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CAMILE VECCHI PACHECO - CADERNO TGI I 2016

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entre rio e cidade: o habitar além da margem

C o m i s s ã o d e A c o m p a n h a m e n t o P e r m a n e n t e :P r o f º . D av i d M . S p e r l i n gP r o f º . J o u b e r t J . L a n c h aP r o f ª . L ú c i a Z . S h i m b oP r o f ª . L u c i a n a B . M . S c h e n k

O r i e n ta d o r d e G r u p o d e Tra b a l h o :P r o f º . J o ã o M a rc o s d e A . L o p e s

S ã o C a r l o s - S PJ u l h o 2 0 1 6

C A M I L E V E C C H I P A C H E C O

T R A B A L H O D E G R A D U A Ç Ã O I N T E G R A D O I 2 0 1 6I N S T I T U T O D E A R Q U I T E T U R A E U R B A N I S M O - U S P

Um aspecto pecul iar da urbanização brasi le i ra no l i-toral surg iu como decorrência dos processos socia is estruturadores da ocupação coste ira : a favel ização. A organização das funções urbanas nas áreas coste iras esteve int imamente l igada a processos socioeconômi-cos como o acesso pr iv i leg iado das c lasses socia is de a l ta renda às terras mais bem local izadas e aos terre-nos mais adequados à urbanização, com a consequente local ização das c lasses de baixa renda em setores ur-banos pouco valor izados. Em locais d istantes do centro urbano ou sobre áreas legalmente protegidas se insta-lam e cont inuamente se expandem bairros res idencia is pobres, const i tu ídos por sub-habitações e carentes de infraestrutura .A construção por sobre terrenos a lagados por s i só não se caracter iza como um problema. O problema é gera-do pela fa l ta de infraestrutura urbana, pr inc ipalmente saneamento, e consequente insalubr idade gerada pela a l ta densidade em caso de favelas constru ídas em pa-laf i tas . Essa s i tuação se agrava em casos de locação em área de manguezal , apresentando um conf l i to de uso do meio ambiente onde a solução se dar ia por meio de uma convivência do homem em harmonia com a na-tureza .

introduçãoConsiderando o perf i l sociopol í t ico, a favela é um terr i tór io onde a incompletude de pol í t icas e de ações do Estado se fazem his-tor icamente recorrentes . E, sob o ponto de v ista do perf i l sócio-urbaníst ico, é um terr i tór io de edi f icações predominantemente caracter izadas pela autoconstrução, sem obediência aos padrões urbanos normat ivos governamentais . Entretanto, a favela possui um forte caráter de convivência so-cia l , com as suas d i ferentes manifestações cultura is, art íst icas e de lazer, e acentuado uso de espaços comuns, na r iqueza da sua p lural idade de convivências de suje i tos socia is em suas d i-ferenças cultura is, s imból icas e humanas, def in indo uma expe-r iência de sociabi l idade d iversa do conjunto da c idade. Por isso, é necessár io reconhecer a leg i t imidade da presença das favelas e de seus moradores nas c idades, ta l como sua d ivers idade e complex idade h istór ica, econômica, socia l e cultural .

“A favela significa uma morada urbana que resume as condições desiguais da urbanização brasileira e, ao mesmo tempo, a luta de cidadãos pelo legítimo direito de habitar a cidade.”

(O QUE É FAVELA, AFINAL?, PÁG. 97)

Acredita-se que seja possível aprender com as favelas para engendrar uma atuação que colabore com uma mudança verdadeira nos arranjos socia is da produção de habitação de interesse socia l .Sabe-se, porém, que em casos de construção de habitações de inte-resse socia l , pr inc ipalmente por parte de programas governamentais, a fa l ta de envolv imento da população com o processo de construção das habitações de interesse socia l , de certa forma, acentua a sensação de não pertencimento dos futuros moradores, tanto quanto ao uso interno das res idências quanto ao uso dos espaços colet ivos . Assim, implantar o pro jeto com mão de obra de moradores locais, ass ist idos por pro jetos de qual i f icação prof iss ional , reverte não somente em geração de renda para a população local , mas resgata a c idadania e part ic ipação at iva no pro jeto .Em sua maior ia, a produção habitacional promovida por programas como o Minha Casa Minha Vida baseia-se muito mais na v iabi l idade econômica dos empreendimentos do que na lóg ica da demanda e déf ic i t habitacio-nal e nas d inâmicas urbanas. O que torna ev idente a predominância do negócio imobi l iár io sobre uma pol í t ica habitacional .A lém disso, os grandes conjuntos habitacionais, pr inc ipalmente o atual Minha Casa Minha Vida, geram uma ocupação exclusivamente habitacio-nal , que não consideram espaços para comércio e serv iços de v iz inhança. Apesar de, muitas vezes, os moradores não serem deslocados para áreas tão d istantes, acabam sendo a locados em espaços sem urbanização.A d imensão desses condomínios, sua monofuncional idade, homogenei-dade socioeconômica e, muitas vezes, apropr iação pelo t ráf ico de drogas favorecem a consol idação de est igmas, que se v inculam não apenas ao aspecto f ís ico do condomínio, mas também a seus moradores .

“A favela não é a forma física de uma comunidade, mas sim as pessoas que moram lá, de onde elas vêm

e principalmente o modo como elas se relacionam.”

Histor icamente, o d inamismo econômico do l i tora l paul ista teve como base a re levância do porto de Santos, as grandes indústr ias de base de Cubatão e as infraestruturas produt ivas re lac ionadas à cadeia de petró-leo e gás . A lém dessas, destaca-se o ve-ranismo, at iv idade econômica responsável pela forte d inâmica imobi l iár ia, que, com a construção de segundas res idências, deu grande impulso à d ispersão da urbanização em di ferentes munic íp ios da Região Metro-pol i tana da Baixada Sant ista .O processo de adensamento e ampl iação da área urbana, que fo i acompanhado pelo surg imento das pr imeiras ocupações i r re-gulares em áreas de proteção e encostas de morros, esteve também associado ao interesse imobi l iár io . A concentração de domicí l ios de uso ocasional é s igni f icat iva e revela uma forte segregação socioterr i to-r ia l , em que a or la é ocupada, preferencia l-mente, por essas res idências, e as porções mais inter ior izadas dos munic íp ios, sepa-radas pela rodovia, são ocupadas

contextopredominantemente por res idências permanentes. Assim, quanto maior a prox imidade com a or la mar í t ima, maior a renda e o preço dos imóveis, e quanto mais próx imas das encostas da Serra do Mar, maior a concentração de população de renda mais baixa, bem como a maior parte dos assentamen-tos precár ios . Essa precar iedade caracter iza-se por i r regular idade fundiár ia, ex istência de s i tuações de r isco geológico e por prov isão inadequada e insu-f ic iente de serv iços, equipamentos e infraestruturas urbanas de saneamento básico, saúde, educação, entre outros .Observa-se, a inda, tensões ambientais geradas a part i r da grande quant idade de áreas protegidas da região, que tem cerca de 60% do terr i tór io inser ido em unidades de conservação. Nessa porcentagem, os manguezais ocuparam, in ic ia lmente, 10% da área total da região, funcionando como f i l t ro dos sedi-mentos carregados pelos r ios e garant indo a estabi l i zação dos processos de sedimentação do estuár io e da baía de Santos.A expansão da ocupação em palaf i tas deu-se no in íc io dos anos 60 com o crescente e rápido desenvolv imento da região Sant ista através das constru-ções de rodovias, pr inc ipalmente na crescente das obras de construção c iv i l , nas áreas industr ia is e portuár ias, que f izeram migrar mi lhares de pessoas pr incipalmente da região Nordeste do Brasi l . Depois de quase todos os espa-ços em direção às pra ias ocupados, Santos passou a se expandir no sent ido contrár io, nos dois lados da Avenida Nossa Senhora de Fát ima, em direção à d iv isa com São Vicente . De forma que as áreas caracter izaram-se pelas in-vasões i legais, por meio da implantação de loteamentos c landest inos e ocu-pação de áreas de proteção ambiental como: mangues e fa ixas junto aos r ios .

SantoSÁREA: 280.674 Km²

POPULAÇÃO: 433.966 hab.DENSIDADE: 1.546,16 hab./Km²

MAPA DA ÁREA INSULAR DE SANTOS E SUAS CENTRALIDADES

O mapa destaca três pr incipais áreas consideradas como central idades da c idade: toda a reg ião do Porto de Santos e o Centro, parte ant iga da c idade e de grande at iv idade econômica; a reg ião próx ima à or la da pra ia, de interesse tur íst ico, co-mercia l e habitação de médio/alto padrão; e a Zona Noroeste, que destaca-se pela a l ta densidade populacional e “ independência” em re lação às outras centra l idades, concentrando comércio, serv iços e habitação de médio/baixo padrão.

ZONA NOROESTE

REGIÃO PORTUÁRIA

ORLA DA PRAIA

CENTRO

“A situação geográfica de Santos não permite que a expansão de sua área urbana ocorra de forma horizon-tal na periferia. Os pontos ainda desocupados possuem alto valor imobiliário ou fazem parte de mangues e áreas de preservação ecológica. Para a Secretaria de Planejamento (Seplan), a tendência de ocupação é a do adensamento pela verticali-zação das áreas já ocupadas e mais valorizadas e o aumento do número de moradores de baixa renda, por metro quadrado, na região central. O crescimento da população nessa área não tem sido acompanhado de uma maior oferta no número de imóveis, o que resulta em aumento na quantidade de cortiços.”

(DIÁRIO OFICIAL DE SANTOS, O D.O. URGENTE, 30 DE MAIO DE 1990)

VISTA AÉREA DE SANTOS: EVIDENCIA-SE A SATURAÇÃO DO TERRITÓRIO INSULAR, NÃO HAVENDO GRANDES ÁREAS LIVRES PASSÍVEIS DE EXPANSÃO.

Zona noroeSteG ra n d e s t ra n s f o r m a ç õ e s n a o c u p a ç ã o d o e s p a ç o u r b a n o d e S a n t o s s e d ã o a p a r t i r d a a b e r t u ra d a V i a A n c h i e ta , n a d é c a d a d e 1 9 4 0 , d ev i d o a u m f o r t e i n c re m e n t o d e m o g rá f i c o n a c i d a d e , s e g u n d o a S e c re ta r i a d e P l a n e j a m e n t o (S e p l a n) . E i s q u e a l g u n s c a s a r õ e s d a p ra i a d ã o l u g a r a p ré d i o s d e a p a r ta m e n t o s c o n s t r u í d o s p a ra at e n d e r a o m e rc a d o i m o b i -l i á r i o , s ã o fa m í l i a s q u e p a s s a m f i n s d e s e m a n a e f é r i a s n o l i t o ra l . A s m a i s a b a s ta d a s c r i a m n o vo s b a i r r o s , e n q u a n t o a c l a s s e m é d i a va i o c u p a r á re a s c e n t ra i s , a n t e r i o r m e n t e o c u p a d a s p e l a c l a s s e o p e rá r i a . P o r f i m , a s fa m í l i a s d e b a i xa r e n d a c o m e ç a m , e n t ã o , a s e t ra n s f e r i r p a ra p o n t o s m e n o s va l o r i z a d o s n a Z o n a N o r o e s t e e n o s m o r ro s , a l é m d a s m a r g e n s d o s r i o s e c a n a i s n a t u ra i s , d a n d o o r i g e m à s f ave l a s d e p a l a f i ta s .E s s e p ro c e s s o c o m e ç a a s e i n t e n s i f i c a r a p a r t i r d o s a n o s 6 0 , a i n d a s e -g u n d o e s t u d o s d o S e p l a n , g a n h a n d o m a i o r i m p u l s o a p a r t i r d o s a n o s 7 0 / 8 0 , q u a n d o s e d á a c o n s t r u ç ã o d a R o d ov i a d o s I m i g ra n t e s e o a c e s s o à re g i ã o é fa c i l i ta d o . D e s s a f o r m a , o s a s s e n t a m e n t o s p r e c á r i o s , i n f o r-m a i s , p a s s a m a o c u p a r g ra n d e s ex t e n s õ e s t e r r i t o r i a i s d o e s p a ç o u r b a n o , c o m o c o n s e q ü ê n c i a d o m o v i m e n t o m i g ra t ó r i o , d a ve r t i c a l i z a ç ã o , d o e n -c a re c i m e n t o d o c u s t o d a t e r ra e d o i n c e n t i vo à e s p e c u l a ç ã o i m o b i l i á r i a . C o m á re a d e a p rox i m a d a m e n t e 2 8 1 K m ² e u m a p o p u l a ç ã o e s t i m a d a e m 4 2 0 m i l h a b i ta n t e s , u m a b o a p a r t e d e s u a f o r m a ç ã o é p o r m i g ra n t e s n o rd e s t i n o s q u e v i e ra m p a ra a z o n a d a c i d a d e n o i n i c i o d a d é c a d a d e 5 0 . O c u p a n d o , n a é p o c a , t e r r e n o s s e m q u a l q u e r i n f ra - e s t r u t u ra , e r g u e n d o g ra n d e p a r t e d a s c a s a s e m m a n g u e z a i s , a t e r ra d o s n o p ro c e s s o d e l o t e -a m e n t o , ta l c o m o a i n d a o c o r r e a t u a l m e n t e .

HISTÓRIA EM FOTOS AÉREAS. FONTE: PREFEITURA DE SANTOS

OBRAS REALIZADAS DURANTE O PERÍODO DO GOVERNO DE 1974 A 1978 PARA A EXPANSÃO DA CIDADE DE SANTOS NA ZONA NOROESTE.

FONTE: Santos Obras 74/79, Prefeitura Municipal de Santos, balanço da gestão do prefeito Antônio Manoel de Carva-lho, edição Prodesan, 1979, Santos/SP in http://www.novomilenio. inf.br/santos/h0230o.htm. ACESSO: JUNHO 2016.

“(...) os conjuntos estão localizados em regiões áridas, onde a terra foi invadida pelo concreto e onde praticamente não existem árvores ou jardins. Assim, a população de poucos recursos, que já enfrenta problemas econômicos e sociais, também carece de infra-estrutura que lhe permita o lazer, pelo menos próximo de onde mora.É o caso do Dale Coutinho, conjunto com 1200 apartamentos e população de mais de quatro mil pessoas, sem áreas de lazer, sem praças municipais, sem arborização, e situado em região árida.”

(JORNAL A TRIBUNA, 24 DE MAIO DE 1981)

CONJUNTOS HABITACIONAIS E SUAS DATAS DE IMPLANTAÇÃO

diQUe Vila gildaO p r i m e i ro i m p a c t o a m b i e n t a l e m V i l a G i l d a o c o r re u n a d é c a d a d e 1 9 5 0 , c o m a c o n s t r u ç ã o d e u m d i q u e e d e c a n a i s d e d r e n a g e m p e l o a n t i g o D e p a r ta m e n t o N a-c i o n a l d e O b ra s d e S a n e a m e n t o ( D N O S) , r e s u l t a n d o n u m g ra n d e at e r ro h i d rá u l i c o e m t o d a a ex t e n s ã o d a s m a r g e n s d o r i o d o s B u g re s , c o m a p rox i m a d a m e n t e 3 m e t ro s d e a l t u ra , t ra n s f o r m a n d o e m á r e a s p ú b l i c a s p a s s í ve i s d e o c u p a ç ã o p o r m o ra d i a s . A s s i m , a p a r t e a l t a , d e n o m i n a d a c r i s ta d o d i q u e , s e c a e p l a n a , p o s s i b i -l i t o u a s p r i m e i ra s i n va s õ e s , q u e s e d e ra m , i n i c i a l m e n t e , a p a r t i r d e 1 9 6 0 , e m t o d a á re a e , p o s t e r i o r m e n t e , e m d i r e ç ã o a o m e i o d o r i o , e m c a s a s s o b re p a l a f i ta s . A s m o ra d i a s c l a n d e s t i n a s c o n t r i b u í ra m p a ra a d e s t r u i ç ã o d o q u e re s t o u d e ve g e ta ç ã o n at i va e , p o r n ã o d i s p o r e m d e r e d e d e c o l e ta d o e s g o t o , a c a b a ra m p o r d e s p e j a r o s e f l u e n t e s d o m i c i l i a r e s d i r e t a m e n t e n o r i o .A C O H A B - S T a p re s e n t o u , e m 2 0 0 7, p r o p o s ta p a ra a u r b a n i z a ç ã o e re g u l a r i z a ç ã o d a á re a : c o m a re m o ç ã o d e 2 . 4 0 2 u n i d a d e s h a b i ta c i o n a i s e 1 . 6 5 4 fa m í l i a s s e n d o m a n t i d a s , a t e n d e n d o a u m t o t a l d e 4 . 0 5 6 m o ra d o re s . A p r i m e i ra i m p l a n ta ç ã o p ro -p o s ta p e l a C O H A B - S T c o n s i d e rava q u e a i n va s ã o d a á re a d e m a n g u e z a l p o d e r i a s e r i m p e d i d a c o m a c o n s t r u ç ã o d e u m a v i a b e i ra - r i o , a s e r i m p l a n ta d a e m e ta p a s , d e a c o rd o c o m a s re m o ç õ e s d a s c a s a s e m p a l a f i t a s . S e n d o a m e s m a p e n s a d a p a ra f u n c i o n a r ta n t o c o m o i n i b i d o r d e n o va s i n va s õ e s , q u a n t o c o m o u m e i xo i n t e g ra d o r d a m a l h a v i á r i a u r b a n a ex i s t e n t e c o m o n o vo s i s t e m a v i á r i o p ro p o s t o , e m u m a t e n tat i va d e i n t e g ra r a n o va á re a u r b a n i z a d a à c i d a d e c o n s o l i d a d a . A o f i n a l d o p ro c e s s o d e c o r re ç ã o c a d a s t ra l d e p o s s e n a á re a , a S e c re ta r i a d o Pat r i m ô n i o d a U n i ã o (S P U ) p r e t e n d e d e c l a ra r s o m e n t e a á re a o c u p a d a p e l o a s -s e n ta m e n t o s u b n o r m a l d o D i q u e V i l a G i l d a c o m o á re a d e i n t e re s s e p ú b l i c o , c o m 3 3 6 . 4 9 1 , 2 9 m 2 .

> C O N S I D E R A D A A M A I O R FAV E L A S O B R E PA L A F I TA S D O B R A S I L , L O C A L I Z A - S E A O L O N G O D A M A R G E M D O R I O D O S B U G R E S , D I V I S A C O M O M U N I C Í P I O D E S Ã O V I C E N T E , E M C E R C A D E Q U AT R O Q U I L ô M E T R O S L I N E A R E S , S O B R E “A P P ”. > S EG U N D O E S T I M AT I VA D A C O H A B - S T, E M 2 0 0 9 , E R A M 5 M I L FA M Í L I A S , C O M M É D I A S A L A R I A L D E 1 S A L Á R I O M Í N I M O / M ê S .

“(...) a posição geográfica da área da favela Dique de Vila Gilda traduz uma exclusão física urbana absolutamente clara, uma vez que a situação espacial criada com os barracos de madeira construídos em palafitas por sobre o rio pode ser traduzida, fisicamente, como a expulsão dessa população do solo urbano da cidade.”

(GOMES; GHOUBAR, 2004)

Diante dessa análise, como propor habitações de interesse social ao maior número de famílias do local, sem perder unidade e qualidade de projeto, mantendo o ênfase em promover a inte-gração social através de áreas de vivência e lazer, fazendo a inserção urbana dessa população e fortalecendo a relação dos moradores com o ambiente ao redor, ali presente em forma de rio?

HABITAR ALÉM DA MARGEM

HABITAR ALÉM DA MARGEM

leitUraS e anÁliSeS

uso do soloO l eva n ta m e n t o d o s u s o s n a r e g i ã o d a á re a e s c o l h i d a p a ra a i n t e r ve n ç ã o m o s t ra a p r e d o m i n â n c i a r e s i d e n c i a l , c o m g ra n -d e p re s e n ç a d e u s o m i s t o d e h a b i t a ç ã o c o m c o m e rc i a l e /o u s e r v i ç o s . A d i s p o n i b i l i d a d e d e i n s t i t u i ç õ e s t a m b é m é s i g n i -f i c at i va , d e f o r m a a s e r r e l a t i va m e n t e b e m s e r v i d a a á re a d e e q u i p a m e n t o s . J á a p r o p o r ç ã o d e á r e a s ve r d e s , d e l a z e r e d e c o n v í v i o é v i s i ve l m e n t e m e n o r, d e m o n s t ra n d o u m a c a rê n c i a n e s s e s e t o r.

equipamentosA re g i ã o c o n ta c o m u m n ú m e r o b o m d e e s c o l a s , ta n t o m u n i c i p a i s q u a n t o e s ta d u a i s , d e vá r i a s f a i xa s e t á r i a s , a s s i m c o m o a s c re -c h e s , q u e e n c o n t ra m - s e e m q u a n t i d a d e s at i s fat ó r i a . P o r o u t ro l a d o , o s e q u i p a m e n t o s d e s a ú d e s ã o m a i s e s c a s s o s e c o n c e n t ra -d o s , s e n d o d e a c e s s o d i f i c u l t a d o à g ra n d e p a r t e d a p o p u l a ç ã o d a á re a . D a m e s m a f o r m a , o s e s p o r t i vo s e c u l t u ra i s s ã o d e p o u c a p re s e n ç a e /o u i n ex i s t e n t e s , d i a l o g a n d o d i re t a m e n t e c o m a e s -c a s s e z d e á re a s ve rd e s , d e l a z e r e c o n v í v i o j á c o n s tata d a .

• O usO dO espaçO dentrO dO cOnceitO de RUA: OS BECOS INTERNOS à MALHA DA FAVELA PODEM SER CON-SIDERADOS RUAS DE PEDESTRES POR ORGANIZAREM O ESPAÇO DE CIRCULAÇÃO DA MESMA.

• O usO dO espaçO cOletivO cOmO QUINTAL : OS BECOS NÃO POSSUEM A ESFERA DE INTIMIDADE ENCONTRADA NOS QUINTAIS FRONTAIS COMUNS NAS CIDADES, MAS POSSUEM A PROXIMIDADE COM A COZINHA, ESTENDENDO SEU USO PARA O EXTERIOR. AS ÁREAS DE SERVIÇO TAMBÉM SÃO ÁREAS ADJACENTES AOS BECOS, UMA VEZ QUE AS ROUPAS SÃO ESTENDIDAS DO LADO DE FORA DAS HABI-TAÇõES. AS CRIANÇAS PEQUENAS ESTÃO SEMPRE PRESENTES NOS BECOS, BRINCANDO EM FRENTE AO BARRACO, OU DENTRO DO MESMO, SEM SAIR DO CAMPO VISUAL DA MÃE.

• O espaçO intermediáriO das CALÇADAS: AS SOLEIRAS DE PORTA NOS BECOS SÃO UTILIZADAS PARA SENTAR, GERAL-MENTE, COM AS PORTAS ABERTAS EM CASAS QUE POSSUAM DESNÍVEIS ENTRE O PISO DO BECO E DA CASA. QUANDO ESSE DESNÍVEL NÃO EXISTE, AS SOLEIRAS SÃO UTILIZADAS.

• as LIMITAÇõES ARQUITETôNICAS DE USO: OS BARRACOS DA FAVELA APRESENTAM, EM SUA MAIORIA, UMA PORTA DE ENTRADA E UMA JANELA, VOLTADAS PARA O BECO. QUANDO O MORADOR ESTÁ EM CASA, AS PORTAS FICAM FECHADAS OU SEMI-ABERTAS E AS JANELAS ABERTAS, COM CORTINAS FINAS, EM UMA TENTATIVA DE BARRAR VISUALMENTE O ACESSO. É INEXISTENTE A PRESENÇA DE GRADES, SENDO AS PORTAS E JANELAS DOS BARRACOS, VAZIOS ARQUITETôNICOS QUE FAZEM A INTERAÇÃO ENTRE O INTERIOR E O EXTERIOR.

• O usO de TRABALHO E O USO DE RESIDêNCIA: O TRABALHO, COMO GE-RAÇÃO DE RENDA INFORMAL, É ENCONTRADO INTERNO AOS BARRACOS, COMO COSTUREIRAS, LAVADEIRAS E DOCEIRAS, E EXTERNO àS CASAS DE CRISTA, PRINCIPALMENTE NO COMÉRCIO, COM BARES E MERCEARIAS.

ProPoStaS e ideiaS

Área de interVenÇÃoA á re a e s c o l h i d a p a ra a p ro p o s t a d e i n t e r ve n ç ã o a b ra n g e , a l é m d a fave l a V i l a G i l d a , s o b r e p a l a f i ta s n o r i o e s o b re at e r ro , d o i s c o n j u n t o s h a b i t a c i o n a i s d e i n t e r e s s e s o c i a l e vá r i a s u n i d a d e s d e c a s a s s o b r e p o s ta s d e d o i s a n d a re s , d i s -t r i b u í d a s a o l o n g o d a v i a p r i n c i p a l . A m e s m a v i a é i n c l u í d a n a i n t e r ve n ç ã o , a s s i m c o m o o s e q u i p a m e n t o s ex i s t e n t e s d e n t ro d a á re a , p o d e n d o s e r r e a l o c a d o s o u m a n t i d o s n o m e s m o l o c a l .

diretriZeS A p r i m e i ra d i re t r i z p a ra o p r o j e t o f o i m a n t e r a v i a p r i n c i p a l d e a c e s s o a o d i q u e c o m o u m a ave n i -d a m a i s l a r g a , d e a c e s s o a t o d a á r e a e d e l i g a ç ã o c o m o re s ta n t e d a m a l h a v i á r i a u r b a n a . A s e g u i r, d e f i n i u - s e a á re a e m q u e o a t e r r o s e r i a m a n t i d o , t o m a n d o - s e o c u i d a d o d e n ã o ava n ç a r m u i t o s o b re o r i o , m a s c o m d i m e n s ã o a p r o p r i a d a a u m a b o a i m -p l a n ta ç ã o d e e d i f i c a ç õ e s . Af o ra a á r e a d e a t e r ro , a s q u a d ra s ex i s t e n t e s a l é m d a v i a p r i n c i p a l i n c l u í d a s n a p ro p o s ta f o ra m re t i f i c a d a s e l eve m e n t e m o d i f i -c a d a s p a ra m e l h o r a d e q u a ç ã o a o p r o j e t o .

diretriZeS At ravé s d a s o b re p o s i ç ã o d o s m a p a s d e e q u i p a m e n -t o s ex i s t e n t e s e d e p r o p o s t a d e p r o j e t o , p o d e - s e l o c a l i z a r a s p r i n c i p a i s c o n c e n t ra ç õ e s d e s e r v i ç o s i n s t i t u c i o n i a i s o f e re c i d o s . D e s s a m a n e i ra , a s á re a s d e a d e n s a m e n t o h a b i ta c i o n a l f o ra m d e f i n i d a s , c o m b a s e n o m a i o r p o t e n c i a l d e i n f ra e s t r u t u ra p a ra re -c e b e r u m n ú m e ro m a i s a l t o d e h a b i t a ç õ e s .

imPlantaÇÃo geral A p a r t i r d a s d i re t r i z e s a n t e r i o r e s , t ra b a l h o u - s e a i m p l a n ta ç ã o g e ra l d a á re a , c o m a a l t e r n â n c i a d e d u a s t i p o-l o g i a s d e e d i f í c i o s h a b i t a c i o n a i s (va r i áve i s n a s d i m e n s õ e s , g a b a r i t o f i xo e m 5 e 1 0 p av i m e n t o s) , re a l o c a ç ã o d e a l g u n s e q u i p a m e n t o s p ú b l i c o s e p r o p o s i ç ã o d e n ovo s e q u i p a m e n t o s , a l é m d o ê n fa s e e m p ro m ove r á re a s ve rd e s , d e l a z e r e d e v i vê n c i a .O u s o m i s t o re s i d e n c i a l c o m c o m é r c i o e s e r v i ç o s , q u e a n t e s t i n h a m a i o r c o n c e n t ra ç ã o n a p o n ta n o r t e , p a s s a a s e d i s t r i b u i r a o l o n g o d e t o d a a ave n i d a , ta l c o m o o s e s p a ç o s l i v re s e ve rd e s , a n t e s q u a s e i n ex i s t e n t e s . A ave n i d a , re q u a l i f i c a d a , c o m c i l o v i a e a r b o r i z a ç ã o e m t o d a s u a ex t e n s ã o , a t u a c o m o v i n c u l a ç ã o e n t re a s d u a s p r i n c i p a i s á re a s d e p a r q u e (n o r t e e s u l ) , A o m e s m o t e m p o , i n t e r l i g a a s á re a s ve rd e s i n t e r m e d i á r i a s , c r i a n d o u m a “ re d e ve rd e”, q u e ta m b é m s e ex p a n d e p a ra o i n t e r i o r d a s q u a d ra s . P ro p o s i ta l m e n t e , o s e q u i p a m e n t o s s ã o a l o c a d o s e m p rox i m i d a d e c o m e s s e s e s p a ç o s , d e f o r m a a i n c e n t i va r a o c u p a ç ã o d o s m e s m o s p e l a p o p u l a ç ã o . .O re s g at e d a p re s e n ç a d a s p a l a f i t a s é a p r e s e n ta d o at ravé s d e d e c k s q u e ava n ç a m e m d i re ç ã o a o r i o , i n t e-g ra n d o - s e à s o u t ra s á r e a s d e v i vê n c i a e c o n f o r m a n d o - s e c o m o m a i s u m e s p a ç o d e l a z e re c o n v í v i o , e n q u a n -t o , ta m b é m , re f o rç a a l i g a ç ã o d o s m o ra d o r e s c o m o s e u m e i o .

PARQUE SULPista de SkateQuadra de areiaAcademia ao ar livre

Área de recreação

PARQUE NORTETeatro de ArenaCentro Cultural

Área para piqueniqueÁrea de recreação

SIMULAÇÃO DA IMPLANTAÇÃO NA ÁREA

EDIFÍCIOS COM TÉRREO OCUPADOEspaço do pavimento térreo dedi-cado prioritariamente a atividades de comércio e serviços, podendo, em alguns casos, contar com ha-bitações PNE.

EDIFÍCIOS ELEVADOS SOBRE PILOTISEspaço livre pode ser usado como ga-ragem, vivência, possível acréscimo de habitações, comércio e serviço.

tiPologiaS Alterna-se entre duas t ipologias de edif íc ios : LÃMINA DE 5 PAVIMENTOS, caracter izada por grandes c o m p r i m e n t o s e E D I F Í C I O S E M L D E 1 0 PAV I M E N T O S , c o m t é r re o l i v re o u c o m c o m é rc i o /s e r v i ç o .

PASSAGEM ELEVADA ENTRE LÂMINASÉ proposto que entre as lâminas exista uma ou mais passarelas inter-ligando os dois edifícios, de modo a possibilitar um espaço de convívio em outros níveis, além do solo.

coneXÕeS

CONEXÃO TÉRREA ENTRE EDIFÍCIOSComo ligação, entre alguns edifí-cios , existe um espaço de até dois pavimentos, cujo uso é voltado para os moradores dos mesmos. Centros de vivência, depósito, salão de eventos ou qualquer ati-vidade relacionada ao conjunto.

ViVÊncia e memÓria A re l a ç ã o d e m e m ó r i a c o m a s c a s a s s o b re p a l a f i ta é d a d a at ravé s d o s d e c k s p ro p o s t o s a o l o n g o d o R i o d o s B u g r e s , d i a l o g a n d o c o m o s e d i f í c i o s s o b re p i l o t i s e o s g ra n d e s e s p a ç o s ve r d e s l i v r e s . C o m o d i re t r i z d o p ro j e t o , b u s c o u - s e a v i vê n c i a c o m o p o n t o c r u c i a l , d e f o r m a q u e a i m p l a n ta ç ã o , c o m s e u s g ra n d e s e s p a ç o s l i v re s , p r o p o r c i o n e m a v i vê n c i a a l é m d a s h a -b i ta ç õ e s , f o r ta l e c e n d o a c o n exã o d o s m o ra d o r e s c o m o m e i o o n d e v i ve m ,

FA B I A N O , C a i o ; M U N I Z , S u e l y. D I Q U E V I L A G I L D A : C A M I N H O S PA R A A R EG U L A R I Z A Ç Ã O .

G O M E S , A n d ré a R i b e i r o ; G H O U B A R , K h a l e d . U M A E X P E R I ê N C I A D E P R O J E T O D E I N T E RV E N Ç Ã O E M FAV E L A , C O M F O C O N AS U S T E N TA B I L I D A D E L O C A L .

K A P P, S i l ke ; BA LTA Z A R , A n a P a u l a ; C A M P O S , R e b e ka h ; M A G A L H Ã E S , P e d ro ; M I L A G R E S , L í g i a ; N A R D I N I , Pa t r í c i a ;O LY N T H O , B á r b a ra ; P O L I Z Z I , L e o n a r d o . A R Q U I T E T O S N A S FAV E L A S : T R ê S C R Í T I C A S E U M A P R O P O S TA D E AT U A Ç Ã O . I n :I V C o n g re s s o B ra s i l e i r o e C o n g re s s o I b e r o A m e r i c a n o H a b i ta ç ã o S o c i a l : c i ê n c i a e t e c n o l o g i a “ I n ova ç ã o e R e s p o n s a b i l i d a d e”. F l o r i a n ó p o l i s : 2 0 1 2 .

A M O R E , C a i o S a n t o ; S H I M B O , L ú c i a Z a n i n ; R U F I N O , M a r i a B e at r i z C r u z . M I N H A C A S A . . . E A C I D A D E ? : AVA L I A Ç Ã O D O P R O G R A M A M I N H A C A S A M I N H A V I D A E M S E I S E S TA D O S B R A S I L E I R O S . R i o d e J a n e i ro : 2 0 1 5 .

S I LVA , J a i l s o n d e S o u z a . O Q U E É FAV E L A A F I N A L? O b s e r vat ó r i o d e Fave l a s d o R i o d e J a n e r i o , R i o d e J a n e i ro : 2 0 0 9 .

R A I O -X D L : D O M A I O R P O RT O à M A I O R FAV E L A E M PA L A F I TA S . D i s p o n í ve l e m : h t t p : //w w w. d i a r i o d o l i t o ra l . c o m . b r/c o t i d i a n o /ra i o - x - d l - d o - m a i o r- p o r t o - a - m a i o r- fave l a - e m - p a l a f i ta s / 5 9 9 5 2 /

A H I S T Ó R I A D A S U R B A N I Z A Ç õ E S N A S FAV E L A S PA RT E I I : FAV E L A - BA I R R O ( 1 9 8 8 - 2 0 0 8) . D i s p o n í ve l e m : h t t p : //r i o o n wa t c h . o r g . b r/ ? p = 5 0 4 2

reFerÊnciaS bibliogrÁFicaS

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