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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13thWomen’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
AMPLIANDO O PARADIGMA DA JUSTIÇA: UM ESTUDO DE CASO DAS
LÉSBICAS NAS PERIFERIAS DO RIO DE JANEIRO
Suane Felippe Soares1
Maria Clara Dias2
Resumo: Essa apresentação é um relato da pesquisa de doutorado que vem sendo desenvolvida com
lésbicas moradoras das periferias cariocas em ambientes virtuais, por meio de encontros presenciais
e da rede social chamada WhatsApp. Com a inserção no campo as pesquisadoras procuram
compreender especificidades concernentes a essas lésbicas e com isso elaborar questões de justiça
orientadas segundo os pressupostos da Perspectiva dos Funcionamentos. A realidade lésbica das
periferias do Rio de Janeiro é bastante específica e guarda um complexo sistema de valores, normas
sociais e tradições que embasam o que podemos chamar de um grupo identitário ou de uma cultura
das lésbicas periféricas cariocas marcadas por relações entre sexo, classe e raça. Como a Perspectiva
dos Funcionamentos tem como foco ampliar o grupo dos concernidos pela justiça garantindo suas
individualidades, a aplicação da mesma ao caso em questão parece bastante propícia. A intenção
central do trabalho é dar visibilidade a esse grupo com vias a tornar-lhes objetos e agentes da
moralidade. Ou seja, visa colaborar com a melhoria da qualidade de vida dessas lésbicas,
aproximando as políticas públicas da realidade material deste grupo.
Palavras-chave: Lésbicas. Periferias. Tecnologia. Políticas públicas. Direitos lésbicos.
Este trabalho está voltado para a ampliação dos saberes acadêmicos sobre as lésbicas que
habitam as periferias cariocas. Com a pesquisa embasada na Perspectiva dos Funcionamentos e em
teóricas do feminismo lésbico, busca-se identificar quais são os funcionamentos básicos que esta
parcela da população demanda, necessita e em alguns casos, promove por vias paralelas aos poderes
públicos para mostrar espaços de atuações possíveis de políticas públicas específicas.
Os funcionamentos básicos para um indivíduo ou para um grupo de indivíduos são o foco da
Perspectiva dos Funcionamentos (PdF), idealizada por Maria Clara Dias (DIAS, 2015), trata-se de
uma forma contemporânea de pensar os problemas sociais, as injustiças e a distribuição de recursos
por meio do que vem a ser uma nova teoria de justiça focada na ampliação dos concernidos pela
moralidade e com foco nos funcionamentos básicos. A parte referente ao trabalho de campo do projeto
foi desenvolvida com um grupo de sociabilidade de lésbicas que habitam as regiões periféricas na
cidade do Rio de Janeiro e encontram-se virtualmente e presencialmente. A equipe de pesquisa esteve
1 Suane Felippe Soares é doutoranda em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva pelo PPGBIOS-UFRJ, Rio de Janeiro,
Brasil. 2 Maria Clara Dias é professora Titular de Filosofia da UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil.
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em contato com o grupo estudado por aproximadamente dois anos e realizou entrevistas presenciais
qualitativas com algumas membras do grupo por meio das quais foram coletados os dados utilizados
para a realização do presente material.
O trabalho de Falquet (2001), sobre a contribuição de Nicole-Claude Mathieu para o
feminismo apresenta a questão do conceito de mulher como entidade sociológica e antropológica. De
acordo com este estudo, as condições das sociedades uxorilocais3 e matrilineares4 relacionadas com
graus diferenciados de formações matriarcais5 demonstram, por meio da constatação da variabilidade
de complexa pesquisa de campo e de fontes a relatividade própria da categoria mulher, algo que a
possibilita ser catalogada, como afirmou Wittig, enquanto uma entidade sociológica e não como um
elemento adjacente e acessório aos homens. As mulheres, em diversas culturas, principalmente de
algumas tradições africanas e ameríndias, são eixos fundantes e primordiais de organização e da
valoração social. Tal constatação associada ao denso trabalho de Mathieu, nos mostra como é relativa
a pretensamente solidificada e estrutural condição de subordinação feminina (FALQUET, 2001, p.
15).
Em uma metrópole como o Rio de Janeiro, as lésbicas são diversificadas e encontradas em
todas as classes sociais, origens religiosas, regionais e raciais. Ou seja, empregando a terminologia
de Mathieu (MATHIEU apud WITTIG, 2010, p.16), a condição da mulher enquanto traço culturale,
adaptando o conceito ao caso das lésbicas, podemos analisar a ocorrência das mesmas na sociedade
brasileira contemporânea.
Uma parcela da juventude, fortemente ligada à cultura pop influenciada por traços culturais
dos países do Norte, costuma produzir sujeitos que se encaixam no estereótipo da lésbica mais
difundido pelos meios de comunicação (AGOSTINI, 2010). Esta é uma lesbianidade mais aceita, ou,
menos rejeitada. Observa-se que corresponde à imagem de uma mulher moderna, sem preconceitos
ou “sem rótulos”, independente, branca, feminina ou com uma certa androginia, pertencente a uma
classe média alta, magra e despojada, além de exibir gostos elitistas sobre arte, moda, cinema e jogos.
É preciso destacar que o universo em que esta figura se encontra é muito distante dos demais
que cabem às lésbicas periféricas que são, inclusive, a maioria quantitativa da população lésbica. A
intersecçãoque gera o status social formado por classe, raça e cultura delineia contornos muito
3 Sociedade onde os recém-casados se instalam na casa da família da esposa ou próximos dela. Do latim: uxor = esposa. 4 Diz-se do sistema de filiação e de organização social no qual só a ascendência materna é levada em conta para a
transmissão do nome, dos privilégios, da condição de pertencer a um clã ou a uma classe. 5Regime social em que a autoridade é exercida pelas mulheres.
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característicos aos tipos de lésbicas que podemos encontrar no Rio de Janeiro, ainda que existam
sempre as zonas borradas de ambiguidade e trânsito.
As periferias do Rio de Janeiro compõem a maior parte do território da cidade e estão divididas
entre pedaços da Zona Norte, da Zona Oeste e cidades limítrofes. Para o presente trabalho, serão
estudadas com maior ênfase as lésbicas que habitam a Zona Norte (ZN) por motivos diversos, dentre
eles a facilidade de acesso e contato com o grupo entrevistado. A ZN é composta por muito bairros e
aglomera boa parte das favelas e complexos de favelas da cidade como o Complexo do Morro do
Alemão, Morro da Mangueira, Favela do Jacarezinho, a região da favela de Manguinhos entre outras.
É marcada por ser uma região dormitório em que sua população se dirige cotidianamente para o centro
e para a Zona Sul da cidade, possui grande diversidade cultural, é o berço de tradicionais Escolas de
Samba do país, espaços de cultura popular como a Feira de São Cristóvão, o viaduto de Madureira
entre outros, é caracterizada pela presença massiva das igrejas neopentecostais (MARIANO, 2004,
p. 123), além de ser o berço de ritmos brasileiros como o funk entre outros aspectos importantes da
cultura carioca.
As lésbicas que habitam as periferias da cidade costumam ser, de acordo com os dados
coletados na pesquisa de campo, inseridas nas classes econômicas D e E, majoritariamente negras ou
mestiças, criadas segundo preceitos de religiões neopentecostais, mas afastada das igrejas devido às
dificuldades de conciliação da condição lésbica com os preceitos religiosos. Recorrentemente, na vida
adulta, alinham-se a religiões de matriz africana. Frequentam bares e boates localizados na Zona
Norte e aos arredores de seus trajetos cotidianos, costumam ser independentes financeiramente desde
muito jovens, a maioria delas, trabalhando desde a adolescência para o próprio sustento. São
recorrentes situações de conflitos com familiares tendo como consequência o afastamento da lésbica,
muitas são bastante feminilizadas e outras tantas são enquadráveis no estereótipo da caminhoneira,
uma lésbica infeminilizada, visível que em geral exerce profissões precarizadas e masculinizadas,
como pedreira, ajudante de pedreira, lavadora de carros, frentista de posto de gasolina etc. Costumam
ter preferências por músicas e artes populares como as atrações da Feira de São Cristóvão (Centro
Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas), do circuito cultural de Madureira,
majoritariamente voltado para rodas de samba, choro, MPB, pagode e bailes funks.
Sobre questões específicas à condição de lésbicas negras é interessante citar os trabalhos de
Marcelino (2012, p. 167) e de Meinerz (2001) nos quais são apresentadas situações do cotidiano de
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lésbicas negras que negam a feminilidade e o enfrentamento que precisam travar na união dos
preconceitos contra negras, contra lésbicas visíveis6, contra mulheres e tantos mais.
Portanto, o compartilhamento de uma cultura lésbica urbana, de forma geral, não ocorre.
Ainda que existam sempre elementos comuns a todas, os espaços de sociabilidade, os preconceitos
elitistas e raciais, os espaços mais comuns para cada região (Zona Norte x Zona Sul, por exemplo)
acabam por afastar e dividir as lésbicas cariocas.
A feminista lésbica francesa Monique Wittig defende que a ideia da existência de um conceito
“mulher” seria, na verdade, um mito, o “mito da mulher”. Isso porque ser mulher não seria nada além
de uma marca que os opressores impõem sobre as oprimidas com suas manifestações e efeitos
materiais na consciência e no corpo, tal marca não é preexiste à opressão. Isso quer dizer que ser
mulher é algo que se constrói no patriarcado por meio da diferença localizando as mulheres
hierarquicamente inferiores aos homens.
Essa reinterpretação de traços físicos (originalmente sem nenhum significado cultural) como
traços femininos é a forma de criar a mulher.Para a consciência lésbica, saber que não se tem estes
traços é nunca esquecer que ser mulher é antinatural. A mulher é sempre algo antinatural, limitador
opressivo e destrutivo.Todas essas questões estão, por outro lado, vinculadas ao pano de fundo mais
estático (mesmo que em constante reformulação), ou seja, a sociedade patriarcal, que imprime
modelos a serem perpetuados. Ajustes podem ser identificadas com o passar dos anos, décadas e
séculos, mas as permanências relacionadas a existência do ódio às lésbicas e de todas as dificuldades
enfrentadas por essas pessoas parece manterem-se conectadas a mesma matriz ideológica que é,
concomitantemente, misógina e falocêntrica (PULEO, 2006). Em outras palavras:
[...]o patriarcado por definir-se como um sistema de relações sociais sexo-políticas baseadas
em diferentes instituições públicas e privadas e na solidariedade intercalasses e intergêneros
instaurado pelos machos, que, como grupo social de forma individual e coletiva, oprimem as
mulheres também de forma individual e coletiva e se apropriam de sua força produtiva e
reprodutiva, de seus corpos e seus produtos, quer seja por meios pacíficos quer seja pelo uso
da violência. (FONTENLA, 2008)7 (tradução livre)
6 Lésbicas visíveis, mesmo sendo um conceito intuitivo, ou seja, designa as lésbicas que são facilmente catalogadas como
lésbicas por apresentarem atributos físicos notoriamente associados a esta condição sexual inclui também a noção do
estigma que estas mulheres carregam por serem exaustivamente discriminadas em decorrência da sua condição sexual. 7En términos generalesel patriarcado puededefinirse como un sistema de relaciones sociales sexo-politicas basadasen
diferentes instituciones públicas y privadas y enlasolidaridadinterclases e intragénero instaurado por losvarones,
quienes como grupo social y en forma individual y colectiva, oprimen a lasmujerestambiénen forma individual y colectiva
y se apropian de sufuerzaproductiva y reproductiva, de sus cuerpos y sus productos, yaseaconmedios pacíficos o mediante
el uso de laviolencia(FONTENLA, 2008).
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O cruzamento dessas questões fundantes do patriarcado acaba por criar uma trajetória
histórica que marca a formação da condição lésbica no Brasil e no Ocidente. Para a pesquisa, o acesso
às lésbicas enquanto grupo não é algo simples. Para a realização deste estudo foi escolhido como
campo de pesquisa um determinado grupo8de lésbicas que funciona na Zona Norte do Rio de Janeiro,
mas também incorpora algumas lésbicas provenientes de outras regiões periféricas. O grupo atua
cotidianamente de forma virtual por meio de redes sociais diversas, principalmente o WhatsApp, mas
também realiza encontros presenciais. O presente estudo teve como focoo contato pessoal entre a
equipe pesquisadora e as membras deste grupo que frequentam os encontros presenciais.
O acesso da população de baixa renda aos direitos básicos constitucionalmente garantidos é
um problema crônico brasileiro e característico do modelo de economia capitalista para países que
foram antigas colônias no processo de expansão mercantilista e colonialista a partir do século XV,
países com grandes desigualdades sociais e que ocupam os locais de dependência econômicacom
relação aos países centrais dentro do sistema neoliberal. O advento de políticas públicas que visam a
ampliação dos concernidos pela justiça é parte de um projeto de remodelação da sociedade que inclui
uma nova ética pública e social voltada para a melhoria na distribuição de recursos operando na
contramão da manutenção das desigualdades.
O foco da PdFé buscar formas de garantir às diversas entidades morais um novo paradigma
de justiça pautado na importância e no gerenciamento da inclusão e não no mérito e na catalogação
dos que devem ou não serem concernidos. Assim, todas aquelas entidades que são capazes direta ou
indiretamente de demandarem funcionamentos básicos para sua existência precisam ser tomadas
como concernidas morais.
Sem nos atermos à complexidade que a teoria exigiria para ser plenamente compreendida,
afirmamos que, na medida em que formos capazes de identificar sistemas funcionais, ou seja,
entidades morais básicas, teremos, portanto, a obrigação moral de garanti-lhes seus funcionamentos,
sua complexidade, ou melhor, seu florescimento. As lésbicas cariocas identificadas individualmente
e como um grupo, um traço cultural, na medida em que se enquadram no conceito de sistema
funcional que requer condições de existências a serem garantidas.
Por meio do reconhecimento da contribuição de Ronald Dworkinpara o tema da inclusão
social Dias incorpora a importância das ações afirmativas, especialmente as cotas, no caso brasileiro,
explicando que a importância das mesmas não é meramente operacional e reparadora, pois inclui o
elemento de combate aos diversos preconceitos, conecta a importância do protagonismo de setores
8O nome do grupo foi ocultado neste estudo para garantir a proteção aos sujeitos da pesquisa.
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sistematicamente excluídos das esferas de poder ao debate da inclusão. Além disso, cumpre a missão
de gerar debates e convivências que garantam visibilidade, mais trocas e dissolução de preconceitos
por meio do conhecimento do outro, da familiaridade e da contribuição de relações mais empáticas
em um tecido social mais diversificado (DIAS, 2015). Serão apresentados ao longo do texto alguns
dados coletados que contribuem para a identificação dos funcionamentos necessários ao grupo
estudado, por meio da caracterização do grupo e da apresentação dos dados podemos identificar
algumas demandas que podem indicar caminhos essenciais para o desenvolvimento de políticas
públicas para lésbicas.
As lésbicas moradoras das periferias do Rio de Janeiro devem ter seus funcionamentos básicos
atendidos. Para tanto, é preciso as demandas lésbicas sejam conhecidas e estudadas para que não só
a produção de políticas públicas voltadas para esta parcela da população seja garantida, mas também
para que elas próprias sejam capazes de criar suas próprias agendas e atuarem, em primeira pessoa,
na busca para a concretização das mesmas.
Portando, quais são as condições de existências das lésbicas nas periferias? E, como estas
lésbicas estão enquadradas enquanto cidadãs de direitos? Ou melhor, o quanto, ou, como o acesso à
cidadania e aos direitos básicos lhes estão assegurados? Sob a ótica da PdF, devemos indagar: quais
são os funcionamentos básicos que esta parcela da população necessita para seu florescimento? E,
portanto, como as políticas públicas que incorporam as lésbicas cariocas moradoras das periferias da
cidade são alcançadas por estas políticas?
Por meio da identificação de demandas por parte deste grupo local de lésbicas buscamos nesta
apresentação traçar um panorama brasileiro, utilizando aportes teóricos hegemonicamente nacionais
e latinos, sobre a relação entre as lésbicas e as políticas públicas. Assim, parto do pressuposto
apresentado por Orozco (2014, p. 125):
Entre as questões que têm despertado maior interesse está a denúncia sobre a não
neutralidade de gênero das políticas econômicas; es fala em umacegueira de gênero para
indicar uma negligência para com as relações de gênero que causam uma reprodução (ou
mesmo um agravamento) das desigualdades por meio da implantação de tais políticas.
Associado a isso, se tem percebidoum viés de gênero na política econômica a nível macro e
a nível médio como também foram identificadas instituições econômicas (e o papel do
Estado) enquanto portadoras de gênero (OROZCO, 2014, p. 125). (destaques da autora)
(tradução livre)9
9 Entre losasuntos que han concitado mayorinterés está la denuncia de la no neutralidad de género de las políticas
económicas; se habla de ceguera de género para señalarladesatención de las relaciones de género que produce una
reproducción (o incluso una agudización) de las desigualdades a través delfuncionamiento de dichas políticas. Vinculado
conesto, se hanpercibidosesgos de géneroenla política económica a nivel macro y a nivelmeso y se
hananalizadolasinstituciones económicas (y el papel del Estado) en tanto portadoras de género (OROZCO, 2014, p. 125).
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A ausência de neutralidade, ou seja, o favorecimento hegemônico das camadas dominantes
estão presentes também na criação, na distribuição e na organização das políticas públicas. As
lésbicas periféricas, portanto, sofrem uma faceta da invisibilidade institucional (visibilidade
institucional como funcionamento) neste cenário de redistribuição da riqueza brasileira por não serem
contempladas e tampouco incluídas como parte das políticas.
Podemos afirmar que o Brasil vive, a partir da redemocratização, disputas que conduzem a
política nacional entre um caminho neoliberal e outro inspirado em um projeto de Estado de bem-
estar social ou Estado-Providência. Os três pilares fundamentais para o Estado-Providência estão
ligados ao provimento de um sistema sanitário (direito à saúde pública), um sistema educacional
(direito à educação pública) e um sistema de proteção social (direitos ligados à empregabilidade e ao
combate ao desemprego). Entretanto, principalmente pautada na concepção de uma estrutura social
heterossexual em que as mulheres possuem suas forças produtivas centradas na manutenção da
família patriarcal é possível defender a existência de um quarto pilar invisibilizado pelo
heteropatriarcado, pelo neoliberalismo e também pelo pensamento clássico das esquerdas que, por
sua vez, subsome as mulheres à classe trabalhadora sem destacar o papel fundamental das mesmas
no processo produtivo ou reprodutivo para a manutenção do sistema(OROZCO, 2014, p. 130-145).
Estamos tratando, neste trabalho, de políticas públicas, e, portanto, centralmente sobre o
Estado-Providência, ou Estado de bem-estar social brasileiro, uma vez que os governos centralizados
em consonância com o modelo neoliberal não são caracterizados por investimentos no combate à
miséria por meio da redistribuição de renda. Também não serão discutidos modelos de governo ou
de sociedade e tampouco as graves limitações e os parcos benefícios advindos dos modelos estudados,
a questão é meramente localizar a condição lésbica diante do que já existe ou do que foi implementado
recentemente no país, estando ou não em atividade atualmente.
Da orientação geral do Estado dependem as políticas públicas; dos Estados inseridos de
forma subordinada num processo de globalização sob a hegemonia do capital financeiro
internacional, e, hoje sob impacto das ações hegemônicas dos EUA, dificilmente o acesso a
direitos sociais ou à proteção social embasam as políticas.
[...]
Os processos hegemônicos em nível mundial têm gerado uma globalização excludente que
vem aprofundando as desigualdades sociais, potencializando e se alimentando das
desigualdades entre mulheres e homens e entre raças e etnias (SILVEIRA, 2004, p. 66-69).
Países que ocupam lugares semelhantes ou inferiores ao lugar ocupado pelo Brasil nos
rankings internacionais de poderes e influências socioeconômicas possuem pouca autonomia na
elaboração de políticas voltadas para a solução de problemas internos e vivem à mercê de demandas
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do capital estrangeiro ou do corporações nacionais de grande porte para a criação de políticas que
atendam aos interesses destes, assim, podem ser priorizadas, por exemplo, medidas que incentivem a
produção agrícola para o mercado agroexportador, mas que ignorem a importância das pequenas
produtoras rurais lésbicas.
As próprias entidades, ou melhor, as pessoas que ocupam os cargos dentro das entidades
governamentais não possuem a visão, o interesse ou a preocupação de incluir mulheres
marginalizadas focando-se centralmente nas mulheres que podemos chamar de padronizadas. Por
mulheres marginalizadas podemos incluir todas aquelas que estejam incluídas em uma ou mais
categorias de exclusão social que exceda a condição da mulher heterossexual, branca, de classe média,
em idade reprodutiva, com a fé alinhada aos preceitos bíblicos e moradora de grandes e médios
centros urbanos.
Nas pequenas propriedades avícolas familiares é possível encontrar uma clara divisão de
tarefas para os homens e as mulheres. “Os homens são os chefes da família e os ‘primeiros’
proprietários dos bens familiares, são eles que comandam e decidem o tipo de atividades a
serem desenvolvidas na propriedade, o trabalho a ser desempenhado pelos membros, a
administração financeira dos recursos e a decisão de novos investimentos” [...].
Já “as mulheres são acima de tudo ‘mães’, mulheres atenciosas, disponíveis, e tendem a ser
menos repressoras que os homens. A elas cabe a administração do lar” e os cuidados
cotidianos familiares[...] (NOGUEIRA, 2012, pp. 515-516).
Como mostra o trecho acima extraído de um trabalho sobre a divisão sexual do trabalhadores
e trabalhadoras do setor agroindustrial de produção avícola brasileiro, as mulheres são
necessariamente heterossexualizadas e esta é a posição invisível que lhes cabe. Se, subvertem esta
norma e vivem como lésbicas, nem o lugar de subordinação dentro da família patriarcal lhes resta.
Vivem como párias em uma classe econômica que já é espoliada em direitos e condições básicas de
subsistência(igual consideração em relação aos homens no mundo do trabalho e no interior da
família como funcionamento).
As lésbicas são duplamente invisibilizadas na medida que, enquanto mulheres, são exploradas
como mantenedoras dos lares. Mesmo não sendo esposas de homens dez das dezesseis entrevistadas
afirmaram que são responsáveis pelas tarefas domésticas e normalmente atribuídas aos dois sexos,
ou seja, acumulam, em decorrência da pobreza, as tarefas domésticas tradicionalmente masculinas e
femininas além do trabalho para garantir o próprio sustento.
O homem tem que ser criado para prover a família e a mulher tem que ser criada para
aprender a cozinhar, para aprender a cuidar de filho, a mulher não pode ser engenheira, a
mulher não pode virar um concreto... é bem complicada a situação mesmo [...] a mulher é
tratada como ser inferior. Eu bato palma para uma mulher que se assume lésbica, que é mãe,
trabalha fora, sustenta a família, não depende de marido, não depende de ninguém. Aquelas
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guerreiras que saem para trabalhar de madrugada, enfrentam condução, tudo isso. Eu
admiro, eu bato palma porque eu também tenho que fazer a mesma coisa todo santo dia. [...]
Eu tenho que levantar para pagar as minhas contas, eu tenho que trabalhar para isso, eu
tenho que ter o meu dinheiro. Eu não dependo de ninguém, aprendi isso desde os meus
quatorze anos (Entrevistada H.).
Além disso, ocupam as funções dentro do mercado de trabalho formal e informal mais
precarizadas, inclusive postos piores do que aqueles destinados às mulheres e aos homens pobres
heterossexuais. Então, as lésbicas geralmente negras e com baixa escolaridade podem ser
consideradas ocupantes dos empregos mais precários, quando empregadas, uma vez que 44% das
entrevistadas estavam desempregadas no momento em que foi realizada a pesquisa (empregabilidade
como funcionamento). Percebe-se que são as primeiras a serem demitidas e relatam muitas
dificuldades para voltar ao mercado de trabalho. De acordo com o relato das entrevistadas, o
preconceito contra lésbicas perpassa o processo seletivo em diversas empresas, a chamada “boa
aparência” exigida em diversos postos de emprego direciona a vaga para mulheres brancas e
raramente negras, hegemonicamente heterossexuais e definitivamente jamais lésbicas visíveis.
A opressão patriarcal atinge a todas as mulheres, mas o entrelaçamento das opressões compõe
a condição de vida da maioria da população feminina brasileira. Entender que cada uma das opressões
necessita de políticas públicas setoriaisdirecionadas para elas é fundamental. O ato de citar todas as
mulheres marginalizadas como categorias em uma enorme lista de marginalizações é gravíssimo por
impede o pensamento transversal que perpassa as categorias e propaga um discurso que tende a
ignorar o fato de que boa parte das mulheres marginalizadas ocupam mais de uma destas categorias
(um mesma mulher pode ser lésbica, negra, deficiente física e/ou mental etc) e paralelamente a isso
mantém a mulher padronizada como foco da criação das políticas; são ignoradas as especificidades e
solapadas as desigualdades operantes entre as próprias mulheres, ou seja, ignora-se que uma mulher
possa e recorrentemente faça uso dos seus locais de poder para reproduzir opressões contra mulheres
menos favorecidas.
Se, internacionalmente, os estudos sobre saúde e homossexualidade feminina ainda não
conseguiram fornecer os subsídios necessários para o esclarecimento da existência de
demandas e riscos específicos, os dados disponíveis para o Brasil são ainda mais escassos
(FACCHINI; BARBOSA, 2006, p. 22).
A limitação de dados sobre populações em situação de precariedade é uma estratégia por parte
das elites que os fomentos para custear pesquisas socioeconômicas com intuito de evitar o
conhecimento de forma ampla e a consequente reivindicação de direitos e de deveres estatais para
com a população (dados públicos consistentes como funcionamentos) (MELO, 2005, p. 10).
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Um estudo realizado em 2006 sobre a saúde das mulheres lésbicas apresenta alguns dados
importantes. A argumentação central do trabalho é de quenão existem pesquisas ou atitudes por parte
dos poderes públicos que sejam suficientes para amparar a saúde das lésbicas no Brasil.
A escassa, ou quase inexistente, produção científica abordando a temática saúde e
homossexualidade feminina no Brasil; a inexistência de políticas de saúde consistentes para
o enfrentamento das dificuldades e necessidades dessa população; o precário conhecimento
sobre suas demandas e a ausência de tecnologias de cuidado à saúde adequadas, aliados à
persistência de pré-noções e preconceitos, convertem-se, no âmbito da saúde pública, por
exemplo, no desperdício de recursos, no constrangimento produzido no atrito das relações no
interior dos serviços de saúde, na assistência inadequada, e muito provavelmente num
contingente de mulheres que não obtiveram seu diagnóstico, nem seu tratamento
(FACCHINI; BARBOSA, 2006, p. 29).
Os dados coletados em nossa pesquisa de campo estão em consonância com esta
argumentação. Percebemos que 62% das entrevistadas não gozam de boa saúde apresentando
inclusive doenças crônicas e ausência de diagnósticos precisos, e, mesmo as que possuíam plano de
saúde (apenas 50% delas, hegemonicamente pagos pela empresa em que estavam empregadas), não
relataram amparo por parte dos profissionais de saúde no trato de suas doenças devido a dois fatores
principais: o desconhecimento das especificidades lésbicas e o preconceito (acesso à saúde como
funcionamento).
Os motivos para a menor procura de serviços de saúde se relacionam: 1) à existência de
discriminação; 2) ao despreparo dos profissionais para lidar com as especificidades desse
grupo populacional; 3) às dificuldades das mulheres em assumirem a homo ou a
bissexualidade; e 4) à negação do risco. [...] (FACCHINI; BARBOSA, 2006, p. 19).
Diante deste quadro podemos perceber que a questão da saúde é apenas um demonstrativo em
um cenário maior. A relação das lésbicas no Brasil com os poderes públicos e as políticas públicas é
marcada por esses três fatores centrais: o preconceito, o despreparo das equipes de atendimento e a
opressão que impede as mulheres de se assumirem. Assim, quando pensamos em políticas para
lésbicas é preciso buscar uma transformação na forma como estas políticas são feitas entendendo que
não é suficiente que elas sejam setoriais. Há a necessidade de um esforço coletivo e amplo para gerar
uma sociedade que compreenda e que aceite a condição lésbica como objeto da moralidade.
Podemos concluir que os funcionamentos centrais para as lésbicas brasileiras, principalmente
aquelas que estão em maior condição de vulnerabilidade, só poderão ser desenvolvidos mediante uma
transformação cultural que combata o preconceito e promova a aceitação de que as lésbicas já fazem
parte da comunidade, já são usuárias dos serviços públicos, já integram o mercado de trabalho formal
e informal e já compõem de forma abrangente todos os setores da sociedade.
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Referências
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A case study of the lesbians on the suburbs of rio de janeiro.
Astract:Thispresentationisthereportofthedoctorateresearchthatisbeingdevelopedwithlesbianswholiv
eonthesuburbsof Rio de Janeiro in virtual environments, bymeansofpresentencountersandthe social
media namedWhatsapp. Withtheinsertiononthefield,
theresearchersseektocomprehendthespecificitiesconcerningthoselesbiansandwiththatelaboratematter
sof justice orientedaccordingtothesuppositionsfromtheFunctionings Approach. The lesbian reality
fromthesuburbsof Rio de Janeiro isveryspecificandhas a complex system ofvalues, social
normsandtraditionsthatsubstantiatewhatwecancallanidentitygrouporfrom a
suburblesbian’sculturefrom Rio de Janeiro markedbyrelationsbetween sex, classandrace.
WiththeFunctionings Approach it ispossibletobroadenthegroupoftheconcernedbythe justice,
assuringtheirindividuality, its applicabilitytothesubject in matterseemsprettyadequate. The
mainpurposeofthisworkistogivevisibilitytothisgroup, withmeansof making it
objectandagentsofmorality. Thatistosay, it
aimstocollaboratewiththeimprovementofthequalityoflifeofthoselesbians,
bringingthepublicpoliticsclosertothe material reality ofthisgroup.
Keywords: Lesbians. Suburb. Technologies. Publicpolitics. Lesbianrights.