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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO “A VEZ DO MESTRE”
O NOVO E VELHO FENÔMENO SOCIAL:
O BULLYING NAS ESCOLAS
VIRGILIA AUGUSTA DA COSTA NUNES
ORIENTADORA:
PROFª. ANA PAULA LETTIERI FULCO
RIO DE JANEIROJANEIRO/2007
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO “A VEZ DO MESTRE”
Apresentação de monografia ao Conjunto Universitário Candido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia Jurídica.
RIO DE JANEIROJANEIRO/2007
O NOVO E VELHO FENÔMENO SOCIAL:
O BULLYING NAS ESCOLAS
VIRGILIA AUGUSTA DA COSTA NUNES
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AGRADECIMENTOS
À todas as pessoas pelo apoio direto ou indireto que ofereceram à realização desta monografia.Em especial:À professora Dr.ª Denise de Souza Soares, pessoa imbuída de espírito de luta e incentivo, contribuindo, de alguma forma, para a elaboração deste trabalho.
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DEDICATÓRIA
Meu esposo, pela presença amiga e compreensão das horas solitárias deixadas para trás e a esta orientadora, pelo carinho que nos dedicou e paciência com que nos orientou.
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METODOLOGIA
A metodologia empregada constituir-se-á de levantamento da documentação existente
sobre o assunto, qual seja, o bibliográfico com destino à coleta de material e de dados, através da
leitura de livros, jornais, revistas e textos da Internet para o trabalho a ser desenvolvido. Esta busca
metódica contará, também, com outra valiosa fonte que são os fichários das bibliotecas para
elaboração de bibliografia especial referente ao tema ainda pouco conhecido entre os estudiosos.
Outrossim, conterá avaliação crítica do material a ser selecionado, montagem do projeto inicial e a
redação da monografia com relatos, publicações, pesquisa quantitativa dos envolvidos, realizada
pelos alunos da 6.ª série do Ensino Fundamental do Colégio Pedro II, nas aulas de Sociedade e
Cidadania durante o ano letivo de 2006 e os respectivos gráficos.
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RESUMO
Analisar o fenômeno universal de bullying entre os alunos como o resultado de
brincadeiras que machucam a alma, mediante a relação de causa e efeito da agressividade
apresentada no ambiente da instituição escolar, significa descobrir o que existe por trás da
manifestação considerada brincadeira própria da idade e que, na verdade, representa violência
moral velada cometida e sofrida por meninos e meninas nas escolas. A presença deste fenômeno já
restou comprovada nas escolas de todo mundo, bem como nas escolas brasileiras, tendo, somente,
agora, alcançado notório cuidado em face das tragédias ocorridas em escolas brasileiras, como
poderá ser constatado durante as leituras seguintes. Embora venha mascarado sob a forma de
brincadeira e ainda seja tratado como normal, natural por pais e educadores, com raras escolas a
conhecê-lo e combatê-lo, condignamente, como problema de forte carga emocional, ele prejudica a
vítima e a fere na área mais preciosa, íntima e inviolável do ser- a sua alma-, afetando-lhe a
memória, a mente, o desenvolvimento de sua inteligência, de sua capacidade de auto-expressão e
sua condição de primar por cidadania e qualidade de vida, em virtude dos traumas sofridos por
intimidação e humilhação com sérias conseqüências ao desenvolvimento psíquico dos alunos,
gerando desde queda na auto-estima até, em casos extremos, o suicídio e outras tragédias. Este
fenômeno não é praticado só contra crianças e adolescentes. Os professores e adultos, em geral,
também podem ser atingidos. Segundo o coordenador do programa de bullying da ABRAPIA
(Associação Brasileira Pais, Infância e Adolescência), a maioria dos casos ocorre no interior das
salas de aula, sem o conhecimento do professor. Ora, em uma aprendizagem apavorada não se pode
aprender. Sendo ele uma das causas mais importantes de fracasso escolar, as escolas devem,
portanto se preparar para pesquisa e divulgação deste fenômeno, que não é novo, mas começa a
receber a atenção dos especialistas diante da atual conjuntura de violência e agressividade nas
escolas por parte dos alunos. A observação em alunos com o perfil descrito acima como aqueles
implicados em situações de violência será de grande valia par ao estudo. A conscientização requer
um programa com estratégias e ações mobilizadoras, envolvendo escola, direção, corpo docente e
discente, além de pais e colaboradores para sua erradicação plena.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
Fenômeno Bullying 10
CAPÍTULO II
Anti-bullying 29
CAPÍTULO III
Mídia e Cyberbullying 36
CONCLUSÃO 43
BIBLIOGRAFIA 48
WEBGRAFIA 49
ÍNDICE 50
ANEXOS 51
FOLHA DE AVALIAÇÃO 52
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INTRODUÇÃO
A fenomenologia bullying tem origem na palavra inglesa bully, que significa violento,
tirano. Como verbo, to bullying significa ameaçar, brutalizar, oprimir, intimidar e maltratar. A
palavra bullying não tem tradução para o português, mas comporta todas as formas de agressão
feitas na intenção de machucar as pessoas até a alma, conforme se constata no dia-a dia das
vítimas, dos agressores e dos espectadores.
“Os comportamentos bullying podem ocorrer de duas formas: direta e indireta, ambas aversivas e prejudiciais ao psiquismo da vítima. A direta inclui agressões físicas (bater, chutar, tomar pertences) e verbais (apelidar de maneira pejorativa e discriminatória, insultar, constranger); a indireta talvez seja a que mais prejuízo provoque, uma vez que pode criar traumas irreversíveis. Esta última acontece através de disseminação de rumores desagradáveis e desqualificantes, visando à discriminação e exclusão da vítima de seu grupo social.” (Fante,2005,p.50).
Assim, bullying é toda atitude grosseira, hostil, repetitiva, disfarçada de brincadeira de
estudante. Esta forma de violência apresenta-se de forma velada, através da soma de
comportamentos maldosos, intimidadores e sempre repetitivos contra a mesma vítima, sendo seu
alcance destruidor, altamente, prejudicial à comunidade escolar e à sociedade em sua plenitude.
Justificar as causas e os efeitos do fenômeno desta violência moral, ou seja, do bullying
no ambiente da instituição escolar mediante a agressividade dos alunos utilizada em seu cotidiano
não é tarefa fácil. Pelo contrário, tal análise torna-se muito mais complexa, pois ela se reflete sobre
nós mesmos, nossos pensamentos, nossos sentimentos e atos.
Os profissionais da Educação não dominam ainda o tratamento a ser utilizado nem
distinguem os alunos agressivos dos indisciplinados e violentos porque as fronteiras da violência no
tempo e no espaço se tornam de difícil definição, se confundem, se interpenetram, se inter-
relacionam com agressão e indisciplina quando manifestadas na esfera escolar.
O bullying escolar entre pares é um fenômeno tão antigo quanto prejudicial e pode
deixar marcas profundas na vida de um estudante. Quem já sofreu com o bullying, sabe que não é
fácil esquecer a humilhação. Por isso é comum a vítima levar esse trauma para a vida adulta. Os
efeitos mais comuns dessa agressão traduzem depressão, insegurança, problemas na escola e
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síndrome de pânico. Em casos mais extremos, a vítima pode tornar-se violenta com os colegas ou
até mesmo pensar em suicídio.
Apesar de haver tanto tipo de violência, há maneiras de evitar ou inibir o bullying,
aplicando-se o anti-bullying para que os envolvidos curem suas feridas emocionais, tornem-se seres
humanos autoconfiantes e rumem à auto-superação na vida.
Ressalte-se que na vida familiar, escolar ou esportiva, nas associações de todo tipo e no
voluntariado, os adultos têm uma função precípua importantíssima, a do social. Eles detêm a
conexão e a mediação entre os jovens e a sociedade. Por isso, devem passar a imagem de um ser
humano com referência educativa natural para o adolescente que carece de crescimento, modelos e
inserção correta no mundo em busca de sua adultidade.
Os adultos devem se responsabilizar pela gestão do exercício da autoridade e do poder
compartilhados (empowerment), porquanto este discurso é o único a erradicar tais atitudes
agressivas. Desta forma, promove-se o empowerment como poder com e não como poder sobre,
baseando-se na valorização da relação, da comunicação como contato emocional e construção
contínua e na afetividade, esta enriquecida pela leitura dos sinais que vêm do outro com o qual se
relaciona.
No ambiente escolar, quando não há medidas contra este fenômeno, a tendência para
um ambiente contaminado é muito grande. Todos os alunos são afetados negativamente. Deste
modo, as medidas adotadas nas escolas para inibir tais condutas são necessárias e se bem aplicadas
em toda a comunidade, controlam o bullying de forma a trazer o envolvimento para a formação de
uma cultura de não violência na sociedade, ou seja, o anti-bullying.
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CAPÍTULO I
FENÔMENO BULLYING
1.1. Definição, origem e breve histórico
O que é o fenômeno do Bullying? Bullying, expressão inglesa que se traduz por
crueldade, representa uma das inúmeras formas de violência na escola. Tem origem na palavra
inglesa bully que significa valentão, brigão. Como verbo, possui uma gama de significados, a
exemplo, ameaçar, amedrontar, tiranizar, oprimir, intimidar, maltratar, excluir, implicar, humilhar,
não dar atenção, fazer pouco caso e perseguir os outros.
É um problema mundial. Não são conflitos normais ou brigas entre estudantes, são
verdadeiros atos de intimidação preconcebidos, através de ameaças, às vezes considerados
irrelevantes, mas que deveriam ter como peso decisivo a presença da intervenção de um adulto,
pois a condição de sujeição, o sofrimento psicológico, o isolamento e a marginalização a que são
submetidos os estudantes, na mais tenra idade, por atos de vandalismo, não sugerem inocência.
Trata-se de um comportamento ligado à agressividade física, verbal ou psicológica e
independe de classe social. È um conjunto de atitudes agressivas intencionais e repetidas, sem
motivações evidentes, que pode ser praticado por uma pessoa ou um grupo de jovens definidos
como intimidadores nos confrontos com uma vítima predestinada, dentro de uma relação desigual
de poder. Tais atitudes compreendem colocar apelidos do tipo gordo, orelhudo, quatro olhos,
baleia, botijão de gás, ou discriminar, excluir, intimidar, agredir, humilhar, tiranizar, entre outros.
Também, reforçam o preconceito contra negros, magras, feios, gays, repetentes, latinos...Onde vai
parar essa lista?
Na opinião de Fante (2001), as pesquisas indicam que metade das crianças sofre
bullying ao longo de sua estada na escola e somente 10% não apresentam males posteriores.
Portanto, os atos repetitivos entre iguais (estudantes) e o desequilíbrio de poder são as
características essenciais, que tornam possível a intimidação da vítima. Até os princípios dos anos
setenta, poucos esforços foram envidados para seu estudo sistemático, com exceção da
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Escandinávia e após a primeira década de setenta, surgiu na Suécia grande interesse pelos
problemas desencadeados por ele.
O primeiro a relacionar a palavra ao fenômeno foi Dan Olweus, na década de 70,
professor da Universidade de Bergen – Noruega (1978 a 1993) e com a Campanha Nacional Anti-
bullying nas escolas norueguesas em 1993. Na Noruega, o fenômeno foi preocupante por muitos
anos, porém as autoridades educativas não se comprometeram de forma oficial. Na década de 80,
três rapazes entre 10 e 14 anos cometeram suicídio e então, ao pesquisar o fato com base em
hipóteses de tendências suicidas entre adolescentes, Olweus descobriu que a maioria desses jovens
tinha sido objeto de algum tipo agressivo. Olweus pesquisou 84.000 estudantes, 300 a 400
professores e 1000 pais para avaliar a natureza e ocorrência do fenômeno através de questionário de
25 questões com respostas de múltipla escolha, onde se observava a freqüência, tipos de agressões,
locais de maior risco, tipos de agressores e percepções individuais quanto ao número de agressores.
Os primeiros resultados saíram em 1989, confirmando que 1 em cada 7 estudantes estava envolvido.
Em 1993, Olweus publicou o livro Bullying at School.
Durante a década de 90, ocorreram na Europa muitas pesquisas e campanhas em torno
do assunto para inibir a prática. Muitos pesquisadores denominam o termo de violência moral. Na
língua inglesa o termo usado é bullying, na França chamam de harcèlement quotidén, na Itália de
prepotenza ou mesmo bullismo, no Japão de yjime, na Alemanha de agressionen unter schülern, na
Noruega de mobbing, na Suécia e Finlândia de mobbning, na Espanha de acoso y amenaza entre
escolares e em Portugal de maus tratos entre os pares. No Brasil, ainda não há um termo específico
para nomear o problema. O próprio termo violência moral foi inspiração do francês assédio moral,
mas existem outras denominações defendidas. Para Monteiro (2003), presidente da Abrapia
(Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência), não há no Brasil
uma palavra que defina o bullying, o que soa estranho, sendo o vocabulário da Língua Portuguesa
tão farto.
1.2. Espaços sociais no tempo, no espaço, no Brasil e no mundo
É sabido que o presente estudo teve início no norte da Europa. As recentes pesquisas na
Itália identificaram a presença do bullying já no maternal indo até os primeiros anos da escola
superior, entre 15 a 20 anos.
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Waiselfsz (2002) salienta que as pesquisas realizadas pela unesco com jovens de
diferentes cidades do Brasil (Brasília, Fortaleza, Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo) na faixa de
14 a 19 anos de idade, mostraram que 60% deles sofreram os efeitos do bullying nas escolas. Em
2002, a taxa de mortalidade na faixa de 15 a 24 anos de idade duplicou nas duas últimas décadas.
No contexto internacional, índices de homicídios entre jovens são extremamente elevados. No plano
nacional 40% das mortes entre jovens pertencem a homicídios. Nas capitais do país, esse número se
eleva a 47%.Vê-se, então, que diante das diferentes perspectivas, há uma infinidade de
compreensões de violência, onde suas fronteiras no tempo e no espaço se tornam maleáveis, frágeis
e difíceis de serem definidas.
A violência escolar no Brasil e em outros países pode decorrer da violência social que
atinge a vida escolar como também pode ter seu nascedouro no próprio ambiente escolar. A
violência da escola e a violência na escola abrigam uma série heterogênea e complexa de
fenômenos, não só o bullying. Na opinião de Nogueira (2003), o que se nota é a grande maioria dos
profissionais em Educação não saber tratar e distinguir os alunos agressivos dos indisciplinados e
violentos, arriscando pseudodiagnósticos.
Segundo Olweus (1998), o bullying escolar, termo usado no mundo anglo-saxão, é um
novo conceito que se dá a uma forma de violência não física - os insultos, os apelidos cruéis e as
gozações que magoam profundamente, as ameaças que ocorrem nos recreios e nas saídas das
escolas, que levam muitos estudantes à exclusão, trazendo danos físicos e materiais - junto a formas
de violência física. Um estudo, em escala nacional, calcula que 15% do total de alunos de educação
primária e secundária na Noruega alternavam como agressores ou vítimas.
Para Orte (1996) o bullying escolar se apresenta como um mal-estar que se observa
desde a face oculta, o desconhecimento, a indiferença, ou melhor, desde a ausência de valorização
de si mesmo, de sua própria existência e dos efeitos no desenvolvimento social, emocional e
intelectual daqueles que sofrem este novo e velho fenômeno. O bullying é fato novo por necessitar
de mais investigação no mau caráter projetado de forma oculta dentro de um mesmo contexto e é
fato velho, por já ser prática antiga nos centros educativos entre os valentões.
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Segundo Fante (2002) não se trata de episódio esporádico ou de brincadeiras próprias de
crianças. Essas brigas acontecem e acabam. O bullying é contínuo, metódico, persistente e não
precisa de razões para acontecer. A vítima, ao se dirigir para a escola, sabe o que a espera. Quer
fugir, mas não pode. Informar ao professor pode piorar. Misturado ao medo cresce o ódio, o desejo
de vingança e destruição aos agressores e isso pode um dia se tornar realidade.
Em Portugal, com 7.000 estudantes, um em cada cinco alunos (22%) entre 6 e 16 anos
já foi vítima. Almeida (2003) mostra que 78% dos maus tratos ocorrem nos pátios de recreio,
seguidos dos 31,5% nos corredores. Na Inglaterra, a pesquisa da ong Young Voice publicada no
livro Bullying in Britain mostrou que apesar da lei que garante o com bate contra o bullying, os
estudantes não estão satisfeitos com os resultados da prevenção das escolas.
De acordo com a pesquisadora Fuensanta Cerezo (2001), na Espanha o nível de
incidência se situa em torno de 15% a 20% dos estudantes o que se assemelha aos índices de
Portugal e a outros países da União Européia.
Nos Estados Unidos, Andrews (2001) sustenta que os índices são tão altos que podemos
dizer que se trata de conflito global e se persistir, será grande o número de adultos abusadores e
delinqüentes.
Em pesquisa realizada na Grã Bretanha, encontram-se 37% dos alunos do Ensino
Fundamental e 10% do Ensino Médico que admitem ter sofrido bullying, pelo menos, uma vez por
semana.
No Brasil, a ONG Abrapia (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à
Infância e Adolescência), desenvolveu um projeto com 11 escolas públicas e particulares no Rio de
Janeiro, sob o patrocínio da Petrobrás e 40,5% dos 5.785 alunos de Ensino Fundamental admitiram
envolvimento em atos agressivos. No Brasil, ainda é pouco pesquisado. Somente há estudos
registrados em Santa Maria (Rio Grande do Sul), pela professora Marta Canfield e seus
colaboradores em 1997, em quatro escolas públicas; no Rio de Janeiro, pelos profs. Israel Figueira e
Carlos Neto (2000-2001) em duas escolas municipais e recentemente, no Colégio Pedro II,
Unidades Centro e São Cristóvão II, pelo chefe do Departamento de Sociologia, prof.ª Maria Lúcia
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Martins Pandolfo e sua equipe, em 2006. Em São José do Rio Preto e região (São Paulo 2000-
2002) pela prof.ª Cleodelice Aparecida Zonato Fante e seus colaboradores.
1.3. Os papéis sociais dos protagonistas e seus sinais e sintomas
Os tipos de papéis desempenhados são bem definidos entre os envolvidos. Se não
vejamos.
Vítima típica (alvos): serve de bode expiatório para o grupo e pode ser um indivíduo ou
um grupo. Sobre esta recaem as conseqüências dos comportamentos agressivos de outros.
Geralmente, pouco sociável, sem habilidade para reagir, mais frágil que os colegas, ineficaz nos
esportes e nas brigas, coordenação motora deficiente, no caso dos meninos. De aparência sensível,
tímida, passiva, submissa, insegura, com baixa auto-estima, dificuldade de aprendizado, ansiosa e
de aspecto depressivo com tendências ao suicídio e à síndrome do pânico, de melhor
relacionamento com adultos, com dificuldade de impor-se ao grupo, tanto física como verbalmente,
tornando-se, presa fácil para os abusos. Resiste ou recusa-se a ir para a escola, com simulação de
doenças. Tem perda de sono ou pesadelos. Troca de escola ou abandona os estudos.
Vítima provocadora (alvos/autores): a que provoca e atrai reações agressivas contra as
quais não consegue lidar com eficiência. Possui gênio ruim, tenta brigar ou responder quando é
atacada ou insultada, de maneira eficaz, hiperativa, inquieta, dispersiva e ofensora; de modo geral,
tola, imatura, de costumes irritantes e quase sempre, responsável pelas tensões no ambiente.
Vítima agressora (alvos/autores): na verdade, busca indivíduos mais frágeis para torná-
los bodes expiatórios, transferindo-lhes os maus-tratos já sofridos. Trata-se de uma dinâmica
expansiva que incide no aumento de vítimas.
Agressor (autor): vitimiza os mais fracos. De ambos os sexos, pouca empatia, de
família desestruturada com pouco relacionamento afetivo entre seus membros, supervisão
deficitária, comportamentos agressivos ou violentos para solução de conflitos. Normalmente, mais
forte, da mesma idade ou pouco mais velho que suas vítimas, fisicamente, superior nas brincadeiras,
esportes e brigas, no caso dos meninos. Necessidade imperiosa de dominar, de subjugar, de se
impor mediante poder, ameaça e vanglória. É mau-caráter, impulsivo, irrita-se facilmente e tem
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baixa resistência às frustrações. Custa a adaptar-se às normas, não aceita contrariedade, não tolera
atrasos e pode tentar artimanhas durante as avaliações. É malvado, duro, de pouca simpatia com
suas vítimas, adota condutas anti-sociais, incluindo o roubo, o vandalismo, pichação, discussões,
desentendimentos e o uso de álcool, além de se sentir atraído por más companhias. Seu rendimento
nas séries iniciais pode ser normal ou acima da média, mas nas seguintes, pode obter notas mais
baixas com atitudes negativas para com a escola. A probabilidade de se tornarem adultos com
comportamentos anti-sociais e/ou violentos com tendências a atitudes delinqüentes ou criminosas é
grande.
Espectador (testemunha): representa a grande maioria dos alunos que adota a lei do
silêncio por temer se transformar em novo alvo para o agressor, isto é, a próxima vítima.
Testemunha tudo, porém não sofre nem pratica. Muitos deles podem se sentir inseguros e
incomodados e por isso, reagem negativamente, uma vez que seu direito de aprender foi violado,
podendo influenciar sua capacidade e progresso acadêmico e social.
Segundo o pediatra e psiquiatra infantil Christian Gauderer(2002), professor da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, a maioria dos pais e dos professores não está atenta para as
situações de intimidação. Estas podem infernizar a vida do filho/aluno, afetar seu relacionamento
familiar e causar entraves ao seu aprendizado; além disso, ele pode passar por sérios problemas
emocionais por não conseguir fazer parte de um grupo.
Cacilda Paranhos, do Laboratório de Estudos da Criança da Universidade de São Paulo,
assegura que um dos sinais mais evidentes é a queda de rendimento escolar e a resistência em ir à
aula, explica a especialista em violência infantil. (Fante, 2005, p.74).
Sendo a característica principal do bullying a violência oculta e considerando o mutismo
da vítima, convém observar qualquer alteração no comportamento da criança, por mais
insignificante que seja. Para que o estudante possa ser identificado como vítima, os professores
devem fazer as seguintes observações com relação às suas atitudes na escola:
Durante o recreio está freqüentemente isolado, separado do grupo ou procura ficar
próximo do professor ou de algum adulto?
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Na sala de aula tem dificuldade em falar diante dos demais, mostrando-se inseguro
ou ansioso?
Nos jogos em equipe é o último a ser escolhido?
Apresenta-se comum ente com aspecto contrariado, triste, deprimido ou aflito?
Apresenta desleixo gradual nas tarefas escolares?
Apresenta ocasionalmente contusões, feridas, cortes, arranhões ou a roupa rasgada,
de forma não-natural?
Falta às aulas com certa freqüência (absentismo)?
Perde constantemente os seus pertences?
Os mesmos procedimentos interrogativos devem ocorrer em relação ao aluno-agressor.
Entre seus comportamentos habituais, na escola:
Faz brincadeiras ou gozações, além de rir de modo desdenhoso e hostil?
Coloca apelidos ou chama pelo nome ou sobrenome dos colegas, de forma
malsoante; insulta, menospreza, ridiculariza, difama?
Faz ameaças, dá ordens, domina e subjuga?
Incomoda, intimida, empurra, picha, bate, dá socos, pontapés, beliscões, puxa os
cabelos, envolve-se em discussões e desentendimentos?
Pega dos outros colegas materiais escolares, dinheiro, lanches e outros pertences,
sem o seu consentimento?
1.4. As causas e os efeitos na prática do bullying
A violência urbana vem adquirindo mais importância e dramaticidade na sociedade
brasileira, especialmente, na década de oitenta, com o freqüente envolvimento da população infantil
e juvenil tomando as páginas da imprensa falada e escrita. Há quem diga que o aumento da
violência esteja relacionado com o número de jovens e crianças que vivem pelas ruas das grandes
cidades, porém considerar a pobreza e a miséria como as únicas causas da violência é, no mínimo,
uma análise reducionista e simplista da questão, porquanto temos filhos de famílias abastadas
cometendo crimes.
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O comportamento agressivo ou violento nas escolas é, hoje, o fenômeno mais complexo
e difícil de se compreender por afetar a sociedade, principalmente, as crianças de todas as idades,
em todas as escolas do país e do mundo. Este fenômeno resulta de fatores externos e internos à
escola.
Quanto aos fatores externos, no que diz respeito ao contexto social, depara-se com a
pobreza e o desemprego,ambos responsáveis pela desigualdade social que leva ao ambiente
agressivo, à delinqüência e a atitudes anti-sociais. Mahatma Gandhi dizia: “a pobreza é a pior forma
de violência”. Ela se encontra na má distribuição de renda, nos baixos salários, na exploração dos
trabalhadores, nas crianças de rua trabalhando indevidamente, prostituindo-se, drogando-se,
traficando, roubando e mendigando por falta de moradia, alimentação e saneamento básico e na
precária assistência em educação e saúde; também, nos meios de comunicação, os namoros e
relações sexuais virtuais, os videogames, os computadores e a televisão ensinam a ver na
agressividade e na violência os meios de resolução de problemas; e na família, os modelos de
identificação fixados em aspectos negativos como maus-tratos, práticas educativas inconsistentes,
desestruturação familiar e falta de tempo para os filhos só tendem a proliferar o problema. Quanto
aos fatores internos, o clima escolar deve ser baseado no princípio da eqüidade, onde todos têm os
mesmos direitos, porém a falta de perspectiva no mercado de trabalho e de uma vida melhor é o
que mais aflige e frustra o adolescente, criando repúdio ao sistema escolar. Nas relações
interpessoais, estas se fundam no tipo de relacionamento estabelecido com os professores e com
seus iguais. Se não houver esta adaptação, a escola se transforma em fonte de estresse e de conflitos
interpessoais. Quanto à relação professor – aluno, esta se baseia na disputa de poder. De um lado, o
docente luta pelo controle de sua classe; de outro, o aluno testa o professor para mostrar seu poder
ante seus iguais. A falta de afeto e atenção, desfavorecendo a empatia e dificultando a
aprendizagem, gera problema disciplinar exaustivo que leva ao desempenho negativo e ao estresse.
Segundo alguns estudos de Alessandro Costantini (2004), o bullying tem origem na
irrupção - invasão súbita, ato de irromper - e falta de controle do sentimento de intolerância nos
primeiros anos de vida, cujas conseqüências nas faixas etárias seguintes (estando ausentes reações
educativas duras) são atitudes de transgressão e de falta de respeito ao outro, as quais tendem a se
consolidar, transformando-se em esquemas mentais e ações de intimidação sistemática contra
aqueles que são mais fracos.
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Nos últimos anos, o intenso processo de urbanização, as migrações internas com suas
conseqüências de desenraizamento social, cultural, afetivo e religioso, a acelerada industrialização,
o impacto das políticas neoliberais, a expansão das telecomunicações, a cultura do consumo, a
enorme concentração de renda, a crise ética, o aumento da exclusão e do desemprego, tudo isso tem
desencadeado a ruptura do equilíbrio fundamental para a boa convivência e difunde a
agressividade entre os jovens.
A prática do bullying não seleciona classe social, grau de cultura, conta bancária, raça,
religião, tipo de carro...
Diversos trabalhos internacionais têm demonstrado que a prática de bullying pode
ocorrer a partir dos 3 anos de idade, quando a intencionalidade desses atos já pode ser observada,
afirma o coordenador da Abrapia.
Os meninos têm uma aparição muito maior, porque se envolvem mais, ora como autor
ora como alvo. As meninas, em grau menor, aparecem a exemplo da prática de exclusão ou
difamação.
De modo geral, entre os meninos é mais fácil identificar um possível autor de bullying,
pois suas ações são mais expansivas e agressivas. Eles chutam, gritam, empurram, batem. São os
fortões, os temíveis.
Já no universo feminino, o problema se apresenta de forma mais velada. As
manifestações entre elas podem ser fofoquinhas, boatos, olhares, sussurros, exclusão. Rachel
Simmons, pesquisadora norte-americana, especialista em bullying feminino explica.
"As garotas raramente dizem por que fazem isso. Quem sofre não sabe o motivo e se sente culpada",. As meninas agem dessa forma porque se espera que sejam boazinhas, dóceis e sempre passivas. Para demonstrar qualquer sentimento contrário, elas utilizam meios mais discretos, mas não menos prejudiciais. É preciso reconhecer que as garotas também sentem raiva. A agressividade é natural no ser humano, mas elas são forçadas a encontrar outros meios - além dos físicos -para se expressar." (R.Simmons, Bullying (Net. Disponível em: http://revistaescola.abril.com/edições/0178/aberto/bullying 2shtml>. Acesso em: 30/08/06.
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Muitas crianças vítimas de bullying desenvolvem medo, pânico, depressão, distúrbios
psicossomáticos e, geralmente, não desejam ir à escola quando esta nada faz em defesa da vitima.
Esta fobia escolar, muitas vezes, tem como causa algum tipo de violência psicológica. Segundo
Aramis Lopes Neto (2003), pediatra e coordenador do programa de bullying da Abrapia
(Associação Brasileira Pais, Infância e Adolescência) a maioria dos casos de bullying ocorre no
interior das salas de aula, sem o conhecimento do professor e uma criança apavorada não pode
aprender.
Ainda, Lopes Neto (2003) alerta para os casos de suicídio de pessoas que não
suportaram a pressão psicológica oriunda do bullying. Por outro lado, existem casos em que a
vítima aprende a conviver com a situação se tomando uma serva incondicional do dominador.
Ora, por que algumas pessoas preferem a servidão voluntária em favor de outrem,
despojando-se de sua liberdade de escolha e de autonomia existencial? Como pode uma doutora,
por exemplo, se tornar servil diante de comportamento tirano? Por que há pessoas cegas à diferença
de significado entre os termos amigo e discípulo subserviente? Parece que nem todos os homens
anseiam pela liberdade. A violência e a tirania muitas vezes se sustentam em pessoas que se
regozijam em servir a uma outra, presumidamente, mais poderosa, carismática, de temor
reverencial.
É preciso cuidado para o risco de suicídio onde a vítima sem auto-estima pratica tal ato
como saída honrosa à sua dor. Esta é uma atitude muito usada no Japão.
A Escola e a Universidade devem se prevenir contra os casos de intolerância de
violência psicológica ou física, observando tais situações para iniciar a conscientização e a
preparação de professores, funcionários, pais e alunos. É mister que se faça um trabalho especial
com as crianças alvos e com as pessoas acostumadas a praticarem violência contra os colegas,
professores e funcionários. Há pais que classificam seus filhos com estas atitudes como espertos,
machões, bonzões, etc. É preciso atenção aos grupinhos informais de traços neofascistas, as gangs,
porque a afirmação da sua identidade narcísica é conseguida por meio da intolerância, da
discriminação e da violência.
20
O bullying não se apresenta como uma violência psicológica só contra crianças. Apesar
de ocorrer com mais freqüência em escola, onde uma criança pode ser considerada 'escrava' por
outras chefiadas por um aluno líder, e, um adolescente pode ser obrigado a dar dinheiro para
colegas mais velhos e fisicamente mais fortes, sob ameaça de algum tipo de violência, os
professores também não estão vacinados contra o bullying. Estes podem, além de sofrer uma grave
fobia escolar, impedindo-o de trabalhar, ainda podem ser obrigados a suportar discriminação,
humilhação e ameaças veladas de colegas insensíveis, invejosos e vingativos. O adulto que pratica o
bullying pode estar influenciado por uma organização perversa do trabalho burocrático, ou por um
grupo que usa a intolerância como meio de expressão política.
Acrescento mais um dado importante: “a linguagem usada pelo - indivíduo ou grupo do tipo perverso - não é visivelmente violenta, embora possa ser sentida a ’tonalidade glacial' da voz e a pretensão de passar objetividade, ao dizer “ Não é nada pessoal contra você". Obviamente que essa denegação mal disfarça o sentimento de raiva contra você. Também quando se tenta passar por "objetiva", dizendo "É que estou muito preocupada com o bom andamento do curso, ou da universidade pública, ou da nação...) pretende-se disfarçar a nudez forte da subjetividade.(LIMA, R. Fobia escolar gera aposentadoria precoce. Revista Espaço Acadêmico, n.º 27, Ano 3, Ago de 2003.)
A psiquiatra Hirigoyen observa que "o tom [da voz do agressor intelectual] não se
altera, deixando o outro se enervar sozinho, o que pode levá-lo a desestabilizar-se", para dizer
depois "Estão vendo como ele é agressivo!?", ou "Ele/ela não passa de um(a) histérico(a) que
sempre grita!". (Hirigoyen , 2000 p.121)
Deste modo, vemos que tanto as crianças como os adultos, sozinhos, não têm como se
defender. Os que assistem a tudo, repudiam e têm pena, mas alegam não poder fazer nada por
medo de serem a próxima vitima.
No âmbito universitário, não são raros os casos de mestrandos e doutorandos, no
decorrer de sua pesquisa serem vítimas de várias formas de pressão psicológica, ditas normais,
como os prazos de entrega dos trabalhos, falta de dinheiro para continuar a pesquisa, falta de apoio
do orientador, de familiares, colegas e amigos. E, anormais como o assédio moral, bullying, etc. O
bullying tem o poder levar o adulto pesquisador ao travamento de sua produção intelectual, além de
causar danos à sua existência cotidiana.
21
Conforme estudos realizados, Lopes Neto (2003) lembra que existe um vínculo
contínuo entre a criança e a estrutura psíquica perversa que cometia atitudes anti-sociais e o adulto
que comete atos delinqüentes ou criminosos. A estrutura psíquica é a mesma. São casos em que a
educação falha, embora o sujeito possa obter algum sucesso na sua vida escolar e profissional.
Adquirir conhecimento ou um título de doutor nada tem a ver com adquirir sabedoria. Quantas
vezes, encontramos pessoas cujo conhecimento fez aumentar sua arrogância e insensibilidade ao
próximo.
O leigo costuma confundir perversão com psicose ou loucura.
"A perversidade não provém de uma perturbação psiquiátrica [tal como os loucos] e
sim de uma fria racionalidade, combinada a uma incapacidade de considerar os outros como seres
humanos" (Vignoles, 1991, p. 13).
A psiquiatra Hirigoyen (2000) observa que o perverso tem consciência que faz maldade
para com uma vítima escolhida para tal finalidade. Portanto, o modo de ser-agir perverso é diferente
do modo de ser-agir psicótico (louco), que alucina, delira, como se vivesse noutro mundo. O
perverso, pelo contrário, está plenamente ligado ao mundo exterior para atuar nele, impor seu
desejo narcísico e lucrar com ele.
A formação escolar e universitária não tem o poder de melhorar a estrutura psíquica do
tipo perversa, mas hão de trabalhar com cálculo e empatia para formar bons cidadãos. Se estivesse
ao nosso alcance uma educação (familiar) pari passu a um ensino (escolar), voltados mais para a
sabedoria do que para o conhecimento e a informação, teríamos uma trilha melhor para a prevenção
a favor da saúde psicológica e social.
Trata-se, pois, de um problema de saúde pública, reconhecido pelos profissionais de
saúde em razão dos danos físico-emocionais sofridos por seus protagonistas.
Segundo Christian Gauderer (2002), professor da UFRJ - "A criança que não consegue
fazer parte de um grupo pode passar por sérios problemas emocionais. "
22
As conseqüências da conduta bullying afetam, especialmente, a vítima, que pode vir a
sofrer seus efeitos negativos em data posterior ao período escolar. Haverá prejuízos em suas
relações de trabalho, em sua futura constituição familiar e na criação de seus filhos, além de
acarretar prejuízos para a sua saúde física e mental.
A superação destes traumas poderá ou não ocorrer, dependendo da personalidade de
cada vítima, bem como da sua habilidade de relacionamento consigo mesma, com o meio social e,
sobretudo, com a sua família. A não-superação do trauma trará prejuízos ao seu desenvolvimento
psíquico, uma vez que o trauma vivido orientará inconscientemente o seu comportamento, mais
para evitar novos traumas do que para buscar sua auto-superação.
Isso afetará a sua conduta e a elaboração dos seus pensamentos e de sua inteligência,
gerando sentimentos negativos e pensamentos de vingança, baixa auto-estima, dificuldades de
aprendizagem, queda do rendimento escolar, podendo desenvolver transtornos mentais e
psicopatologias graves, além de sintomatologia e doenças de fundo psicossomático, tornando-a um
adulto com dificuldades de relacionamentos e outros graves problemas. Contará com o
desenvolvimento de comportamentos agressivos ou depressivos e, ainda, poderá sofrer ou praticar
bullying no seu local de trabalho, posteriormente.
Constata-se, ainda, a probabilidade do aparecimento de depressão por conseqüência da
perda da auto-estima e alguns experimentam um sofrimento real que pode interferir no seu
rendimento escolar, no desenvolvimento social e emocional. Infelizmente, algumas vítimas optam
pelo suicídio para se livrarem da perseguição e castigo, como também podem apresentar transtornos
intrapsíquicos, com sintomatologias de natureza psicossomática: enurese, taquicardia, sudorese,
insônia, cefaléia, dor epigástrica, bloqueio dos pensamentos e do raciocínio, ansiedade, estresse e
depressão, pensamentos de vingança e de suicídio, bem como reações extrapsíquicas, expressas por
agressividade, impulsividade, hiperatividade e abuso de substâncias químicas.
Segundo a pesquisa de Figueira (2002), na infância, o bullying pode trazer à vítima
uma condição psiquiátrica caracterizada por explosões de cólera e episódios transitórios de paranóia
ou psicose, conhecida como Borderline Personality Disorder [transtorno de personalidade
23
limítrofe], cujas explosões alteram a sintonia da emoção e da memória, com distúrbios irreversíveis
no desenvolvimento da criança.
Enquanto isso, o agressor reforça o distanciamento e a falta de adaptação aos objetivos
escolares, a supervalorização da violência como forma de obtenção de poder, o desenvolvimento de
habilidades para futuras condutas delituosas - caminho que pode conduzi-lo ao mundo do crime,
ratifica condutas violentas na vida adulta, de difícil convivência nas mais diversas áreas da vida
pessoal, profissional e social.
O agressor (de ambos os sexos) está fadado a percorrer comportamentos delinqüentes,
tais como agregação a grupos delinqüentes, agressão sem motivo aparente no seio família (violência
doméstica) e no ambiente de trabalho, uso de drogas, porte ilegal de armas, furtos, indiferença à
realidade que o cerca, crença de que deve levar vantagem em tudo, crença de que é impondo-se com
violência que conseguirá obter o que quer na vida...afinal foi assim nos anos escolares.
As testemunhas são atingidas pelo ambiente de tensão e se tornam inseguras e
temerosas.
Segundo estudos realizados pelo professor 0lweus (1998), é grande a relação entre o
bullying e a criminalidade. O pesquisador constatou que a 60% dos jovens, entre 12 e 16 anos,
identificados como agressores havia sido imputada uma condenação legal antes que completassem
24 anos de idade. Os demais alunos que escaparam ao mundo da criminalidade tiveram suas
relações interpessoais deterioradas e os prejuízos ao seu desenvolvimento sócio-educacional foram
insuperáveis.
1.5. Relatos de casos de violência trágicos
É preciso analisar as vítimas do bullying e seus agressores. É preciso refletir sobre os
sintomas das vítimas e agressores em suas escolas e em suas casas. É importante que se mentalize a
educação para a paz, ou seja, ferramentas significativas para lidar com o bullying. Fante (2005)
relata alguns casos divulgados nos meios de comunicação que causaram tristeza, nacional e
internacionalmente.
24
O fato mais conhecido de todos e que despertou a comunidade internacional foi a da
escola de Columbine High School, Colorado, Estados Unidos. Com explosivos e armas de fogo,
dois adolescentes (17 e 18 anos) assassinaram 12 colegas, um professor e deixaram os demais
feridos. Em seguida, suicidaram-se.
Em setembro de 2004, na pequena cidade de Carmem da Patagones na Argentina,
Rafael, um adolescente de 15 anos dirigiu-se para a sala de aula, dizendo: "Hoje vai ser um lindo
dia". De repente, após a execução do Hino Nacional, com uma pistola 9mm, começou a atirar
contra as paredes, provocando pânico. Em seguida, disparou contra pessoas e matou quatro colegas
da escola: três meninas e um menino, ferindo gravemente outros cinco. Em estado de choque,
entregou-se à polícia. Tímido, com dificuldades de relacionamento e considerado esquisito pelos
colegas, foi apelidado de bobão. Diziam que ele era de um outro mundo.
Edimar era um jovem humilde e tímido de 18 anos, que vivia na pacata cidade de
Taiúva, interior do estado de São Paulo. Os seus colegas fizeram-no motivos de chacota porque ele
era muito gordo. Puseram-lhe os apelidos de gordo, mongolóide, elefante-cor-de-rosa e vinagrão,
por tomar vinagre de maçã todos os dias, no seu esforço para emagrecer. No dia 27 de janeiro de
2003, ele entrou na ex-escola armado e atirou contra seis alunos, a vice-diretora e o zelador,
matando-se a seguir. Foi o caminho que encontrou para vingar-se das humilhações sofridas.
Em Remanso, Bahia, em fevereiro deste ano, Denilton, um adolescente de 17 anos,
tímido e introvertido, foi excluído do círculo de colegas da escola. Revoltado com os anos de
humilhações a que fora submetido, resolveu pôr um fim a essa situação. Movido por sentimentos de
vingança foi à escola armado com mu revólver, matou um colega e a secretária da escola de
Informática onde estudou. O adolescente foi preso. O delegado que investigou o caso disse que o
menino sofria algumas brincadeiras que ocasionavam certo rebaixamento de sua personalidade.
Luis Antônio, um garoto de 11 anos. Sempre gostou de estudar. Mas ao mudar de Natal
para Recife algo aconteceu. Não mais queria ir à escola. Por causa do seu sotaque diferente passou a
ser objeto da violência de colegas que não iam com a sua cara. Batiam-lhe, empurravam-no, davam-
lhe murros e chutes. Fato que sua professora confirmou. Na manhã do dia fatídico, antes do início
25
das aulas, apanhou de alguns meninos que o ameaçaram com a hora da saída - essa é a hora
preferida para as violências. Aterrorizado pelas agressões que o esperavam, por volta das dez e
meia, saiu correndo da escola e nunca mais foi visto. Um corpo com características semelhantes ao
dele, em estado de putrefação, foi conduzido ao IML para perícia. Os resultados da perícia ainda
não eram conhecidos por ocasião desta divulgação.
No dia 19 de novembro de 2004, em Atlanta, Estados Unidos, duas meninas de 13 anos
foram presas por terem feito um bolo com remédio vencido, água sanitária. barro e molho de
pimenta, que depois, serviram aos colegas da escola. Doze adolescentes foram parar no hospital por
causa da maldade das garotas.
Veja mais o exemplo retirado da internet:
- Jéssica cansou de ser chamada de Choquito, por causa de suas espinhas. Aline fica
triste sempre que tiram sarro dela, só porque gosta de um menino da classe. Jaqueline chora porque,
de uma hora para outra, suas amigas passaram a excluí-la das conversas. O que essas três meninas
têm em comum? Todas sofrem de um problema conhecido como bullying, que vem cada vez mais
chamando a atenção de pais e professores.
Depoimento anônimo, exibido no trabalho de Fante (2005): Eu fui vítima de bullying.
Quando me mudei para o Rio de Janeiro e meu pai me matriculou no Colégio Andrews, que era
freqüentado pela elite carioca, fui motivo de zombaria por causa do meu sotaque caipira e a forma
como me vestia. A zombaria me enfiou numa grande solidão. Nunca tive amigos. Nunca fui
convidado para as festas da turma. Sentia-me ridículo. Tinha medo de me aproximar das meninas. O
que eu mais desejava era estar longe dos meus colegas. Ir à escola era um sofrimento diário. Sofria
em silêncio. E era inútil que eu falasse com os meus pais. Eles nada poderiam fazer. A maioria das
vítimas sofre em silêncio.
Os jornalistas, Antônio Góis, de São Paulo e Armando Pereira Filho, do Rio, ambos da
folha de São Paulo relatam casos de jovens levados a reações extremadas. Vide anexos 1 e 2.
A Revista Nova Escola também traz seus depoimentos sobre o sofrimento de alguns
alunos de Escolas Municipais. Anexos 3 e 4.
26
O Bullying também marca presença em Marataízes e Itapemirim. No Brasil, o
percentual alcançou preocupantes 49% de acordo com pesquisadores. Diversos relatos de alunos
dos educandários público e particular dos dois municípios relataram o seu drama e garantem terem
sofrido todos os tipos de humilhações dos colegas. Professores confirmam esse fenômeno em suas
aulas e tentam coibir a prática. São confissões emocionadas de alunos que se dizem indefesos e
revoltados de serem constantemente humilhados. Seus nomes foram omitidos, assim como o nome
das suas escolas. Ao primeiro que vamos apresentar, daremos o nome de aluno 1 e assim por diante.
Aluno 1: De 13 anos e confessa que já pensou em parar de estudar. "Chamavam-me de
gordo, baleia, botijão de gás. Denunciava à coordenação e nada acontecia. Noutro dia, a gozação
vinha mais forte. "
Aluno 2: De 14 anos, se diz uma criança alegre. "Mas é só aparência, por dentro me
sentia destruído". Conta que os apelidos eram desde burro até de doente mental. Confessa que
chegou a chorar com uma amiga.
Aluno 3: A confissão deste aluno ainda é mais dramática. "Todo dia tinha era um novo
apelido, então mudei de colégio e de município". Mas não adiantou a mudança para fugir do
problema, na nova escola começou tudo de novo.”
Aluno 4: Chegou a recorrer a uma cirurgia. "Tinha orelha de abano. Era o suficiente
para me chamarem de orelhudo”. Realizou a cirurgia, mas de nada adiantou: o apelido continua.
“Não agüento mais, é humanamente impossível resistir a isso.” O pedagogo Vilmar Lugão Brito
que atualmente trabalha em Marataízes argumenta que em sua antiga escola localizado em Jerônimo
Monteiro, foram constatados muitos casos de bullying e a escola se mobilizou realizando um
trabalho de conscientização.” Notícia impressa através do site www.maratimba.com.br Acesso
em : 22/10/06.
1.6. Recomendações aos pais
Estes devem elevar a auto-estima dos seus filhos, elogiando suas qualidades e
capacidades, sem ocorrência de culpa e sem incentivos ao revide dos ataques, pois isso somente
aumentaria a violência.
27
Segundo o pesquisador holandês Rob Limper (2002), o que se deve fazer é afastar a
postura de culpar a vítima. Não será de bom alvitre aceitar que o destino da criança seja o de ser
maltratada.
Deve ser observado se não é o próprio comportamento da criança que motiva sua
rejeição, ou se não é ela mesma que, inconscientemente, provoca determinadas situações
insustentáveis de serem combatidas (vítima provocadora).
Neste caso, o estudante precisa de acompanhamento psicológico - ele e seus familiares
-, além de assistência psicopedagógica e outros profissionais necessários ao tratamento.
Alertas têm sido dados no sentido de a ausência de limites e o excesso de mimos
tornarem o estudante chato, egoísta, agressivo ou, ainda, causar falta de adaptação e aceitação às
regras básicas de convivência em grupo.
Os pais devem refletir sobre as suas próprias condutas em relação aos filhos e ao tipo de
interação entre os familiares, pois resultados inesperados acontecem nas melhores famílias e deve
existir o acompanhamento da vida escolar do filho, incentivando com entusiasmo e corrigindo com
brandura. Todo este processo corresponde às tarefas obrigatórias tanto das mães como dos pais.
Observando o próprio filho, os pais podem detectar sinais de vitimização. Em casa, seu filho:
Apresenta com freqüência dores de cabeça, pouco apetite, dor de estômago, tonturas,
sobretudo de manhã?
Muda o humor de maneira inesperada, apresentando explosões de irritação? Regressa
da escola com as roupas rasgadas ou sujas e com o material escolar danificado?
Apresenta desleixo gradual nas tarefas escolares?
Apresenta aspecto contrariado, triste, deprimido, aflito ou infeliz?
Apresenta contusões, feridas, cortes, arranhões ou estragos na roupa? Apresenta
desculpas para faltar às aulas?
Raramente possui amigos ou, ao menos, um amigo para compartilhar seu tempo
livre?
Pede dinheiro extra à família ou furta?
28
Apresenta gastos altos na cantina da escola?
Quanto ao agressor, os pais, em casa, devem observar nele os seguintes sinais:
Regressa da escola com as roupas amarrotadas e com ar de superioridade?
Apresenta atitude hostil, desafiante e agressiva com os pais e irmãos, chegando a
ponto de atemorizá-los sem levar em conta a idade ou a diferença de força física?
É habilidoso para sair-se bem de situações difíceis?
Exterioriza ou tenta exteriorizar sua autoridade sobre alguém?
Porta objetos ou dinheiro sem justificar sua origem?
Os pais, que costumam estimular o filho a contar os fatos da escola, de maneira franca e
aberta sem tomar nenhuma iniciativa contra o agressor, pelo contrário, sugerir que ele evite o
agressor ou busque a ajuda do professor, inclusive, que comunicam o fato à direção escolar e
exigem que buscas às informações sobre os programas que estão sendo desenvolvidos em outras
escolas e comunidades para se combater o bullying, têm muito mais êxito.
Entretanto, se a escola não oferece o auxílio adequado, a solução está na busca ao
Conselho Tutelar, que, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 232,
prevê pena para quem “submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a
vexame ou a constrangimento”.
No caso de o crime ser cometido por criança menor de 12 anos, o Conselho Tutelar tem
a função de chamar atenção dos pais e da criança.
Se o autor for maior de 12 anos, o caso poderá ser levado à Justiça, e o juiz determinará
se a punição consistirá em advertência ou em prestação de serviços à comunidade. Se, porém, o
crime for praticado por um adulto, a pena prevista é de seis meses a dois anos de detenção.
29
CAPÍTULO II
ANTI-BULLYING
2.1. Programas e medidas anti-bullying
Nas últimas décadas, o bullying vem preocupando e sendo objeto de pesquisa no meio
educacional e social do mundo inteiro, motivo pelo qual inúmeros estudos e publicações encontram-
se à disposição, além de páginas na web, chats e linhas telefônicas para esclarecer dúvidas e receber
denúncias.
Atualmente, diversas pesquisas e programas de intervenção anti-bullying vêm se
desenvolvendo na Europa e na América do Norte. Recentemente um projeto internacional europeu,
intitulado Training and Mobility of Research (TMR) Network Project: Nature and Prevention of
Bullying, mantido pela Comissão Européia, teve a sua conclusão em 2001. Este projeto, que
englobava Campanhas do Reino Unido, Portugal, Itália, Alemanha, Grécia e Espanha, teve os
seguintes objetivos:
Diagnosticar as causas e naturezas do Bullying e da exclusão social nas escolas;
Verificar as causas desses problemas em diferentes sociedades e culturas;
Verificar as conseqüências em longo prazo, até a vida adulta;
Avaliar os programas de intervenção prósperos;
Identificar modos de prevenção desses problemas, por meio da integração de
diferentes metodologias de estudo.
Ainda há outros programas em diversos países europeus e no Brasil, como se pode
constatar nas linhas que se seguem.
. Espanha: nos últimos dez anos, algumas universidades espanholas, com o incentivo
do Ministério de Educação e Ciência, vêm desenvolvendo investigações e iniciativas de prevenção
ao bullying por meio de campanhas e programas, dentre os quais destacamos o Sevilha contra a
Violência Escolar (SAVE),criado em 1996 pela Universidade de Sevilha e coordenado pela
30
catedrática Rosario Ortega Ruiz. Ela tem como objetivo desenvolver a educação de sentimentos e
valores e a melhora da convivência e das relações interpessoais. A equipe da professora Ortega
elaborou um pacote didático denominado: "Convivência escolar: o que é e como abordá-la. Isto é
distribuído em todas as escolas públicas de Andaluzia, região do sul da Espanha.
· Inglaterra: na Inglaterra, inúmeros projetos estão sendo desenvolvidos. Entre eles, o
mais importante, inspirado na campanha de intervenção norueguesa realizada na década de 1980, é
o Projeto contra o Bullying, em Sheffield, coordenado por Peter Smith e sua equipe, no período de
1991 a 1993.
. Irlanda: em 1993, foi realizada a Primeira Conferência Nacional sobre o Bullying,
organizada por Vivette O'Donnell, quando foi lançado o Programa Educativo da Companhia de
Teatro Sticks and Stones, visando aumentar a conscientização do fenômeno por meio de
representações teatrais que encenam as mais típicas formas de condutas bullying na sala de aula, no
pátio ou no caminho para a escola. A representação mostra cenas com movimentos, mímicas,
músicas e danças, objetivando auxiliar as escolas a enfrentarem o problema de forma efetiva.
O Programa Estar a Salvo foi desenvolvido nas escolas de ensino primário, secundário e
superior, respectivamente, além de promover cursos de capacitação para professores, com um
componente educacional para os pais. O objetivo do programa é a prevenção de maus-tratos, por
meio de estratégias que preparam pais e professores para o desenvolvimento de atitudes necessárias,
visando à proteção das crianças. Além disso, o programa ensina às crianças técnicas de segurança
pessoal no contexto das aulas e, posteriormente, essas técnicas são reafirmadas em discussões com
seus pais.
O Programa Childline é um serviço da Sociedade Irlandesa para a Prevenção da
Crueldade nas Crianças (ISPCC), oferecido a qualquer criança que tenha problemas ou que se
encontre em perigo. Via telefone, a criança pode, anonimamente, comunicar-se com um conselheiro
voluntário para orientar-se ou denunciar os maus-tratos sofridos. O serviço não atua sem o
consentimento da criança.
31
. Grécia: uma das organizações educacionais mais importantes da Grécia é o Colégio
Moraitis. Coordenado por Maria Doanidou y Fofini Xenakis, o Departamento de Orientação
Psicopedagógica desenvolveu um programa completo para fazer frente ao bullying após verificar
que as condutas incidiam repetidamente sobre os alunos durante os últimos trimestres, apresentando
um índice de 18,5% a 23% de envolvidos. Os tipos mais comuns eram os maus-tratos verbais
(insultos e provocações) e os maus-tratos indiretos (exclusão e rumores), coincidindo com o fato de
que as vítimas não haviam comentado seus problemas com ninguém, nem no colégio, nem em
casa.
Dessa forma, iniciaram o programa através de algumas estratégias específicas como:
conscientização; esforços para mudar as atitudes de todos os integrantes da comunidade escolar,
especialmente as dos agressores por meio de debates em classe; orientação psicopedagógica
individual e coletiva; reforços e sanções, quando necessário.
. Portugal: vários projetos de intervenção estão sendo desenvolvidos nas escolas
portuguesas por meio do programa europeu Training and Mobilit of Research (TMR).
Na cidade de Braga, os próprios alunos criaram a Liga dos Alunos Amigos (LAA),um
programa pioneiro objetivando evitar as agressões entre colegas e combater os conflitos entre
escolares. O programa de intervenção, baseado na premissa de agir no local do crime, atua em três
vertentes: na formação de diretores de turma que recebem treinamento para ajudar e prevenir
situações de agressão na criação de um grupo de mediadores de conflitos e de uma rede sócio-
emocional com o envolvimento dos próprios alunos. Para fazerem parte da LAA, os alunos são
escolhidos pelos próprios colegas, de acordo com alguns critérios: precisam ser bons amigos, saber
guardar segredos e escutar e respeitar as idéias dos outros. Esse grupo, constituído pela maioria
feminina, recebe formação prática para melhorar competências de comunicação e de ajuda aos
colegas.
Um outro programa que vem sendo desenvolvido é o Scan Bullying, ou seja, os maus-
tratos em cartoons. Segundo Ana Almeida, do Instituto da Criança de Minho, para ter bons
resultados é necessário atuar a partir da compreensão que as próprias crianças têm da problemática
32
e identificar os estados emocionais das vítimas, dos agressores e dos colegas; dessa forma, é
possível desenvolver programas de intervenção com eficácia.
. Finlândia: nos últimos anos, a educação finlandesa vem sendo revisada na sua
totalidade. Segundo um novo projeto de lei sobre a educação, todo aluno tem o direito de aprender
em um local seguro. Isso significa que a escola tem a obrigação de intervir imediatamente quando
se produzem maus-tratos, assim como tomar medidas cabíveis para aliviar o problema.
O Ministério de Educação adotou o bullying nas escolas como tema prioritário do
Projeto Uma Confiança Sadia em Si Mesmo. O projeto visa fortalecer a imagem que os alunos têm
de si mesmos, além de oferecer seminários especializados em recursos pedagógicos na prevenção
do bullying, bem como na publicação de materiais educativos que tratem das relações humanas.
· Noruega: o Ministério de Educação da Noruega criou, em 1996, o Norwegian
Program of Preventing and Managing Bullying in Schools (Programa Norueguês de Prevenção e
controle do Bullying nas Escolas), desenvolvido pelo College Stavanger e coordenado por Erling
Roland.
· Holanda: estudos desenvolvidos nas escolas holandesas, em 1992, indicaram que um
a cada 4 alunos da escola primária e um a cada 12 alunos da escola secundária era vítima do
fenômeno. Diante desses resultados, a organização nacional de pais (composta de quatro
associações) desenvolveu uma campanha nacional estruturada sobre algumas estratégias, visando
garantir a segurança dos filhos na escola.
. Brasil: no Brasil, o tema violência tornou-se prioridade de todas as escolas, motivo
pelo qual inúmeros projetos e programas estão sendo desenvolvidos, visando à diminuição da
violência escolar, com ênfase específica na violência explícita. Nesse sentido, na cidade do Rio de
Janeiro, a Abrapia, entre 2002 e 2003, em parceria com a Petrobrás Social, desenvolveu em um
conjunto de 11 escolas o Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes.
Vide anexos 5 e 6.
33
As medidas anti-bullying oferecem melhoria em todos os sentidos, mas para isso é
necessário tomar algumas precauções. Como inibir o bullying? Para um ambiente saudável na
escola, é fundamental:
Esclarecer o que é bullying. Geralmente as vítimas se retraem.
Avisar que a prática não é tolerada.
Conversar com os alunos e escutar atentamente reclamações ou sugestões.
Estimular os estudantes a informar os casos.
Reconhecer e valorizar as atitudes da garotada no combate ao problema.
Identificar possíveis agressores e vítimas.
Acompanhar o desenvolvimento de cada um.
Criar com os estudantes regras de disciplina para a classe em coerência com o
regimento escolar.
Estimular lideranças positivas entre os alunos, prevenindo futuros casos.
Interferir diretamente nos grupos, o quanto antes, para quebrar a dinâmica de
bullying.
Prestar atenção nos mais tímidos e calados.
Sensibilizar e envolver toda a comunidade escolar na luta pela redução deste
comportamento.
Criar uma linha direta com as crianças.dispor de um telefone para o disk-denúncia.
Programar encontros semanais para avaliação.
Planejar reunião de grupo com todos os envolvidos.
Aumentar a supervisão nos espaços comuns.
2.2. Estratégias de combate ao fenômeno do Bullying
Inicialmente, cabe a leitura das estratégias sugeridas pelo programa de redução do
bullying nas escolas desenvolvido pela Abrapia e os aconselhamentos a familiares e educadores.
Anexos 7-12.
Para família combater os efeitos do fenômeno, prefira:
34
Manter um diálogo sereno e racional sobre limitações;
Estabelecer conjuntamente metas comuns de auto-superação;
Dar apoio nas dificuldades, exercendo flexibilidade e equilíbrio;
Valorizar pequenos, mas significantes resultados;
Valorizar os aspectos e dinâmica do processo em vez dos resultados;
Procurar novas formas de fazer a mesma coisa de um jeito diferente e criativo,
relacionando-as aos interesses, necessidades, desejos e expectativas da criança;
Apoiar seus filhos, abrindo espaço para que eles falem do sofrimento que estão
passando;
Quando a violência ocorre na escola, cabe aos pais tomar uma atitude conversando
com a Direção;
Se a instituição de ensino não tomar providências necessárias, os responsáveis devem
denunciar a violência ao Conselho Tutelar, podendo, inclusive, interpor ação junto à Justiça
(cobrando ao agressor a reparação por dano moral ou físico);
Tente ignorar o máximo que puder. Evite reforçar essa atitude. Saia de perto, para a
brincadeira não continuar e você não sofrer.
"A ausência de limite e o excesso de mimos em casa podem fazer com que a criança
fique egoísta, chata, agressiva, enfim, não siga as regras básicas de convivência em grupo.”( Ceres
Alves de Araújo, psicóloga da PUC-SP)
A escola promoverá:
Pesquisa, tendo a ampla participação dos alunos da escola;
Análise dos resultados;
Definição pela comunidade escolar, pais, professores, alunos das ações priorizadas e
as estratégias adotadas para a divulgação, sensibilização e prevenção do fenômeno Bullying;
Observação ampla e irrestrita aos sinais de violência, procurando neutralizar os
agressores, bem como assessorar as vítimas e transformar os espectadores em principais aliados;
Iniciativas preventivas como: aumentar a supervisão na hora do recreio e intervalos e
evitar em sala de aula menosprezo, apelidos, ou rejeição de alunos por qualquer que seja o motivo;
35
Conscientização de que esse conflito relacional já é considerado um problema de
saúde pública;
Olhar mais observador tanto dos professores quanto dos demais profissionais ligados
ao espaço escolar;
Palestras sobre o tema;
Divulgação de reportagens a respeito das conseqüências geradas pelo bullying nas
mais diversas situações;
Incentivo aos estudantes para informar os casos;
Realização de campanhas educativas;
Reconhecimento e valorização das atitudes no combate ao problema;
Discussão sobre a temática do bullying através do texto teatral, promovendo assim
uma reflexão sobre as situações de violência e exclusão observadas no espaço escolar;
Pesquisa contendo:
Levantamento de dados através de uma pesquisa quantitativa;
Amostra proporcional por sexo e faixa etária;
Tamanho da amostra: 10% ;
Estrutura do questionário: levantamento do perfil sócio-econômico, identificação das
situações de violência e sentimentos envolvendo os diferentes atores sociais (agressor, vítima e
espectador), possíveis estratégias institucionais e interpessoais para resolver o problema;
Elaboração de tabelas e gráficos, com análise dos resultados; e
A Escola tem a obrigação de alertar os pais para os problemas enfrentados pelos
filhos.
36
CAPÍTULO III
MÍDIA E CYBERBULLYING
3.1. Filmes, games e suas proibições
Atente para o diálogo abaixo:
“- Oi, Nick, Oi, Mark, vão ao clube de computadores mais tarde?
-Marcus, nós não queremos mais que ande conosco.
- Por quê?
- Por causa deles.
- Eles não têm nada a ver comigo.
- Têm, sim.
- Não tínhamos problemas antes de andarmos com você. Agora temos todo dia.
- Além do mais, todos acham você esquisito.
- Mas é só um pouco.
- Tudo bem... ".
O diálogo acima retirado do filme "Um grande garoto" (About a boy: 2000) mostra que
Marcus sofre um processo de vitimização do tipo de violência psicológica, o bullying.É o típico
exemplo do fenômeno. À guisa de ilustração, destacam-se, a seguir, alguns títulos de filmes sobre
o tema.
Meninas Malvadas: uma garota criada na selva africana só conhece uma escola aos
16 anos. Ela começa a andar com um grupo de patricinhas que adoram esnobar os outros. Para
vingar-se, a adolescente passa a agir da mesma forma.
Tiros em Columbine: o polêmico diretor e escritor Michael Moore levou ao cinema a
história dos jovens Eric Harris e Dylan Klebold, que estudavam na escola Columbine High School e
mataram seus colegas.
37
Nunca fui beijada: a jornalista Josie Geller recebe a difícil missão de fazer uma
reportagem sobre o comportamento dos adolescentes na escola. Só que a moça nunca foi beijada e
não era das mais populares na época de colégio. O filme mostra como a protagonista vira motivo
de chacota para seus colegas.
O filme Bully, de Larry Clark, mostra as humilhações, intimidações e ameaças bem
fortes sobre o cotidiano do adolescente. luiz_andreghetto@hotmail.com Anexos 13 e 14.
A rede inglesa de lojas também se manifestou a respeito com a recusa em vender o
game Bully-Terra-Playstation. Anexo 15.
Na opinião de Fante (2005), dentre os meios de comunicação, a televisão, manipuladora
ímpar da vida das pessoas, vem sendo, nos útimos tempos, muito questionada nas mais diversas
sociedades. O veículo telelixo ou telessujeira, assim denominada pela referida autora, oferece
programações de condutas indignas de qualquer ser humano, assumindo função predadora, já que só
se ocupa da conquista de audiência e faturamento, afastando-se do compromisso moral com a
construção de uma sociedade melhor.
Para Mariz de Oliveira, ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil em São
Paulo, "a televisão enfraquece os freios inibitórios e com isso colabora para o aumento da
criminalidade". (Fante, 2005, p.172).
Segundo o pesquisador em comunicação Walderes Lima de Brito, “a causa principal
para tanta hostilidade com a mídia reside no fato de que ela se constitui num poderoso adversário
ao trabalho educador dos pais”. (Fante, 2005, p.172).
3.2. Cyberbullying: Orkut e Blogs
Uma outra forma de agressão tem crescido, silenciosa, no meio dos adolescentes: é o
cyberbullying. Pouco se fala sobre o assunto no Brasil, mas acontece com muita freqüência na
internet. Quer exemplos? Os sites de ódio, as comunidades preconceituosas do Orkut, os blogs com
mensagens negativas sobre uma pessoa ou um grupo. Fugir disso é fácil. Basta não fazer parte dessa
38
galera de jeito nenhum.
Uma pesquisa conduzida pela MSN e YouGov revelou que mais de 10% dos jovens já
sofreram Bullying pela internet, e 24% conheciam a vítima. Porém mais da metade dos pais está
alheia ao problema. Dos 518 entrevistados, entre pais e filhos, 44% conhecem alguém que foi
ameaçado por e-mail, mensagens na rede ou no celular, enquanto 62% conhecem casos de fofocas e
rumores maldosos espalhados pela web. Segundo o relatório, os jovens demoram em denunciar o
problema por medo de serem proibidos de usar a internet. Cartilha
Conclui-se que o bullying também pode ser praticado por meios eletrônicos. Mensagens
difamatórias ou ameaçadoras circulam por e-mails, sites, blogs (os diários virtuais), pagers e
celulares. É quase uma extensão do que dizem e fazem na escola, mas com o agravante da vítima
não ficar cara a cara com o agressor, o que aumenta a crueldade dos comentários e das ameaças.
Quando a agressão está num mundo virtual, o melhor remédio é, mais uma vez, a conversa. Não
bastasse a dificuldade que os colégios enfrentam para contornar esses casos, a crescente
popularização da internet pode muitas vezes agravar a situação. Estes blogs, mensagens
instantâneas, e-mail e celulares já são usados com freqüência por crianças que querem humilhar
um colega.
Leia o que dizem os textos acerca dos temas..
Cybervalentões difamam colegas pela intemet. Com o e-mail, os blogs e as mensagens
no celular, a humilhação circula para um público maior. Amy Harmon-The New York Times.
Anexos 16 e 17.
Coluna Cyberpsicologia - Informações para lidar de forma saudável com a Internet e a
informática: O perigo de fofocas na Web, por Luciana Ruffo - Psicóloga componente da equipe do
NPPI. Anexos 18 e 19.
O caderno Vida & do Estado trouxe uma reportagem sobre o assunto. Embora associado
à propagação dessas provocações, o mundo virtual também revela vários sites que coíbem e
diminuem os danos causados pelo bullying. Aprenda a evitar os seus riscos com a ajuda da própria
39
intemet.
Pais buscam enfrentamento para o problema num site em português exclusivo para a
redução do comportamento agressivo entre estudantes. O www.bullying.com.br explica o que é a
prática e traz conselhos a pais e educadores. Para quem entende inglês, há centenas de sites sobre o
assunto. Alguns deles exclusivamente voltados para o cyberbullying, como é o caso do
www.cyberbullying.ca. Internet.Conheça outras fontes de consulta:
www.bullying.co.uk-/ Site britânico que traz dicas para pais,crianças,educadores, etc.
Um dos mais completos. Há uma sessão exclusiva sobre cyberbullying.
http://www.wikipedia.com.br
http://www.bul1ying.org
http://www.joy.com.br/releases
http://www.bullying.pro.com.br
http://www.abrapia.org.br
www.bullying.com - Traz artigos e dicas sobre a prática.
www.wiredsafety.org - A Wired Safety.org é uma ong que atua em várias frentes de
proteção aos usuários de internet (principalmente crianças). O site encabeça uma campanha contra o
cyberbullying
Em www.bullying.com.br, você conhece as ações contra o bullying da Abrapia.
Confira no site www.bullying.org, materiais de apoio no combate ao bullying (em
inglês).
Exclusivo on-line: Entrevista com Rachel Simmons, autora de Garota Fora do Jogo.
40
Endereços úteis:
Escola Municipal de Ensino Fundamental Thomas Mann, R. Ferreira de Andrade,
195, 20780-200, Rio de Janeiro, RJ, tel. (21) 2501-9430
Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência
(Abrapia), R. Fonseca Teles, 121, 20 andar, 20940-200, Rio de Janeiro, RJ, te!. (21) 2589-5656
Bibliografia sugerida:
Garota Fora do Jogo: A Cultura Oculta da Agressão nas Meninas, Rachel Simmons,
336 págs., Ed. Rocco, tel. 0800-216789, 40 reais
Um mundo num grão de areia (Rubem Alves)
Nesta coletânea de crônicas poéticas, de intenso lirismo, é possível encontrar todas as
facetas que compõem o universo do ser humano e descobrir a riqueza de vida existente num
minúsculo grão de areia, que nada mais é do que nosso mundo não revelado. Esta é uma obra
essencial para quem se sente amante da poesia, da arte, do sonho... amante do ser humano e de seu
universo.
Transparências da eternidade (Rubem Alves)
Como um mestre da palavra, Rubem Alves relata, nesta coletânea de crônicas,
passagens e experiências vividas, nas quais Deus, a religiosidade, o amor, a beleza e o sentido da
vida estão sempre presentes. Seu texto flui com uma simplicidade de rara beleza, inspirado por uma
memória poética e reflexões cotidianas, apresentando a espiritual idade sob uma nova ótica e
tomando a sua leitura obrigatória àqueles que buscam ampliar seus horizontes.
Me dá o teu contente que eu te dou o meu (Cristina Mattoso)
Este é um livro diferente de qualquer outro. Nele você encontrará falas infantis
preciosas, trazendo uma parte do espetáculo de crianças descobrindo o mundo. Ele contém visões,
41
verdades, humor, sofrimentos, sabedoria, através de falas infantis cheias de honestidade, de
percepções surpreendentes, de intuições filosóficas, de questões teológicas, de verdades
existenciais, de críticas à vida adulta, de sentimentos, de poesia. Você provavelmente vai se
surpreender, re1embrar e sorrir.
Para que minha vida se transforme (vol. 1 e 2) (Maria Salette / Wilma Ruggeri)
Histórias que devem ser lidas ou contadas no dia-a-dia e que se destinam a todos os que
estão à sua volta: crianças, jovens e adultos, parentes e amigos... São histórias simples e populares,
'escritas de maneira leve e de fácil compreensão, que mostram que a vida é simples e leve; que a
felicidade está dentro de cada um de nós; que podemos ser agentes de nossa vida e não reagentes;
que não somos os donos da verdade; que devemos ver as pessoas além das aparências e cultivar
valores... cultivar tudo o que é nobre e contribui para que o mundo esteja em paz.
Filmografia:
Bang Bang! Você Morreu (Bang Bang! You're Dead), EUA, 2001, 93 min, direção
Guy Ferland, Paramount Home Entertainment, tel. 0800-169300
Elefante (Elephant), EUA,2003,81 min., direção Gus van Sant, Warner Bros., tel.
(11) 3016-2900
Tiros em Columbine (Bowlingfor Columbine), EUA, 2002, 123 min, direção
Michael Moore, Alpha Filmes, tel. (11) 4191-6898
A preocupação também é grande nas escolas, conforme se depreende da circular abaixo.
CIRCULAR
CL - 165/CAp/2005 23110/2006 1-1
De: Direção do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira - CAp/UERJ
Para: Pais I Responsáveis CA à 6a série do Ensino Fundamental Assunto: Debate
Dando prosseguimento às atividades desenvolvidas pelo NUPEC e atendendo às demandas
apontadas pelos pais e responsáveis do CA até a sexta série, será promovido debate sobre os temas
"Bullying" - ações de agressão repetidas, desmotivadas, adotadas por um ou mais estudantes
42
contra outro(s) - e preconceito.
Na ocasião, contaremos com a presença do Dr. Aramis Antonio Lopes Neto, pediatra,
sócio fundador da ABRAPIA (Associação Brasileira de Proteção à Infância e Adolescência) e
Coordenador do Programa de Redução de Violência na Escola e da professora Dr.ª Azoilda Loretto
Trindade, supervisora da Rede Municipal de Educação, mestranda em Educação e Doutora em
comunicação. O evento acontecerá em 24/10105, às 7h 30min, no auditório do Cap.
Contamos com a presença de todos.
Atenciosamente,
Prof. Lincoln Tavares Silva
Diretor Matrícula : 31940-0
Finalmente, vale ressaltar os gráficos de pizza obtidos dos resultados das entrevistas
apuradas entre os alunos envolvidos e as equipes de pesquisadores todos imbuídos do espírito de
anti-bullying do Colégio Pedro II, sob a supervisão do Departamento de Sociologia. Anexos 20 e
21.
43
CONCLUSÃO
Diante de tudo que foi exposto, infere-se que a prática do fenômeno Bullying se deve à
geração de jovens e adolescentes de hoje aparecer sem referência de limites e regras, sem projetos
para o futuro e sem valores positivos e significativos para enfrentar a complexidade da sociedade
atual. Felizmente, estas características só atingem alguns jovens, como no caso do abuso e da
dependência de drogas; da anorexia, bulimia, comportamentos violentos e anti-sociais,fortes
dificuldades relacionais e familiares e outras.
Por se tratar da atenção voltada, para as situações de bullying, não se podem considerar
a eliminação da violência social e o estabelecimento da paz global tarefas impossíveis. O combate
ao bullying para reduzi-lo a níveis toleráveis, parece ser de cunho quase que bélico, pois este é um
fenômeno complexo com inúmeras causas que a determinam e diversos tipos de manifestações,
trazendo, consciente ou inconscientemente, sofrimentos generalizados.
Entretanto, será mister que haja, para o seu combate, conscientização, planejamento,
investimentos, atitudes de compromisso e de responsabilidade, cooperação e, sobretudo, tempo para
que se alcance êxito. Nada disso acontecerá repentinamente, mas a contribuição para uma nova
mentalidade dará às próximas gerações oportunidade de usufruí-la.
No âmbito familiar, o bullying se revela nas expressões fisionômicas, gestos, postura
corporal, tom vocal, diversos tipos de maus-tratos verbais, físicos e psicológicos, cujos danos ao
desenvolvimento do indivíduo são, muitas vezes, irreversíveis. No âmbito profissional, expressa-se
pela facilitação ao ilícito, à corrupção, ao domínio e abuso de poder, ao assédio sexual ou moral. No
âmbito social, representa as mais diversas e perversas formas de abuso e subjugação, como as
atrocidades cometidas contra os judeus, bem como a perseguição e a dizimação de povos indígenas,
e, atualmente, as guerras religiosas e políticas, a discriminação étnica, as chacinas de grupos de
excluídos, os atentados, as disputas entre gangues e traficantes, os seqüestros, os assaltos... Na
realidade, vivemos rodeados de violência por todos os lados.
No âmbito escolar, a pesquisa sobre o bullying revela que o abuso e a intimidação
usados tornam alguns dos alunos, emocionalmente, doentes, o que prejudica suas relações
44
interpessoais e interfere de forma igual e negativa nas emoções dos espectadores que testemunham
cenas constrangedoras do dia-a-dia na esfera escolar. Também, esse alto índice de comportamentos
indesejáveis, próprios do bullying representa problema social sério que passa in albis pela
maioria das escolas.
Todavia, as soluções de propostas precisam ter na educação o seu principal veículo,
iniciando pela escola desde os primeiros anos escolares e se expandindo para toda a sociedade.
Excetuando-se o reflexo do modelo educativo familiar, é na escola que os primeiros
sinais da violência do bullying se manifestam entre os alunos. Para lograr êxito, é preciso que se
conquiste, primeiramente, na escola, em face de seu poder propagador e multiplicador, o interesse
pela redução da violência. A escola deve ensinar os alunos a lidar com suas emoções de modo que
evitem seu envolvimento, e afaste-os do convívio violento, tornando-os agentes da paz.
Inúmeras ações devem ser desenvolvidas no intuito de interiorizar valores como a
solidariedade e a tolerância nas práticas cotidianas, pelo exemplo da prática dos alunos solidários
como anjos da guarda dos alunos com dificuldades de relacionamentos, como também a
cooperação de cada grupo-classe e o respeito às diferenças individuais. Tudo isso, promove a
ajuda mútua em busca de um ser humano melhor e de resultado de uma interação sócio-
educacional saudável como eficácia do anti-bullying.
Através da teoria da inteligência multifocal sobre a capacidade da memória e da
construção inconsciente das cadeias de pensamentos, as escolas devem empreender um modelo
educacional mais humanista, ensinando as crianças, nos primeiros anos iniciais a tomarem ciência
sobre a existência e as causas da violência, por meio da reflexão e da solução de seus conflitos
para a convivência adequada.
Segundo Fante (2005), para que se atinja bons resultados na prática do combate ao
bullying, os alunos devem ser trabalhados, desde a mais tenra idade escolar, nas habilidades de
gerenciamento do "eu", nas técnicas de interiorização e na reedição do filme do inconsciente,
transformando-se em agentes mudanças de sua história atual, e da sua própria personalidade,
desenvolvendo, assim, a habilidade de se amoldar, conforme suas dificuldades pessoais e da sua
45
comunidade para a construção de uma sociedade mais humana.
Deve-se estimular a afetividade nas relações interpessoais e na transmissão do
conhecimento, já que ela privilegia o registro daquilo que foi vivido, para futuro resgate.
“Isso favorece a mente na edificação da sua história intrapsíquica, no desenvolvimento
da sua inteligência, na sua capacidade de auto-expressão e na sua atitude de primar por cidadania
e qualidade de vida.” (Cleo Fante, 2005, p.212).
Desta feita, conclui-se que para a construção de uma sociedade de repúdio à violência é
importante o olhar das autoridades voltado à educação. O processo de pacificação deve começar
com os educadores sendo preparados para lidar com as suas próprias emoções e educar as emoções
dos alunos, fazendo brotar, em suas aulas, a expressão de afeto, e com isso a aprendizagem sobre os
próprios conflitos e os mais diversos tipos de violência, em especial, o bullying. Os alunos se
tornam cada vez mais sensíveis aos seus problemas e aos problemas dos outros, bem como mais
empáticos.
Os jovens, em parte, hoje, nada mais são do que produto dessa sociedade em
transformação, com alto grau de complexidade, de incertezas de futuro sem estabilidade. O mal-
estar juvenil não é e não pode ser confundido com o mal-estar natural do desenvolvimento da
adolescência. O juvenil freqüentemente inicia e se fortalece no natural e demonstra o estado difícil e
problemático de alguns jovens.O natural se prende ao processo psicodinâmico da própria idade, por
que passam os jovens em crise de transição psicológica, emocional e social, cujo sofrimento, ao
mesmo tempo em que faz padecer, leva-os, também, a uma dimensão de adultidade.
Na opinião de Costantini (2004), a necessidade de uma reviravolta educacional está
latente, porquanto alguns estudiosos identificam a origem dos problemas na educação branda
demais, permissiva, de efeitos negativos nos adolescentes tanto no plano do isolamento relacional
como no da transgressão. Ademais, fora a incapacidade dos jovens para administrar seus próprios
conflitos, existe a par disso a incapacidade dos adultos, enquanto carentes das habilidades
fundamentais na vida de qualquer pessoa (na sociedade, na escola, na família) em transmitir essas
competências evolutivas, como o enfrentamento das próprias inquietações, a contenção de seus
46
impulsos, a negociação dos conflitos, a responsabilidade pelos seus atos. Carências, igualmente,
encontradas nas dificuldades que têm os educadores de se comunicarem, de se fazerem presentes,
de dizerem não, de proporem modelos positivos, de assumirem um papel de guia e de referência
fortes.
Esta condição de tudo ser permitido, de não se delimitar mais o sim e o não dá ao
jovem uma sensação de liberdade sem fim, resultado de uma cultura adulta divulgada em larga
escala. Então, o essencial é reequilibrar a balança educacional e a comunicativa em favor de uma
maior sensibilização no que tange aos processos evolutivos de maior consciência e responsabilidade
quanto à função adulta do desenvolvimento nas relações entre os jovens.
Para o crescimento de uma nova sociedade anti-bullying, é necessário que se produzam
regras e carícias. Além disso, a questão das regras não deve ser enfrentada de maneira ideológica.
Segundo Costantini (2004), deve, ao contrário, haver reconhecimento da necessidade evolutiva e
existencial para o crescimento e desenvolvimento pleno: as crianças e os adolescentes carecem de
limites, de regras, de ética, de valores, porque estes representam um ponto de referência mental, um
ponto de partida para se dar um sentido e uma interpretação do mundo que vão descobrindo e que
os circunda. Intelectualmente, crianças e adolescentes precisam de expressão criativa, de liberdade,
porém em um contexto que norteie de onde partir.
Por outro lado, o campo afetivo-relacional se prende a todos os comportamentos e
atitudes que tragam gratificação e reforço psicológico como estímulo afetivo indispensável, já que a
afetividade e os gestos que acompanham a carícia são a base da motivação para a perfeita
comunicação e produzem o estímulo para a troca interpessoal e agem, psicologicamente, como
ponte entre o mundo interior do adolescente e o mundo externo, sendo a ausência de carinho
impedimento à vontade natural de se expressar, de se deixar conhecer, de se dar afetivamente, de
liberar as próprias potencialidades.
O educador deve ser o primeiro a assumir o modelo daqueles comportamentos que
deseja ver adotados. Todavia essa conduta deve revestir-se de certa flexibilidade para que o
diálogo seja construtivo no momento em que se estabelece um entendimento. Discussão e
concessão às regras fazem parte do jogo educativo, sendo, algumas vezes, necessário manter suas
47
próprias posições e outras vezes revê-las, talvez. Saber negociar tarefas e regras a serem
compartilhadas é uma forte mensagem do adulto de atenção e firmeza, que faz valer o princípio de
reciprocidade, condensado na frase: Tanto eu quanto você estamos empenhados em levar até o fim
os compromissos assumidos. Esta é uma mensagem vigorosa de responsabilidade e de
compartilhamento das coisas a serem feitas entre pessoas que querem confiar uma na outra.
Segundo Costantini (2004), o educador arrisca-se quando, havendo extrema
necessidade, não dobra, com sua autoridade, a vontade do adolescente ou, ao contrário, quando
confia nele incondicionalmente, causando-lhe a sensação de ser capaz de resolver seus problemas
sozinho. Arrisca-se quando deixa de buscar a perfeição educativa, ou quando afasta a possibilidade
de atuar, significativamente, por se sentir aquém do papel de educador.
Na pesquisa científica do psicólogo americano Daniel Goleman, citada no seu livro A
inteligência emocional, afirma que a geração hodierna possui muito mais problemas emocionais do
que a de outrora; os jovens são mais sozinhos e deprimidos, mais raivosos e rebeldes, mais nervosos
e preocupados, mais impulsivos e agressivos.
O desinteresse dos professores pela educação emocional dos jovens é a razão primeira da indisciplina da qual eles mesmos se lamentam. A dimensão emocional precisa envolver a instituição. Mas em vez disso é desprezada. E vaga pelas danceterias, se transforma em energia rebelde, antitética ao ensino [...]. A competência de quem ensina não é o saber mas a transmissão do saber. Deve, portanto, conhecer a emotividade dos alunos, condição para a recepção do próprio saber. Umberto Galimberti , Entrevista ao L’Espress, n.41, 14 de outubro de 1999, como parte de pesquisa: “Obedecer cansa: jovens que querem indisciplina,” apud Costantini,2004,p.208-209
Segundo Fante (2005) “A educação, portanto, é o caminho que conduz à paz. A
solidariedade, a tolerância e o amor são os ingredientes que compõem o antídoto contra a violência
e que deve ser aplicado no coração de cada criança, de cada adolescente, de cada jovem, enfim, no
coração de todos os seres humanos, em especial no coração daqueles que se dedicam à arte de
educar.”
48
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<http://www.espacoacademico.com.br/043/43lima.htm>. Acessado em: 24/01/07.
50
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02AGRADECIMENTOS 03DEDICATÓRIA 04METODOLOGIA 05RESUMO 06INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO IFenômeno Bullying 101.1. Definição, origem e breve histórico 101.2. Espaços sociais no tempo, no espaço, no Brasil e no mundo 111.3. Os papéis sociais dos protagonistas: seus sinais e sintomas 141.4. As causas e os efeitos na prática do bullying 161.5. Relatos de casos de violência trágicos 231.6. Recomendações aos pais 26
CAPÍTULO IIAnti-bullying 292.1. Programas e medidas anti-bullying 292.2. Estratégias de combate ao fenômeno do Bullying 33
CAPÍTULO IIIMídia e Cyberbullying 363.1. Filmes, games e suas proibições 363.2. Cyberbullying: Orkut e Blogs 37
CONCLUSÃO 43BIBLIOGRAFIA 48WEBGRAFIA 49ANEXOS 50FOLHA DE AVALIAÇÃO 52
51
ANEXOS
52
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
Instituto de Pesquisa Sócio-Pedagógicas
Pós-Graduação “Latu Sensu”
Título da Monografia
O NOVO E VELHO FENÔMENO SOCIAL: O BULLYING NAS ESCOLAS
Data da Entrega: ___________________________
Avaliado por: ______________________________Grau: ________________
Rio de Janeiro, ______ de ______________________ de ________
_______________________________________________________________
Coordenação do Curso
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