um novo ensino para uma nova prática - tomaz lotufo

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São Paulo, 01 de Abril de 2014

UM NOVO ENSINO PARA OUTRA PRÁTICA

Rural Studio e Canteiro Experimental, contribuições para o ensino de arquitetura no Brasil

Tomaz Lotufo

UM NOVO ENSINO PARA OUTRA PRÁTICA

“Do total da população mundial de 6,5 bilhões, cerca de 5,8 bilhões de pessoas,

ou 90% têm pouco ou nenhum acesso à maioria dos produtos e serviços que muitos

de nós considera um direito adquirido”

(Design For The Other 90%, 2007)

UM NOVO ENSINO PARA OUTRA PRÁTICA

• Nos maiores centros urbanos, a população moradora de favelas2 representa entre 20 e

40%.1

• Mais de 50% do território urbano se reproduz na informalidade.3

• Em 2010 a taxa anual média de crescimento das cidades era de 1,9%, enquanto da

periferia de São Paulo era de mais de 6%.3

1- LABHAB-FAUUSP, MARICATO (2001, p.38)2- O conceito de favelas utilizado se refere à situação totalmente ilegal de ocupação do solo3- WHITAKER (2010, p.15 e 16)

Como o trabalho do arquiteto poderá atingir maior parte da população?

UM NOVO ENSINO PARA OUTRA PRÁTICA

Assim, as cidades do futuro, em vez de feitas de vidro e aço, como foi previsto por gerações anteriores de urbanistas, serão construídas em grande parte de tijolo aparente, palha, plástico reciclado, blocos de cimento e restos de madeira (Davis, 2006).

UM NOVO ENSINO PARA OUTRA PRÁTICA

UM NOVO ENSINO PARA OUTRA PRÁTICA

“Existe no Brasil uma analfabetismo urbanístico...”

Ermínia Maricato, Revista Caros Amigos, Janeiro de 2013

“Esse é o trabalho essencial da universidade: interpretar este

mundo e a partir daí propor modificá-lo.” O nosso dever é ajudar a

produzir consciência... Para a sociedade.

Milton Santos, Agosto de 1997, revista Adusp em pronunciamento sobre o papel da

universidade na sociedade.

Arq. Diébédo Kéré – Gambo, Burkina Faso – Desenho adequado as pessoas e ao lugar.

Arq. Diébédo Kéré – Gambo, Burkina Faso – Desenho adequado as pessoas e ao lugar.

Vilarejo de Gambo, Burkina Faso

Como o Design pode contribuir com aspectos sociais, econômicos e ambientais?

PID – Design de Interesse Público

ANTECEDENTES

Um resgate histórico do arquiteto ampliando os horizontes de atuação

Fortalecimento dos movimentos sociais.

Arquitetos trabalhando com as bases.

Autogestão do produção de moradia.

IAPs – Institutos de

Aposentadoria e Pensão

1937 / 1945 –

Vargas

FCP – Fundação Casa

Popular

1946 / 1964 –

Dutra, Vargas e Juscelino

BNH – Banco Nacional de

Habitação

1964 / 1986 – Ditadura

Laboratório de Habitação

Mutirões

Assessoria Técnica

1982 – Atual

Redemocratização

Origem das políticas públicas habitacionais.

Participação ativa de arquitetos na Habitação Social.

Período de grande produção de ideias de arquitetura e urbanismo.

1962 – Arquitetura Nova

Objetivo maior: crescimento econômico. Empreiteiras.

Baixa qualidade do projeto urbano e de arquitetura.

1962 – Arquitetura Nova

A poética da economia

Antecedentes

1982 – Laboratório de Habitação da Belas Artes

Desenho + Engajamento Social

LabHab Belas Artes – Recanto da Alegria LabHab Belas Artes Equipe do LabHab na Belas Artes

Antecedentes

UM NOVO ENSINO PARA OUTRA PRÁTICA

“Para que a educação venha a ser popular é necessário que seja um processo de

aprendizagem constante na medida em que se vai descobrindo e interpretando a

realidade social, para transformá-la através de uma ação organizada: deve

responder a interesses da classe explorada, ser aplicável à vida diária dos

participantes e estimular a iniciativa e a criatividade (...)” (Lefèvre, 1981)

TOCA DAS POSSIBILIDADES – VARZEA QUEIMADA, JAICÓS, PIAUÍ

FOTO: TATIANA CARDEAL

Comunidade de Varzea Queimada construindo a cúpula

1976 – FAU Farias Brito,

Guarulhos

Prof. Eduardo Kneese de

Melo e Vitor Lotufo

Prof. Maria Amélia Leite e

Yopanan Rebello

1979 – FAU Belas Artes, São

Paulo

1982 – LABHAB Belas Artes

Cúpula Recanto da Alegria

1990 – FAU PUCCamp

Canteiro Experimental

Buckminster Fuller – Rev. Architectural Design (AD)

Alternativas ao modernismo na prática de arquitetura

Espaço – Soluções geométricas em esc. 1:1 (Projeto)

Prof. João Marcos de

Almeida Lopes e

Vitor Lotufo

Espaço pedagógico para práticas

construtivas – Canteiro Experimental

Aula de estrutura escala 1:1

Ensino de estrutura por meio de modelos

Encontrar o porquê do cálculos

Engajamento social

Técnicas e materiais apropriados

Construção em comunidade

1981 – Mestrado de Rodrigo Lefèvre

Projeto de um acampamento de obra: uma Utopia

1993 – FAU USP, São Paulo

Prof. Antônio Battaglia,

Elisabetta Romano e

Erika Yoshioka

Prof. Eduardo Salmar e

Maxim Bucaretchi

1997 – FAU Unimep, Santa

Barbara - Laboratório de

Sistemas Construtivos

1998 – FAU USP, São Paulo

Prof. Reginaldo Ronconi e

Erika Yoshioka

2008 – IAU USP, São

Carlos

Exercícios práticos para tecnologia da construção

Espaço improvisado

Apoio dos alunos para viabilização

Construção com terra crua

Maior numero de escolas

Prof. João Marcos de

Almeida Lopes e

Akemi Ino

Espaço consolidado – oficial

Inclusão de um técnico para o CE

Aumenta espaço dentro da grade curricular

Estudantes mais trabalhadores da

construção civil

Inserção na comunidade

2009 – Canteiro Experimental no

Projeto Pedagógico da UFFS, RS

1998/2014 - Canteiro Experimental FAUUSP2 disciplinas curriculares e 1 optativa

1º. Ano – Semestre 1 – AUT 182 – Construção do Edifício I

1º. Ano – Semestre 1 – AUT 182 – Construção do Edifício I

© LCC – Cúpula de gesso

1º. Ano – Semestre 1 – AUT 182 – Construção do Edifício I

Práticas pedagógicas em Canteiro Experimental

1º. Semestre – Testando a cúpula

© LCC – Cúpula de gesso

1º. Ano – Semestre 2 – AUT 184 – Construção do Edifício II

Materiais, Técnicas, Construção do objeto

© LCC

2º. Semestre – Práticas construtivas na escala do material

© LCC

4º. e 5º. Ano - Curso optativo – PBL (Problem Based Learning)

Escala 1:1

© LCC

FOTO REGINALDO RONCONI

Para que esta proposta pedagógica cumpra efetivamente seu papel é preciso que esteja

presente ao longo de todos os anos do curso de arquitetura.

O Canteiro Experimental é uma metodologia de ensino que pode ser apropriada em diversas

situações. Como levar esta abordagem para dentro de comunidades que devem ser

reconhecidas?

• A consciência é parte de um todo, o Canteiro Experimental proporciona uma formação mais integral.

• Incorporar práticas construtivas incentiva a relação entre teoria e prática no processo de formação.

• O Canteiro Experimental favorece atividades coletivas e a tomada de decisões em grupo.

• Projeto: não como fim e sim como um meio para uma transformação mais ampla.

• Por meio do Canteiro Experimental o aluno desenvolve autonomia.

• Por meio do Canteiro Experimental o ensino tem um enfoque multidisciplinar.

Considerações – O papel da universidade: Produzir consciência

Nós temos o dever de participar da realidade Social, Política e

Ambiental que nossa comunidade está enfrentando, e isso requer que os

arquitetos olhem além da arquitetura para uma maior compressão do todo

à que ele pertence. (Samuel Mockbee)

Samuel Mockbee – 1993 a 2001 Andrew Freear – 2001 atual

Rural Studio, Universidade de Auburn, EUA, Alabama – 1993/2014

Rural Studio, Universidade de Auburn, EUA, Alabama – 1993/2013

Lucy’s Carpet House, 2002

Criado por D.K. Ruth e Samuel Mockbee na escola de arquitetura da Universidade de Auburn.Os objetivos eram:

1. Aproximar o aluno da realidade social. Intercambio com um universo pouco conhecido.

2. Formar além de um arquiteto, um cidadão.

3. Despertar no aluno e entendimento da capacidade que tem de transformar a realidade.

Campus produtivo

O PROGRAMA É DESENVOLVIDO EM 3 FASES

Comunidade

É para a comunidade de Newbern e arredores – não mais

que um raio de 35 km – que são destinadas as construções

realizadas por meio do programa de “Design Build” do Rural.

Alguns estudantes moram nas proximidades do Campus.

Projeto

É desenvolvido em situações reais. Durante esta etapa, são

realizadas reuniões com a comunidade.

O objetivo é ensinar estudantes de arquitetura o papel social

do arquiteto e desenvolver uma arquitetura que proponha

melhorias nas condições de vida no oeste do Alabama.

Construção

Com os projetos em mãos os estudantes constroem casas

ou equipamentos coletivos.

“Quando construímos, testamos a nossa teoria,

que é o desenho (...) Você pode aprender

incrivelmente confirmando o que foi pensado e

descobrir o que poderia ser diferente.”

(John Marusish, instrutor, 2012)

Programas Rural Studio

• Alunos 3º. ANO – Aulas de projeto/ História da arquitetura vernacular/ Materiais e métodos de

construção/ Madeira. Os alunos ficam em um alojamento em Morissette, Newbern, Alabama

• TFG – Os alunos do quinto ano desenvolvem o projeto e construção de um espaço para a

comunidade da região. O projeto é desenvolvido em grupos de 3 a 5 alunos. Eles devem realizar

um projeto completo da edificação junto a comunidade. Já existem recursos definidos, caso

necessitem, devem conseguir recursos financeiros para a construção e efetivamente realizá-la.

• Outreach Program – É uma residência profissional para recém formados e uma possibilidade de

participação de alunos e estrangeiros de outras universidades.

Os alunos passam por um processo de seleção e entram como membros de um grupo que

pesquisa/construindo casas populares de até 20.000 U$$ (12.000 material/ 8.000 mão de obra).

Essa pesquisa faz parte de um programa chamado 20K, o qual tem como objetivo superar

desafios impostos pelos baixos recursos dos programas federais de habitação. As casas não

podem custar mais de 20.000 U$ e devem ter condições de serem construídas por empreiteiros

locais.

3º. Ano – Farm

Galpão de alojamento dos estudantes em Newbern, AL, EUA

Atividades no Campus Morrissette 3º. ano

Atividades em sala de aula 3º. ano

5º. ano – Espaços comunitários até 35km de distância

5º. ano – Início do semestre todos juntos trabalhando as temáticas

5º. ano TFG – Super Thesis: Town Hall

5º. ano TFG – Akron Boys and Girls Club – Construído pelos estudantes

13%

16%

26%

População abaixo da linha de pobreza – U.S. Census, 2010

Estados Unidos

Alabama

Hale County36% da população mora em casa trailer

Outreach Program

Outreach Program – opção para a Casa Trailer, busca o programa de crédito 502c

Roundwood House, 2008

Outreach Program – Davi’s House, 2009

As habitações são produzidas para clientes reais que vivem na

casa e tornam possível uma avaliação de como melhorar os

protótipos subsequentes.

EVOLUÇÃO DAS 20K HOUSE DE 2005 A 2013

O Outreach Program demonstra que um programa habitacional pode ser resultado de um processo

de pesquisa e extensão universitária, partindo de situações reais, dialogando com usuários,

projetistas, construtores e poder público.

Em 2008, as equipes de thesis também participaram e desenvolveram além da V04 as V05/06/07

Considerações finais – Contribuições para o ensino de arquitetura no Brasil

• A promoção de momentos de ensino em comunidades que atualmente não são atendidas pelo serviço

de arquitetura na construção do aprendizado.

• É necessário que práticas construtivas pedagógicas sejam constantes ao longo de todos os anos dos

cursos de arquitetura.

• Com estes dois pontos, aproxima-se de uma formação integral (teórica, prática e empírica), gerando

conhecimento por meio de uma relação transversal entre diversas disciplinas.

• É possível envolver todas as disciplinas do curso de arquitetura com alunos e professores imersos em

uma comunidade, centrados no projeto e construção de ambientes construídos reais.

• Por meio da experimentação, abre-se espaço para a reflexão.

• O Canteiro é um espaço onde é possível dominar a técnica para ter liberdade no processo criativo.

• O Canteiro potencializa o diálogo entre professor e aluno.

• Pedagogia por meio de práticas construtivas em comunidade desenvolvem autonomia.

• Pedagogia por meio de práticas construtivas em comunidade desenvolvem percepção da função social

do arquiteto.

• E existe “clima” para outro ensino. Uma demanda claramente demonstrada pela atual geração de

jovens:

Foto: Miguel Rodriguez

Foto: Miguel Rodriguez

• Trabalho em rede: divulgação nos

meios eletrônicos e nas redes sociais

• Evita a valorização de nomes –

Fortalece o grupo

• Transformação pela ação: prototipando

e experimentando

• Disponibilização da informação –

Copyleft

Temos em mãos os ingredientes necessários para um novo ensino que levará a outra prática profissional: a

escola de arquitetura livre como um jardim da infância; os alunos curiosos como crianças. Ao mesmo tempo,

sem muros ou cercas. Melhor ainda se fosse permeável por espaços público dentro de uma vila ou cidade.

Fica a questão:

Qual é o desenho dessa escola de arquitetura?

Obrigado

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