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Universidade de Brasiacutelia
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Departamento de Jornalismo
MEMOacuteRIA DAS RUAS
Um documentaacuterio sobre o olhar de quem jaacute foi invisiacutevel
Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra
Orientadora Profordf Drordf Ana Carolina Kalume Maranhatildeo
Brasiacutelia 1ordm2018
1
Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra
MEMOacuteRIA DAS RUAS
Um documentaacuterio sobre o olhar de quem jaacute foi invisiacutevel
Memorial descritivo de produto
apresentado agrave Universidade de Brasiacutelia
como requisito parcial para obtenccedilatildeo do
tiacutetulo de bacharel em Jornalismo
Orientadora Profordf Drordf Ana Carolina
Kalume Maranhatildeo
Brasiacutelia 1ordm2018
2
Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra
MEMOacuteRIA DAS RUAS
Um documentaacuterio sobre o olhar de quem jaacute foi invisiacutevel
Memorial descritivo de produto
apresentado agrave Universidade de Brasiacutelia
como requisito parcial para obtenccedilatildeo do
tiacutetulo de bacharel em Jornalismo
Orientadora Profordf Drordf Ana Carolina
Kalume Maranhatildeo
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________
Profordf Drordf Ana Carolina Kalume Maranhatildeo
ORIENTADORA
_____________________________________
Prof Dr Gilberto Gonccedilalves Costa
MEMBRO
______________________________________
Profordf Drordf Daniela Faacutevaro Garrossini
MEMBRO
______________________________________
Profordf Drordf Maacutercia Marques
SUPLENTE
Brasiacutelia 1ordm2018
3
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agrave Jeovaacute Deus por sustentar a minha vida e por garantir Seu apoio
incondicional em todos os momentos da minha vida Sem duacutevidas consigo concluir o
periacuteodo da graduaccedilatildeo e as mais diversas pressotildees imaginaacuteveis por conta do Seu
amoroso cuidado
Agrave minha famiacutelia que sempre me apoiou das mais diversas maneiras possiacuteveis Cito em
especial minha matildee Margarete que mesmo nos momentos mais estressantes em que a
ansiedade fazia com que eu perdesse a paciecircncia estava ao meu lado procurando me
ouvir e de alguma forma me ajudar Agradeccedilo a meu pai Carlos por sempre acreditar
no meu potencial e me incentivar a dar o meu melhor em tudo que faccedilo Devo citar
tambeacutem minha queria avoacute Yolanda que sempre esteve por perto me incentivando e
demonstrando seu orgulho por mim
Agrave Neila que foi minha grande parceira na idealizaccedilatildeo desse projeto De fato nosso
iacutempeto incansaacutevel em realizar um trabalho de excelecircncia produziu um belo resultado do
qual me orgulho muito Obviamente natildeo vou esquecer nossas longas viagens ateacute as
gravaccedilotildees nossas vaacuterias discussotildees sobre a abordagem do tema a escolha das histoacuterias
as muitas conversas para formatar o produto e os detalhes finais Eacute meu dever lembrar
que esse documentaacuterio foi produzido totalmente ―a quatro matildeos jaacute que todas as tarefas
e decisotildees foram divididas entre noacutes Pena que um entrave burocraacutetico tenha nos divido
na apresentaccedilatildeo deste trabalho mas sei que vou contar contigo nesse momento
importante
Agrave aqueles que aceitaram dividir sua histoacuteria conosco Ademir Claacuteudia Daniele e
Adriano suas experiecircncias de vida proporcionaram conversas incriacuteveis e com certeza
iniciaram uma amizade que quero levar comigo Muito obrigado pela confianccedila no
nosso trabalho Tenho certeza que suas histoacuterias inspiradoras vatildeo impactar a cada um
que assistir a esse documentaacuterio
Agrave nossa querida orientadora Ana Carolina Kalume Muito obrigado por acreditar no
nosso trabalho ndash muitas vezes mais do que noacutes mesmos ndash e tambeacutem por sempre nos
indicar maneiras de aprimoraacute-lo
4
Agrave UnBTV e sua diretora Neuza Meller que confiou em nossa ideia e nos apoiou
bastante liberando seu quadro profissional para nos ajudar com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo
do material
Por fim a toda equipe que colaborou para tornar esse projeto possiacutevel Seremos sempre
gratos a ajuda de cada um de vocecircs Ana Paula essencial na produccedilatildeo Julia Nogueira e
sua incriacutevel ediccedilatildeo Sarah Silva com a animaccedilatildeo e identidade visual e Alex Baacuterbara
Fernando Lucas e Raphael pelas beliacutessimas imagens feitas durante as gravaccedilotildees
5
Natildeo devemos ter medo
das novas ideias Elas podem
significar a diferenccedila entre o triunfo
e o sucessordquo
(Napoleon Hill)
6
Sumaacuterio LISTA DE FIGURAS 8
LISTA DE TABELAS 8
RESUMO 9
ABSTRACT 10
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS 12
21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa 14
3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS 16
31 Objetivo Geral 16
32 Objetivo Especiacuteficos 16
4REFERENCIAL TEOacuteRICO 17
41 Nomenclatura 17
42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua 18
43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal 20
44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas 22
45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico 24
5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 27
51 Formato audiovisual 28
52 Personagens 29
53 Preacute-produccedilatildeo 32
54 Produccedilatildeo 34
55 Poacutes-produccedilatildeo 37
561 Identidade visual 38
6 CRONOGRAMA DE PESQUISA 40
7 ORCcedilAMENTO 41
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 42
REFEREcircNCIAS 44
Referecircncias audiovisuais 45
APEcircNDICES 46
APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV 47
7
APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas 49
APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas 50
APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo 52
APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem 66
APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia 67
APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD 68
8
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia 18
FIGURA 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto 30
FIGURA 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro 31
FIGURA 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela natildeo parou de trabalhar e estudarhelliphellip 32
FIGURA 5 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul em Brasiacutelia 35
FIGURA 6 ndash Gravaccedilatildeo na Praccedila do Compromisso Asa Sul Brasiacutelia 36
FIGURA 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli Da
esquerda para a direita Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista
cedido pela UnBTV) Marcus Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) 37
FIGURA 8 -ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower 38
FIGURA 9 - Paleta de cores escolhida 39
FIGURA 10 - Arte da capa para o DVD 39
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 ndash Lista completa da equipe 34
TABELA 2 ndash Cronograma de atividades 40
TABELA 3 ndash Orccedilamento de materiais 41
TABELA 4 ndash Orccedilamento de materiais II 42
9
RESUMO
O documentaacuterio ldquoMemoacuteria das Ruasrdquo aborda as experiecircncias de quatro pessoas que
reescreveram suas histoacuterias e conseguiram superaram o periacuteodo de invisibilidade
experimentado durante o tempo em que viveram em situaccedilatildeo de rua O projeto
produzido entre os meses de agosto e novembro de 2017 buscou abordar com olhar
jornaliacutestico humanizado momentos significativos das histoacuterias desses protagonistas No
iniacutecio os personagens contam como eram suas vidas antes das ruas e quais fatores os
levaram a essa situaccedilatildeo Logo depois eacute apresentado um relato sobre os medos
dificuldades perigos e preconceitos enfrentados por cada um deles Por fim os quatro
personagens contam o caminho percorrido para a retomada de suas vidas e quais seus
planos para o futuro
Palavras-chaves Documentaacuterio Jornalismo Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Vulnerabilidade social Relatos de vida
10
ABSTRACT
The documentary bdquoMemoacuteria das Ruas‟ addresses the experiences of four people who
rewrot their stories and succeeded in overcoming the period of invisibility experienced
during the time they lived on the streets The project produced between August and
September 2017 sought to approach in a humanized way significant moments of the
stories os these protagonists In a first moment the characters tell how their lives were
before the streets and what factors led them to this situation In sequence its present na
account of the fears difficulties dangers and prejudice faced by each one of them In
conclusion all the characters tell the story of their lives and their plans for the future
Keywords Documentary Journalism Population in street situation Social
vulnerability Life stories
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Moradia limpa digna e segura Mesmo sendo uma garantia baacutesica assegurada
pelo artigo 6ordm do Capiacutetulo II da Constituiccedilatildeo Brasileira de 19881 a realidade por traacutes
deste direito no Brasil ainda estaacute longe de ser a ideal Por conta dos abismos
socioeconocircmicos que persistem em dividir a populaccedilatildeo em diferentes classes sociais
uma boa parcela dos brasileiros continua sem acesso a oportunidades e um dos
principais reflexos desta situaccedilatildeo eacute a falta de moradia adequada para todos
A crise financeira o aumento exponencial do desemprego e a dependecircncia
quiacutemica satildeo fatores relevantes que tecircm sua parcela de contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo do
cenaacuterio em que as ruas - um espaccedilo comum a todos - tecircm se tornado lugar de
permanecircncia das parcelas menos favorecidas da populaccedilatildeo O Brasil natildeo possui dados
oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima
estimativa2 divulgada em 2015 revelou que naquele ano o paiacutes tinha 101854 dos seus
habitantes vivendo essa realidade
Em 2017 o nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal (DF) de
acordo com a Secretaria do Trabalho Desenvolvimento Social Mulheres Igualdade
Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) era de trecircs mil pessoas ou seja 01 de
toda a populaccedilatildeo da capital federal que em 2017 era de 3 milhotildees de pessoas3
O fenocircmeno que persiste e a cada ano parece crescer eacute um problema social que
pode gerar consequecircncias graves para pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Por conta disso o foco deste trabalho centra-se em contar histoacuterias de vida de pessoas
que fizeram parte dessa populaccedilatildeo frequentemente esquecida e renegada ao abandono
A proposta baseia-se na realizaccedilatildeo de um documentaacuterio Produzido entre agosto e
novembro de 2017 o projeto foi planejado de forma a retratar histoacuterias e vivecircncias de
quatro personagens que vatildeo compartilhar suas experiecircncias dificuldades e
1BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado
Federal Centro Graacutefico 1988 292 p
2 O Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) possui uma pesquisa intitulada Estimativa da
Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua no Brasil de Marcos Antocircnio Carvalho Natalino publicada em outubro
de 2016 O estudo apresenta dados referentes ao ano de 2015
Conteuacutedo disponiacutevel em httpwwwipeagovbr
Acesso 21 de maio de 2018
3Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 30 de agosto de
2017
Conteuacutedo disponiacutevel em httpscidadesibgegovbr
Acesso 21 de maio de 2018
12
aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas
pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua
O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o
restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o
uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua
brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as
pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os
motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos
mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho
Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o
histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida
antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa
apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver
nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos
enfrentados
A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores
significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro
personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos
ao serem ignorados pela sociedade
Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar
em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos
quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e
contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila
2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS
Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema
escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute
4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008
Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr
Acesso 21 de maio de 2018
13
mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que
enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa
―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar
naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre
como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente
Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se
que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas
puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio
Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla
sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo
desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos
de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos
Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a
abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o
jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com
outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em
mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente
os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo
Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave
idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No
lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de
transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas
comuns
Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado
anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e
preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo
senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos
agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua
natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao
viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou
pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas
Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a
estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por
que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um
14
problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a
alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem
tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam
afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo
pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar
a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e
contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida
21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa
Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo
definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema
interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute
assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees
Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a
ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees
poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento
propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do
processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa
por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a
presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal
Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a
ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma
reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma
experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado
especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as
dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em
averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi
constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves
manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute
a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as
5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil
pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017
Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html
Acesso 21 de maio de 2018
15
histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos
relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por
muito tempo presos agraves ruas
Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato
o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees
importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos
em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e
propaganda
Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na
produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma
das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo
Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se
somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou
na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de
funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio
pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores
Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias
inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para
participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho
Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos
saiacutedo do campo das ideias
16
3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS
31 Objetivo Geral
O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito
da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de
quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos
anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua
32 Objetivo Especiacuteficos
Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua
por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio
Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a
respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das
vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua
17
4REFERENCIAL TEOacuteRICO
41 Nomenclatura
Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho
baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como
forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o
leitor ou espectador a se interessar pelo assunto
Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta
para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas
diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos
autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na
rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado
definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se
referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem
concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []
ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo
heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos
Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes
indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que
―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se
apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que
tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas
palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que
afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito
As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo
elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar
essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva
especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo
A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais
apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo
resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave
condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou
condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de
acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)
18
Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a
preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete
em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar
a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores
pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma
condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo
42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua
Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)
De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para
a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a
pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou
fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional
regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas
degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma
temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de
acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia
provisoacuteriasup1
No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou
um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser
unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas
19
malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto
vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico
e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o
sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa
condiccedilatildeo
O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui
apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas
determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela
sociabilidade capitalista que produz um contingente de
pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo
possuem moradia convencional O modo capitalista de
produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das
classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na
desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo
acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de
subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)
Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um
problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge
muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro
que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um
local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a
criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer
de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas
Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e
passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das
caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do
ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua
Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se
unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia
na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre
outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era
atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que
o mercado capitalista dispotildee
Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o
preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela
aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima
reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo
costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua
20
43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal
O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em
situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de
Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra
que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A
pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais
de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento
Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em
2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01
de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs
milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que
os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga
respectivamente
A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal
causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia
de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo
fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de
viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)
A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta
por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa
etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas
representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a
masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos
A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem
impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou
pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social
historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem
maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado
6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se
ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio
Carvalho Natalino
Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf
Acesso em 21 de maio de 2018
21
em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46
branca
Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em
situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional
com 127 e somente 78 devido problemas com drogas
A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua
afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas
chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente
externo urbano passam ao usar
O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo
preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes
para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de
encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)
da realidade experimentada em seus cotidianos algumas
drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos
(GATTI e PEREIRA 2011 p88)
Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute
ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a
repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)
tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e
pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante
exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores
de materiais reciclaacuteveis
Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso
ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a
nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas
governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem
todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo
de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a
direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos
como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do
governo
22
44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas
Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta
de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora
com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente
reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a
contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal
incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua
Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu
alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e
ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees
religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas
somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de
Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam
dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o
modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi
criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei
federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de
Assistecircncia Social (LOAS)
Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de
Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que
subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto
ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em
Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil
a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia
dessa populaccedilatildeo
No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em
Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital
federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do
seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de
rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A
populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado
23
da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de
Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador
Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para
adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para
mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de
Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem
situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de
Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute
acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues
disponibilizados pelo Governo
A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute
cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e
descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto
com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos
paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde
satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo
Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e
Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em
comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser
uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico
Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do
uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo
exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo
para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode
durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na
rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra
caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel
teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados
Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de
forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico
individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de
junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o
funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com
transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas
24
Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito
Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas
do Distrito Federal (CONEN-DF)
De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito
Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas
centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a
toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel
institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a
responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o
formulador das poliacuteticas sociais
A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar
esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de
acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem
mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute
tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas
45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico
Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais
raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade
jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel
importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute
mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa
atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria
Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar
luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave
vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de
complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que
buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as
equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)
A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm
defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos
relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da
deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor
25
agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida
por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa
humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto
social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos
primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p
9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa
capaz de transformar tanto o narrado como o narrador
No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto
mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo
[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados
os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a
compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o
jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e
enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7
Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por
privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz
ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo
do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no
jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha
pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)
De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo
quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do
cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o
diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura
dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []
Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem
(MEDINA 1999 p28)
A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem
tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os
mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a
busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da
observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a
comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute
amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos
Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as
accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas
atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos
7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento
[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli
26
desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a
contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que
originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN
2008 p8)
No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda
eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando
essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha
editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-
estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do
assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam
em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo
Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem
principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a
pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de
vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel
minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo
publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que
levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)
Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado
ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo
frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos
meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados
compartilhados pela sociedade
Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho
debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de
abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior
do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as
trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das
ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais
Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a
situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social
Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos
se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto
Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer
jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem
27
somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao
maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado
acontecimento
5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa
voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram
em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a
abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A
partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de
entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre
o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de
informaccedilotildees dos personagens
A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma
forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a
necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o
entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos
linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de
aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma
teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de
questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos
complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)
De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo
abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e
abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se
trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa
(SILVA 2016 p35)
Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o
trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo
do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos
para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto
28
51 Formato audiovisual
Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de
caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos
pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas
fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem
sobre o tema
Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao
trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto
escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo
utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser
alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar
coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era
conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz
alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato
Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em
uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que
os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este
projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e
membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa
populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas
Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de
tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o
projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de
campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie
documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de
abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e
tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos
personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era
necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em
situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar
essa condiccedilatildeo
A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto
Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a
29
situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto
Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa
decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos
protagonistas
Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa
quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era
mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo
Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para
o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a
fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe
uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim
a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo
sobre o tema
52 Personagens
Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que
comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e
entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim
termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no
documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute
haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o
primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de
rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa
condiccedilatildeo fosse a mesma
O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho
Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram
pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos
personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas
que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo
seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar
relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de
personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas
mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas
30
O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele
morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos
16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando
provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a
trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo
a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o
colocou para fora de casa
Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa
de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute
recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute
que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia
apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o
convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje
estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras
pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas
Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)
A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um
casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram
em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo
trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia
31
de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a
fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando
alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua
Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-
companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se
conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para
Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde
permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute
voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de
amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa
para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro
Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)
Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees
distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie
documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e
sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo
alcoolismo
Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma
vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve
seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade
32
ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de
Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram
Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e
passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --
fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu
concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar
renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa
condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar
outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de
vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e
fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea
Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)
53 Preacute-produccedilatildeo
A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido
definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi
preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura
por produtos audiovisuais que abordassem o tema
A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos
conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma
condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou
33
pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes
essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que
estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela
Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao
mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para
viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV
- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para
auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria
disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma
ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio
Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho
posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou
registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV
assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume
Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller
(vide apecircndice I)
Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca
formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos
auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e
produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela
tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos
participantes (vide anexo I)
Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um
cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees
relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo
telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo
Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos
contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as
gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo
34
Tabela 1 ndash Lista completa da equipe
EQUIPE
CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA
PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA
FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E
LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA
EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA
Fonte Marcus Barbosa (2018)
54 Produccedilatildeo
Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o
cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era
necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos
personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios
diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das
obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito
um esforccedilo para seguir de perto o roteiro
Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria
dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria
responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos
planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a
produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua
experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos
equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada
Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista
uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para
fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios
momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo
guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se
abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas
35
no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas
isso nem sempre deu certo
Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o
esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e
Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio
em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe
Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se
delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens
do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um
indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera
Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que
ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um
canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das
gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o
primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no
microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao
cronograma de gravaccedilotildees
Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)
36
Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)
Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com
o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele
foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as
entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de
Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as
gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas
Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de
gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente
para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos
concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas
37
Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus
Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)
55 Poacutes-produccedilatildeo
Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo
foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio
que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)
Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia
Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material
O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome
provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio
da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por
escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os
personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que
traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas
38
561 Identidade visual
A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de
publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela
animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura
foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais
proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas
Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes
de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com
maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com
boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca
por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto
Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para
a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)
Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)
39
Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)
Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
40
6 CRONOGRAMA DE PESQUISA
Tabela 2 ndash Cronograma de atividades
DATAS ETAPAS
Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica
(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)
Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens
Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas
Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees
510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega
para ediccedilatildeo
Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio
Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo
Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa
180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca
Fonte Marcus Barbosa (2018)
41
7 ORCcedilAMENTO
Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais
VALORES IacuteTENS
R$ 9700 Estabilizador de celular
R$ 25000 Microfone de Lapela
R$ 29000 HD Externo
R$ 35000 Gasolina
R$ 29700 Impressatildeo de material visual
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II
VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)
R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD
R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg
R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash
Wm6 UHF
R$ 8900 Rebatedor
R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +
Tripeacute 2m
R$ 99900 Identidade visual para o produto
R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de
duraccedilatildeo
R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
42
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi
possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que
existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em
situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao
passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos
ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E
com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que
integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute
preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses
indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa
condiccedilatildeo
Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia
com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de
rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas
entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem
desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o
auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num
problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons
exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e
o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -
Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou
provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida
dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo
No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi
um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente
nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar
o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea
tambeacutem foi de suma importacircncia
Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar
histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas
preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade
nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das
43
histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que
chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo
tudo
Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes
deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de
ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar
tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista
44
REFEREcircNCIAS
ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser
humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico
BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise
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BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil
Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p
CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua um estudo sobre pobreza necessidades humanas e miacutenimos
sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de
Brasiacutelia Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel
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CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009
DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005
GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-
EDUC 2006
MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de
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(Bacharelado em Sauacutede Coletiva)mdashUniversidade de Brasiacutelia Ceilacircndia 2016
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45
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MOURA Rodrigo Coelho Bacellar Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo
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SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-
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pessoas - entrevista em profundidade Laboratoacuterio Sabin 2016 56 f Trabalho de
conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia
Brasiacutelia 2016
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SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica
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Acesso em 21 de maio de 2018
UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e
Victoacuteria Cristina Costa Disponiacutevel em
httpswwwfacebookcomserieumapaginapordia
Acesso em 21 de maio de 2018
O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom
Acesso em 21 de maio de 2018
O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em
httpsossodafalawordpresscom
Acesso em 21 de maio de 2018
SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes
3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw
Acesso em 21 de maio de 2018
46
APEcircNDICES
47
APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Brasiacutelia 28 de agosto de 2017
Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV
Prezada Sra Neuza Meller
Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para
realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de
Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de
um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em
Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula
130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a
orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula
UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em
situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal
Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo
acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a
aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as
histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de
conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o
desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo
entrevistas e ediccedilatildeo do material captado
Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma
parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo
de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a
grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse
48
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais
sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer
esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail
marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189
Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo
Cordialmente
Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
49
APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)
TER (1909)
QUA (2009) ENTREVISTA
Quem Ademir e Claacuteudia
Horaacuterio 15h
End Luziacircnia GO
QUI (2109)
SEX (2209) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAB ( 2309)
DOM (2409)
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA
Quem Claacuteudia e Ademir
Horaacuterio 14h
End Praccedila do Compromisso Asa Sul
TER (2609)
QUA (2709)
QUI (2809) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 15h
End Ceilacircndia
SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAacuteB (3009) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End SCS
DOM (0110)
MANHAtilde TARDE NOITE
SEG (0210)
TER (0310)
QUA (0410) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 9h
Endereccedilo Centro de
Taguatinga
QUI (0510) ENTREVISTA
Quem Ademir
Horaacuterio 15h
End Parque da Cidade
SEX (0610)
SAacuteB (0710)
DOM (0810)
QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Lucas Cacircndia
Horaacuterio 16h
End Aacuterea central de Brasiacutelia
50
APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a
situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos
durante o periacuteodo nas ruas
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo
com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc
2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar
3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua
4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas
5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua
6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua
7 Como era sua rotina na rua
8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo
9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele
periacuteodo
10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como
abrigo sauacutede etc
11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter
12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais
sobre isso
13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou
simplesmente agia com indiferenccedila
51
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o
futuro
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva
de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real
2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo
3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo
4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou
em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio
5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar
6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de
recuperaccedilatildeo
7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para
frente
8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que
ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria
52
APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida
FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia
PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca
ED DE IMAGENS Julia Nogueira
ARTE Sarah Silva
CENA DE
AMBIENTACcedilAtildeO
ARQUIVO
Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio
SONORA 1 CLAacuteUDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE CORTE
126 -- 147 +
327 -- 345
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu
trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht
mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)
―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu
comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para
vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0025 -- 0109
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma
pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma
discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu
abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas
SONORA 4 DANIELA
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE
213 --300
Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos
tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da
luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de
relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era
acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente
ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar
53
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai
brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma
hora
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e
minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela
sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri
muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem
africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 4
03 -- 434
(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha
vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet
os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida
maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu
Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje
SONORA 6 Daniela
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE
434 --446 + 528 -- 539
―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro
semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos
difiacuteceis +
―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc
vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu
escutei
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
842 --914
―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito
dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu
acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com
uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica
cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil
SONORA DANIELA
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
551 --622
ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um
computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus
aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc
tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12
minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que
Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano
teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo
54
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144
depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria
com as drogas
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
256 -- 330
―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia
cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu
frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro
com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que
chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0424 -- 0439
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente
mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo
mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era
bebida
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212
Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo
abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
550 -- 603
―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da
bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo
notam mas notam
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0401 -- 0408
O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro
dia bebendo porque eu precisava beber
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304
Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A
gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra
gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute
diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia
Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e
gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde
SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei
55
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
759 --813 + 825 -- 840
+ 915 --9 22
PODE ENXUGAR
muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai
argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +
E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me
ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e
nossa aquilo ali me doeu +
―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu
natildeo volto mais
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
126 -- 153 + 216 --231
―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e
ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era
casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na
eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +
―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa
natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me
pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347
Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa
para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou
para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para
mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas
SONORA Daniela
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
953 --1016 + 120 --
124
PODE ENXUGAR
ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que
eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava
dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo
E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso
aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar
minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova
trajetoacuteria
SONORA Claudia
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
427 --439
―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma
coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se
conhece um conhece outro
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0048 ---0109
Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca
soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse
dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
516 -- 521
―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto
entatildeo vc entra
SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo
tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte
56
ARQUIVO 967_0430_03
TEMPO DE CORTE
926 -- 938
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0814
-- 0834
No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da
que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua
esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio
Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0707 -- 0726
Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu
viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu
corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar
mais
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 217
-- 230
―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer
uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa
de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0706
-- 0725
Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo
que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do
lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a
gente a sobreviver na rua
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE
CORTE0013 --018 (+)
1128 --1137
―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq
barulho a gente acorda
(+)
―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade
de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde
SONORA ADRIANO LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio
sincronizado
TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628
Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece
que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute
terriacutevel
57
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE 958
-- 1002 + 931 -- 945 +
1025 -- 1030
―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute
um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma
alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas
se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que
estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE
222-- 245
―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente
chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela
e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar
para vc
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE
701 -- 714
(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a
frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute
super-homem natildeo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli -
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0432
-- 0437
Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de
viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia
morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE 655
--710 +730 -- 804
PODE ENXUGAR
(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que
to com catarata pq natildeo notei 710 +
(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para
traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui
para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a
danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e
e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1109
--1116
+
―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila
comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da
minha mochila
(+)
58
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1032
--1036
+
ARQUIVO 256_2764_02
TEMPO DE CORTE 1101
-- 1115
ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa
(+)
―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai
que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho
comigo ningueacutem queria mais falar comigo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 0300
--0308
―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber
os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 1540
-- 1556
Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te
apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio
decadente
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE
0824 -- 0857
Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa
marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc
eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um
saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam
natildeo estatildeo nem aiacute
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 241
-- 0300
―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como
pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto
de vc muito existe demais demais
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0508 -- 05 30
Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar
eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te
tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe
uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas
59
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_03
TEMPO DE CORTE
241 --256
(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema
esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc
vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0841 -- 0853 (+) 0302 -
-0322
Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu
preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes
(+)
Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa
vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de
novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo
tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci
minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 741
--806 +
803-- 804 +
811 -- 815
(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um
tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando
eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +
(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para
Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE 0638
-- 0653
Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava
a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas
mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a
gente piorava cada vez mais
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 837
-- 848 (+) 557-- 606
Sera que daacute para cortar o
som externo nessa parte
Senatildeo pode cortar
― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e
estradas
+
―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo
para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava
60
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
1251 -- 1306
Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia
morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o
meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 604
-- 618
+
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
521 -- 533
― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter
outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com
outra coisa natildeo com a rua +
―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui
uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_06
TEMPO DE CORTE
101--121
―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro
todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a
condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no
coraccedilatildeo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 0551 -- 613
―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da
forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o
fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai
se entregar eacute assim que eu pensava
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0127 -- 0151
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era
meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais
abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava
esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda
61
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 852 - 906
―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me
arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me
arrependo mesmo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 1305 - 1326
―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc
esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente
todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que
arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei
quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais
forccedila
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0428 -- 0500
―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e
procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi
a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma
pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de
tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute
tudo mudou
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
814 - 835
―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria
fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir
para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1056 - 1111
―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou
estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute
arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0726 -- 0748
ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de
recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar
um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa
se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou
acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento
62
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE
0231 -- 0248
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA
EvDICcedilAtildeO
―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua
vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e
quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma
forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1207 - 1231
―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a
gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o
organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida
e em qlq bar vc consegue
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0532 --609
―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi
aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis
tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos
mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente
que eu recebi
SONORA Dani
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 516 - 528
―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar
terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu
tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
924 - 1000
(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo
esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta
repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter
uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em
restaurantes
SONORA ADRIANO
LUGOLI
Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo
esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao
63
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0821 -- 856
Avaliar se corta o final
ou enxuga
era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando
via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_04
TEMPO DE CORTE
109 -130 (+)
1100 -1103
― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na
cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um
pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito
oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna
+
―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 126 - 142
ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que
eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que
eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0900 - 943
―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha
vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente
que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim
que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me
abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_03
TEMPO DE
CORTE034 - 044 +
113- 117
(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos
estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +
113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando
(117)
SONORA Dani
ARQUIVO
―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas
paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu
olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu
64
965_0748_02
TEMPO DE CORTE 240 - 308)
interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem
de fazer oq eu eu fiz
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_04
TEMPO DE CORTE -
045 - 111
― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo
de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova
oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p
vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -
910
―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus
irmatildeos +
―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que
eu tenho para ele eacute o silecircncio
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423
―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)
―e depois que essa historia foi p jornal revista tv
eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia
acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao
que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_02
TEMPO DE CORTE
852 - 920
― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela
situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de
alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute
sozinha natildeo vai conseguir
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 611 - 633
―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca
esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios
propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar
algo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE
―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso
nem ter uma casinha para morar
65
CORTE1313 - 1321
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
706 - 732
ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem
pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do
mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb
vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1129 - 1200
―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que
quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam
de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua
vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que
as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica
oportunidade elas conseguem
Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos
66
APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem
Fonte Ana Paula Fonseca (2017)
67
APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia
Fonte Marcus Barbosa (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
68
APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD
Fonte Sarah Silva (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
1
Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra
MEMOacuteRIA DAS RUAS
Um documentaacuterio sobre o olhar de quem jaacute foi invisiacutevel
Memorial descritivo de produto
apresentado agrave Universidade de Brasiacutelia
como requisito parcial para obtenccedilatildeo do
tiacutetulo de bacharel em Jornalismo
Orientadora Profordf Drordf Ana Carolina
Kalume Maranhatildeo
Brasiacutelia 1ordm2018
2
Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra
MEMOacuteRIA DAS RUAS
Um documentaacuterio sobre o olhar de quem jaacute foi invisiacutevel
Memorial descritivo de produto
apresentado agrave Universidade de Brasiacutelia
como requisito parcial para obtenccedilatildeo do
tiacutetulo de bacharel em Jornalismo
Orientadora Profordf Drordf Ana Carolina
Kalume Maranhatildeo
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________
Profordf Drordf Ana Carolina Kalume Maranhatildeo
ORIENTADORA
_____________________________________
Prof Dr Gilberto Gonccedilalves Costa
MEMBRO
______________________________________
Profordf Drordf Daniela Faacutevaro Garrossini
MEMBRO
______________________________________
Profordf Drordf Maacutercia Marques
SUPLENTE
Brasiacutelia 1ordm2018
3
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agrave Jeovaacute Deus por sustentar a minha vida e por garantir Seu apoio
incondicional em todos os momentos da minha vida Sem duacutevidas consigo concluir o
periacuteodo da graduaccedilatildeo e as mais diversas pressotildees imaginaacuteveis por conta do Seu
amoroso cuidado
Agrave minha famiacutelia que sempre me apoiou das mais diversas maneiras possiacuteveis Cito em
especial minha matildee Margarete que mesmo nos momentos mais estressantes em que a
ansiedade fazia com que eu perdesse a paciecircncia estava ao meu lado procurando me
ouvir e de alguma forma me ajudar Agradeccedilo a meu pai Carlos por sempre acreditar
no meu potencial e me incentivar a dar o meu melhor em tudo que faccedilo Devo citar
tambeacutem minha queria avoacute Yolanda que sempre esteve por perto me incentivando e
demonstrando seu orgulho por mim
Agrave Neila que foi minha grande parceira na idealizaccedilatildeo desse projeto De fato nosso
iacutempeto incansaacutevel em realizar um trabalho de excelecircncia produziu um belo resultado do
qual me orgulho muito Obviamente natildeo vou esquecer nossas longas viagens ateacute as
gravaccedilotildees nossas vaacuterias discussotildees sobre a abordagem do tema a escolha das histoacuterias
as muitas conversas para formatar o produto e os detalhes finais Eacute meu dever lembrar
que esse documentaacuterio foi produzido totalmente ―a quatro matildeos jaacute que todas as tarefas
e decisotildees foram divididas entre noacutes Pena que um entrave burocraacutetico tenha nos divido
na apresentaccedilatildeo deste trabalho mas sei que vou contar contigo nesse momento
importante
Agrave aqueles que aceitaram dividir sua histoacuteria conosco Ademir Claacuteudia Daniele e
Adriano suas experiecircncias de vida proporcionaram conversas incriacuteveis e com certeza
iniciaram uma amizade que quero levar comigo Muito obrigado pela confianccedila no
nosso trabalho Tenho certeza que suas histoacuterias inspiradoras vatildeo impactar a cada um
que assistir a esse documentaacuterio
Agrave nossa querida orientadora Ana Carolina Kalume Muito obrigado por acreditar no
nosso trabalho ndash muitas vezes mais do que noacutes mesmos ndash e tambeacutem por sempre nos
indicar maneiras de aprimoraacute-lo
4
Agrave UnBTV e sua diretora Neuza Meller que confiou em nossa ideia e nos apoiou
bastante liberando seu quadro profissional para nos ajudar com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo
do material
Por fim a toda equipe que colaborou para tornar esse projeto possiacutevel Seremos sempre
gratos a ajuda de cada um de vocecircs Ana Paula essencial na produccedilatildeo Julia Nogueira e
sua incriacutevel ediccedilatildeo Sarah Silva com a animaccedilatildeo e identidade visual e Alex Baacuterbara
Fernando Lucas e Raphael pelas beliacutessimas imagens feitas durante as gravaccedilotildees
5
Natildeo devemos ter medo
das novas ideias Elas podem
significar a diferenccedila entre o triunfo
e o sucessordquo
(Napoleon Hill)
6
Sumaacuterio LISTA DE FIGURAS 8
LISTA DE TABELAS 8
RESUMO 9
ABSTRACT 10
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS 12
21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa 14
3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS 16
31 Objetivo Geral 16
32 Objetivo Especiacuteficos 16
4REFERENCIAL TEOacuteRICO 17
41 Nomenclatura 17
42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua 18
43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal 20
44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas 22
45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico 24
5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 27
51 Formato audiovisual 28
52 Personagens 29
53 Preacute-produccedilatildeo 32
54 Produccedilatildeo 34
55 Poacutes-produccedilatildeo 37
561 Identidade visual 38
6 CRONOGRAMA DE PESQUISA 40
7 ORCcedilAMENTO 41
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 42
REFEREcircNCIAS 44
Referecircncias audiovisuais 45
APEcircNDICES 46
APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV 47
7
APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas 49
APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas 50
APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo 52
APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem 66
APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia 67
APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD 68
8
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia 18
FIGURA 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto 30
FIGURA 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro 31
FIGURA 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela natildeo parou de trabalhar e estudarhelliphellip 32
FIGURA 5 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul em Brasiacutelia 35
FIGURA 6 ndash Gravaccedilatildeo na Praccedila do Compromisso Asa Sul Brasiacutelia 36
FIGURA 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli Da
esquerda para a direita Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista
cedido pela UnBTV) Marcus Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) 37
FIGURA 8 -ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower 38
FIGURA 9 - Paleta de cores escolhida 39
FIGURA 10 - Arte da capa para o DVD 39
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 ndash Lista completa da equipe 34
TABELA 2 ndash Cronograma de atividades 40
TABELA 3 ndash Orccedilamento de materiais 41
TABELA 4 ndash Orccedilamento de materiais II 42
9
RESUMO
O documentaacuterio ldquoMemoacuteria das Ruasrdquo aborda as experiecircncias de quatro pessoas que
reescreveram suas histoacuterias e conseguiram superaram o periacuteodo de invisibilidade
experimentado durante o tempo em que viveram em situaccedilatildeo de rua O projeto
produzido entre os meses de agosto e novembro de 2017 buscou abordar com olhar
jornaliacutestico humanizado momentos significativos das histoacuterias desses protagonistas No
iniacutecio os personagens contam como eram suas vidas antes das ruas e quais fatores os
levaram a essa situaccedilatildeo Logo depois eacute apresentado um relato sobre os medos
dificuldades perigos e preconceitos enfrentados por cada um deles Por fim os quatro
personagens contam o caminho percorrido para a retomada de suas vidas e quais seus
planos para o futuro
Palavras-chaves Documentaacuterio Jornalismo Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Vulnerabilidade social Relatos de vida
10
ABSTRACT
The documentary bdquoMemoacuteria das Ruas‟ addresses the experiences of four people who
rewrot their stories and succeeded in overcoming the period of invisibility experienced
during the time they lived on the streets The project produced between August and
September 2017 sought to approach in a humanized way significant moments of the
stories os these protagonists In a first moment the characters tell how their lives were
before the streets and what factors led them to this situation In sequence its present na
account of the fears difficulties dangers and prejudice faced by each one of them In
conclusion all the characters tell the story of their lives and their plans for the future
Keywords Documentary Journalism Population in street situation Social
vulnerability Life stories
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Moradia limpa digna e segura Mesmo sendo uma garantia baacutesica assegurada
pelo artigo 6ordm do Capiacutetulo II da Constituiccedilatildeo Brasileira de 19881 a realidade por traacutes
deste direito no Brasil ainda estaacute longe de ser a ideal Por conta dos abismos
socioeconocircmicos que persistem em dividir a populaccedilatildeo em diferentes classes sociais
uma boa parcela dos brasileiros continua sem acesso a oportunidades e um dos
principais reflexos desta situaccedilatildeo eacute a falta de moradia adequada para todos
A crise financeira o aumento exponencial do desemprego e a dependecircncia
quiacutemica satildeo fatores relevantes que tecircm sua parcela de contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo do
cenaacuterio em que as ruas - um espaccedilo comum a todos - tecircm se tornado lugar de
permanecircncia das parcelas menos favorecidas da populaccedilatildeo O Brasil natildeo possui dados
oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima
estimativa2 divulgada em 2015 revelou que naquele ano o paiacutes tinha 101854 dos seus
habitantes vivendo essa realidade
Em 2017 o nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal (DF) de
acordo com a Secretaria do Trabalho Desenvolvimento Social Mulheres Igualdade
Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) era de trecircs mil pessoas ou seja 01 de
toda a populaccedilatildeo da capital federal que em 2017 era de 3 milhotildees de pessoas3
O fenocircmeno que persiste e a cada ano parece crescer eacute um problema social que
pode gerar consequecircncias graves para pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Por conta disso o foco deste trabalho centra-se em contar histoacuterias de vida de pessoas
que fizeram parte dessa populaccedilatildeo frequentemente esquecida e renegada ao abandono
A proposta baseia-se na realizaccedilatildeo de um documentaacuterio Produzido entre agosto e
novembro de 2017 o projeto foi planejado de forma a retratar histoacuterias e vivecircncias de
quatro personagens que vatildeo compartilhar suas experiecircncias dificuldades e
1BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado
Federal Centro Graacutefico 1988 292 p
2 O Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) possui uma pesquisa intitulada Estimativa da
Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua no Brasil de Marcos Antocircnio Carvalho Natalino publicada em outubro
de 2016 O estudo apresenta dados referentes ao ano de 2015
Conteuacutedo disponiacutevel em httpwwwipeagovbr
Acesso 21 de maio de 2018
3Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 30 de agosto de
2017
Conteuacutedo disponiacutevel em httpscidadesibgegovbr
Acesso 21 de maio de 2018
12
aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas
pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua
O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o
restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o
uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua
brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as
pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os
motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos
mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho
Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o
histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida
antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa
apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver
nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos
enfrentados
A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores
significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro
personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos
ao serem ignorados pela sociedade
Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar
em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos
quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e
contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila
2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS
Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema
escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute
4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008
Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr
Acesso 21 de maio de 2018
13
mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que
enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa
―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar
naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre
como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente
Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se
que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas
puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio
Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla
sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo
desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos
de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos
Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a
abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o
jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com
outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em
mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente
os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo
Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave
idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No
lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de
transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas
comuns
Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado
anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e
preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo
senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos
agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua
natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao
viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou
pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas
Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a
estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por
que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um
14
problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a
alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem
tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam
afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo
pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar
a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e
contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida
21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa
Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo
definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema
interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute
assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees
Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a
ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees
poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento
propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do
processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa
por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a
presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal
Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a
ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma
reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma
experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado
especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as
dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em
averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi
constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves
manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute
a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as
5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil
pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017
Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html
Acesso 21 de maio de 2018
15
histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos
relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por
muito tempo presos agraves ruas
Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato
o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees
importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos
em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e
propaganda
Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na
produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma
das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo
Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se
somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou
na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de
funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio
pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores
Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias
inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para
participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho
Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos
saiacutedo do campo das ideias
16
3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS
31 Objetivo Geral
O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito
da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de
quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos
anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua
32 Objetivo Especiacuteficos
Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua
por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio
Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a
respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das
vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua
17
4REFERENCIAL TEOacuteRICO
41 Nomenclatura
Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho
baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como
forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o
leitor ou espectador a se interessar pelo assunto
Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta
para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas
diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos
autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na
rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado
definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se
referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem
concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []
ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo
heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos
Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes
indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que
―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se
apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que
tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas
palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que
afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito
As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo
elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar
essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva
especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo
A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais
apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo
resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave
condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou
condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de
acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)
18
Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a
preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete
em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar
a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores
pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma
condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo
42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua
Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)
De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para
a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a
pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou
fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional
regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas
degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma
temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de
acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia
provisoacuteriasup1
No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou
um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser
unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas
19
malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto
vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico
e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o
sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa
condiccedilatildeo
O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui
apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas
determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela
sociabilidade capitalista que produz um contingente de
pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo
possuem moradia convencional O modo capitalista de
produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das
classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na
desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo
acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de
subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)
Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um
problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge
muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro
que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um
local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a
criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer
de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas
Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e
passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das
caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do
ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua
Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se
unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia
na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre
outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era
atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que
o mercado capitalista dispotildee
Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o
preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela
aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima
reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo
costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua
20
43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal
O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em
situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de
Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra
que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A
pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais
de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento
Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em
2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01
de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs
milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que
os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga
respectivamente
A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal
causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia
de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo
fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de
viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)
A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta
por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa
etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas
representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a
masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos
A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem
impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou
pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social
historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem
maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado
6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se
ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio
Carvalho Natalino
Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf
Acesso em 21 de maio de 2018
21
em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46
branca
Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em
situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional
com 127 e somente 78 devido problemas com drogas
A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua
afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas
chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente
externo urbano passam ao usar
O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo
preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes
para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de
encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)
da realidade experimentada em seus cotidianos algumas
drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos
(GATTI e PEREIRA 2011 p88)
Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute
ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a
repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)
tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e
pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante
exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores
de materiais reciclaacuteveis
Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso
ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a
nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas
governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem
todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo
de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a
direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos
como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do
governo
22
44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas
Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta
de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora
com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente
reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a
contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal
incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua
Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu
alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e
ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees
religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas
somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de
Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam
dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o
modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi
criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei
federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de
Assistecircncia Social (LOAS)
Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de
Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que
subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto
ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em
Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil
a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia
dessa populaccedilatildeo
No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em
Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital
federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do
seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de
rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A
populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado
23
da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de
Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador
Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para
adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para
mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de
Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem
situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de
Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute
acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues
disponibilizados pelo Governo
A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute
cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e
descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto
com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos
paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde
satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo
Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e
Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em
comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser
uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico
Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do
uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo
exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo
para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode
durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na
rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra
caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel
teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados
Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de
forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico
individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de
junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o
funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com
transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas
24
Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito
Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas
do Distrito Federal (CONEN-DF)
De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito
Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas
centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a
toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel
institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a
responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o
formulador das poliacuteticas sociais
A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar
esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de
acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem
mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute
tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas
45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico
Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais
raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade
jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel
importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute
mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa
atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria
Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar
luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave
vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de
complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que
buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as
equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)
A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm
defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos
relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da
deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor
25
agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida
por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa
humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto
social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos
primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p
9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa
capaz de transformar tanto o narrado como o narrador
No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto
mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo
[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados
os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a
compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o
jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e
enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7
Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por
privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz
ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo
do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no
jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha
pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)
De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo
quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do
cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o
diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura
dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []
Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem
(MEDINA 1999 p28)
A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem
tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os
mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a
busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da
observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a
comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute
amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos
Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as
accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas
atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos
7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento
[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli
26
desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a
contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que
originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN
2008 p8)
No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda
eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando
essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha
editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-
estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do
assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam
em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo
Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem
principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a
pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de
vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel
minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo
publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que
levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)
Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado
ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo
frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos
meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados
compartilhados pela sociedade
Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho
debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de
abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior
do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as
trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das
ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais
Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a
situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social
Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos
se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto
Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer
jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem
27
somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao
maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado
acontecimento
5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa
voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram
em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a
abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A
partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de
entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre
o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de
informaccedilotildees dos personagens
A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma
forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a
necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o
entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos
linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de
aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma
teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de
questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos
complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)
De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo
abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e
abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se
trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa
(SILVA 2016 p35)
Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o
trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo
do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos
para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto
28
51 Formato audiovisual
Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de
caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos
pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas
fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem
sobre o tema
Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao
trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto
escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo
utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser
alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar
coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era
conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz
alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato
Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em
uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que
os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este
projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e
membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa
populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas
Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de
tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o
projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de
campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie
documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de
abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e
tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos
personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era
necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em
situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar
essa condiccedilatildeo
A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto
Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a
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situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto
Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa
decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos
protagonistas
Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa
quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era
mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo
Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para
o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a
fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe
uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim
a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo
sobre o tema
52 Personagens
Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que
comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e
entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim
termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no
documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute
haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o
primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de
rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa
condiccedilatildeo fosse a mesma
O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho
Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram
pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos
personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas
que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo
seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar
relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de
personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas
mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas
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O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele
morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos
16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando
provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a
trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo
a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o
colocou para fora de casa
Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa
de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute
recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute
que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia
apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o
convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje
estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras
pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas
Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)
A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um
casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram
em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo
trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia
31
de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a
fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando
alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua
Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-
companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se
conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para
Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde
permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute
voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de
amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa
para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro
Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)
Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees
distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie
documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e
sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo
alcoolismo
Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma
vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve
seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade
32
ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de
Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram
Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e
passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --
fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu
concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar
renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa
condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar
outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de
vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e
fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea
Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)
53 Preacute-produccedilatildeo
A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido
definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi
preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura
por produtos audiovisuais que abordassem o tema
A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos
conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma
condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou
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pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes
essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que
estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela
Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao
mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para
viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV
- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para
auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria
disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma
ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio
Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho
posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou
registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV
assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume
Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller
(vide apecircndice I)
Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca
formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos
auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e
produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela
tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos
participantes (vide anexo I)
Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um
cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees
relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo
telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo
Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos
contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as
gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo
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Tabela 1 ndash Lista completa da equipe
EQUIPE
CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA
PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA
FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E
LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA
EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA
Fonte Marcus Barbosa (2018)
54 Produccedilatildeo
Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o
cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era
necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos
personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios
diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das
obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito
um esforccedilo para seguir de perto o roteiro
Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria
dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria
responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos
planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a
produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua
experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos
equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada
Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista
uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para
fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios
momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo
guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se
abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas
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no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas
isso nem sempre deu certo
Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o
esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e
Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio
em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe
Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se
delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens
do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um
indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera
Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que
ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um
canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das
gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o
primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no
microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao
cronograma de gravaccedilotildees
Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)
36
Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)
Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com
o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele
foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as
entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de
Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as
gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas
Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de
gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente
para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos
concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas
37
Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus
Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)
55 Poacutes-produccedilatildeo
Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo
foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio
que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)
Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia
Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material
O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome
provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio
da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por
escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os
personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que
traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas
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561 Identidade visual
A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de
publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela
animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura
foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais
proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas
Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes
de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com
maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com
boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca
por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto
Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para
a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)
Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)
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Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)
Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
40
6 CRONOGRAMA DE PESQUISA
Tabela 2 ndash Cronograma de atividades
DATAS ETAPAS
Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica
(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)
Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens
Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas
Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees
510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega
para ediccedilatildeo
Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio
Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo
Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa
180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca
Fonte Marcus Barbosa (2018)
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7 ORCcedilAMENTO
Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais
VALORES IacuteTENS
R$ 9700 Estabilizador de celular
R$ 25000 Microfone de Lapela
R$ 29000 HD Externo
R$ 35000 Gasolina
R$ 29700 Impressatildeo de material visual
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II
VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)
R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD
R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg
R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash
Wm6 UHF
R$ 8900 Rebatedor
R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +
Tripeacute 2m
R$ 99900 Identidade visual para o produto
R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de
duraccedilatildeo
R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
42
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi
possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que
existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em
situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao
passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos
ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E
com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que
integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute
preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses
indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa
condiccedilatildeo
Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia
com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de
rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas
entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem
desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o
auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num
problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons
exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e
o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -
Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou
provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida
dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo
No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi
um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente
nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar
o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea
tambeacutem foi de suma importacircncia
Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar
histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas
preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade
nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das
43
histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que
chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo
tudo
Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes
deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de
ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar
tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista
44
REFEREcircNCIAS
ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser
humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico
BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise
referencial de serviccedilo socioassistencial de Satildeo Paulo e Brasiacutelia 2015 64 f Trabalho
de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Serviccedilo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia
Brasiacutelia 2015 Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048317307
Acesso 21 de maio de 2018
BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil
Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p
CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua um estudo sobre pobreza necessidades humanas e miacutenimos
sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de
Brasiacutelia Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel
emhttpbdmunbbrbitstream10483257312011_AmaranthaSaTelesdeCerqueirapdf
Acesso 21 de maio de 2018
CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009
DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005
GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-
EDUC 2006
MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de
moradores de rua em Taguatinga-DF 2016 60 f Trabalho de conclusatildeo de curso
(Bacharelado em Sauacutede Coletiva)mdashUniversidade de Brasiacutelia Ceilacircndia 2016
Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048315988
Acesso em 21 de maio de 2018
Mattos RM Ferreira RF Quem vocecircs pensam que (elas) satildeo Representaccedilotildees
sobre as pessoas em situaccedilatildeo de rua Psicologia amp Sociedade 16 (2) 47-58
maioago2004 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfpsocv16n2a07v16n2pdf
Acesso 21 de maio de 2018
MELO Cristina Teixeira V de GOMES Isaltina Mello MORAIS Wilma O
documentaacuterio jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral In Intercom - 25ordm Congresso
Brasileiro de Comunicaccedilatildeo Campo Grande 2001 Disponiacutevel em
httpwwwintercomorgbrpapersnacionais2001papersNP7MELOPDF
Acesso 21 de maio de 2018
MONTIPOacute Criselli FARAH Acircngela Relato humanizado no jornalismo a
importacircncia da humanizaccedilatildeo na narrativa para um jornalismo transformador In
45
Miacutedia Cidadatilde 2009 - V Conferecircncia Brasileira de Miacutedia Cidadatilde 2009 Guarapuava
Anais Guarapuava 2009 p 906 - 923 Disponiacutevel em httpwwwunicentrobrredemc
Acesso 21 de maio de 2018
MOURA Rodrigo Coelho Bacellar Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo
de Rua uma anaacutelise da participaccedilatildeo social no processo de implementaccedilatildeo da poliacutetica
2016 30 f Trabalho de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Gestatildeo de Poliacuteticas
Puacuteblicas)mdashUniversidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2016 Disponiacutevel em
httpbdmunbbrhandle1048316261
Acesso 21 de maio de 2018
SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-
BA um estudo de caso UNEB 2009
SILVA Fabiacuteola Mariano da Humanizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e gestatildeo centrada nas
pessoas - entrevista em profundidade Laboratoacuterio Sabin 2016 56 f Trabalho de
conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia
Brasiacutelia 2016
SILVA Maria Lucia Lopes da Trabalho e Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua no Brasil
1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009
SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica
Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009
Referecircncias audiovisuais
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em httpswwwyoutubecomuserbocaderuaofilme
Acesso em 21 de maio de 2018
UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e
Victoacuteria Cristina Costa Disponiacutevel em
httpswwwfacebookcomserieumapaginapordia
Acesso em 21 de maio de 2018
O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom
Acesso em 21 de maio de 2018
O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em
httpsossodafalawordpresscom
Acesso em 21 de maio de 2018
SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes
3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw
Acesso em 21 de maio de 2018
46
APEcircNDICES
47
APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Brasiacutelia 28 de agosto de 2017
Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV
Prezada Sra Neuza Meller
Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para
realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de
Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de
um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em
Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula
130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a
orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula
UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em
situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal
Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo
acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a
aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as
histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de
conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o
desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo
entrevistas e ediccedilatildeo do material captado
Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma
parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo
de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a
grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse
48
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais
sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer
esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail
marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189
Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo
Cordialmente
Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
49
APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)
TER (1909)
QUA (2009) ENTREVISTA
Quem Ademir e Claacuteudia
Horaacuterio 15h
End Luziacircnia GO
QUI (2109)
SEX (2209) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAB ( 2309)
DOM (2409)
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA
Quem Claacuteudia e Ademir
Horaacuterio 14h
End Praccedila do Compromisso Asa Sul
TER (2609)
QUA (2709)
QUI (2809) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 15h
End Ceilacircndia
SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAacuteB (3009) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End SCS
DOM (0110)
MANHAtilde TARDE NOITE
SEG (0210)
TER (0310)
QUA (0410) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 9h
Endereccedilo Centro de
Taguatinga
QUI (0510) ENTREVISTA
Quem Ademir
Horaacuterio 15h
End Parque da Cidade
SEX (0610)
SAacuteB (0710)
DOM (0810)
QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Lucas Cacircndia
Horaacuterio 16h
End Aacuterea central de Brasiacutelia
50
APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a
situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos
durante o periacuteodo nas ruas
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo
com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc
2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar
3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua
4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas
5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua
6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua
7 Como era sua rotina na rua
8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo
9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele
periacuteodo
10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como
abrigo sauacutede etc
11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter
12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais
sobre isso
13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou
simplesmente agia com indiferenccedila
51
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o
futuro
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva
de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real
2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo
3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo
4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou
em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio
5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar
6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de
recuperaccedilatildeo
7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para
frente
8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que
ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria
52
APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida
FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia
PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca
ED DE IMAGENS Julia Nogueira
ARTE Sarah Silva
CENA DE
AMBIENTACcedilAtildeO
ARQUIVO
Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio
SONORA 1 CLAacuteUDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE CORTE
126 -- 147 +
327 -- 345
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu
trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht
mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)
―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu
comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para
vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0025 -- 0109
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma
pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma
discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu
abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas
SONORA 4 DANIELA
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE
213 --300
Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos
tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da
luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de
relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era
acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente
ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar
53
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai
brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma
hora
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e
minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela
sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri
muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem
africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 4
03 -- 434
(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha
vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet
os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida
maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu
Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje
SONORA 6 Daniela
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE
434 --446 + 528 -- 539
―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro
semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos
difiacuteceis +
―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc
vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu
escutei
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
842 --914
―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito
dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu
acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com
uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica
cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil
SONORA DANIELA
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
551 --622
ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um
computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus
aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc
tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12
minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que
Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano
teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo
54
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144
depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria
com as drogas
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
256 -- 330
―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia
cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu
frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro
com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que
chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0424 -- 0439
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente
mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo
mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era
bebida
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212
Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo
abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
550 -- 603
―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da
bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo
notam mas notam
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0401 -- 0408
O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro
dia bebendo porque eu precisava beber
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304
Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A
gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra
gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute
diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia
Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e
gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde
SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei
55
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
759 --813 + 825 -- 840
+ 915 --9 22
PODE ENXUGAR
muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai
argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +
E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me
ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e
nossa aquilo ali me doeu +
―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu
natildeo volto mais
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
126 -- 153 + 216 --231
―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e
ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era
casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na
eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +
―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa
natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me
pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347
Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa
para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou
para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para
mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas
SONORA Daniela
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
953 --1016 + 120 --
124
PODE ENXUGAR
ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que
eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava
dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo
E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso
aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar
minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova
trajetoacuteria
SONORA Claudia
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
427 --439
―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma
coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se
conhece um conhece outro
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0048 ---0109
Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca
soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse
dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
516 -- 521
―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto
entatildeo vc entra
SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo
tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte
56
ARQUIVO 967_0430_03
TEMPO DE CORTE
926 -- 938
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0814
-- 0834
No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da
que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua
esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio
Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0707 -- 0726
Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu
viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu
corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar
mais
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 217
-- 230
―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer
uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa
de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0706
-- 0725
Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo
que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do
lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a
gente a sobreviver na rua
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE
CORTE0013 --018 (+)
1128 --1137
―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq
barulho a gente acorda
(+)
―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade
de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde
SONORA ADRIANO LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio
sincronizado
TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628
Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece
que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute
terriacutevel
57
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE 958
-- 1002 + 931 -- 945 +
1025 -- 1030
―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute
um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma
alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas
se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que
estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE
222-- 245
―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente
chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela
e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar
para vc
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE
701 -- 714
(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a
frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute
super-homem natildeo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli -
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0432
-- 0437
Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de
viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia
morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE 655
--710 +730 -- 804
PODE ENXUGAR
(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que
to com catarata pq natildeo notei 710 +
(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para
traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui
para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a
danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e
e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1109
--1116
+
―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila
comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da
minha mochila
(+)
58
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1032
--1036
+
ARQUIVO 256_2764_02
TEMPO DE CORTE 1101
-- 1115
ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa
(+)
―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai
que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho
comigo ningueacutem queria mais falar comigo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 0300
--0308
―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber
os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 1540
-- 1556
Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te
apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio
decadente
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE
0824 -- 0857
Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa
marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc
eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um
saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam
natildeo estatildeo nem aiacute
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 241
-- 0300
―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como
pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto
de vc muito existe demais demais
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0508 -- 05 30
Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar
eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te
tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe
uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas
59
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_03
TEMPO DE CORTE
241 --256
(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema
esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc
vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0841 -- 0853 (+) 0302 -
-0322
Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu
preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes
(+)
Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa
vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de
novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo
tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci
minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 741
--806 +
803-- 804 +
811 -- 815
(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um
tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando
eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +
(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para
Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE 0638
-- 0653
Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava
a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas
mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a
gente piorava cada vez mais
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 837
-- 848 (+) 557-- 606
Sera que daacute para cortar o
som externo nessa parte
Senatildeo pode cortar
― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e
estradas
+
―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo
para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava
60
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
1251 -- 1306
Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia
morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o
meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 604
-- 618
+
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
521 -- 533
― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter
outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com
outra coisa natildeo com a rua +
―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui
uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_06
TEMPO DE CORTE
101--121
―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro
todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a
condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no
coraccedilatildeo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 0551 -- 613
―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da
forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o
fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai
se entregar eacute assim que eu pensava
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0127 -- 0151
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era
meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais
abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava
esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda
61
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 852 - 906
―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me
arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me
arrependo mesmo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 1305 - 1326
―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc
esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente
todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que
arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei
quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais
forccedila
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0428 -- 0500
―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e
procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi
a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma
pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de
tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute
tudo mudou
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
814 - 835
―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria
fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir
para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1056 - 1111
―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou
estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute
arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0726 -- 0748
ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de
recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar
um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa
se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou
acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento
62
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE
0231 -- 0248
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA
EvDICcedilAtildeO
―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua
vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e
quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma
forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1207 - 1231
―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a
gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o
organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida
e em qlq bar vc consegue
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0532 --609
―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi
aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis
tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos
mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente
que eu recebi
SONORA Dani
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 516 - 528
―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar
terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu
tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
924 - 1000
(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo
esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta
repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter
uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em
restaurantes
SONORA ADRIANO
LUGOLI
Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo
esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao
63
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0821 -- 856
Avaliar se corta o final
ou enxuga
era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando
via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_04
TEMPO DE CORTE
109 -130 (+)
1100 -1103
― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na
cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um
pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito
oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna
+
―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 126 - 142
ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que
eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que
eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0900 - 943
―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha
vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente
que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim
que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me
abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_03
TEMPO DE
CORTE034 - 044 +
113- 117
(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos
estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +
113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando
(117)
SONORA Dani
ARQUIVO
―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas
paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu
olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu
64
965_0748_02
TEMPO DE CORTE 240 - 308)
interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem
de fazer oq eu eu fiz
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_04
TEMPO DE CORTE -
045 - 111
― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo
de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova
oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p
vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -
910
―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus
irmatildeos +
―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que
eu tenho para ele eacute o silecircncio
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423
―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)
―e depois que essa historia foi p jornal revista tv
eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia
acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao
que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_02
TEMPO DE CORTE
852 - 920
― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela
situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de
alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute
sozinha natildeo vai conseguir
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 611 - 633
―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca
esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios
propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar
algo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE
―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso
nem ter uma casinha para morar
65
CORTE1313 - 1321
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
706 - 732
ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem
pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do
mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb
vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1129 - 1200
―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que
quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam
de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua
vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que
as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica
oportunidade elas conseguem
Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos
66
APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem
Fonte Ana Paula Fonseca (2017)
67
APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia
Fonte Marcus Barbosa (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
68
APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD
Fonte Sarah Silva (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
2
Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra
MEMOacuteRIA DAS RUAS
Um documentaacuterio sobre o olhar de quem jaacute foi invisiacutevel
Memorial descritivo de produto
apresentado agrave Universidade de Brasiacutelia
como requisito parcial para obtenccedilatildeo do
tiacutetulo de bacharel em Jornalismo
Orientadora Profordf Drordf Ana Carolina
Kalume Maranhatildeo
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________
Profordf Drordf Ana Carolina Kalume Maranhatildeo
ORIENTADORA
_____________________________________
Prof Dr Gilberto Gonccedilalves Costa
MEMBRO
______________________________________
Profordf Drordf Daniela Faacutevaro Garrossini
MEMBRO
______________________________________
Profordf Drordf Maacutercia Marques
SUPLENTE
Brasiacutelia 1ordm2018
3
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agrave Jeovaacute Deus por sustentar a minha vida e por garantir Seu apoio
incondicional em todos os momentos da minha vida Sem duacutevidas consigo concluir o
periacuteodo da graduaccedilatildeo e as mais diversas pressotildees imaginaacuteveis por conta do Seu
amoroso cuidado
Agrave minha famiacutelia que sempre me apoiou das mais diversas maneiras possiacuteveis Cito em
especial minha matildee Margarete que mesmo nos momentos mais estressantes em que a
ansiedade fazia com que eu perdesse a paciecircncia estava ao meu lado procurando me
ouvir e de alguma forma me ajudar Agradeccedilo a meu pai Carlos por sempre acreditar
no meu potencial e me incentivar a dar o meu melhor em tudo que faccedilo Devo citar
tambeacutem minha queria avoacute Yolanda que sempre esteve por perto me incentivando e
demonstrando seu orgulho por mim
Agrave Neila que foi minha grande parceira na idealizaccedilatildeo desse projeto De fato nosso
iacutempeto incansaacutevel em realizar um trabalho de excelecircncia produziu um belo resultado do
qual me orgulho muito Obviamente natildeo vou esquecer nossas longas viagens ateacute as
gravaccedilotildees nossas vaacuterias discussotildees sobre a abordagem do tema a escolha das histoacuterias
as muitas conversas para formatar o produto e os detalhes finais Eacute meu dever lembrar
que esse documentaacuterio foi produzido totalmente ―a quatro matildeos jaacute que todas as tarefas
e decisotildees foram divididas entre noacutes Pena que um entrave burocraacutetico tenha nos divido
na apresentaccedilatildeo deste trabalho mas sei que vou contar contigo nesse momento
importante
Agrave aqueles que aceitaram dividir sua histoacuteria conosco Ademir Claacuteudia Daniele e
Adriano suas experiecircncias de vida proporcionaram conversas incriacuteveis e com certeza
iniciaram uma amizade que quero levar comigo Muito obrigado pela confianccedila no
nosso trabalho Tenho certeza que suas histoacuterias inspiradoras vatildeo impactar a cada um
que assistir a esse documentaacuterio
Agrave nossa querida orientadora Ana Carolina Kalume Muito obrigado por acreditar no
nosso trabalho ndash muitas vezes mais do que noacutes mesmos ndash e tambeacutem por sempre nos
indicar maneiras de aprimoraacute-lo
4
Agrave UnBTV e sua diretora Neuza Meller que confiou em nossa ideia e nos apoiou
bastante liberando seu quadro profissional para nos ajudar com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo
do material
Por fim a toda equipe que colaborou para tornar esse projeto possiacutevel Seremos sempre
gratos a ajuda de cada um de vocecircs Ana Paula essencial na produccedilatildeo Julia Nogueira e
sua incriacutevel ediccedilatildeo Sarah Silva com a animaccedilatildeo e identidade visual e Alex Baacuterbara
Fernando Lucas e Raphael pelas beliacutessimas imagens feitas durante as gravaccedilotildees
5
Natildeo devemos ter medo
das novas ideias Elas podem
significar a diferenccedila entre o triunfo
e o sucessordquo
(Napoleon Hill)
6
Sumaacuterio LISTA DE FIGURAS 8
LISTA DE TABELAS 8
RESUMO 9
ABSTRACT 10
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS 12
21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa 14
3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS 16
31 Objetivo Geral 16
32 Objetivo Especiacuteficos 16
4REFERENCIAL TEOacuteRICO 17
41 Nomenclatura 17
42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua 18
43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal 20
44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas 22
45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico 24
5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 27
51 Formato audiovisual 28
52 Personagens 29
53 Preacute-produccedilatildeo 32
54 Produccedilatildeo 34
55 Poacutes-produccedilatildeo 37
561 Identidade visual 38
6 CRONOGRAMA DE PESQUISA 40
7 ORCcedilAMENTO 41
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 42
REFEREcircNCIAS 44
Referecircncias audiovisuais 45
APEcircNDICES 46
APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV 47
7
APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas 49
APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas 50
APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo 52
APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem 66
APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia 67
APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD 68
8
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia 18
FIGURA 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto 30
FIGURA 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro 31
FIGURA 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela natildeo parou de trabalhar e estudarhelliphellip 32
FIGURA 5 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul em Brasiacutelia 35
FIGURA 6 ndash Gravaccedilatildeo na Praccedila do Compromisso Asa Sul Brasiacutelia 36
FIGURA 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli Da
esquerda para a direita Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista
cedido pela UnBTV) Marcus Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) 37
FIGURA 8 -ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower 38
FIGURA 9 - Paleta de cores escolhida 39
FIGURA 10 - Arte da capa para o DVD 39
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 ndash Lista completa da equipe 34
TABELA 2 ndash Cronograma de atividades 40
TABELA 3 ndash Orccedilamento de materiais 41
TABELA 4 ndash Orccedilamento de materiais II 42
9
RESUMO
O documentaacuterio ldquoMemoacuteria das Ruasrdquo aborda as experiecircncias de quatro pessoas que
reescreveram suas histoacuterias e conseguiram superaram o periacuteodo de invisibilidade
experimentado durante o tempo em que viveram em situaccedilatildeo de rua O projeto
produzido entre os meses de agosto e novembro de 2017 buscou abordar com olhar
jornaliacutestico humanizado momentos significativos das histoacuterias desses protagonistas No
iniacutecio os personagens contam como eram suas vidas antes das ruas e quais fatores os
levaram a essa situaccedilatildeo Logo depois eacute apresentado um relato sobre os medos
dificuldades perigos e preconceitos enfrentados por cada um deles Por fim os quatro
personagens contam o caminho percorrido para a retomada de suas vidas e quais seus
planos para o futuro
Palavras-chaves Documentaacuterio Jornalismo Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Vulnerabilidade social Relatos de vida
10
ABSTRACT
The documentary bdquoMemoacuteria das Ruas‟ addresses the experiences of four people who
rewrot their stories and succeeded in overcoming the period of invisibility experienced
during the time they lived on the streets The project produced between August and
September 2017 sought to approach in a humanized way significant moments of the
stories os these protagonists In a first moment the characters tell how their lives were
before the streets and what factors led them to this situation In sequence its present na
account of the fears difficulties dangers and prejudice faced by each one of them In
conclusion all the characters tell the story of their lives and their plans for the future
Keywords Documentary Journalism Population in street situation Social
vulnerability Life stories
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Moradia limpa digna e segura Mesmo sendo uma garantia baacutesica assegurada
pelo artigo 6ordm do Capiacutetulo II da Constituiccedilatildeo Brasileira de 19881 a realidade por traacutes
deste direito no Brasil ainda estaacute longe de ser a ideal Por conta dos abismos
socioeconocircmicos que persistem em dividir a populaccedilatildeo em diferentes classes sociais
uma boa parcela dos brasileiros continua sem acesso a oportunidades e um dos
principais reflexos desta situaccedilatildeo eacute a falta de moradia adequada para todos
A crise financeira o aumento exponencial do desemprego e a dependecircncia
quiacutemica satildeo fatores relevantes que tecircm sua parcela de contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo do
cenaacuterio em que as ruas - um espaccedilo comum a todos - tecircm se tornado lugar de
permanecircncia das parcelas menos favorecidas da populaccedilatildeo O Brasil natildeo possui dados
oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima
estimativa2 divulgada em 2015 revelou que naquele ano o paiacutes tinha 101854 dos seus
habitantes vivendo essa realidade
Em 2017 o nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal (DF) de
acordo com a Secretaria do Trabalho Desenvolvimento Social Mulheres Igualdade
Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) era de trecircs mil pessoas ou seja 01 de
toda a populaccedilatildeo da capital federal que em 2017 era de 3 milhotildees de pessoas3
O fenocircmeno que persiste e a cada ano parece crescer eacute um problema social que
pode gerar consequecircncias graves para pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Por conta disso o foco deste trabalho centra-se em contar histoacuterias de vida de pessoas
que fizeram parte dessa populaccedilatildeo frequentemente esquecida e renegada ao abandono
A proposta baseia-se na realizaccedilatildeo de um documentaacuterio Produzido entre agosto e
novembro de 2017 o projeto foi planejado de forma a retratar histoacuterias e vivecircncias de
quatro personagens que vatildeo compartilhar suas experiecircncias dificuldades e
1BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado
Federal Centro Graacutefico 1988 292 p
2 O Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) possui uma pesquisa intitulada Estimativa da
Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua no Brasil de Marcos Antocircnio Carvalho Natalino publicada em outubro
de 2016 O estudo apresenta dados referentes ao ano de 2015
Conteuacutedo disponiacutevel em httpwwwipeagovbr
Acesso 21 de maio de 2018
3Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 30 de agosto de
2017
Conteuacutedo disponiacutevel em httpscidadesibgegovbr
Acesso 21 de maio de 2018
12
aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas
pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua
O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o
restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o
uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua
brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as
pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os
motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos
mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho
Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o
histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida
antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa
apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver
nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos
enfrentados
A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores
significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro
personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos
ao serem ignorados pela sociedade
Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar
em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos
quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e
contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila
2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS
Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema
escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute
4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008
Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr
Acesso 21 de maio de 2018
13
mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que
enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa
―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar
naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre
como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente
Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se
que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas
puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio
Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla
sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo
desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos
de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos
Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a
abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o
jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com
outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em
mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente
os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo
Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave
idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No
lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de
transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas
comuns
Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado
anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e
preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo
senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos
agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua
natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao
viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou
pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas
Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a
estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por
que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um
14
problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a
alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem
tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam
afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo
pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar
a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e
contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida
21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa
Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo
definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema
interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute
assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees
Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a
ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees
poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento
propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do
processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa
por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a
presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal
Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a
ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma
reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma
experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado
especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as
dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em
averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi
constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves
manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute
a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as
5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil
pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017
Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html
Acesso 21 de maio de 2018
15
histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos
relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por
muito tempo presos agraves ruas
Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato
o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees
importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos
em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e
propaganda
Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na
produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma
das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo
Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se
somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou
na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de
funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio
pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores
Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias
inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para
participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho
Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos
saiacutedo do campo das ideias
16
3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS
31 Objetivo Geral
O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito
da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de
quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos
anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua
32 Objetivo Especiacuteficos
Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua
por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio
Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a
respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das
vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua
17
4REFERENCIAL TEOacuteRICO
41 Nomenclatura
Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho
baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como
forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o
leitor ou espectador a se interessar pelo assunto
Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta
para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas
diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos
autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na
rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado
definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se
referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem
concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []
ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo
heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos
Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes
indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que
―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se
apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que
tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas
palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que
afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito
As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo
elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar
essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva
especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo
A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais
apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo
resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave
condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou
condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de
acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)
18
Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a
preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete
em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar
a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores
pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma
condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo
42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua
Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)
De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para
a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a
pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou
fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional
regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas
degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma
temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de
acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia
provisoacuteriasup1
No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou
um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser
unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas
19
malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto
vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico
e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o
sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa
condiccedilatildeo
O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui
apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas
determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela
sociabilidade capitalista que produz um contingente de
pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo
possuem moradia convencional O modo capitalista de
produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das
classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na
desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo
acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de
subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)
Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um
problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge
muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro
que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um
local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a
criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer
de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas
Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e
passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das
caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do
ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua
Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se
unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia
na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre
outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era
atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que
o mercado capitalista dispotildee
Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o
preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela
aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima
reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo
costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua
20
43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal
O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em
situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de
Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra
que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A
pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais
de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento
Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em
2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01
de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs
milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que
os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga
respectivamente
A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal
causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia
de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo
fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de
viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)
A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta
por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa
etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas
representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a
masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos
A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem
impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou
pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social
historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem
maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado
6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se
ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio
Carvalho Natalino
Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf
Acesso em 21 de maio de 2018
21
em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46
branca
Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em
situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional
com 127 e somente 78 devido problemas com drogas
A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua
afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas
chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente
externo urbano passam ao usar
O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo
preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes
para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de
encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)
da realidade experimentada em seus cotidianos algumas
drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos
(GATTI e PEREIRA 2011 p88)
Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute
ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a
repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)
tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e
pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante
exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores
de materiais reciclaacuteveis
Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso
ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a
nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas
governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem
todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo
de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a
direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos
como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do
governo
22
44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas
Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta
de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora
com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente
reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a
contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal
incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua
Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu
alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e
ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees
religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas
somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de
Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam
dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o
modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi
criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei
federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de
Assistecircncia Social (LOAS)
Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de
Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que
subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto
ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em
Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil
a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia
dessa populaccedilatildeo
No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em
Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital
federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do
seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de
rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A
populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado
23
da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de
Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador
Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para
adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para
mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de
Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem
situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de
Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute
acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues
disponibilizados pelo Governo
A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute
cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e
descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto
com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos
paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde
satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo
Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e
Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em
comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser
uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico
Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do
uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo
exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo
para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode
durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na
rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra
caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel
teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados
Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de
forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico
individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de
junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o
funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com
transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas
24
Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito
Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas
do Distrito Federal (CONEN-DF)
De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito
Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas
centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a
toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel
institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a
responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o
formulador das poliacuteticas sociais
A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar
esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de
acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem
mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute
tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas
45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico
Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais
raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade
jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel
importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute
mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa
atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria
Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar
luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave
vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de
complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que
buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as
equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)
A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm
defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos
relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da
deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor
25
agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida
por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa
humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto
social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos
primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p
9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa
capaz de transformar tanto o narrado como o narrador
No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto
mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo
[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados
os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a
compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o
jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e
enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7
Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por
privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz
ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo
do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no
jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha
pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)
De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo
quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do
cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o
diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura
dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []
Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem
(MEDINA 1999 p28)
A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem
tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os
mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a
busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da
observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a
comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute
amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos
Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as
accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas
atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos
7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento
[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli
26
desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a
contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que
originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN
2008 p8)
No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda
eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando
essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha
editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-
estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do
assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam
em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo
Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem
principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a
pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de
vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel
minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo
publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que
levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)
Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado
ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo
frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos
meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados
compartilhados pela sociedade
Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho
debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de
abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior
do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as
trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das
ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais
Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a
situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social
Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos
se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto
Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer
jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem
27
somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao
maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado
acontecimento
5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa
voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram
em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a
abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A
partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de
entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre
o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de
informaccedilotildees dos personagens
A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma
forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a
necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o
entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos
linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de
aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma
teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de
questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos
complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)
De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo
abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e
abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se
trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa
(SILVA 2016 p35)
Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o
trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo
do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos
para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto
28
51 Formato audiovisual
Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de
caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos
pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas
fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem
sobre o tema
Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao
trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto
escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo
utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser
alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar
coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era
conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz
alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato
Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em
uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que
os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este
projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e
membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa
populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas
Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de
tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o
projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de
campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie
documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de
abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e
tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos
personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era
necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em
situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar
essa condiccedilatildeo
A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto
Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a
29
situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto
Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa
decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos
protagonistas
Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa
quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era
mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo
Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para
o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a
fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe
uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim
a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo
sobre o tema
52 Personagens
Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que
comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e
entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim
termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no
documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute
haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o
primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de
rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa
condiccedilatildeo fosse a mesma
O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho
Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram
pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos
personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas
que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo
seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar
relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de
personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas
mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas
30
O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele
morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos
16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando
provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a
trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo
a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o
colocou para fora de casa
Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa
de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute
recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute
que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia
apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o
convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje
estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras
pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas
Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)
A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um
casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram
em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo
trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia
31
de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a
fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando
alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua
Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-
companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se
conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para
Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde
permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute
voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de
amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa
para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro
Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)
Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees
distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie
documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e
sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo
alcoolismo
Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma
vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve
seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade
32
ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de
Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram
Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e
passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --
fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu
concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar
renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa
condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar
outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de
vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e
fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea
Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)
53 Preacute-produccedilatildeo
A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido
definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi
preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura
por produtos audiovisuais que abordassem o tema
A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos
conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma
condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou
33
pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes
essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que
estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela
Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao
mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para
viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV
- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para
auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria
disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma
ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio
Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho
posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou
registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV
assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume
Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller
(vide apecircndice I)
Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca
formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos
auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e
produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela
tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos
participantes (vide anexo I)
Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um
cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees
relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo
telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo
Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos
contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as
gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo
34
Tabela 1 ndash Lista completa da equipe
EQUIPE
CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA
PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA
FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E
LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA
EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA
Fonte Marcus Barbosa (2018)
54 Produccedilatildeo
Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o
cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era
necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos
personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios
diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das
obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito
um esforccedilo para seguir de perto o roteiro
Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria
dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria
responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos
planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a
produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua
experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos
equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada
Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista
uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para
fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios
momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo
guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se
abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas
35
no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas
isso nem sempre deu certo
Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o
esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e
Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio
em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe
Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se
delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens
do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um
indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera
Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que
ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um
canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das
gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o
primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no
microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao
cronograma de gravaccedilotildees
Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)
36
Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)
Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com
o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele
foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as
entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de
Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as
gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas
Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de
gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente
para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos
concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas
37
Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus
Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)
55 Poacutes-produccedilatildeo
Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo
foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio
que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)
Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia
Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material
O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome
provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio
da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por
escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os
personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que
traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas
38
561 Identidade visual
A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de
publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela
animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura
foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais
proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas
Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes
de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com
maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com
boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca
por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto
Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para
a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)
Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)
39
Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)
Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
40
6 CRONOGRAMA DE PESQUISA
Tabela 2 ndash Cronograma de atividades
DATAS ETAPAS
Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica
(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)
Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens
Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas
Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees
510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega
para ediccedilatildeo
Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio
Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo
Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa
180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca
Fonte Marcus Barbosa (2018)
41
7 ORCcedilAMENTO
Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais
VALORES IacuteTENS
R$ 9700 Estabilizador de celular
R$ 25000 Microfone de Lapela
R$ 29000 HD Externo
R$ 35000 Gasolina
R$ 29700 Impressatildeo de material visual
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II
VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)
R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD
R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg
R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash
Wm6 UHF
R$ 8900 Rebatedor
R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +
Tripeacute 2m
R$ 99900 Identidade visual para o produto
R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de
duraccedilatildeo
R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
42
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi
possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que
existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em
situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao
passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos
ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E
com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que
integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute
preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses
indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa
condiccedilatildeo
Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia
com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de
rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas
entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem
desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o
auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num
problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons
exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e
o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -
Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou
provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida
dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo
No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi
um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente
nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar
o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea
tambeacutem foi de suma importacircncia
Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar
histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas
preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade
nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das
43
histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que
chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo
tudo
Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes
deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de
ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar
tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista
44
REFEREcircNCIAS
ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser
humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico
BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise
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CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em
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GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-
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45
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Acesso em 21 de maio de 2018
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O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em
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Acesso em 21 de maio de 2018
SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes
3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw
Acesso em 21 de maio de 2018
46
APEcircNDICES
47
APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Brasiacutelia 28 de agosto de 2017
Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV
Prezada Sra Neuza Meller
Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para
realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de
Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de
um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em
Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula
130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a
orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula
UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em
situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal
Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo
acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a
aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as
histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de
conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o
desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo
entrevistas e ediccedilatildeo do material captado
Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma
parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo
de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a
grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse
48
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais
sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer
esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail
marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189
Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo
Cordialmente
Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
49
APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)
TER (1909)
QUA (2009) ENTREVISTA
Quem Ademir e Claacuteudia
Horaacuterio 15h
End Luziacircnia GO
QUI (2109)
SEX (2209) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAB ( 2309)
DOM (2409)
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA
Quem Claacuteudia e Ademir
Horaacuterio 14h
End Praccedila do Compromisso Asa Sul
TER (2609)
QUA (2709)
QUI (2809) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 15h
End Ceilacircndia
SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAacuteB (3009) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End SCS
DOM (0110)
MANHAtilde TARDE NOITE
SEG (0210)
TER (0310)
QUA (0410) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 9h
Endereccedilo Centro de
Taguatinga
QUI (0510) ENTREVISTA
Quem Ademir
Horaacuterio 15h
End Parque da Cidade
SEX (0610)
SAacuteB (0710)
DOM (0810)
QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Lucas Cacircndia
Horaacuterio 16h
End Aacuterea central de Brasiacutelia
50
APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a
situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos
durante o periacuteodo nas ruas
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo
com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc
2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar
3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua
4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas
5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua
6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua
7 Como era sua rotina na rua
8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo
9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele
periacuteodo
10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como
abrigo sauacutede etc
11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter
12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais
sobre isso
13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou
simplesmente agia com indiferenccedila
51
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o
futuro
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva
de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real
2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo
3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo
4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou
em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio
5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar
6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de
recuperaccedilatildeo
7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para
frente
8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que
ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria
52
APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida
FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia
PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca
ED DE IMAGENS Julia Nogueira
ARTE Sarah Silva
CENA DE
AMBIENTACcedilAtildeO
ARQUIVO
Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio
SONORA 1 CLAacuteUDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE CORTE
126 -- 147 +
327 -- 345
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu
trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht
mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)
―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu
comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para
vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0025 -- 0109
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma
pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma
discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu
abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas
SONORA 4 DANIELA
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE
213 --300
Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos
tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da
luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de
relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era
acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente
ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar
53
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai
brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma
hora
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e
minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela
sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri
muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem
africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 4
03 -- 434
(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha
vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet
os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida
maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu
Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje
SONORA 6 Daniela
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE
434 --446 + 528 -- 539
―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro
semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos
difiacuteceis +
―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc
vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu
escutei
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
842 --914
―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito
dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu
acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com
uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica
cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil
SONORA DANIELA
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
551 --622
ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um
computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus
aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc
tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12
minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que
Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano
teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo
54
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144
depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria
com as drogas
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
256 -- 330
―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia
cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu
frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro
com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que
chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0424 -- 0439
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente
mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo
mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era
bebida
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212
Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo
abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
550 -- 603
―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da
bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo
notam mas notam
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0401 -- 0408
O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro
dia bebendo porque eu precisava beber
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304
Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A
gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra
gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute
diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia
Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e
gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde
SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei
55
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
759 --813 + 825 -- 840
+ 915 --9 22
PODE ENXUGAR
muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai
argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +
E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me
ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e
nossa aquilo ali me doeu +
―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu
natildeo volto mais
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
126 -- 153 + 216 --231
―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e
ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era
casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na
eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +
―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa
natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me
pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347
Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa
para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou
para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para
mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas
SONORA Daniela
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
953 --1016 + 120 --
124
PODE ENXUGAR
ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que
eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava
dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo
E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso
aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar
minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova
trajetoacuteria
SONORA Claudia
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
427 --439
―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma
coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se
conhece um conhece outro
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0048 ---0109
Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca
soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse
dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
516 -- 521
―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto
entatildeo vc entra
SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo
tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte
56
ARQUIVO 967_0430_03
TEMPO DE CORTE
926 -- 938
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0814
-- 0834
No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da
que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua
esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio
Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0707 -- 0726
Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu
viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu
corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar
mais
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 217
-- 230
―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer
uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa
de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0706
-- 0725
Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo
que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do
lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a
gente a sobreviver na rua
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE
CORTE0013 --018 (+)
1128 --1137
―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq
barulho a gente acorda
(+)
―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade
de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde
SONORA ADRIANO LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio
sincronizado
TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628
Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece
que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute
terriacutevel
57
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE 958
-- 1002 + 931 -- 945 +
1025 -- 1030
―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute
um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma
alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas
se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que
estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE
222-- 245
―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente
chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela
e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar
para vc
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE
701 -- 714
(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a
frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute
super-homem natildeo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli -
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0432
-- 0437
Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de
viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia
morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE 655
--710 +730 -- 804
PODE ENXUGAR
(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que
to com catarata pq natildeo notei 710 +
(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para
traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui
para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a
danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e
e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1109
--1116
+
―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila
comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da
minha mochila
(+)
58
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1032
--1036
+
ARQUIVO 256_2764_02
TEMPO DE CORTE 1101
-- 1115
ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa
(+)
―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai
que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho
comigo ningueacutem queria mais falar comigo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 0300
--0308
―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber
os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 1540
-- 1556
Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te
apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio
decadente
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE
0824 -- 0857
Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa
marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc
eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um
saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam
natildeo estatildeo nem aiacute
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 241
-- 0300
―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como
pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto
de vc muito existe demais demais
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0508 -- 05 30
Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar
eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te
tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe
uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas
59
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_03
TEMPO DE CORTE
241 --256
(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema
esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc
vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0841 -- 0853 (+) 0302 -
-0322
Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu
preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes
(+)
Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa
vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de
novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo
tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci
minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 741
--806 +
803-- 804 +
811 -- 815
(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um
tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando
eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +
(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para
Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE 0638
-- 0653
Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava
a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas
mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a
gente piorava cada vez mais
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 837
-- 848 (+) 557-- 606
Sera que daacute para cortar o
som externo nessa parte
Senatildeo pode cortar
― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e
estradas
+
―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo
para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava
60
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
1251 -- 1306
Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia
morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o
meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 604
-- 618
+
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
521 -- 533
― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter
outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com
outra coisa natildeo com a rua +
―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui
uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_06
TEMPO DE CORTE
101--121
―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro
todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a
condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no
coraccedilatildeo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 0551 -- 613
―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da
forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o
fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai
se entregar eacute assim que eu pensava
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0127 -- 0151
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era
meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais
abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava
esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda
61
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 852 - 906
―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me
arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me
arrependo mesmo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 1305 - 1326
―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc
esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente
todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que
arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei
quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais
forccedila
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0428 -- 0500
―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e
procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi
a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma
pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de
tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute
tudo mudou
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
814 - 835
―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria
fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir
para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1056 - 1111
―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou
estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute
arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0726 -- 0748
ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de
recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar
um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa
se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou
acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento
62
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE
0231 -- 0248
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA
EvDICcedilAtildeO
―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua
vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e
quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma
forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1207 - 1231
―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a
gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o
organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida
e em qlq bar vc consegue
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0532 --609
―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi
aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis
tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos
mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente
que eu recebi
SONORA Dani
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 516 - 528
―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar
terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu
tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
924 - 1000
(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo
esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta
repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter
uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em
restaurantes
SONORA ADRIANO
LUGOLI
Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo
esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao
63
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0821 -- 856
Avaliar se corta o final
ou enxuga
era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando
via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_04
TEMPO DE CORTE
109 -130 (+)
1100 -1103
― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na
cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um
pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito
oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna
+
―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 126 - 142
ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que
eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que
eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0900 - 943
―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha
vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente
que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim
que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me
abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_03
TEMPO DE
CORTE034 - 044 +
113- 117
(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos
estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +
113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando
(117)
SONORA Dani
ARQUIVO
―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas
paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu
olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu
64
965_0748_02
TEMPO DE CORTE 240 - 308)
interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem
de fazer oq eu eu fiz
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_04
TEMPO DE CORTE -
045 - 111
― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo
de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova
oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p
vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -
910
―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus
irmatildeos +
―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que
eu tenho para ele eacute o silecircncio
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423
―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)
―e depois que essa historia foi p jornal revista tv
eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia
acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao
que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_02
TEMPO DE CORTE
852 - 920
― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela
situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de
alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute
sozinha natildeo vai conseguir
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 611 - 633
―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca
esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios
propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar
algo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE
―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso
nem ter uma casinha para morar
65
CORTE1313 - 1321
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
706 - 732
ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem
pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do
mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb
vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1129 - 1200
―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que
quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam
de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua
vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que
as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica
oportunidade elas conseguem
Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos
66
APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem
Fonte Ana Paula Fonseca (2017)
67
APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia
Fonte Marcus Barbosa (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
68
APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD
Fonte Sarah Silva (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
3
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agrave Jeovaacute Deus por sustentar a minha vida e por garantir Seu apoio
incondicional em todos os momentos da minha vida Sem duacutevidas consigo concluir o
periacuteodo da graduaccedilatildeo e as mais diversas pressotildees imaginaacuteveis por conta do Seu
amoroso cuidado
Agrave minha famiacutelia que sempre me apoiou das mais diversas maneiras possiacuteveis Cito em
especial minha matildee Margarete que mesmo nos momentos mais estressantes em que a
ansiedade fazia com que eu perdesse a paciecircncia estava ao meu lado procurando me
ouvir e de alguma forma me ajudar Agradeccedilo a meu pai Carlos por sempre acreditar
no meu potencial e me incentivar a dar o meu melhor em tudo que faccedilo Devo citar
tambeacutem minha queria avoacute Yolanda que sempre esteve por perto me incentivando e
demonstrando seu orgulho por mim
Agrave Neila que foi minha grande parceira na idealizaccedilatildeo desse projeto De fato nosso
iacutempeto incansaacutevel em realizar um trabalho de excelecircncia produziu um belo resultado do
qual me orgulho muito Obviamente natildeo vou esquecer nossas longas viagens ateacute as
gravaccedilotildees nossas vaacuterias discussotildees sobre a abordagem do tema a escolha das histoacuterias
as muitas conversas para formatar o produto e os detalhes finais Eacute meu dever lembrar
que esse documentaacuterio foi produzido totalmente ―a quatro matildeos jaacute que todas as tarefas
e decisotildees foram divididas entre noacutes Pena que um entrave burocraacutetico tenha nos divido
na apresentaccedilatildeo deste trabalho mas sei que vou contar contigo nesse momento
importante
Agrave aqueles que aceitaram dividir sua histoacuteria conosco Ademir Claacuteudia Daniele e
Adriano suas experiecircncias de vida proporcionaram conversas incriacuteveis e com certeza
iniciaram uma amizade que quero levar comigo Muito obrigado pela confianccedila no
nosso trabalho Tenho certeza que suas histoacuterias inspiradoras vatildeo impactar a cada um
que assistir a esse documentaacuterio
Agrave nossa querida orientadora Ana Carolina Kalume Muito obrigado por acreditar no
nosso trabalho ndash muitas vezes mais do que noacutes mesmos ndash e tambeacutem por sempre nos
indicar maneiras de aprimoraacute-lo
4
Agrave UnBTV e sua diretora Neuza Meller que confiou em nossa ideia e nos apoiou
bastante liberando seu quadro profissional para nos ajudar com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo
do material
Por fim a toda equipe que colaborou para tornar esse projeto possiacutevel Seremos sempre
gratos a ajuda de cada um de vocecircs Ana Paula essencial na produccedilatildeo Julia Nogueira e
sua incriacutevel ediccedilatildeo Sarah Silva com a animaccedilatildeo e identidade visual e Alex Baacuterbara
Fernando Lucas e Raphael pelas beliacutessimas imagens feitas durante as gravaccedilotildees
5
Natildeo devemos ter medo
das novas ideias Elas podem
significar a diferenccedila entre o triunfo
e o sucessordquo
(Napoleon Hill)
6
Sumaacuterio LISTA DE FIGURAS 8
LISTA DE TABELAS 8
RESUMO 9
ABSTRACT 10
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS 12
21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa 14
3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS 16
31 Objetivo Geral 16
32 Objetivo Especiacuteficos 16
4REFERENCIAL TEOacuteRICO 17
41 Nomenclatura 17
42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua 18
43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal 20
44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas 22
45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico 24
5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 27
51 Formato audiovisual 28
52 Personagens 29
53 Preacute-produccedilatildeo 32
54 Produccedilatildeo 34
55 Poacutes-produccedilatildeo 37
561 Identidade visual 38
6 CRONOGRAMA DE PESQUISA 40
7 ORCcedilAMENTO 41
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 42
REFEREcircNCIAS 44
Referecircncias audiovisuais 45
APEcircNDICES 46
APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV 47
7
APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas 49
APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas 50
APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo 52
APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem 66
APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia 67
APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD 68
8
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia 18
FIGURA 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto 30
FIGURA 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro 31
FIGURA 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela natildeo parou de trabalhar e estudarhelliphellip 32
FIGURA 5 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul em Brasiacutelia 35
FIGURA 6 ndash Gravaccedilatildeo na Praccedila do Compromisso Asa Sul Brasiacutelia 36
FIGURA 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli Da
esquerda para a direita Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista
cedido pela UnBTV) Marcus Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) 37
FIGURA 8 -ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower 38
FIGURA 9 - Paleta de cores escolhida 39
FIGURA 10 - Arte da capa para o DVD 39
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 ndash Lista completa da equipe 34
TABELA 2 ndash Cronograma de atividades 40
TABELA 3 ndash Orccedilamento de materiais 41
TABELA 4 ndash Orccedilamento de materiais II 42
9
RESUMO
O documentaacuterio ldquoMemoacuteria das Ruasrdquo aborda as experiecircncias de quatro pessoas que
reescreveram suas histoacuterias e conseguiram superaram o periacuteodo de invisibilidade
experimentado durante o tempo em que viveram em situaccedilatildeo de rua O projeto
produzido entre os meses de agosto e novembro de 2017 buscou abordar com olhar
jornaliacutestico humanizado momentos significativos das histoacuterias desses protagonistas No
iniacutecio os personagens contam como eram suas vidas antes das ruas e quais fatores os
levaram a essa situaccedilatildeo Logo depois eacute apresentado um relato sobre os medos
dificuldades perigos e preconceitos enfrentados por cada um deles Por fim os quatro
personagens contam o caminho percorrido para a retomada de suas vidas e quais seus
planos para o futuro
Palavras-chaves Documentaacuterio Jornalismo Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Vulnerabilidade social Relatos de vida
10
ABSTRACT
The documentary bdquoMemoacuteria das Ruas‟ addresses the experiences of four people who
rewrot their stories and succeeded in overcoming the period of invisibility experienced
during the time they lived on the streets The project produced between August and
September 2017 sought to approach in a humanized way significant moments of the
stories os these protagonists In a first moment the characters tell how their lives were
before the streets and what factors led them to this situation In sequence its present na
account of the fears difficulties dangers and prejudice faced by each one of them In
conclusion all the characters tell the story of their lives and their plans for the future
Keywords Documentary Journalism Population in street situation Social
vulnerability Life stories
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Moradia limpa digna e segura Mesmo sendo uma garantia baacutesica assegurada
pelo artigo 6ordm do Capiacutetulo II da Constituiccedilatildeo Brasileira de 19881 a realidade por traacutes
deste direito no Brasil ainda estaacute longe de ser a ideal Por conta dos abismos
socioeconocircmicos que persistem em dividir a populaccedilatildeo em diferentes classes sociais
uma boa parcela dos brasileiros continua sem acesso a oportunidades e um dos
principais reflexos desta situaccedilatildeo eacute a falta de moradia adequada para todos
A crise financeira o aumento exponencial do desemprego e a dependecircncia
quiacutemica satildeo fatores relevantes que tecircm sua parcela de contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo do
cenaacuterio em que as ruas - um espaccedilo comum a todos - tecircm se tornado lugar de
permanecircncia das parcelas menos favorecidas da populaccedilatildeo O Brasil natildeo possui dados
oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima
estimativa2 divulgada em 2015 revelou que naquele ano o paiacutes tinha 101854 dos seus
habitantes vivendo essa realidade
Em 2017 o nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal (DF) de
acordo com a Secretaria do Trabalho Desenvolvimento Social Mulheres Igualdade
Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) era de trecircs mil pessoas ou seja 01 de
toda a populaccedilatildeo da capital federal que em 2017 era de 3 milhotildees de pessoas3
O fenocircmeno que persiste e a cada ano parece crescer eacute um problema social que
pode gerar consequecircncias graves para pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Por conta disso o foco deste trabalho centra-se em contar histoacuterias de vida de pessoas
que fizeram parte dessa populaccedilatildeo frequentemente esquecida e renegada ao abandono
A proposta baseia-se na realizaccedilatildeo de um documentaacuterio Produzido entre agosto e
novembro de 2017 o projeto foi planejado de forma a retratar histoacuterias e vivecircncias de
quatro personagens que vatildeo compartilhar suas experiecircncias dificuldades e
1BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado
Federal Centro Graacutefico 1988 292 p
2 O Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) possui uma pesquisa intitulada Estimativa da
Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua no Brasil de Marcos Antocircnio Carvalho Natalino publicada em outubro
de 2016 O estudo apresenta dados referentes ao ano de 2015
Conteuacutedo disponiacutevel em httpwwwipeagovbr
Acesso 21 de maio de 2018
3Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 30 de agosto de
2017
Conteuacutedo disponiacutevel em httpscidadesibgegovbr
Acesso 21 de maio de 2018
12
aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas
pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua
O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o
restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o
uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua
brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as
pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os
motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos
mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho
Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o
histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida
antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa
apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver
nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos
enfrentados
A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores
significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro
personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos
ao serem ignorados pela sociedade
Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar
em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos
quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e
contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila
2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS
Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema
escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute
4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008
Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr
Acesso 21 de maio de 2018
13
mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que
enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa
―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar
naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre
como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente
Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se
que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas
puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio
Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla
sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo
desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos
de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos
Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a
abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o
jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com
outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em
mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente
os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo
Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave
idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No
lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de
transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas
comuns
Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado
anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e
preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo
senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos
agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua
natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao
viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou
pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas
Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a
estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por
que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um
14
problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a
alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem
tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam
afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo
pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar
a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e
contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida
21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa
Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo
definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema
interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute
assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees
Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a
ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees
poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento
propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do
processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa
por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a
presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal
Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a
ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma
reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma
experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado
especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as
dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em
averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi
constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves
manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute
a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as
5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil
pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017
Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html
Acesso 21 de maio de 2018
15
histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos
relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por
muito tempo presos agraves ruas
Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato
o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees
importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos
em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e
propaganda
Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na
produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma
das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo
Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se
somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou
na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de
funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio
pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores
Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias
inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para
participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho
Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos
saiacutedo do campo das ideias
16
3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS
31 Objetivo Geral
O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito
da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de
quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos
anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua
32 Objetivo Especiacuteficos
Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua
por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio
Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a
respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das
vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua
17
4REFERENCIAL TEOacuteRICO
41 Nomenclatura
Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho
baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como
forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o
leitor ou espectador a se interessar pelo assunto
Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta
para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas
diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos
autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na
rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado
definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se
referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem
concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []
ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo
heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos
Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes
indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que
―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se
apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que
tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas
palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que
afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito
As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo
elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar
essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva
especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo
A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais
apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo
resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave
condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou
condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de
acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)
18
Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a
preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete
em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar
a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores
pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma
condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo
42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua
Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)
De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para
a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a
pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou
fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional
regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas
degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma
temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de
acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia
provisoacuteriasup1
No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou
um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser
unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas
19
malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto
vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico
e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o
sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa
condiccedilatildeo
O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui
apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas
determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela
sociabilidade capitalista que produz um contingente de
pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo
possuem moradia convencional O modo capitalista de
produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das
classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na
desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo
acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de
subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)
Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um
problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge
muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro
que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um
local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a
criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer
de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas
Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e
passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das
caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do
ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua
Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se
unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia
na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre
outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era
atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que
o mercado capitalista dispotildee
Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o
preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela
aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima
reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo
costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua
20
43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal
O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em
situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de
Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra
que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A
pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais
de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento
Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em
2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01
de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs
milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que
os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga
respectivamente
A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal
causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia
de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo
fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de
viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)
A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta
por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa
etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas
representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a
masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos
A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem
impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou
pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social
historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem
maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado
6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se
ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio
Carvalho Natalino
Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf
Acesso em 21 de maio de 2018
21
em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46
branca
Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em
situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional
com 127 e somente 78 devido problemas com drogas
A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua
afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas
chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente
externo urbano passam ao usar
O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo
preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes
para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de
encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)
da realidade experimentada em seus cotidianos algumas
drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos
(GATTI e PEREIRA 2011 p88)
Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute
ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a
repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)
tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e
pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante
exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores
de materiais reciclaacuteveis
Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso
ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a
nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas
governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem
todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo
de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a
direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos
como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do
governo
22
44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas
Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta
de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora
com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente
reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a
contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal
incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua
Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu
alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e
ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees
religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas
somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de
Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam
dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o
modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi
criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei
federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de
Assistecircncia Social (LOAS)
Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de
Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que
subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto
ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em
Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil
a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia
dessa populaccedilatildeo
No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em
Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital
federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do
seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de
rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A
populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado
23
da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de
Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador
Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para
adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para
mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de
Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem
situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de
Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute
acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues
disponibilizados pelo Governo
A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute
cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e
descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto
com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos
paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde
satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo
Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e
Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em
comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser
uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico
Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do
uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo
exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo
para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode
durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na
rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra
caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel
teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados
Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de
forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico
individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de
junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o
funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com
transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas
24
Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito
Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas
do Distrito Federal (CONEN-DF)
De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito
Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas
centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a
toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel
institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a
responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o
formulador das poliacuteticas sociais
A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar
esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de
acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem
mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute
tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas
45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico
Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais
raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade
jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel
importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute
mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa
atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria
Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar
luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave
vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de
complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que
buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as
equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)
A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm
defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos
relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da
deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor
25
agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida
por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa
humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto
social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos
primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p
9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa
capaz de transformar tanto o narrado como o narrador
No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto
mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo
[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados
os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a
compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o
jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e
enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7
Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por
privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz
ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo
do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no
jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha
pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)
De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo
quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do
cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o
diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura
dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []
Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem
(MEDINA 1999 p28)
A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem
tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os
mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a
busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da
observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a
comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute
amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos
Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as
accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas
atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos
7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento
[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli
26
desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a
contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que
originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN
2008 p8)
No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda
eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando
essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha
editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-
estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do
assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam
em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo
Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem
principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a
pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de
vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel
minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo
publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que
levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)
Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado
ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo
frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos
meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados
compartilhados pela sociedade
Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho
debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de
abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior
do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as
trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das
ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais
Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a
situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social
Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos
se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto
Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer
jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem
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somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao
maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado
acontecimento
5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa
voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram
em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a
abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A
partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de
entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre
o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de
informaccedilotildees dos personagens
A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma
forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a
necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o
entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos
linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de
aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma
teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de
questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos
complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)
De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo
abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e
abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se
trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa
(SILVA 2016 p35)
Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o
trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo
do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos
para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto
28
51 Formato audiovisual
Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de
caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos
pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas
fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem
sobre o tema
Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao
trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto
escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo
utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser
alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar
coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era
conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz
alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato
Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em
uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que
os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este
projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e
membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa
populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas
Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de
tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o
projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de
campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie
documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de
abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e
tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos
personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era
necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em
situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar
essa condiccedilatildeo
A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto
Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a
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situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto
Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa
decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos
protagonistas
Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa
quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era
mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo
Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para
o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a
fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe
uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim
a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo
sobre o tema
52 Personagens
Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que
comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e
entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim
termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no
documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute
haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o
primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de
rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa
condiccedilatildeo fosse a mesma
O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho
Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram
pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos
personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas
que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo
seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar
relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de
personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas
mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas
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O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele
morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos
16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando
provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a
trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo
a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o
colocou para fora de casa
Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa
de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute
recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute
que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia
apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o
convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje
estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras
pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas
Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)
A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um
casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram
em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo
trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia
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de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a
fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando
alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua
Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-
companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se
conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para
Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde
permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute
voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de
amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa
para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro
Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)
Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees
distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie
documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e
sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo
alcoolismo
Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma
vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve
seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade
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ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de
Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram
Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e
passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --
fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu
concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar
renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa
condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar
outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de
vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e
fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea
Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)
53 Preacute-produccedilatildeo
A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido
definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi
preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura
por produtos audiovisuais que abordassem o tema
A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos
conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma
condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou
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pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes
essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que
estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela
Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao
mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para
viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV
- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para
auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria
disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma
ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio
Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho
posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou
registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV
assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume
Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller
(vide apecircndice I)
Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca
formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos
auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e
produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela
tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos
participantes (vide anexo I)
Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um
cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees
relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo
telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo
Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos
contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as
gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo
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Tabela 1 ndash Lista completa da equipe
EQUIPE
CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA
PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA
FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E
LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA
EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA
Fonte Marcus Barbosa (2018)
54 Produccedilatildeo
Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o
cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era
necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos
personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios
diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das
obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito
um esforccedilo para seguir de perto o roteiro
Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria
dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria
responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos
planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a
produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua
experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos
equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada
Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista
uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para
fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios
momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo
guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se
abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas
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no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas
isso nem sempre deu certo
Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o
esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e
Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio
em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe
Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se
delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens
do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um
indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera
Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que
ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um
canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das
gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o
primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no
microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao
cronograma de gravaccedilotildees
Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)
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Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)
Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com
o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele
foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as
entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de
Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as
gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas
Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de
gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente
para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos
concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas
37
Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus
Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)
55 Poacutes-produccedilatildeo
Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo
foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio
que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)
Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia
Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material
O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome
provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio
da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por
escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os
personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que
traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas
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561 Identidade visual
A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de
publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela
animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura
foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais
proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas
Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes
de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com
maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com
boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca
por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto
Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para
a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)
Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)
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Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)
Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
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6 CRONOGRAMA DE PESQUISA
Tabela 2 ndash Cronograma de atividades
DATAS ETAPAS
Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica
(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)
Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens
Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas
Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees
510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega
para ediccedilatildeo
Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio
Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo
Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa
180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca
Fonte Marcus Barbosa (2018)
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7 ORCcedilAMENTO
Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais
VALORES IacuteTENS
R$ 9700 Estabilizador de celular
R$ 25000 Microfone de Lapela
R$ 29000 HD Externo
R$ 35000 Gasolina
R$ 29700 Impressatildeo de material visual
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II
VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)
R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD
R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg
R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash
Wm6 UHF
R$ 8900 Rebatedor
R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +
Tripeacute 2m
R$ 99900 Identidade visual para o produto
R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de
duraccedilatildeo
R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
42
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi
possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que
existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em
situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao
passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos
ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E
com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que
integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute
preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses
indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa
condiccedilatildeo
Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia
com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de
rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas
entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem
desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o
auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num
problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons
exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e
o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -
Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou
provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida
dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo
No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi
um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente
nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar
o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea
tambeacutem foi de suma importacircncia
Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar
histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas
preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade
nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das
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histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que
chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo
tudo
Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes
deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de
ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar
tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista
44
REFEREcircNCIAS
ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser
humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico
BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise
referencial de serviccedilo socioassistencial de Satildeo Paulo e Brasiacutelia 2015 64 f Trabalho
de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Serviccedilo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia
Brasiacutelia 2015 Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048317307
Acesso 21 de maio de 2018
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CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009
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GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-
EDUC 2006
MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de
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45
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SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-
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conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia
Brasiacutelia 2016
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1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009
SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica
Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009
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UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e
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Acesso em 21 de maio de 2018
O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom
Acesso em 21 de maio de 2018
O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em
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Acesso em 21 de maio de 2018
SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes
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Acesso em 21 de maio de 2018
46
APEcircNDICES
47
APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Brasiacutelia 28 de agosto de 2017
Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV
Prezada Sra Neuza Meller
Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para
realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de
Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de
um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em
Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula
130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a
orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula
UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em
situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal
Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo
acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a
aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as
histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de
conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o
desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo
entrevistas e ediccedilatildeo do material captado
Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma
parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo
de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a
grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse
48
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais
sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer
esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail
marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189
Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo
Cordialmente
Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
49
APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)
TER (1909)
QUA (2009) ENTREVISTA
Quem Ademir e Claacuteudia
Horaacuterio 15h
End Luziacircnia GO
QUI (2109)
SEX (2209) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAB ( 2309)
DOM (2409)
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA
Quem Claacuteudia e Ademir
Horaacuterio 14h
End Praccedila do Compromisso Asa Sul
TER (2609)
QUA (2709)
QUI (2809) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 15h
End Ceilacircndia
SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAacuteB (3009) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End SCS
DOM (0110)
MANHAtilde TARDE NOITE
SEG (0210)
TER (0310)
QUA (0410) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 9h
Endereccedilo Centro de
Taguatinga
QUI (0510) ENTREVISTA
Quem Ademir
Horaacuterio 15h
End Parque da Cidade
SEX (0610)
SAacuteB (0710)
DOM (0810)
QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Lucas Cacircndia
Horaacuterio 16h
End Aacuterea central de Brasiacutelia
50
APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a
situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos
durante o periacuteodo nas ruas
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo
com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc
2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar
3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua
4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas
5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua
6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua
7 Como era sua rotina na rua
8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo
9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele
periacuteodo
10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como
abrigo sauacutede etc
11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter
12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais
sobre isso
13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou
simplesmente agia com indiferenccedila
51
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o
futuro
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva
de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real
2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo
3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo
4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou
em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio
5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar
6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de
recuperaccedilatildeo
7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para
frente
8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que
ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria
52
APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida
FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia
PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca
ED DE IMAGENS Julia Nogueira
ARTE Sarah Silva
CENA DE
AMBIENTACcedilAtildeO
ARQUIVO
Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio
SONORA 1 CLAacuteUDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE CORTE
126 -- 147 +
327 -- 345
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu
trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht
mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)
―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu
comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para
vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0025 -- 0109
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma
pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma
discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu
abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas
SONORA 4 DANIELA
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE
213 --300
Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos
tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da
luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de
relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era
acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente
ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar
53
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai
brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma
hora
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e
minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela
sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri
muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem
africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 4
03 -- 434
(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha
vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet
os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida
maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu
Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje
SONORA 6 Daniela
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE
434 --446 + 528 -- 539
―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro
semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos
difiacuteceis +
―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc
vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu
escutei
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
842 --914
―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito
dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu
acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com
uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica
cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil
SONORA DANIELA
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
551 --622
ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um
computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus
aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc
tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12
minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que
Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano
teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo
54
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144
depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria
com as drogas
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
256 -- 330
―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia
cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu
frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro
com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que
chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0424 -- 0439
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente
mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo
mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era
bebida
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212
Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo
abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
550 -- 603
―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da
bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo
notam mas notam
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0401 -- 0408
O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro
dia bebendo porque eu precisava beber
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304
Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A
gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra
gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute
diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia
Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e
gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde
SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei
55
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
759 --813 + 825 -- 840
+ 915 --9 22
PODE ENXUGAR
muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai
argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +
E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me
ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e
nossa aquilo ali me doeu +
―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu
natildeo volto mais
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
126 -- 153 + 216 --231
―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e
ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era
casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na
eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +
―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa
natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me
pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347
Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa
para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou
para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para
mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas
SONORA Daniela
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
953 --1016 + 120 --
124
PODE ENXUGAR
ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que
eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava
dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo
E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso
aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar
minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova
trajetoacuteria
SONORA Claudia
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
427 --439
―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma
coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se
conhece um conhece outro
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0048 ---0109
Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca
soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse
dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
516 -- 521
―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto
entatildeo vc entra
SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo
tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte
56
ARQUIVO 967_0430_03
TEMPO DE CORTE
926 -- 938
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0814
-- 0834
No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da
que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua
esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio
Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0707 -- 0726
Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu
viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu
corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar
mais
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 217
-- 230
―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer
uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa
de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0706
-- 0725
Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo
que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do
lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a
gente a sobreviver na rua
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE
CORTE0013 --018 (+)
1128 --1137
―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq
barulho a gente acorda
(+)
―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade
de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde
SONORA ADRIANO LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio
sincronizado
TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628
Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece
que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute
terriacutevel
57
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE 958
-- 1002 + 931 -- 945 +
1025 -- 1030
―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute
um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma
alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas
se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que
estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE
222-- 245
―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente
chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela
e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar
para vc
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE
701 -- 714
(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a
frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute
super-homem natildeo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli -
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0432
-- 0437
Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de
viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia
morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE 655
--710 +730 -- 804
PODE ENXUGAR
(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que
to com catarata pq natildeo notei 710 +
(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para
traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui
para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a
danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e
e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1109
--1116
+
―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila
comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da
minha mochila
(+)
58
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1032
--1036
+
ARQUIVO 256_2764_02
TEMPO DE CORTE 1101
-- 1115
ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa
(+)
―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai
que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho
comigo ningueacutem queria mais falar comigo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 0300
--0308
―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber
os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 1540
-- 1556
Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te
apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio
decadente
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE
0824 -- 0857
Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa
marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc
eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um
saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam
natildeo estatildeo nem aiacute
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 241
-- 0300
―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como
pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto
de vc muito existe demais demais
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0508 -- 05 30
Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar
eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te
tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe
uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas
59
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_03
TEMPO DE CORTE
241 --256
(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema
esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc
vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0841 -- 0853 (+) 0302 -
-0322
Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu
preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes
(+)
Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa
vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de
novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo
tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci
minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 741
--806 +
803-- 804 +
811 -- 815
(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um
tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando
eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +
(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para
Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE 0638
-- 0653
Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava
a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas
mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a
gente piorava cada vez mais
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 837
-- 848 (+) 557-- 606
Sera que daacute para cortar o
som externo nessa parte
Senatildeo pode cortar
― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e
estradas
+
―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo
para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava
60
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
1251 -- 1306
Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia
morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o
meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 604
-- 618
+
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
521 -- 533
― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter
outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com
outra coisa natildeo com a rua +
―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui
uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_06
TEMPO DE CORTE
101--121
―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro
todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a
condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no
coraccedilatildeo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 0551 -- 613
―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da
forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o
fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai
se entregar eacute assim que eu pensava
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0127 -- 0151
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era
meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais
abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava
esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda
61
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 852 - 906
―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me
arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me
arrependo mesmo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 1305 - 1326
―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc
esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente
todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que
arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei
quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais
forccedila
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0428 -- 0500
―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e
procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi
a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma
pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de
tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute
tudo mudou
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
814 - 835
―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria
fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir
para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1056 - 1111
―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou
estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute
arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0726 -- 0748
ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de
recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar
um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa
se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou
acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento
62
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE
0231 -- 0248
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA
EvDICcedilAtildeO
―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua
vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e
quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma
forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1207 - 1231
―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a
gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o
organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida
e em qlq bar vc consegue
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0532 --609
―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi
aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis
tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos
mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente
que eu recebi
SONORA Dani
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 516 - 528
―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar
terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu
tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
924 - 1000
(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo
esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta
repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter
uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em
restaurantes
SONORA ADRIANO
LUGOLI
Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo
esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao
63
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0821 -- 856
Avaliar se corta o final
ou enxuga
era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando
via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_04
TEMPO DE CORTE
109 -130 (+)
1100 -1103
― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na
cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um
pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito
oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna
+
―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 126 - 142
ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que
eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que
eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0900 - 943
―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha
vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente
que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim
que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me
abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_03
TEMPO DE
CORTE034 - 044 +
113- 117
(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos
estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +
113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando
(117)
SONORA Dani
ARQUIVO
―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas
paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu
olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu
64
965_0748_02
TEMPO DE CORTE 240 - 308)
interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem
de fazer oq eu eu fiz
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_04
TEMPO DE CORTE -
045 - 111
― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo
de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova
oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p
vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -
910
―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus
irmatildeos +
―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que
eu tenho para ele eacute o silecircncio
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423
―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)
―e depois que essa historia foi p jornal revista tv
eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia
acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao
que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_02
TEMPO DE CORTE
852 - 920
― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela
situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de
alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute
sozinha natildeo vai conseguir
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 611 - 633
―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca
esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios
propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar
algo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE
―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso
nem ter uma casinha para morar
65
CORTE1313 - 1321
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
706 - 732
ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem
pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do
mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb
vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1129 - 1200
―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que
quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam
de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua
vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que
as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica
oportunidade elas conseguem
Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos
66
APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem
Fonte Ana Paula Fonseca (2017)
67
APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia
Fonte Marcus Barbosa (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
68
APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD
Fonte Sarah Silva (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
4
Agrave UnBTV e sua diretora Neuza Meller que confiou em nossa ideia e nos apoiou
bastante liberando seu quadro profissional para nos ajudar com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo
do material
Por fim a toda equipe que colaborou para tornar esse projeto possiacutevel Seremos sempre
gratos a ajuda de cada um de vocecircs Ana Paula essencial na produccedilatildeo Julia Nogueira e
sua incriacutevel ediccedilatildeo Sarah Silva com a animaccedilatildeo e identidade visual e Alex Baacuterbara
Fernando Lucas e Raphael pelas beliacutessimas imagens feitas durante as gravaccedilotildees
5
Natildeo devemos ter medo
das novas ideias Elas podem
significar a diferenccedila entre o triunfo
e o sucessordquo
(Napoleon Hill)
6
Sumaacuterio LISTA DE FIGURAS 8
LISTA DE TABELAS 8
RESUMO 9
ABSTRACT 10
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS 12
21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa 14
3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS 16
31 Objetivo Geral 16
32 Objetivo Especiacuteficos 16
4REFERENCIAL TEOacuteRICO 17
41 Nomenclatura 17
42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua 18
43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal 20
44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas 22
45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico 24
5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 27
51 Formato audiovisual 28
52 Personagens 29
53 Preacute-produccedilatildeo 32
54 Produccedilatildeo 34
55 Poacutes-produccedilatildeo 37
561 Identidade visual 38
6 CRONOGRAMA DE PESQUISA 40
7 ORCcedilAMENTO 41
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 42
REFEREcircNCIAS 44
Referecircncias audiovisuais 45
APEcircNDICES 46
APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV 47
7
APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas 49
APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas 50
APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo 52
APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem 66
APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia 67
APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD 68
8
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia 18
FIGURA 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto 30
FIGURA 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro 31
FIGURA 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela natildeo parou de trabalhar e estudarhelliphellip 32
FIGURA 5 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul em Brasiacutelia 35
FIGURA 6 ndash Gravaccedilatildeo na Praccedila do Compromisso Asa Sul Brasiacutelia 36
FIGURA 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli Da
esquerda para a direita Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista
cedido pela UnBTV) Marcus Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) 37
FIGURA 8 -ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower 38
FIGURA 9 - Paleta de cores escolhida 39
FIGURA 10 - Arte da capa para o DVD 39
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 ndash Lista completa da equipe 34
TABELA 2 ndash Cronograma de atividades 40
TABELA 3 ndash Orccedilamento de materiais 41
TABELA 4 ndash Orccedilamento de materiais II 42
9
RESUMO
O documentaacuterio ldquoMemoacuteria das Ruasrdquo aborda as experiecircncias de quatro pessoas que
reescreveram suas histoacuterias e conseguiram superaram o periacuteodo de invisibilidade
experimentado durante o tempo em que viveram em situaccedilatildeo de rua O projeto
produzido entre os meses de agosto e novembro de 2017 buscou abordar com olhar
jornaliacutestico humanizado momentos significativos das histoacuterias desses protagonistas No
iniacutecio os personagens contam como eram suas vidas antes das ruas e quais fatores os
levaram a essa situaccedilatildeo Logo depois eacute apresentado um relato sobre os medos
dificuldades perigos e preconceitos enfrentados por cada um deles Por fim os quatro
personagens contam o caminho percorrido para a retomada de suas vidas e quais seus
planos para o futuro
Palavras-chaves Documentaacuterio Jornalismo Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Vulnerabilidade social Relatos de vida
10
ABSTRACT
The documentary bdquoMemoacuteria das Ruas‟ addresses the experiences of four people who
rewrot their stories and succeeded in overcoming the period of invisibility experienced
during the time they lived on the streets The project produced between August and
September 2017 sought to approach in a humanized way significant moments of the
stories os these protagonists In a first moment the characters tell how their lives were
before the streets and what factors led them to this situation In sequence its present na
account of the fears difficulties dangers and prejudice faced by each one of them In
conclusion all the characters tell the story of their lives and their plans for the future
Keywords Documentary Journalism Population in street situation Social
vulnerability Life stories
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Moradia limpa digna e segura Mesmo sendo uma garantia baacutesica assegurada
pelo artigo 6ordm do Capiacutetulo II da Constituiccedilatildeo Brasileira de 19881 a realidade por traacutes
deste direito no Brasil ainda estaacute longe de ser a ideal Por conta dos abismos
socioeconocircmicos que persistem em dividir a populaccedilatildeo em diferentes classes sociais
uma boa parcela dos brasileiros continua sem acesso a oportunidades e um dos
principais reflexos desta situaccedilatildeo eacute a falta de moradia adequada para todos
A crise financeira o aumento exponencial do desemprego e a dependecircncia
quiacutemica satildeo fatores relevantes que tecircm sua parcela de contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo do
cenaacuterio em que as ruas - um espaccedilo comum a todos - tecircm se tornado lugar de
permanecircncia das parcelas menos favorecidas da populaccedilatildeo O Brasil natildeo possui dados
oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima
estimativa2 divulgada em 2015 revelou que naquele ano o paiacutes tinha 101854 dos seus
habitantes vivendo essa realidade
Em 2017 o nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal (DF) de
acordo com a Secretaria do Trabalho Desenvolvimento Social Mulheres Igualdade
Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) era de trecircs mil pessoas ou seja 01 de
toda a populaccedilatildeo da capital federal que em 2017 era de 3 milhotildees de pessoas3
O fenocircmeno que persiste e a cada ano parece crescer eacute um problema social que
pode gerar consequecircncias graves para pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Por conta disso o foco deste trabalho centra-se em contar histoacuterias de vida de pessoas
que fizeram parte dessa populaccedilatildeo frequentemente esquecida e renegada ao abandono
A proposta baseia-se na realizaccedilatildeo de um documentaacuterio Produzido entre agosto e
novembro de 2017 o projeto foi planejado de forma a retratar histoacuterias e vivecircncias de
quatro personagens que vatildeo compartilhar suas experiecircncias dificuldades e
1BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado
Federal Centro Graacutefico 1988 292 p
2 O Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) possui uma pesquisa intitulada Estimativa da
Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua no Brasil de Marcos Antocircnio Carvalho Natalino publicada em outubro
de 2016 O estudo apresenta dados referentes ao ano de 2015
Conteuacutedo disponiacutevel em httpwwwipeagovbr
Acesso 21 de maio de 2018
3Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 30 de agosto de
2017
Conteuacutedo disponiacutevel em httpscidadesibgegovbr
Acesso 21 de maio de 2018
12
aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas
pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua
O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o
restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o
uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua
brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as
pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os
motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos
mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho
Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o
histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida
antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa
apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver
nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos
enfrentados
A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores
significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro
personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos
ao serem ignorados pela sociedade
Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar
em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos
quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e
contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila
2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS
Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema
escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute
4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008
Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr
Acesso 21 de maio de 2018
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mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que
enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa
―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar
naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre
como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente
Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se
que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas
puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio
Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla
sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo
desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos
de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos
Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a
abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o
jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com
outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em
mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente
os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo
Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave
idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No
lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de
transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas
comuns
Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado
anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e
preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo
senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos
agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua
natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao
viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou
pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas
Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a
estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por
que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um
14
problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a
alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem
tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam
afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo
pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar
a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e
contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida
21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa
Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo
definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema
interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute
assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees
Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a
ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees
poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento
propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do
processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa
por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a
presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal
Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a
ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma
reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma
experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado
especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as
dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em
averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi
constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves
manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute
a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as
5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil
pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017
Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html
Acesso 21 de maio de 2018
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histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos
relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por
muito tempo presos agraves ruas
Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato
o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees
importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos
em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e
propaganda
Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na
produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma
das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo
Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se
somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou
na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de
funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio
pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores
Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias
inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para
participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho
Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos
saiacutedo do campo das ideias
16
3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS
31 Objetivo Geral
O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito
da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de
quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos
anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua
32 Objetivo Especiacuteficos
Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua
por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio
Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a
respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das
vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua
17
4REFERENCIAL TEOacuteRICO
41 Nomenclatura
Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho
baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como
forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o
leitor ou espectador a se interessar pelo assunto
Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta
para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas
diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos
autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na
rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado
definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se
referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem
concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []
ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo
heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos
Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes
indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que
―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se
apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que
tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas
palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que
afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito
As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo
elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar
essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva
especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo
A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais
apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo
resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave
condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou
condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de
acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)
18
Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a
preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete
em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar
a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores
pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma
condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo
42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua
Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)
De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para
a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a
pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou
fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional
regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas
degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma
temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de
acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia
provisoacuteriasup1
No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou
um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser
unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas
19
malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto
vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico
e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o
sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa
condiccedilatildeo
O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui
apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas
determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela
sociabilidade capitalista que produz um contingente de
pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo
possuem moradia convencional O modo capitalista de
produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das
classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na
desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo
acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de
subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)
Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um
problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge
muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro
que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um
local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a
criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer
de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas
Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e
passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das
caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do
ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua
Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se
unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia
na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre
outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era
atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que
o mercado capitalista dispotildee
Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o
preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela
aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima
reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo
costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua
20
43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal
O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em
situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de
Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra
que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A
pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais
de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento
Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em
2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01
de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs
milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que
os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga
respectivamente
A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal
causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia
de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo
fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de
viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)
A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta
por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa
etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas
representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a
masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos
A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem
impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou
pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social
historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem
maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado
6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se
ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio
Carvalho Natalino
Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf
Acesso em 21 de maio de 2018
21
em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46
branca
Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em
situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional
com 127 e somente 78 devido problemas com drogas
A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua
afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas
chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente
externo urbano passam ao usar
O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo
preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes
para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de
encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)
da realidade experimentada em seus cotidianos algumas
drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos
(GATTI e PEREIRA 2011 p88)
Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute
ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a
repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)
tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e
pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante
exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores
de materiais reciclaacuteveis
Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso
ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a
nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas
governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem
todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo
de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a
direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos
como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do
governo
22
44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas
Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta
de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora
com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente
reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a
contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal
incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua
Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu
alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e
ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees
religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas
somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de
Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam
dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o
modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi
criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei
federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de
Assistecircncia Social (LOAS)
Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de
Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que
subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto
ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em
Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil
a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia
dessa populaccedilatildeo
No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em
Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital
federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do
seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de
rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A
populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado
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da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de
Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador
Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para
adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para
mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de
Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem
situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de
Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute
acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues
disponibilizados pelo Governo
A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute
cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e
descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto
com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos
paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde
satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo
Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e
Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em
comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser
uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico
Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do
uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo
exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo
para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode
durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na
rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra
caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel
teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados
Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de
forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico
individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de
junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o
funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com
transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas
24
Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito
Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas
do Distrito Federal (CONEN-DF)
De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito
Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas
centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a
toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel
institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a
responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o
formulador das poliacuteticas sociais
A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar
esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de
acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem
mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute
tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas
45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico
Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais
raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade
jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel
importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute
mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa
atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria
Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar
luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave
vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de
complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que
buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as
equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)
A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm
defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos
relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da
deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor
25
agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida
por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa
humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto
social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos
primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p
9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa
capaz de transformar tanto o narrado como o narrador
No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto
mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo
[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados
os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a
compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o
jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e
enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7
Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por
privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz
ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo
do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no
jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha
pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)
De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo
quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do
cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o
diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura
dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []
Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem
(MEDINA 1999 p28)
A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem
tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os
mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a
busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da
observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a
comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute
amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos
Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as
accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas
atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos
7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento
[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli
26
desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a
contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que
originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN
2008 p8)
No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda
eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando
essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha
editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-
estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do
assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam
em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo
Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem
principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a
pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de
vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel
minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo
publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que
levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)
Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado
ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo
frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos
meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados
compartilhados pela sociedade
Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho
debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de
abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior
do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as
trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das
ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais
Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a
situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social
Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos
se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto
Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer
jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem
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somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao
maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado
acontecimento
5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa
voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram
em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a
abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A
partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de
entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre
o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de
informaccedilotildees dos personagens
A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma
forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a
necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o
entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos
linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de
aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma
teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de
questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos
complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)
De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo
abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e
abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se
trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa
(SILVA 2016 p35)
Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o
trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo
do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos
para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto
28
51 Formato audiovisual
Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de
caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos
pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas
fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem
sobre o tema
Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao
trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto
escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo
utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser
alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar
coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era
conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz
alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato
Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em
uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que
os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este
projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e
membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa
populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas
Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de
tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o
projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de
campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie
documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de
abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e
tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos
personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era
necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em
situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar
essa condiccedilatildeo
A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto
Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a
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situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto
Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa
decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos
protagonistas
Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa
quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era
mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo
Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para
o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a
fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe
uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim
a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo
sobre o tema
52 Personagens
Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que
comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e
entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim
termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no
documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute
haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o
primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de
rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa
condiccedilatildeo fosse a mesma
O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho
Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram
pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos
personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas
que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo
seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar
relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de
personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas
mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas
30
O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele
morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos
16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando
provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a
trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo
a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o
colocou para fora de casa
Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa
de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute
recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute
que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia
apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o
convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje
estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras
pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas
Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)
A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um
casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram
em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo
trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia
31
de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a
fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando
alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua
Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-
companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se
conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para
Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde
permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute
voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de
amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa
para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro
Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)
Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees
distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie
documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e
sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo
alcoolismo
Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma
vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve
seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade
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ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de
Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram
Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e
passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --
fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu
concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar
renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa
condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar
outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de
vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e
fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea
Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)
53 Preacute-produccedilatildeo
A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido
definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi
preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura
por produtos audiovisuais que abordassem o tema
A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos
conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma
condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou
33
pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes
essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que
estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela
Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao
mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para
viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV
- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para
auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria
disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma
ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio
Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho
posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou
registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV
assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume
Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller
(vide apecircndice I)
Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca
formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos
auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e
produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela
tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos
participantes (vide anexo I)
Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um
cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees
relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo
telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo
Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos
contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as
gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo
34
Tabela 1 ndash Lista completa da equipe
EQUIPE
CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA
PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA
FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E
LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA
EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA
Fonte Marcus Barbosa (2018)
54 Produccedilatildeo
Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o
cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era
necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos
personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios
diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das
obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito
um esforccedilo para seguir de perto o roteiro
Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria
dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria
responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos
planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a
produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua
experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos
equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada
Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista
uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para
fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios
momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo
guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se
abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas
35
no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas
isso nem sempre deu certo
Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o
esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e
Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio
em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe
Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se
delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens
do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um
indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera
Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que
ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um
canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das
gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o
primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no
microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao
cronograma de gravaccedilotildees
Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)
36
Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)
Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com
o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele
foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as
entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de
Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as
gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas
Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de
gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente
para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos
concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas
37
Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus
Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)
55 Poacutes-produccedilatildeo
Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo
foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio
que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)
Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia
Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material
O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome
provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio
da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por
escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os
personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que
traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas
38
561 Identidade visual
A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de
publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela
animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura
foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais
proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas
Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes
de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com
maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com
boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca
por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto
Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para
a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)
Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)
39
Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)
Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
40
6 CRONOGRAMA DE PESQUISA
Tabela 2 ndash Cronograma de atividades
DATAS ETAPAS
Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica
(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)
Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens
Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas
Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees
510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega
para ediccedilatildeo
Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio
Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo
Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa
180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca
Fonte Marcus Barbosa (2018)
41
7 ORCcedilAMENTO
Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais
VALORES IacuteTENS
R$ 9700 Estabilizador de celular
R$ 25000 Microfone de Lapela
R$ 29000 HD Externo
R$ 35000 Gasolina
R$ 29700 Impressatildeo de material visual
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II
VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)
R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD
R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg
R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash
Wm6 UHF
R$ 8900 Rebatedor
R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +
Tripeacute 2m
R$ 99900 Identidade visual para o produto
R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de
duraccedilatildeo
R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
42
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi
possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que
existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em
situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao
passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos
ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E
com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que
integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute
preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses
indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa
condiccedilatildeo
Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia
com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de
rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas
entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem
desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o
auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num
problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons
exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e
o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -
Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou
provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida
dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo
No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi
um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente
nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar
o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea
tambeacutem foi de suma importacircncia
Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar
histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas
preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade
nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das
43
histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que
chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo
tudo
Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes
deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de
ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar
tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista
44
REFEREcircNCIAS
ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser
humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico
BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise
referencial de serviccedilo socioassistencial de Satildeo Paulo e Brasiacutelia 2015 64 f Trabalho
de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Serviccedilo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia
Brasiacutelia 2015 Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048317307
Acesso 21 de maio de 2018
BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil
Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p
CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua um estudo sobre pobreza necessidades humanas e miacutenimos
sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de
Brasiacutelia Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel
emhttpbdmunbbrbitstream10483257312011_AmaranthaSaTelesdeCerqueirapdf
Acesso 21 de maio de 2018
CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009
DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005
GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-
EDUC 2006
MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de
moradores de rua em Taguatinga-DF 2016 60 f Trabalho de conclusatildeo de curso
(Bacharelado em Sauacutede Coletiva)mdashUniversidade de Brasiacutelia Ceilacircndia 2016
Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048315988
Acesso em 21 de maio de 2018
Mattos RM Ferreira RF Quem vocecircs pensam que (elas) satildeo Representaccedilotildees
sobre as pessoas em situaccedilatildeo de rua Psicologia amp Sociedade 16 (2) 47-58
maioago2004 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfpsocv16n2a07v16n2pdf
Acesso 21 de maio de 2018
MELO Cristina Teixeira V de GOMES Isaltina Mello MORAIS Wilma O
documentaacuterio jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral In Intercom - 25ordm Congresso
Brasileiro de Comunicaccedilatildeo Campo Grande 2001 Disponiacutevel em
httpwwwintercomorgbrpapersnacionais2001papersNP7MELOPDF
Acesso 21 de maio de 2018
MONTIPOacute Criselli FARAH Acircngela Relato humanizado no jornalismo a
importacircncia da humanizaccedilatildeo na narrativa para um jornalismo transformador In
45
Miacutedia Cidadatilde 2009 - V Conferecircncia Brasileira de Miacutedia Cidadatilde 2009 Guarapuava
Anais Guarapuava 2009 p 906 - 923 Disponiacutevel em httpwwwunicentrobrredemc
Acesso 21 de maio de 2018
MOURA Rodrigo Coelho Bacellar Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo
de Rua uma anaacutelise da participaccedilatildeo social no processo de implementaccedilatildeo da poliacutetica
2016 30 f Trabalho de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Gestatildeo de Poliacuteticas
Puacuteblicas)mdashUniversidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2016 Disponiacutevel em
httpbdmunbbrhandle1048316261
Acesso 21 de maio de 2018
SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-
BA um estudo de caso UNEB 2009
SILVA Fabiacuteola Mariano da Humanizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e gestatildeo centrada nas
pessoas - entrevista em profundidade Laboratoacuterio Sabin 2016 56 f Trabalho de
conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia
Brasiacutelia 2016
SILVA Maria Lucia Lopes da Trabalho e Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua no Brasil
1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009
SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica
Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009
Referecircncias audiovisuais
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em httpswwwyoutubecomuserbocaderuaofilme
Acesso em 21 de maio de 2018
UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e
Victoacuteria Cristina Costa Disponiacutevel em
httpswwwfacebookcomserieumapaginapordia
Acesso em 21 de maio de 2018
O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom
Acesso em 21 de maio de 2018
O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em
httpsossodafalawordpresscom
Acesso em 21 de maio de 2018
SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes
3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw
Acesso em 21 de maio de 2018
46
APEcircNDICES
47
APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Brasiacutelia 28 de agosto de 2017
Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV
Prezada Sra Neuza Meller
Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para
realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de
Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de
um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em
Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula
130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a
orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula
UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em
situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal
Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo
acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a
aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as
histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de
conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o
desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo
entrevistas e ediccedilatildeo do material captado
Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma
parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo
de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a
grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse
48
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais
sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer
esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail
marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189
Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo
Cordialmente
Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
49
APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)
TER (1909)
QUA (2009) ENTREVISTA
Quem Ademir e Claacuteudia
Horaacuterio 15h
End Luziacircnia GO
QUI (2109)
SEX (2209) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAB ( 2309)
DOM (2409)
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA
Quem Claacuteudia e Ademir
Horaacuterio 14h
End Praccedila do Compromisso Asa Sul
TER (2609)
QUA (2709)
QUI (2809) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 15h
End Ceilacircndia
SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAacuteB (3009) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End SCS
DOM (0110)
MANHAtilde TARDE NOITE
SEG (0210)
TER (0310)
QUA (0410) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 9h
Endereccedilo Centro de
Taguatinga
QUI (0510) ENTREVISTA
Quem Ademir
Horaacuterio 15h
End Parque da Cidade
SEX (0610)
SAacuteB (0710)
DOM (0810)
QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Lucas Cacircndia
Horaacuterio 16h
End Aacuterea central de Brasiacutelia
50
APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a
situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos
durante o periacuteodo nas ruas
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo
com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc
2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar
3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua
4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas
5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua
6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua
7 Como era sua rotina na rua
8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo
9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele
periacuteodo
10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como
abrigo sauacutede etc
11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter
12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais
sobre isso
13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou
simplesmente agia com indiferenccedila
51
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o
futuro
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva
de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real
2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo
3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo
4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou
em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio
5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar
6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de
recuperaccedilatildeo
7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para
frente
8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que
ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria
52
APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida
FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia
PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca
ED DE IMAGENS Julia Nogueira
ARTE Sarah Silva
CENA DE
AMBIENTACcedilAtildeO
ARQUIVO
Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio
SONORA 1 CLAacuteUDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE CORTE
126 -- 147 +
327 -- 345
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu
trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht
mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)
―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu
comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para
vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0025 -- 0109
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma
pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma
discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu
abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas
SONORA 4 DANIELA
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE
213 --300
Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos
tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da
luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de
relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era
acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente
ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar
53
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai
brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma
hora
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e
minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela
sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri
muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem
africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 4
03 -- 434
(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha
vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet
os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida
maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu
Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje
SONORA 6 Daniela
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE
434 --446 + 528 -- 539
―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro
semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos
difiacuteceis +
―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc
vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu
escutei
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
842 --914
―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito
dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu
acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com
uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica
cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil
SONORA DANIELA
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
551 --622
ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um
computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus
aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc
tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12
minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que
Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano
teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo
54
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144
depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria
com as drogas
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
256 -- 330
―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia
cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu
frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro
com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que
chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0424 -- 0439
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente
mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo
mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era
bebida
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212
Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo
abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
550 -- 603
―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da
bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo
notam mas notam
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0401 -- 0408
O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro
dia bebendo porque eu precisava beber
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304
Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A
gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra
gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute
diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia
Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e
gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde
SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei
55
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
759 --813 + 825 -- 840
+ 915 --9 22
PODE ENXUGAR
muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai
argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +
E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me
ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e
nossa aquilo ali me doeu +
―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu
natildeo volto mais
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
126 -- 153 + 216 --231
―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e
ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era
casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na
eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +
―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa
natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me
pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347
Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa
para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou
para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para
mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas
SONORA Daniela
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
953 --1016 + 120 --
124
PODE ENXUGAR
ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que
eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava
dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo
E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso
aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar
minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova
trajetoacuteria
SONORA Claudia
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
427 --439
―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma
coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se
conhece um conhece outro
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0048 ---0109
Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca
soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse
dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
516 -- 521
―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto
entatildeo vc entra
SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo
tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte
56
ARQUIVO 967_0430_03
TEMPO DE CORTE
926 -- 938
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0814
-- 0834
No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da
que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua
esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio
Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0707 -- 0726
Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu
viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu
corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar
mais
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 217
-- 230
―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer
uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa
de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0706
-- 0725
Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo
que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do
lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a
gente a sobreviver na rua
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE
CORTE0013 --018 (+)
1128 --1137
―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq
barulho a gente acorda
(+)
―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade
de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde
SONORA ADRIANO LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio
sincronizado
TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628
Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece
que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute
terriacutevel
57
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE 958
-- 1002 + 931 -- 945 +
1025 -- 1030
―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute
um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma
alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas
se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que
estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE
222-- 245
―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente
chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela
e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar
para vc
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE
701 -- 714
(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a
frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute
super-homem natildeo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli -
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0432
-- 0437
Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de
viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia
morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE 655
--710 +730 -- 804
PODE ENXUGAR
(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que
to com catarata pq natildeo notei 710 +
(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para
traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui
para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a
danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e
e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1109
--1116
+
―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila
comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da
minha mochila
(+)
58
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1032
--1036
+
ARQUIVO 256_2764_02
TEMPO DE CORTE 1101
-- 1115
ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa
(+)
―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai
que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho
comigo ningueacutem queria mais falar comigo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 0300
--0308
―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber
os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 1540
-- 1556
Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te
apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio
decadente
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE
0824 -- 0857
Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa
marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc
eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um
saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam
natildeo estatildeo nem aiacute
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 241
-- 0300
―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como
pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto
de vc muito existe demais demais
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0508 -- 05 30
Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar
eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te
tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe
uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas
59
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_03
TEMPO DE CORTE
241 --256
(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema
esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc
vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0841 -- 0853 (+) 0302 -
-0322
Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu
preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes
(+)
Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa
vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de
novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo
tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci
minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 741
--806 +
803-- 804 +
811 -- 815
(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um
tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando
eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +
(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para
Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE 0638
-- 0653
Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava
a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas
mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a
gente piorava cada vez mais
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 837
-- 848 (+) 557-- 606
Sera que daacute para cortar o
som externo nessa parte
Senatildeo pode cortar
― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e
estradas
+
―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo
para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava
60
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
1251 -- 1306
Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia
morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o
meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 604
-- 618
+
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
521 -- 533
― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter
outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com
outra coisa natildeo com a rua +
―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui
uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_06
TEMPO DE CORTE
101--121
―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro
todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a
condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no
coraccedilatildeo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 0551 -- 613
―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da
forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o
fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai
se entregar eacute assim que eu pensava
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0127 -- 0151
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era
meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais
abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava
esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda
61
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 852 - 906
―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me
arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me
arrependo mesmo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 1305 - 1326
―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc
esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente
todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que
arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei
quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais
forccedila
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0428 -- 0500
―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e
procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi
a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma
pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de
tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute
tudo mudou
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
814 - 835
―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria
fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir
para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1056 - 1111
―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou
estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute
arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0726 -- 0748
ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de
recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar
um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa
se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou
acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento
62
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE
0231 -- 0248
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA
EvDICcedilAtildeO
―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua
vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e
quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma
forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1207 - 1231
―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a
gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o
organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida
e em qlq bar vc consegue
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0532 --609
―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi
aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis
tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos
mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente
que eu recebi
SONORA Dani
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 516 - 528
―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar
terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu
tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
924 - 1000
(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo
esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta
repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter
uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em
restaurantes
SONORA ADRIANO
LUGOLI
Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo
esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao
63
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0821 -- 856
Avaliar se corta o final
ou enxuga
era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando
via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_04
TEMPO DE CORTE
109 -130 (+)
1100 -1103
― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na
cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um
pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito
oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna
+
―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 126 - 142
ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que
eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que
eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0900 - 943
―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha
vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente
que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim
que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me
abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_03
TEMPO DE
CORTE034 - 044 +
113- 117
(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos
estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +
113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando
(117)
SONORA Dani
ARQUIVO
―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas
paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu
olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu
64
965_0748_02
TEMPO DE CORTE 240 - 308)
interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem
de fazer oq eu eu fiz
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_04
TEMPO DE CORTE -
045 - 111
― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo
de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova
oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p
vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -
910
―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus
irmatildeos +
―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que
eu tenho para ele eacute o silecircncio
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423
―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)
―e depois que essa historia foi p jornal revista tv
eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia
acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao
que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_02
TEMPO DE CORTE
852 - 920
― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela
situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de
alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute
sozinha natildeo vai conseguir
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 611 - 633
―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca
esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios
propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar
algo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE
―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso
nem ter uma casinha para morar
65
CORTE1313 - 1321
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
706 - 732
ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem
pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do
mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb
vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1129 - 1200
―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que
quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam
de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua
vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que
as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica
oportunidade elas conseguem
Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos
66
APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem
Fonte Ana Paula Fonseca (2017)
67
APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia
Fonte Marcus Barbosa (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
68
APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD
Fonte Sarah Silva (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
5
Natildeo devemos ter medo
das novas ideias Elas podem
significar a diferenccedila entre o triunfo
e o sucessordquo
(Napoleon Hill)
6
Sumaacuterio LISTA DE FIGURAS 8
LISTA DE TABELAS 8
RESUMO 9
ABSTRACT 10
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS 12
21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa 14
3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS 16
31 Objetivo Geral 16
32 Objetivo Especiacuteficos 16
4REFERENCIAL TEOacuteRICO 17
41 Nomenclatura 17
42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua 18
43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal 20
44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas 22
45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico 24
5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 27
51 Formato audiovisual 28
52 Personagens 29
53 Preacute-produccedilatildeo 32
54 Produccedilatildeo 34
55 Poacutes-produccedilatildeo 37
561 Identidade visual 38
6 CRONOGRAMA DE PESQUISA 40
7 ORCcedilAMENTO 41
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 42
REFEREcircNCIAS 44
Referecircncias audiovisuais 45
APEcircNDICES 46
APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV 47
7
APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas 49
APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas 50
APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo 52
APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem 66
APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia 67
APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD 68
8
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia 18
FIGURA 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto 30
FIGURA 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro 31
FIGURA 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela natildeo parou de trabalhar e estudarhelliphellip 32
FIGURA 5 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul em Brasiacutelia 35
FIGURA 6 ndash Gravaccedilatildeo na Praccedila do Compromisso Asa Sul Brasiacutelia 36
FIGURA 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli Da
esquerda para a direita Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista
cedido pela UnBTV) Marcus Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) 37
FIGURA 8 -ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower 38
FIGURA 9 - Paleta de cores escolhida 39
FIGURA 10 - Arte da capa para o DVD 39
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 ndash Lista completa da equipe 34
TABELA 2 ndash Cronograma de atividades 40
TABELA 3 ndash Orccedilamento de materiais 41
TABELA 4 ndash Orccedilamento de materiais II 42
9
RESUMO
O documentaacuterio ldquoMemoacuteria das Ruasrdquo aborda as experiecircncias de quatro pessoas que
reescreveram suas histoacuterias e conseguiram superaram o periacuteodo de invisibilidade
experimentado durante o tempo em que viveram em situaccedilatildeo de rua O projeto
produzido entre os meses de agosto e novembro de 2017 buscou abordar com olhar
jornaliacutestico humanizado momentos significativos das histoacuterias desses protagonistas No
iniacutecio os personagens contam como eram suas vidas antes das ruas e quais fatores os
levaram a essa situaccedilatildeo Logo depois eacute apresentado um relato sobre os medos
dificuldades perigos e preconceitos enfrentados por cada um deles Por fim os quatro
personagens contam o caminho percorrido para a retomada de suas vidas e quais seus
planos para o futuro
Palavras-chaves Documentaacuterio Jornalismo Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Vulnerabilidade social Relatos de vida
10
ABSTRACT
The documentary bdquoMemoacuteria das Ruas‟ addresses the experiences of four people who
rewrot their stories and succeeded in overcoming the period of invisibility experienced
during the time they lived on the streets The project produced between August and
September 2017 sought to approach in a humanized way significant moments of the
stories os these protagonists In a first moment the characters tell how their lives were
before the streets and what factors led them to this situation In sequence its present na
account of the fears difficulties dangers and prejudice faced by each one of them In
conclusion all the characters tell the story of their lives and their plans for the future
Keywords Documentary Journalism Population in street situation Social
vulnerability Life stories
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Moradia limpa digna e segura Mesmo sendo uma garantia baacutesica assegurada
pelo artigo 6ordm do Capiacutetulo II da Constituiccedilatildeo Brasileira de 19881 a realidade por traacutes
deste direito no Brasil ainda estaacute longe de ser a ideal Por conta dos abismos
socioeconocircmicos que persistem em dividir a populaccedilatildeo em diferentes classes sociais
uma boa parcela dos brasileiros continua sem acesso a oportunidades e um dos
principais reflexos desta situaccedilatildeo eacute a falta de moradia adequada para todos
A crise financeira o aumento exponencial do desemprego e a dependecircncia
quiacutemica satildeo fatores relevantes que tecircm sua parcela de contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo do
cenaacuterio em que as ruas - um espaccedilo comum a todos - tecircm se tornado lugar de
permanecircncia das parcelas menos favorecidas da populaccedilatildeo O Brasil natildeo possui dados
oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima
estimativa2 divulgada em 2015 revelou que naquele ano o paiacutes tinha 101854 dos seus
habitantes vivendo essa realidade
Em 2017 o nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal (DF) de
acordo com a Secretaria do Trabalho Desenvolvimento Social Mulheres Igualdade
Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) era de trecircs mil pessoas ou seja 01 de
toda a populaccedilatildeo da capital federal que em 2017 era de 3 milhotildees de pessoas3
O fenocircmeno que persiste e a cada ano parece crescer eacute um problema social que
pode gerar consequecircncias graves para pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Por conta disso o foco deste trabalho centra-se em contar histoacuterias de vida de pessoas
que fizeram parte dessa populaccedilatildeo frequentemente esquecida e renegada ao abandono
A proposta baseia-se na realizaccedilatildeo de um documentaacuterio Produzido entre agosto e
novembro de 2017 o projeto foi planejado de forma a retratar histoacuterias e vivecircncias de
quatro personagens que vatildeo compartilhar suas experiecircncias dificuldades e
1BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado
Federal Centro Graacutefico 1988 292 p
2 O Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) possui uma pesquisa intitulada Estimativa da
Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua no Brasil de Marcos Antocircnio Carvalho Natalino publicada em outubro
de 2016 O estudo apresenta dados referentes ao ano de 2015
Conteuacutedo disponiacutevel em httpwwwipeagovbr
Acesso 21 de maio de 2018
3Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 30 de agosto de
2017
Conteuacutedo disponiacutevel em httpscidadesibgegovbr
Acesso 21 de maio de 2018
12
aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas
pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua
O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o
restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o
uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua
brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as
pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os
motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos
mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho
Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o
histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida
antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa
apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver
nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos
enfrentados
A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores
significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro
personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos
ao serem ignorados pela sociedade
Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar
em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos
quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e
contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila
2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS
Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema
escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute
4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008
Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr
Acesso 21 de maio de 2018
13
mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que
enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa
―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar
naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre
como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente
Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se
que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas
puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio
Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla
sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo
desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos
de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos
Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a
abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o
jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com
outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em
mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente
os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo
Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave
idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No
lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de
transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas
comuns
Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado
anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e
preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo
senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos
agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua
natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao
viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou
pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas
Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a
estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por
que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um
14
problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a
alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem
tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam
afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo
pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar
a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e
contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida
21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa
Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo
definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema
interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute
assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees
Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a
ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees
poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento
propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do
processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa
por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a
presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal
Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a
ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma
reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma
experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado
especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as
dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em
averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi
constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves
manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute
a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as
5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil
pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017
Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html
Acesso 21 de maio de 2018
15
histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos
relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por
muito tempo presos agraves ruas
Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato
o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees
importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos
em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e
propaganda
Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na
produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma
das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo
Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se
somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou
na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de
funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio
pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores
Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias
inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para
participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho
Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos
saiacutedo do campo das ideias
16
3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS
31 Objetivo Geral
O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito
da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de
quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos
anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua
32 Objetivo Especiacuteficos
Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua
por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio
Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a
respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das
vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua
17
4REFERENCIAL TEOacuteRICO
41 Nomenclatura
Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho
baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como
forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o
leitor ou espectador a se interessar pelo assunto
Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta
para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas
diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos
autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na
rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado
definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se
referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem
concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []
ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo
heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos
Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes
indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que
―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se
apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que
tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas
palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que
afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito
As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo
elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar
essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva
especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo
A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais
apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo
resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave
condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou
condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de
acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)
18
Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a
preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete
em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar
a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores
pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma
condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo
42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua
Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)
De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para
a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a
pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou
fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional
regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas
degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma
temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de
acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia
provisoacuteriasup1
No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou
um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser
unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas
19
malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto
vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico
e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o
sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa
condiccedilatildeo
O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui
apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas
determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela
sociabilidade capitalista que produz um contingente de
pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo
possuem moradia convencional O modo capitalista de
produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das
classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na
desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo
acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de
subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)
Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um
problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge
muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro
que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um
local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a
criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer
de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas
Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e
passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das
caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do
ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua
Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se
unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia
na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre
outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era
atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que
o mercado capitalista dispotildee
Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o
preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela
aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima
reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo
costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua
20
43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal
O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em
situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de
Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra
que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A
pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais
de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento
Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em
2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01
de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs
milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que
os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga
respectivamente
A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal
causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia
de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo
fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de
viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)
A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta
por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa
etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas
representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a
masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos
A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem
impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou
pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social
historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem
maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado
6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se
ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio
Carvalho Natalino
Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf
Acesso em 21 de maio de 2018
21
em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46
branca
Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em
situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional
com 127 e somente 78 devido problemas com drogas
A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua
afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas
chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente
externo urbano passam ao usar
O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo
preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes
para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de
encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)
da realidade experimentada em seus cotidianos algumas
drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos
(GATTI e PEREIRA 2011 p88)
Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute
ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a
repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)
tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e
pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante
exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores
de materiais reciclaacuteveis
Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso
ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a
nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas
governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem
todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo
de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a
direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos
como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do
governo
22
44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas
Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta
de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora
com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente
reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a
contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal
incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua
Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu
alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e
ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees
religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas
somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de
Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam
dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o
modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi
criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei
federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de
Assistecircncia Social (LOAS)
Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de
Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que
subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto
ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em
Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil
a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia
dessa populaccedilatildeo
No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em
Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital
federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do
seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de
rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A
populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado
23
da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de
Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador
Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para
adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para
mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de
Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem
situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de
Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute
acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues
disponibilizados pelo Governo
A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute
cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e
descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto
com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos
paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde
satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo
Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e
Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em
comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser
uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico
Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do
uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo
exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo
para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode
durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na
rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra
caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel
teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados
Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de
forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico
individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de
junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o
funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com
transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas
24
Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito
Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas
do Distrito Federal (CONEN-DF)
De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito
Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas
centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a
toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel
institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a
responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o
formulador das poliacuteticas sociais
A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar
esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de
acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem
mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute
tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas
45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico
Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais
raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade
jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel
importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute
mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa
atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria
Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar
luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave
vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de
complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que
buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as
equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)
A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm
defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos
relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da
deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor
25
agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida
por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa
humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto
social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos
primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p
9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa
capaz de transformar tanto o narrado como o narrador
No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto
mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo
[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados
os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a
compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o
jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e
enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7
Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por
privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz
ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo
do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no
jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha
pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)
De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo
quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do
cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o
diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura
dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []
Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem
(MEDINA 1999 p28)
A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem
tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os
mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a
busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da
observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a
comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute
amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos
Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as
accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas
atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos
7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento
[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli
26
desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a
contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que
originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN
2008 p8)
No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda
eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando
essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha
editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-
estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do
assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam
em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo
Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem
principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a
pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de
vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel
minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo
publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que
levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)
Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado
ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo
frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos
meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados
compartilhados pela sociedade
Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho
debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de
abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior
do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as
trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das
ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais
Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a
situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social
Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos
se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto
Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer
jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem
27
somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao
maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado
acontecimento
5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa
voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram
em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a
abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A
partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de
entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre
o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de
informaccedilotildees dos personagens
A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma
forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a
necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o
entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos
linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de
aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma
teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de
questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos
complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)
De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo
abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e
abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se
trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa
(SILVA 2016 p35)
Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o
trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo
do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos
para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto
28
51 Formato audiovisual
Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de
caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos
pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas
fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem
sobre o tema
Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao
trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto
escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo
utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser
alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar
coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era
conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz
alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato
Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em
uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que
os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este
projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e
membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa
populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas
Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de
tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o
projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de
campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie
documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de
abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e
tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos
personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era
necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em
situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar
essa condiccedilatildeo
A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto
Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a
29
situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto
Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa
decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos
protagonistas
Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa
quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era
mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo
Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para
o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a
fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe
uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim
a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo
sobre o tema
52 Personagens
Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que
comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e
entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim
termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no
documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute
haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o
primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de
rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa
condiccedilatildeo fosse a mesma
O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho
Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram
pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos
personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas
que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo
seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar
relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de
personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas
mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas
30
O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele
morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos
16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando
provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a
trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo
a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o
colocou para fora de casa
Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa
de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute
recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute
que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia
apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o
convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje
estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras
pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas
Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)
A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um
casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram
em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo
trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia
31
de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a
fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando
alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua
Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-
companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se
conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para
Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde
permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute
voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de
amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa
para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro
Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)
Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees
distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie
documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e
sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo
alcoolismo
Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma
vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve
seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade
32
ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de
Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram
Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e
passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --
fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu
concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar
renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa
condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar
outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de
vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e
fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea
Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)
53 Preacute-produccedilatildeo
A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido
definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi
preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura
por produtos audiovisuais que abordassem o tema
A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos
conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma
condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou
33
pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes
essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que
estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela
Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao
mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para
viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV
- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para
auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria
disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma
ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio
Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho
posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou
registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV
assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume
Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller
(vide apecircndice I)
Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca
formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos
auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e
produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela
tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos
participantes (vide anexo I)
Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um
cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees
relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo
telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo
Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos
contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as
gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo
34
Tabela 1 ndash Lista completa da equipe
EQUIPE
CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA
PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA
FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E
LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA
EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA
Fonte Marcus Barbosa (2018)
54 Produccedilatildeo
Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o
cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era
necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos
personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios
diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das
obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito
um esforccedilo para seguir de perto o roteiro
Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria
dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria
responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos
planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a
produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua
experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos
equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada
Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista
uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para
fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios
momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo
guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se
abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas
35
no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas
isso nem sempre deu certo
Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o
esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e
Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio
em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe
Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se
delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens
do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um
indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera
Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que
ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um
canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das
gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o
primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no
microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao
cronograma de gravaccedilotildees
Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)
36
Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)
Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com
o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele
foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as
entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de
Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as
gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas
Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de
gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente
para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos
concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas
37
Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus
Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)
55 Poacutes-produccedilatildeo
Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo
foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio
que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)
Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia
Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material
O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome
provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio
da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por
escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os
personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que
traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas
38
561 Identidade visual
A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de
publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela
animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura
foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais
proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas
Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes
de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com
maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com
boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca
por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto
Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para
a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)
Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)
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Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)
Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
40
6 CRONOGRAMA DE PESQUISA
Tabela 2 ndash Cronograma de atividades
DATAS ETAPAS
Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica
(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)
Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens
Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas
Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees
510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega
para ediccedilatildeo
Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio
Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo
Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa
180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca
Fonte Marcus Barbosa (2018)
41
7 ORCcedilAMENTO
Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais
VALORES IacuteTENS
R$ 9700 Estabilizador de celular
R$ 25000 Microfone de Lapela
R$ 29000 HD Externo
R$ 35000 Gasolina
R$ 29700 Impressatildeo de material visual
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II
VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)
R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD
R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg
R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash
Wm6 UHF
R$ 8900 Rebatedor
R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +
Tripeacute 2m
R$ 99900 Identidade visual para o produto
R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de
duraccedilatildeo
R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
42
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi
possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que
existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em
situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao
passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos
ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E
com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que
integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute
preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses
indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa
condiccedilatildeo
Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia
com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de
rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas
entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem
desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o
auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num
problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons
exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e
o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -
Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou
provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida
dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo
No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi
um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente
nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar
o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea
tambeacutem foi de suma importacircncia
Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar
histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas
preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade
nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das
43
histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que
chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo
tudo
Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes
deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de
ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar
tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista
44
REFEREcircNCIAS
ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser
humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico
BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise
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Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p
CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em
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sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de
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CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009
DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005
GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-
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Brasiacutelia 2016
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Acesso em 21 de maio de 2018
O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom
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O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em
httpsossodafalawordpresscom
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SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes
3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw
Acesso em 21 de maio de 2018
46
APEcircNDICES
47
APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Brasiacutelia 28 de agosto de 2017
Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV
Prezada Sra Neuza Meller
Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para
realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de
Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de
um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em
Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula
130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a
orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula
UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em
situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal
Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo
acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a
aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as
histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de
conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o
desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo
entrevistas e ediccedilatildeo do material captado
Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma
parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo
de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a
grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse
48
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais
sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer
esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail
marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189
Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo
Cordialmente
Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
49
APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)
TER (1909)
QUA (2009) ENTREVISTA
Quem Ademir e Claacuteudia
Horaacuterio 15h
End Luziacircnia GO
QUI (2109)
SEX (2209) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAB ( 2309)
DOM (2409)
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA
Quem Claacuteudia e Ademir
Horaacuterio 14h
End Praccedila do Compromisso Asa Sul
TER (2609)
QUA (2709)
QUI (2809) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 15h
End Ceilacircndia
SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAacuteB (3009) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End SCS
DOM (0110)
MANHAtilde TARDE NOITE
SEG (0210)
TER (0310)
QUA (0410) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 9h
Endereccedilo Centro de
Taguatinga
QUI (0510) ENTREVISTA
Quem Ademir
Horaacuterio 15h
End Parque da Cidade
SEX (0610)
SAacuteB (0710)
DOM (0810)
QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Lucas Cacircndia
Horaacuterio 16h
End Aacuterea central de Brasiacutelia
50
APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a
situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos
durante o periacuteodo nas ruas
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo
com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc
2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar
3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua
4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas
5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua
6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua
7 Como era sua rotina na rua
8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo
9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele
periacuteodo
10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como
abrigo sauacutede etc
11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter
12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais
sobre isso
13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou
simplesmente agia com indiferenccedila
51
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o
futuro
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva
de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real
2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo
3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo
4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou
em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio
5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar
6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de
recuperaccedilatildeo
7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para
frente
8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que
ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria
52
APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida
FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia
PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca
ED DE IMAGENS Julia Nogueira
ARTE Sarah Silva
CENA DE
AMBIENTACcedilAtildeO
ARQUIVO
Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio
SONORA 1 CLAacuteUDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE CORTE
126 -- 147 +
327 -- 345
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu
trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht
mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)
―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu
comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para
vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0025 -- 0109
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma
pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma
discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu
abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas
SONORA 4 DANIELA
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE
213 --300
Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos
tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da
luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de
relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era
acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente
ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar
53
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai
brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma
hora
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e
minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela
sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri
muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem
africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 4
03 -- 434
(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha
vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet
os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida
maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu
Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje
SONORA 6 Daniela
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE
434 --446 + 528 -- 539
―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro
semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos
difiacuteceis +
―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc
vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu
escutei
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
842 --914
―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito
dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu
acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com
uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica
cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil
SONORA DANIELA
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
551 --622
ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um
computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus
aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc
tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12
minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que
Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano
teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo
54
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144
depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria
com as drogas
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
256 -- 330
―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia
cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu
frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro
com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que
chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0424 -- 0439
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente
mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo
mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era
bebida
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212
Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo
abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
550 -- 603
―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da
bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo
notam mas notam
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0401 -- 0408
O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro
dia bebendo porque eu precisava beber
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304
Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A
gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra
gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute
diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia
Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e
gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde
SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei
55
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
759 --813 + 825 -- 840
+ 915 --9 22
PODE ENXUGAR
muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai
argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +
E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me
ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e
nossa aquilo ali me doeu +
―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu
natildeo volto mais
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
126 -- 153 + 216 --231
―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e
ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era
casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na
eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +
―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa
natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me
pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347
Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa
para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou
para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para
mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas
SONORA Daniela
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
953 --1016 + 120 --
124
PODE ENXUGAR
ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que
eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava
dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo
E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso
aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar
minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova
trajetoacuteria
SONORA Claudia
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
427 --439
―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma
coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se
conhece um conhece outro
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0048 ---0109
Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca
soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse
dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
516 -- 521
―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto
entatildeo vc entra
SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo
tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte
56
ARQUIVO 967_0430_03
TEMPO DE CORTE
926 -- 938
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0814
-- 0834
No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da
que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua
esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio
Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0707 -- 0726
Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu
viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu
corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar
mais
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 217
-- 230
―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer
uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa
de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0706
-- 0725
Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo
que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do
lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a
gente a sobreviver na rua
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE
CORTE0013 --018 (+)
1128 --1137
―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq
barulho a gente acorda
(+)
―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade
de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde
SONORA ADRIANO LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio
sincronizado
TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628
Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece
que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute
terriacutevel
57
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE 958
-- 1002 + 931 -- 945 +
1025 -- 1030
―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute
um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma
alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas
se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que
estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE
222-- 245
―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente
chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela
e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar
para vc
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE
701 -- 714
(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a
frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute
super-homem natildeo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli -
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0432
-- 0437
Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de
viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia
morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE 655
--710 +730 -- 804
PODE ENXUGAR
(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que
to com catarata pq natildeo notei 710 +
(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para
traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui
para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a
danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e
e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1109
--1116
+
―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila
comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da
minha mochila
(+)
58
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1032
--1036
+
ARQUIVO 256_2764_02
TEMPO DE CORTE 1101
-- 1115
ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa
(+)
―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai
que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho
comigo ningueacutem queria mais falar comigo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 0300
--0308
―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber
os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 1540
-- 1556
Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te
apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio
decadente
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE
0824 -- 0857
Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa
marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc
eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um
saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam
natildeo estatildeo nem aiacute
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 241
-- 0300
―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como
pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto
de vc muito existe demais demais
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0508 -- 05 30
Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar
eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te
tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe
uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas
59
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_03
TEMPO DE CORTE
241 --256
(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema
esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc
vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0841 -- 0853 (+) 0302 -
-0322
Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu
preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes
(+)
Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa
vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de
novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo
tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci
minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 741
--806 +
803-- 804 +
811 -- 815
(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um
tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando
eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +
(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para
Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE 0638
-- 0653
Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava
a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas
mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a
gente piorava cada vez mais
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 837
-- 848 (+) 557-- 606
Sera que daacute para cortar o
som externo nessa parte
Senatildeo pode cortar
― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e
estradas
+
―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo
para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava
60
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
1251 -- 1306
Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia
morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o
meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 604
-- 618
+
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
521 -- 533
― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter
outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com
outra coisa natildeo com a rua +
―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui
uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_06
TEMPO DE CORTE
101--121
―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro
todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a
condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no
coraccedilatildeo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 0551 -- 613
―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da
forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o
fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai
se entregar eacute assim que eu pensava
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0127 -- 0151
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era
meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais
abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava
esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda
61
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 852 - 906
―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me
arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me
arrependo mesmo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 1305 - 1326
―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc
esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente
todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que
arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei
quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais
forccedila
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0428 -- 0500
―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e
procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi
a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma
pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de
tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute
tudo mudou
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
814 - 835
―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria
fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir
para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1056 - 1111
―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou
estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute
arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0726 -- 0748
ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de
recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar
um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa
se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou
acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento
62
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE
0231 -- 0248
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA
EvDICcedilAtildeO
―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua
vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e
quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma
forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1207 - 1231
―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a
gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o
organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida
e em qlq bar vc consegue
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0532 --609
―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi
aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis
tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos
mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente
que eu recebi
SONORA Dani
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 516 - 528
―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar
terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu
tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
924 - 1000
(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo
esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta
repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter
uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em
restaurantes
SONORA ADRIANO
LUGOLI
Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo
esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao
63
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0821 -- 856
Avaliar se corta o final
ou enxuga
era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando
via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_04
TEMPO DE CORTE
109 -130 (+)
1100 -1103
― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na
cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um
pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito
oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna
+
―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 126 - 142
ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que
eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que
eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0900 - 943
―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha
vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente
que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim
que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me
abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_03
TEMPO DE
CORTE034 - 044 +
113- 117
(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos
estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +
113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando
(117)
SONORA Dani
ARQUIVO
―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas
paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu
olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu
64
965_0748_02
TEMPO DE CORTE 240 - 308)
interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem
de fazer oq eu eu fiz
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_04
TEMPO DE CORTE -
045 - 111
― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo
de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova
oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p
vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -
910
―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus
irmatildeos +
―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que
eu tenho para ele eacute o silecircncio
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423
―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)
―e depois que essa historia foi p jornal revista tv
eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia
acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao
que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_02
TEMPO DE CORTE
852 - 920
― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela
situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de
alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute
sozinha natildeo vai conseguir
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 611 - 633
―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca
esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios
propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar
algo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE
―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso
nem ter uma casinha para morar
65
CORTE1313 - 1321
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
706 - 732
ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem
pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do
mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb
vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1129 - 1200
―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que
quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam
de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua
vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que
as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica
oportunidade elas conseguem
Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos
66
APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem
Fonte Ana Paula Fonseca (2017)
67
APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia
Fonte Marcus Barbosa (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
68
APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD
Fonte Sarah Silva (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
6
Sumaacuterio LISTA DE FIGURAS 8
LISTA DE TABELAS 8
RESUMO 9
ABSTRACT 10
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS 12
21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa 14
3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS 16
31 Objetivo Geral 16
32 Objetivo Especiacuteficos 16
4REFERENCIAL TEOacuteRICO 17
41 Nomenclatura 17
42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua 18
43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal 20
44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas 22
45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico 24
5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 27
51 Formato audiovisual 28
52 Personagens 29
53 Preacute-produccedilatildeo 32
54 Produccedilatildeo 34
55 Poacutes-produccedilatildeo 37
561 Identidade visual 38
6 CRONOGRAMA DE PESQUISA 40
7 ORCcedilAMENTO 41
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 42
REFEREcircNCIAS 44
Referecircncias audiovisuais 45
APEcircNDICES 46
APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV 47
7
APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas 49
APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas 50
APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo 52
APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem 66
APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia 67
APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD 68
8
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia 18
FIGURA 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto 30
FIGURA 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro 31
FIGURA 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela natildeo parou de trabalhar e estudarhelliphellip 32
FIGURA 5 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul em Brasiacutelia 35
FIGURA 6 ndash Gravaccedilatildeo na Praccedila do Compromisso Asa Sul Brasiacutelia 36
FIGURA 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli Da
esquerda para a direita Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista
cedido pela UnBTV) Marcus Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) 37
FIGURA 8 -ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower 38
FIGURA 9 - Paleta de cores escolhida 39
FIGURA 10 - Arte da capa para o DVD 39
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 ndash Lista completa da equipe 34
TABELA 2 ndash Cronograma de atividades 40
TABELA 3 ndash Orccedilamento de materiais 41
TABELA 4 ndash Orccedilamento de materiais II 42
9
RESUMO
O documentaacuterio ldquoMemoacuteria das Ruasrdquo aborda as experiecircncias de quatro pessoas que
reescreveram suas histoacuterias e conseguiram superaram o periacuteodo de invisibilidade
experimentado durante o tempo em que viveram em situaccedilatildeo de rua O projeto
produzido entre os meses de agosto e novembro de 2017 buscou abordar com olhar
jornaliacutestico humanizado momentos significativos das histoacuterias desses protagonistas No
iniacutecio os personagens contam como eram suas vidas antes das ruas e quais fatores os
levaram a essa situaccedilatildeo Logo depois eacute apresentado um relato sobre os medos
dificuldades perigos e preconceitos enfrentados por cada um deles Por fim os quatro
personagens contam o caminho percorrido para a retomada de suas vidas e quais seus
planos para o futuro
Palavras-chaves Documentaacuterio Jornalismo Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Vulnerabilidade social Relatos de vida
10
ABSTRACT
The documentary bdquoMemoacuteria das Ruas‟ addresses the experiences of four people who
rewrot their stories and succeeded in overcoming the period of invisibility experienced
during the time they lived on the streets The project produced between August and
September 2017 sought to approach in a humanized way significant moments of the
stories os these protagonists In a first moment the characters tell how their lives were
before the streets and what factors led them to this situation In sequence its present na
account of the fears difficulties dangers and prejudice faced by each one of them In
conclusion all the characters tell the story of their lives and their plans for the future
Keywords Documentary Journalism Population in street situation Social
vulnerability Life stories
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Moradia limpa digna e segura Mesmo sendo uma garantia baacutesica assegurada
pelo artigo 6ordm do Capiacutetulo II da Constituiccedilatildeo Brasileira de 19881 a realidade por traacutes
deste direito no Brasil ainda estaacute longe de ser a ideal Por conta dos abismos
socioeconocircmicos que persistem em dividir a populaccedilatildeo em diferentes classes sociais
uma boa parcela dos brasileiros continua sem acesso a oportunidades e um dos
principais reflexos desta situaccedilatildeo eacute a falta de moradia adequada para todos
A crise financeira o aumento exponencial do desemprego e a dependecircncia
quiacutemica satildeo fatores relevantes que tecircm sua parcela de contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo do
cenaacuterio em que as ruas - um espaccedilo comum a todos - tecircm se tornado lugar de
permanecircncia das parcelas menos favorecidas da populaccedilatildeo O Brasil natildeo possui dados
oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima
estimativa2 divulgada em 2015 revelou que naquele ano o paiacutes tinha 101854 dos seus
habitantes vivendo essa realidade
Em 2017 o nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal (DF) de
acordo com a Secretaria do Trabalho Desenvolvimento Social Mulheres Igualdade
Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) era de trecircs mil pessoas ou seja 01 de
toda a populaccedilatildeo da capital federal que em 2017 era de 3 milhotildees de pessoas3
O fenocircmeno que persiste e a cada ano parece crescer eacute um problema social que
pode gerar consequecircncias graves para pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Por conta disso o foco deste trabalho centra-se em contar histoacuterias de vida de pessoas
que fizeram parte dessa populaccedilatildeo frequentemente esquecida e renegada ao abandono
A proposta baseia-se na realizaccedilatildeo de um documentaacuterio Produzido entre agosto e
novembro de 2017 o projeto foi planejado de forma a retratar histoacuterias e vivecircncias de
quatro personagens que vatildeo compartilhar suas experiecircncias dificuldades e
1BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado
Federal Centro Graacutefico 1988 292 p
2 O Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) possui uma pesquisa intitulada Estimativa da
Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua no Brasil de Marcos Antocircnio Carvalho Natalino publicada em outubro
de 2016 O estudo apresenta dados referentes ao ano de 2015
Conteuacutedo disponiacutevel em httpwwwipeagovbr
Acesso 21 de maio de 2018
3Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 30 de agosto de
2017
Conteuacutedo disponiacutevel em httpscidadesibgegovbr
Acesso 21 de maio de 2018
12
aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas
pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua
O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o
restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o
uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua
brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as
pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os
motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos
mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho
Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o
histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida
antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa
apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver
nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos
enfrentados
A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores
significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro
personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos
ao serem ignorados pela sociedade
Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar
em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos
quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e
contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila
2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS
Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema
escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute
4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008
Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr
Acesso 21 de maio de 2018
13
mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que
enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa
―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar
naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre
como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente
Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se
que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas
puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio
Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla
sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo
desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos
de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos
Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a
abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o
jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com
outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em
mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente
os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo
Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave
idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No
lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de
transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas
comuns
Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado
anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e
preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo
senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos
agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua
natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao
viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou
pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas
Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a
estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por
que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um
14
problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a
alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem
tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam
afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo
pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar
a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e
contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida
21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa
Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo
definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema
interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute
assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees
Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a
ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees
poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento
propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do
processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa
por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a
presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal
Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a
ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma
reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma
experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado
especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as
dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em
averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi
constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves
manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute
a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as
5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil
pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017
Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html
Acesso 21 de maio de 2018
15
histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos
relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por
muito tempo presos agraves ruas
Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato
o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees
importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos
em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e
propaganda
Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na
produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma
das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo
Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se
somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou
na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de
funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio
pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores
Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias
inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para
participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho
Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos
saiacutedo do campo das ideias
16
3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS
31 Objetivo Geral
O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito
da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de
quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos
anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua
32 Objetivo Especiacuteficos
Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua
por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio
Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a
respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das
vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua
17
4REFERENCIAL TEOacuteRICO
41 Nomenclatura
Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho
baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como
forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o
leitor ou espectador a se interessar pelo assunto
Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta
para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas
diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos
autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na
rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado
definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se
referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem
concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []
ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo
heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos
Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes
indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que
―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se
apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que
tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas
palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que
afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito
As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo
elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar
essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva
especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo
A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais
apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo
resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave
condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou
condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de
acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)
18
Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a
preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete
em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar
a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores
pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma
condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo
42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua
Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)
De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para
a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a
pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou
fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional
regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas
degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma
temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de
acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia
provisoacuteriasup1
No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou
um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser
unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas
19
malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto
vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico
e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o
sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa
condiccedilatildeo
O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui
apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas
determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela
sociabilidade capitalista que produz um contingente de
pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo
possuem moradia convencional O modo capitalista de
produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das
classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na
desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo
acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de
subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)
Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um
problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge
muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro
que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um
local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a
criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer
de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas
Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e
passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das
caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do
ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua
Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se
unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia
na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre
outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era
atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que
o mercado capitalista dispotildee
Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o
preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela
aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima
reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo
costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua
20
43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal
O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em
situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de
Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra
que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A
pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais
de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento
Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em
2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01
de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs
milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que
os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga
respectivamente
A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal
causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia
de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo
fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de
viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)
A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta
por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa
etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas
representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a
masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos
A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem
impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou
pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social
historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem
maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado
6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se
ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio
Carvalho Natalino
Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf
Acesso em 21 de maio de 2018
21
em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46
branca
Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em
situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional
com 127 e somente 78 devido problemas com drogas
A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua
afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas
chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente
externo urbano passam ao usar
O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo
preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes
para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de
encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)
da realidade experimentada em seus cotidianos algumas
drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos
(GATTI e PEREIRA 2011 p88)
Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute
ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a
repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)
tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e
pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante
exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores
de materiais reciclaacuteveis
Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso
ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a
nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas
governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem
todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo
de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a
direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos
como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do
governo
22
44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas
Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta
de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora
com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente
reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a
contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal
incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua
Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu
alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e
ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees
religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas
somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de
Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam
dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o
modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi
criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei
federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de
Assistecircncia Social (LOAS)
Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de
Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que
subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto
ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em
Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil
a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia
dessa populaccedilatildeo
No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em
Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital
federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do
seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de
rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A
populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado
23
da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de
Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador
Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para
adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para
mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de
Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem
situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de
Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute
acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues
disponibilizados pelo Governo
A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute
cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e
descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto
com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos
paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde
satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo
Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e
Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em
comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser
uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico
Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do
uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo
exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo
para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode
durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na
rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra
caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel
teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados
Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de
forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico
individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de
junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o
funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com
transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas
24
Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito
Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas
do Distrito Federal (CONEN-DF)
De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito
Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas
centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a
toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel
institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a
responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o
formulador das poliacuteticas sociais
A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar
esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de
acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem
mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute
tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas
45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico
Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais
raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade
jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel
importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute
mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa
atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria
Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar
luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave
vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de
complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que
buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as
equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)
A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm
defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos
relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da
deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor
25
agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida
por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa
humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto
social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos
primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p
9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa
capaz de transformar tanto o narrado como o narrador
No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto
mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo
[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados
os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a
compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o
jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e
enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7
Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por
privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz
ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo
do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no
jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha
pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)
De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo
quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do
cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o
diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura
dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []
Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem
(MEDINA 1999 p28)
A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem
tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os
mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a
busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da
observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a
comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute
amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos
Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as
accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas
atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos
7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento
[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli
26
desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a
contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que
originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN
2008 p8)
No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda
eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando
essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha
editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-
estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do
assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam
em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo
Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem
principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a
pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de
vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel
minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo
publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que
levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)
Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado
ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo
frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos
meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados
compartilhados pela sociedade
Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho
debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de
abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior
do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as
trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das
ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais
Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a
situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social
Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos
se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto
Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer
jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem
27
somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao
maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado
acontecimento
5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa
voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram
em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a
abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A
partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de
entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre
o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de
informaccedilotildees dos personagens
A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma
forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a
necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o
entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos
linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de
aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma
teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de
questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos
complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)
De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo
abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e
abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se
trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa
(SILVA 2016 p35)
Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o
trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo
do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos
para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto
28
51 Formato audiovisual
Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de
caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos
pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas
fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem
sobre o tema
Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao
trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto
escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo
utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser
alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar
coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era
conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz
alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato
Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em
uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que
os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este
projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e
membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa
populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas
Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de
tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o
projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de
campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie
documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de
abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e
tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos
personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era
necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em
situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar
essa condiccedilatildeo
A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto
Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a
29
situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto
Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa
decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos
protagonistas
Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa
quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era
mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo
Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para
o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a
fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe
uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim
a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo
sobre o tema
52 Personagens
Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que
comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e
entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim
termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no
documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute
haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o
primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de
rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa
condiccedilatildeo fosse a mesma
O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho
Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram
pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos
personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas
que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo
seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar
relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de
personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas
mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas
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O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele
morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos
16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando
provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a
trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo
a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o
colocou para fora de casa
Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa
de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute
recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute
que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia
apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o
convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje
estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras
pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas
Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)
A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um
casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram
em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo
trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia
31
de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a
fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando
alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua
Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-
companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se
conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para
Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde
permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute
voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de
amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa
para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro
Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)
Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees
distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie
documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e
sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo
alcoolismo
Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma
vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve
seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade
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ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de
Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram
Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e
passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --
fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu
concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar
renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa
condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar
outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de
vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e
fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea
Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)
53 Preacute-produccedilatildeo
A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido
definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi
preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura
por produtos audiovisuais que abordassem o tema
A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos
conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma
condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou
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pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes
essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que
estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela
Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao
mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para
viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV
- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para
auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria
disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma
ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio
Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho
posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou
registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV
assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume
Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller
(vide apecircndice I)
Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca
formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos
auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e
produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela
tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos
participantes (vide anexo I)
Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um
cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees
relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo
telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo
Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos
contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as
gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo
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Tabela 1 ndash Lista completa da equipe
EQUIPE
CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA
PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA
FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E
LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA
EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA
Fonte Marcus Barbosa (2018)
54 Produccedilatildeo
Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o
cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era
necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos
personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios
diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das
obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito
um esforccedilo para seguir de perto o roteiro
Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria
dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria
responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos
planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a
produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua
experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos
equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada
Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista
uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para
fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios
momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo
guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se
abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas
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no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas
isso nem sempre deu certo
Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o
esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e
Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio
em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe
Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se
delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens
do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um
indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera
Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que
ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um
canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das
gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o
primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no
microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao
cronograma de gravaccedilotildees
Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)
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Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)
Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com
o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele
foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as
entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de
Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as
gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas
Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de
gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente
para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos
concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas
37
Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus
Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)
55 Poacutes-produccedilatildeo
Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo
foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio
que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)
Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia
Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material
O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome
provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio
da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por
escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os
personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que
traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas
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561 Identidade visual
A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de
publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela
animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura
foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais
proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas
Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes
de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com
maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com
boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca
por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto
Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para
a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)
Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)
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Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)
Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
40
6 CRONOGRAMA DE PESQUISA
Tabela 2 ndash Cronograma de atividades
DATAS ETAPAS
Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica
(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)
Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens
Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas
Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees
510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega
para ediccedilatildeo
Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio
Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo
Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa
180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca
Fonte Marcus Barbosa (2018)
41
7 ORCcedilAMENTO
Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais
VALORES IacuteTENS
R$ 9700 Estabilizador de celular
R$ 25000 Microfone de Lapela
R$ 29000 HD Externo
R$ 35000 Gasolina
R$ 29700 Impressatildeo de material visual
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II
VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)
R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD
R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg
R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash
Wm6 UHF
R$ 8900 Rebatedor
R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +
Tripeacute 2m
R$ 99900 Identidade visual para o produto
R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de
duraccedilatildeo
R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
42
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi
possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que
existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em
situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao
passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos
ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E
com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que
integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute
preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses
indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa
condiccedilatildeo
Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia
com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de
rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas
entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem
desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o
auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num
problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons
exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e
o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -
Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou
provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida
dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo
No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi
um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente
nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar
o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea
tambeacutem foi de suma importacircncia
Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar
histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas
preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade
nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das
43
histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que
chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo
tudo
Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes
deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de
ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar
tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista
44
REFEREcircNCIAS
ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser
humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico
BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise
referencial de serviccedilo socioassistencial de Satildeo Paulo e Brasiacutelia 2015 64 f Trabalho
de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Serviccedilo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia
Brasiacutelia 2015 Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048317307
Acesso 21 de maio de 2018
BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil
Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p
CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua um estudo sobre pobreza necessidades humanas e miacutenimos
sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de
Brasiacutelia Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel
emhttpbdmunbbrbitstream10483257312011_AmaranthaSaTelesdeCerqueirapdf
Acesso 21 de maio de 2018
CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009
DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005
GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-
EDUC 2006
MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de
moradores de rua em Taguatinga-DF 2016 60 f Trabalho de conclusatildeo de curso
(Bacharelado em Sauacutede Coletiva)mdashUniversidade de Brasiacutelia Ceilacircndia 2016
Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048315988
Acesso em 21 de maio de 2018
Mattos RM Ferreira RF Quem vocecircs pensam que (elas) satildeo Representaccedilotildees
sobre as pessoas em situaccedilatildeo de rua Psicologia amp Sociedade 16 (2) 47-58
maioago2004 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfpsocv16n2a07v16n2pdf
Acesso 21 de maio de 2018
MELO Cristina Teixeira V de GOMES Isaltina Mello MORAIS Wilma O
documentaacuterio jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral In Intercom - 25ordm Congresso
Brasileiro de Comunicaccedilatildeo Campo Grande 2001 Disponiacutevel em
httpwwwintercomorgbrpapersnacionais2001papersNP7MELOPDF
Acesso 21 de maio de 2018
MONTIPOacute Criselli FARAH Acircngela Relato humanizado no jornalismo a
importacircncia da humanizaccedilatildeo na narrativa para um jornalismo transformador In
45
Miacutedia Cidadatilde 2009 - V Conferecircncia Brasileira de Miacutedia Cidadatilde 2009 Guarapuava
Anais Guarapuava 2009 p 906 - 923 Disponiacutevel em httpwwwunicentrobrredemc
Acesso 21 de maio de 2018
MOURA Rodrigo Coelho Bacellar Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo
de Rua uma anaacutelise da participaccedilatildeo social no processo de implementaccedilatildeo da poliacutetica
2016 30 f Trabalho de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Gestatildeo de Poliacuteticas
Puacuteblicas)mdashUniversidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2016 Disponiacutevel em
httpbdmunbbrhandle1048316261
Acesso 21 de maio de 2018
SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-
BA um estudo de caso UNEB 2009
SILVA Fabiacuteola Mariano da Humanizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e gestatildeo centrada nas
pessoas - entrevista em profundidade Laboratoacuterio Sabin 2016 56 f Trabalho de
conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia
Brasiacutelia 2016
SILVA Maria Lucia Lopes da Trabalho e Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua no Brasil
1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009
SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica
Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009
Referecircncias audiovisuais
BOCA de rua ndash Vozes de Uma Gente Invisiacutevel Marcelo Andrighetti 10rsquo01 Disponiacutevel
em httpswwwyoutubecomuserbocaderuaofilme
Acesso em 21 de maio de 2018
UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e
Victoacuteria Cristina Costa Disponiacutevel em
httpswwwfacebookcomserieumapaginapordia
Acesso em 21 de maio de 2018
O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom
Acesso em 21 de maio de 2018
O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em
httpsossodafalawordpresscom
Acesso em 21 de maio de 2018
SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes
3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw
Acesso em 21 de maio de 2018
46
APEcircNDICES
47
APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Brasiacutelia 28 de agosto de 2017
Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV
Prezada Sra Neuza Meller
Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para
realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de
Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de
um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em
Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula
130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a
orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula
UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em
situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal
Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo
acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a
aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as
histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de
conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o
desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo
entrevistas e ediccedilatildeo do material captado
Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma
parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo
de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a
grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse
48
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais
sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer
esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail
marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189
Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo
Cordialmente
Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
49
APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)
TER (1909)
QUA (2009) ENTREVISTA
Quem Ademir e Claacuteudia
Horaacuterio 15h
End Luziacircnia GO
QUI (2109)
SEX (2209) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAB ( 2309)
DOM (2409)
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA
Quem Claacuteudia e Ademir
Horaacuterio 14h
End Praccedila do Compromisso Asa Sul
TER (2609)
QUA (2709)
QUI (2809) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 15h
End Ceilacircndia
SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAacuteB (3009) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End SCS
DOM (0110)
MANHAtilde TARDE NOITE
SEG (0210)
TER (0310)
QUA (0410) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 9h
Endereccedilo Centro de
Taguatinga
QUI (0510) ENTREVISTA
Quem Ademir
Horaacuterio 15h
End Parque da Cidade
SEX (0610)
SAacuteB (0710)
DOM (0810)
QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Lucas Cacircndia
Horaacuterio 16h
End Aacuterea central de Brasiacutelia
50
APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a
situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos
durante o periacuteodo nas ruas
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo
com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc
2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar
3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua
4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas
5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua
6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua
7 Como era sua rotina na rua
8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo
9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele
periacuteodo
10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como
abrigo sauacutede etc
11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter
12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais
sobre isso
13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou
simplesmente agia com indiferenccedila
51
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o
futuro
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva
de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real
2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo
3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo
4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou
em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio
5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar
6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de
recuperaccedilatildeo
7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para
frente
8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que
ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria
52
APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida
FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia
PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca
ED DE IMAGENS Julia Nogueira
ARTE Sarah Silva
CENA DE
AMBIENTACcedilAtildeO
ARQUIVO
Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio
SONORA 1 CLAacuteUDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE CORTE
126 -- 147 +
327 -- 345
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu
trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht
mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)
―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu
comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para
vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0025 -- 0109
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma
pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma
discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu
abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas
SONORA 4 DANIELA
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE
213 --300
Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos
tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da
luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de
relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era
acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente
ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar
53
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai
brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma
hora
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e
minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela
sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri
muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem
africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 4
03 -- 434
(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha
vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet
os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida
maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu
Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje
SONORA 6 Daniela
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE
434 --446 + 528 -- 539
―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro
semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos
difiacuteceis +
―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc
vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu
escutei
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
842 --914
―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito
dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu
acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com
uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica
cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil
SONORA DANIELA
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
551 --622
ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um
computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus
aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc
tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12
minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que
Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano
teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo
54
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144
depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria
com as drogas
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
256 -- 330
―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia
cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu
frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro
com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que
chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0424 -- 0439
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente
mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo
mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era
bebida
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212
Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo
abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
550 -- 603
―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da
bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo
notam mas notam
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0401 -- 0408
O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro
dia bebendo porque eu precisava beber
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304
Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A
gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra
gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute
diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia
Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e
gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde
SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei
55
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
759 --813 + 825 -- 840
+ 915 --9 22
PODE ENXUGAR
muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai
argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +
E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me
ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e
nossa aquilo ali me doeu +
―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu
natildeo volto mais
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
126 -- 153 + 216 --231
―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e
ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era
casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na
eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +
―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa
natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me
pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347
Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa
para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou
para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para
mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas
SONORA Daniela
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
953 --1016 + 120 --
124
PODE ENXUGAR
ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que
eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava
dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo
E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso
aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar
minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova
trajetoacuteria
SONORA Claudia
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
427 --439
―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma
coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se
conhece um conhece outro
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0048 ---0109
Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca
soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse
dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
516 -- 521
―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto
entatildeo vc entra
SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo
tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte
56
ARQUIVO 967_0430_03
TEMPO DE CORTE
926 -- 938
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0814
-- 0834
No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da
que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua
esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio
Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0707 -- 0726
Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu
viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu
corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar
mais
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 217
-- 230
―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer
uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa
de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0706
-- 0725
Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo
que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do
lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a
gente a sobreviver na rua
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE
CORTE0013 --018 (+)
1128 --1137
―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq
barulho a gente acorda
(+)
―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade
de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde
SONORA ADRIANO LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio
sincronizado
TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628
Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece
que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute
terriacutevel
57
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE 958
-- 1002 + 931 -- 945 +
1025 -- 1030
―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute
um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma
alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas
se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que
estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE
222-- 245
―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente
chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela
e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar
para vc
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE
701 -- 714
(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a
frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute
super-homem natildeo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli -
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0432
-- 0437
Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de
viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia
morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE 655
--710 +730 -- 804
PODE ENXUGAR
(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que
to com catarata pq natildeo notei 710 +
(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para
traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui
para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a
danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e
e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1109
--1116
+
―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila
comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da
minha mochila
(+)
58
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1032
--1036
+
ARQUIVO 256_2764_02
TEMPO DE CORTE 1101
-- 1115
ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa
(+)
―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai
que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho
comigo ningueacutem queria mais falar comigo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 0300
--0308
―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber
os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 1540
-- 1556
Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te
apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio
decadente
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE
0824 -- 0857
Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa
marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc
eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um
saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam
natildeo estatildeo nem aiacute
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 241
-- 0300
―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como
pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto
de vc muito existe demais demais
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0508 -- 05 30
Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar
eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te
tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe
uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas
59
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_03
TEMPO DE CORTE
241 --256
(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema
esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc
vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0841 -- 0853 (+) 0302 -
-0322
Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu
preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes
(+)
Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa
vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de
novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo
tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci
minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 741
--806 +
803-- 804 +
811 -- 815
(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um
tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando
eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +
(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para
Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE 0638
-- 0653
Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava
a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas
mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a
gente piorava cada vez mais
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 837
-- 848 (+) 557-- 606
Sera que daacute para cortar o
som externo nessa parte
Senatildeo pode cortar
― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e
estradas
+
―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo
para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava
60
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
1251 -- 1306
Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia
morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o
meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 604
-- 618
+
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
521 -- 533
― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter
outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com
outra coisa natildeo com a rua +
―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui
uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_06
TEMPO DE CORTE
101--121
―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro
todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a
condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no
coraccedilatildeo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 0551 -- 613
―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da
forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o
fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai
se entregar eacute assim que eu pensava
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0127 -- 0151
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era
meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais
abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava
esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda
61
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 852 - 906
―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me
arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me
arrependo mesmo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 1305 - 1326
―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc
esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente
todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que
arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei
quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais
forccedila
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0428 -- 0500
―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e
procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi
a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma
pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de
tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute
tudo mudou
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
814 - 835
―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria
fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir
para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1056 - 1111
―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou
estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute
arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0726 -- 0748
ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de
recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar
um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa
se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou
acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento
62
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE
0231 -- 0248
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA
EvDICcedilAtildeO
―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua
vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e
quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma
forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1207 - 1231
―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a
gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o
organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida
e em qlq bar vc consegue
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0532 --609
―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi
aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis
tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos
mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente
que eu recebi
SONORA Dani
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 516 - 528
―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar
terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu
tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
924 - 1000
(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo
esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta
repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter
uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em
restaurantes
SONORA ADRIANO
LUGOLI
Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo
esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao
63
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0821 -- 856
Avaliar se corta o final
ou enxuga
era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando
via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_04
TEMPO DE CORTE
109 -130 (+)
1100 -1103
― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na
cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um
pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito
oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna
+
―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 126 - 142
ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que
eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que
eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0900 - 943
―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha
vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente
que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim
que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me
abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_03
TEMPO DE
CORTE034 - 044 +
113- 117
(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos
estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +
113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando
(117)
SONORA Dani
ARQUIVO
―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas
paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu
olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu
64
965_0748_02
TEMPO DE CORTE 240 - 308)
interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem
de fazer oq eu eu fiz
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_04
TEMPO DE CORTE -
045 - 111
― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo
de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova
oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p
vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -
910
―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus
irmatildeos +
―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que
eu tenho para ele eacute o silecircncio
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423
―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)
―e depois que essa historia foi p jornal revista tv
eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia
acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao
que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_02
TEMPO DE CORTE
852 - 920
― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela
situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de
alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute
sozinha natildeo vai conseguir
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 611 - 633
―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca
esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios
propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar
algo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE
―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso
nem ter uma casinha para morar
65
CORTE1313 - 1321
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
706 - 732
ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem
pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do
mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb
vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1129 - 1200
―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que
quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam
de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua
vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que
as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica
oportunidade elas conseguem
Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos
66
APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem
Fonte Ana Paula Fonseca (2017)
67
APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia
Fonte Marcus Barbosa (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
68
APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD
Fonte Sarah Silva (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
7
APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas 49
APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas 50
APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo 52
APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem 66
APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia 67
APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD 68
8
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia 18
FIGURA 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto 30
FIGURA 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro 31
FIGURA 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela natildeo parou de trabalhar e estudarhelliphellip 32
FIGURA 5 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul em Brasiacutelia 35
FIGURA 6 ndash Gravaccedilatildeo na Praccedila do Compromisso Asa Sul Brasiacutelia 36
FIGURA 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli Da
esquerda para a direita Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista
cedido pela UnBTV) Marcus Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) 37
FIGURA 8 -ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower 38
FIGURA 9 - Paleta de cores escolhida 39
FIGURA 10 - Arte da capa para o DVD 39
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 ndash Lista completa da equipe 34
TABELA 2 ndash Cronograma de atividades 40
TABELA 3 ndash Orccedilamento de materiais 41
TABELA 4 ndash Orccedilamento de materiais II 42
9
RESUMO
O documentaacuterio ldquoMemoacuteria das Ruasrdquo aborda as experiecircncias de quatro pessoas que
reescreveram suas histoacuterias e conseguiram superaram o periacuteodo de invisibilidade
experimentado durante o tempo em que viveram em situaccedilatildeo de rua O projeto
produzido entre os meses de agosto e novembro de 2017 buscou abordar com olhar
jornaliacutestico humanizado momentos significativos das histoacuterias desses protagonistas No
iniacutecio os personagens contam como eram suas vidas antes das ruas e quais fatores os
levaram a essa situaccedilatildeo Logo depois eacute apresentado um relato sobre os medos
dificuldades perigos e preconceitos enfrentados por cada um deles Por fim os quatro
personagens contam o caminho percorrido para a retomada de suas vidas e quais seus
planos para o futuro
Palavras-chaves Documentaacuterio Jornalismo Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Vulnerabilidade social Relatos de vida
10
ABSTRACT
The documentary bdquoMemoacuteria das Ruas‟ addresses the experiences of four people who
rewrot their stories and succeeded in overcoming the period of invisibility experienced
during the time they lived on the streets The project produced between August and
September 2017 sought to approach in a humanized way significant moments of the
stories os these protagonists In a first moment the characters tell how their lives were
before the streets and what factors led them to this situation In sequence its present na
account of the fears difficulties dangers and prejudice faced by each one of them In
conclusion all the characters tell the story of their lives and their plans for the future
Keywords Documentary Journalism Population in street situation Social
vulnerability Life stories
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Moradia limpa digna e segura Mesmo sendo uma garantia baacutesica assegurada
pelo artigo 6ordm do Capiacutetulo II da Constituiccedilatildeo Brasileira de 19881 a realidade por traacutes
deste direito no Brasil ainda estaacute longe de ser a ideal Por conta dos abismos
socioeconocircmicos que persistem em dividir a populaccedilatildeo em diferentes classes sociais
uma boa parcela dos brasileiros continua sem acesso a oportunidades e um dos
principais reflexos desta situaccedilatildeo eacute a falta de moradia adequada para todos
A crise financeira o aumento exponencial do desemprego e a dependecircncia
quiacutemica satildeo fatores relevantes que tecircm sua parcela de contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo do
cenaacuterio em que as ruas - um espaccedilo comum a todos - tecircm se tornado lugar de
permanecircncia das parcelas menos favorecidas da populaccedilatildeo O Brasil natildeo possui dados
oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima
estimativa2 divulgada em 2015 revelou que naquele ano o paiacutes tinha 101854 dos seus
habitantes vivendo essa realidade
Em 2017 o nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal (DF) de
acordo com a Secretaria do Trabalho Desenvolvimento Social Mulheres Igualdade
Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) era de trecircs mil pessoas ou seja 01 de
toda a populaccedilatildeo da capital federal que em 2017 era de 3 milhotildees de pessoas3
O fenocircmeno que persiste e a cada ano parece crescer eacute um problema social que
pode gerar consequecircncias graves para pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Por conta disso o foco deste trabalho centra-se em contar histoacuterias de vida de pessoas
que fizeram parte dessa populaccedilatildeo frequentemente esquecida e renegada ao abandono
A proposta baseia-se na realizaccedilatildeo de um documentaacuterio Produzido entre agosto e
novembro de 2017 o projeto foi planejado de forma a retratar histoacuterias e vivecircncias de
quatro personagens que vatildeo compartilhar suas experiecircncias dificuldades e
1BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado
Federal Centro Graacutefico 1988 292 p
2 O Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) possui uma pesquisa intitulada Estimativa da
Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua no Brasil de Marcos Antocircnio Carvalho Natalino publicada em outubro
de 2016 O estudo apresenta dados referentes ao ano de 2015
Conteuacutedo disponiacutevel em httpwwwipeagovbr
Acesso 21 de maio de 2018
3Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 30 de agosto de
2017
Conteuacutedo disponiacutevel em httpscidadesibgegovbr
Acesso 21 de maio de 2018
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aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas
pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua
O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o
restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o
uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua
brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as
pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os
motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos
mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho
Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o
histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida
antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa
apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver
nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos
enfrentados
A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores
significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro
personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos
ao serem ignorados pela sociedade
Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar
em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos
quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e
contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila
2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS
Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema
escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute
4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008
Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr
Acesso 21 de maio de 2018
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mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que
enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa
―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar
naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre
como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente
Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se
que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas
puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio
Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla
sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo
desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos
de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos
Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a
abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o
jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com
outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em
mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente
os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo
Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave
idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No
lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de
transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas
comuns
Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado
anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e
preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo
senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos
agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua
natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao
viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou
pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas
Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a
estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por
que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um
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problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a
alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem
tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam
afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo
pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar
a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e
contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida
21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa
Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo
definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema
interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute
assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees
Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a
ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees
poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento
propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do
processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa
por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a
presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal
Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a
ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma
reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma
experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado
especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as
dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em
averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi
constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves
manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute
a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as
5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil
pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017
Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html
Acesso 21 de maio de 2018
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histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos
relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por
muito tempo presos agraves ruas
Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato
o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees
importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos
em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e
propaganda
Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na
produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma
das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo
Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se
somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou
na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de
funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio
pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores
Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias
inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para
participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho
Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos
saiacutedo do campo das ideias
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3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS
31 Objetivo Geral
O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito
da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de
quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos
anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua
32 Objetivo Especiacuteficos
Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua
por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio
Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a
respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das
vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua
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4REFERENCIAL TEOacuteRICO
41 Nomenclatura
Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho
baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como
forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o
leitor ou espectador a se interessar pelo assunto
Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta
para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas
diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos
autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na
rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado
definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se
referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem
concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []
ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo
heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos
Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes
indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que
―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se
apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que
tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas
palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que
afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito
As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo
elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar
essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva
especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo
A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais
apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo
resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave
condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou
condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de
acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)
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Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a
preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete
em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar
a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores
pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma
condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo
42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua
Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)
De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para
a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a
pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou
fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional
regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas
degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma
temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de
acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia
provisoacuteriasup1
No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou
um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser
unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas
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malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto
vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico
e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o
sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa
condiccedilatildeo
O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui
apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas
determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela
sociabilidade capitalista que produz um contingente de
pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo
possuem moradia convencional O modo capitalista de
produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das
classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na
desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo
acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de
subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)
Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um
problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge
muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro
que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um
local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a
criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer
de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas
Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e
passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das
caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do
ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua
Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se
unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia
na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre
outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era
atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que
o mercado capitalista dispotildee
Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o
preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela
aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima
reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo
costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua
20
43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal
O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em
situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de
Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra
que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A
pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais
de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento
Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em
2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01
de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs
milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que
os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga
respectivamente
A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal
causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia
de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo
fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de
viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)
A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta
por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa
etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas
representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a
masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos
A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem
impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou
pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social
historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem
maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado
6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se
ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio
Carvalho Natalino
Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf
Acesso em 21 de maio de 2018
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em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46
branca
Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em
situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional
com 127 e somente 78 devido problemas com drogas
A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua
afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas
chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente
externo urbano passam ao usar
O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo
preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes
para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de
encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)
da realidade experimentada em seus cotidianos algumas
drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos
(GATTI e PEREIRA 2011 p88)
Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute
ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a
repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)
tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e
pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante
exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores
de materiais reciclaacuteveis
Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso
ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a
nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas
governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem
todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo
de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a
direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos
como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do
governo
22
44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas
Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta
de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora
com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente
reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a
contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal
incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua
Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu
alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e
ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees
religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas
somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de
Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam
dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o
modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi
criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei
federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de
Assistecircncia Social (LOAS)
Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de
Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que
subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto
ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em
Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil
a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia
dessa populaccedilatildeo
No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em
Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital
federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do
seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de
rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A
populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado
23
da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de
Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador
Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para
adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para
mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de
Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem
situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de
Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute
acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues
disponibilizados pelo Governo
A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute
cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e
descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto
com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos
paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde
satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo
Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e
Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em
comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser
uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico
Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do
uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo
exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo
para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode
durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na
rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra
caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel
teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados
Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de
forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico
individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de
junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o
funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com
transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas
24
Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito
Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas
do Distrito Federal (CONEN-DF)
De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito
Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas
centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a
toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel
institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a
responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o
formulador das poliacuteticas sociais
A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar
esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de
acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem
mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute
tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas
45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico
Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais
raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade
jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel
importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute
mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa
atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria
Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar
luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave
vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de
complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que
buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as
equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)
A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm
defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos
relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da
deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor
25
agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida
por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa
humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto
social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos
primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p
9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa
capaz de transformar tanto o narrado como o narrador
No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto
mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo
[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados
os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a
compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o
jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e
enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7
Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por
privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz
ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo
do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no
jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha
pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)
De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo
quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do
cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o
diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura
dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []
Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem
(MEDINA 1999 p28)
A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem
tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os
mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a
busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da
observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a
comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute
amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos
Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as
accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas
atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos
7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento
[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli
26
desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a
contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que
originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN
2008 p8)
No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda
eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando
essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha
editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-
estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do
assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam
em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo
Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem
principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a
pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de
vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel
minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo
publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que
levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)
Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado
ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo
frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos
meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados
compartilhados pela sociedade
Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho
debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de
abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior
do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as
trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das
ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais
Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a
situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social
Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos
se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto
Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer
jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem
27
somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao
maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado
acontecimento
5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa
voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram
em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a
abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A
partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de
entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre
o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de
informaccedilotildees dos personagens
A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma
forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a
necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o
entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos
linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de
aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma
teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de
questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos
complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)
De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo
abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e
abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se
trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa
(SILVA 2016 p35)
Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o
trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo
do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos
para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto
28
51 Formato audiovisual
Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de
caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos
pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas
fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem
sobre o tema
Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao
trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto
escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo
utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser
alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar
coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era
conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz
alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato
Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em
uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que
os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este
projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e
membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa
populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas
Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de
tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o
projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de
campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie
documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de
abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e
tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos
personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era
necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em
situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar
essa condiccedilatildeo
A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto
Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a
29
situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto
Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa
decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos
protagonistas
Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa
quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era
mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo
Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para
o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a
fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe
uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim
a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo
sobre o tema
52 Personagens
Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que
comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e
entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim
termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no
documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute
haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o
primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de
rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa
condiccedilatildeo fosse a mesma
O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho
Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram
pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos
personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas
que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo
seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar
relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de
personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas
mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas
30
O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele
morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos
16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando
provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a
trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo
a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o
colocou para fora de casa
Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa
de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute
recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute
que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia
apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o
convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje
estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras
pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas
Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)
A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um
casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram
em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo
trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia
31
de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a
fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando
alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua
Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-
companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se
conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para
Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde
permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute
voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de
amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa
para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro
Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)
Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees
distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie
documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e
sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo
alcoolismo
Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma
vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve
seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade
32
ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de
Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram
Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e
passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --
fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu
concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar
renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa
condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar
outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de
vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e
fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea
Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)
53 Preacute-produccedilatildeo
A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido
definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi
preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura
por produtos audiovisuais que abordassem o tema
A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos
conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma
condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou
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pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes
essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que
estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela
Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao
mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para
viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV
- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para
auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria
disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma
ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio
Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho
posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou
registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV
assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume
Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller
(vide apecircndice I)
Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca
formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos
auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e
produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela
tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos
participantes (vide anexo I)
Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um
cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees
relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo
telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo
Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos
contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as
gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo
34
Tabela 1 ndash Lista completa da equipe
EQUIPE
CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA
PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA
FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E
LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA
EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA
Fonte Marcus Barbosa (2018)
54 Produccedilatildeo
Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o
cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era
necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos
personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios
diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das
obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito
um esforccedilo para seguir de perto o roteiro
Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria
dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria
responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos
planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a
produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua
experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos
equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada
Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista
uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para
fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios
momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo
guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se
abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas
35
no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas
isso nem sempre deu certo
Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o
esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e
Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio
em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe
Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se
delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens
do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um
indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera
Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que
ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um
canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das
gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o
primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no
microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao
cronograma de gravaccedilotildees
Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)
36
Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)
Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com
o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele
foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as
entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de
Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as
gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas
Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de
gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente
para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos
concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas
37
Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus
Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)
55 Poacutes-produccedilatildeo
Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo
foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio
que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)
Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia
Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material
O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome
provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio
da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por
escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os
personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que
traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas
38
561 Identidade visual
A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de
publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela
animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura
foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais
proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas
Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes
de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com
maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com
boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca
por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto
Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para
a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)
Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)
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Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)
Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
40
6 CRONOGRAMA DE PESQUISA
Tabela 2 ndash Cronograma de atividades
DATAS ETAPAS
Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica
(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)
Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens
Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas
Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees
510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega
para ediccedilatildeo
Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio
Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo
Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa
180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca
Fonte Marcus Barbosa (2018)
41
7 ORCcedilAMENTO
Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais
VALORES IacuteTENS
R$ 9700 Estabilizador de celular
R$ 25000 Microfone de Lapela
R$ 29000 HD Externo
R$ 35000 Gasolina
R$ 29700 Impressatildeo de material visual
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II
VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)
R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD
R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg
R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash
Wm6 UHF
R$ 8900 Rebatedor
R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +
Tripeacute 2m
R$ 99900 Identidade visual para o produto
R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de
duraccedilatildeo
R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
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8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi
possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que
existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em
situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao
passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos
ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E
com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que
integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute
preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses
indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa
condiccedilatildeo
Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia
com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de
rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas
entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem
desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o
auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num
problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons
exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e
o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -
Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou
provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida
dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo
No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi
um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente
nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar
o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea
tambeacutem foi de suma importacircncia
Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar
histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas
preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade
nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das
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histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que
chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo
tudo
Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes
deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de
ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar
tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista
44
REFEREcircNCIAS
ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser
humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico
BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise
referencial de serviccedilo socioassistencial de Satildeo Paulo e Brasiacutelia 2015 64 f Trabalho
de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Serviccedilo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia
Brasiacutelia 2015 Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048317307
Acesso 21 de maio de 2018
BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil
Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p
CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua um estudo sobre pobreza necessidades humanas e miacutenimos
sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de
Brasiacutelia Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel
emhttpbdmunbbrbitstream10483257312011_AmaranthaSaTelesdeCerqueirapdf
Acesso 21 de maio de 2018
CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009
DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005
GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-
EDUC 2006
MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de
moradores de rua em Taguatinga-DF 2016 60 f Trabalho de conclusatildeo de curso
(Bacharelado em Sauacutede Coletiva)mdashUniversidade de Brasiacutelia Ceilacircndia 2016
Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048315988
Acesso em 21 de maio de 2018
Mattos RM Ferreira RF Quem vocecircs pensam que (elas) satildeo Representaccedilotildees
sobre as pessoas em situaccedilatildeo de rua Psicologia amp Sociedade 16 (2) 47-58
maioago2004 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfpsocv16n2a07v16n2pdf
Acesso 21 de maio de 2018
MELO Cristina Teixeira V de GOMES Isaltina Mello MORAIS Wilma O
documentaacuterio jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral In Intercom - 25ordm Congresso
Brasileiro de Comunicaccedilatildeo Campo Grande 2001 Disponiacutevel em
httpwwwintercomorgbrpapersnacionais2001papersNP7MELOPDF
Acesso 21 de maio de 2018
MONTIPOacute Criselli FARAH Acircngela Relato humanizado no jornalismo a
importacircncia da humanizaccedilatildeo na narrativa para um jornalismo transformador In
45
Miacutedia Cidadatilde 2009 - V Conferecircncia Brasileira de Miacutedia Cidadatilde 2009 Guarapuava
Anais Guarapuava 2009 p 906 - 923 Disponiacutevel em httpwwwunicentrobrredemc
Acesso 21 de maio de 2018
MOURA Rodrigo Coelho Bacellar Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo
de Rua uma anaacutelise da participaccedilatildeo social no processo de implementaccedilatildeo da poliacutetica
2016 30 f Trabalho de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Gestatildeo de Poliacuteticas
Puacuteblicas)mdashUniversidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2016 Disponiacutevel em
httpbdmunbbrhandle1048316261
Acesso 21 de maio de 2018
SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-
BA um estudo de caso UNEB 2009
SILVA Fabiacuteola Mariano da Humanizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e gestatildeo centrada nas
pessoas - entrevista em profundidade Laboratoacuterio Sabin 2016 56 f Trabalho de
conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia
Brasiacutelia 2016
SILVA Maria Lucia Lopes da Trabalho e Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua no Brasil
1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009
SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica
Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009
Referecircncias audiovisuais
BOCA de rua ndash Vozes de Uma Gente Invisiacutevel Marcelo Andrighetti 10rsquo01 Disponiacutevel
em httpswwwyoutubecomuserbocaderuaofilme
Acesso em 21 de maio de 2018
UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e
Victoacuteria Cristina Costa Disponiacutevel em
httpswwwfacebookcomserieumapaginapordia
Acesso em 21 de maio de 2018
O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom
Acesso em 21 de maio de 2018
O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em
httpsossodafalawordpresscom
Acesso em 21 de maio de 2018
SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes
3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw
Acesso em 21 de maio de 2018
46
APEcircNDICES
47
APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Brasiacutelia 28 de agosto de 2017
Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV
Prezada Sra Neuza Meller
Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para
realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de
Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de
um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em
Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula
130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a
orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula
UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em
situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal
Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo
acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a
aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as
histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de
conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o
desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo
entrevistas e ediccedilatildeo do material captado
Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma
parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo
de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a
grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse
48
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais
sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer
esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail
marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189
Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo
Cordialmente
Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
49
APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)
TER (1909)
QUA (2009) ENTREVISTA
Quem Ademir e Claacuteudia
Horaacuterio 15h
End Luziacircnia GO
QUI (2109)
SEX (2209) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAB ( 2309)
DOM (2409)
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA
Quem Claacuteudia e Ademir
Horaacuterio 14h
End Praccedila do Compromisso Asa Sul
TER (2609)
QUA (2709)
QUI (2809) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 15h
End Ceilacircndia
SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAacuteB (3009) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End SCS
DOM (0110)
MANHAtilde TARDE NOITE
SEG (0210)
TER (0310)
QUA (0410) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 9h
Endereccedilo Centro de
Taguatinga
QUI (0510) ENTREVISTA
Quem Ademir
Horaacuterio 15h
End Parque da Cidade
SEX (0610)
SAacuteB (0710)
DOM (0810)
QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Lucas Cacircndia
Horaacuterio 16h
End Aacuterea central de Brasiacutelia
50
APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a
situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos
durante o periacuteodo nas ruas
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo
com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc
2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar
3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua
4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas
5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua
6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua
7 Como era sua rotina na rua
8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo
9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele
periacuteodo
10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como
abrigo sauacutede etc
11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter
12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais
sobre isso
13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou
simplesmente agia com indiferenccedila
51
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o
futuro
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva
de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real
2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo
3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo
4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou
em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio
5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar
6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de
recuperaccedilatildeo
7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para
frente
8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que
ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria
52
APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida
FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia
PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca
ED DE IMAGENS Julia Nogueira
ARTE Sarah Silva
CENA DE
AMBIENTACcedilAtildeO
ARQUIVO
Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio
SONORA 1 CLAacuteUDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE CORTE
126 -- 147 +
327 -- 345
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu
trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht
mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)
―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu
comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para
vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0025 -- 0109
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma
pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma
discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu
abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas
SONORA 4 DANIELA
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE
213 --300
Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos
tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da
luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de
relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era
acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente
ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar
53
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai
brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma
hora
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e
minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela
sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri
muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem
africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 4
03 -- 434
(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha
vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet
os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida
maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu
Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje
SONORA 6 Daniela
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE
434 --446 + 528 -- 539
―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro
semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos
difiacuteceis +
―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc
vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu
escutei
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
842 --914
―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito
dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu
acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com
uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica
cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil
SONORA DANIELA
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
551 --622
ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um
computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus
aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc
tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12
minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que
Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano
teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo
54
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144
depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria
com as drogas
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
256 -- 330
―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia
cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu
frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro
com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que
chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0424 -- 0439
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente
mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo
mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era
bebida
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212
Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo
abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
550 -- 603
―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da
bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo
notam mas notam
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0401 -- 0408
O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro
dia bebendo porque eu precisava beber
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304
Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A
gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra
gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute
diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia
Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e
gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde
SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei
55
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
759 --813 + 825 -- 840
+ 915 --9 22
PODE ENXUGAR
muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai
argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +
E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me
ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e
nossa aquilo ali me doeu +
―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu
natildeo volto mais
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
126 -- 153 + 216 --231
―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e
ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era
casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na
eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +
―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa
natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me
pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347
Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa
para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou
para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para
mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas
SONORA Daniela
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
953 --1016 + 120 --
124
PODE ENXUGAR
ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que
eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava
dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo
E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso
aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar
minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova
trajetoacuteria
SONORA Claudia
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
427 --439
―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma
coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se
conhece um conhece outro
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0048 ---0109
Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca
soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse
dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
516 -- 521
―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto
entatildeo vc entra
SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo
tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte
56
ARQUIVO 967_0430_03
TEMPO DE CORTE
926 -- 938
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0814
-- 0834
No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da
que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua
esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio
Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0707 -- 0726
Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu
viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu
corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar
mais
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 217
-- 230
―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer
uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa
de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0706
-- 0725
Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo
que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do
lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a
gente a sobreviver na rua
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE
CORTE0013 --018 (+)
1128 --1137
―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq
barulho a gente acorda
(+)
―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade
de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde
SONORA ADRIANO LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio
sincronizado
TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628
Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece
que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute
terriacutevel
57
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE 958
-- 1002 + 931 -- 945 +
1025 -- 1030
―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute
um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma
alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas
se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que
estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE
222-- 245
―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente
chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela
e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar
para vc
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE
701 -- 714
(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a
frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute
super-homem natildeo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli -
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0432
-- 0437
Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de
viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia
morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE 655
--710 +730 -- 804
PODE ENXUGAR
(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que
to com catarata pq natildeo notei 710 +
(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para
traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui
para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a
danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e
e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1109
--1116
+
―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila
comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da
minha mochila
(+)
58
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1032
--1036
+
ARQUIVO 256_2764_02
TEMPO DE CORTE 1101
-- 1115
ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa
(+)
―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai
que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho
comigo ningueacutem queria mais falar comigo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 0300
--0308
―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber
os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 1540
-- 1556
Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te
apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio
decadente
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE
0824 -- 0857
Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa
marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc
eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um
saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam
natildeo estatildeo nem aiacute
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 241
-- 0300
―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como
pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto
de vc muito existe demais demais
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0508 -- 05 30
Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar
eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te
tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe
uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas
59
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_03
TEMPO DE CORTE
241 --256
(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema
esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc
vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0841 -- 0853 (+) 0302 -
-0322
Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu
preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes
(+)
Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa
vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de
novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo
tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci
minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 741
--806 +
803-- 804 +
811 -- 815
(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um
tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando
eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +
(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para
Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE 0638
-- 0653
Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava
a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas
mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a
gente piorava cada vez mais
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 837
-- 848 (+) 557-- 606
Sera que daacute para cortar o
som externo nessa parte
Senatildeo pode cortar
― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e
estradas
+
―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo
para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava
60
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
1251 -- 1306
Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia
morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o
meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 604
-- 618
+
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
521 -- 533
― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter
outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com
outra coisa natildeo com a rua +
―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui
uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_06
TEMPO DE CORTE
101--121
―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro
todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a
condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no
coraccedilatildeo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 0551 -- 613
―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da
forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o
fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai
se entregar eacute assim que eu pensava
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0127 -- 0151
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era
meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais
abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava
esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda
61
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 852 - 906
―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me
arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me
arrependo mesmo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 1305 - 1326
―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc
esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente
todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que
arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei
quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais
forccedila
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0428 -- 0500
―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e
procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi
a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma
pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de
tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute
tudo mudou
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
814 - 835
―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria
fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir
para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1056 - 1111
―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou
estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute
arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0726 -- 0748
ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de
recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar
um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa
se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou
acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento
62
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE
0231 -- 0248
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA
EvDICcedilAtildeO
―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua
vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e
quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma
forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1207 - 1231
―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a
gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o
organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida
e em qlq bar vc consegue
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0532 --609
―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi
aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis
tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos
mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente
que eu recebi
SONORA Dani
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 516 - 528
―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar
terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu
tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
924 - 1000
(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo
esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta
repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter
uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em
restaurantes
SONORA ADRIANO
LUGOLI
Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo
esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao
63
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0821 -- 856
Avaliar se corta o final
ou enxuga
era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando
via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_04
TEMPO DE CORTE
109 -130 (+)
1100 -1103
― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na
cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um
pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito
oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna
+
―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 126 - 142
ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que
eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que
eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0900 - 943
―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha
vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente
que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim
que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me
abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_03
TEMPO DE
CORTE034 - 044 +
113- 117
(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos
estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +
113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando
(117)
SONORA Dani
ARQUIVO
―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas
paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu
olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu
64
965_0748_02
TEMPO DE CORTE 240 - 308)
interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem
de fazer oq eu eu fiz
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_04
TEMPO DE CORTE -
045 - 111
― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo
de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova
oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p
vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -
910
―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus
irmatildeos +
―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que
eu tenho para ele eacute o silecircncio
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423
―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)
―e depois que essa historia foi p jornal revista tv
eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia
acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao
que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_02
TEMPO DE CORTE
852 - 920
― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela
situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de
alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute
sozinha natildeo vai conseguir
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 611 - 633
―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca
esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios
propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar
algo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE
―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso
nem ter uma casinha para morar
65
CORTE1313 - 1321
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
706 - 732
ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem
pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do
mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb
vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1129 - 1200
―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que
quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam
de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua
vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que
as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica
oportunidade elas conseguem
Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos
66
APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem
Fonte Ana Paula Fonseca (2017)
67
APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia
Fonte Marcus Barbosa (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
68
APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD
Fonte Sarah Silva (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
8
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia 18
FIGURA 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto 30
FIGURA 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro 31
FIGURA 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela natildeo parou de trabalhar e estudarhelliphellip 32
FIGURA 5 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul em Brasiacutelia 35
FIGURA 6 ndash Gravaccedilatildeo na Praccedila do Compromisso Asa Sul Brasiacutelia 36
FIGURA 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli Da
esquerda para a direita Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista
cedido pela UnBTV) Marcus Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) 37
FIGURA 8 -ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower 38
FIGURA 9 - Paleta de cores escolhida 39
FIGURA 10 - Arte da capa para o DVD 39
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 ndash Lista completa da equipe 34
TABELA 2 ndash Cronograma de atividades 40
TABELA 3 ndash Orccedilamento de materiais 41
TABELA 4 ndash Orccedilamento de materiais II 42
9
RESUMO
O documentaacuterio ldquoMemoacuteria das Ruasrdquo aborda as experiecircncias de quatro pessoas que
reescreveram suas histoacuterias e conseguiram superaram o periacuteodo de invisibilidade
experimentado durante o tempo em que viveram em situaccedilatildeo de rua O projeto
produzido entre os meses de agosto e novembro de 2017 buscou abordar com olhar
jornaliacutestico humanizado momentos significativos das histoacuterias desses protagonistas No
iniacutecio os personagens contam como eram suas vidas antes das ruas e quais fatores os
levaram a essa situaccedilatildeo Logo depois eacute apresentado um relato sobre os medos
dificuldades perigos e preconceitos enfrentados por cada um deles Por fim os quatro
personagens contam o caminho percorrido para a retomada de suas vidas e quais seus
planos para o futuro
Palavras-chaves Documentaacuterio Jornalismo Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Vulnerabilidade social Relatos de vida
10
ABSTRACT
The documentary bdquoMemoacuteria das Ruas‟ addresses the experiences of four people who
rewrot their stories and succeeded in overcoming the period of invisibility experienced
during the time they lived on the streets The project produced between August and
September 2017 sought to approach in a humanized way significant moments of the
stories os these protagonists In a first moment the characters tell how their lives were
before the streets and what factors led them to this situation In sequence its present na
account of the fears difficulties dangers and prejudice faced by each one of them In
conclusion all the characters tell the story of their lives and their plans for the future
Keywords Documentary Journalism Population in street situation Social
vulnerability Life stories
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Moradia limpa digna e segura Mesmo sendo uma garantia baacutesica assegurada
pelo artigo 6ordm do Capiacutetulo II da Constituiccedilatildeo Brasileira de 19881 a realidade por traacutes
deste direito no Brasil ainda estaacute longe de ser a ideal Por conta dos abismos
socioeconocircmicos que persistem em dividir a populaccedilatildeo em diferentes classes sociais
uma boa parcela dos brasileiros continua sem acesso a oportunidades e um dos
principais reflexos desta situaccedilatildeo eacute a falta de moradia adequada para todos
A crise financeira o aumento exponencial do desemprego e a dependecircncia
quiacutemica satildeo fatores relevantes que tecircm sua parcela de contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo do
cenaacuterio em que as ruas - um espaccedilo comum a todos - tecircm se tornado lugar de
permanecircncia das parcelas menos favorecidas da populaccedilatildeo O Brasil natildeo possui dados
oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima
estimativa2 divulgada em 2015 revelou que naquele ano o paiacutes tinha 101854 dos seus
habitantes vivendo essa realidade
Em 2017 o nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal (DF) de
acordo com a Secretaria do Trabalho Desenvolvimento Social Mulheres Igualdade
Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) era de trecircs mil pessoas ou seja 01 de
toda a populaccedilatildeo da capital federal que em 2017 era de 3 milhotildees de pessoas3
O fenocircmeno que persiste e a cada ano parece crescer eacute um problema social que
pode gerar consequecircncias graves para pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Por conta disso o foco deste trabalho centra-se em contar histoacuterias de vida de pessoas
que fizeram parte dessa populaccedilatildeo frequentemente esquecida e renegada ao abandono
A proposta baseia-se na realizaccedilatildeo de um documentaacuterio Produzido entre agosto e
novembro de 2017 o projeto foi planejado de forma a retratar histoacuterias e vivecircncias de
quatro personagens que vatildeo compartilhar suas experiecircncias dificuldades e
1BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado
Federal Centro Graacutefico 1988 292 p
2 O Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) possui uma pesquisa intitulada Estimativa da
Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua no Brasil de Marcos Antocircnio Carvalho Natalino publicada em outubro
de 2016 O estudo apresenta dados referentes ao ano de 2015
Conteuacutedo disponiacutevel em httpwwwipeagovbr
Acesso 21 de maio de 2018
3Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 30 de agosto de
2017
Conteuacutedo disponiacutevel em httpscidadesibgegovbr
Acesso 21 de maio de 2018
12
aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas
pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua
O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o
restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o
uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua
brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as
pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os
motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos
mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho
Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o
histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida
antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa
apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver
nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos
enfrentados
A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores
significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro
personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos
ao serem ignorados pela sociedade
Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar
em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos
quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e
contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila
2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS
Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema
escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute
4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008
Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr
Acesso 21 de maio de 2018
13
mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que
enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa
―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar
naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre
como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente
Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se
que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas
puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio
Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla
sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo
desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos
de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos
Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a
abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o
jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com
outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em
mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente
os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo
Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave
idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No
lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de
transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas
comuns
Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado
anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e
preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo
senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos
agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua
natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao
viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou
pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas
Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a
estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por
que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um
14
problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a
alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem
tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam
afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo
pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar
a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e
contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida
21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa
Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo
definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema
interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute
assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees
Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a
ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees
poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento
propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do
processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa
por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a
presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal
Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a
ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma
reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma
experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado
especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as
dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em
averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi
constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves
manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute
a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as
5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil
pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017
Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html
Acesso 21 de maio de 2018
15
histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos
relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por
muito tempo presos agraves ruas
Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato
o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees
importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos
em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e
propaganda
Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na
produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma
das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo
Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se
somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou
na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de
funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio
pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores
Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias
inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para
participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho
Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos
saiacutedo do campo das ideias
16
3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS
31 Objetivo Geral
O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito
da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de
quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos
anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua
32 Objetivo Especiacuteficos
Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua
por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio
Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a
respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das
vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua
17
4REFERENCIAL TEOacuteRICO
41 Nomenclatura
Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho
baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como
forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o
leitor ou espectador a se interessar pelo assunto
Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta
para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas
diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos
autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na
rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado
definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se
referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem
concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []
ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo
heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos
Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes
indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que
―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se
apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que
tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas
palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que
afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito
As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo
elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar
essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva
especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo
A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais
apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo
resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave
condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou
condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de
acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)
18
Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a
preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete
em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar
a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores
pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma
condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo
42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua
Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)
De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para
a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a
pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou
fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional
regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas
degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma
temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de
acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia
provisoacuteriasup1
No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou
um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser
unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas
19
malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto
vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico
e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o
sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa
condiccedilatildeo
O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui
apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas
determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela
sociabilidade capitalista que produz um contingente de
pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo
possuem moradia convencional O modo capitalista de
produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das
classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na
desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo
acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de
subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)
Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um
problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge
muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro
que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um
local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a
criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer
de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas
Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e
passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das
caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do
ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua
Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se
unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia
na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre
outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era
atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que
o mercado capitalista dispotildee
Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o
preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela
aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima
reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo
costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua
20
43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal
O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em
situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de
Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra
que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A
pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais
de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento
Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em
2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01
de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs
milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que
os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga
respectivamente
A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal
causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia
de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo
fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de
viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)
A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta
por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa
etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas
representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a
masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos
A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem
impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou
pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social
historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem
maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado
6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se
ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio
Carvalho Natalino
Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf
Acesso em 21 de maio de 2018
21
em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46
branca
Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em
situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional
com 127 e somente 78 devido problemas com drogas
A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua
afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas
chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente
externo urbano passam ao usar
O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo
preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes
para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de
encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)
da realidade experimentada em seus cotidianos algumas
drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos
(GATTI e PEREIRA 2011 p88)
Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute
ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a
repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)
tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e
pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante
exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores
de materiais reciclaacuteveis
Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso
ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a
nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas
governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem
todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo
de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a
direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos
como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do
governo
22
44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas
Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta
de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora
com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente
reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a
contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal
incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua
Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu
alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e
ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees
religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas
somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de
Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam
dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o
modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi
criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei
federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de
Assistecircncia Social (LOAS)
Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de
Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que
subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto
ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em
Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil
a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia
dessa populaccedilatildeo
No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em
Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital
federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do
seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de
rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A
populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado
23
da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de
Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador
Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para
adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para
mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de
Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem
situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de
Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute
acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues
disponibilizados pelo Governo
A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute
cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e
descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto
com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos
paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde
satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo
Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e
Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em
comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser
uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico
Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do
uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo
exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo
para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode
durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na
rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra
caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel
teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados
Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de
forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico
individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de
junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o
funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com
transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas
24
Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito
Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas
do Distrito Federal (CONEN-DF)
De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito
Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas
centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a
toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel
institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a
responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o
formulador das poliacuteticas sociais
A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar
esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de
acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem
mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute
tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas
45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico
Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais
raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade
jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel
importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute
mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa
atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria
Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar
luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave
vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de
complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que
buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as
equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)
A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm
defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos
relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da
deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor
25
agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida
por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa
humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto
social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos
primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p
9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa
capaz de transformar tanto o narrado como o narrador
No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto
mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo
[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados
os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a
compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o
jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e
enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7
Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por
privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz
ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo
do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no
jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha
pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)
De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo
quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do
cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o
diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura
dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []
Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem
(MEDINA 1999 p28)
A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem
tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os
mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a
busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da
observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a
comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute
amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos
Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as
accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas
atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos
7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento
[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli
26
desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a
contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que
originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN
2008 p8)
No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda
eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando
essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha
editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-
estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do
assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam
em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo
Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem
principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a
pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de
vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel
minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo
publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que
levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)
Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado
ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo
frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos
meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados
compartilhados pela sociedade
Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho
debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de
abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior
do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as
trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das
ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais
Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a
situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social
Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos
se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto
Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer
jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem
27
somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao
maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado
acontecimento
5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa
voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram
em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a
abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A
partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de
entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre
o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de
informaccedilotildees dos personagens
A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma
forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a
necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o
entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos
linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de
aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma
teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de
questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos
complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)
De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo
abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e
abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se
trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa
(SILVA 2016 p35)
Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o
trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo
do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos
para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto
28
51 Formato audiovisual
Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de
caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos
pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas
fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem
sobre o tema
Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao
trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto
escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo
utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser
alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar
coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era
conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz
alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato
Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em
uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que
os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este
projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e
membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa
populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas
Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de
tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o
projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de
campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie
documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de
abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e
tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos
personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era
necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em
situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar
essa condiccedilatildeo
A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto
Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a
29
situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto
Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa
decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos
protagonistas
Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa
quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era
mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo
Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para
o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a
fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe
uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim
a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo
sobre o tema
52 Personagens
Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que
comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e
entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim
termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no
documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute
haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o
primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de
rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa
condiccedilatildeo fosse a mesma
O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho
Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram
pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos
personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas
que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo
seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar
relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de
personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas
mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas
30
O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele
morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos
16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando
provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a
trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo
a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o
colocou para fora de casa
Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa
de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute
recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute
que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia
apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o
convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje
estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras
pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas
Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)
A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um
casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram
em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo
trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia
31
de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a
fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando
alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua
Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-
companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se
conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para
Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde
permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute
voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de
amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa
para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro
Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)
Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees
distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie
documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e
sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo
alcoolismo
Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma
vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve
seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade
32
ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de
Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram
Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e
passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --
fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu
concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar
renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa
condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar
outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de
vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e
fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea
Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)
53 Preacute-produccedilatildeo
A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido
definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi
preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura
por produtos audiovisuais que abordassem o tema
A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos
conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma
condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou
33
pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes
essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que
estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela
Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao
mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para
viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV
- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para
auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria
disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma
ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio
Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho
posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou
registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV
assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume
Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller
(vide apecircndice I)
Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca
formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos
auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e
produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela
tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos
participantes (vide anexo I)
Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um
cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees
relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo
telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo
Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos
contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as
gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo
34
Tabela 1 ndash Lista completa da equipe
EQUIPE
CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA
PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA
FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E
LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA
EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA
Fonte Marcus Barbosa (2018)
54 Produccedilatildeo
Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o
cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era
necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos
personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios
diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das
obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito
um esforccedilo para seguir de perto o roteiro
Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria
dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria
responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos
planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a
produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua
experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos
equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada
Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista
uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para
fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios
momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo
guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se
abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas
35
no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas
isso nem sempre deu certo
Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o
esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e
Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio
em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe
Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se
delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens
do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um
indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera
Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que
ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um
canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das
gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o
primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no
microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao
cronograma de gravaccedilotildees
Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)
36
Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)
Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com
o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele
foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as
entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de
Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as
gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas
Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de
gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente
para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos
concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas
37
Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus
Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)
55 Poacutes-produccedilatildeo
Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo
foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio
que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)
Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia
Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material
O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome
provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio
da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por
escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os
personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que
traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas
38
561 Identidade visual
A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de
publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela
animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura
foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais
proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas
Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes
de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com
maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com
boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca
por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto
Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para
a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)
Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)
39
Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)
Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
40
6 CRONOGRAMA DE PESQUISA
Tabela 2 ndash Cronograma de atividades
DATAS ETAPAS
Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica
(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)
Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens
Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas
Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees
510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega
para ediccedilatildeo
Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio
Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo
Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa
180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca
Fonte Marcus Barbosa (2018)
41
7 ORCcedilAMENTO
Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais
VALORES IacuteTENS
R$ 9700 Estabilizador de celular
R$ 25000 Microfone de Lapela
R$ 29000 HD Externo
R$ 35000 Gasolina
R$ 29700 Impressatildeo de material visual
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II
VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)
R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD
R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg
R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash
Wm6 UHF
R$ 8900 Rebatedor
R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +
Tripeacute 2m
R$ 99900 Identidade visual para o produto
R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de
duraccedilatildeo
R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
42
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi
possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que
existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em
situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao
passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos
ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E
com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que
integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute
preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses
indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa
condiccedilatildeo
Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia
com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de
rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas
entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem
desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o
auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num
problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons
exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e
o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -
Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou
provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida
dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo
No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi
um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente
nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar
o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea
tambeacutem foi de suma importacircncia
Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar
histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas
preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade
nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das
43
histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que
chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo
tudo
Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes
deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de
ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar
tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista
44
REFEREcircNCIAS
ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser
humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico
BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise
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CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em
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sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de
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CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009
DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005
GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-
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45
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Brasiacutelia 2016
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Acesso em 21 de maio de 2018
O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom
Acesso em 21 de maio de 2018
O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em
httpsossodafalawordpresscom
Acesso em 21 de maio de 2018
SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes
3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw
Acesso em 21 de maio de 2018
46
APEcircNDICES
47
APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Brasiacutelia 28 de agosto de 2017
Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV
Prezada Sra Neuza Meller
Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para
realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de
Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de
um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em
Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula
130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a
orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula
UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em
situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal
Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo
acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a
aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as
histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de
conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o
desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo
entrevistas e ediccedilatildeo do material captado
Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma
parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo
de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a
grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse
48
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais
sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer
esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail
marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189
Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo
Cordialmente
Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
49
APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)
TER (1909)
QUA (2009) ENTREVISTA
Quem Ademir e Claacuteudia
Horaacuterio 15h
End Luziacircnia GO
QUI (2109)
SEX (2209) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAB ( 2309)
DOM (2409)
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA
Quem Claacuteudia e Ademir
Horaacuterio 14h
End Praccedila do Compromisso Asa Sul
TER (2609)
QUA (2709)
QUI (2809) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 15h
End Ceilacircndia
SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAacuteB (3009) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End SCS
DOM (0110)
MANHAtilde TARDE NOITE
SEG (0210)
TER (0310)
QUA (0410) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 9h
Endereccedilo Centro de
Taguatinga
QUI (0510) ENTREVISTA
Quem Ademir
Horaacuterio 15h
End Parque da Cidade
SEX (0610)
SAacuteB (0710)
DOM (0810)
QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Lucas Cacircndia
Horaacuterio 16h
End Aacuterea central de Brasiacutelia
50
APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a
situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos
durante o periacuteodo nas ruas
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo
com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc
2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar
3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua
4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas
5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua
6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua
7 Como era sua rotina na rua
8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo
9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele
periacuteodo
10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como
abrigo sauacutede etc
11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter
12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais
sobre isso
13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou
simplesmente agia com indiferenccedila
51
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o
futuro
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva
de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real
2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo
3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo
4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou
em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio
5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar
6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de
recuperaccedilatildeo
7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para
frente
8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que
ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria
52
APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida
FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia
PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca
ED DE IMAGENS Julia Nogueira
ARTE Sarah Silva
CENA DE
AMBIENTACcedilAtildeO
ARQUIVO
Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio
SONORA 1 CLAacuteUDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE CORTE
126 -- 147 +
327 -- 345
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu
trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht
mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)
―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu
comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para
vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0025 -- 0109
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma
pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma
discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu
abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas
SONORA 4 DANIELA
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE
213 --300
Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos
tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da
luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de
relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era
acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente
ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar
53
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai
brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma
hora
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e
minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela
sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri
muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem
africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 4
03 -- 434
(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha
vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet
os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida
maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu
Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje
SONORA 6 Daniela
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE
434 --446 + 528 -- 539
―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro
semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos
difiacuteceis +
―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc
vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu
escutei
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
842 --914
―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito
dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu
acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com
uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica
cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil
SONORA DANIELA
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
551 --622
ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um
computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus
aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc
tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12
minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que
Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano
teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo
54
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144
depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria
com as drogas
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
256 -- 330
―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia
cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu
frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro
com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que
chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0424 -- 0439
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente
mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo
mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era
bebida
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212
Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo
abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
550 -- 603
―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da
bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo
notam mas notam
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0401 -- 0408
O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro
dia bebendo porque eu precisava beber
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304
Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A
gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra
gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute
diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia
Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e
gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde
SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei
55
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
759 --813 + 825 -- 840
+ 915 --9 22
PODE ENXUGAR
muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai
argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +
E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me
ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e
nossa aquilo ali me doeu +
―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu
natildeo volto mais
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
126 -- 153 + 216 --231
―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e
ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era
casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na
eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +
―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa
natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me
pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347
Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa
para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou
para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para
mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas
SONORA Daniela
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
953 --1016 + 120 --
124
PODE ENXUGAR
ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que
eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava
dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo
E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso
aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar
minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova
trajetoacuteria
SONORA Claudia
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
427 --439
―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma
coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se
conhece um conhece outro
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0048 ---0109
Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca
soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse
dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
516 -- 521
―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto
entatildeo vc entra
SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo
tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte
56
ARQUIVO 967_0430_03
TEMPO DE CORTE
926 -- 938
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0814
-- 0834
No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da
que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua
esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio
Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0707 -- 0726
Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu
viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu
corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar
mais
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 217
-- 230
―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer
uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa
de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0706
-- 0725
Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo
que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do
lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a
gente a sobreviver na rua
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE
CORTE0013 --018 (+)
1128 --1137
―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq
barulho a gente acorda
(+)
―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade
de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde
SONORA ADRIANO LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio
sincronizado
TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628
Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece
que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute
terriacutevel
57
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE 958
-- 1002 + 931 -- 945 +
1025 -- 1030
―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute
um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma
alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas
se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que
estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE
222-- 245
―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente
chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela
e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar
para vc
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE
701 -- 714
(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a
frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute
super-homem natildeo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli -
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0432
-- 0437
Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de
viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia
morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE 655
--710 +730 -- 804
PODE ENXUGAR
(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que
to com catarata pq natildeo notei 710 +
(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para
traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui
para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a
danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e
e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1109
--1116
+
―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila
comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da
minha mochila
(+)
58
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1032
--1036
+
ARQUIVO 256_2764_02
TEMPO DE CORTE 1101
-- 1115
ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa
(+)
―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai
que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho
comigo ningueacutem queria mais falar comigo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 0300
--0308
―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber
os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 1540
-- 1556
Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te
apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio
decadente
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE
0824 -- 0857
Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa
marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc
eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um
saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam
natildeo estatildeo nem aiacute
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 241
-- 0300
―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como
pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto
de vc muito existe demais demais
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0508 -- 05 30
Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar
eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te
tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe
uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas
59
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_03
TEMPO DE CORTE
241 --256
(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema
esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc
vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0841 -- 0853 (+) 0302 -
-0322
Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu
preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes
(+)
Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa
vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de
novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo
tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci
minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 741
--806 +
803-- 804 +
811 -- 815
(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um
tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando
eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +
(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para
Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE 0638
-- 0653
Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava
a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas
mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a
gente piorava cada vez mais
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 837
-- 848 (+) 557-- 606
Sera que daacute para cortar o
som externo nessa parte
Senatildeo pode cortar
― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e
estradas
+
―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo
para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava
60
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
1251 -- 1306
Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia
morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o
meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 604
-- 618
+
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
521 -- 533
― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter
outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com
outra coisa natildeo com a rua +
―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui
uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_06
TEMPO DE CORTE
101--121
―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro
todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a
condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no
coraccedilatildeo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 0551 -- 613
―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da
forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o
fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai
se entregar eacute assim que eu pensava
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0127 -- 0151
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era
meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais
abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava
esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda
61
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 852 - 906
―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me
arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me
arrependo mesmo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 1305 - 1326
―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc
esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente
todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que
arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei
quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais
forccedila
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0428 -- 0500
―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e
procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi
a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma
pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de
tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute
tudo mudou
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
814 - 835
―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria
fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir
para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1056 - 1111
―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou
estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute
arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0726 -- 0748
ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de
recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar
um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa
se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou
acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento
62
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE
0231 -- 0248
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA
EvDICcedilAtildeO
―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua
vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e
quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma
forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1207 - 1231
―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a
gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o
organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida
e em qlq bar vc consegue
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0532 --609
―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi
aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis
tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos
mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente
que eu recebi
SONORA Dani
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 516 - 528
―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar
terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu
tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
924 - 1000
(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo
esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta
repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter
uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em
restaurantes
SONORA ADRIANO
LUGOLI
Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo
esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao
63
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0821 -- 856
Avaliar se corta o final
ou enxuga
era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando
via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_04
TEMPO DE CORTE
109 -130 (+)
1100 -1103
― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na
cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um
pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito
oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna
+
―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 126 - 142
ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que
eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que
eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0900 - 943
―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha
vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente
que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim
que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me
abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_03
TEMPO DE
CORTE034 - 044 +
113- 117
(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos
estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +
113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando
(117)
SONORA Dani
ARQUIVO
―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas
paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu
olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu
64
965_0748_02
TEMPO DE CORTE 240 - 308)
interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem
de fazer oq eu eu fiz
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_04
TEMPO DE CORTE -
045 - 111
― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo
de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova
oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p
vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -
910
―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus
irmatildeos +
―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que
eu tenho para ele eacute o silecircncio
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423
―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)
―e depois que essa historia foi p jornal revista tv
eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia
acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao
que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_02
TEMPO DE CORTE
852 - 920
― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela
situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de
alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute
sozinha natildeo vai conseguir
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 611 - 633
―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca
esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios
propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar
algo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE
―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso
nem ter uma casinha para morar
65
CORTE1313 - 1321
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
706 - 732
ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem
pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do
mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb
vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1129 - 1200
―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que
quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam
de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua
vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que
as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica
oportunidade elas conseguem
Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos
66
APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem
Fonte Ana Paula Fonseca (2017)
67
APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia
Fonte Marcus Barbosa (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
68
APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD
Fonte Sarah Silva (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
9
RESUMO
O documentaacuterio ldquoMemoacuteria das Ruasrdquo aborda as experiecircncias de quatro pessoas que
reescreveram suas histoacuterias e conseguiram superaram o periacuteodo de invisibilidade
experimentado durante o tempo em que viveram em situaccedilatildeo de rua O projeto
produzido entre os meses de agosto e novembro de 2017 buscou abordar com olhar
jornaliacutestico humanizado momentos significativos das histoacuterias desses protagonistas No
iniacutecio os personagens contam como eram suas vidas antes das ruas e quais fatores os
levaram a essa situaccedilatildeo Logo depois eacute apresentado um relato sobre os medos
dificuldades perigos e preconceitos enfrentados por cada um deles Por fim os quatro
personagens contam o caminho percorrido para a retomada de suas vidas e quais seus
planos para o futuro
Palavras-chaves Documentaacuterio Jornalismo Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Vulnerabilidade social Relatos de vida
10
ABSTRACT
The documentary bdquoMemoacuteria das Ruas‟ addresses the experiences of four people who
rewrot their stories and succeeded in overcoming the period of invisibility experienced
during the time they lived on the streets The project produced between August and
September 2017 sought to approach in a humanized way significant moments of the
stories os these protagonists In a first moment the characters tell how their lives were
before the streets and what factors led them to this situation In sequence its present na
account of the fears difficulties dangers and prejudice faced by each one of them In
conclusion all the characters tell the story of their lives and their plans for the future
Keywords Documentary Journalism Population in street situation Social
vulnerability Life stories
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Moradia limpa digna e segura Mesmo sendo uma garantia baacutesica assegurada
pelo artigo 6ordm do Capiacutetulo II da Constituiccedilatildeo Brasileira de 19881 a realidade por traacutes
deste direito no Brasil ainda estaacute longe de ser a ideal Por conta dos abismos
socioeconocircmicos que persistem em dividir a populaccedilatildeo em diferentes classes sociais
uma boa parcela dos brasileiros continua sem acesso a oportunidades e um dos
principais reflexos desta situaccedilatildeo eacute a falta de moradia adequada para todos
A crise financeira o aumento exponencial do desemprego e a dependecircncia
quiacutemica satildeo fatores relevantes que tecircm sua parcela de contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo do
cenaacuterio em que as ruas - um espaccedilo comum a todos - tecircm se tornado lugar de
permanecircncia das parcelas menos favorecidas da populaccedilatildeo O Brasil natildeo possui dados
oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima
estimativa2 divulgada em 2015 revelou que naquele ano o paiacutes tinha 101854 dos seus
habitantes vivendo essa realidade
Em 2017 o nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal (DF) de
acordo com a Secretaria do Trabalho Desenvolvimento Social Mulheres Igualdade
Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) era de trecircs mil pessoas ou seja 01 de
toda a populaccedilatildeo da capital federal que em 2017 era de 3 milhotildees de pessoas3
O fenocircmeno que persiste e a cada ano parece crescer eacute um problema social que
pode gerar consequecircncias graves para pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Por conta disso o foco deste trabalho centra-se em contar histoacuterias de vida de pessoas
que fizeram parte dessa populaccedilatildeo frequentemente esquecida e renegada ao abandono
A proposta baseia-se na realizaccedilatildeo de um documentaacuterio Produzido entre agosto e
novembro de 2017 o projeto foi planejado de forma a retratar histoacuterias e vivecircncias de
quatro personagens que vatildeo compartilhar suas experiecircncias dificuldades e
1BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado
Federal Centro Graacutefico 1988 292 p
2 O Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) possui uma pesquisa intitulada Estimativa da
Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua no Brasil de Marcos Antocircnio Carvalho Natalino publicada em outubro
de 2016 O estudo apresenta dados referentes ao ano de 2015
Conteuacutedo disponiacutevel em httpwwwipeagovbr
Acesso 21 de maio de 2018
3Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 30 de agosto de
2017
Conteuacutedo disponiacutevel em httpscidadesibgegovbr
Acesso 21 de maio de 2018
12
aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas
pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua
O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o
restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o
uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua
brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as
pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os
motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos
mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho
Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o
histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida
antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa
apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver
nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos
enfrentados
A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores
significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro
personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos
ao serem ignorados pela sociedade
Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar
em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos
quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e
contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila
2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS
Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema
escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute
4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008
Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr
Acesso 21 de maio de 2018
13
mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que
enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa
―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar
naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre
como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente
Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se
que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas
puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio
Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla
sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo
desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos
de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos
Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a
abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o
jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com
outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em
mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente
os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo
Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave
idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No
lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de
transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas
comuns
Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado
anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e
preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo
senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos
agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua
natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao
viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou
pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas
Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a
estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por
que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um
14
problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a
alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem
tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam
afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo
pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar
a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e
contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida
21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa
Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo
definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema
interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute
assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees
Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a
ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees
poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento
propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do
processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa
por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a
presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal
Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a
ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma
reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma
experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado
especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as
dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em
averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi
constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves
manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute
a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as
5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil
pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017
Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html
Acesso 21 de maio de 2018
15
histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos
relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por
muito tempo presos agraves ruas
Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato
o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees
importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos
em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e
propaganda
Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na
produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma
das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo
Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se
somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou
na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de
funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio
pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores
Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias
inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para
participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho
Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos
saiacutedo do campo das ideias
16
3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS
31 Objetivo Geral
O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito
da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de
quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos
anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua
32 Objetivo Especiacuteficos
Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua
por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio
Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a
respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das
vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua
17
4REFERENCIAL TEOacuteRICO
41 Nomenclatura
Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho
baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como
forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o
leitor ou espectador a se interessar pelo assunto
Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta
para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas
diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos
autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na
rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado
definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se
referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem
concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []
ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo
heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos
Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes
indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que
―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se
apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que
tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas
palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que
afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito
As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo
elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar
essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva
especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo
A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais
apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo
resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave
condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou
condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de
acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)
18
Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a
preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete
em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar
a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores
pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma
condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo
42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua
Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)
De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para
a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a
pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou
fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional
regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas
degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma
temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de
acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia
provisoacuteriasup1
No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou
um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser
unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas
19
malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto
vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico
e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o
sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa
condiccedilatildeo
O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui
apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas
determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela
sociabilidade capitalista que produz um contingente de
pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo
possuem moradia convencional O modo capitalista de
produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das
classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na
desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo
acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de
subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)
Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um
problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge
muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro
que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um
local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a
criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer
de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas
Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e
passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das
caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do
ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua
Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se
unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia
na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre
outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era
atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que
o mercado capitalista dispotildee
Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o
preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela
aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima
reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo
costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua
20
43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal
O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em
situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de
Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra
que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A
pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais
de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento
Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em
2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01
de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs
milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que
os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga
respectivamente
A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal
causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia
de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo
fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de
viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)
A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta
por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa
etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas
representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a
masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos
A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem
impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou
pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social
historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem
maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado
6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se
ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio
Carvalho Natalino
Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf
Acesso em 21 de maio de 2018
21
em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46
branca
Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em
situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional
com 127 e somente 78 devido problemas com drogas
A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua
afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas
chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente
externo urbano passam ao usar
O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo
preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes
para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de
encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)
da realidade experimentada em seus cotidianos algumas
drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos
(GATTI e PEREIRA 2011 p88)
Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute
ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a
repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)
tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e
pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante
exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores
de materiais reciclaacuteveis
Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso
ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a
nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas
governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem
todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo
de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a
direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos
como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do
governo
22
44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas
Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta
de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora
com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente
reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a
contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal
incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua
Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu
alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e
ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees
religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas
somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de
Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam
dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o
modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi
criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei
federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de
Assistecircncia Social (LOAS)
Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de
Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que
subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto
ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em
Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil
a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia
dessa populaccedilatildeo
No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em
Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital
federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do
seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de
rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A
populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado
23
da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de
Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador
Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para
adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para
mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de
Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem
situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de
Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute
acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues
disponibilizados pelo Governo
A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute
cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e
descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto
com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos
paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde
satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo
Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e
Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em
comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser
uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico
Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do
uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo
exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo
para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode
durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na
rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra
caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel
teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados
Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de
forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico
individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de
junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o
funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com
transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas
24
Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito
Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas
do Distrito Federal (CONEN-DF)
De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito
Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas
centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a
toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel
institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a
responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o
formulador das poliacuteticas sociais
A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar
esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de
acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem
mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute
tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas
45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico
Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais
raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade
jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel
importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute
mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa
atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria
Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar
luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave
vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de
complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que
buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as
equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)
A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm
defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos
relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da
deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor
25
agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida
por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa
humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto
social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos
primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p
9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa
capaz de transformar tanto o narrado como o narrador
No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto
mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo
[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados
os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a
compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o
jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e
enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7
Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por
privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz
ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo
do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no
jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha
pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)
De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo
quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do
cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o
diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura
dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []
Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem
(MEDINA 1999 p28)
A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem
tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os
mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a
busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da
observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a
comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute
amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos
Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as
accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas
atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos
7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento
[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli
26
desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a
contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que
originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN
2008 p8)
No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda
eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando
essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha
editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-
estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do
assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam
em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo
Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem
principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a
pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de
vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel
minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo
publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que
levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)
Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado
ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo
frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos
meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados
compartilhados pela sociedade
Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho
debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de
abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior
do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as
trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das
ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais
Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a
situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social
Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos
se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto
Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer
jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem
27
somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao
maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado
acontecimento
5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa
voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram
em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a
abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A
partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de
entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre
o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de
informaccedilotildees dos personagens
A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma
forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a
necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o
entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos
linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de
aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma
teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de
questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos
complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)
De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo
abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e
abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se
trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa
(SILVA 2016 p35)
Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o
trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo
do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos
para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto
28
51 Formato audiovisual
Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de
caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos
pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas
fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem
sobre o tema
Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao
trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto
escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo
utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser
alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar
coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era
conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz
alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato
Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em
uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que
os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este
projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e
membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa
populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas
Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de
tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o
projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de
campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie
documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de
abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e
tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos
personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era
necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em
situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar
essa condiccedilatildeo
A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto
Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a
29
situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto
Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa
decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos
protagonistas
Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa
quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era
mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo
Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para
o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a
fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe
uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim
a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo
sobre o tema
52 Personagens
Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que
comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e
entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim
termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no
documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute
haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o
primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de
rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa
condiccedilatildeo fosse a mesma
O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho
Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram
pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos
personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas
que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo
seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar
relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de
personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas
mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas
30
O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele
morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos
16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando
provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a
trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo
a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o
colocou para fora de casa
Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa
de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute
recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute
que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia
apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o
convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje
estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras
pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas
Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)
A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um
casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram
em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo
trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia
31
de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a
fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando
alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua
Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-
companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se
conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para
Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde
permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute
voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de
amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa
para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro
Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)
Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees
distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie
documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e
sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo
alcoolismo
Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma
vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve
seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade
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ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de
Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram
Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e
passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --
fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu
concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar
renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa
condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar
outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de
vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e
fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea
Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)
53 Preacute-produccedilatildeo
A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido
definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi
preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura
por produtos audiovisuais que abordassem o tema
A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos
conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma
condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou
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pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes
essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que
estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela
Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao
mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para
viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV
- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para
auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria
disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma
ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio
Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho
posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou
registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV
assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume
Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller
(vide apecircndice I)
Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca
formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos
auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e
produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela
tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos
participantes (vide anexo I)
Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um
cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees
relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo
telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo
Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos
contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as
gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo
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Tabela 1 ndash Lista completa da equipe
EQUIPE
CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA
PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA
FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E
LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA
EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA
Fonte Marcus Barbosa (2018)
54 Produccedilatildeo
Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o
cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era
necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos
personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios
diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das
obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito
um esforccedilo para seguir de perto o roteiro
Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria
dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria
responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos
planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a
produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua
experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos
equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada
Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista
uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para
fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios
momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo
guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se
abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas
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no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas
isso nem sempre deu certo
Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o
esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e
Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio
em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe
Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se
delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens
do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um
indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera
Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que
ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um
canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das
gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o
primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no
microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao
cronograma de gravaccedilotildees
Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)
36
Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)
Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com
o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele
foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as
entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de
Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as
gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas
Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de
gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente
para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos
concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas
37
Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus
Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)
55 Poacutes-produccedilatildeo
Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo
foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio
que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)
Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia
Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material
O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome
provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio
da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por
escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os
personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que
traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas
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561 Identidade visual
A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de
publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela
animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura
foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais
proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas
Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes
de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com
maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com
boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca
por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto
Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para
a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)
Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)
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Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)
Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
40
6 CRONOGRAMA DE PESQUISA
Tabela 2 ndash Cronograma de atividades
DATAS ETAPAS
Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica
(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)
Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens
Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas
Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees
510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega
para ediccedilatildeo
Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio
Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo
Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa
180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca
Fonte Marcus Barbosa (2018)
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7 ORCcedilAMENTO
Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais
VALORES IacuteTENS
R$ 9700 Estabilizador de celular
R$ 25000 Microfone de Lapela
R$ 29000 HD Externo
R$ 35000 Gasolina
R$ 29700 Impressatildeo de material visual
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II
VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)
R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD
R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg
R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash
Wm6 UHF
R$ 8900 Rebatedor
R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +
Tripeacute 2m
R$ 99900 Identidade visual para o produto
R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de
duraccedilatildeo
R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
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8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi
possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que
existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em
situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao
passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos
ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E
com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que
integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute
preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses
indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa
condiccedilatildeo
Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia
com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de
rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas
entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem
desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o
auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num
problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons
exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e
o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -
Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou
provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida
dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo
No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi
um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente
nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar
o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea
tambeacutem foi de suma importacircncia
Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar
histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas
preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade
nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das
43
histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que
chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo
tudo
Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes
deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de
ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar
tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista
44
REFEREcircNCIAS
ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser
humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico
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46
APEcircNDICES
47
APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Brasiacutelia 28 de agosto de 2017
Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV
Prezada Sra Neuza Meller
Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para
realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de
Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de
um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em
Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula
130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a
orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula
UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em
situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal
Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo
acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a
aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as
histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de
conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o
desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo
entrevistas e ediccedilatildeo do material captado
Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma
parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo
de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a
grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse
48
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais
sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer
esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail
marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189
Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo
Cordialmente
Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
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APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)
TER (1909)
QUA (2009) ENTREVISTA
Quem Ademir e Claacuteudia
Horaacuterio 15h
End Luziacircnia GO
QUI (2109)
SEX (2209) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAB ( 2309)
DOM (2409)
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA
Quem Claacuteudia e Ademir
Horaacuterio 14h
End Praccedila do Compromisso Asa Sul
TER (2609)
QUA (2709)
QUI (2809) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 15h
End Ceilacircndia
SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAacuteB (3009) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End SCS
DOM (0110)
MANHAtilde TARDE NOITE
SEG (0210)
TER (0310)
QUA (0410) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 9h
Endereccedilo Centro de
Taguatinga
QUI (0510) ENTREVISTA
Quem Ademir
Horaacuterio 15h
End Parque da Cidade
SEX (0610)
SAacuteB (0710)
DOM (0810)
QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Lucas Cacircndia
Horaacuterio 16h
End Aacuterea central de Brasiacutelia
50
APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a
situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos
durante o periacuteodo nas ruas
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo
com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc
2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar
3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua
4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas
5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua
6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua
7 Como era sua rotina na rua
8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo
9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele
periacuteodo
10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como
abrigo sauacutede etc
11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter
12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais
sobre isso
13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou
simplesmente agia com indiferenccedila
51
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o
futuro
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva
de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real
2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo
3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo
4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou
em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio
5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar
6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de
recuperaccedilatildeo
7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para
frente
8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que
ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria
52
APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida
FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia
PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca
ED DE IMAGENS Julia Nogueira
ARTE Sarah Silva
CENA DE
AMBIENTACcedilAtildeO
ARQUIVO
Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio
SONORA 1 CLAacuteUDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE CORTE
126 -- 147 +
327 -- 345
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu
trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht
mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)
―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu
comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para
vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0025 -- 0109
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma
pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma
discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu
abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas
SONORA 4 DANIELA
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE
213 --300
Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos
tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da
luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de
relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era
acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente
ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar
53
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai
brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma
hora
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e
minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela
sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri
muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem
africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 4
03 -- 434
(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha
vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet
os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida
maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu
Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje
SONORA 6 Daniela
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE
434 --446 + 528 -- 539
―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro
semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos
difiacuteceis +
―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc
vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu
escutei
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
842 --914
―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito
dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu
acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com
uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica
cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil
SONORA DANIELA
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
551 --622
ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um
computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus
aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc
tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12
minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que
Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano
teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo
54
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144
depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria
com as drogas
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
256 -- 330
―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia
cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu
frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro
com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que
chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0424 -- 0439
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente
mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo
mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era
bebida
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212
Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo
abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
550 -- 603
―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da
bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo
notam mas notam
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0401 -- 0408
O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro
dia bebendo porque eu precisava beber
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304
Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A
gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra
gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute
diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia
Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e
gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde
SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei
55
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
759 --813 + 825 -- 840
+ 915 --9 22
PODE ENXUGAR
muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai
argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +
E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me
ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e
nossa aquilo ali me doeu +
―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu
natildeo volto mais
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
126 -- 153 + 216 --231
―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e
ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era
casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na
eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +
―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa
natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me
pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347
Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa
para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou
para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para
mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas
SONORA Daniela
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
953 --1016 + 120 --
124
PODE ENXUGAR
ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que
eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava
dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo
E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso
aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar
minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova
trajetoacuteria
SONORA Claudia
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
427 --439
―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma
coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se
conhece um conhece outro
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0048 ---0109
Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca
soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse
dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
516 -- 521
―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto
entatildeo vc entra
SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo
tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte
56
ARQUIVO 967_0430_03
TEMPO DE CORTE
926 -- 938
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0814
-- 0834
No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da
que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua
esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio
Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0707 -- 0726
Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu
viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu
corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar
mais
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 217
-- 230
―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer
uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa
de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0706
-- 0725
Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo
que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do
lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a
gente a sobreviver na rua
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE
CORTE0013 --018 (+)
1128 --1137
―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq
barulho a gente acorda
(+)
―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade
de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde
SONORA ADRIANO LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio
sincronizado
TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628
Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece
que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute
terriacutevel
57
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE 958
-- 1002 + 931 -- 945 +
1025 -- 1030
―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute
um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma
alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas
se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que
estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE
222-- 245
―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente
chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela
e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar
para vc
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE
701 -- 714
(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a
frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute
super-homem natildeo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli -
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0432
-- 0437
Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de
viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia
morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE 655
--710 +730 -- 804
PODE ENXUGAR
(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que
to com catarata pq natildeo notei 710 +
(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para
traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui
para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a
danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e
e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1109
--1116
+
―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila
comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da
minha mochila
(+)
58
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1032
--1036
+
ARQUIVO 256_2764_02
TEMPO DE CORTE 1101
-- 1115
ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa
(+)
―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai
que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho
comigo ningueacutem queria mais falar comigo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 0300
--0308
―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber
os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 1540
-- 1556
Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te
apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio
decadente
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE
0824 -- 0857
Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa
marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc
eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um
saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam
natildeo estatildeo nem aiacute
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 241
-- 0300
―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como
pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto
de vc muito existe demais demais
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0508 -- 05 30
Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar
eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te
tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe
uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas
59
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_03
TEMPO DE CORTE
241 --256
(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema
esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc
vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0841 -- 0853 (+) 0302 -
-0322
Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu
preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes
(+)
Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa
vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de
novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo
tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci
minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 741
--806 +
803-- 804 +
811 -- 815
(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um
tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando
eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +
(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para
Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE 0638
-- 0653
Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava
a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas
mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a
gente piorava cada vez mais
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 837
-- 848 (+) 557-- 606
Sera que daacute para cortar o
som externo nessa parte
Senatildeo pode cortar
― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e
estradas
+
―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo
para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava
60
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
1251 -- 1306
Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia
morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o
meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 604
-- 618
+
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
521 -- 533
― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter
outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com
outra coisa natildeo com a rua +
―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui
uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_06
TEMPO DE CORTE
101--121
―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro
todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a
condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no
coraccedilatildeo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 0551 -- 613
―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da
forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o
fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai
se entregar eacute assim que eu pensava
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0127 -- 0151
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era
meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais
abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava
esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda
61
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 852 - 906
―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me
arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me
arrependo mesmo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 1305 - 1326
―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc
esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente
todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que
arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei
quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais
forccedila
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0428 -- 0500
―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e
procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi
a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma
pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de
tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute
tudo mudou
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
814 - 835
―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria
fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir
para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1056 - 1111
―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou
estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute
arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0726 -- 0748
ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de
recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar
um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa
se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou
acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento
62
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE
0231 -- 0248
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA
EvDICcedilAtildeO
―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua
vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e
quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma
forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1207 - 1231
―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a
gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o
organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida
e em qlq bar vc consegue
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0532 --609
―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi
aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis
tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos
mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente
que eu recebi
SONORA Dani
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 516 - 528
―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar
terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu
tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
924 - 1000
(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo
esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta
repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter
uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em
restaurantes
SONORA ADRIANO
LUGOLI
Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo
esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao
63
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0821 -- 856
Avaliar se corta o final
ou enxuga
era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando
via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_04
TEMPO DE CORTE
109 -130 (+)
1100 -1103
― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na
cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um
pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito
oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna
+
―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 126 - 142
ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que
eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que
eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0900 - 943
―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha
vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente
que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim
que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me
abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_03
TEMPO DE
CORTE034 - 044 +
113- 117
(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos
estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +
113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando
(117)
SONORA Dani
ARQUIVO
―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas
paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu
olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu
64
965_0748_02
TEMPO DE CORTE 240 - 308)
interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem
de fazer oq eu eu fiz
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_04
TEMPO DE CORTE -
045 - 111
― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo
de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova
oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p
vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -
910
―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus
irmatildeos +
―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que
eu tenho para ele eacute o silecircncio
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423
―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)
―e depois que essa historia foi p jornal revista tv
eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia
acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao
que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_02
TEMPO DE CORTE
852 - 920
― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela
situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de
alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute
sozinha natildeo vai conseguir
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 611 - 633
―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca
esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios
propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar
algo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE
―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso
nem ter uma casinha para morar
65
CORTE1313 - 1321
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
706 - 732
ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem
pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do
mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb
vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1129 - 1200
―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que
quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam
de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua
vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que
as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica
oportunidade elas conseguem
Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos
66
APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem
Fonte Ana Paula Fonseca (2017)
67
APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia
Fonte Marcus Barbosa (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
68
APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD
Fonte Sarah Silva (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
10
ABSTRACT
The documentary bdquoMemoacuteria das Ruas‟ addresses the experiences of four people who
rewrot their stories and succeeded in overcoming the period of invisibility experienced
during the time they lived on the streets The project produced between August and
September 2017 sought to approach in a humanized way significant moments of the
stories os these protagonists In a first moment the characters tell how their lives were
before the streets and what factors led them to this situation In sequence its present na
account of the fears difficulties dangers and prejudice faced by each one of them In
conclusion all the characters tell the story of their lives and their plans for the future
Keywords Documentary Journalism Population in street situation Social
vulnerability Life stories
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Moradia limpa digna e segura Mesmo sendo uma garantia baacutesica assegurada
pelo artigo 6ordm do Capiacutetulo II da Constituiccedilatildeo Brasileira de 19881 a realidade por traacutes
deste direito no Brasil ainda estaacute longe de ser a ideal Por conta dos abismos
socioeconocircmicos que persistem em dividir a populaccedilatildeo em diferentes classes sociais
uma boa parcela dos brasileiros continua sem acesso a oportunidades e um dos
principais reflexos desta situaccedilatildeo eacute a falta de moradia adequada para todos
A crise financeira o aumento exponencial do desemprego e a dependecircncia
quiacutemica satildeo fatores relevantes que tecircm sua parcela de contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo do
cenaacuterio em que as ruas - um espaccedilo comum a todos - tecircm se tornado lugar de
permanecircncia das parcelas menos favorecidas da populaccedilatildeo O Brasil natildeo possui dados
oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima
estimativa2 divulgada em 2015 revelou que naquele ano o paiacutes tinha 101854 dos seus
habitantes vivendo essa realidade
Em 2017 o nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal (DF) de
acordo com a Secretaria do Trabalho Desenvolvimento Social Mulheres Igualdade
Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) era de trecircs mil pessoas ou seja 01 de
toda a populaccedilatildeo da capital federal que em 2017 era de 3 milhotildees de pessoas3
O fenocircmeno que persiste e a cada ano parece crescer eacute um problema social que
pode gerar consequecircncias graves para pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Por conta disso o foco deste trabalho centra-se em contar histoacuterias de vida de pessoas
que fizeram parte dessa populaccedilatildeo frequentemente esquecida e renegada ao abandono
A proposta baseia-se na realizaccedilatildeo de um documentaacuterio Produzido entre agosto e
novembro de 2017 o projeto foi planejado de forma a retratar histoacuterias e vivecircncias de
quatro personagens que vatildeo compartilhar suas experiecircncias dificuldades e
1BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado
Federal Centro Graacutefico 1988 292 p
2 O Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) possui uma pesquisa intitulada Estimativa da
Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua no Brasil de Marcos Antocircnio Carvalho Natalino publicada em outubro
de 2016 O estudo apresenta dados referentes ao ano de 2015
Conteuacutedo disponiacutevel em httpwwwipeagovbr
Acesso 21 de maio de 2018
3Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 30 de agosto de
2017
Conteuacutedo disponiacutevel em httpscidadesibgegovbr
Acesso 21 de maio de 2018
12
aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas
pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua
O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o
restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o
uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua
brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as
pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os
motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos
mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho
Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o
histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida
antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa
apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver
nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos
enfrentados
A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores
significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro
personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos
ao serem ignorados pela sociedade
Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar
em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos
quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e
contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila
2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS
Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema
escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute
4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008
Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr
Acesso 21 de maio de 2018
13
mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que
enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa
―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar
naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre
como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente
Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se
que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas
puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio
Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla
sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo
desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos
de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos
Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a
abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o
jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com
outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em
mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente
os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo
Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave
idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No
lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de
transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas
comuns
Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado
anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e
preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo
senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos
agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua
natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao
viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou
pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas
Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a
estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por
que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um
14
problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a
alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem
tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam
afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo
pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar
a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e
contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida
21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa
Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo
definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema
interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute
assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees
Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a
ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees
poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento
propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do
processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa
por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a
presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal
Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a
ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma
reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma
experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado
especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as
dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em
averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi
constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves
manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute
a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as
5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil
pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017
Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html
Acesso 21 de maio de 2018
15
histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos
relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por
muito tempo presos agraves ruas
Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato
o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees
importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos
em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e
propaganda
Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na
produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma
das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo
Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se
somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou
na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de
funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio
pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores
Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias
inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para
participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho
Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos
saiacutedo do campo das ideias
16
3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS
31 Objetivo Geral
O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito
da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de
quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos
anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua
32 Objetivo Especiacuteficos
Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua
por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio
Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a
respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das
vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua
17
4REFERENCIAL TEOacuteRICO
41 Nomenclatura
Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho
baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como
forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o
leitor ou espectador a se interessar pelo assunto
Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta
para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas
diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos
autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na
rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado
definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se
referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem
concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []
ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo
heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos
Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes
indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que
―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se
apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que
tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas
palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que
afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito
As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo
elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar
essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva
especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo
A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais
apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo
resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave
condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou
condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de
acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)
18
Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a
preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete
em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar
a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores
pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma
condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo
42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua
Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)
De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para
a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a
pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou
fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional
regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas
degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma
temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de
acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia
provisoacuteriasup1
No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou
um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser
unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas
19
malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto
vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico
e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o
sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa
condiccedilatildeo
O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui
apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas
determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela
sociabilidade capitalista que produz um contingente de
pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo
possuem moradia convencional O modo capitalista de
produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das
classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na
desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo
acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de
subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)
Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um
problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge
muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro
que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um
local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a
criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer
de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas
Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e
passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das
caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do
ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua
Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se
unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia
na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre
outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era
atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que
o mercado capitalista dispotildee
Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o
preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela
aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima
reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo
costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua
20
43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal
O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em
situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de
Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra
que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A
pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais
de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento
Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em
2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01
de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs
milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que
os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga
respectivamente
A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal
causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia
de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo
fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de
viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)
A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta
por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa
etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas
representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a
masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos
A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem
impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou
pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social
historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem
maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado
6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se
ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio
Carvalho Natalino
Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf
Acesso em 21 de maio de 2018
21
em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46
branca
Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em
situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional
com 127 e somente 78 devido problemas com drogas
A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua
afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas
chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente
externo urbano passam ao usar
O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo
preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes
para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de
encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)
da realidade experimentada em seus cotidianos algumas
drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos
(GATTI e PEREIRA 2011 p88)
Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute
ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a
repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)
tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e
pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante
exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores
de materiais reciclaacuteveis
Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso
ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a
nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas
governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem
todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo
de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a
direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos
como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do
governo
22
44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas
Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta
de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora
com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente
reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a
contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal
incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua
Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu
alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e
ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees
religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas
somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de
Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam
dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o
modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi
criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei
federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de
Assistecircncia Social (LOAS)
Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de
Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que
subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto
ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em
Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil
a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia
dessa populaccedilatildeo
No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em
Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital
federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do
seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de
rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A
populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado
23
da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de
Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador
Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para
adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para
mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de
Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem
situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de
Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute
acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues
disponibilizados pelo Governo
A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute
cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e
descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto
com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos
paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde
satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo
Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e
Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em
comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser
uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico
Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do
uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo
exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo
para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode
durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na
rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra
caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel
teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados
Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de
forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico
individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de
junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o
funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com
transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas
24
Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito
Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas
do Distrito Federal (CONEN-DF)
De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito
Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas
centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a
toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel
institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a
responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o
formulador das poliacuteticas sociais
A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar
esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de
acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem
mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute
tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas
45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico
Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais
raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade
jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel
importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute
mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa
atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria
Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar
luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave
vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de
complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que
buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as
equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)
A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm
defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos
relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da
deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor
25
agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida
por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa
humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto
social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos
primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p
9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa
capaz de transformar tanto o narrado como o narrador
No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto
mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo
[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados
os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a
compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o
jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e
enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7
Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por
privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz
ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo
do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no
jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha
pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)
De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo
quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do
cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o
diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura
dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []
Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem
(MEDINA 1999 p28)
A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem
tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os
mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a
busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da
observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a
comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute
amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos
Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as
accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas
atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos
7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento
[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli
26
desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a
contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que
originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN
2008 p8)
No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda
eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando
essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha
editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-
estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do
assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam
em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo
Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem
principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a
pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de
vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel
minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo
publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que
levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)
Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado
ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo
frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos
meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados
compartilhados pela sociedade
Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho
debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de
abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior
do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as
trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das
ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais
Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a
situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social
Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos
se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto
Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer
jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem
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somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao
maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado
acontecimento
5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa
voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram
em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a
abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A
partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de
entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre
o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de
informaccedilotildees dos personagens
A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma
forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a
necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o
entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos
linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de
aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma
teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de
questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos
complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)
De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo
abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e
abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se
trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa
(SILVA 2016 p35)
Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o
trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo
do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos
para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto
28
51 Formato audiovisual
Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de
caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos
pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas
fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem
sobre o tema
Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao
trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto
escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo
utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser
alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar
coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era
conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz
alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato
Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em
uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que
os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este
projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e
membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa
populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas
Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de
tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o
projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de
campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie
documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de
abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e
tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos
personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era
necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em
situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar
essa condiccedilatildeo
A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto
Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a
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situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto
Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa
decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos
protagonistas
Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa
quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era
mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo
Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para
o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a
fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe
uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim
a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo
sobre o tema
52 Personagens
Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que
comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e
entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim
termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no
documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute
haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o
primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de
rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa
condiccedilatildeo fosse a mesma
O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho
Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram
pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos
personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas
que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo
seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar
relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de
personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas
mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas
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O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele
morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos
16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando
provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a
trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo
a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o
colocou para fora de casa
Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa
de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute
recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute
que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia
apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o
convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje
estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras
pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas
Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)
A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um
casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram
em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo
trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia
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de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a
fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando
alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua
Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-
companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se
conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para
Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde
permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute
voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de
amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa
para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro
Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)
Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees
distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie
documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e
sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo
alcoolismo
Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma
vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve
seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade
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ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de
Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram
Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e
passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --
fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu
concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar
renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa
condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar
outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de
vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e
fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea
Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)
53 Preacute-produccedilatildeo
A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido
definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi
preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura
por produtos audiovisuais que abordassem o tema
A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos
conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma
condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou
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pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes
essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que
estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela
Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao
mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para
viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV
- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para
auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria
disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma
ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio
Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho
posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou
registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV
assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume
Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller
(vide apecircndice I)
Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca
formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos
auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e
produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela
tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos
participantes (vide anexo I)
Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um
cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees
relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo
telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo
Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos
contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as
gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo
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Tabela 1 ndash Lista completa da equipe
EQUIPE
CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA
PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA
FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E
LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA
EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA
Fonte Marcus Barbosa (2018)
54 Produccedilatildeo
Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o
cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era
necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos
personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios
diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das
obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito
um esforccedilo para seguir de perto o roteiro
Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria
dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria
responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos
planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a
produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua
experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos
equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada
Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista
uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para
fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios
momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo
guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se
abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas
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no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas
isso nem sempre deu certo
Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o
esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e
Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio
em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe
Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se
delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens
do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um
indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera
Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que
ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um
canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das
gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o
primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no
microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao
cronograma de gravaccedilotildees
Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)
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Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)
Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com
o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele
foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as
entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de
Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as
gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas
Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de
gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente
para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos
concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas
37
Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus
Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)
55 Poacutes-produccedilatildeo
Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo
foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio
que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)
Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia
Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material
O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome
provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio
da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por
escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os
personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que
traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas
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561 Identidade visual
A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de
publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela
animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura
foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais
proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas
Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes
de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com
maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com
boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca
por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto
Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para
a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)
Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)
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Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)
Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
40
6 CRONOGRAMA DE PESQUISA
Tabela 2 ndash Cronograma de atividades
DATAS ETAPAS
Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica
(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)
Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens
Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas
Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees
510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega
para ediccedilatildeo
Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio
Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo
Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa
180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca
Fonte Marcus Barbosa (2018)
41
7 ORCcedilAMENTO
Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais
VALORES IacuteTENS
R$ 9700 Estabilizador de celular
R$ 25000 Microfone de Lapela
R$ 29000 HD Externo
R$ 35000 Gasolina
R$ 29700 Impressatildeo de material visual
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II
VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)
R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD
R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg
R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash
Wm6 UHF
R$ 8900 Rebatedor
R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +
Tripeacute 2m
R$ 99900 Identidade visual para o produto
R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de
duraccedilatildeo
R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
42
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi
possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que
existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em
situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao
passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos
ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E
com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que
integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute
preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses
indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa
condiccedilatildeo
Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia
com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de
rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas
entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem
desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o
auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num
problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons
exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e
o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -
Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou
provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida
dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo
No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi
um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente
nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar
o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea
tambeacutem foi de suma importacircncia
Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar
histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas
preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade
nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das
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histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que
chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo
tudo
Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes
deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de
ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar
tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista
44
REFEREcircNCIAS
ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser
humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico
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CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em
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CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009
DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005
GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-
EDUC 2006
MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de
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Mattos RM Ferreira RF Quem vocecircs pensam que (elas) satildeo Representaccedilotildees
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45
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SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-
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conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia
Brasiacutelia 2016
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SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica
Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009
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UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e
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Acesso em 21 de maio de 2018
O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom
Acesso em 21 de maio de 2018
O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em
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Acesso em 21 de maio de 2018
SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes
3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw
Acesso em 21 de maio de 2018
46
APEcircNDICES
47
APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Brasiacutelia 28 de agosto de 2017
Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV
Prezada Sra Neuza Meller
Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para
realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de
Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de
um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em
Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula
130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a
orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula
UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em
situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal
Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo
acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a
aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as
histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de
conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o
desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo
entrevistas e ediccedilatildeo do material captado
Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma
parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo
de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a
grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse
48
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais
sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer
esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail
marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189
Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo
Cordialmente
Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
49
APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)
TER (1909)
QUA (2009) ENTREVISTA
Quem Ademir e Claacuteudia
Horaacuterio 15h
End Luziacircnia GO
QUI (2109)
SEX (2209) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAB ( 2309)
DOM (2409)
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA
Quem Claacuteudia e Ademir
Horaacuterio 14h
End Praccedila do Compromisso Asa Sul
TER (2609)
QUA (2709)
QUI (2809) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 15h
End Ceilacircndia
SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAacuteB (3009) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End SCS
DOM (0110)
MANHAtilde TARDE NOITE
SEG (0210)
TER (0310)
QUA (0410) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 9h
Endereccedilo Centro de
Taguatinga
QUI (0510) ENTREVISTA
Quem Ademir
Horaacuterio 15h
End Parque da Cidade
SEX (0610)
SAacuteB (0710)
DOM (0810)
QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Lucas Cacircndia
Horaacuterio 16h
End Aacuterea central de Brasiacutelia
50
APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a
situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos
durante o periacuteodo nas ruas
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo
com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc
2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar
3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua
4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas
5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua
6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua
7 Como era sua rotina na rua
8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo
9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele
periacuteodo
10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como
abrigo sauacutede etc
11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter
12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais
sobre isso
13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou
simplesmente agia com indiferenccedila
51
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o
futuro
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva
de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real
2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo
3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo
4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou
em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio
5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar
6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de
recuperaccedilatildeo
7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para
frente
8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que
ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria
52
APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida
FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia
PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca
ED DE IMAGENS Julia Nogueira
ARTE Sarah Silva
CENA DE
AMBIENTACcedilAtildeO
ARQUIVO
Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio
SONORA 1 CLAacuteUDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE CORTE
126 -- 147 +
327 -- 345
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu
trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht
mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)
―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu
comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para
vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0025 -- 0109
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma
pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma
discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu
abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas
SONORA 4 DANIELA
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE
213 --300
Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos
tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da
luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de
relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era
acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente
ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar
53
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai
brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma
hora
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e
minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela
sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri
muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem
africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 4
03 -- 434
(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha
vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet
os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida
maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu
Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje
SONORA 6 Daniela
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE
434 --446 + 528 -- 539
―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro
semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos
difiacuteceis +
―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc
vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu
escutei
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
842 --914
―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito
dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu
acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com
uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica
cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil
SONORA DANIELA
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
551 --622
ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um
computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus
aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc
tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12
minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que
Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano
teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo
54
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144
depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria
com as drogas
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
256 -- 330
―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia
cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu
frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro
com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que
chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0424 -- 0439
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente
mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo
mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era
bebida
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212
Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo
abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
550 -- 603
―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da
bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo
notam mas notam
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0401 -- 0408
O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro
dia bebendo porque eu precisava beber
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304
Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A
gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra
gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute
diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia
Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e
gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde
SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei
55
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
759 --813 + 825 -- 840
+ 915 --9 22
PODE ENXUGAR
muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai
argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +
E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me
ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e
nossa aquilo ali me doeu +
―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu
natildeo volto mais
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
126 -- 153 + 216 --231
―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e
ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era
casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na
eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +
―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa
natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me
pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347
Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa
para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou
para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para
mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas
SONORA Daniela
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
953 --1016 + 120 --
124
PODE ENXUGAR
ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que
eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava
dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo
E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso
aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar
minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova
trajetoacuteria
SONORA Claudia
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
427 --439
―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma
coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se
conhece um conhece outro
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0048 ---0109
Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca
soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse
dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
516 -- 521
―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto
entatildeo vc entra
SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo
tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte
56
ARQUIVO 967_0430_03
TEMPO DE CORTE
926 -- 938
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0814
-- 0834
No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da
que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua
esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio
Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0707 -- 0726
Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu
viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu
corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar
mais
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 217
-- 230
―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer
uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa
de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0706
-- 0725
Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo
que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do
lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a
gente a sobreviver na rua
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE
CORTE0013 --018 (+)
1128 --1137
―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq
barulho a gente acorda
(+)
―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade
de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde
SONORA ADRIANO LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio
sincronizado
TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628
Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece
que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute
terriacutevel
57
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE 958
-- 1002 + 931 -- 945 +
1025 -- 1030
―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute
um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma
alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas
se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que
estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE
222-- 245
―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente
chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela
e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar
para vc
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE
701 -- 714
(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a
frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute
super-homem natildeo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli -
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0432
-- 0437
Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de
viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia
morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE 655
--710 +730 -- 804
PODE ENXUGAR
(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que
to com catarata pq natildeo notei 710 +
(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para
traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui
para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a
danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e
e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1109
--1116
+
―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila
comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da
minha mochila
(+)
58
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1032
--1036
+
ARQUIVO 256_2764_02
TEMPO DE CORTE 1101
-- 1115
ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa
(+)
―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai
que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho
comigo ningueacutem queria mais falar comigo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 0300
--0308
―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber
os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 1540
-- 1556
Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te
apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio
decadente
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE
0824 -- 0857
Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa
marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc
eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um
saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam
natildeo estatildeo nem aiacute
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 241
-- 0300
―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como
pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto
de vc muito existe demais demais
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0508 -- 05 30
Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar
eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te
tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe
uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas
59
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_03
TEMPO DE CORTE
241 --256
(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema
esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc
vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0841 -- 0853 (+) 0302 -
-0322
Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu
preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes
(+)
Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa
vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de
novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo
tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci
minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 741
--806 +
803-- 804 +
811 -- 815
(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um
tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando
eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +
(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para
Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE 0638
-- 0653
Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava
a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas
mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a
gente piorava cada vez mais
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 837
-- 848 (+) 557-- 606
Sera que daacute para cortar o
som externo nessa parte
Senatildeo pode cortar
― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e
estradas
+
―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo
para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava
60
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
1251 -- 1306
Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia
morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o
meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 604
-- 618
+
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
521 -- 533
― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter
outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com
outra coisa natildeo com a rua +
―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui
uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_06
TEMPO DE CORTE
101--121
―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro
todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a
condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no
coraccedilatildeo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 0551 -- 613
―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da
forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o
fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai
se entregar eacute assim que eu pensava
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0127 -- 0151
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era
meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais
abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava
esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda
61
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 852 - 906
―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me
arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me
arrependo mesmo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 1305 - 1326
―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc
esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente
todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que
arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei
quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais
forccedila
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0428 -- 0500
―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e
procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi
a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma
pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de
tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute
tudo mudou
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
814 - 835
―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria
fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir
para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1056 - 1111
―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou
estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute
arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0726 -- 0748
ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de
recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar
um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa
se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou
acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento
62
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE
0231 -- 0248
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA
EvDICcedilAtildeO
―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua
vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e
quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma
forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1207 - 1231
―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a
gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o
organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida
e em qlq bar vc consegue
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0532 --609
―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi
aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis
tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos
mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente
que eu recebi
SONORA Dani
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 516 - 528
―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar
terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu
tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
924 - 1000
(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo
esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta
repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter
uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em
restaurantes
SONORA ADRIANO
LUGOLI
Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo
esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao
63
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0821 -- 856
Avaliar se corta o final
ou enxuga
era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando
via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_04
TEMPO DE CORTE
109 -130 (+)
1100 -1103
― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na
cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um
pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito
oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna
+
―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 126 - 142
ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que
eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que
eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0900 - 943
―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha
vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente
que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim
que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me
abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_03
TEMPO DE
CORTE034 - 044 +
113- 117
(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos
estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +
113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando
(117)
SONORA Dani
ARQUIVO
―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas
paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu
olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu
64
965_0748_02
TEMPO DE CORTE 240 - 308)
interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem
de fazer oq eu eu fiz
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_04
TEMPO DE CORTE -
045 - 111
― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo
de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova
oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p
vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -
910
―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus
irmatildeos +
―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que
eu tenho para ele eacute o silecircncio
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423
―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)
―e depois que essa historia foi p jornal revista tv
eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia
acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao
que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_02
TEMPO DE CORTE
852 - 920
― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela
situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de
alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute
sozinha natildeo vai conseguir
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 611 - 633
―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca
esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios
propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar
algo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE
―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso
nem ter uma casinha para morar
65
CORTE1313 - 1321
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
706 - 732
ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem
pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do
mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb
vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1129 - 1200
―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que
quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam
de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua
vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que
as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica
oportunidade elas conseguem
Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos
66
APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem
Fonte Ana Paula Fonseca (2017)
67
APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia
Fonte Marcus Barbosa (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
68
APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD
Fonte Sarah Silva (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Moradia limpa digna e segura Mesmo sendo uma garantia baacutesica assegurada
pelo artigo 6ordm do Capiacutetulo II da Constituiccedilatildeo Brasileira de 19881 a realidade por traacutes
deste direito no Brasil ainda estaacute longe de ser a ideal Por conta dos abismos
socioeconocircmicos que persistem em dividir a populaccedilatildeo em diferentes classes sociais
uma boa parcela dos brasileiros continua sem acesso a oportunidades e um dos
principais reflexos desta situaccedilatildeo eacute a falta de moradia adequada para todos
A crise financeira o aumento exponencial do desemprego e a dependecircncia
quiacutemica satildeo fatores relevantes que tecircm sua parcela de contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo do
cenaacuterio em que as ruas - um espaccedilo comum a todos - tecircm se tornado lugar de
permanecircncia das parcelas menos favorecidas da populaccedilatildeo O Brasil natildeo possui dados
oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima
estimativa2 divulgada em 2015 revelou que naquele ano o paiacutes tinha 101854 dos seus
habitantes vivendo essa realidade
Em 2017 o nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal (DF) de
acordo com a Secretaria do Trabalho Desenvolvimento Social Mulheres Igualdade
Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) era de trecircs mil pessoas ou seja 01 de
toda a populaccedilatildeo da capital federal que em 2017 era de 3 milhotildees de pessoas3
O fenocircmeno que persiste e a cada ano parece crescer eacute um problema social que
pode gerar consequecircncias graves para pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Por conta disso o foco deste trabalho centra-se em contar histoacuterias de vida de pessoas
que fizeram parte dessa populaccedilatildeo frequentemente esquecida e renegada ao abandono
A proposta baseia-se na realizaccedilatildeo de um documentaacuterio Produzido entre agosto e
novembro de 2017 o projeto foi planejado de forma a retratar histoacuterias e vivecircncias de
quatro personagens que vatildeo compartilhar suas experiecircncias dificuldades e
1BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado
Federal Centro Graacutefico 1988 292 p
2 O Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) possui uma pesquisa intitulada Estimativa da
Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua no Brasil de Marcos Antocircnio Carvalho Natalino publicada em outubro
de 2016 O estudo apresenta dados referentes ao ano de 2015
Conteuacutedo disponiacutevel em httpwwwipeagovbr
Acesso 21 de maio de 2018
3Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 30 de agosto de
2017
Conteuacutedo disponiacutevel em httpscidadesibgegovbr
Acesso 21 de maio de 2018
12
aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas
pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua
O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o
restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o
uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua
brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as
pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os
motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos
mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho
Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o
histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida
antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa
apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver
nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos
enfrentados
A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores
significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro
personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos
ao serem ignorados pela sociedade
Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar
em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos
quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e
contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila
2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS
Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema
escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute
4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008
Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr
Acesso 21 de maio de 2018
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mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que
enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa
―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar
naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre
como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente
Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se
que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas
puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio
Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla
sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo
desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos
de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos
Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a
abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o
jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com
outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em
mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente
os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo
Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave
idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No
lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de
transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas
comuns
Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado
anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e
preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo
senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos
agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua
natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao
viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou
pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas
Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a
estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por
que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um
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problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a
alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem
tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam
afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo
pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar
a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e
contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida
21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa
Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo
definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema
interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute
assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees
Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a
ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees
poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento
propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do
processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa
por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a
presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal
Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a
ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma
reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma
experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado
especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as
dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em
averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi
constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves
manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute
a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as
5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil
pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017
Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html
Acesso 21 de maio de 2018
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histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos
relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por
muito tempo presos agraves ruas
Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato
o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees
importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos
em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e
propaganda
Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na
produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma
das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo
Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se
somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou
na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de
funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio
pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores
Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias
inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para
participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho
Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos
saiacutedo do campo das ideias
16
3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS
31 Objetivo Geral
O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito
da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de
quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos
anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua
32 Objetivo Especiacuteficos
Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua
por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio
Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a
respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das
vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua
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4REFERENCIAL TEOacuteRICO
41 Nomenclatura
Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho
baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como
forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o
leitor ou espectador a se interessar pelo assunto
Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta
para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas
diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos
autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na
rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado
definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se
referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem
concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []
ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo
heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos
Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes
indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que
―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se
apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que
tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas
palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que
afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito
As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo
elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar
essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva
especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo
A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais
apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo
resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave
condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou
condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de
acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)
18
Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a
preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete
em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar
a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores
pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma
condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo
42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua
Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)
De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para
a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a
pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou
fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional
regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas
degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma
temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de
acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia
provisoacuteriasup1
No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou
um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser
unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas
19
malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto
vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico
e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o
sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa
condiccedilatildeo
O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui
apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas
determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela
sociabilidade capitalista que produz um contingente de
pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo
possuem moradia convencional O modo capitalista de
produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das
classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na
desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo
acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de
subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)
Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um
problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge
muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro
que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um
local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a
criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer
de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas
Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e
passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das
caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do
ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua
Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se
unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia
na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre
outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era
atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que
o mercado capitalista dispotildee
Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o
preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela
aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima
reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo
costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua
20
43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal
O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em
situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de
Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra
que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A
pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais
de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento
Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em
2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01
de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs
milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que
os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga
respectivamente
A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal
causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia
de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo
fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de
viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)
A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta
por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa
etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas
representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a
masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos
A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem
impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou
pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social
historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem
maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado
6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se
ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio
Carvalho Natalino
Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf
Acesso em 21 de maio de 2018
21
em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46
branca
Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em
situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional
com 127 e somente 78 devido problemas com drogas
A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua
afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas
chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente
externo urbano passam ao usar
O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo
preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes
para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de
encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)
da realidade experimentada em seus cotidianos algumas
drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos
(GATTI e PEREIRA 2011 p88)
Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute
ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a
repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)
tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e
pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante
exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores
de materiais reciclaacuteveis
Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso
ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a
nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas
governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem
todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo
de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a
direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos
como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do
governo
22
44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas
Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta
de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora
com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente
reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a
contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal
incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua
Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu
alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e
ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees
religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas
somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de
Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam
dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o
modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi
criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei
federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de
Assistecircncia Social (LOAS)
Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de
Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que
subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto
ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em
Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil
a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia
dessa populaccedilatildeo
No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em
Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital
federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do
seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de
rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A
populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado
23
da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de
Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador
Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para
adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para
mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de
Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem
situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de
Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute
acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues
disponibilizados pelo Governo
A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute
cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e
descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto
com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos
paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde
satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo
Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e
Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em
comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser
uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico
Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do
uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo
exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo
para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode
durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na
rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra
caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel
teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados
Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de
forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico
individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de
junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o
funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com
transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas
24
Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito
Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas
do Distrito Federal (CONEN-DF)
De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito
Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas
centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a
toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel
institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a
responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o
formulador das poliacuteticas sociais
A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar
esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de
acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem
mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute
tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas
45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico
Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais
raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade
jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel
importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute
mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa
atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria
Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar
luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave
vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de
complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que
buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as
equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)
A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm
defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos
relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da
deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor
25
agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida
por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa
humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto
social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos
primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p
9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa
capaz de transformar tanto o narrado como o narrador
No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto
mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo
[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados
os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a
compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o
jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e
enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7
Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por
privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz
ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo
do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no
jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha
pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)
De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo
quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do
cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o
diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura
dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []
Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem
(MEDINA 1999 p28)
A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem
tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os
mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a
busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da
observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a
comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute
amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos
Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as
accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas
atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos
7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento
[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli
26
desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a
contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que
originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN
2008 p8)
No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda
eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando
essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha
editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-
estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do
assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam
em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo
Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem
principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a
pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de
vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel
minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo
publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que
levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)
Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado
ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo
frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos
meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados
compartilhados pela sociedade
Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho
debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de
abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior
do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as
trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das
ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais
Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a
situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social
Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos
se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto
Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer
jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem
27
somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao
maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado
acontecimento
5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa
voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram
em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a
abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A
partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de
entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre
o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de
informaccedilotildees dos personagens
A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma
forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a
necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o
entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos
linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de
aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma
teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de
questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos
complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)
De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo
abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e
abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se
trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa
(SILVA 2016 p35)
Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o
trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo
do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos
para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto
28
51 Formato audiovisual
Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de
caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos
pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas
fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem
sobre o tema
Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao
trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto
escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo
utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser
alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar
coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era
conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz
alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato
Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em
uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que
os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este
projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e
membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa
populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas
Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de
tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o
projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de
campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie
documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de
abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e
tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos
personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era
necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em
situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar
essa condiccedilatildeo
A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto
Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a
29
situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto
Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa
decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos
protagonistas
Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa
quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era
mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo
Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para
o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a
fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe
uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim
a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo
sobre o tema
52 Personagens
Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que
comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e
entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim
termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no
documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute
haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o
primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de
rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa
condiccedilatildeo fosse a mesma
O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho
Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram
pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos
personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas
que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo
seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar
relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de
personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas
mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas
30
O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele
morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos
16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando
provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a
trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo
a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o
colocou para fora de casa
Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa
de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute
recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute
que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia
apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o
convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje
estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras
pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas
Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)
A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um
casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram
em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo
trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia
31
de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a
fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando
alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua
Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-
companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se
conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para
Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde
permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute
voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de
amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa
para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro
Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)
Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees
distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie
documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e
sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo
alcoolismo
Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma
vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve
seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade
32
ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de
Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram
Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e
passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --
fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu
concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar
renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa
condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar
outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de
vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e
fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea
Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)
53 Preacute-produccedilatildeo
A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido
definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi
preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura
por produtos audiovisuais que abordassem o tema
A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos
conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma
condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou
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pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes
essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que
estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela
Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao
mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para
viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV
- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para
auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria
disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma
ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio
Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho
posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou
registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV
assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume
Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller
(vide apecircndice I)
Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca
formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos
auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e
produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela
tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos
participantes (vide anexo I)
Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um
cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees
relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo
telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo
Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos
contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as
gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo
34
Tabela 1 ndash Lista completa da equipe
EQUIPE
CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA
PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA
FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E
LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA
EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA
Fonte Marcus Barbosa (2018)
54 Produccedilatildeo
Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o
cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era
necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos
personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios
diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das
obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito
um esforccedilo para seguir de perto o roteiro
Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria
dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria
responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos
planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a
produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua
experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos
equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada
Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista
uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para
fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios
momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo
guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se
abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas
35
no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas
isso nem sempre deu certo
Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o
esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e
Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio
em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe
Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se
delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens
do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um
indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera
Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que
ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um
canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das
gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o
primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no
microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao
cronograma de gravaccedilotildees
Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)
36
Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)
Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com
o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele
foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as
entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de
Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as
gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas
Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de
gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente
para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos
concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas
37
Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus
Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)
55 Poacutes-produccedilatildeo
Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo
foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio
que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)
Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia
Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material
O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome
provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio
da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por
escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os
personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que
traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas
38
561 Identidade visual
A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de
publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela
animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura
foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais
proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas
Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes
de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com
maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com
boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca
por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto
Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para
a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)
Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)
39
Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)
Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
40
6 CRONOGRAMA DE PESQUISA
Tabela 2 ndash Cronograma de atividades
DATAS ETAPAS
Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica
(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)
Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens
Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas
Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees
510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega
para ediccedilatildeo
Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio
Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo
Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa
180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca
Fonte Marcus Barbosa (2018)
41
7 ORCcedilAMENTO
Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais
VALORES IacuteTENS
R$ 9700 Estabilizador de celular
R$ 25000 Microfone de Lapela
R$ 29000 HD Externo
R$ 35000 Gasolina
R$ 29700 Impressatildeo de material visual
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II
VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)
R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD
R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg
R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash
Wm6 UHF
R$ 8900 Rebatedor
R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +
Tripeacute 2m
R$ 99900 Identidade visual para o produto
R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de
duraccedilatildeo
R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
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8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi
possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que
existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em
situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao
passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos
ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E
com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que
integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute
preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses
indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa
condiccedilatildeo
Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia
com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de
rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas
entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem
desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o
auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num
problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons
exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e
o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -
Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou
provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida
dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo
No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi
um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente
nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar
o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea
tambeacutem foi de suma importacircncia
Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar
histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas
preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade
nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das
43
histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que
chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo
tudo
Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes
deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de
ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar
tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista
44
REFEREcircNCIAS
ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser
humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico
BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise
referencial de serviccedilo socioassistencial de Satildeo Paulo e Brasiacutelia 2015 64 f Trabalho
de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Serviccedilo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia
Brasiacutelia 2015 Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048317307
Acesso 21 de maio de 2018
BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil
Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p
CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua um estudo sobre pobreza necessidades humanas e miacutenimos
sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de
Brasiacutelia Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel
emhttpbdmunbbrbitstream10483257312011_AmaranthaSaTelesdeCerqueirapdf
Acesso 21 de maio de 2018
CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009
DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005
GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-
EDUC 2006
MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de
moradores de rua em Taguatinga-DF 2016 60 f Trabalho de conclusatildeo de curso
(Bacharelado em Sauacutede Coletiva)mdashUniversidade de Brasiacutelia Ceilacircndia 2016
Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048315988
Acesso em 21 de maio de 2018
Mattos RM Ferreira RF Quem vocecircs pensam que (elas) satildeo Representaccedilotildees
sobre as pessoas em situaccedilatildeo de rua Psicologia amp Sociedade 16 (2) 47-58
maioago2004 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfpsocv16n2a07v16n2pdf
Acesso 21 de maio de 2018
MELO Cristina Teixeira V de GOMES Isaltina Mello MORAIS Wilma O
documentaacuterio jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral In Intercom - 25ordm Congresso
Brasileiro de Comunicaccedilatildeo Campo Grande 2001 Disponiacutevel em
httpwwwintercomorgbrpapersnacionais2001papersNP7MELOPDF
Acesso 21 de maio de 2018
MONTIPOacute Criselli FARAH Acircngela Relato humanizado no jornalismo a
importacircncia da humanizaccedilatildeo na narrativa para um jornalismo transformador In
45
Miacutedia Cidadatilde 2009 - V Conferecircncia Brasileira de Miacutedia Cidadatilde 2009 Guarapuava
Anais Guarapuava 2009 p 906 - 923 Disponiacutevel em httpwwwunicentrobrredemc
Acesso 21 de maio de 2018
MOURA Rodrigo Coelho Bacellar Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo
de Rua uma anaacutelise da participaccedilatildeo social no processo de implementaccedilatildeo da poliacutetica
2016 30 f Trabalho de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Gestatildeo de Poliacuteticas
Puacuteblicas)mdashUniversidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2016 Disponiacutevel em
httpbdmunbbrhandle1048316261
Acesso 21 de maio de 2018
SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-
BA um estudo de caso UNEB 2009
SILVA Fabiacuteola Mariano da Humanizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e gestatildeo centrada nas
pessoas - entrevista em profundidade Laboratoacuterio Sabin 2016 56 f Trabalho de
conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia
Brasiacutelia 2016
SILVA Maria Lucia Lopes da Trabalho e Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua no Brasil
1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009
SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica
Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009
Referecircncias audiovisuais
BOCA de rua ndash Vozes de Uma Gente Invisiacutevel Marcelo Andrighetti 10rsquo01 Disponiacutevel
em httpswwwyoutubecomuserbocaderuaofilme
Acesso em 21 de maio de 2018
UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e
Victoacuteria Cristina Costa Disponiacutevel em
httpswwwfacebookcomserieumapaginapordia
Acesso em 21 de maio de 2018
O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom
Acesso em 21 de maio de 2018
O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em
httpsossodafalawordpresscom
Acesso em 21 de maio de 2018
SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes
3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw
Acesso em 21 de maio de 2018
46
APEcircNDICES
47
APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Brasiacutelia 28 de agosto de 2017
Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV
Prezada Sra Neuza Meller
Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para
realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de
Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de
um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em
Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula
130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a
orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula
UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em
situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal
Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo
acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a
aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as
histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de
conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o
desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo
entrevistas e ediccedilatildeo do material captado
Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma
parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo
de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a
grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse
48
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais
sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer
esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail
marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189
Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo
Cordialmente
Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
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APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)
TER (1909)
QUA (2009) ENTREVISTA
Quem Ademir e Claacuteudia
Horaacuterio 15h
End Luziacircnia GO
QUI (2109)
SEX (2209) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAB ( 2309)
DOM (2409)
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA
Quem Claacuteudia e Ademir
Horaacuterio 14h
End Praccedila do Compromisso Asa Sul
TER (2609)
QUA (2709)
QUI (2809) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 15h
End Ceilacircndia
SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAacuteB (3009) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End SCS
DOM (0110)
MANHAtilde TARDE NOITE
SEG (0210)
TER (0310)
QUA (0410) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 9h
Endereccedilo Centro de
Taguatinga
QUI (0510) ENTREVISTA
Quem Ademir
Horaacuterio 15h
End Parque da Cidade
SEX (0610)
SAacuteB (0710)
DOM (0810)
QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Lucas Cacircndia
Horaacuterio 16h
End Aacuterea central de Brasiacutelia
50
APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a
situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos
durante o periacuteodo nas ruas
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo
com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc
2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar
3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua
4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas
5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua
6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua
7 Como era sua rotina na rua
8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo
9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele
periacuteodo
10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como
abrigo sauacutede etc
11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter
12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais
sobre isso
13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou
simplesmente agia com indiferenccedila
51
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o
futuro
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva
de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real
2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo
3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo
4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou
em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio
5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar
6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de
recuperaccedilatildeo
7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para
frente
8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que
ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria
52
APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida
FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia
PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca
ED DE IMAGENS Julia Nogueira
ARTE Sarah Silva
CENA DE
AMBIENTACcedilAtildeO
ARQUIVO
Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio
SONORA 1 CLAacuteUDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE CORTE
126 -- 147 +
327 -- 345
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu
trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht
mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)
―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu
comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para
vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0025 -- 0109
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma
pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma
discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu
abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas
SONORA 4 DANIELA
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE
213 --300
Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos
tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da
luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de
relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era
acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente
ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar
53
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai
brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma
hora
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e
minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela
sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri
muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem
africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 4
03 -- 434
(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha
vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet
os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida
maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu
Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje
SONORA 6 Daniela
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE
434 --446 + 528 -- 539
―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro
semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos
difiacuteceis +
―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc
vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu
escutei
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
842 --914
―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito
dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu
acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com
uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica
cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil
SONORA DANIELA
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
551 --622
ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um
computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus
aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc
tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12
minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que
Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano
teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo
54
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144
depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria
com as drogas
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
256 -- 330
―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia
cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu
frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro
com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que
chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0424 -- 0439
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente
mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo
mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era
bebida
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212
Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo
abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
550 -- 603
―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da
bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo
notam mas notam
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0401 -- 0408
O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro
dia bebendo porque eu precisava beber
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304
Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A
gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra
gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute
diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia
Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e
gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde
SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei
55
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
759 --813 + 825 -- 840
+ 915 --9 22
PODE ENXUGAR
muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai
argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +
E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me
ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e
nossa aquilo ali me doeu +
―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu
natildeo volto mais
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
126 -- 153 + 216 --231
―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e
ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era
casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na
eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +
―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa
natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me
pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347
Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa
para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou
para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para
mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas
SONORA Daniela
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
953 --1016 + 120 --
124
PODE ENXUGAR
ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que
eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava
dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo
E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso
aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar
minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova
trajetoacuteria
SONORA Claudia
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
427 --439
―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma
coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se
conhece um conhece outro
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0048 ---0109
Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca
soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse
dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
516 -- 521
―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto
entatildeo vc entra
SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo
tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte
56
ARQUIVO 967_0430_03
TEMPO DE CORTE
926 -- 938
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0814
-- 0834
No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da
que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua
esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio
Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0707 -- 0726
Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu
viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu
corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar
mais
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 217
-- 230
―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer
uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa
de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0706
-- 0725
Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo
que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do
lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a
gente a sobreviver na rua
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE
CORTE0013 --018 (+)
1128 --1137
―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq
barulho a gente acorda
(+)
―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade
de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde
SONORA ADRIANO LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio
sincronizado
TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628
Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece
que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute
terriacutevel
57
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE 958
-- 1002 + 931 -- 945 +
1025 -- 1030
―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute
um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma
alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas
se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que
estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE
222-- 245
―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente
chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela
e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar
para vc
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE
701 -- 714
(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a
frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute
super-homem natildeo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli -
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0432
-- 0437
Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de
viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia
morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE 655
--710 +730 -- 804
PODE ENXUGAR
(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que
to com catarata pq natildeo notei 710 +
(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para
traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui
para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a
danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e
e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1109
--1116
+
―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila
comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da
minha mochila
(+)
58
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1032
--1036
+
ARQUIVO 256_2764_02
TEMPO DE CORTE 1101
-- 1115
ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa
(+)
―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai
que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho
comigo ningueacutem queria mais falar comigo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 0300
--0308
―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber
os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 1540
-- 1556
Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te
apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio
decadente
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE
0824 -- 0857
Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa
marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc
eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um
saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam
natildeo estatildeo nem aiacute
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 241
-- 0300
―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como
pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto
de vc muito existe demais demais
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0508 -- 05 30
Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar
eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te
tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe
uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas
59
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_03
TEMPO DE CORTE
241 --256
(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema
esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc
vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0841 -- 0853 (+) 0302 -
-0322
Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu
preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes
(+)
Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa
vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de
novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo
tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci
minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 741
--806 +
803-- 804 +
811 -- 815
(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um
tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando
eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +
(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para
Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE 0638
-- 0653
Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava
a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas
mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a
gente piorava cada vez mais
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 837
-- 848 (+) 557-- 606
Sera que daacute para cortar o
som externo nessa parte
Senatildeo pode cortar
― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e
estradas
+
―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo
para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava
60
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
1251 -- 1306
Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia
morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o
meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 604
-- 618
+
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
521 -- 533
― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter
outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com
outra coisa natildeo com a rua +
―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui
uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_06
TEMPO DE CORTE
101--121
―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro
todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a
condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no
coraccedilatildeo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 0551 -- 613
―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da
forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o
fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai
se entregar eacute assim que eu pensava
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0127 -- 0151
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era
meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais
abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava
esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda
61
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 852 - 906
―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me
arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me
arrependo mesmo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 1305 - 1326
―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc
esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente
todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que
arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei
quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais
forccedila
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0428 -- 0500
―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e
procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi
a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma
pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de
tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute
tudo mudou
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
814 - 835
―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria
fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir
para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1056 - 1111
―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou
estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute
arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0726 -- 0748
ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de
recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar
um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa
se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou
acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento
62
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE
0231 -- 0248
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA
EvDICcedilAtildeO
―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua
vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e
quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma
forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1207 - 1231
―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a
gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o
organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida
e em qlq bar vc consegue
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0532 --609
―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi
aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis
tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos
mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente
que eu recebi
SONORA Dani
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 516 - 528
―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar
terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu
tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
924 - 1000
(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo
esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta
repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter
uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em
restaurantes
SONORA ADRIANO
LUGOLI
Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo
esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao
63
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0821 -- 856
Avaliar se corta o final
ou enxuga
era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando
via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_04
TEMPO DE CORTE
109 -130 (+)
1100 -1103
― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na
cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um
pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito
oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna
+
―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 126 - 142
ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que
eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que
eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0900 - 943
―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha
vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente
que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim
que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me
abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_03
TEMPO DE
CORTE034 - 044 +
113- 117
(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos
estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +
113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando
(117)
SONORA Dani
ARQUIVO
―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas
paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu
olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu
64
965_0748_02
TEMPO DE CORTE 240 - 308)
interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem
de fazer oq eu eu fiz
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_04
TEMPO DE CORTE -
045 - 111
― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo
de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova
oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p
vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -
910
―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus
irmatildeos +
―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que
eu tenho para ele eacute o silecircncio
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423
―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)
―e depois que essa historia foi p jornal revista tv
eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia
acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao
que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_02
TEMPO DE CORTE
852 - 920
― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela
situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de
alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute
sozinha natildeo vai conseguir
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 611 - 633
―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca
esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios
propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar
algo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE
―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso
nem ter uma casinha para morar
65
CORTE1313 - 1321
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
706 - 732
ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem
pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do
mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb
vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1129 - 1200
―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que
quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam
de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua
vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que
as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica
oportunidade elas conseguem
Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos
66
APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem
Fonte Ana Paula Fonseca (2017)
67
APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia
Fonte Marcus Barbosa (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
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APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD
Fonte Sarah Silva (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
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aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas
pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua
O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o
restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o
uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua
brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as
pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os
motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos
mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho
Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o
histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida
antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa
apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver
nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos
enfrentados
A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores
significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro
personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos
ao serem ignorados pela sociedade
Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar
em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos
quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e
contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila
2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS
Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema
escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute
4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008
Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr
Acesso 21 de maio de 2018
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mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que
enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa
―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar
naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre
como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente
Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se
que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas
puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio
Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla
sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo
desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos
de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos
Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a
abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o
jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com
outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em
mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente
os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo
Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave
idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No
lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de
transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas
comuns
Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado
anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e
preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo
senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos
agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua
natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao
viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou
pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas
Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a
estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por
que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um
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problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a
alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem
tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam
afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo
pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar
a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e
contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida
21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa
Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo
definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema
interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute
assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees
Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a
ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees
poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento
propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do
processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa
por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a
presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal
Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a
ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma
reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma
experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado
especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as
dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em
averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi
constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves
manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute
a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as
5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil
pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017
Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html
Acesso 21 de maio de 2018
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histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos
relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por
muito tempo presos agraves ruas
Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato
o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees
importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos
em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e
propaganda
Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na
produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma
das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo
Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se
somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou
na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de
funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio
pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores
Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias
inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para
participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho
Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos
saiacutedo do campo das ideias
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3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS
31 Objetivo Geral
O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito
da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de
quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos
anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua
32 Objetivo Especiacuteficos
Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua
por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio
Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a
respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das
vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua
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4REFERENCIAL TEOacuteRICO
41 Nomenclatura
Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho
baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como
forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o
leitor ou espectador a se interessar pelo assunto
Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta
para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas
diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos
autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na
rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado
definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se
referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem
concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []
ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo
heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos
Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes
indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que
―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se
apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que
tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas
palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que
afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito
As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo
elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar
essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva
especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo
A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais
apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo
resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave
condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou
condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de
acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)
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Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a
preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete
em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar
a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores
pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma
condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo
42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua
Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)
De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para
a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a
pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou
fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional
regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas
degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma
temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de
acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia
provisoacuteriasup1
No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou
um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser
unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas
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malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto
vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico
e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o
sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa
condiccedilatildeo
O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui
apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas
determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela
sociabilidade capitalista que produz um contingente de
pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo
possuem moradia convencional O modo capitalista de
produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das
classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na
desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo
acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de
subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)
Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um
problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge
muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro
que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um
local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a
criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer
de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas
Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e
passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das
caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do
ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua
Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se
unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia
na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre
outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era
atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que
o mercado capitalista dispotildee
Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o
preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela
aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima
reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo
costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua
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43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal
O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em
situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de
Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra
que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A
pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais
de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento
Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em
2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01
de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs
milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que
os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga
respectivamente
A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal
causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia
de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo
fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de
viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)
A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta
por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa
etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas
representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a
masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos
A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem
impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou
pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social
historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem
maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado
6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se
ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio
Carvalho Natalino
Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf
Acesso em 21 de maio de 2018
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em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46
branca
Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em
situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional
com 127 e somente 78 devido problemas com drogas
A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua
afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas
chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente
externo urbano passam ao usar
O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo
preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes
para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de
encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)
da realidade experimentada em seus cotidianos algumas
drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos
(GATTI e PEREIRA 2011 p88)
Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute
ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a
repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)
tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e
pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante
exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores
de materiais reciclaacuteveis
Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso
ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a
nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas
governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem
todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo
de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a
direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos
como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do
governo
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44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas
Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta
de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora
com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente
reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a
contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal
incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua
Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu
alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e
ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees
religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas
somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de
Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam
dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o
modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi
criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei
federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de
Assistecircncia Social (LOAS)
Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de
Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que
subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto
ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em
Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil
a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia
dessa populaccedilatildeo
No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em
Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital
federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do
seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de
rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A
populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado
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da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de
Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador
Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para
adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para
mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de
Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem
situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de
Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute
acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues
disponibilizados pelo Governo
A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute
cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e
descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto
com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos
paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde
satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo
Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e
Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em
comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser
uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico
Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do
uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo
exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo
para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode
durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na
rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra
caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel
teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados
Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de
forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico
individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de
junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o
funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com
transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas
24
Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito
Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas
do Distrito Federal (CONEN-DF)
De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito
Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas
centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a
toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel
institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a
responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o
formulador das poliacuteticas sociais
A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar
esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de
acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem
mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute
tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas
45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico
Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais
raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade
jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel
importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute
mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa
atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria
Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar
luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave
vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de
complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que
buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as
equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)
A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm
defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos
relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da
deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor
25
agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida
por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa
humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto
social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos
primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p
9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa
capaz de transformar tanto o narrado como o narrador
No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto
mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo
[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados
os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a
compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o
jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e
enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7
Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por
privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz
ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo
do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no
jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha
pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)
De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo
quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do
cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o
diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura
dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []
Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem
(MEDINA 1999 p28)
A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem
tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os
mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a
busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da
observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a
comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute
amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos
Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as
accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas
atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos
7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento
[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli
26
desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a
contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que
originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN
2008 p8)
No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda
eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando
essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha
editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-
estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do
assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam
em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo
Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem
principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a
pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de
vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel
minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo
publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que
levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)
Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado
ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo
frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos
meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados
compartilhados pela sociedade
Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho
debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de
abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior
do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as
trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das
ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais
Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a
situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social
Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos
se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto
Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer
jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem
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somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao
maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado
acontecimento
5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa
voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram
em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a
abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A
partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de
entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre
o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de
informaccedilotildees dos personagens
A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma
forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a
necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o
entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos
linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de
aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma
teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de
questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos
complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)
De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo
abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e
abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se
trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa
(SILVA 2016 p35)
Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o
trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo
do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos
para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto
28
51 Formato audiovisual
Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de
caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos
pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas
fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem
sobre o tema
Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao
trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto
escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo
utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser
alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar
coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era
conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz
alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato
Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em
uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que
os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este
projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e
membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa
populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas
Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de
tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o
projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de
campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie
documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de
abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e
tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos
personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era
necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em
situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar
essa condiccedilatildeo
A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto
Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a
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situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto
Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa
decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos
protagonistas
Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa
quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era
mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo
Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para
o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a
fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe
uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim
a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo
sobre o tema
52 Personagens
Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que
comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e
entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim
termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no
documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute
haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o
primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de
rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa
condiccedilatildeo fosse a mesma
O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho
Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram
pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos
personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas
que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo
seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar
relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de
personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas
mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas
30
O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele
morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos
16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando
provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a
trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo
a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o
colocou para fora de casa
Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa
de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute
recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute
que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia
apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o
convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje
estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras
pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas
Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)
A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um
casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram
em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo
trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia
31
de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a
fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando
alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua
Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-
companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se
conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para
Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde
permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute
voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de
amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa
para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro
Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)
Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees
distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie
documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e
sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo
alcoolismo
Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma
vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve
seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade
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ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de
Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram
Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e
passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --
fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu
concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar
renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa
condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar
outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de
vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e
fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea
Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)
53 Preacute-produccedilatildeo
A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido
definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi
preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura
por produtos audiovisuais que abordassem o tema
A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos
conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma
condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou
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pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes
essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que
estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela
Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao
mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para
viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV
- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para
auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria
disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma
ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio
Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho
posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou
registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV
assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume
Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller
(vide apecircndice I)
Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca
formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos
auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e
produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela
tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos
participantes (vide anexo I)
Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um
cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees
relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo
telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo
Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos
contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as
gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo
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Tabela 1 ndash Lista completa da equipe
EQUIPE
CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA
PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA
FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E
LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA
EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA
Fonte Marcus Barbosa (2018)
54 Produccedilatildeo
Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o
cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era
necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos
personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios
diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das
obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito
um esforccedilo para seguir de perto o roteiro
Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria
dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria
responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos
planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a
produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua
experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos
equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada
Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista
uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para
fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios
momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo
guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se
abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas
35
no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas
isso nem sempre deu certo
Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o
esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e
Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio
em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe
Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se
delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens
do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um
indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera
Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que
ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um
canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das
gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o
primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no
microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao
cronograma de gravaccedilotildees
Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)
36
Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)
Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com
o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele
foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as
entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de
Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as
gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas
Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de
gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente
para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos
concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas
37
Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus
Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)
55 Poacutes-produccedilatildeo
Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo
foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio
que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)
Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia
Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material
O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome
provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio
da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por
escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os
personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que
traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas
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561 Identidade visual
A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de
publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela
animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura
foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais
proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas
Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes
de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com
maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com
boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca
por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto
Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para
a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)
Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)
39
Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)
Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
40
6 CRONOGRAMA DE PESQUISA
Tabela 2 ndash Cronograma de atividades
DATAS ETAPAS
Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica
(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)
Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens
Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas
Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees
510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega
para ediccedilatildeo
Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio
Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo
Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa
180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca
Fonte Marcus Barbosa (2018)
41
7 ORCcedilAMENTO
Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais
VALORES IacuteTENS
R$ 9700 Estabilizador de celular
R$ 25000 Microfone de Lapela
R$ 29000 HD Externo
R$ 35000 Gasolina
R$ 29700 Impressatildeo de material visual
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II
VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)
R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD
R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg
R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash
Wm6 UHF
R$ 8900 Rebatedor
R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +
Tripeacute 2m
R$ 99900 Identidade visual para o produto
R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de
duraccedilatildeo
R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
42
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi
possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que
existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em
situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao
passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos
ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E
com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que
integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute
preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses
indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa
condiccedilatildeo
Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia
com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de
rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas
entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem
desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o
auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num
problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons
exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e
o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -
Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou
provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida
dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo
No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi
um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente
nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar
o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea
tambeacutem foi de suma importacircncia
Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar
histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas
preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade
nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das
43
histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que
chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo
tudo
Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes
deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de
ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar
tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista
44
REFEREcircNCIAS
ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser
humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico
BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise
referencial de serviccedilo socioassistencial de Satildeo Paulo e Brasiacutelia 2015 64 f Trabalho
de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Serviccedilo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia
Brasiacutelia 2015 Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048317307
Acesso 21 de maio de 2018
BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil
Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p
CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua um estudo sobre pobreza necessidades humanas e miacutenimos
sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de
Brasiacutelia Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel
emhttpbdmunbbrbitstream10483257312011_AmaranthaSaTelesdeCerqueirapdf
Acesso 21 de maio de 2018
CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009
DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005
GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-
EDUC 2006
MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de
moradores de rua em Taguatinga-DF 2016 60 f Trabalho de conclusatildeo de curso
(Bacharelado em Sauacutede Coletiva)mdashUniversidade de Brasiacutelia Ceilacircndia 2016
Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048315988
Acesso em 21 de maio de 2018
Mattos RM Ferreira RF Quem vocecircs pensam que (elas) satildeo Representaccedilotildees
sobre as pessoas em situaccedilatildeo de rua Psicologia amp Sociedade 16 (2) 47-58
maioago2004 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfpsocv16n2a07v16n2pdf
Acesso 21 de maio de 2018
MELO Cristina Teixeira V de GOMES Isaltina Mello MORAIS Wilma O
documentaacuterio jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral In Intercom - 25ordm Congresso
Brasileiro de Comunicaccedilatildeo Campo Grande 2001 Disponiacutevel em
httpwwwintercomorgbrpapersnacionais2001papersNP7MELOPDF
Acesso 21 de maio de 2018
MONTIPOacute Criselli FARAH Acircngela Relato humanizado no jornalismo a
importacircncia da humanizaccedilatildeo na narrativa para um jornalismo transformador In
45
Miacutedia Cidadatilde 2009 - V Conferecircncia Brasileira de Miacutedia Cidadatilde 2009 Guarapuava
Anais Guarapuava 2009 p 906 - 923 Disponiacutevel em httpwwwunicentrobrredemc
Acesso 21 de maio de 2018
MOURA Rodrigo Coelho Bacellar Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo
de Rua uma anaacutelise da participaccedilatildeo social no processo de implementaccedilatildeo da poliacutetica
2016 30 f Trabalho de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Gestatildeo de Poliacuteticas
Puacuteblicas)mdashUniversidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2016 Disponiacutevel em
httpbdmunbbrhandle1048316261
Acesso 21 de maio de 2018
SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-
BA um estudo de caso UNEB 2009
SILVA Fabiacuteola Mariano da Humanizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e gestatildeo centrada nas
pessoas - entrevista em profundidade Laboratoacuterio Sabin 2016 56 f Trabalho de
conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia
Brasiacutelia 2016
SILVA Maria Lucia Lopes da Trabalho e Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua no Brasil
1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009
SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica
Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009
Referecircncias audiovisuais
BOCA de rua ndash Vozes de Uma Gente Invisiacutevel Marcelo Andrighetti 10rsquo01 Disponiacutevel
em httpswwwyoutubecomuserbocaderuaofilme
Acesso em 21 de maio de 2018
UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e
Victoacuteria Cristina Costa Disponiacutevel em
httpswwwfacebookcomserieumapaginapordia
Acesso em 21 de maio de 2018
O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom
Acesso em 21 de maio de 2018
O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em
httpsossodafalawordpresscom
Acesso em 21 de maio de 2018
SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes
3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw
Acesso em 21 de maio de 2018
46
APEcircNDICES
47
APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Brasiacutelia 28 de agosto de 2017
Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV
Prezada Sra Neuza Meller
Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para
realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de
Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de
um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em
Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula
130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a
orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula
UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em
situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal
Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo
acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a
aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as
histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de
conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o
desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo
entrevistas e ediccedilatildeo do material captado
Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma
parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo
de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a
grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse
48
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais
sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer
esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail
marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189
Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo
Cordialmente
Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
49
APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)
TER (1909)
QUA (2009) ENTREVISTA
Quem Ademir e Claacuteudia
Horaacuterio 15h
End Luziacircnia GO
QUI (2109)
SEX (2209) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAB ( 2309)
DOM (2409)
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA
Quem Claacuteudia e Ademir
Horaacuterio 14h
End Praccedila do Compromisso Asa Sul
TER (2609)
QUA (2709)
QUI (2809) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 15h
End Ceilacircndia
SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAacuteB (3009) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End SCS
DOM (0110)
MANHAtilde TARDE NOITE
SEG (0210)
TER (0310)
QUA (0410) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 9h
Endereccedilo Centro de
Taguatinga
QUI (0510) ENTREVISTA
Quem Ademir
Horaacuterio 15h
End Parque da Cidade
SEX (0610)
SAacuteB (0710)
DOM (0810)
QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Lucas Cacircndia
Horaacuterio 16h
End Aacuterea central de Brasiacutelia
50
APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a
situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos
durante o periacuteodo nas ruas
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo
com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc
2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar
3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua
4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas
5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua
6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua
7 Como era sua rotina na rua
8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo
9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele
periacuteodo
10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como
abrigo sauacutede etc
11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter
12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais
sobre isso
13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou
simplesmente agia com indiferenccedila
51
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o
futuro
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva
de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real
2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo
3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo
4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou
em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio
5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar
6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de
recuperaccedilatildeo
7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para
frente
8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que
ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria
52
APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida
FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia
PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca
ED DE IMAGENS Julia Nogueira
ARTE Sarah Silva
CENA DE
AMBIENTACcedilAtildeO
ARQUIVO
Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio
SONORA 1 CLAacuteUDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE CORTE
126 -- 147 +
327 -- 345
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu
trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht
mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)
―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu
comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para
vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0025 -- 0109
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma
pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma
discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu
abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas
SONORA 4 DANIELA
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE
213 --300
Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos
tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da
luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de
relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era
acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente
ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar
53
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai
brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma
hora
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e
minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela
sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri
muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem
africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 4
03 -- 434
(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha
vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet
os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida
maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu
Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje
SONORA 6 Daniela
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE
434 --446 + 528 -- 539
―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro
semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos
difiacuteceis +
―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc
vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu
escutei
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
842 --914
―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito
dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu
acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com
uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica
cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil
SONORA DANIELA
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
551 --622
ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um
computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus
aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc
tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12
minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que
Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano
teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo
54
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144
depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria
com as drogas
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
256 -- 330
―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia
cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu
frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro
com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que
chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0424 -- 0439
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente
mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo
mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era
bebida
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212
Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo
abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
550 -- 603
―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da
bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo
notam mas notam
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0401 -- 0408
O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro
dia bebendo porque eu precisava beber
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304
Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A
gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra
gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute
diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia
Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e
gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde
SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei
55
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
759 --813 + 825 -- 840
+ 915 --9 22
PODE ENXUGAR
muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai
argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +
E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me
ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e
nossa aquilo ali me doeu +
―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu
natildeo volto mais
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
126 -- 153 + 216 --231
―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e
ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era
casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na
eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +
―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa
natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me
pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347
Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa
para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou
para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para
mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas
SONORA Daniela
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
953 --1016 + 120 --
124
PODE ENXUGAR
ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que
eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava
dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo
E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso
aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar
minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova
trajetoacuteria
SONORA Claudia
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
427 --439
―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma
coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se
conhece um conhece outro
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0048 ---0109
Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca
soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse
dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
516 -- 521
―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto
entatildeo vc entra
SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo
tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte
56
ARQUIVO 967_0430_03
TEMPO DE CORTE
926 -- 938
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0814
-- 0834
No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da
que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua
esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio
Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0707 -- 0726
Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu
viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu
corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar
mais
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 217
-- 230
―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer
uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa
de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0706
-- 0725
Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo
que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do
lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a
gente a sobreviver na rua
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE
CORTE0013 --018 (+)
1128 --1137
―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq
barulho a gente acorda
(+)
―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade
de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde
SONORA ADRIANO LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio
sincronizado
TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628
Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece
que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute
terriacutevel
57
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE 958
-- 1002 + 931 -- 945 +
1025 -- 1030
―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute
um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma
alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas
se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que
estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE
222-- 245
―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente
chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela
e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar
para vc
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE
701 -- 714
(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a
frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute
super-homem natildeo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli -
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0432
-- 0437
Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de
viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia
morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE 655
--710 +730 -- 804
PODE ENXUGAR
(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que
to com catarata pq natildeo notei 710 +
(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para
traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui
para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a
danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e
e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1109
--1116
+
―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila
comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da
minha mochila
(+)
58
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1032
--1036
+
ARQUIVO 256_2764_02
TEMPO DE CORTE 1101
-- 1115
ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa
(+)
―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai
que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho
comigo ningueacutem queria mais falar comigo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 0300
--0308
―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber
os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 1540
-- 1556
Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te
apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio
decadente
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE
0824 -- 0857
Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa
marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc
eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um
saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam
natildeo estatildeo nem aiacute
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 241
-- 0300
―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como
pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto
de vc muito existe demais demais
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0508 -- 05 30
Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar
eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te
tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe
uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas
59
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_03
TEMPO DE CORTE
241 --256
(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema
esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc
vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0841 -- 0853 (+) 0302 -
-0322
Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu
preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes
(+)
Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa
vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de
novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo
tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci
minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 741
--806 +
803-- 804 +
811 -- 815
(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um
tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando
eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +
(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para
Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE 0638
-- 0653
Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava
a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas
mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a
gente piorava cada vez mais
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 837
-- 848 (+) 557-- 606
Sera que daacute para cortar o
som externo nessa parte
Senatildeo pode cortar
― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e
estradas
+
―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo
para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava
60
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
1251 -- 1306
Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia
morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o
meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 604
-- 618
+
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
521 -- 533
― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter
outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com
outra coisa natildeo com a rua +
―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui
uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_06
TEMPO DE CORTE
101--121
―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro
todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a
condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no
coraccedilatildeo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 0551 -- 613
―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da
forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o
fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai
se entregar eacute assim que eu pensava
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0127 -- 0151
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era
meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais
abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava
esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda
61
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 852 - 906
―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me
arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me
arrependo mesmo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 1305 - 1326
―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc
esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente
todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que
arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei
quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais
forccedila
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0428 -- 0500
―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e
procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi
a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma
pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de
tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute
tudo mudou
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
814 - 835
―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria
fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir
para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1056 - 1111
―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou
estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute
arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0726 -- 0748
ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de
recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar
um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa
se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou
acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento
62
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE
0231 -- 0248
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA
EvDICcedilAtildeO
―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua
vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e
quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma
forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1207 - 1231
―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a
gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o
organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida
e em qlq bar vc consegue
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0532 --609
―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi
aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis
tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos
mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente
que eu recebi
SONORA Dani
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 516 - 528
―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar
terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu
tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
924 - 1000
(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo
esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta
repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter
uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em
restaurantes
SONORA ADRIANO
LUGOLI
Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo
esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao
63
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0821 -- 856
Avaliar se corta o final
ou enxuga
era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando
via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_04
TEMPO DE CORTE
109 -130 (+)
1100 -1103
― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na
cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um
pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito
oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna
+
―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 126 - 142
ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que
eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que
eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0900 - 943
―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha
vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente
que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim
que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me
abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_03
TEMPO DE
CORTE034 - 044 +
113- 117
(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos
estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +
113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando
(117)
SONORA Dani
ARQUIVO
―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas
paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu
olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu
64
965_0748_02
TEMPO DE CORTE 240 - 308)
interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem
de fazer oq eu eu fiz
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_04
TEMPO DE CORTE -
045 - 111
― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo
de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova
oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p
vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -
910
―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus
irmatildeos +
―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que
eu tenho para ele eacute o silecircncio
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423
―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)
―e depois que essa historia foi p jornal revista tv
eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia
acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao
que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_02
TEMPO DE CORTE
852 - 920
― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela
situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de
alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute
sozinha natildeo vai conseguir
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 611 - 633
―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca
esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios
propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar
algo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE
―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso
nem ter uma casinha para morar
65
CORTE1313 - 1321
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
706 - 732
ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem
pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do
mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb
vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1129 - 1200
―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que
quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam
de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua
vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que
as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica
oportunidade elas conseguem
Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos
66
APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem
Fonte Ana Paula Fonseca (2017)
67
APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia
Fonte Marcus Barbosa (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
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APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD
Fonte Sarah Silva (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
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mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que
enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa
―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar
naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre
como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente
Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se
que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas
puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio
Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla
sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo
desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos
de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos
Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a
abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o
jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com
outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em
mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente
os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo
Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave
idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No
lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de
transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas
comuns
Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado
anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e
preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo
senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos
agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua
natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao
viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou
pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas
Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a
estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por
que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um
14
problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a
alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem
tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam
afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo
pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar
a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e
contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida
21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa
Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo
definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema
interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute
assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees
Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a
ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees
poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento
propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do
processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa
por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a
presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal
Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a
ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma
reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma
experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado
especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as
dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em
averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi
constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves
manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute
a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as
5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil
pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017
Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html
Acesso 21 de maio de 2018
15
histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos
relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por
muito tempo presos agraves ruas
Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato
o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees
importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos
em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e
propaganda
Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na
produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma
das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo
Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se
somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou
na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de
funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio
pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores
Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias
inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para
participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho
Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos
saiacutedo do campo das ideias
16
3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS
31 Objetivo Geral
O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito
da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de
quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos
anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua
32 Objetivo Especiacuteficos
Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua
por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio
Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a
respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das
vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua
17
4REFERENCIAL TEOacuteRICO
41 Nomenclatura
Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho
baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como
forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o
leitor ou espectador a se interessar pelo assunto
Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta
para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas
diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos
autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na
rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado
definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se
referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem
concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []
ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo
heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos
Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes
indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que
―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se
apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que
tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas
palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que
afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito
As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo
elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar
essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva
especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo
A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais
apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo
resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave
condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou
condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de
acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)
18
Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a
preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete
em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar
a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores
pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma
condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo
42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua
Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)
De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para
a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a
pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou
fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional
regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas
degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma
temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de
acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia
provisoacuteriasup1
No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou
um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser
unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas
19
malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto
vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico
e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o
sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa
condiccedilatildeo
O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui
apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas
determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela
sociabilidade capitalista que produz um contingente de
pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo
possuem moradia convencional O modo capitalista de
produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das
classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na
desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo
acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de
subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)
Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um
problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge
muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro
que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um
local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a
criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer
de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas
Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e
passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das
caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do
ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua
Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se
unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia
na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre
outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era
atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que
o mercado capitalista dispotildee
Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o
preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela
aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima
reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo
costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua
20
43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal
O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em
situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de
Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra
que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A
pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais
de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento
Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em
2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01
de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs
milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que
os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga
respectivamente
A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal
causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia
de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo
fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de
viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)
A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta
por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa
etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas
representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a
masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos
A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem
impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou
pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social
historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem
maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado
6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se
ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio
Carvalho Natalino
Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf
Acesso em 21 de maio de 2018
21
em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46
branca
Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em
situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional
com 127 e somente 78 devido problemas com drogas
A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua
afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas
chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente
externo urbano passam ao usar
O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo
preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes
para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de
encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)
da realidade experimentada em seus cotidianos algumas
drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos
(GATTI e PEREIRA 2011 p88)
Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute
ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a
repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)
tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e
pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante
exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores
de materiais reciclaacuteveis
Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso
ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a
nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas
governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem
todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo
de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a
direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos
como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do
governo
22
44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas
Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta
de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora
com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente
reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a
contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal
incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua
Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu
alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e
ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees
religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas
somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de
Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam
dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o
modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi
criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei
federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de
Assistecircncia Social (LOAS)
Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de
Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que
subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto
ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em
Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil
a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia
dessa populaccedilatildeo
No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em
Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital
federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do
seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de
rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A
populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado
23
da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de
Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador
Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para
adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para
mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de
Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem
situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de
Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute
acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues
disponibilizados pelo Governo
A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute
cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e
descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto
com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos
paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde
satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo
Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e
Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em
comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser
uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico
Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do
uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo
exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo
para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode
durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na
rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra
caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel
teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados
Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de
forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico
individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de
junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o
funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com
transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas
24
Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito
Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas
do Distrito Federal (CONEN-DF)
De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito
Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas
centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a
toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel
institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a
responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o
formulador das poliacuteticas sociais
A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar
esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de
acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem
mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute
tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas
45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico
Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais
raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade
jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel
importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute
mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa
atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria
Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar
luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave
vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de
complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que
buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as
equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)
A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm
defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos
relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da
deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor
25
agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida
por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa
humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto
social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos
primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p
9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa
capaz de transformar tanto o narrado como o narrador
No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto
mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo
[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados
os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a
compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o
jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e
enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7
Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por
privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz
ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo
do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no
jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha
pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)
De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo
quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do
cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o
diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura
dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []
Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem
(MEDINA 1999 p28)
A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem
tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os
mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a
busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da
observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a
comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute
amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos
Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as
accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas
atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos
7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento
[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli
26
desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a
contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que
originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN
2008 p8)
No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda
eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando
essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha
editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-
estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do
assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam
em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo
Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem
principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a
pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de
vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel
minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo
publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que
levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)
Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado
ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo
frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos
meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados
compartilhados pela sociedade
Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho
debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de
abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior
do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as
trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das
ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais
Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a
situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social
Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos
se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto
Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer
jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem
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somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao
maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado
acontecimento
5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa
voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram
em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a
abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A
partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de
entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre
o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de
informaccedilotildees dos personagens
A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma
forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a
necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o
entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos
linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de
aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma
teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de
questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos
complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)
De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo
abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e
abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se
trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa
(SILVA 2016 p35)
Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o
trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo
do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos
para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto
28
51 Formato audiovisual
Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de
caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos
pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas
fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem
sobre o tema
Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao
trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto
escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo
utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser
alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar
coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era
conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz
alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato
Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em
uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que
os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este
projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e
membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa
populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas
Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de
tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o
projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de
campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie
documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de
abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e
tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos
personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era
necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em
situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar
essa condiccedilatildeo
A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto
Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a
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situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto
Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa
decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos
protagonistas
Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa
quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era
mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo
Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para
o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a
fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe
uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim
a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo
sobre o tema
52 Personagens
Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que
comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e
entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim
termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no
documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute
haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o
primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de
rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa
condiccedilatildeo fosse a mesma
O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho
Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram
pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos
personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas
que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo
seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar
relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de
personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas
mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas
30
O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele
morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos
16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando
provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a
trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo
a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o
colocou para fora de casa
Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa
de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute
recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute
que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia
apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o
convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje
estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras
pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas
Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)
A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um
casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram
em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo
trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia
31
de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a
fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando
alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua
Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-
companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se
conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para
Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde
permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute
voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de
amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa
para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro
Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)
Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees
distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie
documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e
sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo
alcoolismo
Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma
vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve
seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade
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ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de
Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram
Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e
passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --
fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu
concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar
renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa
condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar
outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de
vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e
fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea
Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)
53 Preacute-produccedilatildeo
A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido
definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi
preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura
por produtos audiovisuais que abordassem o tema
A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos
conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma
condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou
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pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes
essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que
estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela
Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao
mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para
viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV
- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para
auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria
disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma
ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio
Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho
posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou
registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV
assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume
Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller
(vide apecircndice I)
Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca
formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos
auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e
produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela
tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos
participantes (vide anexo I)
Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um
cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees
relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo
telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo
Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos
contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as
gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo
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Tabela 1 ndash Lista completa da equipe
EQUIPE
CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA
PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA
FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E
LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA
EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA
Fonte Marcus Barbosa (2018)
54 Produccedilatildeo
Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o
cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era
necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos
personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios
diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das
obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito
um esforccedilo para seguir de perto o roteiro
Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria
dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria
responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos
planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a
produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua
experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos
equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada
Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista
uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para
fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios
momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo
guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se
abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas
35
no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas
isso nem sempre deu certo
Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o
esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e
Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio
em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe
Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se
delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens
do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um
indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera
Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que
ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um
canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das
gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o
primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no
microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao
cronograma de gravaccedilotildees
Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)
36
Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)
Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com
o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele
foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as
entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de
Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as
gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas
Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de
gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente
para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos
concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas
37
Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus
Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)
55 Poacutes-produccedilatildeo
Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo
foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio
que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)
Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia
Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material
O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome
provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio
da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por
escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os
personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que
traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas
38
561 Identidade visual
A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de
publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela
animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura
foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais
proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas
Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes
de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com
maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com
boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca
por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto
Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para
a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)
Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)
39
Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)
Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
40
6 CRONOGRAMA DE PESQUISA
Tabela 2 ndash Cronograma de atividades
DATAS ETAPAS
Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica
(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)
Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens
Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas
Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees
510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega
para ediccedilatildeo
Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio
Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo
Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa
180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca
Fonte Marcus Barbosa (2018)
41
7 ORCcedilAMENTO
Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais
VALORES IacuteTENS
R$ 9700 Estabilizador de celular
R$ 25000 Microfone de Lapela
R$ 29000 HD Externo
R$ 35000 Gasolina
R$ 29700 Impressatildeo de material visual
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II
VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)
R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD
R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg
R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash
Wm6 UHF
R$ 8900 Rebatedor
R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +
Tripeacute 2m
R$ 99900 Identidade visual para o produto
R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de
duraccedilatildeo
R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
42
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi
possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que
existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em
situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao
passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos
ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E
com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que
integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute
preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses
indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa
condiccedilatildeo
Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia
com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de
rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas
entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem
desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o
auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num
problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons
exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e
o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -
Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou
provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida
dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo
No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi
um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente
nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar
o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea
tambeacutem foi de suma importacircncia
Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar
histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas
preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade
nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das
43
histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que
chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo
tudo
Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes
deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de
ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar
tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista
44
REFEREcircNCIAS
ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser
humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico
BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise
referencial de serviccedilo socioassistencial de Satildeo Paulo e Brasiacutelia 2015 64 f Trabalho
de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Serviccedilo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia
Brasiacutelia 2015 Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048317307
Acesso 21 de maio de 2018
BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil
Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p
CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua um estudo sobre pobreza necessidades humanas e miacutenimos
sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de
Brasiacutelia Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel
emhttpbdmunbbrbitstream10483257312011_AmaranthaSaTelesdeCerqueirapdf
Acesso 21 de maio de 2018
CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009
DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005
GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-
EDUC 2006
MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de
moradores de rua em Taguatinga-DF 2016 60 f Trabalho de conclusatildeo de curso
(Bacharelado em Sauacutede Coletiva)mdashUniversidade de Brasiacutelia Ceilacircndia 2016
Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048315988
Acesso em 21 de maio de 2018
Mattos RM Ferreira RF Quem vocecircs pensam que (elas) satildeo Representaccedilotildees
sobre as pessoas em situaccedilatildeo de rua Psicologia amp Sociedade 16 (2) 47-58
maioago2004 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfpsocv16n2a07v16n2pdf
Acesso 21 de maio de 2018
MELO Cristina Teixeira V de GOMES Isaltina Mello MORAIS Wilma O
documentaacuterio jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral In Intercom - 25ordm Congresso
Brasileiro de Comunicaccedilatildeo Campo Grande 2001 Disponiacutevel em
httpwwwintercomorgbrpapersnacionais2001papersNP7MELOPDF
Acesso 21 de maio de 2018
MONTIPOacute Criselli FARAH Acircngela Relato humanizado no jornalismo a
importacircncia da humanizaccedilatildeo na narrativa para um jornalismo transformador In
45
Miacutedia Cidadatilde 2009 - V Conferecircncia Brasileira de Miacutedia Cidadatilde 2009 Guarapuava
Anais Guarapuava 2009 p 906 - 923 Disponiacutevel em httpwwwunicentrobrredemc
Acesso 21 de maio de 2018
MOURA Rodrigo Coelho Bacellar Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo
de Rua uma anaacutelise da participaccedilatildeo social no processo de implementaccedilatildeo da poliacutetica
2016 30 f Trabalho de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Gestatildeo de Poliacuteticas
Puacuteblicas)mdashUniversidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2016 Disponiacutevel em
httpbdmunbbrhandle1048316261
Acesso 21 de maio de 2018
SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-
BA um estudo de caso UNEB 2009
SILVA Fabiacuteola Mariano da Humanizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e gestatildeo centrada nas
pessoas - entrevista em profundidade Laboratoacuterio Sabin 2016 56 f Trabalho de
conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia
Brasiacutelia 2016
SILVA Maria Lucia Lopes da Trabalho e Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua no Brasil
1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009
SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica
Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009
Referecircncias audiovisuais
BOCA de rua ndash Vozes de Uma Gente Invisiacutevel Marcelo Andrighetti 10rsquo01 Disponiacutevel
em httpswwwyoutubecomuserbocaderuaofilme
Acesso em 21 de maio de 2018
UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e
Victoacuteria Cristina Costa Disponiacutevel em
httpswwwfacebookcomserieumapaginapordia
Acesso em 21 de maio de 2018
O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom
Acesso em 21 de maio de 2018
O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em
httpsossodafalawordpresscom
Acesso em 21 de maio de 2018
SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes
3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw
Acesso em 21 de maio de 2018
46
APEcircNDICES
47
APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Brasiacutelia 28 de agosto de 2017
Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV
Prezada Sra Neuza Meller
Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para
realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de
Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de
um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em
Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula
130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a
orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula
UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em
situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal
Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo
acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a
aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as
histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de
conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o
desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo
entrevistas e ediccedilatildeo do material captado
Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma
parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo
de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a
grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse
48
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais
sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer
esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail
marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189
Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo
Cordialmente
Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
49
APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)
TER (1909)
QUA (2009) ENTREVISTA
Quem Ademir e Claacuteudia
Horaacuterio 15h
End Luziacircnia GO
QUI (2109)
SEX (2209) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAB ( 2309)
DOM (2409)
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA
Quem Claacuteudia e Ademir
Horaacuterio 14h
End Praccedila do Compromisso Asa Sul
TER (2609)
QUA (2709)
QUI (2809) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 15h
End Ceilacircndia
SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAacuteB (3009) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End SCS
DOM (0110)
MANHAtilde TARDE NOITE
SEG (0210)
TER (0310)
QUA (0410) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 9h
Endereccedilo Centro de
Taguatinga
QUI (0510) ENTREVISTA
Quem Ademir
Horaacuterio 15h
End Parque da Cidade
SEX (0610)
SAacuteB (0710)
DOM (0810)
QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Lucas Cacircndia
Horaacuterio 16h
End Aacuterea central de Brasiacutelia
50
APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a
situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos
durante o periacuteodo nas ruas
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo
com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc
2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar
3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua
4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas
5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua
6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua
7 Como era sua rotina na rua
8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo
9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele
periacuteodo
10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como
abrigo sauacutede etc
11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter
12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais
sobre isso
13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou
simplesmente agia com indiferenccedila
51
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o
futuro
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva
de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real
2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo
3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo
4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou
em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio
5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar
6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de
recuperaccedilatildeo
7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para
frente
8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que
ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria
52
APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida
FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia
PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca
ED DE IMAGENS Julia Nogueira
ARTE Sarah Silva
CENA DE
AMBIENTACcedilAtildeO
ARQUIVO
Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio
SONORA 1 CLAacuteUDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE CORTE
126 -- 147 +
327 -- 345
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu
trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht
mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)
―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu
comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para
vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0025 -- 0109
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma
pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma
discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu
abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas
SONORA 4 DANIELA
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE
213 --300
Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos
tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da
luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de
relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era
acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente
ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar
53
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai
brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma
hora
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e
minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela
sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri
muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem
africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 4
03 -- 434
(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha
vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet
os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida
maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu
Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje
SONORA 6 Daniela
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE
434 --446 + 528 -- 539
―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro
semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos
difiacuteceis +
―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc
vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu
escutei
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
842 --914
―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito
dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu
acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com
uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica
cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil
SONORA DANIELA
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
551 --622
ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um
computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus
aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc
tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12
minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que
Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano
teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo
54
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144
depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria
com as drogas
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
256 -- 330
―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia
cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu
frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro
com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que
chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0424 -- 0439
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente
mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo
mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era
bebida
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212
Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo
abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
550 -- 603
―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da
bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo
notam mas notam
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0401 -- 0408
O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro
dia bebendo porque eu precisava beber
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304
Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A
gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra
gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute
diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia
Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e
gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde
SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei
55
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
759 --813 + 825 -- 840
+ 915 --9 22
PODE ENXUGAR
muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai
argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +
E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me
ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e
nossa aquilo ali me doeu +
―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu
natildeo volto mais
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
126 -- 153 + 216 --231
―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e
ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era
casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na
eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +
―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa
natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me
pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347
Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa
para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou
para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para
mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas
SONORA Daniela
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
953 --1016 + 120 --
124
PODE ENXUGAR
ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que
eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava
dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo
E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso
aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar
minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova
trajetoacuteria
SONORA Claudia
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
427 --439
―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma
coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se
conhece um conhece outro
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0048 ---0109
Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca
soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse
dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
516 -- 521
―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto
entatildeo vc entra
SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo
tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte
56
ARQUIVO 967_0430_03
TEMPO DE CORTE
926 -- 938
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0814
-- 0834
No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da
que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua
esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio
Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0707 -- 0726
Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu
viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu
corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar
mais
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 217
-- 230
―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer
uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa
de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0706
-- 0725
Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo
que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do
lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a
gente a sobreviver na rua
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE
CORTE0013 --018 (+)
1128 --1137
―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq
barulho a gente acorda
(+)
―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade
de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde
SONORA ADRIANO LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio
sincronizado
TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628
Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece
que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute
terriacutevel
57
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE 958
-- 1002 + 931 -- 945 +
1025 -- 1030
―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute
um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma
alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas
se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que
estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE
222-- 245
―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente
chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela
e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar
para vc
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE
701 -- 714
(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a
frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute
super-homem natildeo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli -
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0432
-- 0437
Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de
viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia
morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE 655
--710 +730 -- 804
PODE ENXUGAR
(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que
to com catarata pq natildeo notei 710 +
(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para
traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui
para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a
danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e
e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1109
--1116
+
―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila
comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da
minha mochila
(+)
58
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1032
--1036
+
ARQUIVO 256_2764_02
TEMPO DE CORTE 1101
-- 1115
ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa
(+)
―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai
que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho
comigo ningueacutem queria mais falar comigo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 0300
--0308
―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber
os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 1540
-- 1556
Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te
apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio
decadente
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE
0824 -- 0857
Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa
marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc
eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um
saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam
natildeo estatildeo nem aiacute
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 241
-- 0300
―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como
pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto
de vc muito existe demais demais
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0508 -- 05 30
Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar
eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te
tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe
uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas
59
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_03
TEMPO DE CORTE
241 --256
(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema
esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc
vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0841 -- 0853 (+) 0302 -
-0322
Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu
preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes
(+)
Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa
vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de
novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo
tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci
minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 741
--806 +
803-- 804 +
811 -- 815
(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um
tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando
eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +
(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para
Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE 0638
-- 0653
Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava
a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas
mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a
gente piorava cada vez mais
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 837
-- 848 (+) 557-- 606
Sera que daacute para cortar o
som externo nessa parte
Senatildeo pode cortar
― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e
estradas
+
―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo
para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava
60
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
1251 -- 1306
Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia
morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o
meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 604
-- 618
+
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
521 -- 533
― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter
outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com
outra coisa natildeo com a rua +
―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui
uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_06
TEMPO DE CORTE
101--121
―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro
todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a
condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no
coraccedilatildeo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 0551 -- 613
―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da
forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o
fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai
se entregar eacute assim que eu pensava
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0127 -- 0151
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era
meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais
abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava
esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda
61
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 852 - 906
―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me
arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me
arrependo mesmo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 1305 - 1326
―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc
esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente
todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que
arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei
quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais
forccedila
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0428 -- 0500
―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e
procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi
a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma
pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de
tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute
tudo mudou
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
814 - 835
―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria
fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir
para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1056 - 1111
―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou
estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute
arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0726 -- 0748
ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de
recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar
um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa
se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou
acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento
62
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE
0231 -- 0248
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA
EvDICcedilAtildeO
―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua
vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e
quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma
forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1207 - 1231
―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a
gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o
organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida
e em qlq bar vc consegue
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0532 --609
―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi
aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis
tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos
mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente
que eu recebi
SONORA Dani
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 516 - 528
―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar
terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu
tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
924 - 1000
(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo
esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta
repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter
uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em
restaurantes
SONORA ADRIANO
LUGOLI
Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo
esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao
63
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0821 -- 856
Avaliar se corta o final
ou enxuga
era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando
via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_04
TEMPO DE CORTE
109 -130 (+)
1100 -1103
― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na
cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um
pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito
oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna
+
―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 126 - 142
ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que
eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que
eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0900 - 943
―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha
vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente
que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim
que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me
abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_03
TEMPO DE
CORTE034 - 044 +
113- 117
(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos
estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +
113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando
(117)
SONORA Dani
ARQUIVO
―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas
paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu
olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu
64
965_0748_02
TEMPO DE CORTE 240 - 308)
interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem
de fazer oq eu eu fiz
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_04
TEMPO DE CORTE -
045 - 111
― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo
de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova
oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p
vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -
910
―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus
irmatildeos +
―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que
eu tenho para ele eacute o silecircncio
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423
―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)
―e depois que essa historia foi p jornal revista tv
eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia
acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao
que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_02
TEMPO DE CORTE
852 - 920
― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela
situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de
alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute
sozinha natildeo vai conseguir
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 611 - 633
―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca
esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios
propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar
algo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE
―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso
nem ter uma casinha para morar
65
CORTE1313 - 1321
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
706 - 732
ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem
pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do
mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb
vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1129 - 1200
―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que
quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam
de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua
vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que
as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica
oportunidade elas conseguem
Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos
66
APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem
Fonte Ana Paula Fonseca (2017)
67
APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia
Fonte Marcus Barbosa (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
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APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD
Fonte Sarah Silva (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
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problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a
alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem
tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam
afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo
pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar
a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e
contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida
21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa
Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo
definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema
interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute
assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees
Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a
ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees
poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento
propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do
processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa
por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a
presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal
Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a
ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma
reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma
experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado
especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as
dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em
averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi
constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves
manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute
a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as
5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil
pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017
Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html
Acesso 21 de maio de 2018
15
histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos
relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por
muito tempo presos agraves ruas
Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato
o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees
importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos
em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e
propaganda
Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na
produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma
das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo
Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se
somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou
na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de
funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio
pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores
Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias
inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para
participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho
Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos
saiacutedo do campo das ideias
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3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS
31 Objetivo Geral
O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito
da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de
quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos
anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua
32 Objetivo Especiacuteficos
Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua
por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio
Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a
respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das
vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua
17
4REFERENCIAL TEOacuteRICO
41 Nomenclatura
Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho
baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como
forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o
leitor ou espectador a se interessar pelo assunto
Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta
para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas
diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos
autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na
rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado
definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se
referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem
concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []
ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo
heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos
Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes
indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que
―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se
apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que
tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas
palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que
afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito
As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo
elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar
essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva
especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo
A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais
apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo
resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave
condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou
condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de
acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)
18
Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a
preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete
em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar
a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores
pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma
condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo
42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua
Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)
De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para
a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a
pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou
fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional
regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas
degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma
temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de
acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia
provisoacuteriasup1
No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou
um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser
unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas
19
malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto
vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico
e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o
sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa
condiccedilatildeo
O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui
apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas
determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela
sociabilidade capitalista que produz um contingente de
pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo
possuem moradia convencional O modo capitalista de
produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das
classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na
desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo
acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de
subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)
Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um
problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge
muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro
que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um
local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a
criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer
de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas
Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e
passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das
caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do
ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua
Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se
unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia
na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre
outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era
atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que
o mercado capitalista dispotildee
Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o
preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela
aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima
reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo
costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua
20
43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal
O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em
situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de
Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra
que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A
pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais
de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento
Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em
2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01
de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs
milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que
os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga
respectivamente
A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal
causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia
de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo
fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de
viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)
A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta
por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa
etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas
representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a
masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos
A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem
impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou
pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social
historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem
maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado
6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se
ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio
Carvalho Natalino
Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf
Acesso em 21 de maio de 2018
21
em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46
branca
Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em
situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos
apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional
com 127 e somente 78 devido problemas com drogas
A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua
afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas
chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente
externo urbano passam ao usar
O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo
preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes
para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de
encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)
da realidade experimentada em seus cotidianos algumas
drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos
(GATTI e PEREIRA 2011 p88)
Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute
ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a
repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)
tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e
pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante
exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores
de materiais reciclaacuteveis
Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso
ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a
nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas
governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem
todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo
de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a
direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos
como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do
governo
22
44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas
Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta
de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora
com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente
reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a
contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal
incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua
Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu
alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e
ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees
religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas
somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de
Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam
dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua
Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o
modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi
criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei
federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de
Assistecircncia Social (LOAS)
Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de
Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que
subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto
ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em
Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil
a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia
dessa populaccedilatildeo
No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em
Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital
federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do
seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de
rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A
populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado
23
da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de
Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador
Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para
adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para
mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de
Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem
situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de
Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute
acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues
disponibilizados pelo Governo
A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute
cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e
descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto
com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos
paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde
satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo
Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e
Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em
comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser
uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico
Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do
uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo
exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo
para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode
durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na
rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra
caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel
teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados
Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de
forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico
individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de
junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o
funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com
transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas
24
Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito
Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas
do Distrito Federal (CONEN-DF)
De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito
Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas
centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a
toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel
institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a
responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o
formulador das poliacuteticas sociais
A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar
esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de
acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem
mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute
tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas
45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico
Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais
raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade
jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel
importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute
mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa
atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria
Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar
luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave
vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de
complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que
buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as
equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)
A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm
defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos
relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da
deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor
25
agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida
por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa
humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto
social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos
primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p
9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa
capaz de transformar tanto o narrado como o narrador
No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto
mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo
[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados
os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a
compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o
jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e
enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7
Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por
privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz
ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo
do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no
jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha
pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)
De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo
quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do
cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o
diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura
dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []
Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem
(MEDINA 1999 p28)
A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem
tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os
mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a
busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da
observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a
comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute
amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos
Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as
accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas
atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos
7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento
[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli
26
desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a
contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que
originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN
2008 p8)
No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda
eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando
essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha
editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-
estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do
assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam
em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo
Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem
principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a
pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de
vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel
minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo
publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que
levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)
Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado
ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo
frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos
meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados
compartilhados pela sociedade
Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho
debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de
abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior
do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as
trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das
ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais
Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a
situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social
Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos
se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto
Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer
jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem
27
somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao
maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado
acontecimento
5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa
voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram
em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a
abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A
partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de
entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre
o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de
informaccedilotildees dos personagens
A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma
forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a
necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o
entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos
linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de
aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma
teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de
questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos
complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)
De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo
abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e
abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se
trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa
(SILVA 2016 p35)
Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o
trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo
do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos
para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto
28
51 Formato audiovisual
Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de
caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos
pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas
fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem
sobre o tema
Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao
trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto
escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo
utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser
alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar
coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era
conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz
alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato
Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em
uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que
os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este
projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e
membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa
populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas
Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de
tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o
projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de
campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie
documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de
abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e
tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos
personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era
necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em
situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar
essa condiccedilatildeo
A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto
Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a
29
situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto
Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa
decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos
protagonistas
Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa
quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era
mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo
Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para
o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a
fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe
uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim
a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo
sobre o tema
52 Personagens
Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que
comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e
entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim
termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no
documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute
haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o
primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de
rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa
condiccedilatildeo fosse a mesma
O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho
Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram
pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos
personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas
que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo
seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar
relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de
personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas
mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas
30
O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele
morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos
16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando
provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a
trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo
a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o
colocou para fora de casa
Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa
de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute
recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute
que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia
apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o
convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje
estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras
pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas
Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)
A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um
casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram
em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo
trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia
31
de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a
fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando
alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua
Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-
companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se
conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para
Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde
permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute
voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de
amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa
para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro
Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)
Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees
distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie
documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e
sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo
alcoolismo
Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma
vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve
seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade
32
ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de
Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram
Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e
passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --
fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu
concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar
renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa
condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar
outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de
vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e
fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea
Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)
53 Preacute-produccedilatildeo
A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido
definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi
preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura
por produtos audiovisuais que abordassem o tema
A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos
conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma
condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou
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pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes
essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que
estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela
Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao
mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para
viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV
- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para
auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria
disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma
ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio
Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho
posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou
registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV
assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume
Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller
(vide apecircndice I)
Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca
formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos
auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e
produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela
tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos
participantes (vide anexo I)
Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um
cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees
relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo
telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo
Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos
contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as
gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo
34
Tabela 1 ndash Lista completa da equipe
EQUIPE
CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA
PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA
FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E
LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA
EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA
Fonte Marcus Barbosa (2018)
54 Produccedilatildeo
Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o
cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era
necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos
personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios
diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das
obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito
um esforccedilo para seguir de perto o roteiro
Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria
dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria
responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos
planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a
produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua
experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos
equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada
Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista
uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para
fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios
momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo
guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se
abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas
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no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas
isso nem sempre deu certo
Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o
esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e
Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio
em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe
Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se
delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens
do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um
indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera
Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que
ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um
canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das
gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o
primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no
microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao
cronograma de gravaccedilotildees
Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)
36
Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)
Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com
o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele
foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as
entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de
Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as
gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas
Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de
gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente
para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos
concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas
37
Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus
Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)
55 Poacutes-produccedilatildeo
Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo
foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio
que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)
Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia
Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material
O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome
provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio
da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por
escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os
personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que
traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas
38
561 Identidade visual
A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de
publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela
animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura
foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais
proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas
Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes
de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com
maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com
boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca
por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto
Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para
a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)
Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)
39
Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)
Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
40
6 CRONOGRAMA DE PESQUISA
Tabela 2 ndash Cronograma de atividades
DATAS ETAPAS
Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica
(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)
Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens
Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas
Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees
510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega
para ediccedilatildeo
Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio
Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo
Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa
180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca
Fonte Marcus Barbosa (2018)
41
7 ORCcedilAMENTO
Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais
VALORES IacuteTENS
R$ 9700 Estabilizador de celular
R$ 25000 Microfone de Lapela
R$ 29000 HD Externo
R$ 35000 Gasolina
R$ 29700 Impressatildeo de material visual
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II
VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)
R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD
R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg
R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash
Wm6 UHF
R$ 8900 Rebatedor
R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +
Tripeacute 2m
R$ 99900 Identidade visual para o produto
R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de
duraccedilatildeo
R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
42
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi
possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que
existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em
situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao
passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos
ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E
com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que
integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute
preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses
indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa
condiccedilatildeo
Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia
com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de
rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas
entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem
desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o
auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num
problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons
exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e
o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -
Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou
provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida
dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo
No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi
um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente
nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar
o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea
tambeacutem foi de suma importacircncia
Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar
histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas
preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade
nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das
43
histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que
chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo
tudo
Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes
deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de
ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar
tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista
44
REFEREcircNCIAS
ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser
humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico
BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise
referencial de serviccedilo socioassistencial de Satildeo Paulo e Brasiacutelia 2015 64 f Trabalho
de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Serviccedilo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia
Brasiacutelia 2015 Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048317307
Acesso 21 de maio de 2018
BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil
Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p
CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em
situaccedilatildeo de rua um estudo sobre pobreza necessidades humanas e miacutenimos
sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de
Brasiacutelia Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel
emhttpbdmunbbrbitstream10483257312011_AmaranthaSaTelesdeCerqueirapdf
Acesso 21 de maio de 2018
CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009
DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005
GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-
EDUC 2006
MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de
moradores de rua em Taguatinga-DF 2016 60 f Trabalho de conclusatildeo de curso
(Bacharelado em Sauacutede Coletiva)mdashUniversidade de Brasiacutelia Ceilacircndia 2016
Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048315988
Acesso em 21 de maio de 2018
Mattos RM Ferreira RF Quem vocecircs pensam que (elas) satildeo Representaccedilotildees
sobre as pessoas em situaccedilatildeo de rua Psicologia amp Sociedade 16 (2) 47-58
maioago2004 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfpsocv16n2a07v16n2pdf
Acesso 21 de maio de 2018
MELO Cristina Teixeira V de GOMES Isaltina Mello MORAIS Wilma O
documentaacuterio jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral In Intercom - 25ordm Congresso
Brasileiro de Comunicaccedilatildeo Campo Grande 2001 Disponiacutevel em
httpwwwintercomorgbrpapersnacionais2001papersNP7MELOPDF
Acesso 21 de maio de 2018
MONTIPOacute Criselli FARAH Acircngela Relato humanizado no jornalismo a
importacircncia da humanizaccedilatildeo na narrativa para um jornalismo transformador In
45
Miacutedia Cidadatilde 2009 - V Conferecircncia Brasileira de Miacutedia Cidadatilde 2009 Guarapuava
Anais Guarapuava 2009 p 906 - 923 Disponiacutevel em httpwwwunicentrobrredemc
Acesso 21 de maio de 2018
MOURA Rodrigo Coelho Bacellar Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo
de Rua uma anaacutelise da participaccedilatildeo social no processo de implementaccedilatildeo da poliacutetica
2016 30 f Trabalho de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Gestatildeo de Poliacuteticas
Puacuteblicas)mdashUniversidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2016 Disponiacutevel em
httpbdmunbbrhandle1048316261
Acesso 21 de maio de 2018
SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-
BA um estudo de caso UNEB 2009
SILVA Fabiacuteola Mariano da Humanizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e gestatildeo centrada nas
pessoas - entrevista em profundidade Laboratoacuterio Sabin 2016 56 f Trabalho de
conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia
Brasiacutelia 2016
SILVA Maria Lucia Lopes da Trabalho e Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua no Brasil
1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009
SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica
Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009
Referecircncias audiovisuais
BOCA de rua ndash Vozes de Uma Gente Invisiacutevel Marcelo Andrighetti 10rsquo01 Disponiacutevel
em httpswwwyoutubecomuserbocaderuaofilme
Acesso em 21 de maio de 2018
UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e
Victoacuteria Cristina Costa Disponiacutevel em
httpswwwfacebookcomserieumapaginapordia
Acesso em 21 de maio de 2018
O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom
Acesso em 21 de maio de 2018
O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em
httpsossodafalawordpresscom
Acesso em 21 de maio de 2018
SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes
3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw
Acesso em 21 de maio de 2018
46
APEcircNDICES
47
APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Brasiacutelia 28 de agosto de 2017
Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV
Prezada Sra Neuza Meller
Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para
realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de
Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de
um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em
Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula
130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a
orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula
UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em
situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal
Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo
acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a
aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as
histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de
conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o
desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo
entrevistas e ediccedilatildeo do material captado
Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma
parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo
de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a
grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse
48
Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)
Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900
Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais
sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer
esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail
marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189
Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo
Cordialmente
Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo
Universidade de Brasiacutelia
49
APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)
TER (1909)
QUA (2009) ENTREVISTA
Quem Ademir e Claacuteudia
Horaacuterio 15h
End Luziacircnia GO
QUI (2109)
SEX (2209) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAB ( 2309)
DOM (2409)
MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA
Quem Claacuteudia e Ademir
Horaacuterio 14h
End Praccedila do Compromisso Asa Sul
TER (2609)
QUA (2709)
QUI (2809) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 15h
End Ceilacircndia
SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End CSA ndash Unidade Gama
SAacuteB (3009) ENTREVISTA
Quem Adriano Lugoli
Horaacuterio 15h
End SCS
DOM (0110)
MANHAtilde TARDE NOITE
SEG (0210)
TER (0310)
QUA (0410) ENTREVISTA
Quem Daniela
Horaacuterio 9h
Endereccedilo Centro de
Taguatinga
QUI (0510) ENTREVISTA
Quem Ademir
Horaacuterio 15h
End Parque da Cidade
SEX (0610)
SAacuteB (0710)
DOM (0810)
QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA
Quem Lucas Cacircndia
Horaacuterio 16h
End Aacuterea central de Brasiacutelia
50
APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a
situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos
durante o periacuteodo nas ruas
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo
com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc
2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar
3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua
4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas
5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua
6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua
7 Como era sua rotina na rua
8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo
9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele
periacuteodo
10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como
abrigo sauacutede etc
11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter
12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais
sobre isso
13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou
simplesmente agia com indiferenccedila
51
Tipo de
Gravaccedilatildeo
Entrevista
PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO
Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o
futuro
DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS
1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva
de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real
2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo
3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo
4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou
em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio
5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar
6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de
recuperaccedilatildeo
7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para
frente
8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que
ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria
52
APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida
FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia
PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca
ED DE IMAGENS Julia Nogueira
ARTE Sarah Silva
CENA DE
AMBIENTACcedilAtildeO
ARQUIVO
Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio
SONORA 1 CLAacuteUDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE CORTE
126 -- 147 +
327 -- 345
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu
trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht
mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)
―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu
comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para
vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0025 -- 0109
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma
pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma
discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu
abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas
SONORA 4 DANIELA
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE
213 --300
Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos
tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da
luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de
relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era
acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente
ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar
53
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai
brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma
hora
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e
minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela
sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri
muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem
africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE 4
03 -- 434
(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha
vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet
os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida
maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu
Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje
SONORA 6 Daniela
ARQUIVO
TEMPO DE CORTE
434 --446 + 528 -- 539
―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro
semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos
difiacuteceis +
―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc
vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu
escutei
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
842 --914
―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito
dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu
acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com
uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica
cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil
SONORA DANIELA
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
551 --622
ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um
computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus
aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc
tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12
minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que
Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano
teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo
54
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144
depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria
com as drogas
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
256 -- 330
―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia
cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu
frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro
com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que
chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0424 -- 0439
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente
mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo
mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era
bebida
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212
Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo
abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_02
TEMPO DE CORTE
550 -- 603
―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da
bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo
notam mas notam
SONORA 6 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0401 -- 0408
O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro
dia bebendo porque eu precisava beber
SONORA 3 ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304
Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A
gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra
gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute
diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia
Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e
gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde
SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei
55
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
759 --813 + 825 -- 840
+ 915 --9 22
PODE ENXUGAR
muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai
argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +
E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me
ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e
nossa aquilo ali me doeu +
―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu
natildeo volto mais
SONORA CLAacuteUDIA
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
126 -- 153 + 216 --231
―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e
ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era
casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na
eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +
―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa
natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me
pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1
Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347
Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa
para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou
para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para
mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas
SONORA Daniela
ARQUIVO256_2764_01
TEMPO DE CORTE
953 --1016 + 120 --
124
PODE ENXUGAR
ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que
eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava
dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo
E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso
aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar
minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova
trajetoacuteria
SONORA Claudia
ARQUIVO967_0430_01
TEMPO DE CORTE
427 --439
―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma
coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se
conhece um conhece outro
SONORA 2 ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0048 ---0109
Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca
soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse
dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
516 -- 521
―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto
entatildeo vc entra
SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo
tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte
56
ARQUIVO 967_0430_03
TEMPO DE CORTE
926 -- 938
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0814
-- 0834
No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da
que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua
esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio
Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0707 -- 0726
Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu
viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu
corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar
mais
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 217
-- 230
―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer
uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa
de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE 0706
-- 0725
Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo
que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do
lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a
gente a sobreviver na rua
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_02
TEMPO DE
CORTE0013 --018 (+)
1128 --1137
―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq
barulho a gente acorda
(+)
―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade
de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde
SONORA ADRIANO LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio
sincronizado
TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628
Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece
que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute
terriacutevel
57
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE 958
-- 1002 + 931 -- 945 +
1025 -- 1030
―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute
um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma
alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas
se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que
estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE
222-- 245
―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente
chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela
e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar
para vc
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2766_01
TEMPO DE CORTE
701 -- 714
(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a
frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute
super-homem natildeo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli -
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 0432
-- 0437
Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de
viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia
morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_05
TEMPO DE CORTE 655
--710 +730 -- 804
PODE ENXUGAR
(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que
to com catarata pq natildeo notei 710 +
(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para
traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui
para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a
danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e
e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1109
--1116
+
―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila
comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da
minha mochila
(+)
58
ARQUIVO 256_2764_01
TEMPO DE CORTE 1032
--1036
+
ARQUIVO 256_2764_02
TEMPO DE CORTE 1101
-- 1115
ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa
(+)
―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai
que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho
comigo ningueacutem queria mais falar comigo
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 0300
--0308
―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber
os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE 1540
-- 1556
Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te
apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio
decadente
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE
0824 -- 0857
Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa
marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc
eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um
saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam
natildeo estatildeo nem aiacute
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_04
TEMPO DE CORTE 241
-- 0300
―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como
pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto
de vc muito existe demais demais
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 2 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
0508 -- 05 30
Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar
eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te
tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe
uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas
59
SONORA DANI
ARQUIVO 256_2764_03
TEMPO DE CORTE
241 --256
(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema
esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc
vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_01
TEMPO DE CORTE
0841 -- 0853 (+) 0302 -
-0322
Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu
preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes
(+)
Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa
vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de
novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo
tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci
minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 741
--806 +
803-- 804 +
811 -- 815
(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um
tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando
eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +
(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para
Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)
SONORA ADEMIR
ARQUIVO 970_4089_02
TEMPO DE CORTE 0638
-- 0653
Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava
a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas
mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a
gente piorava cada vez mais
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_01
TEMPO DE CORTE 837
-- 848 (+) 557-- 606
Sera que daacute para cortar o
som externo nessa parte
Senatildeo pode cortar
― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e
estradas
+
―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo
para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava
60
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO Take 1 Lugoli
Aacuteudio sincronizado
TEMPO DE CORTE
1251 -- 1306
Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia
morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o
meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar
SONORA Dani
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE 604
-- 618
+
ARQUIVO 256_2767_01
TEMPO DE CORTE
521 -- 533
― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter
outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com
outra coisa natildeo com a rua +
―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui
uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui
SONORA CLAUacuteDIA
ARQUIVO 967_0430_06
TEMPO DE CORTE
101--121
―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro
todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a
condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no
coraccedilatildeo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 0551 -- 613
―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da
forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o
fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai
se entregar eacute assim que eu pensava
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0127 -- 0151
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era
meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais
abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava
esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda
61
SE USAR NA EDICcedilAtildeO
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 852 - 906
―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me
arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me
arrependo mesmo
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 1305 - 1326
―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc
esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente
todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que
arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei
quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais
forccedila
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0428 -- 0500
―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e
procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi
a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma
pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de
tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute
tudo mudou
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
814 - 835
―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria
fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir
para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1056 - 1111
―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou
estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute
arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 1 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0726 -- 0748
ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de
recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar
um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa
se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou
acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento
62
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE
0231 -- 0248
OBS P NAtildeO FICAR
CANSATIVO
FIZEMOS PLANOS
DETALHE DESSA
ENTREVISTA PODE-
SE USAR NA
EvDICcedilAtildeO
―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua
vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e
quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma
forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_01
TEMPO DE CORTE
1207 - 1231
―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a
gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o
organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida
e em qlq bar vc consegue
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0532 --609
―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi
aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis
tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos
mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente
que eu recebi
SONORA Dani
ARQUIVO
965_0748_01
TEMPO DE CORTE 516 - 528
―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar
terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu
tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
924 - 1000
(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo
esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta
repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter
uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em
restaurantes
SONORA ADRIANO
LUGOLI
Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo
esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao
63
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE
0821 -- 856
Avaliar se corta o final
ou enxuga
era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando
via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_04
TEMPO DE CORTE
109 -130 (+)
1100 -1103
― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na
cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um
pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito
oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna
+
―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua
SONORA Ademir
ARQUIVO
967_0340_03
TEMPO DE CORTE 126 - 142
ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que
eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que
eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0900 - 943
―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha
vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente
que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim
que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me
abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_03
TEMPO DE
CORTE034 - 044 +
113- 117
(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos
estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +
113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando
(117)
SONORA Dani
ARQUIVO
―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas
paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu
olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu
64
965_0748_02
TEMPO DE CORTE 240 - 308)
interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem
de fazer oq eu eu fiz
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_04
TEMPO DE CORTE -
045 - 111
― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo
de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova
oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p
vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -
910
―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus
irmatildeos +
―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que
eu tenho para ele eacute o silecircncio
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 3 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423
―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)
―e depois que essa historia foi p jornal revista tv
eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia
acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao
que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_02
TEMPO DE CORTE
852 - 920
― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela
situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de
alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute
sozinha natildeo vai conseguir
SONORA ADRIANO
LUGOLI
ARQUIVO 2 PARTE
ENTREVISTA
TEMPO DE CORTE 611 - 633
―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca
esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios
propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar
algo
SONORA Claudia
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE
―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso
nem ter uma casinha para morar
65
CORTE1313 - 1321
SONORA Ademir
ARQUIVO 967_0340_02
TEMPO DE CORTE
706 - 732
ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem
pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do
mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb
vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno
SONORA DANI
ARQUIVO
965_0748_03
TEMPO DE CORTE 1129 - 1200
―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que
quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam
de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua
vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que
as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica
oportunidade elas conseguem
Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos
66
APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem
Fonte Ana Paula Fonseca (2017)
67
APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia
Fonte Marcus Barbosa (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
68
APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD
Fonte Sarah Silva (2018)
Memoacuteria das Ruas
Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida
Memoacuteria das Ruas
O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias
vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas
que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que
conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram
suas histoacuterias
O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais
dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido
para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro
MEMOacuteRIA DAS RUAS
DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA
FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA
ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA
Realizaccedilatildeo
UnBFAC
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