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Anais do XXII Seminário Interno
do Grupo de Pesquisa Cultura,
Memória e Desenvolvimento
ISSN: 2525-7498
Tema: O método na pesquisa em cultura
Data: 29 a 31 de agosto de 2018
Local: Escola de Ciências Sociais e Saúde -
Área 4 - Sala de Defesa – Goiânia - PUC Goiás
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Organizadores
Thais Alves Marinho (PUC Goiás)
Edson Silva de Farias (UnB)
Conferencistas e Coordenadores
Ana Paula Alves Ribeiro (UERJ)
Artur André Lins (UNICAMP)
Artur Guimarães (UnB)
Bruno Vasconcellos (UFO)
Clovis Britto (UnB)
Edson Farias (UnB/UESB)
Júlio César Ferreira (CEFET-RJ)
Marco Antônio de Almeida (ECA/USP)
Michel Nicolau (UNICAMP)
Milene Gusmão (UESB)
Salete Nery (UFRB)
Thais Alves Marinho (PUC Goiás)
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Programação
29 DE AGOSTO
07:30-8:00 - CREDENCIAMENTO
8:00-9:30 - CONFERÊNCIA: As ciências sociais em tempos de avaliações e internacionalização - Michel
Nicolau (UNICAMP)
09:30-12:00 - MESA 1– Para Confundir o método nos estudos de memória e cultura. COORDENADORES:
Bruno Vasconcellos (UFO) / Júlio César Ferreira (CEFET-RJ)
1. OS TRÊS PRÍNCIPES DE SERENDIP E O ACASO NO CORAÇÃO DO MÉTODO - Bruno R. Vasconcelos
(UFU)
2. EXPERIÊNCIAS DE INFLEXÕES METÓDICAS NA PESQUISA SOBRE OS BLOCOS DE ENREDO DO
CARNAVAL CARIOCA - Júlio César Valente Ferreira (CEFET/RJ)
3. MUSEUS COMUNITÁRIOS: CONTROVÉRSIAS CONCEITUAIS EM UM CAMPO EM DEFINIÇÃO NA
PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO SOBRE MEMÓRIAS ATÉ ENTÃO OMITIDAS OU
NEGLIGENCIADAS - Rodolfo Nazareth Junqueira Fonseca (UEMG)
12:00-14:00 - ALMOÇO
14:00-18:00 - MESA 2 - Questões de Psicogênese nos Processos de Circulação Cultural e de Conhecimento
COORDENADORES: Edson Farias (UnB/UESB) / Salete Nery (UFRB)
1. PROCESSOS DE ESTIGMAÇÃO A PARTIR DOS ODORES CORPORAIS: O CHEIRO DA COR - Maria
Salete Nery (UFRB)
2. AYRTON SENNA, A FÓRMULA 1 E O BRASIL: O ESPETÁCULO DA ALTA EXCITAÇÃO E
REDEFINIÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL MODERNA - Felipe dos Santos Tartas (UnB)
3. PSICOGÊNESES AFROAMERICANAS CONTEMPORÂNEAS E NEGROFILIA: UM DEBATE A
PARTIR DO FILME “CORRA!” - Thais Sant´Anna (UnB)
4. O PROBLEMA DA PSICOGÊNESE EM TORNO DAS FORMAS ARTÍSTICAS E PSÍQUICAS - Edson
Farias (UnB/UESB)
18:00-19:00 - COFFEE BREAK
19:00 - CONFERÊNCIA: Práticas infocomunicacionais e mediações culturais: HQs & Literatura - Marco
Antônio de Almeida (ECA/USP)
30 DE AGOSTO
8:00-11:00 – MESA 3 - Mercados Culturais-Digitais: Construção de Valor e Novas Racionalidades
Econômicas.
COORDENADORA: Thais Alves Marinho (PUC Goiás)
1. MAPEAMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA EM GOIÁS: LIMITES E POSSIBILIDADES DA
RELAÇÃO ANUAL DE INFORMAÇÕES SOCIAIS - RAIS DO MINISTÉRIO DO TRABALHO - Thais
Alves Marinho – PUC Goiás
2. POR QUE A GASTRONOMIA FAZ PARTE DA ECONOMIA DA CULTURA - Maurício Piatti - (UnB)
3. O QUE OS FAST-THINKERS OFERECEM A SUAS CLIENTELAS? - Lidiane Soares Rodrigues -
(UFSCar)
4. CONTEÚDOS AUDIOVISUAIS E PLATAFORMAS DE VÍDEO SOB DEMANDA (VOD): NOVAS
CONFIGURAÇÕES DE CIRCULAÇÃO E CONSUMO CULTURAIS?
Cleide Vilela – (PPGSOL/UnB)
11:00 -12:00 - OFICINA - Aplicação Metodológica em Pesquisas Culturais - Emerson Rocha
(PPGSOL/UnB)
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12:00-14:00 - ALMOÇO
14:00-18:00 - MESA 4 - Usos e leituras da história em sociologia da cultura - COORDENADOR: Clovis
Britto (UnB)
1. DIREITO AO FUNERAL: PROBLEMATIZAÇÕES SOBRE A ECONOMIA SIMBÓLICA DOS RESTOS
MORTAIS DO CANGAÇO EM MUSEUS BRASILEIROS - Clovis Carvalho Britto (UnB)
2. O BRASIL E O TROPICALISMO NOS ANOS 1960: DOIS PROJETOS ABATIDOS EM PLENO VOO -
Givanildo Brito Nunes (UESB)/ Milene de Cássia Silveira Gusmão (UESB)
3. O NEORREALISMO E O CICLO BAIANO DE CINEMA: PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO
SOBRE A CONFIGURAÇÃO DE UM IDEÁRIO ÉTICO-ESTÉTICO NA BAHIA NOS ANOS 1950 E 1960 -
Euclides Santos Mendes (UESB)
4. A VIDA É BELA E A POÉTICA CULTURAL DA VIRADA DE SÉCULO - Joslan Santos Sampaio (UESB)/
Milene de Cássia Silveira Gusmão (UESB)
18:00-19:00 - COFFEE BREAK
19:00 – CONFERÊNCIA - Cinema e Memória: entre percursos de pesquisa e processos de formação -
Milene Gusmão (UESB)
31 DE AGOSTO
8:00-12:00 - MESA 5 – A economia simbólica dos lugares: mobilidade, consumo e cidade -
COORDENADORES: Michel Nicolau Netto (Unicamp) / Artur André Lins (Unicamp)
1. ARTEFATOS, ARTÍFICES E VALORES NAS URDIDURAS DA ORIGEM: PATRIMÔNIO CULTURAL
E INDICAÇÃO GEOGRÁFICA - Artur André Lins (Unicamp)
2. POLÍTICA DA IMAGEM E ECONOMIA INDICIAL NO MOMENTO PRESERVACIONISTA DA
INVENÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS/MA - Vinícius Dino F. de C. e Costa – (Museu
Nacional)
3. SÃO MIGUEL DAS MISSÕES, DE RUÍNA A PATRIMÔNIO CULTURAL - Mônica Silvestrin – (USP )
4. OS CINEMAS DE RUA DO DISTRITO FEDERAL: VESTÍGIOS DO PROJETO DE MODERNIZAÇÃO
DO NACIONAL E POSSIBILIDADES DE PERMANÊNCIA - Flávia da Costa Ferreira Mendonça (UnB)
12:00-14:00 - ALMOÇO
14:00-17:00 - PENSAR O BRASIL EM FILMES
Comentadores: Edson Farias (UnB)/Artur Guimarães (UnB)
Mostra de Vídeos-Documentários:
O Complexo Cultural do Boi-bumbá do Médio Amazonas e Parintins - Direção: Rogério Oliveira
(UESB)
Documentários da Pesquisa Identidades e Memórias da Metrópole - Coordenação: Flávia Ferreira
(UnB)
Pré-estreia:
Até onde Pode Chegar um Filme de Família
Direção: Rodolfo Fonseca
17:00-18:00 - LANÇAMENTO DE LIVROS
A sociologia de um gênero: o baião (Segunda edição). Elder P. Maia Alves. IPHAN, Brasília, 2017.
Os trabalhadores da cultura no Brasil: criação, práticas e reconhecimento. Mariella Pitombo, Elder
P. Maia Alves e Alexandre Barbalho (Orgs.). EDUFBA, Salvador, 2017.
Economia da cultura: estatísticas e indicadores para o desenvolvimento. Elder P. Maia Alves (Org.).
São Paulo, Itaú Cultural, 2017.
Encontros com a sociologia. Lourdes Maria Bandeira, Mariza Velloso e Edson Farias (orgs). Brasília
(DF):Selo SOL.
18:00-19:00 - COFFEE BREAK
19:00 - CONFERÊNCIA - Até o fim eu vou cantar... Política das Imagens, Cor, Corpo e Performance na
trajetória de Elza Soares - Ana Paula Alves Ribeiro (UERJ)
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Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................. 7
Mesa Temática: Os usos e leituras da história em sociologia da cultura - Coordenador: Clovis
Carvalho Britto (UnB) ................................................................................................................... 8
Direito ao funeral: problematizações sobre a economia simbólica dos restos mortais do
cangaço em museus brasileiros - Clovis Carvalho Britto (UnB)................................................. 8
O Brasil e o Tropicalismo nos anos 1960: dois projetos abatidos em pleno voo - Givanildo
Brito Nunes (UESB), Milene de Cássia Silveira Gusmão (UESB)........................................... 9
O Neorrealismo e o Ciclo Baiano de Cinema: percurso teórico-metodológico sobre a
configuração de um ideário ético-estético na Bahia nos anos 1950 e 1960 - Euclides Santos
Mendes (UESB) ........................................................................................................................ 9
A vida é bela e a poética cultural da virada de século - Joslan Santos Sampaio (UESB),
Milene de Cássia Silveira Gusmão (UESB) ............................................................................ 10
Mesa Temática: A economia simbólica dos lugares: mobilidade, consumo e cidade –
Coordenadores: Michel Nicolau Netto (Sociologia/Unicamp), Artur André Lins (Mestrando em
Sociologia/Unicamp) ................................................................................................................... 11
"Artefatos, artífices e valores nas urdiduras da origem: patrimônio cultural e indicação
geográfica" - Artur André Lins – Mestrando em Sociologia/Unicamp .................................... 11
"Política da imagem e economia indicial no momento preservacionista da invenção do
centro histórico de São Luís/MA" - Vinícius Dino F. de C. e Costa - Mestrando em
Antropologia/Museu Nacional ................................................................................................ 12
"São Miguel das Missões, de ruína a patrimônio cultural" - Mônia Silvestrin – Doutoranda
em História/USP ...................................................................................................................... 12
"Os Cinemas de Rua do Distrito Federal: vestígios do projeto de modernização do nacional e
possibilidades de permanência" - Flávia da Costa Ferreira Mendonça – Graduada em
Sociologia/UnB ........................................................................................................................ 12
MESA - MERCADOS CULTURAIS-DIGITAIS: CONSTRUÇÃO DE VALOR E NOVAS RACIONALIDADES
ECONÔMICAS - Coordenadora: Thais Alves Marinho - PUC Goiás ............................................. 13
MAPEAMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA EM GOIÁS: LIMITES E POSSIBILIDADES DA RELAÇÃO
ANUAL DE INFORMAÇÕES SOCIAIS - RAIS DO MINISTÉRIO DO TRABALHO Thais Alves
Marinho – PUC Goiás .............................................................................................................. 13
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POR QUE A GASTRONOMIA FAZ PARTE DA ECONOMIA DA CULTURA Maurício Piatti – UnB 14
O QUE OS FAST-THINKERS OFERECEM A SUAS CLIENTELAS? Lidiane Soares Rodrigues -
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) ......................................................................... 14
CONTEÚDOS AUDIOVISUAIS E PLATAFORMAS DE VÍDEO SOB DEMANDA (VOD): NOVAS
CONFIGURAÇÕES DE CIRCULAÇÃO E CONSUMO CULTURAIS? Cleide Vilela - Doutoranda do
PPGSOL/UnB ............................................................................................................................ 15
Mesa temática: Questões de Psicogênese nos Processos de Circulação Cultural e de
Conhecimento - Coordenador: Edson Farias (Prof. PPGSOL/UnB; PPGMSL/UESB) .................... 15
Processos de Estigmação a partir dos odores corporais: o cheiro da cor - Maria Salete Nery
(UFRB e PPGMLS) .................................................................................................................... 15
Ayrton Senna, a Fórmula 1 e o Brasil: o espetáculo da alta excitação e redefinição da
identidade nacional moderna - Felipe dos Santos Tartas (Doutorado PPGSOL/unB)............. 16
Psicogêneses afroamericanas contemporâneas e negrofilia: um debate a partir do filme
“Corra!” - Thais Sant´Anna (Doutoranda PPGSOL/UnB) ......................................................... 16
O problema da Psicogênese em Torno das Formas Artísticas e Psíquicas - Edson Farias
(Pesquisador CNPQ; Professor PPGSOL, PPGMLS) .................................................................. 17
MESA TEMÁTICA: Para confundir o método nos estudos de memória e cultura –
Coordenadores: Bruno R. Vasconcelos (UFU) e Júlio Céesar Valente Ferreira (CEFET/RJ) ......... 17
Os Três Príncipes de Serendip e o acaso no coração do étodo Autor: Bruno R. Vasconcelos
(UFU) ....................................................................................................................................... 18
Experiências de inflexões metódicas na pesquisa sobre os blocos de enredo do carnaval
carioca. - Júlio César Valente Ferreira (CEFET/RJ) ................................................................... 19
Museus comunitários: controvérsias conceituais em um campo em definição na produção
de conhecimento sobre memórias até então omitidas ou negligenciadas - Rodolfo Nazareth
Junqueira Fonseca (UEMG) ..................................................................................................... 19
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APRESENTAÇÃO
O Seminário sobre Cultura, Memória e Desenvolvimento é um evento de abrangência
nacional, organizado pelo grupo de pesquisa Cultura, Memória e Desenvolvimento/CNPQ/UnB.
Esse grupo de pesquisa foi criado em 2002 na Universidade Federal da Bahia. Desde então, o
grupo agrega pesquisadores cujo interesse comum tem se pautado nas várias maneiras como
cultura e economia cada vez mais fazem duetos, repercutindo no plano das políticas públicas, na
produção e no acesso aos bens simbólicos, na cognição sobre os enlaces de tradição e
modernidade; campo e cidade; erudito, popular e massivo; ocidente e suas alteridades étnico-
históricas.
Atualmente, o grupo se constitui em uma rede de 26 pesquisadores e mais 20 estudantes
inseridos em 11 instituições de ensino e pesquisa distribuídas por diferentes unidades federativas
e regiões brasileiras, tendo por sede o Programa de Pós-Graduação em Sociologia da
Universidade de Brasília. O grupo é responsável pela edição da Revista Arquivos do CMD desde
2013, que tem Qualis B3 e está hospedada no Diretório de Revistas da UnB
(http://periodicos.unb.br/index.php/CMD/index). Também conta com um site:
www.culturaememoria.com.br.
Desde seu surgimento, o grupo de pesquisa organiza anualmente um encontro para
debater a temática e atrair novos(as) pesquisadores(as). O evento já foi realizado em Brasília-DF,
Vitória da Conquista-BA, Salvador-BA, Cachoeira-BA, Fortaleza-CE, entre outras cidades.
Encontra-se em sua vigésima segunda edição e em 2018, Goiânia-Goiás foi o local escolhido para
tal atividade. A PUC Goiás tem feito parte desse grupo desde 2010, e desde então, assumiu a
incumbência de desenvolver conhecimento na interface entre cultura, memória e
desenvolvimento no Estado de Goiás, e esse ano sediará a vigésima segunda edição do evento.
O XXII Seminário sobre Cultura, Memória e Desenvolvimento tem como tema central
“O MÉTODO NA PESQUISA EM CULTURA”. A proposta é discutir como produzir
conhecimento científico sobre a cultura, uma vez que ela é constitutiva da vida social e tem se
tornado cada vez mais central às estratégias de ganho e expansão econômica, configurando o
capitalismo cultural na atualidade. É um evento organizado pelo grupo de pesquisa Cultura,
Memória e Desenvolvimento/CnPQ/UnB, em parceria com o Programa de Pós-Graduação em
História da PUC Goiás.
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Mesa Temática: Os usos e leituras da história em sociologia da
cultura - Coordenador: Clovis Carvalho Britto (UnB)
Esta mesa tem como objetivo reunir trabalhos que reflitam, numa mútua implicação entre teoria
e método, sobre a historicidade dos objetos construídos pela sociologia nacional e transnacional
da cultura. Duas questões se impõem para pensar as práticas e representações em suas dimensões
espaço-temporais: os movimentos de circulação, transferência, apropriação e troca formam
configurações específicas em processos de curto, médio e longo prazo; cada interpretação das
gêneses e formações dos espaços nacionais reivindica uma supremacia exclusiva para o modelo
de cultura que elabora. Com isso, torna-se necessária a problematização, em perspectiva
comparada, de discursos e práticas que só foram possíveis em certas configurações históricas, a
exemplo das inúmeras definições de identidade nacional na disciplina de pensamento social no
Brasil. Afinal, os problemas, como os indivíduos, ideias e conceitos, também circulam de um
espaço a outro e de um tempo a outro, a exemplo das recepções de autores e obras estrangeiras
que costumam orientar nossas práticas sociológicas. Discussões sobre a apreensão de objetos
configurados e que se constituem em processos, no ângulo cruzado sócio e psicogenético,
reflexões sobre sistemas de classificação do conhecimento, como os documentos editoriais e
demais acervos, interpenetrações civilizatórias, as invenções e reinvenções de genealogias, entre
outros temas, serão os imãs do campo de forças desta mesa.
Comunicações:
Direito ao funeral: problematizações sobre a economia simbólica dos restos
mortais do cangaço em museus brasileiros - Clovis Carvalho Britto (UnB) Resumo: O trabalho investiga o colecionismo e a gestão da memória sobre restos mortais em
museus no Brasil, por meio da análise de cultura material, fotografias, textos literários, matérias
de jornal e laudos antropológicos. Para tanto, elege como estudo de caso a economia simbólica
em torno da musealização das cabeças de Maria Bonita e Lampião, agentes significativos do
cangaço, movimento social brasileiro da primeira metade do século XX. Esses artefatos foram
apresentados em cortejos fúnebres, fotografados, examinados por especialistas em medicina legal,
musealizados, enterrados e exumados, tornando-se elementos significativos no imaginário sobre
o Nordeste do Brasil. A pesquisa analisa a coleção de cabeças sob o ponto de vista do “consumo
do trágico”, sublinhando como contribuiu para as reflexões em torno da exposição de corpos
humanos e a temática da abjeção. Visualiza como a musealização contribui para a reconstrução
das interfaces entre Ciências Sociais, Museologia e museus, evidenciando as transformações
nesses artefatos: despojos humanos enquanto provas de crime; troféus de guerra; objetos
científicos e coleções museológicas, construindo uma dramaturgia da memória a partir da
exposição de restos mortais, de máscaras mortuárias e de fotografias. As análises destacam
estratégias de arquivamento, fabricação e consagração de legados nas tramas de uma economia
de símbolos sobre o cangaço e as diferentes narrativas construídas em torno dos despojos
humanos em exposições museológicas.
Palavras-chave: Museologia, Restos mortais, Cangaço, Memória, Musealização.
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O Brasil e o Tropicalismo nos anos 1960: dois projetos abatidos em pleno voo -
Givanildo Brito Nunes (UESB), Milene de Cássia Silveira Gusmão (UESB)
Resumo: O contexto político e social em que surge o Tropicalismo, movimento que entrelaçou
tendências estéticas e políticas no teatro, no cinema, nas artes plásticas e – para maior ênfase desta
proposta de trabalho – na música, na década de 1960, foi permeado por polarização política e
ideológica, com base no pano de fundo fornecido em âmbito internacional pela Guerra Fria. O
Brasil do biênio 1967-1968, quando houve o fugaz interregno tropicalista, chegava ao ápice do
processo de interrupção de um projeto de Estado que vinha em formação desde o final da Era
Vargas. Considera-se, com base em Norbert Elias (2006), a formação de Estados e a construção
de Nações como processos sui generis, de longo prazo e em permanente desenvolvimento, que
passam por momentos de avanços e retrocessos. Os avanços, aliás, podem gerar reações de
determinados estratos sociais, e, a partir daí, é possível que se retroceda em certos aspectos. Para
Elias, um dos elementos que podem mensurar o estágio de desenvolvimento de uma Nação é o
equilíbrio de forças entre os agentes responsáveis por tomar as decisões coletivas e os estratos
sociais que serão afetados por essas decisões (sem que uma dessas partes desconsidere a outra,
portanto). Com base neste referencial eliasiano, esta proposta considera o golpe civil-militar de
1964 e o AI-5, imposto em 1968, como marcos do “abatimento” de um projeto de Nação que
vinha em desenvolvimento desde os anos 1950 e atingira seu auge no início da década de 1960,
fundamentado na valorização do “nacional-popular” sob viés esquerdizante e baseado num
“romantismo-revolucionário”, “progressista” e “anti-imperialista”. Esse projeto, que já provocara
reações em momentos anteriores, foi finalmente abortado pelo golpe e substituído por outro
projeto de país: o regime ditatorial de “modernização conservadora”, baseado num modelo de
desenvolvimento que impunha a concentração de renda e o alinhamento direto aos Estados Unidos
e à sua política externa. Ambos os projetos foram defendidos por brasileiros – mas brasileiros
com ideias diferentes sobre quem protagonizaria as mudanças que consideravam necessárias para
o desenvolvimento do país. Surgido após o “abatimento” de um projeto nacional e sob a incipiente
imposição de outro modelo, o Tropicalismo foi atacado por defensores de ambos os projetos: o
de inspiração revolucionária, que o considerava “alienado”, e o conservador recém-instalado, que
prendeu Gil e Caetano e os expulsou do país. O próprio movimento acabou por ser
simbolicamente “morto” por seus próprios participantes, antes que fossem, eles mesmos,
“abatidos” pelo “moderno” Brasil que nascia.
Palavras-chave: Brasil; desenvolvimento; nacional-popular; modernização conservadora,
tropicalismo.
O Neorrealismo e o Ciclo Baiano de Cinema: percurso teórico-metodológico
sobre a configuração de um ideário ético-estético na Bahia nos anos 1950 e 1960
- Euclides Santos Mendes (UESB)
Resumo: Este trabalho tem por objetivo investigar a inserção do Neorrealismo no aprendizado
pelo e para o cinema da geração de realizadores do Ciclo Baiano de Cinema (1959-1964), num
processo decisivo para o surgimento de um fazer cinematográfico que procura refletir, em seu
modo de produção, questões de natureza social, cultural, política e econômica. Para aprofundar a
compreensão de tal processo, o diálogo com o pensamento do sociólogo Norbert Elias (Norbert
Elias por ele mesmo; A sociedade dos indivíduos; Teoria simbólica) permite pensar, para esta
pesquisa, um percurso teórico-metodológico que busca inscrever os indivíduos na cadeia das
gerações, em uma sucessão de aprendizados por meio de trajetórias e práticas ligadas à formação
de um saber social incorporado, em que memória e cultura contribuem na transmissão de saberes
e fazeres de uma geração para outra. Nesse sentido, num primeiro momento, este trabalho propõe
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analisar a contribuição de alguns agentes, considerados em suas relações uns com os outros, do
processo de formação sociocultural que permitiu o surgimento do Ciclo Baiano: Walter da
Silveira, fundador do Clube de Cinema da Bahia, em 1950, e que enfatizava a importância dos
filmes neorrealistas italianos num contexto de formação humanista; Nelson Pereira dos Santos,
diretor de Rio, 40 graus (1955), filme que, segundo Glauber Rocha, “subverteu os princípios de
produção”, “pegando gente na rua e entrando em cenários naturais”; Roberto Pires, diretor cuja
formação técnica e autodidata em cinema resultou na criação da Iglu Filmes, que produziu
Redenção (1959), longa-metragem deflagrador do Ciclo Baiano; e Glauber Rocha, diretor e
formulador teórico-crítico da configuração de um ideário geracional sobre um novo cinema
brasileiro, expresso inicialmente no filme Barravento (1962) e no livro Revisão crítica do cinema
brasileiro (1963). Em Salvador, a cinefilia despontava em meio ao fervilhante ambiente
sociocultural da cidade nos anos 1950, marcado pela valorização das culturas populares, por
experiências educacionais renovadoras – como a criação da Escola Parque, pelo educador Anísio
Teixeira, e das escolas de teatro, dança e música da Universidade da Bahia, pelo reitor Edgard
Santos – e pela confluência de artistas nacionais e estrangeiros. Nesse processo, os jovens
cinéfilos baianos descobriram as potencialidades do cinema brasileiro por meio de obras como
Rio, 40 graus, um filme, segundo Glauber, “revolucionário para e no cinema brasileiro”, pois
mostrava que “era possível, longe dos estúdios babilônicos, fazerem-se filmes no Brasil”. Essa
possibilidade de produzir filmes de baixo custo está inserida num modo de fazer cinema cuja
matriz é neorrealista. Houve, então, o encontro das experiências decorrentes da Iglu Filmes e do
Clube de Cinema, resultando em dois filmes que apontam uma tendência neorrealista no Ciclo
Baiano: A grande feira (1961), dirigido por Roberto e produzido por Glauber, e Barravento
(1962), dirigido por Glauber, produzido por Roberto e montado por Nelson. Num segundo
momento, esta pesquisa volta-se, portanto, para a análise de A grande feira e Barravento, a fim
de compreender a expressão, na forma fílmica, de elementos constituidores de um ideário
neorrealista inscrito na formação de uma geração marcada pela descoberta do cinema como
expressão sociocultural brasileira.
Palavras-chave: Neorrealismo, Nelson Pereira dos Santos, Roberto Pires, Glauber Rocha, Ciclo
Baiano de Cinema.
A vida é bela e a poética cultural da virada de século - Joslan Santos Sampaio
(UESB), Milene de Cássia Silveira Gusmão (UESB)
Resumo: Este artigo tem como questão central compreender as condições de possibilidades que
permitiram a consecução do filme A vida é bela, de Roberto Benigni, e o seu polêmico
reconhecimento. Observando a fortuna crítica dedicada ao filme, encontraremos uma miríade de
interpretações que o sedimentou fortemente como o filme de língua não inglesa mais polêmico
da história. Ao mesmo tempo que o filme foi celebrado devido a conquista de vários prêmios em
várias partes do mundo, a estratégia enunciativa utilizada por Roberto Benigni para comunicar o
evento que é considerado o mais trágico da história, qual seja: o holocausto, foi extremamente
criticado. São esses os elementos fundamentais que se repetem na maior parte das descrições
sobre o filme e que foi o ponto de partida para o trabalho aqui apresentado. Dessa variedade de
interpretações sobre o filme em tela, emergiram duas inquietações que despertaram nossa
curiosidade, a saber: Quais as condições de possibilidades que permitiram a consecução da
narrativa cinematográfica A vida é bela? Como se configurou as condições para uma repercussão
e reconhecimento mundial do filme? Dessas duas interpelações nasceu nossa pesquisa. É
justamente na busca de tentar responder essas interrogações que faremos uma reflexão sobre a
ordem do tempo em que foi produzido o filme em tela, pois consideramos que quem busca
compreender uma obra relacionada ao mundo social, deve correlacioná-la em termos de uma
dialética com a poética cultural de seu tempo. Ante tal proposição, destaquemos que a locução
poética cultural mobilizada pelo historiador Stephen Greenblatt, tem como mote articular as
escolhas assumidas pelo criador em uma expressão cultural com os códigos normativos de uma
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época. Essa dinâmica implica saber que não se trata apenas de reconstituir o contexto social do
filme mais famoso de Roberto Benigni. A dinâmica é pensar a narrativa fílmica como uma
expressão portadora de regras de produção de um lugar e período específico. Isso significa dizer
que certas escolhas, certos comportamentos, certas ações tomadas para a produção fílmica são
mais possíveis do que outras devido ao intercambio que o criador tem com os signos de sua época.
Nesse sentido, o filme de Benigni narrou o holocausto de uma maneira específica. Por essa razão,
esquadrinhar e refletir sobre a ordem do tempo em que foi produzido A vida é bela, a saber, o
final do século XX, tornou-se elemento fulcral para compreendermos a produção, a aceitação e a
repercussão do filme supracitado.
Palavras-chave: A vida é bela; Poética Cultural; Roberto Benigni.
Mesa Temática: A economia simbólica dos lugares: mobilidade,
consumo e cidade – Coordenadores: Michel Nicolau Netto
(Sociologia/Unicamp), Artur André Lins (Mestrando em
Sociologia/Unicamp) A proposta deste grupo de trabalho é o diálogo entre pesquisas que têm como foco a investigação
de imagens e imaginários associados a "lugares". No contexto da competição global entre lugares,
nos indagamos a respeito dos móbeis e artífices que são articulados na produção simbólica desses
lugares como forma de justificação de valores a serem negociados em distintas escalas locais,
regionais e globais. Para fomentar o debate, acatamos trabalhos que reflitam sobre os fluxos, as
sedimentações e os agentes sociais implicados nas mais diversas configurações simbólicas do
"lugar" no mundo contemporâneo. Queremos permear, mediante determinado núcleo
problemático, reflexões que possam versar sobre estetização da vida cotidiana, requalificação dos
espaços urbanos, indústria do entretenimento-turismo, gastronomia, moda, patrimônio cultural,
megaeventos e as demais atividades de caráter lúdico-artístico que tomam por referência o sentido
dos lugares.
COMPOSIÇÃO:
"Artefatos, artífices e valores nas urdiduras da origem: patrimônio cultural e
indicação geográfica" - Artur André Lins – Mestrando em Sociologia/Unicamp Resumo: O objetivo dessa comunicação é apresentar o problema e a estratégia de
desenvolvimento da pesquisa de mestrado em andamento. Darei início a partir de um
duplo estranhamento: 1) o problema da origem: como é possível um objeto-artefato ter
um “lugar de origem” ou mesmo uma “tradição de origem”?; 2) o problema do valor:
como é possível um objeto de manufatura artística, tornando-se mercadoria, ser
mercantilizado? Posteriormente, ao qualificar o contexto sócio-histórico dessa pesquisa,
faço alusão aos dois sistemas de certificação que balizaram a escolha do tema: o Registro
do Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial e a Indicação Geográfica. Para localizar o
objeto de investigação, apresento alguns dados e uma reflexão sobre o setor do artesanato
no Brasil contemporâneo. Em seguida, passo a um detalhamento dos dois casos empíricos
de análise e o critério de escolha: a Renda Irlandesa/SE e o Bordado Filé/AL. Por fim,
anuncio a minha estratégia de pesquisa em três polos de investigação: 1) organização:
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relações de trabalho e forma associativa; 2) lugar/paisagem: o artesanato enquanto ícone
da identidade regional e elemento da paisagem turística; 3) circulação: comercialização e
exposição.
"Política da imagem e economia indicial no momento preservacionista da
invenção do centro histórico de São Luís/MA" - Vinícius Dino F. de C. e Costa -
Mestrando em Antropologia/Museu Nacional Resumo: O objetivo geral da comunicação é discutir a noção de economia simbólica,
tema da mesa, a partir do caso empírico da paisagem urbana do centro histórico da cidade
de São Luís, Maranhão. Na primeira parte da fala, apresento de forma sintética o itinerário
de investigação realizado na monografia A invenção do centro histórico de São Luís/MA:
sentidos de um lugar de memória (2017), que busca analisar o processo de construção
simbólica dessa paisagem debruçando-se sobre duas figurações (Elias) decisivas:
preservacionismo e reconstrução. Na segunda parte, mais extensa, busco reinterpretar
alguns materiais referentes ao momento preservacionista, e desenvolver uma intuição
esboçada na monografia, a saber, a ideia de que de que as políticas da imagem (Gruzinski)
envolvidas na preservação da paisagem do centro antigo se constituem simultaneamente
como uma economia da imagem. Assim, dialogo com o conceito de economia icônica de
Marie-José Mondzain e com a teoria dos signos de Charles Sanders Peirce para propor o
conceito de economia indicial, pensando a paisagem urbana como um conjunto de signos
que na tricotomia peirceana de ícones, símbolos e índices pertence à categoria destes
últimos (signos que operam por contiguidade espacial, e não por semelhança visual ou
convenção). O objetivo dessa discussão é sugerir uma releitura “espacializante” do
conceito bourdieusiano de simbólico, devedor das matrizes neokantiana e estruturalista,
a partir da perspectiva filosófica alternativa da semiótica.
"São Miguel das Missões, de ruína a patrimônio cultural" - Mônia Silvestrin –
Doutoranda em História/USP Resumo: Esta fala se estrutura em torno das questões tratadas na pesquisa de doutorado
sobre o processo de constituição das ruínas da redução jesuítica de São Miguel Arcanjo,
no Rio Grande do Sul, em patrimônio cultural, privilegiando a análise da atuação do
IPHAN nesse processo. Mais do que um bem cultural canônico - tanto em relação à
atuação institucional quanto à constituição de memórias e identidades regionais - São
Miguel articula também uma série de narrativas específicas sobre a experiência
missioneira que, em diálogo com a historiografia vigente em diferentes momentos, não
podem ser dissociadas dos percursos de sua construção como objeto patrimonial. Nesse
sentido, o bem cultural explicita, por meio de suas diferentes dimensões, a trajetória de
constituição das práticas de preservação do patrimônio cultural no Brasil.
"Os Cinemas de Rua do Distrito Federal: vestígios do projeto de modernização do
nacional e possibilidades de permanência" - Flávia da Costa Ferreira Mendonça –
Graduada em Sociologia/UnB Resumo: Dos vários cinemas de rua que um dia existiram no Distrito Federal, apenas
dois deles ainda funcionam como exibidores de filmes, em funcionamento regular e com
cobrança de ingressos – segundo metodologia utilizada pela Agência Nacional do Cinema
(Ancine) para qualificar exibidores em atividade no país. O Cine Brasília e o Cine Drive-
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In, ambos localizados no Plano Piloto de Brasília, são os únicos cinemas que ainda
ocupam as ruas da cidade, na contramão do movimento de migração dos exibidores das
ruas para o interior de centros comerciais. Sendo assim, a intenção da pesquisa era
“ampliar os horizontes do já conhecido” (KOFES, 2001, p. 16) sobre esses dois cinemas
de Brasília, ao passo em que compreender como fizeram seus mantenedores, entusiastas
e frequentadores para que permanecessem nas ruas da cidade. As memórias reavivadas
no desenvolvimento do projeto são elementos significativos para a composição de uma
cartografia de “espaços de significação” do DF, proposta de pesquisa coletiva que deu
origem ao trabalho em questão.
MESA - MERCADOS CULTURAIS-DIGITAIS: CONSTRUÇÃO DE
VALOR E NOVAS RACIONALIDADES ECONÔMICAS - Coordenadora:
Thais Alves Marinho - PUC Goiás Diante da profusão do processo de digitalização do simbólico, da complexificação e das
interdependência entre arte, tecnologia, inovação, entretenimento e cultura, esta mesa
abriga proposta de pesquisa buscam objetivar as novas e antigas interfaces entre a
dimensão simbólica e econômica no mundo contemporâneo. A proposta é
suficientemente ampla e abrangente para acolher pesquisas incipientes, em curso ou em
conclusão que tencionam explorar e revelar as assimetrias e distinções entre o consumo
cultural e o consumo cultural-digital; a profusão e impacto econômico dos novos serviços
culturais-digitais; a consolidação político-governamental da agenda envolvendo cultura e
desenvolvimento; a profusão de redes de negócios culturais-digitais; entre outros
aspectos.
MAPEAMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA EM GOIÁS: LIMITES E POSSIBILIDADES DA
RELAÇÃO ANUAL DE INFORMAÇÕES SOCIAIS - RAIS DO MINISTÉRIO DO TRABALHO
Thais Alves Marinho – PUC Goiás
Resumo: Em um cenário onde o domínio do simbólico e a esfera econômica se tornam
centrais às estratégias de ganho e expansão econômica configurando um capitalismo
cultural, a economia criativa tem se estabelecido como uma alternativa concreta de
desenvolvimento. Esse setor envolve o simbólico e a criatividade, se alimenta das
tradições e das tecnologias, invade o meio urbano e o rural, se ampara na propriedade
intelectual e no turismo, se vale das tecnologias e das tradições, agregando, portanto, uma
vasta gama de possibilidades. A complexidade, fluidez e dinamicidade da economia
criativa, assim, não são facilmente captadas pelas metodologias de mapeamento desse
campo. Por isso, esse artigo se propõe a analisar os limites e as possibilidades da
metodologia utilizada no mapeamento da Economia Criativa do Estado de Goiás,
realizada pelo Observatório de Economia Criativa do Estado de Goiás – OBEC-GO,
gerido pelo MEdiaLAb da Universidade Federal de Goiás, financiado pelo Ministério da
Cultura, que contou também com a Parceria do Laboratório de Economia Criativa do
Estado de Goiás da PUC Goiás. A metodologia utilizada consistiu na reconstrução das
cadeias produtivas de cada um dos cinco grandes setores da economia criativa -
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Patrimônio (Patrimônio Material, Patrimônio Imaterial, Arquivos, Museus), expressões
culturais (Artesanato, Culturas Populares, Culturas indígenas, Culturas Afro-brasileiras,
Artes Visuais, Arte Digital), artes de espetáculo (Dança, Música, Circo, Teatro),
audiovisual/do livro, da leitura e da literatura (Cinema e Vídeo, Publicações e mídias
impressas), criações culturais e funcionais (Moda, Design, Arquitetura) – e se valeu das
informações obtidas com a Classificação Brasileira das Ocupações – CBO e da
Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE, que constituem a Relação
Anual de Informações Sociais – RAIS do Ministério do Emprego e do Trabalho. Os
resultados obtidos com o mapeamento do Estado de Goiás também serão apresentados.
POR QUE A GASTRONOMIA FAZ PARTE DA ECONOMIA DA CULTURA
Maurício Piatti – UnB
Resumo: É evidente que o ato de comer não significa a mesma coisa em diferentes
lugares e contextos históricos. Por efeito da internacionalização da gastronomia enquanto
universo estético, observa-se hoje uma mudança significativa nos padrões de consumo e
nas proposições de valor dos restaurantes de uma metrópole como São Paulo. Torna-se
cada vez mais palpável socialmente a ideia de que a comida é um bem cultural como
outro qualquer e de que o chef de cozinha é uma espécie de criador cultural do sentido
simbólico e material da comida oferecida. O intento da presente comunicação é analisar
as tensões trazidas por esse novo mercado em formação, que tem entre suas características
centrais o aumento do prestígio dos chefs de cozinha e a crescente midiatização do ato de
comer fora de casa.
O QUE OS FAST-THINKERS OFERECEM A SUAS CLIENTELAS?
Lidiane Soares Rodrigues - Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
Resumo:A conquista da Presidência da República pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e
suas três vitórias eleitorais sucessivas em âmbito federal (2006, 2010, 2014) provocaram
uma reviravolta na topografia política. Enquanto uma esquerda histórica transformou-se
em “situação”, ao exercer o poder executivo; as direitas transformaram-se em “oposição”,
ao lado das demais frações da esquerda. Na esfera política, os partidos aliados e
concorrentes do PT, e, na esfera cultural, os intelectuais e artistas, históricos apoiadores
do PT ou críticos dele, foram instados a reconstruírem suas maneiras de intervenção face
às novas posições políticas disponíveis. Este artigo trata de um setor particular da
reconfiguração do trabalho de dominação política e produção simbólica oriundas desta
reviravolta. Imperceptível e lentamente, um perfil de intelectual até então embrionário,
estabeleceu-se, construindo um mercado de reações às gestões petistas. Alguns são
jornalistas, outros, sem que o sejam em estrito senso, têm praticado o comentarismo
político e construíram carreiras a partir de espaços restritos ou ampliados de produção e
circulação das ciências humanas. Nesta apresentação trata-se das práticas e as demandas
simbólicas das clientelas – isto é, um conjunte de agentes híbridos cuja conduta varia do
aluno/leitor ao seguidor/fã – dos seguintes “intelectuais”: Olavo de Carvalho; Demétrio
Magnoli; Marco Antonio Villa; Reinaldo Azevedo; Luiz Felipe Pondé; Rodrigo
Constantino; Leandro Karnal. Argumenta-se, demonstrando, que entre os sentidos das
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demandas endereças a eles pelas clientelas divergem do sentido que eles próprios
atribuem a suas práticas e conteúdos discursivos. Enquanto eles as enquadram
politicamente; elas buscam satisfazer outras necessidades (afetivas, de reconhecimento,
etc).
CONTEÚDOS AUDIOVISUAIS E PLATAFORMAS DE VÍDEO SOB DEMANDA (VOD):
NOVAS CONFIGURAÇÕES DE CIRCULAÇÃO E CONSUMO CULTURAIS?
Cleide Vilela - Doutoranda do PPGSOL/UnB
Resumo:A área do audiovisual, nos últimos anos, passou por uma série de mudanças
tecnológicas que interferem na política, na economia e no consumo de seus conteúdos.
No âmbito brasileiro, a Agência Nacional de Cinema (ANCINE) operou uma série de
políticas e regulamentações cujas consequências podem ser vistas no aumento do número
da produção cinematográfica e na maior circulação de seus conteúdos se comparadas aos
números com os da década de 1990. Contudo, a circulação de conteúdos audiovisuais foi
ampliada para uma série de plataformas digitais a partir dos anos 2000, sobretudo, o vídeo
sob demanda (VOD). Nesta comunicação, gostaríamos de discutir de que maneira esses
novos modelos de circulação e distribuição interferem na produção dos conteúdos
nacionais.
Mesa temática:
Questões de Psicogênese nos Processos de Circulação Cultural e
de Conhecimento - Coordenador: Edson Farias (Prof.
PPGSOL/UnB; PPGMSL/UESB)
Comunicações:
Processos de Estigmação a partir dos odores corporais: o cheiro da cor - Maria
Salete Nery (UFRB e PPGMLS)
Resumo: Do ponto de vista do europeu de séculos XVIII e XIX, o povo, em sua
animalidade, preferia perfumes fortes e de base animal. Quanto aos povos de outros
continentes, em especial negros, afirmava-se simplesmente que fediam (Classen et al,
1996, Corbin, 1986, Reinarz, 2014). Segundo Elias e Scotson (2000), os processos de
estigmatização se fundam, primacialmente, em traços diferenciais que dizem respeito às
aparências para facilmente identificar o diferente, aquele que deve ser lançado à condição
de outsider. No caso do Brasil não foi/é diferente. Aos negros foi/é atribuído um odor
específico a partir do qual foram/são marginalizados e diminuídos em sua autoestima.
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Conforme Elias e Scotson, os estigmas são uma justificativa construída por um grupo
para se autoperceber e impor a visão de que é superior em poder por serem seres
humanamente superiores, e a consequência pode ser o grupo inferiorizado se julgar
efetivamente inferior. O grupo que se julga superior, conforme Reinarz (2014), costuma
se perceber como não portador de odores. Aqui devemos acrescentar à compreensão do
autor que a separação natureza e cultura tem implicações nessa forma de autopercepção.
Negar a existência do odor do grupo é, neste contexto, afirmar que se é humano enquanto
o outro é animal. Aquilo que é construção social se torna “repulsa física, enraizada numa
experiência com uma forte conotação emotiva de desagrado corporal” (Grossi, 2003, p.
168). O argumento se torna biológico. A proposta deste trabalho é compreender a relação
possível entre processos sociais de estigmatização a partir dos odores corpóreos,
autoestima e sua conversão em padrões de conduta e consumo a partir de gostos
entendidos como apenas pessoais.
Ayrton Senna, a Fórmula 1 e o Brasil: o espetáculo da alta excitação e redefinição
da identidade nacional moderna - Felipe dos Santos Tartas (Doutorado
PPGSOL/unB) Resumo: O espaço social em que se desenvolve o espetáculo da Fórmula 1 se tornou
propício, devido às suas características e ao colocar corpos em situações de alta excitação,
a moldar relações afetivas entre esses corpos e os signos constitutivos de identidades
nacionais. Os esportes de alto rendimento em suas disputas internacionais reúnem uma
série de signos intimamente ligados a nacionalidades explicitando suas diferenças, como
também definindo o valor nas disputas realizadas. Os sucessos e fracassos esportivos dos
atletas também são sentidos pelos espectadores que coparticipam dos dramas
desenvolvidos. O sucesso pessoal de Ayrton Senna em sua carreira automobilística pela
Fórmula 1 é sentido como o sucesso da nova formação da identidade nacional brasileira
moderna. Esta comunicação tem o interesse de investigar os efeitos da configuração do
espaço social automobilístico internacional na formação de identidades nacionais.
Psicogêneses afroamericanas contemporâneas e negrofilia: um debate a partir
do filme “Corra!” - Thais Sant´Anna (Doutoranda PPGSOL/UnB)
Resumo: A comunicação resulta de etnografia do filme “Corra!” (2017), de modo a
elucidar como a trama desvela o contexto das relações raciais contemporâneas nos
Estados Unidos e sua interface com a ideias de diversidade, cultura e economia simbólica,
cujo debate e valorização se destacam na contemporaneidade. O filme é visto aqui como
um interlocutor para pensar de que modo as categorias de raça e diversidade cultural tem
sido mobilizadas no contexto estadunidense, suas ligações com o processo de
culturalização da economia e os impactos de seus desdobramentos sobre a população
negra e branca nos Estados Unidos. Mas, ainda mais importante, de que modo o filme e
estes processos revelam a formação de novos debates em torno de psicogêneses e
sociogêneses da população afroamericana nos EUA. Neste sentido, o conceito de
negrofilia, como proposto pela socióloga inglesa, de ascendência jamaicana, Petrine
Archer-Straw atua na interface entre estas duas dimensões. No caso do filme, a paixão de
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uma elite branca liberal pela ideia de diversidade cultural, através da negritude, levada às
últimas consequências por meio do gênero cinematográfico terror; e, ao mesmo tempo, a
exposição das percepções e sentimentos de um homem negro de si mesmo na vivência
entre pessoas brancas e em um relacionamento interracial. Assim, a etnografia do filme
pretende evidenciar de que modo a obra se insere no contexto social em que foi produzida,
entre debates sobre uma era pós-racial e movimentos sociais de supremacia branca, mas
também como a trama fílmica pode ser capaz de instaurar sentidos na sociedade
estadunidense.
O problema da Psicogênese em Torno das Formas Artísticas e Psíquicas - Edson
Farias (Pesquisador CNPQ; Professor PPGSOL, PPGMLS)
Resumo: Nesta comunicação, o debate sobre a teoria da cultura estará referido à
problema envolvendo processos de simbolização ao desenvolvimento de esquemas de
autorregulação por parte de indivíduos humanos, mas inscritos em redes de
interdependências sócio-históricas. Portanto, o fio comum da argumentação desenvolvida
gira em torno da correlação psicogênese e sociogênese. Considerando a amplitude do
problemática, optou-se por uma abordagem que privilegiará o entrosamento da forma
artística com específicas economias psíquicas como objeto de conhecimento, mas pelo
viés da teoria genético-estrutural da cultura. Deste ponto de vista, a prioridade
metodológica da proposta parte da seguinte pergunta: no exercício analítico de verificar
um padrão de subjetivação artística, como identificar suas propriedades sem isola-las,
tampouco retira-las das dinâmicas históricas? Enfim, enfocar-se-á a problematização
acerca da autoria artística em sincronia com os regimes que lhe emolduram em contextos
sócio-históricos. Deste modo, a narrativa da apresentação estará distribuída em duas
partes. Na primeira, expõe-se a problemática em torno da autoria e os seus regimes. Além
disso, dedica-se à apresentação da teoria genético estrutural da cultura. Já a segunda parte
estará orientada à análise de teorias. Contudo, embora muitas outras perspectivas teórico-
analíticas pudessem ser focalizadas, iremos conferir atenção ao olhar lançado por Pierre
Bourdieu ao pintor Manet, considerando o tripé analítico sistemas gerativos de práticas,
a inércia histórica do instituído e a mudança sociocultural. Também nos voltaremos à
aplicação da teoria dos processos civilizadores ao drama socioexistencial de Mozart, na
obra assinada por Norbert Elias.
MESA TEMÁTICA: Para confundir o método nos estudos de
memória e cultura – Coordenadores: Bruno R. Vasconcelos (UFU)
e Júlio Céesar Valente Ferreira (CEFET/RJ)
A proposta é a de tencionar a reflexão sobre os métodos de apreensão da memória e da
cultura, considerando a memória nas concepções de temporalidade a posteriori e ilusão
retroativa e suas três problemáticas: os lugares de memória, os atravessamentos dos
conceitos de memória individual, social e coletiva e os deveres e abusos da memória e do
esquecimento. Nesse sentido, método é tomado em uma acepção ampliada, abrangendo
técnicas de investigação e leituras do fenômeno investigado. Quais abordagens e
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aproximações se revelariam mais férteis para compreensão da memória e da cultura?
Podemos realizar uma pesquisa em memória e/ou em cultura somente com técnicas
metodológicas ou precisamos nos deter num método, na certeza de que seu não
escrutinamento inviabilizaria uma suposta autoridade acadêmica? Ainda é possível falar
de “método e verdade”? Ou chegou a hora de falar de “método e narrativa”, o método
como narrativa ou o próprio método percorrer diversas encruzilhadas quando o campo
nos afronta em nossas certezas epistemológicas? Sugerimos a implicação de que as
realidades contemporâneas se atravessam pela contradição, onde discursos múltiplos se
entrecruzam em profusão, tanto na dimensão da construção identitária, quanto nas
territorialidades e lugares culturais, que se configuram através, ou de forma contrária, da
questão do descentramento. A reflexão sobre o método pode nos auxiliar ainda a pensar
sobre as modalidades de compreensão da memória e da cultura? Seja refletindo sobre as
lógicas da discursividade e do poder, do ocaso e do resgate da tradição, ou mesmo das
possibilidades abertas pelas vias da reterritorialização/descodificação? A mesa pretende,
pois, debater trabalhos que se debrucem sobre a questão da memória e da cultura em suas
distintas disposições metódicas.
COMUNICAÇÕES:
Os Três Príncipes de Serendip e o acaso no coração do étodo
Autor: Bruno R. Vasconcelos (UFU) Resumo: Confundir o método é lançá-lo num exame crucial, que o inquira até as últimas
consequências, é, talvez, tencioná-lo ao ponto do arrebatar da loucura. Proponho que
venhamos a discutir não um para-além-do-método, mas a possibilidade de traduzir
métodos esquecidos e/ou ossificados pela reprodução não reflexiva, através de uma
dialética negativa que os faça, mais uma vez, retorcer seus limites. Horace Walpole foi
quem presumidamente trouxe ao uso comum um anglicismo, que norteia minha
investigação: Serendiptia, ou, serendipidade, termo que quer referir-se ao fator
aparentemente acidental de certas descobertas, que deixa intacto o ingrediente do acaso
na produção do achado e da criatividade. O termo tem suas raízes na literatura italiana do
século XIV, que deve ter recebido do trânsito com o oriente essa interessante estória.
Trata-se do conto Os Três Príncipes de Serendip, que identificam com precisão um
camelo que jamais haviam visto, concluem que o mesmo era coxo, cego de um olho, sem
um dos dentes e, transportava, além de mel e manteiga, uma mulher grávida. Tais
descobertas os levam a desvelar o mistério de um crime, mas o que aqui nos interessa é a
capacidade indiciária dos três príncipes que, através da análise detalhada dos vestígios,
revelam aquilo que poderíamos muito bem assumir como o avesso da cena. O conto nos
serve como inspiração para repensar a posição do método nos estudos de cultura,
traduzindo e resgatando o próprio método da serendipidade ou indiciário, que Merton já
havia referenciado, para pensar sociedades perfuradas por traços esquizofrênicos. Os
objetos sociais poderiam ser melhor pensados desde o avesso, e as metodologias que
manejamos hoje, talvez sejam enquadres que nos inviabilizem revolver as cenas sociais.
Sugiro tentar pensar a descoberta social dessas sociedades que Deleuze caracterizou como
esquizofrênicas, em que os discursos não estão dispostos em estruturas triangulares,
através da relação entre serendipidade, do conceito de acontecimento recentemente
estudado por Zizek e do método benjaminiano que deixa em suspenso constelações
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dialéticas para serem perscrutadas através do potencial alegórico da dialética. O acaso só
favorece a mente preparada, mas nos preparamos metodicamente de tal forma, que o
acaso, por nós, pode não mais ser percebido.
Experiências de inflexões metódicas na pesquisa sobre os blocos de enredo do
carnaval carioca. - Júlio César Valente Ferreira (CEFET/RJ)
Resumo: Esta comunicação tem como objetivo explanar os caminhos percorridos na
pesquisa relativa aos blocos de enredo e seus lugares e significados na configuração do
carnaval carioca. A partir do trabalho empreendido junto às agremiações pesquisadas e à
entidade gestora de seus desfiles, além do material obtido em outras fontes, a memória
entendida em um sentido ampliado, também como técnica de produção de conhecimento,
impôs uma série de inflexões metódicas, as quais, em determinados momentos, revelou-
se como potencial desconstrutora das próprias representações sociais que estas
organizações manifestam através de seus membros.
Museus comunitários: controvérsias conceituais em um campo em definição na
produção de conhecimento sobre memórias até então omitidas ou
negligenciadas - Rodolfo Nazareth Junqueira Fonseca (UEMG)
Resumo: Este trabalho expõe e problematiza teoricamente parte do processo e
controvérsias conceituais existentes no processo de formação do conceito de Museu
Comunitário, dentro do campo da museologia e através de questionamentos das ciências
sociais, tendo como perspectiva a legitimação da categoria como campo de produção de
conhecimentos sobre memórias até então omitidas ou negligenciadas.