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ROBÓTICA PEDAGÓGICA LIVRE: UMA POSSIBILIDADE METODOLÓGICA PARA O PROCESSO
DE ENSINO-APRENDIZAGEM
Resumo: Este artigo apresenta a proposta da robótica pedagógica livre na sua práxis coletiva de ensino-aprendizagem, sobre uma perspectiva lúdica e de relacionamento do corpo humano com artefatos robóticos. Como proposta didática a robótica livre tem como essência a troca e produção do conhecimento na utilização da práxis pautada na liberdade. Isso demonstra que o conhecimento produzido pela humanidade deve ser compartilhado por todos e não visto como propriedade particular. É destacado a relevância da robótica livre enquanto metodologia de ensino e sua característica transdisplinar entre os pares (educadores e educandos). Descrevemos também a metodologia utilizada nas oficinas oferecidas e as experiências de construção dos artefatos robóticos e kit's de robótica pedagógica livre. E por fim apresentamos os resultados a partir das oficinas. Palavras-chave: Robótica Pedagógica Livre, Brinquedo, Corpo, Ensino-aprendizagem, Artefato robótico.
1 INTRODUÇÃO
As tentativas de uso da robótica na construção de metodologias pedagógicas não
são nenhuma novidade nem tampouco nenhum bicho de quarenta cabeças. Esta parte da
ciência que se dedica a estudar os robôs, os autômatos, tem muito a contribuir para o
processo pedagógico de construção do conhecimento. Numa primeira análise, é
perceptível que a proposta de robótica pedagógica está em consonância com os
princípios do construtivismo. Educadores e pensadores como Seymour Papert (1985) e
Pierre Lévy (1987) buscam desde há muito essa conciliação entre dispositivos
mecânicos e eletrônicos e o processo de ensino-aprendizagem. A construção de um
ambiente em que educadores e educandos desenvolvem sua criatividade, seu
conhecimento, sua inteligência, e seu potencial em lidar com situações adversas do
cotidiano, tem sido um dos principais motivadores para as tentativas de integração da
robótica nas práxis1 educacionais.
Entendendo essas características e outras que a elas se agrega, é possível dizer
1 “[...] termo 'práxis' para designar a atividade consciente objetiva, sem que, por outro lado, seja concebida com o caráter estritamente utilitário que se refere do significado do 'prático' na linguagem comum. [...] a práxis ocupa o lugar central da filosofia que se concebe a si mesma não só como interpretação do mundo, mas também como elemento do processo de sua transformação.” (Vázquez, 2007, p.28).
2
que a robótica contempla a transdisciplinaridade, como coloca Basarab Nicolescu:
a transdisciplinaridade, como o prefixo ‘trans’ indica, diz respeito àquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina. Seu objetivo é a compreensão do mundo presente, para o qual um dos imperativos é a unidade do conhecimento (NICOLESCU, 1999, p. 46).
Assim, a robótica vai integrar os diversos conhecimentos e diversas práxis. Estes
fatores, bem como a própria motivação humana pela criação de robôs tornam a robótica
uma interessante ferramenta de uso na educação. É visto que “[...] a disciplinaridade, a
pluridisciplinaridade, a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade são as flechas de
um único e mesmo arco: o conhecimento” (NICOLESCU, 1999, p. 48). É visto que os
projetos de robótica pedagógica se valem dessas quatro condições, o que vem a ser de
grande valia para a aprendizagem no que se refere, principalmente, a resolução de
problemas, do mais simples aos mais complexos, o que vai depender do nível de ensino
em que for aplicado, tendo em vista que um mesmo projeto de robótica pedagógica
pode envolver diferentes graus de complexidade e atender a propostas pedagógicas para
qualquer instância do ensino (fundamental, médio ou superior).
Educadores que empregam esses instrumentos robóticos na educação
denominam esse processo de robótica pedagógica ou robótica educacional. Mas o que
pode ser concebido como robótica pedagógica? Existe aí algum equívoco conceitual?
Ainda que não chegue a constituir um equívoco, ao menos entre os educadores
que aplicam a robótica como metodologia pedagógica é facilmente perceptível certa
confusão em torno da definição de robótica pedagógica. O mesmo ocorre em páginas
de internet que tratam do assunto. Ora encontramos o termo robótica pedagógica
relacionado aos dispositivos robóticos, às máquinas (ao hardware); ora relaciona-se ao
espaço físico, ao laboratório ou ao ambiente de aprendizagem; e, por vezes, o termo
aparece como sinônimo do projeto em desenvolvimento ou mesmo como a metodologia
em si. O fato é que parece não haver um consenso ou preocupação em definir o que
possa ser considerado como robótica pedagógica.
Sem querer tomar posição de adotar como conceito acertado ou acabado,
faremos uso da expressão robótica pedagógica como proposta pedagógica; isto é,
consideramos que robótica pedagógica é uma denominação para o conjunto de
processos e procedimentos envolvidos em propostas de ensino-aprendizagem que
tomam os dispositivos robóticos como tecnologia de mediação para a construção do
3
conhecimento. Desta forma, quando nos referirmos à robótica pedagógica não estamos
falando da tecnologia ou dos artefatos robóticos em si, nem do ambiente físico onde as
atividades são desenvolvidas. Não estaremos nos referindo à outra coisa senão à
proposta de possibilidades metodológicas de uso de tecnologias informáticas e robóticas
no processo de ensino-aprendizagem.
2 ROBÓTICA PEDAGÓGICA LIVRE
Atualmente a robótica na educação está centrada basicamente no “treinamento” dos
educandos a partir da utilização de kits comerciais e padronizados que se caracterizam
por softwares e principalmente por hardwares proprietários, que são adquiridos
comercialmente, e que servem para controle e acionamento dos dispositivos
eletromecânicos. Esse estudo, na contramão do que vem sendo feito, vai trabalhar com a
perspectiva de uma robótica pedagógica livre. Mas do que se trata isso? O que é a
robótica livre? Qual a sua concepção?
Compreendemos por robótica pedagógica alternativa o conjunto de processos e
procedimentos envolvidos em propostas de ensino-aprendizagem que tomam os
dispositivos robóticos baseados em soluções livres e em sucatas como tecnologia de
mediação para a construção do conhecimento. De forma específica, trataremos a
Robótica Pedagógica Alternativa como Robótica Livre, denominação utilizada pelo
grupo de educadores e educandos envolvidos na experiência de robótica que
apresentaremos neste artigo.
A Robótica Livre tem uma proposta diferenciada, pois parte para soluções livres
em substituição aos produtos comerciais. Propõe o uso de softwares livres2 (Linux e
seus aplicativos) como base para a programação, e utiliza-se da sucata de equipamentos
eletroeletrônicos e hardwares abertos/livres3 para a construção de kits alternativos de
robótica pedagógica (kits construídos de acordo com a realidade social de cada escola) e
2 No artigo, apresentaremos alguns aspectos relacionados à Licença Pública Geral do GNU (GPL), bem como ao software livre. Entretanto, caso queira saber mais sobre essa temática, sugerimos o texto Mundo Livre, de Daniel Zilli (ZILLI, 2005). 3 São artefatos construídos (Ex.: Freearduino e Interface de Hardware Livre – IHL) a partir de soluções livres, ou seja, os desenhos da placa de circuito impresso, as especificaçoẽs técnicas, o desenho lógico do circuito eletrônico, os softwares livres utilizados e embarcados na construção do artefato e o processo de montagem seguem as 4 liberdades (Liberdade de uso, estudo e modificação, distribuição e redistribuição das melhorias) da filosofia do Software Livre. Assim como no software livre, o hardware livre também está protegido por licenças que garantem as liberdades e dão a cobertura legal (Exemplos: a GPL e a Copyleft).
4
protótipos de artefatos robóticos (robôs, braços mecânicos, elevadores...). A utilização
de uma práxis pautada na liberdade vem da crença de que o conhecimento produzido
pela humanidade deve ser compartilhado por todos, sem que seja visto como
propriedade particular. A proposta da robótica pedagógica livre é de uma práxis coletiva
de ensino-aprendizagem, em que todos trocam e produzem conhecimento, como aponta
Sérgio Amadeu
o conhecimento é um bem social fundamental da humanidade. Não é por menos que se registra e se transmite o conhecimento desde o princípio dos tempos históricos.Também desde tempos longínquos a humanidade assiste ao enfrentamento de forças obscurantistas que tentam aprisionar e ocultar o conhecimento, seja por interesses políticos, econômicos ou doutrinários. A ciência somente pôde se desenvolver devido à liberdade assegurada à transmissão e ao compartilhamento do conhecimento (SILVEIRA, 2004, p.7).
Essa concepção é fundamental para a filosofia livre, proposta didática da robótica na
qual se firma. É visto que a liberdade que só era assegurada aos cientistas, acaba por ser
forçada para todos, pela própria metodologia adotada.
3 SOBRE ROBÓTICA E BRINQUEDOS
Entendemos que a prática das oficinas de robótica pedagógica livre, é um convite
para um ensino aprendizagem pautado no estímulo da criatividade, é um espaço de
compartilhamento e de brincadeira. Ora, desde que nascemos, brincamos; ao crescermos
apoderamo-nos dos brinquedos, começamos a utilizar a imaginação, o que nos leva a
entender o mundo por vários ângulos e esses vários ângulos correspondem a níveis
simbólicos de compreensão. A importância disso, como coloca Machado (2003), é que
“brincando, [a criança] aprende a linguagem dos símbolos e entra no espaço original de
todas as atividades sócio-criativo-culturais” (p. 26). O ato de brincar é uma ação e esta é
a base da elaboração prática e teórica de compreensão do mundo. Enquanto brinca, a
criança age e, enquanto age, compreende o mundo a partir de sua ação, ou seja, através
do brincar, que é uma ação, entra-se no espaço da experiência simbólica que vai
significar e re-significar as relações socioculturais, na medida em que o brinquedo é
visto como forma de entendimento do mundo.
A brincadeira não fica no plano apenas da criança, começa na infância e estende-
se ou deveria estender-se por toda a vida. Ao brincar, o indivíduo experimenta “[...] a
5
ligação entre o que possui dentro de si e a realidade de fora, o espaço potencial que
aproxima e mistura esses dois mundos” (MACHADO, 2003, p. 35), e isso é muito
importante, pois “[...] quando ocorre essa união, a pessoa (adulto ou criança) se sente
mais inteira e dona de si mesma, buscando entendimento de quem ela é e como vê o
mundo [...]” (MACHADO, 2003, p. 35), pois no ato de brincar, se faz presente cada
brincante com seu passado e seu presente, com sua afetividade e sua mente, com sua
corporeidade, se faz presente o brincante em seu todo, não são apenas partes suas que
brincam.
Por outro lado, junto com o brincante estão outros brincantes, que, juntos, brincam
e trocam experiências, confrontando o outro, chorando e alegrando-se com ele, e com
ele aprendendo, com ele solidarizando-se, e fazendo descobertas. O ato de brincar,
afinal, propicia um encontro de seres humanos que crescem juntos, aprendem a se
verem como indivíduos e como parte de um todo que chamamos sociedade, e essa é
uma das propostas das oficinas de robótica pedagógica livre, quando essa promove o
trabalho colaborativo. Assim os brincantes unem as peças, planejam, sonham juntos,
experimentam seus brinquedos, num espaço onde não há vencedores, porque cada um
contribui como pôde para a realização do artefato.
A robótica pedagógica livre, pela perspectiva do brinquedo, traz uma proposta de
aprendizagem mais prazerosa e imbricada no cotidiano do indivíduo, agregando os
conhecimentos técnicos e científicos do universo escolar. Considerando o que Paulo
Freire aponta para os processos e técnicas de aprendizagem, em que
a questão não são as técnicas em si mesmas – não que não sejam importantes -, mas a verdadeira questão é a compreensão da substantividade do processo que, por sua vez, requer múltiplas técnicas para atingir um objetivo particular. É o processo que leva à necessidade das técnicas que precisa ser entendido (FREIRE, 2001, p. 57).
e vemos que nas aulas e oficinas de robótica pedagógica livre, é o entendimento do
processo de criação que assegura a apreensão do conteúdo. Vendo de outra forma, o que
no início, são peças aparentemente sem utilidade de aparelhos eletrônicos que já não
cumprem a sua função, mas que, aos poucos, transformam-se em objetos que ganham
movimento e outras possibilidades de uso. Assim, a robótica, que pode ser traduzida
como uma ciência de sistemas que interagem com o mundo real, com ou sem
intervenção dos humanos e que, inicialmente, pertence ao grupo das ciências
6
informáticas, vai deixando de ser um tema trabalhado apenas por cientistas começando
a fazer parte do cenário educacional, abarcando um perfil acessível às diferentes faixas
etárias.
4 A TÉCNICA E A NATUREZA DOS ARTEFATOS ROBÓTICOS
A robótica é um dos caminhos em que o ser humano busca desenvolver e
expressar sua sensibilidade e razão por meio de criações tecnológicas. Por todos os
cantos, estamos rodeados de artefatos tecnológicos, criações que agregam
conhecimentos, elaboradas pela razão humana. Com o passar do tempo, estes artefatos
são descartados, não sendo apropriados para o uso, considerados sem valor ou sentido.
No entanto, com o uso pedagógico destes equipamentos, o que antes havia perdido seu
significado técnico, é transformado em artefato robótico, que renasce a partir do
trabalho coletivo de educadores e educandos.
Na robótica pedagógica o ímpeto pela construção é estimulado pela capacidade
de criar, resultado de um desejo natural do ser humano. A inspiração está na própria
natureza, como “metáfora fundadora” (Le Breton, 2003) e modelo para o homem que
renasce e se transforma na produção-criação dos objetos técnicos. Portanto, a técnica é o
motor de nosso mundo, que faz com que garanta nossa sobrevivência, o que nos
acompanha desde as primeiras criações, dos objetos mais rudimentares aos mais
complexos. A robótica é o resultado da necessidade que sentimos em produzir máquinas
capazes de desempenhar funções. Como prótese que ocupa o lugar de membros e órgãos
para restituir, substituir e ampliar a capacidade orgânica limitada do corpo humano.
Na proposta educacional que utiliza a robótica pedagógica está a relação entre
vários conhecimentos para assim efetuar a concretização do objeto técnico. A ideia de
concretização permite desenvolver e aprofundar a intuição original de seus criadores,
não existindo mais a dicotomia entre seres humanos e objetos técnicos, pois os objetos
são a expressão de seu interior.
A concretização do objeto é a tradução do sistema intelectual de seu criador. De
modo que o objeto perde o seu caráter artificial, não como uma característica
proporcionada pela origem fabricada do objeto, mas pelo interior artificializante do ser
humano, quer esta ação intervenha sobre um objeto natural ou sobre um objeto
inteiramente fabricado. Portanto, quanto mais concreto se torna o objeto técnico, mais
próximo do natural ele poderá ser considerado (SIMONDON, 2007).
7
Como proposta didática, a robótica pedagógica é utilizada como estímulo a
aprendizagem tecnológica, que passa a agregar outros significados, a partir de uma
vertente transdisciplinar. Enquanto transportamos esse pensamento, educandos e
educadores projetam a essência de seus corpos nos movimentos dos artefatos robóticos
desenvolvidos nas oficinas. Fazendo de sua criação, expressão de sua sensibilidade
humana. Neste relacionamento entre os pares o mais importante estão as trocas “[...] de
energia e de informação num objeto técnico ou entre o objeto técnico e o seu meio”
(SIMONDON, 2007 p. 48).
Para tal produção, a robótica pedagógica proporciona mudanças que percebemos
ser proporcionado pela valorização da prática hipertextual. O que rompe com a
perspectiva linear ainda predominante entre os educadores a partir de novas práxis
educacionais. Dessa forma a criação passa a refletir a imagem de seu criador. Como
uma forma de dar ao objeto uma característica que lhe é peculiar, como sua alma
definidora (SANTAELLA, 2004).
A subjetividade dos artefatos robóticos está inscrita na superfície e no interior do
corpo humano. Ela reflete a imagem de seus sujeitos criadores resultante de um
processo estético entre o homem e a máquina. Assim, educando e educadores, assumem
a posição de a(u)tores que produzem novos significados traçados por uma linguagem
transdisciplinar que busca a existência tecnológica a partir de artefatos robóticos.
5 ENTRE POSSIBILIDADES, EXPERIÊNCIAS E RESULTADOS
5.1 POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS
A metodologia foi aplicada em duas oficinas de robótica livre que estão descritas
no tópico 5.2. Abaixo destacamos as 7 etapas do processo:
Sensibilização – Constituir o grupo de professores e alunos em torno das
propostas pedagógicas do projeto. Professores e alunos são companheiros nessas
atividades, sujeitos que assumem dinamicamente o papel de autor dos projetos e
dos processos;
Temas Geradores – Demonstração do funcionamento e das possibilidades de
uso da tecnologia da robótica, como elemento integrador do projeto, em torno do
qual se estruturam as atividades propostas;
Formação Básica – Aprendizagem específica num nível suficiente para
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entendimento do funcionamento dos dispositivos e recursos (Interface de
Hardware Livre - IHL, Dispositivos Eletrônicos a serem Comandados - DEC e
Sistemas e Aplicativos em Software Livre - SASL)4 dos seguintes conteúdos:
informática; eletricidade e eletrônica; lógica binária; linguagem de programção:
Shell script e Logo; montagem de circuito impresso; noções de dispositivos
eletromecânicos: Motores e sensores; construção e reaproveitamento de
materiais: Roldanas, engrenagens, eixos; noções de projeto;
Experimentações de controle do DEC – Utilizando modelos de DEC
construídos e testados anteriormente pelo propositor do curso, o grupo visualiza
de forma concreta o controle dos DEC através da robótica. Nesta etapa, a partir
de uma IHL e DEC disponibilizados, os educandos aprendem a interligar os
DEC aos circuitos demandados (IHL, fiação, ligação da fonte de alimentação
etc);
Planejamento dos projetos de controle do DEC – Organização do grupo em
pequenos subgrupos, denominados equipes. Cada equipe apresenta e discute
com o grupo seu projeto específico, do qual consta o nome, descrição, diagrama
de montagem, planilha de materiais a serem utilizados e o esboço de um
cronograma inicial;
Montagem da IHL - No primeiro momento o propositor do curso indica em
quais equipamentos obsoletos ou inutilizados podem ser encontrados os
componentes para a montagem da IHL. A partir desta engrenagem propulsora, o
propositor instiga alunos e professores a pesquisarem outras fontes alternativas
de equipamentos, para extraírem os componentes necessários para a montagem
da IHL;
Montagem dos projetos de controle do DEC – Nesta etapa o propositor do
curso indica quais equipamentos costumam conter dispositivos eletromecânicos,
como motores e sensores, além de materiais que ajudarão o educando na
montagem de seus projetos de controle do DEC, como eixos, roldanas,
engrenagens, fiações, bornes de ligação, resistores, etc. Vale lembrar que esta
possibilidade não se limita a equipamentos de informática e o propositor instiga
os educandos a procurarem outras fontes alternativas;
Avaliação – A avaliação é cíclica, ou seja, o tempo todo devem ser avaliadas as
4 Mais detalhes sobre IHL, SASL e DEC em Anais do 6º Fórum Internacional de Software Livre: 6º Workshop sobre Software Livre, Porto Alegre, 2005, p.293.
9
atividades, o projeto desenvolvido, os processos envolvidos e o produto final na
Robótica Livre.
5.2 OFICINAS E RESULTADOS
OFICINA 1 - Durante a III Semana de Software Livre da Faculdade de Educação5
da Universidade Federal da Bahia (UFBA), foi realizada a oficina de Robótica Livre
com o objetivo de demonstrar algumas aplicabilidades da robótica com o uso de
tecnologias livres (hardware e software livre) no contexto educacional, além de
despertar a consciência ambiental no que se refere a destinação do lixo tecnológico e
busca de soluções para preservação do meio ambiente. O público foi estudantes,
professores e demais interessados. Trouxeram de casa ferramentas básicas (chaves de
fenda, alicates ...), além de sucatas como rádio, telefone, peças de computadores para a
oficina. A carga horário foi de 4 horas com 10 participantes, agrupados dois a dois.
Foram utilizados microcomputadores com Sistema Operacional GNU/LINUX Debian,
as ferramentas, 5 cabos paralelos (Macho-Macho/DB25-DB25), 40 Led's (Diodo
Emissor de Luz), 40 Resistores de 390 Ohms, 5 Conectores DB-25 Fêmea para circuito
impresso, Ferro de Solda, Solda, 5 Placa de Circuito impresso 5x5 ou 10x10 (perfurada)
e os aplicativos Kommander (para desenvolvimento do software de controle da IHL),
Ktechlab (construção do circuito lógico) e Klogo-Turtle (Linguagem de programação
para teste da IHL). Como conteúdo foi explicado como podemos utilizar o lixo
tecnológico na construção de artefatos robóticos no ambiente de ensino-aprendizagem
de robótica pedagógica.
Ficou definido que a partir do kit construído eles iriam simular um pisca-pisca de
árvore de natal. Então cada grupo construiu cooperadamente seu kit básico de robótica
pedagógica livre para ser utilizado na porta paralela do micro (Anexo A), e programaram
no aplicativo kommander as aplicações educacionais de acesso a porta paralela para
interação com os artefatos robóticos, que neste caso foram os Led's (Diodos Emissores
de Luz) simulando o pisca-pisca da árvore de natal.
OFICINA 2 - Na III Semana de Software Livre da UFC foi realizada a I
Olimpíada de Robótica Livre6, que teve caráter de oficina. Trabalharam 3 grupos de 4
5 SSL-FACED. Disponível em <http://www.ssl.faced.ufba.br/twiki/bin/view/SSL/RoboticaLivre> Acesso em: 5 ago 2008. 6 SESOL. Disponível em <http://www.sesol.ufc.br/sesol3/Main/AtividadesTecnicas#roboticalivre>
10
pessoas (4 professores e 8 alunos), cuja recomendação foi a de já possuírem
conhecimento em eletrônica (corrosão de placas de circuito impresso, soldagem de
componentes eletrônicos, etc) e conhecimentos básicos de linguagem de programação
(programaram em shell script usando o aplicativo Kommander). Os grupos foram
formados no primeiro dia da olimpíada e assim cada grupo definiu qual o tema e os
materiais que iriam utilizar na olimpíada (considerando as limitações da IHL e do
tempo). No período de 4 dias (4 horas por dia/32 horas), cada grupo construiu uma
Interface de Hardware Livre (IHL), além da construção de um "artefato robótico" com a
utilização de sucatas. Nesta olimpíada (Anexo B) professores e alunos utilizaram
diversos componentes eletrônicos (capacitores de cerâmico, circuito integrado,
resistores, relês, Diodos ...), ferramentas (alicates, perfurador de placa de circuito
impresso, chaves de fenda, solda, ferro de solda, sugador de solda ...), caneta para
desenhar em circuito impresso, percloreto de ferro para corrosão das placas de circuito
impresso e placas de fenolite (circuito impresso). No último dia da olimpíada, cada
grupo apresentou seu produto final (kit de robótica pedagógico e artefato robótico)
construído a partir do “lixo tecnológico” e demonstraram os seus movimentos (cada um
com seu nível de interação) a partir dos softwares desenvolvidos. Uma comissão avaliou
os artefatos construídos no quesito aplicabilidade e grau de dificuldade do software
desenvolvido. No final não houve vencedor, pois todos receberam como prêmio quadros
pintados em grafite como troféus simbólicos.
CONCLUSÃO
O trabalho com a robótica pedagógica livre tem por finalidade propor uma
solução cooperada, colaborativa e solidária, características próprias da comunidade de
Software Livre. Foi observado que os atores aprendem com o desafio de dominar os
recursos da robótica a construir seu próprio projeto, articulando os mais diversos
conteúdos, trabalhando ativamente com seu objeto de interesse, agregando conteúdos
escolares com práticas reais/concretas. A participação ativa do educando na construção
e controle de seus objetos de desejo faz com que o mesmo se sinta parte do processo e
do meio em que vive, ampliando seus conhecimentos através da mensagem transmitida
pelo tutor e pelo grupo. Além disso, eles praticam uma postura mais ecológica,
Acesso em: 28 jul 2008.
11
percebendo que elementos/componentes tidos como lixo podem ser fonte de recursos
nos processos de desenvolvimento de novos produtos.
Homem e máquina estão se relacionando de maneira a produzir o conhecimento
coletivamente por meio de artefatos robóticos que vão ganhando vida ao saírem da
sucata. Na construção das oficinas, conhecimentos são mixados de maneira coletiva,
momento em que educadores e educandos deixam suas marcas nos objetos construídos.
ao mesmo tempo são marcados. A partir dos artefatos robóticos o ser humano projeta a
potência de seu corpo fazendo a máquina exercer determinadas funções.
Esses artefatos, também vistos como brinquedos, servem para que os indivíduos,
tomando como referencial o contexto da criação e concepção dos objetos, tenham a
possibilidade de desenvolver o seu potencial criativo. Outro ponto importante a ser
abordado é a práxis do ensino-aprendizagem, que propícia o compartilhamento de forma
mais prazerosa, e porque não dizer, mais fácil, dos conhecimentos científicos e
tecnológicos, bem como, promove o exercício de valores sociais de colaboração e ajuda
rompendo barreiras da individualidade e disseminando a produção do conhecimento
compartilhado.
Visto isso, é importante ressaltar que os conceitos da Licença Pública Geral
(GPL) são praticados, ou seja, compartilham trabalho, informação e conhecimento, além
de desmistificarem a falácia de que soluções de baixo custo são soluções de baixa
qualidade ou inviáveis. Por último, mas não menos importante, verifica-se que os
resultados alcançados são satisfatórios, pois a cada etapa concluída os educandos se
mostraram mais motivados com o projeto, dominando competências e habilidades
propostas, relacionadas tanto ao conteúdo específico da robótica quanto às dinâmicas de
ensino-aprendizagem que direcionam o projeto. O “Produto” passa a ter importância a
partir do “Processo” como um todo, instigando a criação de opiniões e o
desenvolvimento do pensamento reflexivo, crítico e criativo.
REFERÊNCIAS
FÓRUM INTERNACIOANL DE SOFTWARE LIVRE: WORKSHOP SOBRE SOFTWARE LIVRE, 6., 2005, Porto Alegre. Anais do 6º Fórum Internacional de Software Livre: 6º Workshop sobre Software Livre. Porto Alegre: Armazém, 2005. 324 p. FREIRE, P. Pedagogia dos sonhos possíveis. São Paulo: Editora UNESP, 2001.
12
LE BRETON, David. Adeus ao Corpo: Antropologia e Sociedade. Tradução de Maria Appenzeller. Campinas, São Paulo: Papirus, 2003. LÉVY, Pierre. A máquina universo: Ciação, cognição e cultura informática. Lisboa: Instituto Piaget, 1987. Licenses GNU, 2007. Disponível em <http://www.gnu.org/licenses/licenses.html> Acesso em: 6 ago 2007. MACHADO, M. M. O brinquedo-sucata e a criança. A importância do brincar. Atividades e materiais. 5º Ed. São Paulo: Loyola, 2003. NICOLESCU, B. O manifesto da transdisciplinaridade. São Paulo: TRIOM, 1999. PAPERT, Seymour. LOGO: Computadores e Educação. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985. SANTAELLA, Lúcia. Corpo e comunicação: Sintoma da cultura. São Paulo: Paulus, 2004. SESOL. Disponível em <http://www.sesol.ufc.br/sesol3/Main/AtividadesTecnicas#roboticalivre> Acesso em: 28 jul 2008. SILVEIRA, S.A. Software livre: a luta pela liberdade do conhecimento. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004. (Coleção Brasil Urgente) SIMONDON, Gilbert. El modo de existência de los objetos técnicos. Tradução de Margarita Martínez e Pablo Rodríguez. Buenos Aires: Prometeo, 2007. SSL-FACED. Disponível em <http://www.ssl.faced.ufba.br/twiki/bin/view/SSL/RoboticaLivre> Acesso em: 5 ago 2008. VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Filosofia da práxis. Tradução de María Encarnación Moya. São Paulo: CLACSO, 2007, p.28. ZILLI, Daniel. Mundo livre. 4.ed. [s.e.]: [s.l.], 2005. Disponível em http://zilli.gulinuxsul.org/livros/ml.pdf. Visitado em 5 março de 2009.
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Anexo A
Kit Básico de Robótica Pedagógica Livre
Figura 1. Componentes utilizados na montagem do kit robótico pedagógico para controlar led's.
Figura 2. Materiais utilizados na montagem do kit para controlar led´s.
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Anexo B
Olimpíada de Robótica Livre: Algumas etapas do processo de desenvolvimento do Kit de Robótica Pedagógica Livre e da criação do Artefato Robótico.
Figura 3. Sucata de equipamentos descartados levada por professores e alunos para a oficina de robótica pedagógica livre.
Figura 4. Passando a imagem do circuito a ser montado para a placa de circuito impresso (fenolite) com a utilização da caneta para desenhar circuito.
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Figura 5. Placa IHL (Interface de Hadware Livre) depois de pronta. Cuja função é a de controlar os artefatos robóticos construídos.
Figura 6. Artefato robótico feito de palito de picolé, engrenagens e motor de Cdrom retirados da sucata.
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Figura 7. Artefato robótico feito com rodas do sistema de engrenagem de uma impressora com defeito, motor de passo retirado também da impressora e madeira já reutilizada.
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