ufu - universidade federal de uberlandia inhis …
Post on 16-Oct-2021
0 Views
Preview:
TRANSCRIPT
UFU - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA
INHIS ndash INSTITUTO DE HISTOacuteRIA
BELLE EacutePOQUE ESCRITORES JORNALISMO E MERCADO EDITORIAL
BRASILEIRO MUDANCcedilAS TECNOLOacuteGICAS POLIacuteTICAS E URBANAS
1880 ndash 1920
LORRAINE DA SILVA DIONISIO
2019
UFU ndash UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA
INHIS ndash INSTITUTO DE HISTOacuteRIA
BELLE EacutePOQUE ESCRITORES JORNALISMO E MERCADO EDITORIAL
BRASILEIRO MUDANCcedilAS TECNOLOacuteGICAS POLIacuteTICAS E URBANAS
1880 ndash 1920
Monografia apresentada ao Instituto de Histoacuteria da
Universidade Federal de Uberlacircndia como
exigecircncia obrigatoacuteria para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de
bacharel em Histoacuteria pela aluna Lorraine da Silva
Dionisio
Orientador Prof Dr Newton Dacircngelo
UBERLAcircNDIA
2019
Dionisio Lorraine da Silva 1995
Belle Eacutepoque Escritores Jornalismo e Mercado Editorial Brasileiro Mudanccedilas
Tecnoloacutegicas Poliacuteticas e Urbanas 1880 ndash 1920 Lorraine da Silva Dionisio ndash Uberlacircndia
2019
Orientador Newton Dacircngelo
Monografia (Bacharelado) ndash Universidade Federal de Uberlacircndia Curso de Graduaccedilatildeo em
Histoacuteria
Inclui Bibliografia
1 Modernismo 2 Impressa 3 Modernizaccedilatildeo
Lorraine da Silva Dionisio
Banca Examinadora
Prof R Newton Dacircngelo (Orientador)
Dr Diogo De Souza Brito
Profordf Drordf Ana Flaacutevia Santana
AGRADECIMENTOS
Este trabalho natildeo seria possiacutevel sem a paciecircncia do meu orientador Newton Dacircngelo
muito obrigada por todos os momentos que eu natildeo soube por qual direccedilatildeo seguir e o senhor
com toda a paciecircncia do mundo me mostrou as opccedilotildees possiacuteveis
A minha matildee Maria Aparecida da Silva que se dedicou de corpo e alma para que eu
pudesse natildeo apenas comeccedilar uma faculdade mas que me apoiou em cada vontade e sonho
me mostrando que o esforccedilo sim eacute o que nos manteacutem em peacute Obrigada mamatildee A senhora eacute
tudo o que eu quero ser quando crescer
Aos meus pais Christopher Dale Poniktera e Luiacutes Carlos Dionisio que infelizmente natildeo
viveram o suficiente para me ver neste momento uacutenico mas que estiveram comigo no
segundo momento mais importante da minha vida A minha aprovaccedilatildeo para comeccedilar este
curso
Aos meus amigos que me ajudaram e apoiaram em cada momento difiacutecil neste curso e
durante meus anos de graduaccedilatildeo com cada semestre sendo uma temporada eacute difiacutecil contar
quem ficou e quem se foi mas com certeza todos deixaram uma marca uacutenica comigo
RESUMO
Analisando a Belle Eacutepoque em seus aspectos culturais poliacuteticos tecnoloacutegicos entre 1890 ndash
1920 a presente monografia intenciona identificar a mudanccedila de editorial tipografias em
conjunto com a modernizaccedilatildeo da cidade e a sua nova influecircncia quanto as pessoas iletradas
em relaccedilatildeo com a nova narrativa poliacutetica Uma construccedilatildeo de um imaginaacuterio de Repuacuteblica
para o iletrado e as perspectivas para o homem de letra trazendo as novas percepccedilotildees sobre o
tempo suas produccedilotildees e a cidade com o modernismo
Palavra-chave Belle Eacutepoque modernizaccedilatildeo perioacutedico
LISTA DE IMAGENS
Capitulo III
Figura 1 Fotografia da Rua do Ouvidor 1890 Fonte
httpfotografiaimscombrsites1527248423762_13
Figura 2 Colagem sobre caricaturas e ilustraccedilotildees sobre o governo monaacuterquico Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=2011ampPesq
Figura 3 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528amp
Figura 4 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127amp
Figura 5 Chamada principal da Revista Illustrada marccedilo de 1891 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4472amp
Figura 6 Ilustraccedilatildeo da realizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1891 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4472amp
Capitulo IV
Figura 7 Capa do Jornal do Brasil de 1 de janeiro de 1892 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01ampPagFis=13
Figura 8 Capa do Jornal do Brasil de 6 de janeiro de 1908 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amppasta=ano20190amp
Figura 9 Capa do Jornal do Brasil 1 de janeiro de 1920 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amppasta=ano20192amp
Figura 10 Capa do Jornal do Brasil 24 de novembro de 1921 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amppasta=ano20192amp
Figura 11 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1889 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amp
Figura 12 Capa da Gazeta de Notiacutecias 1 de janeiro de 1908 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amppasta=ano20190amp
Figura 13 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1920 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amppasta=ano20192amp
Figura 14 Capa da Gazeta de Notiacutecias 8 de janeiro de 1921 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amppasta=ano20192amp
Figura 15 Capa da Revista Illustrada 1 de Janeiro de 1876 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1
Figura 16 Capa da Revista Illustrada 8 de Junho de 1889
FontehttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=
Figura 17 Capa da Revista Illustrada Rio de Janeiro Junho 1898 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=
Figura 18 Capa da Revista Kosmos Janeiro 1904 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675
Figura 19 Capa da Revista Kosmos Novembro de 1908 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675
Figura 20 Capa da Revista Kosmos Fevereiro 1909 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675
Figura 21 Capa da Revista Careta 10 de Julho de 1909 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1
Figura 22 Capa da Revista Careta 10 de Junho de 1920 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1
Figura 23 Capa da Revista Careta 1 de Julho de 1922 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1
SUMAacuteRIO
I INTRODUCcedilAtildeO1
II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS4
21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO4
22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE6
23 REALISMO6
24 NATURALISMO8
25 PARNASIANISMO9
26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO11
III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA16
31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE16
32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA21
33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA27
IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO38
41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM38
42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA41
43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO52
44 O PUacuteBLICO RECEPTOR53
45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA54
46 O DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO55
V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS59
VI FONTES62
VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICAS63
1
1 INTRODUCcedilAtildeO
O cotidiano dos homens e mulheres brasi leiros comeccedilou a se modif icar ao f inal do seacuteculo
X IX 1890 natildeo apenas no visual e no ambiente mas tambeacutem no social A s ruas estavam
comeccedilando a ser asfaltadas e deixando de ter espaccedilos para carroccedilas e ani mais comeccedilavam a
ser tomadas pelos carros automatizados lustres e grandes preacutedios aleacutem das fabricas
O modo de viver se modif icava em conjunto com o seu novo modo de trabalhar e seu
cotidiano A s faacutebricas tomavam conta e ditavam o horaacuterio e assim o homem comum tinha
uma alteraccedilatildeo completa de seu cotidiano e da sua inf luecircncia na sua produccedilatildeo no trabalho O
homem l i teraacuterio tambeacutem sofreu com as mudanccedilas que ocorriam na cidade ao contraacuterio do
pensamento comum
Jornais e revistas estavam mudando seu formato de produccedilatildeo drasticamente aleacutem de suas
periodicidades Se antes algum destes queriam um formato mais especif ico necessitava pedir
a impressatildeo no exterior e entatildeo ela iria ser distribuiacuteda no Brasi l como era o caso da revista
Kosmos Com a mudanccedila industrial era agora possiacutevel a real izaccedilatildeo no proacuteprio escri toacuterio do
perioacutedico aleacutem do mesmo sair em nuacutemeros maiores e com uma frequecircncia mais assiacutedua
fazendo assim ser possiacutevel viver da arte de ser escri tor com mais ef iciecircncia
A maneira da informaccedilatildeo chegar no f inal do X IX tambeacutem estava se modif icando Com o
teleacutegrafo as notiacutecias eram mais dinacircmicas e informantes eram espalhados ao redor do mundo
O Brasi l se inf luenciava de maneira mais constante em suas escri tas com novas maquinas de
escrever e de transcriccedilatildeo com as datas de publicaccedilotildees muito mais proacuteximas com essas
modif icaccedilotildees grandes em seu cotidiano de escri ta principalmente porque com a mudanccedila
agora seria possiacutevel viver apenas de l i teratura graccedilas a demanda
A s transformaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo alteraram apenas a imagem dos jornais e das revistas
mas tambeacutem como dito anteriormente sua participaccedilatildeo nestes A s imagens agora natildeo soacute
eram mero enfeite e raras agora fazendo grande parte dos textos a caricatura fotograf ia e ateacute
mesmo charge ajudavam a formar o pensamento e a estrutura do texto que sempre
acompanhavam e como o nuacutemero de leitores natildeo crescia conforme o nuacutemero de lanccedilamentos
a imagem se era muitas vezes mais efetiva proporcionando assim ldquoo ensaio da comunicaccedilatildeo
de massardquo 1
1 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p83
2
A alfabetizaccedilatildeo foi um grande foco de investimento para a Nova Repuacuteblica e o
acompanhamento de imagens nestes perioacutedicos era essencial ldquoA evoluccedilatildeo teacutecnica do
impresso o investimento na alfabetizaccedilatildeo os incentivos agrave aquisiccedilatildeo eou fabricaccedilatildeo de papel
rdquo 2 a quantidade de jornais e revistas que eram vendidos tambeacutem era uma forma da Repuacuteblica
que havia acabado de se formar ter uma noccedilatildeo de quantas pessoas eram letradas ou que
estavam a caminho de se tornarem de fato assim
O debate entre os homens de letras da eacutepoca del imitada entre 1890 e 1923 era assiacuteduo
mas natildeo quanto a questotildees poliacuteticas da eacutepoca e sim as mudanccedilas do cotidiano que os estavam
afetando A poliacutetica soacute aparecia quando o assunto eram as mudanccedilas que ocorriam no
ambiente poliacutetico e social Bi lac faz uma anaacutelise que corrobora completamente com as
fotografias que o jornal passava ldquoQue natildeo seraacute quando da velha cidade colonial
estupidamente conservada ateacute agora como um pesadelo do passado apenas restar a
lembranccedila rdquo3
Com o questionamento sobre como se inf luecircncia uma grande maioria i letrada a natildeo
apenas acreditar na Repuacuteblica como tambeacutem mudar toda a perspectiva que se tem quanto ao
entatildeo monarca busco entender qual eacute a participaccedilatildeo deste homem de letras como o moderno
o ajudou natildeo apenas a aumentar sua importacircncia no imaginaacuterio popular como o trouxe como
celebridade
A ssim busco discutir no primeiro capitulo a Belle Eacutepoque e todas as transformaccedilotildees
l i teraacuterias que a mesma trouxe modif icou e ateacute mesmo criou no Brasi l discutindo entre estes
movimentos l i teraacuterios com algumas representaccedilotildees de autores para exemplif icar o movimento
e a sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de um ideal poliacutetico Brasi leiro
No segundo capiacutetulo todo o movimento poliacutetico que a Belle Eacutepoque trouxe em seu
discurso por estes autores e sua necessidade de Repuacuteblica com a democracia da palavra em
conjunto com a vinda da Repuacuteblica por parte dos mil i tares
No uacuteltimo capiacutetulo apresento as mudanccedilas que essa perspectiva modernista trouxe para o
paiacutes e como ela alterou natildeo apenas a imagem do Rio de Janeiro como tambeacutem o cotidiano e a
perspectiva do homem comum e o de letras sobre o moderno4 e sobre as atividades cotidianas
2 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 84 3 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 93 4 Relativo ou pertencente agrave eacutepoca histoacuterica em que se vive
3
e suas responsabi l idades assim como tambeacutem os modernismos 5 que trouxe em jornais em
revistas
5 Tendecircncias e gostos ao que se eacute moderno
4
II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS
21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO
No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de
que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes
transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o
progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma
modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar
necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes
A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser
construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro
A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que
poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo
X IX e comeccedilo do seacuteculo X X
ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia
um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do
A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada
emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar
daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro
das picaretas abafava esse protesto impotente
Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como
as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las
diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da
hygiene do bom gosto e da arterdquo 6
O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa
que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que
favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de
comunicaccedilatildeo e de transporte
6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt
5
Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento
tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a
educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo
principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma
forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo
remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter
tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e
seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo
Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870
ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande
transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a
crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como
jornal istas
Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e
faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute
mesmo os criassem
A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto
para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para
mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo
A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo
tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute
por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo
ideoloacutegica
A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e
quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu
lado
A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l
V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser
efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer
ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e
assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute
acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo
7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro
6
22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE
Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua
l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como
Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a
escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes
Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita
eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que
a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por
vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro
momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance
urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A
valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver
Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas
ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele
surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre
a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como
uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia
da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens
23 REALISMO
O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares
Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a
real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De
uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico
O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito
representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem
tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa
7
Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo
tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute
um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l
demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na
seacuterie ldquoBons diasrdquo9
M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca
natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer
o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus
acontecimentos
Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os
narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de
uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um
pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do
que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10
ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e
que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais
amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()
O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos
princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava
tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos
termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada
enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11
Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio
leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua
8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013
8
zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo
ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam
Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua
l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias
Poacutestumas de Braacutes Cubas
A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca
brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento
ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo
exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o
homem vive e o que ele eacute
A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba
cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle
conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um
alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12
24 NATURALISMO
O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque
principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o
homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua
ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13
Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens
comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior
sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do
cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l
percepccedilatildeo no interior
O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento
eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas
e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o
moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava
tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior
12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista
9
O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas
ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo
sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas
Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua
l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor
25 PARNASIANISMO
O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e
conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente
Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e
o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos
ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do
tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir
tinha se tornado algo f reneacutetico
O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a
necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre
palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas
Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio
interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o
parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de
M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para
o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o
mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes
Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social
para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu
e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem
Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando
da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas
ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu
candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -
pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler
10
e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de
ser algueacutemrdquo 14
Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era
necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os
acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria
se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando
A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais
baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por
meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um
estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo
A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem
investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens
ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num
paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O
melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a
memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria
Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e
escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar
esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode
merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os
caracteres do alfabetordquo 15
Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para
construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores
entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de
trabalho
Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a
instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees
14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015
11
26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO
Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um
movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos
os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides
da Cunha e M onteiro Lobato
Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da
l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua
maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum
Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares
de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos
Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como
uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e
poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar
ateacute eles
A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que
de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e
caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a
imagem do que era discutido e narrado
M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra
haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de
algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que
estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo
ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo
brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel
o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que
nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de
busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro
prometiardquo 16
16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144
12
Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica
estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a
sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente
A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no
jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos
por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado
Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies
e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de
renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto
Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado
como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando
momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees
Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma
vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por
dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua
identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista
e materialistardquo 17
Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se
relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem
questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o
movimento Republicano
ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a
evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas
qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e
a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos
Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18
L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela
modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo
17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
13
entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute
mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele
ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do
passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de
modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais
suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de
ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20
E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como
dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela
si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor
ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio
Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute
este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21
ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande
de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um
outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros
e um pouco devido a mim
[ ]
A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os
acontecimentosrdquo 22
Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a
formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa
marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um
governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes
natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23
19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
14
Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios
que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve
ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves
V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de
chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam
criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas
simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos
trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24
M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o
trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na
terra em sua obra como Jeca Tatu
Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato
tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a
real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista
M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a
terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta
de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral
Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava
neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando
assim o estrago e atraso a naccedilatildeo
Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um
ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida
votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava
que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio
personagem Jeca Tatu
Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto
uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo
M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo
trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo
24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010
15
O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria
cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles
ocorriam ou quais suas separaccedilotildees
ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar
riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com
produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que
criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e
atrairrdquo 26
A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento
cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o
seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas
sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o
homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas
26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194
16
III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA
31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE
O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que
modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria
social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento
possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da
modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura
da cidade
O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial
(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas
junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em
conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de
Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que
consomem matildeos de obra
Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava
tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade
que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem
do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava
acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de
ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27
Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa
nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de
Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver
ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do
trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram
quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro
27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41
17
principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo
radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28
Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que
nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se
estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as
estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da
Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a
condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional
Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo
assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das
autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte
A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas
nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees
do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de
fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos
prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do
paiacutes
ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam
capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade
funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio
moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados
operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31
28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58
18
Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890
Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt
httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt
A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua
visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a
todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No
primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as
donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10
horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo
burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua
19
A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por
todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro
de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro
O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em
todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia
A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre
a Rua do Ouvidor
ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o
melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse
monopoacutel io
A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se
reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde
aparecem as novidades
()
Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a
cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um
conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos
perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha
quer queiram quer natildeo
()
A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo
transtornadosrdquo 33 34
A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose
Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme
atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana
E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo
trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra
do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos
principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
20
A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem
trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a
popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se
tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista
queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros
Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma
leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio
de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de
conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a
proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos
eles pois a rua era isso A presentadora da vida
ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua
do Ouvidorrdquo35
Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis
l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa
forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre
se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se
migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural
A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada
com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos
pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente
todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro
Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por
mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em
conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime
Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua
35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
21
impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves
exigecircncias do progresso36
32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA
A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao
paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo
comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que
circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim
Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com
as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta
de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes
que estava se formando e muito menos para o seu povo
Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas
notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia
presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando
36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76
22
Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees
Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt
Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se
esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a
imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute
l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores
A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a
rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta
de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo
A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto
ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas
escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo
analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo
necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem
tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura
A s legendas em ordem satildeo
23
2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im
senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo
3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por
um grande zero constitucionalrdquo
4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos
sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de
tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo
5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal
fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo
M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se
expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o
mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados
assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o
Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos
Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais
eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo
tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente
perdia sua sacral idade
Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o
monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que
rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro
histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo
rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca
como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada
O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e
demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um
esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a
republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar
37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47
24
Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se
tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro
no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica
ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as
maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano
nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano
()
SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as
camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a
menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de
deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram
natildeo passaram de falsos eleitos ()
Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que
SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala
do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto
Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala
do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada
tinha drsquoesta vezrdquo40
A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria
da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse
sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se
empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da
populaccedilatildeo de todo o paiacutes
Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam
por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que
ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a
maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i
passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um
futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo
40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt
25
A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando
sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas
que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes
quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890
ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir
por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de
A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-
imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas
despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash
mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do
governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um
adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes
teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e
houradezrdquo Barbadinho41
A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra
Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela
que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees
para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma
grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em
seu grupo soacute que em um governo Republicano
A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento
de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental
A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade
A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o
tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato
se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre
M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser
efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras
41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17
26
preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a
l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762
ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da
L iberdade (1823) 43
ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em
l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria
seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que
tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja
debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de
ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44
A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio
a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de
fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes
possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a
ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este
objetivo
Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas
um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros
poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era
o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem
formada
A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem
censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a
palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico
Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem
possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da
populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45
43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24
27
O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas
decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l
transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e
igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46
Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por
essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo
governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da
sociedade47
ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso
pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi
um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do
aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas
para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48
O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se
criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco
desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro
A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a
nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como
demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma
de Lima Barreto
33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA
A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da
repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais
ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa
oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79
28
tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto
pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49
O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou
uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a
homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os
fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas
consequecircncias nos anos de 1870 e 1880
Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a
toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma
de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de
respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas
A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta
disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na
academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas
academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica
Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro
com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra
perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato
l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda
mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia
Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra
do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com
engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe
totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de
intelectual
Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute
possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo
sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l
precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar
quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio
49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
29
Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da
Repuacuteblica e eles se viam
ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da
civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime
poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada
que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma
profissatildeo desprestigiadardquo50
O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando
ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de
junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos
fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen
que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje
mais amanhatilde
O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e
hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os
lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro
da America
()
Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque
isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais
admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional
Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51
Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos
homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute
50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt
30
mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos
mil i tares A Repuacuteblica Francesa
Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar
muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque
partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de
Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias
ldquoPROCLAMACcedilAtildeO
O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo
ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em
perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos
residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da
dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema
monarchico ndash representativo
Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter
essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo
provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a
l iberdade e os direitos dos cidadatildeos
()
Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da
soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e
da ordemrdquo 53
Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que
era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos
que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade
para o que quiser
52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
31
Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca
Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt
Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt
A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para
com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o
povo brasileiro poderia ter pela frente
A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram
sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou
charges sobre quem estava no comando
Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as
seguintes informaccedilotildees
ldquoMinisterio do Governo Provisorio
Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca
M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo
M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o
Sr Quintino Bocayuva
M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy
Barbosa
M inistro da guerra Dr Benjamin Constant
M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva
M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa
32
M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54
Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva
de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista
I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA
republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo
ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo
Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e
entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em
no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo
A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e
revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram
expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele
momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo
mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso
A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo
com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e
assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do
Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares
Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a
nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre
que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que
estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890
M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o
animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada
mostra
54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
33
Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo
Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
Seguindo do texto aqui resumido
ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional
dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo
de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico
M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje
outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria
recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma
concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im
garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes
com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e
de prosperidade
()
O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o
como a uma gloria nacional
Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes
do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os
nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo
()
34
Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de
leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de
primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que
l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica
na sua unidade republicana
A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela
gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas
paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um
estridente viva ao futuro da patria
Viva a Republicardquo 55
Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891
voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por
algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas
boas
Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25
anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com
mais de 21 anos e letrados
No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a
representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo
55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt
35
Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l
Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
A imagem que traz os seguintes dizeres
ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma
consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos
terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do
dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre
HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56
A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera
ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees
presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante
Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional
Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises
56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt
36
econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de
dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de
estado no mesmo ano
Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o
lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de
Notiacutecias
A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro
ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao
paiz a mais plena conf ianccedila
Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes
circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que
poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos
seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e
de respeito aacute lei o seu governo
Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da
Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57
A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do
general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo
rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees
geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma
reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano
A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as
eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola
que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente
de M oraes
57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt
37
A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em
suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova
narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento
A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca
como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento
de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com
a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem
de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado
61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina
38
IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO
41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM
O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se
espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de
cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l
uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura
conforto e progresso
A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente
comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de
ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de
Janeiro
Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas
comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam
placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar
f reneacutetico
O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava
letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por
exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais
discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico
A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo
neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente
diferente do que antes
A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava
em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de
crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo
formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os
mesmos
O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus
mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem
62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
39
vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para
de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a
mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo
Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem
brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia
O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era
e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e
poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado
ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e
natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de
pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63
O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias
agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos
deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais
velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais
energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia
Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu
referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova
vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura
raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64
ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma
Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma
Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65
O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo
se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99
40
enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida
eis os modernos ideaisrdquo66
ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite
lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa
numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela
seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a
perderrdquo67
O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido
se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por
todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real
ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o
tempo para a sua assimilaccedilatildeo
ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio
ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate
depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l
ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para
acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as
breves funccedilotildees da vida breverdquo 68
A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha
mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do
que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu
integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69
Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para
viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de
66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268
41
fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua
essecircncia
Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus
conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma
faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel
e irredutiacutevel70
42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA
A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de
Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era
moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era
A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como
um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo
quanto para a divulgaccedilatildeo
A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido
criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na
Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser
divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas
dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa
Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras
brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo
letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para
diferentes puacutebl icos
A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se
recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que
um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial
ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees
que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa
moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca
70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013
42
capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e
demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72
A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca
em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos
uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo
mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a
se reapresentar 73
A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao
jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de
apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia
O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona
reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o
cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e
imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo
A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de
vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o
aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando
assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74
ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas
principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens
quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para
determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas
mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se
indispensaacuteveisrdquo75
72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006
43
A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e
principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou
qualquer outro produto advindo da modernidade
A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o
homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo
visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma
simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer
lugar
Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar
de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo
do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura
Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma
de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de
se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais
ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da
i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo
de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76
Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac
questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando
a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o
escritor
A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e
revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia
tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia
proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para
literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos
trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77
76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94
44
M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa
modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as
efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios
semanais quinzenais ou mensais
Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt
Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt
O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e
obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da
legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e
com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo
A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo
contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um
sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78
78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57
45
A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas
como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor
logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar
as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor
Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt
A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute
possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e
vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de
forma mundana
O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a
atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas
de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas
46
primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma
modernidade em seu cotidiano
A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada
vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma
criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo
outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame
podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema
especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para
chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo
Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A
f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que
chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de
1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os
dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro
Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo
47
Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889
Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt
Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de
Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as
implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de
folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca
ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo
entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino
caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento
abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem
de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a
intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os
diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas
femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias
48
mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e
interessesrdquo79
M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como
Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa
necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas
mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como
esportivas e femininas
Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo
Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt
79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130
49
Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo
Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt
Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo
Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
50
Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu
nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era
necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo
dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de
existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo
Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de
ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas
poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por
isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que
perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081
Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver
tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens
relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que
ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo
Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista
entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas
capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em
primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre
escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas
A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo
tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica
scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os
l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto
Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que
vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas
escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples
mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt
51
simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma
vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com
o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica
Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A
modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84
Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a
Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos
seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos
volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com
personagens com feiccedilotildees engraccediladas
M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo
que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo
ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo
frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com
baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86
embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo
Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre
o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam
transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior
vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias
de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma
vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro
de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88
O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser
def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado
84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
52
A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir
diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados
como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu
desejo de imagem
43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO
Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram
adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do
nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum
folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer
um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance
l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia
Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de
pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar
sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da
populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem
Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos
de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89
levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova
aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo
Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o
Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais
propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l
inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro
A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi
essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais
pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores
A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da
populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e
ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais
que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38
53
divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora
isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva
44 O PUacuteBLICO RECEPTOR
A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a
mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida
com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova
ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo
cultural da sociedade cariocardquo 90
O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos
jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o
espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se
estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para
que qualquer coisa ocorresse
A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se
importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim
para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si
provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo
Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a
atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas
divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam
tambeacutem
ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de
associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes
mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada
M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas
i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos
para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores
ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo
90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19
54
clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo
(M ELLO 2007)91
O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o
crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais
populares a aceitassem de fato
A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute
citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam
introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo
outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i
estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92
45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA
Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a
oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a
modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida
sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria
A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o
exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas
M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova
velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e
Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do
Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o
teatro em abundacircnciardquo93
O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive
A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais
propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a
91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75
55
tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de
ambiente
ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando
depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas
jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a
produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a
pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se
produzia
A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se
tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a
pagarem jantares ou ida a bares
A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver
por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a
luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos
para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma
parcela ser respeitada e mais do que ouvida
Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para
a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo
republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais
do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo
progresso e democracia95
46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO
O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com
ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis
cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas
pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l
94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
56
ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi
sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser
- Para ser
- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem
relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um
trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado
do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96
A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate
poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a
comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a
automatizaccedilatildeo
A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de
escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo
uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que
o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda
natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o
escri to causa uma perca e uma falta de sentido
M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve
como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos
intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta
questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no
Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97
Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que
ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se
era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor
exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido
O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se
tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou
apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil
Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97
57
manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute
chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se
transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar
Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor
se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no
universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os
platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98
Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de
jornais e revistas
L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito
tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos
perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi
lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e
sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres
ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico
saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes
desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel
infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe
desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em
vermelhordquo 99
Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o
produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas
chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos
M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir
recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo
homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre
pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo
para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para
98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual
58
mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde
nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem
atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores
M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na
primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de
criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l
ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a
condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia
arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a
intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos
aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e
as tempestades do futurordquo 100
A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para
escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos
principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l
aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a
industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo
Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a
paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se
escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina
podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra
perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria
direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano
100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
59
V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram
para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados
uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem
i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia
A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer
mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo
rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas
Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no
Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio
do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como
O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o
intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca
que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia
chegar a todos
Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no
mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas
quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico
movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia
A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a
tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem
i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor
de si mesmo
A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem
a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um
desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela
eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute
Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo
brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a
fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era
aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de
que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura
60
A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava
para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma
representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares
O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que
envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com
o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a
segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do
meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever
e falar
A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de
suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a
mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a
aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico
O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo
difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas
af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o
novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas
de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes
Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas
obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que
eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma
efetiva
O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram
discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu
redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles
deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o
que a populaccedilatildeo brasi leira representava
Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com
que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como
uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria
dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social
O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era
produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o
61
homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era
nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade
em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo
62
VI FONTES
Gazeta de Notiacutecias (1890 ndash 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03amp PagFis=0gt
Jornal do Brazil (1890 ndash 1920) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_01amp pasta=ano20189=gt
Revista Kosmos (1900 - 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amp pasta=ano20190amp =gt
Revista Careta (1900 ndash 1929) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=083712amp pasta=ano20190amp pesq=gt
Revista I l lustrada (1890 ndash 1899) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pasta=ano20189amp pesq=gt
63
VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICA
M ARTINS Ana Luiza LUCA Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed
Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordf Ed 2003
SUumlSSEK IND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1 Reimpressatildeo 2006
M ELLO M aria Tereza Chaves de A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 1ordf Ed 2007
CARVALHO Joseacute M urilo de A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 7ordf Ed 1998
BEJAM IN Walter A Obra de Arte na Eacutepoca de sua Reprodutibilidade Teacutecnica In
L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
HORK HEIM ER M ax ADORNO Theodor W A Induacutestria Cultural o Iluminismo como Mistificaccedilatildeo de Massas In L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e
Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
CURRAN M ark J Histoacuteria do Brasil em Cordel Ed EDUSP Editora da Universidade de
Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1ordf Ed 2009
RIBEIRO Ana Paula Goulart FERREIRA Lucia M aria A lves Miacutedia e Memoacuteria A Produccedilatildeo de Sentidos nos Meios de Comunicaccedilatildeo Ed M AUAD Rio de Janeiro 1ordf Ed
2007
COSTA Cleacuteria Botelho da M ACHADO M aria Clara Tomaz Histoacuteria e Literatura
Identidade e Fronteiras Ed EDUFU Uberlacircndia 1ordf Ed 2006 GOM ES Angela de Castro A Poliacutetica Brasileira em Busca da Modernidade na Fronteira
entre o puacuteblico e o privado In Org SCHWARCZ Lil ia M oritz Histoacuteria da V ida privada
no Brasil vol 4 Ed Companhia das Letras 1ordf Ed 1998
CHALHOUB Sidney PEREIRA Leonardo A ffonso de M A Histoacuteria Contada Capiacutetulos de Histoacuteria Social da Literatura no Brasil Ed Nova Fronteira 1ordf Ed 1998
CAM ARGO Ana M aria de A lmeida A IMPRENSA COMO FONTE PARA HISTOacuteRIA DO BRASIL In PAULA Euriacutepedes Simotildees de Portos Rotas e Comeacutercio Satildeo Paulo 1971
LIM A Ivana Stolze Com a palavra a cidade mesticcedila Imprensa poliacutetica e identidade no Rio de Janeiro 1831 ndash 1833 Fundaccedilatildeo Casa de Rui Barbosa Rio de Janeiro 1998
64
LUCA Tania Regina de Histoacuteria dos nos e por meio dos perioacutedicos In Org PINSK Y
Carla Bassanezi Fontes Histoacuterias Satildeo Paulo Ed Contexto 2005
SCHERER M arta Eymael Garcia Bilac ndash Sem Poesia Crocircnicas de um jornalista da Belle Eacutepoque Universidade Federal de Santa Catarina 2008
M ENDES Iba Olavo Bilac Crocircnicas e Novelas Poeteiro Editor Digital Satildeo Paulo 2014 NUNES Radameacutes V ieira Literatura e Imprensa Barreto e Bilac entre a Arte e
Ofiacutecio Emblemas Goiaacutes v 8 n 2 p201-226 jul 2011 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
M ONTILHA Thiago Roza Ialdo Olavo Bilac e a Questatildeo da Instruccedilatildeo no Brasil (1897 ndash 1908) Intellegravectus Rio de Janeiro ano X IV n 1 p 57 ndash 76 2015
NUNES Radameacutes V ieira Crocircnicas e Cronistas no Ritmo das M aacutequinas Emblemas Goiaacutes
v 9 n 1 p129-145 jan 2012 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
SILVA Renata Refino da Monteiro Lobato e a Revista do Brasil (1916 ndash 1925)
Representaccedilotildees de Ciecircncia Literatura Arte e Histoacuteria Anais do XXVI Simpoacutesio
Nacional de Histoacuteria - ANPUH Satildeo Paulo julho 2011
SILVA M auriacutecio Literatura e Publicidade no Preacute-Modernismo Brasileiro Uma Introduccedilatildeo Criacutetica Cultural Santa Catarina v 1 n1 jan Semestral 2006
SILVA Danyelle M arques Freire da A Constituiccedilatildeo do Espaccedilo em Vida Ociosa de
Godofredo Rangel UninCor ndash Universidade Vale do Rio Verde Trecircs Coraccedilotildees 2013
SILVA M auriacutecio Profissionalizaccedilatildeo do Escritor e Publicidade Editorial Dois Capiacutetulos
da Leitura Preacute-Modernista no Brasil M agma Satildeo Paulo n 6 p 66 ndash 77 1999
BECK ER Elizamari Rodrigues Forccedilas Motrizes de uma Contiacutestica Preacute-Modernista O
Papel da Traduccedilatildeo na Obra Ficcional de Monteiro Lobato Universidade Federal do Rio
Grande do Sul Porto A legre 2006
ARAUJO Jean M arcel Oliveira O Preacute-Modernismo A luta entre passadistas modernos e modernistas no campo artiacutestico brasileiro Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo ndash RJ n 1 p
117 ndash 134 jul semestral 2012
GUIM ARAtildeES Fernando Simbolismo Modernismo e Vanguardas Imprensa Nacional ndash
Casa da M oeda 3ordf Ed Rio de Janeiro 2004
VELLOSO M ocircnica A Modernidade Carioca na Sua Vertente Humoriacutestica Estudos
Histoacutericos Rio de Janeiro v 8 n 16 p 269-278 1995
65
M ORAES Eduardo Jardim Modernismo Revisitado Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v
1 n 2 p 220 ndash 238 1988
STRELOW A line Jornalismo literaacuterio e cultural Perspectiva Histoacuterica Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Disponiacutevel em lt wwwboccubiptgt
RAM OS Gabriela A Crocircnica como Interseccedilatildeo entre jornalismo e literatura Intercom ndash
Sociedade Brasileira de Estudos Interdiscipl inares das Comunicaccedilatildeo XV II Congresso de
Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo da Regiatildeo Sudeste Ouro Preto 2012
SCHERER M arta E G Um Jornalismo Belle Eacutepoque In SCHERER M arta E G
Imprensa e Belle Eacutepoque - Olavo Bilac o jornalismo e suas histoacuterias Ed Unisul
PalhoccedilaSC 2012
RIBEIRO Ana Paula Goulart Nelson Werneck Sodreacute e a histoacuteria da imprensa no
Brasil Intercom Revista Brasileira de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo [sl] v 38 n 2 p275-
288 dez 2015 FapUNIFESP (SciELO) Disponiacutevel em lthttpdxdoiorg1015901809-
58442015214gt
SILVA M auriacutecio Cultura de Mercado Literatura e Publicidade no preacute-modernismo brasileiro Via A tlacircntica Satildeo Paulo n 20 p 75 ndash 87 dez 2011
V IANNA Rafael de Bri to Os Renegados da Histoacuteria A importacircncia dos preacute-modernos para o pensamento nacional Revista Brasileira de Histoacuteria amp Ciecircncias Sociais v 3 n 5 p
127 ndash 131 Jul 2011
BEAL Sophia A Transformaccedilatildeo das Trevas na Literatura Preacute-Modernista Pensares em
Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 76 -91 jul Semestral 2012
L INS Vera Lucia de Oliveira Os simbolistas Virando o Seacuteculo Pensares em Revista Satildeo
Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 135 - 143 Jul Semestral 2012
BATALHA M aria Cristina Lima Barreto e o vieacutes do realismo popular na literatura brasileira Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 51 - 65 Jul Semestral
2012
FIGUEIREDO Carmen Lucia Negreiros O Mal-estar de Isaiacuteas A crise do Romance em
Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 35 - 50 Jul
Semestral 2012
GENS Rosa Retratos em Cantoneiras Imagens do Rio de Janeiro Belle Eacutepoque em Joatildeo do Rio e Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 66 -
75 jul Semestral 2012
66
M ENDES Leonardo Pinto Juacutelio Ribeiro O Naturalismo e a Dessacralizaccedilatildeo da Literatura Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 4 p 26 - 42 jul Semestral
2014
RIO Joatildeo do Cinematoacutegrafo Crocircnicas Cariocas Academia Brasileira de Letras ndash Coleccedilatildeo
Afracircnio Peixoto Rio de Janeiro 2009
ZANON M aria Cecil ia A Sociedade Carioca da Belle Eacutepoque nas paacuteginas do Fon-Fon
Patrimocircnio e M emoacuteria Satildeo Paulo v 4 n 2 p ndash 217 ndash 235 jun 2009
DOIN Joseacute Evaldo de M ello NETO Humberto Perinell i PAZIANI Rodrigo Ribeiro
PACANO Faacutebio Augosto A Belle Eacutepoque caipira Problematizaccedilotildees e oportunidades interpretativas da modernidade e urbanizaccedilatildeo no Mundo do Cafeacute (1852 ndash 1930) ndash A
proposta do Cemumc Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v 27 n 53 p 91 ndash 122
Jun 2007
NOGUERIA Clara Asperti Revista Carets (1908 ndash 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo Impressa no Seacuteculo XX M iscelacircnea Assis v 8 p 60 ndash 80 jul 2010
OLIVEIRA Luacutecia Lippi A questatildeo nacional na Primeira Repuacuteblica Ed Brasil iense Satildeo
Paulo 1ordf Ed 1990 Disponiacutevel em lt httpwwwcpdocfgvbrgt
VENTURA Roberto Euclides da Cunha e a Repuacuteblica Aacuterea de Histoacuteria Cultural USP
29 de abril de 1994
M IGLIARI Well ington Preacute-Modernismo e Repuacuteblica Antinomias da Belle Eacutepoque no
Brasil Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 186 - 202 jul Semestral
2012
NEVES M argarida de Souza Os cenaacuterios da Repuacuteblica O Brasil na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX In NEVES M de S Os cenaacuterios da repuacuteblica O Brasil na virada
do seacuteculo X IX para o seacuteculo XX In DELGADO Luciacutel ia de A lmeida Neves e FERREIRA
Jorge Luiacutes (Orgs) Brasil Republicano Estado sociedade civi l e cultura poliacutetica O tempo do
l iberalismo excludente Da Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica agrave Revoluccedilatildeo de 1930 1a ed Rio de
Janeiro Civi lizaccedilatildeo Brasileira 2003
SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A Modernizaccedilatildeo do Rio de Janeiro nas crocircnicas de Olavo Bilac (1890 ndash 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador abri l de 2013
HALLER Joyce Uemoto Monteiro Lobato Literatura como expressatildeo do contexto (1890-1930) Universidade Estadual de M aringaacute M aringaacute 2012
UFU ndash UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA
INHIS ndash INSTITUTO DE HISTOacuteRIA
BELLE EacutePOQUE ESCRITORES JORNALISMO E MERCADO EDITORIAL
BRASILEIRO MUDANCcedilAS TECNOLOacuteGICAS POLIacuteTICAS E URBANAS
1880 ndash 1920
Monografia apresentada ao Instituto de Histoacuteria da
Universidade Federal de Uberlacircndia como
exigecircncia obrigatoacuteria para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de
bacharel em Histoacuteria pela aluna Lorraine da Silva
Dionisio
Orientador Prof Dr Newton Dacircngelo
UBERLAcircNDIA
2019
Dionisio Lorraine da Silva 1995
Belle Eacutepoque Escritores Jornalismo e Mercado Editorial Brasileiro Mudanccedilas
Tecnoloacutegicas Poliacuteticas e Urbanas 1880 ndash 1920 Lorraine da Silva Dionisio ndash Uberlacircndia
2019
Orientador Newton Dacircngelo
Monografia (Bacharelado) ndash Universidade Federal de Uberlacircndia Curso de Graduaccedilatildeo em
Histoacuteria
Inclui Bibliografia
1 Modernismo 2 Impressa 3 Modernizaccedilatildeo
Lorraine da Silva Dionisio
Banca Examinadora
Prof R Newton Dacircngelo (Orientador)
Dr Diogo De Souza Brito
Profordf Drordf Ana Flaacutevia Santana
AGRADECIMENTOS
Este trabalho natildeo seria possiacutevel sem a paciecircncia do meu orientador Newton Dacircngelo
muito obrigada por todos os momentos que eu natildeo soube por qual direccedilatildeo seguir e o senhor
com toda a paciecircncia do mundo me mostrou as opccedilotildees possiacuteveis
A minha matildee Maria Aparecida da Silva que se dedicou de corpo e alma para que eu
pudesse natildeo apenas comeccedilar uma faculdade mas que me apoiou em cada vontade e sonho
me mostrando que o esforccedilo sim eacute o que nos manteacutem em peacute Obrigada mamatildee A senhora eacute
tudo o que eu quero ser quando crescer
Aos meus pais Christopher Dale Poniktera e Luiacutes Carlos Dionisio que infelizmente natildeo
viveram o suficiente para me ver neste momento uacutenico mas que estiveram comigo no
segundo momento mais importante da minha vida A minha aprovaccedilatildeo para comeccedilar este
curso
Aos meus amigos que me ajudaram e apoiaram em cada momento difiacutecil neste curso e
durante meus anos de graduaccedilatildeo com cada semestre sendo uma temporada eacute difiacutecil contar
quem ficou e quem se foi mas com certeza todos deixaram uma marca uacutenica comigo
RESUMO
Analisando a Belle Eacutepoque em seus aspectos culturais poliacuteticos tecnoloacutegicos entre 1890 ndash
1920 a presente monografia intenciona identificar a mudanccedila de editorial tipografias em
conjunto com a modernizaccedilatildeo da cidade e a sua nova influecircncia quanto as pessoas iletradas
em relaccedilatildeo com a nova narrativa poliacutetica Uma construccedilatildeo de um imaginaacuterio de Repuacuteblica
para o iletrado e as perspectivas para o homem de letra trazendo as novas percepccedilotildees sobre o
tempo suas produccedilotildees e a cidade com o modernismo
Palavra-chave Belle Eacutepoque modernizaccedilatildeo perioacutedico
LISTA DE IMAGENS
Capitulo III
Figura 1 Fotografia da Rua do Ouvidor 1890 Fonte
httpfotografiaimscombrsites1527248423762_13
Figura 2 Colagem sobre caricaturas e ilustraccedilotildees sobre o governo monaacuterquico Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=2011ampPesq
Figura 3 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528amp
Figura 4 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127amp
Figura 5 Chamada principal da Revista Illustrada marccedilo de 1891 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4472amp
Figura 6 Ilustraccedilatildeo da realizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1891 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4472amp
Capitulo IV
Figura 7 Capa do Jornal do Brasil de 1 de janeiro de 1892 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01ampPagFis=13
Figura 8 Capa do Jornal do Brasil de 6 de janeiro de 1908 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amppasta=ano20190amp
Figura 9 Capa do Jornal do Brasil 1 de janeiro de 1920 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amppasta=ano20192amp
Figura 10 Capa do Jornal do Brasil 24 de novembro de 1921 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amppasta=ano20192amp
Figura 11 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1889 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amp
Figura 12 Capa da Gazeta de Notiacutecias 1 de janeiro de 1908 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amppasta=ano20190amp
Figura 13 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1920 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amppasta=ano20192amp
Figura 14 Capa da Gazeta de Notiacutecias 8 de janeiro de 1921 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amppasta=ano20192amp
Figura 15 Capa da Revista Illustrada 1 de Janeiro de 1876 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1
Figura 16 Capa da Revista Illustrada 8 de Junho de 1889
FontehttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=
Figura 17 Capa da Revista Illustrada Rio de Janeiro Junho 1898 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=
Figura 18 Capa da Revista Kosmos Janeiro 1904 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675
Figura 19 Capa da Revista Kosmos Novembro de 1908 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675
Figura 20 Capa da Revista Kosmos Fevereiro 1909 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675
Figura 21 Capa da Revista Careta 10 de Julho de 1909 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1
Figura 22 Capa da Revista Careta 10 de Junho de 1920 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1
Figura 23 Capa da Revista Careta 1 de Julho de 1922 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1
SUMAacuteRIO
I INTRODUCcedilAtildeO1
II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS4
21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO4
22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE6
23 REALISMO6
24 NATURALISMO8
25 PARNASIANISMO9
26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO11
III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA16
31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE16
32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA21
33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA27
IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO38
41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM38
42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA41
43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO52
44 O PUacuteBLICO RECEPTOR53
45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA54
46 O DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO55
V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS59
VI FONTES62
VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICAS63
1
1 INTRODUCcedilAtildeO
O cotidiano dos homens e mulheres brasi leiros comeccedilou a se modif icar ao f inal do seacuteculo
X IX 1890 natildeo apenas no visual e no ambiente mas tambeacutem no social A s ruas estavam
comeccedilando a ser asfaltadas e deixando de ter espaccedilos para carroccedilas e ani mais comeccedilavam a
ser tomadas pelos carros automatizados lustres e grandes preacutedios aleacutem das fabricas
O modo de viver se modif icava em conjunto com o seu novo modo de trabalhar e seu
cotidiano A s faacutebricas tomavam conta e ditavam o horaacuterio e assim o homem comum tinha
uma alteraccedilatildeo completa de seu cotidiano e da sua inf luecircncia na sua produccedilatildeo no trabalho O
homem l i teraacuterio tambeacutem sofreu com as mudanccedilas que ocorriam na cidade ao contraacuterio do
pensamento comum
Jornais e revistas estavam mudando seu formato de produccedilatildeo drasticamente aleacutem de suas
periodicidades Se antes algum destes queriam um formato mais especif ico necessitava pedir
a impressatildeo no exterior e entatildeo ela iria ser distribuiacuteda no Brasi l como era o caso da revista
Kosmos Com a mudanccedila industrial era agora possiacutevel a real izaccedilatildeo no proacuteprio escri toacuterio do
perioacutedico aleacutem do mesmo sair em nuacutemeros maiores e com uma frequecircncia mais assiacutedua
fazendo assim ser possiacutevel viver da arte de ser escri tor com mais ef iciecircncia
A maneira da informaccedilatildeo chegar no f inal do X IX tambeacutem estava se modif icando Com o
teleacutegrafo as notiacutecias eram mais dinacircmicas e informantes eram espalhados ao redor do mundo
O Brasi l se inf luenciava de maneira mais constante em suas escri tas com novas maquinas de
escrever e de transcriccedilatildeo com as datas de publicaccedilotildees muito mais proacuteximas com essas
modif icaccedilotildees grandes em seu cotidiano de escri ta principalmente porque com a mudanccedila
agora seria possiacutevel viver apenas de l i teratura graccedilas a demanda
A s transformaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo alteraram apenas a imagem dos jornais e das revistas
mas tambeacutem como dito anteriormente sua participaccedilatildeo nestes A s imagens agora natildeo soacute
eram mero enfeite e raras agora fazendo grande parte dos textos a caricatura fotograf ia e ateacute
mesmo charge ajudavam a formar o pensamento e a estrutura do texto que sempre
acompanhavam e como o nuacutemero de leitores natildeo crescia conforme o nuacutemero de lanccedilamentos
a imagem se era muitas vezes mais efetiva proporcionando assim ldquoo ensaio da comunicaccedilatildeo
de massardquo 1
1 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p83
2
A alfabetizaccedilatildeo foi um grande foco de investimento para a Nova Repuacuteblica e o
acompanhamento de imagens nestes perioacutedicos era essencial ldquoA evoluccedilatildeo teacutecnica do
impresso o investimento na alfabetizaccedilatildeo os incentivos agrave aquisiccedilatildeo eou fabricaccedilatildeo de papel
rdquo 2 a quantidade de jornais e revistas que eram vendidos tambeacutem era uma forma da Repuacuteblica
que havia acabado de se formar ter uma noccedilatildeo de quantas pessoas eram letradas ou que
estavam a caminho de se tornarem de fato assim
O debate entre os homens de letras da eacutepoca del imitada entre 1890 e 1923 era assiacuteduo
mas natildeo quanto a questotildees poliacuteticas da eacutepoca e sim as mudanccedilas do cotidiano que os estavam
afetando A poliacutetica soacute aparecia quando o assunto eram as mudanccedilas que ocorriam no
ambiente poliacutetico e social Bi lac faz uma anaacutelise que corrobora completamente com as
fotografias que o jornal passava ldquoQue natildeo seraacute quando da velha cidade colonial
estupidamente conservada ateacute agora como um pesadelo do passado apenas restar a
lembranccedila rdquo3
Com o questionamento sobre como se inf luecircncia uma grande maioria i letrada a natildeo
apenas acreditar na Repuacuteblica como tambeacutem mudar toda a perspectiva que se tem quanto ao
entatildeo monarca busco entender qual eacute a participaccedilatildeo deste homem de letras como o moderno
o ajudou natildeo apenas a aumentar sua importacircncia no imaginaacuterio popular como o trouxe como
celebridade
A ssim busco discutir no primeiro capitulo a Belle Eacutepoque e todas as transformaccedilotildees
l i teraacuterias que a mesma trouxe modif icou e ateacute mesmo criou no Brasi l discutindo entre estes
movimentos l i teraacuterios com algumas representaccedilotildees de autores para exemplif icar o movimento
e a sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de um ideal poliacutetico Brasi leiro
No segundo capiacutetulo todo o movimento poliacutetico que a Belle Eacutepoque trouxe em seu
discurso por estes autores e sua necessidade de Repuacuteblica com a democracia da palavra em
conjunto com a vinda da Repuacuteblica por parte dos mil i tares
No uacuteltimo capiacutetulo apresento as mudanccedilas que essa perspectiva modernista trouxe para o
paiacutes e como ela alterou natildeo apenas a imagem do Rio de Janeiro como tambeacutem o cotidiano e a
perspectiva do homem comum e o de letras sobre o moderno4 e sobre as atividades cotidianas
2 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 84 3 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 93 4 Relativo ou pertencente agrave eacutepoca histoacuterica em que se vive
3
e suas responsabi l idades assim como tambeacutem os modernismos 5 que trouxe em jornais em
revistas
5 Tendecircncias e gostos ao que se eacute moderno
4
II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS
21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO
No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de
que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes
transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o
progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma
modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar
necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes
A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser
construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro
A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que
poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo
X IX e comeccedilo do seacuteculo X X
ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia
um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do
A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada
emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar
daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro
das picaretas abafava esse protesto impotente
Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como
as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las
diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da
hygiene do bom gosto e da arterdquo 6
O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa
que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que
favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de
comunicaccedilatildeo e de transporte
6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt
5
Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento
tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a
educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo
principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma
forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo
remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter
tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e
seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo
Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870
ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande
transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a
crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como
jornal istas
Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e
faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute
mesmo os criassem
A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto
para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para
mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo
A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo
tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute
por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo
ideoloacutegica
A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e
quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu
lado
A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l
V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser
efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer
ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e
assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute
acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo
7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro
6
22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE
Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua
l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como
Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a
escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes
Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita
eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que
a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por
vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro
momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance
urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A
valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver
Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas
ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele
surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre
a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como
uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia
da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens
23 REALISMO
O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares
Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a
real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De
uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico
O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito
representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem
tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa
7
Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo
tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute
um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l
demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na
seacuterie ldquoBons diasrdquo9
M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca
natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer
o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus
acontecimentos
Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os
narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de
uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um
pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do
que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10
ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e
que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais
amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()
O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos
princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava
tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos
termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada
enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11
Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio
leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua
8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013
8
zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo
ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam
Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua
l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias
Poacutestumas de Braacutes Cubas
A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca
brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento
ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo
exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o
homem vive e o que ele eacute
A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba
cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle
conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um
alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12
24 NATURALISMO
O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque
principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o
homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua
ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13
Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens
comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior
sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do
cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l
percepccedilatildeo no interior
O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento
eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas
e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o
moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava
tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior
12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista
9
O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas
ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo
sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas
Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua
l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor
25 PARNASIANISMO
O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e
conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente
Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e
o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos
ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do
tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir
tinha se tornado algo f reneacutetico
O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a
necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre
palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas
Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio
interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o
parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de
M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para
o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o
mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes
Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social
para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu
e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem
Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando
da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas
ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu
candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -
pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler
10
e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de
ser algueacutemrdquo 14
Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era
necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os
acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria
se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando
A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais
baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por
meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um
estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo
A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem
investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens
ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num
paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O
melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a
memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria
Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e
escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar
esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode
merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os
caracteres do alfabetordquo 15
Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para
construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores
entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de
trabalho
Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a
instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees
14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015
11
26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO
Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um
movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos
os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides
da Cunha e M onteiro Lobato
Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da
l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua
maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum
Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares
de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos
Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como
uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e
poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar
ateacute eles
A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que
de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e
caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a
imagem do que era discutido e narrado
M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra
haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de
algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que
estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo
ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo
brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel
o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que
nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de
busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro
prometiardquo 16
16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144
12
Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica
estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a
sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente
A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no
jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos
por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado
Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies
e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de
renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto
Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado
como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando
momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees
Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma
vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por
dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua
identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista
e materialistardquo 17
Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se
relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem
questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o
movimento Republicano
ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a
evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas
qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e
a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos
Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18
L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela
modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo
17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
13
entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute
mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele
ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do
passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de
modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais
suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de
ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20
E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como
dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela
si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor
ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio
Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute
este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21
ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande
de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um
outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros
e um pouco devido a mim
[ ]
A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os
acontecimentosrdquo 22
Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a
formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa
marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um
governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes
natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23
19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
14
Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios
que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve
ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves
V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de
chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam
criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas
simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos
trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24
M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o
trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na
terra em sua obra como Jeca Tatu
Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato
tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a
real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista
M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a
terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta
de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral
Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava
neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando
assim o estrago e atraso a naccedilatildeo
Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um
ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida
votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava
que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio
personagem Jeca Tatu
Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto
uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo
M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo
trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo
24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010
15
O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria
cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles
ocorriam ou quais suas separaccedilotildees
ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar
riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com
produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que
criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e
atrairrdquo 26
A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento
cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o
seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas
sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o
homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas
26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194
16
III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA
31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE
O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que
modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria
social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento
possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da
modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura
da cidade
O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial
(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas
junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em
conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de
Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que
consomem matildeos de obra
Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava
tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade
que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem
do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava
acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de
ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27
Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa
nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de
Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver
ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do
trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram
quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro
27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41
17
principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo
radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28
Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que
nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se
estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as
estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da
Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a
condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional
Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo
assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das
autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte
A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas
nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees
do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de
fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos
prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do
paiacutes
ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam
capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade
funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio
moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados
operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31
28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58
18
Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890
Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt
httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt
A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua
visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a
todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No
primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as
donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10
horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo
burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua
19
A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por
todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro
de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro
O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em
todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia
A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre
a Rua do Ouvidor
ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o
melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse
monopoacutel io
A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se
reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde
aparecem as novidades
()
Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a
cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um
conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos
perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha
quer queiram quer natildeo
()
A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo
transtornadosrdquo 33 34
A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose
Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme
atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana
E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo
trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra
do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos
principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
20
A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem
trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a
popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se
tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista
queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros
Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma
leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio
de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de
conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a
proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos
eles pois a rua era isso A presentadora da vida
ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua
do Ouvidorrdquo35
Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis
l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa
forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre
se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se
migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural
A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada
com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos
pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente
todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro
Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por
mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em
conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime
Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua
35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
21
impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves
exigecircncias do progresso36
32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA
A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao
paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo
comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que
circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim
Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com
as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta
de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes
que estava se formando e muito menos para o seu povo
Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas
notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia
presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando
36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76
22
Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees
Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt
Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se
esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a
imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute
l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores
A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a
rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta
de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo
A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto
ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas
escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo
analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo
necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem
tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura
A s legendas em ordem satildeo
23
2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im
senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo
3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por
um grande zero constitucionalrdquo
4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos
sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de
tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo
5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal
fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo
M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se
expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o
mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados
assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o
Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos
Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais
eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo
tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente
perdia sua sacral idade
Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o
monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que
rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro
histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo
rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca
como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada
O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e
demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um
esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a
republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar
37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47
24
Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se
tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro
no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica
ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as
maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano
nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano
()
SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as
camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a
menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de
deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram
natildeo passaram de falsos eleitos ()
Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que
SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala
do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto
Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala
do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada
tinha drsquoesta vezrdquo40
A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria
da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse
sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se
empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da
populaccedilatildeo de todo o paiacutes
Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam
por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que
ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a
maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i
passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um
futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo
40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt
25
A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando
sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas
que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes
quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890
ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir
por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de
A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-
imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas
despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash
mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do
governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um
adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes
teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e
houradezrdquo Barbadinho41
A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra
Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela
que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees
para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma
grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em
seu grupo soacute que em um governo Republicano
A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento
de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental
A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade
A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o
tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato
se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre
M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser
efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras
41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17
26
preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a
l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762
ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da
L iberdade (1823) 43
ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em
l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria
seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que
tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja
debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de
ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44
A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio
a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de
fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes
possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a
ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este
objetivo
Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas
um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros
poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era
o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem
formada
A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem
censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a
palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico
Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem
possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da
populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45
43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24
27
O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas
decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l
transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e
igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46
Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por
essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo
governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da
sociedade47
ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso
pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi
um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do
aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas
para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48
O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se
criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco
desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro
A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a
nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como
demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma
de Lima Barreto
33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA
A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da
repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais
ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa
oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79
28
tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto
pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49
O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou
uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a
homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os
fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas
consequecircncias nos anos de 1870 e 1880
Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a
toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma
de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de
respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas
A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta
disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na
academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas
academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica
Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro
com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra
perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato
l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda
mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia
Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra
do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com
engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe
totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de
intelectual
Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute
possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo
sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l
precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar
quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio
49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
29
Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da
Repuacuteblica e eles se viam
ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da
civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime
poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada
que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma
profissatildeo desprestigiadardquo50
O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando
ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de
junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos
fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen
que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje
mais amanhatilde
O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e
hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os
lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro
da America
()
Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque
isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais
admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional
Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51
Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos
homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute
50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt
30
mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos
mil i tares A Repuacuteblica Francesa
Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar
muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque
partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de
Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias
ldquoPROCLAMACcedilAtildeO
O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo
ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em
perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos
residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da
dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema
monarchico ndash representativo
Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter
essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo
provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a
l iberdade e os direitos dos cidadatildeos
()
Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da
soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e
da ordemrdquo 53
Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que
era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos
que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade
para o que quiser
52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
31
Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca
Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt
Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt
A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para
com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o
povo brasileiro poderia ter pela frente
A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram
sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou
charges sobre quem estava no comando
Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as
seguintes informaccedilotildees
ldquoMinisterio do Governo Provisorio
Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca
M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo
M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o
Sr Quintino Bocayuva
M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy
Barbosa
M inistro da guerra Dr Benjamin Constant
M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva
M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa
32
M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54
Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva
de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista
I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA
republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo
ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo
Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e
entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em
no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo
A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e
revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram
expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele
momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo
mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso
A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo
com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e
assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do
Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares
Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a
nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre
que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que
estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890
M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o
animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada
mostra
54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
33
Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo
Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
Seguindo do texto aqui resumido
ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional
dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo
de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico
M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje
outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria
recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma
concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im
garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes
com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e
de prosperidade
()
O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o
como a uma gloria nacional
Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes
do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os
nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo
()
34
Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de
leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de
primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que
l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica
na sua unidade republicana
A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela
gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas
paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um
estridente viva ao futuro da patria
Viva a Republicardquo 55
Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891
voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por
algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas
boas
Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25
anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com
mais de 21 anos e letrados
No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a
representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo
55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt
35
Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l
Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
A imagem que traz os seguintes dizeres
ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma
consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos
terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do
dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre
HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56
A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera
ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees
presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante
Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional
Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises
56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt
36
econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de
dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de
estado no mesmo ano
Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o
lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de
Notiacutecias
A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro
ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao
paiz a mais plena conf ianccedila
Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes
circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que
poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos
seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e
de respeito aacute lei o seu governo
Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da
Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57
A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do
general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo
rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees
geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma
reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano
A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as
eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola
que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente
de M oraes
57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt
37
A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em
suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova
narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento
A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca
como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento
de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com
a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem
de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado
61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina
38
IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO
41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM
O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se
espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de
cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l
uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura
conforto e progresso
A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente
comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de
ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de
Janeiro
Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas
comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam
placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar
f reneacutetico
O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava
letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por
exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais
discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico
A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo
neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente
diferente do que antes
A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava
em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de
crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo
formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os
mesmos
O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus
mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem
62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
39
vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para
de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a
mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo
Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem
brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia
O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era
e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e
poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado
ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e
natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de
pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63
O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias
agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos
deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais
velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais
energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia
Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu
referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova
vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura
raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64
ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma
Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma
Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65
O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo
se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99
40
enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida
eis os modernos ideaisrdquo66
ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite
lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa
numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela
seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a
perderrdquo67
O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido
se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por
todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real
ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o
tempo para a sua assimilaccedilatildeo
ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio
ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate
depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l
ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para
acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as
breves funccedilotildees da vida breverdquo 68
A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha
mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do
que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu
integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69
Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para
viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de
66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268
41
fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua
essecircncia
Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus
conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma
faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel
e irredutiacutevel70
42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA
A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de
Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era
moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era
A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como
um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo
quanto para a divulgaccedilatildeo
A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido
criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na
Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser
divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas
dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa
Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras
brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo
letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para
diferentes puacutebl icos
A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se
recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que
um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial
ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees
que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa
moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca
70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013
42
capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e
demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72
A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca
em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos
uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo
mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a
se reapresentar 73
A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao
jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de
apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia
O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona
reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o
cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e
imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo
A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de
vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o
aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando
assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74
ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas
principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens
quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para
determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas
mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se
indispensaacuteveisrdquo75
72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006
43
A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e
principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou
qualquer outro produto advindo da modernidade
A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o
homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo
visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma
simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer
lugar
Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar
de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo
do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura
Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma
de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de
se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais
ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da
i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo
de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76
Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac
questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando
a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o
escritor
A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e
revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia
tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia
proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para
literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos
trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77
76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94
44
M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa
modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as
efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios
semanais quinzenais ou mensais
Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt
Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt
O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e
obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da
legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e
com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo
A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo
contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um
sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78
78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57
45
A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas
como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor
logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar
as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor
Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt
A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute
possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e
vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de
forma mundana
O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a
atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas
de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas
46
primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma
modernidade em seu cotidiano
A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada
vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma
criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo
outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame
podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema
especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para
chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo
Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A
f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que
chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de
1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os
dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro
Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo
47
Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889
Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt
Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de
Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as
implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de
folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca
ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo
entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino
caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento
abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem
de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a
intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os
diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas
femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias
48
mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e
interessesrdquo79
M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como
Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa
necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas
mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como
esportivas e femininas
Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo
Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt
79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130
49
Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo
Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt
Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo
Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
50
Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu
nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era
necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo
dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de
existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo
Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de
ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas
poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por
isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que
perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081
Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver
tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens
relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que
ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo
Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista
entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas
capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em
primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre
escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas
A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo
tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica
scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os
l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto
Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que
vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas
escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples
mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt
51
simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma
vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com
o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica
Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A
modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84
Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a
Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos
seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos
volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com
personagens com feiccedilotildees engraccediladas
M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo
que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo
ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo
frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com
baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86
embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo
Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre
o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam
transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior
vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias
de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma
vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro
de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88
O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser
def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado
84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
52
A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir
diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados
como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu
desejo de imagem
43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO
Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram
adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do
nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum
folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer
um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance
l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia
Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de
pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar
sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da
populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem
Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos
de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89
levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova
aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo
Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o
Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais
propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l
inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro
A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi
essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais
pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores
A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da
populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e
ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais
que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38
53
divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora
isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva
44 O PUacuteBLICO RECEPTOR
A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a
mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida
com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova
ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo
cultural da sociedade cariocardquo 90
O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos
jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o
espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se
estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para
que qualquer coisa ocorresse
A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se
importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim
para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si
provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo
Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a
atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas
divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam
tambeacutem
ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de
associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes
mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada
M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas
i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos
para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores
ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo
90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19
54
clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo
(M ELLO 2007)91
O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o
crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais
populares a aceitassem de fato
A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute
citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam
introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo
outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i
estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92
45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA
Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a
oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a
modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida
sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria
A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o
exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas
M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova
velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e
Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do
Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o
teatro em abundacircnciardquo93
O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive
A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais
propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a
91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75
55
tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de
ambiente
ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando
depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas
jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a
produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a
pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se
produzia
A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se
tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a
pagarem jantares ou ida a bares
A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver
por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a
luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos
para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma
parcela ser respeitada e mais do que ouvida
Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para
a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo
republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais
do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo
progresso e democracia95
46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO
O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com
ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis
cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas
pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l
94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
56
ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi
sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser
- Para ser
- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem
relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um
trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado
do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96
A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate
poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a
comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a
automatizaccedilatildeo
A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de
escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo
uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que
o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda
natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o
escri to causa uma perca e uma falta de sentido
M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve
como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos
intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta
questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no
Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97
Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que
ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se
era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor
exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido
O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se
tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou
apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil
Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97
57
manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute
chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se
transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar
Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor
se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no
universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os
platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98
Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de
jornais e revistas
L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito
tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos
perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi
lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e
sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres
ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico
saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes
desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel
infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe
desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em
vermelhordquo 99
Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o
produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas
chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos
M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir
recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo
homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre
pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo
para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para
98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual
58
mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde
nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem
atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores
M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na
primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de
criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l
ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a
condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia
arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a
intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos
aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e
as tempestades do futurordquo 100
A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para
escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos
principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l
aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a
industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo
Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a
paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se
escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina
podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra
perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria
direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano
100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
59
V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram
para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados
uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem
i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia
A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer
mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo
rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas
Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no
Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio
do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como
O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o
intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca
que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia
chegar a todos
Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no
mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas
quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico
movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia
A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a
tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem
i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor
de si mesmo
A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem
a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um
desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela
eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute
Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo
brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a
fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era
aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de
que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura
60
A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava
para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma
representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares
O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que
envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com
o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a
segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do
meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever
e falar
A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de
suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a
mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a
aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico
O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo
difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas
af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o
novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas
de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes
Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas
obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que
eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma
efetiva
O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram
discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu
redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles
deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o
que a populaccedilatildeo brasi leira representava
Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com
que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como
uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria
dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social
O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era
produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o
61
homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era
nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade
em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo
62
VI FONTES
Gazeta de Notiacutecias (1890 ndash 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03amp PagFis=0gt
Jornal do Brazil (1890 ndash 1920) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_01amp pasta=ano20189=gt
Revista Kosmos (1900 - 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amp pasta=ano20190amp =gt
Revista Careta (1900 ndash 1929) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=083712amp pasta=ano20190amp pesq=gt
Revista I l lustrada (1890 ndash 1899) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pasta=ano20189amp pesq=gt
63
VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICA
M ARTINS Ana Luiza LUCA Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed
Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordf Ed 2003
SUumlSSEK IND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1 Reimpressatildeo 2006
M ELLO M aria Tereza Chaves de A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 1ordf Ed 2007
CARVALHO Joseacute M urilo de A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 7ordf Ed 1998
BEJAM IN Walter A Obra de Arte na Eacutepoca de sua Reprodutibilidade Teacutecnica In
L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
HORK HEIM ER M ax ADORNO Theodor W A Induacutestria Cultural o Iluminismo como Mistificaccedilatildeo de Massas In L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e
Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
CURRAN M ark J Histoacuteria do Brasil em Cordel Ed EDUSP Editora da Universidade de
Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1ordf Ed 2009
RIBEIRO Ana Paula Goulart FERREIRA Lucia M aria A lves Miacutedia e Memoacuteria A Produccedilatildeo de Sentidos nos Meios de Comunicaccedilatildeo Ed M AUAD Rio de Janeiro 1ordf Ed
2007
COSTA Cleacuteria Botelho da M ACHADO M aria Clara Tomaz Histoacuteria e Literatura
Identidade e Fronteiras Ed EDUFU Uberlacircndia 1ordf Ed 2006 GOM ES Angela de Castro A Poliacutetica Brasileira em Busca da Modernidade na Fronteira
entre o puacuteblico e o privado In Org SCHWARCZ Lil ia M oritz Histoacuteria da V ida privada
no Brasil vol 4 Ed Companhia das Letras 1ordf Ed 1998
CHALHOUB Sidney PEREIRA Leonardo A ffonso de M A Histoacuteria Contada Capiacutetulos de Histoacuteria Social da Literatura no Brasil Ed Nova Fronteira 1ordf Ed 1998
CAM ARGO Ana M aria de A lmeida A IMPRENSA COMO FONTE PARA HISTOacuteRIA DO BRASIL In PAULA Euriacutepedes Simotildees de Portos Rotas e Comeacutercio Satildeo Paulo 1971
LIM A Ivana Stolze Com a palavra a cidade mesticcedila Imprensa poliacutetica e identidade no Rio de Janeiro 1831 ndash 1833 Fundaccedilatildeo Casa de Rui Barbosa Rio de Janeiro 1998
64
LUCA Tania Regina de Histoacuteria dos nos e por meio dos perioacutedicos In Org PINSK Y
Carla Bassanezi Fontes Histoacuterias Satildeo Paulo Ed Contexto 2005
SCHERER M arta Eymael Garcia Bilac ndash Sem Poesia Crocircnicas de um jornalista da Belle Eacutepoque Universidade Federal de Santa Catarina 2008
M ENDES Iba Olavo Bilac Crocircnicas e Novelas Poeteiro Editor Digital Satildeo Paulo 2014 NUNES Radameacutes V ieira Literatura e Imprensa Barreto e Bilac entre a Arte e
Ofiacutecio Emblemas Goiaacutes v 8 n 2 p201-226 jul 2011 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
M ONTILHA Thiago Roza Ialdo Olavo Bilac e a Questatildeo da Instruccedilatildeo no Brasil (1897 ndash 1908) Intellegravectus Rio de Janeiro ano X IV n 1 p 57 ndash 76 2015
NUNES Radameacutes V ieira Crocircnicas e Cronistas no Ritmo das M aacutequinas Emblemas Goiaacutes
v 9 n 1 p129-145 jan 2012 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
SILVA Renata Refino da Monteiro Lobato e a Revista do Brasil (1916 ndash 1925)
Representaccedilotildees de Ciecircncia Literatura Arte e Histoacuteria Anais do XXVI Simpoacutesio
Nacional de Histoacuteria - ANPUH Satildeo Paulo julho 2011
SILVA M auriacutecio Literatura e Publicidade no Preacute-Modernismo Brasileiro Uma Introduccedilatildeo Criacutetica Cultural Santa Catarina v 1 n1 jan Semestral 2006
SILVA Danyelle M arques Freire da A Constituiccedilatildeo do Espaccedilo em Vida Ociosa de
Godofredo Rangel UninCor ndash Universidade Vale do Rio Verde Trecircs Coraccedilotildees 2013
SILVA M auriacutecio Profissionalizaccedilatildeo do Escritor e Publicidade Editorial Dois Capiacutetulos
da Leitura Preacute-Modernista no Brasil M agma Satildeo Paulo n 6 p 66 ndash 77 1999
BECK ER Elizamari Rodrigues Forccedilas Motrizes de uma Contiacutestica Preacute-Modernista O
Papel da Traduccedilatildeo na Obra Ficcional de Monteiro Lobato Universidade Federal do Rio
Grande do Sul Porto A legre 2006
ARAUJO Jean M arcel Oliveira O Preacute-Modernismo A luta entre passadistas modernos e modernistas no campo artiacutestico brasileiro Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo ndash RJ n 1 p
117 ndash 134 jul semestral 2012
GUIM ARAtildeES Fernando Simbolismo Modernismo e Vanguardas Imprensa Nacional ndash
Casa da M oeda 3ordf Ed Rio de Janeiro 2004
VELLOSO M ocircnica A Modernidade Carioca na Sua Vertente Humoriacutestica Estudos
Histoacutericos Rio de Janeiro v 8 n 16 p 269-278 1995
65
M ORAES Eduardo Jardim Modernismo Revisitado Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v
1 n 2 p 220 ndash 238 1988
STRELOW A line Jornalismo literaacuterio e cultural Perspectiva Histoacuterica Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Disponiacutevel em lt wwwboccubiptgt
RAM OS Gabriela A Crocircnica como Interseccedilatildeo entre jornalismo e literatura Intercom ndash
Sociedade Brasileira de Estudos Interdiscipl inares das Comunicaccedilatildeo XV II Congresso de
Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo da Regiatildeo Sudeste Ouro Preto 2012
SCHERER M arta E G Um Jornalismo Belle Eacutepoque In SCHERER M arta E G
Imprensa e Belle Eacutepoque - Olavo Bilac o jornalismo e suas histoacuterias Ed Unisul
PalhoccedilaSC 2012
RIBEIRO Ana Paula Goulart Nelson Werneck Sodreacute e a histoacuteria da imprensa no
Brasil Intercom Revista Brasileira de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo [sl] v 38 n 2 p275-
288 dez 2015 FapUNIFESP (SciELO) Disponiacutevel em lthttpdxdoiorg1015901809-
58442015214gt
SILVA M auriacutecio Cultura de Mercado Literatura e Publicidade no preacute-modernismo brasileiro Via A tlacircntica Satildeo Paulo n 20 p 75 ndash 87 dez 2011
V IANNA Rafael de Bri to Os Renegados da Histoacuteria A importacircncia dos preacute-modernos para o pensamento nacional Revista Brasileira de Histoacuteria amp Ciecircncias Sociais v 3 n 5 p
127 ndash 131 Jul 2011
BEAL Sophia A Transformaccedilatildeo das Trevas na Literatura Preacute-Modernista Pensares em
Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 76 -91 jul Semestral 2012
L INS Vera Lucia de Oliveira Os simbolistas Virando o Seacuteculo Pensares em Revista Satildeo
Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 135 - 143 Jul Semestral 2012
BATALHA M aria Cristina Lima Barreto e o vieacutes do realismo popular na literatura brasileira Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 51 - 65 Jul Semestral
2012
FIGUEIREDO Carmen Lucia Negreiros O Mal-estar de Isaiacuteas A crise do Romance em
Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 35 - 50 Jul
Semestral 2012
GENS Rosa Retratos em Cantoneiras Imagens do Rio de Janeiro Belle Eacutepoque em Joatildeo do Rio e Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 66 -
75 jul Semestral 2012
66
M ENDES Leonardo Pinto Juacutelio Ribeiro O Naturalismo e a Dessacralizaccedilatildeo da Literatura Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 4 p 26 - 42 jul Semestral
2014
RIO Joatildeo do Cinematoacutegrafo Crocircnicas Cariocas Academia Brasileira de Letras ndash Coleccedilatildeo
Afracircnio Peixoto Rio de Janeiro 2009
ZANON M aria Cecil ia A Sociedade Carioca da Belle Eacutepoque nas paacuteginas do Fon-Fon
Patrimocircnio e M emoacuteria Satildeo Paulo v 4 n 2 p ndash 217 ndash 235 jun 2009
DOIN Joseacute Evaldo de M ello NETO Humberto Perinell i PAZIANI Rodrigo Ribeiro
PACANO Faacutebio Augosto A Belle Eacutepoque caipira Problematizaccedilotildees e oportunidades interpretativas da modernidade e urbanizaccedilatildeo no Mundo do Cafeacute (1852 ndash 1930) ndash A
proposta do Cemumc Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v 27 n 53 p 91 ndash 122
Jun 2007
NOGUERIA Clara Asperti Revista Carets (1908 ndash 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo Impressa no Seacuteculo XX M iscelacircnea Assis v 8 p 60 ndash 80 jul 2010
OLIVEIRA Luacutecia Lippi A questatildeo nacional na Primeira Repuacuteblica Ed Brasil iense Satildeo
Paulo 1ordf Ed 1990 Disponiacutevel em lt httpwwwcpdocfgvbrgt
VENTURA Roberto Euclides da Cunha e a Repuacuteblica Aacuterea de Histoacuteria Cultural USP
29 de abril de 1994
M IGLIARI Well ington Preacute-Modernismo e Repuacuteblica Antinomias da Belle Eacutepoque no
Brasil Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 186 - 202 jul Semestral
2012
NEVES M argarida de Souza Os cenaacuterios da Repuacuteblica O Brasil na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX In NEVES M de S Os cenaacuterios da repuacuteblica O Brasil na virada
do seacuteculo X IX para o seacuteculo XX In DELGADO Luciacutel ia de A lmeida Neves e FERREIRA
Jorge Luiacutes (Orgs) Brasil Republicano Estado sociedade civi l e cultura poliacutetica O tempo do
l iberalismo excludente Da Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica agrave Revoluccedilatildeo de 1930 1a ed Rio de
Janeiro Civi lizaccedilatildeo Brasileira 2003
SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A Modernizaccedilatildeo do Rio de Janeiro nas crocircnicas de Olavo Bilac (1890 ndash 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador abri l de 2013
HALLER Joyce Uemoto Monteiro Lobato Literatura como expressatildeo do contexto (1890-1930) Universidade Estadual de M aringaacute M aringaacute 2012
Dionisio Lorraine da Silva 1995
Belle Eacutepoque Escritores Jornalismo e Mercado Editorial Brasileiro Mudanccedilas
Tecnoloacutegicas Poliacuteticas e Urbanas 1880 ndash 1920 Lorraine da Silva Dionisio ndash Uberlacircndia
2019
Orientador Newton Dacircngelo
Monografia (Bacharelado) ndash Universidade Federal de Uberlacircndia Curso de Graduaccedilatildeo em
Histoacuteria
Inclui Bibliografia
1 Modernismo 2 Impressa 3 Modernizaccedilatildeo
Lorraine da Silva Dionisio
Banca Examinadora
Prof R Newton Dacircngelo (Orientador)
Dr Diogo De Souza Brito
Profordf Drordf Ana Flaacutevia Santana
AGRADECIMENTOS
Este trabalho natildeo seria possiacutevel sem a paciecircncia do meu orientador Newton Dacircngelo
muito obrigada por todos os momentos que eu natildeo soube por qual direccedilatildeo seguir e o senhor
com toda a paciecircncia do mundo me mostrou as opccedilotildees possiacuteveis
A minha matildee Maria Aparecida da Silva que se dedicou de corpo e alma para que eu
pudesse natildeo apenas comeccedilar uma faculdade mas que me apoiou em cada vontade e sonho
me mostrando que o esforccedilo sim eacute o que nos manteacutem em peacute Obrigada mamatildee A senhora eacute
tudo o que eu quero ser quando crescer
Aos meus pais Christopher Dale Poniktera e Luiacutes Carlos Dionisio que infelizmente natildeo
viveram o suficiente para me ver neste momento uacutenico mas que estiveram comigo no
segundo momento mais importante da minha vida A minha aprovaccedilatildeo para comeccedilar este
curso
Aos meus amigos que me ajudaram e apoiaram em cada momento difiacutecil neste curso e
durante meus anos de graduaccedilatildeo com cada semestre sendo uma temporada eacute difiacutecil contar
quem ficou e quem se foi mas com certeza todos deixaram uma marca uacutenica comigo
RESUMO
Analisando a Belle Eacutepoque em seus aspectos culturais poliacuteticos tecnoloacutegicos entre 1890 ndash
1920 a presente monografia intenciona identificar a mudanccedila de editorial tipografias em
conjunto com a modernizaccedilatildeo da cidade e a sua nova influecircncia quanto as pessoas iletradas
em relaccedilatildeo com a nova narrativa poliacutetica Uma construccedilatildeo de um imaginaacuterio de Repuacuteblica
para o iletrado e as perspectivas para o homem de letra trazendo as novas percepccedilotildees sobre o
tempo suas produccedilotildees e a cidade com o modernismo
Palavra-chave Belle Eacutepoque modernizaccedilatildeo perioacutedico
LISTA DE IMAGENS
Capitulo III
Figura 1 Fotografia da Rua do Ouvidor 1890 Fonte
httpfotografiaimscombrsites1527248423762_13
Figura 2 Colagem sobre caricaturas e ilustraccedilotildees sobre o governo monaacuterquico Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=2011ampPesq
Figura 3 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528amp
Figura 4 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127amp
Figura 5 Chamada principal da Revista Illustrada marccedilo de 1891 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4472amp
Figura 6 Ilustraccedilatildeo da realizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1891 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4472amp
Capitulo IV
Figura 7 Capa do Jornal do Brasil de 1 de janeiro de 1892 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01ampPagFis=13
Figura 8 Capa do Jornal do Brasil de 6 de janeiro de 1908 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amppasta=ano20190amp
Figura 9 Capa do Jornal do Brasil 1 de janeiro de 1920 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amppasta=ano20192amp
Figura 10 Capa do Jornal do Brasil 24 de novembro de 1921 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amppasta=ano20192amp
Figura 11 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1889 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amp
Figura 12 Capa da Gazeta de Notiacutecias 1 de janeiro de 1908 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amppasta=ano20190amp
Figura 13 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1920 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amppasta=ano20192amp
Figura 14 Capa da Gazeta de Notiacutecias 8 de janeiro de 1921 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amppasta=ano20192amp
Figura 15 Capa da Revista Illustrada 1 de Janeiro de 1876 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1
Figura 16 Capa da Revista Illustrada 8 de Junho de 1889
FontehttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=
Figura 17 Capa da Revista Illustrada Rio de Janeiro Junho 1898 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=
Figura 18 Capa da Revista Kosmos Janeiro 1904 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675
Figura 19 Capa da Revista Kosmos Novembro de 1908 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675
Figura 20 Capa da Revista Kosmos Fevereiro 1909 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675
Figura 21 Capa da Revista Careta 10 de Julho de 1909 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1
Figura 22 Capa da Revista Careta 10 de Junho de 1920 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1
Figura 23 Capa da Revista Careta 1 de Julho de 1922 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1
SUMAacuteRIO
I INTRODUCcedilAtildeO1
II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS4
21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO4
22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE6
23 REALISMO6
24 NATURALISMO8
25 PARNASIANISMO9
26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO11
III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA16
31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE16
32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA21
33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA27
IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO38
41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM38
42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA41
43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO52
44 O PUacuteBLICO RECEPTOR53
45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA54
46 O DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO55
V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS59
VI FONTES62
VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICAS63
1
1 INTRODUCcedilAtildeO
O cotidiano dos homens e mulheres brasi leiros comeccedilou a se modif icar ao f inal do seacuteculo
X IX 1890 natildeo apenas no visual e no ambiente mas tambeacutem no social A s ruas estavam
comeccedilando a ser asfaltadas e deixando de ter espaccedilos para carroccedilas e ani mais comeccedilavam a
ser tomadas pelos carros automatizados lustres e grandes preacutedios aleacutem das fabricas
O modo de viver se modif icava em conjunto com o seu novo modo de trabalhar e seu
cotidiano A s faacutebricas tomavam conta e ditavam o horaacuterio e assim o homem comum tinha
uma alteraccedilatildeo completa de seu cotidiano e da sua inf luecircncia na sua produccedilatildeo no trabalho O
homem l i teraacuterio tambeacutem sofreu com as mudanccedilas que ocorriam na cidade ao contraacuterio do
pensamento comum
Jornais e revistas estavam mudando seu formato de produccedilatildeo drasticamente aleacutem de suas
periodicidades Se antes algum destes queriam um formato mais especif ico necessitava pedir
a impressatildeo no exterior e entatildeo ela iria ser distribuiacuteda no Brasi l como era o caso da revista
Kosmos Com a mudanccedila industrial era agora possiacutevel a real izaccedilatildeo no proacuteprio escri toacuterio do
perioacutedico aleacutem do mesmo sair em nuacutemeros maiores e com uma frequecircncia mais assiacutedua
fazendo assim ser possiacutevel viver da arte de ser escri tor com mais ef iciecircncia
A maneira da informaccedilatildeo chegar no f inal do X IX tambeacutem estava se modif icando Com o
teleacutegrafo as notiacutecias eram mais dinacircmicas e informantes eram espalhados ao redor do mundo
O Brasi l se inf luenciava de maneira mais constante em suas escri tas com novas maquinas de
escrever e de transcriccedilatildeo com as datas de publicaccedilotildees muito mais proacuteximas com essas
modif icaccedilotildees grandes em seu cotidiano de escri ta principalmente porque com a mudanccedila
agora seria possiacutevel viver apenas de l i teratura graccedilas a demanda
A s transformaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo alteraram apenas a imagem dos jornais e das revistas
mas tambeacutem como dito anteriormente sua participaccedilatildeo nestes A s imagens agora natildeo soacute
eram mero enfeite e raras agora fazendo grande parte dos textos a caricatura fotograf ia e ateacute
mesmo charge ajudavam a formar o pensamento e a estrutura do texto que sempre
acompanhavam e como o nuacutemero de leitores natildeo crescia conforme o nuacutemero de lanccedilamentos
a imagem se era muitas vezes mais efetiva proporcionando assim ldquoo ensaio da comunicaccedilatildeo
de massardquo 1
1 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p83
2
A alfabetizaccedilatildeo foi um grande foco de investimento para a Nova Repuacuteblica e o
acompanhamento de imagens nestes perioacutedicos era essencial ldquoA evoluccedilatildeo teacutecnica do
impresso o investimento na alfabetizaccedilatildeo os incentivos agrave aquisiccedilatildeo eou fabricaccedilatildeo de papel
rdquo 2 a quantidade de jornais e revistas que eram vendidos tambeacutem era uma forma da Repuacuteblica
que havia acabado de se formar ter uma noccedilatildeo de quantas pessoas eram letradas ou que
estavam a caminho de se tornarem de fato assim
O debate entre os homens de letras da eacutepoca del imitada entre 1890 e 1923 era assiacuteduo
mas natildeo quanto a questotildees poliacuteticas da eacutepoca e sim as mudanccedilas do cotidiano que os estavam
afetando A poliacutetica soacute aparecia quando o assunto eram as mudanccedilas que ocorriam no
ambiente poliacutetico e social Bi lac faz uma anaacutelise que corrobora completamente com as
fotografias que o jornal passava ldquoQue natildeo seraacute quando da velha cidade colonial
estupidamente conservada ateacute agora como um pesadelo do passado apenas restar a
lembranccedila rdquo3
Com o questionamento sobre como se inf luecircncia uma grande maioria i letrada a natildeo
apenas acreditar na Repuacuteblica como tambeacutem mudar toda a perspectiva que se tem quanto ao
entatildeo monarca busco entender qual eacute a participaccedilatildeo deste homem de letras como o moderno
o ajudou natildeo apenas a aumentar sua importacircncia no imaginaacuterio popular como o trouxe como
celebridade
A ssim busco discutir no primeiro capitulo a Belle Eacutepoque e todas as transformaccedilotildees
l i teraacuterias que a mesma trouxe modif icou e ateacute mesmo criou no Brasi l discutindo entre estes
movimentos l i teraacuterios com algumas representaccedilotildees de autores para exemplif icar o movimento
e a sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de um ideal poliacutetico Brasi leiro
No segundo capiacutetulo todo o movimento poliacutetico que a Belle Eacutepoque trouxe em seu
discurso por estes autores e sua necessidade de Repuacuteblica com a democracia da palavra em
conjunto com a vinda da Repuacuteblica por parte dos mil i tares
No uacuteltimo capiacutetulo apresento as mudanccedilas que essa perspectiva modernista trouxe para o
paiacutes e como ela alterou natildeo apenas a imagem do Rio de Janeiro como tambeacutem o cotidiano e a
perspectiva do homem comum e o de letras sobre o moderno4 e sobre as atividades cotidianas
2 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 84 3 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 93 4 Relativo ou pertencente agrave eacutepoca histoacuterica em que se vive
3
e suas responsabi l idades assim como tambeacutem os modernismos 5 que trouxe em jornais em
revistas
5 Tendecircncias e gostos ao que se eacute moderno
4
II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS
21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO
No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de
que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes
transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o
progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma
modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar
necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes
A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser
construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro
A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que
poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo
X IX e comeccedilo do seacuteculo X X
ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia
um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do
A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada
emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar
daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro
das picaretas abafava esse protesto impotente
Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como
as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las
diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da
hygiene do bom gosto e da arterdquo 6
O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa
que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que
favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de
comunicaccedilatildeo e de transporte
6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt
5
Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento
tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a
educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo
principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma
forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo
remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter
tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e
seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo
Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870
ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande
transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a
crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como
jornal istas
Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e
faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute
mesmo os criassem
A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto
para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para
mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo
A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo
tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute
por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo
ideoloacutegica
A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e
quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu
lado
A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l
V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser
efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer
ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e
assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute
acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo
7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro
6
22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE
Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua
l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como
Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a
escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes
Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita
eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que
a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por
vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro
momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance
urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A
valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver
Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas
ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele
surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre
a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como
uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia
da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens
23 REALISMO
O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares
Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a
real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De
uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico
O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito
representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem
tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa
7
Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo
tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute
um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l
demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na
seacuterie ldquoBons diasrdquo9
M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca
natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer
o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus
acontecimentos
Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os
narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de
uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um
pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do
que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10
ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e
que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais
amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()
O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos
princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava
tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos
termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada
enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11
Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio
leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua
8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013
8
zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo
ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam
Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua
l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias
Poacutestumas de Braacutes Cubas
A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca
brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento
ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo
exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o
homem vive e o que ele eacute
A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba
cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle
conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um
alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12
24 NATURALISMO
O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque
principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o
homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua
ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13
Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens
comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior
sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do
cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l
percepccedilatildeo no interior
O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento
eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas
e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o
moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava
tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior
12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista
9
O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas
ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo
sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas
Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua
l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor
25 PARNASIANISMO
O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e
conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente
Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e
o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos
ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do
tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir
tinha se tornado algo f reneacutetico
O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a
necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre
palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas
Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio
interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o
parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de
M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para
o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o
mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes
Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social
para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu
e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem
Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando
da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas
ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu
candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -
pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler
10
e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de
ser algueacutemrdquo 14
Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era
necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os
acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria
se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando
A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais
baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por
meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um
estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo
A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem
investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens
ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num
paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O
melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a
memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria
Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e
escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar
esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode
merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os
caracteres do alfabetordquo 15
Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para
construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores
entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de
trabalho
Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a
instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees
14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015
11
26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO
Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um
movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos
os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides
da Cunha e M onteiro Lobato
Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da
l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua
maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum
Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares
de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos
Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como
uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e
poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar
ateacute eles
A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que
de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e
caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a
imagem do que era discutido e narrado
M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra
haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de
algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que
estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo
ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo
brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel
o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que
nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de
busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro
prometiardquo 16
16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144
12
Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica
estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a
sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente
A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no
jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos
por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado
Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies
e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de
renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto
Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado
como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando
momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees
Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma
vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por
dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua
identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista
e materialistardquo 17
Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se
relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem
questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o
movimento Republicano
ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a
evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas
qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e
a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos
Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18
L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela
modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo
17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
13
entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute
mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele
ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do
passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de
modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais
suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de
ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20
E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como
dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela
si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor
ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio
Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute
este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21
ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande
de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um
outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros
e um pouco devido a mim
[ ]
A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os
acontecimentosrdquo 22
Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a
formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa
marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um
governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes
natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23
19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
14
Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios
que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve
ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves
V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de
chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam
criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas
simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos
trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24
M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o
trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na
terra em sua obra como Jeca Tatu
Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato
tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a
real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista
M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a
terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta
de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral
Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava
neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando
assim o estrago e atraso a naccedilatildeo
Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um
ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida
votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava
que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio
personagem Jeca Tatu
Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto
uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo
M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo
trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo
24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010
15
O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria
cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles
ocorriam ou quais suas separaccedilotildees
ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar
riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com
produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que
criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e
atrairrdquo 26
A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento
cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o
seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas
sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o
homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas
26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194
16
III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA
31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE
O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que
modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria
social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento
possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da
modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura
da cidade
O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial
(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas
junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em
conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de
Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que
consomem matildeos de obra
Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava
tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade
que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem
do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava
acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de
ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27
Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa
nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de
Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver
ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do
trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram
quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro
27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41
17
principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo
radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28
Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que
nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se
estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as
estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da
Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a
condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional
Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo
assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das
autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte
A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas
nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees
do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de
fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos
prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do
paiacutes
ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam
capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade
funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio
moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados
operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31
28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58
18
Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890
Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt
httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt
A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua
visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a
todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No
primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as
donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10
horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo
burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua
19
A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por
todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro
de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro
O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em
todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia
A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre
a Rua do Ouvidor
ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o
melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse
monopoacutel io
A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se
reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde
aparecem as novidades
()
Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a
cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um
conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos
perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha
quer queiram quer natildeo
()
A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo
transtornadosrdquo 33 34
A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose
Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme
atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana
E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo
trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra
do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos
principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
20
A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem
trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a
popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se
tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista
queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros
Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma
leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio
de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de
conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a
proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos
eles pois a rua era isso A presentadora da vida
ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua
do Ouvidorrdquo35
Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis
l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa
forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre
se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se
migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural
A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada
com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos
pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente
todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro
Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por
mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em
conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime
Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua
35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
21
impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves
exigecircncias do progresso36
32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA
A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao
paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo
comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que
circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim
Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com
as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta
de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes
que estava se formando e muito menos para o seu povo
Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas
notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia
presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando
36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76
22
Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees
Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt
Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se
esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a
imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute
l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores
A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a
rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta
de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo
A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto
ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas
escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo
analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo
necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem
tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura
A s legendas em ordem satildeo
23
2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im
senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo
3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por
um grande zero constitucionalrdquo
4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos
sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de
tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo
5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal
fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo
M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se
expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o
mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados
assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o
Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos
Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais
eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo
tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente
perdia sua sacral idade
Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o
monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que
rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro
histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo
rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca
como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada
O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e
demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um
esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a
republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar
37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47
24
Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se
tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro
no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica
ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as
maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano
nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano
()
SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as
camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a
menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de
deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram
natildeo passaram de falsos eleitos ()
Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que
SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala
do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto
Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala
do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada
tinha drsquoesta vezrdquo40
A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria
da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse
sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se
empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da
populaccedilatildeo de todo o paiacutes
Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam
por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que
ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a
maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i
passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um
futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo
40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt
25
A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando
sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas
que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes
quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890
ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir
por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de
A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-
imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas
despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash
mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do
governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um
adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes
teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e
houradezrdquo Barbadinho41
A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra
Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela
que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees
para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma
grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em
seu grupo soacute que em um governo Republicano
A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento
de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental
A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade
A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o
tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato
se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre
M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser
efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras
41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17
26
preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a
l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762
ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da
L iberdade (1823) 43
ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em
l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria
seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que
tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja
debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de
ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44
A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio
a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de
fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes
possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a
ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este
objetivo
Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas
um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros
poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era
o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem
formada
A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem
censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a
palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico
Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem
possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da
populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45
43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24
27
O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas
decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l
transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e
igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46
Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por
essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo
governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da
sociedade47
ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso
pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi
um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do
aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas
para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48
O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se
criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco
desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro
A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a
nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como
demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma
de Lima Barreto
33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA
A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da
repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais
ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa
oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79
28
tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto
pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49
O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou
uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a
homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os
fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas
consequecircncias nos anos de 1870 e 1880
Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a
toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma
de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de
respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas
A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta
disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na
academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas
academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica
Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro
com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra
perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato
l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda
mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia
Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra
do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com
engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe
totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de
intelectual
Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute
possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo
sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l
precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar
quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio
49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
29
Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da
Repuacuteblica e eles se viam
ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da
civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime
poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada
que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma
profissatildeo desprestigiadardquo50
O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando
ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de
junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos
fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen
que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje
mais amanhatilde
O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e
hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os
lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro
da America
()
Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque
isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais
admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional
Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51
Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos
homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute
50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt
30
mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos
mil i tares A Repuacuteblica Francesa
Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar
muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque
partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de
Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias
ldquoPROCLAMACcedilAtildeO
O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo
ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em
perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos
residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da
dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema
monarchico ndash representativo
Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter
essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo
provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a
l iberdade e os direitos dos cidadatildeos
()
Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da
soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e
da ordemrdquo 53
Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que
era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos
que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade
para o que quiser
52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
31
Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca
Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt
Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt
A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para
com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o
povo brasileiro poderia ter pela frente
A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram
sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou
charges sobre quem estava no comando
Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as
seguintes informaccedilotildees
ldquoMinisterio do Governo Provisorio
Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca
M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo
M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o
Sr Quintino Bocayuva
M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy
Barbosa
M inistro da guerra Dr Benjamin Constant
M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva
M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa
32
M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54
Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva
de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista
I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA
republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo
ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo
Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e
entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em
no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo
A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e
revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram
expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele
momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo
mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso
A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo
com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e
assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do
Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares
Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a
nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre
que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que
estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890
M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o
animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada
mostra
54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
33
Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo
Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
Seguindo do texto aqui resumido
ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional
dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo
de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico
M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje
outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria
recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma
concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im
garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes
com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e
de prosperidade
()
O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o
como a uma gloria nacional
Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes
do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os
nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo
()
34
Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de
leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de
primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que
l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica
na sua unidade republicana
A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela
gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas
paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um
estridente viva ao futuro da patria
Viva a Republicardquo 55
Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891
voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por
algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas
boas
Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25
anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com
mais de 21 anos e letrados
No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a
representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo
55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt
35
Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l
Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
A imagem que traz os seguintes dizeres
ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma
consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos
terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do
dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre
HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56
A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera
ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees
presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante
Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional
Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises
56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt
36
econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de
dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de
estado no mesmo ano
Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o
lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de
Notiacutecias
A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro
ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao
paiz a mais plena conf ianccedila
Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes
circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que
poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos
seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e
de respeito aacute lei o seu governo
Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da
Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57
A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do
general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo
rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees
geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma
reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano
A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as
eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola
que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente
de M oraes
57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt
37
A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em
suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova
narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento
A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca
como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento
de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com
a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem
de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado
61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina
38
IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO
41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM
O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se
espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de
cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l
uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura
conforto e progresso
A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente
comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de
ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de
Janeiro
Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas
comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam
placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar
f reneacutetico
O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava
letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por
exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais
discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico
A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo
neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente
diferente do que antes
A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava
em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de
crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo
formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os
mesmos
O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus
mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem
62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
39
vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para
de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a
mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo
Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem
brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia
O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era
e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e
poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado
ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e
natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de
pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63
O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias
agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos
deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais
velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais
energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia
Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu
referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova
vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura
raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64
ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma
Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma
Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65
O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo
se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99
40
enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida
eis os modernos ideaisrdquo66
ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite
lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa
numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela
seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a
perderrdquo67
O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido
se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por
todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real
ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o
tempo para a sua assimilaccedilatildeo
ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio
ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate
depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l
ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para
acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as
breves funccedilotildees da vida breverdquo 68
A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha
mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do
que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu
integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69
Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para
viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de
66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268
41
fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua
essecircncia
Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus
conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma
faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel
e irredutiacutevel70
42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA
A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de
Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era
moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era
A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como
um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo
quanto para a divulgaccedilatildeo
A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido
criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na
Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser
divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas
dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa
Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras
brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo
letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para
diferentes puacutebl icos
A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se
recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que
um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial
ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees
que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa
moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca
70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013
42
capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e
demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72
A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca
em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos
uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo
mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a
se reapresentar 73
A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao
jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de
apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia
O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona
reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o
cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e
imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo
A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de
vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o
aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando
assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74
ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas
principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens
quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para
determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas
mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se
indispensaacuteveisrdquo75
72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006
43
A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e
principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou
qualquer outro produto advindo da modernidade
A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o
homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo
visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma
simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer
lugar
Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar
de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo
do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura
Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma
de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de
se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais
ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da
i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo
de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76
Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac
questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando
a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o
escritor
A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e
revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia
tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia
proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para
literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos
trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77
76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94
44
M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa
modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as
efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios
semanais quinzenais ou mensais
Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt
Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt
O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e
obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da
legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e
com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo
A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo
contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um
sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78
78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57
45
A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas
como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor
logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar
as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor
Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt
A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute
possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e
vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de
forma mundana
O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a
atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas
de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas
46
primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma
modernidade em seu cotidiano
A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada
vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma
criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo
outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame
podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema
especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para
chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo
Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A
f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que
chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de
1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os
dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro
Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo
47
Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889
Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt
Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de
Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as
implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de
folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca
ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo
entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino
caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento
abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem
de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a
intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os
diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas
femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias
48
mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e
interessesrdquo79
M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como
Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa
necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas
mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como
esportivas e femininas
Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo
Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt
79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130
49
Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo
Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt
Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo
Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
50
Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu
nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era
necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo
dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de
existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo
Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de
ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas
poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por
isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que
perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081
Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver
tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens
relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que
ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo
Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista
entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas
capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em
primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre
escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas
A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo
tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica
scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os
l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto
Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que
vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas
escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples
mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt
51
simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma
vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com
o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica
Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A
modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84
Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a
Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos
seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos
volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com
personagens com feiccedilotildees engraccediladas
M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo
que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo
ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo
frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com
baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86
embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo
Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre
o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam
transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior
vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias
de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma
vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro
de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88
O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser
def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado
84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
52
A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir
diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados
como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu
desejo de imagem
43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO
Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram
adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do
nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum
folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer
um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance
l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia
Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de
pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar
sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da
populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem
Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos
de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89
levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova
aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo
Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o
Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais
propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l
inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro
A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi
essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais
pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores
A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da
populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e
ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais
que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38
53
divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora
isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva
44 O PUacuteBLICO RECEPTOR
A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a
mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida
com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova
ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo
cultural da sociedade cariocardquo 90
O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos
jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o
espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se
estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para
que qualquer coisa ocorresse
A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se
importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim
para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si
provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo
Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a
atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas
divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam
tambeacutem
ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de
associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes
mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada
M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas
i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos
para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores
ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo
90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19
54
clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo
(M ELLO 2007)91
O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o
crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais
populares a aceitassem de fato
A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute
citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam
introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo
outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i
estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92
45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA
Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a
oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a
modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida
sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria
A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o
exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas
M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova
velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e
Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do
Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o
teatro em abundacircnciardquo93
O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive
A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais
propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a
91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75
55
tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de
ambiente
ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando
depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas
jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a
produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a
pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se
produzia
A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se
tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a
pagarem jantares ou ida a bares
A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver
por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a
luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos
para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma
parcela ser respeitada e mais do que ouvida
Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para
a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo
republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais
do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo
progresso e democracia95
46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO
O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com
ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis
cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas
pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l
94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
56
ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi
sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser
- Para ser
- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem
relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um
trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado
do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96
A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate
poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a
comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a
automatizaccedilatildeo
A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de
escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo
uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que
o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda
natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o
escri to causa uma perca e uma falta de sentido
M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve
como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos
intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta
questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no
Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97
Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que
ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se
era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor
exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido
O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se
tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou
apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil
Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97
57
manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute
chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se
transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar
Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor
se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no
universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os
platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98
Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de
jornais e revistas
L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito
tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos
perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi
lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e
sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres
ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico
saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes
desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel
infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe
desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em
vermelhordquo 99
Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o
produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas
chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos
M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir
recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo
homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre
pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo
para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para
98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual
58
mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde
nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem
atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores
M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na
primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de
criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l
ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a
condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia
arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a
intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos
aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e
as tempestades do futurordquo 100
A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para
escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos
principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l
aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a
industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo
Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a
paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se
escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina
podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra
perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria
direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano
100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
59
V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram
para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados
uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem
i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia
A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer
mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo
rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas
Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no
Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio
do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como
O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o
intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca
que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia
chegar a todos
Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no
mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas
quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico
movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia
A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a
tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem
i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor
de si mesmo
A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem
a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um
desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela
eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute
Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo
brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a
fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era
aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de
que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura
60
A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava
para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma
representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares
O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que
envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com
o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a
segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do
meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever
e falar
A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de
suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a
mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a
aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico
O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo
difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas
af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o
novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas
de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes
Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas
obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que
eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma
efetiva
O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram
discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu
redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles
deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o
que a populaccedilatildeo brasi leira representava
Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com
que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como
uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria
dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social
O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era
produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o
61
homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era
nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade
em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo
62
VI FONTES
Gazeta de Notiacutecias (1890 ndash 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03amp PagFis=0gt
Jornal do Brazil (1890 ndash 1920) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_01amp pasta=ano20189=gt
Revista Kosmos (1900 - 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amp pasta=ano20190amp =gt
Revista Careta (1900 ndash 1929) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=083712amp pasta=ano20190amp pesq=gt
Revista I l lustrada (1890 ndash 1899) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pasta=ano20189amp pesq=gt
63
VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICA
M ARTINS Ana Luiza LUCA Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed
Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordf Ed 2003
SUumlSSEK IND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1 Reimpressatildeo 2006
M ELLO M aria Tereza Chaves de A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 1ordf Ed 2007
CARVALHO Joseacute M urilo de A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 7ordf Ed 1998
BEJAM IN Walter A Obra de Arte na Eacutepoca de sua Reprodutibilidade Teacutecnica In
L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
HORK HEIM ER M ax ADORNO Theodor W A Induacutestria Cultural o Iluminismo como Mistificaccedilatildeo de Massas In L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e
Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
CURRAN M ark J Histoacuteria do Brasil em Cordel Ed EDUSP Editora da Universidade de
Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1ordf Ed 2009
RIBEIRO Ana Paula Goulart FERREIRA Lucia M aria A lves Miacutedia e Memoacuteria A Produccedilatildeo de Sentidos nos Meios de Comunicaccedilatildeo Ed M AUAD Rio de Janeiro 1ordf Ed
2007
COSTA Cleacuteria Botelho da M ACHADO M aria Clara Tomaz Histoacuteria e Literatura
Identidade e Fronteiras Ed EDUFU Uberlacircndia 1ordf Ed 2006 GOM ES Angela de Castro A Poliacutetica Brasileira em Busca da Modernidade na Fronteira
entre o puacuteblico e o privado In Org SCHWARCZ Lil ia M oritz Histoacuteria da V ida privada
no Brasil vol 4 Ed Companhia das Letras 1ordf Ed 1998
CHALHOUB Sidney PEREIRA Leonardo A ffonso de M A Histoacuteria Contada Capiacutetulos de Histoacuteria Social da Literatura no Brasil Ed Nova Fronteira 1ordf Ed 1998
CAM ARGO Ana M aria de A lmeida A IMPRENSA COMO FONTE PARA HISTOacuteRIA DO BRASIL In PAULA Euriacutepedes Simotildees de Portos Rotas e Comeacutercio Satildeo Paulo 1971
LIM A Ivana Stolze Com a palavra a cidade mesticcedila Imprensa poliacutetica e identidade no Rio de Janeiro 1831 ndash 1833 Fundaccedilatildeo Casa de Rui Barbosa Rio de Janeiro 1998
64
LUCA Tania Regina de Histoacuteria dos nos e por meio dos perioacutedicos In Org PINSK Y
Carla Bassanezi Fontes Histoacuterias Satildeo Paulo Ed Contexto 2005
SCHERER M arta Eymael Garcia Bilac ndash Sem Poesia Crocircnicas de um jornalista da Belle Eacutepoque Universidade Federal de Santa Catarina 2008
M ENDES Iba Olavo Bilac Crocircnicas e Novelas Poeteiro Editor Digital Satildeo Paulo 2014 NUNES Radameacutes V ieira Literatura e Imprensa Barreto e Bilac entre a Arte e
Ofiacutecio Emblemas Goiaacutes v 8 n 2 p201-226 jul 2011 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
M ONTILHA Thiago Roza Ialdo Olavo Bilac e a Questatildeo da Instruccedilatildeo no Brasil (1897 ndash 1908) Intellegravectus Rio de Janeiro ano X IV n 1 p 57 ndash 76 2015
NUNES Radameacutes V ieira Crocircnicas e Cronistas no Ritmo das M aacutequinas Emblemas Goiaacutes
v 9 n 1 p129-145 jan 2012 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
SILVA Renata Refino da Monteiro Lobato e a Revista do Brasil (1916 ndash 1925)
Representaccedilotildees de Ciecircncia Literatura Arte e Histoacuteria Anais do XXVI Simpoacutesio
Nacional de Histoacuteria - ANPUH Satildeo Paulo julho 2011
SILVA M auriacutecio Literatura e Publicidade no Preacute-Modernismo Brasileiro Uma Introduccedilatildeo Criacutetica Cultural Santa Catarina v 1 n1 jan Semestral 2006
SILVA Danyelle M arques Freire da A Constituiccedilatildeo do Espaccedilo em Vida Ociosa de
Godofredo Rangel UninCor ndash Universidade Vale do Rio Verde Trecircs Coraccedilotildees 2013
SILVA M auriacutecio Profissionalizaccedilatildeo do Escritor e Publicidade Editorial Dois Capiacutetulos
da Leitura Preacute-Modernista no Brasil M agma Satildeo Paulo n 6 p 66 ndash 77 1999
BECK ER Elizamari Rodrigues Forccedilas Motrizes de uma Contiacutestica Preacute-Modernista O
Papel da Traduccedilatildeo na Obra Ficcional de Monteiro Lobato Universidade Federal do Rio
Grande do Sul Porto A legre 2006
ARAUJO Jean M arcel Oliveira O Preacute-Modernismo A luta entre passadistas modernos e modernistas no campo artiacutestico brasileiro Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo ndash RJ n 1 p
117 ndash 134 jul semestral 2012
GUIM ARAtildeES Fernando Simbolismo Modernismo e Vanguardas Imprensa Nacional ndash
Casa da M oeda 3ordf Ed Rio de Janeiro 2004
VELLOSO M ocircnica A Modernidade Carioca na Sua Vertente Humoriacutestica Estudos
Histoacutericos Rio de Janeiro v 8 n 16 p 269-278 1995
65
M ORAES Eduardo Jardim Modernismo Revisitado Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v
1 n 2 p 220 ndash 238 1988
STRELOW A line Jornalismo literaacuterio e cultural Perspectiva Histoacuterica Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Disponiacutevel em lt wwwboccubiptgt
RAM OS Gabriela A Crocircnica como Interseccedilatildeo entre jornalismo e literatura Intercom ndash
Sociedade Brasileira de Estudos Interdiscipl inares das Comunicaccedilatildeo XV II Congresso de
Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo da Regiatildeo Sudeste Ouro Preto 2012
SCHERER M arta E G Um Jornalismo Belle Eacutepoque In SCHERER M arta E G
Imprensa e Belle Eacutepoque - Olavo Bilac o jornalismo e suas histoacuterias Ed Unisul
PalhoccedilaSC 2012
RIBEIRO Ana Paula Goulart Nelson Werneck Sodreacute e a histoacuteria da imprensa no
Brasil Intercom Revista Brasileira de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo [sl] v 38 n 2 p275-
288 dez 2015 FapUNIFESP (SciELO) Disponiacutevel em lthttpdxdoiorg1015901809-
58442015214gt
SILVA M auriacutecio Cultura de Mercado Literatura e Publicidade no preacute-modernismo brasileiro Via A tlacircntica Satildeo Paulo n 20 p 75 ndash 87 dez 2011
V IANNA Rafael de Bri to Os Renegados da Histoacuteria A importacircncia dos preacute-modernos para o pensamento nacional Revista Brasileira de Histoacuteria amp Ciecircncias Sociais v 3 n 5 p
127 ndash 131 Jul 2011
BEAL Sophia A Transformaccedilatildeo das Trevas na Literatura Preacute-Modernista Pensares em
Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 76 -91 jul Semestral 2012
L INS Vera Lucia de Oliveira Os simbolistas Virando o Seacuteculo Pensares em Revista Satildeo
Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 135 - 143 Jul Semestral 2012
BATALHA M aria Cristina Lima Barreto e o vieacutes do realismo popular na literatura brasileira Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 51 - 65 Jul Semestral
2012
FIGUEIREDO Carmen Lucia Negreiros O Mal-estar de Isaiacuteas A crise do Romance em
Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 35 - 50 Jul
Semestral 2012
GENS Rosa Retratos em Cantoneiras Imagens do Rio de Janeiro Belle Eacutepoque em Joatildeo do Rio e Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 66 -
75 jul Semestral 2012
66
M ENDES Leonardo Pinto Juacutelio Ribeiro O Naturalismo e a Dessacralizaccedilatildeo da Literatura Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 4 p 26 - 42 jul Semestral
2014
RIO Joatildeo do Cinematoacutegrafo Crocircnicas Cariocas Academia Brasileira de Letras ndash Coleccedilatildeo
Afracircnio Peixoto Rio de Janeiro 2009
ZANON M aria Cecil ia A Sociedade Carioca da Belle Eacutepoque nas paacuteginas do Fon-Fon
Patrimocircnio e M emoacuteria Satildeo Paulo v 4 n 2 p ndash 217 ndash 235 jun 2009
DOIN Joseacute Evaldo de M ello NETO Humberto Perinell i PAZIANI Rodrigo Ribeiro
PACANO Faacutebio Augosto A Belle Eacutepoque caipira Problematizaccedilotildees e oportunidades interpretativas da modernidade e urbanizaccedilatildeo no Mundo do Cafeacute (1852 ndash 1930) ndash A
proposta do Cemumc Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v 27 n 53 p 91 ndash 122
Jun 2007
NOGUERIA Clara Asperti Revista Carets (1908 ndash 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo Impressa no Seacuteculo XX M iscelacircnea Assis v 8 p 60 ndash 80 jul 2010
OLIVEIRA Luacutecia Lippi A questatildeo nacional na Primeira Repuacuteblica Ed Brasil iense Satildeo
Paulo 1ordf Ed 1990 Disponiacutevel em lt httpwwwcpdocfgvbrgt
VENTURA Roberto Euclides da Cunha e a Repuacuteblica Aacuterea de Histoacuteria Cultural USP
29 de abril de 1994
M IGLIARI Well ington Preacute-Modernismo e Repuacuteblica Antinomias da Belle Eacutepoque no
Brasil Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 186 - 202 jul Semestral
2012
NEVES M argarida de Souza Os cenaacuterios da Repuacuteblica O Brasil na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX In NEVES M de S Os cenaacuterios da repuacuteblica O Brasil na virada
do seacuteculo X IX para o seacuteculo XX In DELGADO Luciacutel ia de A lmeida Neves e FERREIRA
Jorge Luiacutes (Orgs) Brasil Republicano Estado sociedade civi l e cultura poliacutetica O tempo do
l iberalismo excludente Da Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica agrave Revoluccedilatildeo de 1930 1a ed Rio de
Janeiro Civi lizaccedilatildeo Brasileira 2003
SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A Modernizaccedilatildeo do Rio de Janeiro nas crocircnicas de Olavo Bilac (1890 ndash 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador abri l de 2013
HALLER Joyce Uemoto Monteiro Lobato Literatura como expressatildeo do contexto (1890-1930) Universidade Estadual de M aringaacute M aringaacute 2012
Lorraine da Silva Dionisio
Banca Examinadora
Prof R Newton Dacircngelo (Orientador)
Dr Diogo De Souza Brito
Profordf Drordf Ana Flaacutevia Santana
AGRADECIMENTOS
Este trabalho natildeo seria possiacutevel sem a paciecircncia do meu orientador Newton Dacircngelo
muito obrigada por todos os momentos que eu natildeo soube por qual direccedilatildeo seguir e o senhor
com toda a paciecircncia do mundo me mostrou as opccedilotildees possiacuteveis
A minha matildee Maria Aparecida da Silva que se dedicou de corpo e alma para que eu
pudesse natildeo apenas comeccedilar uma faculdade mas que me apoiou em cada vontade e sonho
me mostrando que o esforccedilo sim eacute o que nos manteacutem em peacute Obrigada mamatildee A senhora eacute
tudo o que eu quero ser quando crescer
Aos meus pais Christopher Dale Poniktera e Luiacutes Carlos Dionisio que infelizmente natildeo
viveram o suficiente para me ver neste momento uacutenico mas que estiveram comigo no
segundo momento mais importante da minha vida A minha aprovaccedilatildeo para comeccedilar este
curso
Aos meus amigos que me ajudaram e apoiaram em cada momento difiacutecil neste curso e
durante meus anos de graduaccedilatildeo com cada semestre sendo uma temporada eacute difiacutecil contar
quem ficou e quem se foi mas com certeza todos deixaram uma marca uacutenica comigo
RESUMO
Analisando a Belle Eacutepoque em seus aspectos culturais poliacuteticos tecnoloacutegicos entre 1890 ndash
1920 a presente monografia intenciona identificar a mudanccedila de editorial tipografias em
conjunto com a modernizaccedilatildeo da cidade e a sua nova influecircncia quanto as pessoas iletradas
em relaccedilatildeo com a nova narrativa poliacutetica Uma construccedilatildeo de um imaginaacuterio de Repuacuteblica
para o iletrado e as perspectivas para o homem de letra trazendo as novas percepccedilotildees sobre o
tempo suas produccedilotildees e a cidade com o modernismo
Palavra-chave Belle Eacutepoque modernizaccedilatildeo perioacutedico
LISTA DE IMAGENS
Capitulo III
Figura 1 Fotografia da Rua do Ouvidor 1890 Fonte
httpfotografiaimscombrsites1527248423762_13
Figura 2 Colagem sobre caricaturas e ilustraccedilotildees sobre o governo monaacuterquico Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=2011ampPesq
Figura 3 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528amp
Figura 4 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127amp
Figura 5 Chamada principal da Revista Illustrada marccedilo de 1891 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4472amp
Figura 6 Ilustraccedilatildeo da realizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1891 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4472amp
Capitulo IV
Figura 7 Capa do Jornal do Brasil de 1 de janeiro de 1892 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01ampPagFis=13
Figura 8 Capa do Jornal do Brasil de 6 de janeiro de 1908 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amppasta=ano20190amp
Figura 9 Capa do Jornal do Brasil 1 de janeiro de 1920 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amppasta=ano20192amp
Figura 10 Capa do Jornal do Brasil 24 de novembro de 1921 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amppasta=ano20192amp
Figura 11 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1889 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amp
Figura 12 Capa da Gazeta de Notiacutecias 1 de janeiro de 1908 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amppasta=ano20190amp
Figura 13 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1920 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amppasta=ano20192amp
Figura 14 Capa da Gazeta de Notiacutecias 8 de janeiro de 1921 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amppasta=ano20192amp
Figura 15 Capa da Revista Illustrada 1 de Janeiro de 1876 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1
Figura 16 Capa da Revista Illustrada 8 de Junho de 1889
FontehttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=
Figura 17 Capa da Revista Illustrada Rio de Janeiro Junho 1898 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=
Figura 18 Capa da Revista Kosmos Janeiro 1904 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675
Figura 19 Capa da Revista Kosmos Novembro de 1908 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675
Figura 20 Capa da Revista Kosmos Fevereiro 1909 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675
Figura 21 Capa da Revista Careta 10 de Julho de 1909 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1
Figura 22 Capa da Revista Careta 10 de Junho de 1920 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1
Figura 23 Capa da Revista Careta 1 de Julho de 1922 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1
SUMAacuteRIO
I INTRODUCcedilAtildeO1
II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS4
21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO4
22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE6
23 REALISMO6
24 NATURALISMO8
25 PARNASIANISMO9
26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO11
III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA16
31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE16
32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA21
33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA27
IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO38
41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM38
42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA41
43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO52
44 O PUacuteBLICO RECEPTOR53
45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA54
46 O DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO55
V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS59
VI FONTES62
VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICAS63
1
1 INTRODUCcedilAtildeO
O cotidiano dos homens e mulheres brasi leiros comeccedilou a se modif icar ao f inal do seacuteculo
X IX 1890 natildeo apenas no visual e no ambiente mas tambeacutem no social A s ruas estavam
comeccedilando a ser asfaltadas e deixando de ter espaccedilos para carroccedilas e ani mais comeccedilavam a
ser tomadas pelos carros automatizados lustres e grandes preacutedios aleacutem das fabricas
O modo de viver se modif icava em conjunto com o seu novo modo de trabalhar e seu
cotidiano A s faacutebricas tomavam conta e ditavam o horaacuterio e assim o homem comum tinha
uma alteraccedilatildeo completa de seu cotidiano e da sua inf luecircncia na sua produccedilatildeo no trabalho O
homem l i teraacuterio tambeacutem sofreu com as mudanccedilas que ocorriam na cidade ao contraacuterio do
pensamento comum
Jornais e revistas estavam mudando seu formato de produccedilatildeo drasticamente aleacutem de suas
periodicidades Se antes algum destes queriam um formato mais especif ico necessitava pedir
a impressatildeo no exterior e entatildeo ela iria ser distribuiacuteda no Brasi l como era o caso da revista
Kosmos Com a mudanccedila industrial era agora possiacutevel a real izaccedilatildeo no proacuteprio escri toacuterio do
perioacutedico aleacutem do mesmo sair em nuacutemeros maiores e com uma frequecircncia mais assiacutedua
fazendo assim ser possiacutevel viver da arte de ser escri tor com mais ef iciecircncia
A maneira da informaccedilatildeo chegar no f inal do X IX tambeacutem estava se modif icando Com o
teleacutegrafo as notiacutecias eram mais dinacircmicas e informantes eram espalhados ao redor do mundo
O Brasi l se inf luenciava de maneira mais constante em suas escri tas com novas maquinas de
escrever e de transcriccedilatildeo com as datas de publicaccedilotildees muito mais proacuteximas com essas
modif icaccedilotildees grandes em seu cotidiano de escri ta principalmente porque com a mudanccedila
agora seria possiacutevel viver apenas de l i teratura graccedilas a demanda
A s transformaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo alteraram apenas a imagem dos jornais e das revistas
mas tambeacutem como dito anteriormente sua participaccedilatildeo nestes A s imagens agora natildeo soacute
eram mero enfeite e raras agora fazendo grande parte dos textos a caricatura fotograf ia e ateacute
mesmo charge ajudavam a formar o pensamento e a estrutura do texto que sempre
acompanhavam e como o nuacutemero de leitores natildeo crescia conforme o nuacutemero de lanccedilamentos
a imagem se era muitas vezes mais efetiva proporcionando assim ldquoo ensaio da comunicaccedilatildeo
de massardquo 1
1 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p83
2
A alfabetizaccedilatildeo foi um grande foco de investimento para a Nova Repuacuteblica e o
acompanhamento de imagens nestes perioacutedicos era essencial ldquoA evoluccedilatildeo teacutecnica do
impresso o investimento na alfabetizaccedilatildeo os incentivos agrave aquisiccedilatildeo eou fabricaccedilatildeo de papel
rdquo 2 a quantidade de jornais e revistas que eram vendidos tambeacutem era uma forma da Repuacuteblica
que havia acabado de se formar ter uma noccedilatildeo de quantas pessoas eram letradas ou que
estavam a caminho de se tornarem de fato assim
O debate entre os homens de letras da eacutepoca del imitada entre 1890 e 1923 era assiacuteduo
mas natildeo quanto a questotildees poliacuteticas da eacutepoca e sim as mudanccedilas do cotidiano que os estavam
afetando A poliacutetica soacute aparecia quando o assunto eram as mudanccedilas que ocorriam no
ambiente poliacutetico e social Bi lac faz uma anaacutelise que corrobora completamente com as
fotografias que o jornal passava ldquoQue natildeo seraacute quando da velha cidade colonial
estupidamente conservada ateacute agora como um pesadelo do passado apenas restar a
lembranccedila rdquo3
Com o questionamento sobre como se inf luecircncia uma grande maioria i letrada a natildeo
apenas acreditar na Repuacuteblica como tambeacutem mudar toda a perspectiva que se tem quanto ao
entatildeo monarca busco entender qual eacute a participaccedilatildeo deste homem de letras como o moderno
o ajudou natildeo apenas a aumentar sua importacircncia no imaginaacuterio popular como o trouxe como
celebridade
A ssim busco discutir no primeiro capitulo a Belle Eacutepoque e todas as transformaccedilotildees
l i teraacuterias que a mesma trouxe modif icou e ateacute mesmo criou no Brasi l discutindo entre estes
movimentos l i teraacuterios com algumas representaccedilotildees de autores para exemplif icar o movimento
e a sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de um ideal poliacutetico Brasi leiro
No segundo capiacutetulo todo o movimento poliacutetico que a Belle Eacutepoque trouxe em seu
discurso por estes autores e sua necessidade de Repuacuteblica com a democracia da palavra em
conjunto com a vinda da Repuacuteblica por parte dos mil i tares
No uacuteltimo capiacutetulo apresento as mudanccedilas que essa perspectiva modernista trouxe para o
paiacutes e como ela alterou natildeo apenas a imagem do Rio de Janeiro como tambeacutem o cotidiano e a
perspectiva do homem comum e o de letras sobre o moderno4 e sobre as atividades cotidianas
2 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 84 3 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 93 4 Relativo ou pertencente agrave eacutepoca histoacuterica em que se vive
3
e suas responsabi l idades assim como tambeacutem os modernismos 5 que trouxe em jornais em
revistas
5 Tendecircncias e gostos ao que se eacute moderno
4
II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS
21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO
No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de
que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes
transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o
progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma
modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar
necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes
A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser
construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro
A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que
poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo
X IX e comeccedilo do seacuteculo X X
ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia
um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do
A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada
emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar
daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro
das picaretas abafava esse protesto impotente
Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como
as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las
diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da
hygiene do bom gosto e da arterdquo 6
O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa
que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que
favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de
comunicaccedilatildeo e de transporte
6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt
5
Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento
tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a
educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo
principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma
forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo
remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter
tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e
seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo
Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870
ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande
transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a
crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como
jornal istas
Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e
faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute
mesmo os criassem
A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto
para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para
mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo
A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo
tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute
por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo
ideoloacutegica
A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e
quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu
lado
A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l
V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser
efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer
ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e
assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute
acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo
7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro
6
22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE
Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua
l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como
Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a
escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes
Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita
eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que
a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por
vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro
momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance
urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A
valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver
Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas
ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele
surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre
a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como
uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia
da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens
23 REALISMO
O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares
Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a
real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De
uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico
O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito
representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem
tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa
7
Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo
tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute
um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l
demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na
seacuterie ldquoBons diasrdquo9
M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca
natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer
o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus
acontecimentos
Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os
narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de
uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um
pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do
que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10
ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e
que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais
amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()
O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos
princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava
tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos
termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada
enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11
Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio
leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua
8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013
8
zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo
ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam
Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua
l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias
Poacutestumas de Braacutes Cubas
A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca
brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento
ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo
exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o
homem vive e o que ele eacute
A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba
cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle
conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um
alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12
24 NATURALISMO
O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque
principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o
homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua
ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13
Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens
comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior
sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do
cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l
percepccedilatildeo no interior
O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento
eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas
e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o
moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava
tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior
12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista
9
O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas
ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo
sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas
Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua
l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor
25 PARNASIANISMO
O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e
conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente
Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e
o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos
ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do
tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir
tinha se tornado algo f reneacutetico
O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a
necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre
palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas
Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio
interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o
parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de
M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para
o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o
mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes
Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social
para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu
e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem
Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando
da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas
ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu
candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -
pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler
10
e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de
ser algueacutemrdquo 14
Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era
necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os
acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria
se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando
A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais
baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por
meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um
estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo
A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem
investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens
ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num
paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O
melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a
memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria
Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e
escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar
esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode
merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os
caracteres do alfabetordquo 15
Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para
construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores
entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de
trabalho
Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a
instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees
14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015
11
26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO
Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um
movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos
os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides
da Cunha e M onteiro Lobato
Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da
l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua
maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum
Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares
de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos
Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como
uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e
poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar
ateacute eles
A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que
de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e
caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a
imagem do que era discutido e narrado
M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra
haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de
algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que
estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo
ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo
brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel
o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que
nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de
busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro
prometiardquo 16
16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144
12
Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica
estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a
sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente
A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no
jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos
por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado
Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies
e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de
renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto
Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado
como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando
momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees
Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma
vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por
dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua
identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista
e materialistardquo 17
Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se
relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem
questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o
movimento Republicano
ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a
evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas
qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e
a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos
Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18
L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela
modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo
17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
13
entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute
mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele
ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do
passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de
modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais
suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de
ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20
E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como
dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela
si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor
ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio
Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute
este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21
ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande
de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um
outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros
e um pouco devido a mim
[ ]
A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os
acontecimentosrdquo 22
Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a
formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa
marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um
governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes
natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23
19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
14
Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios
que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve
ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves
V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de
chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam
criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas
simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos
trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24
M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o
trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na
terra em sua obra como Jeca Tatu
Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato
tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a
real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista
M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a
terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta
de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral
Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava
neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando
assim o estrago e atraso a naccedilatildeo
Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um
ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida
votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava
que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio
personagem Jeca Tatu
Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto
uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo
M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo
trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo
24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010
15
O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria
cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles
ocorriam ou quais suas separaccedilotildees
ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar
riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com
produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que
criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e
atrairrdquo 26
A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento
cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o
seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas
sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o
homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas
26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194
16
III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA
31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE
O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que
modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria
social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento
possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da
modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura
da cidade
O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial
(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas
junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em
conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de
Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que
consomem matildeos de obra
Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava
tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade
que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem
do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava
acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de
ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27
Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa
nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de
Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver
ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do
trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram
quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro
27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41
17
principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo
radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28
Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que
nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se
estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as
estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da
Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a
condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional
Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo
assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das
autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte
A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas
nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees
do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de
fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos
prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do
paiacutes
ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam
capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade
funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio
moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados
operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31
28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58
18
Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890
Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt
httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt
A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua
visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a
todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No
primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as
donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10
horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo
burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua
19
A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por
todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro
de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro
O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em
todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia
A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre
a Rua do Ouvidor
ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o
melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse
monopoacutel io
A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se
reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde
aparecem as novidades
()
Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a
cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um
conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos
perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha
quer queiram quer natildeo
()
A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo
transtornadosrdquo 33 34
A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose
Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme
atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana
E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo
trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra
do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos
principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
20
A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem
trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a
popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se
tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista
queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros
Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma
leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio
de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de
conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a
proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos
eles pois a rua era isso A presentadora da vida
ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua
do Ouvidorrdquo35
Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis
l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa
forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre
se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se
migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural
A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada
com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos
pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente
todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro
Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por
mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em
conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime
Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua
35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
21
impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves
exigecircncias do progresso36
32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA
A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao
paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo
comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que
circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim
Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com
as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta
de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes
que estava se formando e muito menos para o seu povo
Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas
notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia
presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando
36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76
22
Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees
Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt
Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se
esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a
imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute
l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores
A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a
rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta
de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo
A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto
ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas
escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo
analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo
necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem
tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura
A s legendas em ordem satildeo
23
2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im
senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo
3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por
um grande zero constitucionalrdquo
4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos
sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de
tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo
5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal
fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo
M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se
expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o
mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados
assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o
Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos
Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais
eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo
tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente
perdia sua sacral idade
Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o
monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que
rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro
histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo
rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca
como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada
O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e
demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um
esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a
republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar
37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47
24
Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se
tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro
no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica
ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as
maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano
nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano
()
SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as
camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a
menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de
deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram
natildeo passaram de falsos eleitos ()
Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que
SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala
do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto
Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala
do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada
tinha drsquoesta vezrdquo40
A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria
da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse
sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se
empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da
populaccedilatildeo de todo o paiacutes
Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam
por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que
ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a
maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i
passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um
futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo
40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt
25
A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando
sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas
que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes
quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890
ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir
por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de
A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-
imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas
despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash
mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do
governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um
adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes
teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e
houradezrdquo Barbadinho41
A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra
Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela
que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees
para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma
grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em
seu grupo soacute que em um governo Republicano
A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento
de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental
A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade
A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o
tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato
se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre
M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser
efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras
41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17
26
preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a
l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762
ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da
L iberdade (1823) 43
ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em
l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria
seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que
tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja
debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de
ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44
A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio
a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de
fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes
possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a
ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este
objetivo
Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas
um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros
poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era
o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem
formada
A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem
censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a
palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico
Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem
possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da
populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45
43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24
27
O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas
decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l
transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e
igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46
Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por
essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo
governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da
sociedade47
ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso
pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi
um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do
aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas
para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48
O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se
criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco
desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro
A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a
nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como
demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma
de Lima Barreto
33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA
A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da
repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais
ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa
oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79
28
tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto
pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49
O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou
uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a
homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os
fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas
consequecircncias nos anos de 1870 e 1880
Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a
toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma
de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de
respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas
A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta
disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na
academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas
academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica
Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro
com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra
perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato
l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda
mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia
Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra
do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com
engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe
totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de
intelectual
Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute
possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo
sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l
precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar
quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio
49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
29
Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da
Repuacuteblica e eles se viam
ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da
civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime
poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada
que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma
profissatildeo desprestigiadardquo50
O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando
ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de
junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos
fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen
que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje
mais amanhatilde
O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e
hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os
lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro
da America
()
Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque
isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais
admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional
Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51
Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos
homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute
50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt
30
mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos
mil i tares A Repuacuteblica Francesa
Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar
muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque
partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de
Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias
ldquoPROCLAMACcedilAtildeO
O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo
ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em
perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos
residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da
dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema
monarchico ndash representativo
Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter
essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo
provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a
l iberdade e os direitos dos cidadatildeos
()
Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da
soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e
da ordemrdquo 53
Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que
era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos
que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade
para o que quiser
52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
31
Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca
Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt
Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt
A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para
com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o
povo brasileiro poderia ter pela frente
A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram
sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou
charges sobre quem estava no comando
Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as
seguintes informaccedilotildees
ldquoMinisterio do Governo Provisorio
Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca
M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo
M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o
Sr Quintino Bocayuva
M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy
Barbosa
M inistro da guerra Dr Benjamin Constant
M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva
M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa
32
M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54
Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva
de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista
I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA
republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo
ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo
Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e
entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em
no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo
A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e
revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram
expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele
momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo
mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso
A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo
com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e
assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do
Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares
Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a
nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre
que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que
estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890
M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o
animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada
mostra
54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
33
Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo
Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
Seguindo do texto aqui resumido
ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional
dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo
de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico
M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje
outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria
recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma
concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im
garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes
com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e
de prosperidade
()
O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o
como a uma gloria nacional
Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes
do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os
nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo
()
34
Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de
leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de
primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que
l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica
na sua unidade republicana
A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela
gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas
paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um
estridente viva ao futuro da patria
Viva a Republicardquo 55
Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891
voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por
algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas
boas
Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25
anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com
mais de 21 anos e letrados
No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a
representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo
55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt
35
Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l
Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
A imagem que traz os seguintes dizeres
ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma
consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos
terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do
dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre
HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56
A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera
ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees
presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante
Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional
Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises
56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt
36
econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de
dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de
estado no mesmo ano
Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o
lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de
Notiacutecias
A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro
ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao
paiz a mais plena conf ianccedila
Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes
circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que
poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos
seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e
de respeito aacute lei o seu governo
Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da
Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57
A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do
general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo
rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees
geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma
reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano
A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as
eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola
que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente
de M oraes
57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt
37
A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em
suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova
narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento
A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca
como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento
de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com
a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem
de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado
61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina
38
IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO
41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM
O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se
espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de
cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l
uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura
conforto e progresso
A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente
comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de
ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de
Janeiro
Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas
comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam
placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar
f reneacutetico
O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava
letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por
exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais
discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico
A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo
neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente
diferente do que antes
A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava
em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de
crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo
formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os
mesmos
O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus
mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem
62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
39
vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para
de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a
mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo
Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem
brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia
O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era
e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e
poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado
ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e
natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de
pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63
O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias
agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos
deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais
velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais
energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia
Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu
referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova
vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura
raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64
ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma
Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma
Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65
O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo
se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99
40
enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida
eis os modernos ideaisrdquo66
ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite
lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa
numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela
seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a
perderrdquo67
O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido
se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por
todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real
ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o
tempo para a sua assimilaccedilatildeo
ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio
ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate
depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l
ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para
acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as
breves funccedilotildees da vida breverdquo 68
A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha
mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do
que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu
integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69
Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para
viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de
66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268
41
fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua
essecircncia
Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus
conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma
faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel
e irredutiacutevel70
42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA
A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de
Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era
moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era
A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como
um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo
quanto para a divulgaccedilatildeo
A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido
criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na
Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser
divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas
dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa
Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras
brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo
letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para
diferentes puacutebl icos
A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se
recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que
um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial
ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees
que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa
moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca
70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013
42
capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e
demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72
A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca
em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos
uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo
mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a
se reapresentar 73
A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao
jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de
apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia
O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona
reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o
cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e
imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo
A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de
vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o
aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando
assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74
ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas
principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens
quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para
determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas
mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se
indispensaacuteveisrdquo75
72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006
43
A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e
principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou
qualquer outro produto advindo da modernidade
A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o
homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo
visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma
simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer
lugar
Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar
de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo
do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura
Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma
de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de
se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais
ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da
i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo
de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76
Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac
questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando
a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o
escritor
A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e
revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia
tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia
proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para
literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos
trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77
76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94
44
M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa
modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as
efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios
semanais quinzenais ou mensais
Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt
Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt
O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e
obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da
legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e
com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo
A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo
contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um
sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78
78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57
45
A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas
como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor
logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar
as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor
Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt
A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute
possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e
vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de
forma mundana
O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a
atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas
de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas
46
primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma
modernidade em seu cotidiano
A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada
vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma
criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo
outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame
podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema
especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para
chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo
Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A
f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que
chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de
1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os
dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro
Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo
47
Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889
Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt
Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de
Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as
implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de
folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca
ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo
entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino
caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento
abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem
de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a
intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os
diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas
femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias
48
mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e
interessesrdquo79
M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como
Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa
necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas
mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como
esportivas e femininas
Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo
Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt
79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130
49
Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo
Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt
Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo
Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
50
Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu
nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era
necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo
dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de
existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo
Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de
ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas
poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por
isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que
perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081
Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver
tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens
relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que
ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo
Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista
entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas
capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em
primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre
escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas
A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo
tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica
scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os
l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto
Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que
vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas
escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples
mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt
51
simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma
vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com
o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica
Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A
modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84
Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a
Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos
seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos
volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com
personagens com feiccedilotildees engraccediladas
M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo
que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo
ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo
frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com
baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86
embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo
Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre
o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam
transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior
vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias
de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma
vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro
de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88
O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser
def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado
84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
52
A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir
diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados
como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu
desejo de imagem
43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO
Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram
adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do
nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum
folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer
um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance
l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia
Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de
pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar
sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da
populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem
Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos
de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89
levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova
aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo
Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o
Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais
propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l
inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro
A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi
essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais
pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores
A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da
populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e
ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais
que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38
53
divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora
isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva
44 O PUacuteBLICO RECEPTOR
A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a
mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida
com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova
ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo
cultural da sociedade cariocardquo 90
O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos
jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o
espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se
estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para
que qualquer coisa ocorresse
A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se
importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim
para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si
provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo
Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a
atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas
divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam
tambeacutem
ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de
associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes
mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada
M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas
i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos
para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores
ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo
90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19
54
clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo
(M ELLO 2007)91
O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o
crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais
populares a aceitassem de fato
A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute
citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam
introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo
outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i
estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92
45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA
Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a
oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a
modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida
sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria
A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o
exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas
M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova
velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e
Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do
Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o
teatro em abundacircnciardquo93
O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive
A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais
propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a
91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75
55
tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de
ambiente
ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando
depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas
jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a
produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a
pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se
produzia
A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se
tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a
pagarem jantares ou ida a bares
A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver
por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a
luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos
para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma
parcela ser respeitada e mais do que ouvida
Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para
a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo
republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais
do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo
progresso e democracia95
46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO
O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com
ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis
cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas
pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l
94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
56
ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi
sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser
- Para ser
- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem
relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um
trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado
do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96
A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate
poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a
comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a
automatizaccedilatildeo
A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de
escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo
uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que
o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda
natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o
escri to causa uma perca e uma falta de sentido
M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve
como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos
intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta
questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no
Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97
Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que
ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se
era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor
exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido
O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se
tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou
apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil
Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97
57
manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute
chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se
transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar
Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor
se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no
universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os
platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98
Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de
jornais e revistas
L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito
tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos
perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi
lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e
sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres
ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico
saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes
desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel
infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe
desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em
vermelhordquo 99
Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o
produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas
chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos
M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir
recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo
homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre
pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo
para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para
98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual
58
mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde
nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem
atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores
M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na
primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de
criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l
ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a
condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia
arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a
intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos
aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e
as tempestades do futurordquo 100
A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para
escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos
principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l
aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a
industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo
Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a
paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se
escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina
podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra
perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria
direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano
100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
59
V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram
para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados
uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem
i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia
A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer
mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo
rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas
Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no
Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio
do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como
O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o
intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca
que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia
chegar a todos
Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no
mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas
quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico
movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia
A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a
tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem
i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor
de si mesmo
A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem
a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um
desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela
eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute
Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo
brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a
fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era
aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de
que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura
60
A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava
para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma
representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares
O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que
envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com
o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a
segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do
meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever
e falar
A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de
suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a
mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a
aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico
O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo
difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas
af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o
novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas
de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes
Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas
obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que
eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma
efetiva
O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram
discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu
redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles
deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o
que a populaccedilatildeo brasi leira representava
Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com
que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como
uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria
dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social
O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era
produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o
61
homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era
nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade
em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo
62
VI FONTES
Gazeta de Notiacutecias (1890 ndash 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03amp PagFis=0gt
Jornal do Brazil (1890 ndash 1920) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_01amp pasta=ano20189=gt
Revista Kosmos (1900 - 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amp pasta=ano20190amp =gt
Revista Careta (1900 ndash 1929) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=083712amp pasta=ano20190amp pesq=gt
Revista I l lustrada (1890 ndash 1899) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pasta=ano20189amp pesq=gt
63
VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICA
M ARTINS Ana Luiza LUCA Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed
Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordf Ed 2003
SUumlSSEK IND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1 Reimpressatildeo 2006
M ELLO M aria Tereza Chaves de A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 1ordf Ed 2007
CARVALHO Joseacute M urilo de A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 7ordf Ed 1998
BEJAM IN Walter A Obra de Arte na Eacutepoca de sua Reprodutibilidade Teacutecnica In
L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
HORK HEIM ER M ax ADORNO Theodor W A Induacutestria Cultural o Iluminismo como Mistificaccedilatildeo de Massas In L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e
Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
CURRAN M ark J Histoacuteria do Brasil em Cordel Ed EDUSP Editora da Universidade de
Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1ordf Ed 2009
RIBEIRO Ana Paula Goulart FERREIRA Lucia M aria A lves Miacutedia e Memoacuteria A Produccedilatildeo de Sentidos nos Meios de Comunicaccedilatildeo Ed M AUAD Rio de Janeiro 1ordf Ed
2007
COSTA Cleacuteria Botelho da M ACHADO M aria Clara Tomaz Histoacuteria e Literatura
Identidade e Fronteiras Ed EDUFU Uberlacircndia 1ordf Ed 2006 GOM ES Angela de Castro A Poliacutetica Brasileira em Busca da Modernidade na Fronteira
entre o puacuteblico e o privado In Org SCHWARCZ Lil ia M oritz Histoacuteria da V ida privada
no Brasil vol 4 Ed Companhia das Letras 1ordf Ed 1998
CHALHOUB Sidney PEREIRA Leonardo A ffonso de M A Histoacuteria Contada Capiacutetulos de Histoacuteria Social da Literatura no Brasil Ed Nova Fronteira 1ordf Ed 1998
CAM ARGO Ana M aria de A lmeida A IMPRENSA COMO FONTE PARA HISTOacuteRIA DO BRASIL In PAULA Euriacutepedes Simotildees de Portos Rotas e Comeacutercio Satildeo Paulo 1971
LIM A Ivana Stolze Com a palavra a cidade mesticcedila Imprensa poliacutetica e identidade no Rio de Janeiro 1831 ndash 1833 Fundaccedilatildeo Casa de Rui Barbosa Rio de Janeiro 1998
64
LUCA Tania Regina de Histoacuteria dos nos e por meio dos perioacutedicos In Org PINSK Y
Carla Bassanezi Fontes Histoacuterias Satildeo Paulo Ed Contexto 2005
SCHERER M arta Eymael Garcia Bilac ndash Sem Poesia Crocircnicas de um jornalista da Belle Eacutepoque Universidade Federal de Santa Catarina 2008
M ENDES Iba Olavo Bilac Crocircnicas e Novelas Poeteiro Editor Digital Satildeo Paulo 2014 NUNES Radameacutes V ieira Literatura e Imprensa Barreto e Bilac entre a Arte e
Ofiacutecio Emblemas Goiaacutes v 8 n 2 p201-226 jul 2011 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
M ONTILHA Thiago Roza Ialdo Olavo Bilac e a Questatildeo da Instruccedilatildeo no Brasil (1897 ndash 1908) Intellegravectus Rio de Janeiro ano X IV n 1 p 57 ndash 76 2015
NUNES Radameacutes V ieira Crocircnicas e Cronistas no Ritmo das M aacutequinas Emblemas Goiaacutes
v 9 n 1 p129-145 jan 2012 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
SILVA Renata Refino da Monteiro Lobato e a Revista do Brasil (1916 ndash 1925)
Representaccedilotildees de Ciecircncia Literatura Arte e Histoacuteria Anais do XXVI Simpoacutesio
Nacional de Histoacuteria - ANPUH Satildeo Paulo julho 2011
SILVA M auriacutecio Literatura e Publicidade no Preacute-Modernismo Brasileiro Uma Introduccedilatildeo Criacutetica Cultural Santa Catarina v 1 n1 jan Semestral 2006
SILVA Danyelle M arques Freire da A Constituiccedilatildeo do Espaccedilo em Vida Ociosa de
Godofredo Rangel UninCor ndash Universidade Vale do Rio Verde Trecircs Coraccedilotildees 2013
SILVA M auriacutecio Profissionalizaccedilatildeo do Escritor e Publicidade Editorial Dois Capiacutetulos
da Leitura Preacute-Modernista no Brasil M agma Satildeo Paulo n 6 p 66 ndash 77 1999
BECK ER Elizamari Rodrigues Forccedilas Motrizes de uma Contiacutestica Preacute-Modernista O
Papel da Traduccedilatildeo na Obra Ficcional de Monteiro Lobato Universidade Federal do Rio
Grande do Sul Porto A legre 2006
ARAUJO Jean M arcel Oliveira O Preacute-Modernismo A luta entre passadistas modernos e modernistas no campo artiacutestico brasileiro Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo ndash RJ n 1 p
117 ndash 134 jul semestral 2012
GUIM ARAtildeES Fernando Simbolismo Modernismo e Vanguardas Imprensa Nacional ndash
Casa da M oeda 3ordf Ed Rio de Janeiro 2004
VELLOSO M ocircnica A Modernidade Carioca na Sua Vertente Humoriacutestica Estudos
Histoacutericos Rio de Janeiro v 8 n 16 p 269-278 1995
65
M ORAES Eduardo Jardim Modernismo Revisitado Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v
1 n 2 p 220 ndash 238 1988
STRELOW A line Jornalismo literaacuterio e cultural Perspectiva Histoacuterica Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Disponiacutevel em lt wwwboccubiptgt
RAM OS Gabriela A Crocircnica como Interseccedilatildeo entre jornalismo e literatura Intercom ndash
Sociedade Brasileira de Estudos Interdiscipl inares das Comunicaccedilatildeo XV II Congresso de
Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo da Regiatildeo Sudeste Ouro Preto 2012
SCHERER M arta E G Um Jornalismo Belle Eacutepoque In SCHERER M arta E G
Imprensa e Belle Eacutepoque - Olavo Bilac o jornalismo e suas histoacuterias Ed Unisul
PalhoccedilaSC 2012
RIBEIRO Ana Paula Goulart Nelson Werneck Sodreacute e a histoacuteria da imprensa no
Brasil Intercom Revista Brasileira de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo [sl] v 38 n 2 p275-
288 dez 2015 FapUNIFESP (SciELO) Disponiacutevel em lthttpdxdoiorg1015901809-
58442015214gt
SILVA M auriacutecio Cultura de Mercado Literatura e Publicidade no preacute-modernismo brasileiro Via A tlacircntica Satildeo Paulo n 20 p 75 ndash 87 dez 2011
V IANNA Rafael de Bri to Os Renegados da Histoacuteria A importacircncia dos preacute-modernos para o pensamento nacional Revista Brasileira de Histoacuteria amp Ciecircncias Sociais v 3 n 5 p
127 ndash 131 Jul 2011
BEAL Sophia A Transformaccedilatildeo das Trevas na Literatura Preacute-Modernista Pensares em
Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 76 -91 jul Semestral 2012
L INS Vera Lucia de Oliveira Os simbolistas Virando o Seacuteculo Pensares em Revista Satildeo
Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 135 - 143 Jul Semestral 2012
BATALHA M aria Cristina Lima Barreto e o vieacutes do realismo popular na literatura brasileira Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 51 - 65 Jul Semestral
2012
FIGUEIREDO Carmen Lucia Negreiros O Mal-estar de Isaiacuteas A crise do Romance em
Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 35 - 50 Jul
Semestral 2012
GENS Rosa Retratos em Cantoneiras Imagens do Rio de Janeiro Belle Eacutepoque em Joatildeo do Rio e Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 66 -
75 jul Semestral 2012
66
M ENDES Leonardo Pinto Juacutelio Ribeiro O Naturalismo e a Dessacralizaccedilatildeo da Literatura Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 4 p 26 - 42 jul Semestral
2014
RIO Joatildeo do Cinematoacutegrafo Crocircnicas Cariocas Academia Brasileira de Letras ndash Coleccedilatildeo
Afracircnio Peixoto Rio de Janeiro 2009
ZANON M aria Cecil ia A Sociedade Carioca da Belle Eacutepoque nas paacuteginas do Fon-Fon
Patrimocircnio e M emoacuteria Satildeo Paulo v 4 n 2 p ndash 217 ndash 235 jun 2009
DOIN Joseacute Evaldo de M ello NETO Humberto Perinell i PAZIANI Rodrigo Ribeiro
PACANO Faacutebio Augosto A Belle Eacutepoque caipira Problematizaccedilotildees e oportunidades interpretativas da modernidade e urbanizaccedilatildeo no Mundo do Cafeacute (1852 ndash 1930) ndash A
proposta do Cemumc Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v 27 n 53 p 91 ndash 122
Jun 2007
NOGUERIA Clara Asperti Revista Carets (1908 ndash 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo Impressa no Seacuteculo XX M iscelacircnea Assis v 8 p 60 ndash 80 jul 2010
OLIVEIRA Luacutecia Lippi A questatildeo nacional na Primeira Repuacuteblica Ed Brasil iense Satildeo
Paulo 1ordf Ed 1990 Disponiacutevel em lt httpwwwcpdocfgvbrgt
VENTURA Roberto Euclides da Cunha e a Repuacuteblica Aacuterea de Histoacuteria Cultural USP
29 de abril de 1994
M IGLIARI Well ington Preacute-Modernismo e Repuacuteblica Antinomias da Belle Eacutepoque no
Brasil Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 186 - 202 jul Semestral
2012
NEVES M argarida de Souza Os cenaacuterios da Repuacuteblica O Brasil na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX In NEVES M de S Os cenaacuterios da repuacuteblica O Brasil na virada
do seacuteculo X IX para o seacuteculo XX In DELGADO Luciacutel ia de A lmeida Neves e FERREIRA
Jorge Luiacutes (Orgs) Brasil Republicano Estado sociedade civi l e cultura poliacutetica O tempo do
l iberalismo excludente Da Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica agrave Revoluccedilatildeo de 1930 1a ed Rio de
Janeiro Civi lizaccedilatildeo Brasileira 2003
SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A Modernizaccedilatildeo do Rio de Janeiro nas crocircnicas de Olavo Bilac (1890 ndash 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador abri l de 2013
HALLER Joyce Uemoto Monteiro Lobato Literatura como expressatildeo do contexto (1890-1930) Universidade Estadual de M aringaacute M aringaacute 2012
AGRADECIMENTOS
Este trabalho natildeo seria possiacutevel sem a paciecircncia do meu orientador Newton Dacircngelo
muito obrigada por todos os momentos que eu natildeo soube por qual direccedilatildeo seguir e o senhor
com toda a paciecircncia do mundo me mostrou as opccedilotildees possiacuteveis
A minha matildee Maria Aparecida da Silva que se dedicou de corpo e alma para que eu
pudesse natildeo apenas comeccedilar uma faculdade mas que me apoiou em cada vontade e sonho
me mostrando que o esforccedilo sim eacute o que nos manteacutem em peacute Obrigada mamatildee A senhora eacute
tudo o que eu quero ser quando crescer
Aos meus pais Christopher Dale Poniktera e Luiacutes Carlos Dionisio que infelizmente natildeo
viveram o suficiente para me ver neste momento uacutenico mas que estiveram comigo no
segundo momento mais importante da minha vida A minha aprovaccedilatildeo para comeccedilar este
curso
Aos meus amigos que me ajudaram e apoiaram em cada momento difiacutecil neste curso e
durante meus anos de graduaccedilatildeo com cada semestre sendo uma temporada eacute difiacutecil contar
quem ficou e quem se foi mas com certeza todos deixaram uma marca uacutenica comigo
RESUMO
Analisando a Belle Eacutepoque em seus aspectos culturais poliacuteticos tecnoloacutegicos entre 1890 ndash
1920 a presente monografia intenciona identificar a mudanccedila de editorial tipografias em
conjunto com a modernizaccedilatildeo da cidade e a sua nova influecircncia quanto as pessoas iletradas
em relaccedilatildeo com a nova narrativa poliacutetica Uma construccedilatildeo de um imaginaacuterio de Repuacuteblica
para o iletrado e as perspectivas para o homem de letra trazendo as novas percepccedilotildees sobre o
tempo suas produccedilotildees e a cidade com o modernismo
Palavra-chave Belle Eacutepoque modernizaccedilatildeo perioacutedico
LISTA DE IMAGENS
Capitulo III
Figura 1 Fotografia da Rua do Ouvidor 1890 Fonte
httpfotografiaimscombrsites1527248423762_13
Figura 2 Colagem sobre caricaturas e ilustraccedilotildees sobre o governo monaacuterquico Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=2011ampPesq
Figura 3 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528amp
Figura 4 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127amp
Figura 5 Chamada principal da Revista Illustrada marccedilo de 1891 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4472amp
Figura 6 Ilustraccedilatildeo da realizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1891 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4472amp
Capitulo IV
Figura 7 Capa do Jornal do Brasil de 1 de janeiro de 1892 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01ampPagFis=13
Figura 8 Capa do Jornal do Brasil de 6 de janeiro de 1908 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amppasta=ano20190amp
Figura 9 Capa do Jornal do Brasil 1 de janeiro de 1920 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amppasta=ano20192amp
Figura 10 Capa do Jornal do Brasil 24 de novembro de 1921 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amppasta=ano20192amp
Figura 11 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1889 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amp
Figura 12 Capa da Gazeta de Notiacutecias 1 de janeiro de 1908 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amppasta=ano20190amp
Figura 13 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1920 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amppasta=ano20192amp
Figura 14 Capa da Gazeta de Notiacutecias 8 de janeiro de 1921 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amppasta=ano20192amp
Figura 15 Capa da Revista Illustrada 1 de Janeiro de 1876 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1
Figura 16 Capa da Revista Illustrada 8 de Junho de 1889
FontehttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=
Figura 17 Capa da Revista Illustrada Rio de Janeiro Junho 1898 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=
Figura 18 Capa da Revista Kosmos Janeiro 1904 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675
Figura 19 Capa da Revista Kosmos Novembro de 1908 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675
Figura 20 Capa da Revista Kosmos Fevereiro 1909 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675
Figura 21 Capa da Revista Careta 10 de Julho de 1909 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1
Figura 22 Capa da Revista Careta 10 de Junho de 1920 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1
Figura 23 Capa da Revista Careta 1 de Julho de 1922 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1
SUMAacuteRIO
I INTRODUCcedilAtildeO1
II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS4
21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO4
22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE6
23 REALISMO6
24 NATURALISMO8
25 PARNASIANISMO9
26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO11
III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA16
31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE16
32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA21
33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA27
IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO38
41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM38
42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA41
43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO52
44 O PUacuteBLICO RECEPTOR53
45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA54
46 O DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO55
V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS59
VI FONTES62
VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICAS63
1
1 INTRODUCcedilAtildeO
O cotidiano dos homens e mulheres brasi leiros comeccedilou a se modif icar ao f inal do seacuteculo
X IX 1890 natildeo apenas no visual e no ambiente mas tambeacutem no social A s ruas estavam
comeccedilando a ser asfaltadas e deixando de ter espaccedilos para carroccedilas e ani mais comeccedilavam a
ser tomadas pelos carros automatizados lustres e grandes preacutedios aleacutem das fabricas
O modo de viver se modif icava em conjunto com o seu novo modo de trabalhar e seu
cotidiano A s faacutebricas tomavam conta e ditavam o horaacuterio e assim o homem comum tinha
uma alteraccedilatildeo completa de seu cotidiano e da sua inf luecircncia na sua produccedilatildeo no trabalho O
homem l i teraacuterio tambeacutem sofreu com as mudanccedilas que ocorriam na cidade ao contraacuterio do
pensamento comum
Jornais e revistas estavam mudando seu formato de produccedilatildeo drasticamente aleacutem de suas
periodicidades Se antes algum destes queriam um formato mais especif ico necessitava pedir
a impressatildeo no exterior e entatildeo ela iria ser distribuiacuteda no Brasi l como era o caso da revista
Kosmos Com a mudanccedila industrial era agora possiacutevel a real izaccedilatildeo no proacuteprio escri toacuterio do
perioacutedico aleacutem do mesmo sair em nuacutemeros maiores e com uma frequecircncia mais assiacutedua
fazendo assim ser possiacutevel viver da arte de ser escri tor com mais ef iciecircncia
A maneira da informaccedilatildeo chegar no f inal do X IX tambeacutem estava se modif icando Com o
teleacutegrafo as notiacutecias eram mais dinacircmicas e informantes eram espalhados ao redor do mundo
O Brasi l se inf luenciava de maneira mais constante em suas escri tas com novas maquinas de
escrever e de transcriccedilatildeo com as datas de publicaccedilotildees muito mais proacuteximas com essas
modif icaccedilotildees grandes em seu cotidiano de escri ta principalmente porque com a mudanccedila
agora seria possiacutevel viver apenas de l i teratura graccedilas a demanda
A s transformaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo alteraram apenas a imagem dos jornais e das revistas
mas tambeacutem como dito anteriormente sua participaccedilatildeo nestes A s imagens agora natildeo soacute
eram mero enfeite e raras agora fazendo grande parte dos textos a caricatura fotograf ia e ateacute
mesmo charge ajudavam a formar o pensamento e a estrutura do texto que sempre
acompanhavam e como o nuacutemero de leitores natildeo crescia conforme o nuacutemero de lanccedilamentos
a imagem se era muitas vezes mais efetiva proporcionando assim ldquoo ensaio da comunicaccedilatildeo
de massardquo 1
1 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p83
2
A alfabetizaccedilatildeo foi um grande foco de investimento para a Nova Repuacuteblica e o
acompanhamento de imagens nestes perioacutedicos era essencial ldquoA evoluccedilatildeo teacutecnica do
impresso o investimento na alfabetizaccedilatildeo os incentivos agrave aquisiccedilatildeo eou fabricaccedilatildeo de papel
rdquo 2 a quantidade de jornais e revistas que eram vendidos tambeacutem era uma forma da Repuacuteblica
que havia acabado de se formar ter uma noccedilatildeo de quantas pessoas eram letradas ou que
estavam a caminho de se tornarem de fato assim
O debate entre os homens de letras da eacutepoca del imitada entre 1890 e 1923 era assiacuteduo
mas natildeo quanto a questotildees poliacuteticas da eacutepoca e sim as mudanccedilas do cotidiano que os estavam
afetando A poliacutetica soacute aparecia quando o assunto eram as mudanccedilas que ocorriam no
ambiente poliacutetico e social Bi lac faz uma anaacutelise que corrobora completamente com as
fotografias que o jornal passava ldquoQue natildeo seraacute quando da velha cidade colonial
estupidamente conservada ateacute agora como um pesadelo do passado apenas restar a
lembranccedila rdquo3
Com o questionamento sobre como se inf luecircncia uma grande maioria i letrada a natildeo
apenas acreditar na Repuacuteblica como tambeacutem mudar toda a perspectiva que se tem quanto ao
entatildeo monarca busco entender qual eacute a participaccedilatildeo deste homem de letras como o moderno
o ajudou natildeo apenas a aumentar sua importacircncia no imaginaacuterio popular como o trouxe como
celebridade
A ssim busco discutir no primeiro capitulo a Belle Eacutepoque e todas as transformaccedilotildees
l i teraacuterias que a mesma trouxe modif icou e ateacute mesmo criou no Brasi l discutindo entre estes
movimentos l i teraacuterios com algumas representaccedilotildees de autores para exemplif icar o movimento
e a sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de um ideal poliacutetico Brasi leiro
No segundo capiacutetulo todo o movimento poliacutetico que a Belle Eacutepoque trouxe em seu
discurso por estes autores e sua necessidade de Repuacuteblica com a democracia da palavra em
conjunto com a vinda da Repuacuteblica por parte dos mil i tares
No uacuteltimo capiacutetulo apresento as mudanccedilas que essa perspectiva modernista trouxe para o
paiacutes e como ela alterou natildeo apenas a imagem do Rio de Janeiro como tambeacutem o cotidiano e a
perspectiva do homem comum e o de letras sobre o moderno4 e sobre as atividades cotidianas
2 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 84 3 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 93 4 Relativo ou pertencente agrave eacutepoca histoacuterica em que se vive
3
e suas responsabi l idades assim como tambeacutem os modernismos 5 que trouxe em jornais em
revistas
5 Tendecircncias e gostos ao que se eacute moderno
4
II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS
21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO
No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de
que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes
transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o
progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma
modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar
necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes
A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser
construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro
A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que
poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo
X IX e comeccedilo do seacuteculo X X
ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia
um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do
A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada
emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar
daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro
das picaretas abafava esse protesto impotente
Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como
as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las
diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da
hygiene do bom gosto e da arterdquo 6
O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa
que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que
favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de
comunicaccedilatildeo e de transporte
6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt
5
Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento
tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a
educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo
principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma
forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo
remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter
tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e
seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo
Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870
ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande
transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a
crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como
jornal istas
Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e
faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute
mesmo os criassem
A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto
para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para
mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo
A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo
tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute
por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo
ideoloacutegica
A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e
quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu
lado
A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l
V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser
efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer
ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e
assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute
acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo
7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro
6
22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE
Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua
l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como
Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a
escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes
Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita
eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que
a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por
vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro
momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance
urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A
valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver
Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas
ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele
surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre
a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como
uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia
da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens
23 REALISMO
O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares
Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a
real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De
uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico
O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito
representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem
tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa
7
Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo
tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute
um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l
demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na
seacuterie ldquoBons diasrdquo9
M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca
natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer
o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus
acontecimentos
Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os
narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de
uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um
pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do
que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10
ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e
que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais
amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()
O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos
princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava
tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos
termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada
enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11
Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio
leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua
8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013
8
zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo
ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam
Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua
l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias
Poacutestumas de Braacutes Cubas
A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca
brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento
ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo
exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o
homem vive e o que ele eacute
A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba
cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle
conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um
alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12
24 NATURALISMO
O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque
principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o
homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua
ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13
Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens
comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior
sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do
cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l
percepccedilatildeo no interior
O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento
eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas
e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o
moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava
tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior
12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista
9
O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas
ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo
sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas
Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua
l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor
25 PARNASIANISMO
O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e
conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente
Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e
o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos
ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do
tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir
tinha se tornado algo f reneacutetico
O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a
necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre
palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas
Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio
interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o
parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de
M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para
o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o
mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes
Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social
para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu
e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem
Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando
da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas
ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu
candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -
pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler
10
e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de
ser algueacutemrdquo 14
Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era
necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os
acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria
se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando
A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais
baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por
meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um
estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo
A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem
investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens
ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num
paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O
melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a
memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria
Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e
escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar
esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode
merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os
caracteres do alfabetordquo 15
Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para
construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores
entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de
trabalho
Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a
instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees
14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015
11
26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO
Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um
movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos
os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides
da Cunha e M onteiro Lobato
Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da
l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua
maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum
Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares
de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos
Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como
uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e
poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar
ateacute eles
A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que
de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e
caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a
imagem do que era discutido e narrado
M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra
haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de
algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que
estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo
ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo
brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel
o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que
nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de
busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro
prometiardquo 16
16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144
12
Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica
estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a
sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente
A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no
jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos
por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado
Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies
e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de
renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto
Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado
como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando
momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees
Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma
vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por
dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua
identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista
e materialistardquo 17
Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se
relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem
questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o
movimento Republicano
ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a
evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas
qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e
a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos
Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18
L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela
modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo
17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
13
entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute
mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele
ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do
passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de
modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais
suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de
ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20
E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como
dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela
si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor
ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio
Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute
este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21
ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande
de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um
outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros
e um pouco devido a mim
[ ]
A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os
acontecimentosrdquo 22
Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a
formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa
marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um
governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes
natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23
19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
14
Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios
que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve
ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves
V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de
chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam
criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas
simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos
trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24
M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o
trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na
terra em sua obra como Jeca Tatu
Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato
tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a
real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista
M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a
terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta
de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral
Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava
neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando
assim o estrago e atraso a naccedilatildeo
Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um
ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida
votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava
que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio
personagem Jeca Tatu
Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto
uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo
M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo
trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo
24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010
15
O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria
cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles
ocorriam ou quais suas separaccedilotildees
ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar
riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com
produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que
criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e
atrairrdquo 26
A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento
cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o
seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas
sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o
homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas
26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194
16
III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA
31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE
O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que
modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria
social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento
possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da
modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura
da cidade
O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial
(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas
junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em
conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de
Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que
consomem matildeos de obra
Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava
tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade
que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem
do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava
acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de
ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27
Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa
nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de
Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver
ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do
trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram
quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro
27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41
17
principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo
radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28
Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que
nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se
estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as
estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da
Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a
condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional
Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo
assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das
autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte
A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas
nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees
do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de
fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos
prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do
paiacutes
ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam
capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade
funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio
moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados
operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31
28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58
18
Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890
Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt
httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt
A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua
visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a
todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No
primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as
donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10
horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo
burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua
19
A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por
todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro
de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro
O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em
todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia
A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre
a Rua do Ouvidor
ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o
melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse
monopoacutel io
A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se
reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde
aparecem as novidades
()
Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a
cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um
conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos
perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha
quer queiram quer natildeo
()
A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo
transtornadosrdquo 33 34
A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose
Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme
atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana
E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo
trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra
do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos
principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
20
A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem
trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a
popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se
tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista
queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros
Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma
leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio
de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de
conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a
proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos
eles pois a rua era isso A presentadora da vida
ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua
do Ouvidorrdquo35
Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis
l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa
forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre
se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se
migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural
A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada
com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos
pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente
todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro
Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por
mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em
conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime
Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua
35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
21
impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves
exigecircncias do progresso36
32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA
A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao
paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo
comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que
circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim
Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com
as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta
de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes
que estava se formando e muito menos para o seu povo
Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas
notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia
presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando
36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76
22
Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees
Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt
Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se
esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a
imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute
l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores
A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a
rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta
de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo
A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto
ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas
escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo
analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo
necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem
tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura
A s legendas em ordem satildeo
23
2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im
senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo
3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por
um grande zero constitucionalrdquo
4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos
sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de
tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo
5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal
fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo
M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se
expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o
mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados
assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o
Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos
Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais
eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo
tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente
perdia sua sacral idade
Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o
monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que
rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro
histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo
rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca
como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada
O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e
demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um
esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a
republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar
37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47
24
Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se
tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro
no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica
ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as
maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano
nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano
()
SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as
camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a
menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de
deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram
natildeo passaram de falsos eleitos ()
Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que
SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala
do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto
Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala
do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada
tinha drsquoesta vezrdquo40
A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria
da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse
sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se
empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da
populaccedilatildeo de todo o paiacutes
Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam
por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que
ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a
maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i
passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um
futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo
40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt
25
A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando
sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas
que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes
quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890
ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir
por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de
A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-
imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas
despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash
mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do
governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um
adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes
teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e
houradezrdquo Barbadinho41
A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra
Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela
que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees
para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma
grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em
seu grupo soacute que em um governo Republicano
A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento
de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental
A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade
A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o
tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato
se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre
M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser
efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras
41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17
26
preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a
l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762
ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da
L iberdade (1823) 43
ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em
l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria
seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que
tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja
debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de
ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44
A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio
a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de
fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes
possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a
ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este
objetivo
Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas
um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros
poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era
o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem
formada
A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem
censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a
palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico
Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem
possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da
populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45
43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24
27
O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas
decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l
transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e
igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46
Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por
essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo
governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da
sociedade47
ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso
pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi
um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do
aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas
para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48
O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se
criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco
desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro
A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a
nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como
demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma
de Lima Barreto
33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA
A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da
repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais
ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa
oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79
28
tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto
pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49
O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou
uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a
homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os
fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas
consequecircncias nos anos de 1870 e 1880
Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a
toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma
de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de
respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas
A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta
disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na
academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas
academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica
Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro
com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra
perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato
l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda
mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia
Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra
do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com
engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe
totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de
intelectual
Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute
possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo
sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l
precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar
quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio
49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
29
Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da
Repuacuteblica e eles se viam
ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da
civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime
poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada
que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma
profissatildeo desprestigiadardquo50
O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando
ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de
junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos
fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen
que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje
mais amanhatilde
O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e
hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os
lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro
da America
()
Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque
isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais
admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional
Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51
Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos
homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute
50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt
30
mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos
mil i tares A Repuacuteblica Francesa
Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar
muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque
partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de
Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias
ldquoPROCLAMACcedilAtildeO
O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo
ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em
perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos
residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da
dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema
monarchico ndash representativo
Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter
essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo
provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a
l iberdade e os direitos dos cidadatildeos
()
Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da
soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e
da ordemrdquo 53
Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que
era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos
que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade
para o que quiser
52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
31
Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca
Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt
Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt
A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para
com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o
povo brasileiro poderia ter pela frente
A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram
sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou
charges sobre quem estava no comando
Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as
seguintes informaccedilotildees
ldquoMinisterio do Governo Provisorio
Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca
M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo
M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o
Sr Quintino Bocayuva
M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy
Barbosa
M inistro da guerra Dr Benjamin Constant
M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva
M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa
32
M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54
Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva
de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista
I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA
republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo
ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo
Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e
entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em
no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo
A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e
revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram
expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele
momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo
mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso
A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo
com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e
assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do
Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares
Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a
nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre
que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que
estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890
M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o
animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada
mostra
54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
33
Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo
Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
Seguindo do texto aqui resumido
ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional
dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo
de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico
M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje
outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria
recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma
concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im
garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes
com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e
de prosperidade
()
O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o
como a uma gloria nacional
Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes
do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os
nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo
()
34
Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de
leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de
primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que
l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica
na sua unidade republicana
A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela
gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas
paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um
estridente viva ao futuro da patria
Viva a Republicardquo 55
Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891
voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por
algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas
boas
Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25
anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com
mais de 21 anos e letrados
No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a
representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo
55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt
35
Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l
Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
A imagem que traz os seguintes dizeres
ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma
consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos
terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do
dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre
HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56
A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera
ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees
presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante
Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional
Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises
56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt
36
econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de
dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de
estado no mesmo ano
Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o
lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de
Notiacutecias
A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro
ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao
paiz a mais plena conf ianccedila
Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes
circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que
poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos
seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e
de respeito aacute lei o seu governo
Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da
Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57
A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do
general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo
rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees
geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma
reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano
A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as
eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola
que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente
de M oraes
57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt
37
A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em
suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova
narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento
A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca
como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento
de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com
a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem
de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado
61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina
38
IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO
41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM
O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se
espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de
cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l
uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura
conforto e progresso
A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente
comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de
ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de
Janeiro
Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas
comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam
placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar
f reneacutetico
O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava
letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por
exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais
discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico
A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo
neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente
diferente do que antes
A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava
em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de
crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo
formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os
mesmos
O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus
mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem
62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
39
vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para
de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a
mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo
Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem
brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia
O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era
e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e
poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado
ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e
natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de
pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63
O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias
agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos
deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais
velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais
energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia
Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu
referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova
vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura
raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64
ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma
Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma
Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65
O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo
se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99
40
enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida
eis os modernos ideaisrdquo66
ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite
lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa
numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela
seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a
perderrdquo67
O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido
se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por
todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real
ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o
tempo para a sua assimilaccedilatildeo
ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio
ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate
depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l
ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para
acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as
breves funccedilotildees da vida breverdquo 68
A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha
mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do
que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu
integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69
Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para
viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de
66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268
41
fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua
essecircncia
Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus
conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma
faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel
e irredutiacutevel70
42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA
A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de
Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era
moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era
A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como
um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo
quanto para a divulgaccedilatildeo
A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido
criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na
Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser
divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas
dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa
Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras
brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo
letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para
diferentes puacutebl icos
A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se
recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que
um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial
ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees
que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa
moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca
70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013
42
capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e
demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72
A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca
em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos
uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo
mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a
se reapresentar 73
A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao
jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de
apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia
O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona
reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o
cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e
imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo
A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de
vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o
aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando
assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74
ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas
principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens
quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para
determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas
mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se
indispensaacuteveisrdquo75
72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006
43
A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e
principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou
qualquer outro produto advindo da modernidade
A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o
homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo
visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma
simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer
lugar
Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar
de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo
do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura
Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma
de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de
se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais
ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da
i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo
de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76
Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac
questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando
a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o
escritor
A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e
revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia
tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia
proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para
literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos
trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77
76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94
44
M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa
modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as
efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios
semanais quinzenais ou mensais
Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt
Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt
O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e
obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da
legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e
com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo
A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo
contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um
sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78
78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57
45
A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas
como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor
logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar
as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor
Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt
A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute
possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e
vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de
forma mundana
O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a
atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas
de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas
46
primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma
modernidade em seu cotidiano
A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada
vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma
criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo
outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame
podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema
especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para
chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo
Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A
f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que
chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de
1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os
dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro
Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo
47
Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889
Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt
Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de
Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as
implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de
folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca
ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo
entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino
caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento
abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem
de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a
intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os
diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas
femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias
48
mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e
interessesrdquo79
M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como
Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa
necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas
mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como
esportivas e femininas
Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo
Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt
79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130
49
Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo
Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt
Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo
Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
50
Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu
nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era
necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo
dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de
existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo
Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de
ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas
poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por
isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que
perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081
Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver
tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens
relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que
ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo
Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista
entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas
capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em
primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre
escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas
A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo
tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica
scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os
l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto
Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que
vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas
escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples
mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt
51
simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma
vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com
o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica
Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A
modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84
Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a
Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos
seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos
volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com
personagens com feiccedilotildees engraccediladas
M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo
que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo
ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo
frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com
baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86
embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo
Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre
o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam
transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior
vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias
de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma
vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro
de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88
O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser
def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado
84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
52
A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir
diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados
como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu
desejo de imagem
43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO
Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram
adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do
nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum
folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer
um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance
l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia
Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de
pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar
sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da
populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem
Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos
de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89
levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova
aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo
Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o
Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais
propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l
inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro
A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi
essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais
pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores
A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da
populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e
ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais
que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38
53
divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora
isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva
44 O PUacuteBLICO RECEPTOR
A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a
mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida
com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova
ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo
cultural da sociedade cariocardquo 90
O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos
jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o
espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se
estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para
que qualquer coisa ocorresse
A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se
importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim
para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si
provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo
Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a
atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas
divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam
tambeacutem
ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de
associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes
mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada
M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas
i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos
para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores
ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo
90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19
54
clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo
(M ELLO 2007)91
O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o
crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais
populares a aceitassem de fato
A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute
citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam
introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo
outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i
estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92
45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA
Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a
oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a
modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida
sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria
A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o
exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas
M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova
velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e
Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do
Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o
teatro em abundacircnciardquo93
O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive
A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais
propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a
91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75
55
tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de
ambiente
ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando
depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas
jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a
produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a
pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se
produzia
A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se
tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a
pagarem jantares ou ida a bares
A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver
por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a
luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos
para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma
parcela ser respeitada e mais do que ouvida
Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para
a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo
republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais
do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo
progresso e democracia95
46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO
O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com
ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis
cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas
pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l
94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
56
ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi
sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser
- Para ser
- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem
relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um
trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado
do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96
A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate
poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a
comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a
automatizaccedilatildeo
A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de
escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo
uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que
o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda
natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o
escri to causa uma perca e uma falta de sentido
M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve
como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos
intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta
questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no
Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97
Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que
ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se
era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor
exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido
O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se
tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou
apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil
Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97
57
manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute
chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se
transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar
Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor
se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no
universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os
platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98
Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de
jornais e revistas
L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito
tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos
perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi
lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e
sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres
ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico
saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes
desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel
infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe
desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em
vermelhordquo 99
Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o
produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas
chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos
M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir
recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo
homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre
pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo
para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para
98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual
58
mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde
nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem
atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores
M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na
primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de
criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l
ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a
condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia
arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a
intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos
aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e
as tempestades do futurordquo 100
A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para
escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos
principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l
aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a
industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo
Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a
paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se
escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina
podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra
perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria
direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano
100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
59
V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram
para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados
uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem
i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia
A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer
mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo
rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas
Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no
Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio
do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como
O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o
intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca
que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia
chegar a todos
Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no
mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas
quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico
movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia
A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a
tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem
i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor
de si mesmo
A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem
a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um
desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela
eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute
Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo
brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a
fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era
aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de
que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura
60
A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava
para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma
representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares
O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que
envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com
o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a
segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do
meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever
e falar
A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de
suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a
mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a
aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico
O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo
difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas
af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o
novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas
de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes
Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas
obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que
eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma
efetiva
O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram
discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu
redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles
deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o
que a populaccedilatildeo brasi leira representava
Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com
que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como
uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria
dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social
O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era
produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o
61
homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era
nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade
em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo
62
VI FONTES
Gazeta de Notiacutecias (1890 ndash 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03amp PagFis=0gt
Jornal do Brazil (1890 ndash 1920) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_01amp pasta=ano20189=gt
Revista Kosmos (1900 - 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amp pasta=ano20190amp =gt
Revista Careta (1900 ndash 1929) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=083712amp pasta=ano20190amp pesq=gt
Revista I l lustrada (1890 ndash 1899) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pasta=ano20189amp pesq=gt
63
VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICA
M ARTINS Ana Luiza LUCA Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed
Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordf Ed 2003
SUumlSSEK IND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1 Reimpressatildeo 2006
M ELLO M aria Tereza Chaves de A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 1ordf Ed 2007
CARVALHO Joseacute M urilo de A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 7ordf Ed 1998
BEJAM IN Walter A Obra de Arte na Eacutepoca de sua Reprodutibilidade Teacutecnica In
L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
HORK HEIM ER M ax ADORNO Theodor W A Induacutestria Cultural o Iluminismo como Mistificaccedilatildeo de Massas In L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e
Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
CURRAN M ark J Histoacuteria do Brasil em Cordel Ed EDUSP Editora da Universidade de
Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1ordf Ed 2009
RIBEIRO Ana Paula Goulart FERREIRA Lucia M aria A lves Miacutedia e Memoacuteria A Produccedilatildeo de Sentidos nos Meios de Comunicaccedilatildeo Ed M AUAD Rio de Janeiro 1ordf Ed
2007
COSTA Cleacuteria Botelho da M ACHADO M aria Clara Tomaz Histoacuteria e Literatura
Identidade e Fronteiras Ed EDUFU Uberlacircndia 1ordf Ed 2006 GOM ES Angela de Castro A Poliacutetica Brasileira em Busca da Modernidade na Fronteira
entre o puacuteblico e o privado In Org SCHWARCZ Lil ia M oritz Histoacuteria da V ida privada
no Brasil vol 4 Ed Companhia das Letras 1ordf Ed 1998
CHALHOUB Sidney PEREIRA Leonardo A ffonso de M A Histoacuteria Contada Capiacutetulos de Histoacuteria Social da Literatura no Brasil Ed Nova Fronteira 1ordf Ed 1998
CAM ARGO Ana M aria de A lmeida A IMPRENSA COMO FONTE PARA HISTOacuteRIA DO BRASIL In PAULA Euriacutepedes Simotildees de Portos Rotas e Comeacutercio Satildeo Paulo 1971
LIM A Ivana Stolze Com a palavra a cidade mesticcedila Imprensa poliacutetica e identidade no Rio de Janeiro 1831 ndash 1833 Fundaccedilatildeo Casa de Rui Barbosa Rio de Janeiro 1998
64
LUCA Tania Regina de Histoacuteria dos nos e por meio dos perioacutedicos In Org PINSK Y
Carla Bassanezi Fontes Histoacuterias Satildeo Paulo Ed Contexto 2005
SCHERER M arta Eymael Garcia Bilac ndash Sem Poesia Crocircnicas de um jornalista da Belle Eacutepoque Universidade Federal de Santa Catarina 2008
M ENDES Iba Olavo Bilac Crocircnicas e Novelas Poeteiro Editor Digital Satildeo Paulo 2014 NUNES Radameacutes V ieira Literatura e Imprensa Barreto e Bilac entre a Arte e
Ofiacutecio Emblemas Goiaacutes v 8 n 2 p201-226 jul 2011 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
M ONTILHA Thiago Roza Ialdo Olavo Bilac e a Questatildeo da Instruccedilatildeo no Brasil (1897 ndash 1908) Intellegravectus Rio de Janeiro ano X IV n 1 p 57 ndash 76 2015
NUNES Radameacutes V ieira Crocircnicas e Cronistas no Ritmo das M aacutequinas Emblemas Goiaacutes
v 9 n 1 p129-145 jan 2012 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
SILVA Renata Refino da Monteiro Lobato e a Revista do Brasil (1916 ndash 1925)
Representaccedilotildees de Ciecircncia Literatura Arte e Histoacuteria Anais do XXVI Simpoacutesio
Nacional de Histoacuteria - ANPUH Satildeo Paulo julho 2011
SILVA M auriacutecio Literatura e Publicidade no Preacute-Modernismo Brasileiro Uma Introduccedilatildeo Criacutetica Cultural Santa Catarina v 1 n1 jan Semestral 2006
SILVA Danyelle M arques Freire da A Constituiccedilatildeo do Espaccedilo em Vida Ociosa de
Godofredo Rangel UninCor ndash Universidade Vale do Rio Verde Trecircs Coraccedilotildees 2013
SILVA M auriacutecio Profissionalizaccedilatildeo do Escritor e Publicidade Editorial Dois Capiacutetulos
da Leitura Preacute-Modernista no Brasil M agma Satildeo Paulo n 6 p 66 ndash 77 1999
BECK ER Elizamari Rodrigues Forccedilas Motrizes de uma Contiacutestica Preacute-Modernista O
Papel da Traduccedilatildeo na Obra Ficcional de Monteiro Lobato Universidade Federal do Rio
Grande do Sul Porto A legre 2006
ARAUJO Jean M arcel Oliveira O Preacute-Modernismo A luta entre passadistas modernos e modernistas no campo artiacutestico brasileiro Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo ndash RJ n 1 p
117 ndash 134 jul semestral 2012
GUIM ARAtildeES Fernando Simbolismo Modernismo e Vanguardas Imprensa Nacional ndash
Casa da M oeda 3ordf Ed Rio de Janeiro 2004
VELLOSO M ocircnica A Modernidade Carioca na Sua Vertente Humoriacutestica Estudos
Histoacutericos Rio de Janeiro v 8 n 16 p 269-278 1995
65
M ORAES Eduardo Jardim Modernismo Revisitado Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v
1 n 2 p 220 ndash 238 1988
STRELOW A line Jornalismo literaacuterio e cultural Perspectiva Histoacuterica Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Disponiacutevel em lt wwwboccubiptgt
RAM OS Gabriela A Crocircnica como Interseccedilatildeo entre jornalismo e literatura Intercom ndash
Sociedade Brasileira de Estudos Interdiscipl inares das Comunicaccedilatildeo XV II Congresso de
Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo da Regiatildeo Sudeste Ouro Preto 2012
SCHERER M arta E G Um Jornalismo Belle Eacutepoque In SCHERER M arta E G
Imprensa e Belle Eacutepoque - Olavo Bilac o jornalismo e suas histoacuterias Ed Unisul
PalhoccedilaSC 2012
RIBEIRO Ana Paula Goulart Nelson Werneck Sodreacute e a histoacuteria da imprensa no
Brasil Intercom Revista Brasileira de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo [sl] v 38 n 2 p275-
288 dez 2015 FapUNIFESP (SciELO) Disponiacutevel em lthttpdxdoiorg1015901809-
58442015214gt
SILVA M auriacutecio Cultura de Mercado Literatura e Publicidade no preacute-modernismo brasileiro Via A tlacircntica Satildeo Paulo n 20 p 75 ndash 87 dez 2011
V IANNA Rafael de Bri to Os Renegados da Histoacuteria A importacircncia dos preacute-modernos para o pensamento nacional Revista Brasileira de Histoacuteria amp Ciecircncias Sociais v 3 n 5 p
127 ndash 131 Jul 2011
BEAL Sophia A Transformaccedilatildeo das Trevas na Literatura Preacute-Modernista Pensares em
Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 76 -91 jul Semestral 2012
L INS Vera Lucia de Oliveira Os simbolistas Virando o Seacuteculo Pensares em Revista Satildeo
Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 135 - 143 Jul Semestral 2012
BATALHA M aria Cristina Lima Barreto e o vieacutes do realismo popular na literatura brasileira Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 51 - 65 Jul Semestral
2012
FIGUEIREDO Carmen Lucia Negreiros O Mal-estar de Isaiacuteas A crise do Romance em
Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 35 - 50 Jul
Semestral 2012
GENS Rosa Retratos em Cantoneiras Imagens do Rio de Janeiro Belle Eacutepoque em Joatildeo do Rio e Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 66 -
75 jul Semestral 2012
66
M ENDES Leonardo Pinto Juacutelio Ribeiro O Naturalismo e a Dessacralizaccedilatildeo da Literatura Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 4 p 26 - 42 jul Semestral
2014
RIO Joatildeo do Cinematoacutegrafo Crocircnicas Cariocas Academia Brasileira de Letras ndash Coleccedilatildeo
Afracircnio Peixoto Rio de Janeiro 2009
ZANON M aria Cecil ia A Sociedade Carioca da Belle Eacutepoque nas paacuteginas do Fon-Fon
Patrimocircnio e M emoacuteria Satildeo Paulo v 4 n 2 p ndash 217 ndash 235 jun 2009
DOIN Joseacute Evaldo de M ello NETO Humberto Perinell i PAZIANI Rodrigo Ribeiro
PACANO Faacutebio Augosto A Belle Eacutepoque caipira Problematizaccedilotildees e oportunidades interpretativas da modernidade e urbanizaccedilatildeo no Mundo do Cafeacute (1852 ndash 1930) ndash A
proposta do Cemumc Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v 27 n 53 p 91 ndash 122
Jun 2007
NOGUERIA Clara Asperti Revista Carets (1908 ndash 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo Impressa no Seacuteculo XX M iscelacircnea Assis v 8 p 60 ndash 80 jul 2010
OLIVEIRA Luacutecia Lippi A questatildeo nacional na Primeira Repuacuteblica Ed Brasil iense Satildeo
Paulo 1ordf Ed 1990 Disponiacutevel em lt httpwwwcpdocfgvbrgt
VENTURA Roberto Euclides da Cunha e a Repuacuteblica Aacuterea de Histoacuteria Cultural USP
29 de abril de 1994
M IGLIARI Well ington Preacute-Modernismo e Repuacuteblica Antinomias da Belle Eacutepoque no
Brasil Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 186 - 202 jul Semestral
2012
NEVES M argarida de Souza Os cenaacuterios da Repuacuteblica O Brasil na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX In NEVES M de S Os cenaacuterios da repuacuteblica O Brasil na virada
do seacuteculo X IX para o seacuteculo XX In DELGADO Luciacutel ia de A lmeida Neves e FERREIRA
Jorge Luiacutes (Orgs) Brasil Republicano Estado sociedade civi l e cultura poliacutetica O tempo do
l iberalismo excludente Da Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica agrave Revoluccedilatildeo de 1930 1a ed Rio de
Janeiro Civi lizaccedilatildeo Brasileira 2003
SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A Modernizaccedilatildeo do Rio de Janeiro nas crocircnicas de Olavo Bilac (1890 ndash 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador abri l de 2013
HALLER Joyce Uemoto Monteiro Lobato Literatura como expressatildeo do contexto (1890-1930) Universidade Estadual de M aringaacute M aringaacute 2012
RESUMO
Analisando a Belle Eacutepoque em seus aspectos culturais poliacuteticos tecnoloacutegicos entre 1890 ndash
1920 a presente monografia intenciona identificar a mudanccedila de editorial tipografias em
conjunto com a modernizaccedilatildeo da cidade e a sua nova influecircncia quanto as pessoas iletradas
em relaccedilatildeo com a nova narrativa poliacutetica Uma construccedilatildeo de um imaginaacuterio de Repuacuteblica
para o iletrado e as perspectivas para o homem de letra trazendo as novas percepccedilotildees sobre o
tempo suas produccedilotildees e a cidade com o modernismo
Palavra-chave Belle Eacutepoque modernizaccedilatildeo perioacutedico
LISTA DE IMAGENS
Capitulo III
Figura 1 Fotografia da Rua do Ouvidor 1890 Fonte
httpfotografiaimscombrsites1527248423762_13
Figura 2 Colagem sobre caricaturas e ilustraccedilotildees sobre o governo monaacuterquico Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=2011ampPesq
Figura 3 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528amp
Figura 4 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127amp
Figura 5 Chamada principal da Revista Illustrada marccedilo de 1891 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4472amp
Figura 6 Ilustraccedilatildeo da realizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1891 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4472amp
Capitulo IV
Figura 7 Capa do Jornal do Brasil de 1 de janeiro de 1892 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01ampPagFis=13
Figura 8 Capa do Jornal do Brasil de 6 de janeiro de 1908 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amppasta=ano20190amp
Figura 9 Capa do Jornal do Brasil 1 de janeiro de 1920 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amppasta=ano20192amp
Figura 10 Capa do Jornal do Brasil 24 de novembro de 1921 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amppasta=ano20192amp
Figura 11 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1889 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amp
Figura 12 Capa da Gazeta de Notiacutecias 1 de janeiro de 1908 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amppasta=ano20190amp
Figura 13 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1920 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amppasta=ano20192amp
Figura 14 Capa da Gazeta de Notiacutecias 8 de janeiro de 1921 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amppasta=ano20192amp
Figura 15 Capa da Revista Illustrada 1 de Janeiro de 1876 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1
Figura 16 Capa da Revista Illustrada 8 de Junho de 1889
FontehttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=
Figura 17 Capa da Revista Illustrada Rio de Janeiro Junho 1898 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=
Figura 18 Capa da Revista Kosmos Janeiro 1904 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675
Figura 19 Capa da Revista Kosmos Novembro de 1908 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675
Figura 20 Capa da Revista Kosmos Fevereiro 1909 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675
Figura 21 Capa da Revista Careta 10 de Julho de 1909 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1
Figura 22 Capa da Revista Careta 10 de Junho de 1920 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1
Figura 23 Capa da Revista Careta 1 de Julho de 1922 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1
SUMAacuteRIO
I INTRODUCcedilAtildeO1
II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS4
21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO4
22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE6
23 REALISMO6
24 NATURALISMO8
25 PARNASIANISMO9
26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO11
III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA16
31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE16
32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA21
33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA27
IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO38
41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM38
42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA41
43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO52
44 O PUacuteBLICO RECEPTOR53
45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA54
46 O DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO55
V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS59
VI FONTES62
VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICAS63
1
1 INTRODUCcedilAtildeO
O cotidiano dos homens e mulheres brasi leiros comeccedilou a se modif icar ao f inal do seacuteculo
X IX 1890 natildeo apenas no visual e no ambiente mas tambeacutem no social A s ruas estavam
comeccedilando a ser asfaltadas e deixando de ter espaccedilos para carroccedilas e ani mais comeccedilavam a
ser tomadas pelos carros automatizados lustres e grandes preacutedios aleacutem das fabricas
O modo de viver se modif icava em conjunto com o seu novo modo de trabalhar e seu
cotidiano A s faacutebricas tomavam conta e ditavam o horaacuterio e assim o homem comum tinha
uma alteraccedilatildeo completa de seu cotidiano e da sua inf luecircncia na sua produccedilatildeo no trabalho O
homem l i teraacuterio tambeacutem sofreu com as mudanccedilas que ocorriam na cidade ao contraacuterio do
pensamento comum
Jornais e revistas estavam mudando seu formato de produccedilatildeo drasticamente aleacutem de suas
periodicidades Se antes algum destes queriam um formato mais especif ico necessitava pedir
a impressatildeo no exterior e entatildeo ela iria ser distribuiacuteda no Brasi l como era o caso da revista
Kosmos Com a mudanccedila industrial era agora possiacutevel a real izaccedilatildeo no proacuteprio escri toacuterio do
perioacutedico aleacutem do mesmo sair em nuacutemeros maiores e com uma frequecircncia mais assiacutedua
fazendo assim ser possiacutevel viver da arte de ser escri tor com mais ef iciecircncia
A maneira da informaccedilatildeo chegar no f inal do X IX tambeacutem estava se modif icando Com o
teleacutegrafo as notiacutecias eram mais dinacircmicas e informantes eram espalhados ao redor do mundo
O Brasi l se inf luenciava de maneira mais constante em suas escri tas com novas maquinas de
escrever e de transcriccedilatildeo com as datas de publicaccedilotildees muito mais proacuteximas com essas
modif icaccedilotildees grandes em seu cotidiano de escri ta principalmente porque com a mudanccedila
agora seria possiacutevel viver apenas de l i teratura graccedilas a demanda
A s transformaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo alteraram apenas a imagem dos jornais e das revistas
mas tambeacutem como dito anteriormente sua participaccedilatildeo nestes A s imagens agora natildeo soacute
eram mero enfeite e raras agora fazendo grande parte dos textos a caricatura fotograf ia e ateacute
mesmo charge ajudavam a formar o pensamento e a estrutura do texto que sempre
acompanhavam e como o nuacutemero de leitores natildeo crescia conforme o nuacutemero de lanccedilamentos
a imagem se era muitas vezes mais efetiva proporcionando assim ldquoo ensaio da comunicaccedilatildeo
de massardquo 1
1 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p83
2
A alfabetizaccedilatildeo foi um grande foco de investimento para a Nova Repuacuteblica e o
acompanhamento de imagens nestes perioacutedicos era essencial ldquoA evoluccedilatildeo teacutecnica do
impresso o investimento na alfabetizaccedilatildeo os incentivos agrave aquisiccedilatildeo eou fabricaccedilatildeo de papel
rdquo 2 a quantidade de jornais e revistas que eram vendidos tambeacutem era uma forma da Repuacuteblica
que havia acabado de se formar ter uma noccedilatildeo de quantas pessoas eram letradas ou que
estavam a caminho de se tornarem de fato assim
O debate entre os homens de letras da eacutepoca del imitada entre 1890 e 1923 era assiacuteduo
mas natildeo quanto a questotildees poliacuteticas da eacutepoca e sim as mudanccedilas do cotidiano que os estavam
afetando A poliacutetica soacute aparecia quando o assunto eram as mudanccedilas que ocorriam no
ambiente poliacutetico e social Bi lac faz uma anaacutelise que corrobora completamente com as
fotografias que o jornal passava ldquoQue natildeo seraacute quando da velha cidade colonial
estupidamente conservada ateacute agora como um pesadelo do passado apenas restar a
lembranccedila rdquo3
Com o questionamento sobre como se inf luecircncia uma grande maioria i letrada a natildeo
apenas acreditar na Repuacuteblica como tambeacutem mudar toda a perspectiva que se tem quanto ao
entatildeo monarca busco entender qual eacute a participaccedilatildeo deste homem de letras como o moderno
o ajudou natildeo apenas a aumentar sua importacircncia no imaginaacuterio popular como o trouxe como
celebridade
A ssim busco discutir no primeiro capitulo a Belle Eacutepoque e todas as transformaccedilotildees
l i teraacuterias que a mesma trouxe modif icou e ateacute mesmo criou no Brasi l discutindo entre estes
movimentos l i teraacuterios com algumas representaccedilotildees de autores para exemplif icar o movimento
e a sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de um ideal poliacutetico Brasi leiro
No segundo capiacutetulo todo o movimento poliacutetico que a Belle Eacutepoque trouxe em seu
discurso por estes autores e sua necessidade de Repuacuteblica com a democracia da palavra em
conjunto com a vinda da Repuacuteblica por parte dos mil i tares
No uacuteltimo capiacutetulo apresento as mudanccedilas que essa perspectiva modernista trouxe para o
paiacutes e como ela alterou natildeo apenas a imagem do Rio de Janeiro como tambeacutem o cotidiano e a
perspectiva do homem comum e o de letras sobre o moderno4 e sobre as atividades cotidianas
2 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 84 3 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 93 4 Relativo ou pertencente agrave eacutepoca histoacuterica em que se vive
3
e suas responsabi l idades assim como tambeacutem os modernismos 5 que trouxe em jornais em
revistas
5 Tendecircncias e gostos ao que se eacute moderno
4
II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS
21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO
No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de
que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes
transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o
progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma
modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar
necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes
A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser
construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro
A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que
poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo
X IX e comeccedilo do seacuteculo X X
ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia
um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do
A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada
emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar
daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro
das picaretas abafava esse protesto impotente
Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como
as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las
diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da
hygiene do bom gosto e da arterdquo 6
O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa
que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que
favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de
comunicaccedilatildeo e de transporte
6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt
5
Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento
tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a
educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo
principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma
forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo
remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter
tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e
seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo
Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870
ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande
transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a
crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como
jornal istas
Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e
faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute
mesmo os criassem
A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto
para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para
mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo
A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo
tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute
por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo
ideoloacutegica
A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e
quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu
lado
A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l
V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser
efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer
ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e
assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute
acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo
7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro
6
22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE
Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua
l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como
Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a
escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes
Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita
eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que
a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por
vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro
momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance
urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A
valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver
Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas
ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele
surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre
a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como
uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia
da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens
23 REALISMO
O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares
Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a
real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De
uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico
O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito
representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem
tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa
7
Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo
tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute
um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l
demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na
seacuterie ldquoBons diasrdquo9
M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca
natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer
o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus
acontecimentos
Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os
narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de
uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um
pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do
que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10
ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e
que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais
amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()
O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos
princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava
tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos
termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada
enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11
Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio
leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua
8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013
8
zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo
ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam
Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua
l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias
Poacutestumas de Braacutes Cubas
A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca
brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento
ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo
exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o
homem vive e o que ele eacute
A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba
cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle
conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um
alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12
24 NATURALISMO
O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque
principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o
homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua
ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13
Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens
comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior
sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do
cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l
percepccedilatildeo no interior
O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento
eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas
e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o
moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava
tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior
12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista
9
O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas
ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo
sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas
Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua
l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor
25 PARNASIANISMO
O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e
conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente
Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e
o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos
ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do
tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir
tinha se tornado algo f reneacutetico
O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a
necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre
palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas
Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio
interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o
parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de
M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para
o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o
mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes
Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social
para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu
e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem
Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando
da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas
ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu
candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -
pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler
10
e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de
ser algueacutemrdquo 14
Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era
necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os
acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria
se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando
A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais
baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por
meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um
estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo
A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem
investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens
ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num
paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O
melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a
memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria
Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e
escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar
esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode
merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os
caracteres do alfabetordquo 15
Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para
construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores
entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de
trabalho
Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a
instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees
14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015
11
26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO
Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um
movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos
os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides
da Cunha e M onteiro Lobato
Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da
l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua
maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum
Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares
de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos
Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como
uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e
poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar
ateacute eles
A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que
de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e
caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a
imagem do que era discutido e narrado
M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra
haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de
algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que
estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo
ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo
brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel
o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que
nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de
busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro
prometiardquo 16
16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144
12
Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica
estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a
sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente
A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no
jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos
por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado
Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies
e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de
renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto
Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado
como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando
momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees
Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma
vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por
dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua
identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista
e materialistardquo 17
Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se
relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem
questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o
movimento Republicano
ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a
evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas
qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e
a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos
Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18
L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela
modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo
17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
13
entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute
mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele
ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do
passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de
modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais
suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de
ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20
E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como
dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela
si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor
ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio
Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute
este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21
ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande
de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um
outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros
e um pouco devido a mim
[ ]
A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os
acontecimentosrdquo 22
Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a
formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa
marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um
governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes
natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23
19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
14
Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios
que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve
ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves
V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de
chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam
criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas
simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos
trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24
M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o
trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na
terra em sua obra como Jeca Tatu
Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato
tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a
real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista
M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a
terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta
de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral
Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava
neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando
assim o estrago e atraso a naccedilatildeo
Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um
ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida
votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava
que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio
personagem Jeca Tatu
Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto
uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo
M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo
trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo
24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010
15
O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria
cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles
ocorriam ou quais suas separaccedilotildees
ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar
riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com
produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que
criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e
atrairrdquo 26
A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento
cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o
seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas
sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o
homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas
26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194
16
III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA
31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE
O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que
modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria
social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento
possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da
modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura
da cidade
O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial
(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas
junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em
conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de
Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que
consomem matildeos de obra
Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava
tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade
que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem
do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava
acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de
ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27
Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa
nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de
Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver
ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do
trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram
quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro
27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41
17
principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo
radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28
Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que
nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se
estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as
estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da
Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a
condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional
Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo
assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das
autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte
A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas
nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees
do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de
fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos
prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do
paiacutes
ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam
capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade
funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio
moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados
operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31
28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58
18
Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890
Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt
httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt
A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua
visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a
todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No
primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as
donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10
horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo
burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua
19
A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por
todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro
de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro
O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em
todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia
A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre
a Rua do Ouvidor
ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o
melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse
monopoacutel io
A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se
reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde
aparecem as novidades
()
Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a
cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um
conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos
perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha
quer queiram quer natildeo
()
A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo
transtornadosrdquo 33 34
A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose
Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme
atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana
E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo
trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra
do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos
principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
20
A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem
trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a
popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se
tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista
queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros
Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma
leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio
de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de
conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a
proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos
eles pois a rua era isso A presentadora da vida
ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua
do Ouvidorrdquo35
Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis
l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa
forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre
se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se
migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural
A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada
com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos
pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente
todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro
Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por
mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em
conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime
Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua
35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
21
impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves
exigecircncias do progresso36
32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA
A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao
paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo
comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que
circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim
Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com
as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta
de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes
que estava se formando e muito menos para o seu povo
Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas
notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia
presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando
36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76
22
Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees
Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt
Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se
esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a
imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute
l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores
A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a
rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta
de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo
A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto
ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas
escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo
analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo
necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem
tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura
A s legendas em ordem satildeo
23
2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im
senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo
3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por
um grande zero constitucionalrdquo
4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos
sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de
tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo
5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal
fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo
M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se
expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o
mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados
assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o
Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos
Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais
eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo
tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente
perdia sua sacral idade
Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o
monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que
rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro
histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo
rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca
como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada
O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e
demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um
esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a
republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar
37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47
24
Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se
tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro
no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica
ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as
maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano
nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano
()
SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as
camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a
menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de
deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram
natildeo passaram de falsos eleitos ()
Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que
SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala
do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto
Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala
do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada
tinha drsquoesta vezrdquo40
A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria
da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse
sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se
empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da
populaccedilatildeo de todo o paiacutes
Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam
por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que
ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a
maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i
passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um
futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo
40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt
25
A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando
sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas
que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes
quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890
ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir
por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de
A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-
imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas
despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash
mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do
governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um
adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes
teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e
houradezrdquo Barbadinho41
A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra
Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela
que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees
para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma
grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em
seu grupo soacute que em um governo Republicano
A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento
de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental
A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade
A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o
tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato
se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre
M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser
efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras
41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17
26
preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a
l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762
ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da
L iberdade (1823) 43
ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em
l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria
seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que
tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja
debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de
ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44
A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio
a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de
fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes
possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a
ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este
objetivo
Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas
um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros
poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era
o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem
formada
A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem
censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a
palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico
Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem
possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da
populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45
43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24
27
O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas
decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l
transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e
igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46
Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por
essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo
governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da
sociedade47
ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso
pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi
um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do
aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas
para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48
O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se
criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco
desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro
A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a
nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como
demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma
de Lima Barreto
33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA
A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da
repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais
ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa
oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79
28
tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto
pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49
O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou
uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a
homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os
fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas
consequecircncias nos anos de 1870 e 1880
Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a
toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma
de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de
respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas
A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta
disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na
academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas
academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica
Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro
com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra
perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato
l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda
mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia
Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra
do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com
engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe
totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de
intelectual
Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute
possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo
sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l
precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar
quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio
49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
29
Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da
Repuacuteblica e eles se viam
ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da
civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime
poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada
que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma
profissatildeo desprestigiadardquo50
O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando
ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de
junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos
fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen
que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje
mais amanhatilde
O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e
hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os
lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro
da America
()
Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque
isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais
admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional
Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51
Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos
homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute
50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt
30
mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos
mil i tares A Repuacuteblica Francesa
Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar
muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque
partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de
Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias
ldquoPROCLAMACcedilAtildeO
O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo
ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em
perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos
residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da
dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema
monarchico ndash representativo
Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter
essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo
provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a
l iberdade e os direitos dos cidadatildeos
()
Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da
soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e
da ordemrdquo 53
Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que
era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos
que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade
para o que quiser
52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
31
Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca
Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt
Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt
A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para
com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o
povo brasileiro poderia ter pela frente
A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram
sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou
charges sobre quem estava no comando
Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as
seguintes informaccedilotildees
ldquoMinisterio do Governo Provisorio
Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca
M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo
M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o
Sr Quintino Bocayuva
M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy
Barbosa
M inistro da guerra Dr Benjamin Constant
M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva
M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa
32
M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54
Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva
de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista
I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA
republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo
ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo
Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e
entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em
no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo
A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e
revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram
expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele
momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo
mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso
A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo
com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e
assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do
Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares
Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a
nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre
que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que
estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890
M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o
animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada
mostra
54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
33
Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo
Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
Seguindo do texto aqui resumido
ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional
dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo
de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico
M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje
outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria
recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma
concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im
garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes
com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e
de prosperidade
()
O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o
como a uma gloria nacional
Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes
do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os
nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo
()
34
Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de
leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de
primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que
l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica
na sua unidade republicana
A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela
gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas
paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um
estridente viva ao futuro da patria
Viva a Republicardquo 55
Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891
voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por
algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas
boas
Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25
anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com
mais de 21 anos e letrados
No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a
representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo
55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt
35
Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l
Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
A imagem que traz os seguintes dizeres
ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma
consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos
terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do
dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre
HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56
A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera
ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees
presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante
Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional
Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises
56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt
36
econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de
dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de
estado no mesmo ano
Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o
lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de
Notiacutecias
A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro
ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao
paiz a mais plena conf ianccedila
Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes
circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que
poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos
seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e
de respeito aacute lei o seu governo
Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da
Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57
A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do
general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo
rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees
geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma
reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano
A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as
eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola
que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente
de M oraes
57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt
37
A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em
suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova
narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento
A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca
como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento
de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com
a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem
de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado
61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina
38
IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO
41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM
O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se
espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de
cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l
uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura
conforto e progresso
A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente
comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de
ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de
Janeiro
Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas
comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam
placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar
f reneacutetico
O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava
letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por
exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais
discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico
A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo
neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente
diferente do que antes
A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava
em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de
crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo
formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os
mesmos
O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus
mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem
62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
39
vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para
de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a
mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo
Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem
brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia
O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era
e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e
poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado
ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e
natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de
pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63
O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias
agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos
deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais
velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais
energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia
Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu
referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova
vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura
raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64
ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma
Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma
Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65
O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo
se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99
40
enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida
eis os modernos ideaisrdquo66
ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite
lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa
numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela
seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a
perderrdquo67
O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido
se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por
todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real
ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o
tempo para a sua assimilaccedilatildeo
ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio
ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate
depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l
ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para
acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as
breves funccedilotildees da vida breverdquo 68
A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha
mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do
que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu
integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69
Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para
viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de
66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268
41
fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua
essecircncia
Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus
conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma
faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel
e irredutiacutevel70
42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA
A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de
Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era
moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era
A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como
um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo
quanto para a divulgaccedilatildeo
A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido
criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na
Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser
divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas
dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa
Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras
brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo
letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para
diferentes puacutebl icos
A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se
recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que
um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial
ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees
que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa
moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca
70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013
42
capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e
demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72
A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca
em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos
uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo
mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a
se reapresentar 73
A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao
jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de
apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia
O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona
reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o
cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e
imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo
A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de
vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o
aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando
assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74
ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas
principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens
quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para
determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas
mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se
indispensaacuteveisrdquo75
72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006
43
A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e
principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou
qualquer outro produto advindo da modernidade
A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o
homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo
visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma
simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer
lugar
Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar
de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo
do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura
Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma
de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de
se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais
ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da
i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo
de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76
Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac
questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando
a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o
escritor
A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e
revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia
tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia
proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para
literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos
trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77
76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94
44
M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa
modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as
efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios
semanais quinzenais ou mensais
Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt
Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt
O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e
obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da
legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e
com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo
A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo
contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um
sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78
78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57
45
A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas
como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor
logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar
as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor
Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt
A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute
possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e
vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de
forma mundana
O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a
atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas
de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas
46
primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma
modernidade em seu cotidiano
A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada
vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma
criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo
outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame
podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema
especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para
chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo
Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A
f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que
chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de
1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os
dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro
Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo
47
Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889
Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt
Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de
Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as
implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de
folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca
ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo
entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino
caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento
abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem
de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a
intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os
diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas
femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias
48
mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e
interessesrdquo79
M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como
Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa
necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas
mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como
esportivas e femininas
Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo
Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt
79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130
49
Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo
Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt
Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo
Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
50
Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu
nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era
necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo
dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de
existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo
Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de
ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas
poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por
isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que
perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081
Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver
tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens
relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que
ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo
Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista
entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas
capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em
primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre
escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas
A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo
tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica
scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os
l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto
Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que
vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas
escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples
mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt
51
simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma
vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com
o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica
Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A
modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84
Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a
Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos
seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos
volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com
personagens com feiccedilotildees engraccediladas
M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo
que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo
ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo
frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com
baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86
embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo
Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre
o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam
transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior
vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias
de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma
vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro
de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88
O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser
def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado
84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
52
A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir
diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados
como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu
desejo de imagem
43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO
Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram
adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do
nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum
folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer
um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance
l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia
Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de
pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar
sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da
populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem
Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos
de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89
levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova
aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo
Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o
Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais
propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l
inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro
A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi
essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais
pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores
A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da
populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e
ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais
que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38
53
divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora
isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva
44 O PUacuteBLICO RECEPTOR
A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a
mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida
com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova
ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo
cultural da sociedade cariocardquo 90
O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos
jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o
espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se
estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para
que qualquer coisa ocorresse
A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se
importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim
para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si
provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo
Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a
atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas
divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam
tambeacutem
ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de
associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes
mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada
M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas
i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos
para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores
ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo
90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19
54
clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo
(M ELLO 2007)91
O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o
crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais
populares a aceitassem de fato
A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute
citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam
introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo
outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i
estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92
45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA
Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a
oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a
modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida
sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria
A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o
exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas
M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova
velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e
Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do
Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o
teatro em abundacircnciardquo93
O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive
A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais
propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a
91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75
55
tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de
ambiente
ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando
depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas
jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a
produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a
pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se
produzia
A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se
tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a
pagarem jantares ou ida a bares
A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver
por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a
luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos
para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma
parcela ser respeitada e mais do que ouvida
Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para
a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo
republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais
do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo
progresso e democracia95
46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO
O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com
ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis
cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas
pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l
94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
56
ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi
sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser
- Para ser
- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem
relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um
trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado
do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96
A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate
poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a
comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a
automatizaccedilatildeo
A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de
escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo
uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que
o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda
natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o
escri to causa uma perca e uma falta de sentido
M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve
como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos
intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta
questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no
Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97
Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que
ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se
era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor
exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido
O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se
tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou
apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil
Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97
57
manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute
chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se
transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar
Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor
se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no
universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os
platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98
Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de
jornais e revistas
L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito
tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos
perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi
lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e
sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres
ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico
saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes
desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel
infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe
desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em
vermelhordquo 99
Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o
produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas
chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos
M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir
recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo
homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre
pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo
para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para
98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual
58
mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde
nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem
atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores
M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na
primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de
criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l
ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a
condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia
arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a
intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos
aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e
as tempestades do futurordquo 100
A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para
escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos
principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l
aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a
industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo
Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a
paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se
escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina
podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra
perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria
direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano
100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
59
V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram
para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados
uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem
i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia
A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer
mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo
rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas
Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no
Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio
do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como
O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o
intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca
que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia
chegar a todos
Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no
mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas
quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico
movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia
A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a
tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem
i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor
de si mesmo
A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem
a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um
desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela
eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute
Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo
brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a
fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era
aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de
que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura
60
A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava
para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma
representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares
O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que
envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com
o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a
segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do
meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever
e falar
A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de
suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a
mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a
aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico
O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo
difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas
af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o
novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas
de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes
Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas
obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que
eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma
efetiva
O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram
discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu
redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles
deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o
que a populaccedilatildeo brasi leira representava
Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com
que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como
uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria
dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social
O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era
produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o
61
homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era
nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade
em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo
62
VI FONTES
Gazeta de Notiacutecias (1890 ndash 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03amp PagFis=0gt
Jornal do Brazil (1890 ndash 1920) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_01amp pasta=ano20189=gt
Revista Kosmos (1900 - 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amp pasta=ano20190amp =gt
Revista Careta (1900 ndash 1929) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=083712amp pasta=ano20190amp pesq=gt
Revista I l lustrada (1890 ndash 1899) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pasta=ano20189amp pesq=gt
63
VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICA
M ARTINS Ana Luiza LUCA Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed
Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordf Ed 2003
SUumlSSEK IND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1 Reimpressatildeo 2006
M ELLO M aria Tereza Chaves de A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 1ordf Ed 2007
CARVALHO Joseacute M urilo de A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 7ordf Ed 1998
BEJAM IN Walter A Obra de Arte na Eacutepoca de sua Reprodutibilidade Teacutecnica In
L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
HORK HEIM ER M ax ADORNO Theodor W A Induacutestria Cultural o Iluminismo como Mistificaccedilatildeo de Massas In L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e
Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
CURRAN M ark J Histoacuteria do Brasil em Cordel Ed EDUSP Editora da Universidade de
Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1ordf Ed 2009
RIBEIRO Ana Paula Goulart FERREIRA Lucia M aria A lves Miacutedia e Memoacuteria A Produccedilatildeo de Sentidos nos Meios de Comunicaccedilatildeo Ed M AUAD Rio de Janeiro 1ordf Ed
2007
COSTA Cleacuteria Botelho da M ACHADO M aria Clara Tomaz Histoacuteria e Literatura
Identidade e Fronteiras Ed EDUFU Uberlacircndia 1ordf Ed 2006 GOM ES Angela de Castro A Poliacutetica Brasileira em Busca da Modernidade na Fronteira
entre o puacuteblico e o privado In Org SCHWARCZ Lil ia M oritz Histoacuteria da V ida privada
no Brasil vol 4 Ed Companhia das Letras 1ordf Ed 1998
CHALHOUB Sidney PEREIRA Leonardo A ffonso de M A Histoacuteria Contada Capiacutetulos de Histoacuteria Social da Literatura no Brasil Ed Nova Fronteira 1ordf Ed 1998
CAM ARGO Ana M aria de A lmeida A IMPRENSA COMO FONTE PARA HISTOacuteRIA DO BRASIL In PAULA Euriacutepedes Simotildees de Portos Rotas e Comeacutercio Satildeo Paulo 1971
LIM A Ivana Stolze Com a palavra a cidade mesticcedila Imprensa poliacutetica e identidade no Rio de Janeiro 1831 ndash 1833 Fundaccedilatildeo Casa de Rui Barbosa Rio de Janeiro 1998
64
LUCA Tania Regina de Histoacuteria dos nos e por meio dos perioacutedicos In Org PINSK Y
Carla Bassanezi Fontes Histoacuterias Satildeo Paulo Ed Contexto 2005
SCHERER M arta Eymael Garcia Bilac ndash Sem Poesia Crocircnicas de um jornalista da Belle Eacutepoque Universidade Federal de Santa Catarina 2008
M ENDES Iba Olavo Bilac Crocircnicas e Novelas Poeteiro Editor Digital Satildeo Paulo 2014 NUNES Radameacutes V ieira Literatura e Imprensa Barreto e Bilac entre a Arte e
Ofiacutecio Emblemas Goiaacutes v 8 n 2 p201-226 jul 2011 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
M ONTILHA Thiago Roza Ialdo Olavo Bilac e a Questatildeo da Instruccedilatildeo no Brasil (1897 ndash 1908) Intellegravectus Rio de Janeiro ano X IV n 1 p 57 ndash 76 2015
NUNES Radameacutes V ieira Crocircnicas e Cronistas no Ritmo das M aacutequinas Emblemas Goiaacutes
v 9 n 1 p129-145 jan 2012 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
SILVA Renata Refino da Monteiro Lobato e a Revista do Brasil (1916 ndash 1925)
Representaccedilotildees de Ciecircncia Literatura Arte e Histoacuteria Anais do XXVI Simpoacutesio
Nacional de Histoacuteria - ANPUH Satildeo Paulo julho 2011
SILVA M auriacutecio Literatura e Publicidade no Preacute-Modernismo Brasileiro Uma Introduccedilatildeo Criacutetica Cultural Santa Catarina v 1 n1 jan Semestral 2006
SILVA Danyelle M arques Freire da A Constituiccedilatildeo do Espaccedilo em Vida Ociosa de
Godofredo Rangel UninCor ndash Universidade Vale do Rio Verde Trecircs Coraccedilotildees 2013
SILVA M auriacutecio Profissionalizaccedilatildeo do Escritor e Publicidade Editorial Dois Capiacutetulos
da Leitura Preacute-Modernista no Brasil M agma Satildeo Paulo n 6 p 66 ndash 77 1999
BECK ER Elizamari Rodrigues Forccedilas Motrizes de uma Contiacutestica Preacute-Modernista O
Papel da Traduccedilatildeo na Obra Ficcional de Monteiro Lobato Universidade Federal do Rio
Grande do Sul Porto A legre 2006
ARAUJO Jean M arcel Oliveira O Preacute-Modernismo A luta entre passadistas modernos e modernistas no campo artiacutestico brasileiro Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo ndash RJ n 1 p
117 ndash 134 jul semestral 2012
GUIM ARAtildeES Fernando Simbolismo Modernismo e Vanguardas Imprensa Nacional ndash
Casa da M oeda 3ordf Ed Rio de Janeiro 2004
VELLOSO M ocircnica A Modernidade Carioca na Sua Vertente Humoriacutestica Estudos
Histoacutericos Rio de Janeiro v 8 n 16 p 269-278 1995
65
M ORAES Eduardo Jardim Modernismo Revisitado Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v
1 n 2 p 220 ndash 238 1988
STRELOW A line Jornalismo literaacuterio e cultural Perspectiva Histoacuterica Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Disponiacutevel em lt wwwboccubiptgt
RAM OS Gabriela A Crocircnica como Interseccedilatildeo entre jornalismo e literatura Intercom ndash
Sociedade Brasileira de Estudos Interdiscipl inares das Comunicaccedilatildeo XV II Congresso de
Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo da Regiatildeo Sudeste Ouro Preto 2012
SCHERER M arta E G Um Jornalismo Belle Eacutepoque In SCHERER M arta E G
Imprensa e Belle Eacutepoque - Olavo Bilac o jornalismo e suas histoacuterias Ed Unisul
PalhoccedilaSC 2012
RIBEIRO Ana Paula Goulart Nelson Werneck Sodreacute e a histoacuteria da imprensa no
Brasil Intercom Revista Brasileira de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo [sl] v 38 n 2 p275-
288 dez 2015 FapUNIFESP (SciELO) Disponiacutevel em lthttpdxdoiorg1015901809-
58442015214gt
SILVA M auriacutecio Cultura de Mercado Literatura e Publicidade no preacute-modernismo brasileiro Via A tlacircntica Satildeo Paulo n 20 p 75 ndash 87 dez 2011
V IANNA Rafael de Bri to Os Renegados da Histoacuteria A importacircncia dos preacute-modernos para o pensamento nacional Revista Brasileira de Histoacuteria amp Ciecircncias Sociais v 3 n 5 p
127 ndash 131 Jul 2011
BEAL Sophia A Transformaccedilatildeo das Trevas na Literatura Preacute-Modernista Pensares em
Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 76 -91 jul Semestral 2012
L INS Vera Lucia de Oliveira Os simbolistas Virando o Seacuteculo Pensares em Revista Satildeo
Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 135 - 143 Jul Semestral 2012
BATALHA M aria Cristina Lima Barreto e o vieacutes do realismo popular na literatura brasileira Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 51 - 65 Jul Semestral
2012
FIGUEIREDO Carmen Lucia Negreiros O Mal-estar de Isaiacuteas A crise do Romance em
Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 35 - 50 Jul
Semestral 2012
GENS Rosa Retratos em Cantoneiras Imagens do Rio de Janeiro Belle Eacutepoque em Joatildeo do Rio e Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 66 -
75 jul Semestral 2012
66
M ENDES Leonardo Pinto Juacutelio Ribeiro O Naturalismo e a Dessacralizaccedilatildeo da Literatura Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 4 p 26 - 42 jul Semestral
2014
RIO Joatildeo do Cinematoacutegrafo Crocircnicas Cariocas Academia Brasileira de Letras ndash Coleccedilatildeo
Afracircnio Peixoto Rio de Janeiro 2009
ZANON M aria Cecil ia A Sociedade Carioca da Belle Eacutepoque nas paacuteginas do Fon-Fon
Patrimocircnio e M emoacuteria Satildeo Paulo v 4 n 2 p ndash 217 ndash 235 jun 2009
DOIN Joseacute Evaldo de M ello NETO Humberto Perinell i PAZIANI Rodrigo Ribeiro
PACANO Faacutebio Augosto A Belle Eacutepoque caipira Problematizaccedilotildees e oportunidades interpretativas da modernidade e urbanizaccedilatildeo no Mundo do Cafeacute (1852 ndash 1930) ndash A
proposta do Cemumc Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v 27 n 53 p 91 ndash 122
Jun 2007
NOGUERIA Clara Asperti Revista Carets (1908 ndash 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo Impressa no Seacuteculo XX M iscelacircnea Assis v 8 p 60 ndash 80 jul 2010
OLIVEIRA Luacutecia Lippi A questatildeo nacional na Primeira Repuacuteblica Ed Brasil iense Satildeo
Paulo 1ordf Ed 1990 Disponiacutevel em lt httpwwwcpdocfgvbrgt
VENTURA Roberto Euclides da Cunha e a Repuacuteblica Aacuterea de Histoacuteria Cultural USP
29 de abril de 1994
M IGLIARI Well ington Preacute-Modernismo e Repuacuteblica Antinomias da Belle Eacutepoque no
Brasil Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 186 - 202 jul Semestral
2012
NEVES M argarida de Souza Os cenaacuterios da Repuacuteblica O Brasil na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX In NEVES M de S Os cenaacuterios da repuacuteblica O Brasil na virada
do seacuteculo X IX para o seacuteculo XX In DELGADO Luciacutel ia de A lmeida Neves e FERREIRA
Jorge Luiacutes (Orgs) Brasil Republicano Estado sociedade civi l e cultura poliacutetica O tempo do
l iberalismo excludente Da Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica agrave Revoluccedilatildeo de 1930 1a ed Rio de
Janeiro Civi lizaccedilatildeo Brasileira 2003
SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A Modernizaccedilatildeo do Rio de Janeiro nas crocircnicas de Olavo Bilac (1890 ndash 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador abri l de 2013
HALLER Joyce Uemoto Monteiro Lobato Literatura como expressatildeo do contexto (1890-1930) Universidade Estadual de M aringaacute M aringaacute 2012
LISTA DE IMAGENS
Capitulo III
Figura 1 Fotografia da Rua do Ouvidor 1890 Fonte
httpfotografiaimscombrsites1527248423762_13
Figura 2 Colagem sobre caricaturas e ilustraccedilotildees sobre o governo monaacuterquico Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=2011ampPesq
Figura 3 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528amp
Figura 4 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127amp
Figura 5 Chamada principal da Revista Illustrada marccedilo de 1891 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4472amp
Figura 6 Ilustraccedilatildeo da realizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1891 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4472amp
Capitulo IV
Figura 7 Capa do Jornal do Brasil de 1 de janeiro de 1892 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01ampPagFis=13
Figura 8 Capa do Jornal do Brasil de 6 de janeiro de 1908 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amppasta=ano20190amp
Figura 9 Capa do Jornal do Brasil 1 de janeiro de 1920 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amppasta=ano20192amp
Figura 10 Capa do Jornal do Brasil 24 de novembro de 1921 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amppasta=ano20192amp
Figura 11 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1889 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amp
Figura 12 Capa da Gazeta de Notiacutecias 1 de janeiro de 1908 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amppasta=ano20190amp
Figura 13 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1920 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amppasta=ano20192amp
Figura 14 Capa da Gazeta de Notiacutecias 8 de janeiro de 1921 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amppasta=ano20192amp
Figura 15 Capa da Revista Illustrada 1 de Janeiro de 1876 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1
Figura 16 Capa da Revista Illustrada 8 de Junho de 1889
FontehttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=
Figura 17 Capa da Revista Illustrada Rio de Janeiro Junho 1898 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=
Figura 18 Capa da Revista Kosmos Janeiro 1904 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675
Figura 19 Capa da Revista Kosmos Novembro de 1908 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675
Figura 20 Capa da Revista Kosmos Fevereiro 1909 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675
Figura 21 Capa da Revista Careta 10 de Julho de 1909 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1
Figura 22 Capa da Revista Careta 10 de Junho de 1920 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1
Figura 23 Capa da Revista Careta 1 de Julho de 1922 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1
SUMAacuteRIO
I INTRODUCcedilAtildeO1
II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS4
21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO4
22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE6
23 REALISMO6
24 NATURALISMO8
25 PARNASIANISMO9
26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO11
III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA16
31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE16
32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA21
33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA27
IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO38
41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM38
42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA41
43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO52
44 O PUacuteBLICO RECEPTOR53
45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA54
46 O DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO55
V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS59
VI FONTES62
VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICAS63
1
1 INTRODUCcedilAtildeO
O cotidiano dos homens e mulheres brasi leiros comeccedilou a se modif icar ao f inal do seacuteculo
X IX 1890 natildeo apenas no visual e no ambiente mas tambeacutem no social A s ruas estavam
comeccedilando a ser asfaltadas e deixando de ter espaccedilos para carroccedilas e ani mais comeccedilavam a
ser tomadas pelos carros automatizados lustres e grandes preacutedios aleacutem das fabricas
O modo de viver se modif icava em conjunto com o seu novo modo de trabalhar e seu
cotidiano A s faacutebricas tomavam conta e ditavam o horaacuterio e assim o homem comum tinha
uma alteraccedilatildeo completa de seu cotidiano e da sua inf luecircncia na sua produccedilatildeo no trabalho O
homem l i teraacuterio tambeacutem sofreu com as mudanccedilas que ocorriam na cidade ao contraacuterio do
pensamento comum
Jornais e revistas estavam mudando seu formato de produccedilatildeo drasticamente aleacutem de suas
periodicidades Se antes algum destes queriam um formato mais especif ico necessitava pedir
a impressatildeo no exterior e entatildeo ela iria ser distribuiacuteda no Brasi l como era o caso da revista
Kosmos Com a mudanccedila industrial era agora possiacutevel a real izaccedilatildeo no proacuteprio escri toacuterio do
perioacutedico aleacutem do mesmo sair em nuacutemeros maiores e com uma frequecircncia mais assiacutedua
fazendo assim ser possiacutevel viver da arte de ser escri tor com mais ef iciecircncia
A maneira da informaccedilatildeo chegar no f inal do X IX tambeacutem estava se modif icando Com o
teleacutegrafo as notiacutecias eram mais dinacircmicas e informantes eram espalhados ao redor do mundo
O Brasi l se inf luenciava de maneira mais constante em suas escri tas com novas maquinas de
escrever e de transcriccedilatildeo com as datas de publicaccedilotildees muito mais proacuteximas com essas
modif icaccedilotildees grandes em seu cotidiano de escri ta principalmente porque com a mudanccedila
agora seria possiacutevel viver apenas de l i teratura graccedilas a demanda
A s transformaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo alteraram apenas a imagem dos jornais e das revistas
mas tambeacutem como dito anteriormente sua participaccedilatildeo nestes A s imagens agora natildeo soacute
eram mero enfeite e raras agora fazendo grande parte dos textos a caricatura fotograf ia e ateacute
mesmo charge ajudavam a formar o pensamento e a estrutura do texto que sempre
acompanhavam e como o nuacutemero de leitores natildeo crescia conforme o nuacutemero de lanccedilamentos
a imagem se era muitas vezes mais efetiva proporcionando assim ldquoo ensaio da comunicaccedilatildeo
de massardquo 1
1 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p83
2
A alfabetizaccedilatildeo foi um grande foco de investimento para a Nova Repuacuteblica e o
acompanhamento de imagens nestes perioacutedicos era essencial ldquoA evoluccedilatildeo teacutecnica do
impresso o investimento na alfabetizaccedilatildeo os incentivos agrave aquisiccedilatildeo eou fabricaccedilatildeo de papel
rdquo 2 a quantidade de jornais e revistas que eram vendidos tambeacutem era uma forma da Repuacuteblica
que havia acabado de se formar ter uma noccedilatildeo de quantas pessoas eram letradas ou que
estavam a caminho de se tornarem de fato assim
O debate entre os homens de letras da eacutepoca del imitada entre 1890 e 1923 era assiacuteduo
mas natildeo quanto a questotildees poliacuteticas da eacutepoca e sim as mudanccedilas do cotidiano que os estavam
afetando A poliacutetica soacute aparecia quando o assunto eram as mudanccedilas que ocorriam no
ambiente poliacutetico e social Bi lac faz uma anaacutelise que corrobora completamente com as
fotografias que o jornal passava ldquoQue natildeo seraacute quando da velha cidade colonial
estupidamente conservada ateacute agora como um pesadelo do passado apenas restar a
lembranccedila rdquo3
Com o questionamento sobre como se inf luecircncia uma grande maioria i letrada a natildeo
apenas acreditar na Repuacuteblica como tambeacutem mudar toda a perspectiva que se tem quanto ao
entatildeo monarca busco entender qual eacute a participaccedilatildeo deste homem de letras como o moderno
o ajudou natildeo apenas a aumentar sua importacircncia no imaginaacuterio popular como o trouxe como
celebridade
A ssim busco discutir no primeiro capitulo a Belle Eacutepoque e todas as transformaccedilotildees
l i teraacuterias que a mesma trouxe modif icou e ateacute mesmo criou no Brasi l discutindo entre estes
movimentos l i teraacuterios com algumas representaccedilotildees de autores para exemplif icar o movimento
e a sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de um ideal poliacutetico Brasi leiro
No segundo capiacutetulo todo o movimento poliacutetico que a Belle Eacutepoque trouxe em seu
discurso por estes autores e sua necessidade de Repuacuteblica com a democracia da palavra em
conjunto com a vinda da Repuacuteblica por parte dos mil i tares
No uacuteltimo capiacutetulo apresento as mudanccedilas que essa perspectiva modernista trouxe para o
paiacutes e como ela alterou natildeo apenas a imagem do Rio de Janeiro como tambeacutem o cotidiano e a
perspectiva do homem comum e o de letras sobre o moderno4 e sobre as atividades cotidianas
2 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 84 3 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 93 4 Relativo ou pertencente agrave eacutepoca histoacuterica em que se vive
3
e suas responsabi l idades assim como tambeacutem os modernismos 5 que trouxe em jornais em
revistas
5 Tendecircncias e gostos ao que se eacute moderno
4
II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS
21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO
No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de
que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes
transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o
progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma
modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar
necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes
A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser
construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro
A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que
poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo
X IX e comeccedilo do seacuteculo X X
ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia
um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do
A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada
emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar
daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro
das picaretas abafava esse protesto impotente
Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como
as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las
diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da
hygiene do bom gosto e da arterdquo 6
O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa
que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que
favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de
comunicaccedilatildeo e de transporte
6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt
5
Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento
tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a
educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo
principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma
forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo
remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter
tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e
seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo
Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870
ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande
transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a
crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como
jornal istas
Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e
faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute
mesmo os criassem
A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto
para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para
mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo
A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo
tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute
por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo
ideoloacutegica
A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e
quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu
lado
A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l
V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser
efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer
ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e
assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute
acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo
7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro
6
22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE
Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua
l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como
Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a
escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes
Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita
eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que
a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por
vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro
momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance
urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A
valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver
Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas
ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele
surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre
a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como
uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia
da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens
23 REALISMO
O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares
Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a
real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De
uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico
O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito
representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem
tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa
7
Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo
tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute
um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l
demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na
seacuterie ldquoBons diasrdquo9
M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca
natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer
o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus
acontecimentos
Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os
narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de
uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um
pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do
que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10
ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e
que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais
amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()
O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos
princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava
tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos
termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada
enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11
Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio
leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua
8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013
8
zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo
ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam
Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua
l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias
Poacutestumas de Braacutes Cubas
A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca
brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento
ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo
exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o
homem vive e o que ele eacute
A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba
cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle
conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um
alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12
24 NATURALISMO
O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque
principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o
homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua
ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13
Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens
comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior
sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do
cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l
percepccedilatildeo no interior
O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento
eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas
e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o
moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava
tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior
12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista
9
O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas
ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo
sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas
Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua
l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor
25 PARNASIANISMO
O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e
conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente
Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e
o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos
ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do
tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir
tinha se tornado algo f reneacutetico
O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a
necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre
palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas
Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio
interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o
parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de
M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para
o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o
mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes
Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social
para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu
e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem
Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando
da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas
ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu
candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -
pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler
10
e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de
ser algueacutemrdquo 14
Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era
necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os
acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria
se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando
A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais
baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por
meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um
estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo
A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem
investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens
ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num
paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O
melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a
memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria
Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e
escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar
esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode
merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os
caracteres do alfabetordquo 15
Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para
construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores
entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de
trabalho
Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a
instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees
14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015
11
26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO
Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um
movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos
os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides
da Cunha e M onteiro Lobato
Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da
l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua
maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum
Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares
de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos
Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como
uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e
poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar
ateacute eles
A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que
de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e
caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a
imagem do que era discutido e narrado
M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra
haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de
algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que
estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo
ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo
brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel
o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que
nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de
busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro
prometiardquo 16
16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144
12
Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica
estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a
sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente
A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no
jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos
por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado
Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies
e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de
renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto
Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado
como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando
momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees
Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma
vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por
dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua
identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista
e materialistardquo 17
Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se
relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem
questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o
movimento Republicano
ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a
evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas
qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e
a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos
Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18
L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela
modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo
17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
13
entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute
mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele
ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do
passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de
modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais
suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de
ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20
E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como
dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela
si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor
ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio
Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute
este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21
ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande
de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um
outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros
e um pouco devido a mim
[ ]
A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os
acontecimentosrdquo 22
Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a
formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa
marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um
governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes
natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23
19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
14
Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios
que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve
ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves
V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de
chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam
criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas
simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos
trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24
M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o
trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na
terra em sua obra como Jeca Tatu
Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato
tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a
real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista
M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a
terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta
de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral
Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava
neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando
assim o estrago e atraso a naccedilatildeo
Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um
ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida
votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava
que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio
personagem Jeca Tatu
Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto
uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo
M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo
trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo
24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010
15
O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria
cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles
ocorriam ou quais suas separaccedilotildees
ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar
riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com
produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que
criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e
atrairrdquo 26
A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento
cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o
seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas
sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o
homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas
26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194
16
III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA
31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE
O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que
modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria
social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento
possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da
modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura
da cidade
O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial
(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas
junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em
conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de
Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que
consomem matildeos de obra
Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava
tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade
que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem
do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava
acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de
ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27
Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa
nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de
Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver
ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do
trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram
quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro
27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41
17
principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo
radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28
Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que
nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se
estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as
estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da
Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a
condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional
Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo
assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das
autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte
A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas
nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees
do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de
fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos
prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do
paiacutes
ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam
capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade
funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio
moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados
operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31
28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58
18
Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890
Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt
httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt
A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua
visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a
todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No
primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as
donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10
horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo
burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua
19
A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por
todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro
de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro
O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em
todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia
A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre
a Rua do Ouvidor
ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o
melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse
monopoacutel io
A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se
reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde
aparecem as novidades
()
Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a
cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um
conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos
perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha
quer queiram quer natildeo
()
A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo
transtornadosrdquo 33 34
A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose
Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme
atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana
E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo
trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra
do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos
principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
20
A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem
trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a
popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se
tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista
queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros
Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma
leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio
de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de
conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a
proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos
eles pois a rua era isso A presentadora da vida
ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua
do Ouvidorrdquo35
Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis
l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa
forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre
se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se
migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural
A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada
com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos
pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente
todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro
Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por
mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em
conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime
Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua
35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
21
impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves
exigecircncias do progresso36
32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA
A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao
paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo
comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que
circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim
Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com
as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta
de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes
que estava se formando e muito menos para o seu povo
Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas
notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia
presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando
36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76
22
Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees
Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt
Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se
esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a
imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute
l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores
A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a
rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta
de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo
A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto
ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas
escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo
analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo
necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem
tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura
A s legendas em ordem satildeo
23
2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im
senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo
3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por
um grande zero constitucionalrdquo
4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos
sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de
tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo
5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal
fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo
M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se
expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o
mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados
assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o
Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos
Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais
eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo
tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente
perdia sua sacral idade
Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o
monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que
rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro
histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo
rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca
como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada
O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e
demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um
esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a
republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar
37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47
24
Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se
tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro
no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica
ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as
maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano
nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano
()
SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as
camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a
menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de
deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram
natildeo passaram de falsos eleitos ()
Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que
SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala
do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto
Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala
do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada
tinha drsquoesta vezrdquo40
A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria
da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse
sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se
empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da
populaccedilatildeo de todo o paiacutes
Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam
por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que
ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a
maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i
passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um
futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo
40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt
25
A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando
sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas
que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes
quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890
ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir
por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de
A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-
imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas
despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash
mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do
governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um
adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes
teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e
houradezrdquo Barbadinho41
A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra
Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela
que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees
para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma
grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em
seu grupo soacute que em um governo Republicano
A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento
de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental
A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade
A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o
tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato
se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre
M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser
efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras
41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17
26
preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a
l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762
ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da
L iberdade (1823) 43
ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em
l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria
seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que
tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja
debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de
ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44
A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio
a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de
fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes
possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a
ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este
objetivo
Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas
um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros
poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era
o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem
formada
A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem
censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a
palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico
Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem
possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da
populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45
43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24
27
O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas
decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l
transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e
igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46
Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por
essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo
governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da
sociedade47
ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso
pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi
um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do
aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas
para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48
O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se
criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco
desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro
A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a
nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como
demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma
de Lima Barreto
33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA
A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da
repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais
ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa
oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79
28
tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto
pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49
O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou
uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a
homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os
fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas
consequecircncias nos anos de 1870 e 1880
Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a
toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma
de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de
respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas
A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta
disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na
academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas
academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica
Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro
com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra
perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato
l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda
mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia
Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra
do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com
engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe
totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de
intelectual
Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute
possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo
sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l
precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar
quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio
49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
29
Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da
Repuacuteblica e eles se viam
ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da
civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime
poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada
que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma
profissatildeo desprestigiadardquo50
O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando
ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de
junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos
fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen
que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje
mais amanhatilde
O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e
hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os
lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro
da America
()
Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque
isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais
admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional
Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51
Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos
homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute
50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt
30
mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos
mil i tares A Repuacuteblica Francesa
Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar
muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque
partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de
Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias
ldquoPROCLAMACcedilAtildeO
O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo
ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em
perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos
residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da
dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema
monarchico ndash representativo
Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter
essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo
provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a
l iberdade e os direitos dos cidadatildeos
()
Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da
soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e
da ordemrdquo 53
Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que
era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos
que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade
para o que quiser
52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
31
Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca
Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt
Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt
A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para
com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o
povo brasileiro poderia ter pela frente
A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram
sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou
charges sobre quem estava no comando
Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as
seguintes informaccedilotildees
ldquoMinisterio do Governo Provisorio
Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca
M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo
M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o
Sr Quintino Bocayuva
M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy
Barbosa
M inistro da guerra Dr Benjamin Constant
M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva
M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa
32
M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54
Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva
de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista
I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA
republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo
ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo
Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e
entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em
no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo
A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e
revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram
expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele
momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo
mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso
A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo
com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e
assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do
Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares
Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a
nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre
que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que
estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890
M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o
animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada
mostra
54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
33
Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo
Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
Seguindo do texto aqui resumido
ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional
dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo
de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico
M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje
outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria
recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma
concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im
garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes
com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e
de prosperidade
()
O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o
como a uma gloria nacional
Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes
do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os
nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo
()
34
Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de
leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de
primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que
l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica
na sua unidade republicana
A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela
gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas
paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um
estridente viva ao futuro da patria
Viva a Republicardquo 55
Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891
voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por
algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas
boas
Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25
anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com
mais de 21 anos e letrados
No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a
representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo
55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt
35
Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l
Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
A imagem que traz os seguintes dizeres
ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma
consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos
terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do
dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre
HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56
A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera
ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees
presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante
Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional
Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises
56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt
36
econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de
dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de
estado no mesmo ano
Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o
lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de
Notiacutecias
A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro
ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao
paiz a mais plena conf ianccedila
Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes
circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que
poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos
seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e
de respeito aacute lei o seu governo
Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da
Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57
A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do
general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo
rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees
geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma
reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano
A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as
eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola
que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente
de M oraes
57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt
37
A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em
suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova
narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento
A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca
como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento
de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com
a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem
de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado
61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina
38
IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO
41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM
O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se
espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de
cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l
uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura
conforto e progresso
A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente
comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de
ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de
Janeiro
Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas
comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam
placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar
f reneacutetico
O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava
letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por
exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais
discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico
A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo
neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente
diferente do que antes
A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava
em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de
crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo
formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os
mesmos
O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus
mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem
62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
39
vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para
de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a
mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo
Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem
brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia
O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era
e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e
poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado
ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e
natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de
pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63
O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias
agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos
deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais
velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais
energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia
Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu
referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova
vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura
raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64
ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma
Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma
Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65
O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo
se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99
40
enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida
eis os modernos ideaisrdquo66
ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite
lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa
numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela
seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a
perderrdquo67
O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido
se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por
todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real
ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o
tempo para a sua assimilaccedilatildeo
ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio
ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate
depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l
ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para
acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as
breves funccedilotildees da vida breverdquo 68
A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha
mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do
que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu
integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69
Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para
viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de
66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268
41
fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua
essecircncia
Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus
conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma
faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel
e irredutiacutevel70
42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA
A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de
Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era
moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era
A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como
um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo
quanto para a divulgaccedilatildeo
A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido
criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na
Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser
divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas
dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa
Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras
brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo
letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para
diferentes puacutebl icos
A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se
recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que
um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial
ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees
que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa
moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca
70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013
42
capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e
demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72
A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca
em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos
uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo
mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a
se reapresentar 73
A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao
jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de
apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia
O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona
reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o
cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e
imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo
A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de
vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o
aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando
assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74
ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas
principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens
quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para
determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas
mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se
indispensaacuteveisrdquo75
72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006
43
A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e
principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou
qualquer outro produto advindo da modernidade
A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o
homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo
visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma
simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer
lugar
Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar
de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo
do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura
Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma
de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de
se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais
ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da
i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo
de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76
Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac
questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando
a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o
escritor
A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e
revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia
tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia
proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para
literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos
trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77
76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94
44
M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa
modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as
efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios
semanais quinzenais ou mensais
Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt
Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt
O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e
obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da
legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e
com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo
A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo
contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um
sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78
78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57
45
A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas
como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor
logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar
as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor
Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt
A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute
possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e
vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de
forma mundana
O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a
atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas
de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas
46
primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma
modernidade em seu cotidiano
A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada
vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma
criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo
outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame
podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema
especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para
chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo
Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A
f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que
chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de
1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os
dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro
Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo
47
Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889
Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt
Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de
Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as
implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de
folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca
ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo
entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino
caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento
abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem
de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a
intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os
diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas
femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias
48
mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e
interessesrdquo79
M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como
Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa
necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas
mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como
esportivas e femininas
Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo
Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt
79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130
49
Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo
Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt
Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo
Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
50
Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu
nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era
necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo
dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de
existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo
Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de
ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas
poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por
isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que
perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081
Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver
tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens
relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que
ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo
Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista
entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas
capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em
primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre
escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas
A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo
tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica
scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os
l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto
Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que
vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas
escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples
mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt
51
simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma
vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com
o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica
Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A
modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84
Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a
Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos
seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos
volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com
personagens com feiccedilotildees engraccediladas
M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo
que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo
ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo
frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com
baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86
embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo
Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre
o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam
transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior
vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias
de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma
vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro
de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88
O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser
def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado
84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
52
A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir
diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados
como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu
desejo de imagem
43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO
Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram
adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do
nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum
folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer
um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance
l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia
Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de
pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar
sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da
populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem
Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos
de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89
levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova
aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo
Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o
Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais
propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l
inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro
A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi
essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais
pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores
A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da
populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e
ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais
que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38
53
divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora
isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva
44 O PUacuteBLICO RECEPTOR
A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a
mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida
com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova
ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo
cultural da sociedade cariocardquo 90
O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos
jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o
espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se
estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para
que qualquer coisa ocorresse
A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se
importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim
para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si
provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo
Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a
atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas
divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam
tambeacutem
ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de
associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes
mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada
M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas
i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos
para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores
ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo
90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19
54
clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo
(M ELLO 2007)91
O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o
crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais
populares a aceitassem de fato
A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute
citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam
introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo
outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i
estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92
45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA
Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a
oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a
modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida
sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria
A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o
exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas
M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova
velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e
Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do
Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o
teatro em abundacircnciardquo93
O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive
A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais
propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a
91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75
55
tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de
ambiente
ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando
depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas
jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a
produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a
pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se
produzia
A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se
tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a
pagarem jantares ou ida a bares
A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver
por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a
luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos
para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma
parcela ser respeitada e mais do que ouvida
Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para
a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo
republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais
do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo
progresso e democracia95
46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO
O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com
ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis
cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas
pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l
94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
56
ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi
sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser
- Para ser
- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem
relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um
trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado
do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96
A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate
poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a
comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a
automatizaccedilatildeo
A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de
escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo
uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que
o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda
natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o
escri to causa uma perca e uma falta de sentido
M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve
como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos
intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta
questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no
Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97
Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que
ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se
era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor
exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido
O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se
tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou
apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil
Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97
57
manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute
chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se
transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar
Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor
se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no
universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os
platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98
Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de
jornais e revistas
L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito
tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos
perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi
lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e
sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres
ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico
saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes
desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel
infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe
desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em
vermelhordquo 99
Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o
produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas
chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos
M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir
recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo
homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre
pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo
para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para
98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual
58
mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde
nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem
atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores
M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na
primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de
criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l
ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a
condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia
arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a
intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos
aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e
as tempestades do futurordquo 100
A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para
escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos
principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l
aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a
industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo
Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a
paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se
escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina
podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra
perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria
direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano
100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
59
V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram
para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados
uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem
i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia
A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer
mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo
rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas
Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no
Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio
do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como
O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o
intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca
que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia
chegar a todos
Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no
mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas
quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico
movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia
A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a
tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem
i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor
de si mesmo
A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem
a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um
desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela
eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute
Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo
brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a
fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era
aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de
que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura
60
A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava
para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma
representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares
O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que
envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com
o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a
segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do
meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever
e falar
A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de
suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a
mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a
aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico
O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo
difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas
af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o
novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas
de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes
Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas
obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que
eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma
efetiva
O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram
discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu
redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles
deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o
que a populaccedilatildeo brasi leira representava
Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com
que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como
uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria
dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social
O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era
produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o
61
homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era
nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade
em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo
62
VI FONTES
Gazeta de Notiacutecias (1890 ndash 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03amp PagFis=0gt
Jornal do Brazil (1890 ndash 1920) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_01amp pasta=ano20189=gt
Revista Kosmos (1900 - 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amp pasta=ano20190amp =gt
Revista Careta (1900 ndash 1929) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=083712amp pasta=ano20190amp pesq=gt
Revista I l lustrada (1890 ndash 1899) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pasta=ano20189amp pesq=gt
63
VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICA
M ARTINS Ana Luiza LUCA Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed
Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordf Ed 2003
SUumlSSEK IND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1 Reimpressatildeo 2006
M ELLO M aria Tereza Chaves de A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 1ordf Ed 2007
CARVALHO Joseacute M urilo de A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 7ordf Ed 1998
BEJAM IN Walter A Obra de Arte na Eacutepoca de sua Reprodutibilidade Teacutecnica In
L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
HORK HEIM ER M ax ADORNO Theodor W A Induacutestria Cultural o Iluminismo como Mistificaccedilatildeo de Massas In L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e
Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
CURRAN M ark J Histoacuteria do Brasil em Cordel Ed EDUSP Editora da Universidade de
Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1ordf Ed 2009
RIBEIRO Ana Paula Goulart FERREIRA Lucia M aria A lves Miacutedia e Memoacuteria A Produccedilatildeo de Sentidos nos Meios de Comunicaccedilatildeo Ed M AUAD Rio de Janeiro 1ordf Ed
2007
COSTA Cleacuteria Botelho da M ACHADO M aria Clara Tomaz Histoacuteria e Literatura
Identidade e Fronteiras Ed EDUFU Uberlacircndia 1ordf Ed 2006 GOM ES Angela de Castro A Poliacutetica Brasileira em Busca da Modernidade na Fronteira
entre o puacuteblico e o privado In Org SCHWARCZ Lil ia M oritz Histoacuteria da V ida privada
no Brasil vol 4 Ed Companhia das Letras 1ordf Ed 1998
CHALHOUB Sidney PEREIRA Leonardo A ffonso de M A Histoacuteria Contada Capiacutetulos de Histoacuteria Social da Literatura no Brasil Ed Nova Fronteira 1ordf Ed 1998
CAM ARGO Ana M aria de A lmeida A IMPRENSA COMO FONTE PARA HISTOacuteRIA DO BRASIL In PAULA Euriacutepedes Simotildees de Portos Rotas e Comeacutercio Satildeo Paulo 1971
LIM A Ivana Stolze Com a palavra a cidade mesticcedila Imprensa poliacutetica e identidade no Rio de Janeiro 1831 ndash 1833 Fundaccedilatildeo Casa de Rui Barbosa Rio de Janeiro 1998
64
LUCA Tania Regina de Histoacuteria dos nos e por meio dos perioacutedicos In Org PINSK Y
Carla Bassanezi Fontes Histoacuterias Satildeo Paulo Ed Contexto 2005
SCHERER M arta Eymael Garcia Bilac ndash Sem Poesia Crocircnicas de um jornalista da Belle Eacutepoque Universidade Federal de Santa Catarina 2008
M ENDES Iba Olavo Bilac Crocircnicas e Novelas Poeteiro Editor Digital Satildeo Paulo 2014 NUNES Radameacutes V ieira Literatura e Imprensa Barreto e Bilac entre a Arte e
Ofiacutecio Emblemas Goiaacutes v 8 n 2 p201-226 jul 2011 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
M ONTILHA Thiago Roza Ialdo Olavo Bilac e a Questatildeo da Instruccedilatildeo no Brasil (1897 ndash 1908) Intellegravectus Rio de Janeiro ano X IV n 1 p 57 ndash 76 2015
NUNES Radameacutes V ieira Crocircnicas e Cronistas no Ritmo das M aacutequinas Emblemas Goiaacutes
v 9 n 1 p129-145 jan 2012 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
SILVA Renata Refino da Monteiro Lobato e a Revista do Brasil (1916 ndash 1925)
Representaccedilotildees de Ciecircncia Literatura Arte e Histoacuteria Anais do XXVI Simpoacutesio
Nacional de Histoacuteria - ANPUH Satildeo Paulo julho 2011
SILVA M auriacutecio Literatura e Publicidade no Preacute-Modernismo Brasileiro Uma Introduccedilatildeo Criacutetica Cultural Santa Catarina v 1 n1 jan Semestral 2006
SILVA Danyelle M arques Freire da A Constituiccedilatildeo do Espaccedilo em Vida Ociosa de
Godofredo Rangel UninCor ndash Universidade Vale do Rio Verde Trecircs Coraccedilotildees 2013
SILVA M auriacutecio Profissionalizaccedilatildeo do Escritor e Publicidade Editorial Dois Capiacutetulos
da Leitura Preacute-Modernista no Brasil M agma Satildeo Paulo n 6 p 66 ndash 77 1999
BECK ER Elizamari Rodrigues Forccedilas Motrizes de uma Contiacutestica Preacute-Modernista O
Papel da Traduccedilatildeo na Obra Ficcional de Monteiro Lobato Universidade Federal do Rio
Grande do Sul Porto A legre 2006
ARAUJO Jean M arcel Oliveira O Preacute-Modernismo A luta entre passadistas modernos e modernistas no campo artiacutestico brasileiro Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo ndash RJ n 1 p
117 ndash 134 jul semestral 2012
GUIM ARAtildeES Fernando Simbolismo Modernismo e Vanguardas Imprensa Nacional ndash
Casa da M oeda 3ordf Ed Rio de Janeiro 2004
VELLOSO M ocircnica A Modernidade Carioca na Sua Vertente Humoriacutestica Estudos
Histoacutericos Rio de Janeiro v 8 n 16 p 269-278 1995
65
M ORAES Eduardo Jardim Modernismo Revisitado Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v
1 n 2 p 220 ndash 238 1988
STRELOW A line Jornalismo literaacuterio e cultural Perspectiva Histoacuterica Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Disponiacutevel em lt wwwboccubiptgt
RAM OS Gabriela A Crocircnica como Interseccedilatildeo entre jornalismo e literatura Intercom ndash
Sociedade Brasileira de Estudos Interdiscipl inares das Comunicaccedilatildeo XV II Congresso de
Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo da Regiatildeo Sudeste Ouro Preto 2012
SCHERER M arta E G Um Jornalismo Belle Eacutepoque In SCHERER M arta E G
Imprensa e Belle Eacutepoque - Olavo Bilac o jornalismo e suas histoacuterias Ed Unisul
PalhoccedilaSC 2012
RIBEIRO Ana Paula Goulart Nelson Werneck Sodreacute e a histoacuteria da imprensa no
Brasil Intercom Revista Brasileira de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo [sl] v 38 n 2 p275-
288 dez 2015 FapUNIFESP (SciELO) Disponiacutevel em lthttpdxdoiorg1015901809-
58442015214gt
SILVA M auriacutecio Cultura de Mercado Literatura e Publicidade no preacute-modernismo brasileiro Via A tlacircntica Satildeo Paulo n 20 p 75 ndash 87 dez 2011
V IANNA Rafael de Bri to Os Renegados da Histoacuteria A importacircncia dos preacute-modernos para o pensamento nacional Revista Brasileira de Histoacuteria amp Ciecircncias Sociais v 3 n 5 p
127 ndash 131 Jul 2011
BEAL Sophia A Transformaccedilatildeo das Trevas na Literatura Preacute-Modernista Pensares em
Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 76 -91 jul Semestral 2012
L INS Vera Lucia de Oliveira Os simbolistas Virando o Seacuteculo Pensares em Revista Satildeo
Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 135 - 143 Jul Semestral 2012
BATALHA M aria Cristina Lima Barreto e o vieacutes do realismo popular na literatura brasileira Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 51 - 65 Jul Semestral
2012
FIGUEIREDO Carmen Lucia Negreiros O Mal-estar de Isaiacuteas A crise do Romance em
Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 35 - 50 Jul
Semestral 2012
GENS Rosa Retratos em Cantoneiras Imagens do Rio de Janeiro Belle Eacutepoque em Joatildeo do Rio e Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 66 -
75 jul Semestral 2012
66
M ENDES Leonardo Pinto Juacutelio Ribeiro O Naturalismo e a Dessacralizaccedilatildeo da Literatura Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 4 p 26 - 42 jul Semestral
2014
RIO Joatildeo do Cinematoacutegrafo Crocircnicas Cariocas Academia Brasileira de Letras ndash Coleccedilatildeo
Afracircnio Peixoto Rio de Janeiro 2009
ZANON M aria Cecil ia A Sociedade Carioca da Belle Eacutepoque nas paacuteginas do Fon-Fon
Patrimocircnio e M emoacuteria Satildeo Paulo v 4 n 2 p ndash 217 ndash 235 jun 2009
DOIN Joseacute Evaldo de M ello NETO Humberto Perinell i PAZIANI Rodrigo Ribeiro
PACANO Faacutebio Augosto A Belle Eacutepoque caipira Problematizaccedilotildees e oportunidades interpretativas da modernidade e urbanizaccedilatildeo no Mundo do Cafeacute (1852 ndash 1930) ndash A
proposta do Cemumc Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v 27 n 53 p 91 ndash 122
Jun 2007
NOGUERIA Clara Asperti Revista Carets (1908 ndash 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo Impressa no Seacuteculo XX M iscelacircnea Assis v 8 p 60 ndash 80 jul 2010
OLIVEIRA Luacutecia Lippi A questatildeo nacional na Primeira Repuacuteblica Ed Brasil iense Satildeo
Paulo 1ordf Ed 1990 Disponiacutevel em lt httpwwwcpdocfgvbrgt
VENTURA Roberto Euclides da Cunha e a Repuacuteblica Aacuterea de Histoacuteria Cultural USP
29 de abril de 1994
M IGLIARI Well ington Preacute-Modernismo e Repuacuteblica Antinomias da Belle Eacutepoque no
Brasil Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 186 - 202 jul Semestral
2012
NEVES M argarida de Souza Os cenaacuterios da Repuacuteblica O Brasil na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX In NEVES M de S Os cenaacuterios da repuacuteblica O Brasil na virada
do seacuteculo X IX para o seacuteculo XX In DELGADO Luciacutel ia de A lmeida Neves e FERREIRA
Jorge Luiacutes (Orgs) Brasil Republicano Estado sociedade civi l e cultura poliacutetica O tempo do
l iberalismo excludente Da Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica agrave Revoluccedilatildeo de 1930 1a ed Rio de
Janeiro Civi lizaccedilatildeo Brasileira 2003
SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A Modernizaccedilatildeo do Rio de Janeiro nas crocircnicas de Olavo Bilac (1890 ndash 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador abri l de 2013
HALLER Joyce Uemoto Monteiro Lobato Literatura como expressatildeo do contexto (1890-1930) Universidade Estadual de M aringaacute M aringaacute 2012
Figura 14 Capa da Gazeta de Notiacutecias 8 de janeiro de 1921 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amppasta=ano20192amp
Figura 15 Capa da Revista Illustrada 1 de Janeiro de 1876 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1
Figura 16 Capa da Revista Illustrada 8 de Junho de 1889
FontehttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=
Figura 17 Capa da Revista Illustrada Rio de Janeiro Junho 1898 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=
Figura 18 Capa da Revista Kosmos Janeiro 1904 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675
Figura 19 Capa da Revista Kosmos Novembro de 1908 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675
Figura 20 Capa da Revista Kosmos Fevereiro 1909 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675
Figura 21 Capa da Revista Careta 10 de Julho de 1909 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1
Figura 22 Capa da Revista Careta 10 de Junho de 1920 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1
Figura 23 Capa da Revista Careta 1 de Julho de 1922 Fonte
httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1
SUMAacuteRIO
I INTRODUCcedilAtildeO1
II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS4
21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO4
22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE6
23 REALISMO6
24 NATURALISMO8
25 PARNASIANISMO9
26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO11
III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA16
31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE16
32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA21
33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA27
IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO38
41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM38
42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA41
43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO52
44 O PUacuteBLICO RECEPTOR53
45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA54
46 O DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO55
V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS59
VI FONTES62
VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICAS63
1
1 INTRODUCcedilAtildeO
O cotidiano dos homens e mulheres brasi leiros comeccedilou a se modif icar ao f inal do seacuteculo
X IX 1890 natildeo apenas no visual e no ambiente mas tambeacutem no social A s ruas estavam
comeccedilando a ser asfaltadas e deixando de ter espaccedilos para carroccedilas e ani mais comeccedilavam a
ser tomadas pelos carros automatizados lustres e grandes preacutedios aleacutem das fabricas
O modo de viver se modif icava em conjunto com o seu novo modo de trabalhar e seu
cotidiano A s faacutebricas tomavam conta e ditavam o horaacuterio e assim o homem comum tinha
uma alteraccedilatildeo completa de seu cotidiano e da sua inf luecircncia na sua produccedilatildeo no trabalho O
homem l i teraacuterio tambeacutem sofreu com as mudanccedilas que ocorriam na cidade ao contraacuterio do
pensamento comum
Jornais e revistas estavam mudando seu formato de produccedilatildeo drasticamente aleacutem de suas
periodicidades Se antes algum destes queriam um formato mais especif ico necessitava pedir
a impressatildeo no exterior e entatildeo ela iria ser distribuiacuteda no Brasi l como era o caso da revista
Kosmos Com a mudanccedila industrial era agora possiacutevel a real izaccedilatildeo no proacuteprio escri toacuterio do
perioacutedico aleacutem do mesmo sair em nuacutemeros maiores e com uma frequecircncia mais assiacutedua
fazendo assim ser possiacutevel viver da arte de ser escri tor com mais ef iciecircncia
A maneira da informaccedilatildeo chegar no f inal do X IX tambeacutem estava se modif icando Com o
teleacutegrafo as notiacutecias eram mais dinacircmicas e informantes eram espalhados ao redor do mundo
O Brasi l se inf luenciava de maneira mais constante em suas escri tas com novas maquinas de
escrever e de transcriccedilatildeo com as datas de publicaccedilotildees muito mais proacuteximas com essas
modif icaccedilotildees grandes em seu cotidiano de escri ta principalmente porque com a mudanccedila
agora seria possiacutevel viver apenas de l i teratura graccedilas a demanda
A s transformaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo alteraram apenas a imagem dos jornais e das revistas
mas tambeacutem como dito anteriormente sua participaccedilatildeo nestes A s imagens agora natildeo soacute
eram mero enfeite e raras agora fazendo grande parte dos textos a caricatura fotograf ia e ateacute
mesmo charge ajudavam a formar o pensamento e a estrutura do texto que sempre
acompanhavam e como o nuacutemero de leitores natildeo crescia conforme o nuacutemero de lanccedilamentos
a imagem se era muitas vezes mais efetiva proporcionando assim ldquoo ensaio da comunicaccedilatildeo
de massardquo 1
1 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p83
2
A alfabetizaccedilatildeo foi um grande foco de investimento para a Nova Repuacuteblica e o
acompanhamento de imagens nestes perioacutedicos era essencial ldquoA evoluccedilatildeo teacutecnica do
impresso o investimento na alfabetizaccedilatildeo os incentivos agrave aquisiccedilatildeo eou fabricaccedilatildeo de papel
rdquo 2 a quantidade de jornais e revistas que eram vendidos tambeacutem era uma forma da Repuacuteblica
que havia acabado de se formar ter uma noccedilatildeo de quantas pessoas eram letradas ou que
estavam a caminho de se tornarem de fato assim
O debate entre os homens de letras da eacutepoca del imitada entre 1890 e 1923 era assiacuteduo
mas natildeo quanto a questotildees poliacuteticas da eacutepoca e sim as mudanccedilas do cotidiano que os estavam
afetando A poliacutetica soacute aparecia quando o assunto eram as mudanccedilas que ocorriam no
ambiente poliacutetico e social Bi lac faz uma anaacutelise que corrobora completamente com as
fotografias que o jornal passava ldquoQue natildeo seraacute quando da velha cidade colonial
estupidamente conservada ateacute agora como um pesadelo do passado apenas restar a
lembranccedila rdquo3
Com o questionamento sobre como se inf luecircncia uma grande maioria i letrada a natildeo
apenas acreditar na Repuacuteblica como tambeacutem mudar toda a perspectiva que se tem quanto ao
entatildeo monarca busco entender qual eacute a participaccedilatildeo deste homem de letras como o moderno
o ajudou natildeo apenas a aumentar sua importacircncia no imaginaacuterio popular como o trouxe como
celebridade
A ssim busco discutir no primeiro capitulo a Belle Eacutepoque e todas as transformaccedilotildees
l i teraacuterias que a mesma trouxe modif icou e ateacute mesmo criou no Brasi l discutindo entre estes
movimentos l i teraacuterios com algumas representaccedilotildees de autores para exemplif icar o movimento
e a sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de um ideal poliacutetico Brasi leiro
No segundo capiacutetulo todo o movimento poliacutetico que a Belle Eacutepoque trouxe em seu
discurso por estes autores e sua necessidade de Repuacuteblica com a democracia da palavra em
conjunto com a vinda da Repuacuteblica por parte dos mil i tares
No uacuteltimo capiacutetulo apresento as mudanccedilas que essa perspectiva modernista trouxe para o
paiacutes e como ela alterou natildeo apenas a imagem do Rio de Janeiro como tambeacutem o cotidiano e a
perspectiva do homem comum e o de letras sobre o moderno4 e sobre as atividades cotidianas
2 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 84 3 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 93 4 Relativo ou pertencente agrave eacutepoca histoacuterica em que se vive
3
e suas responsabi l idades assim como tambeacutem os modernismos 5 que trouxe em jornais em
revistas
5 Tendecircncias e gostos ao que se eacute moderno
4
II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS
21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO
No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de
que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes
transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o
progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma
modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar
necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes
A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser
construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro
A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que
poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo
X IX e comeccedilo do seacuteculo X X
ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia
um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do
A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada
emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar
daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro
das picaretas abafava esse protesto impotente
Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como
as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las
diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da
hygiene do bom gosto e da arterdquo 6
O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa
que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que
favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de
comunicaccedilatildeo e de transporte
6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt
5
Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento
tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a
educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo
principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma
forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo
remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter
tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e
seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo
Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870
ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande
transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a
crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como
jornal istas
Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e
faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute
mesmo os criassem
A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto
para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para
mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo
A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo
tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute
por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo
ideoloacutegica
A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e
quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu
lado
A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l
V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser
efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer
ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e
assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute
acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo
7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro
6
22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE
Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua
l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como
Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a
escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes
Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita
eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que
a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por
vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro
momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance
urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A
valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver
Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas
ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele
surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre
a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como
uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia
da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens
23 REALISMO
O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares
Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a
real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De
uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico
O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito
representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem
tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa
7
Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo
tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute
um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l
demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na
seacuterie ldquoBons diasrdquo9
M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca
natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer
o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus
acontecimentos
Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os
narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de
uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um
pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do
que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10
ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e
que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais
amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()
O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos
princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava
tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos
termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada
enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11
Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio
leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua
8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013
8
zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo
ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam
Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua
l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias
Poacutestumas de Braacutes Cubas
A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca
brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento
ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo
exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o
homem vive e o que ele eacute
A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba
cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle
conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um
alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12
24 NATURALISMO
O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque
principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o
homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua
ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13
Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens
comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior
sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do
cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l
percepccedilatildeo no interior
O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento
eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas
e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o
moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava
tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior
12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista
9
O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas
ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo
sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas
Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua
l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor
25 PARNASIANISMO
O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e
conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente
Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e
o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos
ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do
tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir
tinha se tornado algo f reneacutetico
O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a
necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre
palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas
Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio
interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o
parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de
M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para
o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o
mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes
Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social
para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu
e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem
Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando
da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas
ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu
candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -
pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler
10
e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de
ser algueacutemrdquo 14
Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era
necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os
acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria
se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando
A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais
baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por
meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um
estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo
A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem
investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens
ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num
paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O
melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a
memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria
Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e
escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar
esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode
merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os
caracteres do alfabetordquo 15
Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para
construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores
entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de
trabalho
Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a
instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees
14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015
11
26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO
Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um
movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos
os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides
da Cunha e M onteiro Lobato
Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da
l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua
maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum
Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares
de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos
Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como
uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e
poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar
ateacute eles
A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que
de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e
caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a
imagem do que era discutido e narrado
M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra
haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de
algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que
estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo
ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo
brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel
o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que
nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de
busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro
prometiardquo 16
16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144
12
Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica
estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a
sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente
A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no
jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos
por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado
Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies
e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de
renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto
Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado
como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando
momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees
Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma
vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por
dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua
identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista
e materialistardquo 17
Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se
relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem
questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o
movimento Republicano
ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a
evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas
qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e
a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos
Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18
L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela
modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo
17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
13
entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute
mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele
ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do
passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de
modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais
suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de
ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20
E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como
dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela
si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor
ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio
Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute
este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21
ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande
de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um
outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros
e um pouco devido a mim
[ ]
A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os
acontecimentosrdquo 22
Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a
formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa
marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um
governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes
natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23
19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
14
Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios
que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve
ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves
V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de
chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam
criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas
simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos
trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24
M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o
trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na
terra em sua obra como Jeca Tatu
Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato
tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a
real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista
M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a
terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta
de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral
Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava
neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando
assim o estrago e atraso a naccedilatildeo
Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um
ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida
votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava
que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio
personagem Jeca Tatu
Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto
uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo
M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo
trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo
24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010
15
O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria
cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles
ocorriam ou quais suas separaccedilotildees
ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar
riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com
produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que
criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e
atrairrdquo 26
A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento
cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o
seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas
sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o
homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas
26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194
16
III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA
31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE
O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que
modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria
social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento
possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da
modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura
da cidade
O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial
(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas
junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em
conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de
Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que
consomem matildeos de obra
Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava
tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade
que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem
do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava
acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de
ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27
Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa
nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de
Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver
ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do
trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram
quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro
27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41
17
principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo
radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28
Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que
nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se
estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as
estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da
Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a
condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional
Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo
assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das
autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte
A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas
nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees
do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de
fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos
prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do
paiacutes
ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam
capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade
funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio
moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados
operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31
28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58
18
Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890
Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt
httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt
A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua
visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a
todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No
primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as
donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10
horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo
burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua
19
A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por
todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro
de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro
O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em
todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia
A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre
a Rua do Ouvidor
ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o
melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse
monopoacutel io
A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se
reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde
aparecem as novidades
()
Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a
cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um
conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos
perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha
quer queiram quer natildeo
()
A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo
transtornadosrdquo 33 34
A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose
Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme
atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana
E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo
trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra
do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos
principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
20
A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem
trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a
popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se
tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista
queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros
Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma
leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio
de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de
conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a
proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos
eles pois a rua era isso A presentadora da vida
ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua
do Ouvidorrdquo35
Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis
l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa
forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre
se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se
migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural
A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada
com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos
pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente
todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro
Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por
mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em
conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime
Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua
35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
21
impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves
exigecircncias do progresso36
32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA
A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao
paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo
comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que
circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim
Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com
as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta
de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes
que estava se formando e muito menos para o seu povo
Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas
notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia
presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando
36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76
22
Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees
Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt
Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se
esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a
imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute
l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores
A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a
rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta
de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo
A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto
ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas
escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo
analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo
necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem
tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura
A s legendas em ordem satildeo
23
2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im
senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo
3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por
um grande zero constitucionalrdquo
4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos
sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de
tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo
5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal
fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo
M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se
expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o
mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados
assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o
Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos
Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais
eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo
tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente
perdia sua sacral idade
Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o
monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que
rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro
histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo
rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca
como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada
O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e
demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um
esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a
republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar
37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47
24
Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se
tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro
no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica
ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as
maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano
nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano
()
SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as
camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a
menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de
deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram
natildeo passaram de falsos eleitos ()
Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que
SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala
do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto
Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala
do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada
tinha drsquoesta vezrdquo40
A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria
da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse
sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se
empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da
populaccedilatildeo de todo o paiacutes
Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam
por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que
ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a
maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i
passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um
futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo
40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt
25
A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando
sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas
que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes
quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890
ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir
por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de
A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-
imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas
despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash
mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do
governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um
adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes
teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e
houradezrdquo Barbadinho41
A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra
Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela
que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees
para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma
grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em
seu grupo soacute que em um governo Republicano
A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento
de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental
A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade
A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o
tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato
se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre
M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser
efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras
41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17
26
preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a
l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762
ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da
L iberdade (1823) 43
ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em
l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria
seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que
tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja
debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de
ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44
A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio
a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de
fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes
possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a
ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este
objetivo
Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas
um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros
poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era
o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem
formada
A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem
censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a
palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico
Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem
possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da
populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45
43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24
27
O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas
decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l
transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e
igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46
Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por
essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo
governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da
sociedade47
ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso
pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi
um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do
aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas
para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48
O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se
criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco
desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro
A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a
nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como
demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma
de Lima Barreto
33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA
A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da
repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais
ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa
oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79
28
tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto
pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49
O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou
uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a
homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os
fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas
consequecircncias nos anos de 1870 e 1880
Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a
toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma
de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de
respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas
A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta
disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na
academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas
academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica
Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro
com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra
perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato
l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda
mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia
Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra
do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com
engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe
totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de
intelectual
Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute
possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo
sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l
precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar
quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio
49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
29
Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da
Repuacuteblica e eles se viam
ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da
civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime
poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada
que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma
profissatildeo desprestigiadardquo50
O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando
ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de
junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos
fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen
que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje
mais amanhatilde
O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e
hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os
lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro
da America
()
Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque
isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais
admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional
Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51
Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos
homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute
50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt
30
mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos
mil i tares A Repuacuteblica Francesa
Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar
muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque
partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de
Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias
ldquoPROCLAMACcedilAtildeO
O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo
ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em
perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos
residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da
dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema
monarchico ndash representativo
Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter
essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo
provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a
l iberdade e os direitos dos cidadatildeos
()
Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da
soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e
da ordemrdquo 53
Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que
era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos
que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade
para o que quiser
52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
31
Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca
Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt
Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt
A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para
com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o
povo brasileiro poderia ter pela frente
A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram
sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou
charges sobre quem estava no comando
Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as
seguintes informaccedilotildees
ldquoMinisterio do Governo Provisorio
Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca
M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo
M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o
Sr Quintino Bocayuva
M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy
Barbosa
M inistro da guerra Dr Benjamin Constant
M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva
M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa
32
M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54
Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva
de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista
I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA
republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo
ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo
Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e
entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em
no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo
A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e
revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram
expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele
momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo
mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso
A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo
com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e
assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do
Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares
Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a
nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre
que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que
estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890
M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o
animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada
mostra
54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
33
Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo
Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
Seguindo do texto aqui resumido
ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional
dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo
de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico
M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje
outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria
recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma
concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im
garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes
com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e
de prosperidade
()
O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o
como a uma gloria nacional
Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes
do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os
nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo
()
34
Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de
leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de
primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que
l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica
na sua unidade republicana
A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela
gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas
paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um
estridente viva ao futuro da patria
Viva a Republicardquo 55
Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891
voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por
algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas
boas
Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25
anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com
mais de 21 anos e letrados
No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a
representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo
55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt
35
Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l
Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
A imagem que traz os seguintes dizeres
ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma
consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos
terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do
dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre
HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56
A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera
ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees
presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante
Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional
Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises
56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt
36
econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de
dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de
estado no mesmo ano
Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o
lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de
Notiacutecias
A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro
ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao
paiz a mais plena conf ianccedila
Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes
circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que
poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos
seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e
de respeito aacute lei o seu governo
Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da
Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57
A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do
general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo
rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees
geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma
reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano
A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as
eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola
que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente
de M oraes
57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt
37
A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em
suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova
narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento
A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca
como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento
de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com
a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem
de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado
61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina
38
IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO
41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM
O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se
espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de
cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l
uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura
conforto e progresso
A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente
comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de
ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de
Janeiro
Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas
comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam
placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar
f reneacutetico
O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava
letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por
exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais
discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico
A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo
neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente
diferente do que antes
A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava
em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de
crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo
formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os
mesmos
O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus
mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem
62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
39
vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para
de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a
mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo
Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem
brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia
O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era
e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e
poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado
ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e
natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de
pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63
O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias
agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos
deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais
velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais
energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia
Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu
referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova
vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura
raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64
ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma
Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma
Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65
O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo
se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99
40
enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida
eis os modernos ideaisrdquo66
ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite
lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa
numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela
seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a
perderrdquo67
O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido
se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por
todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real
ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o
tempo para a sua assimilaccedilatildeo
ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio
ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate
depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l
ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para
acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as
breves funccedilotildees da vida breverdquo 68
A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha
mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do
que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu
integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69
Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para
viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de
66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268
41
fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua
essecircncia
Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus
conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma
faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel
e irredutiacutevel70
42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA
A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de
Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era
moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era
A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como
um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo
quanto para a divulgaccedilatildeo
A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido
criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na
Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser
divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas
dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa
Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras
brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo
letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para
diferentes puacutebl icos
A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se
recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que
um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial
ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees
que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa
moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca
70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013
42
capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e
demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72
A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca
em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos
uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo
mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a
se reapresentar 73
A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao
jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de
apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia
O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona
reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o
cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e
imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo
A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de
vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o
aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando
assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74
ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas
principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens
quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para
determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas
mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se
indispensaacuteveisrdquo75
72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006
43
A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e
principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou
qualquer outro produto advindo da modernidade
A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o
homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo
visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma
simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer
lugar
Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar
de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo
do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura
Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma
de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de
se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais
ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da
i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo
de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76
Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac
questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando
a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o
escritor
A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e
revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia
tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia
proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para
literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos
trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77
76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94
44
M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa
modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as
efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios
semanais quinzenais ou mensais
Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt
Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt
O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e
obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da
legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e
com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo
A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo
contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um
sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78
78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57
45
A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas
como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor
logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar
as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor
Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt
A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute
possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e
vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de
forma mundana
O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a
atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas
de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas
46
primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma
modernidade em seu cotidiano
A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada
vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma
criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo
outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame
podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema
especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para
chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo
Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A
f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que
chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de
1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os
dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro
Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo
47
Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889
Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt
Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de
Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as
implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de
folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca
ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo
entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino
caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento
abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem
de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a
intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os
diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas
femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias
48
mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e
interessesrdquo79
M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como
Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa
necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas
mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como
esportivas e femininas
Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo
Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt
79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130
49
Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo
Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt
Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo
Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
50
Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu
nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era
necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo
dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de
existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo
Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de
ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas
poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por
isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que
perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081
Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver
tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens
relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que
ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo
Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista
entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas
capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em
primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre
escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas
A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo
tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica
scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os
l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto
Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que
vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas
escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples
mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt
51
simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma
vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com
o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica
Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A
modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84
Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a
Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos
seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos
volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com
personagens com feiccedilotildees engraccediladas
M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo
que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo
ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo
frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com
baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86
embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo
Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre
o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam
transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior
vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias
de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma
vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro
de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88
O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser
def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado
84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
52
A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir
diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados
como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu
desejo de imagem
43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO
Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram
adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do
nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum
folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer
um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance
l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia
Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de
pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar
sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da
populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem
Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos
de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89
levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova
aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo
Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o
Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais
propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l
inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro
A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi
essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais
pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores
A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da
populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e
ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais
que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38
53
divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora
isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva
44 O PUacuteBLICO RECEPTOR
A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a
mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida
com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova
ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo
cultural da sociedade cariocardquo 90
O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos
jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o
espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se
estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para
que qualquer coisa ocorresse
A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se
importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim
para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si
provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo
Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a
atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas
divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam
tambeacutem
ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de
associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes
mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada
M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas
i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos
para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores
ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo
90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19
54
clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo
(M ELLO 2007)91
O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o
crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais
populares a aceitassem de fato
A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute
citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam
introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo
outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i
estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92
45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA
Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a
oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a
modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida
sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria
A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o
exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas
M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova
velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e
Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do
Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o
teatro em abundacircnciardquo93
O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive
A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais
propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a
91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75
55
tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de
ambiente
ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando
depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas
jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a
produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a
pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se
produzia
A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se
tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a
pagarem jantares ou ida a bares
A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver
por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a
luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos
para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma
parcela ser respeitada e mais do que ouvida
Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para
a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo
republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais
do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo
progresso e democracia95
46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO
O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com
ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis
cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas
pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l
94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
56
ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi
sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser
- Para ser
- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem
relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um
trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado
do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96
A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate
poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a
comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a
automatizaccedilatildeo
A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de
escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo
uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que
o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda
natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o
escri to causa uma perca e uma falta de sentido
M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve
como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos
intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta
questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no
Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97
Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que
ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se
era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor
exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido
O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se
tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou
apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil
Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97
57
manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute
chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se
transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar
Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor
se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no
universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os
platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98
Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de
jornais e revistas
L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito
tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos
perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi
lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e
sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres
ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico
saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes
desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel
infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe
desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em
vermelhordquo 99
Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o
produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas
chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos
M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir
recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo
homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre
pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo
para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para
98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual
58
mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde
nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem
atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores
M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na
primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de
criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l
ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a
condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia
arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a
intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos
aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e
as tempestades do futurordquo 100
A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para
escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos
principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l
aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a
industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo
Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a
paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se
escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina
podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra
perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria
direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano
100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
59
V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram
para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados
uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem
i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia
A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer
mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo
rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas
Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no
Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio
do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como
O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o
intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca
que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia
chegar a todos
Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no
mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas
quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico
movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia
A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a
tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem
i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor
de si mesmo
A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem
a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um
desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela
eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute
Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo
brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a
fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era
aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de
que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura
60
A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava
para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma
representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares
O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que
envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com
o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a
segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do
meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever
e falar
A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de
suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a
mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a
aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico
O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo
difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas
af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o
novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas
de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes
Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas
obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que
eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma
efetiva
O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram
discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu
redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles
deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o
que a populaccedilatildeo brasi leira representava
Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com
que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como
uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria
dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social
O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era
produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o
61
homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era
nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade
em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo
62
VI FONTES
Gazeta de Notiacutecias (1890 ndash 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03amp PagFis=0gt
Jornal do Brazil (1890 ndash 1920) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_01amp pasta=ano20189=gt
Revista Kosmos (1900 - 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amp pasta=ano20190amp =gt
Revista Careta (1900 ndash 1929) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=083712amp pasta=ano20190amp pesq=gt
Revista I l lustrada (1890 ndash 1899) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pasta=ano20189amp pesq=gt
63
VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICA
M ARTINS Ana Luiza LUCA Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed
Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordf Ed 2003
SUumlSSEK IND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1 Reimpressatildeo 2006
M ELLO M aria Tereza Chaves de A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 1ordf Ed 2007
CARVALHO Joseacute M urilo de A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 7ordf Ed 1998
BEJAM IN Walter A Obra de Arte na Eacutepoca de sua Reprodutibilidade Teacutecnica In
L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
HORK HEIM ER M ax ADORNO Theodor W A Induacutestria Cultural o Iluminismo como Mistificaccedilatildeo de Massas In L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e
Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
CURRAN M ark J Histoacuteria do Brasil em Cordel Ed EDUSP Editora da Universidade de
Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1ordf Ed 2009
RIBEIRO Ana Paula Goulart FERREIRA Lucia M aria A lves Miacutedia e Memoacuteria A Produccedilatildeo de Sentidos nos Meios de Comunicaccedilatildeo Ed M AUAD Rio de Janeiro 1ordf Ed
2007
COSTA Cleacuteria Botelho da M ACHADO M aria Clara Tomaz Histoacuteria e Literatura
Identidade e Fronteiras Ed EDUFU Uberlacircndia 1ordf Ed 2006 GOM ES Angela de Castro A Poliacutetica Brasileira em Busca da Modernidade na Fronteira
entre o puacuteblico e o privado In Org SCHWARCZ Lil ia M oritz Histoacuteria da V ida privada
no Brasil vol 4 Ed Companhia das Letras 1ordf Ed 1998
CHALHOUB Sidney PEREIRA Leonardo A ffonso de M A Histoacuteria Contada Capiacutetulos de Histoacuteria Social da Literatura no Brasil Ed Nova Fronteira 1ordf Ed 1998
CAM ARGO Ana M aria de A lmeida A IMPRENSA COMO FONTE PARA HISTOacuteRIA DO BRASIL In PAULA Euriacutepedes Simotildees de Portos Rotas e Comeacutercio Satildeo Paulo 1971
LIM A Ivana Stolze Com a palavra a cidade mesticcedila Imprensa poliacutetica e identidade no Rio de Janeiro 1831 ndash 1833 Fundaccedilatildeo Casa de Rui Barbosa Rio de Janeiro 1998
64
LUCA Tania Regina de Histoacuteria dos nos e por meio dos perioacutedicos In Org PINSK Y
Carla Bassanezi Fontes Histoacuterias Satildeo Paulo Ed Contexto 2005
SCHERER M arta Eymael Garcia Bilac ndash Sem Poesia Crocircnicas de um jornalista da Belle Eacutepoque Universidade Federal de Santa Catarina 2008
M ENDES Iba Olavo Bilac Crocircnicas e Novelas Poeteiro Editor Digital Satildeo Paulo 2014 NUNES Radameacutes V ieira Literatura e Imprensa Barreto e Bilac entre a Arte e
Ofiacutecio Emblemas Goiaacutes v 8 n 2 p201-226 jul 2011 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
M ONTILHA Thiago Roza Ialdo Olavo Bilac e a Questatildeo da Instruccedilatildeo no Brasil (1897 ndash 1908) Intellegravectus Rio de Janeiro ano X IV n 1 p 57 ndash 76 2015
NUNES Radameacutes V ieira Crocircnicas e Cronistas no Ritmo das M aacutequinas Emblemas Goiaacutes
v 9 n 1 p129-145 jan 2012 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
SILVA Renata Refino da Monteiro Lobato e a Revista do Brasil (1916 ndash 1925)
Representaccedilotildees de Ciecircncia Literatura Arte e Histoacuteria Anais do XXVI Simpoacutesio
Nacional de Histoacuteria - ANPUH Satildeo Paulo julho 2011
SILVA M auriacutecio Literatura e Publicidade no Preacute-Modernismo Brasileiro Uma Introduccedilatildeo Criacutetica Cultural Santa Catarina v 1 n1 jan Semestral 2006
SILVA Danyelle M arques Freire da A Constituiccedilatildeo do Espaccedilo em Vida Ociosa de
Godofredo Rangel UninCor ndash Universidade Vale do Rio Verde Trecircs Coraccedilotildees 2013
SILVA M auriacutecio Profissionalizaccedilatildeo do Escritor e Publicidade Editorial Dois Capiacutetulos
da Leitura Preacute-Modernista no Brasil M agma Satildeo Paulo n 6 p 66 ndash 77 1999
BECK ER Elizamari Rodrigues Forccedilas Motrizes de uma Contiacutestica Preacute-Modernista O
Papel da Traduccedilatildeo na Obra Ficcional de Monteiro Lobato Universidade Federal do Rio
Grande do Sul Porto A legre 2006
ARAUJO Jean M arcel Oliveira O Preacute-Modernismo A luta entre passadistas modernos e modernistas no campo artiacutestico brasileiro Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo ndash RJ n 1 p
117 ndash 134 jul semestral 2012
GUIM ARAtildeES Fernando Simbolismo Modernismo e Vanguardas Imprensa Nacional ndash
Casa da M oeda 3ordf Ed Rio de Janeiro 2004
VELLOSO M ocircnica A Modernidade Carioca na Sua Vertente Humoriacutestica Estudos
Histoacutericos Rio de Janeiro v 8 n 16 p 269-278 1995
65
M ORAES Eduardo Jardim Modernismo Revisitado Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v
1 n 2 p 220 ndash 238 1988
STRELOW A line Jornalismo literaacuterio e cultural Perspectiva Histoacuterica Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Disponiacutevel em lt wwwboccubiptgt
RAM OS Gabriela A Crocircnica como Interseccedilatildeo entre jornalismo e literatura Intercom ndash
Sociedade Brasileira de Estudos Interdiscipl inares das Comunicaccedilatildeo XV II Congresso de
Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo da Regiatildeo Sudeste Ouro Preto 2012
SCHERER M arta E G Um Jornalismo Belle Eacutepoque In SCHERER M arta E G
Imprensa e Belle Eacutepoque - Olavo Bilac o jornalismo e suas histoacuterias Ed Unisul
PalhoccedilaSC 2012
RIBEIRO Ana Paula Goulart Nelson Werneck Sodreacute e a histoacuteria da imprensa no
Brasil Intercom Revista Brasileira de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo [sl] v 38 n 2 p275-
288 dez 2015 FapUNIFESP (SciELO) Disponiacutevel em lthttpdxdoiorg1015901809-
58442015214gt
SILVA M auriacutecio Cultura de Mercado Literatura e Publicidade no preacute-modernismo brasileiro Via A tlacircntica Satildeo Paulo n 20 p 75 ndash 87 dez 2011
V IANNA Rafael de Bri to Os Renegados da Histoacuteria A importacircncia dos preacute-modernos para o pensamento nacional Revista Brasileira de Histoacuteria amp Ciecircncias Sociais v 3 n 5 p
127 ndash 131 Jul 2011
BEAL Sophia A Transformaccedilatildeo das Trevas na Literatura Preacute-Modernista Pensares em
Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 76 -91 jul Semestral 2012
L INS Vera Lucia de Oliveira Os simbolistas Virando o Seacuteculo Pensares em Revista Satildeo
Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 135 - 143 Jul Semestral 2012
BATALHA M aria Cristina Lima Barreto e o vieacutes do realismo popular na literatura brasileira Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 51 - 65 Jul Semestral
2012
FIGUEIREDO Carmen Lucia Negreiros O Mal-estar de Isaiacuteas A crise do Romance em
Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 35 - 50 Jul
Semestral 2012
GENS Rosa Retratos em Cantoneiras Imagens do Rio de Janeiro Belle Eacutepoque em Joatildeo do Rio e Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 66 -
75 jul Semestral 2012
66
M ENDES Leonardo Pinto Juacutelio Ribeiro O Naturalismo e a Dessacralizaccedilatildeo da Literatura Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 4 p 26 - 42 jul Semestral
2014
RIO Joatildeo do Cinematoacutegrafo Crocircnicas Cariocas Academia Brasileira de Letras ndash Coleccedilatildeo
Afracircnio Peixoto Rio de Janeiro 2009
ZANON M aria Cecil ia A Sociedade Carioca da Belle Eacutepoque nas paacuteginas do Fon-Fon
Patrimocircnio e M emoacuteria Satildeo Paulo v 4 n 2 p ndash 217 ndash 235 jun 2009
DOIN Joseacute Evaldo de M ello NETO Humberto Perinell i PAZIANI Rodrigo Ribeiro
PACANO Faacutebio Augosto A Belle Eacutepoque caipira Problematizaccedilotildees e oportunidades interpretativas da modernidade e urbanizaccedilatildeo no Mundo do Cafeacute (1852 ndash 1930) ndash A
proposta do Cemumc Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v 27 n 53 p 91 ndash 122
Jun 2007
NOGUERIA Clara Asperti Revista Carets (1908 ndash 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo Impressa no Seacuteculo XX M iscelacircnea Assis v 8 p 60 ndash 80 jul 2010
OLIVEIRA Luacutecia Lippi A questatildeo nacional na Primeira Repuacuteblica Ed Brasil iense Satildeo
Paulo 1ordf Ed 1990 Disponiacutevel em lt httpwwwcpdocfgvbrgt
VENTURA Roberto Euclides da Cunha e a Repuacuteblica Aacuterea de Histoacuteria Cultural USP
29 de abril de 1994
M IGLIARI Well ington Preacute-Modernismo e Repuacuteblica Antinomias da Belle Eacutepoque no
Brasil Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 186 - 202 jul Semestral
2012
NEVES M argarida de Souza Os cenaacuterios da Repuacuteblica O Brasil na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX In NEVES M de S Os cenaacuterios da repuacuteblica O Brasil na virada
do seacuteculo X IX para o seacuteculo XX In DELGADO Luciacutel ia de A lmeida Neves e FERREIRA
Jorge Luiacutes (Orgs) Brasil Republicano Estado sociedade civi l e cultura poliacutetica O tempo do
l iberalismo excludente Da Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica agrave Revoluccedilatildeo de 1930 1a ed Rio de
Janeiro Civi lizaccedilatildeo Brasileira 2003
SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A Modernizaccedilatildeo do Rio de Janeiro nas crocircnicas de Olavo Bilac (1890 ndash 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador abri l de 2013
HALLER Joyce Uemoto Monteiro Lobato Literatura como expressatildeo do contexto (1890-1930) Universidade Estadual de M aringaacute M aringaacute 2012
SUMAacuteRIO
I INTRODUCcedilAtildeO1
II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS4
21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO4
22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE6
23 REALISMO6
24 NATURALISMO8
25 PARNASIANISMO9
26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO11
III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA16
31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE16
32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA21
33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA27
IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO38
41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM38
42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA41
43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO52
44 O PUacuteBLICO RECEPTOR53
45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA54
46 O DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO55
V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS59
VI FONTES62
VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICAS63
1
1 INTRODUCcedilAtildeO
O cotidiano dos homens e mulheres brasi leiros comeccedilou a se modif icar ao f inal do seacuteculo
X IX 1890 natildeo apenas no visual e no ambiente mas tambeacutem no social A s ruas estavam
comeccedilando a ser asfaltadas e deixando de ter espaccedilos para carroccedilas e ani mais comeccedilavam a
ser tomadas pelos carros automatizados lustres e grandes preacutedios aleacutem das fabricas
O modo de viver se modif icava em conjunto com o seu novo modo de trabalhar e seu
cotidiano A s faacutebricas tomavam conta e ditavam o horaacuterio e assim o homem comum tinha
uma alteraccedilatildeo completa de seu cotidiano e da sua inf luecircncia na sua produccedilatildeo no trabalho O
homem l i teraacuterio tambeacutem sofreu com as mudanccedilas que ocorriam na cidade ao contraacuterio do
pensamento comum
Jornais e revistas estavam mudando seu formato de produccedilatildeo drasticamente aleacutem de suas
periodicidades Se antes algum destes queriam um formato mais especif ico necessitava pedir
a impressatildeo no exterior e entatildeo ela iria ser distribuiacuteda no Brasi l como era o caso da revista
Kosmos Com a mudanccedila industrial era agora possiacutevel a real izaccedilatildeo no proacuteprio escri toacuterio do
perioacutedico aleacutem do mesmo sair em nuacutemeros maiores e com uma frequecircncia mais assiacutedua
fazendo assim ser possiacutevel viver da arte de ser escri tor com mais ef iciecircncia
A maneira da informaccedilatildeo chegar no f inal do X IX tambeacutem estava se modif icando Com o
teleacutegrafo as notiacutecias eram mais dinacircmicas e informantes eram espalhados ao redor do mundo
O Brasi l se inf luenciava de maneira mais constante em suas escri tas com novas maquinas de
escrever e de transcriccedilatildeo com as datas de publicaccedilotildees muito mais proacuteximas com essas
modif icaccedilotildees grandes em seu cotidiano de escri ta principalmente porque com a mudanccedila
agora seria possiacutevel viver apenas de l i teratura graccedilas a demanda
A s transformaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo alteraram apenas a imagem dos jornais e das revistas
mas tambeacutem como dito anteriormente sua participaccedilatildeo nestes A s imagens agora natildeo soacute
eram mero enfeite e raras agora fazendo grande parte dos textos a caricatura fotograf ia e ateacute
mesmo charge ajudavam a formar o pensamento e a estrutura do texto que sempre
acompanhavam e como o nuacutemero de leitores natildeo crescia conforme o nuacutemero de lanccedilamentos
a imagem se era muitas vezes mais efetiva proporcionando assim ldquoo ensaio da comunicaccedilatildeo
de massardquo 1
1 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p83
2
A alfabetizaccedilatildeo foi um grande foco de investimento para a Nova Repuacuteblica e o
acompanhamento de imagens nestes perioacutedicos era essencial ldquoA evoluccedilatildeo teacutecnica do
impresso o investimento na alfabetizaccedilatildeo os incentivos agrave aquisiccedilatildeo eou fabricaccedilatildeo de papel
rdquo 2 a quantidade de jornais e revistas que eram vendidos tambeacutem era uma forma da Repuacuteblica
que havia acabado de se formar ter uma noccedilatildeo de quantas pessoas eram letradas ou que
estavam a caminho de se tornarem de fato assim
O debate entre os homens de letras da eacutepoca del imitada entre 1890 e 1923 era assiacuteduo
mas natildeo quanto a questotildees poliacuteticas da eacutepoca e sim as mudanccedilas do cotidiano que os estavam
afetando A poliacutetica soacute aparecia quando o assunto eram as mudanccedilas que ocorriam no
ambiente poliacutetico e social Bi lac faz uma anaacutelise que corrobora completamente com as
fotografias que o jornal passava ldquoQue natildeo seraacute quando da velha cidade colonial
estupidamente conservada ateacute agora como um pesadelo do passado apenas restar a
lembranccedila rdquo3
Com o questionamento sobre como se inf luecircncia uma grande maioria i letrada a natildeo
apenas acreditar na Repuacuteblica como tambeacutem mudar toda a perspectiva que se tem quanto ao
entatildeo monarca busco entender qual eacute a participaccedilatildeo deste homem de letras como o moderno
o ajudou natildeo apenas a aumentar sua importacircncia no imaginaacuterio popular como o trouxe como
celebridade
A ssim busco discutir no primeiro capitulo a Belle Eacutepoque e todas as transformaccedilotildees
l i teraacuterias que a mesma trouxe modif icou e ateacute mesmo criou no Brasi l discutindo entre estes
movimentos l i teraacuterios com algumas representaccedilotildees de autores para exemplif icar o movimento
e a sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de um ideal poliacutetico Brasi leiro
No segundo capiacutetulo todo o movimento poliacutetico que a Belle Eacutepoque trouxe em seu
discurso por estes autores e sua necessidade de Repuacuteblica com a democracia da palavra em
conjunto com a vinda da Repuacuteblica por parte dos mil i tares
No uacuteltimo capiacutetulo apresento as mudanccedilas que essa perspectiva modernista trouxe para o
paiacutes e como ela alterou natildeo apenas a imagem do Rio de Janeiro como tambeacutem o cotidiano e a
perspectiva do homem comum e o de letras sobre o moderno4 e sobre as atividades cotidianas
2 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 84 3 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 93 4 Relativo ou pertencente agrave eacutepoca histoacuterica em que se vive
3
e suas responsabi l idades assim como tambeacutem os modernismos 5 que trouxe em jornais em
revistas
5 Tendecircncias e gostos ao que se eacute moderno
4
II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS
21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO
No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de
que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes
transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o
progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma
modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar
necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes
A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser
construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro
A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que
poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo
X IX e comeccedilo do seacuteculo X X
ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia
um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do
A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada
emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar
daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro
das picaretas abafava esse protesto impotente
Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como
as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las
diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da
hygiene do bom gosto e da arterdquo 6
O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa
que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que
favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de
comunicaccedilatildeo e de transporte
6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt
5
Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento
tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a
educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo
principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma
forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo
remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter
tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e
seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo
Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870
ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande
transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a
crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como
jornal istas
Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e
faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute
mesmo os criassem
A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto
para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para
mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo
A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo
tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute
por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo
ideoloacutegica
A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e
quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu
lado
A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l
V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser
efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer
ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e
assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute
acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo
7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro
6
22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE
Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua
l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como
Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a
escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes
Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita
eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que
a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por
vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro
momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance
urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A
valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver
Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas
ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele
surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre
a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como
uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia
da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens
23 REALISMO
O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares
Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a
real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De
uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico
O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito
representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem
tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa
7
Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo
tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute
um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l
demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na
seacuterie ldquoBons diasrdquo9
M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca
natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer
o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus
acontecimentos
Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os
narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de
uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um
pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do
que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10
ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e
que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais
amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()
O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos
princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava
tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos
termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada
enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11
Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio
leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua
8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013
8
zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo
ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam
Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua
l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias
Poacutestumas de Braacutes Cubas
A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca
brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento
ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo
exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o
homem vive e o que ele eacute
A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba
cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle
conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um
alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12
24 NATURALISMO
O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque
principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o
homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua
ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13
Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens
comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior
sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do
cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l
percepccedilatildeo no interior
O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento
eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas
e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o
moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava
tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior
12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista
9
O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas
ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo
sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas
Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua
l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor
25 PARNASIANISMO
O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e
conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente
Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e
o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos
ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do
tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir
tinha se tornado algo f reneacutetico
O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a
necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre
palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas
Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio
interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o
parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de
M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para
o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o
mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes
Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social
para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu
e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem
Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando
da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas
ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu
candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -
pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler
10
e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de
ser algueacutemrdquo 14
Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era
necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os
acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria
se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando
A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais
baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por
meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um
estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo
A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem
investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens
ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num
paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O
melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a
memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria
Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e
escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar
esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode
merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os
caracteres do alfabetordquo 15
Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para
construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores
entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de
trabalho
Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a
instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees
14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015
11
26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO
Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um
movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos
os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides
da Cunha e M onteiro Lobato
Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da
l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua
maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum
Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares
de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos
Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como
uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e
poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar
ateacute eles
A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que
de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e
caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a
imagem do que era discutido e narrado
M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra
haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de
algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que
estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo
ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo
brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel
o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que
nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de
busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro
prometiardquo 16
16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144
12
Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica
estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a
sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente
A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no
jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos
por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado
Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies
e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de
renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto
Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado
como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando
momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees
Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma
vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por
dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua
identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista
e materialistardquo 17
Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se
relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem
questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o
movimento Republicano
ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a
evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas
qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e
a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos
Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18
L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela
modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo
17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
13
entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute
mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele
ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do
passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de
modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais
suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de
ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20
E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como
dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela
si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor
ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio
Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute
este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21
ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande
de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um
outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros
e um pouco devido a mim
[ ]
A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os
acontecimentosrdquo 22
Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a
formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa
marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um
governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes
natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23
19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
14
Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios
que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve
ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves
V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de
chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam
criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas
simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos
trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24
M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o
trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na
terra em sua obra como Jeca Tatu
Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato
tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a
real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista
M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a
terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta
de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral
Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava
neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando
assim o estrago e atraso a naccedilatildeo
Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um
ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida
votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava
que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio
personagem Jeca Tatu
Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto
uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo
M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo
trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo
24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010
15
O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria
cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles
ocorriam ou quais suas separaccedilotildees
ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar
riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com
produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que
criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e
atrairrdquo 26
A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento
cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o
seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas
sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o
homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas
26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194
16
III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA
31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE
O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que
modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria
social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento
possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da
modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura
da cidade
O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial
(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas
junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em
conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de
Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que
consomem matildeos de obra
Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava
tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade
que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem
do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava
acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de
ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27
Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa
nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de
Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver
ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do
trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram
quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro
27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41
17
principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo
radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28
Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que
nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se
estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as
estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da
Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a
condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional
Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo
assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das
autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte
A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas
nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees
do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de
fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos
prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do
paiacutes
ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam
capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade
funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio
moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados
operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31
28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58
18
Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890
Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt
httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt
A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua
visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a
todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No
primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as
donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10
horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo
burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua
19
A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por
todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro
de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro
O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em
todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia
A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre
a Rua do Ouvidor
ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o
melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse
monopoacutel io
A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se
reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde
aparecem as novidades
()
Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a
cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um
conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos
perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha
quer queiram quer natildeo
()
A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo
transtornadosrdquo 33 34
A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose
Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme
atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana
E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo
trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra
do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos
principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
20
A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem
trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a
popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se
tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista
queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros
Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma
leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio
de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de
conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a
proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos
eles pois a rua era isso A presentadora da vida
ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua
do Ouvidorrdquo35
Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis
l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa
forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre
se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se
migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural
A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada
com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos
pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente
todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro
Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por
mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em
conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime
Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua
35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
21
impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves
exigecircncias do progresso36
32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA
A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao
paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo
comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que
circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim
Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com
as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta
de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes
que estava se formando e muito menos para o seu povo
Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas
notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia
presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando
36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76
22
Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees
Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt
Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se
esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a
imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute
l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores
A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a
rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta
de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo
A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto
ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas
escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo
analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo
necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem
tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura
A s legendas em ordem satildeo
23
2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im
senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo
3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por
um grande zero constitucionalrdquo
4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos
sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de
tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo
5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal
fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo
M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se
expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o
mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados
assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o
Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos
Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais
eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo
tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente
perdia sua sacral idade
Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o
monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que
rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro
histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo
rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca
como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada
O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e
demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um
esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a
republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar
37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47
24
Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se
tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro
no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica
ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as
maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano
nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano
()
SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as
camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a
menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de
deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram
natildeo passaram de falsos eleitos ()
Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que
SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala
do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto
Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala
do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada
tinha drsquoesta vezrdquo40
A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria
da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse
sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se
empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da
populaccedilatildeo de todo o paiacutes
Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam
por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que
ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a
maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i
passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um
futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo
40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt
25
A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando
sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas
que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes
quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890
ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir
por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de
A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-
imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas
despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash
mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do
governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um
adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes
teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e
houradezrdquo Barbadinho41
A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra
Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela
que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees
para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma
grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em
seu grupo soacute que em um governo Republicano
A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento
de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental
A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade
A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o
tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato
se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre
M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser
efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras
41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17
26
preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a
l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762
ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da
L iberdade (1823) 43
ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em
l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria
seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que
tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja
debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de
ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44
A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio
a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de
fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes
possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a
ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este
objetivo
Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas
um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros
poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era
o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem
formada
A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem
censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a
palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico
Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem
possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da
populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45
43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24
27
O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas
decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l
transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e
igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46
Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por
essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo
governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da
sociedade47
ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso
pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi
um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do
aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas
para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48
O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se
criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco
desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro
A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a
nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como
demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma
de Lima Barreto
33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA
A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da
repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais
ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa
oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79
28
tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto
pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49
O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou
uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a
homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os
fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas
consequecircncias nos anos de 1870 e 1880
Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a
toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma
de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de
respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas
A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta
disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na
academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas
academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica
Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro
com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra
perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato
l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda
mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia
Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra
do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com
engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe
totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de
intelectual
Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute
possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo
sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l
precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar
quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio
49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
29
Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da
Repuacuteblica e eles se viam
ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da
civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime
poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada
que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma
profissatildeo desprestigiadardquo50
O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando
ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de
junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos
fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen
que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje
mais amanhatilde
O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e
hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os
lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro
da America
()
Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque
isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais
admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional
Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51
Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos
homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute
50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt
30
mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos
mil i tares A Repuacuteblica Francesa
Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar
muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque
partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de
Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias
ldquoPROCLAMACcedilAtildeO
O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo
ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em
perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos
residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da
dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema
monarchico ndash representativo
Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter
essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo
provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a
l iberdade e os direitos dos cidadatildeos
()
Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da
soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e
da ordemrdquo 53
Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que
era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos
que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade
para o que quiser
52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
31
Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca
Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt
Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt
A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para
com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o
povo brasileiro poderia ter pela frente
A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram
sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou
charges sobre quem estava no comando
Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as
seguintes informaccedilotildees
ldquoMinisterio do Governo Provisorio
Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca
M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo
M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o
Sr Quintino Bocayuva
M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy
Barbosa
M inistro da guerra Dr Benjamin Constant
M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva
M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa
32
M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54
Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva
de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista
I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA
republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo
ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo
Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e
entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em
no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo
A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e
revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram
expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele
momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo
mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso
A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo
com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e
assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do
Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares
Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a
nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre
que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que
estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890
M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o
animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada
mostra
54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
33
Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo
Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
Seguindo do texto aqui resumido
ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional
dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo
de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico
M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje
outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria
recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma
concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im
garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes
com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e
de prosperidade
()
O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o
como a uma gloria nacional
Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes
do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os
nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo
()
34
Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de
leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de
primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que
l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica
na sua unidade republicana
A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela
gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas
paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um
estridente viva ao futuro da patria
Viva a Republicardquo 55
Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891
voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por
algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas
boas
Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25
anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com
mais de 21 anos e letrados
No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a
representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo
55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt
35
Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l
Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
A imagem que traz os seguintes dizeres
ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma
consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos
terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do
dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre
HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56
A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera
ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees
presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante
Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional
Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises
56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt
36
econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de
dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de
estado no mesmo ano
Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o
lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de
Notiacutecias
A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro
ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao
paiz a mais plena conf ianccedila
Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes
circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que
poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos
seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e
de respeito aacute lei o seu governo
Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da
Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57
A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do
general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo
rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees
geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma
reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano
A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as
eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola
que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente
de M oraes
57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt
37
A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em
suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova
narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento
A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca
como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento
de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com
a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem
de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado
61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina
38
IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO
41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM
O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se
espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de
cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l
uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura
conforto e progresso
A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente
comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de
ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de
Janeiro
Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas
comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam
placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar
f reneacutetico
O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava
letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por
exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais
discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico
A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo
neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente
diferente do que antes
A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava
em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de
crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo
formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os
mesmos
O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus
mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem
62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
39
vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para
de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a
mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo
Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem
brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia
O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era
e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e
poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado
ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e
natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de
pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63
O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias
agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos
deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais
velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais
energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia
Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu
referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova
vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura
raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64
ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma
Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma
Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65
O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo
se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99
40
enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida
eis os modernos ideaisrdquo66
ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite
lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa
numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela
seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a
perderrdquo67
O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido
se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por
todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real
ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o
tempo para a sua assimilaccedilatildeo
ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio
ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate
depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l
ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para
acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as
breves funccedilotildees da vida breverdquo 68
A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha
mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do
que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu
integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69
Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para
viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de
66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268
41
fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua
essecircncia
Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus
conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma
faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel
e irredutiacutevel70
42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA
A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de
Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era
moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era
A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como
um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo
quanto para a divulgaccedilatildeo
A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido
criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na
Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser
divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas
dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa
Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras
brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo
letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para
diferentes puacutebl icos
A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se
recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que
um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial
ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees
que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa
moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca
70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013
42
capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e
demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72
A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca
em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos
uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo
mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a
se reapresentar 73
A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao
jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de
apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia
O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona
reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o
cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e
imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo
A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de
vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o
aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando
assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74
ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas
principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens
quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para
determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas
mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se
indispensaacuteveisrdquo75
72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006
43
A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e
principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou
qualquer outro produto advindo da modernidade
A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o
homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo
visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma
simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer
lugar
Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar
de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo
do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura
Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma
de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de
se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais
ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da
i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo
de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76
Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac
questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando
a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o
escritor
A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e
revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia
tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia
proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para
literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos
trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77
76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94
44
M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa
modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as
efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios
semanais quinzenais ou mensais
Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt
Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt
O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e
obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da
legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e
com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo
A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo
contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um
sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78
78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57
45
A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas
como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor
logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar
as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor
Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt
A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute
possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e
vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de
forma mundana
O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a
atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas
de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas
46
primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma
modernidade em seu cotidiano
A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada
vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma
criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo
outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame
podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema
especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para
chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo
Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A
f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que
chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de
1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os
dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro
Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo
47
Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889
Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt
Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de
Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as
implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de
folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca
ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo
entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino
caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento
abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem
de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a
intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os
diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas
femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias
48
mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e
interessesrdquo79
M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como
Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa
necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas
mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como
esportivas e femininas
Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo
Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt
79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130
49
Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo
Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt
Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo
Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
50
Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu
nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era
necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo
dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de
existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo
Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de
ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas
poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por
isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que
perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081
Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver
tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens
relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que
ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo
Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista
entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas
capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em
primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre
escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas
A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo
tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica
scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os
l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto
Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que
vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas
escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples
mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt
51
simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma
vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com
o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica
Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A
modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84
Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a
Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos
seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos
volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com
personagens com feiccedilotildees engraccediladas
M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo
que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo
ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo
frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com
baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86
embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo
Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre
o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam
transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior
vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias
de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma
vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro
de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88
O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser
def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado
84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
52
A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir
diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados
como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu
desejo de imagem
43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO
Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram
adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do
nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum
folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer
um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance
l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia
Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de
pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar
sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da
populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem
Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos
de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89
levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova
aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo
Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o
Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais
propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l
inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro
A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi
essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais
pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores
A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da
populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e
ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais
que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38
53
divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora
isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva
44 O PUacuteBLICO RECEPTOR
A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a
mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida
com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova
ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo
cultural da sociedade cariocardquo 90
O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos
jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o
espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se
estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para
que qualquer coisa ocorresse
A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se
importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim
para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si
provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo
Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a
atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas
divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam
tambeacutem
ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de
associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes
mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada
M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas
i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos
para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores
ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo
90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19
54
clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo
(M ELLO 2007)91
O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o
crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais
populares a aceitassem de fato
A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute
citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam
introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo
outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i
estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92
45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA
Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a
oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a
modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida
sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria
A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o
exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas
M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova
velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e
Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do
Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o
teatro em abundacircnciardquo93
O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive
A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais
propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a
91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75
55
tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de
ambiente
ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando
depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas
jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a
produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a
pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se
produzia
A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se
tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a
pagarem jantares ou ida a bares
A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver
por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a
luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos
para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma
parcela ser respeitada e mais do que ouvida
Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para
a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo
republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais
do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo
progresso e democracia95
46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO
O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com
ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis
cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas
pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l
94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
56
ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi
sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser
- Para ser
- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem
relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um
trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado
do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96
A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate
poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a
comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a
automatizaccedilatildeo
A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de
escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo
uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que
o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda
natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o
escri to causa uma perca e uma falta de sentido
M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve
como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos
intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta
questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no
Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97
Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que
ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se
era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor
exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido
O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se
tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou
apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil
Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97
57
manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute
chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se
transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar
Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor
se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no
universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os
platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98
Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de
jornais e revistas
L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito
tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos
perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi
lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e
sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres
ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico
saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes
desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel
infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe
desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em
vermelhordquo 99
Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o
produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas
chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos
M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir
recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo
homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre
pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo
para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para
98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual
58
mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde
nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem
atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores
M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na
primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de
criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l
ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a
condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia
arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a
intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos
aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e
as tempestades do futurordquo 100
A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para
escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos
principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l
aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a
industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo
Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a
paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se
escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina
podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra
perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria
direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano
100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
59
V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram
para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados
uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem
i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia
A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer
mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo
rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas
Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no
Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio
do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como
O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o
intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca
que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia
chegar a todos
Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no
mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas
quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico
movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia
A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a
tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem
i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor
de si mesmo
A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem
a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um
desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela
eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute
Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo
brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a
fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era
aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de
que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura
60
A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava
para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma
representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares
O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que
envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com
o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a
segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do
meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever
e falar
A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de
suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a
mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a
aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico
O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo
difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas
af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o
novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas
de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes
Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas
obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que
eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma
efetiva
O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram
discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu
redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles
deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o
que a populaccedilatildeo brasi leira representava
Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com
que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como
uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria
dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social
O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era
produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o
61
homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era
nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade
em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo
62
VI FONTES
Gazeta de Notiacutecias (1890 ndash 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03amp PagFis=0gt
Jornal do Brazil (1890 ndash 1920) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_01amp pasta=ano20189=gt
Revista Kosmos (1900 - 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amp pasta=ano20190amp =gt
Revista Careta (1900 ndash 1929) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=083712amp pasta=ano20190amp pesq=gt
Revista I l lustrada (1890 ndash 1899) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pasta=ano20189amp pesq=gt
63
VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICA
M ARTINS Ana Luiza LUCA Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed
Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordf Ed 2003
SUumlSSEK IND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1 Reimpressatildeo 2006
M ELLO M aria Tereza Chaves de A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 1ordf Ed 2007
CARVALHO Joseacute M urilo de A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 7ordf Ed 1998
BEJAM IN Walter A Obra de Arte na Eacutepoca de sua Reprodutibilidade Teacutecnica In
L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
HORK HEIM ER M ax ADORNO Theodor W A Induacutestria Cultural o Iluminismo como Mistificaccedilatildeo de Massas In L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e
Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
CURRAN M ark J Histoacuteria do Brasil em Cordel Ed EDUSP Editora da Universidade de
Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1ordf Ed 2009
RIBEIRO Ana Paula Goulart FERREIRA Lucia M aria A lves Miacutedia e Memoacuteria A Produccedilatildeo de Sentidos nos Meios de Comunicaccedilatildeo Ed M AUAD Rio de Janeiro 1ordf Ed
2007
COSTA Cleacuteria Botelho da M ACHADO M aria Clara Tomaz Histoacuteria e Literatura
Identidade e Fronteiras Ed EDUFU Uberlacircndia 1ordf Ed 2006 GOM ES Angela de Castro A Poliacutetica Brasileira em Busca da Modernidade na Fronteira
entre o puacuteblico e o privado In Org SCHWARCZ Lil ia M oritz Histoacuteria da V ida privada
no Brasil vol 4 Ed Companhia das Letras 1ordf Ed 1998
CHALHOUB Sidney PEREIRA Leonardo A ffonso de M A Histoacuteria Contada Capiacutetulos de Histoacuteria Social da Literatura no Brasil Ed Nova Fronteira 1ordf Ed 1998
CAM ARGO Ana M aria de A lmeida A IMPRENSA COMO FONTE PARA HISTOacuteRIA DO BRASIL In PAULA Euriacutepedes Simotildees de Portos Rotas e Comeacutercio Satildeo Paulo 1971
LIM A Ivana Stolze Com a palavra a cidade mesticcedila Imprensa poliacutetica e identidade no Rio de Janeiro 1831 ndash 1833 Fundaccedilatildeo Casa de Rui Barbosa Rio de Janeiro 1998
64
LUCA Tania Regina de Histoacuteria dos nos e por meio dos perioacutedicos In Org PINSK Y
Carla Bassanezi Fontes Histoacuterias Satildeo Paulo Ed Contexto 2005
SCHERER M arta Eymael Garcia Bilac ndash Sem Poesia Crocircnicas de um jornalista da Belle Eacutepoque Universidade Federal de Santa Catarina 2008
M ENDES Iba Olavo Bilac Crocircnicas e Novelas Poeteiro Editor Digital Satildeo Paulo 2014 NUNES Radameacutes V ieira Literatura e Imprensa Barreto e Bilac entre a Arte e
Ofiacutecio Emblemas Goiaacutes v 8 n 2 p201-226 jul 2011 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
M ONTILHA Thiago Roza Ialdo Olavo Bilac e a Questatildeo da Instruccedilatildeo no Brasil (1897 ndash 1908) Intellegravectus Rio de Janeiro ano X IV n 1 p 57 ndash 76 2015
NUNES Radameacutes V ieira Crocircnicas e Cronistas no Ritmo das M aacutequinas Emblemas Goiaacutes
v 9 n 1 p129-145 jan 2012 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
SILVA Renata Refino da Monteiro Lobato e a Revista do Brasil (1916 ndash 1925)
Representaccedilotildees de Ciecircncia Literatura Arte e Histoacuteria Anais do XXVI Simpoacutesio
Nacional de Histoacuteria - ANPUH Satildeo Paulo julho 2011
SILVA M auriacutecio Literatura e Publicidade no Preacute-Modernismo Brasileiro Uma Introduccedilatildeo Criacutetica Cultural Santa Catarina v 1 n1 jan Semestral 2006
SILVA Danyelle M arques Freire da A Constituiccedilatildeo do Espaccedilo em Vida Ociosa de
Godofredo Rangel UninCor ndash Universidade Vale do Rio Verde Trecircs Coraccedilotildees 2013
SILVA M auriacutecio Profissionalizaccedilatildeo do Escritor e Publicidade Editorial Dois Capiacutetulos
da Leitura Preacute-Modernista no Brasil M agma Satildeo Paulo n 6 p 66 ndash 77 1999
BECK ER Elizamari Rodrigues Forccedilas Motrizes de uma Contiacutestica Preacute-Modernista O
Papel da Traduccedilatildeo na Obra Ficcional de Monteiro Lobato Universidade Federal do Rio
Grande do Sul Porto A legre 2006
ARAUJO Jean M arcel Oliveira O Preacute-Modernismo A luta entre passadistas modernos e modernistas no campo artiacutestico brasileiro Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo ndash RJ n 1 p
117 ndash 134 jul semestral 2012
GUIM ARAtildeES Fernando Simbolismo Modernismo e Vanguardas Imprensa Nacional ndash
Casa da M oeda 3ordf Ed Rio de Janeiro 2004
VELLOSO M ocircnica A Modernidade Carioca na Sua Vertente Humoriacutestica Estudos
Histoacutericos Rio de Janeiro v 8 n 16 p 269-278 1995
65
M ORAES Eduardo Jardim Modernismo Revisitado Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v
1 n 2 p 220 ndash 238 1988
STRELOW A line Jornalismo literaacuterio e cultural Perspectiva Histoacuterica Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Disponiacutevel em lt wwwboccubiptgt
RAM OS Gabriela A Crocircnica como Interseccedilatildeo entre jornalismo e literatura Intercom ndash
Sociedade Brasileira de Estudos Interdiscipl inares das Comunicaccedilatildeo XV II Congresso de
Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo da Regiatildeo Sudeste Ouro Preto 2012
SCHERER M arta E G Um Jornalismo Belle Eacutepoque In SCHERER M arta E G
Imprensa e Belle Eacutepoque - Olavo Bilac o jornalismo e suas histoacuterias Ed Unisul
PalhoccedilaSC 2012
RIBEIRO Ana Paula Goulart Nelson Werneck Sodreacute e a histoacuteria da imprensa no
Brasil Intercom Revista Brasileira de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo [sl] v 38 n 2 p275-
288 dez 2015 FapUNIFESP (SciELO) Disponiacutevel em lthttpdxdoiorg1015901809-
58442015214gt
SILVA M auriacutecio Cultura de Mercado Literatura e Publicidade no preacute-modernismo brasileiro Via A tlacircntica Satildeo Paulo n 20 p 75 ndash 87 dez 2011
V IANNA Rafael de Bri to Os Renegados da Histoacuteria A importacircncia dos preacute-modernos para o pensamento nacional Revista Brasileira de Histoacuteria amp Ciecircncias Sociais v 3 n 5 p
127 ndash 131 Jul 2011
BEAL Sophia A Transformaccedilatildeo das Trevas na Literatura Preacute-Modernista Pensares em
Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 76 -91 jul Semestral 2012
L INS Vera Lucia de Oliveira Os simbolistas Virando o Seacuteculo Pensares em Revista Satildeo
Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 135 - 143 Jul Semestral 2012
BATALHA M aria Cristina Lima Barreto e o vieacutes do realismo popular na literatura brasileira Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 51 - 65 Jul Semestral
2012
FIGUEIREDO Carmen Lucia Negreiros O Mal-estar de Isaiacuteas A crise do Romance em
Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 35 - 50 Jul
Semestral 2012
GENS Rosa Retratos em Cantoneiras Imagens do Rio de Janeiro Belle Eacutepoque em Joatildeo do Rio e Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 66 -
75 jul Semestral 2012
66
M ENDES Leonardo Pinto Juacutelio Ribeiro O Naturalismo e a Dessacralizaccedilatildeo da Literatura Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 4 p 26 - 42 jul Semestral
2014
RIO Joatildeo do Cinematoacutegrafo Crocircnicas Cariocas Academia Brasileira de Letras ndash Coleccedilatildeo
Afracircnio Peixoto Rio de Janeiro 2009
ZANON M aria Cecil ia A Sociedade Carioca da Belle Eacutepoque nas paacuteginas do Fon-Fon
Patrimocircnio e M emoacuteria Satildeo Paulo v 4 n 2 p ndash 217 ndash 235 jun 2009
DOIN Joseacute Evaldo de M ello NETO Humberto Perinell i PAZIANI Rodrigo Ribeiro
PACANO Faacutebio Augosto A Belle Eacutepoque caipira Problematizaccedilotildees e oportunidades interpretativas da modernidade e urbanizaccedilatildeo no Mundo do Cafeacute (1852 ndash 1930) ndash A
proposta do Cemumc Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v 27 n 53 p 91 ndash 122
Jun 2007
NOGUERIA Clara Asperti Revista Carets (1908 ndash 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo Impressa no Seacuteculo XX M iscelacircnea Assis v 8 p 60 ndash 80 jul 2010
OLIVEIRA Luacutecia Lippi A questatildeo nacional na Primeira Repuacuteblica Ed Brasil iense Satildeo
Paulo 1ordf Ed 1990 Disponiacutevel em lt httpwwwcpdocfgvbrgt
VENTURA Roberto Euclides da Cunha e a Repuacuteblica Aacuterea de Histoacuteria Cultural USP
29 de abril de 1994
M IGLIARI Well ington Preacute-Modernismo e Repuacuteblica Antinomias da Belle Eacutepoque no
Brasil Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 186 - 202 jul Semestral
2012
NEVES M argarida de Souza Os cenaacuterios da Repuacuteblica O Brasil na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX In NEVES M de S Os cenaacuterios da repuacuteblica O Brasil na virada
do seacuteculo X IX para o seacuteculo XX In DELGADO Luciacutel ia de A lmeida Neves e FERREIRA
Jorge Luiacutes (Orgs) Brasil Republicano Estado sociedade civi l e cultura poliacutetica O tempo do
l iberalismo excludente Da Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica agrave Revoluccedilatildeo de 1930 1a ed Rio de
Janeiro Civi lizaccedilatildeo Brasileira 2003
SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A Modernizaccedilatildeo do Rio de Janeiro nas crocircnicas de Olavo Bilac (1890 ndash 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador abri l de 2013
HALLER Joyce Uemoto Monteiro Lobato Literatura como expressatildeo do contexto (1890-1930) Universidade Estadual de M aringaacute M aringaacute 2012
1
1 INTRODUCcedilAtildeO
O cotidiano dos homens e mulheres brasi leiros comeccedilou a se modif icar ao f inal do seacuteculo
X IX 1890 natildeo apenas no visual e no ambiente mas tambeacutem no social A s ruas estavam
comeccedilando a ser asfaltadas e deixando de ter espaccedilos para carroccedilas e ani mais comeccedilavam a
ser tomadas pelos carros automatizados lustres e grandes preacutedios aleacutem das fabricas
O modo de viver se modif icava em conjunto com o seu novo modo de trabalhar e seu
cotidiano A s faacutebricas tomavam conta e ditavam o horaacuterio e assim o homem comum tinha
uma alteraccedilatildeo completa de seu cotidiano e da sua inf luecircncia na sua produccedilatildeo no trabalho O
homem l i teraacuterio tambeacutem sofreu com as mudanccedilas que ocorriam na cidade ao contraacuterio do
pensamento comum
Jornais e revistas estavam mudando seu formato de produccedilatildeo drasticamente aleacutem de suas
periodicidades Se antes algum destes queriam um formato mais especif ico necessitava pedir
a impressatildeo no exterior e entatildeo ela iria ser distribuiacuteda no Brasi l como era o caso da revista
Kosmos Com a mudanccedila industrial era agora possiacutevel a real izaccedilatildeo no proacuteprio escri toacuterio do
perioacutedico aleacutem do mesmo sair em nuacutemeros maiores e com uma frequecircncia mais assiacutedua
fazendo assim ser possiacutevel viver da arte de ser escri tor com mais ef iciecircncia
A maneira da informaccedilatildeo chegar no f inal do X IX tambeacutem estava se modif icando Com o
teleacutegrafo as notiacutecias eram mais dinacircmicas e informantes eram espalhados ao redor do mundo
O Brasi l se inf luenciava de maneira mais constante em suas escri tas com novas maquinas de
escrever e de transcriccedilatildeo com as datas de publicaccedilotildees muito mais proacuteximas com essas
modif icaccedilotildees grandes em seu cotidiano de escri ta principalmente porque com a mudanccedila
agora seria possiacutevel viver apenas de l i teratura graccedilas a demanda
A s transformaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo alteraram apenas a imagem dos jornais e das revistas
mas tambeacutem como dito anteriormente sua participaccedilatildeo nestes A s imagens agora natildeo soacute
eram mero enfeite e raras agora fazendo grande parte dos textos a caricatura fotograf ia e ateacute
mesmo charge ajudavam a formar o pensamento e a estrutura do texto que sempre
acompanhavam e como o nuacutemero de leitores natildeo crescia conforme o nuacutemero de lanccedilamentos
a imagem se era muitas vezes mais efetiva proporcionando assim ldquoo ensaio da comunicaccedilatildeo
de massardquo 1
1 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p83
2
A alfabetizaccedilatildeo foi um grande foco de investimento para a Nova Repuacuteblica e o
acompanhamento de imagens nestes perioacutedicos era essencial ldquoA evoluccedilatildeo teacutecnica do
impresso o investimento na alfabetizaccedilatildeo os incentivos agrave aquisiccedilatildeo eou fabricaccedilatildeo de papel
rdquo 2 a quantidade de jornais e revistas que eram vendidos tambeacutem era uma forma da Repuacuteblica
que havia acabado de se formar ter uma noccedilatildeo de quantas pessoas eram letradas ou que
estavam a caminho de se tornarem de fato assim
O debate entre os homens de letras da eacutepoca del imitada entre 1890 e 1923 era assiacuteduo
mas natildeo quanto a questotildees poliacuteticas da eacutepoca e sim as mudanccedilas do cotidiano que os estavam
afetando A poliacutetica soacute aparecia quando o assunto eram as mudanccedilas que ocorriam no
ambiente poliacutetico e social Bi lac faz uma anaacutelise que corrobora completamente com as
fotografias que o jornal passava ldquoQue natildeo seraacute quando da velha cidade colonial
estupidamente conservada ateacute agora como um pesadelo do passado apenas restar a
lembranccedila rdquo3
Com o questionamento sobre como se inf luecircncia uma grande maioria i letrada a natildeo
apenas acreditar na Repuacuteblica como tambeacutem mudar toda a perspectiva que se tem quanto ao
entatildeo monarca busco entender qual eacute a participaccedilatildeo deste homem de letras como o moderno
o ajudou natildeo apenas a aumentar sua importacircncia no imaginaacuterio popular como o trouxe como
celebridade
A ssim busco discutir no primeiro capitulo a Belle Eacutepoque e todas as transformaccedilotildees
l i teraacuterias que a mesma trouxe modif icou e ateacute mesmo criou no Brasi l discutindo entre estes
movimentos l i teraacuterios com algumas representaccedilotildees de autores para exemplif icar o movimento
e a sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de um ideal poliacutetico Brasi leiro
No segundo capiacutetulo todo o movimento poliacutetico que a Belle Eacutepoque trouxe em seu
discurso por estes autores e sua necessidade de Repuacuteblica com a democracia da palavra em
conjunto com a vinda da Repuacuteblica por parte dos mil i tares
No uacuteltimo capiacutetulo apresento as mudanccedilas que essa perspectiva modernista trouxe para o
paiacutes e como ela alterou natildeo apenas a imagem do Rio de Janeiro como tambeacutem o cotidiano e a
perspectiva do homem comum e o de letras sobre o moderno4 e sobre as atividades cotidianas
2 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 84 3 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 93 4 Relativo ou pertencente agrave eacutepoca histoacuterica em que se vive
3
e suas responsabi l idades assim como tambeacutem os modernismos 5 que trouxe em jornais em
revistas
5 Tendecircncias e gostos ao que se eacute moderno
4
II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS
21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO
No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de
que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes
transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o
progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma
modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar
necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes
A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser
construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro
A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que
poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo
X IX e comeccedilo do seacuteculo X X
ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia
um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do
A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada
emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar
daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro
das picaretas abafava esse protesto impotente
Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como
as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las
diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da
hygiene do bom gosto e da arterdquo 6
O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa
que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que
favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de
comunicaccedilatildeo e de transporte
6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt
5
Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento
tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a
educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo
principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma
forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo
remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter
tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e
seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo
Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870
ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande
transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a
crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como
jornal istas
Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e
faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute
mesmo os criassem
A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto
para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para
mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo
A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo
tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute
por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo
ideoloacutegica
A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e
quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu
lado
A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l
V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser
efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer
ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e
assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute
acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo
7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro
6
22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE
Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua
l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como
Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a
escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes
Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita
eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que
a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por
vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro
momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance
urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A
valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver
Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas
ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele
surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre
a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como
uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia
da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens
23 REALISMO
O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares
Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a
real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De
uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico
O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito
representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem
tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa
7
Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo
tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute
um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l
demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na
seacuterie ldquoBons diasrdquo9
M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca
natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer
o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus
acontecimentos
Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os
narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de
uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um
pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do
que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10
ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e
que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais
amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()
O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos
princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava
tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos
termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada
enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11
Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio
leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua
8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013
8
zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo
ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam
Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua
l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias
Poacutestumas de Braacutes Cubas
A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca
brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento
ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo
exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o
homem vive e o que ele eacute
A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba
cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle
conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um
alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12
24 NATURALISMO
O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque
principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o
homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua
ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13
Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens
comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior
sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do
cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l
percepccedilatildeo no interior
O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento
eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas
e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o
moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava
tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior
12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista
9
O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas
ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo
sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas
Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua
l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor
25 PARNASIANISMO
O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e
conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente
Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e
o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos
ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do
tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir
tinha se tornado algo f reneacutetico
O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a
necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre
palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas
Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio
interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o
parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de
M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para
o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o
mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes
Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social
para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu
e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem
Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando
da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas
ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu
candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -
pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler
10
e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de
ser algueacutemrdquo 14
Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era
necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os
acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria
se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando
A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais
baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por
meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um
estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo
A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem
investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens
ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num
paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O
melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a
memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria
Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e
escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar
esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode
merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os
caracteres do alfabetordquo 15
Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para
construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores
entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de
trabalho
Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a
instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees
14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015
11
26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO
Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um
movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos
os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides
da Cunha e M onteiro Lobato
Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da
l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua
maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum
Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares
de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos
Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como
uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e
poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar
ateacute eles
A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que
de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e
caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a
imagem do que era discutido e narrado
M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra
haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de
algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que
estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo
ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo
brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel
o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que
nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de
busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro
prometiardquo 16
16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144
12
Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica
estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a
sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente
A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no
jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos
por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado
Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies
e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de
renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto
Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado
como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando
momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees
Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma
vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por
dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua
identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista
e materialistardquo 17
Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se
relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem
questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o
movimento Republicano
ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a
evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas
qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e
a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos
Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18
L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela
modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo
17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
13
entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute
mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele
ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do
passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de
modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais
suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de
ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20
E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como
dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela
si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor
ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio
Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute
este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21
ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande
de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um
outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros
e um pouco devido a mim
[ ]
A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os
acontecimentosrdquo 22
Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a
formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa
marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um
governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes
natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23
19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
14
Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios
que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve
ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves
V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de
chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam
criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas
simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos
trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24
M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o
trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na
terra em sua obra como Jeca Tatu
Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato
tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a
real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista
M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a
terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta
de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral
Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava
neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando
assim o estrago e atraso a naccedilatildeo
Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um
ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida
votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava
que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio
personagem Jeca Tatu
Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto
uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo
M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo
trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo
24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010
15
O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria
cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles
ocorriam ou quais suas separaccedilotildees
ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar
riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com
produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que
criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e
atrairrdquo 26
A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento
cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o
seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas
sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o
homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas
26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194
16
III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA
31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE
O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que
modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria
social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento
possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da
modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura
da cidade
O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial
(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas
junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em
conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de
Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que
consomem matildeos de obra
Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava
tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade
que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem
do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava
acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de
ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27
Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa
nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de
Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver
ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do
trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram
quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro
27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41
17
principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo
radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28
Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que
nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se
estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as
estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da
Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a
condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional
Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo
assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das
autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte
A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas
nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees
do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de
fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos
prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do
paiacutes
ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam
capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade
funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio
moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados
operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31
28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58
18
Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890
Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt
httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt
A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua
visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a
todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No
primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as
donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10
horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo
burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua
19
A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por
todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro
de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro
O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em
todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia
A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre
a Rua do Ouvidor
ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o
melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse
monopoacutel io
A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se
reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde
aparecem as novidades
()
Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a
cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um
conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos
perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha
quer queiram quer natildeo
()
A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo
transtornadosrdquo 33 34
A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose
Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme
atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana
E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo
trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra
do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos
principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
20
A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem
trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a
popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se
tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista
queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros
Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma
leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio
de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de
conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a
proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos
eles pois a rua era isso A presentadora da vida
ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua
do Ouvidorrdquo35
Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis
l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa
forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre
se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se
migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural
A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada
com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos
pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente
todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro
Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por
mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em
conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime
Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua
35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
21
impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves
exigecircncias do progresso36
32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA
A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao
paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo
comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que
circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim
Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com
as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta
de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes
que estava se formando e muito menos para o seu povo
Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas
notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia
presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando
36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76
22
Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees
Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt
Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se
esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a
imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute
l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores
A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a
rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta
de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo
A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto
ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas
escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo
analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo
necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem
tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura
A s legendas em ordem satildeo
23
2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im
senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo
3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por
um grande zero constitucionalrdquo
4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos
sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de
tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo
5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal
fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo
M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se
expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o
mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados
assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o
Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos
Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais
eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo
tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente
perdia sua sacral idade
Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o
monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que
rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro
histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo
rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca
como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada
O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e
demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um
esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a
republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar
37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47
24
Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se
tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro
no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica
ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as
maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano
nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano
()
SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as
camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a
menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de
deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram
natildeo passaram de falsos eleitos ()
Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que
SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala
do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto
Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala
do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada
tinha drsquoesta vezrdquo40
A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria
da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse
sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se
empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da
populaccedilatildeo de todo o paiacutes
Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam
por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que
ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a
maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i
passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um
futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo
40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt
25
A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando
sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas
que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes
quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890
ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir
por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de
A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-
imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas
despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash
mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do
governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um
adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes
teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e
houradezrdquo Barbadinho41
A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra
Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela
que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees
para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma
grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em
seu grupo soacute que em um governo Republicano
A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento
de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental
A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade
A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o
tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato
se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre
M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser
efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras
41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17
26
preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a
l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762
ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da
L iberdade (1823) 43
ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em
l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria
seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que
tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja
debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de
ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44
A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio
a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de
fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes
possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a
ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este
objetivo
Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas
um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros
poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era
o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem
formada
A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem
censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a
palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico
Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem
possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da
populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45
43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24
27
O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas
decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l
transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e
igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46
Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por
essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo
governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da
sociedade47
ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso
pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi
um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do
aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas
para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48
O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se
criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco
desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro
A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a
nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como
demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma
de Lima Barreto
33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA
A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da
repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais
ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa
oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79
28
tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto
pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49
O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou
uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a
homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os
fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas
consequecircncias nos anos de 1870 e 1880
Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a
toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma
de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de
respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas
A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta
disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na
academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas
academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica
Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro
com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra
perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato
l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda
mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia
Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra
do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com
engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe
totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de
intelectual
Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute
possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo
sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l
precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar
quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio
49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
29
Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da
Repuacuteblica e eles se viam
ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da
civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime
poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada
que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma
profissatildeo desprestigiadardquo50
O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando
ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de
junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos
fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen
que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje
mais amanhatilde
O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e
hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os
lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro
da America
()
Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque
isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais
admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional
Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51
Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos
homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute
50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt
30
mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos
mil i tares A Repuacuteblica Francesa
Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar
muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque
partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de
Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias
ldquoPROCLAMACcedilAtildeO
O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo
ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em
perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos
residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da
dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema
monarchico ndash representativo
Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter
essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo
provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a
l iberdade e os direitos dos cidadatildeos
()
Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da
soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e
da ordemrdquo 53
Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que
era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos
que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade
para o que quiser
52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
31
Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca
Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt
Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt
A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para
com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o
povo brasileiro poderia ter pela frente
A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram
sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou
charges sobre quem estava no comando
Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as
seguintes informaccedilotildees
ldquoMinisterio do Governo Provisorio
Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca
M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo
M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o
Sr Quintino Bocayuva
M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy
Barbosa
M inistro da guerra Dr Benjamin Constant
M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva
M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa
32
M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54
Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva
de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista
I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA
republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo
ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo
Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e
entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em
no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo
A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e
revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram
expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele
momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo
mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso
A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo
com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e
assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do
Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares
Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a
nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre
que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que
estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890
M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o
animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada
mostra
54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
33
Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo
Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
Seguindo do texto aqui resumido
ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional
dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo
de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico
M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje
outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria
recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma
concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im
garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes
com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e
de prosperidade
()
O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o
como a uma gloria nacional
Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes
do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os
nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo
()
34
Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de
leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de
primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que
l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica
na sua unidade republicana
A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela
gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas
paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um
estridente viva ao futuro da patria
Viva a Republicardquo 55
Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891
voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por
algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas
boas
Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25
anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com
mais de 21 anos e letrados
No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a
representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo
55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt
35
Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l
Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
A imagem que traz os seguintes dizeres
ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma
consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos
terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do
dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre
HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56
A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera
ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees
presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante
Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional
Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises
56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt
36
econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de
dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de
estado no mesmo ano
Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o
lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de
Notiacutecias
A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro
ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao
paiz a mais plena conf ianccedila
Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes
circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que
poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos
seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e
de respeito aacute lei o seu governo
Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da
Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57
A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do
general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo
rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees
geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma
reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano
A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as
eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola
que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente
de M oraes
57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt
37
A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em
suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova
narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento
A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca
como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento
de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com
a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem
de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado
61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina
38
IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO
41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM
O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se
espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de
cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l
uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura
conforto e progresso
A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente
comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de
ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de
Janeiro
Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas
comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam
placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar
f reneacutetico
O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava
letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por
exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais
discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico
A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo
neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente
diferente do que antes
A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava
em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de
crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo
formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os
mesmos
O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus
mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem
62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
39
vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para
de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a
mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo
Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem
brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia
O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era
e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e
poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado
ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e
natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de
pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63
O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias
agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos
deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais
velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais
energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia
Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu
referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova
vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura
raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64
ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma
Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma
Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65
O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo
se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99
40
enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida
eis os modernos ideaisrdquo66
ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite
lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa
numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela
seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a
perderrdquo67
O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido
se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por
todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real
ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o
tempo para a sua assimilaccedilatildeo
ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio
ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate
depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l
ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para
acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as
breves funccedilotildees da vida breverdquo 68
A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha
mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do
que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu
integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69
Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para
viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de
66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268
41
fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua
essecircncia
Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus
conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma
faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel
e irredutiacutevel70
42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA
A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de
Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era
moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era
A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como
um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo
quanto para a divulgaccedilatildeo
A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido
criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na
Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser
divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas
dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa
Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras
brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo
letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para
diferentes puacutebl icos
A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se
recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que
um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial
ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees
que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa
moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca
70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013
42
capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e
demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72
A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca
em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos
uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo
mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a
se reapresentar 73
A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao
jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de
apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia
O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona
reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o
cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e
imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo
A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de
vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o
aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando
assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74
ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas
principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens
quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para
determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas
mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se
indispensaacuteveisrdquo75
72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006
43
A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e
principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou
qualquer outro produto advindo da modernidade
A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o
homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo
visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma
simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer
lugar
Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar
de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo
do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura
Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma
de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de
se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais
ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da
i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo
de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76
Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac
questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando
a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o
escritor
A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e
revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia
tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia
proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para
literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos
trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77
76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94
44
M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa
modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as
efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios
semanais quinzenais ou mensais
Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt
Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt
O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e
obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da
legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e
com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo
A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo
contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um
sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78
78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57
45
A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas
como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor
logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar
as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor
Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt
A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute
possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e
vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de
forma mundana
O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a
atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas
de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas
46
primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma
modernidade em seu cotidiano
A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada
vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma
criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo
outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame
podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema
especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para
chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo
Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A
f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que
chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de
1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os
dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro
Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo
47
Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889
Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt
Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de
Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as
implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de
folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca
ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo
entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino
caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento
abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem
de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a
intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os
diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas
femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias
48
mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e
interessesrdquo79
M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como
Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa
necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas
mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como
esportivas e femininas
Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo
Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt
79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130
49
Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo
Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt
Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo
Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
50
Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu
nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era
necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo
dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de
existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo
Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de
ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas
poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por
isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que
perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081
Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver
tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens
relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que
ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo
Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista
entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas
capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em
primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre
escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas
A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo
tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica
scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os
l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto
Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que
vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas
escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples
mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt
51
simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma
vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com
o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica
Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A
modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84
Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a
Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos
seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos
volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com
personagens com feiccedilotildees engraccediladas
M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo
que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo
ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo
frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com
baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86
embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo
Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre
o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam
transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior
vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias
de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma
vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro
de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88
O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser
def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado
84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
52
A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir
diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados
como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu
desejo de imagem
43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO
Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram
adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do
nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum
folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer
um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance
l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia
Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de
pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar
sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da
populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem
Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos
de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89
levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova
aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo
Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o
Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais
propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l
inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro
A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi
essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais
pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores
A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da
populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e
ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais
que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38
53
divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora
isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva
44 O PUacuteBLICO RECEPTOR
A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a
mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida
com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova
ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo
cultural da sociedade cariocardquo 90
O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos
jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o
espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se
estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para
que qualquer coisa ocorresse
A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se
importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim
para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si
provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo
Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a
atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas
divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam
tambeacutem
ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de
associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes
mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada
M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas
i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos
para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores
ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo
90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19
54
clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo
(M ELLO 2007)91
O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o
crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais
populares a aceitassem de fato
A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute
citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam
introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo
outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i
estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92
45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA
Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a
oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a
modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida
sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria
A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o
exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas
M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova
velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e
Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do
Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o
teatro em abundacircnciardquo93
O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive
A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais
propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a
91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75
55
tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de
ambiente
ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando
depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas
jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a
produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a
pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se
produzia
A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se
tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a
pagarem jantares ou ida a bares
A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver
por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a
luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos
para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma
parcela ser respeitada e mais do que ouvida
Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para
a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo
republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais
do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo
progresso e democracia95
46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO
O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com
ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis
cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas
pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l
94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
56
ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi
sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser
- Para ser
- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem
relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um
trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado
do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96
A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate
poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a
comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a
automatizaccedilatildeo
A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de
escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo
uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que
o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda
natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o
escri to causa uma perca e uma falta de sentido
M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve
como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos
intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta
questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no
Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97
Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que
ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se
era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor
exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido
O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se
tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou
apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil
Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97
57
manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute
chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se
transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar
Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor
se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no
universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os
platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98
Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de
jornais e revistas
L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito
tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos
perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi
lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e
sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres
ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico
saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes
desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel
infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe
desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em
vermelhordquo 99
Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o
produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas
chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos
M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir
recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo
homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre
pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo
para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para
98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual
58
mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde
nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem
atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores
M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na
primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de
criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l
ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a
condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia
arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a
intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos
aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e
as tempestades do futurordquo 100
A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para
escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos
principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l
aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a
industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo
Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a
paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se
escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina
podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra
perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria
direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano
100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
59
V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram
para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados
uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem
i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia
A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer
mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo
rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas
Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no
Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio
do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como
O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o
intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca
que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia
chegar a todos
Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no
mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas
quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico
movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia
A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a
tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem
i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor
de si mesmo
A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem
a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um
desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela
eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute
Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo
brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a
fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era
aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de
que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura
60
A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava
para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma
representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares
O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que
envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com
o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a
segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do
meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever
e falar
A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de
suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a
mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a
aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico
O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo
difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas
af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o
novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas
de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes
Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas
obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que
eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma
efetiva
O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram
discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu
redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles
deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o
que a populaccedilatildeo brasi leira representava
Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com
que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como
uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria
dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social
O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era
produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o
61
homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era
nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade
em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo
62
VI FONTES
Gazeta de Notiacutecias (1890 ndash 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03amp PagFis=0gt
Jornal do Brazil (1890 ndash 1920) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_01amp pasta=ano20189=gt
Revista Kosmos (1900 - 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amp pasta=ano20190amp =gt
Revista Careta (1900 ndash 1929) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=083712amp pasta=ano20190amp pesq=gt
Revista I l lustrada (1890 ndash 1899) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pasta=ano20189amp pesq=gt
63
VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICA
M ARTINS Ana Luiza LUCA Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed
Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordf Ed 2003
SUumlSSEK IND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1 Reimpressatildeo 2006
M ELLO M aria Tereza Chaves de A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 1ordf Ed 2007
CARVALHO Joseacute M urilo de A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 7ordf Ed 1998
BEJAM IN Walter A Obra de Arte na Eacutepoca de sua Reprodutibilidade Teacutecnica In
L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
HORK HEIM ER M ax ADORNO Theodor W A Induacutestria Cultural o Iluminismo como Mistificaccedilatildeo de Massas In L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e
Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
CURRAN M ark J Histoacuteria do Brasil em Cordel Ed EDUSP Editora da Universidade de
Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1ordf Ed 2009
RIBEIRO Ana Paula Goulart FERREIRA Lucia M aria A lves Miacutedia e Memoacuteria A Produccedilatildeo de Sentidos nos Meios de Comunicaccedilatildeo Ed M AUAD Rio de Janeiro 1ordf Ed
2007
COSTA Cleacuteria Botelho da M ACHADO M aria Clara Tomaz Histoacuteria e Literatura
Identidade e Fronteiras Ed EDUFU Uberlacircndia 1ordf Ed 2006 GOM ES Angela de Castro A Poliacutetica Brasileira em Busca da Modernidade na Fronteira
entre o puacuteblico e o privado In Org SCHWARCZ Lil ia M oritz Histoacuteria da V ida privada
no Brasil vol 4 Ed Companhia das Letras 1ordf Ed 1998
CHALHOUB Sidney PEREIRA Leonardo A ffonso de M A Histoacuteria Contada Capiacutetulos de Histoacuteria Social da Literatura no Brasil Ed Nova Fronteira 1ordf Ed 1998
CAM ARGO Ana M aria de A lmeida A IMPRENSA COMO FONTE PARA HISTOacuteRIA DO BRASIL In PAULA Euriacutepedes Simotildees de Portos Rotas e Comeacutercio Satildeo Paulo 1971
LIM A Ivana Stolze Com a palavra a cidade mesticcedila Imprensa poliacutetica e identidade no Rio de Janeiro 1831 ndash 1833 Fundaccedilatildeo Casa de Rui Barbosa Rio de Janeiro 1998
64
LUCA Tania Regina de Histoacuteria dos nos e por meio dos perioacutedicos In Org PINSK Y
Carla Bassanezi Fontes Histoacuterias Satildeo Paulo Ed Contexto 2005
SCHERER M arta Eymael Garcia Bilac ndash Sem Poesia Crocircnicas de um jornalista da Belle Eacutepoque Universidade Federal de Santa Catarina 2008
M ENDES Iba Olavo Bilac Crocircnicas e Novelas Poeteiro Editor Digital Satildeo Paulo 2014 NUNES Radameacutes V ieira Literatura e Imprensa Barreto e Bilac entre a Arte e
Ofiacutecio Emblemas Goiaacutes v 8 n 2 p201-226 jul 2011 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
M ONTILHA Thiago Roza Ialdo Olavo Bilac e a Questatildeo da Instruccedilatildeo no Brasil (1897 ndash 1908) Intellegravectus Rio de Janeiro ano X IV n 1 p 57 ndash 76 2015
NUNES Radameacutes V ieira Crocircnicas e Cronistas no Ritmo das M aacutequinas Emblemas Goiaacutes
v 9 n 1 p129-145 jan 2012 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
SILVA Renata Refino da Monteiro Lobato e a Revista do Brasil (1916 ndash 1925)
Representaccedilotildees de Ciecircncia Literatura Arte e Histoacuteria Anais do XXVI Simpoacutesio
Nacional de Histoacuteria - ANPUH Satildeo Paulo julho 2011
SILVA M auriacutecio Literatura e Publicidade no Preacute-Modernismo Brasileiro Uma Introduccedilatildeo Criacutetica Cultural Santa Catarina v 1 n1 jan Semestral 2006
SILVA Danyelle M arques Freire da A Constituiccedilatildeo do Espaccedilo em Vida Ociosa de
Godofredo Rangel UninCor ndash Universidade Vale do Rio Verde Trecircs Coraccedilotildees 2013
SILVA M auriacutecio Profissionalizaccedilatildeo do Escritor e Publicidade Editorial Dois Capiacutetulos
da Leitura Preacute-Modernista no Brasil M agma Satildeo Paulo n 6 p 66 ndash 77 1999
BECK ER Elizamari Rodrigues Forccedilas Motrizes de uma Contiacutestica Preacute-Modernista O
Papel da Traduccedilatildeo na Obra Ficcional de Monteiro Lobato Universidade Federal do Rio
Grande do Sul Porto A legre 2006
ARAUJO Jean M arcel Oliveira O Preacute-Modernismo A luta entre passadistas modernos e modernistas no campo artiacutestico brasileiro Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo ndash RJ n 1 p
117 ndash 134 jul semestral 2012
GUIM ARAtildeES Fernando Simbolismo Modernismo e Vanguardas Imprensa Nacional ndash
Casa da M oeda 3ordf Ed Rio de Janeiro 2004
VELLOSO M ocircnica A Modernidade Carioca na Sua Vertente Humoriacutestica Estudos
Histoacutericos Rio de Janeiro v 8 n 16 p 269-278 1995
65
M ORAES Eduardo Jardim Modernismo Revisitado Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v
1 n 2 p 220 ndash 238 1988
STRELOW A line Jornalismo literaacuterio e cultural Perspectiva Histoacuterica Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Disponiacutevel em lt wwwboccubiptgt
RAM OS Gabriela A Crocircnica como Interseccedilatildeo entre jornalismo e literatura Intercom ndash
Sociedade Brasileira de Estudos Interdiscipl inares das Comunicaccedilatildeo XV II Congresso de
Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo da Regiatildeo Sudeste Ouro Preto 2012
SCHERER M arta E G Um Jornalismo Belle Eacutepoque In SCHERER M arta E G
Imprensa e Belle Eacutepoque - Olavo Bilac o jornalismo e suas histoacuterias Ed Unisul
PalhoccedilaSC 2012
RIBEIRO Ana Paula Goulart Nelson Werneck Sodreacute e a histoacuteria da imprensa no
Brasil Intercom Revista Brasileira de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo [sl] v 38 n 2 p275-
288 dez 2015 FapUNIFESP (SciELO) Disponiacutevel em lthttpdxdoiorg1015901809-
58442015214gt
SILVA M auriacutecio Cultura de Mercado Literatura e Publicidade no preacute-modernismo brasileiro Via A tlacircntica Satildeo Paulo n 20 p 75 ndash 87 dez 2011
V IANNA Rafael de Bri to Os Renegados da Histoacuteria A importacircncia dos preacute-modernos para o pensamento nacional Revista Brasileira de Histoacuteria amp Ciecircncias Sociais v 3 n 5 p
127 ndash 131 Jul 2011
BEAL Sophia A Transformaccedilatildeo das Trevas na Literatura Preacute-Modernista Pensares em
Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 76 -91 jul Semestral 2012
L INS Vera Lucia de Oliveira Os simbolistas Virando o Seacuteculo Pensares em Revista Satildeo
Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 135 - 143 Jul Semestral 2012
BATALHA M aria Cristina Lima Barreto e o vieacutes do realismo popular na literatura brasileira Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 51 - 65 Jul Semestral
2012
FIGUEIREDO Carmen Lucia Negreiros O Mal-estar de Isaiacuteas A crise do Romance em
Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 35 - 50 Jul
Semestral 2012
GENS Rosa Retratos em Cantoneiras Imagens do Rio de Janeiro Belle Eacutepoque em Joatildeo do Rio e Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 66 -
75 jul Semestral 2012
66
M ENDES Leonardo Pinto Juacutelio Ribeiro O Naturalismo e a Dessacralizaccedilatildeo da Literatura Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 4 p 26 - 42 jul Semestral
2014
RIO Joatildeo do Cinematoacutegrafo Crocircnicas Cariocas Academia Brasileira de Letras ndash Coleccedilatildeo
Afracircnio Peixoto Rio de Janeiro 2009
ZANON M aria Cecil ia A Sociedade Carioca da Belle Eacutepoque nas paacuteginas do Fon-Fon
Patrimocircnio e M emoacuteria Satildeo Paulo v 4 n 2 p ndash 217 ndash 235 jun 2009
DOIN Joseacute Evaldo de M ello NETO Humberto Perinell i PAZIANI Rodrigo Ribeiro
PACANO Faacutebio Augosto A Belle Eacutepoque caipira Problematizaccedilotildees e oportunidades interpretativas da modernidade e urbanizaccedilatildeo no Mundo do Cafeacute (1852 ndash 1930) ndash A
proposta do Cemumc Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v 27 n 53 p 91 ndash 122
Jun 2007
NOGUERIA Clara Asperti Revista Carets (1908 ndash 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo Impressa no Seacuteculo XX M iscelacircnea Assis v 8 p 60 ndash 80 jul 2010
OLIVEIRA Luacutecia Lippi A questatildeo nacional na Primeira Repuacuteblica Ed Brasil iense Satildeo
Paulo 1ordf Ed 1990 Disponiacutevel em lt httpwwwcpdocfgvbrgt
VENTURA Roberto Euclides da Cunha e a Repuacuteblica Aacuterea de Histoacuteria Cultural USP
29 de abril de 1994
M IGLIARI Well ington Preacute-Modernismo e Repuacuteblica Antinomias da Belle Eacutepoque no
Brasil Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 186 - 202 jul Semestral
2012
NEVES M argarida de Souza Os cenaacuterios da Repuacuteblica O Brasil na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX In NEVES M de S Os cenaacuterios da repuacuteblica O Brasil na virada
do seacuteculo X IX para o seacuteculo XX In DELGADO Luciacutel ia de A lmeida Neves e FERREIRA
Jorge Luiacutes (Orgs) Brasil Republicano Estado sociedade civi l e cultura poliacutetica O tempo do
l iberalismo excludente Da Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica agrave Revoluccedilatildeo de 1930 1a ed Rio de
Janeiro Civi lizaccedilatildeo Brasileira 2003
SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A Modernizaccedilatildeo do Rio de Janeiro nas crocircnicas de Olavo Bilac (1890 ndash 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador abri l de 2013
HALLER Joyce Uemoto Monteiro Lobato Literatura como expressatildeo do contexto (1890-1930) Universidade Estadual de M aringaacute M aringaacute 2012
2
A alfabetizaccedilatildeo foi um grande foco de investimento para a Nova Repuacuteblica e o
acompanhamento de imagens nestes perioacutedicos era essencial ldquoA evoluccedilatildeo teacutecnica do
impresso o investimento na alfabetizaccedilatildeo os incentivos agrave aquisiccedilatildeo eou fabricaccedilatildeo de papel
rdquo 2 a quantidade de jornais e revistas que eram vendidos tambeacutem era uma forma da Repuacuteblica
que havia acabado de se formar ter uma noccedilatildeo de quantas pessoas eram letradas ou que
estavam a caminho de se tornarem de fato assim
O debate entre os homens de letras da eacutepoca del imitada entre 1890 e 1923 era assiacuteduo
mas natildeo quanto a questotildees poliacuteticas da eacutepoca e sim as mudanccedilas do cotidiano que os estavam
afetando A poliacutetica soacute aparecia quando o assunto eram as mudanccedilas que ocorriam no
ambiente poliacutetico e social Bi lac faz uma anaacutelise que corrobora completamente com as
fotografias que o jornal passava ldquoQue natildeo seraacute quando da velha cidade colonial
estupidamente conservada ateacute agora como um pesadelo do passado apenas restar a
lembranccedila rdquo3
Com o questionamento sobre como se inf luecircncia uma grande maioria i letrada a natildeo
apenas acreditar na Repuacuteblica como tambeacutem mudar toda a perspectiva que se tem quanto ao
entatildeo monarca busco entender qual eacute a participaccedilatildeo deste homem de letras como o moderno
o ajudou natildeo apenas a aumentar sua importacircncia no imaginaacuterio popular como o trouxe como
celebridade
A ssim busco discutir no primeiro capitulo a Belle Eacutepoque e todas as transformaccedilotildees
l i teraacuterias que a mesma trouxe modif icou e ateacute mesmo criou no Brasi l discutindo entre estes
movimentos l i teraacuterios com algumas representaccedilotildees de autores para exemplif icar o movimento
e a sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de um ideal poliacutetico Brasi leiro
No segundo capiacutetulo todo o movimento poliacutetico que a Belle Eacutepoque trouxe em seu
discurso por estes autores e sua necessidade de Repuacuteblica com a democracia da palavra em
conjunto com a vinda da Repuacuteblica por parte dos mil i tares
No uacuteltimo capiacutetulo apresento as mudanccedilas que essa perspectiva modernista trouxe para o
paiacutes e como ela alterou natildeo apenas a imagem do Rio de Janeiro como tambeacutem o cotidiano e a
perspectiva do homem comum e o de letras sobre o moderno4 e sobre as atividades cotidianas
2 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 84 3 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 93 4 Relativo ou pertencente agrave eacutepoca histoacuterica em que se vive
3
e suas responsabi l idades assim como tambeacutem os modernismos 5 que trouxe em jornais em
revistas
5 Tendecircncias e gostos ao que se eacute moderno
4
II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS
21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO
No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de
que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes
transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o
progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma
modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar
necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes
A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser
construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro
A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que
poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo
X IX e comeccedilo do seacuteculo X X
ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia
um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do
A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada
emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar
daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro
das picaretas abafava esse protesto impotente
Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como
as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las
diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da
hygiene do bom gosto e da arterdquo 6
O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa
que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que
favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de
comunicaccedilatildeo e de transporte
6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt
5
Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento
tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a
educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo
principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma
forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo
remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter
tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e
seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo
Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870
ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande
transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a
crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como
jornal istas
Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e
faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute
mesmo os criassem
A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto
para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para
mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo
A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo
tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute
por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo
ideoloacutegica
A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e
quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu
lado
A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l
V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser
efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer
ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e
assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute
acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo
7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro
6
22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE
Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua
l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como
Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a
escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes
Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita
eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que
a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por
vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro
momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance
urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A
valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver
Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas
ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele
surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre
a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como
uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia
da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens
23 REALISMO
O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares
Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a
real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De
uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico
O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito
representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem
tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa
7
Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo
tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute
um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l
demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na
seacuterie ldquoBons diasrdquo9
M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca
natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer
o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus
acontecimentos
Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os
narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de
uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um
pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do
que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10
ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e
que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais
amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()
O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos
princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava
tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos
termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada
enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11
Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio
leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua
8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013
8
zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo
ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam
Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua
l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias
Poacutestumas de Braacutes Cubas
A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca
brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento
ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo
exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o
homem vive e o que ele eacute
A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba
cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle
conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um
alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12
24 NATURALISMO
O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque
principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o
homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua
ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13
Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens
comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior
sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do
cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l
percepccedilatildeo no interior
O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento
eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas
e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o
moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava
tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior
12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista
9
O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas
ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo
sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas
Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua
l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor
25 PARNASIANISMO
O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e
conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente
Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e
o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos
ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do
tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir
tinha se tornado algo f reneacutetico
O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a
necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre
palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas
Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio
interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o
parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de
M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para
o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o
mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes
Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social
para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu
e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem
Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando
da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas
ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu
candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -
pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler
10
e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de
ser algueacutemrdquo 14
Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era
necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os
acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria
se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando
A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais
baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por
meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um
estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo
A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem
investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens
ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num
paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O
melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a
memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria
Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e
escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar
esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode
merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os
caracteres do alfabetordquo 15
Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para
construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores
entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de
trabalho
Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a
instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees
14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015
11
26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO
Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um
movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos
os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides
da Cunha e M onteiro Lobato
Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da
l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua
maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum
Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares
de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos
Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como
uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e
poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar
ateacute eles
A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que
de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e
caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a
imagem do que era discutido e narrado
M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra
haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de
algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que
estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo
ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo
brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel
o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que
nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de
busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro
prometiardquo 16
16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144
12
Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica
estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a
sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente
A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no
jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos
por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado
Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies
e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de
renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto
Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado
como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando
momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees
Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma
vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por
dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua
identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista
e materialistardquo 17
Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se
relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem
questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o
movimento Republicano
ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a
evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas
qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e
a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos
Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18
L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela
modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo
17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
13
entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute
mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele
ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do
passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de
modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais
suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de
ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20
E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como
dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela
si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor
ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio
Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute
este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21
ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande
de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um
outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros
e um pouco devido a mim
[ ]
A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os
acontecimentosrdquo 22
Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a
formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa
marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um
governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes
natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23
19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
14
Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios
que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve
ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves
V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de
chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam
criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas
simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos
trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24
M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o
trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na
terra em sua obra como Jeca Tatu
Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato
tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a
real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista
M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a
terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta
de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral
Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava
neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando
assim o estrago e atraso a naccedilatildeo
Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um
ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida
votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava
que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio
personagem Jeca Tatu
Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto
uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo
M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo
trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo
24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010
15
O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria
cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles
ocorriam ou quais suas separaccedilotildees
ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar
riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com
produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que
criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e
atrairrdquo 26
A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento
cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o
seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas
sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o
homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas
26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194
16
III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA
31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE
O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que
modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria
social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento
possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da
modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura
da cidade
O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial
(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas
junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em
conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de
Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que
consomem matildeos de obra
Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava
tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade
que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem
do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava
acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de
ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27
Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa
nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de
Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver
ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do
trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram
quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro
27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41
17
principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo
radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28
Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que
nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se
estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as
estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da
Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a
condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional
Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo
assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das
autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte
A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas
nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees
do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de
fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos
prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do
paiacutes
ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam
capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade
funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio
moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados
operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31
28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58
18
Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890
Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt
httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt
A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua
visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a
todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No
primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as
donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10
horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo
burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua
19
A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por
todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro
de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro
O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em
todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia
A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre
a Rua do Ouvidor
ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o
melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse
monopoacutel io
A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se
reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde
aparecem as novidades
()
Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a
cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um
conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos
perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha
quer queiram quer natildeo
()
A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo
transtornadosrdquo 33 34
A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose
Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme
atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana
E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo
trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra
do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos
principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
20
A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem
trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a
popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se
tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista
queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros
Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma
leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio
de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de
conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a
proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos
eles pois a rua era isso A presentadora da vida
ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua
do Ouvidorrdquo35
Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis
l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa
forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre
se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se
migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural
A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada
com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos
pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente
todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro
Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por
mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em
conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime
Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua
35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
21
impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves
exigecircncias do progresso36
32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA
A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao
paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo
comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que
circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim
Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com
as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta
de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes
que estava se formando e muito menos para o seu povo
Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas
notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia
presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando
36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76
22
Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees
Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt
Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se
esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a
imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute
l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores
A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a
rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta
de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo
A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto
ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas
escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo
analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo
necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem
tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura
A s legendas em ordem satildeo
23
2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im
senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo
3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por
um grande zero constitucionalrdquo
4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos
sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de
tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo
5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal
fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo
M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se
expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o
mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados
assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o
Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos
Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais
eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo
tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente
perdia sua sacral idade
Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o
monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que
rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro
histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo
rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca
como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada
O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e
demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um
esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a
republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar
37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47
24
Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se
tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro
no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica
ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as
maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano
nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano
()
SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as
camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a
menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de
deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram
natildeo passaram de falsos eleitos ()
Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que
SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala
do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto
Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala
do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada
tinha drsquoesta vezrdquo40
A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria
da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse
sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se
empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da
populaccedilatildeo de todo o paiacutes
Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam
por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que
ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a
maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i
passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um
futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo
40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt
25
A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando
sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas
que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes
quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890
ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir
por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de
A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-
imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas
despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash
mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do
governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um
adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes
teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e
houradezrdquo Barbadinho41
A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra
Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela
que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees
para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma
grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em
seu grupo soacute que em um governo Republicano
A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento
de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental
A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade
A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o
tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato
se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre
M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser
efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras
41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17
26
preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a
l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762
ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da
L iberdade (1823) 43
ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em
l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria
seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que
tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja
debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de
ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44
A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio
a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de
fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes
possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a
ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este
objetivo
Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas
um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros
poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era
o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem
formada
A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem
censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a
palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico
Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem
possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da
populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45
43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24
27
O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas
decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l
transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e
igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46
Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por
essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo
governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da
sociedade47
ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso
pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi
um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do
aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas
para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48
O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se
criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco
desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro
A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a
nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como
demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma
de Lima Barreto
33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA
A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da
repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais
ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa
oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79
28
tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto
pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49
O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou
uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a
homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os
fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas
consequecircncias nos anos de 1870 e 1880
Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a
toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma
de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de
respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas
A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta
disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na
academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas
academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica
Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro
com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra
perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato
l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda
mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia
Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra
do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com
engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe
totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de
intelectual
Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute
possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo
sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l
precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar
quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio
49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
29
Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da
Repuacuteblica e eles se viam
ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da
civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime
poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada
que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma
profissatildeo desprestigiadardquo50
O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando
ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de
junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos
fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen
que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje
mais amanhatilde
O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e
hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os
lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro
da America
()
Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque
isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais
admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional
Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51
Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos
homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute
50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt
30
mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos
mil i tares A Repuacuteblica Francesa
Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar
muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque
partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de
Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias
ldquoPROCLAMACcedilAtildeO
O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo
ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em
perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos
residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da
dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema
monarchico ndash representativo
Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter
essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo
provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a
l iberdade e os direitos dos cidadatildeos
()
Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da
soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e
da ordemrdquo 53
Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que
era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos
que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade
para o que quiser
52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
31
Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca
Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt
Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt
A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para
com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o
povo brasileiro poderia ter pela frente
A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram
sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou
charges sobre quem estava no comando
Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as
seguintes informaccedilotildees
ldquoMinisterio do Governo Provisorio
Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca
M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo
M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o
Sr Quintino Bocayuva
M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy
Barbosa
M inistro da guerra Dr Benjamin Constant
M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva
M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa
32
M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54
Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva
de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista
I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA
republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo
ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo
Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e
entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em
no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo
A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e
revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram
expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele
momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo
mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso
A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo
com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e
assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do
Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares
Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a
nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre
que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que
estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890
M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o
animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada
mostra
54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
33
Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo
Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
Seguindo do texto aqui resumido
ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional
dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo
de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico
M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje
outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria
recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma
concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im
garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes
com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e
de prosperidade
()
O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o
como a uma gloria nacional
Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes
do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os
nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo
()
34
Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de
leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de
primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que
l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica
na sua unidade republicana
A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela
gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas
paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um
estridente viva ao futuro da patria
Viva a Republicardquo 55
Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891
voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por
algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas
boas
Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25
anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com
mais de 21 anos e letrados
No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a
representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo
55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt
35
Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l
Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
A imagem que traz os seguintes dizeres
ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma
consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos
terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do
dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre
HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56
A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera
ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees
presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante
Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional
Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises
56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt
36
econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de
dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de
estado no mesmo ano
Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o
lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de
Notiacutecias
A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro
ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao
paiz a mais plena conf ianccedila
Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes
circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que
poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos
seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e
de respeito aacute lei o seu governo
Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da
Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57
A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do
general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo
rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees
geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma
reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano
A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as
eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola
que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente
de M oraes
57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt
37
A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em
suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova
narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento
A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca
como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento
de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com
a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem
de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado
61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina
38
IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO
41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM
O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se
espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de
cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l
uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura
conforto e progresso
A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente
comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de
ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de
Janeiro
Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas
comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam
placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar
f reneacutetico
O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava
letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por
exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais
discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico
A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo
neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente
diferente do que antes
A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava
em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de
crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo
formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os
mesmos
O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus
mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem
62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
39
vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para
de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a
mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo
Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem
brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia
O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era
e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e
poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado
ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e
natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de
pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63
O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias
agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos
deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais
velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais
energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia
Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu
referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova
vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura
raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64
ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma
Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma
Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65
O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo
se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99
40
enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida
eis os modernos ideaisrdquo66
ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite
lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa
numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela
seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a
perderrdquo67
O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido
se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por
todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real
ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o
tempo para a sua assimilaccedilatildeo
ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio
ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate
depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l
ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para
acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as
breves funccedilotildees da vida breverdquo 68
A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha
mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do
que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu
integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69
Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para
viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de
66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268
41
fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua
essecircncia
Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus
conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma
faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel
e irredutiacutevel70
42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA
A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de
Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era
moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era
A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como
um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo
quanto para a divulgaccedilatildeo
A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido
criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na
Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser
divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas
dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa
Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras
brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo
letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para
diferentes puacutebl icos
A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se
recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que
um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial
ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees
que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa
moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca
70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013
42
capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e
demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72
A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca
em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos
uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo
mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a
se reapresentar 73
A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao
jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de
apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia
O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona
reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o
cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e
imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo
A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de
vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o
aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando
assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74
ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas
principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens
quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para
determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas
mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se
indispensaacuteveisrdquo75
72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006
43
A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e
principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou
qualquer outro produto advindo da modernidade
A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o
homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo
visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma
simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer
lugar
Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar
de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo
do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura
Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma
de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de
se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais
ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da
i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo
de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76
Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac
questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando
a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o
escritor
A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e
revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia
tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia
proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para
literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos
trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77
76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94
44
M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa
modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as
efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios
semanais quinzenais ou mensais
Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt
Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt
O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e
obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da
legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e
com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo
A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo
contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um
sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78
78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57
45
A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas
como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor
logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar
as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor
Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt
A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute
possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e
vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de
forma mundana
O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a
atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas
de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas
46
primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma
modernidade em seu cotidiano
A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada
vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma
criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo
outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame
podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema
especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para
chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo
Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A
f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que
chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de
1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os
dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro
Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo
47
Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889
Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt
Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de
Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as
implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de
folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca
ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo
entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino
caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento
abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem
de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a
intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os
diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas
femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias
48
mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e
interessesrdquo79
M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como
Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa
necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas
mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como
esportivas e femininas
Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo
Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt
79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130
49
Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo
Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt
Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo
Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
50
Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu
nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era
necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo
dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de
existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo
Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de
ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas
poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por
isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que
perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081
Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver
tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens
relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que
ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo
Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista
entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas
capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em
primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre
escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas
A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo
tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica
scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os
l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto
Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que
vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas
escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples
mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt
51
simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma
vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com
o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica
Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A
modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84
Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a
Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos
seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos
volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com
personagens com feiccedilotildees engraccediladas
M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo
que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo
ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo
frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com
baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86
embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo
Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre
o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam
transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior
vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias
de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma
vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro
de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88
O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser
def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado
84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
52
A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir
diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados
como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu
desejo de imagem
43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO
Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram
adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do
nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum
folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer
um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance
l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia
Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de
pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar
sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da
populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem
Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos
de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89
levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova
aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo
Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o
Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais
propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l
inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro
A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi
essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais
pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores
A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da
populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e
ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais
que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38
53
divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora
isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva
44 O PUacuteBLICO RECEPTOR
A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a
mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida
com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova
ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo
cultural da sociedade cariocardquo 90
O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos
jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o
espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se
estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para
que qualquer coisa ocorresse
A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se
importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim
para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si
provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo
Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a
atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas
divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam
tambeacutem
ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de
associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes
mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada
M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas
i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos
para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores
ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo
90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19
54
clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo
(M ELLO 2007)91
O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o
crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais
populares a aceitassem de fato
A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute
citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam
introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo
outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i
estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92
45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA
Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a
oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a
modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida
sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria
A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o
exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas
M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova
velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e
Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do
Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o
teatro em abundacircnciardquo93
O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive
A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais
propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a
91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75
55
tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de
ambiente
ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando
depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas
jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a
produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a
pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se
produzia
A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se
tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a
pagarem jantares ou ida a bares
A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver
por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a
luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos
para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma
parcela ser respeitada e mais do que ouvida
Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para
a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo
republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais
do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo
progresso e democracia95
46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO
O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com
ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis
cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas
pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l
94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
56
ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi
sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser
- Para ser
- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem
relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um
trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado
do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96
A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate
poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a
comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a
automatizaccedilatildeo
A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de
escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo
uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que
o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda
natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o
escri to causa uma perca e uma falta de sentido
M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve
como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos
intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta
questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no
Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97
Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que
ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se
era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor
exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido
O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se
tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou
apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil
Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97
57
manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute
chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se
transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar
Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor
se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no
universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os
platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98
Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de
jornais e revistas
L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito
tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos
perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi
lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e
sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres
ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico
saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes
desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel
infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe
desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em
vermelhordquo 99
Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o
produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas
chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos
M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir
recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo
homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre
pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo
para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para
98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual
58
mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde
nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem
atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores
M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na
primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de
criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l
ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a
condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia
arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a
intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos
aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e
as tempestades do futurordquo 100
A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para
escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos
principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l
aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a
industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo
Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a
paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se
escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina
podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra
perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria
direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano
100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
59
V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram
para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados
uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem
i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia
A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer
mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo
rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas
Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no
Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio
do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como
O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o
intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca
que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia
chegar a todos
Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no
mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas
quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico
movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia
A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a
tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem
i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor
de si mesmo
A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem
a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um
desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela
eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute
Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo
brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a
fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era
aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de
que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura
60
A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava
para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma
representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares
O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que
envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com
o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a
segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do
meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever
e falar
A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de
suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a
mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a
aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico
O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo
difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas
af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o
novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas
de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes
Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas
obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que
eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma
efetiva
O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram
discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu
redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles
deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o
que a populaccedilatildeo brasi leira representava
Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com
que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como
uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria
dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social
O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era
produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o
61
homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era
nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade
em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo
62
VI FONTES
Gazeta de Notiacutecias (1890 ndash 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03amp PagFis=0gt
Jornal do Brazil (1890 ndash 1920) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_01amp pasta=ano20189=gt
Revista Kosmos (1900 - 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amp pasta=ano20190amp =gt
Revista Careta (1900 ndash 1929) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=083712amp pasta=ano20190amp pesq=gt
Revista I l lustrada (1890 ndash 1899) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pasta=ano20189amp pesq=gt
63
VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICA
M ARTINS Ana Luiza LUCA Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed
Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordf Ed 2003
SUumlSSEK IND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1 Reimpressatildeo 2006
M ELLO M aria Tereza Chaves de A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 1ordf Ed 2007
CARVALHO Joseacute M urilo de A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 7ordf Ed 1998
BEJAM IN Walter A Obra de Arte na Eacutepoca de sua Reprodutibilidade Teacutecnica In
L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
HORK HEIM ER M ax ADORNO Theodor W A Induacutestria Cultural o Iluminismo como Mistificaccedilatildeo de Massas In L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e
Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
CURRAN M ark J Histoacuteria do Brasil em Cordel Ed EDUSP Editora da Universidade de
Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1ordf Ed 2009
RIBEIRO Ana Paula Goulart FERREIRA Lucia M aria A lves Miacutedia e Memoacuteria A Produccedilatildeo de Sentidos nos Meios de Comunicaccedilatildeo Ed M AUAD Rio de Janeiro 1ordf Ed
2007
COSTA Cleacuteria Botelho da M ACHADO M aria Clara Tomaz Histoacuteria e Literatura
Identidade e Fronteiras Ed EDUFU Uberlacircndia 1ordf Ed 2006 GOM ES Angela de Castro A Poliacutetica Brasileira em Busca da Modernidade na Fronteira
entre o puacuteblico e o privado In Org SCHWARCZ Lil ia M oritz Histoacuteria da V ida privada
no Brasil vol 4 Ed Companhia das Letras 1ordf Ed 1998
CHALHOUB Sidney PEREIRA Leonardo A ffonso de M A Histoacuteria Contada Capiacutetulos de Histoacuteria Social da Literatura no Brasil Ed Nova Fronteira 1ordf Ed 1998
CAM ARGO Ana M aria de A lmeida A IMPRENSA COMO FONTE PARA HISTOacuteRIA DO BRASIL In PAULA Euriacutepedes Simotildees de Portos Rotas e Comeacutercio Satildeo Paulo 1971
LIM A Ivana Stolze Com a palavra a cidade mesticcedila Imprensa poliacutetica e identidade no Rio de Janeiro 1831 ndash 1833 Fundaccedilatildeo Casa de Rui Barbosa Rio de Janeiro 1998
64
LUCA Tania Regina de Histoacuteria dos nos e por meio dos perioacutedicos In Org PINSK Y
Carla Bassanezi Fontes Histoacuterias Satildeo Paulo Ed Contexto 2005
SCHERER M arta Eymael Garcia Bilac ndash Sem Poesia Crocircnicas de um jornalista da Belle Eacutepoque Universidade Federal de Santa Catarina 2008
M ENDES Iba Olavo Bilac Crocircnicas e Novelas Poeteiro Editor Digital Satildeo Paulo 2014 NUNES Radameacutes V ieira Literatura e Imprensa Barreto e Bilac entre a Arte e
Ofiacutecio Emblemas Goiaacutes v 8 n 2 p201-226 jul 2011 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
M ONTILHA Thiago Roza Ialdo Olavo Bilac e a Questatildeo da Instruccedilatildeo no Brasil (1897 ndash 1908) Intellegravectus Rio de Janeiro ano X IV n 1 p 57 ndash 76 2015
NUNES Radameacutes V ieira Crocircnicas e Cronistas no Ritmo das M aacutequinas Emblemas Goiaacutes
v 9 n 1 p129-145 jan 2012 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
SILVA Renata Refino da Monteiro Lobato e a Revista do Brasil (1916 ndash 1925)
Representaccedilotildees de Ciecircncia Literatura Arte e Histoacuteria Anais do XXVI Simpoacutesio
Nacional de Histoacuteria - ANPUH Satildeo Paulo julho 2011
SILVA M auriacutecio Literatura e Publicidade no Preacute-Modernismo Brasileiro Uma Introduccedilatildeo Criacutetica Cultural Santa Catarina v 1 n1 jan Semestral 2006
SILVA Danyelle M arques Freire da A Constituiccedilatildeo do Espaccedilo em Vida Ociosa de
Godofredo Rangel UninCor ndash Universidade Vale do Rio Verde Trecircs Coraccedilotildees 2013
SILVA M auriacutecio Profissionalizaccedilatildeo do Escritor e Publicidade Editorial Dois Capiacutetulos
da Leitura Preacute-Modernista no Brasil M agma Satildeo Paulo n 6 p 66 ndash 77 1999
BECK ER Elizamari Rodrigues Forccedilas Motrizes de uma Contiacutestica Preacute-Modernista O
Papel da Traduccedilatildeo na Obra Ficcional de Monteiro Lobato Universidade Federal do Rio
Grande do Sul Porto A legre 2006
ARAUJO Jean M arcel Oliveira O Preacute-Modernismo A luta entre passadistas modernos e modernistas no campo artiacutestico brasileiro Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo ndash RJ n 1 p
117 ndash 134 jul semestral 2012
GUIM ARAtildeES Fernando Simbolismo Modernismo e Vanguardas Imprensa Nacional ndash
Casa da M oeda 3ordf Ed Rio de Janeiro 2004
VELLOSO M ocircnica A Modernidade Carioca na Sua Vertente Humoriacutestica Estudos
Histoacutericos Rio de Janeiro v 8 n 16 p 269-278 1995
65
M ORAES Eduardo Jardim Modernismo Revisitado Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v
1 n 2 p 220 ndash 238 1988
STRELOW A line Jornalismo literaacuterio e cultural Perspectiva Histoacuterica Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Disponiacutevel em lt wwwboccubiptgt
RAM OS Gabriela A Crocircnica como Interseccedilatildeo entre jornalismo e literatura Intercom ndash
Sociedade Brasileira de Estudos Interdiscipl inares das Comunicaccedilatildeo XV II Congresso de
Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo da Regiatildeo Sudeste Ouro Preto 2012
SCHERER M arta E G Um Jornalismo Belle Eacutepoque In SCHERER M arta E G
Imprensa e Belle Eacutepoque - Olavo Bilac o jornalismo e suas histoacuterias Ed Unisul
PalhoccedilaSC 2012
RIBEIRO Ana Paula Goulart Nelson Werneck Sodreacute e a histoacuteria da imprensa no
Brasil Intercom Revista Brasileira de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo [sl] v 38 n 2 p275-
288 dez 2015 FapUNIFESP (SciELO) Disponiacutevel em lthttpdxdoiorg1015901809-
58442015214gt
SILVA M auriacutecio Cultura de Mercado Literatura e Publicidade no preacute-modernismo brasileiro Via A tlacircntica Satildeo Paulo n 20 p 75 ndash 87 dez 2011
V IANNA Rafael de Bri to Os Renegados da Histoacuteria A importacircncia dos preacute-modernos para o pensamento nacional Revista Brasileira de Histoacuteria amp Ciecircncias Sociais v 3 n 5 p
127 ndash 131 Jul 2011
BEAL Sophia A Transformaccedilatildeo das Trevas na Literatura Preacute-Modernista Pensares em
Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 76 -91 jul Semestral 2012
L INS Vera Lucia de Oliveira Os simbolistas Virando o Seacuteculo Pensares em Revista Satildeo
Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 135 - 143 Jul Semestral 2012
BATALHA M aria Cristina Lima Barreto e o vieacutes do realismo popular na literatura brasileira Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 51 - 65 Jul Semestral
2012
FIGUEIREDO Carmen Lucia Negreiros O Mal-estar de Isaiacuteas A crise do Romance em
Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 35 - 50 Jul
Semestral 2012
GENS Rosa Retratos em Cantoneiras Imagens do Rio de Janeiro Belle Eacutepoque em Joatildeo do Rio e Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 66 -
75 jul Semestral 2012
66
M ENDES Leonardo Pinto Juacutelio Ribeiro O Naturalismo e a Dessacralizaccedilatildeo da Literatura Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 4 p 26 - 42 jul Semestral
2014
RIO Joatildeo do Cinematoacutegrafo Crocircnicas Cariocas Academia Brasileira de Letras ndash Coleccedilatildeo
Afracircnio Peixoto Rio de Janeiro 2009
ZANON M aria Cecil ia A Sociedade Carioca da Belle Eacutepoque nas paacuteginas do Fon-Fon
Patrimocircnio e M emoacuteria Satildeo Paulo v 4 n 2 p ndash 217 ndash 235 jun 2009
DOIN Joseacute Evaldo de M ello NETO Humberto Perinell i PAZIANI Rodrigo Ribeiro
PACANO Faacutebio Augosto A Belle Eacutepoque caipira Problematizaccedilotildees e oportunidades interpretativas da modernidade e urbanizaccedilatildeo no Mundo do Cafeacute (1852 ndash 1930) ndash A
proposta do Cemumc Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v 27 n 53 p 91 ndash 122
Jun 2007
NOGUERIA Clara Asperti Revista Carets (1908 ndash 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo Impressa no Seacuteculo XX M iscelacircnea Assis v 8 p 60 ndash 80 jul 2010
OLIVEIRA Luacutecia Lippi A questatildeo nacional na Primeira Repuacuteblica Ed Brasil iense Satildeo
Paulo 1ordf Ed 1990 Disponiacutevel em lt httpwwwcpdocfgvbrgt
VENTURA Roberto Euclides da Cunha e a Repuacuteblica Aacuterea de Histoacuteria Cultural USP
29 de abril de 1994
M IGLIARI Well ington Preacute-Modernismo e Repuacuteblica Antinomias da Belle Eacutepoque no
Brasil Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 186 - 202 jul Semestral
2012
NEVES M argarida de Souza Os cenaacuterios da Repuacuteblica O Brasil na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX In NEVES M de S Os cenaacuterios da repuacuteblica O Brasil na virada
do seacuteculo X IX para o seacuteculo XX In DELGADO Luciacutel ia de A lmeida Neves e FERREIRA
Jorge Luiacutes (Orgs) Brasil Republicano Estado sociedade civi l e cultura poliacutetica O tempo do
l iberalismo excludente Da Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica agrave Revoluccedilatildeo de 1930 1a ed Rio de
Janeiro Civi lizaccedilatildeo Brasileira 2003
SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A Modernizaccedilatildeo do Rio de Janeiro nas crocircnicas de Olavo Bilac (1890 ndash 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador abri l de 2013
HALLER Joyce Uemoto Monteiro Lobato Literatura como expressatildeo do contexto (1890-1930) Universidade Estadual de M aringaacute M aringaacute 2012
3
e suas responsabi l idades assim como tambeacutem os modernismos 5 que trouxe em jornais em
revistas
5 Tendecircncias e gostos ao que se eacute moderno
4
II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS
21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO
No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de
que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes
transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o
progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma
modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar
necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes
A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser
construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro
A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que
poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo
X IX e comeccedilo do seacuteculo X X
ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia
um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do
A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada
emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar
daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro
das picaretas abafava esse protesto impotente
Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como
as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las
diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da
hygiene do bom gosto e da arterdquo 6
O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa
que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que
favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de
comunicaccedilatildeo e de transporte
6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt
5
Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento
tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a
educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo
principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma
forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo
remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter
tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e
seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo
Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870
ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande
transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a
crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como
jornal istas
Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e
faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute
mesmo os criassem
A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto
para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para
mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo
A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo
tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute
por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo
ideoloacutegica
A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e
quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu
lado
A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l
V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser
efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer
ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e
assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute
acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo
7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro
6
22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE
Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua
l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como
Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a
escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes
Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita
eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que
a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por
vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro
momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance
urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A
valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver
Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas
ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele
surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre
a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como
uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia
da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens
23 REALISMO
O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares
Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a
real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De
uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico
O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito
representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem
tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa
7
Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo
tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute
um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l
demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na
seacuterie ldquoBons diasrdquo9
M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca
natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer
o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus
acontecimentos
Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os
narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de
uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um
pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do
que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10
ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e
que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais
amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()
O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos
princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava
tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos
termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada
enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11
Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio
leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua
8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013
8
zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo
ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam
Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua
l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias
Poacutestumas de Braacutes Cubas
A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca
brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento
ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo
exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o
homem vive e o que ele eacute
A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba
cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle
conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um
alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12
24 NATURALISMO
O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque
principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o
homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua
ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13
Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens
comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior
sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do
cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l
percepccedilatildeo no interior
O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento
eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas
e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o
moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava
tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior
12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista
9
O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas
ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo
sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas
Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua
l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor
25 PARNASIANISMO
O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e
conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente
Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e
o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos
ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do
tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir
tinha se tornado algo f reneacutetico
O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a
necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre
palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas
Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio
interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o
parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de
M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para
o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o
mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes
Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social
para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu
e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem
Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando
da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas
ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu
candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -
pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler
10
e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de
ser algueacutemrdquo 14
Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era
necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os
acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria
se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando
A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais
baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por
meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um
estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo
A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem
investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens
ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num
paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O
melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a
memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria
Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e
escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar
esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode
merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os
caracteres do alfabetordquo 15
Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para
construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores
entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de
trabalho
Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a
instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees
14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015
11
26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO
Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um
movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos
os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides
da Cunha e M onteiro Lobato
Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da
l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua
maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum
Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares
de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos
Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como
uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e
poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar
ateacute eles
A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que
de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e
caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a
imagem do que era discutido e narrado
M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra
haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de
algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que
estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo
ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo
brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel
o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que
nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de
busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro
prometiardquo 16
16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144
12
Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica
estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a
sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente
A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no
jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos
por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado
Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies
e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de
renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto
Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado
como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando
momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees
Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma
vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por
dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua
identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista
e materialistardquo 17
Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se
relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem
questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o
movimento Republicano
ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a
evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas
qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e
a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos
Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18
L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela
modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo
17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
13
entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute
mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele
ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do
passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de
modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais
suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de
ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20
E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como
dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela
si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor
ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio
Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute
este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21
ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande
de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um
outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros
e um pouco devido a mim
[ ]
A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os
acontecimentosrdquo 22
Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a
formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa
marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um
governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes
natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23
19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
14
Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios
que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve
ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves
V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de
chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam
criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas
simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos
trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24
M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o
trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na
terra em sua obra como Jeca Tatu
Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato
tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a
real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista
M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a
terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta
de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral
Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava
neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando
assim o estrago e atraso a naccedilatildeo
Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um
ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida
votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava
que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio
personagem Jeca Tatu
Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto
uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo
M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo
trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo
24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010
15
O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria
cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles
ocorriam ou quais suas separaccedilotildees
ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar
riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com
produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que
criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e
atrairrdquo 26
A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento
cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o
seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas
sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o
homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas
26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194
16
III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA
31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE
O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que
modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria
social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento
possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da
modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura
da cidade
O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial
(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas
junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em
conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de
Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que
consomem matildeos de obra
Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava
tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade
que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem
do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava
acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de
ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27
Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa
nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de
Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver
ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do
trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram
quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro
27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41
17
principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo
radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28
Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que
nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se
estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as
estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da
Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a
condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional
Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo
assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das
autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte
A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas
nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees
do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de
fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos
prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do
paiacutes
ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam
capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade
funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio
moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados
operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31
28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58
18
Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890
Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt
httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt
A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua
visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a
todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No
primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as
donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10
horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo
burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua
19
A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por
todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro
de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro
O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em
todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia
A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre
a Rua do Ouvidor
ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o
melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse
monopoacutel io
A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se
reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde
aparecem as novidades
()
Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a
cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um
conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos
perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha
quer queiram quer natildeo
()
A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo
transtornadosrdquo 33 34
A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose
Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme
atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana
E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo
trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra
do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos
principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
20
A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem
trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a
popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se
tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista
queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros
Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma
leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio
de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de
conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a
proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos
eles pois a rua era isso A presentadora da vida
ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua
do Ouvidorrdquo35
Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis
l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa
forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre
se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se
migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural
A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada
com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos
pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente
todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro
Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por
mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em
conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime
Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua
35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
21
impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves
exigecircncias do progresso36
32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA
A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao
paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo
comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que
circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim
Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com
as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta
de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes
que estava se formando e muito menos para o seu povo
Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas
notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia
presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando
36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76
22
Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees
Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt
Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se
esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a
imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute
l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores
A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a
rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta
de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo
A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto
ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas
escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo
analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo
necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem
tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura
A s legendas em ordem satildeo
23
2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im
senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo
3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por
um grande zero constitucionalrdquo
4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos
sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de
tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo
5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal
fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo
M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se
expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o
mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados
assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o
Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos
Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais
eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo
tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente
perdia sua sacral idade
Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o
monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que
rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro
histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo
rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca
como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada
O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e
demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um
esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a
republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar
37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47
24
Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se
tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro
no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica
ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as
maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano
nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano
()
SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as
camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a
menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de
deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram
natildeo passaram de falsos eleitos ()
Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que
SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala
do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto
Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala
do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada
tinha drsquoesta vezrdquo40
A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria
da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse
sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se
empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da
populaccedilatildeo de todo o paiacutes
Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam
por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que
ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a
maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i
passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um
futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo
40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt
25
A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando
sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas
que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes
quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890
ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir
por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de
A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-
imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas
despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash
mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do
governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um
adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes
teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e
houradezrdquo Barbadinho41
A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra
Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela
que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees
para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma
grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em
seu grupo soacute que em um governo Republicano
A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento
de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental
A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade
A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o
tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato
se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre
M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser
efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras
41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17
26
preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a
l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762
ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da
L iberdade (1823) 43
ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em
l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria
seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que
tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja
debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de
ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44
A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio
a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de
fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes
possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a
ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este
objetivo
Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas
um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros
poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era
o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem
formada
A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem
censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a
palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico
Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem
possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da
populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45
43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24
27
O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas
decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l
transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e
igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46
Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por
essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo
governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da
sociedade47
ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso
pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi
um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do
aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas
para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48
O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se
criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco
desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro
A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a
nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como
demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma
de Lima Barreto
33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA
A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da
repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais
ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa
oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79
28
tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto
pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49
O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou
uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a
homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os
fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas
consequecircncias nos anos de 1870 e 1880
Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a
toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma
de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de
respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas
A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta
disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na
academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas
academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica
Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro
com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra
perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato
l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda
mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia
Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra
do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com
engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe
totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de
intelectual
Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute
possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo
sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l
precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar
quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio
49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
29
Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da
Repuacuteblica e eles se viam
ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da
civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime
poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada
que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma
profissatildeo desprestigiadardquo50
O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando
ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de
junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos
fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen
que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje
mais amanhatilde
O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e
hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os
lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro
da America
()
Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque
isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais
admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional
Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51
Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos
homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute
50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt
30
mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos
mil i tares A Repuacuteblica Francesa
Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar
muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque
partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de
Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias
ldquoPROCLAMACcedilAtildeO
O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo
ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em
perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos
residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da
dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema
monarchico ndash representativo
Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter
essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo
provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a
l iberdade e os direitos dos cidadatildeos
()
Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da
soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e
da ordemrdquo 53
Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que
era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos
que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade
para o que quiser
52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
31
Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca
Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt
Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt
A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para
com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o
povo brasileiro poderia ter pela frente
A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram
sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou
charges sobre quem estava no comando
Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as
seguintes informaccedilotildees
ldquoMinisterio do Governo Provisorio
Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca
M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo
M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o
Sr Quintino Bocayuva
M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy
Barbosa
M inistro da guerra Dr Benjamin Constant
M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva
M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa
32
M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54
Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva
de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista
I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA
republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo
ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo
Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e
entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em
no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo
A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e
revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram
expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele
momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo
mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso
A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo
com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e
assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do
Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares
Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a
nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre
que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que
estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890
M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o
animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada
mostra
54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
33
Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo
Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
Seguindo do texto aqui resumido
ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional
dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo
de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico
M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje
outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria
recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma
concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im
garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes
com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e
de prosperidade
()
O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o
como a uma gloria nacional
Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes
do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os
nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo
()
34
Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de
leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de
primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que
l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica
na sua unidade republicana
A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela
gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas
paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um
estridente viva ao futuro da patria
Viva a Republicardquo 55
Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891
voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por
algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas
boas
Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25
anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com
mais de 21 anos e letrados
No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a
representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo
55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt
35
Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l
Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
A imagem que traz os seguintes dizeres
ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma
consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos
terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do
dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre
HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56
A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera
ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees
presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante
Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional
Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises
56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt
36
econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de
dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de
estado no mesmo ano
Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o
lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de
Notiacutecias
A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro
ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao
paiz a mais plena conf ianccedila
Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes
circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que
poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos
seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e
de respeito aacute lei o seu governo
Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da
Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57
A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do
general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo
rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees
geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma
reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano
A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as
eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola
que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente
de M oraes
57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt
37
A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em
suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova
narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento
A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca
como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento
de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com
a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem
de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado
61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina
38
IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO
41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM
O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se
espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de
cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l
uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura
conforto e progresso
A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente
comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de
ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de
Janeiro
Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas
comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam
placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar
f reneacutetico
O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava
letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por
exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais
discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico
A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo
neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente
diferente do que antes
A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava
em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de
crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo
formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os
mesmos
O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus
mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem
62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
39
vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para
de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a
mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo
Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem
brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia
O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era
e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e
poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado
ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e
natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de
pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63
O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias
agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos
deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais
velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais
energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia
Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu
referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova
vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura
raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64
ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma
Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma
Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65
O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo
se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99
40
enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida
eis os modernos ideaisrdquo66
ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite
lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa
numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela
seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a
perderrdquo67
O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido
se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por
todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real
ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o
tempo para a sua assimilaccedilatildeo
ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio
ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate
depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l
ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para
acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as
breves funccedilotildees da vida breverdquo 68
A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha
mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do
que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu
integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69
Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para
viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de
66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268
41
fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua
essecircncia
Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus
conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma
faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel
e irredutiacutevel70
42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA
A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de
Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era
moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era
A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como
um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo
quanto para a divulgaccedilatildeo
A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido
criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na
Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser
divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas
dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa
Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras
brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo
letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para
diferentes puacutebl icos
A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se
recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que
um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial
ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees
que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa
moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca
70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013
42
capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e
demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72
A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca
em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos
uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo
mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a
se reapresentar 73
A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao
jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de
apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia
O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona
reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o
cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e
imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo
A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de
vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o
aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando
assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74
ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas
principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens
quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para
determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas
mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se
indispensaacuteveisrdquo75
72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006
43
A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e
principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou
qualquer outro produto advindo da modernidade
A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o
homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo
visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma
simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer
lugar
Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar
de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo
do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura
Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma
de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de
se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais
ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da
i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo
de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76
Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac
questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando
a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o
escritor
A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e
revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia
tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia
proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para
literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos
trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77
76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94
44
M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa
modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as
efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios
semanais quinzenais ou mensais
Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt
Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt
O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e
obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da
legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e
com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo
A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo
contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um
sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78
78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57
45
A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas
como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor
logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar
as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor
Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt
A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute
possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e
vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de
forma mundana
O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a
atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas
de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas
46
primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma
modernidade em seu cotidiano
A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada
vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma
criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo
outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame
podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema
especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para
chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo
Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A
f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que
chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de
1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os
dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro
Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo
47
Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889
Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt
Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de
Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as
implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de
folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca
ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo
entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino
caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento
abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem
de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a
intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os
diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas
femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias
48
mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e
interessesrdquo79
M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como
Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa
necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas
mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como
esportivas e femininas
Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo
Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt
79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130
49
Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo
Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt
Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo
Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
50
Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu
nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era
necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo
dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de
existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo
Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de
ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas
poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por
isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que
perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081
Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver
tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens
relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que
ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo
Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista
entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas
capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em
primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre
escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas
A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo
tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica
scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os
l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto
Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que
vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas
escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples
mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt
51
simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma
vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com
o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica
Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A
modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84
Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a
Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos
seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos
volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com
personagens com feiccedilotildees engraccediladas
M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo
que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo
ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo
frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com
baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86
embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo
Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre
o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam
transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior
vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias
de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma
vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro
de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88
O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser
def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado
84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
52
A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir
diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados
como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu
desejo de imagem
43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO
Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram
adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do
nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum
folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer
um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance
l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia
Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de
pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar
sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da
populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem
Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos
de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89
levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova
aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo
Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o
Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais
propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l
inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro
A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi
essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais
pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores
A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da
populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e
ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais
que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38
53
divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora
isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva
44 O PUacuteBLICO RECEPTOR
A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a
mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida
com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova
ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo
cultural da sociedade cariocardquo 90
O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos
jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o
espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se
estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para
que qualquer coisa ocorresse
A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se
importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim
para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si
provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo
Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a
atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas
divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam
tambeacutem
ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de
associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes
mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada
M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas
i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos
para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores
ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo
90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19
54
clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo
(M ELLO 2007)91
O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o
crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais
populares a aceitassem de fato
A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute
citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam
introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo
outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i
estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92
45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA
Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a
oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a
modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida
sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria
A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o
exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas
M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova
velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e
Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do
Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o
teatro em abundacircnciardquo93
O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive
A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais
propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a
91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75
55
tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de
ambiente
ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando
depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas
jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a
produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a
pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se
produzia
A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se
tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a
pagarem jantares ou ida a bares
A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver
por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a
luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos
para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma
parcela ser respeitada e mais do que ouvida
Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para
a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo
republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais
do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo
progresso e democracia95
46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO
O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com
ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis
cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas
pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l
94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
56
ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi
sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser
- Para ser
- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem
relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um
trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado
do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96
A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate
poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a
comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a
automatizaccedilatildeo
A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de
escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo
uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que
o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda
natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o
escri to causa uma perca e uma falta de sentido
M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve
como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos
intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta
questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no
Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97
Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que
ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se
era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor
exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido
O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se
tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou
apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil
Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97
57
manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute
chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se
transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar
Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor
se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no
universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os
platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98
Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de
jornais e revistas
L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito
tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos
perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi
lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e
sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres
ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico
saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes
desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel
infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe
desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em
vermelhordquo 99
Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o
produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas
chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos
M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir
recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo
homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre
pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo
para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para
98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual
58
mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde
nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem
atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores
M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na
primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de
criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l
ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a
condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia
arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a
intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos
aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e
as tempestades do futurordquo 100
A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para
escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos
principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l
aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a
industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo
Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a
paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se
escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina
podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra
perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria
direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano
100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
59
V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram
para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados
uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem
i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia
A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer
mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo
rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas
Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no
Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio
do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como
O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o
intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca
que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia
chegar a todos
Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no
mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas
quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico
movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia
A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a
tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem
i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor
de si mesmo
A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem
a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um
desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela
eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute
Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo
brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a
fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era
aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de
que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura
60
A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava
para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma
representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares
O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que
envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com
o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a
segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do
meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever
e falar
A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de
suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a
mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a
aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico
O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo
difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas
af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o
novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas
de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes
Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas
obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que
eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma
efetiva
O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram
discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu
redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles
deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o
que a populaccedilatildeo brasi leira representava
Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com
que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como
uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria
dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social
O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era
produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o
61
homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era
nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade
em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo
62
VI FONTES
Gazeta de Notiacutecias (1890 ndash 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03amp PagFis=0gt
Jornal do Brazil (1890 ndash 1920) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_01amp pasta=ano20189=gt
Revista Kosmos (1900 - 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amp pasta=ano20190amp =gt
Revista Careta (1900 ndash 1929) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=083712amp pasta=ano20190amp pesq=gt
Revista I l lustrada (1890 ndash 1899) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pasta=ano20189amp pesq=gt
63
VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICA
M ARTINS Ana Luiza LUCA Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed
Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordf Ed 2003
SUumlSSEK IND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1 Reimpressatildeo 2006
M ELLO M aria Tereza Chaves de A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 1ordf Ed 2007
CARVALHO Joseacute M urilo de A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 7ordf Ed 1998
BEJAM IN Walter A Obra de Arte na Eacutepoca de sua Reprodutibilidade Teacutecnica In
L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
HORK HEIM ER M ax ADORNO Theodor W A Induacutestria Cultural o Iluminismo como Mistificaccedilatildeo de Massas In L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e
Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
CURRAN M ark J Histoacuteria do Brasil em Cordel Ed EDUSP Editora da Universidade de
Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1ordf Ed 2009
RIBEIRO Ana Paula Goulart FERREIRA Lucia M aria A lves Miacutedia e Memoacuteria A Produccedilatildeo de Sentidos nos Meios de Comunicaccedilatildeo Ed M AUAD Rio de Janeiro 1ordf Ed
2007
COSTA Cleacuteria Botelho da M ACHADO M aria Clara Tomaz Histoacuteria e Literatura
Identidade e Fronteiras Ed EDUFU Uberlacircndia 1ordf Ed 2006 GOM ES Angela de Castro A Poliacutetica Brasileira em Busca da Modernidade na Fronteira
entre o puacuteblico e o privado In Org SCHWARCZ Lil ia M oritz Histoacuteria da V ida privada
no Brasil vol 4 Ed Companhia das Letras 1ordf Ed 1998
CHALHOUB Sidney PEREIRA Leonardo A ffonso de M A Histoacuteria Contada Capiacutetulos de Histoacuteria Social da Literatura no Brasil Ed Nova Fronteira 1ordf Ed 1998
CAM ARGO Ana M aria de A lmeida A IMPRENSA COMO FONTE PARA HISTOacuteRIA DO BRASIL In PAULA Euriacutepedes Simotildees de Portos Rotas e Comeacutercio Satildeo Paulo 1971
LIM A Ivana Stolze Com a palavra a cidade mesticcedila Imprensa poliacutetica e identidade no Rio de Janeiro 1831 ndash 1833 Fundaccedilatildeo Casa de Rui Barbosa Rio de Janeiro 1998
64
LUCA Tania Regina de Histoacuteria dos nos e por meio dos perioacutedicos In Org PINSK Y
Carla Bassanezi Fontes Histoacuterias Satildeo Paulo Ed Contexto 2005
SCHERER M arta Eymael Garcia Bilac ndash Sem Poesia Crocircnicas de um jornalista da Belle Eacutepoque Universidade Federal de Santa Catarina 2008
M ENDES Iba Olavo Bilac Crocircnicas e Novelas Poeteiro Editor Digital Satildeo Paulo 2014 NUNES Radameacutes V ieira Literatura e Imprensa Barreto e Bilac entre a Arte e
Ofiacutecio Emblemas Goiaacutes v 8 n 2 p201-226 jul 2011 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
M ONTILHA Thiago Roza Ialdo Olavo Bilac e a Questatildeo da Instruccedilatildeo no Brasil (1897 ndash 1908) Intellegravectus Rio de Janeiro ano X IV n 1 p 57 ndash 76 2015
NUNES Radameacutes V ieira Crocircnicas e Cronistas no Ritmo das M aacutequinas Emblemas Goiaacutes
v 9 n 1 p129-145 jan 2012 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
SILVA Renata Refino da Monteiro Lobato e a Revista do Brasil (1916 ndash 1925)
Representaccedilotildees de Ciecircncia Literatura Arte e Histoacuteria Anais do XXVI Simpoacutesio
Nacional de Histoacuteria - ANPUH Satildeo Paulo julho 2011
SILVA M auriacutecio Literatura e Publicidade no Preacute-Modernismo Brasileiro Uma Introduccedilatildeo Criacutetica Cultural Santa Catarina v 1 n1 jan Semestral 2006
SILVA Danyelle M arques Freire da A Constituiccedilatildeo do Espaccedilo em Vida Ociosa de
Godofredo Rangel UninCor ndash Universidade Vale do Rio Verde Trecircs Coraccedilotildees 2013
SILVA M auriacutecio Profissionalizaccedilatildeo do Escritor e Publicidade Editorial Dois Capiacutetulos
da Leitura Preacute-Modernista no Brasil M agma Satildeo Paulo n 6 p 66 ndash 77 1999
BECK ER Elizamari Rodrigues Forccedilas Motrizes de uma Contiacutestica Preacute-Modernista O
Papel da Traduccedilatildeo na Obra Ficcional de Monteiro Lobato Universidade Federal do Rio
Grande do Sul Porto A legre 2006
ARAUJO Jean M arcel Oliveira O Preacute-Modernismo A luta entre passadistas modernos e modernistas no campo artiacutestico brasileiro Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo ndash RJ n 1 p
117 ndash 134 jul semestral 2012
GUIM ARAtildeES Fernando Simbolismo Modernismo e Vanguardas Imprensa Nacional ndash
Casa da M oeda 3ordf Ed Rio de Janeiro 2004
VELLOSO M ocircnica A Modernidade Carioca na Sua Vertente Humoriacutestica Estudos
Histoacutericos Rio de Janeiro v 8 n 16 p 269-278 1995
65
M ORAES Eduardo Jardim Modernismo Revisitado Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v
1 n 2 p 220 ndash 238 1988
STRELOW A line Jornalismo literaacuterio e cultural Perspectiva Histoacuterica Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Disponiacutevel em lt wwwboccubiptgt
RAM OS Gabriela A Crocircnica como Interseccedilatildeo entre jornalismo e literatura Intercom ndash
Sociedade Brasileira de Estudos Interdiscipl inares das Comunicaccedilatildeo XV II Congresso de
Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo da Regiatildeo Sudeste Ouro Preto 2012
SCHERER M arta E G Um Jornalismo Belle Eacutepoque In SCHERER M arta E G
Imprensa e Belle Eacutepoque - Olavo Bilac o jornalismo e suas histoacuterias Ed Unisul
PalhoccedilaSC 2012
RIBEIRO Ana Paula Goulart Nelson Werneck Sodreacute e a histoacuteria da imprensa no
Brasil Intercom Revista Brasileira de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo [sl] v 38 n 2 p275-
288 dez 2015 FapUNIFESP (SciELO) Disponiacutevel em lthttpdxdoiorg1015901809-
58442015214gt
SILVA M auriacutecio Cultura de Mercado Literatura e Publicidade no preacute-modernismo brasileiro Via A tlacircntica Satildeo Paulo n 20 p 75 ndash 87 dez 2011
V IANNA Rafael de Bri to Os Renegados da Histoacuteria A importacircncia dos preacute-modernos para o pensamento nacional Revista Brasileira de Histoacuteria amp Ciecircncias Sociais v 3 n 5 p
127 ndash 131 Jul 2011
BEAL Sophia A Transformaccedilatildeo das Trevas na Literatura Preacute-Modernista Pensares em
Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 76 -91 jul Semestral 2012
L INS Vera Lucia de Oliveira Os simbolistas Virando o Seacuteculo Pensares em Revista Satildeo
Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 135 - 143 Jul Semestral 2012
BATALHA M aria Cristina Lima Barreto e o vieacutes do realismo popular na literatura brasileira Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 51 - 65 Jul Semestral
2012
FIGUEIREDO Carmen Lucia Negreiros O Mal-estar de Isaiacuteas A crise do Romance em
Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 35 - 50 Jul
Semestral 2012
GENS Rosa Retratos em Cantoneiras Imagens do Rio de Janeiro Belle Eacutepoque em Joatildeo do Rio e Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 66 -
75 jul Semestral 2012
66
M ENDES Leonardo Pinto Juacutelio Ribeiro O Naturalismo e a Dessacralizaccedilatildeo da Literatura Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 4 p 26 - 42 jul Semestral
2014
RIO Joatildeo do Cinematoacutegrafo Crocircnicas Cariocas Academia Brasileira de Letras ndash Coleccedilatildeo
Afracircnio Peixoto Rio de Janeiro 2009
ZANON M aria Cecil ia A Sociedade Carioca da Belle Eacutepoque nas paacuteginas do Fon-Fon
Patrimocircnio e M emoacuteria Satildeo Paulo v 4 n 2 p ndash 217 ndash 235 jun 2009
DOIN Joseacute Evaldo de M ello NETO Humberto Perinell i PAZIANI Rodrigo Ribeiro
PACANO Faacutebio Augosto A Belle Eacutepoque caipira Problematizaccedilotildees e oportunidades interpretativas da modernidade e urbanizaccedilatildeo no Mundo do Cafeacute (1852 ndash 1930) ndash A
proposta do Cemumc Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v 27 n 53 p 91 ndash 122
Jun 2007
NOGUERIA Clara Asperti Revista Carets (1908 ndash 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo Impressa no Seacuteculo XX M iscelacircnea Assis v 8 p 60 ndash 80 jul 2010
OLIVEIRA Luacutecia Lippi A questatildeo nacional na Primeira Repuacuteblica Ed Brasil iense Satildeo
Paulo 1ordf Ed 1990 Disponiacutevel em lt httpwwwcpdocfgvbrgt
VENTURA Roberto Euclides da Cunha e a Repuacuteblica Aacuterea de Histoacuteria Cultural USP
29 de abril de 1994
M IGLIARI Well ington Preacute-Modernismo e Repuacuteblica Antinomias da Belle Eacutepoque no
Brasil Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 186 - 202 jul Semestral
2012
NEVES M argarida de Souza Os cenaacuterios da Repuacuteblica O Brasil na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX In NEVES M de S Os cenaacuterios da repuacuteblica O Brasil na virada
do seacuteculo X IX para o seacuteculo XX In DELGADO Luciacutel ia de A lmeida Neves e FERREIRA
Jorge Luiacutes (Orgs) Brasil Republicano Estado sociedade civi l e cultura poliacutetica O tempo do
l iberalismo excludente Da Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica agrave Revoluccedilatildeo de 1930 1a ed Rio de
Janeiro Civi lizaccedilatildeo Brasileira 2003
SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A Modernizaccedilatildeo do Rio de Janeiro nas crocircnicas de Olavo Bilac (1890 ndash 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador abri l de 2013
HALLER Joyce Uemoto Monteiro Lobato Literatura como expressatildeo do contexto (1890-1930) Universidade Estadual de M aringaacute M aringaacute 2012
4
II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS
21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO
No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de
que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes
transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o
progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma
modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar
necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes
A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser
construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro
A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que
poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo
X IX e comeccedilo do seacuteculo X X
ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia
um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do
A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada
emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar
daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro
das picaretas abafava esse protesto impotente
Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como
as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las
diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da
hygiene do bom gosto e da arterdquo 6
O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa
que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que
favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de
comunicaccedilatildeo e de transporte
6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt
5
Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento
tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a
educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo
principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma
forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo
remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter
tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e
seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo
Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870
ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande
transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a
crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como
jornal istas
Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e
faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute
mesmo os criassem
A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto
para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para
mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo
A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo
tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute
por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo
ideoloacutegica
A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e
quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu
lado
A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l
V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser
efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer
ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e
assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute
acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo
7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro
6
22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE
Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua
l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como
Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a
escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes
Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita
eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que
a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por
vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro
momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance
urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A
valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver
Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas
ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele
surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre
a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como
uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia
da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens
23 REALISMO
O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares
Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a
real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De
uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico
O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito
representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem
tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa
7
Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo
tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute
um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l
demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na
seacuterie ldquoBons diasrdquo9
M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca
natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer
o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus
acontecimentos
Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os
narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de
uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um
pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do
que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10
ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e
que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais
amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()
O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos
princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava
tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos
termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada
enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11
Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio
leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua
8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013
8
zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo
ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam
Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua
l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias
Poacutestumas de Braacutes Cubas
A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca
brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento
ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo
exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o
homem vive e o que ele eacute
A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba
cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle
conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um
alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12
24 NATURALISMO
O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque
principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o
homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua
ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13
Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens
comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior
sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do
cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l
percepccedilatildeo no interior
O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento
eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas
e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o
moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava
tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior
12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista
9
O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas
ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo
sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas
Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua
l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor
25 PARNASIANISMO
O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e
conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente
Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e
o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos
ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do
tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir
tinha se tornado algo f reneacutetico
O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a
necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre
palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas
Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio
interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o
parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de
M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para
o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o
mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes
Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social
para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu
e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem
Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando
da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas
ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu
candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -
pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler
10
e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de
ser algueacutemrdquo 14
Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era
necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os
acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria
se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando
A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais
baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por
meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um
estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo
A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem
investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens
ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num
paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O
melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a
memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria
Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e
escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar
esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode
merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os
caracteres do alfabetordquo 15
Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para
construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores
entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de
trabalho
Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a
instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees
14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015
11
26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO
Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um
movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos
os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides
da Cunha e M onteiro Lobato
Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da
l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua
maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum
Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares
de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos
Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como
uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e
poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar
ateacute eles
A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que
de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e
caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a
imagem do que era discutido e narrado
M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra
haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de
algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que
estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo
ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo
brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel
o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que
nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de
busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro
prometiardquo 16
16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144
12
Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica
estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a
sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente
A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no
jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos
por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado
Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies
e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de
renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto
Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado
como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando
momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees
Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma
vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por
dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua
identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista
e materialistardquo 17
Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se
relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem
questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o
movimento Republicano
ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a
evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas
qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e
a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos
Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18
L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela
modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo
17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
13
entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute
mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele
ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do
passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de
modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais
suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de
ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20
E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como
dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela
si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor
ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio
Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute
este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21
ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande
de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um
outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros
e um pouco devido a mim
[ ]
A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os
acontecimentosrdquo 22
Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a
formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa
marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um
governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes
natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23
19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
14
Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios
que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve
ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves
V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de
chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam
criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas
simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos
trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24
M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o
trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na
terra em sua obra como Jeca Tatu
Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato
tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a
real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista
M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a
terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta
de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral
Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava
neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando
assim o estrago e atraso a naccedilatildeo
Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um
ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida
votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava
que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio
personagem Jeca Tatu
Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto
uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo
M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo
trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo
24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010
15
O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria
cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles
ocorriam ou quais suas separaccedilotildees
ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar
riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com
produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que
criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e
atrairrdquo 26
A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento
cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o
seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas
sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o
homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas
26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194
16
III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA
31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE
O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que
modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria
social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento
possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da
modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura
da cidade
O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial
(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas
junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em
conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de
Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que
consomem matildeos de obra
Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava
tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade
que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem
do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava
acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de
ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27
Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa
nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de
Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver
ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do
trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram
quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro
27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41
17
principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo
radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28
Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que
nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se
estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as
estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da
Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a
condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional
Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo
assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das
autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte
A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas
nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees
do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de
fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos
prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do
paiacutes
ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam
capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade
funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio
moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados
operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31
28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58
18
Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890
Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt
httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt
A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua
visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a
todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No
primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as
donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10
horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo
burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua
19
A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por
todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro
de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro
O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em
todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia
A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre
a Rua do Ouvidor
ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o
melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse
monopoacutel io
A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se
reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde
aparecem as novidades
()
Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a
cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um
conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos
perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha
quer queiram quer natildeo
()
A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo
transtornadosrdquo 33 34
A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose
Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme
atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana
E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo
trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra
do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos
principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
20
A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem
trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a
popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se
tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista
queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros
Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma
leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio
de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de
conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a
proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos
eles pois a rua era isso A presentadora da vida
ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua
do Ouvidorrdquo35
Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis
l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa
forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre
se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se
migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural
A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada
com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos
pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente
todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro
Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por
mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em
conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime
Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua
35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt
21
impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves
exigecircncias do progresso36
32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA
A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao
paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo
comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que
circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim
Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com
as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta
de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes
que estava se formando e muito menos para o seu povo
Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas
notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia
presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando
36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76
22
Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees
Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt
Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se
esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a
imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute
l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores
A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a
rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta
de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo
A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto
ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas
escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo
analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo
necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem
tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura
A s legendas em ordem satildeo
23
2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im
senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo
3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por
um grande zero constitucionalrdquo
4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos
sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de
tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo
5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal
fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo
M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se
expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o
mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados
assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o
Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos
Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais
eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo
tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente
perdia sua sacral idade
Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o
monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que
rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro
histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo
rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca
como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada
O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e
demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um
esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a
republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar
37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47
24
Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se
tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro
no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica
ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as
maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano
nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano
()
SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as
camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a
menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de
deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram
natildeo passaram de falsos eleitos ()
Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que
SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala
do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto
Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala
do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada
tinha drsquoesta vezrdquo40
A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria
da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse
sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se
empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da
populaccedilatildeo de todo o paiacutes
Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam
por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que
ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a
maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i
passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um
futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo
40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt
25
A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando
sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas
que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes
quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890
ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir
por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de
A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-
imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas
despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash
mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do
governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um
adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes
teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e
houradezrdquo Barbadinho41
A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra
Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela
que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees
para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma
grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em
seu grupo soacute que em um governo Republicano
A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento
de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental
A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade
A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o
tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato
se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre
M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser
efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras
41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17
26
preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a
l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762
ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da
L iberdade (1823) 43
ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em
l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria
seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que
tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja
debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de
ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44
A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio
a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de
fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes
possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a
ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este
objetivo
Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas
um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros
poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era
o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem
formada
A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem
censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a
palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico
Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem
possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da
populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45
43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24
27
O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas
decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l
transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e
igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46
Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por
essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo
governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da
sociedade47
ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso
pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi
um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do
aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas
para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48
O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se
criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco
desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro
A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a
nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como
demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma
de Lima Barreto
33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA
A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da
repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais
ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa
oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79
28
tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto
pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49
O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou
uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a
homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os
fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas
consequecircncias nos anos de 1870 e 1880
Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a
toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma
de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de
respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas
A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta
disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na
academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas
academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica
Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro
com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra
perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato
l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda
mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia
Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra
do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com
engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe
totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de
intelectual
Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute
possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo
sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l
precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar
quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio
49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
29
Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da
Repuacuteblica e eles se viam
ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da
civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime
poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada
que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma
profissatildeo desprestigiadardquo50
O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando
ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de
junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos
fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen
que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje
mais amanhatilde
O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e
hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os
lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro
da America
()
Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque
isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais
admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional
Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51
Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos
homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute
50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt
30
mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos
mil i tares A Repuacuteblica Francesa
Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar
muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque
partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de
Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias
ldquoPROCLAMACcedilAtildeO
O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo
ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em
perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos
residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da
dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema
monarchico ndash representativo
Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter
essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo
provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a
l iberdade e os direitos dos cidadatildeos
()
Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da
soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e
da ordemrdquo 53
Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que
era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos
que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade
para o que quiser
52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
31
Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca
Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt
Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt
A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para
com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o
povo brasileiro poderia ter pela frente
A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram
sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou
charges sobre quem estava no comando
Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as
seguintes informaccedilotildees
ldquoMinisterio do Governo Provisorio
Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca
M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo
M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o
Sr Quintino Bocayuva
M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy
Barbosa
M inistro da guerra Dr Benjamin Constant
M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva
M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa
32
M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54
Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva
de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista
I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA
republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo
ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo
Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e
entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em
no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo
A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e
revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram
expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele
momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo
mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso
A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo
com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e
assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do
Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares
Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a
nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre
que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que
estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890
M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o
animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada
mostra
54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt
33
Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo
Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
Seguindo do texto aqui resumido
ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional
dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo
de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico
M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje
outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria
recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma
concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im
garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes
com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e
de prosperidade
()
O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o
como a uma gloria nacional
Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes
do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os
nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo
()
34
Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de
leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de
primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que
l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica
na sua unidade republicana
A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela
gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas
paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um
estridente viva ao futuro da patria
Viva a Republicardquo 55
Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891
voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por
algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas
boas
Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25
anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com
mais de 21 anos e letrados
No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a
representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo
55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt
35
Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l
Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt
A imagem que traz os seguintes dizeres
ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma
consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos
terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do
dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre
HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56
A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera
ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees
presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante
Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional
Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises
56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt
36
econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de
dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de
estado no mesmo ano
Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o
lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de
Notiacutecias
A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro
ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao
paiz a mais plena conf ianccedila
Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes
circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que
poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos
seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e
de respeito aacute lei o seu governo
Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da
Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57
A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do
general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo
rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees
geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma
reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano
A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as
eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola
que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente
de M oraes
57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt
37
A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em
suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova
narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento
A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca
como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento
de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com
a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem
de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado
61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina
38
IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO
41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM
O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se
espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de
cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l
uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura
conforto e progresso
A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente
comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de
ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de
Janeiro
Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas
comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam
placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar
f reneacutetico
O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava
letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por
exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais
discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico
A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo
neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente
diferente do que antes
A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava
em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de
crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo
formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os
mesmos
O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus
mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem
62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
39
vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para
de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a
mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo
Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem
brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia
O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era
e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e
poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado
ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e
natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de
pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63
O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias
agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos
deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais
velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais
energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia
Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu
referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova
vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura
raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64
ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma
Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma
Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65
O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo
se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99
40
enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida
eis os modernos ideaisrdquo66
ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite
lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa
numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela
seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a
perderrdquo67
O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido
se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por
todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real
ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o
tempo para a sua assimilaccedilatildeo
ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio
ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate
depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l
ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para
acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as
breves funccedilotildees da vida breverdquo 68
A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha
mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do
que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu
integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69
Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para
viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de
66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268
41
fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua
essecircncia
Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus
conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma
faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel
e irredutiacutevel70
42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA
A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de
Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era
moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era
A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como
um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo
quanto para a divulgaccedilatildeo
A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido
criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na
Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser
divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas
dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa
Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras
brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo
letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para
diferentes puacutebl icos
A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se
recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que
um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial
ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees
que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa
moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca
70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013
42
capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e
demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72
A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca
em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos
uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo
mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a
se reapresentar 73
A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao
jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de
apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia
O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona
reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o
cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e
imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo
A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de
vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o
aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando
assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74
ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas
principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens
quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para
determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas
mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se
indispensaacuteveisrdquo75
72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006
43
A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e
principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou
qualquer outro produto advindo da modernidade
A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o
homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo
visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma
simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer
lugar
Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar
de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo
do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura
Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma
de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de
se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais
ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da
i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo
de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76
Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac
questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando
a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o
escritor
A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e
revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia
tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia
proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para
literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos
trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77
76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94
44
M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa
modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as
efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios
semanais quinzenais ou mensais
Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt
Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt
O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e
obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da
legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e
com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo
A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo
contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um
sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78
78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57
45
A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas
como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor
logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar
as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor
Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo
Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt
A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute
possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e
vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de
forma mundana
O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a
atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas
de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas
46
primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma
modernidade em seu cotidiano
A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada
vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma
criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo
outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame
podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema
especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para
chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo
Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A
f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que
chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de
1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os
dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro
Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo
47
Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889
Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt
httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt
Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de
Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as
implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de
folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca
ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo
entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino
caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento
abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem
de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a
intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os
diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas
femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias
48
mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e
interessesrdquo79
M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como
Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa
necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas
mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como
esportivas e femininas
Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo
Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt
79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130
49
Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo
Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt
Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo
Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt
50
Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu
nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era
necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo
dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de
existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo
Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de
ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas
poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por
isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que
perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081
Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver
tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens
relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que
ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo
Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista
entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas
capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em
primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre
escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas
A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo
tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica
scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os
l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto
Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que
vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas
escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples
mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt
51
simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma
vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com
o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica
Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A
modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84
Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a
Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos
seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos
volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com
personagens com feiccedilotildees engraccediladas
M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo
que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo
ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo
frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com
baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86
embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo
Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre
o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam
transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior
vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias
de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma
vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro
de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88
O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser
def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado
84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
52
A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir
diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados
como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu
desejo de imagem
43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO
Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram
adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do
nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum
folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer
um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance
l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia
Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de
pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar
sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da
populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem
Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos
de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89
levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova
aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo
Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o
Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais
propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l
inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro
A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi
essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais
pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores
A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da
populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e
ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais
que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38
53
divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora
isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva
44 O PUacuteBLICO RECEPTOR
A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a
mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida
com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova
ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo
cultural da sociedade cariocardquo 90
O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos
jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o
espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se
estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para
que qualquer coisa ocorresse
A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se
importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim
para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si
provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo
Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a
atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas
divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam
tambeacutem
ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de
associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes
mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada
M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas
i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos
para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores
ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo
90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19
54
clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo
(M ELLO 2007)91
O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o
crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais
populares a aceitassem de fato
A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute
citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam
introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo
outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i
estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92
45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA
Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a
oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a
modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida
sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria
A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o
exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas
M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova
velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e
Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do
Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o
teatro em abundacircnciardquo93
O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive
A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais
propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a
91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75
55
tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de
ambiente
ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando
depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas
jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a
produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a
pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se
produzia
A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se
tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a
pagarem jantares ou ida a bares
A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver
por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a
luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos
para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma
parcela ser respeitada e mais do que ouvida
Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para
a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo
republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais
do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo
progresso e democracia95
46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO
O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com
ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis
cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas
pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l
94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007
56
ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi
sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser
- Para ser
- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem
relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um
trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado
do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96
A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate
poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a
comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a
automatizaccedilatildeo
A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de
escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo
uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que
o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda
natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o
escri to causa uma perca e uma falta de sentido
M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve
como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos
intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta
questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no
Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97
Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que
ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se
era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor
exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido
O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se
tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou
apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil
Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97
57
manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute
chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se
transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar
Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor
se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no
universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os
platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98
Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de
jornais e revistas
L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito
tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos
perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi
lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e
sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres
ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico
saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes
desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel
infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe
desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em
vermelhordquo 99
Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o
produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas
chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos
M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir
recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo
homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre
pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo
para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para
98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual
58
mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde
nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem
atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores
M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na
primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de
criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l
ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a
condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia
arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a
intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos
aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e
as tempestades do futurordquo 100
A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para
escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos
principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l
aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a
industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo
Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a
paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se
escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina
podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra
perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria
direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano
100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003
59
V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram
para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados
uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem
i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia
A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer
mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo
rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas
Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no
Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio
do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como
O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o
intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca
que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia
chegar a todos
Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no
mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas
quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico
movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia
A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a
tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem
i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor
de si mesmo
A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem
a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um
desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela
eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute
Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo
brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a
fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era
aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de
que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura
60
A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava
para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma
representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares
O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que
envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com
o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a
segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do
meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever
e falar
A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de
suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a
mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a
aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico
O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo
difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas
af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o
novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas
de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes
Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas
obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que
eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma
efetiva
O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram
discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu
redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles
deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o
que a populaccedilatildeo brasi leira representava
Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com
que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como
uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria
dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social
O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era
produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o
61
homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era
nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade
em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo
62
VI FONTES
Gazeta de Notiacutecias (1890 ndash 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03amp PagFis=0gt
Jornal do Brazil (1890 ndash 1920) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_01amp pasta=ano20189=gt
Revista Kosmos (1900 - 1909) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amp pasta=ano20190amp =gt
Revista Careta (1900 ndash 1929) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=083712amp pasta=ano20190amp pesq=gt
Revista I l lustrada (1890 ndash 1899) Disponiacutevel em
lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pasta=ano20189amp pesq=gt
63
VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICA
M ARTINS Ana Luiza LUCA Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed
Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013
SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordf Ed 2003
SUumlSSEK IND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1 Reimpressatildeo 2006
M ELLO M aria Tereza Chaves de A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 1ordf Ed 2007
CARVALHO Joseacute M urilo de A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 7ordf Ed 1998
BEJAM IN Walter A Obra de Arte na Eacutepoca de sua Reprodutibilidade Teacutecnica In
L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
HORK HEIM ER M ax ADORNO Theodor W A Induacutestria Cultural o Iluminismo como Mistificaccedilatildeo de Massas In L IM A Costa Luz Teoria da cultura de Massa Ed Paz e
Terra Satildeo Paulo 1ordf Ed 2000
CURRAN M ark J Histoacuteria do Brasil em Cordel Ed EDUSP Editora da Universidade de
Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1ordf Ed 2009
RIBEIRO Ana Paula Goulart FERREIRA Lucia M aria A lves Miacutedia e Memoacuteria A Produccedilatildeo de Sentidos nos Meios de Comunicaccedilatildeo Ed M AUAD Rio de Janeiro 1ordf Ed
2007
COSTA Cleacuteria Botelho da M ACHADO M aria Clara Tomaz Histoacuteria e Literatura
Identidade e Fronteiras Ed EDUFU Uberlacircndia 1ordf Ed 2006 GOM ES Angela de Castro A Poliacutetica Brasileira em Busca da Modernidade na Fronteira
entre o puacuteblico e o privado In Org SCHWARCZ Lil ia M oritz Histoacuteria da V ida privada
no Brasil vol 4 Ed Companhia das Letras 1ordf Ed 1998
CHALHOUB Sidney PEREIRA Leonardo A ffonso de M A Histoacuteria Contada Capiacutetulos de Histoacuteria Social da Literatura no Brasil Ed Nova Fronteira 1ordf Ed 1998
CAM ARGO Ana M aria de A lmeida A IMPRENSA COMO FONTE PARA HISTOacuteRIA DO BRASIL In PAULA Euriacutepedes Simotildees de Portos Rotas e Comeacutercio Satildeo Paulo 1971
LIM A Ivana Stolze Com a palavra a cidade mesticcedila Imprensa poliacutetica e identidade no Rio de Janeiro 1831 ndash 1833 Fundaccedilatildeo Casa de Rui Barbosa Rio de Janeiro 1998
64
LUCA Tania Regina de Histoacuteria dos nos e por meio dos perioacutedicos In Org PINSK Y
Carla Bassanezi Fontes Histoacuterias Satildeo Paulo Ed Contexto 2005
SCHERER M arta Eymael Garcia Bilac ndash Sem Poesia Crocircnicas de um jornalista da Belle Eacutepoque Universidade Federal de Santa Catarina 2008
M ENDES Iba Olavo Bilac Crocircnicas e Novelas Poeteiro Editor Digital Satildeo Paulo 2014 NUNES Radameacutes V ieira Literatura e Imprensa Barreto e Bilac entre a Arte e
Ofiacutecio Emblemas Goiaacutes v 8 n 2 p201-226 jul 2011 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
M ONTILHA Thiago Roza Ialdo Olavo Bilac e a Questatildeo da Instruccedilatildeo no Brasil (1897 ndash 1908) Intellegravectus Rio de Janeiro ano X IV n 1 p 57 ndash 76 2015
NUNES Radameacutes V ieira Crocircnicas e Cronistas no Ritmo das M aacutequinas Emblemas Goiaacutes
v 9 n 1 p129-145 jan 2012 Semestral Disponiacutevel em
lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt Acesso em 12 jun 2019
SILVA Renata Refino da Monteiro Lobato e a Revista do Brasil (1916 ndash 1925)
Representaccedilotildees de Ciecircncia Literatura Arte e Histoacuteria Anais do XXVI Simpoacutesio
Nacional de Histoacuteria - ANPUH Satildeo Paulo julho 2011
SILVA M auriacutecio Literatura e Publicidade no Preacute-Modernismo Brasileiro Uma Introduccedilatildeo Criacutetica Cultural Santa Catarina v 1 n1 jan Semestral 2006
SILVA Danyelle M arques Freire da A Constituiccedilatildeo do Espaccedilo em Vida Ociosa de
Godofredo Rangel UninCor ndash Universidade Vale do Rio Verde Trecircs Coraccedilotildees 2013
SILVA M auriacutecio Profissionalizaccedilatildeo do Escritor e Publicidade Editorial Dois Capiacutetulos
da Leitura Preacute-Modernista no Brasil M agma Satildeo Paulo n 6 p 66 ndash 77 1999
BECK ER Elizamari Rodrigues Forccedilas Motrizes de uma Contiacutestica Preacute-Modernista O
Papel da Traduccedilatildeo na Obra Ficcional de Monteiro Lobato Universidade Federal do Rio
Grande do Sul Porto A legre 2006
ARAUJO Jean M arcel Oliveira O Preacute-Modernismo A luta entre passadistas modernos e modernistas no campo artiacutestico brasileiro Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo ndash RJ n 1 p
117 ndash 134 jul semestral 2012
GUIM ARAtildeES Fernando Simbolismo Modernismo e Vanguardas Imprensa Nacional ndash
Casa da M oeda 3ordf Ed Rio de Janeiro 2004
VELLOSO M ocircnica A Modernidade Carioca na Sua Vertente Humoriacutestica Estudos
Histoacutericos Rio de Janeiro v 8 n 16 p 269-278 1995
65
M ORAES Eduardo Jardim Modernismo Revisitado Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v
1 n 2 p 220 ndash 238 1988
STRELOW A line Jornalismo literaacuterio e cultural Perspectiva Histoacuterica Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Disponiacutevel em lt wwwboccubiptgt
RAM OS Gabriela A Crocircnica como Interseccedilatildeo entre jornalismo e literatura Intercom ndash
Sociedade Brasileira de Estudos Interdiscipl inares das Comunicaccedilatildeo XV II Congresso de
Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo da Regiatildeo Sudeste Ouro Preto 2012
SCHERER M arta E G Um Jornalismo Belle Eacutepoque In SCHERER M arta E G
Imprensa e Belle Eacutepoque - Olavo Bilac o jornalismo e suas histoacuterias Ed Unisul
PalhoccedilaSC 2012
RIBEIRO Ana Paula Goulart Nelson Werneck Sodreacute e a histoacuteria da imprensa no
Brasil Intercom Revista Brasileira de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo [sl] v 38 n 2 p275-
288 dez 2015 FapUNIFESP (SciELO) Disponiacutevel em lthttpdxdoiorg1015901809-
58442015214gt
SILVA M auriacutecio Cultura de Mercado Literatura e Publicidade no preacute-modernismo brasileiro Via A tlacircntica Satildeo Paulo n 20 p 75 ndash 87 dez 2011
V IANNA Rafael de Bri to Os Renegados da Histoacuteria A importacircncia dos preacute-modernos para o pensamento nacional Revista Brasileira de Histoacuteria amp Ciecircncias Sociais v 3 n 5 p
127 ndash 131 Jul 2011
BEAL Sophia A Transformaccedilatildeo das Trevas na Literatura Preacute-Modernista Pensares em
Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 76 -91 jul Semestral 2012
L INS Vera Lucia de Oliveira Os simbolistas Virando o Seacuteculo Pensares em Revista Satildeo
Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 135 - 143 Jul Semestral 2012
BATALHA M aria Cristina Lima Barreto e o vieacutes do realismo popular na literatura brasileira Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 51 - 65 Jul Semestral
2012
FIGUEIREDO Carmen Lucia Negreiros O Mal-estar de Isaiacuteas A crise do Romance em
Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 35 - 50 Jul
Semestral 2012
GENS Rosa Retratos em Cantoneiras Imagens do Rio de Janeiro Belle Eacutepoque em Joatildeo do Rio e Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 66 -
75 jul Semestral 2012
66
M ENDES Leonardo Pinto Juacutelio Ribeiro O Naturalismo e a Dessacralizaccedilatildeo da Literatura Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 4 p 26 - 42 jul Semestral
2014
RIO Joatildeo do Cinematoacutegrafo Crocircnicas Cariocas Academia Brasileira de Letras ndash Coleccedilatildeo
Afracircnio Peixoto Rio de Janeiro 2009
ZANON M aria Cecil ia A Sociedade Carioca da Belle Eacutepoque nas paacuteginas do Fon-Fon
Patrimocircnio e M emoacuteria Satildeo Paulo v 4 n 2 p ndash 217 ndash 235 jun 2009
DOIN Joseacute Evaldo de M ello NETO Humberto Perinell i PAZIANI Rodrigo Ribeiro
PACANO Faacutebio Augosto A Belle Eacutepoque caipira Problematizaccedilotildees e oportunidades interpretativas da modernidade e urbanizaccedilatildeo no Mundo do Cafeacute (1852 ndash 1930) ndash A
proposta do Cemumc Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v 27 n 53 p 91 ndash 122
Jun 2007
NOGUERIA Clara Asperti Revista Carets (1908 ndash 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo Impressa no Seacuteculo XX M iscelacircnea Assis v 8 p 60 ndash 80 jul 2010
OLIVEIRA Luacutecia Lippi A questatildeo nacional na Primeira Repuacuteblica Ed Brasil iense Satildeo
Paulo 1ordf Ed 1990 Disponiacutevel em lt httpwwwcpdocfgvbrgt
VENTURA Roberto Euclides da Cunha e a Repuacuteblica Aacuterea de Histoacuteria Cultural USP
29 de abril de 1994
M IGLIARI Well ington Preacute-Modernismo e Repuacuteblica Antinomias da Belle Eacutepoque no
Brasil Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 186 - 202 jul Semestral
2012
NEVES M argarida de Souza Os cenaacuterios da Repuacuteblica O Brasil na virada do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX In NEVES M de S Os cenaacuterios da repuacuteblica O Brasil na virada
do seacuteculo X IX para o seacuteculo XX In DELGADO Luciacutel ia de A lmeida Neves e FERREIRA
Jorge Luiacutes (Orgs) Brasil Republicano Estado sociedade civi l e cultura poliacutetica O tempo do
l iberalismo excludente Da Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica agrave Revoluccedilatildeo de 1930 1a ed Rio de
Janeiro Civi lizaccedilatildeo Brasileira 2003
SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A Modernizaccedilatildeo do Rio de Janeiro nas crocircnicas de Olavo Bilac (1890 ndash 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador abri l de 2013
HALLER Joyce Uemoto Monteiro Lobato Literatura como expressatildeo do contexto (1890-1930) Universidade Estadual de M aringaacute M aringaacute 2012
top related