ana paula camilo pereira asas da centralidade em céus conhecidos

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA HUMANA ___________________________________________________________________________ ANA PAULA CAMILO PEREIRA ASAS DA CENTRALIDADE EM CÉUS CONHECIDOS: A DINÂMICA EMPRESARIAL DO SETOR DE TRANSPORTE AÉREO NO TERRITÓRIO BRASILEIRO (Versão corrigida) São Paulo 2014

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  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CINCIAS HUMANAS

    DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA HUMANA

    ___________________________________________________________________________

    ANA PAULA CAMILO PEREIRA

    ASAS DA CENTRALIDADE EM CUS CONHECIDOS:

    A DINMICA EMPRESARIAL DO SETOR DE

    TRANSPORTE AREO NO TERRITRIO

    BRASILEIRO

    (Verso corrigida)

    So Paulo

    2014

  • ANA PAULA CAMILO PEREIRA

    ASAS DA CENTRALIDADE EM CUS CONHECIDOS:

    A DINMICA EMPRESARIAL DO SETOR DE

    TRANSPORTE AREO NO TERRITRIO

    BRASILEIRO

    (Verso corrigida)

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Geografia Humana do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da Universidade de So Paulo, como requisito para obteno do Ttulo de Doutor em Geografia. Orientadora: Professora Doutora Sandra Lencioni

    So Paulo 2014

  • Autorizo a reproduo e divulgao total ou parcial deste trabalho, por qualquer meioconvencional ou eletrnico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

    Catalogao na PublicaoServio de Biblioteca e Documentao

    Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da Universidade de So Paulo

    C183aCamilo Pereira, Ana Paula Asas da centralidade em cus conhecidos: adinmica do setor de transporte areo no territriobrasileiro / Ana Paula Camilo Pereira ; orientadoraSandra Lencioni. - So Paulo, 2014. 374 f.

    Tese (Doutorado)- Faculdade de Filosofia, Letrase Cincias Humanas da Universidade de So Paulo.Departamento de Geografia. rea de concentrao:Geografia Humana.

    1. estratgias. 2. setor de transporte areo. 3.capital empresarial. 4. territrio. 5. Brasil. I.Lencioni, Sandra, orient. II. Ttulo.

  • FOLHA DE APROVAO

    Nome: CAMILO PEREIRA, Ana Paula

    Ttulo: Asas da centralidade em cus conhecidos: a dinmica empresarial do setor de

    transporte areo no territrio brasileiro

    Tese apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Geografia Humana do

    Departamento de Geografia da Faculdade de

    Filosofia, Letras e Cincias Humanas da

    Universidade de So Paulo, para a obteno do

    ttulo de Doutor.

    Aprovado em:

    Banca Examinadora

    Prof. Dr. _________________________ Instituio: ____________________________

    Julgamento:______________________ Assinatura: ___________________________

    Prof. Dr. _________________________ Instituio: ____________________________

    Julgamento:______________________ Assinatura: ___________________________

    Prof. Dr. _________________________ Instituio: ____________________________

    Julgamento:______________________ Assinatura: ___________________________

    Prof. Dr. _________________________ Instituio: ____________________________

    Julgamento:______________________ Assinatura: ___________________________

    Prof. Dr. _________________________ Instituio: ____________________________

    Julgamento:______________________ Assinatura: ___________________________

  • Aos meus pais, pela vida marcada por nosso amor e companheirismo.

    Ao meu pai Samuel, pela ternura do seu olhar, mesmo quando em silncio.

    A minha me Eliana, pela fora e encorajamento de suas palavras, ainda que ela mesma

    tivesse medo.

    Ao Rafael, pela cumplicidade e pelo amor, pelo futuro que comea a ser construdo

    juntamente com nosso Leonardo.

  • Agradecimentos

    Se [ que] vi mais longe foi porque me apoie sobre ombros de gigantes (Isaac Newton).

    Definitivamente esses ombros foram essenciais nessa trajetria.

    Ao meu pai Samuel, minha me Eliana e meu irmo Junior, por acreditarem e apoiarem o

    caminho que escolhi. Por compartilharem comigo "aquela" nova etapa, que no aconteceu

    por acaso.

    Ao Rafael, por acompanhar atenciosamente cada passo dado, ou melhor, cada palavra

    escrita. Por inmeras vezes ter lido e relido os captulos, ajudado na cartografia, dado

    sugestes, palpites e aconselhado que determinados caminhos eram sacrificantes, mas nicos

    e recompensadores, por me incentivar quando dizia que meu "teco-teco um dia se tornaria

    um A380".

    minha tia Sirlei, meus primos Joo Henrique, Hetyene e Daniela, minha cunhada Evelin,

    minha av Ditinha e minha tia Daiane, por serem meu conforto e completarem minha paz e

    minha alegria a cada volta a Assis.

    s minhas riquezas Eduarda, Maria Fernanda e Victria. Por me encherem de carinho, por

    serem, cada uma a seu modo, um presente em minha vida e por, pacienciosamente, me

    escutarem dizer "vocs precisam estudar".

    Valria Ferreira, por nossa amizade que d to presente, esquecemos que estamos

    quilmetros de distncia. Agradeo pela amizade verdadeira e compreensiva, pelos anos de

    conversas e desabafos.

    s amizades que ficam sempre guardadas na memria: Lgia Mota e Solange Rodrigues.

    grata surpresa das amizades que fiz no Lergeo. Rita Nonato, Cristina Bergamin e

    Andria Ajonas, amizades que de to agradveis tornaram esses quatro anos mais leves e

    descontrados. Ao Ivanil Nunes, por uma leitura atenciosa do trabalho, pela ajuda sempre

    cordial. Ao Wagner Constantino, por nossas inmeras discusses que atravessaram o oceano

    e que reacenderam algumas anlises fundamentais para o trabalho. Ao Geraldo Valle, Andr

    Baldraia, Regina Tunes, Isaque Sousa, Eudes Leopoldo, Marcos Castro e Osias Teixeira,

    pelas discusses e debates nos colquios, sempre enriquecedores e estimulantes.

    missionria Vernica que gentilmente cedeu sua casa para que eu pudesse morar em So

    Paulo e tambm pela amizade e carinho de sempre.

  • famlia Lamoureux e a Professora Isabelle Hrail, por nos apresentar Frana pelas

    viagens, paisagens, sabores e boas conversas.

    Helosa Tozato e Guilherme Borges. Aos inmeros almoos, jantares, cafs e todas as boas

    e divertidas conversas que tornaram nossos dias mais quentes no frio da Bretanha. Ao

    Guilherme, pelas inmeras revises do francs e pela leitura dedicada do primeiro captulo.

    Solen Le Clec'h, pela ajuda dedicada no francs.

    Professora Lisandra Lamoso, por onde tudo comeou. Sou grata pelo seu incentivo e

    ensinamentos que me fizerem arriscar e acreditar que novos caminhos eram possveis.

    Ao Professor Mrcio Silveira, com quem aprendi que a dedicao o que nos permite

    acreditar e realizar.

    Professora Mnica Arroyo, pela atenciosa leitura no exame de qualificao, pela

    participao em sua disciplina no Programa de Ps Graduao em Geografia da USP e

    pelas sugestes e bibliografia indicada.

    Ao colegas do Gedri (Grupo de Estudos em Desenvolvimento Regional e Infraestrutura). Em

    especial ao Vitor Hlio, Bianca Nakamoto e Airton Aredes, pela amizade e ajuda sempre

    recprocas.

    Aos diretores das companhias areas e de rgos pblicos que me receberam gentilmente

    para a realizao das entrevistas. Martha Seillier, Sheilla Faria, Marcelo Dezem, Victor

    Rafael Celestino, Andr Amrico Mercadante, Alberto Fajerman, Jean-Claude Giblin, Yves

    Fredon Roux e Eduardo Sanovicz.

    Ao Professor Herv Thery, pela sua cordialidade francesa, pela ateno e carinho com que

    nos recebeu em seu pas, por estar sempre disposto a me ajudar. Pela leitura do captulo final

    e pelos contatos que permitiram a realizao das entrevistas com os diretores da Air France.

    Professora Sandra Lencioni, pelo seu rigor cientfico e pela ateno dedicada ao longo

    desses anos. A realizao desse trabalho se tornou prazerosa, no apenas porque pesquisei

    aquilo que queria, mas porque tive a compreenso cuidadosa e sbia de suas palavras. A

    orientao foi muito mais do que acadmica, foi tecido um lao de amizade que transcende a

    realizao desse Doutorado. Agradeo tambm cada vez que escutei com apreenso a

    seguinte frase que me dizia: "eu espero 'muito' do seu trabalho!"

    Fapesp (Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo) pelas bolsas de estudo

    concedidas ao longo do Doutorado no Brasil e na Frana.

  • No sei como o mundo me v; mas eu me sinto apenas como um garoto brincando na praia,

    divertindo-me e de vez em quando encontrando um seixo mais liso ou uma concha mais

    bonita que as comuns, enquanto o grande oceano da verdade repousa desconhecido.

    O que sabemos uma gota, o que ignoramos um oceano.

    (Isaac Newton)

  • RESUMO

    CAMILO PEREIRA, Ana Paula. Asas da centralidade em cus conhecidos: a dinmica

    empresarial do setor de transporte areo no territrio brasileiro. 374f. Tese (Doutorado em

    Geografia Humana). Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da Universidade de

    So Paulo, So Paulo, 2014

    O setor de transporte areo brasileiro apresenta uma dinamicidade socioespacial que est

    relacionada atuao e s aes estratgicas desenvolvidas pelas companhias areas em

    mltiplas escalas territoriais. Este trabalho se prope analisar e discutir as estratgias

    empresariais no setor de transporte areo brasileiro considerando as principais companhias do

    pas, pois so essas que empreendem uma constante dinmica a partir de aes estratgicas

    que promovem a concorrncia e a competitividade, mas que tambm se consubstanciam por

    estratgias de cooperao. Ao analisar a reproduo do capital empresarial, este trabalho

    discute as estratgias de trs das principais companhias areas brasileiras que concentram a

    maioria dos voos realizados no pas, sendo: a TAM Linhas Areas, a GOL Linhas Areas

    Inteligentes e a AZUL Linhas Areas Brasileiras. Considerando a integrao entre a dinmica

    do capital e a dinmica territorial, defendemos a tese de que h uma indissociabilidade na

    relao entre as aes do capital empresarial em determinados territrios e aeroportos que

    constituem o interesse das principais companhias areas brasileiras. O objetivo primordial das

    empresas areas buscar e garantir um maior alcance do seu poder de atuao territorial.

    Assim, essas aes estratgias so desenvolvidas para obter e deter o domnio, a supremacia

    de expanso do poder territorial, da a constante necessidade de se promover acordos e

    alianas com outras companhias. Diante dessa abordagem, somam-se elementos como: a

    concorrncia, a competitividade, a cooperao, a distribuio das malhas areas e a definio

    dos principais hubs aeroporturios, as concesses de aeroportos iniciativa privada e a

    participao e influncia das aes do capital estrangeiro. Em sntese, esses elementos

    constituem um conjunto de referncias para analisar e discutir as aes do capital empresarial

    integrada busca por poder de atuao territorial.

    Palavras-chave: estratgias, capital empresarial, dinmica territorial, setor de transporte

    areo brasileiro

  • ABSTRACT

    CAMILO PEREIRA, Ana Paula. The wings of centrality in known skies: entrepreneurial

    dynamics in the air transport sector on Brazilian territory. 374f. Tese (Doutorado em

    Geografia Humana). Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da Universidade de

    So Paulo, So Paulo, 2014

    The Brazilian air transport sector has socio-spatial dynamics that are related to the

    performance and strategic actions developed by the airlines at multiple territorial levels. This

    study aims to analyze and discuss the business strategies in the Brazilian air transport sector

    considering the leading companies in the country, for these are the agents that engage in a

    constant and relevant dynamic based on strategic actions that promote rivalry and

    competition, but that are also supported by cooperative strategies. By analyzing the

    reproduction of business capital, this work discusses the strategies of three Brazilian

    companies that operate most flights in the country, namely: TAM Linhas Areas, GOL Linhas

    Areas Inteligentes and AZUL Linhas Areas Brasileiras. Considering the integration

    between capital dynamics and territorial dynamics, we defend the thesis that there is an

    inseparable link between the effects of business capital and certain territories and airports,

    which constitute the fundamental interests of the main Brazilian airlines. The primary

    objective of these companies is to pursue and ensure an increase in their potential territorial

    range. As such, these strategic actions are developed to obtain and hold the command, the

    supremacy over the expansion of territorial power. It is this that gives rise to the constant need

    to promote agreements and alliances with other companies. This approach is supplemented by

    such elements as: rivalry, competition, cooperation, distribution of air networks, definition of

    the main airport hubs, public concessions of airports to private companies, in addition to the

    participation and influence of foreign capital. In summary, these elements constitute a set of

    references to analyze and discuss the effects of business capital integrated with the search to

    control territorial range.

    Keywords: strategies, business capital, territorial dynamics. Brazilian air transport sector.

  • RSUM

    CAMILO PEREIRA, Ana Paula. Les ailes de la centralit dans les cieux connus: la

    dynamique des entreprises du secteur du transport arien dans le territoire brsilien. 374f.

    Tese (Doutorado em Geografia Humana). Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas

    da Universidade de So Paulo, So Paulo, 2014

    Le secteur du transport arien brsilien prsente une dynamique socio-spatiale qui est lie la

    performance et aux actions stratgiques dveloppes par les compagnies ariennes aux

    diffrentes chelles spatiales. Ce travail se propose danalyser et de discuter des stratgies

    d'entreprises dans le secteur du transport arien partir de grandes entreprises dans le pays,

    puisque ces dernires mnent une dynamique constante d'actions stratgiques qui promeuvent

    la concurrence et la comptitivit, mais qui incarnent galement des stratgies de coopration.

    En analysant la reproduction du capital de l'entreprise, ce travail examine les stratgies de

    trois des principales compagnies ariennes brsiliennes qui concentrent la majorit des vols

    effectus dans le pays : TAM Linhas Areas, GOL Linhas Areas Inteligentes et AZUL

    Linhas Areas Brasileiras. En considrant l'intgration entre la dynamique du capital et la

    dynamique des territoires, nous dfendons la thse selon laquelle il y a un lien indissociable

    entre les actions du capital des entreprises dans certains territoires et les aroports qui

    constituent l'intrt des principales compagnies ariennes brsiliennes. L'objectif principal des

    compagnies ariennes est celui de rechercher et de garantir une plus grande porte de son

    pouvoir d'action territoriale. Ainsi, ces actions stratgiques sont dveloppes pour obtenir et

    dtenir le domaine, la suprmatie de l'expansion du pouvoir territorial, d'o vient la ncessit

    constante de promouvoir des accords et des alliances avec d'autres entreprises. cette

    approche s'ajoutent d'autres lments tels que : la concurrence, la comptitivit, la

    coopration, la distribution du rseau arien et de la dfinition des grandes hubs

    aroportuaires, les concessions aroportuaires aux initiatives prives et la participation et

    l'influence des actions du capital tranger. En somme, ces lments constituent un ensemble

    de rfrences pour analyser et discuter des actions du capital des entreprises intgres la

    recherche de la puissance de l'action territoriale.

    Mots-cls: stratgies, capital d'entreprise, dynamiques territoriales, secteur du transport arien

    brsilien

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 01: Estrutura para definio dos conceitos de concorrncia e competitividade.................. 49

    Figura 02: Distribuio geogrfica de receitas da LATAM Airlines Group (2012)......................... 90

    Figura 03: Formas clssicas de centralizao do capital................................................................. 162

    Figura 04: Brasil - Composio do controle dos aeroportos concedidos........................................ 289

    Figura 05: Frana - Publicidade da AIR FRANCE sobre a companhia area regional HOP! (2013)................................................................................................................................................ 336

    Figura 06: Frana - Malha area da companhia area HOP! (2013)............................................... 337

  • LISTA DE FOTOS

    Foto 01: Modelos e especificaes de avies utilizados pela TAM Linhas Areas (1990 -

    2012)............................................................................................................................................. 75

    Foto 02: So Paulo - Outdoor da companhia area AZUL Linhas Areas Brasileiras nas proximidades do Aeroporto de Guarulhos/Cumbica (2012)........................................................ 151

    Foto 03: So Paulo - Aeroporto de Congonhas (1960 e 2010) ................................................... 217

    Foto 04: Rio de Janeiro - Aeroporto Santos Dumont (1970 e 2010) .......................................... 230

    Foto 05: Frana - Avio Concorde exposto no Aeroporto Charles de Gaulle Paris/Frana (2013) .......................................................................................................................................... 305

    Foto 06: Frana - Outdoor da empresa area AIR FRANCE sobre a companhia area regional

    HOP! em Paris (2013) ................................................................................................................. 334

    Foto 07: Frana - Outdoor da empresa area AIR FRANCE sobre a companhia area regional HOP! em Rennes e Brest (2013) ................................................................................................. 336

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 01: Brasil - Quantidade de avies e capacidade assentos por passageiro (pax) da

    companhia area TAM Linhas Areas (1991 - 2010) ................................................................. 74

    Grfico 02: Brasil - Passageiros (pax) transportados em voos domsticos (1990 - 2013).......... 105

    Grfico 03: Brasil - Passageiros (pax) transportados em voos internacionais pela TAM

    Linhas Areas (1997 - 2013) ....................................................................................................... 113

    Grfico 04: Brasil - Passageiros (pax) transportados em voos domsticos pela GOL Linhas

    Areas Inteligentes (2001 - 2013) ............................................................................................... 136

    Grfico 05: Brasil - Passageiros (pax) transportados em voos domsticos pela AZUL Linhas

    Areas Brasileiras (2008 - 2013) ................................................................................................. 153

    Grfico 06: Brasil - Passageiros (pax) com origem/destino no Aeroporto de Viracopos (2000

    - 2013) ............................................................................................................................. ............ 154

    Grfico 07: Brasil - Ligaes areas diretas por aeroporto e empresa area (2013)................... 156

    Grfico 08: Brasil e Mundo - Passageiros (pax) em rotas domsticas e internacionais nos

    principais aeroportos brasileiros (2013) ...................................................................................... 180

    Grfico 09: Mundo - Movimentao operacional (embarque e desembarque) no Aeroporto de

    Guarulhos/Cumbica (2003 - 2013) .............................................................................................. 191

    Grfico 10: Brasil - Percentual de participao por empresa area no total de passageiros transportados em voos domsticos no Aeroporto de Guarulhos/Cumbica (2013)....................... 193

    Grfico 11: Brasil - Percentual de participao por empresa area no total de passageiros

    transportados em voos internacionais no Aeroporto de Guarulhos/Cumbica (2013)................... 198

    Grfico 12: Brasil - Fluxo de cargas (domstico e internacional) no Aeroporto de Viracopos (2005 - 2012) ............................................................................................................................... 205

    Grfico 13: Brasil - Percentual de participao por empresa area no total de passageiros

    transportados em voos domsticos no Aeroporto de Viracopos/Campinas (2013)................. 207

    Grfico 14: Brasil - Percentual de participao por empresa area no total de passageiros

    transportados em voos domsticos no Aeroporto de Congonhas (2013)..................................... 221

    Grfico 15: Brasil - Passageiros na ponte-area Rio-So Paulo e outras ligaes com origem/destino no Aeroporto Santos Dumont (2008 - 2013)....................................................... 228

    Grfico 16: Brasil - Percentual de participao por empresa area no total de passageiros na

    ponte-area Rio-So Paulo (2013) ............................................................................................... 232

    Grfico 17: Brasil - Passageiros (pax) transportados em voos nacionais no Aeroporto Galeo e no Aeroporto Santos Dumont (2008 - 2013)............................................................................. 233

    Grfico 18: Brasil - Percentual de turistas estrangeiros por continente que chegam ao Rio de

    Janeiro pelo Aeroporto Internacional do Galeo (2011).............................................................. 238

  • Grfico 19: Brasil - Passageiros (pax) transportados em voos internacionais e nacionais no

    Aeroporto do Galeo (2008 - 2013) ............................................................................................ 241

    Grfico 20: Brasil - Percentual de participao por empresa area no total de passageiros transportados em voos domsticos no Aeroporto Galeo (2013) ................................................ 242

    Grfico 21: Brasil - Percentual de participao por empresa area no total de passageiros

    transportados em voos domsticos no Aeroporto de Braslia (2013) .......................................... 249

    Grfico 22: Brasil - Percentual do total de passageiros transportados em voos internacionais nos Aeroportos de Braslia, Galeo, Guarulhos/Cumbica e Viracopos (2013)............................ 251

    Grfico 23: Brasil - Percentual do total de passageiros em voos nacionais e internacionais no

    Aeroporto de Braslia (2008 - 2013)............................................................................................ 253

    Grfico 24: Brasil - Passageiros (pax) em voos nacionais e internacionais (2003 - 2012)......... 281

    Grfico 25: Brasil - Movimentao operacional de avies (2003 - 2012)................................. 282

  • LISTA DE MAPAS

    Mapa 01: Brasil - Malha area domstica da companhia TAM Linhas Areas (2013) ................. 92

    Mapa 02: Mundo - Malha area internacional da companhia TAM Linhas Areas (2013)................................................................................................................................................ 93

    Mapa 03: Brasil - Malha area domstica da companhia GOL Linhas Areas Inteligentes

    (2013) ....................................................................................................................... ........................ 125

    Mapa 04: Mundo - Malha area internacional da companhia GOL Linhas Areas Inteligentes

    (2013) ............................................................................................................................................... 126

    Mapa 05: Brasil - Malha area domstica da companhia AZUL Linhas Areas Brasileiras

    (2013) ............................................................................................................................................... 158

    Coletnea de Mapas 01: Brasil - Fluxos de passageiros e ligaes areas (2013)......................... 188

    Mapa 06: Mundo - Pases com companhias areas membro da STAR ALLIANCE (2013)............. 318

    Mapa 07: Mundo - Pases com companhias areas membro da ONEWORLD (2013).................... 323

    Mapa 08: Mundo - Pases com companhias areas membro da SKYTEAM (2013)........................ 326

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 01: Sntese referencial sobre os conceitos de concorrncia e competitividade.................. 54

    Quadro 02: Sntese sobre os processos de centralizao e concentrao do capital....................... 63

    Quadro 03: Sistematizao das principais estratgias da companhia TAM Linhas

    Areas.................................................................................................................... ........................... 95

    Quadro 04: Sistematizao das principais estratgias da companhia GOL Linhas Areas

    Inteligentes............................................................................................................................. ........... 131

    Quadro 05: Sistematizao das principais estratgias da companhia AZUL Linhas Areas Brasileiras...... ............................................................................................................................. ..... 165

    Quadro 06: Brasil - Companhias areas estrangeiras em operao no Aeroporto de

    Guarulhos/Cumbica (2014) ............................................................................................................. 194

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 01: Brasil - Evoluo do trfego de passageiros no Aeroporto de Congonhas (1941 - 2010) ............................................................................................................................................ 216

    Tabela 02: Brasil - Nmero de passageiros nas principais rotas com origem/destino no Aeroporto de Congonhas (2008 - 2013) ...................................................................................... 225

    Tabela 03: Brasil - Preo mdio da passagem area para o Aeroporto Santos Dumont e Aeroporto Galeo (2013) ............................................................................................................. 240

    Tabela 04: Brasil - Nmero de empresas areas (nacional e internacional) operantes por aeroporto (2010 e 2013) .............................................................................................................. 282

    Tabela 05: Brasil - Resultados financeiros por aeroporto em Reais (2010 - 2011)..................... 283

    Tabela 06: Brasil - Composio de outorga dos aeroportos brasileiros...................................... 286

    Tabela 07: Investimentos infraestruturais nos aeroportos concedidos (at a Copa de 2014)...... 291

    Tabela 08: Mundo - Modelo, fabricante e quantidades de aeronaves utilizadas pelas principais empresas areas low cost europeias (2013)................................................................. 338

    Tabela 09: Mundo - Principais low cost/low fare em funo do nmero de passageiros (2005 e 2011) ......................................................................................................................................... 340

  • LISTA DE SIGLAS

    Abear Associao Brasileira das Empresas Areas

    Abetar Associao Brasileira das Empresas de Transporte Areo Regional

    ADR American Depositary Receipt

    Anac Agncia Nacional da Aviao Civil

    AGS Aliana Estratgica Global

    Apro Acordo de Preservao de Reversibilidade da Operao

    BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social

    Cade Conselho Administrativo de Defesa Econmica

    CBA Cdigo Brasileiro da Aeronutica

    CCPAI Comisso Coordenadora de Projeto Aeroporto Internacional

    Conac Conferncia Nacional da Aviao Comercial

    CVM Comisso de Valores Mobilirios

    DAC Departamento da Aviao Civil

    Daesp Departamento Aerovirio do Estado de So Paulo

    Embraer Empresa Brasileira de Aeronutica

    Fapesp Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo

    Fnac Fundo Nacional de Aviao Civil

    GMF Global Market Forecast

    Iata International Air Transport Association

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IED Investimento Externo Direto

    Infraero Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroporturia

    Ipca ndice Nacional de Preos ao Consumidor Amplo

    Ipea Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada

    NYSE New York Stock Exchange

    Pax Passageiros

    PIB Produto Interno Bruto

  • PND Programa Nacional de Desestatizao

    PPP Parceria Pblico-Privada

    Regic Regio de Influncia das Cidades

    RPK Passageiro Quilmetro Pago Transportado

    SAC Secretaria da Aviao Civil

    Selic Sistema Especial de Liquidao e de Custdia

    Sitar Sistemas Integrados de Transporte Areo Regional

    TEP TAM Empreendimentos e Participaes

    UnB Universidade de Braslia

    VARIG Viao Area Rio Grandense

    VASP Viao Area So Paulo

  • SUMRIO

    INTRODUO................................................................................................................. 23

    1. CONCORRNCIA, COMPETITIVIDADE E COOPERAO: O SETOR AREO

    BRASILEIRO SOB TURBULNCIA............................................................................... 43

    1.1. Concorrncia e competitividade: uma interpretao conceitual................................... 44

    1.2. A caixa preta do setor de transporte areo: concorrncia e competitividade............... 50

    1.3. Centralizao, concentrao do capital e cooperao: entre processos e

    estratgias............................................................................................................................ 59

    1.4. Territrio: a materializao da concorrncia, da competitividade e da

    cooperao........................................................................................................................... 65

    2. O ALAR VOO DAS COMPANHIAS AREAS BRASILEIRAS: ENTRE

    ALTITUDE DE CRUZEIRO E AO DA GRAVIDADE............................................. 69

    2.1. As estratgias do capital empresarial no setor de transporte areo brasileiro: um

    plano de voo inicial............................................................................................................. 70

    2.2. TAM Linhas Areas: de voos rasantes a muitos ps de altitude.................................. 71

    2.2.1. Da regulamentao desregulamentao: a decolagem da TAM........................ 97

    2.3. GOL Linhas Areas Inteligentes: a via oposta............................................................. 114

    2.3.1. rea de turbulncia: o estratgico duoplio e a criao da Anac......................... 134

    2.4. O anncio de um novo cu "AZUL": o setor areo diante de uma estratgia

    inovativa e de diferenciao................................................................................................ 147

    2.5. Voando baixo: o segmento areo regional................................................................... 167

    3. AS ASAS DA CENTRALIDADE NA LGICA TERRITORIAL: UM VOO

    PANORMICO SOB OS CUS CONHECIDOS............................................................ 176

    3.1. Da disputa empresarial disputa aeroporturia: uma nova decolagem....................... 177

    3.1.1. As asas da centralidade: da particularidade aeroporturia organizao

    territorial dos fluxos areos............................................................................................ 182

    3.1.1.1 Um hub estratgico na Amrica do Sul..................................................... 189

  • 3.1.1.2. Aeroporto de Viracopos: ressurgindo no cu........................................... 201

    3.1.1.3. Mudana de altitude: o Aeroporto de Congonhas.................................... 215

    3.1.1.4. A eterna e tradicional ponte-area: Santos Dumont-Congonhas............. 226

    3.1.1.5. Aeroporto do Rio de Janeiro/Galeo: a multifuncionalidade da fluidez

    area...................................................................................................................... 236

    3.1.1.6. Aeroporto de Braslia: a localizao estratgica conduzindo os fluxos

    areos..................................................................................................................... 244

    4. USO CORPORATIVO OU PRIVATIZAO DO TERRITRIO: ENTRE

    POUSOS, DECOLAGENS E ARREMETIMENTOS...................................................... 255

    4.1. Infraestrutura, capital externo e concesses aeroporturias no Brasil: a lgica

    capitalista de mercado......................................................................................................... 256

    4.2. De livres pousos e decolagens s restries de slots: o peculiar sistema de gesto e

    de controle no setor areo brasileiro.................................................................................... 258

    4.3. Um novo plano de voo: o capital externo aterrissa no mercado de transporte areo

    brasileiro.............................................................................................................................. 265

    4.4. Mudana de rota: as concesses aeroporturias tocam o solo brasileiro..................... 269

    4.5. O levantar voo da infraestrutura aeroporturia: as mudanas necessrias ao setor

    areo brasileiro......................................................................................................... 275

    4.6. Os complexos aeroporturios e a iniciativa privada: o cu no de Brigadeiro.......... 284

    5. CES SEM FRONTEIRAS: A INFLUNCIA DOS PARADIGMAS

    CONCORRENCIAIS E COMPETITIVOS DO SETOR AREO FRANCS................

    293

    5.1. Rumo Frana: as estratgias empresariais como vetor de anlise de um

    benchmarking...................................................................................................................... 294

    5.2. O gradual processo de liberalizao do transporte areo na Europa: novos

    horizontes............................................................................................................................ 296

    5.3. AIR FRANCE: as asas da Nao francesa.................................................................... 301

    5.4. Sistemas de alianas globais: a cooperao taxiando o setor areo mundial............... 311

    5.4.1. STAR ALLIANCE, ONEWORLD e SKYTEAM: despressurizando a

    concorrncia e a competitividade................................................................................... 316

  • 5.5. HOP!: do plano do discurso ao plano de voo............................................................... 332

    CONCLUSES................................................................................................................... 345

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.............................................................................. 357

    ANEXOS............................................................................................................................. 369

  • 23

    _____________________________

    INTRODUO

    _____________________________

    primeira vista, parece que os transportes na terceira dimenso escapam a influncia da Geografia, que, no considerar a circulao das massas econmicas, se afigura a atuar apenas superfcie do globo.

    (SILVA, Moacir M. F. Geografia dos transportes no Brasil. In: Revista Brasileira de Geografia. Braslia, jul-set, 1941: 589 - 606).

  • 24

    Antes de alar voo preciso cumprir a funo do comandante do avio. Para se

    tornar um piloto profissional, necessrio, dentre outras exigncias, acumular algumas horas

    de voos como forma de obter experincia, demonstrar conhecimento sobre a profisso que se

    busca exercer. Na busca desse objetivo, apresentamos aqui as primeiras horas de voos dessa

    pesquisa, para explicar e esclarecer seu desenvolvimento durante esses quatro anos de pousos

    e decolagens.

    A princpio, a identificao e anlise das estratgias concorrenciais e de

    competitividade do setor de transporte areo brasileiro pareceram-nos um bom plano de voo

    inicial, e de fato constituiu nossa rota inaugural, como um pr-projeto de pesquisa. Mas, assim

    como os avies (que so um modelo de aeronave de propulso a motor) necessitam de

    grandezas vetoriais e escalares para manter a sustentao de seu peso no ar diante das

    mudanas atmosfricas (temperatura, presso, massas de ar etc.), essa pesquisa tambm esteve

    envolta as suas intempries que, em alguns momentos, nos forou a mudar de rota, em outros,

    possibilitou visualizar cus de brigadeiro.

    J nessas primeiras horas de voos, percebia-se que analisar as estratgias do

    capital empresarial se reduzia sobremaneira a uma anlise meramente intrafirma relacionada

    topologia das companhias areas e ainda abreviava a importncia da Geografia e de seus

    conceitos e categorias de anlise, essenciais para compreender a dinmica que apresentamos

    sobre esse setor. Era necessrio criar escalas e conexes, no sentido real, prtico. A dinmica

    do capital no se realizava isolada, nem terica e nem empiricamente.

    Analisar a dinmica do setor areo brasileiro transcendia o contexto de realizar

    uma pesquisa cientfica apenas como dado estatstico, de nmero de passageiros, voos,

    itinerantes etc., ainda que isso seja importante nossa abordagem. Nesse sentido, novos

    elementos tornavam-se primordiais ao que se buscava abordar e reconhecer nesse setor.

    Alguns conceitos, processos, estratgias, categorias de anlise comeavam a participar das

    rotas dessa malha area, eram escalas necessrias estrategicamente, j no era mais singular,

    mas sim plural, eram, portanto, malhas areas extremamente dinmicas.

    Os fixos, os fluxos1, as redes, a demanda e a oferta, as malhas se relacionavam,

    mas no se complementavam. Faltava um elemento aglutinador em todos os planos de voos e

    1 De acordo com Santos (1997: 77) "O espao, tambm e sempre, formado de fixos e de fluxos. Ns temos

    coisas fixas, fluxos que se originam dessas coisas fixas, fluxos que chegam a essas coisas fixas. Os fixos geram

    fluxos e os fluxos geram fixos." Nesse sentido, fixos e fluxos so entendidos com elementos que constituem o

    setor de transporte areo, fluxos enquanto ligao, circulao, movimento de pessoas e fixos como pontos fixos,

  • 25

    rotas que travamos. Foi nesse sentido que a compreenso da importncia do "territrio" se

    fez presente em nossa abordagem. A dinmica territorial se mostrou um elo fundamental para

    se analisar o setor de transporte areo no Brasil. Essa dinmica territorial associada

    dinmica do capital permitiu-nos ocupar os assentos de nossa companhia area "Tese",

    somando-se a essa relao elementos como: a estratgia, a concorrncia e competitividade, a

    centralizao e concentrao do capital, e fomentavam como isso um novo horizonte para

    nossa anlise.

    Aps compreender que essa conexo entre o capital e o territrio era inerente, as

    leituras, interpretaes, anlises e sistematizaes de ideias no eram mais passveis de

    entendimento se visualizadas separadamente, pois as dinmicas do capital e do territrio so

    complementares no sentido das aes estratgicas das companhias areas brasileiras nas

    diferentes escalas territoriais de atuao.

    Esse dueto (capital - territrio) projetou-se no decorrer desse trabalho como nossa

    "ponte-area" e, mais precisamente, como nossa ponte-area brasileira, ou seja, a rota mais

    movimentada do Brasil. Em outras palavras, a cada reconhecimento de uma estratgia

    empresarial em dado aeroporto, cidade, regio, pas era necessrio conceb-la diante da

    integrao entre o capital e o territrio, uma vez que a estratgia criada pelo capital (mesmo

    quando parece imperceptvel) tem um determinante territorial, as companhias areas visam

    por meio de suas aes estratgicas concorrerem e competirem por poder de atuar em

    diferentes territrios.

    Desse modo, avanamos no sentido de compreender que a dinmica existente no

    setor de transporte areo brasileiro no se realiza enquanto um monoplano2. O prprio

    adjetivo "dinmica" nos remete a entend-lo em conjunto, ou seja, relativo ao movimento e

    s foras que se modificam continuamente, que evolui; que pressupe movimento, mudana e

    que envolve grande atividade, criatividade e agilidade, , portanto diligente, gil, criativo,

    empreendedor e indica processo ou mudana de estado (Dicionrio Houaiss de Lngua

    Portuguesa, 2009).

    seja este um aeroporto ou uma simples pista de pouso, em outras palavras so os pontos que permitem interligar os fluxos.

    2 Monoplano: que dotado de apenas uma superfcie de sustentao (diz-se de avio ou planador) (Dicionrio

    Houaiss de Lngua Portuguesa, 2009).

  • 26

    Nessa perspectiva, considerando que o bvio precisa ser destacado, esta pesquisa

    tem como foco a relao entre a "dinmica do capital e a dinmica territorial" nos principais

    aeroportos brasileiros, da a necessidade de se entender a "estratgia" e as "escalas

    territoriais" de atuao de cada companhia area, como produtos e produtoras dessa

    integrao do capital - territrio.

    Como processo de compreenso dessa relao alguns elementos-chaves so

    essenciais, tais como a concorrncia, a competitividade, a cooperao, os fluxos, os fixos, as

    redes, as malhas areas, a oferta e a demanda, as alianas que se constituem como balizadores

    permitindo-nos analisar como as estratgias e as escalas territoriais so definidas tendo como

    base a reproduo do capital em determinados territrios de interesse das empresas areas.

    A escolha pelo setor areo brasileiro foi considerada a partir de dois principais

    fatores que nos impeliu nessa viagem de idas e voltas, escalas e conexes. O primeiro foi a

    realizao de uma pesquisa de Mestrado sobre transporte areo regional com nfase no Estado

    de So Paulo e; o segundo fator foi devido algumas peculiaridades do setor de transporte

    areo que demandavam uma abordagem em que o territrio de atuao das empresas areas

    no se constitusse como um dado secundrio e de pouca relevncia, pelo contrrio, o

    territrio o motor desse avio.

    Assim, mesmo invlucro as suas limitaes, o setor de transporte areo brasileiro

    inquiria a importncia do territrio, porque dentre os principais elementos que o perfazem

    todos se constituem explcita ou implicitamente pela presena do territrio. Considerando que

    o setor de transporte areo brasileiro destaca-se por:

    1. possuir, ainda que tacitamente, uma reserva de mercado no territrio brasileiro favorecida

    pelas aes do Estado;

    2. ser um setor alentado por grandes empresas areas que possuem estratgias que abrangem

    diferentes escalas de atuao, ou seja, regional, nacional e internacional;

    3. desenvolver estratgias empresariais que se desdobram, entre outros fatores, em acordos e

    alianas estratgicas, promovendo com isso, ora processos concorrenciais e/ou competitivos,

    ora processos cooperativos na busca por expanso e domnio nos diferentes segmentos;

    4. alimentar um sistema de aes contraditrio, ao mesmo tempo em que favorece a presena

    de pequenas e mdias empresas areas, desfavorece o crescimento destas no mercado, estas

    companhias areas cumprem a funo de servir as linhas principais das lderes de mercado;

  • 27

    5. por ser um setor que se defrontou com grandes transformaes, em razo, das polticas

    governamentais e da criao de entes reguladores e administrativos, tais como DAC

    (Departamento da Aviao Civil), Anac (Agncia Nacional da Aviao Civil) e Infraero

    (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroporturia) que eram/so responsveis pela

    autorizao e gesto das rotas e dos aeroportos de atuao;

    6. ser um setor que, em decorrncia das atuais polticas pblicas, inicia um processo de

    concesso dos principais e mais movimentados sistemas aeroporturios pblicos do pas

    iniciativa privada, o que promove transformaes territoriais que se manifestam na dinmica

    empresarial das companhias areas.

    7. ser susceptvel aos acontecimentos externos, tanto aqueles relacionados s questes

    nitidamente macroeconmicas, como aquelas diretamente relacionadas ao setor areo, ou seja,

    amplamente influenciado pelas aes estratgias de companhias areas internacionais e

    constantemente busca promover acordos e alianas com estas empresas areas para ascender

    territorialmente em diferentes escalas.

    Dessa forma, ao se ter a relao entre essas dinmicas no setor de transporte areo

    regular3 de passageiros como objeto principal da anlise desse trabalho, apresentamos

    primeiramente a dimenso metodolgica definida pelos recortes temporal e espacial da

    pesquisa.

    A definio do recorte temporal se deu pela existncia de dados estatsticos

    disponveis e concedidos pela Anac. Mediante a Lei n 12.527 de Acesso Informao

    obtivemos um maior nvel de detalhamento em relao aos dados estatsticos. Periodicamente,

    os dados que precisvamos eram solicitados, o que nos permitiu criar um banco de dados

    particular de acordo com uma demanda especfica, j que estes dados no so divulgados de

    forma completa na pgina da Anac. A partir desse banco de dados, ao qual denominamos em

    nossas fontes como "Banco de Dados APCP/Anac", foi possvel cruzar dados com diferentes

    variantes: de origem e destino, por aeroportos de embarque e desembarque, por voos

    3 O setor de transporte areo brasileiro divide-se em dois ramos, quais sejam: os voos regulares e no-regulares.

    Os voos regulares so organizados na forma de linhas areas operados pelas companhias areas com autorizao

    governamental. Esse servio compreende a ligao area entre duas ou mais localidades, caracterizada pela

    execuo regular dos voos, de acordo com horrio, linha, equipamento e frequncia do fluxo, como por exemplo, os voos comerciais de passageiros. Os voos no-regulares referem-se ao conjunto das atividades de transporte

    areo realizado por meio de permisso ou autorizao, no tendo uma constncia regular da frequncia dos

    fluxos. Exemplos dessa modalidade so os voos charter (aluguel), os fretamentos (geralmente executados por

    operadoras de turismo) e os servios de txi areo (SIMES, 2003).

  • 28

    nacionais e internacionais, computar nmero de passageiros em cada trajeto por segmento,

    ano e; principalmente analisar cada dado por companhia area nacional e/ou internacional.

    Embora a pesquisa se construa mediante a anlise processual buscamos sempre

    que possvel analisar o perodo entre os anos 2000 e 2013, recuando no tempo quando

    necessrio. O primeiro perodo (2000 - 2007) caracteriza-se, principalmente pela

    desregulamentao no setor areo, que combinado com a poltica neoliberal adotada pelo

    Governo brasileiro favoreceu a livre atuao das empresas areas em detrimento de polticas

    que controlassem a disputa ruinosa. O segundo perodo (2008 - 2013) confere a fase posterior

    criao e atuao de fato de um ente regulador para o setor areo (a Anac, criada em 2005),

    que modificou a organizao e a atuao das empresas areas, favoreceu o crescimento das

    grandes companhias areas e suas aes estratgicas. Esse recorte temporal define perodos

    contrastantes que permitem verificar as transformaes na dinmica do setor de transporte

    areo no Brasil.

    Mas vale destacar que apresentamos fatos que extrapolam o perodo

    compreendido, tanto anterior ao ano 2000 quanto posterior ao ano de 2013 proporcionando

    uma anlise mais coerente tanto com os eventos4 ocorridos quanto com a disponibilizao dos

    dados divulgados e cedidos pelos rgos e pelas empresas areas analisadas.

    Outro recorte adotado foi o territorial. A estrutura da pesquisa busca orientar a

    compreenso e, simultaneamente, inserir esta abordagem numa ptica que direcione a anlise

    da ao empresarial das principais companhias areas que atuam nos principais aeroportos

    brasileiros, sendo estes: o Aeroporto Internacional de Guarulhos/Cumbica, Aeroporto de

    Congonhas/So Paulo e o Aeroporto Internacional de Viracopos/Campinas no Estado de So

    Paulo; o Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek em Braslia/DF; Aeroporto Santos

    Dumont e o Aeroporto Internacional Antnio Carlos Jobim/Galeo ambos no Estado do Rio

    4 Nos dizeres de Milton Santos (1996: 115) "os eventos so, simultaneamente a matriz do tempo e do espao".

    Considerando que esta anlise busca evidenciar temporalmente os fatos e fatores que se desenvolveram no setor

    de transporte areo brasileiro, temos que os eventos definem o tempo em que ocorreu o planejamento e execuo

    das estratgias, bem como definem os rebatimentos, ou seja, as consequncias desses eventos, uma vez que "os

    eventos so, pois todos, novos. Quando eles emergem, tambm esto propondo uma nova histria". O autor

    ainda destaca que "os eventos mudam as coisas, transformam os objetos, dando-lhes, ali mesmo onde esto, novas caractersticas" (SANTOS, 1996: 116). Nessa busca de explorar a sinuosidade dos eventos que se

    reconhecem as escalas tidas tambm como temporais, e dessa forma o alinhamento cronolgico faz com que os

    eventos se sucedam uns aos outros, da segundo o autor: "poder-se falar numa ordem de eventos, sua ordem

    temporal". Compreendendo, portanto, o tempo como intrprete dos eventos e da realidade.

  • 29

    de Janeiro5; buscando com isso observar as implicaes territoriais e econmicas das aes

    estratgicas das principais empresas areas do setor.

    No que tange as principais companhias areas do setor de transporte areo no

    Brasil, selecionamos aquelas de maior atuao no pas, ou seja, que possuem maior poder de

    mercado em relao ao nmero de passageiros transportados, a escala territorial de atuao e

    que tem participao expressiva nos aeroportos destacados, que representam os players do

    setor areo brasileiro, que so: TAM Linhas Areas, GOL Linhas Areas Inteligentes e AZUL

    Linhas Areas Brasileiras.

    importante esclarecer que ao se propor essa estrutura de trabalho, considera-se,

    a priori, que a relao entre o capital e o territrio constitui o centro da ao das estratgias

    desenvolvidas pelas companhias areas e exprime, por sua vez, a prpria dinmica capitalista,

    ou seja, a estratgia alm de econmica possui um carter essencialmente territorial, as

    empresas areas desenvolvem-se baseadas numa lgica de expanso e atuao territorial, que

    define seu poder de mercado escalar.

    Dentro dessa anlise, nossa hiptese se situa numa perspectiva socioespacial, ao

    integrar a dinmica do capital dinmica territorial. Nesse sentido, considera-se que h uma

    indissociabilidade na relao entre as aes estratgicas do capital empresarial e determinados

    territrios que constituem o interesse das principais companhias areas brasileiras. Essa

    integrao entre a dinmica do capital e a dinmica territorial verificada quando se

    compreende que as estratgias de concorrncia, competitividade e cooperao tm como

    finalidade a expanso da atuao territorial das empresas areas e, consequentemente a

    ampliao do market share6 dessas companhias areas. Portanto, indiferente do resultado de

    5 Estes aeroportos e suas respectivas localidades correspondem ao recorte territorial da pesquisa. Segundo dados

    da Regio de Influncia das Cidades (REGIC, 2007), a cidade de So Paulo (considerando-se aqui tambm

    Guarulhos, que faz parte da Regio Metropolitana de So Paulo) classificada como Grande Metrpole

    Nacional, enquanto que Braslia e Rio de Janeiro como Metrpoles Nacionais e Campinas como Capital

    Estadual. A escolha por se analisar os aeroportos localizados nessas cidades se d primeiramente, pela

    importncia destes, devido elevada movimentao de passageiros e pela dinmica territorial, j que so pontos

    interligados as principais cidades do pas. Aliado a esse aspecto, importante destacar que essas cidades

    (considerando suas regies metropolitanas e a rea de influncia imediata) constituem centros urbanos de grande

    importncia, uma vez que concentram os principais setores da economia nacional, dispondo de servios qualificados, da maior concentrao populacional e de Produto Interno Bruto (PIB) do pas, bem como

    centralizam as sedes das principais empresas pblicas e privadas que atuam no Brasil, pelas quais perpassam

    grande nmero de negcios e, consequentemente onde se movimentam um nmero expressivo de pessoas, ou

    seja, passageiros em potencial. Dados esses elementos, de acordo, com o ttulo desse trabalho, as "asas da

    centralidade" correspondem as empresas areas que historicamente se desenvolveram buscando ampliar a

    movimentao de passageiros nos "cus conhecidos" do Brasil.

    6 Market share: conceito comumente utilizado para definir o poder de mercado que as empresas possuem. A

    expresso significa "participao no mercado", isto , a frao do mercado controlado por uma empresa ou

    participao no mercado nas vendas de um determinado produto (SANDRONI, 2005: 514).

  • 30

    uma ao estratgica, o objetivo primordial das companhias areas buscar e garantir um

    maior alcance do poder de atuao territorial em mltiplas escalas, da a constante

    necessidade de se promover acordos e alianas. Nesse sentido, as empresas areas traam suas

    estratgias para obter e deter o domnio, a supremacia do poder por meio da atuao em

    territrios e aeroportos especficos que permitiro a reproduo do seu capital empresarial.

    Para compreender essa integrao entre o capital e o territrio no setor de

    transporte areo brasileiro necessrio recorrermos as estratgias e as escalas territoriais de

    atuao das companhias areas, como j foi citado. Nesse sentido, primeiramente destacamos

    as estratgias de concorrncia e competitividade entre as principais companhias areas e como

    estas estratgias geram a cooperao (por meio, sobretudo de acordos e alianas), nos

    aeroportos de maior fluidez.

    A concorrncia e a competitividade se constituem como os principais

    componentes que fomentam a formao de acordos de cooperao e alianas entre as

    companhias areas que operam nos aeroportos que constituem os principais hubs7 do pas,

    uma vez que so os aeroportos que detm maior movimentao de passageiros e onde as

    estratgias so mais diretamente aplicadas e desenvolvidas, em outras palavras, uma forma

    de se garantir poder territorial de atuao.

    A dinmica do capital, ao mesmo tempo em que induz um processo de

    concorrncia e competitividade entre as companhias areas, fomenta tambm a cooperao

    configurando uma estratgia particular de mercado, sendo que a concorrncia e a

    competitividade combinam-se garantindo a reproduo acelerada do capital das grandes

    companhias areas e permitem a estas um maior domnio territorial em diferentes escalas de

    atuao.

    Nessa perspectiva, se algumas poucas empresas areas dominam determinados

    territrios e aeroportos, estas podem dividir entre si a rea de atuao de cada uma delas,

    limitando a expanso de outras empresas areas. As estratgias podem gerar tanto a rivalidade

    quanto a cooperao entre companhias areas e, isso permite s lderes do setor o domnio do

    mercado.

    7Hubs constituem os pontos de ligao do transporte areo, ou seja, so os aeroportos onde as empresas areas

    centralizam suas operaes. Os hubs principais so aqueles em que h maior oferta e demanda de voos, da se falar que um hub estratgico ou no, isto , se ele possui capacidade de gerao de trfego, diz-se que este

    estratgico do ponto de vista das empresas areas centralizarem suas operaes. Quanto mais ligaes com

    diferentes pontos, mais estratgico torna-se o hub e essas ligaes so diretamente maiores se houver demanda e

    oferta nos itinerrios.

  • 31

    Ao efetuar uma anlise correlacional entre o capital e o territrio, no se busca

    verificar uma relao hegemnica, mas elucidar a indissociabilidade entre ambos. De certa

    forma, ramo a ramo, setor a setor, segmento a segmento, configuram seus interesses

    particulares, induzem estratgias individuais ou coletivas, instigam a rivalidade e para que

    essa dinmica tenha resultado, emerge a necessidade de criar, desenvolver estratgias e

    sustentar vantagens competitivas e comparativas.

    A busca por novos padres de concorrncia, por inovao tecnolgica e as

    prprias estratgias de associao, fuso, aquisio, falncia, reagrupamento, alianas,

    barreiras entrada/consolidao etc., so aes essenciais macrodinmica capitalista, bem

    como contribuem para a constante valorizao do capital e, tambm para a sobrevivncia das

    companhias areas num mercado cada vez mais imprevisvel, nesse sentido ter um maior

    poder de abrangncia territorial essencial como forma de reproduzir seus interesses

    individuais, que contraditoriamente parecem coletivos.

    Por isso, reconhecer os desafios concorrenciais, a estrutura de mercado, a criao

    e as mudanas de estratgias, a sustentao de vantagens competitivas so os componentes de

    combusto, de conflagrao que induzem a transposio daquilo que se considera como uma

    anlise intrafirma, ou apenas como uma anlise sobre a estrutura organizacional da empresa

    area. Verificar a magnitude da estratgia competitiva8 (PORTER, 1986; 1989) corresponde,

    na anlise aqui pretendida, observar o comportamento da empresa area para alm dos

    modelos conceituais de custo, preo limite, rendimento, mensurao de custo/benefcio, ou

    ainda, compreender a empresa area segundo premissas de equilbrio, certeza e racionalidade

    perfeita que resultam em um tipo de anlise esttica do processo de tomada de deciso

    (VASCONCELOS; CYRINO, 2000), da compreender a ao estratgica do capital na relao

    com os efeitos territoriais.

    Quando se trata de estratgias, as bases conceituais de Michel Porter3 (1986;

    1989; 2000) so sempre evidenciadas em trabalhos de diferentes reas cientficas, que na

    8 As anlises de Michael Porter partem de uma proposta que tem a empresa como o fator principal do mercado,

    isto , a empresa responsvel por todo processo de desenvolvimento do mercado, da indstria, do consumo, das

    estratgias etc.. Buscaremos evidenciar a empresa area como um importante mecanismo de organizao do

    mercado e de suas competncias estratgicas que as fazem permanecer no setor. No entanto, ressaltamos que a proposta dessa pesquisa insere-se numa perspectiva que perpassa a anlise exclusiva da empresa, por isso

    associar a essa anlise elementos que nos permitam compreender a trajetria da aviao comercial, o territrio, o

    poder do Estado, os agentes privados, a sociedade, a indstria aeronutica entre outros agentes fomentadores do

    desenvolvimento do setor.

  • 32

    maioria das vezes, toma-o como um resultado definido por si s e que considerado acabado

    e completo. Para o autor:

    Estratgia a criao de uma posio nica e valiosa, envolvendo um

    conjunto diferente de atividades. Se houvesse apenas uma posio ideal, no haveria qualquer necessidade de estratgia. A essncia do posicionamento

    estratgico escolher atividades que so diferentes dos rivais (PORTER,

    2000:69)9.

    Compreendemos que a necessidade de criar estratgias que coadunam em

    vantagens competitivas fundamental para consolidao no mercado, conforme destacado

    pelo autor, uma vez que mediante a estratgia que as empresas areas conseguem constituir

    e organizar um mercado de acordo com seus interesses. Contudo, esse mercado no se limita a

    ocorrncia de eventos10

    individualizados territorial e setorialmente.

    Vale acrescer que uma das ideias centrais da pesquisa compreender a estratgia

    das companhias areas e no a gesto tcnica destas. Por isso, as abordagens de Porter no so

    suficientes em termos de compreenso do poder da estratgia associada aos demais elementos,

    isso porque, ao considerar as estratgias como uma anlise do jogo concorrencial, o autor se

    limita negligenciando aspectos como: o papel do Estado, a cooperao e as alianas,

    exacerbando um determinismo setorial que por vezes no contribui para nossa abordagem, da

    a necessidade de incorporar a essa anlise demais autores que retratam a questo da estratgia

    das empresas areas para alm do interior da companhia area.

    Fischer (2008 [1990]) alega que "a estratgia definida como o conjunto de

    dispositivos decisionais que permitem firma antecipar seus futuros resultados". Leroy (2004:

    27) salienta que: "a estratgia consiste na busca de uma vantagem concorrencial significativa,

    durvel e defensvel11

    ". Portanto, a estratgia engloba diversas e potenciais aes como, por

    exemplo, definir se a nfase estar no planejamento operacional ou na prestao dos servios,

    no custo do que produzido ou na diferenciao do produto que oferecido, se busca

    9 "Strategy is the creation a unique and valuable position, involving a different set of activities. If there were

    only ideal position, there would be no need for strategy. The essence the strategy positioning is to choose

    activities that are different from rivals." (Traduo nossa).

    10 Ao referenciarmos a expresso "mercado de transporte areo" convm esclarecer que consideramos "mercado"

    o locus do setor em que se observa a mutabilidade das aes estratgicas, aonde as estratgias so moldadas, as

    interaes competitivas so efetivadas e a rivalidade e a orientao estratgica so definidas. Sendo assim, nesse mercado que se do ora a concorrncia, ora a competitividade, ora os dois processos ocorrem

    correlacionados e fomentam a cooperao.

    11 "La stratgie consiste rechercher un avantage concurrentiel significatif, durable et dfendable" (Traduo

    nossa).

  • 33

    priorizar a cadeia de valor, a coerncia produtiva, a inovao que a empresa area implementa

    como forma de criar vantagens competitivas. Mas, somado a isso tudo est o fato de que

    indubitavelmente busca-se ampliar suas aes estratgias por diferentes territrios.

    Marx (1974 [1885]: 218) assevera que o empresrio de transporte no um

    comerciante, portanto, ele no consegue apropriar-se da mais-valia produzida pelo capital

    industrial. Para o autor, a indstria de transportes constitui, por um lado, ramo autnomo da

    produo e, por isso, uma esfera especial de investimentos do capital produtivo.

    Nesses termos, o empresrio capitalista de transporte no capta mais-valia em sua

    mercadoria, pois ele nada produz. Seus empregados no geram mais-valia a ele, pelo mesmo

    fato de que eles no esto produzindo nada, esto apenas prestando um servio. O empresrio

    precisa tirar seu lucro (ganho empresarial) de algum lugar, como forma de reproduzir seu

    capital e retransform-lo, colocando novamente na esfera de circulao. Se, portanto, no h

    gerao de mais-valia, seu lucro obtido pelo preo cobrado no servio que presta, ou seja, na

    mercadoria que vende, e ele vende o "deslocamento", ou seja, a "fluidez".

    Mas, o empresrio capitalista no pode colocar seu preo to mais alto que o

    concorrente que oferece a mesma mercadoria nas mesmas condies de deslocamento

    (mesmo itinerrio, tempo de voo, equipamento, classe etc.), pelo contrrio, como isso um

    princpio da concorrncia intercapitalista, quanto mais competitivo o preo de sua

    mercadoria em relao aos seus concorrentes (nas mesmas condies de qualidade do

    servio), maior ser sua captao de lucro.

    Por isso, o empresrio capitalista de transporte precisa procurar seu lucro em outro

    momento da reproduo do capital, esse outro momento est, no caso do setor de transporte

    areo, na malha de voos, ou seja, quanto maior seu domnio territorial, quanto maior o nmero

    de slots12

    nos aeroportos mais movimentados, tanto maior ser seu lucro, pois

    estrategicamente este empresrio est operando nos aeroportos de maior demanda, uma

    demanda que j existente (ele no precisa criar essa procura).

    Portanto, o lucro j est realizado, basta ao empresrio capitalista materializar esse

    lucro em seu favor, e isso se dar em razo da permisso das entidades reguladoras, da

    disponibilidade de capital constante que este empresrio capitalista detm e, sobretudo, esse

    lucro se converte em funo da escolha das estratgias de concorrncia e de competitividade.

    12 Slots: denominao dada s parties de tempo em um intervalo de uma hora durante as quais apenas uma

    operao de pouso ou de decolagem permitida (BNDES, 2011).

  • 34

    Em outras palavras, corroboramos com Marx (1985 [1894]: 303) que destaca que o lucro

    determinado pela concorrncia, "mas a concorrncia j supe a existncia do lucro".

    Dessa forma nos deparamos com a importncia das escalas territoriais de atuao

    das companhias areas. As escalas territoriais perfazem o processo de circulao, da fluidez

    area, que por sua vez confirma, entre outros elementos, a valorizao e reproduo do

    capital.

    A escala de atuao permite imprimir um carter ainda mais cnscio ao "sobrevoo

    das companhias areas", qual seja: a extenso territorial de suas operaes. A escolha das

    escalas no tem como base a aleatoriedade da fluidez, das rotas e malhas, a sistematizao se

    d mediante uma extensiva programao de linhas, do incremento da oferta/demanda, dos

    critrios mercadolgicos, da origem/destino (pares de cidades), da receita e dos custos do voo,

    do tempo de voo, da faixa horria requerida e autorizada13

    , da demanda potencial, o que

    corresponde no somente a uma eloquente estratgia empresarial, como tambm a uma

    permisso governamental e de infraestrutura condizente.

    A escala territorial de atuao implica no controle, na dominao, na construo

    do poder em determinado territrio (aeroporto, nos slots do aeroporto, no espao para pouso e

    decolagens) e, no caso do setor de transporte areo, tambm se configura em determinado

    tempo, j que as empresas areas possuem um tempo para pousar e decolar e, nesse perodo

    de tempo as mesmas tem o poder, o controle e a dominao daquele territrio.

    De acordo com Melazzo e Castro (2007: 141) o domnio da escala de ao de cada

    sujeito (e a podemos entender de cada companhia area), em suas estratgias territoriais,

    coloca em discusso o poder e a poltica de sua definio. Com isso, os autores destacam que

    em suas "assimtricas relaes sociais, econmicas, culturais etc., h uma disputa no apenas

    da possibilidade de dominar as escalas, mas tambm da definio das escalas mais adequadas

    a sua ao, incluindo-se a, a possibilidade de articular escalas".

    Assim, as escalas territoriais de atuao ainda permitem a determinao da

    articulao entre elas, melhor dizendo, as escalas se integram, se articulam e muitas vezes se

    complementam. Desse modo, as escalas:

    [...] no devem ser tomadas to somente em sua dimenso ordenada

    cartogrfica-analgica-mtrica, mecanicista e geometral, nem vistas como

    13 O rgo incumbido da autorizao das malhas de voos das companhias areas a Anac.

  • 35

    mera relao de proporcionalidade, dotadas de representao e

    comensurabilidade de medidas de tamanho e enquanto entidades fixas.

    Escalas so inerentemente inexatas e dinmicas. No podem ser tomadas enquanto unidades imutveis ou permanentes, pois so justamente inscritas e

    esculpidas em determinado espao e erguidas ou erigidas, material e

    simbolicamente, em processos, por natureza, sociais. Trata-se de pensar as

    escalas espaciais enquanto instncias e entidades [...]. Uma escala s pode ser definida e qualificada apenas em relao s outras. Parte das dinmicas e

    lgicas escalares, em geral em particular, jaz justamente nos nexos e

    coerncias interescalares (BRANDO, 2011: 310).

    Enquanto lgica de mercado a escala de atuao se acentua como forma de

    mensurar o nvel de expanso territorial da companhia area, ou seja, se a empresa area

    opera voos regionais, nacionais e/ou internacionais e qual seu padro de concorrncia no

    mercado, fato este que se d mediante o perfil da empresa area, seu tamanho absoluto (se

    pequena, mdia ou de grande porte), o tamanho relativo (a parcela de mercado que est sob

    sua influncia), posse ou aquisio de equipamentos como, por exemplo, avies compatveis

    s escalas territoriais que buscam atuar, uma vez que a autorizao de rotas pelos rgos

    competentes no contingente.

    Em suma, o planejamento das malhas de voos nas diferentes escalas territoriais

    est invlucro s estratgias empresariais e tem uma combinao direta com os interesses

    especficos de cada companhia area, que podem ser: entrar num mercado de um oponente

    como forma de acirrar a concorrncia e/ou diminuir a rentabilidade da empresa area rival e

    intensificar uma possvel crise ou ainda; como uma medida para se criar um novo nicho de

    mercado ainda no explorado ou mesmo como uma medida de se aliar a um oponente de

    menor expressividade, como forma de complementar suas operaes.

    Se a escala territorial tem menor abrangncia, como por exemplo, segmento

    regional, desenvolvem-se aes que buscam associaes, agrupamentos ou at mesmo

    aquisio de empresas areas de menor porte; se a escala territorial nacional promovem-se

    outras estratgias diferenciadas daquelas que se aplica num segmento menos adensado e; se a

    escala internacional a definio estratgica se consolida mediante aes que visam uma

    conduta distinta das executadas no mercado domstico.

    Nessa dinmica do capital integrada dinmica territorial fundamental conciliar

    o papel e as aes do Estado no desenvolvimento do setor de transporte areo no Brasil.

    Somado a isso temos que a infraestrutura relacionada as polticas desenvolvidas pelo Estado

  • 36

    se verifica a partir dos desafios e das perspectivas de crescimento para o setor areo em

    relao, sobretudo, as concesses aeroporturias iniciativa privada.

    Assim, diante de novos rumos que foram sendo traados no decorrer desse voo, os

    captulos foram sendo construdos observando, sobretudo o constante movimento do setor,

    que ora apresentava reas de turbulncias de difcil transposio compreenso terica e que

    muitas vezes exigiu compreender uma relao mais profunda entre a teoria e o emprico.

    Imbudos pela integrao entre a dinmica do capital e a dinmica do territrio,

    sistematicamente acrescida pela relao entre o terico e o emprico, que estruturamos nossa

    pesquisa. Alm dessa introduo e das consideraes finais, destacamos cinco captulos. Para

    organizar tanto a ordem como os pontos especficos a serem tratados em cada captulo

    especificamente, foi considerada uma pergunta geral que engloba a lgica de definir o

    objetivo de cada captulo ao objetivo e hiptese principal dessa pesquisa.

    Nessa perspectiva, o Captulo 1 se baseou na seguinte indagao: "Por que a

    dinmica do setor de transporte areo brasileiro permite que as grandes companhias areas

    desenvolvam estratgias de concorrncia e competitividade e, ao mesmo tempo, essas

    estratgias funcionem como formas de cooperao"? Para responder essa pergunta esse

    captulo discute uma questo central de nossa anlise: os conceitos de concorrncia e

    competitividade. A ausncia de um consenso dos conceitos um fato que faz com que muitos

    autores os utilizem como sinnimos. Na busca por transpor retricas e similitudes, buscamos

    traar um limite de correspondncia entre esses conceitos, que os distinguem como forma de

    apresentar uma nova fuselagem14

    para nosso avio.

    Desse modo, nosso objetivo analisar as aes estratgicas do capital empresarial

    e a incessante busca pela ampliao e reproduo do seu capital. Para isso, enfatizamos como

    a concorrncia, a competitividade a cooperao entre as empresas areas brasileiras se do

    como forma ampliar e garantir a expanso territorial de suas operaes em mltiplas escalas

    (regional, nacional e internacional), visando tambm promover e assegurar o market share.

    Desse modo, o objetivo desse captulo inserir uma abordagem em que revelamos as

    dinmicas existentes a partir dessas estratgias e dos processos correlatos a elas, tais como a

    concentrao e centralizao do capital.

    14 Fuselagem: corpo principal da aeronave onde se fixam as asas (Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa,

    2009).

  • 37

    A contribuio desse captulo vem no sentido de explicar que a concorrncia, a

    competitividade e a cooperao (juntamente com os processos que lhes so imanentes) so

    mecanismos utilizados pelas empresas areas atingirem um maior domnio territorial, ampliar

    a visibilidade de suas marcas e deter a supremacia do poder a partir de aes estratgicas

    executadas em diferentes escalas. Para isso, nos orientamos terica e empiricamente em como

    e porque a dinmica do setor de transporte areo permite que as grandes companhias areas

    brasileiras desenvolvam estratgias de concorrncia e competitividade com a funo de

    empreenderem estratgias de cooperao, a partir de acordos e alianas. Nesse aspecto,

    argumentamos ainda que indiferente da ao estratgica escolhida, as companhias areas

    brasileiras buscam afianar seu poder no mercado, a partir de territrios e de aeroportos

    especficos que permitem a reproduo do seu capital empresarial.

    Ao partimos para o Captulo 2 nos inquirimos quanto dinmica do capital. "Por

    que e de que forma as companhias areas TAM, GOL e AZUL se consolidaram no setor de

    transporte areo brasileiro a ponto de dinamizaram uma lgica concorrencial, competitividade

    e cooperativa nas mltiplas escalas territoriais"? Para apresentar argumentos plausveis a

    nossa questo, foi necessrio apresentar essas companhias areas e o desenvolvimento de suas

    aes estratgicas temporalmente.

    Nosso propsito enfatizar a dinmica do capital, considerando as estratgias

    dessas companhias areas no decorrer de suas histrias e porque e como cada estratgia foi

    implementada visando um poder que no era apenas de potencial de mercado, mas

    principalmente um poder de expanso territorial, auxiliando na comprovao da nossa tese de

    que h uma relao entre a dinmica do capital e a dinmica territorial. Dessa forma, a

    concorrncia, a competitividade e a cooperao indicam que no decorrer da trajetria de cada

    empresa area, essas estratgias foram definitivas para que as mesmas se consolidassem no

    setor de transporte areo brasileiro.

    Mais do que uma anlise cronolgica do desenvolvimento e consolidao dessas

    empresas areas, este captulo contribui para compreender como as estratgias se

    materializam no setor de transporte areo brasileiro a partir da atuao das empresas areas

    nos diferentes territrios. Para isso traamos paralelos entre as escolhas estratgicas das

    empresas em cada momento de desenvolvimento do setor de transporte areo no Brasil,

    observando j nesse captulo, como o papel do Estado e as definies do mercado foram

    decisivos para ascenso e descenso de algumas companhias, como ser destacado nos

    captulos seguintes.

  • 38

    O Captulo 3 um desdobramento do captulo anterior, no sentido de

    complementar nossa abordagem, pois se remete a demonstrar a integrao entre a dinmica do

    capital e a dinmica territorial. Nessa perspectiva, indagamos: "Qual o determinante

    fundamental da reproduo do capital no setor de transporte areo brasileiro"? A resposta

    enftica: a ao estratgica das companhias areas tem como determinante fundamental

    garantir o poder de atuao territorial.

    No sentido da pergunta e da resposta que norteiam esse captulo, o objetivo

    ressaltar a relao entre o capital e o territrio a partir das aes estratgicas das companhias

    areas em cada aeroporto destacado na pesquisa e que so os principais hubs, de maior

    movimentao e interesse das empresas areas. Buscamos mostrar com isso que os aeroportos

    possuem uma relao direta com os territrios onde esto localizados. A dinmica territorial

    define e influencia os interesses de reproduo do capital empresarial. Cada aeroporto possui

    uma especificidade, porque est localizado em um territrio que detm particularidades que

    so determinantes para as escolhas do capital. Assim, ressaltamos que nenhum territrio

    igual, portanto nenhum aeroporto pode substituir outro, mas a prpria localizao dos

    aeroportos permite que estes se confrontem, como o caso dos aeroportos do Estado de So

    Paulo e do Rio de Janeiro.

    Para responder nosso objetivo e contribuir com a hiptese do trabalho, nesse

    captulo destacamos a correlao da dinmica do capital com a dinmica territorial a partir da

    essencialidade de cada aeroporto pesquisado. Assim, explicamos como a localizao de cada

    aeroporto no territrio brasileiro opera com funes que lhes so especficas e que

    caracterizam a fluidez nos mesmos. Mostramos com isso que o territrio em que est

    localizado o aeroporto um fator determinante que os difere, por isso, cada um possui uma

    demanda e oferta especfica e tambm por isso que as empresas empreendem estratgias

    distintas e possuem distintos interesses em cada aeroporto.

    Nesse sentido, o captulo contribui ainda para a compreenso de que estes

    aeroportos no foram escolhidos aleatoriamente, eles tm um poder de atrao potencial na

    rede aeroporturia brasileira, uma vez que as articulaes empresariais promovidas visam

    uma atuao especfica em cada um dos aeroportos supracitados, pois estes esto localizados

    em centros econmicos representativos e que possuem uma dinmica de fluidez mais

    acentuada, confirmando a frentica busca do capital por territrios de maior pujana. Da

    entender que o capital empresarial busca se desenvolver onde sua reproduo tem maior

    potencial, ou seja, nos territrios e aeroportos de maior capacidade de gerao de trfego.

  • 39

    Para tornar mais clara nossa argumentao, apresentamos mais veementemente

    como se d essa correlao da dinmica do capital com a dinmica territorial. Para isso foi

    essencial resgatar alguns conceitos-chave da Geografia e que se revelaram diretamente

    conectados a nossa abordagem, tais como fixos, fluxos, redes e escalas. Nesse sentido, vale

    ressaltar que no se trata de substituir palavras por conceitos, mas sim de prover uma leitura

    geogrfica sobre o setor de transporte areo, tendo como base principal a proposta de

    interpretao conceitual apresentada no Captulo 1 e consonante aos demais. Nesse sentido,

    esses conceitos-chave funcionam como instrumentos tericos de anlise e, por sua vez,

    contribuem para a compreenso das articulaes empresariais promovidas visando uma

    atuao especfica nos aeroportos estrategicamente selecionados pelo interesse do capital em

    funo do territrio em que se localizam.

    A relao entre esses trs primeiros captulos se d na perspectiva de compreender

    os conceitos de concorrncia e competitividade terica e empiricamente e tambm visualizar

    dois pontos essenciais j destacados: a estratgia e as escalas territoriais de atuao que

    orientam a relao com as aes e o papel do Estado. nesse sentido que encaminhamos o

    Captulo 4 que contextualiza dois pontos analisados anteriormente, um no Captulo 2 e o outro

    do Captulo 3. O primeiro ponto refere-se ao papel do Estado no desenvolvimento do setor

    areo brasileiro e o segundo ponto est vinculado questo infraestrutural dos aeroportos

    brasileiros.

    Para tecer essa relao, a questo base desse captulo se circunscreve na seguinte

    indagao: "Por que e como o Estado tem atuado no sentido de viabilizar a infraestrutura

    aeroporturia e como suas polticas tem promovido o desenvolvimento do setor de transporte

    areo brasileiro"?

    A infraestrutura aeroporturia essencial para que os fluxos se materializem e

    deem funcionalidade aos fixos, ou seja, os fluxos no se realizam, nesse nvel de

    complexidade que demanda o setor de aviao comercial, se os aeroportos enquanto

    infraestrutura no se constiturem como instrumentos que possibilitam as ligaes entre essa

    rede de fluxos. Nesse aspecto, nosso objetivo fundamental nesse captulo discutir como as

    recentes iniciativas e aes polticas do Estado tem se consolidado como essenciais para o

    desenvolvimento da infraestrutura aeroporturia.

    Nessa abordagem, consideramos que o Estado tem promovido uma lgica

    inovadora, diferente do que foi desenvolvido at o momento. Ao conceder aeroportos

    pblicos iniciativa privada, o Estado deixa de assumir dois papis contraditrios nesse

  • 40

    sistema, quais sejam: o de poder concedente e, ao mesmo tempo, o de concessionrio. Nesse

    sentido que buscamos enfatizar que mais do que um jogo de palavras, necessrio

    compreender que os aeroportos brasileiros no foram cedidos, foram concedidos.

    O segundo ponto, do qual tratamos da infraestrutura aeroporturia, se revela por

    meio da influncia estrangeira, sobretudo quando discutimos o atual processo de concesses

    dos aeroportos iniciativa privada.

    Esse captulo contribui no sentido de revelar que a atuao governamental

    associada as novas posies do Estado em relao a infraestrutura aeroporturia primordial

    tanto s companhias areas como para o territrio. Para isso, defendemos a necessria

    diferenciao entre concesso e privatizao, como forma de explicar o que e porque o

    Estado optou pelo modelo de concesso de aeroportos iniciativa privada. Esses elementos

    contribuem como forma de reforar a relao entre as dinmicas do capital e territorial, uma

    vez que o Estado e suas aes tanto influencia como influenciado pela integrao dessa

    dinmica. Nesse sentido, argumentamos que a presena da iniciativa privada, seja nacional ou

    internacional, torna-se cada vez mais presente no setor areo brasileiro, com isso buscamos

    orientar as explicaes que sero desenvolvidas no captulo seguinte, em que destacamos as

    aes, influncias e interesses das companhias estrangeiras pelo territrio brasileiro e pelas

    empresas areas brasileiras.

    Diante desse processo globalizante que em diferentes momentos do

    desenvolvimento do setor de transporte areo no Brasil influenciou, sobremaneira, tanto as

    aes das empresas areas como as aes do Estado; que o Captulo 5 apresentado com a

    seguinte pergunta: "Por que o setor areo francs uma referncia s anlises do setor areo

    brasileiro"?

    As respostas a essa questo so destacadas no captulo a partir de uma abordagem

    sobre o setor de transporte areo francs e suas aes estratgicas, com destaque para a

    companhia area AIR FRANCE15

    . O propsito desse captulo abordar como as escolhas

    estratgicas do setor de transporte areo francs tem se processado e como essas aes tm

    direta e/ou indiretamente influenciado as companhias areas brasileiras, tanto no sentido de

    redefinir algumas aes e aplic-las no Brasil, como no sentido de criar uma relao,

    15 Essa abordagem se deu mediante um estgio de doutoramento realizado na Universit Sorbonne Nouvelle -

    Paris 3 (Frana), onde foi desenvolvido o projeto de pesquisa intitulado: "O transporte areo brasileiro e a

    influncia dos paradigmas competitivos do setor areo francs a partir do caso da AIR FRANCE", financiado

    pela Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (Fapesp).

  • 41

    mediante acordos e alianas com empresas areas estrangeiras, corroborando que a dinmica

    do capital excede os limites territoriais do pas, isso se d porque o setor de transporte areo

    brasileiro no se define internamente ao territrio nacional, mas por uma conjuntura

    macroeconmica e empresarial que no se satisfaz com aes estratgicas limitadas ao Brasil

    e as empresas areas domsticas.

    Esse captulo contribui na medida em que demonstra que as estratgias so

    desenhadas e desenham-se como mapas de influncia territorial. Isso nos permite destacar que

    o poder de uma empresa area no est alicerado apenas no local, h uma interdependncia

    ntida que faz com que as companhias areas necessitem constantemente atuar em mltiplas

    escalas territoriais, como forma de assegurar o poder de atuao territorial, ascender

    preponderantemente seu market share e confrontar aes estratgicas que se fazem mediante

    um jogo de relaes empresariais que, na maioria das vezes, se do por relaes cooperativas,

    por acordos e alianas estratgicas, que so oportunas e garantem a consolidao das grandes

    empresas no setor areo brasileiro.

    Nesse sentido, a estratgia de formao de alianas e/ou insero em sistemas de

    alianas globais fundamental para compreender a influncia gerada pelo mercado de

    transporte areo estrangeiro no Brasil. Buscamos ainda nesse captulo observar e analisar de

    que forma a AIR FRANCE tem desenvolvido suas aes estratgicas com interesse no

    mercado areo brasileiro16

    .

    Os capitais empresariais concorrem e competem, ora os objetivos prevalecem

    como forma de liquidar proponentes por meio de medidas concorrenciais, ora a permanncia

    de uma empresa area rival o que atribui uma lgica estratgica para se barganhar um maior

    domnio territorial do mercado, para isso a escolha das estratgias e a escala de atuao

    territorial so definidoras da reproduo do capital.

    16 Soma-se a isso o fato de que, para alm de uma anlise especfica sobre o transporte areo, a escolha por

    investigar os paradigmas de concorrncia e competitividade do setor areo francs se subescrevem nas relaes

    estabelecidas pela Frana e o Brasil na perspectiva da Geografia. A influncia dessa escola contribui para

    compreender que h um paralelismo entre essas escolas que se originou da aproximao entre esses dois pases e

    que deixou resqucios profundos na anlise realizada no Brasil. Nesse sentido, Borzacchiello da Silva (2012) nos

    rev