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UNIVERSIDADE ANHANGUERA - UNIDERP
LUIZ ADALBERTO PHILIPPSEN JUNIOR
PERCEPÇÃO DOS ATORES SOCIAIS DA CONSTRUÇÃO CIVIL SO B O
ASPECTO AMBIENTAL DENTRO DO CONTEXTO DAS TECNOLOGIA S SOCIAIS
CAMPO GRANDE – MS
2009
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LUIZ ADALBERTO PHILIPPSEN JUNIOR
PERCEPÇÃO DOS ATORES SOCIAIS DA CONSTRUÇÃO CIVIL SO B O
ASPECTO AMBIENTAL DENTRO DO CONTEXTO DAS TECNOLOGIA S SOCIAIS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em nível de Mestrado Acadêmico em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da Universidade Anhanguera-Uniderp, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional.
Orientação:
Prof. Dr. Celso Correia de Souza
Profa. Dra. Mercedes Abid Mercante
CAMPO GRANDE – MS
2009
AGRADECIMENTOS
Bom poder dizer obrigado!
Obrigado aos meus pais que mesmo distantes fizeram-se sempre presentes. O
exemplo pessoal e profissional de vocês me trouxeram até aqui. Tenham certeza
que saberei retribuir tudo aquilo que me foi oferecido.
À Lívia, por simplesmente ser quem você é. Hoje e sempre quero estar e merecer
estar ao seu lado. Sempre.
Obrigado aos meus orientadores, em especial ao prof. Dr. Celso Correia de Souza, a
quem devo total gratidão pelo acolhimento de meu projeto de pesquisa, auxiliando-
me e contribuindo para realização dos objetivos propostos. Registro aqui minha
admiração por seu trabalho.
Aos membros das bancas de Qualificação e Defesa.
A todos os professores e colegas do Mestrado.
“Não é nos lugares onde estão as maiores forças
que se tomam as maiores decisões,
mas nos lugares onde estão os maiores problemas.”
(João Batista Vilanova Artigas)
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS ................................. .............................................. viii
LISTA DE TABELAS .................................. ............................................ ix
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................... ............................. x
1. INTRODUÇÃO GERAL ............................... ........................................... 11
2. CAPÍTULO I - TECNOLOGIA SOCIAL: A DINÂMICA DA IN OVAÇÃO
SUSTENTÁVEL ....................................... ............................................... 12
2.1.1 RESUMO ................................................................................................ 12
2.1.2 RESUMEN .............................................................................................. 12
2.1.3 ABSTRACT .......................................... .................................................. 12
2.2 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 13
2.3 REVISÃO DE LITERATURA ......................... ......................................... 14
2.3.1 TECNOLOGIA APROPRIADA: O NASCIMENTO DE UMA NOVA
ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO............................................... 15
2.3.2 TECNOLOGIA CONVENCIONAL: REFLEXÕES SOBRE O MODELO
VIGENTE ................................................................................................ 16
2.4 ENTENDENDO O PROCESSO E RELEVÂNCIA DAS
TECNOLOGIAS SOCIAIS ............................... ....................................... 17
2.5 CONCLUSÃO ..................................... .................................................... 20
2.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................... .................................. 22
3. CAPÍTULO II - PERCEPÇÃO DOS ATORES SOCIAIS DA
CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL NO CONTEXTO DA
SUSTENTABILIDADE .................. .......................................................... 24
3.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 24
3.2 REVISÃO DE LITERATURA ......................... ......................................... 26
3.2.1 A POLÍTICA HABITACIONAL NO CENTRO DAS DISCUSSÕES ......... 26
3.2.2 A RELEVÂNCIA DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO .............. 28
3.3 MATERIAL E MÉTODOS ............................ ........................................... 30
3.3.1 LOCAL DO ESTUDO .............................................................................. 31
3.3.2 MÉTODOS .............................................................................................. 31
3.4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................ ...................................... 31
3.5 CONCLUSÃO ..................................... .................................................... 37
3.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................... .................................. 38
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................ ......................................... 41
5. ANEXOS ................................................................................................. 42
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Questionário alimentado através do software Sphinks Lexia (eixo
sociedade) ........................................................................................ 32
Figura 2 Formulação esquemáticas das relações interdependentes entre os
diferentes atores sociais ................................................................... 33
viii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Conceito geral das tecnologias convencionais ................................. 19
Tabela 2 Trabalhos/propostas recebidas pela Fundação Banco do Brasil –
FBB em 2009, por grande área de atuação ..................................... 28
Tabela 3 Trabalhos/propostas certificadas pela Fundação Banco do Brasil –
FBB em 2009, por grande área de atuação ..................................... 28
Tabela 4 Percepção dos níveis de preocupação e importância dada aos
aspectos ambientais pelos atores sociais – eixo 1 (sociedade) ....... 34
Tabela 5 Impacto mensurado do fator custo nas habitações .......................... 35
Tabela 6 Solicitações recebidas para empreendimentos unifamiliares,
empresariais e/ou governamentais nos últimos 6 meses ................. 35
Tabela 7 Como as universidades e instituições de pesquisa são retratadas
nos textos jornais brasileiros ............................................................ 37
ix
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ONU Organização das Nações Unidas
IPCC Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
RTS Rede de Tecnologias Sociais
AAS Áreas ambientalmente sensíveis
SFH Sistema de Financiamento Habitacional
BNH Banco Nacional de Habitação
FBB Fundação Banco do Brasil
FNHIS Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social
C&T Ciência e Tecnologia
MS Mato Grosso do Sul
PAC Programa de Aceleramento do Crescimento
x
1. INTRODUÇÃO GERAL
O presente trabalho aborda o ambiente da construção civil no Brasil
sob diferentes enfoques. Em um primeiro momento, discutindo o papel das
tecnologias, abordando uma visão particular e em constante aprimoramento, através
do conceito das tecnologias sociais.
É inegável o papel da tecnologia na sociedade, cada vez mais inserida
no cotidiano de cada indivíduo. No entanto, o aspecto fundamental discutido nessa
pesquisa é uma nova postura de como resolver os problemas apresentados – em
especial aqueles voltados à habitação de interesse social – já que as tecnologias
convencionais, no decorrer do último século, não foram capazes de solucionar ou
mesmo minimizar os graves problemas do país, especialmente aqueles relacionados
à construção civil, a habitação popular e o contexto da sustentabilidade.
Apresentados no formato de artigos distintos, o estudo inicial, baseado
na revisão sobre as tecnologias sociais, abordando o contexto das tecnologiais
sociais e de que forma ela pode contribuir (e já vem contribuindo) para a
implementação de soluções verdadeiramente apoiadas sobre o tripé sustentável
(economicamente viáveis, socialmente justas e ambientalmente corretas). A
literatura especializada e a produção científica das universidades brasileiras já vem
contribuindo para a discussão e divulgação de novas técnicas e produtos; no
entanto, sua aplicação ainda segue restrita e pontual.
O segundo artigo apresenta, a partir da pesquisa de campo, dados
para o conhecimento e avaliação dos vínculos específicos entre cada um dos atores
sociais – eixos da pesquisa; sociedade, setores da construção civil e fornecedores.
Tal realidade, a partir de um conjunto de métodos e técnicas
analisando o papel de diferentes atores sociais envolvidos na indústria da
construção civil, é trabalhado de forma a entender como vem acontecendo a relação
entre esses atores. Separados em três grandes eixos (sociedade, escritórios/
construtoras/empreendedoras e fornecedores), foi possível analisar o conhecimento
referente à sustentabilidade na construção civil e o grau de interação entre cada um
dos eixos que compõe a cadeia produtiva e consumidora da indústria civil.
2. CAPÍTULO I
TECNOLOGIA SOCIAL: A DINÂMICA DA INOVAÇÃO SUSTENTÁV EL
TECNOLOGÍA SOCIAL: LA DINÁMICA DE LA INNOVACIÓN SOSTENTABLE
SOCIAL TECHNOLOGY: THE DYNAMICS OF SUSTAINABLE INNOVATION
2.1.1 RESUMO
O presente estudo procura discutir o papel das tecnologias sociais na
busca por um novo paradigma de desenvolvimento no Brasil. Baseado em diversas
discussões e experiências sobre o tema, o texto aborda a importância do
aprimoramento do conceito, sistematicamente em construção. Reunindo diferentes
perspectivas (muitas delas, inclusive, não absolutamente consensuais) sobre os
elementos que compõem o que atualmente se define como tecnologia social, o texto
procura ampliar o debate por novos modelos de desenvolvimento sustentável,
principalmente no ambiente urbano e, conseqüentemente, aqueles relacionados à
indústria da construção civil.
Palavras chave: tecnologias sociais, desenvolvimento sustentável, construção civil.
2.1.2 RESUMEN
Este estudio pretende analizar el papel de las tecnologías sociales en
la búsca por un nuevo paradigma de desarrollo en Brasil. Sobre la base de vários
debates y experimentos sobre el tema, el texto aborda la importancia de mejorar el
concepto, siempre en construcción. Que reúne a diferentes perspectivas (muchos de
ellos, incluyendo absolutamente ningún consenso) sobre los elementos que
conforman lo que actualmente se define como tecnología social, el texto se pretende
ampliar el debate de nuevos modelos de desarrollo sostenible, especialmente en el
ambiente urbano y, en consecuencia, los relacionados la industria de la
construcción.
Palabras clave: tecnologías sociales, desarrollo sostentable, construcción.
2.1.3 ABSTRACT
This study discuss the role of the social technologies in searching for a
new paradigm of development in Brazil. Based on several discussions and
experiments on the subject, the text brings and provides the importance of improving
the concept, nowadays still under construction. Bringing different perspectives (many
of them, including, yet with no actual consensus) on the elements that make up what
is currently defined as social technology, the present text seeks to extend debate by
new models of sustainable development, especially in the urban environment and,
consequently, those related to the environment of construction.
Keywords : social technologies, sustainable development, construction.
2.2. INTRODUÇÃO
Muito se tem falado em desenvolvimento sustentável e inclusão social
nos últimos anos, de suas premissas e também de suas necessidades imediatas,
percebidas por freqüentes fenômenos ambientais, tais como chuva ácida, efeito
estufa ou aquecimento global. Divulgado em fevereiro de 2007, o relatório da
Organização das Nações Unidas (ONU) - Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas (IPCC) - apresenta-se como um marco das questões
ambientais ao externar que “a atividade humana é a maior responsável pelo
aquecimento global” (Barros, 2007).
Desse ambiente nascem de diferentes formas modelos e estratégias,
iniciativas que possam contribuir para uma redução dos impactos ambientais
gerados pelo atual sistema de desenvolvimento e produção tecnológica. Dentre
essas iniciativas imperativas de mudança, as tecnologias sociais constituem a
ferramenta propulsora da nova metodologia de desenvolvimento econômico-social,
conforme o conceito de sustentabilidade.
Invariavelmente, dentro do modo de funcionamento do sistema
econômico atual, as tecnologias ditas como convencionais (em conseqüente
oposição à fundamentação das tecnologias sociais) demonstraram ao longo da
evolução econômico-social, uma limitada capacidade de resolver os problemas
localizados à margem dessa lógica – ao contrário; desafios para superar a pobreza e
a desigualdade de renda nunca foram tão relevantes. Nesse sentido, Buarque
(1995) chamava a atenção para o fato de que “o final do século apresenta um
quadro social mais trágico do que de cem anos antes”, quando se referia no ano de
1995 ao final do século XX. Nesse mesmo sentido Bava (2004) destacava:
As técnicas e metodologias utilizadas por esse modelo de
desenvolvimento submetem as sociedades – e seus cidadãos e
cidadãs – a uma combinação perversa da aceleração do processo de
acumulação de capital com o aumento do desemprego, da pobreza,
da desigualdade, da exclusão social, com exploração e degradação
sem limites dos recursos ambientais. (Bava, 2004).
O lado perverso da chamada tecnologia convencional, tal qual é
conhecida, é discutido aqui sob a ótica da necessidade de uma nova leitura dos
reais interesses inerentes ao desenvolvimento tecnológico de determinado país ou
região, já que, é indiscutível que “o saber tecnológico não é apenas condição de
desenvolvimento dos sistemas de organização social, mas também um dos grandes
instrumentos de exercício do poder” (Comparato, 2006).
De maneira geral, os processos de desenvolvimento oriundos dessas
tecnologias acabaram por se distanciar das necessidades da população, pois pouco
contribuíram de forma direta nas populações à margem do processo de evolução e
estruturação do modelo econômico capitalista, fundamentado no liberalismo
econômico e mais atualmente, da chamada globalização.
Diante desse cenário, é necessária uma discussão mais profunda –
tendo como ponto de fuga os impactos ambientais – sobre o papel das tecnologias,
sejam convencionais, apropriadas ou sociais -, e até que ponto estas podem auxiliar
no processo de solução (ou ao menos de mitigação) das desigualdades sociais do
país.
2.3 REVISÃO DE LITERATURA
Embora a discussão das tecnologias sociais ainda ocorra de forma
bastante tímida na sociedade, a verdade é que o grande número de práticas
desenvolvidas sob esse enfoque, em diferentes regiões brasileiras, consolida, ainda
que de forma "não-oficial", sua prática e relevância atual.
Como o próprio nome induz, as tecnologias sociais consistem em um
desenvolvimento tecnológico aliado a práticas sociais. Nessa sistemática de
conceituação, o conhecimento acadêmico alia-se aos saberes populares, gerando
uma ferramenta única e necessária dentro da realidade local. Outra característica
fundamental é ser formulada e idealizada “de dentro para fora”; ou seja, trabalha-se
a partir de um problema inerente de determinada população, observando suas
características endêmicas com respeito à cultura local.
Disponível em sítio da Rede de Tecnologias Sociais - projeto lançado
no ano de 2004, em ação conjunta da Fundação Banco do Brasil e demais
instituições atuantes sobre o tema - as tecnologias sociais são definidas como
“produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com
a comunidade e que represente efetivas soluções de transformação social” (RTS,
2008).
Dentre as inúmeras concepções sobre tecnologia social encontradas,
Worcman (2007) destaca o fato de que “o local representado pela comunidade
organizada deixou de ser o objeto passivo de políticas públicas para se tornar
agente de soluções e não somente gerador de demandas”, residindo aí uma das
características com maior poder de transformação do objeto do estudo.
2.3.1 Tecnologia apropriada: o nascimento de uma no va estratégia de
desenvolvimento
Embora não oficialmente batizada à época, tem-se como o marco
inicial das ditas tecnologias sociais a charkha. Esse objeto, assemelhado a uma roca
de fiar, tornou-se, na Índia do final do século XIX, um importante instrumento de
desenvolvimento social, em um país marcado pelo sistema de castas, e que resulta
na imobilidade social e econômica da população. Desenvolvida para uso das
populações rurais do país, de forma a fomentar a produção própria, contra a invasão
de produtos manufaturados vindos do então Império Britânico, a charkha, despertou
a consciência político-social da população das vilas e dos vilarejos do interior da
Índia, sobre a necessidade de autodeterminação do povo e da implementação de
uma indústria nativa hindu, que propiciasse não apenas a independência do país em
relação à Inglaterra, mas também o autodesenvolvimento de sua população
marginalizada (Dagnino, Brandão e Novaes, 2004).
Ghandi, que entre 1924 e 1927, dedicou-se a construir programas de
desenvolvimento social e independência político-econômica, define a sistemática de
atuação como "produção pelas massas, não produção em massa" (Dagnino,
Brandão e Novaes, 2004).
Embora formulado a partir dos fundamentos da tecnologia social,
ressalta-se que muitos autores definem esse princípio embrionário da revolução
tecnológica como tecnologia apropriada, termo que ganhou força nas décadas de
1970 e 1980, a partir da publicação em 1973 do livro Small is beautiful: economics
as if people mattered, causando grande impacto nas discussões acadêmicas
(Dagnino, Brandão e Novaes, 2004; Abiko, 2003).
Nesse mesmo período, um grupo de estudiosos fundou o Clube de
Roma, um marco no debate mundial relacionado ao meio ambiente e à inclusão
social. O resultado desses estudos deu-se na forma do documento The limits to
growth, de 1972, o qual apontava para a necessidade de formulação de políticas
sustentáveis, em prol da redução do consumo, intimamente ligado à degradação
ambiental e expansão da fronteira urbana (Agenda 21, 2007).
Esses movimentos, embora não delineados exatamente da forma como
conhecida hoje, tornaram-se extremamente importantes, sob o ponto de vista da
inovação, ou mesmo criação da teoria do desenvolvimento econômico sustentável,
que se consolida na década de 1980.
Pela ruptura com o sistema concebido de desenvolvimento, pautado
nas tecnologias convencionais, busca-se uma maior pluralidade do conhecimento
científico, invertendo a cadeira linear, em que "a pesquisa científica seguiria a
tecnológica, o desenvolvimento econômico e depois o social" (Dagnino, Brandão e
Novaes, 2004).
2.3.2 Tecnologia convencional: reflexões sobre o mo delo vigente
A dinâmica do desenvolvimento mundial ao longo dos séculos, nos
discursos de seus aparelhos ideológicos, invariavelmente pautou-se pelo binômio
acumulação de riqueza e domínio da informação, onde uma não existe sem a outra.
Desta forma, segundo Seara e Coimbra (1986), sustenta-se a manutenção do status
quo da sociedade dominante, exigindo tal procedimento, muitas vezes de
apropriação de idéias, nos diferentes setores da sociedade. O resultado é que
grande parte da população está marginalizada, substancialmente nas grandes áreas
urbanas, enquanto uma minoria (principais usuários das tecnologias ditas
convencionais) mantém e autopromovem seus valores como universais e
indiscutíveis, vinculados à ideologia da classe economicamente dominante.
Quase que instintivamente, quando o Estado se mostra ineficaz ou
inadequado na veiculação de sua ideologia – e aqui se refere ao conceito de
sustentabilidade e promoção de novas tecnologias ambientalmente corretas – as
ações desenvolvidas por essa minoria detentora do “saber tecnológico”, revestida
inclusive de aparência não intencional, apelam para valores tradicionais, diretamente
identificados com a hierarquia e manutenção do status quo, já citado (Seara e
Coimbra, 1986).
Embora a adoção, quase tentadora, de aceitação indiferenciadamente
de toda a produção dita popular, o que segundo Seara e Coimbra (1986),
“constituiria populismo ingênuo e inibidor das inevitáveis adaptações à
movimentação social”, se apresenta como o caminho mais fácil, é impossível recusar
as inovações tecnológicas e suas variáveis como parte fundamental do
aprimoramento do saber humano. Paralelamente, destaca Seara e Coimbra (1986),
a atuação do poder vigente, desta vez bastante consciente, de “folclorização das
manifestações culturais populares”. Nesse mesmo sentido, Abiko (2003) chama a
atenção para o fato de que embora passados quase quarenta anos da introdução
dos novos conceitos de desenvolvimento aqui discutidos, neste caso sobretudo na
construção civil, estas ainda continuam pouco ou quase não divulgadas, utilizadas
apenas por indivíduos e/ou instituições tidas como visionárias ou alternativas.
2.4. ENTENDENDO O PROCESSO E RELEVÂNCIA DAS TECNOLO GIAS
SOCIAIS
A interferência do homem sobre o meio ambiente, desconsiderando-se
aqui, seus aspectos econômicos, não é exatamente atual. Mesmo entre as
civilizações mais antigas podia-se encontrar também a degradação ambiental,
embora em níveis bastante reduzidos.
Portanto, assim que os povos encerraram sua condição nômade,
iniciaram o convívio predatório em seus ecossistemas. Entretanto, o ponto-chave da
relação homem:meio ambiente, ao se adentrar nas grandes e muitas vezes
irreparáveis degradações ao meio ambiente, dá-se exatamente no aprimoramento
tecnológico humano. A partir de meados do século XVIII, quando se atingiu um alto
nível tecnológico, deu-se início às intervenções mais radicais nos ambientes
naturais. O momento em que todos os resíduos produzidos já não se fazem capazes
de absorção pela natureza é o ponto em que a relação homem e natureza se torna
exploratória e insustentável, dentro dos mais diferentes conceitos.
Essa relação assume, talvez, a forma mais proeminente, quando se
analisa nossa inter-relação com o meio, principalmente nos grandes centros
urbanos. Pesquisas indicam que cerca de 85% da população mundial está vivendo
nas cidades (Mello, 2007) – a população mundial que já atingiu, neste início de
século XXI, a incrível marca de 6 bilhões de pessoas. Assim, o ambiente da indústria
da construção civil, por exemplo, torna-se um campo fértil para o desenvolvimento,
aplicação e replicação das tecnologias sociais, via materiais alternativos de
construção. Afinal, segundo Mello (2007), como é possível pensar em
desenvolvimento sustentável quando a maioria da população do Brasil e do mundo
sequer possui um lugar digno para viver?
Mascaró (1998) destaca a importância e ao mesmo tempo o pouco
conhecimento a respeito das relações entre as decisões de projeto e seus custos.
Desta forma, determinadas escolhas projetuais (como os materiais utilizados)
influenciam diretamente no aspecto ambiental, em custo para a cidade, em sua
constante e perversa utilização das fontes de matéria-prima. Nesse sentido, Abiko
(2003) tenta explicar tal distanciamento e desconhecimento por meio da imagem
equivocada de que essas tecnologias são mais simples, e, portanto, menos
confiáveis do que as tecnologias empregadas na construção civil.
As tecnologias sociais, como já citado, apresentam-se como
ferramenta propulsora de uma nova metodologia de desenvolvimento; realizado pelo
homem e voltado ao homem, dentro do conceito de sustentabilidade. Destaca-se
que, nesse sentido, o termo desenvolvimento vai muito além do simples crescimento
econômico, e que dentro do conceito de sustentabilidade estão incutidos os
adjetivos “humano” e “social”.
Dagnino (2006), a partir da indagação sobre a necessidade de se
conceber uma tecnologia social, em detrimento da tecnologia convencional, e em
que se sentido elas se fazem opostas e onde se complementam, desenvolveu as
seguintes sínteses, conforme a Tabela 1.
Tabela 1 – Conceito geral das tecnologias convencionais
CONCEITUANDO AS TECNOLOGIAS CONVENCIONAIS
Segmentada: não permite controle do
produtor direto;
Maximiza a produtividade em
relação à mão-de-obra ocupada;
Alienante: não utiliza a potencialidade do
produtor direto;
Possui padrões orientados pelo
mercado externo de alta renda;
Hierarquizada: demanda a figura do
proprietário, do chefe, etc.
Monopolizada pelas grandes
empresas dos países ricos.
Fonte: Dagnino, 2006.
Além disso, o autor destaca quanto às tecnologias convencionais:
a) mais poupadora de mão-de-obra do que seria conveniente;
b) possui escalas ótimas de produção sempre crescentes;
c) ambientalmente insustentável;
d) intensiva utilização de insumos sintéticos e produzidos por
grandes empresas;
e) sua cadência de produção é dada pelas máquinas;
f) possui controles coercitivos que diminuem a produtividade.
Embora, mesmo que por exclusão ou negação, a partir das
características atribuídas à tecnologia convencional, a tecnologia social já tenha
sido esplanada, Dagnino (2004) aborda outras características intrínsecas
fundamentais, que a distinguem de outras formas de produção científica, por
exemplo:
a) adaptada a pequeno tamanho físico e financeiro;
b) não discriminatória (patrão x empregado);
c) orientada para o mercado interno de massa;
d) libertadora do potencial e da criatividade do produtor direto;
e) capaz de viabilizar economicamente os empreendimentos
autogestionários e as pequenas empresas.
Portanto, parte-se de dois princípios básicos: primeiro, a tecnologia
convencional, essencialmente ligada ao setor privado, não é adequada por não
conter desde sua formulação, a inclusão social e a preservação do meio ambiente, e
segundo, a partir da percepção do papel realizado pelas instituições públicas
envolvidas com o conhecimento – tanto científico como tecnológico – elas não
parecem plenamente capacitadas para desenvolver um conhecimento tecnológico
que viabilize a inclusão social e tornar auto-sustentáveis os empreendimentos
autogestionários que ela deverá alavancar (Dagnino, 2004).
Como abordado, Abiko (2003) questiona o papel das universidades no
processo de pesquisa e desenvolvimento de novos materiais na construção civil,
assim como Castro (1999) e Viotti (2001), além de outros. Bursztyn (2001) destaca
que enquanto o final do século XIX era marcado pela forte crença na capacidade de
resolução dos problemas pela ciência e tecnologia, esta, cem anos depois, ao final
do século XX era observada com desencanto e consciência de uma necessidade de
precaução.
2.5. CONCLUSÃO
O Brasil, ao longo do século passado, observou uma mudança radical
em sua distribuição sócio-populacional. De um país essencialmente rural ao findar
do século XIX, acordou-se no século XXI predominantemente urbano; muito embora
este despertar, principalmente em relação às questões sócioambientais nas cidades,
ainda seja bastante sonolento. Sendo assim, novas soluções precisam ser
encontradas.
As tecnologias sociais surgem como uma nova proposta de
desenvolvimento, pautado na fundamentação da sustentabilidade. Porém, o que a
situa nessa aparente marginalidade das políticas públicas e de investimentos
privados advém do fato de que muitos as conhecem, mas poucos sabem o que são;
apesar de estarem espalhadas por todo o lugar (servem de exemplos clássicos o
soro caseiro e as cisternas de placas pré-moldadas no sertão nordestino brasileiro).
Outro fator preponderante deriva da simplicidade, muitas vezes inerente à atividade,
dificultando seu status como tecnologia. Para Haddad et al. (1975):
“[...] o impulso dado à promoção industrial tem privilegiado,
implicitamente, a meta do crescimento da renda per capita [...] sob a
alegação de que a sua expansão duradoura conduzirá, mais cedo ou
mais tarde, ao atendimento de outras metas que estejam, no
presente, relegadas a um segundo plano, tais como eliminação dos
níveis de pobreza absoluta em áreas urbanas e rurais, melhor
distribuição de renda, redução dos níveis das diferentes formas de
desemprego, entre outras.” (Haddad et al, 1975).
A explosão demográfica e a nova realidade urbana, já citada (também
observada em regiões ainda não predominantemente urbanizadas do país),
justificariam a necessidade imediata de implantação de uma política sustentável,
seja na área econômica, saúde, educação ou habitação, de médio e longo prazo, de
fomento de atividades que traduzam as premissas básicas de sustentabilidade:
atividades ambientalmente corretas, socialmente justas e economicamente viáveis.
Por fim, salienta-se que a tecnologia convencional e a social não são
necessariamente aspectos contraditórios ou antagônicos; até mesmo porque, em
qualquer campo de trabalho que se olhe, é inegável a presença dos avanços
creditados à ciência. Entretanto, o que se deve abordar é justamente o papel dessa
ciência e tecnologia, inclusive seu aspecto neutral em relação aos impactos (sociais
e ambientais) causados justamente pelo seu avanço, sendo inclusive um dos muitos
instrumentos de dominação e poder da sociedade capitalista.
Repensar o papel e a função das tecnologias no cenário atual,
principalmente em face do agravamento das questões sociais e ambientais, é o
ponto de partida para a compreensão das tecnologias sociais e sua relevância.
Nesse sentido, pretende-se discutir o papel dos agentes de desenvolvimento,
governamentais ou da sociedade civil, inclusive sobre o papel das universidades no
Brasil, já que atualmente se discute o desenvolvimento de pesquisas acadêmicas
ligadas diretamente ao social e não apenas a pequenos nichos da sociedade
brasileira.
Se a fundamentação das tecnologias sociais está tanto em produtos,
técnicas ou metodologias desenvolvidas com a comunidade, e portanto, passíveis
de serem reaplicadas, estas, de fato, representam um conjunto de soluções efetivas
de transformação social. Desta forma, tem-se ainda um grande e belo caminho a
percorrer. Afinal, olhando ao redor, tudo pode vir a ser uma tecnologia social. Basta
que a sociedade repense o papel da ciência e tecnologia no atual contexto.
2.6 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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sonhos, transformar realidades. 1 ed. São Paulo: Museu da Pessoa. 160 p.
3. CAPÍTULO II
PERCEPÇÃO DOS ATORES SOCIAIS DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL NO
CONTEXTO DA SUTENTABILIDADE
3.1 INTRODUÇÃO
O debate atual, em diversos setores econômicos, sobre os aspectos
ambientais e sustentáveis leva-nos a alguns questionamentos: qual a situação da
construção civil no Brasil sob o ponto de vista tecnológico? A princípio, quais são os
paradigmas que fundamentam e justificam as técnicas e materiais atualmente
empregados? E como os diferentes atores do processo identificam tais aspectos no
contexto da sustentabilidade?
A questão da moradia cada vez mais ocupa papel relevante no cenário
internacional. Problemas habitacionais não mais situam-se apenas nas classes mais
pobres ou extremamente pobres; o déficit habitacional mundial cresce a medida que
os grandes centros, especialmente dos paises situados no hemisfério sul do planeta
e em desenvolvimento, atraem cada vez mais pessoas.
No Brasil a questão da habitação de interesse social, embora já venha
ocupando espaço na pauta das discussões nacionais, encontram-se em um estágio
inicial, fruto de um processo tardio de projetos voltados ao planejamento das cidades
e, especialmente, no trato da população de menor renda. Dados da UN-HABITAT
(programa das Nações Unidas para estudo e discussão dos assentamentos
humanos) apontam que no ano de 2030, 91% da população estará nas cidades;
enquanto que um estudo do mesmo órgão realizado em 2005 apontava que 28,90%
da população habitava em favelas (1).
O aquecido mercado imobiliário (resultado da atual situação econômica
do país e maior oferta e facilidade ao crédito imobiliário, tanto de instituições
financeiras públicas como privadas) e o alto poder aquisitivo de parcela da
população brasileira, aliado ao déficit habitacional existente, força a busca por novas
e coerentes alternativas que possam atender a grande parcela da população ainda
sem acesso a casa própria, no entanto, sem relegar a um segundo plano os
aspectos ambientais inerentes e fundamentais para grandes projetos habitacionais.
Embora a discussão sobre as tecnologias sociais ainda ocorra de
forma bastante tímida na sociedade (2), o grande número de práticas desenvolvidas
sob esse enfoque, em diferentes regiões brasileiras consolidam, ainda que de forma
"não-oficial", sua prática e relevância.
Como o próprio nome induz, as tecnologias sociais consistem,
fundamentalmente, no desenvolvimento tecnológico aliado às práticas sociais atuais.
Nessa sistemática de conceituação, o conhecimento acadêmico (universidades –
metodologia científica e explícita) alia-se ao conhecimento popular (saberes
populares – metodologia empírica e tácita), gerando uma ferramenta formulada e
idealizada “de dentro para fora”; ou seja, trabalhada a partir de um problema
inerente de determinada população, observando suas características endêmicas e
respeito à cultura e diversidade local.
Diferentes argumentos tentam diminuir, e muitas vezes invalidar o
potencial construtivo dos materiais ditos alternativos. Desta forma, confunde-se o
campo da arquitetura e das engenharias com um conceito de tecnologia originária
no século XIX onde toda realização técnica deveria ser precedida de aparato
cientifico – estabelecendo, com isso, o imaginário do que vem a ser tecnologia (3);
inclusive na habitação de interesse social no Brasil.
Dentro desse universo, os materiais alternativos, sob o enfoque das
tecnologias sociais, são o ponto de partida para uma nova realidade das políticas
públicas relacionadas à construção civil, sendo vital o papel a ser exercido pelas
universidades brasileiras (privadas, fundações e fundamentalmente as públicas)
nesse contexto.
Em um país como o Brasil, onde o tamanho dos problemas sociais a
resolver é proporcional ao seu espaço territorial, repensar os processos construtivos
e seus atores é uma parte fundamental do início da construção de uma nova
sociedade. A existência de problemas relacionados ao déficit habitacional é uma
realidade que ainda precisa ser pensada, não apenas pelo poder publico, mas por
todos os atores sociais que gravitam em seu entorno.
Desta forma a discussão da atuação profissional dos diversos
intervenientes da construção civil e por conseqüência, seus materiais e métodos
empregados, passa necessariamente por uma nova visão dos usos e formas que as
tecnologias existentes são empregadas em prol da minimização dos impactos
inerentes do processo, assim como um novo paradigma de sustentabilidade dentro
da construção civil.
É objetivo geral desse estudo analisar aspectos alternativos para o
atual sistema construtivo-habitacional, através da revisão de literatura sobre o tema
(em especial, o conceito fundamental das tecnologias sociais, aplicadas à
construção civil).
Em relação aos objetivos específicos pretende-se conhecer a
percepção dos atores sociais envolvidos no processo construtivo, analisando o grau
de conhecimento, receptividade, demanda e capacidade técnica-operacional para
desenvolvimento de projetos focados na sustentabilidade.
3.2 REVISÃO DE LITERATURA
3.2.1 A política habitacional no centro das discuss ões
A Constituição Brasileira de 1988 consolidou, em seus artigos 182 e
183, as diretrizes gerais da política urbana nacional, dos quais, necessariamente
desdobraram-se as demais leis necessárias para o ordenamento das cidades.
O processo de ocupação espacial brasileiro deu-se, desde o período
colonial, de forma desordenada e equivocada. Segundo Tangari et al (4) (2009):
Na sociedade brasileira os conflitos existentes para conquistar a casa
própria datam do século XIX, com a busca pelos escravos libertos e
posteriormente os imigrantes. Porém como pouco foi feito para essa nova
população que foi trazida e crescia no Brasil. Começavam a aparecer as
primeiras ocupações em Áreas Ambientalmente Sensíveis – AAS, como
morros, beira de córregos, rios etc.
Principalmente após a década de 1960, ocorreu no Brasil a era das
grandes intervenções urbanas em um país que iniciava seu processo de
industrialização, e com ele, o êxodo rural. Esse período foi caracterizado pela
proliferação das unidades habitacionais de massa, desprovidas de qualquer
preocupação urbanística e ambiental, através da criação do Sistema de
Financiamento Habitacional – SFH e o Banco Nacional de Habitação – BNH. Essas
habitações, produzidas no sistema padrão e tradicional da construção civil, além de
não conseguirem suprir o déficit de moradias existentes, foram, invariavelmente,
localizadas em áreas desprovidas de equipamentos urbanos, serviços e
infraestrutura, agravando ainda mais problemas já existentes das médias e grandes
cidades.
A Lei n.° 10.257 – conhecida como Estatuto das Cida des, aprovada em
10 de julho de 2001 e publicada no dia seguinte no Diário Oficial da União, constitui-
se na linha mestra para condução dos assuntos urbanos pelo Poder Público. Mais
do que uma lei, o Estatuto da Cidade trouxe ferramentas que vão muito além da
simples normatização do uso do solo – é um xeque (quiçá um xeque-mate quando
corretamente utilizado) na dominação do ambiente urbano pelas classes dominantes
que até então ditavam quando, como e onde as cidades se desenvolveriam (5).
No ano de 2003, impulsionado pela promulgação da Lei n.° 10.257 –
que tramitou no Congresso Nacional por mais de dez anos, o Ministério das Cidades
foi criado, contribuindo para a discussão das cidades e dos programas de habitação
de interesse social (6). Como conseqüência, consolidando o disposto em nossa
Carta Magna, é aprovada a Lei n.° 11.977, de julho de 2009, que dispõe sobre o
Programa Minha Casa, Minha Vida – e a regularização fundiária de assentamentos
localizados em áreas urbanas (7).
Entretanto, as recentes conquistas relacionadas ao ambiente
construído aquém da real necessidade, principalmente na sociedade civil e
empresas privadas.
O Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social serve como
parâmetro: a premiação que acontece a cada dois anos, procura identificar,
certificar, premiar e difundir produtos, técnicas ou metodologias que se enquadrem
no conceito de tecnologia social, visando fundamentalmente estratégias para
soluções sociais nas mais diversas áreas, como por exemplo: alimentação,
educação, energia, habitação, meio ambiente, recursos hídricos, renda e saúde.
A Tabela 2 aponta para um diagnóstico sobre a situação da demanda
observada em relação à habitação, em especial a de interesse social, foco das
tecnologias sociais.
Tabela 2 – Trabalhos/propostas recebidas pela Fundação Banco do Brasil – FBB em 2009, por grande área de atuação
Fonte: www.tecnologiasocial.org.br
Considerando apenas as alternativas certificadas pela FBB – Tabela 3,
independente do método utilizado (8), constata-se que em relação às demais áreas
do conhecimento, especialmente vinculadas à sustentabilidade, a habitação, e por
conseqüência a indústria da construção civil, seguem ausentes nesse processo de
discussão, com resultados práticos ainda incipientes.
Tabela 3 – Trabalhos/propostas certificadas pela Fundação Banco do Brasil – FBB em 2009, por grande área de atuação
Fonte: www.tecnologiasocial.org.br
Embora avanços tenham sido observados nos últimos anos, a
construção civil no Brasil ainda carece de uma “cultura tecnológica consolidada para
o desenvolvimento de novos produtos” (9), sem os quais, para a construção civil,
não serão conquistados e principalmente implementados processos e métodos mais
simples, eficientes e econômicos voltados para a sustentabilidade.
3.2.2 A relevância da informação e do conhecimento
TEMA Quantidade Educação 201 Renda 91 Meio Ambiente 83 Saúde 79 Alimentação 38 Água 46 Habitação 22 Energia 11 Outros 124 TOTAL 695
TEMA Quantidade Educação 39 Renda 20 Meio Ambiente 16 Saúde 15 Alimentação 06 Água 14 Habitação 4 Energia - TOTAL 114
Mahfuz (10) há algum tempo vem destacando a crise disciplinar e de
qualidade por que passa a profissão do arquiteto e urbanista. No entanto, faz-se
necessário relembrar que tal crise não é necessariamente recente, fruto apenas da
atual circunstância – Le Corbusier, no início do século XX, já alertava quanto à
“arquitetura agonizante” (11).
Em sentido complementar Castro (12) afirma que "a construção de
edificações no país encontra-se dentro do paradigma tecnológico dos sistemas
estrutura-vedação, ele se repete em construções para vários níveis de renda,
associado à organização manufatureira do trabalho por etapas sucessivas na
agregação e transformação de produtos no canteiro".
Paralelamente, todos os anos nossas universidades e programas de
pós-graduação produzem um número expressivo de dissertações e teses
acadêmicas focando os materiais ditos alternativos, reutilização e transformação dos
resíduos da construção civil. Porém, mesmo sendo a construção civil um ambiente
extremamente propício à produção e absorção de novas tecnologias, ela segue
refém de uma produção convencional, com altos índices de desperdício e geradora
de sobras e entulhos.
Aplicado à área das engenharias, temos como exemplo extremamente
racional e ambientalmente viável as cisternas do semi-árido nordestino (um dos
exemplos mais contundentes sobre o conceito das tecnologias sociais). Da mesma
forma, outras técnicas e materiais relacionados à construção civil também possuem
grande potencial, tais como: o solo cimento, o bambu, argamassas armadas,
produção de cimentos de escória, fibras vegetais para reforço de compostos
cimentícios, dentro outros. No entanto, seguem restritas às prateleiras das
bibliotecas universitárias sob forma de monografias de graduação, dissertações de
mestrado ou teses de doutorado e, muito esporadicamente em poucas e pequenas
propriedades rurais (13).
Dentre as inúmeras concepções sobre tecnologia social, Worcman (14)
destaca o fato de que “o local representado pela comunidade organizada deixou de
ser o objeto passivo de políticas públicas para se tornar agente de soluções e não
somente gerador de demandas”, residindo aí uma das características com maior
poder de transformação do objeto do estudo: as tecnologias sociais inseridas na
construção civil.
Inegável que qualquer grande alteração social passa invariavelmente,
em diferentes escalas, pela atuação do poder público. Nesse aspecto, o Brasil
possui longa trajetória percorrida em relação às questões relacionadas à habitação
urbana de interesse social; do extinto Banco Nacional da Habitação/BNH ao novo
Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social /FNHIS (15) sem, contudo, efetivar
com eficiência e eficácia tais abordagens (16).
As tecnologias sociais, e conseqüentemente os materiais alternativos,
dentro desse universo constituem-se em uma poderosa ferramenta de inclusão
social e agregação de novas tecnologias na construção civil sem precedentes.
No entanto, invariavelmente, o poder público ignora tais ferramentas -
em especial no setor da construção civil e da chamada habitação de interesse social.
Dessa mesma forma, o conhecimento produzido dentro das universidades não
consegue ecoar muito além dos burgos em que encontram-se inseridas, seja por
simples comodidade ou ausência de oportunidades e de uma política sólida de C&T
no Brasil.
Embora advindos de meios não acadêmicos, com certa freqüência
vincula-se a idéia de que não há nada que substitua os materiais atualmente
empregados na construção civil brasileira. Então, nosso sistema construtivo mantém
o mesmo paradigma; a mesma “zona de conforto” desde o embrião BNH. Mudam-se
os nomes das estratégias relacionadas à habitação de interesse social e seguem-se
as mesmas soluções construtivas.
Em outra frente, segue-se o discurso do ambientalmente correto, através
de uma falsa e não condizente mecanização dos processos e das habitações, como
se tais ferramentas e aparatos tecnológicos estivessem à disposição de maneira
acessível e massificada no país (17).
O conceito de tecnologia gerado no Brasil foi o de uma ciência exclusiva
(e muitas vezes intocável) relacionada apenas ao setor industrial, como o
automotivo, por exemplo. Terminologias usais como “tecnologia de ponta” ou “alta
tecnologia” acabaram por mistificar a produção de C&T no país. Existiria, por
analogia a essa ciência convencional, uma tecnologia “rombuda” ou mesmo “baixa
tecnologia”?
3.3 MATERIAL E MÉTODOS
3.3.1 Local do Estudo
Para realização do estudo foi escolhido o município de Campo Grande,
capital do estado de Mato Grosso do Sul. Campo Grande, assim como outros
municípios de médio porte do país, vem apresentando um significativo incremento
populacional nos últimos anos. No entanto, é importante salientar que a relevância
do presente estudo não concentra-se necessariamente em seu local, e sim, em seu
objeto. Desta forma, tal levantamento poderia (e pode) ocorrer em qualquer outro
município do país sem, contudo, diminuir sua relevância.
O perfil construtivo e de identidade arquitetônica de Campo Grande-MS
tampouco difere das cidades situadas dentro da mesma faixa populacional em que
hoje encontra-se (em geral, municípios que ainda não atingiram seu primeiro milhão
de habitantes). No momento observa-se dentro de seu contexto urbano o forte
incremento da necessidade de habitação, em especial de interessem social, junto a
grande pressão do mercado imobiliário gerando a valorização dos lotes urbanos
dotados de infraestrutura mínima, resultando no aporte de grandes investimentos,
sejam através do poder público (via políticas habitacionais advindas do Programa de
Aceleramento do Crescimento – PAC) bem como de construtoras nacionais que
buscam expandir seus mercados.
3.3.2 Métodos
Para atender o aspecto fundamental do presente trabalho, buscou-se
através de um conjunto de métodos e técnicas, ferramentas necessárias para um
resultado satisfatório para o objeto proposto.
O estudo, buscando responder alguns dos questionamentos iniciais,
caracteriza-se fundamentalmente por uma pesquisa descritiva em que, em um
primeiro momento, apresenta uma ampla revisão sobre conceitos fundamentais aos
quais estão vinculadas as tecnologias sociais dentro da construção civil. Entender o
processo de conceituação e formulação dessas tecnologias, embora tema bastante
recente, faz-se necessário para que possamos, dentro da construção civil, atingir
níveis satisfatórios de conservação do meio ambiente e recursos naturais. Desta
maneira, entender a atuação dos diferentes atores sociais torna-se um processo
inerente para resolução de alguns questionamentos inicialmente levantados.
Mais do que uma análise quanti-qualitativa, buscou-se, através da
percepção da população e dos diferentes atores sociais vinculados à construção
civil, conclusões a respeito do atual estágio e conhecimento sobre as tecnologias
sociais e seu potencial de aplicabilidade. Os diferentes eixos de pesquisa
possibilitaram analisar a situação atual do conceito das tecnologias sociais – ainda
em construção. Foi utilizada a inferência estatística - amostragem aleatória e
representativa – com variável quantitativa (18).
Os dados coletados foram analisados através do software Sphinx –
Léxica, Figura 1 (19), e complementados no Excel – Microsoft Office.
Figura 1 – Questionário alimentado através do software Sphinx Léxica (eixo sociedade).
O questionário, embora abrangente, foi limitado em razão da versão
Sphinks Léxica DEMO utilizada e disponibilizada pela empresa responsável no Brasil
por sua comercialização, sem perda da relevância estatística buscada pela
pesquisa.
3.4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através do presente estudo, com a discussão do papel da construção
civil na busca por estratégias voltadas para preservação ambiental, buscou-se
compreender o papel dos diferentes atores sociais (consumidores, fornecedores,
comunidade acadêmica e poder publico) dentro desse processo e a ampliação dos
debates sobre o conceito das tecnologias sociais. Isso possibilita a formulação de
uma nova arquitetura social, conduzida sob conhecimentos tácitos e empíricos –
sem a imagem distorcida sobre o que é C&T (20) ou a folclorização das
manifestações culturais populares (21).
Invariavelmente, a escolha por determinada alternativa construtiva é
imposta pelo mercado à população, que mesmo sem saber, acaba validando-a como
a única forma de habitar.
Da mesma forma, as universidades, por sua tímida atuação na
construção de soluções para os problemas sociais, seguem refém do tradicional
modelo de C&T – embora possuam papel crucial na solução de grande parte destes
problemas sociais – através de investimento nos projetos de extensão universitária,
estimulo ao debate e à inovação.
Figura 2 – Formulação esquemáticas das relações interdependentes entre os diferentes atores sociais – eixos Fonte: (SANTOS, 2007)
A compreensão dos motivos pelos quais essas alternativas
construtivas são preteridas em detrimento dos atuais métodos vigentes serve como
ponto de partida para formulação de novas estratégias, tanto do ponto de vista
mercadológico como tecnológico.
Atualmente, grande parte da população possui conhecimento e
preocupação sobre os aspectos ambientais que nos cercam. Desta forma,
importante destacar que nesse sentido, pouco importa o nome específico que
adjetiva cada tecnologia ou processo; pois, a partir desse ponto de partida, deu-se
inicio ao processo de conhecimento dos atores sociais envolvidos.
Divididos em três eixos fundamentais (sociedade, escritórios/
construtoras/empreendedoras e fornecedores), buscou-se a compreensão de como
ocorre (ou, se fato ocorre) a integração destas instâncias participativas, e de que
forma, cada qual insere-se em um macro contexto.
Independente da faixa etária (sendo pouco maior a aceitação por parte
da faixa até 30 anos), a população em geral concorda e requer projetos, em especial
os habitacionais unifamiliares voltados à sustentabilidade ou ao menos, que
contemplem certos aspectos a ela relacionados, conforme apontado na Tabela 4.
Tabela 4 – Percepção dos níveis de preocupação e importância dada aos aspectos ambientais pelos atores sociais – eixo 1 (Sociedade)
Dentro desse conceito, uma faixa bastante significativa em termos
quantitativos (para a respectiva pesquisa, aquelas com ganhos não tão elevados,
porém distantes da faixa compreendida entre 1 e 4 salários mínimos), é a que
consideravelmente preocupa-se com suas habitações e como elas podem tornar-se
ambientalmente corretas.
Em termos gerais os atores sociais – eixo comunidade – quando
questionados sobre a relação custo/sustentabilidade mostram-se fortemente
inclinados por materiais e métodos ditos alternativos de construção em detrimentos
dos atualmente empregados.
Notório e justificável citar que à medida que o gráfico
custo/sustentabilidade mostra-se tendencioso a um incremento do valor para
obtenção de construções sustentáveis o interesse dos usuários reduz fortemente,
independente das faixas de renda familiar avaliada, apresentado na Tabela 5.
DIMENSÃO DA PREOCUPAÇÃO AMBIENTAL (%) Mínima 11% Mínima/Média 18% Média 28% Alta 43%
Tabela 5 – Impacto mensurado do fator custo nas habitações
Um aspecto interessante a ser destacado nesse contexto é que,
apesar de haver grande interesse da população por habitações ambientalmente
corretas (71%), o mesmo não ocorre quando atribui-se um custo a mais por essa
alternativa (22%).
Traduze-se nesse aspecto, um dos fatores fundamentais das
tecnologias sociais, em especial, aquelas inseridas no ambiente da construção civil.
Neste aspecto, as universidades possuem papel de extrema importância, pois são
em suas incubadoras tecnológicas e nos projetos de extensão que esses custos
podem ser mensurados. Afinal, a política de C&T do país volta-se essencialmente às
universidades e centros tecnológicos, sendo a sociedade civil/empresas, quando
muito, recebedoras dos processos tecnológicos advindos dos centros universitários.
Quando indagados os setores da construção (escritórios, construtoras
e empreendedoras – eixo 2) esses parecem, de acordo com os dados coletados,
desconhecer uma nova visão que emerge da sociedade. Apenas uma pequena
parcela dos entrevistados informou que tais aspectos sustentáveis estiveram, desde
o estudo preliminar, contidos dentro do programa de necessidades de seus clientes,
conforme Tabela 6.
Tabela 6 – Solicitações recebidas para empreendimentos unifamiliares, empresariais e/ou governamentais nos últimos 6 meses.
IMPORTÂNCIA VALOR FINAL OBSERVADO (%) Mínima 2% Mínima/Média 7% Média 19% Alta 72%
DEMANDA RECEBIDA - SUSTENTABILIDADE (%) Sem qualquer menção 57% Parcialmente ausente 11% Aspectos pontuais 4% Foco principal 1% Não foi possível apurar 27%
Ao analisarmos os dados da Tabela 3, confrontando-os com aqueles
contidos na Tabela 5 constata-se uma clara e evidente oposição entre o que há de
demanda na sociedade e aquilo que lhe é oferecido. Impossível não questionar se
de fato estaríamos (nós, os profissionais da área) realmente aptos e abertos a tais
solicitações.
Nesse mesmo sentido (algo muito próximo de uma justificativa), surge
o fato de que no país ainda são escassos os fornecedores (eixo 3) - tão necessários
à construção civil - de técnicas e produtos que atendam ao pré-requisito sustentável:
ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável. Dentre todas
as razões apresentadas, tal argumentação foi responsável pelo baixo número de
projetos voltados e executados, desde sua concepção, à sustentabilidade.
Embora envoltos na busca por produtos, técnicas e atuações
sustentáveis, grande parte das empresas parece ignorar tais práticas. Em um mundo
onde todos querem ser ambientalmente corretos - dos bancos aos produtores rurais,
das construtoras aos seus fornecedores e de empresas de cosméticos aos
produtores e distribuidores de produtos petroquímicos - poucos mostram-se
verdadeiramente capazes de promover uma mudança de determinadas regras ou
padrões estabelecidos que atravancam tal desenvolvimento.
Inseridas nesse contexto, as universidades possuem um papel
fundamental, não apenas como embrião da pesquisa, mas também como fornecedor
de tecnologia e recursos humanos capazes de superar tais problemas. No entanto,
os centros de pesquisa do Brasil, embora seja crescente o numero de pesquisas em
desenvolvimento, seguem com papel extremamente discreto, principalmente nos
temas envolvendo sustentabilidade e tecnologia social. A Tabela 7 mostra o
resultado de pesquisa realizada nos principais jornais do país em relação aos textos
publicados sobre o tema sustentabilidade e com que freqüência as universidades e
instituições de pesquisa foram citadas (22), conforme a Tabela 6.
Tabela 7 – Como as universidades e instituições de pesquisa são retratadas nos textos jornais brasileiros
Fonte: (VIVARTA, 2006)
Os dados acima validam os questionamentos quanto à forma pela qual
a pesquisa vem sendo desenvolvida nas universidades – sendo este o ponto de
partida. Para tal, devemos gerar um ambiente favorável, dentro dos cursos de
Arquitetura e Engenharias, propício à formulação de tecnologias voltadas e focadas
em nossa realidade, não apenas um conjunto de projetos amorfos e distantes das
reais necessidades do país. Através de uma nova cultura institucional, favorável a
tecnologia social voltada à sustentabilidade gerando uma nova agenda de pesquisa,
contemplando interesses sociais – papel crucial na busca de saídas para os grandes
problemas sociais do país.
3.5 CONCLUSÃO
Aspectos de racionalidade, economicidade e sustentabilidade contidos
de forma intrínseca nas tecnologias sociais dentro da construção civil demonstram
que podem auxiliar em muito em uma nova realidade, mais enxuta e adequada à
realidade brasileira. Nesse sentido, as universidades e as ferramentas de debate,
tais como esta, são fundamentais para a legitimidade da busca por novas
alternativas sustentáveis dentro da construção civil.
Através deste levantamento buscou-se compreender como vem acontecendo
a integração destes diferentes eixos sociais (sociedade/consumidores,
empresas/empreendedores e fornecedores) buscando visualizar quais são os
vínculos que devem ser estabelecidos para que tal integração não siga incipiente.
Os dados apresentados mostram que é possível, através de um esforço
conjunto e deliberado, encontrar formas de articulação dos diversos atores sociais
DEMANDA RECEBIDA - SUSTENTABILIDADE (%) Mencionadas 9,7% Tem ação sendo analisada, descrita ou divulgada 3,2% Consultadas 3,6% Elogiadas 0,1% Responsabilizadas 0,0% Desculpabilizadas/desresponsabilizadas 0,0% Cobradas 0,0% Não aparecem 83,4%
envolvidos dentro do ambiente da construção civil. Outras experiências positivas no
Brasil dentro do contexto das tecnologias sociais apontam para uma renovação dos
processos de conhecimento e tecnologia. Aprimorar técnicas e serviços a uma nova
mentalidade constituem marco inicial de novos paradigmas construtivos. E sob esse
aspecto, todos os atores sociais são responsáveis por essas mudanças.
Embora tenhamos avançado na discussão sobre a moradia de
interesse social sob o aspecto político-administrativo, as questões relacionados ao
meio ambiente e conservação dos recursos naturais pela indústria da construção
civil permanece na periferia da macro discussão habitacional, sendo pouco utilizadas
nos programas governamentais, assim como pelos usuários comuns.
A elaboração e, principalmente, a colocação em práticas de novas
alternativas tecnológicas exige a integração plena de diferentes esferas, sejam elas
técnicas, políticas, econômicas, sociais e ambientais.
O desafio é grande, no entanto, os caminhos que se apresentam
podem transformar a realidade existente, em especial, na construção civil.
3.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Provisória no 2.197-43, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências.
Presidência da República Federativa do Brasil, Casa Civil, Subchefia para
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(8) Os parâmetros utilizados pela Fundação Banco do Brasil – FBB para
certificação das atividades, além do historio da premiação e resultados alcançados
podem ser consultados através do sítio <http://www.tecnologiasocial.org.br>.
(9) FREIRE, W. J e BERALDO, A. L. (coord.), op. cit.
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(13) FREIRE, W. J., BERALDO, A. L, op. cit.
(14) WORCMAN, K. (org.) (2007); A história da Fundação Banco do Brasil :
realizar sonhos, transformar realidades. 1 ed. São Paulo: Museu da Pessoa. 160.
(15) BRASIL. Lei n.° 11.888, de 24 de dezembro de 2 008. Assegura às famílias de
baixa renda assistência técnica pública e gratuita para o projeto e a construção de
habitação de interesse social e altera a Lei no 11.124, de 16 de junho de 2005.
Senado Federal, Subsecretaria de Informações . Disponível em
<http:www.senado6.gov.br/ legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=237321>.
Acesso em: 01 mai. 2009.
(16) BRASIL. Lei n.° 11.124, de 16 de junho de 2005 . Dispõe sobre o Sistema
Nacional de Habitação de Interesse Social - SNHIS, cria o Fundo Nacional de
Habitação de Interesse Social - FNHIS e institui o Conselho Gestor do FNHIS.
Senado Federal, Subsecretaria de Informações . Disponível em
<http:www.senado6.gov.br/legislação / ListaPublicacoes.action?id=251903>.
Acesso em 01 maio 2009.
(17) SOBREIRA, F. Concursos e sustentabilidade: os riscos da onda verde. net.
São Paulo, abr. 2009. Arquitextos 107, Texto Especial n.° 512. Disponível em
<http://www.vitruvius.com.br/ arquitextos/arq000/esp512.asp>. Acesso em: 10 out.
2009.
(18) Durante os meses de março, abril e maio de 2009, em Campo Grande-MS, foi
aplicado um questionário em diferentes eixos. O primeiro eixo continha pessoas
físicas, consumidores da produção oferecida pelo mercado imobiliário. O segundo
tratava-se de escritórios e construtoras fornecedoras dos projetos de arquitetura e
engenharia. Por fim, o terceiro eixo era composto por empresas fornecedoras dos
materiais tradicionais utilizados na construção civil. O objetivo principal era, mais do
que apresentar propostas e conclusões imediatas, tentar entender alguns aspectos
que dificultam a implementação dos ditos materiais alternativos - fundamentados no
conceito de tecnologias sociais - na construção civil.
(19) Através do sítio da empresa, disponível em <http://www.sphinxbrasil.com> é
possível conhecer melhor o softaware, desenvolvido a partir de uma parceria
França-Brasil. No sítio existe a opção de download de uma versão DEMO do
produto, utilizada nessa pesquisa.
(20) DAGNINO, R.; BRANDÃO, F. C.; NOVAES, H. T. (2004). Sobre o marco
analítico-conceitual da tecnologia social. In. ______. Tecnologia social: uma
estratégia para o desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundação Banco do Brasil. p. 15-
64.
(21) SEARA, I.; COIMBRA, J. (1986); Sine qua non ou a ideologia do habitar. 1
ed. Lisboa: A Regra do Jogo Edições Ltda. 171.
(22) SANTOS, R. F. dos (org.) Vulnerabilidade ambiental: desastres naturais
ou fenômenos induzidos? Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2007. 192 p.
(23) VIVARTA, V.. (coord.) (2006), op. cit.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As tecnologias sociais propiciam, na questão do ambiente construído,
novas formas de resolver antigos problemas estruturais do país, como por exemplo,
o acesso à casa própria e à habitação de interesse social.
O debate sobre o papel da tecnologia contribui para a desmistificação
da relação desta com a sociedade, contribuindo para novas alternativas construtivas
que não a convencional ou a chamada tecnologia de ponta.
Focando na questão da sustentabilidade na construção civil, foi possível
apontar, através do conhecimento do grau de interação destes diferentes atores
sociais (sociedade, setores da construção civil e fornecedores) caminhos
necessários para o aprimoramento das relações desses intervenientes, resultando
em uma construção civil mais racional e menos agressiva ao meio ambiente,
baseada no tripé sustentável (economicamente viável, socialmente justo e
ambientalmente correto).
Os dados coletados servirão de base para novos estudos e diferentes
abordagens, voltados à construção civil enfocando diferentes aspectos
apresentados. A partir das informações apresentadas, e com a possibilidade de
diferentes tratamentos estatísticos, foi possível formular estratégias para maior
integração dos atores sociais envolvidos na construção civil – esferas técnicas,
políticas, econômicas, sociais e ambientais.
5. ANEXOS
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