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REFLEXÕES SOBRE A POLÍTICA E CONCESSÃO DE CRÉDITO E OS
ÍNDICES DE INADIMPLÊNCIA: UM ESTUDO DE CASO NA ALFA
Nilton Janir Butzke1
Rodrigo da Silveira Kappel2
RESUMO
O objetivo geral deste estudo é analisar se a política de concessão de créditoestá de acordo com os índices de inadimplência registrados pela empresapesquisada. Metodologicamente, trata-se de um estudo de caso singular emnível descritivo, cujas fontes de pesquisa baseiam-se em documentoscontábeis do período de 2006 a 2008, além de pesquisa bibliográfica, sendoque a análise dos dados tem características quantitativas e qualitativas. Osresultados da pesquisa permitem considerar que os índices de inadimplênciasão pequenos em relação ao faturamento, muito embora represente em algunsperíodos um aumento elevado em relação a períodos anteriores. Além disso,verifica-se que a empresa possui uma política de análise e concessão decrédito adequada às exigências, necessitando de alguns ajustes em relação atempo de cadastro do cliente.
Palavras-chave: Política de concessão de crédito, índices de inadimplência emercado.
ABSTRACT
The aim of this study is to analyze if the policy of lending is in line with thedefault rates reported by the company. Methodologically, is about a uniquecase study in an descriptive level, whose research sources are based onaccounting documents of the period from 2006 to 2008, beyond a bibliographicresearch. The data analysis has quantitative and qualitative characteristics. Theresearch effect accepts concern the table of contents of default is small inrelation to sales, although they represent an increase in some periods and highcompared to previous periods. Besides it confirms that the company has apolicy analysis and appropriate credits that demands the current market,requiring some adjustments in relation to heave-release credit.
Keywords: policy lending, default rates and market.
1 Graduando do Curso de Ciências Contábeis - Faculdade Dom Alberto.
2 Mestre em Ciências Contábeis – Faculdade Dom Alberto.
1 INTRODUÇÃO
A gestão financeira é um conjunto de ações e procedimentos
administrativos que tem como objetivos controlar e planejar da forma mais
eficaz possível as atividades financeiras da empresa, pois o administrador
financeiro deve investir em ativos que geram um retorno superior ao custo de
oportunidade do capital. Cabe destacar por que é a principal medida de
desempenho da administração financeira, ou seja, da riqueza do proprietário
através do aumento de valor dos ativos da empresa.
Por meio da administração financeira, é possível se ter uma visão da
atual situação da empresa, permitindo uma melhor análise e colaborando com
o planejamento organizacional, através da otimização dos resultados.
Conforme Gitman (1997) as ações da administração financeira visam ao
cumprimento dos objetivos dos proprietários da empresa e de seus acionistas,
buscando sempre a maximização da riqueza, tomando decisões que resultem
em criar e agregar valor.
Nesse contexto, esse estudo visa analisar e refletir a importância da
administração financeira de curto prazo na concessão de crédito e nos índices
de inadimplência na empresa Alfa, buscando a otimização do potencial
financeiro e econômico da empresa.
O problema a ser contemplado neste trabalho é: Como a análise e
concessão de crédito influenciam os índices de inadimplência e os resultados
da empresa Alfa?
Com isso, o estudo tem como objetivo geral identificar e avaliar a política
de concessão de crédito da empresa Alfa, através da avaliação dos índices de
inadimplência da empresa.
Os objetivos específicos perseguidos são apresentar os principais
conceitos relacionados à concessão de crédito e avaliação da inadimplência e
de seus resultados, ou seja, os fundamentos da gestão financeira de curto
prazo; mapear e identificar as principais informações necessárias à avaliação
da política de crédito a clientes e a análise de inadimplência; e por fim, sugerir
a empresa medidas que venham a aprimorar o processo de concessão de
créditos a clientes, otimizando o potencial financeiro e econômico da empresa.
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O estudo justifica-se na criação de um material de auxílio à empresa, no
intuito de apontar melhorias na política de crédito e consequente diminuição
dos índices de inadimplência. Este estudo contribui ainda para que a área
financeira esteja alinhada com os direcionadores da empresa, criando políticas
de crédito compatíveis, usando a mesma para estipular o volume de vendas,
com critérios para a concessão de crédito comercial. Com isso, busca-se um
controle mais eficaz com um melhor resultado e análise dos investimentos,
obtendo um melhor retorno e valorização da riqueza do proprietário da
empresa, buscando na contabilidade e na administração financeira, as
informações úteis fornecidas através dos demonstrativos contábeis.
2 Fundamentos da Administração Financeira de Curto Prazo
Gitman (1997) relata que as atividades financeiras e contábeis de uma
empresa estão estreitamente relacionadas e em geral se sobrepõem, sendo
que a administração financeira e a contabilidade nem sempre se distinguem
facilmente. No entanto, há duas diferenças entre estas: a ênfase nos fluxos de
caixa e na tomada de decisão.
2.1 A Contabilidade e a Administração Financeira
Gouveia (2001) define que contabilidade é a ciência social que estuda,
interpreta e registra os fenômenos que afetam o patrimônio de uma entidade.
Por outro lado, Mattos (2000) complementa que o objetivo básico dos
demonstrativos financeiros é prover informação útil para a tomada de decisões
econômicas. Pode-se dizer também que tem a função de comparar o estado
anterior dos demonstrativos analisados em períodos passados, com o estado
atual para determinar o resultado das atividades.
É importante destacar que, conforme pesquisas recentes divulgadas
pelo Serasa (empresa que fornece dados e ferramentas de análise a clientes
de mais de 65 países, auxiliando no gerenciamento do risco de crédito,
prevenção de fraudes, entre outros), muitas empresas pequenas entram em
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falência no máximo até o quinto ano de existência, por falta de informações
financeiras precisas para o controle e planejamento financeiro. Dessa forma, as
informações contábeis extraídas do balanço patrimonial são indiscutivelmente
importantes, pois é nele que se contabilizam os dados da gestão financeira,
que devem ser analisados detalhadamente para a tomada de decisão.
Diante disto, segundo Gitman (1997), o administrador financeiro
necessita cada vez mais controlar eficientemente o fluxo de caixa, ou seja,
entradas e saídas de caixa, mantendo a solvência da empresa, analisando e
planejando este fluxo, satisfazendo as obrigações e adquirindo os ativos
necessários ao cumprimento dos objetivos da empresa, através da adoção das
principais técnicas de avaliação de investimentos.
Cabe destacar também que este estudo está relacionado à
administração financeira de curto prazo, mais especificamente, a avaliação da
política de crédito através da avaliação dos índices de inadimplência da
empresa, pois a política de crédito adotada em uma empresa é um instrumento
fundamental e de influência direta na liquidez de uma entidade.
Com isso, Securato (2000) relata que a concessão de crédito no Brasil é
um importante instrumento para o desenvolvimento econômico, sendo que o
fortalecimento e a solidez do sistema financeiro são essenciais para que haja o
crédito, e com isso, as empresas possam contar com esta alternativa para
financiar suas atividades.
2.2 Crédito e Cobrança
O processo de análise de crédito, segundo Santos (2009), tem como
objetivo averiguar se o cliente possui idoneidade e capacidade financeira para
amortizar a dívida, sendo destacadas as tarefas de seleção, análise,
precificação e monitoramento do risco de crédito, com base em informações
concretas dos clientes.
As empresas recorrem ao uso de duas técnicas para realizar a análise
de crédito, sendo uma baseada no julgamento humano (técnica subjetiva) e
outra baseada em procedimentos estatísticos (técnica objetiva). Por outro lado,
Schirickel (2000) conceitua crédito como:
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Todo ato de vontade e disposição de alguém de descartar ou ceder,temporariamente, parte de seu patrimônio a terceiros, com aexpectativa de que esta parcela volte a sua posse integralmente,após decorrido o tempo estipulado. Sempre lembrando que qualquercrédito está intimamente associado à noção de risco. (SCHIRICKEL,2000, p.26)
Blatt (1996, p. 21) destaca que todo o relacionamento entre crédito e
cobrança segue princípios de que boas cobranças começam com boa gestão de
crédito, sendo que crédito implica em promessa de pagamento, envolvendo a
cobrança responsável por fazer cumprir a promessa.
Por outro lado, Schrickel (2000, p.66) complementa que o ato de crédito
implica e requer uma decisão, que só pode ser tomada pelo nível de alçada
apropriado, ou seja, pelo nível de poder hierárquico de decisão para a análise
de crédito.
Sendo assim, cabe ao empresário verificar se a política de crédito
adotada em sua empresa não compromete sua gestão de caixa, e nem
prejudica sua viabilidade financeira no futuro, pois a concessão de crédito deve
ser uma modalidade positiva e favorável às atividades das empresas, conforme
Silva (1998).
Na prática, uma boa política de crédito influencia positivamente a
empresa, tanto no índice de inadimplência, quanto na liquidez e na
respeitabilidade com os clientes.
A base para a concessão de crédito é a confiança. Silva (1998, p.103)
afirma que para a decisão de crédito a matéria-prima é a informação, pois as
informações confiáveis obtidas constituirão uma base sólida para uma análise e
decisão de crédito segura. É através das informações que são verificadas os
históricos de compras, o tempo de existência de empresa, a freqüência de
pagamentos junto aos concorrentes, dentre outras. Com base nessas
informações, o analista de crédito terá uma fonte de como o cliente se comporta
crediticiamente.
Securato (2002) diz que a empresa, ao estabelecer uma verdadeira
política de concessão de crédito, deve buscar e obter respostas nos fatores
como: volume de vendas; estrutura de custos da empresa; custo dos
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investimentos em valores a receber; custos com incobráveis e comportamento
da concorrência.
O autor ainda complementa que o principal objetivo de uma análise de
crédito para financiamento a clientes em uma empresa é avaliar os riscos
envolvidos frente à probabilidade de recebimento desses valores.
É importante que a empresa fixe condições de prazos compatíveis com
os prazos dos fornecedores, estabeleça limites para cada cliente, determine o
custo de captação de recursos combinado pelo risco de cada perfil de clientes,
defina a metodologia de análise de risco nas operações de crédito, estabeleça
políticas de cobrança e controle das operações.
Uma prática que vem sendo muito utilizada, servindo como uma garantia
a mais nas liberações crédito e que funciona como uma parceria nas empresas
é o seguro de crédito.
Dentre algumas empresas que oferecem este tipo de serviço, cita-se a
Coface do Brasil. Sendo uma empresa do ramo de seguro de crédito
doméstico, tem por objetivo ressarcir o segurado (credor) nas operações de
crédito realizadas dentro do território nacional, causadas pelas perdas
originadas por um devedor insolvente, sendo necessário que o devedor seja
uma pessoa jurídica estabelecida no Brasil.
O seguro pode ser contratado por empresas de mercadorias ou serviços,
cobrindo toda a carteira de recebíveis, dependendo do acordo com a
seguradora. Na maioria das vezes, o percentual de cobertura varia de 70% a
90% do valor segurado, ou seja, há uma espécie de franquia ou de participação
do segurado no risco, variando de 30% a 10% do valor segurado, conforme a
cobertura contratada. Desta forma, as seguradoras contam com o esforço que
o segurado faria para ajudá-las a recuperar um crédito não pago no caso de
um eventual sinistro.
Em suma, entende-se que uma apólice de seguro de crédito, além do
seu benefício principal, que é o seguro propriamente dito, apresenta duas
importantes vantagens suplementares: a prevenção (pela análise e
monitoramento da carteira de recebíveis) e a cobrança.
Segundo Securato (2000), para que as empresas possam contar com a
alternativa de financiar suas atividades, a concessão de crédito no Brasil é
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importante instrumento, pois incentiva o desenvolvimento econômico e
fortalece a solidez do sistema financeiro.
3 METODOLOGIA
A pesquisa traduz-se em um estudo de caso singular, pois é realizado
na empresa Alfa. De acordo com Gil (2007) o estudo de caso é um estudo
profundo sobre um fenômeno atual dentro da realidade.
Esta pesquisa tem a característica de uma pesquisa documental e
bibliográfica, pois, conforme Marconi e Lakatos (2006), é baseada na coleta de
dados, tendo o foco em documentos, escritos ou não, constituindo o que se
denominam fontes primárias.
Na pesquisa documental foram analisados os demonstrativos financeiros
como: balanços patrimoniais, demonstrativos de resultados, relatórios
comerciais da empresa relativos ao período dos anos de 2006 a 2008, e dados
utilizados na política de crédito e cobrança pela Alfa.
A pesquisa bibliográfica, de acordo com Marconi e Lakatos (2006),
também denominada fontes secundárias, abrange toda a bibliografia do tema
de estudo, com o intuito de colocar o pesquisador em contato direto com o
assunto.
Para a análise dos dados foram utilizados os métodos quantitativos e
qualitativos. Para Collis (2005), as técnicas matemáticas, vinculadas ao método
quantitativo, adotadas para o estudo serão: levantamento de dados, tabulações
dos índices de inadimplência e gráficos. Estes dados foram apurados através
de dados coletados de relatórios mensais do setor de Crédito e Cobrança.
Quanto à abordagem de natureza qualitativa, reveste-se uma análise
mais profunda, já que os dados extraídos dos documentos contábeis foram
interpretados e relacionados de acordo com o objetivo geral deste estudo,
através de análise dos gráficos e tabelas, verificando variações dos índices de
inadimplência, assim como a comparação destes com os relatórios dos DREs,
perdas e lucratividade. Segundo Marconi e Lakatos (2006), a metodologia
qualitativa descreve a complexidade de um determinado problema, analisa a
interação de certas variáveis, compreende e classifica processos dinâmicos.
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4 APLICAÇÃO DA METODOLOGIA PROPOSTA
A empresa em estudo é uma multinacional fundada há 86 anos em
Santa Cruz do Sul – RS, atuando nos segmentos de educação, cultura, lazer,
cuidados pessoais e saúde, e localiza-se no centro da cidade. A Alfa é do ramo
da borracha, sendo que diversifica suas atividades atuando nos segmentos
“Body Care” (cuidados para o corpo), “Stationery” (material escolar) e
Revestimentos (pisos e laminados). É importante destacar também que, seu
mercado alvo é essencialmente nacional, mas possui projeto de expansão para
outros países, possuindo uma subsidiária nos EUA.
4.1 Avaliação da Política de Crédito Atual
A empresa possui um PPM (Procedimento Padrão) que tem a função de
um manual de crédito, sendo usado para a padronização de suas atividades,
onde constam políticas, alçadas e limites de concessão de crédito.
Tendo em vista o objetivo geral de identificar e avaliar a política de
concessão de crédito da empresa Alfa, através dos índices de inadimplência,
foram levantadas as principais informações relevantes ao desenvolvimento do
trabalho bem como a visualização desses dados de acordo com o referencial
teórico elaborado, para analisá-los em conjunto e assim obter os resultados
esperados.
Visando a identificar as principais premissas utilizadas pela empresa
para análise e concessão de crédito, foram efetuadas entrevistas in loco junto
ao gerente financeiro e um funcionário do setor.
Dessa forma, através das entrevistas, observou-se que a empresa
possui uma política de crédito baseada em fatores positivos (pontualidade nos
pagamentos com fornecedores, média de compras mensal com altos valores,
boas informações creditícias nos órgãos de proteção ao crédito) e negativos
(protestos, pendências financeiras).
A organização utiliza também outros critérios para avaliar a concessão
de crédito aos seus clientes, destacando-se o histórico de compras e
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pagamentos do cliente com a Alfa, e conforme cada tipo de segmento,
demonstrado no quadro 1.
QUADRO 1 – Limites de Crédito
Tempo deconstituição daempresa /Limites
SegmentoStationery(materiaisescolares)
SegmentoRevestimentos(pisos elaminados)
SegmentoBodycare(cuidados com ocorpo)
Menos de 1 ano R$ 2.000,00 Primeira Compraantecipada
Primeira Compraantecipada
Entre 1 e 2 anos R$ 3.500,00 R$ 3.500,00 R$ 5.000,00 aR$ 30.000,00
Cabe destacar que os critérios para concessão de limites iniciais de
crédito, conforme demonstrado no quadro 1, somente serão utilizados se o
cliente não possui nenhuma restrição creditícia como protestos, cheques sem
fundos ou pendência financeira no CNPJ e CPF dos administradores, ou dos
sócios com participação superior a 50%.
Por outro lado, os clientes com constituição de empresa entre um e dois
anos, que não tenham nenhuma restrição creditícia, terão limite inicial a partir
de R$ 3.500,00, dependendo do segmento de produto. Para os pedidos
superiores a R$ 30.000,00 deverá o representante comercial solicitar Balanço
Patrimonial e Demonstrativo de Resultado atualizados, cabendo à seguradora
contratada pela Alfa a responsabilidade da análise destes dados e
consequentemente a garantia do crédito concedido.
Com isso, observa-se que a empresa procura utilizar todas as suas
premissas e informações necessárias para a análise e concessão de crédito,
buscando otimizar o potencial da empresa em relação às vendas, lucros e a
inadimplência.
4.2 Análise da inadimplência e o Impacto nos Resultados da Empresa
Cabe destacar que todo esforço que se fará a seguir visa demonstrar a
eficiência dos critérios de concessão de crédito, ou seja, maximizar as vendas
e paralelamente reduzir a inadimplência através de uma análise segura.
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QUADRO 2 – Índices de Inadimplência
Venc Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
2006 2,48 2,36 7,14 10,04 11,51 10,57 5,10 4,29 4,54 3,22 2,02 2,15
2007 3,63 5,60 8,62 13,31 8,83 6,75 5,14 2,64 2,02 1,57 1,02 1,09
2008 1,98 3,65 7,62 14,16 15,00 13,25 12,08 8,58 7,38 5,10 4,09 4,64
Dessa forma, baseado nas informações coletadas através dos
demonstrativos contábeis da empresa, referentes aos anos de 2006 a 2008, foi
possível elaborar o quadro 2, que apresenta os dados da inadimplência e
resultados da empresa Alfa.
GRÁFICO 1 - Acompanhamento inadimplência – Alfa em percentuais
O gráfico 1, elaborado através dos dados do quadro 2, possibilita
visualizar claramente a evolução da inadimplência da empresa Alfa no período
de 2006 a 2008. Verifica-se que o maior aumento da inadimplência na
organização ocorreu a partir do mês de março estendendo-se até maio, em
todos os anos avaliados, reduzindo gradativamente. Isto se deve à
sazonalidade de vendas da empresa neste período. O período sazonal é
justificado em função do mercado de atuação da empresa, conforme destacado
no gráfico 2.
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GRÁFICO 2 – Faturamento por Segmento da Alfa
O gráfico 2 demonstra que a empresa concentra uma receita maior,
correspondente a 56% no Segmento Educação, sendo que isso ocorre num
período de safra que se inicia em outubro e finaliza em fevereiro, quando são
comercializados os produtos da linha escolar, visando ao início das aulas no
próximo ano. Com isso, os clientes procuram pagar suas duplicatas com a Alfa
dentro do prazo de vencimento, para posteriormente terem limite de crédito
disponível para efetuarem suas compras.
Cabe destacar que o período sazonal ocorre na época em que os
clientes estão estocando mercadorias como materiais de escritório e escolares,
do segmento educação, que são adquiridas para a preparação das vendas do
período de volta as aulas.
Observa-se que, a partir do mês de junho, os clientes da empresa
procuram pagar suas duplicatas no vencimento para obterem um futuro crédito
disponível na empresa na nova safra que se inicia. Apesar da inadimplência
nestes meses terem picos de aumentos, não representa muito em relação à
receita de vendas.
Passada a safra, começam então os atrasos dos pagamentos nas
duplicatas correspondentes às notas fiscais que foram faturadas neste período,
fazendo com que o setor de cobrança tenha um papel importante neste
momento. O setor tenta buscar estes valores inadimplentes, pois é neste
momento que os índices de inadimplência começam a aumentar, e como o
setor financeiro já conhece o comportamento da sua carteira de clientes,
espera-se, com este trabalho, ter subsídios necessários para conseguir
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enfrentar as consequências da pós-safra com o auxilio de uma política de
crédito e cobrança bem estruturada.
Como o setor comercial objetiva captar diariamente novos clientes, muito
destas vendas são para empresas com menos de um ano de existência de
mercado e micro-empresas que não têm muita disponibilidade de capital inicial,
ficando inadimplente muitas vezes em sua primeira compra. A maioria destes
clientes são da unidade Stationery (material escolar) na qual são adquiridas
mercadorias de pequeno porte em grande quantidade, sendo que o cliente
acaba comprando mais do que seu fluxo de caixa permite, e muitas vezes não
consegue comercializar toda a mercadoria, ficando com grande volume de
material estocado e com índice de inadimplência.
No gráfico 3, apresentam-se os resultados da empresa Alfa com o seu
DRE (Demonstração de Resultados de Exercícios), em relação à inadimplência
nos anos de 2006, 2007 e 2008. Os números apresentados são valores
expressos em milhares de Reais.
Percebe-se, através do mesmo gráfico, que houve um aumento nos
resultados do ano de 2006 para 2007 de 68,24% e uma queda de 53,24% em
comparação de 2007 para 2008.
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GRÁFICO 3 – Resultado (Lucro) x Inadimplência
É importante destacar que no ano de 2008 a inadimplência teve um
aumento muito elevado em relação aos anos de 2006 e 2007, sendo que isto
se deve ao fato de um cliente que possuía um grande atacado ter entrado em
recuperação judicial, o que resultou em falência logo no início ano de 2009.
Convém lembrar ainda que a análise e liberação foi realizada pela Diretoria
Financeira da empresa, pois a média anual de compras em valores deste
cliente era em torno de um milhão e meio de reais, excedendo e ultrapassando
a política de crédito convencional.
É importante salientar que casos especiais geralmente são analisados
pela Diretoria Financeira. Quando analisado, verificou-se que tinha um histórico
de compras na Alfa de mais de 5 anos, com valores elevados e com
pagamentos pontuais e não tinha nenhum problema econômico/financeiro.
Passados 150 dias após a análise do crédito concedido, sua situação
financeira sofreu alterações, culminando com a solicitação de recuperação
judicial, sendo que depois do ocorrido, constatou-se que foi uma estratégia a
longo prazo usada pelo cliente. A partir deste imprevisto, a empresa sentiu a
necessidade de melhorar suas premissas em relação à análise e à concessão
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de crédito. Com isso, resolveu contratar um seguro de crédito doméstico, e
hoje todos os créditos para clientes com empresa fundada há mais de dois
anos e compras acima de R$ 5.000,00 são segurados pela mesma.
Uma política de crédito bem estruturada, com parâmetros estabelecidos
compartilhadamente, com certeza influencia na inadimplência, pois se os
analistas de crédito tiverem respaldo em uma boa política, reduzem-se
bastante, as possibilidades de a empresa enfrentar novamente este tipo de
problema, pois todos estão treinados e preparados para trabalhar com a
liberação de crédito.
5 Considerações Finais
O estudo permitiu identificar que a empresa possui critérios próprios
para avaliar e conceder crédito, e estes estão sendo muito eficientes e são
apresentados no PPM (Procedimento Padrão Alfa) da organização, podendo
ser ampliados.
Observa-se, conforme citado anteriormente, que houve um momento em
que a empresa sentiu a necessidade de ampliar suas premissas, com o
objetivo de conceder crédito com maior segurança de retorno, contratando uma
seguradora de crédito doméstico. Assim, a Alfa pode ter uma maior garantia
com relação à inadimplência e ao seu fluxo de caixa.
Conseqüente a isso, percebe-se uma preocupação constante em manter
os índices de inadimplência sempre abaixo das metas previstas em orçamento,
mas cabe destacar que muitas vezes existem conflitos entre a área comercial
(vendas) e o setor financeiro (crédito), pois este retém créditos em função de
política de crédito vigente, os quais acabam sendo liberados por pressão do
setor comercial, que visando aos interesses nas metas de vendas, gerando
muitas vezes incertezas na função do analista de crédito.
Por se tratar de uma situação que não atende aos critérios exigidos pela
política de crédito atual, sugere-se que as liberações de crédito efetuadas por
pressão da área comercial, caso venham a inadimplir, sejam informadas à área
comercial, que deverá realizar a cobrança inclusive com acompanhamento dos
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pagamentos do cliente até a quitação total da dívida, pois foi responsável pela
solicitação da liberação efetuada na época da venda.
Sugere-se também que, na época da entre – safra, a empresa faça
alguma promoção de pagamentos para os clientes inadimplentes, diminuindo
juros por atraso ou até mesmo isentando-os, dependendo da situação de cada
cliente.
Uma política de crédito mais flexível pode ser um grande fator no
aumento das vendas, porém em contrapartida pode causar um aumento
significativo nos índices de inadimplência. Já com uma política de crédito mais
cautelosa, os índices podem ser melhores, porém a receita com vendas pode
ter resultados menos significativos.
6 REFERÊNCIAS
BLATT, Adriano. Cobrança e recuperação de dívidas, técnicas eestratégias: um guia prático. Salvador: Casa da Qualidade, 1996.
COFACE. Disponível em: http://www.coface.com.br. Acesso em 4 abr. 2010.
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GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5. ed. SãoPaulo: Atlas, 2007.
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GOUVEIA, Nelson. Contabilidade básica. São Paulo: Harbra, 2001.
MARCONI, Marina; LAKATOS, Eva. Técnicas de Pesquisa: Planejamento eexecução de pesquisas, amostragem e técnicas de pesquisa, e elaboração,análise interpretação de dados – 6. ed. – São Paulo: Atlas, 2006.
MATTOS, José João. Princípios Fundamentais de Contabilidade e NormasBásicas de Contabilidade. Porto Alegre: Conselho Regional de Contabilidadedo RS, 2000.
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SCHIRICKEL, Wolfgang. Análise de crédito e gerência de empréstimos. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2000.
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