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RELATÓRIO FINAL
PROJETO PROLÍTICAS PÚBLICAS
CIRCUITOS DA EXCLUSÃO SOCIAL E DA POBREZA URBANA EM ÁLVARES MACHADO E RANCHARIA
Presid
ente Prudente, fe
vereiro
de 2009.
SSUUMMÁÁRRIIOO EEXXEECCUUTTIIVVOO
RELATÓRIO FINAL REFERENTE AO PROCESSO 2006/51888-8
Título: Circuitos da exclusão social e da pobreza urbana em Álvares Machado e Rancharia.
Coordenador Responsável: Raul Borges Guimarães
CEMESPP: Centro de Estudos e Mapeamento da exclusão social para políticas públicas EQUIPE: Raul Borges Guimarães (coord.) Ana Lúcia de Jesus Almeida Eliane Ferrari Chagas Encarnita Salas Martin Everaldo Santos Melazzo Renilton José Pizol
I. Apresentação
O presente relatório sistematiza, apresenta e discute o trabalho
desenvolvido pelo Centro de Estudos e Mapeamento da Exclusão Social para
Políticas Públicas (CEMESPP), do campus da UNESP de Presidente Prudente,
durante o período de realização do Projeto de Políticas Públicas “Circuitos da
exclusão social e da pobreza urbana em Álvares Machado e Rancharia”.
Inicialmente, a pesquisa visava articular procedimentos metodológicos
quantitativos e qualitativos para melhor instrumentalizar as prefeituras
desses municípios paulistas no processo de tomada de decisão de políticas
de assistência social e de implementação do Plano Diretor. Contudo, o
conjunto de trabalhos realizados pelo grupo extrapolou os objetivos
especificados no referido projeto, não apenas por que outras atividades
foram incorporadas e realizadas, mas também por que, a partir de
determinado momento, a própria condução das atividades previstas exigiu
adaptações e novos desafios foram incorporados.
O relatório encontra-se dividido em 3 capítulos. No capítulo 1, “Uma
primeira aproximação à dinâmica econômica e social das cidades
estudadas”, ressaltamos a importância de considerar uma série de dados
estatísticos disponíveis para os técnicos e gestores municipais, assim como
para a população em geral, como é o caso das informações geradas pelo
IBGE e o SEADE. No capítulo 2, “Procedimentos Metodológicos para o
estudo em cidades do interior paulista”, discutimos os tipos de
levantamento e tratamento das informações que podem e devem ser
geradas ou processadas para o estudo da pobreza urbana e da exclusão
social em áreas urbanas não metropolitanas, a partir da experiência
acumulada em Álvares Machado, Rancharia e Tarabai. No capítulo 3, “Os
circuitos da exclusão social e da pobreza urbana (análise e
considerações)”, foram selecionados alguns resultados mais significativos
do estudo que permitirão ao CEMESPP dar continuidade à construção e
aprimoramento de indicadores por meio de instrumental interdisciplinar e
de sistemas de informação geográfica, desenhados para representar e
gerenciar dados e informações para a compreensão da realidade intra-
urbana. Finalmente em “Síntese e perspectivas”, procuramos avaliar os
resultados obtidos no projeto em termos de aprendizados para o grupo e de
potencialidades e novos rumos de trabalho.
II. Ponto a ser destacado
Este relatório tem como foco central os aspectos metodológicos que
permitem o mapeamento dos circuitos da pobreza urbana e da exclusão
social em cidades paulistas de áreas urbanas não metropolitanas.
Atendendo à solicitação do parecerista da FAPESP (por ocasião do
Relatório Parcial), a preocupação é apresentar de que forma procedemos no
trabalho em parceria com os técnicos das prefeituras de Álvares Machado e
de Rancharia, visando a produção de conhecimentos coletivos e a
transferência de tecnologia da universidade para órgão públicos municipais.
Apesar de não prevista no projeto inicial, foi incluída a experiência
desenvolvida em Tarabai. O prefeito desse município da região de
Presidente Prudente procurou o CEMESPP em função da visibilidade gerada
pela pesquisa de políticas públicas em Álvares Machado e Rancharia. Como
se tratava de um município bem menor do que os outros e havia a
possibilidade de aplicar conhecimentos gerados no projeto para o
aprimoramento das ferramentas cartográficas, sem custos adicionais,
destinamos um bolsista de mestrado do grupo para o atendimento dessa
demanda.
III. Principais conclusões e encaminhamentos
• Efetivou-se a possibilidade de ampliação do conhecimento das
condições de vida e dos processos excludentes em áreas
urbanas não metropolitanas: A cidade pequena é fenômeno
espacial dos mais importantes do nosso país e precisa ser
objeto de preocupação e reflexão, no sentido de contribuir para
o aprimoramento do processo de gestão e de tomada de
decisão.
• No que se refere aos aspectos metodológicos, cabe dizer que o
grupo de pesquisa, durante muito tempo, se preocupou,
basicamente, com mapeamento intra-urbano focalizado em
cidades de porte médio, sendo Presidente Prudente, num
primeiro momento, laboratório privilegiado de análises sociais
e territoriais. Em seguida, várias outras cidades de porte médio
do interior do Estado de São Paulo foram alvos de
preocupação. Até então, se tratava de cidades com uma malha
urbana considerável, cujo acesso aos dados territoriais e às
bases cartográficas digitais era relativamente fácil. Muito
recentemente, passamos a nos preocupar com pequenas
cidades que, geralmente, mostram grandes dificuldades para
acessar dados e gerar informações. Aqui, freqüentemente,
entram em discussão os níveis de análise espacial e as escalas
geográficas, pois os fenômenos espaciais analisados, a leitura
que deles poderá ser feita e as formas de expressão
cartográfica, se processarão de formas diferenciadas. Em
função disso, foi preciso pensar uma metodologia que abrisse
possibilidades de leituras espaciais em cidades de pequeno
porte. Neste caso, nos deparamos com a necessidade de
manter certa flexibilidade para adequar os procedimentos
metodológicos às especificidades de cada localidade, sem
perder, é claro, a possibilidade de comparabilidade com outras
realidades. Esse é um grande desafio dos grupos de pesquisa
que se dedicam a compreender melhor as cidades pequenas.
• A este propósito, não se trata apenas de dados prontos
elaborados por um técnico distante da prefeitura, mas sim de
todo o processo de construção dos indicadores in loco,
passando pelo tratamento dos dados até chegar ao uso
informação no nível intra-urbano e porque não intramunicipal.
Isso inclui o uso das ferramentas tecnológicas (no nosso caso,
fundamentalmente, MapInfo e Excel) e o processo de geração
de dados (numéricos e alfanuméricos, cadastros e bases
cartográficas) e, em seguida de informações (percentuais,
índices e mapas temáticos).
• Muitos outros dados estão disponíveis para serem analisados
por membros do grupo e resultarão em publicações e
parâmetros para novas pesquisas na forma de teses,
dissertações e monografias. O livro, produzido pelo grupo,
encontra-se no prelo e será editado pela Edunesp ainda em
2009.
• Por fim, o período de realização da pesquisa abriu
possibilidades de novas parcerias. No caso de Rancharia, o
processo eleitoral resultou no segundo mandato do prefeito
que apoiou o projeto. Em Álvares Machado, apesar de ter
ocorrido alternância de poder, os contatos estão bem
adiantados entre o CEMESPP e a nova gestão municipal para a
continuidade dos trabalhos desenvolvidos em conjunto. Em
ambos os casos, os contatos estão mantidos, com reuniões
periódicas dos membros do grupo às prefeituras e novas
equipes municipais e fica evidente que o Programa de Políticas
Públicas da FAPESP é muito importante para o fortalecimento
de pesquisas aplicadas no campo das políticas públicas, acima
de disputas eleitorais ou comprometimentos político-
partidários.
• Por fim, a ampliação do trabalho iniciado será possível por
meio do convênio que está sendo firmado entre o CEMESPP e o
CEPAM (Centro de Estudos e Pesquisas de Administração
Municipal – Fundação Prefeito Faria Lima). A proposta que está
em elaboração, através de contatos permanentes e já
avançados com a Sra. Jô Ballanotti (com visitas e reuniões de
trabalho entre as equipes, seja em Presidente Prudente, seja
em São Paulo), é de transferir a tecnologia desenvolvida com o
apoio logístico do CEPAM, que mantêm um estreito contato
com as prefeituras dos municípios paulistas. Desta forma, a
pesquisa possibilitou uma enorme ampliação da inserção do
grupo de pesquisa no estado de São Paulo, o que exigirá uma
nova forma de planejar o trabalho em termos de metas e
estratégias de estudo.
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Faculdade de Ciências e Tecnologia Campus de Presidente Prudente
CIRCUITOS DA EXCLUSÃO SOCIAL E DA POBREZA
URBANA EM ÁLVARES MACHADO E RANCHARIA
Relatório Final de Pesquisa
Programa de Políticas Públicas da FAPESP
Processo 06/51888-8
Presidente Prudente
2009
SUMÁRIO
I. Apresentação ...................................................................... 7 Capítulo 1: Uma primeira aproximação à dinâmica econômica e
social das cidades estudadas .........................................................
11 1. Apresentação Geral dos municípios ....................................... 12
1.1. Demografia local e regional ......................................... 14 1.2. As bases econômicas locais ......................................... 15 1.3. Desigualdades sociais ................................................. 19 1.4. Tarabaí no contexto do estudo ..................................... 21
Capítulo 2: Procedimentos metodológicos para o estudo em
cidades do interior paulista ...........................................................
25
2.1. ÁLVARES MACHADO 26 2.1.1. Constituição e Formatação da base cartográfica
digital.........................................................................................
26 2.1.2. Organização dos Dados da Secretaria de Assistência
Social: da informatização à determinação do recorte do estudo........................................................................................
27 2.1.3. Organização do campo: identificando as áreas de
exclusão social.............................................................................
38 2.1.4. Coleta de dados utilizando questionário: processo geral
2.1.4.1. A elaboração do instrumento pelo grupo .............. 40 2.1.4.2. A aplicação como piloto e reformulação dos itens ... 44 2.1.4.3. Estrutura e formatação final ................................ 45 2.1.4.4. Elaboração de um manual para o grupo e
treinamento do pessoal ................................................................
47 2.1.4.5. Procedimentos para aplicação do questionário...... 48
2.1.5. Organização dos resultados ....................................... 49 2.1.6. O uso das informações qualitativas ............................ 51
2.2. RANCHARIA 57 2.2.1. Observação de campo: identificando as áreas de
exclusão .....................................................................................
58 2.3. TARABAI 62
2.3.1. Da Constituição e formatação da base cartográfica digital ao mapeamento temático ....................................................
62
Capítulo 3: Os circuitos da exclusão social e da pobreza urbana
(análise e considerações)....... ..............................................
76
3.1. ÁLVARES MACHADO 77 3.1.1. Dimensão econômica.............................................. 79 3.1.2. Os alcances das políticas públicas............................ 81 3.1.3. Dimensão de mobilidade......................................... 86 3.1.4. As representações sociais identificadas a partir do
questionário.................................................................................
93 3.2. RANCHARIA 98
3.2.1. Visão geral e análises dos dados............................. 98 3.2.1.1. Rancharia: informações intra-urbanas.............. 101
3.3. TARABAI 109 3.3.1. A avaliação do processo de mapeamento e utilização
da metodologia na política pública..................................................
109 4. Síntese e Perspectivas........................................................ 121 5. Referências Bibliográficas.................................................... 126
Lista de Tabelas, Gráficos, Figuras, Esquemas, Quadros e Mapas. Tabelas TABELA 1 – Indicadores demográficos. Estado de São Paulo, região de Presidente Prudente e municípios selecionados
15
TABELA 2 – Indicadores econômicos selecionados. Estado de São Paulo, Rancharia e Álvares Machado 16
TABELA 3 – Percentual de estabelecimentos por setor. Estado de São Paulo, região de Presidente Prudente e municípios selecionados – 2000
17
TABELA 4 – Indicadores selecionados sobre o mercado de trabalho 18 TABELA 5 – Indicadores de renda. Estado de São Paulo, Região de Presidente Prudente e municípios selecionados 19
TABELA 6 – Indicadores sociais selecionados. Estado de São Paulo, Região de Presidente Prudente e municípios selecionados
20
TABELA 7 - Papel na família: quantidades absolutas e relativas dos entrevistados 78
Tabela 8 - Renda familiar informada pelo entrevistado 80 TABELA 9 - Situação do chefe de família 80 TABELA 10 – Chefes de família com atividades remuneradas segundo situação 81
TABELA 11 – Chefes de família e benefícios sociais 82 TABELA 12 - Chefes de família que informaram receber algum benefício 83
TABELA 13– Situação dos chefes de família que recebem algum auxílio 83 TABELA 14 - Local de trabalho chefe de família 86 TABELA 15 - Local de lazer freqüentado 90 TABELA 16 - Chefes de família que freqüentam a escola 90 TABELA 17 – Local de estudo 91 TABELA 18 - Síntese dos setores, segundo indicadores selecionados 100 TABELA 19 – Existência de vias não pavimentadas nos setores 101 TABELA 20 - Vias estreitas nos setores 102 TABELA 21 - Vias de média largura nos setores 102 TABELA 22 - Vias largas nos setores 102 TABELA 23 - Existência de avenidas nos setores 102 TABELA 24 - Existência de sinalização do nome da rua nos setores 103 TABELA 25 - Existência de sinalização horizontal nas ruas dos setores 103 TABELA 26 - Existência de sinalização vertical nas ruas dos setores 103 TABELA 27 – Calçamento inexistente nas ruas dos setores 104 TABELA 28 - Calçadas estreitas nas ruas dos setores 104 TABELA 29 - Calçadas médias nas ruas dos setores 104 TABELA 30 - Calçadas largas nas ruas dos setores 105 TABELA 31 – Abastecimento de água nas ruas dos setores 105 TABELA 32 – Esgotamento sanitário nas ruas dos setores 105 TABELA 33 – Fornecimento de energia elétrica nas ruas dos setores 106 TABELA 34 – Fornecimento de energia elétrica nas ruas dos setores 106 TABELA 35 – Cabeamento telefônico nas ruas dos setores 106 TABELA 36 – Número de vezes por semana da Coleta de lixo sólido nas ruas dos setores 106
TABELA 37 – Número de “orelhões” existentes nas ruas dos setores 107
TABELA 38 – Número “bocas de lobo” existentes nas ruas dos setores 107 TABELA 39 – Tipo de lâmpada utilizada na iluminação pública nas ruas dos setores 108
TABELA 40 – Número árvores existentes nas ruas dos setores 108 Quadros QUADRO 1 – Elementos da organização interna da representação social de riqueza, evocados por moradores de áreas consideradas de exclusão
94
Gráfico GRAFICO 1 – Benefícios recebidos e situação de trabalho do chefe de família 84
GRAFICO 2 – Benefícios recebidos por faixa de rendimento familiar 85 GRÁFICO 3 – Outros locais de trabalho citados 87 GRÁFICO 4 – Meio de transporte utilizado para o trabalho 88 GRÁFICO 5 – Modal de transporte para trabalho em Álvares Machado 88 GRÁFICO 6 – Modal de transporte para trabalho em Presidente Prudente 89
GRAFICO 7 – Municípios procurados em caso de atendimento médico 89 GRAFICO 8 – Outros Locais freqüentados 90 GRAFICO 9 – Modal de Transporte utilizado para estudo 91 GRAFICO 10 – Modal de Transporte para estudo em Álvares Machado 92 GRAFICO 11 – Modal de Transporte para estudo em Presidente Prudente 92
Figuras FIGURA 1 – Modelo para leitura do território paulista 22 FIGURA 2 – Layout do programa Access® utilizado pela Secretaria de Assistência Social de Álvares Machado 28
FIGURA 3 – Croqui de Álvares Machado 40 FIGURA 4 - Modelo do formulário de observação rápida 60 FIGURA 4 – Representação de um mapa de polígonos 65 FIGURA 5 - Representação de um mapa de eixo de ruas – mapa linear 66 FIGURA 7 – Conversão de formato da base digital no MapInfo 66 FIGURA 8 – Processo de edição do eixo de ruas a partir do mapa de quadras 67
FIGURA 9 – Deixando a base cartográfica editável 68 FIGURA 10 – Mapa de linhas sobreposto ao mapa de polígonos 69 FIGURA 11 – Somente mapa de linhas (eixo de ruas) 69 FIGURA 12 – Modificar a estrutura da tabela 70 FIGURA 13 – Definição do padrão estrutural da base cartográfica 70 FIGURA 14 – Informações do eixo de ruas 73
Esquemas ESQUEMA 1 – Composição da base digital da cidade 64 ESQUEMA 2 – Formato das bases cartográficas 64 ESQUEMA 3 – Os dois tipos de base usados no mapeamento 65 ESQUEMA 4 – Conversão de base cartográfica 67 ESQUEMA 5 – Estrutura lógica da malha urbana 72 ESQUEMA 6 – Estrutura lógica do padrão de numeração da malha urbana 72
ESQUEMA 7 - geocodificação de pontos e conversão para um mapa temático de área 74
Mapas MAPA 1 – Atendimentos da Assistência Social – 2005 30 MAPA 2 – Casas Próprias da Cidade de Álvares Machado 31 MAPA 3 - Casas Alugadas na Cidade de Álvares Machado 32 MAPA 4 – Casas Cedidas na Cidade de Álvares Machado 32 MAPA 5 – Atendimentos da Assistência Social no Parque dos Pinheiros 34 MAPA 6 - Casas Próprias do Parque dos Pinheiros 35 MAPA 7 - Casas Alugadas do Parque dos Pinheiros 35 MAPA 8 – Casas Cedidas do Parque dos Pinheiros 36 MAPA 9 - Bolsa Família 37 MAPA 10 - Isenção de IPTU 37 MAPA 11 - Relações de menores infratores com regimes especiais 38 MAPA 12 – Mapa síntese de inclusão/exclusão social de Álvares Machado 39
MAPA 13 – Setores de inclusão, exclusão e setores intermediários – Rancharia 99
MAPA 14 - População residente urbana da cidade de Tarabaí – SP 110 MAPA 15 - Renda média por setor censitário em Tarabaí-SP 111 MAPA 16 - Percentual de responsáveis sem rendimento em Tarabaí SP 112 MAPA 17 - Percentual de responsáveis que ganham até meio salário mínimo em Tarabaí – SP 112
MAPA 18 - Percentual de responsáveis que ganham de ½ a 1 salário mínimo em Tarabaí –SP 113
MAPA 19 - Responsáveis que ganham de 1 a 3 salários mínimos em Tarabaí – SP 113
MAPA 20 - Famílias com renda per capita de seis a setenta reais em Tarabaí – SP (CADúnico) 114
MAPA 21 - Famílias com renda per capita de setenta a cem reais em Tarabaí – SP (CADúnico) 115
MAPA 22 - Programa Renda Cidadã em Tarabaí – SP 116 MAPA 23 - Cadastro Único de Tarabaí – SP 117 MAPA 24 - Programa Ação Jovem em Tarabaí – SP 118 MAPA 25 - Programa Viva Leite em Tarabaí – SP 118
7
RELATÓRIO FINAL 2009
FAPESP – POLÍTICAS PÚBLICAS
I. Apresentação
O presente relatório é uma sistematização final do trabalho
desenvolvido pelo Centro de Estudos e Mapeamento da Exclusão Social para
Políticas Públicas (CEMESPP), do campus da UNESP de Presidente Prudente,
durante o período de realização do Projeto de Políticas Públicas em Álvares
Machado e Rancharia. Inicialmente, a pesquisa visava articular
procedimentos metodológicos quantitativos e qualitativos para melhor
instrumentalizar as prefeituras desses municípios paulistas no processo de
tomada de decisão de políticas de assistência social e de implementação do
Plano Diretor. Contudo, o conjunto de trabalhos realizados pelo grupo
extrapolou os objetivos especificados no referido projeto, não apenas por
que outras atividades foram incorporadas e realizadas, mas também por
que, a partir de determinado momento, a própria condução das atividades
previstas exigiu adaptações e novos desafios foram incorporados.
É fundamental registrar que, para além de cada um dos objetivos ou
das atividades propostas que estão relatadas aqui, consideramos que o
grupo conseguiu avançar em relação a uma questão estratégica para
aqueles que procuram apreender processos de exclusão social, em sua
dimensão espacial, bem como analisar e implementar ações no âmbito de
políticas públicas para seu enfrentamento. Especificamente, o acúmulo de
experiências geradas pelo trabalho coletivo, no âmbito do CEMESPP, a
análise dos circuitos da pobreza urbana, da desigualdade e da exclusão
social, demonstram enormes desafios no desenvolvimento de metodologias
e procedimentos no tratamento de informações geradas em áreas urbanas
não metropolitanas. Isso porque é preciso lidar com situações concretas em
que se apresentam falta e/ou precariedade de dados e informações
empíricas por parte de Prefeituras e também de material necessário para a
condução de trabalhos de mapeamentos, particularmente bases digitais.
Por outro lado, faz-se necessário ter sensibilidade para reconhecer e
se apropriar das informações disponíveis, mesmo que fragmentadas e não
sistematizadas que permitem não apenas valorizar o trabalho acumulado
8
por funcionários e gestores. Da mesma forma, a partir desses resultados, é
preciso melhorar e acrescentar rotinas e informações que ampliem a
capacidade de gestão, seja na sua interface com a capacidade de
reconhecimento e análise, seja em relação às ações a serem desenvolvidas.
Como procuraremos apresentar a seguir, não há dúvidas que o apoio
financeiro da FAPESP a projetos dessa natureza e a ampliação do Programa
de Políticas Públicas gera impactos muito positivos e uma sinergia maior
entre as pesquisas acadêmicas e o desenvolvimento das agendas das
políticas públicas municipais.
Assim, este relatório tem como foco central os aspectos
metodológicos que permitem o mapeamento dos circuitos da pobreza
urbana e da exclusão social em cidades paulistas de áreas urbanas não
metropolitanas. Da mesma forma, atendendo à solicitação do parecerista da
FAPESP (por ocasião do Relatório Parcial), nossa preocupação foi de
apresentar de que forma procedemos no trabalho em parceria com os
técnicos das prefeituras de Álvares Machado e de Rancharia, visando a
produção de conhecimentos coletivos e a transferência de tecnologia da
universidade para órgão públicos municipais. É por esse motivo, que foi
dada atenção especial ao trabalho desenvolvido na Secretaria Municipal da
Assistência Social e aplicação dos questionários em Álvares Machado, assim
como os instrumentos de coleta de dados utilizados em Rancharia.
Apesar de não estar previsto no projeto inicial, incluímos no presente
relatório, a experiência desenvolvida em Tarabai. O prefeito desse município
da região de Presidente Prudente procurou o CEMESPP em função da
visibilidade gerada pela pesquisa de políticas públicas em Álvares Machado
e Rancharia. Como se tratava de um município bem menor do que os outros
e havia a possibilidade de aplicar conhecimentos gerados no projeto para o
aprimoramento das ferramentas cartográficas, sem custos adicionais,
destinamos um bolsista de mestrado do grupo para o atendimento dessa
demanda. Assim, os resultados obtidos em Tarabai, como veremos adiante,
reforçaram a análise da realidade urbana numa escala regional, auxiliando o
nosso entendimento dos rumos e potencialidades geradas pelo projeto.
Em Álvares Machado, Rancharia e Tarabai, assim como em outras
cidades cujo centro regional é Presidente Prudente, os circuitos da pobreza
referem-se às esferas de sobrevivência nas quais a reprodução ou
manutenção da vida são o objetivo primordial. Não é demais lembrar tratar-
9
se de região do estado de São Paulo que apresenta baixo dinamismo
econômico, particularmente industrial, marcada pelos conflitos fundiários,
com uma rede urbana pouco densa e centralizada em Presidente Prudente e
com vários indicadores sócio-econômicos abaixo das médias estaduais. Os
indivíduos que se valem dos circuitos da pobreza para sobreviver,
normalmente, residem em áreas que estão distantes do centro da cidade, e
pouco dotadas em infra-estrutura e serviços públicos, em virtude da baixa
remuneração que seus moradores estão submetidos.
A partir da análise dos resultados dos trabalhos realizados no
CEMESPP, o desafio é a elaboração de instrumentos de coleta de dados no
campo que permitam a realização de estudos amostrais para a comparação
entre as áreas de exclusão social de outras cidades do interior paulista.
Para expor os procedimentos que levaram o grupo a estas
conclusões, o relatório foi dividido em 3 capítulos. No capítulo 1, “Uma
primeira aproximação à dinâmica econômica e social das cidades
estudadas”, ressaltamos a importância de considerar uma série de dados
estatísticos disponíveis para os técnicos e gestores municipais, assim como
para a população em geral, como é o caso das informações geradas pelo
IBGE e o SEADE. Fazemos isto utilizando uma série de indicadores das
bases estatísticas dessas instituições para uma primeira aproximação do
leitor às realidades urbanas foco da pesquisa. No capítulo 2, “Procedimentos
Metodológicos para o estudo em cidades do interior paulista”, discutimos os
tipos de levantamento e tratamento das informações que podem e devem
ser geradas ou processadas para o estudo da pobreza urbana e da exclusão
social em áreas urbanas não metropolitanas, a partir da experiência
acumulada em Álvares Machado, Rancharia e Tarabai. No capítulo 3, “Os
circuitos da exclusão social e da pobreza urbana (análise e considerações)”,
foram selecionados alguns resultados mais significativos do estudo que
permitirão ao CEMESPP dar continuidade à construção e aprimoramento de
indicadores por meio de instrumental interdisciplinar e de sistemas de
informação geográfica, desenhados para representar e gerenciar dados e
informações para a compreensão da realidade intra-urbana. Finalmente em
“Síntese e perspectivas”, procuramos avaliar os resultados obtidos no
projeto em termos de aprendizados para o grupo e de potencialidades e
novos rumos de trabalho.
10
Por fim, ainda queremos manifestar nossa concordância com as
críticas do parecerista da FAPESP em relação aos aspectos teóricos
apresentados no relatório parcial. Os textos elaborados pela equipe de
pesquisa, naquele momento, resultaram de um esforço de sistematização
dos estudos em andamento no CEMESPP acerca da temática do projeto. De
fato, como o grupo é formado por professores, pós-graduandos de
doutorado e mestrado, além de estudantes de graduação com projetos de
iniciação científica, há várias linhas e campos temáticos em
desenvolvimento, com diferentes níveis de aprofundamento. Contudo, o que
poderia ser uma fragilidade do grupo, gerou um movimento de maior troca
entre os autores dos textos, tornando o exercício da crítica uma atividade
importante da pesquisa.
O resultado da discussão interna do CEMESPP, a partir dos textos
elaborados pela equipe do projeto, foi a consolidação de um original mais
consistente. A aprovação da publicação desses textos na forma de livro pela
Editora da UNESP é o melhor indicador que tal processo foi adequado.
Assim, decidimos não retomarmos esse item no relatório final, uma vez que
tomaria um espaço muito grande do texto, preocupando-nos mais em
atender a outros aspectos apontados pelo parecerista. Ainda assim, é
preciso registrar que o livro está em processo de editoração e será lançado
ainda este ano, o que pode ser considerado um dos grandes resultados
obtidos pelo projeto de políticas públicas desenvolvido pelo CEMESPP com o
apoio da FAPESP.
12
1. Apresentação geral dos municípios
Este capítulo tem como objetivo apresentar um breve panorama dos
municípios objeto desse projeto “Políticas Públicas”. A intenção é organizar
as informações básicas que permitam uma aproximação às características
demográficas, econômicas e sociais que se constituem em ‘pano de fundo’
para um conhecimento mais organizado e pormenorizado dos circuitos da
pobreza urbana e da exclusão social.
Três observações preliminares são relevantes. São utilizados aqui
dados e informações secundárias, produzidas pelos sistemas nacional
(IBGE) e estadual (SEADE) de informações, uma vez que os esforços de
coleta e organização de dados primários concentram-se sobre áreas e
segmentos sociais específicos e não em relação à totalidade dos habitantes,
como poderá ser observado neste trabalho a respeito da aplicação dos
questionários em áreas consideradas como de exclusão social. Entendemos
que esse procedimento da pesquisa deva ser adotado para outros estudos
de mesma natureza. Afinal, é preciso disseminar o conhecimento de como
selecionar e relacionar informações de bases secundárias para uma primeira
reflexão acerca da dinâmica social e econômica das cidades paulistas.
Verificamos que há muitas bases de dados disponíveis, o que não quer dizer
que esse volume de dados se transforme automaticamente em informações
relevantes para o processo de tomada de decisão no desenvolvimento de
políticas públicas.
A segunda observação é que sempre que possível esse tipo de análise
deve buscar a contextualização das realidades locais à regional e estadual,
uma vez que tais comparações podem ajudar no próprio entendimento dos
processos que originam e reproduzem situações de pobreza e desigualdade
no nível local. Por fim, os dados a serem apresentados referem-se,
sobretudo, à totalidade dos municípios (e não apenas as suas áreas
urbanas) como se referem, também, prioritariamente aos primeiros anos da
década atual, seguindo as bases estatísticas disponíveis.
Como será visto, a seguir, tratamos realidades que apresentam em
comum o fato de situarem-se em uma das regiões mais pobres e de mais
13
baixo dinamismo econômico do Estado de São Paulo, região1 esta que desde
os anos 60 apresenta processos de expulsão de sua população
(principalmente jovens) que partiram em busca de melhores condições de
trabalho, com inexistente ou poucos investimentos estaduais em infra-
estrutura e com inexpressivos movimentos sociais urbanos que
reivindiquem direitos sociais básicos, como habitação, saneamento,
educação ou saúde.
Por seu lado, já se transformou em senso comum a análise que se
refere ao momento mais recente da conjuntura regional em torno a dois
aspectos básicos, com impactos reais e simbólicos em todos os municípios
da 10ª Região Administrativa: a instalação de unidades prisionais em quase
todos os seus municípios, através de uma deliberada política estadual de
segurança pública, articulada a diferentes setores políticos e econômicos
locais, de um lado e, de outro, as mais recentes transformações no meio
rural com a introdução da cana de açucar como cultura dominante e a
generalização da modalidade do arrendamento, que alcança até mesmo
áreas objetos anteriormente de projetos de reforma agrária e
reparcelamento do solo rural.
Tais processos, com impactos sobre o meio urbano, requerem ainda
análises mais aprofundadas que poderão ser apontadas por este projeto
maior.
Não é demais lembrar que a equipe de pesquisa que apresenta este
relatório participa ou participou de estudos e análises nos municípios do
projeto, ocasiões em que tais questões já compareciam e de cujas análises
em muito se beneficiam no presente esforço de compreender as situações
de pobreza urbana2 e suas implicações para o planejamento e a gestão
local.
1 São muitas as possibilidades de recorte territorial para a região em foco: 10ª Região Administrativa, Pontal do Paranapanema, Oeste Paulista e, em um passado mais distante, Alta Sorocabana. Para os propósitos em mãos, e o formato dos dados a serem trabalhados, a referência primordial a ser aqui utilizada é a primeira, 10ª Região Administrativa. 2 Referência obrigatória é o Relatório Final para a elaboração do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental de Rancharia (2006), bem como o ante-projeto de lei do Plano Diretor (2006). A respeito de Álvares Machado a monografia de bacharelado em Geografia de SILVA JUNIOR (2007), como também o relatório parcial do presente projeto (2006), por exemplo.
14
1.1. A Demografia local e regional
A contagem populacional do ano 2007 apontou um número total de
residentes no município de Rancharia em 28.304 e em Álvares Machado
22.886. Entretanto, como o IBGE todavia não disponibilizou os dados por
situação urbana/rural, por gênero ou faixas etárias utilizaremos aqui os
dados de 2000, apresentados na Tabela 1, a seguir.
Maior município de toda a região oeste do Estado de São Paulo em
área territorial, com 1.588,7 Km2, Rancharia apresenta na última década
uma densidade média de 18,1 habitantes por km2, número baixo,
considerada a média regional e muito inferior à estadual. Por seu lado,
Álvares Machado, com um território menor (347,2 km2) apresenta uma
densidade mais elevada (65,3 habitantes por km2), taxa acima da região,
mas ainda abaixo da estadual. Tais densidades, comparadas à estadual
revelam um traço bastante característico da chamada 10ª Região
Administrativa, ou seja, as baixas densidades quando comparadas às
demais regiões do Estado e não estaríamos longe de uma referência ao
vazio demográfico frente a outras regiões.
Em Rancharia, a população total alcançava em 2000, 28.772
habitantes e em Álvares Machado 22.661 habitantes, sendo a taxa de
crescimento populacional entre 1991-2000 de 0,75% a.a. para o primeiro e
de 2,09% a.a. Se neste primeiro período observa-se para Rancharia um
comportamento positivo superior à média regional, com os dados de 2007
observa-se pequena queda absoluta da população. Álvares Machado,
entretanto, apresentou um aumento acima das médias regional e estadual
entre 1991 e 2000, enquanto apresenta pequeno crescimento entre 2000 e
2007. Este último movimento, referente a Álvares Machado poderia estar
diretamente relacionado não a processos locais de mudanças estruturais
positivas de sua dinâmica econômica que fossem capazes de atrair fluxos
populacionais e mas à proximidade com Presidente Prudente, tal como
podemos inferir dos trabalhos de Silva Júnior (2007) e Miyazaki (2007).
Denota-se, assim, uma relativa estabilidade. De um lado, demonstra
o estancamento da queda da população tão característico da maioria dos
municípios da região em décadas anteriores. De outro, revela processos
mais profundos onde se conjugam baixa capacidade de atração
populacional, decorrente de economias precárias e pouco dinâmicas, com
15
fluxos migratórios ainda ativos, bem como de interações espaciais e
territoriais fortes entre os diferentes municípios.
TABELA 1 – Indicadores demográficos. Estado de São Paulo, região de
Presidente Prudente e municípios selecionados
Recorte Territorial
População total (2000)
População rural
(2000)
População urbana (2000)
ÁREA TERRITOR
(km²)
% de População
urbana (2000)
Taxas Crescimento Anual Pop 1991/2000
Esperança de vida ao
nascer (2000)
Densidade demográfica
(2000)
Estado de São Paulo 37.032.403 2.439.552 34.592.851 248.596.3 80,0 1,68 71,22 264,0
Região de Presidente Prudente
803.607 116.998 686.609 24,908.3 77,7 0,43 71,58 35,3
Álvares Machado 22.661 2.565 20.096 347.2 88,7 2,09 70,78 65,3
Rancharia 28.772 3.783 24.989 1.588.7 86,9 0,75 73,32 18,1
Fonte: Fundação Seade Organização: CEMESPP
A taxa de urbanização alcançou 86,9% em Rancharia e 88,7% em
Álvares Machado, aprofundando tendência já verificada nos anos anteriores,
ou seja, a da rápida urbanização da população e esvaziamento do território
rural, acima das médias regional e estadual.
Tal concentração espacial da população, como de regra para muitos
municípios brasileiros, é um dos desafios a ser considerado em qualquer
processo de análise e planejamento na medida em que nas áreas urbanas
são colocados grandes desafios à implementação de políticas públicas
relacionadas à organização do território, do meio ambiente e,
conseqüentemente, da qualidade de vida da população.
E, a complexidade de tais processos urbanos, por mais que sejam
relativamente pequenas suas populações frente à realidade de cidades de
porte médio e metrópoles, pode ser vislumbrada através das respectivas
expectativas de vida em ambos os municípios. Em Rancharia, maior que a
estadual e regional e em Álvares Machado, menor. Observa-se, assim, que
mais além de indicadores quantitativos, faz-se necessário conhecer de
maneira mais aprofundada e articulada tais realidades.
1.2. As bases econômicas locais
O objetivo deste item é reunir e sistematizar um conjunto de dados
econômicos que permitem compor um painel de informações a respeito da
16
base e da dinâmica econômica dos municípios de Rancharia e Álvares
Machado. Mesmo diante da precariedade de informações disponíveis a
respeito, é possível extrairmos daí algumas conclusões. O caminho adotado
preferencialmente é comparar as realidades locais à realidade estadual.
Como primeira aproximação à dinâmica econômica local, tomemos os
dados da Tabela 2 a seguir, ainda em números absolutos, que permitem
que sejam observados a evolução recente do valor adicionado por setor
(tomado aqui como uma aproximação da capacidade da economia local em
gerar riqueza), do Produto Interno Bruto e do Produto Interno Bruto per
capita, estes dois últimos correspondendo às estimativas elaboradas para os
municípios brasileiros pelo IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas
Aplicadas.
TABELA 2 – Indicadores econômicos selecionados. Estado de São Paulo, Rancharia e Álvares Machado
Valor Adicionado
PIB (1) PIB per Capita Recorte Territorial
Agropecuária Indústria Serviços Total
* * Administração Pública*
Total* * * *
Estado de São Paulo 2002
11.413,12 129.656,19 38.032,02 288.070,59 429.139,91 511.735,92 13.258,84
Estado de São Paulo 2003
12.214,05 154.464,78 42.918,06 322.331,05 489.009,88 579.846,92 14.787,99
Estado de São Paulo 2004
11.705,60 181.998,00 45.712,23 344.226,04 537.929,64 643.487,49 16.157,79
Estado de São Paulo 2005
11.265,01 193.980,72 51.848,75 406.723,72 611.969,44 727.052,82 17.977,31
Rancharia 2002 38,51 193,50 29,45 160,79 392,81 434,40 14.822,83
Rancharia 2003 50,59 136,56 32,07 157,28 344,43 374,21 12.678,18
Rancharia 2004 46,13 170,63 33,22 175,45 392,21 428,31 14.408,62
Rancharia 2005 42,51 183,36 38,81 195,22 421,09 458,47 15.314,53
Álvares Machado 2002 9,36 16,56 21,37 68,30 94,22 103,17 4.343,76
Álvares Machado 2003 7,62 16,89 23,45 76,12 100,64 112,72 4.661,82
Álvares Machado 2004 8,19 20,37 25,09 81,54 110,10 121,80 4.949,48
Álvares Machado 2005 6,91 20,65 29,00 93,24 120,80 133,59 5.335,16
Fonte: IPEA Nota: *Todos os valares são equivalentes a milhões de Reais Organização: CEMESPP
Algumas observações sintéticas podem ser obtidas a partir da leitura dos dados
acima:
17
1) Em relação ao valor adicionado total, observa-se que Rancharia apresenta uma
maior capacidade de produzir riqueza que Álvares Machado. Neste aspecto, a
economia do primeiro é aproximadamente 4 vezes maior que o segundo;
2) Em ambos os municípios observa-se queda do valor adicionado nas atividades
agropecuárias e crescimento dos setores relacionados aos serviços, inclusive Do
aumento da presença da administração pública;
3) Em Rancharia, mesmo que decrescente, percebe-se o peso do setor industrial,
configurando realidade bastante diferenciada em relação a Álvares Machado;
4) As variações do PIB são pequenas entre um ano e outro, denotando processos
econômicos consolidados e sem perspectivas de grandes transformações a
curto prazo;
5) Por fim, o PIB per capita, com tendência de lento crescimento, mais pela
estabilidade populacional que pelo crescimento da riqueza produzida, apresenta
grandes disparidades entre os dois municípios: enquanto Rancharia aproxima-
se da média estadual, Álvares Machado dela distancia-se.
As observações acima podem ser complementadas pelos dados da Tabela 3, a
seguir que apresenta os percentuais de estabelecimentos por setor econômico. O peso
maior das atividades comerciais, seguida pelos estabelecimentos agropecuários e os de
serviços. Isto acaba por sugerir que, mesmo com um peso alto dos estabelecimentos
agropecuários, trata-se de atividade pouco capitalizada haja vista os dados da Tabela
anterior, ou seja, um valor adicionado relativamente baixo em relação aos demais
setores.
Chama atenção, ainda, que quando comparados ao Estado, ambos os
municípios apresentam características diferentes à média estadual. Menor peso da
indústria, comércio e serviços e maior peso dos estabelecimentos agropecuários
TABELA 3 – Percentual de estabelecimentos por setor. Estado de São Paulo,
região de Presidente Prudente e municípios selecionados – 2000
Recorte Territorial % Indústrias
% C. Civil
% Comércio
% Serviços
% Agropecuários
% Total
Estado de São Paulo 12,08 3,32 38,20 37,27 9,13 100
Região de Presidente Prudente 8,06 4,04 36,06 24,92 26,93 100
Álvares Machado 8,98 3,29 31,14 18,26 38,32 100
Rancharia 8,89 3,48 31,90 21,38 34,35 100
Fonte: Delegacia Regional do Trabalho; Seade Organização: CEMESPP
18
O quadro do mercado de trabalho é explicitado a partir dos dados da Tabela 4
seguir. A população economicamente ativa, ou seja, aquela que compreende o
potencial de mão-de-obra com que pode contar o setor produtivo, isto é, a população
ocupada e a população desocupada, alcança 13.865 pessoas em 2000 em Rancharia e
10.369 em Álvares Machado. Ou seja, enquanto a relação entre PEA e população total
para o conjunto do Estado alcança 49,3%, em Rancharia este percentual é de 48,1% e
em Álvares Machado, 45,7%.
Os percentuais mais baixos revelam um traço importante das economias locais,
onde o volume da força de trabalho é relativamente menor.
TABELA 4 – Indicadores selecionados sobre o mercado de trabalho
Recorte Territorial
PEA – População
economicamente ativa (10 anos ou mais de idade),
2000 IBGE
PEA de 10 a
14 anos
de idade, 2000
PEA de 15 ou mais
anos, 2000
PEA de 15 a 24 anos de
idade (E + D) 2000
PEA 25 anos de idade ou
mais, 2000
PO – Pessoal Ocupado (10 anos ou mais),
2000 (PEA -
PD)
PD - Pessoal
Desocupado (10 anos ou
mais), 2000
(PEA - PO)
Nº Empregos no Setor Formal (RAIS)
31-12-2000
Estado de São Paulo 18.259.920 220.346 18.039.74 4.883.483 13.156.091 9.358.501 8.901.419 8.049.532
Região de Presidente Prudente 385.115 7.114 378.001 96.877 281.124 122.443 262.672 105.964 Álvares
Machado 10.369 161 10.208 2.510 7.698 1.921 8.448 1.424
Rancharia 13.865 270 13.595 3.793 9.802 4.08 9.757 3.992
Fonte: Delegacia Regional do Trabalho; Seade Organização: CEMESPP
A desagregação da PEA por faixas etárias em Rancharia revela mais uma
característica de sua composição. 1,9% encontra-se na faixa etária entre 10 e 14 anos,
27,3% entre 15 e 24 anos e 70,8% acima dos 25. Em Álvares Machado, 1,5% entre 10
e 14 anos, 24,2% entre 15 e 24 anos e 74,2% acima dos 25 anos.
Tais informações são relevantes tanto no sentido da proposição de políticas
públicas específicas para cada uma destas faixas etárias como também para a
compreensão da própria dinâmica do mercado de trabalho que, dadas a diminuição da
natalidade e mesmo da fecundidade deverá conviver com uma PEA com idade média
cada vez mais alta.
Por seu lado, a parcela ocupada efetivamente em relações formais de trabalho
alcança em Rancharia 30%, ou seja, um terço da PEA e, em Álvares Machado apenas
18,5% enquanto este mesmo percentual para o conjunto do estado de São Paulo é de
51,2% e para a região de Presidente Prudente é de 31,8%. Revela-se, assim, uma
contextualização local e regional frágil no que se refere à capacidade destas economias
19
em ocupar seu potencial de mão-de-obra, apontando ainda para a baixa dinâmica
econômica frente ao estado como um todo.
Por fim, vale a pena comparar os percentuais de emprego formal frente ao
pessoal ocupado. Em Rancharia é de 97,2%, em Álvares Machado de 74,1% e para a
região de 40,3% e para o estado de São Paulo de 86%. A interpretação de tais dados
não é direta. Porém, indica-se aqui a existência da informalidade nas relações
econômicas em geral, e trabalhistas em particular.
1.3. Desigualdades sociais
Do ponto de vista da comparação com o Estado de São Paulo a renda per
capita média em Rancharia é menor situando-se, entretanto, acima da renda média da
10ª região administrativa, como pode ser observado na primeira coluna da Tabela 5,
abaixo. O mesmo pode ser afirmado a respeito de Álvares Machado.
TABELA 5 – Indicadores de renda. Estado de São Paulo, Região de Presidente Prudente e municípios selecionados
Recorte Territorial Renda
per capita
% Pessoas
com renda
per capita abaixo
de R$75,50,
% renda advinda de
rendimentos do trabalho
% renda advinda de
transferências governamentais
% renda apropriada pelos 20% mais ricos
da população
% renda apropriada pelos 60%
mais pobres da população
Intensidade da pobreza
Estado de São Paulo 275,03 20,67 71,99 14,28 56,79 23,81 38.42
Região de Presidente Prudente 235,04 27,07 70,01 16,47 57,65 23,56 40.05
Álvares Machado 257,51 21,18 70,54 12,29 59,40 22,72 43.48
Rancharia 261,95 21,82 69,41 18,54 59,14 22,67 40.17
Fonte: IBGE, 2000 Organização: CEMESPP
No mesmo sentido, o percentual de pessoas com renda abaixo de R$ 75,50, ou
seja, abaixo de um salário mínimo no ano considerado aproxima-se da média do
estado, e em posição melhor em relação ao conjunto da região.
Chama a atenção, porém, a relação entre as rendas advindas do trabalho e as
rendas advindas das transferências governamentais. Embora em situação melhor que
vários municípios de sua região de inserção, percebe-se percentual abaixo da média
em relação ao primeiro e acima da média em relação ao segundo, no caso de
Rancharia. Ou seja, o peso das transferências (e, por conseguinte, da dependência de
outros níveis de governo) é maior que a média paulista e regional. Tal não é o caso de
Álvares Machado, uma vez que as renda advindas do trabalho, abaixo da média
20
estadual, encontra-se pouco acima da região e as rendas advindas das transferências
são menores que as médias do Estado e da região.
Outro dado a ser considerado nesta análise é a tendência de uma maior
concentração da renda no município em relação ao Estado e às médias regionais.
Enquanto para o Estado de São a renda apropriada pelos 20% mais ricos é da ordem
de 56,79% e na região de 57,65%, em Rancharia este percentual alcança 59,14% e
em Álvares Machado, 59,40. O raciocínio inverso aplica-se para a renda apropriada
pelo 60% mais pobres da população. Se para o Estado de São Paulo o percentual é de
23,81% e para a média regional é de 23,56%, em Rancharia este percentual é de
22,67% e em Álvares Machado é de 22,72%.
Sem dúvida, uma maior concentração da renda em poucas mãos é fator
preponderante a influenciar o indicador de Intensidade da Pobreza - 40,17% em
Rancharia, 43,48% em Álvares Machado, em relação a 38,42% no Estado e 40,05% na
região.
Por mais que se possa argumentar que se trata de percentuais melhores que
aqueles verificados em outros municípios da região, trata-se também de situação
reveladora da concentração da renda que exige um olhar atento para a formulação de
políticas públicas adequadas a reversão desta realidade e que devem adquirir
concretude nos níveis de desigualdades que determinam a pobreza nestes municípios.
Tomando-se agora alguns indicadores apropriados para uma análise de
situações de qualidade de vida, os dados da Tabela 6 exploram as dimensões da
educação, saneamento/infra-estrutura urbana e os indicadores do IDH em suas
diferentes dimensões.
TABELA 6 – Indicadores sociais selecionados. Estado de São Paulo, Região de Presidente Prudente e municípios selecionados - 2000
Recorte Territorial
Taxa bruta freqüência à
escola
Taxa de alfabetização,
% Pessoas
que vivem em
domicílios c/ água
encanada
% Pessoas
que vivem em
domicílios c/ energia
elétrica
% Pessoas
que vivem em
domicílios e terrenos próprios e quitados
IDH - Índice
Desenv. Humano
Municipal
IDH Educação
IDH Longevidade
IDH Renda
Estado de São Paulo 78.62 88.27 95,78 98,34 64,84 0.774 0,851 0,773 0,700
Região de Presidente Prudente 81.41 85.99 95,35 98,48 65,77 0.767 0,858 0,779 0,700
Álvares Machado 79.25 88.60 96,88 99,36 70,43 0.772 0,866 0,833 0,729
Rancharia 78.38 89.67 95,64 97,48 59,66 0.789 0,849 0,775 0,1
Fonte: IBGE, 2000 Organização: CEMESPP
21
A taxa bruta de freqüência à escola, de 78,38 (Rancharia) e 79,25 (Álvares
Machado), aproxima-se ou ultrapassa a média estadual, mas ainda está abaixo da
região, apesar da taxa de alfabetização ter alcançado índices maiores para ambas as
comparações.
Tais discrepâncias também podem ser notadas no que se refere às pessoas em
domicílios abastecidos por água encanada (95,64% em Rancharia e 96,88% em Ávares
Machado) e em domicílios com energia elétrica (97,48% e 99,36%).
A disseminação da propriedade de imóveis é menor em Rancharia. Enquanto
para o Estado de São Paulo e na média da região os percentuais de pessoas que vivem
em domicílios próprios e quitados seja de 64,84% e 65,77%, em Rancharia é de
59,66%, sugerindo a necessidade de políticas habitacionais mais amplas, ao contrário
de Álvares Machado cujo percentual é de 70,43%, acima das médias regional e
estadual.
Por fim os dados do IDH revelam uma posição municipal melhor que o Estado e
a região (0,789 em relação a 0,774 e 0,767) e o bom resultado do índice deve-se,
sobretudo, às dimensões da educação e da longevidade, uma vê que a maior distância
entre os índices é devida à dimensão da renda, reforçando os dados anteriormente já
vistos.
1.4. Tarabai no contexto do estudo
Nos itens anteriores, os dados secundários foram utilizados para uma
primeira aproximação das realidades urbanas de Álvares Machado e
Rancharia, utilizados como exemplo de procedimentos que podem ser
adotados em estudos dessa natureza. No presente item, reunimos as
informações obtidas de Tarabai, município incorporado no decorrer da
pesquisa. Como queremos demonstrar, já na primeira análise, é possível
perceber que a discussão do grupo não diz respeito apenas à realidade dos
dois municípios escolhidos inicialmente como recorte empírico da pesquisa.
Pelo contrário, o atendimento da demanda daquela prefeitura veio reforçar
que o grande desafio do grupo é o da disseminação de conhecimentos que
possam, realmente, transformar-se em informações relevantes para as
políticas públicas municipais. A oportunidade de incorporar Tarabai ao
trabalho desenvolvido pelo CEMESPP, deixou clara a importância, e a
necessidade, de fazer chegar aos pequenos municípios o domínio de
22
determinadas ferramentas tecnológicas que passam a ser fundamentais no
processo de gestão.
Sabemos que as cidades pequenas são um fenômeno espacial muito
expressivo no contexto urbano brasileiro. Em função disso, como já
aludimos no corpo desse trabalho, precisam ser discutidas mais
detidamente, não somente do ponto de vista teórico, mas também no
âmbito dos procedimentos técnicos para pensar as políticas públicas
territoriais urbanas.
Tendo levantado essas primeiras considerações, a seguir, fazemos
uma exposição breve sobre características mais gerais sobre a pequena
cidade de Tarabai. Em momento posterior, focalizamos a análise no
mapeamento temático ali executado.
O município de Tarabai está localizado no Oeste do Estado de São
Paulo, inserido em umas das suas regiões mais frágeis, econômica e
socialmente. Isso é o que atesta o “Atlas Seade da Economia Paulista”, que
ao analisar um conjunto de dados de natureza econômica, demográfica,
social e ambiental, estabeleceu modelos para a leitura do território paulista
(Figura 1).
Figura 1 – Modelo para leitura do território paulista Fonte: SEADE, 2007.
23
Estabelecendo esses modelos, definiu-se, por conseguinte, as três
regiões mais frágeis de todo o Estado: a denominada região das “cidades
mortas”, no Vale do Paraíba; a região do Vale do Ribeira; e, por fim, a
Região do Oeste Paulista, contexto no qual está inserido o município de
Tarabai e as demais, objetos deste relatório.
A cidade de Tarabai, especificamente, dista aproximadamente 25
quilômetros da principal cidade da Região, que é Presidente Prudente.
Certamente, tal proximidade de uma cidade que concentra grande parte da
população regional, uma macrocefalia, faz com que Tarabai seja
significativamente dependente de Presidente Prudente em termos de
serviços e infra-estruturas urbanas.
Tarabai, no Censo Demográfico de 2000, realizado pelo IBGE,
registrou uma população de 4.786 pessoas, sendo 90,34% considerada
como urbana. Já no ano de 2007, com a contagem populacional feito pelo
mesmo órgão, evidenciou um aumento da população para 6.108 habitantes,
com projeção de 6.345 para o ano de 2008, feita pelo SEADE. Assim, no
período 2000-2008 isso significou um taxa de crescimento de 1,18% ao
ano. Esta taxa de crescimento está bem acima àquela registrada para a
Região de Presidente Prudente, que é de 1,18% ao ano, mas abaixo da
média estadual, de 1,34%.
O município está assentado sobre uma área territorial de 197,2 km²,
o que lhe dá uma densidade demográfica de 32,17 hab/km², taxa muito
próxima a da região (32,33hab/km²), mas muito abaixo da média do
Estado de São Paulo (165,75hab/km²).
Esses dados vêm atestar o baixo dinamismo da região e suas
respectivas cidades em relação às dinâmicas estaduais, apontando para a
mesma como uma das mais frágeis de São Paulo. Se olharmos para o IDHM
(Índice de Desenvolvimento Humano Municipal), verificaremos que Tarabai,
com 0,763, está bem abaixo da média estadual, que é de 0,814.
Levando-se em consideração os dados da dimensão econômica,
verificaremos o grande peso que possui o setor de serviços para o município
de Tarabai, pois tem uma participação de 74,69% no total do valor
adicionado, segundo os dados do SEADE. A indústria e a agropecuária tem,
respectivamente, 16,23% e 9,08%. É importante salientar que o peso do
setor de serviços não se dá para fora dos seus limites municipais, pois ele
atende, basicamente, os seus moradores.
24
Essa configuração, certamente, se dá em função do grande peso que
o setor público tem na administração da cidade. Com um PIB de
aproximadamente 33 milhões de reais, somente as finanças públicas é
responsável por mais de 9 milhões, segundo os dados do IBGE.
Freqüentemente, pequenas cidades possuem características bastante
diversas se comparadas com cidades de maior porte, face a sua
dependência em relação à outras cidades da rede. Mais atualmente, para
cidades com baixo dinamismo econômico e com margens expressivas da
população na condição de pobreza, as transferências governamentais e os
programas sociais estatais passam a ter um papel de destaque nas
pequenas cidades. Sistematizar esses dados, e compreender essas relações,
é fundamental para se entender as políticas públicas e lograr projetos que
tenham efetividade e amplo impacto nos setores menos favorecidos da
sociedade.
26
2.1. ÁLVARES MACHADO
2.1.1. Constituição e Formatação da base cartográfica digital
Assim como na maioria dos estudos da geografia urbana, o trabalho
de mapeamento constitui uma parte essencial da pesquisa. No âmbito da
presente pesquisa, em particular, ele foi de fundamental importância. Para
tratar dessas questões e de seus aspectos mais técnicos e operacionais,
uma equipe de cartografia foi organizada, composta por alunos da
graduação e da pós-graduação.
Em uma fase preliminar, alunos da graduação em estágio na
Secretaria da Assistência Social de Álvares Machado, promoveram os
primeiros passos para a elaboração de uma base cartográfica que atendesse
aos interesses da pesquisa. Para tanto foram levantadas informações sobre
bases cartográficas já existentes na Prefeitura Municipal. De início já foi
verificado uma dificuldade: a informação espacial contida em pacotes
tecnológicos era distinta à utilizada pelo grupo de pesquisa CEMESPP. A
base cartográfica existente na Prefeitura Municipal foi elaborada no Auto
Cad, que não é um software de mapeamento ou um SIG (Sistema de
Informações Geográficas), mas sim uma ferramenta CAD, de desenho
gráfico digital.
Aqui cabe uma observação. Diante dessa dificuldade de
compatibilização de bases cartográficas, para o desenvolvimento de
ferramentas de geoprocessamento para as políticas públicas municipais é
preciso a diversificação dos programas e linguagens cartográficas utilizadas.
Neste sentido, um desdobramento da pesquisa é o de avançar na ampliação
do repertório do grupo, de preferência, incorporando pacotes tecnológicos
livres, de fácil manuseio e aprendizado. Porém, em função dos prazos da
pesquisa, esse desafio foi deixado para outros projetos, colocando-se,
então, a necessidade de conversão da base cartográfica do ambiente Auto
Cad para o MapInfo, o software de mapeamento majoritariamente utilizado
pelo CEMESPP.
Na execução desse procedimento, verificou-se que a base
cartográfica, cedida pela Prefeitura Municipal, tinha o território urbano
expresso graficamente utilizando quadras. Para a confecção da base pelo
27
MapInfo, haveria necessidade desta base estar expressa em segmentos de
linhas, conformando o eixo de ruas da cidade. Com uma base expressa por
eixo de ruas, seria possível, então, iniciar um processo de mapeamento por
localização de endereços.
Cabe ressaltar que, como estamos falando de uma cidade de
pequeno porte, o processo de mapeamento de indicadores sociais não é
eficiente se tomado como referência os setores censitários do IBGE, como
pode ser feito em uma cidade de porte médio. As análises territoriais podem
ficar bastante prejudicadas. Sendo assim, é necessário realizar o
mapeamento com base em endereços, para localizar as áreas de interesse
específicas. Lembrando que, no presente caso, estamos falando de
mapeamento da exclusão social de uma cidade pequena.
Diante destas questões, uma outra base com o eixo de ruas da
cidade de Álvares Machado foi elaborada já com as quadras e em seguida
foi inserida a numeração das faces das quadras no eixo de ruas. Assim,
cada segmento de linha, que representa uma rua, que se situa frente a
duas faces de quadras, recebeu duas ordens de numeração, uma par e
outra ímpar. Assim, se um endereço tem numeração ímpar, o software
coloca o ponto de localização de um lado do segmento de linha, se é par, do
lado oposto.
Para confirmar tal base cartográfica, alunos e estagiários foram a
campo dividindo a cidade em vinte áreas, para a organização da coleta de
dados. Com isto, foi feita a coleta de toda a numeração inicial e final das
faces das quadras, e logo em seguida, lançados no MapInfo. Assim ficou
estabelecida a base para o processo de mapeamento.
2.1.2. Organização dos Dados da Secretaria de Assistência Social: da
informatização à determinação do recorte do estudo
Como se trata de um trabalho de mapeamento da exclusão social e
de um mapeamento por endereços, foi preciso se pautar nas políticas
sociais realizadas no município, a partir das quais fosse possível tomar
como referência os endereços dos atendidos. Evidentemente que para isso a
Secretaria Municipal de Assistência Social era uma fonte rica de dados. No
entanto, os dados existentes na referida Secretaria, especialmente aqueles
dos atendimentos à população, estavam todos em formato analógico e
28
impressos em papel. Portanto, a partir desta situação, houve a necessidade
de um intenso trabalho de digitalização dessas informações.
Esse banco de dados foi criado com base no modelo das fichas de
atendimento utilizadas pelas assistentes sociais, que continha as seguintes
variáveis: nome do assistido, endereço, R.G., C.P.F., data de nascimento,
tipo de habitação, profissão, dentre outras informações consideradas
relevantes em cada programa das políticas de assistência social em
andamento no município.
Uma vez formatado a ficha analógica de acordo com os parâmetros
do programa Microsoft Office Access 2003® (figura 2), estagiários do grupo
de pesquisa digitalizaram as fichas de atendimento que a Secretaria
Municipal da Assistência Social possuía (cerca de 6000 fichas).
Após a digitalização, o CEMESPP ofereceu um treinamento para os
técnicos da prefeitura, visando a familiarização dos usuários com as novas
normas e procedimentos para a entrada de dados, esquemas de segurança
e geração de relatórios. Neste momento, o foco central foi a explicação do
processo de construção do modelo das fichas eletrônicas de atendimento e
Figura 2 – Layout do programa Access® utilizado pela Secretaria de Assistência Social de Álvares Machado
29
como, por meio delas, é possível estabelecer cruzamento de variáveis no
banco de dados a partir do nome do usuário da assistência. Nesse
treinamento, procurou-se disseminar a cultura da informação entre os
funcionários da secretaria, que se sentiram valorizados, tanto pela melhoria
das condições de trabalho como pela maior visibilidade dos resultados
daqueles técnicos responsáveis pela geração de informações das ações em
andamento nas políticas públicas.
Um outro trabalho executado pelos estagiários do CEMESPP foi a
atualização do mapa da cidade de Álvares Machado, estabelecendo a base
cartográfica digital necessária para o desenvolvimento da pesquisa apoiada
pela FAPESP. Como já afirmado, nos primeiros meses do andamento do
projeto, observou-se que os mapas cedidos pela prefeitura municipal
estavam no formato Auto-Cad e, portanto, tratavam-se de desenhos
digitais, sem a configuração adequada para a definição do chaveamento de
dados georeferenciados.
Para resolver esse problema, os estagiários do CEMESPP elaboraram
um primeiro mapa de eixo de ruas da cidade de Álvares Machado,
utilizando-se de ferramentas de editoração do programa MapInfo 8.5®.
Para fins de dinâmica operacional, o perímetro urbano de Álvares Machado
foi dividido em 20 pranchas, correspondendo cada uma delas a uma
unidade divisória aproximada de cada bairro da cidade. Após esta divisão,
os estagiários foram a campo e visitaram todos os quarteirões de Álvares
Machado, através do esquema de pranchas (onde o primeiro e o último
número de lote de cada quadra foi registrado).
Com o término das visitas às quadras, o grupo retornou ao
laboratório do CEMESPP e digitalizou as informações adquiridas, corrigindo
os eventuais erros existentes no arquivo Auto-Cad preexistente. Sem esse
trabalho de preparação das bases cartográficas seria impossível o estudo
das características dos processos excludentes naquela cidade. Foi esse
trabalho de mapeamento digital que permitiu a visualização das
conectividades e relações de vizinhança existentes entre os bairros de
Álvares Machado.
Tendo as bases cartográficas digitais em formato vetorial do eixo de
ruas da cidade, assim como as quadras dos loteamentos e a localização dos
equipamentos e serviços públicos, o grupo de pesquisa elaborou os
30
primeiros mapas temáticos, estabelecendo cruzamentos entre variáveis do
banco de dados também digitalizado pelos estagiários do CEMESPP.
Assim, no Laboratório do CEMESPP, realizou-se uma seleção de erros
mais comuns nas mais de 6 mil fichas de atendimento, agrupando-se as
pessoas cadastradas no banco de dados por famílias e por bairros de
residência. Verificou-se que no banco de dados havia algumas famílias ou
pessoas que receberiam atendimento em diferentes postos de
atendimentos, como ocorre com a população residente no Parque dos
Pinheiros e Jardim Panorama que acaba se deslocando até o centro da
cidade para o atendimento, em função da conveniência dos horários de
funcionamento dos postos da secretaria municipal. Esse tipo de
superposição foi registrado para se evitar a duplicidade de informações no
decorrer do cruzamento de variáveis do banco de dados.
Através dessa seleção meticulosa dos dados válidos, pode-se realizar
o isolamento de cada variável em tabelas para a elaboração de um mapa
com o número de pessoas atendidas pela assistência até o ano de 2005 (ver
mapa 1).
De imediato, o mapa chamou a atenção para a cobertura universal
dos programas de assistência social no município, abrangendo a totalidade
Mapa 1 – Atendimentos da Assistência Social – 2005 Fonte: CEMESPP
31
dos bairros da cidade, mesmo que com intensidades diversas. Esse aspecto
do atendimento da secretaria chamou atenção do grupo de pesquisa para a
natureza dos circuitos da pobreza urbana e da exclusão social em cidades
paulistas do porte de Álvares Machado. De fato, não se trata de identificar,
por meio do mapeamento temático, bolsões de pobreza representados
cartograficamente por áreas, mas de desenvolver uma modelagem gráfica
que instrumentalizasse a análise de um fenômeno social muito mais difuso
pelo tecido urbano.
A partir daí, outros mapas foram confeccionados considerando: o
número de pessoas que foram atendidas pela Assistência Social somente no
ano de 2005, o número de famílias que utilizam serviços assistenciais e que
possuiam pessoas com deficiências e idosos em suas residências, a
quantidade de atendimentos onde as pessoas se beneficiavam de alguma
transferência financeira como a bolsa família, o tipo de residência que a
pessoa atendida possuia (própria – mapa 2; alugada – mapa 3; ou casa
cedida – mapa 4).
Mapa 2 – Casas próprias da cidade de Álvares Machado Fonte: CEMESPP
32
Tendo participado ativamente do processo de informatização do
atendimento da Secretaria Municipal da Assistência Social, elaborado as
Mapa 3 – Casas cedidas na cidade de Álvares Machado Fonte: CEMESPP
Mapa 4 – Casas alugadas da cidade de Álvares Machado Fonte: CEMESPP
33
bases cartográficas digitais e os primeiros mapas temáticos a partir de
variáveis do banco de dados digitais, os pesquisadores do CEMESPP
realizaram uma reunião com o Prefeito, as assistentes sociais e demais
membros da equipe técnica da secretaria municipal envolvida no projeto de
pesquisa. Discutindo-se os resultados obtidos até aquele momento, foi
possível estabelecer os passos seguintes do desenvolvimento do projeto.
Em função do volume de atendimento da secretaria municipal, o
grupo de pesquisa deu suporte para a ampliação do atendimento da
secretaria em dois bairros mais carentes (Pinheiros I e II e Jardim
Panorama). Para isto, o trabalho foi dividido em três fases: a construção da
base digital e da digitalização da fichas de atendimento utilizadas pela
Assistência Social, atualização do mapa daqueles bairros (eixos de ruas) e
confecção de mapas a partir do banco de dados.
Essa etapa do trabalho contou com a aquisição pela prefeitura de um
computador para o atendimento da Secretaria Municipal da Assistência
Social naqueles bairros, utilizados para a digitalização de mais 1.800 fichas
da população residente e com cadastro nos programas assistenciais. O
modelo utilizado para a digitalização foi o mesmo adotado anteriormente.
Para a elaboração das bases cartográficas digitais detalhadas desses
bairros, o perímetro urbano daquela região da cidade foi dividido em cinco
pranchas, que correspondem a uma unidade divisória individual de cada
bairro. Após esta divisão, os estagiários foram a campo e visitaram todos os
quarteirões do Parque dos Pinheiros e o Jardim Panorama através do
esquema de pranchas, repetindo o procedimento de registrar o primeiro e o
último número de lote de cada face de quadra.
Como no primeiro mapeamento realizado, foi possível gerar um mapa
com a distribuição das pessoas atendidas pela assistência naqueles bairros.
Verificou-se que naquela área da cidade, havia famílias assistidas pelos
programas da secretaria em todas as ruas dos bairros mapeados (Mapa 5).
34
Outros mapas também foram confeccionados como: de pessoas
atendidas pela Assistência Social somente no ano de 2005, de famílias que
utilizavam os serviços assistenciais e possuiam membros com necessidades
especiais e idosos, de pessoas atendidas na Assistência Social com alguma
transferência de renda como o bolsa família, do tipo de residência das
pessoas atendidas (própria – mapa 6; alugada – mapa 7; ou cedida – mapa
8).
Mapa 5 – Atendimentos da Assistência social no Parque dos Pinheiros – 2005 Fonte: CEMESPP
35
Mapa 6 – Casas próprias do Parque dos Pinheiros Fonte: CEMESPP
Mapa 7 – Casas alugadas do Parque dos Pinheiros Fonte: CEMEPP
36
Finalmente, com a geração de mapas das variáveis contidas no banco
de dados dos atendimentos da assistência social, foi possível visualizar a
cobertura de diferentes programas da Secretaria Municipal da Assistência
Social. Sobrepondo-se esses mapas às informações das residências com
isenção de IPTU, de menores infratores com regimes especiais, dentre
outras variáveis (mapas 9, 10 e 11), foi possível a elaboração da primeira
versão do mapa da exclusão social de Álvares Machado. Esse mapa gerado
pelo grupo de pesquisa do CEMESPP subsidiou a formulação de diferentes
políticas sociais por parte do poder público local, como o Programa de
Gerenciamento da Merenda Escolar e o Programa de Saúde da Família.
Também abriu a possibilidade de planejamento de ações intersetoriais,
incorporando dados da Saúde, Educação, Cadastro Imobiliário, dentre
outros, no processo de tomada de decisão das prioridades de investimento
nas políticas públicas.
Mapa 8 - Casas cedidas do Parque dos Pinheiros Fonte: CEMESPP
38
Este procedimento possibilitou integrar tais dados e gerar, pelo
geoprocessamento o mapa de inclusão/exclusão social da cidade
apresentado à frente.
2.1.3. Organização do campo: identificando as áreas de
exclusão social
De modo geral, pelos endereços, estes dados foram mapeados
gerando informações espaciais e sistematizadas para a pesquisa e para a
administração pública municipal. Após a elaboração de uma série de mapas,
foram realizados diversos cruzamentos temáticos entre eles para se chegar
a um mapa síntese (mapa 12), o mapa de inclusão/exclusão social,
evidenciando as áreas mais precárias da cidade. Neste sentido apareceram
três áreas mais críticas: o Jardim Bela Vista, o Jardim Panorama e o Parque
dos Pinheiros.
Mapa 11 - Menores infratores com regimes especiais Fonte: CEMESPP
39
Definidas as áreas de exclusão social, foi possível pensar a definição
de unidades espaciais que não mostrassem a localização dos indivíduos
mapeados, preservando, com mais propriedade, a confidencialidade. Assim,
era necessário pensar unidades espaciais mais adequadas à realidade de
uma cidade pequena, mas que não tivesse interferência na permanência do
princípio de confidência já determinada. A partir dessa questão, foi
necessário elaborar uma base cartográfica, expressa em quadras, em que
cada uma possuísse uma codificação, estabelecendo assim, uma
organização na estrutura da pesquisa.
Um software livre foi utilizado para esse trabalho, entendo-se a
necessidade do mesmo em uma pesquisa a ser trabalhada e continuada por
uma administração pública. Trata-se não somente de uma transferência de
tecnologia, mas também de procedimentos, de conhecimentos e de fácil
manipulação para que possa ser utilizado com facilidade e domínio sem, no
entanto, deixarem de ser eficazes. Neste caso, foi utilizado o software de
cartografia temática denominado Philcarto que, além de ser um software
Mapa 12 – Mapa síntese de inclusão/exclusão social de Álvares Machado Fonte: CEMESPP
40
livre é de fácil manipulação que obedece aos princípios da semiologia
gráfica. O interesse pelo Philcarto também ocorreu pela capacidade de
elaboração de mapeamento de fluxos, um item essencial dessa pesquisa.
Após a estruturação das bases em quadras e a sua respectiva
codificação, a equipe de cartografia trabalhou intensamente na elaboração
de croquis para a orientação dos aplicadores de questionários em campo.
Os croquis contemplavam os contornos das quadras, o nome de ruas, a
numeração das faces das quadras, assim como sua codificação, da quadra
como um todo, assim como das suas faces. A figura 3 ilustra os croquis
levados a campo.
2.1.4. Coleta de dados utilizando questionário: processo geral
2.1.4.1. A elaboração do instrumento pelo grupo
A necessidade de se aproximar da realidade que procuramos estudar
exige, do pesquisador, formas diversas de coletar as informações relevantes
Figura 3 – Croqui de Álvares Machado Fonte: CEMESPP, 2008.
41
para essa aproximação. Os tipos de perguntas e de registros visuais,
iconográficos, sonoros e outros vão depender das hipóteses a serem
verificadas e que o processo de formulação dos projetos de investigação
constroem. Em nosso caso, o estudo dos processos de exclusão/inclusão
social em suas diversas dimensões impunha como necessária pelo menos
uma das formas clássicas de levantamento de informações primárias, um
formulário ou questionário que seria aplicado diretamente à população.
Como o problema a ser estudado é diverso, multidimensional e
expresso em naturezas fenomênicas distintas, sugeria um instrumento que
pudesse captar o maior número possível de variáveis associadas. Essa
necessidade justificou a grande quantidade de questões aplicadas e a
abrangência familiar do formulário. A fim de conseguirmos levar a bom
termo essa empreitada, procuramos instrumentos de levantamento de
dados que nos fornecessem as respostas que necessitávamos sem incorrer
em riscos de revisões sucessivas. Apoiando-se em experiência de um dos
membros da equipe de pesquisadores em outros levantamentos extensos
de dados, pudemos ter a base e a estruturação de um instrumento aplicado
no município de Santo André no inicio dos anos 90.
Em razão do atraso do Censo de 1990, que só foi realizado no ano de
1991, a Secretaria de Planejamento do município decidiu realizar pesquisa
de amostra domiciliar para coletar informações sobre ampla gama de
assuntos das famílias residentes a fim de subsidiar as políticas públicas
locais. Esse formulário foi exaustivamente discutido e construído por uma
equipe de técnicos das diversas secretarias municipais em parceria com a
Fundação Santo André, hoje Universidade do ABC, Departamento de
Economia e Estatística. Todo o processo de execução do projeto - desde a
elaboração do formulário, passando pelos pré-testes e aplicação de campo e
análise – foi denominado de Pesquisa 90 (Santo André, 1992).
O formulário foi aplicado em aproximadamente 10 mil domicílios,
sendo coletadas informações de todos moradores de cada domicílio
pesquisado (Santo André, 1992: 155). Toda área urbana foi amostrada com
o intuito de suprir a carência ocorrida pela não realização do Censo. Esta
experiência bem sucedida de aplicação do formulário nos assegurou a
pertinência de parte do conteúdo (inclusive da maneira de se realizar a
pergunta, bem como suas alternativas) o que nos motivou a utilizá-lo como
42
base inicial do formulário a ser aplicado nas áreas de exclusão de Álvares
Machado.
Em verdade, para além de parte do conteúdo aproveitado para nosso
levantamento, a forma do formulário se mostrou bastante satisfatória para
os objetivos propostos. A partir de um único instrumento, pode-se obter
uma gama bastante ampla de informações sobre todos os moradores dos
domicílios pesquisados. A forma de organização do instrumento para
obtenção das informações (layout) possibilitava mobilizar apenas uma
pessoa da família que conhecesse as informações gerais, para responder a
todas as questões necessárias para corroborar as hipóteses levantadas na
pesquisa. Esse foi um elemento crucial no bom termo do levantamento dos
dados, uma vez que facilitava o trabalho do entrevistador e não ocasionava
dispersão de tempo e perdas de informações dos componentes da família
que não o respondente.
Tendo como parâmetro nossa compreensão conceitual sobre os
processos de exclusão social e os objetivos dessa pesquisa, especialmente o
que se refere a promover um avanço do ponto de vista metodológico para a
análise da exclusão social, elaboramos um questionário que foi aplicado aos
moradores do município de Álvares Machado. Dentre nossa preocupação, a
intenção de captar a dinâmica da exclusão, os caminhos percorridos pelos
sujeitos no processo de busca dos recursos sociais de atendimento às suas
necessidades básicas, indicou um dos elementos que comporiam as
questões. Portanto, exclusão social não é somente captada do ponto de
vista de áreas consideradas de exclusão e localizada pontualmente no
território, ela se refere a um processo amplo, complexo e multidimensional.
Do ponto de vista teórico, entendemos que o conceito de exclusão
social permite identificar os processos que envolvem os impactos negativos
das desigualdades sociais, podendo ser também, o elemento que possibilita
conhecer as matrizes excludentes e como estas são reproduzidas
culminando com diversos graus de pobreza, conferindo novas possibilidades
de abordagem.
Diante de nosso objeto de investigação, nos deparamos com alguns
parâmetros que nos orientaram na escolha dessa técnica: a inexistência de
dados sistematizados e atualizados que possibilitem uma leitura abrangente
das situações de risco, vulnerabilidade e exclusão social, seja por parte do
poder público municipal, seja através de fontes secundárias como o IBGE; e
43
a necessidade de alcançarmos, o mais próximo possível, das reais condições
de vida de segmentos da população daquelas áreas urbanas.
O instrumento proposto (questionário) e seu conteúdo foram
especificamente desenhados para esse propósito considerando-se não
apenas as dimensões analíticas dos processos de exclusão social
(multidimensionais, relacionais e pluriescalares), mas também um
reconhecimento de que tais processos assumem feições
específicas/particulares em áreas urbanas de pequeno porte.
Assim, deslocamentos, acessibilidade, processos de segregação,
interações espaciais entre grupos sociais e relações econômicas de
diferentes ordens, para ficarmos apenas em alguns exemplos, são
produzidos de maneira particular e isso acaba por (de certa forma) por
conduzir também o formato e as próprias questões a serem apuradas.
Apesar de localizar o particular, o estudo de caso preserva o caráter
unitário do objeto social estudado, tomando-o como um todo. Ao mesmo
tempo em que se detém nos componentes principais do objeto em estudo,
nos detalhes e nas circunstâncias específicas, “enfatiza a importância de
contextualizar as informações e situações retratadas”, baseando-se no
pressuposto de a “realidade é complexa e os fenômenos são historicamente
determinados, daí a necessidade de que sejam levadas em conta todas as
possíveis variáveis associadas ao fenômeno” (Goode e Hatt: 1973, 12).
Dessa forma, a preocupação ao elaborar o questionário foi a de
pautar-se na perspectiva da multidimensionalidade e assim buscar construir
itens que poderiam subsidiar a composição de indicadores sociais
posteriormente. Tais indicadores ou dados do instrumento associado aos
estudos do campo compuseram a metodologia desse trabalho com o
objetivo de fornecer parâmetros de diagnóstico e de mapeamento dos
elementos que possam se traduzir em indicadores da condição de vida da
população e de exclusão social.
A construção do questionário teve ainda o propósito de investigar
dimensões distintas com a intenção de fornecer dados em diferentes setores
para as discussões e ações em políticas públicas que podem ser
abrangentes e intersetoriais. Assim, tal como previsto no projeto, a
articulação com o poder público municipal foi mantida pela participação
permanente de integrantes, funcionários e gestor da Prefeitura do
município. Portanto, trocas de informação foram realizadas com as
44
indicações necessárias do município, incorporando dados das Secretarias,
principalmente, da Assistência Social. Nesse sentido, o Poder Público Local
poderá explorar tal investigação e suas informações para estabelecer os
planos necessários para as resoluções a serem implementadas para a
melhoria da qualidade de vida da população. (Souza, 2002).
É importante ressaltar mais uma vez que o caminho metodológico
adotado visa a participação e a troca de informações com os servidores
municipais, técnicos que trazem dados. Ao mesmo tempo, tem a
possibilidade de compreender a metodologia e aplicá-la, incorporando no
sistema e entendendo a sua importância no processo de planejamento
urbano e nas ações para interferir na exclusão social. Isso demonstra a
preocupação dessa pesquisa em fazer investigações de acordo com as
necessidades do município, possibilitando a sua utilização e interpretação
para subsidiar as discussões e ações em políticas públicas.
2.1.4.2. A aplicação inicial como piloto e reformulação dos itens
Um procedimento piloto foi realizado em maio de 2008, em uma área
específica da cidade de Álvares Machado. Para tanto, foram aplicados 30
questionários já em formatação e com itens previamente discutidos pela
equipe.
Os principais elementos observados foram:
- o tempo de aplicação de cada questionário;
- a adequação do número de questões;
- as possibilidades de cada questão não induzirem às respostas;
- a receptividade e a compreensão por parte da população
(questionário e termo de compromisso).
- adaptações necessárias
Assim, todas essas características foram apresentadas à equipe,
sendo discutidas e adequadas conforme os resultados. Nesse sentido, as
modificações implementadas foram mais direcionadas a fazer adaptações
em algumas questões que necessitaram de alternativas na sua composição
das respostas com respectivos códigos. O estudo possibilitou verificar que o
tempo de aplicação ficava em torno de 30 minutos e a sua composição era
45
extensa, porém a equipe não julgou como necessário a exclusão de itens,
porém ratificou a necessidade das adaptações nos itens já existentes. Em
relação à receptividade, não houve apontamentos sobre a não aceitação por
parte dos entrevistados em responder ao questionário, apenas relataram
que em dias úteis, não houve facilidade em encontrar os moradores. Dessa
maneira, a equipe decidiu realizar as visitas para entrevistas nos finais de
semana.
Ao final da discussão, o questionário foi organizado e estruturado
para determinar a coleta dos dados para cada componente da família
visitada, obtendo assim uma formatação adequada para obter respostas de
cada pessoa para cada item do questionário.
2.1.4.3. Estruturação e formatação final
Após o estudo piloto, a estruturação do questionário foi realizada com
formatação direcionada a obter os espaços designados para respostas de
cada membro morador da residência com correspondência a cada item a ser
respondido (anexo 1).
De modo geral, o questionário contém a seguinte estrutura:
A) Códigos de identificação da residência e do entrevistado:
Na página inicial ou página de rosto contém os dados de
identificação do entrevistado e da localização da residência de
acordo com os códigos estabelecidos pela equipe de pesquisa para
identificação da localização da quadra, face da quadra e da
residência. Houve ainda espaços para informações sobre a
entrevista e assinatura do entrevistador;
B) Temas abordados no questionário e respectivos itens: Os itens do
questionário foram separados em temas - Caracterização geral da
família (endereço da família, faixa etária, cor, sexo, local de
nascimento e condição física dos membros da família, a composição
familiar em termos da presença ou não de deficiências); sobre a
ocupação de cada um na família (tipo, ramo e situação de trabalho,
relação com a ocupação, vínculo empregatício, local de trabalho,
tipo de transporte utilizado, desemprego, programas sociais);
Aspectos educacionais (ler, escrever, participação em instituições
escolares e natureza do serviço de ensino, freqüência ); Saúde
46
(natureza dos serviços que utiliza, necessidades e ausência de
serviços, convênios); Lazer e Cultura (atividades descritas);
Aspectos físicos da moradia e acesso à tecnologia e cultura
(número de cômodos da casa, dormitórios, banheiros, linhas fixa e
móvel de telefone, internet, assinatura de revistas ou jornais ).
Acesso a programas sociais (da prefeitura/Estado, da comunidade
ou de grupos religiosos).
C) Um conjunto de questões foi realizado para verificar os acessos que
os membros da família tinham aos recursos da comunidade em
suas necessidades, visando identificar os deslocamentos dos
sujeitos fornecendo elementos para se pensar a exclusão como não
sendo restrita a um único espaço geográfico, como um fenômeno
flexível e em movimento e não estático. Estas eram questões
abertas para designar sobre local (cidade e ou endereço) para
trabalhar, estudar ou para realização das atividades de lazer.
D) Houve ainda a realização de 2 questões abertas, subjetivas,
utilizando a metodologia das representações, fundamentadas na
teoria do núcleo central, que permite, entre outros resultados,
compreender a estrutura das representações sociais. Deste modo,
foram realizadas 2 perguntas em que o entrevistado citava até 5
palavras para representar o significado das palavras “VIDA” e
“RIQUEZA”.
Para a elaboração do instrumento foram consideradas as exigências
estabelecidas pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de
Ciências e Tecnologia. De acordo com suas especificações é necessário que
os pesquisadores também elaborem um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) a ser lido, apreciado e assinado pelo sujeito da pesquisa,
indicando seu aceite em participar da mesma (anexo2). Portanto, assim que
finalizamos a preparação dos instrumentos da pesquisa, enviamos o
protocolo de encaminhamento dos documentos ao Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP), para apreciação dos mesmos. A proposta foi apreciada,
tendo sido aprovada em 05 de julho de 2007 conforme documento em
anexo (anexo 3).
Para além da dimensão burocrática e protocolar dos CEPs,
acreditamos que o mais importante é: os pesquisadores de fato, agirem,
47
refletirem e intervirem dentro de parâmetros éticos, o que implica
intervenções críticas com implicações sociais. Nesse sentido, acreditamos
que estamos abordando aspectos afetivos, relacionais e o desenvolvimento
de atitudes éticas e não apenas aspectos formais do conhecimento
científico.
A elaboração do TCLE e as preocupações com os sujeitos da pesquisa
nortearam a nossa ação durante o preparo dos aplicadores da pesquisa,
pois além da questão mais formal de apresentação e assinatura do sujeito
dando seu aval para participar da pesquisa, nos preocupamos ainda com o
fato das pesquisas serem “modos de intervenção que propõem,
implicitamente, uma transformação na realidade investigada” (TAVARES,
2005), o que explicita nosso compromisso ético e político com os sujeitos da
pesquisa.
Compartilhamos com Cortella (2005) a concepção de ética na
pesquisa como se relacionando com escolha, liberdade e integridade
individual e coletiva, indicando implicação com a qualidade da vida do outro
e promovendo o tratamento de todas as pessoas como humanos. A ética na
pesquisa exige que nos sensibilizemos com o lugar do outro,
compreendendo-o em sua subjetividade e levando em conta seus direitos
(TAVARES, 2005).
2.1.4.4. Elaboração de manual para o grupo e treinamento do
pessoal
O treinamento dos aplicadores foi realizado pelos professores,
pesquisadores, que em reuniões com o grupo, apresentou o questionário
completo, com capa de apresentação e estruturação dos dados a serem
coletados. Cada uma das questões foram lidas e explicadas, ressaltando as
dúvidas de cada aplicador e apresentando as explicações necessárias. Após
a leitura e explicação sobre procedimentos a serem realizados em cada
questão, os aplicadores utilizaram o questionário em seus pares, simulando
a situação do campo. Em seguida, foram levantadas as dificuldades e,
novamente, explicadas/debatidas cada uma delas.
Um manual de orientação da pesquisa de campo foi elaborado e
apresentado, sendo realizada a leitura cuidadosa junto com os aplicadores
48
durante o treinamento. Cada um deles obteve um exemplar para
acompanhá-lo na coleta dos dados (Anexo 4).
O manual de orientação constou de uma capa com a identificação do
nome do projeto, órgão financiador (FAPESP), finalidades do manual e ano
de elaboração. Em seguida, consta de itens importantes e necessários para
apresentação do estudo, incluindo suas finalidades. Discorria ainda sobre a
responsabilidade de cada aplicador, a organização do campo e o modo de
operação na coleta de dados.
2.1.4.5. Procedimentos para aplicação do questionário
Para aplicação do questionário na cidade de Álvares Machado, foi
necessário o deslocamento da equipe com transporte coletivo. Assim, foi
contratado serviço de transporte privado para este deslocamento em finais
de semana (sábados e domingos) sendo a equipe, geralmente composta por
2 professores e cerca de 20 a 25 alunos por dia de atividade.
A organização de cada equipe foi feita sempre na sexta-feira anterior
à ida a campo e estava sob a responsabilidade de
professores/pesquisadores que providenciaram o material necessário
(questionários, croquis das quadras e da área, mapa da cidade, pranchetas,
lápis, crachás, lista de telefones etc.). É importante ressaltar que cada
aplicador, na véspera da ida ao campo (na sexta à tarde) teve que se
direcionar à sala do CEMESPP para confirmar sua presença e adquirir o
material de pesquisa (pranchetas, questionários, croquis das áreas,
canetas, termos de consentimento livre e esclarecido), assinando livro de
organização deste material.
Na segunda-feira após a aplicação, cada aplicador teve que devolver
o material coletado e, novamente, assinar o mesmo livro após recepção e
conferência do número de questionários aplicados, assim com o material de
pesquisa. O entrevistador portava, além desses materiais, uma
documentação e identificação pessoal e camiseta do projeto “Políticas
Públicas – Cemespp”, com os logotipos da Unesp e Fapesp em cada uma de
suas mangas.
Os professores/pesquisadores eram responsáveis pelo horário de
saída e chegada dos mesmos; organização e conferência de materiais, a
responsabilidade no acompanhamento e na distribuição dos aplicadores e
49
suas áreas de aplicação; recebimento e distribuição de lanches durante o
período e ainda, checagem das residências que o questionário havia sido
aplicado ao retornar ao local de encontro (local determinado pela prefeitura
do município).
Na organização do campo, os professores portavam croquis das áreas
de estudo (conforme relatado na pág. 35) que serviram como base para
que duas equipes (A e B) realizassem o levantamento de dados por áreas. A
equipe A era composta de entrevistadores e a equipe B pelos responsáveis
por levantamento de dados do entorno, fotografias e atualização de mapas.
A equipe A, composta por entrevistadores, recebeu a área a ser
visitada conforme definição do professor/pesquisador a partir dos croquis.
As áreas foram definidas em quadras iniciando pela face A (definida pelo
lado norte) e indo em direção horária (direita). Cada entrevistador visitava
a residência e fazia a entrevista com a pessoa que se dispusesse a
responder o questionário, exceto os menores de 18 anos. No questionário
também eram anotados os dados coletados das demais pessoas moradoras
daquela residência como pode ser verificado no anexo 1. Após a coleta, o
entrevistador retornava ao local da coordenação onde as residências já
visitadas eram checadas e sinalizadas no croqui. Assim cada quadra foi
sendo fechada e verificada a ausência de pessoas, domicílios vagos ou
inexistentes.
A equipe B era composta por 4 pessoas que seguiam o mesmo
trajeto, por quadras e em direção horária, conferindo ou fazendo anotações
nos croquis sobre modificações existentes como obstáculos (árvores,
elevações, garagem, lixeiras etc.), calçamentos, asfalto etc.. Para tanto,
realizaram observações, anotações e imagens fotográficas realizando a
revisão e a atualização das bases cartográficas previamente compostas.
2.1.5. Organização dos resultados
Como descrito anteriormente, para a utilização do questionário em
campo, foi realizado um recorte do campo baseado no mapa cartográfico
estruturado por eixo de ruas e utilizado pelo programa MapInfo, que
possibilitou o geoprocessamento e georreferenciamento de dados da
Secretaria de Assistência Social. O MapInfo possibilitou o cruzamento das
informações e a execução de mapas temáticos e, posteriormente, o mapa
50
síntese definido como Mapa e Inclusão/Exclusão Social de Álvares Machado.
Neste mapa, ressaltou-se 3 grandes áreas de exclusão e que foram o
recorte desse trabalho (ver p. 34, início deste capítulo, mapa 12).
A checagem do campo foi realizada em 2 situações. A primeira teve
como propósito conferir a numeração das quadras para os croquis (base
cartográfica modelada para a realização do questionário). A segunda foi
realizada com a equipe B (ver página anterior) durante a execução das
visitas às áreas das residências em que os questionários foram realizados.
Esta foi uma checagem de dados, realizadas pela observação qualitativa de
campo, buscando-se certificar o traçado e nomes das ruas, a numeração
das residências, imóveis inexistentes, novas quadras, a existência de
obstáculos e os implementos físicos existentes (árvores, elevações de
garagem, jardins, postes etc.). Todas as informações foram anotadas nos
croquis digitalizados e reorganizados no Cemespp, utilizando o programa
PhilCartho.
Sobre os dados objetivos do questionário, os resultados foram
digitados por uma equipe de 10 pessoas, em planilha do programa SPSS,
versão 12, organizados por codificações para cada uma das variáveis
objetivas.
A mobilidade foi observada utilizando os endereços e os dados
descritos pelo questionário. Foi verificada a mobilidade pelo tipo de
deslocamento, frequência e meio de locomoção, baseando-se nos dados das
colunas das planilhas correspondentes aos endereços das residências do
sujeito e dos locais de trabalho e aqueles de consumo de bens sociais como
serviços de educação, saúde e lazer.
Quanto aos tipos de técnicas utilizadas para analisar as
representações sociais é possível classificá-las segundo os aspectos internos
e externos priorizados e de acordo com os objetivos estabelecidos. Nesta
pesquisa, priorizamos os aspectos internos das representações sociais,
contudo, os dois tipos permitem compreender as transformações e as
permanências a que estão sujeitas as representações sociais.
Para conhecermos a organização interna das representações sociais,
optamos pela técnica de evocação livre (SÁ, 1996, p. 115). Apresentamos
dois termos indutores aos entrevistados - vida e riqueza. Foi solicitado que
relacionassem as cinco primeiras coisas - palavras, idéias e sensações – que
eles pensassem em primeiro momento, ou seja, que pudessem dizer de
51
imediato o que representaria na vida deles as palavras apresentadas. A
partir destas evocações, da inserção social dos sujeitos e da escala
considerada na pesquisa, poderíamos compreender aspectos do resultado
da relação entre representações e práticas sociais.
A análise dos termos evocados foi realizada por meio do software
EVOC (VERGÈS, 2000), que permite processar as informações obtidas nas
entrevistas de evocação livre, considerando as variáveis e os objetivos
estabelecidos. A aplicação deste software ocorreu a partir da criação de um
fichário no formato Microsoft Office Word ou Microsoft Office Excel. Em
seguida, com o léxico estabelecido, foi possível uma reclassificação
semântica e o estabelecimento dos intervalos a serem considerados em
relação ao número e a ordem das evocações. Quando todas as variáveis e
ordenações estavam concluídas o passo seguinte foi a escolha dos relatórios
de análise, os quais variaram em complexidade e forneceram resultados a
partir dos critérios de freqüência e ordem em que os termos foram
pronunciados. Em geral, os dados obtidos apresentaram aspectos da
organização interna da representação social pesquisada, o que tornou
possível estabelecer hipóteses sobre os elementos centrais e periféricos da
mesma e, consequentemente, compreender quais transformações e
influências trouxeram interferência na representação social. Os subsídios
teóricos e metodológicos de tais procedimentos são melhor explicitados no
item seguinte.
2.1.6 - O uso de informações qualitativas
Viver em sociedade é relacionar-se em diversos aspectos. As relações
sociais são interações que implicam sujeitos, ações e objetos sociais. Nestas
interações surgem padrões de uniões, semelhanças e continuidades que
passam a caracterizar homogeneidades em meio à diversidade e
complexidade próprias do âmbito social. Isto implica dizer que as relações
sociais encerram um universo em que o individual potencializa ou
estabelece agrupamentos, gerando diferentes derivações sociais, sempre
relativas aos aspectos externos e internos a cada sociedade. Esse modo de
apreensão das relações sociais leva em conta o caráter dinâmico destas, “se
eu vejo, então, o grupo a partir de relações, eu vou ter uma visão de grupo
sempre relativa, isto é, incompleta, em construção, em transformação”
52
(GUARESCHI, 1996, p. 86).
Uma maneira de compreender parte dessa dinâmica das relações
sociais é conhecer as representações sociais relativas aos respectivos
grupos sociais. Esse procedimento implica metodologias que permitam
observar como a representação social é elaborada, mantida ou
transformada.
As representações sociais estão presentes nas sociedades e seu
estudo pode contribuir para compreendermos aspectos das tomadas de
posição dos respectivos grupos sociais. O fenômeno representação social
foi identificado e passou a ser objeto de compreensão na Psicologia Social
por meio da Teoria das Representações Sociais. Com o apoio desta teoria, o
fenômeno pode ser observado e analisado, possibilitando a compreensão da
representação social enquanto forma de interpretação da realidade.
Apresentar as representações sociais no contexto de moradores de
áreas consideradas de exclusão, por meio da teoria das representações
sociais, é o que pretendíamos e, para tanto, foram aplicadas as questões
abertas e evocativas, tal como relatado.
A teoria das representações sociais é considerada a grande teoria,
com a qual outras teorias menores interagem, utilizando-a como base geral.
A teoria do núcleo central, proposta por Jean Claude Abric é uma destas e
confere a objetividade que falta à teoria geral (SÁ, 1996, p. 61).
Situada entre os campos da Psicologia e da Sociologia, a teoria das
representações sociais implica uma abordagem psicossocial, iniciada por
Serge Moscovici. Devido ao caráter polimorfo das representações sociais e
ao fato da teoria ter como matéria o senso comum, ela está aberta a
contribuições e aprofundamentos em diversos aspectos. Denise Jodelet,
Jean Claude Abric, Willen Doise, Robert Farr, Wolfgang Wagner, Sandra
Jovchelovitch, Pedrinho A. Guareschi e Celso Pereira de Sá são alguns dos
importantes pesquisadores e interlocutores da teoria das representações
sociais.
O caráter social das representações sociais na psicologia social não
permite abordagens fechadas na individualidade, uma vez que a mediação
social é central, juntamente com as relações socioespaciais. São os
agrupamentos presentes na sociedade que possibilitam um pensamento
53
social3 e, consequentemente, a natureza dos contatos sociais de acordo com
aspectos históricos. Uma pessoa pode pertencer a diversos grupos e, assim,
receber influências que particularizam os limites de suas representações
sociais. As influências da comunicação e da prática na vida cotidiana
sustentam ou transformam as representações sociais, conferindo à relação
entre práticas e representações sociais um caráter indissociável. Contudo,
na representação social existe um aspecto mais rígido e resistente a
mudanças, aquele que envolve a memória coletiva do grupo social e um
aspecto mais dinâmico e adaptável a mudanças, aquele que envolve o
vivido e o cotidiano atual do grupo social.
Em seu caráter social as representações sociais implicam certa
autonomia no âmbito da sociedade, “à luz da história e da antropologia
podemos afirmar que essas representações são entidades sociais, com vida
própria, comunicando-se entre elas, opondo-se mutuamente e mudando em
harmonia com o curso da vida; esvaindo-se, apenas para emergir
novamente sob novas aparências” (MOSCOVICI, 2003, p. 38, grifo nosso).
Diversas formulações teóricas são dedicadas ao modo como as
representações sociais interagem com as práticas sociais. Para
Jovchelovitch (2000, p. 32), as representações sociais são: “saberes sociais
construídos em relação a um objeto social, que elas também ajudaram a
formar”. Segundo Guareschi e Jovchelovitch (2000, p. 19), a representação
“recupera um sujeito que, através de sua atividade e relação com o objeto-
mundo, constrói tanto o mundo como a si próprio”.
Nas interações sociais existem limites característicos a cada grupo
social no que se refere ao conhecimento. Saber ou não sobre determinado
assunto implica ter ou não familiaridade com ele. Moscovici (2003, p. 16)
mostra que “a cultura detesta a ausência de sentido”, algo não-familiar a
um determinado grupo social vai ser representado por ele de tal forma que
a lacuna da ausência de sentido desapareça. Estas considerações são
centrais para a teoria das representações sociais, “se nós formamos
representações a fim de nos familiarizarmos com o estranho, então as
3 Moscovici admite existir um pensamento social que nasce nas inter-relações sociais. Para o autor as pessoas formulam filosofias espontâneas, porém “o pensamento social deve mais à convenção e à memória do que à razão; deve mais às estruturas tradicionais do que às estruturas intelectuais ou perceptivas correntes” (MOSCOVICI, 2003, p. 57). O pensamento social implica assim considerar as realidades compartilhadas.
54
formamos também para reduzir a margem de não-comunicação”
(MOSCOVICI, 2003, p. 208). A comunicação pode ser obstruída por meio da
falta, ou excesso, de acesso aos canais de comunicação (mediadores
sociais, espaços públicos e instituições), que faz com que as pessoas, ora
não adquiram saberes, ora adquiram saberes que, devido à lógica a que
está atrelada, se tornam nocivos para a vida em sociedade.
Os pilares desta representação apóiam-se em bases nas quais a
memória prevalece sobre a dedução; o passado sobre o presente; a
resposta sobre o estímulo; e as imagens sobre a realidade (MOSCOVICI,
2003, p. 55). Os conceitos de ancoragem e objetivação mostram o caráter
dinâmico das representações sociais, por meio desses processos extraímos
de imagens, linguagens e gestos conhecidos, elementos para superar a não-
familiaridade:
Ancoragem e objetivação são, pois, maneiras de lidar com a memória. A primeira mantém a memória em movimento e a memória é dirigida para dentro, está sempre colocando e tirando objetos, pessoas e acontecimentos, que ela classifica de acordo com um tipo e os rotula com um nome. A segunda, sendo mais ou menos direcionada para fora (para outros), tira daí conceitos e imagens para juntá-los e reproduzi-los no mundo exterior, para fazer as coisas conhecidas a partir do que já é conhecido. (MOSCOVICI, 2003, p. 78)
A transformação de algo estranho em algo familiar implica uma
tomada de posição frente a essa nova realidade, assim, as representações
sociais moldam a sociedade em que vivemos e criam novos tipos sociais
(MOSCOVICI, 2003, p. 96).
Embora por longo período tenha relutado em definir ou fechar o
campo de pesquisa, Moscovici muito contribui para a definição do que
seriam as representações sociais:
Vistas desse modo, estaticamente, as representações se mostram semelhantes a teorias que ordenam ao redor de um tema [...] uma série de proposições que possibilita que coisas ou pessoas sejam classificadas, que seus caracteres sejam descritos, seus sentimentos e ações sejam explicados e assim por diante. [...] Na verdade, do ponto de vista dinâmico, as representações sociais se apresentam como uma “rede” de idéias, metáforas e imagens, mais ou menos interligadas livremente e, por isso, mais móveis e fluídas que teorias. (MOSCOVICI, 2003, p. 209-10, grifos do autor)
As representações sociais permitem o acesso ao modo como um
55
grupo social interage com o objeto, esta interação ocorre num movimento
que representação, ação e conseqüências se realimentam produzindo novos
significados. De acordo com Wagner:
O comportamento e a ação estão lógica e necessariamente conectados a crenças representacionais, mas suas conseqüências não estão. A ação e as conseqüências da ação são duas coisas diferentes [...] O resultado da complexa representação e ação e sua conseqüência contingencial é, portanto, passível de uma verdadeira explicação causal. (WAGNER, 2000, p. 178-9)
Desta perspectiva apreendemos que as representações sociais nos
fornecem elementos para analisarmos atitudes, declarações, imagens e
manifestações em geral, ou seja, ao conhecer a organização e o conteúdo
da representação e a conseqüente ação realizada a partir deste saber social,
torna-se viável uma compreensão dos efetivos resultados que esta
interação, entre representações e práticas sociais, constrói.
Pesquisar as representações sociais é, então, entre outras coisas, um
meio de se explicar a organização e os conteúdos de alguns saberes e
práticas sociais, além de ser a possibilidade de entendimento do resultado
da relação entre representação e ação social. Nesse sentido, são relevantes
as sugestões de Jovchelovitch:
Os processos que dão forma e transformam as representações sociais estão intrinsecamente ligados à ação comunicativa e às práticas sociais da esfera pública: o diálogo e a linguagem, os rituais e processos produtivos, as artes e padrões culturais, em suma, as mediações sociais. Desta forma, a análise das representações sociais deve concentrar-se sobre aqueles processos de comunicação e vida social, que não apenas as produzem mas que também lhes conferem uma estrutura peculiar. (JOVCHELOVITCH, 2000, p. 80)
Desse modo a Teoria das Representações Sociais se ocupa da
dimensão privilegiada em que as representações sociais podem ser
construídas, mantidas ou transformadas.
As representações sociais estão radicadas nas reuniões públicas, nos cafés, nas ruas, nos meios de comunicação, nas instituições sociais e assim por diante. É neste processo em que elas se incubam, se cristalizam e são transmitidas. É no encontro público de atores sociais, nas várias mediações da vida pública, nos espaços em que sujeitos sociais reúnem-se para falar e dar sentido ao
56
quotidiano que as representações sociais são formadas. (JOVCHELOVITCH, 2000, p. 40)
Privilegiamos analisar as representações a partir da dimensão
espacial em que as representações sociais podem ser investigadas,
juntamente com a escolha de uma vertente da teoria das representações
sociais compatível com nossos objetivos.
A Teoria do Núcleo Central permite compreender quais são os fatores
estruturais da representação social cuja alteração pode transformar uma
representação.
O núcleo central é um subconjunto da representação, composto de um ou de alguns elementos, cuja ausência desestruturaria ou daria uma significação radicalmente diferente à representação em seu conjunto. Por outro lado, é o elemento mais estável da representação, o que mais resiste à mudança. Uma representação é suscetível de evoluir e de se transformar superficialmente por uma mudança do sentido ou da natureza de seus elementos periféricos. Mas ela só se transforma radicalmente – muda de significação – quando o próprio núcleo central é posto em questão. (ABRIC, 2001, p. 163)
Para conhecermos a estrutura interna das representações sociais
utilizamos a técnica de coleta e tratamento de dados, por meio de termos
indutores, no âmbito da Teoria do Núcleo Central, iniciada por Jean Claude
Abric. Este procedimento metodológico implicou considerar outros como
complementares, tais como as observações de campo e questionários. Essa
multimetodologia permite situar os resultados, enquanto estrutura das
representações sociais, num contexto cujas características da realidade são
apreendidas de formas diferenciadas, “o núcleo central de uma
representação é ele mesmo um sistema organizado. É constituído de
elementos: normativos e funcionais. Estes elementos são hierarquizados e
podem ser ativados diferentemente, de acordo com a natureza do grupo ou
a finalidade da situação” (ABRIC, 2001, p.168, grifos do autor). E ainda, ao
se referir a abordagem experimental, Abric destaca procedimentos que
podem ser utilizados em outras abordagens: “as enquetes e os estudos
qualitativos constituem instrumentos indispensáveis e frequentemente mais
ricos em informações – inclusive teóricas – para o conhecimento e a análise
das representações sociais” (ABRIC, 2001, p.169).
Procedemos, então, com a identificação da organização interna das
representações sociais no contexto do segmento populacional pesquisado.
57
Procuramos compreender a organização interna das representações sociais
do termo riqueza, utilizando a técnica de evocação livre (SÁ, 1996, p. 115)
no âmbito da Teoria do Núcleo Central. Para conhecermos a organização
interna das representações sociais, apresentamos o termo indutor aos
respondentes4. A este termo os entrevistados relacionaram até 5 termos ou
expressões de acordo com a metodologia aplicada. A partir das evocações
obtidas utilizamos o software EVOC5 buscando identificar a organização de
base quantitativa e classificatória na estrutura interna da representação
social.
2.2. RANCHARIA
Inicialmente, estava previsto no projeto de pesquisa a realização de
trabalho de campo, com aplicação de questionários tanto em Álvares
Machado como em Rancharia. Em função de algumas dificuldades
encontradas na execução do projeto, esse plano inicial foi alterado.
A primeira dificuldade diz respeito ao descompasso que há, nos
trâmites do processo da Diretoria Científica e da Diretoria Financeira da
FAPESP. Havíamos previsto, na solicitação de apoio financeiro ao projeto, o
valor de R$ 33.000,0o para pagamento de serviços de terceiros, o que
envolveria o apoio técnico de informática, consultoria em sistema de
informações, a aplicação de questionários do inquérito domiciliar e o
trabalho de digitação de dados. No projeto aprovado, esse item sofreu um
corte, sendo liberado o valor de R$ 13.000,00. Na ocasião da assinatura do
termo de outorga, aceitamos os recursos aprovados, uma vez que
poderíamos contar com o apoio das prefeituras para a realização do
trabalho de campo.
Contudo, a necessidade de realização de um piloto, assim como a
correção de checagem de dados em Álvares Machado, gerou mais gastos do
que imaginávamos e consumindo quase a totalidade dos recursos previstos
4 No total 1.127 moradores de áreas consideradas de exclusão no município de Álvares Machado, São Paulo.
5 Desenvolvido por Pierre Vergès, o software EVOC é composto por programas que possibilitam identificar aspectos da organização interna da representação social, por meio de processamento de dados.
58
(R$ 12.235,50). Uma solução encontrada pelo grupo foi de encaminhar à
FAPESP uma solicitação de transferência de recursos entre rubricas,
prejudicando a aquisição de alguns equipamentos, sem prejuízo da coleta
de dados. Apesar de essa solicitação ter ocorrido em outubro do ano
passado, não obtivemos resposta até o momento.
Uma segunda dificuldade encontrada para a aplicação do questionário
em Rancharia foi o período eleitoral do final do ano de 2008. Em algumas
visitas ao campo e contato com a população residente nas áreas escolhidas,
verificamos a dificuldade de abordar as pessoas em um ambiente pré-
eleitoral. Como o projeto se desenvolveu em parceria com a prefeitura,
tornou-se praticamente impossível não ocorrer alguma associação entre a
pesquisa e a gestão municipal.
Em vista destas dificuldades e considerando que o objetivo central do
trabalho não era apenas o estudo da pobreza urbana e exclusão social de
Álvares Machado e Rancharia, mas o desenvolvimento de metodologias
adequadas às cidades do interior paulista, descartamos do nosso
cronograma a aplicação de questionário no segundo município. Como
decorrência dessa decisão, foi possível discutirmos melhor outras formas de
coleta de informações em municípios dessa natureza. Esse é o caso de um
instrumento de observação de campo, elaborado pelo grupo e aplicado nas
áreas consideradas de exclusão social de Rancharia, conforme iremos
descrever no item 2.2.1.. Desta forma, ainda que esse procedimento não
estivesse previsto inicialmente, é uma demonstração da necessidade dos
pesquisadores envolvidos em projetos de políticas públicas estarem sempre
atentos às condições e demandas locais.
2.2.1. Observação de campo: identificando as áreas de
exclusão
O processo de articulação da pesquisa com Rancharia coincidiu com a
mobilização da Prefeitura Municipal em torno da elaboração do Plano Diretor
de Desenvolvimento Urbano, abrindo a possibilidade de produção de
trabalhos conjuntos que aproximassem e atendessem às necessidades de
ambas as equipes responsáveis por tais projetos. Esta ação foi, em muito,
facilitada pelo fato da equipe responsável pelos encaminhamentos
59
necessários à elaboração do Plano Diretor conter docentes/pesquisadores
pertencentes ao Cemespp.
Tal coincidência resultou na possibilidade de caminharmos juntos em
atividades de levantamento de dados, seu compartilhamento, discussão e
utilização.
Como observado, desde os primeiros contatos com a Prefeitura
Municipal, ficou claro que seus diversos órgãos apresentavam um quadro de
poucas informações sistematizadas sobre a realidade local. Isso se
evidenciava pela base cartográfica digital no formato “dxf” do AUTOCAD,
desatualizada e sem numeração dos imóveis por face de quadra, além da
inexistência de sistema digital de informações sobre dados territoriais
urbanos, dentre outras questões.
A Secretaria da Assistência Social, por exemplo, tal como em vários
municípios, ainda mantém seus registros de atendimentos em fichas em
papel, com todas as conseqüências que isto provoca em relação à
implementação, acompanhamento e avaliação de suas políticas públicas e
também em relação às possibilidades de interação e integração com aquelas
desenvolvidas em outras áreas, como na educação e na saúde (lembrando
aqui das sinergias geradas em algumas políticas/programas que exigem o
cumprimento de condicionalidades em outras áreas, como é o caso do Bolsa
Família).
Os desafios, então, foram de duas naturezas distintas e
complementares, mas que demandavam uma solução rápida, de maneira a
atender às necessidades de ambas as equipes: de um lado gerar uma base
digital capaz de suportar os diferentes tipos de mapeamentos requeridos, o
que demandava atualizar a existente e inserir a numeração dos imóveis, por
faces de quadra. De outro lado, gerar informações necessárias a uma leitura
rápida do território da cidade, revelando suas características, em particular
a das desigualdades intra-urbanas.
Dois foram os caminhos tomados. O primeiro, elaborar um mapa da
área urbana, com os recortes dos setores censitários, a partir de dados do
IBGE para o ano 2000. A metodologia anteriormente desenvolvida pelo
CEMESPP foi utilizada, resultando no mapa exposto no item 3.21., desse
relatório.
Tal mapa permitiu, já em um primeiro momento, reconhecer as
desigualdades intra-urbanas e, em particular, os seis setores censitários
60
considerados como de exclusão social. Todos agrupados em uma mesma
porção da cidade, e contíguos, revelaram um intenso processo de
diferenciação sócio-espacial no território urbano, permitindo a realização de
visitas qualificadas a estas áreas, detalhamento de várias informações
relativas a elas e também a preparação mais adequada para as audiências
públicas do Plano Diretor.
Ao tempo em que tais ações foram sendo desenvolvidas, foi
elaborado um instrumento de coleta de dados primários, através de
trabalho de campo.
A opção recaiu, então, pela elaboração de um instrumento
simplificado de levantamentos de dados. Do ponto de vista metodológico
aproxima-se da técnica conhecida como estimativa rápida, dada sua
simplicidade, baixo custo e preparo rápido dos pesquisadores de campo, ao
mesmo tempo em que fornece material para, além de uma primeira análise,
desencadear a formulação de hipóteses que possam subsidiar o
desenvolvimento da investigação.
O instrumento ou Ficha de Observação encontra-se reproduzido a
seguir (figura 4). Chamamos a atenção para o cuidadoso trabalho realizado
previamente para identificar/numerar cada quadra e cada face de quadra
para que fosse possível, depois, sua inserção na base digital em conjunto
Figura 4 - Modelo do formulário de observação rápida
61
com a numeração inicial e final de cada trecho. Foi possível, assim, gerar
uma informação crucial para a produção de uma base digital atualizada e
que permitiria a elaboração de vários e diferentes mapeamentos futuros.
O conjunto das informações foi agrupado em cinco grandes itens, a
saber: ambiental (relacionado à arborização urbana); sinalização (horizontal
e vertical); infra-estrutura básica; uso e ocupação do solo e acessibilidade e
mobilidade.
Entre docentes e alunos, foram 12 pessoas percorrendo todas as
vias, quadra a quadra, anotando as informações, durante 4 finais de
semana (sábados e domingos pela manhã e tarde). Ou seja, considerando-
se 8 horas diárias, para o levantamento completo foram utilizadas 64 horas
de trabalho.
O banco de dados gerado a partir daí constitui-se de 1596 linhas por
53 colunas e foi extremamente útil para a elaboração de bases
cartográficas, mapas temáticos, análises do espaço urbano e intra-urbano
e, no caso específico do projeto Políticas Públicas em andamento, para uma
aproximação, reconhecimento e conhecimento, sistematização de dados e
posterior análise de áreas de exclusão social.
Interessante registrar alguns resultados observados desta experiência
que se constituíram em ganhos de conhecimento para a equipe da Unesp e
da Prefeitura Municipal, com a qual fazíamos a parceira necessária ao
projeto políticas públicas.
Em primeiro lugar, o mapa da exclusão social elaborado com a
metodologia anteriormente desenvolvida pelo Cemespp de imediato
constituiu-se em material de trabalho da Secretaria de Assistência Social,
incrementando seu conhecimento a respeito dos territórios da cidade. Um
exemplo concreto e necessário de ser registrado apareceu quando da
elaboração de um mapa temático que cruza as áreas de inclusão/exclusão
com um banco de dados por endereço de um grupo de pessoas que foi
demitido de duas das maiores empregadoras da cidade, devido à
desativação de suas unidade produtivas. Foram, no total, 588 demitidos,
dos quais foram obtidas informações sobre endereço, composição familiar,
renda, idade etc. O mapa resultante apoiou ações que foram tomadas no
âmbito da Secretaria da Assistência Social.
Em segundo lugar, o Cemespp desenvolveu, testou e utilizou uma
estratégia de pesquisa ainda não utilizada pelo grupo até aquele momento,
62
a observação rápida, que se revelou adequada e eficiente frente ao baixo
custo e agilidade na obtenção de informações. Além de fornecer os dados
para o aprimoramento da base cartográfica digital por endereços, ao serem
“acoplados” aos resultados do mapeamento com os dados do IBGE,
mostrou-se suficiente para a condução das análises sobre exclusão social e
pobreza urbana.
Por fim, em terceiro lugar, as características e potencialidades
apontadas acima permitem afirmar que se trata de uma metodologia
possível de ser replicada em outras realidades, enriquecendo o acervo de
“soluções” e tecnologias em desenvolvimento no âmbito de políticas
públicas locais com fortes componentes territoriais.
2.3. TARABAI
2.3.1. Da Constituição e formatação da base cartográfica digital ao
mapeamento temático
a) A composição da Base Cartográfica
Várias dificuldades compareceram no início do trabalho e,
certamente, estas dificuldades serão as mesmas em muitas outras cidades
de pequeno porte onde a metodologia venha a ser empregada. Em primeiro
lugar, ao procurar uma base cartográfica do território urbano, contatamos
sua inexistência nos setores da administração municipal. Ao estabelecer
diálogos com os técnicos da Prefeitura, face à inexistência de uma planta
urbana, foi nos informado que o INCRA (Instituto Nacional de Reforma
Agrária) estava realizando um levantamento dos lotes da cidade para a
regularização das terras urbanas, pois todas elas, ainda hoje, estão
assentadas sobre áreas devolutas. Ainda assim, tal levantamento era algo
que estava em processo, o trabalho não estava finalizado. Desse modo,
obtivemos com o INCRA a base cartográfica com cerca de 70% da cidade
mapeada, dotada de coordenadas geográficas. Face a essas condições,
tínhamos três opções: 1) esperar o término do trabalho de levantamento do
INCRA, em princípio, sem data para encerrar; 2) montar uma equipe para
63
fazer um levantamento próprio em campo; 3) procurar outras possíveis
fontes de dados cartográficos. A primeira opção era inviável em função do
curto tempo para a realização do trabalho e a segunda resultaria em
maiores custos operacionais. Levando em conta essas constatações, a
terceira opção poderia ser a mais viável. Foi então que, através da
Prefeitura Municipal de Tarabai, solicitamos as bases cartográficas (mapa de
ruas e mapa de setores censitários urbanos) com o IBGE, conjuntamente
com os dados do CENSO 2000. Desse modo, foram obtidos os dados
primários para começar o processo de formação das bases cartográficas
para o mapeamento temático.
Nesse conjunto de condições, outros detalhes se interpuseram ao
trabalho: 1) A base do INCRA, além de estar incompleta, estava assentado
sobre o Programa AutoCad®; 2) As bases cartográficas digitais fornecidas
pelo IBGE, apesar de contemplarem toda a cidade, não possuíam
coordenadas geográficas. Assim, esse conjunto de dados dispersos e
desarticulados, tiveram de se tornar único e articulado para a composição
de uma base cartográfica completa que contemplasse nossas necessidades.
A base cartográfica, fornecida pela agência do IBGE em Presidente
Prudente, apesar de não possuir coordenadas geográficas, tratava-se de um
arquivo vetorial (no formato “pdf”). Além disso, os diferentes tipos de
informações espaciais (mapa de ruas e mapa de setores censitário – ver
esquema 3) estavam todos mesclados, ou seja, estavam todos num único
arquivo e numa única camada. Daí que precisamos utilizar nesse momento
o software Adobe Illustrator® para separar essas informações espaciais, ou
seja, colocar a base dos setores censitários em um arquivo e o mapa de
ruas em um outro diferente.
Feito isso o passo seguinte foi levar essas duas informações
espaciais, mencionadas acima, sem coordenadas geográficas, para o
AutoCad®, para realizar o georreferenciamento (lembrando que isso foi
feito com a base cartográfica conseguida com o INCRA, que possuía
coordenadas, mas que estava incompleta). Superpondo as bases,
complementamos os “vazios”, formando uma base completa que cobria
toda a cidade e que possuía coordenadas geográficas, tal como no esquema
1. É preciso mencionar que quando se obtém bases cartográficas em
programas que não o que vai ser efetivamente utilizado para o
mapeamento temático, é preciso estar atento ao seu DATUM. No nosso
64
caso, e provavelmente na maioria dos casos, o DATUM é o seguinte:
UNIVERSAL TRANSVERSOR DE MERCATOR (CÓRREGO ALEGRE) –
FUSO 22 – HEMISFERIO SUL. Para a nossa região, esse continua sendo o
DATUM mais utilizado nos cadastros urbanos e municipais. Esse dado é
importante, pois mais a frente precisaremos dele para converter o arquivo
para o formato do MapInfo. Enquanto o AutoCad possui formato “.dxf” o
MapInfo possui “.tab” (ver esquema 2).
Retomemos essas informações para ficar mais claro:
Formato das Bases
Cartográficas
INCRA Software: AutoCad
Formato: “.dxf” DATUM: UTM (Córrego
Alegre)
IBGE Software: Adobre
Illustrator Formato: “.pdf”
DATUM: Inexistente
BASE CARTOGRÁFICA FINAL Software: MapInfo
Formato: “.tab” DATUM: UTM (Córrego Alegre)
FUSO: 22 Sul
Esquema 1 – Composição da base digital da cidade
65
O “Mapa de Ruas”, obtido junto ao IBGE, como exposto no esquema
acima, tratava-se de um mapa poligonal, ou seja, um mapa de quadras,
que não era adequado para nossos objetivos (figura 5).
Para abrir possibilidades a um mapeamento de caráter intra-urbano,
com base num banco de dados composto por endereços, é preciso um
“Mapa de Linhas” ou “Linear”. Sendo assim, para tais finalidades foi
necessário transformar a base cartográfica, que era essencialmente
“poligonal” para um formato “linear”, compondo, por conseguinte, um mapa
que denominamos “Eixo de Ruas”, assim como expresso na figura 6.
DADOS
ESPACIAIS
MAPA DE RUAS - composto de quadras e nome
das ruas. Mapa de Polígonos
MAPA DE SETORES CENSITÁRIOS
- Composto pelos setores censitários, delimitados
operacionalmente pelo IBGE
Esquema 3 – Os dois tipos de base usados no mapeamento
Figura 5 – Representação de um mapa de polígonos
66
Após a complementação da base cartográfica (feita no AutoCad,
como mencionado anteriormente), resultando no mapa poligonal com
referências geográficas, importamos a base para o software “MapInfo”,
transformando de um formato “.dxf” (AutoCad) para o formato “.tab”. (ver
figura 7 e esquema 4)
Figura 6 - Representação de um mapa de eixo de ruas – mapa linear
Figura 7 – Conversão de formato da base digital no MapInfo
67
Tendo o mapa poligonal sido aberto no programa MapInfo, foi, então,
preciso iniciar o processo de conversão do mapa de ruas, baseado em
polígonos, para outro baseado em linhas.
Isso se fez necessário porque as operações lógicas do referido
programa para mapeamentos urbanos, assim o exigem. Desse modo, com o
mapa de polígonos aberto no MapInfo, passamos a desenhar linhas entre as
quadras que, por sua vez, passariam a representar as ruas da cidade (o
processo está exposto nas figuras 8, 9, 10 e 11).
Ícone: “Linha” Função: Desenhar as linhas que representarão as ruas.
Ícone: “Controle de Níveis” Função: Permitir modificações na base cartográfica (edição).
AUTOCAD
Base “dxf”
MAPINFO
Base “tab”
conversão
Esquema 4 – Conversão de Base Cartográfica
Figura 8 – Processo edição do eixo de ruas a partir do mapa de quadras
68
Para poder iniciar o processo de conversão do mapa de quadras em
um eixo de ruas, é preciso deixar a base cartográfica editável. Para tal clica-
se no ícone, controle de níveis , aparecendo a seguinte janela:
1. Visível: permite visualizar a base cartográfica;
2. Editável: permite modificar a base cartográfica;
3. Selecionável: Permite selecionar os objetos da base;
4. Rótulo Automático: permite visualizar informações dos objetos
presentes na base cartográfica. Por exemplo: as linhas que contenham a
informação de nomes das ruas poderão ser visualizadas através dessa
ferramenta.
1 2 3 4
Figura 9 – Deixando a base cartográfica editável
69
Feito isso para toda a cidade, temos então construído um eixo de
ruas para o mapeamento temático a partir de um banco de dados que
contenha endereços. No entanto, até o momento temos apenas uma base
cartográfica constituída de desenho, ou de objetos gráficos, sem nenhuma
informação. Para o mapeamento é preciso, por conseguinte, que esses
desenhos (as linhas) contenham, basicamente, outros dois tipos de
informação: 1) o nome dos logradouros; 2) a numeração das
Figura 10 – Mapa de linhas sobreposto ao mapa de polígonos
Figura 11 – Somente mapa de linha (eixo de ruas)
70
extremidades das quadras, as quais viabilizarão a geocodificação
por endereços.
Para tanto, a estrutura da base cartográfica precisa estar configurada
para receber esses dados. O caminho a ser feito é o seguinte: TABELA –
MANUTENÇÃO – ESTRUTURA DA TABELA. Aparece, por conseguinte a
caixa de diálogo “Visualizar/modificar estrutura da tabela” (figura 12):
Em seguida seleciona-se a minha base cartográfica (que para o
MapInfo também se trata de uma “Tabela”) de linhas (ou o Eixo de Ruas),
para configurar os campos que receberão os dados dos logradouros (figura
13).
Figura 12 – Modificar estrutura da tabela
Figura 13 – Definição do padrão estrutural da base cartográfica
71
A tabela deve ser configurada exatamente da forma como está
aparecendo na figura 13.
A base cartográfica está completamente formatada para a recepção
dos dados sobre a malha urbana.
b) Trabalho de campo e levantamento de dados
Estando a base cartográfica completamente formatada é preciso,
então, a inserção da informação dos logradouros públicos, como nome de
ruas e sua respectiva numeração. Levando-se em consideração que na
prefeitura não existia nenhum tipo de cadastro que permitisse encontrar
esses dados, foi necessário o levantamento em campo. Tratando-se de um
trabalho que não exigia nenhum conhecimento aprofundando, a prefeitura
contratou pelo período de um mês dois técnicos que pudessem fazer o
levantamento da numeração das faces das quadras.
Para essa etapa eram duas as frentes de trabalho:
1) Verificação do nome de ruas fornecido pelo IBGE, uma vez que
muitos deles estavam incompletos;
2) Levantamento da numeração das faces das quadras. Lembrando que
em uma rua nós temos dois tipos de numeração, ou dois lados de
numeração, um lado da rua/avenida/travessa, etc. que é par e outro
que é impar.
Para tanto, foram elaborados, para os dois técnicos de campo, diversos
croquis (contendo partes da cidade), contendo as seguintes informações:
1) Nome das ruas;
2) Número (código) das quadras;
3) Espaço para inserção do número das faces das ruas;
A figura seguinte nos mostra de forma modelada a estrutura da ficha
para a recepção dos dados.
72
Avenida Quinze de Novembro
LEGENDA
1,2,3,4... Número da Quadra; Quadra
Campo para a inserção do número das faces da quadra
Um detalhe, interessante, além de importante, é que na maioria das
cidades, a numeração das casas está em ordem crescente, a partir do
centro da cidade ou de uma rua principal (esquema 5).
1 2
3 4
R P
rude
nte
de M
orae
s R
Pru
dent
e de
Mor
aes
Face Impar Face Impar
Face Par Face Par
Face Impar Face Impar
Face Par Face par
Fa
ce
Imp
ar
Fa
ce
Imp
ar
Fa
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Pa
r
Fa
ce
Imp
ar
Fa
ce
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r
Fa
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Pa
r
Fa
ce
Imp
ar
Esquema 5 – Estrutura lógica da malha urbana
LEGENDA
Centro
Direção do crescimento da numeração
Esquema 6 – Estrutura lógica do padrão de numeração da malha urbana.
73
Todos esses aspectos relacionados à conformação da malha urbana
da cidade e a forma de extração dos dados foram levados ao conhecimento
dos dois técnicos em muito pouco tempo, com um breve treinamento em
apenas uma manhã de visita a campo.
Outro aspecto a ser considerado é o fato de que para uma cidade
com aproximadamente 5.700 habitantes o trabalho de campo se deu muito
rapidamente. Em menos de um mês tínhamos toda a numeração da cidade
levantada, com todos os dados lançado sobre a base cartográfica do
MapInfo. Se o trabalho de campo fosse desenvolvido de uma forma
intensiva, seguramente, uma semana seria suficiente para realizar o
levantamento em toda a cidade. Estamos ressaltando isso como um ponto
importante, pois sua implementação em uma cidade de pequeno porte para
a gestão das políticas públicas pode se dar de maneira rápida e pouco
onerosa.
Após todo o levantamento em campo, seguiu-se a etapa de inserção
dos dados na base cartográfica. Os passos são os seguintes:
1. Com a base cartográfica aberta, no nosso caso “Eixo de Ruas_Tarabai”,
usamos a ferramenta Info - - para clicar sobre a linha que receberá os
dados e aparecerá a caixa de diálogo “Ferramenta Info”:
Os campos presente nesta tabela (figura 14) são exatamente aqueles
que nós mencionamos anteriormente no nosso trabalho, exposto na figura
Figura 14 – Informações do Eixo de Ruas
74
13. Tomando como base o levantamento dos dados das faces das quadras,
preenchemos as informações requeridas por esta caixa de diálogo.
Esses dados permitirão fazer a ligação entre a base cartográfica e o
banco de dados numérico e alfanumérico, gerando, por conseguinte o mapa
temático.
A geração de um mapa temático, construído a partir de dados locais,
passa, necessariamente, pela localização de endereços residenciais, num
processo denominado de geocodificação em ambiente SIG (Sistema de
Informações Geográficas). Em se tratando de pequenas cidades, para
garantir a confidencialidade dos dados dos indivíduos, é desejável que eles
sejam agrupados e generalizados para uma área maior. No nosso caso,
agrupamos as ocorrências (localizações de endereços) por setor censitário,
resultando em um mapa zonal.
Base Cartográfica Base Cartográfica
Geocodificação: pontos
Esquema 7 – Geocodificação por pontos e conversão para um mapa temático de área
+
75
c) Digitalização das fichas de cadastro e dos projetos
sociais da Secretaria da Assistência Social.
Para a realização do mapeamento temático foi preciso, também, a
digitalização das fichas da Assistência Social que ou estavam sob a forma
de fichas de papel ou estavam em sistemas digitais que não permitiam
conversão para outros formatos que pudessem ser manipulados. A
conseqüência disso foi que se gerou a necessidade de digitalização dos
dados da Secretaria, dentre os quais podemos citar:
1) Dados do Cadastro Único (CadUnico);
2) Dados dos Projetos Sociais desenvolvidos pela
Assistência;
3) Dados sobre Menores Infratores;
4) Dados sobre Adolescentes Grávidas;
Esses dados foram levantados não somente na Assistência Social,
como também em outras secretarias da Prefeitura Municipal que pudessem
ter dados que ajudassem a compreender as configurações territoriais das
questões sociais na cidade. É importante observar, como, em um esforço de
mapeamento, se faz necessário a mobilização de diversos setores da
administração que podem “abrir as portas” para o trabalho conjunto. A
partir de apenas uma instância do poder público, é possível chegar aos
demais e sensibilizá-los a respeito da importância do tratamento da
informação para a tomada de decisões.
Diante da necessidade de tornar digital os dados disponíveis para o
mapeamento, dois estagiários, contratados da Prefeitura desempenharam o
trabalho, de modo que em pouco tempo tínhamos uma série de dados,
todos tornados passíveis de manipulação e, por final, para a geração de
informações estatísticas e territoriais.
77
Ainda que não tenha sido um objetivo principal do trabalho, os
procedimentos metodológicos adotados na pesquisa permitiram aplicar os
instrumentos de coleta elaborados para a identificação e descrição da
condição de vida e dos processos excludentes nas áreas de estudo. Assim,
apresentamos a seguir algumas dessas informações geradas, uma vez que
elas formam um marco de referência para o avanço de pesquisas em
cidades com as características identificadas no recorte empírico estabelecido
neste trabalho.
3.1. ÁLVARES MACHADO
No Relatório parcial já havia um avanço na compreensão das
principais características das famílias e pessoas das áreas de exclusão social
de Álvares Machado. O refinamento sucessivo do banco de dados permitiu
se utilizar dele como importante ferramenta de trabalho, seja para a
Prefeitura Municipal (em relação a sua ação nas áreas), seja para o
Cemespp (em relação à discussão acadêmica ou mesmo em relação à
avaliação de políticas públicas).
Uma caracterização mais geral poderia ser sumariada a partir dos
seguintes tópicos:
o foram acessadas 4294 pessoas em 1175 unidades domiciliares6;
o 50,5% das pessoas são do sexo feminino;
o As faixas etárias predominantes situam-se entre 6 e 14 anos (18%),
31 a 40 anos (16%) e 41 a 40 anos (13%). A população de até 5 anos
corresponde a mais de 8% e a acima de 60 anos 7,2%;
o A composição familiar predominante é a de 4 membros por família
(29,5%). Porém, unidades de apenas um membro perfazem 4,8% e de
dois membros quase 17%.
o Os autodenominados pardos/morenos (50,3%), seguidos de brancos
(41,8%) predominam majoritariamente, sendo que apenas 6,2% de
autodenominaram como negros;
o 29% nasceram em Álvares Machado, 27% em Presidente Prudente;
6 Tomando-se a projeção populacional do SEADE para o ano de 2007 que foi de 23804
habitantes, o questionário abarcou 18,03% da população de Álvares Machado.
78
o 6,7% afirmam portar algum tipo de deficiência, sendo a mais
predominante a visual.
Antes, entretanto, de uma apresentação e análise de alguns dos
resultados obtidos de maneira mais sistemática, é importante salientar a
qualidade do banco de dados formado. A mais sensível informação sobre a
qualidade dos dados diz respeito aos respondentes de cada questionário7.
A Tabela 7 mostra, a seguir, a quantidade de entrevistados de acordo
com seu papel na família residente8. Nota-se a grande quantidade de
entrevistados filhos ou enteados do chefe de família, o que representa
quase 42% do total. O próprio chefe ou seu cônjuge têm a segunda e a
terceira maior participação, respectivamente, com 27,23% e 20,66% dos
entrevistados, perfazendo um total de 47,89%. Portanto, uma significativa
presença dos responsáveis diretos pelo domicílio.
TABELA 7 - Papel na família: quantidades absolutas e relativas dos entrevistados
Entrevistados Quantidade Porcentagem Filho ou enteado 1.797 41,89
Chefe - o morador 1.168 27,23
Cônjuge 886 20,65
Neto 156 3,64
Irmão ou cunhado 92 2,14
Mãe ou sogra 67 1,56
Genro ou nora 41 0,96
Outro parente 36 0,84
Pai ou sogro 28 0,65
Agregado 12 0,28
Total 4.283 100,00 Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008. Organização: CEMESPP
Ainda em relação ao total de 1797 “filhos ou enteados” entrevistados,
51% tem idades entre 14 e 25 anos9, o que corresponde a uma faixa etária
capaz de prestar com mais fidedignidade as informações solicitadas.
Dado o grande número de informações coletadas (que, como já visto,
gerou um banco de dados de 4294 linhas com 83 colunas) a análise dos
7 Considera-se, aqui, como respondente o membro da família que prestou as informações e
como entrevistados, os demais membros. 8 A soma total de entrevistados ou respondentes varia de acordo com os dados válidos
encontrados nas diferentes questões. 9 A idade com maior número de respondentes refere-se aos 16 anos, com 5,84%.
79
dados a ser aqui apresentada foi restringida a três dimensões que
consideramos mais relevantes para uma primeira aproximação às
complexas situações de exclusão social e aos circuitos da pobreza urbana.
São elas:
a) dimensão econômica: são analisados os indicadores de renda familiar e
situações de trabalho e emprego dos chefes de família;
b) dimensão do alcance de políticas públicas, particularmente as de
transferência de renda;
c) de mobilidade: onde se incluem os deslocamentos e a mobilidade para o
trabalho, para a saúde, para a escola e para o lazer, como primeira
aproximação aos circuitos urbanos e inter-urbanos desta parcela da
população.
3.1.1 - Dimensão econômica
A renda familiar constitui-se em indicador fundamental na
caracterização de situações de exclusão social, em que pese não poder ser
tomado como único. Relaciona-se diretamente às possibilidades de acesso
aos bens materiais necessários à vida familiar e social, bem como relaciona-
se diretamente, também, às condições de emprego, escolaridade e às
categoriais sócio-ocupacionais dos diferentes membros familiares,
remetendo-nos à própria trajetória de vida os indivíduos e famílias no que
se refere à autonomia, possibilidades e escolhas realizadas.10
No mesmo sentido, o trabalho formal ou informal com rendimentos
e o emprego, em seu sentido de vínculo formal ao mercado de trabalho,
com os direitos e garantias constitucionais compreende uma relação social
de estabilidade que os não detentores não possuem. Em muitos casos, tal
como já amplamente demonstrado na literatura sobre o tema11, processos
de exclusão social, em geral, iniciam-se com a desvinculação do mundo do
trabalho, a partir do desemprego que, quanto mais larga sua duração, mais
levam os indivíduos para situações de risco e vulnerabilidade.
10
Uma discussão mais aprofundada sobre a renda familiar e seu peso no conjunto dos indicadores de exclusão social pode ser encontrada em Melazzo (2004) e Melazzo e Guimarães (orgs) (2009) no prelo. 11
Ver, por exemplo, os trabalhos de Paugan (2003) e Castel (1998) e, no caso brasileiro, Scorel (1999).
80
A Tabela 8, a seguir apresenta a renda familiar do conjunto das
famílias e é possível observar a concentração das famílias na faixa entre 1 e
3 salários mínimos e que corresponde a aproximadamente 60% das
famílias.
Tabela 8 - Renda familiar informada pelo entrevistado
Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008. Organização: CEMESPP
Além da concentração nesta faixa de renda, observa-se também que,
considerando-se o conjunto compreendido entre os que percebem “menos
de um salário mínimo” até “três salários mínimos” abarca-se a grande
maioria das famílias, girando em torno de 82%.
Por fim, o percentual de famílias com rendimentos abaixo de um
salário mínimo ultrapassa os 8%.
A Tabela 9 revela a situação do chefe de família com relação ao
trabalho/emprego. Mais de 60% dos domicílios entrevistados possuem
chefes que trabalham e com rendimentos. Aqueles que desenvolvem apenas
atividades temporárias e/ou ocasionais somam pouco mais de 6%.
Desempregados e outras situações de ausência de trabalho somam mais de
26%, incluindo aí 11,65% de aposentados.
TABELA 9 - Situação do chefe de família
Chefe de Família Quantidade Porcentagem Trabalha (com rendimento) 711 61,35
Trabalho temporário 6 0,52
Trabalho ocasional 67 5,78
Trabalho sem rendimento 29 2,50
Aposentado e não trabalha 135 11,65
Aposentado e trabalha 35 3,02
Desempregado 77 6,64
Encostado 57 4,92
Não trabalha 42 3,62
Total 1.159 100,00
Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP
Renda Familiar Quantidade Porcentagem Menor que 1 salário mínimo 190 8,53
1 salário mínimo 336 15,09
De 1 a 3 salários mínimos 1.321 59,32
De 3 a 5 salários mínimos 286 12,84
De 5 a 10 salários mínimos 88 3,95
Mais de 10 salários mínimos 6 0,27
Total 2.227 100,00
81
O número de chefes de famílias desempregados, atingindo mais de
6% indica situações de risco e vulnerabilidade familiar. No mesmo sentido,
famílias chefiadas por aposentados, muitas vezes, possuem a renda daí
derivada como única fonte de rendimentos.
A Tabela 10 mostra como se dá o vínculo empregatício que
caracteriza a condição de trabalho do chefe de família entrevistado que
desenvolve atividades remuneradas. Mais de 60% destes trabalham com
registro em carteira, enquanto 37,18% não possuem registro, não
participando da chamada economia formal.
TABELA 10 – Chefes de família com atividades remuneradas segundo situação
Atividades com: Quantidade Porcentagem REGISTRO 517 62,82
SEM REGISTRO 306 37,18
Total 823 100,00
Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP
Em síntese, dos dados apresentados até o momento, caracteriza-se
uma população marcada por um padrão de baixa remuneração, com
percentuais significativos de desempregados e aposentados chefiando
famílias e com elevado número de chefes em situações de informalidade.
Tais características econômicas indicam um padrão de precariedade
que, por si só, conforma situações de risco que levam, ou podem levar, a
situações de exclusão social.
3.1.2. Alcance das políticas públicas
Para além das relações que estabelecem ou não com o mundo do
trabalho ou com o mercado de trabalho, até mesmo por sua negação
através do desemprego, as famílias e seus diferentes membros inserem-se
em relações sociais mais amplas que determinam, contribuem ou
influenciam suas trajetórias de vida, inserção social ou capacidade de
resistir e atravessar adversidades que podem gerar situações de exclusão
social. Sejam elas construídas a partir de ações dos próprios indivíduos, tais
como relações de parentesco ou vizinhança, clubes e associações, partidos
políticos ou inserção religiosa, seja ainda aquelas produzidas a partir de
82
ações do poder público, como programas voltados para jovens, idosos,
mães etc. ou aqueles associados à transferência de renda, ações que geram
sociabilidade tem sido investigadas pelo potencial que apresentam em criar
redes que vinculam indivíduos a grupos e entre si.
Sobre os programas associados à transferência de renda, vários
apresentam condicionalidades, como freqüência escolar e acompanhamento
de pré-natal que também levam à geração de redes de sociabilidade.
A Tabela 11 mostra a participação dos chefes de família (e apenas
chefes) beneficiários de políticas públicas de transferência de renda
implementadas e em andamento em Álvares Machado. Menos de 10%
enquadra-se nesta categoria de beneficiários, contrastando com o perfil
econômico das famílias e chefes encontradas anteriormente.
TABELA 11 – Chefes de família e benefícios sociais
Chefes de Famílias que: Quantidade Porcentagem Não recebe 992 92,28
Recebe 83 7,72
Total 1075 100,00
Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008. Organização: CEMESPP
A Tabela 12, seguinte, mostra os chefes de família respondentes que
informaram receber algum benefício social e sua participação em cada tipo.
Note-se que estão considerados aqui somente os 7,72% dos chefes de
família que recebem algum auxílio ou benefício.
O Programa Bolsa Família é aquele de maior abrangência,
correspondendo a mais da metade dos benefícios pagos, ou 54,22%.
Considerando-se sua junção ao Programa Auxílio Gás, os programas
federais alcançam, no mínimo, 62% das famílias das áreas de estudo
incluídas em programas públicos.
83
TABELA 12 - Chefes de família que informaram receber algum benefício
Benefícios Quantidade Porcentagem Bolsa família 45 54,22
Outros 13 15,66
Auxílio gás 7 8,43
Benefício de prestação continuada 6 7,23
Renda cidadã 5 6,02
Bolsa escola 3 3,61
Ação jovem 2 2,41
Criança cidadã 1 1,20
Vale vovô 1 1,20
Total 83 100,00
Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP
A Tabela 13, por sua vez, apresenta a situação
ocupacional/empregatícia dos chefes de família que afirmaram participar de
tais programas. Mais da metade (54,91%) trabalha e possui rendimentos.
Outras situações de trabalho (ocasional, sem rendimento e em conjunto
com a aposentadoria) somam 21,98%.
Tabela 13 - Situação de chefes de família que recebem algum auxílio
Chefe de família Quantidade Porcentagem Trabalha (com rendimento) 95 54,91
Trabalho ocasional 10 5,78
Aposentado e não trabalha 23 1,29
Aposentado e trabalha 2 1,16
Trabalho sem rendimento 7 4,05
Desempregado 14 8,09
Encostado 10 5,78
Não trabalha 12 6,94
Total geral 173 100,00
Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP
Apenas 8% são desempregados, aproximadamente 6% tem
trabalho apenas ocasionalmente e mais de 6% afirmam não trabalhar,
perfazendo um total de quase 20% de chefes, a princípio sem rendimentos,
inseridos em programas sociais.
O gráfico 1 apresenta os chefes de família que recebem
benefícios/auxílios e seu tipo em relação a sua situação
ocupacional/empregatícia.
84
Predomina o Bolsa Família em todos os segmentos. Porém, observa-
se que seu peso é maior entre os desempregados (67%), que entre os que
declararam terem apenas trabalho ocasional (60%) e também de
trabalhadores com rendimento (56%).
Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP
O Gráfico 2 apresenta o cruzamento entre os diferentes tipos de
benefícios recebidos pelos chefes de família entrevistados e suas
respectivas faixas de rendimento. O maior número de beneficiários
encontra-se nas famílias com renda mensal entre 1 e 3 salários mínimos.
Nesta faixa, o Bolsa Família representa 54% dos benefícios. Na faixa menor
que 1 salário mínimo o mesmo programa alcança pouco mais de 70%.
Gráfico - 1
85
Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP
Por fim, referenciando-se no número total de pessoas, observou-se
que apenas 12,76% da população da área encontra-se inserida em
programas relacionados à assistência social, em particular os de
transferência de renda.
Em síntese, é baixo o número de famílias inseridas em programas
sociais. E tais programas em geral, e aqueles de transferência de renda, em
particular, nas áreas/bairros analisados centram-se em famílias cujos chefes
tem rendimento de 1 a 3 salários mínimos. Considerando a faixa de renda
de menos de 1 salário mínimo abranger algo em torno de 8% das famílias,
no que se refere à sua presença nos programas sociais o percentual atinge
20,5%, enquanto que na faixa de 1 a 3 salários mínimos encontram-se
aproximadamente 60% das famílias que, em termos de inserção nos
programas representa 45%.
Gráfico 2
86
Tais dados, para além de inquirirem a eficiência, a eficácia e a
efetividade de políticas públicas da área de assistência social, permitem
indagar sobre a sua capacidade de inserir indivíduos e famílias em redes de
proteção social.
3.1.3 - Dimensão de mobilidade
A mobilidade espacial da população das áreas pesquisadas constitui-
se em dimensão não desprezível para revelar situações de desigualdades e
exclusão social. A possibilidade de acessar cotidianamente o emprego ou
local de trabalho, os serviços de educação ou saúde ou lazer, os modais de
transporte utilizados e, em vários casos, seus custos em muito determinam
as possibilidades de inserir-se, de usufruir, de participar, enfim, de usar
aquilo que está à disposição.
No caso de Álvares Machado, dada a proximidade geográfica com
Presidente Prudente e o intenso grau de interações espaciais e territoriais12,
o fluxo estabelecido em relação ao trabalho e ao consumo de serviços de
educação, saúde e mesmo lazer não são desprezíveis.
A Tabela 14 revela o local de trabalho dos chefes de família
entrevistados. Está dividida em três categorias: os que trabalham em
Presidente Prudente são maioria, seguidos daqueles que trabalham em
Álvares Machado e, por fim, os que trabalham em outras cidades.
O mercado de trabalho, para a população destas áreas de exclusão
social, é a cidade de Presidente Prudente, com a série de implicações ai
produzidas em termos de tempo e de custo. Os fluxos e os circuitos
obrigatórios para esta parcela de chefes que se deslocam cotidianamente,
delimitam potencialmente suas possibilidades de se apropriar do espaço de
Álvares Machado.
TABELA 14 - Local de trabalho chefe de família
Cidades Quantidade Porcentagem Presidente Prudente 339 51,52
Álvares Machado 280 42,55
Outros 39 5,93
Total 658 100,00
Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP
12
Uma discussão sobre estes diferentes tipos de interações e sobre a conturbação existente entre Álvares Machado e Presidente Prudente encontra no trabalho de Myasaki (2008)
87
No gráfico 3 especificam-se os locais de trabalho diferentes de
Presidente Prudente e Álvares Machado. Desagrupando-se este total de
quase 6%, encontram-se mais de 14 cidades diferentes, majoritariamente
na região do entorno da cidade de origem.
Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP
O gráfico 4 apresenta o modal utilizado para o trabalho. Consideram-
se apenas Álvares Machado e Presidente Prudente, em números absolutos.
Nota-se a participação expressiva dos deslocamentos a pé dentro de
Álvares Machado e a grande participação dos transportes coletivos para
Presidente Prudente.
Gráfico 3 -
88
Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP
Especificando agora somente os modais de transporte para cada
uma das cidades, através dos gráficos 5 e 6, nota-se o destaque que existe
nos deslocamentos a pé dentro de Álvares Machado – que responde a mais
de 40% dos deslocamentos – e a importância do transporte coletivo
(ônibus) que em duas modalidades abrange mais da metade os
deslocamentos.
Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP
Gráfico 4
Gráfico 5 -
89
Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP
A seguir, no gráfico 7, são apresentados os municípios mais
procurados pelos entrevistados em caso de necessidade de atendimento
médico. Nele observa-se que um terço da população entrevistada recorre a
Presidente Prudente em caso de necessidade.
Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP
A tabela 15 e os gráficos 8 mostram os locais de lazer freqüentados
pela população entrevistada. A maioria (quase 80%) da população tem na
própria cidade seu local de lazer.
Gráfico 6
Gráfico 7
90
TABELA 15 - Local de lazer freqüentado
Cidades Quantidade Porcentagem
Álvares Machado 1550 78,80
Presidente Prudente 315 16,01
Outros 102 5,19
Total 1.967 100,00
Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP
A tabela 16 mostra somente os chefes de família que freqüentam a
escola.
TABELA 16 - Chefes de família que freqüentam a escola
Cidades Quantidade Porcentagem Presidente Prudente 9 39,13
Álvares Machado 14 60,87
Total 23 100,00
Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP
Já a tabela 17 considera todos os entrevistados que freqüentam a
escola. A maior parte (92,64%) estuda no próprio município.
Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008. Organização: CEMESPP
Gráfico 8
91
TABELA 17 – Local de estudo
Cidades Quantidade Porcentagem Álvares Machado 667 92,64
Presidente Prudente 51 7,08
Regente Feijó 1 0,14
Panorama 1 0,14
Total 720 100,00
Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP
O gráfico 9 mostra o modal de transporte utilizado para acesso à
escola em Presidente Prudente e em Álvares Machado. Nota-se a grande
quantidade de pessoas que vão à escola a pé em Álvares Machado (554).
Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008. Organização: CEMESPP
Gráfico 9
92
Nos gráficos 10 e 11 a seguir temos a participação de cada modal
de transporte para cada uma das duas cidades, considerando-se números
relativos. Mais uma vez se destacam os deslocamentos a pé para Álvares
Machado (88,92%).
Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008. Organização: CEMESPP
Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008. Organização: CEMESPP
O conjunto dos dados apresentados até o momento permite formar
um quadro bastante complexo das famílias e indivíduos residentes nas
áreas pesquisadas. Mais que um detalhamento exaustivo, os indicadores
utilizados revelam situações diversas que permitem a formulação e
Gráfico 10
Gráfico 11
93
implementação de ações por parte do poder público. Na medida em que tais
dados possam ser objeto, ainda, de cruzamentos para focalização em
situações específicas, bem como por poder receber tratamento cartográfico
constituem-se em ferramenta para a ser utilizada.
No que se refere ao Cemespp, o potencial deste banco de dados para
pesquisas, desdobrar-se-á em textos para discussão, artigos para
publicação e outros produtos por parte dos docentes e alunos.
3.1.4. As representações sociais identificadas a partir dos
questionários
As técnicas quantitativas de levantamento dos elementos do núcleo
central permitiram formular hipóteses acerca da centralidade das cognições
que integram uma representação, “trata-se, não obstante, de uma etapa
imprescindível para o acesso definitivo à configuração do núcleo central”
(SÁ, 1996, p. 115). Desse modo, separamos os possíveis elementos
centrais e periféricos e os incluímos nos respectivos sistemas central e
periférico13 da teoria do núcleo central.
Apresentaremos em seguida uma análise específica do termo indutor
riqueza. Buscaremos relacionar os resultados dessa estrutura interna das
representações sociais do grupo com alguns aspectos sócio-econômicos
obtidos por meio dos questionários.
No decorrer destes procedimentos tivemos acesso aos possíveis
elementos do núcleo central da representação social de riqueza, conforme
entrevistas com os moradores das áreas selecionadas. O levantamento
apresentou um total de 2612 evocações, dentre as quais surgiram 498
termos diferentes e a média das ordens médias foi de 2,0, numa escala de
13 Sá (1996) mostra que, para a teoria do núcleo central, a representação social é regida por um sistema interno duplo e complementar. O sistema central, no qual o núcleo central é composto por termos marcados pela memória coletiva do grupo e pelo sistema de normas ao qual se refere. O núcleo central define a homogeneidade do grupo social e é, de certa maneira, independente do contexto social material imediato, do qual a representação é posta em evidência. Esse sistema central tem a função de continuidade e permanência da representação. Já o sistema periférico regula e adapta o sistema central ao cotidiano, ele tem a função de concretizar o sistema central em termos de tomadas de posição e condutas. Os elementos periféricos permitem que a representação ancore na realidade do momento provendo a interface entre realidade concreta e o sistema central, além disso, pode proteger a significação central da representação. Assim, se o sistema periférico é evolutivo, o sistema central é resistente à mudança.
94
1 a 5. Não foram consideradas as evocações cuja freqüência foi igual ou
inferior a 15. Já a freqüência média de evocação foi 50. (quadro 1)
QUADRO 1 – Elementos da organização interna da representação social de riqueza, evocados por moradores de áreas consideradas de exclusão.
Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008. Organização dos Dados: Luciano Antonio Furini.
No Quadro 1, o quadrante superior esquerdo apresenta os elementos
evocados com maior freqüência e em primeiras ordens. São eles: SAÚDE,
CASA, NUNCA-PENSOU-NISSO, DINHEIRO, VIDA-BOA, MELHORES-
CONDIÇÕES-DE-VIDA e CONFORTO, elementos que podem pertencer ao
núcleo central da representação social. Não agregamos termos como VIDA-
BOA, MELHORES-CONDIÇÕES-DE-VIDA e CONFORTO em um único
significado para permitir maior visibilidade de algumas particularidades
encontradas. No entanto consideraremos em conjunto os termos com
significados semelhantes quando assim a análise permitir. Ademais, na
opção oferecida pelo programa NETTOIE que compõe o software EVOC já
foram agrupados vários termos de significado muito semelhante.
Este sistema central mostra que a representação social de riqueza,
está ligada ao caráter da mudança que a riqueza pode significar. Ter CASA,
ORDEM MÉDIA DE EVOCAÇÃO
Inferior ou igual a
2,0 Superior a
2,0
256 SAÚDE 1,7 116 CARRO 2,3
202 CASA 1,6 111 AJUDAR 2,0
169 NUNCA-PENSO-NISSO 1,0 71 FAMÍLIA 2,5
124 DINHEIRO 1,8 53 TRABALHO 2,3
80 VIDA-BOA 1,8
70 MELHORES-CONDIÇÕES-DE-VIDA 1,9
55 CONFORTO 1,8
Acima ou
igual a
50
20 NÃO-E-TUDO 1,5 49 DEUS 2,0 20 NUNCA-QUIS-SER-RICO 1,0 48 EDUCAÇÃO 2,8
47 PAZ 2,6 45 FELICIDADE 2,5 37 FILHOS 2,2 29 VIAGENS 2,8 24 LAZER 2,8 21 BEM-ESTAR 2,3 17 AMIZADE 3,0 16 AMOR 2,8 16 COMPRAR 2,5
F R E Q U Ê N C I A
De 16
A 49
95
VIDA-BOA, MELHORES-CONDIÇÕES-DE-VIDA, CONFORTO e SAÚDE são
condições que poderiam ser alcançadas pela posse de DINHEIRO, mas
também revela certa indiferença presente na representação dos moradores
quando evocam a frase NUNCA-PENSO-NISSO. O termo SAÚDE pode fazer
referência também à negação da riqueza material – riqueza é ter saúde –
para muitos a verdadeira riqueza parece não se restringir a bens materiais.
Considerando que os elementos do sistema central da representação
são os mais resistentes às mudanças e menos sensíveis ao contexto
imediato, notamos que o aspecto positivo da riqueza, e sua incorporação
enquanto meta de vida, embora nem sempre explícita, é central. Contudo,
é possível, que no decorrer da vida, algumas características da riqueza –
esta tomada enquanto acumulação e excesso de bens – passem a significar
o todo riqueza, em virtude da impossibilidade social de atingir tal padrão de
vida. As figuras de linguagem formadas – neste caso elaboradas como
sinédoque - remetem ao cerne dos conceitos de objetivação e ancoragem,
já que o sentido da estranha, ou distante, riqueza é preenchido de acordo
com elementos próprios do segmento populacional pesquisado.
Os elementos do sistema periférico são os mais sensíveis ao contexto
imediato. Eles apontam para uma representação que revela a distância
entre a realidade que o vivido permite e o ideal de riqueza enquanto meta
quase inatingível. Desse modo os elementos do sistema periférico indicam
certa aceitação de outros elementos sociais como ícones de riqueza, agora
não somente ligados aos bens materiais.
No quadrante superior direito encontramos os elementos CARRO,
AJUDAR, FAMÍLIA e TRABALHO. O elemento CARRO, devido sua freqüência
e posição na ordem de evocações, pode ser elevado ao nível do sistema
central juntando-se aos elementos relativos aos bens materiais. O elemento
AJUDAR pode estar relacionados às dificuldades que os moradores
enfrentam em diversas situações, a ajuda mútua parece conferir valores e
significados à riqueza que mostram tanto a existência de outras
necessidades sociais, para além das materiais, quanto a importância das
redes sociais para a sobrevivência em certas situações.
No entanto essa AJUDA identificada parece referir-se em maior grau
aos familiares, desse modo, se por um lado o elemento FAMÍLIA surge
como positivo, quando significa certo âmbito de proteção aos semelhantes,
por outro, pode significar acirramento das desigualdades quando tais
96
qualificações positivas da riqueza são polarizadas aos familiares fechando-
se importantes canais de solidariedade comunitária e participação política.
Essa referência aos familiares foi identificada em outros elementos do
sistema periférico como EDUCAÇÃO e FELICIDADE. Aliás, o impulso que
restringe as referências da representação de riqueza ao âmbito familiar é
significativo.
Já no quadrante inferior esquerdo os elementos NÃO E TUDO e
NUNCA QUIS SER RICO estão relacionados à indiferença que o elemento
NUNCA PENSO NISSO pode expressar. Não é possível termos certeza do
movimento que estes termos realizaram neste núcleo central, contudo pode
ter relação tanto com uma resignação de cunho religioso, quanto com a
assimilação da difícil possibilidade de se chegar a ser rico a partir das
condições que enfrentam.
No quadrante inferior direito são encontradas referências que podem
indicar como a riqueza é assimilada no vivido. Referências religiosas – fé
em DEUS – e sentimentais – PAZ, FELICIDADE, AMIZADE E AMOR – podem
revelar outras possibilidades do sentido da riqueza para esses moradores.
As desigualdades sociais e o processo de exclusão deixam evidente que a
meta riqueza é uma raridade e que outros valores são tanto ou mais
significativos, quanto mais acessíveis, embora esses outros valores ainda
tenham forte referência para com os familiares, neste quadrante
representado pelo termo FILHOS. Já os termos LAZER, VIAGENS e
EDUCAÇÃO parecem sugerir que alguns ícones da riqueza – neste caso mais
relacionados aos bens materiais – são pontos essenciais para se atingir a
riqueza ou ao menos padrões que chegam a tangenciá-la.
Como enfatizado, os elementos do sistema central são mais
resistentes às mudanças e os do sistema periférico são mais adaptáveis,
podendo chegar a pertencer ao sistema central. Do mesmo modo os
elementos do núcleo central podem perder centralidade e pertencer ao
sistema periférico. Essas alterações dependem das especificidades do
processo histórico para cada grupo social.
A representação social de riqueza remete a uma expectativa de
transformação do espaço geográfico em que o vivido dos moradores ganha
novo sentido social. A percepção das dificuldades dessa transformação
profunda leva os moradores a representar certas necessidades básicas
como riqueza. CASA, SAÚDE e EDUCAÇÃO parecem ganhar centralidade,
97
embora o grau de evocação do termo DINHEIRO ainda seja bastante
relevante.
Em termos de princípio parece possível identificarmos a seguinte
teoria do senso comum: Sabemos que para a sociedade atual ser rico é TER
em fartura bens materiais e poder, e de certo modo concordamos com isso,
mas as dificuldades que enfrentamos fazem-nos valorizar aspectos do SER
como aqueles ligados a ajuda, amor, felicidade e paz. Porém nosso universo
do SER é restrito, assim os bens que almejamos ou cultivamos – materiais
ou imateriais – são importantes desde que beneficiem meu EU, por meio de
parentes e amigos, já que uma sociedade sem desigualdades sociais parece
inatingível, para que eu possa incluir o OUTRO nos meus planos.
Nesta análise, mostramos como estão estruturados alguns saberes de
um segmento populacional composto por moradores que vivem as
dificuldades próprias das áreas consideradas de exclusão ou convivem
próximos estes moradores. Estes saberes não revelam a verdade ou a
falsidade da realidade, apenas a representação do grupo sobre a mesma.
Assim, nos contentamos em identificar aspectos possíveis das relações
entre essas representações sociais e algumas práticas efetivas do vivido,
buscando, nessa identificação, os significados e os símbolos, e como estes
podem influenciar nas tomadas de posição, já que “a influência das
representações sobre as práticas não pode, portanto, ser vista como
determinante e sim como uma forma de coerção” (ALVEZ-MAZZOTII, 2005,
p. 145).
Nunca é demais enfatizar tal especificação, uma vez que muitas pesquisas fazem, com base nas representações encontradas, inferências deterministas sobre como estas representações afetarão as práticas, sem considerar as mediações representadas por características da situação e pelas relações sociais nela estabelecidas. Além disso, mesmo quando as práticas sociais são focalizadas, elas frequentemente são investigadas através dos discursos dos atores, trabalhando-se, portanto, sobre práticas representadas e não sobre as práticas efetivas. Para superar esses problemas, a utilização de técnicas de observação é essencial. (ALVEZ-MAZZOTII, 2005, p. 146)
De acordo com as observações e os questionários notamos que a
renda familiar de 21% dos entrevistados era de até 1 salário mínimo, e de
outros 56% era entre 1 e 3 salários mínimos, com uma média geral de 3,8
pessoas por família. O grau de escolaridade de aproximadamente 59% dos
98
entrevistados atingia apenas até no máximo a 4ª série do primeiro grau.
Esse quadro mostra como a condição de vida desse segmento populacional
é repleta de vulnerabilidades que embora possam gerar justificativas para
indignação e manifestações, também podem influenciar na assimilação da
indiferença e da adaptação para conseguir sobreviver. Avançar no
entendimento dessas particularidades pode revelar aspectos importantes
sobre fatores que podem potencializar políticas públicas e seus efetivos
resultados, como o aumento da participação popular nas diversas questões
sociais, as formas de coerção a partir dos saberes hegemônicos, ou a
ausência de lutas significativas contra processos excludentes.
3.2. RANCHARIA
3.2.1. Visão geral e análise dos dados
Os dados referentes ao município de Rancharia aqui apresentados
foram agrupados a partir de metodologia de busca de dados de diferentes
fontes estatísticas de informação (nacional e estadual). Tais dados foram
elaborados e associados com o objetivo de contribuir para uma análise da
exclusão social e dos circuitos de pobreza, tema central do projeto
“Circuitos urbanos da exclusão social”.
Em um primeiro momento tais dados foram selecionados e agrupados
para substanciar o relatório final para a elaboração do Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano e Ambiental de Rancharia realizado pelo
Departamento de Planejamento da FCT/UNESP e seguem o mesmo
interesse do projeto em questão, ou seja, apontar elementos de
desigualdade intra-urbana que podem e devem ser motivo de
desenvolvimento e aplicação de políticas públicas municipais.
Nesse sentido é importante deixar claro que foram utilizados dados
secundários gerados principalmente pelo IBGE (fonte nacional) e pelo
SEADE (fonte estadual) o que não permitiu uma análise apenas das áreas
mais específicas consideradas de exclusão social como foi o caso de Álvares
Machado. Embora esse tipo de limitação se faça presente tais dados
possibilitam a elaboração de análises sob contextos das realidades locais,
regionais e estaduais o que pode ajudar no entendimento dos processos
99
sempre amplos e complexos de origem, reprodução e manutenção das
situações de pobreza e desigualdade no nível local.
Para tanto a metodologia foi desenvolvida no sentido de agregar
dados locais e regionais que expressassem várias facetas que poderiam
auxiliar na compreensão de situações da pobreza urbana nas cidades
estudadas que compreenderam indicadores demográficos, econômicos e
sociais.
Após o processamento de cada um dos conjuntos desses dados, os
setores censitários foram hierarquizados da melhor à pior situação, sendo
que cada um recebeu uma nota de acordo com sua posição no ranking
gerado (nota 1 para a melhor situação, 2 para a situação intermediária e 3
para a pior situação). Dessas notas individuais por sua vez, foi gerada a
nota média de cada setor que reflete sua posição no contexto das demais,
possibilitando que fosse gerado o mapa síntese da desigualdade.
Em uma análise bastante rápida podemos observar que o mapa
obtido é bastante didático, no sentido de localizar as desigualdades no
interior da cidade, revelando uma situação em que os setores localizados na
Mapa 13 – Setores de inclusão, exclusão e setores intermediários - Rancharia Fonte: CEMESPP
100
porção sudoeste como aqueles que apresentam sistematicamente os piores
indicadores, frente aos demais setores.
Podemos observar que apenas seis setores estão nesta situação (que
corresponde a 17% dos setores) enquanto que os setores intermediários
correspondem a 44% dos setores (16) e os de inclusão social, com os
melhores indicadores correspondem a 39%.
Tal mapa pode, portanto, direcionar as ações substantivas dos Poder
Público local, seja no que se refere às ações, programas e projetos
prioritários, seja nas estratégias relacionadas ao Próprio Plano Diretor.
Se do ponto de vista quantitativo a situação apurada revela um baixo
número de setores em situações de precariedade, vulnerabilidade ou
mesmo risco para suas populações, do ponto de vista da comparação com o
restante da cidade é possível afirmar que se trata de um contingente
populacional e mesmo de número de domicílios significativos, frente à
realidade urbana de Rancharia. Senão, vejamos os dados sintetizados na
tabela 18:
TABELA 18 - Síntese dos setores, segundo indicadores selecionados
Setores Quantidade de
setores Percentual
da população Percentual
de domicílios Hab/dom
Exclusão Social 7 23,8 21,9 3,6
Intermediários 16 46,6 46,7 3,5
Inclusão Social 13 29,6 31,4 3,1
Fonte: Censo IBGE – EstatCart 2000 e CEMESPP Organização: CEMESPP
A tabela mostra que aproximadamente 24% da população e 22% dos
domicílios da cidade encontram-se em situação de exclusão social, com uma
média, inclusive maior, de moradores por domicílios que o conjunto dos
demais setores, sugerindo a necessidade de um olhar mais apurado sobre
tais áreas urbanas.
Tomado sob esta perspectiva, o processo de produção e reprodução
das desigualdades sociais e territoriais, assume um lugar não desprezível na
apreensão desta realidade urbana, ficando claro também a importância de
uma análise mais detalhada da realidade dos setores de exclusão social.
101
3.2.4.1 Rancharia: informações intra-urbanas.
A partir da metodologia de coleta de informações dos processos de
exclusão social de Rancharia conforme apresentado na metodologia abaixo
transcrevemos algumas tabulações descritivas dos dados agregados pelos
setores intra-urbanos de acordo com a classificação prévia em setores de
inclusão, exclusão e intermediário. Foram realizadas freqüências simples de
cada variável verificada no formulário de observação rápida do ambiente
urbano do município.
Em relação aos aspectos físicos das vias de rolamento foram
coletadas informações sobre a pavimentação das vias; classificação em
estreitas, médias, largas ou avenidas; existência de sinalização horizontal e
vertical. Ao que tange à parte das calçadas, foram levantadas informações
sobre suas metragens e classificação também em estreitas, medias ou
largas.
Foram observadas as coberturas de serviços públicos de infra-
estrutura básica nos ambientes urbanos, tais como rede de água e esgoto,
cabeamento de telefonia fixa, rede de energia elétrica, bocas de lobos
(bueiros) para escoamento de águas pluviais, freqüência de coleta de lixo,
existência de telefones públicos (“orelhões”) e iluminação pública.
Nas tabelas, optamos por apresentar os percentuais das perdas de
informações para uma vez que não foram feitas ponderações de cada setor
no total da cidade.
As tabelas 19, 20, 21, 22 e 23 referem-se aos aspectos das vias
públicas em cada grupamento de setores classificados em de exclusão,
intermédio e de inclusão.
TABELA 19 – Existência de vias não pavimentadas nos setores*
Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)
Sem informação 2,5 5,4 4,2
Não 91,9 78,9 85,3 Sim 5,6 15,7 10,5
Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas) Organização: CEMESPP
102
TABELA 20 - Vias estreitas nos setores* **
Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)
Sem informação 2,5 5,6 4,2 Não 96,1 83,3 89,1
Sim 1,4 11,1 6,6
Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)
** OBS: foi considerada via estreita a rua com menos de 7 metros. Organização: CEMESPP
TABELA 21 - Vias de média largura nos setores*
Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)
Sem informação 2,5 5,6 4,2 Não 55,96 43,6 33,1
Sim 41,6 50,9 62,7
Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas) Organização: CEMESPP
TABELA 22 - Vias largas nos setores* **
Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)
Sem informação 2,5 5,6 4,2
Não 49,2 66,1 76,2
Sim 48,3 28,3 19,6
Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas) ** OBS: foi considerada via larga a rua com mais de 9 metros. Organização: CEMESPP
TABELA 23 - Existência de avenidas nos setores*
Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)
Sem informação 2,5 5,63 4,2
Não 93,3 89,8 88,7 Sim 4,2 4,6 7,1
Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)
Organização: CEMESPP Em relação às cinco tabelas (19, 20, 21, 22 e 23) acima,
diferentemente das outras variáveis, não são sensíveis para descrever
manifestações de processos de exclusão impressos no desenho urbano, ou
podem até mesmo soar como contraditórias uma vez que são os setores
classificados como de inclusão que possuem maior percentual de vias
103
largas. No entanto, em municípios de médio porte os traçados das ruas não
sofreram grandes modificações desde a fundação dos mesmos, podendo
mesmo se transformar em variáveis que denotam a qualidade do espaço
intra-urbano. Porém, a análise dessa variável funciona como motivo de
revisão do instrumento e seu posterior aprimoramento.
As tabelas 24, 25 e 26 dadas as diferenças entre os percentuais e por
denotarem ações do poder público de rápida concretização, já nos fornecem
algumas pistas sobre os processos em estudo neste projeto.
TABELA 24 - Existência de sinalização do nome da rua nos setores*
Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)
Sem informação 4,5 6,8 5,0 Não 62,0 65,5 67,3
Sim 33,5 27,7 27,7
Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)
Organização: CEMESPP
TABELA 25 - Existência de sinalização horizontal nas ruas dos setores*
Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)
Sem informação 3,1 6,0 5,0
Não 88,5 82,8 70,5
Sim 11,2 11,1 24,5
Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)
Organização: CEMESPP
TABELA 26 - Existência de sinalização vertical nas ruas dos setores*
Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)
Sem informação 3,4 5,9 4,9 Não 83,8 76,0 60,3
Sim 12,8 18,1 34,8
Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)
Organização: CEMESPP
No caso particular de Rancharia, a diferença percentual entre a
existência de sinalização viária, tanto horizontal quanto vertical, expressa a
justaposição entre o centro da cidade e a classificação como setores de
inclusão. Quanto à existência de placa de rua, o pequeno percentual maior
que verificamos nos setores de inclusão pode, provavelmente, significar a
104
consolidação do centro como “lugar conhecido” e podendo dispensar
nomeações. No entanto essa pequena contradição sugere que necessitamos
de maiores aprofundamentos no problema.
Abaixo descrevemos um aspecto importante, a nosso ver, acerca de
um dos itens do conforto e segurança urbana para o pedestre, e que pode
sugerir, ou indicar, maior vigilância do poder público, e mesmo da
preocupação da esfera da vida privada, com a possibilidade de usufruir do
espaço público de trânsito com melhor comodidade (tabela 27, 28, 29 e
30). Esse é um aspecto que pode expressar urbanisticamente condições de
inclusão e exclusão.
TABELA 27 – Calçamento inexistente nas ruas dos setores*
Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)
Sem informação 2,5 5,4 3,9
Não 71,5 67,4 78,6
Sim 26,0 27,2 17,5
Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)
Organização: CEMESPP
TABELA 28 - Calçadas estreitas nas ruas dos setores* **
Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)
Sem informação 2,5 5,4 3,9 Não 91,6 90,8 92,5 Sim 5,9 3,8 3,6
Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)
** calçamento estreito foi considerado calçadas menores de 0,60m Organização: CEMESPP
TABELA 29 - Calçadas médias nas ruas dos setores *
Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)
Sem informação 2,5 5,4 3,9
Não 32,7 49,9 63,0
Sim 64,8 44,7 33,1
Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)
Organização: CEMESPP
105
TABELA 30 - Calçadas largas nas ruas dos setores* **
Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)
Sem informação 2,5 5,4 3,9 Não 74,3 52,5 37,3
Sim 23,2 42,1 58,8
Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas) * calçamento largo foi considerado aquela calçada com mais de 1,20 m.
Organização: CEMESPP
Em todos os itens levantados acerca das calçadas podemos inferir
que os padrões de exclusão e inclusão se expressam de alguma maneira.
Passeios públicos calçados e largos, em Rancharia estão em número
percentual maior nos setores de inclusão. O item conforto em caminhar nas
calçadas da cidade pode indicar que, as áreas ou setores onde isso ocorre,
possibilita uma forma de inclusão citadina.
As tabelas 31, 32, 33, 34, 35 e 36 referem-se a alguns itens de infra-
estrutura básica que tem a natureza de serem disponíveis dentro da casa
dos moradores ou que retiram resíduos das mesmas.
TABELA 31 – Abastecimento de água nas ruas dos setores*
Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)
Sem informação 2,5 5,4 3,9
Não 74,3 52,5 37,3 Sim 23,2 42,1 58,8
Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)
Organização: CEMESPP
TABELA 32 – Esgotamento sanitário nas ruas dos setores*
Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)
Sem informação 2,2 5,7 3,9 Não 0,0 1,7 0,3
Sim 97,8 62,8 95,8
Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)
Organização: CEMESPP
106
TABELA 33 – Fornecimento de energia elétrica nas ruas dos setores*
Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)
Sem informação 2,2 5,7 3,9 Não 0,0 1,7 0,3
Sim 97,8 62,8 95,8
Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)
Organização: CEMESPP
TABELA 34 – Fornecimento de energia elétrica nas ruas dos setores*
Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)
Sem informação 2,2 5,7 3,9
Não 0,0 1,6 0,0 Sim 97,8 92,7 96,1
Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)
Organização: CEMESPP
TABELA 35 – Cabeamento telefônico nas ruas dos setores*
Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)
Sem informação 2,2 5,6 3,9
Não 0,6 18,0 10,0 Sim 97,2 76,5 86,1
Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)
Organização: CEMESPP
TABELA 36 – Número de vezes por semana da Coleta de lixo sólido nas ruas dos setores *
Setores Gabarito Exclusão Intermédio Inclusão
Sem informação 2,5 5,9 13,0 0 0,0 0,8 0,2 1 0,0 0,3 1,0 2 15,9 7,9 7,3 3 79,9 85,1 76,3 5 0,0 0,0 0,0 6 0,8 0,0 2,3 7 0,8 0,0 0,0
Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas) Organização: CEMESPP
107
As tabelas acima explicitam uma realidade típica das cidades médias
e pequenas do interior do estado de São Paulo, os bens de consumo
coletivo típicos como abastecimento de água, esgoto coleta de lixo são
extensivas a toda a malha urbana. Com diferenças mínimas de freqüência
de coleta de sólidos - que pode inclusive ter sido conseqüência de erro de
preenchimento do roteiro – todos os serviços não podem ser indicados
como diferencias ou discriminadores de processo de inclusão/exclusão.
As tabelas 37 e 38 a seguir referem-se à quantidade de telefones
públicos e bocas de lobo nas faces de quadra verificadas.
TABELA 37 – Número de “orelhões” existentes nas ruas dos setores *
Setores Gabarito Exclusão Intermédio Inclusão
Sem informação 2,2 5,7 3,6
0 94,1 90,9 92,7 1 3,6 3,3 3,2
2 0,0 0,0 0,3
3 0,0 0,0 0,2
Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas) Organização: CEMESPP
TABELA 38 – Número “bocas de lobo” existentes nas ruas dos setores *
Setores Gabarito Exclusão Intermédio Inclusão
Sem informação 2,5 5,7 3,9
0 94,1 80,1 83,8
1 2,8 12,1 11,8
2 0,6 0,6 0,3 3 0,0 0,5 0,2
4 0,0 0,3 0,0
5 0,0 0,3 0,0
6 0,0 0,3 0,0
Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas) Organização: CEMESPP
Tal qual os serviços públicos de consumo coletivo discutidos
anteriormente o telefone público também não se mostra sensível para
expressar diferenças entre setores de inclusão e exclusão. Porém o item
“boca de lobo” parece indicar um certo padrão de urbanismo em que alguns
itens de conforto urbano (escoamento de águas pluviais impedindo
alagamentos e ruas intransitáveis aos pedestres em dias de chuvas) são
108
desprezados em áreas de moradias de populações de baixa renda e pouco
poder de pressão políticas.
As tabelas 39 e 40 são descrições da existência e tipo de lâmpada
utilizada na iluminação pública, também a existência de árvores nas faces
de quadras, bem como seu porte.
TABELA 39 – Tipo de lâmpada utilizada na iluminação pública nas ruas dos
setores * Setores
Gabarito Exclusão Intermédio Inclusão
Sem informação 48,9 58,5 51,1
Sem lâmpada 0,0 0,2 1,0
Incandescente 0,3 7,9 8,9
Mercúrio 0,0 0,8 0,5
Sódio 50,8 32,6 38,6 Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas) Organização: CEMESPP
TABELA 40 – Número árvores existentes nas ruas dos setores *
Setores Gabarito Exclusão Intermédio Inclusão
Sem informação 2,2 5,7 4,2
0 31,3 18,6 19,4
1 8,9 9,2 8,4
2 11,7 12,1 14,6
3 12,3 11,9 11,5
4 10,3 10,3 10,0 5 7,3 8,4 9,2
6 7,8 6,4 5,7
7 2,2 4,6 4,4
8 2,0 4,0 3,4
9 1,4 1,7 2,9
10 0,8 2,5 1,9
+ de 10 1,8 4,6 4,4
Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas) Organização: CEMESPP
A tabela sobre iluminação pública, em virtude de seu alto índice de
não resposta, dificulta uma análise mais apurada sobre as características de
área do processo de inclusão/exclusão. Na segunda tabela que contabiliza a
existência de árvores nas vias públicas também pode levar à falsa análise,
uma vez que seria necessário estudar melhor o tempo de urbanização de
cada setor. Porém, para o caso de Rancharia indica maior preocupação com
as áreas de inclusão uma vez que ambos os grupos de setores, de inclusão
e exclusão têm o mesmo tempo de fundação. Mesmo sendo nos arredores
109
de uma cidade média, os setores de exclusão são menos arborizados que os
demais setores, indicando maior conforto urbano nestes últimos, reforçando
os processos de exclusão.
A análise das variáveis, acima descritas, nos fornece pistas seguras
de que essa forma de aproximação dos processos de exclusão pode e deve
ser reproduzida em cidades médias. Mesmo não tendo disparidades
gritantes de condições de habitação e moradia em seu interior foi possível
verificar sinais de processos de exclusão que se expressam na paisagem
urbana e que pode complementar outras metodologias no entendimento do
objeto desse projeto.
3.3. TARABAI
3.3.1. A avaliação do processo de mapeamento e utilização da
metodologia na política pública
Por se tratar de uma cidade das mais frágeis da Região, buscamos
representar e compreender as configurações do intra-urbano numa
realidade de pequeno porte. É preciso mencionar, que ainda que as leituras
e os padrões de desigualdade social sejam bastante diferenciados em
relação às cidades de maiores faixas populacionais, e que pobres e ricos
esteja bastante mesclados pelo tecido espacial urbano, é possível identificar
áreas prioritárias para a definição das políticas públicas.
Em primeiro lugar, depois de todo o trabalho com a formação,
seguido da formatação das bases cartográficas, como o “Eixo de Ruas” da
cidade e os “Setores Censitários Urbanos”, foi feito o mapeamento temático
fazendo uso do Censo 2000, a partir dos quais pudemos compreender
algumas estruturas espaciais e sociais de Tarabai.
110
Analisando o mapa de distribuição da população por setores
censitários (ver mapa 14) conjuntamente com o banco de dados,
verificamos que a parte sul da cidade, mais especificamente a parte que
corresponde aos setores 3 e 4, num universo de nove, concentram 35,55%
da população urbana, que representam 2057 habitantes.
Ao analisar os dados referentes à renda, verificamos que na parte sul
da cidade, em ligeira oposição à parte norte, estão os mais significativos
índices de vulnerabilidade. O mapa 15 nos mostra aspectos relacionados a
variável renda:
Mapa 14 – População residente urbana da cidade de Tarabai - SP Fonte: CEMESPP
111
Ainda que, a princípio, não tenhamos chegado à elaboração de um
mapa de exclusão social, que nos mostrasse os setores mais vulneráveis
socialmente, podemos atestar essas disparidades entre norte e sul. De
posse dessas informações mais básicas, a partir do Censo 2000, tomamos
os dados levantados localmente para o mapeamento e análise das políticas
públicas. Uma dimensão interessante no processo de mapeamento esteve
na possibilidade de avaliação dos impactos dessas políticas. Confrontando
os dados do IBGE com os dados dos programas sociais levados a cabo pela
Secretaria da Assistência Social, foi possível saber se os esforços estavam
sendo dirigidos para as parcelas da cidade que de fato deveriam ser
atendidas. Face a isso, identificamos duas situações de políticas públicas
sociais. Uma primeira, mais criteriosa, que atinge a população que dela
realmente necessita, e outra, que sendo menos criteriosa, tem um desvio
de foco. Vejamos os mapas 16, 17, 18 e 19, que dizem respeito aos
rendimentos dos chefes de família com base no Censo 2000 do IBGE:
Mapa 15 – Renda média por setor censitário em Tarabai - SP Fonte: CEMESPP
112
Mapa 17 – Percentual de responsáveis que ganham até meio salário mínimo em Tarabai – SP Fonte: CEMESPP
Mapa 16 – Percentual de responsáveis sem rendimento em Tarabai – SP Fonte: CEMESPP
113
Mapa 18 – Percentual de responsáveis que ganham de ½ a 1 salário mínimo em Tarabai –SP Fonte: CEMESPP
Mapa 19 – Responsáveis que ganham de 1 a 3 salários mínimos em Tarabai - SP Fonte: CEMESPP
114
Complementando nossa análise, nos parece que os dados que
compõem o CadÚnico (Cadastro Único) da Assistência social representados
em dados absolutos, revelam uma estrutura espacial mais clara. É
importante mencionar que, ainda que não haja bolsões de pobreza nessas
pequenas cidades, é possível encontrar sutilezas no sentido de entender e
avaliar os impactos das políticas sociais. Vejamos, então, esses mapas
sócio-econômicos (mapas 20 e 21) gerados a partir do CadÚnico:
Mapa 20 – Famílias com renda per capita de seis a setenta reais em Tarabai – SP (CadÚnico) Fonte: CEMESPP
115
As famílias cadastradas no CadÚnico, com os menores rendimentos
apresentam uma concentração na parte Sul da cidade, enquanto que na
parte nordeste está o setor com os maiores rendimentos.
Projetos, como o “Renda Cidadã”, que são mais criteriosos, têm um
atendimento bastante focalizado, ou seja, no presente caso, exatamente
nos setores mais vulneráveis. Vejamos o mapa de cobertura do Programa
“Renda Cidadã”.
Mapa 21 - Famílias com renda per capita de setenta a cem reais em Tarabai – SP (CadÚnico) Fonte: CEMEPP
116
Da mesma forma, as famílias cadastradas no CadÚnico, que nos dá
uma orientação da população alvo dos programas sociais, como o Bolsa
Família, também atinge as áreas mais vulneráveis. Segundo levantamentos
que fizemos, o Cadastro contava com 1184 famílias, com 1007 que
possuem perfil para o Bolsa Família, e 381 que efetivamente estão sendo
atendidas pelo programa. Levando-se em consideração que a cidade
contava com aproximadamente 1600 famílias, podemos chegar a conclusão
que é altíssima a vulnerabilidade na cidade como um todo, pois mais de
62% da população estaria numa situação de precariedade social, que a
habilita a receber atenção do Estado.
Vejamos agora o mapa 23 que nos mostra a espacialização da
população cadastrada no CadÚnico.
Mapa 22 – Programa Renda Cidadã em Tarabai – SP Fonte: CEMESPP
117
O mesmo pôde ser verificado em relação a outros projetos sociais
como o “Ação Jovem” e o “Viva Leite”, como pode ser constatado nos mapa
24 e 25, a seguir.
Mapa 23 – Cadastro Único de Tarabai - SP Fonte: CEMESPP
118
Mapa 24 – Programa Ação Jovem em Tarabai - SP Fonte: CEMESPP
Mapa 25 – Programa Viva Leite em Tarabai - SP Fonte: CEMESPP
119
Por outro lado, o projeto “Esporte Social”, menos criterioso, possui
uma certa distorção no atendimento, se comparado com o mapa de
concentração da população infanto-juvenil e com o mapa de rendimentos
médios por setor já apresentado mais acima. Para compreender essa
situação, vejamos primeiro o mapa das ocorrências registradas pelo
Conselho Tutelar, sobreposto ao mapa da população infanto-juvenil:
É possível nesse mapa verificar uma grande concentração da
população de 0 a 17 anos de idade, assim como a concentração de
ocorrências do Conselho Tutelar, na parte sul da cidade, o que nos aponta
para a necessidade de programas sociais nesses setores urbanos. No
entanto, os programas menos criteriosos não chegam onde deveriam de
fato chegar. Vejamos:
Mapa 26 – População de crianças e jovens e ocorrências do Conselho Tutelar em Tarabai – SP Fonte: CEMESPP
120
O mapa revela que o projeto atende, majoritariamente, a área que
está entre as menores concentrações da população infanto-juvenil, assim
como os mais altos rendimentos. Trata-se de uma distorção de
atendimento, que pode ser facilmente equacionada ao se fazer uso das
ferramentas de geoprocessamento, que mostre as configurações territoriais.
Mapa 27 – Projeto Esporte Social em Tarabai – SP Fonte: CEMESPP
122
Ao término desse relatório de pesquisa, gostaríamos de destacar
algumas conclusões significativas do estudo realizado em Álvares Machado
e Rancharia, assim como em Tarabai. Tais conclusões dizem respeito ao
nosso conhecimento das condições de vida e dos processos excludentes em
áreas urbanas não metropolitanas e, ao mesmo tempo, dos desafios
metodológicos que exige a avaliação de políticas públicas.
A cidade pequena, acertadamente, é um fenômeno espacial dos mais
importantes do nosso país e precisa ser objeto de preocupação e reflexão,
no sentido de contribuir para o aprimoramento do processo de gestão e de
tomada de decisão. Trata-se de um tipo de cidade que pode ter
características muito diferenciadas, mesmo ao se considerar faixas
populacionais tão próximas. Do ponto de vista da percepção dos fenômenos
espaciais, certamente, as leituras poderão ser bastante distintas, por
exemplo, entre uma cidade de 5 mil habitantes e uma outra de 45 mil. No
entanto, é possível estabelecer/criar procedimentos metodológicos que
ajudam a pensar o território urbano e, por conseguinte, planejar de forma
mais eficiente as políticas sociais. Para isto, é preciso destacar os seguintes
aspectos:
• apesar de não possuírem favelas ou cortiços,
observamos que nos bairros onde reside a população mais pobre há
uma precariedade das habitações, tanto em termos do conforto
térmico como das condições de luminosidade e ventilação;
• por ainda apresentarem uma estrutura monocêntrica, os
lotes mais valorizados da área urbana estão localizados próximos da
praça central da cidade e os bairros mais carentes situam-se na
periferia mais distante;
• mesmo que as distâncias intra-urbanas possam ser
percorridas à pé ou de bicicleta, uma vez que se trata de pequenas
cidades, por meio da pesquisa qualitativa é possível afirmar que
talvez as distâncias sociais sejam ainda maiores do que a realidade
metropolitana, onde o convívio dos diferentes é inevitável em função
da alta densidade demográfica;
• o baixo dinamismo econômico dos municípios estudados
é traço marcante, o que aumenta o peso das ações do poder público
e das políticas públicas e programas de melhor distribuição de renda
nas realidades estudas;
123
• a mobilidade espacial nos municípios estudados também
é uma característica peculiar, revelando a necessidade de maior
aprofundamento do papel das relações interurbanas no processo de
reprodução das desigualdades sociais;
• por fim, dentre os indicadores utilizados e elaborados na
pesquisa, como se tratam de cidades com baixo dinamismo
econômico, a inserção ou não no mundo do trabalho é um diferencial
fundamental em termos da valorização social das famílias.
No que se refere aos aspectos metodológicos, cabe dizer que o grupo
de pesquisa, durante muito tempo, se preocupou, basicamente, com
mapeamento intra-urbano focalizado em cidades de porte médio, sendo
Presidente Prudente, num primeiro momento, laboratório privilegiado de
análises sociais e territoriais. Em seguida, várias outras cidades de porte
médio do interior do Estado de São Paulo foram alvos de preocupação. Até
então, se tratava de cidades com uma malha urbana considerável, cujo
acesso aos dados territoriais e às bases cartográficas digitais era
relativamente fácil.
Muito recentemente, passamos a nos preocupar com pequenas
cidades que, geralmente, mostram grandes dificuldades para acessar dados
e gerar informações. Aqui, freqüentemente, entram em discussão os níveis
de análise espacial e as escalas geográficas, pois os fenômenos espaciais
analisados, a leitura que deles poderá ser feita e as formas de expressão
cartográfica, se processarão de formas diferenciadas. Em função disso, foi
preciso pensar uma metodologia que abrisse possibilidades de leituras
espaciais em cidades de pequeno porte. Neste caso, nos deparamos com a
necessidade de manter certa flexibilidade para adequar os procedimentos
metodológicos às especificidades de cada localidade, sem perder, é claro, a
possibilidade de comparabilidade com outras realidades. Esse é um grande
desafio dos grupos de pesquisa que se dedicam a compreender melhor as
cidades pequenas.
No Brasil, em se tratando de municípios, 4.999 possuem uma
população inferior a 50 mil habitantes, segundo projeção populacional para
o ano de 2007 (IBGE). Ou seja, isso representa 89,91% dos municípios
brasileiros. Problematizando a questão, a pesquisa realizada pelo IBGE
sobre as “Regiões de Influência das Cidades” (2007), estabelece cinco
124
níveis hierárquicos de cidades em função de suas respectivas importâncias.
Sendo assim, nos primeiros quatro níveis, ou seja, aqueles que definem as
cidades com alguma importância para além dos seus limites municipais,
foram incluídas 807 cidades. Por outro lado, no último, denominado “centro
local”, inclui aquelas que não exercem nenhuma influência para fora dos
limites da sua jurisdição, é o caso de 4.763 cidades, ou seja, cerca de
85,66% do total das cidades brasileiras.
Nas cidades pequenas, com freqüência, não existe aquilo que
poderíamos denominar de “cultura informacional”, ou seja, não é uma
prática corrente o uso da informação para planejar, executar e avaliar as
ações do poder público. Quase sempre, as estratégias elaboradas se dão
muito em função do que pensa o gestor municipal sobre a sua cidade.
Quando falamos nisso não se trata apenas de dados prontos elaborados por
um técnico distante da prefeitura, mas sim de todo o processo de
construção dos indicadores in loco, passando pelo tratamento dos dados até
chegar ao uso informação no nível intra-urbano e porque não
intramunicipal. Isso inclui o uso das ferramentas tecnológicas (no nosso
caso, fundamentalmente, MapInfo e Excel) e o processo de geração de
dados (numéricos e alfanuméricos, cadastros e bases cartográficas) e, em
seguida de informações (percentuais, índices e mapas temáticos).
Um outro aspecto metodológico importante do trabalho realizado foi o
objetivo de integrar procedimentos quantitativos e qualitativos. O uso das
ferramentas do EVOC e a análise do núcleo central demonstraram um
caminho de rico a ser explorado. Para o presente relatório, aplicamos tais
ferramentas apenas em um exemplo (a cadeia semântica da palavra
riqueza). Muitos outros dados estão disponíveis para serem analisados por
membros do grupo e resultarão em publicações e parâmetros para novas
pesquisas na forma de teses, dissertações e monografias. O livro, no prelo,
constitui-se em um bom exemplo da produção do grupo (ver Anexo 5).
Por fim, o período de realização da pesquisa abriu possibilidades de
novas parcerias. No caso de Rancharia, o processo eleitoral resultou no
segundo mandato do prefeito que apoiou o projeto. Em Álvares Machado,
apesar de ter ocorrido alternância de poder, os contatos estão bem
adiantados entre o CEMESPP e a nova gestão municipal para a continuidade
dos trabalhos desenvolvidos em conjunto. Em ambos os casos, os contatos
estão mantidos, com reuniões periódicas dos membros do grupo às
125
prefeituras e novas equipes municipais e fica evidente que o Programa de
Políticas Públicas da FAPESP é muito importante para o fortalecimento de
pesquisas aplicadas no campo das políticas públicas, acima de disputas
eleitorais ou comprometimentos político-partidários.
A ampliação do trabalho iniciado será possível por meio do convênio
que está sendo firmado entre o CEMESPP e o CEPAM (Centro de Estudos e
Pesquisas de Administração Municipal – Fundação Prefeito Faria Lima). A
proposta que está em elaboração, através de contatos permanentes e já
avançados com a Sra. Jô Ballanotti (com visitas e reuniões de trabalho
entre as equipes, seja em Presidente Prudente, seja em São Paulo), é de
transferir a tecnologia desenvolvida com o apoio logístico do CEPAM, que
mantêm um estreito contato com as prefeituras dos municípios paulistas.
Desta forma, a pesquisa possibilitou uma enorme ampliação da inserção do
grupo de pesquisa no estado de São Paulo, o que exigirá uma nova forma
de planejar o trabalho em termos de metas e estratégias de estudo.
127
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