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Universidade de Brasília Faculdade de Comunicação Departamento de Jornalismo MEMÓRIA DAS RUAS Um documentário sobre o olhar de quem já foi invisível Marcus Vinícius Barbosa Bezerra Orientadora: Prof.ª Drª. Ana Carolina Kalume Maranhão Brasília, 1º/2018

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Page 1: Universidade de Brasília Departamento de Jornalismo...nosso trabalho. Tenho certeza que suas histórias inspiradoras vão impactar a cada um que assistir a esse documentário. À

Universidade de Brasiacutelia

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Departamento de Jornalismo

MEMOacuteRIA DAS RUAS

Um documentaacuterio sobre o olhar de quem jaacute foi invisiacutevel

Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra

Orientadora Profordf Drordf Ana Carolina Kalume Maranhatildeo

Brasiacutelia 1ordm2018

1

Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra

MEMOacuteRIA DAS RUAS

Um documentaacuterio sobre o olhar de quem jaacute foi invisiacutevel

Memorial descritivo de produto

apresentado agrave Universidade de Brasiacutelia

como requisito parcial para obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de bacharel em Jornalismo

Orientadora Profordf Drordf Ana Carolina

Kalume Maranhatildeo

Brasiacutelia 1ordm2018

Marcus Barbosa
LINK DO PRODUTO NA WEB
Marcus Barbosa
httpsgoogliCbJYY

2

Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra

MEMOacuteRIA DAS RUAS

Um documentaacuterio sobre o olhar de quem jaacute foi invisiacutevel

Memorial descritivo de produto

apresentado agrave Universidade de Brasiacutelia

como requisito parcial para obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de bacharel em Jornalismo

Orientadora Profordf Drordf Ana Carolina

Kalume Maranhatildeo

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________

Profordf Drordf Ana Carolina Kalume Maranhatildeo

ORIENTADORA

_____________________________________

Prof Dr Gilberto Gonccedilalves Costa

MEMBRO

______________________________________

Profordf Drordf Daniela Faacutevaro Garrossini

MEMBRO

______________________________________

Profordf Drordf Maacutercia Marques

SUPLENTE

Brasiacutelia 1ordm2018

3

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agrave Jeovaacute Deus por sustentar a minha vida e por garantir Seu apoio

incondicional em todos os momentos da minha vida Sem duacutevidas consigo concluir o

periacuteodo da graduaccedilatildeo e as mais diversas pressotildees imaginaacuteveis por conta do Seu

amoroso cuidado

Agrave minha famiacutelia que sempre me apoiou das mais diversas maneiras possiacuteveis Cito em

especial minha matildee Margarete que mesmo nos momentos mais estressantes em que a

ansiedade fazia com que eu perdesse a paciecircncia estava ao meu lado procurando me

ouvir e de alguma forma me ajudar Agradeccedilo a meu pai Carlos por sempre acreditar

no meu potencial e me incentivar a dar o meu melhor em tudo que faccedilo Devo citar

tambeacutem minha queria avoacute Yolanda que sempre esteve por perto me incentivando e

demonstrando seu orgulho por mim

Agrave Neila que foi minha grande parceira na idealizaccedilatildeo desse projeto De fato nosso

iacutempeto incansaacutevel em realizar um trabalho de excelecircncia produziu um belo resultado do

qual me orgulho muito Obviamente natildeo vou esquecer nossas longas viagens ateacute as

gravaccedilotildees nossas vaacuterias discussotildees sobre a abordagem do tema a escolha das histoacuterias

as muitas conversas para formatar o produto e os detalhes finais Eacute meu dever lembrar

que esse documentaacuterio foi produzido totalmente ―a quatro matildeos jaacute que todas as tarefas

e decisotildees foram divididas entre noacutes Pena que um entrave burocraacutetico tenha nos divido

na apresentaccedilatildeo deste trabalho mas sei que vou contar contigo nesse momento

importante

Agrave aqueles que aceitaram dividir sua histoacuteria conosco Ademir Claacuteudia Daniele e

Adriano suas experiecircncias de vida proporcionaram conversas incriacuteveis e com certeza

iniciaram uma amizade que quero levar comigo Muito obrigado pela confianccedila no

nosso trabalho Tenho certeza que suas histoacuterias inspiradoras vatildeo impactar a cada um

que assistir a esse documentaacuterio

Agrave nossa querida orientadora Ana Carolina Kalume Muito obrigado por acreditar no

nosso trabalho ndash muitas vezes mais do que noacutes mesmos ndash e tambeacutem por sempre nos

indicar maneiras de aprimoraacute-lo

4

Agrave UnBTV e sua diretora Neuza Meller que confiou em nossa ideia e nos apoiou

bastante liberando seu quadro profissional para nos ajudar com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo

do material

Por fim a toda equipe que colaborou para tornar esse projeto possiacutevel Seremos sempre

gratos a ajuda de cada um de vocecircs Ana Paula essencial na produccedilatildeo Julia Nogueira e

sua incriacutevel ediccedilatildeo Sarah Silva com a animaccedilatildeo e identidade visual e Alex Baacuterbara

Fernando Lucas e Raphael pelas beliacutessimas imagens feitas durante as gravaccedilotildees

5

Natildeo devemos ter medo

das novas ideias Elas podem

significar a diferenccedila entre o triunfo

e o sucessordquo

(Napoleon Hill)

6

Sumaacuterio LISTA DE FIGURAS 8

LISTA DE TABELAS 8

RESUMO 9

ABSTRACT 10

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS 12

21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa 14

3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS 16

31 Objetivo Geral 16

32 Objetivo Especiacuteficos 16

4REFERENCIAL TEOacuteRICO 17

41 Nomenclatura 17

42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua 18

43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal 20

44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas 22

45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico 24

5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 27

51 Formato audiovisual 28

52 Personagens 29

53 Preacute-produccedilatildeo 32

54 Produccedilatildeo 34

55 Poacutes-produccedilatildeo 37

561 Identidade visual 38

6 CRONOGRAMA DE PESQUISA 40

7 ORCcedilAMENTO 41

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 42

REFEREcircNCIAS 44

Referecircncias audiovisuais 45

APEcircNDICES 46

APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV 47

7

APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas 49

APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas 50

APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo 52

APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem 66

APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia 67

APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD 68

8

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia 18

FIGURA 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto 30

FIGURA 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro 31

FIGURA 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela natildeo parou de trabalhar e estudarhelliphellip 32

FIGURA 5 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul em Brasiacutelia 35

FIGURA 6 ndash Gravaccedilatildeo na Praccedila do Compromisso Asa Sul Brasiacutelia 36

FIGURA 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli Da

esquerda para a direita Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista

cedido pela UnBTV) Marcus Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) 37

FIGURA 8 -ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower 38

FIGURA 9 - Paleta de cores escolhida 39

FIGURA 10 - Arte da capa para o DVD 39

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 ndash Lista completa da equipe 34

TABELA 2 ndash Cronograma de atividades 40

TABELA 3 ndash Orccedilamento de materiais 41

TABELA 4 ndash Orccedilamento de materiais II 42

9

RESUMO

O documentaacuterio ldquoMemoacuteria das Ruasrdquo aborda as experiecircncias de quatro pessoas que

reescreveram suas histoacuterias e conseguiram superaram o periacuteodo de invisibilidade

experimentado durante o tempo em que viveram em situaccedilatildeo de rua O projeto

produzido entre os meses de agosto e novembro de 2017 buscou abordar com olhar

jornaliacutestico humanizado momentos significativos das histoacuterias desses protagonistas No

iniacutecio os personagens contam como eram suas vidas antes das ruas e quais fatores os

levaram a essa situaccedilatildeo Logo depois eacute apresentado um relato sobre os medos

dificuldades perigos e preconceitos enfrentados por cada um deles Por fim os quatro

personagens contam o caminho percorrido para a retomada de suas vidas e quais seus

planos para o futuro

Palavras-chaves Documentaacuterio Jornalismo Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Vulnerabilidade social Relatos de vida

10

ABSTRACT

The documentary bdquoMemoacuteria das Ruas‟ addresses the experiences of four people who

rewrot their stories and succeeded in overcoming the period of invisibility experienced

during the time they lived on the streets The project produced between August and

September 2017 sought to approach in a humanized way significant moments of the

stories os these protagonists In a first moment the characters tell how their lives were

before the streets and what factors led them to this situation In sequence its present na

account of the fears difficulties dangers and prejudice faced by each one of them In

conclusion all the characters tell the story of their lives and their plans for the future

Keywords Documentary Journalism Population in street situation Social

vulnerability Life stories

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Moradia limpa digna e segura Mesmo sendo uma garantia baacutesica assegurada

pelo artigo 6ordm do Capiacutetulo II da Constituiccedilatildeo Brasileira de 19881 a realidade por traacutes

deste direito no Brasil ainda estaacute longe de ser a ideal Por conta dos abismos

socioeconocircmicos que persistem em dividir a populaccedilatildeo em diferentes classes sociais

uma boa parcela dos brasileiros continua sem acesso a oportunidades e um dos

principais reflexos desta situaccedilatildeo eacute a falta de moradia adequada para todos

A crise financeira o aumento exponencial do desemprego e a dependecircncia

quiacutemica satildeo fatores relevantes que tecircm sua parcela de contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo do

cenaacuterio em que as ruas - um espaccedilo comum a todos - tecircm se tornado lugar de

permanecircncia das parcelas menos favorecidas da populaccedilatildeo O Brasil natildeo possui dados

oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima

estimativa2 divulgada em 2015 revelou que naquele ano o paiacutes tinha 101854 dos seus

habitantes vivendo essa realidade

Em 2017 o nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal (DF) de

acordo com a Secretaria do Trabalho Desenvolvimento Social Mulheres Igualdade

Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) era de trecircs mil pessoas ou seja 01 de

toda a populaccedilatildeo da capital federal que em 2017 era de 3 milhotildees de pessoas3

O fenocircmeno que persiste e a cada ano parece crescer eacute um problema social que

pode gerar consequecircncias graves para pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Por conta disso o foco deste trabalho centra-se em contar histoacuterias de vida de pessoas

que fizeram parte dessa populaccedilatildeo frequentemente esquecida e renegada ao abandono

A proposta baseia-se na realizaccedilatildeo de um documentaacuterio Produzido entre agosto e

novembro de 2017 o projeto foi planejado de forma a retratar histoacuterias e vivecircncias de

quatro personagens que vatildeo compartilhar suas experiecircncias dificuldades e

1BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado

Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

2 O Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) possui uma pesquisa intitulada Estimativa da

Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua no Brasil de Marcos Antocircnio Carvalho Natalino publicada em outubro

de 2016 O estudo apresenta dados referentes ao ano de 2015

Conteuacutedo disponiacutevel em httpwwwipeagovbr

Acesso 21 de maio de 2018

3Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 30 de agosto de

2017

Conteuacutedo disponiacutevel em httpscidadesibgegovbr

Acesso 21 de maio de 2018

12

aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas

pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua

O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o

restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o

uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua

brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as

pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os

motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos

mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho

Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o

histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida

antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa

apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver

nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos

enfrentados

A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores

significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro

personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos

ao serem ignorados pela sociedade

Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar

em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos

quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e

contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila

2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS

Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema

escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute

4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008

Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr

Acesso 21 de maio de 2018

13

mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que

enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa

―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar

naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre

como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente

Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se

que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas

puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio

Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla

sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo

desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos

de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos

Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a

abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o

jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com

outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em

mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente

os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo

Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave

idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No

lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de

transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas

comuns

Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado

anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e

preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo

senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos

agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua

natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao

viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou

pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas

Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a

estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por

que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um

14

problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a

alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem

tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam

afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo

pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar

a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e

contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida

21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa

Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo

definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema

interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute

assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees

Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a

ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees

poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento

propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do

processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa

por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a

presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal

Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a

ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma

reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma

experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado

especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as

dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em

averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi

constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves

manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute

a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as

5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil

pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017

Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html

Acesso 21 de maio de 2018

15

histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos

relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por

muito tempo presos agraves ruas

Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato

o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees

importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos

em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e

propaganda

Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na

produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma

das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo

Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se

somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou

na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de

funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio

pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores

Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias

inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para

participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho

Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos

saiacutedo do campo das ideias

16

3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS

31 Objetivo Geral

O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito

da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de

quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos

anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua

32 Objetivo Especiacuteficos

Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua

por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio

Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a

respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das

vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua

17

4REFERENCIAL TEOacuteRICO

41 Nomenclatura

Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho

baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como

forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o

leitor ou espectador a se interessar pelo assunto

Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta

para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas

diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos

autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na

rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado

definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se

referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem

concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []

ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo

heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos

Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes

indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que

―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se

apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que

tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas

palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que

afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito

As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo

elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar

essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva

especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo

A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais

apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo

resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave

condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou

condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de

acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)

18

Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a

preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete

em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar

a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores

pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma

condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo

42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua

Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)

De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para

a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a

pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou

fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional

regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas

degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma

temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de

acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia

provisoacuteriasup1

No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou

um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser

unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas

19

malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto

vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico

e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o

sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa

condiccedilatildeo

O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui

apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas

determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela

sociabilidade capitalista que produz um contingente de

pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo

possuem moradia convencional O modo capitalista de

produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das

classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na

desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo

acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de

subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)

Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um

problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge

muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro

que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um

local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a

criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer

de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas

Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e

passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das

caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do

ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua

Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se

unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia

na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre

outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era

atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que

o mercado capitalista dispotildee

Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o

preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela

aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima

reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo

costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua

20

43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal

O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em

situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de

Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra

que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A

pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais

de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento

Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em

2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01

de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs

milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que

os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga

respectivamente

A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal

causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia

de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo

fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de

viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)

A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta

por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa

etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas

representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a

masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos

A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem

impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou

pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social

historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem

maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado

6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se

ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio

Carvalho Natalino

Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf

Acesso em 21 de maio de 2018

21

em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46

branca

Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em

situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional

com 127 e somente 78 devido problemas com drogas

A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua

afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas

chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente

externo urbano passam ao usar

O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo

preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes

para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de

encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)

da realidade experimentada em seus cotidianos algumas

drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos

(GATTI e PEREIRA 2011 p88)

Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute

ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a

repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)

tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e

pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante

exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores

de materiais reciclaacuteveis

Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso

ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a

nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas

governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem

todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo

de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a

direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos

como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do

governo

22

44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas

Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta

de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora

com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente

reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a

contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal

incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua

Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu

alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e

ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees

religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas

somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam

dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o

modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi

criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei

federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de

Assistecircncia Social (LOAS)

Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de

Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que

subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto

ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em

Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil

a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia

dessa populaccedilatildeo

No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em

Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital

federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do

seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de

rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A

populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado

23

da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador

Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para

adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para

mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de

Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem

situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de

Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute

acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues

disponibilizados pelo Governo

A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute

cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e

descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto

com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos

paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde

satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo

Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e

Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em

comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser

uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico

Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do

uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo

exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo

para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode

durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na

rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra

caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel

teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados

Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de

forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico

individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de

junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o

funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com

transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas

24

Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito

Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas

do Distrito Federal (CONEN-DF)

De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito

Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas

centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a

toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel

institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a

responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o

formulador das poliacuteticas sociais

A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar

esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de

acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem

mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute

tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas

45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico

Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais

raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade

jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel

importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute

mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa

atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria

Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar

luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave

vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de

complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que

buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as

equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)

A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm

defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos

relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da

deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor

25

agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida

por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa

humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto

social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos

primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p

9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa

capaz de transformar tanto o narrado como o narrador

No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto

mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo

[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados

os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a

compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o

jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e

enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7

Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por

privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz

ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo

do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no

jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha

pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)

De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo

quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do

cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o

diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura

dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []

Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem

(MEDINA 1999 p28)

A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem

tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os

mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a

busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da

observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a

comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute

amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos

Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as

accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas

atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos

7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento

[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli

26

desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a

contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que

originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN

2008 p8)

No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda

eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando

essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha

editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-

estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do

assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam

em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo

Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem

principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a

pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de

vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel

minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo

publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que

levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)

Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado

ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo

frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos

meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados

compartilhados pela sociedade

Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho

debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de

abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior

do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as

trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das

ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais

Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a

situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social

Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos

se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto

Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer

jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem

27

somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao

maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado

acontecimento

5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa

voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram

em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a

abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A

partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de

entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre

o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de

informaccedilotildees dos personagens

A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma

forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a

necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o

entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos

linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de

aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma

teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de

questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos

complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)

De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo

abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e

abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se

trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa

(SILVA 2016 p35)

Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o

trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo

do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos

para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto

28

51 Formato audiovisual

Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de

caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos

pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas

fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem

sobre o tema

Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao

trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto

escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo

utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser

alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar

coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era

conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz

alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato

Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em

uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que

os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este

projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e

membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa

populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas

Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de

tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o

projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de

campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie

documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de

abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e

tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos

personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era

necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em

situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar

essa condiccedilatildeo

A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto

Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a

29

situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto

Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa

decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos

protagonistas

Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa

quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era

mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo

Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para

o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a

fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe

uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim

a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo

sobre o tema

52 Personagens

Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que

comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e

entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim

termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no

documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute

haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o

primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de

rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa

condiccedilatildeo fosse a mesma

O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho

Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram

pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos

personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas

que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo

seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar

relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de

personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas

mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas

30

O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele

morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos

16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando

provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a

trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo

a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o

colocou para fora de casa

Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa

de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute

recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute

que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia

apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o

convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje

estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras

pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas

Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)

A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um

casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram

em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo

trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia

31

de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a

fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando

alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua

Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-

companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se

conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para

Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde

permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute

voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de

amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa

para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro

Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)

Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees

distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie

documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e

sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo

alcoolismo

Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma

vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve

seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade

32

ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de

Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram

Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e

passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --

fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu

concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar

renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa

condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar

outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e

fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea

Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)

53 Preacute-produccedilatildeo

A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido

definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi

preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura

por produtos audiovisuais que abordassem o tema

A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos

conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma

condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou

33

pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes

essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que

estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela

Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao

mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para

viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV

- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para

auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria

disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma

ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio

Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho

posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou

registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV

assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume

Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller

(vide apecircndice I)

Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca

formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos

auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e

produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela

tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos

participantes (vide anexo I)

Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um

cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees

relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo

telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo

Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos

contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as

gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo

34

Tabela 1 ndash Lista completa da equipe

EQUIPE

CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA

PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA

FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E

LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA

EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA

Fonte Marcus Barbosa (2018)

54 Produccedilatildeo

Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o

cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era

necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos

personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios

diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das

obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito

um esforccedilo para seguir de perto o roteiro

Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria

dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria

responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos

planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a

produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua

experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos

equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada

Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista

uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para

fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios

momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo

guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se

abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas

35

no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas

isso nem sempre deu certo

Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o

esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e

Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio

em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe

Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se

delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens

do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um

indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera

Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que

ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um

canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das

gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o

primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no

microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao

cronograma de gravaccedilotildees

Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)

36

Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)

Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com

o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele

foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as

entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de

Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as

gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas

Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de

gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente

para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos

concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas

37

Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus

Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)

55 Poacutes-produccedilatildeo

Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo

foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio

que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)

Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia

Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material

O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome

provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio

da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por

escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os

personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que

traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas

38

561 Identidade visual

A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de

publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela

animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura

foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais

proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas

Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes

de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com

maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com

boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca

por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto

Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para

a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)

Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)

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Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)

Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

40

6 CRONOGRAMA DE PESQUISA

Tabela 2 ndash Cronograma de atividades

DATAS ETAPAS

Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica

(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)

Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens

Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas

Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees

510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega

para ediccedilatildeo

Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio

Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo

Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa

180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca

Fonte Marcus Barbosa (2018)

41

7 ORCcedilAMENTO

Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais

VALORES IacuteTENS

R$ 9700 Estabilizador de celular

R$ 25000 Microfone de Lapela

R$ 29000 HD Externo

R$ 35000 Gasolina

R$ 29700 Impressatildeo de material visual

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II

VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)

R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD

R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg

R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash

Wm6 UHF

R$ 8900 Rebatedor

R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +

Tripeacute 2m

R$ 99900 Identidade visual para o produto

R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de

duraccedilatildeo

R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

42

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi

possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que

existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em

situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao

passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos

ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E

com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que

integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute

preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses

indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa

condiccedilatildeo

Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia

com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de

rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas

entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem

desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o

auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num

problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons

exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e

o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -

Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou

provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida

dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo

No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi

um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente

nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar

o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea

tambeacutem foi de suma importacircncia

Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar

histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas

preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade

nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das

43

histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que

chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo

tudo

Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes

deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de

ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar

tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista

44

REFEREcircNCIAS

ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser

humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico

BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise

referencial de serviccedilo socioassistencial de Satildeo Paulo e Brasiacutelia 2015 64 f Trabalho

de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Serviccedilo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2015 Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048317307

Acesso 21 de maio de 2018

BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil

Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua um estudo sobre pobreza necessidades humanas e miacutenimos

sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de

Brasiacutelia Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel

emhttpbdmunbbrbitstream10483257312011_AmaranthaSaTelesdeCerqueirapdf

Acesso 21 de maio de 2018

CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009

DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005

GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-

EDUC 2006

MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de

moradores de rua em Taguatinga-DF 2016 60 f Trabalho de conclusatildeo de curso

(Bacharelado em Sauacutede Coletiva)mdashUniversidade de Brasiacutelia Ceilacircndia 2016

Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048315988

Acesso em 21 de maio de 2018

Mattos RM Ferreira RF Quem vocecircs pensam que (elas) satildeo Representaccedilotildees

sobre as pessoas em situaccedilatildeo de rua Psicologia amp Sociedade 16 (2) 47-58

maioago2004 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfpsocv16n2a07v16n2pdf

Acesso 21 de maio de 2018

MELO Cristina Teixeira V de GOMES Isaltina Mello MORAIS Wilma O

documentaacuterio jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral In Intercom - 25ordm Congresso

Brasileiro de Comunicaccedilatildeo Campo Grande 2001 Disponiacutevel em

httpwwwintercomorgbrpapersnacionais2001papersNP7MELOPDF

Acesso 21 de maio de 2018

MONTIPOacute Criselli FARAH Acircngela Relato humanizado no jornalismo a

importacircncia da humanizaccedilatildeo na narrativa para um jornalismo transformador In

45

Miacutedia Cidadatilde 2009 - V Conferecircncia Brasileira de Miacutedia Cidadatilde 2009 Guarapuava

Anais Guarapuava 2009 p 906 - 923 Disponiacutevel em httpwwwunicentrobrredemc

Acesso 21 de maio de 2018

MOURA Rodrigo Coelho Bacellar Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo

de Rua uma anaacutelise da participaccedilatildeo social no processo de implementaccedilatildeo da poliacutetica

2016 30 f Trabalho de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Gestatildeo de Poliacuteticas

Puacuteblicas)mdashUniversidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2016 Disponiacutevel em

httpbdmunbbrhandle1048316261

Acesso 21 de maio de 2018

SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-

BA um estudo de caso UNEB 2009

SILVA Fabiacuteola Mariano da Humanizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e gestatildeo centrada nas

pessoas - entrevista em profundidade Laboratoacuterio Sabin 2016 56 f Trabalho de

conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2016

SILVA Maria Lucia Lopes da Trabalho e Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua no Brasil

1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009

SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica

Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009

Referecircncias audiovisuais

BOCA de rua ndash Vozes de Uma Gente Invisiacutevel Marcelo Andrighetti 10rsquo01 Disponiacutevel

em httpswwwyoutubecomuserbocaderuaofilme

Acesso em 21 de maio de 2018

UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e

Victoacuteria Cristina Costa Disponiacutevel em

httpswwwfacebookcomserieumapaginapordia

Acesso em 21 de maio de 2018

O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em

httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes

3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw

Acesso em 21 de maio de 2018

46

APEcircNDICES

47

APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Brasiacutelia 28 de agosto de 2017

Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV

Prezada Sra Neuza Meller

Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para

realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de

Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de

um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em

Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula

130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a

orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula

UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em

situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal

Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo

acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a

aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as

histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de

conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o

desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo

entrevistas e ediccedilatildeo do material captado

Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma

parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo

de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a

grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse

48

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais

sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer

esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail

marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189

Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo

Cordialmente

Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

49

APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)

TER (1909)

QUA (2009) ENTREVISTA

Quem Ademir e Claacuteudia

Horaacuterio 15h

End Luziacircnia GO

QUI (2109)

SEX (2209) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAB ( 2309)

DOM (2409)

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA

Quem Claacuteudia e Ademir

Horaacuterio 14h

End Praccedila do Compromisso Asa Sul

TER (2609)

QUA (2709)

QUI (2809) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 15h

End Ceilacircndia

SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAacuteB (3009) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End SCS

DOM (0110)

MANHAtilde TARDE NOITE

SEG (0210)

TER (0310)

QUA (0410) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 9h

Endereccedilo Centro de

Taguatinga

QUI (0510) ENTREVISTA

Quem Ademir

Horaacuterio 15h

End Parque da Cidade

SEX (0610)

SAacuteB (0710)

DOM (0810)

QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Lucas Cacircndia

Horaacuterio 16h

End Aacuterea central de Brasiacutelia

50

APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a

situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos

durante o periacuteodo nas ruas

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo

com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc

2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar

3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua

4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas

5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua

6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua

7 Como era sua rotina na rua

8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo

9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele

periacuteodo

10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como

abrigo sauacutede etc

11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter

12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais

sobre isso

13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou

simplesmente agia com indiferenccedila

51

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o

futuro

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva

de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real

2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo

3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo

4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou

em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio

5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar

6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de

recuperaccedilatildeo

7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para

frente

8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que

ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria

52

APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida

FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia

PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca

ED DE IMAGENS Julia Nogueira

ARTE Sarah Silva

CENA DE

AMBIENTACcedilAtildeO

ARQUIVO

Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio

SONORA 1 CLAacuteUDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE CORTE

126 -- 147 +

327 -- 345

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu

trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht

mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)

―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu

comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para

vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0025 -- 0109

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma

pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma

discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu

abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas

SONORA 4 DANIELA

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE

213 --300

Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos

tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da

luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de

relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era

acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente

ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar

53

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai

brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma

hora

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e

minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela

sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri

muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem

africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 4

03 -- 434

(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha

vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet

os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida

maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu

Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje

SONORA 6 Daniela

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE

434 --446 + 528 -- 539

―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro

semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos

difiacuteceis +

―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc

vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu

escutei

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

842 --914

―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito

dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu

acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com

uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica

cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil

SONORA DANIELA

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

551 --622

ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um

computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus

aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc

tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12

minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que

Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano

teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo

54

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144

depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria

com as drogas

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

256 -- 330

―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia

cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu

frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro

com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que

chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0424 -- 0439

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente

mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo

mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era

bebida

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212

Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo

abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

550 -- 603

―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da

bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo

notam mas notam

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0401 -- 0408

O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro

dia bebendo porque eu precisava beber

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304

Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A

gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra

gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute

diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia

Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e

gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde

SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei

55

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

759 --813 + 825 -- 840

+ 915 --9 22

PODE ENXUGAR

muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai

argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +

E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me

ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e

nossa aquilo ali me doeu +

―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu

natildeo volto mais

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

126 -- 153 + 216 --231

―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e

ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era

casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na

eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +

―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa

natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me

pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347

Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa

para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou

para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para

mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas

SONORA Daniela

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

953 --1016 + 120 --

124

PODE ENXUGAR

ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que

eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava

dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo

E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso

aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar

minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova

trajetoacuteria

SONORA Claudia

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

427 --439

―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma

coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se

conhece um conhece outro

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0048 ---0109

Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca

soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse

dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

516 -- 521

―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto

entatildeo vc entra

SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo

tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte

56

ARQUIVO 967_0430_03

TEMPO DE CORTE

926 -- 938

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0814

-- 0834

No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da

que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua

esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio

Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0707 -- 0726

Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu

viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu

corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar

mais

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 217

-- 230

―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer

uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa

de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0706

-- 0725

Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo

que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do

lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a

gente a sobreviver na rua

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE

CORTE0013 --018 (+)

1128 --1137

―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq

barulho a gente acorda

(+)

―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade

de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde

SONORA ADRIANO LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio

sincronizado

TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628

Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece

que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute

terriacutevel

57

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE 958

-- 1002 + 931 -- 945 +

1025 -- 1030

―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute

um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma

alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas

se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que

estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE

222-- 245

―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente

chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela

e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar

para vc

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE

701 -- 714

(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a

frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute

super-homem natildeo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli -

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0432

-- 0437

Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de

viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia

morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE 655

--710 +730 -- 804

PODE ENXUGAR

(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que

to com catarata pq natildeo notei 710 +

(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para

traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui

para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a

danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e

e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1109

--1116

+

―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila

comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da

minha mochila

(+)

58

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1032

--1036

+

ARQUIVO 256_2764_02

TEMPO DE CORTE 1101

-- 1115

ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa

(+)

―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai

que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho

comigo ningueacutem queria mais falar comigo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 0300

--0308

―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber

os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 1540

-- 1556

Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te

apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio

decadente

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE

0824 -- 0857

Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa

marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc

eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um

saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam

natildeo estatildeo nem aiacute

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 241

-- 0300

―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como

pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto

de vc muito existe demais demais

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0508 -- 05 30

Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar

eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te

tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe

uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas

59

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_03

TEMPO DE CORTE

241 --256

(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema

esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc

vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0841 -- 0853 (+) 0302 -

-0322

Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu

preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes

(+)

Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa

vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de

novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo

tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci

minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 741

--806 +

803-- 804 +

811 -- 815

(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um

tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando

eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +

(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para

Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE 0638

-- 0653

Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava

a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas

mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a

gente piorava cada vez mais

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 837

-- 848 (+) 557-- 606

Sera que daacute para cortar o

som externo nessa parte

Senatildeo pode cortar

― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e

estradas

+

―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo

para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava

60

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

1251 -- 1306

Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia

morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o

meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 604

-- 618

+

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

521 -- 533

― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter

outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com

outra coisa natildeo com a rua +

―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui

uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_06

TEMPO DE CORTE

101--121

―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro

todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a

condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no

coraccedilatildeo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 0551 -- 613

―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da

forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o

fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai

se entregar eacute assim que eu pensava

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0127 -- 0151

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era

meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais

abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava

esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda

61

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 852 - 906

―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me

arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me

arrependo mesmo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 1305 - 1326

―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc

esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente

todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que

arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei

quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais

forccedila

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0428 -- 0500

―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e

procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi

a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma

pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de

tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute

tudo mudou

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

814 - 835

―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria

fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir

para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1056 - 1111

―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou

estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute

arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0726 -- 0748

ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de

recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar

um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa

se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou

acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento

62

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE

0231 -- 0248

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA

EvDICcedilAtildeO

―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua

vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e

quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma

forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1207 - 1231

―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a

gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o

organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida

e em qlq bar vc consegue

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0532 --609

―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi

aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis

tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos

mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente

que eu recebi

SONORA Dani

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 516 - 528

―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar

terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu

tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

924 - 1000

(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo

esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta

repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter

uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em

restaurantes

SONORA ADRIANO

LUGOLI

Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo

esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao

63

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0821 -- 856

Avaliar se corta o final

ou enxuga

era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando

via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_04

TEMPO DE CORTE

109 -130 (+)

1100 -1103

― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na

cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um

pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito

oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna

+

―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 126 - 142

ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que

eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que

eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0900 - 943

―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha

vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente

que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim

que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me

abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_03

TEMPO DE

CORTE034 - 044 +

113- 117

(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos

estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +

113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando

(117)

SONORA Dani

ARQUIVO

―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas

paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu

olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu

64

965_0748_02

TEMPO DE CORTE 240 - 308)

interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem

de fazer oq eu eu fiz

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_04

TEMPO DE CORTE -

045 - 111

― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo

de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova

oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p

vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -

910

―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus

irmatildeos +

―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que

eu tenho para ele eacute o silecircncio

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423

―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)

―e depois que essa historia foi p jornal revista tv

eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia

acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao

que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_02

TEMPO DE CORTE

852 - 920

― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela

situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de

alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute

sozinha natildeo vai conseguir

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 611 - 633

―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca

esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios

propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar

algo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE

―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso

nem ter uma casinha para morar

65

CORTE1313 - 1321

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

706 - 732

ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem

pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do

mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb

vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1129 - 1200

―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que

quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam

de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua

vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que

as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica

oportunidade elas conseguem

Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos

66

APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem

Fonte Ana Paula Fonseca (2017)

67

APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia

Fonte Marcus Barbosa (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

68

APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD

Fonte Sarah Silva (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Page 2: Universidade de Brasília Departamento de Jornalismo...nosso trabalho. Tenho certeza que suas histórias inspiradoras vão impactar a cada um que assistir a esse documentário. À

1

Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra

MEMOacuteRIA DAS RUAS

Um documentaacuterio sobre o olhar de quem jaacute foi invisiacutevel

Memorial descritivo de produto

apresentado agrave Universidade de Brasiacutelia

como requisito parcial para obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de bacharel em Jornalismo

Orientadora Profordf Drordf Ana Carolina

Kalume Maranhatildeo

Brasiacutelia 1ordm2018

Marcus Barbosa
LINK DO PRODUTO NA WEB
Marcus Barbosa
httpsgoogliCbJYY

2

Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra

MEMOacuteRIA DAS RUAS

Um documentaacuterio sobre o olhar de quem jaacute foi invisiacutevel

Memorial descritivo de produto

apresentado agrave Universidade de Brasiacutelia

como requisito parcial para obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de bacharel em Jornalismo

Orientadora Profordf Drordf Ana Carolina

Kalume Maranhatildeo

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________

Profordf Drordf Ana Carolina Kalume Maranhatildeo

ORIENTADORA

_____________________________________

Prof Dr Gilberto Gonccedilalves Costa

MEMBRO

______________________________________

Profordf Drordf Daniela Faacutevaro Garrossini

MEMBRO

______________________________________

Profordf Drordf Maacutercia Marques

SUPLENTE

Brasiacutelia 1ordm2018

3

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agrave Jeovaacute Deus por sustentar a minha vida e por garantir Seu apoio

incondicional em todos os momentos da minha vida Sem duacutevidas consigo concluir o

periacuteodo da graduaccedilatildeo e as mais diversas pressotildees imaginaacuteveis por conta do Seu

amoroso cuidado

Agrave minha famiacutelia que sempre me apoiou das mais diversas maneiras possiacuteveis Cito em

especial minha matildee Margarete que mesmo nos momentos mais estressantes em que a

ansiedade fazia com que eu perdesse a paciecircncia estava ao meu lado procurando me

ouvir e de alguma forma me ajudar Agradeccedilo a meu pai Carlos por sempre acreditar

no meu potencial e me incentivar a dar o meu melhor em tudo que faccedilo Devo citar

tambeacutem minha queria avoacute Yolanda que sempre esteve por perto me incentivando e

demonstrando seu orgulho por mim

Agrave Neila que foi minha grande parceira na idealizaccedilatildeo desse projeto De fato nosso

iacutempeto incansaacutevel em realizar um trabalho de excelecircncia produziu um belo resultado do

qual me orgulho muito Obviamente natildeo vou esquecer nossas longas viagens ateacute as

gravaccedilotildees nossas vaacuterias discussotildees sobre a abordagem do tema a escolha das histoacuterias

as muitas conversas para formatar o produto e os detalhes finais Eacute meu dever lembrar

que esse documentaacuterio foi produzido totalmente ―a quatro matildeos jaacute que todas as tarefas

e decisotildees foram divididas entre noacutes Pena que um entrave burocraacutetico tenha nos divido

na apresentaccedilatildeo deste trabalho mas sei que vou contar contigo nesse momento

importante

Agrave aqueles que aceitaram dividir sua histoacuteria conosco Ademir Claacuteudia Daniele e

Adriano suas experiecircncias de vida proporcionaram conversas incriacuteveis e com certeza

iniciaram uma amizade que quero levar comigo Muito obrigado pela confianccedila no

nosso trabalho Tenho certeza que suas histoacuterias inspiradoras vatildeo impactar a cada um

que assistir a esse documentaacuterio

Agrave nossa querida orientadora Ana Carolina Kalume Muito obrigado por acreditar no

nosso trabalho ndash muitas vezes mais do que noacutes mesmos ndash e tambeacutem por sempre nos

indicar maneiras de aprimoraacute-lo

4

Agrave UnBTV e sua diretora Neuza Meller que confiou em nossa ideia e nos apoiou

bastante liberando seu quadro profissional para nos ajudar com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo

do material

Por fim a toda equipe que colaborou para tornar esse projeto possiacutevel Seremos sempre

gratos a ajuda de cada um de vocecircs Ana Paula essencial na produccedilatildeo Julia Nogueira e

sua incriacutevel ediccedilatildeo Sarah Silva com a animaccedilatildeo e identidade visual e Alex Baacuterbara

Fernando Lucas e Raphael pelas beliacutessimas imagens feitas durante as gravaccedilotildees

5

Natildeo devemos ter medo

das novas ideias Elas podem

significar a diferenccedila entre o triunfo

e o sucessordquo

(Napoleon Hill)

6

Sumaacuterio LISTA DE FIGURAS 8

LISTA DE TABELAS 8

RESUMO 9

ABSTRACT 10

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS 12

21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa 14

3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS 16

31 Objetivo Geral 16

32 Objetivo Especiacuteficos 16

4REFERENCIAL TEOacuteRICO 17

41 Nomenclatura 17

42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua 18

43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal 20

44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas 22

45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico 24

5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 27

51 Formato audiovisual 28

52 Personagens 29

53 Preacute-produccedilatildeo 32

54 Produccedilatildeo 34

55 Poacutes-produccedilatildeo 37

561 Identidade visual 38

6 CRONOGRAMA DE PESQUISA 40

7 ORCcedilAMENTO 41

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 42

REFEREcircNCIAS 44

Referecircncias audiovisuais 45

APEcircNDICES 46

APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV 47

7

APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas 49

APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas 50

APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo 52

APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem 66

APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia 67

APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD 68

8

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia 18

FIGURA 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto 30

FIGURA 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro 31

FIGURA 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela natildeo parou de trabalhar e estudarhelliphellip 32

FIGURA 5 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul em Brasiacutelia 35

FIGURA 6 ndash Gravaccedilatildeo na Praccedila do Compromisso Asa Sul Brasiacutelia 36

FIGURA 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli Da

esquerda para a direita Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista

cedido pela UnBTV) Marcus Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) 37

FIGURA 8 -ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower 38

FIGURA 9 - Paleta de cores escolhida 39

FIGURA 10 - Arte da capa para o DVD 39

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 ndash Lista completa da equipe 34

TABELA 2 ndash Cronograma de atividades 40

TABELA 3 ndash Orccedilamento de materiais 41

TABELA 4 ndash Orccedilamento de materiais II 42

9

RESUMO

O documentaacuterio ldquoMemoacuteria das Ruasrdquo aborda as experiecircncias de quatro pessoas que

reescreveram suas histoacuterias e conseguiram superaram o periacuteodo de invisibilidade

experimentado durante o tempo em que viveram em situaccedilatildeo de rua O projeto

produzido entre os meses de agosto e novembro de 2017 buscou abordar com olhar

jornaliacutestico humanizado momentos significativos das histoacuterias desses protagonistas No

iniacutecio os personagens contam como eram suas vidas antes das ruas e quais fatores os

levaram a essa situaccedilatildeo Logo depois eacute apresentado um relato sobre os medos

dificuldades perigos e preconceitos enfrentados por cada um deles Por fim os quatro

personagens contam o caminho percorrido para a retomada de suas vidas e quais seus

planos para o futuro

Palavras-chaves Documentaacuterio Jornalismo Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Vulnerabilidade social Relatos de vida

10

ABSTRACT

The documentary bdquoMemoacuteria das Ruas‟ addresses the experiences of four people who

rewrot their stories and succeeded in overcoming the period of invisibility experienced

during the time they lived on the streets The project produced between August and

September 2017 sought to approach in a humanized way significant moments of the

stories os these protagonists In a first moment the characters tell how their lives were

before the streets and what factors led them to this situation In sequence its present na

account of the fears difficulties dangers and prejudice faced by each one of them In

conclusion all the characters tell the story of their lives and their plans for the future

Keywords Documentary Journalism Population in street situation Social

vulnerability Life stories

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Moradia limpa digna e segura Mesmo sendo uma garantia baacutesica assegurada

pelo artigo 6ordm do Capiacutetulo II da Constituiccedilatildeo Brasileira de 19881 a realidade por traacutes

deste direito no Brasil ainda estaacute longe de ser a ideal Por conta dos abismos

socioeconocircmicos que persistem em dividir a populaccedilatildeo em diferentes classes sociais

uma boa parcela dos brasileiros continua sem acesso a oportunidades e um dos

principais reflexos desta situaccedilatildeo eacute a falta de moradia adequada para todos

A crise financeira o aumento exponencial do desemprego e a dependecircncia

quiacutemica satildeo fatores relevantes que tecircm sua parcela de contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo do

cenaacuterio em que as ruas - um espaccedilo comum a todos - tecircm se tornado lugar de

permanecircncia das parcelas menos favorecidas da populaccedilatildeo O Brasil natildeo possui dados

oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima

estimativa2 divulgada em 2015 revelou que naquele ano o paiacutes tinha 101854 dos seus

habitantes vivendo essa realidade

Em 2017 o nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal (DF) de

acordo com a Secretaria do Trabalho Desenvolvimento Social Mulheres Igualdade

Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) era de trecircs mil pessoas ou seja 01 de

toda a populaccedilatildeo da capital federal que em 2017 era de 3 milhotildees de pessoas3

O fenocircmeno que persiste e a cada ano parece crescer eacute um problema social que

pode gerar consequecircncias graves para pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Por conta disso o foco deste trabalho centra-se em contar histoacuterias de vida de pessoas

que fizeram parte dessa populaccedilatildeo frequentemente esquecida e renegada ao abandono

A proposta baseia-se na realizaccedilatildeo de um documentaacuterio Produzido entre agosto e

novembro de 2017 o projeto foi planejado de forma a retratar histoacuterias e vivecircncias de

quatro personagens que vatildeo compartilhar suas experiecircncias dificuldades e

1BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado

Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

2 O Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) possui uma pesquisa intitulada Estimativa da

Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua no Brasil de Marcos Antocircnio Carvalho Natalino publicada em outubro

de 2016 O estudo apresenta dados referentes ao ano de 2015

Conteuacutedo disponiacutevel em httpwwwipeagovbr

Acesso 21 de maio de 2018

3Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 30 de agosto de

2017

Conteuacutedo disponiacutevel em httpscidadesibgegovbr

Acesso 21 de maio de 2018

12

aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas

pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua

O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o

restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o

uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua

brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as

pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os

motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos

mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho

Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o

histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida

antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa

apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver

nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos

enfrentados

A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores

significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro

personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos

ao serem ignorados pela sociedade

Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar

em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos

quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e

contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila

2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS

Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema

escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute

4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008

Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr

Acesso 21 de maio de 2018

13

mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que

enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa

―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar

naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre

como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente

Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se

que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas

puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio

Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla

sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo

desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos

de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos

Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a

abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o

jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com

outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em

mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente

os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo

Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave

idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No

lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de

transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas

comuns

Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado

anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e

preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo

senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos

agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua

natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao

viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou

pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas

Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a

estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por

que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um

14

problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a

alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem

tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam

afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo

pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar

a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e

contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida

21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa

Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo

definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema

interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute

assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees

Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a

ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees

poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento

propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do

processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa

por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a

presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal

Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a

ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma

reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma

experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado

especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as

dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em

averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi

constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves

manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute

a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as

5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil

pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017

Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html

Acesso 21 de maio de 2018

15

histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos

relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por

muito tempo presos agraves ruas

Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato

o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees

importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos

em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e

propaganda

Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na

produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma

das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo

Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se

somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou

na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de

funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio

pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores

Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias

inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para

participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho

Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos

saiacutedo do campo das ideias

16

3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS

31 Objetivo Geral

O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito

da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de

quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos

anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua

32 Objetivo Especiacuteficos

Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua

por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio

Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a

respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das

vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua

17

4REFERENCIAL TEOacuteRICO

41 Nomenclatura

Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho

baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como

forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o

leitor ou espectador a se interessar pelo assunto

Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta

para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas

diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos

autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na

rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado

definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se

referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem

concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []

ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo

heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos

Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes

indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que

―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se

apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que

tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas

palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que

afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito

As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo

elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar

essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva

especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo

A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais

apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo

resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave

condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou

condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de

acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)

18

Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a

preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete

em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar

a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores

pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma

condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo

42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua

Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)

De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para

a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a

pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou

fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional

regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas

degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma

temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de

acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia

provisoacuteriasup1

No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou

um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser

unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas

19

malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto

vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico

e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o

sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa

condiccedilatildeo

O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui

apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas

determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela

sociabilidade capitalista que produz um contingente de

pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo

possuem moradia convencional O modo capitalista de

produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das

classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na

desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo

acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de

subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)

Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um

problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge

muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro

que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um

local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a

criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer

de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas

Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e

passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das

caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do

ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua

Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se

unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia

na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre

outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era

atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que

o mercado capitalista dispotildee

Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o

preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela

aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima

reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo

costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua

20

43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal

O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em

situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de

Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra

que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A

pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais

de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento

Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em

2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01

de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs

milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que

os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga

respectivamente

A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal

causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia

de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo

fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de

viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)

A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta

por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa

etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas

representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a

masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos

A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem

impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou

pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social

historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem

maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado

6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se

ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio

Carvalho Natalino

Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf

Acesso em 21 de maio de 2018

21

em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46

branca

Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em

situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional

com 127 e somente 78 devido problemas com drogas

A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua

afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas

chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente

externo urbano passam ao usar

O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo

preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes

para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de

encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)

da realidade experimentada em seus cotidianos algumas

drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos

(GATTI e PEREIRA 2011 p88)

Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute

ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a

repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)

tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e

pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante

exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores

de materiais reciclaacuteveis

Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso

ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a

nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas

governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem

todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo

de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a

direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos

como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do

governo

22

44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas

Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta

de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora

com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente

reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a

contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal

incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua

Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu

alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e

ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees

religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas

somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam

dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o

modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi

criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei

federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de

Assistecircncia Social (LOAS)

Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de

Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que

subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto

ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em

Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil

a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia

dessa populaccedilatildeo

No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em

Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital

federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do

seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de

rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A

populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado

23

da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador

Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para

adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para

mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de

Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem

situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de

Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute

acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues

disponibilizados pelo Governo

A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute

cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e

descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto

com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos

paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde

satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo

Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e

Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em

comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser

uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico

Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do

uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo

exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo

para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode

durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na

rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra

caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel

teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados

Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de

forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico

individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de

junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o

funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com

transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas

24

Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito

Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas

do Distrito Federal (CONEN-DF)

De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito

Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas

centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a

toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel

institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a

responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o

formulador das poliacuteticas sociais

A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar

esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de

acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem

mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute

tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas

45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico

Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais

raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade

jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel

importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute

mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa

atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria

Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar

luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave

vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de

complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que

buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as

equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)

A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm

defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos

relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da

deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor

25

agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida

por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa

humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto

social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos

primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p

9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa

capaz de transformar tanto o narrado como o narrador

No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto

mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo

[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados

os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a

compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o

jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e

enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7

Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por

privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz

ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo

do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no

jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha

pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)

De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo

quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do

cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o

diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura

dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []

Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem

(MEDINA 1999 p28)

A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem

tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os

mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a

busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da

observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a

comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute

amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos

Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as

accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas

atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos

7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento

[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli

26

desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a

contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que

originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN

2008 p8)

No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda

eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando

essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha

editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-

estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do

assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam

em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo

Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem

principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a

pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de

vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel

minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo

publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que

levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)

Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado

ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo

frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos

meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados

compartilhados pela sociedade

Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho

debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de

abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior

do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as

trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das

ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais

Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a

situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social

Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos

se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto

Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer

jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem

27

somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao

maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado

acontecimento

5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa

voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram

em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a

abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A

partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de

entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre

o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de

informaccedilotildees dos personagens

A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma

forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a

necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o

entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos

linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de

aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma

teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de

questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos

complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)

De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo

abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e

abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se

trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa

(SILVA 2016 p35)

Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o

trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo

do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos

para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto

28

51 Formato audiovisual

Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de

caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos

pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas

fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem

sobre o tema

Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao

trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto

escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo

utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser

alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar

coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era

conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz

alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato

Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em

uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que

os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este

projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e

membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa

populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas

Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de

tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o

projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de

campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie

documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de

abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e

tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos

personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era

necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em

situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar

essa condiccedilatildeo

A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto

Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a

29

situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto

Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa

decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos

protagonistas

Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa

quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era

mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo

Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para

o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a

fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe

uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim

a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo

sobre o tema

52 Personagens

Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que

comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e

entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim

termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no

documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute

haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o

primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de

rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa

condiccedilatildeo fosse a mesma

O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho

Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram

pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos

personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas

que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo

seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar

relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de

personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas

mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas

30

O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele

morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos

16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando

provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a

trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo

a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o

colocou para fora de casa

Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa

de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute

recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute

que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia

apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o

convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje

estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras

pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas

Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)

A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um

casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram

em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo

trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia

31

de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a

fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando

alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua

Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-

companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se

conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para

Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde

permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute

voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de

amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa

para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro

Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)

Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees

distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie

documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e

sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo

alcoolismo

Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma

vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve

seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade

32

ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de

Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram

Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e

passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --

fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu

concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar

renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa

condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar

outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e

fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea

Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)

53 Preacute-produccedilatildeo

A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido

definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi

preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura

por produtos audiovisuais que abordassem o tema

A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos

conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma

condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou

33

pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes

essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que

estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela

Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao

mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para

viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV

- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para

auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria

disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma

ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio

Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho

posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou

registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV

assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume

Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller

(vide apecircndice I)

Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca

formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos

auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e

produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela

tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos

participantes (vide anexo I)

Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um

cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees

relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo

telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo

Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos

contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as

gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo

34

Tabela 1 ndash Lista completa da equipe

EQUIPE

CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA

PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA

FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E

LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA

EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA

Fonte Marcus Barbosa (2018)

54 Produccedilatildeo

Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o

cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era

necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos

personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios

diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das

obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito

um esforccedilo para seguir de perto o roteiro

Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria

dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria

responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos

planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a

produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua

experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos

equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada

Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista

uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para

fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios

momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo

guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se

abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas

35

no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas

isso nem sempre deu certo

Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o

esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e

Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio

em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe

Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se

delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens

do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um

indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera

Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que

ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um

canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das

gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o

primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no

microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao

cronograma de gravaccedilotildees

Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)

36

Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)

Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com

o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele

foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as

entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de

Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as

gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas

Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de

gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente

para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos

concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas

37

Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus

Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)

55 Poacutes-produccedilatildeo

Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo

foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio

que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)

Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia

Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material

O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome

provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio

da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por

escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os

personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que

traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas

38

561 Identidade visual

A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de

publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela

animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura

foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais

proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas

Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes

de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com

maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com

boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca

por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto

Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para

a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)

Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)

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Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)

Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

40

6 CRONOGRAMA DE PESQUISA

Tabela 2 ndash Cronograma de atividades

DATAS ETAPAS

Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica

(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)

Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens

Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas

Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees

510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega

para ediccedilatildeo

Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio

Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo

Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa

180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca

Fonte Marcus Barbosa (2018)

41

7 ORCcedilAMENTO

Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais

VALORES IacuteTENS

R$ 9700 Estabilizador de celular

R$ 25000 Microfone de Lapela

R$ 29000 HD Externo

R$ 35000 Gasolina

R$ 29700 Impressatildeo de material visual

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II

VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)

R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD

R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg

R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash

Wm6 UHF

R$ 8900 Rebatedor

R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +

Tripeacute 2m

R$ 99900 Identidade visual para o produto

R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de

duraccedilatildeo

R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

42

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi

possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que

existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em

situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao

passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos

ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E

com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que

integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute

preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses

indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa

condiccedilatildeo

Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia

com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de

rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas

entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem

desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o

auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num

problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons

exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e

o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -

Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou

provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida

dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo

No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi

um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente

nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar

o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea

tambeacutem foi de suma importacircncia

Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar

histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas

preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade

nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das

43

histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que

chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo

tudo

Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes

deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de

ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar

tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista

44

REFEREcircNCIAS

ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser

humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico

BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise

referencial de serviccedilo socioassistencial de Satildeo Paulo e Brasiacutelia 2015 64 f Trabalho

de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Serviccedilo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2015 Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048317307

Acesso 21 de maio de 2018

BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil

Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua um estudo sobre pobreza necessidades humanas e miacutenimos

sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de

Brasiacutelia Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel

emhttpbdmunbbrbitstream10483257312011_AmaranthaSaTelesdeCerqueirapdf

Acesso 21 de maio de 2018

CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009

DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005

GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-

EDUC 2006

MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de

moradores de rua em Taguatinga-DF 2016 60 f Trabalho de conclusatildeo de curso

(Bacharelado em Sauacutede Coletiva)mdashUniversidade de Brasiacutelia Ceilacircndia 2016

Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048315988

Acesso em 21 de maio de 2018

Mattos RM Ferreira RF Quem vocecircs pensam que (elas) satildeo Representaccedilotildees

sobre as pessoas em situaccedilatildeo de rua Psicologia amp Sociedade 16 (2) 47-58

maioago2004 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfpsocv16n2a07v16n2pdf

Acesso 21 de maio de 2018

MELO Cristina Teixeira V de GOMES Isaltina Mello MORAIS Wilma O

documentaacuterio jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral In Intercom - 25ordm Congresso

Brasileiro de Comunicaccedilatildeo Campo Grande 2001 Disponiacutevel em

httpwwwintercomorgbrpapersnacionais2001papersNP7MELOPDF

Acesso 21 de maio de 2018

MONTIPOacute Criselli FARAH Acircngela Relato humanizado no jornalismo a

importacircncia da humanizaccedilatildeo na narrativa para um jornalismo transformador In

45

Miacutedia Cidadatilde 2009 - V Conferecircncia Brasileira de Miacutedia Cidadatilde 2009 Guarapuava

Anais Guarapuava 2009 p 906 - 923 Disponiacutevel em httpwwwunicentrobrredemc

Acesso 21 de maio de 2018

MOURA Rodrigo Coelho Bacellar Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo

de Rua uma anaacutelise da participaccedilatildeo social no processo de implementaccedilatildeo da poliacutetica

2016 30 f Trabalho de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Gestatildeo de Poliacuteticas

Puacuteblicas)mdashUniversidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2016 Disponiacutevel em

httpbdmunbbrhandle1048316261

Acesso 21 de maio de 2018

SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-

BA um estudo de caso UNEB 2009

SILVA Fabiacuteola Mariano da Humanizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e gestatildeo centrada nas

pessoas - entrevista em profundidade Laboratoacuterio Sabin 2016 56 f Trabalho de

conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2016

SILVA Maria Lucia Lopes da Trabalho e Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua no Brasil

1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009

SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica

Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009

Referecircncias audiovisuais

BOCA de rua ndash Vozes de Uma Gente Invisiacutevel Marcelo Andrighetti 10rsquo01 Disponiacutevel

em httpswwwyoutubecomuserbocaderuaofilme

Acesso em 21 de maio de 2018

UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e

Victoacuteria Cristina Costa Disponiacutevel em

httpswwwfacebookcomserieumapaginapordia

Acesso em 21 de maio de 2018

O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em

httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes

3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw

Acesso em 21 de maio de 2018

46

APEcircNDICES

47

APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Brasiacutelia 28 de agosto de 2017

Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV

Prezada Sra Neuza Meller

Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para

realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de

Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de

um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em

Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula

130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a

orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula

UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em

situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal

Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo

acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a

aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as

histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de

conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o

desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo

entrevistas e ediccedilatildeo do material captado

Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma

parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo

de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a

grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse

48

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais

sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer

esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail

marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189

Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo

Cordialmente

Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

49

APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)

TER (1909)

QUA (2009) ENTREVISTA

Quem Ademir e Claacuteudia

Horaacuterio 15h

End Luziacircnia GO

QUI (2109)

SEX (2209) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAB ( 2309)

DOM (2409)

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA

Quem Claacuteudia e Ademir

Horaacuterio 14h

End Praccedila do Compromisso Asa Sul

TER (2609)

QUA (2709)

QUI (2809) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 15h

End Ceilacircndia

SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAacuteB (3009) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End SCS

DOM (0110)

MANHAtilde TARDE NOITE

SEG (0210)

TER (0310)

QUA (0410) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 9h

Endereccedilo Centro de

Taguatinga

QUI (0510) ENTREVISTA

Quem Ademir

Horaacuterio 15h

End Parque da Cidade

SEX (0610)

SAacuteB (0710)

DOM (0810)

QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Lucas Cacircndia

Horaacuterio 16h

End Aacuterea central de Brasiacutelia

50

APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a

situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos

durante o periacuteodo nas ruas

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo

com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc

2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar

3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua

4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas

5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua

6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua

7 Como era sua rotina na rua

8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo

9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele

periacuteodo

10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como

abrigo sauacutede etc

11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter

12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais

sobre isso

13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou

simplesmente agia com indiferenccedila

51

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o

futuro

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva

de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real

2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo

3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo

4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou

em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio

5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar

6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de

recuperaccedilatildeo

7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para

frente

8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que

ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria

52

APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida

FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia

PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca

ED DE IMAGENS Julia Nogueira

ARTE Sarah Silva

CENA DE

AMBIENTACcedilAtildeO

ARQUIVO

Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio

SONORA 1 CLAacuteUDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE CORTE

126 -- 147 +

327 -- 345

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu

trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht

mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)

―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu

comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para

vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0025 -- 0109

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma

pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma

discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu

abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas

SONORA 4 DANIELA

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE

213 --300

Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos

tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da

luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de

relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era

acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente

ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar

53

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai

brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma

hora

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e

minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela

sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri

muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem

africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 4

03 -- 434

(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha

vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet

os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida

maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu

Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje

SONORA 6 Daniela

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE

434 --446 + 528 -- 539

―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro

semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos

difiacuteceis +

―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc

vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu

escutei

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

842 --914

―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito

dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu

acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com

uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica

cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil

SONORA DANIELA

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

551 --622

ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um

computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus

aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc

tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12

minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que

Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano

teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo

54

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144

depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria

com as drogas

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

256 -- 330

―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia

cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu

frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro

com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que

chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0424 -- 0439

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente

mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo

mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era

bebida

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212

Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo

abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

550 -- 603

―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da

bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo

notam mas notam

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0401 -- 0408

O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro

dia bebendo porque eu precisava beber

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304

Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A

gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra

gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute

diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia

Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e

gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde

SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei

55

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

759 --813 + 825 -- 840

+ 915 --9 22

PODE ENXUGAR

muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai

argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +

E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me

ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e

nossa aquilo ali me doeu +

―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu

natildeo volto mais

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

126 -- 153 + 216 --231

―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e

ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era

casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na

eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +

―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa

natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me

pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347

Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa

para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou

para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para

mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas

SONORA Daniela

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

953 --1016 + 120 --

124

PODE ENXUGAR

ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que

eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava

dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo

E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso

aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar

minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova

trajetoacuteria

SONORA Claudia

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

427 --439

―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma

coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se

conhece um conhece outro

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0048 ---0109

Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca

soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse

dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

516 -- 521

―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto

entatildeo vc entra

SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo

tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte

56

ARQUIVO 967_0430_03

TEMPO DE CORTE

926 -- 938

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0814

-- 0834

No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da

que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua

esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio

Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0707 -- 0726

Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu

viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu

corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar

mais

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 217

-- 230

―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer

uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa

de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0706

-- 0725

Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo

que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do

lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a

gente a sobreviver na rua

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE

CORTE0013 --018 (+)

1128 --1137

―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq

barulho a gente acorda

(+)

―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade

de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde

SONORA ADRIANO LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio

sincronizado

TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628

Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece

que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute

terriacutevel

57

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE 958

-- 1002 + 931 -- 945 +

1025 -- 1030

―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute

um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma

alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas

se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que

estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE

222-- 245

―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente

chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela

e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar

para vc

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE

701 -- 714

(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a

frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute

super-homem natildeo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli -

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0432

-- 0437

Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de

viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia

morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE 655

--710 +730 -- 804

PODE ENXUGAR

(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que

to com catarata pq natildeo notei 710 +

(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para

traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui

para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a

danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e

e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1109

--1116

+

―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila

comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da

minha mochila

(+)

58

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1032

--1036

+

ARQUIVO 256_2764_02

TEMPO DE CORTE 1101

-- 1115

ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa

(+)

―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai

que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho

comigo ningueacutem queria mais falar comigo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 0300

--0308

―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber

os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 1540

-- 1556

Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te

apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio

decadente

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE

0824 -- 0857

Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa

marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc

eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um

saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam

natildeo estatildeo nem aiacute

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 241

-- 0300

―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como

pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto

de vc muito existe demais demais

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0508 -- 05 30

Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar

eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te

tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe

uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas

59

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_03

TEMPO DE CORTE

241 --256

(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema

esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc

vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0841 -- 0853 (+) 0302 -

-0322

Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu

preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes

(+)

Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa

vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de

novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo

tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci

minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 741

--806 +

803-- 804 +

811 -- 815

(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um

tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando

eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +

(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para

Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE 0638

-- 0653

Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava

a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas

mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a

gente piorava cada vez mais

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 837

-- 848 (+) 557-- 606

Sera que daacute para cortar o

som externo nessa parte

Senatildeo pode cortar

― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e

estradas

+

―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo

para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava

60

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

1251 -- 1306

Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia

morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o

meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 604

-- 618

+

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

521 -- 533

― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter

outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com

outra coisa natildeo com a rua +

―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui

uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_06

TEMPO DE CORTE

101--121

―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro

todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a

condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no

coraccedilatildeo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 0551 -- 613

―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da

forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o

fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai

se entregar eacute assim que eu pensava

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0127 -- 0151

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era

meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais

abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava

esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda

61

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 852 - 906

―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me

arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me

arrependo mesmo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 1305 - 1326

―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc

esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente

todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que

arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei

quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais

forccedila

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0428 -- 0500

―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e

procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi

a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma

pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de

tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute

tudo mudou

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

814 - 835

―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria

fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir

para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1056 - 1111

―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou

estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute

arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0726 -- 0748

ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de

recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar

um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa

se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou

acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento

62

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE

0231 -- 0248

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA

EvDICcedilAtildeO

―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua

vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e

quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma

forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1207 - 1231

―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a

gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o

organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida

e em qlq bar vc consegue

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0532 --609

―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi

aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis

tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos

mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente

que eu recebi

SONORA Dani

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 516 - 528

―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar

terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu

tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

924 - 1000

(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo

esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta

repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter

uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em

restaurantes

SONORA ADRIANO

LUGOLI

Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo

esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao

63

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0821 -- 856

Avaliar se corta o final

ou enxuga

era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando

via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_04

TEMPO DE CORTE

109 -130 (+)

1100 -1103

― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na

cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um

pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito

oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna

+

―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 126 - 142

ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que

eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que

eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0900 - 943

―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha

vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente

que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim

que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me

abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_03

TEMPO DE

CORTE034 - 044 +

113- 117

(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos

estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +

113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando

(117)

SONORA Dani

ARQUIVO

―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas

paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu

olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu

64

965_0748_02

TEMPO DE CORTE 240 - 308)

interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem

de fazer oq eu eu fiz

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_04

TEMPO DE CORTE -

045 - 111

― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo

de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova

oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p

vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -

910

―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus

irmatildeos +

―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que

eu tenho para ele eacute o silecircncio

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423

―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)

―e depois que essa historia foi p jornal revista tv

eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia

acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao

que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_02

TEMPO DE CORTE

852 - 920

― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela

situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de

alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute

sozinha natildeo vai conseguir

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 611 - 633

―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca

esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios

propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar

algo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE

―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso

nem ter uma casinha para morar

65

CORTE1313 - 1321

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

706 - 732

ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem

pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do

mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb

vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1129 - 1200

―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que

quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam

de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua

vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que

as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica

oportunidade elas conseguem

Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos

66

APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem

Fonte Ana Paula Fonseca (2017)

67

APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia

Fonte Marcus Barbosa (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

68

APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD

Fonte Sarah Silva (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Page 3: Universidade de Brasília Departamento de Jornalismo...nosso trabalho. Tenho certeza que suas histórias inspiradoras vão impactar a cada um que assistir a esse documentário. À

2

Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra

MEMOacuteRIA DAS RUAS

Um documentaacuterio sobre o olhar de quem jaacute foi invisiacutevel

Memorial descritivo de produto

apresentado agrave Universidade de Brasiacutelia

como requisito parcial para obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de bacharel em Jornalismo

Orientadora Profordf Drordf Ana Carolina

Kalume Maranhatildeo

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________

Profordf Drordf Ana Carolina Kalume Maranhatildeo

ORIENTADORA

_____________________________________

Prof Dr Gilberto Gonccedilalves Costa

MEMBRO

______________________________________

Profordf Drordf Daniela Faacutevaro Garrossini

MEMBRO

______________________________________

Profordf Drordf Maacutercia Marques

SUPLENTE

Brasiacutelia 1ordm2018

3

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agrave Jeovaacute Deus por sustentar a minha vida e por garantir Seu apoio

incondicional em todos os momentos da minha vida Sem duacutevidas consigo concluir o

periacuteodo da graduaccedilatildeo e as mais diversas pressotildees imaginaacuteveis por conta do Seu

amoroso cuidado

Agrave minha famiacutelia que sempre me apoiou das mais diversas maneiras possiacuteveis Cito em

especial minha matildee Margarete que mesmo nos momentos mais estressantes em que a

ansiedade fazia com que eu perdesse a paciecircncia estava ao meu lado procurando me

ouvir e de alguma forma me ajudar Agradeccedilo a meu pai Carlos por sempre acreditar

no meu potencial e me incentivar a dar o meu melhor em tudo que faccedilo Devo citar

tambeacutem minha queria avoacute Yolanda que sempre esteve por perto me incentivando e

demonstrando seu orgulho por mim

Agrave Neila que foi minha grande parceira na idealizaccedilatildeo desse projeto De fato nosso

iacutempeto incansaacutevel em realizar um trabalho de excelecircncia produziu um belo resultado do

qual me orgulho muito Obviamente natildeo vou esquecer nossas longas viagens ateacute as

gravaccedilotildees nossas vaacuterias discussotildees sobre a abordagem do tema a escolha das histoacuterias

as muitas conversas para formatar o produto e os detalhes finais Eacute meu dever lembrar

que esse documentaacuterio foi produzido totalmente ―a quatro matildeos jaacute que todas as tarefas

e decisotildees foram divididas entre noacutes Pena que um entrave burocraacutetico tenha nos divido

na apresentaccedilatildeo deste trabalho mas sei que vou contar contigo nesse momento

importante

Agrave aqueles que aceitaram dividir sua histoacuteria conosco Ademir Claacuteudia Daniele e

Adriano suas experiecircncias de vida proporcionaram conversas incriacuteveis e com certeza

iniciaram uma amizade que quero levar comigo Muito obrigado pela confianccedila no

nosso trabalho Tenho certeza que suas histoacuterias inspiradoras vatildeo impactar a cada um

que assistir a esse documentaacuterio

Agrave nossa querida orientadora Ana Carolina Kalume Muito obrigado por acreditar no

nosso trabalho ndash muitas vezes mais do que noacutes mesmos ndash e tambeacutem por sempre nos

indicar maneiras de aprimoraacute-lo

4

Agrave UnBTV e sua diretora Neuza Meller que confiou em nossa ideia e nos apoiou

bastante liberando seu quadro profissional para nos ajudar com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo

do material

Por fim a toda equipe que colaborou para tornar esse projeto possiacutevel Seremos sempre

gratos a ajuda de cada um de vocecircs Ana Paula essencial na produccedilatildeo Julia Nogueira e

sua incriacutevel ediccedilatildeo Sarah Silva com a animaccedilatildeo e identidade visual e Alex Baacuterbara

Fernando Lucas e Raphael pelas beliacutessimas imagens feitas durante as gravaccedilotildees

5

Natildeo devemos ter medo

das novas ideias Elas podem

significar a diferenccedila entre o triunfo

e o sucessordquo

(Napoleon Hill)

6

Sumaacuterio LISTA DE FIGURAS 8

LISTA DE TABELAS 8

RESUMO 9

ABSTRACT 10

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS 12

21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa 14

3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS 16

31 Objetivo Geral 16

32 Objetivo Especiacuteficos 16

4REFERENCIAL TEOacuteRICO 17

41 Nomenclatura 17

42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua 18

43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal 20

44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas 22

45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico 24

5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 27

51 Formato audiovisual 28

52 Personagens 29

53 Preacute-produccedilatildeo 32

54 Produccedilatildeo 34

55 Poacutes-produccedilatildeo 37

561 Identidade visual 38

6 CRONOGRAMA DE PESQUISA 40

7 ORCcedilAMENTO 41

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 42

REFEREcircNCIAS 44

Referecircncias audiovisuais 45

APEcircNDICES 46

APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV 47

7

APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas 49

APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas 50

APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo 52

APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem 66

APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia 67

APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD 68

8

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia 18

FIGURA 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto 30

FIGURA 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro 31

FIGURA 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela natildeo parou de trabalhar e estudarhelliphellip 32

FIGURA 5 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul em Brasiacutelia 35

FIGURA 6 ndash Gravaccedilatildeo na Praccedila do Compromisso Asa Sul Brasiacutelia 36

FIGURA 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli Da

esquerda para a direita Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista

cedido pela UnBTV) Marcus Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) 37

FIGURA 8 -ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower 38

FIGURA 9 - Paleta de cores escolhida 39

FIGURA 10 - Arte da capa para o DVD 39

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 ndash Lista completa da equipe 34

TABELA 2 ndash Cronograma de atividades 40

TABELA 3 ndash Orccedilamento de materiais 41

TABELA 4 ndash Orccedilamento de materiais II 42

9

RESUMO

O documentaacuterio ldquoMemoacuteria das Ruasrdquo aborda as experiecircncias de quatro pessoas que

reescreveram suas histoacuterias e conseguiram superaram o periacuteodo de invisibilidade

experimentado durante o tempo em que viveram em situaccedilatildeo de rua O projeto

produzido entre os meses de agosto e novembro de 2017 buscou abordar com olhar

jornaliacutestico humanizado momentos significativos das histoacuterias desses protagonistas No

iniacutecio os personagens contam como eram suas vidas antes das ruas e quais fatores os

levaram a essa situaccedilatildeo Logo depois eacute apresentado um relato sobre os medos

dificuldades perigos e preconceitos enfrentados por cada um deles Por fim os quatro

personagens contam o caminho percorrido para a retomada de suas vidas e quais seus

planos para o futuro

Palavras-chaves Documentaacuterio Jornalismo Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Vulnerabilidade social Relatos de vida

10

ABSTRACT

The documentary bdquoMemoacuteria das Ruas‟ addresses the experiences of four people who

rewrot their stories and succeeded in overcoming the period of invisibility experienced

during the time they lived on the streets The project produced between August and

September 2017 sought to approach in a humanized way significant moments of the

stories os these protagonists In a first moment the characters tell how their lives were

before the streets and what factors led them to this situation In sequence its present na

account of the fears difficulties dangers and prejudice faced by each one of them In

conclusion all the characters tell the story of their lives and their plans for the future

Keywords Documentary Journalism Population in street situation Social

vulnerability Life stories

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Moradia limpa digna e segura Mesmo sendo uma garantia baacutesica assegurada

pelo artigo 6ordm do Capiacutetulo II da Constituiccedilatildeo Brasileira de 19881 a realidade por traacutes

deste direito no Brasil ainda estaacute longe de ser a ideal Por conta dos abismos

socioeconocircmicos que persistem em dividir a populaccedilatildeo em diferentes classes sociais

uma boa parcela dos brasileiros continua sem acesso a oportunidades e um dos

principais reflexos desta situaccedilatildeo eacute a falta de moradia adequada para todos

A crise financeira o aumento exponencial do desemprego e a dependecircncia

quiacutemica satildeo fatores relevantes que tecircm sua parcela de contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo do

cenaacuterio em que as ruas - um espaccedilo comum a todos - tecircm se tornado lugar de

permanecircncia das parcelas menos favorecidas da populaccedilatildeo O Brasil natildeo possui dados

oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima

estimativa2 divulgada em 2015 revelou que naquele ano o paiacutes tinha 101854 dos seus

habitantes vivendo essa realidade

Em 2017 o nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal (DF) de

acordo com a Secretaria do Trabalho Desenvolvimento Social Mulheres Igualdade

Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) era de trecircs mil pessoas ou seja 01 de

toda a populaccedilatildeo da capital federal que em 2017 era de 3 milhotildees de pessoas3

O fenocircmeno que persiste e a cada ano parece crescer eacute um problema social que

pode gerar consequecircncias graves para pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Por conta disso o foco deste trabalho centra-se em contar histoacuterias de vida de pessoas

que fizeram parte dessa populaccedilatildeo frequentemente esquecida e renegada ao abandono

A proposta baseia-se na realizaccedilatildeo de um documentaacuterio Produzido entre agosto e

novembro de 2017 o projeto foi planejado de forma a retratar histoacuterias e vivecircncias de

quatro personagens que vatildeo compartilhar suas experiecircncias dificuldades e

1BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado

Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

2 O Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) possui uma pesquisa intitulada Estimativa da

Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua no Brasil de Marcos Antocircnio Carvalho Natalino publicada em outubro

de 2016 O estudo apresenta dados referentes ao ano de 2015

Conteuacutedo disponiacutevel em httpwwwipeagovbr

Acesso 21 de maio de 2018

3Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 30 de agosto de

2017

Conteuacutedo disponiacutevel em httpscidadesibgegovbr

Acesso 21 de maio de 2018

12

aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas

pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua

O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o

restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o

uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua

brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as

pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os

motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos

mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho

Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o

histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida

antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa

apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver

nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos

enfrentados

A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores

significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro

personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos

ao serem ignorados pela sociedade

Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar

em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos

quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e

contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila

2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS

Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema

escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute

4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008

Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr

Acesso 21 de maio de 2018

13

mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que

enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa

―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar

naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre

como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente

Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se

que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas

puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio

Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla

sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo

desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos

de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos

Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a

abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o

jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com

outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em

mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente

os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo

Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave

idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No

lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de

transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas

comuns

Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado

anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e

preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo

senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos

agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua

natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao

viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou

pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas

Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a

estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por

que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um

14

problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a

alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem

tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam

afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo

pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar

a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e

contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida

21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa

Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo

definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema

interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute

assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees

Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a

ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees

poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento

propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do

processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa

por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a

presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal

Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a

ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma

reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma

experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado

especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as

dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em

averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi

constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves

manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute

a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as

5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil

pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017

Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html

Acesso 21 de maio de 2018

15

histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos

relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por

muito tempo presos agraves ruas

Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato

o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees

importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos

em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e

propaganda

Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na

produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma

das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo

Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se

somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou

na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de

funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio

pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores

Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias

inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para

participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho

Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos

saiacutedo do campo das ideias

16

3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS

31 Objetivo Geral

O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito

da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de

quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos

anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua

32 Objetivo Especiacuteficos

Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua

por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio

Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a

respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das

vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua

17

4REFERENCIAL TEOacuteRICO

41 Nomenclatura

Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho

baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como

forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o

leitor ou espectador a se interessar pelo assunto

Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta

para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas

diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos

autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na

rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado

definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se

referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem

concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []

ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo

heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos

Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes

indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que

―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se

apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que

tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas

palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que

afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito

As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo

elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar

essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva

especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo

A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais

apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo

resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave

condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou

condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de

acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)

18

Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a

preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete

em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar

a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores

pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma

condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo

42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua

Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)

De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para

a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a

pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou

fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional

regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas

degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma

temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de

acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia

provisoacuteriasup1

No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou

um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser

unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas

19

malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto

vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico

e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o

sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa

condiccedilatildeo

O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui

apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas

determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela

sociabilidade capitalista que produz um contingente de

pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo

possuem moradia convencional O modo capitalista de

produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das

classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na

desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo

acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de

subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)

Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um

problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge

muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro

que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um

local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a

criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer

de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas

Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e

passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das

caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do

ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua

Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se

unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia

na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre

outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era

atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que

o mercado capitalista dispotildee

Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o

preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela

aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima

reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo

costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua

20

43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal

O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em

situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de

Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra

que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A

pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais

de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento

Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em

2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01

de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs

milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que

os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga

respectivamente

A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal

causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia

de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo

fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de

viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)

A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta

por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa

etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas

representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a

masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos

A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem

impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou

pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social

historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem

maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado

6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se

ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio

Carvalho Natalino

Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf

Acesso em 21 de maio de 2018

21

em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46

branca

Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em

situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional

com 127 e somente 78 devido problemas com drogas

A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua

afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas

chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente

externo urbano passam ao usar

O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo

preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes

para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de

encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)

da realidade experimentada em seus cotidianos algumas

drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos

(GATTI e PEREIRA 2011 p88)

Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute

ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a

repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)

tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e

pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante

exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores

de materiais reciclaacuteveis

Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso

ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a

nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas

governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem

todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo

de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a

direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos

como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do

governo

22

44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas

Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta

de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora

com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente

reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a

contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal

incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua

Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu

alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e

ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees

religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas

somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam

dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o

modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi

criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei

federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de

Assistecircncia Social (LOAS)

Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de

Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que

subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto

ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em

Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil

a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia

dessa populaccedilatildeo

No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em

Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital

federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do

seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de

rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A

populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado

23

da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador

Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para

adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para

mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de

Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem

situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de

Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute

acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues

disponibilizados pelo Governo

A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute

cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e

descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto

com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos

paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde

satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo

Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e

Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em

comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser

uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico

Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do

uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo

exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo

para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode

durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na

rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra

caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel

teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados

Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de

forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico

individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de

junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o

funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com

transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas

24

Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito

Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas

do Distrito Federal (CONEN-DF)

De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito

Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas

centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a

toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel

institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a

responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o

formulador das poliacuteticas sociais

A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar

esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de

acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem

mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute

tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas

45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico

Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais

raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade

jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel

importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute

mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa

atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria

Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar

luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave

vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de

complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que

buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as

equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)

A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm

defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos

relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da

deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor

25

agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida

por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa

humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto

social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos

primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p

9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa

capaz de transformar tanto o narrado como o narrador

No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto

mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo

[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados

os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a

compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o

jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e

enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7

Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por

privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz

ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo

do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no

jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha

pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)

De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo

quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do

cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o

diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura

dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []

Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem

(MEDINA 1999 p28)

A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem

tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os

mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a

busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da

observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a

comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute

amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos

Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as

accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas

atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos

7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento

[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli

26

desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a

contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que

originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN

2008 p8)

No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda

eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando

essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha

editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-

estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do

assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam

em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo

Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem

principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a

pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de

vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel

minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo

publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que

levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)

Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado

ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo

frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos

meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados

compartilhados pela sociedade

Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho

debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de

abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior

do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as

trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das

ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais

Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a

situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social

Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos

se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto

Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer

jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem

27

somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao

maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado

acontecimento

5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa

voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram

em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a

abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A

partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de

entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre

o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de

informaccedilotildees dos personagens

A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma

forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a

necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o

entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos

linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de

aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma

teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de

questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos

complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)

De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo

abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e

abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se

trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa

(SILVA 2016 p35)

Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o

trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo

do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos

para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto

28

51 Formato audiovisual

Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de

caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos

pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas

fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem

sobre o tema

Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao

trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto

escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo

utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser

alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar

coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era

conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz

alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato

Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em

uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que

os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este

projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e

membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa

populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas

Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de

tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o

projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de

campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie

documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de

abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e

tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos

personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era

necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em

situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar

essa condiccedilatildeo

A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto

Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a

29

situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto

Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa

decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos

protagonistas

Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa

quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era

mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo

Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para

o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a

fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe

uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim

a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo

sobre o tema

52 Personagens

Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que

comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e

entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim

termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no

documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute

haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o

primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de

rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa

condiccedilatildeo fosse a mesma

O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho

Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram

pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos

personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas

que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo

seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar

relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de

personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas

mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas

30

O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele

morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos

16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando

provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a

trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo

a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o

colocou para fora de casa

Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa

de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute

recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute

que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia

apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o

convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje

estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras

pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas

Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)

A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um

casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram

em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo

trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia

31

de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a

fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando

alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua

Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-

companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se

conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para

Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde

permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute

voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de

amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa

para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro

Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)

Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees

distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie

documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e

sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo

alcoolismo

Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma

vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve

seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade

32

ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de

Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram

Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e

passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --

fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu

concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar

renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa

condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar

outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e

fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea

Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)

53 Preacute-produccedilatildeo

A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido

definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi

preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura

por produtos audiovisuais que abordassem o tema

A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos

conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma

condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou

33

pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes

essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que

estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela

Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao

mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para

viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV

- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para

auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria

disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma

ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio

Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho

posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou

registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV

assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume

Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller

(vide apecircndice I)

Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca

formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos

auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e

produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela

tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos

participantes (vide anexo I)

Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um

cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees

relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo

telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo

Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos

contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as

gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo

34

Tabela 1 ndash Lista completa da equipe

EQUIPE

CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA

PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA

FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E

LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA

EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA

Fonte Marcus Barbosa (2018)

54 Produccedilatildeo

Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o

cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era

necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos

personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios

diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das

obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito

um esforccedilo para seguir de perto o roteiro

Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria

dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria

responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos

planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a

produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua

experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos

equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada

Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista

uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para

fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios

momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo

guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se

abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas

35

no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas

isso nem sempre deu certo

Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o

esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e

Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio

em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe

Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se

delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens

do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um

indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera

Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que

ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um

canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das

gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o

primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no

microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao

cronograma de gravaccedilotildees

Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)

36

Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)

Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com

o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele

foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as

entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de

Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as

gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas

Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de

gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente

para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos

concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas

37

Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus

Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)

55 Poacutes-produccedilatildeo

Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo

foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio

que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)

Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia

Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material

O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome

provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio

da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por

escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os

personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que

traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas

38

561 Identidade visual

A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de

publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela

animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura

foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais

proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas

Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes

de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com

maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com

boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca

por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto

Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para

a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)

Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)

39

Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)

Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

40

6 CRONOGRAMA DE PESQUISA

Tabela 2 ndash Cronograma de atividades

DATAS ETAPAS

Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica

(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)

Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens

Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas

Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees

510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega

para ediccedilatildeo

Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio

Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo

Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa

180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca

Fonte Marcus Barbosa (2018)

41

7 ORCcedilAMENTO

Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais

VALORES IacuteTENS

R$ 9700 Estabilizador de celular

R$ 25000 Microfone de Lapela

R$ 29000 HD Externo

R$ 35000 Gasolina

R$ 29700 Impressatildeo de material visual

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II

VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)

R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD

R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg

R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash

Wm6 UHF

R$ 8900 Rebatedor

R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +

Tripeacute 2m

R$ 99900 Identidade visual para o produto

R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de

duraccedilatildeo

R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

42

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi

possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que

existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em

situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao

passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos

ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E

com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que

integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute

preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses

indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa

condiccedilatildeo

Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia

com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de

rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas

entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem

desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o

auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num

problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons

exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e

o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -

Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou

provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida

dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo

No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi

um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente

nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar

o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea

tambeacutem foi de suma importacircncia

Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar

histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas

preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade

nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das

43

histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que

chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo

tudo

Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes

deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de

ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar

tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista

44

REFEREcircNCIAS

ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser

humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico

BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise

referencial de serviccedilo socioassistencial de Satildeo Paulo e Brasiacutelia 2015 64 f Trabalho

de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Serviccedilo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2015 Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048317307

Acesso 21 de maio de 2018

BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil

Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua um estudo sobre pobreza necessidades humanas e miacutenimos

sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de

Brasiacutelia Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel

emhttpbdmunbbrbitstream10483257312011_AmaranthaSaTelesdeCerqueirapdf

Acesso 21 de maio de 2018

CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009

DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005

GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-

EDUC 2006

MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de

moradores de rua em Taguatinga-DF 2016 60 f Trabalho de conclusatildeo de curso

(Bacharelado em Sauacutede Coletiva)mdashUniversidade de Brasiacutelia Ceilacircndia 2016

Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048315988

Acesso em 21 de maio de 2018

Mattos RM Ferreira RF Quem vocecircs pensam que (elas) satildeo Representaccedilotildees

sobre as pessoas em situaccedilatildeo de rua Psicologia amp Sociedade 16 (2) 47-58

maioago2004 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfpsocv16n2a07v16n2pdf

Acesso 21 de maio de 2018

MELO Cristina Teixeira V de GOMES Isaltina Mello MORAIS Wilma O

documentaacuterio jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral In Intercom - 25ordm Congresso

Brasileiro de Comunicaccedilatildeo Campo Grande 2001 Disponiacutevel em

httpwwwintercomorgbrpapersnacionais2001papersNP7MELOPDF

Acesso 21 de maio de 2018

MONTIPOacute Criselli FARAH Acircngela Relato humanizado no jornalismo a

importacircncia da humanizaccedilatildeo na narrativa para um jornalismo transformador In

45

Miacutedia Cidadatilde 2009 - V Conferecircncia Brasileira de Miacutedia Cidadatilde 2009 Guarapuava

Anais Guarapuava 2009 p 906 - 923 Disponiacutevel em httpwwwunicentrobrredemc

Acesso 21 de maio de 2018

MOURA Rodrigo Coelho Bacellar Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo

de Rua uma anaacutelise da participaccedilatildeo social no processo de implementaccedilatildeo da poliacutetica

2016 30 f Trabalho de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Gestatildeo de Poliacuteticas

Puacuteblicas)mdashUniversidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2016 Disponiacutevel em

httpbdmunbbrhandle1048316261

Acesso 21 de maio de 2018

SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-

BA um estudo de caso UNEB 2009

SILVA Fabiacuteola Mariano da Humanizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e gestatildeo centrada nas

pessoas - entrevista em profundidade Laboratoacuterio Sabin 2016 56 f Trabalho de

conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2016

SILVA Maria Lucia Lopes da Trabalho e Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua no Brasil

1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009

SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica

Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009

Referecircncias audiovisuais

BOCA de rua ndash Vozes de Uma Gente Invisiacutevel Marcelo Andrighetti 10rsquo01 Disponiacutevel

em httpswwwyoutubecomuserbocaderuaofilme

Acesso em 21 de maio de 2018

UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e

Victoacuteria Cristina Costa Disponiacutevel em

httpswwwfacebookcomserieumapaginapordia

Acesso em 21 de maio de 2018

O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em

httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes

3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw

Acesso em 21 de maio de 2018

46

APEcircNDICES

47

APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Brasiacutelia 28 de agosto de 2017

Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV

Prezada Sra Neuza Meller

Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para

realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de

Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de

um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em

Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula

130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a

orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula

UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em

situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal

Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo

acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a

aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as

histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de

conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o

desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo

entrevistas e ediccedilatildeo do material captado

Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma

parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo

de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a

grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse

48

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais

sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer

esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail

marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189

Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo

Cordialmente

Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

49

APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)

TER (1909)

QUA (2009) ENTREVISTA

Quem Ademir e Claacuteudia

Horaacuterio 15h

End Luziacircnia GO

QUI (2109)

SEX (2209) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAB ( 2309)

DOM (2409)

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA

Quem Claacuteudia e Ademir

Horaacuterio 14h

End Praccedila do Compromisso Asa Sul

TER (2609)

QUA (2709)

QUI (2809) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 15h

End Ceilacircndia

SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAacuteB (3009) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End SCS

DOM (0110)

MANHAtilde TARDE NOITE

SEG (0210)

TER (0310)

QUA (0410) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 9h

Endereccedilo Centro de

Taguatinga

QUI (0510) ENTREVISTA

Quem Ademir

Horaacuterio 15h

End Parque da Cidade

SEX (0610)

SAacuteB (0710)

DOM (0810)

QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Lucas Cacircndia

Horaacuterio 16h

End Aacuterea central de Brasiacutelia

50

APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a

situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos

durante o periacuteodo nas ruas

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo

com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc

2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar

3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua

4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas

5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua

6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua

7 Como era sua rotina na rua

8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo

9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele

periacuteodo

10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como

abrigo sauacutede etc

11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter

12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais

sobre isso

13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou

simplesmente agia com indiferenccedila

51

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o

futuro

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva

de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real

2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo

3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo

4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou

em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio

5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar

6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de

recuperaccedilatildeo

7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para

frente

8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que

ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria

52

APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida

FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia

PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca

ED DE IMAGENS Julia Nogueira

ARTE Sarah Silva

CENA DE

AMBIENTACcedilAtildeO

ARQUIVO

Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio

SONORA 1 CLAacuteUDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE CORTE

126 -- 147 +

327 -- 345

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu

trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht

mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)

―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu

comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para

vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0025 -- 0109

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma

pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma

discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu

abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas

SONORA 4 DANIELA

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE

213 --300

Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos

tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da

luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de

relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era

acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente

ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar

53

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai

brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma

hora

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e

minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela

sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri

muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem

africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 4

03 -- 434

(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha

vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet

os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida

maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu

Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje

SONORA 6 Daniela

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE

434 --446 + 528 -- 539

―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro

semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos

difiacuteceis +

―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc

vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu

escutei

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

842 --914

―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito

dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu

acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com

uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica

cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil

SONORA DANIELA

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

551 --622

ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um

computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus

aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc

tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12

minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que

Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano

teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo

54

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144

depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria

com as drogas

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

256 -- 330

―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia

cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu

frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro

com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que

chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0424 -- 0439

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente

mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo

mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era

bebida

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212

Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo

abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

550 -- 603

―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da

bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo

notam mas notam

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0401 -- 0408

O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro

dia bebendo porque eu precisava beber

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304

Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A

gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra

gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute

diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia

Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e

gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde

SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei

55

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

759 --813 + 825 -- 840

+ 915 --9 22

PODE ENXUGAR

muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai

argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +

E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me

ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e

nossa aquilo ali me doeu +

―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu

natildeo volto mais

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

126 -- 153 + 216 --231

―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e

ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era

casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na

eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +

―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa

natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me

pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347

Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa

para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou

para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para

mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas

SONORA Daniela

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

953 --1016 + 120 --

124

PODE ENXUGAR

ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que

eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava

dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo

E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso

aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar

minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova

trajetoacuteria

SONORA Claudia

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

427 --439

―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma

coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se

conhece um conhece outro

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0048 ---0109

Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca

soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse

dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

516 -- 521

―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto

entatildeo vc entra

SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo

tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte

56

ARQUIVO 967_0430_03

TEMPO DE CORTE

926 -- 938

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0814

-- 0834

No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da

que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua

esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio

Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0707 -- 0726

Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu

viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu

corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar

mais

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 217

-- 230

―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer

uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa

de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0706

-- 0725

Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo

que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do

lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a

gente a sobreviver na rua

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE

CORTE0013 --018 (+)

1128 --1137

―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq

barulho a gente acorda

(+)

―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade

de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde

SONORA ADRIANO LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio

sincronizado

TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628

Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece

que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute

terriacutevel

57

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE 958

-- 1002 + 931 -- 945 +

1025 -- 1030

―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute

um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma

alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas

se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que

estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE

222-- 245

―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente

chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela

e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar

para vc

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE

701 -- 714

(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a

frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute

super-homem natildeo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli -

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0432

-- 0437

Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de

viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia

morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE 655

--710 +730 -- 804

PODE ENXUGAR

(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que

to com catarata pq natildeo notei 710 +

(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para

traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui

para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a

danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e

e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1109

--1116

+

―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila

comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da

minha mochila

(+)

58

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1032

--1036

+

ARQUIVO 256_2764_02

TEMPO DE CORTE 1101

-- 1115

ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa

(+)

―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai

que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho

comigo ningueacutem queria mais falar comigo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 0300

--0308

―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber

os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 1540

-- 1556

Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te

apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio

decadente

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE

0824 -- 0857

Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa

marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc

eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um

saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam

natildeo estatildeo nem aiacute

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 241

-- 0300

―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como

pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto

de vc muito existe demais demais

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0508 -- 05 30

Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar

eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te

tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe

uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas

59

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_03

TEMPO DE CORTE

241 --256

(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema

esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc

vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0841 -- 0853 (+) 0302 -

-0322

Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu

preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes

(+)

Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa

vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de

novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo

tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci

minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 741

--806 +

803-- 804 +

811 -- 815

(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um

tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando

eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +

(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para

Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE 0638

-- 0653

Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava

a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas

mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a

gente piorava cada vez mais

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 837

-- 848 (+) 557-- 606

Sera que daacute para cortar o

som externo nessa parte

Senatildeo pode cortar

― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e

estradas

+

―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo

para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava

60

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

1251 -- 1306

Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia

morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o

meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 604

-- 618

+

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

521 -- 533

― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter

outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com

outra coisa natildeo com a rua +

―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui

uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_06

TEMPO DE CORTE

101--121

―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro

todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a

condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no

coraccedilatildeo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 0551 -- 613

―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da

forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o

fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai

se entregar eacute assim que eu pensava

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0127 -- 0151

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era

meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais

abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava

esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda

61

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 852 - 906

―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me

arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me

arrependo mesmo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 1305 - 1326

―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc

esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente

todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que

arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei

quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais

forccedila

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0428 -- 0500

―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e

procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi

a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma

pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de

tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute

tudo mudou

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

814 - 835

―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria

fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir

para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1056 - 1111

―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou

estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute

arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0726 -- 0748

ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de

recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar

um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa

se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou

acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento

62

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE

0231 -- 0248

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA

EvDICcedilAtildeO

―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua

vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e

quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma

forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1207 - 1231

―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a

gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o

organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida

e em qlq bar vc consegue

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0532 --609

―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi

aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis

tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos

mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente

que eu recebi

SONORA Dani

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 516 - 528

―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar

terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu

tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

924 - 1000

(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo

esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta

repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter

uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em

restaurantes

SONORA ADRIANO

LUGOLI

Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo

esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao

63

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0821 -- 856

Avaliar se corta o final

ou enxuga

era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando

via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_04

TEMPO DE CORTE

109 -130 (+)

1100 -1103

― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na

cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um

pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito

oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna

+

―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 126 - 142

ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que

eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que

eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0900 - 943

―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha

vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente

que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim

que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me

abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_03

TEMPO DE

CORTE034 - 044 +

113- 117

(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos

estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +

113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando

(117)

SONORA Dani

ARQUIVO

―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas

paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu

olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu

64

965_0748_02

TEMPO DE CORTE 240 - 308)

interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem

de fazer oq eu eu fiz

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_04

TEMPO DE CORTE -

045 - 111

― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo

de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova

oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p

vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -

910

―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus

irmatildeos +

―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que

eu tenho para ele eacute o silecircncio

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423

―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)

―e depois que essa historia foi p jornal revista tv

eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia

acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao

que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_02

TEMPO DE CORTE

852 - 920

― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela

situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de

alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute

sozinha natildeo vai conseguir

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 611 - 633

―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca

esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios

propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar

algo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE

―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso

nem ter uma casinha para morar

65

CORTE1313 - 1321

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

706 - 732

ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem

pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do

mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb

vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1129 - 1200

―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que

quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam

de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua

vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que

as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica

oportunidade elas conseguem

Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos

66

APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem

Fonte Ana Paula Fonseca (2017)

67

APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia

Fonte Marcus Barbosa (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

68

APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD

Fonte Sarah Silva (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Page 4: Universidade de Brasília Departamento de Jornalismo...nosso trabalho. Tenho certeza que suas histórias inspiradoras vão impactar a cada um que assistir a esse documentário. À

3

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agrave Jeovaacute Deus por sustentar a minha vida e por garantir Seu apoio

incondicional em todos os momentos da minha vida Sem duacutevidas consigo concluir o

periacuteodo da graduaccedilatildeo e as mais diversas pressotildees imaginaacuteveis por conta do Seu

amoroso cuidado

Agrave minha famiacutelia que sempre me apoiou das mais diversas maneiras possiacuteveis Cito em

especial minha matildee Margarete que mesmo nos momentos mais estressantes em que a

ansiedade fazia com que eu perdesse a paciecircncia estava ao meu lado procurando me

ouvir e de alguma forma me ajudar Agradeccedilo a meu pai Carlos por sempre acreditar

no meu potencial e me incentivar a dar o meu melhor em tudo que faccedilo Devo citar

tambeacutem minha queria avoacute Yolanda que sempre esteve por perto me incentivando e

demonstrando seu orgulho por mim

Agrave Neila que foi minha grande parceira na idealizaccedilatildeo desse projeto De fato nosso

iacutempeto incansaacutevel em realizar um trabalho de excelecircncia produziu um belo resultado do

qual me orgulho muito Obviamente natildeo vou esquecer nossas longas viagens ateacute as

gravaccedilotildees nossas vaacuterias discussotildees sobre a abordagem do tema a escolha das histoacuterias

as muitas conversas para formatar o produto e os detalhes finais Eacute meu dever lembrar

que esse documentaacuterio foi produzido totalmente ―a quatro matildeos jaacute que todas as tarefas

e decisotildees foram divididas entre noacutes Pena que um entrave burocraacutetico tenha nos divido

na apresentaccedilatildeo deste trabalho mas sei que vou contar contigo nesse momento

importante

Agrave aqueles que aceitaram dividir sua histoacuteria conosco Ademir Claacuteudia Daniele e

Adriano suas experiecircncias de vida proporcionaram conversas incriacuteveis e com certeza

iniciaram uma amizade que quero levar comigo Muito obrigado pela confianccedila no

nosso trabalho Tenho certeza que suas histoacuterias inspiradoras vatildeo impactar a cada um

que assistir a esse documentaacuterio

Agrave nossa querida orientadora Ana Carolina Kalume Muito obrigado por acreditar no

nosso trabalho ndash muitas vezes mais do que noacutes mesmos ndash e tambeacutem por sempre nos

indicar maneiras de aprimoraacute-lo

4

Agrave UnBTV e sua diretora Neuza Meller que confiou em nossa ideia e nos apoiou

bastante liberando seu quadro profissional para nos ajudar com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo

do material

Por fim a toda equipe que colaborou para tornar esse projeto possiacutevel Seremos sempre

gratos a ajuda de cada um de vocecircs Ana Paula essencial na produccedilatildeo Julia Nogueira e

sua incriacutevel ediccedilatildeo Sarah Silva com a animaccedilatildeo e identidade visual e Alex Baacuterbara

Fernando Lucas e Raphael pelas beliacutessimas imagens feitas durante as gravaccedilotildees

5

Natildeo devemos ter medo

das novas ideias Elas podem

significar a diferenccedila entre o triunfo

e o sucessordquo

(Napoleon Hill)

6

Sumaacuterio LISTA DE FIGURAS 8

LISTA DE TABELAS 8

RESUMO 9

ABSTRACT 10

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS 12

21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa 14

3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS 16

31 Objetivo Geral 16

32 Objetivo Especiacuteficos 16

4REFERENCIAL TEOacuteRICO 17

41 Nomenclatura 17

42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua 18

43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal 20

44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas 22

45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico 24

5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 27

51 Formato audiovisual 28

52 Personagens 29

53 Preacute-produccedilatildeo 32

54 Produccedilatildeo 34

55 Poacutes-produccedilatildeo 37

561 Identidade visual 38

6 CRONOGRAMA DE PESQUISA 40

7 ORCcedilAMENTO 41

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 42

REFEREcircNCIAS 44

Referecircncias audiovisuais 45

APEcircNDICES 46

APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV 47

7

APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas 49

APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas 50

APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo 52

APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem 66

APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia 67

APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD 68

8

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia 18

FIGURA 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto 30

FIGURA 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro 31

FIGURA 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela natildeo parou de trabalhar e estudarhelliphellip 32

FIGURA 5 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul em Brasiacutelia 35

FIGURA 6 ndash Gravaccedilatildeo na Praccedila do Compromisso Asa Sul Brasiacutelia 36

FIGURA 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli Da

esquerda para a direita Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista

cedido pela UnBTV) Marcus Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) 37

FIGURA 8 -ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower 38

FIGURA 9 - Paleta de cores escolhida 39

FIGURA 10 - Arte da capa para o DVD 39

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 ndash Lista completa da equipe 34

TABELA 2 ndash Cronograma de atividades 40

TABELA 3 ndash Orccedilamento de materiais 41

TABELA 4 ndash Orccedilamento de materiais II 42

9

RESUMO

O documentaacuterio ldquoMemoacuteria das Ruasrdquo aborda as experiecircncias de quatro pessoas que

reescreveram suas histoacuterias e conseguiram superaram o periacuteodo de invisibilidade

experimentado durante o tempo em que viveram em situaccedilatildeo de rua O projeto

produzido entre os meses de agosto e novembro de 2017 buscou abordar com olhar

jornaliacutestico humanizado momentos significativos das histoacuterias desses protagonistas No

iniacutecio os personagens contam como eram suas vidas antes das ruas e quais fatores os

levaram a essa situaccedilatildeo Logo depois eacute apresentado um relato sobre os medos

dificuldades perigos e preconceitos enfrentados por cada um deles Por fim os quatro

personagens contam o caminho percorrido para a retomada de suas vidas e quais seus

planos para o futuro

Palavras-chaves Documentaacuterio Jornalismo Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Vulnerabilidade social Relatos de vida

10

ABSTRACT

The documentary bdquoMemoacuteria das Ruas‟ addresses the experiences of four people who

rewrot their stories and succeeded in overcoming the period of invisibility experienced

during the time they lived on the streets The project produced between August and

September 2017 sought to approach in a humanized way significant moments of the

stories os these protagonists In a first moment the characters tell how their lives were

before the streets and what factors led them to this situation In sequence its present na

account of the fears difficulties dangers and prejudice faced by each one of them In

conclusion all the characters tell the story of their lives and their plans for the future

Keywords Documentary Journalism Population in street situation Social

vulnerability Life stories

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Moradia limpa digna e segura Mesmo sendo uma garantia baacutesica assegurada

pelo artigo 6ordm do Capiacutetulo II da Constituiccedilatildeo Brasileira de 19881 a realidade por traacutes

deste direito no Brasil ainda estaacute longe de ser a ideal Por conta dos abismos

socioeconocircmicos que persistem em dividir a populaccedilatildeo em diferentes classes sociais

uma boa parcela dos brasileiros continua sem acesso a oportunidades e um dos

principais reflexos desta situaccedilatildeo eacute a falta de moradia adequada para todos

A crise financeira o aumento exponencial do desemprego e a dependecircncia

quiacutemica satildeo fatores relevantes que tecircm sua parcela de contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo do

cenaacuterio em que as ruas - um espaccedilo comum a todos - tecircm se tornado lugar de

permanecircncia das parcelas menos favorecidas da populaccedilatildeo O Brasil natildeo possui dados

oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima

estimativa2 divulgada em 2015 revelou que naquele ano o paiacutes tinha 101854 dos seus

habitantes vivendo essa realidade

Em 2017 o nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal (DF) de

acordo com a Secretaria do Trabalho Desenvolvimento Social Mulheres Igualdade

Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) era de trecircs mil pessoas ou seja 01 de

toda a populaccedilatildeo da capital federal que em 2017 era de 3 milhotildees de pessoas3

O fenocircmeno que persiste e a cada ano parece crescer eacute um problema social que

pode gerar consequecircncias graves para pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Por conta disso o foco deste trabalho centra-se em contar histoacuterias de vida de pessoas

que fizeram parte dessa populaccedilatildeo frequentemente esquecida e renegada ao abandono

A proposta baseia-se na realizaccedilatildeo de um documentaacuterio Produzido entre agosto e

novembro de 2017 o projeto foi planejado de forma a retratar histoacuterias e vivecircncias de

quatro personagens que vatildeo compartilhar suas experiecircncias dificuldades e

1BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado

Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

2 O Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) possui uma pesquisa intitulada Estimativa da

Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua no Brasil de Marcos Antocircnio Carvalho Natalino publicada em outubro

de 2016 O estudo apresenta dados referentes ao ano de 2015

Conteuacutedo disponiacutevel em httpwwwipeagovbr

Acesso 21 de maio de 2018

3Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 30 de agosto de

2017

Conteuacutedo disponiacutevel em httpscidadesibgegovbr

Acesso 21 de maio de 2018

12

aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas

pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua

O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o

restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o

uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua

brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as

pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os

motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos

mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho

Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o

histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida

antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa

apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver

nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos

enfrentados

A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores

significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro

personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos

ao serem ignorados pela sociedade

Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar

em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos

quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e

contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila

2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS

Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema

escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute

4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008

Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr

Acesso 21 de maio de 2018

13

mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que

enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa

―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar

naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre

como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente

Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se

que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas

puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio

Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla

sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo

desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos

de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos

Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a

abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o

jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com

outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em

mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente

os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo

Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave

idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No

lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de

transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas

comuns

Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado

anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e

preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo

senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos

agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua

natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao

viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou

pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas

Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a

estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por

que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um

14

problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a

alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem

tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam

afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo

pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar

a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e

contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida

21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa

Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo

definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema

interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute

assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees

Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a

ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees

poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento

propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do

processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa

por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a

presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal

Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a

ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma

reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma

experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado

especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as

dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em

averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi

constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves

manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute

a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as

5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil

pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017

Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html

Acesso 21 de maio de 2018

15

histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos

relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por

muito tempo presos agraves ruas

Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato

o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees

importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos

em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e

propaganda

Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na

produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma

das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo

Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se

somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou

na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de

funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio

pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores

Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias

inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para

participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho

Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos

saiacutedo do campo das ideias

16

3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS

31 Objetivo Geral

O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito

da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de

quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos

anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua

32 Objetivo Especiacuteficos

Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua

por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio

Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a

respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das

vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua

17

4REFERENCIAL TEOacuteRICO

41 Nomenclatura

Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho

baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como

forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o

leitor ou espectador a se interessar pelo assunto

Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta

para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas

diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos

autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na

rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado

definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se

referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem

concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []

ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo

heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos

Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes

indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que

―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se

apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que

tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas

palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que

afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito

As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo

elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar

essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva

especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo

A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais

apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo

resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave

condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou

condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de

acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)

18

Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a

preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete

em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar

a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores

pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma

condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo

42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua

Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)

De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para

a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a

pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou

fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional

regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas

degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma

temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de

acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia

provisoacuteriasup1

No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou

um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser

unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas

19

malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto

vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico

e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o

sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa

condiccedilatildeo

O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui

apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas

determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela

sociabilidade capitalista que produz um contingente de

pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo

possuem moradia convencional O modo capitalista de

produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das

classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na

desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo

acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de

subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)

Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um

problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge

muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro

que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um

local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a

criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer

de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas

Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e

passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das

caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do

ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua

Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se

unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia

na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre

outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era

atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que

o mercado capitalista dispotildee

Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o

preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela

aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima

reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo

costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua

20

43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal

O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em

situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de

Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra

que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A

pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais

de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento

Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em

2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01

de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs

milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que

os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga

respectivamente

A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal

causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia

de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo

fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de

viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)

A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta

por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa

etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas

representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a

masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos

A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem

impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou

pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social

historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem

maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado

6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se

ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio

Carvalho Natalino

Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf

Acesso em 21 de maio de 2018

21

em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46

branca

Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em

situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional

com 127 e somente 78 devido problemas com drogas

A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua

afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas

chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente

externo urbano passam ao usar

O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo

preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes

para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de

encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)

da realidade experimentada em seus cotidianos algumas

drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos

(GATTI e PEREIRA 2011 p88)

Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute

ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a

repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)

tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e

pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante

exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores

de materiais reciclaacuteveis

Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso

ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a

nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas

governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem

todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo

de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a

direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos

como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do

governo

22

44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas

Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta

de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora

com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente

reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a

contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal

incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua

Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu

alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e

ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees

religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas

somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam

dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o

modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi

criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei

federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de

Assistecircncia Social (LOAS)

Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de

Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que

subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto

ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em

Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil

a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia

dessa populaccedilatildeo

No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em

Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital

federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do

seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de

rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A

populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado

23

da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador

Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para

adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para

mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de

Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem

situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de

Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute

acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues

disponibilizados pelo Governo

A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute

cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e

descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto

com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos

paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde

satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo

Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e

Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em

comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser

uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico

Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do

uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo

exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo

para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode

durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na

rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra

caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel

teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados

Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de

forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico

individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de

junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o

funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com

transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas

24

Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito

Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas

do Distrito Federal (CONEN-DF)

De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito

Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas

centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a

toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel

institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a

responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o

formulador das poliacuteticas sociais

A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar

esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de

acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem

mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute

tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas

45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico

Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais

raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade

jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel

importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute

mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa

atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria

Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar

luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave

vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de

complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que

buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as

equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)

A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm

defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos

relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da

deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor

25

agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida

por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa

humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto

social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos

primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p

9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa

capaz de transformar tanto o narrado como o narrador

No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto

mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo

[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados

os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a

compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o

jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e

enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7

Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por

privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz

ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo

do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no

jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha

pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)

De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo

quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do

cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o

diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura

dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []

Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem

(MEDINA 1999 p28)

A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem

tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os

mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a

busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da

observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a

comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute

amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos

Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as

accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas

atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos

7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento

[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli

26

desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a

contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que

originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN

2008 p8)

No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda

eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando

essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha

editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-

estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do

assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam

em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo

Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem

principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a

pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de

vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel

minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo

publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que

levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)

Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado

ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo

frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos

meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados

compartilhados pela sociedade

Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho

debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de

abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior

do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as

trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das

ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais

Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a

situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social

Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos

se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto

Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer

jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem

27

somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao

maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado

acontecimento

5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa

voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram

em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a

abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A

partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de

entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre

o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de

informaccedilotildees dos personagens

A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma

forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a

necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o

entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos

linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de

aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma

teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de

questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos

complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)

De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo

abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e

abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se

trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa

(SILVA 2016 p35)

Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o

trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo

do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos

para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto

28

51 Formato audiovisual

Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de

caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos

pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas

fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem

sobre o tema

Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao

trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto

escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo

utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser

alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar

coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era

conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz

alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato

Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em

uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que

os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este

projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e

membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa

populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas

Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de

tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o

projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de

campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie

documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de

abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e

tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos

personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era

necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em

situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar

essa condiccedilatildeo

A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto

Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a

29

situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto

Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa

decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos

protagonistas

Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa

quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era

mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo

Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para

o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a

fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe

uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim

a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo

sobre o tema

52 Personagens

Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que

comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e

entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim

termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no

documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute

haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o

primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de

rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa

condiccedilatildeo fosse a mesma

O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho

Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram

pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos

personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas

que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo

seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar

relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de

personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas

mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas

30

O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele

morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos

16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando

provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a

trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo

a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o

colocou para fora de casa

Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa

de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute

recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute

que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia

apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o

convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje

estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras

pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas

Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)

A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um

casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram

em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo

trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia

31

de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a

fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando

alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua

Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-

companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se

conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para

Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde

permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute

voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de

amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa

para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro

Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)

Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees

distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie

documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e

sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo

alcoolismo

Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma

vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve

seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade

32

ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de

Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram

Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e

passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --

fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu

concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar

renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa

condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar

outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e

fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea

Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)

53 Preacute-produccedilatildeo

A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido

definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi

preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura

por produtos audiovisuais que abordassem o tema

A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos

conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma

condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou

33

pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes

essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que

estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela

Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao

mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para

viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV

- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para

auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria

disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma

ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio

Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho

posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou

registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV

assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume

Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller

(vide apecircndice I)

Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca

formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos

auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e

produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela

tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos

participantes (vide anexo I)

Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um

cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees

relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo

telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo

Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos

contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as

gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo

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Tabela 1 ndash Lista completa da equipe

EQUIPE

CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA

PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA

FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E

LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA

EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA

Fonte Marcus Barbosa (2018)

54 Produccedilatildeo

Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o

cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era

necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos

personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios

diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das

obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito

um esforccedilo para seguir de perto o roteiro

Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria

dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria

responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos

planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a

produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua

experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos

equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada

Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista

uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para

fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios

momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo

guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se

abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas

35

no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas

isso nem sempre deu certo

Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o

esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e

Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio

em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe

Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se

delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens

do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um

indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera

Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que

ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um

canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das

gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o

primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no

microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao

cronograma de gravaccedilotildees

Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)

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Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)

Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com

o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele

foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as

entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de

Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as

gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas

Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de

gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente

para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos

concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas

37

Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus

Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)

55 Poacutes-produccedilatildeo

Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo

foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio

que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)

Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia

Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material

O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome

provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio

da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por

escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os

personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que

traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas

38

561 Identidade visual

A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de

publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela

animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura

foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais

proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas

Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes

de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com

maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com

boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca

por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto

Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para

a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)

Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)

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Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)

Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

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6 CRONOGRAMA DE PESQUISA

Tabela 2 ndash Cronograma de atividades

DATAS ETAPAS

Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica

(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)

Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens

Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas

Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees

510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega

para ediccedilatildeo

Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio

Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo

Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa

180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca

Fonte Marcus Barbosa (2018)

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7 ORCcedilAMENTO

Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais

VALORES IacuteTENS

R$ 9700 Estabilizador de celular

R$ 25000 Microfone de Lapela

R$ 29000 HD Externo

R$ 35000 Gasolina

R$ 29700 Impressatildeo de material visual

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II

VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)

R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD

R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg

R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash

Wm6 UHF

R$ 8900 Rebatedor

R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +

Tripeacute 2m

R$ 99900 Identidade visual para o produto

R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de

duraccedilatildeo

R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

42

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi

possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que

existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em

situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao

passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos

ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E

com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que

integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute

preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses

indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa

condiccedilatildeo

Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia

com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de

rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas

entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem

desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o

auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num

problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons

exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e

o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -

Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou

provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida

dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo

No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi

um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente

nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar

o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea

tambeacutem foi de suma importacircncia

Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar

histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas

preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade

nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das

43

histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que

chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo

tudo

Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes

deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de

ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar

tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista

44

REFEREcircNCIAS

ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser

humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico

BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise

referencial de serviccedilo socioassistencial de Satildeo Paulo e Brasiacutelia 2015 64 f Trabalho

de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Serviccedilo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2015 Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048317307

Acesso 21 de maio de 2018

BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil

Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua um estudo sobre pobreza necessidades humanas e miacutenimos

sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de

Brasiacutelia Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel

emhttpbdmunbbrbitstream10483257312011_AmaranthaSaTelesdeCerqueirapdf

Acesso 21 de maio de 2018

CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009

DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005

GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-

EDUC 2006

MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de

moradores de rua em Taguatinga-DF 2016 60 f Trabalho de conclusatildeo de curso

(Bacharelado em Sauacutede Coletiva)mdashUniversidade de Brasiacutelia Ceilacircndia 2016

Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048315988

Acesso em 21 de maio de 2018

Mattos RM Ferreira RF Quem vocecircs pensam que (elas) satildeo Representaccedilotildees

sobre as pessoas em situaccedilatildeo de rua Psicologia amp Sociedade 16 (2) 47-58

maioago2004 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfpsocv16n2a07v16n2pdf

Acesso 21 de maio de 2018

MELO Cristina Teixeira V de GOMES Isaltina Mello MORAIS Wilma O

documentaacuterio jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral In Intercom - 25ordm Congresso

Brasileiro de Comunicaccedilatildeo Campo Grande 2001 Disponiacutevel em

httpwwwintercomorgbrpapersnacionais2001papersNP7MELOPDF

Acesso 21 de maio de 2018

MONTIPOacute Criselli FARAH Acircngela Relato humanizado no jornalismo a

importacircncia da humanizaccedilatildeo na narrativa para um jornalismo transformador In

45

Miacutedia Cidadatilde 2009 - V Conferecircncia Brasileira de Miacutedia Cidadatilde 2009 Guarapuava

Anais Guarapuava 2009 p 906 - 923 Disponiacutevel em httpwwwunicentrobrredemc

Acesso 21 de maio de 2018

MOURA Rodrigo Coelho Bacellar Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo

de Rua uma anaacutelise da participaccedilatildeo social no processo de implementaccedilatildeo da poliacutetica

2016 30 f Trabalho de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Gestatildeo de Poliacuteticas

Puacuteblicas)mdashUniversidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2016 Disponiacutevel em

httpbdmunbbrhandle1048316261

Acesso 21 de maio de 2018

SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-

BA um estudo de caso UNEB 2009

SILVA Fabiacuteola Mariano da Humanizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e gestatildeo centrada nas

pessoas - entrevista em profundidade Laboratoacuterio Sabin 2016 56 f Trabalho de

conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2016

SILVA Maria Lucia Lopes da Trabalho e Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua no Brasil

1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009

SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica

Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009

Referecircncias audiovisuais

BOCA de rua ndash Vozes de Uma Gente Invisiacutevel Marcelo Andrighetti 10rsquo01 Disponiacutevel

em httpswwwyoutubecomuserbocaderuaofilme

Acesso em 21 de maio de 2018

UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e

Victoacuteria Cristina Costa Disponiacutevel em

httpswwwfacebookcomserieumapaginapordia

Acesso em 21 de maio de 2018

O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em

httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes

3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw

Acesso em 21 de maio de 2018

46

APEcircNDICES

47

APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Brasiacutelia 28 de agosto de 2017

Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV

Prezada Sra Neuza Meller

Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para

realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de

Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de

um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em

Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula

130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a

orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula

UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em

situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal

Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo

acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a

aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as

histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de

conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o

desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo

entrevistas e ediccedilatildeo do material captado

Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma

parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo

de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a

grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse

48

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais

sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer

esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail

marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189

Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo

Cordialmente

Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

49

APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)

TER (1909)

QUA (2009) ENTREVISTA

Quem Ademir e Claacuteudia

Horaacuterio 15h

End Luziacircnia GO

QUI (2109)

SEX (2209) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAB ( 2309)

DOM (2409)

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA

Quem Claacuteudia e Ademir

Horaacuterio 14h

End Praccedila do Compromisso Asa Sul

TER (2609)

QUA (2709)

QUI (2809) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 15h

End Ceilacircndia

SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAacuteB (3009) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End SCS

DOM (0110)

MANHAtilde TARDE NOITE

SEG (0210)

TER (0310)

QUA (0410) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 9h

Endereccedilo Centro de

Taguatinga

QUI (0510) ENTREVISTA

Quem Ademir

Horaacuterio 15h

End Parque da Cidade

SEX (0610)

SAacuteB (0710)

DOM (0810)

QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Lucas Cacircndia

Horaacuterio 16h

End Aacuterea central de Brasiacutelia

50

APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a

situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos

durante o periacuteodo nas ruas

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo

com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc

2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar

3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua

4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas

5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua

6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua

7 Como era sua rotina na rua

8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo

9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele

periacuteodo

10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como

abrigo sauacutede etc

11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter

12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais

sobre isso

13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou

simplesmente agia com indiferenccedila

51

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o

futuro

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva

de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real

2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo

3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo

4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou

em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio

5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar

6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de

recuperaccedilatildeo

7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para

frente

8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que

ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria

52

APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida

FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia

PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca

ED DE IMAGENS Julia Nogueira

ARTE Sarah Silva

CENA DE

AMBIENTACcedilAtildeO

ARQUIVO

Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio

SONORA 1 CLAacuteUDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE CORTE

126 -- 147 +

327 -- 345

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu

trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht

mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)

―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu

comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para

vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0025 -- 0109

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma

pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma

discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu

abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas

SONORA 4 DANIELA

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE

213 --300

Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos

tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da

luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de

relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era

acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente

ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar

53

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai

brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma

hora

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e

minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela

sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri

muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem

africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 4

03 -- 434

(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha

vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet

os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida

maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu

Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje

SONORA 6 Daniela

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE

434 --446 + 528 -- 539

―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro

semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos

difiacuteceis +

―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc

vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu

escutei

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

842 --914

―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito

dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu

acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com

uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica

cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil

SONORA DANIELA

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

551 --622

ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um

computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus

aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc

tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12

minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que

Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano

teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo

54

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144

depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria

com as drogas

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

256 -- 330

―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia

cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu

frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro

com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que

chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0424 -- 0439

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente

mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo

mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era

bebida

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212

Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo

abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

550 -- 603

―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da

bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo

notam mas notam

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0401 -- 0408

O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro

dia bebendo porque eu precisava beber

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304

Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A

gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra

gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute

diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia

Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e

gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde

SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei

55

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

759 --813 + 825 -- 840

+ 915 --9 22

PODE ENXUGAR

muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai

argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +

E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me

ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e

nossa aquilo ali me doeu +

―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu

natildeo volto mais

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

126 -- 153 + 216 --231

―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e

ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era

casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na

eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +

―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa

natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me

pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347

Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa

para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou

para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para

mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas

SONORA Daniela

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

953 --1016 + 120 --

124

PODE ENXUGAR

ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que

eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava

dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo

E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso

aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar

minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova

trajetoacuteria

SONORA Claudia

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

427 --439

―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma

coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se

conhece um conhece outro

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0048 ---0109

Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca

soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse

dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

516 -- 521

―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto

entatildeo vc entra

SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo

tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte

56

ARQUIVO 967_0430_03

TEMPO DE CORTE

926 -- 938

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0814

-- 0834

No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da

que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua

esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio

Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0707 -- 0726

Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu

viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu

corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar

mais

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 217

-- 230

―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer

uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa

de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0706

-- 0725

Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo

que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do

lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a

gente a sobreviver na rua

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE

CORTE0013 --018 (+)

1128 --1137

―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq

barulho a gente acorda

(+)

―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade

de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde

SONORA ADRIANO LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio

sincronizado

TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628

Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece

que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute

terriacutevel

57

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE 958

-- 1002 + 931 -- 945 +

1025 -- 1030

―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute

um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma

alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas

se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que

estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE

222-- 245

―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente

chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela

e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar

para vc

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE

701 -- 714

(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a

frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute

super-homem natildeo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli -

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0432

-- 0437

Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de

viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia

morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE 655

--710 +730 -- 804

PODE ENXUGAR

(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que

to com catarata pq natildeo notei 710 +

(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para

traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui

para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a

danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e

e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1109

--1116

+

―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila

comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da

minha mochila

(+)

58

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1032

--1036

+

ARQUIVO 256_2764_02

TEMPO DE CORTE 1101

-- 1115

ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa

(+)

―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai

que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho

comigo ningueacutem queria mais falar comigo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 0300

--0308

―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber

os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 1540

-- 1556

Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te

apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio

decadente

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE

0824 -- 0857

Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa

marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc

eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um

saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam

natildeo estatildeo nem aiacute

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 241

-- 0300

―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como

pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto

de vc muito existe demais demais

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0508 -- 05 30

Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar

eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te

tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe

uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas

59

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_03

TEMPO DE CORTE

241 --256

(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema

esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc

vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0841 -- 0853 (+) 0302 -

-0322

Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu

preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes

(+)

Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa

vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de

novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo

tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci

minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 741

--806 +

803-- 804 +

811 -- 815

(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um

tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando

eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +

(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para

Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE 0638

-- 0653

Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava

a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas

mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a

gente piorava cada vez mais

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 837

-- 848 (+) 557-- 606

Sera que daacute para cortar o

som externo nessa parte

Senatildeo pode cortar

― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e

estradas

+

―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo

para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava

60

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

1251 -- 1306

Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia

morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o

meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 604

-- 618

+

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

521 -- 533

― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter

outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com

outra coisa natildeo com a rua +

―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui

uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_06

TEMPO DE CORTE

101--121

―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro

todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a

condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no

coraccedilatildeo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 0551 -- 613

―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da

forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o

fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai

se entregar eacute assim que eu pensava

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0127 -- 0151

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era

meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais

abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava

esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda

61

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 852 - 906

―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me

arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me

arrependo mesmo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 1305 - 1326

―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc

esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente

todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que

arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei

quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais

forccedila

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0428 -- 0500

―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e

procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi

a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma

pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de

tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute

tudo mudou

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

814 - 835

―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria

fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir

para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1056 - 1111

―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou

estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute

arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0726 -- 0748

ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de

recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar

um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa

se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou

acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento

62

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE

0231 -- 0248

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA

EvDICcedilAtildeO

―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua

vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e

quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma

forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1207 - 1231

―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a

gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o

organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida

e em qlq bar vc consegue

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0532 --609

―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi

aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis

tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos

mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente

que eu recebi

SONORA Dani

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 516 - 528

―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar

terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu

tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

924 - 1000

(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo

esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta

repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter

uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em

restaurantes

SONORA ADRIANO

LUGOLI

Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo

esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao

63

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0821 -- 856

Avaliar se corta o final

ou enxuga

era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando

via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_04

TEMPO DE CORTE

109 -130 (+)

1100 -1103

― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na

cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um

pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito

oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna

+

―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 126 - 142

ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que

eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que

eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0900 - 943

―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha

vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente

que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim

que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me

abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_03

TEMPO DE

CORTE034 - 044 +

113- 117

(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos

estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +

113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando

(117)

SONORA Dani

ARQUIVO

―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas

paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu

olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu

64

965_0748_02

TEMPO DE CORTE 240 - 308)

interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem

de fazer oq eu eu fiz

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_04

TEMPO DE CORTE -

045 - 111

― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo

de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova

oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p

vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -

910

―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus

irmatildeos +

―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que

eu tenho para ele eacute o silecircncio

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423

―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)

―e depois que essa historia foi p jornal revista tv

eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia

acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao

que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_02

TEMPO DE CORTE

852 - 920

― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela

situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de

alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute

sozinha natildeo vai conseguir

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 611 - 633

―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca

esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios

propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar

algo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE

―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso

nem ter uma casinha para morar

65

CORTE1313 - 1321

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

706 - 732

ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem

pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do

mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb

vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1129 - 1200

―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que

quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam

de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua

vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que

as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica

oportunidade elas conseguem

Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos

66

APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem

Fonte Ana Paula Fonseca (2017)

67

APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia

Fonte Marcus Barbosa (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

68

APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD

Fonte Sarah Silva (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Page 5: Universidade de Brasília Departamento de Jornalismo...nosso trabalho. Tenho certeza que suas histórias inspiradoras vão impactar a cada um que assistir a esse documentário. À

4

Agrave UnBTV e sua diretora Neuza Meller que confiou em nossa ideia e nos apoiou

bastante liberando seu quadro profissional para nos ajudar com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo

do material

Por fim a toda equipe que colaborou para tornar esse projeto possiacutevel Seremos sempre

gratos a ajuda de cada um de vocecircs Ana Paula essencial na produccedilatildeo Julia Nogueira e

sua incriacutevel ediccedilatildeo Sarah Silva com a animaccedilatildeo e identidade visual e Alex Baacuterbara

Fernando Lucas e Raphael pelas beliacutessimas imagens feitas durante as gravaccedilotildees

5

Natildeo devemos ter medo

das novas ideias Elas podem

significar a diferenccedila entre o triunfo

e o sucessordquo

(Napoleon Hill)

6

Sumaacuterio LISTA DE FIGURAS 8

LISTA DE TABELAS 8

RESUMO 9

ABSTRACT 10

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS 12

21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa 14

3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS 16

31 Objetivo Geral 16

32 Objetivo Especiacuteficos 16

4REFERENCIAL TEOacuteRICO 17

41 Nomenclatura 17

42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua 18

43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal 20

44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas 22

45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico 24

5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 27

51 Formato audiovisual 28

52 Personagens 29

53 Preacute-produccedilatildeo 32

54 Produccedilatildeo 34

55 Poacutes-produccedilatildeo 37

561 Identidade visual 38

6 CRONOGRAMA DE PESQUISA 40

7 ORCcedilAMENTO 41

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 42

REFEREcircNCIAS 44

Referecircncias audiovisuais 45

APEcircNDICES 46

APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV 47

7

APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas 49

APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas 50

APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo 52

APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem 66

APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia 67

APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD 68

8

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia 18

FIGURA 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto 30

FIGURA 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro 31

FIGURA 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela natildeo parou de trabalhar e estudarhelliphellip 32

FIGURA 5 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul em Brasiacutelia 35

FIGURA 6 ndash Gravaccedilatildeo na Praccedila do Compromisso Asa Sul Brasiacutelia 36

FIGURA 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli Da

esquerda para a direita Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista

cedido pela UnBTV) Marcus Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) 37

FIGURA 8 -ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower 38

FIGURA 9 - Paleta de cores escolhida 39

FIGURA 10 - Arte da capa para o DVD 39

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 ndash Lista completa da equipe 34

TABELA 2 ndash Cronograma de atividades 40

TABELA 3 ndash Orccedilamento de materiais 41

TABELA 4 ndash Orccedilamento de materiais II 42

9

RESUMO

O documentaacuterio ldquoMemoacuteria das Ruasrdquo aborda as experiecircncias de quatro pessoas que

reescreveram suas histoacuterias e conseguiram superaram o periacuteodo de invisibilidade

experimentado durante o tempo em que viveram em situaccedilatildeo de rua O projeto

produzido entre os meses de agosto e novembro de 2017 buscou abordar com olhar

jornaliacutestico humanizado momentos significativos das histoacuterias desses protagonistas No

iniacutecio os personagens contam como eram suas vidas antes das ruas e quais fatores os

levaram a essa situaccedilatildeo Logo depois eacute apresentado um relato sobre os medos

dificuldades perigos e preconceitos enfrentados por cada um deles Por fim os quatro

personagens contam o caminho percorrido para a retomada de suas vidas e quais seus

planos para o futuro

Palavras-chaves Documentaacuterio Jornalismo Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Vulnerabilidade social Relatos de vida

10

ABSTRACT

The documentary bdquoMemoacuteria das Ruas‟ addresses the experiences of four people who

rewrot their stories and succeeded in overcoming the period of invisibility experienced

during the time they lived on the streets The project produced between August and

September 2017 sought to approach in a humanized way significant moments of the

stories os these protagonists In a first moment the characters tell how their lives were

before the streets and what factors led them to this situation In sequence its present na

account of the fears difficulties dangers and prejudice faced by each one of them In

conclusion all the characters tell the story of their lives and their plans for the future

Keywords Documentary Journalism Population in street situation Social

vulnerability Life stories

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Moradia limpa digna e segura Mesmo sendo uma garantia baacutesica assegurada

pelo artigo 6ordm do Capiacutetulo II da Constituiccedilatildeo Brasileira de 19881 a realidade por traacutes

deste direito no Brasil ainda estaacute longe de ser a ideal Por conta dos abismos

socioeconocircmicos que persistem em dividir a populaccedilatildeo em diferentes classes sociais

uma boa parcela dos brasileiros continua sem acesso a oportunidades e um dos

principais reflexos desta situaccedilatildeo eacute a falta de moradia adequada para todos

A crise financeira o aumento exponencial do desemprego e a dependecircncia

quiacutemica satildeo fatores relevantes que tecircm sua parcela de contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo do

cenaacuterio em que as ruas - um espaccedilo comum a todos - tecircm se tornado lugar de

permanecircncia das parcelas menos favorecidas da populaccedilatildeo O Brasil natildeo possui dados

oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima

estimativa2 divulgada em 2015 revelou que naquele ano o paiacutes tinha 101854 dos seus

habitantes vivendo essa realidade

Em 2017 o nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal (DF) de

acordo com a Secretaria do Trabalho Desenvolvimento Social Mulheres Igualdade

Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) era de trecircs mil pessoas ou seja 01 de

toda a populaccedilatildeo da capital federal que em 2017 era de 3 milhotildees de pessoas3

O fenocircmeno que persiste e a cada ano parece crescer eacute um problema social que

pode gerar consequecircncias graves para pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Por conta disso o foco deste trabalho centra-se em contar histoacuterias de vida de pessoas

que fizeram parte dessa populaccedilatildeo frequentemente esquecida e renegada ao abandono

A proposta baseia-se na realizaccedilatildeo de um documentaacuterio Produzido entre agosto e

novembro de 2017 o projeto foi planejado de forma a retratar histoacuterias e vivecircncias de

quatro personagens que vatildeo compartilhar suas experiecircncias dificuldades e

1BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado

Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

2 O Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) possui uma pesquisa intitulada Estimativa da

Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua no Brasil de Marcos Antocircnio Carvalho Natalino publicada em outubro

de 2016 O estudo apresenta dados referentes ao ano de 2015

Conteuacutedo disponiacutevel em httpwwwipeagovbr

Acesso 21 de maio de 2018

3Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 30 de agosto de

2017

Conteuacutedo disponiacutevel em httpscidadesibgegovbr

Acesso 21 de maio de 2018

12

aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas

pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua

O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o

restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o

uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua

brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as

pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os

motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos

mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho

Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o

histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida

antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa

apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver

nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos

enfrentados

A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores

significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro

personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos

ao serem ignorados pela sociedade

Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar

em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos

quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e

contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila

2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS

Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema

escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute

4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008

Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr

Acesso 21 de maio de 2018

13

mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que

enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa

―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar

naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre

como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente

Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se

que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas

puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio

Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla

sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo

desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos

de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos

Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a

abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o

jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com

outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em

mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente

os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo

Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave

idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No

lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de

transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas

comuns

Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado

anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e

preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo

senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos

agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua

natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao

viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou

pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas

Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a

estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por

que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um

14

problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a

alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem

tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam

afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo

pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar

a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e

contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida

21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa

Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo

definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema

interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute

assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees

Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a

ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees

poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento

propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do

processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa

por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a

presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal

Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a

ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma

reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma

experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado

especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as

dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em

averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi

constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves

manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute

a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as

5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil

pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017

Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html

Acesso 21 de maio de 2018

15

histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos

relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por

muito tempo presos agraves ruas

Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato

o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees

importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos

em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e

propaganda

Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na

produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma

das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo

Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se

somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou

na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de

funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio

pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores

Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias

inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para

participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho

Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos

saiacutedo do campo das ideias

16

3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS

31 Objetivo Geral

O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito

da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de

quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos

anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua

32 Objetivo Especiacuteficos

Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua

por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio

Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a

respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das

vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua

17

4REFERENCIAL TEOacuteRICO

41 Nomenclatura

Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho

baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como

forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o

leitor ou espectador a se interessar pelo assunto

Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta

para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas

diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos

autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na

rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado

definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se

referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem

concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []

ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo

heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos

Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes

indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que

―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se

apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que

tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas

palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que

afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito

As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo

elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar

essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva

especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo

A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais

apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo

resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave

condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou

condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de

acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)

18

Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a

preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete

em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar

a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores

pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma

condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo

42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua

Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)

De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para

a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a

pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou

fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional

regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas

degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma

temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de

acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia

provisoacuteriasup1

No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou

um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser

unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas

19

malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto

vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico

e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o

sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa

condiccedilatildeo

O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui

apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas

determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela

sociabilidade capitalista que produz um contingente de

pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo

possuem moradia convencional O modo capitalista de

produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das

classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na

desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo

acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de

subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)

Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um

problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge

muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro

que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um

local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a

criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer

de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas

Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e

passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das

caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do

ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua

Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se

unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia

na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre

outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era

atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que

o mercado capitalista dispotildee

Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o

preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela

aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima

reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo

costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua

20

43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal

O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em

situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de

Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra

que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A

pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais

de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento

Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em

2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01

de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs

milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que

os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga

respectivamente

A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal

causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia

de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo

fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de

viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)

A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta

por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa

etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas

representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a

masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos

A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem

impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou

pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social

historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem

maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado

6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se

ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio

Carvalho Natalino

Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf

Acesso em 21 de maio de 2018

21

em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46

branca

Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em

situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional

com 127 e somente 78 devido problemas com drogas

A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua

afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas

chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente

externo urbano passam ao usar

O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo

preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes

para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de

encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)

da realidade experimentada em seus cotidianos algumas

drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos

(GATTI e PEREIRA 2011 p88)

Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute

ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a

repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)

tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e

pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante

exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores

de materiais reciclaacuteveis

Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso

ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a

nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas

governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem

todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo

de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a

direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos

como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do

governo

22

44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas

Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta

de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora

com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente

reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a

contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal

incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua

Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu

alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e

ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees

religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas

somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam

dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o

modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi

criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei

federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de

Assistecircncia Social (LOAS)

Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de

Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que

subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto

ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em

Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil

a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia

dessa populaccedilatildeo

No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em

Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital

federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do

seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de

rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A

populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado

23

da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador

Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para

adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para

mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de

Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem

situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de

Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute

acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues

disponibilizados pelo Governo

A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute

cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e

descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto

com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos

paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde

satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo

Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e

Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em

comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser

uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico

Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do

uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo

exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo

para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode

durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na

rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra

caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel

teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados

Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de

forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico

individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de

junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o

funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com

transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas

24

Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito

Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas

do Distrito Federal (CONEN-DF)

De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito

Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas

centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a

toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel

institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a

responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o

formulador das poliacuteticas sociais

A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar

esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de

acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem

mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute

tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas

45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico

Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais

raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade

jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel

importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute

mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa

atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria

Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar

luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave

vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de

complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que

buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as

equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)

A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm

defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos

relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da

deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor

25

agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida

por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa

humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto

social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos

primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p

9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa

capaz de transformar tanto o narrado como o narrador

No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto

mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo

[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados

os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a

compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o

jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e

enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7

Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por

privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz

ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo

do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no

jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha

pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)

De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo

quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do

cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o

diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura

dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []

Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem

(MEDINA 1999 p28)

A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem

tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os

mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a

busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da

observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a

comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute

amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos

Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as

accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas

atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos

7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento

[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli

26

desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a

contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que

originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN

2008 p8)

No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda

eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando

essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha

editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-

estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do

assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam

em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo

Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem

principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a

pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de

vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel

minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo

publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que

levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)

Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado

ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo

frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos

meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados

compartilhados pela sociedade

Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho

debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de

abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior

do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as

trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das

ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais

Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a

situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social

Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos

se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto

Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer

jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem

27

somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao

maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado

acontecimento

5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa

voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram

em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a

abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A

partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de

entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre

o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de

informaccedilotildees dos personagens

A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma

forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a

necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o

entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos

linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de

aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma

teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de

questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos

complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)

De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo

abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e

abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se

trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa

(SILVA 2016 p35)

Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o

trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo

do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos

para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto

28

51 Formato audiovisual

Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de

caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos

pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas

fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem

sobre o tema

Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao

trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto

escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo

utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser

alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar

coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era

conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz

alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato

Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em

uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que

os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este

projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e

membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa

populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas

Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de

tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o

projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de

campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie

documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de

abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e

tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos

personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era

necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em

situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar

essa condiccedilatildeo

A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto

Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a

29

situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto

Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa

decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos

protagonistas

Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa

quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era

mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo

Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para

o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a

fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe

uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim

a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo

sobre o tema

52 Personagens

Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que

comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e

entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim

termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no

documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute

haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o

primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de

rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa

condiccedilatildeo fosse a mesma

O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho

Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram

pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos

personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas

que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo

seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar

relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de

personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas

mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas

30

O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele

morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos

16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando

provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a

trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo

a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o

colocou para fora de casa

Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa

de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute

recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute

que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia

apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o

convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje

estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras

pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas

Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)

A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um

casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram

em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo

trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia

31

de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a

fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando

alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua

Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-

companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se

conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para

Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde

permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute

voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de

amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa

para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro

Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)

Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees

distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie

documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e

sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo

alcoolismo

Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma

vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve

seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade

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ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de

Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram

Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e

passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --

fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu

concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar

renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa

condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar

outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e

fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea

Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)

53 Preacute-produccedilatildeo

A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido

definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi

preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura

por produtos audiovisuais que abordassem o tema

A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos

conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma

condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou

33

pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes

essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que

estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela

Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao

mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para

viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV

- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para

auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria

disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma

ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio

Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho

posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou

registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV

assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume

Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller

(vide apecircndice I)

Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca

formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos

auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e

produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela

tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos

participantes (vide anexo I)

Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um

cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees

relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo

telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo

Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos

contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as

gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo

34

Tabela 1 ndash Lista completa da equipe

EQUIPE

CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA

PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA

FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E

LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA

EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA

Fonte Marcus Barbosa (2018)

54 Produccedilatildeo

Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o

cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era

necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos

personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios

diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das

obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito

um esforccedilo para seguir de perto o roteiro

Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria

dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria

responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos

planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a

produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua

experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos

equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada

Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista

uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para

fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios

momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo

guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se

abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas

35

no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas

isso nem sempre deu certo

Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o

esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e

Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio

em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe

Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se

delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens

do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um

indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera

Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que

ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um

canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das

gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o

primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no

microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao

cronograma de gravaccedilotildees

Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)

36

Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)

Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com

o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele

foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as

entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de

Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as

gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas

Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de

gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente

para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos

concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas

37

Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus

Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)

55 Poacutes-produccedilatildeo

Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo

foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio

que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)

Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia

Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material

O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome

provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio

da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por

escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os

personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que

traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas

38

561 Identidade visual

A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de

publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela

animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura

foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais

proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas

Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes

de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com

maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com

boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca

por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto

Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para

a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)

Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)

39

Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)

Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

40

6 CRONOGRAMA DE PESQUISA

Tabela 2 ndash Cronograma de atividades

DATAS ETAPAS

Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica

(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)

Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens

Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas

Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees

510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega

para ediccedilatildeo

Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio

Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo

Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa

180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca

Fonte Marcus Barbosa (2018)

41

7 ORCcedilAMENTO

Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais

VALORES IacuteTENS

R$ 9700 Estabilizador de celular

R$ 25000 Microfone de Lapela

R$ 29000 HD Externo

R$ 35000 Gasolina

R$ 29700 Impressatildeo de material visual

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II

VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)

R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD

R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg

R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash

Wm6 UHF

R$ 8900 Rebatedor

R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +

Tripeacute 2m

R$ 99900 Identidade visual para o produto

R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de

duraccedilatildeo

R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

42

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi

possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que

existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em

situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao

passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos

ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E

com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que

integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute

preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses

indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa

condiccedilatildeo

Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia

com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de

rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas

entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem

desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o

auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num

problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons

exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e

o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -

Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou

provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida

dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo

No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi

um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente

nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar

o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea

tambeacutem foi de suma importacircncia

Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar

histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas

preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade

nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das

43

histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que

chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo

tudo

Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes

deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de

ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar

tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista

44

REFEREcircNCIAS

ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser

humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico

BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise

referencial de serviccedilo socioassistencial de Satildeo Paulo e Brasiacutelia 2015 64 f Trabalho

de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Serviccedilo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2015 Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048317307

Acesso 21 de maio de 2018

BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil

Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua um estudo sobre pobreza necessidades humanas e miacutenimos

sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de

Brasiacutelia Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel

emhttpbdmunbbrbitstream10483257312011_AmaranthaSaTelesdeCerqueirapdf

Acesso 21 de maio de 2018

CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009

DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005

GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-

EDUC 2006

MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de

moradores de rua em Taguatinga-DF 2016 60 f Trabalho de conclusatildeo de curso

(Bacharelado em Sauacutede Coletiva)mdashUniversidade de Brasiacutelia Ceilacircndia 2016

Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048315988

Acesso em 21 de maio de 2018

Mattos RM Ferreira RF Quem vocecircs pensam que (elas) satildeo Representaccedilotildees

sobre as pessoas em situaccedilatildeo de rua Psicologia amp Sociedade 16 (2) 47-58

maioago2004 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfpsocv16n2a07v16n2pdf

Acesso 21 de maio de 2018

MELO Cristina Teixeira V de GOMES Isaltina Mello MORAIS Wilma O

documentaacuterio jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral In Intercom - 25ordm Congresso

Brasileiro de Comunicaccedilatildeo Campo Grande 2001 Disponiacutevel em

httpwwwintercomorgbrpapersnacionais2001papersNP7MELOPDF

Acesso 21 de maio de 2018

MONTIPOacute Criselli FARAH Acircngela Relato humanizado no jornalismo a

importacircncia da humanizaccedilatildeo na narrativa para um jornalismo transformador In

45

Miacutedia Cidadatilde 2009 - V Conferecircncia Brasileira de Miacutedia Cidadatilde 2009 Guarapuava

Anais Guarapuava 2009 p 906 - 923 Disponiacutevel em httpwwwunicentrobrredemc

Acesso 21 de maio de 2018

MOURA Rodrigo Coelho Bacellar Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo

de Rua uma anaacutelise da participaccedilatildeo social no processo de implementaccedilatildeo da poliacutetica

2016 30 f Trabalho de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Gestatildeo de Poliacuteticas

Puacuteblicas)mdashUniversidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2016 Disponiacutevel em

httpbdmunbbrhandle1048316261

Acesso 21 de maio de 2018

SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-

BA um estudo de caso UNEB 2009

SILVA Fabiacuteola Mariano da Humanizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e gestatildeo centrada nas

pessoas - entrevista em profundidade Laboratoacuterio Sabin 2016 56 f Trabalho de

conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2016

SILVA Maria Lucia Lopes da Trabalho e Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua no Brasil

1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009

SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica

Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009

Referecircncias audiovisuais

BOCA de rua ndash Vozes de Uma Gente Invisiacutevel Marcelo Andrighetti 10rsquo01 Disponiacutevel

em httpswwwyoutubecomuserbocaderuaofilme

Acesso em 21 de maio de 2018

UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e

Victoacuteria Cristina Costa Disponiacutevel em

httpswwwfacebookcomserieumapaginapordia

Acesso em 21 de maio de 2018

O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em

httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes

3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw

Acesso em 21 de maio de 2018

46

APEcircNDICES

47

APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Brasiacutelia 28 de agosto de 2017

Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV

Prezada Sra Neuza Meller

Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para

realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de

Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de

um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em

Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula

130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a

orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula

UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em

situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal

Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo

acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a

aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as

histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de

conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o

desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo

entrevistas e ediccedilatildeo do material captado

Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma

parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo

de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a

grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse

48

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais

sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer

esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail

marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189

Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo

Cordialmente

Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

49

APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)

TER (1909)

QUA (2009) ENTREVISTA

Quem Ademir e Claacuteudia

Horaacuterio 15h

End Luziacircnia GO

QUI (2109)

SEX (2209) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAB ( 2309)

DOM (2409)

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA

Quem Claacuteudia e Ademir

Horaacuterio 14h

End Praccedila do Compromisso Asa Sul

TER (2609)

QUA (2709)

QUI (2809) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 15h

End Ceilacircndia

SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAacuteB (3009) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End SCS

DOM (0110)

MANHAtilde TARDE NOITE

SEG (0210)

TER (0310)

QUA (0410) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 9h

Endereccedilo Centro de

Taguatinga

QUI (0510) ENTREVISTA

Quem Ademir

Horaacuterio 15h

End Parque da Cidade

SEX (0610)

SAacuteB (0710)

DOM (0810)

QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Lucas Cacircndia

Horaacuterio 16h

End Aacuterea central de Brasiacutelia

50

APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a

situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos

durante o periacuteodo nas ruas

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo

com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc

2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar

3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua

4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas

5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua

6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua

7 Como era sua rotina na rua

8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo

9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele

periacuteodo

10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como

abrigo sauacutede etc

11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter

12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais

sobre isso

13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou

simplesmente agia com indiferenccedila

51

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o

futuro

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva

de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real

2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo

3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo

4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou

em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio

5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar

6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de

recuperaccedilatildeo

7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para

frente

8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que

ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria

52

APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida

FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia

PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca

ED DE IMAGENS Julia Nogueira

ARTE Sarah Silva

CENA DE

AMBIENTACcedilAtildeO

ARQUIVO

Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio

SONORA 1 CLAacuteUDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE CORTE

126 -- 147 +

327 -- 345

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu

trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht

mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)

―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu

comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para

vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0025 -- 0109

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma

pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma

discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu

abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas

SONORA 4 DANIELA

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE

213 --300

Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos

tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da

luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de

relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era

acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente

ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar

53

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai

brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma

hora

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e

minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela

sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri

muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem

africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 4

03 -- 434

(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha

vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet

os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida

maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu

Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje

SONORA 6 Daniela

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE

434 --446 + 528 -- 539

―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro

semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos

difiacuteceis +

―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc

vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu

escutei

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

842 --914

―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito

dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu

acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com

uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica

cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil

SONORA DANIELA

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

551 --622

ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um

computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus

aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc

tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12

minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que

Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano

teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo

54

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144

depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria

com as drogas

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

256 -- 330

―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia

cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu

frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro

com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que

chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0424 -- 0439

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente

mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo

mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era

bebida

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212

Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo

abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

550 -- 603

―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da

bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo

notam mas notam

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0401 -- 0408

O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro

dia bebendo porque eu precisava beber

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304

Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A

gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra

gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute

diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia

Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e

gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde

SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei

55

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

759 --813 + 825 -- 840

+ 915 --9 22

PODE ENXUGAR

muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai

argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +

E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me

ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e

nossa aquilo ali me doeu +

―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu

natildeo volto mais

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

126 -- 153 + 216 --231

―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e

ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era

casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na

eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +

―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa

natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me

pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347

Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa

para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou

para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para

mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas

SONORA Daniela

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

953 --1016 + 120 --

124

PODE ENXUGAR

ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que

eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava

dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo

E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso

aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar

minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova

trajetoacuteria

SONORA Claudia

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

427 --439

―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma

coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se

conhece um conhece outro

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0048 ---0109

Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca

soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse

dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

516 -- 521

―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto

entatildeo vc entra

SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo

tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte

56

ARQUIVO 967_0430_03

TEMPO DE CORTE

926 -- 938

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0814

-- 0834

No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da

que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua

esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio

Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0707 -- 0726

Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu

viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu

corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar

mais

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 217

-- 230

―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer

uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa

de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0706

-- 0725

Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo

que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do

lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a

gente a sobreviver na rua

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE

CORTE0013 --018 (+)

1128 --1137

―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq

barulho a gente acorda

(+)

―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade

de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde

SONORA ADRIANO LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio

sincronizado

TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628

Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece

que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute

terriacutevel

57

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE 958

-- 1002 + 931 -- 945 +

1025 -- 1030

―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute

um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma

alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas

se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que

estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE

222-- 245

―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente

chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela

e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar

para vc

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE

701 -- 714

(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a

frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute

super-homem natildeo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli -

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0432

-- 0437

Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de

viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia

morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE 655

--710 +730 -- 804

PODE ENXUGAR

(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que

to com catarata pq natildeo notei 710 +

(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para

traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui

para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a

danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e

e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1109

--1116

+

―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila

comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da

minha mochila

(+)

58

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1032

--1036

+

ARQUIVO 256_2764_02

TEMPO DE CORTE 1101

-- 1115

ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa

(+)

―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai

que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho

comigo ningueacutem queria mais falar comigo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 0300

--0308

―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber

os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 1540

-- 1556

Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te

apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio

decadente

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE

0824 -- 0857

Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa

marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc

eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um

saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam

natildeo estatildeo nem aiacute

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 241

-- 0300

―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como

pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto

de vc muito existe demais demais

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0508 -- 05 30

Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar

eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te

tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe

uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas

59

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_03

TEMPO DE CORTE

241 --256

(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema

esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc

vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0841 -- 0853 (+) 0302 -

-0322

Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu

preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes

(+)

Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa

vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de

novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo

tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci

minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 741

--806 +

803-- 804 +

811 -- 815

(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um

tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando

eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +

(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para

Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE 0638

-- 0653

Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava

a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas

mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a

gente piorava cada vez mais

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 837

-- 848 (+) 557-- 606

Sera que daacute para cortar o

som externo nessa parte

Senatildeo pode cortar

― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e

estradas

+

―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo

para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava

60

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

1251 -- 1306

Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia

morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o

meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 604

-- 618

+

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

521 -- 533

― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter

outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com

outra coisa natildeo com a rua +

―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui

uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_06

TEMPO DE CORTE

101--121

―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro

todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a

condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no

coraccedilatildeo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 0551 -- 613

―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da

forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o

fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai

se entregar eacute assim que eu pensava

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0127 -- 0151

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era

meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais

abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava

esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda

61

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 852 - 906

―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me

arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me

arrependo mesmo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 1305 - 1326

―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc

esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente

todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que

arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei

quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais

forccedila

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0428 -- 0500

―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e

procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi

a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma

pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de

tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute

tudo mudou

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

814 - 835

―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria

fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir

para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1056 - 1111

―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou

estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute

arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0726 -- 0748

ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de

recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar

um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa

se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou

acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento

62

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE

0231 -- 0248

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA

EvDICcedilAtildeO

―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua

vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e

quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma

forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1207 - 1231

―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a

gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o

organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida

e em qlq bar vc consegue

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0532 --609

―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi

aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis

tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos

mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente

que eu recebi

SONORA Dani

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 516 - 528

―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar

terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu

tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

924 - 1000

(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo

esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta

repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter

uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em

restaurantes

SONORA ADRIANO

LUGOLI

Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo

esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao

63

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0821 -- 856

Avaliar se corta o final

ou enxuga

era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando

via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_04

TEMPO DE CORTE

109 -130 (+)

1100 -1103

― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na

cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um

pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito

oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna

+

―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 126 - 142

ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que

eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que

eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0900 - 943

―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha

vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente

que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim

que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me

abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_03

TEMPO DE

CORTE034 - 044 +

113- 117

(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos

estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +

113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando

(117)

SONORA Dani

ARQUIVO

―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas

paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu

olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu

64

965_0748_02

TEMPO DE CORTE 240 - 308)

interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem

de fazer oq eu eu fiz

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_04

TEMPO DE CORTE -

045 - 111

― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo

de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova

oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p

vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -

910

―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus

irmatildeos +

―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que

eu tenho para ele eacute o silecircncio

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423

―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)

―e depois que essa historia foi p jornal revista tv

eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia

acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao

que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_02

TEMPO DE CORTE

852 - 920

― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela

situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de

alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute

sozinha natildeo vai conseguir

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 611 - 633

―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca

esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios

propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar

algo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE

―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso

nem ter uma casinha para morar

65

CORTE1313 - 1321

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

706 - 732

ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem

pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do

mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb

vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1129 - 1200

―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que

quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam

de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua

vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que

as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica

oportunidade elas conseguem

Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos

66

APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem

Fonte Ana Paula Fonseca (2017)

67

APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia

Fonte Marcus Barbosa (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

68

APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD

Fonte Sarah Silva (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Page 6: Universidade de Brasília Departamento de Jornalismo...nosso trabalho. Tenho certeza que suas histórias inspiradoras vão impactar a cada um que assistir a esse documentário. À

5

Natildeo devemos ter medo

das novas ideias Elas podem

significar a diferenccedila entre o triunfo

e o sucessordquo

(Napoleon Hill)

6

Sumaacuterio LISTA DE FIGURAS 8

LISTA DE TABELAS 8

RESUMO 9

ABSTRACT 10

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS 12

21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa 14

3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS 16

31 Objetivo Geral 16

32 Objetivo Especiacuteficos 16

4REFERENCIAL TEOacuteRICO 17

41 Nomenclatura 17

42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua 18

43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal 20

44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas 22

45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico 24

5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 27

51 Formato audiovisual 28

52 Personagens 29

53 Preacute-produccedilatildeo 32

54 Produccedilatildeo 34

55 Poacutes-produccedilatildeo 37

561 Identidade visual 38

6 CRONOGRAMA DE PESQUISA 40

7 ORCcedilAMENTO 41

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 42

REFEREcircNCIAS 44

Referecircncias audiovisuais 45

APEcircNDICES 46

APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV 47

7

APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas 49

APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas 50

APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo 52

APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem 66

APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia 67

APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD 68

8

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia 18

FIGURA 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto 30

FIGURA 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro 31

FIGURA 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela natildeo parou de trabalhar e estudarhelliphellip 32

FIGURA 5 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul em Brasiacutelia 35

FIGURA 6 ndash Gravaccedilatildeo na Praccedila do Compromisso Asa Sul Brasiacutelia 36

FIGURA 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli Da

esquerda para a direita Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista

cedido pela UnBTV) Marcus Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) 37

FIGURA 8 -ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower 38

FIGURA 9 - Paleta de cores escolhida 39

FIGURA 10 - Arte da capa para o DVD 39

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 ndash Lista completa da equipe 34

TABELA 2 ndash Cronograma de atividades 40

TABELA 3 ndash Orccedilamento de materiais 41

TABELA 4 ndash Orccedilamento de materiais II 42

9

RESUMO

O documentaacuterio ldquoMemoacuteria das Ruasrdquo aborda as experiecircncias de quatro pessoas que

reescreveram suas histoacuterias e conseguiram superaram o periacuteodo de invisibilidade

experimentado durante o tempo em que viveram em situaccedilatildeo de rua O projeto

produzido entre os meses de agosto e novembro de 2017 buscou abordar com olhar

jornaliacutestico humanizado momentos significativos das histoacuterias desses protagonistas No

iniacutecio os personagens contam como eram suas vidas antes das ruas e quais fatores os

levaram a essa situaccedilatildeo Logo depois eacute apresentado um relato sobre os medos

dificuldades perigos e preconceitos enfrentados por cada um deles Por fim os quatro

personagens contam o caminho percorrido para a retomada de suas vidas e quais seus

planos para o futuro

Palavras-chaves Documentaacuterio Jornalismo Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Vulnerabilidade social Relatos de vida

10

ABSTRACT

The documentary bdquoMemoacuteria das Ruas‟ addresses the experiences of four people who

rewrot their stories and succeeded in overcoming the period of invisibility experienced

during the time they lived on the streets The project produced between August and

September 2017 sought to approach in a humanized way significant moments of the

stories os these protagonists In a first moment the characters tell how their lives were

before the streets and what factors led them to this situation In sequence its present na

account of the fears difficulties dangers and prejudice faced by each one of them In

conclusion all the characters tell the story of their lives and their plans for the future

Keywords Documentary Journalism Population in street situation Social

vulnerability Life stories

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Moradia limpa digna e segura Mesmo sendo uma garantia baacutesica assegurada

pelo artigo 6ordm do Capiacutetulo II da Constituiccedilatildeo Brasileira de 19881 a realidade por traacutes

deste direito no Brasil ainda estaacute longe de ser a ideal Por conta dos abismos

socioeconocircmicos que persistem em dividir a populaccedilatildeo em diferentes classes sociais

uma boa parcela dos brasileiros continua sem acesso a oportunidades e um dos

principais reflexos desta situaccedilatildeo eacute a falta de moradia adequada para todos

A crise financeira o aumento exponencial do desemprego e a dependecircncia

quiacutemica satildeo fatores relevantes que tecircm sua parcela de contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo do

cenaacuterio em que as ruas - um espaccedilo comum a todos - tecircm se tornado lugar de

permanecircncia das parcelas menos favorecidas da populaccedilatildeo O Brasil natildeo possui dados

oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima

estimativa2 divulgada em 2015 revelou que naquele ano o paiacutes tinha 101854 dos seus

habitantes vivendo essa realidade

Em 2017 o nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal (DF) de

acordo com a Secretaria do Trabalho Desenvolvimento Social Mulheres Igualdade

Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) era de trecircs mil pessoas ou seja 01 de

toda a populaccedilatildeo da capital federal que em 2017 era de 3 milhotildees de pessoas3

O fenocircmeno que persiste e a cada ano parece crescer eacute um problema social que

pode gerar consequecircncias graves para pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Por conta disso o foco deste trabalho centra-se em contar histoacuterias de vida de pessoas

que fizeram parte dessa populaccedilatildeo frequentemente esquecida e renegada ao abandono

A proposta baseia-se na realizaccedilatildeo de um documentaacuterio Produzido entre agosto e

novembro de 2017 o projeto foi planejado de forma a retratar histoacuterias e vivecircncias de

quatro personagens que vatildeo compartilhar suas experiecircncias dificuldades e

1BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado

Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

2 O Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) possui uma pesquisa intitulada Estimativa da

Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua no Brasil de Marcos Antocircnio Carvalho Natalino publicada em outubro

de 2016 O estudo apresenta dados referentes ao ano de 2015

Conteuacutedo disponiacutevel em httpwwwipeagovbr

Acesso 21 de maio de 2018

3Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 30 de agosto de

2017

Conteuacutedo disponiacutevel em httpscidadesibgegovbr

Acesso 21 de maio de 2018

12

aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas

pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua

O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o

restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o

uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua

brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as

pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os

motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos

mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho

Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o

histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida

antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa

apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver

nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos

enfrentados

A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores

significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro

personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos

ao serem ignorados pela sociedade

Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar

em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos

quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e

contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila

2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS

Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema

escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute

4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008

Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr

Acesso 21 de maio de 2018

13

mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que

enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa

―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar

naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre

como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente

Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se

que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas

puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio

Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla

sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo

desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos

de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos

Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a

abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o

jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com

outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em

mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente

os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo

Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave

idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No

lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de

transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas

comuns

Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado

anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e

preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo

senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos

agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua

natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao

viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou

pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas

Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a

estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por

que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um

14

problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a

alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem

tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam

afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo

pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar

a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e

contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida

21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa

Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo

definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema

interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute

assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees

Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a

ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees

poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento

propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do

processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa

por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a

presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal

Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a

ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma

reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma

experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado

especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as

dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em

averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi

constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves

manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute

a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as

5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil

pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017

Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html

Acesso 21 de maio de 2018

15

histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos

relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por

muito tempo presos agraves ruas

Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato

o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees

importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos

em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e

propaganda

Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na

produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma

das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo

Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se

somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou

na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de

funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio

pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores

Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias

inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para

participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho

Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos

saiacutedo do campo das ideias

16

3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS

31 Objetivo Geral

O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito

da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de

quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos

anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua

32 Objetivo Especiacuteficos

Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua

por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio

Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a

respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das

vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua

17

4REFERENCIAL TEOacuteRICO

41 Nomenclatura

Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho

baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como

forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o

leitor ou espectador a se interessar pelo assunto

Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta

para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas

diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos

autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na

rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado

definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se

referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem

concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []

ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo

heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos

Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes

indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que

―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se

apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que

tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas

palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que

afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito

As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo

elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar

essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva

especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo

A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais

apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo

resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave

condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou

condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de

acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)

18

Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a

preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete

em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar

a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores

pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma

condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo

42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua

Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)

De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para

a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a

pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou

fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional

regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas

degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma

temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de

acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia

provisoacuteriasup1

No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou

um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser

unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas

19

malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto

vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico

e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o

sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa

condiccedilatildeo

O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui

apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas

determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela

sociabilidade capitalista que produz um contingente de

pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo

possuem moradia convencional O modo capitalista de

produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das

classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na

desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo

acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de

subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)

Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um

problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge

muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro

que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um

local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a

criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer

de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas

Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e

passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das

caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do

ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua

Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se

unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia

na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre

outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era

atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que

o mercado capitalista dispotildee

Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o

preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela

aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima

reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo

costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua

20

43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal

O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em

situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de

Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra

que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A

pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais

de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento

Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em

2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01

de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs

milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que

os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga

respectivamente

A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal

causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia

de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo

fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de

viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)

A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta

por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa

etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas

representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a

masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos

A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem

impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou

pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social

historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem

maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado

6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se

ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio

Carvalho Natalino

Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf

Acesso em 21 de maio de 2018

21

em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46

branca

Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em

situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional

com 127 e somente 78 devido problemas com drogas

A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua

afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas

chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente

externo urbano passam ao usar

O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo

preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes

para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de

encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)

da realidade experimentada em seus cotidianos algumas

drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos

(GATTI e PEREIRA 2011 p88)

Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute

ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a

repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)

tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e

pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante

exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores

de materiais reciclaacuteveis

Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso

ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a

nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas

governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem

todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo

de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a

direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos

como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do

governo

22

44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas

Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta

de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora

com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente

reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a

contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal

incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua

Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu

alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e

ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees

religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas

somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam

dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o

modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi

criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei

federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de

Assistecircncia Social (LOAS)

Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de

Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que

subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto

ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em

Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil

a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia

dessa populaccedilatildeo

No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em

Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital

federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do

seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de

rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A

populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado

23

da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador

Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para

adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para

mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de

Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem

situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de

Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute

acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues

disponibilizados pelo Governo

A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute

cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e

descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto

com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos

paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde

satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo

Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e

Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em

comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser

uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico

Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do

uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo

exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo

para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode

durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na

rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra

caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel

teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados

Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de

forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico

individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de

junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o

funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com

transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas

24

Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito

Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas

do Distrito Federal (CONEN-DF)

De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito

Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas

centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a

toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel

institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a

responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o

formulador das poliacuteticas sociais

A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar

esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de

acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem

mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute

tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas

45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico

Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais

raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade

jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel

importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute

mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa

atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria

Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar

luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave

vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de

complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que

buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as

equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)

A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm

defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos

relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da

deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor

25

agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida

por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa

humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto

social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos

primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p

9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa

capaz de transformar tanto o narrado como o narrador

No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto

mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo

[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados

os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a

compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o

jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e

enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7

Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por

privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz

ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo

do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no

jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha

pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)

De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo

quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do

cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o

diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura

dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []

Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem

(MEDINA 1999 p28)

A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem

tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os

mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a

busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da

observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a

comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute

amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos

Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as

accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas

atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos

7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento

[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli

26

desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a

contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que

originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN

2008 p8)

No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda

eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando

essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha

editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-

estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do

assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam

em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo

Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem

principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a

pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de

vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel

minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo

publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que

levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)

Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado

ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo

frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos

meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados

compartilhados pela sociedade

Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho

debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de

abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior

do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as

trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das

ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais

Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a

situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social

Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos

se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto

Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer

jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem

27

somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao

maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado

acontecimento

5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa

voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram

em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a

abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A

partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de

entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre

o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de

informaccedilotildees dos personagens

A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma

forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a

necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o

entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos

linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de

aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma

teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de

questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos

complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)

De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo

abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e

abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se

trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa

(SILVA 2016 p35)

Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o

trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo

do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos

para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto

28

51 Formato audiovisual

Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de

caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos

pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas

fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem

sobre o tema

Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao

trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto

escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo

utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser

alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar

coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era

conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz

alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato

Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em

uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que

os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este

projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e

membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa

populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas

Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de

tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o

projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de

campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie

documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de

abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e

tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos

personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era

necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em

situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar

essa condiccedilatildeo

A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto

Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a

29

situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto

Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa

decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos

protagonistas

Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa

quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era

mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo

Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para

o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a

fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe

uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim

a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo

sobre o tema

52 Personagens

Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que

comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e

entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim

termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no

documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute

haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o

primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de

rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa

condiccedilatildeo fosse a mesma

O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho

Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram

pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos

personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas

que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo

seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar

relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de

personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas

mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas

30

O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele

morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos

16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando

provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a

trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo

a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o

colocou para fora de casa

Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa

de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute

recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute

que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia

apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o

convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje

estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras

pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas

Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)

A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um

casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram

em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo

trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia

31

de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a

fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando

alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua

Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-

companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se

conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para

Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde

permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute

voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de

amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa

para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro

Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)

Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees

distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie

documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e

sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo

alcoolismo

Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma

vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve

seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade

32

ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de

Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram

Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e

passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --

fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu

concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar

renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa

condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar

outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e

fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea

Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)

53 Preacute-produccedilatildeo

A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido

definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi

preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura

por produtos audiovisuais que abordassem o tema

A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos

conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma

condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou

33

pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes

essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que

estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela

Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao

mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para

viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV

- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para

auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria

disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma

ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio

Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho

posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou

registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV

assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume

Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller

(vide apecircndice I)

Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca

formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos

auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e

produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela

tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos

participantes (vide anexo I)

Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um

cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees

relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo

telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo

Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos

contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as

gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo

34

Tabela 1 ndash Lista completa da equipe

EQUIPE

CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA

PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA

FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E

LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA

EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA

Fonte Marcus Barbosa (2018)

54 Produccedilatildeo

Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o

cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era

necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos

personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios

diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das

obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito

um esforccedilo para seguir de perto o roteiro

Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria

dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria

responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos

planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a

produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua

experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos

equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada

Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista

uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para

fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios

momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo

guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se

abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas

35

no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas

isso nem sempre deu certo

Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o

esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e

Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio

em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe

Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se

delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens

do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um

indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera

Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que

ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um

canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das

gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o

primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no

microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao

cronograma de gravaccedilotildees

Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)

36

Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)

Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com

o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele

foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as

entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de

Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as

gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas

Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de

gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente

para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos

concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas

37

Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus

Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)

55 Poacutes-produccedilatildeo

Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo

foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio

que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)

Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia

Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material

O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome

provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio

da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por

escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os

personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que

traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas

38

561 Identidade visual

A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de

publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela

animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura

foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais

proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas

Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes

de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com

maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com

boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca

por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto

Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para

a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)

Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)

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Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)

Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

40

6 CRONOGRAMA DE PESQUISA

Tabela 2 ndash Cronograma de atividades

DATAS ETAPAS

Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica

(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)

Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens

Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas

Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees

510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega

para ediccedilatildeo

Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio

Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo

Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa

180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca

Fonte Marcus Barbosa (2018)

41

7 ORCcedilAMENTO

Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais

VALORES IacuteTENS

R$ 9700 Estabilizador de celular

R$ 25000 Microfone de Lapela

R$ 29000 HD Externo

R$ 35000 Gasolina

R$ 29700 Impressatildeo de material visual

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II

VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)

R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD

R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg

R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash

Wm6 UHF

R$ 8900 Rebatedor

R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +

Tripeacute 2m

R$ 99900 Identidade visual para o produto

R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de

duraccedilatildeo

R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

42

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi

possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que

existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em

situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao

passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos

ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E

com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que

integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute

preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses

indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa

condiccedilatildeo

Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia

com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de

rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas

entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem

desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o

auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num

problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons

exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e

o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -

Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou

provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida

dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo

No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi

um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente

nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar

o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea

tambeacutem foi de suma importacircncia

Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar

histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas

preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade

nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das

43

histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que

chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo

tudo

Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes

deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de

ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar

tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista

44

REFEREcircNCIAS

ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser

humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico

BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise

referencial de serviccedilo socioassistencial de Satildeo Paulo e Brasiacutelia 2015 64 f Trabalho

de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Serviccedilo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2015 Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048317307

Acesso 21 de maio de 2018

BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil

Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua um estudo sobre pobreza necessidades humanas e miacutenimos

sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de

Brasiacutelia Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel

emhttpbdmunbbrbitstream10483257312011_AmaranthaSaTelesdeCerqueirapdf

Acesso 21 de maio de 2018

CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009

DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005

GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-

EDUC 2006

MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de

moradores de rua em Taguatinga-DF 2016 60 f Trabalho de conclusatildeo de curso

(Bacharelado em Sauacutede Coletiva)mdashUniversidade de Brasiacutelia Ceilacircndia 2016

Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048315988

Acesso em 21 de maio de 2018

Mattos RM Ferreira RF Quem vocecircs pensam que (elas) satildeo Representaccedilotildees

sobre as pessoas em situaccedilatildeo de rua Psicologia amp Sociedade 16 (2) 47-58

maioago2004 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfpsocv16n2a07v16n2pdf

Acesso 21 de maio de 2018

MELO Cristina Teixeira V de GOMES Isaltina Mello MORAIS Wilma O

documentaacuterio jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral In Intercom - 25ordm Congresso

Brasileiro de Comunicaccedilatildeo Campo Grande 2001 Disponiacutevel em

httpwwwintercomorgbrpapersnacionais2001papersNP7MELOPDF

Acesso 21 de maio de 2018

MONTIPOacute Criselli FARAH Acircngela Relato humanizado no jornalismo a

importacircncia da humanizaccedilatildeo na narrativa para um jornalismo transformador In

45

Miacutedia Cidadatilde 2009 - V Conferecircncia Brasileira de Miacutedia Cidadatilde 2009 Guarapuava

Anais Guarapuava 2009 p 906 - 923 Disponiacutevel em httpwwwunicentrobrredemc

Acesso 21 de maio de 2018

MOURA Rodrigo Coelho Bacellar Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo

de Rua uma anaacutelise da participaccedilatildeo social no processo de implementaccedilatildeo da poliacutetica

2016 30 f Trabalho de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Gestatildeo de Poliacuteticas

Puacuteblicas)mdashUniversidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2016 Disponiacutevel em

httpbdmunbbrhandle1048316261

Acesso 21 de maio de 2018

SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-

BA um estudo de caso UNEB 2009

SILVA Fabiacuteola Mariano da Humanizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e gestatildeo centrada nas

pessoas - entrevista em profundidade Laboratoacuterio Sabin 2016 56 f Trabalho de

conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2016

SILVA Maria Lucia Lopes da Trabalho e Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua no Brasil

1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009

SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica

Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009

Referecircncias audiovisuais

BOCA de rua ndash Vozes de Uma Gente Invisiacutevel Marcelo Andrighetti 10rsquo01 Disponiacutevel

em httpswwwyoutubecomuserbocaderuaofilme

Acesso em 21 de maio de 2018

UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e

Victoacuteria Cristina Costa Disponiacutevel em

httpswwwfacebookcomserieumapaginapordia

Acesso em 21 de maio de 2018

O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em

httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes

3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw

Acesso em 21 de maio de 2018

46

APEcircNDICES

47

APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Brasiacutelia 28 de agosto de 2017

Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV

Prezada Sra Neuza Meller

Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para

realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de

Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de

um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em

Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula

130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a

orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula

UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em

situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal

Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo

acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a

aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as

histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de

conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o

desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo

entrevistas e ediccedilatildeo do material captado

Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma

parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo

de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a

grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse

48

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais

sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer

esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail

marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189

Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo

Cordialmente

Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

49

APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)

TER (1909)

QUA (2009) ENTREVISTA

Quem Ademir e Claacuteudia

Horaacuterio 15h

End Luziacircnia GO

QUI (2109)

SEX (2209) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAB ( 2309)

DOM (2409)

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA

Quem Claacuteudia e Ademir

Horaacuterio 14h

End Praccedila do Compromisso Asa Sul

TER (2609)

QUA (2709)

QUI (2809) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 15h

End Ceilacircndia

SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAacuteB (3009) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End SCS

DOM (0110)

MANHAtilde TARDE NOITE

SEG (0210)

TER (0310)

QUA (0410) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 9h

Endereccedilo Centro de

Taguatinga

QUI (0510) ENTREVISTA

Quem Ademir

Horaacuterio 15h

End Parque da Cidade

SEX (0610)

SAacuteB (0710)

DOM (0810)

QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Lucas Cacircndia

Horaacuterio 16h

End Aacuterea central de Brasiacutelia

50

APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a

situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos

durante o periacuteodo nas ruas

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo

com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc

2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar

3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua

4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas

5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua

6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua

7 Como era sua rotina na rua

8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo

9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele

periacuteodo

10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como

abrigo sauacutede etc

11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter

12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais

sobre isso

13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou

simplesmente agia com indiferenccedila

51

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o

futuro

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva

de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real

2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo

3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo

4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou

em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio

5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar

6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de

recuperaccedilatildeo

7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para

frente

8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que

ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria

52

APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida

FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia

PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca

ED DE IMAGENS Julia Nogueira

ARTE Sarah Silva

CENA DE

AMBIENTACcedilAtildeO

ARQUIVO

Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio

SONORA 1 CLAacuteUDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE CORTE

126 -- 147 +

327 -- 345

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu

trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht

mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)

―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu

comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para

vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0025 -- 0109

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma

pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma

discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu

abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas

SONORA 4 DANIELA

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE

213 --300

Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos

tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da

luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de

relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era

acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente

ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar

53

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai

brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma

hora

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e

minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela

sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri

muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem

africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 4

03 -- 434

(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha

vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet

os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida

maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu

Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje

SONORA 6 Daniela

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE

434 --446 + 528 -- 539

―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro

semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos

difiacuteceis +

―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc

vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu

escutei

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

842 --914

―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito

dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu

acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com

uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica

cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil

SONORA DANIELA

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

551 --622

ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um

computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus

aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc

tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12

minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que

Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano

teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo

54

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144

depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria

com as drogas

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

256 -- 330

―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia

cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu

frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro

com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que

chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0424 -- 0439

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente

mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo

mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era

bebida

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212

Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo

abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

550 -- 603

―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da

bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo

notam mas notam

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0401 -- 0408

O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro

dia bebendo porque eu precisava beber

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304

Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A

gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra

gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute

diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia

Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e

gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde

SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei

55

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

759 --813 + 825 -- 840

+ 915 --9 22

PODE ENXUGAR

muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai

argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +

E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me

ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e

nossa aquilo ali me doeu +

―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu

natildeo volto mais

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

126 -- 153 + 216 --231

―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e

ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era

casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na

eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +

―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa

natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me

pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347

Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa

para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou

para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para

mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas

SONORA Daniela

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

953 --1016 + 120 --

124

PODE ENXUGAR

ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que

eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava

dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo

E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso

aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar

minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova

trajetoacuteria

SONORA Claudia

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

427 --439

―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma

coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se

conhece um conhece outro

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0048 ---0109

Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca

soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse

dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

516 -- 521

―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto

entatildeo vc entra

SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo

tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte

56

ARQUIVO 967_0430_03

TEMPO DE CORTE

926 -- 938

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0814

-- 0834

No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da

que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua

esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio

Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0707 -- 0726

Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu

viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu

corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar

mais

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 217

-- 230

―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer

uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa

de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0706

-- 0725

Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo

que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do

lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a

gente a sobreviver na rua

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE

CORTE0013 --018 (+)

1128 --1137

―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq

barulho a gente acorda

(+)

―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade

de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde

SONORA ADRIANO LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio

sincronizado

TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628

Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece

que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute

terriacutevel

57

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE 958

-- 1002 + 931 -- 945 +

1025 -- 1030

―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute

um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma

alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas

se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que

estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE

222-- 245

―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente

chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela

e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar

para vc

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE

701 -- 714

(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a

frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute

super-homem natildeo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli -

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0432

-- 0437

Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de

viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia

morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE 655

--710 +730 -- 804

PODE ENXUGAR

(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que

to com catarata pq natildeo notei 710 +

(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para

traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui

para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a

danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e

e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1109

--1116

+

―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila

comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da

minha mochila

(+)

58

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1032

--1036

+

ARQUIVO 256_2764_02

TEMPO DE CORTE 1101

-- 1115

ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa

(+)

―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai

que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho

comigo ningueacutem queria mais falar comigo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 0300

--0308

―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber

os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 1540

-- 1556

Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te

apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio

decadente

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE

0824 -- 0857

Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa

marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc

eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um

saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam

natildeo estatildeo nem aiacute

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 241

-- 0300

―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como

pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto

de vc muito existe demais demais

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0508 -- 05 30

Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar

eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te

tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe

uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas

59

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_03

TEMPO DE CORTE

241 --256

(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema

esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc

vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0841 -- 0853 (+) 0302 -

-0322

Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu

preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes

(+)

Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa

vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de

novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo

tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci

minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 741

--806 +

803-- 804 +

811 -- 815

(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um

tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando

eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +

(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para

Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE 0638

-- 0653

Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava

a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas

mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a

gente piorava cada vez mais

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 837

-- 848 (+) 557-- 606

Sera que daacute para cortar o

som externo nessa parte

Senatildeo pode cortar

― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e

estradas

+

―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo

para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava

60

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

1251 -- 1306

Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia

morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o

meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 604

-- 618

+

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

521 -- 533

― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter

outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com

outra coisa natildeo com a rua +

―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui

uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_06

TEMPO DE CORTE

101--121

―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro

todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a

condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no

coraccedilatildeo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 0551 -- 613

―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da

forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o

fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai

se entregar eacute assim que eu pensava

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0127 -- 0151

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era

meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais

abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava

esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda

61

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 852 - 906

―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me

arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me

arrependo mesmo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 1305 - 1326

―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc

esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente

todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que

arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei

quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais

forccedila

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0428 -- 0500

―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e

procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi

a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma

pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de

tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute

tudo mudou

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

814 - 835

―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria

fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir

para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1056 - 1111

―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou

estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute

arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0726 -- 0748

ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de

recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar

um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa

se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou

acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento

62

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE

0231 -- 0248

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA

EvDICcedilAtildeO

―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua

vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e

quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma

forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1207 - 1231

―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a

gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o

organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida

e em qlq bar vc consegue

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0532 --609

―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi

aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis

tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos

mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente

que eu recebi

SONORA Dani

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 516 - 528

―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar

terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu

tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

924 - 1000

(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo

esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta

repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter

uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em

restaurantes

SONORA ADRIANO

LUGOLI

Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo

esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao

63

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0821 -- 856

Avaliar se corta o final

ou enxuga

era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando

via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_04

TEMPO DE CORTE

109 -130 (+)

1100 -1103

― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na

cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um

pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito

oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna

+

―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 126 - 142

ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que

eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que

eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0900 - 943

―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha

vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente

que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim

que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me

abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_03

TEMPO DE

CORTE034 - 044 +

113- 117

(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos

estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +

113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando

(117)

SONORA Dani

ARQUIVO

―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas

paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu

olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu

64

965_0748_02

TEMPO DE CORTE 240 - 308)

interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem

de fazer oq eu eu fiz

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_04

TEMPO DE CORTE -

045 - 111

― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo

de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova

oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p

vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -

910

―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus

irmatildeos +

―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que

eu tenho para ele eacute o silecircncio

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423

―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)

―e depois que essa historia foi p jornal revista tv

eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia

acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao

que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_02

TEMPO DE CORTE

852 - 920

― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela

situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de

alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute

sozinha natildeo vai conseguir

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 611 - 633

―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca

esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios

propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar

algo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE

―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso

nem ter uma casinha para morar

65

CORTE1313 - 1321

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

706 - 732

ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem

pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do

mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb

vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1129 - 1200

―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que

quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam

de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua

vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que

as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica

oportunidade elas conseguem

Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos

66

APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem

Fonte Ana Paula Fonseca (2017)

67

APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia

Fonte Marcus Barbosa (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

68

APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD

Fonte Sarah Silva (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Page 7: Universidade de Brasília Departamento de Jornalismo...nosso trabalho. Tenho certeza que suas histórias inspiradoras vão impactar a cada um que assistir a esse documentário. À

6

Sumaacuterio LISTA DE FIGURAS 8

LISTA DE TABELAS 8

RESUMO 9

ABSTRACT 10

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS 12

21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa 14

3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS 16

31 Objetivo Geral 16

32 Objetivo Especiacuteficos 16

4REFERENCIAL TEOacuteRICO 17

41 Nomenclatura 17

42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua 18

43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal 20

44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas 22

45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico 24

5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 27

51 Formato audiovisual 28

52 Personagens 29

53 Preacute-produccedilatildeo 32

54 Produccedilatildeo 34

55 Poacutes-produccedilatildeo 37

561 Identidade visual 38

6 CRONOGRAMA DE PESQUISA 40

7 ORCcedilAMENTO 41

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 42

REFEREcircNCIAS 44

Referecircncias audiovisuais 45

APEcircNDICES 46

APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV 47

7

APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas 49

APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas 50

APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo 52

APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem 66

APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia 67

APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD 68

8

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia 18

FIGURA 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto 30

FIGURA 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro 31

FIGURA 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela natildeo parou de trabalhar e estudarhelliphellip 32

FIGURA 5 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul em Brasiacutelia 35

FIGURA 6 ndash Gravaccedilatildeo na Praccedila do Compromisso Asa Sul Brasiacutelia 36

FIGURA 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli Da

esquerda para a direita Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista

cedido pela UnBTV) Marcus Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) 37

FIGURA 8 -ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower 38

FIGURA 9 - Paleta de cores escolhida 39

FIGURA 10 - Arte da capa para o DVD 39

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 ndash Lista completa da equipe 34

TABELA 2 ndash Cronograma de atividades 40

TABELA 3 ndash Orccedilamento de materiais 41

TABELA 4 ndash Orccedilamento de materiais II 42

9

RESUMO

O documentaacuterio ldquoMemoacuteria das Ruasrdquo aborda as experiecircncias de quatro pessoas que

reescreveram suas histoacuterias e conseguiram superaram o periacuteodo de invisibilidade

experimentado durante o tempo em que viveram em situaccedilatildeo de rua O projeto

produzido entre os meses de agosto e novembro de 2017 buscou abordar com olhar

jornaliacutestico humanizado momentos significativos das histoacuterias desses protagonistas No

iniacutecio os personagens contam como eram suas vidas antes das ruas e quais fatores os

levaram a essa situaccedilatildeo Logo depois eacute apresentado um relato sobre os medos

dificuldades perigos e preconceitos enfrentados por cada um deles Por fim os quatro

personagens contam o caminho percorrido para a retomada de suas vidas e quais seus

planos para o futuro

Palavras-chaves Documentaacuterio Jornalismo Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Vulnerabilidade social Relatos de vida

10

ABSTRACT

The documentary bdquoMemoacuteria das Ruas‟ addresses the experiences of four people who

rewrot their stories and succeeded in overcoming the period of invisibility experienced

during the time they lived on the streets The project produced between August and

September 2017 sought to approach in a humanized way significant moments of the

stories os these protagonists In a first moment the characters tell how their lives were

before the streets and what factors led them to this situation In sequence its present na

account of the fears difficulties dangers and prejudice faced by each one of them In

conclusion all the characters tell the story of their lives and their plans for the future

Keywords Documentary Journalism Population in street situation Social

vulnerability Life stories

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Moradia limpa digna e segura Mesmo sendo uma garantia baacutesica assegurada

pelo artigo 6ordm do Capiacutetulo II da Constituiccedilatildeo Brasileira de 19881 a realidade por traacutes

deste direito no Brasil ainda estaacute longe de ser a ideal Por conta dos abismos

socioeconocircmicos que persistem em dividir a populaccedilatildeo em diferentes classes sociais

uma boa parcela dos brasileiros continua sem acesso a oportunidades e um dos

principais reflexos desta situaccedilatildeo eacute a falta de moradia adequada para todos

A crise financeira o aumento exponencial do desemprego e a dependecircncia

quiacutemica satildeo fatores relevantes que tecircm sua parcela de contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo do

cenaacuterio em que as ruas - um espaccedilo comum a todos - tecircm se tornado lugar de

permanecircncia das parcelas menos favorecidas da populaccedilatildeo O Brasil natildeo possui dados

oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima

estimativa2 divulgada em 2015 revelou que naquele ano o paiacutes tinha 101854 dos seus

habitantes vivendo essa realidade

Em 2017 o nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal (DF) de

acordo com a Secretaria do Trabalho Desenvolvimento Social Mulheres Igualdade

Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) era de trecircs mil pessoas ou seja 01 de

toda a populaccedilatildeo da capital federal que em 2017 era de 3 milhotildees de pessoas3

O fenocircmeno que persiste e a cada ano parece crescer eacute um problema social que

pode gerar consequecircncias graves para pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Por conta disso o foco deste trabalho centra-se em contar histoacuterias de vida de pessoas

que fizeram parte dessa populaccedilatildeo frequentemente esquecida e renegada ao abandono

A proposta baseia-se na realizaccedilatildeo de um documentaacuterio Produzido entre agosto e

novembro de 2017 o projeto foi planejado de forma a retratar histoacuterias e vivecircncias de

quatro personagens que vatildeo compartilhar suas experiecircncias dificuldades e

1BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado

Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

2 O Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) possui uma pesquisa intitulada Estimativa da

Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua no Brasil de Marcos Antocircnio Carvalho Natalino publicada em outubro

de 2016 O estudo apresenta dados referentes ao ano de 2015

Conteuacutedo disponiacutevel em httpwwwipeagovbr

Acesso 21 de maio de 2018

3Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 30 de agosto de

2017

Conteuacutedo disponiacutevel em httpscidadesibgegovbr

Acesso 21 de maio de 2018

12

aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas

pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua

O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o

restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o

uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua

brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as

pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os

motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos

mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho

Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o

histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida

antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa

apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver

nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos

enfrentados

A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores

significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro

personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos

ao serem ignorados pela sociedade

Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar

em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos

quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e

contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila

2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS

Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema

escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute

4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008

Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr

Acesso 21 de maio de 2018

13

mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que

enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa

―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar

naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre

como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente

Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se

que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas

puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio

Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla

sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo

desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos

de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos

Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a

abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o

jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com

outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em

mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente

os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo

Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave

idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No

lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de

transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas

comuns

Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado

anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e

preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo

senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos

agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua

natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao

viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou

pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas

Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a

estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por

que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um

14

problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a

alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem

tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam

afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo

pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar

a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e

contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida

21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa

Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo

definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema

interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute

assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees

Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a

ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees

poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento

propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do

processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa

por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a

presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal

Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a

ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma

reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma

experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado

especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as

dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em

averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi

constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves

manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute

a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as

5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil

pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017

Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html

Acesso 21 de maio de 2018

15

histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos

relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por

muito tempo presos agraves ruas

Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato

o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees

importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos

em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e

propaganda

Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na

produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma

das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo

Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se

somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou

na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de

funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio

pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores

Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias

inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para

participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho

Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos

saiacutedo do campo das ideias

16

3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS

31 Objetivo Geral

O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito

da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de

quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos

anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua

32 Objetivo Especiacuteficos

Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua

por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio

Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a

respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das

vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua

17

4REFERENCIAL TEOacuteRICO

41 Nomenclatura

Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho

baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como

forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o

leitor ou espectador a se interessar pelo assunto

Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta

para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas

diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos

autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na

rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado

definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se

referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem

concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []

ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo

heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos

Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes

indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que

―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se

apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que

tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas

palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que

afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito

As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo

elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar

essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva

especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo

A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais

apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo

resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave

condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou

condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de

acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)

18

Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a

preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete

em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar

a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores

pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma

condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo

42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua

Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)

De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para

a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a

pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou

fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional

regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas

degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma

temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de

acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia

provisoacuteriasup1

No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou

um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser

unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas

19

malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto

vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico

e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o

sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa

condiccedilatildeo

O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui

apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas

determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela

sociabilidade capitalista que produz um contingente de

pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo

possuem moradia convencional O modo capitalista de

produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das

classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na

desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo

acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de

subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)

Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um

problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge

muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro

que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um

local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a

criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer

de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas

Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e

passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das

caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do

ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua

Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se

unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia

na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre

outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era

atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que

o mercado capitalista dispotildee

Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o

preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela

aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima

reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo

costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua

20

43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal

O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em

situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de

Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra

que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A

pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais

de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento

Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em

2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01

de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs

milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que

os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga

respectivamente

A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal

causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia

de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo

fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de

viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)

A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta

por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa

etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas

representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a

masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos

A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem

impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou

pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social

historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem

maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado

6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se

ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio

Carvalho Natalino

Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf

Acesso em 21 de maio de 2018

21

em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46

branca

Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em

situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional

com 127 e somente 78 devido problemas com drogas

A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua

afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas

chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente

externo urbano passam ao usar

O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo

preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes

para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de

encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)

da realidade experimentada em seus cotidianos algumas

drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos

(GATTI e PEREIRA 2011 p88)

Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute

ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a

repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)

tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e

pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante

exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores

de materiais reciclaacuteveis

Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso

ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a

nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas

governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem

todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo

de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a

direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos

como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do

governo

22

44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas

Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta

de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora

com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente

reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a

contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal

incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua

Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu

alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e

ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees

religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas

somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam

dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o

modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi

criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei

federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de

Assistecircncia Social (LOAS)

Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de

Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que

subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto

ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em

Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil

a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia

dessa populaccedilatildeo

No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em

Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital

federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do

seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de

rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A

populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado

23

da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador

Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para

adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para

mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de

Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem

situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de

Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute

acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues

disponibilizados pelo Governo

A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute

cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e

descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto

com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos

paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde

satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo

Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e

Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em

comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser

uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico

Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do

uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo

exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo

para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode

durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na

rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra

caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel

teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados

Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de

forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico

individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de

junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o

funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com

transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas

24

Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito

Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas

do Distrito Federal (CONEN-DF)

De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito

Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas

centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a

toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel

institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a

responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o

formulador das poliacuteticas sociais

A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar

esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de

acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem

mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute

tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas

45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico

Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais

raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade

jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel

importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute

mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa

atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria

Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar

luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave

vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de

complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que

buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as

equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)

A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm

defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos

relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da

deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor

25

agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida

por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa

humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto

social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos

primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p

9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa

capaz de transformar tanto o narrado como o narrador

No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto

mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo

[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados

os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a

compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o

jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e

enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7

Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por

privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz

ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo

do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no

jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha

pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)

De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo

quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do

cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o

diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura

dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []

Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem

(MEDINA 1999 p28)

A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem

tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os

mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a

busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da

observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a

comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute

amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos

Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as

accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas

atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos

7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento

[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli

26

desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a

contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que

originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN

2008 p8)

No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda

eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando

essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha

editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-

estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do

assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam

em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo

Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem

principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a

pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de

vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel

minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo

publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que

levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)

Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado

ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo

frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos

meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados

compartilhados pela sociedade

Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho

debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de

abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior

do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as

trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das

ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais

Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a

situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social

Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos

se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto

Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer

jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem

27

somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao

maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado

acontecimento

5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa

voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram

em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a

abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A

partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de

entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre

o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de

informaccedilotildees dos personagens

A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma

forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a

necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o

entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos

linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de

aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma

teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de

questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos

complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)

De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo

abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e

abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se

trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa

(SILVA 2016 p35)

Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o

trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo

do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos

para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto

28

51 Formato audiovisual

Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de

caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos

pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas

fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem

sobre o tema

Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao

trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto

escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo

utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser

alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar

coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era

conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz

alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato

Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em

uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que

os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este

projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e

membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa

populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas

Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de

tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o

projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de

campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie

documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de

abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e

tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos

personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era

necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em

situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar

essa condiccedilatildeo

A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto

Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a

29

situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto

Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa

decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos

protagonistas

Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa

quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era

mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo

Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para

o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a

fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe

uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim

a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo

sobre o tema

52 Personagens

Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que

comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e

entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim

termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no

documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute

haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o

primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de

rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa

condiccedilatildeo fosse a mesma

O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho

Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram

pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos

personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas

que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo

seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar

relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de

personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas

mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas

30

O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele

morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos

16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando

provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a

trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo

a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o

colocou para fora de casa

Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa

de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute

recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute

que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia

apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o

convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje

estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras

pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas

Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)

A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um

casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram

em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo

trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia

31

de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a

fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando

alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua

Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-

companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se

conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para

Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde

permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute

voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de

amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa

para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro

Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)

Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees

distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie

documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e

sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo

alcoolismo

Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma

vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve

seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade

32

ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de

Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram

Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e

passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --

fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu

concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar

renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa

condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar

outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e

fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea

Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)

53 Preacute-produccedilatildeo

A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido

definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi

preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura

por produtos audiovisuais que abordassem o tema

A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos

conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma

condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou

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pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes

essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que

estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela

Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao

mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para

viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV

- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para

auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria

disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma

ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio

Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho

posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou

registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV

assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume

Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller

(vide apecircndice I)

Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca

formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos

auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e

produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela

tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos

participantes (vide anexo I)

Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um

cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees

relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo

telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo

Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos

contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as

gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo

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Tabela 1 ndash Lista completa da equipe

EQUIPE

CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA

PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA

FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E

LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA

EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA

Fonte Marcus Barbosa (2018)

54 Produccedilatildeo

Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o

cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era

necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos

personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios

diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das

obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito

um esforccedilo para seguir de perto o roteiro

Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria

dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria

responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos

planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a

produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua

experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos

equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada

Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista

uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para

fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios

momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo

guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se

abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas

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no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas

isso nem sempre deu certo

Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o

esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e

Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio

em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe

Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se

delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens

do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um

indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera

Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que

ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um

canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das

gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o

primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no

microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao

cronograma de gravaccedilotildees

Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)

36

Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)

Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com

o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele

foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as

entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de

Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as

gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas

Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de

gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente

para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos

concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas

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Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus

Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)

55 Poacutes-produccedilatildeo

Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo

foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio

que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)

Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia

Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material

O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome

provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio

da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por

escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os

personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que

traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas

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561 Identidade visual

A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de

publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela

animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura

foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais

proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas

Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes

de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com

maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com

boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca

por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto

Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para

a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)

Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)

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Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)

Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

40

6 CRONOGRAMA DE PESQUISA

Tabela 2 ndash Cronograma de atividades

DATAS ETAPAS

Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica

(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)

Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens

Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas

Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees

510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega

para ediccedilatildeo

Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio

Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo

Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa

180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca

Fonte Marcus Barbosa (2018)

41

7 ORCcedilAMENTO

Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais

VALORES IacuteTENS

R$ 9700 Estabilizador de celular

R$ 25000 Microfone de Lapela

R$ 29000 HD Externo

R$ 35000 Gasolina

R$ 29700 Impressatildeo de material visual

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II

VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)

R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD

R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg

R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash

Wm6 UHF

R$ 8900 Rebatedor

R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +

Tripeacute 2m

R$ 99900 Identidade visual para o produto

R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de

duraccedilatildeo

R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

42

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi

possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que

existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em

situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao

passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos

ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E

com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que

integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute

preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses

indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa

condiccedilatildeo

Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia

com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de

rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas

entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem

desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o

auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num

problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons

exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e

o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -

Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou

provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida

dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo

No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi

um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente

nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar

o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea

tambeacutem foi de suma importacircncia

Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar

histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas

preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade

nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das

43

histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que

chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo

tudo

Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes

deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de

ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar

tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista

44

REFEREcircNCIAS

ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser

humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico

BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise

referencial de serviccedilo socioassistencial de Satildeo Paulo e Brasiacutelia 2015 64 f Trabalho

de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Serviccedilo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2015 Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048317307

Acesso 21 de maio de 2018

BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil

Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua um estudo sobre pobreza necessidades humanas e miacutenimos

sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de

Brasiacutelia Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel

emhttpbdmunbbrbitstream10483257312011_AmaranthaSaTelesdeCerqueirapdf

Acesso 21 de maio de 2018

CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009

DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005

GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-

EDUC 2006

MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de

moradores de rua em Taguatinga-DF 2016 60 f Trabalho de conclusatildeo de curso

(Bacharelado em Sauacutede Coletiva)mdashUniversidade de Brasiacutelia Ceilacircndia 2016

Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048315988

Acesso em 21 de maio de 2018

Mattos RM Ferreira RF Quem vocecircs pensam que (elas) satildeo Representaccedilotildees

sobre as pessoas em situaccedilatildeo de rua Psicologia amp Sociedade 16 (2) 47-58

maioago2004 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfpsocv16n2a07v16n2pdf

Acesso 21 de maio de 2018

MELO Cristina Teixeira V de GOMES Isaltina Mello MORAIS Wilma O

documentaacuterio jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral In Intercom - 25ordm Congresso

Brasileiro de Comunicaccedilatildeo Campo Grande 2001 Disponiacutevel em

httpwwwintercomorgbrpapersnacionais2001papersNP7MELOPDF

Acesso 21 de maio de 2018

MONTIPOacute Criselli FARAH Acircngela Relato humanizado no jornalismo a

importacircncia da humanizaccedilatildeo na narrativa para um jornalismo transformador In

45

Miacutedia Cidadatilde 2009 - V Conferecircncia Brasileira de Miacutedia Cidadatilde 2009 Guarapuava

Anais Guarapuava 2009 p 906 - 923 Disponiacutevel em httpwwwunicentrobrredemc

Acesso 21 de maio de 2018

MOURA Rodrigo Coelho Bacellar Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo

de Rua uma anaacutelise da participaccedilatildeo social no processo de implementaccedilatildeo da poliacutetica

2016 30 f Trabalho de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Gestatildeo de Poliacuteticas

Puacuteblicas)mdashUniversidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2016 Disponiacutevel em

httpbdmunbbrhandle1048316261

Acesso 21 de maio de 2018

SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-

BA um estudo de caso UNEB 2009

SILVA Fabiacuteola Mariano da Humanizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e gestatildeo centrada nas

pessoas - entrevista em profundidade Laboratoacuterio Sabin 2016 56 f Trabalho de

conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2016

SILVA Maria Lucia Lopes da Trabalho e Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua no Brasil

1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009

SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica

Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009

Referecircncias audiovisuais

BOCA de rua ndash Vozes de Uma Gente Invisiacutevel Marcelo Andrighetti 10rsquo01 Disponiacutevel

em httpswwwyoutubecomuserbocaderuaofilme

Acesso em 21 de maio de 2018

UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e

Victoacuteria Cristina Costa Disponiacutevel em

httpswwwfacebookcomserieumapaginapordia

Acesso em 21 de maio de 2018

O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em

httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes

3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw

Acesso em 21 de maio de 2018

46

APEcircNDICES

47

APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Brasiacutelia 28 de agosto de 2017

Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV

Prezada Sra Neuza Meller

Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para

realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de

Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de

um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em

Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula

130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a

orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula

UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em

situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal

Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo

acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a

aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as

histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de

conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o

desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo

entrevistas e ediccedilatildeo do material captado

Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma

parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo

de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a

grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse

48

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais

sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer

esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail

marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189

Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo

Cordialmente

Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

49

APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)

TER (1909)

QUA (2009) ENTREVISTA

Quem Ademir e Claacuteudia

Horaacuterio 15h

End Luziacircnia GO

QUI (2109)

SEX (2209) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAB ( 2309)

DOM (2409)

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA

Quem Claacuteudia e Ademir

Horaacuterio 14h

End Praccedila do Compromisso Asa Sul

TER (2609)

QUA (2709)

QUI (2809) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 15h

End Ceilacircndia

SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAacuteB (3009) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End SCS

DOM (0110)

MANHAtilde TARDE NOITE

SEG (0210)

TER (0310)

QUA (0410) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 9h

Endereccedilo Centro de

Taguatinga

QUI (0510) ENTREVISTA

Quem Ademir

Horaacuterio 15h

End Parque da Cidade

SEX (0610)

SAacuteB (0710)

DOM (0810)

QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Lucas Cacircndia

Horaacuterio 16h

End Aacuterea central de Brasiacutelia

50

APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a

situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos

durante o periacuteodo nas ruas

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo

com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc

2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar

3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua

4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas

5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua

6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua

7 Como era sua rotina na rua

8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo

9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele

periacuteodo

10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como

abrigo sauacutede etc

11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter

12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais

sobre isso

13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou

simplesmente agia com indiferenccedila

51

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o

futuro

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva

de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real

2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo

3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo

4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou

em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio

5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar

6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de

recuperaccedilatildeo

7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para

frente

8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que

ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria

52

APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida

FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia

PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca

ED DE IMAGENS Julia Nogueira

ARTE Sarah Silva

CENA DE

AMBIENTACcedilAtildeO

ARQUIVO

Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio

SONORA 1 CLAacuteUDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE CORTE

126 -- 147 +

327 -- 345

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu

trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht

mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)

―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu

comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para

vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0025 -- 0109

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma

pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma

discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu

abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas

SONORA 4 DANIELA

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE

213 --300

Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos

tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da

luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de

relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era

acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente

ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar

53

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai

brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma

hora

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e

minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela

sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri

muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem

africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 4

03 -- 434

(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha

vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet

os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida

maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu

Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje

SONORA 6 Daniela

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE

434 --446 + 528 -- 539

―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro

semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos

difiacuteceis +

―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc

vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu

escutei

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

842 --914

―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito

dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu

acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com

uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica

cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil

SONORA DANIELA

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

551 --622

ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um

computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus

aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc

tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12

minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que

Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano

teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo

54

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144

depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria

com as drogas

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

256 -- 330

―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia

cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu

frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro

com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que

chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0424 -- 0439

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente

mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo

mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era

bebida

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212

Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo

abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

550 -- 603

―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da

bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo

notam mas notam

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0401 -- 0408

O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro

dia bebendo porque eu precisava beber

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304

Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A

gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra

gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute

diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia

Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e

gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde

SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei

55

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

759 --813 + 825 -- 840

+ 915 --9 22

PODE ENXUGAR

muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai

argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +

E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me

ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e

nossa aquilo ali me doeu +

―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu

natildeo volto mais

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

126 -- 153 + 216 --231

―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e

ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era

casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na

eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +

―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa

natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me

pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347

Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa

para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou

para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para

mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas

SONORA Daniela

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

953 --1016 + 120 --

124

PODE ENXUGAR

ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que

eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava

dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo

E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso

aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar

minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova

trajetoacuteria

SONORA Claudia

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

427 --439

―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma

coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se

conhece um conhece outro

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0048 ---0109

Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca

soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse

dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

516 -- 521

―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto

entatildeo vc entra

SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo

tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte

56

ARQUIVO 967_0430_03

TEMPO DE CORTE

926 -- 938

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0814

-- 0834

No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da

que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua

esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio

Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0707 -- 0726

Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu

viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu

corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar

mais

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 217

-- 230

―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer

uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa

de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0706

-- 0725

Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo

que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do

lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a

gente a sobreviver na rua

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE

CORTE0013 --018 (+)

1128 --1137

―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq

barulho a gente acorda

(+)

―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade

de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde

SONORA ADRIANO LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio

sincronizado

TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628

Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece

que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute

terriacutevel

57

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE 958

-- 1002 + 931 -- 945 +

1025 -- 1030

―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute

um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma

alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas

se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que

estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE

222-- 245

―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente

chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela

e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar

para vc

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE

701 -- 714

(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a

frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute

super-homem natildeo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli -

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0432

-- 0437

Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de

viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia

morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE 655

--710 +730 -- 804

PODE ENXUGAR

(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que

to com catarata pq natildeo notei 710 +

(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para

traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui

para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a

danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e

e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1109

--1116

+

―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila

comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da

minha mochila

(+)

58

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1032

--1036

+

ARQUIVO 256_2764_02

TEMPO DE CORTE 1101

-- 1115

ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa

(+)

―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai

que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho

comigo ningueacutem queria mais falar comigo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 0300

--0308

―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber

os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 1540

-- 1556

Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te

apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio

decadente

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE

0824 -- 0857

Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa

marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc

eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um

saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam

natildeo estatildeo nem aiacute

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 241

-- 0300

―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como

pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto

de vc muito existe demais demais

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0508 -- 05 30

Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar

eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te

tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe

uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas

59

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_03

TEMPO DE CORTE

241 --256

(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema

esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc

vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0841 -- 0853 (+) 0302 -

-0322

Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu

preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes

(+)

Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa

vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de

novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo

tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci

minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 741

--806 +

803-- 804 +

811 -- 815

(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um

tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando

eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +

(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para

Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE 0638

-- 0653

Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava

a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas

mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a

gente piorava cada vez mais

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 837

-- 848 (+) 557-- 606

Sera que daacute para cortar o

som externo nessa parte

Senatildeo pode cortar

― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e

estradas

+

―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo

para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava

60

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

1251 -- 1306

Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia

morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o

meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 604

-- 618

+

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

521 -- 533

― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter

outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com

outra coisa natildeo com a rua +

―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui

uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_06

TEMPO DE CORTE

101--121

―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro

todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a

condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no

coraccedilatildeo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 0551 -- 613

―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da

forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o

fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai

se entregar eacute assim que eu pensava

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0127 -- 0151

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era

meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais

abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava

esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda

61

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 852 - 906

―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me

arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me

arrependo mesmo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 1305 - 1326

―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc

esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente

todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que

arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei

quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais

forccedila

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0428 -- 0500

―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e

procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi

a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma

pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de

tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute

tudo mudou

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

814 - 835

―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria

fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir

para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1056 - 1111

―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou

estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute

arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0726 -- 0748

ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de

recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar

um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa

se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou

acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento

62

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE

0231 -- 0248

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA

EvDICcedilAtildeO

―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua

vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e

quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma

forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1207 - 1231

―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a

gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o

organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida

e em qlq bar vc consegue

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0532 --609

―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi

aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis

tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos

mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente

que eu recebi

SONORA Dani

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 516 - 528

―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar

terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu

tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

924 - 1000

(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo

esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta

repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter

uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em

restaurantes

SONORA ADRIANO

LUGOLI

Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo

esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao

63

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0821 -- 856

Avaliar se corta o final

ou enxuga

era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando

via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_04

TEMPO DE CORTE

109 -130 (+)

1100 -1103

― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na

cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um

pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito

oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna

+

―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 126 - 142

ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que

eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que

eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0900 - 943

―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha

vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente

que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim

que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me

abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_03

TEMPO DE

CORTE034 - 044 +

113- 117

(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos

estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +

113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando

(117)

SONORA Dani

ARQUIVO

―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas

paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu

olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu

64

965_0748_02

TEMPO DE CORTE 240 - 308)

interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem

de fazer oq eu eu fiz

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_04

TEMPO DE CORTE -

045 - 111

― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo

de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova

oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p

vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -

910

―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus

irmatildeos +

―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que

eu tenho para ele eacute o silecircncio

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423

―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)

―e depois que essa historia foi p jornal revista tv

eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia

acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao

que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_02

TEMPO DE CORTE

852 - 920

― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela

situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de

alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute

sozinha natildeo vai conseguir

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 611 - 633

―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca

esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios

propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar

algo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE

―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso

nem ter uma casinha para morar

65

CORTE1313 - 1321

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

706 - 732

ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem

pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do

mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb

vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1129 - 1200

―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que

quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam

de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua

vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que

as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica

oportunidade elas conseguem

Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos

66

APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem

Fonte Ana Paula Fonseca (2017)

67

APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia

Fonte Marcus Barbosa (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

68

APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD

Fonte Sarah Silva (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Page 8: Universidade de Brasília Departamento de Jornalismo...nosso trabalho. Tenho certeza que suas histórias inspiradoras vão impactar a cada um que assistir a esse documentário. À

7

APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas 49

APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas 50

APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo 52

APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem 66

APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia 67

APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD 68

8

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia 18

FIGURA 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto 30

FIGURA 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro 31

FIGURA 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela natildeo parou de trabalhar e estudarhelliphellip 32

FIGURA 5 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul em Brasiacutelia 35

FIGURA 6 ndash Gravaccedilatildeo na Praccedila do Compromisso Asa Sul Brasiacutelia 36

FIGURA 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli Da

esquerda para a direita Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista

cedido pela UnBTV) Marcus Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) 37

FIGURA 8 -ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower 38

FIGURA 9 - Paleta de cores escolhida 39

FIGURA 10 - Arte da capa para o DVD 39

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 ndash Lista completa da equipe 34

TABELA 2 ndash Cronograma de atividades 40

TABELA 3 ndash Orccedilamento de materiais 41

TABELA 4 ndash Orccedilamento de materiais II 42

9

RESUMO

O documentaacuterio ldquoMemoacuteria das Ruasrdquo aborda as experiecircncias de quatro pessoas que

reescreveram suas histoacuterias e conseguiram superaram o periacuteodo de invisibilidade

experimentado durante o tempo em que viveram em situaccedilatildeo de rua O projeto

produzido entre os meses de agosto e novembro de 2017 buscou abordar com olhar

jornaliacutestico humanizado momentos significativos das histoacuterias desses protagonistas No

iniacutecio os personagens contam como eram suas vidas antes das ruas e quais fatores os

levaram a essa situaccedilatildeo Logo depois eacute apresentado um relato sobre os medos

dificuldades perigos e preconceitos enfrentados por cada um deles Por fim os quatro

personagens contam o caminho percorrido para a retomada de suas vidas e quais seus

planos para o futuro

Palavras-chaves Documentaacuterio Jornalismo Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Vulnerabilidade social Relatos de vida

10

ABSTRACT

The documentary bdquoMemoacuteria das Ruas‟ addresses the experiences of four people who

rewrot their stories and succeeded in overcoming the period of invisibility experienced

during the time they lived on the streets The project produced between August and

September 2017 sought to approach in a humanized way significant moments of the

stories os these protagonists In a first moment the characters tell how their lives were

before the streets and what factors led them to this situation In sequence its present na

account of the fears difficulties dangers and prejudice faced by each one of them In

conclusion all the characters tell the story of their lives and their plans for the future

Keywords Documentary Journalism Population in street situation Social

vulnerability Life stories

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Moradia limpa digna e segura Mesmo sendo uma garantia baacutesica assegurada

pelo artigo 6ordm do Capiacutetulo II da Constituiccedilatildeo Brasileira de 19881 a realidade por traacutes

deste direito no Brasil ainda estaacute longe de ser a ideal Por conta dos abismos

socioeconocircmicos que persistem em dividir a populaccedilatildeo em diferentes classes sociais

uma boa parcela dos brasileiros continua sem acesso a oportunidades e um dos

principais reflexos desta situaccedilatildeo eacute a falta de moradia adequada para todos

A crise financeira o aumento exponencial do desemprego e a dependecircncia

quiacutemica satildeo fatores relevantes que tecircm sua parcela de contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo do

cenaacuterio em que as ruas - um espaccedilo comum a todos - tecircm se tornado lugar de

permanecircncia das parcelas menos favorecidas da populaccedilatildeo O Brasil natildeo possui dados

oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima

estimativa2 divulgada em 2015 revelou que naquele ano o paiacutes tinha 101854 dos seus

habitantes vivendo essa realidade

Em 2017 o nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal (DF) de

acordo com a Secretaria do Trabalho Desenvolvimento Social Mulheres Igualdade

Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) era de trecircs mil pessoas ou seja 01 de

toda a populaccedilatildeo da capital federal que em 2017 era de 3 milhotildees de pessoas3

O fenocircmeno que persiste e a cada ano parece crescer eacute um problema social que

pode gerar consequecircncias graves para pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Por conta disso o foco deste trabalho centra-se em contar histoacuterias de vida de pessoas

que fizeram parte dessa populaccedilatildeo frequentemente esquecida e renegada ao abandono

A proposta baseia-se na realizaccedilatildeo de um documentaacuterio Produzido entre agosto e

novembro de 2017 o projeto foi planejado de forma a retratar histoacuterias e vivecircncias de

quatro personagens que vatildeo compartilhar suas experiecircncias dificuldades e

1BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado

Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

2 O Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) possui uma pesquisa intitulada Estimativa da

Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua no Brasil de Marcos Antocircnio Carvalho Natalino publicada em outubro

de 2016 O estudo apresenta dados referentes ao ano de 2015

Conteuacutedo disponiacutevel em httpwwwipeagovbr

Acesso 21 de maio de 2018

3Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 30 de agosto de

2017

Conteuacutedo disponiacutevel em httpscidadesibgegovbr

Acesso 21 de maio de 2018

12

aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas

pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua

O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o

restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o

uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua

brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as

pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os

motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos

mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho

Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o

histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida

antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa

apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver

nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos

enfrentados

A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores

significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro

personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos

ao serem ignorados pela sociedade

Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar

em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos

quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e

contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila

2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS

Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema

escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute

4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008

Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr

Acesso 21 de maio de 2018

13

mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que

enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa

―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar

naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre

como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente

Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se

que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas

puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio

Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla

sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo

desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos

de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos

Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a

abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o

jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com

outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em

mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente

os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo

Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave

idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No

lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de

transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas

comuns

Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado

anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e

preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo

senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos

agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua

natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao

viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou

pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas

Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a

estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por

que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um

14

problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a

alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem

tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam

afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo

pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar

a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e

contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida

21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa

Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo

definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema

interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute

assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees

Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a

ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees

poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento

propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do

processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa

por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a

presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal

Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a

ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma

reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma

experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado

especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as

dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em

averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi

constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves

manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute

a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as

5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil

pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017

Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html

Acesso 21 de maio de 2018

15

histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos

relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por

muito tempo presos agraves ruas

Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato

o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees

importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos

em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e

propaganda

Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na

produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma

das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo

Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se

somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou

na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de

funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio

pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores

Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias

inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para

participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho

Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos

saiacutedo do campo das ideias

16

3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS

31 Objetivo Geral

O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito

da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de

quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos

anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua

32 Objetivo Especiacuteficos

Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua

por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio

Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a

respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das

vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua

17

4REFERENCIAL TEOacuteRICO

41 Nomenclatura

Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho

baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como

forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o

leitor ou espectador a se interessar pelo assunto

Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta

para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas

diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos

autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na

rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado

definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se

referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem

concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []

ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo

heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos

Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes

indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que

―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se

apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que

tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas

palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que

afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito

As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo

elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar

essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva

especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo

A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais

apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo

resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave

condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou

condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de

acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)

18

Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a

preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete

em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar

a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores

pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma

condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo

42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua

Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)

De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para

a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a

pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou

fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional

regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas

degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma

temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de

acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia

provisoacuteriasup1

No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou

um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser

unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas

19

malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto

vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico

e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o

sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa

condiccedilatildeo

O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui

apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas

determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela

sociabilidade capitalista que produz um contingente de

pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo

possuem moradia convencional O modo capitalista de

produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das

classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na

desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo

acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de

subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)

Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um

problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge

muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro

que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um

local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a

criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer

de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas

Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e

passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das

caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do

ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua

Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se

unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia

na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre

outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era

atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que

o mercado capitalista dispotildee

Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o

preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela

aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima

reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo

costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua

20

43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal

O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em

situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de

Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra

que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A

pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais

de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento

Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em

2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01

de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs

milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que

os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga

respectivamente

A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal

causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia

de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo

fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de

viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)

A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta

por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa

etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas

representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a

masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos

A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem

impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou

pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social

historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem

maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado

6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se

ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio

Carvalho Natalino

Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf

Acesso em 21 de maio de 2018

21

em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46

branca

Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em

situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional

com 127 e somente 78 devido problemas com drogas

A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua

afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas

chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente

externo urbano passam ao usar

O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo

preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes

para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de

encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)

da realidade experimentada em seus cotidianos algumas

drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos

(GATTI e PEREIRA 2011 p88)

Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute

ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a

repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)

tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e

pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante

exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores

de materiais reciclaacuteveis

Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso

ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a

nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas

governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem

todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo

de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a

direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos

como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do

governo

22

44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas

Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta

de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora

com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente

reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a

contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal

incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua

Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu

alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e

ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees

religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas

somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam

dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o

modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi

criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei

federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de

Assistecircncia Social (LOAS)

Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de

Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que

subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto

ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em

Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil

a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia

dessa populaccedilatildeo

No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em

Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital

federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do

seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de

rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A

populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado

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da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador

Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para

adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para

mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de

Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem

situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de

Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute

acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues

disponibilizados pelo Governo

A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute

cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e

descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto

com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos

paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde

satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo

Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e

Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em

comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser

uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico

Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do

uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo

exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo

para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode

durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na

rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra

caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel

teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados

Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de

forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico

individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de

junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o

funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com

transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas

24

Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito

Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas

do Distrito Federal (CONEN-DF)

De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito

Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas

centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a

toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel

institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a

responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o

formulador das poliacuteticas sociais

A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar

esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de

acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem

mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute

tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas

45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico

Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais

raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade

jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel

importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute

mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa

atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria

Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar

luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave

vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de

complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que

buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as

equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)

A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm

defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos

relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da

deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor

25

agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida

por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa

humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto

social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos

primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p

9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa

capaz de transformar tanto o narrado como o narrador

No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto

mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo

[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados

os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a

compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o

jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e

enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7

Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por

privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz

ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo

do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no

jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha

pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)

De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo

quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do

cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o

diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura

dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []

Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem

(MEDINA 1999 p28)

A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem

tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os

mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a

busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da

observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a

comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute

amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos

Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as

accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas

atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos

7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento

[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli

26

desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a

contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que

originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN

2008 p8)

No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda

eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando

essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha

editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-

estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do

assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam

em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo

Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem

principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a

pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de

vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel

minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo

publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que

levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)

Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado

ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo

frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos

meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados

compartilhados pela sociedade

Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho

debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de

abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior

do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as

trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das

ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais

Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a

situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social

Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos

se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto

Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer

jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem

27

somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao

maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado

acontecimento

5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa

voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram

em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a

abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A

partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de

entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre

o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de

informaccedilotildees dos personagens

A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma

forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a

necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o

entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos

linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de

aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma

teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de

questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos

complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)

De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo

abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e

abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se

trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa

(SILVA 2016 p35)

Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o

trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo

do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos

para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto

28

51 Formato audiovisual

Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de

caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos

pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas

fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem

sobre o tema

Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao

trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto

escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo

utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser

alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar

coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era

conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz

alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato

Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em

uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que

os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este

projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e

membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa

populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas

Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de

tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o

projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de

campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie

documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de

abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e

tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos

personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era

necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em

situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar

essa condiccedilatildeo

A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto

Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a

29

situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto

Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa

decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos

protagonistas

Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa

quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era

mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo

Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para

o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a

fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe

uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim

a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo

sobre o tema

52 Personagens

Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que

comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e

entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim

termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no

documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute

haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o

primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de

rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa

condiccedilatildeo fosse a mesma

O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho

Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram

pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos

personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas

que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo

seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar

relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de

personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas

mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas

30

O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele

morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos

16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando

provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a

trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo

a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o

colocou para fora de casa

Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa

de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute

recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute

que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia

apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o

convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje

estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras

pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas

Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)

A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um

casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram

em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo

trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia

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de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a

fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando

alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua

Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-

companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se

conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para

Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde

permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute

voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de

amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa

para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro

Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)

Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees

distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie

documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e

sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo

alcoolismo

Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma

vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve

seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade

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ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de

Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram

Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e

passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --

fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu

concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar

renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa

condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar

outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e

fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea

Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)

53 Preacute-produccedilatildeo

A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido

definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi

preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura

por produtos audiovisuais que abordassem o tema

A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos

conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma

condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou

33

pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes

essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que

estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela

Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao

mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para

viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV

- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para

auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria

disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma

ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio

Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho

posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou

registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV

assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume

Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller

(vide apecircndice I)

Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca

formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos

auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e

produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela

tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos

participantes (vide anexo I)

Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um

cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees

relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo

telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo

Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos

contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as

gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo

34

Tabela 1 ndash Lista completa da equipe

EQUIPE

CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA

PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA

FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E

LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA

EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA

Fonte Marcus Barbosa (2018)

54 Produccedilatildeo

Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o

cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era

necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos

personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios

diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das

obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito

um esforccedilo para seguir de perto o roteiro

Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria

dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria

responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos

planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a

produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua

experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos

equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada

Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista

uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para

fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios

momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo

guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se

abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas

35

no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas

isso nem sempre deu certo

Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o

esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e

Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio

em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe

Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se

delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens

do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um

indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera

Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que

ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um

canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das

gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o

primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no

microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao

cronograma de gravaccedilotildees

Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)

36

Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)

Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com

o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele

foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as

entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de

Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as

gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas

Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de

gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente

para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos

concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas

37

Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus

Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)

55 Poacutes-produccedilatildeo

Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo

foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio

que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)

Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia

Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material

O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome

provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio

da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por

escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os

personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que

traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas

38

561 Identidade visual

A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de

publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela

animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura

foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais

proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas

Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes

de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com

maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com

boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca

por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto

Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para

a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)

Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)

39

Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)

Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

40

6 CRONOGRAMA DE PESQUISA

Tabela 2 ndash Cronograma de atividades

DATAS ETAPAS

Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica

(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)

Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens

Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas

Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees

510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega

para ediccedilatildeo

Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio

Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo

Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa

180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca

Fonte Marcus Barbosa (2018)

41

7 ORCcedilAMENTO

Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais

VALORES IacuteTENS

R$ 9700 Estabilizador de celular

R$ 25000 Microfone de Lapela

R$ 29000 HD Externo

R$ 35000 Gasolina

R$ 29700 Impressatildeo de material visual

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II

VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)

R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD

R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg

R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash

Wm6 UHF

R$ 8900 Rebatedor

R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +

Tripeacute 2m

R$ 99900 Identidade visual para o produto

R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de

duraccedilatildeo

R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

42

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi

possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que

existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em

situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao

passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos

ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E

com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que

integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute

preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses

indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa

condiccedilatildeo

Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia

com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de

rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas

entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem

desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o

auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num

problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons

exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e

o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -

Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou

provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida

dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo

No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi

um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente

nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar

o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea

tambeacutem foi de suma importacircncia

Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar

histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas

preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade

nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das

43

histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que

chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo

tudo

Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes

deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de

ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar

tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista

44

REFEREcircNCIAS

ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser

humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico

BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise

referencial de serviccedilo socioassistencial de Satildeo Paulo e Brasiacutelia 2015 64 f Trabalho

de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Serviccedilo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2015 Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048317307

Acesso 21 de maio de 2018

BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil

Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua um estudo sobre pobreza necessidades humanas e miacutenimos

sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de

Brasiacutelia Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel

emhttpbdmunbbrbitstream10483257312011_AmaranthaSaTelesdeCerqueirapdf

Acesso 21 de maio de 2018

CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009

DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005

GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-

EDUC 2006

MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de

moradores de rua em Taguatinga-DF 2016 60 f Trabalho de conclusatildeo de curso

(Bacharelado em Sauacutede Coletiva)mdashUniversidade de Brasiacutelia Ceilacircndia 2016

Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048315988

Acesso em 21 de maio de 2018

Mattos RM Ferreira RF Quem vocecircs pensam que (elas) satildeo Representaccedilotildees

sobre as pessoas em situaccedilatildeo de rua Psicologia amp Sociedade 16 (2) 47-58

maioago2004 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfpsocv16n2a07v16n2pdf

Acesso 21 de maio de 2018

MELO Cristina Teixeira V de GOMES Isaltina Mello MORAIS Wilma O

documentaacuterio jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral In Intercom - 25ordm Congresso

Brasileiro de Comunicaccedilatildeo Campo Grande 2001 Disponiacutevel em

httpwwwintercomorgbrpapersnacionais2001papersNP7MELOPDF

Acesso 21 de maio de 2018

MONTIPOacute Criselli FARAH Acircngela Relato humanizado no jornalismo a

importacircncia da humanizaccedilatildeo na narrativa para um jornalismo transformador In

45

Miacutedia Cidadatilde 2009 - V Conferecircncia Brasileira de Miacutedia Cidadatilde 2009 Guarapuava

Anais Guarapuava 2009 p 906 - 923 Disponiacutevel em httpwwwunicentrobrredemc

Acesso 21 de maio de 2018

MOURA Rodrigo Coelho Bacellar Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo

de Rua uma anaacutelise da participaccedilatildeo social no processo de implementaccedilatildeo da poliacutetica

2016 30 f Trabalho de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Gestatildeo de Poliacuteticas

Puacuteblicas)mdashUniversidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2016 Disponiacutevel em

httpbdmunbbrhandle1048316261

Acesso 21 de maio de 2018

SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-

BA um estudo de caso UNEB 2009

SILVA Fabiacuteola Mariano da Humanizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e gestatildeo centrada nas

pessoas - entrevista em profundidade Laboratoacuterio Sabin 2016 56 f Trabalho de

conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2016

SILVA Maria Lucia Lopes da Trabalho e Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua no Brasil

1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009

SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica

Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009

Referecircncias audiovisuais

BOCA de rua ndash Vozes de Uma Gente Invisiacutevel Marcelo Andrighetti 10rsquo01 Disponiacutevel

em httpswwwyoutubecomuserbocaderuaofilme

Acesso em 21 de maio de 2018

UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e

Victoacuteria Cristina Costa Disponiacutevel em

httpswwwfacebookcomserieumapaginapordia

Acesso em 21 de maio de 2018

O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em

httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes

3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw

Acesso em 21 de maio de 2018

46

APEcircNDICES

47

APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Brasiacutelia 28 de agosto de 2017

Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV

Prezada Sra Neuza Meller

Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para

realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de

Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de

um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em

Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula

130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a

orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula

UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em

situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal

Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo

acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a

aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as

histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de

conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o

desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo

entrevistas e ediccedilatildeo do material captado

Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma

parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo

de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a

grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse

48

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais

sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer

esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail

marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189

Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo

Cordialmente

Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

49

APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)

TER (1909)

QUA (2009) ENTREVISTA

Quem Ademir e Claacuteudia

Horaacuterio 15h

End Luziacircnia GO

QUI (2109)

SEX (2209) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAB ( 2309)

DOM (2409)

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA

Quem Claacuteudia e Ademir

Horaacuterio 14h

End Praccedila do Compromisso Asa Sul

TER (2609)

QUA (2709)

QUI (2809) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 15h

End Ceilacircndia

SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAacuteB (3009) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End SCS

DOM (0110)

MANHAtilde TARDE NOITE

SEG (0210)

TER (0310)

QUA (0410) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 9h

Endereccedilo Centro de

Taguatinga

QUI (0510) ENTREVISTA

Quem Ademir

Horaacuterio 15h

End Parque da Cidade

SEX (0610)

SAacuteB (0710)

DOM (0810)

QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Lucas Cacircndia

Horaacuterio 16h

End Aacuterea central de Brasiacutelia

50

APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a

situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos

durante o periacuteodo nas ruas

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo

com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc

2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar

3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua

4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas

5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua

6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua

7 Como era sua rotina na rua

8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo

9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele

periacuteodo

10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como

abrigo sauacutede etc

11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter

12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais

sobre isso

13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou

simplesmente agia com indiferenccedila

51

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o

futuro

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva

de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real

2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo

3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo

4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou

em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio

5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar

6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de

recuperaccedilatildeo

7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para

frente

8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que

ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria

52

APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida

FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia

PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca

ED DE IMAGENS Julia Nogueira

ARTE Sarah Silva

CENA DE

AMBIENTACcedilAtildeO

ARQUIVO

Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio

SONORA 1 CLAacuteUDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE CORTE

126 -- 147 +

327 -- 345

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu

trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht

mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)

―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu

comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para

vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0025 -- 0109

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma

pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma

discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu

abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas

SONORA 4 DANIELA

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE

213 --300

Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos

tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da

luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de

relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era

acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente

ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar

53

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai

brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma

hora

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e

minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela

sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri

muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem

africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 4

03 -- 434

(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha

vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet

os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida

maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu

Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje

SONORA 6 Daniela

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE

434 --446 + 528 -- 539

―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro

semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos

difiacuteceis +

―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc

vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu

escutei

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

842 --914

―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito

dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu

acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com

uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica

cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil

SONORA DANIELA

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

551 --622

ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um

computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus

aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc

tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12

minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que

Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano

teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo

54

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144

depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria

com as drogas

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

256 -- 330

―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia

cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu

frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro

com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que

chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0424 -- 0439

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente

mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo

mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era

bebida

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212

Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo

abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

550 -- 603

―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da

bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo

notam mas notam

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0401 -- 0408

O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro

dia bebendo porque eu precisava beber

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304

Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A

gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra

gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute

diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia

Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e

gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde

SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei

55

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

759 --813 + 825 -- 840

+ 915 --9 22

PODE ENXUGAR

muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai

argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +

E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me

ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e

nossa aquilo ali me doeu +

―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu

natildeo volto mais

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

126 -- 153 + 216 --231

―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e

ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era

casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na

eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +

―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa

natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me

pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347

Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa

para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou

para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para

mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas

SONORA Daniela

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

953 --1016 + 120 --

124

PODE ENXUGAR

ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que

eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava

dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo

E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso

aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar

minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova

trajetoacuteria

SONORA Claudia

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

427 --439

―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma

coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se

conhece um conhece outro

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0048 ---0109

Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca

soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse

dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

516 -- 521

―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto

entatildeo vc entra

SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo

tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte

56

ARQUIVO 967_0430_03

TEMPO DE CORTE

926 -- 938

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0814

-- 0834

No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da

que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua

esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio

Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0707 -- 0726

Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu

viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu

corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar

mais

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 217

-- 230

―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer

uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa

de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0706

-- 0725

Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo

que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do

lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a

gente a sobreviver na rua

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE

CORTE0013 --018 (+)

1128 --1137

―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq

barulho a gente acorda

(+)

―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade

de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde

SONORA ADRIANO LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio

sincronizado

TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628

Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece

que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute

terriacutevel

57

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE 958

-- 1002 + 931 -- 945 +

1025 -- 1030

―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute

um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma

alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas

se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que

estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE

222-- 245

―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente

chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela

e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar

para vc

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE

701 -- 714

(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a

frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute

super-homem natildeo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli -

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0432

-- 0437

Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de

viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia

morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE 655

--710 +730 -- 804

PODE ENXUGAR

(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que

to com catarata pq natildeo notei 710 +

(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para

traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui

para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a

danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e

e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1109

--1116

+

―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila

comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da

minha mochila

(+)

58

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1032

--1036

+

ARQUIVO 256_2764_02

TEMPO DE CORTE 1101

-- 1115

ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa

(+)

―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai

que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho

comigo ningueacutem queria mais falar comigo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 0300

--0308

―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber

os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 1540

-- 1556

Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te

apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio

decadente

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE

0824 -- 0857

Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa

marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc

eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um

saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam

natildeo estatildeo nem aiacute

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 241

-- 0300

―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como

pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto

de vc muito existe demais demais

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0508 -- 05 30

Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar

eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te

tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe

uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas

59

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_03

TEMPO DE CORTE

241 --256

(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema

esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc

vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0841 -- 0853 (+) 0302 -

-0322

Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu

preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes

(+)

Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa

vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de

novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo

tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci

minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 741

--806 +

803-- 804 +

811 -- 815

(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um

tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando

eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +

(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para

Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE 0638

-- 0653

Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava

a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas

mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a

gente piorava cada vez mais

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 837

-- 848 (+) 557-- 606

Sera que daacute para cortar o

som externo nessa parte

Senatildeo pode cortar

― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e

estradas

+

―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo

para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava

60

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

1251 -- 1306

Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia

morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o

meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 604

-- 618

+

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

521 -- 533

― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter

outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com

outra coisa natildeo com a rua +

―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui

uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_06

TEMPO DE CORTE

101--121

―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro

todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a

condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no

coraccedilatildeo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 0551 -- 613

―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da

forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o

fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai

se entregar eacute assim que eu pensava

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0127 -- 0151

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era

meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais

abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava

esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda

61

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 852 - 906

―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me

arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me

arrependo mesmo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 1305 - 1326

―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc

esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente

todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que

arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei

quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais

forccedila

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0428 -- 0500

―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e

procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi

a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma

pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de

tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute

tudo mudou

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

814 - 835

―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria

fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir

para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1056 - 1111

―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou

estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute

arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0726 -- 0748

ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de

recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar

um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa

se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou

acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento

62

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE

0231 -- 0248

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA

EvDICcedilAtildeO

―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua

vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e

quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma

forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1207 - 1231

―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a

gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o

organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida

e em qlq bar vc consegue

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0532 --609

―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi

aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis

tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos

mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente

que eu recebi

SONORA Dani

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 516 - 528

―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar

terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu

tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

924 - 1000

(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo

esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta

repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter

uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em

restaurantes

SONORA ADRIANO

LUGOLI

Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo

esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao

63

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0821 -- 856

Avaliar se corta o final

ou enxuga

era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando

via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_04

TEMPO DE CORTE

109 -130 (+)

1100 -1103

― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na

cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um

pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito

oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna

+

―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 126 - 142

ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que

eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que

eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0900 - 943

―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha

vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente

que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim

que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me

abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_03

TEMPO DE

CORTE034 - 044 +

113- 117

(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos

estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +

113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando

(117)

SONORA Dani

ARQUIVO

―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas

paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu

olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu

64

965_0748_02

TEMPO DE CORTE 240 - 308)

interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem

de fazer oq eu eu fiz

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_04

TEMPO DE CORTE -

045 - 111

― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo

de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova

oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p

vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -

910

―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus

irmatildeos +

―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que

eu tenho para ele eacute o silecircncio

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423

―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)

―e depois que essa historia foi p jornal revista tv

eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia

acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao

que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_02

TEMPO DE CORTE

852 - 920

― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela

situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de

alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute

sozinha natildeo vai conseguir

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 611 - 633

―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca

esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios

propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar

algo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE

―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso

nem ter uma casinha para morar

65

CORTE1313 - 1321

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

706 - 732

ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem

pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do

mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb

vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1129 - 1200

―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que

quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam

de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua

vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que

as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica

oportunidade elas conseguem

Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos

66

APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem

Fonte Ana Paula Fonseca (2017)

67

APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia

Fonte Marcus Barbosa (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

68

APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD

Fonte Sarah Silva (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Page 9: Universidade de Brasília Departamento de Jornalismo...nosso trabalho. Tenho certeza que suas histórias inspiradoras vão impactar a cada um que assistir a esse documentário. À

8

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia 18

FIGURA 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto 30

FIGURA 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro 31

FIGURA 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela natildeo parou de trabalhar e estudarhelliphellip 32

FIGURA 5 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul em Brasiacutelia 35

FIGURA 6 ndash Gravaccedilatildeo na Praccedila do Compromisso Asa Sul Brasiacutelia 36

FIGURA 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli Da

esquerda para a direita Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista

cedido pela UnBTV) Marcus Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) 37

FIGURA 8 -ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower 38

FIGURA 9 - Paleta de cores escolhida 39

FIGURA 10 - Arte da capa para o DVD 39

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 ndash Lista completa da equipe 34

TABELA 2 ndash Cronograma de atividades 40

TABELA 3 ndash Orccedilamento de materiais 41

TABELA 4 ndash Orccedilamento de materiais II 42

9

RESUMO

O documentaacuterio ldquoMemoacuteria das Ruasrdquo aborda as experiecircncias de quatro pessoas que

reescreveram suas histoacuterias e conseguiram superaram o periacuteodo de invisibilidade

experimentado durante o tempo em que viveram em situaccedilatildeo de rua O projeto

produzido entre os meses de agosto e novembro de 2017 buscou abordar com olhar

jornaliacutestico humanizado momentos significativos das histoacuterias desses protagonistas No

iniacutecio os personagens contam como eram suas vidas antes das ruas e quais fatores os

levaram a essa situaccedilatildeo Logo depois eacute apresentado um relato sobre os medos

dificuldades perigos e preconceitos enfrentados por cada um deles Por fim os quatro

personagens contam o caminho percorrido para a retomada de suas vidas e quais seus

planos para o futuro

Palavras-chaves Documentaacuterio Jornalismo Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Vulnerabilidade social Relatos de vida

10

ABSTRACT

The documentary bdquoMemoacuteria das Ruas‟ addresses the experiences of four people who

rewrot their stories and succeeded in overcoming the period of invisibility experienced

during the time they lived on the streets The project produced between August and

September 2017 sought to approach in a humanized way significant moments of the

stories os these protagonists In a first moment the characters tell how their lives were

before the streets and what factors led them to this situation In sequence its present na

account of the fears difficulties dangers and prejudice faced by each one of them In

conclusion all the characters tell the story of their lives and their plans for the future

Keywords Documentary Journalism Population in street situation Social

vulnerability Life stories

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Moradia limpa digna e segura Mesmo sendo uma garantia baacutesica assegurada

pelo artigo 6ordm do Capiacutetulo II da Constituiccedilatildeo Brasileira de 19881 a realidade por traacutes

deste direito no Brasil ainda estaacute longe de ser a ideal Por conta dos abismos

socioeconocircmicos que persistem em dividir a populaccedilatildeo em diferentes classes sociais

uma boa parcela dos brasileiros continua sem acesso a oportunidades e um dos

principais reflexos desta situaccedilatildeo eacute a falta de moradia adequada para todos

A crise financeira o aumento exponencial do desemprego e a dependecircncia

quiacutemica satildeo fatores relevantes que tecircm sua parcela de contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo do

cenaacuterio em que as ruas - um espaccedilo comum a todos - tecircm se tornado lugar de

permanecircncia das parcelas menos favorecidas da populaccedilatildeo O Brasil natildeo possui dados

oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima

estimativa2 divulgada em 2015 revelou que naquele ano o paiacutes tinha 101854 dos seus

habitantes vivendo essa realidade

Em 2017 o nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal (DF) de

acordo com a Secretaria do Trabalho Desenvolvimento Social Mulheres Igualdade

Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) era de trecircs mil pessoas ou seja 01 de

toda a populaccedilatildeo da capital federal que em 2017 era de 3 milhotildees de pessoas3

O fenocircmeno que persiste e a cada ano parece crescer eacute um problema social que

pode gerar consequecircncias graves para pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Por conta disso o foco deste trabalho centra-se em contar histoacuterias de vida de pessoas

que fizeram parte dessa populaccedilatildeo frequentemente esquecida e renegada ao abandono

A proposta baseia-se na realizaccedilatildeo de um documentaacuterio Produzido entre agosto e

novembro de 2017 o projeto foi planejado de forma a retratar histoacuterias e vivecircncias de

quatro personagens que vatildeo compartilhar suas experiecircncias dificuldades e

1BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado

Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

2 O Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) possui uma pesquisa intitulada Estimativa da

Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua no Brasil de Marcos Antocircnio Carvalho Natalino publicada em outubro

de 2016 O estudo apresenta dados referentes ao ano de 2015

Conteuacutedo disponiacutevel em httpwwwipeagovbr

Acesso 21 de maio de 2018

3Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 30 de agosto de

2017

Conteuacutedo disponiacutevel em httpscidadesibgegovbr

Acesso 21 de maio de 2018

12

aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas

pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua

O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o

restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o

uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua

brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as

pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os

motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos

mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho

Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o

histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida

antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa

apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver

nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos

enfrentados

A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores

significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro

personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos

ao serem ignorados pela sociedade

Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar

em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos

quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e

contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila

2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS

Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema

escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute

4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008

Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr

Acesso 21 de maio de 2018

13

mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que

enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa

―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar

naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre

como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente

Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se

que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas

puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio

Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla

sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo

desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos

de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos

Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a

abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o

jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com

outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em

mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente

os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo

Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave

idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No

lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de

transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas

comuns

Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado

anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e

preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo

senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos

agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua

natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao

viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou

pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas

Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a

estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por

que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um

14

problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a

alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem

tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam

afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo

pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar

a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e

contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida

21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa

Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo

definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema

interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute

assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees

Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a

ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees

poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento

propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do

processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa

por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a

presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal

Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a

ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma

reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma

experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado

especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as

dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em

averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi

constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves

manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute

a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as

5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil

pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017

Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html

Acesso 21 de maio de 2018

15

histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos

relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por

muito tempo presos agraves ruas

Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato

o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees

importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos

em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e

propaganda

Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na

produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma

das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo

Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se

somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou

na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de

funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio

pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores

Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias

inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para

participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho

Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos

saiacutedo do campo das ideias

16

3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS

31 Objetivo Geral

O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito

da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de

quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos

anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua

32 Objetivo Especiacuteficos

Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua

por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio

Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a

respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das

vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua

17

4REFERENCIAL TEOacuteRICO

41 Nomenclatura

Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho

baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como

forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o

leitor ou espectador a se interessar pelo assunto

Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta

para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas

diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos

autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na

rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado

definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se

referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem

concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []

ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo

heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos

Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes

indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que

―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se

apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que

tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas

palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que

afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito

As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo

elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar

essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva

especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo

A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais

apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo

resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave

condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou

condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de

acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)

18

Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a

preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete

em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar

a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores

pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma

condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo

42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua

Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)

De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para

a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a

pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou

fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional

regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas

degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma

temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de

acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia

provisoacuteriasup1

No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou

um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser

unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas

19

malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto

vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico

e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o

sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa

condiccedilatildeo

O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui

apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas

determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela

sociabilidade capitalista que produz um contingente de

pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo

possuem moradia convencional O modo capitalista de

produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das

classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na

desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo

acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de

subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)

Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um

problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge

muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro

que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um

local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a

criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer

de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas

Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e

passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das

caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do

ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua

Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se

unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia

na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre

outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era

atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que

o mercado capitalista dispotildee

Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o

preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela

aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima

reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo

costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua

20

43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal

O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em

situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de

Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra

que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A

pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais

de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento

Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em

2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01

de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs

milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que

os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga

respectivamente

A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal

causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia

de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo

fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de

viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)

A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta

por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa

etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas

representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a

masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos

A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem

impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou

pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social

historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem

maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado

6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se

ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio

Carvalho Natalino

Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf

Acesso em 21 de maio de 2018

21

em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46

branca

Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em

situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional

com 127 e somente 78 devido problemas com drogas

A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua

afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas

chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente

externo urbano passam ao usar

O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo

preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes

para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de

encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)

da realidade experimentada em seus cotidianos algumas

drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos

(GATTI e PEREIRA 2011 p88)

Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute

ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a

repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)

tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e

pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante

exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores

de materiais reciclaacuteveis

Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso

ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a

nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas

governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem

todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo

de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a

direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos

como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do

governo

22

44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas

Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta

de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora

com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente

reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a

contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal

incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua

Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu

alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e

ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees

religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas

somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam

dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o

modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi

criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei

federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de

Assistecircncia Social (LOAS)

Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de

Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que

subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto

ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em

Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil

a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia

dessa populaccedilatildeo

No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em

Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital

federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do

seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de

rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A

populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado

23

da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador

Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para

adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para

mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de

Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem

situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de

Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute

acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues

disponibilizados pelo Governo

A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute

cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e

descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto

com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos

paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde

satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo

Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e

Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em

comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser

uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico

Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do

uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo

exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo

para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode

durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na

rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra

caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel

teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados

Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de

forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico

individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de

junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o

funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com

transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas

24

Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito

Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas

do Distrito Federal (CONEN-DF)

De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito

Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas

centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a

toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel

institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a

responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o

formulador das poliacuteticas sociais

A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar

esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de

acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem

mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute

tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas

45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico

Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais

raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade

jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel

importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute

mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa

atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria

Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar

luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave

vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de

complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que

buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as

equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)

A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm

defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos

relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da

deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor

25

agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida

por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa

humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto

social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos

primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p

9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa

capaz de transformar tanto o narrado como o narrador

No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto

mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo

[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados

os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a

compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o

jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e

enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7

Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por

privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz

ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo

do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no

jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha

pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)

De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo

quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do

cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o

diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura

dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []

Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem

(MEDINA 1999 p28)

A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem

tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os

mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a

busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da

observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a

comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute

amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos

Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as

accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas

atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos

7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento

[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli

26

desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a

contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que

originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN

2008 p8)

No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda

eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando

essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha

editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-

estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do

assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam

em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo

Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem

principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a

pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de

vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel

minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo

publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que

levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)

Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado

ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo

frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos

meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados

compartilhados pela sociedade

Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho

debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de

abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior

do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as

trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das

ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais

Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a

situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social

Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos

se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto

Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer

jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem

27

somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao

maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado

acontecimento

5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa

voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram

em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a

abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A

partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de

entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre

o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de

informaccedilotildees dos personagens

A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma

forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a

necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o

entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos

linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de

aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma

teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de

questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos

complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)

De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo

abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e

abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se

trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa

(SILVA 2016 p35)

Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o

trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo

do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos

para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto

28

51 Formato audiovisual

Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de

caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos

pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas

fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem

sobre o tema

Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao

trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto

escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo

utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser

alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar

coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era

conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz

alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato

Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em

uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que

os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este

projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e

membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa

populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas

Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de

tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o

projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de

campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie

documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de

abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e

tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos

personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era

necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em

situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar

essa condiccedilatildeo

A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto

Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a

29

situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto

Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa

decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos

protagonistas

Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa

quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era

mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo

Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para

o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a

fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe

uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim

a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo

sobre o tema

52 Personagens

Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que

comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e

entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim

termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no

documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute

haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o

primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de

rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa

condiccedilatildeo fosse a mesma

O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho

Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram

pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos

personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas

que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo

seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar

relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de

personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas

mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas

30

O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele

morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos

16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando

provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a

trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo

a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o

colocou para fora de casa

Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa

de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute

recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute

que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia

apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o

convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje

estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras

pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas

Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)

A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um

casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram

em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo

trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia

31

de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a

fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando

alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua

Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-

companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se

conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para

Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde

permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute

voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de

amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa

para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro

Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)

Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees

distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie

documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e

sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo

alcoolismo

Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma

vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve

seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade

32

ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de

Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram

Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e

passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --

fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu

concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar

renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa

condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar

outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e

fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea

Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)

53 Preacute-produccedilatildeo

A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido

definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi

preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura

por produtos audiovisuais que abordassem o tema

A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos

conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma

condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou

33

pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes

essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que

estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela

Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao

mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para

viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV

- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para

auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria

disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma

ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio

Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho

posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou

registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV

assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume

Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller

(vide apecircndice I)

Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca

formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos

auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e

produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela

tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos

participantes (vide anexo I)

Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um

cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees

relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo

telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo

Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos

contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as

gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo

34

Tabela 1 ndash Lista completa da equipe

EQUIPE

CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA

PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA

FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E

LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA

EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA

Fonte Marcus Barbosa (2018)

54 Produccedilatildeo

Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o

cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era

necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos

personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios

diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das

obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito

um esforccedilo para seguir de perto o roteiro

Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria

dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria

responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos

planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a

produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua

experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos

equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada

Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista

uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para

fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios

momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo

guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se

abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas

35

no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas

isso nem sempre deu certo

Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o

esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e

Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio

em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe

Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se

delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens

do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um

indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera

Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que

ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um

canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das

gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o

primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no

microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao

cronograma de gravaccedilotildees

Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)

36

Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)

Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com

o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele

foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as

entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de

Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as

gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas

Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de

gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente

para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos

concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas

37

Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus

Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)

55 Poacutes-produccedilatildeo

Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo

foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio

que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)

Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia

Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material

O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome

provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio

da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por

escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os

personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que

traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas

38

561 Identidade visual

A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de

publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela

animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura

foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais

proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas

Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes

de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com

maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com

boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca

por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto

Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para

a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)

Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)

39

Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)

Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

40

6 CRONOGRAMA DE PESQUISA

Tabela 2 ndash Cronograma de atividades

DATAS ETAPAS

Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica

(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)

Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens

Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas

Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees

510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega

para ediccedilatildeo

Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio

Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo

Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa

180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca

Fonte Marcus Barbosa (2018)

41

7 ORCcedilAMENTO

Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais

VALORES IacuteTENS

R$ 9700 Estabilizador de celular

R$ 25000 Microfone de Lapela

R$ 29000 HD Externo

R$ 35000 Gasolina

R$ 29700 Impressatildeo de material visual

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II

VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)

R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD

R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg

R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash

Wm6 UHF

R$ 8900 Rebatedor

R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +

Tripeacute 2m

R$ 99900 Identidade visual para o produto

R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de

duraccedilatildeo

R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

42

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi

possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que

existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em

situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao

passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos

ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E

com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que

integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute

preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses

indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa

condiccedilatildeo

Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia

com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de

rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas

entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem

desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o

auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num

problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons

exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e

o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -

Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou

provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida

dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo

No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi

um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente

nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar

o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea

tambeacutem foi de suma importacircncia

Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar

histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas

preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade

nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das

43

histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que

chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo

tudo

Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes

deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de

ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar

tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista

44

REFEREcircNCIAS

ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser

humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico

BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise

referencial de serviccedilo socioassistencial de Satildeo Paulo e Brasiacutelia 2015 64 f Trabalho

de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Serviccedilo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2015 Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048317307

Acesso 21 de maio de 2018

BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil

Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua um estudo sobre pobreza necessidades humanas e miacutenimos

sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de

Brasiacutelia Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel

emhttpbdmunbbrbitstream10483257312011_AmaranthaSaTelesdeCerqueirapdf

Acesso 21 de maio de 2018

CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009

DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005

GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-

EDUC 2006

MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de

moradores de rua em Taguatinga-DF 2016 60 f Trabalho de conclusatildeo de curso

(Bacharelado em Sauacutede Coletiva)mdashUniversidade de Brasiacutelia Ceilacircndia 2016

Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048315988

Acesso em 21 de maio de 2018

Mattos RM Ferreira RF Quem vocecircs pensam que (elas) satildeo Representaccedilotildees

sobre as pessoas em situaccedilatildeo de rua Psicologia amp Sociedade 16 (2) 47-58

maioago2004 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfpsocv16n2a07v16n2pdf

Acesso 21 de maio de 2018

MELO Cristina Teixeira V de GOMES Isaltina Mello MORAIS Wilma O

documentaacuterio jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral In Intercom - 25ordm Congresso

Brasileiro de Comunicaccedilatildeo Campo Grande 2001 Disponiacutevel em

httpwwwintercomorgbrpapersnacionais2001papersNP7MELOPDF

Acesso 21 de maio de 2018

MONTIPOacute Criselli FARAH Acircngela Relato humanizado no jornalismo a

importacircncia da humanizaccedilatildeo na narrativa para um jornalismo transformador In

45

Miacutedia Cidadatilde 2009 - V Conferecircncia Brasileira de Miacutedia Cidadatilde 2009 Guarapuava

Anais Guarapuava 2009 p 906 - 923 Disponiacutevel em httpwwwunicentrobrredemc

Acesso 21 de maio de 2018

MOURA Rodrigo Coelho Bacellar Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo

de Rua uma anaacutelise da participaccedilatildeo social no processo de implementaccedilatildeo da poliacutetica

2016 30 f Trabalho de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Gestatildeo de Poliacuteticas

Puacuteblicas)mdashUniversidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2016 Disponiacutevel em

httpbdmunbbrhandle1048316261

Acesso 21 de maio de 2018

SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-

BA um estudo de caso UNEB 2009

SILVA Fabiacuteola Mariano da Humanizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e gestatildeo centrada nas

pessoas - entrevista em profundidade Laboratoacuterio Sabin 2016 56 f Trabalho de

conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2016

SILVA Maria Lucia Lopes da Trabalho e Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua no Brasil

1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009

SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica

Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009

Referecircncias audiovisuais

BOCA de rua ndash Vozes de Uma Gente Invisiacutevel Marcelo Andrighetti 10rsquo01 Disponiacutevel

em httpswwwyoutubecomuserbocaderuaofilme

Acesso em 21 de maio de 2018

UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e

Victoacuteria Cristina Costa Disponiacutevel em

httpswwwfacebookcomserieumapaginapordia

Acesso em 21 de maio de 2018

O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em

httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes

3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw

Acesso em 21 de maio de 2018

46

APEcircNDICES

47

APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Brasiacutelia 28 de agosto de 2017

Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV

Prezada Sra Neuza Meller

Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para

realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de

Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de

um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em

Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula

130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a

orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula

UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em

situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal

Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo

acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a

aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as

histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de

conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o

desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo

entrevistas e ediccedilatildeo do material captado

Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma

parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo

de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a

grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse

48

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais

sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer

esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail

marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189

Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo

Cordialmente

Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

49

APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)

TER (1909)

QUA (2009) ENTREVISTA

Quem Ademir e Claacuteudia

Horaacuterio 15h

End Luziacircnia GO

QUI (2109)

SEX (2209) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAB ( 2309)

DOM (2409)

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA

Quem Claacuteudia e Ademir

Horaacuterio 14h

End Praccedila do Compromisso Asa Sul

TER (2609)

QUA (2709)

QUI (2809) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 15h

End Ceilacircndia

SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAacuteB (3009) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End SCS

DOM (0110)

MANHAtilde TARDE NOITE

SEG (0210)

TER (0310)

QUA (0410) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 9h

Endereccedilo Centro de

Taguatinga

QUI (0510) ENTREVISTA

Quem Ademir

Horaacuterio 15h

End Parque da Cidade

SEX (0610)

SAacuteB (0710)

DOM (0810)

QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Lucas Cacircndia

Horaacuterio 16h

End Aacuterea central de Brasiacutelia

50

APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a

situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos

durante o periacuteodo nas ruas

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo

com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc

2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar

3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua

4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas

5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua

6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua

7 Como era sua rotina na rua

8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo

9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele

periacuteodo

10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como

abrigo sauacutede etc

11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter

12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais

sobre isso

13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou

simplesmente agia com indiferenccedila

51

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o

futuro

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva

de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real

2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo

3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo

4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou

em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio

5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar

6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de

recuperaccedilatildeo

7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para

frente

8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que

ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria

52

APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida

FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia

PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca

ED DE IMAGENS Julia Nogueira

ARTE Sarah Silva

CENA DE

AMBIENTACcedilAtildeO

ARQUIVO

Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio

SONORA 1 CLAacuteUDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE CORTE

126 -- 147 +

327 -- 345

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu

trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht

mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)

―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu

comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para

vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0025 -- 0109

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma

pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma

discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu

abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas

SONORA 4 DANIELA

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE

213 --300

Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos

tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da

luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de

relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era

acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente

ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar

53

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai

brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma

hora

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e

minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela

sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri

muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem

africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 4

03 -- 434

(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha

vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet

os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida

maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu

Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje

SONORA 6 Daniela

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE

434 --446 + 528 -- 539

―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro

semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos

difiacuteceis +

―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc

vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu

escutei

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

842 --914

―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito

dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu

acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com

uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica

cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil

SONORA DANIELA

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

551 --622

ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um

computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus

aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc

tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12

minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que

Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano

teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo

54

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144

depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria

com as drogas

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

256 -- 330

―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia

cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu

frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro

com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que

chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0424 -- 0439

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente

mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo

mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era

bebida

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212

Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo

abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

550 -- 603

―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da

bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo

notam mas notam

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0401 -- 0408

O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro

dia bebendo porque eu precisava beber

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304

Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A

gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra

gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute

diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia

Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e

gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde

SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei

55

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

759 --813 + 825 -- 840

+ 915 --9 22

PODE ENXUGAR

muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai

argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +

E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me

ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e

nossa aquilo ali me doeu +

―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu

natildeo volto mais

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

126 -- 153 + 216 --231

―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e

ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era

casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na

eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +

―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa

natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me

pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347

Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa

para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou

para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para

mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas

SONORA Daniela

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

953 --1016 + 120 --

124

PODE ENXUGAR

ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que

eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava

dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo

E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso

aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar

minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova

trajetoacuteria

SONORA Claudia

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

427 --439

―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma

coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se

conhece um conhece outro

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0048 ---0109

Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca

soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse

dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

516 -- 521

―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto

entatildeo vc entra

SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo

tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte

56

ARQUIVO 967_0430_03

TEMPO DE CORTE

926 -- 938

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0814

-- 0834

No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da

que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua

esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio

Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0707 -- 0726

Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu

viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu

corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar

mais

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 217

-- 230

―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer

uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa

de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0706

-- 0725

Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo

que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do

lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a

gente a sobreviver na rua

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE

CORTE0013 --018 (+)

1128 --1137

―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq

barulho a gente acorda

(+)

―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade

de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde

SONORA ADRIANO LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio

sincronizado

TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628

Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece

que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute

terriacutevel

57

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE 958

-- 1002 + 931 -- 945 +

1025 -- 1030

―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute

um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma

alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas

se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que

estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE

222-- 245

―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente

chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela

e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar

para vc

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE

701 -- 714

(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a

frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute

super-homem natildeo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli -

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0432

-- 0437

Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de

viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia

morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE 655

--710 +730 -- 804

PODE ENXUGAR

(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que

to com catarata pq natildeo notei 710 +

(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para

traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui

para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a

danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e

e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1109

--1116

+

―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila

comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da

minha mochila

(+)

58

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1032

--1036

+

ARQUIVO 256_2764_02

TEMPO DE CORTE 1101

-- 1115

ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa

(+)

―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai

que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho

comigo ningueacutem queria mais falar comigo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 0300

--0308

―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber

os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 1540

-- 1556

Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te

apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio

decadente

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE

0824 -- 0857

Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa

marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc

eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um

saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam

natildeo estatildeo nem aiacute

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 241

-- 0300

―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como

pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto

de vc muito existe demais demais

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0508 -- 05 30

Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar

eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te

tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe

uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas

59

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_03

TEMPO DE CORTE

241 --256

(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema

esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc

vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0841 -- 0853 (+) 0302 -

-0322

Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu

preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes

(+)

Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa

vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de

novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo

tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci

minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 741

--806 +

803-- 804 +

811 -- 815

(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um

tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando

eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +

(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para

Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE 0638

-- 0653

Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava

a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas

mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a

gente piorava cada vez mais

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 837

-- 848 (+) 557-- 606

Sera que daacute para cortar o

som externo nessa parte

Senatildeo pode cortar

― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e

estradas

+

―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo

para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava

60

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

1251 -- 1306

Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia

morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o

meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 604

-- 618

+

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

521 -- 533

― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter

outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com

outra coisa natildeo com a rua +

―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui

uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_06

TEMPO DE CORTE

101--121

―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro

todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a

condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no

coraccedilatildeo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 0551 -- 613

―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da

forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o

fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai

se entregar eacute assim que eu pensava

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0127 -- 0151

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era

meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais

abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava

esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda

61

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 852 - 906

―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me

arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me

arrependo mesmo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 1305 - 1326

―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc

esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente

todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que

arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei

quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais

forccedila

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0428 -- 0500

―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e

procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi

a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma

pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de

tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute

tudo mudou

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

814 - 835

―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria

fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir

para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1056 - 1111

―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou

estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute

arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0726 -- 0748

ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de

recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar

um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa

se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou

acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento

62

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE

0231 -- 0248

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA

EvDICcedilAtildeO

―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua

vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e

quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma

forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1207 - 1231

―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a

gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o

organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida

e em qlq bar vc consegue

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0532 --609

―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi

aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis

tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos

mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente

que eu recebi

SONORA Dani

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 516 - 528

―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar

terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu

tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

924 - 1000

(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo

esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta

repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter

uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em

restaurantes

SONORA ADRIANO

LUGOLI

Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo

esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao

63

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0821 -- 856

Avaliar se corta o final

ou enxuga

era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando

via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_04

TEMPO DE CORTE

109 -130 (+)

1100 -1103

― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na

cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um

pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito

oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna

+

―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 126 - 142

ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que

eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que

eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0900 - 943

―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha

vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente

que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim

que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me

abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_03

TEMPO DE

CORTE034 - 044 +

113- 117

(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos

estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +

113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando

(117)

SONORA Dani

ARQUIVO

―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas

paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu

olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu

64

965_0748_02

TEMPO DE CORTE 240 - 308)

interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem

de fazer oq eu eu fiz

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_04

TEMPO DE CORTE -

045 - 111

― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo

de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova

oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p

vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -

910

―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus

irmatildeos +

―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que

eu tenho para ele eacute o silecircncio

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423

―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)

―e depois que essa historia foi p jornal revista tv

eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia

acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao

que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_02

TEMPO DE CORTE

852 - 920

― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela

situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de

alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute

sozinha natildeo vai conseguir

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 611 - 633

―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca

esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios

propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar

algo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE

―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso

nem ter uma casinha para morar

65

CORTE1313 - 1321

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

706 - 732

ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem

pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do

mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb

vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1129 - 1200

―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que

quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam

de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua

vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que

as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica

oportunidade elas conseguem

Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos

66

APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem

Fonte Ana Paula Fonseca (2017)

67

APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia

Fonte Marcus Barbosa (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

68

APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD

Fonte Sarah Silva (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Page 10: Universidade de Brasília Departamento de Jornalismo...nosso trabalho. Tenho certeza que suas histórias inspiradoras vão impactar a cada um que assistir a esse documentário. À

9

RESUMO

O documentaacuterio ldquoMemoacuteria das Ruasrdquo aborda as experiecircncias de quatro pessoas que

reescreveram suas histoacuterias e conseguiram superaram o periacuteodo de invisibilidade

experimentado durante o tempo em que viveram em situaccedilatildeo de rua O projeto

produzido entre os meses de agosto e novembro de 2017 buscou abordar com olhar

jornaliacutestico humanizado momentos significativos das histoacuterias desses protagonistas No

iniacutecio os personagens contam como eram suas vidas antes das ruas e quais fatores os

levaram a essa situaccedilatildeo Logo depois eacute apresentado um relato sobre os medos

dificuldades perigos e preconceitos enfrentados por cada um deles Por fim os quatro

personagens contam o caminho percorrido para a retomada de suas vidas e quais seus

planos para o futuro

Palavras-chaves Documentaacuterio Jornalismo Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Vulnerabilidade social Relatos de vida

10

ABSTRACT

The documentary bdquoMemoacuteria das Ruas‟ addresses the experiences of four people who

rewrot their stories and succeeded in overcoming the period of invisibility experienced

during the time they lived on the streets The project produced between August and

September 2017 sought to approach in a humanized way significant moments of the

stories os these protagonists In a first moment the characters tell how their lives were

before the streets and what factors led them to this situation In sequence its present na

account of the fears difficulties dangers and prejudice faced by each one of them In

conclusion all the characters tell the story of their lives and their plans for the future

Keywords Documentary Journalism Population in street situation Social

vulnerability Life stories

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Moradia limpa digna e segura Mesmo sendo uma garantia baacutesica assegurada

pelo artigo 6ordm do Capiacutetulo II da Constituiccedilatildeo Brasileira de 19881 a realidade por traacutes

deste direito no Brasil ainda estaacute longe de ser a ideal Por conta dos abismos

socioeconocircmicos que persistem em dividir a populaccedilatildeo em diferentes classes sociais

uma boa parcela dos brasileiros continua sem acesso a oportunidades e um dos

principais reflexos desta situaccedilatildeo eacute a falta de moradia adequada para todos

A crise financeira o aumento exponencial do desemprego e a dependecircncia

quiacutemica satildeo fatores relevantes que tecircm sua parcela de contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo do

cenaacuterio em que as ruas - um espaccedilo comum a todos - tecircm se tornado lugar de

permanecircncia das parcelas menos favorecidas da populaccedilatildeo O Brasil natildeo possui dados

oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima

estimativa2 divulgada em 2015 revelou que naquele ano o paiacutes tinha 101854 dos seus

habitantes vivendo essa realidade

Em 2017 o nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal (DF) de

acordo com a Secretaria do Trabalho Desenvolvimento Social Mulheres Igualdade

Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) era de trecircs mil pessoas ou seja 01 de

toda a populaccedilatildeo da capital federal que em 2017 era de 3 milhotildees de pessoas3

O fenocircmeno que persiste e a cada ano parece crescer eacute um problema social que

pode gerar consequecircncias graves para pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Por conta disso o foco deste trabalho centra-se em contar histoacuterias de vida de pessoas

que fizeram parte dessa populaccedilatildeo frequentemente esquecida e renegada ao abandono

A proposta baseia-se na realizaccedilatildeo de um documentaacuterio Produzido entre agosto e

novembro de 2017 o projeto foi planejado de forma a retratar histoacuterias e vivecircncias de

quatro personagens que vatildeo compartilhar suas experiecircncias dificuldades e

1BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado

Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

2 O Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) possui uma pesquisa intitulada Estimativa da

Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua no Brasil de Marcos Antocircnio Carvalho Natalino publicada em outubro

de 2016 O estudo apresenta dados referentes ao ano de 2015

Conteuacutedo disponiacutevel em httpwwwipeagovbr

Acesso 21 de maio de 2018

3Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 30 de agosto de

2017

Conteuacutedo disponiacutevel em httpscidadesibgegovbr

Acesso 21 de maio de 2018

12

aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas

pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua

O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o

restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o

uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua

brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as

pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os

motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos

mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho

Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o

histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida

antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa

apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver

nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos

enfrentados

A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores

significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro

personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos

ao serem ignorados pela sociedade

Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar

em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos

quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e

contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila

2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS

Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema

escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute

4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008

Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr

Acesso 21 de maio de 2018

13

mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que

enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa

―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar

naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre

como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente

Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se

que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas

puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio

Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla

sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo

desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos

de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos

Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a

abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o

jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com

outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em

mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente

os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo

Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave

idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No

lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de

transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas

comuns

Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado

anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e

preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo

senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos

agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua

natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao

viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou

pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas

Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a

estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por

que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um

14

problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a

alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem

tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam

afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo

pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar

a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e

contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida

21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa

Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo

definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema

interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute

assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees

Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a

ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees

poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento

propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do

processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa

por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a

presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal

Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a

ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma

reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma

experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado

especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as

dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em

averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi

constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves

manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute

a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as

5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil

pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017

Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html

Acesso 21 de maio de 2018

15

histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos

relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por

muito tempo presos agraves ruas

Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato

o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees

importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos

em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e

propaganda

Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na

produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma

das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo

Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se

somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou

na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de

funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio

pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores

Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias

inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para

participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho

Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos

saiacutedo do campo das ideias

16

3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS

31 Objetivo Geral

O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito

da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de

quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos

anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua

32 Objetivo Especiacuteficos

Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua

por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio

Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a

respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das

vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua

17

4REFERENCIAL TEOacuteRICO

41 Nomenclatura

Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho

baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como

forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o

leitor ou espectador a se interessar pelo assunto

Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta

para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas

diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos

autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na

rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado

definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se

referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem

concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []

ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo

heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos

Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes

indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que

―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se

apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que

tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas

palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que

afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito

As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo

elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar

essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva

especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo

A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais

apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo

resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave

condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou

condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de

acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)

18

Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a

preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete

em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar

a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores

pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma

condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo

42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua

Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)

De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para

a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a

pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou

fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional

regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas

degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma

temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de

acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia

provisoacuteriasup1

No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou

um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser

unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas

19

malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto

vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico

e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o

sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa

condiccedilatildeo

O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui

apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas

determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela

sociabilidade capitalista que produz um contingente de

pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo

possuem moradia convencional O modo capitalista de

produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das

classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na

desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo

acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de

subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)

Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um

problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge

muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro

que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um

local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a

criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer

de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas

Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e

passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das

caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do

ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua

Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se

unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia

na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre

outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era

atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que

o mercado capitalista dispotildee

Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o

preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela

aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima

reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo

costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua

20

43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal

O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em

situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de

Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra

que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A

pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais

de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento

Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em

2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01

de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs

milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que

os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga

respectivamente

A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal

causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia

de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo

fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de

viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)

A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta

por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa

etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas

representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a

masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos

A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem

impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou

pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social

historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem

maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado

6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se

ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio

Carvalho Natalino

Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf

Acesso em 21 de maio de 2018

21

em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46

branca

Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em

situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional

com 127 e somente 78 devido problemas com drogas

A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua

afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas

chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente

externo urbano passam ao usar

O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo

preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes

para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de

encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)

da realidade experimentada em seus cotidianos algumas

drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos

(GATTI e PEREIRA 2011 p88)

Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute

ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a

repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)

tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e

pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante

exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores

de materiais reciclaacuteveis

Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso

ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a

nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas

governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem

todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo

de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a

direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos

como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do

governo

22

44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas

Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta

de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora

com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente

reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a

contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal

incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua

Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu

alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e

ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees

religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas

somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam

dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o

modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi

criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei

federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de

Assistecircncia Social (LOAS)

Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de

Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que

subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto

ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em

Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil

a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia

dessa populaccedilatildeo

No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em

Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital

federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do

seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de

rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A

populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado

23

da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador

Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para

adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para

mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de

Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem

situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de

Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute

acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues

disponibilizados pelo Governo

A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute

cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e

descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto

com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos

paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde

satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo

Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e

Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em

comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser

uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico

Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do

uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo

exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo

para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode

durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na

rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra

caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel

teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados

Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de

forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico

individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de

junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o

funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com

transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas

24

Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito

Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas

do Distrito Federal (CONEN-DF)

De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito

Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas

centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a

toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel

institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a

responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o

formulador das poliacuteticas sociais

A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar

esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de

acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem

mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute

tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas

45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico

Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais

raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade

jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel

importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute

mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa

atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria

Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar

luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave

vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de

complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que

buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as

equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)

A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm

defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos

relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da

deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor

25

agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida

por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa

humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto

social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos

primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p

9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa

capaz de transformar tanto o narrado como o narrador

No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto

mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo

[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados

os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a

compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o

jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e

enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7

Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por

privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz

ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo

do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no

jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha

pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)

De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo

quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do

cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o

diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura

dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []

Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem

(MEDINA 1999 p28)

A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem

tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os

mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a

busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da

observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a

comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute

amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos

Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as

accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas

atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos

7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento

[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli

26

desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a

contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que

originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN

2008 p8)

No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda

eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando

essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha

editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-

estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do

assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam

em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo

Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem

principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a

pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de

vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel

minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo

publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que

levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)

Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado

ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo

frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos

meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados

compartilhados pela sociedade

Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho

debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de

abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior

do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as

trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das

ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais

Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a

situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social

Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos

se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto

Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer

jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem

27

somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao

maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado

acontecimento

5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa

voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram

em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a

abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A

partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de

entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre

o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de

informaccedilotildees dos personagens

A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma

forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a

necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o

entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos

linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de

aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma

teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de

questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos

complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)

De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo

abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e

abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se

trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa

(SILVA 2016 p35)

Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o

trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo

do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos

para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto

28

51 Formato audiovisual

Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de

caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos

pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas

fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem

sobre o tema

Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao

trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto

escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo

utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser

alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar

coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era

conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz

alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato

Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em

uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que

os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este

projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e

membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa

populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas

Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de

tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o

projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de

campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie

documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de

abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e

tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos

personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era

necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em

situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar

essa condiccedilatildeo

A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto

Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a

29

situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto

Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa

decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos

protagonistas

Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa

quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era

mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo

Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para

o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a

fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe

uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim

a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo

sobre o tema

52 Personagens

Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que

comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e

entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim

termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no

documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute

haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o

primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de

rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa

condiccedilatildeo fosse a mesma

O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho

Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram

pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos

personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas

que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo

seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar

relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de

personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas

mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas

30

O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele

morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos

16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando

provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a

trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo

a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o

colocou para fora de casa

Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa

de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute

recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute

que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia

apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o

convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje

estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras

pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas

Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)

A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um

casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram

em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo

trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia

31

de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a

fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando

alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua

Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-

companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se

conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para

Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde

permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute

voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de

amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa

para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro

Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)

Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees

distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie

documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e

sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo

alcoolismo

Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma

vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve

seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade

32

ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de

Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram

Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e

passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --

fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu

concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar

renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa

condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar

outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e

fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea

Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)

53 Preacute-produccedilatildeo

A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido

definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi

preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura

por produtos audiovisuais que abordassem o tema

A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos

conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma

condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou

33

pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes

essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que

estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela

Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao

mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para

viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV

- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para

auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria

disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma

ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio

Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho

posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou

registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV

assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume

Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller

(vide apecircndice I)

Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca

formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos

auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e

produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela

tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos

participantes (vide anexo I)

Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um

cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees

relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo

telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo

Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos

contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as

gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo

34

Tabela 1 ndash Lista completa da equipe

EQUIPE

CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA

PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA

FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E

LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA

EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA

Fonte Marcus Barbosa (2018)

54 Produccedilatildeo

Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o

cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era

necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos

personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios

diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das

obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito

um esforccedilo para seguir de perto o roteiro

Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria

dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria

responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos

planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a

produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua

experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos

equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada

Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista

uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para

fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios

momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo

guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se

abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas

35

no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas

isso nem sempre deu certo

Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o

esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e

Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio

em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe

Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se

delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens

do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um

indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera

Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que

ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um

canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das

gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o

primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no

microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao

cronograma de gravaccedilotildees

Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)

36

Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)

Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com

o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele

foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as

entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de

Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as

gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas

Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de

gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente

para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos

concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas

37

Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus

Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)

55 Poacutes-produccedilatildeo

Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo

foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio

que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)

Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia

Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material

O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome

provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio

da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por

escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os

personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que

traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas

38

561 Identidade visual

A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de

publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela

animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura

foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais

proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas

Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes

de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com

maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com

boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca

por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto

Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para

a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)

Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)

39

Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)

Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

40

6 CRONOGRAMA DE PESQUISA

Tabela 2 ndash Cronograma de atividades

DATAS ETAPAS

Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica

(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)

Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens

Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas

Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees

510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega

para ediccedilatildeo

Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio

Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo

Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa

180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca

Fonte Marcus Barbosa (2018)

41

7 ORCcedilAMENTO

Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais

VALORES IacuteTENS

R$ 9700 Estabilizador de celular

R$ 25000 Microfone de Lapela

R$ 29000 HD Externo

R$ 35000 Gasolina

R$ 29700 Impressatildeo de material visual

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II

VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)

R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD

R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg

R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash

Wm6 UHF

R$ 8900 Rebatedor

R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +

Tripeacute 2m

R$ 99900 Identidade visual para o produto

R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de

duraccedilatildeo

R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

42

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi

possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que

existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em

situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao

passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos

ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E

com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que

integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute

preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses

indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa

condiccedilatildeo

Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia

com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de

rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas

entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem

desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o

auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num

problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons

exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e

o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -

Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou

provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida

dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo

No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi

um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente

nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar

o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea

tambeacutem foi de suma importacircncia

Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar

histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas

preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade

nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das

43

histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que

chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo

tudo

Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes

deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de

ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar

tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista

44

REFEREcircNCIAS

ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser

humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico

BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise

referencial de serviccedilo socioassistencial de Satildeo Paulo e Brasiacutelia 2015 64 f Trabalho

de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Serviccedilo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2015 Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048317307

Acesso 21 de maio de 2018

BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil

Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua um estudo sobre pobreza necessidades humanas e miacutenimos

sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de

Brasiacutelia Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel

emhttpbdmunbbrbitstream10483257312011_AmaranthaSaTelesdeCerqueirapdf

Acesso 21 de maio de 2018

CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009

DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005

GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-

EDUC 2006

MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de

moradores de rua em Taguatinga-DF 2016 60 f Trabalho de conclusatildeo de curso

(Bacharelado em Sauacutede Coletiva)mdashUniversidade de Brasiacutelia Ceilacircndia 2016

Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048315988

Acesso em 21 de maio de 2018

Mattos RM Ferreira RF Quem vocecircs pensam que (elas) satildeo Representaccedilotildees

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importacircncia da humanizaccedilatildeo na narrativa para um jornalismo transformador In

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MOURA Rodrigo Coelho Bacellar Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo

de Rua uma anaacutelise da participaccedilatildeo social no processo de implementaccedilatildeo da poliacutetica

2016 30 f Trabalho de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Gestatildeo de Poliacuteticas

Puacuteblicas)mdashUniversidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2016 Disponiacutevel em

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Acesso 21 de maio de 2018

SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-

BA um estudo de caso UNEB 2009

SILVA Fabiacuteola Mariano da Humanizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e gestatildeo centrada nas

pessoas - entrevista em profundidade Laboratoacuterio Sabin 2016 56 f Trabalho de

conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2016

SILVA Maria Lucia Lopes da Trabalho e Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua no Brasil

1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009

SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica

Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009

Referecircncias audiovisuais

BOCA de rua ndash Vozes de Uma Gente Invisiacutevel Marcelo Andrighetti 10rsquo01 Disponiacutevel

em httpswwwyoutubecomuserbocaderuaofilme

Acesso em 21 de maio de 2018

UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e

Victoacuteria Cristina Costa Disponiacutevel em

httpswwwfacebookcomserieumapaginapordia

Acesso em 21 de maio de 2018

O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em

httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes

3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw

Acesso em 21 de maio de 2018

46

APEcircNDICES

47

APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Brasiacutelia 28 de agosto de 2017

Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV

Prezada Sra Neuza Meller

Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para

realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de

Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de

um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em

Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula

130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a

orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula

UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em

situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal

Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo

acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a

aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as

histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de

conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o

desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo

entrevistas e ediccedilatildeo do material captado

Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma

parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo

de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a

grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse

48

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais

sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer

esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail

marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189

Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo

Cordialmente

Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

49

APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)

TER (1909)

QUA (2009) ENTREVISTA

Quem Ademir e Claacuteudia

Horaacuterio 15h

End Luziacircnia GO

QUI (2109)

SEX (2209) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAB ( 2309)

DOM (2409)

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA

Quem Claacuteudia e Ademir

Horaacuterio 14h

End Praccedila do Compromisso Asa Sul

TER (2609)

QUA (2709)

QUI (2809) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 15h

End Ceilacircndia

SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAacuteB (3009) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End SCS

DOM (0110)

MANHAtilde TARDE NOITE

SEG (0210)

TER (0310)

QUA (0410) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 9h

Endereccedilo Centro de

Taguatinga

QUI (0510) ENTREVISTA

Quem Ademir

Horaacuterio 15h

End Parque da Cidade

SEX (0610)

SAacuteB (0710)

DOM (0810)

QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Lucas Cacircndia

Horaacuterio 16h

End Aacuterea central de Brasiacutelia

50

APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a

situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos

durante o periacuteodo nas ruas

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo

com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc

2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar

3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua

4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas

5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua

6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua

7 Como era sua rotina na rua

8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo

9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele

periacuteodo

10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como

abrigo sauacutede etc

11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter

12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais

sobre isso

13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou

simplesmente agia com indiferenccedila

51

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o

futuro

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva

de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real

2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo

3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo

4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou

em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio

5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar

6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de

recuperaccedilatildeo

7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para

frente

8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que

ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria

52

APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida

FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia

PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca

ED DE IMAGENS Julia Nogueira

ARTE Sarah Silva

CENA DE

AMBIENTACcedilAtildeO

ARQUIVO

Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio

SONORA 1 CLAacuteUDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE CORTE

126 -- 147 +

327 -- 345

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu

trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht

mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)

―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu

comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para

vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0025 -- 0109

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma

pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma

discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu

abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas

SONORA 4 DANIELA

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE

213 --300

Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos

tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da

luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de

relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era

acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente

ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar

53

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai

brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma

hora

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e

minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela

sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri

muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem

africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 4

03 -- 434

(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha

vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet

os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida

maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu

Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje

SONORA 6 Daniela

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE

434 --446 + 528 -- 539

―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro

semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos

difiacuteceis +

―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc

vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu

escutei

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

842 --914

―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito

dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu

acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com

uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica

cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil

SONORA DANIELA

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

551 --622

ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um

computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus

aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc

tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12

minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que

Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano

teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo

54

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144

depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria

com as drogas

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

256 -- 330

―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia

cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu

frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro

com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que

chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0424 -- 0439

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente

mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo

mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era

bebida

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212

Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo

abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

550 -- 603

―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da

bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo

notam mas notam

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0401 -- 0408

O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro

dia bebendo porque eu precisava beber

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304

Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A

gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra

gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute

diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia

Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e

gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde

SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei

55

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

759 --813 + 825 -- 840

+ 915 --9 22

PODE ENXUGAR

muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai

argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +

E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me

ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e

nossa aquilo ali me doeu +

―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu

natildeo volto mais

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

126 -- 153 + 216 --231

―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e

ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era

casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na

eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +

―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa

natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me

pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347

Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa

para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou

para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para

mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas

SONORA Daniela

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

953 --1016 + 120 --

124

PODE ENXUGAR

ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que

eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava

dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo

E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso

aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar

minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova

trajetoacuteria

SONORA Claudia

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

427 --439

―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma

coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se

conhece um conhece outro

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0048 ---0109

Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca

soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse

dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

516 -- 521

―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto

entatildeo vc entra

SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo

tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte

56

ARQUIVO 967_0430_03

TEMPO DE CORTE

926 -- 938

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0814

-- 0834

No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da

que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua

esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio

Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0707 -- 0726

Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu

viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu

corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar

mais

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 217

-- 230

―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer

uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa

de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0706

-- 0725

Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo

que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do

lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a

gente a sobreviver na rua

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE

CORTE0013 --018 (+)

1128 --1137

―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq

barulho a gente acorda

(+)

―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade

de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde

SONORA ADRIANO LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio

sincronizado

TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628

Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece

que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute

terriacutevel

57

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE 958

-- 1002 + 931 -- 945 +

1025 -- 1030

―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute

um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma

alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas

se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que

estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE

222-- 245

―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente

chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela

e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar

para vc

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE

701 -- 714

(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a

frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute

super-homem natildeo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli -

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0432

-- 0437

Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de

viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia

morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE 655

--710 +730 -- 804

PODE ENXUGAR

(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que

to com catarata pq natildeo notei 710 +

(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para

traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui

para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a

danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e

e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1109

--1116

+

―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila

comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da

minha mochila

(+)

58

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1032

--1036

+

ARQUIVO 256_2764_02

TEMPO DE CORTE 1101

-- 1115

ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa

(+)

―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai

que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho

comigo ningueacutem queria mais falar comigo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 0300

--0308

―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber

os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 1540

-- 1556

Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te

apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio

decadente

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE

0824 -- 0857

Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa

marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc

eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um

saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam

natildeo estatildeo nem aiacute

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 241

-- 0300

―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como

pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto

de vc muito existe demais demais

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0508 -- 05 30

Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar

eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te

tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe

uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas

59

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_03

TEMPO DE CORTE

241 --256

(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema

esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc

vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0841 -- 0853 (+) 0302 -

-0322

Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu

preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes

(+)

Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa

vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de

novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo

tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci

minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 741

--806 +

803-- 804 +

811 -- 815

(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um

tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando

eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +

(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para

Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE 0638

-- 0653

Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava

a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas

mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a

gente piorava cada vez mais

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 837

-- 848 (+) 557-- 606

Sera que daacute para cortar o

som externo nessa parte

Senatildeo pode cortar

― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e

estradas

+

―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo

para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava

60

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

1251 -- 1306

Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia

morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o

meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 604

-- 618

+

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

521 -- 533

― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter

outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com

outra coisa natildeo com a rua +

―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui

uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_06

TEMPO DE CORTE

101--121

―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro

todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a

condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no

coraccedilatildeo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 0551 -- 613

―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da

forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o

fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai

se entregar eacute assim que eu pensava

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0127 -- 0151

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era

meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais

abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava

esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda

61

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 852 - 906

―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me

arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me

arrependo mesmo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 1305 - 1326

―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc

esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente

todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que

arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei

quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais

forccedila

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0428 -- 0500

―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e

procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi

a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma

pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de

tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute

tudo mudou

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

814 - 835

―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria

fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir

para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1056 - 1111

―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou

estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute

arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0726 -- 0748

ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de

recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar

um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa

se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou

acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento

62

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE

0231 -- 0248

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA

EvDICcedilAtildeO

―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua

vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e

quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma

forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1207 - 1231

―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a

gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o

organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida

e em qlq bar vc consegue

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0532 --609

―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi

aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis

tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos

mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente

que eu recebi

SONORA Dani

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 516 - 528

―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar

terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu

tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

924 - 1000

(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo

esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta

repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter

uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em

restaurantes

SONORA ADRIANO

LUGOLI

Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo

esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao

63

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0821 -- 856

Avaliar se corta o final

ou enxuga

era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando

via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_04

TEMPO DE CORTE

109 -130 (+)

1100 -1103

― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na

cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um

pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito

oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna

+

―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 126 - 142

ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que

eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que

eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0900 - 943

―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha

vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente

que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim

que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me

abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_03

TEMPO DE

CORTE034 - 044 +

113- 117

(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos

estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +

113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando

(117)

SONORA Dani

ARQUIVO

―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas

paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu

olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu

64

965_0748_02

TEMPO DE CORTE 240 - 308)

interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem

de fazer oq eu eu fiz

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_04

TEMPO DE CORTE -

045 - 111

― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo

de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova

oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p

vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -

910

―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus

irmatildeos +

―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que

eu tenho para ele eacute o silecircncio

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423

―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)

―e depois que essa historia foi p jornal revista tv

eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia

acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao

que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_02

TEMPO DE CORTE

852 - 920

― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela

situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de

alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute

sozinha natildeo vai conseguir

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 611 - 633

―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca

esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios

propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar

algo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE

―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso

nem ter uma casinha para morar

65

CORTE1313 - 1321

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

706 - 732

ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem

pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do

mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb

vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1129 - 1200

―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que

quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam

de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua

vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que

as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica

oportunidade elas conseguem

Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos

66

APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem

Fonte Ana Paula Fonseca (2017)

67

APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia

Fonte Marcus Barbosa (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

68

APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD

Fonte Sarah Silva (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Page 11: Universidade de Brasília Departamento de Jornalismo...nosso trabalho. Tenho certeza que suas histórias inspiradoras vão impactar a cada um que assistir a esse documentário. À

10

ABSTRACT

The documentary bdquoMemoacuteria das Ruas‟ addresses the experiences of four people who

rewrot their stories and succeeded in overcoming the period of invisibility experienced

during the time they lived on the streets The project produced between August and

September 2017 sought to approach in a humanized way significant moments of the

stories os these protagonists In a first moment the characters tell how their lives were

before the streets and what factors led them to this situation In sequence its present na

account of the fears difficulties dangers and prejudice faced by each one of them In

conclusion all the characters tell the story of their lives and their plans for the future

Keywords Documentary Journalism Population in street situation Social

vulnerability Life stories

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Moradia limpa digna e segura Mesmo sendo uma garantia baacutesica assegurada

pelo artigo 6ordm do Capiacutetulo II da Constituiccedilatildeo Brasileira de 19881 a realidade por traacutes

deste direito no Brasil ainda estaacute longe de ser a ideal Por conta dos abismos

socioeconocircmicos que persistem em dividir a populaccedilatildeo em diferentes classes sociais

uma boa parcela dos brasileiros continua sem acesso a oportunidades e um dos

principais reflexos desta situaccedilatildeo eacute a falta de moradia adequada para todos

A crise financeira o aumento exponencial do desemprego e a dependecircncia

quiacutemica satildeo fatores relevantes que tecircm sua parcela de contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo do

cenaacuterio em que as ruas - um espaccedilo comum a todos - tecircm se tornado lugar de

permanecircncia das parcelas menos favorecidas da populaccedilatildeo O Brasil natildeo possui dados

oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima

estimativa2 divulgada em 2015 revelou que naquele ano o paiacutes tinha 101854 dos seus

habitantes vivendo essa realidade

Em 2017 o nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal (DF) de

acordo com a Secretaria do Trabalho Desenvolvimento Social Mulheres Igualdade

Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) era de trecircs mil pessoas ou seja 01 de

toda a populaccedilatildeo da capital federal que em 2017 era de 3 milhotildees de pessoas3

O fenocircmeno que persiste e a cada ano parece crescer eacute um problema social que

pode gerar consequecircncias graves para pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Por conta disso o foco deste trabalho centra-se em contar histoacuterias de vida de pessoas

que fizeram parte dessa populaccedilatildeo frequentemente esquecida e renegada ao abandono

A proposta baseia-se na realizaccedilatildeo de um documentaacuterio Produzido entre agosto e

novembro de 2017 o projeto foi planejado de forma a retratar histoacuterias e vivecircncias de

quatro personagens que vatildeo compartilhar suas experiecircncias dificuldades e

1BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado

Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

2 O Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) possui uma pesquisa intitulada Estimativa da

Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua no Brasil de Marcos Antocircnio Carvalho Natalino publicada em outubro

de 2016 O estudo apresenta dados referentes ao ano de 2015

Conteuacutedo disponiacutevel em httpwwwipeagovbr

Acesso 21 de maio de 2018

3Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 30 de agosto de

2017

Conteuacutedo disponiacutevel em httpscidadesibgegovbr

Acesso 21 de maio de 2018

12

aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas

pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua

O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o

restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o

uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua

brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as

pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os

motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos

mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho

Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o

histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida

antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa

apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver

nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos

enfrentados

A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores

significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro

personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos

ao serem ignorados pela sociedade

Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar

em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos

quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e

contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila

2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS

Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema

escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute

4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008

Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr

Acesso 21 de maio de 2018

13

mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que

enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa

―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar

naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre

como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente

Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se

que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas

puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio

Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla

sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo

desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos

de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos

Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a

abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o

jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com

outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em

mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente

os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo

Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave

idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No

lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de

transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas

comuns

Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado

anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e

preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo

senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos

agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua

natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao

viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou

pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas

Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a

estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por

que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um

14

problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a

alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem

tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam

afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo

pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar

a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e

contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida

21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa

Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo

definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema

interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute

assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees

Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a

ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees

poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento

propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do

processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa

por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a

presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal

Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a

ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma

reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma

experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado

especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as

dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em

averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi

constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves

manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute

a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as

5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil

pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017

Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html

Acesso 21 de maio de 2018

15

histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos

relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por

muito tempo presos agraves ruas

Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato

o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees

importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos

em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e

propaganda

Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na

produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma

das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo

Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se

somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou

na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de

funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio

pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores

Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias

inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para

participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho

Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos

saiacutedo do campo das ideias

16

3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS

31 Objetivo Geral

O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito

da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de

quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos

anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua

32 Objetivo Especiacuteficos

Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua

por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio

Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a

respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das

vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua

17

4REFERENCIAL TEOacuteRICO

41 Nomenclatura

Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho

baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como

forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o

leitor ou espectador a se interessar pelo assunto

Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta

para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas

diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos

autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na

rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado

definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se

referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem

concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []

ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo

heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos

Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes

indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que

―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se

apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que

tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas

palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que

afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito

As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo

elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar

essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva

especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo

A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais

apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo

resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave

condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou

condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de

acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)

18

Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a

preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete

em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar

a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores

pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma

condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo

42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua

Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)

De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para

a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a

pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou

fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional

regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas

degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma

temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de

acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia

provisoacuteriasup1

No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou

um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser

unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas

19

malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto

vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico

e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o

sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa

condiccedilatildeo

O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui

apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas

determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela

sociabilidade capitalista que produz um contingente de

pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo

possuem moradia convencional O modo capitalista de

produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das

classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na

desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo

acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de

subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)

Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um

problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge

muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro

que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um

local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a

criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer

de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas

Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e

passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das

caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do

ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua

Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se

unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia

na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre

outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era

atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que

o mercado capitalista dispotildee

Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o

preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela

aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima

reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo

costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua

20

43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal

O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em

situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de

Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra

que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A

pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais

de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento

Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em

2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01

de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs

milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que

os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga

respectivamente

A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal

causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia

de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo

fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de

viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)

A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta

por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa

etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas

representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a

masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos

A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem

impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou

pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social

historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem

maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado

6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se

ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio

Carvalho Natalino

Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf

Acesso em 21 de maio de 2018

21

em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46

branca

Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em

situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional

com 127 e somente 78 devido problemas com drogas

A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua

afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas

chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente

externo urbano passam ao usar

O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo

preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes

para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de

encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)

da realidade experimentada em seus cotidianos algumas

drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos

(GATTI e PEREIRA 2011 p88)

Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute

ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a

repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)

tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e

pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante

exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores

de materiais reciclaacuteveis

Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso

ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a

nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas

governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem

todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo

de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a

direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos

como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do

governo

22

44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas

Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta

de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora

com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente

reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a

contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal

incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua

Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu

alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e

ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees

religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas

somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam

dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o

modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi

criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei

federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de

Assistecircncia Social (LOAS)

Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de

Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que

subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto

ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em

Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil

a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia

dessa populaccedilatildeo

No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em

Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital

federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do

seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de

rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A

populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado

23

da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador

Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para

adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para

mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de

Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem

situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de

Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute

acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues

disponibilizados pelo Governo

A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute

cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e

descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto

com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos

paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde

satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo

Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e

Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em

comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser

uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico

Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do

uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo

exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo

para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode

durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na

rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra

caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel

teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados

Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de

forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico

individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de

junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o

funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com

transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas

24

Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito

Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas

do Distrito Federal (CONEN-DF)

De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito

Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas

centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a

toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel

institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a

responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o

formulador das poliacuteticas sociais

A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar

esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de

acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem

mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute

tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas

45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico

Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais

raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade

jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel

importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute

mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa

atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria

Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar

luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave

vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de

complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que

buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as

equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)

A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm

defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos

relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da

deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor

25

agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida

por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa

humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto

social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos

primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p

9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa

capaz de transformar tanto o narrado como o narrador

No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto

mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo

[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados

os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a

compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o

jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e

enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7

Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por

privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz

ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo

do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no

jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha

pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)

De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo

quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do

cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o

diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura

dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []

Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem

(MEDINA 1999 p28)

A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem

tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os

mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a

busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da

observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a

comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute

amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos

Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as

accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas

atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos

7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento

[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli

26

desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a

contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que

originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN

2008 p8)

No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda

eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando

essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha

editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-

estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do

assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam

em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo

Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem

principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a

pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de

vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel

minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo

publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que

levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)

Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado

ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo

frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos

meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados

compartilhados pela sociedade

Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho

debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de

abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior

do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as

trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das

ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais

Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a

situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social

Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos

se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto

Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer

jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem

27

somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao

maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado

acontecimento

5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa

voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram

em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a

abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A

partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de

entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre

o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de

informaccedilotildees dos personagens

A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma

forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a

necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o

entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos

linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de

aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma

teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de

questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos

complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)

De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo

abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e

abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se

trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa

(SILVA 2016 p35)

Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o

trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo

do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos

para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto

28

51 Formato audiovisual

Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de

caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos

pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas

fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem

sobre o tema

Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao

trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto

escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo

utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser

alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar

coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era

conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz

alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato

Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em

uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que

os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este

projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e

membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa

populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas

Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de

tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o

projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de

campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie

documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de

abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e

tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos

personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era

necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em

situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar

essa condiccedilatildeo

A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto

Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a

29

situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto

Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa

decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos

protagonistas

Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa

quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era

mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo

Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para

o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a

fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe

uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim

a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo

sobre o tema

52 Personagens

Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que

comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e

entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim

termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no

documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute

haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o

primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de

rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa

condiccedilatildeo fosse a mesma

O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho

Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram

pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos

personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas

que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo

seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar

relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de

personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas

mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas

30

O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele

morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos

16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando

provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a

trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo

a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o

colocou para fora de casa

Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa

de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute

recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute

que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia

apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o

convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje

estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras

pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas

Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)

A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um

casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram

em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo

trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia

31

de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a

fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando

alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua

Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-

companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se

conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para

Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde

permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute

voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de

amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa

para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro

Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)

Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees

distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie

documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e

sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo

alcoolismo

Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma

vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve

seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade

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ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de

Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram

Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e

passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --

fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu

concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar

renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa

condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar

outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e

fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea

Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)

53 Preacute-produccedilatildeo

A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido

definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi

preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura

por produtos audiovisuais que abordassem o tema

A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos

conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma

condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou

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pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes

essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que

estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela

Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao

mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para

viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV

- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para

auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria

disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma

ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio

Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho

posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou

registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV

assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume

Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller

(vide apecircndice I)

Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca

formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos

auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e

produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela

tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos

participantes (vide anexo I)

Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um

cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees

relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo

telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo

Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos

contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as

gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo

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Tabela 1 ndash Lista completa da equipe

EQUIPE

CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA

PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA

FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E

LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA

EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA

Fonte Marcus Barbosa (2018)

54 Produccedilatildeo

Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o

cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era

necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos

personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios

diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das

obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito

um esforccedilo para seguir de perto o roteiro

Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria

dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria

responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos

planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a

produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua

experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos

equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada

Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista

uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para

fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios

momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo

guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se

abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas

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no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas

isso nem sempre deu certo

Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o

esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e

Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio

em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe

Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se

delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens

do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um

indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera

Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que

ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um

canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das

gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o

primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no

microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao

cronograma de gravaccedilotildees

Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)

36

Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)

Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com

o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele

foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as

entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de

Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as

gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas

Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de

gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente

para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos

concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas

37

Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus

Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)

55 Poacutes-produccedilatildeo

Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo

foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio

que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)

Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia

Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material

O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome

provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio

da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por

escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os

personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que

traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas

38

561 Identidade visual

A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de

publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela

animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura

foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais

proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas

Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes

de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com

maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com

boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca

por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto

Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para

a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)

Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)

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Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)

Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

40

6 CRONOGRAMA DE PESQUISA

Tabela 2 ndash Cronograma de atividades

DATAS ETAPAS

Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica

(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)

Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens

Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas

Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees

510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega

para ediccedilatildeo

Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio

Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo

Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa

180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca

Fonte Marcus Barbosa (2018)

41

7 ORCcedilAMENTO

Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais

VALORES IacuteTENS

R$ 9700 Estabilizador de celular

R$ 25000 Microfone de Lapela

R$ 29000 HD Externo

R$ 35000 Gasolina

R$ 29700 Impressatildeo de material visual

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II

VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)

R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD

R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg

R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash

Wm6 UHF

R$ 8900 Rebatedor

R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +

Tripeacute 2m

R$ 99900 Identidade visual para o produto

R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de

duraccedilatildeo

R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

42

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi

possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que

existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em

situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao

passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos

ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E

com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que

integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute

preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses

indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa

condiccedilatildeo

Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia

com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de

rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas

entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem

desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o

auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num

problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons

exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e

o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -

Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou

provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida

dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo

No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi

um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente

nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar

o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea

tambeacutem foi de suma importacircncia

Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar

histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas

preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade

nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das

43

histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que

chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo

tudo

Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes

deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de

ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar

tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista

44

REFEREcircNCIAS

ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser

humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico

BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise

referencial de serviccedilo socioassistencial de Satildeo Paulo e Brasiacutelia 2015 64 f Trabalho

de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Serviccedilo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2015 Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048317307

Acesso 21 de maio de 2018

BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil

Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua um estudo sobre pobreza necessidades humanas e miacutenimos

sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de

Brasiacutelia Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel

emhttpbdmunbbrbitstream10483257312011_AmaranthaSaTelesdeCerqueirapdf

Acesso 21 de maio de 2018

CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009

DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005

GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-

EDUC 2006

MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de

moradores de rua em Taguatinga-DF 2016 60 f Trabalho de conclusatildeo de curso

(Bacharelado em Sauacutede Coletiva)mdashUniversidade de Brasiacutelia Ceilacircndia 2016

Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048315988

Acesso em 21 de maio de 2018

Mattos RM Ferreira RF Quem vocecircs pensam que (elas) satildeo Representaccedilotildees

sobre as pessoas em situaccedilatildeo de rua Psicologia amp Sociedade 16 (2) 47-58

maioago2004 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfpsocv16n2a07v16n2pdf

Acesso 21 de maio de 2018

MELO Cristina Teixeira V de GOMES Isaltina Mello MORAIS Wilma O

documentaacuterio jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral In Intercom - 25ordm Congresso

Brasileiro de Comunicaccedilatildeo Campo Grande 2001 Disponiacutevel em

httpwwwintercomorgbrpapersnacionais2001papersNP7MELOPDF

Acesso 21 de maio de 2018

MONTIPOacute Criselli FARAH Acircngela Relato humanizado no jornalismo a

importacircncia da humanizaccedilatildeo na narrativa para um jornalismo transformador In

45

Miacutedia Cidadatilde 2009 - V Conferecircncia Brasileira de Miacutedia Cidadatilde 2009 Guarapuava

Anais Guarapuava 2009 p 906 - 923 Disponiacutevel em httpwwwunicentrobrredemc

Acesso 21 de maio de 2018

MOURA Rodrigo Coelho Bacellar Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo

de Rua uma anaacutelise da participaccedilatildeo social no processo de implementaccedilatildeo da poliacutetica

2016 30 f Trabalho de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Gestatildeo de Poliacuteticas

Puacuteblicas)mdashUniversidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2016 Disponiacutevel em

httpbdmunbbrhandle1048316261

Acesso 21 de maio de 2018

SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-

BA um estudo de caso UNEB 2009

SILVA Fabiacuteola Mariano da Humanizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e gestatildeo centrada nas

pessoas - entrevista em profundidade Laboratoacuterio Sabin 2016 56 f Trabalho de

conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2016

SILVA Maria Lucia Lopes da Trabalho e Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua no Brasil

1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009

SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica

Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009

Referecircncias audiovisuais

BOCA de rua ndash Vozes de Uma Gente Invisiacutevel Marcelo Andrighetti 10rsquo01 Disponiacutevel

em httpswwwyoutubecomuserbocaderuaofilme

Acesso em 21 de maio de 2018

UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e

Victoacuteria Cristina Costa Disponiacutevel em

httpswwwfacebookcomserieumapaginapordia

Acesso em 21 de maio de 2018

O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em

httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes

3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw

Acesso em 21 de maio de 2018

46

APEcircNDICES

47

APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Brasiacutelia 28 de agosto de 2017

Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV

Prezada Sra Neuza Meller

Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para

realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de

Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de

um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em

Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula

130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a

orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula

UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em

situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal

Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo

acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a

aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as

histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de

conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o

desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo

entrevistas e ediccedilatildeo do material captado

Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma

parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo

de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a

grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse

48

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais

sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer

esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail

marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189

Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo

Cordialmente

Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

49

APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)

TER (1909)

QUA (2009) ENTREVISTA

Quem Ademir e Claacuteudia

Horaacuterio 15h

End Luziacircnia GO

QUI (2109)

SEX (2209) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAB ( 2309)

DOM (2409)

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA

Quem Claacuteudia e Ademir

Horaacuterio 14h

End Praccedila do Compromisso Asa Sul

TER (2609)

QUA (2709)

QUI (2809) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 15h

End Ceilacircndia

SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAacuteB (3009) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End SCS

DOM (0110)

MANHAtilde TARDE NOITE

SEG (0210)

TER (0310)

QUA (0410) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 9h

Endereccedilo Centro de

Taguatinga

QUI (0510) ENTREVISTA

Quem Ademir

Horaacuterio 15h

End Parque da Cidade

SEX (0610)

SAacuteB (0710)

DOM (0810)

QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Lucas Cacircndia

Horaacuterio 16h

End Aacuterea central de Brasiacutelia

50

APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a

situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos

durante o periacuteodo nas ruas

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo

com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc

2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar

3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua

4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas

5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua

6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua

7 Como era sua rotina na rua

8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo

9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele

periacuteodo

10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como

abrigo sauacutede etc

11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter

12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais

sobre isso

13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou

simplesmente agia com indiferenccedila

51

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o

futuro

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva

de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real

2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo

3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo

4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou

em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio

5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar

6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de

recuperaccedilatildeo

7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para

frente

8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que

ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria

52

APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida

FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia

PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca

ED DE IMAGENS Julia Nogueira

ARTE Sarah Silva

CENA DE

AMBIENTACcedilAtildeO

ARQUIVO

Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio

SONORA 1 CLAacuteUDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE CORTE

126 -- 147 +

327 -- 345

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu

trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht

mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)

―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu

comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para

vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0025 -- 0109

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma

pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma

discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu

abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas

SONORA 4 DANIELA

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE

213 --300

Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos

tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da

luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de

relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era

acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente

ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar

53

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai

brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma

hora

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e

minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela

sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri

muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem

africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 4

03 -- 434

(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha

vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet

os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida

maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu

Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje

SONORA 6 Daniela

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE

434 --446 + 528 -- 539

―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro

semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos

difiacuteceis +

―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc

vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu

escutei

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

842 --914

―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito

dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu

acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com

uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica

cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil

SONORA DANIELA

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

551 --622

ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um

computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus

aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc

tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12

minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que

Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano

teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo

54

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144

depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria

com as drogas

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

256 -- 330

―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia

cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu

frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro

com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que

chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0424 -- 0439

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente

mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo

mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era

bebida

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212

Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo

abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

550 -- 603

―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da

bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo

notam mas notam

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0401 -- 0408

O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro

dia bebendo porque eu precisava beber

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304

Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A

gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra

gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute

diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia

Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e

gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde

SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei

55

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

759 --813 + 825 -- 840

+ 915 --9 22

PODE ENXUGAR

muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai

argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +

E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me

ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e

nossa aquilo ali me doeu +

―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu

natildeo volto mais

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

126 -- 153 + 216 --231

―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e

ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era

casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na

eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +

―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa

natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me

pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347

Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa

para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou

para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para

mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas

SONORA Daniela

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

953 --1016 + 120 --

124

PODE ENXUGAR

ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que

eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava

dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo

E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso

aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar

minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova

trajetoacuteria

SONORA Claudia

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

427 --439

―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma

coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se

conhece um conhece outro

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0048 ---0109

Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca

soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse

dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

516 -- 521

―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto

entatildeo vc entra

SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo

tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte

56

ARQUIVO 967_0430_03

TEMPO DE CORTE

926 -- 938

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0814

-- 0834

No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da

que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua

esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio

Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0707 -- 0726

Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu

viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu

corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar

mais

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 217

-- 230

―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer

uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa

de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0706

-- 0725

Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo

que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do

lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a

gente a sobreviver na rua

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE

CORTE0013 --018 (+)

1128 --1137

―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq

barulho a gente acorda

(+)

―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade

de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde

SONORA ADRIANO LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio

sincronizado

TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628

Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece

que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute

terriacutevel

57

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE 958

-- 1002 + 931 -- 945 +

1025 -- 1030

―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute

um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma

alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas

se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que

estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE

222-- 245

―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente

chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela

e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar

para vc

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE

701 -- 714

(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a

frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute

super-homem natildeo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli -

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0432

-- 0437

Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de

viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia

morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE 655

--710 +730 -- 804

PODE ENXUGAR

(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que

to com catarata pq natildeo notei 710 +

(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para

traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui

para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a

danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e

e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1109

--1116

+

―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila

comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da

minha mochila

(+)

58

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1032

--1036

+

ARQUIVO 256_2764_02

TEMPO DE CORTE 1101

-- 1115

ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa

(+)

―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai

que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho

comigo ningueacutem queria mais falar comigo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 0300

--0308

―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber

os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 1540

-- 1556

Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te

apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio

decadente

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE

0824 -- 0857

Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa

marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc

eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um

saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam

natildeo estatildeo nem aiacute

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 241

-- 0300

―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como

pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto

de vc muito existe demais demais

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0508 -- 05 30

Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar

eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te

tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe

uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas

59

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_03

TEMPO DE CORTE

241 --256

(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema

esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc

vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0841 -- 0853 (+) 0302 -

-0322

Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu

preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes

(+)

Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa

vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de

novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo

tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci

minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 741

--806 +

803-- 804 +

811 -- 815

(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um

tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando

eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +

(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para

Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE 0638

-- 0653

Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava

a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas

mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a

gente piorava cada vez mais

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 837

-- 848 (+) 557-- 606

Sera que daacute para cortar o

som externo nessa parte

Senatildeo pode cortar

― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e

estradas

+

―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo

para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava

60

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

1251 -- 1306

Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia

morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o

meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 604

-- 618

+

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

521 -- 533

― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter

outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com

outra coisa natildeo com a rua +

―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui

uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_06

TEMPO DE CORTE

101--121

―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro

todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a

condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no

coraccedilatildeo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 0551 -- 613

―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da

forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o

fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai

se entregar eacute assim que eu pensava

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0127 -- 0151

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era

meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais

abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava

esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda

61

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 852 - 906

―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me

arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me

arrependo mesmo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 1305 - 1326

―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc

esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente

todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que

arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei

quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais

forccedila

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0428 -- 0500

―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e

procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi

a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma

pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de

tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute

tudo mudou

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

814 - 835

―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria

fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir

para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1056 - 1111

―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou

estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute

arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0726 -- 0748

ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de

recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar

um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa

se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou

acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento

62

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE

0231 -- 0248

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA

EvDICcedilAtildeO

―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua

vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e

quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma

forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1207 - 1231

―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a

gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o

organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida

e em qlq bar vc consegue

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0532 --609

―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi

aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis

tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos

mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente

que eu recebi

SONORA Dani

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 516 - 528

―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar

terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu

tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

924 - 1000

(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo

esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta

repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter

uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em

restaurantes

SONORA ADRIANO

LUGOLI

Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo

esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao

63

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0821 -- 856

Avaliar se corta o final

ou enxuga

era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando

via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_04

TEMPO DE CORTE

109 -130 (+)

1100 -1103

― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na

cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um

pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito

oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna

+

―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 126 - 142

ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que

eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que

eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0900 - 943

―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha

vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente

que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim

que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me

abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_03

TEMPO DE

CORTE034 - 044 +

113- 117

(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos

estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +

113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando

(117)

SONORA Dani

ARQUIVO

―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas

paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu

olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu

64

965_0748_02

TEMPO DE CORTE 240 - 308)

interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem

de fazer oq eu eu fiz

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_04

TEMPO DE CORTE -

045 - 111

― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo

de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova

oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p

vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -

910

―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus

irmatildeos +

―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que

eu tenho para ele eacute o silecircncio

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423

―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)

―e depois que essa historia foi p jornal revista tv

eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia

acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao

que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_02

TEMPO DE CORTE

852 - 920

― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela

situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de

alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute

sozinha natildeo vai conseguir

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 611 - 633

―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca

esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios

propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar

algo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE

―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso

nem ter uma casinha para morar

65

CORTE1313 - 1321

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

706 - 732

ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem

pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do

mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb

vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1129 - 1200

―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que

quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam

de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua

vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que

as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica

oportunidade elas conseguem

Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos

66

APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem

Fonte Ana Paula Fonseca (2017)

67

APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia

Fonte Marcus Barbosa (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

68

APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD

Fonte Sarah Silva (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Page 12: Universidade de Brasília Departamento de Jornalismo...nosso trabalho. Tenho certeza que suas histórias inspiradoras vão impactar a cada um que assistir a esse documentário. À

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Moradia limpa digna e segura Mesmo sendo uma garantia baacutesica assegurada

pelo artigo 6ordm do Capiacutetulo II da Constituiccedilatildeo Brasileira de 19881 a realidade por traacutes

deste direito no Brasil ainda estaacute longe de ser a ideal Por conta dos abismos

socioeconocircmicos que persistem em dividir a populaccedilatildeo em diferentes classes sociais

uma boa parcela dos brasileiros continua sem acesso a oportunidades e um dos

principais reflexos desta situaccedilatildeo eacute a falta de moradia adequada para todos

A crise financeira o aumento exponencial do desemprego e a dependecircncia

quiacutemica satildeo fatores relevantes que tecircm sua parcela de contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo do

cenaacuterio em que as ruas - um espaccedilo comum a todos - tecircm se tornado lugar de

permanecircncia das parcelas menos favorecidas da populaccedilatildeo O Brasil natildeo possui dados

oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima

estimativa2 divulgada em 2015 revelou que naquele ano o paiacutes tinha 101854 dos seus

habitantes vivendo essa realidade

Em 2017 o nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal (DF) de

acordo com a Secretaria do Trabalho Desenvolvimento Social Mulheres Igualdade

Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) era de trecircs mil pessoas ou seja 01 de

toda a populaccedilatildeo da capital federal que em 2017 era de 3 milhotildees de pessoas3

O fenocircmeno que persiste e a cada ano parece crescer eacute um problema social que

pode gerar consequecircncias graves para pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Por conta disso o foco deste trabalho centra-se em contar histoacuterias de vida de pessoas

que fizeram parte dessa populaccedilatildeo frequentemente esquecida e renegada ao abandono

A proposta baseia-se na realizaccedilatildeo de um documentaacuterio Produzido entre agosto e

novembro de 2017 o projeto foi planejado de forma a retratar histoacuterias e vivecircncias de

quatro personagens que vatildeo compartilhar suas experiecircncias dificuldades e

1BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado

Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

2 O Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) possui uma pesquisa intitulada Estimativa da

Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua no Brasil de Marcos Antocircnio Carvalho Natalino publicada em outubro

de 2016 O estudo apresenta dados referentes ao ano de 2015

Conteuacutedo disponiacutevel em httpwwwipeagovbr

Acesso 21 de maio de 2018

3Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 30 de agosto de

2017

Conteuacutedo disponiacutevel em httpscidadesibgegovbr

Acesso 21 de maio de 2018

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aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas

pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua

O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o

restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o

uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua

brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as

pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os

motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos

mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho

Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o

histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida

antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa

apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver

nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos

enfrentados

A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores

significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro

personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos

ao serem ignorados pela sociedade

Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar

em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos

quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e

contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila

2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS

Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema

escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute

4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008

Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr

Acesso 21 de maio de 2018

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mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que

enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa

―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar

naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre

como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente

Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se

que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas

puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio

Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla

sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo

desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos

de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos

Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a

abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o

jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com

outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em

mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente

os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo

Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave

idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No

lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de

transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas

comuns

Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado

anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e

preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo

senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos

agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua

natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao

viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou

pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas

Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a

estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por

que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um

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problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a

alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem

tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam

afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo

pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar

a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e

contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida

21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa

Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo

definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema

interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute

assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees

Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a

ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees

poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento

propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do

processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa

por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a

presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal

Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a

ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma

reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma

experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado

especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as

dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em

averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi

constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves

manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute

a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as

5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil

pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017

Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html

Acesso 21 de maio de 2018

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histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos

relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por

muito tempo presos agraves ruas

Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato

o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees

importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos

em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e

propaganda

Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na

produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma

das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo

Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se

somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou

na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de

funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio

pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores

Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias

inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para

participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho

Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos

saiacutedo do campo das ideias

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3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS

31 Objetivo Geral

O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito

da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de

quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos

anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua

32 Objetivo Especiacuteficos

Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua

por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio

Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a

respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das

vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua

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4REFERENCIAL TEOacuteRICO

41 Nomenclatura

Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho

baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como

forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o

leitor ou espectador a se interessar pelo assunto

Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta

para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas

diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos

autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na

rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado

definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se

referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem

concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []

ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo

heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos

Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes

indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que

―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se

apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que

tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas

palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que

afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito

As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo

elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar

essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva

especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo

A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais

apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo

resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave

condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou

condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de

acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)

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Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a

preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete

em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar

a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores

pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma

condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo

42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua

Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)

De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para

a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a

pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou

fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional

regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas

degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma

temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de

acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia

provisoacuteriasup1

No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou

um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser

unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas

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malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto

vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico

e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o

sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa

condiccedilatildeo

O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui

apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas

determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela

sociabilidade capitalista que produz um contingente de

pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo

possuem moradia convencional O modo capitalista de

produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das

classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na

desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo

acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de

subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)

Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um

problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge

muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro

que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um

local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a

criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer

de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas

Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e

passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das

caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do

ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua

Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se

unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia

na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre

outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era

atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que

o mercado capitalista dispotildee

Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o

preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela

aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima

reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo

costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua

20

43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal

O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em

situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de

Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra

que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A

pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais

de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento

Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em

2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01

de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs

milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que

os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga

respectivamente

A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal

causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia

de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo

fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de

viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)

A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta

por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa

etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas

representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a

masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos

A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem

impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou

pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social

historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem

maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado

6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se

ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio

Carvalho Natalino

Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf

Acesso em 21 de maio de 2018

21

em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46

branca

Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em

situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional

com 127 e somente 78 devido problemas com drogas

A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua

afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas

chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente

externo urbano passam ao usar

O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo

preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes

para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de

encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)

da realidade experimentada em seus cotidianos algumas

drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos

(GATTI e PEREIRA 2011 p88)

Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute

ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a

repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)

tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e

pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante

exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores

de materiais reciclaacuteveis

Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso

ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a

nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas

governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem

todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo

de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a

direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos

como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do

governo

22

44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas

Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta

de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora

com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente

reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a

contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal

incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua

Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu

alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e

ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees

religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas

somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam

dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o

modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi

criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei

federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de

Assistecircncia Social (LOAS)

Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de

Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que

subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto

ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em

Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil

a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia

dessa populaccedilatildeo

No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em

Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital

federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do

seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de

rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A

populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado

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da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador

Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para

adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para

mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de

Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem

situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de

Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute

acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues

disponibilizados pelo Governo

A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute

cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e

descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto

com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos

paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde

satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo

Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e

Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em

comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser

uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico

Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do

uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo

exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo

para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode

durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na

rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra

caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel

teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados

Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de

forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico

individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de

junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o

funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com

transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas

24

Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito

Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas

do Distrito Federal (CONEN-DF)

De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito

Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas

centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a

toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel

institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a

responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o

formulador das poliacuteticas sociais

A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar

esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de

acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem

mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute

tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas

45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico

Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais

raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade

jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel

importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute

mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa

atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria

Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar

luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave

vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de

complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que

buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as

equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)

A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm

defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos

relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da

deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor

25

agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida

por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa

humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto

social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos

primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p

9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa

capaz de transformar tanto o narrado como o narrador

No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto

mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo

[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados

os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a

compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o

jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e

enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7

Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por

privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz

ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo

do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no

jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha

pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)

De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo

quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do

cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o

diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura

dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []

Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem

(MEDINA 1999 p28)

A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem

tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os

mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a

busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da

observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a

comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute

amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos

Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as

accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas

atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos

7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento

[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli

26

desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a

contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que

originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN

2008 p8)

No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda

eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando

essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha

editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-

estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do

assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam

em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo

Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem

principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a

pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de

vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel

minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo

publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que

levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)

Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado

ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo

frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos

meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados

compartilhados pela sociedade

Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho

debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de

abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior

do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as

trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das

ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais

Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a

situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social

Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos

se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto

Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer

jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem

27

somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao

maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado

acontecimento

5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa

voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram

em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a

abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A

partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de

entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre

o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de

informaccedilotildees dos personagens

A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma

forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a

necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o

entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos

linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de

aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma

teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de

questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos

complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)

De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo

abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e

abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se

trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa

(SILVA 2016 p35)

Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o

trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo

do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos

para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto

28

51 Formato audiovisual

Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de

caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos

pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas

fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem

sobre o tema

Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao

trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto

escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo

utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser

alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar

coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era

conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz

alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato

Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em

uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que

os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este

projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e

membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa

populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas

Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de

tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o

projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de

campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie

documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de

abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e

tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos

personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era

necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em

situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar

essa condiccedilatildeo

A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto

Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a

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situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto

Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa

decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos

protagonistas

Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa

quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era

mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo

Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para

o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a

fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe

uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim

a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo

sobre o tema

52 Personagens

Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que

comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e

entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim

termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no

documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute

haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o

primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de

rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa

condiccedilatildeo fosse a mesma

O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho

Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram

pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos

personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas

que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo

seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar

relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de

personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas

mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas

30

O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele

morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos

16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando

provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a

trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo

a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o

colocou para fora de casa

Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa

de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute

recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute

que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia

apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o

convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje

estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras

pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas

Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)

A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um

casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram

em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo

trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia

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de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a

fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando

alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua

Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-

companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se

conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para

Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde

permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute

voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de

amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa

para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro

Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)

Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees

distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie

documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e

sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo

alcoolismo

Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma

vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve

seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade

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ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de

Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram

Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e

passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --

fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu

concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar

renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa

condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar

outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e

fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea

Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)

53 Preacute-produccedilatildeo

A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido

definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi

preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura

por produtos audiovisuais que abordassem o tema

A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos

conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma

condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou

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pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes

essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que

estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela

Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao

mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para

viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV

- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para

auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria

disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma

ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio

Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho

posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou

registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV

assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume

Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller

(vide apecircndice I)

Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca

formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos

auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e

produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela

tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos

participantes (vide anexo I)

Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um

cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees

relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo

telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo

Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos

contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as

gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo

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Tabela 1 ndash Lista completa da equipe

EQUIPE

CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA

PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA

FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E

LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA

EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA

Fonte Marcus Barbosa (2018)

54 Produccedilatildeo

Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o

cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era

necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos

personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios

diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das

obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito

um esforccedilo para seguir de perto o roteiro

Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria

dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria

responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos

planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a

produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua

experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos

equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada

Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista

uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para

fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios

momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo

guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se

abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas

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no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas

isso nem sempre deu certo

Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o

esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e

Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio

em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe

Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se

delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens

do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um

indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera

Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que

ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um

canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das

gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o

primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no

microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao

cronograma de gravaccedilotildees

Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)

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Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)

Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com

o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele

foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as

entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de

Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as

gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas

Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de

gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente

para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos

concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas

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Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus

Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)

55 Poacutes-produccedilatildeo

Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo

foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio

que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)

Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia

Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material

O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome

provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio

da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por

escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os

personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que

traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas

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561 Identidade visual

A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de

publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela

animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura

foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais

proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas

Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes

de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com

maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com

boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca

por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto

Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para

a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)

Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)

39

Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)

Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

40

6 CRONOGRAMA DE PESQUISA

Tabela 2 ndash Cronograma de atividades

DATAS ETAPAS

Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica

(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)

Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens

Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas

Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees

510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega

para ediccedilatildeo

Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio

Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo

Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa

180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca

Fonte Marcus Barbosa (2018)

41

7 ORCcedilAMENTO

Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais

VALORES IacuteTENS

R$ 9700 Estabilizador de celular

R$ 25000 Microfone de Lapela

R$ 29000 HD Externo

R$ 35000 Gasolina

R$ 29700 Impressatildeo de material visual

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II

VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)

R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD

R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg

R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash

Wm6 UHF

R$ 8900 Rebatedor

R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +

Tripeacute 2m

R$ 99900 Identidade visual para o produto

R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de

duraccedilatildeo

R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

42

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi

possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que

existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em

situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao

passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos

ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E

com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que

integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute

preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses

indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa

condiccedilatildeo

Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia

com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de

rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas

entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem

desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o

auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num

problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons

exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e

o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -

Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou

provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida

dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo

No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi

um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente

nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar

o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea

tambeacutem foi de suma importacircncia

Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar

histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas

preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade

nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das

43

histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que

chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo

tudo

Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes

deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de

ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar

tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista

44

REFEREcircNCIAS

ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser

humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico

BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise

referencial de serviccedilo socioassistencial de Satildeo Paulo e Brasiacutelia 2015 64 f Trabalho

de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Serviccedilo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2015 Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048317307

Acesso 21 de maio de 2018

BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil

Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua um estudo sobre pobreza necessidades humanas e miacutenimos

sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de

Brasiacutelia Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel

emhttpbdmunbbrbitstream10483257312011_AmaranthaSaTelesdeCerqueirapdf

Acesso 21 de maio de 2018

CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009

DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005

GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-

EDUC 2006

MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de

moradores de rua em Taguatinga-DF 2016 60 f Trabalho de conclusatildeo de curso

(Bacharelado em Sauacutede Coletiva)mdashUniversidade de Brasiacutelia Ceilacircndia 2016

Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048315988

Acesso em 21 de maio de 2018

Mattos RM Ferreira RF Quem vocecircs pensam que (elas) satildeo Representaccedilotildees

sobre as pessoas em situaccedilatildeo de rua Psicologia amp Sociedade 16 (2) 47-58

maioago2004 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfpsocv16n2a07v16n2pdf

Acesso 21 de maio de 2018

MELO Cristina Teixeira V de GOMES Isaltina Mello MORAIS Wilma O

documentaacuterio jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral In Intercom - 25ordm Congresso

Brasileiro de Comunicaccedilatildeo Campo Grande 2001 Disponiacutevel em

httpwwwintercomorgbrpapersnacionais2001papersNP7MELOPDF

Acesso 21 de maio de 2018

MONTIPOacute Criselli FARAH Acircngela Relato humanizado no jornalismo a

importacircncia da humanizaccedilatildeo na narrativa para um jornalismo transformador In

45

Miacutedia Cidadatilde 2009 - V Conferecircncia Brasileira de Miacutedia Cidadatilde 2009 Guarapuava

Anais Guarapuava 2009 p 906 - 923 Disponiacutevel em httpwwwunicentrobrredemc

Acesso 21 de maio de 2018

MOURA Rodrigo Coelho Bacellar Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo

de Rua uma anaacutelise da participaccedilatildeo social no processo de implementaccedilatildeo da poliacutetica

2016 30 f Trabalho de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Gestatildeo de Poliacuteticas

Puacuteblicas)mdashUniversidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2016 Disponiacutevel em

httpbdmunbbrhandle1048316261

Acesso 21 de maio de 2018

SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-

BA um estudo de caso UNEB 2009

SILVA Fabiacuteola Mariano da Humanizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e gestatildeo centrada nas

pessoas - entrevista em profundidade Laboratoacuterio Sabin 2016 56 f Trabalho de

conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2016

SILVA Maria Lucia Lopes da Trabalho e Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua no Brasil

1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009

SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica

Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009

Referecircncias audiovisuais

BOCA de rua ndash Vozes de Uma Gente Invisiacutevel Marcelo Andrighetti 10rsquo01 Disponiacutevel

em httpswwwyoutubecomuserbocaderuaofilme

Acesso em 21 de maio de 2018

UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e

Victoacuteria Cristina Costa Disponiacutevel em

httpswwwfacebookcomserieumapaginapordia

Acesso em 21 de maio de 2018

O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em

httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes

3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw

Acesso em 21 de maio de 2018

46

APEcircNDICES

47

APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Brasiacutelia 28 de agosto de 2017

Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV

Prezada Sra Neuza Meller

Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para

realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de

Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de

um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em

Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula

130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a

orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula

UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em

situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal

Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo

acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a

aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as

histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de

conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o

desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo

entrevistas e ediccedilatildeo do material captado

Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma

parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo

de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a

grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse

48

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais

sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer

esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail

marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189

Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo

Cordialmente

Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

49

APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)

TER (1909)

QUA (2009) ENTREVISTA

Quem Ademir e Claacuteudia

Horaacuterio 15h

End Luziacircnia GO

QUI (2109)

SEX (2209) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAB ( 2309)

DOM (2409)

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA

Quem Claacuteudia e Ademir

Horaacuterio 14h

End Praccedila do Compromisso Asa Sul

TER (2609)

QUA (2709)

QUI (2809) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 15h

End Ceilacircndia

SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAacuteB (3009) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End SCS

DOM (0110)

MANHAtilde TARDE NOITE

SEG (0210)

TER (0310)

QUA (0410) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 9h

Endereccedilo Centro de

Taguatinga

QUI (0510) ENTREVISTA

Quem Ademir

Horaacuterio 15h

End Parque da Cidade

SEX (0610)

SAacuteB (0710)

DOM (0810)

QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Lucas Cacircndia

Horaacuterio 16h

End Aacuterea central de Brasiacutelia

50

APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a

situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos

durante o periacuteodo nas ruas

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo

com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc

2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar

3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua

4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas

5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua

6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua

7 Como era sua rotina na rua

8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo

9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele

periacuteodo

10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como

abrigo sauacutede etc

11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter

12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais

sobre isso

13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou

simplesmente agia com indiferenccedila

51

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o

futuro

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva

de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real

2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo

3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo

4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou

em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio

5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar

6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de

recuperaccedilatildeo

7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para

frente

8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que

ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria

52

APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida

FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia

PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca

ED DE IMAGENS Julia Nogueira

ARTE Sarah Silva

CENA DE

AMBIENTACcedilAtildeO

ARQUIVO

Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio

SONORA 1 CLAacuteUDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE CORTE

126 -- 147 +

327 -- 345

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu

trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht

mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)

―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu

comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para

vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0025 -- 0109

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma

pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma

discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu

abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas

SONORA 4 DANIELA

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE

213 --300

Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos

tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da

luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de

relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era

acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente

ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar

53

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai

brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma

hora

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e

minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela

sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri

muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem

africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 4

03 -- 434

(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha

vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet

os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida

maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu

Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje

SONORA 6 Daniela

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE

434 --446 + 528 -- 539

―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro

semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos

difiacuteceis +

―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc

vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu

escutei

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

842 --914

―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito

dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu

acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com

uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica

cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil

SONORA DANIELA

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

551 --622

ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um

computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus

aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc

tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12

minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que

Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano

teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo

54

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144

depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria

com as drogas

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

256 -- 330

―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia

cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu

frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro

com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que

chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0424 -- 0439

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente

mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo

mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era

bebida

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212

Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo

abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

550 -- 603

―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da

bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo

notam mas notam

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0401 -- 0408

O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro

dia bebendo porque eu precisava beber

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304

Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A

gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra

gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute

diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia

Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e

gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde

SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei

55

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

759 --813 + 825 -- 840

+ 915 --9 22

PODE ENXUGAR

muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai

argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +

E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me

ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e

nossa aquilo ali me doeu +

―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu

natildeo volto mais

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

126 -- 153 + 216 --231

―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e

ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era

casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na

eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +

―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa

natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me

pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347

Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa

para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou

para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para

mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas

SONORA Daniela

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

953 --1016 + 120 --

124

PODE ENXUGAR

ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que

eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava

dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo

E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso

aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar

minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova

trajetoacuteria

SONORA Claudia

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

427 --439

―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma

coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se

conhece um conhece outro

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0048 ---0109

Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca

soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse

dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

516 -- 521

―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto

entatildeo vc entra

SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo

tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte

56

ARQUIVO 967_0430_03

TEMPO DE CORTE

926 -- 938

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0814

-- 0834

No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da

que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua

esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio

Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0707 -- 0726

Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu

viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu

corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar

mais

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 217

-- 230

―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer

uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa

de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0706

-- 0725

Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo

que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do

lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a

gente a sobreviver na rua

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE

CORTE0013 --018 (+)

1128 --1137

―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq

barulho a gente acorda

(+)

―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade

de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde

SONORA ADRIANO LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio

sincronizado

TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628

Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece

que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute

terriacutevel

57

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE 958

-- 1002 + 931 -- 945 +

1025 -- 1030

―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute

um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma

alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas

se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que

estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE

222-- 245

―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente

chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela

e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar

para vc

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE

701 -- 714

(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a

frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute

super-homem natildeo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli -

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0432

-- 0437

Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de

viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia

morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE 655

--710 +730 -- 804

PODE ENXUGAR

(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que

to com catarata pq natildeo notei 710 +

(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para

traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui

para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a

danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e

e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1109

--1116

+

―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila

comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da

minha mochila

(+)

58

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1032

--1036

+

ARQUIVO 256_2764_02

TEMPO DE CORTE 1101

-- 1115

ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa

(+)

―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai

que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho

comigo ningueacutem queria mais falar comigo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 0300

--0308

―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber

os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 1540

-- 1556

Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te

apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio

decadente

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE

0824 -- 0857

Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa

marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc

eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um

saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam

natildeo estatildeo nem aiacute

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 241

-- 0300

―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como

pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto

de vc muito existe demais demais

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0508 -- 05 30

Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar

eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te

tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe

uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas

59

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_03

TEMPO DE CORTE

241 --256

(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema

esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc

vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0841 -- 0853 (+) 0302 -

-0322

Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu

preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes

(+)

Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa

vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de

novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo

tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci

minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 741

--806 +

803-- 804 +

811 -- 815

(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um

tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando

eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +

(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para

Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE 0638

-- 0653

Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava

a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas

mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a

gente piorava cada vez mais

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 837

-- 848 (+) 557-- 606

Sera que daacute para cortar o

som externo nessa parte

Senatildeo pode cortar

― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e

estradas

+

―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo

para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava

60

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

1251 -- 1306

Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia

morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o

meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 604

-- 618

+

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

521 -- 533

― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter

outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com

outra coisa natildeo com a rua +

―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui

uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_06

TEMPO DE CORTE

101--121

―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro

todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a

condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no

coraccedilatildeo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 0551 -- 613

―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da

forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o

fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai

se entregar eacute assim que eu pensava

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0127 -- 0151

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era

meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais

abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava

esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda

61

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 852 - 906

―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me

arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me

arrependo mesmo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 1305 - 1326

―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc

esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente

todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que

arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei

quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais

forccedila

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0428 -- 0500

―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e

procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi

a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma

pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de

tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute

tudo mudou

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

814 - 835

―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria

fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir

para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1056 - 1111

―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou

estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute

arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0726 -- 0748

ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de

recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar

um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa

se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou

acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento

62

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE

0231 -- 0248

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA

EvDICcedilAtildeO

―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua

vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e

quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma

forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1207 - 1231

―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a

gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o

organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida

e em qlq bar vc consegue

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0532 --609

―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi

aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis

tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos

mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente

que eu recebi

SONORA Dani

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 516 - 528

―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar

terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu

tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

924 - 1000

(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo

esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta

repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter

uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em

restaurantes

SONORA ADRIANO

LUGOLI

Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo

esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao

63

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0821 -- 856

Avaliar se corta o final

ou enxuga

era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando

via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_04

TEMPO DE CORTE

109 -130 (+)

1100 -1103

― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na

cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um

pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito

oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna

+

―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 126 - 142

ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que

eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que

eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0900 - 943

―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha

vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente

que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim

que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me

abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_03

TEMPO DE

CORTE034 - 044 +

113- 117

(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos

estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +

113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando

(117)

SONORA Dani

ARQUIVO

―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas

paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu

olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu

64

965_0748_02

TEMPO DE CORTE 240 - 308)

interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem

de fazer oq eu eu fiz

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_04

TEMPO DE CORTE -

045 - 111

― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo

de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova

oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p

vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -

910

―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus

irmatildeos +

―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que

eu tenho para ele eacute o silecircncio

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423

―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)

―e depois que essa historia foi p jornal revista tv

eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia

acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao

que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_02

TEMPO DE CORTE

852 - 920

― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela

situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de

alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute

sozinha natildeo vai conseguir

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 611 - 633

―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca

esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios

propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar

algo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE

―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso

nem ter uma casinha para morar

65

CORTE1313 - 1321

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

706 - 732

ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem

pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do

mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb

vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1129 - 1200

―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que

quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam

de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua

vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que

as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica

oportunidade elas conseguem

Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos

66

APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem

Fonte Ana Paula Fonseca (2017)

67

APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia

Fonte Marcus Barbosa (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

68

APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD

Fonte Sarah Silva (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Page 13: Universidade de Brasília Departamento de Jornalismo...nosso trabalho. Tenho certeza que suas histórias inspiradoras vão impactar a cada um que assistir a esse documentário. À

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aprendizados Por meio de relatos o projeto apresenta as memoacuterias de vida destas

pessoas antes durante e depois da situaccedilatildeo de rua

O Distrito Federal tem uma caracteriacutestica peculiar em comparaccedilatildeo com o

restante do Brasil Enquanto a principal causa apontada para essa condiccedilatildeo no paiacutes eacute o

uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia de 355 do total da populaccedilatildeo de rua

brasileira4 no DF segundo dados da SEDESTMIDH a principal causa que leva as

pessoas agrave situaccedilatildeo de rua eacute a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados De acordo com Pereira (2008 p70) aleacutem desses casos jaacute citados entre os

motivos podem levar uma pessoa a rua estatildeo ―brigas abandono doenccedilas transtornos

mentais perda de emprego e ateacute a distacircncia do local de trabalho

Sendo assim para introduzir o tema logo de iniacutecio o documentaacuterio apresenta o

histoacuterico pessoal de cada um dos quatro protagonistas o que inclui como era sua vida

antes da situaccedilatildeo de rua e quais razotildees os levaram a esta conjuntura Depois dessa

apresentaccedilatildeo o objetivo eacute mostrar a partir do olhar desses personagens como foi viver

nesta condiccedilatildeo quais foram os maiores medos dificuldades perigos e preconceitos

enfrentados

A fome o frio e a busca incessante para vencer a abstinecircncia satildeo outros fatores

significativos enfrentados no dia a dia nas ruas Em virtude disso cada um dos quatro

personagens revela como lidaram com tais problemas e qual sentimento desenvolvidos

ao serem ignorados pela sociedade

Por fim a obra mostra os quais os fatores determinantes que os fizeram pensar

em sair da situaccedilatildeo de rua e a buscar ajuda para vencer a invisibilidade No caso dos

quatro personagens entrevistados neste documentaacuterio eles aceitaram essa nova chance e

contam quais foram os fatores determinantes para essa mudanccedila

2 ESPACcedilO AOS PROTAGONISTAS

Com base em pesquisas realizadas foi notado que a abordagem dada ao tema

escolhido especialmente por veiacuteculos midiaacuteticos muitas vezes reforccedila estigmas e ateacute

4Dados referentes agrave Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua encomendada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e realizada pelo Instituto Meta em 2008

Conteuacutedo disponiacutevel em httpswwporgbr

Acesso 21 de maio de 2018

13

mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que

enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa

―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar

naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre

como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente

Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se

que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas

puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio

Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla

sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo

desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos

de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos

Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a

abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o

jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com

outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em

mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente

os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo

Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave

idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No

lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de

transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas

comuns

Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado

anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e

preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo

senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos

agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua

natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao

viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou

pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas

Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a

estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por

que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um

14

problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a

alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem

tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam

afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo

pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar

a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e

contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida

21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa

Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo

definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema

interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute

assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees

Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a

ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees

poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento

propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do

processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa

por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a

presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal

Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a

ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma

reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma

experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado

especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as

dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em

averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi

constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves

manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute

a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as

5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil

pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017

Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html

Acesso 21 de maio de 2018

15

histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos

relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por

muito tempo presos agraves ruas

Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato

o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees

importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos

em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e

propaganda

Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na

produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma

das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo

Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se

somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou

na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de

funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio

pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores

Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias

inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para

participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho

Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos

saiacutedo do campo das ideias

16

3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS

31 Objetivo Geral

O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito

da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de

quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos

anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua

32 Objetivo Especiacuteficos

Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua

por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio

Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a

respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das

vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua

17

4REFERENCIAL TEOacuteRICO

41 Nomenclatura

Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho

baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como

forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o

leitor ou espectador a se interessar pelo assunto

Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta

para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas

diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos

autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na

rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado

definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se

referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem

concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []

ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo

heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos

Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes

indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que

―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se

apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que

tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas

palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que

afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito

As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo

elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar

essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva

especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo

A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais

apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo

resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave

condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou

condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de

acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)

18

Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a

preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete

em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar

a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores

pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma

condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo

42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua

Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)

De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para

a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a

pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou

fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional

regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas

degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma

temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de

acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia

provisoacuteriasup1

No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou

um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser

unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas

19

malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto

vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico

e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o

sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa

condiccedilatildeo

O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui

apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas

determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela

sociabilidade capitalista que produz um contingente de

pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo

possuem moradia convencional O modo capitalista de

produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das

classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na

desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo

acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de

subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)

Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um

problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge

muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro

que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um

local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a

criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer

de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas

Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e

passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das

caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do

ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua

Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se

unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia

na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre

outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era

atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que

o mercado capitalista dispotildee

Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o

preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela

aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima

reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo

costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua

20

43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal

O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em

situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de

Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra

que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A

pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais

de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento

Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em

2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01

de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs

milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que

os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga

respectivamente

A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal

causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia

de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo

fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de

viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)

A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta

por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa

etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas

representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a

masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos

A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem

impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou

pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social

historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem

maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado

6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se

ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio

Carvalho Natalino

Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf

Acesso em 21 de maio de 2018

21

em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46

branca

Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em

situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional

com 127 e somente 78 devido problemas com drogas

A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua

afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas

chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente

externo urbano passam ao usar

O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo

preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes

para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de

encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)

da realidade experimentada em seus cotidianos algumas

drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos

(GATTI e PEREIRA 2011 p88)

Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute

ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a

repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)

tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e

pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante

exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores

de materiais reciclaacuteveis

Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso

ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a

nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas

governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem

todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo

de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a

direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos

como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do

governo

22

44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas

Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta

de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora

com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente

reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a

contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal

incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua

Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu

alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e

ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees

religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas

somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam

dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o

modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi

criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei

federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de

Assistecircncia Social (LOAS)

Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de

Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que

subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto

ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em

Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil

a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia

dessa populaccedilatildeo

No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em

Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital

federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do

seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de

rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A

populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado

23

da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador

Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para

adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para

mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de

Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem

situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de

Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute

acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues

disponibilizados pelo Governo

A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute

cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e

descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto

com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos

paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde

satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo

Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e

Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em

comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser

uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico

Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do

uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo

exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo

para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode

durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na

rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra

caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel

teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados

Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de

forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico

individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de

junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o

funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com

transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas

24

Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito

Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas

do Distrito Federal (CONEN-DF)

De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito

Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas

centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a

toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel

institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a

responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o

formulador das poliacuteticas sociais

A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar

esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de

acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem

mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute

tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas

45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico

Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais

raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade

jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel

importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute

mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa

atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria

Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar

luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave

vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de

complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que

buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as

equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)

A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm

defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos

relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da

deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor

25

agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida

por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa

humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto

social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos

primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p

9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa

capaz de transformar tanto o narrado como o narrador

No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto

mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo

[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados

os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a

compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o

jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e

enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7

Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por

privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz

ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo

do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no

jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha

pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)

De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo

quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do

cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o

diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura

dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []

Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem

(MEDINA 1999 p28)

A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem

tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os

mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a

busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da

observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a

comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute

amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos

Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as

accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas

atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos

7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento

[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli

26

desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a

contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que

originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN

2008 p8)

No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda

eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando

essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha

editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-

estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do

assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam

em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo

Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem

principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a

pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de

vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel

minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo

publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que

levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)

Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado

ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo

frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos

meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados

compartilhados pela sociedade

Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho

debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de

abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior

do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as

trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das

ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais

Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a

situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social

Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos

se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto

Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer

jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem

27

somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao

maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado

acontecimento

5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa

voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram

em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a

abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A

partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de

entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre

o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de

informaccedilotildees dos personagens

A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma

forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a

necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o

entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos

linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de

aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma

teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de

questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos

complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)

De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo

abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e

abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se

trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa

(SILVA 2016 p35)

Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o

trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo

do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos

para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto

28

51 Formato audiovisual

Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de

caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos

pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas

fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem

sobre o tema

Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao

trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto

escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo

utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser

alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar

coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era

conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz

alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato

Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em

uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que

os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este

projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e

membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa

populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas

Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de

tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o

projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de

campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie

documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de

abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e

tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos

personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era

necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em

situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar

essa condiccedilatildeo

A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto

Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a

29

situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto

Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa

decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos

protagonistas

Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa

quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era

mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo

Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para

o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a

fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe

uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim

a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo

sobre o tema

52 Personagens

Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que

comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e

entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim

termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no

documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute

haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o

primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de

rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa

condiccedilatildeo fosse a mesma

O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho

Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram

pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos

personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas

que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo

seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar

relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de

personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas

mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas

30

O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele

morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos

16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando

provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a

trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo

a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o

colocou para fora de casa

Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa

de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute

recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute

que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia

apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o

convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje

estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras

pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas

Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)

A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um

casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram

em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo

trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia

31

de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a

fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando

alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua

Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-

companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se

conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para

Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde

permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute

voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de

amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa

para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro

Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)

Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees

distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie

documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e

sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo

alcoolismo

Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma

vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve

seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade

32

ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de

Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram

Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e

passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --

fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu

concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar

renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa

condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar

outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e

fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea

Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)

53 Preacute-produccedilatildeo

A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido

definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi

preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura

por produtos audiovisuais que abordassem o tema

A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos

conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma

condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou

33

pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes

essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que

estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela

Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao

mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para

viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV

- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para

auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria

disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma

ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio

Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho

posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou

registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV

assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume

Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller

(vide apecircndice I)

Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca

formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos

auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e

produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela

tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos

participantes (vide anexo I)

Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um

cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees

relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo

telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo

Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos

contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as

gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo

34

Tabela 1 ndash Lista completa da equipe

EQUIPE

CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA

PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA

FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E

LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA

EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA

Fonte Marcus Barbosa (2018)

54 Produccedilatildeo

Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o

cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era

necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos

personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios

diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das

obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito

um esforccedilo para seguir de perto o roteiro

Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria

dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria

responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos

planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a

produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua

experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos

equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada

Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista

uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para

fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios

momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo

guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se

abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas

35

no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas

isso nem sempre deu certo

Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o

esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e

Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio

em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe

Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se

delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens

do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um

indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera

Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que

ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um

canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das

gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o

primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no

microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao

cronograma de gravaccedilotildees

Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)

36

Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)

Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com

o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele

foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as

entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de

Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as

gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas

Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de

gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente

para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos

concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas

37

Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus

Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)

55 Poacutes-produccedilatildeo

Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo

foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio

que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)

Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia

Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material

O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome

provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio

da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por

escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os

personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que

traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas

38

561 Identidade visual

A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de

publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela

animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura

foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais

proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas

Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes

de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com

maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com

boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca

por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto

Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para

a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)

Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)

39

Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)

Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

40

6 CRONOGRAMA DE PESQUISA

Tabela 2 ndash Cronograma de atividades

DATAS ETAPAS

Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica

(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)

Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens

Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas

Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees

510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega

para ediccedilatildeo

Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio

Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo

Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa

180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca

Fonte Marcus Barbosa (2018)

41

7 ORCcedilAMENTO

Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais

VALORES IacuteTENS

R$ 9700 Estabilizador de celular

R$ 25000 Microfone de Lapela

R$ 29000 HD Externo

R$ 35000 Gasolina

R$ 29700 Impressatildeo de material visual

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II

VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)

R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD

R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg

R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash

Wm6 UHF

R$ 8900 Rebatedor

R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +

Tripeacute 2m

R$ 99900 Identidade visual para o produto

R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de

duraccedilatildeo

R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

42

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi

possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que

existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em

situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao

passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos

ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E

com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que

integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute

preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses

indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa

condiccedilatildeo

Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia

com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de

rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas

entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem

desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o

auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num

problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons

exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e

o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -

Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou

provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida

dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo

No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi

um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente

nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar

o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea

tambeacutem foi de suma importacircncia

Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar

histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas

preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade

nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das

43

histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que

chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo

tudo

Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes

deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de

ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar

tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista

44

REFEREcircNCIAS

ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser

humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico

BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise

referencial de serviccedilo socioassistencial de Satildeo Paulo e Brasiacutelia 2015 64 f Trabalho

de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Serviccedilo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2015 Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048317307

Acesso 21 de maio de 2018

BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil

Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua um estudo sobre pobreza necessidades humanas e miacutenimos

sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de

Brasiacutelia Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel

emhttpbdmunbbrbitstream10483257312011_AmaranthaSaTelesdeCerqueirapdf

Acesso 21 de maio de 2018

CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009

DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005

GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-

EDUC 2006

MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de

moradores de rua em Taguatinga-DF 2016 60 f Trabalho de conclusatildeo de curso

(Bacharelado em Sauacutede Coletiva)mdashUniversidade de Brasiacutelia Ceilacircndia 2016

Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048315988

Acesso em 21 de maio de 2018

Mattos RM Ferreira RF Quem vocecircs pensam que (elas) satildeo Representaccedilotildees

sobre as pessoas em situaccedilatildeo de rua Psicologia amp Sociedade 16 (2) 47-58

maioago2004 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfpsocv16n2a07v16n2pdf

Acesso 21 de maio de 2018

MELO Cristina Teixeira V de GOMES Isaltina Mello MORAIS Wilma O

documentaacuterio jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral In Intercom - 25ordm Congresso

Brasileiro de Comunicaccedilatildeo Campo Grande 2001 Disponiacutevel em

httpwwwintercomorgbrpapersnacionais2001papersNP7MELOPDF

Acesso 21 de maio de 2018

MONTIPOacute Criselli FARAH Acircngela Relato humanizado no jornalismo a

importacircncia da humanizaccedilatildeo na narrativa para um jornalismo transformador In

45

Miacutedia Cidadatilde 2009 - V Conferecircncia Brasileira de Miacutedia Cidadatilde 2009 Guarapuava

Anais Guarapuava 2009 p 906 - 923 Disponiacutevel em httpwwwunicentrobrredemc

Acesso 21 de maio de 2018

MOURA Rodrigo Coelho Bacellar Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo

de Rua uma anaacutelise da participaccedilatildeo social no processo de implementaccedilatildeo da poliacutetica

2016 30 f Trabalho de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Gestatildeo de Poliacuteticas

Puacuteblicas)mdashUniversidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2016 Disponiacutevel em

httpbdmunbbrhandle1048316261

Acesso 21 de maio de 2018

SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-

BA um estudo de caso UNEB 2009

SILVA Fabiacuteola Mariano da Humanizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e gestatildeo centrada nas

pessoas - entrevista em profundidade Laboratoacuterio Sabin 2016 56 f Trabalho de

conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2016

SILVA Maria Lucia Lopes da Trabalho e Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua no Brasil

1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009

SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica

Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009

Referecircncias audiovisuais

BOCA de rua ndash Vozes de Uma Gente Invisiacutevel Marcelo Andrighetti 10rsquo01 Disponiacutevel

em httpswwwyoutubecomuserbocaderuaofilme

Acesso em 21 de maio de 2018

UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e

Victoacuteria Cristina Costa Disponiacutevel em

httpswwwfacebookcomserieumapaginapordia

Acesso em 21 de maio de 2018

O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em

httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes

3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw

Acesso em 21 de maio de 2018

46

APEcircNDICES

47

APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Brasiacutelia 28 de agosto de 2017

Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV

Prezada Sra Neuza Meller

Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para

realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de

Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de

um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em

Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula

130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a

orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula

UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em

situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal

Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo

acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a

aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as

histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de

conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o

desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo

entrevistas e ediccedilatildeo do material captado

Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma

parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo

de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a

grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse

48

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais

sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer

esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail

marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189

Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo

Cordialmente

Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

49

APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)

TER (1909)

QUA (2009) ENTREVISTA

Quem Ademir e Claacuteudia

Horaacuterio 15h

End Luziacircnia GO

QUI (2109)

SEX (2209) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAB ( 2309)

DOM (2409)

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA

Quem Claacuteudia e Ademir

Horaacuterio 14h

End Praccedila do Compromisso Asa Sul

TER (2609)

QUA (2709)

QUI (2809) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 15h

End Ceilacircndia

SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAacuteB (3009) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End SCS

DOM (0110)

MANHAtilde TARDE NOITE

SEG (0210)

TER (0310)

QUA (0410) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 9h

Endereccedilo Centro de

Taguatinga

QUI (0510) ENTREVISTA

Quem Ademir

Horaacuterio 15h

End Parque da Cidade

SEX (0610)

SAacuteB (0710)

DOM (0810)

QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Lucas Cacircndia

Horaacuterio 16h

End Aacuterea central de Brasiacutelia

50

APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a

situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos

durante o periacuteodo nas ruas

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo

com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc

2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar

3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua

4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas

5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua

6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua

7 Como era sua rotina na rua

8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo

9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele

periacuteodo

10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como

abrigo sauacutede etc

11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter

12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais

sobre isso

13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou

simplesmente agia com indiferenccedila

51

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o

futuro

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva

de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real

2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo

3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo

4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou

em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio

5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar

6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de

recuperaccedilatildeo

7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para

frente

8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que

ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria

52

APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida

FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia

PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca

ED DE IMAGENS Julia Nogueira

ARTE Sarah Silva

CENA DE

AMBIENTACcedilAtildeO

ARQUIVO

Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio

SONORA 1 CLAacuteUDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE CORTE

126 -- 147 +

327 -- 345

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu

trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht

mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)

―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu

comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para

vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0025 -- 0109

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma

pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma

discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu

abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas

SONORA 4 DANIELA

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE

213 --300

Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos

tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da

luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de

relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era

acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente

ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar

53

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai

brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma

hora

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e

minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela

sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri

muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem

africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 4

03 -- 434

(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha

vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet

os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida

maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu

Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje

SONORA 6 Daniela

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE

434 --446 + 528 -- 539

―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro

semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos

difiacuteceis +

―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc

vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu

escutei

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

842 --914

―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito

dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu

acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com

uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica

cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil

SONORA DANIELA

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

551 --622

ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um

computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus

aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc

tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12

minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que

Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano

teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo

54

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144

depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria

com as drogas

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

256 -- 330

―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia

cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu

frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro

com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que

chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0424 -- 0439

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente

mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo

mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era

bebida

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212

Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo

abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

550 -- 603

―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da

bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo

notam mas notam

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0401 -- 0408

O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro

dia bebendo porque eu precisava beber

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304

Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A

gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra

gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute

diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia

Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e

gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde

SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei

55

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

759 --813 + 825 -- 840

+ 915 --9 22

PODE ENXUGAR

muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai

argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +

E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me

ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e

nossa aquilo ali me doeu +

―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu

natildeo volto mais

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

126 -- 153 + 216 --231

―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e

ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era

casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na

eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +

―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa

natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me

pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347

Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa

para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou

para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para

mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas

SONORA Daniela

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

953 --1016 + 120 --

124

PODE ENXUGAR

ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que

eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava

dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo

E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso

aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar

minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova

trajetoacuteria

SONORA Claudia

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

427 --439

―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma

coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se

conhece um conhece outro

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0048 ---0109

Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca

soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse

dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

516 -- 521

―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto

entatildeo vc entra

SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo

tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte

56

ARQUIVO 967_0430_03

TEMPO DE CORTE

926 -- 938

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0814

-- 0834

No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da

que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua

esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio

Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0707 -- 0726

Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu

viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu

corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar

mais

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 217

-- 230

―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer

uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa

de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0706

-- 0725

Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo

que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do

lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a

gente a sobreviver na rua

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE

CORTE0013 --018 (+)

1128 --1137

―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq

barulho a gente acorda

(+)

―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade

de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde

SONORA ADRIANO LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio

sincronizado

TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628

Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece

que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute

terriacutevel

57

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE 958

-- 1002 + 931 -- 945 +

1025 -- 1030

―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute

um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma

alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas

se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que

estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE

222-- 245

―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente

chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela

e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar

para vc

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE

701 -- 714

(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a

frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute

super-homem natildeo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli -

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0432

-- 0437

Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de

viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia

morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE 655

--710 +730 -- 804

PODE ENXUGAR

(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que

to com catarata pq natildeo notei 710 +

(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para

traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui

para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a

danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e

e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1109

--1116

+

―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila

comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da

minha mochila

(+)

58

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1032

--1036

+

ARQUIVO 256_2764_02

TEMPO DE CORTE 1101

-- 1115

ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa

(+)

―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai

que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho

comigo ningueacutem queria mais falar comigo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 0300

--0308

―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber

os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 1540

-- 1556

Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te

apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio

decadente

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE

0824 -- 0857

Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa

marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc

eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um

saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam

natildeo estatildeo nem aiacute

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 241

-- 0300

―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como

pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto

de vc muito existe demais demais

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0508 -- 05 30

Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar

eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te

tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe

uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas

59

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_03

TEMPO DE CORTE

241 --256

(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema

esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc

vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0841 -- 0853 (+) 0302 -

-0322

Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu

preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes

(+)

Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa

vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de

novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo

tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci

minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 741

--806 +

803-- 804 +

811 -- 815

(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um

tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando

eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +

(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para

Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE 0638

-- 0653

Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava

a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas

mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a

gente piorava cada vez mais

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 837

-- 848 (+) 557-- 606

Sera que daacute para cortar o

som externo nessa parte

Senatildeo pode cortar

― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e

estradas

+

―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo

para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava

60

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

1251 -- 1306

Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia

morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o

meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 604

-- 618

+

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

521 -- 533

― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter

outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com

outra coisa natildeo com a rua +

―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui

uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_06

TEMPO DE CORTE

101--121

―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro

todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a

condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no

coraccedilatildeo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 0551 -- 613

―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da

forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o

fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai

se entregar eacute assim que eu pensava

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0127 -- 0151

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era

meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais

abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava

esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda

61

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 852 - 906

―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me

arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me

arrependo mesmo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 1305 - 1326

―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc

esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente

todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que

arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei

quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais

forccedila

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0428 -- 0500

―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e

procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi

a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma

pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de

tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute

tudo mudou

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

814 - 835

―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria

fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir

para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1056 - 1111

―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou

estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute

arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0726 -- 0748

ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de

recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar

um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa

se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou

acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento

62

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE

0231 -- 0248

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA

EvDICcedilAtildeO

―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua

vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e

quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma

forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1207 - 1231

―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a

gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o

organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida

e em qlq bar vc consegue

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0532 --609

―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi

aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis

tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos

mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente

que eu recebi

SONORA Dani

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 516 - 528

―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar

terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu

tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

924 - 1000

(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo

esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta

repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter

uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em

restaurantes

SONORA ADRIANO

LUGOLI

Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo

esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao

63

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0821 -- 856

Avaliar se corta o final

ou enxuga

era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando

via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_04

TEMPO DE CORTE

109 -130 (+)

1100 -1103

― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na

cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um

pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito

oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna

+

―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 126 - 142

ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que

eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que

eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0900 - 943

―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha

vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente

que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim

que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me

abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_03

TEMPO DE

CORTE034 - 044 +

113- 117

(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos

estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +

113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando

(117)

SONORA Dani

ARQUIVO

―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas

paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu

olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu

64

965_0748_02

TEMPO DE CORTE 240 - 308)

interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem

de fazer oq eu eu fiz

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_04

TEMPO DE CORTE -

045 - 111

― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo

de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova

oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p

vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -

910

―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus

irmatildeos +

―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que

eu tenho para ele eacute o silecircncio

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423

―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)

―e depois que essa historia foi p jornal revista tv

eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia

acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao

que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_02

TEMPO DE CORTE

852 - 920

― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela

situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de

alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute

sozinha natildeo vai conseguir

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 611 - 633

―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca

esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios

propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar

algo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE

―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso

nem ter uma casinha para morar

65

CORTE1313 - 1321

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

706 - 732

ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem

pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do

mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb

vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1129 - 1200

―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que

quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam

de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua

vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que

as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica

oportunidade elas conseguem

Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos

66

APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem

Fonte Ana Paula Fonseca (2017)

67

APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia

Fonte Marcus Barbosa (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

68

APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD

Fonte Sarah Silva (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Page 14: Universidade de Brasília Departamento de Jornalismo...nosso trabalho. Tenho certeza que suas histórias inspiradoras vão impactar a cada um que assistir a esse documentário. À

13

mesmo responsabiliza os proacuteprios indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua pelo problema que

enfrentam Para Rodenzo e Montipoacute (2012 p6) o trabalho da grande imprensa

―transmite a impressatildeo de que a pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar

naquela condiccedilatildeo de vida [hellip] as mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre

como eacute possiacutevel minimizar essa problemaacutetica crescente

Por outro lado quando se trata da abordagem acadecircmica ao assunto percebe-se

que o foco dos estudos jaacute existentes geralmente eacute feito no mecanismo de poliacuteticas

puacuteblicas criadas para essa populaccedilatildeo ao longo dos anos Sendo assim o documentaacuterio

Memoacuteria das Ruas pretende proporcionar um espaccedilo para uma reflexatildeo mais ampla

sobre o assunto com o foco no olhar de quem jaacute passou por esta situaccedilatildeo A intenccedilatildeo

desde a sua concepccedilatildeo eacute que o trabalho privilegie a visatildeo dos personagens escolhidos

de modo a sofrer a menor interferecircncia possiacutevel de fatores externos

Tendo em vista a busca por tal objetivo o presente projeto teve por influecircncia a

abordagem humanizada do fazer jornaliacutestico Para Alves e Sebraian (2008 p8) o

jornalista natildeo se relaciona apenas com um objeto de conhecimento mas tambeacutem com

outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo Tendo essa ideia em

mente buscou-se fazer com que os personagens entrevistados se tornassem realmente

os verdadeiros protagonistas de suas histoacuterias e consequentemente de toda a produccedilatildeo

Contudo para este fim foi necessaacuterio colocar em praacutetica o desprendimento agrave

idealizaccedilatildeo do modelo jornaliacutestico voltado agrave transmissatildeo objetiva da mensagem No

lugar disso abriu-se espaccedilo a um jornalismo que segundo Ijuim (2016 p 9) eacute capaz de

transformar tanto o narrado como o narrador e privilegia o contexto social de pessoas

comuns

Outro estiacutemulo para a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute como mencionado

anteriormente a chance de contribuir para o enfraquecimento de estereoacutetipos e

preconceitos culturalmente relacionados agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua Movidos pelo

senso comum muitos ainda baseiam suas concepccedilotildees em roacutetulos injustamente impostos

agrave essa populaccedilatildeo Por conta disso o documentaacuterio buscou mostrar que a situaccedilatildeo de rua

natildeo se trata de uma doenccedila ou mesmo um estilo de vida voltado agrave ociosidade ou ao

viacutecio mas sim um problema social que atinge todo tipo de pessoa sejam ricos ou

pobres jovens ou idosos usuaacuterios ou natildeo de drogas

Por meio de entrevistas os personagens escolhidos explicam o que os levou a

estar em situaccedilatildeo de rua quais os principais medos anseios e perigos enfrentados e por

que permaneceram nas ruas em alguns casos por vaacuterios anos Por se tratar de um

14

problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a

alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem

tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam

afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo

pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar

a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e

contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida

21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa

Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo

definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema

interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute

assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees

Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a

ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees

poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento

propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do

processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa

por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a

presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal

Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a

ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma

reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma

experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado

especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as

dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em

averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi

constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves

manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute

a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as

5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil

pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017

Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html

Acesso 21 de maio de 2018

15

histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos

relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por

muito tempo presos agraves ruas

Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato

o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees

importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos

em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e

propaganda

Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na

produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma

das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo

Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se

somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou

na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de

funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio

pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores

Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias

inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para

participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho

Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos

saiacutedo do campo das ideias

16

3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS

31 Objetivo Geral

O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito

da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de

quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos

anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua

32 Objetivo Especiacuteficos

Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua

por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio

Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a

respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das

vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua

17

4REFERENCIAL TEOacuteRICO

41 Nomenclatura

Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho

baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como

forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o

leitor ou espectador a se interessar pelo assunto

Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta

para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas

diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos

autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na

rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado

definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se

referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem

concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []

ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo

heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos

Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes

indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que

―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se

apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que

tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas

palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que

afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito

As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo

elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar

essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva

especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo

A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais

apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo

resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave

condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou

condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de

acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)

18

Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a

preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete

em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar

a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores

pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma

condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo

42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua

Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)

De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para

a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a

pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou

fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional

regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas

degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma

temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de

acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia

provisoacuteriasup1

No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou

um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser

unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas

19

malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto

vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico

e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o

sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa

condiccedilatildeo

O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui

apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas

determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela

sociabilidade capitalista que produz um contingente de

pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo

possuem moradia convencional O modo capitalista de

produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das

classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na

desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo

acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de

subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)

Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um

problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge

muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro

que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um

local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a

criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer

de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas

Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e

passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das

caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do

ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua

Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se

unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia

na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre

outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era

atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que

o mercado capitalista dispotildee

Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o

preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela

aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima

reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo

costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua

20

43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal

O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em

situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de

Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra

que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A

pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais

de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento

Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em

2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01

de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs

milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que

os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga

respectivamente

A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal

causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia

de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo

fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de

viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)

A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta

por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa

etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas

representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a

masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos

A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem

impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou

pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social

historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem

maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado

6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se

ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio

Carvalho Natalino

Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf

Acesso em 21 de maio de 2018

21

em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46

branca

Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em

situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional

com 127 e somente 78 devido problemas com drogas

A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua

afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas

chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente

externo urbano passam ao usar

O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo

preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes

para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de

encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)

da realidade experimentada em seus cotidianos algumas

drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos

(GATTI e PEREIRA 2011 p88)

Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute

ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a

repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)

tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e

pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante

exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores

de materiais reciclaacuteveis

Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso

ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a

nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas

governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem

todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo

de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a

direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos

como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do

governo

22

44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas

Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta

de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora

com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente

reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a

contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal

incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua

Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu

alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e

ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees

religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas

somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam

dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o

modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi

criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei

federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de

Assistecircncia Social (LOAS)

Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de

Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que

subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto

ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em

Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil

a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia

dessa populaccedilatildeo

No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em

Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital

federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do

seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de

rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A

populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado

23

da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador

Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para

adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para

mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de

Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem

situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de

Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute

acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues

disponibilizados pelo Governo

A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute

cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e

descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto

com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos

paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde

satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo

Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e

Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em

comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser

uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico

Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do

uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo

exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo

para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode

durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na

rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra

caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel

teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados

Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de

forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico

individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de

junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o

funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com

transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas

24

Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito

Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas

do Distrito Federal (CONEN-DF)

De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito

Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas

centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a

toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel

institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a

responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o

formulador das poliacuteticas sociais

A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar

esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de

acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem

mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute

tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas

45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico

Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais

raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade

jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel

importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute

mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa

atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria

Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar

luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave

vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de

complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que

buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as

equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)

A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm

defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos

relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da

deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor

25

agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida

por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa

humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto

social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos

primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p

9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa

capaz de transformar tanto o narrado como o narrador

No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto

mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo

[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados

os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a

compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o

jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e

enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7

Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por

privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz

ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo

do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no

jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha

pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)

De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo

quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do

cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o

diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura

dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []

Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem

(MEDINA 1999 p28)

A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem

tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os

mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a

busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da

observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a

comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute

amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos

Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as

accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas

atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos

7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento

[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli

26

desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a

contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que

originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN

2008 p8)

No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda

eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando

essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha

editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-

estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do

assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam

em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo

Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem

principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a

pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de

vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel

minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo

publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que

levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)

Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado

ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo

frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos

meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados

compartilhados pela sociedade

Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho

debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de

abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior

do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as

trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das

ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais

Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a

situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social

Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos

se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto

Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer

jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem

27

somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao

maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado

acontecimento

5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa

voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram

em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a

abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A

partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de

entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre

o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de

informaccedilotildees dos personagens

A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma

forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a

necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o

entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos

linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de

aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma

teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de

questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos

complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)

De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo

abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e

abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se

trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa

(SILVA 2016 p35)

Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o

trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo

do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos

para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto

28

51 Formato audiovisual

Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de

caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos

pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas

fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem

sobre o tema

Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao

trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto

escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo

utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser

alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar

coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era

conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz

alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato

Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em

uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que

os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este

projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e

membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa

populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas

Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de

tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o

projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de

campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie

documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de

abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e

tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos

personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era

necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em

situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar

essa condiccedilatildeo

A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto

Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a

29

situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto

Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa

decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos

protagonistas

Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa

quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era

mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo

Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para

o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a

fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe

uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim

a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo

sobre o tema

52 Personagens

Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que

comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e

entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim

termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no

documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute

haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o

primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de

rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa

condiccedilatildeo fosse a mesma

O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho

Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram

pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos

personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas

que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo

seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar

relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de

personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas

mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas

30

O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele

morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos

16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando

provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a

trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo

a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o

colocou para fora de casa

Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa

de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute

recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute

que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia

apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o

convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje

estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras

pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas

Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)

A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um

casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram

em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo

trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia

31

de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a

fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando

alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua

Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-

companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se

conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para

Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde

permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute

voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de

amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa

para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro

Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)

Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees

distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie

documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e

sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo

alcoolismo

Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma

vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve

seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade

32

ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de

Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram

Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e

passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --

fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu

concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar

renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa

condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar

outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e

fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea

Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)

53 Preacute-produccedilatildeo

A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido

definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi

preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura

por produtos audiovisuais que abordassem o tema

A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos

conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma

condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou

33

pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes

essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que

estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela

Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao

mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para

viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV

- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para

auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria

disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma

ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio

Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho

posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou

registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV

assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume

Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller

(vide apecircndice I)

Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca

formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos

auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e

produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela

tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos

participantes (vide anexo I)

Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um

cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees

relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo

telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo

Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos

contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as

gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo

34

Tabela 1 ndash Lista completa da equipe

EQUIPE

CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA

PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA

FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E

LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA

EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA

Fonte Marcus Barbosa (2018)

54 Produccedilatildeo

Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o

cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era

necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos

personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios

diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das

obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito

um esforccedilo para seguir de perto o roteiro

Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria

dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria

responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos

planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a

produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua

experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos

equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada

Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista

uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para

fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios

momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo

guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se

abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas

35

no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas

isso nem sempre deu certo

Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o

esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e

Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio

em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe

Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se

delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens

do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um

indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera

Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que

ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um

canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das

gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o

primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no

microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao

cronograma de gravaccedilotildees

Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)

36

Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)

Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com

o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele

foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as

entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de

Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as

gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas

Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de

gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente

para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos

concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas

37

Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus

Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)

55 Poacutes-produccedilatildeo

Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo

foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio

que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)

Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia

Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material

O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome

provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio

da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por

escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os

personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que

traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas

38

561 Identidade visual

A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de

publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela

animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura

foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais

proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas

Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes

de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com

maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com

boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca

por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto

Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para

a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)

Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)

39

Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)

Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

40

6 CRONOGRAMA DE PESQUISA

Tabela 2 ndash Cronograma de atividades

DATAS ETAPAS

Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica

(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)

Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens

Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas

Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees

510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega

para ediccedilatildeo

Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio

Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo

Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa

180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca

Fonte Marcus Barbosa (2018)

41

7 ORCcedilAMENTO

Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais

VALORES IacuteTENS

R$ 9700 Estabilizador de celular

R$ 25000 Microfone de Lapela

R$ 29000 HD Externo

R$ 35000 Gasolina

R$ 29700 Impressatildeo de material visual

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II

VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)

R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD

R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg

R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash

Wm6 UHF

R$ 8900 Rebatedor

R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +

Tripeacute 2m

R$ 99900 Identidade visual para o produto

R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de

duraccedilatildeo

R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

42

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi

possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que

existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em

situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao

passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos

ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E

com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que

integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute

preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses

indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa

condiccedilatildeo

Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia

com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de

rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas

entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem

desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o

auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num

problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons

exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e

o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -

Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou

provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida

dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo

No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi

um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente

nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar

o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea

tambeacutem foi de suma importacircncia

Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar

histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas

preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade

nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das

43

histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que

chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo

tudo

Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes

deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de

ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar

tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista

44

REFEREcircNCIAS

ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser

humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico

BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise

referencial de serviccedilo socioassistencial de Satildeo Paulo e Brasiacutelia 2015 64 f Trabalho

de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Serviccedilo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2015 Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048317307

Acesso 21 de maio de 2018

BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil

Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua um estudo sobre pobreza necessidades humanas e miacutenimos

sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de

Brasiacutelia Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel

emhttpbdmunbbrbitstream10483257312011_AmaranthaSaTelesdeCerqueirapdf

Acesso 21 de maio de 2018

CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009

DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005

GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-

EDUC 2006

MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de

moradores de rua em Taguatinga-DF 2016 60 f Trabalho de conclusatildeo de curso

(Bacharelado em Sauacutede Coletiva)mdashUniversidade de Brasiacutelia Ceilacircndia 2016

Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048315988

Acesso em 21 de maio de 2018

Mattos RM Ferreira RF Quem vocecircs pensam que (elas) satildeo Representaccedilotildees

sobre as pessoas em situaccedilatildeo de rua Psicologia amp Sociedade 16 (2) 47-58

maioago2004 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfpsocv16n2a07v16n2pdf

Acesso 21 de maio de 2018

MELO Cristina Teixeira V de GOMES Isaltina Mello MORAIS Wilma O

documentaacuterio jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral In Intercom - 25ordm Congresso

Brasileiro de Comunicaccedilatildeo Campo Grande 2001 Disponiacutevel em

httpwwwintercomorgbrpapersnacionais2001papersNP7MELOPDF

Acesso 21 de maio de 2018

MONTIPOacute Criselli FARAH Acircngela Relato humanizado no jornalismo a

importacircncia da humanizaccedilatildeo na narrativa para um jornalismo transformador In

45

Miacutedia Cidadatilde 2009 - V Conferecircncia Brasileira de Miacutedia Cidadatilde 2009 Guarapuava

Anais Guarapuava 2009 p 906 - 923 Disponiacutevel em httpwwwunicentrobrredemc

Acesso 21 de maio de 2018

MOURA Rodrigo Coelho Bacellar Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo

de Rua uma anaacutelise da participaccedilatildeo social no processo de implementaccedilatildeo da poliacutetica

2016 30 f Trabalho de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Gestatildeo de Poliacuteticas

Puacuteblicas)mdashUniversidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2016 Disponiacutevel em

httpbdmunbbrhandle1048316261

Acesso 21 de maio de 2018

SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-

BA um estudo de caso UNEB 2009

SILVA Fabiacuteola Mariano da Humanizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e gestatildeo centrada nas

pessoas - entrevista em profundidade Laboratoacuterio Sabin 2016 56 f Trabalho de

conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2016

SILVA Maria Lucia Lopes da Trabalho e Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua no Brasil

1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009

SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica

Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009

Referecircncias audiovisuais

BOCA de rua ndash Vozes de Uma Gente Invisiacutevel Marcelo Andrighetti 10rsquo01 Disponiacutevel

em httpswwwyoutubecomuserbocaderuaofilme

Acesso em 21 de maio de 2018

UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e

Victoacuteria Cristina Costa Disponiacutevel em

httpswwwfacebookcomserieumapaginapordia

Acesso em 21 de maio de 2018

O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em

httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes

3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw

Acesso em 21 de maio de 2018

46

APEcircNDICES

47

APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Brasiacutelia 28 de agosto de 2017

Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV

Prezada Sra Neuza Meller

Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para

realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de

Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de

um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em

Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula

130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a

orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula

UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em

situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal

Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo

acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a

aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as

histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de

conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o

desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo

entrevistas e ediccedilatildeo do material captado

Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma

parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo

de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a

grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse

48

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais

sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer

esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail

marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189

Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo

Cordialmente

Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

49

APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)

TER (1909)

QUA (2009) ENTREVISTA

Quem Ademir e Claacuteudia

Horaacuterio 15h

End Luziacircnia GO

QUI (2109)

SEX (2209) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAB ( 2309)

DOM (2409)

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA

Quem Claacuteudia e Ademir

Horaacuterio 14h

End Praccedila do Compromisso Asa Sul

TER (2609)

QUA (2709)

QUI (2809) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 15h

End Ceilacircndia

SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAacuteB (3009) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End SCS

DOM (0110)

MANHAtilde TARDE NOITE

SEG (0210)

TER (0310)

QUA (0410) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 9h

Endereccedilo Centro de

Taguatinga

QUI (0510) ENTREVISTA

Quem Ademir

Horaacuterio 15h

End Parque da Cidade

SEX (0610)

SAacuteB (0710)

DOM (0810)

QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Lucas Cacircndia

Horaacuterio 16h

End Aacuterea central de Brasiacutelia

50

APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a

situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos

durante o periacuteodo nas ruas

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo

com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc

2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar

3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua

4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas

5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua

6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua

7 Como era sua rotina na rua

8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo

9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele

periacuteodo

10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como

abrigo sauacutede etc

11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter

12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais

sobre isso

13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou

simplesmente agia com indiferenccedila

51

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o

futuro

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva

de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real

2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo

3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo

4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou

em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio

5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar

6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de

recuperaccedilatildeo

7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para

frente

8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que

ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria

52

APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida

FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia

PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca

ED DE IMAGENS Julia Nogueira

ARTE Sarah Silva

CENA DE

AMBIENTACcedilAtildeO

ARQUIVO

Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio

SONORA 1 CLAacuteUDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE CORTE

126 -- 147 +

327 -- 345

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu

trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht

mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)

―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu

comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para

vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0025 -- 0109

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma

pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma

discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu

abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas

SONORA 4 DANIELA

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE

213 --300

Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos

tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da

luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de

relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era

acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente

ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar

53

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai

brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma

hora

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e

minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela

sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri

muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem

africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 4

03 -- 434

(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha

vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet

os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida

maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu

Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje

SONORA 6 Daniela

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE

434 --446 + 528 -- 539

―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro

semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos

difiacuteceis +

―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc

vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu

escutei

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

842 --914

―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito

dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu

acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com

uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica

cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil

SONORA DANIELA

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

551 --622

ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um

computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus

aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc

tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12

minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que

Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano

teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo

54

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144

depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria

com as drogas

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

256 -- 330

―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia

cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu

frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro

com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que

chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0424 -- 0439

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente

mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo

mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era

bebida

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212

Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo

abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

550 -- 603

―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da

bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo

notam mas notam

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0401 -- 0408

O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro

dia bebendo porque eu precisava beber

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304

Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A

gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra

gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute

diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia

Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e

gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde

SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei

55

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

759 --813 + 825 -- 840

+ 915 --9 22

PODE ENXUGAR

muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai

argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +

E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me

ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e

nossa aquilo ali me doeu +

―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu

natildeo volto mais

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

126 -- 153 + 216 --231

―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e

ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era

casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na

eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +

―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa

natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me

pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347

Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa

para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou

para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para

mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas

SONORA Daniela

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

953 --1016 + 120 --

124

PODE ENXUGAR

ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que

eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava

dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo

E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso

aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar

minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova

trajetoacuteria

SONORA Claudia

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

427 --439

―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma

coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se

conhece um conhece outro

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0048 ---0109

Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca

soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse

dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

516 -- 521

―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto

entatildeo vc entra

SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo

tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte

56

ARQUIVO 967_0430_03

TEMPO DE CORTE

926 -- 938

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0814

-- 0834

No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da

que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua

esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio

Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0707 -- 0726

Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu

viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu

corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar

mais

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 217

-- 230

―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer

uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa

de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0706

-- 0725

Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo

que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do

lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a

gente a sobreviver na rua

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE

CORTE0013 --018 (+)

1128 --1137

―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq

barulho a gente acorda

(+)

―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade

de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde

SONORA ADRIANO LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio

sincronizado

TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628

Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece

que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute

terriacutevel

57

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE 958

-- 1002 + 931 -- 945 +

1025 -- 1030

―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute

um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma

alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas

se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que

estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE

222-- 245

―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente

chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela

e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar

para vc

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE

701 -- 714

(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a

frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute

super-homem natildeo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli -

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0432

-- 0437

Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de

viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia

morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE 655

--710 +730 -- 804

PODE ENXUGAR

(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que

to com catarata pq natildeo notei 710 +

(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para

traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui

para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a

danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e

e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1109

--1116

+

―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila

comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da

minha mochila

(+)

58

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1032

--1036

+

ARQUIVO 256_2764_02

TEMPO DE CORTE 1101

-- 1115

ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa

(+)

―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai

que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho

comigo ningueacutem queria mais falar comigo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 0300

--0308

―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber

os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 1540

-- 1556

Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te

apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio

decadente

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE

0824 -- 0857

Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa

marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc

eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um

saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam

natildeo estatildeo nem aiacute

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 241

-- 0300

―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como

pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto

de vc muito existe demais demais

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0508 -- 05 30

Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar

eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te

tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe

uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas

59

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_03

TEMPO DE CORTE

241 --256

(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema

esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc

vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0841 -- 0853 (+) 0302 -

-0322

Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu

preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes

(+)

Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa

vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de

novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo

tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci

minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 741

--806 +

803-- 804 +

811 -- 815

(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um

tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando

eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +

(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para

Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE 0638

-- 0653

Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava

a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas

mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a

gente piorava cada vez mais

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 837

-- 848 (+) 557-- 606

Sera que daacute para cortar o

som externo nessa parte

Senatildeo pode cortar

― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e

estradas

+

―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo

para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava

60

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

1251 -- 1306

Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia

morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o

meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 604

-- 618

+

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

521 -- 533

― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter

outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com

outra coisa natildeo com a rua +

―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui

uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_06

TEMPO DE CORTE

101--121

―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro

todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a

condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no

coraccedilatildeo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 0551 -- 613

―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da

forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o

fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai

se entregar eacute assim que eu pensava

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0127 -- 0151

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era

meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais

abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava

esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda

61

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 852 - 906

―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me

arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me

arrependo mesmo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 1305 - 1326

―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc

esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente

todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que

arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei

quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais

forccedila

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0428 -- 0500

―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e

procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi

a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma

pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de

tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute

tudo mudou

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

814 - 835

―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria

fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir

para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1056 - 1111

―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou

estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute

arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0726 -- 0748

ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de

recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar

um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa

se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou

acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento

62

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE

0231 -- 0248

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA

EvDICcedilAtildeO

―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua

vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e

quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma

forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1207 - 1231

―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a

gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o

organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida

e em qlq bar vc consegue

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0532 --609

―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi

aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis

tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos

mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente

que eu recebi

SONORA Dani

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 516 - 528

―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar

terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu

tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

924 - 1000

(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo

esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta

repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter

uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em

restaurantes

SONORA ADRIANO

LUGOLI

Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo

esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao

63

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0821 -- 856

Avaliar se corta o final

ou enxuga

era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando

via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_04

TEMPO DE CORTE

109 -130 (+)

1100 -1103

― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na

cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um

pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito

oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna

+

―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 126 - 142

ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que

eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que

eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0900 - 943

―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha

vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente

que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim

que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me

abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_03

TEMPO DE

CORTE034 - 044 +

113- 117

(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos

estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +

113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando

(117)

SONORA Dani

ARQUIVO

―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas

paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu

olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu

64

965_0748_02

TEMPO DE CORTE 240 - 308)

interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem

de fazer oq eu eu fiz

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_04

TEMPO DE CORTE -

045 - 111

― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo

de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova

oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p

vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -

910

―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus

irmatildeos +

―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que

eu tenho para ele eacute o silecircncio

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423

―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)

―e depois que essa historia foi p jornal revista tv

eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia

acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao

que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_02

TEMPO DE CORTE

852 - 920

― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela

situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de

alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute

sozinha natildeo vai conseguir

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 611 - 633

―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca

esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios

propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar

algo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE

―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso

nem ter uma casinha para morar

65

CORTE1313 - 1321

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

706 - 732

ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem

pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do

mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb

vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1129 - 1200

―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que

quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam

de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua

vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que

as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica

oportunidade elas conseguem

Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos

66

APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem

Fonte Ana Paula Fonseca (2017)

67

APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia

Fonte Marcus Barbosa (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

68

APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD

Fonte Sarah Silva (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Page 15: Universidade de Brasília Departamento de Jornalismo...nosso trabalho. Tenho certeza que suas histórias inspiradoras vão impactar a cada um que assistir a esse documentário. À

14

problema amplo e extremamente complexo o projeto obviamente natildeo se propotildee a

alcanccedilar uma mudanccedila de realidade das pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua nem

tampouco espera conseguir extinguir todo o preconceito e intoleracircncia que as cercam

afinal esse papel foge agraves possibilidades cabiacuteveis aos estudos acadecircmicos Contudo

pretende se desempenhar dentro de suas limitaccedilotildees a atribuiccedilatildeo de tentar desmistificar

a figura culturalmente construiacuteda em torno dos indiviacuteduos em situaccedilatildeo de rua e

contribuir para a compreensatildeo de que existe saiacuteda para esta circunstacircncia de vida

21 Contexto de realizaccedilatildeo da pesquisa

Desde a sua elaboraccedilatildeo o projeto Memoacuteria das Ruas tinha uma motivaccedilatildeo

definida abordar de maneira sensiacutevel e ao mesmo tempo responsaacutevel um tema

interessante e com vieacutes social por meio de um produto audiovisual Contudo ateacute

assumir a configuraccedilatildeo final o trabalho passou por inuacutemeros ajustes e modificaccedilotildees

Logo de iniacutecio ainda durante o processo de elaboraccedilatildeo do preacute-projeto cogitou-se a

ideia de um web documentaacuterio voltado ao perfil dos participantes de manifestaccedilotildees

poliacuteticas realizadas em Brasiacutelia O iniacutecio do ano de 2017 parecia ser o momento

propiacutecio para tratar do assunto Por conta da efervescecircncia poliacutetica proveniente do

processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff era grande a expectativa

por grandes protestos contraacuterios ao governo de Michel Temer5 em que se cogitava a

presenccedila massiva de manifestantes de todo o Brasil na Capital Federal

Contudo com o passar dos meses as mobilizaccedilotildees foram perdendo forccedilas a

ponto de praticamente cessarem Nesse iacutenterim durante a elaboraccedilatildeo de uma

reportagem para a revista Campus Repoacuterter - ediccedilatildeo semestral produzida de forma

experimental por alunos da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB - foi notado

especialmente por um dos autores do projeto outro expressivo fenocircmeno social as

dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua Com base em

averiguaccedilotildees utilizando-se especialmente a representaccedilatildeo midiaacutetica do assunto foi

constatado que o tema mesmo contendo tanta relevacircncia social quanto agraves

manifestaccedilotildees muitas vezes eacute abordado de maneira limitada e ateacute mesmo pejorativa Eacute

a partir desse momento que o projeto tem a sua principal virada Ao inveacutes de contar as

5 A manifestaccedilatildeo do dia 24 de maio de 2017 na Esplanada dos Ministeacuterios em Brasiacutelia reuniu 35 mil

pessoas conforme indica mateacuteria do jornal El paiacutes de 25 de maio de 2017

Conteuacutedo disponiacutevel emhttpsbrasilelpaiscombrasil20170524politica1495647517_447186html

Acesso 21 de maio de 2018

15

histoacuterias das pessoas que vatildeo agraves ruas para garantir seus direitos agora o foco seria nos

relatos daqueles que justamente por terem seus direitos desconsiderados ficaram por

muito tempo presos agraves ruas

Para a elaboraccedilatildeo do projeto foi montada uma equipe multidisciplinar De fato

o conhecimento especifico de diferentes aacutereas facilitou a tomada de decisotildees

importantes e o avanccedilo na produccedilatildeo do documentaacuterio Aleacutem dos diretores graduandos

em jornalismo somou-se ao grupo estudantes de audiovisual geografia e publicidade e

propaganda

Sempre dispostos a ajudar esses preciosos colaboradores foram de auxiacutelio na

produccedilatildeo do projeto registro impecaacutevel de imagens elaboraccedilatildeo do roteiro de cada uma

das entrevistas e no processo de poacutes-produccedilatildeo

Definida a mudanccedila do tema a ser abordado e a equipe uma outra ajuda se

somou agrave produccedilatildeo De maneira generosa a TV universitaacuteria da UnB UnBTV acreditou

na proposta e aceitou o pedido de suporte Foi por conta do apoio do quadro de

funcionaacuterios empreacutestimo de equipamentos de gravaccedilatildeo e ediccedilatildeo que o documentaacuterio

pode assumir o formato que foi pensado por seus idealizadores

Todavia esse projeto soacute pode de fato deslanchar quando encontrou histoacuterias

inspiradoras para contar A medida que os convidados aceitavam o convite para

participar maior era a expectativa pela realizaccedilatildeo de um belo trabalho

Sem a histoacuteria uacutenica e rica de cada um deles esse projeto natildeo teria ao menos

saiacutedo do campo das ideias

16

3 DEFINICcedilAtildeO DOS OBJETIVOS

31 Objetivo Geral

O presente projeto tem como objetivo abrir espaccedilo para uma reflexatildeo a respeito

da vida em situaccedilatildeo de rua a partir de uma perspectiva natildeo usual as experiecircncias de

quem jaacute vivenciou o problema Tambeacutem eacute de interesse da pesquisa investigar os medos

anseios e perigos a que estatildeo sujeitas as pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua

32 Objetivo Especiacuteficos

Narrar histoacuterias de pessoas que viveram por razotildees distintas em situaccedilatildeo de rua

por meio da produccedilatildeo de um documentaacuterio

Contribuir para a desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos culturalmente concebidos a

respeito dessa populaccedilatildeo por promover uma reflexatildeo sobre o tema agrave luz das

vivecircncias de quem esteve em situaccedilatildeo de rua

17

4REFERENCIAL TEOacuteRICO

41 Nomenclatura

Para uma melhor compreensatildeo do assunto proposto neste projeto o trabalho

baseia-se na definiccedilatildeo do fenocircmeno social sobre a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua como

forma de mitigaccedilatildeo de tal problema social e o papel jornaliacutestico de forma a instigar o

leitor ou espectador a se interessar pelo assunto

Antes de adentrar no tema em si eacute preciso entender qual a terminologia correta

para se referir a esta populaccedilatildeo Ao pesquisar artigos e livros foram encontradas

diversas nomenclaturas A expressatildeo morador de rua eacute o termo mais usado mas muitos

autores concordam que esse natildeo eacute o nome ideal Giorgetti (2006) explica que morar na

rua eacute uma condiccedilatildeo um momento passageiro no processo da vida e natildeo um estado

definitivo que natildeo possa ser mudado Sendo assim o termo mais utilizado para se

referir agrave pessoa que estaacute vivendo nas ruas eacute incorreto Cerqueira (2011 p 89) tambeacutem

concorda e explica que a expressatildeo morador de rua ―natildeo contempla sua totalidade []

ela inclui todos em um mesmo grupo e ignora o fato de se tratar de uma populaccedilatildeo

heterogecircnea com inuacutemeras distinccedilotildees entre seus sujeitos

Segundo Martins (2016) outros termos comuns satildeo mendigos pedintes

indigentes andarilhos vagabundos excluiacutedos e sem-teto O autor explica que

―geralmente satildeo atribuiacutedos a eles significados referentes ao que fazem e como se

apresentam nas ruas (p 21) Jaacute uma pesquisa realizada por Barbosa (2015 p12) que

tambeacutem cita esses termos completa que a carga estigmatizada e pejorativa nestas

palavras tem levado a maioria dos autores da atualidade a buscar uma nomenclatura que

afaste qualquer estereoacutetipo de preconceito

As expressotildees populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua ou populaccedilatildeo de rua satildeo

elencadas como as mais corretas Silva (2009) foi uma das autoras que passou a utilizar

essa expressatildeo Antes mesmo de Barbosa citar a importacircncia desta mudanccedila Silva

especificou que esse deveria ser o termo utilizado para se referir a essa populaccedilatildeo

A expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua () eacute considerada a mais

apropriada para designar a situaccedilatildeo ou condiccedilatildeo social que natildeo

resulta apenas de fatores subjetivos vinculados agrave sociedade e agrave

condiccedilatildeo humana comumente considerada mas eacute uma situaccedilatildeo ou

condiccedilatildeo social produzida pela sociedade capitalista no processo de

acumulaccedilatildeo do capital (SILVA 2009 p 29)

18

Cerqueira (2011) tambeacutem achou adequado utilizar a expressatildeo populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua ou o termo populaccedilatildeo de rua jaacute que em ambos os casos eacute niacutetida a

preocupaccedilatildeo em preservar a imagem do indiviacuteduo e natildeo soacute a nomenclatura que acarrete

em estigma e interfira na sua sociabilidade Sendo assim este trabalho opta por utilizar

a expressatildeo populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua (PSR) jaacute que de acordo com os autores

pesquisados e com o conhecimento absorvido empreende-se que morar nas ruas eacute uma

condiccedilatildeo passageira e natildeo permanente de um indiviacuteduo

42 O cidadatildeo em situaccedilatildeo de rua

Figura 1 Pessoa em situaccedilatildeo de rua no centro de Brasiacutelia ( Fonte Lucas Cacircndia 2017)

De acordo com o Decreto nordm 7053 de 2009 que institui a Poliacutetica Nacional para

a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua satildeo considerados populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

O grupo populacional heterogecircneo que possui em comum a

pobreza extrema os viacutenculos familiares interrompidos ou

fragilizados e a inexistecircncia de moradia convencional

regular e que utiliza os logradouros puacuteblicos e as aacutereas

degradadas como espaccedilo de moradia e de sustento de forma

temporaacuteria ou permanente bem como as unidades de

acolhimento para pernoite temporaacuterio ou como moradia

provisoacuteriasup1

No entanto eacute possiacutevel questionar situaccedilatildeo de rua eacute um problema individual ou

um fenocircmeno social Agrave primeira impressatildeo a vida nas ruas pode aparentar ser

unicamente uma combinaccedilatildeo de fatores pessoais como dramas particulares escolhas

19

malfeitas ou circunstacircncias negativas Contudo estudos costumam atrelar o contexto

vivido por pessoas em situaccedilatildeo de rua a aspectos mais amplos como o cenaacuterio poliacutetico

e econocircmico vivenciado por determinada regiatildeo Como explica Barbosa (2015) o

sistema capitalista tem influecircncia direta na quantidade de pessoas vivendo nessa

condiccedilatildeo

O fenocircmeno social de populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute aqui

apreendido como fenocircmeno multifacetado com muacuteltiplas

determinaccedilotildees que satildeo influenciadas e fomentadas pela

sociabilidade capitalista que produz um contingente de

pessoas vivendo na situaccedilatildeo de extrema pobreza que natildeo

possuem moradia convencional O modo capitalista de

produccedilatildeo pauta uma sociedade baseada nas divisotildees das

classes atraveacutes da propriedade privada aprofundada na

desigualdade social donde aquelas pessoas que natildeo

acessam o mercado de trabalho tecircm precaacuterias condiccedilotildees de

subsistecircncia (BARBOSA 2015 p10)

Sendo assim o estado de permanecircncia nas ruas eacute muito mais do que um

problema individual As dificuldades experimentadas por quem estaacute nas ruas atinge

muitas pessoas especialmente nos grandes centros urbanos Pereira (2008) deixa claro

que em praticamente todas as civilizaccedilotildees houveram pessoas que fizessem das ruas um

local de moradia mas haacute registros que mostram que foi a expansatildeo do capitalismo e a

criaccedilatildeo das primeiras cidades industriais que fez o nuacutemero de pessoas nas ruas crescer

de forma descontrolada tornando-se um fenocircmeno de massas

Tudo isso deve-se ao fato que as pessoas comeccedilaram a perder seus empregos e

passaram a condiccedilatildeo de extrema pobreza Considerando-se que o trabalho eacute uma das

caracteriacutesticas primordiais da vida tanto para o sustento quanto para a dignificaccedilatildeo do

ser humano a falta dele contribui para que as pessoas sejam levadas agrave situaccedilatildeo de rua

Giogetti (2006) afirma que estatildeo em situaccedilatildeo de rua as pessoas que natildeo conseguem se

unir ao mundo de trabalho formal e acabam buscando outras formas de sobrevivecircncia

na informalidade como catar lixo vender produtos nos sinais vigiar carros entre

outros Para Mattos e Ferreira (1997) a responsabilidade por estar em situaccedilatildeo de rua era

atribuiacuteda exclusivamente ao indiviacuteduo sem considerar a real falta de oportunidades que

o mercado capitalista dispotildee

Outro grande problema enfrentado pela pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua eacute o

preconceito Existe uma grande carga negativa atribuiacuteda a esses indiviacuteduos seja pela

aparecircncia pelo medo ou simplesmente pelo cunho ideoloacutegico Os autores citados acima

reforccedilam que esse imaginaacuterio estaacute ligado a sensaccedilatildeo de superioridade que a populaccedilatildeo

costuma ter ao avistar um indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua

20

43 Fenocircmeno social no Brasil e no Distrito Federal

O Brasil natildeo possui dados oficiais sobre o nuacutemero absoluto de pessoas em

situaccedilatildeo de rua mas a uacuteltima estimativa eacute uma pesquisa publicada pelo Instituto de

Pesquisa Aplicada (Ipea) em outubro de 20166 com base em dados de 2015 que mostra

que naquele ano existiam 101854 pessoas vivendo em situaccedilatildeo de rua no Brasil A

pesquisa mostra ainda que a maior parte dessa populaccedilatildeo estaacute nos municiacutepios com mais

de 100 mil habitantes Jaacute no DF dados da Secretaria do Trabalho Desenvolvimento

Social Mulheres Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) informam que em

2017 existiam aproximadamente trecircs mil moradores em situaccedilatildeo de rua ou seja 01

de toda a populaccedilatildeo do DF tendo em vista que no mesmo ano a populaccedilatildeo era de trecircs

milhotildees de pessoas segundo levantamento do IBGE A secretaria informou ainda que

os locais com mais incidecircncia no DF satildeo Plano Piloto Gama e Taguatinga

respectivamente

A uacuteltima Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua foi realizada pelo

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2008 Esse estudo mostra que a principal

causa apontada para essa condiccedilatildeo no Brasil eacute o uso de drogas e aacutelcool com incidecircncia

de 355 do total da populaccedilatildeo de rua brasileira O relatoacuterio aponta que o segundo

fator eacute causado pelo desemprego com 295 dos casos seguido por quebra de

viacutenculos familiares (291) (MDS 2008)

A pesquisa mostra tambeacutem que 82 da populaccedilatildeo de rua no Brasil eacute composta

por homens De toda a populaccedilatildeo masculina a maioria eacute jovem 271 estatildeo na faixa

etaacuteria dos 26 aos 35 anos e 153 dos 18 aos 25 anos A populaccedilatildeo feminina nas ruas

representa 18 A maioria delas tambeacutem eacute de jovens e a faixa etaacuteria eacute menor que a

masculina 2117 tecircm entre 18 e 25 anos e 3106 tecircm entre 26 e 35 anos

A cor da pele da populaccedilatildeo que vive em situaccedilatildeo de rua no Brasil eacute bem

impactante Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional 67 se autodeclaram pardos ou

pretos e somente 295 se autodeclaram brancos Reflexo de uma desigualdade social

historicamente vivida no Brasil a meacutedia de pretos e pardos em situaccedilatildeo de rua eacute bem

maior que a representaccedilatildeo populacional brasileira revelada no uacuteltimo censo realizado

6Pesquisa publicada em outubro de 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) chama-se

ESTIMATIVA DA POPULACcedilAtildeO EM SITUACcedilAtildeO DE RUA NO BRASIL por Marco Antocircnio

Carvalho Natalino

Disponiacutevel em httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsTDs26102016td_2246pdf

Acesso em 21 de maio de 2018

21

em 2010 pelo IBGE em que 53 da populaccedilatildeo se autodeclarou parda ou preta e 46

branca

Jaacute em Brasiacutelia diferente da meacutedia nacional a maioria das pessoas que estaacute em

situaccedilatildeo de rua tem como causa a ruptura de viacutenculos familiares com 69 dos casos

apurados Logo depois vem o desemprego com 132 a perda da moradia convencional

com 127 e somente 78 devido problemas com drogas

A pesquisa mostra ainda que 858 dos moradores em situaccedilatildeo de rua

afirmaram usar alguma substacircncia psicotroacutepica o que demonstra que essas pessoas

chegam a rua sem fazer uso dessas substacircncias mas durante a vivecircncia no ambiente

externo urbano passam ao usar

O frio o medo a fome o sofrimento causado pelo

preconceito e pela discriminaccedilatildeo satildeo fatores determinantes

para o consumo destas substacircncias Ademais aleacutem de

encontrarem nestas uma fuga (temporaacuteria ou permanente)

da realidade experimentada em seus cotidianos algumas

drogas satildeo mais baratas e mais acessiacuteveis do que alimentos

(GATTI e PEREIRA 2011 p88)

Pereira (2008) destaca que em Brasiacutelia a vida das pessoas em situaccedilatildeo de rua eacute

ainda mais difiacutecil porque eacute necessaacuterio se manter ―escondido para evitar a violecircncia e a

repulsa das pessoas A Pesquisa Nacional da Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (2008)

tambeacutem ajuda a quebrar o estereoacutetipo de que esse grupo eacute composto por mendigos e

pedintes jaacute que apenas 106 dessa populaccedilatildeo vive de esmola enquanto o restante

exerce algum tipo de trabalho mesmo que seja informal como flanelinhas ou coletores

de materiais reciclaacuteveis

Para toda essa populaccedilatildeo faltam ainda poliacuteticas puacuteblicas e acima de tudo acesso

ao trabalho O estudo revela que 746 dos adultos em situaccedilatildeo de rua natildeo tecircm acesso a

nenhuma poliacutetica social quando deveriam ser o alvo principal dos programas

governamentais Outro dado relevante eacute que soacute 219 das pessoas entrevistas possuem

todos os documentos pessoais como tiacutetulo de eleitor carteira de trabalho CPF certidatildeo

de nascimento ou casamento e carteiras de identidade e habilitaccedilatildeo A falta de acesso a

direitos baacutesicos torna esse grupo marginalizado e o priva de diversos outros direitos

como acesso a sauacutede educaccedilatildeo e ateacute mesmo acesso a programas habitacionais do

governo

22

44 Avanccedilos em poliacuteticas puacuteblicas

Segundo a estimativa da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua feita pelo IPEA a falta

de endereccedilo fixo e a dificuldade de acesso agrave informaccedilotildees sobre essa populaccedilatildeo colabora

com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para este puacuteblico e consequentemente

reproduz sua invisibilidade social A pesquisa mostra tambeacutem a necessidade de incluir a

contagem da quantidade dessas pessoas no Censo de 2020 e que o Governo Federal

incentive as gestotildees municipais a conhecerem melhor sua populaccedilatildeo de rua

Apesar da falta ateacute de conhecimento sobre o tema essa populaccedilatildeo conseguiu

alguns avanccedilos no decorrer dos anos Alguns deles passaram a sair do anonimato e

ocupar espaccedilos principalmente com a ajuda do setor privado e de organizaccedilotildees

religiosas Em 1993 foi sancionada a Lei Orgacircnica de Assistecircncia Social (LOAS) mas

somente onze anos depois em 2004 quando foi promulgada a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social (PNAS) eacute que foi criado um conjunto de orientaccedilotildees que organizam

dentro das LOAS as accedilotildees de assistecircncia social para a populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua

Simultaneamente foi criado o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) que eacute o

modelo seguido no Brasil para realizar as accedilotildees de assistecircncia social O SUAS foi

criado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome a partir da lei

federal nordm 8742 de 7 de dezembro de 1993 fazendo parte da Lei Orgacircnica de

Assistecircncia Social (LOAS)

Em 2008 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de

Rua um estudo realizado pelo instituto Meta a pedido do Governo Federal que

subsidiou a elaboraccedilatildeo da Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de rua decreto

ndeg 70532009 A partir desta poliacutetica foi prevista a criaccedilatildeo do Centro Especializado em

Atendimento agrave Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua (Centro Pop) em vaacuterias regiotildees do Brasil

a fim de prover condiccedilotildees necessaacuterias para viabilizar condiccedilotildees miacutenimas de subsistecircncia

dessa populaccedilatildeo

No DF existem duas unidades do Centro Pop uma no Plano Piloto e outra em

Taguatinga A SEDESTMIDH que eacute a responsaacutevel por essa populaccedilatildeo no capital

federal possui equipes designadas para o Serviccedilo de Abordagem Social (SAS) Parte do

seu trabalho consiste em ir aos locais que satildeo ocupados pela populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de

rua e explicar os serviccedilos de proteccedilatildeo social prestados pelo governo de Brasiacutelia A

populaccedilatildeo eacute orientada a procurar os Centros POP o Centro de Referecircncia Especializado

23

da Diversidade Sexual Religiosa e Racial (CREAS Diversidade) o Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social (CRAS) ou uma das 17 Agecircncias do Trabalhador

Em relaccedilatildeo a abrigos a Secretaria possui trecircs unidades de acolhimento para

adultos e famiacutelias (UNAF) uma para crianccedilas e adolescentes (UNAC) uma para

mulheres (UNAM) e uma para idosos (UNAI) O oacutergatildeo ainda conta com uma Central de

Vagas de Acolhimento e Atendimento Emergencial Se as equipes encontrarem

situaccedilotildees de violecircncia contra mulher elas encaminham a viacutetima para um Centro de

Atendimento agrave Mulher (CEAM) Se alguma crianccedila eacute encontrada o Conselho Tutelar eacute

acionado Jaacute se forem localizados idosos eles tentam recolhecirc-los para um dos albergues

disponibilizados pelo Governo

A princiacutepio eles satildeo informados sobre os serviccedilos dos Centros POP onde haacute

cafeacute da manhatilde lanche agrave tarde almoccedilo cursos banheiros locais para lavar roupa e

descansar horta comunitaacuteria aleacutem de atendimentos social e psicoloacutegico Em conjunto

com as Agecircncias do Trabalhador as pessoas em situaccedilatildeo de rua podem ter acesso aos

paineacuteis de emprego nos Centros POP Eles podem recorrer aos CRAS e CREAS onde

satildeo oferecidos acesso aos programas sociais do Governo

Aleacutem desses locais puacuteblicos de acordo com a Secretaria de Estado de Justiccedila e

Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) o governo tambeacutem oferece 316 vagas em

comunidades terapecircuticas ou centros de reabilitaccedilatildeo O primeiro eacute caracterizado por ser

uma instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos e financiadas em parte pelo poder puacuteblico

Elas oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do

uso abuso ou dependecircncia de drogas Satildeo instituiccedilotildees abertas de adesatildeo

exclusivamente voluntaacuteria voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaccedilo

para auxiliar na recuperaccedilatildeo da dependecircncia agrave droga O tempo de acolhimento pode

durar ateacute 12 meses Durante esse periacuteodo os residentes devem manter seu tratamento na

rede de atenccedilatildeo psicossocial e demais serviccedilos de sauacutede que se faccedilam necessaacuterios Outra

caracteriacutestica de Comunidades Terapecircuticas eacute que elas mantecircm sempre um responsaacutevel

teacutecnico de niacutevel superior legalmente habilitado para atender os internados

Jaacute os centros de recuperaccedilatildeo satildeo caracterizados por poder receber internos de

forma compulsoacuteria e tambeacutem por natildeo ter a necessidade de cumprir plano terapecircutico

individualizado e as exigecircncias estabelecidas na Resoluccedilatildeo ndash RDC ndeg 29 de 30 de

junho de 2011 ndash ANVISA que dispotildee sobre os requisitos de seguranccedila sanitaacuteria para o

funcionamento de instituiccedilotildees que prestem serviccedilos de atenccedilatildeo a pessoas com

transtornos decorrentes do uso abuso ou dependecircncia de substacircncias psicoativas

24

Todas essas vagas satildeo custeadas com recursos do Fundo Antidrogas do Distrito

Federal - FUNPADDF e geridos pelo colegiado do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas

do Distrito Federal (CONEN-DF)

De acordo com Presidente do Conselho de Poliacutetica Sobre Drogas do Distrito

Federal Anderson Moura e Sousa eacute indiscutiacutevel o fato que a desassistecircncia a essas

centenas de pessoas trariam transtornos sociais natildeo soacute aos dependentes quiacutemicos mas a

toda sua cadeia familiar que espera do estado o cumprimento de seu papel

institucional que no caso concreto passa pela assistecircncia de seus entes queridos e que a

responsabilidade da formulaccedilatildeo da poliacutetica eacute do Estado que eacute o fomentador e o

formulador das poliacuteticas sociais

A grande questatildeo eacute que o estado natildeo pode agir de forma compulsoacuteria para retirar

esses indiviacuteduos das ruas e apesar das possibilidades de ir ateacute um desses locais de

acolhimentos muitas pessoas que estatildeo nesta condiccedilatildeo natildeo enxergam uma saiacuteda e nem

mesmo buscam ajuda por isso eacute a ajuda das pessoas que estatildeo de fora dessa situaccedilatildeo eacute

tatildeo importante quanto a criaccedilatildeo de novas poliacuteticas puacuteblicas

45 Humanizaccedilatildeo no olhar jornaliacutestico

Com o passar do tempo a busca pela informaccedilatildeo tem se tornado cada vez mais

raacutepida O aumento do volume de notiacutecias consumidas e o avanccedilo das Tecnologias da

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) imprimem um ritmo muito veloz agrave atividade

jornaliacutestica Em virtude disso eacute natural que a agilidade e a rapidez exerccedilam um papel

importante no fazer jornaliacutestico Todavia para que seja exercida em sua plenitude eacute

mister uma reflexatildeo sobre o papel social da profissatildeo Para Montipoacute e Farah essa

atribuiccedilatildeo eacute mais do que apenas uma caracteriacutestica secundaacuteria

Natildeo haacute como iniciar uma discussatildeo sobre o jornalismo sem lanccedilar

luzes agrave sua funccedilatildeo social O jornalismo tornou-se imprescindiacutevel agrave

vida em sociedade Afinal as informaccedilotildees em diferentes niacuteveis de

complexidade auxiliam na tomada de decisotildees das pessoas que

buscam no jornalismo diferentes foacutermulas para resolverem as

equaccedilotildees de suas vidas (MONTIPOacute e FARAH 2009 p3)

A fim de garantir a preservaccedilatildeo desse aspecto social muitos autores tecircm

defendido a busca por uma abordagem humanizada do jornalismo bem como dos

relatos Para Alves e Sebrian (2008 p7 e 8) essa vertente do jornalismo oriunda da

deacutecada de 1970 surge em meio a ditadura militar como uma maneira de se contrapor

25

agrave foacutermula da notiacutecia curta que naquele momento se tornava cada vez mais difundida

por conta da modernizaccedilatildeo dos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo De certo modo essa

humanizaccedilatildeo buscava suprir o desejo das pessoas de estar inteiradas sobre o contexto

social em que viviam e que jaacute natildeo tinha tanto espaccedilo nos veiacuteculos tradicionais Um dos

primeiros comunicadores a propor o termo jornalismo humanizado Ijuim (2016 p

9) acredita que o jornalismo deve se apresentar como um meio de construccedilatildeo narrativa

capaz de transformar tanto o narrado como o narrador

No trabalho de apuraccedilatildeo o repoacuterter natildeo se relaciona com um objeto

mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo

[] Na procura da essecircncia dos fenocircmenos atribui-lhe significados

os sentidos para proporcionar ao puacuteblico mais que a explicaccedilatildeo a

compreensatildeo das accedilotildees humanas Em sua relaccedilatildeo com o mundo o

jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar ver e

enxergar ouvir e escutar questionar e sentir7

Medina (1999 p 28) tambeacutem identifica o jornalismo como responsaacutevel por

privilegiar a realidade de pessoas comuns que geralmente satildeo privadas de uma voz

ativa Com essa abordagem mais proacutexima ao cotidiano de indiviacuteduos comuns a intenccedilatildeo

do jornalismo humanizado era tornar mais sensiacuteveis as teacutecnicas empregadas no

jornalismo tudo em prol da vitalidade do cotidiano coletivo que ateacute entatildeo tinha

pouquiacutessimo espaccedilo na gramaacutetica jornaliacutestica (ALVES e SEBRIAN 2008 p 7)

De certa forma a accedilatildeo coletiva da grande reportagem ganha seduccedilatildeo

quando quem a protagoniza satildeo pessoas comuns que vivem a luta do

cotidiano Descobrir essa trama dos que natildeo tecircm voz reconstruir o

diaacuterio de bordo da viagem da esperanccedila recriar os falares a oratura

dos que passam ao largo dos holofotes da miacutedia convencional []

Contar uma boa histoacuteria humana afinal eacute o segredo da reportagem

(MEDINA 1999 p28)

A grande diversidade sociocultural experimentada pela populaccedilatildeo mundial tem

tornado cada vez mais evidente o fato de que o jornalismo necessita compreender os

mais diversos fenocircmenos sociais existentes Para isso eacute necessaacuterio reconhecer que a

busca implacaacutevel pela rapidez e factualidade dos acontecimentos em detrimento da

observaccedilatildeo social gera prejuiacutezo e distanciamento para o fazer jornaliacutestico jaacute que a

comunicaccedilatildeo natildeo eacute uma ciecircncia restrita a instruccedilatildeo e informaccedilatildeo mas sim estaacute

amplamente voltada agrave interaccedilatildeo entre diferentes indiviacuteduos

Para entender os fenocircmenos sociais eacute necessaacuterio compreender as

accedilotildees dos sujeitos Ateacute mesmo porque com as praacuteticas jornaliacutesticas

atuais o repoacuterter corre o risco de concentrar-se somente nos fatos

7 IJUM J K JORGE KANEHIDE IJUIM SOBRE O JORNALISMO HUMANIZADO depoimento

[Janeiro-Junho de 2016] Satildeo Paulo Revista Alterjor Entrevista concedida a Suzana Rozendo Bortoli

26

desprezando as muacuteltiplas conexotildees com os outros fatos e portanto a

contextualizaccedilatildeo necessaacuteria para a compreensatildeo das accedilotildees que

originariam a mateacuteria e tambeacutem da sociedade (ALVES E SEBRIAN

2008 p8)

No que diz respeito agrave abordagem jornalista agraves pessoas em situaccedilatildeo de rua ainda

eacute perceptiacutevel uma grande carecircncia de humanizaccedilatildeo dos relatos especialmente quando

essa eacute feita pela imprensa tradicional Por diversos motivos - que variam desde a linha

editorial de determinado veiacuteculo ateacute a pressa para cumprir com o tempo preacute-

estabelecido para a entrega das reportagens - muitos jornalistas quando tratam do

assunto acabam apenas por reproduzir conceitos preconceituosos e pouco se importam

em explicar ou ao menos entender o cenaacuterio por traacutes da situaccedilatildeo

Alguns veiacuteculos de comunicaccedilatildeo sequer divulgam o nome do personagem

principal da histoacuteria Aleacutem disso estes transmitem a impressatildeo de que a

pessoa em situaccedilatildeo de rua eacute a uacutenica culpada por estar naquela condiccedilatildeo de

vida As mateacuterias em geral natildeo nos levam a refletir sobre como eacute possiacutevel

minimizar esta problemaacutetica crescente de pessoas que fazem do espaccedilo

publico seus locais de moradia e trabalho e quais foram os motivos que

levaram a isso (ROZENDO e MONTIPOacute 2012 p 6)

Levando em conta tais fatores em especial o importante papel social destinado

ao jornalismo faz-se ainda mais necessaacuterio o questionamento do atual modelo

frequentemente adotado pela imprensa em coberturas envolvendo a populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua Como destaca Soares (2009 p 7) a veiculaccedilatildeo de representaccedilotildees pelos

meios de comunicaccedilatildeo tem um inegaacutevel impacto na construccedilatildeo social dos significados

compartilhados pela sociedade

Desta forma a construccedilatildeo do olhar sobre a populaccedilatildeo ora relatada neste trabalho

debruccedila-se sobre relatos humanizados por acreditarmos que essa eacute a melhor maneira de

abordar um problema de extrema relevacircncia dotado de uma complexidade muito maior

do que agrave atribuiacuteda por exemplo pelos veiacuteculos noticiosos Agrave medida que se conhece as

trajetoacuterias de vida dessas pessoas e os motivos que as levaram ao ambiente hostil das

ruas eacute impossiacutevel acreditar que essa situaccedilatildeo eacute apenas resultado de fatores unilaterais

Muito mais do que apenas o fruto de eventuais escolhas pessoais equivocadas a

situaccedilatildeo de rua eacute o tambeacutem um problema social

Foi a partir da assimilaccedilatildeo deste novo panorama que a humanizaccedilatildeo dos relatos

se apresentou com uma boa soluccedilatildeo agrave tarefa de contar as histoacuterias contidas no projeto

Com uso desta teacutecnica fica suficientemente claro que o bom desenvolvimento do fazer

jornaliacutestico natildeo eacute definido apenas pela agilidade com que se conta uma histoacuteria nem

27

somente pela exatidatildeo impressa ao relato mas inclui tambeacutem tentar compreender ao

maacuteximo o impacto real do que eacute narrado sobre os principais envolvidos em determinado

acontecimento

5 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

O projeto desenvolvido compreende a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa

voltada agrave construccedilatildeo de narrativas sobre histoacuterias de vida de pessoas que jaacute estiveram

em situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal Realizado de agosto a novembro de 2017 a

abordagem metodoloacutegica escolhida se iniciou a partir da escolha do tema do projeto A

partir de entatildeo para alcanccedilar os objetivos propostos optou-se pelo uso da teacutecnica de

entrevistas em profundidade que serviu para uma compreensatildeo mais aprofundada sobre

o tema e consequentemente para captar da forma mais natural possiacutevel o maacuteximo de

informaccedilotildees dos personagens

A entrevista em profundidade gera a possibilidade de explorar o tema de uma

forma mais flexiacutevel De acordo com Duarte (2012) com esse meacutetodo natildeo haacute a

necessidade de determinar paracircmetros de respostas pois elas acontecem livremente e o

entrevistado responde de acordo com seus proacuteprios pensamentos conhecimentos

linguagem e experiecircncias de modo a enriquecer a entrevista por meio da capacidade de

aprofundar as questotildees desenvolvidas Para ele ―a entrevista em profundidade eacute uma

teacutecnica dinacircmica e flexiacutevel uacutetil para a apreensatildeo de uma realidade tanto para tratar de

questotildees relacionadas ao iacutentimo do entrevistado como uma descriccedilatildeo de processos

complexos nos quais estaacute ou esteve envolvido (DUARTE 2012 p 64)

De acordo com Silva (2016) utilizar a entrevista em profundidade como meacutetodo

abrange vaacuterios aspectos que vatildeo desde o planejamento teacutecnicas de coleta de dados e

abordagens especiacuteficas ateacute a anaacutelise etapa ―Assim a entrevista em profundidade natildeo se

trata apenas de taacutetica de coleta de dados e sim estrateacutegia que abrange toda a pesquisa

(SILVA 2016 p35)

Apoacutes a definiccedilatildeo do meacutetodo que seria adotado para realizaccedilatildeo do projeto o

trabalho foi dividido em quatro etapas Estudo de base teoacuterica sobre o tema definiccedilatildeo

do formato a ser utilizado seleccedilatildeo dos personagens para as narrativas e preparativos

para as gravaccedilotildees -- com a preacute-produccedilatildeo produccedilatildeo e finalizaccedilatildeo do produto

28

51 Formato audiovisual

Desde a definiccedilatildeo do tema concluiu-se que a ideia era realizar um produto de

caraacuteter reflexivo de modo a possibilitar que os proacuteprios personagens envolvidos

pudessem contar suas histoacuterias e ao mesmo tempo a intenccedilatildeo era que essas narrativas

fossem atrativas ao puacuteblico para que compreendessem essa realidade e refletissem

sobre o tema

Sendo assim decidimos pela realizaccedilatildeo de um documentaacuterio jaacute que este ao

trabalhar com imagem em movimento e som torna-se mais dinacircmico que um projeto

escrito Outra caracteriacutestica presente em um documentaacuterio eacute a possibilidade da natildeo

utilizaccedilatildeo do narrador ―Os depoimentos constitutivos de um documentaacuterio podem ser

alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar

coesatildeo (MELO GOMES MORAIS 2001 p 08) Portanto como nosso foco era

conceder o espaccedilo de fala para os personagens natildeo era criacutevel a presenccedila de uma voz

alheia agraves histoacuterias que seriam contadas motivando ainda mais a escolha desse formato

Se aproximar de pessoas em situaccedilatildeo de rua natildeo eacute nada faacutecil Esse grupo estaacute em

uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade grande e natildeo costumam gostar de cacircmeras ou algo que

os faccedilam se sentir expostos Sendo assim a busca por possiacuteveis personagens para este

projeto se iniciou com um levantamento de grupos de voluntaacuterios independentes e

membros de comunidades terapecircuticas do DF que realizam accedilotildees sociais com essa

populaccedilatildeo e jaacute tem certa proximidade com as suas rotinas

Nossa ideia era acompanhar esses grupos em suas abordagens com o intuito de

tentar nos aproximar dessa populaccedilatildeo Identificamos esses voluntaacuterios explicamos o

projeto e chegamos a planejar o acompanhamento desses grupos em suas saiacutedas de

campo mas foi bem nesta eacutepoca que resolvemos mudar um pouco o enfoque da seacuterie

documental Ao inveacutes de fazermos trecircs episoacutedios com personagens diferentes a fim de

abordar os temas propostos optamos em dar uma melhor cronologia para as histoacuterias e

tornaacute-los verdadeiros protagonistas Sendo assim decidimos usar os mesmos

personagens em todos os episoacutedios Com esse direcionamento definimos que natildeo era

necessaacuterio acompanhar grupos que nos deixaria proacuteximos das pessoas que estavam em

situaccedilatildeo de rua nosso foco seria encontrar histoacuterias de pessoas que conseguiram superar

essa condiccedilatildeo

A partir daiacute iniciamos as pesquisas de possiacuteveis personagens para projeto

Realizamos entrevistas preacutevias por telefone com pessoas que jaacute haviam superado a

29

situaccedilatildeo de rua e que poderiam se encaixar no perfil que buscaacutevamos para o produto

Ao ouvir um pequeno resumo de suas histoacuterias optamos por fragmentar a seacuterie Essa

decisatildeo foi tomada para darmos uma cronologia agraves histoacuterias contadas pelos

protagonistas

Definimos que seriam feitos trecircs episoacutedios jaacute que em nossa concepccedilatildeo essa

quantidade seria necessaacuteria para encaixarmos o objetivo geral do projeto que era

mostrar como era a vida dessas pessoas antes das ruas e o que as levou a essa condiccedilatildeo

Depois mostrarmos como era viver nas ruas e por fim a fase de superaccedilatildeo e planos para

o futuro ou seja o antes durante e depois das ruas Outra motivaccedilatildeo para a

fragmentaccedilatildeo foi a facilidade de acesso do puacuteblico ao projeto Acreditamos que existe

uma maior probabilidade de viacutedeos menores circularem pela internet facilitando assim

a disseminaccedilatildeo dos episoacutedios de modo a proporcionar um maior espaccedilo de reflexatildeo

sobre o tema

52 Personagens

Para chegar aos personagens contamos com a ajuda de amigos e conhecidos que

comeccedilaram a sugerir pessoas com boas histoacuterias de superaccedilatildeo do periacuteodo nas ruas e

entatildeo optamos por ligar para essas indicaccedilotildees e fazer uma entrevista preacutevia para assim

termos condiccedilotildees de escolher as histoacuterias mais impactantes para contarmos no

documentaacuterio Para selecionarmos levamos em consideraccedilatildeo trecircs criteacuterios Como jaacute

haviacuteamos decidido produzir trecircs episoacutedios com o antes o durante e o depois das ruas o

primeiro criteacuterio que analisamos nas indicaccedilotildees eacute o que levou essa pessoa a situaccedilatildeo de

rua Teriacuteamos quatro personagens natildeo faria sentido se a causa que os levou a essa

condiccedilatildeo fosse a mesma

O segundo e o terceiro criteacuterio satildeo reflexos de dados jaacute citados neste trabalho

Um deles aponta que 67 das pessoas que vivem ou jaacute viveram na rua se autodeclaram

pardos ou negros sendo assim tambeacutem buscamos representaccedilatildeo racial em nossos

personagens O outro eacute referente a igualdade gecircnero que mostra que 82 das pessoas

que passam a viver em situaccedilatildeo de rua satildeo homens mas como acreditamos que natildeo

seria justo disponibilizar esse espaccedilo de fala soacute para um grupo o projeto quis dar

relevacircncia agrave igualdade de gecircnero e optamos por representar o mesmo nuacutemero de

personagens homens e mulheres Sendo assim passamos a procurar dois homens e duas

mulheres independente da raccedila e que tivessem ido parar na rua por razotildees distintas

30

O primeiro personagem selecionado foi o Adriano Lugoli de 37 anos Ele

morava em Minas Gerais com a famiacutelia Experimentou o aacutelcool pela primeira vez aos

16 anos por influecircncia de amigos Logo depois veio as outras drogas mas foi quando

provou o crack que ele viu toda sua vida desandar Abandonou a escola comeccedilou a

trabalhar mas tudo que recebia natildeo era suficiente para sustentar seu viacutecio Passou entatildeo

a roubar os pertences dos familiares ateacute que sua matildee pressionada por seus irmatildeos o

colocou para fora de casa

Ele ficou trecircs anos em situaccedilatildeo de rua ateacute que aceitou ajuda e foi para uma casa

de recuperaccedilatildeo em Luziacircnia no Distrito Federal Apoacutes seis meses de tratamento jaacute

recuperado ele decidiu natildeo voltar para Minas Gerais e passou a morar no Gama Foi laacute

que ele conheceu sua esposa se casou e hoje tem dois filhos Ao fazer fotos da famiacutelia

apoacutes o nascimento do primeiro filho acabou sendo visto por uma agecircncia que o

convidou para ser modelo Depois de algum tempo ele teve ecircxito na profissatildeo e hoje

estrela diversas campanhas publicitaacuterias daacute palestras sobre sua trajetoacuteria e ajuda outras

pessoas a natildeo caiacuterem nas armadilhas das drogas

Figura 2 - Adriano foi o primeiro escolhido para o projeto (Fonte Ana Paula Fonseca 2017)

A segunda histoacuteria selecionada para compor o documentaacuterio eacute dividida por um

casal Claudia Souza 54 anos e Ademir Souza 45 anos hoje casados se conheceram

em situaccedilatildeo de rua em Angra dos Reis no Rio de Janeiro Ela jornalista de formaccedilatildeo

trabalhou em emissoras conhecidas no Brasil e chegou a ser coordenadora de cenografia

31

de novelas e seriados de televisatildeo Mesmo com uma vida estabilizada ela passou a

fazer uso descontrolado do aacutelcool em encontros com amigos e acabou se tornando

alcooacutelatra o que a fez perder tudo e parar na situaccedilatildeo de rua

Ademir era comerciante casado e sem filhos e apoacutes uma briga com a ex-

companheira por conta do alcoolismo deixou tudo para traz e foi morar na rua Eles se

conheceram se apaixonaram e passaram a cuidar um do outro Decidiram vir para

Brasiacutelia e caminharam durante dois meses para chegar ateacute a capital do paiacutes onde

permaneceram em situaccedilatildeo de rua ateacute serem resgatados por uma empresaacuteria que eacute

voluntaacuteria em uma comunidade terapecircutica Essa empresaacuteria junto com um grupo de

amigas ajudou o casal a realizar o sonho de oficializar a uniatildeo e conseguirem uma casa

para morarem apoacutes o tratamento Hoje eles jaacute satildeo casados e fazem planos para futuro

Figura 3 - Claacuteudia e Ademir se conheceram no Rio de Janeiro (Fonte Alex Faacutebio2017)

Para cumprir os criteacuterios estipulados de dar igualdade de gecircnero e razotildees

distintas que levaram os personagens a situaccedilatildeo de rua a quarta integrante da seacuterie

documental foi a uacuteltima a ser escolhida pois sabiacuteamos que deveria ser uma mulher e

sem viacutecios jaacute que o primeiro foi parar nas ruas devido ao viacutecio por drogas e o casal pelo

alcoolismo

Sendo assim selecionamos Daniela Alves 35 anos Aparentemente com uma

vida normal ela morava com os pais e irmatildeos trabalhava e estudava mas sempre teve

seacuterios problemas de relacionamento com o pai Com o sonho de cursar uma faculdade

32

ela passou no vestibular para o curso de marketing em uma faculdade privada de

Brasiacutelia mas por natildeo ter apoio da famiacutelia os problemas em casa soacute aumentaram

Apoacutes uma briga com muitas ofensas por parte do pai Daniela saiu de casa e

passou a morar na rua onde durante o dia trabalhava com intervenccedilotildees artiacutesticas --

fantasiada de palhaccedila -- e a noite ia para a faculdade Desta forma ela conseguiu

concluir o curso e ao comeccedilar a trabalhar com a revista Traccedilos revista criada para dar

renda a pessoas que vivem em situaccedilatildeo de rua viu a oportunidade de sair dessa

condiccedilatildeo Depois de ser abrigada por uma paroacutequia de Ceilacircndia ela passou a ajudar

outras no acolhimento de outras pessoas que assim com ela estiveram em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social Hoje ela ainda sonha em terminar de construir sua casa proacutepria e

fazer uma especializaccedilatildeo em sua aacuterea

Figura 4 - Mesmo vivendo na rua Daniela nunca parou de trabalhar e estudar (FonteJuacutelia Nogueira 2017)

53 Preacute-produccedilatildeo

A etapa de preacute-produccedilatildeo teve iniacutecio logo apoacutes o tema do projeto ter sido

definido Pelo fato dos autores natildeo terem muita familiaridade com o tema proposto foi

preciso muita pesquisa Desde artigos na internet monografias livros aleacutem da procura

por produtos audiovisuais que abordassem o tema

A terminologia correta sobre a condiccedilatildeo tambeacutem foi estudada Noacutes jaacute tiacutenhamos

conhecimento que o correto eacute falar ― pessoa em situaccedilatildeo de rua por se tratar de uma

condiccedilatildeo mas porque eacute errado usar os termos morador de rua mendigo ou

33

pedinteNeste caso precisaacutevamos esclarecer essas questotildees antes de prosseguir Apoacutes

essa fase comeccedilamos a procurar autores que explicassem como se sente a pessoa que

estaacute nesta condiccedilatildeo e quais os fatores sociais responsaacuteveis por ela

Concluiacuteda a fase teoacuterica os autores passaram a buscar os personagens e ao

mesmo tempo planejar a execuccedilatildeo do projeto Era preciso montar uma equipe para

viabilizar a execuccedilatildeo Os dois autores jaacute haviam trabalhado como estagiaacuterios na UnBTV

- TV universitaacuteria da Universidade de Brasiacutelia - e assim solicitaram apoio teacutecnico para

auxiacutelio com as gravaccedilotildees e ediccedilatildeo do material Ficou combinado que seria

disponibilizado equipamentos de gravaccedilatildeo um cinegrafista do quadro um editor e uma

ilha de ediccedilatildeo da TV para a poacutes-produccedilatildeo do documentaacuterio

Em contrapartida os autores se responsabilizaram em adaptar o trabalho

posteriormente para ser exibido na programaccedilatildeo da UnBTV Todo esse tracircmite ficou

registrado em um Carta de Apresentaccedilatildeo do Projeto com o pedido de apoio a UnBTV

assinada pelos autores e pela orientadora do projeto a professora Ana Carolina Kalume

Maranhatildeo Essa foi encaminhada diretamente agrave Diretora da TV senhora Neuza Meller

(vide apecircndice I)

Ainda na fase da preacute-produccedilatildeo foi feito o convite para que Ana Paula Fonseca

formada em Audiovisual na UnB integrasse a equipe na funccedilatildeo de produtora para nos

auxiliar com o projeto Ela aceitou e seu conhecimento preacutevio em audiovisual e

produccedilatildeo de documentaacuterios foi bastante uacutetil para o encaminhamento da seacuterie Ela

tambeacutem ficou responsaacutevel por redigir o termo de autorizaccedilatildeo de imagem dos

participantes (vide anexo I)

Depois da escolha final dos participantes comeccedilamos a desenvolver um

cronograma de gravaccedilotildees (vide apecircndice II) onde constava todas as informaccedilotildees

relevantes - como horaacuterio de iniacutecio e teacutermino das filmagens endereccedilo da locaccedilatildeo

telefones para contato quem seria o personagem e para qual episoacutedio seria a gravaccedilatildeo

Esse cronograma foi criado devido ao fato de os autores trabalharem em turnos

contraacuterios e entatildeo precisariam se organizar para estarem presentes em todas as

gravaccedilotildees Com o calendaacuterio ajustado iniciamos as marcaccedilotildees para preenchecirc-lo

34

Tabela 1 ndash Lista completa da equipe

EQUIPE

CRIACcedilAtildeO E DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA

PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA

FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E

LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA

EDICcedilAtildeO JUacuteLIA NOGUEIRA

Fonte Marcus Barbosa (2018)

54 Produccedilatildeo

Definidos os quatro personagens do documentaacuterio passamos a ajustar o

cronograma das gravaccedilotildees (vide apecircndice II) Esta foi uma tarefa difiacutecil pois era

necessaacuterio levar em conta uma seacuterie de fatores como a disponibilidade dos

personagens dos equipamentos da UnBTV da equipe de gravaccedilatildeo e dos proacuteprios

diretores da seacuterie que elaboraram o projeto concomitantemente ao restante das

obrigaccedilotildees acadecircmicas e agraves atividades de estaacutegio Em cada uma das entrevistas foi feito

um esforccedilo para seguir de perto o roteiro

Logo na primeira gravaccedilatildeo ficou acertado que a direccedilatildeo do documentaacuterio seria

dividida entre os autores do projeto de modo que a cada gravaccedilatildeo um ficaria

responsaacutevel por conduzir a entrevista enquanto o o outro ajudaria na filmagem dos

planos detalhes e demais aspectos da produccedilatildeo Em praticamente todas essas ocasiotildees a

produtora Ana Paula Fonseca esteve presente e ofereceu foi primordial ajuda jaacute que sua

experiecircncia com produtos audiovisuais era de auxiacutelio desde o transporte dos

equipamentos ateacute a escolha dos quadros de cada tomada

Tendo em mente que um documentaacuterio natildeo se limita aos takes de entrevista

uma outra preocupaccedilatildeo durante os dias de gravaccedilatildeo era aproveitar a oportunidade para

fazer as imagens de cobertura ou imagens de apoio Levando em conta que em vaacuterios

momentos a fala dos personagens remontou o periacuteodo das ruas - e que eles natildeo

guardaram registro algum dessa eacutepoca - foi necessaacuterio voltar a lugares em que eles se

abrigaram e a partir daiacute produzir registros A ideia era que essas imagens fossem feitas

35

no mesmo dia em que as entrevistas aproveitando assim toda a logiacutestica preparada mas

isso nem sempre deu certo

Praticamente todos os encontros ocorreram de maneira tranquila e renderam o

esperado todavia os imprevistos natildeo ficaram de fora Em relaccedilatildeo ao casal Claacuteudia e

Ademir tiacutenhamos a intenccedilatildeo de concluir as gravaccedilotildees do primeiro e segundo episoacutedio

em uma mesma tarde de modo a aproveitar a locaccedilatildeo e a disponibilidade da equipe

Contudo o objetivo acabou natildeo se cumprindo porque a entrevista com a Claacuteudia se

delongou mais do que o esperado No mesmo dia ao tentar registrar algumas imagens

do casal na Praccedila do Compromisso na Asa Sul nossa equipe foi atacada por um

indiviacuteduo em situaccedilatildeo de rua que se sentiu incomodado com a presenccedila da cacircmera

Embora lhe tivesse sido explicado o motivo da nossa presenccedila e garantido que

ele natildeo estava sendo filmado isso natildeo foi o suficiente para evitar a perfuraccedilatildeo por um

canivete de um rebatedor de luz Aleacutem disso um outro imprevisto se deu em uma das

gravaccedilotildees com o Adriano A previsatildeo de acompanhar uma de suas palestras e gravar o

primeiro e segundo episoacutedio no mesmo dia natildeo se concretizou devido a um problema no

microfone de lapela Por conta disso foi necessaacuterio acrescentar mais um dia ao

cronograma de gravaccedilotildees

Figura 5 - Gravaccedilatildeo na Praccedila do Comprimisso Asa Sul Brasiacutelia ( FonteAna Paula Fonseca2017)

36

Figura 6 - Gravaccedilatildeo no Setor Comercial Sul Brasiacutelia ( Fonte Neila Almeida2017)

Na conduccedilatildeo das imagens em praticamente todas as entrevistas contamos com

o trabalho de Alex Faacutebio cinegrafista da UnBTV Com sua bagagem praacutetica na aacuterea ele

foi capaz de executar muito bem as filmagens em plano meacutedio propostas para as

entrevistas Quando natildeo foi possiacutevel sua presenccedila contamos tambeacutem com o auxiacutelio de

Raphael Stei e Baacuterbara Oliveira estagiaacuterios de cinegrafia da UnBTV Para as

gravaccedilotildees aos fins de semana e feriado tivemos o apoio de Fernando Pires e Lucas

Cacircndia estudantes da Faculdade de Comunicaccedilatildeo da UnB Ao todo foram nove dias de

gravaccedilotildees sendo sete para as entrevistas com os personagens e dois exclusivamente

para imagens de apoio Por imprimirmos um bom ritmo de gravaccedilotildees conseguimos

concluiacute-las em um periacuteodo de trecircs semanas

37

Figura 7 ndash Equipe de gravaccedilatildeo apoacutes a primeira entrevista com Adriano Lugoli A equipe (da esquerda para a direita) Ana Paula Fonseca (produtora) Alex Faacutebio (cinegrafista cedido pela UnBTV) Marcus

Barbosa (diretor) e Neila Almeida (diretora) (Fonte Neila Almeida2017)

55 Poacutes-produccedilatildeo

Finalizadas as gravaccedilotildees iniciamos a etapa de poacutes-produccedilatildeo O primeiro passo

foi comeccedilar a degravar as entrevistas para montarmos o roteiro final de cada episoacutedio

que seria entregue para ediccedilatildeo (os roteiros podem ser visualizados vide apecircndice IV)

Ao mesmo tempo marcamos uma reuniatildeo com a editora de viacutedeo da UnBTV Juacutelia

Nogueira para fecharmos os prazos que ela teria para editar o material

O proacuteximo passo foi pensar no nome definitivo para o projeto O nome

provisoacuterio utilizado nos termos de autorizaccedilatildeo de imagens e na carta de pedido de apoio

da UnBTV foi ldquo Vida nas Ruasrdquo mas devido as mudanccedilas de enfoque optamos por

escolher um nome que retratasse o que esse periacuteodo nas ruas significou para os

personagens Apoacutes vaacuterios mapas mentais chegamos ao nome ―Memoacuteria das Ruas que

traduz a experiecircncia comum entre todos os protagonistas

38

561 Identidade visual

A identidade visual do projeto foi feita por Sarah Silva ndash estudante de

publicidade e propaganda da UnB ndash que aceitou o convite e ficou responsaacutevel pela

animaccedilatildeo utilizada no tiacutetulo do e tambeacutem pelo encerramento do projeto Para a abertura

foi acertado que se daria prioridade para imagens que retratassem da maneira mais

proacutexima possiacutevel a individualidade de cada uma das histoacuterias a serem apresentadas

Outra escolha foi pela utilizaccedilatildeo de uma paleta de cores mais colorida ao inveacutes

de tons monocromaacuteticos Em relaccedilatildeo a tipografia foi dada preferecircncia por fontes com

maior legibilidade que neste caso especiacutefico seria mais importante do que fontes com

boa leiturabilidade A escolha de uma famiacutelia tipograacutefica sem serifas se deu na busca

por um traccedilado humanista que representasse bem o vieacutes do projeto

Sarah tambeacutem foi a responsaacutevel por criar toda a arte para a capa do DVD e para

a impressatildeo no CD do projeto (as artes podem ser encontradas vide apecircndices VI e VII)

Figura 8 ndash Famiacutelia tipograacutefica escolhida ndash Moon Flower (Fonte Denise Bentulan 2013)

39

Figura 9 ndash Paleta de cores escolhida (Fonte Site Colors 2018)

Figura 10 ndash Arte da capa para o DVD (Fonte Sarah Silva 2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

40

6 CRONOGRAMA DE PESQUISA

Tabela 2 ndash Cronograma de atividades

DATAS ETAPAS

Agosto e Setembro17 Pesquisa Bibliograacutefica

(Estudo de autores e conceitos ligados ao objetivo do projeto)

Agosto e Setembro17 Pesquisa de personagens

Setembro17 Marcaccedilatildeo das entrevistas

Setembro e Outubro17 Gravaccedilotildees

510 A 151017 Decupagem do material montagem do roteiro e entrega

para ediccedilatildeo

Outubro e Novembro17 Ediccedilatildeo do documentaacuterio

Maio18 Escolha da linguagem visual e finalizaccedilatildeo

Maio18 Ajustes e complementaccedilatildeo da memoria da pesquisa

180618 Entrega da memoria e do produto agrave banca

Fonte Marcus Barbosa (2018)

41

7 ORCcedilAMENTO

Tabela 3 ndash Orccedilamento de materiais

VALORES IacuteTENS

R$ 9700 Estabilizador de celular

R$ 25000 Microfone de Lapela

R$ 29000 HD Externo

R$ 35000 Gasolina

R$ 29700 Impressatildeo de material visual

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Tabela 4 ndash Orccedilamento de materiais II

VALORES IacuteTENS CEDIDOS (UnBTV)

R$ 700000 Filmadora Sony HXR Mc 2500 HD SD

R$ 74900 Tripeacute Profissional Video K2e Saara 5kg

R$ 69900 Microfone Lapela sem fio Boya By-wm6 ndash

Wm6 UHF

R$ 8900 Rebatedor

R$ 23900 Kit Luz contiacutenua Soft Box 50 X 70 E27 +

Tripeacute 2m

R$ 99900 Identidade visual para o produto

R$ 200000 Ediccedilatildeo de produto com aprox 30 min de

duraccedilatildeo

R$ 1305900 VALOR TOTAL PARA A PRODUCcedilAtildeO

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

42

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apoacutes quatro meses de trabalho intenso na produccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto foi

possiacutevel chegar a algumas conclusotildees acerca do tema explorado A primeira eacute que

existe sim muito preconceito por parte da populaccedilatildeo em geral em relaccedilatildeo a pessoa em

situaccedilatildeo de rua Todos os personagens entrevistados relataram como se sentiam ao

passar por alguma situaccedilatildeo constrangedora - como ser chamado por nomes pejorativos

ser ignorado ao pedir ajuda ou simplesmente ser referenciado como um mal exemplo E

com isso foi possiacutevel concluir que aleacutem de ser necessaacuterio novas poliacuteticas puacuteblicas que

integrem esse grupo agrave sociedade e o ajude a superar o periacuteodo em situaccedilatildeo de rua eacute

preciso mudar tambeacutem a consciecircncia da populaccedilatildeo para que possam enxergar esses

indiviacuteduos como seres semelhantes carentes deuma oportunidade para saiacuterem dessa

condiccedilatildeo

Durante as gravaccedilotildees foi possiacutevel notar o quanto falar sobre esse periacuteodo mexia

com os participantes - eles se emocionaram e deixaram claro que enfrentar a situaccedilatildeo de

rua deixou marcas permanentes em suas vidas A partir das informaccedilotildees coletadas nas

entrevistas tambeacutem ficou claro o importante papel que as pessoas fora das ruas podem

desempenhar na reinserccedilatildeo social dessa populaccedilatildeo Quando o preconceito eacute superado o

auxiacutelio vindo de fora das ruas tem um efeito positivo sobre quem estaacute imerso num

problema aparentemente sem soluccedilatildeo Foi assim no caso do Adriano e os bons

exemplos que ele pode absorver na casa de recuperaccedilatildeo para onde foi com a Daniela e

o apoio dos projetos sociais em quais ela foi acolhida e tambeacutem no caso do casal -

Ademir e Claacuteudia - e a ajuda da organizaccedilatildeo religiosa que os recebeu De fato ficou

provado que o periacuteodo nas ruas natildeo necessariamente significa um ponto final na vida

dessas pessoas mas pode ser tornar apenas uma pausa que antecede o recomeccedilo

No acircmbito teacutecnico do projeto pode-se dizer que a conduccedilatildeo do documentaacuterio foi

um grande desafio para os diretores por se tratar de uma experiecircncia completamente

nova para ambos Devido a isso foi necessaacuterio muito estudo e planejamento para tornar

o projeto possiacutevel Estar abertos a ouvir os conselhos de colegas experientes na aacuterea

tambeacutem foi de suma importacircncia

Mas o que definitivamente marcou o projeto foi a possibilidade de contar

histoacuterias surpreendentes Durante as gravaccedilotildees tentamos seguir o roteiro de perguntas

preacute elaborados mas o proacuteprio meacutetodo utilizado que foi a entrevista em profundidade

nos possibilitou deixar os personagens mais livres para se expressarem Cada uma das

43

histoacuterias tinha suas peculiaridades como o caso da profissional bem-sucedida que

chegou a produzir para grandes novelas da dramaturgia brasileira e acabou perdendo

tudo

Aprendemos um pouco com cada um deles e com o decorrer das entrevistas noacutes

deixaacutevamos de ser apenas repoacuterteres em busca de uma boa histoacuteria e eles deixavam de

ser apenas personagens Eram histoacuterias mas tambeacutem eram seres humanos e humanizar

tambeacutem eacute uma funccedilatildeo social do jornalista

44

REFEREcircNCIAS

ALVES Fabiana SEBRIAN Raphael JORNALISMO HUMANIZADO o ser

humano como ponto de partida e chegada do fazer jornaliacutestico

BARBOSA Liacutelian Gomes Atendimento agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua anaacutelise

referencial de serviccedilo socioassistencial de Satildeo Paulo e Brasiacutelia 2015 64 f Trabalho

de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Serviccedilo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2015 Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048317307

Acesso 21 de maio de 2018

BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil

Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 292 p

CERQUEIRA Amarantha Saacute Teles de Evoluccedilatildeo do processo social populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de rua um estudo sobre pobreza necessidades humanas e miacutenimos

sociais 2011 97 f Monografia (Bacharelado em Serviccedilo Social) mdash Universidade de

Brasiacutelia Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel

emhttpbdmunbbrbitstream10483257312011_AmaranthaSaTelesdeCerqueirapdf

Acesso 21 de maio de 2018

CHARAUDEAU Patrick Discurso das Miacutedias Satildeo Paulo Contexto 2009

DUARTE Jorge Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa em comunicaccedilatildeo Atlas 2005

GIORGETTI Camila Moradores de rua Uma questatildeo social Satildeo Paulo PUCSP-

EDUC 2006

MARTINS Yure Rodrigues Arauacutejo Relatos eacutebrios itineraacuterio terapecircutico de

moradores de rua em Taguatinga-DF 2016 60 f Trabalho de conclusatildeo de curso

(Bacharelado em Sauacutede Coletiva)mdashUniversidade de Brasiacutelia Ceilacircndia 2016

Disponiacutevel em httpbdmunbbrhandle1048315988

Acesso em 21 de maio de 2018

Mattos RM Ferreira RF Quem vocecircs pensam que (elas) satildeo Representaccedilotildees

sobre as pessoas em situaccedilatildeo de rua Psicologia amp Sociedade 16 (2) 47-58

maioago2004 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfpsocv16n2a07v16n2pdf

Acesso 21 de maio de 2018

MELO Cristina Teixeira V de GOMES Isaltina Mello MORAIS Wilma O

documentaacuterio jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral In Intercom - 25ordm Congresso

Brasileiro de Comunicaccedilatildeo Campo Grande 2001 Disponiacutevel em

httpwwwintercomorgbrpapersnacionais2001papersNP7MELOPDF

Acesso 21 de maio de 2018

MONTIPOacute Criselli FARAH Acircngela Relato humanizado no jornalismo a

importacircncia da humanizaccedilatildeo na narrativa para um jornalismo transformador In

45

Miacutedia Cidadatilde 2009 - V Conferecircncia Brasileira de Miacutedia Cidadatilde 2009 Guarapuava

Anais Guarapuava 2009 p 906 - 923 Disponiacutevel em httpwwwunicentrobrredemc

Acesso 21 de maio de 2018

MOURA Rodrigo Coelho Bacellar Poliacutetica Nacional para Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo

de Rua uma anaacutelise da participaccedilatildeo social no processo de implementaccedilatildeo da poliacutetica

2016 30 f Trabalho de conclusatildeo de curso (Bacharelado em Gestatildeo de Poliacuteticas

Puacuteblicas)mdashUniversidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2016 Disponiacutevel em

httpbdmunbbrhandle1048316261

Acesso 21 de maio de 2018

SANTOS Daiane dos Santos O retrato do morador de rua da cidade de Salvador-

BA um estudo de caso UNEB 2009

SILVA Fabiacuteola Mariano da Humanizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo e gestatildeo centrada nas

pessoas - entrevista em profundidade Laboratoacuterio Sabin 2016 56 f Trabalho de

conclusatildeo de curso (Bacharelado em Comunicaccedilatildeo Social)mdashUniversidade de Brasiacutelia

Brasiacutelia 2016

SILVA Maria Lucia Lopes da Trabalho e Populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua no Brasil

1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009

SOARES Murilo Ceacutesar Representaccedilotildees jornalismo e a esfera puacuteblica democraacutetica

Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2009

Referecircncias audiovisuais

BOCA de rua ndash Vozes de Uma Gente Invisiacutevel Marcelo Andrighetti 10rsquo01 Disponiacutevel

em httpswwwyoutubecomuserbocaderuaofilme

Acesso em 21 de maio de 2018

UMA paacutegina por dia ndash A siacutendrome de Down pelo olhar materno Camila Castro e

Victoacuteria Cristina Costa Disponiacutevel em

httpswwwfacebookcomserieumapaginapordia

Acesso em 21 de maio de 2018

O centro invisiacutevel Tiago Pedro 9rsquo0 Disponiacutevel em httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

O osso da fala Raphael Picerni e Sheyla Smanioto 10rsquo17 Disponiacutevel em

httpsossodafalawordpresscom

Acesso em 21 de maio de 2018

SEQUIDAtildeO Sol Poeira e Esperanccedila ndash Episoacutedio Resistecircncia ndash Parte I Karina Gomes

3rsquo19 Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=9F0ttz7N0kw

Acesso em 21 de maio de 2018

46

APEcircNDICES

47

APEcircNDICE I ndash Carta de apresentaccedilatildeo do projeto para apoio da UnBTV

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Brasiacutelia 28 de agosto de 2017

Agrave Ilma Sra Neuza MellerDiretora de Jornalismo na UnBTV

Prezada Sra Neuza Meller

Venho mui respeitosamente por meio desta carta solicitar apoio para

realizaccedilatildeo de uma pesquisa que estaacute sendo desenvolvida na Faculdade de

Comunicaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e tem como objetivo a produccedilatildeo de

um webdocumentaacuterio intitulado ldquoUma luta sem fimrdquo Projeto Final em

Jornalismo de autoria dos alunos Neila Pereira de Almeida matriacutecula

130060607 e Marcus Viniacutecius Barbosa Bezerra matriacutecula 140027181 e tem a

orientaccedilatildeo da Professora Doutora Ana Carolina Kalume Maranhatildeo (Matriacutecula

UnB 1076949) sobre o trabalho de recuperaccedilatildeo de usuaacuterios de drogas em

situaccedilatildeo de rua no Distrito Federal

Como forma de entender e investigar esse universo os alunos iratildeo

acompanhar as atividades de grupos voluntaacuterios A ideia eacute apresentar a

aproximaccedilatildeo feita nas ruas o acolhimento nos centros de recuperaccedilatildeo e as

histoacuterias de superaccedilatildeo resultantes da iniciativa Por incluir a elaboraccedilatildeo de

conteuacutedo audiovisual o projeto precisaraacute de apoio teacutecnico para o

desenvolvimento de etapas importantes como gravaccedilotildees em campo

entrevistas e ediccedilatildeo do material captado

Dessa forma solicitamos a importante colaboraccedilatildeo da UnBTV em uma

parceria com o projeto no que tange a produccedilatildeo de conteuacutedo e o empreacutestimo

de equipamentos para as filmagens O conteuacutedo elaborado poderaacute integrar a

grade de programaccedilatildeo da emissora caso a haja interesse

48

Fonte Marcus Barbosa e Neila Almeida (2017)

Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia - Faculdade de Comunicaccedilatildeo Campus Universitaacuterio Darcy Ribeiro CEP 70910-900

Contamos com sua colaboraccedilatildeo e desde jaacute expressamos os mais

sinceros agradecimentos e colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para quaisquer

esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios pelo e-mail

marcusvbbezerragmailcom e pelo telefone (61) 98259-8189

Com minhas expressotildees de apreccedilo e consideraccedilatildeo

Cordialmente

Marcus Viniacutecius Barbosa BezerraMatriacutecula UnB 140027181 Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

Neila Pereira de AlmeidaMatriacutecula UnB 130060607Faculdade de Comunicaccedilatildeo

Universidade de Brasiacutelia

49

APEcircNDICE II ndash Cronograma de marcaccedilotildees de entrevistas CRONOGRAMA DE MARCACcedilOtildeES

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (1809)

TER (1909)

QUA (2009) ENTREVISTA

Quem Ademir e Claacuteudia

Horaacuterio 15h

End Luziacircnia GO

QUI (2109)

SEX (2209) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAB ( 2309)

DOM (2409)

MANHAtilde TARDE NOITE SEG (2509) ENTREVISTA

Quem Claacuteudia e Ademir

Horaacuterio 14h

End Praccedila do Compromisso Asa Sul

TER (2609)

QUA (2709)

QUI (2809) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 15h

End Ceilacircndia

SEX (2909) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End CSA ndash Unidade Gama

SAacuteB (3009) ENTREVISTA

Quem Adriano Lugoli

Horaacuterio 15h

End SCS

DOM (0110)

MANHAtilde TARDE NOITE

SEG (0210)

TER (0310)

QUA (0410) ENTREVISTA

Quem Daniela

Horaacuterio 9h

Endereccedilo Centro de

Taguatinga

QUI (0510) ENTREVISTA

Quem Ademir

Horaacuterio 15h

End Parque da Cidade

SEX (0610)

SAacuteB (0710)

DOM (0810)

QUI (0211) IMAGENS DE COBERTURA

Quem Lucas Cacircndia

Horaacuterio 16h

End Aacuterea central de Brasiacutelia

50

APEcircNDICE III ndash Roteiro de perguntas

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 1ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Focar em como era a vida antes das ruas o que os levou a

situaccedilatildeo de rua e quais os perigos medos e dificuldades vividos

durante o periacuteodo nas ruas

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Como era sua vida antes das ruas Fale um pouco da sua relaccedilatildeo

com a famiacutelia amigos colegas de trabalho etc

2 Na sua opiniatildeo quando eacute que as coisas comeccedilaram a desandar

3 Detalhe o problema que o levou a situaccedilatildeo de rua

4 Conte como foram os primeiros dias nas ruas

5 Ao todo quanto tempo vocecirc ficou em situaccedilatildeo de rua

6 Detalhe as principais dificuldades de se estar em situaccedilatildeo de rua

7 Como era sua rotina na rua

8 Quais as lembranccedilas mais marcantes desse periacuteodo

9 Vocecirc pensava em sair das ruas Fazia planos durante aquele

periacuteodo

10 Enquanto estava nas ruas vocecirc teve acesso agrave direitos como

abrigo sauacutede etc

11 Recebeu algum auxiacutelio Como fazia para se manter

12 Vocecirc passou por alguma situaccedilatildeo de preconceito Fale mais

sobre isso

13 Qual era o sentimento quando algueacutem o rejeitava ou

simplesmente agia com indiferenccedila

51

Tipo de

Gravaccedilatildeo

Entrevista

PLANO DE FILMAGENS 2ordf GRAVACcedilAtildeO

Objetivo Destacar o processo de saiacuteda das ruas e as perspectivas para o

futuro

DESCRICcedilAtildeO DAS PERGUNTAS

1 Durante o periacuteodo nas ruas como vocecirc encarava a perspectiva

de recuperaccedilatildeo Para vocecirc essa era uma possibilidade real

2 Qual o fator determinante para a mudanccedila de situaccedilatildeo

3 Quais os principais desafios enfrentados durante esse periacuteodo

4 Conte-nos sobre o processo de transiccedilatildeo Alguma vez pensou

em desistir Quais as ajudas para enfrentar o desafio

5 Qual o principal objetivo que vocecirc esperava alcanccedilar

6 Como vocecirc definiria a vida nas ruas E o processo de

recuperaccedilatildeo

7 E agora apoacutes a recuperaccedilatildeo o que vocecirc espera daqui para

frente

8 Se vocecirc pudesse deixar uma mensagem para as pessoas que

ainda estatildeo em situaccedilatildeo de rua qual seria

52

APEcircNDICE IV ndashRoteiro para ediccedilatildeo

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO Marcus Barbosa e Neila Almeida

FOTOGRAFIA Alex Faacutebio Baacuterbara Oliveira Fernando Pires Raphael Stei e Lucas Cacircndia

PRODUCcedilAtildeO Ana Paula Fonseca

ED DE IMAGENS Julia Nogueira

ARTE Sarah Silva

CENA DE

AMBIENTACcedilAtildeO

ARQUIVO

Imagens da praccedila do Coreto () com o nome do primeiro episoacutedio

SONORA 1 CLAacuteUDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE CORTE

126 -- 147 +

327 -- 345

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

A minha vida antes do aacutelcool era uma vida normal eu trabalhava primeiro eu

trabalhei em Brasiacutelia depois eu fui para usina nuclear de Angra pela Odebrecht

mas sempre quis entrar para minha aacuterea que era a televisatildeo jornalismo (+)

―Ai eu consegui entrar um colega me ajudou levou um book que eu tinha e eu

comecei entrar para direccedilatildeo de arte e para cenografia para vaacuterios cenoacutegrafos para

vaacuterias produccedilatildeo de arte de novela de minisseacuterie de documentaacuterio

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0025 -- 0109

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha vida antes de ir pra rua eu morava em Satildeo Bernardo do Campo tinha uma

pessoa que eu morei durante oito anos com ela Soacute que certo dia eu tive uma

discussatildeo com ela e do nada aqueles cinco minutos que veio na cabeccedila eu

abandonei tudo joguei tudo pro alto e fui pra ruas

SONORA 4 DANIELA

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE

213 --300

Antes era normal eu morava com minha famiacutelia tinha meus pais meus irmatildeos

tudo casa sempre cheia tinha meus trabalhos normais da escola do dia a dia da

luta saia para trabalhar soacute que a gente sempre estava tendo problemas de

relacionamento sempre brigas sempre discussatildeo sempre tudo que ia se fazer era

acreditando falando que eu natildeo ia ser capaz que eu natildeo ia ser ningueacutem ai a gente

ia escutando essas coisas sempre e satildeo coisas que natildeo eacute bom para a gente guardar

53

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

dentro da gente tem coisas que natildeo satildeo bons para gente concentrare ai vai

brigando e ai a gente vai criando maacutegoa e a maacutegoa vai ficando ali guardada e uma

hora

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 0018 -- 0046

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Minha matildee ficou viuacuteva quando eu tinha seis meses meu irmatildeo com trecircs anos e

minha irmatilde com seis anos Para cuidar da gente minha matildee passava roupa Ela

sempre cuidou da gente com muito amor Quando eu fui para a escola eu sofri

muito preconceito racial porque eu vinha de uma famiacutelia de negros com traccedilos bem

africanos Eu sofria preconceito ateacute dos professores dos diretores

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE 4

03 -- 434

(403) A uacuteltima novela que eu fiz foi avenida Brasil que tinha um lixatildeo tinha

vaacuterias cortinas que tinham que ser recicladas tapetes de tampinhas de garrafas pet

os brinquedos todos de garrafas pet porta mantimentos entatildeo eu tinha uma vida

maravilhosa eu recebia um salaacuterio alias cada trabalho que eu fazia eu recebia meu

Deus dez vezes mais que uma pessoa recebe de um salaacuterio miacutenimo hoje

SONORA 6 Daniela

ARQUIVO

TEMPO DE CORTE

434 --446 + 528 -- 539

―Ai eu consegui passar no vestibular e jaacute comeccedilou as brigas depois do primeiro

semestre que eu consegui trabalhar e pagar esse semestre todo foi dias muitos

difiacuteceis +

―quando eu tirei a carteira meu pai ficou bravo primeira coisa que eu escutei foi vc

vai fazer o psicoteacutecnico para saber se vc eacute doida foi a primeira palavra que eu

escutei

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

842 --914

―No inicio de bsb natildeo foi faacutecil tbm a minha infacircncia foi difiacutecil O comeccedilo foi muito

dificil pra chegar onde eu cheguei pra cair da forma que eu caiacute entendeu entatildeo eu

acho que a gente tem que se policiar muito A minha matildee numa manhatilde saiu com

uma calccedila laranja uma blusa branca do outro lado do rio me acenou Eacute a uacutenica

cena dela que eu me lembro nunca mais (ela se emociona) e eacute difiacutecil

SONORA DANIELA

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

551 --622

ldquoentatildeo vc vai sentindo ne vc sair da faculdade agrave noite chovendo com um

computador com livros de faculdade vc fica em uma rua dessa daqui e o ocircnibus

aqui vc fica em uma rua dessa ai vc comeccedila dormindo uma noite duas noites vc

tem carteira sua casa tem trecircs carross eu pai natildeo vem te buscar uma coisa que eacute 12

minutos da sua casa em meia hora tava tudo resolvido Ai vc comeccedila a fazer o que

Vc comeccedila a se acostumar com as coisas comeccedila olhar as coisas pelo outro lado

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

―Comecei depois a me interessar por muacutesica na adolescecircncia tentei fazer piano

teclado e canto Aiacute optei por um Acabei optando por ficar soacute com o canto Ai logo

54

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0116 -- 0144

depois veio o cigarro o aacutelcool a maconha aos 16 anos comecei minha histoacuteria

com as drogas

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

256 -- 330

―jaacute bebia na eacutepoca questatildeo de festas de sair com colegas amigos soacute que eu bebia

cervejinha depois whiskyzinho ah toma uiacutesque toma natildeo sei o que ah eu

frequentava uns barzinhos e ai falavam ah toma essa cachaccedila com cobra dentro

com caranguejo dentro Soacute que o dinheiro acabou e eu passei a tomar aquilo que

chamam da pichula e comecei a beber cachaccedila

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0424 -- 0439

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

Eu estava afundado na bebida Eu comeccedilava a beber e falava que era socialmente

mas eu socialmente natildeo conseguia parar O meu social comeccedilava de tarde todo

mundo parava de beber e eu queria continuar sozinho acabando com tudo com era

bebida

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0204 -- 0212

Quando eu comecei a beber a fumar maconha eu desinteressei da escola entatildeo

abandonei a escola natildeo estudei mais e comecei a trabalhar

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_02

TEMPO DE CORTE

550 -- 603

―quantas vezes eu fui da aula na televisatildeo com uma garrafa de pitchula dentro da

bolsa Isso natildeo se faz entendeu Entatildeo isso perde a credibilidade Eu acho que natildeo

notam mas notam

SONORA 6 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0401 -- 0408

O aacutelcool que dominava O aacutelcool para mim era dormir bebendo e acordar no outro

dia bebendo porque eu precisava beber

SONORA 3 ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0230 -- 0304

Mas pra mim o divisor de aacuteguas foi quando eu tava numa praccedila com um amigo A

gente tinha bebido pra caramba e apareceu uma moradora de rua Ela ofereceu pra

gente crack e aiacute foi uma droga que mexeu muito comigo porque o efeito do crack eacute

diferente das outras drogas Eu ficava triste deprimido mal era uma dependecircncia

Eu perdi o controle perdi o domiacutenio proacuteprio Eu saiacutea com 50 reais para gastar e

gastava 300 De repente gastava todo o salaacuterio numa tarde

SONORA DANIELA ―Eu tinha acabado de fazer uma viagem da faculdade foi exatamente e eu cheguei

55

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

759 --813 + 825 -- 840

+ 915 --9 22

PODE ENXUGAR

muito feliz eu tinha conseguido conhecer Foz do Iguaccedilu tinha ido no Paraguai

argentina Era uma excursatildeo laacute da faculdade +

E aquele dia eu peguei carona com meu pai E ele me falou algumas coisas e me

ofendeu ele me falou palavras muito duras e eu lembro que eu voltei para casa e

nossa aquilo ali me doeu +

―Foi ai que coloquei minha mochila nas costas e acabou falei eu estou indo e eu

natildeo volto mais

SONORA CLAacuteUDIA

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

126 -- 153 + 216 --231

―Eu sofri um acidente no estado do RJ na avenida das Ameacutericas eu e meu irmatildeo e

ele veio a falecer e eu fiquei trecircs meses em um hospital e na eacutepoca eu natildeo era

casada ainda e eu passei uma procuraccedilatildeo para o meu namorado que eu tinha na

eacutepoca e foi 180 mil que eu passei nessa procuraccedilatildeo +

―quando eu sai do hospital eu morava em uma kitnet pagava 250 reais e a pessoa

natildeo teve coragem de pagar nem o meu aluguel e simplesmente o proprietaacuterio me

pediu e me falou olha me desculpa mais eu preciso da casa

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1

Lugoli Aacuteudio sincronizado TEMPO DE CORTE 0324 -- 0347

Chegou um ponto que eu passei a vender as coisas de casa Minha irmatilde saiu de casa

para conseguir completar os estudos senatildeo ela natildeo ia conseguir e meu irmatildeo falou

para minha matildee optar ou eles ou eu Aiacute minha matildee teve que fechar as portas para

mim Aiacute comeccedilou minha histoacuteria nas ruas

SONORA Daniela

ARQUIVO256_2764_01

TEMPO DE CORTE

953 --1016 + 120 --

124

PODE ENXUGAR

ldquoeu natildeo tinha muita coisa natildeo eu soacute tinha uma mochila uma peccedila de roupa laacute que

eu tinha usado a roupa que eu estava vestida e uma peccedila de roupa que estava

dentro da mochila e meu caderno Deixei meu computador para traz deixei tudo

E eu olhei assim para mim naquele dia e falei para mim e falei eu vou viver isso

aqui o essa liberdade aqui Vou trabalhar no meio desses carros aqui vou pagar

minha faculdade direitinho + ―foi exatamente aqui que eu comecei uma nova

trajetoacuteria

SONORA Claudia

ARQUIVO967_0430_01

TEMPO DE CORTE

427 --439

―isso foi uma das coisas que me levaram mais ainda para a situaccedilatildeo de rua pq uma

coisa puxa a outra conhece um morador de rua e como eu natildeo tinha dinheiro se

conhece um conhece outro

SONORA 2 ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0048 ---0109

Eu saiacute de casa soacute com a roupa do corpo e a chave do carro que eu tinha na eacutepoca

soacute isso Fui deixando tudo pra traacutes por uma briga de momento deixei tudo Desse

dia eu peguei um caminho sem volta natildeo consegui voltar pra traacutes

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

516 -- 521

―Vc jaacute entra para rua querendo sair da rua vc sabe que ali vc natildeo tem conforto

entatildeo vc entra

SONORA Claudia ―Quando eu comecei ficar na rua foi ai mesmo perdi a casa e tinha a bebida e natildeo

tinha onde morar e fui morar debaixo de uma ponte

56

ARQUIVO 967_0430_03

TEMPO DE CORTE

926 -- 938

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0814

-- 0834

No comeccedilo vocecirc estaacute comeccedilando sozinho uma nova vida totalmente diferente da

que eu tinha Quando a gente tem casa a gente tem tudo A gente jaacute levanta com sua

esposa fazendo seu cafeacute vocecirc tem seus compromissos Na rua eacute tudo ao contraacuterio

Vocecirc comeccedila a perder todo o foco de vida

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0707 -- 0726

Aleacutem de estar na rua tinha a questatildeo de lidar natildeo soacute com o traacutefico mas com meu

viacutecio Eu tinha que correr atraacutes do viacutecio Era uma coisa que por mais que meu

corpo falasse para vocecirc precisa descansar eu acabava de fumar e tinha que buscar

mais

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 217

-- 230

―Eu tomei foi oacutedio de droga raiva vc estaacute ali todo dia trabalhando tentando fazer

uma alimentaccedilatildeocomprar um livro fazer alguma coisa e gente brigando por causa

de drogas p vc ver o que a droga faz com a vida das pessoas ela acaba

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE 0706

-- 0725

Vocecirc vai aprendendo a sobreviver vai aprendendo ateacute a sobreviver do proacuteprio lixo

que a sociedade joga fora vocecirc vai catar daquele lixo para sobreviver vai comer do

lixo dos outros entatildeo vocecirc vai aprendendo O dia-a-dia na rua vai ensinando a

gente a sobreviver na rua

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_02

TEMPO DE

CORTE0013 --018 (+)

1128 --1137

―Vc natildeo dorme eacute uma situaccedilatildeo que noacutes natildeo dormimos natildeo tem como dormir qlq

barulho a gente acorda

(+)

―De manhatilde quando o dia clareava era para mim era mais difiacutecil pq eu tinha vontade

de fazer minhas necessidades e eu natildeo sabia onde

SONORA ADRIANO LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli Aacuteudio

sincronizado

TEMPO DE CORTE 0612 -- 0628

Eacute um frio que doacutei na pele Vocecirc coloca o braccedilo a cabeccedila dentro da blusa e parece

que o frio natildeo passa eacute um frio que chega a doer no corpo mas de noite tambeacutem eacute

terriacutevel

57

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE 958

-- 1002 + 931 -- 945 +

1025 -- 1030

―A gente corta uma coberta assim no meio para natildeo deixar o outro com frio + ― eacute

um cuidando do outro se pega uma blusa p um pega p outro se pega uma

alimentaccedilatildeo p um pega alimentaccedilatildeo p outro se natildeo tiver briga por causa de drogas

se natildeo tiver guerra por causa de droga eacute um ajudando o outro + as pessoas que

estatildeo de fora natildeo te veem natildeo eacute muito difiacutecil eacute muito difiacutecil

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE

222-- 245

―para mim muito dolorido eacute eu ver situaccedilotildees e natildeo poder defender nada de gente

chegar e matar outro na sua frente a pessoa dormindo e ter uma vinganccedila com ela

e vc natildeo poder vc fingir que esta dormindo pq se vc olhar para o lado pode sobrar

para vc

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2766_01

TEMPO DE CORTE

701 -- 714

(701) o que as pessoas passam na rua eacute tudo o perigo estaacute toda hora a chuva tai a

frio tai a fome tai e ai a tristeza chega mesmo E vc natildeo tem forccedilas natildeo Vc natildeo eacute

super-homem natildeo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli -

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 0432

-- 0437

Morar na rua eacute uma atitude suicida a pessoa jaacute esqueceu de viver jaacute desistiu de

viver Eu lembro que eu fumava aquele crack prensava para morrer Eu preferia

morrer do que ter que arrumar mais cinco reais pra fumar de novo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_05

TEMPO DE CORTE 655

--710 +730 -- 804

PODE ENXUGAR

(655) A rua soacute traacutes o que doenccedila vc fica mal muito mal eu to ai nem notei que

to com catarata pq natildeo notei 710 +

(730) levei um a queda no braccedilo que hj em dia meu braccedilo nem sobe nem vai para

traacutes pq bebi ia atravessar ainda bem que foi o braccedilo pq se eacute eu eu natildeo tava aqui

para contar essa histoacuteria ai eacute isso alem do braccedilo tinha bebido mas sempre a

danada na matildeo fui e escorreguei e vai o peacute Tb torci o peacute ai era eu com o braccedilo e

e o peacute olha que situaccedilatildeo entatildeo vou comprar uma ali para passar a dor (804)

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1109

--1116

+

―Eu descia ali para trabalhar tava sempre trabalhando sempre vestida de palhaccedila

comprei minhas tintas ali no armarinho vivia com meus pinceis tudo ali dentro da

minha mochila

(+)

58

ARQUIVO 256_2764_01

TEMPO DE CORTE 1032

--1036

+

ARQUIVO 256_2764_02

TEMPO DE CORTE 1101

-- 1115

ldquo ai eu falei agora vou terminar essa faculdade e vou levantar minha casa

(+)

―1101 todo dia os meus amigos me viam ai no sinal buzinavam brincavam e foi ai

que teve vaacuterios problemas ai acabou acabou ningueacutem mais queria fazer trabalho

comigo ningueacutem queria mais falar comigo

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 0300

--0308

―O Preconceito contra pessoas que estatildeo na rua tem muito eles natildeo querem saber

os motivos que levam aquela pessoa que estaacute na rua 308

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE 1540

-- 1556

Vocecirc se sente um ningueacutem um indigente um nada Ou agraves vezes as pessoas te

apontam para te mostrar como um mau exemplo de tanto que vocecirc estaacute feio

decadente

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE

0824 -- 0857

Tem sempre as pessoas que tratam a gente como lixo A gente estaacute deitado numa

marquise a pessoa chega pisa ateacute por cima de vocecirc passa por cima de vocecirc e vocecirc

eacute um saco de lixo A gente se sente um saco de lixo laacute jogado hellip ateacute quando eacute um

saco de lixo as pessoas vatildeo laacute e tiram mas com a gente natildeo eles vatildeo laacute e pisam

natildeo estatildeo nem aiacute

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_04

TEMPO DE CORTE 241

-- 0300

―quando eu chegava e pedia uma ajuda a pessoa fingia que nem te escutava como

pessoas que mudam se esta vindo aqui passam por ali entendeu natildeo passam perto

de vc muito existe demais demais

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 2 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

0508 -- 05 30

Eu natildeo consigo explicar o que eacute pior pq tudo eacute ruim Ter que pedir e algueacutem te dar

eacute ruim a pessoa natildeo te dar eacute ruim a pessoa te dar uma bronca eacute ruim a pessoa te

tratar com um ser invisiacutevel eacute ruim todas as situaccedilotildees na rua satildeo ruins natildeo existe

uma pior que a outra todas satildeo peacutessimas

59

SONORA DANI

ARQUIVO 256_2764_03

TEMPO DE CORTE

241 --256

(241) eacute por isso eu falo o problema natildeo esta na pessoa que esta na rua o problema

esta nas pessoas as pessoas comeccedilam a gerar tanto preconceito tanta coisa e ai vc

vai fazer o que vc tem que continuar vivendo independente das pessoas (256)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_01

TEMPO DE CORTE

0841 -- 0853 (+) 0302 -

-0322

Para natildeo decepcionar minha famiacutelia pra eles nao verem eu naquele estado eu

preferia sair de perto deles andar ir pras praias para lugares diferentes

(+)

Foram seis anos conturbados vivendo essa vida de estado para estado ateacute que certa

vez nessa andanccedila depois que eu passei pela Bahia voltando para Satildeo Paulo de

novo quando eu tava no caminho eu passei pelo Rio de Janeiro fiquei um certo

tempo no Rio pro lado de Angra Haacute trecircs anos atraacutes em Angra dos Reis eu conheci

minha atual esposa a Claacuteudia laacute pro lado de Angra

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 741

--806 +

803-- 804 +

811 -- 815

(741) Ele morava em um barco em angra ele me chamou vc natildeo quer passar um

tempo no barco ele tomava conta de um pesqueiro ai eu falei eu vou foi quando

eu comecei namorar com ele na eacutepoca soacute que ele tinha q ir ateacute SP (756) +

(803) ―Entatildeo noacutes fomos p laacute( 804) + (811) eu conversei com ele vamos para

Brasiacutelia vamos descer e ele vai vamos (815)

SONORA ADEMIR

ARQUIVO 970_4089_02

TEMPO DE CORTE 0638

-- 0653

Eu achava que andando eu e ela andando nossos problemas resolviam Eu pensava

a gente jaacute ficou nessa cidade aqui vamos passar pra outra pra ver se as coisas

mudavam mas natildeo mudavam As coisas soacute iam cada vez se afundando mais e a

gente piorava cada vez mais

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_01

TEMPO DE CORTE 837

-- 848 (+) 557-- 606

Sera que daacute para cortar o

som externo nessa parte

Senatildeo pode cortar

― Foi uma trajetoacuteria difiacutecil ateacute chegar aqui foram dois meses de viagens estradas e

estradas

+

―E eu falei olha eu vou sair dessa vida Pq natildeo aguento mais ficar nessa situaccedilatildeo

para quem tem uma vida com casa com tudo estar em uma situaccedilatildeo dessa natildeo dava

60

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO Take 1 Lugoli

Aacuteudio sincronizado

TEMPO DE CORTE

1251 -- 1306

Quando eu estava na rua eu natildeo conseguia ver nenhuma saiacuteda Eu pensava que ia

morrer ali era uma dependecircncia muito forte era algo muito novo Por mais que o

meu corpo pedisse para parar eu natildeo conseguia parar

SONORA Dani

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE 604

-- 618

+

ARQUIVO 256_2767_01

TEMPO DE CORTE

521 -- 533

― Mas eu natildeo queria me acomodar nisso natildeo queria sair daqui Ter minha casa ter

outra vida Ter outras responsabilidades ter meu emprego formal eu vamos com

outra coisa natildeo com a rua +

―entatildeo vc comeccedila a focar focaliza trabalha seu dia dia natildeo focaliza sua vida daqui

uma ano natildeo focaliza hj todo dia vc quer sair daqui

SONORA CLAUacuteDIA

ARQUIVO 967_0430_06

TEMPO DE CORTE

101--121

―a gente tem capacidade cada um de noacutes Quem eacute que natildeo erra nessa vida eu erro

todo mundo erra nunca ningueacutem diga que nunca errou mas a gente tem a

condiccedilatildeo de se recuperar soacute depende de noacutes mesmo temos que querer aqui no

coraccedilatildeo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 0551 -- 613

―A rua ela acaba com vc ela acaba com o seu interior e as pessoas dependem da

forccedila dependem muito do que vc quer Se vc quer algum objetivo vc busca ateacute o

fim e a rua destroacutei tudo isso e vc tem que ter foco Ai vc natildeo tem nada e ainda vai

se entregar eacute assim que eu pensava

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0127 -- 0151

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

―Eu encarava aquela situaccedilatildeo como impossiacutevel de recuperar pq aquela droga era

meu alimento na eacutepoca Eu vivia para consumir o crack Eu natildeo conseguia mais

abandonar Eu larguei o emprego amizades a minha famiacutelia entatildeo eu tava

esperando ou ser preso ou morrer naquela situaccedilatildeo Eu natildeo conseguia ver saiacuteda

61

SE USAR NA EDICcedilAtildeO

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 852 - 906

―eu falo que eu me arrependo de vaacuterias coisas e o primeiro eacute de natildeo ter me

arrependido antes das coisas que eu tava fazendo das bebedeiras isso eu me

arrependo mesmo

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 1305 - 1326

―desistir nunca desistir de sair da rua nunca A rua eacute muito difiacutecil Todo dia vocecirc

esta num lugar diferente todo dia vocecirc tem que se alimentar num lugar diferente

todo dia vocecirc tem que correr pra comer num lugar diferente todo dia vocecirc tem que

arrumar um lugar pra tomar banho quando vocecirc natildeo consegue vocecirc fica natildeo sei

quantos dias sem tomar banho entatildeo desistir jamais O negoacutecio eacute vocecirc ter mais

forccedila

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0428 -- 0500

―O fator marcante para eu conseguir ter o estalo para sair daquela situaccedilatildeo e

procurar ajuda foi entender que eu tava doente Quem me ajudou a entender isso foi

a minha irmatilde Ela me procurou procurou minha matildee e disse que assim como uma

pessoa com cacircncer precisa de tratamento eu tb estava doente e precisava de

tratamento Assim eu entendi que precisava ir para uma csa de recuperaccedilatildeo e laacute

tudo mudou

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

814 - 835

―Numa noite dessas eu estava em frente a uma igreja na 504 sul e uma empresaacuteria

fazia o resgate com o trabalho de rua e ela nos perguntou se noacutes gostariacuteamos de ir

para um casa de recuperaccedilatildeo E eu nem sabia oq eu era uma casa de recuperaccedilatildeo

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1056 - 1111

―Ela falou vou te arrumar um lugar mas natildeo some daqui natildeo que sempre eu vou

estar passando e por uma semana ela ficou ali entrando em contato comigo ateacute

arrumar a casa de recuperaccedilatildeo p nos para mim e para claudia

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 1 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0726 -- 0748

ldquoEu tinha vergonha do restante da minha famiacutelia saber que eu estava numa casa de

recuperaccedilatildeo entatildeo eu tava preocupado com o que as pessoas pensavam ateacute chegar

um ponto em que eu falei natildeo eu natildeo posso me preocupar com isso Natildeo importa

se toda a minha famiacutelia vai ficar sabendo Eu preciso ir pra laacute pq se natildeo eu vou

acabar morrendo Aiacute nesse ponto eu aceitei o tratamento

62

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE

0231 -- 0248

OBS P NAtildeO FICAR

CANSATIVO

FIZEMOS PLANOS

DETALHE DESSA

ENTREVISTA PODE-

SE USAR NA

EvDICcedilAtildeO

―vocecirc natildeo quer ficar peregrinando pela rua vocecirc natildeo quer vocecirc natildeo mora na rua

vocecirc taacute em situaccedilatildeo de rua algum fato determinante aconteceu porque vocecirc taacute ali e

quando isso passa vocecirc quer retornar de alguma forma para sua famiacutelia de alguma

forma para seus objetivos para sua casa eacute por ai

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_01

TEMPO DE CORTE

1207 - 1231

―mas nos primeiro dias deu vontade da gente sair correndo daquele portatildeo Pq a

gente estava acostumado com a rua Entatildeo acorda vai beber e o corpo e o

organismo cobra muito a bebida principalmente pq eacute uma droga que natildeo eacute proibida

e em qlq bar vc consegue

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0532 --609

―Depois que eu decidi entrar na casa de recuperacao e ficar laacute pra valer eu resolvi

aproveitar as oportunidades aiacute apareceu um cara para me dar aula de canto graacutetis

tive a oportunidade de conhecer uma jovem nos casamos tivemos filhos os filhos

mudaram muito a minha vida mudaram a concepccedilatildeo de tudo eacute o melhor presente

que eu recebi

SONORA Dani

ARQUIVO

965_0748_01

TEMPO DE CORTE 516 - 528

―Foi tudo uma forccedila de vontade Meu foco era terminar a faculdade estudar

terminar o que eu tinha sempre sonhado Eu batalhei para estar la na faculdade eu

tinha feito o que era correto eu soacute precisava me organizar de novo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

924 - 1000

(924) e para mim e para o Ademir nesse momento nesse final a gente natildeo

esperava que daquele resgate que foi feito ( ela se emociona) Fosse ter tanta

repercussatildeo e fosse ter tanta coisa pq eu natildeo sabia mais oq eu era ter uma casa ter

uma cama quente uma comida para comer um cafeacute sem esta batendo em

restaurantes

SONORA ADRIANO

LUGOLI

Tudo que tem acontecido da casa de recuperaccedilatildeo para ca eacute surpresa EU natildeo

esperava conseguir ter uma famiacutelia tatildeo bonita ser modelo nunca pensei achei q nao

63

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE

0821 -- 856

Avaliar se corta o final

ou enxuga

era pra mim No dia que eu desfilei participei do Capital Fashion Week quando

via as fotos grifes que me patrocinam academia quem cuida da parte esteacutetica

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_04

TEMPO DE CORTE

109 -130 (+)

1100 -1103

― hoje eu estou indo nas faculdades jaacute fui em vaacuterias faculdades do setor jaacute fui na

cacircmara jaacute me chamaram para dar palestras em vaacuterios locais e hj eu to falando um

pouco de tudo do projeto da revista que tem fortalecido tem dado muito

oportunidade para as pessoas em situaccedilatildeo de rua se levantar de uma forma digna

+

―A revista traccedilos eacute um projeto de ressocializaccedilatildeo de pessoas em situaccedilatildeo de rua

SONORA Ademir

ARQUIVO

967_0340_03

TEMPO DE CORTE 126 - 142

ldquo foram tantas coisas boas que jaacute aconteceu que cada coisa que vai acontecendo que

eacute uma novidade tem coisas que nem daacute para expressar mais de tanta felicidade que

eu e a claudia estamos sentindo juntosrdquo

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0900 - 943

―Quando eu peguei meu primeiro filho no colo o moiseacutes meu deus como a minha

vida mudou Eacute como se deus falasse taacute vendo como vale a pena olha o presente

que eu estou te dando e de repente veio outro presente o daniel Eu olho assim

que eles natildeo estariam ali se eu nao tivesse lutado e cada vez que eles vem e me

abraccedilam Eles sao muito apegados a mim [ emocionado] eacute muito forte muito bom

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_03

TEMPO DE

CORTE034 - 044 +

113- 117

(034) JAacute FIZERAM UM CHAacute ganhamos uns presentes que ainda natildeo abrimos

estaacute laacute aguardando o casamento que elas estatildeo organizando +

113 ―eu soacute tenho a agradecer a cada uma das pessoas que estatildeo nos ajudando

(117)

SONORA Dani

ARQUIVO

―quando a gente olha para traacutes quando eu precisei gravar tirar as fotos para por nas

paacuteginas da revista eu olhei para traacutes e vi o quanto eu caminhei soacute naquele dia eu

olhei para traacutes e vi o quanto que eu tive forccedila Agora saber o mesmo no meu

64

965_0748_02

TEMPO DE CORTE 240 - 308)

interior o que realmente aconteceu soacute deus pq olhando hoje eu natildeo teria coragem

de fazer oq eu eu fiz

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_04

TEMPO DE CORTE -

045 - 111

― para aqueles q estatildeo laacute como eu jaacute estive tb o caminho certo eacute esse deixar tudo

de errado p tras se arrepender das coisas erradas e olhar p frente se tem uma nova

oportunidade de algueacutem chegar ateacute eles e falar vamos p uma casa de recuperaccedilatildeo p

vc tentar neacute natildeo eacute falar que vc vai conseguir mas pelo menos tentar ne

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1022 - 1026- (+) 0900 -

910

―Tenho contatos diaacuterios todos os dias no dia a dia com minha famiacutelia meus

irmatildeos +

―meu pai eu consegui centralizaacute-lo no silecircncio do o silecircncio para ele a resposta que

eu tenho para ele eacute o silecircncio

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 3 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 0319 -- 322 + 358 -423

―hj eu tenho a oportunidade de ajudar outras pessoas ( +)

―e depois que essa historia foi p jornal revista tv

eu falei eu preciso organizar um comeccedilo meio e fim aiacute organizei minha historia

acrescentei uns videos fotos e montei minha palestra que eu chamei de super-accedilao

que fala da acao da minha matildee e da minha irmatilde me ajudando

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_02

TEMPO DE CORTE

852 - 920

― toda pessoa que estaacute em situaccedilatildeo de rua ela precisa de ajuda para sair daquela

situaccedilatildeo seja das pessoas de fora seja de alguma forma de alguma palavra de

alguma pessoa ela precisa de ajuda para ser levantava pq muitas vezes ela laacute

sozinha natildeo vai conseguir

SONORA ADRIANO

LUGOLI

ARQUIVO 2 PARTE

ENTREVISTA

TEMPO DE CORTE 611 - 633

―Ai apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo algo que eu nunca

esperava ( por ter sofrido muita discriminaccedilatildeo) Quando vi os primeiros anuacutencios

propagandas aquilo pra mim foi surpreendente Eu falei poxa eu posso alcanccedilar

algo

SONORA Claudia

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE

―Desde o inicio Eu natildeo imaginei sair daqui nem casada no civil nem no religioso

nem ter uma casinha para morar

65

CORTE1313 - 1321

SONORA Ademir

ARQUIVO 967_0340_02

TEMPO DE CORTE

706 - 732

ldquovamos continuar nossa vida aqui perto mesmo vou arrumar um emprego jaacute tem

pessoas nos ajudando nisso e vou continuar e poder estar ajudando aqui na casa do

mesmo jeito que algueacutem um dia chegou p gente laacute fora e nos trouxe p caacute a gente tb

vai estar fazendo a mesma funccedilatildeo de buscar aqueles e trazer para lugar mais digno

SONORA DANI

ARQUIVO

965_0748_03

TEMPO DE CORTE 1129 - 1200

―Na verdade o que eu tenho para passar eacute para as pessoas que estatildeo bem que

quando eles passarem pelas pessoas que estatildeo na rua levanta elas pq elas precisam

de ajuda e com certeza se vc parar para conversar com pessoas em situaccedilatildeo de rua

vc vai escutar histoacuterias incriacuteveis de todos os tipos de pessoas de profissotildees o que

as pessoas que estatildeo na rua precisam eacute de oportunidades Se elas tiverem uma uacutenica

oportunidade elas conseguem

Clipe de Imagens de todos eles e o fechamento com os creacuteditos

66

APEcircNDICE V ndash Autorizaccedilatildeo de uso de imagem

Fonte Ana Paula Fonseca (2017)

67

APEcircNDICE VIndash Versatildeo de arte para miacutedia

Fonte Marcus Barbosa (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

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68

APEcircNDICE VIIndash Versatildeo de capa para DVD

Fonte Sarah Silva (2018)

Memoacuteria das Ruas

Um Filme DeMArcus barbosa e neila almeida

Memoacuteria das Ruas

O documentaacuterio Memoacuteria das Ruas apresentas as experiecircncias

vividas por Ademir Adriano Claacuteudia e Daniele quatro pessoas

que por um tempo viveram em situaccedilatildeo de rua mas que

conseguiram superar o periacuteodo de invisibilidade e escreveram

suas histoacuterias

O filme aborda as razotildees que os levaram agraves ruas as principais

dificuldades vividas durante esse periacuteodo o caminho percorrido

para a retomada de suas vidas e os planos para o futuro

MEMOacuteRIA DAS RUAS

DIRECcedilAtildeO MARCUS BARBOSA E NEILA ALMEIDA PRODUCcedilAtildeO ANA PAULA FONSECA

FOTOGRAFIA ALEX FAacuteBIO BAacuteRBARA OLIVEIRA FERNANDO PIRES RAPHAEL STEI E LUCAS CAcircNDIA

ARTE E ANIMACcedilAtildeO SARAH SILVA EDICcedilAtildeO JULIA NOGUEIRA

Realizaccedilatildeo

UnBFAC

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