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SENADO IMPERAL ANNO DE 18 75 LIVRO 6 ANAIS DO SENADO Secretaria Especial de Editoração e Publicações - Subsecretaria de Anais do Senado Federal TRANSCRIÇÃO

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SENADO IMPERAL

ANNO DE 1875LIVRO 6

ANAIS DO SENADO

Secretaria Especial de Editorao e Publicaes - Subsecretaria de Anais do Senado Federal

TRANSCRIO

yuribeloCaixa de texto ANNAES DO SENADO DO IMPERIO DO BRAZIL

SENADO

79 SESSO EM 1 DE SETEMBRO DE 1875. PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE JAGUARY.

Summario. Expediente. Parecer da commisso do oramento. Parecer da commisso de penses e ordenados. Parecer da commisso de instruco publica. Ordem do Dia. Votao. Garantia de emprestimo companhia de Macab e Campos. Discursos dos Srs. Nunes Gonalves e Anto. Discurso e emenda do Sr. Pompeu. Decreto n. 5983. Discurso dos Srs. Saraiva, Zacarias, Nunes Gonalves e visconde do Rio Branco.

As 11 horas da manh, fez-se a chamada e acharam-se presentes 30 Srs. senadores, a saber: visconde de Jaguary, Almeida e Albuquerque, baro de Mamanguape, Dias de Carvalho, Cruz Machado, Luiz Carlos, Jobim, Silveira Lobo, baro de Maroim, visconde de Abaet, baro de Camargos, baro de Cotegipe, duque de Caxias, Nunes Gonalves, Chichorro, baro da Laguna, visconde do Rio Grande, Barros Barreto, Mendes de Almeida, Junqueira, Diniz, marquez de S. Vicente, Paranagu, visconde de Muritiba, Teixeira Junior, Ucha, Cavalcante, Vieira da Silva, Godoy, visconde do Rio Branco e Saraiva.

Compareceram depois os Srs. Zacarias, visconde de Camaragibe, baro de Pirapama, visconde do Bom Retiro, Anto, Leito da Cunha, visconde de Caravellas, visconde de Nitheroy, Figueira de Mello, Sinimb, Paes de Mendona, Pompeu, Ribeiro da Luz e visconde de Inhomirim.

Deixaram de comparecer com causa participada os Srs. conde de Baependy. Firmino, Paula Pessoa, Cunha Figueiredo, Silveira da Motta e Nabuco.

Deixaram de comparecer sem causa participada os Srs. baro de Souza Queiroz, Jaguaribe, Octaviano, Fernandes da Cunha, e visconde de Suassuna.

O Sr. presidente abriu a sesso.

Leu-se a acta da sesso antecedente, e, no havendo quem sobre ella fizesse observaes, deu-se por approvada.

O Sr. 1 secretario deu conta do seguinte

EXPEDIENTE.

Cinco officios de 30 do mez proximo findo, do 1 secretario da camara dos Srs. deputados, remettendo as seguintes proposies.

A assembla geral resolve: Art. 1 So concedidas duas loterias em

beneficio da Santa Casa de Misericordia da cidade de Theresina, capital da provincia do Piauhy.

Art. 2 Ficam revogadas as disposies em contrario.

Pao da camara dos deputados, em 30 de Agosto de 1875. Manoel Francisco Corra, presidente. Manoel Pinheiro de Miranda Osorio, 1 secretario interino. Dr. Heleodoro Jos da Silva, 2 secretario interino.

A assembla geral resolve: Art. 1 So concedidas 12 loterias para as

obras do hospital de alienados da cidade da Fortaleza, provincia do Cear.

Art. 2 Ficam revogadas as disposies em contrario.

Pao da camara dos deputados, em 30 de Agosto de 1875. Manoel Francisco Corra, presidente Manoel Pinheiro de Miranda Osorio, 1 secretario interino. Dr. Heleodoro Jos da Silva, 2 secretario interino.

A assembla geral resolve: Art. 1 So concedidas quatro loterias, que

correro desde j em beneficio da casa de caridade e obras da matriz da cidade de Arassuahy; e duas em beneficio das igrejas matrizes da cidade do Rio Pardo, e de Itinga, na provincia de Minas Geraes.

Art 2 Ficam revogadas as disposies em contrario.

Pao da camara dos deputados, em 30 de Agosto de 1875. Manoel Francisco Corra, presidente. Manoel

2 Sesso em 1 de Setembro Pinheiro de Miranda Osorio, 1 secretario interino. Dr. Heleodoro Jos da Silva, 2 secretario interino.

A assembla geral resolve: Art. 1 So concedidas tres loterias em beneficio do

Lyceu de Artes e Officios da capital da provincia da Bahia. Art. 2 Ficam revogadas as disposies em

contrario. Pao da camara dos deputados, em 30 de Agosto

de 1875. Manoel Francisco Corra, presidente. Manoel Pinheiro de Miranda Osorio, 1 secretario interino. Dr. Heleodoro Jos da Silva, 2 secretario interino.

A commisso de fazenda. A assembla geral resolve: Art. 1 Fica o governo autorisado para mandar

admittir matricula do 3 anno da faculdade de direito de S. Paulo o estudante Pacifico da Silva Castello Branco Junior e, no prazo legal, ao exame das materias do mesmo anno.

Art. 2 Ficam revogadas as disposies em contrario.

Pao da camara dos deputados, em 30 de Agosto de 1875. Manoel Francisco Corra, presidente. Manoel Pinheiro de Miranda Osorio, 1 secretario interino. Dr. Heleodoro Jos da Silva, 2 secretario interino. A commisso de instruco publica.

O Sr. 2 secretario leu os seguintes pareceres:

DA COMMISSO DE INSTRUCO PUBLICA.

DISPENSA A ESTUDANTES.

Isaias Martins de Almeida, por falta de preparatorios que no diz quaes sejam, no pde matricular-se na faculdade de direito do Recife; allega frequencia sem matricula e requer permisso para fazer exame do 1 anno para o que obteve uma resoluo n. 223 do corrente anno da camara dos Srs. deputados; a commisso de instruco publica de parecer que seja rejeitada a dita resoluo.

No mesmo caso se acha Christovo Breckenfeld Vieira da Silva, que obteve da camara dos Srs. deputados a resoluo n. 231 do corrente anno, a qual props a commisso que seja igualmente rejeitada.

Sala das commisses em 31 de Agosto de 1875. Jos Martins da Cruz Jobim. Joaquim Delfino Ribeiro da Luz Visconde de Camaragibe.

Luiz Bezamat, estudante do 4 anno da faculdade de direito do Recife, pede permisso para fazer exame do 5 depois de approvado no 4, sendo dispensado da frequencia do dito 5 anno o que contrario letra dos estatutos; portanto de parecer a commisso de instruco publica que seja rejeitada a resoluo n. 237 do corrente anno vinda da camara dos Srs. deputados.

O mesmo favor requer Joaquim dos Reis Magalhes, estudante do 1 anno da faculdade de medicina da Bahia em relao ao 1 anno que frequenta ficando dispensado da frequencia do 2; a commisso prope igualmente a rejeio da resoluo n. 222 do corrente anno, vinda da camara dos Srs. deputados.

Igual favor requer Domingos Lyra da Silva, estudante do 2 anno da faculdade de medicina do Rio de Janeiro, ficando dispensado da frequencia do 3 anno; a commisso prope a rejeio da resoluo da camara dos Srs. deputados n. 232 do corrente anno que lhe concede a dito dispensa.

Sala das commisses em 31 de Agosto de 1875. Jos Martins da Cruz Jobim. Joaquim Delfino Ribeiro da Luz. Visconde de Camaragibe.

Jos Gomes da Silveira Junior pediu dispensa dos preparatorios de historia e philosophia para poder fazer exame das materias do 1 anno da faculdade de medicina do Rio de Janeiro.

A commisso de instruco publica prope rejeio da resoluo n. 220 do corrente anno, vinda da camara dos Srs. deputados, que lho permitte.

Sala das commisses em 31 de Agosto de 1875. Jos Martins da Cruz Jobim. Joaquim Delfino Ribeiro da Luz. Visconde de Camaragibe.

Joaquim Emigdio Ribeiro pede dispensa dos preparatorios que lhe faltam, sem dizer quaes elles sejam para matricular-se no 1 anno da faculdade de direito do Recife.

A commisso de instruco publica de parecer que seja rejeitada a resoluo n. 221 do corrente anno, vinda da camara dos Srs. deputados, concedendo-lhe a permisso pedida.

Sala das commisses, em 31 de Agosto de 1875. Jos Martins da Cruz Jobim. Joaquim Delfino Ribeiro da Luz. Visconde de Camaragibe.

Jos de Moura Machado, allega que, tendo perdido o 1 anno do curso pharmaceutico da faculdade do Rio de Janeiro, requer agora que repete o dito 1 anno, permisso para fazer exame do 2 anno logo depois de aprovado no 1, sem ter frequentado o dito 2 anno, o que contra a letra expressa dos estatutos, portanto de parecer a commisso de instruco publica que seja rejeitada a resoluo n. 227 do corrente anno, que veio da camara dos Srs. deputados.

No mesmo caso se acha Ilidio Salathiel Guarit, que obteve a resoluo n. 228 do corrente anno concebida nos mesmos termos, e a commisso prope que seja igualmente rejeitada.

Sala das commisses, em 31 de Agosto de 1875. Jos Martins da Cruz Jobim. Joaquim Delfino Ribeiro da Luz. Visconde de Camaragibe.

Domingos Antunes Ferreira pediu permisso para matricular-se e fazer exame do 1 anno depois de approvado no preparatorio de geometria que lhe falta; no se tendo matriculado no tempo, nem tendo seguido frequencia obrigatoria, como exigem os estatutos, no pde a commisso

Sesso em 1 de Setembro 3 de instruco publica approvar a resoluo n. 229 do corrente anno, vinda da camara dos Srs. deputados em favor do supplicante.

Sala das commisses, em 31 de Agosto de 1875. Jos Martins da Cruz Jobim. Joaquim Delfino Ribeiro da Luz. Visconde de Camaragibe.

Jos Francisco de Siqueira Salles, no se tendo matriculado no tempo marcado pelos estatutos para o 1 anno da faculdade de direito do Recife, por faltar-lhe o exame de philosophia, obteve da camara dos Srs. deputados a resoluo n. 238 do corrente anno, concedendo-lhe essa permisso; mas a commisso de instruco publica do senado julga necessario que se cumpram fielmente os estatutos, e que no seja perturbada a marcha regular das faculdades; e, portanto, de parecer que entre em discusso aquella resoluo, afim de ser rejeitada.

Sala das commisses, em 31 de Agosto de 1875. Jos Martins da Cruz Jobim. Joaquim Delfino Ribeiro da Luz. Visconde de Camaragibe.

Marcolino Dornellas Camara Junior, no tendo podido matricular-se no tempo exigido pela lei, requereu e obteve permisso por uma resoluo n. 239 do corrente anno, para fazer exame no fim do 1 anno, que diz ter frequentado na faculdade do Recife; mas os estatutos exigem matricula em tempo marcado, e determinam que a falta de matricula nenhum direito d; e a commisso de instruco publica, convencida da necessidade de fazer respeitar a lei, prope a rejeio da referida resoluo da camara dos Srs. deputados.

Sala das commisses, em 31 de Agosto de 1875. Jos Martins da Cruz Jobim. Joaquim Delfino Ribeiro da Luz. Visconde de Camaragibe.

Ficaram sobre a mesa, para ser tomados em considerao, com as proposies a que se referem.

Foi igualmente lido o parecer da commisso de oramento sobre a proposta do poder executivo, convertida em projecto de lei pela camara dos Srs. deputados, fixando a despeza e orando a receita para o exercicio de 1876 a 1877.

ORDEM DO DIA

VOTAO.

Votou-se e foi approvado o art. 4 da proposio, alterando a lei eleitoral.

Posta a votos a emenda additiva da commisso, salva a sub-emenda do Sr. visconde do Rio Branco, foi approvada.

Posta igualmente a votos por partes a sub-emenda do Sr. visconde do Rio Branco, foi approvada a 1 e rejeitada a 2 parte.

Foi adoptada a proposio com as emendas approvadas para passar 3 discusso e foi remettida respectiva commisso, indo antes as emendas a imprimir.

GARANTIA DE EMPRESTIMO COMPANHIA DE MACAH E CAMPOS.

Proseguiu a 2 discusso do art. 1 da proposio

da camara dos Srs. deputados, concedendo garantia de emprestimo companhia de estrada de ferro de Macah e Campos.

O SR. NUNES GONALVES: Sr. presidente, como membro da commisso de emprezas privilegiadas subscrevi o parecer que se acha annexo proposio da outra camara, pela qual autorisado o governo a conceder garantia do emprestimo de 3,000:000$ empreza da estrada de ferro de Macah e Campos. Nesta qualidade julgo-me obrigado a vir tribuna para offerecer considerao do senado algumas explicaes, depois da impugnao que hontem foi feita mesma proposio por parte do nobre senador pela provincia de Minas Geraes. Talvez devesse considerar-me desobrigado de o fazer, vista das razes expendidas pelo nobre ministro dos negocios estrangeiros e que considero sufficientes para esclarecer a materia.

O illustre representante de Minas, impugnando esta proposio e, consequentemente, o parecer da commisso, deu, entre outras razes, duas, que no so exactas: 1, que a companhia da estrada de ferro Macah e Campos tinha levantado o capital de 5,000:000$, j despendido nas obras daquella empreza, e que alm deste capital pedia mais um emprestimo de 3,000:000$ para concluso das respectivas obras; donde concluia S. Ex. que o custo total da estrada seria de 8,000:000$, e, partindo deste principio, disse que cada legua dessa estrada no poderia importar em menos de 500:000$000.

S. Ex. labora em manifesto equivoco. E certo que a companhia fixou o seu capital em 5,000:000$000...

O SR. ANTO: Dividido em aces. O SR. NUNES GONALVES: ...distribudo em

25,000 aces de 200$ cada uma... O SR. ANTO: Com todas as estradas feitas. O SR. NUNES GONALVES: ...mas tambem

certo que por conta deste capital apenas foram emittidas 15,000 aces, na importancia de 3,000:000$000.

O SR. ANTO: No dizem isto os documentos. O SR. NUNES GONALVES: Isto o que consta

do relatorio offerecido pela directoria assembla geral dos accionistas e que tenho diante de mim, e foi por mim consultado antes de subscrever o parecer da commisso.

O SR. ANTO: Ento a companhia s emitte 15,000 aces?

O SR. NUNES GONALVES: Exactamente: 15,000 aces. Dando execuo s suas obras, conheceu que o capital de 3,000:000$ era insufficiente para a concluso dellas, e portanto, eu tinha de emittir as 10,000 aces restantes, ou lanar mo de algum outro recurso que lhe supprisse esta necessidade.

Discutido este ponto em assembla geral dos accionistas, foi suggerida a ida de que no se emittissem as 10,000 aces restantes, e que se procurasse contrahir um emprestimo

4 Sesso em 1 de Setembro da quantia que fosse necessaria, e isto em virtude de algumas razes de conveniencia, que constam desse mesmo relatorio.

Ahi se diz o seguinte: O plano economico, delineado pela directoria em

seu passado relatorio, e por vs unanimemente approvado, consistiu: em empregarem-se todos os meios possiveis afim de no precisarmos emittir seno as 15,000 aces da 1 serie.

As vantagens palpitantes desse plano ficaram bem accentuadas naquelle relatorio; bastando lembrar aqui: 1, que delle deve resultar a invulnerabilidade da nossa empreza, cujo capital, reduzido, a 3,000:000$, resistir sempre vantajosamente a qualquer concurrencia de emprezas semelhantes; 2, que nessas aces, reduzido o capital social de 5.000 a 3,000:000$, ficaro elevadas de valor na razo de 200$ para 333$, e 3, que pela mesma razo daquella seduco, se o seu rendimento devia ser como tres, passar a ser como cinco.

Estas razes actuaram no animo dos accionistas, e assim foi deliberado que, em vez de se emittirem as 15,000 aces restantes por conta do capital fixado, se recorresse ao emprestimo lembrado.

Este emprestimo foi contrahido; mas em que condies? Em condies puramente commerciaes a prazos curtos e reembolsavel no vencimento. A empreza no teve difficuldade em achar estabelecimentos bancarios que viessem em seu auxilio, confiando-lhe os capitaes precisos; tal era a confiana que inspirava esta empreza.

Concluida a estrada (outro ponto em que S. Ex. no estava bem informado, quando suppunha necessario ainda o capital de 3,000:000$) construida a estrada, como se acha definitivamente...

O SR. ANTO: Ainda no est. O SR. NUNES GONALVES: ...em effectivo

trafego, o que no se pde tambem contestar, procurou a companhia satisfazer aos encargos tomados, contando com o renda proveniente do proprio trafego, que desde logo se antolhou em grande escala para occorrer aos seus compromissos. Mal terminava as suas obras e abria a estrada ao transito publico, quando sorprendida, como todos fomos, com a crise em que se achou a praa do Rio de Janeiro, por causa da presso exercida sobre os bancos resultando disto e que est no conhecimento de todos ns, isto , que alguns dos bancos foram obrigados a suspender seus pagamentos, a pedir moratoria, a entrar em liquidao.

E como uma parte do capital de que elles dispunham estivesse empregado nesta empreza, e representado em titulos de natureza puramente commercial, com prazo curto, naturalmente haviam de exigir da companhia o pagamento do seu debito no vencimento delle. Eis aqui como as difficuldades dos bancos acarretaram as da empreza, que a seu turno viu-se collocada debaixo da mesma presso em que se via a praa do commercio.

Assim, sendo difficilima, de muito demorada realisao a liquidao do seu capital para poder occorrer aos seus compromissos; o que lhe restava? Ou abrir sua fallencia ou recorrer aos poderes publicos. J v, pois, o nobre senador o que motivou o pedido de auxilio feito s camaras pela companhia, e que estava duplamente enganado, quando suppunha

que o capital de 5,000:000$ estava despendido, e alm disto havia mais a necessidade de 3,000:000$ para a concluso das obras. A verdade que o capital primitivo despendido foi s de 3,000:000$, e que as obras esto perfeitamente concluidas...

O SR. ANTO: No. O SR. NUNES GONALVES: ...uma ou outra

obra addicional que se torne necessaria para consolidao do trabalho feito, no tem grande urgencia e pde ser feita com os rendimentos ordinarios, sem ser necessario o levantamento de novo capital.

Fallou-nos S. Ex. no nenhum futuro que apresenta esta empreza. Eu tambem compartilhei as apprehenses que o nobre senador manifestou hontem na tribuna, o deixava-me levar principio por essas vozes antipathicas que tem se erguido, como que systematicamente, contra a empreza da estrada de ferro Macah e Campos.

Mas antes de subscrever o parecer dei-me ao trabalho de fazer estudo demorado sobre a materia, e ento por mim mesmo verifiquei quando infundada a guerra que se tem feito a uma empreza que tanto promette.

Entre os membros da commisso aventou-se a ida de ser ouvido o governo pelo ministerio da agricultura; mas essa ida no foi por diante, porque consideramos que sendo o actual ministro um dos deputados que tinham assignado o projecto primitivo na outra camara, era natural que S. Ex. apoiasse a ida desta e que no viesse a dar uma informao em sentido contrario.

Buscando outras fontes de esclarecimentos, recorri ento ao relatorio da companhia para vr as condies em que se acha essa empreza, que elementos de renda e de prosperidade tem e que futuro offerece ella; e da leitura minunciosa que fiz adquiri a convico que j deixe manifestada.

A principal arguio que se apresenta que essa estrada tem de soffrer a concurrencia de outras emprezas, o que naturalmente ha de diminuir os seus rendimentos.

O nobre senador, que suscitou aqui essa arguio, no tem tambem razo neste ponto. No ha nem pde haver concurrencia que a prejudique.

O SR. SINIMB: Apoiado. O Sr. Anto d um aparte. O SR. NUNES GONALVES: E um engano de

V. Ex. vejo que esta mal informado. Se a concurrencia a que se refere fr a da

navegao fluvial, devo dizer ao senado que a companhia de navegao do Parahyba, comprehendendo que no podia sustentar-se depois de concluida a estrada de Macah e Campos, apressou-se em offerecer todo o seu material a esta, desistindo de fazer o servio da navegao fluvial, e a directoria da estrada entendeu de bom conselho aceitar essa offerta e aproveitar-se do servio da navegao fluvial como auxiliar da mesma estrada.

J v o nobre senador que por este lado no ha receio de concurrencia possivel.

O SR. ANTO: Eu no disse que a concurrencia fosse da navegao fluvial.

O SR. NUNES GONALVES: Qual a outra concurrencia? a do canal de Macah a Campos?

Sesso em 1 de Setembro 5

O SR. ANTO: Isto no. O SR. NUNES GONALVES: O nobre senador

no ha de ignorar que essa empreza desappareceu, tendo a presidencia da provincia do Rio de Janeiro rescindido o respectivo contrato. Por consequencia, tambem por ahi ella no pde vir.

Qual a outra? Creio que foi a do Gargab que S. Ex. disse.

O SR. ANTO: No, senhor; a da estrada de ferro de Campos a Tombos de Carangolla, com um ramal para Itabapoana e uma concesso para Gargab.

O SR. NUNES GONALVES: Eoutro engano em que labora S. Ex.

Quando a companhia de Macah e Campos fez os seus calculos e planos, pouco teve em vista os productos que podem ser transportados pela estrada de Carangolla, dada a hypothese de que ella realisasse o projecto com que foi emprehendida, mas hoje est persuadida de que bem longe de ser uma rival, no mais que uma auxiliar, que concorrera para augmentar o seu trafego.

Com effeito onde vo ter os productos, qual a sahida dos generos transportados por aquella estrada?

O SR. ANTO: A povoao de Gargab. O SR. NUNES GONALVES: E exactamente o

que eu queria que V. Ex. reconhecesse. O nobre senador deve lembrar-se de que o engenheiro Hawkshaw declarou impossivel a obra daquelle porto, ou pelo menos de muito difficil construco, no podendo importar em menos de 10,000:000$000.

No haver, pois, concurrencia por esse lado, nem to pouco, como j demonstrei, por outro qualquer.

O SR. ANTO: A mesma que tem sido feita at hoje.

O SR. NUNES GONALVES: At hoje no tem havido concurrencia alguma.

O SR. SILVEIRA LOBO: Apoiado. O Sr. Anto d um aparte. O SR. NUNES GONALVES: Portanto no vejo

razo alguma que possa prevalecer para se negar empreza Macah e Campos o favor que solicita; pelo contrario, entendo que se no houvesse em favor della outros direitos proteco do Estado, bastava o facto, para mim muito recommendavel, de tentar essa empreza realisar to grande melhoramento, contando unicamente com seus proprios recursos.

O SR. POMPEU: Apoiado. O SR. NUNES GONALVES: Fallou tambem S.

Ex. de grandes dispendios feitos com a construco da obra, mas no se deu ao trabalho de examinar a causa desses dispendios, que muito importa saber-se.

O emprezario apresentou considerao da presidencia da provincia do Rio de Janeiro um traado pelo litoral; mas essa planta no podia ter o caracter de definitivo, eram trabalhos provisorios para serem depois apreciados com mais madureza. Feito a contrato, procurou a empreza realisar o plano que tinha concebido na planta primitiva;

mas pelos estudos a que procedeu convenceu-se de que o traado pelo litoral era de muito difficil e dispendiosa construco, porque tinha de atravessar no menos de 10 leguas de pantanos, tendo a estrada 15 leguas de curso, por logares taes, que em muitos delles era preciso fazerem-se aterros de 30 a 40 palmos de profundidade.

O Sr. Anto d um aparte. O SR. NUNES GONALVES: Estou mostrando

a V. Ex. como estou bem informado e que no foi sem fundamento que subscrevi o parecer.

Conhecido o erro do traado primitivo, dirigiu-se a empreza presidencia da provincia, pedindo a mudana do mesmo traado, para que a obra podesse ser realisada com mais economia, segurana e solidez; mas, por motivos que no posso apreciar, houve da parte da presidencia do Rio de Janeiro proposito de compellir a empreza a dar execuo as suas obras por alli, tornando-se cga e surda a todas s observaes que lhe foram feitas.

O SR. ANTO: Carrega o Estado com todos esses erros.

O SR. NUNES GONALVES: Se no deve o Estado carregar tambem no justo que elles pesem smente sobre a companhia, que no tem culpa delles e que procurou fazer as suas obras por terreno mais consistentes.

O Sr. Anto d um aparte. O SR. NUNES GONALVES: Basta o producto

do trafego que esta se fazendo. O SR. ANTO: Trafego em obras provisorias. O SR. NUNES GONALVES: Bem; V. Ex.

considera as obras provisorias: eu lerei um trecho do relatorio que ha pouco me referi.

Nem se pode allegar que a obra da linha foi sacrificada pressa de ultimal-a no prazo marcado; porquanto, apezar das chuvas torrenciaes de Janeiro e quando linhas j consolidadas, como a de D. Pedro II, se interrompiam a cada passo, a de Macah e Campos, acabada de fresco, resistiu a todos os contratempos.

Nos proprios brejos, profundos e extensissimos, que a nossa linha atravessa em vasta extenso, no se deram abatimentos notaveis, e nos crtes, ainda no completamente taludados, apenas um desmoronamento se deu, que embaraou a passagem dos trens.

Fez-se, pois, a obra promettida e fez-se com a precisa segurana para o fim desejado.

Quizera ver em que S. Ex. se firma para dizer que so obras provisorias, e emquanto no o demonstrar ha de permittir que eu d credito ao que ahi diz a directoria.

Creio, Sr. presidente, ter apresentado as razes em que se baseou a commisso, para emittir o parecer que foi submettido considerao do senado, e portanto mostrado que no injustificavel o favor que pede a companhia. Quando no o julgasse razoavel por muitos beneficios que essa empreza presta a zona importantissima da provincia do Rio de Janeiro, a que ella destinada a servir, no poderia deixar nutrir por ella toda a sympathia, considerando o raro exemplo que deu de emprehender to grandioso commettimento, confiada exclusivamente nos seus proprios recursos.

6 Sesso em 1 de Setembro

Que uma obra de futuro prova a confiana com que foi ella recebida pelos bancos, pondo sua disposio, e sem maiores garantias, os capitaes de que precisava. E se isto verdade, no sei que razo de conveniencia pde hoje influir para que o senado lhe recuse o favor que solicita e sem o qual no pde manter-se.

No sei que lucram os interesses do Estado do abandono da empreza, quando, torno a dizer, se alguma digna de ser protegida, esta sem a menor contestao.

Limito-me a estas consideraes por agora; se o nobre senador voltar tribuna, verei se so mais procedentes as novas observaes que porventura tenha a fazer.

O SR. ANTO: Sr. presidente, sou obrigado a vir de novo tribuna para sustentar as consideraes que fiz, quando impugnei a adopo do projecto em discusso.

Nenhum motivo publico. V. Ex. sabe que rara vez occupo a tribuna, e no seria por leves razes que eu teria pedido a atteno do senado.

Parecendo-me que o projecto em discusso ia trazer aos cofres publicos grande onus, uma despeza que no futuro no poderia ser convenientemente remunerada tomei a palavra para apresentar breves observaes, e pedir nobre commisso que me prestasse esclarecimentos que porventura tivesse para orientar-me no procedimento que eu pretendia ter.

Escrupulos de consciencia induziram-me a tratar desta questo; esses escrupulos no se acham completamente desvanecidos; no obstante as ponderaes feitas pelo meu nobre amigo o Sr. ministro de estrangeiros, interino da fazenda. Agradeo a S. Ex. as consideraes que fez; mas, prevalecendo esses escrupulos, sou obrigado a voltar discusso.

Eu disse, Sr. presidente, que a garantia de emprestimo que se pretendia conceder a companhia da estrada de ferro de Macah a Campos era favor de tal importancia, estabelecia um procedente to perigoso, que eu encontrava na disposio do projecto uma grande ruina para as finanas do paiz; porque desta maneira se ia associar o Estado emprezas particulares que, mal planeadas e mal executadas, veem-se na necessidade de recorrer ao thesouro publico.

Pareceu-me que valia a pena examinar quaes foram as intenes do legislador, quando determinou os favores que se acham expressos na lei de 24 de Setembro de 1873.

Preciso de recordar as disposies desta lei para que fique patente que os favores que se pretendem conceder estrada de ferro de Macah e Campos, vo alm dos que a legislao tem prescripto para as linhas mais importantes do Estado.

A lei de 1873 estabelece, em beneficio das companhias que se organisarem, certos e determinados favores, na conformidade da lei n. 641 de 26 de Janeiro de 1852.

Diz: 1 As companhias que, na conformidade do art.

2 da referida lei, se propuzerem a construir vias ferreas, demonstrando com seus planos e dados estatisticos, que estas podem dar de renda liquida 4% fica o governo autorisado para conceder uma subveno kilometrica ou

garantir juros, que no excedam de 7%, correspondentes ao capital empregado e pelo prazo de 30 annos.

2 Havendo garantia provincial o governo se limitar a afianal-a.

3 O governo s poder conceder subveno ou garantia de juros s estradas, que servirem de principal communicao, e no conceder estes favores a mais de uma estrada em cada provincia, emquanto esta estrada no produzir uma renda liquida, que dispense os ditos favores.

4 A somma do capital, a que o governo por esta lei fica autorisado a conceder subveno ou garantia de juros, no poder exceder de 100,000:000$000.

Eis aqui os mais importantes favores dados pela legislao s estradas de ferro, que forem construidas a expensas de companhias.

Sabe o senado que j se acham garantidas com as vantagens de fiana ou garantia de juros sommas consideraveis, em que a autorisao de 100,000:000$, j est quasi toda empenhada, restando apenas pouco mais de 17,000:000$, como consta dos relatorios do ministerio da guerra.

Portanto, senhores, estando j to onerado o Estado, como vamos estabelecer um novo encargo, o do emprestimo de um capital a uma companhia?

No posso comprehender que resultem vantagens de semelhante systema.

O SR. NUNES GONALVES: No a primeira vez que se pratica isto.

O SR. ANTO: Se no a primeira vez, convem que no se repita, porque a experiencia j mostrou quanto tem sido prejudicial semelhante systema, quando tem sido em pratica.

Penso que as razes que eu apresentei cirando um artigo que se acha no projecto do oramento, e que tem de ser discutido no senado, provam que esse artigo envolve o pensamento de converter todos esses favores em garantias de emprestimo, e que este projecto era como uma parte desse mesmo paragrapho. Respondeu-se-me que o artigo que se acha no projecto oramento, era unicamente para converter em garantia de emprestimo as garantias dadas s companhias particulares pela lei de 24 de Setembro.

Mas se assim, senhores, ento digo eu que, no se devendo adoptar no meu pensar essa emenda da camara dos Srs. deputados, com maior fora de razo no se pde admittir essa innovao, porque alli, pelo menos, era s a converso dessa garantia em garantia de emprestimo.

E preciso que nos entendamos a respeito do que quer dizer garantia de emprestimo. A garantia de emprestimo pelo Estado importa o Estado apresentar a sua responsabilidade, para garantir o levantamento desse emprestimo para emprezas particulares, correndo por conta dellas no s o pagamento dos mesmos emprestimos, como do juro e amortizao, e, s em caso de fallencia, e de falta, o governo ir em seu auxilio. Esta a doutrina da emenda da camara dos Srs. deputados; mas, no projecto, o favor muito maior: aqui no se trata de autorisar com o nome do governo o levantamento do emprestimo que a companhia queira contrahir; aqui se entregam 3;000:000$ do thesouro publico companhia.

Sesso em 1 de Setembro 7

O SR. SARAIVA: Eu no entendo assim. O SR. ANTO: Mas leia o artigo 2 que se ha de

convencer; nem pde ser de outra maneira. O SR. SARAIVA (depois de lr): Ah! pelo art. 2

parece. O SR. ANTO: Se no, explique-me o nobre

senador: como se ha de garantir este emprestimo? Como que a companhia ha de haver esses 3,000:000$ para solver a sua responsabilidade com os bancos? quem que lhe ha de dar este dinheiro? os proprios bancos? No, porque estes querem hoje receber o dinheiro que adiantaram. Quem ha de ser, portanto? Ha de se levantar esse emprestimo no estrangeiro? No isto que ouo nas razes que teem sido produzidas.

Passo agora a analysar as observaes feitas pelo nobre senador. Declarou S. Ex. que eu me tinha equivocado quando declarei que se pedia um capital addicional, e que os meus calculos sobre o custo kilometrico fundando-se nestas supposies estavam longe da realidade.

Para mim agora indifferente tratar da questo do custo, por emquanto; mas revela-me o nobre senador uma cousa que eu no sabia; agora, sim, estou comprehendendo melhor as cousas.

A companhia, senhores, foi organisada com o capital de 5,000:000$ dividido em 25,000 aces de 200$; isto consta do relatorio do ministerio da agricultura.

O nobre senador pela provincia do Rio de Janeiro quando aqui mostrou o estado dos bancos, apresentou uma tabella que mandou juntar ao seu discurso. Por essa tabella se verificava que a companhia tinha emittido todas as suas aces, e que os seus accionistas no tinham mais entradas a fazer. Isto consta de um documento publico que se publica todos os mezes nos jornaes da Crte, e que foi authenticado com a opinio do nobre senador pela provincia do Rio de Janeiro. Bem.

Por isso dizia eu que se por esse documento a companhia tinha j feito as entradas dos 5,000:000$, o capital que podia agora era incontestavelmente um capital addicional. Mas disse o nobre senador: no foi isto que se praticou: a companhia apenas lanou na circulao uma parte das suas aces, somente 15,000 na importancia de 3,000:000$, ficando para serem emittidas 10,000 na importancia de 2,000:000$.

Aceito a explicao, mas vou tirar consequencias que talvez o nobre senador no espere.

O SR. NUNES GONALVES: Vamos a ellas. O SR. ANTO: As consequencias so: ou essa

companhia fez a entrada de todo o capital com que tinha sido formada, ou no. Se fez as entradas (o nobre senador diz agora que no fez), o capital de que se trata addicional e ento o custo da estrada muito elevado; se no fez, ento quer que o Estado hoje venha substituil-a nas suas obrigaes.

Onde, em que legislao se pde admittir este principio? Entre ns as companhias logo que se responsabilisam por uma certa somma, devem fazer entrada de toda essa somma. E no o Estado quem ha de vir carregar com a deficiencia das estradas; isto me parece evidente. De outra maneira o Estado vae ficar agora socio da companhia,

a companhia com 3,000:000$ e o Estado com outros 3,000:000$ para substituir a responsabilidade que os accionistas teem de concorrer com todo capital com que foi fundada a empreza.

O SR. NUNES GONALVES: Ento os accionistas no ficam responsaveis para com o Estado pelos 2,000:000$ que faltam?

O SR. ANTO: Veremos depois como isto . Por ora no sei como ser isto feito, porque por ora o que vejo que o Estado vae dar 3,000:000$ companhia, que no sei se chamar para essa responsabilidade os accionistas, nem se elles podem ser responsaveis por isto.

Sr. presidente, passarei agora a considerar a questo sobre outro ponto de vista, e vem a ser se a estrada ter o rendimento necessario para pagar o juro dos dinheiros empregados pelos accionistas, a amortisao do capital com que elles tinham entrado, juro e amortisao do 3,000:000$ que vo ser emprestados pelo governo. Esta questo que se precisava de ver bem elucidada; se possivel que o rendimento dessa entrada chegue para tanto.

E' preciso ainda ver que o projecto manda que a amortisao dos 3,000:000$ se faa dentro de dez annos.

Portanto, deve dar essa entrada uma renda sufficiente para pagar os accionistas o adiantamento de seu capital e os juros, como de mais a mais para pagar o juro e amortizao do emprestimo que o governo vae fazer. Para tudo isto preciso que ella tenha uma renda consideravel.

Ora qual essa renda? J sabemos qual ? No est verificado, nem mesmo me consta que as informaes pedidas pelo nobre ministro da agricultura tenham sido j presentes ao senado. Quanto produzir essa estrada que chegue, no s para ella pagar esses encargos do capital e juros, como para manter o trafego e fazer as reparaes que ho de ser consideraveis? Ser preciso que ella tenha uma renda muito elevada, e eu continuo a sustentar que sua renda no pde ser sufficiente para tudo isso.

Eu disse, Sr. presidente, que duvidava muito que o futuro dessa estrada fosse to prospero como se tem affigurado, e trouxe algumas razes. Tenho estudado a topographia da zona que vae ser servida por ella. O nobre senador encareceo extraordinariamente as vantagens que ho de resultar dessa empreza pela extenso e fertilidade da zona a que ella vae servir. Eu, porm, estudando essa zona pelo mappa desses logares vejo que muito limitada.

Eu disse, e exacto, que parte da margem direita de Parahyba em Campos poder aproveitar essa estrada; mas a margem esquerda desse rio e o valle do Muriah, jamais podero vir nutril-a; por que parte da zona que podia notrir essa empreza tem j outra direco; tem a estrada de ferro de Cantagallo que ha de absorver uma parte do trafego, e tem a estrada de Leopoldina a qual tambem retira uma poro de productos que ho de procurar a estrada de ferro de D. Pedro II, desviando-se de S. Fidelis; e vejo tambem que entre S. Fidelis e S. Joo da Barra ha uma grande extenso de rio navegavel.

Embora procurem matar a navegao a vapor que existe no rio Parahyba, ella ha de continuar a ser feita pelas barcas particulares que l existem, assim como ha

8 Sesso em 1 de Setembro de existir um rebocador para estas barcas, porque a differena do frete entre uma estrada de ferro e a navegao tamanha que, a navegao ha de ser preferida por todos.

Farei ainda outra observao: Campos um dos municipios mais florescentes do Rio de Janeiro, onde existem estabelecimentos de lavoura de assucar mais aperfeioados; e esse municipio chegou ao gro de prosperidade em que se acha antes de haver a estrada de ferro de Macah a Campos: elle fazia todo o seu commercio de transporte por S. Joo da Barra, isso talvez ha mais de um seculo, e no ha de abandonar essa via natural e mais facil para seus productos de maior pezo para pagar fretes mais onerosos.

A differena de ter de esperar pelo plenilunio, no trar quelles productores inconvenientes, desde que forem mais vantajosos os preos dos transportes por mar.

Acresce que se os productos que vierem pelo rio Parahyba e pelo Muriah nos pontos navegaveis tiverem de passar para a estrada de ferro, devero ter uma primeira baldeao em Campos, e depois uma segunda no porto de Imbetiba, ponto terminal da estrada; devero ter, portanto, duas baldeaes que necessariamente ho de importar em despeza; e comparada a despeza deste transporte com a do modo que ha mais de um seculo tem servido aquella regio, estou certo que todos ho de preferir o antigo.

Eu disse que a estrada de Campos a Carangola que tem de seguir a procurar um porto ou seja o de Garga ou o de Itabapoana, ou outro mais proximo que necessariamente ha de haver, dever tirar grande parte dos productos a transportar pela estrada de ferro de Campos a Macah: e tambem todos os estabelecimentos que esto margem do Parahyba desde Campos ate S. Joo da Barra, no ho de retrogradar sua viagem para vir procurar essa estrada, ho de seguir seu caminho natural, e no so poucos os estabelecimentos que esto margem do rio Parahyba desde Campos at S. Joo da Barra.

Portanto para mim no ha duvida que a concurrencia infallivel, que a zona para a qual ha de servir a estrada Macah e Campos aquella que fica a alguma distancia da margem direita do Parahyba; poder ter algum desenvolvimento maior quando se prolongar a estrada de Santa Maria Magdalena, mas nunca ha de dar a renda que se calcula necessaria para os tres elementos de despeza, pagamento do juro e amortisao do capital dos accionistas, pagamento do juro e amortisao do novo emprestimo, e sendo sufficiente para cobrir o trafego e para se reparaes que ho de ser consideraveis.

Disse o nobre senador, que a estrada estava concluida, que resistiu a chuvas torrenciaes, que emfim era estrada perfeitamente consolidada. Eu contesto que assim seja. Primeiramente o proprio relatorio do ministerio da agricultura declara que o brejo chamdo de Molol obra de uma grande difficuldade, que ahi se consumiu grande somma de dinheiro.

Quem percorre esses logares sabe perfeitamente que aquelle brejo exige todos os dias grandes reparaes na estrada, de uma extenso muito consideravel, que s poderia desapparecer, se se abrisse a Laga Feia para escoar todas aquellas aguas que ficam estagnadas naquella immensa extenso de 10 leguas. Admirei-me quando ouvi

que se tinha construido uma estrada sobre aquelle grande tremedal.

O SR. NUNES GONALVES: Por capricho do presidente da provincia.

O SR. ANTO: Mas o que digo que essa estrada tem necessidade de grandes reparaes de grandes despeza para sua conservao. As obras ainda no esto todas concluidas; creio que o nobre senador est equivocado a este respeito; ha ainda, uma ou duas pontes importantes que esto provisorias; ha de mais a mais o quebra mar que deve custar somma consideravel para tornar seguro o porto de Imbetyba; elle ainda no est sufficientemente preparado para garantir a segurana dos vapores que alli atracarem. Tudo isto ainda depende de grande despeza, no com um nem com 2,000:000$ que se ha de conseguir tornar-se a estrada em estado de resistir a todo o trafego com a conveniente regularidade.

O SR. NUNES GONALVES: A obra que resta pode-se fazer com a renda ordinaria.

O SR. ANTO: No; esta apenas poder chegar para dar qualquer dividendo aos accionistas, mas no podera chega para amortizao do seu capital, para pagamento de juro do emprestimo que vae fazer.

Creio que estou isolado nesta questo... OS SRS. SARAIVA E ZACARIAS: No apoiado. O SR. ANTO: ...me parece que sou o unico

que penso assim. O SR. SARAIVA: Tem companheiro. O SR. ANTO: Adoptado este principio, no

sendo approvada a emenda que veio da camara, como espero que o no seja, ho de vir muitas reclamaes, e algumas talvez com muito maior razo do que esta. O nobre senador notou a circumstancia de que a esta companhia se garante um emprestimo para concluir sua obra que ficaria prejudicada sem este; mas o nobre senador deve saber que ha outras companhias aos mesmos condies; que, passando este projecto, no sei com que razo se lhe ha de recusar o mesmo beneficio.

O SR. SARAIVA: E por isso que tenho medo. O SR. ANTO: Sr. presidente, tenho cumprido o

meu dever; torno a dizer que levaram-me a tratar desta questo escrupulos de consciencia, nada mais e nada menos; no tenho razo alguma para ser avesso a esta companhia; nem sei mesmo o que se tem contra elle publicado; s estudei o projecto em si que e com as consideraes que tenho produzido, entendi que devia tomar parte na questo.

Tenho concluido. (Muito bem.) O SR. POMPEU: Sr. presidente, no pretendo

impugnar o projecto em discusso, louvo-me no parecer da illustre commisso; mas tenho de satisfazer um compromisso que contrahi, quando se discutiu o oramento do ministerio da agricultura.

Discutindo-se esse oramento, perguntei ao honrado ministro da agricultura, se a exemplo do fazer que se ia conceder a empreza Macah e Campos; o governo estaria disposto a annuir favor semelhante a outras emprezas

Sesso em 1 de Setembro 9 de vias ferreas provinciaes, que estivessem nas mesmas ou melhores condies. O illustre ministro, respondeu-me que era sua opinio, e tanto assim que aceitou no oramento que acaba-se de votar na camara dos deputados para o exercicio de 1876 a 1877, uma autorisao concedendo ao governo garantir emprestimos de emprezas provinciaes, cujos juros se acham garantidos, em virtude da lei de 24 de Setembro de 1873, convertendo o favor de juros em emprestimo, mediante certas cautelas.

Podera, Sr. presidente, aguardar a passagem do oramento futuro em que se consigna a ida que o honrado ministro comprometteu-se a acceitar, e com effeito lealmente acceitou, se no receiasse que esse oramento talvez no passe na presente sesso, e, alm disto, se no tivesse em considerao o ter o seu exercicio comeo em Julho do anno seguinte em diante.

Entretanto, ha necessidade urgente de occorrer a estrada de ferro Baturit, que j dirigiu ao governo Imperial uma representao em Fevereiro deste anno, solicitando o favor que se vae agora conceder a empreza de Macah e Campos.

O nobre senador por Minas Geraes, um dos altos titulares do thesouro, apresentou-se na brecha, de bayoneta calada, defendendo o thesouro nacional. Louvo o procedimento de S. Ex...

O SR. ANTO: E a minha obrigao. O SR. POMPEU: ...e acho que so justas... O SR. ANTO: Hei de fazel-o agora

constantemente. O SR. POMPEU: ...as apprehenes do honrado

senador; os seus escrupulos de consciencia so dignos de todo o elogio.

Sinto, porm, Sr. presidente, que o nobre senador, titular do thesouro, no sentisse esses escrupulos quando se tratou no parlamento de despezas consideraveis para objectos de utilidade duvidosa, seno perniciosa.

O SR. ANTO: Quaes? O SR. POMPEU: Por exmplo, para armamentos,

para machinas de guerra, 5,000:000$000 e mais, os quaes o nobre senador concedeu seu voto sem escrupulos.

O SR. ANTO: Depois dos creditos abertos o que havia de fazer?

O SR. POMPEU: Parecia que era occasio de o honrado senador pela provincia de Minas, um dos altos titulares do thesouro, trazer ao senado informaes que a sua proficiencia suggerisse a respeito dos nossos recursos, e dizer-nos francamente que o nosso oramento se desequilibrava com consideraveis despezas desta ordem, que podiam ser adiadas ou dispensadas com grande vantagem do thesouro.

Mas ento, como disse o nobre senador, guardou silencio, supitou seus escrupulos de consciencia, no viu o perigo dos deficits, e vem hoje dizer-nos que o thesouro vae garra, se passar mais este onus para o oramento do Estado.

Praza a Deus que todos disperdicios publicos do nosso paiz fossem desta ordem...

O SR. NUNES GONALVES: Apoiado.

O SR. POMPEU: ...e que as despezas reputadas inuteis que annualmente se fazem, tivessem por fim alimentar a industria, e promover vias de communicao e outros recusos de que precisa o paiz, e que no fossem empregadas em dispardicios, a titulo de armamento, de machinas de guerra, de occupao do Paraguay e cousas semelhantes, para ostentar-se um estado militar ameaador, sem vantagem para o paiz.

O nobre senador, relator da commisso acabou de sustentar seu parecer, e, devo confessar ao senado, conveceu-me da utilidade da medida, isto que o emprestimo pedido pela empreza de Macah e Campos, no vir em caso algum onerar o thesouro publico, e se apresenta digna de merecer este favor.

Com effeito, Sr. presidente, desde que no se prove a concurrencia de outra viao, porque o porto de S. Joo da Barra, como sabe o senado, no d facil accesso nem sahids aos navios que ahi vo tomar carga; por consequencia, todas as cargas dos productos agriculas daquelle lado devem vir para a estrada de ferro, e j esto vindo em tanta quantidade que a estrada no lhes pode dar vazo.

O SR. NUNES GONALVES: Apoiado. O SR. POMPEU: E portanto muito provavel que

essa empreza faa grande interesse e no venha de maneira alguma onerar o thesouro publico, recebendo o favor que solicita de garantia de um emprestimo com as devidas cautelas.

Uma considerao allegada pelo honrado senador por Minas produziu em meu espirito uma convico contraria do que queira provar.

S. Ex. allegou, que essa estrada no tinha obtido garantia de juro nem da provincia nem do Estado. E portanto mais uma prova que ella inspirou bastante confiana aos accionistas que so todos nacionais, e os bancos que lhe adiantaram dinheiro, porque esses accionistas, mais zelosos dos seus interesses talvez do que o thesouro publico e o provincial, convenceram-se da grande peso para convencer de que tantos capitalistas conhecedores da terra no empenhariam seus capitaes sem garantia, se no estivessem convencidos das vantagens da estrada.

Portanto, Sr. presidente, o argumento adduzido pelo honrado senador, querendo tirar dahi uma concluso contra a vantagem da empreza, convenceu-me pelo contrario, que a empreza inspira confiana a muita gente.

No lhe recusarei, portanto, o meu voto. Sabe o senado que a respeito do systema de

viao publica os governos teem tomado expedientes differentes. Em alguns paizes, notadamente na Inglaterra, o governo entende que deve tomar a si as estradas de ferro; em outros paizes o governo toma a si as estradas principaes, e limita-se a proteger indirectamente essas emprezas particulares, ou garantindo os juros do capital, ou subvencionando com certa quota por kilometro, ou garantindo, e ao mesmo fazendo emprestimos.

Entre ns, o governo j tomou a si algumas vias principaes, como a de Pedro II, Bahia, Pernambuco e do Rio Grande do Sul, etc. e pela lei de 24 de Setembro de 1873, concede indirectamente auxilio as emprezas, mediante garantia de juro at 7%.

10 Sesso de 1 de Setembro

A respeito de alguma outra estrada como esta de Macah e Campos, que no est no primeiro caso, porque no daquellas que o governo tomasse a si, nem to pouco das que cogitou a lei de 24 de Setembro de 1873, pde o Estado dispensar-lhe proteco mediante um auxilio desta ordem, isto , mediante emprestimo, ou outro qualquer mais conveniente. Desde que se trata de auxiliar a industria, no lcito esquecer que o da viao o principal.

No entro por ora, Sr. presidente, na apreciao destes diversos expedientes, entendo todavia que como as entradas teem por fim principalmente facilitar a industria productora do paiz, promover a exportao e importao dos productos, sendo por este lado puramente commerciaes, mas tendo todavia outro lado muito importante ao transito publico, at mesmo a defeza e segurana publica, entendo, digo, que as estradas que tiverem um caracter de uma viao publica, devia o governo tomal-as a si e no concedel-as a emprezas particulares. Aquellas porem, que tivessem s por fim desenvolver a industria particular de uma localidade, que no tivesse importancia publica, estavam no caso do que o governo as favorecesse como entendesse, devendo proteger as industrias.

Em todo caso, Sr. presidente, penso que se o estado teve em vista pela lei de 24 de Setembro de 1873 garantir as emprezas de estradas particulares das provincias, devia tomar outras medidas com o fim de tornar effectivo o intento que se propz com aquella lei.

Ora, sabido que essas emprezas, particulares das provincias apezar da garantia do juro de 7% que o governo tem concedido em virtude da lei, no podem levantar no paiz os capitaes precisos para a realisao de suas obras.

E ento, uma de duas: ou essas emprezas no achando tomadores de suas aces no paiz, iam transferil-as ao estrangeiro seu privilegio e o estrangeiro; calculando somente com a garantia de 7% o que um lucro muito vantajoso para os capitaes europeus, pouco escrupulisa com a despeza e no visa grande interesse em favorecer a industria do paiz, desde que tem certo o premio de seu capital; ou a empreza v-se obrigada a contrahir um emprestimo, que, quando no se effectue no estrangeiro, ser feito em bancos do paiz a juros muito elevados.

Daqui resulta que a lei de 1873 difficilmente realisar o seu fim, por falta de capitaes s emprezas provinciaes que contarem somente com a garantia dos juros.

Por isso j disse e repito, o meio mais seguro era contrahir o governo um emprestimo de 100,000:000$ ou de tanto quanto se mandou garantir, e adiantar s emprezas particulares mediante as cautelas que julgasse necessarias, as precisas quantias para executarem suas obras; do contrario querer o fim sem os meios, ou parar no caminho.

Sr. presidente, como disse no pretendo oppr-me, nem mesmo discutir as vantagens ou desvantagens do projecto sujeito deliberao do senado.

O meu fim somente aproveitar-me da opportunidade (apoiados) para apresentar uma emenda additiva, afim de que o favor se estenda via ferrea de Baturit, em minha provincia, de conformidade com a representao que ao governo imperial fez subir a Companhia Cearense.

V. Ex. sabe as condies favoraveis da provincia do Cear, que conta 721,686 habitantes, dos quaes so livres 689,773. E' esta uma das provincias, onde o elemento servil pouco influe na industria, quasi todos os seus productos so o fructo do trabalho livre; e portanto o Cear oferece melhores condies de futura prosperidade, no estando na dependencia das eventualidades que possam surgir, quando aquelle elemento desapparecer de todo, de que outra qualquer que tenha sua industria dependente desse elemento.

As rendas publicas alli vo lentamente, mas em proporo crescente ao da populao. Segundo o oramento de 1870 a 1871, unico documento official dessa ordem, que pude consultar aqui, a renda geral subiu a 2,125:869$781 e a provincial a 811:929$655, sendo o total das duas rendas 2,937:799$336.

A instruco primaria, comquanto no se tenha desenvolvido tanto como na Crte, onde o governo despende muito mais, ao menos se proporciona ao recurso da provincia. Existem 241 escolas publicas, frequentadas por 10.150 allumnos.

A estrada de ferro da capital a Baturit, com o desenvolvimento de 100 kilometros, por ora at essa cidade tende cortar diagonalmente o centro da provincia, desde a capital, seu porto principal de exportao, at sua extrema de sudoeste, no Carory. Por ora no passar de Baturit. mas aquelle seu ponto objectivo: est dividido at Baturit em 3 seces, da capital cidade de Maranguape com 41 kilometros; 2 de Maranguape at Acarape; 3 de Acarape a cidade de Baturit. Esta pequena via vai ser de grande importancia industrial, e commercial: industrial, porque atravessa as zonas mais productivas desde o litoral, e passa por Pacatuba, Maranguape, Acarape, Baturit, zona de maior produco em canna, algodo, caf, legumes, e borracha.

Commercial, porque d transporte aos generos de produco dessas localidades, e tambem porque para alli convergem os productos que veem pelas estradas, que se entronco naquella via, como sejam Quexaramobim, Canind, Inhamuns, Saboeiro, Ic, e at do Crato, e mesmo do Principe Imperial do Piauhy.

Portanto, ao menos do teros dos generos de exportao que produz a provincia do Cear, seguiro por essa estrada para a capital.

Tambem tem importancia politica, porque tem por fim ligar para o futuro a provincia do Cear com as provincias visinhas, pois naturalmente no Cariry ella se ha de encontrar com a estrada de ferro da Bahia ou Pernanbuco, e assim ficar a provincia pelo interior ligada com todo o Imperio, o que uma necessidade commercial, e de defesa do paiz.

Mas, como disse, Sr. presidente, por ora tratamos smente de concluir a estrada de Baturit, para cujo capital a provincia da Cear garantiu 7%, capital orado em 4.000:000$ e o governo geral em virtude da lei de 24 de Setembro de 1873 cancionou essa garantia.

Essa estrada est em vias de execuo; creio que a esta hora j est aberto o trafego da 1 seco, de 41 kilometros da capital a Maranguape, porque o ultimo pedao de estrada que faltava construir devia estar concluido no principio desse mez. Por consequencia j esto feitos

Sesso em 1 de Setembro 11 41 kilometros da estrada de ferro de Baturit, restando-lhe apenas duas seces, que so indispensaveis para que a estrada d os resultados que promette.

Mas, a respeito mesmo dessa 1 seco at Maranguape, a empreza luta com graves difficuldades, porque, tendo sido orada a despeza em 800:000$, succedeu que a companhia no podesse emittir suas aces fora da provincia. Na provincia tomaram-se 3,282 aces, que deviam produzir 656:400$, se no fra a demora dos accionistas no pagamento de suas respectivas entradas; de sorte que s se arrecadou at o principio deste anno 469:928$, segundo o relatorio daquella companhia.

Com esta pequena somma das aces realisadas e com mais um emprestimo que a companhia contrahiu com um dos bancos do Rio de Janeiro (o do Brasil), de 200:000$, prefez a quantia de 669:928$. Foi, portanto, com esta somma exigna que a empreza de Baturit com toda a economia e zelo de sua direco, j realisou a 1 seco de 41 kilometros, bem que lhe faltem algumas obras ainda, e o trem rodante no seja tambem sufficiente; mas, j vae prestando servio e dando interesse.

Mas, como disse, pesa ainda sobre a companhia o onus de 200:000$, que tomou por emprestimo a um dos bancos do Rio de Janeiro, e tem ella de continuar as suas obras at Baturit, porque, se ficasse s em Maranguape, no poderia dar os resultados que tiveram em vista aquelles que a promovero. E por isso, que aquella companhia dirigiu ao governo Imperial em Fevereiro deste anno uma petio, sollicitando o favor de garantir-lhe o emprestimo de 2:600$, visto como nem ella podia emittir suas aces, porque no havia capitaes na provincia, e nas outras ha muitas emprezas em que os capitaes locaes se distrahem, nem tinha credito para contrahir no exterior um emprestimo para acabamento de suas obras.

O senado me permittir tambem que eu apresente alguns algarismos da populao e da produco das diversas localidades, que a linha de ferro de Baturit atravessa para melhor comprovar as vantagens futuras da empreza. Esta linha interessa aos seguintes povoados.

Principiando pela capital: Fortaleza com 21,372 habitantes, porto principal da

provincia e unico de exportao, onde vo ter todos os productos agricolas e de outras industrias da provincia, e por onde entram as mercadorias estrangeiras de consumo, e que dalli se irradiam para o interior da provincia.

Arronches. Pequeno povoado a seis kilomentros da capital, cercado de fazendas ruraes e para onde afflue em certa poca, grande concurso de povo da capital por causa das festas.

Maranguape. Cidade sita ao p da serra de seu nome, de 16,271 habitantes, cercada de fazendas de caf, de canna, de algodo, donde se exportam, no s esses productos do commercio como muitos cereaes, algodo, fructas, etc., sendo sua exportao de assucar e caf superior a 200,000 arrobas.

Pacatuba. Outra cidade ao p da serra de seu nome, a que vae ter um ramal da estrada, com 7,067 habitantes, segundo o censo de 1872, cercada de fazendas de

caf e canna, cuja exportao, segundo um inquerito de 1871, subia a 600:000$ e importao a 500:000$000.

Sapupara. Povoado adiante do Maranguape, muito importante, por ficar tambem ladiado de fazendas agriculas mais ou menos importantes.

Acarape. Villa entre Maranguape e Batorit, que deve ser o termo da 2 seco da estrada, de 12,132 habitantes pelo recenseamento de 1872, sita no valle ladiado de terras fertelissimas, e centro de varias fazendas agriculas de canna, caf, fumo e algodo, e donde se exporta grande quantidade de gomma elastica (borracha).

Cana. Povoao perto de Baturit, onde entroncam diversas estradas que veem dos sertes e convergem para a capital.

Baturit. Cidade importante sita ao p da serra de seu nome, do lado oriental, de 27,132 habitantes, segundo o censo official, que conta a grande e fertilissima serra de Baturit, cultivada de caf, de algodo e canna, e que entretem grande commercio com a capital; e que um dos pontos de mais futuro do Cear.

Produco destas localidades: De Maranguape que fica ao p da importante serra deste nome, produz como j disse caf, canna, algodo e muitos outros objectos de consumo, que so exportados para a capital. S de assucar exporta 200,000 arrobas.

Da Pacatuba cidade que fica ao p de outra serra onde vae a estrada de ferro, produz caf e assucar. A sua exportao, verificada por um inquerito official que se fez ha quatro annos de 600:000$, e a importao de 500:000$000.

Do Aracape, outro povoado importante, que fica no meio do caminho da estrada de ferro de Baturit, produz caf, assucar, tendo vinte e tantos engenhos, algodo, fumo e borracha. Exporta annualmente mais de 600,000$.

De Baturit, cidade importante, que fica ao p da serra do lado oriental, com cerca de 30,000 habitantes (tinha em 1872 27,132), produz caf e assucar e a sua exportao excede a 300,000 arrobas.

Fallo somente dos povoados que so cortados pela linha ferrea. Alm destes povoados, convergem para essa linha, como j disse, os productos de diversas localidades do interior da provincia. Estes productos so: couro, algodo, caf, assucar e borracha.

Segundo o mappa official a exportao da capital em 1869 foi para o estrangeiro a seguinte: Caf.................................... 793.387 kilogrammas. Borracha (goma elastica)... 114.778 Couros................................ 75.217 Algodo.............................. 5.153.993

Ainda tirando-se desse algarismo um tero ou

quarto do algodo, procedente da estrada de Uruburetama, ficam mais de cinco milhes de Kilogrammas para a procedencia da estrada de Baturit.

V, portanto, o senado que dessa importante estrada depende em grande parte o futuro da provincia do Cear.

O SR. NUNES GONALVES: Apoiado; uma estrada de importancia evidente.

12 Sesso em 1 de Setembro

O SR. POMPEU: Em 1860, sendo presidente daquella provincia o nobre senador pelo Maranho que acaba honrar-me com seu aparte, tencionou S. Ex. mandar abrir de Baturit capital uma estrada de rodagem, e para isto mandou proceder a um inquerito a respeito da produco das diversas localidades a que interessasse essa estrada.

O SR. NUNES GONALVES: J naquelle tempo o resultado desse inquerito foi muito vantajoso.

O SR. POMPEU: J em 1860 o resultado que o nobre senador obteve desse inquerito foi tal que o convenceu de fazer quanto antes esse beneficio, que S. Ex. no levou a effeito, porque infelizmente foi logo removido daquella provincia; ha 15 annos portanto, j a estrada de Baturit era um desideratum para a provincia do Cear e um objecto a que o governo ligava a mais alta importancia.

Ora, de 1860 para c os diversos ramos de agricultura, que se presta a zona da capital Baturit, tem-se desenvolvido grandemente; s producto da gomma elastica que at ento no era bem conhecido, avulta hoje muito na exportao do Cear.

O SR. NUNES GONALVES: J em 1860 exportava aquella provincia 20,000 arrobas de gomma elastica; recordo-me bem desta circumstancia.

O SR. POMPEU: Mas, como dizia, a empreza de Baturit, que talvez uma das mais patrioticas do Imperio, luta com graves difficuldades, porque, no podendo emittir todas as suas aces na provincia, tendo emittido somente 656:400$, dos quaes no se realisaram seno 469:328$, tem todavia com esta pequena somma e com o emprestimo que contrahiu de 200:000$ levado avante a estrada desde a capital at Maranguape; mas est onerada com esta divida de 200:000$, que contrahiu em um dos bancos do Rio de Janeiro, e na impossibilidade de proseguir por falta de capitaes, que no se podem levantar na provincia.

Neste estado, dirigiu-se ella ao governo imperial em Fevereiro deste anno, solicitando uma garantia de emprestimo. Tenho aqui, porque do Cear me mandaram por cpia, essa petio, cuja soluo ignoro officialmente; mas j sei que o governo respondeu que isso dependia do corpo legislativo. V. Ex., me permittir que eu leia a petio que a directoria da companhia Cearense, dirigiu ao governo imperial em nome da companhia. (L).

Senhor. Os abaixo assignados, directores da Companhia Cearense da via ferrea de Baturit, no empenho de levar seu termo o grande melhoramento que encetaram para a provincia do Cear, ainda esta vez se sentem obrigados recorrem aos favores e proteco de Vossa Magestade Imperial.

No tendo podido a companhia fazer at agora effectiva no paiz a subscripo do capital, que lhe seria de mister para concluir suas obras at Pacatuba, alis muito adiantadas, e proseguir nellas dalli at Baturit, no tendo mesmo conseguido emittir as suas aces nos mercados europeus, embora a garantia de juros de 7% do seu capital pelo governo nacional, tem se achado collocado na alternativa de transferir o seu contrato uma companhia

ingleza, ou contrahir um emprestimo em alguma praa da Europa.

Esta ultima medida que parece a mais proveitosa aos cofres nacionaes, aos accionistas e industria da provincia, tem principalmente merecido o assentimento dos abaixo assignados, ainda porque lhes permittir collocar mais tarde todo o capital da empreza nas praas brasileiras, quando reaparecer a confiana dos capitalistas, que parece abalada no tocante as emprezas de caminho de ferro.

Fazendo consultar na Europa pelo digno senador Thomaz Pompeu de Souza Brasil sobre as condies com que poderiamos levantar um emprestimo para a empresa at a somma aproximadamente de 2,600:000$; aquelle senador por intermedio de Mr. Rambamd Bovet, de Paris, pessoa de toda competencia, e bem collocada, conseguiu saber de banqueiros respeitaveis daquella praa, que seria possivel emittir alli o emprestimo referido para as despezas da companhia, at a importancia de 6 milhes de francos, sob as seguintes condies: Juros at 7% ao anno: preo das obrigaes superior a 90% do valor nominal dos titulos, amortisao do capital em 30 annos: garantia do governo Brasileiro, sendo as obrigaes emittidas pela companhia estampilhadas por um agente de nomeao della, nos termos seguintes:

O governo Imperial do Brasil garante ao portador desta obrigao, suas condies e absolutamente o pagamento regular e o reembolo do capital ao par, nos prazos, indicados e como fica dito.

Convencidos de que, pela emisso de suas aces mais tarde e pelas rendas da empreza, poder a companhia realisar perfeitamente os pagamentos desse capital e sua renda; e outrosim, que o governo Imperial, assumindo a responsabilidade desta operao, no poder em caso algum, ser obrigado desembolos maiores do que pela garantia de 7% que j concedeu para o capital da companhia (4,000:000$); os abaixo assignados veem pedir Vossa Magestade Imperial a graa de mandar garantir o referido emprestimo nos termos indicados ou em melhores, em que a companhia seja dado negociar naquella praa ou qualquer outra da Europa; e os supplicantes devidamente autorisados pela assembla geral dos accionistas aceitaro todas as clausulas, que o governo da Vossa Magestade Imperial se digne estipular para garantia da fazenda nacional, certos de que ellas sero conformes aos interesses da empreza e da provincia do Cear, cuja industria e commercio, a companhia cearense da via ferrea de Baturit teem em vista favorecer muito mais do que os seus proprios interesses.

Os supplicantes juntam uma copia do seu ultimo relatorio, o que dar uma ida dos recursos da companhia, e do seu andamento suas obras, e da sua renda effectiva e provavel. E R M.

Fortaleza, 25 de Fevereiro de 1875. Baro da Ibiapaba, presidente. Jos Pompeu de Albuquerque Cavalcante, secretario. John Mackii. Baro de Aquiraz. Jos Francisco da Silva Albano.

Portanto, Sr. presidente, attendendo que os poderes do Estado, quando decretaram a lei de 24 de Setembro de 1873, tiveram em vista effectivamente promover o beneficio das estradas de ferro nas diversas provincias; attendendo

Sesso em 1 de Setembro 13 que a provincia do Cear est nas condies deste favor a que ella j obteve com effeito a garantia de 7% para sua estrada, que est em comeo, mas no pde at hoje emittir suas aces seno no valor de cerca de 656:000$; e que destas s realisou at o principio do anno 469:000$ attendendo que no podem nem devem ficar aquellas obras no estado em que se acham; entendo que o senado, coherente com o principio que sanccionou na citada lei, no duvidar conceder tambem a garantia de emprestimo que a companhia cearense solicitou do governo Imperial, e que este no concedeu porque dependia isso do corpo legislativo.

E como este trata de conceder vantagem semelhante companhia de estrada de ferro Macah e Campos, de equidade, de rigorosa justia que seja tambem concedida companhia Cearense; por isso tenho a honra de mandar a mesa a seguinte emenda. (L.)

Foi lida, apoiada e posta em discusso conjuntamente seguinte

EMENDA ADDITIVA.

Se passar o 1 artigo, accrescente-se: E igualmente autorisado para conceder a garantia

de 2.600:000$ companhia Cearense da estrada de ferro de Baturit, nas mesmas condies, e com as mesmas cautelas exigidas para garantia do emprestimo companhia de Macah. S. R. T. Pompeu.

Nesta occasio o Sr. 1 secretario, pedindo a palavra pela ordem, leu o officio datado de hoje do ministerio do Imperio, remettendo o seguinte

DECRETO N. 5983 DE 1 DE SETEMBRO DE 1875.

Proroga at o dia 15 do corrente mez a presente sesso da assembla geral legislativa.

Hei por bem prorogar at o dia 15 do corrente mez a presente sesso da assembla geral legislativa.

O Dr. Jos Bento da Cunha Figueiredo, do meu conselho, senador do imperio, ministro e secretario de Estado dos negocios do Imperio, assim o tenha entendido e faa executar.

Palacio do Rio de Janeiro, em 1 de Setembro de 1875, 54 da independencia e do Imperio.

Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador. Jos Bento da Cunha Figueiredo.

Conforme. Servindo de director, Manoel Jesuino Ferreira.

O Sr. presidente declarou que o decreto de prorogao era recebido com muito especial agrado.

O SR. SARAIVA: Comeo reconhecendo o servio prestado pelo illustre senador por Minas Geraes. S. Ex. seguramente foi levado a fazer o discurso que ouvimos pela propria experiencia.

O SR. ANTO: E alheia tambem. O SR. SARAIVA: Ns todos que temos uma vida

publica de vinte annos, sabemos quaes os desastres do principio de emprestar o Estado dinheiro s companhias, e por

isso o nobre senador por Minas no podia deixar de levantar sua voz contra este principio fatal.

No entro, nem quero entrar, no exame da preteno da companhia Macah e Campos; no preciso entrar neste exame.

Se quizesse fazer um juizo acerca da justia da sua preteno; no tendo estudado a questo, porque a companhia no apresentou informaes que nos esclaream; no apresentou um relatorio pelo qual podessemos conhecer o seu estado, seus lucros provaveis e o futuro, a sorte que aguarda; no tendo, digo, apresentado a companhia estes dados, deveria louvar-me na nobre commisso, porque ella me merece toda a confiana, e mesmo na gerencia da companhia, que conta em seu seio homens em que confio.

Mas a questo no esta; no quero saber se a companhia tem razo ou no tem; o que digo que se o governo sustenta o principio do emprestimo s companhias, sustenta o principio da bancarota do Estado. (Apoiados).

E neste sentido que digo que o nobre senador por Minas acaba de prestar um servio relevante, servio que devia partir do Sr. ministro da fazenda, porque era a S. Ex. que cumpria sustentar na tribuna esses principios.

Nas camaras da Inglaterra e da Frana, cujas discusses tenho acompanhado com algum interesse nestes ultimos annos, e principalmente a da camara franceza, vejo constantemente, quer as companhias industriaes, quer os deputados, solicitarem quaesquer favores, mas nenhum concedido, sem que o ministro da fazenda diga: Podemos ou no podemos com taes e taes despezas.

Como, pois, o ministro da fazenda, nas explicaes que deu, no examinou antes de tudo o principio, que era a questo do nobre senador por Minas, para mostrar que esse principio pde ser seguido sem graves desastres para o thesouro?

Ns vimos j pelo que occorreu na discusso a consequencia do principio. O nobre senador pelo Cear, que no esquece nunca os interesses de sua provincia...

O SR. ZACARIAS: E faz muito bem. O SR. SARAIVA: ...apresentou uma emenda ao

projecto, e quero saber qual a razo que tem o governo para combater a extenso desse favor empreza do Baturit, quando esta empreza merece mais o favor do que a de Macah e Campos.

O SR. ZACARIAS: Pelo menos tanto. O SR. SARAIVA: No; mas porque trata-se de ir

buscar productos no interior, onde no ha estradas nem barcos para os conduzir ao mercado exportador.

Assim, o principio mo, fatal; ns j temos experiencia para no adoptal-o.

O que aconteceu com a Unio e Industria sabemos todos; o fim dessa empreza era grande, era util; ella queria abrir o interior de Minas aos mercados estrangeiros; pediu dinheiro aos accionistas, no calculou bem, pediu dinheiro immenso, emprestimos a duas provincias, e no fim de contas disse ao governo o que agora diz a companhia Macah e Campos: Se no me emprestaes dinheiro, morro; isto tudo que est feito se perde. O governo emprestou dinheiro companhia Unio e Industria, mas teve depois necessidade de, para cobrar esse dinheiro,

14 Sesso em 1 de Setembro encampar a companhia, pagar-lhe tudo quanto ella tinha despendido, bem e mal. Todos os partidos auxiliaram a Unio e Industria; mas o resultado foi ficar o governo com uma estrada que para nada serve, que est completamente perdida. Os erros de plano, de execuo, os desperdicios da companhia foram indemnisados todos pelo governo.

Vejamos o que diz a companhia Macah e Campos; o mesmo que dizia a Unio e Industria; diz: A empreza grandiosa, tem um vasto futuro; mas se no me auxiliardes, abro fallencia.

E o que dizia a Unio e Industria, o que ha de acontecer com esta; no fim o governo ha de pagar o resto.

Diz o relatorio da companhia Macah e Campos (lendo):

Sabeis que a nossa divida, cujo alcance ja conheceis, foi contrahida, e nem podia deixar de ser, em condies commerciaes; isto , com vencimentos a prazos curtos, e sujeita a integral pagamento.

Dessas condies resulta o gravissimo perigo para a companhia, de no dia do vencimento seus credores no se prestarem a reforma de titulos, donde as consequencias que todos vs conheceis, e das quaes a mais desvantajosa seria a necessidade de emittirmos as aces que temos em serio empenho supprimir, e de vendermos pelo que derem os valores, cuja catalogo fizemos.

Ora, avanarmos tanto e com tantos e to crueis dissabores, como os que tem a directoria soffrido na execuo do grande plano que approvastes; para no fim esbarramos em uma fallencia, ou em sacrificios equivalentes, seria a mais triste das misses que poderiam caber em sorte directoria.

Fugir, portanto, a to lamentavel contingencia; resguardar o seu plano de to funesto desanlace e prevenir para que a companhia no cahisse, apezar do vigor de suas foras em to medonho precipicio, foi e devia ser o maior empenho da directoria.

No lhe sendo permittido, sequer, cogitar em obter emprestimos a largos prazos e com amortisao gradual, como de mister para resalvar-se a companhia do imminente perigo acima indicado, aceitou as condies da occasio, e formou desde logo o plano de consolidar, sobre bases seguras, sua divida fluctuante, assente em bases precarias.

O meio unico era recorrer aos poderes publicos, pois que dos estabelecimentos commerciaes no poderia jamais obter tamanho resultado.

Effectivamente, autorisada como foi a empregar o que melhor lhe parecesse, no intuito de levar a companhia ao ponto de seu destino, recorreu s camaras, pedindo-lhes garantia de um emprestimo de 3,000:000$ ao juro de 7% com amortisao de 10 annos.

Sobre os auspicios do nobillissimo Sr. duque de Caxias a quem essa companhia deve um voto de eterno reconhecimento, obteve aquiescencia do governo imperial, e com especialidade do Ex. Sr. visconde do Rio Branco e do digno ministro da agricultura, que se mostraram animados do melhor desejo de auxiliarem a nossa empreza.

Os deputados do Rio de Janeiro, e mais que todos os illustrados Drs. Ferreira Vianna, Thomaz Coelho e Belisario,

os quaes teem sido incansaveis em promover os interesses da companhia, abraaram a ida e formularam o projecto, que sem duvida o conheceis.

Eis o que diz a directoria da companhia. Ella calculou mal; seus accionistas no tiveram dinheiro para levar avante as suas obras, e foi preciso recorrer aos bancos, e pedir dinheiro a alto premio; e no fim, em vesperas de abrir fallencia, veio dizer ao governo: Salvae-me.

Ora pergunto: se ns formos salvar todas as emprezas que esto quasi a fallir, onde iremos parar? o nobre ministro da fazenda pde negar o mesmo favor estrada do Baturit, do Paraguass, na Bahia, e a outras emprezas, se o governo der auxilio a esta de que se trata?

No pde; preciso ser justo ou reprovar o principio ou estendel-o a todas as emprezas que estiverem nas mesmas circumstancias.

Accresce, Sr. presidente, que temos necessidade de combater este principio, porque ahi vem uma disposio no oramento de 1876 1877, mandando que o governo converta a garantia de juros e emprestimos. Ento dir-se-ha: O governo no faz estradas, mas deixa que ellas se faam e vae dando o dinheiro de que precisarem. Mas isto a ruina do thesouro.

O Sr. senador por Minas, na minha opinio, prestou um servio. Sei que, patrocinada esta preteno pelo proprio ministro da agricultura, ella ha de passar; mas ao menos quero dar a razo por que nego-lhe o meu voto. Protesto contra este principio, hei de votar contra todas as emprezas, bas ou ms, que no calculando bem as suas despezas, tiverem necessidade de recorrer ao credito do Estado.

O SR. ANTO: Apoiado. O Sr. Zacarias seria inconsequente com as opinies

que tem manifestado este anno, se no declarasse solemnemente a sua reprovao ao projecto. V que elle patrocinado por altos personagens e respeita tambem e considera muito o presidente da companhia, o Sr. Dr. Bezerra de Menezes.

O SR. POMPEU: E muito digno. O SR. ZACARIAS: Mas, no seu conceito, acima

de consideraes pessoaes deve estar sempre o interesse publico (apoiados), e se dsse o seu voto a esta proposio, ficava em contradico com tudo que tem sustentado no senado a proposito da crise.

O orador no se envolve na questo se o traado da estrada bem concebido, se ella tem ou no motivos para receiar-se da concurrencia; no por em duvida seu prospero futuro; estas apreciaes no veem a proposito.

Tambem no indagar se neste debate o nobre senador pela provincia de Minas teve razo ou se teve-a o nobre ministro da fazenda. O nobre senador por Minas disse que as despezas da companhia excedem a 5,000:000$, e suppoz que o emprestimo de 3,000:000$ era capital addicional. O nobre ministro da fazenda sustentou que, com os 5,000:000$, fez-se a estrada e que o emprestimo no importa capital addicional.

No ventilar neste momento a exactido, nem das proposies do honrado senador, nem da do honrado ministro.

Sesso em 1 de Setembro 15 Na 3 discusso averiguar, porque vae examinar attentamente o relatorio do presidente da companhia.

A sua objeco assenta nisto: qual a origem deste pedido? porventura apresenta-se esta companhia pedindo o beneficio que em geral as camaras teem autorisado?

No; o governo no tem autorisao para beneficiar seno garantindo juros s vias ferreas nas provincias. No ha em nossa legislao hoje outro principio.

O favor que se pede agora diverso, porque garantia do emprestimo. Qual o motivo por que essa companhia no solicitou favores aos poderes geraes ou provinciaes? E porque tinha confiana no futuro da empreza.

Como de repente o seu futuro annuviou-se, e ella teme pela propria existencia? Qual a razo? Foi a crise. A quem se dirigiu a empreza para obter meios? A bancos, no estylo do commercio, isto , obteve avultados emprestimos, obrigando-se a reembolsal-os em breve prazo.

Emquanto no houve presso na praa e manifestao da crise, fiavam-se todos na sua boa estrella, e contavam poder pagar aos bancos em prazos curtos os dinheiros recebidos para emprezas desta ordem.

Mas manifestou-se a crise, e a companhia Macah e Campos viu-se em apertos: os bancos pediam seu dinheiro, mas contra os seus compromissos; porque emprestaram companhia para immobilisar aquellas sommas.

Trata-se, pois, nesta hypothese, de um favor imprudencia.

No principio do anno o corpo legislativo considerou bem a crise em suas causas e effeitos, e autorisou o governo a auxiliar os bancos, despendendo at 25,000:000$. Procedeu o governo com toda a segurana; porque no podia auxiliar os estabelecimentos seno sob cano de titulos da divida fundada, bilhetes do thesouro e outros titulos, e na falta, daquelles que se reputassem seguros, isto , titulos da divida da provincia do Rio de Janeiro. O soccorro ficou circumscripto a estes rigorosos limites.

Eis o que o corpo legislativo entendeu que devia fazer a bem dos estabelecimentos bancarios. Dentre estes alguns no se poderam aproveitar do favor, por terem alcanado moratoria, e um desses foi aquelle que figura como credor da companhia Macah e Campos.

O governo no podia soccorrer esse banco; mas o banco exige da companhia o seu dinheiro; e ento o que restava companhia era pedir aos poderes geraes os meios para desempenhar-se.

O nobre senador pela Bahia, o Sr. Saraiva, repetiu o que ponderou o presidente da companhia. Disse este:

O meio para nossa salvao era recorrer aos poderes publicos, pois que os estabelecimentos bancarios que obtiveram moratoria no podem receber auxilio; logo a companhia est sob a presso de fallencia se os poderes publicos no vierem em seu auxilio.

O orador deve louvar-se no juizo do presidente da empreza. No pde obter dos estabelecimentos commerciaes da crte a avultada somma de 3,000:000$ por dilatado prazo o modico juro. Dada esta impossibilidade, tem o governo de ouvir as queixas da empreza e auxilial-a.

Mas ento o systema de proteger a industria no se limitou lei dos 25,000:000$000.

Vae-se entrar em nova ordem de idas.

A sabedoria do corpo legislativo entendeu que os bancos podiam ser protegidos sob a cano que o orador j indicou at 25,000:000$. Mas o motivo que traz barra do parlamento a companhia Macah e Campos da mesma natureza. No auxilio directo, indirecto: tomou dinheiro aos bancos, os bancos no alcanaram favores, por terem tido moratoria, e a directoria vem dizer ao governo que lhe torne extensivo o favor que o legislador limitou a certos termos, os quaes agora se quer ultrapassar.

O favor a esta companhia no um favor geral que se vae firmar como um principio; um favor que ella pede allegando precisamente a crise de Maro. O seu argumento este:

Vs no daes ao Banco Nacional o favor, porque elle antes de passar a lei dos 25,000:000$ obteve moratoria; se o desseis, o banco no exigiria da empreza immediato pagamento.

Portanto, o caso da companhia est precisamente na hypothese dos favores da lei dos 25,000:000$. A companhia, excluida por esse lado, quer entrar por outra porta e obter o favor.

Se ha um argumento irresistivel contra o projecto a emenda do nobre senador pelo Cear; elle no fez mais do que dizer:

Se passar o favor Macah e Campos ento Baturit tem direito.

Entretanto Baturit no est precisamente neste caso; porque no soffre em consequencia da severidade de um banco que no foi favorecido pelo governo e exige a restituio do seu dinheiro. Pde allegar o direito geral de equidade que tenham todas as emprezas aos favores do governo. Mas o favor da garantia de juros no o da garantia de emprestimo: este de natureza diversa.

O orador quizera ver como o senado ha de votar este projecto desfavorecendo Baturit.

O SR. SARAIVA: Isso ser curioso. O SR. ZACARIAS: Ha de repellir o favor que

Baturit pede? Dir-se-ha que o nobre senador apresentou agora a sua emenda. Mas o que o projecto? Fundou-se em alguma representao da companhia? A emenda est em to boas condies como o projecto, que no foi effeito de uma representao que fosse dirigido camara dos deputados, e dalli viesse para o senado.

O orador no encontra informaes; percorrendo relatorios, v no deste anno algumas noticias muito fugitivas do Sr. Fernandes Pereira sobre essa estrada; no ha informaes. A luz encontra-se apenas no relatorio do presidente da companhia.

Mas porque a companhia no fez uma representao demonstrando o seu estado? porque no se dirigiu s camaras? Este no o modo regular de attender a taes reclamaes.

E uma temeridade do governo acceder a este pedido, porque, desde que o fizer, est pela coherencia obrigado a servir a Baturit e a todas as outras emprezas nas mesmas circumstancias, e conte-se j com isto.

O nobre senador pela provincia de Minas alludiu a um principio que est inserto na proposta do oramento de 1876 1877, em que se autorisa a converter em garantia de emprestimo a promessa de garantia de juros.

16 Sesso em 1 de Setembro O que quer isto dizer? E que este projecto vem como adiantamento, como tendo base em uma ida geral aceita j pelo ramo temporario do parlamento, pois que se determina que o governo converta em garantia de emprestimo a promessa de garantia de juros.

Ora, como a primeira vez que se apresenta no senado a ideia, dever delle combatel-a, e cumpre ao governo quando vier a ideia geral, repellil-a. O orador est certo que o nobre ministro da fazenda ha de fazel-o.

Mas porque combater a regra e no contestar o projecto que se discute? E necessario que se descarne bem a posio desta empreza. Ella victima da crise do principio do anno, manifestada na Crte; neste caso no estaro outras emprezas?

Fique consagrado o principio da garantia de juros; o mais que o parlamento pde fazer. Se a camara quer fazer o emprestimo a esta companhia, d-se a razo verdadeira porque se estende a mo mesma empreza: porque ella fiou-se em um banco, este no foi favorecido pelo governo, exigiu-lhe o seu dinheiro, ella no pde pagar e est em riscos de quebrar, porque no pde obter 3.000:000$000 por juro baixo e a largos prazos na praa. Aqui s ha um banqueiro que possa fazer semelhante transaco, o governo.

Mas ha alguem que desconhea a differena que ha entre garantia de emprestimo e garantia de juros? Quando o governo, autorisado por lei, garante juros, no se responsabilisa pelo capital; a empreza obtem por si os meios precisos, gasta quanto necessario e o governo somente fiscalisa. Desde que ella franqueia o trafego, o governo d toda a somma que fr precisa para supprir a falta de juros, somente at 7%; se, porm, a empreza quebra, o governo no faz effectiva a sua garantia.

Mas, se o governo garante o emprestimo, o fiador de uma quantia que tem de pagar; deve fazer o que faz um particular: aquelle que garante uma divida conta pagar a letra, e deve preparar os meios para pagal-a, quando o devedor no o faa; isto que garantir emprestimo. O governo vae ser fiador de uma divida, e, por consequencia, devedor, no caso de que se no pague.

Ora, responsabilisar-se o governo por juros de 7% um onus soffrivel e fundado em moralidade; mas afianar emprestimos contrahir a obrigao de pagar quando o devedor afianado no pague. O governo, que nunca pde proceder de m f, paga e fica com o direito de haver do devedor.

Mas que segurana tem o governo para conhecer do estado da companhia? Onde est ella? Neste quarto de papel (mostrando o projecto), nesses assomos patrioticos dos deputados, que ouviram a exposio do presidente da mesma companhia, e immediatamente dispensando todas as formalidades, a representao com documentos, dispensando tudo isto, resolveram em um projecto que seja o governo garante da divida de 3,000:000$? Isto no modo regular de attender industria.

O SR. SARAIVA: Nem de dispor dos dinheiros publicos.

O Sr. Zacarias est certo de que o nobre ministro da fazenda no quer a extenso deste principio, mas ento S. Ex. deve cortar pela raiz este abuso.

O orador daria ao nobre ministro, se lhe fosse possivel, uma autorisao: a de alargar o circulo da lei dos 25,000:000$ por um artigo, dizendo que o governo, visto que est muito aquem desses 25,000:000$, adiantasse a esta empreza 3,000:000$ com as garantias necessarias. Ento no era um principio geral que se estabelecia: era por tabella: j que o Banco Nacional foi excluido da proteco, proteja-se agora a companhia; ella precisa de 3,000:000$: pois peam-se as necessarias caues e adiantem-se os 3,000:000$. Assim o governo ficaria em boa posio; usa das sobras daquelle credito, que no est exhausto; mais no se pde admittir a autorisao do projecto que se discute para o governo garantir o emprestimo.

O projecto passou a principio, segundo parece ao orador, como um favor puro e simples; no se tratou no 1 artigo da cauo.

Ahi patrioticamente garantiu-se o emprestimo de 3,000:000$; estavam perdidos.

Depois, no art. 2, fallou-se de cauo; mas em que termos? Diz o artigo:

A companhia fica obrigada a prestar as necessarias caues para garantir ao Estado a indemnisao dos adiamentos que ella receba.

Este art. 2 tira toda a fora moral do primeiro