tiradentes o mito do herói nacional

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O mito do herói nacional

Prof. Alex Cabral

O Grande Mito Nacional

“Há uma espécie de propaganda com que sepode levantar a moral de uma nação - aconstrução ou renovação e a difusãoconsequente e multímoda de um grande mitonacional.De instinto, a humanidade odeia a verdade,porque sabe, com o mesmo instinto, que nãohá verdade, ou que a verdade é inatingível.O mundo conduz-se por mentiras; quem quiserdespertá-lo ou conduzi-lo terá que mentir-lhedelirantemente, e fá-lo-á com tanto mais êxitoquanto mais mentir a si mesmo e secompenetrar da verdade da mentira que criou”.

Fernando Pessoa, in 'Resposta do Inquérito «Portugal, Vasto Império»'

“Heróis são símbolos poderosos, encarnações deideias e aspirações, pontos de referência,fulcros deidentificação coletiva. São, por isso, instrumentoseficazes para atingir a cabeça e o coração dos cidadãosa serviço da legitimação de regimes políticos. Não háregime que não promova o culto de seus heróis e nãopossua seu panteão cívico. Em alguns, os heróissurgiram quase espontaneamente das lutas queprecederam a nova ordem das coisas. Em outras, demenor profundidade popular, foi necessário maioresforço na escolha e na promoção da figura do herói”.

(José Murilo de Carvalho, p. 55)

Conspiração em Vila Rica (Ouro Preto),em 1789, com ideias libertárias erepublicanas, sob as influências domovimento iluminista e da Independênciados Estados Unidos. Os conspiradoresreuniam-se em casa do Dr. Cláudio Manuelda Costa, onde liam a constituição norte-americana, redigiam as primeiras leis danova república, aprovaram o lema e abandeira do levante. Destacam-se ospersonagens, além do já citado, odesembargador Tomás Antônio Gonzaga eo alferes Joaquim José da Silva Xavier, oTiradentes.

“A Inconfidência Mineira é um exemplo decomo acontecimentos históricos de alcanceaparentemente limitado podem ter impactos nahistória de um país. Como fato material, omovimento de rebeldia não chegou a seconcretizar e suas possibilidades de êxito eramquase nulas. Sob este aspecto, a Revolução[Pernambucana]de 1817 teve muito maiorimportância. Mas a relevância do movimentoderiva de sua força simbólica: Tiradentestransformou-se no herói nacional e as cenas desua morte, o esquartejamento de seu corpo,aexibição de sua cabeça passaram a ser evocadoscom muita emoção e horror nos bancos escolares.Isso não aconteceu da noite para o dia, e simatravés de um longo processo de formação de ummito que tem sua própria história”.

(FAUSTO, p. 65)

Tiradentes, como é conhecido hoje, é, na verdade, Joaquim José da Silva Xavier e nasceu em 12 de Novembro de 1746,

na Fazenda Pombal, no estado de Minas Gerais. Tornou-se “herói” nacional ao morrer como mártir na Inconfidência

Mineira no dia 21 de Abril de 1792, aos 45 anos de idade. Até hoje, o dia 21 de

Abril é feriado nacional, o dia de Tiradentes. É também patrono cívico do

Brasil e das Polícias Militares.

Cidade histórica de Ouro Preto/MG (Vila Rica)

Cidade de Tiradentes (MG)

A figura de Tiradentes estáassociada à idéia de um homem quemorreu lutando pela autonomia doBrasil (?). Até chegar a esse ponto,porém, foi necessário um longocaminho.Tiradentes só se tornou heróinacional após a Proclamação daRepública, em 1889, um século depoisde ter defendido ideais republicanos.

Tiradentes acabou transformado emmártir. Para tanto foram utilizadasdiversas representações, desderetratos até reproduções de suaconfissão ou sentença de morte.

Tiradentes Esquartejado, 1893.Pedro Américo

(1843-1905)

Detalhes:Tiradentes

Esquartejado,

Pietá (1499), de Michelangelo

Marat assassinado é uma tela de

Jacques-Louis David pintada em 1793.

Martírio de Tiradentes

Óleo sobre tela,

Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo- 1893,

(57 x 45 mm)

A leitura da sentença de Tiradentes (óleo sobre tela) de LeopoldinoFaria.

Resposta de Tiradentes à comutação da pena de morte dos Inconfidentes. Óleo sobre tela ,de Leopoldino de Faria (1836-

1911), final do século XIX e início do XX, 452 x 600 mm

Tiradentes,de Décio Villares (1851-

1931). 60,5 x 49,7cm.

Mais uma busca pela cristianização da imagem do

inconfidente.

No desenho de José WasthRodrigues,

um Tiradentes quase bonito e

elegante no seu uniforme de alferes.

“Tira-dentes, herói nacional:um homem que só de certodepois de morto. Aí talvez arazão maior de identidade,num lugar onde a vida reservapoucas esperanças de sucesso.(...) Era bastante alto e muitoespadaúdo, de figuraantipática, e feio e espantado”.

(Paulo Miceli, p. 41 e 42)

"Despojos de Tiradentes", de Cândido Portinari

Efígie na moeda de 5 centavos da segunda família do Real.

Tiradentes esteve “nas mãos do povo”

Perpetuação da imagem do herói em selos postais.

Estátua de Tiradentes,

localizada na Praça 21 de

Abril, cruzamento das

Avenidas Brasil com Afonso

Pena, em Belo Horizonte / MG.

Tiradentes,

Francisco Andrade, estátua,

1926,

Rio de Janeiro /RJ.

Palácio Tiradentes, sede da Assembléia Legislativa do Estado do Rio

de Janeiro

Museu da Inconfidência Ouro Preto/MG

Ouro Preto /MGMuseu da Inconfidência e

Estátua de Tiradentes

“Na estátua que o governorepublicano de Minas lheergueu em Ouro Preto, eletem o porte de um profetaou semideus”.

(José Murilo de Carvalho, p. 71)

Estátua de Tiradentes, Ouro Preto / MG

Bandeira da Inconfidência Mineira (1789)

Bandeira de Minas Gerais

“Foi trabalhar para todos..-E vede o que lhe acontece!Daqueles a quem servia,Já nenhum mais o conhece.Quando a desgraça é profunda,Que amigo se compadece?...Talvez chore na masmorra!Queo chorar não é fraqueza.Talvez se lembre dos sóciosDessa malograda empresa.Por elas, principalmente,Suspirará de tristeza”.

“Morre a tinta das sentençasE o sangue dos enforcados...-liras, espadas e cruzespura cinza agora são.Na mesma cova as palavras,O secreto pensamento,As coroas e os machados,Mentira e verdade estão.

Aqui, além, pelo mundo,Ossos, nomes, letras, poeira...Onde, os rostos? Onde as almas?Nem os herdeiros recordamRastro nenhum pelo chão.

Exaltação a Tiradentes

(Mano Décio da Viola, Estanislau Silva e Penteado)

Joaquim José da Silva XavierMorreu a vinte e um de abrilPela independência do BrasilFoi traído e não traiu jamaisA Inconfidência de Minas GeraisFoi traído e não traiu jamaisA Inconfidência de Minas GeraisJoaquim José da Silva XavierEra o nome de TiradentesFoi sacrificado pela nossa liberdadeEste grande heróiPara sempre há e ser lembrado.

Tiradentes deixava a vida para entrar na história,o que aconteceu muito tempo depois, principalmentequando se “proclamou a república” e os senhoresdos novos tempos precisavam de sangue alheio paradignificar uma luta que não houve”.

(Paulo Miceli, p. 51)

CARVALHO, José Murilo. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, Imprensa Oficial do Estado, 2001.

MICELI, Paulo. O mito do herói nacional. 4ª edição, São Paulo: Contexto.

PRIORE, Mary del. O livro de ouro da História do Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

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