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UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO
FABIO SOARES CAMPOS
A ORIGEM DA VILA MILITAR - RJ
RIO DE JANEIRO - RJ
2011
FABIO SOARES CAMPOS
A ORIGEM DA VILA MILITAR - RJ
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de graduação, em HISTÓRIA, da UNIVERSIDADECASTELO BRANCO, como requisito para a obtenção do grau acadêmico em Licenciatura.
Professor: Francisco Menezes
RIO DE JANEIRO - RJ
2011
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SEMINÁRIO DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSOA ORIGEM DA VILIA MILITAR
Trabalho de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de graduação, em HISTÓRIA, da UNIVERSIDADE CASTELOBRANCO, como requisito para a obtenção do grau acadêmico em Licenciatura.
COMISSÃO EXAMINADORA
Prof. UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO
Prof. UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO
Prof. UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO
RIO DE JANEIRO, ____ de _______________ de 2011
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A ORIGEM DA VILA MILITAR - RJ
Fabio Soares Campos
Curso de História
Professor Orientador: Francisco Menezes
fbparaquedista@yahoo.com.br
ResumoA Vila Militar – RJ, recentemente completou cem anos da sua criação.
Este legado referenciador nos traz a certeza de que sua construção não foi em vão, pois passados todos esses anos, é visto e notório o quão o seu entorno cresceu e progrediu. O período compreendido entre os anos de 1822 a 1908, ou seja, desde o advento da Independência do Brasil, às desventuras e êxitos na Guerra do Paraguai, passando pela Proclamação da República e findando com a construção da Vila Militar, o Brasil se viu diante de muitas lutas e conflitos. Fruto dessas experiências o Presidente - Affonso Pena -, juntamente com o Ministro da Guerra - Hermes da Fonseca -, deram seguimento a medidas significativas no campo militar, dentre elas a promulgação da Lei 1860, de 4 de janeiro de 1908, que tornou o serviço militar obrigatório e determinava a organização da Força. Para tal instaurou-se uma comissão a fim de tratar da Reorganização Geral do Exército. Esta comissão resolve como forma de melhorar as condições da tropa, criar uma área destinada a realização dos treinamentos militares, reformarem os estabelecimentos de ensino militar, e por fim, desencadear a construção de instalações mais apropriadas aos militares no exercício da profissão. Com isto está formulado o objeto do estudo apresentado e espera-se justificar a investigação desvendando o porquê da criação da Vila Militar - RJ, considerada atualmente o maior conglomerado de quartéis da América Latina. Por ultimo, nos será muito oportuno redescobrir novos fatos a respeito do tema.
Palavras chaves: Vila Militar. Exército. Comissão Construtora. Organização da Força.
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Abstract
The Vila Militar - RJ, recently completed a hundred years of her creation. This delegated reference brings us the certainty that her construction was not in vain, because past all those years, it is seen and well-known the how yours spills grew and it progressed. The period understood among the years from 1822 to 1908, in other words, from the coming of the Independence of Brasil, to the misfortunes and successes in the war of Paraguai, going by the Proclamation of the Republic and finishing with the construction of the Military Town, Brasil saw himself before many fights and conflicts. Fruit of those experiences the President - Affonso Pena -, together with the Minister of the War - Hermes da Fonseca -, they gave continuation to measured significant in the military field, among them the promulgation of the Law 1860, of January 4, 1908, that it turned the obligatory military service and it determined in their implied sense the organization of the Force. For such a commission was established in order to treat of the General Reorganization of the Army. This commission solves, as form of improving the conditions of the troop, to create a destined area the accomplishment of the military trainings, to reform the military schools, and finally, it unchained the construction of more appropriate facilities to the military ones in the exercise of the profession. With that, the object of the study here presented justified and it is waited through this investigation to unmask the reason of the creation of the Vila Militar - RJ, considered the largest conglomerate of quartering of America Latina now for I finish, it will be us very opportune to rediscover new facts regarding the theme.
Key words: Military town. Army. Building commission. Organization of the Force.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Esboço da Vila Militar antes da sua construção.......................... 15Figura 2 - Foto do Ten Cel Magalhães Bastos............................................ 16Figura 3 - Lançamento da Pedra Fundamental........................................... 17Figura 4 - Antiga Olaria da fazenda Sapopemba........................................ 18Figura 5 - Vista do 1º RI / BI Mtz, Regimento Sampaio............................... 20Figura 6 - Vista do 1º RI / BI Mtz, Regimento Sampaio............................... 20Figura 7 - Boletim do Exército com a compra das fazendas....................... 22Figura 8 - Antiga fazenda Sapopemba........................................................ 25Figura 9 - Vista da Fazenda de Afonsos 1920............................................ 25Figura 10 - Vista do Campo do Sampaio – atual Praça das Bandeiras, Vila Militar - RJ/2011................................................................................... 26
Figura 11 - Placa inalgurada em março de 2008, homenagiando Magalhães Bastos....................................................................................... 26
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Dados estatísticos do bairro..................................................... 23
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SUMÁRIO
1. Introdução................................................................................................ 082. O começo do descaso............................................................................. 11 2.1 O início das mudanças........................................... .......................... 14 2.2 O legado de um grande homem....................................................... 17 2.3 A situação das fazendas................................................................... 18 2.4 A criação das Brigadas Estratégicas................................................ 21 2.5 As mudanças na estrutura da Força................................................. 22 2.6 A Missão Militar Francesa................................................................. 23 2.7 As conseqüências da Lei 1860.......................................................... 243. Considerações Finais.............................................................................. 274. Referências.............................................................................................. 28
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1. INTRODUÇÃO
Neste artigo pretende-se objetivar uma revisão bibliográfica do tema “A
origem da Vila Militar-RJ”, contudo, nesta abordagem dar-se-á um enfoque com
vistas para o porquê da criação da Vila Militar-RJ.
Buscará expor informações novas e críticas ao tema, cujo período
histórico tem uma importância significativa para a história nacional. A nova
abordagem terá como delimitação o período compreendido entre os anos de 1822
a 1908. A relevância deste período justifica-se pelo fato de que com o advento da
Independência do Brasil – 1822, ocorreram significativos movimentos os quais
influenciaram um contexto histórico dentro da instituição denominada “Força
Terrestre” (FERRER, 2005). Já no “fim do processo”, ou seja, início da construção
- 1907 - seria um marco referenciador, cuja etapa finda mudanças decorrentes
das experiências negativas e positivas da instituição envolvida. O tema sugerido
levará o leitor a um mergulho profundo no passado trazendo novos
esclarecimentos e novos questionamentos sobre o assunto, de forma que isso
justificaria o estudo aqui apresentado.
Este objeto de estudo pretende também despertar questionamentos
dispondo-se de temas cotidianos evolvendo a população circunvizinhas, tais como
questões de ordem urbana e segurança pública. Tais questões evidenciariam
dúvidas e anseios da localidade.
Por fim, ao tratar do tema “A origem da Vila Militar-RJ”, cabe destacar que
as antigas fazendas de Afonsos, Sapopemba e Gericinó trazem consigo um
legado histórico e grandioso, na qual conduzem em seu solo pátrio um fortificado
e pioneiro sucesso fatídico, cujo leito do nascimento, surgiu da criação da
chamada Comissão Construtora. Tal comissão aproveitaria um contexto histórico
e momentâneo, que pelas conseqüências do passado acharam por bem,
desencadear medidas inovadoras na área militar. Então, acataram as ordens do
Comandante Supremo e iniciaram as obras, onde o desencadeamento deu-se no
dia 18 de novembro de 1907, com a realização da cerimônia de lançamento da
Pedra Fundamental [...] (1ª DE, Editorial, 2008).
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Podemos afirmar que nos dias atuais o desenvolvimento das regiões
circunvizinhas deve-se, e muito, a esta criação. Sendo assim, está formulada a
contextualização necessária e presente, para a relevância do estudo
apresentado, cuja importância nos permitirá rever, analisar e levantar novos
questionamentos.
O método de pesquisa apresentado compôs-se, basicamente, da leitura
de documentos historiográficos tais como a Lei Presidencial Nr 1860, de 1907
(Arquivo Histórico do Exército, 2011), de pesquisas literárias de autores tais
como: Burton, Magnoli, Pedrosa, Castro, Ferrer, entre outros. Além das fontes
bibliográficas apresentadas, faz-se necessário dispor de fotografias atuais e do
início da construção.
Embora o foco da pesquisa seja a criação da Vila Militar – RJ, fez-se
necessário reportar-se, inicialmente, em meados do século XIX, no pós
Independência do Brasil - 1822, a fim de entender a problemática e justificativa da
construção do bairro. Nesta ocasião a Força Terrestre passou a ser considerada
por diversas autoridades do Império como uma ameaça à estabilidade política do
até então sistema recentemente instaurado. Tal fato limitante e determinador, em
que se relevava a igualitária presença de portugueses junto ao oficialato no
Exército, aliando-se a este fator uma provável ameaça a estabilidade imperial,
tendo em vista os motins que ocorriam por intermédio das praças. Esses aspectos
eram os causadores das profundas desconfianças junto à sociedade política que
temia o retorno do antigo regime (FERRER, 2005).
Com o temor das possíveis atitudes extremas e restauradoras realizadas
pelo oficialato, e, também, aliando-se a este fato as dificuldades financeiras em
manter o efetivo terrestre profissional, o governo imperial criou em 1831 a Guarda
Nacional, relegando a um segundo plano a antiga Força Terrestre. Esta Guarda,
basicamente, era auto financiada e constituía-se de um mecanismo de controle
eficiente e barato, que no final gerava lucros com a venda de patentes de oficias.
Desta forma, conclui-se que a Força Terrestre não teria relevância para o
Império até por volta de 1864, data esta que precedera o advento da Guerra do
Paraguai, evento este causador de muitas transformações na Força.
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Foi da campanha Paraguai que se redescobrem novas técnicas de
combate, das necessidades de mudanças nos regulamentos internos e na forma
de pensar na defesa do Território Nacional [...] (FERRER, 2005).
Conforme aborda Magnoli (2008), onde nos explica que diante dos
acontecimentos uma série de medidas foi tomada, cuja finalidade era obter
melhores resultados no desempenho interno e externo do Exército. Ações estas
necessárias e inerentes às atividades da caserna, pois objetivariam uma pronta
resposta e um pronto emprego operacional caso houvesse a necessidade de
acionar o Exército ou caso ocorresse alguma eventualidade.
Passados alguns anos da Guerra do Paraguai, mais precisamente na fase
que antecedera a Proclamação da República, vislumbravam-se no Brasil uma era
onde medidas inovadoras no campo militar eram necessárias, objetivando com
isto, melhoras nos fatores eficiência e proficiência. Tais fatores eram
preponderantes para a busca da modernidade. Foi no governo Affonso Pena, que
se resolve tomar medidas extremas e inovadoras, para corrigir eventual falha.
Com isto criou-se a Lei 1860, que como conseqüência, medidas tomadas
abrangeriam a construção da Vila Militar.
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2. O COMEÇO DO DESCASO
Após a Independência do Brasil – 1822, o destino da Força Terrestre teve
um amargo processo de superações. Segundo Ferrer (2005), a presença de
Portugueses junto ao oficialato representava uma possível ameaça à estabilidade
política no Império recentemente instaurado, temia-se com isto a restauração do
antigo regime. Outro aspecto era que os soldados da Força participavam de
motins, arruaças e tumultos, prejudicando assim a imagem da instituição. Neste
período a Guarda Nacional, recentemente criada, passou a ser empregada na
defesa do território brasileiro, com o efetivo maior e com incentivo econômico, em
detrimento do Exército profissional, que ao invés de ser colocado em primeiro
lugar estava relegado em segundo plano, era o “descaso” do Império para com o
Exército (FERRER, 2005, p. 121-122). Descaso por descaso a tropa de tempos
em tempos superava as dificuldades:
[...] Fazíamos essas marchas ordinariamente com alpercatas espanholas, chinelas de couro ou descalços. Os banhados eram muitos, os atoleiros freqüentes, e as botas enchiam-se de água e de lama. Com os sapatos e botinas acontecia o mesmo e os pés se feriam. Raro era o soldado calçado. O nosso pequeno e mal aparelhado Exército deixava muito, senão tudo, a desejar, desde a instrução técnica e o preparo indispensável para a guerra até o comissariado de viveres e forragens, o serviço sanitário, o aprovisionamento de armas, fardamento, equipamento, meios de transporte [...] (CERQUEIRA, 1980, p 63 - 208).
Ao mencionar a Guarda Nacional, não se pode deixar de lembrar que este
novo grupo formado provia lucros ao Império. Com a venda de patentes de
oficiais, o governo angariava lucros e ainda conseguia com este artifício manter o
controle de algumas regiões conflitarias do território nacional, e isto com boa
eficiência.
Em 1864 deflagrava-se a Guerra do Paraguai, ocasião em que os
Paraguaios aprisionaram o navio brasileiro Marquês de Olinda e posteriormente
invadiram as províncias do Mato Grosso - 1864 e do Rio Grande do Sul - 1865,
respectivamente., com seu numeroso exército de 60.000 a 80.000 mil homens
aproximadamente. Neste momento os Paraguaios estavam distribuídos entre as
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armas de Infantaria, Cavalaria e Artilharia, que no Teatro de Operações1
assumiram suas respectivas funções, atacando o inimigo através de manobras
estratégicas, nas quais utilizavam a combinação das Armas [uma sinergia de
esforços para eliminar as tropas aliadas], assim estabelecendo uma nova forma
de guerrear, diferente das chamadas guerras de guerrilhas ou guerras irregulares
travadas na Região do Prata (FERRER, 2005).
O Império percebe então a necessidade de organizar o exército e com
isto torná-lo forte e capaz de defender o território nacional, que estava ameaçado,
já que com o Exército carente, no pós Independência do Brasil, a Guarda
Nacional passou a ser empregada na defesa do território brasileiro com maior
quantitativo, em detrimento do Exército profissional. Durante a Guerra, se
observou as dificuldades da formação desse contingente profissional, que se
encontrava desprovido de efetivo humano, armamento, víveres e fardamento,
completamente desestruturado e incapacitado para enfrentar o Exército do
Paraguaio (FERRER, 2005).
Considerando que Magnoli (2008, p. 255), nos lembra que a partir de
meados da década de 1850, o governo de Carlos Antonio López buscou
modernizar o Paraguai. E, tal modernização ocorreu basicamente no plano militar,
utilizando-se, principalmente, da Grã-Bretanha. Lopez contratou técnicos e
comprou equipamentos, isto com as libras obtidas na exportação de produtos
primários. A Guerra do Paraguai foi o conflito internacional de maior duração, e,
possivelmente, o mais mortífero travado na América do Sul.
Tal fato comprova o quanto as nações vizinhas já se preocupavam, e
muito, com a defesa de seu território e com seus Exércitos, servindo de exemplo
para as autoridades brasileiras.
Da campanha Paraguaia nos restou, inclusive, lições onde, segundo
Pedrosa (2004, p.20), os homens do Exército que se ligaram entre si pela
camaradagem de uma campanha, ficaram fascinados pelo desenvolvimento
1 Segundo a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Exercito Brasileiro, o Teatro de Operações é o espaço geográfico – terrestre ou marítimo – necessário a condução de operações militares de vulto. Normalmente o teatro de operações predominantemente terrestre possui, no sentido da
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intelectual da Argentina e do Uruguai, também pelo fato de por lá, não haver a
vergonhosa escravidão, “extinta” no Brasil em 1888, com a Lei Áurea.
Naquela oportunidade - Guerra do Paraguai - o Governo do Império não
dispondo, senão de uns 10 ou 12 mil homens do Exército, convidou o povo
brasileiro a se apresentar voluntariamente2, para a defesa da Pátria, prometendo
aos voluntários como recompensa, no fim da guerra, uma sorte de 22.500 braças
de terra e 300$ em dinheiro para as praças (CASTRO, 1995, p 203). Cabe
ressaltar que a Guerra do Paraguai serviu de embasamento para as mudanças na
prestação do serviço militar inicial no Brasil. Onde inicialmente, tínhamos o
serviço de voluntários ou apenados no pós Guerra, passava-se a obrigatório, pois
com a experiência obtida na Guerra ficou comprovado que quando se precisa de
um efetivo para compor uma Força, os artifícios utilizados não superam o esforço
e a eficiência. Não tínhamos reservas (reservistas), nem um efetivo pronto,
consideravelmente suficiente para compor uma força que fizesse frente ao
inimigo, inclusive Burton (2001, p 325 - 326), nos afirma que o Exército Brasileiro
encontra-se nas piores condições possíveis, evidenciando a carência geral.
Com vistas para a República, Sousa (2011) exemplifica que por volta de
1894, a Revolução Federalista movimentava a República recentemente
instaurada. O movimento revoltoso ocorrido logo após a Proclamação
desenvolveu-se entre facções políticas rivais localizadas no Rio Grande do Sul.
Em 1894 revoltosos - maragatos3 - ao novo regime político republicano, em
marcha vinda das bandas do sul do Brasil encontraram grande resistência na
cidade da Lapa - PR, que era o principal foco de resistência.
A resistência dos republicanos - pica-paus4 - teve um papel decisivo nesta
revolução sangrenta e proporcionou ao governo central do Marechal Floriano, na
época o símbolo da República e da legalidade, o tempo suficiente para a
2 Até então o serviço militar não era obrigatório, passando a ser, a partir da publicação da Lei
1.860, de 4 de janeiro de 1908.
3 Federalistas; Termo pejorativo de origem castelhana que significa: pessoa sem qualificação.
4 Nome dado aos republicanos por usarem farda azul e vermelha.
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aquisição no estrangeiro de uma esquadra5, bem como para a organização em
São Paulo, das forças necessárias para deterem e repelirem o avanço dos
federalistas.
Essa revolução ganhou forças, no Rio de Janeiro, quando, no mesmo
ano, a Revolta Armada apoiou a causa dos Federalistas.
Mais tarde a República, por sua vez, foi estimulada no conflito político que
invadiu a consciência dos oficiais brasileiros nos acampamentos e bivaques,
queixosos com o descaso do império pelo Exército, eles que arriscavam a vida e
foram motivados para a proteção grandeza do Brasil, com a própria vida
(PEDROSA, 2004, p. 20).
Tais acontecimentos foram à gota d’água para as autoridades da época,
fazendo com que comprassem no estrangeiro uma Esquadra. Esta idéia
demonstrava o pensamento por parte das autoridades da época, ou seja, do
sentimento de adquirir novos equipamentos, não só para a Força Terrestre como
também para a Armada (Marinha), demonstrando com isso a necessidade de
melhorar o poder combativo do País. As mobilizações para a defesa da República
avolumavam-se, desencadeando um ambiente para medidas ligadas a mudanças.
2.1 O INÍCIO DAS MUDAÇAS
É chegada à hora de no Brasil, já que se tinha diante de tantos
acontecimentos, o desencadeamento de medidas inovadoras estendendo-se a
área militar. Para tanto em 19 de agosto de 1907, foi nomeada uma comissão
para incumbir-se da construção da Vila Militar de Sapopemba. A chamada
Comissão Construtora ficou diretamente subordinada à Direção Geral de
Engenharia e tinha a missão de construir a Vila Militar de modo a satisfazer a
todas as condições de higiene, comodidade e conforto da tropa.
5 Esta idéia demonstra o pensamento por parte das autoridades, o sentimento da adquirir novos equipamentos, não só para a Força Terrestre, como também para a Armada (Marinha) , demonstrando assim as necessidades de melhorar o poder
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Sob o comando do Tenente Coronel Ignácio de Alencastro Guimarães,
alguns militares foram nomeados membros da Comissão Construtora; Maximiano
José Martins – Capitão do Corpo Engenheiros, os Tenentes Antonio Leite de
Magalhães Bastos Junior e Joaquim Sotero Ferreira Cantão, de Artilharia e Mario
Alves Ferreira, Antonio Mendes Teixeira e Raymundo Nonato de Campos, de
Infantaria.
Figura 1 - Esboço da Vila Militar antes da sua construção. Fonte: 1ª Divisão de Exército.
Magalhães Bastos, desde o início, foi o responsável por dirigir os
trabalhos escriturários além dos de ordem técnica. Ele organizava os diversos
projetos, calculando toda a estrutura das casas e quartéis. O referido militar
recebeu dos seus chefes honrosos elogios. A Comissão Construtora, também foi
motivo de elogio, pela sua capacidade profissional e modo inteligente na qual
conduziu os trabalhos.
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Figura 2 - Ten Cel Magalhães Bastos Fonte: 1ª Divisão de Exército.
O Tenente de Artilharia Magalhães Bastos, transferido para a Engenharia
em 13 de agosto de 1908, no ano seguinte assumiu o comando da 2ª Companhia
do 1º Batalhão de Engenharia, considerado auxiliar da Comissão, que passou a
ser constituída, em maio de 1909, somente por oficiais de Engenharia lotados
naquele Batalhão. Juntos o Tenente Coronel Ignácio de Alencastro Guimarães e
Magalhães Bastos permaneceram como membro da Comissão até 11 de maio de
1914.
2.2 O LEGADO DE UM GRANDE HOMEM
O Tenente Magalhães Bastos foi um dos principais membros da
Comissão Construtora. Participou de todas as obras de construção e adequação
dos novos quartéis da Guarnição, com isso teve seu nome batizado na Estação
Ferroviária e ao bairro de Magalhães Bastos, bairro este vizinho à Vila Militar. Foi
reformado em 27 de agosto de 1920, como Coronel. Estava muito doente,
naquela oportunidade vindo a falecendo um ano depois. (Editorial, 1ª Divisão de
Exército, 2008).
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Figura 3. Lançamento da Pedra Fundamental. Fonte: 1ª Divisão de Exército.
Segundo a 1ª Divisão de Exército (2008), para realização do feito foi
necessário comprar as Fazendas de Gericinó e de Sapopemba, que inclusive
possuíam algumas casas e algumas instalações que foram reaproveitadas
durante a construção. A Fazenda de Sapopemba, por exemplo, possuía 170
casas e residências agrupadas por quarteirões, com 66 destas casas isoladas,
nas quais as mesmas eram destinadas aos operários. Os terrenos, em grande
parte, foram divididos em lotes pequenos, dos quais 123 estavam alugados a
civis.
A Fazenda possuía, ainda, uma oficina de ferreiro, fundição, serraria,
usina elétrica (que iluminava ruas, casas, quartéis, dependências das fazendas e
da estação da Estrada de Ferro Central do Brasil), além de uma olaria.
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Figura 4. Antiga Olaria da fazenda Sapopemba. Fonte: 1ª Divisão de Exército.
2.3 A SITUAÇÃO DA FAZENDAS
É importante salientar que as terras de Gericinó e Sapopemba foram
arrematadas em leilão público da Empresa Industrial Brasileira, em liquidação
forçada. A efetiva compra aconteceu em 27 de maio de 1908, pela então Fazenda
Federal dos Estados Unidos do Brasil. Em seguida, começaram a serem feitos os
levantamento e nivelamentos dos terrenos mais favoráveis à locação dos edifícios
da Vila Militar em Sapopemba, além de desenhos das plantas e o estudo dos
cálculos aproximados de terraplanagem.
Outro aspecto é que a Fazenda de Gericinó foi entregue à Intendência do
4º Distrito Militar (que corresponde à atual 1ª Região Militar), para experiência de
cultivo de forragens. Dela partiam os encanamentos para o abastecimento de
19
água de Sapopemba. O Campo de Instrução de Gericinó se originou desta
fazenda e até hoje, exercícios naquela área, são realizados.
A fazenda de Afonsos foi comprada de particulares para servir como
invernada do Regimento de Cavalaria da Polícia Militar. Naquela época, a Polícia
era controlada pelo Ministério da Justiça, que cedeu em novembro de 1912, parte
de suas terras a título precário ao Aeroclube Brasileiro. No ano seguinte houve
uma troca entre os Ministérios da Justiça e da Guerra: o primeiro cedeu terras ao
segundo para a instalação da Escola Brasileira de Aviação e o segundo, à Polícia,
onde hoje funciona a Escola de Formação de Oficiais da Polícia Militar do Estado
do Rio de Janeiro.
Já a Escola Brasileira de Aviação foi criada um ano depois, em 1914, e,
deu lugar em 1919, à Escola de Aviação Militar, que tinha como missão preparar
pilotos, observadores, mecânicos e operários especialistas.
A área foi batizada com o nome de Campo dos Afonsos, em homenagem
à fazenda que lhe deu origem, ficando sob a responsabilidade do Ministério da
Aeronáutica, criado em 1941. Na Vila Militar a construção do primeiro quartel deu-
se em 23 de março de 1908.
Segundo a 1ª DE, o 1º Regimento de Infantaria (1º RI), conhecido
atualmente como 1º Batalhão de Infantaria Motorizado (Escola) (1º BI Mtz),
denominado Regimento Sampaio, foi o primeiro quartel a ser construído. Sendo o
1º RI constituído a partir do Decreto Nr 6.971, de 4 de junho de 1908, e instalado
na então capital federal, Rio de Janeiro, em 22 de janeiro de 1908. Inicialmente,
foi entregue ao comando do 2º RI. O 1º Regimento só ocupou suas instalações
em definitivo na Vila Militar no dia 13 de julho de 1911.
O 2º Regimento de Infantaria, atualmente conhecido como 2º BI Mtz
(Escola) – Regimento Avaí, foi constituído através do mesmo Decreto que o 1º RI,
e instalado na capital federal, no bairro de Deodoro, um dia antes, em 21 de
janeiro de 1909. Constam nos registros históricos do quartel que naquela época, o
quartel tinha o maior percentual do seu pessoal, envolvido nos trabalhos de
construção da Vila Militar.
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Após 37 meses de mortificante sacrifício, ocuparam as instalações do
referido quartel. O 2º RI ocupou suas atuais instalações em definitivo um ano
depois, em 9 de agosto de 1911.
Figura 5. 1º RI / BI Mtz, Regimento Sampaio. Foto: Fabio Soares Campos.
Figura 6. 1º RI / BI Mtz, Regimento Sampaio. Foto: Fabio Soares Campos.
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2.4 A CRIAÇÃO DAS BRIGADAS ESTRATÉGICAS
Foi em 6 de agosto de 1908, que o presidente da República Affonso
Pena, através do Decreto Nr 7.054, criou Brigadas Estratégicas, cada uma sob o
comando de um General de Brigada. Na época, esse tipo de organização militar
era à base de formação do Exército Brasileiro e, para tal, a maior unidade que
poderia permanecer constituída.
O Ministro da Guerra Hermes da Fonseca, destinou o aquartelamento de
uma dessas brigadas à Vila Militar. Devido à importância da região, a mesma
passou a ser a sede da 1ª Brigada Estratégica que deu origem, mais tarde, à
atual 1ª Divisão de Exército (fonte: 1ª Divisão de Exército).
Na época os quartéis em construção na Vila Militar comporiam a referida
Brigada Estratégica, que teve como primeiro comandante o General José
Caetano de Faria, que acumulava o comando do 4º Distrito Militar. Em 20 de
agosto de 1909, tomou posse como seu Comandante o General Antonio Adolpho
da Fontoura Menna Barreto.
Naquele momento o 1º, 2º e 3º Regimentos de Infantaria, o 1º Regimento
de Artilharia Montada, o 13º Regimento de Cavalaria, o 1º Batalhão de
Engenharia, a 1ª Companhia de Metralhadoras, a 1ª Bateria de Obuseiros, o
Esquadrão de Trem, o Parque de Artilharia e o Pelotão de Estafetas, eram
subordinados à 1ª Brigada.
Em 1915, através do Decreto Nr 11.497, de 23 de fevereiro, foram criadas
cinco Divisões do Exército (DE) e a 1ª Brigada Estratégica passou a ser
denominada como 3ª DE. Quatro anos mais tarde, foi transformada em 1ª DE
através do Decreto Nr 13.652, de 18 de junho, e em 1921, passou a ser
denominada 1ª Divisão de Infantaria, tendo o seu Comando unificado ao da 1ª
Região Militar.
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2.5 AS MUDANÇAS NA ESTRUTURA DA FORÇA
Passados alguns anos, mais precisamente em 1938, no dia 10 de agosto,
através do Decreto Lei Nr 609, foi criada a Infantaria Divisionária da 1ª Divisão de
Infantaria e com o Decreto Lei Nr 9.350, de 12 de junho de 1946, foi criada a 1ª
Divisão de Infantaria. A atual 1ª Divisão de Exército, que recebeu esta
denominação em 1971, permanecendo até hoje à frente da Guarnição da Vila
Militar.
Figura 7. Boletim do Exército com a compra das fazendas. Foto: Fabio Soares Campos.
A unidade ocupou sua sede definitivamente em 1938, sendo construída
em frente à Estação Ferroviária da Vila Militar, e inaugurada no dia 5 de outubro.
(Fonte: 1ª Divisão de Exército).
A Vila Militar foi crescendo pouco a pouco. Quartéis eram criados,
renomeados e transferidos, o núcleo recém instaurado começou a participar de
fatos importantes e históricos do nosso País.
23
Profundas mudanças ocorreram na arte militar, com a eclosão da 1ª
Guerra Mundial (1914 -1918), um exemplo foi a adoção de novos tipos de
armamentos e novos métodos de combate. No Brasil as autoridades perceberam
a importância da modernização do Exército, e, com isso, contrataram uma missão
militar com o objetivo de revisar e melhorar a nossa doutrina. Foi através da
Missão Militar Francesa, que alcançaram-se este objetivo. Sua escolha deveu-se,
principalmente, tendo em vista o sucesso Francês na guerra, e, também, pela
existência de laços culturais fortes com o Brasil.
2.6 A MISSÃO MILITAR FRANCESA
Esse comissionado - a Missão Militar Francesa - trabalhou no país de
1920 a 1940, implantando novos métodos de raciocínio para solução de questões
táticas e para o estudo de problemas militares. A Escola de Aperfeiçoamento de
Oficiais (EsAO), localizada na Vila Militar ao lado da 1ª DE, foi uma das
organizações militares que mais sofreram influência desta. Lá, inclusive, existe
uma exposição que conta a história desta Missão, assim como seus feitos que,
em tempo, contribuíram significativamente para a evolução da doutrina militar,
promovendo uma série de reformulações na área e nos setores da Força
(Editorial. 1ª DE. 2008).
Quadro 1 - Dados estatísticos do bairro
Dados Data Observação
Total da Área Territorial 2003 1.075,67 hectares
Total da População 2000 13.691 habitantes
Total de Domicílios 2000 3.854 casas
Região Administrativa - XXXIII - Realengo
Dados disponíveis em: <http://pt.wikipedia.org> acesso em: 20 Abr 11. Confeccionado por: Fabio Soares Campos
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Sobre o bairro, ainda, é importante salientar que o bairro é atualmente o
lugar onde concentra-se o maior número de aquartelamento do Brasil, sendo
também a maior concentração militar da América Latina, com mais de 60 mil
homens. A Vila Militar é um bairro de classe média e média-alta, da Zona Oeste
da cidade do Rio de Janeiro (disponível em: <http://pt.wikipedia.org> 20 Abr 11).
2.7 AS CONSEQUÊNCIAS DA LEI 1.860
Por fim, cabe ressaltar o vultuoso e transformador efeito, causado pela
Lei 1860, de 04 de janeiro de 1908, promulgada pelo Presidente Affonso Pena
juntamente com o Ministro da Guerra Hermes da Fonseca, onde que para tal
abordava:
“[...] O Presidente da República regula com a Lei Nr 1860, de 05 de
janeiro de 1908: o alistamento e o sorteio militar e reorganiza o Exército,
e, de acordo com o Titulo IX, Da reorganização do Exército, Art. 105,
estabelece: Para o cumprimento do disposto nos artigos anteriores, o
Exército será organizado [...]” (Brasil. Lei Nr 1860, 1908).
Neste propósito, cujo objetivo concretizava os anseios da classe e
valorisava com isso, todo o esforço dispendido durante várias décadas
passadas. Este feito alavanca muitas mudanças e muitas transformações, enfim,
era desencadeado o propósito, simples, porém esperado, mas que dependia da
visão de alguém do comando principal da cadeia hierárquica, que enxergasse
com bons olhos o avanço do poderio militar. Reforçando com este propósito o
objetivo de assegurar a nação um novo rumo a soberania.
Em pouco tempo pode-se perceber que todas aquelas mudanças eram
necessárias, pois no mundo o clima já não andava muito bem. Descorria-se na
época início de revoltas, insatisfações com governos, disputas por terras com fins
comercial, etc. O Brasil já necessitava entrar, realmente, na era das inovações na
área militar.
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Figura 8. Antiga fazenda Sapopemba. Fonte: 1ª Divisão de Exército.
Figura 9. Vista da Fazenda de Afonsos 1920. Fonte: 1ª Divisão de Exército.
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Figura 10. Vista do Campo do Sampaio - 2011(Praça das Bandeiras), Vila Militar - RJ. Foto: Fabio Soares Campos.
Figura 11. Placa inalgurada em março de 2008, homenagiando Magalhães Bastos.Fonte: 1ª Divisão de Exército.
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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mesmo com o passar dos anos pode-se observar o bom estado de
conservação das antigas construções e da arborização local, que data do início
da construção. Outro aspecto a observar foi a mudança ocorrida num passado
recente, onde uma das vias do bairro (Av. Duque de Caxias), que anteriormente
corria o fluxo do trânsito no sentido bairro Magalhães Bastos para Deodoro,
passou a ser destinada aos transeuntes. A utilização desta via atualmente
destina-se às práticas de atividades físicas tais como corridas, caminhadas,
ciclismo, etc. A crescente urbanização no entorno é um fator a ser considerado,
levando em consideração o nascimento do bairro. Observa-se nos dias de hoje
um enorme desenvolvimento pelas vizinhanças da área militar e bairros
batizados com nomes de integrantes da antiga comissão construtora.
Diante do exposto podemos compreender que antes da independência do
Brasil, da Guerra da Tríplice Aliança e da Proclamação da República o Exército foi
relegado a 2º plano enquanto força militar de segurança. Isto se deu tanto na
esfera social quanto na esfera política e econômica, portanto, não possuía
significação expressa por entre as camadas sociais e políticas da Nação. Porém,
após uma momentânea calmaria, simpatia com a força e lucidez governamental,
promulgou-se a Lei 1860, fazendo com que esse Exército fosse organizado
agregando-se ao seu efetivo permanente, grande parte da sociedade, que
anteriormente encontravam-se as margens da estrutura socioeconômica do
Brasil.
Por fim, após todas essas mudanças a Força passa ocupar seu espaço
no delicado contexto social, político e econômico do país. Assim sendo, essa
instituição agora fortalecida passa a assumir posições políticas significativas no
contexto nacional, em meio às proximidades da 1ª Guerra Mundial.
Ao findar o tema, verificamos o quão a criação de um “Bairro”, contribuiu
historicidade do país. Vimos o retrato da sua relação existente com fatos
importantes ocorridos no cenário historiográfico nacional que envolveu a
instituição denominada Exército Brasileiro.
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4. REFERÊNCIAS
BRASIL. 1ª Divisão de Exército. Editorial dos cem anos da criação da Vila Militar – RJ. Rio de Janeiro, 2008.
BRASIL. Ministério da Guerra. Lei 1.860, Rio de Janeiro, 1908.
BURTON, Richard F. Cartas dos Campos de Batalha do Paraguai. Rio de Janeiro. Bibliex.
CERQUEIRA, Dionísio. Reminiscência da campanha do Paraguai, Rio de Janeiro. Bibliex, 1980.
CASTRO, Therezinha de. História Documental do Brasil. Rio de Janeiro. Bibliex.
FERRER, Francisca Carla Santos. Artigo Científico sobre a (Re)organização do Exército Brasileiro na Guerra do Paraguai. Rio Grande, 2005.
MAGNOLI, Demétrio. História das Guerras. Rio de Janeiro. Contexto.
PEDROSA, J. F. Maya. A Catástrofe dos Erros. Rio de Janeiro. Bibliex.
SOUSA, Rainer. Revolução Federalista: Brasil República, Rebeliões na República Velha. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/historiab/revolucao-federalista.htm>. Acesso em: 20 Abr 11.
Vila Militar: bairro do Rio de Janeiro. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Vila_Militar_(bairro_do_Rio_de_Janeiro) >. Acesso em: 20 Abr 11.
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