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Teoria da prova no
processo penal brasileiro:
Procedimento probatório e
justo processo
Prof. Dr. Diogo Malan
(UERJ e FND/UFRJ)
Abordagem: considerações
dogmáticas e político-criminais
sobre principais garantias que
integram o procedimento
probatório, na perspectiva do
direito ao julgamento justo (fair
trial).
Legalidade probatória: garantia
implícita no devido processo
penal (CR, art. 5º, LIV e § 2º) =
procedimentos de
requerimento, admissão,
produção e valoração
probatória devem obedecer às
formas prescritas em lei, sob
pena de nulidade processual;
“As regras que disciplinam a
formação e a produção das
provas integram a garantia do
devido processo legal, e sua
inobservância conduz à
invalidade e à exclusão da
prova”.
Heleno Cláudio Fragoso
Busca da verdade sobre culpa ou
inocência do acusado não é fim
que justifique quaisquer meios.
Administração Pública e seus
agentes devem observar princípios
da moralidade e legalidade,
portanto metodologia de busca
da verdade se reveste de interesse
público relevante e indisponível;
Estado incorre em contradição
normativa e compromete
legitimidade ético-política da
jurisdição criminal caso, a
pretexto de apurar crimes
(violações a bens jurídico-penais),
viole direitos fundamentais e
normas processuais;
Manoel da Costa Andrade
Procedimento probatório
no processo penal:
Garantias em espécie
1. Contraditório:
Conceito:
“Ciência bilateral dos atos e
termos do processo e
possibilidade de contrariá-los.”
Joaquim Canuto Mendes de Almeida
Fundamento político:
Epistemologia do método dialético
= atividade contraposta de partes
processuais antagônicas é o mais
adequado para a descoberta da
verdade processualmente válida
(nemo iudex sine audiatur et altera
pars);
“O exame da cláusula referente ao “due process of law” permite
nela identificar alguns elementos essenciais à sua configuração
como expressiva garantia de ordem constitucional, destacando-
se, entre eles, por sua inquestionável importância, as seguintesprerrogativas: (a) direito ao processo (garantia de acesso ao
Poder Judiciário); (b) direito à citação e ao conhecimento
prévio do teor da acusação; (c) direito a um julgamento público
e célere, sem dilações indevidas; (d) direito ao contraditório e à
plenitude de defesa (direito à autodefesa e à defesa técnica);
(e) direito de não ser processado e julgado com base em leis “ex
post facto”; (f) direito à igualdade entre as partes; (g) direito de
não ser processado com fundamento em provas revestidas de
ilicitude; (h) direito ao benefício da gratuidade; (i) direito àobservância do princípio do juiz natural; (j) direito ao silêncio
(privilégio contra a autoincriminação); (k) direito à prova; e (l)
direito de presença e de “participação ativa” nos atos de
interrogatório judicial dos demais litisconsortes penais passivos,
quando existentes.”
STF, HC 111.567
Relação com prova penal:
Contraditório = condição de
validade da prova penal. Só é
“prova” dado produzido na
presença e com a participação
tanto do Juiz Natural quanto
das partes processuais penais;
Ada Pellegrini Grinover
Na falta de uma dessas
condições = elemento de
convicção é inidôneo para servir
ao convencimento do Juiz
(“não prova”), à luz do princípio
do livre convencimento
motivado;
Ada Pellegrini Grinover
“Contraditório para o elemento
de prova”, ou “contraditório
forte” = incide no momento da
obtenção do dado cognoscitivo
no qual se baseará a decisão
judicial (v.g. presença e
participação do Juiz e das partes
na colheita de declarações
testemunhais);
Giulio Ubertis
“Contraditório sobre o elemento
de prova” ou “contraditório
fraco” = limitado ao aspecto
argumentativo do fenômeno
probatório (v.g. vista e crítica
das partes sobre declarações
testemunhais colhidas sem sua
presença nem participação);
Giulio Ubertis
Exceção: “provas cautelares,
não repetíveis e antecipadas”
(v.g. exame de necropsia;
testemunho ad perpetuam rei
memoriam etc.) = submetidas a
contraditório diferido, sobre
elemento de prova ou fraco;
Artigo 155 do CPP = faz
distinção conceitual entre
“prova produzida em
contraditório judicial” (idônea
para formar convicção do Juiz)
e “elementos informativos
colhidos na investigação”
(inidôneos para tanto).
Função dos elementos
informativos da investigação
preliminar é endoprocedimental,
limitada a subsidiar: (i)
ajuizamento da ação penal
condenatória; (ii) eventuais
medidas cautelares na fase de
investigação preliminar;
“Segundo entendimento pacífico
desta Corte não podem subsistir
condenações penais fundadas
unicamente em prova produzida
na fase do inquérito policial, sob
pena de grave afronta às
garantias constitucionais do
contraditório e da plenitude de
defesa.”
STF, HC 103.660
Artigo 12 do CPP = instituiu encadernação
conjunta dos autos da investigação preliminar
e do processo judicial;
Problemas: comunhão de autos dá ao Juiz
livre acesso aos elementos informativos do
inquérito policial, influenciando (de forma
consciente ou não) sentença. Fase judicial da
persecução penal tornou-se simples
ratificação formal dos dados do inquérito
policial, caracterizando verdadeiro “apêndice
da investigação criminal” (Fauzi Hassan
Choukr)
Crítica ao advérbio “exclusivamente”
(CPP, art. 155), enxertado contrariando
redação original da “Comissão Grinover”
(Anteprojeto que deu origem à Lei nº.
11.690/08) = permite condenações
baseadas 99,9% em elementos
informativos do inquérito policial,
amparadas 0,1% em provas produzidas
em contraditório judicial, pois, embora
preponderantemente, não estão
baseadas exclusivamente no inquérito
policial;
Prova emprestada: produzida
nos autos de processo
extrapenal e depois trasladada
para o processo penal. Em regra
é inadmissível em Juízo, pois
viola contraditório;
“A prova emprestada, quando
produzida com transgressão ao princípio
constitucional do contraditório,
notadamente se utilizada em sede
processual penal, mostra-se destituída de
eficácia jurídica, não se revelando apta,
por isso mesmo, a demonstrar, de forma
idônea, os fatos a que ela se refere.
Jurisprudência.”
STF, HC 106.398
Requisitos de admissibilidade:
(i) prova no primeiro processo produzida
perante Juiz Natural do processo criminal;
(ii) prova submetida ao contraditório do
acusado nos dois processos;
(iii) objeto da prova igual nos dois processos
(v.g. inadmissibilidade de prova de
dependência química do pai produzida em
processo de família);
(iv) âmbito de cognição igual nos dois
processos (v.g. inadmissibilidade no processo
de cognição profunda de prova produzida em
processo de cognição sumária);
Gustavo Badaró
2. Direito ao confronto
Amendment VI
In all criminal prosecutions, the accused shall
enjoy the right to a speedy and public trial, by
an impartial jury of the State and district
wherein the crime shall have been committed,
which district shall have been previously
ascertained by law, and to be informed of the
nature and cause of the accusation; to be
confronted with the witnesses against him; to have compulsory process for obtaining
witnesses in his favor, and to have the
Assistance of Counsel for his defense.
Bill of Rights (1791)
Art. 8.2. Toda pessoa acusada de um delito
tem direito a que se presuma sua inocência,
enquanto não for legalmente comprovada
sua culpa. Durante o processo, toda pessoa
tem direito, em plena igualdade, às seguintes
garantias mínimas:
f) direito da defesa de inquirir as testemunhas
presentes no Tribunal e de obter o comparecimento, como testemunhas ou
peritos, de outras pessoas que possam lançar
luz sobre os fatos;
CADH (Decreto nº. 678/92)
Art. 14.3. Toda pessoa acusada de um
delito terá direito, em plena igualdade,
a, pelo menos, as seguintes garantias:
e) de interrogar ou fazer interrogar as
testemunhas da acusação e de obter o
comparecimento e o interrogatório das
testemunhas de defesa nas mesmas
condições de que dispõe as de
acusação;
PIDCP (Decreto nº. 592/92)
“Como consectário, essencial à
validade do processo penal oportunizar
defesa mediante citação, contraditório,
direito de produção
de provas e direito de confrontar as
provas da Acusação. Nenhuma pessoa
poderá sofrer prejuízo aos próprios
interesses sem a efetiva
celebração de um processo justo.”
STF, RHC 117.752
“Testemunha de acusação”:
qualquer pessoa que presta
declarações testemunhais
incriminadoras, durante julgamento
ou antes dele, independentementede qualificação jurídico-formal (v.g.
“ofendido”; “informante”; “corréu”;
“testemunha”; “assistente de
acusação”; “perito” etc.).
Direito ao confronto: impõe que todo
saber testemunhal incriminador,
passível de valoração pelo Juiz
criminal, seja produzido de forma
pública, oral, na presença do julgador
e do acusado e submetido à
inquirição deste último.
Logo, declarações testemunhais
produzidas fora dessas circunstâncias
são inadmissíveis em Juízo.
Conteúdo:
(i) direito à produção da prova
testemunhal em audiência pública;
(ii) direito a presenciar produção da prova
testemunhal;
(iii) direito à produção da prova
testemunhal na presença do julgador;
(iv) direito à imposição do compromisso
legal de dizer a verdade às testemunhas;
(v) direito a conhecer verdadeira
identidade das fontes de prova
testemunhal;
(vi) direito a inquirir fontes de prova
testemunhal desfavoráveis, de forma
contemporânea à produção da prova
testemunhal;
(vii) direito à comunicação livre, reservada
e ininterrupta com defensor técnico
durante produção da prova testemunhal.
Conteúdo normativo tridimensionaldo direito ao confronto:
A) Processual: prevenção de práticas estatais inquisitivas (v.g.
substituição do testemunho
produzido oralmente em audiência
pública por declarações escritas
produzidas unilateralmente e em
segredo, não raro sob coação);
B) Probatória: aumento da
confiabilidade da prova
testemunhal, pelo desencorajamento
de falsos testemunhos em razão da
presença do acusado, do público e
do compromisso legal de dizer a
verdade; maior correção da
valoração judicial do testemunho
pela observação direta do ato pelo
Juiz;
C) Simbólica: ao permitir
participação ativa, igualitária e
dignificada do acusado no rito
judiciário que pode afetar seus
interesses, reforça percepção social
da justiça do Processo Penal. Valores
culturais consideram moralmente
abjeta conduta de acusar às
escondidas, pelas costas ou
anonimamente.
CPP estruturou procedimento probatório
testemunhal respeitoso do direito ao
confronto, prevendo: (i) oralidade (art.
204); (ii) presença do acusado (arts. 217 e
260); (iii) presença do Defensor técnico
(art. 261); (iv) presença do Juiz Natural
(art. 212); (v) imposição do compromisso
de dizer a verdade (art. 203); (vi)
esclarecimento da identidade das
testemunhas (arts. 203 e 205); (vii)
inquirição direta das testemunhas pelo
acusado.
Crítica ao CPP: não ter instituído
inadmissibilidade das declarações
testemunhais produzidas fora do
paradigma do direito ao confronto,
nem proibição de o Juiz valorá-las na
sentença.
Não obstante, trata-se de
consequência natural da estrutura do
procedimento probatório testemunhal.
(Antonio Magalhães Gomes Filho)
Diferenças entre contraditório e direito ao
confronto:
A) Contraditório é formalmente
constitucional (CR, art. 5º, LV); direito ao
confronto é materialmente constitucional
(CR, art. 5º, § 2º c/c CADH, art. 8.2.f e
PIDCP, art. 14.3);
B) Contraditório é de titularidade de
ambas as partes; direito ao confronto é
de titularidade exclusiva do acusado;
C) Contraditório se aplica à produção da
prova documental ou pericial e às demais
fases do procedimento (v.g. alegações
finais; recursal etc.); direito ao confronto é
limitado à fase de produção da prova
oral;
D) Contraditório, segundo alguns,
comporta diferimento (aplicação
somente à prova já produzida); direito ao
confronto impõe participação do
acusado na produção da prova;
E) Contraditório impõe presença e
participação do Juiz Natural e do
acusado na produção da prova oral;
direito ao confronto impõe vários outros
aspectos do procedimento probatório
testemunhal (v.g. publicidade da
audiência; compromisso legal de dizer a
verdade; conhecimento da verdadeira
identidade das fontes de prova etc.);
Conclusão:
Contraditório e direito ao confronto não
são incompatíveis, e sim
complementares;
Princípio pro homine: dentre diversas
garantias sobrepostas, de fontes diversas
(convencional; constitucional;
ordinária), deve sempre ser aplicada
aquela que propiciar maior grau de
proteção ao acusado;
Possíveis restrições:
A) Testemunha anônima: aquela cujos dados de identificação civil
verdadeiros (v.g. nome, sobrenome,
filiação, nacionalidade, estado civil,
profissão, RG, endereços etc.) são
desconhecidos pelo acusado e seu
Defensor técnico, para prevenir
ilícitos contra testemunha.
Anonimato testemunhal em regra é
acompanhado de restrições adicionais:
Procedimentos judiciais que ocultam
semblante da testemunha e recursos
tecnológicos que disfarçam sua voz;
Limitações quanto a perguntas
defensivas potencialmente reveladoras
da identidade da testemunha;
TEDH (caso Van Mechelen e outros vs. Países
Baixos), aceita anonimato testemunhal, desde
que haja:
(i) Presença do Juiz;
(ii) Conhecimento do Juiz sobre a verdadeira
identidade da testemunha;
(iii) Possibilidade de o Juiz observar a
testemunha;
(iv) Possibilidade de o Advogado observar as
testemunhas e inquiri-la;
(v) Vedação de a sentença se basear, de
forma exclusiva ou preponderante, na prova
testemunhal anônima.
Críticas:
(i) Desconhecimento de informações
essenciais sobre testemunha (v.g.
ocupação profissional; antecedentes
criminais; relação com os fatos e demais
testemunhas etc.);
(ii) Procedimento probatório proibitivo da
identificação da fisionomia/voz da
testemunha e de linhas de inquirição que
permitam identificá-la;(iii) Restrição à publicidade do ato processual;
(iv) Risco de supervalorização judicial do
testemunho anônimo, pela
“fetichização” decorrente da própria
atribuição do anonimato (criação de
aura de mistério, vulnerabilidade e
importância em torno da testemunha);
(v) Atribuição tácita de estigma de
periculosidade ao acusado, com risco
de pré-julgamento condenatório,
máxime no Tribunal do Júri;
(vi) Existência de outros institutos para
coibir atos ilícitos vs. testemunhas (v.g.
figuras típicas específicas; medidas
cautelares de coação pessoal;
programas de proteção a testemunhas
etc.);
(vii) Inexistência de procedimento
probatório específico regulamentado no
Brasil (art. 5º, LIV da CR);
(viii) Proibição constitucional do
anonimato (art. 5º, IV, in fine da CR).
B) Testemunha ausente: aquela quenão comparece pessoalmente em
Juízo para prestar testemunho, por
motivos variados (v.g. residência
em outro país; falecimento ou
doença grave; desinteresse; medo
por ter sofrido coação etc.),
almejando-se admissão em Juízo
de declarações anteriores ao
julgamento;
TEDH (caso Kostoris vs. Países Baixos): leitura
em Juízo de declarações extrajudiciais ou
testemunho indireto (hearsay) não são
substitutos satisfatórios da prova
testemunhal produzida em audiência;
Casos Lucà vs. Itália e Unterpertinger vs.
Áustria: declarações extrajudiciais possuem
pequeno valor, não podendo servir de
base exclusiva ou preponderante da
condenação;
Problemas concretos:
Declaração extrajudicial incriminadora
de ascendente ou descendente, afim
em linha reta, cônjuge, irmão, pai, mãe
ou filho adotivo do acusado que em
Juízo se recusa a depor (CPP, art. 206);
Declaração extrajudicial incriminadora
de corréu que em Juízo invoca direito
ao silêncio (nemo tenetur se detegere);
Colheita unilateral de declarações
testemunhais pelo Ministério Público em
seu gabinete, depois apresentadas em
Juízo = prova anômala: se busca
resultado prático do meio de prova
testemunhal a pretexto de se tratar do
meio de prova documental (estelionato
de rótulos/burla de etiquetas), havendo
inadmissibilidade pela violação ao
procedimento probatório testemunhal;
Gustavo Badaró
Conclusão:
Direito ao confronto torna inadmissíveis
em Juízo declarações extrajudiciais e
testemunhos indiretos, ao impor
produção da prova testemunhal de
forma oral, pública, na presença e com
participação do acusado. Razões
históricas = repúdio a condenações
baseadas em testemunhos escritos de
pessoas ausentes no julgamento.
Como ônus da prova incumbe à parte
acusadora (CPP, art. 156), cabe a ela
resguardar sua própria prova
testemunhal, eventualmente
requerendo incidente jurisdicional de
produção antecipada de prova (CPC,
art. 846 e ss. c/c CPP, art. 3º).
Por exemplo: testemunho ad perpetuam
rei memoriam (CPP, art. 225).
C) Testemunha remota: aquela quepresta testemunho fora da sede do
Juízo, via videoconferência
(aparato tecnológico de
comunicação que permite a
interligação audiovisual, em tempo
real, entre dois locais distintos, via
linha telefônica, cabo de fibra ótica
sinal de satélite);
Limitações ao direito ao confronto:
(i) Direito a presenciar produção da
prova testemunhal;
(ii) Direito à produção da prova
testemunhal na presença do Juiz
Natural;
(iii) Direito à publicidade do ato
processual.
Problemas práticos:
Distância do acusado minimiza
percepção da testemunha sobre
confronto face a face e pressão
psicológica benéfica, decorrente de
seriedade e formalismo do ato;
Distância, demora na transmissão do
sinal e eventuais interrupções podem
dificultar exame cruzado;
Discutível qual é a configuração de
exibição de imagem ideal (v.g. tela
única ou múltiplas; split screen ou
picture in picture; o que será visto
pela testemunha remota?);
Discutível qual deve ser o foco da
câmera que filma a testemunha
remota (v.g. somente rosto ou corpo
inteiro? Intercalando ambos?);
Conclusão: depoimento por videoconferência é
admissível desde que haja:
(i) Comprovação do caráter imprescindível do
testemunho;
(ii) Comprovação de risco concreto à vida ou
segurança da testemunha;
(iii) Aparato tecnológico que assegure condições
mínimas de confiabilidade: transmissão
bidirecional (two-way); padrão de qualidade na
transmissão do sinal que garanta perfeita
audição e visualização de todos os participantes
do ato; transmissão contínua do sinal durante
todo o ato; plena visualização de todo o recinto
onde está a testemunha remota;
D) Testemunha vulnerável: aquelaque, devido às suas próprias
condições pessoais, ou à natureza
da infração penal praticada contra
si, pode ser intimidada com
facilidade, tornando-se incapaz de
prestar declarações com liberdade,
caso seja inquirida na presença
física do acusado.
Tutela via procedimentos especiais que:
(i) dispensam comparecimento pessoal
da testemunha à audiência, permitindo
substituição por gravação de
declarações extrajudiciais; (ii) criam
mecanismos que impedem encontro
com acusado na sala de audiências
(v.g. barreiras; biombos; telas opacas
unidirecionais; salas separadas
interligadas por circuito interno
audiovisual de mão única etc.);
TEDH (casos S.N. vs. Suécia e Lindqvist
vs. Suécia): admite medidas
protetoras de testemunhas
vulneráveis, por entender que elas
têm amparo nos direitos fundamentais
à saúde, intimidade, vida e
segurança, também tutelados pela
Convenção Europeia de Direitos
Humanos, desde que sejam
compatíveis com direitos do acusado.
Criança ou adolescente vítima de abuso
sexual goza de especial proteção jurídica (CR,
art. 227 c/c Lei nº. 8.069/90), pelo
subdesenvolvimento de capacidades
emocionais, intelectuais e cognitivas. Estudos
psicológicos demonstram que depoimento
judicial face a face com acusado causa
estresse e trauma, alterações como
ansiedade, nervosismo, medo, sensações
ambivalentes de vulnerabilidade, impotência,
vergonha, culpa etc., comprometendo saúde
mental e/ou liberdade de declarar em Juízo;
Procedimentos especiais de proteção
da testemunha vulnerável (v.g.
barreiras; biombos; telas opacas
unidirecionais; salas com circuito
interno audiovisual de mão única etc.)
no plano simbólico degradam
dignidade e humanidade do acusado,
significando segregação entre
acusado e vítima, chancelada peloEstado. Risco de erosão da presunção
de inocência e pré-condenação.
Conclusão:
Procedimentos protetores da
testemunha vulnerável em regra
são inadmissíveis, à luz do direito
ao confronto;
Exceções à regra geral:
(i) caráter imprescindível do testemunho;
(ii) comprovação pericial do trauma potencial
ao depor face a face com acusado,
comprometendo liberdade de declarar;
Obs. Trauma deve ser aferido casuisticamente
(não presumido), ser provável (não possível),
em grau significativo para comprometer
liberdade de declarar da testemunha e
decorrer do ato de depor na presença física
daquele acusado específico.
Soluções possíveis:
Colheita do depoimento da testemunha vulnerável
por videoconferência ou, na impossibilidade, exclusão
do acusado da sala de audiências.
CPP:
Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu
poderá causar humilhação, temor, ou sério
constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de
modo que prejudique a verdade do depoimento, fará
a inquirição por videoconferência e, somente na
impossibilidade dessa forma, determinará a retirada
do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença
do seu defensor.
Depoimento sem dano: incidente
jurisdicional de produção
antecipada de prova (a fim de
evitar dano
secundário/revitimização) em salas
separadas, interligadas por circuito
audiovisual; em uma fica psicóloga
inquirindo testemunha vulnerável,
“traduzindo” perguntas feitas pelo
Juiz e partes a partir de outra sala;
Críticas ao depoimento sem dano:
Não conta com procedimento
regulamentado pelo Poder
Legislativo da União (CR, art. 22, I),
violando cláusula do due process
of law (CR, art. 5º, LIV) e seu
corolário do direito fundamental ao
procedimento tipificado em lei;
Deturpa papel profissional do psicólogo,
que não dispensa à vítima tratamento
terapêutico, havendo intervenção
descontextualizada e sem
continuidade, cujo objetivo é extração
de informações. Silêncio sobre episódio
traumático deve ser respeitado, pois é
recurso de defesa da vítima infantil, que
ainda não tem condições de elaborar
sobre episódio (Conselho Federal de
Psicologia).
3. Imediação
Garantia constitucional implícita
no contraditório (CR, art. 5º, LV),
na oralidade(CR, art. 98, I), no
regime e princípios
constitucionais, além de
tratados internacionais
ratificados pelo Brasil (CR, art. 5º,
§ 2º);
Artigo 8º - Garantias judiciais
1. Toda pessoa terá o direito de ser
ouvida, com as devidas garantias e
dentro de um prazo razoável, por um juiz
ou Tribunal competente, independente e
imparcial, estabelecido anteriormente
por lei, na apuração de qualquer
acusação penal formulada contra ela,
ou na determinação de seus direitos e
obrigações de caráter civil, trabalhista,
fiscal ou de qualquer outra natureza.
CADH (Decreto nº. 678/92)
Artigo 8.1 da CADH consagrou
imediação, na medida em que
direito a “ser ouvido por um juiz
ou Tribunal competente”
pressupõe audiência oral e
pública, durante a qual haja
interação direta e pessoal entre
acusado e julgador;
Carolina Villadiego Burbano
Conteúdo da imediação:
Impõe elação de proximidade
intelectiva entre julgador, partes
processuais, elementos e fontes de
prova oral. Objetivo = permitir que Juiz e
partes tenham contato direto, pessoal,
livre de interferências externas e em
unidade espaço-temporal com todas
as questões fáticas e jurídicas relevantes
para julgamento da causa;
Décio Alonso Gomes
Fundamento político-criminal:
Permitir que prova oral chegue ao
conhecimento do julgador sem
sofrer alterações decorrentes da
interposição de terceiros, que podem deformar ou falsificar – de
modo consciente ou inconsciente –
o grau de credibilidade de cada
elemento probatório declarativo;
Repúdio a práticas autoritárias = mediação
entre Juiz e partes por terceiros (órgãos
auxiliares da Justiça) responsáveis por
interrogar acusado e colher testemunhos,
documentando esses atos em
“expediente” escrito. Essas práticas
fraudam direito do acusado “de ser
ouvido” pelo Juiz competente, e não por
destinatário de delegação de poderes,
nem pela leitura judicial da
documentação de interrogatório feito por
terceiro.
Função instrumental = tutelar:
(i) autenticidade dos elementos de prova,
que pode ser comprometida caso eles
sejam transmitidos por terceiros, ou
reduzidos a termo sem as devidas cautelas;
(ii) qualidade da valoração judicial acerca
da credibilidade das fontes e elementos de
prova;
(iii) contraditório, mais especificamente
direito da parte adversa de inquirir pessoa
que prestou declarações testemunhais
anteriormente ao julgamento;
Paolo Tonini
Conclusão final:
Contraditório, direito ao confronto e
imediação são as três mais importantes
garantias do procedimento probatório
estruturado à luz do direito ao
julgamento justo (fair trial), devendo ser
vistas um como sistema de vasos
comunicantes (de forma integrada), e
não de compartimentos estanques
(isoladamente).
CONTATO:
(55-21) 2220-0807
diogomalan@uol.com.br
MUITO OBRIGADO!
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