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Retomadas de terras e ocupação militar: a disputa pela aldeia
Tupinambá de Serra do Padeiro, Bahia*
Daniela Fernandes Alarcon (UnB/DF)
Resumo
Em janeiro de 2014, agentes da Força Nacional de Segurança Pública e da Polícia Federal
instalaram uma base policial na aldeia Serra do Padeiro, na Terra Indígena (TI) Tupinambá
de Olivença, sul da Bahia. Com isso, tratavam de consolidar sua presença na área – onde
atuavam desde agosto do ano anterior –, dando início à ocupação militar permanente de
um território indígena já reconhecido pelo Estado. No mês seguinte, cerca de 500 soldados
do Exército deslocaram-se à região, por ordem da presidenta Dilma Rousseff, para
“garantir a lei e a ordem”, “pacificando” as relações entre indígenas e não índios contrários
à demarcação da TI. No marco da ocupação militar, os indígenas passaram a ser vigiados
ostensivamente, sendo alvo de ações de reintegração de posse violentas. Note-se que, em
2013, intensificara-se a realização, pelos indígenas, de retomadas de terras (ações de
recuperação territorial que, na Serra do Padeiro, vêm sendo levadas a cabo desde 2004).
Tal processo foi acompanhado por uma ofensiva da frente contrária à demarcação da TI e
desembocou na mobilização das forças de repressão. Focalizando mais especificamente a
Serra do Padeiro, esta apresentação buscará descrever e analisar este novo momento do
processo de territorialização dos Tupinambá, caracterizado pela ocupação militar
permanente do território indígena, na vigência do Estado democrático de direito. Para
tanto, serão consideradas a atuação do Estado em face da disputa, a mobilização da frente
contrária à demarcação da TI e as estratégias de resistência indígena.
Palavras-chave: Tupinambá; territorialização; retomadas de terras
* Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de
agosto de 2014, Natal/RN.
2
Desde 2004, os Tupinambá da aldeia Serra do Padeiro, no sul da Bahia, vêm
levando a cabo ações coletivas conhecidas como retomadas de terras. Em uma
definição sucinta, pode-se afirmar que as retomadas de terras consistem em processos
de recuperação, pelos indígenas, de áreas por eles tradicionalmente ocupadas e que se
encontravam em posse de não índios. Entre maio de 2004 e maio de 2013, 22 fazendas
foram recuperadas, apenas nesta aldeia. Mais recentemente, de junho a dezembro de
2013, os Tupinambá da Serra do Padeiro ocuparam dezenas de novas áreas,
contabilizando-se, hoje, cerca de 70 fazendas retomadas1.
Antes do início do processo de retomada, os indígenas viviam no interior de fazendas
(mantendo com os pretensos proprietários dessas áreas relações de meação ou trabalho
assalariado, entre outras); em pequenos sítios, que haviam logrado manter em sua posse, a
despeito do avanço dos não índios; ou haviam se mudado para outras localidades, como
sedes de municípios da região ou metrópoles do centro-sul do país. Apesar de os indígenas,
nesse período, terem ampliado significativamente a área que ocupam, esta permanece
descontínua, já que persistem no território fazendas e sítios em posse de não índios.
O longo processo de territorialização da população indígena da região tem como
marco o estabelecimento do aldeamento jesuítico de Nossa Senhora da Escada, em 1680,
no que hoje corresponde à sede do distrito de Olivença, localizada a cerca de 21 km da
cidade de Ilhéus2. Ao longo do tempo, os indígenas tiveram as áreas em sua posse
drasticamente reduzidas, conforme grandes porções do território eram fixadas em
fazendas pretensamente pertencentes a não índios. No século XX, a expansão capitalista
sobre essas terras de ocupação tradicional, que visava a conversão de um território
culturalmente construído em fator de produção, intensificou-se. Diferentes mecanismos
de expropriação territorial foram empregados nesse contexto, ao passo que os indígenas
engendraram um conjunto de estratégias de resistência para a defesa de seu território.
1 Mais informações sobre as retomadas realizadas em 2013 serão apresentadas adiante.
2 O processo de territorialização pode ser compreendido como “uma intervenção da esfera política
que associa – de forma prescritiva e insofismável – um conjunto de indivíduos e grupos a limites
geográficos bem determinados” (Pacheco, 1998: 56). Ainda conforme essa caracterização, a
territorialização passa, necessariamente, pela “reelaboração da cultura e da relação com o passado”
(Ibid.: 55). Contudo, alerta o antropólogo, esse processo “não deve jamais ser entendido simplesmente como de mão única, dirigido externamente e homogeneizador”, posto que ele é
atualizado pelos povos indígenas (Ibid.: 60). Para uma reconstituição do processo de territorialização
dos Tupinambá, ver Alarcon (2013).
3
Em maio de 2002, o Estado brasileiro reconheceu oficialmente a existência do
povo Tupinambá3. Dois anos depois, respondendo às demandas indígenas, a Fundação
Nacional do Índio (Funai) iniciou o procedimento de identificação e delimitação da Terra
Indígena (TI) Tupinambá de Olivença. Na condução do processo demarcatório, o Estado
violou, em todas as etapas, os prazos estabelecidos pelo Decreto nº1.775/1996. Em 2009,
o órgão indigenista oficial aprovou o relatório circunstanciado elaborado pelo grupo de
trabalho a cargo dos estudos técnicos, delimitando a TI em uma área de 47.376 ha.
Recoberta pela Mata Atlântica e ecossistemas associados, a TI abrange porções dos
municípios de Buerarema, Ilhéus e Una. No sentido leste-oeste, prolonga-se da costa
marítima à cadeia montanhosa conformada pelas serras das Trempes, do Serrote e do
Padeiro, e, no sentido norte-sul, do rio Cururupe à Lagoa do Mabaço.
Em 2 de março de 2012, após analisar e rejeitar as contestações à demarcação, a
Funai encaminhou o processo ao Ministério da Justiça (MJ). Em 5 de abril do mesmo ano,
a consultoria jurídica do ministério manifestou-se pela aprovação dos estudos elaborados
pelo órgão indigenista. Contudo, até a conclusão deste texto, o ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, não havia assinado a portaria declaratória da TI. Em lugar de encaminhar
o processo para as etapas finais – incluindo o pagamento das indenizações devidas aos
ocupantes não indígenas e o reassentamento daqueles que têm perfil de cliente da reforma
agrária –, Cardozo instalou uma “mesa de diálogo”, mecanismo que o governo federal tem
adotado em regiões onde há forte presença do agronegócio, como se indicará adiante. Em
face da demora, o Ministério Público Federal (MPF) já propôs três ações civis públicas (em
2007, 2012 e 2013) responsabilizando o Estado por não cumprir sua atribuição legal de
proteger os direitos territoriais indígenas, conforme determinam a Constituição Federal de
1988 e tratados internacionais de que Brasil é signatário4.
Não se dispõe de dados precisos acerca do número de habitantes indígenas da TI;
considerando as informações oficiais disponíveis, pode-se estimar uma população de cerca
3 Note-se que, à época, o Brasil ainda não adotara a Convenção 169 da Organização Internacional do
Trabalho (OIT), que determina a autoidentificação como critério de reconhecimento de grupos indígenas. 4 Em 27 de setembro último, o MPF em Ilhéus ajuizou mais uma ação civil pública com pedido
liminar contra a União, requerendo que o Judiciário determine prazo para o ministro da Justiça
decidir sobre o processo demarcatório. Para o Procurador da República Ovídio Augusto Amoedo
Machado, “a conclusão do processo demarcatório é essencial para a pacificação da região, pois trará
segurança jurídica para ambas as partes e eliminará o ambiente de incerteza sobre o real proprietário
das terras em disputa” (MPF, 2013). Na mesma direção, o Procurador da República Eduardo Villas-
Bôas avalia que “a demarcação definitiva trará benefícios tanto aos índios – pelo reconhecimento do seu território tradicional – como aos fazendeiros, que receberão a indenização prevista em lei”
(Ibid.). O processo judicial ainda não foi concluído, mas o juiz que recebeu a ação já observou, em
decisão, que “há indícios de omissão administrativa na conclusão do processo demarcatório”.
4
de cinco mil pessoas5. Os indígenas distribuem-se por diferentes localidades espalhadas
pela TI, unidas historicamente por vínculos de parentesco e pela partilha de uma identidade
comum. Na porção mais interior da TI, situa-se a aldeia Serra do Padeiro, sobre a qual esta
apresentação se debruça e onde vivem cerca de mil indígenas, conforme dados da
Associação dos Índios Tupinambá da Serra do Padeiro (AITSP) para 2012.
Nesta apresentação, buscarei descrever e analisar o atual momento do processo de
territorialização dos Tupinambá, caracterizado pela ocupação militar permanente do
território indígena – iniciada em agosto de 2013, na vigência do Estado democrático de
direito. Para tanto, serão consideradas: 1. a atuação do Estado em face da disputa; 2. a
mobilização contrária à demarcação da TI; e 3. as estratégias de resistência indígena.
Parte das informações aqui reunidas foi produzida no âmbito de pesquisa de
mestrado acerca das retomadas de terras levadas a cabo na aldeia Serra do Padeiro
(Alarcon, 2013)6. Tal investigação, desenvolvida junto à Universidade de Brasília,
contemplou uma incursão etnográfica no território tupinambá, com quatro meses de
duração, além da consideração de fontes primárias e secundárias. Este texto também
apresenta dados recolhidos após a conclusão da pesquisa mencionada, inclusive em duas
visitas à aldeia Serra do Padeiro, realizadas em dezembro de 2013 e maio de 2014. Cabe
observar que, em algumas passagens do texto, pseudônimos são utilizados, com o intuito
de resguardar a intimidade e a segurança de meus interlocutores. Note-se, ainda, que
todos os depoimentos foram transcritos conforme os padrões da chamada norma culta.
“Garantia da lei e da ordem”
Quando tratam de reconstituir sua trajetória como povo, os Tupinambá referem-se
a uma longa (e subterrânea) história de violência expropriatória, pontilhada por aldeias
extintas em massacres, devastadoras enfermidades contagiosas, estupros e tomas de
terras. A mobilização dos indígenas pelo reconhecimento de seus direitos territoriais
inaugurou um novo capítulo de intensa violência – perpetrada, inclusive, por agentes do
5 O Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena, da Secretaria Especial de Saúde Indígena
do Ministério da Saúde (Siasi/Sesai/MS) registra, para 2013, 4.534 indígenas Tupinambá
cadastrados na TI Tupinambá de Olivença. O Censo 2010, por sua vez, contabilizou 5.851
Tupinambá; note-se, contudo, que esse número refere-se a todos que assim se autodeclararam e que
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não fornece dados desagregados para a TI
em questão (Brasil, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2012). 6 Compreendidas como a principal forma de ação política desenvolvida contemporaneamente pelo
grupo, as retomadas de terras foram examinadas detidamente, considerando-se seus antecedentes,
características e algumas de suas repercussões no sistema de relações interétnicas em que se
inscrevem os Tupinambá.
5
Estado. Alvos de emboscadas realizadas por ocupantes não indígenas, os Tupinambá
têm sido vítimas também de recorrente violência policial, em que se comprovou a
utilização de armamento letal e a prática de tortura. Em junho de 2009, durante tentativa
de reintegração de posse, agentes da Polícia Federal (PF) submeteram cinco indígenas a
chutes, socos e choques elétricos, o que foi confirmado por laudo do Instituto Médico
Legal (IML); em 2011, um indígena teve a perna direita amputada após ser alvejado por
agente da PF à paisana. Além disso, lideranças indígenas têm sido ilegalmente presas,
no marco de um agudo processo de criminalização7.
Em 2013, a mobilização das forças repressivas do Estado para atuação na disputa
pelo território tupinambá adquiriu outra escala8. Por determinação do ministro da
Justiça, em 20 de agosto agentes da Forca Nacional de Segurança Pública (FNSP)
instalaram-se nas imediações da TI, com o alegado objetivo de frear o conflito entre
indígenas e não indígenas contrários à demarcação9. Entre os dias 28 de janeiro e 4 de
fevereiro últimos, a FNSP, em conjunto com a PF, empreendeu ações de reintegração de
posse violentas em quatro fazendas retomadas pelos Tupinambá da Serra do Padeiro10
.
Em três delas, os Tupinambá impediram a reintegração; já na quarta, a fazenda Sempre
Viva, os agentes instalaram uma base policial, dando início à ocupação militar
permanente do território indígena. Em fevereiro, o Supremo Tribunal Federal (STF)
suspendeu a liminar que determinava o cumprimento de uma série de reintegrações de
posse, mas as forças de repressão permaneceram mobilizadas.
Quando das ações de reintegração de posse, os indígenas recolheram mais de duas
dezenas de cápsulas disparadas de munição letal para fuzil. “A estrada ficou vestida de casca
de bala”, conta uma senhora indígena. Conforme relatos, os policiais chegaram a utilizar 7 Para uma descrição pormenorizada do processo de expropriação enfrentado pelos Tupinambá,
assim como da violência no marco do processo demarcatório, ver Alarcon (2013: passim). 8 A reconstituição aqui apresentada baseia-se em documentos oficiais publicados de agosto de 2013
a junho de 2014; em diálogos mantidos pela autora com indígenas e indigenistas (em visitas à área,
por telefone, correio eletrônico e videoconferência); e em notícias e reportagens de veículos de
imprensa de circulação regional, estadual e nacional, publicados no mesmo período (para uma
compilação de textos jornalísticos, ver: <http://campanhatupinamba.wordpress.com/noticias/>). 9 Conforme o MJ, o governador do estado da Bahia, Jaques Wagner (PT), solicitou o envio da FNSP
à área em 16 de agosto de 2013; os agentes, como noticia a imprensa, chegaram quatro dias depois.
Contudo, a primeira menção à operação no Diário Oficial da União dar-se-ia apenas em 2 de
setembro, com a publicação de uma portaria do MJ. 10
No dia 28 de janeiro, as forças policiais realizaram operações nas fazendas Conjunto São José e
Sempre Viva, desalojando 18 famílias indígenas que viviam e trabalhavam nas áreas, conforme
informações dos Tupinambá e do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Os pertences dos indígenas
que moravam no Conjunto São José foram retirados do local pelos policiais e abandonados à beira de uma estrada, a cerca de 10 km dali. Em 2 de fevereiro, o Conjunto São José foi alvo de nova ação
policial violenta. Dois dias depois, tiveram lugar duas outras ações de reintegração de posse, desta vez
nas fazendas Lembrança e Rio Cipó, desalojando mais 13 famílias indígenas.
6
cachorros para perseguir indígenas que se refugiavam na mata, reavivando dolorosas
memórias em torno das indígenas “pegas a dente de cachorro”, isto é, caçadas com o uso de
cães ferozes pelos não índios que invadiam seu território e tratavam de “amansá-las”,
tomando-as como esposas ou amantes. “Eles disseram que vinham botar essa base para nos
proteger e ela veio para nos matar. Se nós tivéssemos dado a testa, tinham nos matado”, diz
uma indígena que vive em uma área retomada, cenário de ações policiais truculentas.
Em ação realizada em 2 de fevereiro no Conjunto São José, os policiais utilizaram
bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os indígenas. No tumulto provocado pelo
ataque policial, M.S.M., um indígena de dois anos de idade, desgarrou-se da mãe, Rosilene
Bispo dos Santos, e foi levado pelos policiais. O menino foi retirado da área indígena e
encaminhado pelo delegado Severino Moreira da Silva ao Conselho Tutelar de Ilhéus.
Apenas cinco dias depois, a família pôde levar a criança de volta para casa. Operando uma
impressionante inversão, um texto publicado no sítio da Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República (SDH/PR) descreve o “emocionante momento do reencontro”
entre a mãe e o menino, “proporcionado por uma ação do governo federal”.
Em meados de fevereiro, cerca de 500 soldados do Exército deslocaram-se à
região, por ordem da presidenta Dilma Rousseff, para “garantir a lei e a ordem”,
“pacificando” a área11
. No marco da presença militar, os indígenas passaram a ser vigiados
ostensivamente. Uma marcha em solidariedade aos Tupinambá, realizada na Serra do
Padeiro em março de 2014, foi acompanhada por rasantes de helicópteros. Em carta de 24
de março, os Tupinambá informaram estar sofrendo constantes ameaças por parte das
forças de segurança. Conforme o documento, em 23 de março, um indígena foi espancado
por policiais. Na véspera, denunciam, os agentes revistaram uma menina indígena de 14
anos que voltava da casa de farinha para sua morada, desacompanhada, e ordenaram que
ela erguesse a blusa, tocando em diferentes partes de seu corpo. Ainda segundo os
11
O emprego das Forças Armadas na “garantia da lei e da ordem”, previsto pela Constituição
Federal, é disciplinado pela Lei nº9.649/1998 e pelo Decreto nº3.897/2001. Como tais operações
desenrolam-se conforme o paradigma bélico, uma pesada capa de sigilo recobre as decisões
governamentais e as ações em curso, dificultando a obtenção de informações oficiais. Em notícia
publicada pela Agência Brasil em 14 de fevereiro de 2014, lê-se: “Será publicada no Diário Oficial
da União da próxima segunda-feira (17) a autorização do governo federal para que 524 homens do
Exército atuem no sul da Bahia. [...] A permissão vale por um mês, até 14 de março. De acordo com
o Ministério da Defesa, os homens terminam de chegar hoje (14) ao município” (Chagas, 2014).
Contudo, ao contrário do que antecipava a reportagem, nenhum documento oficial relacionado a essa operação foi publicado até hoje. Conforme o manual Garantia da lei e da ordem, a decisão
presidencial de empregar tropas das Forças Armadas em operações desse tipo é expressa em
comunicado ao ministro da Defesa, não sendo necessária a publicação de decreto.
7
indígenas, agentes têm promovido buscas irregulares em moradias localizadas em áreas
retomadas, confiscando instrumentos de trabalho, como facões, enxadas e foices.
As forças de repressão, de acordo com os Tupinambá, têm atuado como “polícia
privada” de fazendeiros. Nesse sentido, a atuação policial não está voltada à garantia da
ordem pública e ao cumprimento da lei, mas tem por objetivo assegurar interesses privados
de grupos e indivíduos contrários à demarcação, inclusive por meio da vigilância de
pretensas propriedades particulares, em evidente desvio de atribuição. Conforme noticiado
pela grande imprensa, no início do ano, o comandante da FNSP na área foi afastado do
cargo para investigação, após denúncias de que agentes da corporação atuaram na
segurança de uma partida de futebol organizada pela prefeitura de Buerarema, em 5 de
janeiro. “Quem está mandando na polícia agora são os fazendeiros”, sintetiza um indígena.
Após a instalação da base, segundo noticiou a imprensa local, a Associação de
Pequenos Agricultores de Ilhéus, Una e Buerarema (Aspaiub), entidade mobilizada
contra a demarcação, enviou comitiva a Brasília, reunindo-se com representantes do
STF, Presidência da República, MPF e Ministério da Defesa para obstruir a
demarcação, agradecer pela presença das forças policiais no território e exigir novas
reintegrações. Nessas gestões, a Aspaiub vem sendo auxiliada pela Confederação
Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) – ponta de lança dos interesses
ruralistas no país, presidida pela senadora Kátia Abreu (PMDB).
Em declarações à imprensa, Cardozo tem defendido “mediação” e “diálogo”,
sugerindo, espantosamente, a ponderação de direitos hierarquicamente desiguais, isto é, o
direito territorial indígena e o direito à propriedade e à posse de terras12
. Em 24 de
setembro último, o ministro instalou um fórum interinstitucional para tratar do caso
tupinambá, com forte presença das forças repressivas do Estado. No dia seguinte, junto a
Wagner, Cardozo reuniu-se com lideranças indígenas e pretensos proprietários rurais em
uma “mesa de diálogo”. Como vem denunciando o movimento indígena, as “mesas de
diálogo” são parte de uma estratégia que busca atrasar ao máximo a demarcação de TIs,
em um quadro de aproximação cada vez maior entre o governo e os interesses ruralistas.
Em outra ocasião, extrapolando suas atribuições legais, Cardozo reportou-se aos
indígenas condicionando a assinatura da portaria declaratória à não realização de
retomadas de terras e à celebração de “acordos” entre índios e não índios, prevendo
inclusive a alteração dos limites da TI, com redução de sua área.
12
Ver, por exemplo, Brandão (2014).
8
À morosidade do processo demarcatório e à militarização do território, some-se
ainda os esforços para a criminalização dos indígenas, que têm sua principal expressão no
encarceramento de lideranças. Na seção seguinte, será analisada a recente prisão de um
cacique tupinambá, caracterizada por evidentes falhas antropológicas e jurídicas.
Orelhas decepadas
No último dia 24 de abril, o cacique Babau (Rosivaldo Ferreira da Silva), da Serra
do Padeiro, foi preso, após se apresentar à PF em Brasília. Cinco dias depois, uma decisão
liminar do Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou sua libertação, por estarem
ausentes os requisitos legais exigidos para a aplicação de prisão temporária. O cacique é
acusado de envolvimento no assassinato de um pequeno agricultor, Juracy José dos
Santos Santana, ocorrido em 10 de fevereiro, na zona rural do distrito de Vila Brasil,
município de Una, e teve sua prisão temporária decretada pelo juiz Maurício Alvares
Barra, da Vara Criminal da Comarca de Una, dez dias após o incidente. A existência do
mandado de prisão, contudo, só veio à tona em 17 de abril – menos de 24 horas depois de
o cacique receber o passaporte para viajar ao Vaticano, para efetuar denúncias ao papa.
O inquérito policial que embasou o mandado de prisão temporária correu em
segredo de justiça. Como se indicou, o mandado foi expedido dez dias após o homicídio.
A duração das investigações chama a atenção, quando se sabe que a Polícia Civil em Una
dispõe de um “contingente reduzidíssimo” (dois policiais), como reconhece o próprio
juiz, em sua decisão. Apenas testemunhas de acusação foram ouvidas – a Polícia alegou à
Justiça não ter conseguido encontrar o cacique Babau para que ele prestasse depoimento.
A justificativa para o cerceamento de defesa causa espanto, já que Babau é assistido desde
2010 pelo Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, em razão das
numerosas ameaças de morte que recebe desde que se iniciou o processo de recuperação
territorial13
. Ademais, como se indicou, Babau vive em um território ocupado pelas forças
repressivas do Estado – nada mais conhecido que seu paradeiro.
Note-se ainda que a aplicação de prisão temporária, conforme a Lei nº 7.960/1989,
é cabível quando presentes três requisitos, previstos no artigo 1º, nos incisos I a III:
I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;
II - quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer
elementos necessários de sua identificação.
13
O programa é executado por meio de um convênio entre a SDH/PR, a Secretaria de Justiça, Cidadania
e Direitos Humanos da Bahia (SJCDH/BA) e o Grupo Tortura Nunca Mais - Bahia (GTNM/BA).
9
III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova
admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos
seguintes crimes:
a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°) [...].
Na decisão, nenhum dos requisitos legais está presente. O juiz não indica que a
manutenção do cacique Babau solto atrapalharia as investigações, que ele fugiria ou
ameaçaria eventuais testemunhas. A identidade e a residência do cacique Babau, como
já se comentou, são de conhecimento público. Apesar de haver, de fato, notícia de
homicídio, não há qualquer indício de que Babau tenha tido participação. A decisão
sustenta, apenas, que há relato de testemunha. Qual testemunha? Não somos
informados. Na decisão, lê-se:
Colheu-se que um dos principais suspeitos da execução era um dos
pequenos agricultores contemplados pelo Incra [Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária] com a área [lote de reforma agrária],
contudo, consta que foi arregimentado pelo Cacique Babau (Rosivaldo
Ferreira da Silva) para ‘virar índio’ (grifos nossos)14
.
Cabe perguntar: o que o juiz entende por “virar índio”? Ele continua: “não existe
qualquer critério objetivo e seguro para constatação de quem é verdadeiramente índio”.
Em outras passagens, o juiz emprega o termo “biótipo” como sinônimo de identidade
étnica e fala em “supostos índios” e em uma “milícia criminosa travestida de silvícola”15
.
“Fomentar essa „categoria de índio‟ que invade, ameaça, destrói, furta, rouba, comete
extorsão e homicídios é destruir e denegrir por completo a imagem do verdadeiro índio”
(grifo nosso). É evidente o desconhecimento do juiz não apenas da teoria antropológica,
mas da legislação vigente, que determina a autoidentificação como critério de
reconhecimento de grupos indígenas. As falhas antropológicas levam a uma falha
jurídica: o juiz impõe condições próprias para alguém ser considerado índio, não
previstas em qualquer lei, na Constituição Federal ou em documento internacional.
Finalmente, em sua decisão, o juiz afirma ter tomado conhecimento – mais uma
vez, não se sabe de quem – de que Babau tem por hábito exigir que lhe entreguem uma
orelha daqueles que manda executar, “fato já comprovados [sic] em outros crimes na
região” (grifo nosso). Não se tem notícia, contudo, de qualquer comprovação da “prática”.
Com essa imagem, vai-se compondo uma personagem selvagem, brutal. Note-se que
14
Em outra passagem, o mesmo indivíduo é referido como “cria” de Babau. 15
Note-se que “silvícola” é termo utilizado no revogado Código Civil de 1916, para indicar a
incapacidade dos povos indígenas.
10
Babau já foi encarcerado três vezes – em 2010, permaneceu cinco meses preso, parte dos
quais em um presídio de segurança máxima em Mossoró, Rio Grande do Norte16
.
O juiz não é voz dissonante no conjunto de agentes do poder público atuantes hoje
no caso tupinambá. Um funcionário da Funai que prefere não ser identificado relata
acontecimentos que ilustram o desempenho parcial e discriminatório de certas
autoridades17
. Conforme o servidor, em reunião no âmbito da operação de garantia da
lei e da ordem, ocorrida em Ilhéus em 27 de fevereiro, teve lugar o seguinte diálogo,
reconstituído de forma aproximada18
:
Delegado da PF: A polícia está aqui porque a população se sente
hostilizada pelos índios.
Funcionário da Funai: Os índios também se sentem hostilizados. O sem-
terra [Santana] morreu e estão aqui, mas ninguém deu atenção aos três
índios mortos [assassinados em 8 de novembro de 2013]19
.
Delegado: Os índios morreram por causa de bebedeira. Já o sem-terra
[Santana], foram os índios que mataram.
Funcionário da Funai: Como o senhor sabe?
Delegado: Isso está no papel.
Funcionário da Funai: Papel? O papel é um inquérito!
Finda a reunião, o representante do Exército ali presente, dirigindo-se ao
funcionário da Funai e a um representante do Incra, teria se referido à extração de
orelhas, afirmando que Babau as solicitava “para fazer macumba no seu terreiro de
candomblé”. Trata-se de uma caracterização distorcida e pejorativa da religiosidade dos
Tupinambá da Serra do Padeiro – que tem em seu cerne o culto aos encantados,
entidades não humanas que dispõem de domínios territoriais específicos e, conforme a
cosmologia tupinambá, são os verdadeiros donos da terra.
Como assinala o funcionário da Funai, as autoridades públicas que participam da
operação costumam reproduzir o discurso dos setores mobilizados pela não demarcação,
ecoado pela imprensa local, em frases como “precisamos que a Funai diga quem é índio
e quem não é”. Em dada reunião, um agente da PF – integrado à operação no sul da
Bahia sob justificativa de ter “know how para lidar com índios”, por haver participado
da Operação Roosevelt, no território dos Cinta Larga – teria afirmado: “É muito
simples: se a pessoa tiver pelo, não é índio”.
16
Para considerações sobre as prisões anteriores de Babau e de outras lideranças da Serra do
Padeiro, ver Alarcon (2013: 97-102). 17
Comunicação pessoal a Alarcon, 25 abr. 2014. 18
Não se tem acesso às atas de tais reuniões. 19
O caso dos três indígenas assassinados será considerado na próxima seção.
11
Concepções como essas informam a atuação enviesada das forças de segurança,
alegadamente enviadas à área para distender o conflito: como se demonstrou na seção
anterior, indígenas são tratados como “forças oponentes”, ao passo que fazendeiros têm
agentes públicos a seu dispor, nos moldes de uma polícia privada. Nesse quadro,
indivíduos e grupos contrários à demarcação da TI vêm dispondo de ampla margem
para cometer ações violentas contra os indígenas, como se indicará a seguir.
Uma ofensiva contra a demarcação
Inspirando-se no famigerado “Leilão da Resistência”, levado a cabo em Mato
Grosso do Sul em dezembro de 2013, a Aspaiub realizou um bingo na cidade de
Buerarema, em 25 de maio último20
. Amplamente divulgada pelos meios de
comunicação locais, principalmente pelo rádio, a atividade tinha o alegado objetivo de
arrecadar dinheiro para a mobilização contra a demarcação, incluindo despesas com
advogado (para interpor ação judicial pela não demarcação) e outros gastos. As cartelas
estavam à venda na sede do Sindicato Rural de Ilhéus e em outros locais; os
organizadores prometiam o sorteio de prêmios variados, incluindo quatro novilhos. Ao
menos um vereador de Ilhéus (Cosme Araújo, do PDT) confirmou presença no evento.
A atividade ocorreu em um novo período de intensa e visível mobilização da frente
contra a demarcação21
, para o qual se poderia considerar como marco inicial o mês de
agosto de 2013 – sem desconhecer, certamente, o grau de arbitrariedade envolvido em
balizas temporais para processos como o que se analisa aqui. Entre 2011 e agosto de 2012,
os indivíduos e grupos contrários à demarcação permaneceram relativamente “silenciosos”.
Isso não quer dizer que não se manifestassem em episódios pontuais e, tampouco, que não
fizessem gestões junto ao poder público. À época, um indígena comentou-me: “quando eles
[os opositores à demarcação] estão parados, é que estão se movimentando por outros
canais”. De fato, sabe-se que já ocorreram dezenas de audiências dos fazendeiros com
20
Organizado pela Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul) e pela Federação da
Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), e apoiado pela CNA, o “Leilão da
Resistência” tinha por objetivo angariar fundos para a contratação de segurança privada, visando a
constituição de milícias para atuação em áreas indígenas disputadas por pretensos proprietários não
indígenas. Inicialmente suspenso pela Justiça Federal em Mato Grosso do Sul, foi realizado em 7 de
dezembro, sob a condição de que o valor arrecadado fosse depositado em juízo, em decorrência de
um mandado de segurança (Leilão, 2013). 21
A oposição à demarcação da TI teve o poder de aglutinar em uma mesma coligação heterogênea e temporária – por isso, penso em uma frente – setores da sociedade regional que, muitas vezes, não
guardam entre si qualquer outro ponto de conexão além de um inimigo em comum, qual seja a TI
Tupinambá de Olivença. Para uma caracterização mais detida da frente, ver Alarcon (2013: 65-82).
12
Cardozo, titular do MJ desde 2011. Já em agosto de 2012, manifestantes contrários à
demarcação ocuparam o saguão do aeroporto de Ilhéus por 28 dias, munidos de apitos e
faixas, exigindo providências do governo contra as retomadas de terras. Indígenas
Tupinambá e de outras etnias que passaram pelo aeroporto nesses dias denunciaram haver
sofrido constrangimentos e ameaças por parte dos manifestantes.
De junho a agosto de 2013, como se indicou, os indivíduos e grupos contrários à
demarcação assistiram à realização de copiosas retomadas de terras. Somadas, as áreas
recuperadas nesse período representam quase o dobro da quantidade de áreas recuperadas
até então, isto é, de 2004 a meados de 2013. Nesse quadro, a frente contrária à demarcação
desencadeou uma nova ofensiva. Na noite de 14 de agosto, um caminhão que transportava
estudantes da Escola Estadual Indígena Tupinambá Serra do Padeiro (EEITSP) foi
alvejado por um ou mais pistoleiros. Ninguém foi baleado, mas estilhaços do para-brisas,
que se quebrou, feriram dois estudantes não indígenas, Lucas Araújo dos Santos, 18 anos,
e Rangel Silva Calazans, 25. Segundo Magnólia Jesus da Silva, professora e diretora da
escola estadual, Lucas permaneceu com um estilhaço de vidro alojado perto do olho direito
por dias. “Não podemos levar o garoto ao hospital porque corremos risco”, disse ela à
época. Hoje, os dois jovens não estudam mais na EEITSP, por medo.
Em 16 de agosto, um grupo de não índios bloqueou por horas a BR-101, rodovia
que cruza Buerarema. Pelo menos três veículos de órgãos governamentais que trafegavam
pela via foram retidos e incendiados pelos manifestantes. Um dos carros transportava
indígenas, inclusive crianças, para tratamento de saúde em um hospital próximo; ninguém
se feriu. Uma agência do Banco do Brasil foi depredada e uma unidade da Empresa
Baiana de Alimentos (Ebal), estatal que comercializa alimentos a famílias de baixa renda,
foi saqueada. Um ônibus utilizado para transportar estudantes da EEITSP também foi
incendiado, na madrugada do dia 17, em Vila Brasil, perto da aldeia Serra do Padeiro. O
veículo estava estacionado e ninguém ficou ferido. Segundo relatos dos indígenas, o
proprietário da empresa de transportes que presta serviços à Secretaria Estadual de
Educação sofreu ameaças, inclusive através da Rádio Jornal de Itabuna, para que deixasse
de atender os indígenas, se não quisesse ter outros veículos incinerados.
No dia 20, em Buerarema, os manifestantes atearam fogo a outros três veículos de
órgãos governamentais, entre os quais um da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e outro
do Incra. Em declarações à imprensa, não índios envolvidos nos protestos acusaram os
indígenas de haver cometido os atos de violência, mas as imagens divulgadas por meios de
comunicação locais não deixam espaço a dúvidas de que as ações foram praticadas por não
13
índios. Nesse mesmo dia, como se indicou, instalaram-se na área os agentes da FNSP
mobilizados para alegadamente “pacificar” a região. Sua presença, contudo, não coibiu a
violência contra os indígenas praticada por indivíduos e grupos contrários à demarcação.
Quatro dias depois de sua chegada, indígenas que possuíam imóveis na zona urbana de
Buerarema – seja porque aí vivessem, por herança ou outras razões – tiveram suas casas e
bens pessoais incendiados por não índios. Na véspera, conforme os indígenas, parte de sua
produção agrícola (farinha de mandioca) foi roubada. Além disso, não índios que os apoiam
– comerciantes e professores, entre outros – foram agredidos e suas casas e lojas, atacadas.
Na tarde de 8 de novembro, três indígenas foram assassinados na TI, em uma
emboscada à beira de uma estrada vicinal, quando retornavam da coleta de piaçaba.
Conforme depoimentos, as vítimas – Aurino Santos Calazans (31 anos), Agenor
Monteiro de Souza (30 anos) e Ademilson Vieira dos Santos (36) – foram atacadas a
tiros e golpes de facão por quatro homens, que se aproximaram em duas motocicletas. A
esposa de Aurino – que também se encontrava no local do ataque, mas conseguiu
escapar – descreveu um ataque brutal. Um dos indígenas foi encontrado quase
decepado, apresentando sinais de tortura (foi chicoteado) e muitos ferimentos
provocados por facão. De acordo com o cacique Valdenilson Oliveira dos Santos, os
indígenas assassinados moravam na fazenda São José, localizada no Mamão (distrito de
Lençóis, município de Una), porção sul da TI. Na fazenda, retomada pelos Tupinambá
em 22 de junho último, viviam seis famílias indígenas.
Os recentes assassinatos não são casos isolados. Em diferentes pontos da TI (note-
se que não na Serra do Padeiro), vários indígenas foram assassinados nos últimos anos,
em circunstâncias não esclarecidas; alguns casos, senão todos, enfatizam os Tupinambá,
relacionam-se à disputa territorial. Também várias têm sido as denúncias efetuadas pelos
indígenas sobre a atuação de pistoleiros contratados por fazendeiros. Apesar disso, ainda
segundo os Tupinambá, as investigações policiais têm sido conduzidas desconsiderando
os prováveis vínculos entre os assassinatos e a luta pela terra.
Cerca de dois meses antes dos assassinatos dos três Tupinambá referido acima, o
jornal A Região, de Itabuna, publicou editorial descrevendo a dramática situação dos
pretensos proprietários de terras da região, vítimas da “justiça caolha”, da “suspeita
Funai” e do “governo esquerdóide Dilma”. Na conclusão, o autor convidava ao crime,
repetindo a frase da manchete: “Só restam as armas”22
. Na mesma época, um outdoor
22
Para uma análise sobre a cobertura de imprensa do caso tupinambá, ver Alarcon; Couto (2014).
14
instalado na região acusava os índios de “genocídio” e trazia a imagem de dois homens
sem rosto apontando armas, acima dos dizeres: “Responda [,] governador [,] antes que
seja tarde demais”. De agosto de 2013, para cá, relatam os indígenas, as ameaças contra
eles têm sido cotidianas. Membros de organizações indigenistas que os apoiam e mesmo
funcionários da Funai também denunciaram ameaças23
.Quando da prisão de Babau, a
principal preocupação dos indígenas era com sua segurança.
Em razão das ameaças, os Tupinambá da Serra do Padeiro praticamente não têm
saído da aldeia, o que acarreta significativos prejuízos econômicos, ao dificultar a
comercialização da produção agrícola, e impede o acesso a serviços de saúde, entre
outros impactos. Em maio, em visita à Serra do Padeiro, soube de um jovem indígena
deficiente que havia meses não recebia os benefícios sociais que lhes são devidos, pois
seus pais tinham medo de ir ao fórum de Buerarema para regularizar sua situação. Um
episódio ocorrido no último dia 30 de maio demonstra que sua preocupação não é
infundada. Três indígenas (uma senhora e dois jovens) moradores da região conhecida
como Maruim foram atacados no centro de Buerarema, por cerca de vinte pessoas, que
suspeitavam da participação dos primeiros no assassinato de Juracy Santana, caso que
se comentou na seção anterior. Conforme noticiado pela imprensa, os indígenas estavam
em um ponto de ônibus, retornando à aldeia, quando foram hostilizados; um deles,
espancado e atingido por pauladas na cabeça, teve de ser hospitalizado.
Como se vê, o povo Tupinambá está exposto a uma ampla gama de violações de
direitos e violência cotidiana, praticada por uma parcela da sociedade regional
mobilizada contra a demarcação da TI, no marco da omissão do governo federal no que
diz respeito à sua atribuição legal de garantir os direitos territoriais indígenas. Ainda
assim, como se indicará na seção seguinte, os indígenas seguem mobilizados no
processo de recuperação do território que tradicionalmente ocupam.
Fechando o círculo
“Faz 32 anos que os caboclos estão trabalhando para isso voltar para a gente”,
disse-me uma senhora indígena (a quem chamarei Rosa), ao entrar pela primeira vez em
uma fazenda retomada em 16 de dezembro de 2013, ao pé da formação rochosa que dá
nome à aldeia Serra do Padeiro. Em seu breve comentário, ela aludia a um marco
23
Recentemente, um veículo da Funai foi apedrejado ao passar pela sede de Buerarema; dias depois,
uma funcionária, que prefere não ser identificada, recebeu um telefonema anônimo: “Em Buerarema,
você não passa nunca mais”. Comunicação pessoal à autora, 25 abr. 2014.
15
importante do processo expropriatório sofrido por sua família: a morte de João de Nô
(João Ferreira da Silva), conhecido rezador e pai do pajé da Serra do Padeiro, ocorrida em
16 de agosto de 1981. Na área retomada – a fazenda São João, que passou para as mãos
dos não índios precisamente em 1981 –, ainda se ergue a última morada de João de Nô24
.
Ao mesmo tempo, dona Rosa referia-se aos encantados (utilizando o termo
caboclo como sinônimo) e ao papel desempenhado por esses seres no processo de
recuperação territorial, tanto em episódios de confrontação aberta, quanto nos períodos
de resistência indígena mais ou menos silenciosa e, por vezes, invisível25
. Ela falava do
retorno de uma das fatias de terra subtraídas ao território, sequestradas em fazendas.
Neste caso, de uma fatia especialmente significativa, por ter sido o lugar de um dos
troncos velhos e por dar acesso à Serra do Padeiro, considerada a morada dos
encantados e a principal referência territorial dos indígenas dessa aldeia26
.
Consultados pelo pajé, os encantados haviam deixado claro que 2013 seria um ano
crucial para a luta pela terra, observa o cacique Babau. De junho a agosto, apenas na
aldeia Serra do Padeiro, foram retomadas ao menos 38 fazendas; em dezembro, foram
recuperadas a fazenda São João e áreas contíguas27
. “Foi a melhor coisa: se vai brigar,
briga de uma vez. Nós fechamos o círculo”, analisa Babau. Desde então, apenas a fazenda
Sempre Viva (onde se instalou a base policial) foi desocupada pelos indígenas.
O expressivo aumento de áreas em posse dos Tupinambá da Serra do Padeiro
levou-os a experimentar novas formas de organização e distribuição pelo território,
privilegiando o retorno das famílias extensas para os locais identificados como de
origem de seus troncos. Do mesmo modo, iniciativas que já estavam em curso
anteriormente, como os mutirões semanais nas roças de cacau, vêm sendo combinadas a
24
Para uma reconstituição da trajetória de João de Nô e da história/memória dos Tupinambá na Serra
do Padeiro, articulada em torno do eixo expropriação/resistência, ver Alarcon (2013: passim). 25
Sobre a agência política dos encantados, ver, da autora, “„A luta está no sangue e, além disso, os
caboclos empurram‟: participação de seres não humanos nas retomadas de terras na aldeia
Tupinambá de Serra do Padeiro, Bahia”, aceito para publicação na revista Pós. 26
Categoria nativa que pode ser encontrada em etnografias de diferentes povos indígenas, tronco é
uma expressão comumente utilizada pelos Tupinambá da Serra do Padeiro para demarcar a
existência, em sua aldeia, de dois coletivos indígenas, cada qual referido a um antepassado do sexo
masculino. Ao enfatizar a ascendência comum aos membros de um mesmo coletivo, os Tupinambá
põem em relevo a trajetória histórica por eles compartilhada e seu pertencimento territorial. No caso
Tupinambá, o “sistema de metáforas” operado nesta “solução classificatória” (Arruti, 2004: 265)
assenta-se no par troncos velhos e brotos, conectados pelo sangue. 27
Até a conclusão deste texto, não havia procedido à sistematização dos dados sobre as ações de retomada posteriores a junho de 2012 (nome da fazenda retomada e de seus pretensos proprietários,
extensão aproximada da área em hectares, coordenadas geográficas e data da ação de retomada), o que
se pretende fazer em breve. Falo em 38 áreas baseando-me nas anotações efetuadas pelos Tupinambá.
16
novos modos de organização do tempo, com parte das famílias mobilizada em uma
grande turma de trabalho coletivo permanente28
.
Após a última rodada de retomadas, restam poucas áreas na Serra do Padeiro em
mãos de fazendeiros. A maior parte das áreas ainda não recuperadas ali está em posse de
pequenos posseiros e sitiantes, já que os indígenas mantiveram a diretriz de não ocupar
áreas com essas características29
. É o caso de uma numerosa família não indígena
herdeira de uma área de 80 ha nas imediações do ribeirão da Luzia. Referidos como “o
pessoal de Dete” (pois foi de uma Odete que herdaram a área), eles seguem vivendo e
trabalhando na terra, e mantêm relações amenas com os índios. Já o Conjunto Trindade,
lindeiro àquela área, foi retomado em 4 de junho de 201330
. São pretensos proprietários
do conjunto os herdeiros de Pedro Marques de Sá, que, durante décadas, foi delegado de
polícia de Itabuna e é lembrado pelos indígenas que lhe foram contemporâneos como
alguém que jogou papel importante nas tomas de terras aos indígenas, fossem
protagonizadas por ele próprio, seus prepostos ou outros fazendeiros, seus “amigos”.
Considero que as retomadas fazem a terra falar, isto é, que, após cada ação de
recuperação territorial, desencadeia-se vigorosa circulação de narrativas sobre a fazenda
retomada, sobre as violências ali cometidas e as personagens cujas vidas se entrelaçaram
com aquele ato expropriatório em particular. Com o Conjunto Trindade, não foi diferente.
Só após a ação de retomada, indígenas que trabalhavam na fazenda puderam conviver
livremente com seus parentes. A esse respeito, uma senhora indígena que vivia naquela
fazenda comentou: “Eu conhecia [os parentes]. Mas a gente não tinha bem aproximação.
Através de patrão – você sabe como é, né? Quem trabalha para certo tipo de patrão é
como se fosse escravo”. Outro indígena, trabalhador em uma fazenda limítrofe,
recuperada na mesma data, participava às escondidas das reuniões da Associação dos
Índios Tupinambá da Serra do Padeiro (AITSP). “Eu ia para as reuniões. Mas eu ia assim,
para o dono não estar sabendo, né? Senão, podia ser ruim para mim.”
Uma vez retomadas as áreas, esses indígenas, que conviveram com os fazendeiros,
puderam começar a partilhar com o resto da aldeia as informações que conheciam – neste
caso, numerosos fragmentos sobre violações de direitos trabalhistas e violência contra
sitiantes vizinhos à área. “Ele [Pedro Marques] era um velho assim: gordo, branco. Ele era 28
O escopo deste texto não permitirá uma discussão mais aprofundada sobre as permanências e
transformações observadas com as novas retomadas. Para uma caracterização do processo de
“construção da aldeia” até meados de 2012, ver Alarcon (2013: 167-233). 29
Sobre as articulações entre etnia e classe no caso tupinambá, ver Ibid.: 102-106. 30
Compõem o conjunto as fazendas Trindade, Boa Vista II, Boa Vista III, Belo Horizonte e Santa
Rosa. Os herdeiros reclamam ainda a propriedade da fazenda Boa Vista, também retomada.
17
delegado, delegado regional. Tinha ordem mesmo.” “Era um inferno na vida. O filho do
dono falava para Adelino [pseudônimo] que ia medir a fazenda e, se faltasse, ele ia tomar
da rocinha de Adelino.” “A mulher dele [de Pedro Marques] era uma pessoa boa. Fim de
semana, ela levava pão para a gente. Porque quem trabalha assim em fazenda tem
dificuldade, com aquele salariozinho.” “Ele soltava os burros na roça para comer as
bananeiras nossas.” “Aí o filho de Pedro Marques começou a castigar João [pseudônimo],
diminuir o salário dele.” “Todo mundo que trabalhou naquela roça ali teve vida sofrida.
Ôxi, teve gente que saiu daquela roça ali e morreu de fome.” “O administrador falava que,
se os índios entrassem [na fazenda], mandava bala.”
Documentos encontrados na sede do Conjunto Trindade também contribuem para
definir os contornos do quadro em que se inserem as retomadas de terras. Nas planilhas de
controle de venda de gêneros agrícolas produzidos em regime de “parceria”, vemos que
os indígenas que se desempenhavam como meeiros recebiam menos da metade do valor
daquilo que produziam. O mapa das fazendas, por sua vez, sugere que o fazendeiro estava
em posse efetiva de uma área superior àquela para a qual dispunha de título. Finalmente,
os quadros pendurados na parede – diploma de “delegado de furtos e roubos de Itabuna de
maior destaque” de 1981, concedido pela Rádio Santa Cruz e pela Rádio Cultura de
Ilhéus; certificado “pelo desempenho em sua(s) atividade(s) durante o ano de 1989”,
conferido pelo Rádio Clube de Itabuna – indicam que a proximidade entre a imprensa e os
poderes locais não é fato novo na disputa pelo território tupinambá.
Como se vê, mesmo em face da violência protagonizada por setores da população
regional e pelo Estado, os Tupinambá da Serra do Padeiro seguem no processo de
recuperação territorial. O fato de a retomada da fazenda São João – antigo lugar de João
de Nô, acesso para a morada dos encantados – ter sido retomada com as forças de
repressão já na região parece-me especialmente significativo.
***
Nesta apresentação, buscou-se indicar alguns elementos do atual momento do
processo de territorialização dos Tupinambá da aldeia Serra do Padeiro, que se pretende
investigar de forma sistemática no próximo período. Antes de terminar, cabe informar
que, no último dia 3 de junho, o MJ prorrogou a permanência da FNSP no território por
mais quinze dias, sem dar qualquer sinal sobre a conclusão do processo demarcatório.
18
Fontes e referências bibliográficas
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Tupinambá da Serra do Padeiro, sul da Bahia. Dissertação de mestrado (Ciências
Sociais). Brasília, Universidade de Brasília.
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atuação da Força Nacional de Segurança Pública em apoio às ações de combate à
violência no litoral sul do Estado da Bahia.
19
___. Portaria nº910, de 2 de junho de 2014. Dispõe sobre a prorrogação da atuação da
Força Nacional de Segurança Pública em apoio ao estado da Bahia nas ações de
combate à violência na região sul do Estado.
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