “mito da marginalidade” no Rio de Janeiro. 506 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, Rio de Janeiro,2009.
SILVA, Joseli Maria; ORNAT, Marcio Jose; CESAR, Tamires Regina Aguiar de Oliveira; CHIMIN JUNIOR, Alides Baptista; PRZYBYSZ, Juliana. O Corpo como elemento das Geografias Feministas e Queer: Um Desafio Para a Análise no Brasil. In: SILVA, Joseli Maria; ORNAT, Marcio Jose; CHIMIN JUNIOR, Alides Baptista. Geografias Malditas. Corpos, Sexualidades e Espaços. Ponta Grossa: Editora Toda Palavra, 2013, p. 85 – 142
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CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE COMO AS MULHERES VIÚVAS
DO DISTRITO DE ITAIACOCA PONTA GROSSA – PR SIGNIFICAM O
TRABALHO DOMÉSTICO NÃO REMUNERADO
Evelyn Stocco;
Márcio José Ornat. INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo analisar como a mineração influenciou na vida das
mulheres que trabalham de maneira não remunerada no distrito de Itaiacoca, Ponta Grossa,
Paraná, quais os significados do trabalho não remunerado para essas mulheres. A vida
cotidiana das mulheres viúvas em Itaiacoca no período de 1970 a 2000 é baseada na sua
vivência com os filhos e marido, que trabalha ou trabalhou na mineração.
Então, o trabalho consiste em fazer uma análise da fala das mulheres que estão vivas e que
são viúvas, que demonstram como era a sua vida durante o período em que seus maridos trabalhavam na mineração.
As fotos encontradas são: a mais antiga de 1970 e a mais recente dos anos 2000, tendo
assim um recorte temporal de 30 anos, a primeira foto encontrada, levou a primeira
entrevistada, que já é viúva, durante as entrevistas foram feitas gravações de som e imagem,
para transcrição e posteriormente um vídeo documentário que será entregue a elas a às escolas
de Itaiacoca.
Há uma grande lacuna cientifica se tratando da região de Itaiacoca, o distrito com mais de
quatro mil habitantes, é esquecido muitas vezes pela própria população da cidade de Ponta Grossa, é difícil encontrar trabalhos acadêmicos e qualquer outra fonte teórica sobre a mesma.
- de grande importância para o desenvolvimento da cidade, não apenas na mineração, que
serve tanto aos Campos Gerais, como também exportando produtos, como é o caso do
calcário dolomítico para a agricultura, além de outros aspectos produtivos como da celulose
oriunda de grandes madeireiras locais, e ainda sendo um forte potencial para o setor turístico
enquanto atrativo de lazer para os cidadãos princesinos.
Para entender sobre como é a vivência das mulheres é necessário descobrir mais sobre as características de cada uma delas, como é a sua relação trabalho – casa se tem filhos e quais as relações dos filhos com o trabalho da mineração.
O sistema em que o capitalismo funciona, depende do trabalho da mulher, pois sem a
mulher para fazer o trabalho doméstico, o homem não consegue fazer corretamente seu
trabalho na indústria/mineração, portanto o papel das mulheres de Itaiacoca é de extrema
importância para que a indústria da mineração funcione corretamente. Descobrir como esse
processo se dá a partir das relações homem mulher e trabalho.
Tudo isso fazendo uma análise do passado, em que as tecnologias não eram tão avançadas e a população rural do distrito de Itaiacoca – Ponta Grossa PR. Tampouco tinha acesso aos
meios de comunicação, e até mesmo falta de acesso à educação básica.
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Objetivo Geral: Como o trabalho doméstico não remunerado das mulheres viúvas
participou na atividade de mineração industrial no distrito de Itaiacoca, na cidade de Ponta
Grossa, Paraná, no período de 1970 a 2000.
Quais são as características sociais das mulheres que possuíam companheiros que trabalharam na atividade de mineração industrial no distrito de Itaiacoca, na cidade de Ponta Grossa, Paraná. Como as mulheres que possuíam companheiros que trabalhavam na atividade de mineração industrial significam o trabalho doméstico não remunerado. Como a atividade de mineração industrial era um elemento do cotidiano no relacionamento conjugal das mulheres que possuíam companheiros que trabalharam na atividade de mineração industrial no distrito de Itaiacoca, na cidade de Ponta Grossa, Paraná.
METODOLOGIA A metodologia utilizada nas entrevistas é a Snow Bol (bola de neve), que implica em uma
pessoa inicial que levará a outras possíveis entrevistadas que darão continuidade, como base uma fotografia de 1961, cedida por um morador de Itaiacoca, encontra-se a primeira semente
entrevistada. Segundo Juliana Vinuto (2014)
O tipo de amostragem nomeado como bola de neve é uma forma de amostra não
probabilística, que utiliza cadeias de referência. Ou seja, a partir desse tipo específico de amostragem não é possível determinar a probabilidade de seleção de
cada participante na pesquisa, mas torna-se útil para estudar determinados grupos
difíceis de serem acessados (VINUTO, 2014, p. 203).
Essa metodologia é relativamente recente em relação a outros métodos teóricos, portanto
não há muitos trabalhos que utilizem essa metodologia, que implica em uma pessoa inicial, a
“semente”, que indicará outras sementes para as entrevistas, que tem uma relação entre as
mesmas. Pode haver três possibilidades pra utilizar esse método, nesse caso será devido à
dificuldade de encontrar as mulheres para entrevistar, assim com a indicação da primeira
semente terá uma maior possibilidade de encontrar mais entrevistadas.
A fotografia nos levou a primeira semente, que ocasionalmente não foi encontrada, após
algumas conversas informais encontra-se a entrevistada 1, uma mulher que reside em Ponta Grossa, que após a entrevista indicou 3 possíveis mulheres para serem entrevistadas, e assim
segue abaixo o esquema utilizados para as entrevistas.
Figura 1: esquema feito a partir do método Snow Bol
Fonte: STOCCO, Evelyn.
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Explicando o esquema: os espaços retangulares, sem nada escrito, são as indicações que
não foram entrevistadas, por não encontrar a pessoa indicada, ter companheiros atualmente que não optaram por responder as questões, ou por simplesmente se negarem por motivos
pessoas a ceder à entrevista.
Nos espaços circulares estão as entrevistadas que cederam as entrevistas e concordaram
com os termos da pesquisa, respondendo a todas as perguntas feitas pela pesquisadora. Há uma semente que não foi entrevistada, mas colaborou para a pesquisa, indicando muitas
mulheres possíveis de serem entrevistadas.
Uma das entrevistadas (entrevistada 3), não foi por nenhuma indicação, mas ocorreu de
encontrar essa senhora a caminho de sua casa, e ao pedir uma informação, ela foi uma das que colaborou com a pesquisa, pois se encaixava nos quesitos para a entrevista.
O método nos leva a vários caminhos, podendo ser encontradas novas entrevistadas ou
não, como as sementes são de extrema importância para encontrar novas entrevistadas, devem
aparecer no esquema. Pode ser feito até atingir o objetivo a ser pesquisado, nesse caso o
tempo de pesquisa é curto, portando decidiu-se por 9 entrevistadas, algumas respostas
começam a se repetir e por se tratar de um ano de pesquisa a mesma pode ser continuada a
diante.
Após as entrevistas, foi feita a transcrição das mesmas e uma divisão das respostas, após
será feito a análise das falas e percepção de quais locais as entrevistadas participaram durante aquele período, como os espaços interferiram na sua vida e quais sentimentos despertaram-
nas cada local, e também em relação a pessoas do seu cotidiano.
A partir daí verificar quais os significados que cada uma dá ao trabalho doméstico não
remunerado e elaborar um gráfico e perceber quais as repetições e coincidências entre as entrevistadas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos inicialmente são as entrevistas realizadas e transcritas, como a
pesquisa está em andamento, ainda não se tem resultados satisfatórios. Mas uma breve análise já esta sendo feita das falas como 90% das entrevistadas trabalhou na agricultura familiar
antes de seu casamento, e tem esse trabalho como um auxílio a família. Cerca de 80% das entrevistadas não tem ensino fundamental completo, 10% tem
ensino médio completo e 10% são analfabetas e sem escolarização. Nesse caso podemos fazer uma análise também do grupo a partir da escolaridade, como elas se portaram diante de uma
entrevista, não como uma conversa, que era esperado para utilizar análise por evocações, mas
sim com perguntas e respostas curtas. Não sendo possível a análise por evocações, ainda está em andamento outro método para análise das falas.
CONCLUSÃO A principio as conclusões são mínimas, como já dito o trabalho esta em andamento, e
ainda serão obtidos resultados satisfatórios em relação aos significados do trabalho não remunerado das mulheres viúvas no distrito de Itaiacoca, Ponta Grossa – PR.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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VINUTO, Juliana. A amostragem em bola de neve na pesquisa qualitativa: um debate em aberto. Temáticas, Campinas, 22, (44): 203-220, ago/dez. 2014.
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ESPAÇO E AS SIGNIFICAÇÕES DE MULHERES PROFISSIONAIS DO
SERVIÇO DE LIMPEZA DA UEPG / PONTA GROSSA –PR
Joelma Aparecida Krepel;
Joseli Maria Silva;
INTRODUÇÃO
A pesquisa em andamento explora as diferentes significações espaciais que as
mulheres que realizam os serviços de limpeza na Universidade Estadual de Ponta Grossa
(UEPG) têm de sua atuação profissional. A pesquisa em desenvolvimento tem como base um
levantamento de informações básicas no Setor de Recursos Humanos da UEPG para saber o
número de pessoas envolvidas na dinâmica de limpeza, bem como a forma como está
estruturado o setor de manutenção. Foram realizadas 10 entrevistas com mulheres envolvidas
nas atividades de limpeza, por meio de um roteiro de entrevista semiestruturado e a
sistematização do discurso destas pessoas foi realizada por técnicas de análise de conteúdo. O
número de pessoas entrevistadas seguiu a lógica da saturação proposta por Sá (1998). Esse
autor argumenta que, para buscar compreender a construção das representações sociais dos
grupos sociais através de entrevistas em profundidade, pode-se empregar o critério da
‘saturação’, pois muitas vezes não há necessidade de cumprir um requisito amostral a priori
para obter resultados confiáveis, já que:
“a representação manifestada por um certo número de sujeitos e por um
número maior seria a mesma. Costuma-se empregar um critério conhecido como de ‘saturação’ para chegar a esse número-limite (não
definido previamente) no decorrer da pesquisa: quando os temas e/ou
argumentos começam a se repetir isto significaria que entrevistar uma
maior quantidade de outros sujeitos pouco acrescentaria de significativo ao conteúdo da representação; pode-se então realizar mais umas poucas
entrevistas e parar” (SÁ, 1998, p. 92).
A pesquisa em andamento compreende o espaço geográfico a partir de três premissas.
A primeira de que há uma divisão sexual do trabalho e que a reprodução social tem sido
majoritariamente um trabalho feminino. A segunda de que o espaço é generificado e também
fruto de subjetividades e simbolismo. A terceira é de que o espaço está em constante transformação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O espaço geográfico pode ser analisado de inúmeras formas e de diferentes posições
científicas. Esta pesquisa se desenvolve a partir de duas opções teóricas e metodológicas. A
primeira é que o espaço não é apenas material, mas também simbólico e subjetivo. A segunda, - de que o espaço é também generificado, pois experiências de homens e mulheres varia muito no que diz respeito às vivências cotidianas.
Além do espaço geográfico ser generificado e simbólico, é também um fruto de
relações de trabalho. O trabalho de limpeza, sofreu transformações na última década, notadamente o setor de serviços de limpeza em que foram contratados serviços terceirizados.
A terceirização dos serviços de limpeza trouxe o encontro entre profissionais efetivos e os
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contratados, gerando também uma série de novos relacionamentos. Elias (2000) argumenta
que encontros entre grupos já estabelecidos e novos grupos gera uma série de tensões que constituem relações que são específicas na constituição de espaços o que é também um
elemento de análise das transformações do trabalho de limpeza na UEPG. Os espaços universitários, em geral, são concebidos pela produção de saber científico
e educação, sendo que os aspectos de manutenção na organização do espaço são raramente fruto de interesse. Entretanto, a manutenção da limpeza é um aspecto fundamental para o
funcionamento da estrutura de pesquisa e educacional.
Ao enfocar o trabalho de limpeza, pode-se observar que há uma depreciação da
atividade. Segundo Lopes (2008), ainda no período escravista, foi predominantemente
realizado por mulheres negras. Ainda nos dias atuais, é uma atividade invisível e
desvalorizada e majoritariamente executada por mulheres. A autora argumenta que a origem
do trabalho doméstico feminino e de limpeza, já no período escravista no Brasil colonial era
considerado ‘não produtivo’ o que desvaloriza a atuação nesse ramo de atividade.
Contudo, toda a sustentação da vida humana está nas mãos de pessoas que cuidam,
limpam, alimentam uma parcela imensa da população como crianças, idosos e ainda muitos
homens que são incapazes de organizar a própria subsistência nos quesitos mais básicos que é
alimentação e limpeza. Apesar de essencial e básico para a reprodução da humanidade e
assim sendo, para reprodução da sociedade os trabalhos executados são colocados
simbolicamente como inferiorizados.
Para Nunes (2000, p. 147) os trabalhos de reprodução social que constituem uma
dimensão da reprodução da vida é fruto de conhecimento “que deveria ser
considerado/reconhecido no processo de formação de comportamentos e atitudes relativos à
ética e à convivência social”. Contudo, os trabalhos desta esfera social são considerados
‘naturalmente’ fáceis e inferiores. Da mesma forma são considerados os seus executores que,
em geral, são pessoas julgadas como incapazes de conceber ou produzir conhecimento a
respeito de seu trabalho.
Os trabalhos de limpeza têm sido desenvolvidos majoritariamente por pessoas do sexo
feminino. Esta divisão de tarefas ou divisão social do trabalho está pautada nas relações de
gênero, conforme argumentam Silva (2009). O espaço geográfico então está profundamente
relacionado com as questões de gênero, classe, raça e assim por diante. Construir a ideia de
que a ordem social é ‘naturalmente’ organizada por gêneros e não trazer para a discussão a
criação social da distribuição de tarefas é uma forma de manter o poder de gênero que
inferioriza as mulheres em relação aos homens em nossa sociedade. A hierarquização de
valores em relação aos gêneros têm sido um dos pontos de mais difícil discussão, pois quando
se atribui um viés de que homens e mulheres são ‘naturalmente’ diferentes há resistências em
desconstruir as ideias preconcebidas em relação aos gêneros. Socialmente aos homens são
atribuídas algumas características como força, razão e objetividade. Por sua vez, às mulheres
são consideradas frágeis, sentimentais, fracas, indefesas e delicadas. São as características
consideradas ‘naturais’ que colocam as mulheres como as principais responsáveis pelos
trabalhos de reprodução social que são majoritariamente invisibilizados e desvalorizados,
como é o trabalho de limpeza.
Nesse sentido, a pesquisa que está em curso tem como objetivo compreender como as mulheres trabalhadoras dos serviços de limpeza significam sua atuação profissional nos
espaços da UEPG, bem como entender a caracterização desse grupo de trabalhadoras, seu cotidiano de atuação e seus significados. Até o momento, os dados levantados na Prefeitura do
Campus da Universidade Estadual de Ponta Grossa (PRECAM), evidenciam que o setor de
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As entrevistas realizadas e transcritas evidenciam várias precariedades, desde o sentimento de invisibilidade, dificuldades em relação às condições de trabalho, bem como falta de valorização. Durante uma das entrevistas, foi feita seguinte pergunta pela pesquisadora:
Você acha que sua profissão é valorizada socialmente? E segundo a entrevista Lírio1:
Não... com todas as letras… as pessoas veem essa profissão como a última coisa do mundo... faxineira é uma palavra que ninguém quer ser chamado. Como que esse trabalho não fosse digno. Eu com certeza sou invisibilizada... pois no meu caso a situação e bem mais complexa… (risos) pois eu sou mulher, negra, pobre e faxineira...
então você nem precisa perguntar se eu sofro preconceito, sofro sim em todos os aspectos. Mais eu não deixo a peteca cair, e vou olhar de igual pra igual, não se esconder, nem sentir medo, porque perante a lei nós somos todos iguais como seres humanos (ENTREVISTADA LÍRIO, JULHO DE 2018).
De acordo com a fala acima, podemos perceber nitidamente que o trabalho de limpeza é tido como uma função insignificante, ainda na fala dela podemos perceber também o preconceito racial e de gênero. A entrevistada 07 sente-se no direito de ser igual a todos, dizendo que se “não deixar a peteca cair”, a mesma se faz enxergar, num meio que a torna invisível para uma grande parcela das pessoas que convive no espaço da UEPG.
CONCLUSÃO
A pesquisa em desenvolvimento complexifica os elementos de análise espacial, trazendo para a discussão o trabalho feminino no que diz respeito à limpeza, evidenciando que as mulheres têm sido sistematicamente invisibilizadas como agentes de produção do espaço, notadamente quando desempenham tarefas que são desvalorizadas socialmente.
1 - Foi utilizado nome de espécie de flor para preservar a identidade da entrevistada.
Fonte: PRECAN (2017)
Fonte: PRECAN (2017)
Organização: KREPEL, J.A. (2018).
Organização: KREPEL, J.A. (2018).
limpeza está majoritariamente ligado ao universo feminino, tanto em termos de trabalhadores efetivos como contratados temporariamente. Os gráficos a seguir evidenciam este fenômeno.
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REFERENCIAS
ELIAS, Norbert, SCOTSON, John L. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das
relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
LOPES, Renata Batista. De casa para outras casas: Trajetórias socioespaciais de trabalhadoras domésticas residentes em Aparecida de Goiânia e trabalhadoras em Goiânia. / Renata Batista Lopes – Goiânia, 2008.
NUNES, B.O. Merendeiras e serventes em situação de readaptação e o sentido do trabalho. (Dissertação de Mestrado). Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo
Cruz, Rio de Janeiro, 2000.
SÁ, Celso Pereira de. A construção do objeto de pesquisa em representações sociais. Rio de Janeiro: Ed UERJ, 1998.
SILVA, Joseli Maria. Geografias Subversivas: discursos sobre espaço gênero e
sexualidades. Ponta Grossa: Toda palavra, 2009.
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ESPAÇO E LESBOFOBIA NA CIDADE DE PONTA GROSSA, PARANÁ
Marcio Jose Ornat;
Raissa Lizieri Leite Mellado
Introdução
Entendemos por lesbofobia como manifestações homofóbicas acrescidas ou
misturadas com atitudes sexistas. (LEONEL, 2011). Estas ações de violência orientadas à
lésbicas não ocorre em um vazio, mas sim são compostas por aquilo que a Geografia tem
entendido por espaço, que segundo Massey (2008) pode ser conceituado como um produto de
inter-relações múltiplas e que está em constante evolução, logo, relações carregadas com
atitudes lesbofóbicas tornam um determinado espaço lesbofóbico.
A sociedade e os espaços são heteronormativas, invisibilizando a multiplicidade de
corpos, que só aparecem quando tencionam esse tecido heteronormativo. Esses espaços são
resultados da inter-relação e multiplicidade presente, além de ser diferente segundo as pessoas
presentes, que implica que elas podem ser privilegiadas ou oprimidas variando o momento
socio-espacial, mostra-se necessário estudar tais grupos de forma interseccional. (MASSEY,
2008; VALENTINE, 1999).
A vivência lésbica ocorre pela performance de gênero multiplicada pela sexualidade, a
lesbofobia é, então, construída pela mescla do machismo com o heterossexismo. (LEONEL,
2011; VALENTINE, 1999).
A lesbofobia pode ocorrer como: governamental, sociocultural, violência extrema,
sutil, internalizada. Sendo a violência sutil podendo ser comparada com a violência simbólica
descrita por Bourdieu (2012), que ocorre pelo habitus, é histórica e familiarizada, se passa por
natural resultando em uma violência um tanto imperceptível para a sociedade e até mesmo
para quem a sofre.
Objetivos
Os objetivos de tal pesquisa são compreender como o espaço compõe a lesbofobia na
cidade de Ponta Grossa, Paraná, analisando o processo de constituição de identidades lésbicas,
as tensões nascidas da relação entre espacialidades e lesbofobia e as estratégias estabelecidas
pelo grupo para a afirmação de identidades lésbicas.
Metodologia
Nosso referencial empírico está relacionado a realização de 7 entrevistas semi
estruturadas com mulheres que se autoidentificam como lésbicas. Todo o volume de fala
resultou em 5 horas de conversação que foram transcritas e sistematizadas a partir da análise
de conteúdo. Tal metodologia está relacionada a localização de momentos de fala,
denominadas de evocações, e a classificação destas mesmas evocações segundo
espacialidades discursivas, falas que tratavam de acontecimentos ocorridos em espacialidades
específicas ou tratavam das próprias espacialidades, e suas consequentes categorias
discursivas.
Resultados e Discussões
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As entrevistadas definem lesbofobia como sendo ações de desrespeito, fetichização,
violência verbal, física, psicológica ou institucional, independentemente do grau, contra e
motivado pela sexualidade da mulher lésbica.
Casa
A maior incidência de lesbofobia em casa ocorre onde as entrevistadas foram criadas,
quem as pratica são o pai com gestos violentos, a mãe com discursos violentos, os irmãos têm
fala e ações violentas, podendo fetichizar a sexualidade dissidente da irmã. Há um certo
isolamento e um discurso religioso cristão presente ao referir-se da família geral. Rebecca
lamenta que no espaço familiar, onde espera-se maior acolhimento e segurança, é um dos
espaços mais lesbofóbico vivido.
Em relação ao ser lésbica, a casa dos pais é um lugar desconfortável, por isso elas
almejam morar sós – e quando o fazem se sentem confortáveis e seguras. A casa dos amigos
também são espaços mais seguros que a casa dos pais, pois lá não a medo de ser repreendida
por expressarem sua liberdade, além de ser espaços em que estão protegidas das violências
machistas e lesbofóbicas, fazendo de sua casa o único lugar em que ela se sente segura.
Corpo
A sociedade geral classifica as mulheres de duas formas segundo os estereótipos: as
femininas como heterossexuais, as masculinas como lésbicas, dessa forma as que tem traços
de feminilidade tem suas vivências sexuais invisibilizadas pela sociedade.
Cidade
As entrevistadas consideram a cidade de Ponta Grossa majoritariamente conservadora
e, consequentemente, lesbofóbica. Por questões de gênero acrescidas a sexualidade, surgem
restrições em determinadas ruas e horários, isso se mostrou presente no cotidiano das
entrevistadas. O centro da cidade e nos campi UEPG o conservadorismo da população que os
frequenta é mais sutil. Já nos bairros mais afastados do centro, nos transportes públicos e no
período da noite é mais perceptível o conservadorismo, as deixando desconfortáveis com suas
presenças e limitando seus corpos, isso se dá devido o machismo e a homofobia da sociedade,
que as faz temer ser violentadas sexualmente.
Praticamente todas as entrevistadas quando perguntadas o que é lesbofobia elas
consideram que é a violência independentemente da escala, porém elas só entendem como
agressão quando esta é mais grave, pois estão tão insensibilizadas com as notícias de
violência, não apenas LGBTfóbica, mas também machistas. Bourdieu (2012) caracteriza a
violência simbólica como uma violência sistemática a um grupo, que se passa por natural,
porém não é, é fruto de uma sociedade e seus habitus. Essa violência acontece sem coação
física e não é perceptível sequer a quem a sofre, isso se dá pela insensível familiarização com
um mundo permeado pelas estruturas de dominação.
Universidade
Nas universidades a lesbofobia ocorre diferentemente, variando segundo as grandes
áreas do conhecimento. Nos cursos de humanas onde discute feminismo e pautas pró-LGBT,
esse preconceito é mais velado. Nos que não discute estas temáticas, o preconceito é mais
escancarado. Apesar dessas diferenças, a UEPG é um dos espaços menos lesbofóbicos da
cidade, devido essas discussões como um todo. Todavia, nas outras áreas, ou mesmo nas de
humanas, há pessoas lesbofóbicas, que estereotipam, fetichizam, invisibilizam e isolam
pessoas que fogem da norma heteronormativa,
Escola
Na infância, várias das entrevistadas ainda não começara o processo de
reconhecimento da sexualidade e tentavam se adaptar a norma neutra: fazer comentários
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positivos a cerca da aparência dos colegas meninos, forçava – seja por elas, seja pelos
responsáveis – feminilidade para ser incluídas e aceitas nas relações de amizade. Se elas
tinham quaisquer trejeitos fora da norma como ser gorda, jogar futebol, usar roupas ditas
masculinas, etc, elas sofriam bullying e eram rejeitadas de alguma forma. Elas lidavam
internamente com estratégias do armário, em se mostrar ou não lésbicas, para assim tentar
protegerem-se de ataques lesbofóbicos (SEDGWICK, 2007).
Espaço Político
Não é incomum que mulheres lésbicas sintam-se invisibilizadas dentro do próprio
movimento LGBT, devido o desconhecimento de que só por uma pessoa sofrer determinada
opressão, não significa que ela não pode oprimir outrem. Além disso, essa invisibilização se
dá pelo falocentrismo e por considerar de que a homofobia é capaz de englobar todas as
opressões da sigla, mas não é, por isso é necessário fazer recortes em todos os coletivos que
visam um futuro mais igualitário.
Em 2017, houve a 1º Marcha da Visibilidade Lésbica de Ponta Grossa, suas
participantes sentiram-se orgulhosas enquanto gritavam sobre a reivindicação da presença da
mulher lésbica na sociedade. Porém, houveram pessoas do entorno que reagiram
negativamente à manifestação, com olhares de reprovação, além disso, houve também um
homem sem camisa que assediava sexualmente casais lesboafetivos. Um dos ocorridos mais
marcantes na marcha e que todas as entrevistadas presentes relataram foi de um homem que
dirigia uma caminhonete e tentou intervir na marcha, quase atropelando as participantes.
Casas noturnas
A presença de lésbica em casas noturnas dedicadas ao público geral é extremamente
invisibilizante e fetichizante, ao contrário de casais de homens gays, que quando trocam
carícias eles são tratados com agressividade podendo ser expulsos do local, mulheres lésbicas
não o são, pois são vistas como espetáculos pornográficos de forma a agradar olhares. Além
disso, mesmo quando tais mulheres estão com suas namoradas ou ‘ficantes’, elas ainda
recebem assédio indesejado e insistente de homens, que deslegitimam e desrespeitam sua vida
lesboafetiva e suas vontades. Isso é muito motivado pela questão falocêntrica, que se não há
pênis na relação afetivo sexual, então não é uma relação válida. Além dessas violências mais
comuns que chegam a fazer parte do cotidiano feminino e lésbico, há também as violências
mais explícitas e físicas, como o caso citado por Jessica em que um segurança a tocou sem seu
consentimento e a chamou de “sapatão gostosinha”, ela deu um tapa e então foi expulsa da
casa noturna.
Rua
A rua tem potencial de ser um dos lugares mais desconfortáveis para as mulheres
lésbicas, pois além de já sofrerem assédio sexual por serem mulheres, essa agressão é seguida
por gritos lesbofóbicos seja as chamando de ‘sapatão’ com teor pejorativo, seja afirmando que
a vivência delas é produto da ausência de homens e, consequentemente, pênis.
Foi relatado por Crist sobre um caso que sofreu com sua namorada a noite, em que 2
homens as chamaram de sapatão e seguiram elas, que ficaram com medo de sofrer estupro
corretivo, que como Leonel (2011) descreve, é um tipo de abuso sexual com o intuito de
“ensinar” as lésbicas a voltarem à norma, ou seja, a “aprenderem a ser mulheres de verdade” e
então se atraírem por homens. A vivência de muitas das entrevistadas são marcadas pelo medo do machismo e da
lesbofobia, fazendo-as regular suas carícias e estarem sempre alertas para o caso de haver
alguma manifestação suspeita, elas já poderem se preparar ou até mesmo sair do local.
Empresa
Em relação a expor ou não sua vivência sexual, na escola tradicional só se fala de sua
sexualidade com os amigos recém-formados e que, por isso, discutem diversidade sexual com
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base em feminismo. Outra entrevistada deixa claro sua orientação sexual, deixando que a
pessoa decida se quer contratá-la ou permanecê-la na empresa ou não. Foram relatados
situações lesbofóbicas explícitas que comprometeram seu desempenho profissional, uma das
entrevistas foi demitida ao descobrirem sua sexualidade.
Espacialidade Religiossa
Quanto as espacialidades católicas, elas criticam a hipocrisia do discurso de amar e
respeitar a todos, porém isso não se aplica às lésbicas, por exemplo. Sodalita lamenta a perda
de uma amiga religiosa mais velha que antes de descobrir sua sexualidade era muito amável,
após descobrir tornou-se distante e seca.
Clínica
Em geral, as entrevistadas compreendem a importância de ginecologistas, mas não
costumam frequentá-lo. A justificativa mais comum para isso é de que esses profissionais não
têm experiência e conhecimento da saúde sexual lésbica, insistindo para que elas tomem
pílulas anticoncepcionais desnecessariamente, podendo chegar a não auxiliar nos protocolos
de prevenção e detecção de doenças sexualmente transmissíveis.
Considerações Finais
A presente iniciação científica mostrou um panorama das espacialidades lesbofóbicas
de Ponta Grossa, Paraná, nos permitindo perceber que todas as espacialidades da cidade tem,
pelo menos, algum resquício de lesbofobia.
Lesbofobia é a opressão interseccional que mulheres lésbicas sofrem, sendo muito
presente na vivência socioespacial das mesmas. Essa forma de opressão dupla ocorre em
praticamente todos os espaços da cidade focal, sendo a espacialidade mais segura a casa
quando moram sós ou na casa de amigos, a lesbofobia se mostra diferente segundo a
espacialidade e o período do dia.
Se a pessoa participa de debates de viés feminista, ela tende a ser menos conservadora
e lesbofóbica, todavia mesmo quem participa ou até mesmo faz parte de alguma minoria
social pode ter atitudes lesbofóbicas mesmo sem entender que é lesbofobia. Quem não discute
feminismo é ainda mais lesbofóbico com gestos mais violentos.
A lesbofobia é percebida nessa cidade a partir de deslegitimação, invisibilização,
fetichização, isolamento, discursos violentos e agressão física. Essa violência pode ser divida
em dois extremos de uma nuance que são a violência simbólica (muito comum) e a violência
extrema (como o estupro corretivo e lesbocídio).
Cada uma delas possui estratégias de como lidar com a sociedade lesbofóbica,
pensando em expor – e se sim, como – ou não sua sexualidade, com a performance de gênero,
com coletivos, discussões dentro e fora de sala de aula, movimentos sociais, etc.
Apesar do machismo e da homofobia que sofrem, elas gostam de ser lésbica e se
pudessem escolher, escolheriam manter a sexualidade, pois não se veem e não gostam da ideia
de se relacionar romântica e sexualmente com homens. Elas preferem lidar com as estruturas
opressivas que mudar de sexualidade.
Referências Bibliográficas
BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. 11º ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2012. 160 p.
LEONEL, Vange. Lesbofobia. In: VENTURI, Gustavo; BOKANY, Vilma. (Org.).
Diversidade sexual e homofobia no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo,
2011, p. 89 –96.
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MASSEY, Doreen. Pelo espaço: uma nova política da espacialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.
SEDGWICK, Eve K. A epistemologia do armário. Cadernos pagu, v. 28, p. 19-54, 2007.
VALENTINE, Gill. (Hetero)Sexing Space: Lesbian Perceptions and Experiences of
Everyday Spaces. Environment and Planning D: Society and Space, v. 11, p. 395 –413,
1993.)
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ESPAÇO E MOVIMENTOS SOCIAIS COMO ARTICULADORES DO
PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE UMA CIDADANIA PARA
PESSOAS LGBTT NO BRASIL (2000-2015)
Bruna Iara Lorian Chagas; Marcio José Ornat;
Cleide Lavoratti; Caio Shigueharu Kataoka
1. Introdução
Este trabalho indica a relação entre espaço e movimentos sociais, direcionados à
construção de uma cidadania para pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais (LGBTT) no Brasil, entre os anos de 2000 a 2015. Assim, esta reflexão procura
observar a organização da distribuição espacial de legislações orientadas a pessoas LGBTT,
evidenciadas a partir da sistematização de 225 a partir do software QuantumGis 2.18 – Las
Palmas, os quais foram leis, projetos de lei, emendas, decretos, constituições estaduais,
portarias, resoluções, ações civis públicas, tratados, convenções, projetos de decreto e planos
voltados a estas pessoas. As legislações aqui apresentadas são a tradução das lutas dos movimentos sociais
LGBTT que passaram a constituir a agenda do Estado, por meio de ações, serviços, programas e projetos constituintes das políticas sociais, assim promovendo a cidadania.
2. Objetivos
Buscamos através desta pesquisa i) demonstrar a distribuição das legislações LGBTT
no Brasil, segundo as instâncias- Federal, Estadual e Municipal; ii) estabelecer os
agrupamentos das políticas LGBTT segundo âmbito, ano, objeto e tipo da legislação; iii)
realizar breve análise quanti-qualitativa dos documentos sistematizados em banco de dados a
partir de pesquisa documental. Com isto, apresentaremos um panorama das legislações
LGBTT no Brasil, em um recorte temporal de quinze anos (2000-2015).
3. Metodologia
Para tanto, foram utilizados os seguintes procedimentos metodológicos: i) revisão
bibliográfica; ii) pesquisa documental; iii) Criação um Banco de Dados; iv) Criação de um
Cartograma das legislações LGBTT no Brasil, segundo os âmbitos Estadual e Municipal; v) análise de conteúdo quanti–qualitativa.
4. Resultados e Discussões
Para a análise quanti-qualitativa, buscamos observar a distribuição das legislações no
Brasil considerando a constituição do espaço a partir de performances inter-relacionais. Isto
se dá por meio das práticas materialmente incorporadas, como é o caso das ações dos movimentos sociais LGBTT nos âmbitos Municipal, Estadual e Federal.
A cidadania seria um conjunto aberto de elementos complexos e sutis, encontrados em
diversas barganhas e combinações em diversos contextos. Estas combinações muitas vezes
incluem noções de equidade, individualidade, autonomia, liberdade, direitos e deveres, proporcionando um conjunto de maneiras de as pessoas tomarem para si o estabelecimento da
cidadania (GORDON; STACK, 2007).
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O espaço se torna um conceito relevante na discussão sobre cidadania e edificação de
políticas sociais para pessoas LGBTT, se considerarmos que ele é constituído por meio das
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práticas materialmente incorporadas, como é o caso das ações do movimento social LGBTT nos âmbitos Federal, Estadual e Municipal.
Segundo Massey (2008), o espaço é produto de inter-relações baseado em noções de entidades/identidades mutáveis. O espaço também é esfera da existência da multiplicidade e heterogeneidade, estando ele em constante processo de elaboração.
Assim, através da vivência espacial destes grupos, discutimos, conforme Rose (1999), que, perfomances inter-relacionais, interativas, entre movimentos sociais, Estado e pessoas LGBTT, são constituídas para proporcionar garantia de direitos a estas últimas.
Sendo assim, podemos melhor evidenciar como estas performances se articulam aos direitos LGBTT no processo de construção da cidadania para estas pessoas nos cartogramas a seguir.
Cartograma 01: Distribuição das legislações municipais LGBTT 2000-2015
FONTE: CHAGAS Bruna Iara Lorian Chagas. Pesquisa documental, 2014. ORG: KATAOKA, Caio Shigueharu, 2017.
Podemos observar a partir do Cartograma 1, que das 27 Unidades Federativas, apenas
dois estados (Espírito Santo e Amapá) não possuem legislações em âmbito estadual para
pessoas LGBTT. Isto pode coincidir com a não existência ou existência tardia de movimentos sociais em tais estados, como é o caso do Amapá, que teve um Conselho Estadual LGBTT
instituído em 2015, ano final do recorte deste trabalho. No cartograma 02 podem ser observadas as legislações em âmbito municipal: Neste
recorte de quinze anos, foram identificados 92 municípios a partir da Pesquisa de Informações
Básicas dos Municípios de 2009, e 45 municípios a partir da base de dados elaborada em 2014, para o trabalho “Configuração das Políticas Públicas LGBT no Brasil de 2000 a 2015
no Brasil”. Segundo o censo demográfico de 2013 do IBGE, o Brasil possui 5.570 municípios.
Somando as duas bases de dados, o total de legislações fica em 137 municípios, isto
representa 2,46% dos munícipios brasileiros. Dessa forma, torna-se impossível não observar o reduzido número de municípios que possuem ou possuíam legislações voltadas às pessoas
LGBTT dentro destes quinze anos que compõe universo desta pesquisa.
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Cartograma 02-Distribuição de legislações LGBTT em âmbito municipal no Brasil 2000-2015
FONTE: CHAGAS Bruna Iara Lorian Chagas. Pesquisa documental, 2014. ORG: KATAOKA, Caio Shigueharu, 2017
As informações dispostas neste cartograma traçam um paralelo com o gráfico organizado pela Pesquisa de Informações Básicas Municipais do IBGE do ano de 2009, que podem ser observadas na figura 01.
Figura 01: Percentual de Municípios com políticas específicas desenvolvidas pelo órgão gestor de direitos humanos para minorias sociais em 2009 no Brasil.
Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Diretoria de Pesquisas.
Pesquisa de Informações Básicas Municipais. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. p. 149
Podemos observar pelos municípios descritos como aqueles que possuem alguma legislação, que na maioria dos casos, trata-se de capitais, como, Curitiba, Brasília, Palmas, Belo Horizonte, Porto Alegre, entre outras.
Segundo o IBGE (2010, p. 109), é possível que isso ocorra, pelos maiores portes populacionais e “(...) contam com maior estrutura, maior interação com o governo federal e, assim, maior reflexão sobre novas temáticas por ele lançadas na agenda”.
Ainda segundo o IBGE (2014), o nível Municipal é o mais próximos dos cidadãos, podendo refletir de forma mais eficiente suas demandas. E mesmo os níveis Municipais e Estaduais tendo melhores mecanismos de tradução de reivindicações, ainda aparecem lacunas
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de atenção nos níveis Estaduais e Municipais, principalmente relacionadas às minorias sociais, como as pessoas LGBTT, população em situação de rua, ciganos, etc.
Também é possível observar, tanto nas informações elencadas a partir das pesquisas
MUNIC, quanto na pesquisa realizada para elaboração deste trabalho, que possivelmente, estas legislações apareçam em maior número em cidades de maior porte populacional, pela
possibilidade de maior interação com outros âmbitos (Estadual e Federal); e pela maior quantia de recursos e esforços direcionados a determinado tema (IBGE, 2010).
Já o cartograma 03, articula as 137 legislações existentes em âmbito municipal e que
com a existência de movimentos sociais em âmbito municipal. Sendo assim, pode ser observado a partir do Cartograma 03 em quais municípios existem legislações, quais existem
legislações e movimentos sociais e quais apresentam apenas movimentos sociais. Foram identificados 82 municípios que possuem movimento social LGBTT,
representando 1,47% dos municípios brasileiros. Também foram identificados que 41 municípios possuem movimento social e legislação, representando 29, 93% dos 137
municípios que possuem legislação.
Cartograma 1: Distribuição de Legislações e Movimentos Sociais para LGBTTs no Brasil de 2000 a 2015.
FONTE: CHAGAS Bruna Iara Lorian Chagas. Pesquisa documental, 2014. ORG: KATAOKA, Caio Shigueharu, 2017.
Importante observar que muitos municípios que apresentam movimentos sociais LGBTT possuem legislação, fomentando o pressuposto de que os movimentos sociais
exercem pressões na agenda do Estado, para a formulação de direitos voltados à construção de uma cidadania LGBTT.
Também ressaltamos que conforme demonstrado nos dois últimos cartogramas, estas pressões exercidas pelos movimentos sociais consideradas aqui como aspecto inter-relacional e constitutivo do espaço, podem ser evidenciadas e comprovadas de forma empírica.
A existência de municípios com legislação municipal que não apresentam movimentos sociais pode levar a dúvida da efetividade destes enquanto aspecto crucial na formulação de
direitos e cidadania LGBTT. Entretanto, a pesquisa empírica demonstra que estados como
Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul,
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Rondônia, Roraima e São Paulo possuem movimentos sociais e instâncias representativas
(como conselhos) voltadas às reivindicações do movimento LGBTT, e que as legislações
formuladas em âmbito estadual desembocam em cobertura para todos os municípios pertencentes a ele.
Consideramos assim, partindo da perspectiva de Massey (2008), que o espaço é
mutável, e está em processo constante de elaboração. Os municípios que no recorte temporal
desta pesquisa não apresentam legislações e/ou movimentos sociais LGBTT podem se transformar e passar a tê-las.
Da mesma forma, aqueles que possuem legislação e/ou movimentos sociais, por
fatores conjunturais e inter-relacionais, podem deixar de tê-los, ainda mais se levarmos em
conta o fato de que a construção de legislação e políticas sociais para LGBTT está
condicionada a um mecanismo de gênero, e à discursos biológicos, jurídicos e médico
patologizantes que compreendem aqueles que não seguem o padrão heterossexual,
transgressores, e por isso têm seus direitos e cidadania cerceados por não seguirem a regra. Portanto, destacamos que é contínuo o processo de construção de direitos a partir das
ações dos movimentos sociais, e que este processo, analisado espacialmente, se manifesta em fenômeno mutável e complexo na inter-relação de entidades e identidades voltadas a
edificação de uma cidadania para LGBTT.
5. Considerações Finais
Este trabalho analisou a relação entre espaço e movimentos sociais na edificação de uma cidadania LGBTT no Brasil. Como visto, a cidadania é um conjunto aberto de elementos
encontrados em diversas barganhas e combinações em diversos contextos, sendo re-imaginada e praticada a partir de diversas configurações.
Evidenciamos que a prática dos movimentos sociais LGBTT tem paulatinamente
angariado espaços de cidadania a partir de direitos voltados a estas pessoas. Também
observamos que por mais que estas legislações aparentem serem iniciativas isoladas e
enfraquecidas, elas manifestam a acolhida pelo Estado das demandas dos movimentos sociais
LGBTT. Assim, ao passo que são acolhidos os direitos, são providas possibilidades para a
expressão e construção de cidadania para estas pessoas.
REFERÊNCIAS
GORDON, Andrew; STACK, Trevor. Citizenship Beyond the State: Thinking with Early Modern Citizenship in the Contémporary World. Citizenship Studies, v. 11, n. 2, p. 117 -
133, 2007.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Diretoria de Pesquisas.
Pesquisa de Informações Básicas Municipais. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em: - http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv44692.pdf>. Acesso em: 11 de Ago de 2017.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Diretoria de Pesquisas.
Pesquisa de Informações Básicas Municipais. Rio de Janeiro: IBGE, 2014.
MASSEY, Doreen. Pelo Espaço: uma nova política da espacialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. 312 p.
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Phillip.Human Geography Today. Cambridge: Polity Press, 1999, p. 247 - 259.
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ESTADO DE ARTE DAS PESQUISAS SOCIALIZADAS NOS
PERIÓDICOS QUALIS CAPES COM FATOR DE IMPACTO SOBRE
GEOGRAFIA FEMINISTA/SEXUALIDADE NO BRASIL
Ramon de Oliveira Bieco Braga;
Ana Paula Benato;
Gabriele Ewílin de Oliveira Ribas.
.
Elementos introdutórios
A pesquisa problematiza quais são os temas e abordagens metodológicas utilizadas
nas pesquisas concernentes a Geografia Feminista e das Sexualidades no Brasil? Em quais
estratos estão concentradas as publicações concernentes as essas áreas do conhecimento?
A realização dessa pesquisa se justifica pela abordagem feminista na Geografia que é
um movimento social que desnaturaliza determinados cânones impostos pelo modo
androcêntrico de se avançar no conhecimento científico.
Desse modo, operacionalmente, considerou-se os periódicos brasileiros avaliados
pela Qualis CAPES com fator de impacto na área de Geografia e pesquisou-se sobre os
artigos publicados com base nos descritores Gênero, Feminismo, Geografia Feminista,
ideologia de gênero, identidade de gênero, violência contra gênero, Sexualidade e Geografia,
sendo possível localizar 65 artigos publicados, conforme demonstra a Tabela 01.
TABELA 01 – ARTIGOS PUBLICADOS NOS PERIÓDICOS BRASILEIROS DE GEOGRAFIA, A1, A2, B1
E B2, ENTRE OS ANOS 1947 A 2017.
PALAVRA CHAVE ESTRATO
A1
ESTRATO
A2
ESTRATO
B1
ESTRATO
B2 TOTAL
GÊNERO 10 05 26 16 57
FEMINISMO - - - - -
GEOGRAFIA FEMINISTA - - 02 - 02
IDEOLOGIA DE GÊNERO - - - - -
IDENTIDADE DE GÊNERO - - - - -
VIOLÊNCIA CONTRA GÊNERO - - - - -
SEXUALIDADE 01 - 04 01 06
GEOGRAFIA DA SEXUALIDADE - - - - -
TOTAL 11 05 32 17 65
FONTE: Banco de Periódicos CAPES (2018). Organizado Ana Paula Benato e Ramon O. B. Braga (2018).
Com base na Tabela 01, é possível observar que somente as palavras-chaves Gênero,
Geografia Feminista e Sexualidade localizaram resultados, não sendo identificados artigos
com as outras palavras-chaves e considerando o fator de impacto como recorte, afere-se que o
periódico mais antigo que disponibilizava on-line o mais antigo número até o ano 2018, foi o
periódico Boletim Geográfico Goiano que data o primeiro número do ano 1947, justificando o
recorte temporal da pesquisa.
Estado de Arte das publicações brasileiras sobre Geografia Feminista e das Sexualidades
Os resultados obtidos demonstram que, de acordo com a Figura 01, dos 65 artigos
publicados, a maioria deles ocorreram no estrato B1 com 32 publicações, seguido do B2 com
17 publicações, A1 com 11 publicações e A2 com 05 publicações.
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Os periódicos avaliados pela Qualis CAPES são um bom caminho para se
compreender o que é produzido pela Geografia Feminista e das Sexualidades no Brasil, pois
as monografias dos cursos de graduação e especialização, bem como as dissertações de
mestrado e teses de doutorado socializam os resultados nos periódicos. Para tanto, a
quantidade dos artigos publicados em cada estrato possibilita a interpretação acerca dos temas
que são aceitos em estratos elitizados e os que não são aceitos, isto é, conforme Silva e Ornat
(2011) os não ditos geográficos.
Os temas publicados nos artigos identificados remetem a construção histórica acerca
do termo família, considerações sobre as pesquisas de gênero na Geografia, raça,
corporeidade, vestimenta e violência social.
FIGURA 01 – QUANTIDADE DE ARTIGOS PUBLICADOS EM PERIÓDICOS BRASILEIROS, NA ÁREA
GEOGRAFIA, AVALIADOS PELO QUALIS CAPES A1, A2, B1 E B2, ENTRE 1947 A 2017.
FONTE: Banco de Periódicos CAPES (2018). Organizado Ana Paula Benato e Ramon O. B. Braga (2018).
Conforme é demonstrado na Figura 02, as categorias de análises geográficas
identificadas foram gênero, espaço, espaço-gênero, território, corpo e paisagem, e os grupos
sociais abordados foram as mulheres, pessoas negras, homossexuais, travestis e transexuais.
O mesmo resultado foi identificado por Cesar (2017) que analisou 13.990 artigos
publicados em 90 periódicos que apresentam Qualis CAPES A1, A2, B1, B2, B3, B4 e B5. Os
resultados obtidos por Cesar (2017, p.08) demonstram “(...) que apenas 167 destes tratam de
gênero (1,2%), 49 abordaram a temática de sexualidades (0,3%) e somente 29 artigos (0,2%)
apresentam a discussão de corpo”.
Diante do exposto, Silva (2009a) compreende que a produção científica geográfica
ocorre com a relação de poder entre os grupos sociais e que os grupos não hegemônicos
tencionam por espaço e visibilidade no mundo acadêmico. “Os grupos periféricos das relações
de poder em geral vivem espacialidades que são fluidas e intermitentes e que estão conectadas
às paisagens hegemônicas mais permanentes, duráveis e de fácil expressão material” (SILVA,
2009a, p.80).
Contudo, é no estrato B que os artigos da Geografia Feminista e das Sexualidades
possuem mais visibilidade. Embora em ambos os estratos os artigos mais antigos datem de
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1998, observa-se que é a partir dos anos 2005 que ocorre uma expressiva representatividade
das publicações acerca da Geografia Feminista. Essa representação é observada na Figura 03
que demonstra a quantidade de artigos publicados, entre 1998 a 2017, sobre Geografia
Feminista.
A partir da primeira década do século XXI, “o movimento feminista da Geografia
ampliou as noções das diferenças que marcam profundamente o espaço, em qualquer escala
adotada para análise, e qualquer que seja o foco de interesse” (SILVA, 2009b, p.43),
evidenciando o corpo e identidade das pessoas de gêneros não binários.
FIGURA 02 – ARTIGOS PUBLICADOS EM PERIÓDICOS BRASILEIROS POR CATEGORIAS DE
ANÁLISE E ABORDAGENS DE PESQUISA, AVALIADOS PELO QUALIS CAPES A1, A2, B1 E B2,
ENTRE 1947 A 2017.
FONTE: Banco de Periódicos CAPES (2018). Organizado Ana Paula Benato e Ramon O. B. Braga (2018).
Diante do exposto, Oberhauser, et. al. (2003) demonstram que a Geografia Feminista
produz ciência, de acordo com a Tabela 01, com base nas abordagens da representação
cultural, da teoria psicanalítica, do pós-modernismo e dos estudos queer, sob a metodologia da
Etnografia, Análise Textual, Narrativas e Posicionalidade e reflexibilidade. No Brasil,
conforme a Figura 02, as abordagens mais recorrentes são quantitativas, qualitativas, quali-
quantitativas, dentre outras.
A literatura queer possibilita, segundo Silva (2009b), a realização de pesquisas que
compreendem as espacialidades dos grupos sociais que são marginalizados pela
heterossexualidade compulsória e torna possível que o conhecimento geográfico científico
seja repensado acerca da banalização de uma área em detrimento de outras.
Salienta-se que existem inúmeros artigos publicados em outros periódicos científicos,
contudo, esse levantamento de dados realizado foi para exemplificar o panorama das
pesquisas feministas e da sexualidade e demonstrar que os artigos da Geografia Feminista
possuem mais espaço de socialização nos estratos B1 e B2, na área da Geografia, sendo que as
pessoas pesquisadoras possuem mais dificuldade em publicar seus artigos nos periódicos de
estratos A, devido ao preconceito elitista que julga quais temas geográficos recebem mais
atenção do que outros temas como, por exemplo, os contemplados pela Geografia Feminista e
das Sexualidades. Cesar (2017) também realizou um levantamento sobre os artigos e
constatou que a publicação dos mesmos:
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(...) estão concentradas em periódicos dos estratos B1 e B2, tendo em vista que a
abordagem de gênero não tem sido desenvolvida nos centros de maior prestígio
acadêmico, os artigos sobre gênero, mulheres e sexualidades praticamente não
ganham acesso aos periódicos científicos classificados nos estratos mais qualificados
pelo Sistema Qualis Capes (A1, A2), o que evidencia uma desvalorização da
temática pelos instrumentos legitimadores da academia (CESAR, 2017, p.09).
FIGURA 03 – QUANTIDADE DOS ARTIGOS PUBLICADOS EM PERIÓDICOS COM FATOR DE
IMPACTO QUALIS CAPES, SOBRE TEMAS RELACIONADOS A GEOGRAFIA FEMINISTA, ENTRE OS
ANOS 1998 A 2017.
FONTE: Banco de Periódicos CAPES. Organizado Ana Paula Benato e Ramon O. B. Braga (2018).
Cesar (2017) demonstra que embora as pesquisas geográficas feministas brasileiras
não tenham sido difundidas amplamente nos centros tradicionais de pesquisas como a
Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), essas
pesquisas dialogam com autores(as) renomados internacionalmente, sobretudo na Europa.
Esse diálogo científico denúncia que existe um rompimento acadêmico no tocante “(...)
hierárquico nacional de organização da produção científica, constituindo uma relação entre a
periferia acadêmica e o exterior, sem passar pelos centros dominantes nacionais” (CESAR,
2017, p.09).
Com base no levantamento dos artigos publicados nos periódicos com o fator de
impacto Qualis CAPES, foi possível identificar que 13 pertenciam aos(as) autores(as)
vinculados a UEPG, 11 a USP, 05 a UNICAMP, 04 a UFRJ, 03 a UFPE, 03 a UFG, 03 a
UFRGS, 02 a UNIR, 02 a UERJ, 02 a UFPR, 02 a UFSC, dentre outras instituições.
Considerações Finais
O presente levantamento de dados demonstrou-se uma potencial estratégia de
inteligibilidade em relação as pesquisas desenvolvidas na área da Geografia Feminista e das
Sexualidades no Brasil, em virtude da sua relevância social em desnaturalizar os cânones
sociais androcêntricos que concedem privilégios aos homens, brancos, burgueses, ocidentais e
heterossexuais.
Salienta-se que as pesquisas localizadas no levantamento de dados, encontram-se
publicadas em estratos Qualis CAPES com menos representatividade em consideração ao
fator de impacto, devido ao preconceito elitista acadêmico que julga quais temas geográficos
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devem ser incluídos ou não nas agendas de pesquisas dos programas de pós-graduação em
Geografia no cenário nacional.
Diante do cenário exposto, sugere-se que as futuras pesquisas sobre o estado de arte
possam investigar sobre o que é produzido nas dissertações e teses brasileiras em relação a
Geografia Feminista e da Sexualidade, a fim de contribuir com a inteligibilidade acerca da
produção acadêmica.
REFERÊNCIAS
CESAR, Tamires Regina Aguiar de Oliveira. O corpo: uma discussão presente na abordagem
feminista e de sexualidades no Brasil. In: Anais do XI Seminário Internacional Fazendo
Gênero e XIII Women’s Worlds Congress. Florianópolis, 2017. p. 01-12.
OBERHAUSER, Ann M.; RUBINOFF, Donna; BRES, Karen de; MAINS, Susan; POPE,
Cindy. Geographic Perspective on Woman. In: GAILE, Gary L.; WILLMOTT, Cort J. (org.).
Geography in America at the Dawn of the 21st Century. Oxford: Oxford University Press,
2003. p. 736-758.
SILVA, Joseli Maria. Ausências e silêncios do discurso geográfico brasileiro: uma crítica
feminista à geografia eurocêntrica. In: SILVA, Joseli Maria. (org.). Geografias subversivas:
discursos sobre espaço, gênero e sexualidades. Ponta Grossa: Todapalavra, 2009a. p.55-92.
SILVA, Joseli Maria. Fazendo geografias: pluriversalidades sobre gênero e sexualidades. In:
SILVA, Joseli Maria. (org.). Geografias subversivas: discursos sobre espaço, gênero e
sexualidades. Ponta Grossa: Todapalavra, 2009b. p.25-54.
SILVA, Joseli Maria; ORNAT, Marcio Jose. Sobre sexualidade e Espaço: Prostituição e
Território Travesti. In: RIBEIRO, Miguel Angelo; OLIVEIRA, Rafael da Silva. (org.).
Território, sexo e prazer: olhares sobre o fenômeno da prostituição na geografia brasileira.
Rio de Janeiro: Gramma, 2011. p.167-183.
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TERRITÓRIOS E TERRITORIALIDADES: PRECONCEITO E
DISCRIMINAÇÃO CONTRA RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS NA
ÁREA URBANA DE PONTA GROSSA-PR (2015-2016)
Saulo Vaz Rocco de Lima;
Carlos Alexandre Rogoski Introdução
O trabalho buscou identificar possíveis casos de preconceito e a discriminação contra
mães/pais de santo, membros ou frequentadores das religiões afro-brasileiras na área urbana
de Ponta Grossa-PR no período de 2015 a 2016, buscou ainda, possíveis casos de intolerância
religiosa para com estes grupos, a fim de compreender como a prática religiosa afro-brasileira
está inserida no contexto diversificado do espaço urbano de Ponta Grossa-PR e de que forma
ocorrem suas relações com o espaço, sendo exercidas a partir da ideia de
território/territorialidade. Buscou, através dos discursos, componentes que evidenciassem casos de preconceito e
discriminação, abordando questões que caracterizaram tal comportamento e suas intenções. Foi realizado um mapeamento destes grupos, posteriormente entrevistas
semiestruturadas do tipo qualitativa com mães/pais, membros ou frequentadores destas
religiões para então serem feitas análises dos discursos, como metodologia de pesquisa, que
pudessem evidenciar possíveis casos de preconceito e discriminação. Procurou, ainda,
identificar sua localização espacial em função do exercício religioso e a territorialidade na
afirmação de suas práticas. O trabalho foi estruturado a partir da fundamentação teórica com o conceito
geográfico de território/territorialidade, na sequência foi feita uma explanação acerca das religiões afro-brasileiras. O mapeamento se deu pelo maior número de terreiros, centros, casas
de religiões afro-brasileiras na área urbana de Ponta Grossa-PR.
Objetivos
Compreender as práticas territoriais das religiões afro-brasileiras na área urbana de
Ponta Grossa-PR, as possíveis relações discriminatórias e de preconceito que sofrem, através
de relatos dos entrevistados, ainda sua localização e mapeamento, além de identificar quais discursos são evidenciados.
Metodologia
O Trabalho foi estruturado por pesquisa do tipo qualitativa, tendo como base,
entrevistas semiestruturadas, e a metodologia utilizada foi a análise do discurso. O recorte se
deu, segundo projeto de Lei Ordinária nº 12120/2015 de 06/05/2015, que estabelece o entorno dos templos religiosos como prioritários de segurança do Poder Público municipal de Ponta
Grossa- PR, de autoria do Pastor vereador Ezequiel Marcos Ferreira Bueno. Foram localizados 21 (vinte e um), destes 15 (quinze) visitados, e em 10 (dez) deles
foram feitas as entrevistas. A localização dos grupos de religião afro-brasileira, através das federações,
associações se deu, de maneira insatisfatória. Buscou-se então, a partir de um primeiro
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contato, sendo conhecido, durante pesquisa em um site de internet, como presidente do núcleo regional de Ponta Grossa-PR, a partir daí, houve a indicação por parte deste a outros por ele
conhecido e então por indicações dos seguintes, foram sendo localizados todos os descritos na pesquisa.
Resultados e discussões
Candomblé, conhecida como religião dos orixás, forças da natureza, ou seja, mares,
rios, guerras, etc., surge na Bahia no século XIX. Religião de resistência cultural, à escravidão e à dominação branca e cristã, buscava preservação étnica, e que devido as perseguições que
sofria, associa-se a santos católicos. (PRANDI, 2004, p.223). Já a Umbanda, surge da síntese do Candomblé Banto e de caboclo, vindos da Bahia,
com o espiritismo Kardecista. Considerada como “religião brasileira” por excelência que compõe as três fontes do Brasil mestiço: o índio, o negro e o europeu (PRANDI, 2004, p.20).
Entendendo estes terreiros, enquanto territórios, marcados e definidos no jogo de poder, podemos defini-lo segundo o conceito de Souza (2014), como: “um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder” (SOUZA, 2014, p.74).
Já no que diz respeito as territorialidades, Saquet (2009) define estes enquanto resultado das relações de poder, sendo assim:
[...] efetiva-se em distintas escalas espaciais e varia no tempo através das relações de
poder, das redes de circulação e comunicação, da dominação, das identidades, entre outras relações sociais realizadas entre sujeitos e entre estes com seu lugar de vida,
tanto econômica como política e culturalmente (SAQUET, p. 87 2009).
Seus territórios estão caracterizados por símbolos que os identificam, dentre os quais,
como vasos de barro em suas entradas (Quartinhas) em alguns, bandeira (Kitembo) em outros, palhas em portas, janelas das casas (Omolu), com dizeres na língua matriz africana, possuem,
ainda, as chamadas Tronqueiras, que são casinhas, logo na entrada onde, segundo eles, ficaria o guardião daquele local.
Destaca-se, ainda, a manifestação religiosa que ultrapassa os limites territoriais para as práticas que muitos deles exercem, neste sentido, como esclarece Fonseca e Giacomini (2013):
[...] é importante destacar que para os religiosos afro-brasileiros a utilização ritual de
locais como a rua, encruzilhadas, cemitérios, matas, cachoeiras e outros não diz
simplesmente respeito a uma escolha pessoal do adepto ou a um simples capricho,
mas ao contrário, revela-se absolutamente fundamental para a realização adequada
de certas obrigações e preceitos religiosos. (FONSECA E GIACOMINI, 2013,
p.142).
Em relação ao preconceito, muitas vezes é visto como demarcação entre o “eu” e o
“outro”, algumas vezes, não como diferença e sim como inferioridade, segundo Bandeira e
Batista (2002): [...] o preconceito pode ser uma “máquina de guerrra” presente nas relações
sociais cotidianas. O preconceito, usualmente incorporado e acreditado, é a mola central e o
reprodutor mais eficaz da discriminação e da exclusão, portanto da violência (BANDEIRA E
BATISTA, 2002, p. 126). Neste caso, segundo, Fonseca e Giacomini (2013) dentre as práticas mais utilizadas e
que caracterizam o preconceito contra as religiões afro-brasileiras: “Estas estratégias se sustentam principalmente no par paradoxal
desqualificação/mimetização das religiões de matriz africanas e de suas práticas
rituais e litúrgicas, pela via da satanização e o seu corolário: o uso supostamente
abençoado da violência e legitimado de outras expressões de desrespeito e agressão”
(FONSECA E GIACOMINI, 2013, Pg.28).
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O quadro abaixo, mostra quais são as denominações, data de abertura, se estão filiadas a alguma associação ou federação, número de adeptos ou frequentadores, tempo de atividade as relações com a comunidade e se participam de trabalhos sociais.
Questões 1/7
Entrevistas
Denominação Abertura/ Filiação Membros/freq. Frequência Rel./vizinho/ Trabalhos
atividade Pessoas Comunidade sociais
1 Umbanda 27anos Sim 25/30 27anos Boa Não
2 Umbanda 44anos Sim Desc. 44anos Boa Não
3 Umbanda 10anos Não 14 10anos Boa Não
4 Umbanda 29anos Desc. Desc. 25anos Boa Desc.
5 Umbanda/Candomblé 8anos Não 200 8anos Boa Sim
6 Candomblé 22anos Sim 100/150 22anos Boa Sim
7 Umbanda/Candomblé/ 22anos Sim + -100 22anos Boa Não
Quimbanda
8 Umbanda 30anos Sim 30 - Boa Sim
9 Umbanda Desc. Desc. + - 10 11anos Conflitos desc.
18anos eventuais
10 Umbanda/Candomblé
27anos Sim + - 20 27 anos Boa Não
Elaborado pelo autor
Cabe destacar que durante as entrevistas, ficou acordado de não ser divulgada a localização exata deste grupos, bem como seus respectivos nomes, portanto, será utilizada
numeração para defini-los em função do que havia sido decidido anteriormente. Já nos casos que envolvem preconceito e discriminação sofrido por estes grupos, em 9
(nove) deles, diziam não sofrer de nenhum destes casos por parte da comunidade, vizinhança
próxima, entre outros. Em 1 (um) deles dizia ocorrer com frequência. Já em relação ao
conhecimento destes casos envolvendo outros grupos, denominações, membros ou
frequentadores em 6 (seis) deles, diziam saber, enquanto, 2 (dois) não souberam responder e
outros 2 (dois) desconheciam qualquer caso deste tipo envolvendo alguém pertencente a
religião. Já, quando perguntados se conheciam a Lei Ordinaria 12120/2015, do referido
vereador, todos desconheciam. Contudo, em relação a isso, disseram na entrevista:
Mãe de Santo 1 Pois, oi nessa parte eu..., só sei que ele incomoda muito e fala muito, principalmente lá na universal e sai com a bíblia na rua, falando lá na praça e gritando que a gente é da parte do diabo [...] (Mãe de santo).
Mãe de Santo 2 Eu não acho certo o que ele fazia (Mãe de Santo, 2016)
Pai de Santo 3
Não conhecia essa lei, não conhecia, sinceramente, não conhecia. A gente sabe que esses pastores tão lutando contra a gente, mas não conhecia. (Pai de Santo, 2016)
Pai de Santo 4
Ah, eles criam leis pra favorecer eles próprios né, as outras religiões são jogadas de lado né (Pai de Santo, 2016).
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Pai de Santo 5
Eu vi ali né, que, sobre a lei que ele publicou, mas eu, não tinha visto bem ela a
fundo né? Mas eu achei legal que, pelo menos assim, incentivou, valorizou dentro da
lei, deu mais segurança, como ele sendo um pastor, achei que foi uma, assim, uma
coisa muito mais firme, mais dentro do próprio..., que avalia que ele tá trabalhando
pra ajudar mesmo né? Não colocando uma religião né? Na frente. (Pai de Santo,
2016)
Pai de Santo 6
Tô conhecendo aqui agora através de você, né? Espero que sirva para o bem e que cumpra né? (Pai de Santo, 2016)
Considerações finais
Cabe destacar, que em um primeiro momento, na qual se deu a apresentação da pesquisa, com as mães, pais de santo, muitos deles, relataram situações de preconceito e discriminação que, no entanto, não foram confirmadas no momento da pesquisa. Diziam, ainda, da importância do trabalho que estava sendo feito em função do desconhecimento por parte da população.
A partir disso, pode-se considerar, que dentre as dez (10) entrevistas feitas em nove (9) delas, os entrevistados dizem não sofrer casos de discriminação ou preconceito de vizinhos ou comunidade próxima, contudo, seis (6) deles, dizem ter conhecimento destes casos em relação a outros grupos, participantes, membros de religiões afro-brasileiras.
Já durante as perguntas, especificamente em relação a Lei 12120/2015 de autoria do Pastor vereador Ezequiel Marcos Ferreira Bueno, pode-se constatar pelos discursos de alguns, a evidente prática de preconceito e de discriminação sofrida pelos integrantes das religiões afro-brasileiras.
Ainda que o referido Pastor vereador, não integre a Igreja Universal, uma das entrevistadas o cita como sendo, evidenciando, talvez, as religiões de denominação evangélica como principais disseminadoras dos preconceitos e da discriminação a qual muitos deles passam.
Portanto, o esclarecimento acerca de tais religiões se de torna de fundamental importância, tendo em vista, que a falta de conhecimento destas, pode ser considerada como o maior dos problemas, havendo a necessidade da sua reinterpretação pela perspectiva cultural.
Referências bibliográficas
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PRANDI, Reginaldo. O Brasil com axé: candomblé e umbanda no mercado religioso.
Estud. av., Dez 2004, vol.18, no.52, p.223-238.
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SAQUET, Marco Aurelio. Territórios e territorialidade: Teorias, Processos e Conflitos.
São Paulo: Expressão Popular, 2009. P.73-94.
SOUZA, Marcelo Lopes de. Geografia: Conceitos e Temas. 16. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014. P.77-116
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ATLAS DO COMPLEXO FERROVIÁRIO E HIDROVIÁRIO DO
PARANÁ TRADICIONAL: UMA PROPOSTA DE CARTOGRAFIA
MULTIMÍDIA
Naomi Anaue Burda (orientadora);
Adriana Aparecida Andrade;
Simone Koniski Guimarães
INTRODUÇÃO
O Projeto do Atlas do Complexo Ferroviário e Hidroviário do Paraná Tradicional tem
como proposta abordar a geografia, o patrimônio cultura e o turismo de 17 (dezessete) municípios do antigo complexo exportador do Paraná Tradicional, cujos eixos de circulação
ocorriam na antiga ferrovia e hidrovia do Rio Iguaçu. Foram realizados estudos bibliográficos, cartográficos, iconográficos e documentais
das cidades, que resultaram em um site de consulta e um site de pesquisa interativa. As premissas teóricas para elaboração do projeto foram a Cartografia Temática, para a
elaboração dos mapas de representação qualitativa do patrimônio e turismo de cada cidade; a Cartografia Multimídia, que segundo Cartwright, Gartner e Riedl (citado por RAMOS, 2005,
p. 245), utiliza, como fonte de informação imagens, sons, hipertextos e websites. A cartografia multimídia pode ser entendida como a aplicação cartográfica da nova mídia,
que inclui uma inédita gama de disponibilidade e exibição de plataformas, sendo que entre estas
estão a internet, televisores digitais interativos, internet móvel, serviços de hiperlink interativos e
pacotes avançados que estão ligados à grandes bases de dados – nacional ou global.
As Geotecnologias, classificadas por Matias (2010) como o
Conjunto de tecnologias baseadas em ambiente computacional com finalidade de
promover o tratamento da informação espacial (Cartografia Digital, Sensoriamento Remoto, Sistema de Posicionamento Global - GPS, Sistema de Informações Geográficas – SIG) (MATIAS, 2010).
As vantagens estão em testar diferentes formas de visualização, ampliar a divulgação
por mídias digitais, empregar o SIG, trabalhar com banco de dados, entre outros benefícios (BURDA, 2014).
Estas foram a base para a construção dos mapas do trabalho, que resultaram em aproximadamente 20, sendo um geral e outro em detalhes dos patrimônios e pontos de turismo de cada município.
Os dados geográficos georreferenciados dos mapas podem ser disponibilizados em plataformas, criando os chamados mundos virtuais ou ambientes virtuais.
Os sites encontram-se disponíveis nos seguintes endereços: https://atlasparanatradicional.wordpress.com/ e https://www.arcgis.com/apps/Map Journal/index.html? appid=f4bcb738a41a4c6dae7db9e02d6e5d6b
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OBJETIVOS
Propor a construção de um atlas eletrônico para subsidiar o estudo, a análise, o
(re)conhecimento do antigo complexo ferroviário/hidroviário do Paraná Tradicional, baseada
em uma reflexão teórico-metodológica da Ciência Geográfica associada às Geotecnologias,
para colaborar com a promoção da educação, do turismo e da gestão pública desta região.
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METODOLOGIA
A metodologia foi desenvolvida nas seguintes etapas: - Identificação dos patrimônios hidroviário e ferroviário através da análise, reconhecimento e valorização do seu processo histórico por meio da pesquisa acadêmica, informações jornalísticas. - Coleta de pontos de GPS e registro fotográfico em campo.
- Construção de mapas temáticos e voos virtuais com emprego de Geotecnologias;
- Elaboração e publicação de site.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir dos resultados obtidos através das pesquisas realizadas junto ao “Projeto Atlas
eletrônico do antigo complexo ferroviário/hidroviário do Paraná tradicional: Patrimônio Cultural, educação, turismo e gestão” o Atlas Eletrônico foi construído e disponibilizado na
internet por meio de duas plataformas, um website e o ARCGIS Online. O website foi construído em um sistema de gerenciamento de conteúdo para web – o
Wordpress –, utilizando o plano gratuito deste sistema que permite a criação e hospedagem de
um site completo e personalizável, porém, com a indicação dos créditos do serviço tanto no
domínio (endereço do site) quanto no rodapé do mesmo. Assim, o conteúdo elaborado para o
Atlas Eletrônico foi distribuído em oito páginas principais: Início, O Projeto, Localização,
Hidrovia, Ferrovia, Galeria, Imagens, Vídeos, Biblioteca e Equipe (Figura 1a). A página inicial – Início – apresenta de forma breve o histórico do antigo complexo
exportador do Paraná Tradicional Hidrovia/Ferrovia. A segunda página – O Projeto –
descreve o projeto de pesquisa e apresenta o site ao leitor. A terceira página – Localização –
contém um mapa temático (Figura 1b) que reúne informações sobre o patrimônio cultural do
antigo complexo exportador e um link que redireciona o leitor para o ARCGIS Online, no
qual, o leitor pode visualizar as informações de forma interativa.
As páginas Hidrovia (Figura 2a) e Ferrovia (Figura 2b) contém uma breve explicação
sobre o histórico desses dois modais no Paraná Tradicional e sub-páginas relativas a cada um
dos municípios pesquisados distribuídos ao longo dos trajetos da hidrovia no eixo leste-oeste
do Paraná, seguindo a direção do Rio Iguaçu (Porto Amazonas, Palmeira, São João do
Triunfo, Antônio Olinto, São Mateus do Sul, Paulo Frontin, Paula Freitas, União da Vitória e
Porto Vitória) e da ferrovia no sentido oeste-leste, seguindo a direção das ferrovias ativadas e
desativadas com destino final no litoral paranaense (Lapa, Balsa Nova, Araucária, Curitiba,
Pinhais, Piraquara, Morretes, Antonina e Paranaguá).
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Figura 1 – a) Cabeçalho, rodapé; b) Mapa temático do website
a) b)
.
Fonte: ANDRADE, A; BURDA (2018).
As páginas dos municípios possuem um breve histórico sobre o município, um mapa temático com os patrimônios culturais identificados pelo projeto e a descrição desses patrimônios acompanhada de fotografias.
Figura 2 – a) Trecho da página Hidrovia; b) Mapa Temático
Fonte: Captura de tela feita pelos autores.
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A página galeria contém duas subpáginas: Imagens e Vídeos. Na página Imagens são
destacadas algumas fotografias já apresentadas nas páginas dos municípios e na página
Vídeos o leitor pode acessar o voo virtual feito a partir da gravação em vídeo da navegação
sobre os trajetos da hidrovia e da ferrovia. Na página Biblioteca, além de trabalhos da equipe
do projeto de pesquisa também são disponibilizadas outras fontes para pesquisa sobre a
temática do Atlas. Por fim, a pagina Equipe contém a relação dos pesquisadores que
contribuíram para a realização do projeto. Além destes dois produtos, website e ARCGIS Online, pretende-se ainda elaborar outros
materiais a partir dos resultados obtidos através das pesquisadas decorrentes e/ou vinculadas ao
projeto, visando assim, ampliar ainda mais o alcance desses resultados aos estudantes, turistas e
gestores no âmbito da região estudada. Além disso, o Atlas apesar de formalmente finito, com o
término do projeto, poderá ser complementado, atualizado e melhorado constantemente. Após a coleta dos pontos de patrimônios feitas com o GPS e a elaboração dos
mapas temáticos, utilizou-se dos mesmos shapefiles para criar a página do Projeto Atlas na plataforma do ARCGIS online.
Após criação do mapa da Antiga Hidrovia e Ferrovia do Rio Iguaçu que pode ser visualizado em um navegador, desktop ou dispositivo móvel, esse mapa e aplicativo foi compartilhado no Website do projeto.
O aplicativo consiste em abas com informações cartográficas sobre os pontos coletados
em campo pela equipe do projeto. Cada município que compõe o percurso da hidrovia e ferrovia
possui uma aba especifica. A primeira aba, assim como no website, apresenta o histórico do
antigo complexo exportador do Paraná Tradicional da Hidrovia/Ferrovia, e um mapa temático
com imagens de alguns patrimônios identificados durante as saídas de campo.
A segunda aba apresenta instruções de como o visitante pode estar navegando pelo
aplicativo e como pode consultar os pontos de patrimônios clicando sobre os mesmos, obtendo
informações como o nome, fotos e dados históricos resumidos (figura 3a). Depois a plataforma CCCC composta por dezoito abas, uma de cada município com os pontos de patrimônio coletados, como localização e fotos (Figura 3b).
Figura 3 – a) Aba de instruções de navegação do Atlas na plataforma do ARCGIS online; b) Aba do município de Porto Amazonas (PR) na plataforma do ARCGIS
Fonte: Captura de tela feita pelos autores
A última aba consiste em um link que direciona o visitante para o website do Projeto, na página de descrição da equipe com informações sobre o currículo lattes e dados de cada integrante, bem como entrar em contato com a equipe realizadora.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Esse projeto possui várias interfaces: a educativa, cultural e geotecnológica. O aspecto
educacional pode ser exemplificado para o uso do atlas para o ensino de conteúdos sobre a
Geografia e História do Paraná. O aspecto cultural, através da divulgação do turismo e
patrimônio cultural do Paraná Tradicional. E as Geotecnologias dão o tom de inovação e
acesso democrático aos mapas, pelos recursos de mapeamento da Cartografia Multimídia e do
atlas em forma de site.
REFERÊNCIAS
BURDA, N. A. Cartografia e patrimônio arquda itetônico: a elaboração do atlas eletrônico do Sítio Histórico Urbano da Lapa (PR). 2014. Tese (Doutorado em Geografia Humana) -
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014. MATIAS, L. F. Geotecnologias e patrimônio arquitetônico: Potencialidades no mapeamento e análise para fins turísticos. In: PAES-LUCHIARI, M. T. D. P; OLIVEIRA, M. R. da S. (Org.).
Geografia, Turismo e Patrimônio Cultural. São Paulo: 2010, p. 81-111. RAMOS, C. da S. Visualização cartográfica e cartografia multimídia. São Paulo: Editora da UNESP, 2005, 179 p.
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DINÂMICA DE FRAGMENTOS DE VEGETAÇÃO NATIVA NA
REGIÃO NORTE DO RIO GRANDE DO SUL
Jéssica Aparecida Prandel; Marciana Brandalise;
Franciele Rosset de Quadros; Ivan Luís Rovani;
Vanderlei Secretti Decian
Introdução Ao longo do tempo o homem ocupou e transformou o meio ambiente, fazendo uso dos
recursos naturais como forma de suprir suas necessidades básicas de sobrevivência. Devido a
fatores socioeconômicos e forças políticas ocorrem mudanças no uso e cobertura da terra, e estas, podem alterar as propriedades estruturais e funcionais da paisagem (PRIMACK e
RODRIGUES, 2001). A fragmentação florestal e a conversão das áreas de vegetação nativa, em usos
agropecuários contribuem diretamente para o aumento da degradação ambiental, havendo a
necessidade de se compreender a evolução do processo de ocupação nas regiões naturais,
sobretudo a evolução da perturbação ambiental incidente nas áreas florestais de regiões que
produzem serviços ambientais à sociedade. A fragmentação de habitats naturais se constitui
em uma ameaça relevante a ser considerada no processo de conservação da biodiversidade.
Este processo é um fenômeno grave, impulsionado pelo uso desordenado nos grandes centros
urbanos e em áreas rurais com os usos agropecuários, resultando diretamente na perda dessa
biodiversidade (PIROVANI, 2010). Este estudo teve como objetivo avaliar a fragmentação florestal da Região Norte do Rio
Grande do Sul, no decorrer de 30 anos (1986 a 2016), fornecendo subsídios para conservação
ambiental e estabelecimento de áreas prioritárias para a manutenção da biodiversidade. A
análise da fragmentação florestal para a Região é de suma importância, pois os remanescentes
florestais da área de estudo pertencem a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. A hipótese do
estudo é que as alterações no uso e cobertura da terra no decorrer de 30 anos provocam
aumento da fragmentação florestal, fazendo com que a matriz agropecuária seja o fator de
isolamento entre estes fragmentos.
Material e Métodos
Área de estudo: A região de estudo está localizada no Norte do Rio Grande do Sul, composta
por 31 municípios e uma área de 591.610,00 hectares.
Procedimentos metodológicos: Foram utilizadas cenas do satélite Landsat 5 Sensor TM para os anos de 1986, 1991,
2001 e 2011 e satélite Landsat 8 Sensor OLI, correspondente ao ano de 2016, ambos
órbita/ponto 222/079. Foi realizado o processamento digital, classificação digital
supervisionada (MaxLike), coleta de padrões amostrais e acurácia da classificação, utilizando
o software Idrisi Selva 17.0. Os mapas temáticos foram gerados no software Mapinfo 8.5 e a
aplicação das métricas da paisagem no software Fragstats 4.2.1. Por sua vez, a análise
estatística dos dados foi realizada no aplicativo R, com auxílio do pacote vegan. Foi
executado o teste de correlação de Pearson entre os dados de área dos fragmentos e os anos do
estudo, a fim de verificar se existe associação entre estes dados.
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Resultados e discussão A Região Norte do Rio Grande do Sul, inserida em uma matriz predominantemente
agropecuária, apresenta processo constante de modificação na paisagem. A análise espacial do
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uso e cobertura da terra em 1986 a 2016 mostrou que as mudanças na paisagem da Região
estão relacionadas à diminuição em área ocupada pelos usos agrícolas, que contemplam as classes de agricultura e solo exposto e por aumento em área ocupada pelos usos vegetação
nativa e pastagem (Tabela 1).
Tabela 1- Usos e cobertura da terra entre os anos de 1986 a 2016, Região Norte do Rio Grande do Sul, RS.
Uso e Cobertura da Terra 1986 (%) 1991 (%) 2001 (%) 2011 (%) 2016 (%)
Vegetação nativa 11,66 15,69 21,93 23,42 25,41 Silvicultura 1,72 2,15 1,47 1,39 1,87 Pastagem 6,03 7,49 10,38 14,14 13,55 Lâmina d'água 1,28 1,60 2,37 2,66 2,53 Agricultura 23,74 39,99 40,82 37,16 32,25 Solo exposto 53,66 31,04 20,94 18,85 21,93 Área urbanizada 0,59 0,74 0,84 1,14 1,27
Área úmida 0,76 0,72 0,68 0,66 0,62
Malha viária 0,58 0,58 0,58 0,58 0,58
O aumento da vegetação nativa e pastagem estão diretamente relacionados ao abandono
de áreas agrícolas, onde existe menor aptidão a mecanização da agricultura, por estes usos
estarem situados em áreas com certa inclinação das vertentes e elevadas declividades. A
declividade é fator importante quando se trata da distribuição de vegetação nativa, onde
maiores declividades concentram ecossistemas que são considerados prioritários a
conservação da biodiversidade. A partir do mapeamento do uso e cobertura da terra é possível estabelecer a descrição
da configuração dos fragmentos de vegetação nativa na paisagem da Região no decorrer de 30 anos (Tabela 2).
Tabela 2 - Distribuição, quantificação e área dos fragmentos de vegetação nativa entre 1986 a 2016 na Região. Anos 1986 1991 2001 2011 2016
Classes
FRAG ha % FRAG ha % FRAG ha % FRAG ha % FRAG ha % (ha)
0 - 1 9.135 3.850,71 5,58 11.494 4.438,62 4,78 12.178 4.483,98 3,46 11.728 4.156,37 3,00 13.432 4.604,2 3,06
1 - 5 6.128 14.328,01 20,77 6.805 15.783,13 17,00 6.391 14.834,73 11,43 5.868 13.649,95 9,85 6.257 14.392,57 9,58
5 – 10 1.565 10.947,34 15,87 1.700 11.909,2 12,83 1.577 10.973,75 8,46 1.471 10.376,84 7,49 1.528 10.819,03 7,20
10 - 25 1.012 15.301,58 22,19 1.270 19.361,89 20,86 1.227 19.217,13 14,81 1.163 17.966,11 12,97 1.193 18.346,73 12,21
25 - 50 313 10.576 15,33 422 14.616,42 15,75 483 16.655,44 12,84 449 15.566,77 11,24 479 16.761,59 11,15
50 – 100 125 8.332,94 12,08 193 13.364,05 14,40 303 20.809,92 16,04 312 22.078,04 15,94 283 19.941,49 13,27
100 -
33 5.065,21 7,34 76 12.236,52 13,18 209 36.013 27,75 229 42.762,19 30,87 258 50.250,8 33,43 500
> 500 1 568,26 0,82 2 1.119,54 1,21 9 6.770,82 5,22 17 11.986,18 8,65 15 15.186,44 10,10
TOTAL 18.312 68.970,05 100 21.962 92.829,37 100 22.377 129.758,77 100 21.237 138.542,45 100 23.445 150.302,85 100 Frag: Fragmentos de vegetação nativa; Ha: Hectares. %: Percentual em relação á área.
A análise temporal entre os anos de 1986 e 2016 mostrou incremento em área e em
número de fragmentos de vegetação nativa, indicando a ocorrência do processo de
regeneração florestal. Locais onde existe elevada proporção de pequenos fragmentos de
vegetação nativa aliada a poucos fragmentos com grandes áreas podem facilitar a regeneração
florestal de uma área fragmentada, onde esses pequenos fragmentos funcionam como
“Stepping stones” tornando-se pequenos núcleos de regeneração (FORMAN e GODRON,
1986). A mudança na configuração e estruturação na paisagem da área de estudo pode ser
explicada principalmente pelo processo de êxodo rural, resultante da modernização da
agricultura que limita a prática em terrenos declivosos.
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Fragmentos de vegetação nativa representados pelas classes de 0-50 ha apresentaram redução gradual em área durante o período de estudo. No entanto, fragmentos com maior área, representados pelas classes 50- >500 ha aumentaram em área e número de fragmentos.
Os dados relacionados à área dos fragmentos possuem uma correlação positiva (r=
0,95), comprovando que houve aumento significativo das áreas de vegetação nativa.
Analisando os anos de 1986 a 2016 é possível observar que a relação entre a área e o número
dos grandes fragmentos é inversa, pois, embora os pequenos fragmentos possuam maior
número, a soma de suas áreas não atinge a soma das áreas dos grandes fragmentos, que estão
em menor quantidade, sendo estes responsáveis pela maior cobertura de vegetação na região. A partir da análise da distribuição espacial dos fragmentos de vegetação nativa é
possível concluir que os mesmos estão espacializados em toda a paisagem regional. Fragmentos maiores estão localizados principalmente na porção Norte da Região, onde o
relevo é mais declivoso (figura 1).
Figura 1. Trajetória da fragmentação da vegetação nativa na Região Norte do Rio Grande do Sul. A: 1986; B:
1991; C: 2001; D: 2011; E: 2016; F: Quantificação (ha) da Vegetação nos anos de estudo.
A análise da transição de fragmentos florestais entre os anos de 1986 e 2016 é ilustrada quantitativamente na figura 2, que indica a estabilidade, a supressão e a regeneração dos usos
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e cobertura da terra na área de estudo. Constatou-se que a vegetação nativa se manteve estável nos 30 anos de estudo, modificando apenas o percentual relacionado ao total dos usos e coberturas da terra de cada ano (1986 e 2016).
Figura 2. Matriz de transição da fragmentação florestal na área de estudo.
Por meio da análise das métricas da paisagem, foi possível verificar a predominância
dos fragmentos pequenos na paisagem de estudo. A partir da medida de 50 metros
borda/interior, cerca de 70% da paisagem é composta por fragmentos que só apresentam área
de borda (Tabela 3). Quando as florestas são fragmentadas a quantidade de bordas aumenta
drasticamente (LAURANCE e VASCONCELOS, 2009). Sendo assim, esses fragmentos
estão mais susceptíveis aos efeitos de borda interferindo no desempenho de suas funções, bem
como na conservação da biodiversidade.
Tabela 3 - Total de fragmentos de vegetação nativa com área interna e sem área interna.
Total de
Total de Fragmentos com Área de Total de Fragmentos sem Área de Anos interior interior
Frag.
Nº de Frag. % Média Nº de Frag. % Média
1986 18.312 5.770 31,50 2.90 12.542 68,49 2.84
1991 21.962 6.488 29,54 3.55 15.474 70,45 3.16
2001 22.377 6.490 29,00 6.20 15.887 70,99 3.97
2011 21.237 6.030 28,39 7,70 15.207 71,61 4,28
2016 23.445 6.070 25,89 8,08 17.375 74,11 4,27
Uma elevada densidade de bordas pode representar alto grau de complexidade da paisagem. Porém, neste estudo sabe-se que esses valores representam um fator de
fragmentação do local, com consequências negativas para a paisagem e a conservação da biodiversidade.
Durante o período de 1986 e 2016 houve um acréscimo de área total de vegetação, área de borda e área de interior (Tabela 4). Ainda é possível constatar que no período estudado
ocorreu o processo de recuperação da vegetação nativa, formando novos fragmentos com maiores áreas médias de interior.
Tabela 4 - Métricas da paisagem de área total de vegetação em hectares, área de borda, e área interna dos
fragmentos de vegetação nativa.
Anos Área de Vegetação Área de Borda Área de Interior
Total (ha) ha % Há %
1986 68.970,05 52.216,27 75,71 16.753,80 24,29
1991 92.829,37 69.766,01 75,16 23.063,36 24,84 2001 129.758,77 89.488,24 68,97 40.270,53 31,03 2011 138.542,45 92.095,47 66,47 46.447,18 33,53 2016 150.302,85 101.203,94 67,33 49.098,90 32,67
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Geralmente, quanto maior a área total do fragmento, maior será a sua área de interior.
Entretanto, quando se verifica o alto índice de forma (fragmentos pequenos com formatos
alongados), fragmentos que se igualam em área total podem diferir abundantemente seus
valores de área de interior. Em áreas pequenas a forma do fragmento se torna relativamente
importante podendo trazer complicações na determinação da área de interior, ou a relação
borda/interior (TEIXEIRA, 1998). Neste contexto, é necessário ressaltar que mesmo com o incremento de vegetação
nativa e aumento do número de fragmentos maiores, a Região ainda possui um elevado
número de pequenos fragmentos e que estão predominantemente inseridos em uma matriz
agropecuária. Estes fragmentos de vegetação nativa merecem atenção especial, pois caso não
sejam adotadas medidas e propostas de manejo que promovam a conservação, estes correm
risco de extinção em uma tendência futura.
Considerações finais O cenário atual da Região Norte do Rio Grande do Sul mostra um processo de mudança
na sua composição e estruturação. Mesmo com o incremento de área ocupada pela vegetação
nativa, a matriz ainda é predominantemente agropecuária e o desenvolvimento das atividades socioeconômicas exerce forte pressão na paisagem natural da Região.
Os fragmentos de vegetação nativa da área de estudo são representados, em sua maioria
(cerca de 90%), por pequenos fragmentos (área menor que 10 ha), indicando que a Região
ainda possui um alto grau de fragmentação florestal. No entanto, ao analisar os 30 anos deste
estudo, observou-se que os pequenos fragmentos permaneceram na paisagem e os fragmentos
maiores aumentaram, mostrando que a Região tende a uma melhora na condição ambiental e
conservação da biodiversidade. Desta forma, podem-se destacar dois processos importantes
que estão ocorrendo na paisagem da Região, recuperação natural e conectividade florestal. Os resultados obtidos neste estudo permitem elencar os fragmentos florestais prioritários
- conservação da biodiversidade regional e auxiliar na manutenção do Bioma Mata Atlântica.
Sendo assim, é indispensável o desenvolvimento de planos e programas, principalmente
voltados à educação ambiental, a fim de conscientizar a população local sobre a condição
natural da paisagem e de suas funções, visando contribuir de forma positiva na conservação
da biodiversidade. Em adição, é importante que órgãos ambientais (regionais, estaduais e
federais), considerem estes fragmentos e as áreas de conflitos de uso da terra, para a
elaboração de projetos e planos de ordenamento territorial, manejo e recuperação ambiental.
Agradecimentos A CAPES pela concessão da bolsa de mestrado e ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões.
Referências FORMAN, R.T.T., GODRON, M. Landscape ecology. Wiley & Sons Ed., New York, 1986. LAURANCE, W.F.; VASCONCELOS, H.L. Consequências ecológicas da fragmentação florestal na Amazônia. Oecologia Brasiliensis, v.13, n.3, p.434-451, 2009. PIROVANI, D. B. Fragmentação florestal e dinâmica da ecologia da paisagem na bacia hidrográfica do rio Itapemirim. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Espírito Santo, Alegre, Espírito Santo, 2010. PRIMACK, R. B.; RODRIGUES, E. Biologia da Conservação. Londrina, Gráfica Editora Midiograf, 2001. TEIXEIRA, C. V. Florística e Estrutura da Borda de um Fragmento Florestal em São Paulo (SP). Dissertação de Mestrado. Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, São
Paulo, 1998.
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APROXIMAÇÕES DO CORPO NA ANÁLISE FENOMENOLÓGICA-
GEOGRÁFICA
Bruna da Silva Sassi
INTRODUÇÃO
Os estudos sobre o corpo geralmente são limitados às questões bio-fisiológicas e
dificilmente abordam na prática temas relacionados à corporeidade do mundo vivido. O corpo
como tema para entender as questões relativas ao espaço urbano, às experiências, o sujeito e
as emoções é recente na ciência geográfica. No entanto, a temática corporal tem sido
discutida em diferentes ciências e o corpo constitui-se em uma questão central na ciência
atual, pois se tornou símbolo de lutas democráticas (pelos direitos da mulher, por exemplo) e
de problemas sociais (como agressões físicas). Verifica-se o corpo em diversos estudos, como na Arquitetura, ligado à movimentação
espacial dos corpos para o planejamento urbano; nas Artes, como a expressão corporal; na Biologia como funcionamento corpóreo. O corpo como fato histórico e cultural (BARBOSA,
2011). O corpo ligado às emoções como uma janela para compreender a construção social da cidade, do urbano, e dos lugares através dos sujeitos.
O corpo como instrumento de análise, ao longo da História passou de acordo com
Barbosa et al. (2011) pela: idealização corporal na Grécia antiga, fonte de pecado no
cristianismo/prisão da alma, um corpo que determinava funções sociais, dual na Idade Média,
em que ao mesmo tempo que sofria auto-flagelação. Na Idade Média, principalmente ligada a
sexualidade quando o demônio se apropriava do corpo e era exaltado no amor cortês. Um
novo corpo na Era Moderna, principalmente no Renascimento e a ascensão do método
científico, sendo objeto ao passar do teocentrismo para o antropocentrismo e redescoberto nas
artes. Entretanto, ainda prevalecia a ideia de corpo e alma como separados, e o surgimento do
corpo máquina no capitalismo. E nos dias atuais um corpo em crise na modernidade, com a
necessidade hedonista de prazer, de viver, surgindo como capacidade de consumir e ser
consumido, a busca pela longevidade, cyborg, clonagem, engenharia genética, alimentação
saudável, antidepressivos, corpo pós-moderno. Assim, fragmentado, surgem vários
tratamentos e olhares sobre o corpo. Busca-se uma autonomia, estética, social, política,
deixam de seguir padrões e assumem identidades. No entanto, isso é mais uma tendência
apropriada pela indústria cultural. Um corpo simulação, sem realidade. Escondem-se detalhes,
ressaltam-se outros. Atualmente procura-se no corpo uma verdade sobre si mesmo, que a
sociedade não consegue lhe proporcionar. E assim, em meio a essa tecnologia, exercemos
cada vez menos nossos recursos musculares e estamos a perder progressivamente nossa
ancoragem corporal. Dessa forma, percebe-se o corpo como categoria pertinente em pesquisas que
correlacionam as vivências espaciais.
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OBJETIVOS
Este trabalho é de natureza ensaística e pretende descrever de maneira concisa
possibilidades geográficas de análises do corpo no/do espaço a partir da fenomenologia.
METODOLOGIA
Este trabalho teve como metodologia experiências e aproximações teóricas de uma dissertação de mestrado a partir do corpo como questão relevante e possível de ser abordado em pesquisas científicas geográficas.
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RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na Ciência Geográfica, estudos sobre gênero e sexualidade (SILVA; ORNAT, 2016)
utilizam o corpo como espaço de identidades/territorialidades, ou o corpo no espaço como
categoria geográfica para a leitura do espaço urbano, na Geografia das Emoções o corpo é
problematizado através de um corpo/consciência e o corpo como perspectiva geográfica
através da experiência perceptiva do espaço como paisagem. Reafirmando a temática corpórea
como periférica na produção científica geográfica, Silva e Ornat (2016) mencionam num
levantamento de dados científicos dos anos de 2013-2015 apenas 28 artigos com a palavra
„corpo‟ e „corporeidade‟ de um total de 13.990 artigos. Atualmente, diante da abertura
geográfica instaurada pela Nova Geografia Cultural e principalmente pela fenomenologia, a
temática corporal ainda que perifericamente, ganha espaço na ciência como um todo. Para
Maurice Merleau-Ponty (2006, p.01) a fenomenologia é:
[...] o estudo das essências, e todos os problemas, segundo ela, resume-se em definir essências: a essência da percepção, a essência da consciência, por exemplo. (MERLEAU-PONTY, 2006, p.01).
Nessa perspectiva, as essências abarcadas pela fenomenologia são composições
daquilo que conhecemos como corpo. Assim, contribuindo para a valorização do corpo na
análise geográfica, Silva e Ornat (2016) mencionam o corpo como uma perspectiva escalar. O
geógrafo humanista Yi-Fu Tuan (2013) busca na percepção biológica do meio, aportes para a
experiência do homem no mundo, principalmente na vivência dos lugares. Conforme Tuan
(2013) o corpo é condição para experimentar o espaço em um conjunto complexo de ideias.
Para ele, os princípios fundamentais da organização espacial são dois: a postura e a estrutura
do corpo e as relações entre as pessoas. Parte da ideia da experiência, que está voltada ao
mundo exterior para entender de que forma o indivíduo conhece e constrói a realidade
primeiramente através dos sentidos, em seguida através do pensamento e das emoções.
Assim, o espaço é dado pela capacidade de mover-se porque os movimentos são dirigidos ou
repelidos por objetos e lugares. Podemos dizer que a movimentação dos corpos na rua,
depende de símbolos. O sentir a cidade, faz com que o corpo utilize de seus sentidos
biológicos para se relacionar com o exterior. Diferentemente de Tuan, rompendo com a visão
de corpo-objeto do racionalismo cartesiano, a fenomenologia de Merleau-Ponty (2006) vê um
corpo-próprio ou corpo-sujeito ou ainda corpo fenomenal como estrutura física e vivida ao
mesmo tempo, uma vez que a percepção dos sentidos se dá através da corporeidade. O corpo - cognoscente, dotado de uma espacialidade, revelando-se como facto social, psicológico,
cultural e religioso e produz uma corporeidade subjetiva na sua relação com o mundo através
de percepções, sensações, ausências e embates. Nossa existência corporal esta imbuída em
contexto relacional e cultural em que nossos corpos são sítios de prazer e de dor, são públicos
e privados, têm fronteiras permeáveis, são materiais e discursivos e contribuem para a
organização espacial do espaço público e das relações sociais. De acordo com Merleau-Ponty
(2006) a vida se dá em sua primeira instância, através da percepção. Esta não é um
pensamento, mas o antecede, sendo nossa primeira forma de comunicação mundana que
levara o corpo a existência espacial. Ao pensarmos em nossa existência, a partir de temporalidades e espacialidades,
inserimos nessa reflexão o corpo como agente ativo de nossa existência mundana e observamos que a temática corporal dialoga com a demarcação do conhecimento científico no
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sentido de que se situa quando começam a surgir indagações sobre a dualidade proposta por René Descartes (1596-1650) do cogito ergo sum, pois para alguns pensadores como: Spinoza
(1632-1677), Heidegger (1889-1976) e Merleau-Ponty (1908-1961), o corpo e a mente fazem parte de uma coisa só, o homem entre as pessoas.
Desta maneira, podemos pensar como o ambiente influi no ser humano, sua
personalidade, atividades e instituições. Essa ideia pode ser discutida do ponto de vista da
fenomenologia à medida que o homem se relaciona com o meio em que habita e nele produz
seus pensamentos, ações e sentimentos e passa a modificá-lo. Essa visão dentro da Geografia
não é vista só pelo viés da Geografia Cartesiana, mas também pela Nova Geografia Cultural.
Além de tudo, Merleau-Ponty (2006) repensou a ciência clássica, e lançou sobre ela um novo
olhar sobre a vivência no mundo. Conforme Holzer (2003, apud DAVIM; MARANDOLA
JR, 2016), Heidegger e Merleau-Ponty, foram fundamentais para a entrada da fenomenologia
no âmbito geográfico. Podemos pensar o corpo na fenomenologia husserliana como nossa
forma de ser-no-mundo, visto como agente ativo do movimento e da intencionalidade,
permeado por sensações que culminam numa percepção subjetiva da realidade. O corpo com
o qual nascemos, e que vai conosco até o final de nossa vida. Portanto, ao pensar na vida como um conjunto de intencionalidades que se cruzam,
pode-se dizer que a ciência é intencionalidade e, conforme Merleau-Ponty:
A ciência não tem e não terá jamais o mesmo sentido de ser que o mundo percebido, pela simples razão de que ela é uma determinação ou uma explicação dele.(MERLEAU-PONTY, 2006, p.03).
Nesse sentido, sabemos que o pesquisador não inventa nada, pois existe uma subjetividade implícita permeando o saber científico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mediante o exposto, sabemos que o corpo (através da fala, da expressão e da sexualidade) é o veículo da nossa subjetividade. Jamais pode o corpo ser considerado objeto,
porque ele só se faz no mundo através dos objetos, sendo sensibilizado permanentemente por interatividades intercorpóreas que o fazem afetar e ser afetado por outros corpos. É necessário
relembrar que não há mundo sem corpo e não há como percebê-lo sem o corpo, posto que ele DDDD o nosso modo de ser-no-mundo e o ser no mundo se faz com o outro. Dessa forma, sendo a Geografia uma ciência aberta, dinâmica e plural, é nessa relação dialética do contato
com os outros, que diferentes geografias emanam e possibilitam sobre os fenômenos, novos
olhares geográficos.
REFERENCIAL TEÓRICO
BARBOSA, Maria Raquel; MATOS, Paula Mena; COSTA, Maria Emília. “Um olhar sobre o corpo: o corpo ontem e hoje”. Psicologia & Sociedade; 23 (1): p.24-34. 2011. Disponível
em:<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-71822011000100004&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em: 02. Jul. 2018.
DAVIM, David Emanuel Madeira; MARANDOLA JR, Eduardo José. O pensamento fenomenológico na educação geográfica: caminhos para uma aproximação entre cultura e ciência. Caderno de Geografia; v.26, n.47. p.684-713. 2016. Disponível em: <http://periodicos.pucminas.br/index.php/geografia/article/view/p.2318-2962.2016v26n47p684>. Acesso em: 01. Ago. 2018.
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MERLEAU-PONTY, Maurice. A fenomenologia da percepção. (Tradução de Carlos Alberto Ribeiro de Moura). São Paulo: Martins Fontes, 2006. 662 p.
SILVA, Joseli Maria; ORNAT, Márcio José. Corpo como Espaço: um Desafio à Imaginação Geográfica. In: PIRES, Cláudia Luíza Zeferino; HEIDRICH, Álvaro Luiz;
COSTA, Benhur Pinós da. (orgs.). Plurilocalidade dos Sujeitos. Representações e Ações no Território. Porto Alegre: Compasso Lugar-Cultura. 2016. p.56-75.
TUAN, Yi-Fu. Espaço e Lugar: a perspectiva da experiência. (Tradução de Lívia de
OLIVEIRA). Londrina: Eduel, 2013. 248 p.
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MOVIMENTO CIENTÍFICO: DA EPISTEMOLOGIA À
FENOMENOLOGIA NA GEOGRAFIA
Bruna da Silva Sassi
INTRODUÇÃO
A Geografia de acordo com David Davim e Eduardo Marandola Jr (2016) apresenta-se
como um campo de interpretações diretas sobre a realidade. Pauta-se na dispersão espacial
dos fenômenos. Emergiu através da representação de viajantes naturalistas e de
conquistadores, com as primeiras representações espaciais produzidas em mapas diversos e
instituindo-se como ciência no século XIX com base nos estudos de Alexandre Von
Humboldt (1769-1859) e de Karl Ritter (1779-1859) e pautou-se durante muitos anos na
busca pelo objeto de análise geográfica e seu paradigma (GOMES, 2009). Para Thomas Kuhn (2011), paradigmas são realizações científicas universalmente
reconhecidas que durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma
comunidade de praticantes de uma ciência, conceituando que a revolução científica ocorre em
fases: Ciência Normal, Anomalia, Crise, Revolução Científica e Novo Paradigma. Anomalia é
quando surge um dado que questiona o modelo. Paradigma é a união entre realização e
reconhecimento que são melhores que os anteriores. Na ciência normal ocorre: determinação
dos fatos significativos; harmonização dos fatos e teorias; articulação das teorias. A constante
busca pela evolução científica e dissolução das dúvidas em torno de um mesmo paradigma
contribui para a existência de anomalias e consequentemente leva ao estado de crise
paradigmática. Quando determinado paradigma não comporta mais a realidade, é substituído
por outro após o processo de crise. Entretanto, Kuhn (2011) erra ao dizer que o conhecimento
não tem fim, mas deve ter paradigma, pois não existe paradigma universal da ciência
geográfica e atualmente é aceito que não existe corrente verdadeira ou porta voz da
Geografia. Nos argumentos de Kuhn (2011) as Ciências Sociais são pré-paradigmáticas
porque todas as propostas parecem relevantes e não possuem a capacidade de progredir por
não possuírem consensos estáveis de um paradigma único. Na Geografia, existe uma
pluralidade de temas abarcados, considerados relevantes, e que não a enfraquecem enquanto
ciência, mas que a tornam aberta (GOMES, 2009). A busca por paradigma atrasou o avanço da Geografia Humana ao contrário da
Química, da Biologia, da Física e da Geografia Física nas quais essa busca trouxe evoluções (GOMES, 2009). A Geografia tardou em definir seu aspecto de estudo e no decorrer da
história, pessoas de várias áreas tentaram definir defini-la.
OBJETIVOS
Este trabalho pretende contextualizar na História do Pensamento Geográfico a
emergência de aportes fenomenológicos nos estudos geográficos.
METODOLOGIA
Este trabalho é de natureza ensaística e resulta de aproximações iniciais de uma
dissertação de mestrado e, portanto, será uma retomada teórica das frentes do conhecimento científico que proporcionaram a Geografia instituir-se como ciência até sua expansão ao
campo de estudos da fenomenologia.
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RESULTADOS E DISCUSSÕES
Nos argumentos de Corrêa (1995), a Geografia pautou-se durante muitos anos, em
torno da discussão sobre o objeto de estudo geográfico - priorizando os conceitos de paisagem
e região. O geógrafo alemão Friedrich Ratzel (1844-1904) escreve sobre o Espaço vital
(técnica + população + recurso) base indispensável para reprodução dos seres humanos, já o
geógrafo estadunidense Richard Hartshorne (1899-1992), tece considerações sobre um
“espaço” que contém as coisas, absoluto e que não existe na realidade. Já na Geografia
Teórica pós década de 50 a paisagem é deixada de lado, o conceito de região é reduzido a um
processo de classificação e o espaço começa a se tornar central. Na Time Geographie o espaço
foi visto como planície isotrópica (planície uniforme em todas as direções por mecanismos
econômicos), mais tarde como meio do deslocamento de pessoas, bens e informações. Ainda
de acordo com Corrêa (1995) evidencia-se que na Geografia Crítica fundamentada no
materialismo histórico dialético, a partir da qual debates marxistas e não marxistas surgem,o
espaço aparece como conceito chave. Desenvolve-se a Geografia Cultural, assentada em:
subjetividade, intuição, sentimentos, experiência, simbolismo e na contingência (acaso,
eventualidade). O espaço é uma experiência contínua egocêntrica e social. O espaço vivido é
também campo de representações simbólicas e conforme Corrêa (1995) tem suas raízes na
Geografia francesa na tradição vidaliana e na Psicologia Genética de Jean Piaget (1896-1980).
Na década de 70, o geógrafo Milton Santos (1978 apud CORRÊA, 1995, p.27) foi
fundamental na História geográfica para a compreensão da organização espacial segundo esse
autor, o espaço é a quarta estrutura da sociedade e é subordinado e subordinante, reflexo e
condição daquilo que nós somos. Milton Santos (1926-2001) colocou a Geografia em
destaque nas Ciências Sociais visto que estudamos um aspecto da realidade, a realidade social
(fenômenos físicos, químicos e biológicos e antropossociais). A grande contribuição de
Santos foi a definição do que é espaço. A Geografia está preocupada em compreender a ação
humana que molda a superfície da Terra. Logo, o espaço geográfico é a natureza modificada
pela humanidade através do seu trabalho. A organização espacial sempre está em movimento
através do tempo, mas o espaço é reflexo e condição para reprodução das mesmas condições.
Espaço é um fato social, se impõe ao indivíduo e à sociedade. A Geografia pode ser definida de acordo com Gomes (2009) a partir da organização
espacial, da trama locacional dos fenômenos estudados, pois para ele a identidade da
Geografia não advém da posse do objeto, o espaço, mas pelas perguntas em relação à
realidade. A epistemologia para Gomes (2009) nasce do contraponto e sua vocação é construir
um campo aberto de discussões, questões, métodos e limites. Não procura normalizar, nem
restringir, mas diz respeito aos métodos, objetivos e finalidades do conhecimento científico.
Em cada momento as respostas são múltiplas e a pluralidade crítica é a razão mesma da
existência da ciência. Nessa parte, Gomes (2009) se assemelha aos argumentos de Paul
Feyerabend (1977) porque para Gomes, discussões não devem ser evitadas, e muito menos
enfraquecem a Geografia, pelo contrário, a tornam viva, dinâmica, aberta e plural. Nos
argumentos de Feyerabend, (1977) a ciência atua sobre o véu de uma ciência racionalista,
impositiva e opressora na qual os rigores metodológicos de regras fixas e universais implicam
na exclusividade de um método que muitas vezes não da conta de compreender as interações
da realidade complexa. Portanto, durante muitos anos a ciência como um todo logrou atrasos
em suas aberturas epistemológicas por sofrer imposições do racionalismo cartesiano. No entanto, os avanços colaboraram para uma Geografia mais aberta, formada por um
leque de conceitos e interpretações do espaço, podendo ele ser visto como: absoluto, relativo, planície isotrópica, representado por materialidade, descrito por metáforas, reflexo e condição
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social, experenciado de diversos modos, rico em simbolismos e espaço de campos de lutas (CORRÊA, 1995).
Assim, em desacordo com as Geografias crítica e teórico-quantitativa, Corrêa (1995)
menciona que a abertura geográfica as análises perceptivas e de sensações, só se deu a partir
da década de 1970 com o surgimento da Geografia humanista. Segundo Davim e Marandola
Jr (2016), Feyerabend possibilita a abertura científica a fenomenologia, pois a existência de
elementos ilógicos possibilita o surgimento de novos saberes, bem como o pensamento de
filósofos como Martin Heidegger (1889-1976) e Edmund Husserl (1859-1938) são
mencionados por Davim e Marandola Jr (2016) como críticas ao positivismo e a ciência
convencional. Consequentemente, uma Geografia aberta e plural, é forjada por novas
interpretações espaciais e permitiu o surgimento (ainda que com ressalvas e de forma
periférica) da fenomenologia como campo de estudo através da fuga do racionalismo
científico, pela busca do mundo atual, das novas geografias, do movimento, do incerto, das
efemeridades, entre outras. De acordo com Holzer (2003 apud DAVIM; MARANDOLA JR,
2016), a fenomenologia prioriza o entendimento concreto do fenômeno e que filósofos como
Heidegger e Merleau-Ponty (1908-1961), foram fundamentais para a entrada da
fenomenologia no âmbito geográfico, pois como argumenta Gomes (2009) a atribuição do
qualitativo de geográfico ao fenômeno, se deve a pergunta sobre a dispersão espacial que o
envolve. Portanto, como diz Gomes (2009) sobre a Geografia, pensamos que a fenomenologia
está também inacabada e não por isso, é considerada fracasso, mas possibilitou e possibilita
uma transformação na ciência geográfica. No entanto, mesmo a fenomenologia sendo o
campo das essências que faz uma ontologia do saber das questões existenciais, sabe-se que o
pesquisador não inventa nada, está apenas tendo um olhar diferenciado sobre determinado
fenômeno. Nesse sentido, ao pensarmos em nossa existência a partir de temporalidades e
espacialidades, percebemos que a fenomenologia, possibilitou a Geografia num movimento
entorno dos saberes, a pluralidade da análises dos fenômenos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
- através da capacidade da Geografia de trabalhar questões abertas, subjetivas e
plurais, que a existência de um paradigma universal diminuiria sua significância, posto que é exatamente através desta pluralidade paradigmática que essa ciência se fez mais plural, sendo
tecida aos poucos, por vivências e percepções.
REFERENCIAL TEÓRICO
CORRÊA, Roberto Lobato. Espaço, Um Conceito-Chave da Geografia. In: CASTRO, Iná Elias de; GOMES, Paulo César da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato (orgs.). Geografia: Conceitos e Temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p.15-48.
DAVIM, David Emanuel Madeira; MARANDOLA JR, Eduardo José. O pensamento
fenomenológico na educação geográfica: caminhos para uma aproximação entre cultura e ciência. Caderno de Geografia; v.26, n.47. p.684-713. 2016. Disponível em:
<http://periodicos.pucminas.br/index.php/geografia/article/view/p.2318-2962.2016v26n47p684>. Acesso em: 01. Ago. 2018.
FEYERABEND, Paul. Contra o Método. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977. 488 p.
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GOMES, Paulo Cesar da Costa. Um lugar para a Geografia: contra o simples, o banal e o doutrinário. MENDONÇA, Francisco de Assis; LOWEN-SAHR, Cicilian Luiza; SILVA,
Márcia da (Orgs.). Espaço e tempo: complexidade e desafios do pensar e do fazer geográfico. Curitiba: ADEMAN, 2009. p.13-30.
KUHN, Thomas. A Estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo: Perspectiva, 2011. p.
9-66.
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UMA GEOGRAFIA DAQUELES QUE À EXPERENCIEM EM UM
CONDICIONAMENTO ESPACIAL: ROMPENDO COM A SALA DE
AULA UNIVERSITÁRIA
Geovana Eduarda Silva da Luz RESUMO: O presente texto inscreve-se enquanto um relato de experiência cotidiana na condição de
acadêmica do Curso de Bacharelado em Geografia na UEPG. E tem por objetivo expor
uma percepção individual e ao mesmo tempo compor proposições que visam a superação
das cisões concebidas entre criar, esperar, refazer e repensar; expõe-se avanços de
configurações experimentais no ambiente universitário, com projeções para plena
intervenção ministrada por orientadores e/ou professores, propondo também um material
midiático, que deverá ser desenvolvido como suporte a produção de acadêmicos, de
autorias próprias, com renovações além da didática complementar e grade curricular
atuante:, a proposta de exposições das ideias dos agentes configuradores do olhar
geográfico, como lente de aumento para a superfície terrestre avistada historicamente na
introdução do ensino nas universidades. Contando com material bibliográfico dos
professores, e obras literárias que nos possibilite apontar para diferentes linguagens,
inclusive a linguagem calada ou ainda pouco difundida dos que ocupam os espaços das
carteiras em sala de aula, os objetivos então, são inúmeros e ainda tidos como complexos e
em processo de formatação, mas claramente derrama sobre telas que Geografizam a
criatividade, potencializa habilidades artísticas, morais e éticas do que serão tratadas como
advindas de inovadoras estéticas.
Palavras-chave: intervenção, produção, exposição e artísticas. Introdução
As fundamentações teóricas como práxis, agindo de forma surrealista, pelas teorias
psicanalíticas de Sigmund Freud (cuja obra de psicanálise e cultura contribuíram para
formação do movimento artístico surrealista) podem resultar de tratativa transformadora e
consciente, com ação reflexiva sobre a tela paisagística educacional e ocupacional como
parte que integra as divisões existentes no campo de atuação de uma Geografia
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qualitativa, iniciada em âmbito universitário. A teoria assumindo a posição da prática em
função, advinda do ajuste entre a relação vitalícia com a troca do conhecimento e opiniões,
focalizando na qualificação, bem como, em um olhar mais crítico e uma análise que
proporcione a prática da arte de assumir uma postura autônoma, frente ao que se diz e
defende.
A coragem precisa ser refinada para ser aplicada ao que realmente é importante, e há um
momento da vida que você já passou por essas fases e mudanças, ou seja, já fez as grandes
escolhas, ou mesmo enterrou seus sonhos juvenis, mas o que eu desejo pontuar aqui é o fato
de que uma retrospectiva deveria ser feita, mesmo em âmbito particular, através da qual ao
menos se chegassem a definições; sobre quem era você; quais eram os seus desejos a serem
perseguidos quando ainda era um estudante medíocre; ou mesmo um amador no início de
carreira. De fato, uma provocação em meio a pensamentos que tecem críticas involuntárias
de quem lê algo escrito por alguém jovem o suficiente para ser considerado ainda
insuficiente, ao que e como disse anteriormente é ainda fracassado, pois está abaixo, mas e
se não for? Quais seriam os objetivos de tais indagações?
Mas a maior parte daquilo que os homens se transmitem passa por signos, sinais e mensagens
expressas num código recebido por eles – isto é, numa linguagem natural ou artificial. Portanto, a
cultura é o conjunto de representações sobre os quais repousa a transmissão (CLAVAL, 2002
apud, NABOZNY, 2011. P. 33)
- indispensável, que se tenham futuros profissionais, capazes de articular teoria e
prática, com questões didáticas que estejam dispostas a analisar um contexto de campo
de estudo a ser desenvolvido em especifico. Já a aliança da formação permanente, é
como se visse uma imagem projetada, ainda que convergindo com a realidade, não é de
fato resultado da projeção existente nas disposições dos elementos espaciais. Ou seja, é
necessário olhar para si e questionar a contundência e permanência de seu trabalho,
contando com os processos de análise histórica. Das relações e representações de lugar
e ambientação, ao qual ele se insere.
Cedemos a solidão das próprias ideias, que se tornam mais tarde engavetadas e
suscetíveis ao esquecimento, mas que também podem ser advindas através de uma
percepção intuitivista, sistemática e na leitura estrutural da realidade (NABOZNY,
2011), tida como consequência, e se a situação está como está, é porque está habituada,
mas isso é uma fachada.
Uns priorizam o olhar dissecador das estruturas visíveis; outros aportam mais a observação,
enquanto um encontro com os objetos, expandindo outras dimensões. Nesses casos, podemos
dizer que há um sentir! O olhar é confrontado com a paisagem, o encontro nesse aspecto é mais
perturbador para com o geógrafo. (NABOZNY, 2011 p.31).
Crescer é também envelhecer, bem como descobrir-se cada vez mais defeituoso, supondo
que a virtude latente é inconstância das descobertas, agora cada vez mais cobertas pela
ignorância, e o que o ser, em seu mais profundo individualismo considera ter como
suficiente surpreende-se pela instabilidade dos fatos. E foram aquelas coisas engavetadas
que jamais foram esquecidas, que poderiam ser no agora retomadas e reconstruídas. EEEE importante apontar que o conhecimento cientifico pode ser produzido a partir de inúmeros meios e,
na mesma medida, uma disciplina particular pode voltar sua atenção para as mais variadas temáticas. Quando
pensamos no conhecimento produzido pela Geografia, a tarefa de apontar uma temática, um conceito ou um
método especifico é, consideravelmente, problemática. A disciplina
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que, durante anos, julgou-se em posse de um conceito particular – o espaço geográfico – vem se
deparando, nas últimas décadas, com uma grande quantidade de produções cientificas que
buscam ultrapassar essa delimitação. (FIORAVANTE, 2016, P. 18).
Objetivos
Há pretensão é de forjar a realização de trabalhos colaborativos, que conjuguem além
dos espaços proferidos a disciplina de Geografia, ligada ao território do campus Uvaranas,
localidade em que as práticas pedagógicas acontecem, aproximando a formação inicial da
formação continuada (pós-graduandos, mestrandos e doutorandos), por meio do diálogo
entre os alunos pertencentes tanto ao Bacharelado em Geografia, como Licenciatura,
construindo uma ponte de ideias e ideais que constem na prospecção de relatividade
participativa da integração de outras diretrizes de conhecimento (como os diferentes
cursos, que podem vir a aliar-se com o conceito de Geografia, em futuros projetos), com a
atenção dos envolvidos na área. Envolvidos, não necessariamente pertencentes, pois todo
geógrafo é antes de tudo filósofo, parafraseando Milton Santos.
Além dessa aproximação e desse dialogo, tem de ser buscada também a compreensão
dos referenciais que fundamentam as práticas sociais educativas ao ambiente que em
destaque deverá ultrapassar a sala de aula, dissecando os processos que circundam a
todos aqueles que se apropriem da leitura e da escrita, para um bônus do âmbito
universitário, que poderá utilizar desses novos gêneros que deverão surgir, a ferramenta
inicial que acelerará a ambição da busca pela fortaleza de hipóteses e experimentos,
além das denominadas ciências exatas.
A intenção sob o projeto concebe a utilização da expressão da metodologia qualitativa.
Partindo de uma concepção, da busca insaciável pelo conhecimento na mesma medida
do crescimento, objetivando resultados que sejam concretizados mesmo em uso e
aprofundamento de teoria, embora absorvendo-se elementos distintos, na escala de
fatores que serão futuramente dialeticamente complementares. Completando o estágio
da sabedoria originada da teorética, articulada a prática e sua consequente verificação,
colecionando uma base de ação-reflexão continua, relacionando a dialógica entre os
integrantes dos grupos (que deverão ter livre acesso para transitar em diferentes rodas,
pois estas obrigatoriamente não serão fechadas, mas especializadas em suas subáreas),
com trocas de experiências, mesmo em casos em que se divergem opiniões, pois
acredito que a partir disso é que surgem novas vertentes a serem conscientizadas e
praticadas, bem como novas correntes de conhecimento a serem elaboradas. Para isso
opta-se por um enfoque analítico do objeto de estudo, nos processos que serão
escolhidos e acompanhados por orientadores da disciplina que melhor se enquadra, em
suas objeções subjetivas em profundidade e extensão. Ampliando-se a suposição de um
olhar mais crítico, dentro dos próprios parâmetros e menos preconcebidos sobre os
projetos de livre prática e criação.
Essa proposta levanta a questão da autoafirmação acadêmica, direcionada para a formação
inicial, para posterior compreensão dos questionamentos de referências sociais
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e espaciais, questões que constituem a amplitude humana, com a abertura para a voz
ativa de pautas singulares àqueles que são pertencentes de encontros, reuniões e/ou
diálogos e palestras de debates, discussões e estudos, de maneira embasada na
qualificação e, portanto, definição de objetivos lógicos a serem cumpridos, raciocinando
como metas impostas. Inserindo deste modo, a cultura realmente original dos
pensadores do conhecimento, e se não sabem, tornam-se aprendizes, porque entendem
que antes de qualquer coisa, o ambiente universitário, bem como, todos aqueles que
abarcam a educação como pilar de uma nação, nascem para a intervenção na inserção da
cultura que desativa os seus supostos e enganosos significados cognitivos e efetivos,
totalizado em intelectualismo e classicismo, apresentando um emaranhado de
complexidades de efeitos sistemáticos estruturais e administrativos.
Acredito que temos o que somos, e o que temos agora é o reflexo do que não estamos
sendo há tempos.
Quem é geógrafo sabe abrir os olhos e ver. Não vê quem quer. Em matéria de Geografia Física,
como em matéria de Geografia Humana, a aprendizagem, à visão das coisas positivas das
realidades da superfície da terra, será o primeiro estágio e não o mais fácil. (BRUNHES, 1962,
apud NABOZNY, 2011. P. 30)
Considerações
A situação da disposição dos elementos, não se deve apenas a distorção ou dispersão da
conjuntura, ou mesmo as problemáticas que se mostram muito mais aparentes do que
deveriam, mas a incapacidade está justamente na impotência de se fazer análise dos
processos que poderiam vir a ser a solução, ainda que tardia, ainda que com dificuldade
para se fazer um mergulho buscando totalidades mais ricas na união das partes, uma vez
que atualmente tece-se a crítica, sem fundamentações coerentes ligadas a ocorrências e
introspecções vigentes.
Assim, antes de reformas curriculares, entre outros aspectos, os professores também
precisam observar a sábias palavras do saudoso geógrafo Milton Santos:
“Eu creio que as universidades, elas abrigam muita gente boa, talvez como a comunidade
científica, a intelectualidade brasileira seja algo absolutamente impermeável, seja difícil a
esses jovens tão interessantes aflorar. Eu creio que há uma enorme dificuldade aos jovens
e mesmo aos não jovens...’’“impermeabilidade, é que a vida intelectual brasileira... aliás o
presidente .... ele sugereque desde o tempo que ele era estudante havia grupos fechados,
e... ele próprio depois cria o seu grupo fechado, e essa é uma característica da
intelectualidade brasileira e que também um elemento de mediocrização, que haveria de
romper rapidamente, se a gente quer rapidamente encontrar as interpretações, e eu estou
seguro que nas universidades...
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há uma enorme quantidade de gente pensando e pensando bem, mas que não tem onde
se exprimir’’
“A difusão do saber produzido, não é só tarefa da universidade, eu creio que a mídia
também tenha certa culpa, nessa dificuldade, porque a mídia prefere, aqueles chamados
intelectuais que são os especialistas do falar, do dizer e não do pensar..., mas há uma
associação que dura entre pseudo-intelectuais e a mídia. A mídia os apoia, os prestigia de
maneira bastante clara e isso o constitui num dado da compreensão dessa dificuldade que
tem aqueles que são jovens, ou os que tem pudor, porque as vezes essa aproximação da
mídia supõe uma redução da qualidade de pudor... Eu creio que haveria de mudar esses
comportamentos e caçar esses talentos, e caçar essas pessoas, já que a própria universidade
não tem como fazer. Outra coisa que vem da universidade que são os grupos fechados, o
presidente da república falou nisso, a respeito do próprio grupo dele, que certamente o mais
fechado grupo intelectual no Brasil e isso explica a dificuldade que eles têm de pensar. Pelo
fato de haverem feito a carreira, dentro de uma redoma, protegidos sempre, protegidos
inclusive sob o regime militar, isso tem que ser dito... uma proteção que acaba sendo um
obstáculo na expansão do trabalho intelectual no Brasil...
na medida em que um grupo monopoliza a produção da difusão do conhecimento... me
parece que esse processo tem que ser estudado, evidente que não há coragem pra dizer
isso, devido ao peso desses institutos fechados que tem na vida intelectual brasileira...”
(Milton Santos em entrevista concedida ao programa Roda Viva, em 1997.)
7. preciso nos olharmos com uma dureza de expansão, que alcance o real motivo de
ainda estarmos em processo de resgate de uma área, seja singular ou pluralizada - como
as vertentes da Geografia-, porque a maioria dos desejos que temos são imposições
alheias ao que realmente queremos, sendo parte da estruturação voltarmos para a
complexidade da nossa própria gestão.
Estamos assim, narrando a história da Geografia como desvanecedora, mas estamos
esquecendo de que estamos no enredo disso. Se não se sabe lidar com o que se é. Como
lidar com o que se pode ser? A sensação é de que estamos utilizando de uma terceira voz
para tecer uma crítica, voz em plena expansão, voz sem direção de intenção. Mas acima
de tudo, voz que existe e tem a possibilidade de construção.
Referências
FIORAVANTE, Karina. Geografia e Cinema: a produção cinematográfica e a construção
do conhecimento geográfico, 2016.
NABOZNY, Almir . Da paisagem como olhar do geógrafo à paisagem como olhar os
olhares dos outros. Geografia. Ensino & Pesquisa (UFSM), v. 15, p.29-42, 2011.
PROGRAMA RODA VIVA, Entrevista com Milton Santos. Disponível em
>https://www.youtube.com/watch?v=xPfkiR34law<. Acesso em: 31/03/1997.
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A TEORIA DOS DOIS CIRCUITOS DA ECONOMIA URBANA DE
MILTON SANTOS: SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA ECONOMIA
URBANA CONTEMPORÂNEA
Simone Koniski Guimarães;
Luiz Alexandre Gonçalves Cunha
Introdução O presente resumo é baseado na teoria dos dois circuitos da economia urbana,
proposta por Milton Santos e publicada no Brasil na década de 1970 (SANTOS, 1979), e faz
parte de exercício reflexivo vinculado à construção do projeto de pesquisa de doutorado da
autora, na qual pretende-se analisar a dinâmica territorial de um seguimento específico do
circuito inferior da economia urbana no município de Ponta Grossa (PR), as organizações
coletivas de produção, comercialização e consumo.
Essa teoria considera a existência de dois circuitos de produção, distribuição e
consumo dos bens e serviços na sociedade urbana, o circuito superior, constituído por
atividades econômicas com grandes dimensões, ligadas a processos modernos e com
relações mais estreitas com a economia em escala global, e o circuito inferior, constituído
por atividades econômicas de pequena dimensão, que possuem mais influência na escala
local. No entanto, o autor ressalta que a existência desses dois circuitos é decorrente de um
mesmo processo denominado por ele de modernização tecnológica, e que os dois circuitos
são sistemas em interação permanente, sendo o circuito inferior, dependente do circuito
superior. (SANTOS, 1979).
Conforme destacado pelo próprio autor, o circuito inferior “[...] está em processo de
transformação e adaptação permanente [...]” (SANTOS, 1979), assim, algumas das variáveis e
características levantadas e discutidas por ele, com base em seus estudos e experiências em
países subdesenvolvidos, têm sido revistas por diversos autores em função dessas
transformações. No entanto, para além das atualizações dessas variáveis e características,
considera-se que a base da teoria dos dois circuitos da economia urbana fornece subsídios para
a interpretação de problemas atuais.
Objetivos O objetivo do presente resumo é apresentar a teoria dos dois circuitos da economia
urbana proposta por Milton Santos (1979) e discutir sua utilização em estudos sobre a
economia urbana dos municípios brasileiros na contemporaneidade.
Metodologia O presente resumo foi elaborado a partir de discussões contidas no livro O espaço dividido:
os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos, de autoria de Milton Santos
(1979) – através do qual a teoria dos dois circuitos da economia urbana foi sistematizada e
popularizada –, e de apontamentos de autores que discutem esta teoria e/ou sua aplicação como
Spósito (1999), Marina (2012) e Cataia e Silva (2013). Assim, apresentamos de forma breve a teoria
dos dois circuitos da economia urbana conforme
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proposta por Santos (1979) e na sequência destacamos algumas contribuições dos
autores supracitados para a discussão/atualização dessa teoria.
A teoria dos dois circuitos da economia urbana
Conforme apontado por Marina (2012), Milton Santos já apontava a existência de
dois circuitos da economia urbana nos países subdesenvolvidos no último capítulo do livro
Em Les Villes Du Tiers Monde (1971), no entanto, é em L’Espace Partagé (1975) que a
teoria é sistematizada. A obra em questão foi publicada no Brasil somente no final da
década de 1970, intitulada como O espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana
dos países subdesenvolvidos (1979).
No livro o autor propõe a teoria dos dois circuitos da economia urbana como uma
alternativa teórica mais ajustada à realidade dos países subdesenvolvidos, apontando que
muitos dos estudos realizados até então, eram baseados em teorias formuladas a partir da
realidade ocidental dos países desenvolvidos, e que isso levou à problemas de interpretação
e a formulação de teorias, metodologias e levantamentos estatísticos insuficientes para
compreender essa realidade.
[...] o espaço dos países subdesenvolvidos é marcado pelas enormes diferenças de renda na
sociedade, que se exprimem ao nível regional, por uma tendência à hierarquização das atividades e,
na escala do lugar, pela coexistência de atividades de mesma natureza, mas de níveis diferentes.
Essas disparidades de renda são menos importantes nos países desenvolvidos e influenciam muito
pouco o acesso a um grande número de bens e serviços. Ao contrário, nos países subdesenvolvidos,
a possibilidade de consumo dos indivíduos varia muito. O nível de renda também é função da
localização do indivíduo, o qual determina, por sua vez, a situação de cada um como produtor e como
consumidor. (SANTOS, 1979, p. 15).
Assim, de acordo com o autor a desigualdade de renda e a consequente
dificuldade de acesso ao consumo e aos bens e serviços considerados essenciais,
propiciou a existência de dois circuitos de produção, distribuição e consumo na
sociedade urbana, o circuito superior e o circuito inferior.
A existência de uma massa de pessoas com salários muito baixos ou vivendo de
atividades ocasionais, ao lado de uma minoria com rendas muito elevadas, cria na
sociedade urbana uma divisão entre aqueles que podem ter acesso de maneira
permanente aos bens e serviços oferecidos e aqueles que, tendo as mesmas
necessidades, não têm condições de satisfazê-las. Isso cria ao mesmo tempo
diferenças quantitativas e qualitativas no consumo. Essas diferenças são a causa e o
efeito da existência, ou seja, da criação ou da manutenção, nessas cidades, de dois
circuitos de produção, distribuição e consumo dos bens e serviços. (SANTOS, 1979,
p. 29).
O circuito superior seria “constituído pelos bancos, comércio e indústria de exportação,
indústria urbana moderna, serviços modernos, atacadistas e transportadores” (SANTOS, 1979, p. 31)
e o circuito inferior seria constituído “por formas de fabricação não-‘capital intensivo’, pelos serviços
não-modernos fornecidos ‘a varejo’ e pelo comércio não-moderno e de pequena dimensão”
(SANTOS, 1979, p. 31). A existência desses dois circuitos é decorrente de um mesmo processo
denominado pelo autor como modernização tecnológica.
O circuito superior originou-se diretamente da modernização tecnológica e seus
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elementos mais representativos hoje são os monopólios. O essencial de suas relações
ocorre fora da cidade e da região que os abrigam e tem por cenário o país ou o exterior.
O circuito inferior, formado de atividades de pequena dimensão e interessando
principalmente à populações pobres, é, ao contrário, bem enraizado e mantém relações
privilegiadas com sua região. (SANTOS, 1979, p. 16).
Milton Santos (1979) destaca que os dois circuitos são sistemas em interação permanente, ou
seja, não podem ser considerados isoladamente ou de forma dualista, no entanto, o circuito superior
ou moderno recebeu mais atenção dos pesquisadores ao longo da história do pensamento
econômico e geográfico. Além disso, o Estado acaba por privilegiar as atividades do circuito superior
tendo em vista que seus mecanismos são baseados na produção, porém, os mecanismos do circuito
inferior são baseados no consumo, ou seja, nas necessidades correntes da população, além disso, o
circuito inferior é mais flexível em relação - necessidade de especialização do trabalho, assim, este circuito possui maior fluidez para
absorver a massa de trabalhadores das cidades.
O circuito inferior, “um circuito não moderno, que compreende a pequena produção
manufatureira, frequentemente artesanal, o pequeno comércio de uma multiplicidade de serviços de
toda espécie” (SANTOS, 1979, p. 155) é dependente do circuito superior, ou seja, sua existência e
sua manutenção são decorrentes das desigualdades produzidas pela modernização tecnológica
excludente, assim, o autor aponta que:
O problema é encontrar as formas de relações entre os dois circuitos capazes de abrir
uma comunicação entre ambos e, ao mesmo tempo, melhorar a situação dos indivíduos
atualmente envolvidos no circuito inferior, transformando este último para melhorar sua
produtividade. Essa solução deverá provocar uma organização do espaço mais capaz de
favorecer a redistribuição dos recursos nacionais, e ao mesmo tempo, uma organização
da produção que autorize uma distribuição mais eqüitativa dos recursos e dos homens no
espaço. As duas soluções estão necessariamente interligadas. (SANTOS, 1979, p. 289).
O autor aponta que para superar as desigualdades e acabar com a pobreza
entendida por ele como a privação do acesso aos bens de consumo considerados
indispensáveis em determinada sociedade, é necessário substituir o atual sistema de
produção por outro sistema em “que a ideia de produtividade econômica ceda lugar à
ideia de produtividade social” (SANTOS, 1979, p. 291).
A atualização da teoria dos dois circuitos da economia urbana
De acordo com Marina (2012) a teoria dos dois circuitos da economia urbana foi
debatida e adotada por diversos autores em diferentes contextos, porém, Spósito apontava,
em 1999, que no Brasil a teoria dos dois circuitos da economia urbana "foi mais esquecida
do que debatida, foi mais abandonada que superada, dada a ausência de uma ampla
discussão sobre ela” (SPÓSITO, 1999, p. 50).
De fato, essa discussão tem sido feita com mais intensidade no Brasil após a década de 1990
em diversos estudos sobre a economia urbana das cidades brasileiras conforme apontado por Marina
(2012) e por Cataia e Silva (2013), em função das novas dinâmicas dos dois circuitos com a
ampliação do crédito e do consumo e o uso de novas tecnologias.
No livro, Milton Santos (1979) aponta diversas variáveis e características que diferenciam
os dois circuitos, como a tecnologia empregada, a forma de organização, a
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participação dos capitais, a geração de emprego assalariado, a existência de estoques, os
preços, a disponibilidade e o uso de crédito, as margens de lucro, as relações com a clientela, a
existência de custos fixos, a utilização de publicidade, a reutilização dos bens, a existência de
ajuda governamental, a dependência direta do exterior, dentre outras.
Ao analisar essas variáveis e características a luz da realidade atual da sociedade
brasileira, são evidentes as transformações ocorridas, principalmente no circuito inferior, assim,
considera-se que a atualização dessa teoria reside na atualização dessas variáveis, o que não
desqualifica a base da teoria que considera a existência de dois sistemas em interação
permanente, sendo que um desses sistemas, o circuito inferior é dependente do outro, o circuito
superior. Mesmo com as transformações do período recente, essa dominação ainda é
observável. Conforme apontado por Cataia e Silva (2013):
O circuito inferior ganha novo conteúdo quando incorpora algumas tecnologias em suas
atividades. Além disso, a expansão do crédito trouxe a ampliação do consumo da
população pobre ocasionando um empobrecimento ainda maior das classes populares. A
difusão do cartão de crédito, dos financiamentos pessoais e serviços financeiros
oferecidos por redes de lojas coexistem com as antigas formas de crédito do circuito
inferior como fado, o crediário e mesmo os empréstimos realizados com agiotas. Dessa
forma, o circuito superior aprofunda a dominação sobre o circuito inferior por meio das
finanças. (CATAIA; SILVA, 2013, 71).
Os autores destacam nesse trecho a expansão do crédito e a incorporação de
tecnologias, porém, as novas tecnologias da informação têm influenciado também em outras
variáveis, como a utilização da publicidade, facilitada pela utilização das redes sociais e de
aplicativos instalados em dispositivos móveis. Além disso, a difusão de informações possibilitada
por esse contexto influencia também os hábitos de consumo da população, tanto em relação à
criação de novas necessidades quanto em relação a popularização de modelos de consumo
mais éticos ou ecologicamente corretos.
Dessa forma, o circuito inferior da economia urbana, que já era dinâmico por sua
tendência de adaptar-se às diferentes conjunturas econômicas, tem a seu dispor novas
ferramentas que auxiliam no esforço de subsistência e geração de renda. Além disso, de
acordo com Cunha (1998) o capitalismo contemporâneo evolui em direção à economia
de dispersão, oposta à economia de concentração orquestrada pela racionalidade
econômica capitalista tradicional.
Geoeconomicamente, esta economia [de dispersão] é voltada em parte para mercados
restritos e rarefeitos, regionais e locais. É o padrão da economia de pequenas escalas, de
pequenas e micro-empresas, de pequenos investimentos, do micro-crédito, dos bancos
do povo, do comércio popular, dos trabalhadores por conta própria, da agricultura familiar
e camponesa, do cooperativismo autêntico. Imaginar essa pequena economia como rival
da grande economia é um enorme engano, pois elas podem ser complementares. A
grande economia pode melhorar com o sucesso da pequena. (CUNHA, 1998, p. 103).
Ainda que voltadas para a pequena economia, ou economia de dispersão, as alternativas de
desenvolvimento social e de gestão da economia, são determinadas pelos interesses e necessidades da
grande economia ao priorizar a preocupação com o desemprego. (CUNHA, 1998). Nesse contexto, a
superação das desigualdades passaria então pela maior
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participação do Estado de forma a considerar a dinâmica espacial e as
necessidades da pequena economia. Assim, o papel do Estado seria o de:
[...] incentivar alternativas para produtores e trabalhadores marginalizados e espaços
decadentes e subtilizados, para que possam melhorar o seu desempenho produtivo
gerando os recursos necessários à sua própria inserção, que, por sua vez, não deveriam
ser desviados para a grande economia. Em outras palavras, defende-se que o importante
é criar as condições, de forma criativa, para que, a partir do trabalho produtivo, os
excluídos possam pelo menos encontrar um lugar digno no palco, mesmo que não seja
ainda no centro. (CUNHA, 1998, p. 111).
Essa perspectiva, não depende da superação da ideia de produtividade
econômica, proposta por Santos (1979), porém, considera a busca por
possibilidades dentro da realidade vigente.
Considerações Finais
Elaborada na década de 1970, para compreender as dinâmicas da economia urbana dos
países desenvolvidos, a teoria dos dois circuitos da economia urbana (SANTOS, 1979), fornece
subsídios importantes para a compreensão da economia urbana contemporânea mesmo com as
transformações da sociedade que demandam a atualização de algumas variáveis e características
utilizadas pelo autor para diferenciar os dois circuitos. Mesmo com as transformações nas dinâmicas
dos dois circuitos, a existência deles e a dominação do circuito superior sobre o circuito inferior ainda
é patente. Sendo necessária ainda a busca por meios de superação e/ou minimização dessa
dominação.
Referências Bibliográficas
CATAIA, Márcio; SILVA, Silvana. Considerações sobre a teoria dos dois circuitos da economia urbana na atualidade. Boletim Campineiro de Geografia, Campinas, v. 3, n. 1, p. 55-75, 2013.
CUNHA, Luiz Alexandre Gonçalves. Por um projeto sócio-espacial de Desenvolvimento. Revista de História Regional, Ponta Grossa, v. 3, n. 2, p. 91-114, inverno, 1998.
MARINA, Regitz Montenegro. A teoria dos circuitos da economia urbana de Milton Santos: de seu surgimento à sua atualização. Revista Geográfica Venezolana, Mérida, Venezuela, v. 53, n. 1, p. 147-164, jan./jun. 2012.
SANTOS, Milton. O espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos. Tradução de Myrna T. Rego Viana. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979. (Coleção Ciências Sociais).
SPÓSITO, Eliseu Savério. A teoria dos dois circuitos da economia urbana nos países subdesenvolvidos: seu esquecimento ou sua superação? Caderno Prudentino de Geografia. Presidente Prudente, n. 21, p. 43-51, 1999.
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ESPAÇOS HETEROGÊNEOS E AS UNIDADES DE SAÚDE ESF EM
CURITIBA, PARANÁ
Gabriele Ewílin de Oliveira Ribas;
Ramon de Oliveira Bieco Braga;
Ana Paula Benato
Introdução
Com base na observação das medidas determinantes dos espaços habitados pela
saúde pública e o modo categórico em que são delimitados os distritos sanitários para a
implantação da Estratégia de Saúde da Família (ESF), foi analisado a heterogeneidade em que
se constroem e apresentam as influências destes espaços na estruturação da política de saúde pública no município de Curitiba, Paraná.
Portanto, justifica-se que, com base em Guimarães (2015), a compreensão de
abordagens heterogênicas que expõem experiências nas condições individuais e coletivas
contribuem para a interpretação holística da saúde, a partir da realidade geográfica e a
interação das percepções refletidas nela, expondo a diversidade do espaço como necessidade
da realidade vivida. O mesmo autor demonstra que os reflexos dos espaços abrangem as
estruturações dos serviços públicos de saúde, sendo categorizados a população como parte de
um todo ou sobre um espaço fragmentado que possui uma intenção definida sobre o recorte,
como a proposta à saúde da família. Nesse contexto, o objetivo geral foi de analisar os processos de heterogeneidade da
ESF, sobre a abordagem da heterogeneidade dos espaços de saúde dentro da influência das unidades de saúde.
Como objetivos específicos, destacam-se: Relacionar as vulnerabilidades sociais com a estruturação de planejamento da
ESF, contribuindo para a interpretação de inclusão e/ou exclusão dos espaços que configuram as prestações dos serviços de saúde.
Identificar a dinâmica da percepção dos espaços para o acesso as unidades de
saúde, a partir das categorizações de equidade proporcionadas nas diretrizes ideológicas da implementação da ESF, que interagem diretamente nas relações individuais e coletivas da
população, para que se possa analisar integralmente a realidade dos espaços e como se influenciam com a presença governamental do serviço de saúde à população.
Encaminhamento Metodológico
A presente investigação faz parte de uma pesquisa de levantamento de dados e
perspectivas do acesso da população aos serviços de saúde, a partir da implementação da ESF e como a espacialização das unidades atendem a população.
A prospecção da referida pesquisa se configura sobre o método indutivo, analisando
particularidades de espaços que por fazerem parte de uma estratégia nacional, como a implementação da Estratégia de Saúde da Família nas unidades de saúde, se generalizaram
sobre os fenômenos que se manifestam em espaços heterogêneos, como observado em Curitiba, Paraná.
Operacionalmente os objetivos específicos foram atingidos com base no
levantamento bibliográfico sobre à heterogeneidade dos espaços geográficos na perspectiva da
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saúde, juntamente com a dimensão dos atendimentos de programas e estratégias
governamentais que procuram atender as famílias brasileiras.
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Com isto, a relação das vulnerabilidades sociais, das quais se configuram os reflexos dos espaços, serão relacionadas à realidade geográfica de Curitiba, Paraná. As percepções
dessas realidades contribuem em análises que identificam as categorizações da espacialidade desses programas, questionando metodologicamente se os recortes desses espaços se adequam
às vulnerabilidades de cada família conveniada a ESF.
Resultados e Discussões
As espacialidades das unidades de saúde evidenciam uma abordagem nos âmbitos
geográficos que se integram a abrangência demográfica, que corresponde no reflexo dos
espaços em que a população vive e então os serviços são prestados próximos destas
localidades. De acordo com Almeida, Castro e Vieira (1998) os dados levantados para a
determinação de distritos são fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), que prioriza as necessidades locais, sobre as características que apresentam dados
semelhantes em questões biológicas e sociais relacionados aos aspectos econômicos,
ambientais, políticos, culturais e demográficos que indicam possivelmente a vulnerabilidade
para que seja necessária a implantação da ESF. Compreender o processo da fragmentação dos espaços, denota a percepção de um
conflito de planejamento espacial e social, por um sistema que se vincula a polarização
urbana, na qual se quantifica vulnerabilidades e as necessidades na área da saúde. Contudo, a
problemática da fragmentação seriam os próprios recursos que as unidades de saúde possuem
sobre os dados, uma vez que não possuem uma diretriz das relações de vulnerabilidade
(SILVA; ALVARENGA; OLIVEIRA, 2012). Quando ocorre a relação de abordagens que envolvem aspectos físicos que se
direcionam aos âmbitos sociais, sobretudo ao que concerne a prestação de serviço de saúde
pública, surgem as dinâmicas das ideologias que agregam dados e reflexos sociais, espaços e
distritos, hierarquias e organizações. De acordo com Santos (2010), os conflitos nas
organizações espaciais se relacionam com a fragmentação dessas ideologias sobre as
perspectivas da sociedade, nas quais estão vinculadas à cidadania e o acesso ao serviço
público de saúde com qualidade, categorizando nesta abordagem a expectativa de equidade,
considerando as singularidades nos espaços de saúde. O Ministério da Saúde (2000) categoriza a ESF como uma proposta de atender este
conflito, em sua categorização de planejamentos dos serviços de saúde há uma determinada abrangência populacional, focando as unidades que possuem a implementação da estratégia a
atenderem diretamente seus distritos. Por uma homologação definida ao Departamento de Atenção Básica (BRASIL,
2012), foi determinado que a estruturação de cada ordenamento das unidades que possuem a estratégia abranja no máximo 4.000 habitantes para atendimento, mantendo a qualidade de
serviço prestado e assegurando o as necessidades das famílias que compõem o quadro da distribuição da Saúde da Família.
Ponderando a ESF em um referencial geográfico, carece o vínculo das ciências por uma proposta de atender as diferenças, com isto, corroborando com a ideia de Guimarães (2015, p.31):
A Geografia da saúde voltou-se para a análise da relação entre oferta de serviços e
necessidades da população, o que é um problema complexo: envolve a separação da
necessidade e demanda, necessidade sentida pela população e prescrita pelos
especialistas, necessidades básicas (frequentes) e contingenciais (ocasionais),
necessidades coletivas e individuais.
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Ideologicamente, a ESF nas unidades de saúde permitiu o acesso da população ao serviço de saúde pública de maneira mais abrangente, sendo a espacialização adaptadas a
realidade de cada distrito e a vulnerabilidade que possuem, considerando um recorte espacial com intensão de suprir as necessidades básicas da população.
Contudo, as fragmentações desses espaços não correspondem com as necessidades contingenciais ou básicas. No último censo demográfico, conforme indica o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística1, Curitiba possuía o total de 1.751.907 habitantes para 10 Unidades de
Pronto Atendimento e 110 unidades de Atenção Básica de Saúde, sendo destas 66 unidades com a implantação da Estratégia de Saúde da Família. Portanto, a fragmentação dos distritos, não se relacionam com a homologação direcionada as unidades com a ESF. As projeções de atendimento devem ser lineares com os dados demográficos, a relação dos distritos com as unidades que
possuem a implementação da ESF carece a perspectiva de Serviço x População. Nesse sentido, Santos (2010) indica que a distinção dos dados sobre a prestação do
serviço possui uma perspectiva de parcialidade, não agregando a população um serviço de
saúde ao público geral, uma vez que existe o serviço privado, que desvincula a proposta de
equidade. Considerando que para cada unidade de saúde estariam destinadas
aproximadamente 14.600 pessoas para atendimento, proporção superior a homologação do
Departamento de Atenção Básica.
Considerações Finais
Diante do exposto, a pesquisa relaciona as abordagens de vulnerabilidades sociais na política de saúde pública a carência de considerar as heterogeneidades dos espaços. Contudo,
a ESF se apropria de uma unidade de consideração mais abrangente do que outros
programadas públicos, por possuir em sua diretriz ideológica um recorte centralizado e uma relação específica as famílias em vulnerabilidade.
Embora a estrutura ideológica do programa não corresponda integralmente com sua
diretriz, devido a uma negligência de consideração dos graus de vulnerabilidade e a prestação de
serviço x população, as questões norteadoras dos projetos de saúde poderiam estar vinculadas as
realidades coletivas e individuais dos distritos, de forma categórica e abrangente. A política de saúde ao considerar a perspectiva da dualidade dos espaços e os graus
de vulnerabilidades no sistema de saúde brasileiro que corresponda a uma expectativa
centralizada e imparcial, ao agregar recursos e instrumentos aos programas específicos, como a Estratégia da Saúde da Família, estruture uma referência no processo de categorização das
vulnerabilidades programáticas em todas as partidas (individuais e coletivas) possuindo a
dinâmica heterogênea em sua base. Portanto, da pesquisa se conclui sobre a abordagem da política de Atenção Básica da
Saúde, que necessita de enfoque sobre as abordagens de recortes espaciais, a partir das
singularidades e vulnerabilidades dos espaços que se instalam em promoção a saúde e as estratégias de atender a população em geral.
Referências
ALMEIDA, Eurivaldo Sampaio de; CASTRO, Cláudio Gastão Junqueira de; VIEIRA, Carlos Alberto Lisboa. Distritos Sanitários: Concepção e Organização. São Paulo: Editora Fundação, 1998. BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2012.
FFFF IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Censo Demográfico. 2010.
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GUIMARÃES, Raul Borges. Saúde: Fundamentos da Geografia Humana. São Paulo: Editora UNESP, 2015. SANTOS, Ana Rocha dos. Nas práticas políticas de saúde, o exercício do controle do espaço.
Revista de Geografia (UFPE), v. 27, n. 3, p. 17-30, 2010. SILVA, Tharsila Martins Rios da; ALVARENGA, Márcia Regina Martins; OLIVEIRA, Maria Amélia de Campos. Avaliação da vulnerabilidade de famílias assistidas na Atenção Básica. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 20, n. 5, p. 935-943, 2012.
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A UTILIZAÇÃO DA MÚSICA EM AULAS DE GEOGRAFIA COM
FOCO EM PROBLEMAS AMBIENTAIS
Adriana Aparecida de Andrade;
Paulo Rogério Moro;
João Paulo Camargo
Introdução
O desenvolvimento pedagógico da disciplina de Geografia traz como referência os
sujeitos da atualidade, com suas práticas, valores, linguagens e propósitos. Durante todo esse
processo, o ensino de Geografia foi se adaptando e se renovando, com novas formas de
ensinar, novas linguagens e reflexões epistemológicas cada vez mais abrangentes e
condizentes com as necessidades sociais. Partindo dessas premissas apresentamos neste
trabalho uma experiência didática que utilizou uma linguagem do cotidiano dos jovens como
recurso na aprendizagem de temas da Geografia - a música.
A atividade foi desenvolvida no âmbito da disciplina de Estágio Supervisionado de
Licenciatura em Geografia III, que busca desenvolver a profissionalidade docente dos alunos
do curso de licenciatura em Geografia da Universidade Estadual de Ponta Grossa-UEPG, com
proposições teórico-práticas em escolas do Ensino Médio. No 1º semestre de 2017 foram
realizadas aulas teóricas e práticas com alunos do 2º ano do Colégio Estadual Meneleu de
Almeida Torres, em Ponta Grossa-PR. A temática das aulas envolveu alguns problemas
ambientais, como devastação da Floresta Amazônica, degradação ambiental em decorrência
da instalação de hidrelétricas, degradação ambiental causada pelo avanço de atividades
agropecuárias, problemas ambientais urbanos de grandes cidades como São Paulo e Rio de
Janeiro, e a redução da APA da Escarpa Devoniana. Para abordar essa temática utilizou-se de
músicas brasileiras de diferentes artistas e compositores.
A escolha por utilizar a música em aulas de Geografia se deu por compreender que a
música está presente em todas as sociedades (KONG, 1995) e na vida cotidiana dos seres
humanos, em momentos individuais e coletivos, ela “ajuda a criar uma ligação emotiva
humana a um lugar particular, seja ele o lar, a vizinhança, a cidade, o estado, a região ou a
nação” (CARNEY, 2007, p.146-147). Esse mesmo autor ressalta que “a música tanto reflete
quanto influencia as imagens que as pessoas possuem de lugares e a forma como essas
imagens mudaram significativamente as atitudes das pessoas para com os lugares”
(CARNEY, 2007, p.145), o que é afirmado nas falas dos alunos ao final das atividades, que
será demonstrado nos resultados desse trabalho.
As aulas foram pensadas e elaboradas após o período de estágio de observação no
Colégio Estadual Meneleu de Almeida Torres, Ponta Grossa/PR. Nesse período notou-se que os
alunos apresentavam grande interesse pela música, estavam sempre na presença de fones de
ouvido e as conversas informais giravam em torno de shows, descobertas musicais, bem como
novidades sobre músicos e clipes disponíveis na internet em plataformas como o YouTube.
Soma-se a isso, o fato de haver a grande preocupação com o processo de ensino-
aprendizagem a ser desenvolvido durante o estágio de docência, de procurar formas de ensino mais dinâmico e vinculado a realidade dos alunos, buscando a percepção dos mesmos diante
das letras e temas propostos pela música.
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Correia (2003) aponta alguns dos aspectos positivos em se utilizar a música em sala
de aula
Os currículos de ensino devem incentivar a interdisciplinaridade e suas várias
possibilidades. (...) A utilização da música, bem como o uso de outros meios, pode
incentivar a participação, a cooperação, socialização, e assim destruir as barreiras
que atrasam a democratização curricular do ensino. (...) A prática interdisciplinar
ainda é insípida em nossa educação (Correia, 2003, p.84-85).
A importância na utilização de músicas buscando representar uma realidade ou contexto social está presente também na DCE do Paraná (2007)
A música no contexto escolar, defendida nessas Diretrizes, objetiva a educação dos sentidos e não está dissociada do lugar onde é composta e interpretada nem está
desarticulada dos valores de um determinado grupo social. Exemplos disso são os textos de canções do repertório de cultos religiosos e de manifestações de cunho
político e social. (Paraná-DCE, 2007, p.43).
Desse modo, elaborar aulas com conteúdo a partir de letras de músicas não foi uma
tarefa fácil, a escolha teve de ser minuciosa, buscando sempre letras que estavam de acordo
com o plano pedagógico do professor da turma e que fosse bem aceito pelos alunos.
Entretanto, consideramos que ensinar é um processo que requer muita pesquisa e preparação,
o professor pode inovar em conteúdos e métodos de ensino para que haja uma maior interação
com o aluno em sala de aula, além de promover maior conexão entre o que se aprende na
escola e o cotidiano dos alunos. Neste trabalho defendemos o uso de músicas brasileiras como
mediadores para ensinar Geografia, com o objetivo principal a compreensão da importância
da música como produto social e identitário, bem como denunciante de problemas ambientais.
Metodologia
Para dar inicio a primeira aula, foi feito uma mistura de alguns segundos de músicas nacionais de vários artistas e ritmos como forró, baião, funk, rap, sertanejo, entre outros,
como forma de incentivação a perceberem a variedade musical existente no Brasil, bem como em cada região há um ritmo e artistas que são predominantes.
A primeira aula tratava da Região Norte e os problemas ambientais presentes nesse
território, foram utilizadas as músicas “Belém, Pará, Brasil” de Lucinha Bastos e “Amazônia”
de Nilson Chaves. As duas músicas retratam em suas letras uma região desconhecida para a
maioria dos alunos, bem como demonstram palavras e termos frequentes utilizados no Norte
do país que os alunos não faziam ideia da existência. A partir dessa canção foi debatido
problemas ocorrentes na Floresta Amazônica como corte ilegal de madeira, desavenças e
disputas por território entre indígenas, grileiros e fazendeiros e desmatamento para cultivo de
monoculturas.
A segunda aula tratava de problemas ambientais presente na Região Nordeste, em
especial problemas causados em instalações de hidrelétricas no Rio São Francisco. Para a
discussão desse problema buscou apoio na analise da música “Sobradinho” de Sá e
Guarabyra, que retrata como algumas cidades foram inundadas com a instalação de barragens
no rio. Foi discutido também, como muitas pessoas tiveram de deixar seus lares por causa da
inundação; como em muitos casos o rio é forçado a mudar seu percurso natural; como há a
mudança no habitat natural dos animais que vivem em função desse rio; pesca predatória;
falta de matas ciliares, entre outros problemas.
A terceira aula tratava de problemas ambientais presentes na Região Centro-Oeste. Para cumprir com os objetivos propostos foram analisadas as letras das musicas “Milhões de Estrelas” de Almir Sater e “Vivendo aqui no mato” do Trio Parada Dura. A duas canções
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retratam como é a vida das pessoas que vivem em áreas rurais, como há uma grande diferença
do tempo lento vivendo nesses lugares em relação ao tempo rápido vivenciado em áreas
urbanas, demonstram o amor pela terra e a vida simples, a produção do próprio alimento e o
contato com a natureza. Entretanto, a realidade presente em muitos lugares da Região Centro-
Oeste é completamente diferente, nota-se a presença de avançadas tecnologias na produção
agropecuária, o avanço da fronteira agrícola, diminuição da vegetação nativa e degradação
dos biomas Cerrado e Pantanal, bem como uns dos problemas notáveis, as queimadas.
A quarta aula tratava de problemas ambientais presentes na Região Sudeste do
Brasil. Para o debate foi utilizada a música “Negro Drama” de Racionais Mc’s. Esse rap traz a
realidade de quem vive nas periferias, os problemas sociais e econômicos vivenciados nas
grandes cidades. Foi debatido com os alunos os problemas ambientais urbanos como a falta de
saneamento básico, enchentes, ilhas de calor, poluição sonora e visual, deslizamento de terra,
entre outros.
A quinta aula tratava da Região Sul. Para o debate sobre os problemas ambientais
dessa região foi utilizada a música “Está em jogo a sustentabilidade” e “Sapecada de Pinhão”
de Silvestre Alves (Cancioneiro da Rota). Inicialmente foram mostradas imagens de
paisagens presentes nos Campos Gerais como a Vila Velha, a Cachoeira da Mariquinha,
Buraco do Padre e várias outras, o número de alunos que reconheceram e já visitaram esses
lugares foi muito pequeno, o que é algo preocupante, pois demonstra que mesmo morando
próximo, os alunos não conhecem a grande geodiversidade presente em nossa região. Nessa
aula houve a discussão sobre a redução da APA da Escarpa Devoniana e quais são os
problemas ambientais que podem ocorrer se o projeto fosse aprovado, problemas como
poluição dos rios presentes na APA, avanço do agronegócio na área de preservação,
problemas relacionados a atividades de mineração, entre outros.
A sexta e última aula foi elaborada uma atividade prática, para isso, foram montados
grupos. Esses grupos deveriam apresentar aos colegas uma música escolhida que em sua letra
retratasse alguma situação da realidade vivenciada por eles, ou problema social ou ambiental.
O grupo deveria explicar aos colegas os motivos pelo qual escolheram aquela música. A
maioria dos grupos apresentaram raps de cantores como Criolo e Projota afirmando que essas
músicas denunciavam a realidade social dos menos favorecidos da sociedade, outro grupo
apresentou a música “Bate a poeira” de Karol Conka afirmando que a letra demonstra que os
seres humanos são todos iguais independente de raça, etnia, que o preconceito é algo
intolerável mas ainda muito presente na sociedade. Um outro grupo apresentou a música
“Plural” de Engenheiros do Hawaii, afirmando que essa música faz uma seria critica a
influencia da mídia e do consumismo desenfreado causado pelo capitalismo.
Resultados
Ao final da última aula foi entregue aos alunos um questionário (demonstrado no quadro a seguir) com duas perguntas sobre a utilização da música em aulas de Geografia e qual seria a visão deles sobre essa proposta. Quadro 1: Questionário sobre a utilização da música nas aulas de Geografia no ano de 2017.
QUESTIONÁRIO MÚSICA E GEOGRAFIA - Qual foi a música que mais chamou sua atenção? GGGG Amazônia- Nilson Chaves HHHH Sobradinho- Sá e Guarabyra IIII Milhões de Estrelas Almir Sater e Vivendo aqui no mato- Trio Parada Dura
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= Negro Drama- Racionais Mc’s = Em jogo a sustentabilidade e Sapecada de pinhão- Silvestre Alves Por quê? 8. Durante todas as aulas, a música foi analisada através da visão geográfica. Você achou interessante ter aulas de geografia utilizando vários estilos de músicas brasileiras? Por quê? Fonte: ANDRADE, A (2017).
Em relação a pergunta de número 1, entre os vinte e oito alunos que responderam ao questionário, 23 responderam que a música que mais chamou atenção foi “Negro Drama” de
Racionais Mc’s. As justificativas mais presentes foram: “por ser o estilo de música que mais gosto”, “porque retrata o que acontece na vida das pessoas que vivem na periferia” e “porque
retrata o preconceito e a desigualdade social”.
Dois alunos responderam que a música que chamou mais atenção foi a música “Em jogo a sustentabilidade” de Silvestre Alves, justificando que a música faz menção ao futebol, e por gostarem muito desse esporte gostaram também da música.
Três alunos responderam que a música que mais chamou atenção foi “Milhões de
estrelas” de Almir Sater, justificando que a música retrata o sertanejo brasileiro e a vida no campo. Apenas um aluno respondeu que a música que mais chamou atenção foi “Sobradinho”
de Sá e Guarabyra, justificando que a música causa emoção ao retratar o Rio São Francisco.
Em relação a pergunta número 2, todos os alunos afirmaram ser prazeroso estudar geografia através da música, pois através das letras é possível identificar a realidade de um lugar específico, bem como seus problemas sociais e ambientais. Figura 1: Respostas do aluno X no questionário sobre a utilização da música nas aulas de Geografia no ano de 2017.
Fonte: ANDRADE, A (2017).
Figura 2: Respostas do aluno Y no questionário sobre a utilização da música nas aulas de Geografia no ano de 2017.
Fonte: ANDRADE, A (2017).
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Figura 2: Respostas do aluno Z no questionário sobre a utilização da música nas aulas de Geografia no ano de 2017.
Fonte: ANDRADE, A (2017).
Conclusão
Nesse trabalho foi apresentado de forma sucinta uma metodologia utilizando
músicas nacionais na compreensão de diversos problemas ambientais presentes em nosso país, entretanto, entende-se que apenas a música não dá conta de uma reflexão crítica sobre a
realidade, é papel do professor buscar conteúdos nos quais as canções servirão de auxilio e apoio para o aprendizado dos alunos, conteúdos que não fujam dos planos pedagógicos
apresentados no início do ano letivo.
Considerando a boa participação dos alunos nas aulas, na atividade proposta e com
base nas respostas do questionário, conclui-se que a utilização da música nas aulas de
Geografia apresenta potencial de aprendizado elevado, e alcance dos objetivos propostos de
forma divertida, criativa e reflexiva. O que demonstra que o uso de diferentes linguagens em
sala de aula são boas propostas de ensino e que a Geografia pode ser ensinada de vária
formas cabe ao professor trazer essa pluralidade para dentro dos muros da escola.
REFERÊNCIAS
CARNEY, George. Música e lugar. In: CORRÊA, R. L.; ROSENDAHL, Z. (orgs.).
Literatura, música e espaço. Rio de Janeiro: Ed UERJ, 2007.
CORREIA, Marcos Antonio. Música na Educação: uma possibilidade pedagógica. Revista Luminária, União da Vitória–PR, n. 6, p. 83-87. 2003. FAFI- União da Vitória.
KONG, Lily. Música popular nas análises geográficas. In: CORREA, Roberto Lobato.
ROSENDAHL, Zeny (org) Cinema, Música e Espaço. Editora URJ, 2009. P.129-175.
PARANÁ. SEED - Secretaria de Estado da Educação do Estado do Paraná. DCE - Diretrizes Curriculares de Geografia p/ a Educ. Básica. Curitiba-PR, 2007. 43 p.
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A UTILIZAÇÃO DE IMAGENS EM BANNER COMO RECURSO
DIDÁTICO NAS AULAS DE GEOGRAFIA DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Alison Diego Leajanski;
Luiz Felipe Przybyloviecz
Palavras-chave: Recurso didático, Ensino de Geografia, Imagens.
Introdução
No contexto atual que vive a sociedade, as tecnologias estão cada vez mais
presentes no dia-a-dia. Neste contexto, é inviável pensar que os avanços da informática e dos recursos de mídia ainda sejam pouco vistos como recursos didáticos no âmbito
escolar. Segundo Nadal e Papi (2007), a sociedade atual desenvolve tecnologia avançada
e exige velocidade em seus projetos e ações. As mudanças ocorrem também no setor educacional, por isso, o professor deve ter consciência e priorizar essas mudanças para
que a educação seja capaz de colaborar para a formação de pessoas idôneas para
idealizar e viabilizar mudanças reais e positivas na sociedade. O ensino não deve ser visto como algo estático, por exemplo, quando o ensino se
apresenta de modo onde o professor aparece como detentor do conhecimento e os
alunos são apenas espectadores. É preciso que os docentes aproveitem o potencial
inerente aos avanços tecnológicos e utilizar os recursos didáticos disponíveis, a fim de
despertar o interesse dos estudantes para os conteúdos e sobretudo, que sejam capazes
de aplicá-los e reconhecê-los no seu dia a dia.
O grande objetivo a ser atingido com a integração das tecnologias da
informação e comunicação nas escolas é o de contribuir para a
democratização de saberes socialmente significativos e desenvolvimento de
capacidades intelectuais e afetivas, tendo em vista a formação de cidadãos
contemporâneos. Mais precisamente, contribuir para aprimoramento das
capacidades cognitivas, estéticas e operativas dos alunos, ou seja, favorecer
domínio de estratégias de aprendizagem, capacidade de transferência e
comunicação do aprendido, análise e solução de problemas, capacidade de
pensar criticamente etc. (LIBÂNEO, 2002, p. 115).
Nas salas de aula ainda se observa a utilização excessiva das aulas expositivas,
tornando-as monótonas e pouco dinâmicas. Com isso, os alunos se dispersam e pouco se
atentam às explicações do professor, decorando apenas os conteúdos e consequentemente esquecendo os após a aplicação em uma prova.
Nadal e Papi (2007) afirmam que o sucesso do professor está relacionado diretamente com a participação ativa dos alunos. Muitas vezes o aluno está presente na
escola por imposição social e legal. Daí a importância de desenvolver na escola uma prática pedagógica que estimule a participação e interesse dos estudantes para alcançar
um ensino eficaz.
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Os professores acabam não empregando os avanços tecnológicos como recursos
didáticos por alguns motivos, entre eles, podemos destacar a falta de estrutura das
escolas que por vezes não contam com tais equipamentos de multimídia, além da falta
de inovação e criatividade nas metodologias dos próprios professores. Também é
importante que os docentes participem de programas de formação continuada para
atualizarem-se sobre suas posturas e práticas pedagógicas. Para Tardif (2002) o professor ideal deve conhecer sua matéria, sua disciplina,
seu programa, deve também possuir conhecimentos sobre as ciências da educação e
pedagogia, além de conhecer seus estudantes por meio do desenvolvimento de um saber
prático baseado em sua experiência cotidiana com os alunos. Com as mudanças tecnológicas e o surgimento de novos paradigmas, a escola
passa a ganhar novas funções, deve atentar-se e seguir os avanços que acontecem na
sociedade e buscar incorporá-las através de propostas que estimulem o fortalecimento
do professor e do aluno. Atentar-se a utilização de materiais didáticos pode fazer com que as aulas motivem os alunos através de novas metodologias.
Nadal e Papi (2007, p. 26) afirmam que “é relevante o fato de que devem ser utilizadas metodologias eficazes e enriquecedoras, capazes de realmente despertar no aluno a vontade de aprender”.
No ensino de Geografia os recursos didáticos servem para estimular o interesse dos alunos para os conteúdos e também para dar condições que os alunos relacionem os assuntos trabalhados em sala de aula com sua realidade.
Para Vesentini (2009), o ensino de Geografia deve dar condições aos alunos de interpretar fotos, paisagens, mapas, percebendo os problemas sociais, a inter-relação entre os fenômenos e as causas que viram efeito e vice-versa.
Nem sempre as escolas e os professores dispõem de recursos tecnológicos para
serem utilizados nas aulas, a partir disso, buscamos discutir e refletir sobre a possibilidade de utilização de metodologias e recursos que estejam mais próximos a
realidade do ensino, como é o caso do uso das imagens e fotografias no ensino de
Geografia. A utilização das imagens se justifica pois:
[...] Trazem consigo ferramentas que auxiliam a aprendizagem, sendo as
mesmas carregadas de significados, que possibilitam o desenvolvimento de
processo interativo, estimulando o raciocínio e novas habilidades, sendo
desta forma uma aliada na escola e, por conseguinte no ensino da Geografia,
visto que possibilitará a formação de cidadãos críticos. (SANTANA E
BARBOSA, 2015, p. 3).
Esse recurso didático quando utilizado corretamente pode auxiliar os professores na explicação dos conteúdos, estimular o interesse dos alunos para as aulas e aprimorar
a capacidade de observação. O uso das imagens no ensino de Geografia abre a possibilidade para que os
alunos estimulem sua capacidade de adquirir conhecimento através do olhar. É uma
forma de se aprender a partir das várias possibilidades que a observação proporciona. Ao observar uma fotografia ou imagem de certo conteúdo que o professor vem
trabalhando, o aluno pode relacionar a explicação a sua observação e compreender o
assunto de uma maneira diferente. Quando o professor utiliza, por exemplo, um banner
com imagens consegue atrair a atenção dos alunos, que a partir da observação
estimulam a imaginação, a criatividade e melhora a capacidade de assimilação dos
conteúdos.
Objetivo
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Alguns conteúdos da disciplina de Geografia exigem que se trabalhe com
imagens e fotografias, por exemplo, quando se trabalha com os tipos de nuvens. Para
que os estudantes possam reconhecer, diferenciar e identificar os principais tipos de
nuvens é preciso que observem diferentes exemplos de nuvens em imagens e
fotografias. Um banner ou cartaz com imagens e fotografias é uma opção de aplicação
desta proposta. A partir disso, o objetivo do trabalho é apresentar, por meio de um relato
de experiência, os pontos positivos e negativos da utilização de um banner como
recurso didático no ensino de Geografia.
Metodologia
As aulas ocorreram entre os dias 26 de outubro e 08 de novembro de 2017 no
Colégio Estadual Meneleu de Almeida Torres (Ponta Grossa-PR), em três turmas de 6°
ano do ensino fundamental. Tal proposta faz parte do Programa Institucional de Bolsas
de Iniciação à Docência (PIBID), que possibilita aos acadêmicos dos cursos de
licenciatura estarem inseridos nas escolas sob a supervisão de um professor da área,
conhecerem a realidade do ensino e desenvolverem projetos voltados ao processo de
ensino-aprendizagem. Os conteúdos trabalhados pelos acadêmicos do PIBID, sob orientação do
professor supervisor, foram: As nuvens e os tipos de chuva. O tamanho do banner era de 60 centímetros de largura e 1 metro de comprimento, apresentava uma representação
dos principais tipos de nuvens, classificações quanto a altura e composição além dos
principais tipos de chuva. Foram necessárias três aulas para a realização de tal proposta. Na primeira,
trabalhou-se o conceito de nuvem, os principais tipos e suas classificações quanto a altura e quando a composição. A explicação aconteceu por meio de uma aula expositiva,
quando o banner foi anexado na frente da sala, para que todos os alunos pudessem observar e assimilar melhor o conteúdo por meio deste recurso didático.
Figura 1: Aula sobre tipos de chuva e nuvens.
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Figura 2: Ministração de aulas com utilização do banner com imagens.
Nos minutos finais da aula os estudantes foram orientados a se aproximar do banner e observar as imagens que este apresentava, a fim de esclarecer possíveis dúvidas sobre o assunto.
Na segunda aula, os acadêmicos do PIBID abordaram o assunto: Chuva e os seus principais tipos. Nesta, o banner com imagens também foi utilizado da mesma
maneira, para melhorar a assimilação dos conteúdos pelos alunos e para auxiliar o professor na explicação.
A terceira aula foi de revisão e avaliação. O banner serviu para auxiliar na
explicação dos conteúdos como recurso didático para o professor e também aos alunos
que puderam aliar a fala do professor à sua observação da representação no banner.
Após a revisão que durou aproximadamente 15 minutos, os alunos receberam a
atividade que apresentava uma imagem semelhante à do banner mas sem a indicação do
nome das nuvens, portanto, o objetivo desta atividade era que os estudantes
reconhecessem e indicassem corretamente o nome das nuvens.
Resultados e discussões
Com essa proposta observamos que os alunos mostraram-se mais participativos
e interessados nas aulas de Geografia, através de perguntas feitas e pela melhora do comportamento, com a diminuição de conversas paralelas durante a aula. A utilização
de imagens propiciou ainda condições para que os alunos pudessem aprender por meio de suas observações e estímulos a imaginação.
Para que pudéssemos avaliar a eficácia da proposta quanto a facilitação da
aprendizagem dos conteúdos pelos alunos, analisamos as atividades, com isso,
observamos que todos os alunos tiraram nota igual ou acima da média. Também
observamos que dos 80 alunos, 61 conseguiram a nota máxima na atividade. A partir
disso, observamos que o objetivo de utilizar o banner a fim de facilitar a aprendizagem
dos estudantes mostrou-se relevante e positivo, pois houve resultados satisfatórios na
atividade. Sobre a dinamização das aulas, notamos que a proposta correspondeu aos
objetivos, pois percebemos que os alunos mostraram-se mais atentos as explicações e interessados pelas aulas.
Uma aula que o professor não utiliza de recursos materiais didáticos e apenas expõe o conteúdo, os alunos apresentam dificuldades no entendimento dos conteúdos.
Neste sentido, a utilização das imagens possibilitou que os estudantes relacionassem as explicações do professor com a sua observação.
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Portanto, com a utilização do banner com imagens foi possível mostrar os tipos
de nuvens, as condições necessárias para sua formação e também propiciou um elemento
muito importante para a compreensão do conteúdo: A noção de escala de altura das
nuvens, elemento que geralmente fica muito vago para os estudantes. Os alunos
mostraram-se capazes de diferenciar os principais tipos de nuvens quanto a altura e a
composição.
Considerações finais
Um grande problema encontrado pelos professores de geografia quando
trabalham com temas abstratos, como os tipos de chuvas e de nuvens, é a dificuldade de
abstração das ideias que são colocadas aos alunos pelos professores em sala de aula. É
neste sentido que foi proposto nesse trabalho, uma alternativa metodológica que possa
dinamizar e diversificar as aulas, proporcionando qualidade às aulas e levando os alunos
à aprendizagem de qualidade. Nesse trabalho, discutimos brevemente como os recursos didáticos (imagens em
banner) embora simples, tornam-se muito eficazes quando utilizados em sala de aula, otimizando o aprendizado dos alunos, principalmente em conteúdos da Geografia que
são mais complexos e que geralmente não são facilmente entendidos pelos alunos apenas com a explicação do professor.
Por fim, acreditamos que quando os professores propõem-se a pensar e buscar novas metodologias, novos recursos didáticos para ensinar seus alunos, é possível otimizar o processo de ensino aprendizagem e melhorar qualitativamente o ensino.
Referências
LIBÂNEO, José Carlos. Didática: velhos e novos temas. [S.l : s.n], 2002. p. 134. Disponível em: <http://docs.google.com/file/d/0B7hxGmfpndeGLU5wckl5ckVRU2EwQXZPalFvRllD
QQ/edit>. Acesso em 02 fev. 2018.
NADAL, Beatriz Gomes; PAPI, Silmara de Oliveira Gomes. O trabalho de ensinar: desafios contemporâneos. In: NADAL, Beatriz Gomes (Org.). Práticas Pedagógicas nos anos iniciais: concepção e ação. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2007. p. 15-34.
SANTANA, Luiza Martins de; BARBOSA, Jailma do Ramo. O uso de leitura da
imagem nas aulas de Geografia e para o estudo da paisagem no ensino da Geografia: Reflexões a partir da experiência vivenciada e relações na teoria prática. In:
ENCONTRO DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA DA UEPB, 5, 2015, Campina Grande. Anais... Campina Grande: UEPB, 2015. p. 1-12.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 13. ed. Petrópolis:
Vozes, 2002. p. 328.
VESENTINI, José William. Repensando a geografia escolar para o século XXI. São Paulo: Plêiade, 2009. p. 160.
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AS TECNOLOGIAS NO ENSINO E APRENDIZAGEM: O USO DO
GOOGLE EARTH NA CARTOGRAFIA ESCOLAR PARA A
CONSTRUÇÃO COLETIVA DO CONHECIMENTO
Stefany Pontes de Freitas;
Ramon de Oliveira Bieco Braga;
Ana Paula Benato
Introdução Ao se pensar no exercício da docência, concebe-se o desafio em planejar estratégias
e metodologias diferenciadas para o ensino e aprendizagem. Diante disso, a tecnologia pode ser pensada como uma possível aliada na elaboração destas ditas estratégias.
Sendo assim, considerando a Geografia que é uma disciplina presente no currículo da
educação básica brasileira que tem como objetivo sensibilizar as pessoas (discentes) sobre os
fenômenos físicos e humanos no espaço geográfico, evidencia-se a cartografia como um recurso
utilizado nesta disciplina que realiza a representação deste dito espaço geográfico. Portanto, a
cartografia utilizada no ambiente escolar pode ter a tecnologia como uma aliada em potencial. Desse modo, problematiza-se como o software Google Earth contribui com a
sensibilização espacial das pessoas (discentes), no tocante a disciplina de Geografia na educação básica?
Para tanto, objetiva-se realizar uma revisão teórica acerca da representatividade do Google Earth com a Cartografia Escolar e evidenciar quais são as potencialidades presentes
no software, no contexto do ensino de Geografia, sobre tudo como um recurso auxiliar da Cartografia Escolar.
Metodologicamente, busca-se realizar uma revisão teórica acerca do uso de tecnologias no âmbito escolar e a cartografia escolar à luz da disciplina de Geografia afim de verificar o que se tem discutido teoricamente a respeito do tema.
Em sequência disso, a presente pesquisa se justifica por demonstrar que o uso das
tecnologias da informação está presente nos espaços escolares e que os(as) docentes de Geografia
não podem ignorar a presença dos equipamentos e softwares no interior das salas de aula, pois
estas tecnologias podem representar uma significativa contribuição ao trabalho docente e à
disciplina de Geografia, além de também se mostrar importante pra os(as) discentes que podem
ver no uso destes recursos da tecnologia uma possibilidade nova de aprender e de participar do
processo de significação dos conteúdos ministrados no ambiente de sala de aula.
A Cartografia Escolar e o Google Earth
Inicialmente, é importante evidenciar o papel da Cartografia na educação básica.
Tratando-se do contexto escolar, a então conhecida Cartografia passa a ser conhecida como
Cartografia Escolar. Diante disso, salienta-se que a cartografia escolar de acordo com Almeida
(2011, p.4), “(...) é vista como um saber que está em construção no contexto histórico-cultural
atual, momento em que a tecnologia permeia as práticas sociais e as concepções educacionais
destacam a forte influência da cultura nas práticas escolares”. Com base nisto, salienta-se que a
Cartografia e por consequência também a Cartografia Escolar acompanham as dinâmicas culturais
e sociais, e isso reflete-se nas práticas e recursos didáticos-pedagógicos adotados. Para tanto,
também se pode pensar a cartografia escolar de acordo com a Almeida (2011, p.04), “ela também
pode referir-se a formas de se apresentar conteúdos relativos ao espaço-tempo social, a
concepções teóricas de diferentes áreas de conhecimento a ela relacionadas, a experiências em
diversos contextos culturais, a práticas com tecnologias da informação e comunicação”.
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Diante desta afirmação que salientar-se-á em especial neste caso o enfoque sobre o uso de tecnologias nas práticas pedagógicas atuais, e em especial como instrumento de apoio à cartografia escolar, levando em conta o contexto social e cultural.
Concebendo o mundo globalizado e o acesso a informação possibilitado pela tecnologia, pensa-se que a maneira em que o conhecimento é produzido e difundido também influencia a tecnologia, diante disso, de acordo com Canto (2011, p. 28):
A tecnologia, seja ela antiga ou nova, está profundamente associada aos modos pelos
quais construímos o conhecimento. Atualmente são a internet e o computador que se
destacam neste processo, ao se constituírem na sociedade contemporânea como os
principais meios de produção, difusão e acesso à informação. Na área da cartografia, isso
significa que cada vez mais os mapas passam a circular no mundo virtualmente.
- luz desta perspectiva, cabe pensar na Cartografia sendo ressignificada com os novos recursos que vem sendo desenvolvidos pela evolução da tecnologia, frente a isto, cabe
pensar nestes recursos voltados e aplicados para as metodologias de ensino e aprendizagem na educação básica.
Sendo assim, considerando o uso das tecnologias, será explorado o uso do software
Google Earth como ferramenta auxiliar da cartografia escolar. Para isso, contextualiza-se o
Google Earth, e este de acordo com Andrade e Medina (2007, p. 3), “(...) permite navegar por
imagens de satélite de todo o planeta, girar uma imagem, marcar e salvar locais, medir
distâncias entre dois pontos e ter uma visão tridimensional de uma determinada localidade.”
Diante disso, considerando que este software permite a visualização da superfície terrestre
mediante imagens de satélite, logo, alguns fenômenos do espaço geográfico também podem
ser observados mediante o uso deste recurso, sendo assim, considera-se a potencialidade desta
tecnologia, e coloca-se como proposta e o desafio de aplicar o uso desta na educação básica,
em especial como uma contribuição na construção do conhecimento da Cartografia Escolar. Como o software trabalha com a exibição de imagens de satélite, pensa-se na
utilização destas imagens para desde a realização dos reconhecimentos dos elementos presentes, a interpretação das imagens, e em especial neste caso a produção de mapas pelos
próprios discentes a partir do uso destas imagens do Google Earth. Sendo assim, tendo a concepção do que o software Google Earth permite realizar, é
possível pensar em algumas propostas para o trabalho em conjunto com a disciplina de
Geografia. Considerando que a disciplina apresenta diversas temáticas e conteúdos para se
trabalhar, é válido propor a aplicação de conceitos referentes ao espaço geográfico, e buscar
visualizá-los com base na análise e interpretação das imagens de satélite e seus elementos. O
software apresenta ferramentas que permitem marcar pontos, dar nome aos pontos, atribuir
títulos a localização. Desta forma, essas ferramentas podem se apresentar como uma
contribuição na fixação de conceitos, espacialização e localização. Alguns dos recursos do
Google Earth que podem ser uma proposta para o uso em sala de aula pode ser visto na Figura
01:
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FIGURA 01: Exemplo de utilização Google Earth
Fonte: Google Earth, 2018 (Adaptado pelos Autores)
Tendo em vista esta proposta de utilização do software e os recursos vistos na Figura 01,
que permite identificar localizações e elementos, a contribuição do uso destas imagens ainda pode
se apresentar mais produtivo ainda quando se pensa em tomar como referência o uso de imagens
adquiridas do município, do bairro onde moram e do entorno da instituição em que se estuda
conhecida pelos discentes e pelo próprio docente, pois a presença de conhecimentos prévios de
elementos do espaço contribui para a construção coletiva do conhecimento e para a produção de
uma cartografia escolar participativa, pois de acordo com Santos (2012, p.12):
Através do lugar onde mora, o aluno entra em contato com o mundo, efetiva
experiências; dessa forma, consideramos imprescindível que essa parcela do espaço seja trazida para a sala de aula. (...)Essas realidades conhecidas pelos alunos
constituem-se nas suas vivências, ou seja, aquilo que eles já conhecem sobre o
espaço, sobre a sociedade de como estão imbuídos nesse processo.
Desta forma, o uso das imagens do Google Earth em sala de aula se mostra muito mais como um simples recurso da tecnologia, mas também uma ferramenta de auxílio para a
produção da cartografia escolar, que permite incluir os discentes no processo de produção do conhecimento e aproximar a cartografia técnica e pragmática para a compreensão dos
estudantes. Deste modo, conforme Gonçalves et al (2007), a imagem de satélite ilustra a
superfície terrestre em determinado momento, assim, as imagens de alta resolução permitem o aluno observar a realidade por meio das associações que faz com seu cotidiano. Sendo assim,
fazendo a síntese da união entre a tecnologia e os conhecimentos prévios. Como análise geral, a Geografia como disciplina do contexto escolar por apresentar uma
demanda de conteúdos e conceitos que devem ser trabalhados em sala de aula, muitas vezes as
metodologias tradicionais distanciam o que é ensinado da realidade e da compreensão dos (das)
discentes. Sendo assim, o uso de tecnologias como o Google Earth e a mostra de imagens de
satélite no contexto escolar, pode ser um aliado na compreensão de conceitos e
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possibilitar a visualização dos fenômenos no espaço geográfico e abrir novas possibilidades para a
cartografia escolar e abrir espaço para os conhecimentos prévios da turma para as aulas.
Considerações finais
As imagens aéreas do Google Earth podem ser consideradas como uma ferramenta didática que subsidia o processo ensino-aprendizagem dos (as) discentes da educação básica,
pois o (a) docente de Geografia ao levar essas imagens aéreas para a sala de aula, estimula nos (as) discentes a percepção espacial de como ocorre o uso e ocupação do solo, seja em uma
área urbana/rural, ribeirinha, litoral, dentre outros espaços. Desta forma, esta percepção é potencializada quando se retrata imagens referentes ao
cotidiano de uma turma, pois estes carregam conhecimentos prévios sobre o espaço de suas
vivências, e estes conhecimentos são fundamentais para aproximar os conteúdos da geografia escolar.
Sendo assim, considerando que foi inicialmente problematizado, o uso do Google
Earth pode contribuir positivamente na sensibilização espacial no contexto da Geografia, pois
proporciona a consideração de todos os conhecimentos anteriores dos (das) discentes,
promove a união da observação das imagens de satélite por meio do Google Earth, a aplicação
prévia dos conceitos e o relato dos conhecimentos anteriores sobre o espaço da turma. Assim
sendo, esse conjunto de ações apresenta-se como um diferencial de ensino e aprendizagem e
apresentam um considerável potencial para as salas de aula. Pensando na perspectiva da Cartografia Escolar, tais práticas utilizando tecnologias
permitem resignificar a conhecida Cartografia, que é tida como um recurso de representação
retratado pelos livros didáticos. Esta dita cartografia passa a ter um novo significado, pois o
uso do Google Earth permite aos (às) discentes produzirem suas próprias cartografias com
base no que observam e interpretam nas imagens de satélite e com o que cada aluno ou aluna
contribui com os conhecimentos que já tinham. De maneira geral, referindo-se a cartografia, a
construção coletiva do conhecimento se dá pela contribuição de cada agente, seja ele discente
ou docente com seus conhecimentos prévios, os obtidos e interpretados, neste caso com o
auxílio da tecnologia no processo de ensino e aprendizagem. Portanto, com base nos objetivos inicialmente pontuados, verificou-se com base no
referencial teórico a representatividade do Google Earth no âmbito escolar, no contexto auxiliar da Geografia e da Cartografia, e que este pode potencializar o ensino e aprendizagem.
Conforme o referencial teórico dessa pesquisa indicou, acrescenta-se que o uso desse software se destaca pela gratuidade e pelo fácil manuseio em díspares dispositivos, a saber: notebook, tablets e smartphones, aproximando docentes e discentes da percepção espacial.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Rosângela Doin de. Cartografia Escolar. In: MENDONÇA, Rosa Helena; ALMEIDA, Rosângela Doin de; CANTO, Tânia Seneme do. Salto para o Futuro. Tv Escola, Ano XXI, Boletim 13, 2011.
ANDRADE, Andréa Faria; MEDINA, Simone da Silva Soria. O uso de imagens de satélite do Google Earth como recurso didático para o ensino de projeções de coberturas. Curitiba: Graphica, 2007.
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CANTO, Tânia Seneme do. Tecnologia e Cartografia Escolar. In. MENDONÇA, Rosa Helena; ALMEIDA, Rosângela Doin de; CANTO, Tânia Seneme do. Salto para o Futuro.
Tv Escola, Ano XXI, Boletim 13, 2011. p. 28-36.
GONÇALVES, Amanda Regina. ANDRÉ, Iara Regina Nocentini. AZEVEDO, Thiago
Salomão. GAMA, Valquíria. Analisando o uso de imagens do “Google Earth”
e de mapas no ensino de Geografia. Revista electrónica de recursos en internet
sobre geografía y ciencias sociales. Universidad de Barcelona.
Nº 97, 1 de junio de 2007.
SANTOS, Laudenides Pontes dos. A relação da Geografia e o conhecimento cotidiano vivido no lugar. Geografia, Ensino e Pesquisa. v.16, n.3, 2012, p.107-122.
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COPA DO MUNDO E ALFABETIZAÇÃO CARTOGRÁFICA: UMA
AÇÃO DESENVOLVIDA COM ESTUDANTES DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Alison Diego Leajanski;
Willian Samuel Santana da Roza
INTRODUÇÃO
No ensino de Geografia, a busca pela aproximação dos conteúdos trabalhados em sala de aula ao lugar de vivência dos estudantes é muito importante, visto que eles podem
interessar-se mais pelas aulas quando conseguem identificar os conceitos estudados na escola nos locais do seu cotidiano. Aproximar e relacionar as escalas global e local é importante,
pois:
Compreender o lugar em que se vive encaminha-nos a conhecer a história do lugar e,
assim, a procurar entender o que ali acontece. Nenhum lugar é neutro, pelo contrário,
os lugares são repletos de história e situam-se concretamente em um tempo e em um
espaço fisicamente delimitado. As pessoas que vivem em um lugar estão
historicamente situadas e contextualizadas no mundo. Assim, o lugar não pode ser
considerado/entendido isoladamente. (CALLAI, 2005, p. 236).
A partir disso, os estudantes podem tornar-se capazes de observar, descrever e analisar
o espaço geográfico, além de terem condições para compreender de maneira mais significativa, como se dão as relações do seres humanos entre si e com a natureza.
Atualmente, um dos desafios enfrentados pelos docentes refere-se ao uso de recursos
didáticos, como estratégias de facilitar o processo de aprendizagem, seja pela falta de
materiais e investimentos, ou ainda, quando especificamos a Cartografia, há falta de formação
e domínio dos conhecimentos que possibilitem condições para trabalhá-los de forma clara e
eficaz. Segundo Pissinati e Archela (2007, p. 187) “é grande o número de professores que
contorna as atividades com mapas, justamente porque não sabem trabalhar com eles”. A Cartografia para Pissinati e Archela (2007) pode ser entendida enquanto
instrumento de uso da Geografia. As autoras apontam ainda que a falta de habilidades pode
levar as pessoas a não compreenderem corretamente as informações cartográficas por
exemplo, quando ficam girando o mapa de uma cidade até conseguirem se localizar na mesma
e ainda não conseguir dimensionar espaços com base na escala. No âmbito escolar, por vezes,
os mapas são utilizados apenas para ilustrar locais e apontar onde os fenômenos ocorrem,
além disso, também não trabalhados de forma efetiva os seus principais elementos, o que vai
dificultar sua leitura e compreensão. Um mapa deve ser:
uma representação da superfície da Terra, conservando com estas relações
matematicamente definidas de redução, localização e de projeção no plano. Sobre
um mapa-base, assim obtido, pode-se representar uma série de informações, escolhidas por interesses ou necessidades das mais diversas ordens. (ALMEIDA,
2001, p. 13).
Os mapas, se trabalhados de forma correta, podem contribuir para o processo de
aprendizagem dos estudantes, pois “uma vez que a Geografia é uma ciência que se preocupa
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com a organização do espaço, para ela o mapa é utilizado tanto para a investigação quanto
para a constatação de seus dados.” (ALMEIDA, 2002, p. 16). É por meio dos mapas que o
espaço é representado, assim, os estudantes interpretam e compreendem diversas relações que
ocorrem, tais como distribuição geográfica, fronteiras políticas, entre outros. A capacidade de
interpretar mapas permite que a pessoa seja capaz de analisar um conjunto de informações de
forma eficaz, além de entender as proporções do espaço e raciocinar melhor sobre suas
utilizações. Pissinati e Archela (2007) argumentam que é fundamental que o processo de
alfabetização tenha início nos primeiros anos escolares, pois, ao observar e assimilar as
informações do espaço vivido e conseguir visualizá-las também em um mapa, a criança estará
adquirindo um saber científico capaz de melhorar suas atividades diárias. Estas atividades são
aquelas em que a criança precisa se deslocar de um lado para outro, dando sentido em sua
vida para o estudo da Cartografia. Neste sentido, para que os alunos consigam compreender
de forma significativa os conteúdos relacionados a Cartografia, é necessário que o docente
utilize metodologias que facilitem o processo de aprendizagem e façam com que os alunos se
interessem pelas aulas e pelo conteúdo. A partir disso, surgiu o interesse em trabalhar com o referido tema em forma de
oficina, Afonso (2002, p. 9) afirma que “a Oficina pode ser útil nas áreas de saúde, educação e
ações comunitárias”. Além disso, com essa metodologia espera-se que os alunos produzam
materiais e também interajam mais com os colegas e com o professor. Quando os alunos
produzem materiais e não apenas decoram conceitos há menor possibilidade de esquecerem,
pois exercitam mais o raciocínio e a autonomia. Para que os estudantes fossem estimulados a participar da proposta de forma ativa,
buscamos um mapa no qual deveriam inserir seus principais elementos, além disso, o que
apresentava os países participantes da Copa do Mundo de Futebol de 2018. A Copa do Mundo - um evento de abrangência mundial e que a todo momento mostrava-se aos alunos por meio da televisão, rádios, noticiários, entre outros. Muitas vezes as pessoas encontram dificuldades
em reconhecer a localização dos países participantes e o próprio país sede. Por isso, escolhemos trabalhar essa temática no ensino de Geografia, especificamente nas aulas com
assuntos da Cartografia.
OBJETIVO
A partir do contexto acima, podemos refletir sobre a importância do conhecimento e
domínio dos assuntos relacionados à Cartografia, tais como, localização, orientação e sua
utilização na vida cotidiana. Por isso, nossa proposta foi trabalhar o tema a partir de uma
metodologia em que os estudantes estivessem ativos na proposta, possibilitando assim uma
melhora na sua aprendizagem. Portanto, o presente trabalho tem por objetivo apresentar os
principais procedimentos de aplicação de uma oficina sobre elementos de um mapa com
alunos do ensino fundamental.
METODOLOGIA
A proposta desenvolvida faz parte das ações da Disciplina de Estágio Curricular
Supervisionado em Geografia I do Curso de Licenciatura em Geografia na Universidade Estadual de Ponta Grossa. As oficinas ocorreram entre os dias 30 de maio e 13 de junho de
2018, no Colégio Estadual José Elias da Rocha (Ponta Grossa - PR), numa turma de 6º ano do ensino fundamental, totalizando 25 alunos.
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Para o desenvolvimento da oficina foram necessárias quatro aulas. Primeiramente, buscamos um mapa mundi mudo e impresso posteriormente em folha A3 para que os alunos
completassem os elementos de um mapa com o uso do tema, países participantes da Copa de Mundo de Futebol de 2018.
Figura 1: Mapa. Fonte: Os autores.
Na proposta da atividade os estudantes completaram no mapa em área específica, os
elementos estruturantes de um mapa, tais como, título, orientação, direção e legenda. Além
disso, localizaram os países participantes da Copa do Mundo de Futebol de 2018 e identificá-
los a partir da diferenciação de cores, com o auxílio de um atlas. Os alunos coloriram os
países com cores distintas, de acordo com as seguintes regiões, América do Sul = Verde;
América Central e América do Norte = Alaranjado; África = Amarelo; Ásia = Roxo; Oceania JJJJ Marrom; Europa = Vermelho, e os países que não participaram, da Copa do Mundo foram pintados na cor cinza. Os oceanos também teriam que ser nomeados e coloridos na cor azul.
Na primeira aula, as noções de localização e os elementos estruturantes de um mapa foram trabalhados de forma teórica pelo professor. Além disso, ele apresentou o atlas
geográfico e explicou para os alunos como deveriam utilizá-lo. Nesta aula também foram utilizados o globo terrestre e um mapa mundi como recurso didático.
Figura 2: Aula teórica. Fonte: Os autores.
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Na segunda aula, os alunos foram divididos em duplas e receberam o mapa impresso
em papel A3 e um atlas geográfico para auxiliá-los na identificação dos países. Também
receberam orientações sobre o que é e como deveria ser preenchida a legenda. Já as cores a
serem utilizadas na identificação dos países foram registradas no quadro. Na terceira aula, os
estudantes localizaram os países listados, coloriram de acordo com a legenda e os demais
países foram pintados de cinza. Na última aula, os elementos do mapa, orientação e título,
foram inseridos pelos alunos e os oceanos também foram indicados.
Figura 3: Oficinas. Fonte: Os autores.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Como resultado desta ação, obtivemos 13 mapas temáticos que apresentavam os elementos estruturantes e indicavam os países participantes da Copa do Mundo de Futebol de 2018, diferenciados pela cor a partir da divisão em continentes.
Figura 4: Mapas finalizados. Fonte: Os autores.
Em relação as dificuldades encontradas pelos estudantes, percebemos que a noção de
país e continente ainda apresentava-se como uma das maiores encontradas. Observamos que a
maioria dos alunos não conseguia entender o conceito de continente e diferenciá-lo do
conceito de país. Após a finalização da proposta, percebemos melhora nesta compreensão, a
confusão sobre estes dois conceitos havia diminuído, e também, os estudantes conseguiam
utilizar corretamente a legenda para identificar os países e apontar os respectivos continentes
no mapa. Observamos ainda que com a proposta de oficina, na qual os alunos são estimulados a
produzir materiais, conseguiram participar do processo de maneira significativa e ativa e
compreender melhor os conteúdos. O conteúdo trabalhado, muitas vezes ainda apresenta-se
com grande dificuldade tanto para os professores, quanto para os alunos, por isso, buscamos
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abordá-lo de forma que os educando fossem estimulados a participar e se interessassem pelas aulas.
A escolha em abordar os conteúdos a partir da Copa do Mundo de Futebol, mostrou-se
pertinente, pois, os alunos estavam familiarizados com o tema e conheciam o evento que naquele
momento estava sendo divulgado pelas mídias. A partir disso, podemos observar que os alunos
realizaram adequadamente a proposta e, ao fim, mostraram-se capazes de identificar os
elementos de um mapa, identificar os países e compreender a função da legenda, melhorando sua
noção espacial mediante os estudos sobre regionalização e escala geográfica, a partir da
alfabetização cartográfica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A importância de compreender assuntos da Cartografia, principalmente a leitura de mapas e noção de localização, pode ser vista não somente para um bom rendimento nas aulas de
Geografia, mas para toda a vida. Os mapas estão cada vez mais presentes no nosso cotidiano e saber compreender um mapa permite, além de estimular o raciocínio, facilitar tarefas cotidianas,
como viajar e localizar lugares. Nesta proposta, ressaltamos e buscamos apresentar e discutir as dificuldades encontradas
pelos alunos ao depararem-se com um mapa. Muitas vezes esses conteúdos não são abordados
com a devida ênfase que a complexidade do assunto necessita, ou ainda, a metodologia utilizada
não permite que o processo de aprendizagem de qualidade seja atingido. Com isso, podemos concluir afirmando que quando o professor procura trabalhar
conteúdos utilizando recursos didáticos e metodologias diferenciadas, como as oficinas, na qual
os alunos produzem materiais, socializam com os colegas e professor, e ao fim do trabalho,
mostram-se satisfeitos pela produção do material. Os alunos conseguem desenvolver sua
aprendizagem e aprendem de forma diferente os conteúdos, compreendendo suas utilizações e
não somente decorando os conceitos.
REFERÊNCIAS
AFONSO, Maria Lúcia Miranda. Oficinas em dinâmica de grupo: um método de
intervenção psicossocial. Belo Horizonte: Campo Social, 2002.
ALMEIDA, Rosângela Doin de. Do desenho ao mapa: iniciação cartográfica na escola. São
Paulo: Contexto, 2001.
ALMEIDA, Rosângela Doin de. PASSINI, Elza Yasuko: O espaço geográfico: ensino e
representação. 12. ed. São Paulo: Contexto, 2002.
CALLAI. Helena Copetti. Aprendendo a ler o mundo: a geografia nos anos iniciais do ensino fundamental. Cad. Cedes, Campinas, v. 25, n. 66, p. 227-247, mai./ago. 2005.
PISSINATI, Mariza Cleonice; ARCHELA, Rosely Sampaio. Fundamentos da alfabetização cartográfica no ensino de geografia. Geografia, Londrina, v. 16, n. 1, p. 169-195, jan./jun. 2007.
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DIDÁTICA E AUSÊNCIA DE INFRAESTRUTURA COMO FATORES
PRESENTES NO ENSINO DE GEOGRAFIA: UMA LEITURA
ACADÊMICA PRELIMINAR
Henrique dos Santos Garcia;
Ramon de Oliveira Bieco Braga
Introdução
A didática é, na concepção de Libâneo (2013), uma disciplina que possibilita
ao docente sintetizar todo conhecimento adquirido durante a formação acadêmica e
assim organizar os conteúdos programáticos nos quais estão imputados a práxis da
labuta escolar, bem como possibilita o emprego da interdisciplinaridade satisfatória
no ensino proposital. No atual contexto, a pessoa se insere em um processo
normativo que ocorre gradativamente, em busca do aprendizado.
Contudo, é explicita as dificuldades existentes no espaço público escolar,
como situações de infraestrutura dos espaços ofertados à sociedade, a remuneração
dos educadores, que na maioria das situações está muitas das vezes incongruente
com as situações vividas no âmbito do saber escolar, a corrente falta de
investimentos plausíveis por parte dos órgãos responsáveis em escala, municipal,
estadual e federal, que agrava diretamente a qualidade de ensino nas escolas
públicas.
Portanto, essa pesquisa objetiva discorrer acerca da didática como elemento
eficaz na prática de um(a) docente de Geografia da educação básica, sobretudo
durante os anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio.
Para tanto, essa pesquisa é fruto das leituras que o autor dessa pesquisa
teve contato no primeiro ano do curso de graduação em Geografia, no Centro
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Universitário Campos de Andrade – UNIANDRADE, localizado no município de
Curitiba, Paraná. As leituras corroboraram com a compreensão acerca da didática
no ensino de Geografia e a partir da análise teórica desses textos, nasceram
registos preliminares que se consolidaram na presente pesquisa.
Justifica-se que as pesquisas teóricas subsidiam o aprendizado do(a)
acadêmico(a) e a socialização do aprendizado com outros(as) acadêmicos(as)
durante uma semana acadêmica, amplia o horizonte de dialogo teórico acerca do
fenômeno.
Considerações acerca da didática e o ensino de Geografia
O sistema brasileiro educacional, segundo Feijó (2015), carrega inúmeros
problemas que medida do transcorrer do tempo se intensificam. Em sua concepção,
o autor atribui à maioria dos casos como: escolas em situações precárias e
proventos pagos aos profissionais aquém do correspondente, de modo, que
classifica a estes, como alguns dos fatores mais relevantes da desmotivação dos
profissionais inseridos no contexto da educacional brasileiro. O autor sugere que a
possível resolução do problema no aspecto do ensino de tais fatores de
desmotivação, pode estar ligada a diálogos entre as partes, ou seja, os
professores(as), pais e ainda toda sociedade a acrescentar a questão em pauta.
O conteúdo programático deve seguir um roteiro no plano de ensino definido
a priori conforme os conteúdos programáticos e adequando ao nivelamento dos(as)
discentes, levando estes estabelecerem relações e interligações com os conceitos já
conhecidos e estabelecidos no pretérito em seus estudos, o chamado conhecimento
adquirido. Isto em conjunto com a didática, remodela a percepção de conceitos e
preceitos simples a rotina do(a) discente, frente ao processo ensino-aprendizagem
em satisfação a ambos envolvidos.
Neste sentido, Puntel (2007) observa que como docente, se faz necessário
exercer essa prática diariamente, no emprego de sua prática ao lecionar de forma
explicativa, implícita e explícita, pois deve formar o discente objetivando sua vivência
em sociedade, devendo expor seu conteúdo de forma efetiva e racionalizada.
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Na caçada a compreensão, e assim, pesquisar e analisar a educação se
encontra um entrelaçado das ciências humanas, a contribuir densamente por meio
de suas análises científicas peculiares. Por certo, que nesse sentido os caminhos
distintos se encontram “(...) na Didática, uma vez que está reúne em seu campo de
conhecimento objetivos e modos de ação pedagógicas na escola” (LIBÂNEO, 2013,
p.14).
Puntel (2007) acrescenta que a troca de hábito é muito das vezes dolorida e
desconfortável, mas como docente, emerge essa necessidade constante na
execução de novos métodos na aplicação do conteúdo, pois o ensinar e o aprender
ao aluno(a), uma vez efetivados é a confirmação de que a prática pedagógica
planejada e empregada e por meio da didática foi bem executada de acordo
realidade na qual foi inserida.
Na atual conjuntura, é necessário ao docente exercer essa prática
diariamente, no emprego de sua prática ao lecionar, pois deve formar o(a) aluno(a)
objetivando sua posterior vivência em sociedade, devendo expor o conteúdo
proposto de forma efetiva, com desenvoltura e de forma aprazível, levando os
discentes a se interessar pelo mesmo, necessitando nesse momento, da didática
desenvolta que transforma o processo ensino-aprendizagem em satisfação a ambos
envolvidos, pois ao transpassar os conceitos didaticamente ao discente, contribui
para a compreensão peculiar do lecionado.
A elevada demanda de diversos produtos tem, conforme Souza (2017),
acrescentado significativamente a produtividade capitalista, as alterações
tecnológicas e industriais emergentes do século XXI motivam essa crescente
demanda, exigindo-se da sociedade contemporânea a sua capacitação ao uso das
tecnologias recentes. Estas alterações modernas, têm conduzido a educação a
analisar e relacionar o momento atual profissional e social em que a sociedade
transcorre, visando buscar subsídios plausíveis na formação do(a) discente.
Assim como Myanaki (2003), munida da categoria geográfica paisagem,
utiliza a arte para a construção do senso percepção dos(as) alunos(as), por meio de
obras confeccionadas por pintores do Brasil, apresenta o conceito da paisagem, e
ainda, contribui para a formação cultural do discente, pois é possível explorar novas
experiências na busca da aprendizagem.
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Nesse contexto, empregar alternativas plausíveis como, por exemplo, o uso
interdisciplinar, de acordo com Moreira (2008), há diversas possibilidades de exercer
a interdisciplinaridade na Geografia, como o emprego da categoria de análise
espaço, possibilitando-a relacionar com disciplinas distintas como: Artes, Literatura,
Letras, História no ensino de Geografia. Claramente percebem-se abordagens
distintas do conceito, contudo, nota-se o espaço/tempo sendo peculiarmente
abordado em todas.
O ensino se torna significativo a partir de sua necessidade, pois ao
relacionar a Geografia e contextualizá-la no cotidiano do indivíduo, explicita a sua
empregabilidade. No espaço escolar, suas diversas disciplinas devem se interligar
na formação do(a) discente, adequação do modo de ensinar demonstra sua
importância para o ensino da Geografia, pois os(as) discentes necessitam para sua
compreensão uma capacidade de interagir, conceitos ao bojo prático, ou seja, aliar
prática a teoria, ampliando as interpretações da ciência geográfica.
Considerações finais
Nesse sentido, utilizar-se da didática no desempenho do emprego docente e
estes, adequado às realidades sociais dos discentes, poderá nortear o ensino
almejado, assim, gerar nesse contexto peculiarmente no ensino de Geografia,
subsídios de ensino e possibilitar aos envolvidos buscar a interdisciplinaridade em
vários aspectos inerentes à aprendizagem satisfatória na caçada do conhecimento
geográfico plausível do(a) educando(a).
A partir da conscientização, a mudança poderá torna-se efetiva, sempre que
necessária deve ser praticada. Contribuir com boas ações pode ser um ponto de
partida peculiarmente aos educadores(as), alunos(as) e toda a sociedade, assim,
será capaz de gerar motivação no corpo discente sobretudo intrinsecamente ao
aprendizado relevante para a sua formação crítica como cidadão(ã).
Referências
LIBÂNEO,Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 2013
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FEIJÓ, Jocemar. Construindo a nova escola. Editora Clube de Autores, 2015.
Disponível em: <
https://books.google.com.br/books?id=BR1ECgAAQBAJ&printsec=frontcover&hl=
pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false > Acessado
em: 22/08/2018.
PUNTEL, Geovane Aparecida. Os mistérios de ensinar e aprender geografia, In:
REGO, Nelson; CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos; KAERCHER, Nestor André
(Org.s). Geografia: práticas pedagógicas para o ensino médio. Porto Alegre:
Artmed, 2007. p.91-102.
SOUZA, Alex Cristiano de. Trabalho e Educação: contribuição ao debate para a
pesquisa sobre educação do campo na Geografia. Terra Livre, São Paulo, v.02,
n. 45 p. 98-136, 2017.
MYANAKI, Jacqueline. A paisagem no ensino de Geografia: uma estratégia didática. 155 f. Dissertação (Mestrado em Geografia Física), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo,2003. MOREIRA, Ruy. Pensar e ser em Geografia. São Paulo: Contexto, 2008.
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ELEMENTOS DA CARTOGRAFIA SOCIAL E A
REPRESENTATIVIDADE DO ESPAÇO GEOGRÁFICO NO ENSINO
DE GEOGRAFIA
Ana Paula Benato;
Ramon de Oliveira Bieco Braga;
Stefany Pontes de Freitas. Introdução
Na educação básica, a disciplina Geografia almeja sensibilizar as pessoas em torno
da vivencia espacial que é múltipla e fluída por que as pessoas transitam por discrepantes espaços formais e não formais como, por exemplo, o bairro, a escola, a unidade de saúde, o
supermercado, a via pública, etc. O ensino de Geografia visa que o aluno (a) seja capaz de compreender as mais díspares
realidades construídas socialmente a partir da relação destes com a natureza, isto é, a Geografia
ultrapassa a mera descrição e quantificação dos lugares, espaços e territórios de modo a superar a
dicotomia existente nessa ciência em relação ao mundo físico e ao mundo social. - notável a complexidade da vida em sociedade ao que tange relações socioespaciais e
visando responder estas questões foi necessária a criação de novos instrumentos e estratégias a
fim de tornar tangível as realidades e tendências que estão presentes na vida cotidiana. Nesse
contexto, surgiu a Cartografia Social como tentativa de elucidar as realidades sociais a partir da
participação social na confecção de mapas no final do século XX. Nesse contexto, a vivência multiescalar do espaço geográfico possibilita
problematizar como a Cartografia Social reconhece os elementos espaciais e exorta a inteligibilidade do espaço geográfico?
Diante do exposto, objetiva-se teoricamente apresentar concepções acerca da Cartografia Social para o ensino de Geografia, afim de sensibilizar acadêmicos e docentes de
Geografia sobre o seu uso na educação básica, sobretudo nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio.
Considerações acerca da Cartografia Social
Conforme Ascelrad (2010), a Cartografia Social surgiu no final do século XX,
juntamente com as representações cartográficas que passaram a contemplar a participação de
populações locais nos processos de produção de mapas, sendo que essa nova forma de
mapeamento envolvia, e ainda envolve, agências governamentais, organizações não
governamentais, povos e comunidades tradicionais como indígenas e quilombolas,
cooperação internacional, fundações privadas, universidades, dentre outros. Segundo a SEED-PR (2010), a Cartografia Social se remete à uma proposta de
conceitos e metodologias que almejam a construção de conhecimentos a partir de técnicas
elencadas a experiências do convívio social, dependendo da participação e do compromisso social no processo de construção dessa Cartografia.
Nesse contexto, a Cartografia Social se trata de uma construção de díspares conhecimentos a partir da ação e do comprometimento coletivo, tornando possível a
aproximação das pessoas com o espaço geográfico que vivem, assim como com as realidades socioeconômicas e com os processos históricos e culturais elencados as mais diferentes
realidades sociais (SEED-PR, 2010).
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Segundo Landim Neto, Silva e Costa (2016), as relações do mundo contemporâneo
devem ser compreendidas para além das quantificações e é nesse contexto que entra a Cartografia social, isto é, essa cartografia consiste em um procedimento metodológico
participativo que tem por objetivo central a confecção de mapas que consideram dimensões coletivas e participativas da sociedade que colabora com tal cartografia.
Conforme a SEED-PR (2010), a Cartografia Social é compreendida como uma ferramenta que possibilita a facilitação no manuseio das informações a partir do impacto visual dos mapas confeccionadas.
De acordo com Bargas e Cardoso (2015), com a Cartografia Social é possível
produzir mapas que congregam o conhecimento técnico da própria cartografia clássica na elaboração de mapas com os conhecimentos de mundo e as experiências de comunidades
tradicionais, e movimentos sociais. Entretanto, conforme a SEED-PR (2010), a Cartografia Social utiliza instrumentos
que vão além dos mapas participativos, isto é, essa cartografia se apropria de instrumento como as entrevistas (estruturadas e abertas), as observação participativa, as pesquisas
relacionadas às percepções individuais e demais instrumentos sociais que podem ser compreendidos como oficinas, reuniões, narrativas da vida cotidiana, dentre outros.
Conforme Landim Neto, Silva e Costa (2016), a Cartografia Social trata-se de um
instrumento capaz de produzir conhecimento numa perspectiva de diálogo com das produções científicas juntamente com o conhecimento produzidos pelas pessoas do cotidiano a partir do
princípio da produção social. Isto é, a Cartografia Social trata-se de uma dialética. O campo em que a Cartografia Social se insere é constituído por disputas, sendo que
os grupos sociais contidos em determinados territórios possuem uma intrínseca necessidade
de estabelecerem formas próprias de representação do território em que estão a partir de técnicas ditas como convencionais de cartografia (LANDIM NETO, SILVA, COSTA, 2016).
De acordo com a SEED-PR (2010), A Cartografia Social consiste em uma proposta de
instrumento a serviço da cidadania, dando visibilidade aos grupos oprimidos a fim de tornar
inteligível as múltiplas violências e os conflitos territoriais que estes sofrem diariamente. Dessa forma, a Cartografia Social está enraizada no campo das Ciências Humanas e
sociais, que vai muito além de mapeamento de aspectos físicos, tratando-se de um
mapeamento que evidencia relações, movimentos, pertencimento, lutas, disputas, jogos, práticas de resistência e até mesmo liberdade (LANDIM NETO, SILVA, COSTA, 2016).
A educação, as Ciências Socias e as novas tecnologias possuem uma dívida histórica com os grupos marginalizados e oprimidos e nesse contexto, fez-se necessária a criação de
instrumentos e metodologias que elucidem as realidades socias, sensibilizem para as diferenças e superem as desigualdades (SEED-PR, 2010).
Desse modo, Pussinini, Pidorodeski e Toledo (2012), afirmam que a partir de representações dos cotidianos dos diversos grupos sociais com a incorporação de aspectos
naturais, culturais, conflitos e ideias, são aspectos relevantes para o trabalho de geógrafos e geógrafas.
De acordo com Landim Neto, Silva e Costa (2016), a Cartografia Social se direciona KKKK construção do conhecimento de forma integral do território a partir de junções e
representações das percepções das pessoas no processo de um mapeamento de forma
participativa. Trata-se de uma cartografia que denuncia conflitos e tensões, bem como trata-se
de uma metodologia que ultrapassa a fronteira da objetividade cartesiana na elaboração de
mapas, pois a Cartografia Social leva em consideração um conjunto de percepções subjetivas
voltadas à construção de mapas. Segundo a SEED-PR (2010), as pesquisas que tangenciam à Cartografia Social são
compreendidas como pesquisas humanistas e humanizadoras por se tratarem de uma ação
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participativa em que um saber comum é legitimado com técnicas de cartografia, visando entendimento e soluções de problemas e/ou conflitos.
Deve-se levar em consideração a complexidade na compreensão dos mapas
elaborados a partir dessa ferramenta social por parte dos grupos que não fazem parte da
realidade ali elucidada, pois na construção social participativa destes mapas aparecem
símbolos e aspectos culturais que fazem parta da vida cotidiana de um território em
específico, tornando difícil a compreensão destas simbologias para quem observa o fenômeno
retratado a partir de outra perspectiva (SEED-PR, 2010). Portanto, segundo a SEED-PR (2010), a Cartografia Social é compreendida como
uma prática facilitadora enraizada no processo de aprendizagem a partir da reflexão de problemas concretos vivenciados pelos discentes.
Nos espaços escolares, a Cartografia Social está presente no currículo do ensino de
Geografia e cabe ao docente sensibilizar o corpo discente acerca da temática, tomando cuidado
para que o conteúdo de cartografia não seja interpretado somente com atividades lúdicas como,
por exemplo, ‘pintar mapinha’, porém cabe ao docente sensibilizar espacialmente o corpos
discente acerca do espaço vivenciado internamente e externamente ao espaço escolar.
Considerações Finais
A Cartografia Social é uma potente ferramenta que empodera a comunidade escolar afim de reconhecer as potencialidades e identificar as dificuldades espaciais em relação ao uso e ocupação do solo, bem como a compreensão do espaço urbano e rural.
Esse instrumento cartográfico sensibiliza, e depende, da participação social ativa para a elaboração das mais diferentes realidades sociais e a partir da participação social,
realidades que poderiam passar despercebidas pelo pesquisador (a) são retratados com o olhar de quem vivência e experiencia o espaço no dia a dia da convivência socioespacial.
A Cartografia Social é capaz de exortar uma educação que pense as desigualdades mundanas a partir do oprimido e não para o oprimido, lhes concedendo voz e vez em relação as realidades que eles próprios vivenciam e denunciam.
Ela sensibiliza as pessoas a analisarem o espaço vivenciado e as posiciona como uma pessoa que produz e transforma o espaço geográfico. Portanto, a Cartografia Social é uma
estratégia de ensino que o(a) docente de Geografia deve utilizar em sala de aula e os produtos cartográficos produzidos nessa perspectiva como, por exemplo, croquis, podem aproximar
os(as) discentes do conteúdo específico.
REFERÊNCIAS
ACSELRAD, Henri. Cartografia social e dinâmicas territoriais: marcos para o debate. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, 2010. BARGAS, Janine de Kássia Rocha; CARDOSO, Luís Fernando. Cartografia Social e
organização política das comunidades remanescentes de quilombos de Salvaterra, Marajó, Pará, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi Ciências Humanas. Belém, v. 10,
n. 2, p. 467-488, 2015. LANDIM NETO, Francisco Otávio; SILVA, Edson Vicente da; COSTA, Nátane Oliveira da.
Cartografia Social instrumento de construção do conhecimento territorial: reflexões e proposições acerca dos procedimentos metodológicos do mapeamento participativo. Revista
Casa da Geografia de Sobral. Universidade Estadual vale do Acaraú, v. 18, n. 2, p. 56-70, 2016.
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PUSSININI, Nilmar; PIDORODESKI, Adriana; TOLEDO, Bruno Henrique Costa. Cartografia Social dos povos e comunidades tradicionais no paraná: novas perspectivas temáticas para a cartografia. Entre-Lugar. Dourados-MS, n. 5, p. 19-36, 2012. SEEDPR – Secretaria Estadual de Educação do Estado do Paraná. Conhecendo a Cartografia
Social, técnicas, vantagens e limitações: Caderno Temático. Curitiba: SEEDPR, 2010. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2010/2 010_ufpr_geo_pdp_manoel_messias_moraes_da_costa.pdf > Acesso em: 29/08/2018
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FENÔMENOS ATMOSFÉRICOS E PARÓDIA MUSICAL: UMA
PROPOSTA DE TRABALHO DESENVOLVIDA COM ESTUDANTES
DO ENSINO FUNDAMENTAL
Camila Ghion da Silva Francisco1
Fernanda Penteado¹ Ana Claudia de Barros¹
Willian Samuel Santana da Roza² Isonel Sandino Meneguzzo³
Palavras-chave: Ensino de Geografia, Metodologias de Ensino, Paródia. INTRODUÇÃO
O ensino no Brasil tem passado por algumas mudanças no que diz respeito a
metodologias, pois a partir do século XXI teve-se o aumento de pessoas com acesso a
informações e tecnologias, estas, chegaram até as escolas, trazendo novas perspectivas de
ensino. As novas perspectivas levam os docentes a buscar novas metodologias de ensino, que
despertem o interesse dos estudantes (FERRÉ et al. 2015). Tendo em vista a construção do conhecimento e a busca de recursos para a consolidação
da aprendizagem, é possível trazer para as salas de aula metodologias lúdicas, que vão além do
quadro negro e giz, que possam proporcionar motivação aos discentes e que consolidem a
participação dos mesmos para o processo de ensino e aprendizagem (RODRIGUES, 2013). E dentre vários instrumentos metodológicos, pode-se citar a música, que é um
importante recurso de caráter lúdico. De acordo com as afirmações de Ferreira (2008), ao
longo da existência do ser humano, a prática de associar qualquer disciplina à música sempre
foi bastante utilizada e demonstrou muitas potencialidades como fator auxiliar no
aprendizado. Além de poder despertar e desenvolver nos alunos sensibilidades mais aguçadas
na observação de questões próprias à disciplina de trabalho, além de melhorar a qualidade do
ensino e aprendizado, uma vez que estimula e motiva professores e alunos. Diante dessas afirmações, uma metodologia lúdica que está sendo utilizada e aplicada
pelos docentes é a paródia, que possui uma ampla importância para o ensino de geografia.
Esta proposta auxilia o desenvolvimento cognitivo dos estudantes e habilidades como a escrita, raciocínio e a criatividade, além de tornar as aulas dinâmicas.
Para Simões (2012) a paródia pode ser definida como um gênero textual que possui
em sua essência o processo de intertextualidade, ou seja, cabe ao interlocutor recuperar em
sua memória social os elementos que darão sentido ao texto. No caso de uma paródia musical,
escreve-se um novo texto (letra) para uma música já conhecida, mantendo-se seus aspectos
melódicos, harmônicos e rítmicos, ou variando-se apenas pequenos elementos para melhor
atender a métrica da canção. No entanto, para o autor supracitado, neste processo de reescrita, muda-se o sentido do
texto, que pode possuir como características a ironia, efeito cômico, provocativo ou de interseção a algum tema que esteja em alta em determinado contexto político, histórico ou - Universidade Estadual de Ponta Grossa, discentes bolsistas do PIBID; [email protected]; ¹ Universidade Estadual de Ponta Grossa, discente bolsista do PIBID; [email protected];
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social. Por conseguinte, cabe ao interlocutor o conhecimento dos diversos tipos de relações que este texto mantém com outros textos, com o objetivo de se alcançar os efeitos estilísticos desejados.
OBJETIVO
O presente trabalho tem como objetivo, relatar os procedimentos de elaboração de paródia musical desenvolvida pelos estudantes do oitavo ano do ensino fundamental, por meio de oficina desenvolvida pela acadêmica do PIBID junto ao professor supervisor sobre os Fenômenos Atmosféricos.
METODOLOGIA
A oficina sobre fenômenos atmosféricos foi desenvolvida e aplicada em outubro de 2017,
por uma acadêmica do PIBID, para vinte e cinco alunos do oitavo ano do ensino fundamental do
Colégio Estadual José Elias da Rocha, localizado no município de Ponta Grossa
– Paraná. A oficina foi realizada em cinco aulas, sendo que as duas primeiras foram utilizadas para
abordar conteúdos sobre os fenômenos atmosféricos. Durante a oficina desenvolvida pela
acadêmica, junto com o professor supervisor, abordaram-se inicialmente os seguintes temas:
formação do furacão, estágios, olho do furacão, duração, diâmetro, escalas/categorias,
localização geográfica, os nomes dos furacões e o furacão Irma. Já sobre os tornados os temas abordados foram: formação dos tornados, áreas
continentais, diâmetro, duração e destruição. Após as explicações referentes aos conteúdos, a
acadêmica utilizou parte da oficina para explicar o gênero paródia, ou seja, o que é uma
paródia, como elaborar, e alguns exemplos que auxiliaram os estudantes durante a elaboração
letras, conforme é apresentado na Figura 1. Para auxiliar o desenvolvimento da oficina,
utilizou-se os seguintes recursos: quadro/lousa, slides (conteúdo e imagens) e vídeos.
Figura 1 – Primeiro momento da oficina sobre fenômenos atmosféricos.
O segundo momento da oficina foi utilizado para a elaboração de uma paródia. Por isso, os
estudantes foram organizados em cinco equipes com cinco integrantes, em que tiveram que criar
uma paródia sobre furacão ou tornado com os elementos estudados no primeiro momento da
oficina, para compor os versos e refrão. A acadêmica auxiliou, no decorrer de duas aulas os
alunos, na produção das paródias, sendo que o último momento da oficina foi utilizado para a
apresentação das paródias elaboradas. Para a avaliação do processo de ensino e aprendizagem
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utilizaram-se os seguintes critérios: estruturação dos versos, refrão e conteúdo das paródias e apresentação oral do trabalho em sala de aula.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
No decorrer da aplicação da atividade foi possível observar que os estudantes apresentaram dificuldades para desenvolver a paródia musical, principalmente para conseguir encaixar os conteúdos abordados com as letras escolhidas. Sendo assim, a acadêmica e o professor supervisor auxiliaram os estudantes na elaboração das letras.
Durante a atividade, notou-se que a maioria das equipes não concluíram a atividade
proposta. Pois consideraram a mesma difícil de elaborar, algumas equipes apresentaram uma
pequena parte da letra que construíram, outros desistiram e apenas uma equipe concluiu toda a
atividade proposta (desenvolvimento da paródia e apresentação). Outras equipes elaboraram a
letra, no entanto, tiveram vergonha de apresentar para a turma, mostrando que não estão
habituados com este estilo de aula e avaliação, portanto, é necessário que outros professores
também desenvolvam para melhorar o desempenho e a participação dos alunos. Dentre os estilos musicais escolhidos pelos alunos destaca-se o Funk. Apenas um
grupo escolheu o gênero musical Hip Hop. Maioria dos estudantes escolheu a temática
ciclone, apenas uma equipe trabalhou com o tornado. A paródia, que a mesma foi gravada
com um aparelho celular, nas dependências do colégio, e editada em forma de vídeo, sendo
publicado na rede social (Facebook) do colégio.
Figura 2 – Confecção das paródias musicais, elaborada pelos estudantes do oitavo ano do ensino fundamental.
Figura 3 – Paródia confeccionada e elaborada pelas estudantes do oitavo ano c, do ensino fundamental.
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CONSIDERAÇÕES
A paródia para o ensino de geografia demonstra significativa importância, pois através
de uma prática lúdica, é possível despertar o interesse dos alunos, auxiliando no processo de
ensino aprendizagem, através da música, que está presente no cotidiano do aluno. A paródia
aproxima os alunos de conteúdos diversificados, despertando a parte cognitiva e criativa do
alunos, já que os mesmos devem elaborar um letra que condiz com os conteúdos. Mesmo com a diversificação das metodologias de ensino alguns alunos quando
encontram certa dificuldade no desenvolvimento de avaliações alternativas acabam desistindo
do processo de aprendizagem. A proposta foi adequada, pois os alunos interessados pelo
conteúdo das aulas desenvolveram adequadamente a atividade, além de gravarem vídeo com a
letra da paródia, que foi publicado para página eletrônica do colégio.
REFERÊNCIAS
FERRÉ, Lara. SOUZA, Jorge. Utilização das paródias como recurso didático no ensino de filosofia. Ed. CONEDU – Congresso Nacional de Educação. Rio Grande do Norte, 2015.
FERREIRA, Leonardo. Baile funk geográfico: projeto e metodologia de ensino em geografia.
Ed. VII Congresso Brasileiro de Geógrafos. Vitória/ES, 2014.
FERREIRA, Martins. Como usar a música na sala de aula. 7. ed. São Paulo: Contexto, 2008.
RODRIGUES, Lídia da Silva. Jogos e brincadeiras como ferramentas no processo de aprendizagem lúdica na alfabetização. 2013, 97 f. Dissertação (Mestrado em Educação) -
Faculdade de Educação, Universidade de Brasília, Brasília, 2013.
SIMÕES, Alan Caldas. O gênero paródia em aulas de língua portuguesa: uma abordagem
criativa entre letra e música. In: Simpósio Internacional de Ensino da Língua Portuguesa, 1., 2012, Uberlândia. Anais... Uberlândia: EDUFU, 2012. p. 1-15.
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GEOGRAFIA E IMAGENS EM MOVIMENTO NO FILME MOANA:
ANÁLISE DAS REPRESENTAÇÕES ESPACIAIS
Ramon de Oliveira Bieco Braga;
Stefany Pontes de Freitas;
Ana Paula Benato
Apresentação
O filme Moana (2017) é uma animação produzida pela produtora Walt Disney que
apresenta um espaço litorâneo constituído por ilhas. A animação retrata a história de uma adolescente, chamada Moana, que é a futura rainha de uma sociedade composta por um grupo
de pessoas que vivem na ilha com base na alimentação de frutas e peixes. Salienta-se que a animação possui como público alvo crianças e adolescentes e,
como a maioria dos filmes do mesmo gênero, possui musicais e uma história mística como pano de fundo, retratando um semideus, Maui, que rouba uma pedra valiosa que equilibra a
vida no espaço constituído pelas ilhas. Após o roubo, misteriosamente a vida começa a
desaparecer, desencadeando a morte de peixes e apodrecendo frutas (op. cit.). Ao realizar uma leitura do enredo, é possível identificar elementos ligados a
preocupação ambiental – demonstrado pela crise na ausência dos peixes no mar e os cocos
que misteriosamente apodrecem e comprometem a base alimentícia das pessoas que vivem na
ilha, além de ser possível identificar a organização social e a representatividade dos
personagens, pois o filme demonstra que será uma mulher a futura líder do clã, sendo que esse
papel é geralmente atribuído aos personagens do sexo masculino (op. cit.). Nesse contexto, a pesquisa objetivou analisar as representações espaciais contidas no
filme Moana (2017), a luz da Geografia e das imagens em movimento. Para tanto, na sequência é apresentado brevemente como as imagens em movimento são interpretadas pela
ciência geográfica, além das representações espaciais identificadas no filme anteriormente mencionado.
Imagens em movimento e a abordagem espacial
As imagens em movimento, de acordo com Fioravante e Ferreira (2016), são elementos que retratam a percepção de um determinado espaço, mediante o olhar do diretor, do produtor e do discurso presente no enredo da história. “(...) O Cinema é a arte das imagens em movimento. Sua linguagem, sua maneira essencial de expressão, suas teorizações e seu
resultado último é a produção imagética” (FIORAVANTE, 2017, p.03).
Pesquisas sobre Cinema encaixam-se perfeitamente no domínio da Geografia. O Cinema levanta questões acerca do espaço e do tempo, da construção de lugares e seus significados. Filmes representam o mundo e, para muitos de nós, o cinemático está embutido em nossas experiências cotidianas (FIORAVANTE, 2017, p.01).
No filme Moana (2017), os diretores e produtores pesquisaram durante três semanas
a realidade espacial vivenciada pelos habitantes das ilhas Fiji, Samoa, Taiti, Vahine, Mo’orea e terminaram em Nova Zelândia, localizadas na Oceania. Nesses espaços, eles
compreenderam a importância do oceano na ligação entre essas ilhas, bem como o
comportamento social que prioriza o compartilhar em detrimento da individualização.
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Diante do exposto, a animação representa a cultura dos habitantes dessas ilhas, incluindo os hábitos de alimentação mediante a pesca e a ingestão de frutas, bem como as
danças, expressões corporais, os significados das tatuagens, do Oceano Pacífico, do artesanato, etc. Portanto, as imagens em movimento são produtos que retratam o espaço
geográfico. Fioravante (2017) menciona que a Geografia se preocupa em tornar inteligível o
espaço nos produtos cinematográficos desde o início do século passado e que os mesmos são
investigados pela ciência geográfica a luz do cinema e ensino de Geografia; Geopolítica e
cinema; Geografia e indústria cinematográfica; e as representações cinematográficas. Segundo Fioravante (2017), o espaço material é representado com base em
elementos físicos que é apresentado pelos ângulos da imagem. Esses elementos físicos
ganham sentido e valor com a interação humana e os espaços são experimentados pelo ser
humano em uma paisagem natural (campo) ou artificial (urbano, restaurante, dentre outros).
As imagens que são obtidas a partir de uma série de tomadas e podem variar em
ângulo e escala são editadas para garantir a sensação de continuidade temporal e espacial. A edição dessas tomadas implica na escolha deliberada do que mostrar e do que obliterar (FIORAVANTE; FERREIRA, 2016, p.218).
Assim sendo, essa pesquisa preocupou-se em compreender o espaço representado no filme Moana (2017) e, para tanto, se faz necessário distinguir os espaços abordados pela Geografia do Cinema: espaço cinemático; espaço fílmico e o espaço narrativo.
Durante o cinema mudo, sobretudo no expressionismo, Fioravante (2017) destaca
que o espaço tinha muita atenção devido as representações a partir da valorização do mesmo.
Todavia, o espaço cinemático é, para Fioravante (2017), um espaço que comporta toda a
infraestrutura da construção artificial ou natural do ambiente, sendo o espaço fílmico a
dimensão espacial representada no filme que contempla os elementos invisíveis como, por
exemplo, em Moana (2017) não é apresentada toda a ilha, porém o telespectador imagina os
espaços não representados. O espaço narrativo é o que aparece nos limites da tela como objetos, cenário,
luminosidade. Logo, no filme Moana (2017) trata-se das ilhas (casas, espaços coletivos na
ilha, a caverna que guarda as embarcações, os rios e as florestas), a superfície externa do mar e as profundezas do mesmo, além dos espaços das embarcações.
As representações espaciais no filme Moana
Os espaços identificados em Moana (2017) são basicamente o oceano e as ilhas. Em relação ao oceano, o mesmo é apresentado como um espaço e um personagem. O espaço
oceânico é naturalmente formado por água, de representação na cor azul. Durante o dia a representação espacial ocorre na navegação dos barcos e é um elemento chave para
caracterizar uma ilha, conforme apresentam as Figuras 01 e 02. O espaço oceânico se diferencia do espaço das ilhas, pois enquanto nas ilhas existem
montanhas, vegetação, animais e as edificações da aldeia, no espaço oceânico não existem elementos físicos além da água.
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FIGURA 01 – ILHA DE MAUI. FONTE: MOANA, 2017. Disponível em: <https://vignette3.wikia.nocookie.net/disneyprincesas/images/2/2e/Maui%27s_Island_%28Moana_-_2016%29.png/revision/latest?cb=20170307203522&path-prefix=pt-br> Acesso em: 03/12/2017.
Durante o período da noite, o espaço oceânico, também utilizado para navegação, permanece mais escuro e o céu estrelado. Essa representação fortalece o imaginário
vernacular que durante a noite, o céu do espaço oceânico para ser considerado bonito deve conter estrelas e a lua.
As estrelas formam o símbolo de um anzol que indica onde está a ilha de Maui. Essas estrelas não aparecem durante o dia, conforme apresenta a Figura 01, e as mesmas norteiam o caminho que Moana deve navegar entre a ilha do clã até a ilha de Maui.
FIGURA 02 – ILHA DO CLÃ DA MOANA. FONTE: MOANA, 2017. Disponível em: <https://vignette2.wikia.nocookie.net/disney/images/f/fd/Motunui_%28Moana_-_2016%29.png/revision/latest?cb=20170226005355> Acesso em: 03/12/2017.
Além dessas representações, o oceano é também um personagem que interage com
Moana, sempre intervindo no enredo da história. A água se comporta de maneira simbólica, não possui fala, porém, sua expressão é ajudar Moana a atingir o seu objetivo que é levar o
coração de Tefiti (um fragmento rochoso verde) até a deusa.
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FIGURA 03 – EXPRESSÃO CORPORAL DURANTE A DANÇA CULTURAL.
FONTE: MOANA, 2017. Disponível em: <http://dammit.com.br/wp-content/uploads/2016/11/Captura-de-Tela-
2016-11-08-as-14.35.59.png> Acesso em: 03/12/2017.
Em relação ao espaço das ilhas, é verificado, além dos aspectos materiais mencionados anteriormente, as interações sociais culturais do clã, sobretudo a dança (Figura 03) e a celebração do aniversário de Moana (Figura 04).
Na Figura 03, é possível identificar um hábito de expressão corporal que os
produtores reconheceram durante a realização do campo exploratório nas ilhas da Oceania. Essa representação, na animação, ocorre durante o dia e a noite, porém, optou-se nesse
momento de apresentar a dança no período noturno, devido ao contraste das luzes dos fogos que clareiam o lugar.
Além das personagens dançando, a Figura 03 apresenta a vestimenta das pessoas, que é artesanalmente costurada, além dos acessórios nos corpos dos homens e das mulheres.
FIGURA 04 – CELEBRAÇÃO DO ANIVERSÁRIO MOANA.
FONTE: MOANA, 2017. Disponível em:
<https://vignette.wikia.nocookie.net/disneyprincesas/images/8/82/Moana- 142.png/revision/latest?cb=20170217201232&path-prefix=pt-br> Acesso em: 03/12/2017.
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Na Figura 04, é observado um exemplo de celebração social, sendo nesse caso o
aniversário de Moana. As pessoas se organizam as margens de um caminho por onde passará
a protagonista. Assim sendo, o espaço representado em Moana (2017) é formado por diferentes elementos físicos e humanos.
Considerações Finais
O espaço representado no filme Moana (2017) consiste na construção da identidade
das pessoas que residem no ambiente litorâneo, característico das ilhas da Oceania. Para
tanto, a Geografia apresenta-se contextualizada constantemente nessa animação, por
intermédio da representação dos espaços materiais e imateriais, sobretudo as interações
sociais da personagem protagonista com os demais personagens antrópicos e não antrópicos
como o oceano. Salienta-se que a animação pode ser utilizada no ensino de Geografia na educação
básica e no ensino superior, pois sensibiliza o(a) telespectador(a) a refletir sobre os espaços
abordados nesse texto, bem como estimula as pessoas a investigarem sobre o local que é
representado na animação.
REFERÊNCIAS
FIORAVANTE, Karina Eugenia. Geografia e Cinema: caminhos e possibilidades para os geógrafos. Texto disponibilizado pela autora aos alunos do curso de pós-graduação em Geografia, Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2017. FIORAVANTE, Karina Eugenia; FERREIRA, Lohanne Fernanda Gonçalves. Ensino de Geografia e Cinema: perspectivas teóricas, metodológicas e temáticas. In: Revista Brasileira de Educação em Geografia, v. 06, n. 12, 2016, p. 209-233. MOANA: um mar de aventuras. Direção: Ron Clement, Don Hall, John Musker e Chris Williams. Walt Disney. Blu-ray disc (107min), cor, 2017.
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OFICINAS E JOGOS EDUCACIONAIS COMO INSTRUMENTO DE
ENSINO DA GEOGRAFIA:UM RELATO DE EXPERIÊNCIAS
VIVENCIADAS NO PIBID
Evelyn Stocco;
Joelma Aparecida Krepel;
Luiz Felipe Przybyloviecz;
Adir Fellipe Silva Santos;
Adriana Salviato Uller
INTRODUÇÃO Ao iniciar o curso de licenciatura, nos deparamos com diversas dúvidas e
incertezas, algumas delas são referentes à se iremos conseguir ter um domínio de classe,
ou até mesmo com relação ao medo de não saber todo o conteúdo que julgamos ser
necessário. Questionamo-nos também sobre os aspectos didáticos-pedagógicos, ou seja,
sobre o modo de como ministrar aula, o melhor método ou recurso a ser utilizado, que
despertará a atenção/participação e garantirá o aprendizado dos alunos. Enfim, nossa
preocupação se concentra em saber se teremos as habilidades e competências
necessárias à ação docente no intuito de desenvolver um trabalho significativo em sala
de aula. Embora cursando licenciatura, que possui em sua grade acadêmica a matéria de
estágio curricular supervisionado, as ações práticas em sala de aula se desenvolvem a
partir do terceiro ano de graduação, no qual o acadêmico vivencia experiências no
ambiente escolar e após esse período pode realizar uma breve inserção com aula sobre
um determinado conteúdo. Considera-se pouco tempo de vivência e até mesmo para a
constatação de toda complexidade e dinâmica que envolve o contexto escolar, e isso de
certa forma numa fase um tanto tardia, uma vez que não permite muitas vezes ao
acadêmico dialogar no espaço universitário suas angústias identificadas, vindo assim a
assustar muitas vezes o acadêmico em formação docente, que nunca parou antes para
pensar sobre as dificuldades da sala de aula na ótica de um professor. Pensando nessas questões, compreendem-se os propósitos da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) na criação do Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), enquanto contribuição no processo formativo do docente em formação inicial, conforme citado abaixo: (CAPES,
2008) A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes) financia o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência (PIBID) que é uma iniciativa para o aperfeiçoamento e a
valorização da formação de professores para a educação básica que
pode ser iniciado desde o primeiro ano de graduação, que tem por
objetivos:
Inserir os licenciandos no cotidiano de escolas da rede pública de educação, proporcionando-lhes oportunidades de criação e participação em experiências metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de caráter inovador e interdisciplinar que busquem a superação de problemas identificados no processo de ensino-aprendizagem;
Contribuir para a valorização do magistério;
Incentivar escolas públicas de educação básica, mobilizando seus
professores como co-formadores dos futuros docentes e tornando-
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as protagonistas nos processos de formação inicial para o magistério;
Contribuir para a articulação entre teoria e prática necessárias à formação dos docentes, elevando a qualidade das ações acadêmicas nos cursos de licenciatura; Incentivar a formação de docentes em nível superior para a educação básica; Elevar a qualidade da formação inicial de professores nos cursos de licenciatura, promovendo a integração entre educação superior e educação básica.
Para o desenvolvimento deste programa, a Universidade Estadual de Ponta
Grossa oferece para os cursos de Geografia, trinta bolsas, sendo vinte e quatro para
acadêmicos do curso de Geografia, quatro para professores supervisores nas escolas participantes e duas para coordenadores (professores UEPG).
Todos os bolsistas inscritos no programa devem cumprir a carga horária de no
mínimo vinte horas semanais, sendo estas utilizadas para oficinas, reuniões,
planejamentos, estudos individuais e prática nas escolas. O PIBID tendo como uma de
suas finalidades proporcionar a prática da pesquisa, enquanto instrumento de reflexão
sobre a prática docente, traz para os bolsistas a obrigação de acompanhar o dia a dia de
um professor supervisor em sala de aula e retorne para seu grupo de discussão na
universidade os apontamentos daquilo que vai vivenciando. Isso permite que os mesmos
adquiram maior experiência teórico-prática antes da formação acadêmica, saindo da
graduação mais preparados para a realidade escolar. O Colégio Estadual Professor
Meneleu de Almeida Torres - Ensino Fundamental, Médio e Profissional, participou do
programa PIBID, sendo um grande parceiro na realização deste projeto e o recorte
espacial de experiência dos autores deste relato científico durante os anos de 2015 até
2017. As classes atendidas são 6° e 7° anos, fazendo parte dessas classes alunos com
idade média de dez a doze anos. Por se tratar de uma idade de transição em que a
criança sai dos anos iniciais (primeiro a quinto ano) onde os alunos eram ensinados por
apenas um professor para se inserirem nos anos finais do Ensino Fundamental (sexto a
nono ano), os alunos tem, nessa etapa, a necessidade de saber separar em
compartimentos disciplinares todo conhecimento já adquirido, pois haverá um professor
para cada matéria, isso faz com que o aluno descubra suas aptidões, no âmbito de poder
analisar separadamente cada conteúdo transmitido por cada professor em diferentes
matérias. Diante disso reflete-se sobre o impacto que essa mudança pode acarretar,
gerando ou não um desinteresse, que neste caso prejudicaria o rendimento educacional
do aluno nas matérias em que ele não se identifique, tornando-se possível até uma grave
queda no desempenho escolar, gerando em muitos casos a retenção do aluno, quando
não o próprio abandono escolar. O PIBID do curso de licenciatura em Geografia tem como intuito levar ao aluno
propostas que gerem maior interesse pela matéria, neste caso em particular, da
Geografia, com aulas mais dinâmicas que exijam a participação do aluno em sala de
aula, saindo até muitas vezes da costumeira rotina escolar, onde apenas é repassado o
conteúdo de forma dialógica tradicional, que gera aulas exaustivamente mecânicas,
além de um ambiente apático. Com o envolvimento de projetos oriundos do PIBID as
aulas tornam-se mais interativas, pois a relação entre professor-aluno-pibidiano são
mobilizadas de forma mais dinâmica, através de jogos educativos e oficinas com temas
variados, que são usados como estratégia para que os conteúdos de geografia sejam
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vistos como significativos para os alunos. Recordando o pensar de Piaget (1978) para
despertar o conhecimento e desenvolvimento pessoal e manter o seu equilíbrio natural no mundo o educando precisa brincar, jogar, criar e inventar, e isso deve estar presente
no processo de ensinar. Por isso, nota-se a importância de jogos e dinâmicas educativas no ensino-aprendizagem escolar.
Neste artigo serão descritas suscintamente algumas práticas realizadas com este tipo de abordagem didático-pedagógica no ensino da Geografia.
OBJETIVO
Relatar as experiências vivenciadas em Escola Pública junto ao Programa Institucional de Iniciação a Docência (PIBID) por acadêmicos do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual de Ponta Grossa.
METODOLOGIA No programa de Geografia do sexto e sétimo anos, vários conteúdos são de
grande importância para a formação dos alunos, uma vez que são trabalhados conceitos
de ordem geral, sendo destacados no sexto ano os conceitos de paisagem, espaço e
lugar, orientação e localização do espaço geográfico, origem da Terra, as eras
geológicas, as principais formas de relevo e hidrografia do Brasil. Enquanto que no
sétimo ano é estudado: a regionalização do território brasileiro, os continentes, países e
capitais, entre outros conteúdos como: os elementos e fatores climáticos, relevo do
mundo e os principais rios do mundo. Com esses conteúdos sendo aplicados no dia a dia
dos alunos, foram desenvolvidos oficinas e jogos, no intuito de melhoria do
conhecimento previamente estudado, pois através do ensino diferenciado acredita-se ser
possível adquirir melhor rendimento da aprendizagem dos discentes através de sua
maior participação. Cada um dos pibidianos contribuiu com ideias de como teríamos o
domínio da turma durante as oficinas, como seriam abordados cada tema, assim,
entrando em um consenso, foram elaborados materiais para os jogos e para as aulas,
objetivando sempre inovar as inserções docentes com algo do interesse dos alunos,
buscando auxilio na internet e também nas sugestões da professora responsável pelas
turmas.
OFICINA DE CARTOGRAFIA Uma das oficinas aplicadas foi a de cartografia onde primeiramente houve reserva de
um espaço diferenciado no próprio colégio, para que os alunos saíssem da rotina da sala
de aula. Foi utilizado como recurso de explicação do funcionamento da oficina através
do uso de multimídia, no qual foram passados slides de conceitos básicos de cartografia
e as coordenadas geográficas, onde os alunos tinham como atividade proposta acharem
no globo as localidades correspondentes às coordenadas. Após essa explicação os
alunos foram divididos em grupos de cinco pessoas, cada aluno com um globo. Com o
manuseio desses globos a aula tornou se mais divertida, pois o aluno tinha em mãos
esse objeto que proporcionou uma materialidade e uma ideia diferente de como
funciona as localidades no globo terrestre. Através dessa oficina foi possível observar
um maior interesse de aprender o conteúdo, pois, o simples fato de sair da sala de aula e
ter o “mundo nas mãos” fez com que os alunos se motivassem a compreender melhor o
tema cartografia.
JOGO DE TABULEIRO Um dos jogos educativos proporcionados na matéria de Geografia foi o tabuleiro sobre as regiões brasileiras, aplicado em grupo dentro da sala de aula, após uma aula teórica explicativa. Foi desenvolvido da seguinte maneira: os alunos foram divididos em
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grupos de 5 a 6 jogadores, em que cada jogador era representado por uma peça de cores
distintas. Um dos participantes do grupo retirava uma carta aleatória e fazia a pergunta
relacionada às regiões do Brasil para o jogador que ganhou na soma da pontuação dos
dados, em cada acerto avançava-se uma casa. Foi possível observar com esse jogo que o
aluno aprende muito mais quando o professor relaciona o conteúdo descritivo e oral
com a brincadeira, pois faz com que os alunos se interessem pelo conteúdo aplicado,
sem perceber que está exercitando habilidades de compreensão e memorização. O jogo
fez com que os alunos prestassem mais atenção nas perguntas formuladas, buscando
sempre acertar as questões para vencer o jogo, isso ajudou no rendimento dos alunos na
avaliação bimestral em que o conteúdo aplicado em sala de aula e no jogo eram os
mesmos.
OFICINA “ERAS GEOLÓGICAS” Essa oficina teve como finalidade compreender de maneira lúdica as eras geológicas,
pois esse conteúdo foi explicado através de multimídia e também por meio de maquete,
simulando uma linha do tempo, na qual os próprios alunos montaram coletivamente
todo o conteúdo da formação da Terra até os dias atuais. Além da maquete para
dinamizar a aula, foi realizado o “bingo geológico”, com o interesse de fixar o conteúdo
sobre eras geológicas. O bingo foi elaborado com questões enumeradas de acordo com
o assunto e com o número correspondente a resposta correta na cartela. Destaca-se que
sempre é importante revezar o conteúdo programado com uma prática diferenciada que
complemente o apreender de cada aluno (o que chamamos de feedback), e essa oficina
tem como objetivo motivar o aluno mesmo neste momento de revisão do ensino de
geografia, fazendo com que os mesmos criem a capacidade de enxergar a geografia em
diferentes ângulos e detalhes presentes no dia a dia.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados foram positivos, os alunos compreenderam todas as oficinas e foi muito mais fácil a explicações com as atividades práticas. Os conteúdos geográficos são
de mais fácil entendimento com a aplicação das oficinas, que demonstraram uma melhora significativa nas notas das avaliações bimestrais no período em que as oficinas
foram aplicadas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS O contato direto com a realidade escolar, entre professor em formação inicial e
professor regente, contexto de normas e regras escolares, complexidades do ensinar-
aprender, que são proporcionados pelo PIBID, agrega experiências e maior
desenvolvimento na vida acadêmica. Assim, pode-se afirmar que surgiu um
amadurecimento em cada um de nós para encarar a profissão que escolhemos exercer. É
importante sempre lembrar que todo conteúdo diferenciado que promovemos ao longo
das vivências com pibidianos devemos levar para dentro de nossas futuras salas de
aulas, já que obtivemos resultados tão enriquecedores que fizeram a diferença na
aprendizagem dos alunos. Logo, jogos e oficinas são práticas complementares que
exigem maior dedicação dos docentes, porém mais resultados aos discentes e isso
remete sempre em um trabalho valorizado e significativo, além de um diferencial no
rendimento de aprendizagem. Assim é de vital importância o repensar a prática
tradicional e contribuir na melhoria do ensino das escolas públicas, enriquecendo nossa
visão de professores enquanto sujeitos transformadores, procurando sempre o bem estar
das novas gerações.
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REFERÊNCIAS
BRASIL, Fundação Capes. Pibid - Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência. Brasília: Ministério da Educação, 2008. Dísponível em:
<http://www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibid>. Acesso em: 20 ago. 2014
JANUÁRIO, Gilberto. O estágio supervisionado e suas contribuições para a prática pedagógica do professor. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/MATEMATICA/Art igo_Gilberto_06.pdf. Acesso em: 15 maio 2018.
PIAGET, J. A formação do símbolo na criança, imitação, jogo e sonho, imagem e representação; Rio de Janeiro: Zanhar, 1978.
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TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO ENSINO
DE GEOGRAFIA: ELABORAÇÃO DE APLICATIVO (APP) PARA
EDUCAÇÃO EM SOLOS
Christopher Vinicius Santos;
Antonio Liccardo
RESUMO: No projeto de extensão Geodiversidade na Educação, em atividade na
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) desde 2011, desenvolvem-se atividades
como a concepção de materiais didáticos e mídias digitais para o ensino e divulgação
das geociências. Em 2018, um aplicativo para smartphones foi concebido para auxiliar
no reconhecimento dos solos do município de Ponta Grossa/PR. Essa ferramenta,
classificada como uma Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), pode ser usada
pela comunidade em geral e também por professores e alunos das escolas do município.
O recorte espacial para a seleção das principais classes de solo de Ponta Grossa foi feito
na Fazenda Escola Capão da Onça, pertencente à UEPG, onde foram selecionadas
trincheiras que representam os cinco perfis de solo predominantes no município. A
partir desta seleção e levantamento de informações, foi desenvolvido o aplicativo com o
intuito de disponibilizar os dados e fortalecer a compreensão desse tema pela
comunidade e também o ensino na educação formal. Com elementos básicos sobre o
processo de formação dos solos, sua conservação e importância para a vida na Terra, o
aplicativo também traz um mapa de localização e informações sobre o perfil de cada
trincheira, o que possibilita visitas à Fazenda Escola com maior interação com o
público. A disponibilização do aplicativo é gratuita e se dá por download através de
código QR disponibilizado no site geocultura.net.
Palavras-chave: Tecnologias, Educação, Geografia.
INTRODUÇÃO
Na contemporaneidade, a recente introdução das Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC) nas atividades educativas está transformando a realidade escolar
(OLIVEIRA, MOURA, SOUZA, 2015). Sendo assim, é imprescindível que as escolas
acompanhem essa mudança na dinâmica de ensino, envolvendo estudantes em
atividades de educação não formal. Segundo a base nacional comum curricular, é
competência do professor de geografia realizar a transposição didática de conteúdos
relacionados aos solos para a rede de ensino básico.
- a geografia, nos anos iniciais do ensino fundamental, responsável por desenvolver nos alunos as seguintes habilidades, relacionadas ao ensino de pedologia:
Relacionar padrões climáticos, tipos de solo, relevo e formações vegetais e explicar as diferentes formas de uso do solo, como rotação de culturas, terraceamento, aterros etc.
(BRASIL, 2017).
O aplicativo de reconhecimento de solos e ensino de conceitos básicos de
pedologia foi montado pensando na necessidade de levar a educação a todos os espaços,
inclusive no meio virtual, para uma maior interação entre o aluno e o conteúdo. Além
disso, são poucos os locais que abrigam as cinco classes de solo predominantes em
Ponta Grossa, por isso foi escolhida a Fazenda Escola Capão da Onça, instalação
pertencente à Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), que conta com esse
recurso e tem ainda a possibilidade de fácil deslocamento até o local.
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A montagem deste aplicativo propõe uma interface de aprendizagem sobre a
geodiversidade, sendo o solo um de seus elementos, um recurso natural não-renovável e
fundamental para a manutenção da vida na Terra. A sensibilização sobre esse tema é
crucial para o seu manejo e preservação, assim o planejamento na agricultura, ocupação
e o uso patrimonial consciente do solo deve acontecer pela educação formal e não
formal. Com o auxílio do aplicativo, há uma tendência a tornar as aulas mais interativas
e dinâmicas e também de que haja maior divulgação do tema.
OBJETIVO
Desenvolver aplicativo para smartphone, ou seja, uma tecnologia de informação e comunicação, para servir de apoio aos professores de geografia na transposição didática do conteúdo de pedologia nas escolas de educação básica.
MATERIAL E MÉTODOS
A UEPG conta com uma importante área de pesquisa em agricultura e pecuária
que é a Fazenda Escola Capão da Onça. Neste local se encontra um conjunto de trincheiras realizadas para pesquisas em pedologia, distribuídas em pedossequências,
que representam as cinco principais classes de solo de Ponta Grossa/PR.
Para a montagem do aplicativo, foram coletadas amostras destas cinco classes de
solo: latossolo, gleissolo, geossolo, argissolo e cambissolo (MACHADO 2007), que
serviriam para compor a exposição do Projeto Geodiversidade na Educação (Figura 1) e
para as fotografias do aplicativo. A exposição das amostras apresenta o principal
horizonte de cada classe, contemplando informações básicas de cada uma e seus
processos de formação. Para a montagem do mapa de localização presente no
aplicativo, as coordenadas geográficas foram identificadas em cada trincheira, o que
facilita o acesso a interessados em visitar os locais a partir da curiosidade despertada na
exposição. Para elaboração do aplicativo, foi utilizada a plataforma digital “Fabrica de
Aplicativos”, que possibilita a construção de aplicativos de simples manuseio e
didáticos, com download gratuito por meio da disponibilização de código QR.
Criar esses mecanismos que permitam e incentivem o envolvimento de
professores e autores de materiais didáticos para ampliar o conhecimento de solos e,
assim, desenvolver material didático sobre solos para o ensino fundamental e médio,
com mais propriedade e qualidade, poderá significar uma mudança sólida de valores e
atitudes na efetivação de uma consciência ambiental interconectada entre a ciência e a
sociedade (BECKER 2005).
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Figura 1. Vitrine com as principais classes de solo do município de Ponta Grossa em exposição no
projeto Geodiversidade na Educação, no bloco L do Campus Uvaranas. Fonte: Christopher Santos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Aplicativos com conteúdo científico têm sido utilizados com frequência como
um recurso no entendimento de vários conteúdos da educação formal. Nas palavras de Liccardo e Pimentel:
A apresentação da produção científica por meio de vídeos, fotos e ilustrações
ou por meio de produtos, objetos e amostras é um importante estímulo ao
aprendizado e à divulgação do conhecimento, pois contextualiza o fenômeno
científico e fornece fundamento para o seu entendimento consistente. As
Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio recomendam o desenvolvimento
de práticas externas ao espaço escolar como motivadoras para os alunos,
justamente por deslocarem o ambiente de aprendizagem para o local de
ocorrência dos fenômenos. Neste sentido, as atividades externas à sala de
aula dão relevo ao aprendizado a respeito da natureza e dinâmica do meio
ambiente, entretanto, muitas vezes, exigem deslocamentos e logística que
nem sempre são viáveis (LICCARDO e PIMENTEL, 2014).
Assim, o aplicativo de reconhecimento de solos tem potencial para ensinar os
alunos sobre leitura de aspectos da paisagem, ao mesmo tempo em que traz aspectos da natureza mais próximo da sala de aula.
A proposta da confecção do aplicativo é integrar os dados dos processos de
formação dos solos (pedogênese), sua divisão em horizontes e enfatizar a importância
de sua conservação, apresentando as principais classes de solos presentes no município.
Trazer à escola um aplicativo com todas essas informações concentradas de maneira
dinâmica, lúdica e interativa é uma alternativa para aproximar os estudantes às
trincheiras de solos.
A Figura 2 apresenta a imagem de abertura e o layout do aplicativo construído, que
está organizado da seguinte maneira: 1- conceito do que é solo, 2 - processo de formação do
solo, 3 - horizontes do solo, 4 - tipos de solo, 5 - conservação do solo, 6 - principais classes
de solos de Ponta Grossa-PR (mapa interativo) e 7 - informações sobre
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o Projeto Geodiversidade na Educação. Por fim, o aplicativo correlaciona as trincheiras e seus perfis às suas posições na vertente.
Representantes das classes dos latossolos, argissolos, gleissolos, cambissolos e neossolos constam no aplicativo, cada um com texto explicativo e imagens
representativas, além da localização de cada trincheira da Fazenda Escola plotada em
um mapa interativo.
A B
Figura 02: Layout e estrutura geral do aplicativo. A – Imagem de abertura. B
– Impressão de tela com a estruturação do conteúdo em ícones.
CONCLUSÕES
A contribuição desta TIC, específica sobre os Solos de Ponta Grossa,
fundamenta-se em dois pontos de grande importância: 1 – a possibilidade de concentrar amplo conteúdo de pedologia em um aplicativo de fácil manuseio e 2 - sua gratuidade
no download, possibilitando o acesso amplo e democratizado a esse conteúdo.
Durante o processo de criação desse aplicativo, a seleção das trincheiras foi
muito representativa e estas foram apresentadas com o objetivo de facilitar a compreensão inicial das principais classes de solos de Ponta Grossa. A divulgação desse
conteúdo geocientífico pode sensibilizar as pessoas da comunidade e nas escolas sobre a importância e uso dos recursos naturais de maneira consciente.
A construção de uma base de dados fidedigna também foi fundamental para a
confiabilidade desse aplicativo, tornando viável seu uso dentro da escola. Além disso, essa ferramenta propicia a possibilidade de professores de Geografia, Ciências e/ou
Biologia poderem trabalhar esse conteúdo de maneira isolada ou interdisciplinar.
A disponibilização do aplicativo é gratuita e sua configuração possibilita atualizações que poderão ser realizadas futuramente para enriquecer e ampliar seu conteúdo.
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1- Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia- Mestrado em Gestão do Território 2- Docente do Departamento de Geociências de do Programa de Pós-Graduação em Geografia.
REFERÊNCIAS
BECKER, E. L. S. Solo e ensino. Santa Maria: Vidya, 2005.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de educação básica. Base Nacional
Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, 2017.
LICCARDO, A.; PIMENTEL, C.S. Geociências e educação não-formal. LICCARDO, A.; GUIMARÃES G. B. Geodiversidade na educação. Ponta Grossa. Editora Estúdio Texto,
2014. Cap.1, pag. 13-22.
MACHADO, M. F. Os solos dos Campos Gerais. In: MELO, M. S.; MORO, R. S.; GUIMARÃES G. B. Patrimônio natural dos Campos Gerais do Paraná. Ponta Grossa. Ed UEPG. 2007. Cap. 6, p.73-84.
OLIVEIRA, C.; MOURA, S. P.; SOUZA E. R. TIC’s na Educação: a utilização das tecnologias da informação e comunicação na aprendizagem do aluno. Pedagogia em
Ação, v. 7, n. 1, Dez. 2015
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1- Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia- Mestrado em Gestão do Território 2- Docente do Departamento de Geociências de do Programa de Pós-Graduação em Geografia.
CLASSIFICAÇÃO DE ORTOFOTO ADQUIRIDA POR RPA E BANDA
AUXILIAR NDVI - ESTUDO DE CASO PARA A FAZENDA ESCOLA
CAPÃO DA ONÇA
Marianne Oliveira;
Jessyca Kawana Franquitto;
Selma Regina Aranha Ribeiro.
1. Introdução
Uma imagem permite diversas interpretações, tanto por análise visual quanto por digital.
Cada pixel da imagem contém informações referentes à refletância dos alvos que cobrem a
superfície terrestre e que estão presentes na cena.
Para a análise digital dos dados contidos na imagem há métodos de classificação, que
podem ser supervisionados ou não supervisionados; a diferença é que o supervisionado usa um
campo amostral para que o classificador seja capaz de diferenciar os pixels nas classes pré-
determinadas, e o outro se baseia na imagem sem campo amostral classificando-a mediante uma
regra estatística. No presente trabalho foram utilizados os métodos supervisionados
paralelepípedo, máxima verossimilhança e distância de mahalanobis.
2. Objetivo
O objetivo deste estudo foi classificar o uso da terra em ortofoto adquirida por RPA
(Remotely Piloted Aircraft) e banda auxiliar NDVI (Normalized Difference Vegetation Index),
para área localizada na fazenda escola da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa) Capão
da Onça.
3. Metodologia
A área de estudo é um fragmento da Fazenda Escola Capão da Onça (FESCON), que
pertence à Universidade Estadual de Ponta Grossa, no município de Ponta Grossa – PR. A figura
1 ilustra a localização da área de estudo. Em vermelho destaca-se a área do voo com RPA, em
laranja os limites da fazenda escola. Na figura à direita mostra-se a localização da FESCON em
relação ao perímetro urbano (em verde). A figura 2 ilustra a metodologia adotada.
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1- Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia- Mestrado em Gestão do Território 2- Docente do Departamento de Geociências de do Programa de Pós-Graduação em Geografia.
FIGUR
A 1 – LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
FONTE: AS AUTORAS, 2018
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FIGURA 2 – ORGANOGRAMA DA METODOLOGIA
FONTE: AS AUTORAS, 2018
As imagens foram adquiridas com um RPA que pertence ao programa de pós-graduação
em Computação Aplicada da UEPG. O equipamento é da empresa SenseFly, o eBee de asa fixa,
com resolução espacial de 3,4 cm. O voo foi realizado entre as 10 e 12h do dia 28 de fevereiro de
2018, com a câmera Canon S110 NIR, que captura três bandas (b1 = vermelho; b2 = verde; b3 =
infravermelho).
Após a aquisição das fotos estas foram processadas no software Agisoft PhotoScan. O
processamento inclui o alinhamento das fotos, a inserção das coordenadas dos pontos de controle
(PCs) e a geração do MDT (Modelo Digital de Terreno) e do ortomosaico após a aplicação das
correções geométricas com base nos PCs. O ortomosaico foi utilizado para a realização das
classificações no software ENVI 4.7.
Optou-se por combinar a banda do vermelho e infravermelho e gerar um índice de
vegetação a fim de verificar o comportamento da vegetação na área de estudo. Os índices
espectrais de vegetação, ou simplesmente índices de vegetação, têm sido utilizados para
monitorar o comportamento da vegetação da Terra em escalas global e/ou local (MIURA et. al.,
2001).
Um dos índices mais utilizados é o Índice de Vegetação por Diferença Normalizada
(NDVI), utilizado para realçar áreas vegetadas e não vegetadas, pois a vegetação apresenta alta
reflectância na banda do infravermelho próximo, e na banda do vermelho apresenta alta absorção
e baixa reflectância.
O NDVI, proposto por Rouse et. al. (1973), é a normalização do índice Razão Simples a
partir da equação (1). O NDVI assume valores dentro do intervalo de -1 a 1. Ele é calculado pela
diferença entre as bandas do infravermelho próximo (NIR) e do vermelho (RED).
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NDVI = (NIR-RED) (1)
(NIR+RED)
A imagem gerada do NDVI possui valores entre -1 e 1, onde, valores mais próximos a 0
correspondem às áreas não vegetadas, e mais próximos a 1 representam existência de vegetação.
Quando existirem áreas com presença de água ou que estão sofrendo influência das nuvens os
valores serão negativos.
Geralmente, a vegetação saudável absorverá a maior energia sobre ela no espectro visível
da radiação eletromagnética e refletirá maior energia no infravermelho próximo. A vegetação
insalubre ou escassa refletirá a energia no visível e menos no infravermelho próximo. E solos
expostos, por outro lado, refletirão moderadamente na porção vermelha e infravermelha do
espectro eletromagnético (HOLME et. al. 1987).
Após a geração do NDVI, as imagens foram classificadas. Para a classificação
supervisionada faz se necessário o uso de amostras. Essas podem ser por coletadas como
retângulos, polígonos ou pontos específicos que referenciam a região como pertencendo a uma
classe (MATHER, TSO 2009).
Inicialmente, foram coletadas amostras para identificação das regiões de interesse. Este
procedimento foi realizado após a verificação prévia em campo das classes, a saber: solo exposto,
área plantada, cultivo 1 e 2, alvos/carro e limite entre parcelas. Cada região de interesse
apresentou em torno de 200 pixels por classe e, em seguida, foram utilizados diferentes
classificadores.
Os métodos utilizados para a classificação foram o Paralelepípedo, Máxima
Verossimilhança e Distância de Mahalanobis. Segundo (MATHER, TSO 2009), o método de
Paralelepípedo é um método simples o qual define os limites mínimo e máximo de nível digital
de cada classe com base nas amostras coletadas. Já o método da Máxima Verossimilhança calcula
a probabilidade para identificar se o pixel pertence a determinada classe. E por fim, o método de
Mahalanobis utiliza o cálculo da distância euclidiana para mensurar a distância do valor digital
do pixel ao centro dos valores de cada classe.
4. Resultados e Discussões
As classificações foram realizadas com as amostras das regiões de interesse nas três
bandas do espectro eletromagnético do vermelho, infravermelho e da banda artificial NDVI. Na
figura 3 verifica-se, respectivamente, o resultado pelo classificador de Paralelepípedo,
Mahalanobis e Máxima Verossimilhança. O método do paralelepípedo forneceu o resultado
menos satisfatório. Analisando-se visualmente, a classificação por Mahalanobis apresentou
melhor aparência que a obtida pelo Paralelepípedo e a obtida por Máxima Verossimilhança
fornece os melhores resultados.
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FIGURA 3 – CLASSIFICAÇÃO POR (A) PARALELEPÍPEDO (B) MAHALANOBIS E (C) MÁXIMA
VEROSSIMILHANÇA
A validação da classificação foi feita com novas amostras para avaliação, a partir da
matriz de confusão ou matriz de erros, que apresenta todas as amostras corretas ou que foram
classificadas de forma errônea, seja pela limitação do classificador e ou do usuário.
No resultado da matriz de confusão, explícito no quadro 1, o melhor classificador foi o da
Máxima Verossimilhança, apresentando o índice Kappa excelente, assim como Mahalanobis,
ambos acima de 80%. O classificador do Paralelepípedo apresentou resultado insatisfatório, com
índice Kappa de 0,6751 e acurácia de 73% (Moreira, 2011).
Paralelepípedo Mahalanobis Máxima verossimilhança
Acurácia 73,8% 90,9% 91,3%
Índice Kappa 0,6751 0,8862 0,8906
QUADRO1 - MATRIZ DE CONFUSÃO
FONTE: AS AUTORAS, 2018
O classificador Paralelepípedo obteve menor acurácia e índice Kappa e visualmente pode-
se compreender este fato mediante a quantidade de pixels não classificados (em preto na figura
3a), devido à regra estatística de avaliar os valores mínimos e máximos das amostras. Pode-se,
visualmente, contestar o resultado da matriz de confusão, comparando-se as imagens da figura 3
(b e c), uma vez que o classificador da Distância de Mahalanobis (figura 3b) homogeneizou as
áreas de cultivo e seus limites, entretanto verificou-se que estes em campo estão separados
nitidamente, fato corroborado visualmente na figura 3 c e mediante a matriz de confusão no
quadro 1.
Pelo conhecimento de campo sabe-se que existem na área diferentes tipos de cultivos,
porém, espectralmente, esta diferenças não são representativas, pois mesmo sendo coletadas
amostras das diferentes classes de cultivo, essas não foram suficientes para separá-las em nenhum
dos classificadores. Este fato ocorrer devido à iluminação e posição da câmara no instante de
tomada de cada fotografia.
XXV Semana de Geografia – 2018
“Novas Tecnologias: aplicações na Geografia” ISSN 2317-9759
1- Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia- Mestrado em Gestão do Território 2- Docente do Departamento de Geociências de do Programa de Pós-Graduação em Geografia.
5. Considerações Finais
Todos os classificadores são adequados e apresentaram bons resultados (acurácia e índice
Kappa) para auxiliar nas análises da paisagem, principalmente com as novas tecnologias como as
RPAs que possuem altíssima resolução espacial chegando a 3 cm de resolução, o que define
muito bem cada objeto na cena das imagens aéreas e em pequenas áreas de estudo, parcelas de
cultivo.
Apesar de não ser apresentado nos resultados, o uso dos classificadores sem a banda
auxiliar do NDVI foi insatisfatório quanto à definição da vegetação, quanto aos limites entre as
parcelas, mas mesmo com o dado auxiliar ainda não foi possível diferenciar totalmente os
cultivos.
6. Referências
HOLME, A.McR., BURNSIDE, D.G. MITCHELL, A.A. (1987). The development of a system
for monitoring trend in range condition in the arid shrublands of Western Australia. Australian Rangeland Journal 9:14-20.
ROUSE, J.W. et al. 1973. Monitoring vegetation systems in the Great Plains with ERTS.
Third Symposium of ERTS, Greenbelt, Maryland, USA. NASA SP-351, V1:309-317.
MATHER, Paul; TSO, Brandt. Classification methods for remotely sensed data. CRC press,
2009.
MOREIRA, Maurício Alves. Fundamentos do Sensoriamento Remoto e Metodologias de
Aplicação. 4. ed. Viçosa: Ufv, 2011.
MIURA, T. et al. An error and sensitivity analysis of atmospheric resistant vegetation
indices derived from dark target-based atmospheric correction. Remote Sensing of
Environment, v.78, p.284- 298, 2001.
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MAPEAMENTO DO USO E COBERTURA DA TERRA EM PONTA
GROSSA-PR COM USO DE IMAGEM LANDSAT OLI 8
Jessika Alexandra Zambrano Hernandez1
Silvia Méri Carvalho2
INTRODUÇÃO
Segundo Borras et al.(2017) o uso do solo é um indicador biofísico do território e também
possibilita realizar as análises socioeconômicas do mesmo por meio de subcategorias específicas,
como área industrializada, área urbanizada, solo exposto, corpos d’água, entre outros.
Atualmente, o interesse sobre a classificação do uso e cobertura da terra está gerando uma
necessidade de metodologias classificatórias eficazes, tomando como base principal a superfície
terrestre e sua fotointerpretação. Uma das principais metodologias é a classificação
supervisionada, a qual consiste em empregar imagens de satélite e, por meio de interpretação do
software e algoritmos internos que este tem, identificar como o solo está coberto em um
determinado local.
Existem sensores que captam as imagens com alta, média e baixa resolução espacial, sendo que
quanto maior a resolução, melhor será a identificação dos e quantidade de detalhes. Estes satélites
podem ser utilizados de acordo com o objetivo pretendido e, no caso do sensor Landasat OLI 8
(Operational Land Imager), a resolução espacial é de 15m para a banda pancromática e 30m para
as bandas multiespectrais, configurando-se como de média resolução espacial.
Para a realização da classificação e posterior análise do uso da terra, foi utilizada parte do
município de Ponta Grossa-PR, onde se pode observar tanto a zona urbana quanto a zona rural. O
objetivo principal foi demonstrar de que maneira se encontra o uso da terra na região, a partir da
classificação da imagem Landsat OLI 8.
OBJETIVO: Identificar a cobertura e uso da terra em Ponta Grossa, a partir de classificação supervisionada,
com uso da imagem Landsat OLI 8 e software QGIS.
METODOLOGIA
Área de estudo
A cidade de Ponta Grossa está localizada no Segundo Planalto
Paranaense, na região dos Campos Gerais. Destaca-se no cenário turístico
do sul do Brasil devido à sua posição geográfica pela facilidade de acesso
a todas as regiões do Estado. Importante entroncamento rodoferroviário, a
cidade tem suas raízes no tropeirismo, na pluralidade étnica e nos
caminhos da estrada de ferro, símbolos históricos e marcos referenciais
ainda presentes no cenário urbano de uma das mais importantes cidades
brasileiras (A CIDADE, 2018).
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1- Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia- Mestrado em Gestão do Território 2- Docente do Departamento de Geociências de do Programa de Pós-Graduação em Geografia.
Dados de Imageamento
Na atualidade, existem sítios eletrônicos onde se podem baixar dados de imageamento
terrestre obtidos por sensores a bordo de satélites, de forma gratuita, como o portal
https://earthexplorer.usgs.gov/, no qual se encontram as imagens Landsat de todas as
séries Landsat, de 1 a 8. A imagem utilizada foi capturada no dia 27-09-2017, com 10%
de nebulosidade. Posteriormente, a imagem foi recortada, pois as imagens cobrem áreas
extensas, de (185x185) km e, se usadas na sua totalidade, os processamentos
computacionais tendem a ser muito demorados. Em razão disso, optou-se pela seleção
de uma área Um retângulo de (30x30) pixels, tendo cada pixel (30x30) m resultara uma
área de (900m x 900m) = 810.000km2 = 0,81 km2
Classificação da imagem
Foi empregada a classificação supervisionada, que segundo afirmam Borras et al.(2017)
A classificação supervisionada parte de um grupo de elementos pertencentes à imagem,
conhecidos como áreas de treinamento. A classificação do conjunto da imagem é o
processo pelo qual a cada elemento contido na imagem se atribui uma categoria,
baseando-se nos atributos contidos nas áreas de treinamento.
Os resultados da classificação podem ser utilizados em estudos de quantificação de solo,
posição geográfica, estimativa de produtividades, etc. Uruguay (2001). Por este motivo
é indispensável a geração desta informação, tendo em conta que esta metodologia não é
excludente da verificação em campo, mas reduz o tempo e orçamento de qualquer
projeto.
Por meio do software QGIS, a classificação supervisionada foi realizada A combinação
de bandas escolhida foi RGB = 641, o que significa, que a banda 6 está no vermelho, a
banda 4 está no canal verde e a banda 1 está no canal azul. Esta composição ressalta os
elementos como as vias, área urbanizada, solo exposto, água, floresta e campo.
Para este trabalho foi utilizado o Manual de Uso da terra (IBGE, 2013, p. 151),
adotando-se as classes: área urbanizada, cultura temporária, pastagem, floresta, campo,
corpo de água continental, silvicultura.
Um índice gerado a partir da matemática de bandas foi o NDVI- Índice de Vegetação
por Diferença Normalizada, introduzido com o objetivo de separar especificamente a
vegetação do restante das classes de uso do solo (Rouse,1974 apud Garcia, 2015). O
NDVI permite conhecer o comportamento radiométrico da vegetação, associado com
sua fotossíntese, dando como resultado o estado de saúde da mata ou árvore.
NDVI
O NDVI foi feito para a cidade de Ponta Grossa, tendo como objetivo, conhecer o uso
do solo, para este cálculo foram empregadas as bandas vermelha (Red) e infravermelha
próxima (Nir) utilizando a seguinte formula:
𝑁𝐷𝑉𝐼 =𝑁𝐼𝑅+𝑅𝐸𝐷𝑁𝐼𝑅−𝑅𝐸𝐷
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados apresentados na imagem NDVI (Figura 1), demonstram que os bairros
com menos volume de vegetação são o Centro e Nova Rússia, com índices de -0,09 e -
0,16 respectivamente, e os Bairros com maior volume de vegetação são Chapada e
Cará-Cará, com índices de 0,328 e 0,54, respectivamente. Figura 1 -NDVI da área de estudo-Ponta Grossa-PR
Org: Jessika Alexandra Zambrano Hernandez
No caso da classificação supervisionada, pode-se observar que a classe com maior
presença na cena selecionada é a urbanização, seguida pela classe de campo, isto porque
a cena recobre a porção noroeste do município, que é a área mais urbanizada. A classe
com menor área é a classe de corpo de água continental, isso se deve ao fato de que na
área há poucos corpos de água visíveis na escala escolhida, e aqueles que a classificação
mostra podem ser erros cometidos pelo software.
Figura 2- Mapeamento do uso e cobertura da terra em Ponta Grossa
Org: Jessika Alexandra Zambrano Hernandez
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para fazer uma classificação supervisionada é indispensável conhecer o local, já que
desta forma se pode realizar com certeza a escolha de classes do solo.
Deve-se ter presente que o software faz um trabalho onde sempre terá uma margem de
erro, pelo que haverá necessidade de ir a campo e revisar a classificação. Pode estar
associado, como ferramenta de apoio, o uso do visor Google Earth o qual é uma
ferramenta que auxilia este tipo de trabalho.
Na figura 2 é possível observar que algumas classificações não são concordantes,
devido ao fato dos métodos estarem ligados ao comportamento da refletância dos pixels,
e a subjetividade no caso da classificação supervisionada da pessoa que faz o
procedimento.
O método da classificação é usado pela grande ajuda nos processos de classificação
orientada a pixel, pois através dele é possível diminuir o tempo gasto e seu erro pode ser
tratado através do software, ou seja os resultados são de boa qualidade, no entanto o
erro tolerável deve ser considerado.
Para o caso do NDVI figura 1, foi estabelecido que a região central da cidade é a zona
que tem menor índice de vegetação, o que implica para um futuro o acompanhamento
de estudos sobre as áreas verdes da cidade, já que estas contribuem significativamente
na qualidade de vida.
REFERÊNCIAS
A CIDADE. Disponível em: < http://www.pontagrossa.pr.gov.br/acidade>. Acesso em
15 jul. 2018.
BORRÁS J. et al. Clasificación de usos del suelo a partir de imágenes Sentinel-2.
Revista de teledetección, Valencia España, v, 48, n.55, p. 56. mayo.2017.
GARCIA, J. CERVINGON, J. Estudio de Índices de vegetación a partir de imágenes
aéreas tomadas desde UAS/RPAS y aplicaciones de estos a la agricultura de
precisión. 2015, 42 f. Tese (Maestría en tecnologías de la información geográfica)
Facultad de Geografía e Historia. Universidad Complutense de Madrid, Madrid, 2015 p
42. Disponível em: https://eprints.ucm.es/31423/1/TFM_Juan_Diaz_Cervignon.pdf.
Acesso em 15 jul. 2018.
IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Manuais Técnicos em Geociências.
Manual Técnico de Uso da terra. Rio de Janeiro, 2013.
URUGUAY. Grupo de riesgo, agro clima, ambiente, agricultura satelital. Gras, Inía. La
teledetección y los sistemas de información geográfica, algunas aplicaciones en el
Uruguay, Colonia, 2001. Disponível em:
http://www.ainfo.inia.uy/digital/bitstream/item/5809/1/teledeteccion.pdf Acesso em 15
jul. 2018.