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revistahugv
Revista do Hospital Universitário Getúlio VargasThe Journal of Getulio Vargas University Hospital
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONASHOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS
Rua Apurinã nº 04 – Praça 14 de Janeiro, Cep: 69020-170 Manaus - AMFones: (092) 3621-6582/6519 E-mail: revistahugv@ufam.edu.br
FUNDADORES
Ricardo Torres SantanaJorge Alberto Mendonça
LISTA DO CONSELHO EDITORIAL DA REVISTA HUGV
EDITOR-CHEFEFernando Luiz Westphal
Maria Augusta Bessa Rebelo Rosane Dias da Rosa
Kathya Augusta Thomé Lopes Maria Lizete Guimarães Dabela
LISTA DO CONSELHO CONSULTIVO DA REVISTA HUGV
Aluísio Miranda LeãoÀngela Delfina B. GarridoAntonio Carlos Duarte CardosoCélia Regina Simoneti BarbalhoCláudio ChavesClemencio Cezar Campos CortezDagmar KeisslichDavid Lopes NetoDomingos Sávio Nunes de LimaEdson de Oliveira AndradeEdson Sarkis GonçalvesErmerson SilvaEucides Batista da SilvaEurico Manoel AzevedoCristina da Melo Rocha
Fernando César Façanha FonsecaFernando Luiz WestphalGerson Suguyama NakajimaIone Rodrigues BrumIvan da Costa TramujásJacob CohenJoão Bosco L. BotelhoJosé Correa Lima NettoJulio Mario de Melo e LimaKathya Augusta Thomé de SouzaLourivaldo Rodrigues de SouzaLuís Carlos de LimaLuiz Carlos de Lima FerreiraLuiz Fernando PassosMaria Augusta Bessa Rebelo
Maria do Socorro L. CardosoMaria Fulgência Costa L. BandeiraMaria Lizete Guimarães DabelaMariano Brasil TerrazasNeila Falcone BonfimNelson Abrahim FraijiNikeila Chacon de O. CondeOsvaldo Antônio PalharesRicardo Torres SantanaRosana Cristina Pereira ParenteRosane Dias da RosaRubem Alves da Silva JúniorWilson BulbolZânia Regina Ferreira Pereira
revistahugv
Revista do Hospital Universitário Getúlio VargasThe Journal of Getulio Vargas University Hospital
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURAUNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGASCopyright© 2009 Universidade Federal do Amazonas/HUGV
REITORA DA UFAMDra. Márcia Perales Mendes Silva
DIRETOR DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGASDr. Lourivaldo Rodrigues de Souza
PRODUÇÃO GRÁFICA-EDITORIALWagner Alencar
ORGANIZAÇÃOThaís Borges Viana
DIRETORA DA EDUADra. Iraildes Caldas Torres
DIRETORA DA REVISTAProfª Dayse Enne Botelho
REVISÃO (LÍNGUA PORTUGUESA)Sergio Luiz Pereira
CAPAServiço de Ergodesign
TIRAGEM 300 EXEMPLARES
FICHA CATALOGRÁFICAYcaro Verçosa dos Santos – CRB-11 287
CDU 61(051)
R454 Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas.Revista do Hospital Getúlio Vargas. V. 8, n. 1-2 (2009) / Manaus: Editora da UniversidadeFederal do Amazonas, 2009.178 p.SemestralTítulo da revista em português inglêsISSN – 1677-91691. Medicina-Periódico I. Hospital Universitário Getúlio Vargas II. Universidade Federal do Amazonas.
Sumário
Editorial
Prof. Dr. Lourivaldo Rodrigues de Souza – Diretor do HUGV
Artigos Originais
1. Ocorrência de complicações respiratórias no pós-operatório de cirurgias abdominais
2. Detecção de hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus e obesidade em pessoas da 3ª idade de um município do alto Solimões
3. Empiema pleural no adulto e adolescente: Prevalência, tratamento e evolução no período de janeiro 1995 a janeiro de 2005.
4. Correção da deformidade de parede torácica anterior pela técnica de Nuss – A experiência inicial em Manaus
Artigo de Revisão
5. Indicações atuais da cirurgia poupadora de néfrons nos tumores renais. Um artigo de revisão.
Relato de Caso
6. Abordagem cirúrgica extra-oral no tratamento de rânula mergulhante - relato de caso
7. Comprometimento da coluna cervical na artrite reumatóide grave: melhora com tratamento clínico
8. Neoplasia de células germinativas em crianças: relato de caso e revisão de literatura
9. Ingestão inadvertida de chumbo em animal caçado como causa de apendicite aguda
10. Adenoma de vesícula biliar: relato de caso
11. Tamponamento cardíaco traumático tardio: relato de caso
12. Síndrome do Lobo médio: relato de caso
Anais da V Jornada de Saúde da Amazônia Ocidental
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Contents
Editorial
Prof. Dr. Lourivaldo Rodrigues de Souza – Diretor do HUGV
Original Articles
1. Occurrence of respiratory complications in the postoperative period of abdominal surgeries
2. Systemic hypertension, diabetes mellitus and obesity in participants of third age’s group in a city of the high Solimões river
3. Pleural Empyema in the adult and adolescent: Prevalence, treatment and evolution in the period of January 1995 the January of 2005
4. Anterior chest wall deformity correction by Nuss technic – Initial experience of Manaus
Article Review
5. Current indications of nephron-sparing surgery in renal tumors. A review article.
Case Report
6. Surgical management extra-oral in treatment of plunging ranula – case report
7. Impairment of the cervical spine in severe rheumatoid arthritis: clinical treatment with improvement of symptoms
8. Germ cell neoplasia in children: case report and literature review
9. Inadvertent consumption of leads in animal hunted as causes of sharp appendicitis
10. Gallblader adenoma: case report
11. Late traumatic cardiac tamponade: case report
12. Middle lobe syndrome: case report
Annals
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Editorial
O convite para prefaciar esta revista levou-me a experimentar dois sentimentos agradáveis. De um lado, reconhecendo que o processo de escrever significa algo mais do que a simples ação de registrar fatos e experiências vivenciadas, manifesto alegria sincera pela contribuição destes jovens autores à produção, à sistematização e à socialização de mais conhecimentos na área da Saúde. Por outro lado, ciente de que a responsabilidade de prefaciar uma revista constitui uma honra conferida pelo editor para opinar sobre esta obra, não poderia deixar de expressar também o orgulho que sinto ao ter acompanhado, há quase dez anos, o seu nascimento e, nos últimos anos, o desenvolvimento profissional destes talentosos investigadores que publicam suas experiências científicas.
Manter a qualidade do conteúdo da revista do HUGV é sem dúvida uma característica peculiar do seu editor. Portanto, as qualidades requeridas para o trabalho científico, como, por exemplo, rigor, seriedade, lógica do pensamento, busca da prova, etc., indispensáveis ao pesquisador, são aqui observadas. Cada artigo tem sempre, de forma implícita ou explícita, as marcas do caráter de quem o escreve. O ato de escrever um artigo é, além de tudo, uma iniciativa para despertar o interesse pela pesquisa e a paciência na busca da verdade. Os autores a fazem de forma bastante determinada e também corajosa, ao articularem os conhecimentos básicos de estatística para ler e interpretar evidências do cotidiano profissional.
Esta revista constitui uma obra indispensável à formação inicial e continuada daqueles que interagem com o Hospital Universitário Getúlio Vargas, não tão somente no campo da medicina, mas nas demais áreas da saúde, para que as pessoas possam aprender a investigar por meio da prática de pesquisa, enfrentando problemas difíceis e aprendendo com os erros, porque ninguém está isento de cometer erros. Há, ao longo da revista, uma ambição de conhecimento e demonstração clara de que os autores são participantes efetivos do campo que estudam. Evidentemente, há um longo caminho a trilhar, onde muitos superaram o desafio inicial e apresentam suas contribuições na tentativa de reduzir a demanda reprimida de obras desta natureza. Gostaria de ressaltar o empenho que o editor está fazendo ao longo desses anos para manter o padrão da revista. Como membro do Conselho Editorial e como diretor do HUGV, sinto-me honrado ao poder descrever esses sentimentos a respeito da qualidade da revista, dos seus autores e do seu editor.
Por fim, devo enfatizar que nossa memória ficará nos registros oficiais que um dia decidimos fazer, pois as palavras voam e o que escrevemos ficará para as futuras gerações.
Lourivaldo Rodrigues de Souza
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Edson de O. Andrade, Elaine Cristina M. Fonseca, Ângela Maria M. Silva,Fábio A. Bindá, Diego Carvalho, Cristiane de Brito Vieira
OCORRÊNCIA DE COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS NO PÓS-OPERATÓRIO DE
CIRURGIAS ABDOMINAIS*
OCCURRENCE OF RESPIRATORY COMPLICATIONS IN THE
POSTOPERATIVE PERIOD OF ABDOMINAL SURGERIES
Edson de Oliveira Andrade,* Elaine Cristina Marinho da Fonseca,**
Ângela Maria Melo da Silva,*** Fábio Arruda Bindá,**
Diego Carvalho,****Cristiane de Brito Vieira****
RESUMO
As complicações pulmonares no pós-operatório (CPP) devem ser consideradas como uma
segunda doença, que ocorrem até trinta dias após o procedimento, ou a exacerbação de uma
mesma doença preexistente em decorrência da cirurgia. A incidência de CPP está relacionada
ao tipo de cirurgia, à alteração da mecânica respiratória do diafragma e padrão respiratório
apical e superficial, à custa de um volume respiratório baixo. As cirurgias de tórax e abdome
superior foram as grandes responsáveis pelas complicações pulmonares. As principais
CPPs encontradas são atelectasia, infecção traqueobrônquica, pneumonia, insuficiência
respiratória aguda, ventilação mecânica e/ou intubação orotraqueal prolongadas, e
broncoespasmo. OBJETIVO: verificar a incidência e tipos de complicações pulmonares em
pacientes no pós-operatório de laparotomias eletivas na Fundação Hospital Adriano Jorge.
MÉTODOS: Trata-se de um estudo de coorte, prospectivo, que investigou 54 pacientes
submetidos a cirurgias abdominais, nos quais se investigou fatores de risco relacionados aos
pacientes, ao ato anestésico-cirúrgico, bem como a função pulmonar pré e pós-operatória.
Os pacientes foram classificados pela escala de Torrington-Henderson. RESULTADOS: Todos
os pacientes foram classificados como baixo risco pela escala de Torrington e Henderson.
Foi verificada a ocorrência de um caso CPP (atelectasia sintomática), de diminuição do VEF1
*Professor-adjunto da Universidade Federal do Amazonas e ex-professor de Clínica Médica da UEA; TECM-SBCM e TEPT-SBPT**Médica (o) bolsista de iniciação científica da Fapeam***Médica residente de Anestesiologista do Hospital Universitário Getúlio Vargas – Ufam****Acadêmicos de Medicina – UEA
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OCORRÊNCIA DE COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS NOPÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIAS ABDOMINAIS
e da VEF6 no pós-operatório quando comparado com as medidas no pré-operatório, sendo
essas diminuições mais intensas nas cirurgias supraumbilicais. CONCLUSÃO: Foi observada
uma baixa incidência de CPP em nosso estudo, que provavelmente está relacionada ao baixo
risco apresentado na escala de Torrington-Henderson pela população estudada.
Palavras-chave: Complicações, Pós-Operatório, Pulmonares, Espirometria.
ABSTRACT
Pulmonary complications in the postoperative period (CPP) should be considered as a
second disease, which occur up to thirty days after the procedure, or the exacerbation of a
preexisting disease that due to surgery. The incidence of CPP is related to the type of surgery,
the change of respiratory mechanics and diaphragm breathing pattern and apical surface,
the cost of a low volume breathing. The surgery of the chest and upper abdomen were
the major responsible for pulmonary complications. The main CPP are found atelectasis,
tracheobronchial infection, pneumonia, respiratory failure, mechanical ventilation and
/ or prolonged tracheal intubation and bronchospasm. OBJECTIVE: To determine the
incidence and types of pulmonary complications in patients in the postoperative period
of elective laparotomies in Hospital Adriano Jorge Foundation. METHODS: This was a
cohort study, prospective, who investigated 54 patients undergoing abdominal surgery,
which investigated risk factors related to patients, the anesthesia, surgical and pulmonary
function pre-and postoperative. Patients were classified by the scale of Torrington-
Henderson. RESULTS: All patients were classified as low risk by the scale of Torrington and
Henderson. It was verified the occurrence of an event PPCs (atelectasis symptomatic), the
decrease in FEV1 and VEF6 in postoperative compared with preoperative measures, these
being more severe decreases in the supra-umbilical surgery. CONCLUSION: There was a
low incidence of CPP in our study, which is probably related to low risk presented in the
scale of the Torrington-Henderson population.
Keywords: Complications, Postoperative, Pulmonary, Spirometry.
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Edson de O. Andrade, Elaine Cristina M. Fonseca, Ângela Maria M. Silva,Fábio A. Bindá, Diego Carvalho, Cristiane de Brito Vieira
INTRODUÇÃO
O conceito de complicações
pulmonares no pós-operatório (CPP)
diverge muito na literatura; contudo,
deve-se considerar que as complicações
pós-operatórias são uma segunda doença,
inesperada, que ocorre até trinta dias após
o procedimento cirúrgico, ou a exacerbação
de uma mesma doença preexistente em
decorrência da cirurgia. Assim, as verdadeiras
complicações constituem-se em uma doença
inesperada que traz repercussão clínica para o
paciente e prolonga, principalmente, o tempo
de permanência no pós-operatório.1; 2
A incidência de CPP está
relacionada ao tipo de cirurgia, à alteração
da mecânica respiratória do diafragma e do
padrão respiratório, à custa de um volume
respiratório baixo, bem como a outros
fatores que contribuem para a atelectasia
(redução da capacidade residual funcional
(CRF), perda do surfactante pulmonar ou
obstrução).3 Qualquer tipo de cirurgia pode
evoluir com tais complicações; contudo, as
cirurgias de tórax e do abdome superior são
as grandes responsáveis pelas complicações
pulmonares, estimando-se que há uma
redução de 50 a 60% da capacidade vital
e de 30% da CRF, causadas por disfunção
do diafragma, dor pós-operatória e colapso
alveolar nessas cirurgias.2 Sabe-se que
no pós-operatório de cirurgia abdominal
alta ocorrem alterações da mecânica
respiratória, do padrão respiratório, das
trocas gasosas e dos mecanismos de defesa
pulmonar, propiciando o aparecimento de
CPP.4 Acredita-se que a incidência dessas
complicações possa estar associada à
presença de fatores de risco como obesidade,
fumo, doença pulmonar obstrutiva crônica,
etilismo, doença cardíaca, idade avançada,
caquexia, baixo status clínico, tempo de
cirurgia, técnica cirúrgica empregada,
valores espirométricos anormais, escolha do
anestésico, intubação, tempo de intubação,
capacidade diminuída ao exercício e
tempo de internação pré-operatório
prolongado. Em suma, a ocorrência da CPP
está associada à existência de fatores de
risco pré-operatórios, trans-operatórios
e pós-operatórios. Um estudo recente
atribuiu a ocorrência da CPP à combinação
de três fatores: quantidade e tipo de
contaminação do sítio cirúrgico, técnicas
cirúrgicas e anestésicas empregadas, e
resistência individual do paciente para
o desenvolvimento de complicações
pulmonares.2
As principais CPPs encontradas no
pós-operatório são atelectasia, infecção
traqueobrônquica, pneumonia, insuficiência
respiratória aguda, ventilação mecânica e/
ou intubação orotraqueal prolongadas, e
broncoespasmo.
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OCORRÊNCIA DE COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS NOPÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIAS ABDOMINAIS
Uma vez que as CPPs em cirurgias
de abdome superior são causas importantes
do aumento de morbimortalidade, é
necessário determinar a incidência dessas
complicações respiratórias em nosso meio,
a fim de que se possam realizar medidas
visando à redução tanto da frequência quanto
de sua intensidade, assim determinando
decréscimo da morbimortalidade no pós-
operatório e no ônus do tratamento e,
principalmente, proporcionar melhor
qualidade de vida ao paciente.
METODOLOGIA
Tratou-se de um estudo de coorte
prospectivo que investigou as CPPs ocorridas
no pós-operatório de cirurgias abdominais.
Esta pesquisa foi desenvolvida na Fundação
Hospital Adriano Jorge, na cidade de
Manaus, sendo aprovado pelo Comitê de
Ensino e Pesquisa ( CAAE-0010.0.252.133-
05). A inclusão dos pacientes foi realizada
mediante prévia anuência do termo de
consentimento informado e esclarecido.
Não houve conflito de interesse
durante toda a fase de desenvolvimento do
projeto de pesquisa.
Foram avaliados 54 pacientes
de ambos os sexos, sem alterações
neuromusculares e ortopédicas conhecidas,
com idade entre 18 a 80 anos, internados
para realização de cirurgia abdominal
eletiva. A coleta de dados foi realizada
entre janeiro e julho de 2008. Os fatores
de risco referentes aos pacientes estudados
foram: idade, obesidade (IMC superior
a 30), desnutrição; tabagismo; etilismo;
doenças pulmonares preexistentes e
atuais; cardiopatias e dados espirométricos
prévios. Os fatores de risco associados aos
procedimentos estudados foram: a anestesia
(tipo, intercorrências), tempo de cirurgia
e intercorrências no ato operatório. Os
pacientes candidatos à laparotomia eletiva
foram submetidos à avaliação clínica pré-
operatória e pós-operatória, consistindo de
história clínica, exame físico, radiografia de
tórax, espirometria e avaliação pela escala
de Torrington e Henderson.
A mensuração da função pulmonar
foi realizada por meio da espirometria,
utilizando o aparelho portátil (Koko Peak
Pro6 – Ferraris), que analisa o volume
expiratório no 1.º segundo (VEF1), o
volume expiratório no 6.º segundo (VEF6)
dos pacientes nos períodos pré e pós-
operatório (24h de PO após as herniorrafias
e 48h de PO nas demais cirurgias), sendo
que cada paciente executou pelo menos
três manobras aceitáveis, sem uso de
broncodilatador, cujo melhor resultado foi
utilizado para efeito deste estudo.
Após o procedimento cirúrgico, o
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Edson de O. Andrade, Elaine Cristina M. Fonseca, Ângela Maria M. Silva,Fábio A. Bindá, Diego Carvalho, Cristiane de Brito Vieira
paciente foi acompanhado diariamente
desde o pós-operatório imediato até a alta
ou ocorrência de óbito hospitalar.
Para efeito deste estudo, foram
consideradas complicações pulmonares pós-
operatórias: pneumonia; traqueobronquite,
broncoespasmo, atelectasias pulmonares
com sintomas respiratórios; insuficiência
respiratória aguda com alteração
gasométrica e a intubação orotraqueal
prolongada (> 48 h no PO).
Os dados coletados foram analisados
pelo programa SPSS 13.0, sendo os dados
quantitativos submetidos ao teste T de
Student e os qualitativos pela estatística
exata de Fisher. O alfa adotado foi de 5%,
com um intervalo de confiança de 95%.
RESULTADOS
Foram avaliados 54 pacientes de
ambos os sexos, sendo 32 (59%) do sexo
feminino e 22 (41%) masculino, com a idade
variando entre 18 a 79 anos, com média de
47 anos; IMC médio de 25, 47 (DP±).
Dos fatores de risco apresentados
pelo paciente, constatou-se que o etilismo
foi a principal variável encontrada (37,03%),
seguida de doença pulmonar (20%),
doença cardíaca (14,81%) e tabagismo
(12,96)%. Perto de 14% dos pacientes não
apresentavam fatores de risco.
Dos pacientes que apresentavam
doença pulmonar prévia, 11% relataram asma,
7% pneumonia e 2% outras pneumopatias
prévias, todos assintomáticos.
As cirurgias realizadas foram igualmente
divididas em cirurgias no abdome superior e o
no abdome inferior. O tempo cirúrgico médio
foi de 94,62 minutos (DP±4,3).
Dos procedimentos realizados,
34% (18) foram colecistectomias
convencionais, 28% (15) herniorrafias, 9%
(5) colecistectomias videolaparoscópicas,
7% (4) prostatectomias transvesicais e 22%
(12) outras, totalizando 54 cirurgias.
Quanto ao tipo de anestesia utilizado,
50% foram de raquianestesia, 41% anestesia
geral e 9% anestesia peridural. O agente
anestésico mais utilizado bupivacaina 0,5%
(61%). Também foram utilizados o isoflurano
(30%) e o sevoflurano (9%).
O tempo de internação hospitalar variou
entre 2 e 8 dias com média de 3 dias e DP± 1,37.
O risco de complicações quantificado
pela escala de Torrington e Henderson5
classificou os 54 pacientes como de baixo
risco. Dos pacientes pesquisados, apenas 1
(2%) evoluiu com complicações pulmonares,
sendo a atelectasia sintomática única
afecção pulmonar registrada.
As Tabelas 1 e 2 referem-se às
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OCORRÊNCIA DE COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS NOPÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIAS ABDOMINAIS
diferenças entre os valores espirométricos
pré e pós-operatórios no VEF1 e VEF6
respectivamente, observando-se, no geral,
diminuição no pós-operatório.
N.º Média (L) Desvio padrão
VEF1 Pré-op. 2,12 2,12 0,64
VEF1 Pós-op. 1,44 1,44 0,56
Tabela 1 – Diferenças entre os valores espirométricos pré e pós-operatórios do VEF1
p<0,001
N.º Média (L) Desvio padrão
VEF6 Pré-op. 54 2,17 0,68
VEF6 Pós-op. 54 1,50 0,60
Tabela 2 – Diferenças entre os valores espirométricos pré e pós-operatório do VEF6
p<0,001
As Tabela 3 e 4 mostram que o
local da incisão cirúrgica é determinante
na diminuição dos valores do VEF1 e VEF.
As cirurgias supraumbilicais proporcionam
uma maior diminuição nos valores do VEF1
e VEF6 medidos no pós-operatório.
Local de incisão
N.º Média (L)
Desvio
VEF1 Supraumbilical 27 0,76 0,54
Infraumbilical 27 0,45 0,32
Tabela 3 – Comparação da diferença pré e pós-operatória do VEF1 em relação ao local da incisão.p<0,05
Local de incisão
N.º Média (L)
Desvio
VEF6 Supraumbilical 27 0,86 0,65
Infraumbilical 27 0,46 0,36
DISCUSSÃO
A idade média dos pacientes
estudados foi de 47 anos, sendo que a
complicação pulmonar registrada ocorreu
em um paciente com 31 anos de idade, o
que difere dos resultados da literatura, que
relatam a ocorrência de CPPs em indivíduos
mais idosos, geralmente acima dos 50
anos.6; 7
O tempo médio de cirurgia foi de
94,6 min., estando abaixo do tempo (>210
min.) mais relacionado ao desenvolvimento
de complicações pulmonares pós-
operatórias.
Onze dos 54 pacientes tinham
história de pneumopatia prévia que,
no entanto, não foi relacionada ao
aparecimento de CPP, muito provavelmente
porque a maioria de tais doenças ocorreu
durante a infância, ou quando se tratou
de asma, apresentava-se há mais de um
ano sem exacerbação. Dos 54 pacientes,
sete referiram tabagismo sem, contudo,
Tabela 4 – Comparação da diferença pré e pós-operatória do VEF6 em relação ao local da incisão. p<0, 001
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Edson de O. Andrade, Elaine Cristina M. Fonseca, Ângela Maria M. Silva,Fábio A. Bindá, Diego Carvalho, Cristiane de Brito Vieira
apresentarem CPPs. Esse comportamento
difere do encontrado na literatura, onde
os pacientes com pneumopatias prévias
apresentam mais complicações (36%) que
os não pneumopatas (6%).1 Ainda que em
nosso estudo o tabagismo não tenha sido
associado às CPPs, deve-se salientar que
existe uma associação importante entre o
tabagismo e as complicações respiratórias
pós-operatórias. Alguns autores acreditam
que essa relação seja indireta, uma vez que
os sintomas respiratórios são três a quatro
vezes maiores nos fumantes que nos não
fumantes. Assim, a abstinência do cigarro no
período pré-operatório, principalmente por
mais de oito semanas, reduz a frequência
e a intensidade dos sintomas e leva a uma
menor incidência de CPP.6
A técnica cirúrgica empregada
guarda associação com a ocorrência de
CPPs. A anestesia geral é a que proporciona
maior número de complicações. A única
CPP observada nesta pesquisa ocorreu em
paciente submetido à anestesia geral. A
relação entre anestesia geral e CPP deve-
se intubação orotraqueal, ao relaxamento
muscular e depressão do sistema nervoso
central, que diminui o reflexo da tosse
bem como predispõe a broncoaspiração e
a utilização de ventilação mecânica. Os
pacientes anestesiados pelos bloqueios
regionais não sofrem influência desses
fatores, e, a priori, portanto, não sofrem
interferência na dinâmica respiratória, logo
não desenvolveriam CPPs.2
O tempo de internação médio foi de
três dias, sendo que as cirurgias de abdome
inferior tiveram um tempo médio menor
de internação (dois dias). O maior tempo
de internação foi de oito dias e deveu-se à
complicação não pulmonar – infecção no sítio
operatório – de cirurgia abdominal alta.
A escala de Torrington e Henderson
mostra-se confiável na previsão pré-
operatória da ocorrência de CPP. Nessa
classificação os pacientes são separados em
três grupos: baixo, moderado e alto risco.
Sendo que a probabilidade de ocorrência de
CPP nesses grupos é da ordem de 6,1%, 23,
3%, 35%, respectivamente.5 Neste estudo,
todos os pacientes foram classificados como
baixo risco.
Foi realizado o mesmo número de
cirurgias no abdome superior e inferior.
Quando se compara a perda de função
pulmonar no pós-operatório entre os dois
locais de cirurgia, nota-se que há uma maior
perda da função pulmonar (VEF1; VEF6 e
VEF1/VEF6) nas cirurgias do abdome superior,
como também é relatado na literatura. Esse
fato é considerado como predisponente para
o aparecimento de CPPS.
Neste estudo, a mensuração da
função pulmonar foi realizada por meio da
espirometria simplificada, isto é, utilizando
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OCORRÊNCIA DE COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS NOPÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIAS ABDOMINAIS
as medidas do VEF1, do VEF6 e da VEF1/
VEF6, as quais têm forte correlação com
os dados da espirometria convencional, ou
seja, o VEF1, a capacidade vital forçada
(CVF) e a VEF1/CVF8-11 para determinação
de alterações na função pulmonar.
Foi observada diminuição nas três
medidas estudadas, quando comparamos
os valores obtidos durante o pré-
operatório e pós-operatório, ocorrendo
uma diminuição média de 49,05% e
31,29% do VEF1, respectivamente, para as
cirurgias de abdome superior e inferior. A
diminuição do VEF6 foi em média de 52,19%
e 33,27%, nas incisões supraumbilicais
e infraumbilicais, respectivamente.
Revisando-se a literatura, constatou-se que
alguns procedimentos cirúrgicos interferem
na mecânica respiratória com tendência ao
desenvolvimento de alterações pulmonares
restritivas (diminuição do VEF6 e na CVF).
Essas alterações atingem seu pico máximo
no primeiro dia de pós-operatório, momento
em que o sistema respiratório se torna mais
vulnerável a complicações pulmonares pós-
operatórias, ocorrendo, especialmente, em
cirurgias em abdome superior por conta da
disfunção diafragmática, desencadeada pelo
estímulo cirúrgico, bem como a duração
do ato anestésico e o tamanho da incisão
cirúrgica.12
Por fim, neste estudo, encontrou-
se a ocorrência de apenas um caso (2%) de
CPP, sendo uma atelectasia sintomática,
a única complicação encontrada. Esse
paciente apresentava uma incisão cirúrgica
supraumbilical, uso de anestesia geral,
tempo cirúrgico de 200 min. sem, entretanto,
apresentar história de etilismo, tabagismo
ou pneumopatia prévia.
REFERÊNCIAS
1. Pereira ED, Farensin SM, Fernandes AL. Morbidade
respiratória nos pacientes com e sem síndrome
pulmonar obstrutiva submetidos à cirurgia abdominal
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AGRADECIMENTOS
À Fundação Hospital Adriano
Jorge, que nos autorizou a realização
deste trabalho em suas dependências; à
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
do Amazonas – Fapeam, pelo financiamento
da pesquisa, bem como a todos aqueles que,
direta e indiretamente, contribuíram para
o êxito desta pesquisa e, principalmente,
aos pacientes, sem a colaboração dos quais
seria impossível a conclusão do estudo.
Projeto de pesquisa financiado pela
Fundação da Amparo à Pesquisa do Estado
do Amazonas – Fapeam.
Instituição de origem do trabalho:
Universidade do Estado do Amazonas.
Endereço do autor principal: Rua Paraíba,
Conj. Abílio Nery, quadra H, casa 2 –
Adrianópolis, Manaus-AM
Fone: (92) 3642-3864
E-mail: edsonandrade@cfm.org.br
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Pietro P. Alves, Cristiano C. Cândido da Silva, Fernando R. Máximo, Heliana N. F. Leite, Sérgio Victor Gomes Wanderley, Ricardo César Simões Chaves
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA, DIABETES MELLITUS E OBESIDADE EM
PARTICIPANTES DO GRUPO DA TERCEIRA IDADE EM UM MUNICÍPIO DA REGIÃO DO ALTO
SOLIMÕES
SYSTEMIC HYPERTENSION, DIABETES MELLITUS AND OBESITY IN PARTICIPANTS OF THIRD AGE’S GROUP IN A CITY
OF THE HIGH SOLIMÕES RIVER
Pietro Pinheiro Alves,* Cristiano Castanheiras Cândido da Silva,**
Fernando Rodrigues Máximo,*** Heliana Nunes Feijó Leite,****
Sérgio Victor Gomes Wanderley,***** Ricardo César Simões Chaves******
RESUMO
A Hipertensão Arterial Sistêmica, o Diabetes Mellitus e a Obesidade são condições patológicas
importantes nas populações mais idosas e são determinantes de doenças cardiovasculares,
importantes causas de mortalidade no mundo. Sendo assim, o presente trabalho teve
como objetivo avaliar a ocorrência dessas afecções em participantes do grupo da terceira
idade de Benjamin Constant – AM. Durante o mês de janeiro de 2003 foi realizada a coleta
de dados a partir de uma campanha de detecção precoce fomentada pela Secretaria
Municipal de Saúde, onde a equipe responsável pela coleta realizou atividades de: (a)
aferição de Pressão Arterial; (b) solicitação de exame de Glicemia em jejum; (c) cálculo
do Índice de Massa Corporal (IMC) para identificação e classificação de eventuais obesos;
(d) preenchimento do formulário de entrevista com os dados pessoais, antecedentes,
hábitos de vida e os valores aferidos; (e) orientação aos idosos quanto aos seus hábitos
de vida, fatores de risco, educação em saúde e esclarecimento de dúvidas a respeito
das doenças crônico-degenerativas. Neste estudo observacional descritivo, dentre os 130
indivíduos do grupo, 106 foram analisados quanto à prevalência de HAS e obesidade, mas
*Ex-residente de Clínica Médica do Hospital Universitário Getúlio Vargas. Especialista em Clínica Médica. Autor principal do estudo**Pediatra do Hospital Santa Júlia. Autor***Cirurgião Geral da Fundação Hospitalar do Acre. Autor****Preceptora do Internato Rural. Colaboradora*****Acadêmico de Medicina 10.º período – Universidade Federal do Amazonas. Autor******Cardiologista e plantonista da Clínica Médica – HUGV. Revisor
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA, DIABETES MELLITUS E OBESIDADE EM PARTICIPANTES DO GRUPO DA TERCEIRA IDADE EM UM MUNICÍPIO DA REGIÃO DO ALTO SOLIMÕES
apenas 85 realizaram a dosagem de glicemia de jejum. RESULTADOS: Foram detectados
42 pessoas com HAS (39,62%), 8 com DM2 (9,41%) e 21 obesos (19,81%). O tabagismo foi
um fator de risco importante encontrado em quase metade dos entrevistados. O grupo da
terceira idade de Benjamin Constant possui fatores de risco acima da média nacional para
doenças cardiovasculares. Há a necessidade de um acompanhamento médico e nutricional
adequados, além de programas educacionais a fim de informar às pessoas sobre hábitos e
comportamentos de risco, promovendo a saúde.
PALAVRAS-CHAVE: Hipertensão Arterial Sistêmica; Diabetes Mellitus; Obesidade; Idosos.
ABSTRACT Systemic hypertension, Diabetes Mellitus and obesity are relevant pathological
conditions in older population and determinants of cardiovascular diseases, major causes
of mortality in the world. This study aimed to evaluate the occurrence of these disorders
in participants of third age’s group of Benjamin Constant-AM. On January 2003, data were
collected from the 3rd age group during a campaign for early detection, fomented by the
health´s department of the city, in which the responsible team did the following activities:
(a) blood pressure measurement (BP), (b) fasting plasma glucose measurement; (c) Body
Mass Index calculation (BMI) for identification and classification of eventual obese; (d)
filling in the interview´s form with personal data, past medical history, living habits and
values of BP, BMI and fasting plasma glucose (e) Orientation for the elderly about their
living habits, risk factors, health education and answering doubts related to the chronic
degenerative diseases. In this descriptive observational study, among 130 individuals of
the group, 106 were analyzed in relation to the prevalence of hypertension and obesity,
but only 85 measured fasting plasma glucose. RESULTS: 42 people were detected with
systemic hypertension (39.62%), 8 with DM2 (9.41%) and 21 obese (19.81%). Smoking was
an important risk factor found in almost half of those interviewed; The group of seniors
from Benjamin Constant presents risk factors above the national average for cardiovascular
disease. Therefore, there is a need for medical care and adequate nutrition, besides
educational programs in order to inform people about risk factors, promoting health.
KEYWORDS: Systemic Hypertension; Diabetes Mellitus; Obesity; Elderly.
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Pietro P. Alves, Cristiano C. Cândido da Silva, Fernando R. Máximo, Heliana N. F. Leite, Sérgio Victor Gomes Wanderley, Ricardo César Simões Chaves
INTRODUÇÃO
A Hipertensão Arterial Sistêmica
(HAS), a Obesidade e a Diabete (DM)
são condições patológicas importantes
nas populações mais idosas, pois estão
implicadas na gênese das doenças
cardiovasculares, atuais e principais
causas de morte no mundo. A incidência
de Hipertensão Arterial atinge cerca de
10% dos indivíduos até 30 anos de idade,
aumentando para 30% aos 60 anos, o que
comprova a prevalência aumentada na
população mais idosa.1, 2, 3, 4 É válido lembrar
que o Diabetes Mellitus também assume
importância epidemiológica significativa,
haja vista que se prevê para 2025 cerca
de 300 milhões de diabéticos no mundo.
Tanto a obesidade quanto a hipertensão
e a diabete possuem uma relação íntima
entre si, atuando como comorbidades
importantes umas das outras. A obesidade,
por exemplo, está diretamente implicada
na gênese do Diabetes Mellitus tipo 2 como
principal fator extrínseco (ambiental) pelo
fato de aumentar a resistência periférica
à insulina, podendo ser responsável por 20
a 30% dos casos de hipertensão arterial e,
também, como componente da conhecida
síndrome metabólica.5 Tal síndrome,
que não se limita à elevação das cifras
tensionais arteriais, compreende ainda
intolerância à glicose e hiperinsulinemia,
hipertrigliceridemia, baixos níveis de HDL,
hipofibrinólise, microalbuminúria e uma
predominância de LDL de baixa densidade
e obesidade central.6
A hipertensão arterial também está
implicada na gênese da diabete, assim
como fatores genéticos, história familiar e
dislipidemias, dentre outros. Modificações
no estilo de vida são importantes no
tratamento e na prevenção primária desses
agravos e estão indicadas, inclusive, nos
idosos. Aliado a isto, há a oportunidade de
detecção precoce por meio de exames de
rastreio simples e de baixo custo, como
a realização da glicemia de jejum (DM2),
cálculo do Índice de massa corpórea
(Obesidade) e aferições da pressão arterial
(HAS), possibilitando, então, a realização
de investigação com grupos comunitários
bem definidos, como o proposto para
este trabalho. Não se pode, contudo,
negligenciar a importância de se identificar
todas as comorbidades e fatores de risco
na população escolhida, tais como o
tabagismo, que depois da idade avançada
é o principal fator de risco para doença
arterial coronariana, história familiar
positiva, dieta inadequada e sedentarismo,
principalmente, para que, pela educação em
saúde, se proponha uma maior possibilidade
de se controlar doenças que, de forma
silenciosa e crônica, são responsáveis por
um grande número de vítimas em todo o
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA, DIABETES MELLITUS E OBESIDADE EM PARTICIPANTES DO GRUPO DA TERCEIRA IDADE EM UM MUNICÍPIO DA REGIÃO DO ALTO SOLIMÕES
mundo.6 Como, no Brasil, faltam estudos
representativos de todo o país, torna-se
necessário avaliar um número variado de
comunidades brasileiras a fim de se traçar
perfis regionais.
Benjamin Constant, município
do interior do Estado do Amazonas, foi
escolhido e, por exames simples aplicados
ao único grupo da terceira idade lá
existente, serve de mais um novo parâmetro
para o estudo de prevalência das doenças
crônico-degenerativas no Estado e no país.
Por meio de um delineamento descritivo
e observacional, não intervencionista,
numa campanha de identificação
precoce daquelas doenças fomentada
pela Secretaria Municipal de Saúde,
objetivamos traçar o perfil epidemiológico,
no tocante à hipertensão arterial, diabete
e obesidade, relacionando aos fatores de
risco identificáveis na população estudada.
MATERIAIS E MÉTODOS
Amostra
Benjamin Constant possui uma
população de 24.729 habitantes sendo 130
pessoas cadastradas no grupo da Terceira
Idade, 24 participantes tiveram de ser
excluídos da pesquisa por não estarem
presentes no dia da coleta de dados.7 Os
106 cidadãos remanescentes preencheram
os critérios de inclusão do formulário
de entrevista: duas aferições de PA em
ocasiões distintas e cálculo do IMC a
partir das medidas da massa corpórea e
altura; contudo, apenas 85 desses foram
submetidos ao exame de Glicemia de jejum
em dois momentos distintos para rastreio
do Diabetes Mellitus.
Os encarregados de coletarem os dados
foram pesquisadores, então acadêmicos do
internato (6.º ano) da Faculdade de Medicina
da Universidade Federal do Amazonas, que
estavam em internato rural obrigatório na
cidade de Benjamin Constant-AM, tendo
como orientadora direta uma enfermeira com
especialização em Saúde da Família e sob a
supervisão de uma preceptora do internato
rural. Este estudo foi aprovado pelo Comitê
de Ética do Hospital Universitário Getúlio
Vargas.
Material
O material utilizado constituiu-
se de: 1 – Instrumentos diagnósticos:
Esfigmomanômetro (Tensiômetro com
Manômetro Aneroide novo e calibrado)
e Estetoscópio Littman Classic II, a fim
de realizar a medida pressórica em duas
ocasiões diferentes; 2 – Balança com
régua métrica para aferição de altura e
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Pietro P. Alves, Cristiano C. Cândido da Silva, Fernando R. Máximo, Heliana N. F. Leite, Sérgio Victor Gomes Wanderley, Ricardo César Simões Chaves
calculadora científica para a efetuação do
cálculo de IMC – Índice de Massa Corporal;
3 – Kits In Vitro-Human® para detecção da
Glicemia de jejum com o Espectrofotômetro
CELM E-250 no laboratório da UMBC; 4 –
Formulários para cadastros e avaliação dos
hábitos e fatores de risco da população
analisada.
Procedimentos
No período de 4/1 a 1.º/2/2003,
durante os sábados em período vespertino
(13 às 18h), foram realizadas visitas ao
centro de reuniões do grupo da terceira
idade, onde pessoas, idosas em sua grande
maioria, praticavam atividades laborativas
de lazer, cultura e saúde, como iniciativa
da Secretaria Municipal do Bem-Estar
Social em parceria com a Secretaria de
Saúde de Benjamin Constant-AM. Para uma
avaliação cuidadosa e bem direcionada dos
integrantes daquele grupo, e subsequente
diagnóstico de saúde, foi necessária revisão
bibliográfica pertinente às principais
doenças crônico-degenerativas incluindo
Hipertensão Arterial Sistêmica, Diabetes
Mellitus tipo II e Obesidade. Anterior à
realização dos trabalhos, foram adquiridos
os materiais e disponibilizada a cooperação
do Laboratório Central da Unidade Mista de
Benjamin Constant (Lacen – UMBC) para a
realização de exames de Glicemia de jejum.
No dia 4/1/2003 tiveram início às atividades
de aferição de Pressão Arterial (PA) segundo
as normas preconizadas pelo Ministério da
Saúde para a identificação de prováveis
hipertensos, confirmados mais tarde, e
em outra ocasião com uma nova aferição
pressórica. As pessoas foram avaliadas
pelo método auscultatório e encontravam-
se sentadas, em repouso por, pelo menos,
duas horas, com o braço despido de roupas
e levemente fletido, antebraço apoiado,
deixando o cotovelo ao nível do coração
e a palma da mão voltada para cima.1
Por motivos técnicos, não foi possível
reclassificar a diabetes pela utilização das
diretrizes atuais sendo realizada segundo
Atualização Terapêutica – 2005. O diagnóstico
para a hipertensão foi baseado no consenso
utilizado durante a época da pesquisa, o III
Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial
Sistêmica 1998, e a obesidade segundo
Consenso de Síndrome Metabólica – 2005.
Foram realizados os cadastros dos pacientes
e estes repassados para as autoridades
locais de saúde e organizadores do grupo
da terceira idade, para o seguimento mais
adequado e continuidade do trabalho com
outras equipes de internos. Ainda, procedeu-
se com a orientação dos idosos quanto aos
seus hábitos de vida, atividades de risco,
educação em saúde e esclarecimento de
dúvidas a respeito das doenças crônico-
degenerativas, principalmente para
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA, DIABETES MELLITUS E OBESIDADE EM PARTICIPANTES DO GRUPO DA TERCEIRA IDADE EM UM MUNICÍPIO DA REGIÃO DO ALTO SOLIMÕES
aqueles em que fora evidenciada alguma
alteração segundo os métodos diagnósticos
empregados. Finalizando o trabalho,
procedeu-se com a análise dos dados.
RESULTADOS
Da amostra inicial, 130 pessoas do grupo
da terceira idade foram entrevistadas, mas
apenas 106 destes puderam ser avaliados.
TOTAL = 130
DESISTENTES = 24
N = 106
A idade foi distribuída em 2 faixas
etárias, 27 pessoas (25,48%) tinham menos de
60 anos de idade e 79 (74,52%) mais de 60 anos,
representando 5,67% dos idosos do município.7
Sendo 74,52% mulheres e 25,47% homens.
Os resultados do IMC do grupo
estudado foram: baixo peso (13,2%), peso
normal (37,73%), acima do peso (29,24%),
obesidade Grau I (18,86%), obesidade Grau
II (0,94%). Aproximadamente metade dos
avaliados estava acima do peso (Quadro 1).
SITUAÇÃO TOTAL
Baixo Peso 14 (13,2 %)
Peso Normal 40 (37,73 %)
Acima do Peso 31 (29,24 %)
Obesidade Grau I 20 (18,86 %)
Obesidade Grau II 1 (0,94 %)
Quadro 1Fonte: Detecção de Hipertensão Arterial Sistêmica, Diabetes e Obesidade em grupo de idosos de Benjamin Constant – AM (jan., 2003).
Em relação ao tabagismo, 32,07%
das pessoas que contribuíram para a
pesquisa fumavam, 37,73% já haviam
fumado e apenas 30,18% nunca fumaram.
Outro fator reconhecidamente
implicado na gênese da HAS e da obesidade
é a falta de atividades físicas regulares. Do
total, 34,9% dos entrevistados se declararam
sedentários.
Dentre as pessoas entrevistadas,
aproximadamente 17,92%, não tinham
nenhuma preocupação com a sua dieta,
alimentando-se de comida rica em sal,
frituras e carboidratos.
De 85 pacientes para os quais foi
solicitada Glicemia de jejum, 88,23%,
obtiveram resultado dentro dos padrões da
normalidade, 9,41% o resultado confirmou
DM e 2,35% se mostraram numa faixa na
qual a glicemia está alterada, mas ainda
não é considerada como suficiente para se
considerar DM (Quadro 2).
Total Glicemia de Jejum
Normal (<110) 75 (88,23 %)
Alterada (110-126) 2 (2,35 %)
Diabetes (>126) 8 (9,41 %)
Total 85 (100 %)
Quadro 2Fonte: Detecção de Hipertensão Arterial Sistêmica, Diabetes e Obesidade em grupo de idosos de Benjamin Constant – AM (jan., 2003).
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Pietro P. Alves, Cristiano C. Cândido da Silva, Fernando R. Máximo, Heliana N. F. Leite, Sérgio Victor Gomes Wanderley, Ricardo César Simões Chaves
Quando avaliados os níveis
tensionais, de acordo com o III Consenso
Brasileiro de Hipertensão Arterial, teve-se
o seguinte resultado:
Pressão normal 49,05%, normal
limítrofe 9,66%, hipertensão leve 4,71%,
hipertensão moderada 4,71%, hipertensão
grave 9,66% e hipertensão sistólica isolada
18,6%.
Pressão Arterial Total
Normal 52 (49,05 %)
Normal Limítrofe 12 (9,66 %)
Hipertensão Leve 5 (4,71%)
Hipertensão Moderada 5 (4,71 %)
Hipertensão Grave 12 (9,66%)
Hipertensão Sistólica Isolada 20 (18,6 %)
Quadro 3Fonte: Detecção de Hipertensão Arterial Sistêmica, Diabetes e Obesidade em grupo de idosos de Benjamin Constant – AM (jan., 2003).
DISCUSSÃO
Calcula-se que 8% da população
brasileira seja obesa e 32% esteja acima
do peso (IMC >25). Estudos demonstram
que o risco de intolerância à glicose e
Diabetes Mellitus tipo 2 está relacionado
ao maior índice de massa corpórea e que
a obesidade, mesmo se única como fator
de risco, está associada a um alto grau de
doenças cardiovasculares.6, 8, 9
Neste trabalho, 49% dos entrevistados
tinham sobrepeso e 19,8% eram obesos,
ambos os valores acima da média nacional.
Tal resultado nos faz questionar o grau de
comprometimento dos participantes com as
atividades para saúde ou o tipo de orientação
que foi dada, pois o grupo estudado é
considerado privilegiado, já que possui um
programa voltado para o entretenimento e
orientações para a saúde.
Estudos observacionais indicam
que uma dieta que inclui alta densidade
de micronutrientes e fibra, quantidades
moderadas de gordura insaturada e um
baixo conteúdo de gordura trans, gordura
saturada, açucares e amido está associado
com uma redução em 30% ou mais em riscos
para doenças cardiovasculares.10 Quando os
participantes do grupo da terceira idade
foram questionados sobre a alimentação
e a atividade física, 17,92% tinham dieta
inadequada. Número talvez subestimado, já
que as perguntas foram feitas diretamente
para os participantes sem a confirmação
por parte dos familiares.
No grupo avaliado, 34,9%
declararam-se sedentários. Sabe-se que a
prática de exercícios físicos está relacionada
a vários fatores benéficos. Dentre eles
há melhora do controle glicêmico, da
sensibilidade à insulina e há evidências de
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HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA, DIABETES MELLITUS E OBESIDADE EM PARTICIPANTES DO GRUPO DA TERCEIRA IDADE EM UM MUNICÍPIO DA REGIÃO DO ALTO SOLIMÕES
que o Diabetes Mellitus tipo 2 pode ser
prevenido em grupos de alto risco para a
doença.11 Reduz o estresse, a ansiedade e
a depressão.12 Quando associada à dieta,
acelera a perda de peso e a perda de tecido
adiposo.13 Existe ainda a possibilidade de
que o exercício regular previna ou atrase
o declínio cognitivo no idoso e diminua a
incidência de hipertensão.14, 15
O tabagismo acelera as doenças
aterotrombóticas, reduz o suprimento
de oxigênio do miocárdio, causa efeitos
deletérios na pressão sanguínea, no tônus
simpático e aumenta o risco de doenças
cardiovasculares que em Benjamin Constant
representaram 21,95% das causas de morte
no ano de 2003.6, 7 Afeta diretamente o
pulmão causando várias doenças, entre as
quais a doença pulmonar obstrutiva crônica
e o câncer de pulmão sendo as principais
e ainda aumenta o risco de desenvolver
Diabetes Mellitus tipo 2.16, 17
Neste trabalho, quase metade das
pessoas avaliadas (47,16%) apresentou
tabagismo como fator de risco e, do total,
32,07% ainda continuavam fumando. O
que é uma questão de grande relevância,
já que a cessação do tabagismo constitui
medida fundamental e prioritária na
prevenção primária e secundária da
aterosclerose e o fumo é o único fator
de risco totalmente evitável de doença e
morte cardiovasculares.18, 19 Mesmo para
os fumantes de longa data há evidências
de que programas agressivos de controle
ao tabagismo se associam à diminuição de
mortes cardiovasculares em curto prazo.20
Devendo a cessação do tabagismo sempre
ser incentivada em qualquer idade.
Pacientes com diabetes têm 2 a 8
vezes mais chance de desenvolver eventos
cardiovasculares quando comparado com
indivíduos não diabéticos.6 Dos participantes,
2,35% tiveram Glicemia de jejum alterada e
9,41% receberam o diagnóstico de Diabetes
Mellitus tipo 2. Por situações técnicas e
financeiras, não foi possível continuar a
investigação diagnóstica dos pacientes de
glicemia alterada.
Estima-se que 65% dos idosos
brasileiros tenham hipertensão.1 Essa
condição é quantitativamente o principal
fator de risco para doença cardiovascular
prematura, sendo mais comum que o
tabagismo, a dislipidemia e diabetes.21 Além
de ser a principal e mais comum causa de
acidente vascular cerebral.22
Quando avaliados os níveis tensionais,
de acordo com o III Consenso Brasileiro
de Hipertensão Arterial, 37,68% foram
diagnosticados como hipertensos, dentre
estes 37,03% eram portadores de Hipertensão
Sistólica Isolada. Essa é o tipo de hipertensão
predominante na população idosa e recomenda-
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Pietro P. Alves, Cristiano C. Cândido da Silva, Fernando R. Máximo, Heliana N. F. Leite, Sérgio Victor Gomes Wanderley, Ricardo César Simões Chaves
se que o seu controle seja o principal alvo no
tratamento dessa faixa etária.
Não foi possível estudar outros fatores
de risco para doenças cardiovasculares,
como história familiar, perfil lipídico e
uricemia por motivos técnicos e financeiros.
Nem todos os integrantes da pesquisa
tinham mais de 60 anos, impossibilitando o
estudo de um grupo homogêneo de idosos.
Este trabalho não pôde confrontar os dados
obtidos com os de outros estudos da mesma
população, pela inexistência deles.
CONCLUSÕES
O grupo da terceira idade de Benjamin
Constant possui fatores de risco acima da média
nacional para doenças cardiovasculares. Há a
necessidade de um acompanhamento médico
e nutricional adequados, além de programas
educacionais a fim de informar às pessoas
sobre hábitos e comportamentos de risco,
promovendo a saúde.
A abrangência do trabalho foi
significativa como um estudo piloto,
tendo estudado uma população do
interior do Estado do Amazonas, pobre
em estudos dessa natureza. Sendo assim,
mais trabalhos necessitam ser realizados
na região amazônica, a fim de se obter
dados específicos sobre a população de
idosos e dos fatores de risco da terceira
idade, além das peculiaridades do hábito
de vida do amazonense. Adquirindo-se
cada vez mais conhecimento para prover a
melhor assistência possível à população do
Amazonas.
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AGRADECIMENTOS
Enfermeira Maria Dolores de S. Braga (Susam de Benjamin Constant);
Professora Heliana N. Feijó Leite (professora do Departamento de Saúde Coletiva/Ufam);
Amanda Pinto, Ana Paula Prola e Estevão Cavalcanti – farmacêuticos).
Correspondência para:
Pietro Pinheiro Alves
Rua Presidente Kennedy, 119 – Santo Antônio
Manaus-AM. CEP: 69.029-340
e-mail: pietroal@ig.com.br
Impossibilidade de avaliar outras •comorbidades cardiovasculares como história familiar, perfil lipídico, uricemia.
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Luiz Carlos de Lima, Higino Felipe Figueiredo, Fernando Luiz Westphal,José Correa Lima Netto, Isy Lima Peixoto
EMPIEMA PLEURAL NO ADULTO E ADOLESCENTE: PREVALÊNCIA, TRATAMENTO E EVOLUÇÃO NO PERÍODO DE JANEIRO 1995 A
JANEIRO DE 2005
PLEURAL EMPYEMA IN THE ADULT AND ADOLESCENT: PREVALENCE, TREATMENT AND EVOLUTION IN THE PERIOD OF JANUARY 1995
THE JANUARY OF 2005
Luiz Carlos de Lima;* Higino Felipe Figueiredo**,Fernando Luiz Westphal***,José Correa Lima Netto****, Isy Lima Peixoto*****
RESUMO
O empiema é uma infecção piogênica ou supurativa do espaço pleural. Hipócrates a
reconheceu em 500 a.C. como uma doença grave, cuja drenagem era o único tratamento
adequado. E, apesar do uso disseminado de antibióticos, o empiema continua a ser causa
de grande morbidade em pacientes com pneumonia. Portanto, seu reconhecimento
precoce deve ser enfatizado para uma menor morbi-mortalidade. Visando definir o perfil
epidemiológico dos pacientes com empiema pleural na cidade de Manaus, realizou-se
uma análise retrospectiva observacional dos pacientes maiores de 12 anos internados no
Hospital Universitário Getúlio Vargas e Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto no período
de janeiro de 1995 a janeiro de 2005. Então, utilizou-se uma amostra de 109 pacientes
contidos no setor de arquivo médico e estatística (Same) dos hospitais, sendo estabelecidas
possíveis associações do empiema pleural com as variáveis mais significativas contidas
nos prontuários, tais como: idade, sexo, causas, exames complementares, patologias
associadas, tratamentos empregados, complicações e a mortalidade. O software utilizado
na análise foi o programa Epi-Info 3.3 for Windows desenvolvido e distribuído pelo CDC
(www.cdc.org/epiinfo) e o nível de significância utilizado nos testes foi de 5%. Observou-
se significância estatística na associação do empiema pleural com o sexo masculino na
faixa etária de adulto jovem e a principal causa que foi secundário a trauma torácico
* Orientador e pesquisador doutor / chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV).**Médico residente do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV).***Professor doutor / cirurgião torácico do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV).****Cirurgião torácico do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV).*****Acadêmica de Medicina da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
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EMPIEMA PLEURAL NO ADULTO E ADOLESCENTE: PREVALÊNCIA, TRATAMENTO EEVOLUÇÃO NO PERÍODO DE JANEIRO 1995 A JANEIRO DE 2005
penetrante. Isto demonstra a crescente violência na sociedade e suas conseqüências,
gerando custos para o sistema de saúde e seqüelas muitas vezes irreversíveis para os
indivíduos acometidos, sendo em sua maior parte adultos jovens e do sexo masculino. A
principal complicação diagnosticada foi encarceramento pulmonar e do total de pacientes
com empiema pleural apenas quatro evoluíram para óbito.
Palavras chave: Empiema Pleural, Trauma Torácico, Derrame Pleural.
ABSTRACT
Empyema is a piogenic or supurativa infection of the pleural space. It recognized it to
Hippocrates in 500 AC as a serious illness, whose draining was the only adequate treatment.
Thus, although the spread antibiotic use, empyema continues to be cause of great disease
in patients with pneumonia. Therefore, its precocious recognition must be emphasized
for a lesser morbidity and mortality. Aiming at to define the profile epidemiologist of the
patients with empyema pleural in the city of Manaus, an analysis was become fullfilled
retrospect of the patients biggest of 12 years interned in the University Hospital Getúlio
Vargas and Hospital Ready Assistance 28 of August in the period of January of 1995 the
January of 2005. Then, a sample of 109 patients contained in the SAME of the hospitals
was used, being established possible associations of empyema pleural with the contained
variable most significant in handbooks, such as: complementary age, sex, causes,
examinations, used pathologies associates, treatments, complications and mortality. The
software used in the analysis was the program Epi-Info 3,3 will be Windows developed and
distributed for the CDC (www.cdc.org/epiinfo) and the level of significance used in the
tests was of 5%. Statistics significance was observed in association of empyema pleural
with the masculine sex in the age band of adult young e the main cause that was the
wound for secondary thoracic trauma. This demonstrates to the increasing violence in the
society and its consequences, generating costs for the health system and sequels many
irreversible times for the displayed individuals, being in its bigger young part adult e of
the masculine sex. The main diagnoses complication was pulmonary imprisonment and of
the pleural total of patients with empyema only four they had evolved for death.
Key-words: Empyema Pleural, Thoracic Trauma, Pleural Effusion.
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Luiz Carlos de Lima, Higino Felipe Figueiredo, Fernando Luiz Westphal,José Correa Lima Netto, Isy Lima Peixoto
INTRODUÇÃO
Até meados do século 19, quando
Trousseau introduziu a toracocentese,
pouco havia mudado na abordagem das
infecções pleurais. Derrames pleurais
ocorrem freqüentemente em pacientes com
pneumonia comunitária e nosocomial, não
necessitando de abordagem diagnóstica ou
terapêutica específica na maioria dos casos.
Dos derrames parapneumônicos, apenas
5 a 10% tornam-se complicados, podendo
evoluir para uma coleção purulenta
intrapleural.1,2
O quadro clínico é variável, ora
representado por sinais e sintomas mais
agudos ora com pouca repercussão e
achados não específicos. Os sintomas
mais freqüentes são febre, tosse
produtiva, dor torácica, perda de peso
e dispnéia. Os microorganismos mais
comumente envolvidos são Staphylococcus
aureus, Staphylococcus epidermidis,
anaeróbios, enterobactérias, Pseudomonas
sp., e Streptococcus pneumoniae e
frequentemente múltiplos agentes estão
presentes.3
As complicações de natureza
infecciosas continuam como a maior causa
de morbidade e mortalidade tardias, as
quais dependem diretamente da gravidade
da lesão e contribuem significativamente
para prolongar o tempo de internação.
Nesse sentido, ganha importância as
terapêuticas coadjuvantes, representadas,
principalmente, pelo emprego de drogas
antimicrobianas que vêm servindo de base
para debates quanto às vantagens de sua
administração.4
O estudo teve como objetivo realizar
uma análise epidemiológica do empiema
pleural em pacientes adultos atendidos no
Hospital Geral e Pronto-Socorro na cidade
de Manaus.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo retrospectivo
observacional, realizado por meio da análise
de prontuários de pacientes maiores de 12
anos com o diagnóstico de empiema pleural
internados no Hospital Universitário Getúlio
Vargas (HUGV) e Hospital e Pronto-Socorro
28 de Agosto no período de janeiro de 1995
a janeiro de 2005, no município de Manaus,
Estado do Amazonas.
A amostra utilizada foi obtida
com base em 109 prontuários, retidos
no setor de arquivo médico e estatística
(Same) dos hospitais, cujos pacientes
tinham o diagnóstico de empiema pleural
e foram acompanhados nessas instituições
no referente período. Os dados foram
apresentados por tabelas de frequências,
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EMPIEMA PLEURAL NO ADULTO E ADOLESCENTE: PREVALÊNCIA, TRATAMENTO EEVOLUÇÃO NO PERÍODO DE JANEIRO 1995 A JANEIRO DE 2005
onde se calculou as frequências absolutas
simples e relativas para os dados
qualitativos; e médias, mediana e desvio-
padrão (DP) para os dados quantitativos.
Na análise de associação, utilizou o teste
do qui-quadrado de Pearson, quando não
satisfeitas às condições para aplicação do
teste de Pearson, utilizou-se a correção de
Yates. Na comparação das médias de idade
foi utilizado o teste T de Student, quando
os dados encontravam-se normalmente
distribuídos ou o teste de Mann-Whitney,
quando não satisfeita a hipótese de
normalidade. O software utilizado na análise
foi o programa Epi-Info 3.3 for Windows
desenvolvido e distribuído pelo CDC (www.
cdc.org/epiinfo) e o nível de significância
utilizado nos testes foi de 5%.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê
de Ética em Pesquisa da Fundação Hospital
Adriano Jorge em setembro de 2006.
RESULTADOS
A partir da análise dos prontuários
contidos no Hospital Universitário Getúlio
Vargas e Hospital e Pronto-Socorro 28 de
Agosto, gerou-se um total de 109 prontuários
analisados. Os dados epidemiológicos, o
tempo de internação e a procedência dos
pacientes estão discriminados na Tabela 1.
Variáveis (n = 109) n %
Sexo
Masculino 98 89,9
Feminino 11 10,1
Idade (anos)
12 ---| 21 33 30,3
21 ---| 40 47 43,1
40 ---| 65 25 22,9
>65 4 3,7
Média ± DP 32,8 ± 15,4
Mediana 30,0
Intervalo 13 - 78
Tempo de Internação (dias)
Média ± DP 14,8 ± 10,6
Mediana 12,0
Intervalo 2 – 54
Procedência
Manaus 85 78,0
Interior do Estado 23 21,1
Outros Estados 1 0,9
Tabela 1. Distribuição segundo sexo, idade, tempo de internação e procedência dos pacientes com empiema pleural no período de 1995-2005.
Conforme Gráfico 1, pode-se observar
que a principal causa de empiema pleural, após
a análise de 97 prontuários, foi o trauma torácico
com lesão penetrante por arma branca em 42
(43,3%) do total de casos, seguida de pneumonia,
com 24 (24,7%) casos, e trauma torácico com lesão
penetrante por arma de fogo em 7 (7,2%) casos do
total. Os sintomas mais apresentados, registrados
em 81 prontuários dos analisados, foram: dor
torácica (82,7%), febre (77,8%), dispneia (51,9%),
tosse (39,5%) e outros sintomas (18,5%).
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Gráfico 1. Distribuição segundo causas de empiema pleural atendidos no HUGV e Pronto-Socorro 28 de Agosto do Município de Manaus – AM, no período de 1995-2005.
43,3%
24,7%
7,2% 6,2% 5,2%
13,4%
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
Ferimento porarma branca
Pneumonia Ferimento porarma de fogo
Tuberculose Abscessohepático
Outros
Quanto à evolução clínica,
79 (72,5%) do total de pacientes não
evoluíram com complicações, enquanto
30 (27,5%) evoluíram com complicações,
as quais estão contidas na Tabela 2.
Tipos de complicações (n = 30) n %
Encarceramento pulmonar 8 26,7 Empiema septado 5 16,7
Fístula 5 16,7
Atelectasia 4 13,3
Coleções císticas 2 6,7
Outros 9 30,0
Tabela 2. Distribuição segundo os tipos de complicaçõesdos pacientes com empiema pleural no período de 1995-2005.
O tratamento clínico mais empregado
foi a antibioticoterapia com cefalotina, com
27 (28,4%) do total de casos. Os tratamentos
cirúrgicos que foram empregados estão
demonstrados no Gráfico 2 e a fase do
empiema pleural no Gráfico 3.
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Gráfico 2. Distribuição segundo tipo de tratamento cirúrgico empregado nos pacientes com empiema pleural no período de 1995-2005.
Gráfico 3. Distribuição das fases do empiema pleural nos pacientes com empiema pleural noperíodo de 1995-2005.
3,8%
21,0%
22,9%
28,6%
47,6%
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0%
Decorticação
Drenagem aberta de tórax
Pleurotomia aberta
Toracocentese
Drenagem fechada de tórax
Conforme demonstrado na Tabela
3, observou-se significância estatística
na associação da idade com empiema
secundário a trauma com lesão por arma
branca e sexo masculino (p < 0,005), não
apresentando a mesma associação quando
comparado com sexo feminino.
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Luiz Carlos de Lima, Higino Felipe Figueiredo, Fernando Luiz Westphal,José Correa Lima Netto, Isy Lima Peixoto
Ferimento por arma branca
Sexo Sim Não p-valor
Média DP Mediana Média DP Mediana
Masculino 26,1 8,8 23,0 40,4 18,2 38,0 0,0002
Feminino 23,0 0,0 23,0 28,9 10,4 29,5 0,6961
Tabela 3 - Distribuição segundo ferimento por arma branca em relação ao sexo e média de idade dos pacientes com empiema pleural no período de 1995-2005. Teste de Mann-Whitneyp-valor em negrito itálico indica diferença estatisticamente significante ao nível de 5%.
DISCUSSÃO
No estudo observou-se maior
prevalência do sexo masculino entre
os pacientes internados com empiema
pleural, cuja principal causa foi secundária
a trauma torácico. As principais causas de
empiema pleural descritas na literatura
são: condição pós-pneumonia (comunitária
ou hospitalar), pós-operatório, iatrogenia,
empiema secundário a trauma torácico, e
obstrução brônquica por conta da neoplasia
central ou por corpo estranho.6, 7, 9 Observa-
se então que, diferindo da literatura atual,
o trauma torácico foi a principal causa
entre os indivíduos deste estudo, esse fato
talvez deva-se ao registro deficiente nos
prontuários.
Quando se avalia, no entanto,
o empiema pleural secundário a trauma
torácico, os dados obtidos são compatíveis
com a literatura atual, conforme observado
no estudo realizado por Fontelles e
Mantovani,10 que observou maior incidência
dessa complicação em homens (93,3% dos
casos), com uma média de idade de 26,8±8,9
anos, variando de 13 a 53 anos, e quanto
à frequência dos tipos de trauma, verificou
que 92,8% apresentaram lesão penetrante.
A contaminação pode ocorrer não só pelo
próprio mecanismo do trauma, mas também
pela não observância dos princípios técnicos,
quando da inserção do dreno.10
O quadro clínico de empiema pleural
é variável, podendo apresentar sinais e
sintomas mais agudos ou mesmo ter pouca
repercussão e achados inespecíficos. Os
sintomas mais frequentes, de acordo com
a literatura, são febre, tosse produtiva,
dor torácica, perda de peso e dispneia,11-
14 compatíveis com os encontrados nessa
casuística: dor torácica seguida de febre,
dispneia, tosse e outros sintomas.
A evolução fisiopatológica do
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EMPIEMA PLEURAL NO ADULTO E ADOLESCENTE: PREVALÊNCIA, TRATAMENTO EEVOLUÇÃO NO PERÍODO DE JANEIRO 1995 A JANEIRO DE 2005
empiema pleural apresenta três estágios:
fase exsudativa, caracterizada pelo líquido
pleural fino, com baixo conteúdo celular
e expansibilidade pulmonar preservada;
fase fibrinopurulenta, com acúmulo de pus,
celularidade aumentada (grande número de
polimorfonucleares neutrófilos), presença
de fibrina e tendência à formação de
loculações com expansão pulmonar limitada;
e fase de organização, representada por
líquido espesso, com importante deposição
de fibrina ou tecido fibrinoso levando a
encarceramento pulmonar.2, 3 Conforme
descrito na seção dos resultados, 30 (27,5%)
pacientes evoluíram com complicações:
encarceramento pulmonar, empiema
septado, fístula, atelectasia, coleções
císticas e outras.
O tratamento do empiema
pleural abrange o suporte respiratório e
hemodinâmico, associados à introdução
de antibioticoterapia adequada. O
tratamento clínico mais empregado foi
antibioticoterapia com cefalotina com
27 (28,4%) do total de casos, seguido do
esquema ceftriaxona e metronidazol,
em 10 (10,5%) dos pacientes. Em casos
de empiema secundário à pneumonia,
os antibióticos escolhidos devem ser
associados a um agente para anaeróbios,
cefalosporina de 3.ª geração associado ao
metronidazol ou uma quinolona respiratória
associada ao metronidazol.6 Em casos pós-
traumáticos, alguns estudos demonstraram
redução da evolução para empiema com
o uso de antibiótico a partir da drenagem
fechada de tórax, porém sem significância
estatística.10, 15
A toracocentese é a forma menos
invasiva de tratamento. Embora alguns
estudos indiquem sucesso em 25 a 94%
dos casos no tratamento do empiema, a
tendência é seguir a recomendação de se
considerar a toracocentese somente nos
pacientes com derrames menores que a
metade do hemitórax, com Gram e cultura
negativos e pH > 7,2. A drenagem pleural
deve ser, portanto, o tratamento de escolha
para os casos volumosos (maiores que a
metade do hemitórax) ou que se apresentem
com Gram ou cultura positivos ou pH < 7,2,
e no empiema franco. O empiema pode
evoluir com a formação de loculações que
dificultam a penetração de antibióticos no
líquido e a adequada expansão pulmonar.
Para a lise das loculações, podem ser
utilizados os trombolíticos. Tanto a
estreptoquinase como a uroquinase ou o
fator ativador de plasminogênio podem
auxiliar na dissolução da malha de fibrina.
O efeito dos trombolíticos na literatura é
controverso.6 A pleuroscopia é considerada
uma alternativa eficaz nos processos
loculados se indicada precocemente,
com óbvias vantagens de menor custo e
menor agressão quando comparada com a
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decorticação pulmonar. Estudos indicam que
a videotoracoscopia higiênica no empiema
foi mais eficaz, com hospitalização mais
curta e menor custo, quando comparada
à drenagem com uso de fibrinolítico.8 A
decorticação por toracotomia aberta está
indicada no empiema com inadequada
expansão pulmonar, em especial nos casos
de fístula persistente do parênquima ou
quando há coleções encistadas residuais
pós-tratamento com fibrinolíticos ou
pleuroscopia. A antibioticoterapia adequada
precoce associada a métodos menos
agressivos, tem diminuído a frequência da
utilização da decorticação. A drenagem
aberta, sem selo d’água, está indicada
nos casos de pacientes muito debilitados
e com empiemas crônicos (sem resolução
após 30 dias de tratamento) que não
suportam procedimentos mais agressivos.6
O tratamento cirúrgico do empiema pleural
deve ser orientado de acordo com a fase
anatomopatológica da doença, para se optar
pelo melhor momento de intervenção e o tipo
de proposição cirúrgica adotada. Utilizando
a classificação anatomopatológica como
uma maneira de racionalizar as condutas,
indica-se na fase aguda toracocentese ou
drenagem fechada sob selo d’água. Os
empiemas pleurais crônicos requerem
toracotomia para decorticação cirúrgica.5
O tratamento cirúrgico mais utilizado
nessa casuística foi a drenagem fechada de
tórax com um total de 50 (47,6%), 30 (28,6%)
dos pacientes realizaram toracocentese, 24
(22,9%) realizaram pleurotomia aberta, 22
(21%) realizaram drenagem aberta de tórax
e 4 (3,8%) necessitaram de decorticação
pulmonar.
CONCLUSÃO
Em conclusão, a partir da análise
dos 109 casos de empiema pleural, notamos
a maior prevalência da enfermidade no sexo
masculino, na faixa etária de adulto jovem
entre 21 e 40 anos, sendo a principal causa
trauma torácico penetrante. Isto demonstra
a crescente violência na sociedade e suas
consequências, gerando custos para o
sistema de saúde e sequelas muitas vezes
irreversíveis para os indivíduos acometidos.
A principal complicação diagnosticada foi
encarceramento pulmonar e do total de
pacientes com empiema pleural apenas
quatro evoluíram para óbito.
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Fernando Luiz Westphal, José Ribas Milanez de Campos, Luiz Carlos de Lima, José Correa Lima Netto, George A. M. Lins de Albuquerque, Ingrid Loureiro de Queiroz Lima, Priscilla Rodrigues Cerqueira
CORREÇÃO DA DEFORMIDADE DE PAREDE TORÁCICA ANTERIOR PELA TÉCNICA DE NUSS
– A EXPERIÊNCIA INICIAL EM MANAUS
ANTERIOR CHEST WALL DEFORMITY CORRECTION BY NUSS TECHNIC – INITIAL EXPERIENCE OF MANAUS.
Fernando Luiz Westphal*,José Ribas Milanez de Campos**, Luiz Carlos de Lima***,José Correa Lima Netto****, George A. M. Lins de Albuquerque*****,
Ingrid Loureiro de Queiroz Lima******, Priscilla Rodrigues Cerqueira*******
RESUMOIntrodução: O pectus excavatum é a deformidade da parede anterior do tórax mais comum, com uma prevalência em Manaus de 1,95%, observada entre escolares de 11 a 14 anos. A correção da deformidade pode ser realizada cirurgicamente e a técnica de Ravich é a mais utilizada, porém apresenta resultados satisfatórios quanto a correção do Pectus, entretanto necessita de uma grande cicatriz cirúrgica e a ressecção de múltiplas cartilagens costoesternais levando a um pior resultado estético. Em 1997 Donald Nuss propôs uma técnica minimamente invasiva, com resultado estético melhor que as técnicas anteriores. Método: Avaliação retrospectiva dos casos de correção do Pextus Excavatum pela Técnica de Nuss realizados no Hospital Beneficente Português de Manaus. Resultados: Seis pacientes com pectus excavatum foram operados, a idade média foi de 15,3 anos e cinco pacientes eram do sexo masculino. Quatro pacientes apresentaram um resultado estético ótimo, um paciente um bom resultado e um paciente a barra foi removida devido ao deslocamento da barra de Nuss. As complicações observadas foram o deslocamento da placa em um paciente e a infecção da ferida operatória em outro. Conclusão: A técnica minimamente invasiva para correção do Pectus Excavatum apresentou um número maior de complicações que as técnicas tradicionais, porém é menos agressiva e apresenta um resultado estético excelente, principalmente em adolescentes que tem uma maior complacência da caixa torácica.PALAVRAS-CHAVE: Pectus Excavatum, Deformidade na Parede Torácica, Técnica de Nuss technic.
* Doutor em Cirurgia Torácica, professor da Universidade Federal e do Estado do Amazonas;**Professsor Livre Docente FM - USP;***Doutor em Medicina, chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Universitário Getúlio Vargas, Universidade Federal do Amazonas;****Especialista em Cirurgia Torácica, médico assistencial do serviço de Cirurgia Torácica da Universidade Federal do Amazonas;*****Médico residente de Cirurgia Geral do Hospital Universitário Getúlio Vargas;******Acadêmica de Medicina da Universidade Federal do Amazonas;*******Acadêmica de Medicina da Universidade do Estado do Amazonas.
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CORREÇÃO DA DEFORMIDADE DE PAREDE TORÁCICA ANTERIORPELA TÉCNICA DE NUSS – A EXPERIÊNCIA INICIAL EM MANAUS
ABSTRACT
Introduction: Pectus excavatum is the most common deformity of the anterior chest wall,
with a prevalence in Manaus by 1.95%, observed among schoolchildren aged 11 to 14 years.
The correction of the deformity may be done surgically and Ravich technique is frequently
used, and it shows satisfactory results regarding the correction of Pectus, however need a
large scar and surgical resection of multiple cartilages of the costoesternals leading to a
worse cosmetic result. In 1997 Donald Nuss proposed a minimally invasive approach, with
cosmetic result better than previous techniques. Method: Retrospective chart review of
cases of correction of the Pectus Excavatum using Nuss technique performed in Portuguese
Beneficent Hospital of Manaus. Results: Six patients with pectus excavatum were operated,
the average age was 15.3 years and five patients were male. Four patients had an excellent
cosmetic result, one patient a good result and one patient the bar was removed due to
the displacement of the Nuss bar. Complications included the displacement of the plate
in one patient and wound infection in another one. Conclusion: The minimally invasive
technique for correction of pectus excavatum had more complications than traditional
techniques, however, is less aggressive and has an excellent cosmetic result, especially in
adolescents who have a greater thoracic cage tolerance and flexibility.
Key-words: Pectus excavatum; Chest wall deformity; Nuss technic
INTRODUÇÃO
Dentre as deformidades da parede
torácica anterior, o Pectus excavatum (PE),
também chamado de “tórax em funil”, é a
deformidade mais comum, representando
perto de 85% dos casos.1 Na cidade de
Manaus, foi constatada uma prevalência de
1,95% entre escolares de 11 a 14 anos.2
A técnica de Ravitch e o
procedimento de rotação do esterno são
as técnicas convencionais disponíveis para
o tratamento cirúrgico do PE. Embora os
resultados fossem geralmente satisfatórios,
a instabilidade da parede torácica
pela ressecção das costelas e extensa
cicatriz cirúrgica são fatores negativos
dessas técnicas. Em 1997, uma técnica
minimamente invasiva para o tratamento
de PE foi introduzida por Donald Nuss,
um procedimento que remodela a parede
torácica empregando uma barra de metal
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Fernando Luiz Westphal, José Ribas Milanez de Campos, Luiz Carlos de Lima, José Correa Lima Netto, George A. M. Lins de Albuquerque, Ingrid Loureiro de Queiroz Lima, Priscilla Rodrigues Cerqueira
retroesternal sem ressecção das costelas.3
O subsequente desenvolvimento
do reparo minimamente invasivo do Pectus
ajudou a evitar: 1) uma incisão anterior
na parede torácica; 2) a necessidade de
ressecar cartilagens costais, ou 3) realizar
uma esternotomia. A técnica de Nuss
também está associada a um menor tempo
de cirurgia com perdas sanguíneas mínimas
e retorno rápido às atividades quotidianas.
Resulta também em força, expansibilidade,
flexibilidade e elasticidade normais a longo
prazo da parede torácica quando comparado
à técnica tradicional aberta.4
O procedimento ganhou grande
aceitação para a correção de PE em
pacientes pré-púberes e adolescentes,
cujo tórax é complacente e ainda possui
capacidade de remodelamento pelo
crescimento. Seu uso em adultos, cujo
tórax é menos complacente, permanece
incerto.5
Desde sua introdução, experiências
com a técnica e resultados foram descritos
por diversos centros. Uma das complicações
mais comuns envolve o deslocamento da
placa resultando em recorrências, a qual
foi relatada em 9,2% dos pacientes.6
Comparando-se a técnica de Ravitch
com a de Nuss, a segunda apresentou um
percentual maior de complicações quando
comparado à primeira, provavelmente pela
curva de aprendizado da nova técnica.7
O objetivo deste trabalho é relatar
a experiência inicial com a técnica de Nuss
na correção do Pectus excavatum no Serviço
de Cirurgia Torácica do Hospital Beneficente
Português de Manaus.
MÉTODO
Estudo retrospectivo dos casos de PE,
submetidos à correção cirúrgica pela técnica
de Nuss, no Hospital Beneficente Português
de Manaus, no período de fevereiro de 2008
a junho de 2009. Os dados foram coletados
dos prontuários dos pacientes e os itens
pesquisados foram: dados antropométricos,
sintomas, tipo do Pectus, tempo operatório,
utilização de reposição sanguínea, tempo
de hospitalização, complicações e resultado
estético.
A técnica de Nuss consiste na
introdução de uma barra metálica, introduzida
em posição restroesternal (Figura 1), por
meio da videotoracoscopia para visualizar a
passagem dela entre o pericárdio e a tábua
posterior do esterno. Essa barra tem a
extensão compatível com o tórax do paciente,
mas deve transpassar ambos os hemitoraces
e ser firmemente fixada à parede costal por
intermédio de estabilizadores e pontos junto
aos arcos costais. A permanência da placa
deve ser por um período mínimo de 3 anos,
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CORREÇÃO DA DEFORMIDADE DE PAREDE TORÁCICA ANTERIORPELA TÉCNICA DE NUSS – A EXPERIÊNCIA INICIAL EM MANAUS
visto que sua retirada precoce é associada à
recidiva do PE.
RESULTADOS
A média de idade dos pacientes foi
de 15,33 anos, sendo 5 (83,3%) pacientes
do sexo masculino.
A principal queixa clínica dos
pacientes atendidos foi relacionada ao
aspecto estético do Pectus, com apenas
dois dos seis pacientes queixando-se de
dispneia. Observou-se, ainda, que dois
dos seis pacientes evoluíram no pós-
operatório com deslocamento da placa de
Nuss, necessitando a posteriori de nova
intervenção cirúrgica em um deles. Três
pacientes não apresentaram complicações
pós-operatórias e um ainda cursou com
infecção da ferida operatória, recebendo
cuidados locais e antibioticoterapia
com evolução favorável (Tabela I). Um
(16,6%) paciente necessitou transfusão
sanguínea no pós-operatório. A média do
tempo operatório foi de 2h e 35 minutos,
observando-se uma redução desse tempo
nos últimos casos.
Em sua totalidade, os pacientes
evoluíram satisfatoriamente, recebendo
alta hospitalar em bom estado geral e com
bom aspecto da parede torácica. O tempo
médio de internação foi de 8 dias.
n Sexo Id Sintoma Principal
Tipo do Pectus
Complicações Pós-Oper.
Resultado Estético
1 Masc 16 Estética Simétrico Discreto
Deslocamento da Placa de Nuss
Bom
2 Masc 16 Estética AssimétricoModerado
Não houve Ótimo
3 Masc 14 Estética AssimétricoModerado
Não houve Ótimo
4 Masc 15 Dispnéia aos grandes
esforços
SimétricoDiscreto
Não houve Ótimo
5 Fem 15 Estética SimétricoAcentuado
Deslocamento da Placa de Nuss
Insatisfatório
6 Masc 16 Dispnéia aos médios
esforços
AssimétricoDiscreto
Infecção de Ferida Operatória
Ótimo
Tabela 1 – Dados epidemiológicos, sintomas, tipo de Pectus, complicações e resultado estéticodos pacientes submetidos à correção pela técnica de Nuss.
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Fernando Luiz Westphal, José Ribas Milanez de Campos, Luiz Carlos de Lima, José Correa Lima Netto, George A. M. Lins de Albuquerque, Ingrid Loureiro de Queiroz Lima, Priscilla Rodrigues Cerqueira
DISCUSSÃO
A cirurgia torácica avança cada
vez mais para técnicas minimamente
invasivas, seguindo uma tendência mundial
observada em todas as especialidades. A
técnica de Nuss para a correção de PE é
outro avanço observado na especialidade,
visto que, por meio de pequenas incisões
laterais, consegue-se introduzir uma placa
em posição retroesternal.
A média de idade dos pacientes
nesta série de casos foi de 15,3 anos,
um pouco maior do que a descrita na
literatura.1 Quanto à razão sexo masculino/
feminino, esta foi de 5:1, corroborando
com a literatura disponível, na qual o sexo
masculino é mais prevalente.7
A idade ideal para a indicação da
cirurgia para a correção do PE ainda é muito
debatida na literatura em geral. Prefere-se
normalmente, e de acordo com a técnica
inicialmente descrita, a abordagem em
crianças de 3 a 6 anos para maximizar a
expansibilidade da caixa torácica e respostas
à cirurgia. Entretanto, adolescentes
também foram tratados com essa cirurgia
e apresentaram bons resultados, embora
tenham a expansibilidade da parede
torácica diminuída.3
Dentre as queixas principais, a
estética prevaleceu, englobando 66,7% dos
pacientes em questão. O procedimento de
Nuss é indicado primariamente por estética
nos pacientes pediátricos acometidos por
PE, mas em determinados casos no qual o
defeito é muito pronunciado, ocorre uma
melhora do funcionamento do sistema
cardiorrespiratório.8
As vantagens desse procedimento
incluem o menor tempo de internação
hospitalar e cirurgia minimamente invasiva
que permite o crescimento do esqueleto,
ao contrário das osteocondrectomias
realizadas anteriormente. Entretanto,
além do custo da toracoscopia, da barra de
Nuss e dos equipamentos especializados, a
técnica não é isenta de complicações.8, 9
Dentre as complicações apresentadas
pelos pacientes do estudo, observamos dois
casos de deslocamento da placa de Nuss, no
qual houve necessidade de reintervenção
em um caso e em outro caso de infecção
observou-se infecção do sítio cirúrgico.
Deslocamento da placa é a
complicação mais frequente descrita na
literatura, variando de 3 a 33% dos casos.
Geralmente ocorre nas primeiras semanas
após a implantação.9 A recomendação do uso
de estabilizadores laterais não provou ser
sempre efetiva. O procedimento promove
maior fixação, entretanto não previne sua
rotação e também está associada à dissecção
mais extensa e processo inflamatório mais
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CORREÇÃO DA DEFORMIDADE DE PAREDE TORÁCICA ANTERIORPELA TÉCNICA DE NUSS – A EXPERIÊNCIA INICIAL EM MANAUS
intenso nos limites da placa.10
Alguns autores descreveram sua
experiência com a utilização de fios de
aço fixando a barra ao arco costal em
ambas as extremidades, o que, segundo
descrição dos autores, pareceu prevenir
a rotação da barra nos casos estudados.
Essa técnica é recomendada para pacientes
com menos de dez anos de idade, nos
quais o uso de fixadores laterais pode ser
evitado.6 Entretanto, a correção do PE em
adolescentes com deformidade acentuada
deve ser realizada com duas barras para
evitar deslocamentos e ainda obter
melhor resultado estético. Nos casos em
que se utiliza apenas uma barra, o uso de
estabilizadores laterais deve ser obrigatório
para prevenir a rotação.
Outras complicações também
foram descritas em quase todas as séries
de casos utilizando essa técnica, como
infecção da placa, com reversão pelo uso de
antibioticoterapia sem indicação de retirar a
barra de ferro; redução dos movimentos da
parede torácica resultando em atelectasia e
complicações mais graves, porém incomuns,
como a lesão cardíaca e hepática.9
Em conclusão: atualmente as
técnicas minimamente invasivas utilizadas
em cirurgia de tórax ganham grande
destaque, principalmente pela diminuição
do tempo de internação e excelente
resultado estético. A técnica de Nuss
utilizada para correção de PE se mostra
eficiente, principalmente quando utilizada
em adolescentes, e que apesar de ser
uma técnica recente, ainda em curva
de aprendizado na maioria dos serviços,
apresenta-se como uma alternativa com
resultados promissores.
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Endereço para correspondência:
Fernando Luiz Westphal
Avenida Grande Otelo, 100 – Residencial Jardim
Itália, Ed. Turin, apto. 401, Parque Dez.
CEP: 69055-021
Manaus – AM, Brasil.
Tel.: 55 92 3234-6334
Figura 1 – Raio X de tórax demonstrando o posicionamento adequado da placa com a retificação adequada dela.
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André Luiz Campos Mancini, Jonas Rodrigues de Menezes Filho,Giuseppe Figliuolo, Cristiano Silveira Paiva
INDICAÇÕES ATUAIS DA CIRURGIA POUPADORA DE NÉFRONS NOS TUMORES
RENAIS. UM ARTIGO DE REVISÃO
CURRENT INDICATIONS OF NEPHRON-SPARING SURGERY IN RENAL TUMORS.A REVIEW ARTICLE
André Luiz Campos Mancini*, Jonas Rodrigues de Menezes Filho*,Giuseppe Figliuolo**, Cristiano Silveira Paiva**
Resumo
Atualmente, com a popularização dos exames de imagem, houve um aumento expressivo do
diagnóstico de tumores renais assintomáticos e de pequeno tamanho, os incidentalomas. Com
a evolução das técnicas cirúrgicas e melhor entendimento da fisiologia renal, os tratamentos
oncológicos puderam ser feitos com a preservação do órgão, em detrimento da cirurgia radical,
com extirpação de todo o rim, evitando assim nos pacientes com importante déficit na função
renal ou possuidores de rim único a evolução para doença renal crônica e início de terapias de
substituição renal. O acompanhamento desses pacientes demonstrou ainda que as complicações
operatórias, a recorrência local e a sobrevida são iguais aos da nefrectomia radical.
Palavras-chave: Rim, nefrectomia poupadora de néfrons, nefrectomia parcial, tumor
renal, carcinoma de células renais.
Abstract: Currently with the popularization of image examinations, there was a significant
increase of asymptomatic renal tumours diagnosis and small size, the incidentalomas. With
the evolution of surgical techniques and better understanding of renal physiology, the
cancer treatments could be made with the preservation of the organ, rather than radical
surgery, with removal of the entire kidney, avoiding in patients with important deficit in
renal function or single kidney owners for chronic renal disease development and early renal
replacement therapy. The monitoring of these patients also demonstrated that postoperative
complications, local recurrence and survival are equal to those of radical nephrectomy.
Key-words: Kidney, nephron sparing surgery, partial nephrectomy, renal tumor, renal carcinoma cell.
* Residentes de Urologia do HUGV**Professor da Disciplina de Urologia da Universidade Estadual do Amazonas***Doutor em urologia pela Escola Paulista de Medicina – EPM/Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
INDICAÇÕES ATUAIS DA CIRURGIA POUPADORA DE NÉFRONSNOS TUMORES RENAIS. UM ARTIGO DE REVISÃO
INTRODUÇÃO
O carcinoma de células renais (CCR)
representa 3% de todos os cânceres, com
mortalidade maior que 40%. Nos EUA, 57.760
novos casos são esperados no ano de 2009,
com uma estimativa de 12.980 mortes.1 A
predominância é maior no sexo masculino
(3:2), e é mais comum na população da 6.ª
e 7.ª décadas da vida. São mais comuns
nos pacientes da raça negra em 10 a 20%. A
maioria dos casos é esporádica, tendo como
causa familiar somente 4% dos casos.
O diagnóstico e tratamento dos
CCR aumentaram de modo significativo
nos últimos 15 anos pela detecção
precoce de massas renais assintomáticas
(incidentalomas), pela popularização
dos exames de imagem abdominais como
ultrassom (US), a tomografia (TC) (Figura
1) e a ressonância magnética (RM),
suplantando assim a tríade clássica de
dor lombar, hematúria e massa palpável,
correspondendo aos casos mais avançados.
A nefrectomia radical (NR) foi o
primeiro tratamento preconizado para os
pacientes portadores de CCR, com a retirada
de todo o rim, de sua gordura perirrenal e
a fáscia de Gerota, assim como a glândula
suprarrenal ipsilateral.2 A nefrectomia
poupadora de néfrons (Nephron Sparing
Surgery – NSS) ou nefrectomia parcial (NP),
para tratamento de um CCR, foi descrita
pela primeira vez por Czerny, em 1887,
mas pelas dificuldades técnicas da época,
não obtiveram resultados satisfatórios.
Vermoteen, em 1950, desenvolveu as
técnicas modernas para a realização da
NSS, mas não conseguiu obter as mesmas
taxas de sobrevida que a NR, caindo em
desuso novamente.
Atualmente, com o avanço dos
exames de imagem, das técnicas de
prevenção de dano renal e escolha adequada
dos pacientes, a NSS tornou-se procedimento
seguro com baixas morbidade e taxa de
recorrência local e alta satisfação dos
pacientes, com custo semelhante à NR.3
Figura 1 – Tumor renal direito exofítico de 4 cm.
INDICAÇÕES ATUAIS DA NSS
Indica-se a NSS quando a preservação
de tecido renal não comprometer os
princípios oncológicos e objetivando a
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André Luiz Campos Mancini, Jonas Rodrigues de Menezes Filho,Giuseppe Figliuolo, Cristiano Silveira Paiva
manutenção da função renal do paciente.
Divide-se em três categorias: absolutas,
relativas e eletivas (Quadro 1). Indicações
controversas são referentes aos tumores
com estágio clínico T2, localização central,
multifocais e tumor não-familiar.
Um importante fator na decisão
pela nefrectomia parcial é o tamanho do
tumor. Estudos demonstram que tumores
pequenos e simples (<4 cm e classificação
T1aN0M0) possuem a mesma eficácia
curativa que a NR. Tumores maiores (>4
cm), ou múltiplos, não são bons candidatos,
devendo ser submetidos à NR.4
Na suspeita de linfonodos
comprometidos, deve-se fazer a biópsia
destes antes de iniciar a ressecção tumoral.2
Indicações para NSS Condição associada
Absoluta Risco de o paciente tornar-se anéfrico e diálise iminente.
Rim único, rim contralateral hipoplásico, tumor bilateral, Doença de Von Hippel-Lindau
RelativaTumor unilateral com doença renal benigna contralateral ou doença sistêmica.
Litíase, pielonefrite crônica, refluxo vésico-ureteral, estenose artéria renal; HAS, diabetes.
Eletiva Tumor unilateral com rim contralateral normal.
Não há patologias que prejudiquem a função renal no momento.
Quadro 1 – Indicações para Nefrectomia Parcial.
PAPEL DA BIÓPSIA RENAL NA NSS
Indica-se a biópsia renal quando
se necessita de um diagnóstico da massa
encontrada pelos exames de imagem (TC,
RM) que não demonstram tumor renal
com certeza. Algumas patologias podem
ter tratamento clínico, como nos casos
de linfoma, metástases de outros sítios,
angiomiolipomas, oncocitomas e processos
infecciosos. Também é importante nos
pacientes que apresentam contraindicação
relativa à cirurgia de NSS. A biópsia é
contraindicada em coagulopatias ou quando
há dificuldade em acessar o rim.5
A biópsia torna-se um procedimento
importante nos casos de pacientes
idosos, com comorbidades e apresentam
incidentalomas (<4 cm), pois esses tumores
podem apresentar grau nuclear baixo e a
progressão da doença não é usual se estiver
limitado ao rim, com uma sobrevida aos
cinco anos entre 82 a 95%.6
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INDICAÇÕES ATUAIS DA CIRURGIA POUPADORA DE NÉFRONSNOS TUMORES RENAIS. UM ARTIGO DE REVISÃO
CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS NA
NSS
A avaliação pré-operatória deve ser
completa, com anamnese e exame físico
completos, avaliação laboratorial completa
(hemograma, testes de coagulabilidade,
eletrólitos, função renal, urina tipo I, albumina
sérica), radiografia de tórax, podendo ainda
em determinados casos TC Abdome, TC Tórax
e cintilografia óssea para avaliação de possível
doença metastática.2, 4
A avaliação da função renal deve
ser realizada de forma sistemática, e não
quantificar somente pela dosagem da
creatinina sérica, mas também pela taxa
de filtração glomerular (GFR), pois é mais
fidedigna e pode predizer no pós-operatório
a necessidade de diálise renal. A diminuição
da função renal está relacionada com o
tempo de isquemia de ressecção tumoral, a
idade do paciente e rim único.7, 8
DETALHES TÉCNICOS NA NSS
1. Vias de acesso
A importância do seguimento metódico
do cirurgião aos detalhes técnicos elevou esta
cirurgia à mesma eficácia da NR.2
O acesso preferencialmente é feito
por lombotomia, extraperitonealmente entre
a 11.ª e a 12.ª costela (Figura 2A), dissecção
cuidadosa do rim preservando a gordura
perirrenal adjacente ao tumor (Figura 2B),
exposição do hilo renal com isolamento da
artéria e veia renais para controle vascular
(isquemia), visando reduzir o sangramento
durante a NP (Figura 2C).
Figura 2A – Posição cirúrgica, Figura 2B – Rim dissecado. Figura 2C – Tumor exofítico. Figura 2D – Resfriamento com gelo.
2. Medidas de proteção da função
renal
Importantes medidas devem ser
tomadas para minimizar a perda de função
renal decorrente do tempo de isquemia
pelo clampeamento temporário do hilo
renal. O primeiro passo é a manutenção
de hidratação vigorosa no intra e pós-
operatório com pressão sistólica acima de
120 mmHg, melhorando assim a perfusão
renal. O segundo passo é a administração
51 revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
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André Luiz Campos Mancini, Jonas Rodrigues de Menezes Filho,Giuseppe Figliuolo, Cristiano Silveira Paiva
intravenosa de manitol (12,5 g) 5 a 10
minutos antes do clampeamento, pois essa
medida visa diminuir o edema intracelular.
O terceiro passo é o resfriamento do
rim com gelo picado (Figura 2D) após o
clampeamento, por um período médio de
10 minutos, atingindo uma temperatura
entre 15 a 20°C, diminuindo assim o gasto
energético das células renais corticais.7
A isquemia renal é o procedimento
intraoperatório mais importante na
realização da NSS, pois diminui o
sangramento e facilita a visualização das
estruturas anatômicas.
O clampeamento pode ser apenas
da artéria renal ou da artéria e veia
conjuntamente, e não se recomenda a sua
utilização de forma intermitente no hilo
renal, como nas cirurgias hepáticas. Quando
não se utiliza o resfriamento renal com
gelo na nefrectomia parcial, o tempo de
enucleação tumoral é chamado de tempo de
isquemia quente e não deve ultrapassar 30
minutos, sob o risco de deterioração renal
irreversível. A utilização do gelo (isquemia
fria) é benéfica, pois permite proteção
renal por período isquêmico médio de até
60 minutos, devendo ser utilizada nos casos
onde há a possibilidade de tempo operatório
alargado ou nos pacientes com risco de
progressão para doença renal crônica.8
Nova administração de manitol e
furosemida deve ser feita após a liberação
do clampeamento vascular renal, para
promover melhor reperfusão, diminuindo o
efeito do estresse oxidativo e estimular a
diurese.
3. Nefrectomia parcial
Preparado o órgão, procede-
se a realização de enucleação do tumor
(Figura 3A), nefrectomia polar (superior
ou inferior) ou a retirada em cunha nos
casos de tumores da região medial. Detalhe
importante da ressecção tumoral é de não
violar a pseudocápsula, mantendo uma
margem de segurança.9
Hemostasia do leito renal é de
fundamental importância, evitando os
riscos de sangramento pós-operatório e
de reoperação (Figura 3B). A realização de
biópsias do leito de ressecção pode ser feita
para confirmação de margens cirúrgicas livres
de neoplasia, mas os estudos demonstram
que para tumores menores de 4 cm basta
uma mínima margem de segurança de 0,2
cm, não comprometendo os resultados
oncológicos e promovendo tempo livre
de doença e sobrevida câncer específica
semelhante à nefrectomia radical.10, 11, 12
Realizada a enucleação tumoral,
inicia-se a sutura do sistema coletor com
fio absorvível, e a rafia do parênquima
renal com interposição de tecido para
52 revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
INDICAÇÕES ATUAIS DA CIRURGIA POUPADORA DE NÉFRONSNOS TUMORES RENAIS. UM ARTIGO DE REVISÃO
a sustentação da sutura, como gordura
perirrenal (Figura 3C), fáscia de Gerota
ou esponja de gelatina. Alguns autores
recomendam hemostasia complementar
com selantes à base de fibrina (solução de
fibrinogênio humano em alta concentração
associado à trombina e um agente
antifibrinolítico),13 sendo aplicada sobre
a superfície do parênquima renal, com
excelentes resultados em NSS convencional
e laparoscópica, sem reintervenções por
hemorragia ou fístula urinária.14
Figura 3A – Enucleação tumoral. Figura 3B – Retirada do tumor. Figura 3C – Rafia do rim. Figura 3D Tumor renal.
4. Seguimento dos pacientes por NSS
No pós-operatório, indica-se
hidratação vigorosa ao paciente, com
intuito de evitar a necrose tubular aguda e
assim manutenção da função renal.
As complicações pós-operatórias
não decaíram com os avanços da técnica
cirúrgica, dos cuidados perioperatórios e a
experiência da equipe cirúrgica. Destaca-se
a fístula urinária (1,4 – 17,4%), insuficiência
renal aguda (0,7 – 7,3%), hemorragia pós-
operatória (2,4%) e infecção (0,6 – 6,0%). A
taxa de reoperação é baixa (0 – 3,1%).
A taxa de sobrevida câncer específica
é similar à nefrectomia radical (88 – 97,5%),
para estudos com tempo médio de follow-
up de 3 a 6 anos, assim como a taxa de
recorrência local (0 – 7,3%).2
Os pacientes submetidos à
NSS necessitam de acompanhamento
ambulatorial com avaliação laboratorial
da função renal, função hepática, cálcio
sérico e fosfatase alcalina, radiografia de
tórax, US abdominal e TC de Abdome a cada
3 meses durante o primeiro ano; a cada 6
meses no 2.º e 3.º anos e anualmente após
o 4.º ano.2, 9
Nos casos de recorrência tumoral,
pode-se realizar nova NSS ou NR, dependendo
do estadiamento oncológico ou da condição
do rim.
5. Comparação entre NSS
convencional x laparoscópica
Com o estabelecimento das
bases da NSS, introduziu-se a abordagem
laparoscópica (LNSS) com a finalidade
53 revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
André Luiz Campos Mancini, Jonas Rodrigues de Menezes Filho,Giuseppe Figliuolo, Cristiano Silveira Paiva
de associar suas vantagens como menor
morbidade, menores tempo de hospitalização
e de convalescência à técnica original.15
Os trabalhos subsequentes
compararam os resultados da NSS e da LNSS,
em relação aos resultados oncológicos e
complicações operatórias.
Um dos primeiros trabalhos
comparativos, relacionaram 200
cirurgias (100 NSS e 100 LNSS), e a
cirurgia laparoscópica estava associada
com uma maior taxa de complicações
intraoperatórias (5% vs 0, p<0.03) e um
aumento da taxa de complicações renais e
urológicas (11% vs 2%, p<0,01). Dentre essas
complicações são relatadas as hemorragias
intra e pós-operatórias, fístulas urinárias e
hematúria.16
Com o avanço da tecnologia e o
aumento da curva de aprendizagem, os
grandes centros de laparoscopia urológica,
com seleção criteriosa de pacientes (estádio
T1a), obtêm resultados semelhantes à NSS.15
CONCLUSÃO
Os atuais exames de imagem
permitem o diagnóstico de tumores
renais assintomáticos e em estádio
inicial. A NSS demonstrou ser eficaz,
com resultados oncológicos expressivos
como tempo de sobrevida e tempo livre
de doença, semelhantes à NR, tido como
procedimento padrão-ouro no tratamento
dos tumores renais. A NSS evita, portanto,
que pacientes com déficit parcial na
função renal evoluam para a insuficiência
renal crônica, se submetidos à NR. A LNSS
também demonstrou ser eficaz nos tumores
localizados e menores de 4 cm, mas ainda
concentrada a centros de excelência em
laparoscopia, sendo uma alternativa viável
a NSS.
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55 revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Jefferson do Rêgo Corrêa, Giorge Pessoa de Jesus
ABORDAGEM CIRÚRGICA EXTRAORAL NO TRATAMENTO DE RÂNULA MERGULHANTE –
RELATO DE CASOSURGICAL MANAGEMENT EXTRAORAL IN TREATMENT OF PLUNGING
RANULA – REPORT CASE
Jefferson do Rêgo Corrêa,* Giorge Pessoa de Jesus**
RESUMO
O fenômeno de extravasamento de muco, que pode estar associado a anomalias congênitas,
traumas e doenças da glândula sublingual, é conhecido como rânula. Uma variante clínica
incomum, a rânula mergulhante, ocorre quando o extravasamento de mucina consegue
dissecar e romper barreiras atingindo espaços mais profundos, ocasionando na maioria das
vezes uma tumefação no pescoço. O presente trabalho relata uma paciente diagnosticada
com a lesão após ter sofrido trauma na região de assoalho bucal e submetida a tratamento
cirúrgico com a remoção extraoral da glândula envolvida.
Palavras-chave: Rânula Mergulhante; Glândula Sublingual; Acesso Extraoral.
ABSTRACT
The phenomenon of mucus leaking that can be associated to congenital anomalies, trauma
and illnesses of sublingual gland, is known as Ranula. An uncommon clinical variant, the
plunging ranula, occurs when the leak of mucin breaches barriers and reaches deeper
spaces, causing most of times a neck swelling. The present study reports a patient who has
got this injury after traumatizing the mouth floor area, and was submitted to a surgical
treatment with extraoral removal of the affected gland.
Keywords: Plunging ranula; Sublingual gland; Extraoral approach.
*Acadêmico finalista da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Amazonas – Ufam.** Professor titular da disciplina de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Amazonas – Ufam.E-mail: jef_cmm@hotmail.com Endereço: Av. Tókio, quadra 20, n.º 2 – Conj. Campos Elíseos, bairro: Planalto – CEP: 69045-200. Manaus – AM, fone: (92) 3238-8421, CEL: (92) 9625-6202
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
ABORDAGEM CIRÚRGICA EXTRAORAL NO TRATAMENTO DE RÂNULA MERGULHANTE – RELATO DE CASO
INTRODUÇÃO
Rânula, nome derivado do latim
rana, que significa rã, foi dado por conta da
lesão lembrar o aspecto translúcido do baixo-
ventre de uma rã, e é um termo utilizado
para os fenômenos de extravasamento de
mucina que ocorrem no assoalho bucal.1, 2, 3
Têm sido descritas associadas com anomalias
congênitas, traumas, doenças da glândula
sublingual e alguns autores relatam,
ainda, que essa lesão pode surgir em
consequência de cirurgias para a colocação
de implantes dentais.3, 4, 5, 6 Uma variante
clínica incomum, a rânula mergulhante,
ocorre quando o extravasamento de
mucina consegue dissecar e romper
barreiras como o músculo miloioide e
atinge espaços mais profundos, como os
espaços submandibulares e parafaringeanos
inferiores, ocasionando na maioria das
vezes uma tumefação do pescoço.3, 7, 8 O
diagnóstico está diretamente relacionado
com a história do desenvolvimento da lesão,
que pode ter aparecido após um trauma
na região de assoalho bucal envolvendo a
glândula sublingual ou por obstrução de seu
ducto, ocasionando em um extravasamento
do conteúdo salivar.6, 9, 10 Junto com a
história clínica, exames complementares
de imagem, como a ressonância magnética
(RM), garantem um maior estreitamento
das possibilidades diagnósticas, e ainda
permite uma boa avaliação da extensão da
lesão.6, 10, 11 Existem inúmeras abordagens
para o tratamento da rânula mergulhante,
sendo as cirúrgicas com a drenagem da
lesão e ressecção da glândula sublingual as
mais eficazes.5, 7, 8, 10, 12, 13, 14, 15
Este trabalho tem por objetivo
descrever o relato de caso de uma
paciente portadora de rânula mergulhante
diagnosticada no Serviço de Cirurgia e
Traumatologia Bucomaxilofacial – CTBMF
da Faculdade de Odontologia – FAO da
Universidade Federal do Amazonas – Ufam
e tratado no Hospital Universitário Getúlio
Vargas (HUGV).
RELATO DE CASO
A paciente do gênero feminino,
feoderma, 27 anos de idade, do interior
do Estado do Amazonas – Brasil, procurou
o ambulatório do Serviço de CTBMF da
FAO/Ufam, queixando-se de um “aumento
de volume” no lado esquerdo do pescoço
(Figura 1). Na anamnese foi constatado
que, após injúria por uma “espinha de
peixe” no assoalho bucal, iniciou-se o
desenvolvimento de uma vesícula que
regrediu espontaneamente. Após alguns
meses, a paciente observou um aumento
de volume na região submandibular do
lado esquerdo, que evoluiu causando uma
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Jefferson do Rêgo Corrêa, Giorge Pessoa de Jesus
assimetria facial. Ao exame físico não foi
constatado nenhum envolvimento intraoral,
verificando-se apenas o abaulamento na
região anteriormente mencionada. Com
base na história da doença e no exame
clínico, onde foi realizada punção aspirativa
positiva obtendo-se conteúdo mucoso,
levantou-se a hipótese diagnóstica de
rânula mergulhante (Figura 2). Para auxiliar
no diagnóstico foi solicitado o exame de
ressonância magnética que revelou uma
lesão multilocular estendendo-se do espaço
sublingual até o parafaringeano inferior
esquerdo, envolvendo estruturas anatômicas
nobres como nervos e vasos sanguíneos
calibrosos (Figura 3). O tratamento proposto
pela equipe cirúrgica foi a drenagem da lesão
associada à exérese da glândula envolvida.
Por não haver tumefação intraoral e por
promover melhor campo operatório, optou-
se por fazer uma incisão submandibular
(Hisdon) possibilitando uma melhor
visualização das estruturas anatômicas
que estavam intimamente envolvidas pela
cápsula cística (Figura 4). Foi realizada
dissecção por planos quando se observou,
também, o envolvimento da glândula
submandibular pela cápsula da rânula,
fato este que levou os cirurgiões a optar
pela remoção tanto da glândula sublingual
quanto da submandibular, eliminando
qualquer possibilidade de recidiva (Figura
5). Após exérese das glândulas foi adaptado
um dreno e em seguida buscou-se uma
sutura por planos (Figura 6) o qual foi
removido no segundo dia pós-operatório
depois da confirmação de não haver
mais conteúdo salivar que pudesse ser
removido por sucção. A peça foi enviada
para o Serviço de Patologia da Ufam, e foi
submetida a exame histopatológico que
revelou tecido de glândula salivar maior
com ductos rompidos e extravasamento de
muco para o tecido conjuntivo, bem como
infiltrado inflamatório crônico inespecífico,
característico de rânula. A paciente evoluiu
de forma satisfatória não apresentando
sinais de infecção ou quadros de xerostomia.
Portanto, não havendo comprometimento
significativo da lubrificação bucal pela
exérese das glândulas. Atualmente
encontra-se com dois anos de proservação
sem sinais de recidiva (Figura 7).
DISCUSSÃO
Por conta do grande número
de doenças relacionadas com a região
de assoalho bucal, espaço sublingual,
submandibular e parafaringeanos, o
diagnóstico de rânula / rânula mergulhante
é geralmente determinado por uma
combinação da história, achados clínicos e
estudos de imagens.6, 7 A rânula mergulhante
pode se apresentar como um aumento de
volume da área submandibular com ou sem
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
ABORDAGEM CIRÚRGICA EXTRAORAL NO TRATAMENTO DE RÂNULA MERGULHANTE – RELATO DE CASO
o envolvimento intraoral.12, 16
Exames de imagens, como
a tomografia computadorizada e a
ressonância magnética, têm ajudado com
grande eficácia no diagnóstico dessa lesão,
pois mostram um sinal patognomônico
conhecido como “cauda”, que é uma
evidenciação do percurso realizado pelo
fluido salivar quando da sua disseminação
para os espaços fasciais mais profundos do
pescoço.1, 4, 9
Pela ressonância magnética tem-se,
ainda, uma maior precisão na localização de
estruturas anatômicas nobres, como nervos
e vasos, que precisam ser preservadas
durante o ato cirúrgico para a remoção da
glândula salivar. 4, 11
O diagnóstico da lesão do caso
relatado em nosso serviço foi feito com base
nas evidências descritas no meio científico,
ou seja, por meio da correlação entre a
história da doença, os achados clínicos e os
achados da ressonância magnética.
Há diversas formas de abordagem no
tratamento de rânula/rânula mergulhante,
como excisão completa da lesão,
marsupialização com ou sem cauterização da
parede da lesão, crioterapia, tapizamento
com gaze, excisão a laser, escleroterapia, e
até mesmo injeção intralesão de material
de moldagem e utilização de hidrossecção
como auxiliar na dissecção.5, 7, 8, 10, 12, 13, 14, 15
Dentre os tratamentos existentes,
a excisão da rânula associada à remoção
da glândula sublingual tem sido o de
primeira escolha por muitos autores. Em
dados estatísticos é o que apresenta baixo
ou nenhum índice de recidiva da lesão.
Pelo fato, porém, de ser uma abordagem
bem invasiva, é necessária uma grande
experiência por parte do cirurgião e de sua
equipe.10, 17, 18
Por causa da rânula mergulhante ser
uma variante incomum da rânula confinada
ao assoalho bucal, seu tratamento é
basicamente o mesmo. Com exceção
de alguns casos em que sua drenagem e
excisão são feitas por uma abordagem
submandibular, geralmente quando essa
lesão não mostra um crescimento em
assoalho bucal.10
Em busca de um tratamento eficaz,
que apresentasse a menor possibilidade de
recidiva, juntamente com a característica
clínica de não envolvimento intraoral da
lesão, foi decidido por se utilizar a técnica
de excisão da rânula associada à remoção
da glândula sublingual e submandibular via
transcervical, tratamento que se mostrou
bastante satisfatório, sem complicações no
trans nem no pós-operatório tardio.
Histologicamente todas as lesões
de rânula são similares, apresentando
um espaço cístico central contendo
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Jefferson do Rêgo Corrêa, Giorge Pessoa de Jesus
extravasamento de mucina para os tecidos
circunjacentes, região vascularizada e
presença de infiltrado inflamatório.1, 13, 18
Essas foram características
histopatológicas presentes na lâmina do
fragmento cirúrgico retirado da paciente e
enviado ao laboratório de Anatomopatologia
da Universidade Federal do Amazonas,
e que confirmou o diagnóstico de rânula
mergulhante.
É necessário que o profissional faça o correto
diagnóstico da lesão, associando sempre os
achados clínicos com a história da doença,
para a escolha do melhor tratamento e
eliminar as possibilidades de recidiva.
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IMAGENS
Figura 1 – Aumento de volume da região submandibular do lado esquerdo do pescoço.
Figura 2 – Conteúdo muco-viscoso aspirado da lesão.
Figura 4 – Incisão submandibular (Hisdon) para acesso à lesão. ok
Figura 3 – Imagem RM evidenciando o envolvimento de espaços profundo do pescoço
Figura 4 – Incisão submandibular (Hisdon) para acesso à lesão. ok
61 revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Jefferson do Rêgo Corrêa, Giorge Pessoa de Jesus
Figura 6 – Tubo dreno suturado no local das glândulas removidas.
Figura 5.c – Glândulas sublingual e submandibular Figura 6 – Tubo dreno suturado no local das glândulas removidas.
Figura 5.a – Evidenciação do envolvimento da glândula sublingual pela cápsula da lesão.
Figura 5.b – Exérese das glândulas envolvidas pela lesão.
Figura 6 – Pós-operatório de 2 anos.
62 revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Aryádine Allinne Machado de Miranda, Elisângela Canterle Sedlacek,Simora Souza de Moraes, Sandra Lúcia Euzébio Ribeiro
COMPROMETIMENTO DA COLUNA CERVICAL NA ARTRITE REUMATOIDE GRAVE: MELHORA
COM TRATAMENTO CLÍNICO
IMPAIRMENT OF THE CERVICAL SPINE IN SEVERE RHEUMATOID ARTHRITIS:
TREATMENT WITH CLINICAL IMPROVEMENT
Aryádine Allinne Machado de Miranda,* Elisângela Canterle Sedlacek,**
Simora Souza de Moraes,** Sandra Lúcia Euzébio Ribeiro***
RESUMO
A artrite reumatoide (AR), doença inflamatória multissistêmica, pode acometer a coluna
cervical em vários estágios de sua evolução, principalmente a junção crânio vertebral.
A subluxação atlanto-axial (SAA) é o acometimento mais frequente, e apresenta
complicações como compressão neurológica e morte súbita. Pode ser assintomática,
sendo necessários exames de imagem, principalmente nos pacientes com dor e alteração
no exame físico da coluna cervical. A radiografia simples sugere o diagnóstico de SAA; a
Tomografia Computadorizada (TC) avalia fraturas vertebrais, erosões ósseas e articulações
interapofisárias; e a Ressonância Magnética (RM) é o exame que avalia a sinovite. Geralmente
o diagnóstico é realizado em estágios avançados da doença; além disso, os procedimentos
cirúrgicos não apresentam bons resultados, o que aumenta a morbimortalidade nesses
casos. Descreve-se o caso clínico de um paciente do sexo masculino com AR grave e demora
no diagnóstico, que apresentou complicações neurológicas por conta da SAA, com melhora
após tratamento com drogas antirreumáticas modificadoras da doença (DMARD).
Palavras-chave: Artrite reumatóide; Coluna cervical, Subluxação atlanto-axial.
ABSTRACT
The rheumatoid arthritis (AR), multiple system inflammatory illness, can affect the
cervical column in some periods of its evolution, mainly the vertebral skull junction. The
atlantoaxial subluxations (AAS) is the most frequent manifestation and with bigger risk
of complications, for example, neurological compression and sudden death. It can be
symptomless, many times it is necessary many examinations of images of patients with
pain in the cervical column. The simple x-ray suggests the AAS diagnosis; the computerized
tomography evaluates vertebral breakings, bones erosions and interapophysary joints;
63 revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
COMPROMETIMENTO DA COLUNA CERVICAL NA ARTRITE REUMATOIDE GRAVE:MELHORA COM TRATAMENTO CLÍNICO
and Magnetic Resonance is the examination which evaluates the synovial membrane
inflammation. Generally, the diagnosis is carried through in advanced periods of the
illness, moreover, the surgical procedures does not present good results, which increases
the mortality in these cases. We describe clinical case of a man with RA and neurological
compression caused by AAS, showed improvement after treatment with disease-modifying
antirheumatic drugs (DMARD).
Keywords : Rheumatoid arthritis; Cervical column, Atlantoaxial subluxation.
INTRODUÇÃO
A artrite reumatoide (AR) é uma
doença autoimune multissistêmica de caráter
inflamatório, de etiologia desconhecida,
caracterizada por comprometimento
das articulações periféricas. O dano à
cartilagem e erosões ósseas, com as
mudanças subsequentes na integridade
articular determinadas pela inflamação,
são características da doença. Afeta três
vezes mais mulheres do que homem e com
maior incidência entre 35-65 anos.1, 2 A AR
compromete a coluna cervical em 60-80%
dos casos,1 sendo a região mais acometida
do esqueleto axial, principalmente o
seguimento C1-C2.3, 4, 14, 15 Na articulação
atlanto-axial, o processo inflamatório
na membrana sinovial e nos ligamentos
promove enfraquecimento e frouxidão
no ligamento transverso, ocasionando um
aumento entre o arco anterior do atlas
e o processo odontoide maior que 3 mm,
conhecido como subluxação atlanto-axial
(SAA), e quando essa distância for igual
ou superior a 9 mm há elevado risco de
compressão neurológica.3, 4, 5, 15 Ocorre
instabilidade do segmento vertebral,
alterando as suas funções relacionadas ao
suporte do peso, movimentos e proteção
de estruturas nervosas no interior do canal
vertebral.2, 3, 6
Objetivo deste relato é descrever o
caso de um paciente com diagnóstico tardio
e complicações graves de AR como SAA,
apresentando outros sinais e sintomas de
gravidade da doença, que obteve melhora
após terapêutica com drogas antirreumáticas
modificadoras da doença (DMARD), redução
da sinovite de coluna cervical, não sendo
necessário procedimento cirúrgico.
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Aryádine Allinne Machado de Miranda, Elisângela Canterle Sedlacek,Simora Souza de Moraes, Sandra Lúcia Euzébio Ribeiro
RELATO DE CASO
Paciente masculino, 70 anos,
diabético desde 2005 em uso glibenclamida.
Em 2001 iniciou artrite simétrica cumulativa
em joelhos e tornozelos, obtendo melhora
com uso de anti-inflamatórios não
hormonais (Aines). Em março de 2006,
evoluiu com poliartrite em interfalangeanas
proximais (IFPs) e metacarpofalangeanas
(MCFs), punhos, cotovelos, acompanhado
de rigidez matinal com duração de três
horas, exacerbação da artrite em joelhos
e nódulos de consistência fibroelástica em
face extensora dos cotovelos e anterior da
tíbia esquerda (E). Maio de 2006 apresentou
piora do quadro articular com dor na
região cervical de forte intensidade com
irradiação para membros superiores (MMSS),
parestesia e diminuição da força muscular
em membros inferiores (MMII). Procurou
vários serviços de urgência/neurocirurgia
prescrito Aines e solicitados exames, entre
eles RM de coluna cervical evidenciando
tecido com intensidade de sinal de partes
moles, compatível com pannus, envolvendo
a transição craniocervical, determinando
erosão e destruição de C1 e do processo
odontoide de C2. Indicado cirurgia, porém
não realizada por recusa do paciente.
Novembro de 2006: com progressão
do déficit neurológico, sem deambular, em
consulta com reumatologista, diagnosticado
AR segundo critérios do American
College of Rheumatology (ACR), 1987:(1)
clínicos (artrite simétrica e cumulativa
de pequenas articulações das mãos,
rigidez matinal maior uma hora e nódulos
reumatoides), radiológicos (diminuição do
espaço articular do carpo, cistos ósseos
subcondrais, erosões ósseas) e sorológico
(Fator Reumatoide título 1:32). Iniciado
tratamento com metotrexate (MTX) 15 mg/
semana, difosfato de cloroquina 150 mg/
dia, prednisona 20 mg/dia e ácido fólico 5
mg/semana.
Internado em fevereiro de 2007 por
exacerbação do quadro álgico na coluna
cervical e irradiação para MMSS. Relatava
também tosse seca, associada à dispneia
progressiva aos esforços. Ao exame físico,
apresentava-se em regular estado geral,
dispnéico, afebril; aparelho cardiovascular
e abdome sem alterações; aparelho
respiratório estertores crepitantes em
velcro em 2/3 inferiores bilateral; pele
com nódulos de consistência fibroelástica,
móveis, indolores, cerca de 2 cm de diâmetro
em superfície extensora dos cotovelos, face
anterior da tíbia esquerda; osteoarticular
com desvio ulnar dos dedos, dedo em
martelo 2.º e 4.º quirodáctilos (QRD) (à E),
atrofia de interósseos (Figura 1), sinovite
em punhos com incapacidade para flexão
e extensão, instabilidade e crepitação em
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
COMPROMETIMENTO DA COLUNA CERVICAL NA ARTRITE REUMATOIDE GRAVE:MELHORA COM TRATAMENTO CLÍNICO
joelhos, limitação acentuada da flexão e
extensão do pescoço com perda da lordose
fisiológica; neurológico força muscular grau
4/5 em MMSS e 3/5 em MMII. Realizado RX
de tórax mostrando infiltrado intersticial
difuso, com área de maior confluência na
base direita, obliterando seio costo-frênico
(Figura 3), TC de tórax evidenciando
fibrose pulmonar bilateral (Figura 4); RM
de coluna cervical sinais de instabilidade
cervical, com subluxação anterior de C1-
C2, ântero-listese de C3 sobre C4 e de C4
sobre C5; erosão e destruição do Atlas e
do processo odontoide do Axis; redução
na amplitude do canal vertebral cervical,
tecido com intensidade de sinal de partes
moles compatível com pannus, envolvendo
a transição craniocervical (Figura 5).
O serviço de neurocirurgia indicou
procedimento cirúrgico para estabilização
de coluna cervical, por conta do risco
aumentado de compressão do canal medular
e de estruturas vasculares, além de morte
súbita, porém houve recusa do paciente,
utilizando somente colar cervical.
Em maio de 2007 apresentava
redução do quadro álgico, parestesia e da
sinovite da coluna cervical, visualizado
na RM (Figura 6). Mantendo-se estável
clinicamente nas reavaliações ambulatoriais,
a última em maio/2009.
DISCUSSÃO
Nos pacientes portadores de AR
os elementos estabilizadores da coluna
cervical, como articulações, ligamentos e
tecidos ósseos, podem ser afetados pelo
tecido sinovial patológico levando a SAA.4, 11,
14, 15 Essa patologia ocorre em 1 em cada 30
pacientes com evidência mínima de doença,
1 em 15 pacientes com doença clínica e 1
em cada 5 pacientes hospitalizados por AR.
A insuficiência do ligamento transverso,
causada pela inflamação, variando desde
atrofia até completa destruição pelo tecido
de granulação reumatoide, é responsável
pela subluxação.7
Fatores relacionados à própria
evolução da AR podem condicionar um
maior risco de acometimento da doença na
coluna cervical, tais como o uso prolongado
de corticosteroides, altos títulos de
FR, destruição articular periférica,
acometimento de nervos cervicais, presença
de nódulos reumatoides e longo tempo de
evolução da doença.2, 8 Desses fatores o
tempo prolongado de doença é o que mais
contribui para o aumento da incidência
de SAA.15 No caso clínico descreve-se
um paciente portador de AR com graves
deformidades de articulações, nódulos
reumatoides, acometimento pulmonar,
sintomas neurológicos, condições estas
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Aryádine Allinne Machado de Miranda, Elisângela Canterle Sedlacek,Simora Souza de Moraes, Sandra Lúcia Euzébio Ribeiro
predisponentes de SAA.
A SAA pode ser classificada em
anterior, vertical, lateral e posterior.
Anterior representa 46% dos casos, ocorre
infiltração do pannus entre o processo
odontoide e o ligamento transverso,
ocasionando separação maior de 2,5 cm
entre o arco anterior do atlas e o processo
odontoide do áxis. Vertical corresponde a
5-22% dos casos, o colapso ósseo e articular
entre o osso occipital, atlas e áxis resultam
de erosões e desabamento das articulações
sinoviais existentes entre os ossos na
junção craniocervical, levando a migração
do dente do áxis verticalmente além da
linha de McGregor (une a margem posterior
do palato duro ao ponto mais caudal do
osso occipital). Lateral representa 10-20%
dos casos, ocorre comprometimento das
articulações interfacetárias deslocando as
massas laterais do atlas mais que 2 mm em
relação ao áxis. Posterior representa 6% dos
casos, existe anteriorização do processo
odontoide sobre o arco anterior do atlas
geralmente causado por erosões.3, 4
A dor na região posterior do
pescoço é a manifestação mais precoce
e comum, seguida de rigidez e limitação
dos movimentos de flexão, extensão e
rotação, sendo que o conjunto occipito-
atlanto-axial é responsável por metade da
realização desses movimentos.9 A SAA pode
ser, porém, assintomática durante grande
parte da sua evolução ou provocar sintomas
vagos.2, 10, 11, 12 A cefaleia suboccipital
de intensidade variável pode estar
relacionada com SAA vertical. Os sintomas
neurológicos (parestesia, paresia, hiper-
reflexia, clonus e espasticidade) podem ser
causados por compressão das estruturas
nervosas contidas no canal vertebral, seja
pelo pannus, elementos ósseos ou por
insuficiência do sistema vertebrobasilar
(síncope, incontinência esfincteriana,
nistagmo, disfagia).5, 9 No exame físico pode-
se suspeitar de SAA quando há diminuição
da lordose occiptocervical, resistência à
movimentação cervical passiva ou protrusão
anterior do arco anterior do atlas na parede
posterior da faringe.4
Os estudos clínicos e radiográficos
da coluna cervical são de grande
importância, por conta da proporção de
pacientes portadores de AR que apresentam
alterações na junção craniovertebral,
especialmente naqueles com maior risco
para SAA.3, 6, 10, 12, 14 O diagnóstico por imagem
pode ser realizado por meio da Rx perfil
com o pescoço em flexão revelando mais
que 3 mm de separação entre o processo
odontoide e o arco anterior do atlas. A TC é
útil para demonstrar compressão do cordão
espinhal por perda do espaço subaracnoide
posterior em pacientes com subluxação de
C1 e C2.4, 10 A RM tem papel significativo na
67 revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
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COMPROMETIMENTO DA COLUNA CERVICAL NA ARTRITE REUMATOIDE GRAVE:MELHORA COM TRATAMENTO CLÍNICO
avaliação da coluna cervical e da transição
craniocervical, permitindo realizar corte
sagitais, tornando-se o melhor método para
avaliar a relação entre o dente do áxis e a
medula cervical.6, 7
Pacientes com AR, que apresentavam
distúrbios da coluna cervical tratados com
DMARD, foram acompanhados durante
cinco anos; nesse trabalho concluíram que
a combinação terapêutica dessas drogas,
acompanhadas ou não de corticoides, pode
impedir ou retardar o desenvolvimento de
distúrbios na articulação atlanto-axial.16
Ince et al utilizaram MTX em pacientes
portadores de ARJ que apresentavam
alterações na articulação temporo-
mandibular, a terapêutica foi eficaz em
minimizar a destruição da articulação.13
No relato de um caso, a criança
portadora de Artrite Idiopática Juvenil
(AIJ), com SAA, respondeu ao tratamento
com MTX e repouso com tração da coluna
cervical, promovendo controle da doença
e prevenção de sequelas neurológicas.5
Outro caso relatado de SAA em paciente
portador de AIJ utilizou corticoide e anti-
TNF (Infliximab), após nove infusões
de Infliximab houve normalização dos
marcadores de atividade inflamatória e da
articulação atlanto-axial.9
Alguns autores recomendam o
tratamento conservador com tracionamento
cervical para alinhamento espinhal e
descompressão de elementos neurais,
deixando a indicação cirúrgica apenas para
os casos que apresentam deteriorização
neurológica associada à dor intratável.
Os sintomas de compressão neurológica
que demandam intervenção cirúrgica são:
mudança no nível de consciência, ataque
isquêmicos transitórios, diminuição do
controle esfincteriano, disfagia, vertigem,
convulsão, hemiplegia, nistagmo, dor não
controlada pelo tratamento clínico e, nesses
casos, o tratamento cirúrgico apresenta
alta morbidade.3, 4, 7, 10, 14
Nesse relato enfatizamos a
importância do estudo coluna cervical
em pacientes portadores de AR. SAA deve
sempre ser lembrada em pacientes com
sinais e sintomas neurológicos, como no
caso apresentado, principalmente associado
AR grave. Investigação ativa, diagnóstico
precoce e o início de tratamento com
DMARD são fundamentais para o controle
da atividade da doença, prevenção de
incapacidade funcional e lesão articular
irreversível.
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COMPROMETIMENTO DA COLUNA CERVICAL NA ARTRITE REUMATOIDE GRAVE:MELHORA COM TRATAMENTO CLÍNICO
Figura 1 – Desvio ulnar dos dedos, dedos em martelo 2.º e 4.º quirodáctilos (QRD) (à E), atrofia de interósseos, sinovite em punho. Nódulo reumatoide em cotovelo.
Figura 2 – Rx de mãos: redução da densidade óssea, diminuição do espaço articular de interfalangeanas, com subluxação de falanges mediais e distais; cistos ósseos subcondrais e erosões ósseas. Anquilose dos ossos dos punhos.
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Aryádine Allinne Machado de Miranda, Elisângela Canterle Sedlacek,Simora Souza de Moraes, Sandra Lúcia Euzébio Ribeiro
Figura 4 – TC de Tórax: espessamento dos septos inter e intralobulares com estrias densas associadas na periferia de ambos os pulmões, distorcendo a sua arquitetura normal; espessamento pleural bilateral.
Figura 3 – Rx de Tórax: infiltrado intersticial difuso, com área de maior confluência na base direita, obliterando seio costo-frênico.
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COMPROMETIMENTO DA COLUNA CERVICAL NA ARTRITE REUMATOIDE GRAVE:MELHORA COM TRATAMENTO CLÍNICO
Figura 5 – RM de coluna cervical: sinais de instabilidade cervical, com subluxação anterior de C1-C2, ântero-listese de C3 sobre C4 e de C4 sobre C5; erosão e destruição do atlas e do processo odontoide do Axis; redução na amplitude do canal vertebral cervical, tecido com intensidade de sinal de partes moles, compatível com pannus, envolvendo a transição craniocervical.
Figura 6 – RM de coluna cervical (pós-tratamento com DMARD): fusão dos corpos vertebrais de C5-C6 e parcial posterior de C6-C7, retrolistese do bloco de C5-C6, discoartrose de C3-C4, C4-C5, redução da amplitude do canal vertebral. Melhora da sinovite.
Universidade Federal do Amazonas – Ufam
Hospital Universitário Getúlio Vargas – HUGV
Correspondência: Aryádine Allinne Machado de Miranda. Rua 32, quadra 42, número 21
– Conjunto Jardim Versalles. CEP 69044-210 – Manaus/AM, fone: (092) 3238-6918. E-mail:
aryadinemiranda@yahoo.com.br
72 revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Jonas Rodrigues de Menezes Filho, Victor Alfonso Vasquez,André Mancini, Cristiano Paiva, Flávio Antunes, Edson Sarkis
NEOPLASIA DE CÉLULAS GERMINATIVAS EM CRIANÇAS: RELATO DE CASO E REVISÃO
DE LITERATURA
GERM CELL TUMORS IN CHILDREN: CASE REPORT AND LITERATURE REVIEW
Jonas Rodrigues de Menezes Filho,* Victor Alfonso Vasquez,*
André Mancini,* Cristiano Paiva,** Flávio Antunes,*** Edson Sarkis****
RESUMO
Os tumores testiculares são raros entre crianças e adolescentes representam apenas 1%
de todos os tumores pediátricos sólidos, sendo os de células germinativas os mais comuns.
Na infância há maior incidência de tumores não-seminomatosos, sendo os tumores do
seio endodérmico os mais freqüentes. O tratamento padrão para o câncer testicular é a
orquiectomia radical. Relatamos um caso de tumor do seio endodérmico em criança.
Palavras-chave: Câncer de testículo, crianças, não-seminoma
ABSTRACT
Testicular tumors are rare among children and adolescents account for only 1% of all
pediatric solid tumors, and the germ cells tumors are the most common. In childhood
there is a higher incidence of malignant non-seminomas, and the yolk sac tumors are the
most frequent. The standard treatment for testicular cancer is radical orchiectomy. We
report a case of yolk sac tumor in children and its follow-up.
Keywords: Testicular cancer, children, non-seminoma
* Residentes de Urologia do HUGV** Doutor em urologia pela Escola Paulista de Medicina – EPM/Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP***Urologista do HUGV**** Professor Titular de Urologia da Universidade Federal do amazonas
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NEOPLASIA DE CÉLULAS GERMINATIVAS EM CRIANÇAS: RELATO DE CASO E REVISÃO DE LITERATURA
INTRODUÇÃO
De acordo com a literatura, tumores
testiculares são raros com a incidência de
0,5 a 2/100.000 crianças e adolescentes¹.
Apenas 1% de todos os tumores pediátricos
sólidos são de origem testicular.² Enquanto
em adultos os tumores de células
germinativas são aneuploides, nos casos
pediátricos são usualmente diploides,
especialmente os teratomas. Todavia, os
tumores do seio endodérmico (Yolk sac
tumors) podem ser aneuploides.³
Aproximadamente, 60% dos
tumores testiculares em adultos contêm
histologia mista, enquanto a maioria dos
tumores testiculares prepuberais possui um
único tipo histológico.4 As lesões benignas
nas crianças representam uma maior
porcentagem de casos do que nos adultos,
onde as lesões malignas prevalecem. Um
estudo multicêntrico recente demonstrou
que 74% dos tumores primários de testículos
na fase prepuberal eram benignos.5
RELATO DE CASO
Paciente masculino com dois
anos e cinco meses, natural e procedente
de Boa Vista do Ramos-AM apresentou
aumento do volume testicular esquerdo
com início do quadro há dois anos (Figura
1), foi acompanhado por médicos da sua
cidade quando foi enviado a um serviço
ambulatorial da cidade de Manaus com
diagnóstico de hidrocele. Já em nosso
serviço, foi realizado ultrassonografia
(USG) da bolsa escrotal com aumento de
volume do testículo esquerdo, difusamente
heterogêneo com pequenas áreas anecoicas
de permeio, bem delimitadas, medindo 5,0 x
3,3 x 4,4 cm, sugerindo processo expansivo.
Alfa-fetoproteína 994 ng/ml e DHL 546
U/L. Radiografia de tórax sem alterações
e TC de abdome total não identificou
linfonodomegalias retroperitoneais.
Realizado orquiectomia radical
esquerda (Figura 3) sem nenhuma
complicação com alta hospitalar no
primeiro dia de pós-operatório. O laudo
histopatológico demonstrou ser um tumor
de células germinativas, tipo Tumor de
Seio Endodérmico (“Yolk Sac Tumor”),
comprometendo o epidídimo, atingindo
focalmente a albugínea sem ultrapassá-
la, presença de invasão vascular, margens
cirúrgicas livres de comprometimento
neoplásico, classificado como pT2, pNx,
pMx. No trigésimo dia de pós-operatório
os exames de controle revelaram a alfa-
fetoproteína 9ng/ml, Beta hCG 0,5 ng/ml
e DHL 536 U/L. Encontra-se em evolução
satisfatória.
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Jonas Rodrigues de Menezes Filho, Victor Alfonso Vasquez,André Mancini, Cristiano Paiva, Flávio Antunes, Edson Sarkis
Figura 1: Massa testicular esquerda
Figura 2: USG de testículo esquerdo com aumento de volume, difusamente heterogêneo com pequenas áreas anecóicas de permeio.
Figura 3: Orquiectomia radical demonstrando controle dos vasos espermáticos.
DISCUSSÃO
Poucos campos da oncologia
apresentaram avanços terapêuticos
tão significativos quanto o dos tumores
germinativos do testículo. Tais resultados
foram obtidos graças a vários fatores,
entre os quais se destacam a identificação
dos marcadores séricos (alfa-fetoproteína
e beta-hCG), ultrassonografia (USG),
tomografia computadorizada (TC) e
ressonância magnética (RNM) que permitiram
estabelecer o diagnóstico e melhorar a
acurácia do estadiamento tumoral, além
do advento de agentes quimioterápicos
efetivos, destacando-se a cisplatina.6
A combinação dos métodos
terapêuticos – cirurgia, radioterapia e
quimioterapia – permitiu que a sobrevida
média (cinco anos) dos portadores desses
tumores, que era de aproximadamente 40 a
50% na década de 1950, passasse a 85 a 95%
nos dias atuais.6
Embora a causa de câncer testicular
seja desconhecida, tanto fatores congênitos
como adquiridos foram associados ao
desenvolvimento tumoral. A associação
mais forte tem sido com o testículo
criptorquídico. Aproximadamente 7-10%
dos tumores testiculares formam-se em
pacientes com história de criptorquidismo;
seminoma é a forma mais comum de
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NEOPLASIA DE CÉLULAS GERMINATIVAS EM CRIANÇAS: RELATO DE CASO E REVISÃO DE LITERATURA
tumor nesses pacientes. Contudo, 5 a
10% dos tumores testiculares ocorrem
no testículo contralateral, sem história
de criptorquidismo. O posicionamento
do testículo criptórquico no escroto não
altera o potencial maligno do testículo não
descíduo; entretanto, esse procedimento
facilita de fato o exame e a detecção do
tumor7.
Outros fatores de risco importantes
são: o traumatismo e a atrofia testicular, a
disgenesia gonodal, os estados intersexuais,
o uso materno de estrogênios durante
o período gestacional, os traumatismos
e o histórico familiar. A relação entre
microlitíase testicular e o desenvolvimento
tumoral é controversa6.
Uma revisão de dados de trinta
anos em um hospital na Turquia revelou
que tumores do seio endodérmico (Yolk Sac
Tumors) são os mais comuns entre tumores
testiculares prepuberais8.
Teratomas e Yolk Sac Tumors são
os mais comuns em crianças prepúberes.
Após a puberdade, o mais comum é o
carcinoma embrionário. O tamanho do
tumor não é indicativo de benignidade ou
malignidade, no entanto tumores malignos
são frequentemente grandes10.
A idade da apresentação é de
dois anos, mas 60% das lesões podem se
apresentar antes dessa idade9. De fato, a
idade média de apresentação para tumores
do seio endodérmico e teratomas é de 16
e 13 meses, respectivamente, baseado em
dados dos tumores prepuberais11.
Quase 90% dos pacientes
pediátricos se apresentam com massa
testicular indolor¹². Um recente estudo
confirmou que massa testicular indolor foi
o sintoma mais comum seguido por trauma/
contusão e hidrocele/hérnia (85, 8 e 6%,
respectivamente).¹³ Ao exame a massa
tende a ser firme. O exame físico deve ser o
suficiente para excluir outras patologias que
compreendem o diagnóstico diferencial,
tais como torção testicular, hidrocele,
epididimites, hérnia inguinal e orquite. A
hidrocele está presente entre 15 a 20% dos
pacientes com tumores testiculares.9
A ultrassonografia com duplex e
doppler colorido (USG) pode ajudar a distinguir
massas intratesticulares de extratesticulares
e outras patologias escrotais dos tumores
testiculares. A sensibilidade da USG para
detecção de tumores testiculares aproxima-
se de 100% 14.
Os marcadores tumorais podem
ajudar a identificar diferentes tipos
histológicos antes da cirurgia e podem
ser usados para detectar recorrência ou
persistência tumoral após orquiectomia
radical. É essencial a medida da
alfafetoproteína (AFP) como parte inicial
76 revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Jonas Rodrigues de Menezes Filho, Victor Alfonso Vasquez,André Mancini, Cristiano Paiva, Flávio Antunes, Edson Sarkis
de qualquer investigação para neoplasia
testicular em que se nota aumento em 90%
dos tumores do seio endodérmico e em
recém-natos pelo menos nos seis primeiros
meses de vida. A vida média da AFP é de
cinco dias. Níveis que não diminuem após
cinco dias sugerem persistência ou doença
metastática.15 Os tumores produtores de
β-hCG não fazem parte dessa faixa etária e
usualmente não são produzidos por tumores
testiculares na infância.16
O ponto crucial da exploração de
um possível tumor testicular é a abordagem
inguinal com clampeamento da vasculatura
do cordão espermático e retirada do testículo.
Se a possibilidade de câncer não puder ser
excluída pelo exame do testículo, justifica-
se a orquiectomia radical. Deve-se evitar a
prática de abordagens escrotais e biópsias
testiculares abertas. A terapia adjuvante
depende das características histológicas do
tumor, além do seu estadio clínico7.
O estadiamento dos tumores é
baseado segundo o Grupo de Oncologia
Pediátrica que define estádio I como um
tumor limitado ao testículo, completamente
ressecado, sem evidência de doença fora dos
testículos e normalização de marcadores
tumorais; estádio II como tumor removido
trans-escrotalmente com evidência de
tumor extra testicular, tumoração residual
microscopicamente, linfonodomegalia
retroperitoneal ≤ 2cm e aumento dos
marcadores tumorais; estádio III como
linfonodomegalia retroperitoneal ≥ 2cm;
estádio IV como metástases à distância,
incluindo fígado17.
Tumores do seio endodérmico
são raros em adultos e muito comuns em
crianças sendo responsáveis por mais de
70% dos tumores de células germinativas
nesta faixa etária. Microscopicamente o
encontro dos corpos de Schiller-Duval é
patognomônico desta doença. O manejo
destes tumores é mais agressivo nos
adultos e mais conservador nas crianças
por alguns motivos como: 1) Nas crianças
85% estão no estádio I; 2) Geralmente de
uma única linhagem nas crianças; 3) AFP
está aumentada em mais de 90% dos casos,
que torna o seguimento pós-orquiectomia
mais fácil; 4) Nos adultos a disseminação
é linfática, ao contrário das crianças
que a disseminação é hematogênica.
As metástases nos pulmões ocorrem em
torno de 20% comparadas as metástases
para retroperitôneo presentes em apenas
4 a 6% dos casos. Portanto, a rotina de
linfadenectomia retroperitoneal (RPLND)
não é tão difundida, pois a disseminação
é hematogênica e as complicações deste
procedimento são maiores nas crianças,
tais como obstrução vesical, infecção de
sítio cirúrgico, ascite quilosa e disfunção
ejaculatória. No entanto, a RPLDN está
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
NEOPLASIA DE CÉLULAS GERMINATIVAS EM CRIANÇAS: RELATO DE CASO E REVISÃO DE LITERATURA
limitada às crianças com linfadenopatia
retroperitoneal persistente ou aumento dos
marcadores tumorais após orquiectomia ou
quimioterapia.15
O estadiamento é feito por meio
de radiografia de tórax, TC de abdome
e pelve e exame histopatológico da
peça cirúrgica (orquiectomia, que é o
tratamento padrão para estes tumores). Se
os achados histopatológicos e de imagem
confirmarem estádio I o paciente pode ser
seguido em observação sem necessidade
de quimioterapia adjuvante. Deve ser
solicitado AFP mensalmente por dois anos,
radiografia de tórax a cada 2 meses por dois
anos e TC a cada 3 meses por um ano e
semestralmente no segundo ano. Após os
dois anos de observação sem recorrência
pode ser estendido para cada 6 meses ou
anualmente pelo baixo risco de recidiva.
O risco de recidiva é de aproximadamente
20% e é identificada pelo aumento sérico de
AFP ou evidência de doença nos exames de
imagem. Quase todas as recorrências podem
ser resgatadas através de quimioterapia. O
estádio II ou doença metastática deve ser
tratado com quimioterapia. A sobrevida
para todos os estadios da doença aproxima-
se dos 100% 15.
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Thiago Patta, Ricardo Estevam, Rubem A. JúniorGeorge A. Lins, Higino F. Figueiredo, Márcio Neves Stefani
INGESTÃO INADVERTIDA DE CHUMBO EM ANIMAL CAÇADO COMO CAUSA DE APENDICITE AGUDA
INADVERTENT CONSUMPTION OF LEADS IN ANIMAL HUNTED
AS CAUSES OF SHARP APPENDICITIS
Thiago Patta,* Ricardo Estevam,** Rubem A. Júnior***
George A. Lins,* Higino F. Figueiredo,* Márcio Neves Stefani*
RESUMO
A presença de corpos estranhos (CE) no trato digestório representa uma incidência mesmo
que subestimada de cerca de 1 para 1.000 a 1.500 laparotomias exploradoras, ocorre
principalmente em crianças, idosos e pacientes psiquiátricos por conta da ingesta ou
introdução via anal de CE. As apresentações clínicas vão desde quadros assintomáticos
com eliminação espontânea até casos de abdômen agudo cirúrgico por peritonites, como
consequência de perfurações, obstruções do trato digestório. Relataremos um caso de
apendicite aguda supurada em morador de zona rural por ingesta inadvertida de CE de
chumbo em carne de animal caçado, onde evoluiu com impactação no apêndice cecal com
perfuração e instalação de um quadro de abdômen agudo por apendicite aguda supurada,
necessitando de tratamento cirúrgico. Concluímos então que é de suma importância o
questionamento de possível ingesta inadvertida de CE, assim como os hábitos alimentares
de pacientes com abdômen agudo, principalmente crianças, idosos e paciente psiquiátricos,
como possível causa de apendicite aguda, assim como acompanhar e investigar casos de
CE no trato digestório e prevenir suas possíveis complicações, como perfurações, fístulas,
obstruções, ou até a sua eliminação seja espontânea ou terapêutica.
ABSTRACT
The presence of foreign bodies (CE) in I try digestive represents an incidence even though
underestimated of around 1 for 1000 to 1500 laparotomias explorers, occurs mainly in
infants, elderly and psychiatric patients due to the ingest or introduction saw anal of CE.
*Residentes de Cirurgia Geral do HUGV**Preceptor doPRM em Cirurgia Geral do HUGV***Chefe da Divisão de Cirurgia Geral do HUGV
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INGESTÃO INADVERTIDA DE CHUMBO EM ANIMAL CAÇADO COMO CAUSA DE APENDICITE AGUDA
The clinical presentations go since charts asymptomatic with spontaneous elimination to
cases of surgical sharp abdomen by peritonitis, as consequence of drillings, obstructions
of him I try digestive. We will relate a case of sharp appendicitis festered in inhabitant of
rural zone by ingest inadvertent of CE of leads in meat of animal hunted, where evolved
with impactação in the appendix cecal with drilling and installation of a chart of sharp
abdomen by sharp appendicitis festered, needing surgical handling. We conclude then
that is of sum importance the questioning of possible ingest inadvertent of CE, as well
as the habits you will feed of patients with sharp abdomen, mainly infants, elderly and
psychiatric, as possible patient causes of sharp appendicitis, as well as accompany and
investigate cases of CE in I try digestive and prevent your possible complications, like
drillings, fistulas, obstructions, or up to your elimination be spontaneous or therapeutic.
INTRODUÇÃO
Os corpos estranhos (CE) intra-
abdominais ou no trato digestório, são
oriundos geralmente de ingesta inadvertida
via oral ou introdução via anal de objetos.1
Clinicamente, a grande maioria pode ser
eliminada espontaneamente ou serem
causas de obstruções, perfurações e até
mesmo fístulas intestinais.2 O diagnóstico
nem sempre é fácil, necessitando de
exames complementares de imagens,
como radiografias e Tomografias
Computadorizadas, assim como de
endoscopias e colonoscopias, sendo estes
dois últimos tanto diagnósticos quanto
terapêuticos, por vezes o diagnóstico é
dado apenas com Laparotomia Exploradora.
O objetivo deste artigo é relatar um caso
de impactação de CE em Apêndice Cecal,
chumbo de espingarda, como causa de
Pelviperitonite por Apendicite Aguda
Supurada, demonstrando uma causa não
rara de apendicite.
RELATO DO CASO
Paciente do sexo masculino, 49 anos, natural e
procedente de Autazes interior do Amazonas,
o paciente refere que constantemente se
alimenta de carne de caça, iniciou quadro
clínico de dor abdominal difusa com posterior
localização em fossa ilíaca direita (FID),
associado à febre, náuseas, hiporexia,
adinamia, constipação intestinal evoluindo há
quatro dias. Deu entrada no pronto-socorro
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Thiago Patta, Ricardo Estevam, Rubem A. JúniorGeorge A. Lins, Higino F. Figueiredo, Márcio Neves Stefani
(PS) em regular estado geral, hipocorado
leve, desidratado moderado, taquipneico,
acianótico, anictérico e sem edemas.
Ausculta cardíaca e pulmonar sem alterações.
Abdômen: Distendido, tenso, sem cicatrizes ou
abaulamentos, com dor à palpação profunda e
superficial, mais eminente em FID e hipogástrio,
com sinais de irritação peritoneal e Blumberg
presente. Solicitado hemograma e radiografia
de abdômen, que evidenciaram Leucocitose
com desvio à esquerda, e na radiografia
corpo estranho com densidade de metal em
topografia de Apêndice Cecal, além de sinais
sugestivos de apendicite como: borramento da
sombra do Músculo Psoas, escoliose antálgica
e alça sentinela (Figura 1).
Figura 1 – Imagem sugestiva de chumbo metálico na radiografia simples de abdômen.
Definido então quadro de abdômen
agudo inflamatório por possível Apendicite
Aguda Supurada.
O paciente foi submetido à
Laparotomia Exploradora mediana
infraumbilical, onde o achado
intraoperatório foi: Pelviperitonite
purulenta por apendicite aguda
supurada, e identificação de corpo
estranho em loja apendicular
compatível com chumbo de espingarda,
que provavelmente foi ingerido
inadvertidamente pelo paciente ao
comer a carne da caça (Figura 2).
Figura 2 – Chumbo encontrado no intraoperatório.
Procedido então a apendicectomia
e limpeza exaustiva da cavidade abdominal
com soro fisiológico a 9% e drenagem da
cavidade com dreno de Penrose número 4.
O paciente foi encaminhado à enfermaria
no pós-operatório imediato onde evolui
satisfatoriamente, recebendo alta no 8.º
dia pós-operatório.
82 revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
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INGESTÃO INADVERTIDA DE CHUMBO EM ANIMAL CAÇADO COMO CAUSA DE APENDICITE AGUDA
DISCUSSÃO
Os CEs no trato digestório
continuam sendo bastante incidente na
população, representando uma incidência
de 1 para 1.000 a 1.500 laparotomias, mas
estima-se que sua incidência seja maior e
não muito relatada até mesmo por questões
legais.3 Os pacientes mais suscetíveis são
crianças, idosos e pacientes psiquiátricos.
Charles e cols4 relataram o caso de ingesta
de um clip metálico como causa de
apendicite em criança de três anos. Como
se pode observar, apendicite aguda pode
ser também uma complicação de ingesta
inadvertida de corpo estranho, sendo de
relevante importância conhecer os hábitos
alimentares de pacientes com abdômen
agudo, como, por exemplo: hábitos de
comer carne de caça, pescados e distúrbios
psiquiátricos com ingesta de alimentos
inapropriados. Rubem et al5 relataram o
caso de apendicite aguda por impactação
de CE, anzol de pesca, em apêndice cecal
após ingesta de pescado por ribeirinho.5 Foi
relatado também um caso de apendicite
crônica por ingesta inadvertida de CE,
haste de rebite, por paciente psiquiátrico.1
Lopes et al6 relataram um caso de abscesso
perineal por ingesta de palito de dente em
um paciente de 55 anos. Concluímos então
que a presença de CE no trato digestório
pode evoluir distintamente, desde um
quadro de eliminação espontânea e
assintomático, até mesmo um quadro de
abdômen agudo cirúrgico por apendicite e
peritonite purulenta, sendo extremamente
importante acompanhar e investigar casos
de CE no trato digestório para prevenir
suas complicações como em casos de
abdômen agudo por apendicite questionar
a possibilidade de CE no trato digestório.
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83 revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Rubem Alves da Silva Júnior, George Augusto Monteiro Lins de Albuquerque, Thiago Patta,Higino Felipe Figueiredo, Elysson Abinader, Carlos Alberto Morais Menezes Júnior
ADENOMA DE VESÍCULA BILIAR:RELATO DE CASO
GALLBLADER ADENOMA: A CASE REPORT
Rubem Alves da Silva Júnior,* George Augusto Monteiro Lins de Albuquerque,**Thiago Patta,** Higino Felipe Figueiredo,** Elysson Abinader,** Carlos Alberto Morais Menezes Júnior***
RESUMO
Lesões polipoides de vesícula biliar afetam aproximadamente 5% da população adulta.
Apesar de a grande maioria das lesões ser benigna, a transformação maligna é sempre
uma preocupação. A maioria dos pólipos é detectada durante ultrassonografia abdominal.
Adenomas são lesões epiteliais benignas com elevado potencial de malignidade que podem
ocorrer ao longo de todo o trato gastrintestinal. Relatamos um caso de paciente investigada
por sintomas gastrintestinais inespecíficos com diagnóstico de colelitíase havia dois anos.
Ultrassonografia revelou imagens sugestivas de cálculo biliar e outra imagem hiperecoica,
polipoide e séssil. Colecistectomia aberta foi realizada e constatou-se presença da lesão
cujo laudo histológico confirma tratar-se de adenoma.
Palavras-chave: Pólipo, Adenoma, Vesícula Biliar, Colecistectomia.
ABSTRACT
Polypoid lesions of the gallblader affect approximately 5% of the adult population.
Although the majority of gallbladder polyps are benign, malignant transformation is a
concern. Most polyps are detected during abdominal ultrasonography. Villous adenomas
are benign epithelial lesions with malignant potential that can occur in any part of the
gastrointestinal tract. We present a case of a pacient who was investigated for nonspecific
gastrointestinal complaints with a concurrent diagnosis of cholelithiasis for two years.
Ultrasonography diagnosed images suggestive of gallstones and a hyperechoic and sessile
polyp. An open cholecystectomy was performed and revelead an adenoma.
Key words: Polyps, Adenoma, Gallbladder, Cholecystectomy.
* Chefe da Cirurgia do Aparelho Digestório. Coordenador da Preceptória de Residência Médica da Cirurgia Geral do Hospital Universitário Getúlio Vargas**Residentes em Cirurgia Geral da Universidade Federal do Amazonas – Ufam*** Acadêmico do curso de Medicina da Universidade Federal do Amazonas – Ufam
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
ADENOMA DE VESÍCULA BILIAR: RELATO DE CASO
INTRODUÇÃO
Lesões polipoides da vesícula biliar
correspondem a qualquer lesão elevada
da superfície mucosa da parede do órgão,
as quais são usualmente não-neoplásicas
(>95%). A maioria dessas lesões polipoides de
vesícula biliar é encontrada incidentalmente
em 3-7% das colecistectomias.1, 3
Christensen and Ishak estabeleceram
a classificação para os tumores benignos
de vesícula biliar: tumores epiteliais ou
adenoma (tubular, papilar ou tipos mistos),
tumores mesenquimais (hemangioma,
leiomioma, lipoma) e pseudotumores
(pólipos de colesterol, pólipos inflamatórios,
adenomioma e hiperplasia adenomatosa).2
Com o uso da ultrassonografia na prática
clínica moderna, cada vez mais as
lesões polipoides de vesícula biliar são
detectadas.3
Relatamos o caso de uma paciente
investigada por sintomas não-específicos
do trato gastrintestinal havia dois anos. Na
ultrassonografia de abdome total observou-
se imagens sugestivas de litíase biliar e
outra imagem hiperecoica, polipoide e
séssil, cujo diagnóstico histopatológico foi
adenoma de vesícula biliar.
RELATO DE CASO
Paciente do sexo feminino, 36 anos,
encaminhada com diagnóstico de litíase
biliar; apresentando quadro de epigastralgia
acompanhada de náuseas e vômitos com uma
frequência em um ano de dois episódios.
Em sua história familiar, observa-se caso de
colelitíase em parente de primeiro grau. Ao
exame físico: dor à palpação profunda em
hipocôndrio direito, sem demais alterações.
A ultrassonografia de abdome superior
revelou pequenas imagens hiperecogênicas
em vesícula biliar, móveis à mudança de
decúbito e produzindo sombra acústica
posterior; e outra imagem hiperecogênica
de contornos irregulares, aderida à parede
posterior da vesícula medindo 3,1 cm x
2,3 cm em seu maior diâmetro. A paciente
foi submetida à colecistectomia, sendo
solicitada a avaliação histopatológica da
peça cirúrgica. A paciente evoluiu sem
intercorrências, recebendo alta no terceiro
dia pós-operatório. A análise histopatológica
confirmou o diagnóstico de colecistite
crônica e adenoma de vesícula biliar.
DISCUSSÃO
É difícil predizer a importância ou
o significado dos pólipos de vesícula biliar
no pré-operatório, outrora sendo a maioria
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Rubem Alves da Silva Júnior, George Augusto Monteiro Lins de Albuquerque, Thiago Patta,Higino Felipe Figueiredo, Elysson Abinader, Carlos Alberto Morais Menezes Júnior
de linhagem benigna; a possibilidade de ele
ser um carcinoma não pode ser descartada.
Apesar de ser uma doença relativamente
rara, o carcinoma de vesícula biliar ainda
compreende 3% de todas as doenças
malignas gastrointestinais.4
Os sintomas de pólipos de vesícula
biliar não são específicos, sendo a maioria
sugestivos de colelitíase.4 Sintomas como dor
em quadrante superior direito, dispepsia,
náuseas e vômitos foram relatados. A
proporção de pacientes sintomáticos é de 78
a 93%. A proporção de pacientes portadores
de cálculo de vesícula biliar e pólipos é de
27 a 66%, sugerindo que a sintomatologia
não pode ser atribuída exclusivamente à
presença dos cálculos.3, 5
Os fatores de riscos identificados
para malignidade dos pólipos de vesícula
biliar são o tamanho do pólipo superior a 10
mm, idade do paciente superior a 50 anos,
pólipos solitários, presença de cálculos e
pacientes sintomáticos.3, 5, 6
Em contraste com os pólipos de
cólon, a inspeção pré-operatória direta da
mucosa da vesícula biliar e biópsia não é
viável, obrigando os médicos a adotar sua
conduta baseada em informações obtidas a
partir de exames de imagem.1
O tratamento cirúrgico está indicado
em todos os pacientes sintomáticos, em
portadores de lesões maiores que 10 mm de
diâmetro e em pacientes que apresentam
fatores que aumentam o risco de malignidade
(idade superior a 50 anos e coexistência de
cálculos biliares). Todos os outros pacientes
devem ser acompanhados periodicamente
com exames ultrassonográficos seriados a
cada três a seis meses.6
No caso relatado, a colecistectomia
foi o procedimento indicado, em
concordância com a literatura, já que ela
preenchia os critérios para tratamento
cirúrgico. A colecistectomia também tem
demonstrado melhora da sintomatologia
apresentada pela paciente.3 Quanto à forma
de tratamento cirúrgico, técnica aberta ou
videolaparoscópica, a última é considerada
o padrão áureo no tratamento de colelitíase,
entretanto sua eficácia no tratamento
de lesões polipoides é questionável: pela
possibilidade de aumentar o número de
sítios de metástases e associar-se a pior
prognóstico em carcinomas de vesícula biliar
não suspeitados.3, 6 Sendo este o motivo
pelo qual a técnica aberta foi realizada em
nossa paciente.
Os adenomas vilosos são lesões
epiteliais benignas que podem ocorrer em
qualquer local do trato gastrointestinal. Esses
tumores são frequentemente encontrados
em reto e cólon, menos frequentes em
intestino delgado, e raramente encontrados
na árvore biliar.7
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
ADENOMA DE VESÍCULA BILIAR: RELATO DE CASO
Adenomas do trato biliar são
incomuns. A grande maioria dos adenomas
de vesícula biliar tem estrutura tubular,
enquanto adenomas tubulovilosos são
extremamente raros. A incidência de
adenomas puramente vilosos de vesícula é
de apenas 0,08% em séries de autópsias.8
Em estudo realizado por Terzi
e colaboradores, uma revisão de cem
casos de pólipos de vesícula biliar, os
adenomas foram relatados como lesões
predominantemente solitárias ou associadas
à colelitíase. O potencial pré-maligno dos
adenomas e a evolução deles à carcinoma
são inquestionáveis, estando assim indicada
a remoção cirúrgica de todos os adenomas
encontrados.2, 4
Pólipos de vesícula biliar permanecem como
grande preocupação tanto para médicos
como para pacientes. Apesar de a maioria das
lesões polipoides ser benigna, é necessário
avaliação cuidadosa e acompanhamento
adequado observando-se os critérios para
indicação cirúrgica. No presente caso, a lesão
polipoide era um adenoma, e por conta do
grande potencial de malignidade associado
aos adenomas, o tratamento instituído foi
a colecistectomia. A paciente se encontra
atualmente em bom estado.
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87 revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Fernando Luiz Westphal, Luís Carlos de Lima, José Corrêa Lima Netto,Márcia dos Santos da Silva, Alessandra Bastos Alves
TAMPONAMENTO CARDÍACOTRAUMÁTICO TARDIO
LATE TRAUMATIC CARDIAC TAMPONADE: CASE REPORT
Fernando Luiz Westphal,*Luís Carlos de Lima,**José Corrêa Lima Netto,***Márcia dos Santos da Silva,****Alessandra Bastos Alves,****
RESUMO
A maioria dos pacientes vítimas de lesão cardíaca penetrante morre antes de receber o
suporte avançado de vida. Dentre os que chegam ao hospital, uma pequena parte pode se
apresentar hemodinamicamente estável e sem sinais clínicos sugestivos de lesão cardíaca.
Neste trabalho, relatamos um caso de lesão cardíaca penetrante por arma branca em que
a paciente foi admitida sem sinais de instabilidade hemodinâmica e, após 48h, evoluiu com
piora significativa do quadro clínico e sinais de tamponamento cardíaco. Foi submetida à
janela pericárdica subxifoidea para drenagem pericárdica, com evolução satisfatória. O
tamponamento cardíaco tardio é uma entidade rara, que ocorre por sangramento tardio
ou pelo desenvolvimento de pericardite constritiva com derrame tardio. A abordagem
cirúrgica precoce de ferimentos penetrantes localizados na área de Ziedler poderia evitar
complicações tardias como a que foi relatada. Assim, a janela pericárdica subxifoidea
é um método fácil e seguro para exploração de pacientes estáveis com possível lesão
cardíaca, pois permite a visualização direta do pericárdio e a possibilidade de ampliação
da incisão para toracotomia.
PALAVRAS-CHAVE: Tamponamento cardíaco, ferimento penetrante, traumatismos
torácicos.
ABSTRACT
The most of victims of penetrating cardiac injury dies before receiving advanced life
support. Among those who arrive the hospital, a small part can present hemodynamically
stable and without clinical signs suggestive of cardiac injury. In this paper, we report a
case of a penetrating cardiac stab wounds in which the patient was admitted with no signs
* Professor-adjunto e coordenador da disciplina de Cirurgia Torácica da Universidade Federal do Amazonas** Chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Universitário Getúlio Vargas*** Médico assistente do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Universitário Getúlio Vargas****Acadêmicas do curso de Medicina da Universidade Federal do Amazonas
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TAMPONAMENTO CARDÍACO TRAUMÁTICO TARDIO
of hemodynamic instability and after 48 hours developed a significant clinical worsening
and signs of cardiac tamponade. She was submitted to subxiphoid pericardial window
for pericardial drainage with satisfactory evolution. Traumatic late cardiac tamponade is
a rare condition that occurs due to delayed bleeding or to development of constrictive
pericarditis with delayed effusion. Early surgical approach to penetrating injuries
located in the Ziedler area could be prevent late complications such as that reported.
Thus, subxiphoid pericardial window is an easy and secure method for exploration of
stable patients with possible cardiac injury because it allows direct visualization of the
pericardium and the possibility of extending the incision to thoracotomy.
KEYWORDS: Cardiac tamponade, penetrating wound, thoracic injuries.
INTRODUÇÃO
O traumatismo torácico é uma
importante causa de mortalidade por
trauma, especialmente em adultos
jovens, vítimas de violência urbana.1 No
Brasil, perto de 65% dos óbitos por causas
externas ocorrem em pacientes com lesão
torácica penetrante e, dentre estes, 22,9%
apresentam lesão cardíaca associada.2
A maioria dos pacientes com
traumatismo cardíaco penetrante morre
antes de receber o suporte avançado de vida1,
3 e dentre os pacientes que são admitidos
no serviço de pronto atendimento, cerca
de 20% não apresentam sinais ou sintomas
sugestivos de lesão cardíaca.4
A abordagem cirúrgica de urgência
é o método mais seguro para confirmação
diagnóstica de ferimentos cardíacos e a
janela pericárdica é considerada uma das
melhores opções, pois permite a visualização
direta do pericárdio e, quando necessário,
a incisão pode ser convertida rapidamente
em uma toracotomia.5, 6
O objetivo deste trabalho é relatar
um caso de lesão cardíaca associada a
tamponamento cardíaco tardio tratado com
drenagem pericárdica por meio de janela
pericárdica subxifoidea.
RELATO DO CASO
Paciente do sexo feminino, 24 anos,
vítima de múltiplos ferimentos por arma
branca, recebeu primeiro atendimento em
Urucará, interior do Amazonas, onde foram
realizados limpeza e rafia das lesões. Após
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Fernando Luiz Westphal, Luís Carlos de Lima, José Corrêa Lima Netto,Márcia dos Santos da Silva, Alessandra Bastos Alves
48h, evoluiu com dispneia, dor torácica e
confusão mental, sendo transferida para
Manaus. Deu entrada no Hospital e Pronto-
Socorro 28 de Agosto, hipocorada (+++/+4),
dispneica, com murmúrio vesicular
diminuído em bases. FC 110 bpm, FR 30 mrm
e PA de 90/60 mmHg. Foram observadas
múltiplas lesões suturadas distribuídas em
face, membros superiores e tórax, sendo
três em região subaxilar esquerda e duas
em precórdio. O hemograma realizado
no momento da admissão demonstrou
uma anemia com hematócrito 17,7% e
hemoglobina de 5,98 g/dl.
Foram transfundidas três bolsas
de concentrado de hemácias e realizada
drenagem fechada de hemitórax esquerdo sob
selo d’água. Após 3h, a paciente permaneceu
com dispneia e dor torácica, e evoluiu com
enfisema subcutâneo em tórax, turgência
jugular (Figuras 1A e 1B) e atrito pericárdico.
O ultrassom rápido de tórax (Fast) evidenciou
a presença de líquido em pericárdio. Foi
indicada a cirurgia de emergência e realizada
a janela pericárdica, com incisão mediana
subxifoidea (Figura 2) e aspiração de 200 ml
de secreção serossanguinolenta, tipo água
de carne, que confirmou o diagnóstico de
hemopericárdio. Foi colocado dreno de tórax
número 22 e realizada drenagem fechada do
pericárdio sob selo d’água. A paciente evoluiu
sem complicações e recebeu alta hospitalar
após dez dias.
DISCUSSÃO
O grande número de óbitos
associado ao traumatismo cardíaco
perfurante está relacionado aos ferimentos
causados por arma de fogo, pois estes
causam grandes lacerações nas câmaras
cardíacas e abertura do saco pericárdico
que evoluem com hemotórax maciço e
choque hemorrágico, geralmente com
morte no local do acidente. De forma
oposta, as lesões causadas por arma branca
possuem um melhor prognóstico, com
pouca perda sanguínea e a possibilidade
de tamponamento cardíaco, condição que
atua como protetor da lesão cardíaca,
pois evita o extravasamento de sangue e o
choque hemorrágico.5, 7, 8
A lesão cardíaca é suspeitada a
partir da história do trauma e localização
das lesões. A apresentação clínica do
paciente é de fundamental importância
para a decisão quanto à exploração
cirúrgica ou apenas observação. Hipotensão
arterial severa, aumento da pressão venosa
central e abafamento das bulhas cardíacas
são fortes indícios de lesão cardíaca
penetrante A tríade de Beck, característica
do tamponamento cardíaco, está presente
em apenas uma minoria dos pacientes. Em
alguns casos, o diagnóstico nem sempre
é evidente, pois o paciente pode se
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TAMPONAMENTO CARDÍACO TRAUMÁTICO TARDIO
apresentar hemodinamicamente estável,
sem indícios clínicos de lesão cardíaca.9, 10
Ferimentos localizados na área de Ziedler
devem sempre ser investigados, pois a
projeção do coração e dos grandes vasos
nessa região aumenta o risco de lesão
cardíaca e sangramento.11
As duas principais formas de
apresentação das lesões cardíacas
penetrantes são a hemorragia profusa com
rápida evolução para o choque hemorrágico
e o tamponamento cardíaco. Os ferimentos
por arma de fogo se associam a grandes
lacerações nas câmaras cardíacas e
tecidos adjacentes, causando hemorragia
constante que não pode ser contida
pelo saco pericárdico aberto. De forma
oposta, os ferimentos por arma branca
se comportam como feridas cirúrgicas,
permitindo a aposição dos tecidos lesados
e dos tecidos mediastinais adjacentes, com
rápido fechamento do orifício e pouca perda
sanguínea para a cavidade torácica e meio
externo.2, 4 Nos pacientes com ferimento
por arma branca, o tamponamento cardíaco
exerce efeito protetor, pois evita a perda de
sangue e reduz a chance de hipovolemia.5
Em um pequeno número de casos,
o paciente pode se apresentar estável no
momento da admissão, sem evidências
de lesão cardíaca e, após horas ou dias,
evoluir com sinais de tamponamento
cardíaco. Isso ocorre por conta de um
sangramento cardíaco tardio com pericárdio
já cicatrizado após uma lesão aguda ou
pelo desenvolvimento de pericardite com
derrame tardio.11, 12 No caso relatado, a
paciente não apresentava sinais sugestivos
de lesão cardíaca e tamponamento cardíaco
durante sua primeira admissão, sendo
tratada de forma conservadora. Somente
após 48 horas houve piora significativa do
quadro clínico com rebaixamento do nível
de consciência, dispneia e dor torácica.
Após transferência para uma unidade de
referência em urgência e emergência, a
paciente apresentou nova piora clínica em
3h de evolução, dessa vez com turgência
jugular e atrito pericárdico, sendo levantada
a hipótese de tamponamento cardíaco
tardio.
Diante da suspeita de derrame
pericárdico traumático, o ecocardiograma
transesofágico é considerado o método
de escolha para a investigação inicial do
paciente, pois se trata de um método não
invasivo, rápido e de fácil aplicabilidade.
O diagnóstico é feito pela visualização
de uma região anecoica entre o coração
e o pericárdio, com possível restrição
diastólica. Quando o ecocardiograma
transesofágico não estiver disponível, o
exame pode ser realizado com o mesmo
aparelho de ultrassom utilizado para o
exame de abdômen em vítimas de trauma
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Fernando Luiz Westphal, Luís Carlos de Lima, José Corrêa Lima Netto,Márcia dos Santos da Silva, Alessandra Bastos Alves
(Fast). Em mãos experientes, esse método
pode apresentar acurácia de 90% para a
presença de líquido no pericárdio.10, 13 No
caso apresentado, não havia equipamento
para a realização do ecocardiograma
transesofágico nem cardiologista disponível
na unidade de emergência para a qual a
paciente foi transferida. O equipamento
ultrassonográfico disponível era o Fast,
que confirmou a presença de líquido no
pericárdio. O quadro clínico e a evidência
ultrassonográfica de derrame pericárdico
foram fatores indicativos para a abordagem
cirúrgica da paciente.
Pacientes com tamponamento
cardíaco agudo ou sinais de choque sem
resposta à infusão de cristaloides devem
ser submetidos ao procedimento cirúrgico
imediatamente. A escolha da técnica
depende da preferência e experiência de
cada cirurgião. Enquanto alguns centros
adotam a toracotomia esquerda como
procedimento inicial nos casos de lesão
cardíaca penetrante, com a possibilidade de
ampliação da incisão por meio do mediastino
nos casos em que houver lesão cardíaca à
direita,10 outros preferem a esternotomia
mediana, reservando a toracotomia
esquerda para as lesões posteriores.14
Em pacientes hemodinamicamente
estáveis ou com sinais clínicos de
tamponamento cardíaco sem choque
profundo, o método de escolha para
o diagnóstico de ferimento cardíaco é
a janela pericárdica subxifoidea. Essa
técnica possui como principais vantagens
a sua fácil execução e rápida identificação
da presença ou não de lesão cardíaca com
alta sensibilidade e especificidade, além
de mínima morbidade. A exposição obtida
por esse método permite a exploração do
pericárdio para detecção de sangramento ou
coágulos. Se a lesão for confirmada, a incisão
pode ser facilmente ampliada para uma
toracotomia mediana ou lateral.6, 11 Outra
vantagem da janela pericárdica subxifoidea
é a realização de pericardiocentese para
descompressão cardíaca nos casos em
que houver tamponamento cardíaco.15 No
presente relato, a escolha pela realização
da janela pericárdica foi feita a partir da
história de tamponamento cardíaco tardio
sem sinais de choque profundo. Durante
o procedimento, não foram observadas
lesões cardíacas, pois ela já deveria estar
cicatrizada, nem sinais de sangramento
ativo, sendo realizada apenas a drenagem
pericárdica.
Diante do exposto, observamos
a necessidade da exploração sistemática
dos pacientes com suspeita de lesão
cardíaca. Apesar de a abordagem cirúrgica
precoce estar indicada apenas em
pacientes hemodinamicamente instáveis,
a possibilidade de lesão cardíaca deve ser
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TAMPONAMENTO CARDÍACO TRAUMÁTICO TARDIO
suspeitada mesmo em pacientes estáveis,
pois a detecção precoce do hemopericárdio
evita complicações tardias, tal como foi
observado neste trabalho.
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Fernando Luiz Westphal, Luís Carlos de Lima, José Corrêa Lima Netto,Márcia dos Santos da Silva, Alessandra Bastos Alves
FIGURAS
Figura 1A) Turgência jugular antes da drenagem pericárdica e B) evolução sete dias após o procedimento cirúrgico.
Figura 2 – Incisão mediana subxifoidea com drenagem de secreção serossanguinolenta.
Instituição em que o trabalho foi realizado:
Universidade Federal do Amazonas – Departamento de Clínica Cirúrgica
Endereço para correspondência:
Fernando Luiz Westphal – Hospital Universitário Getúlio Vargas, Coordenação de Ensino e
Pesquisa. Av. Aripuanã, 4 – Praça 14 de Janeiro, Manaus – AM, Brasil. CEP: 69020-170
E-mail: f.l.westphal@uol.com.br
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Fernando Luiz Westphal, Luís Carlos de Lima, José Corrêa Lima Netto,Márcia dos Santos da Silva, Caio Ferreira Soares, Danielle Cristine Westphal
SÍNDROME DO LOBO MÉDIO:
RELATO DE CASO
MIDDLE LOBE SYNDROME: CASE REPORT
Fernando Luiz Westphal,* Luís Carlos de Lima,**José Corrêa Lima Netto,***Márcia dos Santos da Silva,****Caio Ferreira Soares,*****Danielle Cristine Westphal****
RESUMO
A Síndrome do Lobo Médio é caracterizada por colapsos recorrentes do lobo médio do
pulmão direito que levam à atelectasia crônica e predisposição a infecções de vias
aéreas inferiores. Neste trabalho, apresentamos um caso de Síndrome do Lobo Médio,
no qual o paciente possuía um histórico clínico de pneumonias de repetição e exames de
imagem que evidenciaram a presença de atelectasias e bronquiectasias no lobo médio
pulmonar. Durante a broncoscopia foi observada a compressão extrínseca do brônquio por
lifonodomegalias. Diante da confirmação diagnóstica, optou-se por realizar a lobectomia.
Apesar do tratamento da Síndrome do Lobo Médio em crianças ser preferencialmente
conservador, casos como o que foi relatado, em que há presença de atelectasias,
bronquiectasias, infecções recorrentes ou obstrução brônquica, é necessária a adoção de
condutas mais agressivas, com ressecção cirúrgica da região acometida, a fim de evitar
disseminação da infecção para outras áreas do pulmão.
DESCRITORES: Atelectasia pulmonar, bronquiectasia, pneumonia.
ABSTRACT
The Middle Lobe Syndrome is characterized by recurrent collapse of the middle lobe of the
right lung leading to atelectasis and predisposition to chronic infections of the lower airways.
We present a case of Middle Lobe Syndrome, in which the patient had a clinical history
of recurrent pneumonia and imaging studies demonstrating the presence of atelectasis
and bronchiectasis in the middle lobe lung. During bronchoscopy was observed extrinsic
*Professor-adjunto e coordenador da disciplina de Cirurgia Torácica da Universidade Federal do Amazonas.**Chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Universitário Getúlio Vargas.***Médico assistente do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Universitário Getúlio Vargas.****Acadêmicas do Curso de Medicina da Universidade Federal do Amazonas.*****Acadêmico do Curso de Medicina da Universidade do Estado do Amazonas.
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SÍNDROME DO LOBO MÉDIO: RELATO DE CASO
compression of the bronchus by lymphonodomegaliy. Given the diagnostic confirmation, it
was decided to perform lobectomy. Despite treatment of Middle Lobe Syndrome in children
preferably be conservative, cases such as that reported, in which there is presence of
atelectasis, bronchiectasis, recurrent infections or bronchial obstruction, it is necessary
to adopt more aggressive behavior, with surgical resection of the region affected, in order
to avoid dissemination of infection to another parts of lung.
KEYDOWRDS: Pulmonary Atelectasis, bronchiectasis, pneumonia.
INTRODUÇÃO
A Síndrome do Lobo Médio (SLM)
caracteriza-se por colapsos recorrentes do
lobo médio, levando a um quadro clínico
que envolve bronquiectasias, pneumonias
de repetição e atelectasias desse lobo
pulmonar.1
Em pacientes pediátricos, os
sintomas têm início principalmente ao
redor dos três anos de idade e comumente
está associado à asma.2 O sintoma mais
frequente é a tosse persistente, que pode
estar associada à hemoptise, dor torácica,
dispneia e febre.3
O objetivo deste trabalho é descrever
um caso de Síndrome do Lobo Médio em
um paciente pediátrico que apresentava
infecções pulmonares recorrentes, além de
realizar uma revisão da literatura.
RELATO DO CASO
D.G.S., dez anos e oito meses,
foi encaminhado ao Serviço de Cirurgia
Torácica do Hospital Sociedade Beneficente
Portuguesa por apresentar infecções
recorrentes de vias aéreas inferiores
desde o primeiro mês de vida. Ao exame
físico, apresentou como única alteração
a presença de roncos em terços médio e
inferior do hemitórax direito. Os exames
complementares apresentaram os seguintes
resultados:
a) Radiografia de tórax: sinais de
atelectasia em terço médio do pulmão
direito (Figuras 1A e B);
b) Tomografia computadorizada de
tórax: presença de broncogramas aéreos
envolvendo lobo médio, principalmente em
segmento medial, com redução volumétrica
dele (Figura 2);
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Fernando Luiz Westphal, Luís Carlos de Lima, José Corrêa Lima Netto,Márcia dos Santos da Silva, Caio Ferreira Soares, Danielle Cristine Westphal
c) Broncoscopia: compressão extrínseca
do lobo médio por provável aumento
linfonodal.
O paciente foi submetido à
toracotomia lateral direita, com acesso à
cavidade torácica pelo 5.º espaço intercostal
direito. Foram observados atelectasia e
hepatização do segmento medial do lobo
médio pulmonar. O tratamento instituído
foi a ressecção do lobo médio (Figura 3).
O paciente evoluiu sem complicações
recebendo alta hospitalar no 5.º dia de pós-
operatório.
DISCUSSÃO
A SLM, entidade clínica e radiológica,
é caracterizada por atelectasia crônica do
lobo médio do pulmão direito com episódios
de pneumonia e sintomas respiratórios
crônicos ou recorrentes, podendo ser apenas
um achado radiológico com antecedentes
clínicos pouco expressivos1.
A fisiopatogenia da SLM envolve
principalmente fatores anatômicos. O
ramo brônquico que se dirige ao lobo médio
forma um ângulo agudo com o brônquio
fonte que o origina e geralmente é menos
calibroso e mais longo que os demais.
Esses três fatores contribuem para a
retenção crônica de secreções brônquicas
e episódios recorrentes de infecção. A
presença de gânglios linfáticos ao redor
desse ramo brônquico também contribui
para a fisiopatogenia da síndrome, pois,
na vigência de processos infecciosos, os
gânglios podem aumentar de tamanho e
comprimir o brônquio, aumentando ainda
mais o acúmulo de secreções. Episódios
repetidos de inflamação induzem a fibrose
e o estreitamento do brônquio, fator
determinante para completar o ciclo vicioso
de infecção e inflamação que determinam
a formação de atelectasia e bronquiectasia
crônicas, com colapso total ou parcial do
lobo médio.4
As causas da SLM se dividem em
obstrutivas e não-obstrutivas. As principais
causas obstrutivas são a compressão
extrínseca por linfonodos ou tumores e
anormalidades no diâmetro, estrutura ou
comprimento brônquico, secundárias a
aspiração de corpo estranho, edema de
mucosas ou presença de tumores. Já as causas
não-obstrutivas envolvem basicamente os
distúrbios de ventilação colateral e processos
inflamatórios primários.5, 6
A síndrome ocorre em indivíduos de
qualquer idade; no entanto, o diagnóstico
em pacientes pediátricos tende a ser mais
difícil por causa da apresentação clínica
inespecífica.3, 7 A maioria dos casos de SLM
em crianças ocorre de forma secundária
à asma e o paciente pode se recuperar
97 revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
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SÍNDROME DO LOBO MÉDIO: RELATO DE CASO
espontaneamente. No entanto, a resolução
dos sintomas agudos nem sempre é
acompanhada de reexpansão do parênquima
pulmonar atelectasiado e esse acaba não
sendo prontamente identificado.2, 8 Neste
trabalho, o paciente não tinha história de
asma e apresentava como único dado clínico
relevante o histórico de pneumonias de
repetição, associado ao achado radiológico
de colapso do lobo médio pulmonar.
A presença de atelectasia do lobo
médio na radiografia de tórax em crianças
com sintomas respiratórios recorrentes
é suficiente para a suspeita diagnóstica
de SLM. A tomografia computadorizada
de tórax também auxilia no diagnóstico,
pois, além de evidenciar atelectasias e
bronquiectasias no lobo médio, identifica
possíveis obstruções e estreitamentos
brônquicos. Quando a SLM for de origem
obstrutiva, a broncoscopia é suficiente
para confirmar o diagnóstico.3, 9 No caso
relatado, a atelectasia do lobo médio foi
observada tanto na radiografia de tórax
quanto na tomografia computadorizada
e o diagnóstico foi confirmado após a
visualização da obstrução brônquica por
meio da broncoscopia.
O tratamento da SLM em pacientes
pediátricos é preferencialmente conservador
por intermédio de antibioticoterapia, drenagem
postural e broncodilatadores.3, 7 Nos casos em
que houver atelectasia crônica ou recorrente,
evidências de bronquiectasia ou obstrução
brônquica, o tratamento preconizado é a
ressecção precoce do lobo médio a fim de evitar
o envolvimento dos outros lobos pulmonares.8,
10 Neste trabalho, a presença de obstrução
brônquica foi fator determinante para a
abordagem cirúrgica do paciente.
Em conclusão, ressaltamos a
importância do diagnóstico precoce da
SLM em pacientes pediátricos. Apesar de
a apresentação clínica ser inespecífica, a
realização de uma simples radiografia de
tórax em crianças com sintomas respiratórios
recorrentes e inespecíficos é suficiente para
guiar o diagnóstico de SLM, antes que o
processo evolua para complicações crônicas
que necessitem de um tratamento cirúrgico
mais amplo que a lobectomia média.
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syndrome. Chest. 2004; 125(1): 38-42.
FIGURAS
Figura 1 – Radiografia de tórax nas incidências PA (A) e perfil (B) mostrando atelectasiado terço médio do pulmão direito.
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SÍNDROME DO LOBO MÉDIO: RELATO DE CASO
Figura 2 – Tomografia computadorizada de tórax mostrando bronquiectasias e redução volumétrica do lobo médio.
Figura 3: Lobo médio com sinais de hepatização consequente ao processo inflamatório crônico.
Instituição em que o trabalho foi realizado:
Universidade Federal do Amazonas – Departamento de Clínica Cirúrgica.
Endereço para correspondência:
Fernando Luiz Westphal – Hospital Universitário Getúlio Vargas, Coordenação de Ensino e
Pesquisa. Av. Aripuanã, 4 – Praça 14 de Janeiro, Manaus – AM, Brasil. CEP: 69020-170
E-mail: f.l.westphal@uol.com.br
ANAIS JORNADA
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Palestra de Abertura da V Jornada de Saúde da Amazônia Ocidental
TRABALHO EM EQUIPE: UM DESAFIO POSSÍVEL
Prof. Dr. Edson de Oliveira Andrade
Caros amigos
O professor Fernando Westphal pediu-me, em uma grande deferência, que falasse na
abertura deste evento, sobre a importância do trabalho em conjunto.
De início, esta incumbência, para quem não acredita em trabalho efetivo senão aquele
realizado coletivamente, pareceu ser extremamente fácil.
Ledo engano!
Ao tentar colocar as ideias em ordem a fim de fazer desta conversa entre amigos
e companheiros algo útil e agradável, as dificuldades de explicar e defender o óbvio
começaram aparecer de forma muito intensa.
Como então resolver tal problema? Como arrumar uma saída de forma a atender o solicitado
pelo Fernando?
Confesso que ao procurar uma saída tudo pareceu muito difícil. E por que estava assim?
Logo percebi que o problema do encaminhamento desta tarefa estava na metodologia por
mim escolhida para resolvê-lo: a individualidade.
Tudo tinha de ser resolvido por mim. Era Eu e só Eu a buscar a solução para o sucesso
desejado para a palestra.
Esqueci nas minhas preocupações do próprio tema da palestra: O trabalho coletivo.
Uma palestra, como todas as atividades humanas, depende de múltiplos fatores, sejam
eles conjunturais, estruturais, mas principalmente humanos.
O primeiro destes fatores, o conjuntural, tem a ver porque estamos aqui. O que nos
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mobilizou a vir para cá? Conhecimento, curiosidade, sentimento de obrigação ou mesmo
falta do que fazer?
Cada um de nós sabe o que nos trouxe até aqui, nesta noite de muito calor.
Para este evento, talvez não seja importante sabermos o motivo da mobilização de cada
um. Mas quando se trata do ambiente de trabalho, saber o que motiva o colega ao lado é
uma questão capital.
Mas vamos parar um pouco e pensarmos juntos. Esta reunião não é uma extensão do nosso
local de trabalho? Então pergunto: por que o Fernando Westphal está aqui? Ou o professor
Duarte? Ou mais importante ainda, por que aquele colega tão querido e competente NÃO
está aqui?
Como podemos entender o macro da nossa conjuntura quando desconhecemos o micro, ou
seja, ou que nos move individualmente?
Quando estamos a fim de uma pessoa queremos saber tudo a seu respeito. O que ela gosta.
O que lhe agrada. Tudo para satisfazê-la. Enfim, para conquistá-la.
Agora raciocinem comigo, e vejam se não estou correto. Muitas vezes iremos conviver
menos com esta pessoa que com nossos companheiros de trabalho.
Vejam no meu caso. Eu aguento o Bulbol há 36 anos; o Duarte há 38 anos e o Eucides há
44 anos.
Bem como nem todos têm a graça de ter a mesma namorada, sempre a conquistar, como eu
e o Duarte, vemos logo a importância que um colega de trabalho tem em nossas vidas.
Em qualquer campo da atividade humana, as coisas só dão certo se houver interesse. E
nenhum interesse é tão importante quanto o interpessoal.
Se eu gosto de ti, eu cuido de ti!
Vamos agora fazer uma brincadeira. Escrevam no papel que receberam, sem que ninguém
veja, o nome de um colega de trabalho com que vocês se preocupam. Dobrem e entreguem
aos nossos monitores.
O segundo passo para o sucesso desta palestra é a estrutura de que dispomos para o evento
(APAGAR AS LUZES E DESLIGAR O MICROFONE).
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Vejam só. Vocês estão aí e eu continuo aqui, mas a nossa conversa ficou prejudicada.
Com resolver este impasse? Penso que existem dois caminhos: um correto e outro o
brasileiro. O correto chama-se planejamento. O brasileiro chama-se jeitinho e é mais ou
menos assim: Ei! Seu Almir. Vê se tem um fusível emprestado e faz uma gambiarra para
luz voltar. Pronto, às vezes dá certo, mas na maioria das vezes, não.
Com planejamento a regra é dar certo.
Agora podem ligar as luzes.
Vocês viram que em todas as oportunidades aqui apresentadas, apesar de falarmos em
estruturas, sempre nos referimos às pessoas. Isto ocorre porque as estruturas são reflexos
das ações das pessoas; e num sistema de vasos comunicantes, como no qual vivemos, as
pessoas são reflexos das estruturas.
Agora eu pergunto: Quantas vezes vocês já pararam para planejar o seu trabalho?
Vamos agora para a segunda tarefa da noite.
Escrevam na folha de papel restante um aspecto da estrutura do HUGV que vocês gostaria
de ver melhorar para que vocês possam se sentir mais feliz em seu trabalho. Não deixe
ninguém olhar o que você escreveu. Isto é uma tarefa solitária. Este é o SEU desejo.
Entreguem aos monitores.
Por fim, vamos falar de nós, as pessoas. Vamos falar do nosso papel nesta palestra.
Como vocês já perceberam, uma palestra não existe sem pessoas. Não existe sem um
palestrante – uma pessoa –; nem sem plateia – também pessoas –. Conjunturas e estruturas
são importantes, mas o que dá consistência às coisas são as pessoas. Conjuntura e estrutura
são as formas; as pessoas são as substâncias.
Se eu e vocês não estivéssemos aqui, ainda que o evento estivesse programado e o local
à disposição, não teríamos a palestra, pois faltaria a substância. Mas é preciso que haja
uma interação profunda e intensa entre as pessoas, a conjuntura e a estrutura, para que
o sucesso da palestra seja alcançado.
Como disse o filósofo espanhol Ortega y Gasset; “Eu sou eu e as minhas circunstâncias. Se
não as salvo, não me salvo”.
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Isto parece que funciona bem quando se trata de uma palestra, mas em um hospital, como
se dá?
Eu respondo sem um tiquinho de dúvida: da mesma forma.
Um hospital é conjuntura; é estrutura é gente.
Mas para ter sucesso, seja na palestra, seja no hospital, falta um ponto crucial que omiti
até agora: OBJETIVO.
Sem objetivo somos que nem cachorro correndo atrás de uma roda de carro, que quando
o carro para não sabe o que fazer.
O meu objetivo é conquistá-los para a ideia de que o trabalho conjunto é o único eficaz
para se alcançar os nossos objetivos e que os nossos objetivos precisam ser construídos
coletivamente para que todos se sintam partícipes e construtores de seus destinos.
Para encerrar, vou projetar três breves filmes que têm muito a ver com esta nossa
conversa.
Vejamos.
Formigas: http://www.youtube.com/watch?v=OxI_IGS9xtQ
Gansos: http://www.youtube.com/watch?v=lEplEOyGVbw
Basquete: http://www.youtube.com/watch?v=mG3o1vG_dEc
Estes três filmes possuem uma característica comum: o trabalho em equipe. As pequenas
formigas trabalhando juntas são capazes de transportar uma barata com um peso muitas
vezes superior aos seus. Já os gansos voam por longas distâncias alternando posições e
distribuindo entre os membros do grupo os esforços da jornada. Mas eles apenas seguem
os seus instintos e nada mais. Já o terceiro filme, além do trabalho em conjunto, agrega
o processo criativo planejado, transfigurado em beleza sublime. Os sons obtidos não sons
comuns. Eles nascem não de um impulso mecânico e automático. Eles são a expressão
do sentimento, da sensibilidade, da interação, do enlevo e até mesmo do trabalho
conjunto.
Isto é uma das coisas que nos diferencia dos outros animais. O nosso trabalho, quando
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planejado (sonhado), quando realizado em conjunto com outras pessoas (compartilhado),
tem a capacidade de ser transformador e transcendental (tocar a alma da pessoa). A
música é o exemplo perfeito desse fato. Numa orquestra, nenhum instrumento é capaz
de, isoladamente, executar uma sinfonia em sua totalidade, mas juntos tornam uma
9.ª, de Beethoven, ou o Poema Sinfônico “Floresta Amazônica”, de Villas-Lobo, algo
maravilhoso.
Meus amigos, outro engenho humano que só funciona bem com um trabalho conjunto e
harmônico é a assistência à saúde.
Por isso, faço um convite para que venhamos juntos executar diariamente, para o bem dos
nossos pacientes e de nós mesmos, a música que trazemos em nossos corações.
Antes de sairmos, apenas duas coisinhas a mais. Em primeiro lugar, vamos entregar ao
professor Lourivaldo, diretor do HUGV, as nossas contribuições para a melhoria do nosso
hospital. Lembre-se, meu caro Lourivaldo, de que elas foram escritas com o melhor dos
nossos corações. E, por último, mas ainda assim não de menor importância, peço que cada
um de nós retire no saco um pedaço de papel onde escrevemos o nome de uma pessoa que
consideramos importante em nosso trabalho e afazeres; e quando estivermos no merecido
coffee break busquemos encontrá-la para que ela saiba que uma pessoa nesta sala a
considera muito especial.
Obrigado
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RESUMO - CATEGORIA ORAL
1. RELATO DE EXPERIÊNCIA DE ATIVIDADES REALIZADAS NA ONG ANJOS DA
ENFERMAGEM E NO PROJETO O BRINCARNO HOSPITAL
ESTEVES,1 Arinete Véras Fontes, MOTTA,1Gisele Aparecida Emílio de Araújo, SOARES,2 Anne Caroline Sampaio, ROCHA,2 Deise Auxiliadora de Freitas, BARBOSA,2 Jacqueline Paula Silva, BINDÁ,2 Josias Mota, DIAS,2 Raissa Simões
INTRODUÇÃO: Desenvolver atividades recreativas com as crianças em ambiente hospitalar
é, hoje, considerada uma atividade indispensável ao atendimento à saúde, reconhecida
pela Lei Federal n.º 11.104/05, onde determina que todos os hospitais pediátricos devam
possuir, em suas instalações, um espaço para a criança doente e hospitalizada brincar.
Diante dessa possibilidade de favorecer atividades recreativas às crianças acometidas por
algum tipo de câncer, hospitalizadas na Fundação Hematologia e Hemoterapia do Amazonas
(FHemoam), a ONG Anjos da Enfermagem e o projeto O Brincar no Hospital podem realizar
atividades lúdicas com as crianças, procurando por meio da brincadeira minimizar o estresse
ocasionado pela doença, seu tratamento e da longa hospitalização à qual a criança com
câncer é submetida. OBJETIVO: Realização de atividades de brincadeiras na ONG Anjos da
Enfermagem e no projeto O Brincar no Hospital com crianças acometidas por algum tipo de
câncer e doenças no sangue, incentivando o riso da criança doente. METODOLOGIA: Trata-
se de um estudo descritivo exploratório de um relato da experiência vivenciada pelos alunos
do curso de graduação de enfermagem da Universidade Federal do Amazonas pelo brincar
com crianças com câncer em ambiente intra-hospitalar, tendo como participantes todas as
crianças hospitalizadas na FHemoam no período de atividade do projeto, aproximadamente 1 Enf.ª docente da Universidade Federal do Amazonas. 2 Discente da Universidade Federal do Amazonas. Contatos: jobinda@gmail.com, arineteveras@bol.com.br, giselemauricio@uol.com.br
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48 crianças. Foi feito uma avaliação por meio dos relatos das mães e/ou acompanhantes legais
das crianças ali hospitalizadas e também das próprias crianças, os quais registraram de forma
escrita de próprio punho os seus relatos. RESULTADOS: Mostram que estes projetos, por meio
da brincadeira, auxiliam a criança a enfrentar de forma mais segura seus medos e ansiedade
nesse ambiente que se apresenta de forma ambígua para elas, como um ambiente que cuida e
cura, mas também que agride por serem necessários a realização de procedimentos invasivos
e tratamentos agressivos. CONCLUSÃO: Diante disso, evidencia-se que o brinquedo auxilia
a criança a enfrentar o desconhecido durante sua permanência no hospital, minimizando o
estresse ocasionado pela doença e hospitalização por meio da brincadeira.
2. ASSISTÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA NA PORFIRIA INTERMITENTE AGUDA
RAMALHO,1 Anilda Nogueira, PALHARES,2 Flávia Ferreira M, ALBUQUERQUE,2 Maria Déborah, FREITAS,3 Caio Guimarães de, SUSUKI,3 Ingrid de Fátima Aquino.
INTRODUÇÃO: A Porfiria Intermitente Aguda (PIA) é um distúrbio hereditário raro de origem
hepática, causada por deficiência enzimática. Geralmente se manifesta após a puberdade e o
sintoma mais comum é a dor abdominal intensa em 80% dos casos e, em situações extremas,
paralisia respiratória e morte. O tratamento da PIA é interdisciplinar, necessitando de
atendimento médico, fisioterapêutico, nutricional, psicológico, entre outros. OBJETIVO: O
objetivo deste trabalho é demonstrar que a atuação da fisioterapia na PIA ajuda a prevenir os
efeitos deletérios da hipoatividade no leito, evitando complicações respiratórias e auxiliando
no bem-estar do paciente. MÉTODOS: Este relatado de caso é de uma senhora de 48 anos,
admitida no Hospital Universitário Getúlio Vargas – HUGV com histórico de epigastralgia,
mioartralgia, febre, infecção do trato urinário, hipertensão arterial sistêmica, neuropatia
periférica e fraqueza muscular progressiva, episódio de perda da consciência e histórico social
1 Fisioterapeuta do Hospital Universitário Getúlio Vargas – HUGV/Ufam e da Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas.2 Fisioterapeuta do Hospital Universitário Getúlio Vargas – HUGV/Ufam. 3 Estagiários do Serviço de Fisioterapia e acadêmicos de Fisioterapia da Universidade Federal do Amazonas, Campus Manaus – Ufam.
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de etilismo. Foram realizadas condutas fisioterapêuticas respiratórias e motoras de manhã
e à tarde, totalizando aproximadamente 500 atendimentos. RESULTADOS: Os resultados
obtidos com a assistência fisioterapêutica foram o aumento da força muscular e da endurance
da musculatura respiratória, os quais contribuíram no desmame da prótese ventilatória e
no restabelecimento do padrão respiratório, além da preservação da biomecânica articular,
ganho de força muscular de proximal para distal, melhora do equilíbrio e do controle de
tronco, permitindo a paciente ficar na postura de sedestação, sem apoio e na ortostática
com o uso de auxiliares de locomoção bilateral. Quanto à independência funcional para as
atividades de vida diária e profissional, ainda estavam parciais no momento da alta, por conta
da limitação dos movimentos finos das mãos e da deambulação. CONCLUSÃO: Conclui-se que
a assistência fisioterapêutica foi fundamental para a recuperação e o melhor prognóstico
funcional, percebendo a contribuição no tratamento ambulatorial, nos casos residuais de
distúrbio neuro-cinético-funcional. Verifica-se, também, a necessidade de mais estudos sobre
as condutas fisioterapêuticas na PIA, contribuindo para a saúde baseada em evidências.
PALAVRAS-CHAVE: Porfiria Intermitente Aguda – PIA, Fisioterapia em Hematologia.
Agradecimentos: à equipe do Serviço de Fisioterapia, do CTI, CEP e direção do HUGV/Ufam
3. ESTUDO ANATÔMICO DA ORELHA HUMANA POR DESCALCIFICAÇÃO DO OSSO TEMPORAL
CARLOS,1 Denny da Silva, DANILOW,2 Juliana Leal, BARCELAR,2 Bruno Rainer, BARCELLOS,3 José Fernando Marques, CARNEIRO,3 Ana Basílio, FURTADO,3 Silvânia Conceição
INTRODUÇÃO: O osso temporal, por sua complexidade anatômica, é de difícil compreensão em
face do grande número de estruturas e funções agrupadas nesse espaço ósseo. Compreender sua
anatomia é extremamente importante para entendimento de fenômenos patológicos, bem como
1 Acadêmico do Curso de Medicina (Ufam); presidente da Liga Universitária de Diabetes e Obesidade (LUDO/HUGV) e integrante do Projeto Teleclin (sessões para o internato).2 Acadêmico do Curso de Medicina (Ufam).3 Professor do Departamento de Morfologia – ICB Correspondências: Universidade Federal do Amazonas – Ufam, Departamento de Morfologia, Instituto de Ciências Biológicas, Campus Universitário, avenida Rodrigo Otávio Jordão Ramos, 3.000, Coroado, CEP: 69077-040, Manaus, AM, Brasil. denny_orc1000@hotmail.com
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para a realização de cirurgias otológicas e neurológicas. OBJETIVO: Realizar o estudo topográfico
da orelha média e interna após descalcificação por acidificação do osso temporal. MÉTODOS:
Foram dissecados seis ossos temporais de três cadáveres adultos, do sexo masculino, e fixados
em formol a 10% do Laboratório de Anatomia da Universidade Federal do Amazonas. Os seis ossos
temporais, sem lesão macroscópica, foram imersos em solução de ácido nítrico a 15% por dois dias.
Posteriormente, foram feitas secções transversais e longitudinais completas e incompletas com
lâminas de micrótomo tendo como referência o meatus acusticus interno até a orelha externa.
Utilizou-se uma lâmina de bisturi para escavar a orelha média e interna e uma lupa para melhor
visualização das estruturas. RESULTADOS: Por meio de uma “janela” aberta na escama do osso
temporal direito e com a retirada da eminentia arcuata, foi possível identificar cochlea, canalis
semicircularis e outras estruturas relevantes ao estudo proposto: cellulae mastoideae, nervus
facialis, corpus incudis, capuz mallei e a articulatio incudomallearis. CONCLUSÃO: Esta técnica
de descalcificação por acidificação proporcionou expor uma melhor topografia da orelha humana,
particularmente de estruturas nobres da orelha média e interna, além de continuar sendo um
método bastante eficiente, podendo ele apresentar baixo custo, sendo de fácil execução e acesso
aos acadêmicos e profissionais da área da saúde, tornando-se clara a identificação das estruturas
internas do osso temporal, normalmente estudadas pelos atlas de Anatomia Humana.
PALAVRAS-CHAVE: Dissecação; Cadáver; Anatomia Humana.
4. POLÍTICA DE SAÚDE E A IMPORTÂNCIA DA ATENÇÃO BÁSICA PARA OS DEMAIS NÍVEIS DE
SAÚDE: UM ESTUDO COM OS IDOSOS USUÁRIOS DAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE E CAIMIS DE MANAUS
SASSAKI,1 Yoshiko, MAIA,2 Danielle Bezerra, PONCE DE LEÃO,3 Alice Alves Menezes, MELO,3 Nathalie Santana de
INTRODUÇÃO: A maior expectativa de vida já experimentada pela população brasileira vem
1 Prof. Dr. Ufam, Manaus-AM. 2 Acadêmica de Serviço Social, Ufam, Manaus-AM. Contato: daniellebmaia@uol.com.br, nathalie_samel@hotmail.com, sassakiyo@uol.com.br, allicyponce@hotmail.com
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desafiando setores públicos e privados, e afetando todas as esferas da vida em sociedade. No
que tange à política de saúde, a base dos serviços está na atenção primária desenvolvida nas
Unidades Básicas de Saúde (UBSs), onde 85% dos agravos de saúde poderiam ser resolvidos nesse
nível (BRASIL/MS, 2006). Suas ações objetivam a identificação de fatores de risco, a promoção
da saúde, ações de prevenção e tratamentos simples de doenças, configurando-se como porta
de entrada do sistema. OBJETIVO: Desse modo, objetivamos analisar a condição de saúde e os
serviços de assistência à saúde disponibilizados nas UBSs e Caimis (Centro de Atenção Integral
à Melhor Idade), de Manaus, visando à compreensão do bom funcionamento do sistema.
Foram selecionadas cinco UBSs de cada zona (Leste e Sul) e três Caimis existentes, e aplicados
formulários semiestruturados a cento cinquenta idosos. RESULTADOS: As análises sobre as
políticas de saúde revelam os reflexos da influência neoliberal, contrário aos investimentos nas
políticas sociais. Por conseguinte, os níveis de eficiência e a qualidade dos serviços prestados
em saúde podem não alcançar os índices esperados. A municipalização de saúde ocorrida
na atenção básica em 2003 na cidade de Manaus, de fato, ainda é precária e parcial. Pois,
demagogicamente, o Governo do Estado mantém os Centros de Atenção Integral à Melhor
Idade – Caimis concorrendo paralelamente com as UBSs e Saúde da Família do Município,
realizando os mesmos serviços. A pesquisa apontou que os idosos, usuários das UBSs, procuram
majoritariamente os serviços clínicos por meio de consultas, encaminhamentos e remédios,
centralizando a figura do médico e do enfermeiro, haja vista que os serviços oferecidos nas
UBSs restringem-se a esses atendimentos rotineiros, não existindo um trabalho em educação
em saúde nas esferas de promoção e prevenção, como prescreve a Política de Atenção
Básica. Nos Caimis, a maioria dos idosos procura as atividades que oferecem a ampliação
de seu círculo social, ocupando a mente ociosa. Essa capacidade de interagir socialmente é
fundamental para o idoso, a fim de que ele possa conquistar e manter as redes de apoio social e
garantir maior qualidade de vida. Verificou-se nas dez Unidades Básicas de Saúde selecionadas
e nos três Caimis que cerca de 60% dos idosos entrevistados manifestam Hipertensão, 21%
são portadores de Diabetes, 29% têm Reumatismo, 12% Colesterol e 24% apresentam outras
doenças. Nos Caimis, embora não seja instituído o Programa de Hiperdia como nas UBSs, a
rotina de atendimento ao hipertenso e diabético é similar, com um diferencial de oferecer
serviços de atividade física, médicos especializados nas principais doenças que afetam os
idosos, bem como apoio psicológico e social. CONCLUSÃO: O estudo revelou que a atenção
básica de saúde se configura fundamental para o tratamento e manutenção da saúde do estrato
populacional que mais demanda serviços de saúde: os idosos. Apontando que quanto maior
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for o investimento em ações preventivas e promoção em saúde, menores serão os gastos nos
demais níveis do sistema.
PALAVRAS-CHAVE: Política de Saúde, Atenção Básica, Envelhecimento.
5. PREVALÊNCIA DAS INTERNAÇÕES POR PNEUMONIAS EM MANAUS
CARVALHO,1 Maria Auxiliadora Neves de, CARVALHO,2 Bruna Cecília Neves de, PADILLA,2 Rodrigo, FONSECA,2 Igor Gióia, CARDOSO,2 Marcelo Viana Carlos
INTRODUÇÃO: A pneumonia é a complicação mais temida das Infecções Respiratórias
Agudas (IRAs), as quais constituem a principal causa de hospitalizações e consultas médicas
em crianças de 0 a 18 anos, tanto nos países ricos quanto nas regiões em desenvolvimento,
sendo mais prevalentes em áreas urbanas. Em Manaus, a prevalência de IRAs é de 53,9%
em menores de 5 anos (SEMSA, 1996). A magnitude da pneumonia é corroborada por
diversos fatores, como nível socioeconômico, vulnerabilidade da faixa etária, desnutrição,
aleitamento materno, baixo peso ao nascer, aglomerações e condições climáticas, como
poluição e períodos de chuva. OBJETIVO: O estudo tem como objetivo avaliar a prevalência
das internações por Pneumonias em crianças na cidade de Manaus. METODOLOGIA: Trata-se
de um estudo descritivo transversal de caráter retrospectivo que visa mensurar a prevalência
das internações por Pneumonias na cidade de Manaus. Foram analisadas internações de
crianças de 0 a 18 anos no Hospital Infantil Dr. Fajardo (referência clínica e cirúrgica em
pediatria em Manaus), no período de outubro de 2003 a outubro de 2008. Foram analisados
15.352 pacientes. Os dados coletados foram organizados e subdivididos em internações
por pneumonias e outras internações para então serem analisados. RESULTADOS: O total
de internações por pneumonias foi de 4.725 pacientes em cinco anos, a média mensal de
internações foi de 252 crianças e destas 77 internações foram por pneumonia. Observou-
1 Professora da disciplina de Pediatria, professora orientadora da Residência de Pediatria e Cirurgia Geral do Hospital Universitário Getúlio Vargas, mestra em Patologias Tropical – Ufam – Manaus-AM. 2 Estudante do 4.º ano de Medicina – Ufam – Manaus-AM. Contato: e-mail: auxliadoraneves@ufam.edu.br
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se uma prevalência de 30,75% de crianças internadas com pneumonia. A maior prevalência
foi observada nos meses de outubro de 2004, abril dos anos de 2005, 2006, 2007 e maio
de 2008. DISCUSSÃO: A prevalência de internações por PNM observada no Hospital Infantil
Dr. Fajardo mostrou-se superior a outros trabalhos que também analisaram a prevalência
das internações por pneumonia no Brasil e restante do mundo. De acordo com o Serviço de
Vigilância Epidemiológica da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), no Brasil somente 2,5%
das internações pelo SUS em 2002 foram por Pneumonia. Outro estudo realizado no Rio de
Janeiro as internações de crianças de 6 a 14 anos por problemas respiratórios representaram
11,6%, sendo 6,3% por pneumonias. Também foram observados estudos que compartilham
uma semelhança entre a prevalência encontrada. Um estudo realizado no Rio Grande do
Sul mostrou que as pneumonias são responsáveis por até 29,8% das internações pelo SUS
e 19% das internações gerais. Quando isoladas, as internações pediátricas por doenças
respiratórias satisfazem 51,6% das internações pelo SUS (GODOY, 2001). Acredita-se que
as maiores prevalências nos meses de abril e maio são pelo clima de Manaus, que nessa
época é marcado por muitas chuvas, embora não se possa afirmar, pois não há evidências
confiáveis para a comparação. CONCLUSÃO: A prevalência das internações por pneumonia
na cidade de Manaus mostrou-se superior à literatura mundial, quando se comparou com
os dados da Funasa. Não se atribuiu uma causa para tal diferença, sendo necessários mais
estudos epidemiológicos para uma possível explicação.
PALAVRAS-CHAVE: Prevalência, Hospitalização, Pneumonia.
1 Professora da disciplina de Pediatria e professora orientadora da Residência de Pediatria e Cirurgia Geral, mestrando em Patologia Tropical – Ufam – Manaus-AM. 2 Estudante do 4.º ano de Medicina – Ufam – Manaus-AM. Contato: e-mail: auxliadoraneves@ufam.edu.br
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6. CISTOS BRONCOGÊNICOS – IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
CARVALHO,1 Maria Auxiliadora Neves de, CARVALHO,2 Bruna Cecília Neves de, PADILLA,2 Rodrigo, WESTPHAL,2 Danielle Cristine
INTRODUÇÃO: Os cistos broncogênicos são originários de um defeito na embriogênese da
árvore brônquica primitiva durante a terceira semana de gestação e representam entre
6 e 15% das massas mediastinais. Quanto à localização, são divididos em cinco grupos:
paratraqueal, carinal, hilar, paraesofagiano e miscelânea, sendo a localização paratraqueal
a mais frequente. Caso ocorram precocemente, essas malformações tendem a localizar-
se no mediastino e, quando mais tardiamente, localizam-se no parênquima pulmonar.
OBJETIVO: Descrever a importância do diagnóstico diferencial de cistos broncogênicos
com abscessos pulmonares assim como com pneumatocelese e a importância de se fazer
diagnóstico e tratamento precoce para se evitar pneumonias de repetição e óbitos por
sepse. SÉRIE DE CASOS: PSL, 1 mês de vida, nascido de parto cesariano, segundo gemelar,
evoluiu logo após o nascimento com taquipneia. O RX de tórax evidenciou imagem de
hipertransparência arredonda e com nível líquido em lobo inferior direto, a tomografia
de tórax evidenciou uma lesão cística de conteúdo aerado e líquido, sugestiva de cisto
broncogênico, essa lesão envolvia todo o lobo inferior desviando e comprimindo o lobo
médio e superior do pulmão direito, assim como o mediastino e o pulmão contralateral. O
paciente foi submetido à toracotomia com lobectomia de lobo inferior direito, evoluindo
com melhora da dispneia e da expansibilidade direita e esquerda. O laudo histopatológico
revelou tratar-se de um cisto broncogênico. MSL, 9 anos de idade, sexo masculino, natural
de Tefé, possuía história de episódios pneumônicos, com um, quatro e oito anos de idade,
respectivamente. Foi submetido à pleurostomia com drenagem fechada no segundo episódio
pneumônico com a suspeita de abscesso pulmonar. O RX de tórax do paciente mostrava uma
imagem arredondada volumosa de conteúdo líquido localizada em lobo inferior de pulmão
direito que comprimia os lobos pulmonares adjacentes. A tomografia de tórax evidenciou
a presença de lesão cística aerada em lobo inferior de pulmão direto sugestiva de cisto
broncogênico, o menor foi submetido à toracotomia com lobectomia inferior direita e
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o exame histopatológico mostrou tratar-se de um cisto broncogênico, evoluiu bem no
pós-operatório com re-expanção pulmonar bilateral. DISCUSSÃO: Os cistos broncogênicos
mediastinais representam a malformação mais comum como causa de massa mediastinal,
acometem com mais frequência o lobo inferior do pulmão direito. Geralmente são
assintomáticos, constituindo achado radiológico acidental, porém podem apresentar dor
torácica, tosse, dispneia, febre, hemoptise e disfagia por conta da compressão, infecção
ou irritação de estruturas adjacentes. Uma vez diagnosticados, está indicada a ressecção
cirúrgica na presença ou ausência de sintomas, pela alta incidência de complicações. A
importância do diagnóstico diferencial com abscesso ou pneumatolceles se faz necessário,
pois o tratamento é diferente entre essas patologias. A abordagem cirúrgica preconizada
na literatura médica envolve a ressecção completa do cisto ou lobectomia por toracotomia
ou por videotoracoscopia. CONCLUSÃO: Lesões císticas aeradas pulmonares não traduzem
somente empiemas, abscessos pulmonares ou pneumatoceles, mas podem tratar-se de
cistos broncogênicos, que exigem tratamento cirúrgico por meio de toracotomias ou
toracoscopias e a pleurostomia com drenagem fechada não resolve, podendo até retardar
ou piorar o tratamento dessas patologias.
PALAVRAS-CHAVE: Cisto Broncogênico/Diagnóstico, Cisto Broncogênico/Cirurgia, Pulmão.
7. TERATOMA CERVICAL GIGANTE –UMA EMERGÊNCIA NEONATAL/ IMPORTÂNCIA
DO DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL
CARVALHO,1 Maria Auxiliadora Neves de, CARVALHO,2 Bruna Cecília Neves de, PADILLA,2 Rodrigo, WESTPHAL,2 Danielle Cristine
INTRODUÇÃO: Os teratomas correspondem a tumores derivados das células germinativas
contendo os três folhetos: ectoderma, endoderma e mesoderma. Apenas 181 casos de
teratoma cervical foram descritos na literatura até o ano de 2002. Os de localização cervical
compreendem 3 a 5% dos teratomas e apresentam uma incidência de 1: 20.000 a 40.000
nascidos vivos. Não há relação com idade, sexo ou raça. O comprometimento das vias aéreas
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
é a complicação mais importante (obstrução) pelo tumor cervical. O polidrâmnio sugere a
ocorrência de obstrução traqueo-esofágica, pois o tumor pode dificultar a deglutição do
feto. Os teratomas cervicais são tumores geralmente volumosos, variando de 5 a 12 cm nos
seus maiores diâmetros, podendo causar hipoplasia mandibular. Seu diagnóstico diferencial
deve ser realizado com outras massas cervicais, como o higroma cístico, o bócio fetal e o
linfangioma. OBJETIVO: Enfatizar a importância do diagnóstico pré-natal dessas tumorações
para que medidas sejam tomadas por ocasião do nascimento para salvaguardar a vida desses
RN e revisão da literatura sobre o tema. SÉRIE DE CASOS: JBN e MAS, ambos recém-nascidos
do sexo masculino, diagnosticados intraútero como portadores de tumoração cervical a
esclarecer, nascidos de parto cesariano com 38 e 39 semanas de gravidez, respectivamente,
apresentaram imediatamente, após o parto, síndrome do desconforto respiratório progressivo
provocada pela volumosa tumoração cervical que comprimia e desviava a traqueia dificultando
a respiração. Ambos foram intubados e receberam assistência ventilatória mecânica nas
primeiras horas de vida tendo sido submetidos à ressecção da tumoração cervical no 7.º
e 10.º dias de vida, respectivamente, tendo evolução satisfatória com recuperação da
respiração normal, fonação e mobilização cervical. O diagnóstico histopatológico de ambos
os casos detectou que se tratava de teratoma cervical maduro, tendo sido ambos submetidos
à quimioterapia no pós-operatório, ambos encontram-se assintomáticos após 2 e 3 anos,
respectivamente, do término do tratamento cirúrgico e quimioterápico. DISCUSSÃO: Os
teratomas são os tumores mais comuns na primeira e segunda infâncias e localizam-se,
preferencialmente, nas gônadas, raramente apresentando-se em outros locais. Apesar
de serem neoplasias benignas em sua maioria, quando não tratadas evoluem para óbito
em até 80% dos casos. O diagnóstico pré-natal é de fundamental importância no preparo
da equipe para procedimentos de emergência, já na sala de parto. A obstrução de vias
aéreas impõe, muitas vezes, intubação ou intervenção imediata pela traqueostomia. A
ultrassonografia tem sido utilizada desde 1977 no diagnóstico dos teratomas cérvico-faciais,
tendo como vantagens facilidade de acesso, confiabilidade e capacidade de detectar outras
malformações fetais associadas. A imagem da ultrassonografia revela uma massa sólido-
cística localizada em região cervical do feto. O tratamento por meio de ressecção cirúrgica
precoce de todo o tumor constitui-se na abordagem mais adequada dessa patologia, pois a
degeneração maligna ocorre em até 90% dos casos não tratados até a adolescência ou vida
adulta, e a excisão cirúrgica geralmente é curativa. CONCLUSÃO: Apesar da raridade dos
teratomas cérvico-faciais (3%), o diagnóstico pré-natal é de fundamental importância para
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
o estabelecimento precoce de terapêutica cirúrgica com melhoria do prognóstico.
PALAVRAS-CHAVE: Teratoma, Cérvico-Facial, Obstrução das Vias Respiratórias.
8. A INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA EM PACIENTES PORTADORES DE LESÃO MEDULAR
ANDRADE,1 Andréa Costa de, MATSDORFF,2 Karen Dalila Karl, FRANCO,2 Kelly Silva, MACÊDO,1 Maria Geórgia Duarte de
INTRODUÇÃO: A lesão medular pode implicar em perda de movimentos voluntários e
sensibilidade dos membros superiores e/ou inferiores, e em alterações no funcionamento
do sistema urinário, intestinal, respiratório, circulatório, sexual e reprodutivo. Nesse
contexto, diversos outros fatores (social, emocional, familiar, profissional) são afetados
comprometendo a saúde psicológica do paciente. Assim, a intervenção da clínica
psicológica é elemento complementar e integrador no processo de reabilitação do lesado
medular. OBJETIVOS: Auxiliar o paciente na identificação e compreensão de suas reações
emocionais diante da hospitalização e das limitações ocasionadas pela lesão medular, e
de demais fatores implicados no processo de tratamento, contribuindo para seu progresso
na reabilitação. MÉTODOS: A intervenção psicológica a tais pacientes ocorre em dois
momentos dentro do HUGV: o primeiro na Clínica de Neurologia, pelo Paps (Programa de
Atenção ao Paciente Sequelado) em ocasião da hospitalização, e o segundo no Ambulatório
Araújo Lima, como parte do Programa de Atividades Motoras Para Deficientes – Proamde,
voltado para o indivíduo deficiente não hospitalizado. Tanto em nível de internação
hospitalar quanto na pós-internação, os atendimentos são realizados individualmente,
porém trabalhando-se em equipe interdisciplinar junto a nutricionistas, educadores físicos,
pedagogos, fisioterapeutas, assistentes sociais, enfermeiros e terapeuta ocupacional.
Utilizam-se as abordagens Psicanalítica e Cognitivo-Comportamental, como estratégias
terapêuticas de intervenção clínica. Além do acompanhamento dado ao paciente lesado
1 Psicólogas2 Estagiárias de Psicologia ClínicaContato:psi_kelly@yahoo.com.br; karenmatsdorff@hotmail.com, deastein@ig.com.br
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medular, também é feito aos acompanhantes. RESULTADOS: Observa-se que no período
de internação, os aspectos psicológicos mais prementes nesses pacientes são: angústia,
ansiedade, humor deprimido, irritabilidade, medo de invalidez, e geralmente estão
relacionados ao distanciamento de suas atividades sociais, profissionais e da família. Além
disso, a difícil adaptação à rotina hospitalar (realização de exames, espera pela cirurgia,
intervenção de muitos profissionais, não aceitação da dieta oferecida) e outros fatores
como os efeitos secundários dos medicamentos e o total ou parcial desconhecimento
do diagnóstico, prognóstico e do tratamento clínico podem acometer o paciente lesado
medular de algum sofrimento psíquico. No caso dos pacientes não hospitalizados atendidos
pelo Proamde, nota-se que as vivências psicológicas estão mais associadas à diminuição das
funcionalidades fisiológicas e motoras, à perda da autonomia e consequente dependência
dos familiares para realização de tarefas cotidianas, afastamento das atividades sociais/
profissionais, e rompimento ou limitações na vida sentimental/sexual. CONCLUSÃO: A
partir da compreensão dos diversos fatores desencadeadores dos aspectos psicológicos
vivenciados pelo indivíduo deficiente motor, é possível planejar e organizar um trabalho
de intervenção interdisciplinar focado nas necessidades específicas de cada pessoa. Este
trabalho envolve a escuta e orientações psicoeducativas aos familiares cuidadores do
deficiente para melhor compreensão da dinâmica pessoal de enfrentamento à dificuldade
física, e execução de atividades planejadas, contribuindo para o progresso no processo de
reabilitação.
REFERÊNCIAS
RIBEIRO, Andréia Carolina L. Reações emocionais frente à lesão medular e algumas
implicações no processo de reabilitação. In: Romano, Bellkiss Wilma (Org.). A Prática da
Psicologia nos Hospitais. São Paulo: Pioneira, 1994.
ROMANO, Bellkiss W. Princípios Para a Prática da Psicologia Clínica nos Hospitais. 2. ed.
São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
SIMONETTI, Alfredo. Manual de Psicologia Hospitalar: o mapa da doença. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 2004.
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
9. RELATO DE CASO: SARCOMA DE KAPOSI EM TRANSPLANTADO RENAL EM USO DEFK-506
MATOS. J. C,1 ARAÚJO, R. I., AZEVEDO. J. A.
INTRODUÇÃO: O aumento da incidência de certas neoplasias é uma das maiores complicações
da terapia imunossupressora introduzida depois do transplante renal. Dentre estas, o
sarcoma de Kaposi apresenta incidência de 5,6% em recipientes de órgão transplantado.
O SK é neoplasia multicêntrica cutânea e extracutânea primeiramente descrita por Moritz
Kaposi em 1872. Existem quatro subtipos de sarcoma de Kaposi descritos na literatura,
sendo o terceiro subtipo relacionado à instituição de imunossupressão iatrogênica,
principalmente em transplantados. A administração de novos imunossupressores, entre
eles o FK-506, está relacionada com diversos efeitos colaterais. Entre os efeitos colaterais
de maior incidência em transplantados recebendo terapia imunossupressores encontram-se
as verrugas virais e os carcinomas cutâneos, como o carcinoma epidermoide e o carcinoma
basocelular. OBJETIVO: Relatar o caso de transplantado renal evoluindo com SK sete meses
após o transplante renal. MÉTODOS: RELATO DO CASO: Paciente do sexo masculino, de 24
anos, pardo, submetido a transplante renal doador vivo em 29 de agosto de 2007 por conta
de insuficiência renal crônica de causa indeterminada. Sete meses após o transplante,
iniciou quadro de ascite volumosa com necessidade de paracenteses de repetição,
astenia, inapetência e surgimento de linfonodomegalias inguinais disseminadas. A terapia
imunossupressora estava sendo realizada com FK-506 (10 mg/dia), MMF (1,5 g/dia) e
prednisona (7,5 mg/dia). Ao exame, apresentava ascite volumosa e linfonodomegalias
inguinais disseminadas, não dolorosa. A biópsia de ambas as lesões confirmou o diagnóstico
de sarcoma de Kaposi (SK). Paciente foi encaminhado ao serviço de oncologia (Fcecon)
sendo decidido pela suspensão dos imunossupressores. Atualmente, o paciente encontra
se em remissão da doença e programa dialítico três vezes por semana em clínica de
hemodiálise. RESULTADOS: Remissão do SK após suspensão da terapia imunossupressora
e início quimioterapia. CONCLUSÃO: Na medida em que se verifica o elevado número de
transplantes que vêm sendo realizados e com o uso de novos agentes imunossupressores,
entre eles o FK-506, é provável que nos próximos anos venha a ocorrer elevação na
frequência de SK em pacientes transplantados.
1 E-mail: juliana_matos@hotmail.com
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10. IMUNO-HISTOQUÍMICA DO PÂNCREAS E EXPRESSÃO DAS PROTEÍNAS DA VIA DE SINALIZAÇÃO DA INSULINA NO MÚSCULO E FÍGADO DE RATOS DIABÉTICOS TRATADOS
COM O EXTRATO DA VATAIREA MACROCARPA
BAVILONI, P. D, SANTOS, M. P., AIKO, G. M, SOUSA JR, P. T., COLODEL, E. M., KAWASHITA, N. H. Instituto de Ciências Exatas e da Terra, Departamento de Química, UFMT, Cuiabá/MT
INTRODUÇÃO: Muitas espécies de plantas são conhecidas na medicina popular por
suas propriedades hipoglicemiantes. A Vatairea macrocarpa é uma espécie do cerrado
brasileiro, popularmente conhecida como amargoso, maleiteira e angelim-do-cerrado,
cuja preparação na forma de chá é utilizada pela população no tratamento do diabetes.
Estudos iniciais em nosso laboratório constataram atividade antidiabética do extrato
etanólico da V. macrocarpa na dose de 500 mg/kg (Journal of Ethnopharmacology, vol.
115:515–519), quando administrado subcronicamente. OBJETIVO: O presente trabalho
teve como objetivo investigar o efeito do extrato em nível pancreático e sobre a
expressão proteica do IR, IRS1 e AKT, que fazem parte da via de sinalização da insulina.
METODOLOGIA: Ratos Wistar machos, diabéticos (estreptozotocina 42 mg/kg, iv), com
peso aproximado de 200 g, foram tratados com extrato bruto etanólico da V. macrocarpa
na dose de 500 mg/kg ( DT500) ou veículo (DC). Após 21 dias de tratamento, os animais
foram eutanasiados e retirados o fígado e músculo para determinação do conteúdo de IR,
IRS1 e AKT (Western-blot) nesses tecidos e o pâncreas para avaliar o conteúdo de insulina
(Elisa). A dosagem de proteínas foi realizada pelo método de Lowry. Secções do pâncreas
foram imunocoradas para insulina, utilizando a técnica de imunoperoxidase. Os dados são
apresentados como média ± erro padrão, a intensidade das bandas foi determinada por
meio de leitura das autorradiografias reveladas por densiometria ótica, sendo considerada
diferença estatística p < 0,05 (T-Student). RESULTADO E CONCLUSÃO: O tratamento não
alterou a expressão de IR e AKT no fígado e músculo. Houve um aumento na expressão
proteica (µg/µL) de IRS1 somente no fígado dos animais DT500, quando comparado ao grupo
DC (DC=80,9 ± 4,5 e DT500 = 97,4 ± 3,8). O conteúdo de insulina pancreática (µg/pâncreas)
não diferiu entre os grupos avaliados (DC-21° dia = 0,67 ± 0,02 e DT500 -21°dia = 0,58
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
± 0,13). Corroborando esses achados, não foram observadas alterações significativas na
imuno-histoquímica do pâncreas dos animais DT500. Esses achados sugerem uma possível
melhora na ação periférica da insulina, o que pode contribuir para o efeito antidiabético
do extrato.
PALAVRAS-CHAVE: Diabetes, Insulina, Vatairea macrocarpa.
11. SORO PREVALÊNCIA DO HTLVI-II EM PACIENTES HIV POSITIVOS ATENDIDOS NA FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL
DOAMAZONAS – FMT-AM
LINS,1 Ruth Milagros Vasquez Delgado, SILVA,2 Sabrina Silva da, BACELAR,3 Bruno Rainer Borges; SARDINHA,1 José Felipe Jardim; SOUZA,1 Luciana Orêncio de; CÂMARA,1 Julita do Nascimento; LUCENA,4 Noaldo de Oliveira
INTRODUÇÃO: O HTLV-I (Vírus Linfotrópico de Células T Humanas tipo I) foi o primeiro
retrovírus humano descrito apresentando tropismo por linfócitos T CD4+ e CD8+.
Inicialmente foi associado com a Leucemia de Células T do Adulto e posteriormente foi
associado a doenças neurológicas, como a Paraparesia Espática Tropical e Mielopatia. O
HTLV-II apresenta diferenças antigênicas em relação ao HTLV-I e encontra-se em raros
casos neurológicos. Existem quatro subtipos moleculares do HTLV-II (IIa, IIb, IIc e IId). No
Brasil, doadores de sangue, populações indígenas, usuários de drogas injetáveis e gestantes
constituem as principais fontes de informações sobre esse vírus. O país possui ainda o
maior número absoluto de indivíduos soropositivos para HTLV-I, sendo Bahia, Pernambuco
e Pará os Estados com maior prevalência. O HTLV-I/II e HIV apresentam características
biológicas distintas, embora compartilhem os mesmos aspectos epidemiológicos, por isso
é comum a detecção de dois ou mais desses vírus infectando o mesmo hospedeiro. O
HTLV caracteriza-se pela alta taxa de replicação ativa e apresenta significativa atividade
1 Farmacêutico-bioquímico da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas – FMTAM. 2 Acadêmica do curso de Farmácia-Bioquímica da Universidade Paulista (Unip). 3 Acadêmico do curso de Medicina da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). 4 Médico da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas – FMTAMContato: e-mail: brunorainer@hotmail.com
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citopática, reduzindo as populações de células CD4+. O HIV apresenta baixa taxa de
replicação, com multiplicação predominante clonal, apresentando estímulo à proliferação
linfocitária, ocorrendo o desenvolvimento de doença clínica em uma minoria de indivíduos
infectados. Uma possível coinfecção desses vírus ocasiona mudanças significativas no
padrão da evolução clínica e laboratorial dessas infecções, dificultando a interpretação
do quadro apresentado pelo indivíduo. OBJETIVOS: Estimar a soroprevalência da infecção
pelo HTLV-I/II, em pacientes HIV positivos atendidos na FMT-AM. METODOLOGIA: O projeto
realizou o estudo da soroprevalência do vírus HTLV-I/II, em amostras de sangue total
de pacientes HIV positivos, atendidos na FMT-AM com idade maior ou igual a 18 anos.
Pretendia-se uma amostra de 200 voluntários em um período de dez meses. O diagnóstico
sorológico foi realizado por meio do Elisa. Os soros que apresentavam reatividade inicial
no teste de Elisa foram testados pelo método complementar Western Blot. As amostras de
soros que apresentavam reação positiva ou indeterminada no método Western Blot foram
submetidas a PCR. RESULTADOS: Foram analisados 200 soros de pacientes HIV positivos
atendidos na FMT-AM. Desse total, 121 (60,5%) do sexo masculino e 79 (39,5%) do sexo
feminino, apresentando idade que variaram de 18 a 62 anos. Na análise de HTLV-I/II,
cento e noventa e oito (99%) amostras sorológicas apresentaram a não reatividade e dois
(1%) apresentaram a reatividade para o teste. Todas as 200 amostras foram testadas pela
técnica de Elisa. CONCLUSÃO: A soroprevalência do HTLV-I/II em pacientes HIV positivos, no
total de 200 amostras sorológicas que foram submetidas e analisadas mediante a técnicas
laboratoriais, apresentou 1% (2/200) de positividade para o teste. O presente estudo
fornece evidências de coinfecção de HTLV-I/II e HIV, podendo ocasionar mudanças clínicas
e laboratoriais, dificultando a interpretação do quadro. A distribuição do vírus presentes
em áreas urbanas propicia uma situação única na busca de respostas para patogenicidade
do vírus e possíveis associações etiológicas, em coinfecção ou não.
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12. PREVALÊNCIA DE FATORES DE RISCOS CARDIOVASCULARES EM PACIENTES
CARDIOPATAS DO INSTITUTO DO CORAÇÃO NO AMAZONAS
ALMEIDA,1 Rosemary Alves de, ELAMIDE,1 Bruno Corrêa, PEDROSA,1 Christine Rondon, SILVA,1 Ana Carolina Santos, MAIA,1 Tiago Azevedo, TERRAZAS,2 Mariano Brasil
INTRODUÇÃO: No Brasil, em 2008, as doenças cardiovasculares (DCVs) foram responsáveis
por mais de 30% dos óbitos. Considerando a doença estabelecida, a permanência de
exposição a seus fatores de risco, que em sua grande maioria são fatores modificáveis,
está associada à maior número de hospitalizações e a um pior prognóstico. OBJETIVO:
Conhecer a prevalência de fatores de riscos associados às DCVs em pacientes cardiopatas
diagnosticados há pelo menos um ano. MÉTODOS: Foi realizado um estudo de coorte
transversal em um centro de referência no tratamento de DCVs considerando a demanda
espontânea do serviço. Participaram do estudo um total de 110 indivíduos, a participação
no estudo se deu mediante a leitura do TCLE e consequente aceitação dos procedimentos
a serem realizados. Foi aplicado questionário padronizado e realizada a mensuração do
Índice de Massa Corpórea (IMC) e da circunferência abdominal (CA), de acordo com as
diretrizes estabelecidas pela Associação Brasileira de Hipertensão, 2006. RESULTADOS:
Dos 110 indivíduos que comporam a amostra, 45,5% eram do sexo feminino e 54,5% do sexo
masculino. Quanto aos hábitos considerados de risco: 65,5% afirmaram ser sedentários,
42,7% consideram-se estressados, 35,5% afirmaram ser tabagistas e 26,4% relataram
consumir álcool periodicamente. Quanto ao IMC, 41,8% apresentavam-se dentro dos índices
de normalidade; 23,6% foram classificados apresentando sobrepeso; 25,5%, obesidade
grau I e 9,1% obesidade grau II; neste estudo não foram encontrados pacientes portadores
de obesidade grau III. A média da circunferência abdominal constou de 88,9 cm no sexo
feminino e 104,9 cm no sexo masculino. Quanto à co-morbidades associadas: 41,8% dos
pacientes eram hipertensos, 12,7% diabéticos e 36,4% apresentavam alterações nos lípides
sanguíneos. CONCLUSÕES: Os resultados deste estudo demonstraram que os fatores de
1 Alunos da Graduação do Curso de Medicina da Ufam. 2 Professor titular do Departamento de Clínica Cirúrgica da Ufam
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risco associados às DCVs apresentam prevalência significativa em indivíduos cardiopatas
diagnosticados. Assim, os dados apresentados assumem caráter de alerta, pois mudanças
no estilo de vida destes são fundamentais para um melhor prognóstico.
13. EFEITO HIPOGLICEMIANTE DO EXTRATO BRUTO ALCOÓLICO DAS FOLHAS DA DAVILLA
ELLIPTICA ST. HILL
SANTOS, M. P, BAVILONI, P. D, AIKO, G. M, BAVIERA, A. M, KAWASHITA. N. H. Instituto de Ciências Exatas e da Terra – Departamento de Química, UFMT-MT
INTRODUÇÃO: A Davilla elliptica é uma planta do cerrado conhecida como lixeirinha, cipó-
caboclo e pau-de-bugre; utilizada popularmente no tratamento da hemorroida, diarreia e
ferimentos. Estudos relatam a presença de substâncias antioxidantes em sua composição
e a contribuição de substâncias com essa propriedade na melhoria do diabetes. Pesquisas
mostram a relação benéfica de substâncias antioxidantes com o diabetes. A constatação da
presença de substâncias antioxidantes na D. elliptica (Phytochem Anal. 19 (1):17-24, 2008)
motivou a investigação dos efeitos antidiabéticos do extrato dessa planta, que, no entanto,
não foram confirmados em experimentos subcrônicos. OBJETIVOS: Complementando estes
estudos anteriores, foi nosso objetivo avaliar uma possível atividade hipoglicemiante aguda
do extrato que pudesse contribuir no controle do diabetes. METODOLOGIA: Ratos Wistar
machos (±200 g), diabéticos (estreptozotocina 42 mg/kg) e não diabéticos, foram tratados
(v.o) com extrato bruto alcoólico (70%) das folhas da D. ellipitica nas doses de 250 e 500
mg/kg (DT250, DT500, NT250 e NT500) ou veículo (DC e NC). O efeito hipoglicemiante
foi investigado no teste de tolerância a glicose (TTG) e sobre a glicemia de jejum e pós-
prandial, determinada no tempo 0, e em intervalos de 30 até completar 240 minutos.
No TTGO, os animais receberam glicose (25 g/kg) pós-jejum de 15h. Foi determinada
a glicemia antes (t=0) e após (15, 30, 45, 60, 75 e 90 min) a administração da glicose
ou glicose+extrato. A determinação da glicose plasmática foi realizada utilizando o kit
Labtest e os resultados expressos como média da área sob a curva ± EPM. Estatística-
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Anova uma via (p< 0,05). RESULTADO/CONCLUSÃO: Apesar de uma pequena redução da
glicemia pós-prandial aos 60 minutos no grupo DT500 em relação à DC, nenhuma das
doses do extrato apresentou efeito sobre as glicemias de jejum e pós-prandial quando
avaliado pela área sob a curva. No grupo DT500, o extrato impediu a elevação da glicemia
dos animais ao nível dos DC no período de 15-30 min. atingindo o pico de glicemia 30
minutos após os animais DC. A área sob a curva da glicemia dos animais diabéticos (DC=
29338 ±2883; DT250=30594±3692; DT500=28234±2753) e não diabéticos (NC=14878±335;
NT250=14407±728; NT500=13616±618 mg/dL.240 min) não foi alterada pelo tratamento. A
administração do extrato na dose de 500 mg/kg causou uma menor elevação da glicemia
nos primeiros 15-30 minutos no TTGO, que sugere retardo na absorção intestinal da glicose,
o que pode contribuir para o controle da glicemia pós-prandial.
14. MEDENSINA E CTA, UMA GRANDE MEDIDA NO COMBATE CONTRA AS DOENÇAS
SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS NA POPULAÇÃO DA CAPITAL DO ESTADO DO
AMAZONAS
BINDÁ, A.G.L;1 ROGRIGUES, A.B.O;1 LIMA, A. A. de;1 CARDOSO, M.V.C;1 OLIVEIRA, G.F;1 NOGUEIRA, R.W;1 SILVA, M.A.F1
INTRODUÇÃO: Apesar do grande número de atividades tanto informativas quanto
educacionais no controle das doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) existentes na
capital do Estado do Amazonas, sabe-se que, segundo a literatura, ainda é grande o número
de pacientes acometidos por essas doenças em todo o Estado. É nesse contexto que o
projeto MedEnsina e o programa CTA, vinculado ao Hospital Universitário Getúlio Vargas
(HUGV), uniram forças para mais uma grande causa: levar informação, fazer triagem e
tratamento do pacientes portadores de DSTs. OBJETIVO: Combater a proliferação de
doenças sexualmente transmissíveis no sangue por meio de atividades educativas e coletas
de sangue nos serviços públicos de saúde existentes na capital do Estado do Amazonas.
128 revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
METODOLOGIA: Semanalmente, acadêmicos dos cursos de psicologia, serviço social e
medicina se dividem, respectivamente, na segunda, quarta e sexta-feiras, para palestrarem
sobre as DSTs e suas formas de prevenção. A palestra é realizada na sala de marcação de
exame do HUGV. A rotina dos integrantes do projeto consiste na convocação e explicação
aos pacientes sobre o projeto e a importância da pesquisa de DSTs. Vale ressaltar que são
convocados principalmente os acompanhantes de pacientes internados no HUGV. Após isso,
é realizada a palestra sobre as DSTs e as principais formas de prevenção. Para finalizar, é
feito a triagem, para a avaliação dos fatores de risco, e o encaminhamento dos pacientes
ao laboratório do HUGV para a coleta do sangue. Após vinte dias, é marcado o retorno dos
pacientes para a entrega de resultados. Quando existe positividade para alguma das DSTs
pesquisadas, sejam elas hepatite B, hepatite C, sífilis ou HIV, o paciente é encaminhado para
acompanhamento e tratamento dessa(s) DST(s). Eventualmente, os membros do projeto
se organizam para levar a atividade para determinados eventos ou outros serviços públicos
de saúde. Além disso, são distribuídos cartazer e folderes pela cidade com informações
sobre as DSTs e as principais formas de prevenção, além da divulgação do programa CTA
com o objetivo de esclarecer a população sobre as DSTs e atrair um maior número de
expectadores para realização dos exames no HUGV. RESULTADO: Entre os anos de 2006 a
2008, o total de pessoas que realizaram as coletas foi de 3.200; 2006 (1.479), 2007 (535),
2008 (1.186); desse total, 2% (38) apresentam positividade para HIV. Com dados de 2007
e 2008, os paciente com hepatite B correspondem a 0,81% (14); hepatite C, 0,93% (16)
e sífilis 0,05% (1). CONCLUSÃO: Com base nos dados obtidos, percebe-se que, apesar de
todos os esforços, somente a minoria da população, isto é, poucas são as pessoas que
procuram o serviço público de saúde para fazerem o diagnóstico, o tratamento e controle
dessas doenças. Dessa forma, acabam não se prevenindo, se infectando e disseminando
essas doenças na população. Além disso, o diagnóstico acaba sendo feito nas fases tardias
e, assim, as DSTs continuam sendo um grande problema na saúde pública.
1 Acadêmicos do Curso de Medicina, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Amazonas, Manaus, Amazonas. Contato: anne_binda@hotmail.com, augustoorodrigues@gmail.com, gabizinha_oliveira@hotmail.com, amorim_andrey@hotmail.com, gabizinha_oliveira@hotmail.com, marcello_vianna16@hotmail.com, renabiomol@hotmail.com, marcosalexandref@hotmail.com
129 revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
15. CARACTERIZAÇÃO DAS INTOXICAÇÕES EM IDOSOS NOTIFICADAS PELO CENTRO DE INFORMAÇÕES TOXICOLÓGICAS DO
AMAZONAS
SILVA,1 M.A.F.; BINDÁ,1 A.G.L.; ABREU,1 R.L.C.; RIBEIRO,1 T.A.; GALVÃO,2 T.F
INTRODUÇÃO: O Centro de Informações Toxicológicas do Amazonas (CIT/AM) é um serviço
do Hospital Universitário Getúlio Vargas da Universidade Federal do Amazonas, que presta
informações toxicológicas gratuitamente via telefone, a qualquer pessoa em período integral.
O CIT/AM faz parte da Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica e
possui equipe treinada em prestar informações e orientações sobre prevenção, diagnóstico,
tratamento e prognóstico de intoxicações. Também realiza atividades na área de educação
sobre toxicologia de substâncias químicas e biológicas e seus riscos à saúde. OBJETIVOS:
Caracterizar quantitativa e qualitativamente os casos de envenenamento em idosos atendidos
pelo CIT/AM entre os anos de 2003 e 2007. MÉTODOS: Foram incluídas no estudo todas as
notificações de intoxicações em indivíduos com idade≥ 65 anos, obtidas da base de dados do
CIT/AM. Os casos de envenenamento foram analisados segundo as variáveis: período do dia
de ocorrência; solicitante; circunstância; número de agentes; tipo de agente; evolução e
avaliação. Foi realizado crosstabulation para se fazer a correlação entre local de ocorrência
dos envenenamentos e local de solicitação de ajuda. RESULTADOS: No período de 2003 a
2007, houve 32 casos de envenenamento, com média de idade dos idosos envolvidos de 73,5
anos. A maioria das chamadas ocorreu pela manhã (37,5%) sendo um parente o solicitante em
50% delas. Em 34% dos casos, o acidente foi individual. Com relação à circunstância, 71,8%
do total dos envenenamentos foi não-intencional. Esteve envolvido mais frequentemente
um agente tóxico (84,3%) e foram os medicamentos (33,3%) os principais responsáveis. A
maioria dos envenenamentos foi classificada como leve (56,6%) evoluindo com cura total
em 78,1% das vezes. CONCLUSÃO: O padrão de intoxicação nessa faixa etária tende a ser
de acidentes individuais envolvendo medicamentos e com resolução favorável. Esse tipo de
estudo é importante para que possamos aperfeiçoar as estratégias de prevenção, redução e
tratamento das intoxicações em idosos.
1 Acadêmico de Medicina da Ufam, Manaus-AM. 2 Farmacêutica, Ufam, Manaus-AM. 2 Farmacêutica, taisgalvao@gmail.com
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
16. ESTUDO EXPERIMENTAL DOS EFEITOS DO ÓLEO-RESINA DE COPAÍBA E DO TALCO (SILICATO DE MAGNÉSIO HIDRATADO) NA
PLEURA E PARÊNQUIMA PULMONAR DE RATOS
REICHL,1 Alfredo Coimbra; WESTPHAL,2 Fernando Luiz; LIMA,1 Luiz Carlos; SOUZA,3 Risonilce; LIMA NETTO,4 José Correa; ROMERO,1 Tatiana Cortez; BRASIL,1 Saulo Couto
INTRODUÇÃO: A introdução de um agente químico no espaço pleural, a fim de induzir um
processo inflamatório, denominado pleurodese, tem o objetivo de conduzir à formação de
colágeno e a fusão das pleuras visceral e parietal. Esse procedimento beneficia pacientes que
desenvolvem pneumotórax recorrente e derrame pleural. A Amazônia é a maior reserva de
produtos naturais do planeta e óleo de copaíba tem na população local um amplo emprego
para os mais diversos fins. A escassez de estudos atualizados sobre os efeitos medicinais
das plantas amazônicas e a necessidade de um agente indutor de pleurodese eficaz e com
poucos efeitos colaterais tornou essencial a realização deste trabalho científico. OBJETIVO:
Identificar as alterações macroscópicas desencadeadas na pleura e parênquima pulmonar,
após a injeção de óleo-resina de copaíba e talco no espaço pleural de ratos. MÉTODO: Foram
utilizados 72 ratos da raça Rattus novergicus var. wistar da mesma linhagem, machos, adultos,
com peso médio de 191,6 g, randomizados em três grupos: copaíba, talco e simulação. As
substâncias foram injetadas no espaço pleural direito dos animais, os quais foram mortos
em 24h, 48h, 72h e 504h para análise macroscópica da pleura visceral e pulmão direito.
RESULTADOS: Os animais tratados com copaíba apresentaram média de reação inflamatória
de grau 1,4±0,27 no grupo de 24h; 2,66±0,68 no grupo de 48h; 3,5±0,42 no grupo de 72h e
3,66±0,28 no grupo de 504h. Aqueles que receberam o talco apresentaram grau 1±0,44 no
grupo de 24h; 0,66±0,26 no grupo de 48h; 1,16±0,20 no grupo de 72h e 1,83±0,49 no grupo
de 504h. Durante a realização do experimento, cinco animais morreram, todos tratados com
copaíba e pertencentes ao tempo de 504h. No período compreendido entre a cirurgia e o
sacrifício, 51,4% dos animais apresentaram perda ponderal, principalmente aqueles tratados
pelo fitoterápico. Não houve relação significativa entre a perda ponderal e o óbito dos
roedores. CONCLUSÃO: Constatou-se uma maior mortalidade no grupo tratado com óleo-
resina de copaíba, que se mostrou muito irritante para a pleura e parênquima pulmonar de
ratos e o talco, levemente irritante. Novos estudos devem ser realizados a fim de aprimorar
o uso do fitoterápico como agente esclerosante.
PALAVRAS-CHAVE: Plantas medicinais; Fitoterapia; Pulmão; Pleura.1 Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Amazonas/Ufam. 2 Médico cirurgião com especialização e doutorado na área de Cirurgia Torácica. E-mail: f.l.westphal@uol.com.br 3 Biotécnica do Inpa.
4 Médico
cirurgião com especialização na área de Cirurgia Torácica.
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
RESUMO - CATEGORIA POSTER
1. PERFIL DA UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS E HÁBITOS DE VIDA DE HIPERTENSOS EM
ÁREA URBANA DE MANAUS
MENDES,1 Cirlane, FERREIRA,2 Júnia Raquel Dutra, VASCONCELLOS,2 Marne; MATHIAS,2 Jéssica; LIZARDO,2 Lucília; GOMES,2 Juliane, COSTA,2 Ísis; TAVARES,2 Chanderlei; SIMPSON,2 Daniel; FARIAS,2 Lorena; NOGUEIRA,2 Jéssica; OLIVEIRA,2 Mônica
INTRODUÇÃO: A tendência ao uso dos medicamentos aumenta desde a quarta década de
vida por conta da prevalência de doenças crônico-degenerativas. Os idosos constituem o
grupo etário mais medicalizado na sociedade. Dentre as doenças crônico-degenerativas,
a hipertensão arterial é a mais comum em todo o mundo, responsável por altos índices
de morbimortalidade, sobretudo entre os idosos, com uma dificuldade frequente: a falta
de adesão ao tratamento. OBJETIVOS: Avaliar o perfil de utilização de medicamentos
e hábitos de vida de hipertensos em área urbana de Manaus. MÉTODOS: Foi realizado
um estudo descritivo com abordagem quantitativa. Realizou-se visitas a 275 casas dos
moradores do bairro de Aparecida, cidade de Manaus. Para a coleta dos dados, aplicou-se
um questionário com as seguintes características: gênero, idade, uso de medicamentos com
e sem prescrição médica, presença de hipertensão, hábitos de vida e utilização de plantas
medicinais. Inicialmente, foram explicados os objetivos e a importância da pesquisa,
procurando estabelecer um ambiente de relacionamento agradável e, após as entrevistas,
foram entregues informativos sobre o uso racional de medicamentos e hipertensão,
além de orientações para melhorias na terapia e controle das doenças. RESULTADOS:
A população participante foi composta por 275 moradores, na faixa etária entre 18 a 89
anos. Dentre os entrevistados, 76,71% eram do sexo feminino. Dos idosos, 67,12% eram
portadores de hipertensão arterial, dado superior ao observado para a população idosa
1 Discente do Curso de Ciências Farmacêuticas da Ufam. Manaus, AM. cirlane_@hotmail.com.2 Professora do Curso de Ciências Farmacêuticas da Ufam. Manaus, AM. juniadutra@yahoo.com.br
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brasileira num estudo domiciliar, cujo resultado foi de 43,9%. As mulheres apresentaram
maior frequência de hipertensão arterial que os homens, assim como verificado em outros
estudos. Entre os hipertensos, 58,90% revelaram ter patologia associada à hipertensão,
principalmente doenças cardiovasculares, diabetes, insuficiência renal e osteoporose.
No grupo de hipertensos, verificou-se que 38,35% relataram consumir exclusivamente
medicamentos prescritos. Contudo, 43,83% fazem consumo de medicamentos prescritos e
não prescritos simultaneamente, que representa um índice expressivo de automedicação
e consequente uso não racional de medicamentos, com riscos à saúde, com aumento da
probabilidade de ocorrência de reações adversas e interações medicamentosas. Quanto
aos hábitos de vida desses hipertensos, observou-se que 8,2% são fumantes, 9,5% fazem
uso de bebida alcoólica casualmente, 64,38% não praticam nenhum tipo de atividade física
e 60,27% hipertensos relataram fazer consumo de plantas medicinais. Tal prática, barata
e difundida, é encarada como uma opção na busca de soluções terapêuticas. CONCLUSÃO
Evidenciou-se um índice de automedicação expressivo nos indivíduos hipertensos associado
ao consumo simultâneo de medicamentos prescritos, o que representa riscos à saúde.
A prática da assistência farmacêutica pode auxiliar na orientação quanto à patologia e
tratamento dos pacientes hipertensos, contribuindo para uma melhor qualidade de vida.
2. ESTUDO RETROSPECTIVO DE NEOPLASIAS DE FOSSA POSTERIOR TRATADOS
CIRURGICAMENTE NO HUGV, MANAUS-AM, 2003-2009
MATOS,2 Cleomir Silva, RAID,2 Denis Esteves, REIS,2 Franklin, BRITO,2 Arcelino, GRANGEIRO,2 Cecília Rondon Pedrosa, COLLADO,2 Rusdany Fuentes
INTRODUÇÃO: A fossa posterior corresponde ao compartimento encefálico localizado abaixo
da tenda cerebelar, no qual se encontram os nervos cranianos, o tronco cerebral, cerebelo
e o sistema vascular vertebrobasilar. Os tumores dessa localização representam 60% de
todas as neoplasias do sistema nervoso central, apresentando sinais e sintomas compatíveis
com a síndrome de hipertensão intracraniana, síndrome cerebelar e/ou decorrentes do 1 Neurologia e Neurocirurgia; chefe do Serviço de Neurocirurgia do Hospital Universitário Getúlio Vargas – HUGV.2 Residente do Serviço de Neurocirurgia do HUGV. ceciliapedrosa@ig.com.br
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acometimento direto do tronco encefálico. O diagnóstico é realizado por meio de exames
de imagem – TC e RNM de crânio, sendo a cintilografia e a espectroscopia de fundamental
importância no diagnóstico diferencial da patopatia em questão com processos inflamatório-
infecciosos. O tratamento clínico resume-se a corticoterapia, enquanto o tratamento
neurocirúrgico visa à ressecção total da massa tumoral e correção da hidrocefalia. Nas
últimas décadas houve importante avanço no tratamento neurocirúrgico do TFP (tumor de
fossa posterior), a partir do uso do potencial evocado, do laser e assim como do microscópio
cirúrgico; no entanto, ainda há muito a ser feito em prol da terapêutica desses tumores, os
quais representam desafios pela alta incidência, morbidade e mortalidade. Pelo presente
estudo será possível um melhor conhecimento sobre a incidência e prevalência desses
tumores no Serviço de Neurocirurgia do Hospital Universitário Getúlio Vargas, em Manaus.
OBJETIVO: Demonstrar os tipos histológicos mais frequentes de tumor de fossa posterior
nos pacientes tratados cirurgicamente no Serviço de Neurocirurgia do HUGV, evidenciando,
dessa forma, a distribuição desses tumores no Estado do Amazonas, assim como sua relação
com sexo e idade. METODOLOGIA: Realizou-se um estudo retrospectivo, avaliando-se o
resultado do exame histopatológico dos pacientes diagnosticados e tratados no Serviço
de Neurocirurgia do HUGV em Manaus-AM num período compreendido entre janeiro de
2003 e julho de 2009, cujo diagnóstico foi de tumor de fossa posterior. Obedecemos como
critério de inclusão os pacientes com tumor de fossa posterior, os quais foram submetidos
à exérese da lesão, com resultado de histopatológico. RESULTADOS: Os tipos histológicos
encontrados após ressecção cirúrgica no Serviço de Neurocirurgia do HUGV, em ordem
decrescente, foram: Astrocitoma (28,2%), Schwanoma (25,64%), meduloblastoma (23,0%),
Hemangioblastoma (10,2%), Meningioma (5,1%), papiloma de plexo coroide (2,56%), Cisto
Epidermoide (2,56%) e tumor descrito apenas como anaplásico (2,56%). Verificou-se ainda
uma maior frequência da neoplasia estudada no sexo masculino, representando 74,35% dos
casos. CONCLUSÃO: Verificou-se que em nosso Serviço de Neurocirurgia o tipo histológico
de TFP mais frequente foi o astrocitoma, sendo encontrado na literatura como o segundo
em prevalência. Em seguida, encontramos o Schwanoma, e o meduloblastoma. A cirurgia
é a principal forma de tratamento para a maioria dos TFPs. Por meio da craniectomia
suboccipital com ressecção da lesão. A grande maioria atualmente é passível de remoção
cirúrgica, principalmente pelo advento do Cavitron,® laser e potencial evocado sem o
risco de lesão de estruturas vitais.
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3. A PERCEPÇÃO DOS ATORES SOCIAIS ENVOLVIDOS NO ATENDIMENTO
DO AMBULATÓRIO ARAÚJO LIMA EM 2009
FERNANDEZ,3 Cristiane Bonfim, TUPINAMBÁ,2 Guaracema Siqueira, RODRIGUES,3 Valéria Soares
INTRODUÇÃO: O objetivo deste trabalho é conhecer a percepção dos atores sociais
envolvidos no atendimento do HUGV considerando as limitações e conquistas em relação
ao uso dos serviços de saúde pública em Manaus. Partindo do pressuposto do que está
assegurado na Constituição de 1988 e na Lei Orgânica de Saúde, que assegurou a saúde
como um direito de todos e dever do Estado (LOS; Lei n.º 8.080/09 e Lei n.º 8.142/90).
Para tanto, toma-se como lócus de pesquisa o Hospital Universitário Getúlio Vargas
(HUGV) e seu setor de referência no nível de atendimento secundário e terciário: o
Ambulatório Araújo Lima. Procura-se abordar a política de atendimento oferecido pela
Instituição e seu vínculo com o Sistema Único de Saúde (SUS). Para isso, definiram-se
como objetivos específicos: caracterizar a política de atendimento do Ambulatório Araújo
Lima, identificar a percepção da Equipe Técnica e dos usuários do serviço e investigar
o modo de implementação dessa política de atendimento. OBJETIVOS: Caracterizar a
política de atendimento do Ambulatório Araújo Lima (AAL), identificar a percepção da
equipe técnica e usuários acerca dos serviços oferecidos e investigar de que forma essa
política de atendimento está sendo implementada. MÉTODOS: Num primeiro momento,
foi realizada uma pesquisa de campo exploratória, entretanto caracterizou-se, ao final,
como uma pesquisa qualitativa, uma vez que investigou e interpretou fenômenos,
atribuindo-lhes significados. Quanto aos meios de investigação, realizou-se uma revisão
bibliográfica para construção do referencial teórico, consideraram-se ainda a legislação
do SUS, a Constituição Federal e documentos internos do HUGV, como o Plano de Trabalho
do Serviço Social (2009) e Regimento Interno do HUGV (1995). Em relação aos sujeitos
da pesquisa, o universo pesquisado foi de 12 servidores, sendo 6 de nível médio e 6 de
nível superior. Da parte dos usuários, foram entrevistados 4 inseridos nos programas do
Ambulatório e 9 usuários não partícipes dos programas. RESULTADOS: De acordo com
1 Orientadora. Universidade Federal do Amazonas – Ufam.2 Assistente social.3 Graduanda de Serviço Social.
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o Serviço de Atendimento Médico Estatístico (Same), de janeiro a junho de 2009 foram
realizados 57.107 atendimentos, destes 43.809 correspondem a consultas (76,71%). Desse
total, 6.229 (14,22%) foram atendidos pelo Serviço Social. A especialidade que ofereceu
o maior número de atendimentos foi a Ortopedia, que somou 5.153 (11,76%). Quando
questionados sobre os motivos que levaram esses usuários a procurar o AAL, 42,86% citaram
a falta de acesso aos serviços de saúde na rede pública de Manaus. A descontinuidade do
tratamento foi referida por 35,71% dos usuários e a não resolutividade dos casos resultou
em 21,43% afirmativas. A equipe técnica destacou em primeiro lugar o número de vagas
insuficientes, 50%, e em seguida o espaço físico com 33,3% e, por fim, a organização interna
do serviço com 8,33%. CONCLUSÕES: Com ressalvas, o Atendimento do AAL foi considerado
bom pela maioria dos entrevistados. O número de vagas é insuficiente, mas é necessário
reconhecer a sua especificidade como hospital-escola. A maioria dos usuários desconhece
essa característica da Instituição ou não sabem diferenciá-la dos outros serviços públicos
de saúde oferecidos na cidade de Manaus. É evidente a sobrecarga desse Atendimento,
consequência direta da falta de acesso dos usuários aos demais serviços da rede pública
que não dispõe de vagas suficientes para as especialidades oferecidas pelo HUGV/AAL,
gerando assim uma grande demanda reprimida. Tanto a equipe técnica quanto os usuários
veem a necessidade de expansão do espaço físico como solução para o segundo maior
problema enfrentado pela instituição pesquisada. Foram sugeridas melhorias para a rede
pública de saúde, assim como para a organização interna do serviço. Para o AAL, sugeriram
a realização de cursos de capacitação profissional para os servidores e um fluxograma de
atendimento conhecido pelos usuários e equipe técnica.
136 revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
4. PERFIL DO CONSUMO DE ANTIMICROBIANOS DO HOSPITAL
UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS – HUGV
PEREIRA,4 V. N.,1 SANTOS, V. A.,2 COSTA, L. M.,2 SILVA SOBRINHO,1 A. GRIMM,2 D. S., MENDONÇA JÚNIOR,2 F. G
INTRODUÇÃO: O uso racional de antimicrobianos é uma ação primordial da Farmácia
Hospitalar e da Assistência Farmacêutica. Sendo assim, a análise do perfil de
antimicrobianos é importante para fornecer indicadores para a análise da comissão de
controle de infecção hospitalar (CCIH) e consequentemente promover o uso racional e
reduzir custos hospitalares. A Farmácia Hospitalar é o setor que está envolvido nas etapas
de seleção até a distribuição dessas drogas. O uso irracional de antimicrobianos é relatado
em várias partes do mundo, sendo um problema bastante atual. A utilização correta dos
antimicrobianos é essencial à racionalização do seu emprego para uma melhor terapêutica
aos pacientes. No HUGV há uma CCIH atuante, multidisciplinar e um Serviço de Farmácia
que contribui para o bom desempenho das ações do controle das infecções; porém, por ser
um hospital-escola, periodicamente há novos prescritores e observou-se a necessidade da
avaliação do perfil do consumo de antimicrobianos nessa Instituição. OBJETIVOS: Analisar
o perfil de antimicrobianos prescritos em todas as clínicas (clínica médica, cirúrgica,
nefrologia, ortopedia, neurologia e unidade de terapia intensiva) do HUGV e avaliar se
há um uso racional nessa Instituição, contribuindo, também, para o controle de infecção
hospitalar. MÉTODOS: Realizou-se um estudo retrospectivo observacional das fichas de
antimicrobianos oriundas de todas as clínicas do HUGV no período compreendido de junho
a outubro de 2008. A coleta de dados foi realizada verificando os seguintes parâmetros:
fichas completas, incompletas, sexo, local da infecção, classes dos agentes antimicrobianos
e clínicas. As informações coletadas foram analisadas por meio de cálculos de média,
proporções, porcentagens e plotagem de gráficos no software Excel® 2007. RESULTADOS:
Foram analisadas 2.905 fichas de antibiótico oriundas de todas as clínicas, sendo: 49%
clínica cirúrgica, 18% ortopedia, 10% clínica médica, 8% nefrologia, 8% neurologia e 7%
4 Farmacêuticos.2 Alunos de Farmácia- estagiários do HUGV.e-mail: gessyfarma@gmail.com e viviandnp@ig.com
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
unidade de terapia intensiva. A maioria das fichas analisadas encontrava-se devidamente
preenchidas (84%) e nas incompletas (16%) não constavam dados como sexo; número do
leito e localização da infecção. Observou-se certa equivalência na quantidade de internos
do sexo feminino (48%) e masculino (50%), sendo 2% sem sexo discriminado. Quanto à
localização das infecções, as de maior prevalência foram: broncopulmonar (8%) e infecção
do trato urinário (8%), seguidas da gastrointestinal (5%); osteoarticular (2%); peritonial
(2%); sepse (2%); cutâneo cirúrgica (1,5%); cutâneo não cirúrgica (1,5%); sistema nervoso
central (1%); outros (13%). Porém, a profilaxia cirúrgica (56%) teve prevalência sobre
as demais localizações. A classe dos agentes antibacterianos mais prescritos foram as
cefalosporinas de 1.ª geração (64%), seguida das fluorquinolonas (7%), cefalosporinas de
3.ª geração (6%), glicopeptídeos (3,5%), aminoglicosídeos (2%), carbapenêmicos (2%),
penicilinas (2%), cefalosporina de 4.ª geração (2%), sulfonamidas (1,5%), antifúngicos (1%)
e outros (5%). CONCLUSÃO: A análise dos dados demonstrou que o HUGV possui maior
consumo de antimicrobianos de primeira escolha, cefalosporinas de 1.ª geração, por ter,
em grande parte, pacientes cirúrgicos. Concluímos, também, que há um baixo consumo
de antimicrobianos de reserva, mesmo sendo um hospital de média e alta complexidade,
demonstrando o resultado do comprometimento da Farmácia Hospitalar juntamente com
a CCIH em promover uma terapêutica antimicrobiana segura e racional.
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5. ESTUDO DO PERFIL FARMACOTERAPÊUTICO DOS ANTIMICROBIANOS DE UM HOSPITAL
INFANTIL DA CIDADE DE MANAUS
PEREIRA5, V. N, SANTOS,2 V. A., COSTA,2 L. M., SILVA SOBRINHO,1 A., GRIMM,2 D. S., MENDONÇA JÚNIOR,2 F. G
INTRODUÇÃO: O uso racional de medicamentos é a principal diretriz de um programa de
assistência farmacêutica e também contribui para o controle das infecções hospitalares.
Medidas de prevenção e controle de infecção hospitalar, e a utilização racional de
medicamentos otimizam o equilíbrio entre efetividade, segurança e custo da assistência
hospitalar. O controle de antimicrobianos é uma ação primordial da Farmácia Hospitalar.
Sendo assim, a análise do perfil de antimicrobianos é importante para fornecer indicadores
para a análise da comissão de controle de infecção hospitalar (CCIH) e consequentemente
promover o uso racional dessa classe terapêutica. OBJETIVO: Analisar o perfil de
antimicrobianos prescritos em todas as clínicas (pediatrias, isolamento, alto risco, UTI
e clínica cirúrgica) do Hospital Infantil Dr. Fajardo e avaliar se há um uso racional nessa
instituição, contribuindo, também, para o controle de infecção hospitalar e evitar a
resistência microbiana. MÉTODO: Realizou-se um estudo retrospectivo observacional das
fichas de antibióticos: completas, incompletas, sexo, idade, origem da infecção, local
da infecção, classes dos agentes antimicrobianos e clínicas. As informações coletadas
foram analisadas por meio de cálculos de média, proporções, porcentagens e plotagem
de gráficos no software Excel® 2007. RESULTADOS: Foram analisadas 995 fichas de
antibióticos dos quais obtivemos 59% da fichas completas e 41% incompletas (idade 14%,
local da infecção 2% e origem da infecção 25%). Quanto ao sexo, tivemos 39% feminino,
55% masculino e 6% não informado. Quanto à origem da infecção, obtivemos 9% hospitalar,
63% comunitária e 18% não informado. As faixas etárias correspondem de 0 a 6 meses
19%, 7 m a 1 ano 19%, 1 a 2 anos 25%, 3-4anos 8%, 5-6 anos 3%, 7-8anos 2%, 9-10 anos 4%
e acima de 11anos 5%, não informados 15%. Os grupos terapêuticos prescritos foram: 47%
penicilinas, 14% cefalosporinas de terceira geração, 9% cefalosporinas de primeira geração,
5 Farmacêuticos.2 Alunos de Farmácia- estagiários do HUGV.e-mail: gessyfarma@gmail.com e viviandnp@ig.com
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
7% aminoglicosídeos, 6% macrolídeos, 6% glicopeptídeos, outros 11%. As localizações
das infecções são: broncopulmonar 65%, gastrointestinal 9%, cutânea não cirúrgica 7%,
cutânea cirúrgica 6%, sepse 5% e outros 8%. CONCLUSÃO: A análise dos dados demonstrou
que o hospital possui maior consumo de antimicrobianos de primeira escolha – penicilinas,
por ter, em grande parte, pacientes com broncopulmonares, porém poderia haver mais
reserva quanto ao uso de cefalosporinas de terceira geração. Concluímos, também, que
há um baixo consumo de antimicrobianos de reserva, mesmo sendo um hospital de média
complexidade, demonstrando o resultado do comprometimento da Farmácia Hospitalar
em promover uma terapêutica antimicrobiana segura e racional.
6. ESTUDO DOS MEDICAMENTOS ADMINISTRADOS VIA SONDA ENTERAL NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DE UM
GRANDE HOSPITAL E PRONTO-SOCORRO DA CIDADE DE MANAUS
PEREIRA,6 V. N., SANTOS,2 V. A., COSTA,2 L. M., SILVA SOBRINHO,1 A., GRIMM,2 D. S., MENDONÇA JÚNIOR,2 F. G
INTRODUÇÃO: O objetivo do uso de sistemas de administração de substâncias dotadas de
atividade terapêutica é promover a sua liberação em quantidade adequada no organismo
para conseguir rapidamente efeito terapêutico e que permaneçam durante o tempo
desejado. Para que isso ocorra em pacientes com cateter na via oral, deve-se levar em conta
a correta utilização da sonda enteral ou nasogástrica e verificar como os medicamentos
são manipulados e administrados, pois a seleção adequada da forma farmacêutica a
ser administrada pelo cateter enteral é essencial para evitar inativação do fármaco e/
ou alteração da biodisponibilidade. OBJETIVO: Avaliar a frequência dos medicamentos
prescritos por sonda e suas formas farmacêuticas, e determinar grupos de medicamentos
mais prescritos na UTI do HPS João Lúcio no período de março a maio de 2009. MÉTODO:
6 Farmacêuticos.2 Alunos de Farmácia- estagiários do HUGV.e-mail: gessyfarma@gmail.com e viviandnp@ig.com
140 revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Estudo retrospectivo e observacional da farmacoterapia aplicada a pacientes internados
na UTI, por meio das prescrições oriundas do Serviço de Farmácia dos pacientes internados
nesse período. RESULTADOS: Foram analisadas 1.086 prescrições médicas, com um total
de 13.834 medicamentos prescritos, média de 13 medicamentos/prescrição, dos quais
8% são por via sonda enteral. Dentre as formas farmacêuticas, foram prescritos 89% de
comprimidos, 7% formas líquidas, 3% drágeas e 1% cápsulas. Os grupos terapêuticos mais
prescritos foram: anti-hipertensivos 25%, anticonvulsivantes, 22%, anticonvulsivante,
antiplaquetário7%, gastroprotetores 5%, antidepressivos 5%, diuréticos 4%, antilipêmicos
4% e outros 28%. Os dados obtidos mostram que muitos desses fármacos poderiam ser
substituídos por suas formas farmacêuticas injetáveis ou líquidas para evitar manipulação
de formas orais sólidas. CONCLUSÃO: Percebemos que ainda não se contempla uma
efetiva atenção farmacêutica no controle da terapêutica dos pacientes; porém, havendo
uma maior interação entre a Clínica e o Serviço de Farmácia, conseguiremos melhorar os
procedimentos envolvidos na manipulação e administração dos medicamentos por sonda
e, assim, buscar alternativas para redução de contaminação e interação de medicamentos
prescritos e promover o uso racional de medicamentos.
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7. A QUESTÃO INDÍGENA E A INTERNAÇÃO HOSPITALAR NA FUNDAÇÃO HOSPITAL
ADRIANO JORGE EM MANAUS-AM NO BIÊNIO 2007/2008: UMA ANÁLISE DOCUMENTAL DO
SERVIÇO SOCIAL
COSTA,7 Roberta Justina da, PALHETA,2 Rosiane Pinheiro, SANTOS,3 Sandra Alice Ayres dos,
ALMEIDA,3 Diana da Silva
INTRODUÇÃO: No Brasil, a política de saúde indígena é um desafio para os profissionais
da área que devem estar adequando suas ações e serviços à diversidade sociocultural dos
povos indígenas, de modo que facilitem o acesso aos serviços de saúde no plano linguístico,
geográfico e social. O Texto Constitucional de 1988 e a Lei n.º 8.080/90 enfocam o respeito
às dimensões políticas, sociais e culturais ligadas à produção da saúde e da doença da
população brasileira. O presente estudo caracteriza-se como um trabalho de iniciação
científica desenvolvido na Fundação Hospital Adriano Jorge – FHAJ. OBJETIVO: Analisar a
atenção hospitalar aos pacientes indígenas atendidos nessa fundação no período de 2007
e 2008. METODOLOGIA: Os procedimentos para a coleta de dados destacam-se: a pesquisa
documental nas fichas sociais arquivados no setor do Serviço Social da fundação; a pesquisa
de campo envolveu visitas institucionais à Fundação Nacional de Saúde – Funasa, Casa de
Saúde do Índio – Casai e Secretaria Municipal de Saúde, buscando informações sobre o
atendimento prestado por essas instituições às populações indígenas. Para a análise e
interpretação dos dados o uso de tabelas, mapas e a análise de conteúdo. RESULTADOS:
Os resultados apontaram para uma realidade plural do ponto de vista cultural e étnico. Nos
documentos havia ausência de informações singulares, mas que de extrema relevância para
o atendimento aos usuários indígenas. Apesar de um número pequeno de casos encontrados
(32), entre os anos de 2007 e 2008, o impacto nas ações de saúde é considerável, haja vista
a diversidade de etnias e modos de vida, cultura e origem de cada paciente identificado.
Identificado de oito etnias diferentes, correspondendo à etnia Tikuna 15,62% dos casos
entre os anos de 2007 e 2008, seguido dos Mura 12,5%. A maioria absoluta dos pacientes
7 Assistente social da Fundação Hospital Adriano Jorge e professora da Faculdade Salesiana Dom Bosco, Manaus/AM.2 Assistente social da Fundação Hospital Adriano Jorge, Manaus/AM.3 Aluna da Faculdade Salesiana Dom Bosco, Manaus/AM.Contato: rojcosta1@hotmail.com
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indígenas, porém, não teve a etnia identificada perfazendo o total de 53,1%, mais da
metade, o que é bastante significativo, evidenciando a necessidade de um olhar mais
atento aos indígenas que passam pela Instituição. Os dados da pesquisa revelam que uma
recorrência de 34,38% dos casos atendidos são oriundos de São Gabriel da Cachoeira-AM,
vivendo em áreas longínquas por conta da grande extensão territorial e as formas de
acesso aos municípios que compõem a região, onde o transporte se faz por via fluvial,
cujo tempo de deslocamento dificulta ainda mais a viabilização do tratamento necessário
que, na maioria das vezes, é de urgência e emergência. CONCLUSÃO: É necessário que os
profissionais de saúde estejam adequando suas práticas à realidade complexa dos povos
indígenas para que seja garantido o direito à saúde. A diversidade cultural existente no
Estado do Amazonas nos coloca um desafio: o de estar atento para essa realidade e saber
intervir de forma adequada às suas diferenças e às suas especificidades.
PALAVRAS-CHAVE: Saúde, Etnicidade, Hospitalização.
8. ANÁLISE DA ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DA ASSISTÊNCIA
FARMACÊUTICA BÁSICA NO ESTADO DO AMAZONAS
MOURA, Ana Célia da Silva, SÁ, Ricardo C. de Azevedo e
INTRODUÇÃO: Um dos principais objetivos da Gestão da Assistência Farmacêutica Básica,
cuja implementação necessita de pessoal qualificado e estrutura adequada, é a melhoria
do acesso e o uso racional do medicamento em uma população. OBJETIVOS: Analisar a
organização e a estruturação da Assistência Farmacêutica Básica no Estado do Amazonas
pelo seu ciclo. METODOLOGIA: Foram analisados 87,1% (n=54) dos municípios do Estado
do Amazonas, por meio de questionário semiestruturado, adaptado de pesquisa telefônica
realizada pelo Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde, versando sobre
a organização, estruturação e operacionalização do Ciclo da Assistência Farmacêutica,
no período de março a dezembro de 2007. Os resultados obtidos foram organizados e
apresentados por meio de estatística descritiva. RESULTADOS: Aproximadamente 61,2%
do total dos municípios analisados possuem um responsável pela Assistência Farmacêutica.
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Desse percentual, 85% são farmacêuticos. Apenas em 63% (n=52) a AF é contemplada
no Plano Municipal de Saúde. Observou-se uma fragmentação das etapas do Ciclo da
Assistência Farmacêutica, que compromete o desempenho do processo. Não existe
Comissão de Farmácia e Terapêutica nos municípios. No item seleção de medicamentos,
apenas 57% (n=47) dos municípios utilizam, como critério, o perfil epidemiológico e no
item programação, somente 44% (n=43) utilizam esse método. A forma de aquisição
de medicamentos mais utilizada (50%) é a compra direta (n=54). Apenas 43,4% (n=54)
consideram boas as condições de armazenamento e somente 25,5% (n=47) possuem controle
de estoque informatizado. Em todos os municípios ocorre dispensação e em 72% (n=54)
somente mediante receituário. Do universo analisado, 13% afirmam não fazer nenhum
tipo de orientação que promova o uso racional de medicamentos no ato da dispensação.
Entretanto, nos municípios que o fazem, as orientações quanto à dosagem e período do
tratamento foram prioritárias (78 e 74%, respectivamente), seguidas das orientações da
melhor forma de como guardar os medicamentos (52%) e das ações educativas de uso
racional de medicamentos em geral (37%). Entre os principais obstáculos para a organização
da Assistência Farmacêutica nos municípios do Estado do Amazonas citados, observa-se a
predominância da reclamação referente à insuficiência de recursos financeiros e/ou humanos
(63%). DISCUSSÃO/CONCLUSÃO: Esse primeiro diagnóstico aponta para a necessidade de
investimentos na estrutura física, bem como em recursos humanos, materiais e gerenciais,
visando contemplar os municípios do Estado do Amazonas de uma Assistência Farmacêutica
integral, capaz de promover o acesso e o uso racional de medicamentos. As estatísticas
deste trabalho constituem-se em um marco para a gestão das Secretarias de Saúde, uma
vez que os resultados apresentados poderão proporcionar importantes subsídios para o
fortalecimento da gestão municipal da Assistência Farmacêutica no Estado do Amazonas.
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9. SAÚDE E SERVIÇO SOCIAL: UMA ABORDAGEM DA AÇÃO PROFISSIONAL NO
PROGRAMA DE SAÚDE DO LESIONADO MEDULAR NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS – HUGV EM MANAUS
LIMA1, Priscila Fernandes Farias Campos, VALLINA,8 Kátia de Araújo Lima
INTRODUÇÃO: O Serviço Social é uma profissão que tem como fundamento a defesa dos
direitos humanos, ampliação e consolidação da cidadania e garantia do acesso aos bens
e serviços, pautando-se no Projeto de Formação Profissional, Lei n.º 8.662, de 7 de junho
de 1993 – de Regulamentação da Profissão, além do Código de Ética. A transgressão dos
direitos e o não exercício da cidadania, em consequência da falta de acesso aos bens e
serviços, caracterizam-se como questões que devem sofrer a ação do assistente social,
um dos profissionais capacitados a trabalhar tais situações, expressões da questão social.
Um dos maiores desafios da área consiste em identificar as demandas emergentes em
seu cotidiano, desvelar a realidade e construir propostas criativas para sua intervenção,
visando contribuir para a efetivação de direitos e o exercício pleno da cidadania de seus
usuários. No que tange ao Serviço Social na área da saúde, percebe-se a necessidade do
trabalho do assistente social como um dos agentes defensores das diretrizes do projeto do
Sistema Único de Saúde, que concebe a saúde como direito de todos e dever do Estado,
partindo dos princípios da universalidade, da equidade e da integralidade. OBJETIVOS:
Refletir a Política de Saúde neste artigo é fundamental, para que se entenda a prática do
assistente social em programas como o Programa de Atividades Motoras para Deficiente –
Proamde, buscando a promoção da saúde dos lesionados medulares para além do âmbito
do HUGV junto às redes de apoio social. MÉTODOS: Em termos metodológicos, foram
realizadas análises documentais de cada candidato ao programa, com visitas domiciliares
aos selecionados. Priorizamos a pesquisa qualitativa, acrescida da observação participante,
com base no projeto de atuação do Serviço Social no programa supracitado, bem como
realizações de entrevistas por meio de questionários com questões abertas e fechadas
8 Professora da Ufam/ Manaus-AM. Mestre formada pela UFRJ.
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visando às perspectivas dos seis participantes, para que pudéssemos levantar propostas
que aprimorassem as atividades. RESULTADOS: Após a investigação realizada, verificou-se
que a ação do assistente social, em parceria com a equipe multidisciplinar do Proamde,
possui êxitos no que se refere à melhoria na qualidade de vida do lesionado medular, bem
como a sua família pelas ações socioeducativas. CONCLUSÃO: Apesar de ser um programa
que visa à reabilitação motora das pessoas com sequelas de lesão medular, abre ele um
espaço de atuação psicossocial e pedagógica por meio de um atendimento multidisciplinar.
Dentro desse contexto, o assistente social exerce um papel de extrema importância com
ações articuladas aos três eixos da Seguridade Social (saúde, previdência e assistência
social). Articulações estas que, junto a redes de apoio social, buscam proporcionar uma
melhor qualidade de vida e autonomia aos sujeitos. O que, na concepção deles, tem
servido para a efetivação dos direitos que antes desconheciam.
PALAVRAS-CHAVE: Saúde, Prática Profissional do Serviço Social, Lesionado Medular.
10. GRUPO DE APOIO A FAMILIARES – GAF
ANDRADE,9 Andréa Costa de Andrade, COSTA,1 Maria Clevanilce Rodrigues da, FRANCO,10 Kelly Silva, LIMA, Perla Alves Martins, MACEDO,1 Maria Geórgia Duarte de, MATSDORFF,2 Karen Dalila Karl
INTRODUÇÃO: A pessoa que se submete a um atendimento hospitalar leva não só seu corpo
para ser tratado, mas vai por inteiro e, por extensão, atinge sua família, que participa
de seu adoecer, suas internações e seu restabelecimento. Por todos esses aspectos, os
grupos terapêuticos com os familiares são muito ricos, uma vez que neles podem dividir
seu sofrimento e se ajudarem mutuamente, pois no período da doença os familiares
desempenham papel importantíssimo, e suas reações muito contribuem para a própria
reação do paciente no seu processo de cura. Assim, o Hospital Universitário Getúlio Vargas
– HUGV, em Manaus, instituiu programas que visam beneficiar essa população, como o
Grupo de Acolhimento a Familiares – GAF, que funciona desde janeiro de 2008. OBJETIVO
GERAL: Proporcionar um momento de reflexão, para que os acompanhantes dos pacientes
9 Psicóloga do HUGV/Ufam.10 Acadêmica de Psicologia (Fapsi-Ufam) e estagiária (HUGV).
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internados possam falar sobre a situação que estão vivenciando e receber informações da
equipe de saúde sobre o funcionamento e a dinâmica hospitalar. OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Escutar as necessidades, história de vida, condições emocionais e sociais, trabalhando as
potencialidades dos familiares que acompanham os pacientes hospitalizados; enfatizar
as vantagens proporcionadas pelas atividades executadas em grupo, sobretudo quanto
às instruções da dinâmica hospitalar e socialização; proporcionar apoio psicossocial
aos familiares. MÉTODOS: Realização de reuniões quinzenais, onde há orientação
sobre o funcionamento, dinâmica e regras do HUGV. Após isso, é proporcionado um
espaço para os familiares externalizarem o momento vivenciado e, consequentemente,
ajudar-se mutuamente. O setor de Psicologia coordena o Grupo Operativo, utilizando
técnica terapêutico-metodológica qualitativa por meio da abordagem fenomenológico-
transdisciplinar. O trabalho desenvolvido no grupo foca a construção de conhecimento
do acompanhante pelas informações e vivências compartilhadas. As temáticas são
preestabelecidas relacionando-as à saúde, à hospitalização e à participação do
acompanhante. Dentre os recursos didáticos, incluem-se dinâmicas, textos e músicas
reflexivos, folders explicativos e apresentação de slides. RESULTADOS: Após 42 encontros
quinzenais, observou-se a importância do acompanhante no processo de cura e recuperação
do paciente, pois pelas escutas realizadas em grupo puderam falar das suas necessidades e
condições emocionais compartilhando a experiência vivenciada. Nota-se que trabalhando
as emoções dos acompanhantes proporcionamos uma melhor compreensão da situação e
dos cuidados dispensados ao doente, possibilitando a aprendizagem de novos métodos de
adaptação e, consequentemente, reduzindo o grau de ansiedade destes. CONCLUSÃO:
Portanto, aos acompanhantes é esclarecido que, durante a hospitalização de um paciente,
ele é essencial nesse processo, visto que sua atuação ocorre em conjunto com o corpo
clínico. Um aspecto que propicia a troca de experiências no grupo é que cada participante,
ao se apresentar, também fala sobre a história clínica do paciente. As práticas educativas
suscitam questões profundas e essenciais – vida, morte, sofrimento, tristeza, perda. Por
meio da situação grupoterápica, o GAF amplia a visão da equipe de saúde, que passa a
perceber a relação médico-paciente-acompanhante de forma multifocal, privilegiando o
trabalho humanizado e transdisciplinar.
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REFERÊNCIAS
GONÇALVES, Ana Maria, PERPÉTUO, Susan Chio de. Dinâmica de Grupos na Formação
de Lideranças. Artigo publicado na edição 309, agosto de 2000. Belo Horizonte: Editora
DPeA.
ALAMY, Susana. Ensaios de Psicologia Hospitalar. Minas Gerais: Copyright, 2003.
BAPTISTA, Makilim Nunes. Psicologia Hospitalar: teoria, aplicações e casos clínicos. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.
BLEGER, José. Temas de Psicologia: Entrevista e Grupos. São Paulo: Martins Fontes,
1993.
CAMPOS, Terezinha Calil Padis. Psicologia Hospitalar: A atuação do psicólogo em hospitais.
São Paulo: EPU, 2006.
ROMANO, Bellkiss W. E a família vem ao hospital. In: Princípios para a Prática da Psicologia
Clínica em Hospitais. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
11. FAMÍLIAS E SUAS DEMANDAS POR POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BAIRRO COMPLEXO ANTÔNIO ALEIXO DA ZONA LESTE
DE MANAUS
ABECASSIS,11 Bianca Ladislau, SASSAKI,12 Yoshiko
INTRODUÇÃO: A família é considerada pela sociedade a mais importante instituição,
firmando entre si uma rede de solidariedade fortalecida por laços de consanguinidade ou
não. Carvalho (1993) esclarece que a proteção e a promoção das famílias foram perdidas
no tempo, e que pessoas portadoras de deficiência e com problemas crônicos de saúde
ficam sem receber dos poderes públicos a devida atenção. Essa responsabilidade que
a família assume sem o apoio do poder público a sobrecarrega. OBJETIVO: Objetivou-
11 Mestranda no Programa de Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia – Ufam.E-mail: biancaladislau@bol.com.br12 Professor, doutor, docente do Curso de Serviço Social da Ufam. E-mail: sassakiyo@uol.com.br.
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se analisar e refletir as relações familiares e intergeracionais em suas demandas por
serviços de saúde e o grau de sua resolutividade no bairro Complexo Antônio Aleixo de
Manaus. METODOLOGIA: Aplicou-se formulários semiabertos às 30 famílias e entrevista
semiestruturada a profissional de saúde de uma unidade básica de saúde do bairro sobre
a demanda da população pelos serviços de saúde. O bairro foi escolhido porque possui um
diferencial em relação aos outros, por abrigar somente pessoas doentes de hanseníase,
em sua criação, e após desativação em 1979, o lócus deixa de ser hospital Colônia Antônio
Aleixo e se transforma em bairro, em que antigos moradores passam a conviver com a
população em geral. RESULTADO: Apontam que das 30 famílias selecionadas, 67% são
do sexo feminino e 33% do masculino, sendo 50% pertencentes na faixa etária de 60 a
90 anos, portanto idosos que demandam mais serviços de saúde. No que se refere às
formas de configuração dessas famílias, identificou-se que 40% são monoparentais, 23%
intergeracionais, 20% casal e a minoria 17% são nucleares. Na contemporaneidade as duas
primeiras têm maior relevância, por isso foram destacadas para análise. Nas famílias
monoparentais, constituídas por um dos progenitores (pai ou mãe), o relacionamento com
os filhos fica fragilizado, pois não garantem o sustento da casa e nem dão assistência integral
aos doentes, recorrendo ao apoio dos parentes e vizinhos. Já nas famílias intergeracionais,
constituída por três gerações, os idosos estão cuidando em sua maioria de outros idosos,
além de se responsabilizar pelo sustento dos netos, com o pouco do provento que recebem
de aposentadorias, pensões e/ou benefícios de assistência social, demandando por cuidados
de saúde e proteção do Estado, pois alguns estão retornando ao trabalho informal para
ajudar nas despesas da família, por conta da situação de vulnerabilidade social em que se
encontram. CONCLUSÃO: Constatou-se sobre a demanda por saúde no bairro, nas famílias
monoparentais, nem sempre têm com quem contar para levar os filhos/netos ao médico.
Já nas famílias intergeracionais, os idosos doentes contam com seus parceiros também
idosos, em que um doente cuida de outro doente na própria casa, e quando estes não
podem contar com seus companheiros, são os netos, mesmo crianças que os acompanham
até o médico, os filhos não assumem essas responsabilidades.
PALAVRAS-CHAVE: Política de Saúde, Atenção Básica, Envelhecimento.
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12. CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS POR MULHERES GRÁVIDAS USUÁRIAS DO SISTEMA
ÚNICO DE SAÚDE (SUS) DE MANAUS.PREVALÊNCIA / COMO PREVENIR
CARVALHO,13 Maria Auxiliadora Neves de, TOMAZ,14 Geísa Cruz e Silva, MERCHAK JÚNIOR,2 Paulo Sérgio Lopes, MARTINS,2 Michelle Soares, CARVALHO,2 Bruna Cecília Neves de, PADILLA,2 Rodrigo
INTRODUÇÃO: O álcool tem sido consumido por homens e mulheres de forma indiscriminada
ao longo dos tempos, porém atualmente as mulheres aumentaram esse consumo talvez
por conta da maior independência financeira e intelectual. É pouco o conhecimento em
Manaus quanto à prevalência desse hábito, principalmente durante a gravidez, condição
na qual são comprometidas tanto a mãe quanto o filho. A condição mais temida é a
síndrome alcoólica fetal, que se acompanha de malformações congênitas, retardo no
desenvolvimento psicomotor e outras alterações, além de levar também ao baixo QI,
irritabilidade e hiperatividade. OBJETIVOS: Apontar a prevalência do consumo de bebida
alcoólica pelas grávidas atendidas no Sistema Único de Saúde da cidade de Manaus-AM é o
objetivo principal do trabalho. Há também os objetivos secundários a serem alcançados,
tais como verificar a principal faixa etária consumidora de bebida alcoólica entre as
grávidas, identificar o nível socioeconômico dessas gestantes por meio da escolaridade
e renda familiar, além de mensurar o grau de conhecimento delas a respeito dos efeitos
maléficos do álcool. MÉTODOS: Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo do tipo
transversal realizado em mulheres grávidas e puérperas, usuárias do Sistema Único de Saúde
da cidade de Manaus-AM, atendidas em três maternidades da rede estadual e municipal.
RESULTADOS: Do total de 471 grávidas entrevistadas, encontrou-se o número de 154
(32,7%) mulheres que faziam consumo regular de álcool, dentre elas 66 (42,9%) usaram
bebida alcoólica durante a gravidez, esse índice foi maior entre as mulheres mais jovens,
33 (50%) na faixa dos 13 aos 23 anos. Quanto à renda familiar, 29 (44%) recebiam apenas
um salário mínimo, e a respeito da escolaridade, mais da metade, 34 (51,5%) gestantes
13 Professora da Disciplina de Pediatria e professora orientadora da Residência de Pediatria e Cirurgia Ge-ral, mestre em Patologia Tropical – Ufam – Manaus-AM.14 Acadêmicos de Medicina da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Manaus-AM. E-mail: geisatomaz@uol.com.br
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não possuíam o ensino fundamental completo, o que mostra o baixo nível educacional
dessas mulheres. Quanto ao conhecimento dos efeitos teratogênicos do álcool, apenas
112 (23,8%) haviam sido orientadas por um profissional de saúde, o restante se dividia
entre as que nunca tinham ouvido falar e as que souberam pela imprensa ou conhecidos.
CONCLUSÃO: O nível de consumo de bebida alcoólica entre grávidas em Manaus é alto,
isto se deve provavelmente à falta de conhecimento sobre os efeitos maléficos no feto,
uma vez que somente 23,8% receberam aconselhamento médico sobre o risco existente
nesse comportamento. Diante do que foi observado nos resultados, pode-se concluir como
grupo de risco: as mulheres com baixo nível socioeconômico, na faixa dos 13 aos 23 anos
e que não tinham um conhecimento prévio sobre os efeitos teratogênicos do álcool. Em
vista desses dados, é urgente e necessário que se realize um programa de prevenção e
ensinamentos quanto ao consumo de álcool na gravidez.
PALAVRAS-CHAVE: Gravidez Abdominal, Etanol, Prevalência.
13. CARACTERES EPIDEMIOLÓGICOS DE NEONATOS COM GASTROESQUISE NO ESTADO DO AMAZONAS E A CONDUTA TERAPÊUTICA
EMPREGADA
CARVALHO,15 Maria Auxiliadora Neves de, CARVALHO,16 Bruna Cecília Neves de, PADILLA,2 Rodrigo, ARAÚJO,17 Katiúscia Karla Lêdo
INTRODUÇÃO: Gastroesquise é uma malformação congênita caracterizada por um defeito
na parede abdominal anterior por conta de um fechamento incompleto dela por volta da
6.ª semana de gestação, que permite a extrusão das vísceras abdominais para a cavidade
amniótica. OBJETIVO: O objetivo deste trabalho foi conhecer o perfil epidemiológico
dos recém-nascidos acometidos por gastroesquise no Estado do Amazonas e relacionar a
15 Professora da Disciplina de Pediatria, professora orientadora da Residência de Pediatria e Cirurgia Geral do Hospital Universitário Getúlio Vargas, mestre em Patologias Tropical – Ufam – Manaus-AM, e-mail: au-xliadoraneves@ufam.edu.br16 Estudante do 4.º ano de Medicina – Ufam – Manaus-AM.17 Estudante do 5.º ano de Medicina – UEA – Manaus-AM.
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incidência de gastroesquise com o perfil materno dos neonatos e com as características
da gravidez para tentarmos encontrar os fatores de risco para o desenvolvimento dessa
doença. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo retrospectivo, observacional do tipo coorte
que avaliou 139 casos de gastroesquise submetidos à correção cirúrgica no Instituto da
Criança do Amazonas (Icam), no período de 1998 a 2008. Tendo como base um formulário
para coleta dos dados, se identificou a incidência dos casos de gastroesquise anualmente, o
perfil epidemiológico dos neonatos, fatores maternos, familiares, obstétricos e perinatais
associados, outras malformações congênitas associadas, fatores pré-operatórios,
evolução pós-operatória e sobrevida relacionada aos fatores prognósticos relacionados.
RESULTADOS: Foram analisados 139 recém-nascidos portadores de gastroesquise, os
quais foram internados para a realização de tratamento cirúrgico, destes, 137 (98,6%)
são oriundos do Amazonas e 2 (1,4%) de outros Estados. A média da idade em horas de
vida foi de 19,8 (± 20,2), da idade gestacional em semanas foi de 37 semanas (± 1,98),
o peso ao nascer em quilogramas foi de 2,372 Kg (± 0,38), a estatura em centímetros foi
de 44,7 (±2,76) e a idade da mãe em anos foi de 19,2 (± 4,7). Em relação ao tempo de
internação médio em horas foi de 19,8 (± 20,2), enquanto o tempo médio entre o parto e a
intervenção cirúrgica foi de 13,2 horas (± 14,77). Verificou-se uma prevalência de 16,02 por
100.000 nascidos vivos. Houve maior prevalência no sexo masculino (56%) contra apenas
44% do sexo feminino. Em 29 recém-nascidos (34%) foi realizada correção cirúrgica em
tempo único (fechamento primário) e em 57 (66%) se fez correção em estágios com silos.
Quanto à evolução, 58% dos pacientes evoluíram para óbito e 42% tiveram alta hospitalar
em boas condições clínicas. DISCUSSÃO: Grande parte dos resultados aqui apresentados
se diferencia da frequência descrita na literatura internacional, uma vez que quase todas
as casuísticas estudadas referem-se a países desenvolvidos nos quais existem ótimas
condições sociais e de saúde pública, assim como diagnóstico pré-natal e protocolos de
atendimento a esses RNs. CONCLUSÃO: É importante a elaboração de programas de saúde
pública com protocolos específicos de atendimento que visem à identificação no pré-natal
dessas crianças, assim como a identificação e a instituição terapêutica precoce, o que com
certeza iria contribuir muito para a melhoria dos índices de sobrevida desses RNs.
PALAVRAS-CHAVE: Gastroesquise; Anomalias Congênitas; Amazonas; Epidemiologia.
152 revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
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14. PERFIL ANTROPOMÉTRICO DOS ESTUDANTES DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM
CARVALHO,18 Maria Auxiliadora Neves de, CARVALHO,19 Bruna Cecília Neves de, PADILLA,2 Rodrigo, ARAÚJO,20 Katiúscia Karla Lêdo, TOMAZ,2 Geísa Cruz e Silva, Diego da Costa MATOS2
INTRODUÇÃO: O rastreamento de excesso de peso em jovens tem sido amplamente
recomendado, uma vez que nas últimas décadas tem sido observado um aumento
considerável nesses valores, fato que é preocupante, visto que o sobrepeso e a obesidade
são fatores de risco para várias doenças endócrinas e cardiovasculares. Em 1995 a OMS
propôs o Índice de Massa Corporal (IMC) para definir diferentes graus de excesso de peso
e obesidade. Entre os fatores relacionados ao aumento do IMC podem-se citar estresse,
dieta inadequada e predisposição genética. OBJETIVO: O presente estudo tem por objetivo
avaliar o perfil antropométrico dos estudantes de medicina da Ufam. METODOLOGIA:
Trata-se de um estudo transversal descritivo e de caráter prospectivo que visa à avaliação
do perfil antropométrico dos alunos de Medicina. A coleta de dados foi realizada entre
janeiro e abril de 2009, por uma equipe de 3 pesquisadores previamente treinados. As
medidas de peso e estatura foram efetuadas sempre pelo mesmo pesquisador, o peso foi
aferido com a utilização de uma balança eletrônica e a altura por uma fita métrica não-
elástica fixada à parede. Foram analisados um total de 293 alunos cursando 8 períodos
diferentes. RESULTADOS: A amostra foi composta por 43,3% (127) indivíduos do sexo
masculino e 56,7% (166) do sexo feminino, sendo 45 do primeiro período, 43 do segundo
período, 43 do terceiro período, 41 do quarto período, 40 do quinto período, 39 do sexto
período, 42 dos alunos do sétimo período. A faixa etária entre os alunos variou de 16 a 46
anos, com uma média de 21,3 anos. O peso variou de 41 a 110 kg com uma média de 63,4
kg e a estatura variou de 1,50 a 1,95 m com uma média de 1,70 m. A média do IMC foi
igual a 22,7, sendo 21,48 para o sexo feminino e 24,20 para o masculino. De acordo com a
classificação proposta pela OMS, as prevalências de baixo peso, peso normal, sobrepeso e
18 Professora da Disciplina de Pediatria, professora orientadora da Residência de Pediatria e Cirurgia Geral do Hospital Universitário Getúlio Vargas, mestre em Patologias Tropical – Ufam – Manaus-AM.19 Estudante do 4.º ano de Medicina – Ufam – Manaus-AM.20 Estudante do 5.º ano de Medicina – UEA – Manaus-AM.
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obesidade foram respectivamente, 21,5%, 59,0%, 14,3% e 5%. CONCLUSÃO: Os resultados
encontrados no nosso estudo indicam uma prevalência de obesidade e sobrepeso inferior
à encontrada na literatura (Gigante DP et al, 2007), no entanto encontrou-se sobrepeso
maior em homens, todos nós sabemos os riscos que acompanham as pessoas com sobrepeso.
É importante que comecemos a pensar na elaboração de um programa de esclarecimento,
consciência e profilaxia de sobrepeso entre os alunos do curso de Medicina da Ufam.
PALAVRAS-CHAVE: Obesidade, Índice de Massa Corporal, Prevalência, Estudantes.
15. HIPERIDROSE X ESTRESSE ENTRE OS ESTUDANTES DE MEDICINA DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – ANÁLISE DE 293 CASOS
CARVALHO,21 Maria Auxiliadora Neves de, WESTPHAL,22 Fernando Luiz, CARVALHO,23 Bruna Cecília Neves de, PADILLA,3 Rodrigo, ARAÚJO,24 Katiúscia Karla Lêdo, TOMAZ,3 Geísa Cruz e Silva, Diego da Costa MATOS3
INTRODUÇÃO: A hiperidrose primária é uma doença benigna com prevalência de 1%
no mundo ocidental, caracterizada pela excessiva produção de suor em uma ou mais
regiões anatômicas do organismo como palmar, plantar, axilar ou facial; com uma
incidência hereditária em 13 a 57% dos casos tanto quanto como uma reação às alterações
climáticas. Apesar de muitas pesquisas, na Região Norte do Brasil não existe nenhum
trabalho sobre a prevalência dessa doença. OBJETIVOS: Identificar a prevalência de
hiperidrose em estudantes de Medicina, avaliar a hereditariedade da hiperidrose e o perfil
antropométrico dos acometidos, analisar os fatores desencadeantes e a qualidade de vida
da população em estudo, assim proporcionar conhecimento estatístico desse distúrbio
e oportunizar diagnóstico precoce, minimizando as repercussões psicossociais a ele
atreladas. MÉTODOS: Trata-se de um estudo prospectivo observacional do tipo coorte que
21 Professora da Disciplina de Pediatria, professora orientadora da Residência de Pediatria e Cirurgia Geral do Hospital Universitário Getúlio Vargas, mestrado em Patologia Tropical – Ufam – Manaus-AM, e-mail: au-xliadoraneves@ufam.edu.br22 Doutor em Cirurgia Torácica; coordenador de Ensino e Pesquisa do Hospital Universitário Getúlio Vargas – Ufam – Manaus-AM.23 Estudante do 4.º ano de Medicina – Ufam – Manaus-AM.24 Estudante do 5.º ano de Medicina – UEA – Manaus-AM.
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analisou a incidência de hiperidrose entre os alunos de Medicina da Universidade Federal
do Amazonas, visto que essa patologia está relacionada com o estresse. Para isso, foram
utilizados questionários, com perguntas relacionadas à hiperidrose, preconizadas pela
International Hyperhidrosis Society, que visam relacionar a hiperidrose com as atividades
diárias de cada pessoa. Os alunos responderam a um questionário objetivo, capaz de
identificar a presença dessa alteração contendo perguntas relacionadas à presença ou
não de hiperidrose. Esse questionário foi avaliado pelos pesquisadores, que identificaram
os indivíduos com hiperidrose, também foram colhidas medidas do peso e de altura para
se calcular o Índice de Massa Corporal (IMC). Os alunos, que, de acordo com o primeiro
questionário, foram diagnosticados portadores de hiperidrose, passaram por uma entrevista
com pesquisadores devidamente treinados, que fizeram a diferenciação entre hiperidrose
primária e secundária. Nessa entrevista foi utilizado outro questionário-padrão, sendo
realizado, também, um exame físico completo. Os exames físicos foram realizados por
estudantes devidamente treinados, sob a supervisão de um coordenador, e os dados foram
analisados para se verificar se existia alguma relação entre a doença e as características
dos pacientes acometidos. RESULTADOS: Foram incluídos no estudo 293 estudantes,
os quais foram submetidos ao questionário sobre a presença ou não de hiperidrose e à
medição de peso e altura. Ao se avaliar a prevalência de hiperidrose, verificou-se um total
de 16 estudantes (5,5%) que se considerou ter sudorese excessiva dificilmente tolerável
ou intolerável, interferindo assim na suas atividades diárias. Destes, 16 (100%) não
apresentaram causas conhecidas de hiperidrose, oito (50%) tinham história familiar e oito
(50%) também apresentavam hiperidrose noturna. Em 100% o acometimento foi bilateral,
sendo os locais mais afetados: mãos (35,7%), pés (21,4%), axila (17,9), rosto (10,7%),
costas (7,1%), tórax (3,6%) e barriga (3,6%). Pelo questionário sobre qualidade de vida,
observamos que os estudantes afetados pela hiperidrose têm sua vida afetada em todos os
aspectos, tais como relacionamentos pessoais, interpessoais e profissionais. CONCLUSÃO:
No estudo proposto, foi verificada uma incidência de hiperidrose em estudantes superior à
incidência relatada na população geral (0,6 a 1%). Apesar de não se tratar de uma doença
grave, a hiperidrose afeta negativamente a vida rotineira dos indivíduos.
PALAVRAS-CHAVE: Hiperidrose; Prevalência; Estudantes; Amazonas.
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16. ESTUDO EXPERIMENTAL DOS EFEITOS DO ÓLEO DE RESINA DE COPAÍBA E DO NITRATO
DE PRATA NA PLEURA E PARÊNQUIMAPULMONAR DE RATOS
REICHL,25 Alfredo Coimbra, WESTPHAL,26 Fernando Luiz, ROMERO,27 Tatiana Cortez, GALATI,3 Danilo, CARVALHO,3 Carmen Oliveira, CANZIAM,28 Mauro, PÊGO-FERNANDES,29 Paulo
INTRODUÇÃO: Apesar de escassos, estudos anteriores com o óleo de copaíba demonstraram
que ele possui a propriedade de iniciar extenso processo inflamatório em mesotélios.
Aliando-se a isso se encontra a necessidade atual em encontrar uma substância que possua
maior eficácia e menos efeitos colaterais à realização de pleurodese. Ao realizar a fusão
das pleuras parietal e visceral por meio da pleurodese, é possível evitar recidivas de uma
efusão gasosa ou derrame pleural, procedimento este que pode beneficiar pacientes com
pneumotórax recorrente e derrame pleural crônico. OBJETIVOS: Análise experimental
comparativa do óleo-resina de copaíba da espécie Copaifera multijuga e o nitrato de
prata a 0,5% para a indução de pleurodese em ratos. MÉTODO: O estudo experimental,
prospectivo e randomizado foi realizado com a instilação de óleo de resina de copaíba
na cavidade pleural de ratos da raça Rattus norvegicus var. wistar, machos, adultos, com
peso médio de 200 g. As reações pleurais macro e microscópicas provocadas pelo óleo de
resina de copaíba foram comparadas com as reações provocadas pelo nitrato de prata –
substância de uso difundido atualmente na realização de pleurodese, com consequentes
alterações macro e microscópicas bem conhecidas – e com o grupo controle, que em cuja
cavidade pleural foi instalada soro fisiológico a 0,9%. Foram utilizados 96 ratos divididos
em três grupos, cada grupo corresponderia uma substância a ser instilada: óleo de copaíba,
nitrato de prata ou soro fisiológico. Cada grupo foi então subdividido em outros 4 grupos,
que corresponderam à análise macroscópica que ocorreu após o sacrifício em 24, 48, 72
ou 504 horas (21 dias) à instilação do agente esclerosante. RESULTADOS: A média do grau
das alterações macroscópicas foi maior (p=0,015) no grupo Copaíba 24h (2,50 ± 0,53) em
25 Acadêmico de Medicina da Universidade Federal de Medicina.26 Prof. Dr. médico cirurgião torácico.27 Acadêmico de Medicina da Universidade Federal de Medicina.28 Professor de Patologia do Incor.29 Professor associado da FMUSP.
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relação ao Nitrato de Prata (1,88 ± 0,35). A média dos graus da reação inflamatória aguda
da pleura parietal foi maior (p=0,01) no grupo Copaíba 24h (1,63 ± 1,06) em relação ao
grupo Nitrato de Prata (0,38 ± 0,52), o mesmo ocorrendo no grupo 72h (1,38 ± 0,92 e 0,25
± 0,46; p=0,008). A média do grau fibrose na pleura visceral foi maior (p=0,017) no grupo
Copaíba no tempo 504h (1,38 ± 0,74) em relação ao grupo Nitrato (0,50 ± 0,54). A média
do grau de neovascularização da pleura visceral foi maior (p=0,018) no grupo Copaíba 504h
(1,50 ± 1,07) em relação ao grupo Nitrato (0,34 ± 0,52). A média do grau do edema alveolar
foi maior (p=0.003) no grupo Nitrato (1,50 ± 1,20) em relação ao grupo Copaíba, no qual
não foi observada essa alteração. A presença de broncopneumonia foi maior (p=0,038) no
grupo Nitrato 24h (n=4) em relação ao grupo Copaíba (n=0). CONCLUSÕES: Os animais
do grupo Copaíba demonstraram maior reação pleural macroscópica e maior inflamação
aguda na pleura parietal. A fibrose e a neovascularização da pleura visceral foram mais
evidentes no grupo Copaíba, porém foram observados edema alveolar e broncopneumonia
no grupo Nitrato. Os dois grupos promovem a pleurodese, sendo que o grupo Nitrato
demonstrou uma maior agressão ao parênquima pulmonar.
17. HEMOGLOBINÚRIA PAROXÍSTICA NOTURNAE INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA
ARAÚJO, IR; AGUIAR, JA; MATOS, JC
INTRODUÇÃO: A Hemoglobinúria Paroxística Noturna (HPN) é uma doença caracterizada
por um defeito na fixação de GPI (Glicosilfosfatidilinositol) por conta de anormalidades
no gene do PIG-A. Isto leva à ausência completa ou parcial de proteínas ligadas ao
GPI, particularmente CD-59 e CD-55. As manifestações clínicas relacionadas à HPN
são relacionadas à função hematopoiética, incluindo anemia hemolítica, estado de
hipercoagulação, e diminuição da hematopoiese. O diagnóstico pode ser confirmado pelo
teste de Ham. OBJETIVO: Relatar um caso de paciente de 30 anos com diagnóstico de
Hemoglobinúria Paroxística. METODOLOGIA: Relato de caso. RELATO DO CASO: Paciente
do sexo masculino, 30 anos, pardo, natural e procedente de São Sebastião do Uatumã-AM.
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Paciente refere que desde 2006 apresentava episódios de dispneia aos esforços, mialgia em
membros inferiores e dorso, astenia intensa; tendo procurado atendimento médico sem
diagnóstico. Em março de 2008 evolui com tosse produtiva com expectoração amarelada,
dor torácica ventilatório-dependente evoluindo com vômitos, diarreia pastosa sem muco
ou sangue, cólicas abdominais. Procurou facultativo sendo internado para exames, tendo
evoluído com disúria, dor em baixo-ventre, oligúria e urina escurecida. Após dois dias, inicia
quadro de edema de membros inferiores. Evidenciado aumento de escórias e encaminhado
para o Centro Integrado de Nefrologia – HUGV para investigação. Paciente relatou quadro
de anemia sem causa conhecida desde 2005, tendo recebido transfusão de concentrado de
hemácias em duas ocasiões. A história familiar não apresentava fatos dignos de nota. Ao
exame físico, apresentava-se hipocorado, desidratado, com edema de membros inferiores
e sem outras alterações. Os exames hematológicos demonstravam anemia normocítica
e hipocrômica; com níveis de ferro normais; desidrogenase lática, bilirrubina indireta
e contagem de reticulócitos normais. A bioquímica demonstrou aumento de escórias
nitrogenadas, evoluindo o paciente com necessidade dialítica. A sedimentoscopia urinária
demonstrou 25 leucócitos/campo, 15 hemácias/campo, cilindros granulosos e hialinos;
proteinúria de 24h: 212 mg. Urinocultura negativa. Sorologias virais e FAN (Fator antinuclear)
negativos. Realizado biópsia renal que demonstrou maciça deposição de pigmento
hemossiderótico em células tubulares, discreto grau de edema e fibrose intersticial e
alterações degenerativas tubulares. Paciente evolui com recuperação da função renal,
permanecendo em uso de prednisona, ácido fólico, sulfato ferroso e acompanhamento
com a Nefrologia e Hematologia. CONCLUSÃO: A Hemoglobinúria Paroxística Noturna é
uma doença crônica com alta morbidade e mortalidade. Progressão para anemia aplásica,
mielodisplasia e leucemia aguda também podem ocorrer. A HPN pode levar a duas formas
de disfunção renal. Primeiro, uma forma aguda, espontânea ou precipitada por transfusão
sanguínea, com hemoglobinúria maciça causando insuficiência renal aguda. Segundo, uma
forma crônica, onde a hemólise crônica leva a um depósito de ferro nos túbulos renais. O
excesso de ferro pode ser visualizado por imagens na ressonância e, em alguns casos, por
detectores de metal em aeroportos. O depósito de ferro pode levar à disfunção do túbulo
proximal e a hemossiderose pode levar à insuficiência renal crônica.
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18. GRAU DE IMPORTÂNCIA DA APARÊNCIA PESSOAL E ATITUDE DOS MÉDICOS NO
ATENDIMENTO HOSPITALAR EAMBULATORIAL PELOS PACIENTES
MONTEIRO,30 Bianca Macedo, BARBOSA,31 Adriana Cristina Soares, MEDEIROS,2 Leonardo Junio da Silva, LIMA,2 Thaiza Maria Oliveira da Câmara, CUNHA,2 Keite Ivi Moura da, AMARAL,2 Aline Oliveira do
INTRODUÇÃO: A relação médico-paciente é estabelecida no primeiro atendimento e,
muitas vezes, pode sofrer interferências por conta da aparência e atitude do médico diante
do paciente. Como parte da sociedade, nossos costumes culturais são manifestados no
cotidiano interferindo nessa relação de forma suficiente ou não satisfatória. OBJETIVOS:
Conhecer a opinião dos pacientes sobre a aparência e atitude médicas caracterizadoras
das interferências desfavoráveis na relação médico-paciente. Além disso, permitir aos
discentes futuramente, como médicos, melhor conduzir o atendimento, estabelecendo
adequada relação médico-paciente. MÉTODOS: Aplicou-se um questionário a cem pacientes
do Hospital Universitário Getúlio Vargas e do Ambulatório Araújo Lima, de ambos sexos
e com idade de 15 a 72 anos. Constavam no questionário questões diversas sobre formas
de aparência e atitudes do médico: profissionais com ou sem jaleco, com jaleco sujo ou
amassado, uso de gravata, maquiagem, decote, saia, cabelo solto ou preso, compridos ou
mal cortados, piercing e tatuagens, utilização de palavrões, uso de eletrônicos durante o
atendimento, mal-humorados e que não sorriem. Foi atribuído a cada item três opções:
indiferente, aceitável e inaceitável. RESULTADOS: As características que mais interferem
negativamente foram: médicos sem jaleco 60%, com jaleco sujo ou amassado 87%, com
decote ou saia 59%, barba por fazer 52%, com piercing 61%, cabelos compridos ou mal
cortados 62%, faz piadinhas 55%, fala palavrões 96%, sisudo 71%, autoritário 70%, que usa
notebook durante a consulta 66%, que fala ao telefone durante o atendimento 83% e mal-
humorado 93%. As condutas mais aceitas foram: cabelos presos 78%, com maquiagem 71%
e sem gravata 64%. CONCLUSÃO: Condutas como o uso de jaleco limpo e cabelos presos
demonstraram ser desejáveis e atitudes como falar palavrões ou falar ao telefone durante
30 Autora.31 Coautora.
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o atendimento e estar com mau humor inaceitáveis. O estabelecimento da confiança na
relação médico-paciente é imprescindível para o atendimento restabelecer o paciente,
devendo o aluno ter desde já conduta apropriada para a profissão médica.
19. ANÁLISE DO CONHECIMENTO DOS ESTUDANTES DE MEDICINA ACERCA DO DIAGNÓSTICO DE MORTE ENCEFÁLICA
ALMEIDA,32 Rosemary Alves de, ELAMIDE,1 Bruno Corrêa, TUPINAMBÁ,1 Luís Felipe, OLIVEIRA,1 Michele Cristina Lima de, PRIANTE,1 Felipe Carvalho, PEREIRA,1 Renata Escher
INTRODUÇÃO: O conceito de morte encefálica (ME) parece estar bem estabelecido na maior
parte dos países do mundo. Estudos indicam maior correlação positiva quanto à doação
de órgãos entre populações devidamente esclarecidas quanto a conceitos diagnósticos de
cessação da vida. Desse modo, estudantes de Medicina apresentam papel de destaque
nesse contexto, considerando-os como futuros profissionais da saúde. OBJETIVO: Avaliar o
conhecimento de estudantes de Medicina acerca do protocolo diagnóstico de ME (Resolução
n.º 1.480/97, do CFM). MÉTODOS: Foi realizado um estudo de coorte transversal na
Universidade Federal do Amazonas, com o intuito de avaliar o conhecimento dos estudantes
de Medicina acerca do protocolo de ME. Os indivíduos participantes da pesquisa foram
randomizados a partir do número de acadêmicos matriculados do sexto ao décimo segundo
períodos do referido curso no semestre 2009-1, sendo um total de 120 indivíduos pré-
selecionados. A participação no estudo se deu por meio de preenchimento de questionário
fechado padronizado e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os
resultados foram analisados por meio do software Epi-info e expressos em porcentagem.
RESULTADOS: Participaram da pesquisa 112 alunos, sendo 58% do sexo feminino e 42%
do sexo masculino. Quando questionados quanto à realização dos testes propedêuticos
a serem realizados para confirmação do diagnóstico de ME, 68,7% consideram pupilas
arreativas, 78,5% coma aperceptivo, 62,5% reflexo córneo-palpebral, 77,6% reflexo óculo-
32 Alunos da Graduação em Medicina da Ufam.
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cefálico, 53,5% reflexo da tosse e 89,2% apneia. Quanto aos exames diagnósticos a serem
realizados para confirmação de ME, 57,1% correlacionaram positivamente à realização de
arteriografia, 82,1% eletroencefalograma e 43,5% Doppler trasncraniano. Foi questionada,
ainda, a segurança com a qual o indivíduo realizaria o diagnóstico de ME: 32,1% relataram
não apresentar segurança e 23,2% pouca segurança. CONCLUSÕES: O atual conhecimento
dos estudantes de Medicina relacionado a conceitos diagnósticos de ME é limitado,
necessitando, assim, de maior abordagem teórico-prática relacionada ao tema.
20. ESTUDO DO PERFIL SOCIOECONÔMICO E ASPECTOS DO PRÉ-NATAL DE PACIENTES
ATENDIDAS EM MATERNIDADE DE REFERÊNCIA DE MANAUS, AMAZONAS, BRASIL
BACELAR33, Bruno Rainer Borges, SALES,1 Drielle Nogueira, COSTA,1 Elmo Pontes da, MENEZES JÚNIOR,1 Carlos Alberto Morais, CARVALHO,1 Otávio Augusto Oliveira de, OLIVEIRA,1 Luana Araújo de, DIAS,1 Nayara de Alencar, CRUZ,1 Clarissa Santana, CARMINÉ,1 Tainan Monteconrado
INTRODUÇÃO: A Ana Braga é a maior maternidade pública do Amazonas realizando 800
partos/mês sendo referência em Manaus para atendimento de gravidez de alto risco. A
maternidade registra a maior demanda da capital sendo os serviços de partos, tratamentos
clínicos e procedimentos como curetagem os mais solicitados. O reconhecimento do
perfil socioeconômico aliado a aspectos do pré-natal da população atendida permite por
meio da detecção de focos prioritários a formulação de ações que condicionem melhoria
da qualidade dos serviços prestados pela maternidade. OBJETIVOS: Traçar o perfil
socioeconômico e avaliar aspectos do pré-natal de mulheres atendidas na Maternidade
Ana Braga. MÉTODOS: Trata-se de um estudo transversal com aplicação de questionário
contendo 35 perguntas. A amostra conta com 307 mulheres grávidas ou puérperas atendidas
na maternidade, seja para consulta médica, recebimentos de exames de rotina ou trabalho
de parto. Foram excluídas do estudo pacientes que não poderiam responder às perguntas,
33 Autor, acadêmico do curso de Medicina da Universidade Federal do Amazonas, Manaus-AM.Contato: e-mail: brunorainer@hotmail.com
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uma vez que não tinham vivenciado o acontecimento da indagação. Utilizou-se o método
de tabulação de banco de dados, cálculo de frequências e construção de gráficos e tabelas
para análise dos dados. RESULTADOS: A maior faixa etária encontrada foi entre 20 a 29
anos (56%), seguida de 13 a 19 anos (27%), 16% com idade entre 30 e 39 anos e 1% entre
40 e 49 anos. Das 307 pacientes, 260 (84,7%) eram do Amazonas, 9,7% do Pará, 2% do
Maranhão, 1,3% do Ceará e 1% de Roraima. Cerca de 40% das mulheres são donas de casa,
26% são estudantes, 15% autônomas, 10% desempregadas. Quanto à escolaridade, a grande
maioria era com nível médio completo 106 (34%), 104 (34%) com fundamental incompleto,
94 (31%) com fundamental completo. Apenas 1% tinha o nível superior completo. Perto de
65% afirmaram residir em outro bairro que não o São José I. A quantidade de pacientes
provenientes de outros municípios do Amazonas foi de 13,5%. Das atendidas, 21% residem
no mesmo bairro da maternidade. Setenta e três por cento procuraram o serviço por
decisão própria, 26% chegaram à maternidade por meio de encaminhamento médico e 1%
foi encaminhado por algum outro motivo. Oitenta por cento pretendiam a realização de
atendimento de urgência/emergência, principalmente relacionado ao trabalho de parto.
O segundo serviço mais procurado é o de consultas médicas especializadas (8%). Setenta
e seis por cento tinham intenção em continuar o acompanhamento da sua condição de
saúde. Das entrevistadas, 49,5% realizaram pré-natal de forma insuficiente. Quanto ao
início da realização do pré-natal, 51,5% iniciaram no primeiro trimestre de gravidez, 35,5%
no segundo semestre e 8% não realizaram pré-natal. O local de escolha para a realização
do pré-natal foram as Unidades Básicas de Saúde, seguido de hospitais secundários (9%) e
rede privada com (7%). CONCLUSÃO: A maternidade é uma instituição que atende grande
demanda dos partos da cidade, atendendo inclusive a de municípios do Amazonas e de
outros Estados. A grande maioria dos que chegam à maternidade visa o atendimento de
urgência/emergência. Muitas pacientes não realizam pré-natal, o que pode despertar
campanhas que visem à conscientização sobre o tema.
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21. ESPECIALIZAÇÃO PRECOCE EM ACADÊMICOS DE MEDICINA:UMA REALIDADE NA UFAM?
MEDEIROS,34 Leonarto Junio da Silva, OLIVEIRA,1 Seiarameri Lana Viola, PEREIRA,1 Vinicius Leon, MARON,1 Suzi Marla Carvalho, AMARAL,1 Aline Oliveira do, OLIVEIRA,1 Talita Souza de
INTRODUÇÃO: A especialização precoce é uma opção por uma especialidade durante ou
mesmo antes da graduação, que restringe a formação holística do médico. As diretrizes
curriculares estabelecidas pelo Ministério da Educação e Cultura preveem que o médico deve
ter uma formação generalista, humanista, crítica e reflexiva na graduação. A especialização
precoce prejudica tal formação médica e verifica-se que esse processo tem se disseminado
entre os alunos de Medicina. OBJETIVOS: Analisar e discutir a presença da especialização
precoce entre os acadêmicos de Medicina da Universidade Federal do Amazonas e o seu
impacto na formação médica. MÉTODOS: Foi aplicado questionário semiestruturado em
137 acadêmicos de Medicina do primeiro ao terceiro anos, contendo 11 questões que
abrangiam aspectos quanto à escolha da residência, influência familiar e participação em
ligas acadêmicas. Os dados foram avaliados no programa Microsoft® Excel por meio de
análise cruzada das informações obtidas. RESULTADOS: A pesquisa evidenciou que 98% dos
acadêmicos pretendem cursar residência médica e que já na primeira metade do curso
38% escolheram uma especialidade ou estão em dúvida entre duas ou três especialidades.
Daqueles que já optaram por uma especialidade (18% do total): 59% o fizeram antes
mesmo de ingressar na Universidade, 21% sofreram algum tipo de influência familiar, 33%
já deixaram de participar de alguns eventos científicos (congressos, workshops, cursos)
porque não eram da área médica visada, 42% dos acadêmicos do 3.º ano não se dedicaram
a nenhuma matéria ou módulo por pensar não ser importante na área que pretende seguir.
Quanto às ligas acadêmicas, a maioria (86%) as considera ser uma forma de incentivo à
especialização precoce, sendo que 26% dos acadêmicos questionados são ligantes. Entre
aqueles que não escolheram uma especialidade, a metade (51%) não pretende escolhê-la
ao término do curso quando se espera que possuirá conhecimento prático de todas as áreas.
34 Acadêmicos de Medicina da Universidade Federal do Amazonas e integrantes do Programa de Educação Tutorial.Contato: e-mail: leonardo_exe@hotmail.com
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O próprio meio científico desvaloriza o médico generalista e também no meio educacional
médico, professores inadvertidamente estimulam a escolha precoce. O treinamento dos
graduandos não deve ocorrer apenas em hospitais universitários de alta complexidade,
comprometendo assim a formação médica generalista ideal. Esta se concretizaria
expandindo a atuação prática para postos de saúde e comunidades. Além disso, hospitais
como o Hospital Universitário Getúlio Vargas, que deveriam ser voltados à graduação
com procedimentos gerais, precisam realizar procedimentos de alta complexidade para
se manter e assim também dão sua contribuição para esse direcionamento precoce dos
acadêmicos. CONCLUSÃO: A ocorrência da especialização precoce na primeira metade do
curso de Medicina da Ufam é frequente e pode prejudicar a formação médica generalista.
Logo, medidas educacionais devem ser implementadas para reverter essa situação e é
necessária a inserção dos acadêmicos em ambientes e situações compatíveis com uma
formação conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em
Medicina.
22. CLASSIFICAÇÃO DA CLIENTELA INTERNADA NA UNIDADE CLÍNICA MÉDICA:
PRIMEIRO PASSO PARA O DIMENSIONAMENTODA EQUIPE DE ENFERMAGEM
BENEVIDES,35 Zeivânia Amud, BECKER,36 Sandra Greice, PENHA,37 Anderson da Paz
INTRODUÇÃO: Dimensionar adequadamente a equipe de Enfermagem se torna
imprescindível para evitar problemas ocupacionais (estresse psíquico, físico e iatrogenias),
além de contemplar às exigências do cuidado de Enfermagem, partindo da visão do respeito
ao próximo, valorizando um cuidado humanizado e digno aos nossos clientes. OBJETIVO:
35 Professora assistente da Universidade Federal do Amazonas. orientadora de Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica. Líder do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em Enfermagem e Saúde – Nipes/EEM/Ufam/CNPq. Doutoranda em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.36 Enfermeira. Ex-bolsista de Iniciação Científica Pibic/Ufam/Fapeam, membro do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em Enfermagem e Saúde – Nipes/EEM/Ufam.37 Colaborador. Acadêmico de Medicina da Ufam. Membro discente do Nipes/EEM/Ufam.Contato: e-mail: sgbecker@ufam.edu.br
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Trata-se de uma pesquisa exploratório-descritiva, empregando os recursos técnicos de
abordagem quantitativa. Realizada no Hospital Universitário Getúlio Vargas, em Manaus-
AM, teve como objetivo classificar pacientes internados no Serviço de Clínica Médica,
de acordo com o seu grau de dependência dos cuidados de enfermagem, a partir da
Escala de Perroca, o qual apresenta 13 indicadores críticos relacionados às necessidades
individualizadas de assistência ao paciente, classificando o cuidado de enfermagem em 5
categorias: mínimos, intermediários, semi-intensivos, intensivos ou total. RESULTADOS:
No período de 22/12/2005 a 26/3/2006, foram realizadas 984 avaliações, numa unidade
de 40 leitos. Por meio do software Epi-info, obteve-se como resultado: 63% dos pacientes
classificados como necessitando de cuidados mínimos, 36% cuidados intermediários
e 1% cuidados semi-intensivos. CONCLUSÃO: A Escala de Perroca é um instrumento de
classificação de pacientes que apresenta confiabilidade para ser utilizado na prática
gerencial do enfermeiro como instrumento diagnóstico de categoria de cuidado a que o
paciente pertence, bem como da carga de trabalho da equipe de enfermagem.
PALAVRAS-CHAVE: Classificação; Dimensionamento; Cuidado de Enfermagem.
23. DETECÇÃO DE REAÇÃO ADVERSA À CEFALOTINA POR MEIO DA
FARMACOVIGILÂNCIA: RELATO DE CASO
ARAÚJO,38 Maria Elizete, BEZERRA,39 Nádia Maria S., BORGES,40 Kelly Patrícia, COSTA,2 Herbert Theury Souza da; CRUZ,2 Ana Patrícia Inácio da; MAGALHÃES,41 Mary Joyce T. L, PENHA,42 Anderson da Paz
INTRODUÇÃO: A cefalotina é uma cefalosporina de primeira geração amplamente utilizada
em âmbito hospitalar, tanto para tratamento clínico quanto para profilaxia cirúrgica,
que age de forma a inibir a síntese da membrana celular de bactérias Gram positivas.
38 Farmacêutica. Gerente de Risco Sanitário Hospitalar do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV). Avenida Apurinã, 4 – Praça 14 de Janeiro – CEP: 69020-170 – Manaus/AM.39 Acadêmico de Farmácia da Ufam. Bolsista da GRSH/HUGV.40 Acadêmico de Enfermagem da Ufam. Bolsista da GRSH/HUGV.41 Acadêmica de Farmácia e Bioquímica da Ufam.42 Acadêmico de Medicina da Ufam.Contato: (92) 3305-4741/ hugvsentinela@ufam.edu.br
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Dentre as principais reações adversas já relatadas desse agente antimicrobiano, estão as
reações de hipersensibilidade, incluindo rash cutâneo, tromboflebite, eosinofilia, febre,
anafilaxia, náuseas, disfunção renal e a ocorrência de sangramento por hipotrombinemia.
O serviço de farmacovigilância auxilia na prevenção e detecção dessas reações. OBJETIVO:
Relatar a ocorrência de um caso de reação adversa pelo uso de cefalotina no Hospital
Universitário Getúlio Vargas (HUGV) demonstrando a importância da farmacovigilância
na identificação desta. MÉTODOS: Acompanhamento do Serviço de Farmacovigilância por
busca ativa realizada pela Gerência de Risco Sanitário Hospitalar do HUGV. Foi utilizado
formulário semiestruturado preconizado pela Anvisa para investigação e notificação da
suspeita de Reações Adversas a Medicamentos, bem como o Algoritmo de Naranjo para
sua classificação. RESULTADOS: Acompanhamento da paciente A.P.C.G., sexo feminino,
19 anos, vítima de acidente automobilístico, encaminhada do Pronto-Socorro 28 de
Agosto para o HUGV em 31/8/2008, com diagnóstico principal de múltiplas fraturas em
membros inferiores. No primeiro dia da internação foi iniciada antibioticoterapia com
cefalotina 2 g IV de 6/6h e no oitavo dia de tratamento a paciente relatou mal-estar geral,
náuseas e um episódio emético. No nono dia, a paciente realizou cirurgia para reparo
das fraturas. No dia 25/9/2008, após 21 dias de uso de cefalotina sódica (2 g, EV, 6/6
horas), apresentou hipersensibilidade, febre, prurido e sangramento gengival. A reação
adversa foi evidenciada pela equipe médica, que suspendeu a cefalotina. A Gerência
de Riscos Sanitários Hospitalar do HUGV confirmou a reação e classificou-a como grave
por meio da busca ativa com coleta de dados no prontuário médico e entrevista com
a paciente. Essa intervenção contribuiu no procedimento das terapêuticas posteriores
resultando na melhora do quadro clínico da paciente e alta hospitalar, sem queixas, no
dia 8/11/2008. CONCLUSÕES: Com a realização da busca ativa no prontuário e entrevista
com a paciente, foi possível identificar maiores parâmetros referentes a suspeita da
reação. Assim, a par das informações necessárias, pôde-se estabelecer a correlação do
aparecimento de complicações e reações adversas com o uso do medicamento, resultando
em um acompanhamento mais atencioso da terapia medicamentosa e auxiliando na troca
ou suspensão de medicamentos potencialmente prejudiciais.
PALAVRAS-CHAVE: Farmacovigilância; Cefalotina; Reação Adversa a Medicamento.
166 revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
REFERÊNCIAS
WALTER, T., Manual de Antibióticos e Quimioterápicos Anti-infecciosos. 3. ed. São Paulo:
Editora Atheneu, 2001.
KATZUNG, B. G. Farmacologia Básica & Clínica. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
2009. p. 663-7.
SEWEETMAN, S. C. Martindale. Guia Completa de Consulta Farmacoterapêutica. 1. edição.
Barcelona: PharmaEditores, 2003.
24. RE-SIMPATECTOMIA PARA TRATAMENTO DE RECIDIVA DE HIPERIDROSE – RELATO DE
TRÊS CASOS
WESTPHAL,43 Fernando, LIMA,1 Luís Carlos, LIMA NETTO,1 José Corrêa, SILVA,1 Iuri Costa, VALÉRIO,1 Adriana, ANDRADE,44 Thiago, BACELAR,2 Bruno Rainer Borges, WESTPHAL,2 Danielle Cristine
INTRODUÇÃO: A Simpatectomia videotoracoscópica constitui hoje no tratamento cirúrgico
para a hiperidrose facial, palmar e axilar, com um alto grau de satisfação pós-operatório.
Apesar de ser amplamente utilizada para esse fim em vários serviços de cirurgia torácica,
é passível de complicações pós-operatórias que incluem a sudorese compensatória,
pneumotórax residual, hemotórax, dor e recidiva dos sintomas. A recidiva da sudorese é
uma complicação mais rara, com relatos de acometer até 6% dos pacientes submetidos à
cirurgia. OBJETIVO: Relatar três casos de pacientes submetidos à re-simpatectomia por
conta da recidiva da hiperidrose após tratamento cirúrgico. MÉTODOS: Estudo retrospectivo
de 204 pacientes submetidos à simpatectomia bilateral por videotoracoscopia e três casos
de re-simpatectomia. RESULTADOS: Foram analisados 204 pacientes, com média de idade
de 26 anos, e 78% do sexo feminino. Em 3 casos após a recidiva da hiperidrose, os pacientes
foram submetidos à re-simpatectomia, em todos os casos após a primeira cirurgia houve
43 Hospital Universitário Getúlio Vargas.44 Universidade Federal do Amazonas.
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
melhora da hiperidrose. Apresentaram recidiva dos sintomas em média após 3,6 meses.
Todos tiveram a recidiva da hiperidrose na axila, sendo que um caso esta foi bilateral.
Um paciente foi submetido à re-simpatectomia bilateral e dois à unilateral, nos 3 casos os
pacientes apresentavam aderências pleurais, em dois casos a cadeia simpática se apresentava
ressecada parcialmente em nível de T3, sendo realizado a clipagem desse cadeia; em um
caso não se verificou a causa da recidiva sendo realizada então a simpaticotomia por ablação
em nível de T2 e T5. CONCLUSÃO: A recidiva da hiperidrose se apresenta geralmente de 3
a 6 meses após a primeira cirurgia e na maioria dos casos se deve a uma cadeia simpática
parcialmente íntegra. A re-simpatectomia deve ser indicada nesses casos sendo que esta
apresenta um maior número de complicações, por causa das aderências pleuropulmonares
e em nossos casos uma sudorese compensatória mais intensa.
PALAVRAS-CHAVE: Hiperidrose, Tratamento Cirúrgico, Simpatectomia.
25. QUALIDADE DE VIDA EM PACIENTES NO PÓS-OPERATÓRIO DE REVASCULARIZAÇÃO
DO MIOCÁRDIO POR INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO, QUE REALIZARAM PRÉ-
OPERATÓRIO E QUE NÃO REALIZARAM PRÉ-OPERATÓRIO DE FISIOTERAPIA
MALEZAN,45 William Rafael, BAHIA,46 Bárbara Lira, MENDONÇA,2 Débora, BARBOSA,2 Helena Nogueira, LOPES,2 Kamilly Eduarda Frazão, ROCHA,2 Patrícia Maria do Nascimento
INTRODUÇÃO: A qualidade de vida na expectativa de manter a longevidade torna-se cada
vez mais almejada por aqueles que irão se submeter à cirurgia de revascularização do
miocárdio, Tendo em vista que o infarto agudo do miocárdio vem acompanhado de alto
índice de morbidade e mortalidade, sendo considerada a principal causa de morte nos
países industrializados, pois geralmente acomete o indivíduo em sua fase de vida mais
produtiva, podendo levar a grandes comprometimentos psicossociais e econômicos. Sendo
45 Professor do Centro Universitário do Norte – Uninorte, Manaus, AM – dr.rafaelmalezan@hotmail.com46 Acadêmica do Uninorte – fisio.barbara@hotmail.com, debora.mendonca@gmail.com, lenna_nb87@hot-mail.com, k_millyeduarda@hotmail.com, patricia_n_rocha@hotmail.com.
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assim, a fisioterapia aplicada no pré-operatório de cirurgia proporciona a esses pacientes
uma recuperação significativa, propiciado uma melhor qualidade de vida e a manutenção
das suas atividades de vida diária. OBJETIVOS: Demonstrar que, com a realização do
pré-operatório de fisioterapia, o paciente terá melhor qualidade de vida. Ressaltar a
necessidade da aplicabilidade da fisioterapia no pré-operatório da revascularização do
miocárdio. MÉTODOS: Neste trabalho, foi realizada a revisão bibliográfica da qualidade
de vida em pacientes que realizaram e os que não realizaram o pré-operatório em
fisioterapia em cirurgia de revascularização do miocárdio em portais de busca como Scielo
e PubMed, com termos descritores de qualidade de vida. Revascularização do miocárdio e
fisioterapia. RESULTADOS: Observou-se em 18 (dezoito) referências que o pré-operatório
de fisioterapia em pacientes que realizaram a cirurgia de revascularização do miocárdio foi
bastante satisfatório na melhora da qualidade de vida. CONCLUSÃO: Dessa forma, sendo
o infarto agudo do miocárdio um dos grandes indicadores de sofrimento na população, a
intervenção fisioterapêutica no pré-operatório é de inevitável importância, pois com ela
iremos proporcionar uma melhora na qualidade de vida do paciente demonstrando assim a
fundamental importância de um tratamento específico, analisando, por fim, um resultado
comparativo com o paciente que não teve acesso à fisioterapia pré-operatória.
PALAVRAS – CHAVE: Qualidade de Vida, Fisioterapia, Revascularização do Miocárdio.
26. AMILOIDOSE SISTÊMICA PRIMÁRIA:RELATO DE CASO E CONSIDERAÇÕES
PETRUCCELLI,47 Karla, WESTPHAL,48 Danielle Cristine, SILVA,2 Ana Carolina Santos
INTRODUÇÃO: Amiloidose constitui um grupo heterogêneo de doenças resultantes de uma
sequência de alterações no desdobramento de proteínas, que induz o depósito de fibrilas
amiloides insolúveis, principalmente nos espaços extracelulares de órgãos e tecidos,
como coração, fígado e rins. Na amiloidose primária, os locais típicos de acúmulo de
amiloide são o coração, a pele, a língua, a tireoide, os intestinos, o fígado, os rins e os
47 Autor, nefrologista.48 Acadêmica de Medicina da Universidade Federal do Amazonas.
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vasos sanguíneos. Esse acúmulo pode acarretar insuficiência cardíaca, arritmias cardíacas,
dificuldade respiratória, espessamento da língua, hipoatividade da tireoide, má absorção
dos alimentos, ocasionando inclusive diarreia crônica, insuficiência hepática, insuficiência
renal e equimoses faciais ou outros sangramentos anormais decorrentes do efeito
do amiloide sobre a coagulação sanguínea. OBJETIVO: Relatar um caso de amiloidose
sistêmica primária baseado em evidência científica. RELATO DE CASO: J.T.D., 65 anos, sexo
masculino, hiperuricêmico há aproximadamente quinze anos, em uso de beta-bloqueador
desde os vinte e cinco anos de idade, procurou o Serviço de Nefrologia apresentando na
ocasião ureia e creatinina discretamente elevadas, albuminúria e eletroforese normal.
Passados dois anos, paciente retornou ao serviço apresentando alterações na ureia,
creatinina e proteinúria, e relatando quadro diarreico crônico sem causa conhecida.
À ultrassonografia foi constatada redução da espessura cortical renal e observou-se no
ecocardiograma hipertrofia ventricular esquerda moderada (292 g). Foi iniciada pesquisa
etiológica da insuficiência renal crônica e após dois meses ocorreu agudização do quadro
geral, manifesto por hipotensão severa e importante edema de membros superiores e
inferiores, optando-se pela internação na unidade de medicina intensiva que teve duração
final de dez dias. O ecocardiograma realizado nessa ocasião apontou discreto derrame
pericárdico. A evolução do paciente foi favorável e este obteve alta após dez dias. A
eletroforese de proteínas demonstrou altas dosagens de alfa 1 globulina e alfa 2 globulina
e, predominantemente, beta 2-microglobulina, confirmando o diagnóstico de amiloidose
primária sistêmica. Realizou-se biópsia de medula óssea com laudo de hipoplasia leve
de medula e atrofia serosa gordurosa também compatível com amiloidose sistêmica.
Durante sessão de hemodiálise, o paciente apresentou hipotensão severa não responsiva à
reposição volêmica em decorrência de choque cardiogênico. Na ecocardiografia observou-
se hipertrofia ventricular esquerda importante (345 g) e disfunção diastólica de VE associado
a discreto derrame pericárdico e pleural. Não houve resposta à terapêutica adotada
culminando em óbito após vinte e um dias de internação. CONCLUSÃO: Amiloidose sistêmica
é muitas vezes uma doença inevitavelmente progressiva e incurável, sendo a maioria das
mortes relacionadas a complicações cardíacas e renais. O tratamento dos pacientes com
amiloidose sistêmica é insatisfatório e o prognóstico reservado, apresentando sobrevida
média de 20 meses. Terapias mais eficazes são necessárias para o manejo dessa doença.
PALAVRAS-CHAVE: Amiloidose, Depósito, Proteína Amiloide.
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27. CORREÇÃO DE LESÃO TRAUMÁTICA AGUDA DA AORTA TORÁCICA
POR STENT: RELATO DE CASO
LIMA,49 Luiz Carlos de, AVELAR,50 Silas Fernandes, WESTPHAL,1 Fernando Luiz, SANTOS,2 Fausto Vieira dos, SOEIRO,2 Álvaro Bernardo, PERDOMO,2 Javier Cruz; LIMA,1 Ingrid Loureiro de Queiroz; WESTPHAL,1 Danielle Cristina, MELO,1 Naira, CARVALHO,1 Bruna Cecília, PADILLA,1 Rodrigo
INTRODUÇÃO: Lesão da aorta torácica por trauma contuso constitui verdadeiro desafio
para cirurgiões, visto a dificuldade de diagnóstico por conta da ausência de exames
complementares adequados em muitos Serviços de Emergência. Outro importante aspecto
é o fato de que lesões podem ocorrer até trinta dias após o trauma, sendo necessário,
portanto, alto grau de suspeição para seu correto diagnóstico, além de que, frequentemente,
não há sinais ou sintomas característicos em paciente com trauma fechado do tórax que
indiquem a presença de rotura da aorta torácica. Lesões traumáticas na aorta torácica,
ainda que com tratamento adequado, possuem alta morbidade e uma mortalidade de 15
a 28%. O tratamento endovascular por meio do uso de stents é uma técnica relativamente
nova, que tem demonstrado grande vantagem sobre as demais, além de segura e com
bons resultados quando bem indicada. OBJETIVO: Relatar um caso do uso de stent para
tratamento de lesão traumática aguda da aorta torácica. METODOLOGIA: Relato de caso.
RELATO DE CASO: Paciente J.P.C., 55 anos, sexo feminino, sofreu traumatismo de tórax
e evoluiu com dor no tórax e no abdome superior acompanhado de dispneia. O estudo
radiológico do tórax mostrou áreas de hipotransparência em lobo superior esquerdo com
discreto alargamento mediastinal. Foi realizada ultrassonografia abdominal a qual mostrou
áreas de hematoma hepático. A angiotomografia do tórax revelou área de hematoma
periaórtico logo abaixo da artéria subclávia esquerda. Havia também sinais de lesão da
íntima. A paciente foi submetida a implante de stent em aorta descendente. A tomografia
de controle antes da alta hospitalar mostrou resultado satisfatório, com cobertura total
da lesão e sem sinais de vazamento. CONCLUSÃO: O tratamento endovascular de lesões
traumáticas arteriais tem se desenvolvido com novos tipos de endoprótese autoexpansível
49 Ufam.50 Hospital Português Beneficente de Manaus.
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(stents) que permitem a sua colocação por técnicas minimamente invasivas diminuindo
substancialmente a resposta inflamatória ao trauma, além de permitir um menor tempo
de internação ao paciente.
PALAVRAS-CHAVE: Aorta Lesões, Aorta Cirurgia, Trauma.
28. COMPLICAÇÕES TORÁCICAS DE SONDA DE DOBB-HOFF. RELATO DE CINCO CASOS
WESTPHAL,51 Fernando Luiz, LIMA,52 Luiz Carlos de, NETTO,1 José Corrêa Lima, WESTPHAL,1 Danielle, LIMA,1 Ingrid, CARVALHO,2 Bruna Cecília Neves de, PADILLA,2 Rodrigo
INTRODUÇÃO: Um grande problema de pacientes crônicos em terapia intensiva é o
suporte nutricional enteral por meio de sondagem, pois consiste em procedimento que
na maioria das vezes é eficiente, porém sendo possível ocorrerem complicações que vão
desde pequenas lacerações esofágicas, sangramentos, até perfurações. OBJETIVO: Relato
de cinco casos de complicações torácicas por sonda de nutrição enteral. METODOLOGIA:
Estudo retrospectivo, realizado no período de 1997 a 2008, em pacientes com complicações
torácicas decorrentes da introdução de sonda para alimentação enteral. RESULTADOS: A
idade média dos pacientes foi de 74 anos, sendo dois do sexo feminino e três do sexo
masculino. Dois pacientes encontravam-se em prótese respiratória e sedados, um estava
no isolamento da UTI e dois estavam em unidade intermediária submetidos à sondagem
para a alimentação enteral para melhora do aporte calórico desses pacientes. Em todos
os pacientes houve dificuldade na sondagem, sendo essa manobra tentada por mais de
uma pessoa em mais de uma ocasião. O diagnóstico da lesão foi em média 24 horas após
a introdução da sonda. No tratamento desses pacientes houve cinco tipos de abordagens
e foram levados em consideração nessa abordagem o tipo de complicação e as condições
clínicas deles: pleuroscopia com desbridamento da cavidade e drenagem torácica, exclusão
esofágica e abdominal com drenagem de tórax, exclusão esofágica cervical e abdominal
com toracotomia com desbridamento pleural, somente drenagem pleural e broncospia
51 Hospital Universitário Getúlio Vargas52 Ufam.
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com lavado. Os pacientes com lesão pleural ou esofágica evoluíram para o óbito em 48
horas quando não foram submetidos à toracotomia com desbridamento e o paciente que
apresentou pneumonia aspirativa por conta da introdução de alimentação enteral no pulmão
evoluiu com sepse grave. CONCLUSÃO: Os pacientes em prótese respiratória, sedados ou
com comprometimento do sensório são mais passíveis de apresentarem complicações,
visto a dificuldade e a ausência de reflexo ou dor durante a sondagem.
PALAVRAS-CHAVE: Esôfago/Lesões; Ferimentos e Lesões; Perfuração Esofágica.
29. DESPIGMENTAÇÃO DA PELE – UMA NOVACOMPLICAÇÃO DA SIMPATECTOMIA?
WESTPHAL,53 Fernando Luiz; FERREIRA,54 Luiz Carlos de Lima; LIMA NETTO,2 José Correa, SILVA,55 Márcia dos Santos da, BALLUT,56 Priscila Cavalcanti, WESTPHAL,3 Danielle Cristine, LIMA,3 Ingrid Loureiro, CARVALHO,57 Diogo Monteiro de, CARVALHO,3 Bruna Cecília Neves de
INTRODUÇÃO: A hiperidrose primária é um distúrbio idiopático, caracterizado pela
sudorese excessiva e incontrolável em determinadas regiões do corpo. Sua incidência varia
de 0,3 a 4,5%. O manejo clínico é difícil e nem sempre eficaz. O tratamento definitivo é
obtido cirurgicamente por meio da simpatectomia torácica por videotoracoscopia. Apesar
da grande eficácia e baixa morbidade, a técnica não está isenta de complicações e a
sudorese compensatória é o principal inconveniente descrito. OBJETIVO: Descrever dois
casos de discromia localizada em região superior do tórax em pacientes submetidos à
simpatectomia torácica por videotoracoscopia para tratamento de hiperidrose. RELATO
DO CASO: Os pacientes, ambos do sexo masculino, com idade média de 29,5 anos,
foram submetidos à simpatectomia torácica, o primeiro por clipagem em T3 e T4 para
tratamento de hiperidrose palmar e axilar, e o segundo por ablação de T2, T3 e T4
para tratamento de hiperidrose craniofacial, axilar e palmar. A evolução pós-operatória
foi excelente com regressão dos sintomas de hiperidrose. Entretanto, após cerca de 8
53 UEA/Ufam/Nilton Lins.54 UEA/Nilton Lins.55 Ufam.56 Nilton Lins.57 UEA.
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meses os pacientes perceberam uma despigmentação da região correspondente à área
de anidrose, seguindo a linha do dermátomo correspondente ao bloqueio do estímulo
simpático, em toda circunferência do terço superior do tronco. A região adjacente com
inervação simpática preservada não apresentou nenhuma alteração de cor. Atualmente a
discromia encontra-se bem evidente, com piora após exposição solar. Relatam que essa
alteração determina um novo constrangimento, pois evitam ficar expostos sem roupa na
presença de outras pessoas. CONCLUSÃO: Essa alteração foi detectada em dois pacientes
de cor parda. Esse fato poderia ser explicado por duas hipóteses: a origem embrionária em
comum do melanócito e do sistema nervoso, pois ambos se originam de células da crista
neural, ou pela possível presença de contato direto entre terminações nervosas cutâneas
e melanócitos epidérmicos, por um mecanismo semelhante à sinapse nervosa. Ambas as
situações tornam possível que o estímulo à produção da melanina seja influenciada pela
interrupção do estímulo nervoso. Assim, o bloqueio na transmissão do estímulo nervoso
simpático poderia alterar a produção local de melanina.
PALAVRAS-CHAVE: Hiperidrose; Simpatectomia; Discromia.
30. UTILIZAÇÃO DO TUBO DE MONTGOMERY PARA TRATAMENTO DE DEISCÊNCIA DE
ANASTOMOSE ESOFAGOGÁSTRICA CERVICAL
WESTPHAL,1 F. L.; LIMA,58 L. C.; NETTO,1 J. C.; ABINADER,2 E.; VASQUES,3 V. C.
INTRODUÇÃO: A correção das fístulas consequentes a anastomoses esofagogástricas
cervicais é um desafio para o cirurgião, visto que o enxerto pode ser inutilizado no
caso de uma estenose após a deiscência da sutura. Várias técnicas têm sido descritas
para minimizar esse problema, entre elas a sutura da anastomose em dois planos, a
utilização de sutura mecânica, porém ainda se mantém um nível elevado de fístulas
no pós-operatório. Em fístulas de alto débito a utilização do tubo de Montgomery é
58 Cirurgião torácico do HUGV.2 Residente de Cirurgia Geral do HUGV.3 Acadêmico de Medicina da Ufam.
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uma opção para o seu manejo para evitar esse desfecho. OBJETIVO: Relatar um caso
de deiscência de anastomose esofagogástrica para reconstrução do trânsito intestinal.
RELATO DO CASO: Paciente masculino, portador de fenda palatina, ingeriu durante
refeição um pedaço de osso de galhinha que perfurou o esôfago torácico e induziu a um
quadro de mediastinite. O tratamento instituído foi toracotomia com desbridamento da
cavidade pleural e descompressão do mediastino e pericárdio que apresentava secreção
purulenta. Associado àquela foi submetido à esofagostomia cervical com cerclagem do
esôfago superior e abdominal, além da gastrostomia para alimentação. Após perto de
11 meses, foi submetido à reconstrução do trânsito alimentar por meio da técnica de
Graviliu retrógrado, realizado por meio de tubo confeccionado pela grande curvatura do
estômago, mantendo a vascularização pela artéria gastroepiploica direita. A transposição
do enxerto foi realizada pela região retroesternal e a sutura realizada manualmente em
dois planos com fio absorvível. No pós-operatório apresentou deiscência total da parede
anterior da anastomose esofagogástrica com uma fístula de alto débito que foi tratada com
a colocação do tubo de Montgomery. Após 12 meses o tubo foi retirado e a esofagoscopia
revelou bom trânsito alimentar pelo local da anastomose. CONCLUSÃO: Um dos grandes
problemas encontrados na cirurgia de reconstrução do trânsito esofágico é a deiscência da
anastomose, que pode determinar a perda permanente do enxerto. Nesse caso, o tubo de
Montgomery permitiu a conexão entre as duas extremidades – estômago e esôfago – sem o
desenvolvimento de estenose.
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31. O PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES COM FRATURAS ATENDIDOS NO
PRONTO-SOCORRO28 DE AGOSTO, MANAUS-AM
ROSA,59 Gilmar Garcias, SOUSA,1 José Viana de, DOURADO,1 Roberto Campos, BENTES,1 Adria Simone Ferreira
INTRODUÇÃO: O trauma é um grave problema de saúde pública e as lesões do sistema
músculo-esquelético contribuem com 85% dos casos. No Brasil, em 2001, 120.819 mortes
estavam diretamente relacionadas ao trauma, sendo 80% desses pacientes foram atendidos
em hospital de emergência. Morrem 11/100.000 pessoas após lesões provocadas por queda
e o prognóstico desses pacientes está diretamente relacionado à qualidade da assistência
médica prestada, Na fase de envelhecimento, quedas são frequentes, influenciadas por
fatores biológicos, doenças e causas externas. OBJETIVOS: Estudar as características e
fatores ligados a gênese de fraturas em pacientes atendidos na emergência, correlacionar
características das vítimas com a etiologia das fraturas, apontar os principais mecanismos
responsáveis pela gênese das fraturas, avaliar a relação entre o tempo decorrido até o
recebimento dos primeiros atendimentos hospitalares e evolução clínica dos pacientes,
listar as complicações inerentes ao trauma. METODOLOGIA: No período de agosto de
2006 a junho de 2007, foram analisados prospectivamente pacientes com fratura única
ou polifraturado no Hospital e Pronto-Socorro Municipal 28 de Agosto, em Manaus-AM.
RESULTADOS: Avaliados 129 pacientes, entre 13 a 82 anos (média de 47,5 anos), 80 (62%)
eram masculinos. Quarenta e nove (39,98%) tiveram como fator etiológico queda da própria
altura, 23 (17,82%) acidentes com motocicletas, 19 (14,72%) em prática de esporte e
15 (11,62%) em trauma direto sem queda. O diagnóstico foi clínico e radiológico, e o
tratamento foi conservador em 80 (62,01%) e cirúrgico em 17 (13,17%). O membro superior
foi mais acometido e o rádio o mais fraturado (28,68%). A faixa etária predominante de
pacientes fraturados foi entre 21 a 30 anos (22,48%), dor esta presente em 100%, limitação
dos movimentos (86,82%), edema (69,76%) e deformidade (60,46%). CONCLUSÕES: Existe
grande relação entre a etiologia da fratura e a idade dos pacientes. Nos pacientes mais
59 HUGV.
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velhos a principal causa de fratura é queda da própria altura, nos mais jovens o trauma
esportivo. A maioria apresentava boa condição hemodinâmica. O tratamento incruento
com gesso prevalece ao cirúrgico.
PALAVRAS-CHAVE: Fraturas, Etiologia, Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto.
32. ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DE FRATURAS DA EXTREMIDADE DE RÁDIO DISTAL,
MANAUS-AM
ROSA,60 Gilmar Garcias, SOUSA,1 José Viana de, DOURADO,1 Roberto Campos, MAGALHÃES,1 Telmo Moreira, SOUZA,61 José Raposo da Câmara Viana de
INTRODUÇÃO: As fraturas da extremidade distal do rádio são consideradas as mais
frequentes do membro superior, representam 1/6 das fraturas tratadas na emergência,
são reconhecidas como lesões complexas de prognóstico variável que depende do grau
de comprometimento e do tipo de tratamento instituído. No Estado do Amazonas é
notória, para os que convivem no dia a dia dos prontos-socorros da capital do Estado,
a grande incidência de casos de fraturas, entretanto não há estudos estatísticos sobre
essa patologia, sua avaliação, manejo e conduta, esta última muitas vezes limitada pela
disponibilidade escassa de material de síntese presente nos prontos-socorros de Manaus.
OBJETIVOS GERAIS: Avaliação epidemiológica dos pacientes atendidos na emergência com
fratura da extremidade distal do rádio estudando as características e fatores ligados à sua
gênese, correlacionar esse tipo de fratura com o sexo e idade dos pacientes, avaliar as
condições clínicas no momento de admissão no pronto-socorro, demonstrar o tratamento
inicial estabelecido. METODOLOGIA: No período de agosto de 2006 a junho de 2007,
foram estudados prospectivamente esses pacientes que foram atendidos na emergência
do Hospital e Pronto-Socorro Municipal 28 de Agosto, em Manaus-AM. RESULTADOS: Vinte
e oito pacientes, 14 (50%) masculino, sete (25%) menores de 18 anos, 18 (64,28%) entre
18 e 60 anos, 5 (17,85%) com mais de 60 anos. Todos apresentavam dor, 24 (85,71%)
60 HUGV.61 UNL.
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limitação de movimento, 22 (78,57%) edema, 20 (71,42%) apresentava deformidade, e seis
(21,42%) crepitações. 19 (67,85%) pacientes tiveram fraturas no lado esquerdo, a queda
da própria altura foi responsável por 25 (89,28%) fraturas, oito (28,57%) eram estudantes.
Todos tiveram diagnóstico confirmado por radiografia, 23 (82,14%) receberam tratamento
definitivo com aparelho gessado, três (10,71%) receberam tratamento provisório com
calha gessa enquanto aguardava cirurgia eletiva, e dois (7,14%) foram encaminhados para
o centro cirúrgico do hospital em caráter de emergência. CONCLUSÕES: As fraturas da
extremidade distal do rádio têm como principal etiologia queda da própria altura, acomete
principalmente população economicamente ativa, pelo Sistema Único de Saúde a maioria
dos pacientes recebe tratamento inicial conservador.
PALAVRAS-CHAVE: Fraturas de Extremidade Distal do Rádio, Emergência, Manaus.
33. AVALIAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA DOS PACIENTES COM FRATURA PROXIMAL DO FÊMUR SUBMETIDOS OU NÃO À TRAÇÃO
TRANSESQUELÉTICA
OLIVEIRA,62 Medre Henrique Araújo de, ROSA,2 Gilmar Garcias, LIMA,2 Júlio Mário de Melo e; BENTES,2 Adria Simone Ferreira, MARTINS,2 Marcos Gassen
INTRODUÇÃO: As fraturas de fêmur proximal estão entre as mais frequentemente
encontradas pelo cirurgião ortopédico, onde são mais frequentes nas mulheres com
uma média de idade de 77 anos. O uso de tração prévia ao tratamento cirúrgico envolve
hospitalização prolongada, acarreta custos e desgaste para o paciente. Mais recentemente,
Rosen et al mostraram que essa tração não trazia benefícios para o paciente e recomendam
colocar apenas um travesseiro sob a coxa fraturada. OBJETIVOS GERAIS: Avaliar o custo-
benefício referente utilização de tração transesquelética em pacientes com fratura de
fêmur proximal. METODOLOGIA: Trabalho prospectivo, visando pacientes internados
com fraturas de fêmur proximal, serão analisadas as radiografias dos respectivos
62 UNL.2 HUGV.
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pacientes investigados com o intuito de confirmar e classificar as fraturas. As fraturas
transtrocanteriana serão classificadas pela classificação de Tronzo, utilizaremos, ainda,
a classificação de Garden para classificação das fraturas de colo femoral. Em seguida,
responderam questionário individual, o qual continha a escala de dor de EVA. A dor foi
graduada em: leve, moderada e intensa. Pacientes divididos em três grupos: Grupo I,
paciente sem tração. Grupo II, em uso de tração. Grupo III, tração retirada no hospital
onde seriam operados. Os resultados foram comparados entre os grupos. RESULTADOS:
Estudados 43 pacientes, média de idade 74,6 anos, no grupo I tivemos 16 pacientes, destes,
10 (62,5%) referindo dor de intensidade moderada, nesse grupo, 11 (68,75%) pacientes não
apresentavam nenhum coxim alinhando ou membro fraturado. No grupo II, constituído
por 12 pacientes, seis (50%) referiram dor intensa, oito (66,6%) mencionaram uma piora
na mobilidade no leito. No grupo III, formado por 15 pacientes, seis (40%) referiram dor
moderada. Nesse último grupo, nove (60%) relataram diminuição da dor após a retirada
da tração. Nesse grupo, 14 (93,3%) relataram maior praticidade no momento da higiene
pessoal depois de ter retirado a tração, e oito (53,3%) informaram melhores condições no
momento da elevação do dorso para as refeições e 11 (73,33) relataram uma melhora na
mobilidade no leito. CONCLUSÃO: A não utilização da tração transesquelética traz maior
conforto no pré-operatório para o paciente com fratura de fêmur proximal.
PALAVRAS-CHAVE: Fraturas do Quadril, Pré-Operatório, Tração Transesquelética.
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