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Sindicalismo e Saúde no Brasil: A Relação Sistema Único de Saúde (SUS) e os Planos
Privados de Saúde na Assistência à Saúde dos Trabalhadores.
Por: José Augusto Pina
Dissertação apresentada à Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca para obtenção do título de mestre
Orientadores: Hermano Albuquerque de Castro
Maria de Fátima Siliansky Andreazzi
Dezembro - 2005.
Catalogação na fonte Centro de Informação Científica e Tecnológica Biblioteca da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca
P645s Pina, José Augusto
Sindicalismo e saúde no Brasil: a relação Sistema Único de Saúde (SUS) e os planos privados de saúde na assistência à saúde dos trabalhadores. / José Augusto Pina. Rio de Janeiro: s.n., 2005.
138 p.
Orientador: Castro, Hermano Albuquerque de Andreazzi, Maria de Fátima Siliansky
Dissertação de Mestrado apresentada à Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca
1.Saúde ocupacional. 2.Cobertura de serviços privados
de saúde. 3.SUS (BR). 4.Sindicatos. I.Título.
CDD - 20.ed. – 362.104258
“A Voz do Povo” Meu samba é a voz do povo Se alguém gostou Eu posso cantar de novo Eu fui pedir aumento ao patrão Fui piorar minha situação O meu nome foi pra lista Na mesma hora Dos que iam ser mandados embora Eu sou a flô que o vento jogou no chão Mas ficou um galho Pra outra flô brotar A minha flô o vento pode levar Mas o meu perfume fica boiando no ar João do Vale
"Aos que hesitam" Você diz: Nossa causa vai mal. A escuridão aumenta. As forças diminuem. Agora, depois que trabalhamos por tanto tempo Estamos em situação pior que no início. Mas o inimigo está aí, mais forte do que nunca. Sua força parece ter crescido. Ficou com aparência de invencível. Mas nós cometemos erros, não há como negar. Nosso número se reduz. Nossas palavras de ordem Estão em desordem. O inimigo Distorceu muitas de nossas palavras Até ficarem irreconhecíveis. Daquilo que dissemos, o que é agora falso: Tudo ou alguma coisa? Com quem contamos ainda? Somos o que restou, lançados fora Da corrente viva? Ficaremos para trás Por ninguém compreendidos e a ninguém compreendendo? Precisamos de sorte? Isto você pergunta. Não espere Nenhuma resposta senão a sua. Bertold Brecht
Agradecimentos
A minha mãe, Minerva Abdala Pina, que sempre depositou em mim enorme
confiança, carinho sem nunca faltar incentivos. A minha companheira Regina, que
admiro e renovo meu amor, pelo permanente apoio, solidariedade e compreensão. A
Laura e a Renata pela paciência e desprendimento com que se dispuseram ajudar.
Aos orientadores Hermano A. de Castro e Maria de Fátima A. Siliansky pela
confiança e apoio, sempre solícitos e comprometidos com o trabalho cientifico e a
defesa da saúde pública. Ao professor Eduardo Stotz pelas valiosas indicações críticas à
pesquisa, sua interlocução ampliou minha satisfação, responsabilidade e estímulo para
outros trabalhos.
Aos professores e a todos companheiros de trabalho do CESTEH pelas
importantes indicações de estudo, apoio e contribuição. A Kátia e a Blandina
companheiras a quem agradeço e compartilho a escolha do tema. A Vanda pelo
incentivo e sua colaboração. A Gioconda por sua permanente e carinhosa acolhida
desde os primeiros dias no CESTEH.
Aos companheiros do CeCAC - Centro Cultural Antonio Carlos Carvalho pela
grande contribuição propiciada nos grupos de estudo e atividades, desafio coletivo em
retomar o marxismo enquanto ciência, teoria e pratica, fundamental para a compreensão
e transformação da realidade.
Agradeço a Maria Vicência Pugliesi por compartilhar suas idéias e experiências.
O aprendizado é enriquecido quando se desfruta da amizade de pessoas comprometidas
com o desenvolvimento científico e a melhoria da saúde dos trabalhadores e do povo.
Aos profissionais do Centro de Documentação da Central Única dos
Trabalhadores – CUT e do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC/SP, do Instituto
Nacional de Saúde no Trabalho – INST e do Departamento Intersindical de Estudos e
Pesquisa de Saúde e dos Ambientes de Trabalho – Diesat pelo apoio prestado no
levantamento dos materiais.
Aos colegas de curso Cyro e Helena, cujos momentos estarão sempre presentes,
nas aulas, estudos e nas conversas, momentos integrantes da formação. A Mariza
Almeida por seu permanente incentivo. Aos funcionários da biblioteca da ENSP na
pessoa de Marcos e Elizabete pela pronta atenção ao longo do curso.
Resumo Esta dissertação discute o sindicalismo brasileiro em sua relação com o Sistema Único de Saúde - SUS e os planos e seguros privados de saúde a propósito da assistência à saúde dos trabalhadores, nos anos 1990. São ponderadas algumas teses na Saúde Coletiva a luz de estudos mais recentes sobre o sindicalismo oriundos das Ciências Sociais. Realizamos a análise de documentos e materiais sindicais, seus pleitos ao Estado (fóruns do SUS e da ANS) e as empresas, para o caso da Central Única dos Trabalhadores e do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC / SP. Observamos a necessidade dos estudos considerarem os pesos relativos que a ação sindical imprimiu a cada um dos aspectos da relação SUS e planos privados de saúde, inseridos mais amplamente nas lutas dos trabalhadores nas distintas conjunturas do país. A reivindicação sindical por melhoria dos planos privados de saúde, até o final da década de 1980, possuía uma dimensão mais reativa e não foi aspecto determinante da expansão da oferta de atenção médica supletiva. Nos anos 1990, a posição sindical tem sido marcada por contradições e ambigüidades em relação aos direitos sociais. Mantida a dimensão reativa, seu discurso tem contemplado composições variáveis entre a participação do público (Estatal e não estatal) e do privado, substituiu a centralidade do Estado pelo Contrato Coletivo de Trabalho como definidor de suas reivindicações trabalhistas e sociais. Em seu interior emergiu um setor interessado na gestão da previdência complementar e dos planos de saúde, além de disputar os fundos públicos para gerir e oferecer assistência aos trabalhadores e filiados sindicais. Conflitos entre trabalhadores do setor formal com as empresas em torno da assistência à saúde, acrescido da precarização do trabalho e do desemprego questionam permanentemente a aludida segurança a saúde dos planos coletivos, impele a representação sindical a pleitear a intervenção estatal, em meio à coexistência de modalidades distintas de ação sindical relativa ao papel do Estado na proteção social. Este estudo traz elementos que possibilita refletir sobre a complexidade dessa dinâmica e entende que a desigualdade da estrutura social brasileira impõe limites às coberturas assistenciais privadas e oferecem as circunstâncias que recriam novas possibilidades das organizações sindicais se colocarem mais ativamente na cena política a favor do sistema público de saúde. A depender da direção que assumirem as entidades sindicais estarão em maior ou menor condição para aglutinar os interesses de amplos segmentos dos trabalhadores e pressionar o Estado a ampliar e melhorar o sistema público de saúde. O percurso nesta direção é sinuoso, não compreende uma ação político sindical única e, muito provavelmente, terá de competir, enfrentar e superar posições antagônicas. Palavras-chave: Saúde do Trabalhador, Seguros Privados de Saúde, Sistema Único de Saúde (SUS); Sindicalismo; Corporativismo.
Abstract This dissertation discusses the Brazilian tradeunionism in its relationship with the Unified Health System (SUS) and the private health insurances, concerning health assistance to workers, in the 1990´s. Some theses on Public Health brought to light by recent studies on unionism from the Social Sciences area are considered. For the case of the Unified Workers Central and the ABC/SP workers, union’s documents and materials were analyzed, as well as its pleads to the State (SUS and ANS forums) and companies. We noted the necessity for the studies to consider the respective importance that the trade union policy has given to each aspect of its relation with SUS and the private health insurance as inserted in a larger picture of worker’s struggles in given moments of the Brazilian history. The trade union claims for improvement on private health insurance system, until the end of the 1980´s, had a more reactive dimension and this was not the main aspect of the supplementary medical assistance offer expansion. In the 1990´s, trade union position was marked by contradictions and ambiguity concerning social rights. Maintaining the reactive dimension, the unionist discourse considered several compositions between public (State and Non-State) and private participation, substituting the centrality of the State by the Collective Work Contract as a guide for its labour and social claims. From this, it has emerged a group whose interests lay on the administration of complementary and health insurances, besides disputing the management of public funds in order to offer assistance to workers and union affiliates. Conflicts between formal workers and companies for health assistance, raised by work deterioration and unemployment puts in doubt the alluded security of collective health plans and also drift union’s representation to plead State intervention, amongst distinct types of union’s actions concerning State role in social protection. This study raises elements that make possible to think over the complexity of this dynamics and understands that the inequality of the Brazilian social structure imposes limits to private insurance, but also creates the circumstances that rebuild new possibilities for the trade union organizations to put themselves in a more active way in the political scene in favor of the public health system. Depending on the direction assumed by trade unions, they will have good or bad conditions to agglutinate interests of several worker’s segments and pressure the State to extend and improve the public health system. The way in this direction is winding, it does not include a single union-political action and most likely will have to compete, to face and to surpass antagonist positions. Key words: Worker health, Private Health Insurance, Unified Health System (SUS), Trade unionism, Corporativism.
Lista de Siglas e Abreviaturas
ANS - Agência Nacional de Saúde Suplementar BM – Banco Mundial CASSI - Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil CAT - Comunicação de Acidente de Trabalho CCT - Contrato Coletivo de Trabalho CCTSMA – Comissão de Condições de Trabalho, Saúde e Meio Ambiente CEDOC – Centro de Documentação CGT - Confederação Geral dos Trabalhadores CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes CLT – Consolidação das Leis do Trabalho CNI - Confederação Nacional da Indústria CNM - Confederação Nacional dos Metalúrgicos CNS - Conselho Nacional de Saúde CNTSS - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social CONCLAT - Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras CONCUT – Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores COSIPA – Companhia Siderúrgica Paulista CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito CPMF - Contribuição Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira CRST - Centro de Referência em Saúde do Trabalhador CSE - Comitê Sindical de Empresa CSLL – Contribuição Social sobre o Lucro Liquido CUT - Central Única dos Trabalhadores DRU - Desvinculação das Receitas da União DSTMA - Departamento de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente EC – Emenda Constitucional FEMCUT - Federação de Sindicatos de Metalúrgicos da Central Única Trabalhadores FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo FMI – Fundo Monetário Internacional FS - Força Sindical FUP - Federação Única dos Petroleiros GEAP - Fundação de Seguridade Social IAPI - Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IHL - Instituto Herbert Levy INAMPS - Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social INPS - Instituo Nacional de Previdência Social INST - Instituto Nacional de Saúde no Trabalho IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados IRPF - Imposto de Renda da Pessoa Física IRPJ - Imposto de Renda da Pessoa Jurídica LER – Lesões por Esforços Repetitivos MOVA – Movimento de Alfabetização
MS – Ministério da Saúde OLT – Organização por Local de Trabalho OMS - Organização Mundial da Saúde PCI - Partido Comunista Italiano PCV – Pesquisa de Condições de Vida PEC - Projeto de Emenda Constitucional PIB – Produto Interno Bruto PLR - Participação nos Lucros e Resultados POF - Pesquisa de Orçamentos Familiares PST - Programas de Saúde do Trabalhador PT – Partido dos Trabalhadores RENAST - Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador SAMS - Sistema de Atenção Médica Supletiva SDS - Social Democracia Sindical SPE/MF - Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda SUR - Sistema Único de Representação SUS - Sistema Único de Saúde TRT - Tribunal Regional do Trabalho
Lista de Quadros
Quadro 1 Convênio médico: comparação entre o reivindicado pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e o acordado na negociação coletiva centralizada dos Metalúrgicos da FEMCUT/SP
89 Quadro 2 Indicadores de serviços prestados e atividades oferecidas pelos sindicatos de trabalhadores urbanos e rurais aos associados - Brasil – 2001
106
Quadro 3 Percentual de sindicatos de trabalhadores urbanos que prestam serviços médicos aos associados, segundo a Região - Brasil – 2001.
106
Sumário
Introdução 12 Considerações metodológicas 26 Capitulo I Sindicalismo e a assistência à saúde do trabalhador: a relação SUS e planos de saúde
33 1.1 - Introdução 33 1.2 - Saúde Coletiva: discutindo algumas teses explicativas 34 1.3 - Demandas sindicais por bem-estar na relação com a empresa e o Estado 40 1.4 - O SUS e os planos privados de saúde nas resoluções da CUT em tempos de política neoliberal
44
1.5 - Considerações finais 49 Capitulo II
A CUT e a relação público-privado na assistência à saúde 51 2.1 – Sistema Único de Saúde 51 2.1.1 - Financiamento do SUS 56 2.1.2 - Captação alternativa de recursos financeiros 61 2.1.2.1 - Ressarcimento ao SUS 62 2.1.2.2 - Extinção da dedução de despesas médicas no imposto de renda 63 2.1.3 - Gestão e controle social sobre os gastos e fundos de saúde 66 2.2 - Planos e seguro privado de saúde 68 2.2.1 – A CUT e a regulamentação do setor supletivo 75 Capitulo III
Complementaridade na assistência à saúde 81 3.1 - Contrato Coletivo de Trabalho e Saúde 81 3.2 - Negociação coletiva dos metalúrgicos do ABC 86 3.3 – Alguns aspectos sobre o convênio médico nas negociações dos metalúrgicos do ABC
88
3.4 – E quanto aos serviços públicos de saúde? 95 Capitulo IV
O corporativismo sindical e a difusão de novas modalidades de ação em relação ao papel do Estado na proteção social.
100
4.1 – O sindicato como executor e gestor de serviços sociais: assistência como empreendimento social, uma possibilidade?
105
4.2 - Militância ou Voluntariado? 112 Considerações Finais
115
Referências bibliográficas 123 Anexo 1 - Principais documentos analisados, segundo título, autor, data e informações complementares Anexo 2 - Registros encontrados através da busca por palavra-chave, título da matéria e data de sua veiculação na Tribuna Metalúrgica.
135
137
12
Introdução
Este trabalho integra as inquietações em torno da problemática sindicalismo e
saúde no Brasil, colocada pelas atividades profissionais em que estou inserido I. Não é
sem intenção que apresento um enunciado com objetivos tão amplos. Isto se faz para
chamar atenção de que o tema a ser tratado compreende um conjunto de problemas
situados em um mesmo campo de atuação: a Saúde Coletiva / Saúde do Trabalhador,
diríamos. E, apesar de que históricamente los grandes cambios en el campo de la salud
laboral se han dado a raíz de que los trabajadores organizados se la han planteado
como un terreno reivindicativo y de lucha 1 (p. 5-6), as práticas do movimento sindical
na defesa da saúde ainda têm recebido pouca atenção dos estudos no campo da Saúde
Coletiva no Brasil, a despeito, inclusive, de esta incorporar o referencial das ciências
sociais 2, onde as pesquisas sobre sindicalismo possuem uma variada produção.
As práticas de classe e as ações organizadas dos trabalhadores fazem corpo e
constituem requisito básico para o desenvolvimento do conhecimento e da prática
acerca do processo saúde-doença-cuidado e, conseqüentemente, da constituição dos
sistemas de atenção à saúde dos trabalhadores 3,4,5,6. A emergência, evolução,
transformações e as novas configurações dos modernos sistemas de proteção social em
cada formação social concreta, aí incluído os sistemas de saúde, estão relacionadas,
diretamente, às lutas políticas e sindicais da classe trabalhadora 7, II .
Em sentido mais amplo, assumimos para os fins deste trabalho que a reprodução
social da força de trabalho está determinada pelo processo de produção e reprodução
ampliada do capital 8, sendo sua dinâmica determinante dos sistemas de proteção social
e de saúde. É necessário frisar que numa formação social com predomínio das relações
de produção capitalistas, a intervenção do cuidado médico e dos serviços de saúde que
importa às classes dominantes assegurar e reproduzir (no decurso de sua dinâmica sob o
peso das lutas políticas e sindicais dos trabalhadores) não tem por objetivo fornecer
condições gerais de saúde ao trabalhador, mas sim a saúde necessária, a saúde
I Inquietação no sentido de ato de preocupar-se com o que está além dos seus conhecimentos; insatisfação intelectual, e Problemática como um conjunto de problemas da mesma natureza ou de um mesmo campo de atuação, ou concernentes a um mesmo objeto (Dicionário Eletrônico Houaiss de Língua Portuguesa. [CD-ROM]. Versão 1.0, Editora Objetiva: Dezembro de 2001). II Segundo Esping-Anderson 8, três fatores estariam implicados em relação ao desenvolvimento do welfare state nos países europeus: a natureza da mobilização da classe trabalhadora; as estruturas de coalizão política de classe; e o legado histórico da institucionalização do regime.
13
suficiente, um componente da força de trabalho a ser consumido no processo de
trabalho / processo de produção 9. Importa ainda considerar que na reprodução social da
força de trabalho estão implicados: o salário; suas habilidades; um mínimo de saúde,
mas também, e simultaneamente, garantir a sujeição ideológica do trabalhador às
relações de produção capitalista dominante. Em sua singularidade, desde os momentos
iniciais do capitalismo no Brasil, se combinam baixos salários reais com benefícios
sociais, sejam eles públicos ou privados, de forma segmentada e restrita entre a classe
trabalhadora. Medidas que conjugam, conforme a conjuntura, uma maior ou menor
repressão, cooptação, neutralização e cerceamento da organização política e sindical dos
trabalhadores 10,11.
Ciente disso, esta dissertação - como parte intrínseca da problemática mais
ampla - investiga o sindicalismo brasileiro, em sua relação com o sistema de saúde, em
particular, com o Sistema Único de Saúde - SUS e os planos e seguros privados de
saúde III , no que se refere à prestação de serviços de assistência à saúde do trabalhador,
a partir dos anos 1990, período de implementação das políticas neoliberais no Brasil.
No momento da implantação das políticas neoliberais no Brasil, já estava
consolidado um mercado de planos e seguro privado de saúde, em especial os
decorrentes do vínculo de trabalho, os planos de saúde coletivos. Também o processo de
reforma do sistema de saúde e da assistência médica do Complexo Previdenciário já se
havia avançado, com a emergência e institucionalização do Sistema Único de Saúde –
SUS, na Constituição Federal de 1988. Por sua vez, o sindicalismo brasileiro - em
contraste com o quadro de refluxo na maioria dos países europeus – experimentou, na
década anterior, enorme expansão e difusão por vários setores sociais. A explosão das
reivindicações dos trabalhadores, reprimida durante a ditadura militar, agravada pela
crise econômica do período, fez emergir intensas lutas protagonizadas pelos
trabalhadores e suas organizações sindicais. Reivindicações trabalhistas e sociais
dirigidas ao Estado e às empresas, entre as quais, a atenção à saúde e a prestação de III O sistema supletivo de saúde é constituído por um conjunto de modalidades institucionais: autogestão, medicina de grupo, cooperativas médicas, seguradoras de saúde. Guardadas suas particularidades - que para fins de nossa pesquisa não são necessárias explicitar -, todas realizam a prestação e/ou fazem a intermediação financeira da prestação de assistência à saúde tendo como referencial a análise de risco. Assim, por comodidade, utilizamos livremente (sem maior compromisso) os termos: planos e seguro privados de saúde, seguro privado de saúde, plano de saúde, seguro saúde, “convênio médico”, no sentido de representar a busca por assistência à saúde no sistema suplementar, distinta da busca por atenção à saúde no SUS. Caso seja necessária à utilização de algumas das modalidades institucionais para expressar um significado específico, faremos com a devida observação.
14
serviços médico-hospitalares, como um dos elementos de conflito que passou a cobrar a
elaboração de um projeto político-sindical capaz de demarcar um campo próprio da
classe trabalhadora nas lutas pelos direitos sociais.
A demanda sindical pela melhoria do convênio médico contratado pelas
empresas, paralelamente, à defesa do direito à saúde no sistema público, como se verá
mais adiante, levou alguns estudiosos da Saúde Coletiva a considerar esta questão como
um paradoxo da ação sindical por direitos sociais 12 . Um paradoxo, real ou aparente,
entre a tese, ou discurso em favor do público, que sustentam as lideranças sindicais nos
fóruns de saúde e o que encaminham junto aos trabalhadores (liderados) nas
negociações com as empresas. A organização sindical não seria capaz de apoiar
políticas fundadas numa solidariedade abrangente 13 (p. 179), o que tem questionado a
capacidade dos trabalhadores e suas organizações de se converterem em força social
para sustentar a melhoria e ampliação do SUS. Além destas indagações, ronda sobre os
trabalhadores do setor público e do setor privado, consumidores de planos e seguros
privados de saúde, um certo espectro, e algumas vezes em tom acusatório, de que tais
segmentos seriam privilegiados ou uma elite do país 14,IV. Também, não tem sido raro se
observar manifestação que - além de condenar os trabalhadores de melhor qualificação
por terem migrado ou optado pelo sistema supletivo de saúde - responsabiliza as
entidades sindicais dos trabalhadores por ajudar a construir o projeto neoliberal de
saúde 15 (p. 57) V.
IV Em relação aos servidores públicos que são consumidores de planos privados de saúde, o Conselho Nacional de Saúde – CNS apresentou ...indagações preocupantes sobre a inserção destes profissionais na construção do SUS 14 (p. 79). O sindicalismo dos servidores público não será objeto desta dissertação. Mas, é importante pontuar que foi e continua no âmbito da Política de Estado a decisão em disponibilizar planos privados de assistência à saúde para os trabalhadores de empresas estatais e da administração pública. Segundo dados da PNAD Saúde de 1998 16, em relação aos ramos de atividade, a administração pública é o ramo que possui a mais alta taxa de trabalhadores cobertos por planos de saúde, (49,6%), e representa cerca 10% do total dos titulares com planos de saúde. Essa expansão ocorreu a partir de meados dos anos 80, em que instituições governamentais optaram por implantar ou incrementar planos próprios de assistência à saúde, constituindo entidades de previdência fechada. Sindicatos de servidores públicos também contrataram planos de saúde atuando como intermediários entre seus associados e as operadoras. Mas a situação e as condições da assistência à saúde dos trabalhadores do setor público é bastante diferenciada. Não apenas entre servidores do nível Federal, Estadual e Municipal, mas diferenciação no interior de cada um deles. Por exemplo: existe uma enorme diferença entre os planos de saúde que cobrem os servidores públicos federais nos diversos órgãos da administração. Seja em relação ao modelo do contrato, a parcela coberta pelo servidor ou a qualidade do serviço, além de órgãos que não dispõem de cobertura de planos de saúde para seus servidores ou, mesmo, qualquer serviço próprio de assistência à saúde do trabalhador. V Para Mendes 15, as centrais sindicais e os grandes sindicatos de trabalhadores que incorporavam, no seu discurso oficial, a temática da reforma sanitária, na prática social cotidiana, curvaram-se à realidade tática por pressões das bases e, desse modo, ajudaram a construir o projeto neoliberal de saúde (p. 57).. Como
15
Não menos comum, inclusive entre os próprios sindicalistas, a argumentação: a
gente pedia plano, mas não queria 17 (p. 111). Esta constatação revela a complexidade
da questão ao apresentar uma dimensão encontrada no terreno da luta pela saúde que o
sindicalismo é convocado a travar. Por um lado, ela pode entoar uma justificativa, uma
certa passividade ante a complexidade. Por outro, revela os limites da chamada saúde
suplementar que, como veremos, restringe a plena adesão dos trabalhadores e do
sindicalismo a esta modalidade de assistência à saúde.
Os trabalhadores e suas organizações sindicais, a partir da / na luta pela saúde
combateram inúmeras teses que os debilitam politicamente. Teses, ainda hegemônicas,
como de seu suposto descaso para com sua saúde, a sua culpabilidade pelo acidente ou
doença do trabalho traduzido como: ato inseguro, vender a saúde 18,19 . Vencidas muitas
batalhas, mas ainda estando por longe de obter a vitória, se vêem diante da ofensiva
sobre suas posições, ofensiva lançada pelas classes dominantes, a saber: a política
neoliberal. Segundo Laurell 20, a condição política para o êxito do projeto neoliberal é a
derrota ou, pelo menos, o enfraquecimento das classes trabalhadoras e de suas
organizações reivindicativas e partidárias (p. 164). Assim, não é fortuito que os
questionamentos à capacidade dos trabalhadores e de suas entidade sindicais estejam
vindo à tona com mais freqüência nos últimos anos.
Mas, antes de prosseguir e explicitar melhor o que se entende por políticas
neoliberais e outros termos, categoriais e conceitos necessários à compreensão e,
também, explicitar a partir de que posição se desenrola este trabalho, assim como, o
caminho percorrido, seria conveniente apresentar os principais problemas que nos
interessam discutir. Sumariamente, são os seguintes: Como explicar a ação sindical que
empreende um discurso a favor da atenção à saúde no SUS e negocia junto às empresas
melhorias nos planos e seguros privados de saúde? Seria um paradoxo real ou apenas
aparente? Qual concepção tem pautado a ação sindical em relação ao SUS e em relação
aos planos e seguros privados de saúde? A concepção e a ação sindical poderia ter/estar
acomodando um certo padrão de complementaridade entre a assistência à saúde no SUS
e nos planos e seguros privados, dois aspectos de uma mesma unidade contraditória na
relação público-privado em saúde? E qual a importância relativa que é atribuída a cada
será visto mais adiante, oferecer plano e seguro privado de saúde foi, primeiramente, uma decisão da empresa, impulsionada pelo Estado, através do seguro social.
16
um dos dois aspectos da unidade, qual sua tendência mais recente? Ela seria ou não
passível de sofrer alteração?
Em sentido mais amplo, as condições histórico-concretas da economia mundial,
no final dos anos 1970 e inicio dos anos 1980, colocariam em curso um certo modelo de
reprodução ampliada do capital - que viria alterar as formas de acumulação vigentes nas
cinco décadas anteriores - o que tem implicado na acentuação do aprofundamento da
subordinação da formação social brasileira (entre outras) ao capitalismo enquanto
sistema universal 21, VI. Subordinação, é bom que se diga, que se realiza nos limites das
/ pelas contradições internas da formação social brasileira. A esquerda entrara na
emergente conjuntura do início da década de 1980, sem qualquer consciência da
profundidade da crise do Estado brasileiro 22 (p. 166), seu entendimento era de que se
trataria apenas do esgotamento de uma forma de dominação política – ditadura militar
-, o que colocaria nas mãos da democracia a possibilidade de resolução de todos os
problemas pendentes no Brasil 22 (p. 166). Será, portanto, dentro desses limites, ou seja,
de uma alternativa democrática e em torno das concepções de bem estar social 23, VII e
suas variações, que, predominantemente, se desenvolveriam as práticas dos partidos
políticos de esquerda e das organizações sindicais dos trabalhadores em defesa dos
direitos sociais, inclusive, o direito à saúde dos trabalhadores. Sem superar tais limites –
em torno das concepções de democracia e de bem estar social –, como será assinalado
mais adiante, se produz uma inflexão nas posições políticas do setor hegemônico no
sindicalismo brasileiro na conjuntura aberta na virada da década de 1980.
No que se refere ao sindicalismo, particularmente, ao sindicalismo dos
metalúrgicos do ABC, principal baluarte político da Central Única dos Trabalhadores, é
importante recuperar uma questão: no momento em que se rearticulava, meados dos
anos 1970, e, irrompendo com intensa combatividade, no final desta década, este
sindicalismo apresentava uma concepção corporativista da ação sindical. Corporativista
não no sentido de um corporativismo estatal - que é o corporativismo típico da estrutura VI Segundo Lênin 21, o capitalismo se transformou num sistema universal de opressão colonial e de asfixia financeira da imensa maioria da população do globo por um punhado de países ‘avançados’ (p. 11). VII Conforme Oliveira 23, a Reforma Sanitária na Itália foi pensada, pelo Partido Comunista Italiano - PCI, no contexto do imediato pós-guerra de retorno a ordem liberal-democrática, como parte de um outro processo: a transição para o socialismo; enquanto, no Brasil ela, além de se desenvolver de dentro para fora, ou de cima para baixo, adquiriu um sentido muito mais restrito, um novo nome para rebatizar antigas proposições que apenas nos levará a repor a estratégia social-democrata de mera ‘ocupação’ e gestão ‘humanizada’ do Estado capitalista.
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sindical de Estado predominante no Brasil -, mas sim de um corporativismo que designa
a prática de um grupo ou de um segmento da classe trabalhadora que se fecha em torno
de si mesmo, se insurge, se destaca do restante de sua classe, isolando-se ou a ela se
contrapondo 24,25, VIII.
Esse aspecto pode ser observado nas resoluções políticas dos três Congressos
realizados pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema,
respectivamente, em 1974 26 , 1976 27 e 1978 28 . As principais idéias que orientavam a
ação sindical emergente, aparecem no 1º Congresso do Sindicato dos Metalúrgicos de
São Bernardo do Campo e Diadema. O documento final do Congresso, a Declaração de
São Bernardo de 1974, compara as taxas de crescimento do PIB nacional, da produção
industrial Brasileira e da produção do setor automobilístico, no período de 1968-1973,
com ampla vantagem para este último, para justificar e defender a idéia de uma ação
política sindical diferenciada para os trabalhadores das empresas do pólo moderno da
economia, as empresas automobilísticas. A atual Política Salarial é uniforme para todas
as regiões, todas as categorias e todos os trabalhadores, apesar da extrema
heterogeneidade entre eles. (...) Não há dúvida que a produtividade das indústrias
automobilísticas, de material elétrico, da mecânica, metalúrgica, e auto-peças, são
maiores que os percentuais decretados pelo Ministério do Planejamento para efeito de
política salarial 26 (p. 6). Apesar da proposta apresentada pelos sindicalistas sugerir a
criação de uma fórmula mais justa de distribuição de renda, ao menos entre os
assalariados [pois o] reajustamento obtido segundo a fórmula legal, acarretaria para
empregados em nível de gerência, executivos administradores, etc., aumentos efetivos
muito mais do que os salários reajustados de vários operários 26 (p. 6 sic), ela é
formulada com base em principio que apresenta as especificidades do setor automotivo
como critério principal e se sobrepõe a critérios mais gerais, uniforme para todas as
regiões, todas as categorias e todos os trabalhadores. A política salarial trazia
desvantagens para o conjunto da classe trabalhadora e não apenas para o segmento do
setor moderno da economia. A saída concebida pelos sindicalistas que se reorganizam é
pensada em torno da posição que ocupam no processo produtivo imediato deslocado da
VIII O termo corporativismo está associado a particularismo, um certo modo de ação coletiva caracterizada pelo fechamento e insulamento de um grupo sobre si mesmo. Mas um insulamento não no sentido de designar a prática de um setor social qualquer que procura sobrepor seus interesses de setor contra um suposto interesse geral da sociedade
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estrutura social brasileira, possibilitando seu insulamento em relação ao conjunto da
classe trabalhadora.
O 2º Congresso ratifica as posições anteriores e conclama para um efetivo
desenvolvimento prático de suas diretrizes e, neste sentido, estabelece uma série de
pontos que deveriam ser objeto de negociação com as empresas 27 . O 3º Congresso do
Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema 28 é realizado sob o
impacto das primeiras greves de fábrica (maio de 1978) teve como único tema de
discussão a Estrutura Sindical Brasileira, detalhando pontos incorporados à prática e a
concepção do sindicalismo cutista, IX.
É importante recuperar a concepção corporativista no momento da emergência
deste sindicalismo, mas também necessário à compreensão de que ela e os efeitos que
produz sobre a organização política e sindical dos trabalhadores podem variar conforme
a conjuntura 24,29, X . Assim, é a situação concreta da luta política de classe – luta política
de classe e não apenas uma luta sindical (se retomará mais adiante) – que determina os
lugares e posições que esta (ou outra) modalidade de ação sindical ocupa ou deixa de
ocupar na consciência e organização da classe trabalhadora. A conjuntura dos anos
1990, sob condições históricas novas e distintas do momento de seu aparecimento
político sindical, propiciou que esse corporativismo adquirisse maior difusão no
sindicalismo brasileiro produzindo, como veremos, outros efeitos sobre a luta dos
trabalhadores.
Nas resoluções políticas do II Congresso do Sindicato dos Metalúrgicos de São
Bernardo do Campo e Diadema 27, realizado em 1976, ficou fixada uma série de pontos,
uma pauta de reivindicações, que deveriam se tornar objeto de negociação com as
empresas XI. Na pauta constaria o pleito pela extinção do regime de convênios, devendo
IX O III Congresso do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema realizou-se nos dias 6,7,8,14 e 15 de outubro de 1978, na cidade de Guarujá -SP. As resoluções desse III Congresso, ainda atuais, vêm se mantendo como valores fundamentais, que se expressam na prática e na concepção sindical dos dirigentes que estiveram à frente da direção do Sindicato nestes mais de 20 anos (www.abcdeluta.org.br, acessado em 05/12/2005, 23:55 h). X Utilizamos conjuntura no sentido atribuído por Poulantzas 29 que, com base em Lenin, a situa no campo das práticas e da luta de classes, ...objecto (sic) da prática política e lugar privilegiado onde se reflete a individualidade histórica sempre singular de uma formação [social], é a situação concreta da luta política de classe (p. 108). XI Uma pauta de reivindicações composta de diversos itens e subitens, entre os quais, os mais gerais são: Salariais (onde já se incluía a participação nos lucros); Horário de Trabalho; Férias e Descanso Semanal; Garantia do Emprego; Condições de Trabalho; Garantias Sindicais; e, 7) Outras reivindicações: supressão dos convênios médicos, atendimento médico no interior das empresas, creche, restaurante e fornecimento
19
a assistência médico-hospitalar ser assegurada pelo então Instituto Nacional de
Previdência Social - INPS. A proposta previa que até o momento que for mantido o
regime de convênio, deveria a assistência médica ser assegurada aos empregados na
própria empresa e aos dependentes em ambulatórios distribuídos nos diversos bairros da
Região do ABC e na grande São Paulo 27, XII .
As lideranças sindicais que se rearticulam preservam a defesa da assistência
médica no âmbito do seguro social, apesar do convênio médico já fazer parte da
realidade das relações de trabalho dos metalúrgicos do ABC. Além disso, a experiência
com os convênios não estava isenta de problemas. O elevado desgaste das condições
físicas e mentais a que estavam (e continuam) submetidos os operários: intensidade de
trabalho, longas jornadas, sobrecarga de trabalho, ambiente de trabalho nocivo,
acidentes e doenças do trabalho tornavam a assistência médica uma preocupação
importante, mas muitas vezes, mesmo quando necessário, muitos operários não
recorriam ao convênio médico devido às exigências da produção (jornadas de trabalho
de 10 horas diárias). A assistência médica também assumia uma importância para os
dependentes dos operários, e os seguidos aumentos na parcela dos custos transferidos
pelas empresas aos trabalhadores geravam conflitos, como por exemplo, em 1975,
quando a Ford pretendeu cobrar de todos seus trabalhadores o valor integral pelas
consultas médicas feitas por eles e/ou por seus dependentes; dos 11.488 empregados em
São Bernardo do Campo, 8.000 se recusaram a assinar o documento que a empresa
tentou impor com este compromisso 30 .
A contradição manifesta na instância do local de trabalho e, portanto, com que se
depara a ação sindical expõe a convivência de distintos modelos de assistência à saúde
para a classe operária e determinados segmentos dos trabalhadores. Um deles baseado
no seguro social, que constituía para esta classe social, desde os anos 1920-30, o padrão
de reparação de sua saúde. E outro, na organização de um modelo com base nas
empresas médicas – grupo médico, medicina de grupo – que emerge e se desenvolve, a
partir dos anos 1950, 60 e 70, com a instalação no país de grandes empresas industriais
de alimentação, uniformes, complementação de aposentadoria, reconhecimento de atestado médico, entre outros. Pauta que passaria, mais tarde, a constar dos acordos coletivos de inúmeras categorias 27. XII Semelhante formulação consta da Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras – Conclat, realizada em 1981.
20
de capital estrangeiro, em particular, as montadoras da indústria automobilística XIII. A
medicina de grupo se desenvolve apoiada e a partir do interior do seguro social, ou seja,
da política estatal por meio da Previdência Social. Portanto, contradição entre dois
modelos de assistência à saúde que não pode ser compreendida fora do desenvolvimento
econômico capitalista no país e seus processos de luta. Também, modelos de assistência
contraditórios - é bom frisar - não no sentido de que representem duas totalidades
distintas uma da outra - o seguro social e o seguro privado -, duas totalidades distintas
que se negariam uma a outra, mas que não dependeriam uma da outra, não formariam
uma unidade, em que a negação de uma, se efetivada, deixaria existente a outra.
O mercado de atenção médica supletiva, nos anos 1960 e 1970, teve sua
expansão impulsionada pela Previdência Social, através do convênio-empresa 11,31,32,33,
XIV. Tem-se um processo de crescente vinculação de forma direta da medicina
previdenciária com os interesses do empresariado num momento de intensificação da
industrialização, com grande impacto sobre as formas de consumo da força de trabalho
pelo processo de produção. O convênio médico contribuía para a redução do
absenteísmo e para fixar o trabalhador no processo de trabalho 11, ao mesmo tempo em
que cumpre funções político-ideológicas de identificação do trabalhador com a empresa 34. Permitia um atendimento mais imediato ao trabalhador, compensando o
congestionamento e as barreiras para o acesso aos serviços previdenciários e um
controle maior sobre a força de trabalho ativa, pontos importantes para se compreender
sua expansão 31,32, XV .
XIII Sabe-se que o surgimento dos planos e seguros-saúde privados no Brasil é anterior. Nos anos 1940, Instituições e empresas do setor público e privado organizaram esquemas de assistência médico-hospitalar para seus funcionários. Em 1944, é criada a Caixa de Assistência dos Funcionários – CASSIl do Banco do Brasil, e, em 1945, a assistência patronal aos funcionários do antigo Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários - IAPI – que mais tarde dará origem ao atual GEAP - Fundação de Seguridade Social. XIV Conforme Czapski 33 , o primeiro plano de pré-pagamento de assistência médica surgiu, em janeiro de 1956, na cidade de São Paulo, com a formação da Policlínica Central. O autor indica que até 1965 não havia mais de 10 grupos operando planos de pré-pagamento em São Paulo. O grande desenvolvimento dos planos de pré-pagamento deu-se com a celebração dos primeiros convênios de assistência médica pelo então I.A.P.I. , com empresas que possuíssem assistência médica organizada. Estes convênios, posteriormente, foram institucionalizados pelo Decreto Lei 66 de 1966. 33 (p. 20). XV Oliveira e Teixeira 31,32 indicam que o interesse das empresas em ofertar serviços médicos a seus empregados está relacionado com a manutenção, recuperação e controle sobre a força de trabalho visando assegurar sua produtividade. A prestação de assistência médico-hospitalar ao trabalhador tem por funções: a) realizar a seleção de pessoal b) controlar o absenteísmo da força de trabalho em atividade, c) obter o retorno mais rápido do trabalhador a atividade produtiva e, d) política de pessoal voltada para concessão de “benefícios” para atrair e manter os trabalhadores na competição interempresarial por mão de obra qualificada e obter sua maior incorporação à empresa. Estes pontos não se alteram
21
Nos anos 1970, a expansão dos benefícios previdenciários a segmentos de
trabalhadores, tais como: autônomos, trabalhadores domésticas e os trabalhadores rurais
não foi acompanhada da ampliação da base do financiamento do sistema. No final desta
década, se instaura a crise da Previdência Social, cuja resposta estatal foi intensificar as
medidas racionalizadoras. Ao mesmo tempo, crescia a pressão social pela melhoria e
ampliação dos direitos sociais com a reorganização dos movimentos populares e dos
trabalhadores no processo de redemocratização do país.
Neste momento, o grande capital financeiro mostrara-se interessado em inserir-
se no setor médico empresarial. Cordeiro 34, ao estudar as empresas médicas, apontou
para sua vinculação às agências financeiras de seguro privado e para penetração de
empresas multinacionais de medicina de grupo. Seguindo esta diretriz, Andreazzi 35
mostrou que a inserção do capital financeiro nos anos 80, numa conjuntura favorável à
especulação, integrava um investimento na oferta de alternativas diferenciadas de
proteção social (seguro de vida, planos de aposentadoria e pensões, seguro saúde). Para
esta autora, o capital financeiro que se inseria na atenção à saúde estaria interessado no
mercado do financiamento coletivo de atenção e não em ocupar apenas o mercado de
prestação de serviços de saúde e, conseqüentemente, na simples disputa pela repartição
dos recursos públicos a estes disponíveis. Andreazzi 35 concluiria que, pela implicação,
para o pequeno e médio capital prestador de serviços de saúde, no progressivo
enfraquecimento de seu peso econômico e político e, ainda, na perda da capacidade de
definir os preços perante as seguradoras. O que acarretaria a imposição de preços
cartelizados para os usuários.
A orientação predominante para a relação público-privado no sistema de saúde
no Brasil estava apoiada na concepção do movimento da chamada Reforma Sanitária.
Este centrou o embate político contra os prestadores de serviços de saúde do setor
privado contratados pela Previdência Social em favor dos prestadores de serviços de
saúde estatais, em torno da formulação estatização progressiva, consagrada na 8ª
Conferência Nacional de Saúde. O processo de luta social em torno de reforma do
sistema de saúde e da assistência médica do complexo previdenciário desembocou na
institucionalização do Sistema Único de Saúde - SUS e da Saúde do Trabalhador – ST
substantivamente quando a empresa estabelece contrato com uma empresa médica para prestação dos serviços de saúde a seus empregados, pelo contrário, criam–se interesses complementares entre a empresa e as empresas médicas.
22
e, simultaneamente, na continuidade da expansão dos planos e seguro privado de saúde,
com a entrada do capital financeiro, consolidando o sistema privado supletivo de saúde.
Isto, juntamente, com a chegada das políticas neoliberais.
Partimos do pressuposto mais geral de que SUS e planos e seguros privados de
saúde conformam uma relação, uma unidade contraditória XVI , e os pesos relativos que
a prática sindical imprimiu a cada um desses aspectos da unidade dizem respeito à
especificidade de cada período da conjuntura brasileira. Isto nos leva a considerar que a
ação sindical não pode ser pensada como um paradoxo (no sentido de que a manutenção
do discurso a favor do SUS excluiria o pleito pelo seguro privado, ou vice-versa). A
desigualdade entre as classes sociais na formação econômico-social brasileira, agravada
pelas políticas neoliberais, recusa uma oposição reducionista entre usuários do sistema
supletivo de saúde versus usuários do SUS. Neste sentido, seria um equívoco recusar a
possibilidade política dos trabalhadores de diferentes segmentos produtivos e suas
organizações sindicais converterem-se em agentes ativos na defesa da melhoria do
sistema público de saúde.
Prosseguindo, seria importante, uma vez que se abordará as práticas sindicais
assinalar, sucintamente, algumas questões a respeito do sindicalismo. Nos últimos anos,
ganhou força o argumento de que a grande e crescente segmentação e heterogeneidade
econômica entre os trabalhadores colocaram dúvidas sobre sua condição para
desenvolver uma ação política unificada e consciente por seus interesses de classe 36 .
No entanto, a classe trabalhadora sempre se caracterizou por segmentações e apresentou
diferenciações internas de nível salarial, de qualificação, de condições de trabalho, de
acordo com o ramo ou setor econômico, de direitos e benefícios sociais auferidos, de
nacionalidade 37. Estas diferenciações sempre existiram ao longo da história de luta e
organização da classe operária e das demais classes trabalhadoras e, apesar delas, não
impossibilitaram a unidade política dos trabalhadores 38, XVII .
XVI Segundo Laurell 20 ...el proceso de privatización no tiene por objeto privatizar todo el sector salud sino sólo las actividades que son rentables. Y, particularmente en las condiciones de América latina, la protección de la salud de los grupos mayoritarios de pobres con altos riegos de enfermar no es negocio.... el mantenimiento del sector público no significa que estamos ante dos sistemas independientes y paralelos, el público y el privado. Siguen articulados pero de una nueva manera, que implica mecanismos de autoreproducción de la miseria pública y de la abundancia privada al darse una transferencia sistemática de recursos hacia el sistema privado... (p. 46). XVII Hobsbawm 38 relata diversos fatores de diferenciação presentes na classe operaria e entre os trabalhadores no final do século XIX. Mas ele constata que isto não impediu a atuação unida destes
23
Seus efeitos em termos políticos e organizacionais não são uma reprodução
mecânica da situação econômica, nem tampouco caminham autonomamente, eles
dependem da conjuntura política e das posições que as classes sociais assumem na luta
de classes, ...a ‘solidariedade de classe’ depende de uma atuação política que procure
preservar ou conquistar direitos sociais para o conjunto dos trabalhadores. Reformas
gerais baseadas na redistribuição de recursos entre o capital e o trabalho – e não entre
os trabalhadores com base em fundos sociais – estimulam a unidade e contribuem para
superar a fragmentação imposta pelas formas do desenvolvimento atual do capitalista 39 (p. 31 sic) XVIII.
O sindicalismo como uma modalidade da luta de classes, seu comportamento
político na luta dos trabalhadores não pode ser entendido separadamente das demais
relações de classes, dos conflitos políticos e sociais, da situação concreta em que as
classes trabalhadoras estão inseridas e das posições políticas assumidas pelas direções
sindicais, num período histórico determinado. Sobre isto Boito Jr. 24 nos diz que o
movimento sindical é parte de um todo (o conjunto das relações de classes) e é desse
todo que se deve partir, e não do próprio movimento sindical, caso se queira conhecê-lo
(p. 204).
Não se poderia nos limites deste trabalho tecer comentários sobre a totalidade
das relações de classes na formação social brasileira. Mas, se, no momento, isso não é
possível, tal fato não nos autoriza a desconsiderar esta mesma totalidade para o
entendimento de nossa discussão. Neste sentido, passamos a situar a política neoliberal
no Brasil.
A política neoliberal no Brasil - em sentido amplo - empreendeu e empreende
um acelerado processo de privatização, a desregulamentação e a especulação financeira,
uma contra-reforma 40 do Estado; um aprofundamento das restrições do gasto social
público, corte, restrição e flexibilização de direitos trabalhistas e sociais. Estas
trabalhadores na luta de classes. Ele assinala que As classes operarias, portanto, não eram homogenias, nem fáceis de unir num só grupo social coerente... E todavia eles estavam sendo unificados.. (p. 179)). XVIII Um exemplo disso foi a ocupação, em 1992, das dependências do Hospital Antonio Pedro pelos metalúrgicos de Niterói, em protesto contra o fechamento da emergência e a ameaça da criação de dupla porta de entrada para pacientes dos setores privado e público. O hospital, vinculado à Universidade Federal Fluminense, é uma instituição de referência terciária de toda a região litorânea do Estado do Rio de Janeiro (p. 31).
24
características contemplam os interesses do imperialismo 41,XIX e da burguesia brasileira,
mas os contemplam de forma desigual. O capital financeiro nacional e internacional é a
fração dominante das classes no poder e, conforme os distintos momentos, contempla
mais ou menos os interesses das demais frações das classes dominantes. As políticas
neoliberais têm promovido contradições (secundárias) no interior das classes
dominantes (juros, abertura comercial, carga tributaria, política de câmbio). Mas a
despeito disso, não se tem registrado a passagem de um setor da burguesia para a
oposição sistemática a política neoliberal. O imperialismo e todas as frações da
burguesia brasileira, de forma desigual, tiram proveito em grau maior ou menor, da
redução dos custos salariais e dos direitos sociais, e permite que o conjunto da burguesia
tenha acesso, democraticamente, à exploração sem freios dos trabalhadores 24, 42, XX .
Queremos apontar que a incorporação da política neoliberal no Brasil demarca
um processo histórico distinto no país e tem como marco político e econômico a vitória
XIX Talvez por questões práticas de exposição, Boito Jr. 24 menciona o termo imperialismo de maneira restrita às empresas estrangeiras e ao capital financeiro internacional. Contudo, o conceito de imperialismo nas formulações de Lênin 21 é bem mais abrangente, mesmo se levarmos em consideração, conforme o próprio Lênin reconheceu, que sua análise, naquele momento, enfatizara o aspecto econômico do imperialismo. Em sentido amplo, conforme apresentado por Santos 41 imperialismo denota a fase do capitalismo resultante das tendências integrantes ao capital impulsionadas pela lei do valor e inerentes ao processo de reprodução ampliada do modo de produção capitalista, que resultam da propensão do capital à concentração / centralização industrial e financeira no mundo e em cada formação social, produz a tendência à constituição do modo de produção capitalista à escala mundial, num sistema mundial, corporificado em um pólo dominante e um pólo dominado e em relações econômicas, políticas e ideológicas designadas pelos conceitos de colonização e imperialismo. Assim, é importante apreender que a dominação não se dá somente na esfera econômica, é, portanto, também política e ideológica. Daí porque o termo colonização: esta última forma de dominação faz com que a ideologia dominante em cada formação social dominada seja sobredeterminada pela dominação das relações econômicas, políticas e ideológicas imperialistas que ligam a classe dominante dos países dominados aos interesses das classes dominantes dos países dominantes. Sobredeterminada por uma construção ideológica que é dominante em escala mundial. XX Ruy Mauro Marini 42 procura identificar as especificidades das formações sociais latino-americanas entendidas de forma articulada com o sistema capitalista mundial, orientando-se a investigar quais as modalidades de realização da acumulação do capital e da exploração da força de trabalho no interior destas formações sociais. Para o autor, a condição de dependência da América Latina se fundamenta na superexploração sobre a força de trabalho. As classes dominantes dos países da América Latina procuram compensar a perda de parte da mais valia produzida internamente, estabelecendo determinadas relações na própria atividade produtiva. A compensação almejada será conquistada por meio de uma ampliação da mais-valia baseada em três procedimentos: O aumento da intensidade do trabalho, o prolongamento da jornada de trabalho e a remuneração da força de trabalho por valor inferior ao necessário à sua reprodução são três mecanismos que configuram a superexploração do trabalhador. Nega-se ao trabalhador a condição necessária para repor o desgaste de sua força de trabalho. Nos dois primeiros casos – aumento da intensidade do trabalho e prolongamento da jornada – porque o trabalhador é obrigado a despender um esforço maior do que teria que fazer normalmente, provocando um desgaste e esgotamento prematuro. No terceiro caso, porque não é pago ao trabalhador nem mesmo o valor necessário para repor sua força de trabalho. As três modalidades, que se dão de forma combinadas, caracterizam que o trabalhador é remunerado com valor abaixo do necessário para reproduzir sua força de trabalho..
25
de Fernando Collor na eleição presidencial de 1989. As transformações introduzidas
pelas políticas neoliberais não apenas restringem os direitos trabalhistas e sociais da
grande massa de trabalhadores, mas também pretenderam limitar, atacar e debilitar a
luta sindical e a organização política dos trabalhadores e das classes dominadas. É no
interior desse processo histórico que se produz uma inflexão - nos limites das
concepções de democracia e de bem-estar social como assinalamos antes – nas posições
políticas do setor hegemônico no sindicalismo brasileiro, não redutível à reestruturação
produtiva nem tampouco compreendida como mera vontade política dos dirigentes
sindicais.
Enquanto ideologia, o neoliberalismo, é contrário à intervenção e à legislação de
proteção do trabalho. Já o sindicalismo representa um movimento reivindicativo
coletivo dos trabalhadores. É em torno da idéia de que os trabalhadores conformam um
coletivo (de classe, de corporação, de empresa, de setor) que se encontra as distintas
ideologias sindicais. Portanto, a organização sindical, manifesta uma contradição com o
neoliberalismo e o mercado, mas a natureza desta contradição no capitalismo, se
antagônica ou não antagônica, dependerá da política e da ideologia sindical que ganhar
a hegemonia na / pela luta dos trabalhadores.
Aliás, a organização sindical, ela própria, é uma expressão de resistência e do
combate à exploração capitalista e, portanto, da contradição entre capital e trabalho.
Não se trata de negar a existência das contradições, mas de identificar a natureza destas
e, assim, as formas de luta para tratá-las, as distintas formas de luta para o tratamento
dos diferentes tipos de contradição, conforme sua natureza 43,44 . Não se trata, portanto,
de que os sindicatos não organizem a resistência a exploração capitalista e ao
neoliberalismo, como uma de suas políticas. Longe disso: o que se discute é a
concepção que orienta a prática político-sindical no tocante a assistência à saúde no
sistema de saúde – SUS e planos privados de saúde – no período da implantação das
políticas neoliberais.
26
Considerações metodológicas
Segundo uma formulação usual na Saúde Coletiva, a metodologia deve fornecer
o caminho e o instrumental para a abordagem do objeto, compreendido pelo marco
teórico e pelas técnicas de pesquisa 45 . Este trabalho toma o marxismo como campo
teórico de seu referencial. Como é sabido, existem diferentes concepções teóricas que o
reivindicam. Seria, portanto, necessário delimitar bem os conceitos que se coloca para
trabalhar. Optamos por fazê-lo no curso da dissertação, como já se pode perceber, para
evitar o risco de aqui se alongar em demasia.
A abordagem metodológica envolveu uma revisão bibliográfica, onde são
retomadas e ponderadas algumas teses na Saúde Coletiva, com a incorporação à análise
de alguns estudos sobre o sindicalismo oriundos das Ciências Sociais. Também se
procedeu à análise de documentos. Mas antes são apresentados alguns passos
preliminares importantes para a pesquisa.
Para discutir o problema proposto – se pode ser (ou não) considerado um
paradoxo a ação sindical que profere um discurso a favor da assistência à saúde no SUS
e, junto às empresas, negocia melhorias nos planos e seguros privados de saúde – este
trabalho tomou como referência o sindicalismo da Central Única dos Trabalhadores –
CUT XXI, compreendendo: a) as instâncias deliberativas e os níveis organizativos
superior da central; b) as instâncias deliberativas das entidades sindicais de base filiadas
à Central XXII. Pretendemos, assim, contemplar a ação sindical da cúpula da central e as
entidades sindicais que estão em contato mais próximos com os trabalhadores XXIII.
Este procedimento se fazia necessário para, de um lado, abarcar as formulações
e diretrizes gerais da Central e a representação em alguns fóruns nacionais de política
pública, em especial da saúde (uma das arenas onde se veiculam as teses publicistas, o
discurso a favor do SUS) e, por outro, identificar as formulações e a ação dos sindicatos XXI No próximo capítulo justifico porquê a opção pela Central Única dos Trabalhadores – CUT. XXII Os Congressos e Plenárias Nacionais e a Direção Nacional são instâncias deliberativas da CUT em âmbito nacional. A Central possui dois níveis organizativos: a organização vertical e horizontal. As Confederações e Federações Nacionais por ramo de atividade econômica e as entidades sindicais e as organizações sindicais de base são suas formas organizativas. A organização de nível horizontal conta com duas estruturas básicas: a CUT Nacional e a CUT Estadual (Estatutos da CUT, www.cut.org.br acessado em 07/dez de 2005). XXIII A análise se aterá no nível do sindicato. As lutas das organizações dos trabalhadores nos locais de trabalho não serão nosso objeto de análise, por mais que elas apareçam e tenham pontos de contato em comum, através da atuação dos sindicatos.
27
na representação dos interesses dos trabalhadores de sua base no que respeita a
assistência à saúde (onde são encaminhadas as negociações por melhorias nos planos e
seguros privados de saúde). Porém, nos dois níveis, da cúpula da central e do sindicato,
seria necessário apreender as diretrizes e a concepção relativa à demanda de assistência
à saúde no SUS e nos planos e seguros privados de saúde.
Em nível de cúpula da Central Única dos Trabalhadores – CUT, recorremos aos
documentos e materiais das instâncias deliberativas: Congressos, Plenárias Nacionais e
Direção Nacional da CUT / Executiva Nacional da CUT, além dos níveis organizativos
superior da central, em particular da organização vertical: Confederações e Federações
Nacionais de Trabalhadores por ramo de atividade econômica. Partiu-se para
estabelecer o(s) sindicato(s). Adotamos alguns critérios gerais para seleção: 1) uma
trajetória contínua na luta pela assistência à saúde do trabalhador, 2) capacidade de
organização política e sindical, 3) sindicato com relativa importância política na CUT.
Optamos por uma única entidade, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (até 1992,
Sindicato dos Trabalhadores de São Bernardo do Campo e Diadema). Trata-se do
principal sindicato da base da CUT, suas posições políticas repercutem no meio sindical
e apresenta uma trajetória ativa na luta reivindicativa e política em sua categoria e no
país. Para se ter uma idéia da influência que os metalúrgicos do ABC possuem para a
CUT, à exceção de João Felício, (atual presidente da CUT, que já exercera o mandato
entre 30/08/2000 a 2003) todos os demais presidentes da central saíram do sindicato dos
metalúrgicos do ABC. Uma ressalva à escolha do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
seria a forte presença do mercado de planos e seguro privados de saúde intermediando a
prestação de serviços médico-hospitalares para os trabalhadores representados pelo
sindicato. Mas, esta também seria uma dificuldade para outros sindicatos de categorias
que se aproximavam dos critérios definidos, tais como: bancários, petroleiros e
químicos.
Em seguida, preparamos a ida ao campo para o levantamento dos documentos.
Inicialmente, os materiais que nos interessavam seriam: resoluções das principais
instâncias decisórias (Congressos, Conferência, Plenárias); materiais produzidos para a
comunicação, informes, notícias e demais ações sindicais das entidades voltados para
dirigentes, ativistas e trabalhadores: jornais, revistas, boletins, informativos;
documentos específicos sobre a seguridade social / saúde / saúde dos trabalhadores, ou
28
voltado para algum evento específico como, por exemplo, Conferência Nacional de
Saúde; a I e II Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador. Estas são fontes diversas
e todas relevantes, com seus pesos específicos, para o trabalho, pois possibilitam
observar como as questões relativas à assistência à saúde dos trabalhadores aparecem e
têm sido tratadas, no âmbito da CUT e do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em sua
relação com os trabalhadores, Estado, fóruns públicos, outros setores sociais. Em
especial na relação da direção do sindicato com os trabalhadores de sua base. Também,
os Acordos Coletivos firmados pelo Sindicato dos Metalúrgicos de ABC poderiam ser
uma fonte documental importante. Todavia, não incluímos esses documentos pois
grande parte das negociações esteve voltada para o âmbito da empresa 46. Os acordos
coletivos mais amplos são firmados por ramo de atividade econômica e negociados pela
Federação dos Metalúrgicos da CUT do Estado de São Paulo. O conteúdo das cláusulas
de convênio médico quase que se repetem ano a ano, conforme se pode constatar pelos
estudos que trataram das negociações coletivas centralizadas dos metalúrgicos do ABC 47,48,XXIV . Assim, a negociação do convênio médico está, cada vez mais, deslocada para
o âmbito das negociações em nível de cada empresa. Dados e informações pertinentes
foram obtidos pelo acompanhamento do jornal do Sindicato, Tribuna Metalúrgica e,
quando necessário, dos estudos citados acima que trataram do tema.
A coleta do material ocorreu nas sedes das entidades. A visita foi precedida de
contato com os responsáveis do Centro de Documentação da CUT – CEDOC/CUT e do
Centro de Documentação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, momento em que se
indicou o tema da pesquisa e os tipos de documentos que procuramos. Estas medidas
preliminares foram levadas em consideração, pois acolhemos a advertência de que, na
busca por documentos, o grande problema com arquivos é que eles nunca são
organizados para responder a perguntas que queremos fazer, especialmente as
perguntas que vocês, investigadores, mais tarde querem elaborar. Ao contrário, são
organizados de acordo com os usos que os depositários querem fazer deles... As
categorias que eles usaram são as que eles precisam para depois retirar, se necessário:
por departamento, por área, por prédio, e sempre por ano e mês, raramente por
assunto. Não serão as categorias ligadas aos conceitos que vocês usam. É um trabalho
de detetive, vocês vão ter que indagar aonde podem estar as informações úteis para seu
XXIV Falaremos sobre este ponto no Capítulo I.
29
estudo 49 (p. 129). E isto nos foi muito importante. Os profissionais do Centro de
Documento da CUT e do Sindicato forneceram um panorama do acervo e dos materiais,
o que e como iria (ou não) encontrar, bem como, da ausência ou dificuldade especifica
para consulta de alguns e de fontes sobre o tema (em particular no que respeita ao item
planos e seguros privados de saúde).
Assim, com visita previamente preparada e agendada, compareci à sede da CUT
e do Sindicato para o levantamento dos documentos XXV. Em ambos locais, foi feita uma
primeira aproximação, leitura panorâmica dos documentos e realizada a seleção, sendo
que uns xerocopiados e outros obtidos em seu formato impresso, pois havia exemplares
disponíveis para o público em geral, o que foi um facilitador na coleta do material.
Grande parte do que tínhamos previsto foi obtido, além de se agregar outros títulos, que
emergiram, às vezes, aleatoriamente, mas instigados por agir como catadores
permanentes de materiais possivelmente pertinentes 49 (p. 131) XXVI.
Em relação ao Sindicato, o tipo de arquivamento de seu jornal Tribuna
Metalúrgica não possibilita fotocópia. A seleção de textos deveria implicar na
transcrição, no local, de suas informações. Para um jornal com quatro números
semanais (de 3ª a 6ª feira), com um largo período a cobrir (a partir dos anos 1990), isso
se tornou, no momento, inviável. Porém, foi possível viabilizar sua consulta e posterior
análise, pois o jornal Tribuna Metalúrgica, a partir de 1999 até os dias de hoje, está
disponível integralmente, na página do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC na internet
(www.smabc.org.br). Além disso, o Sindicato também mantém uma página na internet
reservada à memória dos metalúrgicos do ABC, com histórico, as principais greves, os
congressos, depoimentos e outros registros (www.abcdeluta.org.br).
XXV Além do grande tempo dispensado no Centro de Documentação das entidades, pude conversar com dirigentes sindicais e profissionais de outros departamentos. Na CUT, visitei o Instituto Nacional de Saúde no Trabalho - INST/CUT, além do tratamento muito gentil e da agradável conversa com seus profissionais, pude colher inúmeros materiais e fui auxiliado a encontrar outros. Também pude perceber a preocupação em levar a sério as atividades em curso numa conjuntura complexa para a luta dos trabalhadores. No Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, visitei o Departamento de Saúde do Trabalhador e mantive conversa informal com seu diretor. Foi-me fornecido um panorama das atividades realizadas pelo departamento e do atendimento aos trabalhadores. Também no sindicato pude observar rapidamente a intensa dinâmica de sua imprensa na produção de um veículo com grande tradição e presença nos metalúrgicos e na Região do ABC. XXVI Uma grata surpresa foi ter encontrado quase todos os exemplares do jornal Tribuna da Saúde, veículo do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, específico para as questões de saúde (ver quadro). Também desta entidade, encontrar alguns relatórios e atas do Departamento de Saúde do Trabalhador referente a final da década de 1980 e início dos anos 1990. Na CUT, a garimpagem maior deu-se na publicação InformaCUT, de periodicidade quinzenal, até os primeiros anos da década de 1990, passando para periodicidade mensal, em meados dessa década.
30
O material coletado, inclusive os endereços das entidades disponíveis na
internet, possibilita cobrir os dois níveis da ação sindical que se investiga. Os principais
documentos coletados e considerados neste trabalho, sua identificação; autoria;
data/período; acompanhada de informações sobre a quem se destinam, contexto em que
aconteceram constam do Anexo I.
Com base na orientação colocada pelos problemas da pesquisa buscamos uma
aproximação do referencial metodológico apresentado por Spink 50 . Os documentos que
foram coletados são considerados como documentos de domínio público e refletem
práticas discursivas determinadas 49 . Neste sentido, os documentos que analisados são
entendidos como às maneiras a partir das quais as entidades sindicais produzem sentidos
e se posicionam em relações sociais específicas. Relações sociais contraditórias – que
são, em última instância, relações sociais de classes - em que as práticas discursivas
sindicais são produzidas na / pela relação dialógica que estão inseridas numa
determinada conjuntura específica. E será sob esta perspectiva que se investiga o
significado a ação sindical relativa ao SUS e aos planos e seguros privados de saúde na
assistência à saúde do trabalhador.
Isto exigiu um enorme esforço para situar e analisar os documentos, suas
práticas discursivas, nas condições concretas em que se produziam / processavam.
Procuramos respeitar este procedimento e, em alguns casos, para fazê-lo foi necessário
se estender e levantar outras informações, em jornais de grande circulação no país, que
auxiliassem a situar o panorama do contexto XXVII.
Elegemos determinadas categorias expressas pelas práticas discursivas das
entidades sindicais consideradas. Aqui também deveria se observar que as categorias
...são estratégias... delineadas para conversar, explicar, organizar e dar sentido ao
mundo, [e] cujas especificidades estão vinculadas ao contexto que as produzem 51 (p.
79). Assim, conseqüentemente, não apenas as práticas discursivas, mas também as
categorias, expressas por essas práticas discursivas, emitidas pela CUT e pelo Sindicato
dos Metalúrgicos do ABC, deveriam respeitar a especificidade de sua produção.
As categorias selecionadas emergiram da tensão entre o que se tinha de
referência e o processo de interpretação. Emergem, assim, as seguintes categorias de
análise: relação público-privado na assistência à saúde; sistema único de saúde; planos e XXVII Em particular a Folha de São Paulo, em função da disponibilidade para consulta em seu acervo on line: http://www1.folha.uol.com.br/folha/arquivos.
31
seguros privados de saúde; contrato coletivo de trabalho e saúde, assistencialismo e
saúde. Esta última, não se havia previsto; ela aparece durante o processo de
levantamento e interpretação dos documentos 52 .
O processo de análise que adotamos percorreu todo o processo da pesquisa e
ocorreu, portanto, simultaneamente, ao levantamento das informações e da leitura
bibliográfica. Apresentamos conjuntamente os resultados e sua discussão. Aqui seria
conveniente esclarecer o que se está afirmando: primeiro, porque o recurso utilizado
para a exposição desta dissertação poderia levar a confundi-lo com o processo de
análise que foi empreendido; segundo, por existir uma certa defasagem, e isto gera uma
tensão, uma relação contraditória entre levantamento das informações e sua análise;
terceiro porque informações (dados) e análise, ambos interferem um no outro, se
determinam reciprocamente (o que não significa que estejam em equilíbrio); quarto,
porque a análise não se reduz às informações coletadas no campo, não se limita à
análise das práticas discursivas, apesar de aqui essas assumirem o aspecto principal.
Aqui podemos afirmar que, mesmo agora, no momento da redação deste trabalho,
vimos a necessidade de levantar informações e portanto de analisá-las, continuamos a
recorrer tanto a um quanto a outro aspecto. Contudo devemos reconhecer que é preciso
por um ponto.
Algumas observações são importantes: primeiro, a análise parte de um corte
histórico - a virada da década de 1980 e a implantação das políticas neoliberais no
Brasil -, mas não seguimos uma cronologia dos anos 1990, apenas situamos as posições
da CUT e do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC na conjuntura mais ampla deste
período. Não nos preocupamos, portanto, em explicitar e distinguir, no curso do período
estudado as variações ocorridas e que se fizeram na / pela implantação das políticas
neoliberais pelos sucessivos governos do período. Apesar de recorrer a documentos
produzidos até o presente ano, sua grande maioria é anterior ao início do mandato do
atual governo federal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, período que exigiria um
detalhamento particular - em especial para o sindicalismo e o impacto produzido com a
chegada ao poder do Partido dos Trabalhadores e as políticas até então assumidas - que
nos limites deste trabalho não nos propomos realizar. Todavia, de forma mais geral,
estão mantidas a tendência em torno dos problemas aqui estudados e, assim, a discussão
32
da ação do sindicalismo cutista, até aquele momento, constitui elemento importante para
auxiliar o entendimento das questões que se passam na atualidade.
A segunda observação refere-se ao capítulo I desta dissertação. Sob o título:
Sindicalismo e a Assistência à Saúde do Trabalhador: a Relação SUS e Planos de
Saúde, o capítulo é a íntegra de um artigo elaborado em maio/junho deste ano,
submetido à publicação, mas ainda nas mãos dos pareceristas. Optamos por mantê-lo
em seu formato e texto original, acrescentando, em forma de nota de rodapé, alguns
argumentos que em sua maioria foram encontrados após sua elaboração. Não porque
seja necessário e sim para reforçar as idéias ali apresentadas (algumas sempre
polêmicas). O material empírico do capítulo I utilizou apenas as Resoluções dos
Congressos e Plenárias Nacionais da CUT. Por fim, os capítulos II, III e IV exploram o
conjunto dos documentos, como se disse antes, apresentando, no mesmo momento,
resultado e discussão assumindo um caráter exploratório, em especial, os dados
abordados no capítulo IV.
33
Capitulo I
Sindicalismo e a assistência à saúde do trabalhador: a
relação SUS e planos de saúde
1.1 - Introdução
Este trabalho visa trazer elementos para discutir as práticas do sindicalismo
brasileiro relativas à configuração e ao desenvolvimento do Sistema Único de Saúde
(SUS) e do Setor Supletivo de Saúde, no que se refere à atenção a saúde do trabalhador.
No Brasil, os trabalhadores têm protagonizado importantes lutas em defesa dos
direitos sociais, entre os quais o direito à saúde. As resoluções políticas das principais
centrais sindicais consagram a defesa do sistema público de saúde 53,54 . Neste sentido,
têm sustentado a representação dos trabalhadores nos conselhos e fóruns de gestão de
políticas públicas de saúde e, mesmo, mais recentemente, junto à Câmara de Saúde
Suplementar – CSS, instância da Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS para
discussão da regulamentação do setor supletivo de saúde. Por outro lado, os principais
sindicatos de trabalhadores incorporaram na agenda de negociação coletiva a demanda
por melhoria da assistência médico-hospitalar através dos convênios médicos e planos e
seguros privados de saúde contratado pelas empresas.
Este quadro tem acompanhado, nas últimas décadas, a prática do movimento
sindical, período em que, tanto o sistema de proteção social, em particular o sistema de
saúde, quanto o próprio sindicalismo sofreram significativas alterações, expressão mais
abrangente das transformações na formação social brasileira. Nos anos mais recentes,
parece cristalizado o questionamento da capacidade dos trabalhadores - pelo fato de
serem consumidores de planos de saúde privados - e de suas organizações sindicais
converterem-se em força social interessada em sustentar a melhoria e ampliação do
SUS, apesar de considerados essenciais para seu fortalecimento 55 .
Pretendemos debater com algumas teses explicativas sobre esta problemática no
campo da Saúde Coletiva / Saúde do Trabalhador e agregar o referencial das Ciências
Sociais e Humanas. A incorporação de alguns estudos sobre a trajetória recente do
sindicalismo brasileiro desenvolvidos por autores da sociologia e da ciência política traz
novas luzes sobre o problema.
34
Será apresentado de que forma esta questão tem sido considerada pelo
sindicalismo, tomando como referência a Central Única dos Trabalhadores – CUT, a
partir da análise documental, em especial, das resoluções de seus Congressos e Plenárias
Nacionais no que se refere ao item política social / saúde. Nossa opção pela CUT se
justifica pelo fato desta central sindical ter, em geral, frente às demais: 1) uma trajetória
de lutas relativamente continua em relação à atenção a saúde do trabalhador, desde a sua
fundação em 1983, 2) maior capacidade de organização e participação política e
sindical, 3) hegemonia no sindicalismo brasileiro na representação política e orgânica
dos trabalhadores.
Em todo país, segundo a Pesquisa Sindical realizada pelo IBGE 56, encontravam-
se registrados no Ministério do Trabalho e Emprego, até 31/12/2001, um total de 11.354
sindicatos de trabalhadores. Desse total, 4.304 (38%) estavam filiados a alguma central
sindical no país. A CUT contava com 66% de todos os sindicatos filiados às centrais, a
Força Sindical - FS com 19% e as demais centrais sindicais somadas com 15%. Dados
da própria CUT apontam que a central conta com 3.261 entidades sindicais filiadas com
um total de 7.422.589 associados e 21.972.960 trabalhadores em sua base de
representação (http:www.cut.org.br acessado em 02/abril de 2005).
Nos limites deste artigo não serão exploradas as diferentes posições das
correntes políticas-ideológicas existentes no movimento sindical brasileiro, nem mesmo
aquelas presentes no interior da CUT. As resoluções dos Congressos e Plenárias
Nacionais da CUT não encerram a totalidade deste debate no meio sindical, mas
possibilitam revelar uma determinada consciência em relação à assistência a saúde do
trabalhador, possuidora de um considerável peso político no sindicalismo brasileiro.
1.2 - Saúde Coletiva: discutindo algumas teses explicativas
A tese da universalização excludente, apresentada por Faveret e Oliveira 57,
apontou na insatisfação com os serviços públicos, numa conjuntura dos anos 1980 de
contenção do gasto público, a razão para consolidar a expulsão do sistema público de
saúde de segmentos sociais médios e de trabalhadores dos setores privado e público,
mais dinâmicos da atividade produtiva. A expulsão do sistema público destes segmentos
35
de trabalhadores politicamente mais organizados teria enfraquecido ainda mais as
reivindicações e a pressão social pela melhoria do setor estatal de saúde.
Seguindo o mesmo raciocínio, Mendes 58 nos informa que, nos anos 1990, o
mecanismo de racionamento, dando-se por uma queda da qualidade média do SUS,
proporcionou a continuidade e a ampliação do processo de exclusão do sistema público
para o setor supletivo de saúde, nomeado pelo autor como Sistema de Atenção Médica
Supletiva (SAMS), ter atingido parte da classe média baixa e dos trabalhadores de
pequenas empresas.
Contudo, em sua maioria, os trabalhadores com cobertura extra-SUS continuam
a depender do setor público para resolver problemas de alta e, conforme o caso, de
média complexidade que não são totalmente e mesmo, em certas modalidades de planos
de saúde, parcialmente cobertos pela atenção médica supletiva 58,59 entre outras ações de
saúde como, por exemplo, a venda de medicamentos através da Farmácia Popular, onde
cerca de 65% dos usuários são pacientes de convênios e particulares (Diário de São
Paulo apud www.unidas.org.br em 07/out de 2004). O processo de inserção de tais
setores sociais no sistema supletivo de saúde não tem significado sua total saída do
sistema público e muito menos deveria, necessariamente, explicar e justificar o
afastamento da participação sindical em uma efetiva mobilização pela melhoria do SUS.
Uma formulação que adquiriu destaque foi realizada por Costa 12 . O autor
sustenta que a opção das organizações sindicais pelos planos e seguros privados de
saúde está na gênese da cultura associativa sindical brasileira (p. 25). A presença de
uma cultura da diferenciação (p. 25) entre os trabalhadores explicaria a grande
mudança de oferta dos serviços médicos. Os valores e os anseios dos trabalhadores dos
setores de ponta da economia por políticas diferenciadas de saúde implicaria na
resistência destes à universalização. Além disso, a existência de competição entre as
orientações ideológicas dos sindicatos (lideranças) e de sua base de trabalhadores
(liderados) tem implicado a não conformidade entre as decisões em defesa do SUS
assumidas pelas lideranças sindicais nas instâncias formais colegiadas e o conteúdo em
prol de planos de saúde das negociações dos liderados junto a empresas e a setores
produtivos particulares.
Para Vianna 13, não estaríamos diante de simples inconsistência entre
representantes e representados, mas de um modelo de organização de interesses
36
semelhante ao americano. Modelo que fomenta o lobbying enquanto veículo de
articulação dos interesses que tornam impossíveis políticas fundadas numa
solidariedade abrangente 13 (p. 179). O paradoxo, considerado pela autora como
aparente, entre a retórica publicista das centrais sindicais e a estratégia particularista dos
sindicatos a ela vinculados ocorreria porque o contexto no qual os lobbies são operados
não espelha com exatidão a matriz americana. No Brasil, são muitos milhões que não
tem acesso a tais formas de ação reivindicativa e que não podem ser descartados do
discurso das centrais sindicais XXVIII.
Devemos recordar que, nos anos 1970, sindicatos de trabalhadores apresentaram
inúmeros questionamentos ao convênio-empresa. Estes eram denunciados pela falta de
isenção na prática da assistência médica subordinada ao empregador, pela queda da
qualidade do tratamento reduzido a prescrição de analgésicos e outros medicamentos,
além de recusarem o tratamento de doenças que exigiam uma recuperação mais
demorada, conforme apontado por importantes estudos da Saúde Coletiva no final da
década de 1970 11,31,32,34.
Esta crítica foi incorporada pelo movimento sindical que se rearticulava na
Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras – Conclat, realizada de 21 a 23 de
agosto de 1981. Em suas resoluções, propunha a extinção dos convênios médicos,
concomitantemente com a criação de uma rede base e pública de previdência 60 (p. 34).
Também a articulação sindical na saúde já se fazia presente através do Departamento
Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho – Diesat.
Nas discussões em torno da reforma da assistência médica da Previdência Social, o
Diesat 61 alertara, já em 1982, para o fato de que as propostas reformistas para o setor
saúde que atingiam o segmento de prestadores de serviço privado contratado poderiam
caminhar no sentido de reforçar não o setor público, mas o segmento de seguro-saúde
em expansão. Identificou, corretamente, que o processo de racionalização de serviços
com controle de gastos... contraria os interesses de parte do empresariado hospitalar,
não... para fortalecer o setor público, mas para concentrar a propriedade privada do
XXVIII Por outro lado, com base em Galvão 25, mais do que considerar o funcionamento e os arranjos construídos para regular a participação dos sindicatos, entre outros representantes sociais, nos conselhos, fóruns, câmaras setoriais.. como um certo modo de representação de interesses, formas de intermediação de interesses e de formulação de políticas públicas, eles devem ser avaliados na possibilidade de configurarem um determinado modo de dominação de classe (p. 61). O que não significa deixar de reconhecer sua constituição como espaço colocado pela/na luta dos trabalhadores, tendo em consideração seus limites.
37
setor, levando-a ao oligopólio e abrindo espaço para as multinacionais e o capital
financeiro que penetra fortemente na área de seguro-saúde 61 (p. 12).
Contudo, esta posição não assumiria grande repercussão, predominando uma
critica genérica ao favorecimento oficial à medicina privada e às empresas capitalistas
que exploram hospitais, laboratórios, bancos de sangue, medicinas de grupo,
seguradoras de saúde 62 (p. 51).
O movimento de reforma sanitária, segundo Mendes 15, centraria o embate
político-ideológico contra os prestadores de serviços de saúde do setor privado
contratado pela Previdência Social em favor dos prestadores de serviços de saúde
estatais, polarização consagrada na 8ª Conferência Nacional de Saúde. Além disso, sua
formulação acerca do financiamento necessário a uma universalização que preservasse
os padrões de oferta alcançados pelos trabalhadores formais, à época, era dúbia. Se não
negava a necessidade de recursos adicionais, priorizava a interpretação de que os
recursos existentes eram mal empregados e se esvaíam pelos canais da corrupção. Uma
das principais justificativas para se empregar, de forma universalizada, os recursos da
Previdência Social era de que toda a sociedade contribuía indiretamente para ela e não
apenas os trabalhadores e empresas contribuintes. O diagnóstico do Banco Mundial
sobre a atenção à saúde no Brasil 63 já apontava serem os trabalhadores formais
privilegiados quando da utilização de recursos públicos que deveriam, em função da
eqüidade, serem desviados para os chamados pobres. Cremos que a falta, portanto, de
uma política clara de repulsa a esse tipo de política poderia ter dificultado um
engajamento mais ativo do movimento sindical, em uma reforma sanitária que
dispensasse as coberturas privadas adicionais para atenção à saúde, já presentes em
diversas categorias de trabalhadores.
Não deve ser desconsiderado o fato de que muitos sindicatos de categorias
profissionais dos segmentos médios e de trabalhadores qualificados participaram de
importantes ações nos Programas de Saúde do Trabalhador – PST e nos Centros de
Referência em Saúde do Trabalhador – CRST 64,65 , inclusive, com a experiência de
gestão sindical 66. Além da participação nas I e II Conferência Nacional de Saúde do
Trabalhador, respectivamente, em 1986 e 1994, esta última marcada por uma conjuntura
significativamente distinta.
38
As lutas dos trabalhadores contribuíram para a instituição e o desenvolvimento
dos PSTs e CRSTs. Por sua vez, estes têm possibilitado tornar público os dados
referentes aos acidentes e diagnósticos de doenças do trabalho. Colaboram para que os
trabalhadores organizados tenham elementos para subsidiar suas lutas em defesa do
direito à saúde, à previdência social e por mudanças e melhoria nas condições de
trabalho, em contraposição à ocultação dos danos à saúde dos trabalhadores pelas
empresas, com a cumplicidade das empresas de medicina de grupo por elas contratadas 18. Todavia, não ocorreu um massivo e qualitativo envolvimento de categorias
expressivas de trabalhadores 67. As ações dos PSTs e dos CRSTs são marcadas pela
descontinuidade 68, atendendo, a partir dos anos 1990, predominantemente, a população
trabalhadora desempregada e/ou no mercado informal 64.
O movimento sindical, no período pós-Constituição vislumbrou, segundo
Rodrigues 69, a possibilidade das classes trabalhadoras influírem mais decisivamente na
esfera pública. Tem concentrado atenção especial aos fóruns setoriais de âmbito
nacional, entre eles, os do setor saúde: o Conselho Nacional de Saúde - CNS, a
Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador – CIST e, mais recentemente, na
Câmara de Saúde Suplementar – CSS, mas se distanciado das ações mais próximas dos
PSTs e dos CRSTs 70. A CUT 71 reconheceria a dificuldade em socializar para o
conjunto da Central as propostas e mobilizações nos fóruns de saúde de que participa.
A temática por nós apresentada tem merecido pouca atenção da área de Saúde do
Trabalhador. Em trabalho de grande amplitude e de referência para a área Lacaz 64, de
forma bem concisa, registra tal prática sindical como paradoxal e contraditória.
Posteriormente, o autor 72, sumariamente, assinalaria que o problema - um nó político-
ideológico não desatado pelo sindicalismo - seria: a) a expressão da mudança de
orientação em relação à assumida, no final dos anos 1970, ao passar de uma posição de
confronto com o capital para uma ação que implique certa conciliação ou uma
cooperação conflitiva, (p. 125) conceito utilizado por Rodrigues 69 para identificar o
padrão de ação sindical a partir dos anos 1990; b) o resultado das transformações da
formação sócio-cultural e dos hábitos de consumo das novas gerações de trabalhadores
como, por exemplo: os da indústria automobilística; c) da falta de vínculos mais
profundos dos sindicatos no interior das empresas, a incipiente organização nos locais
de trabalho.
39
No entanto, podemos apontar que não seria a falta de organização dos
trabalhadores nos locais de trabalho um indicativo relevante para explicar a prática
sindical por melhorias em planos e seguros de saúde, ainda mais se consideramos o
exemplo citado - os trabalhadores da indústria automobilística - onde, há mais de duas
décadas, estes trabalhadores detentores de um elevado nível de organização no interior
das empresas têm esta demanda incorporada em sua ação sindical.
Andreazzi 73,74, ao discutir as relações entre oferta, demanda e necessidade em
saúde sob a perspectiva marxista da reprodução social, nos informa que, para invocar a
mudança de hábitos de consumo de serviços de saúde, se for este o caso, das novas
gerações de trabalhadores como explicação da política sindical em relação à atenção
médica a saúde do trabalhador, seria necessário analisar as distintas conjunturas das
últimas décadas, tendo a compreensão de que há que existir uma oferta que se aproveite
das representações indistintas dos trabalhadores sobre suas necessidades de saúde para
criar necessidades sociais de consumos, hábitos, segundo os interesses dos ofertantes.
Mas não somente. É preciso forjar a ação em direção a tal consumo, o que envolve
processos coletivos em que as distintas classes e frações de classes sociais envolvidas,
com os seus interesses materiais concretos e suas ideologias, disputam a consciência dos
trabalhadores. O sindicalismo configura e expressa uma das formas dessa luta de
classes.
Vimos que Costa 12 condiciona a ação sindical por atenção à saúde pelas
escolhas e preferências individuais dos trabalhadores. Mas tanto ele assim como Vianna 13, no que se refere à seguridade social no Brasil, privilegiam as articulações das
organizações de interesses dos trabalhadores com os arranjos institucionais e as
estruturas de decisão (acordos, mecanismos de concertação) do Estado. Nesta
perspectiva, conceitualmente apoiada na abordagem institucionalista, o Estado é
considerado um ator, despojado das formas de dominação fundadas nas relações sociais
de produção, diante do qual o sindicalismo, um outro ator, se apresentaria para
participar na formulação da política pública de saúde (entre outras). A evolução
institucional do Estado e a organização sindical dos trabalhadores não são consideradas
em relação à totalidade e a especificidade da estrutura social capitalista no Brasil em seu
desenvolvimento histórico concreto, mas referidos a produção das políticas sociais, no
limite, comparadas a modelos de proteção social e de cidadania próprio do Welfare
40
State 75. Com base neste referencial, identificaram o processo de expansão do mercado
de planos de saúde no país como decorrente das demandas sociais dos trabalhadores e
de seus sindicatos que emergiram das negociações coletivas nos anos 1980.
1.3 - Demandas sindicais por bem-estar na relação com a empresa e o
Estado
Tanto a formulação apoiada nos valores ou na cultura de diferenciação entre os
trabalhadores, quanto a que considera a impossibilidade das organizações sindicais
sustentarem políticas solidárias amplas apóiam-se, entre outras, numa evidência
empírica. A partir dos anos 1980, se expandiu a pauta de reivindicações dos
trabalhadores por serviços sociais e de bem-estar em negociação coletiva direta entre
sindicato e empresa. Este fato foi entendido e invocado para afirmar que, já naquele
momento, o movimento sindical – em relação à configuração da seguridade social,
inclusive o sistema de saúde – deslocara o lugar do Estado na definição de direitos
sociais e voltara-se para o local de trabalho e a empresa como espaço central para as
conquistas sociais.
No entanto, a existência de tal pauta reivindicativa junto às empresas não
necessariamente se configura um pleito sindical exclusivista do coletivo de
trabalhadores diretamente interessado, capaz de representar seu afastamento das
demandas dirigidas ao Estado. Isto depende da situação concreta e da conjuntura em que
tais lutas se processam. Ao longo dos nos anos 1980, o sindicalismo assumiu uma ação
voltada para a aglutinação de forças numa mesma categoria profissional ou entre
categorias distintas, valendo-se da mobilização para chegar à negociação 46. Diversas
categorias de trabalhadores obtiveram conquistas sociais junto ao empresariado através
de mobilizações, greves e negociações coletivas. As cláusulas conquistadas por uma
categoria passavam a integrar a pauta geral de reivindicações do movimento sindical e
algumas delas chegaram a ser estendidas a categorias de menor poder organizativo.
Posteriormente, a luta dos trabalhadores assegurou a consagração de grande parte delas
na Constituição Federal de 1988 e/ou na Legislação como direito de todos
trabalhadores, como é o caso da estabilidade para o trabalhador acidentado. As
demandas por bem-estar às empresas, naquele momento, parecem ter contribuído para
41
ampliar a pressão junto ao Estado no sentido de consagrar determinadas conquistas no
rol de direitos sociais.
Já nos anos 1990, o quadro é outro e a tendência tem se dirigido em sentido
contrário. As negociações coletivas têm se caracterizado por sua natureza particularista
e descentralizada, reforçada pela iniciativa do governo federal em introduzir temas cuja
negociação restringe-se ao âmbito das empresas, como a participação nos lucros e
resultados e sobre flexibilização da jornada de trabalho, processo que se intensifica a
partir da segunda metade da década de 1990. Em relação à ação sindical em saúde do
trabalhador, passou a predominar uma estratégia atrelada à pauta dirigida pelo aparelho
de Estado, restringindo seu olhar a.. [negociações de] doenças específicas e a risco de
acidente também muito particulares 64 (p. 386).
O estímulo à ampliação dos benefícios está orientado por preocupações mais
institucionais e para as virtudes do Contrato Coletivo de Trabalho, em negociações cada
vez mais particularistas. Parcela considerável dos sindicatos da CUT assumiram a
diversidade entre setores e empresas como critério determinante para a negociação 66.
Manifesta-se, assim, um corporativismo não mais por referência ao Estado, mas um
certo insulamento de grupo em torno de si mesmo, priorizando suas demandas salariais
e sociais em negociação direta, setorial ou com a empresa, isolando-se ou se
contrapondo não a um suposto interesse geral da sociedade, mas à luta reivindicativa e
política mais ampla em torno de uma plataforma comum dos trabalhadores 24.
Em 1989, a pesquisa realizada pela firma de consultoria Montigny / Woerner
junto ao segmento empresarial, citada por Mendes 15, indicou que a pressão sindical
advinda de reivindicação dos trabalhadores não possuía peso importante entre o rol de
motivos apontados para justificar a adesão das empresas ao setor supletivo de saúde 76,XXIX. As principais razões figuravam no âmbito dos objetivos da política empresarial
relacionadas às formas de controle sobre a reprodução da força de trabalho diretamente
ocupada 32 e as novas modalidades de sua utilização e gestão, na conjuntura aberta a
partir dos anos 1980.
XXIX Checchia 76, ao analisar as Convenções Coletivas de três categorias de trabalhadores no Estado de São Paulo, em três distintos momentos históricos - estudou uma convenção coletiva de cada um dos sindicatos nas décadas de 1970, 1980 e 1990 - indica que a assistência médica hospitalar estaria mais relacionada a necessidades das empresas impostas pelo mercado de trabalho ou por necessidades gerenciais internas do que por reivindicações sindicais. O beneficio da assistência médica é um dos mais comum concedido pelas grandes e médias empresas (p. 38). No país, o gasto do beneficio representa, para 70% das empresas que o concedem, mais de 5% da folha de pagamento (p. 39-40).
42
Fernandes 77 recusara a relação de causalidade entre as demandas sindicais por
serviços sociais, entre elas a de atenção médico-hospitalar e a expansão da oferta destes
serviços pelas empresas empregadoras. Este movimento somente se generalizou,
enquanto uma forma particular de proteção social, por meio da política estatal que,
respondendo às necessidades de determinados segmentos do empresariado, naturaliza-o
e incorpora-o ao sistema de proteção social vigente.
As determinações do processo de expansão do mercado de planos e seguros de
saúde nos remetem ao convênio-empresa, anos 1960 e 1970, com financiamento
público, via seguro social, apoiado no interesse do empresariado em assegurar a
produtividade do trabalho, num momento de intensificação da industrialização no país
com grande impacto sobre a saúde dos trabalhadores. Na década de 1980, prossegue a
expansão do sistema supletivo de saúde caracterizado, agora, segundo Médici 78 por
formas autônomas de financiamento da assistência médica em relação ao setor público -
apesar de mantido mecanismo de renúncia fiscal aos usuários e empresas que contratam
planos de saúde - apoiado na entrada do capital financeiro 34.
Processo este que caminharia relacionado às transformações econômicas e
produtivas, sociais e políticas num período de ascensão das lutas dos trabalhadores,
inclusive, a luta pelo direito á saúde. O setor empresarial reforçaria a associação entre
bem-estar dos trabalhadores e a idéia de competitividade. Conforme documento do
Instituto Herbert Levy - IHL de 1993, citado por Vianna 13 , o papel da empresa deve
ser o de agente da transformação global, de dar respostas rápidas ao mercado e
incorporar algumas funções que eram dever do Estado, tais como a Saúde e a Educação
do seu corpo de funcionários, como partes integrantes e imprescindíveis ao processo de
Educação para a Competitividade Empresarial.
Neste sentido, segundo Fernandes 77 , a negociação sindical se inclui como um
dos aspectos a serem considerado pelas grandes corporações industriais, financeiras e de
serviços. Estas introduziram novas tecnologias e processos de gestão flexíveis com
novos requisitos em termos de habilidades e valores para a força de trabalho. Em
particular, se constituiria um núcleo de novos operários e trabalhadores diretamente
contratados que, conforme Alves 79 , apesar de sua redução numérica tendeu, nos anos
1990, a aumentar o seu tempo médio de permanência nas empresas, executando, com
maior intensidade uma grande quantidade de operações. O que deve reforçar as relações
43
de complementaridade das empresas com o segmento de planos e seguros de saúde,
visto as preocupações com a recomposição e preservação da força de trabalho ativa, a
redução do absenteísmo, a fixação do trabalhador no processo de trabalho 11 e as
funções político-ideológicas de identificação do trabalhador com a empresa 34.
O novo complexo de reestruturação produtiva recrudesceu a superexploração da
força de trabalho, característica estrutural do capitalismo no Brasil 42,79. Este quadro
pode ter acentuado a enorme diferenciação quanto ao acesso e aos padrões de qualidade
dos serviços médico-hospitalares fornecido pelas empresas aos trabalhadores, seja de
forma direta e/ou através do setor supletivo, aspecto já apontado pelos estudos na Saúde
Coletiva do final dos anos 1970, anteriormente mencionados 11,31,32,34 .
Nesta direção, Santos 17 apresentou um panorama da extensa diversidade em que
os serviços de saúde nas grandes empresas e na sua rede de contratadas são prestados
e/ou financiados com ou sem co-participação dos próprios trabalhadores. Diferenciação
que pode ser definida pela categoria profissional (qualificação, hierarquia funcional) ou
pelo contrato de trabalho (vínculo direto, terceirizado, estagiário). O beneficio do plano
de saúde pode ser restrito aos funcionários da empresa ou, até, extensivo a esposas,
dependentes e agregados. A rede credenciada pode ser composta desde os
estabelecimentos considerados "top" de linha até o campo oposto. Da mesma forma que
o padrão e a amplitude da cobertura do plano de saúde e sua gama de serviços pode
variar de bem ampla até residual 17,76 .
Em outro trabalho, Santos 80 nos indica que a realidade do dia-a-dia dos
trabalhadores do mercado formal onde a insalubridade, a periculosidade e o tempo
limite de afastamento para adoecidos ou acidentados determina um constante
questionamento do estado de saúde do trabalhador e coloca em xeque a idealização de
que os trabalhadores sejam uma elite do país por... terem, na maior parte, plano ou
seguro privado de assistência à saúde 80 (p. 32). Além disso, em grande parte, são os
próprios trabalhadores que arcam, total ou parcialmente, com seus custos.
Como vimos, as demandas sindicais dos trabalhadores, inclusive por assistência
à saúde, apresentadas ao empresariado nas negociações coletivas assumiram qualidades
distintas nas diferentes conjunturas históricas. Apesar de constarem nos acordos
coletivos, a forte expansão da oferta de atenção médica supletiva não pode ser atribuída
à pressão sindical dos trabalhadores.
44
Uma outra questão levantada em relação à assistência à saúde do trabalhador se
refere à desigualdade no acesso e na qualidade dos serviços de saúde no próprio setor
supletivo e entre os que adquirem um plano de saúde em decorrência do trabalho 81,XXX.
Ainda pouco estudado, se considerarmos que este setor não estaria isento das clivagens
de classes sociais no país que pode estar sendo recrudescida pela repercussão do
processo de reestruturação produtiva no sistema de saúde brasileiro. Este quadro nos
conduziria a recusar a oposição reducionista entre usuários do sistema supletivo de
saúde versus usuários do SUS, o que torna ainda mais complexa as análises sobre a
participação sindical na luta pela atenção à saúde dos trabalhadores 82,XXXI.
1.4 - O SUS e os planos privados de saúde nas resoluções da CUT em
tempos de política neoliberal
Uma certa simplificação das contradições sociais ganhou amplitude no campo
político-ideológico, a partir dos anos 1990, com a implementação das políticas
econômicas e sociais restritivas de cunho neoliberal, no momento de implantação do
SUS. Segundo Andreazzi 74, adquiriu relevo - sob o discurso da universalização e da
eqüidade nos termos do Banco Mundial - a argumentação de que a utilização do sistema
público de saúde pelas categorias de maior renda tira o lugar dos mais pobres (p. 218).
Neste sentido, a documento Gasto Social do Governo Central: 2001 e 2002,
elaborado pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda 83 apontou
como principal problema das políticas sociais no Brasil o privilégio concedido pelo
atual sistema... a grupos de renda mais alta... A possibilidade de ampliação dos
recursos destinados aos brasileiros mais pobres e de fornecer uma verdadeira rede de
XXX Conforme estudo do Núcleo de Investigação em Serviços e Sistemas de Saúde de São Paulo 81 , a rede SUS tem tempo de espera maior para atendimento quando comparada à rede dos planos, mas, entre os beneficiários de planos, os de baixa renda esperam por atendimento, mais que o dobro do tempo dos de maior renda (p. 213-214). E mais: A análise da PCV mostrou que existe desigualdade no acesso e na utilização dos serviços de saúde entre os possuidores de planos privados, segundo os quintis de renda. Tal fato pode ser explicado pela estratificação existente entre os planos de distintos valores: aqueles cuja mensalidade é mais alta oferecem ‘comodidades’ de nível superior, menor tempo de espera 81 (p. 234). XXXI Mesmo porque, ressalvadas algumas experiências dos PSTs e CRSTs, com participação sindical, inexistem garantias de que o setor público de saúde, de forma generalizada, incorpore a dimensão do processo de trabalho na determinação do processo saúde-doença dos trabalhadores. Conforme apontado por Stotz 82 para o setor público atuar sobre essa dimensão seria necessário pensar tanto a desmercantilização dos serviços de atenção à saúde como retirar a saúde das leis do mercado (p. 51).
45
proteção social, capaz de amparar a população mais vulnerável... depende... de
reformas estruturais que reduzam os privilégios... 83 (p. 3)
Este aspecto tem constituído um dos pontos centrais no discurso neoliberal que,
segundo Boito Jr.24,84, alcançou uma hegemonia regressiva. Para o autor, a despeito de
cortes de direitos sociais e trabalhistas promovido pelas políticas neoliberais, as classes
dominantes obtiveram uma hegemonia, ainda que de modo superficial, instável,
precária, e com impacto desigual sobre os diferentes setores dos trabalhadores.
Hegemonia, portanto, conquistada sem concessões econômicas e, ao contrário, retirando
e restringindo direitos das classes dominadas. Neste sentido, seu caráter regressivo XXXII.
Para a caracterização deste fenômeno torna-se necessário à compreensão de que
o modelo de desenvolvimento do populismo e o que se seguiu, o período
desenvolvimentista durante a ditadura militar, geraram no Brasil contradições no
interior das classes trabalhadoras da cidade e do campo, e não apenas entre ambas, no
que se refere ao acesso restrito e segmentado aos direitos sociais. Estas contradições, ao
longo do tempo, suscitaram nos trabalhadores preteridos pelos direitos sociais uma
revolta difusa, vocalizada na cena política pela ideologia neoliberal e negligenciada pelo
sindicalismo 24,XXXIII.
XXXII Uma observação importante: Boito Jr. retira a noção de hegemonia de Antonio Gramsci, contudo com uma distinção e incorporando um elemento novo. Vejamos: Há alguns textos densos e breves de formulação conceitual de Gramsci sobre a hegemonia, reunidos principalmente na coletânea Maquiavel, a Política e o Estado Moderno, nos quais o conceito parece preso a uma problemática culturalista e historicista. O “grupo” hegemônico é aquele que logra difundir seus valores e idéias para o conjunto da sociedade, obtendo, desse modo, um “consenso” e transformando-se em “grupo dirigente”.(...) A visão de hegemonia que nos interessa mais é aquela que aparece nos textos de análise histórica de Gramsci, como aqueles reunidos no conhecido volume sobre o “risorgimento”. Nesses textos, a luta de idéias está estritamente vinculada às relações e à luta de classes numa sociedade e num período histórico determinado. A hegemonia solda alianças, demarca campos e isola ou neutraliza as forças intermediárias ou potencialmente inimigas. Não há espaço para a idéia de consenso... Numa palavra, a luta pela hegemonia é um aspecto da luta de classes num período determinado... Gramsci mantém, contudo, a idéia da classe ascendente como o pano de fundo da hegemonia. Com exceção desse último ponto... porque... o neoliberalismo pode ter implantado sua hegemonia a despeito de informar uma política que deteriora, em vez de elevar, o padrão de vida das grandes massas populares. Para caracterizarmos essa situação estamos utilizando a noção de hegemonia regressiva, uma hegemonia sem concessões econômicas aos grupos dominados e, por isso mesmo, uma hegemonia superficial, instável e precária. 84 (p. 10-11, grifos do autor) XXXIII As contradições no interior da classe trabalhadora e nas camadas populares podem ser consideradas por meio do que Mao Tse Tung 44 chamou de contradições no seio do povo. Estas contradições entre os diversos segmentos da classe trabalhadora foram e continuam sendo exploradas pelas classes dominantes. Por exemplo: tem-se atribuído a condição de privilegiados aos trabalhadores usuários de planos e seguros privados de saúde em contraposição aos usuários SUS. A ação sindical não tem se preocupado o suficiente com esta questão, inclusive, em vários momentos tem até propiciado um terreno mais favorável ao discurso neoliberal. Apesar, de sua natureza não-antagônica, a contradição entre os diferentes
46
Mas, no caso do direito à saúde, é importante notar que a acomodação no SUS
das camadas sociais de menor renda e sem inserção no mercado de trabalho formal,
aventada pela tese da universalização excludente, tem encontrado enorme dificuldade
para se efetivar concretamente. São estes segmentos que encontram as maiores
dificuldades em relação aos serviços públicos de saúde 59. Além disso, a insegurança
tem sido um fator desencadeador de proteção à saúde através do setor suplementar entre
indivíduos das camadas populares, inclusive o retorno daqueles que possuíram planos
de saúde em decorrência do trabalho 85,86,XXXIV.
Quando questionados, sindicalistas da CUT têm argumentado que, apesar de
serem contrários, são obrigados a encaminhar a reivindicação por planos de saúde em
suas categorias 17. No entanto, esta questão não pode ser simplificada. Ela pode revelar
a complexidade que a defesa da atenção à saúde do trabalhador no SUS representa na
presente conjuntura. Por um lado, a simples adesão (passiva) sindical à forma de
intermediação do consumo de serviços de saúde, representada pelos trabalhadores por
meio dos convênios e planos de saúde, pode manifestar um tipo de pragmatismo,
aprofundando mais ainda o fosso existente com os demais segmentos da classe
trabalhadora usuária exclusiva do SUS. Por outro lado, uma simples recusa pode
subestimar as dificuldades de acesso e qualidade no SUS e o avanço ideológico
alcançado pelo sistema supletivo junto aos trabalhadores. Não se converteria, portanto,
em diretriz capaz de realizar uma aproximação com os segmentos de trabalhadores já
contemplados, mesmo que parcialmente, pela cobertura dos planos de saúde, com
objetivo de integrá-los na defesa da melhoria do SUS.
Além disso, as ações em relação à demanda por assistência à saúde dos
trabalhadores no SUS e/ou no sistema supletivo não devem ser consideradas
separadamente da conjuntura histórica e das demais políticas sindicais nela
desenvolvida. Neste sentido, é importante considerar que o movimento sindical foi
atingido de frente pela situação econômico-social / implantação da política neoliberal
que não poupou nem mesmo os setores de melhor organização dos trabalhadores
(metalúrgicos do ABC, bancários e petroleiros e servidores públicos). Os trabalhadores
segmentos da classe trabalhadora na luta pela assistência a saúde pode em determinadas condições históricas, e se não tratada devidamente, converter-se em uma contradição antagônica.. XXXIV Oliveira, ao estudar o Convênio-empresa, apontou o aspecto da segurança também em relação aos planos coletivos ...no que se refere a garantias, o convênio neste contexto representa uma forma de segurança, uma preocupação a menos 85 (p. 83).
47
não se colocaram passivos e empreenderam resistências diferenciadas, como a greve dos
petroleiros de 1995, as ocupações dos trabalhadores rurais sem terra e a constituição de
movimentos sociais e de trabalhadores vitimados por acidentes e doenças do trabalho
atuando, inclusive internacionalmente, como redes em contraposição aos grupos
hegemônicos 87,88.
Todavia, a trajetória da CUT tem sido marcada por contradições e ambigüidades
em relação às políticas neoliberais. Ao mesmo tempo que promovia manifestações
contrárias à privatização das empresas estatais e à flexibilização dos direitos
trabalhistas, assimilaria, em parte, propostas restritivas dos direitos dos trabalhadores,
como no caso da reforma da previdência social e dos acordos para implantação de banco
de horas, além da, já citada, característica corporativista das negociações coletivas pelos
principais sindicatos da base da central 89. A CUT atuaria, crescentemente, não apenas
propondo políticas públicas, mas também passou a executar serviços sociais preteridos
pelo Estado (educação e qualificação profissional), e tem estimulado a formação de
Cooperativas habitacionais, de Cooperativas de fundo de pensão complementares 71.
No que se refere às políticas públicas de saúde e educação, o 5º Concut 90,
realizado de 19 a 22 de maio de 1994, registrara como uma política contraditória da
Central na luta pelos direitos sociais (p. 41) a prática dos sindicatos de sua base serem
obrigados a encaminhar no dia-a-dia acordos para seguro-saúde, planos de assistência
médica e escolas privadas (p. 41). Ao mesmo tempo, o 5º Concut afirmaria a
necessidade de lutar pela garantia dos direitos sociais junto ao poder público como
condição para que sejam viabilizados para o conjunto dos trabalhadores, desde os
representados pelos sindicatos mais organizados até os menos organizados, assim
como para os trabalhadores da economia informal, os rurais e aqueles sem qualquer
representação... não se fechando no corporativismo nem no economicismo 90 (p. 41-42).
No 6ª Concut 71, realizado em agosto de 1997, chegou-se a firmar o compromisso de
rever a tendência histórica dos sindicatos optarem por convênios médicos privados em
processos negociais. Além do que, reconhecemos as limitações dos convênios e seguros
saúde, particularmente nas ações de prevenção e intervenção no ambiente de trabalho
(p. 82).
Contudo, tanto na 9ª e 10ª Plenária Nacional 91,92, assim como, no 7º e 8º
Congresso Nacional da CUT 93,94, posteriores a 1997, nenhum balanço foi apresentado a
48
respeito do compromisso em rever a prática sindical em prol dos convênios médicos,
nem sequer constariam mais das resoluções da CUT as referências acerca da política
contraditória na luta pelos direitos sociais 90 (p. 41). Reitera-se, de forma genérica, o
apoio ao SUS e aos princípios de universalização, eqüidade, integralidade,
descentralização e controle social.
No 8ª Concut 94, realizado em 2003, a formulação continuar o debate junto ao
governo federal sobre a Rede Nacional de Saúde do Trabalhador no SUS (p. 39) revela
uma certa indefinição da Central acerca da atenção à saúde do trabalhador no SUS. Até
então, a CUT 71,91,95 sustentava a defesa da existência na rede pública de saúde dos
CRST e PSTs para o atendimento voltado aos trabalhadores como forma de fortalecer o
SUS, inclusive como um elemento questionador e como alternativas as Medicinas de
Grupo 95 (p. 7).
Já em relação à discussão no Fórum de Saúde Suplementar da ANS, realizado
também em 2003, a CUT por meio de seu representante na ANS, propôs que se discuta
o atendimento dos acidentados de trabalho, hoje excluídos do sistema 96 (p. 1).
Demanda por atendimento ao trabalhador acidentado pelo setor supletivo, sem ser
mencionado as restrições aos convênios e seguros-saúde anteriormente assinaladas 71,
além do seu caráter político-ideológico de controladora e recolocadora imediata do
trabalhador na produção/serviço 95 (p. 7).
As resoluções dos Seminários, Congressos e Plenárias Nacionais da CUT,
realizados a partir dos anos 1990, manifestam as oscilações na posição assumida pela
central. Vimos que, em sentido mais amplo, a política da CUT incorporou a execução
de projetos sociais, justificada pela possibilidade de organizar os segmentos de
trabalhadores desempregados e precarizados. Segundo Zarpelon 97, este sindicalismo
executor, caso sobrevalorizado, apontaria para um aumento das ações de assistência
social em detrimento da mobilização e da luta por direitos. Para os segmentos de
trabalhadores qualificados e de melhor organização sindical que, há muito, encontram-
se incorporados aos convênios médicos e planos de saúde das empresas, não foram
encontradas políticas ou experiência concreta no sentido de mobilizá-los, mesmo que
timidamente, em favor do SUS. Ao contrário, nos últimos anos amplia-se iniciativas,
não em direção ao SUS, mas ao setor suplementar 96,98.
49
1.5 - Considerações finais
Como foi apresentado, existem elementos suficientes para não considerar
satisfatórias as interpretações presentes na Saúde Coletiva, discutidas no inicio deste
artigo, acerca da política sindical relativa à configuração da assistência à saúde dos
trabalhadores no SUS e no sistema supletivo de saúde. Alguns destes estudos tem
responsabilizado, em diferentes graus e níveis, importantes segmentos de trabalhadores
e suas organizações sindicais pela expansão da medicina suplementar e pela resistência
ao SUS 12,13. Ao discutir esta afirmação, consideramos que estes trabalhos não se
ocuparam e, por isto, não analisaram os pesos relativos que a ação sindical atribuiu a
cada um dos aspectos, SUS e planos e seguros privados de saúde, com respeito à
singularidade histórica dos distintos momentos da conjuntura brasileira. Além disso,
não consideraram a prática sindical em defesa da assistência à saúde do trabalhador
inserida de forma mais ampla no conjunto das atividades e lutas políticas e sociais dos
trabalhadores e de suas organizações sindicais.
Neste sentido, na década de 1980, a despeito da existência de demandas
múltiplas frente à assistência à saúde dos trabalhadores predominou uma ação sindical
mais ativa na defesa do sistema público de saúde. Naquele contexto, a demanda por
melhoria do plano privado de saúde negociada com as empresas assumia uma dimensão
mais reativa. No entanto, a partir do inicio da década de 1990, a posição da Central
Única dos Trabalhadores frente às políticas neoliberais tem sido marcada por
contradições e ambigüidades em relação aos direitos sociais e, nos últimos anos, de
ampliação dos vínculos ideológicos com os planos de saúde e a previdência
complementar.
A existência de referenciais distintos presentes nas resoluções políticas da CUT,
poderia ser uma maneira de acomodar as correntes políticas que a compõem. Além
disso, é preciso notar que os sindicatos filiados a CUT possuem uma grande autonomia
frente à direção da Central, o que faz com que muitos sindicatos não sigam as diretrizes
aprovadas. Assim, a caracterização apontada, apesar de impor limites, não impossibilita
que se desenvolvam intervenções e ações que contem com a participação dos
trabalhadores e de suas organizações sindicais na perspectiva da Saúde do Trabalhador.
50
Levantamos uma diversidade de aspectos e considerações que necessitam de
maior aprofundamento. Entre os quais, perceber que a desigualdade entre as classes na
estrutura social brasileira que se manifesta no sistema de saúde recusa a oposição
reducionista entre usuários do sistema supletivo de saúde versus usuários do SUS. Neste
sentido, apesar do quadro sindical atual, expresso pelas posições e práticas da CUT,
seria um equívoco recusar a possibilidade política dos trabalhadores de diferentes
segmentos produtivos e suas organizações sindicais converterem-se em agentes ativos
na defesa da melhoria e expansão do sistema público de saúde.
Uma abordagem desta temática deveria ser inserida num esforço em retomar e
incorporar os estudos sobre a reprodução social e a saúde, recuperando os aportes
realizados pela Saúde Coletiva no final dos anos 1970. Porém, retornar não significa
dizer que se deva estar no mesmo ponto que antes. Como diz a letra da música Samba
do Amor de Paulinho da Viola voltar quase sempre é partir para um outro lugar.
51
Capitulo II
A CUT e a relação público-privado na assistência à saúde
Foi possível até aqui avançar na discussão do problema de nossa pesquisa e
apresentar os limites das análises sobre o tema. Também mostrar que a coexistência da
ação sindical pela assistência à saúde no SUS e nos planos privados de saúde deve ser
pensada mais amplamente: tanto em relação à estrutura social e as políticas em curso no
país, quanto para não restringir a análise em apenas alguns espaços de intervenção
sindical, a saber: a normalização da política social pelo Estado e suas instâncias, e às
negociações coletivas, por mais que ambas tenham sua importância e devam ser
consideradas.
Uma das questões a levantar, para responder ao que foi colocado inicialmente,
seria investigar o próprio discurso sindical acerca dos sentidos que atribui aos dois
aspectos referidos na assistência à saúde, SUS e planos e seguros privados de saúde.
Desconfia-se que se encontra no próprio discurso sindical, a orientação em torno da qual
a prática sindical possa variar. Assim, a seguir será exposto como o discurso sindical, no
âmbito das instâncias maiores da CUT, tem orientado os sindicalistas acerca da relação
público-privado na assistência à saúde, compreendendo o SUS e os planos privados de
saúde.
2.1 – Sistema Único de Saúde
A CUT, em 1991, entendia que ...lutar pelo SUS aprovado na Constituição é...
efetivamente... um projeto de política de saúde que expressa o conjunto dos interesses
do movimento sindical e popular... uma real democratização da ‘coisa pública’..., não
cai na medicalização dos problemas de saúde,... combatendo explicitamente a medicina
do capital e propondo um efetivo controle sobre o produtor privado de serviços de
saúde 99 (p. 9) XXXV. Na prática, o SUS, segundo a CUT, procura superar os problemas
herdados dos governos militares: dispondo-se a combater a privatização do Estado;
recuperando a capacidade de investimento do setor público em seus serviços;
XXXV No entendimento da CUT, medicina do capital seria: A organização de serviços de saúde específicos para os trabalhadores dos setores de ponta da economia, a medicina de grupo, com estreito relacionamento com as empresas mais importantes do setor industrial e de serviços, esta forma representou a constituição de uma “verdadeira medicina do capital” 99 (p. 2).
52
descentralizando o planejamento e a execução das ações, apontando para a
municipalização da saúde através de um processo intensamente democrático que
combata o clientelismo político; é declaradamente aberto a participação dos
trabalhadores organizados nas suas instâncias decisórias; busca a universalidade e a
igualdade no interior de suas ações.
A formulação da CUT sugere a aceitação do SUS estabelecido na Constituição
como horizonte a ser alcançado, ou seja, como projeto de saúde. Mas uma aceitação
amparada por uma avaliação que, de um lado, atenua ou oculta seus limites e, por outro,
superdimensiona seu alcance. Atenua os limites porque ...tanto a Constituição de 1988
quanto a Lei 8.080 não conseguem incluir dispositivos reguladores do setor privado...
produtores de insumos,... do subsistema de atenção médica supletiva e... do subsistema
de alta tecnologia 15 (p. 48). Superdimensiona o alcance do SUS quando lhe concede
atributos de, por si mesmo, enfrentar (e explicitamente) a medicina do capital e a
privatização do Estado. E isto sendo enunciado no momento em que já iniciara uma
nova conjuntura, o desenvolvimento das políticas neoliberais.
Feita esta ponderação, é importante reter que a compreensão da CUT, ou melhor,
seu projeto de política de saúde era lutar pelo SUS aprovado na Constituição de 1988,
lutar para pô-lo em prática, lutar por sua implementação.
As preocupações com a assistência à saúde, a partir dos anos 1990, estão
voltadas, preferencialmente, para apresentar propostas que viabilizem o setor público de
saúde, o SUS estatal – no âmbito do que seria a aplicação da estratégia
participacionista 24 do sindicalismo da CUT para a saúde. As referências ao setor
privado e suas relações com o setor público aparecem, fundamentalmente, nas críticas
dirigidas aos prestadores privados de serviços de saúde – clínicas e hospitais – e o peso
relativo que possuem no SUS. Quase que esporadicamente, se menciona os planos e
seguros privados de saúde, a medicina do capital, de forma geral para denunciar a
exclusão do atendimento a determinadas patologias, propor o fim da renúncia fiscal e o
ressarcimento do SUS, o que veremos com mais detalhes em outro ponto mais adiante.
A defesa da SUS era apresentada como uma das lutas prioritárias... devem
armar a CUT para uma ação mais ofensiva... uma luta que unifica o conjunto dos
trabalhadores da cidade e do campo... desenvolver, nos próximos anos, um embate
político com diversos setores que controlam e determinam as ações e os serviços de
53
saúde 90 (p. 96). E quais setores, no entender da CUT, controlam e determinam as ações
e os serviços de saúde? Contra quais setores se pretende travar um embate político na
saúde?
A assistência pública à saúde, na avaliação da CUT, estaria enfraquecida pela
falta ou má utilização de recursos financeiros e por gerenciamento irregular e
descomprometido 100 (p. 5). Entendia que a verba pública tem que ser investida nos
serviços públicos, estatizando-se o setor privado necessário para o bom funcionamento
do SUS 101 (p. 3) e não utilizada para financiar clínicas e hospitais particulares,
enriquecendo os que lucram com as doenças da população 100 (p. 5). Tal como na
década de 1980, a crítica continua centrada contra o setor privado prestador de serviços
(lucrativo ou filantrópico) contratado ou conveniado ao SUS, mas agora com uma
distinção: a idéia de um sistema único estatal de saúde, a estatização imediata 62, XXXVI,
então apoiada pela CUT, cedeu lugar à estatização apenas do setor privado necessário
para o bom funcionamento do SUS.. 101. O que aproxima a CUT da tese estatização
progressiva 102,XXXVII, aprovada na VIII Conferência Nacional de Saúde, além de
incorporar a idéia de que o setor privado deve ser complementar 103 (p. 2). É importante
uma precisão. Mais do que estatizar o setor privado necessário, o que passou a ser
enfatizado pela CUT é a necessidade da verba pública... ser investida nos serviços
públicos 101 (p. 3) e servir para alavancar o setor público e não para financiar o setor
privado 90 (p. 96 sic). Esse é o sentido dado para o avanço do SUS e seu combate à
privatização do Estado. Mas, o montante da verba pública também não propicia a
decolagem.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social - CNTSS,
uma das mais importantes entidades filiadas a CUT, congrega federações e sindicatos de
trabalhadores nos setores públicos da Saúde, do Trabalho e da Previdência Social. Em
novembro de 1998, a CNTSS/CUT publicou um Caderno Temático sobre o SUS. Seu
objetivo era o de oferecer dados e informações sobre os aspectos mais importantes e
relevantes do SUS, subsidiando a CNTSS/CUT para os debates e intervenções junto aos
XXXVI No 3º Concut 62, realizado em 1988, chegou-se a aprovar: ..a CUT desenvolverá uma campanha pela melhoria dos serviços públicos, incluindo a estatização imediata dos serviços básicos sob controle do capital privado, porque entendemos que esses serviços são um direito de todos e um elemento central para a melhoria das condições de vida da população trabalhadora. XXXVII Para Paim 102, esta expressão indica que a discussão era muito menos sobre a questão do público e muito mais na perspectiva de reforçar o Estado na gestão, na sua responsabilidade com a saúde das pessoas (p. 114).
54
movimentos (sic) sindical, sanitário e outros 104 (p. 4). O documento, no Capítulo sobre
Recursos Financeiros do SUS, inicia com críticas ao Relatório do Banco Mundial de
1993 XXXVIII que indicara, para países como o Brasil, países ‘em desenvolvimento’,
algumas diretrizes para a organização de uma política de saúde racionalizadora: A
análise do Banco Mundial, segundo a CNTSS/CUT, considerava que ...muitos
tratamentos médicos apresentavam tão pouca eficácia em termos de custos que os
governos não deveriam incluí-los no pacote clínico essencial, que os sistemas
sanitários administrados pelos governos são grandes demais, por conseguinte,
deveriam concentrar sua atenção para assegurar os serviços do pacote essencial e que
haja corte de novos investimentos em hospitais públicos terciários 104 (p. 33-34).
Para a CNTSS/CUT, a lógica racionalizadora, apregoada pelo Banco Mundial
e seguida pelos seus discípulos aqui no Brasil, é sutil ao agir sobre o imaginário da
população com o sedutor discurso da prioridade da atenção à saúde da população
pobre. Acena assim com um modelo tecno-assistencial cujo objetivo é o de garantir a
cesta básica da saúde, procedimentos básicos a toda a população, discriminando o
acesso (geralmente pelo poder econômico) a ações de maior complexidade. Seguindo
ainda a receita, vêm as propostas de contratar a gestão de equipamentos públicos de
saúde com ‘agências executivas’ e ‘organizações sociais’ 104 (p. 34)
É interessante perceber que, apesar da crítica, mais adiante, em um novo subitem
do mesmo Capítulo, o texto da CNTSS/CUT apresenta argumentos que corroboram
parte do diagnóstico apontado pelo Banco Mundial para países do porte do Brasil. Já no
título Recursos e Eficácia, o Contraditório do Brasil (p. 38) se anuncia muito mais
concordância com uma das principais avaliações do Banco Mundial sobre a saúde
pública no Brasil, sua pouca eficácia, do que a contestação, até então entoada.
Prosseguindo: para discutir a relação entre recursos e eficácia na assistência a saúde no
Brasil, a CNTSS/CUT explicitava que nem sempre os gastos com saúde significam
eficácia, ou seja, resultados satisfatórios na assistência (p. 38). E, em seguida,
apresentou uma tabela com dados de gastos per capita em saúde, indicadores de níveis
de saúde e de serviços de saúde do Brasil, Argentina, Colômbia, Chile, México, Uruguai
e Venezuela, para indicar que o Brasil era o segundo país do grupo, em relação ao
gasto per capta com saúde, no entanto, apresenta os piores resultados quando se trata XXXVIII Trata-se do Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 1993 – Investindo em Saúde. do Banco Mundial.
55
dos indicadores de saúde (p. 38 sic). Segundo a CNTSS/CUT, isto se explica pelo fato
de que prevalece ainda a lógica de um modelo tecno-assistencial com base no hospital
e no saber médico, embora o discurso oficial seja diferente (p. 39).
Assim, a CNTSS/CUT compreende que no Brasil prevalece um modelo tecno-
assistencial com base no hospital, embora o discurso oficial seja o de acenar com um
modelo cujo objetivo seja garantir a cesta básica da saúde a toda a população,
discriminando o acesso a ações de maior complexidade. Nestes termos, a crítica da
CNTSS/CUT volta-se para uma suposta contradição entre o discurso oficial que acena...
com um modelo... cujo objetivo é o de garantir a cesta básica da saúde... a toda a
população e a prática dos governos de manter ...um modelo... com base no hospital...
em que os gastos com saúde não significam eficácia. Este discurso oficial, diferente,
segundo a CNTSS/CUT, seria um artifício sutil e sedutor, já que na prática não alterou a
lógica da assistência à saúde com base no hospital. E isto fica claro, quando o
documento da CNTSS/CUT mais adiante aponta o problema da dependência do SUS do
setor privado prestador de serviço, em especial, de atenção ambulatorial e hospitalar,
que concentra os procedimentos de maior complexidade e, via de regra, de melhor
remuneração que os procedimentos básicos. Esses últimos, predominantemente,
executados diretamente pelo poder público. O chamado setor complementar de
assistência à saúde (privado, filantrópico e lucrativo, além do setor universitário,
público e privado) fatura a maioria dos recursos da assistência à saúde no Brasil.
Como assinalamos para a CUT, o foco principal do problema do SUS, na relação
público-privado, é centrado na polarização entre o setor público estatal x setor privado
prestador de serviços contratado ou conveniado ao SUS.
Assim, tanto a CNTSS/CUT, quanto o Banco Mundial e... seus discípulos aqui
no Brasil (...), principalmente, o Ministério da Saúde – nomeado pela CNTSS/CUT -,
apesar da diferença de tom, se assemelham quanto ao diagnóstico da pouca eficácia dos
gastos públicos com saúde no país e a necessidade de priorizar a atenção básica e
reverter o modelo assistencial com base no hospital. Mas, para a CNTSS/CUT trata-se,
apenas, de um discurso, sutil e sedutor, realizado pelos segundos – Banco Mundial e o
governo brasileiro, através do MS. Estes, na prática, estariam interessados em favorecer
a ampliação da prestação de serviços de saúde (de média e alta complexidade) do setor
privado contratado ou conveniado ao SUS.
56
A relação público-privado na assistência à saúde – segundo a CNTSS/CUT - é
centrada na polarização setor público estatal x setor privado prestador de serviços de
saúde contratado ou conveniado, tendo raras referências ao setor supletivo de saúde XXXIX . Isto apesar da CNTSS/CUT ter apontado que o Banco Mundial recomendara
para países de renda média como o Brasil: suspender gradualmente os subsídios
públicos para os setores mais abastados; ampliar a cobertura do seguro de saúde; dar
opções de seguro aos consumidores e estimular métodos de pagamento que permitam
controlar os custos. As propostas do BM vão na direção da contenção dos gastos do
setor público estatal e na ampliação do seguro privado de saúde.
2.1.1 - Financiamento do SUS
A questão do financiamento tem sido, ao longo dos anos de implantação do
SUS, um de seus pontos mais problemáticos. Ampliam-se as restrições ao gasto social
público, entre eles os gastos com assistência à saúde, e mais especialmente com a
atenção de média e alta complexidade. A política econômica e social neoliberal, iniciada
com Fernando Collor, em curso no país, é o principal condicionante das dificuldades de
financiamento, acesso e da perda de qualidade dos serviços públicos e do SUS. Estas
dificuldades são intensificadas e não iniciadas pela política neoliberal, o que lhe confere
nova dimensão e qualidade.
Em 2000, o Congresso Nacional aprovou a Emenda Constitucional n.º 29 – EC
29, em substituição ao Projeto de Emenda Constitucional n.º 169/1993 - PEC 169/1993 XL . A CUT 105,106 considerou esta medida como uma conquista, pois teria obtido a
vinculação de recursos das três esferas de governo (federal, estadual e municipal) para
o SUS 105 (p. 2). A conquista da EC 29 teria sido o resultado da luta de milhares de
conselheiros 105 (p. 2) em favor da PEC 169 e precisaria ser cumprida e
regulamentada... a fim de atender à demanda de recursos financeiros que viabilizem o
sistema 106 (p. 311). A CUT advertia que a medida poderia não se efetivar em razão de
XXXIX Uma dessas raras vezes ocorreu quando a CNTSS 104 apresentou as razões para a falta de leitos para internação no SUS. Um dos três motivos indicados seria o descredenciamento de hospitais do SUS, principalmente, os que se modernizaram, no último período, para adesão à modalidade de ‘atenção médica supletiva’ ou ‘medicina de grupo’ (p. 26). XL Tramitavam no Congresso Nacional, além da PEC 169/1993, outras propostas de PEC sobre o mesmo objeto que foram reunidas na Emenda Aglutinativa Substitutiva e resultaram na EC 29/2000.
57
variadas formas de desvio. A única forma de evitarmos isto será ampliarmos o controle
social sobre os gastos e fundos de saúde 105 (p. 2) XLI .
Nos primeiros anos da década de 1990, os representantes da CUT nos fóruns da
saúde reiteravam a proposta de se destinar para o financiamento da saúde pública algo
em torno de 8 a 10% do PIB. Sustentava-se o repasse para a saúde de no mínimo 30%
do orçamento da Seguridade Social, conforme previsto no Ato das disposições
transitórias da Constituição Federal de 1988, além do percentual de 10% (ou 13%) das
receitas dos orçamentos da União, dos Estados e dos Municípios XLII . Manifestava
apoio à aprovação da PEC 169/1993 apresentada pelos deputados federais Waldir Pires
e Eduardo Jorge cujo objetivo era prever recursos orçamentários da União, Estados e
Municípios para a manutenção do Sistema Único de Saúde - SUS. A CUT afirmava que
esse era o financiamento necessário para o SUS cumprir todas as suas obrigações.
A aprovação da EC 29 afastou o principio do financiamento solidário da
Seguridade Social e não definiu a obrigatoriedade do orçamento federal da saúde ser
alcançado com base num determinado percentual de sua receita, duas idéias então
contidas na PEC 169, apesar de estabelecer – no caso da União - seu crescimento a
variações do PIB. Para os Estados e Municípios, definiu percentual mínimo de suas
respectivas receitas fiscais para gastos em saúde XLIII. A EC 29 não alterou,
substancialmente, a lógica até então praticada. Estudos sobre o tema 107 demonstram que
esta medida apenas sancionou o comprometimento já realizado por grande parte dos
municípios e pelo governo federal, proporcionando uma pequena elevação da
XLI ....conquistamos a vinculação de recursos das três esferas de governo (federal, estadual e municipal) para o SUS, uma luta de milhares de conselheiros por cerca de cinco anos. Esta nova conquista poderá também se constituir em uma nova farsa, com variadas formas de desvio. A única forma de evitarmos isto será ampliarmos o controle social sobre os gastos e fundos de saúde, exercendo o verdadeiro caráter deliberativo e de controle sobre a execução que os conselhos possuem legalmente mas, com raras exceções, não são respeitados 105 (p. 2). E mais: Através do Projeto de Emenda Constitucional (PEC) 169 conquistamos a EC 29/00, que precisa ser cumprida e regulamentada urgentemente, incluindo aí as transferências fundo a fundo dos estados para os municípios, a fim de atender à demanda de recursos financeiros que viabilizem o sistema 106 (p. 311). XLII Na tese da CUT apresentada à 9ª Conferência Nacional de Saúde – CNS, constava para os orçamentos da União, Estados e Municípios o percentual “de pelo menos 13%” (p. 3), enquanto as Teses da Central à 10ª e à 11ª CNS assinalavam o percentual de 10% . XLIII A EC 29/2000 fixara, apenas, que o crescimento anual do gasto federal nas ações e serviços de saúde, para os anos de 2001 até 2004, seria alcançado pela aplicação da variação do PIB sobre o orçamento do ano imediatamente anterior. Crescimento que ocorreu sobre uma base inicial reduzida: o orçamento de 2000, esse alcançado pelo efetivamente gasto em ações e serviços de saúde pela União no ano de 1999 acrescido do percentual de 5% (cinco por cento) A EC 29 também definiu percentual mínimo a ser gasto em saúde para Estados e Municípios. Estes deveriam, de forma crescente ampliar os percentuais de suas respectivas receitas com saúde, até atingir, em 2004, respectivamente, os percentuais de 12% e 15% .
58
participação dos Estados. Mantinha-se a tendência da queda relativa da participação do
governo federal e de aumento dos Estados e Municípios no gasto público total em saúde 107,XLIV, sem alterar, substantivamente, a dimensão desse gasto. Além disso, e o mais
importante, o governo federal alcançava um de seus objetivos: a desvinculação ou
dissociação entre as contribuições sociais da seguridade e a saúde 108,109,XLV.
Interessante notar que a CUT, em agosto de 1999, antes da aprovação da EC 29,
acompanhava suas discussões: Já existe uma articulação/negociação dos partidos no
Congresso Nacional, que devemos acompanhar, para aprovação de financiamento
permanente para a saúde, mesmo que ainda não estejam nos moldes do que a PEC 169
original poderá proporcionar: um avanço na luta por recursos permanentes para a
saúde 91 (p. 91 sic). A formulação tática da CUT, assim como seu programa, diferia da
defendida nos anos 1980, em que não apenas falava em pressionar o governo, mas
pressionar, inclusive os partidos de oposição à esquerda. Nas resoluções do 3º Concut,
realizado em 1988, os sindicalistas eram orientados a juntamente com outras entidades
populares, devemos pressionar os partidos de oposição à esquerda do governo no
sentido... de uma plataforma política democrática e popular que apresente pontos como
estatização do sistema financeiro, reforma agrária ampla e sob controle dos
trabalhadores, democratização dos meios de comunicação, não-pagamento da dívida
externa, saúde e educação pública e gratuita, habitação e transporte a baixo custo 62
(p. 12).
Mais interessante ainda é perceber que o acompanhamento da
articulação/negociação política e institucional, que a CUT desenvolvia sobre a mesma
matéria, pouco tempo atrás, oferecera experiências que a central não julgou conveniente
considerar. No inicio de 1997, proclamado como Ano da Saúde, os políticos neoliberais
XLIV Conforme Marques e Mendes 107, para se ter uma idéia, no período 1980-1990 o governo federal contribuía com 77,7% dos recursos gastos em saúde pública e os municípios com 9,5%... Em 1994, esses percentuais já haviam se alterado para 60,7% e 17,2%. Essa tendência, de queda da participação do governo federal e de aumento da esfera local, se manteve, apesar das oscilações, até o ano 2000 (p. 404). XLV Marques e Mendes 108, em artigo na Gazeta Mercantil, alertavam para o fato das ...receitas da Cofins e da CSLL deixam de ser, por força da PEC, da Seguridade Social e podem ser usados pelo governo federal a seu bel-prazer. Estaria, assim, atingido o objetivo perseguido pelo governo federal, isto é, a completa desvinculação das contribuições sociais da Seguridade (p. A 3). No mesmo sentido Hesio Cordeiro 109 assinalou, conforme alerta Sulamis Dain (2001), a EC 29 será um duro golpe no que restou da seguridade, se a regulamentação confirmar a dissociação entre as contribuições sociais e a saúde. Pouco se tem dito que, como está, não há qualquer especificação de fontes... Na década de 1990, as contribuições sociais cresceram mais que o PIB. No quadro de incertezas que se apresenta para 2002, há risco de a situação de desfinanciamento voltar a comprometer os recursos do orçamento da saúde.
59
badalaram ter a pretensão de dobrar o gasto público per capita em saúde, anunciaram
concordar em vincular o gasto da saúde com a arrecadação e aderir com pequenas
variações a idéia da PEC 169 XLVI. Políticos da oposição, antecipadamente,
comemoraram a vitória, inclusive, o próprio autor da proposta, deputado Eduardo Jorge,
chegou a declarar que a área econômica do governo Fernando Henrique terminou
capitulando XLVII . No final de 1997, o governo Fernando Henrique Cardoso – com a
crise no sudeste da Ásia e ameaça da fuga de capitais especulativos do país - lançou um
pacote contendo 51 medidas com o objetivo de aumentar a arrecadação e cortar
despesas do Estado XLVIII .
Não se pode deixar de apontar que o tema assumiu um certo destaque também
em razão das pressões, atos e manifestações realizadas pela CUT e demais movimentos
de defesa do SUS e a favor do financiamento da saúde e da PEC 169. Mas, naquele
momento, a existência de determinado nível de mobilização nos remete à direção
assumida, pois estavam presentes múltiplas dimensões e interesses que pressionavam o
XLVI Daniela Falcão. FHC vincula gasto com saúde à arrecadação. Folha de São Paulo, 20 de março de 1997, editoria Cotidiano, p. 3; Daniela Falcão. FHC quer obrigar Estado a gastar mais. Folha de São Paulo, 21 de março de 1997, editoria Cotidiano, p. 1; Objetivo é dobrar investimento até 98. Folha de São Paulo, 21 de março de 1997, editoria Cotidiano, p. 3. Essa última matéria informava que o Governo pretende gastar em saúde R$ 191 por pessoa daqui a 2 anos; gasto total passaria de R$ 31 bi. XLVII Em entrevista concedida à Folha de São Paulo, publicada em 21 de março de 1997, o deputado Eduardo Jorge, perguntado se havia sido um avanço o governo apoiar uma emenda que implica aumento dos gastos federais com saúde, apesar da ressalva, irá declarar: Não estou querendo jogar confete porque o gasto público per capita de R$ 200 com saúde que o governo pretende atingir se a PEC for aprovada não é nada excepcional. Mas é um avanço. A área econômica viu que a nossa reivindicação era até modesta, se comparada aos gastos públicos de outros países, e terminou capitulando (p. 2). Segundo Eduardo Jorge, a resistência à PEC 169 (até aquele momento tramitando cerca de quatro anos) e suas diretrizes não era praticada pelas classes dominantes e seus representantes que implementam as políticas neoliberais, e sim pela área econômica ou pela dificuldade de qualquer economista, inclusive os de esquerda, para desvencilharem-se dos fundamentos teóricos ortodoxos. Perguntado pela Folha de São Paulo por que a equipe econômica fez tanta oposição à emenda, responderia o parlamentar: Porque, do ponto de vista teórico, é muito difícil para qualquer economista de direita, esquerda ou de centro aceitar a idéia de vincular o Orçamento. Mas a saúde está passando por um momento de crise excepcional, que justifica o apoio a essa alternativa não ortodoxa. Conforme 'Proposta de gastos é até modesta'. Folha de São Paulo, 21 de março de 1997, Editoria, Cotidiano, p. 2. XLVIII O governo anunciou ontem um pacote de 51 medidas que... vão proporcionar um ganho fiscal de R$ 18,57 bilhões. ...após o crash global... elas incluem um adicional de 10% sobre o Imposto de Renda devido pelas pessoas físicas, aumento no preço dos combustíveis, reajuste de tarifas públicas e elevação do IPI sobre carros e bebidas... O governo promete reduzir gastos com a manutenção da máquina administrativa, cortar investimentos e suspender o reajuste salarial do funcionalismo no ano que vem.... O presidente Fernando Henrique Cardoso disse que a classe média pagará ''um certo preço''... O diretor-gerente do FMI, Michel Camdessus, disse que ficou comprovada a determinação do governo de salvaguardar as conquistas do Real. Ver: Pacote tenta salvar Real. Folha de São Paulo, 11 de novembro de 1997. O pacote editado pelo governo federal foi uma prova da preocupação..., para mostrar ao mercado internacional que o governo busca o controle dos gastos públicos, conforme Governo não consegue equilibrar contas..Folha de São Paulo, 20 de dezembro de 1997.
60
governo a tomar iniciativa para tratar do financiamento da saúde, e chegar até a EC 29,
preservando os fundamentos da política neoliberal, por mais que doutrinariamente lhe
fosse contrária.
Poderia citar entre estas múltiplas dimensões: a possível não renovação da
CPMF; a pressão de prefeitos e parlamentares por garantias para assumir determinados
programas do governo federal na área da saúde, o interesse do governo federal em fazer
diminuir a sua participação relativa nos gastos com saúde e ampliar a de estados e
municípios; a prioridade para o andamento das privatizações e, neste sentido, assegurar
votações no Congresso (quebra do monopólio do petróleo, privatização da Vale do Rio
Doce), pois, à época, os governos neoliberais diziam que a privatização das empresas
estatais traria recursos para as áreas sociais. Buscava-se isolar os setores mais
combativos do movimento sindical e popular, acenando e atraindo parcela do
movimento e a oposição parlamentar para a mesa de negociações e, conseqüentemente,
desviar as iniciativas voltadas para as mobilizações.
A concorrência e as contradições secundárias e não antagônicas entre
representantes / frações das classes dominantes parece ter envolvido os dirigentes
sindicais da CUT XLIX . Se a correlação de forças, naquele momento, não possibilitou
alcançar um avanço maior, isto não autorizava a CUT a apresentar tal medida como
uma conquista, da vinculação de recursos das três esferas de governo para o SUS e
deixar de alertar para suas limitações: a não vinculação de parcela das contribuições
sociais para Saúde, a ampliação crescente de superávit primário L . Tampouco deslocar
o foco do problema para combater as variadas formas de desvio ou, muito menos, ao XLIX O editorial da Folha de São Paulo, de 03 de maio de 1998, pode ser elucidativo acerca dos contornos que a questão assumiu. Dizia o editorial: O ministro José Serra vem defendendo alguma forma de vinculação de uma parcela do Orçamento às despesas com a saúde... Não é nova a idéia... teve o apoio do próprio Serra, e vinha sendo defendida basicamente pela esquerda, embora até o governo federal a tenha incluído em seu plano de metas para a saúde, em 1997 (...) vinculações como a do "fundão" da educação obrigam União, Estados e municípios a assumir as respectivas responsabilidades e promovem a distribuição mais equitativa (sic) das verbas. Parece, portanto, razoável, por ora pelo menos, criar algum mecanismo legal para garantir o financiamento da saúde... no entanto... uma lei de vinculação deveria prever a revisão das parcelas do Orçamento destinadas ao setor, dentro de um certo prazo... vinculadas ao cumprimento de metas, como as de redução de custos... No momento, a via constitucional parece o caminho mais fácil para garantir a vinculação... uma emenda do deputado Eduardo Jorge (PT)... a qual o ministro Serra pretende aproveitar, com reformulações. Seria mais desejável, porém, elaborar mecanismos legais mais flexíveis para garantir os recursos necessários para a saúde. Editorial. O Dinheiro da Saúde. Folha de São Paulo, 03 de maio de 1998, Opinião, p. 2. L A CUT, cinco anos antes, na Tese à X Conferência Nacional de Saúde 103, proclamava assegurar que as verbas arrecadadas para a Seguridade Social não sejam desviadas para outros fins. Agora, anuncia como “conquista” uma medida que legitimava a desobrigação da aplicação das receitas da Seguridade Social com a saúde.
61
cobrar o cumprimento e regulamentação da EC 29/00, proclamar que ela iria atender à
demanda de recursos financeiros que viabilizem o sistema 107 (p. 311).
2.1.2 - Captação alternativa de recursos financeiros
Ao acentuar, drasticamente, a restrição do gasto social público, a política
neoliberal tem impelido os gestores de serviços públicos de saúde a constituir Fundação
Privada para captação de recursos (seja por projetos, parcerias com a iniciativa privada),
venda de serviços diretos, como exames de laboratórios e privatização de parte dos
leitos hospitalares (dupla porta), transformar os Hospitais estatais em Organizações
Sociais, terceirização de serviços de saúde, precarização das relações de trabalho. Os
embates em torno desta questão contaram com a participação da CUT, em especial os
sindicatos de servidores públicos da seguridade social vinculados à CNTSS/CUT, o que
tornou um empecilho real à implantação mais intensa das políticas neoliberais na área
da saúde 110.
Contudo, estas questões também provocaram outros efeitos. Em 1996, na tese
apresentada à 10ª Conferência Nacional de Saúde 103, a CUT pretendendo se contrapor a
estas medidas, reforçou a idéia da necessidade do SUS contar com outras fontes de
financiamento. No item central de sua tese, Questões atuais do SUS sobre os quais a 10ª
Conferência deve deliberar, apresenta um subitem sobre captação alternativa de
recursos financeiros para além do contido na PEC 169. A totalidade destas propostas
está incorporada nas Resoluções da X Conferência Nacional de Saúde 111, além de uma
quantidade extensa de outras medidas, especificamente no Capítulo Financiamento da
Saúde, subitem Novas Fontes de Recursos para a Saúde 111 . Não é um mero detalhe
notar que, crescentemente, a linguagem utilizada pela CUT para apresentar suas
propostas se assemelha àquela adotada pelos documentos e resoluções dos fóruns
institucionais de saúde aqui aludidos.
Não julgo necessário comentar uma a uma as propostas para captação
alternativa de recursos financeiros LI, e sim apenas tecer alguns comentários sobre dois
LI Além das propostas que iremos comentar, a CUT manifestou apoio a outras medidas alternativas de financiamento para o SUS: aumento da arrecadação através do aumento na fiscalização e punição aos sonegadores; repassar ao SUS os recursos provenientes do Seguro Acidente do Trabalho para o desenvolvimento de programas de saúde do trabalhador; acelerar a aprovação da lei que propõe o imposto sobre grandes fortunas; assegurar que as verbas arrecadadas para a Seguridade Social não sejam
62
itens: o ressarcimento ao SUS (pois este item aparece com maior freqüência nos
documentos e intervenções da CUT) e a proposta de extinção da dedução de despesas
médicas particulares do cálculo no imposto de renda. O que nos interessa não é
necessariamente discutir o conteúdo de cada proposta, mas apontar que seu
aparecimento, naquele contexto, abria espaço para reforçar a idéia de fontes de
financiamento alternativas para o SUS em substituição à vinculação das receitas,
principalmente, da União para Saúde e, assim, desviar o foco do problema: a política
neoliberal que restringia e diminuía de forma relativa ou absoluta os gastos sociais a fim
de ampliar a remuneração do capital financeiro que, a partir de 1997, iniciava a
tendência para obtenção, de forma crescente, do superávit primário.
2.1.2.1 -Ressarcimento ao SUS
O ressarcimento ao SUS consta da legislação dos planos de saúde aprovada pelo
Congresso Nacional, em 1998 LII. Como informa Scatema 112, esta temática não é
recente, já em 1975, a norma do extinto Instituto Nacional de Previdência Social –
INPS, previa a cobrança à empresa de medicina de grupo pelo atendimento a pacientes
vinculado ao convênio empresa, sem que, à época, fosse viabilizada sua cobrança. A
autora 112 acrescenta que tiveram igual resultado as tentativas, nesta mesma direção,
empreendidas por alguns Estados e Municípios, no final dos anos 1980 e início dos
1990. Em 1997, Fernando Henrique Cardoso compareceu à reunião do Conselho
Nacional de Saúde 113 e defendeu a instituição do ressarcimento ao SUS como fonte de
recursos mais estável para a saúde, afirmando que ...é preciso buscar outros
mecanismos; é preciso levar adiante um projeto que já mandei para o Congresso,
relativo ao ressarcimento que os seguros de saúde têm que fazer ao SUS, porque isso é
importante, é preciso que, aí sim, se faça pressão junto ao Congresso para aprovação
desse mecanismo (linhas 196-199).
A CUT ao apontar a alternativa do ressarcimento ao SUS – juntamente com
gestores públicos da saúde e intelectuais da reforma sanitária – cultivou uma certa
expectativa em uma fonte adicional de recursos para o sistema público de saúde que não
desviadas para outros fins. Conforme: Tese da CUT à 10ª Conferência Nacional de Saúde, p. 4-5; Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social / CUT. A Defesa da Saúde em Nossas Mãos: a CUT na luta pela vida; e InformaCUT n.º 262. Saúde: preocupação central, p. 39. LII A Lei 9.656 de 1998, em seu art. 32, instituiu o ressarcimento ao SUS.
63
foi efetivada. A ANS, até a presente data, não conseguiu concretizar a cobrança,
agravada pela contestação judicial das operadoras de planos de saúde ao ressarcimento
ao SUS 114,115. Em maio de 2003, o valor total cobrado pela ANS às operadoras a título
de ressarcimento foi de R$ 219,883 milhões e o valor pago foi de apenas R$ 44,743
milhões 114. Diante destes dados, mesmo se todos os valores cobrados pela ANS fossem
pagos, o peso relativo dos recursos provenientes do “ressarcimento” no financiamento
público da saúde seria ainda muito pequeno.
2.1.2.2 - Extinção da dedução de despesas médicas no imposto de renda
No que diz respeito ao fim da dedução de despesas médicas particulares do
cálculo no imposto de renda, apoiada pela CUT, é importante chamar atenção de que
esta idéia também integra o discurso neoliberal sobre as políticas sociais no Brasil. O
documento Gasto Social do Governo Central: 2001 e 2002, da Secretaria de Política
Econômica do Ministério da Fazenda – SPE/MF 83, mencionado anteriormente, critica a
prática da renúncia fiscal associada à política de saúde resultante das despesas com
serviços privados de saúde, ai incluídos os pagamentos com os planos e seguro de
saúde, do cálculo do imposto de renda das pessoas físicas e jurídicas. Em relação às
pessoas físicas recorrem a renúncia fiscal com despesas de saúde um vasto contingente
de trabalhadores de renda média baixa, que realizam pagamentos com planos e demais
tipos de gastos privados em saúde.
É importante salientar que existem diversas modalidades de renúncia fiscal
associada à política de saúde não referida pelo documento do Ministério da Fazenda,
nem mencionada pela CUT LIII, como financiamento indireto à assistência privada, da
qual se beneficiam empresas do mercado supletivo de saúde, a cuja informação, na
verdade, se tem muito pouco acesso e sua magnitude é difícil se prever. Por outro lado,
Scheffer e Bahia 116 fornecem dados de 2004 e 2005, disponibilizados pela Receita
Federal, dos gastos tributários com a saúde, lançados no Imposto de Renda de Pessoas
LIII Propomos ainda, a revisão do desconto em imposto de renda de atendimento médico em saúde. Não é correto “distribuir”, entre todos, as despesas com consultas particulares ou gastos pessoais em saúde. Exigir o funcionamento adequado do SUS é o caminho correto para superar essas questões.. Conforme: Textos Remetidos à 9º Plenária da CUT, aprovado pelo 6ª Concut 71, realizado de 13 a 17 de agosto de 1997.
64
Físicas – iRPF e do Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas – IRPJ onde podemos
perceber que o montante do gastos no IRPF foi cerca de quatro vezes o declarado pelo
IRPJ. As empresas escapam dos tributos por diversos mecanismos, o chamado
planejamento tributário 116. Se estendermos para o conjunto de atividades relativas ao
complexo da saúde 117, se ampliará a dimensão das modalidades de renúncia fiscal
associadas à política de saúde que, em especial o Ministério da Fazenda, não traz ao
debate.
Estariam os arautos das políticas neoliberais interessados em acabar com a
renúncia fiscal proveniente dos gastos privados com assistência à saúde das pessoas
físicas e jurídicas? Podemos assegurar que seus propósitos seriam destinar os recursos
daí provenientes ao SUS, ou a outros serviços sociais? Não temos nenhum elemento que
nos leve a pensar que isto se efetivaria. As indicações apontam em sentido contrário. As
políticas neoliberais têm contido o gasto social público sob o argumento de empreender
uma maior eficiência e eficácia na aplicação da verba pública, de que é possível fazer
mais com o mesmo e até com menos recursos, em afirmar que recursos existem e o
problema estaria em sua má aplicação e gestão, em justificar a focalização das ações
sociais e das ações e serviços de saúde. Não apenas os argumentos, mas as medidas se
concentram na limitação dos recursos destinados ao sistema público de proteção social.
Mantidos os fundamentos da política econômica e social neoliberal e sem alteração na
correlação de forças sociais de oposição a tal política, nenhuma garantia de que os
recursos, por ventura, oriundos de um suposto cancelamento da renúncia fiscal com
gastos privados de assistência à saúde, seriam direcionados à ampliação e melhoria do
SUS e demais serviços públicos. Um exemplo foi a criação da CPMF: sob os
argumentos de viabilizar os serviços públicos de saúde, a CPMF terminou sendo,
inicialmente, usada pelo governo federal para diminuir a participação da Cofins e da
CSLL no financiamento à saúde, que entre 1996 e 1999, caiu de 40,5% para 26,8% e de
21,1% para 12,9%, respectivamente 108. Posteriormente, parcela da arrecadação da
CPMF compõe os recursos da Desvinculação das Receitas da União 108, em geral
destinada à obtenção de superávit primário, recursos destinados ao pagamento de juros
da dívida, LIV .
LIV Conforme Marques e Mendes 108, a Contribuição Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira – CPMF, aprovada pelas Emendas Constitucionais nº 21/99, nº 31/00 e nº 37/02, teve sua receita vinculada e distribuída da seguinte forma:
65
Apesar de passar a integrar seu discurso, os governos neoliberais não têm
priorizado a extinção da renúncia fiscal de pessoas físicas e jurídicas relativas às
despesas privadas com assistência médico-hospitalar e odontológica como medida para
ampliar a arrecadação tributária.
Por outro lado, também não se registrou nenhuma ação concreta da CUT junto a
suas bases neste sentido. A nosso ver, com inteira razão, a central e, em especial o
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, têm chamado atenção para a excessiva mordida do
leão nos rendimentos dos assalariados, decorrentes da contenção no reajustamento da
tabela do Imposto de Renda Retido na Fonte das Pessoas Físicas. A CUT lançou
campanha com atos, manifestações e marchas defendendo o reajuste da tabela do
imposto de renda.
Entre o total de titulares de planos de saúde, a participação relativa dos que
possuem rendimento até 10 (dez) salários mínimos é bastante expressiva 81 e, dentre
estes, os que obtêm o plano de saúde através do trabalho (assalariados médios,
operariado qualificado e de classe média baixa) 73. Possivelmente, sobre esses recairia o
maior peso caso – no atual contexto - fosse adotado a extinção da isenção fiscal com
gastos privados da saúde. Acentuaria a tendência de ampliação sobre seu orçamento do
peso relativo dos gastos privado com assistência à saúde, o que pode ser inferido pelo
crescimento deste item no orçamento das famílias apontado pelo IBGE, através da
Pesquisa de Orçamentos Familiares - POF 2002-2003 118 , em especial, os gastos com os
planos e seguros privados para as famílias de renda intermediaria e baixa 119 .
A defesa de tal proposta, possivelmente, contribuiria mais para afastar do que
para atrair estes trabalhadores na luta pela defesa dos serviços públicos de saúde, pois
sobre estes é lançado o estigma de privilegiados, além de recair sobre seus ombros a
responsabilidade por parcela do financiamento que se anuncia destinar ao SUS. O que
tem se verificado de forma recorrente no discurso neoliberal e produzido efeito negativo
para a unidade dos trabalhadores na defesa dos serviços sociais públicos.
Assim, o sindicalismo tem aplicado o método propositivo para as políticas de
saúde. Suas propostas, alternativas, para o financiamento do SUS desviaram o embate
21,1% ao Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza; 42,1% às ações do Ministério da Saúde; 21,0% ao pagamento de benefícios da previdência; e 15,8% de livre programação, aplicação da Desvinculação das Receitas da União – DRU.
66
central e indicam uma possibilidade para, em determinada conjuntura, serem, mesmo
que temporariamente, assimiladas pelo discurso das classes dominantes.
2.1.3 - Gestão e controle social sobre os gastos e fundos de saúde
Além das propostas alternativas de recursos para o SUS, a CUT passou a
enfatizar de forma crescente a preocupação com o controle e a gestão dos recursos. Já
fizemos referência às diversas propostas da CUT que se voltam para a definição da
melhoria do controle social sobre os gastos e fundos de saúde, para evitar a má
utilização de recursos financeiros, o gerenciamento irregular e descomprometido,
variadas formas de desvios com os recursos da saúde. Ressaltavam-se as proposições
relacionadas ao controle sobre o repasse de verbas, o controle dos serviços prestados
pelo setor privado conveniado, o controle sobre a execução dos recursos do SUS, o
combate à corrupção. Este tema assumiu, crescentemente, ao longo do período, uma
grande importância e uma predominância no discurso e atuação da CUT em relação à
política de saúde.
Se analisarmos a tese da CUT apresentada à XI Conferência Nacional de Saúde,
realizada em 2001, rapidamente se constata a dimensão concedida à gestão e ao controle
social na saúde, com destaque para a gestão e o controle social sobre o fundo público da
saúde. Para nós da CUT, a questão central para esta Conferência Nacional de Saúde é,
sem dúvida, o debate e a definição de ações capazes de viabilizar um efetivo controle
social na saúde associado às lutas por uma adequada política de financiamento estável
e por uma política de recursos humanos que viabilize um atendimento de qualidade 105
(p. 3). No que respeito à luta por uma adequada política de financiamento, já
mencionamos as referências feitas pela CUT nesta tese em relação à conquista da EC
29. Nada mais além da advertência de que esta medida poderia não ser efetivada face às
variadas formas de desvios praticadas pelos governos. Esta tese destinou um parágrafo
para os recursos humanos para o SUS. Defendia a melhoria da remuneração e das
condições de trabalho, a profissionalização, capacitação dos trabalhadores e seu
comprometimento com os princípios do SUS. Afirmava ser fundamental a efetiva
implantação nos três níveis de governo das Mesas de Negociação do SUS com
participação dos gestores, prestadores e trabalhadores da saúde.
67
E, em seguida, o que ocupou a atenção da CUT, sua questão central –
consumindo mais da metade do documento – foi apresentar propostas sobre o controle
social, assinalando que estas foram aprovadas pela IX Plenária Nacional de Conselhos
de Saúde. São elas, resumidamente: a) Todos os repasses de verbas devem ser
informados aos Conselhos de Saúde para que os conselheiros controlem e acompanhem
sua execução, assim como todos os Fundos de Saúde; b) Obrigatoriedade de notificar os
Conselhos de Saúde da realização de todas as compras, reformas e outros investimentos
no âmbito do SUS; c) Cumprimento da lei que obriga a apresentação de relatórios
trimestrais pela direção do SUS em cada nível de governo. Aplicação de penalidades
para os gestores que não cumprirem com essa disposição LV .
Toda uma série de medidas dirigidas a disciplinar a gestão, a modernizá-la. A
gestão e o controle social sobre o fundo público da saúde tem na descentralização um de
seus eixos. O executivo federal transferia os encargos dos serviços de saúde para
estados e municípios, ao mesmo tempo, reduzia sua participação relativa no
financiamento e ampliava seu poder de interferência e decisão sobre a definição da
política de saúde e a atenção à saúde nos municípios e estados. Estudos 107,120 indicam
que essa tendência torna a participação da comunidade um princípio cada vez mais
enfraquecido, esquecido em nome da eficiência do gasto em saúde.
Não é necessário discutir, nem se levanta objeções quanto ao mérito em si de
cada proposta apresentada pela CUT. Aliás, para nós, o mérito de cada formulação
somente pode ser considerado se observado a totalidade do discurso e a situação
concreta em que ocorre. Enquanto ação setorial, a participação social – mesmo que
ampliada - na gestão e controle sobre os fundos públicos da saúde é limitada à atuação
sobre fundos e políticas de saúde previamente determinada pelas políticas neoliberais.
Como assinalamos antes, a CUT, ao mesmo tempo, proclamava que os recursos
financeiros aprovados pela EC 29 viabilizariam o sistema de saúde, somente ameaçado
pelas variadas formas de desvios, desvios estes que seriam combatidos pela ampliação
do controle social sobre os gastos e fundos de saúde.
LV Prossegue a Tese da CUT à XI CNS: d) Estender para todos os municípios do país a capacitação dos Conselheiros de Saúde; e) Os gestores do SUS em todos os níveis devem ampliar as estratégias de consulta aos usuários; f) Autonomia política para os Conselhos de Saúde em relação ao poder executivo; g) Normalizar a dispensa de ponto para todo trabalhador com representação no Conselho de Saúde; h) Realizar um levantamento nacional sobre todos os Conselhos de Saúde
68
Nos termos e na conjuntura que estão colocados, além do peso relativo
conferido, o discurso da CUT concilia e colabora para legitimar o discurso
governamental que alude a democratização do Estado ou a capilaridade entre o Estado
e a sociedade 113 (linha 159), cujo propósito é deslocar o embate das questões que
envolvem o financiamento público para os serviços sociais e à saúde, visto mais
amplamente LVI . Com variações que não são desprezíveis, mas que gravitam em torno
de um mesmo eixo, o que a CUT reforça é um aperfeiçoamento, mais ou menos radical,
da gestão e da aplicação do fundo público da saúde. Aperfeiçoamento que espera
mitigar para parcelas da população e dos trabalhadores alguns efeitos da política
neoliberal já que não a questiona mais amplamente.
2..2 – Planos e seguro privado de saúde
Como foi apresentado no capítulo anterior, a CUT chegou a reconhecer a
coexistência, em sua prática, de uma política contraditória na luta pelos direitos sociais,
mas não se registrou iniciativas no sentido de empreender uma avaliação mais
consistente sobre o problema. Nos fóruns e instâncias superiores de decisão coletiva da
CUT, as questões que tratam dos planos e seguros privados de saúde, sua relação com o
SUS, das negociações coletivas que implicam a oferta de convênios médicos nas
diversas categorias de trabalhadores, a definição de estratégias de ação perante os
empregadores (contratantes dos planos coletivos), perante as operadoras e o Estado,
raramente aparecem ou são mencionadas, muito menos analisadas mais detidamente.
Isto apesar – como citamos – do compromisso firmado em rever a tendência dos
sindicatos optarem por convênios médicos sob pena de se fecharem em uma prática
corporativista.
Como vimos, o peso das discussões nas instâncias superiores do sindicalismo
está voltado para formular propostas que viabilizem o SUS, centrando na polarização do LVI Fernando Henrique Cardoso, em fevereiro de 1997, no Conselho Nacional de Saúde 113 defendera: É preciso que haja uma destinação mais adequada desses recursos... Ou se cria um sistema com capilaridade, ou nós vamos, aqui, estiolar em discussões que vão ser sempre as mesmas, mais verbas no Orçamento. E essa verba não vai chegar a quem precisa, e sabe Deus por que descaminhos passarão essas verbas... (linhas 113-116). Prosseguindo: (...) Na direção da compreensão mais clara do tamanho do desafio, e que nós não possamos, nós não diminuamos o nosso desafio, simplesmente numa gritaria sobre verbas, a qual vai existir. É necessário também que exista, mas não resolve as questões da saúde. Esse processo de reorganização do Estado e de fazer com que haja maior capilaridade entre o Estado e a sociedade é que é a questão central; também na área da saúde. (linhas 154-159)
69
setor público estatal x setor privado prestador de serviços de saúde contratado ou
conveniado. São poucas as referências ao setor supletivo de saúde, fato injustificado
quando se percebe que a assistência médico-hospitalar intermediada pelo financiamento
dos planos e seguro privado de saúde é item permanente da pauta negociada pelos
principais sindicatos da base da central, além de não estar desarticulada da política
econômica e social (e não apenas da política de saúde) que produzem efeitos sobre o
SUS. Apesar disso, as formulações da CUT de que se dispõe nos fornecem boas
indicações sobre sua política e ação sindical para assistência médica intermediada pelo
setor supletivo.
O debate acerca das ações dos serviços de saúde não redutíveis à assistência
médica, apesar de não ser original, era indicado, no início dos anos 1990, como um
ponto importante para reflexão pelo movimento sindical. As considerações eram de que
o trabalhador, na questão da saúde, não se porta diferentemente do resto da população,
formada como consumidora de atos médicos. Entendia a oferta de cuidados médicos e
exames de laboratórios realizados pela maior parte dos serviços privados de saúde como
formadora dos trabalhadores como qualquer consumidor de outro produto. Abaixo
transcrevo um trecho do texto 99, de 1991 (de que já fiz referência em itens anteriores),
mesmo que um tanto extenso, ele pode acrescer informações relevantes para identificar
as orientações políticas sindicais.
Como boa parte das experiências dos trabalhadores com os serviços públicos de saúde não são muito agradáveis... e como a maior parte dos serviços de saúde privados funcionam como uma “loja comercial”, os trabalhadores são formados como qualquer consumidor de produtos... são oferecidos cuidados médicos, exames de laboratórios, etc.... dentro de um sistema onde a vida do trabalhador é o que menos interessa. Porém, este “condicionamento” social age como cultura, e a maior parte dos trabalhadores troca a defesa efetiva de sua vida pelo fácil consumo de ações médicas, achando que isto vai lhe dar saúde. Os pelegos exploram muito bem esta situação, através de suas posturas assistencialistas no interior do aparelho sindical, e não transformam a defesa da saúde do trabalhador em uma das plataformas de lutas mais radicais que o movimento sindical pode ter. Pois, a defesa da vida do trabalhador é necessariamente parte de um processo de luta que combata a exploração capitalista que está instalada no interior do processo produtivo brasileiro. Necessariamente, esta luta tem que conquistar não só a cidadania para o trabalhador no interior da sociedade, mas essencialmente no interior das fábricas 99 (p. 5).
70
No capítulo anterior chamamos a atenção para o fato do processo de produção-
consumo de serviços privados de saúde envolver a mediação da representação dos
trabalhadores sobre suas necessidades de saúde para criar necessidades sociais de
consumos, hábitos segundo os interesses dos produtores e ofertantes. E indicamos que
essa mediação ocorre em torno do embate das distintas classes e frações de classes, seus
interesses materiais e suas ideologias, para disputar a consciência dos trabalhadores e
das demais classes exploradas. Uma ressalva importante. O texto acima refere que
trabalhadores são formados como qualquer consumidor de produtos... são oferecidos
cuidados médicos 99 (p. 5). No entanto, isto não é o mesmo que consumir planos e
seguro privado de saúde, já que estes intermedeiam o financiamento da prestação de
serviços privados de saúde. E por que este detalhe é importante? Não basta para as
classes dominadas e seus dirigentes, por mais que isto não seja desprezível,
reconhecerem a exploração, que ela é capitalista, que vivemos num sistema onde a vida
do trabalhador é o que menos interessa..., não basta também – por mais que isto seja
ainda mais importante – apontar para ...um processo de luta que combata a exploração
capitalista.... É necessário bem mais. É preciso saber, reconhecer contra quem se deve
combater.
Pois, prosseguindo e retomando, isto envolve processos coletivos de luta entre as
distintas classes e frações de classes sociais, seus interesses materiais concretos e suas
ideologias, sendo o sindicalismo uma expressão política das formas dessa luta de
classes. Identificar corretamente os inimigos, seus métodos, práticas, formas de lutas,
discursos, ideologias... Como se viu, a CUT (e não apenas a CUT) elegera os
prestadores privados de serviços de saúde contratados do SUS como alvo. Os planos e
seguro privado de saúde, o seguro saúde, o capital financeiro na saúde passava
praticamente incólume no discurso da CUT.
E o sindicalismo cutista não deixou de reconhecer a necessidade da luta.
Necessariamente, esta luta tem que conquistar não só a cidadania para o trabalhador
no interior da sociedade, mas essencialmente no interior das fábricas 99 (p. 5). A luta
dos trabalhadores deve conquistar a cidadania na sociedade e a cidadania no interior da
fabrica. São, portanto, duas diretrizes fundamentais que estão presentes em sentido mais
amplo na prática sindical e são enunciadas ao se discutir a estratégia referente à relação
saúde e trabalho 90, 95,99.
71
A primeira, a conquista da cidadania no interior da fábrica LVII , ou melhor, a
conquista da cidadania no local de trabalho, a democratização das relações de trabalho
seria alcançada pela luta sindical voltada para conquistar o direito à livre organização no
local de trabalho, para estabelecer a negociação direta e permanente entre as partes
sobre as condições de trabalho e saúde no local de trabalho LVIII . Não nos propomos
nesta dissertação discutir as instâncias da base dos trabalhadores na luta sindical e os
diversos aspectos em torno da organização no local de trabalho - OLT LIX, mais adiante,
no próximo capítulo, trataremos do Contrato Coletivo de Trabalho.
Quanto à segunda diretriz, a cidadania na sociedade, ela seria – no que tange a
saúde – alcançada pela ação institucional dirigida à defesa do SUS, a participação na
luta pela recuperação e organização dos serviços públicos de saúde, com a inclusão da
Saúde do Trabalhador (com base no PST e no CRST) no SUS.
Vamos então discutir o que na concepção sindical da CUT se entende pela
conquista da cidadania na sociedade, a ação institucional dirigida à defesa do SUS. Em
parte já foi apresentado no inicio deste capítulo. Mas agora cabe discutir as posições
sindicais frente aos planos e seguro privados de saúde; em especial, as relações dos
planos com o PST e CRST; a integração destes no SUS e na Saúde Pública e a respeito
da regulação estatal do sistema suplementar de saúde.
LVII Ao invés do termo no interior das fábricas, vamos utilizar o termo local de trabalho e, portanto, a expressão organização no local de trabalho - OLT, pois, além de identificar o sentido contido no texto, a luta pela cidadania no interior das fábricas, a OLT é o termo mais usualmente trabalhado pela CUT. A organização no local de trabalho pode assumir diversas formas: Comissão de Fábrica, Comitê Sindical de Empresa - CSE, Comissão de Saúde, Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA autônoma, Sistema de Representação Sindical - SUR. LVIII Para a CUT 95, a organização dos trabalhadores no local de trabalho é o principal instrumento modificador das condições penosas, insalubres e perigosas nos locais de trabalho (...) A construção da O.L.T. deve ser o centro de nossa ação em Saúde, Trabalho e Meio Ambiente.. LIX Esta questão é bastante cara à luta sindical e à saúde do trabalhador, ela envolve diversas dimensões que nós não teríamos condições de tratar, como por exemplo, sua relação com as mudanças das formas de gestão e controle sobre a força de trabalho, a institucionalização das contradições e do conflito no interior das empresas, o deslocamento das negociações coletivas para a instância da empresa, a relação da OLT com a perspectiva de alteração na legislação e adoção do pluralismo sindical. Em relação a este último aspecto, Luiz Marinho, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em entrevista à Folha de São Paulo, comentando a decisão do Congresso dos Metalúrgicos do ABC de criar o que foi denominado Comitês Sindicais de Empresa – CSE argumenta que: nós não queremos controlar as greves. A intenção é preparar o sindicato para enfrentar o momento da pluralidade sindical. Se você não tiver enraizamento na base, você não estará preparado para enfrentar um processo de pluralismo nem para participar de forma adequada do processo de reestruturação das empresas. Para os trabalhadores discutirem as condições de trabalho com consciência, mas sem perder a responsabilidade com a qualidade do produto, ele precisam aumentar sua participação. E se o trabalhador precisa participar, é necessário criar canais de participação. É uma necessidade para as relações entre empresas e trabalhadores a existência de representação sindical em cada local de trabalho (p. 6) (Sergio Lírio. Greve será último recurso, diz Marinho. Folha de São Paulo, 01 de junho de 1997, Editoria: Dinheiro, p. 6.).
72
No mesmo sentido da diretriz apresentada, em 1991, pelo documento 99 que
citamos anteriormente, o Seminário de Saúde, Trabalho e Meio Ambiente 95, realizado
em agosto de 1994, em seu Relatório apresenta no subitem Saúde do Trabalhador na
Rede Pública, algumas indicações do que poderia ser uma orientação aos sindicatos
para se avançar em relação à atenção à saúde do trabalhador no SUS.
A experiência dos Programas de Saúde do Trabalhador (PST), e Centro de Referências, surgidos em 1984, deverão ser intensificados. É um elemento importante na discussão mais geral também de Saúde Pública. Os P.S.T ou C.R.S.T., com gerenciamento sindical e participação dos trabalhadores através da O.L.T. é um instrumento importante para conhecimento do estado de saúde dos trabalhadores e interferir concretamente nos locais geradores de acidentes e doenças do trabalho. Os P.S.T. ou C.R.S.T. através dos seus Conselhos Gestores devem ser um elemento questionador e funcionar como alternativa às Medicinas de Grupo, apesar de todos os trabalhadores organizados estarem submetidos a estes tipos de convênios. Portanto, a exigência de P.S.T. ou C.R.S.T., também deve nos remeter à discussão das Políticas Gerais de Saúde Pública, pois é bom recordar que as Medicinas de Grupo com seu caráter político-ideológico de controladora e recolocadora imediata do trabalhador na produção/serviços, nos atendem enquanto estamos sadios e nos excluem quando adoentados permanentemente, desempregados ou aposentados 95 (p. 7).
A edição, de novembro de 1994, do InformaCUT 121 divulgou a decisão da
criação do Coletivo em Saúde, Trabalho e Meio Ambiente da CUT LX e as deliberações
do Seminário de Saúde, Trabalho e Meio Ambiente. À primeira vista, um pequeno
resumo do Seminário, realizado um pouco antes, em agosto. Porém, no item Rede
Pública, afirma:
A atuação em Programas e Centro de Referências em Saúde do Trabalhador deve ser intensificada. Eles são meios para conhecer o estado de saúde dos trabalhadores e interferir nos locais de trabalho. Podem funcionar como alternativa às medicinas de grupo, que excluem os trabalhadores adoentados permanentemente, os desempregados ou aposentados. A meta é o gerenciamento sindical 121 (p. 6) .
LX O Coletivo Nacional em Saúde, Trabalho e Ambiente da CUT foi criado por decisão do 5º Congresso Nacional da CUT, realizado de 19 a 22 de maio de 1994.
73
Vejamos algumas importantes diferenças entre ambas. Em relação à Medicina de
Grupo, a executiva da CUT, levanta apenas a restrição por estas empresas excluírem os
trabalhadores adoentados permanentemente, os desempregados ou aposentados. Já no
Relatório do Seminário, a Medicina de Grupo é claramente identificada por seu caráter
político-ideológico de atender os trabalhadores sadios para controlá-lo e recolocá-lo de
imediato na produção/serviços e, além disso, excluírem os trabalhadores adoentados
permanentemente, os desempregados ou aposentados.
Quanto ao PST e o CRST, ambos enunciados se assemelham ao considerar que
devem ser intensificados, tenham um gerenciamento sindical e que são instrumentos
importantes para o conhecimento da saúde dos trabalhadores e intervenção nos locais de
trabalho. Porém, há discrepâncias substanciais, e nada desprezíveis. A executiva da
CUT omitia uma orientação indicada no Seminário, qual seja, que a exigência do PST e
do CRST deveria remeter os sindicalistas à discussão das Políticas Gerais de Saúde
Pública.
Mas a principal diferença – por onde se pode compreender a omissão da
executiva da CUT – entre a decisão do Seminário e o que foi efetivamente relatado pela
direção da central, se coloca nítida quando as duas orientações são vistas e comparadas
em seu conjunto. O Seminário considerava que Os P.S.T. ou C.R.S.T.... devem ser um
elemento questionador e funcionar como alternativa às Medicinas de Grupo... pois... as
Medicinas de Grupo com seu caráter político-ideológico de controladora e
recolocadora imediata do trabalhador na produção/serviços, nos atendem enquanto
estamos sadios e nos excluem quando adoentados permanentemente, desempregados ou
aposentados. Nota-se que pela decisão do Seminário, o PST e o CRST devem, não
apenas, funcionar como alternativa, mas também assumir uma postura ativa, a condição
de elemento questionador das Medicinas de Grupo e seu caráter político-ideológico que
atendem os trabalhadores enquanto sadios para controlá-los e recolocá-los de imediato
na produção/serviços. Por conseguinte, remeter os sindicalistas à discussão das Políticas
Gerais de Saúde Pública. De forma diferente, a executiva da CUT concebe o PST e o
CRST como a possibilidade de atendimento para os trabalhadores adoentados
permanentemente, os desempregados ou aposentados recusados pelas Medicinas de
Grupo.
74
Contudo, o PST e o CRST, assim como a rede SUS, enfrentam enormes
dificuldades, inclusive para atender estes trabalhadores. As preocupações da CUT não
são, e não eram na época, fortuitas e deslocadas da realidade concreta. Os trabalhadores
acidentados e portadores de doenças do trabalho não apenas se deparavam e, como
veremos, continuam a se deparar com a recusa do atendimento pelos planos privados de
saúde, como também enfrentavam obstáculos nos serviços públicos, inclusive no PST e
no CRST 122,123. Em janeiro de 1991, a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo
suspendeu o pagamento da rede credenciada e dos convênios aos serviços de saúde
prestados aos acidentados do trabalho. No mesmo ano, o Relatório da reunião da
Comissão de Condições de Trabalho, Saúde e Meio Ambiente - CCTSMA 124 do
Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, sobre o Centro de Referência
em Saúde do Trabalhador, apontava o problema do C. R. é de recursos humanos, o
consórcio com as 03 prefeituras ainda não foi realizado. As Prefeituras de Diadema e
Santo André não estão investindo nada, quem ainda ‘banca’ o C. R. é a Prefeitura de S.
B. [São Bernardo]. Eles estão com o trabalho sobrecarregado, por isso não estão
atendendo aos trabalhadores demitidos e há a possibilidade de não atenderem mais aos
acidentados do trabalho. Estamos aguardando uma reunião com Dr. Mauricio, Prefeito
de São Bernardo, para colocar o problema, e para ajudar-nos a pressionar as outras
prefeituras a participarem, para conseguirmos cumprir a proposta do C. R. 124 (p. 2).
Neste sentido, a política estatal impõe fortes restrições para efetivar a ação
institucional da CUT de valorizar as experiências junto aos serviços públicos de saúde
que mostrem para o conjunto dos trabalhadores o engodo da medicina privada,
articular-se com o movimento popular para criar projetos que se vinculem aos
interesses públicos, criar experiências que juntem ação sindical e serviços de saúde 99
(p. 12). Limites não superados pelas administrações municipais, vitoriosas nas eleições
de 1988, que passaram a organizar e gerenciar ações em saúde do trabalhador 125.
As diferenças acima expostas podem expressar diferentes concepções das
correntes sindicais no interior da CUT, mas não nos propomos aqui investigá-las.
Apesar disso, é importante ter em conta as disputas internas no sindicalismo da CUT
para compreender que sua convivência e, portanto, a manutenção de uma unidade no
âmbito da Central pode produzir certas contradições nos diversos espaços de
formulações e práticas sindicais.
75
2.2.1 – A CUT e a regulamentação do setor supletivo.
Em meados da década de 1990, se intensifica na imprensa o surgimento de
matérias afirmando que, em função da decadência dos serviços públicos de saúde, a
população era obrigada a usar o sistema privado. Em relação às operadoras de planos e
seguros privados de saúde, eram apontados uma série de problemas e irregularidades:
alto valor dos prêmios e dos reajustes; poucas garantias; exclusão do atendimento a
inúmeras patologias e a procedimentos de maior complexidade; existência de
armadilhas contratuais 126. O governo federal apresentou projeto de lei para
regulamentação dos planos. Veremos algumas indicações da orientação da CUT sobre
esta questão. Em 1996, na 10ª Conferência Nacional de Saúde, a CUT incluiu os
Convênios Médicos/Seguros Saúde como uma das questões atuais do SUS. Defendeu
que os planos e seguros privados de saúde fossem regulados pelo Estado, subordinados
ao SUS e controlados pelos Conselhos de Saúde. Segundo a CUT, era inaceitável a
displicência e a impunidade com que esses órgãos [planos de saúde] agem 103 (p. 4),
...só atendem o que dá lucro 100 (p. 9) e a assistência à saúde deve assegurar
atendimento a todas as doenças relacionadas no Código Internacional de Doenças.
Em outubro de 1997, a primeira lei aprovada pelo Câmara dos Deputados
mantinha a regulamentação do mercado de planos vinculado ao Ministério da Fazenda e
as operadoras estavam desobrigadas da cobertura de serviços de alta complexidade e de
algumas patologias (AIDS, câncer), continuando a maior parte do custo com estas
doenças a recaírem sobre o SUS, o que mereceu críticas de sindicalistas da CUT LXI .
Tem-se um longo trâmite legislativo sobre o qual não é necessário aqui se estender – e
que se desdobra em sucessivas Medidas Provisórias após a Lei n.º 9.656, de 03 de junho
1998 que regula os planos e seguros privados de saúde e a Lei n.º 9.961, de 28 de
janeiro de 2000, que criou a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) – em que
os pontos acima questionados pela CUT são tratados e em parte contemplados. A
intervenção sindical ganhará mais contornos por ocasião do Fórum de Saúde
Suplementar organizado pela ANS.
LXI Angelo D'Agostini Junior. O SUS no país do real. Folha de São Paulo, 11 de novembro de 1997, Caderno Cotidiano, p. 2. Angelo D'Agostini Junior era então presidente do Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo - Sindsaúde/SP.
76
Antes, é importante considerar que a regulamentação, sob os auspícios da
Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS, não alcança alguns aspectos
importantes dos planos coletivos empresariais – que estão vinculados à maioria dos
trabalhadores organizados com representação sindical -, em especial, no que tange ao
reajuste dos prêmios. Esses planos são precisamente o principal eixo de sustentação e
organização do mercado suplementar de saúde, o que lhes confere um forte poder de
definição dos padrões de coberturas e preços para as demais modalidades de
contratação, conforme constatado pela Comissão Parlamentar de Inquérito dos Planos
de Saúde da Câmara dos Deputados 127. A ANS tem argumentado a favor da não
intervenção governamental nos preços dos planos coletivos. Sustenta que os contratos e
negociações estabelecidos entre empresas (empregadores e assistência suplementar)
tendem a um maior equilíbrio entre as partes envolvidas 127. Contudo, a regulamentação,
a despeito do impacto nos custos com assistência à saúde, tem sido alegada pelas
empresas para ameaçar e até promover restrições no benefícios-plano de saúde de seus
empregados LXII, em particular, aumentar o valor da mensalidade paga total ou
parcialmente pelo trabalhador 128. Além disso, outros problemas permanecem, tais
como: cobertura para atendimento de doenças, descredenciamento ou insuficiência da
rede credenciada pelo plano, exclusão de trabalhadores aposentados, demitidos,
acidentados e com doença do trabalho. A este respeito falaremos um pouco mais no
capítulo seguinte.
Estes itens fazem parte das reivindicações defendidas pela representação da
CUT nos espaços de discussão acerca da regulamentação dos planos de saúde LXIII. No
Fórum de Saúde Suplementar, realizado em 2003, por exemplo, o representante da CUT
defendeu que a ANS enfrente os problemas encontrados pelos usuários com as
operadoras de planos: os altos reajustes nas mensalidades o que leva muitos usuários a
deixar os planos; dificuldades e recusa de acesso para alguns serviços em particular os
LXII Vem aí a mãe de todas as brigas na área da saúde... Em setembro, entra em vigor a lei que regulamenta o sistema de saúde privado (...) Já há casos de empresas amedrontadas que ameaçam cortar os planos de saúde de seus empregados se tiverem que pagar um só real a mais. Uma grande indústria paulista, que paga em torno de R$ 25 por trabalhador, ameaça abandonar os planos de cobertura geral, limitando-se a bancar internações hospitalares. Elio Gaspari. Vem aí a grande briga da saúde. Folha de São Paulo, 26 de julho de 1998. Editoria: Brasil p. 14. LXIII A CUT está representada na Câmara Técnica de Saúde Suplementar da ANS (www.ans.gov.br).
77
de alta tecnologia; a cobertura integral a todas as doenças; a necessidade de discutir o
atendimento aos trabalhadores acidentados e com doenças do trabalho 96,98.
É importante chamar atenção que, ressalvada a questão do reajuste dos prêmios
dos planos, os demais itens - acesso a serviços de alta tecnologia, atenção e cobertura
integral, atendimento aos trabalhadores acidentados e com doenças do trabalho – além
de não serem específicos ao segmento dos usuários de planos - já vinham sendo
defendidos pela CUT nos fóruns de política de saúde para serem resolvidos pelo SUS.
Contudo, o que é pleiteado pela representação sindical dos trabalhadores no Fórum
Nacional de Saúde Suplementar expressa e contempla boa parte dos conflitos a que
dirigentes dos sindicatos e a organização dos trabalhadores no local de trabalho são
convocados pelos trabalhadores na base da categoria a negociar com as empresas. Nesse
sentido, também não se pode falar em paradoxo. A CUT defendeu no Fórum de Saúde
Suplementar questões já levadas nos espaços mais amplos de política de saúde que
manifestam tensões na base dos trabalhadores. Nem mesmo se pode afirmar que a pauta
apresentada esteja limitada a pleitos específicos à categoria profissional que a
representação sindical da CUT integra.
Além disso, no Fórum, a CUT sustentou outras propostas para condução e
formulação de política para o setor suplementar de saúde, entre elas: a) ser regulado
pelo Ministério da Saúde através da ANS; b) estar integrado e subordinado ao SUS; c)
reformulações no processo de regulação, sendo este e a ANS subordinados à política
global de assistência à saúde vinculada ao MS; d) mudança do modelo assistencial para
centralidade na prevenção e promoção da saúde; e) recusar o financiamento público
para as empresas do sistema suplementar de saúde; f) necessidade de diretrizes,
previamente acordadas entre os profissionais de saúde, ANS e operadoras de plano de
saúde e do controle social; g) a necessidade da regulação para que haja existência de
competição entre as operadoras de planos de saúde, e não a competição autofágica e
antiética, com oferecimento de planos menores e de baixa qualidade 98 (p. 52) LXIV .
LXIV Conforme a apresentação de José Erivalder, representante da CUT, no Fórum de Saúde Suplementar – 1ª etapa Painel 3 – Financiamento do Setor e a Regulação dos Preços e Reajustes, 26 de junho de 2003 98. Também em artigo publicado na Folha de São Paulo o representante da CUT sustenta que: A crise do sistema não deve ser vista apenas como uma questão gerencial e de mercado. Há raízes profundas no modelo assistencial adotado no país. A nova realidade obriga a uma revisão dos conceitos consagrados, na perspectiva de que o atual sistema, baseado na atenção hospitalar e médica, passe a integrar um modelo que dê ênfase à prevenção e à promoção da saúde. É preciso transformar as agências em instituições subordinadas às políticas de saúde do Ministério da Saúde, integradas ao SUS e, sobretudo,
78
Considerando que a proposição do item “f“ se aproxima e estaria compreendida no que
seria um controle social para o setor suplementar, com exceção do último item (g), os
demais de alguma forma já constavam do discurso da CUT 100,101,103.
A representação da CUT no Fórum considerou mais relevante o debate... voltado
para a discussão de um sistema de saúde nacional para o País que integre os vários
segmentos existentes hoje no modelo de saúde do Brasil 98 (p. 51). A elaboração de uma
série de diretrizes – apresentadas em síntese acima - para ...trabalhar em uma outra
perspectiva... uma busca de um entendimento entre todos os atores... para buscar um
equilíbrio do sistema. E... ter a dimensão de que alguns atores já cederam bastante... já
vêm cedendo há muito tempo e esse ponto de equilíbrio não poderia complicar mais
ainda a vida de usuários, inclusive de médicos... que trabalham com plano de saúde... a
saída... seria o novo processo de regulação que passaria pela mudança do modelo
assistencial... uma política global da assistência à saúde deste País, vinculado ao
Ministério da Saúde... que... efetivamente, desse todas as diretrizes para construir um
sistema público e privado eficiente 98 (p. 61).
Parece-nos uma pretensão grande demais se deslocada de transformações sociais
mais amplas e da correspondente mobilização dos trabalhadores. O modelo de
assistência à saúde e os processos de produção-consumo de serviços de saúde, os
sistemas de saúde que daí se conformam, sua natureza pública ou privada e as diversas
combinações entre ambas são constituídos – e por esta razão devem ser discutidos - em
sua determinação recíproca pela estrutura social do país, seu desenvolvimento e os
processos de reprodução social e de luta de classes. Apesar do debate não estar situado
neste nível de discussão, ele não pode ser desconsiderado, sob pena de se atribuir
autonomia à política e aos sistemas de saúde, ou de se aceitar um tipo específico de
vínculo entre sistema produtivo e saúde. Ou ainda mais, pelo perigo da representação
dos trabalhadores ser arrastada ou gravitar ao sabor das contradições entre as frações
do capital que competem pelo mercado. No caso da regulação dos planos, seria
necessário um estudo mais aprofundado – que foge aos limites deste trabalho - para
saber as raízes e a dinâmica atual dos processos de acumulação de capital - e falamos de
capital financeiro - que se processa neste segmento e as verdadeiras razões que levaram
à intervenção estatal. controladas pela sociedade. (José Erivalder Guimarães de Oliveira. A CPI dos Planos de Saúde. Folha de São Paulo, 30 de julho de 2003, p. A-3).
79
Scheffer e Bahia 116 apontam dois movimentos como importantes para regulação
do setor suplementar da saúde: primeiro a entrada no setor de duas grandes seguradoras,
direta ou indiretamente, vinculadas ao capital estrangeiro, que na disputa pela clientela
denunciaram as regras autoreguladoras consideradas lesivas à livre concorrência, e o
segundo, as demandas de consumidores, médicos e secretarias de saúde. O peso do
processo de regulação tem se concentrado em estabelecer as regras de competição entre
as empresas. A legislação aprovada já estabeleceu a abertura do mercado ao capital
estrangeiro, as regras para o funcionamento das operadoras, a esfera de responsabilidade
governamental para o reajuste de preços, a proibição da prática da unimilitância 116,129 .
Se o movimento sindical pleiteia a intervenção estatal na / pela luta de classes
para obter conquistas por direitos sociais, mesmo que parciais, o faz pois permite
colocar o conflito de interesses entre as classes sociais no âmbito mais geral da política
e trazer para a cena pública as questões fundamentais da estrutura econômica e social do
país. Uma posição de classes no movimento sindical não se orientaria por uma suposta
crença na pretensão de que o Estado consiga promover qualquer entendimento entre
todos os atores para buscar um equilíbrio do sistema de saúde e no mercado de planos e
seguro privado de saúde (ou outro mercado qualquer). Além disso, a experiência
nacional e internacional nos indica que uma mudança do modelo assistencial e a
integração do sistema público e privado que produza melhorias e benefícios para a
maioria da população não seriam alcançadas sem a devida ampliação das forças e
alianças entre as classes dominadas capaz de vencer as resistências e impor mudanças às
classes dominantes 7,73.
Apesar das variações, a crítica da CUT tende a se situar nos aspectos das
relações contratuais dos planos – contratos entre operadoras e usuários e entre
operadoras e profissionais de saúde -, sem apreender sua natureza. Nestes termos, a
assistência à saúde intermediada pelos planos e seguro privado pode mais facilmente ser
conduzida para um problema de direito do consumidor, consumidores que buscam um
serviço privado de qualidade e no momento de consumir os serviços contratados,
momento que necessitam exercê-lo, com razão não querem ser surpreendidos, e, logo,
nos serviços de saúde. Com isto - uma observação importante -, não se afirma aqui que
o sindicalismo não deva criticar, denunciar e pleitear a melhoria dos contratos dos
80
planos e que - para isto – recorra, inclusive, ao direito do consumidor. Aliás, um
problema seria pouco fazer neste sentido.
O que estamos enfatizando é a necessidade da luta dos trabalhadores pelo direito
à saúde ultrapassar esta dimensão, e não se restringir a ela. E aqui não se trata de uma
ultrapassagem meramente no plano teórico geral, uma ultrapassagem que conduza e
lance o sindicalismo para muito além da realidade concreta dos trabalhadores (não se
trata de se colocar muito à frente dos próprios trabalhadores). Trata-se de alcançar uma
formulação teórica concreta, que tenha em conta a análise concreta das contradições da
estrutura social e das relações de classes no país e, em particular, dos interesses das
diversas frações da burguesia na área da saúde e esta mesma formulação apontar
orientações para uma prática também concreta. Um campo ainda em aberto na luta
política e sindical dos trabalhadores no Brasil. Mesmo porque - como veremos a seguir -
o item plano de saúde negociado pelos sindicatos diretamente com os empregadores, em
vários momentos, apresentou diversos problemas, ampliados nos anos mais recentes.
Seria, portanto, merecedor de um melhor tratamento nas resoluções e nos documentos
das instâncias superiores do sindicalismo.
81
Capitulo III
Complementaridade na assistência à saúde
3.1 - Contrato Coletivo de Trabalho e Saúde
Apontamos anteriormente que, frente à conjuntura neoliberal no Brasil a CUT,
na virada da década de 1980, alterou sua posição política. No caso das negociações
coletivas, adotou uma ação que reforçou a descentralização corporativa, difundindo-se
negociações por subgrupo econômico e por empresa LXV , favorecendo a ampliação da
fragmentação política e do particularismo na classe operária e entre os trabalhadores.
Abordaremos agora a relação entre esta modalidade de ação sindical com a luta por
direitos sociais, em especial a luta pelo direito a assistência à saúde, apresentando
algumas características das negociações sindicais no que diz respeito a cláusulas sobre
assistência médico-hospitalar / convênio médico.
Foi na conjuntura de ascensão do neoliberalismo no Brasil que ganhou fôlego no
movimento sindical e na CUT a estratégia que privilegia o Contrato Coletivo de
Trabalho – CCT. A defesa do Contrato Coletivo de Trabalho era acompanhada da
valorização da livre negociação entre empresários e trabalhadores, considerado pela
CUT um avanço nas relações capital e trabalho. Desde sua formação, o sindicalismo em
torno dessa Central aglutinava-se na crítica dirigida contra a tutela do Estado na relação
capital/trabalho; as limitações legais para a organização no local de trabalho; o
autoritarismo das empresas que impedem a participação e interferência dos
trabalhadores no processo produtivo. Pretende-se a superação do modelo corporativo e
sua substituição por um modelo democrático das relações de trabalho, a criação de
mecanismos legais para negociação direta e permanente entre sindicato de trabalhadores
e empresas. Esta idéia é reunida em torno da proposta de Contrato Coletivo de Trabalho.
Apesar da proposta do Contrato Coletivo de Trabalho - CCT não ser nova na
CUT, foi somente a partir do final da década de 1980 que a Central passou a propagar,
sistematizar e implementar mais amplamente o CCT integrado à estratégia política que
LXV É importante lembrar, como já ressaltamos antes, que durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso foram adotadas algumas medidas relativas às relações de trabalho transferindo para o âmbito das empresas as negociações, como por exemplo, a participação nos lucros e/ou resultados e sobre flexibilização da jornada de trabalho.
82
emergiu em torno do sindicalismo propositivo. Conforme Boito Jr. 24, o objetivo da
corrente hegemônica na CUT - a Articulação sindical – ao apresentar e aprovar, no 4º
Concut 130, em 1991, a proposta do CCT não era apenas ampliar as garantias políticas e
institucionais do processo de negociação, processo que é próprio da prática sindical,
mas encontrar uma proposta de contrato de trabalho que estivesse associada à
importância concedida à participação do sindicalismo cutista na apresentação de
propostas na perspectiva de influenciar a definição da política governamental.
Jair Meneguelli, então presidente da CUT, falando em 1991, revela uma
concepção de ação sindical onde apresenta o CCT em contraposição à luta por inclusão
de direitos sociais na legislação, e faz uma revisão da participação da CUT na
mobilização para incorporação de garantias trabalhistas e sociais na Constituição de
1988. Segundo Jair Meneguelli apud Boito Jr. 24 , a partir do Contrato Coletivo de
Trabalho haverá ou será necessária a mudança na própria Constituição brasileira.
Faremos as leis, nós faremos a ‘Constituição’ que regerá o capital e o trabalho, ou
seja, não se deveria ter discutido redução da jornada de trabalho na Constituição.
Deveria se discutir, sim, entre as partes, entre o capital e o trabalho. A única
Constituição detalhista que existe no mundo é a nossa. Não queremos mais que o
Congresso nos diga como temos que contratar, queremos discutir – nós, trabalhadores,
com os empregadores – como queremos fazer o contrato (p. 150).
A CUT, ao defender o CCT, abria espaço para o discurso neoliberal e suas
políticas de flexibilização dos direitos sociais e trabalhistas, recusa da legislação
protetora do trabalho e a apologia da negociação livre e direta entre trabalhadores e
empresários. A visão contratualista se confrontava com a luta sindical unificada dos
trabalhadores por direitos sociais 24 . A Central, diante deste quadro, buscou ressalvar
que sua proposta de substituição do modelo corporativo por um modelo democrático das
relações de trabalho contempla a necessidade de preservar na legislação determinadas
garantias mínimas para os trabalhadores. A necessidade de proteção legal era ainda mais
nítida nas questões de saúde, trabalho e meio ambiente.
O Instituto Nacional de Saúde no Trabalho – INST da CUT desdobrou a adoção
do CCT ou Contratação Coletiva de Trabalho para as questões relativas à saúde,
trabalho e meio ambiente, encarado como a possibilidade de ampliação do rol de objetos
sob negociação, um salto de qualidade no sentido de enriquecer os atuais acordos
83
coletivos que no referente à questão se limitam a referendar direitos já garantido em lei 131 (p. 1). Paralelamente, sindicalistas vinculados ao tema da saúde e trabalho
apresentavam ressalvas a favor de garantias mínimas legais pelo Estado para os
trabalhadores sendo complementada no Contrato Coletivo de Trabalho. Remigio
Todeshini, então presidente do Sindicato dos Trabalhadores Químicos, Petroquímicos e
similares do ABC e Secretário de Finanças da CUT, um dos dirigentes mais destacados
ligado à área de saúde, trabalho e ambiente, assinalava que sem a Legislação de sustento
nesta matéria, haveria uma desigualdade flagrante entre patrões e empregados. O
poder empresarial é absoluto no local de trabalho, e deve ser contestado com
princípios e direitos básicos que garantam a democracia nas relações entre Capital e
Trabalho 132 (p. 2).
O próprio documento elaborado pelo INST, Saúde e Trabalho no Contrato
Coletivo de Trabalho 131 (p. 1) também observou que não podemos ignorar que um país
de dimensões continentais como o Brasil apresenta diferenças enormes no grau de
organização de seus trabalhadores e de consciência sanitária por parte dos
empregadores. Saúde no trabalho enquanto direito inerente ao status de cidadão não
pode no todo ser objeto de contratação sob pena de jogar grandes contingentes de
trabalhadores à mercê de empregadores inescrupulosos e em condições bárbaras de
trabalho. Não se pode admitir que a pretexto da adoção do CCT haja ampla
desregulamentação da legislação de proteção a saúde no trabalho contida na C.L.T. .
Percebe-se a preocupação em assegurar garantias mínimas aos trabalhadores,
visto que estes possuem ...diferenças enormes no grau de organização.. e a saúde no
trabalho é um ...direito inerente ao status de cidadão. As preocupações do Inst/CUT
também são justificadas pelo que considera ...diferenças... de consciência sanitária por
parte dos empregadores e, assim, a saúde no trabalho não pode no todo ser objeto de
contratação sob pena de jogar grandes contingentes de trabalhadores à mercê de
empregadores inescrupulosos.
A necessidade da manutenção de uma legislação protetora do trabalho, suas
garantias mínimas, não está colocada pela / para ação sindical na perspectiva de unificar
os trabalhadores para impor às classes dominantes no Estado a conquista de direitos
sociais, como parte integrante do processo de luta de classes. Em seu lugar, a relação
capital x trabalho aparece como uma contradição desprovida de antagonismos
84
irreconciliáveis e é substituída por uma visão contratual – não mais um contrato
individual de trabalho e sim uma contratação coletiva elementar à ideologia sindical. A
concepção contratualista não nega a contradição entre capital e trabalho, ela dissimula
sua natureza: reveste a contradição entre classes antagônicas e irreconciliáveis em
conflitos de interesses entre distintos grupos de trabalhadores e empresários. E se
reivindica garantias mínimas de proteção legal para o trabalho é para compensar, em
favor deste, determinados desníveis - diferenças no grau de organização dos
trabalhadores, diferenças de consciência sanitária entre os empregadores, empregadores
inescrupulosos - por acreditar que pode equilibrar as forças entre trabalho e capital.
A concepção da CUT em torno do CCT reforçaria a tendência à fragmentação e
a descentralização corporativa das negociações coletivas, o deslocamento das
negociações para os níveis inferiores da organização sindical: negociações por empresa
ou por grupo de empresas, apesar da proposta contemplar uma dimensão centralizada
em caráter nacional da negociação, o contrato coletivo nacionalmente articulado 130 .
O contrato coletivo nacionalmente articulado prevê negociações coletivas em
todos os níveis. Ele visa estabelecer uma base mínima geral, de caráter nacional, que
não suplanta as negociações específicas, mas com ela se articula para nos demais níveis,
regional e da empresa, adaptar-se às diferentes realidades específicas. Jair Meneguelli
apud Boito Jr. 24, em 1991, em relação ao funcionamento do CCT, afirmou: Nós
faríamos, a nível da central, um contrato mínimo que estabelecesse regras mínimas,
para que após isso os sindicatos, a partir do poderio econômico de cada setor, de sua
capacidade de organização e mobilização dos trabalhadores, fizessem as usas
contratações além daquilo que foi estabelecido como patamar a nível nacional (p. 153).
A direção aponta a capacidade de organização e mobilização dos trabalhadores
em cada setor / empresa - a partir do poderio econômico de cada setor – como condição
para obtenção de conquistas trabalhistas e sociais. Ou seja, mesmo falando em Contrato
Coletivo Nacional nacionalmente articulado, a CUT confere prioridade para ampliação
de direitos e conquistas de benefícios em instâncias inferiores de negociação, diferente
do que seria mobilizar e unificar os trabalhadores para que estes aglutinem uma ampla
força solidária em que a maior capacidade de organização de uns contribua para
fortalecer e ampliar o poderio do conjunto dos trabalhadores, seja este conjunto
85
constituído nos limites da categoria, do ramo ou setor econômico, ou mais amplamente
por diferentes categorias, ramos e setores.
Na revisão constitucional de 1993, a CUT posicionou-se contra a idéia de
eliminação imediata dos direitos sociais e da legislação trabalhista contidos na
Constituição e na CLT. Mais tarde, em 2001/2002, o presidente Fernando Henrique
Cardoso enviou e tentou aprovar Projeto de Lei ao Congresso Nacional com base no
princípio, o negociado prevalecer sobre o legislado. Esta proposta contou com o apoio
da Força Sindical. A CUT, uma vez mais, manifestou-se e mobilizou-se para combater o
projeto LXVI .
Contudo, a CUT não alterou o fundamento de sua concepção. Apresentou uma
solução intermediária, em que defendeu a existência de um determinado período de
transição entre a implantação do contrato coletivo de trabalho e a supressão dos direitos
previstos na legislação. Assim, a CUT acena com a possibilidade de, no longo prazo,
abrir mão da necessidade da legislação conter os direitos sociais e trabalhistas 24. Com
isto, a CUT alerta seus sindicatos para incluírem na pauta de reivindicações a ser
negociada temas tratados na legislação 133,LXVII, entre outros como: saúde, convênio
médico e hospitalar, educação, creche, aposentadoria complementar, pensões, jornada
de trabalho deveriam ser negociados setor a setor, entre sindicatos e empresas, ou grupo
de empresas.
Estas idéias estão presentes na atualidade. Ao apresentar propostas para uma
possível Reforma Trabalhista - cujo encaminhamento, para os sindicalistas da CUT,
viria na seqüência da aprovação da Reforma Sindical em tramitação atualmente no
Congresso Nacional, o 4º Congresso do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC 134,
LXVI Em março de 2002, dias antes da votação do projeto no Senado – que acabou sendo suspensa – a Força Sindical – FS e o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo - SMSP organizaram uma assembléia geral da categoria para aprovar os artigos da CLT que seriam "flexibilizados". Os metalúrgicos aprovaram, na ocasião, alteração no pagamento do 13º. salário, na licença paternidade, férias, e horário de almoço. Desta feita, a principal base da Força Sindical começava a cumprir um dos objetivos de seu livro-programa: substituir a CLT. O SMSP assinou, dias depois, a Convenção Coletiva que instituía tais mudanças. Este acordo foi suspenso pelo Tribunal Regional do Trabalho (2ª. Região). Ver: Justiça anula acordo que permitia flexibilização da CLT. Folha de São Paulo, 19 de abril de 2002. LXVII Siqueira 133 interrogou sindicalistas sobre as razões para a grande quantidade de cláusulas nos acordos coletivos que reproduzem a legislação, estes argumentaram: 1) caso a lei for alterada para pior ou revogada nós a mantemos no acordo; 2) a postura patronal nas negociações, ano a ano, visa rebaixar as cláusulas dos acordos anteriores, não concordam com sua renovação automática; e, 3) os acordos e convenções coletivas estão mais próximos das partes, empregados e empregadores, do que a lei trabalhista e previdenciária, principalmente em relação às pequenas e médias empresas em que não se conhece a legislação. A divulgação e o acesso aos trabalhadores do acordo coletivo possibilita um instrumento de cobrança da lei.
86
realizado em 2003, afirma que ...deveremos, assim, definir quais os direitos sociais
elencados no art. 7° da CF, e aqueles assegurados na CLT, ou em legislação ordinária,
serão revestidos de total proteção e quais os que serão passíveis de negociação nesse
novo cenário de contratação coletiva 134 (p. 20).
No contexto dos anos 1990 - expansão do desemprego, desindexação dos
salariais e de desregulamentação das relações de trabalhistas e sociais - a proposta de
Contrato Coletivo de Trabalho da CUT como resposta às políticas neoliberais reforçou o
insulamento corporativo entre os trabalhadores, deslocou a perspectiva da luta coletiva e
unificada por direitos sociais do plano mais geral da política, entendida como um campo
de luta entre classes sociais que opõe os trabalhadores e as classes dominadas às classes
dominantes e sua representação no Estado, para circunscrever o conflito na esfera de
cada setor econômico e do local de trabalho, no âmbito de cada categoria ou de cada
empresa. Luta limitada pois acompanha a fragmentação econômica da classe
trabalhadora pelos diferentes coletivos de trabalhadores de cada setor ou empresa, não
contra as classes dominantes, mas contra um grupo de capitalistas ou contra um
capitalista. As negociações coletivas de acordo com a força e a capacidade de pressão
de cada setor / empresa.
3.2 - Negociação coletiva dos metalúrgicos do ABC
A negociação coletiva centralizada dos metalúrgicos do ABC acontece em
conjunto com os demais trabalhadores metalúrgicos do estado de São Paulo, cujos
sindicatos são filiados à CUT vinculados à Federação de Sindicatos de Metalúrgicos da
CUT-SP – FEM/CUT. É a FEM/CUT que conduz as negociações com os grupos
empresariais da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo - FIESP e os
respectivos ramos de produção. A pauta de reivindicações negociada é bastante ampla:
remuneração, estabilidade no emprego, jornada de trabalho, saúde e segurança no
trabalho, benefícios, representação sindical e das comissões de trabalhadores nas
empresas, entre outras. Carvalho Neto 47 fornece um amplo detalhamento das cláusulas
das convenções coletivas dos metalúrgicos do ABC e sua evolução entre 1992-1999.
Iremos apenas pontuar algumas questões para entrar no item que nos interessa: a
cláusula sobre convênio médico.
87
Apesar da inclusão de algumas cláusulas originais LXVIII, as negociações no
período transcorreram com a ofensiva empresarial visando restringir uma serie de
garantias. Os dirigentes sindicais reconhecem que uma das principais investidas deu-se
para retirar as cláusulas sociais, em particular a que assegura a estabilidade no emprego
até a aposentadoria a todos os trabalhadores portadores de doenças ocupacionais e
acidentes de trabalho dos trabalhadores LXIX . Segundo a avaliação do 3º Congresso da
FEM/CUT, realizado em julho de 2001, além das dificuldades relativas à
desmobilização das bases, desemprego, fechamento de fábricas, dois desafios se
apresentaram no último período: o primeiro foi a chamada guerra fiscal entre os estados
e o segundo desafio foi a dura investida que os patrões e todos grupos fizeram contra a
cláusula que garante aos trabalhadores acidentados e portadores de doenças do
trabalho, estabilidade até a aposentadoria. (...) Também foi mais difícil porque os
patrões já em 99 fizeram um acordo com a Força Sindical retirando a cláusula.. (...)
Com tudo isso, os metalúrgicos cutistas do estado de São Paulo, ainda mantêm na sua
convenção coletiva esta cláusula 135 (p. 5).
A manutenção da cláusula da estabilidade foi confirmada pela decisão do
Tribunal Superior do Trabalho (TST) no final de 2004. Esta conquista vem sendo
questionada pelo empresariado, há cerca de dez anos, em seguidas campanhas salariais
e, de forma mais intensa, desde 1999 LXX . Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do
LXVIII Sem diminuir a forte tendência regressiva do período, algumas conquistas foram alcançadas. Em 1997, os metalúrgicos das indústrias de autopeças, de forjarias e de parafusos do Estado conquistaram a estabilidade no emprego para os trabalhadores portadores do vírus HIV e aos que já tenham manifestado sintomas de Aids. Posteriormente conquistada por trabalhadores de outras categorias, LXIX Todos nós, que temos acompanhado as discussões dos acordos coletivos dos últimos anos, sabemos das dificuldades crescentes de manter as cláusulas sociais, em especial aquela da garantia de emprego ao trabalhador acidentado ou portador de seqüela de doença ocupacional. Aquilo que parecia um capricho deste ou daquele negociador, no entanto, vai se delineando como parte de um projeto patronal que visa acabar com essas cláusulas , desonerando a empresa de obrigações sociais e morais e criando um ambiente propício para a demissão de milhares de companheiros. (3º Congresso: Organização dos trabalhadores na fábrica e na sociedade. Federação dos Sindicatos de Metalúrgicos da CUT/SP- Louveira, 29, 30 de junho e 01 de julho de 2001, p. 7) LXX O grupo patronal de autopeças já colocou as cartas na mesa. Não quer renovar a cláusula da garantia de emprego ao trabalhador seqüelado por acidente no trabalho ou doença profissional. Temos certeza de que esse é só um ensaio. Se passar no grupo das autopeças, os outros grupos também vão entrar com a mesma proposta. O argumento dos patrões: redução de custos e maior competitividade no mercado. Por trás dessa argumentação estamos assistindo a um bem orquestrado movimento de enfraquecimento da luta dos trabalhadores e a retirada de uma série de benefícios conquistados com muita luta (...) E aí como ficam esses milhares de companheiros que pagaram com a própria saúde o descaso das empresas com as questões da segurança? E como ficarão os trabalhadores que ainda têm saúde, mas estão trabalhando em ritmo acelerado, sem pausas, em postos de trabalho ruins e com muita pressão por produtividade e qualidade? Perderão o emprego, se um acidente ou doença o incapacitarem para sua função? Portanto, comece a por suas barbas de molho. Sem luta, vamos perder a cláusula de
88
ABC, a investida das empresas, inclusive das grandes, contra os direitos históricos
conquistados pelos trabalhadores tem se constituído numa verdadeira campanha para
esconder as doenças do trabalho LXXI . O não reconhecimento das doenças e acidentes
do trabalho e, por conseguinte, a não emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho
– CAT é praticada como forma de burlar a estabilidade do trabalhador prevista na
convenção coletiva, ...o número de doenças relacionadas ao trabalho registrado pelas
quatro maiores empresas da nossa base não chegou a 10 no último ano [1999] LXXII.
É importante destacar que a luta pela manutenção da cláusula de estabilidade
garantiu que, nos últimos cinco anos, 231 metalúrgicos portadores de doenças
profissionais fossem reintegrados ao trabalho nas empresas metalúrgicas do ABC, após
serem demitidos arbitrariamente, mediante ação judicial impetrada pelo sindicato LXXIII .
Mas a ofensiva das empresas para demitir os trabalhadores acidentados e com doença
do trabalho ocorre por inteiro. Ela se estende a assistência à saúde com permanente
restrição e exclusão ao atendimento médico hospitalar para estes trabalhadores.
3.3 – Alguns aspectos sobre o convênio médico nas negociações dos
metalúrgicos do ABC
A cláusula referente ao convênio médico compõe o corpo das chamadas
cláusulas permanentes LXXIV da pauta de reivindicações do Sindicato dos Metalúrgicos
do ABC. O quadro 1 apresenta a comparação entre o que tem sido apresentado na pauta
de reivindicação e o efetivamente acordado nas convenções coletivas dos metalúrgicos,
a respeito da prestação de serviços de assistência médica hospitalar.
garantia de emprego e junto com ela milhares de companheiros. Sem ela, vamos perder uma das poucas armas que nos protegem contra o descaso das empresas com a saúde e segurança e contra a marginalização do desemprego.. (Garantia ao trabalhador acidentado?. Tribuna Metalúrgica de 25/08/1999). LXXI Empresas escondem doenças profissionais. Tribuna Metalúrgica de 30/11/1999. LXXII Para empresas, doente não tem vez. Tribuna Metalúrgica n.º 1076 de 25/02/2000. LXXIII Raquel Camargo. Estabilidade fica mantida na convenção. Tribuna Metalúrgica n.º 1939 de 26/01/2005 LXXIV Para o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC são cláusulas de natureza permanente, assim entendidas as que vêm continuamente sendo renovadas sem qualquer alteração e que, dessa forma, já se incorporaram ao patrimônio jurídico do trabalhador metalúrgico. Após terem permanecido no corpo de cláusulas temporárias pelo prazo de 3 anos, sem modificação, essas cláusulas passaram a integrar o corpo permanente deste instrumento. Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Índice do Contrato Coletivo de Trabalho, p. 6.
89
Quadro 1 Convênio médico: comparação entre o reivindicado pelo Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC e o acordado na negociação coletiva centralizada dos Metalúrgicos da FEMCUT/SP
Conteúdo da cláusula “convênio médico”
Pauta de Reivindicação* Convenção Coletiva de Trabalho
As empresas deverão estabelecer convênios de assistência médica preferencialmente com serviços que se proponham dar atenção integral à saúde, com programas de promoção, prevenção e recuperação da saúde do trabalhador e sua família. Este modelo deverá ser pesquisado no mercado podendo ter a contribuição do sindicato profissional da categoria. Os empregados das empresas que possuam convênio de assistência médica encaminharão ao setor competente as reclamações atinentes àqueles serviços, colaborando para sua eficiência. Neste mesmo sentido, as empresas encaminharão ao respectivo sindicato representativo da categoria profissional o material orientativo das facilidades oferecidas pelo(s) convênio (s) quando editado. As empresas acima citadas proporcionarão aos seus ex-empregados, afastados definitivamente por aposentadoria, facilidades para sua continuidade no plano de assistência médica, desde que assumam o custo de sua participação no convênio. Aos empregados afastados do serviço por acidente do trabalho e de doença profissional será assegurado a continuidade do convênio médico enquanto persistir o afastamento
Não contemplado As empresas que mantêm convênio de assistência médica com participação dos empregados nos custos deverão assegurar-lhes o direito de optar pela sua inclusão ou não no convênio existente. As empresas encaminharão ao respectivo sindicato representativo da categoria profissional o material orientativo das facilidades oferecidas pelo(s) convênio(s), quando editado. As empresas citadas acima proporcionarão aos seus ex-empregados, afastados definitivamente por aposentadoria, facilidades para sua continuidade no plano de assistência médica, desde que os mesmos assumam o custo de sua participação no convênio. Não contemplado ATENDIMENTO MÉDICO DE CONVÊNIO. As empresas não exigirão prévia requisição de guia para encaminhamento do empregado ao convênio médico, quando este necessitar de atendimento de urgência (Acordo - Grupo XIX e III – Metalúrgicos ABC 2001)
* Estamos utilizando a Pauta de Reivindicação do período 2000 / 2001
90
O teor da reivindicação sindical não contemplada na Convenção Coletiva de
Trabalho expõe os limites da alternativa de assistência suplementar à saúde. No que se
refere ao não atendimento dos trabalhadores afastados por doença e acidentes de
trabalho, será indicado logo a seguir. Em relação à recusa da reivindicação por
convênios de assistência médica com atenção integral à saúde, informa duas questões.
Se por um lado, expõe e questiona os convênios e planos de saúde oferecidos pelas
empresas e sua condição para oferecer uma atenção integral à saúde dos trabalhadores,
por outro, expõe os limites da concepção sindical acerca do modelo assistencial, pois
alude acreditar na possibilidade de se buscar no mercado uma atenção integral à saúde
com promoção, prevenção e recuperação da saúde.
A cláusula de convênio médico constante da Convenção Coletiva de Trabalho,
exposto no quadro acima, integra a negociação centralizada dos metalúrgicos de São
Paulo, através da FEM/CUT. A cláusula acordada é bem genérica, o que facilita as
empresas manterem a extensa diversidade e as diferenciações na oferta de assistência à
saúde entre os trabalhadores, conforme apontado no primeiro capítulo. A política de
benefícios das empresas possui inúmeras variações (por porte da empresa, por atividade
produtiva, estratégia de gestão e controle da força de trabalho). Também aqui o
sindicato, de modo geral, tem acompanhado a fragmentação econômica das empresas
como critério para as lutas salariais e garantias sociais. Um acompanhamento mais
amplo deveria tomar este ponto em consideração para futuras pesquisas. Iremos agora
somente pontuar algumas questões levantadas através da pesquisa no jornal do
sindicato, Tribuna Metalúrgica, onde aparece a reivindicação do convênio médico. Os
dados foram obtidos através de levantamento na página do sindicato na internet, onde a
Tribuna está disponível e pode ser consultada. Utilizamos uma série de palavras-chaves
com suas possíveis combinações, conforme pode ser visto no Anexo II.
Foi possível perceber duas distinções: a reivindicação pela implantação do
convênio médico e a reivindicação por sua melhoria (ou manutenção) nas empresas que
já o instituem. Sua implantação é reivindicada pelos trabalhadores das empresas, em sua
maioria, de médio e pequeno porte que ainda não oferecem o beneficio. É comum o
pleito pelo convênio médico ocorrer por ocasião do encaminhamento de outras
reivindicações (Participação nos Lucros e Resultados - PLR, reposição salarial). Mais
recentemente, três casos se destacam entre os trabalhadores que não recebiam o
91
benefício do plano de saúde: o primeiro, a incorporação da reivindicação do convênio
médico para os trabalhadores de empresas terceirizadas contratadas pelas montadoras,
as chamadas terceiras, inclusive para trabalhadores que não possuem o enquadramento
sindical como metalúrgicos. Estes trabalhadores, de forma geral, não contam com
representação sindical, mas é comum sua mobilização receber o apoio e contar com a
intermediação da comissão de fábrica dos metalúrgicos da montadora na negociação
com a empresa prestadora de serviço. O acordo coletivo firmado com as montadoras
permite aos trabalhadores fiscalizarem as relações de trabalho nas empresas
terceirizadas. Vejamos um exemplo, extraído do jornal do sindicato: ....os trabalhadores
na Magno, empresa que presta serviço na Mercedes, conseguiram negociar acordo que
garante a reposição das perdas e aumento real... Com ajuda da representação dos
trabalhadores na montadora... também conquistaram convênio médico e auxílio
alimentação... agora, os trabalhadores na Magno vão escolher um sindicato para
serem representados e encaminhar as reivindicações (...) ‘talvez seja o sindicato da
construção civil, mas essa decisão será deles, informava Edilson Ferreira da Silva da
Comissão de Fábrica da Mercedes LXXV .
O apoio da comissão de fábrica dos trabalhadores efetivos da montadora tem
sido um fator importante para obtenção de melhorias entre os trabalhadores das
terceiras, o que contribui para a solidariedade de classe. A superação da fragmentação
trabalhadores diretamente contratados e terceirizados é ainda um desafio à organização
dos trabalhadores e tem entrado na pauta de muitos sindicatos e federações. A
Federação Única dos Petroleiros - FUP, por exemplo, redefiniu o conceito de
trabalhador petroleiro; estendeu o significado de petroleiro a todos os trabalhadores em
atividade em uma planta petrolífera de modo a incorporar os terceirizados e disputar a
representação sindical dos trabalhadores de diferentes formas de vínculo 136,LXXVI. A
manifestação do dirigente da comissão de fábrica da Mercedes pode indicar que ainda
não haja uma orientação mais ativa por parte do sindicato dos metalúrgicos do ABC LXXV Terceira na Mercedes: Mobilização garante conquistas. Tribuna Metalúrgica de 06 de maio de 2003, LXXVI Conforme apresentado por Araújo 136, o conceito de trabalhador petroleiro foi reformulado, não se refere mais apenas aos empregados da Petrobrás, mas a todos trabalhadores em atividade em uma planta petrolífera, tentativa do movimento sindical petroleiro responder ao avança da terceirização. Além disso, as mudanças advindas com a quebra do monopólio fizeram com que os Sindipetros tenham que desenvolver sua atuação, não mais apenas entre os trabalhadores próprios da Petrobrás, mas também entre os de outras empresas mãe e os trabalhadores terceirizados de ambas. Apesar disso, existem distintas estratégias adotadas pelos sindicatos de petroleiros para operacionalizar esta proposta.
92
para incorporar os trabalhadores das terceiras como metalúrgicos e disputar sua
representação sindical. O sindicato tem investido no sentido de fiscalizar e intervir nas
relações de trabalho e nos contratos das empresas terceirizadas LXXVII .
O segundo caso refere-se ao fato da inserção do plano de saúde na pauta dos
metalúrgicos que constituíram, com assessoria do sindicato, Cooperativas de
Trabalhadores e assumem a gestão de empresas em crise ou em estado falimentar LXXVIII. O interessante aqui é a possibilidade de estar ocorrendo e sendo reproduzida,
para formas de organização produtiva de autogestão dos trabalhadores com participação
sindical, a adoção de modelo de assistência à saúde suplementar, o que mereceria
investigação específica sobre esse processo.
O terceiro: em algumas empresas os trabalhadores em atividade, contratados sob
a modalidade de estagiários, passaram a postular e conquistaram a extensão do
beneficio convênio médico, pleito negociado pela Comissão de Fabrica e pelo Comitê
Sindical da Empresa – CSE. Este fato – apesar de não ser uma novidade na política de
recursos humanos das empresas, em particular das grandes empresas - apontou para
inclusão deste item na pauta de reivindicação específica dos estagiários das demais
empresas. Nas palavras do coordenador da Juventude Metalúrgica: é uma conquista
importante e queremos estendê-la a toda a categoria [estagiários] (...) Afinal os salários
dos estagiários são modestos e não cobrem os gastos com saúde, que é um dever do
Estado cobrir LXXIX .
Antes de prosseguir, um parêntese propiciado pelo fato acima. Encontramos na
Tribuna Metalúrgica alguns artigos do Departamento de Saúde do Trabalhador e Meio
Ambiente do Sindicato - com uma coluna semanal no jornal, em que apresentam um
aspecto das mudanças operadas no perfil dos trabalhadores metalúrgicos do ABC nos
últimos anos. É cada vez maior o número de trabalhadores jovens na indústria que estão
cursando a universidade ou a pós-graduação na perspectiva, na maioria das vezes não
LXXVII. Em outro caso: O Sistema Único de Representação (SUR) na Ford inaugurou a nova cláusula... que permite os trabalhadores fiscalizarem as relações de trabalho nas empresas prestadoras de serviços... conseguiu a contratação formal (com carteira assinada) de 17 motoristas... Eles dirigiam caminhões de outras pessoas contratados pela transportadora TNT. O outro acordo foi com a Truffer, empresa com 21 companheiros que recolhe sucata. A partir de outubro eles terão seguro de vida e, em novembro, passarão a contar com plano médico.(Ford: Terceiras submetidas à nova cláusula. Tribuna Metalúrgica n.º 1896 de 24/09/2004). LXXVIII Uniwidia: Cooperativa comemora quatro anos, Tribuna Metalúrgica nº 1717 de 26/09/2003 e Luiz Marinho. Sem trabalho não há justiça, Tribuna Metalúrgica nº de 04/02/2000. LXXIX Rolls-Royce: Estagiários conseguem convênio médico. Tribuna Metalúrgica nº 1692 de 12/08/2003.
93
realizada, de que a formação abra as portas para outra atividade profissional. Em artigo
intitulado Juventude e Saúde, o Departamento de Saúde do Trabalhador do sindicato
dos metalúrgicos do ABC alertava: o diploma talvez não seja, como no passado, a
garantia de emprego e sucesso profissional. A juventude operária está submetida a
longas jornadas de trabalho e de estudo, num ambiente social, político e ideológico em
que são motivados para uma intensa competição individual, ao passo, que a realidade do
trabalho não deixa espaço para a criatividade e o crescimento. As repercussões na saúde
são grandes: cansaço, sofrimento psíquico, fadiga, depressão, obesidade, dependência
química, violência e mortes prematuras são coisas que cada vez mais se combinam com
juventude metalúrgica LXXX .
Retomando. Nas empresas que já dispõem de plano de saúde a seus empregados,
a mobilização empreendida pelos trabalhadores está voltada para a busca de sua
melhoria ou, o que tem sido mais freqüente, para resolver problemas, tais como,
descrendeciamento da rede, dificuldades e demora no atendimento de consultas, redução
do valor da mensalidade do convênio LXXXI .
A desigualdade da oferta de assistência à saúde através dos planos de saúde nas
empresas assume diversas dimensões. Por exemplo, a Ford, grande empresa
automobilística, oferecia para os trabalhadores na ativa um plano de saúde por uma
operadora, enquanto para agregados e aposentados destinava um plano de outra
operadora. A existência de diferentes operadoras, cada uma com regras próprias e rede
credenciada diversa entre si, gerou descontentamento entre os usuários. Os
trabalhadores, através do Sistema Único de Representação - SUR, reivindicaram a
necessidade de uma mesma empresa operar o plano de saúde para todos: trabalhadores
ativos, agregados e aposentados, o que foi atendido pela empresa. A desigualdade, no
entanto, não foi superada, pois apesar de todos os participantes do plano (funcionários
LXXX Departamento de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente. Juventude e Saúde. Tribuna n.º 2045 de 11/08/2005. LXXXI Descredenciamento de serviços e até um mês de espera para conseguir consulta são problemas que os companheiros na Mahle Metal Leve enfrentam com a Medial. O convênio foi apresentado pela fábrica para resolver problemas de custo. Os trabalhadores exigiram então que o Sindicato negociasse uma abrangência maior na rede para o ABC, pois o que estava proposto não os atendia. Depois de muita negociação e pressão para quebrar a resistência da Medial, o problema foi solucionado e a rede montada. Conforme: Metal Leve: Medial Saúde provoca insatisfação. Tribuna Metalúrgica n.º 1859 de 21/07/2004. Ver também: Metal Leve: Queixas da Medial serão encaminhadas. Tribuna Metalúrgica de 4/08/2004.
94
da ativa, agregados e aposentados) passarem a dispor da rede credenciada da mesma
operadora, o acesso a ela ocorre de acordo com a modalidade de opção do plano LXXXII .
Aparecem casos de empresas que suspendem o convênio médico dos
trabalhadores afastados da produção por doenças ou seqüelas decorrentes de acidentes
no trabalho. Os empregadores alegam que o atendimento para estes trabalhadores deva
ser prestado pela rede pública de saúde, já que estão afastados pelo INSS. Registra-se a
mobilização dos trabalhadores contra a suspensão do convênio. Somente em uma
empresa, 48 trabalhadores foram excluídos do plano em função de estarem afastados
por doenças ou acidentes no trabalho, a maioria com Lesões por Esforços Repetitivos -
LER LXXXIII . As LER atinge amplas categorias de trabalhadores, metalúrgicos,
bancários, químicos, processamento de dados, comerciários, entre outras. Sua
abrangência, agravada pela condição de precarização entre os trabalhadores
terceirizados, nos termos de Sato 137, questiona os sindicatos sobre sua política em
saúde do trabalhador, inquirindo-as especialmente no que se refere à manutenção ou
superação de estratégias corporativas (p. 148). Por outro lado, esta questão expõe com
bastante nitidez os limites das coberturas assistenciais privadas para os trabalhadores e
questiona a aludida noção de segurança da proteção à saúde dos planos coletivos 85,85.
Os acidentes de trabalho e doenças ocupacionais são uma realidade bastante
freqüente entre os metalúrgicos. Mutilação, incapacidade, morte fazem parte do
cotidiano dos trabalhadores da indústria no Brasil, ainda com enormes lacunas pelos
estudos na área da Saúde Coletiva 138,LXXXIV e, apesar de sua maior capacidade de
organização, os metalúrgicos do ABC não estão fora deste cenário. O jornal do
Sindicato fornece elementos substanciais para desconsiderar os argumentos de que estes
trabalhadores sejam “privilegiados”. Dois acidentes vitimaram mais de 20
companheiros em duas importantes empresas de São Bernardo nesta semana e mostram
a fragilidade da segurança no trabalho nas fábricas brasileiras (...) Jovem perde o
antebraço: Com 18 anos de idade e poucos meses de trabalho, a amputação do braço LXXXII Convênio médico na Ford: Mesma empresa para todos.. Tribuna Metalúrgica de 27/05/2003. LXXXIII Conforme Tribuna Metalúrgica n.º 1862 de 27 de julho de 2004.. LXXXIV Freitas et al. 138, ao estudarem os acidentes de trabalho em plataforma de petróleo da bacia de Campos, Rio de Janeiro, Brasil, assinalam que embora seja comum considerar que o trabalho industrial foi e está sendo bastante estudado, levantamento realizado por nós nas revistas Cadernos de Saúde Pública, Revista de Saúde Pública e Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, no período de 1980 ao primeiro semestre de 1999, constatou que de 148 artigos referentes ao tema "acidentes", 71 (48%) tratavam de acidentes de trabalho e destes 17 (11,5%) eram específicos sobre acidentes em indústrias... (p. 118).
95
direito marcará para sempre a vida de um companheiro LXXXV. E mais: Quatro
trabalhadores na Metal Leve que foram intoxicados... continuam hospitalizados,
enquanto os outros estão em casa se recuperando. (...) O acidente foi tão grave que a
nuvem [tóxica] atingiu dois trabalhadores na Mercedes-Benz, que faz divisa com a
Metal Leve LXXXVI .
3.4 – E quanto aos serviços públicos de saúde?
No início dos anos 1990, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do
Campo e Diadema abraçou algumas iniciativas de participação mais ativa em defesa da
saúde pública. Neste período, o sindicato vivia mudanças internas com a extinção da
assistência médica odontológica a seus associados, como veremos logo adiante. O 6º
Congresso 139, realizado em 1991, no que respeito à saúde, aprovou uma série de
importantes decisões, entre as quais reativar a Comissão de Saúde do Sindicato e a
criação de um boletim mensal do Departamento de Saúde do Trabalhador LXXXVII .
A Tribuna da Saúde – nome do boletim acima referido - abordou em suas
páginas temas relacionados às condições de trabalho, saúde e meio ambiente. Editada de
agosto de 1991, seu número inicial, a março de 1993, teve um total de 15 edições. No
acervo do Centro de Documentação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
LXXXV Departamento de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente, Uma semana, 20 feridos. Tribuna Metalúrgica n.º 1850 de 01/07/2004. LXXXVI Ver também: Acidente: Trabalhadora perde falanges. Tribuna Metalúrgica n.º 1846 de 24/06/2004; Arteb: Acidente arranca falange de dedo. Tribuna Metalúrgica n.º de 28/10/2003; Injecta: Acidente esmaga mão e antebraço. Tribuna Metalúrgica n.º 1727 de 15/10/2003; Mahle Metal Leve: Uma fábrica de acidentes.. Tribuna Metalúrgica n.º 1710 de 12/09/2003; Mahle Metal Leve: Novo acidente envolve prensista. Tribuna Metalúrgica n.º 1709 de 11/09/2003; Acidente: Trabalhador tem mão mutilada na IGP. Tribuna Metalúrgica de 14/05/2003; Departamento de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente. Substâncias Químicas Tóxicas Presentes no Trabalho: Perigo Diário. Tribuna Metalúrgica de 11/08/2000; Metal Leve: Trabalhadores continuam hospitalizados..Tribuna Metalúrgica n.º 1850 de 01/07/2004. LXXXVII Outras decisões aprovadas foram: Propor ao Movimento Sindical da região a criação de uma Comissão de Saúde lntersindical Ampliada em defesa de um Sistema Público de Saúde, democrático e de boa qualidade; Realizar Campanha de Saúde, com o mesmo peso político que a campanha salarial (sem prejuízo desta), elaborada e organizada pela Comissão de Saúde; Lutar pela transformação das CIPAs em Comissões Sobre Condições de Trabalho e Saúde com seus eleitos, na sua totalidade, pelos trabalhadores; Lutar para que as reivindicações sobre Condições de Trabalho e Saúde constem de Acordos, Convenções e Contratos Coletivos; Investir na formação de quadros capazes de atuar na área de Saúde e Condições de Trabalho. Além disso estimular e orientar o trabalho integrado entre CiPAs e Comissões de Fábrica; Promover encontros entre os Cipeiros da categoria; Ações para conscientizar os trabalhadores de que a luta por saúde também é uma luta com componente econômico. Resoluções item Saúde do 6º Congresso do Sindicato dos Metalúrgicos do São Bernardo do Campo e Diadema, fase final 1, 2 e 3 de março de 1991. www.abcdeluta.org.br .
96
conseguimos levantar 13 edições, não encontrando os exemplares da Tribuna da Saúde
de números 1 e 14.
Seus números iniciais eram avaliados e debatidos em reunião da Comissão de
Condições de Trabalho Saúde e Meio Ambiente – CCTSMA do Sindicato, criada
também por decisão do 6º Congresso, e levantavam comentários tanto sobre a qualidade
das matérias, quanto de sua repercussão dentro das empresas. Em relação à edição da
Tribuna da Saúde n.º 03 de outubro de 1991, a CCTSMA, predominantemente, ressaltou
a grande repercussão entre os trabalhadores da notícia sobre as LER, a distribuição da
Tribuna da Saúde feita por entidades nos bairros da Região e a boa repercussão obtida
na 1º Conferência de Saúde de São Bernardo do Campo LXXXVIII .
Dois aspectos que se destacam nas edições, além da presença constante de
artigos a respeito das condições de trabalho das empresas metalúrgicas e suas
implicações na saúde dos trabalhadores, são matérias sobre a questão ambiental e sobre
a situação dos serviços públicos de saúde. Sobre este último, era: primeiro, denunciado
o sucateamento dos hospitais públicos, a suspensão do atendimento pelos hospitais
conveniados do então INAMPS, a falta de leitos hospitalares em São Paulo e na Região
do ABC LXXXIX ; segundo, saudado a decisão da IX Conferência Nacional de Saúde para
resgatar o SUS, conforme as propostas originais XC da VIII Conferência Nacional de
Saúde; terceiro, que os desvios em sua implantação deixava o SUS, segundo a Tribuna
da Saúde, como um alvo fácil de vários setores na sociedade entre eles do governo,
porque consome grandes quantidades de recursos, que acabam perdidos na monstruosa
estrutura administrativa e chegam em quantidades mínimas onde realmente se faz
necessário. Diante desse caos, o governo aproveita-se para fazer valer sua proposta de
privatização, que nada mais é do que manter a saúde da população administrada pelas
LXXXVIII Relatório da Reunião da CCTSMA do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, realizada em 31 de outubro de 1991. A matéria sobre as LER citada é: Esse ritmo não dá samba... dá L.E.R. Tribuna da Saúde, n.º 3, outubro de 1991, p. 2. LXXXIX O jornal Tribuna da Saúde denunciava: O descaso do Estado para com a saúde pública desativa mais de três mil leitos em São Paulo. São Bernardo, com quase 700.000 habitantes, conta com apenas 116 leitos públicos, ou menos ainda. A O.M.S. (Organização Mundial da Saúde) afirma que são necessários quatro leitos para cada mil habitantes. Roubaram da população de São Bernardo 2.100 leitos. É necessário que o movimento sindical participe ativamente desta luta que é de todos. .Tribuna da Saúde. Descaso com a Saúde da População. p. 2.. XC Tribuna da Saúde. Privatizar Não. Ano 1, nº.11, setembro de 1992, p. 3..
97
classes dominantes, premiando, com altos lucros, os empresários que continuariam a
explorar mercantilmente clínicas, convênios e hospitais XCI .
Um outro elemento era a defesa da participação popular na gestão dos serviços
de saúde. Só através da participação popular que poderemos formular políticas
adequadas às nossas necessidades e fiscalizar a implementação das mesmas. A Gestão
popular dos serviços de saúde é uma conquista nossa, já assegurada em Lei XCII .
Assim, o Sindicato em 1991-1992, apoiava o movimento pela saúde em São Bernardo
do Campo estimulava a formação de Comissões de Saúde nos bairros no sentido para
debater os problemas de saúde e encaminhar as reivindicações a Secretaria Municipal de
Saúde. Para o Sindicato, as comissões de saúde nos bairros seriam um importante
mecanismo de fiscalização e participação dos trabalhadores na luta pela saúde XCIII .
Também aparece nas páginas da Tribuna da Saúde uma crítica às empresas de
Medicina de Grupo que, no final de 1991, afirmava: Hoje o que vemos é a entrada de
grandes grupos multinacionais de medicina de grupo, que passaram a dominar o
mercado, incentivadas pelo governo que cada vez mais deixa sucatear o sistema
público de hospitais e de serviços médicos, abrindo caminho à privatização total da
saúde tentando fazer com que a população acredite estar sendo melhor atendida e deixe
de lutar por um SISTEMA PÚBLICO DE SAÚDE DE BOA QUALIDADE.. XCIV . Não se
encontra outra matéria com tal crítica dirigida à Medicina de Grupo. O editorial de sua
última edição (março de 1993) apresentou o que passaria a ser mais importante nas
atividades do Departamento de Saúde do Trabalhador do Sindicato. O editorial anuncia
o acordo da Câmara Setorial da Indústria Automobilística e avalia que este abre uma
perspectiva inédita para o movimento sindical brasileiro.. nesse sentido, é fundamental
que passemos a discutir... a nossa intervenção no chão da fábrica XCV. O Departamento
de Saúde do Trabalhador passaria a enfatizar a formação e a qualificação dos
sindicalistas para as negociações nas empresas - na perspectiva da democratização das
relações de trabalho – visando intervir nos processos produtivos para eliminar ou
XCI Idem. XCII Tribuna da Saúde. Saúde e Participação Popular. Ano 1, nº.12, Outubro de 1992, p. 3.. XCIII Estas e outras experiências, não só na região como no país, têm demonstrado que a LUTA POR SAÚDE interessa diretamente à classe trabalhadora e por isso deve ser assumida pelos trabalhadores e pelo movimento sindical. Tribuna da Saúde. População e Trabalhadores na Luta por Saúde. Ano 1, n.º.4, novembro de 1991. XCIV Tribuna da Saúde. As Aparências Enganam. Ano 1, n.º 3, outubro de 1991, p. 3. XCV Tribuna da Saúde. Editorial. n.º 15, março de 1993.
98
diminuir os impactos na saúde dos trabalhadores pelas condições de trabalho e/ou
resultantes das mudanças organizacionais em curso XCVI .
É certo que estas atividades já estavam presentes antes e já detinham um relativo
destaque. O que ocorre é sua intensificação, mas ela acontece em prejuízo de outras
atividades: aquelas voltadas para a defesa da melhoria dos serviços públicos de saúde e
do SUS. Apesar de não dispormos das informações dos jornais do Sindicato no período
compreendido entre 1993 e 1998 XCVII é possível extrapolar, com base nas resoluções
dos 1º e 2º Congressos dos Metalúrgicos do ABC, realizados em fins de 1993 e em
1996/1997, respectivamente, para considerar que essa tendência fora confirmada. Os
serviços públicos de saúde e o SUS não estão contemplados nas decisões dos dois
Congressos, além de simples referência genérica XCVIII .
Mas não teríamos como levantar nesta dissertação as possíveis razões para o fato
dos serviços públicos de saúde, durante o período de circulação da Tribuna da Saúde ter
recebido um destaque maior na imprensa sindical. Uma possibilidade estaria
relacionada ao fato de que, naquela ocasião, a Prefeitura de São Bernardo do Campo - e
outras no estado de São Paulo – estar sob a administração do Partido dos Trabalhadores
- PT, quando, segundo Lacaz 125 se levantou ...a possibilidade concreta de que tais
municípios assumam a questão da saúde e sua municipalização bem como da saúde dos
trabalhadores através da programação de saúde pública, mediante os PSTs... muitos...
municípios passaram a gerenciar serviços de saúde dos trabalhadores... criando os
chamados Centros de Referência em Saúde dos Trabalhadores (CRSTs), tentando
aprofundar as experiências existentes no que se refere à gestão e à participação
sindical... (p. 12).. Porém, ...de certa forma foram frustrantes as administrações
municipais no que toca à superação das deficiências do setor saúde 125 (p. 12).
Nesta linha de raciocínio, a preocupação do sindicato relativa à saúde pública no
período seria meramente circunscrita àqueles fatores conjunturais. Acrescenta-se entre
eles, como se mencionou, as mudanças internas com a extinção pelo sindicato da
assistência médica odontológica a seus associados.
XCVI Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. 1º Congresso dos Metalúrgicos do ABC: Resoluções. 1993, p. 30. XCVII A Tribuna da Saúde deixara de circular em março de 1993 e, como já mencionamos no início desta dissertação, não foi possível viabilizar para este período a consulta no jornal Tribuna Metalúrgica. XCVIII Cita-se apenas a decisão de Lutar pela defesa do Sistema Público de Saúde. Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. 1º Congresso dos Metalúrgicos do ABC: Resoluções. 1993, p. 30.
99
As resoluções dos Congressos dos Metalúrgicos do ABC, realizados em 1999 e
2003, mantêm a tendência de quase omissão em relação à assistência à saúde no SUS. O
mesmo foi constatado em consulta ao Jornal Sindicato, Tribuna Metalúrgica. Os
assuntos relativos ao Sistema Único de Saúde e/ou a Saúde Pública que aparecem na
Tribuna são, em sua maioria, matérias informativas e não de atividades ou ações
sindicais, acerca de alguns temas, tais como: dependência química; tabagismo; hepatite
C; drogas.
Em relação à criação da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do
Trabalhador – RENAST XCIX pelo Ministério da Saúde, a Comissão de Saúde,
Condições de Trabalho e Meio Ambiente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em
outubro de 2002, levantou críticas à medida. Os motivos seriam a desarticulação entre
os diversos órgãos públicos responsáveis pelas ações em saúde do trabalhador. A falta
de coordenação política faz com que os programas e as ações em saúde do trabalhador
não saiam do papel desde a promulgação da Constituição, em 1988. E, assim, avaliava
que ...o RENAST... com uma verba enorme... promete ser mais dinheiro jogado fora.
Decidido de cima para baixo e sobrepondo funções, vai apenas agregar inoperância ao
sistema já existente C.
No momento, é pequeno o peso que o sindicato dispensa a assistência à saúde no
SUS. Todavia, os problemas em relação à cobertura assistencial privada estão a exigir
uma outra perspectiva. Ao percorrer os Cadernos de Teses ao 4º Congresso dos
Metalúrgicos do ABC 134, em especial as propostas enviadas pelos ativistas sindicais na
base da categoria, logo se percebe um grande volume que tem por preocupação os
acidente ou doença relacionada ao trabalho. Já vimos o crescimento dos conflitos pela
recusa de assistência para estes trabalhadores pelos planos e seguro privados.
Mas uma outra modalidade de ação sindical seria revelada pela pesquisa que
veremos em seguida.
XCIX Ministério da Saúde - Portaria nº 1.679, de 19 de setembro de 2002 - DOU nº 183 – Seção 1, Sexta-feira, 20 de setembro de 2002. Dispõe sobre a estruturação da rede nacional de atenção integral à saúde do trabalhador no SUS e dá outras providências. C Comissão de Saúde, Condições de Trabalho e Meio Ambiente. Saúde do Trabalhador e Prevenção. Tribuna Metalúrgica de 31/10/2002.
100
Capitulo IV
O corporativismo sindical e a difusão de novas modalidades de ação em relação ao
papel do Estado na proteção social.
Já mencionamos a intenção da CUT de influir propositivamente na formulação
das políticas públicas, orientação intensificada, ao longo da década de 1990,
considerada como a possibilidade de interferir nos rumos do país... em avanços na
ocupação de espaços institucionais como, por exemplo, nos diversos conselhos de
controle sobre os fundos e as políticas públicas 90 (p. 27). Segundo a CUT, os
trabalhadores não deveriam apenas combater a implantação do projeto neoliberal, mas
também apresentar alternativas que passam pelas diretrizes da agenda de reformas
estruturais da CUT, composta por três eixos de intervenção política, a saber: a
reestruturação produtiva; o papel do Estado; e uma política de retomada do crescimento
com distribuição de renda e geração de emprego 90,CI. Vamos destacar o que a CUT
entendia por papel do Estado, e mais especificamente, o que é entendido por papel do
Estado em relação às políticas sociais e perceber a introdução de novas modalidades de
ação sindical informada pelo discurso da Central. Mas antes, só para situar brevemente
os outros dois pontos, basta citar que a reestruturação produtiva, assim como a
globalização, era considerada pela CUT como um fato dado e irreversível, segundo a
central ...a globalização econômica obriga o movimento sindical a conviver com as
conseqüências da reestruturação produtiva, destacando-se o desemprego estrutural.
Neste sentido, a formulação de políticas públicas e a exigência para que o Estado as
assuma deve se constituir enquanto uma prática cotidiana no movimento sindical 140 (p.
21). Quanto ao outro ponto da agenda – a retomada do crescimento com distribuição de
renda e geração de emprego –, a CUT o relaciona com outras propostas como a Política
CI Nos últimos anos, a ampliação da democracia no plano institucional passou e passa pelo avanço das conquistas dos trabalhadores na sociedade através da sua própria mobilização. (...) a CUT tem ampliado sua... possibilidade de interferir nos rumos do país. Isso se traduz em avanços na ocupação de espaços institucionais como, por exemplo, nos diversos conselhos de controle sobre os fundos e as políticas públicas hoje existentes. Mas, a cada avanço na institucionalidade, aumenta a pressão da institucionalidade tanto sobre como na própria CUT (...) a estratégia da CUT na ação institucional, da qual os trabalhadores não podem se omitir, precisa estar subordinada à estratégia geral da Central. Hoje é cada vez mais vital que os trabalhadores não só combatam a implantação do projeto neoliberal como também formulem suas diretrizes alternativas... a partir da agenda de reformas estruturais que... remetem, no plano geral, a três campos de intervenção política: reestruturação produtiva; papel do Estado; e uma política de retomada do crescimento com distribuição de renda, riqueza e que seja ao mesmo tempo geradora de empregos. (Resoluções do 5º Concut 90, Subitem: Estratégia sic).
101
Industrial, Reforma Tributária e políticas sociais. Em relação a esta última, tocaremos
adiante ao falar sobre a visão da central acerca do papel do Estado.
Para explicitar o entendimento da CUT por Estado, responsabilidade do Estado
em relação à sociedade, papel do Estado em relação às políticas sociais, recorreremos
a alguns trechos das resoluções do 6º Concut 71, especialmente do capitulo Estratégia,
subitem Propostas para uma política de cidadania. A escolha do 6º Congresso permite
explicitar melhor a questão porque representa a evolução das posições já contidas, mas
não claramente apresentadas, na estratégia da CUT aprovada no 4º e 5º Congresso.
Além disso, pelo fato do 6º Congresso da CUT ter sido realizado em agosto de 1997, no
momento em que as políticas neoliberais ganharam consistência em sua implementação
sob o comando de Fernando Henrique Cardoso e produzem efeitos econômicos e
sociais, mas também político e ideológico - de intensa disputa em torno da
reestruturação do Estado, da Reforma Administrativa, além da continuidade do processo
de privatizações.
Primeiramente, a CUT considera que a responsabilidade do Estado em relação à
sociedade deve ser compreendida enquanto um duplo papel: realizar ações com o
objetivo de reduzir ao máximo os efeitos econômicos e sociais negativos decorrentes de
conjunturas recessivas, e planejar e regular os fatores produtivos. Com a sua
minimização, o Estado perde a capacidade de assumir suas responsabilidades em
relação à sociedade 71 (p. 42-43 sic). Assim, o Estado deve realizar ações para diminuir
os efeitos econômicos e sociais negativos sobre os trabalhadores – e o movimento
sindical – pois estes são obrigados a conviver com o desemprego estrutural,
conseqüência da reestruturação produtiva e da globalização. E como já se tem
conhecimento destas conseqüências - e de sua inevitabilidade -, de seus efeitos
negativas, o desemprego, o Estado deve se antecipar para planejar e regular os fatores
produtivos. Não vamos nos deter em comentar a visão da CUT sobre Estado e sua
suposta responsabilidade perante a sociedade CII; as preocupações da Central estão
voltadas para reduzir os efeitos negativos provocado nos trabalhadores pelas políticas
econômicas e sociais neoliberais, e não para organizar os trabalhadores para enfrentar e
derrotar tal política. Além disso, os efeitos negativos não atingem apenas os
CII Se o Estado é responsável perante a “sociedade”, ele é apresentado e alçado à condição de “autoridade”, autoridade que se coloca “acima” da “sociedade”, acima, portanto, dos diferentes interesses de classes antagônicos e em luta nesta “sociedade”.
102
trabalhadores e sim, segundo a CUT, a sociedade, portanto, inclui as classes
dominantes, ou pelo menos, algumas de suas frações, entre os atingidos pelos efeitos
econômicos e sociais negativos da política neoliberal.
Chamamos atenção para o exposto acima pelas implicações à prática sindical. A
CUT havia se aproximado da grande burguesia industrial brasileira, e lançou, em
setembro de 1995, um manifesto conjunto com a Confederação Nacional da Indústria –
CNI, acolhendo os reclames da burguesia industrial contra a abertura comercial
exagerada e abrupta, contra a alta dos juros, a excessiva carga tributária. Nesse
manifesto, CUT e CNI, sustentaram que a estabilidade monetária é uma necessidade e
um desejo de toda a sociedade, porque é um pré-requisito para o desenvolvimento
econômico sustentado e socialmente justo... [e] ...a realização de uma Reforma
Tributária ampla e abrangente que, entre outros objetivos, permita a elevação da
competitividade da economia, que viabilize a oferta pública de serviços básicos como
saúde e educação, o combate a sonegação e a melhoria da distribuição de renda 141 (p.
18).
A chamada estabilidade monetária é um verdadeiro apanágio das políticas de
matiz neoliberal. A estabilidade aqui no sentido do capital financeiro internacional e
nacional assegurar o ambiente favorável para garantir sua remuneração,
predominantemente especulativa, pelos pagamentos com os serviços das dívidas externa
e interna. Por outro lado, para os trabalhadores e os setores populares, ela (a estabilidade
monetária) representa o oposto, ou seja, a instabilidade: o desemprego, a redução dos
salários e dos ganhos auferidos com o trabalho, a precariedade dos serviços sociais
públicos atingidos pela redução (relativa ou absoluta) dos gastos sociais do Estado
brasileiro. A instabilidade para as classes dominadas é a estabilidade para a
continuidade da exploração a que estão submetidas pelas classes dominantes, duas faces
do mesmo processo. Da mesma forma, a elevação da competitividade da economia é
perseguida pelas classes dominantes, por meio da redução dos custos salariais e dos
direitos sociais. Redução de salários, desregulamentação e flexibilização das relações de
trabalho, recurso à terceirização praticada das grandes às pequenas, que permite,
democraticamente, ao conjunto das classes dominantes - entre ela a burguesia industrial
- acesso à exploração sem freios dos trabalhadores 24.
103
É certo que as políticas neoliberais têm contemplado os interesses do
imperialismo e das classes dominantes brasileiras e também é correto que os tem
contemplando de forma desigual O setor industrial da burguesia brasileira reclama das
altas taxas de juros, da abertura comercial indiscriminada, da elevação da carga
tributária, mas não combate a desindexação salarial, a desregulamentação das relações
de trabalho, o corte de direitos sociais, a contenção dos gastos sociais do Estado. Mais
que isto, não só não os combate, como inclusive os tem aplaudido, e buscado compensar
suas pretensas desvantagens por meio da superexploração sobre a força de trabalho 24,
42,79,142 , o que questiona certas alianças então assumidas pela CUT 24, 142 .
Retomando nossa discussão e avançando acerca do papel do Estado em relação
às políticas sociais. Considerava a CUT nas resoluções do 6º Concut 71: Quanto ao
papel do Estado em relação às políticas sociais, é importante notar que a realidade
hoje existente impõe a sua redefinição. Acostumamos a enxergar o Estado como o único
agente responsável pela definição e execução dessas políticas. Na perspectiva de um
embate mais ideológico, Estado e mercado sempre surgiram como únicas alternativas
de viabilização do bem-estar social. No entanto, a dinâmica atual tem-nos mostrado
que outros atores sociais podem e devem contribuir nas definições, implementações,
controle e eficácia das políticas públicas (p. 43 sic). Ou seja, a CUT sustenta que outros
atores sociais podem participar das políticas públicas para viabilizar o bem-estar social.
E entende que estes outros atores sociais devam participar não apenas na definição,
controle e eficácia das políticas públicas, mas também na sua implementação. Ora, mas
não era justamente isto – transferir as políticas públicas de bem-estar para outros atores
sociais - que a implementação da política neoliberal estava desenvolvendo no Brasil?
Não eram nesta direção as propostas de transformação de órgãos da administração
estatal em organizações sociais? Não estava a política neoliberal, justamente, e na área
da saúde há tantos exemplos, transferindo para ONGs e o chamado Terceiro Setor, a
execução de uma série de serviços sociais? E as classes dominantes, através da política
neoliberal – que debilitava ainda mais os serviços sociais públicos - não implementam
tais medidas travando um embate mais ideológico com as posições das classes
dominadas? Não estaria o sindicalismo e a CUT, ao defenderem outros atores sociais
para viabilizar o bem-estar social, cedendo posições e desarmando as classes dominadas
104
no embate mais ideológico na defesa dos direitos sociais? Não seria a conciliação com o
neoliberalismo?
Antes de prosseguir, seria bom um esclarecimento. Não se afirma que a CUT
aderiu ao neoliberalismo, como alguns estudos demonstraram para o caso da Força
Sindical 143. Nos referimos à cúpula da Força Sindical, pois há variações e distinções
importantes em relação aos sindicatos filiados a central, inclusive na luta em defesa da
saúde dos trabalhadores com relevante participação na denúncia dos acidentes e doenças
do trabalho 144. O que se apresenta, no caso da CUT, é um discurso que estabelece
pontos de contato com a política neoliberal, que induz a uma prática sindical hesitante, o
que nos permite falar, em termos mais gerais, de uma política de conciliação com o
neoliberalismo. Falamos em termos gerais porque há situações concretas em que o
sindicalismo cutista não reproduziu no todo, ou em parte, as orientações acima
enunciadas. E isto pode ser visto pelo combate à terceirização, a introdução de
cooperativas de trabalho, a crítica à flexibilização dos vínculos empregatícios nos
serviços de saúde, a defesa de concursos públicos CIII .
E quem seria estes outros atores sociais? O 6º Concut nomeou como outros
atores sociais as próprias entidades sindicais e a parceria com ONGs 140,CIV . A Central
atuaria não apenas propondo políticas públicas, mas executando serviços sociais
preteridos pelo Estado, com destaque para área de educação e formação profissional.
Emergia um setor sindical empenhado na execução e gestão de projetos sociais
recorrendo à disputa pelos fundos públicos, além de estimular a formação de
Cooperativas de Seguros Civis, Cooperativas de fundo de pensão complementares sob
argumentação de investir os recursos daí provenientes em experiências cooperativas e
de autogestão para geração de emprego e renda no combate à precarização do trabalho
CIII Na Tese da CUT à 10ª Conferência Nacional de Saúde 103, sustenta-se que O Estado tem como obrigação essa sociedade, promover a Saúde. Não há como, em uma situação como a brasileira, pensarmos em um estado mínimo. O Estado não tem que ser nem mínimo nem máximo, mas sim adequado ao tamanho necessário para promover a reforma agrária, para garantir a renda minima a cada habitante, para assegurar trabalho e direitos sociais a todos. Consideramos que os direitos começam pela Saúde, condição essencial para se ter acesso às outras necessidades básicas. Ainda com base neste documento, se critica abertamente a terceirização, as cooperativas e a flexibilização dos vínculos nos serviços de saúde, é feita também a defesa do concurso público para os agentes comunitários de saúde. Contudo, esse destaque e ênfase não aparecem na Tese da CUT à XI Conferencia Nacional de Saúde 105, apenas cita, retrospectivamente, o combate às modalidades de Organizações Sociais e o PAS. CIV Justificava a parceria com as ONGs pelo fato de serem constituídas, em sua maioria, por pessoas bastante qualificadas nas diversas áreas em que atuam. Informa CUT. As políticas sociais da CUT. n.º 263, novembro de 1996, p. 21..
105
71. Este sindicalismo explora os interstícios deixados pelo Estado para oferecer
assistência aos trabalhadores e filiados sindicais, sua valorização apontaria para um
aumento das ações de assistência social em detrimento da mobilização e da luta por
direitos 97.
Assim, no âmbito da CUT estariam convivendo três modalidades distintas de
ação sindical relativa à proteção social do Estado, a saber: a) pressionar o Estado para
manter e ampliar os direitos sociais; b) participar institucionalmente na formulação de
políticas públicas; e) disputar o fundo público para gerir e executar serviços sociais.
4. 1 - O sindicato como executor e gestor de serviços sociais: assistência
como empreendimento social, uma possibilidade?
A prestação de serviços assistenciais pelos sindicatos de trabalhadores não é
novidade na prática sindical, acompanha a história do sindicalismo brasileiro, passando
por diferentes conjunturas, incorporada por diversas categorias de trabalhadores na
cidade e no campo e, portanto, assumiu, e continua a assumir, distintos significados
políticos. Uma idéia do peso que a assistência médica representa na atividade
assistencial dos sindicatos pode ser fornecida pela Pesquisa Sindical 2001 do IBGE 56.
A pesquisa levantou dados sobre os principais serviços oferecidos pelo sindicato de
trabalhadores, sejam serviços próprios, e / ou por terceiros através de convênios /
acordos firmados com a intermediação do sindicato. Em relação aos sindicatos de
trabalhadores urbanos, em todo país, os serviços e convênios médicos e os convênios
odontológicos ocupam, respectivamente, o segundo e terceiro lugares, somente atrás dos
serviços jurídicos.
106
Quadro 2 Indicadores de serviços prestados e atividades oferecidas pelos sindicatos
de trabalhadores urbanos e rurais aos associados - Brasil - 2001
Indicadores de serviços prestados e atividades oferecidas
Sindicato de Trabalhadores
urbanos
Sindicato de Trabalhadores
rurais Percentual de sindicatos que oferecem algum tipo de serviço ou atividades 52 % 24 %
Principal serviço prestado ou atividades oferecidas
Jurídico (77%)
Jurídico (52%)
Segundo serviço prestado ou atividades oferecidas
Convênio médico (45%)
Educação e formação sindical
(31%)
Terceiro serviço prestado ou atividades oferecidas
Convênios odontológicos
(42%)
Convênios médicos, e serviços
odontológicos (24% de cada)
Quarto serviço prestado ou atividades oferecidas
Educação e formação sindical; e esportivas,
culturais e sociais (39% de cada)
Esportivas, culturais e sociais (22%)
Fonte: IBGE - Pesquisa Sindical 2001.
É na região Sudeste que se concentra o maior número de sindicatos de
trabalhadores que prestam serviços médicos e odontológicos, especialmente entre os
sindicatos urbanos. O quadro apresenta o percentual de sindicatos urbanos que prestam
serviços médicos aos associados, segundo a Região, Brasil - 2001
Quadro 3
Percentual de sindicatos de trabalhadores urbanos que prestam serviços médicos aos associados, segundo a Região - Brasil – 2001
Grande Região Percentual de sindicatos de trabalhadores urbanos que oferecem serviços médicos
Norte 31 % Nordeste 22 % Sudeste 47 % Sul 44 % Centro-Oeste 40 %
Fonte: IBGE – Pesquisa Sindical – 2001. (Elaboração própria)
107
No final dos anos 1970, a reorganização das entidades e das lutas sindicais dos
trabalhadores foi acompanhada de uma crítica ao assistencialismo sindical. Este foi
identificado, pela CUT, como elemento fundamental e princípio básico da prática do
sindicalismo que emergiu com a estrutura sindical de Estado pós-1930. Seu objetivo
seria, segundo a CUT, desviar a ação sindical das lutas combativas dos trabalhadores 145,146,CV.
Derivada desta compreensão, o sindicalismo cutista sustentava a necessidade de
ruptura com a antiga estrutura sindical, e apontava para que seus sindicatos
desenvolvessem ações com objetivo de acabar com a prestação de serviços assistenciais,
em especial, a assistência médica e odontológica. No plano para implantação da
sustentação financeira da nova estrutura sindical proposta pela CUT em seu 2º
Congresso 146, realizado em 1986, orientava os sindicatos para trabalhar pelo fim
gradual do assistencialismo exigindo que o Estado assuma este papel garantindo-se a
saúde e assistência médica sob o controle dos trabalhadores 146 (p. 90).
Assim, no final da década de 1980, a crítica às práticas assistencialistas nos
sindicatos, onde a assistência médica tem papel de destaque, persistia e reascendia, com
alguns sindicatos importantes da base da CUT vivendo esse conflito, como podemos
extrair dos estudos de Warth 147 e de Repullo Junior 148. Em seu trabalho sobre o
assistencialismo médico no Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, Warth 147
apontou que estaria ocorrendo uma acomodação burocrática (p. 44) do sindicalismo
cutista em relação à manutenção do assistencialismo médico, ao mesmo tempo,
registrava o fortalecimento dessa prática por correntes sindicais conservadoras CVI. A
noção de acomodação burocrática nos termos colocados - manutenção do
assistencialismo médico nos sindicatos da CUT - não dá conta da complexidade da
questão. Superar o assistencialismo médico, como veremos, ultrapassa a extinção da
CV O 1º Concut considera que a velha estrutura sindical tem como princípios básicos: (...) o assistencialismo (para desviar a ação sindical) 145(p. 29), Aprovou desenvolver campanha de formação e orientação para os sindicatos rurais, visando integrá-los na luta pela reforma agrária e ao estabelecimento de um sindicalismo combativo e sem assistencialismo 145 (p. 24). O 2º Concut apontava e criticava o então assistencialismo como elemento fundamental da prática sindical 146(p. 71).. CVI Warth 147 cita que na categoria metalúrgica do Rio de Janeiro no início do ano de 1991, os trabalhadores da Standar Eletrônica travaram uma acirrada discussão para decidir a adesão à medicina de grupo... colocando em confronto a Comissão de Fábrica, composta principalmente por técnicos e operários especializados (engenheiros, torneiros) favoráveis à adesão e bases operárias contrárias à adesão, iradas com o desconto dos salários e o duvidoso benefício num setor de grande rotatividade (p. 39).
108
prestação de serviços médicos pelo sindicato, a supressão dos serviços pode ocorrer mas
as atividades assistenciais persistir, sofrer modificações, outras modalidades serem
difundidas e acarretar, inclusive, o reforço das práticas assistenciais. Por outro lado,
também não está excluída a possibilidade do atendimento médico pelo sindicato não ser
identificada como assistencialismo. Quando integrado as lutas em defesa da saúde pode
apoiar a organização coletiva dos trabalhadores, como nos informa as experiências do
Sindicato dos Metalúrgicos da Baixada Santista – SP que com o auxilio das atividades
de assistência médica aos trabalhadores desencadeou, no início dos anos 1980, a luta
contra a leucopenia na Companhia Siderúrgica Paulista - COSIPA, movimento que
adquiriu dimensão nacional e unificou vários sindicatos e trabalhadores 18.
A questão do assistencialismo e do assistencialismo médico em particular, nesse
período, também mobilizou o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo,
atual Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. O Relatório do Departamento Médico-
odontológico do Sindicato 149, em agosto de 1989, apontava que a atividade do
departamento se caracterizava por uma prática rotineira, paternalista, distanciada da
prática do sindicato enquanto organização da categoria (p. 1). Constava ainda que,
apesar dos avanços e conquistas históricas, a prática de prestação de serviços de saúde
continua atrasada, sem nenhum conteúdo de conscientização do trabalhador com
relação ao papel do sindicato, com relação aos seus direitos à saúde, assistência
médica, etc. 149 (p. 1) O 5º Congresso do Sindicato, realizado entre 28 de agosto e 04 de
outubro de 1987, já havia apontado para o enfrentamento do assistencialismo interno.
Contudo, a assistência médica e odontológica prestada pelo ambulatório do
sindicato possuía uma importância para parcela considerável dos metalúrgicos da
Região do ABCD, associados do sindicato. Pesquisa, realizada em 1986, com
trabalhadores de 17 maiores empresas da base da categoria que freqüentavam o
ambulatório, indagou sobre o motivo que levava à sindicalização; 38% dos
trabalhadores que responderam à pergunta afirmaram ser pela assistência médico-
odontológica.
O referido Relatório forneceu outros elementos relativos à assistência médica
aos trabalhadores: a política de saúde, naquele momento, passava por uma série de
mudanças, na Região do ABC, registrava-se uma diminuição dos hospitais que
prestavam serviços ao INAMPS, acarretando dificuldade de acesso e aumento do tempo
109
de espera para atendimento em consultas de diversas especialidades, além da prática de
cobrança por fora por alguns hospitais contratados pelo antigo INAMPS, o aumento do
desemprego entre os metalúrgicos, fatores que, em seu conjunto, contribuíam para
sobrecarregar o atendimento do ambulatório médico-odontológico do sindicato 149 .
O Departamento Médico-Odontológico do Sindicato argumentou a favor da
reorientação de suas atividades, em consonância com as diretrizes políticas da CUT, de
se buscar formas alternativas visando à extinção do departamento assistencial.
Tendência que seria confirmada pelo 6º Congresso do Sindicato, realizado em 1991: O
nosso Sindicato já deu passos importantes para acabar com o assistencialismo, isso
pode ser constatado tanto pela devolução do Imposto Sindical, prática adotada desde
1988, como através do processo de reorganização interna, que reduziu o depto.
médico-odontológico e eliminou o laboratório.. É necessário continuar o debate em
torno do verdadeiro papel do Sindicato, visando a extinção dos departamentos que
representam uma concepção contrária à concepção cutista de sindicalismo combativo.
Isso deve ser feito através de amplo debate de esclarecimento dos trabalhadores por
intermédio de suas organizações de base (Comissões de Fábrica, CIPAS, etc). Em
princípio, fica definido que tal extinção deverá ocorrer até o final de 1991, com
flexibilidade e realização de assembléia da categoria caso esse prazo se revele
insuficiente 139 .
O antigo Departamento Médico-odontológico foi substituído pelo atual
Departamento de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente – DSTMA, um departamento
de assessoria do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC nas áreas de Saúde Ocupacional,
condições de trabalho, ergonomia e meio ambiente. O atendimento médico se restringe,
especificamente, à atividade pericial na área de doenças profissionais ou relacionadas ao
trabalho, identificação diagnóstica, estabelecimento de nexos ocupacionais e laudos
periciais.
Contudo, o período subseqüente à extinção da assistência médico-odontológica
pelo sindicato marcou um novo impulso de modalidades assistenciais dos mais diversos
tipos, inclusive assistência à saúde, expressão de mudanças políticas no sindicalismo. A
questão não pode ser redutível a tautologia: assistência médica prestada pelo sindicato =
assistencialismo sindical, da mesma forma considerar que a negação da sentença
apresentada à esquerda implica necessariamente a negativa da sentença colocada à
110
direita. Ou seja, o encerramento da prestação de assistência médica pelo sindicato não
necessariamente implica a ruptura com o assistencialismo, inclusive, o assistencialismo
médico.
Luiz Marinho, em junho de 1997, então presidente do Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC, considerava: o sindicalismo vive agora seu pior momento... [e]
...vai passar por mudanças radicais. No caso dos metalúrgicos, acho que a tendência é
diminuírem ainda mais os postos de trabalho. Com isso, o sindicato se enfraquece. O
desafio hoje é encontrar formas para equilibrar financeiramente os sindicatos e
ampliar a área de atuação, representar a demanda dos desempregados, dos autônomos
e dos subempregados CVII (p. 6). Mas as mudanças políticas no sindicalismo, mudanças
radicais, já estavam em curso e tendendo à direção contrária à da combatividade. O que
se radicalizava era, por um lado, a negociação corporativa por empresa e, de outro, as
práticas de um sindicalismo executor e gestor de projetos sociais, as ações de assistência
social em contraposição à luta por direitos sociais, práticas sindicais nomeada por Luiz
Marinho como sindicato cidadão, pois, enfim, descobre-se que o sindicalismo deve
participar não só da vida das pessoas da categoria, mas de toda a sociedade CVIII (p. 6).
Neste período, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC organizou e executa
serviços e empreendimentos sociais nas áreas de: habitação; educação (alfabetização
para jovens e adultos, pré-vestibular para trabalhadores de baixa renda); assistência a
crianças em situação de rua; qualificação profissional e intermediação de trabalho,
participando na Central de Trabalho e Renda da CUT, criada para intermediar mão-de-
obra, oferecer treinamento profissional, cursos de reciclagem e de cooperativismo a
desempregados; micro-crédito com sociedade no Banco do Povo de Santo André. Estas
ações são valorizadas pelo sindicato pois demonstra seu compromisso com a sociedade,
selando o que já se chamou de sindicato cidadão. Para mobilizar os metalúrgicos a
comparecerem à votação para renovação da diretoria, em recente processo eleitoral
CVII Sergio Lírio. Greve será último recurso, diz Marinho. Folha de São Paulo, 01 de junho de 1997, Editoria: Dinheiro, p. 6. CVIII Assim como muda a forma de enfrentamento, muda a forma de atuação, radicalizar no processo democrático dentro das empresas. Desde o final da década de 80, você tem a visão do sindicato cidadão, no sentido de participar não só da vida das pessoas da categoria, mas de toda a sociedade. Como é o caso do movimento de alfabetização, das crianças e adolescentes de rua, da questão da terra... Assim, como agora, a campanha de arrecadação, em solidariedade aos irmãos nordestinos. E também na vida política do país. (Entrevista de Luiz Marinho ao jornal do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Tribuna acompanhou a evolução do Sindicato. Tribuna Metalúrgica Especial Trinta Anos de História. www.abcdeluta.org.br).
111
vivido pelo Sindicato em 2005, foram apresentados dez motivos, um deles chama
atenção. Com o titulo Cidadania, o sindicato apresenta como uma de suas virtudes
olhar para os companheiros além do local de trabalho incentivando o MOVA,
convênios médicos / Senai / educacionais / lazer / serviços, clube de campo e muito
mais CIX .
Na mesma entrevista concedida à Folha de São Paulo, que citamos acima, Luiz
Marinho informa que a decisão do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em seu 2º
Congresso, realizado em 1997, de criar os comitês de fábrica, atual Comitê Sindical de
Empresa – CSE, tem por base a preparação do sindicato para uma provável competição
entre as Centrais sindicais e sindicatos pela adesão dos trabalhadores, em razão da
perspectiva de implantação da pluralidade sindical no país CX. A reformulação da
estrutura sindical no país - onde estão previstos a pluralidade sindical e o fim do
imposto sindical - ao longo deste período, tem mobilizado as diversas centrais
sindicais. Uma de suas prováveis implicações, apontada tanto por importantes dirigentes
da CUT, da Força Sindical e da Social Democracia Sindical, seria a tendência dos
sindicatos passarem a oferecer uma variedade de serviços sociais como forma de atrair
trabalhadores e associados. Há algumas variações entre as centrais. Os dirigentes da
Força Sindical e da Social Democracia Sindical defendem abertamente que os
sindicatos devam desenvolver empreendimentos sociais e a cobrança pela prestação
destes serviços como fonte de recursos para as entidades sindicais. Para o presidente da
Confederação Nacional dos Metalúrgicos – CNM, importante dirigente da CUT, em que
CIX Os demais motivos apresentados pelo sindicato são: a luta em defesa do Emprego; do Salário; as Comissões temáticas; a Tradição e história; Direitos; Organização sindical; Economia solidária; Tradição e história; Regionalidade: Continuar ao lado de iniciativas para o fortalecimento econômico e social do ABC, como Câmara Regional, Agência de Desenvolvimento, Universidade do ABC e outras; e a Luta nacional em que destaca: Combate à guerra fiscal, à reestruturação selvagem e às novas formas de dominação. Defesa do Contrato Coletivo de Trabalho Nacional.. Conforme: 10 motivos para votar nas eleições do Sindicato. Tribuna Metalúrgica n.º 2002, 24 de maio de 2005. CX Perguntado pela Folha de São Paulo se os comitês não iriam sufocar as comissões de fábrica, das quais também participam empregados não sindicalizados e que, teoricamente, são mais democráticas, Luiz Marinho, responderia que a idéia não é acabar com as comissões. Caso a pluralidade sindical seja aprovada, eu quero ter o direito de chegar na porta de uma fábrica e discutir com os metalúrgicos se eles querem se filiar ao sindicato do ABC. Da mesma forma eu tenho que prever que o Paulinho (do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, filiado à Força Sindical) poderia chegar na Volks e ver a parcela de trabalhadores que querem se filiar ao seu sindicato.Portanto, nós poderemos ter dois sindicatos em uma mesma unidade disputando filiados. Então você tem que ter um organismo independente que represente o conjunto dos trabalhadores (sindicalizados ou não), que é a comissão de fábrica. Comitês e comissões poderão conviver no mesmo espaço e é bom que isso aconteça. (Sergio Lírio. Greve será último recurso, diz Marinho. Folha de São Paulo, 01 de junho de 1997, Editoria: Dinheiro, p. 6.).
112
pese a ressalva de que a participação em negócios descaracteriza a luta sindical CXI (p.
4), defende que a obrigação do sindicato seria ’atrair o trabalhador com propostas e
oferecer serviços sociais gratuitos’ CXII (p. 4). Assim, a diferença entre as centrais
sindicais não se situa admitir ou recusar a prestação de serviços sociais pelos sindicatos
– mesmo porque, neste momento, sua execução já era uma realidade concreta, não era
apenas defendida e sim praticada por todas as centrais. Os serviços sociais gratuitos,
defendidos pelo dirigente da CUT, em sua maioria, resultariam da transferência de
recursos do Estado, do fundo público, repassados para execução dos serviços pelos
sindicatos. O 2º Congresso do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC 150 aprovou
desenvolver ações para disputar os fundos públicos, captação de recursos públicos, além
de outras fontes financiadoras de projetos sociais. Também como vimos antes, a CUT
passou a advogar para si e seus sindicatos a formação e gestão de Cooperativas de
Seguros Civis, Cooperativas de fundo de pensão complementares argumentando que os
recursos daí provenientes seriam aplicados na geração de emprego e renda 71. Constam
também no rol de serviços a serem desenvolvidos pelos sindicatos: planos de saúde
próprios, seguro por morte ou invalidez, gestão de fundos de previdência privada, e a
presença ou ausência destes e outros serviços, sua menor ou melhor qualidade, bem
como a variação de seu preço, passam a compor o horizonte dos sindicalistas para
melhor atrair os trabalhadores perante a possibilidade da deflagração de uma
competição entre as entidades sindicais.
4. 2 – Militância ou Voluntariado?
Vejamos um outro aspecto incorporado pela prática sindical que fornece mais
elementos para o entendimento do que seja participar não só da vida das pessoas da
categoria, mas de toda a sociedade. Entre as diversas modalidades de prestação de
serviços sociais públicos em substituição ao Estado, chamou a atenção à participação
em projetos no campo denominado de voluntariado, denominação incorporada pelo
sindicato. Os metalúrgicos são mobilizados pelo sindicato do ABC para realizarem
CXI Os dirigentes das centrais sindicais referidos são: Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical; José Ibrahim secretário geral da Social Democracia Sindical – SDS e Heiguiberto Guiba, presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos – CNM/CUT. (Mauro Teixeira. Sindicatos mudam perfil para sobreviver. Folha de São Paulo, 17 de outubro de 1999, Cadernos Dinheiro, p. 4).. CXII Idem.
113
serviços de manutenção e recuperação dos equipamentos da rede de Hospitais Públicos
e das Unidades Básicas de Saúde nos Municípios da Região do ABCD. Um dos
argumentos do sindicato para o que chamou de mãozinha pra melhorar saúde é a
integração com a comunidade local CXIII .
Em 2003, na Cidade de Diadema, Região do grande ABC, durante a
administração do prefeito José de Filippi Júnior do Partido dos Trabalhadores – PT, foi
firmada uma parceria entre trabalhadores, Prefeitura e empresários. As empresas
forneciam o material necessário para a recuperação dos equipamentos: camas
hospitalares, armários, escadas, pedestais, janelas etc... e os metalúrgicos voluntários
realizavam os serviços nos finais de semana CXIV .
A proposta não estava restrita a um determinado contexto, algo eventual ou
emergencial na cidade, mas faz parte das orientações do sindicalismo-cidadão. O
coordenador da Regional de Diadema do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC levantou
a possibilidade de que ...a ação envolva outros sindicatos e categorias e se estenda para
outros serviços públicos, como educação e lazer CXV. As ações envolviam a criação de
uma fundação privada de apoio à área da saúde, reforçando-se a idéia da superioridade
da eficiência do setor privado em relação ao setor público: A fundação privada ganha
uma agilidade que o serviço público não tem CXVI . A responsabilidade pela melhoria
das condições dos serviços públicos de saúde é transferida aos trabalhadores. É esta
dimensão integra a concepção sindical de cidadania.
Em 1991/1992, os dirigentes sindicais dos metalúrgicos do ABC estimulavam a
participação popular na gestão dos serviços públicos de saúde; em 2003, convocavam os
metalúrgicos para reparar os equipamentos públicos dos serviços de saúde. Em
1991/1992, apontavam na organização das comissões de saúde nos bairros, o debate dos
problemas de saúde e o envio da pauta de reivindicações aos órgãos governamentais;
em 2003, os operários são mobilizados para executar os serviços no lugar do poder
público. Em 1991/1992, os trabalhadores e moradores eram convocados (nas fábricas e
nos bairros) para se tornarem militantes na defesa pela melhoria dos serviços públicos;
CXIII Mãozinha pra melhorar saúde. Tribuna Metalúrgica de 10/12/2003. CXIV Saúde em Diadema: Voluntariado está garantido, Tribuna Metalúrgica de 17/04/2003. CXV Saúde em Diadema: Parceria vai garantir recuperação de equipamentos, Tribuna Metalúrgica de 16/04/2003 e Parceria com Prefeitura de Diadema: Regional conhece demanda no PS, Tribuna Metalúrgica de 04/04/2003. CXVI Ação pode ser ampliada, Tribuna Metalúrgica de 16/04/2003.
114
já em 2003, os metalúrgicos são conclamados para atuar e até se organizarem enquanto
voluntariado.
Nos limites deste trabalho, nosso propósito aqui não é avançar mais na
discussão. O que pretendemos é fornecer elementos para compreender que na defesa do
direito a assistência à saúde está inserida, e sua análise não pode ser deslocada, as
posições e práticas políticas e sindicais dos trabalhadores pelos direitos sociais, por sua
vez, fundamentadas pela estrutura social do país e que é travada numa determinada
conjuntura econômica, social e política.
As questões destacadas neste capítulo apontam para emergência e incorporação,
na conjuntura aberta nos anos 1990 - especialmente em sua segunda metade e
intensificada nos últimos anos, de outra modalidade de ação sindical em relação ao
Estado: a execução e a gestão de projetos e serviços sociais. Modalidade de ação
sindical distinta das anteriores: luta por direitos sociais como dever do Estado e a
participação institucional na formulação de políticas públicas. Essas distintas
orientações e práticas coexistem no meio sindical e no interior da mesma entidade
sindical de forma contraditória, mas nem sempre excludente entre si. A disposição de
um setor sindical interessado em explorar os interstícios deixados pelo Estado para
oferecer assistência aos trabalhadores e filiados sindicais levanta a hipótese da
emergência do novo assistencialismo sindical. Diferentemente do anterior em que
predominava a execução de serviços sociais diretamente pelos sindicatos, este parece se
aproximar de verdadeiros empreendimentos sociais, o que seria objeto para futuras
análises sobre a interlocução sindical na dinâmica da relação público-privado na
assistência à saúde.
115
Considerações finais
Este estudo discutiu a ação sindical, especialmente o sindicalismo da Central
Única dos Trabalhadores, que lança mão de um discurso a favor da assistência à saúde
no SUS e negocia junto às empresas melhorias nos planos e seguros privados de saúde.
Indagou-se se este fato poderia ou não representar um paradoxo da ação sindical na
saúde.
Ao longo da pesquisa tornou-se necessário retomar alguns estudos da Medicina
Social Latino-americana e da Saúde Coletiva no Brasil que avançaram na compreensão
acerca do processo de reprodução social da força de trabalho, que integra e é
determinado, em última instância, pelo processo de produção e reprodução ampliada do
capital, relacionada às práticas de classe e às formas de luta de classes em uma
formação social específica. Em particular no Brasil, desde os momentos iniciais do
desenvolvimento do capitalismo no país, se combinam baixos salários reais com
benefícios sociais e previdenciários (público e/ou privado), ao lado de medidas que
cerceiam a organização política e sindical dos trabalhadores.
As lutas políticas e ideológicas presentes no processo de reprodução social da
força de trabalho não ocorrem deslocadas de iniciativas materiais capazes de produzir e
forjar necessidades de consumo dos trabalhadores, entre as quais o consumo de atenção
médico-hospitalar e de serviços de saúde em geral. Processo que se desencadeia nunca
sem luta prévia e continuada que opõe as classes dominantes às classes dominadas. A
questão da assistência à saúde do trabalhador e os processos de produção-consumo de
serviços de saúde, a intermediação de seu financiamento, o seguro social e o seguro
saúde, e os sistemas de saúde que daí se conformam, em sua dinâmica contraditória, se
constituem integrados aos processos de reprodução social e de luta de classes.
Apresentamos elementos suficientes para não considerar satisfatórias as
interpretações na Saúde Coletiva, discutidas no início desta dissertação, acerca da
política sindical e sua interlocução com o SUS e os planos de saúde no que tange a
assistência à saúde dos trabalhadores. Vimos que esses estudos, ao argumentarem a
existência de um paradoxo – a despeito das variantes teóricas que a fundamentam –,
identificara o processo de expansão do mercado de planos e seguro privados de saúde
no país como decorrente das demandas sociais dos trabalhadores e de seus sindicatos
116
que emergiram das negociações coletivas nos anos 1980. Esta interpretação tem
implicado responsabilizar / condenar, em diferentes graus e níveis, importantes
segmentos de trabalhadores e suas organizações sindicais pela expansão da medicina
suplementar, pela resistência e enfraquecimento do SUS. Consideramos que os
trabalhos que sustentam esta assertiva não se ocuparam e, por isto, não identificaram os
pesos relativos que cada um dos aspectos do sistema de saúde, SUS e planos e seguros
privado de saúde, obtiveram na ação sindical, com respeito à singularidade histórica dos
distintos momentos da conjuntura brasileira. Isto porque não vislumbrou a prática
sindical em defesa da assistência à saúde do trabalhador inserida mais amplamente nas
lutas políticas e sociais dos trabalhadores.
Ambos, o público e o privado coexistem no discurso e na prática sindical,
inclusive na intervenção nos fóruns maiores de política pública de saúde. Não se pode
qualificar como um paradoxo – no sentido atribuído pelos autores mencionados - as
posições defendidas pelos dirigentes sindicais quanto à assistência à saúde. Explicitando
melhor: não estamos afirmando uma suposta ausência de contradição entre discurso e
prática sindical, a existência de contradição entre discurso e prática é própria à natureza
deste processo. Apontamos, para entender essa dinâmica como uma unidade
contraditória e não enquanto duas totalidades distintas entre si, que o discurso sindical
seja exterior à sua prática e vice-versa. Tanto o público quanto o privado estão presentes
na prática e, ao mesmo tempo, integram o discurso sindical, ou seja, a referência ao
setor privado de assistência à saúde dos trabalhadores não é exterior ao discurso sindical
como dele estivesse ausente e aparecesse apenas na prática, em especial das
negociações coletivas. Tampouco o contrário: a defesa da assistência à saúde no setor
público não se limita aos fóruns de políticas públicas de saúde como se estivesse
ausente da prática sindical (como se fosse exterior à sua prática) junto aos trabalhadores.
Trata-se, portanto, de distinguir os pesos relativos que cada um dos aspectos, o setor
público de saúde / SUS e os planos e seguros privado de saúde, obtiveram na ação
sindical, conforme a conjuntura.
Na década de 1980, a despeito da existência de demandas múltiplas frente a
assistência à saúde dos trabalhadores predominou uma ação sindical mais ativa na
defesa do sistema público de saúde. Naquele contexto, a demanda por melhoria do
plano privado de saúde negociada com as empresas assumia uma dimensão mais
117
reativa. No entanto, a partir do início da década de 1990, frente às políticas neoliberais
ocorre uma inflexão e um rebaixamento da luta unificada pelos direitos sociais nas
posições do sindicalismo da Central Única dos Trabalhadores.
Ao analisarmos detalhadamente, nesse último período, o discurso do
sindicalismo cutista constata-se que ele contempla para o sistema de saúde composições
variáveis entre a participação do público (Estatal e não estatal) e do privado. A ação
sindical no que se refere à relação público-privado na assistência à saúde continuou a
centrar na polarização setor público estatal x setor privado prestador de serviços de
saúde contratado ou conveniado. Os planos e seguros privados de saúde aparecem
perifericamente nas resoluções e nos documentos sindicais, carecendo de um melhor
tratamento.
As preocupações com a assistência à saúde, no início dos anos 1990, apontaram
para a formulação e apresentação de propostas ao setor público de saúde, o SUS estatal,
no que seria a aplicação da estratégia participacionista do sindicalismo da CUT para o
setor saúde. Sobressai nas propostas da CUT a tendência em privilegiar a gestão e o
controle sobre os fundos públicos de saúde, disputando com as políticas neoliberais
quais propostas seriam mais eficientes para aperfeiçoar o aparelho estatal, o que, apesar
de suas variações e contradições, possibilita sua acomodação não antagônica às políticas
neoliberais. Nesse sentido, circunscreveu, predominantemente, a defesa do direito à
saúde aos fóruns superiores de discussão da política de saúde, uma institucionalização
instrumental às classes dominantes, desviando e fragmentando a mobilização
reivindicativa e política mais ampla da classe trabalhadora.
Por outro lado, o discurso sindical privilegiou o Contrato Coletivo de Trabalho.
Perdendo a dimensão da estrutura social e produtiva brasileira e o contexto em que essas
relações ocorrem, a concepção contratualista tem implicado, no contexto das políticas
neoliberais, o enfraquecimento da mobilização e da luta pelos direitos sociais. A CUT e
o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC atribuíram centralidade ao Contrato Coletivo de
Trabalho, o que debilitou e desviou o eixo das lutas pelos direitos sociais do plano
político mais amplo, entendido enquanto luta de classes, direcionando-a, no limite, para
o âmbito da empresa. Arena em que a mobilização, mais ou menos combativa, dos
trabalhadores organizados no local de trabalho, quando deslocados da luta política de
sua classe, reforça seu particularismo, a fragmentação e descentralização corporativa.
118
Neste sentido, a ação sindical tem reforçado, no período analisado, mesmo que
por vias não explicitadas, um certo padrão de complementaridade desigual e
segmentado entre a assistência à saúde do trabalhador intermediada pelo sistema
supletivo de saúde e a prestada pelo setor público.
O padrão de complementaridade desigual e segmentado pode ser reforçado
porque a ação sindical em relação aos direitos sociais e, em especial, a assistência à
saúde do trabalhador não está centrada, predominantemente, na pressão sobre o Estado
para ampliar e melhorar o SUS, mas em priorizar sua demanda pelo Contrato Coletivo
de Trabalho assumindo a diversidade e a heterogeneidade das empresas como critério
para negociação. Assim, a capacidade de organização alcançada pelos diferentes
segmentos de trabalhadores junto a seus empregadores seria o principal definidor do
tipo de padrão de assistência à saúde. A defesa de uma ação sindical diferenciada entre
setores e empresas como critério para negociação dissimula a natureza da contradição
entre classes antagônicas e irreconciliáveis e a reveste em conflitos de interesses entre
distintos grupos de trabalhadores e empresário(s). Portanto, a relação entre as classes
sociais aparece como uma contradição desprovida de antagonismo e é substituída por
uma visão contratual (coletiva) da relação capital x trabalho.
A reivindicação por melhoria dos planos e seguro privados de saúde, negociados
com os empregadores, na estratégia compreendida pelo contrato coletivo de trabalho no
contexto das políticas neoliberais, mantém a dimensão reativa assumida em outros
períodos, mas com significativas diferenças. O pleito sindical junto à ANS expressa o
recrudescimento, a partir da segunda metade dos anos 1990, de conflitos sindicais dos
trabalhadores em torno das chamadas cláusulas sociais. Registramos que os
metalúrgicos da Região do ABC e do estado de São Paulo vinculados à CUT resistiram
à forte ofensiva empresarial e mantiveram em suas convenções coletivas a estabilidade
no emprego até a aposentadoria para o trabalhador acidentado ou portador de doença do
trabalho. Através do jornal do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC/SP, observamos a
preocupação dos trabalhadores com - o que consideram representar - a investida das
empresas, inclusive das grandes, para esconder as doenças do trabalho como forma de
burlar a estabilidade. Nos anos mais recentes, esse sindicato, por meio de ação judicial,
tem conquistado a reintegração ao trabalho de metalúrgicos portadores de doenças
profissionais nas empresas do ABC após serem demitidos arbitrariamente. Além disso,
119
trabalhadores são constantemente excluídos do plano de saúde em função de estarem
afastados por doenças ou acidentes no trabalho.
O acelerado crescimento da informalidade e da precarização nas relações de
trabalho, do desemprego e a significativa redução dos rendimentos reais dos
trabalhadores imporia, em tese, aumento da pressão sobre o SUS. Por um lado, porque
reforçaria a tendência do sistema público como única alternativa de assistência à saúde
para maioria dos trabalhadores. Por outro, pela possibilidade de canalizar em favor do
SUS os descontentamentos do operariado qualificado, dos assalariados e de setores
médios pressionados além da queda de seus rendimentos pelo aumento nos custos e
demais problemas com os planos de saúde. Este contexto agrega elementos para seguir
questionando a aludida segurança da proteção à saúde dos planos coletivos, mas as
dificuldades de acesso e qualidade no SUS atuam contrariamente, limitando a extensão
desse questionamento.
Ocorre que esse processo encontrou o sindicalismo, majoritariamente, debilitado
política e ideologicamente. O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e a CUT, no inicio da
década de 1990, promoveram uma inflexão em sua ação sindical: o Contrato Coletivo
de Trabalho foi elevado à posição de principal definidor de suas demandas trabalhistas e
sociais, deslocando o Estado para posição secundária. Em relação ao Estado, a CUT
privilegiou uma atuação institucional para influir nas políticas públicas. Este seria um
primeiro deslocamento, advertindo que a CUT rebaixou a posição do Estado, mas não o
excluiu, inclusive nos seus processos de pressão política em favor de direitos sociais.
Mais recentemente, um segundo deslocamento vem se processando, agora quanto à
natureza da intervenção estatal, pleiteado pela ação sindical no âmbito da CUT. Emerge
um setor sindical empenhado na execução e gestão de projetos e serviços sociais
públicos recorrendo a disputa pelos fundos públicos, além de estimular a formação de
Cooperativas de Seguros Civis, Cooperativas de fundo de pensão complementares sob
argumentação de investir os recursos daí provenientes em experiências cooperativas e
de autogestão para geração de emprego e renda no combate à precarização do trabalho.
Este sindicalismo, que explora os interstícios deixados pelo Estado para oferecer
assistência aos trabalhadores e filiados sindicais, aponta para um aumento das ações de
assistência social em detrimento da mobilização e da luta por direitos.
120
A ação sindical aceita, executa e intensifica a prestação de serviços sociais
recusados e transferidos pelo Estado, majoritariamente, com recursos provenientes do
fundo público. Se a representação das classes dominantes através da política estatal
difunde esta modalidade de terceirização dos serviços públicos, não o faz no sentido de
assegurar, incorporar e ampliar estes serviços enquanto um direito social dos
trabalhadores, e sim porque, flutuando ao sabor da política econômica e social
neoliberal, os serviços sociais podem mais facilmente ser restringidos, interrompidos e -
no limite - abandonados.
Resumindo: a tendência seria a continuidade do público e do privado nas
demandas sindicais junto ao Estado e às empresas, entendendo que posições diferentes
convivem no meio sindical de forma contraditória, mas nem sempre excludente entre si.
No âmbito do sindicalismo da CUT, identificamos três modalidades distintas de ação
sindical relativa à proteção social do Estado, a saber: a) a ação sindical voltada para
pressionar o Estado para manter e ampliar os direitos sociais; b) a ação sindical que
participa institucionalmente na formulação de políticas públicas; e) a ação sindical que
busca disputar o fundo público para gerir e executar serviços sociais.
Levantamos uma diversidade de aspectos e considerações que necessitam de
maior aprofundamento. Entre os quais, investigar a possibilidade de se acomodar na
estrutura sindical brasileira um novo assistencialismo interessado na gestão da
previdência complementar, de planos de saúde e do seguro acidente de trabalho - SAT
para oferecer estes serviços aos trabalhadores e filiados sindicais. Aqui uma indicação
para futuras investigações: este assistencialismo não seria uma repetição, não seria o
mais do mesmo, do que se conhece na tradição das práticas assistenciais na história do
sindicalismo brasileiro. Estariam as atuais atividades assistenciais se aproximando de
verdadeiros empreendimentos sociais? Diferente do anterior, sua característica principal
não estaria na execução direta de serviços pelos sindicatos, mas na diversidade de
combinações para a intermediação da prestação destes serviços. Se tomarmos a
assistência à saúde, esta intermediação dificilmente seria colocada fora da esfera da
acumulação de capital no setor saúde e não alheio à competição do mercado de planos e
seguro privados de saúde.
As distintas modalidades de ação sindical no âmbito da CUT não guardaram
igual importância. Nos últimos anos tem predominado (nunca sem contradição) a
121
tendência a uma pratica sindical economicista e corporativista com repercussão também
em relação à assistência à saúde do trabalhador. Corporativismo não no sentido de um
corporativismo estatal e sim de um corporativismo enquanto insulamento de um grupo
ou de um segmento da classe trabalhadora, que se fecha em torno de si mesmo, se
insurge, se destaca do restante de sua classe, isolando-se ou a ela se contrapondo.
Resgatamos que essa modalidade de ação sindical se difundiu no Brasil na conjuntura
das políticas neoliberais, mas sua emergência remonta aos anos 1970 no processo de
rearticulação sindical. Seus efeitos expressos na desmobilização, fragmentação e
conciliação com o neoliberalismo são hoje visíveis.
Os períodos da história recente da luta dos trabalhadores pela assistência à saúde
no país não estão separados pois em ambos, especialmente agora, segue sendo exigida
uma resposta política que balize o campo próprio da classe trabalhadora. E o faça não
fora, mas na luta concreta dos trabalhadores. Não no espontaneísmo da luta de classes,
que disputa os trabalhadores para acompanhar uma ou outra variante da posição das
classes dominantes que, ao seu modo, competem para saber qual melhor as representa.
Possivelmente, foram ampliadas as desigualdades no acesso e na qualidade dos
serviços de saúde, inclusive entre os que adquirem um plano privado de saúde no
interior do setor supletivo. Ainda pouco estudado, se considerarmos que este setor não
estaria isento das clivagens de classes sociais no país que pode estar sendo
recrudescidas. Este quadro, nos conduz a recusar a oposição reducionista entre usuários
do sistema supletivo de saúde versus usuários do SUS, o que torna ainda mais
complexas as análises sobre a participação sindical na luta pela atenção à saúde dos
trabalhadores
Das considerações realizadas, poderíamos considerar que estariam vedadas para
o sindicalismo brasileiro as possibilidades de organizar ações reivindicativas de
natureza social e política ampla e solidária? A complexidade desse processo não permite
uma afirmação tão peremptória. A este respeito, concordamos com Stotz 39 (p. 31): se
na sociedade a única previsão realista é a da luta, as circunstâncias sempre podem
favorecer a emergência de lutas mais amplas, dependendo, em boa medida, da
capacidade das lideranças saberem aproveitar as circunstâncias. Ainda mais porque -
como também apontamos - o crescimento dos limites da cobertura assistencial privada
oferece as circunstâncias que recriam novas possibilidades das organizações sindicais se
122
colocarem na cena política. A depender da orientação que assumirem, as entidades
sindicais estarão em maior ou menor condição para aglutinar os interesses de amplos
segmentos dos trabalhadores e pressionar o Estado para ampliar e melhorar o sistema
público de saúde e demais serviços sociais.
A existência de referenciais distintos, presentes nas resoluções políticas da CUT,
poderia ser uma maneira de acomodar correntes políticas que a compõem. Também é
preciso notar que os sindicatos filiados à CUT possuem grande autonomia frente à
direção da central e muitos não reproduzem as diretrizes aprovadas. Assim, a
caracterização apontada, apesar de impor limites, não impossibilita que se desenvolvam
intervenções e ações que contem com a participação dos trabalhadores e de suas
organizações sindicais na perspectiva da Saúde do Trabalhador.
Além disso, a possibilidade também está presente na medida em que se perceba,
analisando a estrutura social do país, que a defesa do direito a assistência à saúde está
inserida às demais lutas pelos direitos sociais e estas, para serem alcançadas de forma
substancial, não se farão sem operar alterações significativas na própria estrutura social
brasileira. Neste processo, a luta para manter direitos e para a conquista de novos deve
contribuir para unificar o conjunto dos trabalhadores numa posição de classe. A
alteração da estrutura social não será realizada sem um rearranjo nas perdas e ganhos
das diversas classes e suas frações, requisitará dos trabalhadores a conquista de força
necessária para sustentá-las. Provavelmente, o percurso nesta direção será sinuoso, não
compreenderá uma ação político sindical única e, muito provavelmente, necessitará
competir e superar posições antagônicas. Já fizemos muito... Há muito ainda por fazer...
123
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http://www.ans.gov.br/portal/upload/biblioteca/TT_AR_3_ISoaresSantos_SetorPlanosSeguros.pdf). 81. Núcleo de Investigação em Serviços e Sistemas de Saúde (Nisis). Desafios Para a Eqüidade em Saúde na Região Metropolitana de São Paulo. Ou: Sobre Como as Fechaduras são Muito Grandes ou a Chave é Muito Pequena. In: Heimann LS, Ibanhes LC, Barboza R. organizadores. O Público e o Privado na Saúde. São Paulo: Hucitec, Opas, IDRC; 2005. p. 169-242. 82. Stotz EN. A Fabrica: Saúde e Servidão Burguesa. In: Valla VV, Stotz EN, organizadores. Educação, Saúde e Cidadania. Petrópolis: Vozes; 1994. p. 37-52. 83. Secretaria de Política Econômica/Ministério da Fazenda/Brasil (SPE/MF). Gastos do Governo Central: 2001 e 2002. Brasília – DF: SPE/MF; 2003. 84. Boito Jr. A. coordenador. Neoliberalismo e Trabalhadores no Brasil: Política, Ideologia e Movimentos Sociais. Projeto Integrado de Pesquisa. Campinas: Centro de Estudos Marxistas – Cemarx / Instituto de Filosofia e Ciências Humanas / Unicamp; 2000. [acessado em 2004 nov 03; cerca de 77p] Disponível em http://www.unicamp.br/cemarx/projetointegrado.pdf 85. Oliveira SGA. Convênio-Empresa: Balanço Critico Uma relação de poder entre empregador / empregado em torno da Assistência Médica. [Dissertação]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; 1991. 86. Farias LO. Estratégias individuais de proteção à saúde: um estudo da adesão ao sistema de saúde suplementar. Rev C S Col 2001; 6(2): 405-416. 87. Castro HA, Giannasi F, Novello C. A luta pelo banimento do amianto nas Américas: uma questão de saúde pública. Rev C S Col 2003; 8(4):903-911. 88. Siqueira CE, Castro H, Araújo TM. A globalização dos movimentos sociais: resposta social à Globalização Corporativa Neoliberal. Rev C S Col 2003; 8(4):847-858. 89. Galvão A. A CUT na encruzilhada: impactos do neoliberalismo sobre o movimento sindical combativo. Idéias. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas / Universidade Estadual de Campinas 2002; 9(1):105-154. 90. Resoluções do 5º Congresso Nacional da CUT. 19 a 22 de maio de 1994 [CD-ROM]. In: Central Única dos Trabalhadores, Fundação Perseu Abramo, organizadores. CUT 20 anos (1983-2003): Resoluções da Conclat e dos Congressos e Plenárias da CUT. São Paulo: CUT/Editora Fundação Perseu Abramo; 2003. 91. Resoluções da 9ª Plenária Nacional da CUT: 17 a 23 de agosto de 1999. [CD-ROM]. In: Central Única dos Trabalhadores, Fundação Perseu Abramo, organizadores. CUT 20 anos (1983-2003): Resoluções da Conclat e dos Congressos e Plenárias da CUT. São Paulo: CUT/Editora Fundação Perseu Abramo; 2003.
130
92. Resoluções da 10ª Plenária Nacional da CUT: 8 a 11 de maio de 2002. [CD-ROM]. In: Central Única dos Trabalhadores, Fundação Perseu Abramo, organizadores. CUT 20 anos (1983-2003): Resoluções da Conclat e dos Congressos e Plenárias da CUT. São Paulo: CUT/Editora Fundação Perseu Abramo; 2003. 93. Resoluções e Imagens do 7º Congresso Nacional da CUT. 15 a 19 de agosto de 2000. Coordenação Nacional do 7º Concut; 2000. 94. Resoluções do 8º Congresso Nacional da CUT. 3 a 7 de junho de 2003. [CD-ROM]. In: Central Única dos Trabalhadores, Fundação Perseu Abramo, organizadores. CUT 20 anos (1983-2003): Resoluções da Conclat e dos Congressos e Plenárias da CUT. São Paulo: CUT/Editora Fundação Perseu Abramo; 2003. 95. Central Única dos Trabalhadores (CUT). Política da CUT para a Saúde no Trabalho e o Meio Ambiente. Relatório do Seminário de Saúde, Trabalho e Meio Ambiente. São Paulo: 1994 Ago. 12p (mimeo). 96. Central Única dos Trabalhadores (CUT). [Documento enviado ao Fórum de Saúde Suplementar organizado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar] Brasília: 2003 Jun - Nov [acessado em 2004 Mai 14; 1 p] Disponível em http://www.ans.gov.br/portal/upload/forum_saude/Forum_temas/CUT.pdf. 97. Zarpelon SR ONGs, movimento sindical e o novo socialismo utópico. Idéias. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas / Universidade Estadual de Campinas 2002; 9(1):203-244. 98. Fórum Nacional de Saúde Suplementar – 1º etapa. Painel: Financiamento do setor e a regulação dos preços e reajustes. Relatório Geral. Agência Nacional de saúde Suplementar (ANS). 2003 Jun [acessado em 2004 Set 23; cerca de 93p.]. Disponível em:http://www.ans.gov.br/portal/upload/forum_saude/forum_imprensa/forum_etapa1/RelatorioGeral.pdf 99. Merhy EE, Souza Campos GW. Contribuição para o debate sobre saúde / trabalho e ação sindical a respeito do 4º CONCUT e da IX Conferência Nacional de Saúde. INST / CUT; 1991. 100. Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social (CNTSS/CUT). A Defesa da Saúde em Nossas Mãos: a CUT na luta pela vida; 1996. 101. Central Única dos Trabalhadores (CUT). Tese da CUT à 9ª Conferência Nacional de Saúde. 1991. 102. Paim JS. O pensamento do Movimento Sanitário: impasses e contradições atuais no marco da relação público-privado no SUS. In: Heimann LS, Ibanhes LC, Barboza R. organizadores. O Público e o Privado na Saúde. São Paulo: Hucitec / Opas / IDRC. (Saúde em debate, 160); 2005. p. 111-126.
131
103. Central Única dos Trabalhadores (CUT). Tese da CUT à 10ª Conferência Nacional de Saúde. 1996. 104. Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social (CNTSS/CUT). SUS Nacional: O Sistema Único de Saúde Condições de Vida no Brasil, nas Regiões e Estados. São Paulo. 1998. 105. Central Única dos Trabalhadores (CUT). Tese à XI Conferência Nacional de Saúde. 2001. 106. Cruz E. A Central Única dos Trabalhadores é Comprometida com o Sistema Único de Saúde. Saúde em Debate 2002; 26(62): 311-312. 107. Marques RM, Mendes A. Atenção Básica e Programa de Saúde da Família (PSF): novos rumos para a política de saúde e seu financiamento?. Rev C S Col 2003; 8(2): 403-415. 108. Marques RM, Mendes A. Novas Incertezas sobre o Financiamento da Saúde. Gazeta Mercantil, 13 de setembro de 2000; p. A-3. 109. Cordeiro H. Descentralização, universalidade e eqüidade nas reformas da saúde. Rev C S Col 2001; 6(2): 318-328. 110. CUT organiza ato em defesa do SUS. InformaCUT n.º 265, abril de 1997. p. 19. 111. 10ª Conferência Nacional de Saúde, Brasília 2 a 6 de setembro de 1996. Relatório Final. Ministério da Saúde / Conselho Nacional de Saúde. Brasília; 1996. 112. Scatena MAN. O Ressarcimento ao SUS: Análise do perfil de utilização do Sistema Único de Saúde segundo período da contratação dos planos. [Dissertação] Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca / Fundação Oswaldo Cruz. 2004. 113. Conselho Nacional de Saúde. Ata da Sexagésima Segunda Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Saúde. Brasília, 5 e 6 de fevereiro de 1997. 114. Montone J. Evolução e Desafios da Regulação do Setor de Saúde Suplementar. Agência Nacional de Saúde Suplementar - Série ANS n.º 4. Brasil. Rio de Janeiro, 2003 [acessado em 2005 out 16; cerca de 55p]. Disponível em http://www.ans.gov.br/portal/upload/biblioteca/Livro_serie_ans4.pdf 115. Conde LF. Ressarcimento ao SUS – À Luz do Direito. [Dissertação] Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca / Fundação Oswaldo Cruz, 2004.
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116. Scheffer M, Bahia L. Planos e seguros privados de saúde no Brasil: lacunas e perspectivas da regulamentação. In: Heimann, LS, Ibanhes LC, Barboza, R. (organizador) O Público e o Privado na Saúde. São Paulo: Hucitec, 2005. p. 127-168. 117. Gadelha CAG. O Complexo Industrial da Saúde e a Necessidade de um Enfoque Dinâmico na Economia da Saúde. Rev C S Col 2003; 8(2): 521-535. 118. Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003 - PF 2002-2003: primeiros resultados Brasil e grandes regiões. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: Coordenação de Índices de Preços. 2004. 119. Ocké RCO, Gaiger.G, Andreazzi MFS. O gasto com planos de saúde no Brasil. Textos para Discussão n. 921. Rio de Janeiro, IPEA; 2002.
120. Elias P, Marques RM, Mendes A. O financiamento e a política de saúde. Revista USP 2001; 51:6-15 121. CUT cria coletivo em saúde, trabalho e meio ambiente. InformaCUT n.º 247, novembro de 1994. p. 5. 122. Atendimento ao acidentado: Plenária Intermunicipal de Saúde. Informativo Inst. Ano 1, n.º 2, fevereiro de 1991. p. 5. 123. Santo André Municipaliza o controle dos acidentes no trabalho. Informativo Inst. Ano 1, n.º 4, julho de 1991. p. 4. 124. Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema. Relatório da Comissão de Condições de Trabalho, Saúde e Meio Ambiente (CCTSMA). São Bernardo do Campo, 31 de outubro de 1991. 125. Lacaz FAC. Saúde dos Trabalhadores: cenário e desafios. Cad Saúde Publica 1997; 13 (suppl. 2): 7-19. 126. Carvalho VS. Imprensa e neoliberalismo no Brasil (1995-1998): o posicionamento da revista Veja no primeiro governo FHC. [Dissertação] Departamento de Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas; 2004. 127. Comissão Parlamentar de Inquérito dos Planos de Saúde. Relatório Final. Câmara dos Deputados. Brasília novembro de 2003. 128. Nascimento EAA. A assistência médica suplementar no Paraná, estudo de caso: convênio empresa-Unimed na região de Ponta Grossa. [Dissertação]. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca / Fundação Oswaldo Cruz, 2003.
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129. Gama AM. Caracterização da Autogestão no Processo de Regulamentação do Setor Suplementar. [Dissertação]. Escola Nacional de Saúde Pública / Fundação Oswaldo Cruz; 2003. 130. Resoluções do 4º Congresso Nacional da CUT. 4 a 8 de setembro de 1991. [CD-ROM]. In: Central Única dos Trabalhadores, Fundação Perseu Abramo, organizadores. CUT 20 anos (1983-2003): Resoluções da Conclat e dos Congressos e Plenárias da CUT. São Paulo: CUT/Editora Fundação Perseu Abramo; 2003. 131. Instituto Nacional de Saúde no Trabalho (Inst/CUT). Saúde e Trabalho no Contrato Coletivo de Trabalho. [Acessado em 2004 jun 26; cerca de 5p]. Disponível em: www.instcut.org.br 132. Todeshini R. Contrato Coletivo de Trabalho em Saúde, Trabalho e Meio Ambiente. [Acessado em 2004 jun 26; cerca de 4p]. Disponível em: www.instcut.org.br 133. Silveira AM. Negociando a lei: Saúde nos Contratos Coletivos de Trabalho. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional. 1996; 25(95/96). 134. Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. 4º Congresso: Os Metalúrgicos do ABC e a Reforma Sindical - Caderno de Teses; São Bernardo do Campo. 2003. 135. Federação dos Sindicatos de Metalúrgicos da CUT/SP. Resoluções do 3° Congresso: Organização dos Trabalhadores na Fábrica e na Sociedade. Louveira, 29, 30 de junho e 1 de julho de 2001. 136. Araújo AJS. Paradoxo da modernização: terceirização e segurança em uma refinaria de petróleo. [Tese]. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz; 2001. 137. Sato L. LER: objeto e pretexto para a construção do campo trabalho e saúde. Cad. Saúde Pública 2001; 17(1): 147-152. 138. Freitas CM, Souza CAV, Machado JMH, Porto MFS. Acidentes de trabalho em plataformas de petróleo da Bacia de Campos. Cad. Saúde Pública 2001; 17(1):.117-130. 139. Sindicato dos Metalúrgicos do São Bernardo do Campo e Diadema . Resoluções do 6º Congresso do Sindicato dos Metalúrgicos do São Bernardo do Campo e Diadema, fase final 1, 2 e 3 de março de 1991. [Acessado em 2005 out 31]. Disponível em www.abcdeluta.org.br. 140. As políticas sociais da CUT. InformaCUT. n.º 263, novembro de 1996. p. 20-21. 141. Silva VP, Amato M. Desenvolvimento industrial com emprego e cidadania. InformaCUT n° 258, outubro de 1995. p. 18.
134
142. Boito Jr. A. O governo Lula e a reforma do neoliberalismo. 2005. [Acessado em 2005 nov 12; cerca de 6p]. Disponível em: http://www.cecac.org.br/mat%E9rias/Armando_Boito_Governo_Lula.htm 143. Trópia PV. A adesão da Força Sindical ao neoliberalismo. Idéias. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas / Universidade Estadual de Campinas 2002; 9(1):155-202. 144. Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região. Rompendo o Silencio: Vitimas dos Ambientes de Trabalho. Programa Brasil, Gênero e Raça. Osasco: 6ª edição; 2001. 145. Resoluções do 1º Congresso Nacional da CUT. [CD-ROM]. In: Central Única dos Trabalhadores, Fundação Perseu Abramo, organizadores. CUT 20 anos (1983-2003): Resoluções da Conclat e dos Congressos e Plenárias da CUT. São Paulo: CUT/Editora Fundação Perseu Abramo; 2003. 146. Resoluções do 2º Congresso Nacional da CUT. [CD-ROM]. In: Central Única dos Trabalhadores, Fundação Perseu Abramo, organizadores. CUT 20 anos (1983-2003): Resoluções da Conclat e dos Congressos e Plenárias da CUT. São Paulo: CUT/Editora Fundação Perseu Abramo; 2003. 147. Warth S. Assistencialismo Médico: O Controle Sindical do Desgaste Operário. Um Estudo do Caso do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro 1987-1991. [Dissertação] Escola Nacional de Saúde Pública / Fundação Oswaldo Cruz; 1992. 148. Repullo Junior R. Atuação Sindical na Proteção da Saúde dos Trabalhadores. [Dissertação]. Faculdade de Saúde Pública / Universidade de São Paulo; 1997. 149. Olmedilha SC. Relatório do Departamento Médico-Odontológico do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema. São Bernardo do Campo, 15 de setembro de 1989. 150. Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. 2º Congresso do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Ano 2000: Que Sindicato queremos? Caderno de Resoluções. Dezembro de 1996 a maio de 1997. São Bernardo do Campo, junho de 1997.
135
Anexo 1 - Principais documentos analisados, segundo título, autor, data e informações complementares
Título Autor Data / Período Informações complementares
Tese da CUT à 9ª Conferência Nacional de Saúde
Central Única dos Trabalhadores
24 e 25 de agosto de 1991*
Tese da CUT à 10ª Conferência Nacional de Saúde
Central Única dos Trabalhadores Setembro de 1996
Tese da CUT à XI Conferência Nacional de Saúde
Central Única dos Trabalhadores
2001
O texto orienta a intervenção da CUT na respectiva Conferência, dirigi-se a seus participantes: gestores, prestadores de serviços, profissionais de saúde e demais representantes dos usuários.
InformaCUT Executiva Nacional da Central Única dos Trabalhadores
1994: n.º 243, 245, 246, 247, 248; 1995: n.º 249, 250, 252, 253, 254, 255, 258, 259; 1996: n.º 260, 261, 262, 263; 1997: n.º 264, 265, 266, 267; 1998: n.º 268; 1999: n.º 269, 270; 2000: n.º 272
Esta é uma publicação destinada aos dirigentes que ocupam posição nas instâncias da Central: as CUTs regionais, as Confederações por ramo de atividade econômica, departamentos e entidades filiadas.
A Defesa da Saúde em Nossas Mãos: a CUT na luta pela vida
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social – CNTSS e Executiva Nacional da CUT
Agosto de 1996.
Cartilha produzida para a campanha “A Defesa da Saúde em Nossas Mãos” coordenada pela CNTSS dirigida a sindicalistas e trabalhadores, lançada na 8ª Plenária Nacional da CUT
Contribuição para o debate sobre saúde/trabalho e ação sindical a respeito do 4º CONCUT e da IX Conferência Nacional de Saúde/1991.
Emerson Elias Merhy e Gastão Wagner de Souza Campos
24 e 25 de agosto de 1991
Os autores são expressivos pesquisadores na área da saúde, na ocasião, em 1991, eram assessores da CUT para questões de Política de Saúde. O texto é voltado pata os sindicalistas da CUT.
* A 9ª Conferência Nacional de Saúde estava prevista para 1991, mas somente foi realizada no segundo semestre de 1992.
136
Título Autor Data / Período Informações complementares
Informativo INST e Revista INST
Instituto Nacional de Saúde no Trabalho – INST/CUT
Informativo INST: 4 (quatro) números, de novembro de 1990 a julho de 1991; Revista INST: 5 (cinco) números, de agosto de 1991 a setembro de 1992**; após este número, não foi mais editada.
O Instituto Nacional de Saúde no Trabalho - INST foi criado em outubro de 1990. É atualmente um órgão de assessoria técnica e política da CUT para a área de saúde, condições de trabalho e meio ambiente.
SUS Nacional: O Sistema Único de Saúde Condições de vida no Brasil, nas Regiões e Estados
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social - CNTSS
novembro de 1998
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social – CNTSS é uma entidade da instância vertical dos ramos de atividade da CUT. Congrega federações e sindicatos de trabalhadores da Saúde, Previdência e Assistência Social e Trabalho. A publicação sobre o SUS teve por objetivo oferecer dados e informações sobre os aspectos mais importantes e relevantes do SUS, subsidiando a CNTSS/CUT para os debates e intervenções junto aos movimentos sindical, sanitário e outros 104 (p. 4 sic).
Política da CUT para a Saúde no Trabalho e o Meio Ambiente
Central Única dos Trabalhadores 19 e 20 de agosto de 1994 Relatório do Seminário de Saúde, Trabalho e Meio
Ambiente organizado pela Central Única dos Trabalhadores.
Tribuna Metalúrgica Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
Publicação do Sindicato, circula de 3ª a 6ª feiras. Período consultado: de 1999 a 2005. Ver Anexo 2.
Órgão do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, então Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, desde julho de 1971 até hoje em circulação.
Tribuna da Saúde
Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema
Circulou de agosto de 1991 a março de 1993, com um total de 15 edições ***.
O 6º Congresso do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema 139, realizado em 1991, aprovou criar um boletim mensal do Departamento de Saúde do Trabalhador, que recebeu o nome de Tribuna da Saúde. Além de diretores do Departamento de Saúde do Trabalhador, participavam da comissão de redação da Tribuna da Saúde, integrantes de comissões de fabrica.
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Anexo 2 - Registros encontrados através da busca por palavra-chave, título da matéria e data de sua veiculação na Tribuna Metalúrgica.
Palavra(s) Chave(s) Total de registros encontrados Titulo da matéria / Data
convênio médico 16
- GKW: Sem negociação é luta, 19/10/2005 - GKW: Mobilização por reivindicações, 18/10/2005 - Conquista na Labortub, 06/10/2005 - Mais conquistas na Metalpart, 13/09/2005 - ABR: Pauta defende melhorias e respeito, 23/02/2005 - Inox Tubos: Afastados protestam por corte do convênio, 27/07/2004 - PLR: Aprovação na MRP e luta na Godks, 03/06/2004 - Empréstimo em folha: Só após assembléia do sindicato, 06/11/2003 - Agenda, 30/09/2003 - Uniwidia: Cooperativa comemora quatro anos, 26/09/2003 - Agenda, 18/09/2003 - Rolls-Royce: Estagiários conseguem convênio médico, 12/08/2003 - Campanha de reposição: Acordos na Metal II e Delta, 29/05/2003 - Convênio médico na Ford: Mesma empresa para todos, 27/05/2003 - Terceira na Mercedes: Mobilização garante conquistas, 06/05/2003 - Novo Código Civil: A maioridade, 28/01/2003
convênios médico 04
- 10 motivos para votar nas eleições do Sindicato, 24/05/2005 - Valorização do salário mínimo, 15/04/2005 - Serviço: As multas por atraso de pagamento, 01/03/2005 - Inflação e juros, 28/01/2005
convênio empresa Nenhum resultado - convênio saúde Nenhum resultado - plano de saúde 01 - Sem trabalho não há justiça, 04/02/2000
planos de saúde 06
- Não pague a mais, 16/07/2004 - Planos de saúde: Justiça mantém reajuste em 11,75%, 16/07/2004 - Imposto de Renda: Prazo termina na sexta-feira, 28/04/2004 - AMA ABC: Inscrições abertas aos planos de saúde, 25/02/2003 - AMA ABC: Inscrições abertas aos planos de saúde, 21/02/2003 - AMA ABC: Abertas inscrições aos planos de saúde, 22/01/2003
seguro saúde Nenhum resultado - seguros saúde Nenhum resultado -
medicina de grupo Nenhum resultado -
138
Palavra(s) Chave(s) Total de registros encontrados Titulo da matéria / Data grupo médico Nenhum resultado - seguradora 01 - Planos de saúde: Justiça mantém reajuste em 11,75%, 16/07/2004
médico hospitalar 01 - Câmara Regional: Assinados 20 acordos, 18/02/2004
serviços de saúde 03 - Carta vai viajar o mundo, 02/03/2005 - Saúde: Os remédios são campeões em intoxicação, 10/12/2003 - Massacre no Iraque: EUA já dividem o butim, 26/03/2003
sistema único de saúde 06
- Cigarro: Fumo mata mais os pobres, 02/06/2004 - Fraude na Saúde: 25 exonerados e 17 presos, 26/05/2004 - Dependência química é questão social, 06/05/2004 - A hepatite C, 16/10/2003 - Tribuna no Ar: A saúde pública em São Paulo, 12/09/2003 - Drogas, parceiras da miséria, 14/11/2002
saúde pública 16
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programa de saúde do trabalhador 01 - Reunião do Conselho Diretor do Programa de Saúde do Trabalhador de Santo André,
30/09/2005
saúde 624
Todas as matérias foram lidas e selecionadas as que tratavam temas diretamente relacionados com a pesquisa, como por exemplo: acidente e doenças do trabalho, planos de saúde / convênios médico, sistema único de saúde, saúde publica. É interessante perceber que das 624 matérias, 563 são do período de 01/01/2003 a 27/11/2005. De 1999 a 31/12/2002 foram encontradas apenas 61 matérias com a palavra saúde..
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