ual - metodos de investigacao em psicologia - 2004
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UAL
UNIVERSIDADE AUTÓNOMA DE LISBOA Luís de Camões
Departamento de Sociologia e Psicologia Curso de Licenciatura em Psicologia
Métodos de Investigação em Psicologia Apontamentos das aulas e notas pessoais
Nuno Jorge de Castro Soromenho Tavares Ramos Nº. 20040121
LISBOA MMV
Métodos de Investigação em Psicologia Nuno Soromenho Ramos
Generalidades .................................................................................................... 4 Formação de conceitos ............................................................................................................. 4
Definição de conceito ........................................................................................................... 4 Construção de conceitos ...................................................................................................... 4 Definição de indicador .......................................................................................................... 4
Variáveis e hipóteses ................................................................................................................ 4 Definição de variável ............................................................................................................ 4 Tipos de variáveis ................................................................................................................. 4 Definição de hipótese ........................................................................................................... 5 Elaboração de hipóteses ...................................................................................................... 5 Características das hipóteses .............................................................................................. 5
Controlo científico ..................................................................................................................... 6 Definição de controlo científico ............................................................................................. 6 Objectivo do controlo ............................................................................................................ 6
Projecto de pesquisa científica ................................................................................................. 7 Definição de projecto de pesquisa ....................................................................................... 7
Método de Inquérito ........................................................................................... 7 Definição de Inquérito ........................................................................................................... 7 Vantagens dos inquéritos ..................................................................................................... 8 Responsabilidades do investigador na realização de perguntas ......................................... 8
Quem inquirir: a amostragem ................................................................................................... 9 Estudo de casos ................................................................................................................... 9 Toda a população ................................................................................................................. 9 Amostra................................................................................................................................. 9 Porque se pode usar Amostras? ........................................................................................ 10 Amostra representativa....................................................................................................... 10 Amostra enviesada ............................................................................................................. 10 Base de sondagem ............................................................................................................. 10
Dimensão da amostra ............................................................................................................. 10 Fórmulas para cálculo da dimensão da amostra ............................................................... 11
Determinação da margem de erro da amostra ....................................................................... 12 Intervalo de confiança ......................................................................................................... 12
Tipos de amostras................................................................................................................... 13 Amostras de conveniência.................................................................................................. 13 Amostras aleatórias ............................................................................................................ 13 Amostras por cachos .......................................................................................................... 14 Amostras estratificadas ...................................................................................................... 14 Amostra no local ou espacial .............................................................................................. 15 Amostras por quotas ........................................................................................................... 15
Tipos de abordagem para aplicação do questionário ............................................................. 16 Enviesamentos possíveis ....................................................................................................... 17
Idade ................................................................................................................................... 17 Falta de ética ...................................................................................................................... 18 Base de sondagem ............................................................................................................. 18
Os conteúdos: como perguntar? ............................................................................................. 19 Conteúdos que se destinam a determinar os factos .......................................................... 19 Conteúdos que procuram principalmente precisar as crenças sobre a natureza dos factos. ............................................................................................................................................ 19 Conteúdos que visam verificar sentimentos ....................................................................... 19 Conteúdos que apontam principalmente para a descoberta dos princípios do comportamento ................................................................................................................... 20 Conteúdos orientados principalmente para o comportamento presente e passado .......... 20 Conteúdos orientados para a causa consciente das crenças, sentimentos ou do comportamento ................................................................................................................... 21
Entrevista ......................................................................................................... 21 Definição ................................................................................................................................. 21 Classificação da entrevista ..................................................................................................... 22
Quanto à realização ............................................................................................................ 22 Quanto ao modo de recolha de dados ............................................................................... 22 Quanto ao número de pessoas intervenientes ................................................................... 23
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Métodos de Investigação em Psicologia Nuno Soromenho Ramos
Validação dos dados da entrevista ......................................................................................... 23 Tipos de perguntas usados em entrevistas ............................................................................ 23
Perguntas abertas .............................................................................................................. 23 Perguntas fechadas, em casos especiais, do tipo sim ou não. ......................................... 23 Perguntas em sequência .................................................................................................... 23
Factores que intervêm numa situação .................................................................................... 24 Associados à situação ........................................................................................................ 24 Associados ao Entrevistado ............................................................................................... 24 Associadas ao entrevistador .............................................................................................. 24 Associados à linguagem, no sentido E para e ................................................................... 24
Processos usados ................................................................................................................... 24 Estabelecimento da relação E-e ......................................................................................... 24 Formulação da questão inicial ............................................................................................ 25 Relação E-e ao longo da entrevista ................................................................................... 25 Técnicas particulares, que permitem estudar algo que surge e que exige cuidados na utilização ............................................................................................................................. 25
Sondagem de opinião ............................................................................................................. 25 O pré e pós teste ..................................................................................................................... 25 Self-report, ou relatório pessoal .............................................................................................. 26
Método de análise documental ......................................................................... 26 Organização e tipos de análise ............................................................................................... 26
Organização da análise ...................................................................................................... 26 Codificação ......................................................................................................................... 27 Categorização ..................................................................................................................... 28 Inferência ............................................................................................................................ 28
Método experimental ........................................................................................ 29 Controlo .............................................................................................................................. 29
Experimentação ...................................................................................................................... 29 Tarefas do experimentador ..................................................................................................... 29
Formulação das hipóteses.................................................................................................. 30 Manipulação das variáveis independentes......................................................................... 30 Controlo de variáveis parasitas .......................................................................................... 30
Plano da experiência e controlo .............................................................................................. 31 Planos experimentais Factorial e Quadrado latino ................................................................. 31
Plano factorial ..................................................................................................................... 31 Plano em quadrado latino ....................................................................................................... 32
Método dos testes ............................................................................................ 33 Teste psicológico ................................................................................................................ 33 Aptidão ................................................................................................................................ 33 Competência ....................................................................................................................... 34 Utilização de um teste ........................................................................................................ 34 Classificações dos testes ................................................................................................... 34
Estruturas formais e informais ................................................................................................ 35 Estrutura informal ............................................................................................................... 35 Indução das estruturas informais pelas formais ................................................................. 35 Indução das estruturas formais pelas informais ................................................................. 36
Géneros de estruturas informais ............................................................................................. 36 Relações sócio-afectivas .................................................................................................... 36 Normas informais ................................................................................................................ 36 Efeitos não desejados das estruturas informais ................................................................. 37
Defesas organizacionais e informais ...................................................................................... 37 Esquema clássico de uma pesquisa sociométrica de Moreno ............................................... 38 Teste/Questionário sociométrico ............................................................................................ 38
Aplicação do questionário................................................................................................... 38 Preenchimento da matriz sociométrica .............................................................................. 39 Cálculo das probabilidades ................................................................................................ 39 Elaboração do sociograma ................................................................................................. 39
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Generalidades Formação de conceitos Definição de conceito
Conceptualizar é fazer uma construção abstracta destinada a representar o real.
O conceptualizador não considera todos os atributos do real, mas somente aqueles que
considera pertinentes e que melhor exprimem o que é essencial para o conceito.
Construção de conceitos
A construção do conceito passa por 2 fases:
Estabelecer as dimensões que o constituem e que dão conta do real. Por exemplo, no
conceito exame existem as dimensões avaliação e classificação.
Definir os indicadores que permitem medir as dimensões do conceito.
Definição de indicador
Indicador é algo objectivamente observável e mensurável nas dimensões de um conceito. Por
exemplo, cabelos brancos, pele enrugada são indicadores de velhice.
Por vezes não é possível passar directamente de dimensões para indicadores, pelo que é
necessário decompô-las em componentes e destas, então, obter os indicadores.
Conceito -> Dimensões -> Componentes -> Indicadores
Variáveis e hipóteses Definição de variável
Variável é qualquer critério ou condição de classificação, independente do padrão de
classificação utilizado. É toda a condição existente numa situação e que pode actuar ou ser
actuada nela.
O experimentador, prevê que se modificar uma variável (independente) provocará alteração
noutra variável (dependente)
Em psicologia usa-se normalmente a designação R (reacção, resposta), para a variável
dependente.
Tipos de variáveis
Variável independente – aquela que faz variar as outras
Variável dependente – aquela que varia por acção da independente
Variáveis parasitas – (ou de erro) são as que interferem com a resposta, mas escapam ao
controlo do investigador
Variáveis controladas – aquelas que o investigador detectou e controlou antes de realizar a
experoência, e mantém em controlo durante a experiência
Variáveis critério – aquelas que constituem norma ou padrão, e com as quais se podem
estabelecer comparações com os resultados obtidos na experiência.
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Variável estímulo – (S ou E) aquelas que são um estímulo ou conjunto deles e que são
sistemáticamente comparadas com um estímulo constante.
Variável experimental – aquela que está em estudo, sendo controlada pelo investigador, é
na crença deste a que fará surgir ou alterar a resposta. E é independente.
Variável invocada ou interveniente – variável hipotética, definida para ser considerada nas
respostas as estímulos. Caso da idade, sexo, etc.
Variável orgânica – estado do organismo, que tem influência na resposta
Variável latente – aquelas que não podemos observar directamente. Por exemplo, no caso
dos questionários, as respostas obtidas.
Variável fundamental ou variável de classificação – aquelas que se referem aos
caractéres básicos daquilo que se está a investigar. Por exemplo, sexo, idade, profissão.
Variável principal – aquela que delimita o campo que se investiga. Por exemplo, o cansaço,
resultado de um exame, etc…
Outro tipo de classificação de variáveis, prende-se com as caraterísticas destas.
Variável contínua – aquela que não evidencia lacunas no seu decorrer. Por exemplo, altura
dos indivíduos
Variável discreta ou discontínua – a que varia de modo não seguido. Por exemplo, número
de filhos de um casal, não se tem 1,5 filho
Definição de hipótese
Chama-se hipótese a uma explicação provável para o fenómeno em estudo. É
obrigatoriamente uma afirmação e nunca uma pergunta.
Deve estabelecer uma de duas relações possíveis:
Antecipa a relação entre um fenómeno e o conceito que o explica
Antecipa uma relação entre 2 fenómenos
A hipótese tem que ser verificável empiricamente (testada), admitir hipóteses contrárias
verificáveis e ter um carácter de generalidade.
Elaboração de hipóteses
Para se poder elaborar uma hipótese ela tem que:
Enquadrar no sistema teórico de referência
Relacionar com os métodos de pesquisa
Características das hipóteses
Ser correcta em termos conceptuais e definida formal e operacionalmente. Definição formal é
o enquadramento da hipótese no âmbito da investigação.
Ser uma afirmação, nunca uma pergunta
Ser específica e com referências empíricas
Estar relacionada com métodos e técnicas adequados à pesquisa
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Estar relacionada com a base teórica, com a problemática
Estabelecer relação entre 2 variáveis, ou 1 variável e 1 conceito
Ser concisa e com o mínimo de palavras
Não contradizer o enunciado
Servir para esclarecer o objecto em estudo
O processo decorre então da seguinte forma. A partir do trabalho teórico, estabelece-se a
hipótese que se crê explicar o conteúdo em investigação, após o que é necessário verificá-la
ou testá-la empiricamente. Após isto podem acontecer 2 situações:
A hipótese era verdadeira, estabelecendo-se uma relação de causalidade, dentro dos
parâmetros e limites do estudo feito.
A hipótese era falsa, ficando-se a saber que aquele não era o caminho correcto, procurando-
se nova hipótese.
Uma hipótese pode ser considerada verdadeira, enquanto todos os seus contrários forem
falsos, segundo Karl Popper.
Controlo científico
É um aspecto fundamental da ciência.
Definição de controlo científico
É o conjunto de processos que o investigador executa para garantir que o que está a estudar
se encontra isolado de factores indesejáveis que possam interferir com o trabalho e os
resultados.
Só desta forma o investigador se certifica que a relação de causalidade é realmente a que se
está a estudar, e não outra que se interferiu ou provocou efeito, sem sua percepção.
Objectivo do controlo
O controlo garante vários aspectos:
Possibilidade de repetição da experiência
Isenção do investigador
A relação de causalidade está correctamente investigada e identificada
Que as condições de estudo de uma hipótese permitem afirmar que as suas consequências
não estão em contradição com os factos observados. Ou seja, nenhuma outra hipótese pode
explicar os factos.
Que as variáveis parasitas são consideradas, e que os seus efeitos ou são anuláveis ou
determináveis.
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Métodos de Investigação em Psicologia Nuno Soromenho Ramos
Projecto de pesquisa científica
Pesquisa científica ou investigação científica designa o processo intelectual pelo qual se
adquirem conhecimentos sobre um facto, através de uma atitude científica, utilizando métodos
e técnicas científicas.
Para desenvolver a pesquisa científica é necessário desenvolver um plano, o projecto de
pesquisa. Este é tão mais necessário em situações de trabalho académico, em estudos
encomendados para avaliação dos custos da investigação, para concorrer a bolsas, etc.
Definição de projecto de pesquisa
É a descrição esquemática do conjunto de etapas que o investigador estabelece para a
investigação, mencionando a metodologia a seguir.
Trata-se de uma construção lógica que responde às necessidades da investigação, aos
meios e fundos disponíves, considera o tempo necessário e o tempo disponível, e visa
responder à questão colocada sobre o problema em estudo.
Para tal é necessário responder previamente a uma série de perguntas:
O que se vai fazer, objectivamente?
Qual o nível de investigação bibliográfica a fazer?
Qual o nível de aprofundamento de investigação de campo a fazer?
Que tipo e nível de trabalho estatístico se fará?
Quem desempenha cada tarefa?
Como é efectuada cada tarefa?
Em que local ou locais se desenvolve cada tarefa?
Período de tempo para cada tarefa?
Que métodos e técnicas se vão utilizar?
Que materiais e equipamentos se vão utilizar?
Quais os custos de cada fase e custo total?
Método de Inquérito O método de inquérito engloba várias técnicas nos seus processos.
Definição de Inquérito
Segundo Ghiglione e Matalon, inquérito é o acto de interrogar um determinado número de
indivíduos tendo em vista uma generalização.
Assim o inquérito é diferente da observação e da experimentação por existir um interrogatório
de pessoas. E é um método que procura a generalização.
O inquérito pretende obter um conjunto de afirmações, pessoais, interpretá-las e generalizá-
las. Tendo que considerar que a resposta do sujeito não é obrigatoriamente verdadeira. É
necessário considerá-la à luz das condições que foi emitida, e que constitui o resultado da
representação, que o sujeito faz, da situação e dos seus objectivos. Para além disso é
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necessário considerar que sendo o material recolhido verbal, pode haver distorções por parte
dos inquiridos, do inquiridor e do investigador.
Como o resultado pretendido é uma generalização, é necessário aglutinar as várias respostas
individuais. O que levanta 2 problemas metodológicos:
Um de natureza tipológica, ou classificativa, e que diz respeito a que grupos ou sujeitos se
podem associar as respostas
Outro de inferência estatística, e diz respeito aos limites das possibilidades de generalização.
Para resolver estes problemas, existe a amostragem.
Outro problema levantado é a causalidade, ou seja, com que legitimidade se compreende um
fenómeno social com base em respostas individuais.
Problema que é mais claro ainda nas entrevistas livres, em que a resposta é livre. Embora
nas perguntas fechadas ou mistas, o inquirido também é levado a aceitar uma resposta pré-
definida pelo inquiridor. Poderia ser que nenhuma das respostas apresentadas coincidisse com
a sua real resposta.
Assim considera-se a existência de duas linguagens:
A do inquiridor – responsável pela clareza e objectividade do inquérito
A do inquirido
Não sendo elas coincidentes, porque se fazem inquéritos?
Vantagens dos inquéritos
Nalgumas condições, o método do inquérito, é a mais adequada ou mesmo única forma de
recolher dados:
Para obter dados, sobre uma grande variedade de comportamentos do mesmo sujeito
Quando a observação directa implica uma intimidade frequente e deontologicamente
incorrecta
Para comprender fenómenos só acessiveis através da verbalização e raramente espontâneos
Quando é necessário conhecer o comportamento (o que fez), e também o que ele significa
para o sujeito (porque o fez)
Para obter uma informação sobre o que se passa em determinado momento, no ponto de
vista de muitas pessoas.
Sendo um método verbal e normalmente aplicado em larga escala, a maneira de fazer
perguntas é muito importante, sendo da responsabilidade do investigador.
Responsabilidades do investigador na realização de perguntas
Perguntar somente o que quer saber, não se pergunta nada que não vá ser usado
Fazer as perguntas de forma clara e únivoca. Não misturar duas perguntas numa, como por
exemplo, gosta de cinema e teatro?
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Fazer a pergunta de forma a ser entendido no que quer saber e não de outro modo qualquer.
Ou seja, objectividade.
Perguntar exactamente o que se quer apurar, e não algo directa ou indirectamente
relacionado, mesmo que possa parecer a mesma coisa.
O questionário deve levar exactamente o tempo necessário para apurar o que se pretende, e
não mais ou menos.
Quem inquirir: a amostragem
O problema que se está a investigar constitui o primeiro indicador de quem inquirir, ou seja, o
conjunto de pessoas a questionar – a população.
A população é o grupo de pessoas sobre o qual, no final da investigação, iremos tecer a
generalização.
Se a pergunta de partida, ou o problema de pesquisa, indica logo claramente que vai ser
inquirido, a questão é simples. No entanto na realidade, raramente o processo é tão simples ou
permissivo. Mas uma vez encontrada a população, temos 3 possibilidades de trabalho:
Inquirir-se toda a população
Inquirir-se uma amostra dessa população
Inquirir-se um ou alguns indivíduos da população, realizando assim um estudo de caso, ou
estudo multicaso, ou ainda estudo comparativo de casos.
Estudo de casos
A sustentação do estudo de caso está no método monográfico criado por Le Play, que afirma
que:
Se for estudado, entre um conjunto de casos, um que seja característico, pode se afirmar que
outros dentro do conjunto terão desenvolvimentos e histórias idênticos.
Para encontrar o tal caso característico, usam-se a observação e entrevistas, em pesquisa de
campo. Recorre-se à técnica da triangulação que consiste em recolher informações de várias
fontes e cruzá-la para determinar o nome mais mencionado, sendo esse o caso característico.
Toda a população
Nesta situação basta aplicar os inquéritos a todos os elementos da população.
Amostra
Quando não é viável inquirir toda a população, nem o estudo de caso se adequa à
investigação em curso, recorre-se à amostragem.
A amostra é um conjunto de indivíduos da população.
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Métodos de Investigação em Psicologia Nuno Soromenho Ramos
Porque se pode usar Amostras?
Sabe-se que inquirindo um número restrito de pessoas, desde que estas tenham sido
correctamente escolhidas, obter-se-à a mesma informação que se obteria inquirindo toda a
população. Sendo porém necessário considerar que existe uma margem de erro, a qual tem
que ser identificada e diminuída o máximo possível.
Sabendo que a margem de erro diminui com o aumento do tamanho da amostra, por
definição, não será esta a táctica a seguir mas antes seleccionar correctamente a amostra para
que represente com bastante exactidão a população em estudo.
Na maioria das vezes, nos estudos quantitativos e sempre que se queiram fazer
generalizações é necessário garantir que a amostra é representativa da população.
Amostra representativa
É aquela que tem características idênticas à população.
Para se tornar representativa, é necessário que o processo de constituição da mesma
garanta a todos os indivíduos da população igual oportunidade de inclusão na amostra.
É também importante a regra que afirma que, qualquer sub-amostra de uma amostra
representativa da população, é representativa da sub-população a que se refere.
Só este tipo de amostra permite estudos quantitativos e generalizações.
Amostra enviesada
É aquela em que não foi garantida a todos os membros da população igual oportunidade de
serem incluídos na amostra.
A amostra enviesada não permite qualquer inferência estatística.
Base de sondagem
Lista de todas as pessoas constituintes da população. É o ponto de partida para a obtenção
da amostra.
É muito difícil obter uma amostra realmente representativa, por não se incluirem sempre
todas as características da população, o que é evidente quanto maior e mais diversificada for a
população. Assim é necessário introduzir algumas correcções.
Dimensão da amostra
Para que represente a população deve ter um número suficiente de caso.
O número de pessoas a incluir, depende de
Amplitude do universo (ou população) – as populações de pesquisa classificam-se de:
Finitas – quando menores ou iguais a 100.000 indivíduos
Infinitas – quando maiores que 100.000 indivíduos. São assim designadas porque
independentemente do número certo de indivíduos a dimensão da amostra não mudará,
somente mudarão os parâmetros.
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Nível de confiança estabelecido – conforme a teoria geral das probabilidades, a distribuição
dos dados recolhidos segue a curva normal de distribição, ou curva de Gauss.
O nível de confiança designa a área da curva coberta pelo desvios-padrão, à direita e à
esquerda da média.
1 desvio-padrão cobre 68% da área, ou seja um nível de confiança de 68%
2 desvios-padrão cobrem 95,5% da área, ou seja um nível de confiança de 95,5%
3 desvios-padrão cobrem 99,7% da área, ou seja um nível de confiança de 99,7%
Erro máximo permitido – sempre que se trabalha com amostras comete-se um erro em
relação à população. Esse erro diminui com o aumento da dimensão da amostra. Em
pesquisas sociais trabalha-se com um erro entre 3 e 5%
Percentagem de ocorrência do fenómeno – É importante que se tenha uma ideia, à
partida, da percentagem provável de ocorrência do fenómeno. Se, por exemplo, estamos
investigar a percentagem de benfiquistas em Lisboa, convém que à partida se possa prever
uma percentagem aproximada.
Fórmulas para cálculo da dimensão da amostra
Em populações infinitas
Fórmula Legenda
σ2 x p x q
n=––––––––––
–
e2
n – tamanho da amostra
σ - nível de confiança, expresso em números de desvio padrão
p – percentagem de ocorrência do fenómeno
q – percentagem complementar de ocorrência,em que q=100-p
e – erro máximo permitido
Exemplo Para uma população de 500.000 pessoas, num fenómeno com
percentagem de ocorrência de 10%, nível de confiança de 3 desvios-
padrão e um erro máximo permitido de 3%, teremos:
32 x 10 x 90
n=––––––––––– = 900
32
Em populações finitas
Fórmula Legenda
σ2 x p x q x N
n=––––––––––------------
e2 x (N-1) + σ2 x p x q
n – tamanho da amostra
σ - nível de confiança, expresso em números de desvio padrão
p – percentagem de ocorrência do fenómeno
q – percentagem complementar de ocorrência,em que q=100-p
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e – erro máximo permitido
N – tamanho da população
Exemplo Para uma população de 100.000 pessoas, num fenómeno com
percentagem de ocorrência de 10%, nível de confiança de 3
desvios-padrão e um erro máximo permitido de 3%, teremos:
32 x 10 x 90 x 10.000
n=–––––––––––--------------------- = 826
32 x 9.999 + 32 x 10 x 90
A dimensão da amostra deve entrar em linha de conta com as recusas, indisponibilidades.
Esta margem de segurança depende da prática e conhecimento do investigador, o qual deve
ter em linha de conta o tema em investigação, o qual pode per si provocar maior rejeição.
No caso dos questionários enviados por correio, é preciso que o formulário de resposta tenha
o porte pago, e mesmo assim a percentagem de respostas pode ser inferior a 15-20%.
Determinação da margem de erro da amostra
Após se efectuar a pesquisa, pode-se obter a margem de erro da amostra, ou seja, o
intervalo de confiância que ela oferece.
Intervalo de confiança
É o intervalo compreendido entre os limites, no interior do qual o verdadeiro valor, tem uma
dada percentagem de hipóteses de se encontrar.
Na maior parte dos casos trabalha-se com 2 desvios-padrão o que equivale a 95,5%
Fórmula Legenda
Ic =p ± 1.96 √ p.q
-------
n
Ic – Intervalo de confiança
n – tamanho da amostra
p – percentagem de ocorrência do fenómeno
q – percentagem complementar de ocorrência,em que q=100-p
Exemplo 1 Numa pesquisa em que a amostra tinha 900 pessoas, e se
verificou que 38% eram benfiquistas, qual a probabilidade deste
resultado ser verdadeiro para a população com 95,5% de
confiança?
Ic =38 ± 1.96 √ 38.62 = 38±3.2 ou seja, Ic = 34,8% a 41,2%
-------
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900
Exemplo 2 Outra forma de fazer este cálculo, é obter primeiro o
desvio.padraõ (σ) e sua posterior aplicação à percentagem de
ocorrência do fenómeno. Assim:
σp = √ p.q = √ 38.62 = 1,62
-------- ---------
n 900
Como se está a trabalhar com 95,5%, aplicam-se 2 desvios
padrões
Ic = p ± 2σ = 38 ± 3,2 = 34,8% a 41,2%
Tipos de amostras
Consideramos 6 tipos de amostras:
Amostras de conveniência
Consiste em utilizar os elementos da população que sendo considerados pertinentes para a
investigação, estão disponíveis e acessíveis.
É condição necessária, garantir a variedade de pessoas inquiridas, e que não ficou de fora
nenhum caso importante para a investigação.
Este tipo de amostra não é representativa da população e não permite inferências
estatísticas. Por estas razões, de não utilização de métodos standartizados como questionários
ou sondagens de opinião, é necessário inquirir um pequeno número de indivíduos.
Utilizam-se em estudos exploratórios de investigações quantitativas, e em estudos
qualitativos.
Amostras aleatórias
É aquela que se obtém através de um sorteio, utilizando a base de sondagem, garantindo
que todos os membros da população tem igual probabilidade de pertencer à amostra.
É considerada representativa.
Pode existir enviesamento quando se utiliza a lista telefónica, pois as últimas letras do
alfabeto apresentam um maior número de indivíduos estrangeiros.
O sorteio pode-se realizar de 2 formas:
Sortear por números de ordem, tantos quantos necessários, e retirar da lista os nomes
correspondentes a essa posição.
Utilizar a taxa de sondagem, obter o primeiro nome e os outros em relação a esse.
Taxa de sondagem é a relação entre a extensão da amostra e a população. Ou seja, calcula-
se da seguinte forma:
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Taxa de sondagem = 1 / n : dimensão da amostra
Por exemplo TS = 1 / 400 : 79384 = 1/198
Neste caso sorteava-se o primeiro aleatoriamente, e a partir daí o nome de 198 em 198.
A principal dificuldade é obter a base de sondagem, a qual pode não existir. Nesse caso
recorremo-nos da regra que diz que uma sub-amostra, de uma amostra representativa, é
também representativa. Ou seja, se quisermos trabalhar com jovens entre os 16 e os 17 anos
podemos sortear nos cadernos eleitorais, e de seguida trabalhar com os nomes que tenham
filhos nessas condições
Amostras por cachos
Chama-se cacho a um conjunto de unidades sorteadas simultaneamente, por exemplo, uma
família é um cacho de indivíduo, um prédio é um cacho de apartamentos.
Como no exemplo dado acima, quando não existe uma base de sondagem existem dois tipos
de unidades:
Unidade de sondagem – elemento que aparece na base de sondagem
Unidade de análise – elemento sobre o qual se refera a hipótese em estudo
Quando uma não coincide com a outra, faz-se como no exemplo acima.
Quando a base de sondagem é uma lista de habitações, não se inquire um único elemento da
habitação porque não se garante igual probabilidade a todos os membros da população de
fazerem parte da amostra. Nem se inquirem todos os membros de cada habitação, pois criava-
se o enviesamento conhecido por efeito de cacho, o qual afirma que os elementos de um
cacho serem mais parecidos entre si do que com os restantes, e este erro não é suportável.
A amostra por cachos é representativa, desde que se use o método de Kish para evitar o
efeito de cacho.
Método de Kisch:
Recensear todos os elementos do cacho que integra a população, e como tal podem fazer
parte da amostra.
Ordenar os elementos por uma determinada regra. Por exemplo, primeiro homens por ordem
decrescente de idades, depois mulheres por ordem decrescente de idades, e atribuir a cada
um número seguido.
Atribuir aleatoriamente aos questionários as letras de A a H.
Extrair um questionário aleatoriamente
Utilizar a tabela de Kisch para designar o membro a inquirir.
Amostras estratificadas
Quando se constrói uma amostra corre-se o risco de certas categorias, ou estratos, de
pessoas por serem pouco numerosas terem pouca representação. Se estas forem importantes
para a investigação, recorre-se à amostragem estratificada.
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A amostra estratificada é uma amostra com taxas de sondagem diferentes em função dos
estratos a considerar.
As vantagens da amostra estratificada são:
Obtém-se amostras representativas, e que permitem trabalhar independentemente cada
estrato.
Permite melhor estimativa de dados, e a percepção de algumas especificidades que de outra
forma passavem despercebidas.
Podem obter-se comparações entre grupos, através de testes de diferenças de médias ou de
percentagens, que são mais sensíveis quando o número de observbações em cada grupo é
igual.
Como a estratificação enviesa a amostra, por ter diferentes taxas de sondagem, é necessário
entrar com um factor de correção. Ou seja, é necessário ponderar cada estrato pelo coeficiente
inverso da taxa de sondagem.
Amostra no local ou espacial
Estas amostras não garantem a representatividade.
Se a população é restrita, e não há uma base de sondagem, não se faz uma amostra
aleatória nem por quotas por causas dos custos. Faz-se uma amostra no local ou espacial, que
combina 2 tipos de amostragem:
Amostragem geral espacial – amostragem dos locais/situações em que se podem encontrar
os indivíduos pertinentes para o estudo, por exemplo, bombas de gasolina no caso de
automobilistas.
Amostragem temporal - variando as horas do dia em que se faz a amostragem, garanta-se
a probabilidade de se inquirir qualquer indivíduo da população.
Como existe o grande risco de enviesamento, é necessário ponderar a amostra atribuindo ao
inquirido um peso inverso ao factor de enviesamento considerado. Se tal for feito a amostra
torna-se representativa.
A seleção de quem inquirir pode ser feita de forma alternada ou segundo uma tabela
previamente elaborada.
Tem duas grandes desvantagens este tipo de amostra:
É necessária a autorização para a investigação em locais não públicos
Existem muitas recusas dos inquiridos, por serem locais de pasagem, pelo que se torna por
vezes preferível pedir às pessoas que recebem o investigador em altura posterior em casa.
Amostras por quotas
Quando não existe uma base de sondagem mas se conhece, ou se pode conhecer sem
grandes custos temporais e financeiros, as características da população, realiza-se uma
amostra por quotas.
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A amostra por quotas consiste em reproduzir na amostra as características da população,
que são pertinentes para a investigação, tal como existem na população.
Garante-se a representatividade, e a não distorção, corrigindo o facto de algumas categorias
de pessoas serem menos ou mais acessíveis.
Assim as restrições de quotas, locais e momentos de inquirição são as únicas imposições
feitas aos inquiridores.
São condições necessárias:
Que se estabeleçam a apenas as quotas necessárias para o que se vai estudar.
Se houver quotas a mais, torna-se difícil encontrar as pessoas para preenchê-las, criando
bichas de inquérito, que são faltas de pessoas que devido à restrição das quotas se tornam
difíceis de encontrar.
Como no apuramento de resultados se vai cruzar as quotas, quantas mais houver mais difícil
será o trabalho.
A amostra por quotas tem 2 vantagens:
Pode ser utilizada em qualquer população
É mais económica, porque os inquiridores fazem o dobro dos inquéritos trabalhando por
quotas ao invés de moradas
Tem 1 desvantagem:
É menos controlável do que a aleatória, e por vezes não se sabe como evitar enviesamentos
possíveis
Para corrigir a desvantagem:
Realiza-se uma sondagem aureolada, que consiste em sortear as zonas para onde se envia
os inquiridores. Garante-se assim a qualidade das amostras.
Tipos de abordagem para aplicação do questionário Podem existir duas abordagens quanto ao preenchimento:
Questionário preenchido pelo inquiridor – O inquiridor lê as perguntas, anota as respostas
no local próprio. Isto poupa tempo, e evita erros tais como respostas não dadas, que invalidam
o qestionário.
Nesta situação é obrigatório que os inquiridores tenham formação na aplicação dos
questionários. É importante que possuam identificação, que assegure aos inquiridos a
idoneidade do processo.
Esta á a abordagem mais correcta
Questionário preenchido pelo inquirido – nesta situação falamos de formulário, ou de
questionário de auto-aplicação
Podem existir 5 tipos de abordagem quanto ao local:
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De rua – Para tal o questionário deverá ser de preenchimento muito rápido para evitar
recusas
Porta-a-porta – implica a selecção rigorosa da habitação, segundo as seguintes regras:
Seguir alternadamente por um e outro passeio das ruas
Nas esquinas, virar alternadamente à esquerda e à direita
Nos prédios, sorteio prévio dos andares e lados, ou utilização de uma tabela para selecção
dos que serão visitados
Considera-se esta opção de abordagem a melhor porque:
Não sabendo quem vai atender a porta, o inquiridor não tendem a seleccionar os mais
simpáticos fisicamente
As pessoas disponibilizam mais tempo para responder estando em casa, do que na rua.
Embora existam horas específicas para ser executado.
Combinação Rua e Porta-a-porta – em certas circunstâncias a combinação das duas
abordagens traz resultados satisfatórios.
Envio pelo correio – é o pior processo possível pois implica custos significativos em portes
de correio. Não se envia o questionário sem envelope selado ou porte pago. Não se pode usar
em amostras por quotas.
O número de respostas recebidas é muito pequeno, 15 a 20% na melhor hipótese, pelo que a
amostra tem que ser largamente aumentada, aumentando a despesa. Este aumento da
amostra deve entrar em linha de conta com os 15 a 20% mas também com a experiência do
investigador, com a população e com a especificidade do tema em análise, entre outros.
Entrega do questionário de auto-aplicação, para posterior recolha – tem que se
selecionar previamente os prédios, andares e portas, e tem que se ter as seguintes
precauções:
o Não se utilizar em amostras por quotas, pois existe a hipótese de não ser a
pessoa específica a preenchê-lo
Não é possível quando deva ser obrigatoriamente preenchido por uma única pessoa, pois o
mais provável é as pessoas conversarem e responderem em grupo.
O prazo dado não deve ser excessivo nem curto, o primeiro provoca esquecimento e o
segundo falta de tempo para o fazer. Normalmente 24 horas é um valor aceitável.
Enviesamentos possíveis De entre os enviesamentos possíveis, os mais frequentes são:
Idade
A última categoria definida, geralmente “65 ou mais”, fornece uma grande quantidade de
pessoas, e ainda nesta categoria existem mais mulheres que homens. Esta concentração de
respostas deve-se à disponibilidade de tempo desta faixa etária, que inclusivamente vê no
questionário uma forma de escapar à monotonia.
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Falta de ética
Os inquiridores devem ser de confiança, para que não preencham os questionários com
pessoas das suas relações, ao invés de andarem porta-a-porta.
Base de sondagem
A qualidade das conclusões da investigação depende muito da qualidade da amostra, a qual
depende de uma boa base de sondagem.
A qual não só não está sempre disponível, como quando está pode criar os seguintes
problemas:
Substituição – Por ausência do sujeito, deve-se proceder à substituição. Mas antes da
substituição deve-se encetar todos os esforços para encontrar o sujeito, pois as substituições
tendem a recair em mulheres e idosos, pela sua maior disponibilidade em casa.
Deve-se evitar realizar inquéritos nos meses de férias, pela maior probabilidade de ausência do
sujeito.
Se se tomar os devidos cuidados, as ausências rondam os 1 a 5%, que não põe em causa a
validade dos resultados.
Sempre que se procede a uma substituição, e o indivíduo dá uma resposta que o sujeito inicial
não daria, ocorre um enviesamente e não podemos saber sequer que al aconteceu.
Pode-se realizar a substituição por dois meios. Por outro sujeito que resida na mesma casa,
desde que não conflita com as condições de amostra e/ou variáveis de classificação. Ou
alternativamente, por outro sujeito sorteado pelo mesmo processo e com as mesmas
características.
Recusas – acontecem geralmente no início do questionário, pois é raro as pessoas
recusarem depois de iniciada a colaboração.
As recusas depois de inicado o questionário acontecem normalmente em duas circunstâncias:
Quando as donas de casa querem desistir e alegam que não podem dispensar mais tempo
Quando surgem perguntas de teor mais íntimo ou melindroso.
As recusas antes de inicado o questionário:
Trabalhadores independentes, artesãos e comerciantes – consideram-se ou estarem muito
ocupados, e verem o inquérito como uma intromissão na vida privada.
Pessoas idosas e mulheres – receiam abrir a porta a inquiridores, principalmente se forem do
sexo masculino, e os primeiros normalmente são muito descomprometidos em relação ao
mundo. Normalmente isto pode-se resolver enviando um segundo inquiridor do sexo feminino.
Mulheres casadas– algumas defendem-se com o marido, dizendo que este responderia
melhor, ou que não podem responder sem sua autorização.
Alguns intelectuais - por oposição às sondagens, que depois generalizam a todos os
questionários.
Geralmente a taxa de recusa aumenta com o tamanho da cidade.
Se tal for possível financeiramente, e se se souber onde se irá inquirir, é aconselhável
anunciar a realização do inquérito antes de o fazer.
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Os conteúdos: como perguntar? O conteúdo é o determinante básico da recolha da informação. O que se pergunta, exacta e
objectivamente, é o que vai determinar a qualidade e os resultados da investigação.
Foram determinados 6 tipos de conteúdos, que acarretam outras tantas formas de
procedimento, englobando um ou mais modelos de perguntas.
Conteúdos que se destinam a determinar os factos
À priori parecerá que a maneira mais simples e económica de encontrar os factos é dirigir-se
às pessoas que são supostas conhecê-los. No entanto as pessoas esquecem-se, deturpam
voluntária ou involutariamente as respostas, até em dados tão elementares como a idade,
rendimentos, educação, etc.
Assim, neste tipo de conteúdos, é desejável colocar questões que:
• Apurem como teve conhecimento dos factos
Apurem que razões o levam a relatar o facto
Apurem qual o grau de precisão que o inquirido atribui ao seu relato.
Conteúdos que procuram principalmente precisar as crenças sobre a natureza dos factos.
Antes queriamos apurar os factos, nesta situação queremos apurar o que as pessoas
pensam sobre eles. Assim temos que:
• Saber se a pessoa tem conhecimento do facto. Caso contrário é uma pergunta de
pressupostos
• Se se quer saber o que aconteceu, tem que se perguntar a quem estava presente no
local e momento do facto. Se se quer saber o que pensa sobre o que aconteceu
pergunta-se a todos os que saibam que o facto aconteceu, tenham-no presenciado
ou não.
Conteúdos que visam verificar sentimentos
As opiniões das pessoas frequentemente estão ligadas ao seu sentimento sobre o assunto.
Da mesma forma que a reacção emotiva nos dá muitas vezes indicações sobre a opinião.
Considera-se que para compreender o comportamento do indivíduo é tão útil saber a sua
opinião como o seu sentimento.
Nestas situações incluem-se no questionário questões ligadas directamente com os
sentimentos, como medo, ira, simpatia, etc.
A resposta sobre sentimentos é mais fácil se for dada alguma liberdade de expressão, pelo
que as questões devem ser semi-fechadas.
No entanto é preciso salvaguardar que o inquiridor e inquirido partilham o mesmo significado
para o termo utilizado para descrever o sentimento.
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Conteúdos que apontam principalmente para a descoberta dos princípios do comportamento
Os comportamentos considerados como correctos em determinada situação, diferem de
pessoa para pessoa, e dão boas indicações sobre:
• As opiniões que prevalecem no sujeito
• Predição de comportamento futuro do sujeito
A noção, que o sujeito tem, de comportamento adequado envolvem duas componentes
• Conceito ético, do que deve ser feito
• Conceito prático, do que é viável fazer
Como o comportamento do indivíduo se prende com estas duas componentes, coloca-se o
problema da diferença entre as questões que apuram “o que se deve fazer” às que apuram “o
que é preciso”.
Este problema prende-se não só com a redação das perguntas mas também com os termos
utilizados. Os termos utilizados podem ter 2 influências possíveis:
• A correcção da sua utilização, devem ser utilizados no significado que realmente têm
e não por aproximação de significado
• Considerar o impacto real que o termo tem na estrutura cognitiva do sujeito, ou por
definir “algo que se faz” ou “algo que se prevê/deseja fazer por parecer que seria bom
fazer algo”
Assim conclui-se que são sempre contra-indicadas por perguntas de antecipação ou
previsão, do género “o que faria se…”. Pois estas nenhuma informação fornecem para além
dos desejos do sujeito.
E como está provado, existe uma grande diferença entre as atitudes e comportamentos da
pessoas. E inclusivamente, o facto de a pessoa já ter passado por experiências de vida
idênticas à que possam ser colocadas numa pergunta de antecipação ou previsão, nada
garante que o comportamento será igual ao que já foi.
Conteúdos orientados principalmente para o comportamento presente e passado
Cada sujeito é o melhor espectador de si próprio, sabendo o que fez e o que está a fazer. E a
melhor forma de prever o comportamento futuro é conhecer o comportamento passado e
actual.
Para tal devem-se realizar perguntas objectivas e não de carácter geral. Ou seja, inquirir
sobre uma situação objectiva, como por exemplo, se quisermos saber se a pessoa gosta de ir
ao teatro questionamos quando foi pela última vez ao invés de perguntar se vai geralmente ao
cinema.
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Conteúdos orientados para a causa consciente das crenças, sentimentos ou do
comportamento
Nesta situação questionamos o “porquê”, quais as razões que as pessoas invocam para as
suas crenças, sentimentos e comportamentos.
A dificuldade está no facto de embora a pergunta ser simples – porquê – a resposta
raramente é simples ou única. Por isso é necessário questionar independentemente cada um
dos porquês.
Por exemplo:
• Os aspectos históricos do comportamento ou sentimento
Em que circunstâncias começou a…
• O que desencadeia determinado comportamento ou sentimento Qual é que de entre xxxx o leva a…
• As bases de opinião, sentimentos, etc… de uma entidade particular O que é que os seus amigos/… sentem/… sobre xxxx?
Ou
Em que factos se baseiam as suas opiniões/… sobre xxxx?
• Causas pessoais para determinada reacção
Há algo em si que o leve a pensar/… dessa maneira?
• Situações ou circunstâncias específicas que desencadeiam determinada reacção
Que tipo de situações são as mais prováveis de o fazer sentir/… dessa maneira?
Todas estas questões estão construídos no sentido de apurar “o que leva a…” mas pode ser
necessário ou útil saber “o que não leva a…”.
Pode também ser importante distinguir entre:
• O que causava o sentimento e/ou comportamento mas já não causa
• O que causava o sentimento e/ou comportamento e ainda causa,ou seja, as causas
perseverantes
Entrevista Definição
Chama-se entrevista a uma técnica de recolha de dados oral, face-a-face, em que uma das
partes procura obter informações da outra.
A definição anterior invalida a entrevista por telefone, no entanto um estudo de 1969 indica
que a tendência para responder menos próximo da verdade e mais de acordo com o que é
socialmente aceite é idêntica no sistema face-a-face e por telefone. Inclusivamente existe
quem defenda que em temas de maior sensibilidade o telefone pode trazer vantagens.
Na entrevista psicológica o telefone desvirtua a essência da mesma, pois a entrevista face-a-
face pelo contacto visual permite ter dados para avaliar a veracidade da resposta.
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No entanto para ponderar qual o método a utilizar, inquérito ou entrevista, devemos recorrer
aos seguintes parametros:
• Acessibilidade dos inquiridos
• Economia de recursos em homens/horas, deslocações, correios, etc…
• Precisão dos dados pretendida, e que tem que ser garantida
• Relevância da informação a recolher para os objectivos da investigação
• Qualidade do investigador e sua equipa
• Experiência do investigador
• Preferências metodológicas e práticas do investigador, desde que a fiabilidade dos
resultados seja idêntica em ambos os casos.
• Tempo disponível
Classificação da entrevista Quanto à realização
• Livre ou não directiva – o entrevistador faz as perguntas que quer e pela ordem que
deseja, dando liberdade ao entrevistado para responder como quiser, tendo somente
o cuidado de apontar a informação que pretende. Este método é o menos usado.
• Semi-directiva, clínica, estrutura, padronizada ou com guião – neste caso existe
uma lista de tópicos, eventualmente com uma sequência pré-definida, que o
entrevistador segue e aborda.
Um exemplo de entrevista directiva é o caso da anamnese em que existe um
protocolo a ser seguido. Mas alguns autores consideram que entrevista directiva se
aplica ao caso inquéritos de auto-aplicação.
Quanto ao modo de recolha de dados
• Escrita – quando são anotados os pontos fundamentais que garantem o teor e lógica
das respostas. Só devem ser anotados os tópicos, pois a fala é mais rápida que a
escrita e assim não se pode observar o entrevistado.
• Memorizada – quando são memorizadas as respostas. Este sendo o processo
menos fiel, obriga a que mal acabe a entrevista, o entrevistador anote ou grave os
tópicos da mesma. Se for impossível realizar a entrevista de outra forma, o
entrevistador deve tentar estar o mais relaxado possível para evitar interferências da
preocupação com o conteúdo memorizado. Nunca se devem fazer 2 entrevistas
seguidas nestas condições.
• Gravada – quando se utilizam gravadores de som ou de vídeo garante-se a maior
fidelidade de reprodução das respostas, no entanto pode originar um excesso de
descontração do entrevistador, principalmente se for inexperiente.
Para realizar a gravação é necessária autorização prévia do entrevistado. E convém
garantir que o gravador não introduz um efeito indesejado de inibição ou
exibicionismo por parte do entrevistado. E é necessário assegurar o bom
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funcionamento e manutenção do equipamento, tal como garantir que tem energia e
suporte de gravação suficiente.
Quanto ao número de pessoas intervenientes
• Individual – quando há um entrevistador e um entrevistado. É o mais comum em
psicologia
• Painel – quando há um entrevistador e vários entrevistados
• Múltipla – varios entrevistadores e um entrevistado, situação que se verifica em
avaliações clínicas.
• Em grupo – vários entrevistadores e vários entrevistados
Validação dos dados da entrevista
É necessário fazer a verificação das respostas do entrevistado, a qual pode ser feita de várias
maneiras:
• Comparando-as com uma fonte exterior
• Comparando-as com outro entrevistado
• Observando as dúvidas, incertezas, hesitações ou recuos demonstrados pelo
entrevistado
• Fazendo perguntas em sequência
Tipos de perguntas usados em entrevistas Podem-se usar perguntas dos seguintes tipos:
Perguntas abertas
Perguntas fechadas, em casos especiais, do tipo sim ou não.
Perguntas em sequência
Estas definem as perguntas que são feitas com referência algo que já foi dito, ou a perguntas
anteriores já respondidas. Existem vários modelos:
• Extensão – pedindo maior desenvolvimento sobre algo que o sujeito disse
• Reformulação, espelho ou eco – repetição pelo entrevistador por palavras suas, da
algo que o sujeito disse, garantindo-se que percebeu, mostrando assim atenção e
incentivando o sujeito a continuar.
• Clarificação – pedindo esclarecimento de algo que foi dito de modo pouco claro
• Sumário – pergunta que resume o que foi dito para, recolocar no tema se houve
afastamento, ou para inroduzir um tema novo
• Confrontação – pergunta que coloca o entrevistado perante alguma inconsistência
de respostas, pedindo esclarecimentos sobre isso.
• Repetição – pergunta que se repete, para tentar obter uma melhor resposta
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• Validação – pergunta de repetição que se faz para ver se o entrevistado mantém a
resposta, validando a anterior, ou se muda
Factores que intervêm numa situação Associados à situação
• Lugar em que se faz
• Tempo real de que se dispõe
• Tipo de relação a criar com o entrevistado
Associados ao Entrevistado
• Culturais – linguagem, receios, hesitações, etc…
• Conjunturais – o que acentua ou diminui interesse do tema para o entrevistado
• Mnemónicos – facilidade que o entrevistado tem em lembrar de elementos
relacionados com o tema
• Cognições e afectos – os primeiros referem-se ao quadro de referências do
entrevistado, os segundos para as percepções, para a relação E-e, e para outras
relações que o tema suscite
• Motivacionais – auto-estima, vontade de agradar, etc…
Associadas ao entrevistador
• Aspecto físico – idade, sexo, aparência, classe social
• Quadro de referência
• Competência técnica
Associados à linguagem, no sentido E para e
• Estilo, clareza, palavras usadas…
• Descodificação, o que se pressupondo um código comum, deve a linguagem:
o Ser acessível ao entrevistado
o Permitir uma resposta
o Motivar a resposta
o Ser conforme às experiências do entrevistado, sobre o papel do entrevistador
Processos usados
Referimo-nos aos meios utilizados pelo entrevistador para obter a informação que necessita:
Estabelecimento da relação E-e
• Identificar-se
• Apresentar regras deontológicas da profissão
• Expectativas em relação ao entrevistado
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• A atitude do entrevistador no início e durante a entrevista deve ser a de ouvinte
atento
Formulação da questão inicial
• Ponto muito importante, principalmente em entrevistas livres em que é muitas vezes a
única questão colocada, deve quebrar o gelo sem intimidar, personalizar ou melindrar
Relação E-e ao longo da entrevista
Estas técnicas clássicas visam o aumento de qualidade de entrevista e os seus resultados
• Reforços verbais – sons/expressões verbais como sim, bom, mmmmm, etc…
• Reformulação, espelho ou eco
• Pedidos neutros para esclarecimento – “o que quer dizer com…?”, Pode dizer-me
mais sobre isso?
• Pedidos particulares – porque pensa isso? Quer explicar?
• Pedidos de repetição ou reencaminhamento – está a sai do tema.
• Utilização de silêncios - que permite a reflexão do entrevistado
Técnicas particulares, que permitem estudar algo que surge e que exige cuidados na utilização
• Contra-exemplos – propor exemplos contrários ao que o entrevistado dá. Por
exemplo, “e” diz que os psicólogos são para malucos, “E” responde: e aqueles que
testam as aptidões profissionais e aconselham carreiras a quem chamamos
psicólogos?
• Utilizar uma fonte prestigiada, ou desprestigiada, para chamar atenção sobre aquilo
que o entrevistado disse e que não é uma boa formulação
• Incompreensão voluntária – “E” assume a posição de desconhecedor do campo, por
exemplo, “Não estou a compreender o que disse porque desconheço, pode explicar-
me?”
• Audições de entrevistas já feitas
Sondagem de opinião Sondagem de opinião é uma técnica do método de inquérito, escrita e composta por
perguntas fechadas, em que se procurar apurar a opinião, ou mudança de opinião, de um
grupo sobre um assunto.
Normalmente é composta por uma pergunta, não pode ter mais 3 a 4 perguntas.
O apuramento de resultados é feito com recurso à estatística.
O pré e pós teste
Consiste numa técnica utilizada principalmente em situações de formação, e consiste na
aplicação de um mesmo instrumento de avaliação, antes e depois da formação para avaliar a
efectividade desta.
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Self-report, ou relatório pessoal Trata-se de uma técnica do método de inquérito, escrita, em que se faz uma pergunta única
aberta, para recolher um testemunho privilegiado sobre algo. Trata-se de pedir para que seja
relatado o que ocorreu, ou o que pensa sobre o que ocorreu.
A pergunta pode ser oral, e depois ser dado papel para escrever a resposta. No entanto
aconselha-se a que a pergunta esteja escrita na folha para evitar esquecimentos.
Método de análise documental Entende-se por análise documental o conjunto de operações que visa representar o conteúdo
de um documento sobre forma diferente da original, com o objectivo de facilitar a sua posterior
consulta e referenciação.
Embora os documentos possam ser da mais variada forma, aqueles que aqui nos interessam
são os documentos escritos. E neste caso falamos de análise de conteúdo, na qual claramente
se pretende obter uma inferência, comparativamente à análise documente por si.
A análise de conteúdo iniciou-se na 2ªGM, tendo depois atravessado um período de
esquecimento até aos anos 50.
Organização e tipos de análise O método consiste em 4 passos:
• Organização da análise
• Codificação
• Categorização
• Inferência
Organização da análise
Divide-se em 3 fases:
• Pré-análise
• Exploração do material
• Tratamento dos resultados, inferência e interpretação
Pré-análise
Nesta fase escolhe-se os documentos a analisar, formulam-se hipóteses e objectivos, e
elaboram-se os indicadores que fundamentam a interpretação.
O primeiro passe é constituir o corpus de análise, o conjunto de documentos a analisar.
Estes são lidos diagonalmente, para captar o sentido da obra, perceber os temas principais e
a direcção em que os aborda.
Para proceder à filtragem das obras que constituem o corpus segue-se as seguintes regras:
• Regra da exaustividade – todos os documentos do corpus devem ser considerados
e analisados
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• Regra da representatividade – Pode-se seleccionar uma amostra de documentos
representativa, conquanto se possa estabelecer as características dos elementos da
amostra
• Regra da homogeneidade – os documentos devem ser homogéneos, obedecendo
aos critérios de escolha e não ser demasiado singulares
• Regra da pertinência – os documentos devem constituir fonte de informação para
matéria em investigação
De seguida procura-se na documentação seleccionada a presença ou ausência dos
indicadores definidos. No caso de estarem presentes, interpreta-se a direcção, sentido e
intensidade com que se encontram.
De seguida prepara-se físicamente o material, que passa por tarefas como:
• Recorte de jornais
• Colagem dos recortes, classificação e catalogação dos mesmos
• Audição e transcrição de entrevistas gravadas
• Microfilmagem para arquivação
• Etc…
Exploração do material
Esta fase passa pelo refinamento da anterior, anotando e sublinhando os indicadores nos
textos, etc.
Em termos concretos passa pela codificação e contagem dos indicadores, e apreciação da
sua direcção, sentido e intensidade.
Tratamento dos resultados e interpretação
Existem 2 processos possíveis:
• Qualitativo – analisa-se os indicadores em termos de direcção, sentido e
intensidade, para se caracterizar o documento, sobre o que diz da matéria em
estudo.
• Quantitativo – Estudo estatístico e posterior interpretação da presença/ausência dos
indicadores e da direcção, sentido e intensidade. É da maior importância a
apreciação da frequência de presença dos indicadores e da presença dos factores de
direcção, sentido e intensidade.
Codificação
Modificação do texto para interpretação em função das suas características.
Este processo tem 2 aspectos:
• Unidades de registo – são aquilo que se conta e que podem ser de vários tipos. São
no fundo o que fornece a classificação do texto em função dos indicadores. É
fundamental fazer a análise temática para encontrar os núcleos de sentido, que são
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as ligações de sentido entre as várias unidades de registo.
O aparecimento ou não de unidades de registo e núcleos de sentido pode ter
significado para a análise que se vai fazer.
• Regras de enumeração – é a maneira como se efectua a contagem das unidades de
registo. Por exemplo, presença, frequência, direcção, sentido e intensidade, etc…
Regulam o processo pelo qual a contagem deve ser feita para ter significado.
A abordagem qualitativa baseia-se em indicadores, não de frequência mas, de presença ou
não do indicador, sua direcção, sentido e intensidade
A abordagem quantitativa baseia-se na frequência de aparecimento do indicador.
Categorização
A categorização é a classificação de elementos que constituem um conjunto, em que numa
primeira fase são diferenciados e de seguida reagrupados por analogia, segundo critérios
previamente estabelecidos.
O critério de categorização passa por 2 fases:
• Inventário – consiste em isolar os elementos
• Classificação – agrupar os elementos de acordo com os critérios estabelecidos,
organizando-os
Existem 2 processos para categorização:
• O sistema de categoria já existe, bastando colocar cada elemento na categoria mais
adequada
• O sistema de categoria não existe, assim as categorias vão sendo criadas à medida
que se faz o agrupamento analógico dos elementos. Algumas categorias podem ser
criadas a partir da fusão de outras de baixa frequência
Uma categoria deve obedecer às seguintes características:
• Exclusão mútua – cada elemento só pode pertencer a uma categoria
• Homogeneidade – os elementos devem ser homogéneos entre si, ou seja terem as
condições para pertencerem a essa categoria e a nenhuma outra.
• Pertinência – cada categoria deve ter uma clara adaptação aos objectivos
• Objectividade e fidelidade – as diferentes partes de um documento quando
submetidas a diversas categorizações, devem obedecer às mesmas codificações.
• Produtividade – as categorias devem fornecer resultados férteis
Inferência
A análise de conteúdo é uma leitura ausente de emoções.
A análise mantém uma estrutura idêntica à da comunicação:
Emissor Mensagem (código e significado) Receptor
E para além do que diz, é importante como diz, o aspecto expressivo da comunicação.
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Método experimental Experimentação é o método pelo qual, em laboratório, se testa o efeito de algumas variáveis
sobre outras, sob rigoroso controlo.
Controlo
O controlo é a condição mais importante para se fazer ciência
No método experimental, o investigador tem que controlar as variáveis independentes, as
acões destas sobre as dependentes e as variáveis parasitas. As variáveis parasitas que se
encontram, por exemplo, na personalidade, na situação e que influenciam a resposta mesmo
que escapem ao controlo imediato do investigador.
O controlo é muito importante porque:
• Permite a repetição da experiência, a replicação
• Considera-se que uma variável parasita está controlada quando, é possível anular o
seu efeito ou determiná-lo.
Existe uma margem de incerteza no trabalho do investigador, que é por exemplo, a acção das
variáveis independentes manipuladas sobre as variáveis dependentes.
Experimentação Na experimentação, ao contrário da observação ou do inquérito, o investigador manipula os
fenómenos. Manipular as variáveis independentes, e por vezes as invocadas, para estudar o
efeito disso nas variáveis dependentes.
A experimentação tem que ser coerente, pois caso contrário podem acontecer 3 coisas:
• Necessidade de um nível de precisão não justificado pelos antecedentes da pesquisa
• Desvio do experimentador para um pergunta diferente da que inicialmente pretendia
responder.
• Encontrar causas erradas para o fenómeno
Na experimentação existem 2 grandes grupos de preocupações a considerar:
• As tarefas do experimentador
• Plano e controlo da experiência
Tarefas do experimentador
As tarefas do experimentador são:
• Formulação de hipóteses
• Manipulação das variáveis independentes
• Controlo das variáveis parasitas
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Formulação das hipóteses
Não é necessário justificar a origem da hipótese, a qual pode aparecer:
• Sugerida por uma observação anterior
• Sugerida por observação sistematizada e organizada para o efeito, a chamada
“experiência para ver”
• Sugerida por construção teórica geral
É obrigatório que a hipótese seja verificável empiricamente, por isso só as que reunem esta
condição é que podem ser utilizadas pelo investigador.
Manipulação das variáveis independentes
Como já foi dito, manipulação do investigador exerce-se sobre as variáveis independentes e
variáveis invocadas.
Esta manipulação pode ser feita a 2 níveis:
• Variáveis independentes que caracterizam a situação – a qual se obtém em
laboratório, quer pela utilização de tecnologia específica quer pela recriação
controlada da situação isolando a variável independente desejada.
• Variáveis independentes que caracterizam o organismo em situação – ou seja,
estudar a interferência do organismo. O principal problema está em que no ser
humano só se podem manipular aspectos pontuais muito simples, pelo contrário nos
animais existem menos restrições. Assim o psicólogo estuda casos humanos com
ocorrência natural. Embora seja possível interferir com o estado de motivação do
sujeito, a atitude dele, etc…
As variáveis invocadas exercem influência, muitas vezes, através de outras variáveis.
Por exemplo, a profissão dos pais interfere com o rendimento escolar do filho, através
de outras variáveis como nível cultural, tipo de residência, nivel social, etc…)
Controlo de variáveis parasitas
Estas têm que ser incluídas no planeamento e organização da experiência.
Assim é necessário a identificação prévia das mesmas para que o seu efeito seja anulado ou
conhecido, podendo as interpretações dos resultados serem feitas sem erro e com precisão.
Existem 2 tipos de variáveis parasitas:
• Variáveis parasitas aletatórias – o controlo destas é impossível pois o
experimentador não sabe quando actuam e quanto desvio criam. Assim há que tentar
minimizar os factores que provoquem o seu aparecimento e desvio criado. No
entanto sabe-se que o efeito médio, provocado pelo surgimento destas variáveis, é
muito semelhante ao efeito médio sem o seu aparecimento, pelo que a sua influência
nos resultados é pouco significativa
• Variáveis parasitas sistemáticas – Estas provocam resultados sistematicamente
diferentes. Criando a possibilidade de entrar em linha de conta com o seu efeito e
assim anular o erro por ela provocado.
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Plano da experiência e controlo Todas as experiências, salvo eventualmente experiências para-ver, têm um plano e controlo
para que possa ser verificada a hipótese de base.
Os primeiros processos utilizados para controlo passavam por:
• Uso de 2 grupos considerados equivalentes, em termos das variáveis independentes
que se julga influenciarem a variável dependente em estudo, aos quais eram
aplicados tratamentos experimentais diferentes
• Utilização de um grupo de controlo
• Emparelhamento de sujeitos e tratamento experimental idêntico
R. Fischer introduziu novos princípios que estabelecem regras de trabalho experimental.
Esses princípios consistem na constante reinserção numa estrutura lógica coerente que dê
sentido à experiência, das perguntas feitas pelo experimentador, dos recursos disponíveis e
das tarefas que já foram realizadas.
As observações das variáveis dependentes são feitas para todas as combinações possíveis
daquelas variáveis, ou apenas para algumas, desde que isto seja explicado e sabendo-se que
se vai perder informação.
Neste processo o investigador comunica ao estatístico os processos que vai utilizar, de forma
a que este possa criar os mecanismos estatísticos necessários à avaliação dos efeitos. Assim
ambos são responsáveis pela coêrencia da experiência.
O planeamento de Fisher tem as seguintes características:
• Inclui realidades de simples bom senso
• Nem sempre a experiência responde a todas as questões colocada, mas só a
algumas
• Algumas estratégias são mais adequadas a alguns meios, pois com o mesmo custo
dão mais respostas, ou dão uma resposta mais adequada.
Planos experimentais Factorial e Quadrado latino
Estes são dois planos de Fisher
Plano factorial
No plano factorial a variável dependente é analisada para todas as combinações possíveis
dos valores das variáveis independentes.
Exemplo
Testar a hipótese de que viver num bairro da lata de Lisboa, ou num bairro novo da mesma
cidade, até aos 15 anos de idade, está relacionado com o êxito num teste de cultura geral
Variável independente – Bairro da lata ou Bairro novo
Variável dependente – resultado no teste de cultura geral
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Variável invocada – sexo (100 por sexo/bairro)
Assim, os resultados, médias, no teste serão identificados por:
Result. Rapazes Bairro da Lata – RBL – m1
Result. Rapazes Bairro Novo – RBN – m2
Result. Meninas Bairro da Lata - MBL – m3
Result. Meninas Bairro Novo – MBN – m4
Assim o plano factorial apresenta-se da seguinte forma:
Bairro da
Lata
Bairro
Novo
Rapaz
es
100 m1 100 m2
Menin
as
100 m3 100 m4
Como se sabe se a hipótese é falsa ou verdadeira?
Comparando os resultados com o nível de significância que o estatístico tiver considerado.
Por exemplo:
Diferença entre bairro de lata e bairro novo
(m1+m3) – (m2+m4)
Diferença entre sexos
(m1 + m2) – (m3 + m4)
Se a diferença entre bairros varia por sexo
(m1-m2) – (m3-m4)
Plano em quadrado latino
Se ao invés de 2 variáveis independentes, como no caso anterior, tivessemos 3, por exemplo
a raça, necessitamos de recorrer a plano de quadrado latino.
Tem este nome por cada grupo de resultados é representado por uma letra latina.
Exemplo
Testar a hipótese de que viver num bairro da lata de Lisboa, ou num bairro novo da mesma
cidade, ser de raça negra ou branca. até aos 15 anos de idade, está relacionado com o êxito
num teste de cultura geral
Variável independente – Bairro da lata ou Bairro novo, raça negra ou raça branca
Variável dependente – resultado no teste de cultura geral
Variável invocada – sexo (100 por sexo/bairro)
Cruza-se a 2ª variável independente
Assim, os resultados, médias, no teste serão identificados por:
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Result. Rapazes Bairro da Lata brancos – RBLb – m1
Result. Rapazes Bairro Novo negros – RBNn – m2
Result. Meninas Bairro da Lata negras - MBLn – m3
Result. Meninas Bairro Novo brancas – MBNb – m4
Assim o plano factorial apresenta-se da seguinte forma:
Bairro da
Lata
Bairro Novo
Rapaz
es
RBLb 100
m1
RBNn100
m2
Menin
as
MBLn 100
m3
MBNb 100
m4
Como se sabe se a hipótese é falsa ou verdadeira?
Comparando os resultados com o nível de significância que o estatístico tiver considerado.
Por exemplo:
Diferença entre bairro de lata e bairro novo
(m1+m3) – (m2+m4)
Diferença entre sexos
(m1 + m2) – (m3 + m4)
Diferença entre brancos e negros
(m1+m4) – (m2+m3)
Nota: o plano quadrado latino não permite isolar relações da terceira variável dependente:
Habitat x Raça
Sexo x Raça
Por isso a escolha entre os planos a utilizar depende das relações que se pretendam estudar.
Método dos testes O método dos testes é, provavelmente, o mais característico da psicologia, pois é muito
utilizado para a medição de entidades como inteligência, aptidões, atitudes e comportamentos.
Teste psicológico
Define uma situação standartizada a que um sujeito é submetido, e o seu resultado é
comparado com os de um grupo tomado como padrão. Normalmente o factor de variação mais
importante nos testes psicológicos é o tempo de realização do mesmo.
Os testes podem medir quer a aptidão quer a competência
Aptidão
Designa a habilidade potencial, o que o sujeito possui. Faz parte do equipamento cognitivo e
genético do sujeito.
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Competência
Designa o desenvolvimento da aptidão através da experiência, educação ou formação.
Pressupõe portanto a existência de aptidão
Utilização de um teste
A utilização de um teste implica os seguintes passos:
• Construção do teste, ou no caso de já existir em lingua estrangeira:
o Tradução
o Adaptação – a realidades do novo país
• Aferição estatística – testar num grupo, e analisar assimetrias na curva de Gauss, até
chegar a uma curva normal. A assimetria denota maior ou menor dificuldade
• Aplicação experimental – para cálculo dos percentis padrão dos resultados
• Eventuais alterações
• Edição e publicação
Classificações dos testes
• Teste de eficiência o Testes de inteligência
• De nível (QI)
• De desenvolvimento – aplicados por exemplo a crianças
o Testes de aptidão
o Testes de conhecimentos escolares ou testes pedagógicos
• Específicos
• De pesquisa
• De diagnóstico
• Provas de personalidade o Provas de situação
• Entrevistas
• Testes sociométricos
• Psicodrama
• Provas objectivas
o Técnicas projectivas
• Rorschach
• TAT
• Desenho
• Etc…
o Escalas de atitudes
o Inventários de personalidade
o Inventários de interesses
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Estruturas formais e informais
Iniciado com a Revolução Industrial, por Taylor e Fayol, a organização científica do trabalho
define-se pela adaptação do homem ao posto de trabalho para uma maior produtividade.
Isto exige uma estruturação do trabalho e dos postos de trabalhos, isto origina a estrutura
formal que se traduz graficamente pelo organigrama da empresa.
No entanto as pessoas não são máquinas, que dentro da empresa se limitam a executar a
sua tarefa. Elas relacionam-se com outras, com colegas, com subordinados, com superiores,
etc… As relações afectivas que daí advêm constituem uma rede de ligações que cria a
estrutura informal e que tem uma grande influência sobre a estrutura formal.
Estrutura informal
Define tudo o que se desenvolve dentro das organizações, em torno das estruturas formais,
como relações pessoais socio-afectivas, tensões interpessoais e intergrupos, hábitos e
tradições.
Existe uma lei estabelecida que afirma que quanto mais formalizada é a estrutura formal mais
se desenvolvem as estruturas informais, e estas facilitam o funcionamento da estrutura formal
até certo ponto, ponto a partir do qual a eficácia da organização diminui.
Nas relações entre ambas as estruturas podem acontecer 2 tipos de fenómenos:
• Indução das estruturas informais pelas formais – isto é, reacção das informais face
aos constragimentos impostos pelas formais
• Indução das estruturar formais pelas informais – ou seja, reacção das formais face às
pressões exercidas pelas informais
Indução das estruturas informais pelas formais
Existem 3 tipos de reacções das estruturas informais:
• Reacções informais de evitação – tentam evitar a pressão da estrutura formal e
acontecem quando:
o A pressão da estrutura formal entra em conflito com as aspirações dos
sujeitos a ela pertencentes
o Quando a situação é percepcionada, pelos sujeitos, como inadequada para a
realização do seu potencial
o Quando a estrutura formal exige responsabilidades e desempenhos que
estão para além das capacidades que os sujeitos querem ou podem assumir,
originando a consequente recusa de actualização destes
Manifestam-se por apatia, indiferença, absentismo, desinteresse e actividades de
evasão dentro do interior da organização (pausas longas, bricolgae, etc…)
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• Reacções informais de compensação – produzem-se para equilibrar, ou
compensar, a pressão da estrutura formal
Manifestam-se por paixões, hobbies, perdas por desperdício, fraudes, pequenos
roubos, desafios e compensações legitimadas à priori.
• Reacções informais de defesa – procuram proteger o sujeito e a estrutura informal
da pressão da formal
Manifestam-se por normas informais de produção, e por todas as manifestações de
oposição, sabotagem, hostilidade grupal aberta, reivindicação espontânea.
Indução das estruturas formais pelas informais
As situações limites
• Reforço da formalização – consiste no aumento dos mecanismos de controlo já
existente ou introdução de novos. É uma forma de reacção não adaptativa, pois
acentua ainda mais a discrepância
• Criação de estruturas formais novas – que tomem em consideração as estruturas
informais existentes. Conduz a um bom encaixe entre as estruturas, e conduz ao
progresso, até ao ponto em que a realização dos objectivos desapareça com a
formalização. Envolve uma situação negociada de concessão mútua
Géneros de estruturas informais
Existem 3 géneros principais:
• Relações sócio-afectivas
• Normas informais
• Efeitos não desejados de estruturas formais
Relações sócio-afectivas
Quanto mais orientada para a obtenção de resultados e negação de comportamentos não
relacionados com a tecnologia, a estrutura formal se torna, mais os sentimentos se
desenvolvem nas estruturas informais. Assumindo diversas formas:
• A espontaneidade fica reservada para os momentos de pausa, fora do alcance da
estrutura formal
• Por consequência, não existe espontaneidade no cumprimento da função e nas
relações de trabalho
• Estabelecem-se redes de comunicação informal
• Formam-se grupos dentro do grupo, denominados clãs, tribos ou cliques.
Este segundo nível de relações, um duplicado com características sócio-afectivas interfere
com o funcionamento da estrutura formal
Normas informais
Existem diversos fenómenos nesta categoria
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• Normas informais de trabalho e rendimento – descoberto por Elton Mayo no seu
estudo na Western Electric Company, pode-se resumir ao fenómeno que a simples
mudança do ambiente per si é entendido como positivo
o Todo o ambiente de trabalho, tudo o que passa por objectivo, está
impregnado de significações psicológicas e psicossociais para os sujeitos a
ele ligados
o Todo o grupo de trabalho, com um mínimo de coesão, cria a sua norma
informal de comportamentos colectivos que o protégé contra pressões
externas.
• Espírito de corpo, hábitos da casa e normas informais da colectividade – a
prazo desenvolve-se a sub-cultura. Sub-cultura é o conjunto coerente de fenómenos
sociais que se particularizam no interior de uma dada cultura.
Há quem chame a isto a “personalidade de base do grupo” à semelhança do que se
encontraria quando se trabalha com carácter nacionais, em psicologia dos povos.
As tradições de uma organização determinam atitudes e comportamentos dos seus
membros, o que pode dificultar ou facilitar a penetração na empresa.
Efeitos não desejados das estruturas informais
São fenómenos adaptativos à estrutura formal, cujas consequências não são as desejadas
pela formalização de normas, e que modificam as regras ao nível da vida concreta dos seus
membros. Como exemplos:
• Destruição de instruções de máquinas, pelos trabalhadores para se tornarem
insubstítuiveis
• Departamento de qualidade em luta com Dep. Produção – acordo tácito de menor
controlo e melhor produção
• As situações de promoção provocam situações de ingratiation, e no limite criação de
clãs em torno dessa pessoa
Defesas organizacionais e informais Muitas mudanças organizacionais somente reflectem a observação das estruturas informais,
sendo meros paliativos institucionais.
A existência de estruturas informais tem 2 consequências:
• Facilitação dos comportamentos formais – As cadeias de comunicação formal, as
regras e os próprios conteúdos suavizam-se através das vias informais.
• Negação das estruturas formais – uma parte das estruturas informais funciona
como obstáculo ao correcto funcionamento da organização, por outro lado, as
defesas formais são a formalização de perversidades. Assim a questão é qual a
quantidade de irracionalidade que a estrutura formal aguenta antes de colapsar.
Para se chegar a essa resposta é primeiro saber estudar e medir as relações
informais.
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Esquema clássico de uma pesquisa sociométrica de Moreno
Uma pesquisa sociométrica clássica tem os seguintes passos:
• Construção do teste/questionário sociométrico
• Aplicação do questionário e recolha dos dados
• Elaboração da matriz sociométrica, ou sociomatriz
• Elaboração do sociograma
• Relatório
Teste/Questionário sociométrico
O teste sociométrico é construído pelo investigador, para cada caso e situação.
É um teste nominal, com respostas também nominais e é apresentado a todos os membros
do grupo em estudo.
O teste aborda 2 vertentes:
• Sociograma – aborda o sociogrupo, ou seja, o grupo enquanto organismo com um
fim comum a alcançar – o critério de trabalho.
• Psicograma – aborda o psicogrupo, ou seja, as relações afectivas dos membros do
grupo – o critério de lazer.
O teste é composto por 8 perguntas segundo esta temática:
1. Escolha positiva de trabalho
2. Escolha positiva de lazer
3. Expectativa de escolha positiva de trabalho
4. Expectativa de escolha positiva de lazer
5. Escolha negativa de trabalho
6. Escolha negativa de lazer
7. Expectativa de escolha negativa de trabalho
8. Expectativa de escolha negativa de lazer
O número de nomes a ser pedido depende ou de uma lógica base, se por exemplo, o
objectivo é formar grupos de 4 pessoas pedem-se 3 nomes.
Se não usa-se esta tabela:
• 2 nomes para um grupo de 6
• 3 nomes para um grupo de 6 a 20
• 4 nomes para um grupo de 21 a 40
• 5 nomes para um grupo de 41 a 100
Aplicação do questionário
O teste é distribuído aos sujeitos, a quem se pede que respondam nominalmente
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Terminado o preenchimento do teste, ele é recolhido passando-se ao lançamento dos
resutados na matriz sociométrica.
Preenchimento da matriz sociométrica
Nos grupos sem estrutura faz-se uma única matriz
Nos grupos com estrutura formal, faz-se uma matriz para cada uma das divisões existentes.
Neste último caso atribui-se um número, arbitrariamente, a cada divisão e a matriz conterá
esse número. A relação entre as letras da matriz e os nomes das pessoas segue a ordem
alfabética dos nomes.
Na linha vertical os nomes são emissores de escolhas, na linha horizontal são receptores.
O lançamento deve ser feito por 2 pessoas.
Cálculo das probabilidades Média de escolhas emitidas (M) = Nº total de escolhas emitidas*/Nº total de indivíduos
* número que se obtém somando a coluna p à direita da matriz
Limite inferior de significância: l = M/2
Limite superior de significância: L = (M+M/2) + 1
Quem se situa acima do limite superior é popular Quem se situa abaixo do limite inferior é isolado Quem se entre os limites encontra-se na média
Elaboração do sociograma
Sociograma é a representação gráfica das relações encontradas através da análise da
totalidade dos dados recolhidos com o teste.
Se separarmos os dois critérios temos:
• Sociograma geral – 2 critérios
• Sociograma – critério de trabalho
• Psicograma – critério de lazer
As convenções utilizadas são:
• Homens - ∆
• Mulheres - Ο
• Escolha - ––––––>
• Escolha recíproca - ======
• Rejeição - - - - - - >
• Rejeição recíproca - = = = = =
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