percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a
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15
UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO
PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO
E MEIO AMBIENTE URBANO
Andréa Carla Jorge Reis
OS IDOSOS E A CIRCULAÇÃO NO ESPAÇO URBANO:
a locomoção dos idosos do Pólo Tuna Luso Brasileira do Projeto Vida Ativa na cidade de Belém/PA.
BELÉM - PA
2009
16
Andréa Carla Jorge Reis
OS IDOSOS E A CIRCULAÇÃO NO ESPAÇO URBANO: a locomoção dos idosos do Pólo Tuna Luso Brasileira do Projeto Vida Ativa na
cidade de Belém/PA.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia, como requisito para a obtenção do título de mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano. Orientadora: Profª. Dra. Voyner Ravena Cañete.
BELÉM - PA
2009
17
Andréa Carla Jorge Reis
OS IDOSOS E A CIRCULAÇÃO NO ESPAÇO URBANO: a locomoção dos idosos do Pólo Tuna Luso Brasileira do Projeto Vida Ativa na
cidade de Belém/PA.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia, como requisito para a obtenção do título de mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano. Orientadora: Profª. Dra. Voyner Ravena Cañete.
Banca Examinadora _____________________________________ Dra. Voyner Ravena Cañete Orientadora – UNAMA _____________________________________ Dra. Claudia Aline Monteiro Soares UNAMA _____________________________________ Dr. Samuel Sá UFPA Apresentado em: ____ / ____ / 2009.
Conceito: _____________________
BELÉM - PA
2009
18
Aos meus queridos pais, Carmen e
Carlos, pelo amor verdadeiro.
Ao meu irmão Eduardo, pelo apoio
incondicional.
19
AGRADECIMENTOS
À Dra. e querida orientadora Voyner Ravena Cañete, pelo respeito às minhas
dificuldades e por proporcionar um novo olhar para a produção do conhecimento
científico.
Aos mestres do Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente
Urbano, pelas experiências e conhecimentos compartilhados.
Aos meus queridos alunos de Graduação, por compreenderem a minha ausência e
pelo respeito às minhas necessidades.
Aos colegas de mestrado, em especial, Alexandra Negrão, Daniela Costa, Heloisa
Machado e Francisca Canindé, pelas confidências e palavras de incentivo.
À Secretaria de Estado de Esporte e Lazer, pela confiança na realização desta
pesquisa.
E, em particular, à minha avó Sebastiana Jorge e aos idosos que participaram deste
estudo, possibilitando a reconstrução de um envelhecimento mais ativo e saudável
em uma sociedade ainda com dificuldades para atender as suas reais necessidades.
20
Preparar-se para a velhice é
principalmente lutar sempre e continuar
lutando por objetivos capazes de conferir
um sentido à existência.
Simone De Beauvoir
21
RESUMO
A pesquisa objetivou compreender como os idosos, dentro de suas
singularidades, percebem as limitações de acessibilidade e mobilidade no espaço
urbano onde circulam a partir da execução de suas atividade cotidianas. O estudo foi
realizado no Pólo Tuna Luso Brasileira, integrante do Projeto Vida Ativa, com 30
idosos de ambos os sexos, a partir de 50 anos e independentes. Caracterizou-se
como analítico-descritiva e quanti-qualitativa, com a aplicação de questionário sócio-
demográfico, avaliação da capacidade funcional, caracterização da qualidade do
espaço urbano e identificação do grau de satisfação em relação à qualidade do
espaço. Além do Núcleo da Terceira Idade, foram citados como espaços mais
utilizados: agência bancária, farmácia e supermercado. No que diz respeito aos
indicadores de qualidade do espaço urbano de circulação, como conforto,
seguridade, continuidade e segurança, verificou-se que há insatisfação,
especificamente quanto às calçadas com desníveis, obstáculos e iluminação
deficiente, apesar de apresentam boa capacidade funcional para as atividades de
vida diária e atividades instrumentais de vida diária. Conclui-se que os idosos
percebem que há dificuldades importantes no que diz respeito à mobilidade e
acessibilidade no espaço urbano de circulação e muitas delas não estão
relacionadas somente ao processo natural do envelhecimento, mas principalmente,
ao caos urbano evidenciado em muitos relatos, como na mudança do trânsito e
aumento do número de pedestres circulando nas ruas e calçadas, porém,
demonstram manter o deslocamento porque o cuidado com a saúde é cada vez
maior nesta parcela da população e o aspecto social presente no pólo da Terceira
Idade é fundamental para o seu uso significativo, uma vez que é considerado para
muitos idosos uma forma de convívio.
Palavras-chave: Idosos. Espaço Urbano de Circulação. Capacidade Funcional.
Acessibilidade. Mobilidade.
22
ABSTRACT
This essay has researched on how the elderly citizens, with their own singularities,
have sought to comprehend their own limitations concerning movement and access
inside their urban spaces, when doing their daily activities. Those researches took
place in the Tuna Luso Brasileira Center, as part of the “Active Life Project”, with 30
old ones of both sexes, from 50 years and independent. There was characterized
how descriptive-analytical and quanti-qualitative, with the application of questionnaire
demographic-partner, evaluation of the functional capacity, characterization of the
quality of the urbane space and identification of the degree of satisfaction regarding
the quality of the space. The research has shown that beyond the Age Third Nucleu,
other places usually visited by elderly citizens are bank agencies, pharmacies and
supermarkets. What concerns the quality indicators of the urbane space of
circulation, like comfort, security, happened continuity and security that there is
dissatisfaction, specifically as for the uneven sidewalks, obstacles and defective
lighting, in spite of they present good functional capacity for the activities of daily life
and instrumental activities of daily life. It is ended that the old ones realize that there
are important difficulties what concerns the mobility and accessibility in the urbane
space of circulation and a great deal of them are not made a list only to the natural
process of the aging, but principally, to the urbane chaos shown up in many reports, I
eat in the change of the traffic and increase of the number of pedestrians circulating
in the streets and sidewalks, however, they demonstrate to maintain the dislocation
because the care with the health is every time bigger in this piece of the population
and the social present aspect in the pole of the Third Age is basic for his significant
use, as soon as it is considered for old many people forms one of familiarity.
Key-words: Elderly Citizens. Urban Space of Circulation. Functional Capacity.
Accessibility. Mobility.
23
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Projeção de crescimento de idosos no Brasil – 2000/2020. 22
Gráfico 2 - Faixa etária dos participantes 74
Gráfico 3 - Sexo dos participantes 75
Gráfico 4 - Escolaridade dos participantes 76
Gráfico 5 - Características clínicas e funcionais relacionadas à queda no
último ano
78
Gráfico 6 - Acuidade visual dos participantes 80
Gráfico 7 - Perda auditiva dos participantes 82
Gráfico 8 - Meio de deslocamento utilizado pelos idosos no espaço urbano de
circulação
83
Gráfico 9 - Dificuldade para andar nas ruas e calçadas da cidade em que
mora
85
Gráfico 10 - Motivo de participação no projeto vida ativa 87
Gráfico 11 - Dificuldade no deslocamento até o núcleo da Terceira Idade 88
Gráfico 12 - Tempo de deslocamento da residência ao núcleo da Terceira
Idade
90
Gráfico 13 - Espaços mais utilizados pelos idosos além do Núcleo da Terceira
Idade
92
Gráfico 14 - Freqüência de utilização dos espaços públicos pelos idosos 93
Gráfico 15 - Dificuldade de acesso aos espaços públicos pelos idosos 94
Gráfico 16 - Tipo de dificuldade de acesso aos espaços públicos pelos idosos 95
Gráfico 17 - Mudança no espaço urbano de circulação para pedestres nos
últimos anos
96
Gráfico 18 - Tipos de mudanças identificadas pelos idosos no espaço urbano
de circulação.
97
Gráfico 19 - Sugestões dos idosos para facilitar a acessibilidade e
mobilidade/deslocamento no espaço urbano de circulação.
99
Gráfico 20 - Dificuldades nas atividades de vida diária (AVDs) 102
Gráfico 21 - Dificuldades nas atividades instrumentais de vida diária (AIVDs). 103
Gráfico 22 - Número de idosos em relação ao conforto como indicador de
qualidade das calçadas
105
24
Gráfico 23 - Número de idosos em relação à seguridade como indicador de
qualidade das calçadas.
107
Gráfico 24 - Número de idosos em relação à continuidade como indicador de
qualidade das calçadas
109
Gráfico 25 - Número de idosos em relação à segurança como indicador de
qualidade das calçadas
111
Gráfico 26 - Grau de satisfação do idoso em relação ao conforto como
indicador de qualidade da calçada
113
Gráfico 27 - Grau de satisfação do idoso em relação à seguridade como
indicador de qualidade da calçada
113
Gráfico 28 - Grau de satisfação do idoso em relação à continuidade como
indicador de qualidade da calçada.
114
Gráfico 29 - Grau de satisfação do idoso em relação à segurança como
indicador de qualidade da calçada
114
Gráfico 30 - Grau de satisfação do idoso em relação ao conforto como
indicador de qualidade da calçada
116
Gráfico 31 - Grau de satisfação do idoso em relação à seguridade como
indicador de qualidade da calçada
116
Gráfico 32 - Grau de satisfação do idoso em relação à continuidade como
indicador de qualidade da calçada
117
Gráfico 33 - Grau de satisfação do idoso em relação à segurança como
indicador de qualidade da calçada.
117
25
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Faixa etária dos participantes 74
Tabela 2 - Estado civil dos entrevistados 77
Tabela 3 - Associação entre faixa etária e queda no último ano 78
Tabela 4 - Associação entre faixa etária e acuidade visual 80
Tabela 5 - Associação entre faixa etária e perda auditiva 81
Tabela 6 - Associação entre faixa etária e meio de deslocamento 83
Tabela 7 - Associação entre faixa etária e dificuldade para andar 85
Tabela 8 - Associação entre faixa etária e motivo para participar do Projeto
Vida
86
Tabela 9 - Associação entre faixa etária e espaços mais utilizados 91
Tabela 10 - Associação entre faixa etária e dificuldade de acesso aos espaços
mais utilizados
93
Tabela 11 - Dificuldades nas atividades de vida diária (AVDs) 102
Tabela 12 - Dificuldades nas atividades instrumentais de vida diária (AIVDs). 103
26
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 15
2 ENVELHECIMENTO 20
2.1 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E ASPECTOS DEMOGRÁFICOS DO
ENVELHECIMENTO NO BRASIL
20
2.2 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE
ENVELHECIMENTO NORMAL
24
2.3 QUALIDADE DE VIDA E ENVELHECIMENTO 29
3 A CIDADE E O ESPAÇO URBANO DE CIRCULAÇÃO 33
3.1 O SURGIMENTO DAS CIDADES 33
3.2 A URBANIZAÇÃO EM BELÉM 35
3.3 O PLANO DIRETOR DA CIDADE DE BELÉM E OS ASPECTOS DE
MOBILIDADE E ACESSIBILIDADE URBANAS PARA OS IDOSOS
41
4 A LEGISLAÇÃO E A TERCEIRA IDADE: CONTRIBUIÇÕES PARA A PROMOÇÃO DO BEM ESTAR DA POPULAÇÃO IDOSA
50
4.1 A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO, O ESTATUTO DO IDOSO E A
POLÍTICA ESTADUAL DE AMPARO AO IDOSO
51
4.2 POLÍTICA DE MOBILIDADE URBANA: PRINCIPAIS AVANÇOS 59
4.3 A FUNÇÃO SOCIAL DO ESPAÇO PÚBLICO PARA O IDOSO 63
5 OS IDOSOS DO PÓLO TUNA LUSO BRASILEIRA DO PROJETO VIDA
ATIVA DA CIDADE DE BELÉM/PA 68
5.1 METODOLOGIA 68
5.2 PERFIL DOS IDOSOS 73
5.2.1 Caracterização quanto à faixa etária dos participantes 73
5.2.2 Caracterização quanto ao sexo dos participantes 75
5.2.3 Caracterização quanto à escolaridade dos participantes 5.2.4 Caracterização quanto ao estado civil dos participantes 5.2.5 Características clínicas e funcionais
5.2.6 Caracterização quanto à faixa etária e acuidade visual dos participantes 5.2.7 Caracterização quanto ao auxílio para a locomoção dos participantes
76
77
78
80
81
27
5.2.8 Caracterização quanto à faixa etária e perda auditiva dos
participantes 6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 6.1 Características do deslocamento no espaço urbano de circulação 6.2 Caracterização quanto à dificuldade para andar dos participantes
6.3 Caracterização quanto ao motivo de participação no Projeto Vida Ativa 6.4 Caracterização quanto à dificuldade no deslocamento até o Núcleo da Terceira Idade 6.5 Caracterização quanto ao tempo de deslocamento dos participantes 6.6 Caracterização quanto aos espaços mais utilizados pelos participantes 6.7 Caracterização quanto à freqüência de utilização dos espaços
públicos pelos participantes 6.8 Caracterização quanto à dificuldade de acesso aos espaços públicos pelos participantes 6.9 Caracterização quanto ao tipo de dificuldade de acesso aos prédios
públicos pelos participantes 6.10 Caracterização quanto às mudanças no espaço urbano de circulação 6.11 Caracterização quanto aos tipos de mudanças no espaço urbano de circulação
6.12 Caracterização quanto às sugestões para melhorar o espaço urbano de circulação 6.13 Questionário BOMFAQ e a capacidade funcional dos idosos 6.14 A percepção do idoso em relação ao espaço físico utilizado a partir
de indicadores de qualidade 6.15 Grau de satisfação do idoso em relação aos indicadores de qualidade das calçadas dos espaços mais utilizados. 6.16 Gráficos referentes ao grau de satisfação do idoso em relação aos
indicadores de qualidade das calçadas do espaço Tuna Luso Brasileira 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS APÊNDICE A - TERMO DE ACEITE DE ORIENTAÇÃO
81
83
83
85
86
88
90
91
93
93
95
96
97
99
102
104
113
116
120
123
133
28
APÊNDICE B - AUTORIZAÇÃO DA SECRETARIA DE ESPORTE E LAZER
APÊNDICE C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO APÊNDICE E - QUESTIONÁRIO BOMFAQ APÊNDICE F - PERCEPÇÃO DE ESPAÇO FÍSICO
134
135
137
139
140
R375i Reis, Andréa Carla Jorge Os idosos e a circulação no espaço urbano: a locomoção
dos idosos do Pólo Tuna Luso Brasileira do Projeto Vida Ativa na cidade de Belém-PA / Andréa Carla Jorge Reis -- Belém, 2009.
147 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade da Amazônia,
Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano, 2009.
Orientadora: Profª. Dra. Voyner Ravena Cañete. 1. Acessibilidade de idosos. 2. Espaço urbano de
circulação. 3. Projeto Vida Ativa-Tuna Luso Brasileira. I. Cañete, Voyner Ravena. II. Título.
CDD 362.6
29
1 INTRODUÇÃO
A realidade das transformações demográficas demonstra que o Brasil já é
considerado um país envelhecido e o crescimento da população idosa é o mais
acelerado do mundo. Segundo Ramos (2006), até 2025, o Brasil representará a
sexta maior população de idosos do mundo (mais de 32 milhões de pessoas com 60
anos ou mais) 1.
Considerando a realidade do Brasil, em 2000, a região Norte apresentava
707.071 idosos residentes e o estado do Pará era o 4º estado brasileiro com o maior
percentual de idosos (356.562 = 5,7%), perdendo apenas para o Rio de Janeiro
(1.540.754 = 10,7%), Rio Grande do Sul (1.065.484 = 10,4%) e Paraíba (350.566 =
10,1%) (IBGE, 2006).
O conceito atual de velhice saudável está diretamente ligado à capacidade
funcional2, isto é, à possibilidade do idoso em manter um grau de independência
com a manutenção da qualidade de vida. A capacidade funcional surge como um
novo conceito na área da saúde e nas áreas que lidam, principalmente, com as
dificuldades dos idosos e a saúde passa a ter, então, um conceito muito mais amplo
se considerada a partir da visão holística de sujeito (BERZINS, 2003).
A Organização Mundial de Saúde (OMS, 1998), definiu saúde como forma de
bem-estar geral e a capacidade de se autogovernar e, no que se refere ao idoso,
enfatiza a capacidade funcional e sua independência como aspectos fundamentais
para o diagnóstico de sua saúde física e mental.
Apesar das conquistas na área da saúde, as mudanças nos aspectos
biológicos, emocionais, sociais e psicomotores são inevitáveis e muitas das
características da velhice podem levar à incapacidade, principalmente, no que diz
respeito ao aspecto funcional, como perda de memória, atenção, visão, audição,
alteração de marcha, diminuição do equilíbrio e fraqueza muscular.
Idosos com limitações físicas, principalmente, demonstram uma diminuição do
grau de satisfação da vida, uma vez que, além de interferir na autonomia e 1 Para a Organização Mundial de Saúde (1998), o conceito de velhice está associado ao prolongamento e término de um processo representado por um conjunto de modificações fisiológicas e psicológicas ininterruptas à ação do tempo sobre as pessoas. Tal conceito será detalhado no referencial teórico. 2 A capacidade funcional está ligada à realização adequada de funções diárias básicas, como vestir-se e deslocar-se e demonstra a independência e autonomia do indivíduo (ROLIM; FORTI, 2006).
30
independência, traz conseqüências na sua integração social acompanhada, muitas
vezes, de isolamento social (DIOGO et al, 2006). Por tal motivo, é preciso
reestruturar os critérios de identificação dos idosos de alto risco para as perdas
funcionais e redirecionar as práticas, não só de saúde quanto ao atendimento e
acompanhamento da pessoa idosa, mas também no que se refere às questões
relacionadas à adequação do espaço urbano de circulação, considerado
fundamental para a manutenção da autonomia e independência deste segmento
populacional.
Para se investigar a capacidade funcional do idoso, torna-se necessária a
observação das tarefas diárias e do desempenho de funções cognitivas, motoras e
psicológicas, que refletem na sua independência funcional e na autonomia.
No Brasil, com o aumento da população idosa, também houve um aumento
de indivíduos que necessitam de suporte para a execução de atividades de vida
diária (AVDs). Em uma pesquisa realizada por Diogo et al (2006) a fim de identificar
idosos com características de dependência para atividades de vida diária, 46% dos
participantes com idades entre 65 e 69 anos precisavam de suporte em alguma
tarefa e, no grupo de 80 anos e mais, 15% não precisavam de ajuda e 28%
necessitavam de cuidados em tempo integral. Tais dados demonstram influência
negativa na qualidade de vida do idoso na medida em que comprometem o seu
deslocamento no espaço físico.
Neste contexto, a equipe interdisciplinar que atendia os idosos, antes
considerada apenas de saúde, hoje necessita de profissionais de outras áreas do
conhecimento, das ciências sociais, da engenheira e arquitetura, por exemplo.
Assim, a qualidade de vida 3 passa a ter um conceito amplo, subjetivo e depende de
muitos aspectos, como da acessibilidade e mobilidade urbana 4.
Deste modo, ainda buscando compreender o envelhecimento, a Região
Metropolitana de Belém, como em outras grandes cidades do Brasil, apresentou um
crescimento populacional e modificações nas atividades urbanas, surgindo a
necessidade de adaptação dos espaços físicos fundamentais para as atividades,
dos padrões de acessibilidade desses espaços e da sua infra-estrutura. Este espaço 3 O conceito de qualidade de vida será melhor abordado no referencial teórico, porém, neste momento, considera-se o conceito subjetivo e relacionado ao contexto sócio-econômico-cultural, dependente da faixa etária e das aspirações pessoais do indivíduo (VECCHIA et al, 2005). 4 A acessibilidade está relacionada à facilidade de se atingir os destinos desejados, enquanto que, a mobilidade diz respeito à capacidade das pessoas se deslocarem no meio urbano para realizar as suas atividades (BOARETO, 2006).
31
urbano, sob o aspecto físico, apresenta uma interação entre fluxo e fixos, como o
movimento de bens e pessoas entre diferentes locais e a compreensão desses
aspectos se mostra necessária para a análise dos parâmetros de acessibilidade e
alterações de mobilidade dos idosos (TOBIAS; RODRIGUES; BORDALO, 2002).
Assim, é importante relacionar as questões da acessibilidade às barreiras de
transporte que representam as dificuldades ou impedimentos observados pela falta
de adaptação dos veículos e do espaço viário. Segundo a NBR 9050/2004, são
considerados, por exemplo, parâmetros de acessibilidade, degraus e escadas fixas
em rotas acessíveis, presença de corrimãos, faixas de travessia de pedestres e
rebaixamento de calçadas, dentre outros.
Tais aspectos de acessibilidade são pontuados no Estatuto do Idoso e,
quanto à área de habitação e urbanismo, estabelece que seja da competência dos
órgãos e entidades públicos diminuir barreiras arquitetônicas e urbanas.
Considerando a estruturação espacial da cidade, verifica-se a identificação com as
forças predominantes de organização deste espaço determinando o padrão
construtivo de vias e edificações aos moldes dos mais favorecidos socialmente e
economicamente (SANTOS, 1994).
A redução de mobilidade advém, portanto, de deficiências nas condições
físicas e de características pessoais. Assim, os idosos que já possuem alterações
próprias da idade, apresentam como conseqüência a diminuição em suas
habilidades de reação às ações externas advindas do espaço físico, o que por sua
vez leva a diminuição da mobilidade. Associado a este fato há uma constituição
física do espaço (ruas, calçadas, equipamentos de controle de tráfego, infra-
estrutura de apoio de transporte e modos de transporte) que, quando deficiente,
compõe um conjunto de fatores que contribuem para tornar a mobilidade do idoso
bastante comprometida.
Assim, verifica-se que, muitas vezes, as cidades5 não estão adaptadas para
atender as necessidades das pessoas com restrições de mobilidade e,
paralelamente às queixas dos idosos, é fundamental considerar o espaço físico não
só a partir dos aspectos estruturais, mas como os idosos interpretam o seu direito à
5 Segundo Lefebvre (1991), a cidade é definida como a projeção da sociedade sobre um dado território, o que possibilita refletir sobre uma realidade mais do que geográfica. Assim, a cidade é produto de questões culturais, históricas, econômicas e políticas.
32
cidade, pois segundo Lefebvre (1991), há um significado particular que é percebido
e vivenciado pelos sujeitos que habitam a cidade.
Para Lynch (1980), há neste espaço físico, relações entre os sujeitos que o
ocupam e que elaboram mentalmente o espaço que usam. A partir de tais
colocações, é importante refletir sobre o aumento do número de idosos nas grandes
cidades e o maior desafio ainda será o de absorver e lidar com as suas demandas.
Neste contexto, o interesse6 pelo estudo do processo de envelhecimento e
questões relacionadas ao espaço urbano de circulação surgiu a partir de vivências
com grupos de idosos que freqüentam os Núcleos da Terceira Idade na cidade de
Belém, em particular, os inseridos no Pólo Tuna Luso Brasileira do Projeto Vida
Ativa, da Secretaria de Estado, Esporte e Lazer (SEEL). Tal núcleo apresenta um
número significativo de idosos que buscam a manutenção da independência e a
melhora na qualidade de vida.
Portanto, nesta pesquisa, a questão que se estabelece pode ser assim
apresentada: como os idosos percebem a limitação de acessibilidade e mobilidade
no espaço urbano onde circulam a partir de suas atividades cotidianas?
Neste sentido, esta pesquisa se justificou pela necessidade de um olhar
diferenciado para as demandas dos idosos no que diz respeito à acessibilidade e
mobilidade no espaço urbano de circulação, pois, apesar de existirem leis que
objetivem a garantia dos direitos sociais do idoso, em especial, o acesso aos
serviços, a prática está distante do que se propõe. Os idosos representam um
segmento da população que precisa de cuidados que garantam o seu direito de ir e
vir, tornando possível a acessibilidade a partir de suas restrições de mobilidade.
O estudo forneceu subsídios que auxiliarão na reestruturação de diretrizes de
desenho urbano e contribuirão com dados para a construção de um ambiente
urbano de maior qualidade de vida para os idosos.
O estudo contou com a participação de idosos independentes e integrantes
do núcleo da Terceira Idade do Projeto Vida Ativa, na região metropolitana de
Belém. O projeto foi implantado pelo Governo Federal, por meio do Ministério do
Esporte, Governo do Estado e por meio da Secretaria de Estado de Esporte e Lazer 6 A participação de minha avó materna em núcleos da Terceira Idade também foi um aspecto que fortaleceu o interesse em realizar o estudo no Pólo Tuna Luso Brasileira. As observações informais realizadas ao acompanhá-la possibilitaram vivenciar situações a partir das quais verificaram-se demonstrações de insatisfação no que diz respeito às condições de conforto e segurança no espaço urbano de circulação. Tal situação possibilita a segregação espacial que acaba gerando, de alguma maneira, a exclusão social.
33
(Seel). O projeto propõe a prática de atividades físicas e de lazer à população idosa
e atualmente, oferece suporte a pelo menos 2 mil idosos em 14 núcleos (12 na
RMB, um no município de Capanema e outro núcleo em Soure, capital da Ilha do
Marajó). Em especial, tais idosos apresentam uma demanda que está relacionada
ao direito à vida urbana, já que, apesar das limitações naturais da velhice, o convívio
não é praticado somente no ambiente familiar.
A pesquisa objetivou compreender como os idosos, dentro de suas
singularidades e dentre tantos sujeitos urbanos, percebem as limitações de
acessibilidade e mobilidade urbana no espaço urbano onde circulam a partir da
execução de suas atividades cotidianas.
Como objetivos específicos, a pesquisa buscou: 1) identificar os espaços
urbanos mais utilizados pelos idosos; 2) averiguar a capacidade funcional dos idosos
no uso do espaço urbano; 3) identificar os principais aspectos de qualidade do
espaço urbano a partir da percepção dos idosos e, 4) relacionar tal percepção ao
grau de satisfação.
O trabalho divide-se em quatro capítulos, o primeiro descreve o
envelhecimento como uma condição humana, articulada às questões urbanas e
demográficas, assim como sintetiza as principais características do processo normal
do envelhecimento. O segundo capítulo detalha os fatores envolvidos na evolução
urbana e suas mudanças no espaço urbano de circulação, em especial, para os
idosos.
No terceiro capítulo são abordadas as principais Políticas Públicas
direcionadas para a população idosa e questões relacionadas aos avanços na área
de acessibilidade e mobilidade urbanas. Ainda neste capítulo, são apresentadas
algumas funções atribuídas pelos idosos ao espaço urbano de circulação utilizado
por eles.
Já no quarto e último capítulo, será apresentada o lócus onde os dados foram
coletados, de forma a perfilar e situar o objeto de pesquisa em um quadro real,
descrevendo a metodologia utilizada e os resultados encontrados.
34
2 ENVELHECIMENTO
Este capítulo tem como finalidade descrever os principais aspectos
demográficos e epidemiológicos de envelhecimento no Brasil e encontra-se dividido
em três seções. A primeira abordará dois indicadores de dados básicos, o indicador
demográfico com a distribuição etária da população e a taxa de urbanização do país
influenciando o processo de envelhecimento. A segunda seção abordará conceitos
sobre envelhecimento normal e suas principais características e por fim, contribuirá
com reflexões da Antropologia em Saúde acerca do envelhecer na sociedade
brasileira.
2.1 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E OS ASPECTOS DEMOGRÁFICOS DO
ENVELHECIMENTO NO BRASIL
Com o decorrer da história, a partir do contexto sócio-econômico-cultural,
verificou-se um crescimento na longevidade e na expectativa de vida e muitos são
os conceitos utilizados para uma melhor compreensão do processo natural do
envelhecimento. Segundo Carta (2009), a distribuição da população mundial
apresenta a maior mudança da história com uma visibilidade significativa do
processo de envelhecimento nos países considerados desenvolvidos. Para o autor,
a combinação entre a queda da fecundidade e o aumento da expectativa de vida
mostra avanços generalizados no combate a doenças e a melhora da qualidade de
vida, mesmo em regiões chamadas menos favorecidas. Paralelamente, o número
cada vez maior de idosos com demandas crescentes é considerado um desafio para
as próximas gerações.
De acordo com os registros da Eurostat, equivalente ao Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) da União Européia, a expectativa média de vida na
Europa aumentou oito anos desde 1960 e deverá crescer mais cinco anos até 2050.
Deste modo, o percentual de europeus acima de 65 anos saltará de 16% no ano de
2000, para 27,5% em 2050. Considerando as pesquisas, estima-se que a
35
expectativa média de vida será de 79,7 anos para os homens e de 85,1 anos para
as mulheres (CARTA, 2009).
Dados da Organização das Nações Unidas – ONU (2009) mostram que, no
período compreendido entre 1800 e 1850, a vida durava entre 20 e 35 anos com
uma alta taxa de mortalidade infantil. Já por volta de 1900, a expectativa de vida
subiu para 50 anos nos países desenvolvidos assim como nos países em
desenvolvimento e, em 2000, a expectativa de vida aumentou para 65 anos.
Estudos recentes mostram que a expectativa de vida no Japão é considerada
a mais alta entre os países desenvolvidos e deve subir de 82 anos para 88 anos
(entre 2045 e 2050). Seguindo a mesma estimativa, Canadá, Austrália e Nova
Zelândia apresentarão um aumento de 80 para 85 anos e os Estados Unidos
apresentarão uma longevidade de 82 anos entre 2045 e 2050.
Verifica-se, assim, que a distribuição etária da população do mundo tende a
se afastar da estrutura piramidal antiga: a base será mais estreita (com um menor
número de jovens) e o topo será mais alargado (com indivíduos acima de 65 anos).
É importante pontuar que a América Latina apresentará um aumento de 72
para 79 anos, nos 50 primeiros anos do século XXI (CARTA, 2009). No caso do
Brasil, Veras (2002) cita que a expectativa de vida do brasileiro, de 33 anos no início
do século XX, hoje é de 68 anos. Além disso, entre 1960 e 1980, verificou-se, no
Brasil, uma diminuição de 33% da fecundidade, gerando um aumento significativo da
população idosa.
Nesse contexto, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 7 -
PNAD (IBGE, 2006), a população com mais de 80 anos foi a que mais cresceu,
registrando, inicialmente, 0,9% da população composta por idosos em 1995 e 2,4
milhões de brasileiros idosos em 2005 (1,3% da população).
Ainda de acordo com a PNAD (IBGE, 2006), idosos com idade entre 70 e 74
anos somavam 3,32 milhões em 2005 e atingiam 1,8% do total da população (1,5%
em 1995). Os que apresentavam entre 65 a 69 anos somavam 4,42 milhões e
representavam 2,4% da população (2,2% em 1995), já os que tinham entre 60 e 64
7 A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) objetiva coletar e divulgar informações sobre as características gerais da população, migração, educação, trabalho, famílias e domicílios brasileiros, além de comentar dados sobre composição e mobilidade populacional, situação do mercado de trabalho, sindicalização, cobertura previdenciária, situação dos rendimentos, condições de habitação e posse de bens duráveis.
36
anos somavam, há dois anos, 5,53 milhões de pessoas, ou seja, 3% dos brasileiros
em 2005 (2,6% em 1995).
Os dados ainda confirmam que, nos centros urbanos como Belo Horizonte,
Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, o número de idosas é bem maior.
Em 1995, a Paraíba apresentava 11% de idosos, enquanto que Rio de Janeiro
apresentava 10,8% e o Rio Grande do Sul 10,1%. Em 2005, o número de idosos
aumentou de maneira significativa, alcançando 13,5% e 12,3%, no Rio de Janeiro e
Rio Grande do Sul (IBGE, 2006).
Alguns estudos já realizam projeções de crescimento da população idosa no
Brasil. Em julho de 2009, de acordo com o IBGE, o Brasil apresentava 19 milhões de
indivíduos com 60 anos ou mais, o que corresponde a 10% da população brasileira,
trazendo não só conseqüências em termos de transição demográfica, mas
apresenta conseqüências sociais e econômicas.
Segundo o Banco de Dados do Sistema Único de Saúde (Datasus), em julho
de 2009, o número de idosos no Pará era de 498.237, o que corresponde a 6,7% da
população. Em Belém, são 116.409 idosos ou 8% da população da capital, o que
caracteriza Belém como uma cidade em processo de envelhecimento.
Gráfico 1 - Projeção de crescimento de idosos no Brasil – 2000/2020. Fonte: Pereira; Curioni; Veras (2002).
Para Siqueira (2009), até o ano de 2008, estimava-se que o Brasil teria 259,8
milhões de habitantes em 2050 e destes, 146,2 milhões estariam na faixa etária de
16 a 59 anos, considerada produtiva. Porém, de acordo com os últimos dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, estima-se um total
37
de 215,3 milhões em 2050 e destes, 120,8 milhões de habitantes com idades entre
16 e 59 anos.
Os resultados das últimas pesquisas demográficas mostram que os avanços
na área médica e a queda na fecundidade proporcionaram o aumento da
longevidade no Brasil. Em estudos anteriores, estimava-se que a média de filhos por
casal fosse continuar estável em duas crianças até 2020, contudo, de acordo com o
IBGE (2008), há uma tendência de 1,5 a partir de 2028.
Segundo o IBGE (2008), no Brasil, a maior parte dos idosos é composta pelo
sexo feminino, sendo 62 homens para cada 100 mulheres, significando 15 milhões
de idosas em 2020, aproximadamente. Assim, mudam também as principais
manifestações clínicas neste segmento da população, uma vez que as mulheres
vivem cada vez mais, até idades mais avançadas (PARAHYBA; VERAS; MELZER,
2005).
De acordo com Veras; Ramos; Kalache (1987), a população idosa, no Brasil,
cresce em um espaço urbano complexo e com dificuldades de acesso aos serviços
que necessita. Neste contexto, os idosos precisam se adaptar a realidade urbana
que apresenta como principais problemas: poluição do ar, poluição sonora, violência
e falta de infra-estrutura adequada às suas necessidades.
Para Prado; Licht (2004), na medida em que o número de idosos aumentou,
todas as áreas do conhecimento passaram a refletir sobre as demandas dessa
população e um dos enfoques é a área de urbanismo, reforçando o pensamento de
que a qualidade de vida dos indivíduos depende também do meio no qual ele vive e
se desloca.
Considerando o processo de urbanização acelerado, conseqüência de
planejamento ou do crescimento espontâneo, algumas cidades foram construídas
com muitos obstáculos (significativos fatores de exclusão social) que dificultam ou
impedem a circulação com autonomia e independência de muitos indivíduos,
principalmente dos portadores de mobilidade reduzida, como os idosos. Para estes,
as barreiras físicas constituem-se em uma parte dos problemas, caracterizando um
ambiente que foi construído e que não favorece a vida em sociedade.
Conforme citam Prado; Licht (2004), a estrutura urbana atual não contempla o
principio básico de que a cidade deve ser de todos e para todos e que, portanto, a
qualidade de vida de todos os indivíduos inclui o direito à participação nas atividades
econômicas e sociais da cidade.
38
Sabe-se que tal participação só será efetiva se o acesso físico aos diferentes
espaços constitutivos da cidade também for possível, contando com o deslocamento
realizado por diferentes meios, como o transporte coletivo e a pé, por exemplo.
É importante ressaltar que a complexidade que envolve o espaço urbano de
circulação para os idosos vai além das características físicas. Pesquisas específicas
sobre mobilidade urbana mostram que uma pessoa em idade de trabalhar caminha a
uma velocidade de 1,0 m/s e os idosos caminham com passos de 0,4 m/s. Porém,
as normas estabelecem que a velocidade de marcha utilizada para regular o
funcionamento de semáforos nas cidades é de 1,2 m/s (PRADO; LICHT, 2004).
Somando-se a esse cenário de obstáculos individuais de acesso aos espaços
da cidade, muitas famílias apresentaram dificuldades em acolher os seus idosos,
com uma difícil convivência e conflitos constantes8. Tal situação reflete a
necessidade atual dos idosos buscarem o convívio social nos Núcleos da Terceira
Idade 9.
2.2. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
NORMAL
Sabe-se que o envelhecimento populacional vem acompanhado de
modificações quanto aos aspectos biológicos, econômicos, sociais, demográficos e
comportamentais. Para a compreensão do processo de envelhecimento torna-se
fundamental compreender as principais etapas do desenvolvimento humano.
Algumas perspectivas teóricas contribuíram para o estudo dos ciclos da vida,
como a Psicanalítica, da Aprendizagem, Cognitiva, Etológica e Contextual. É
importante esclarecer que não é objetivo desta pesquisa utilizar uma abordagem
apenas para explicar as diferentes etapas do desenvolvimento humano, mas como a
8 Tais questões serão discutidas no capítulo 3, abordando a importância das relações sociais para os idosos. 9 Os Núcleos da Terceira Idade anteriormente chamados de Grupos de Convivência de Idosos cresceram em termos quantitativos e qualitativos na década de 70 em todo o país e, de acordo com Marques (2009), surgiram especificamente nos clubes, paróquias, universidades e centros de saúde. Os grupos surgiram com o objetivo de promover a saúde e o bem-estar da população a partir dos 60 anos, considerando que o processo natural de envelhecimento apresenta características que, por si só, comprometem a qualidade de vida do idoso.
39
compreensão destas etapas possibilitaria um olhar diferenciado para as reais
necessidades dos idosos.
De acordo com Papalia; Olds (2000), o estudo do desenvolvimento humano é
bastante complexo, com mudanças ricas em quantidade e em qualidade, algumas
mais visíveis do que outras. Para os autores, a mudança quantitativa é considerada
uma mudança em número ou quantidade, como o aumento de vocabulário. Já a
mudança qualitativa é caracterizada por situações ou fenômenos que não poderiam
ser previstos a partir de um determinado funcionamento.
Nesse contexto de mudanças, algumas foram identificadas como
significativas, independente da teoria sobre desenvolvimento humano.
Segundo Papalia; Olds (2000)10, são oito períodos do Ciclo de Vida, a citar:
estágio pré-natal (concepção até nascimento), caracterizado por formação da
estrutura e órgãos corporais básicos, rápido crescimento físico e grande
vulnerabilidade às influências do ambiente; primeira infância (até os 3 anos), rápidos
crescimento físico e desenvolvimento das habilidades motoras, apresenta
capacidade de aprender e lembrar, interesse por outras crianças, aumento do
vocabulário e desenvolvimento acelerado da fala e compreensão.
Na segunda infância (dos 3 aos 6 anos), segundo os autores, há uma
complexidade das habilidades motoras, característica de comportamento
egocêntrico, aumento da independência e cuidado próprio. A terceira infância (6 aos
12 anos) apresenta como principais manifestações: diminuição do crescimento
físico, aperfeiçoamento da força física, aumento da memória e habilidades de
linguagem, ganhos cognitivos, melhora da auto-estima e fortalecimento das
amizades.
Na adolescência, alcança-se a maturidade reprodutiva, há a busca da
identidade pessoal, o pensamento torna-se abstrato e as mudanças físicas são
profundas. Na fase do jovem adulto, a saúde física começa a declinar, há uma
complexidade cada vez maior das habilidades cognitivas e escolhas profissionais
são realizadas.
No período de 40 a 60 anos, chamada de fase da meia-idade, há um declínio
importante da saúde física, a capacidade de solucionar problemas práticos é
acentuada e há certo esgotamento profissional.
10 Considerou-se o aspecto didático e a organização das informações como critério de seleção dos autores citados em torno das principais etapas do desenvolvimento humano.
40
Finalmente, na terceira idade (a partir de 60 anos), há uma diminuição no
tempo de reação aos estímulos do meio ambiente, declínio importante da
capacidade física e enfrentamento de muitas perdas (afetos e das próprias
faculdades, como a memória).
A partir de tais mudanças quantitativas e qualitativas, é preciso compreender
também os conceitos de senescência e de senilidade a fim de identificar as
principais alterações do processo normal do envelhecimento. O primeiro conceito
está relacionado aos declínios físico (diminuição da habilidade motora) e mental
(diminuição de habilidades cognitivas11) de forma lenta e gradual, associado à idade
cronológica (envelhecimento primário). O segundo considera que os declínios
estarão acompanhados de desorganização mental e/ou de patologias
(envelhecimento secundário ou terminal) (ROLIM; FORTI, 2006).
Mazzo; Lopes; Benedetti (2001 apud ROLIM; FORTI, 2006) relatam que os
conceitos de envelhecimento recebem influências de componentes sociais,
biológicos, intelectuais e funcionais, podendo ser identificados como envelhecimento
biológico, envelhecimento social, envelhecimento intelectual e envelhecimento
funcional.
Ainda de acordo com as autoras citadas, o envelhecimento biológico é
considerado um processo contínuo e as diferenciações acontecem quando os
órgãos envelhecem mais rápido que outros.
O envelhecimento social é compreendido como um processo que ocorre de
maneiras diferentes nas diversas sociedades e está relacionado à produtividade do
sujeito (onde a aposentadoria12 seria o marco desse processo). Nesse contexto, a
vida social do idoso apresenta mudanças específicas, principalmente se ele
encontra-se inserido em uma realidade em que não há valorização do envelhecer.
Segundo Moragas (2004), durante muitos anos, a idade foi considerada um
critério de status social e os idosos eram valorizados pelos mais jovens. As
experiências de vida desses idosos eram muito ricas e os colocavam em posição de
11 Para Papalia; Olds (2000), os idosos podem continuar a adquirir novas informações e habilidades, porém, a cognição (memória, habilidades visuoespaciais e linguagem) apresenta déficits que estão relacionados não só aos aspectos orgânicos, como as conexões nervosas, mas dependem das experiências vivenciadas pelos idosos em diferentes etapas de suas vidas, influenciando, por exemplo, na capacidade de solução de problemas. 12 A aposentadoria é o marco da sociedade moderna, porém, segundo Silva; Silva (2008), o afastamento do trabalho é considerado uma perda da identidade e, muitas vezes, necessita de reorganização dos projetos de vida.
41
grande respeito, assim como impunham respeito nas decisões políticas e
econômicas das diferentes sociedades.
Para o autor, com as revoluções políticas e industriais, outros atores sociais,
além dos idosos, passaram a apresentar poder e o conhecimento deixou de ser
valorizado somente pelas experiências de vida, passando a expressar-se pelo
domínio da tecnologia e dos grandes recursos econômicos. Assim, na vida social, o
idoso perde o respeito pelas vivências e os atores sociais mais jovens ganham
espaço e status social.
Conforme Nascentes (2004), ao final da Segunda Guerra Mundial, no final do
século XX, a população jovem predomina sobre a população mais velha na tarefa de
reconstruir a Europa, iniciando neste período, o preconceito ao idoso, reforçando a
importância da juventude e a insignificância do idoso para a sociedade. Surgiu
assim, o chamado “idadismo”, que significou a exclusão do outro para benefício
próprio.
O “idadismo” desconsiderou as leis e então, o preconceito, em especial, na
Europa, foi visível a partir da idade convencional para a aposentadoria (65 anos),
estabelecida pelo Chanceler Bismark em 1886, sendo observado em diferentes
culturas. Desse modo, o indivíduo recebeu o título de aposentado, sem papel
reconhecido em uma sociedade que valorizava o trabalho como fonte de status
social e econômico (MORAGAS, 2004).
Para Moragas (2004), na medida em que o idoso não produz, é considerado
por algumas sociedades, um indivíduo passivo que sempre transmitirá a imagem de
desperdiçar recursos públicos pelas aposentadorias, com repercussões negativas.
Já o envelhecimento intelectual é identificado quando o sujeito demonstra
falhas de memória, dificuldades de atenção e alterações consideradas importantes
no aspecto cognitivo. Por outro lado, o envelhecimento funcional é observado
quando já há uma dependência de outras pessoas para o cumprimento das
atividades básicas ou de tarefas rotineiras.
Na perspectiva biológica, o envelhecimento é considerado um processo que
apresenta características universais, naturais, que não dependem da vontade do
indivíduo, com modificações diretamente relacionadas às características individuais,
dentre elas: diminuição da massa óssea, atrofia da musculatura esquelética que
42
compromete a motricidade13, alteração do sistema de regulação de temperatura,
diminuição da imunidade celular e aumento da predisposição a formar auto-
anticorpos e assim desenvolver doenças auto-imunes.
Além das alterações citadas, a pele torna-se mais seca, rugosa e flácida, há
desgaste dos ossos da maxila e mandíbula, perda da elasticidade do crânio, maior
risco de infecção pela ineficácia dos mecanismos de limpeza brônquica,
comprometimento da mastigação devido à falta dos dentes e alterações
mandibulares. Estas manifestações não ocorrem na mesma intensidade e ao
mesmo tempo em todos os indivíduos e em todos os órgãos (DUARTE, 2008).
O processo de envelhecimento pode ser definido como um processo
degenerativo, caracterizado por menor eficiência funcional, com enfraquecimento
dos mecanismos de defesa frente às variações ambientais e perda das reservas
funcionais, ou seja, do que ainda poderia ser aproveitado em idades avançadas
(RIBEIRO, 1999). Já a senescência, para Russo (1999), é aquele processo no qual
as alterações funcionais decorrentes do envelhecimento são gradativas e permitem
que as células tenham condições de se adaptarem ao novo ritmo, sem ruptura,
mantendo qualidade de vida.
Giacheti; Duarte (1997), em seus estudos, pontuam que o envelhecimento é
considerado:
...uma etapa natural do desenvolvimento caracterizada pela degenerescência psicofísica do ser humano. É um fato universal por ser comum a todos os seres vivos em idades avançadas; gradativo e lento; multidimensional, ocorrendo para diversos indivíduos com realidades biopsicossociais particulares.
Ainda de acordo com os autores citados, as manifestações orgânicas e
funcionais decorrentes do envelhecimento geralmente vêm acompanhadas de
perturbações fisiológicas e biológicas indiscutíveis, podendo atingir o conjunto das
aptidões físicas e mentais, uma vez que todas as células e fibras nervosas são
afetadas por ele.
Meireles (2000) relata, por sua vez, que o envelhecimento é um processo
dinâmico e progressivo onde há modificações tanto morfológicas14 quanto
13 Segundo Bueno (1998), a motricidade é o mesmo que motilidade, domínio do corpo, agilidade, destreza, locomoção, faculdade de mover-se voluntariamente. É a possibilidade neurofisiológica de realizar movimentos. Ou de acordo com Ferreira (2000), motricidade é a propriedade que certas células nervosas têm de determinar a contração muscular.
43
funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam a perda de adaptação do
indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade.
O processo natural do envelhecimento é cercado de determinantes sociais
que lhe imprimem características decisivas, peculiares a cada sociedade, a cada
momento histórico da mesma sociedade, a cada classe, grupo étnico, por exemplo.
Por outro lado, o desgaste físico e orgânico resultante do envelhecimento biológico
condiciona também os papéis desempenhados pelos indivíduos, qualificando-os ou
desqualificando-os para as suas atividades, interferindo na autonomia e
independência (JORDÃO NETTO,1999).
2.3 QUALIDADE DE VIDA E ENVELHECIMENTO
É necessário enfatizar que nem todos os idosos apresentam, na mesma
proporção, limitações físicas e sensoriais, uma vez que o envelhecimento dependerá
das características individuais e de fatores ambientais que variam no cenário de vida
de cada indivíduo.
Outro aspecto que necessita ser abordado relaciona-se à qualidade de vida e
a capacidade funcional.
Rolim; Forti (2006) pontuam em suas pesquisas que a qualidade de vida na
terceira idade15 pode estar relacionada ao fato dos idosos poderem se sentir melhor,
conseguirem realizar suas funções diárias16 básicas adequadamente e conseguirem
viver de forma independente.
Segundo a Organização Mundial de Saúde - OMS (apud GOMES; DIOGO,
2006), a qualidade de vida é definida como a percepção subjetiva do sujeito sobre a
sua atuação no meio e de acordo com a sua cultura, seus valores e a relação com
os seus objetivos, expectativas e preocupações.
14 Morfologia significa, segundo Rey (1999), o estudo da descrição da forma ou arranjo dos elementos constitutivos dos seres vivos. Portanto, o processo de envelhecimento apresenta alterações específicas nas formas e estruturas do indivíduo que envelhece. 15 A expressão Terceira Idade tem sua origem na divisão tradicionalmente conhecida como as “Idades do Homem”: infância, maturidade e velhice (PALACIOS, 2004). 16 As atividades de vida diária (autocuidado, banhar-se, vestir-se, deslocar-se) são consideradas aspectos fundamentais para analisar a capacidade funcional do indivíduo.
44
Nesse contexto, Rolim; Forti (2006) relatam que a qualidade de vida pode
estar associada ao grau de satisfação do sujeito com a vida nos seus vários
aspectos que incluem moradia, lazer, transporte, realização profissional,
relacionamentos com outras pessoas, autonomia e segurança financeira.
Acredita-se assim, que a qualidade de vida depende “de uma percepção
subjetiva dos indivíduos, do grupo populacional a que se relaciona e que faz parte
de um processo de produção, circulação e de distribuição de bens” (ROLIM; FORTI,
2006, p. 67).
Para a OMS (2008), o idoso saudável possui independência física,
psicológica, social e espiritual. Portanto, a manutenção da vida saudável é
conseqüência da diminuição na perda da capacidade e então, o bem-estar do idoso
seria um equilíbrio entre as várias dimensões da capacidade funcional deste
indivíduo.
De acordo com a OMS (apud GOMES; DIOGO, 2006), a capacidade funcional
é um aspecto fundamental para o diagnóstico de saúde física e mental do idoso e a
principal meta no trabalho com esta população está relacionada à manutenção da
independência e da autonomia. Desta forma, conforme Rossato et al (2008), alguns
aspectos são importantes na avaliação da capacidade funcional, como relações
sociais, condições de saúde, grau de escolaridade e participação na renda familiar.
É importante considerar a capacidade funcional como um dos critérios para se
manter uma boa qualidade de vida na velhice e esta relação “qualidade de vida” e
“capacidade funcional” permite monitorar o atendimento à saúde da população
idosa, identificar as causas, a gravidade e o prognóstico de patologias, assim como
avaliar e acompanhar as políticas públicas sociais e de saúde para a população
idosa.
A independência funcional configura-se como a capacidade de realizar algo
com os próprios meios e está relacionada à mobilidade e à capacidade funcional,
onde o idoso não precisa de ajuda para a realização das atividades básicas e
instrumentais de vida diária. Por outro lado, a dependência funcional é conceituada
como a incapacidade de funcionar adequadamente sem ajuda por limitações físicas
ou cognitivas (GOMES; DIOGO, 2006).
Considera-se, neste contexto, a alteração da motricidade como a principal
causa da dependência funcional e pode ser justificada por vários fatores, como
45
doenças incapacitantes, desmotivação, falta de adaptação ambiental para melhor
segurança e inadequação de práticas terapêuticas.
Assim, a qualidade de vida na terceira idade tem sido associada a questões
de independência funcional e autonomia, pois conforme Néri (1993), a possibilidade
de manter-se ativo e independente, possibilita um bom grau de satisfação em
relação à vida e, consequentemente, permite uma melhora na qualidade de vida.
Para Gomes; Diogo (2006, p. 118) a autonomia, é por sua vez, definida como:
a capacidade de decisão e comando sobre as suas ações, de estabelecer e seguir suas próprias regras, assim como inclui liberdade individual, privacidade, livre escolha, autogoverno, independência moral e liberdade para satisfazer suas necessidades e sentimentos.
De acordo com Rolim; Forti (2006), autonomia e independência são conceitos
que estão diretamente relacionados às competências de vida diária 17 e existem três
aspectos destas competências: atividades básicas de vida diária (AVDs), atividades
instrumentais de vida diária (AIVDs) e atividades avançadas de vida diária (AAVDs).
As AVDs são aquelas relacionadas ao autocuidado, como banhar-se, vestir-
se, fazer a higiene pessoal, conseguir se deslocar no espaço e alimentar-se. As
AIVDs envolvem tarefas mais complexas e o idoso, neste caso, executará as AVDs
utilizando os recursos disponíveis no meio ambiente, como por exemplo, a
capacidade de fazer compras, usar os medicamentos de maneira adequada, utilizar
os meios de transporte, preparar a própria alimentação e fazer trabalhos manuais
domésticos. Já as AAVDs envolvem situações como dirigir carro, participar de
serviços voluntários e praticar esportes. Tais atividades dependem de vontade,
motivação e de fatores culturais e educacionais (DIOGO; NERI; CACHIONI, 2006).
A independência para AVDs, AIVDS e AAVDs inclui uma série de
movimentos, como elevar-se e flexionar-se e a própria mobilidade. Neste sentido,
esta é considerada um componente que interfere no quanto o indivíduo pode se
deslocar num determinado ambiente, sendo um dos aspectos fundamentais para a
execução de atividades relacionadas às competências de vida diária e para a
manutenção da independência, principalmente, no espaço urbano de circulação.
17 Entende-se por competências de vida diária, a capacidade ou potencial para realizar adequadamente as atividades consideradas fundamentais à vida independente e estão relacionadas aos fatores socioculturais e a determinantes genéticos-biológicos (ROLIM; FORTI, 2006).
46
Do ponto de vista psicológico, o envelhecimento apresenta mudanças que
são individuais e as adaptações podem acontecer naturalmente, de maneira
saudável ou patológica. As modificações dependerão das experiências e do contexto
sócio-econômico cultural no quais os idosos estão inseridos e podem estar
acompanhados de depressão, doenças e regressão.
Por conta de ressignificações acerca da velhice, verifica-se que há a
possibilidade também de o processo de envelhecimento estar relacionado à vida
ativa, onde há uma valorização do envelhecer, permitindo ao idoso considerar o seu
potencial de experiência e conhecimentos acumulados.
A partir de tais colocações é importante que sejam identificados os principais
aspectos relacionados à evolução urbana no Brasil e na RMB, para só então,
compreender as dificuldades de acessibilidade e mobilidade urbana dos idosos que
apresentam uma vida ativa e que se deslocam no espaço urbano de circulação.
47
3 A CIDADE E O ESPAÇO URBANO DE CIRCULAÇÃO
Este capítulo objetiva apresentar a cidade como espaço social e descrever o
processo de evolução urbana do Brasil e, em particular, da cidade de Belém. A
primeira seção deste descreverá aspectos da transformação do espaço urbano de
circulação, com o surgimento das cidades. A segunda seção abordará aspectos da
urbanização da cidade de Belém. A terceira descreverá o Plano Diretor da Cidade
de Belém e sua importância no contexto dos idosos assim como desenvolverá
aspectos da acessibilidade e mobilidade no espaço urbano de circulação.
3.1 O SURGIMENTO DAS CIDADES
Os estudos sobre a cidade podem apresentar um caráter histórico ou mesmo
sociológico. Seguindo tal disposição explicativa, a obra de Coulanges (1995) sobre o
surgimento da cidade antiga mostra-se importante e muitos estudos não apresentam
a organização cronológica, com datas específicas associadas ao surgimento destes
espaços até o processo de urbanização.
O autor descreveu a formação das cidades a partir do núcleo familiar como
sendo, durante muitos anos, a única forma da sociedade existente.
Segundo o autor, a família era muito extensa, demonstrava pouca iniciativa
para a solução prática de atividades que pudessem solucionar as necessidades
materiais e acreditava fielmente no poder dos deuses (crença repassada de geração
para geração). Dessa forma, o fortalecimento da crença nos deuses e o
desenvolvimento da sociedade humana aconteciam paralelamente.
Neste período, não era permitido que diferentes famílias, com diferentes
crenças, estabelecessem qualquer tipo de vínculo, porém, era possível que se
reunissem para celebrar cultos que fossem comuns a elas, sendo denominado de
“fratria” ou “cúria” o grupo formado pelas mesmas.
Na “fratria” ou “cúria” adotavam-se práticas, principalmente, em relação ao
preparo do alimento. As famílias acreditavam que os alimentos preparados no altar,
48
sob as bênçãos dos deuses e compartilhados entre os membros das famílias,
fortaleciam os vínculos entre elas.
Ainda de acordo com Coulanges (1995), cada “fratria” apresentava suas
regras e era considerada como uma pequena sociedade modelada sobre a família.
Assim, muitas “fratrias” se juntaram e formaram as “tribos”.
As tribos, por sua vez, também tinham uma divindade protetora e o alimento
continuava fazendo parte do momento mais importante das cerimônias religiosas, na
medida em que todos os membros compartilhavam deste ritual. Além desse aspecto,
aparentavam constituir uma sociedade com características independentes e sem
poder social acima das suas crenças.
É importante enfatizar que as crenças religiosas contribuíram para
fundamentar as leis e que, inicialmente, eram demonstradas pela adoração aos
deuses ou atribuição de sentimentos e poderes a objetos inanimados ou elementos
da natureza.
No decorrer da história, o que se verifica é que as famílias, ao demonstrarem
obediência aos deuses, fortaleciam vínculos entre si. Foram criados os santuários e,
por conseguinte, os templos e dessa forma, a sociedade cresceu.
Mesmo compreendendo que as tribos adoravam deuses diferentes, na
medida em que muitas delas se reuniam, respeitando as características de cada
uma, havia um fortalecimento dos laços sociais e assim, as cidades foram surgindo.
O que se encontra na literatura, especificamente, em Coulanges (1995),
evidencia que muitas famílias formaram a fratria, muitas fratrias formaram tribos e
muitas tribos formaram as cidades e, nenhuma delas perdeu as suas características.
A cidade antiga, assim formada, não modificou a constituição das famílias em
termos de organização e adoração aos seus deuses. Portanto, o vínculo social
estabelecido entre as famílias primitivas possibilitou o surgimento das cidades na
medida em que foram estabelecidas regras sociais em torno da religião e das
crenças.
É importante comentar que nem todas as cidades podem ter surgido da
mesma forma, porém, consideram-se aspectos fundamentais para a compreensão
do conceito de cidade.
Ainda para Coulanges (1995, p. 138), os conceitos de cidade e urbe eram
diferentes: “...a cidade era a associação religiosa e política das famílias e das
49
tribos; a urbe era o lugar de reunião, o domicilio e sobretudo, o santuário dessa
sociedade.”
As sociedades antigas, em particular, as de Roma e Athenas, acreditavam
que a localização das urbes era definida pelos deuses, precisavam ser respeitadas e
aconteciam a partir de cerimônias religiosas.
Todas as cidades apresentavam um histórico particular dependendo das
famílias que formaram as “fratrias” e estas as tribos. A religião, nesse contexto, foi
fundamental para o estabelecimento de vínculos sociais. Com o crescimento das
cidades, pôde-se perceber uma mudança significativa da vida urbana,
principalmente no que diz respeito aos atores que nela atuam, que interagem entre
si e com o meio no qual estão inseridos. Assim, muitas teorias tentaram definir o
conceito de cidade e um simples recorte não permitiria uma análise adequada.
Neste contexto, considerando a leitura de Coulanges (1995), Lefebvre (1991)
define a cidade como a projeção da sociedade sobre um dado território, o que
possibilita refletir sobre uma realidade mais do que geográfica. Portanto, a cidade é
produto de questões culturais, históricas, econômicas e políticas.
Em seus estudos acerca da formação das cidades, Lefebvre (1991),
estabelece uma classificação importante e define as cidades como política,
comercial, industrial e a sociedade urbana.
3.2 A URBANIZAÇÃO EM BELÉM
Segundo Sarges (2002), a formação da cidade de Belém aconteceu em
virtude da ocupação européia e por conta do estabelecimento de uma fortificação
militar (século XVII) com o objetivo de proteger a Região Amazônica das invasões
estrangeiras.
A partir de expedições realizadas em 1615, após a expulsão pelos franceses
do Maranhão, Castelo Branco desembarcou na Baía do Guajará e construiu uma
fortaleza para fixar residência e evitar ataques às novas terras conquistadas,
nomeando-a de Forte do Presépio (recebendo a denominação futura de Forte do
Castelo, Feliz Luzitânia e a seguir, Santa Maria de Belém do Grão Pará). Nesse
momento, é formado um núcleo urbano.
50
Aos poucos, os colonizadores abriram ruas e avenidas, expandindo a cidade
de Belém, principalmente, a partir de doações de terras a colonos portugueses e
religiosos. Havia, neste momento, um interesse em ocupar determinados espaços
físicos pelos religiosos, já que contribuiriam para impedir a invasão de europeus
(SARGES, 2002).
De acordo com a autora, o processo de povoamento foi considerado lento na
medida em que os índios apresentavam resistência à colonização. Na primeira
metade do século XVII, havia um total de 80 moradores e no ano de 1661, 700
moradores.
É importante enfatizar que a agricultura favoreceu o aumento do número de
habitantes a partir do momento em que possibilitou a entrada de colonos açorianos,
em 1676. A atividade econômica desta época era direcionada para a cana-de-
açúcar, arroz, algodão e cacau.
Assim, para a organização dos novos habitantes e considerando o aumento
da população, foi necessário criar novas ruas e o núcleo urbano começa, então, a se
expandir. Ao final do século XVIII, Belém já contava com mais de 10.620 habitantes
e confirmava a necessidade de reorganizar o seu espaço físico.
Em uma perspectiva nacional, foi a partir do século XVIII, de maneira geral,
que se verificou um maior desenvolvimento da urbanização no Brasil. De acordo
com Santos; Siqueira (2001), apesar de o país apresentar um grande espaço físico,
na época, as relações entre os lugares eram consideradas inconstantes e com uma
economia ainda baseada na agricultura, o processo de organização das cidades
assemelhava-se a um processo de surgimento de muitas delas e não de
urbanização propriamente dito.
Sarges (2002) acrescenta que, no período compreendido entre 1835 e 1837,
aconteceram movimentos das camadas populares em relação aos interesses da
camada portuguesa dita dominante. Tal fato também interferiu na movimentação do
núcleo urbano e no enfraquecimento da economia a partir do momento em que os
movimentos diminuiram o número de habitantes.
Entre 1840 e 1920, a economia da região passou a ser direcionada para a
extração da borracha. Assim, novos moradores para a região em busca de melhorar
as condições de vida e aproveitar a nova fonte de renda, forçando a cidade a
crescer e a modificar o seu espaço urbano, com a criação de novos bairros (muitos
deles afastados do núcleo comercial).
51
Sarges (2002, p. 53) cita que Belém, ao passar pelas modificações citadas:
“...passou a expressar através da construção de obras, urbanização, formação de
elites, na construção de um modelo ideal de sociedade moderna, a materialização
da modernidade”.
Neste contexto, com a economia da borracha, houve a necessidade de se
organizar melhor o espaço urbano, acompanhado de modificações sociais e
políticas, principalmente, para facilitar a produção e o deslocamento do produto para
outros países.
As modificações sociais estavam relacionadas à ascensão da classe
dominante (fazendeiros e seringalistas) e às demandas ligadas à segurança e
conforto. As modificações políticas relacionavam-se à necessidade de ordenar o
espaço público a fim de torná-lo atrativo aos novos investimentos.
Surgem, também, com o aumento da população, os problemas sociais e a fim
de enfrentar as crises, a classe dominante impôs ao Estado a função de direcionar
as atividades econômicas, de replanejar a cidade de Belém e a de elaborar
substratos para melhorar a qualidade de vida dos seus moradores.
Seguindo estas necessidades, Antônio Lemos, no período compreendido
entre 1897 e 1910, buscou reurbanizar Belém de acordo com a economia capitalista
da região e, em 1850, possibilitou que a cidade assumisse a função de porto
escoador da borracha.
Neste processo de reurbanização da cidade, foram necessárias que algumas
medidas fossem adotadas, como as mudanças de posturas dos habitantes no que
diz respeito à higiene e saúde pública, com a finalidade de evitar a disseminação de
doenças, sendo criado neste momento, o Departamento Sanitário Municipal.
Modificações foram percebidas nos comportamentos dos moradores e Belém
também apresentou uma nova estética. A classe dominante passou a se destacar
muito mais e a tomar conta do espaço urbano, promovendo o afastamento da
camada popular dos centros urbanos.
Novamente, em uma perspectiva mais ampla, em 1900, somente quatro
cidades apresentavam mais de cem mil habitantes, a citar, Rio de Janeiro, São
Paulo, Salvador, Recife e Belém. Porém, foi no fim do século XIX que houve o
primeiro grande crescimento urbano, pois em 1872, a população urbana brasileira
52
representava cerca de 900 mil pessoas, enquanto que em 1900, este número
cresceu para 1,2 milhões de pessoas 18 (SANTOS, M., 2002).
Considerando valores absolutos, somente entre 1920 e 1940, a população
concentrada nas cidades passou de 4,55 milhões de pessoas em 1920 para
6.208.699 em 1940, apresentando paralelamente, um crescimento da população em
serviços muito maior que o da população economicamente ativa. Neste período, a
urbanização brasileira apresentou um crescimento importante, reforçado pelo
aumento dos investimentos locais em companhias de energia, de telefone, meios de
transporte, bancos e instituições de ensino.
A organização urbana passou a ter novos significados, tanto do ponto de vista
funcional quanto do ponto de vista estrutural, uma vez que, ao longo da história, o
capital promoveu o surgimento de novas atividades de comércio e serviços, acelerou
a urbanização em algumas cidades e modificou, assim, as relações sociais
(CORRÊA, 2005).
Ao longo da evolução urbana, alguns estudiosos na área, como Vasconcellos
(1996) e Santos, M. (2005), afirmaram que a configuração espacial do espaço
urbano influenciou o desenvolvimento socioeconômico das grandes cidades e das
metrópoles, onde a quantidade de espaço físico disponível faz da acessibilidade
elemento fundamental de sua estruturação.
Nesse contexto, Vasconcellos (1996) cita que o espaço urbano, sob o aspecto
físico, apresenta um movimento de bens e pessoas entre diferentes locais,
sugerindo que o processo de estruturação espacial das grandes cidades esteja
relacionado ao processo de estruturação social, confirmando uma relação positiva
entre espaço e sociedade.
Após a Segunda Guerra Mundial, modificações aconteceram nos sistemas de
engenharia e no sistema social, com reorganização do espaço físico do país, com a
implantação de estradas de ferro, portos e a criação de meios de comunicação.
Porém, a troca de informações entre mercado e a sociedade ainda foi considerada
reduzida porque somente participava do processo de organização espacial uma
parcela da população envolvida no processo econômico.
18 Segundo Santos, Siqueira (2001), foi difícil confirmar a participação da população urbana para períodos anteriores a 1940, uma vez que os censos não enfatizavam essa característica. Somente a partir de 1940 foram separadas a população das cidades e vilas (urbanos e suburbanos) da população dita rural.
53
No período compreendido entre 1930 – 1950 se desenvolve o processo de
industrialização, favorecendo uma modificação política e organizacional do país,
assim como um novo arranjo econômico, importante para o processo de
urbanização.
A industrialização, neste momento, contribui para modificações sociais
também, uma vez que:
inclui a formação de um mercado nacional, quanto aos esforços do equipamento do território para torná-lo integrado, como a expansão do consumo em formas diversas, o que impulsiona a vida de relações e ativa o próprio processo de urbanização (SANTOS, SIQUEIRA, 2001, p. 30).
Nesse contexto, esta reorganização econômica sai do âmbito local e passa a
ser nacional, possibilitando uma urbanização e um crescimento demográfico cada
vez maior, principalmente nas grandes capitais.
Para Santos; Siqueira (2001), as metrópoles apresentam algumas
características, como: formação com mais de um município e são regiões de
planejamento, a partir das quais são considerados aspectos setoriais, ou seja, o
planejamento não atende problemas gerais da área, mas interesses locais e de
caráter coletivo. O espaço físico da metrópole é organizado e reorganizado a partir
de pólos dinâmicos e, considerando os diferentes agentes, as transformações
acontecem não só nos aspectos econômicos, mas também nos sociais.
Para o autor, nas metrópoles há interdependência do que se chama
categorias espaciais, como tamanho urbano, modelo rodoviário, carência de infra-
estrutura, especulação imobiliária e fundiária, problemas de transporte, periferização
da população, que acabam ocasionando um modelo de centro-periferia. E, dentro
desta realidade, o crescimento urbano é conseqüência dessas características.
Assim, todas as cidades, independente do tamanho, número de habitantes e
atividades desenvolvidas, apresentam aspectos de diferenciação, como problemas
de emprego, da habitação, transportes, saneamento, educação e saúde.
De acordo com Rodrigues (1996), as principais conseqüências da
urbanização são: a poluição do ambiente e a concentração de milhões de pessoas
nos grandes centros urbanos, privando estes indivíduos da satisfação de algumas
necessidades ditas fundamentais à saúde pública, como moradia, alimentação,
54
abastecimento de água, adequadas condições de acessibilidade e mobilidade
urbanas.
Voltando a falar da cidade de Belém, esta passou por um processo de
reordenamento espacial e hoje, localizada na foz do Rio Amazonas, lidera a área
urbana atual denominada de Região Metropolitana de Belém – RMB. Esta foi criada
por Lei Complementar Federal em 1973, alterada em 1995, conta com mais de
2.043.543 de habitantes e compreende os municípios de Ananindeua, Belém,
Benevides, Marituba e Santa Bárbara do Pará. (IBGE, 2006).
De acordo com as últimas pesquisas, a taxa de urbanização dos cinco
municípios da RMB é diferenciada, apresentando 99,8% em Belém e 99,4% em
Ananindeua. Como município pólo da RMB, Belém apresenta uma densidade
demográfica alta quando comparada aos demais municípios. Em 2000, Belém
apresentava 2.056,3 hab/km² e a diferenciação das densidades por espaço
delimitado demonstra que há uma maior densidade nos bairros centrais da cidade
(COORDENADORIA GERAL DE GESTÃO DE PESSOAS -COGEP, 1992).
Neste contexto, a urbanização em Belém, tem sido acompanhada por
aumento da expectativa de vida e outros indicadores de bem-estar, mas também
trouxe problemas, como os modos de se deslocar, autonomia de deslocamento, ou
mesmo a melhora da qualidade de vida.
Já que as questões relacionadas às condições de mobilidade são
consideradas problemas das grandes cidades, é necessário contextualizar a
concentração geográfica das atividades e suas conseqüências sociais, econômicas
e administrativas para então compreender melhor os indicadores e as condições de
mobilidade da população urbana.
3.3 O PLANO DIRETOR DA CIDADE DE BELÉM E OS ASPECTOS DE
MOBILIDADE E ACESSIBILIDADE URBANAS PARA OS IDOSOS
A partir de registros do IBGE (2007), nas cidades brasileiras vivem,
aproximadamente, 82% dos habitantes do Brasil, porém, uma parte restrita da
população tem acesso à moradia, lazer, trabalho e transporte adequados. Belém,
como grande cidade, também está inserida nesta realidade e torna-se, então,
55
fundamental, repensar a cidade enquanto espaço de vida, de desenvolvimento
humano e de história.
O problema urbano é complexo e segundo Dias (2002), o caos urbano é
conseqüência da transformação infra-estrutural da sociedade brasileira, da
sociedade global e que provoca, assim, migrações e modifica a dinâmica de vida,
impondo mudanças de valores nos aspectos considerados necessários, como
vestuário, moradia, lazer e saúde.
Segundo a autora, a cidade apresenta espaços urbanos diferentes nos quais
se verificam áreas cobertas por serviços e infra-estruturas básicos, permitindo aos
moradores o acesso à moradia com qualidade de vida, ao mesmo tempo em que há
a favelização, a falta de saneamento, energia, educação e segurança. Assim, a
segregação social e espacial é considerada resultado da apropriação desigual dos
espaços urbanos e a cidade é considerada um lugar onde acontecem as grandes
atividades econômicas e as disputas políticas.
Torna-se necessário, portanto, compreender que todo o sistema urbano e os
serviços nele contidos, carecem de estrutura que reúna eficiência, bem-estar social,
equilíbrio do meio ambiente e qualidade de vida aos seus moradores. Tal situação
exige um novo olhar, mais justo, igualitário e dinâmico, com possibilidades de
soluções aos problemas urbanos que promovam um melhor ambiente e condições
de vida adequada aos cidadãos.
A partir do que foi apresentado, para que haja uma convivência tranqüila entre
os moradores de um mesmo espaço público, são definidas regras pelos próprios
indivíduos e, entre as regras propostas, é importante citar o Plano Diretor.
A partir de discussões com diferentes segmentos da sociedade e com base
nas contribuições obtidas nas Audiências Públicas Temáticas e Territoriais
aprovadas na Câmara Municipal de Belém, em julho de 2008, foi aprovada a Lei
8.655, que dispõe sobre o Plano Diretor da Cidade de Belém.
De acordo com o Estatuto da Cidade, o Plano Diretor deve ser direcionado
pela Prefeitura Municipal em parceria com os representantes da sociedade e depois
aprovado pela Câmara dos Vereadores. O Município organiza a formação de um
núcleo gestor responsável por construir e monitorar o Plano Diretor, definindo regras
e prazos para cada etapa de construção. Compõem este núcleo: técnicos do poder
público e membros da sociedade organizada. O Plano Diretor reflete as expectativas
da população de acordo com as necessidades locais em busca da melhora da
56
qualidade de vida. E o plano de Belém encontra-se em processo de atualização e
todos os moradores são convidados a participar de maneira democrática deste
processo.
O Plano Diretor representa a lei municipal que organiza o crescimento e o
funcionamento da cidade, para garantir aos cidadãos do município um lugar
adequado para morar, trabalhar e viver com dignidade. Dessa forma, o plano é um
instrumento da política urbana importante para a sociedade a partir do momento em
que interfere no desenvolvimento local e considera os fatores políticos, econômicos,
culturais, ambientais, sociais e territoriais que caracterizam a situação do município.
Considerando o processo de urbanização da cidade de Belém, torna-se
fundamental entender o funcionamento do Plano Diretor para que seja possível a
compreensão dos aspectos que influenciam de maneira significativa a qualidade de
vida dos idosos, já que compõem parcela importante da população e que
necessitam de um olhar diferenciado para as questões relacionadas à mobilidade e
acessibilidade urbanas.
Ressalta-se o conceito de acessibilidade como a medida mais direta de se
atingir os destinos desejados, enquanto que a mobilidade é um atributo associado às
pessoas e aos bens, corresponde às diferentes respostas dadas por indivíduos às
suas necessidades de deslocamento, considerando-se o espaço físico e a
complexidade das atividades nele desenvolvidas (BOARETO, 2006).
O Plano Diretor aborda alguns aspectos da Política de Mobilidade e
Acessibilidade Urbanas. Apresenta como algumas de suas diretrizes:
1) promover o acesso amplo e democrático ao espaço urbano, com a
adoção de tarifas e equipamentos adequados no Serviço de Transporte Público de
Passageiros, contemplando os portadores de necessidades especiais ou com
mobilidade reduzida;
2) promover a integração das políticas de mobilidade urbana, uso e
controle do solo urbano;
3) priorizar a circulação de pedestres, das pessoas portadoras de
necessidades especiais ou com mobilidade reduzida e dos veículos não motorizados
sobre o transporte motorizado e dos veículos coletivos em relação aos particulares;
57
4) favorecer os deslocamentos não motorizados, através da ampliação da
rede cicloviária, melhoria da qualidade das calçadas, paisagismo, iluminação e
sinalização;
5) estruturar o sistema de transporte público de passageiros,
possibilitando a inclusão de pessoas portadoras de necessidades especiais ou com
mobilidade reduzida, garantindo condições adequadas de conforto, segurança e
confiabilidade.
No que diz respeito à população idosa, o Plano Diretor apresenta alguns
aspectos importantes sobre a mobilidade e acessibilidade urbanas, principalmente
nas seções II e III, Capítulo III.
A Política Municipal de Mobilidade Urbana (seção II, artigo 41) apresenta
como objetivo contribuir para o acesso amplo e democrático à cidade, por meio do
planejamento e gestão do Sistema de Mobilidade Urbana e como uma das diretrizes
desta política (seção II, artigo 42), há a priorização da circulação de pedestres, das
pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida e dos veículos não
motorizados sobre o transporte motorizado (PLANO DIRETOR, 2008).
Quanto à acessibilidade, o Poder Público Municipal deverá garantir a
acessibilidade a toda a população, com segurança e autonomia, total ou assistida,
dos espaços, mobiliários, edificações e equipamentos urbanos públicos, dos
serviços de transporte públicos e dos dispositivos, sistemas e meios de
comunicação e informação (Artigo 50, Seção III, PLANO DIRETOR, 2008).
De acordo com o parágrafo 1º, seção III do Plano Diretor, a garantia dos
princípios da autonomia e da segurança, deverá respeitar as diferenças urbanas de
uso do tempo e espaço da pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade
reduzida.
Verifica-se que a população, principalmente a idosa, não tem conhecimentos
sobre o que dispõe a Lei 8655, o que possibilita a vulnerabilidade deste segmento
social em relação às decisões e articulações sobre os aspectos relacionados à
mobilidade e acessibilidade urbanas.
Acredita-se que a falta de conscientização a respeito dos processos de
natureza espacial, fundamentais na formação e crescimento das cidades, faz com
que a localização dos espaços públicos de circulação, recreação e uso institucional
58
atenda estratégias comerciais e critérios dos empreendedores privados, do que ao
interesse público de qualificação do espaço urbano (VASCONCELLOS, 1996).
Verifica-se que as transformações no espaço urbano de circulação estão
diretamente relacionadas à necessidade de uma adequada infra-estrutura que
atenda à demanda de uma população específica, como a dos idosos ou indivíduos
portadores de necessidades especiais ou deficiência19, uma vez que o crescente
desenvolvimento urbano das cidades apresenta como conseqüência a fragmentação
e uso inadequado do solo, disponibilizando um espaço físico de circulação cada vez
mais limitado.
Neste contexto, a expansão e as grandes transformações das cidades
influenciaram de maneira significativa a qualidade de vida da população,
principalmente no que diz respeito aos aspectos de mobilidade e acessibilidade
urbanas.
No Brasil, os últimos dados da PNAD (IBGE, 2006) mostram que 14,5% da
população apresentam algum tipo de deficiência, o que representa 26 milhões de
pessoas. A deficiência, temporária ou não, gera redução de mobilidade e impede
que estes indivíduos acessem e se desloquem com autonomia e independência no
espaço urbano de circulação e consequentemente, comprometem a sua participação
na sociedade. Acrescenta-se a esta situação, os obstáculos físicos observados no
meio urbano que não facilitam e não promovem os deslocamentos adequados desse
grupo social.
A organização das grandes cidades, em sua maioria, se deu em função das
necessidades de uma parcela da população e foram adaptadas à circulação de bens
e serviços fundamentais. Porém, tal organização acabou por prejudicar a dinâmica
de vida de alguns indivíduos, como por exemplo, a circulação urbana de cidadãos
com dificuldade de locomoção, de baixa renda e idosos20.
Para a estruturação dos espaços físicos, é necessário promover a inclusão e
a utilização deste espaço por qualquer indivíduo, com autonomia e segurança. Para
19 Uma pessoa portadora de deficiência é qualquer indivíduo incapaz de assegurar por si mesmo, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência congênita ou não, temporária ou permanente, em suas capacidades físicas, sensoriais e mentais. Pessoas com restrição de mobilidade possuem necessidades para se deslocar pela cidade, em função da idade e estado de saúde (FERREIRA, SANCHES, 2003). 20 O próximo capítulo abordará as principais políticas públicas relacionadas ao idoso.
59
que isso aconteça, o Desenho Universal21 deve ser considerado e parte da
concepção de espaços que visam atender simultaneamente todas as pessoas, com
diferentes características, de forma autônoma, segura e confortável, constituindo-se
nos elementos ou soluções que compõem a acessibilidade (BRASIL, 2006).
Portanto, qualquer espaço precisa ser construído de acordo com o conceito de
desenho universal, a fim de alcançar uma adequada acessibilidade ao meio urbano
e possibilitar uma sociedade inclusiva.
Alguns princípios básicos do desenho universal precisam ser observados,
como: a) o uso equiparável (útil e comercializável às pessoas com habilidades
diferenciadas), b) flexibilidade no uso (atende a uma ampla gama de indivíduos,
preferências e habilidades), c) uso simples e intuitivo (uso de fácil compreensão,
independentemente de experiências, nível de formação, conhecimento do idioma ou
da capacidade de concentração do usuário), d) informação perceptível (comunica
eficazmente ao usuário as informações necessárias, independentemente de sua
capacidade sensorial ou de condições ambientais), e) tolerância ao erro (minimiza o
risco e as conseqüências adversas de ações involuntárias ou imprevistas), f) baixo
esforço físico (pode ser utilizado com um mínimo de esforço, de forma eficiente e
confortável), g) tamanho e espaço para aproximação e uso (oferecem espaços e
dimensões apropriados para interação, alcance, manipulação e uso,
independentemente de tamanho, postura ou mobilidade do usuário) (BOARETO,
2006).
Além dos aspectos considerados fundamentais quanto ao desenho universal,
é importante abordar a importância dos direitos humanos no espaço urbano de
circulação.
Segundo Dias (2002), os direitos humanos expressam os anseios, carências
e necessidades humanas. Além disso, acrescenta-se a obrigatoriedade de seu
respeito e proteção por órgãos estatais e sociedade a partir de políticas públicas em
áreas ditas urbanas. Neste contexto, os princípios constitucionais para o
desenvolvimento dos espaços urbanos são fundamentais.
21 O conceito de desenho universal foi criado em 1963 nos EUA e chamado inicialmente de “desenho livre de barreiras”, por enfatizar a eliminação de barreiras arquitetônicas nos projetos de equipamentos, edifícios e áreas urbanas. Esta definição mudou para desenho universal e passou a considerar, principalmente, as diferentes características das pessoas e apresenta como objetivo garantir a acessibilidade a todos os indivíduos (ORNSTEIN, 2006).
60
O direito às funções sociais da cidade implica em dizer que todos têm direito à
cidade, direito à vida com qualidade, em condições dignas. Significa tratar os
problemas sociais a partir de políticas em transformação, possibilitando uma
sociedade mais justa e que é objetivo de todo Município. Considera-se, portanto, a
necessidade de se oferecer espaços urbanos aos cidadãos e que estes possam, por
sua vez, ter acesso à moradia, saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao
transporte, aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer.
Outro princípio importante é o da igualdade, cujo objetivo é evitar injustiças e
favorecimentos ilegítimos. Ou seja, é o principio que exige concretização por meio
de políticas públicas que evidencie esforços para que, gradualmente, diminua as
desigualdades sociais, possibilitando oportunidades iguais e boas condições de vida
a todos. Conforme cita Dias (2002, p. 176): “O principio da igualdade deve ser
baseado na proporcionalidade da desigualdade entre os seres humanos, a fim de
que todos possam ter iguais condições ante as possibilidades do cotidiano.”
Um terceiro principio constitucional é o da dignidade da pessoa humana. Este
principio supõe a necessária busca de comportamentos e hábitos morais que levem
em consideração o respeito ao próximo, à sua condição humana e aos seus direitos.
Ainda de acordo com a autora, garantir a dignidade da pessoa humana
significa prover meios e condições materiais necessários aos que, em função de sua
condição social e econômica, se encontram em situação de inferioridade e que os
impede de alcançar o desenvolvimento físico, cultural e espiritual. Portanto, ao tratar
das questões de proteção da minoria, como o caso dos idosos, o principio da
dignidade da pessoa humana torna possível um novo olhar para os seus problemas,
possibilitando, assim, o exercício da cidadania.
Considerando tais princípios, as cidades não foram projetadas, inicialmente,
para atender as demandas das pessoas portadoras de necessidades especiais ou
com mobilidade reduzida e, nesse contexto, as diversas barreiras urbanísticas e
arquitetônicas impedem o deslocamento adequado no espaço urbano de circulação.
O problema da acessibilidade não é só da população idosa ou dos que
apresentam mobilidade reduzida, há um contingente cada vez maior de pessoas
com interesses que se multiplicam e se modificam de acordo com as necessidades
de deslocamento, como por exemplo, os trabalhadores noturnos (GOMIDE, 2006).
Tal afirmação demonstra que qualquer redução de acessibilidade significa
exclusão social e, portanto, dificulta a possibilidade de acesso à saúde, educação,
61
lazer e às interações sociais. Neste caso, os idosos merecem uma atenção especial,
uma vez que representam um grupo em constante crescimento e as iniciativas que
garantam o seu direito de ir e vir, são consideradas importantes para a manutenção
da qualidade de vida.
É importante enfatizar que este segmento da população não está associado
somente às grandes limitações físicas, pois busca novas possibilidades de lazer, de
atualização e integração social, principalmente, nos núcleos da Terceira Idade, o
que exige uma constante movimentação e deslocamento no meio urbano. Porém,
apesar das características de independência e autonomia22, os riscos nos
deslocamentos ainda são considerados maiores para este grupo.
Independente do modo de deslocamento, seja a pé, utilizando o transporte
coletivo ou carros particulares, os problemas são constantes. A queda 23 é
considerada um problema crescente na população que envelhece e
aproximadamente 30% dos idosos com idade acima de 65 anos, caem a cada ano,
aumentando o risco com a idade. Muitos são os fatores que contribuem para esta
situação e os extrínsecos (meio ambiente) são os mais significativos. Entre os idosos
com 75 anos, 10% têm dificuldade de atravessar uma sala, 25% são incapazes de
caminhar 10 quarteirões e 30% são incapazes de subir escadas (SANTIAGO et al,
2004).
Assim, o idoso pedestre é considerado mais frágil em relação aos outros
sujeitos que não apresentam mobilidade reduzida, pois apresenta também
diminuição na concentração, lentidão nos reflexos pela redução das capacidades
visual e auditiva e perda de memória. É preciso considerar que o deslocamento a pé
possibilita a inclusão social, estimula os sentidos e exercita a cidadania e, na
realidade do idoso que caminha, muitas dessas necessidades não estão sendo
vivenciadas na sua totalidade em virtude dos grandes obstáculos no meio urbano
(MANTOVANI, 2006).
Neste contexto, a calçada ainda é considerada o espaço por onde os idosos
mais circulam e é também o espaço que mais apresenta riscos, como barreiras, 22 É importante lembrar que independência é a capacidade de usufruir os ambientes, sem precisar de ajuda, enquanto que autonomia é a capacidade do indivíduo de desfrutar os espaços e elementos espontaneamente (PRADO; MORAES, 2006). 23 A queda é um evento não intencional que tem como resultado a mudança de posição do indivíduo para um nível mais baixo em relação à sua posição inicial. As causas e fatores de risco são múltiplos e cerca de 10% das quedas resultam em lesões não fatais, como fraturas de quadril. Os acidentes relacionados a quedas são considerados a sexta maior causa de morte entre os idosos (SANTIAGO et al, 2004).
62
degraus e lixo. Tal situação contribui para dificultar a circulação adequada dos
sujeitos com deficiência ou mobilidade reduzida.
Os idosos também enfrentam outros problemas para se deslocar e as suas
necessidades, nesse aspecto, são grandes e a atual situação demonstra que,
apesar de existirem leis e princípios constitucionais que objetivem a garantia dos
direitos sociais do idoso, em especial, o acesso aos serviços, a prática está distante
do que se propõe.
Segundo Mantovani (2006), as barreiras urbanísticas são dificuldades
encontradas pelos sujeitos nos espaços e mobiliário urbano24, a citar: desníveis nas
calçadas, desníveis nos locais de travessia, calçadas estreitas, com obstáculos e
com mau estado de conservação. Assim, ambientes com obstáculos oferecem
poucas oportunidades para o desenvolvimento de potencialidades e impedem que o
sujeito assuma um papel social ativo, com autonomia e independência.
Torna-se fundamental enfatizar que o transporte público também não está
adaptado para atender as necessidades da população com mobilidade reduzida, em
especial, os idosos que acabam segregados e desprovidos do direito de ir e vir. Os
investimentos nessa área ainda são considerados insuficientes para atender as
demandas específicas e a população convive com as condições desfavoráveis do
transporte público urbano, como degraus altos, ônibus com número excessivo de
passageiros, além de motoristas não capacitados para lidar com as dificuldades
desse segmento social (PASSAFARO, 2006).
O crescente aumento do número de idosos e da expectativa de vida está
transformando os padrões de acessibilidade quanto aos níveis de conforto, até então
considerados normais, que passaram a ser revistos a fim de promover o acesso de
bens e serviços a um número cada vez maior da população com mobilidade
reduzida ou com algum tipo de deficiência.
Portanto, a garantia de acessibilidade no meio urbano é um desafio para
diferentes profissionais, pois o assunto requer uma abordagem mais ampla e
holística, que envolve a participação de arquitetos, urbanistas, psicólogos,
sociólogos e antropólogos. As contribuições das diversas áreas do conhecimento
24 Entende-se por mobiliário urbano todo elemento ou conjunto de elementos que pode ser instalado na via pública e que valoriza o espaço físico, atendendo aos critérios de estética e funcionalidade e nos seus aspectos cultural, social e ambiental. Bancos, suportes informativos, coberturas de ponto de ônibus e vitrines são alguns dos exemplos de mobiliário urbano (ZMITROWICS; ANGELIS NETO, 1997).
63
caminham no sentido de tornar a acessibilidade um instrumento indispensável para
tornar a sociedade inclusiva.
Nesse sentido, o próximo capítulo abordará questões fundamentais sobre as
principais políticas públicas direcionadas à população idosa e as suas contribuições
às demandas desse segmento social.
64
4 A LEGISLAÇÃO E A TERCEIRA IDADE: CONTRIBUIÇÕES PARA A
PROMOÇÃO DO BEM ESTAR DA POPULAÇÃO IDOSA
Este capítulo objetiva apresentar e compreender a articulação e
implementação de leis que atendam às demandas da população idosa. Descreverá
em um primeiro momento o Estatuto do Idoso, a Política Nacional do Idoso e suas
contribuições para a promoção do bem estar deste segmento da sociedade. No
segundo momento, trará à discussão questões relacionadas aos avanços na área de
acessibilidade e mobilidade urbanas, principalmente no que diz respeito às leis que
garantem o direito de ir e vir dos idosos no espaço urbano de circulação. No terceiro
e último momento, abordará o aspecto social presente no espaço urbano de
circulação como fundamental para o seu uso significativo a partir do momento em
que é considerado para muitos idosos uma forma de convívio.
4.1 A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO, O ESTATUTO DO IDOSO E A POLÍTICA
ESTADUAL DE AMPARO AO IDOSO
A fim de compreender melhor as políticas públicas direcionadas aos idosos, é
necessário, inicialmente, abordar a importância da Carta Magna, que surgiu em
virtude dos movimentos da sociedade civil e possibilitou avanços no que diz respeito
ao olhar direcionado às classes sociais consideradas minorias25.
A Constituição Federal (CF) de 1988 é a Carta Magna do Brasil e é a norma
fundamental que rege toda a sociedade. Apresenta em sua estrutura os direitos
fundamentais (individuais, sociais e de solidariedade) e, neste contexto, a dignidade
da pessoa humana e a cidadania são considerados dois dos mais importantes.
Assim, a Carta Magna contribuiu de maneira significativa para as mudanças,
não só em termos de políticas públicas, mas para as mudanças de comportamento
em relação às classes sociais menos favorecidas e, nesse caso, o idoso foi, durante
25 O termo minoria já foi bastante utilizado para identificar um grupo racial, cultural ou de nacionalidade, em busca de melhor status compartilhado em um mesmo habitat por outro grupo racial, cultural ou de nacionalidade dominante que não o aceita (REY, 1999).
65
muito tempo, considerado minoria na sociedade, além de não ser reconhecido como
ator social importante na reconstrução da história social, cultural e política do país.
A partir da modificação das políticas públicas no que se refere à população
idosa e a sua realidade, torna-se fundamental abordar as principais leis e seus
objetivos. Neste contexto, a Lei nº. 8.842 de 1994, dispõe sobre a Política Nacional
do Idoso (PNI), criou o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências. A PNI
foi promulgada em janeiro de 1994 pelo Presidente Itamar Franco e regulamentada
pelo decreto nº. 1948, em 3 de julho de 1996, pelo Presidente Fernando Henrique
Cardoso.
A PNI tem como objetivo assegurar os direitos sociais dos idosos e
estabelecer condições para a promoção de sua autonomia, integração e participação
efetiva na sociedade. Em 1996 passou a ser implementada nos estados e como
instrumentos de controle, conta com os Fóruns Estaduais e Regionais Permanentes
de atenção ao idoso. Estes são direcionados aos gestores municipais e aos idosos.
Com o primeiro grupo, o objetivo é refletir sobre as políticas públicas dos municípios
voltadas para a população idosa e com os idosos, em particular, a finalidade é
refletir e discutir os direitos sociais assegurados por meio da PNI e do Estatuto do
Idoso.
As questões apresentadas nos debates dos Fóruns Estaduais buscam
identificar os programas ou ações desenvolvidas em cada município, assim como
identificar os serviços que compõem a rede de atenção ao idoso, os aspectos
preconizados pelo Estatuto que ainda não estão sendo atendidos e as alternativas
que os grupos propõem para efetivar a atenção integral proposta pela PNI e pelo
Estatuto do Idoso.
Já os Fóruns Regionais de atenção ao idoso propõem em seus encontros a
troca de experiências acerca do envelhecimento e suas demandas, implementar os
Fóruns Estaduais, estimular a criação e implementação das Políticas Estaduais e
Municipais (conforme o estabelecimento na PNI e no Estatuto do Idoso), incentivar a
formação e capacitação permanente de recursos humanos visando garantir a
qualidade no atendimento ao idoso e manter a articulação freqüente com o Conselho
Nacional dos Direitos do Idoso e o gestor federal. Vale enfatizar que a realização
dos Fóruns Regionais e Estaduais é de responsabilidade dos respectivos gestores e
contam com verbas do Governo Federal e da participação de organizações não
governamentais.
66
Deve-se esclarecer que a efetivação e a obtenção de resultados positivos
nesses eventos dependem de vários fatores, como: disponibilização de verbas, do
compromisso assumido por cada gestor, da conscientização de cada idoso no
processo de mudanças e, por esse motivo, as respostas são diferenciadas em cada
região. Porém, no dia 8 de abril de 2009, a Comissão dos Direitos Humanos aprovou
o projeto de lei26 que institui o Fundo Nacional do Idoso, com a finalidade de
financiar programas e projetos direcionados à população idosa.
Verifica-se, desta forma, a existência de movimentos constantes de
profissionais e da própria população idosa quanto às necessidades de mudanças
nas políticas públicas de atenção ao idoso.
É fundamental, portanto, neste cenário de grandes transformações,
compreender como a PNI contribui para os debates propostos nos Fóruns
permanentes de atenção à população idosa a partir da instrumentalização dos
gestores, profissionais e dos próprios idosos que participam destes encontros.
A PNI apresenta princípios e diretrizes no capítulo II, divididos em seções. O
Art. 3º da Seção I apresenta como princípios:
I - a família, a sociedade e o estado têm o dever de assegurar ao idoso todos
os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo
sua dignidade, bem-estar e o direito à vida;
II - o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo
ser objeto de conhecimento e informação para todos;
III - o idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza;
IV - o idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a
serem efetivadas através desta política;
V - as diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as
contradições entre o meio rural e o urbano do Brasil deverão ser observadas pelos
poderes públicos e pela sociedade em geral, na aplicação desta Lei.
26 O projeto de lei foi proposto pelo deputado Beto Albuquerque (PSB-RS) e também autoriza a dedução do imposto de renda de pessoas físicas e jurídicas no que diz respeito às doações efetuadas aos Fundos Nacional, Estadual e Municipal do Idoso. De acordo com o projeto de lei, o fundo será constituído por recursos do Orçamento da União e por verbas destinadas ao Fundo Nacional de Assistência Social para a aplicação em programas direcionados à população idosa (CDH, 2009).
67
O Art. 4º do capítulo II apresenta como diretrizes:
I - viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do
idoso, que proporcionem sua integração às demais gerações;
II - participação do idoso, através de suas organizações representativas, na
formulação, implementação e avaliação das políticas, planos, programas e projetos
a serem desenvolvidos;
III - priorização do atendimento ao idoso através de suas próprias famílias, em
detrimento do atendimento asilar, à exceção dos idosos que não possuam condições
que garantam sua própria sobrevivência;
IV - descentralização político-administrativa;
V - capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e
gerontologia e na prestação de serviços;
VI - implementação de sistema de informações que permita a divulgação da
política, dos serviços oferecidos, dos planos, programas e projetos em cada nível de
governo;
VII - estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de
informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais do
envelhecimento;
VIII - priorização do atendimento ao idoso em órgãos públicos e privados
prestadores de serviços, quando desabrigados e sem família;
IX - apoio a estudos e pesquisas sobre as questões relativas ao
envelhecimento.
Quanto aos princípios e diretrizes apresentados a partir da PNI, verifica-se a
necessidade constante de promover a instrumentalização dos profissionais, gestores
e dos próprios idosos para que os questionamentos ocorram de maneira adequada e
assim, possibilitem as mudanças nas políticas públicas de atenção ao idoso.
Muitos são os objetivos traçados nos Fóruns Regionais e Estaduais de
atenção à pessoa idosa (conforme apresentado anteriormente) e um deles destaca a
necessidade de viabilizar e sistematizar os trabalhos e experiências junto a esse
segmento da população a fim de aumentar em quantidade as produções científicas e
divulgar a qualidade no atendimento ao idoso, uma vez que estudos e pesquisas
sobre as questões relativas ao envelhecimento ainda são consideradas limitadas no
país.
68
Já no capitulo V, da PNI, no que diz respeito às ações governamentais, o
artigo 10º estabelece que sejam competências dos órgãos e entidades públicos, na
área de habitação e urbanismo: incluir nos programas de assistência ao idoso,
formas de melhoria de condições de habitação e adaptação de moradia,
considerando seu estado físico e sua independência de locomoção; assim como
diminuir barreiras arquitetônicas e urbanas.
Essas questões urbanas apresentadas estão relacionadas diretamente ao
espaço urbano como produto social construído a partir do trabalho do homem e das
ações sociais, políticas e econômicas, assim como das necessidades das diferentes
relações de produção e dos conflitos de classe que surgem em função delas
(CASTELLS, 2000).
Portanto, a dinâmica de formação dos grandes centros urbanos é complexa e
apresenta como resultado um contínuo processo de reorganização espacial com
mudanças na qualidade de vida do indivíduo. Para o idoso, a qualidade de vida no
espaço urbano estaria relacionada ao ambiente físico limpo e seguro, serviços de
saúde acessíveis, possibilidade de participação social por meio de interações sociais
e a possibilidade de se deslocar de forma independente no espaço urbano de
circulação.
Com o aumento da expectativa de vida e, por conseqüência do
envelhecimento da sociedade, foi necessário reformular as práticas no que diz
respeito às demandas da população idosa. E apesar da existência da PNI, muito
ainda se questiona em termos de políticas públicas que atendam às necessidades
deste segmento social, principalmente no que diz respeito aos aspectos de
mobilidade e acessibilidade urbanas e, em particular, às suas conseqüências, como
por exemplo, a exclusão social.
Assim, a exclusão social no contexto urbano, expressa, segundo Castells
(2000, p. 203) “...a tendência à organização do espaço em zonas de forte
homogeneidade social interna e de forte disparidade social entre elas, entendendo-
se esta disparidade não só em termos de diferença como também hierarquia”.
O idoso, como segmento social em constante crescimento e com limitações
características do processo normal do envelhecimento, já mencionadas no capítulo I,
passa por momentos de exclusão social nas grandes cidades a partir do momento
em que estas não apresentam os aspectos considerados fundamentais à
acessibilidade e mobilidade urbanas, como os inseridos no desenho universal
69
(detalhados nas seções seguintes).
Considerando tais necessidades, o Estatuto do Idoso foi aprovado em
setembro de 2003 sancionado pelo Presidente Luis Inácio Lula da Silva no mês
seguinte e ampliou os direitos dos cidadãos a partir de 60 anos. É considerado mais
abrangente que a Política Nacional do Idoso de 1994 e aplica penas importantes
para quem desrespeitar o idoso nos seus diferentes aspectos. Estatuto do Idoso,
Lei nº. 10.741/03, se destaca por possibilitar a modificação do olhar da sociedade
em relação ao idoso.
Dentre os tópicos abrangidos estão as medidas de proteção ao idoso em
estado de risco pessoal, a política de atendimento por meio da regulação e do
controle das entidades de atendimento ao idoso, o acesso à justiça com a
determinação de prioridade ao idoso e a atribuição de competência ao Ministério
Público para intervir na defesa do idoso e qualificando, nos crimes em espécie,
novos tipos penais para condutas lesivas aos direitos dos idosos e, principalmente,
ressaltando os direitos fundamentais, como por exemplo, os direitos à vida, a
liberdade, respeito e à dignidade, bem como aos alimentos, saúde, educação,
cultura, esporte, lazer, profissionalização, trabalho, previdência social, assistência
social, habilitação e transporte.
Verifica-se que de acordo com o Estatuto e com a PNI, o idoso deveria ter
participação importante no complexo sistema que compõe a sociedade onde vive e
tem o direito de exigir o seu espaço. Porém, percebe-se que a população idosa
ainda não tem consciência dos seus direitos ou ainda não teve acesso às
informações que possibilitem à manutenção ou melhora na sua qualidade de vida no
espaço urbano de circulação.
Para Minayo (2007), as condições de participação estão em dois níveis: o do
indivíduo e da sociedade. No campo individual, busca a conscientização e, no
coletivo, considera-se o modo que as relações sociais acontecem, envolvendo
questões estruturais e conjunturais.
Portanto, no que se refere ao Estatuto do Idoso, em termos de
empoderamento social, é fundamental compreender o que dispõe o Título II. Trata
70
dos Direitos Fundamentais27 e o seu 1º Capítulo aborda os aspectos relacionados ao
Direito à Vida. É importante enfatizar os seguintes artigos deste capítulo:
Art. 8º O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um
direito social, nos termos desta Lei e da Legislação vigente.
Art. 9º É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e a
saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um
envelhecimento saudável e em condições de dignidade.
A partir do que propõe o Estatuto do Idoso e a PNI, verifica-se que o primeiro
é mais abrangente que o segundo, uma vez que, além de abordar questões
referentes à saúde e moradia, dispõe sobre as ações necessárias para a proteção
dos direitos com a possibilidade de mandado de segurança contra atos ilegais que
prejudiquem a integridade física e moral dos idosos.
O Estatuto atribui ao Estado a obrigação de garantir à população idosa: a
proteção à vida e à saúde, a partir da efetivação de políticas públicas que
possibilitem um envelhecimento saudável e em condições de dignidade28.
Segundo Silva (2005), a função principal do estatuto é funcionar como uma
carta de direitos, fortalecendo o controle do Poder Público em relação ao melhor
tratamento das pessoas com idade avançada, respeitando a sua dignidade,
galgando um lugar de respeito, transformando-se numa verdadeira educação
cidadã, buscando alcançar a posição de cidadão efetivo na sociedade aos idosos
com participação ativa.
Em relação às políticas públicas, a Lei nº. 6.582 dispõe sobre a Política
Estadual de Amparo ao Idoso (PEAI), sancionada pela Assembléia Legislativa do
Estado do Pará em 22 de setembro de 2003, na época do então Governador Simão
Jatene. A PEAI também é considerada fundamental para transformar a realidade
deste segmento social.
O Art. 1º do Capítulo I estabelece que o Estado do Pará manterá a Política
Estadual de Amparo ao Idoso, com o objetivo de assegurar-lhe os direitos sociais e
promover sua integração e participação efetiva na sociedade. 27 Segundo Dias (2002), são considerados Direitos Fundamentais os direitos inerentes à condição humana, pois independem de qualquer dever estatal de provê-los. São chamados também de Direitos das Minorias e como exemplos: o direito à vida, à liberdade, à opinião e à liberdade de locomoção. 28 A dignidade é o grau de respeitabilidade que um ser humano merece, o que difere da caridade, solidariedade e assistência que trazem em si um conteúdo pejorativo (SILVA, 2008).
71
O Art. 4º, Capítulo II dispõe sobre os princípios da PEAI:
I – a defesa do direito à vida e à cidadania;
II – a garantia da dignidade e do bem-estar;
III – a participação na comunidade;
IV – a proteção contra discriminação de qualquer natureza.
O parágrafo 1º do Capítulo II enumera as diretrizes:
I – a viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio
do idoso, que proporcionem sua integração às demais gerações;
II – a participação do idoso, por meio de suas organizações representativas,
na formulação, na implementação e na avaliação da política, dos planos, dos
programas e dos projetos a serem desenvolvidos;
III – a capacitação e a reciclagem dos recursos humanos nas áreas de
prestação de serviço ao idoso;
IV – a implementação de sistema de informações que permita a divulgação da
política, dos serviços oferecidos, dos planos, dos programas e dos projetos em cada
setor do Governo do Estado do Pará;
V – o estabelecimento de mecanismos de divulgação de informações de
caráter educativo sobre os aspectos biopsicossoaisi do envelhecimento;
VI – o apoio a estudos e pesquisas sobre questões relativas ao
envelhecimento;
VII – a descentralização dos programas de assistência, com a priorização do
atendimento ao idoso em seu próprio ambiente.
O Art. 5º estabelece os aspectos que são de competência dos órgãos e
entidades estaduais: promoção e assistência social; área da saúde; na área da
educação; na área de trabalho e recursos humanos; na área da justiça; na área da
cultura, esporte e lazer e na área de habitação e urbanismo (principalmente na
redução de barreiras arquitetônicas e urbanas).
Considerando as leis apresentadas, verifica-se a importância da Declaração
dos Direitos Humanos como desencadeadora das mudanças em termos de políticas
públicas. A Declaração foi proclamada pela resolução nº. 217 da Assembléia Geral
72
das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948 e foi assinada também pelo Brasil
na mesma data.
Assim, a Declaração dos Direitos Humanos apresenta como objetivo maior
conscientizar os indivíduos sobre a importância de se promover o respeito aos
direitos e liberdades. Contextualizando com a realidade da população idosa, citam-
se os seguintes artigos da Declaração:
1) Artigo 1º - Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e
direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às
outras com espírito de fraternidade;
2) Artigo 2º - Toda pessoa tem capacidade de gozar os direitos e as
liberdades estabelecidas na declaração, sem distinção de cor, sexo, religião, opinião
pública, raça, língua ou de outra natureza, de origem nacional ou internacional,
riqueza, nascimento ou qualquer outra condição;
3) Artigo 3º - Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança
pessoal;
4) Artigo 22 – Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à
segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação
internacional de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos
econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre
desenvolvimento de sua personalidade.
A partir do cenário histórico, político e cultural apresentado acerca das
questões relacionadas ao idoso, verificam-se alguns avanços com o surgimento de
programas, serviços e projetos, porém, alguns foram considerados importantes e
outros sem funcionalidade e não contribuíram para a melhora na qualidade de vida
da população idosa, principalmente porque não consideraram o que está proposto
na Declaração dos Direitos Humanos.
Há que se repensar nas estratégias políticas que atendam à população idosa
a partir de suas reais necessidades e que não sejam utilizadas para beneficiar
gestores ou profissionais em razão própria.
Na realidade, como o espaço urbano foi e ainda é construído por forças
dominantes (do ponto de vista econômico e político), não há interesse em modificar
a estrutura urbana em detrimento de uma minoria em termos intelectuais e de
73
participação, como é o caso da população idosa, uma vez que o acesso à
informação e a possibilidade de empoderamento deste segmento social promoveria
conflitos de classes.
Tanto a Política Nacional do Idoso quanto o Estatuto do Idoso e a Política
Estadual de Amparo ao Idoso são consideradas estratégias que representam
avanços importantes na área de atenção ao idoso e que auxiliaram na modificação
de comportamentos frente às características singulares deste grupo que, cada vez
mais, mostra a necessidade de conscientização de seus direitos.
4.2 POLÍTICA DE MOBILIDADE URBANA: PRINCIPAIS AVANÇOS
Ao longo da história do envelhecimento, foram significativos os avanços na
área de acessibilidade e mobilidade urbanas, principalmente no que diz respeito às
leis que garantem o direito de ir e vir dos idosos no espaço urbano de circulação.
Considerando as legislações vigentes, a Lei Federal nº. 10.098/2000 e o
Decreto nº. 5.296/2004, estabelecem que os municípios devam fiscalizar a questão
da acessibilidade para qualquer edificação e antes do funcionamento.
Ainda com relação à legislação, a Constituição Federal enuncia que a política
urbana executada pelo poder público municipal, conforme o artigo 182 e sua
regulamentação pela Lei Federal nº. 10.257/2001 – Estatuto da Cidade – deve
ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-
estar de seus habitantes, tendo como instrumento básico o Plano Diretor29. As
principais referências em termos de legislação urbanística municipal são as leis
federais e em especial, o Decreto Federal nº. 5.296/2004 que as regulamentam
(PASSAFARO, 2006).
Neste contexto, os princípios da acessibilidade são direcionados a todos os
sujeitos e deveriam garantir a oportunidade de se viver na cidade com um mínimo de 29 O Plano Diretor dispõe sobre um conjunto de definições para políticas setoriais a partir de diretrizes gerais e específicas para o desenvolvimento urbano e sócio-econômico dos municípios. Muitas das propostas ainda não foram realizadas, prejudicando o atendimento adequado das necessidades da população. A revisão dos planos diretores possibilitará um amplo processo de discussão com a sociedade, contemplando os diversos segmentos sociais, por meio de seminários e audiências públicas, na perspectiva de elaboração coletiva do texto final do Plano Diretor, o qual deverá ser transformado em projeto de lei e ser encaminhado à Câmara Municipal (PASSAFARO, 2006).
74
qualidade, não só em relação às questões de acessibilidade e mobilidade, mas
também no que diz respeito ao acesso à cidade saudável30.
Dessa forma, ainda de acordo com o autor citado, a função social da cidade
estaria relacionada à equiparação de oportunidade, reforçando a acessibilidade
como atributo da qualidade de vida e pressuposto da sustentabilidade ambiental
urbana.
Prado; Moraes (2006) citam como aspectos fundamentais, a partir das
legislações, sobre a acessibilidade do meio urbano: garantir a acessibilidade nas
vias, praças, parques e demais espaços de uso público; implementar rotas
acessíveis, livres de obstáculos; instalar piso tátil de alerta e direcional e semáforos
adequados aos deficientes visuais; adequar o mobiliário urbano garantindo a
aproximação e uso. Quanto aos transportes públicos citam: garantir terminais de
ônibus acessíveis e capacitação de pessoal para atender os sujeitos com mobilidade
reduzida e criar um serviço de transportes com veículos adaptados que permitam à
pessoa ser transportada sem dificuldades.
Além da legislação urbanística dos municípios, a política urbana, prevê a
utilização de instrumentos para promover o desenvolvimento urbano, como o
Estatuto da Cidade, que representa novas possibilidades para cumprir a função
social da cidade. Tais instrumentos de controle urbano têm como objetivo promover
a sustentabilidade e a inclusão social e incluem em suas propostas a implementação
de novas oportunidades de acessibilidade e mobilidade urbanas.
Os programas que surgiram significaram um avanço para a elaboração de
políticas públicas para os indivíduos com restrições de mobilidade, constituindo-se
em grandes oportunidades de participação dos diferentes segmentos interessados
na acessibilidade e mobilidade urbanas. Porém, considera-se fundamental
reconhecer o papel das três esferas de governo, os contextos dos municípios e
estados assim como as demandas dos indivíduos com deficiência ou mobilidade
reduzida.
Na verdade, refletir sobre mobilidade urbana é pensar sobre como organizar a
ocupação das grandes cidades e a melhor maneira de promover o acesso das
30 Cidade saudável é considerada, neste momento, a partir de um ambiente limpo e seguro, de um ecossistema estável e sustentável, de um alto grau de participação social, de necessidades básicas satisfeitas, de acesso às experiências, recursos, contatos e comunicações, de uma economia local diversificada, de serviços de saúde acessíveis a todos e de um alto nível de saúde (SELVA, 2008).
75
pessoas e bens ao que a cidade oferece (escolas, parques, hospitais) e não apenas
em termos de transporte e trânsito (BRASIL, 2005).
A fim de garantir uma boa mobilidade no espaço urbano de circulação, é
preciso considerar também como as cidades crescem, como as pessoas se
deslocam e como as atividades estão localizadas no espaço físico. Assim, devem
ser adotadas medidas mais contextualizadas e funcionais ao sistema que se
observa para só então atender as demandas específicas dos diferentes segmentos
sociais e garantir uma boa mobilidade urbana, sustentável e socialmente inclusiva.
A política de mobilidade urbana faz parte da política de desenvolvimento
urbano e está articulada com as políticas ambientais. Estabelece os direitos dos
usuários e orienta a construção das regras para a regulamentação e planejamento
do transporte público. A proposta é orientar os itinerários, definir em quanto tempo
deve passar o transporte, quanto vai custar em termos financeiros, orientar a
construção de um sistema de transporte que gaste menos energia e que não ofereça
tantos riscos ao meio ambiente.
Segundo Boareto (2006), os princípios da política de mobilidade urbana são:
Acessibilidade urbana como direito universal;
Garantia de acesso dos cidadãos ao transporte coletivo urbano;
Eficiência e eficácia na prestação dos serviços de transporte coletivo;
Contribuição ao desenvolvimento sustentável das cidades;
Transparência e participação social no planejamento, controle e avaliação
dos serviços de transportes e da política de mobilidade urbana;
Justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do uso dos diferentes
modos de transporte urbano;
Equidade no uso do espaço público de circulação, vias e logradouros.
Ainda de acordo com o autor, as principais diretrizes da política de mobilidade
urbana são:
Integração com a política de uso e controle do solo urbano;
Diversidade e complementaridade entre os serviços e modos de
transportes urbanos;
76
Minimização dos custos ambientais, sociais e econômicos dos
deslocamentos de pessoas e bens;
Inclusão social;
Incentivo à adoção de energias renováveis e não poluente e priorização
aos modos de transporte coletivo e não motorizados.
Acredita-se assim, que para tornar a cidade um local de exercício da
cidadania, é preciso concretizar a participação popular e articulá-la aos
representantes do governo para então alcançarmos as propostas reais da política de
mobilidade urbana.
Neste contexto, algumas entidades e instituições como o BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) vem desenvolvendo, há muitos
anos, medidas importantes na implantação de projetos de desenvolvimento urbano e
fortaleceu o seu apoio a propostas de reestruturação de transporte público. O
BNDES atua com apoio técnico e financeiro a fim de encontrar estratégias que
atendam de maneira significativa às necessidades da população, em especial, o
segmento da sociedade com restrições de mobilidade, como os idosos (BARBOSA;
SOUZA, 2006).
Dentre as principais iniciativas do BNDES, destaca-se o Programa de Apoio à
Inclusão da Pessoa Portadora de Deficiência, em fevereiro de 2003, criada com a
finalidade de apoiar a captação de investimentos, por beneficiários do setor público
ou privado, para a sensibilização e capacitação de profissionais, com o objetivo de
eliminar as barreiras que dificultem ou impeçam a acessibilidade das pessoas
portadoras de deficiência aos ambientes públicos e privados.
Tal programa foi substituído em dezembro de 2003, pelo Programa de Apoio
a Investimentos Sociais de Empresas – PAIS. O programa envolvia investimentos
em projetos de inclusão de pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade
reduzida, como investimentos em obras e adaptações físicas de instalações e
ajudas técnicas. Assim, o banco vem ampliando suas iniciativas objetivando
contribuir para a melhora da qualidade de vida dos sujeitos com dificuldade de
locomoção.
Na realidade do Pará, em 2001, o então prefeito Edmilson Rodrigues,
sancionou a Lei nº. 8.068 que estabelece normas gerais e critérios básicos para a
promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com
77
mobilidade reduzida, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e
espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos
meios de transporte e de comunicação, no Município de Belém.
Apesar de a lei existir, verifica-se que os avanços aconteceram para uma
parcela da população com necessidades especiais e mobilidade reduzida, como
para os cegos e cadeirantes, porém, para a população idosa ainda é necessário
repensar as práticas em termos de políticas públicas, uma vez que ainda existem,
por exemplo, barreiras e obstáculos nas vias e espaços públicos que comprometem
o seu deslocamento no espaço urbano de circulação (iluminação deficiente,
calçadas com desníveis e em estado precário de conservação).
Deste modo, para que os projetos e serviços relacionados à acessibilidade,
mobilidade e desenho universal, fundamentais para a qualidade de vida
(independente da idade e do contexto sócio-econômico-cultural), sejam
considerados de maneira funcional, é preciso que haja uma gestão que assuma o
compromisso com a produção de espaços físicos acessíveis e adaptação dos
espaços que já existem (ORNSTEIN, 2006).
4.3 A FUNÇÃO SOCIAL DO ESPAÇO PÚBLICO PARA O IDOSO
Segundo Dorneles; Ely; Pedroso (2006), a população idosa no mundo alcança
o valor de 6,9%. E de acordo com o IBGE (2006), cerca de 8,6% da população
brasileira tem mais de 60 anos e encontra-se, em sua maioria, vivendo nos grandes
centros urbanos.
Pensar a população idosa dentro desse espaço urbano requer compreender
que a estrutura urbana abordada, neste momento, não está relacionada somente às
questões formais do espaço urbano, como estrutura edificada, mas também à
estrutura natural, motivo pelo quais os espaços são relacionados à estruturação
ambiental.
O conceito de espaço público31 aqui apresentado assume um papel
importante na estrutura e vivência urbana (principalmente dos idosos), uma vez que,
31 O espaço público é considerado fundamental na estruturação do espaço urbano e apresenta-se como um dos subsistemas que o constituem, representa a condição essencial para a realização da
78
enquanto local de uso coletivo, desempenha importantes funções sociais,
ambientais e econômicas. A estrutura urbana dos espaços públicos é complexa e
por este motivo, torna o espaço urbano de circulação importante e ao mesmo tempo
lhe impõe problemas de coesão territorial32 (PINTO; REMESAR; AMADO, 2008).
Nesse contexto, mesmo com as limitações observadas no processo de
envelhecimento e com as diferentes necessidades, os idosos não se privam de
procurar, de conhecer novos lugares e de desenvolver diversas atividades. Assim,
questiona-se se os grandes centros, em particular, se os espaços urbanos utilizados
pelos idosos estão preparados e adequados para atender as suas demandas
(DORNELES; ELY; PEDROSO, 2006).
Considerando o cenário dos grandes centros urbanos, alguns dos obstáculos
às demandas da população idosa dizem respeito principalmente às relacionadas ao
aspecto físico, à falta de informações do espaço urbano que facilite o seu
deslocamento e às que promovam a interação social. Tais necessidades serão
apresentadas a seguir.
Conforme Hunt (1991 apud Dorneles; Ely; Pedroso, 2006), as necessidades
dos idosos no espaço urbano de circulação são classificadas em:
Necessidades físicas: Relacionadas à saúde física, segurança e conforto
dos indivíduos no espaço urbano, apresentando-se livre de obstáculos e de
fácil manutenção a fim de evitar acidentes.
Necessidades informativas: Relacionadas ao modo como a informação
sobre o meio no qual estão inseridos é processada. A percepção (processo
de obter ou receber a informação do ambiente) e a cognição (representa o
modo como a pessoa organiza a informação recebida) são identificados
como aspectos importantes para o processamento da informação. Deve-se
considerar neste item as dificuldades visuais, por exemplo.
Necessidades sociais: Referem-se à promoção do controle da privacidade
ou interação social, dizendo respeito ao significado atribuído pelo idoso ao
espaço público pelo qual circula. As mudanças características do
vida urbana, representando também, um fator significativo de identidade das cidades, o que contribui para a sua estruturação (PINTO; REMESAR; AMADO, 2008). 32 Para Pinto; Remesar; Amado (2008) é comum encontrar problemas de coesão territorial no espaço urbano de circulação: fragmentação de importantes estruturas naturais, a exclusão social, marginalização e disparidades econômicas.
79
envelhecimento apresentam diferentes conseqüências e necessidades que
influenciam a interação dos idosos com outras pessoas e com o ambiente
no qual estão inseridos.
Desta forma, a partir da classificação das necessidades dos idosos, devem-se
considerar também as relações sociais estabelecidas a partir do deslocamento deste
grupo no próprio espaço urbano de circulação (DORNELES; ELY; PEDROSO,
2006).
Neste contexto, a dinâmica social do espaço público será definida pelas
características da população tais como interesses políticos, religiosos etc. Assim, a
dinâmica social de um lugar irá refletir as demandas singulares de um determinado
segmento social.
Considerando a realidade dos idosos (apresentadas no capítulo I), o espaço
urbano de circulação deve ser adaptado às demandas, com características que
promovam não só a acessibilidade, mas também sejam reforçadores de laços
sociais33 (PINTO; REMESAR; AMADO, 2008).
Segundo Ramos (2002), a aspiração de auto-desenvolvimento e de
interesses das pessoas está relacionada a sentimentos de bem estar na velhice.
Este segundo aspecto está diretamente ligado à capacidade de realizar trocas (de
dar e receber ajuda de forma balanceada). Tais relações sociais podem ser
negativas ou positivas.
Alguns efeitos negativos encontrados na literatura relacionados aos laços
sociais estabelecidos dizem respeito à falta de auto-estima, em especial, pela
desvalorização da pessoa idosa em diferentes sociedades. Tal situação é somada
às conseqüências do processo normal de envelhecimento, como dependência para
atividades de vida diária (AVDs) e falta de autonomia.
Pode-se verificar que a quantidade e qualidade dos contatos sociais que
reforçam um sentimento de pertencer à sociedade afeta positivamente a saúde dos
indivíduos e, neste caso, dos idosos (RAMOS, 2002).
Portanto, é possível compreender que as características da velhice afetam a
manutenção adequada das relações sociais que, por sua vez, afetam a saúde e a 33 As relações sociais ou laços sociais são considerados essenciais para manter ou promover a saúde física e mental dos idosos. Os idosos apresentam como aspectos positivos: segurança para lidar com o processo de envelhecimento e melhora na auto-estima, reduzindo o estresse na saúde mental e contribui para o controle pessoal (RAMOS, 2002).
80
qualidade de vida do individuo que envelhece. Assim, verifica-se também que,
muitos problemas de saúde podem ser causados não somente pelo processo de
envelhecimento normal, mas também pela qualidade das relações sociais.
Vale ressaltar que não é a quantidade de laços sociais dos idosos, mas o
significado das interações sociais e a possibilidade de participar como ator social
nestas interações que permitirá uma melhora na sua qualidade de vida, em especial,
no que diz respeito à saúde mental.
É neste momento que a organização espacial das cidades assume um papel
importante para a coesão ao nível social, uma vez que toda a organização do
espaço deve ser direcionada para possibilitar a acessibilidade dos diferentes grupos
sociais e sua integração neste espaço e entre si.
Apesar da compreensão acerca das necessidades dos idosos no que se
referes à mobilidade urbana, principalmente no que diz respeito às relações sociais,
com o crescimento das cidades verifica-se uma desvalorização deste espaço
público.
Tal situação é descrita por Marcelino (1983 DORNELES; ELY; PEDROSO,
2006, p. 2733):
Nas grandes cidades atuais sobra pouca ou quase nenhuma oportunidade espacial para a convivência, pois da forma pela qual são constituídas e renovadas, o vazio que fica entre o amontoado de coisas é insuficiente para permitir o exercício efetivo das relações sociais produtivas em termos humanos.
As últimas pesquisas do IBGE confirmam que os idosos têm procurado de
maneira intensa os centros urbanos por conta da infra-estrutura urbana, relacionada
à saúde ou às atividades cotidianas, já que com a longevidade, muitos deles
continuam ativos (mesmo com a aposentadoria) e buscam novas atividades, como a
inserção nos grupos da Terceira Idade.
De acordo com dados do IBGE (2006), estima-se que em 2020 haverá um
aumento de 16% no número de idosos com incapacidade, moderada ou grave. É
possível que, neste processo de envelhecimento, sejam identificados um grupo de
idosos excluídos. Todavia, em virtude do avanço da tecnologia, da medicina e de
recursos para minimizar as características da velhice e devido à mudança de
comportamento dos idosos (buscam independência e autonomia), torna-se
81
fundamental, nas sociedades modernas, entender a importância que os Núcleos da
Terceira Idade assumem na saúde dos idosos.
Os grupos ou núcleos da Terceira Idade surgiram não só para a manutenção
da saúde física, mas apresentam estratégias que caracterizam um modelo de ações
preventivas consideradas instrumentos importantes para o resgate da auto-estima e
para a inclusão social.
Portanto, diante das evidências demográficas e epidemiológicas sobre o
envelhecimento no Brasil, necessita-se considerar a valorização do idoso a partir de
sua singularidade, possibilitando autonomia e bem estar.
O aspecto social presente no espaço urbano de circulação e nos núcleos da
Terceira Idade passou a ser considerado funcional a partir do momento em que
muitos idosos passaram a utilizá-lo como uma forma de convívio. Dessa forma, os
laços sociais estabelecidos nestes espaços físicos são fundamentais para a
manutenção da qualidade de vida do idoso em todos os aspectos, em particular, do
emocional.
Este trabalho buscou identificar como os idosos, a partir de suas
características individuais, percebem o espaço urbano por onde circulam. Neste
sentido, o capítulo a seguir apresenta os resultados e a discussão acerca dos
aspectos que tornam o espaço urbano de circulação funcional a partir do momento
em que é considerado importante para o estabelecimento do vínculo social.
82
5 OS IDOSOS DO PÓLO TUNA LUSO BRASILEIRA DO PROJETO VIDA ATIVA
DA CIDADE DE BELÉM/PA
Nos capítulos anteriores foi apresentado o instrumental teórico que
oportunizou lançar luz ao processo de envelhecimento, as características do espaço
urbano de circulação e a legislação relativa aos idosos. Este capítulo apresenta os
dados da pesquisa de campo que possibilitam compreender os resultados acerca
das principais dificuldades encontradas pelos idosos no espaço urbano de
circulação. Os dados encontrados serão analisados a partir do suporte teórico até
aqui trabalhado, das áreas da saúde, antropologia e urbanismo. Para tanto, ele está
dividido em aspectos metodológicos e perfil dos idosos participantes da pesquisa.
5.1. METODOLOGIA
O estudo acerca do envelhecimento e das questões relacionadas à
mobilidade e acessibilidade urbanas é considerado fundamental a partir da
ressignificação do conceito de velhice e do aumento cada vez mais significativo do
número de idosos que buscam melhorar a qualidade de vida nos grupos da Terceira
Idade.
Considerando que muitos desses idosos são independentes e se deslocam
no espaço urbano, os dados a seguir auxiliarão na compreensão de como os idosos,
dentro de suas singularidades e dentre tantos sujeitos urbanos, percebem 34 as
limitações de acessibilidade e mobilidade no espaço urbano onde circulam a partir
da execução de suas atividades cotidianas.
Neste contexto, a partir do aumento da expectativa de vida e com o objetivo
de melhorar a qualidade de vida dos idosos, o Governo Federal, por meio do 34 Segundo Ferreira; Sanches (2003), a percepção baseia-se na capacidade que o homem possui de produzir informações a partir de impactos ambientais urbanos que constituem seu cotidiano. A partir dessa capacidade, o ser humano conhece seu ambiente e é capaz de, sobre ele, produzir opiniões e atitudes, gerando informações. Ainda de acordo com os autores, as atitudes caracterizam como uma tendência à ação, que é adquirida no ambiente em que se vive e deriva de experiências pessoais e também de fatores e personalidade. As opiniões referem-se a um julgamento ou crença em relação à determinada pessoa, fato ou objeto.
83
Ministério do Esporte, Governo do Estado e da Secretaria de Estado de Esporte e
Lazer (Seel)35, implantou o Projeto Vida Ativa. Este possibilita o atendimento a 4.000
idosos dos municípios de Belém, Ananindeua, Marituba, Santa Bárbara, Capanema
e Soure. Apresenta como meta atender idosos de ambos os sexos, a partir de 50
anos de idade, residentes nos municípios citados e busca proporcionar a
socialização, a integração, o bem-estar e a melhoria da qualidade de vida dos idosos
com a realização de práticas esportivas e de lazer.
O Projeto, conforme explicitado, oferece diferentes atividades e, neste
sentido, as principais atividades esportivas são: alongamento, caminhada, dança
recreativa, expressão corporal, ginástica, hidroginástica, natação, vôley, atletismo,
futebol de campo e jogos recreativos. Como atividades sócio-educativas e culturais:
dança folclórica, palestras, turismo social, eventos sociais e oficina de teatro. Conta
ainda com grupos administrativo e pedagógico que realizam reuniões para a troca
de experiências e avaliações das atividades desenvolvidas.
No município de Belém, o Projeto conta com alguns parceiros para
desenvolver as atividades. É possível encontrar pólos da Terceira Idade funcionando
de maneira sistemática no Clube do Remo, na ASALP (Associação dos Servidores
da Assembléia Legislativa do Pará), no Clube dos Advogados, no Estádio Olímpico
do Pará, no Iate Clube do Pará, na ALSSE (Associação de Lazer dos Sargentos e
Sub-Tenentes do Exército), na Tuna Luso Brasileira e no Município de Santa
Bárbara.
A ASALP oferecia aos idosos um total de 2 atividades (hidroginástica e
natação), no Estádio Olímpico, caminhada e treino de atletismo, no SESC
Ananindeua, 4 atividades (hidroginástica, caminhada, ginástica e dança). Já no
Clube dos Advogados, os idosos podiam participar da hidroginástica, dança e
alongamento, enquanto que na ALSSE, no Clube do Remo e no Iate Clube do Pará,
somente da hidroginástica. No município de Santa Bárbara, 4 atividades eram
ofertadas à população idosa (dança, caminhada, ginástica e alongamento). E por
fim, na Tuna Luso Brasileira, os idosos podiam se inscrever em um total de 6
atividades, a citar: voleibol, hidroginástica, dança, memorização, ginástica e
alongamento.
35 A SEEL apresenta como secretário o Sr. Carlos Alberto da Silva Leão e como coordenadora do Projeto Vida Ativa, a Sra. Jeane Conceição de Oliveira Duarte.
84
O estudo foi realizado na Tuna Luso Brasileira36, um dos núcleos (indicado
pela Secretaria de Estado, Esporte e Lazer) integrantes do “Projeto Vida Ativa”, na
região metropolitana de Belém. O clube é tradicionalmente conhecido pela
população paraense e considerado um importante parceiro para o desenvolvimento
de atividades voltadas para a população idosa.
Em relação aos outros núcleos, o Pólo da Tuna Luso Brasileira apresentava,
por ocasião da pesquisa, um número significativo de atividades desenvolvidas em
horários diferentes (o que possibilitou um deslocamento maior no espaço urbano de
circulação), assim como o maior número de idosos inscritos no “Projeto Vida Ativa”
(um total de 291 idosos). Além disso, o clube fica situado na principal avenida da
cidade e oferece maiores possibilidades de deslocamento. Pelas informações
apresentadas, o Pólo Tuna Luso Brasileira foi escolhido para ser o local da
pesquisa.
A pesquisa caracterizou-se como analítico-descritiva e quanti-qualitativa
quanto ao método. Participaram do estudo 30 idosos, de ambos os sexos que
encontram-se inseridos no Projeto Vida Ativa (a ser detalhado) e, para a coleta de
dados os critérios para a escolha do grupo a representar foi o maior número de
idosos matriculados em um dos Pólos do Projeto Vida Ativa, a realização de, pelo
menos, 3 atividades que exigissem o deslocamento freqüente do participante e a
localização do clube. Tais critérios serão apresentados com detalhes a seguir.
A pesquisa37 foi realizada com idosos de ambos os sexos, a partir de 50 anos
e independentes, sem comprometimento físico ou de comunicação que os impeça
de se deslocar e de responder aos questionários. Tais critérios foram considerados
importantes na medida em que o objetivo da pesquisa é compreender a percepção
do idoso no espaço urbano de circulação a partir das atividades que desenvolve
diariamente. O deslocamento no espaço urbano de circulação é o foco da pesquisa,
portanto, a existência de comprometimento motor ou cognitivo possibilitaria o
36 A Tuna Luso Brasileira é um clube brasileiro de futebol e foi fundada em 1903 por portugueses interessados em difundir a cultura portuguesa no Brasil. Primeiramente chamada de Tuna Luso Caixeiral (fundadores com função de caixeiros viajantes) e depois, em 1926, chamada de Tuna Luso Comercial. Somente em 1968 foi denominada de Tuna Luso Brasileira. A sede do clube fica situada na Avenida Almirante Barroso, nº. 4110, Bairro: Souza. 37 A pesquisa teve início após a aprovação da orientadora (apêndice A), da Secretaria de Esporte e Lazer (Apêndice B), do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e dos indivíduos pesquisados por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice C).
85
surgimento de viés no estudo, pois os questionários utilizados dependeram da
fidedignidade das respostas a partir das vivências da população idosa.
Os idosos participantes realizavam sistematicamente três atividades, pois dos
idosos inscritos, nem todos participam de todas as atividades propostas (que exigem
o deslocamento freqüente para o núcleo) do “Projeto Vida Ativa”. As três atividades
realizadas pelos idosos participantes da pesquisa no pólo da Tuna Luso Brasileira
são: hidroginástica (3 vezes por semana), alongamento (2 vezes por semana) e
memorização (2 vezes por semana).
A hidroginástica e o alongamento apresentam como objetivos fortalecer a
musculatura, adequar a flexibilidade, o equilíbrio e a coordenação motora às
características próprias do envelhecimento, melhorando assim, o condicionamento
físico do idoso e como conseqüência possibilita uma redução no risco de quedas
(DIOGO; NERI; CACHIONI, 2006). A atividade de memorização, por sua vez,
possibilita a manutenção ou melhora da memória (considerada uma das funções
cognitivas mais prejudicadas na terceira idade), já que compromete a retenção e o
resgate de situações vivenciadas (LUENGO, 2007). Para tal atividade são utilizados
jogos com regras, leitura e interpretação de textos e diálogos a partir de temas
oferecidos pelos professores que acompanham os grupos.
É importante enfatizar que as atividades apresentadas possibilitam,
principalmente, o estabelecimento de vínculos sociais, diminuem o estresse, a
depressão e auxiliam o idoso no processo de inclusão social.
A aplicação do questionário foi realizada pela pesquisadora, nos meses de
novembro e início de dezembro (encerramento das atividades na primeira quinzena),
no horário da manhã, das 8:00 h às 12:00 h (por conta da maior assiduidade dos
idosos às atividades)38.
Por uma questão de organização e para que os idosos não se confundissem
com os questionários, as entrevistas foram separadas em quatro etapas e, para
cada uma, 10 minutos. A aplicação foi realizada pela própria pesquisadora a fim de
não possibilitar viés na coleta de dados e auxiliar na reestruturação das perguntas,
caso fosse necessário.
38 Antes de realizar as entrevistas, a Educadora Física, responsável pela hidroginástica e alongamento (primeiras atividades do horário da manhã) foi procurada para a autorização do estudo com a apresentação da carta de autorização fornecida pela SEEL. A pesquisadora foi apresentada ao grupo de idosos que, após as atividades, compareceram para a aplicação dos questionários.
86
A coleta de dados foi dividida em quatro etapas. Na primeira etapa do estudo,
os idosos foram esclarecidos sobre a pesquisa e sobre as etapas para coleta de
dados. Demonstraram paciência, bom humor e interesse pelas questões
apresentadas nas perguntas, relatando, principalmente, que é necessário que os
profissionais atuantes na área do envelhecimento mudem suas práticas e repensem
os cuidados com esta parcela da população. Foi necessário controlar o tempo
estimado para cada idoso (40 minutos), pois cada um apresentava necessidades
específicas para verbalizar e aproveitavam para detalhar as suas experiências.
Nos primeiros 10 minutos desta primeira etapa, a partir da aplicação pessoal
do questionário (apêndice D), o participante forneceu informações como sexo, idade,
grau de instrução, motivo da participação no núcleo da terceira idade e freqüência
do deslocamento para o pólo. O questionário (composto por 5 perguntas abertas e 9
perguntas fechadas) foi aplicado individualmente, no período de novembro a
dezembro de 2008.
Na segunda etapa da coleta de dados, foi identificada a capacidade funcional
dos idosos no uso do espaço urbano a partir do questionário BOMFAQ39 (versão
brasileira de OARS - Olders Americans Resources and Services) Multidimensional
Functional Assesment Questionaire (Apêndice E).
O questionário avaliou a dificuldade referida na realização de 15 atividades
validadas previamente, sendo 8 atividades de vida diária (AVD): deitar/levantar da
cama, comer, pentear cabelo, andar no plano, tomar banho, vestir-se, ir ao banheiro
em tempo e cortar unhas dos pés e 7 atividades instrumentais da vida diária (AIVD):
subir escada (1 lance), medicar-se na hora, andar perto de casa, fazer compras,
preparar refeições, sair de condução e fazer limpeza de casa. As atividades foram
categorizadas com ou sem dificuldades40
Na terceira etapa de coleta de dados, os idosos classificaram41 em ordem de
importância, as variáveis que consideraram fundamentais no que diz respeito às
39 O protocolo BOMFAQ se assemelha a outros questionários, porém, foi selecionado pela facilidade de aplicação, objetividade e pela sua organização estruturada. O protocolo foi utilizado para a capacidade funcional do idoso. 40 A avaliação da mobilidade tem sido considerada como parte importante da avaliação funcional. Nesse contexto, o protocolo BOMFAQ possibilita a avaliação da mobilidade a partir da auto-declaração, com uma abordagem hierárquica, inicialmente, com atividades simples (pentear o cabelo) até atividades mais complexas (como subir escadas). 41 A classificação a partir da percepção dos idosos em relação à qualidade do espaço urbano, possibilita compreender suas dificuldades a partir das próprias vivências e do deslocamento funcional e real.
87
questões de conforto e segurança, a fim de identificar os principais aspectos de
qualidade do espaço urbano (calçadas e espaços destinados a pedestres - apêndice
F) ao longo da trajetória realizada da residência ao núcleo da terceira idade no qual
ele está inscrito e participa. A classificação foi realizada através de notas variando
de 1 e 5, a partir da escala proposta por Ferreira e Sanches (2003).
E na última etapa, a partir da identificação dos espaços utilizados além do
Núcleo da Terceira Idade (Tuna Luso Brasileira), foi solicitado à cada idoso que
identificasse o grau de satisfação em relação aos indicadores de qualidade
(conforto, seguridade, continuidade e segurança) do espaço urbano de circulação42.
O grupo que fez parte da pesquisa foi descrito e quantificado a partir das
respostas obtidas nos protocolos BOMFAQ (apêndice E) e de Percepção de Espaço
Físico (apêndice F) de Ferreira e Sanches (2003).
Os dados obtidos na entrevista semi-estruturada (apêndice D) e no protocolo
de Percepção de Espaço Físico (apêndice F) de Ferreira; Sanches (2003) foram
categorizados, correlacionados e interpretados à luz da Política Nacional do Idoso.
5.2. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
Os dados obtidos nas entrevistas foram descritos, inicialmente, a partir de
seis importantes caracterizações: perfil da população (idade, sexo, escolaridade e
estado civil); aspectos clínico-funcionais; deslocamento no espaço urbano de
circulação; capacidade funcional; percepção do espaço físico e grau de satisfação
do idoso em relação aos espaços utilizados.
5.2.1 Caracterização quanto à faixa etária dos participantes
De acordo com as entrevistas realizadas, verifica-se que o maior número de
participantes encontra-se na faixa etária de 62 a 68 anos de idade, representando
36,7% dos idosos. 42 As informações fornecidas pela pesquisa qualitativa ajudam a interpretar ou compreender mais detalhadamente os dados quantitativos. E conforme explicitado anteriormente, o homem produz informações sobre os impactos ambientais urbanos a partir de suas vivências e, possibilita assim, a análise crítica e a mudança de comportamento (FERREIRA; SANCHES, 2003).
88
Tabela 1 – Faixa etária dos participantes Faixa etária Freqüência Percentual
50 – 56 2 6.7 56 – 62 6 20.0 62 – 68 11 36.7 68 – 74 8 26.7 74 – 80 3 10.0 Total 30 100
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Gráfico 2 - Faixa etária dos participantes Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Considerando que o universo investigado refere-se a indivíduos da terceira
idade, é possível verificar a presença significativa da faixa etária entre 62 a 68 anos.
Tal resultado corresponde à busca por atividades logo após a saída do mercado de
trabalho, garantida pela Lei Federal nº. 8.213/9143. A ausência de atividades logo
após a saída do mercado de trabalho possibilita que o indivíduo se adapte a uma
nova realidade sem obrigatoriamente manifestar sinais de estresse pelo afastamento
das tarefas desenvolvidas até então ou pelo rompimento de vínculos sociais
estabelecidos no local de trabalho (DIOGO; NERI; CACHIONI, 2006).
43 O Artigo 1º do Título I da Lei Federal dispõe que a Previdência Social, mediante contribuição, tem por objetivo assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares, prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente.
2
6
11
8
3
0
2
4
6
8
10
12
50|-----56 56|-----62 62|----68 68|----74 74|----80Faixa etária
Frequência
89
5.2.2 Caracterização quanto ao sexo dos participantes
O núcleo da terceira idade inserido no Pólo Tuna Luso Brasileira é composto
mais por idosos do sexo feminino do que do sexo masculino, como mostra o gráfico
a seguir.
Gráfico 3 - Sexo dos participantes Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Verifica-se que, dos 30 entrevistados, 24 (80%) idosos pertenciam ao sexo
feminino, enquanto que somente 6 (20%) pertenciam ao sexo masculino.
Acredita-se que os homens, ainda por questões culturais, apresentem
resistência para buscar núcleos da Terceira Idade, não só para a melhora dos
aspectos físicos, mas como forma de convívio. É importante acrescentar também
que o aumento da expectativa de vida para as mulheres é maior do que para os
homens.
Ramos, Vera e Kalache (1987) relatam que há diferenças no comportamento
entre homens e mulheres em relação às doenças e incapacidades e, neste contexto,
as mulheres parecem estar mais atentas em relação aos sinais e sintomas de uma
possível patologia, têm um esclarecimento maior em relação às enfermidades e
demonstram utilizar mais os serviços de saúde. Desta forma, a busca pela melhora
na qualidade de vida e a utilização freqüente dos serviços de saúde também tem
relação com a escolaridade. Indivíduos com baixa escolaridade não procuram
atendimento ou orientação médica, não só por falta de informação, mas também por
Masculino20.0%
Feminino 80.0%
90
estarem inseridos em culturas que reforcem as medidas preventivas terciárias (de
reabilitação) e não as medidas preventivas primárias (prevenção). Portanto, quando
procuram ajuda, a doença, muitas vezes, já está instalada (CAMPOS et al, 2006).
Ao relacionar tais informações com os dados obtidos na pesquisa, acredita-se
que as mulheres ainda são as que mais buscam melhorar a qualidade de vida
procurando os núcleos da terceira idade.
5.2.3 Caracterização quanto à escolaridade dos participantes
Considerando o gráfico abaixo, 50% dos idosos (15 indivíduos) apresentam o
nível médio completo como o grau de escolaridade, enquanto que 23,3% citaram o
nível fundamental. Dos idosos participantes da pesquisa, somente 6,7% apresenta o
nível superior como grau de escolaridade.
Gráfico 4 - Escolaridade dos participantes
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
A escolaridade influencia de maneira significativa a compreensão e
conscientização de informações consideradas fundamentais para o exercício da
cidadania no contexto urbano. Assim, na medida em que se verifica indivíduos mais
instrumentalizados do ponto de vista intelectual, maiores as chances de questionar
as políticas públicas existentes e os direitos no espaço urbano de circulação
(FALEIROS, 2008). Os idosos, neste cenário, apresentam, em sua maioria, nível
23.3%
6.7%
50.0%
13.3% 6.7% Fundamental Analfabeto Médio CompletoMédio IncompletoSuperior Completo
91
médio completo, o que já permite um olhar diferenciado acerca do pensar o espaço
urbano, com a possibilidade de resgate dos seus direitos e a manutenção da
autonomia. É importante citar que somente um idoso participante da pesquisa
apresenta nível superior completo.
5.2.4 Caracterização quanto ao estado civil dos participantes
De acordo com os dados obtidos nas entrevistas, 14 idosos (46,6%) são
viúvos, 11 (36,6%) são casados e 5 (16,6%) são divorciados.
Tabela 2 - Estado civil dos entrevistados
Estado civil Freqüência Percentual Casados 11 36.6 Divorciados 5 16.6 Viúvos 14 46.6 Total 30 100
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Verifica-se que os idosos que mais buscam por atividades no Núcleo da
Terceira Idade são viúvos, o que possibilita refletir sobre a dificuldade deste
segmento social em se adaptar a uma nova realidade, a uma vida sem a
companheira (o) de muitos anos. De acordo com Russo (1998), o idoso que já
encontra-se num momento de fragilidade por conta do próprio processo natural do
envelhecimento, precisa aprender a lidar com a perda e o corte de um vínculo
estabelecido durante muito tempo.
Em virtude da não aceitação da perda e da possibilidade de ter que enfrentar
a solidão, muitos idosos buscam os grupos de convivência. Além disso, tentam
estabelecer novos vínculos sociais o que permitirá a redução da depressão e ao
isolamento social.
92
5.2.5 Características clínicas e funcionais associadas às quedas.
Sabe-se que o envelhecimento normal apresenta características clínicas e
funcionais que comprometem o seu deslocamento no espaço urbano de circulação
e, apesar de identificar cada vez mais idosos independentes do ponto de vista
funcional, tais características ainda são consideradas fundamentais na compreensão
das principais dificuldades encontradas por eles no espaço urbano de circulação.
Tabela 3 - Associação entre faixa etária e queda no último ano
Queda no último ano Faixa Etária Sim % Não %
Total
%
50 – 56 2 6.7 0 0.0 2 6.7 56 – 62 4 13.3 2 6.7 6 20.0 62 – 68 6 20.0 5 16.7 11 36.7 68 – 74 4 13.3 4 13.3 8 26.7 74 – 80 0 0.0 3 10.0 3 10.0
Total 13 53.3 14 46.7 30 100 Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Gráfico 5 - Características clínicas e funcionais relacionadas à queda no último ano. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
A partir das entrevistas realizadas, 13 idosos (53%) relataram a ocorrência de
quedas no último ano, sendo seis (20%) na faixa etária de 62 a 68 anos de idade.
Vale ressaltar que todas as quedas citadas foram em ambiente externo.
Segundo Ferreira (2000), em 1985, nos Estados Unidos, 73% dos idosos
sofreram quedas e a metade delas aconteceu em casa (10% precisaram de
hospitalização e 44% de acompanhamento fisioterápico. No Brasil, em 1986,
Sim 53%
Não 47%
93
verificou-se que 10% a 12% (aproximadamente 1,2 milhão) das fraturas foram
decorrentes de osteoporose. Assim, se considerarmos que, além das características
próprias do processo de envelhecimento, como a possibilidade de osteoporose,
verifica-se que as quedas também estão relacionadas à insegurança nos espaços
urbanos, principalmente no que diz respeito ao estado de conservação das
calçadas, por exemplo (detalhado nos próximos gráficos).
A autora cita ainda em seus estudos que as quedas representam a sexta
causa de morte em idosos a partir de 75 anos, 20% das pessoas com fratura de
fêmur acabam falecendo e a metade passa a ter limitações físicas irreversíveis.
O idoso que não sofre conseqüências significativas com as quedas, passa a
apresentar uma diminuição da mobilidade em virtude do receio de cair novamente.
Tal atitude apresenta outras conseqüências como insegurança para caminhar, que
por sua vez possibilita ao idoso diminuir sua mobilidade e assim, diminuir também a
força muscular, verificando-se o enfraquecimento das pernas, tornando-o
dependente e possibilitando o isolamento social (FERREIRA, 2000).
De acordo com o Sistema de Informação Médica do Ministério da Saúde
(2007), o Brasil, no período de 1979 a 1995, registrou 54.730 mortes por quedas
(52% de idosos) e em 2000, 87.177 internações de idosos por causas externas e
destas causas, 48.940 foram por quedas. As quedas relatadas pelos idosos
aconteceram em virtude das características do ambiente (ruas em estado
inadequado de conservação e iluminação deficiente).
Considerando que o espaço urbano de circulação apresenta barreiras
arquitetônicas e urbanísticas que dificultam a mobilidade da pessoa idosa e colocam
em risco a sua integridade física, é necessário rever o conceito de desenho universal
como elemento essencial para o planejamento do espaço público a fim de promover
o deslocamento adequado deste segmento da sociedade.
Portanto, as quedas são mais comuns em idosos e apresentam
conseqüências negativas para a sua qualidade de vida. Assim, a incidência de
quedas na terceira idade pode ser reduzida a partir da elaboração e execução de
medidas preventivas específicas para as suas verdadeiras causas.
94
Outro fator que contribui para a ocorrência das quedas está relacionado à
acuidade visual44 (característica do olho em reconhecer dois pontos próximos) e é
considerada importante para o deslocamento no espaço.
5.2.6 Caracterização quanto à faixa etária e acuidade visual dos participantes
De acordo com os dados obtidos nas entrevistas, 17 (43%) idosos relataram
algum problema visual, principalmente na faixa etária de 62 a 68 anos de idade.
Tabela 4 - Associação entre faixa etária e acuidade visual.
Acuidade visual Faixa Etária Sim % Não %
Total
%
50 – 56 1 3.3 1 3.3 2 6.7 56 – 62 3 10.0 3 10.0 6 20.0 62 – 68 6 20.0 5 16.7 11 36.7 68 – 74 4 13.3 4 13.3 8 26.7 74 – 80 3 10.0 0 0.0 3 10.0
Total 17 56.7 13 43.3 30 100 Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Para Lavinsky (2008), idosos representam a metade da consultas oftálmicas e
14% deste grupo, ou seja, mais ou menos cinco milhões de brasileiros, são
portadores da Doença Macular Relacionada à Idade (DMRI) em pelo menos um
olho, está relacionada ao envelhecimento natural e não tem causa específica.
Gráfico 6 - Acuidade visual dos participantes. Fonte: Pesquisa de campo, 2008
44 Segundo Guimarães e Farinatti (2005), a acuidade visual pode reduzir em 80% aos 90 anos de idade e afeta a possibilidade de perceber a diferença entre os objetos e detalhes no espaço físico, além de diminuir à adaptação ao escuro, podendo caracterizar-se por um embaralhamento da visão com aumento do tempo de resposta visual.
Enxerga bem
57%
Enxerga mal
43%
95
As alterações visuais exigem do idoso adaptações para a realização de
Atividades de Vida Diária e Instrumentais de Vida Diária. As alterações visuais
podem ser caracterizadas pela dificuldade em acomodar a visão e discriminar
detalhes de objetos próximos, necessitando de melhor iluminação, principalmente
quando há mudanças de ambientes com iluminações diferentes (FERREIRA, 2000).
5.2.7 Caracterização quanto ao auxílio para a locomoção dos participantes
Auxilio à locomoção Nº % Andador 0 0 Bengala 0 0
Não utiliza 30 100 Quadro 1 - Características clínicas e funcionais relacionadas ao auxílio para
locomoção. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
A partir dos dados encontrados nas entrevistas, 30 (100%) idosos não
utilizam auxilio para locomoção. Os idosos pesquisados não necessitam de qualquer
tipo de suporte e deslocam-se com autonomia no espaço urbano de circulação.
De acordo com Gomes; Diogo (apud DIOGO; NÉRI; CACHIONI, 2006), a
idade exerce influência importante na incapacidade das pessoas e que o declínio da
função motora é comprometido em menor ou maior grau nos indivíduos idosos.
Segundo os autores, esse declínio é complexo e multifatorial. A participação,
integração e a sincronia dos sistemas nervoso, cardiovascular, osteomuscular e
sensorial são fundamentais para que o ato motor se realize sem alterações.
5.2.8 Caracterização quanto à faixa etária e perda auditiva dos participantes
Tabela 5 - Associação entre faixa etária e perda auditiva
Perda auditiva Faixa Etária Sim % Não %
Total
%
50 – 56 0 0.0 2 6.7 2 6.7 56 – 62 2 6.7 4 13.3 6 20.0 62 – 68 0 0.0 11 36.7 11 36.7 68 – 74 2 6.7 6 20.0 8 26.7 74 – 80 1 3.3 2 6.7 3 10.0
Total 5 16.7 25 83.3 30 100.0 Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
96
Gráfico 7 - Perda auditiva dos participantes. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Segundo Russo (1999), a deficiência auditiva acomete 70% dos idosos. Nas
entrevistas realizadas, 5 (17%) idosos relataram apresentar perda auditiva, enquanto
que 25 (83%) não relataram perda auditiva. De acordo com a autora, a surdez no
idoso constitui-se em um dos mais importantes fatores de exclusão social e de todas
as privações sensoriais, a perda auditiva é a que produz efeito mais importante no
processo de comunicação do idoso, comprometendo ainda mais o bem estar desta
parcela da população.
O idoso ainda resiste em admitir que possa apresentar perda auditiva por
acreditar que o déficit de funções sensoriais aumentaria as chances de exclusão no
contexto social e que a audição é um aspecto importante para aquisição de
informações fornecidas pelo ambiente para o adequado deslocamento (DORNELES;
ELY; PEDROSO, 2006).
É importante ressaltar que não foram realizadas avaliações
otorrinolaringológicas e audiológicas a fim de confirmar a existência de perdas
auditivas neste grupo de indivíduos.
Sim 17%
Não 83%
97
6.ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
6.1. Características do deslocamento no espaço urbano de circulação
Tabela 6 - Associação entre faixa etária e meio de deslocamento.
Como se desloca pela cidade Faixa Etária
A pé % Ônibus % A pé e de
ônibus
% Ônibus e carro %
Total
%
50 – 56 0 0.0 1 3.3 1 3.3 0 0.0 2 6.7
56 – 62 1 3.3 1 3.3 3 10.0 1 3.3 6 20.0
62 – 68 0 0.0 3 10.0 8 26.7 0 0.0 11 36.7
68 – 74 0 0.0 3 10.0 4 13.3 1 3.3 8 26.7
74 – 80 1 3.3 1 3.3 1 3.3 0 0.0 3 10.0
Total 2 6.7 9 30.0 17 56.7 2 6.7 30 100.0
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Gráfico 8 - Meio de deslocamento utilizado pelos idosos no espaço urbano de circulação. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
A partir das respostas obtidas nas entrevistas, do total de idosos, 17 (56%)
deslocam-se na cidade a pé e de ônibus, enquanto que 9 (30%) dos entrevistados
utilizam o ônibus como principal meio de deslocamento, verificando-se um número
significativo de indivíduos que caminham pelas ruas e calçadas, independentes de
serem trafegáveis ou não.
7%
30%
56%
7%A pé ÔnibusA pé e de ônibusÔnibus e carro
98
Um número significativo de pessoas se desloca a pé em pequenas distâncias,
sem precisar de outro meio e pode ser considerado, segundo Vasconcellos (2001),
um dos modos mais utilizados pela população em todo o mundo.
Em relação ao transporte público, conforme cita Santos, M. (2005), este não é
privilegiado nas políticas de transporte e, foi exigido este tipo de deslocamento, em
especial, pelo processo de urbanização das cidades, a partir do momento em que
houve um crescimento acelerado da população e de sua estabilização nas áreas
chamadas periféricas, distantes das principais atividades relacionadas ao trabalho.
Assim, justificando a utilização do ônibus pelo trajeto a ser concluído.
De acordo com o questionário BOMFAC (Apêndice E), em seis (75%)
atividades de vida diária das oito propostas, os idosos apresentam boa capacidade
funcional e em cinco (71,46%) das sete atividades instrumentais de vida diária, os
idosos apresentam boa capacidade funcional, o que possibilita o deslocamento a pé
e de ônibus, porém, existem fatores que comprometem este tipo de deslocamento,
como iluminação adequada e segurança (SANTOS, J., 2005).
De acordo com o IBGE (2006), cerca de 15% da população brasileira
apresenta algum tipo de deficiência, correspondendo a 26,5 milhões de pessoas,
não considerando as pessoas com mobilidade reduzida.
Considerando que o Pará é o quarto em número de idosos (IBGE, 2006), a
questão da acessibilidade torna-se um aspecto fundamental na promoção de
qualidade de vida deste segmento da sociedade. Segundo Tobias (2005), por meio
das Leis nº. 10.048 e nº. 10.098, promulgadas em 2000, o Governo Federal dispôs
sobre a prioridade de atendimento e as normas gerais para a promoção da
acessibilidade das pessoas portadoras de necessidades especiais ou com
mobilidade reduzida, mediante a supressão de barreiras nas vias, espaços públicos,
mobiliário urbano, construção e reforma de edifícios, bem como meios de transporte
e de comunicação.
99
6.2 Caracterização quanto à dificuldade para andar dos participantes
Tabela 7 - Associação entre faixa etária e dificuldade para andar. Dificuldade para andar Faixa
Etária Sim % Não %
Total
% 50 – 56 1 3.3 1 3.3 2 6.7 56 – 62 6 20.0 0 0.0 6 20.0 62 – 68 8 26.7 3 10.0 11 36.7 68 – 74 7 23.3 1 3.3 8 26.7 74 – 80 3 10.0 0 0.0 3 10.0
Total 25 83.3 5 16.7 30 100.0 Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Gráfico 9 - Dificuldade para andar nas ruas e calçadas da cidade em que mora. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Dos 30 idosos entrevistados, 25 idosos (83%) relataram apresentar
dificuldade para andar nas ruas e calçadas da cidade em que moram e somente 5
idosos (17%) disseram não apresentar tal dificuldade.
De acordo com Pinto; Remesar; Amado (2008), o espaço público é um
elemento estruturador do espaço urbano e desempenha papel essencial na criação
de boas condições de acessibilidade e mobilidade, que devidamente integradas e
adaptadas à realidade urbana em que os individuos estão inseridos, promovem o
sucesso do espaço público.
Os resultados obtidos nesta tabela mostram que a presença de dificuldade
relatada pelos idosos não está compatível com o Estatuto do Idoso, uma vez que
Sim 83%
Não 17%
100
não atende o Artigo 38, inciso II, que determina que sejam eliminadas barreiras
arquitetônicas e urbanísticas, a fim de garantir a acessibilidade do idoso. Assim
como no Artigo 3º da Lei nº. 10.098/2000, que determina que as vias públicas e
espaços de uso público deverão ser concebidos e executados de forma a torná-los
acessíveis para as pessoas portadoras de deficiência ou mobilidade reduzida.
A organização dos espaços públicos regida pelo principio da “acessibilidade
para todos” e elemento de coesão no espaço urbano de circulação, promove a
coesão territorial ao nível da mobilidade e acessibilidade, importante também para a
coesão social. É neste contexto, que as questões relacionadas à mobilidade e
acessibilidade devem ser consideradas no planejamento de espaços públicos
(PINTO; REMESAR; AMADO, 2008).
Dentro do processo de urbanização e crescimento das cidades, é importante
considerar o olhar do idoso sobre o seu ambiente cotidiano para compreender a
relação dos espaços utilizados por ele com a sua qualidade de vida. Tal percepção
possibilitará as mudanças nas políticas públicas voltadas para as necessidades reais
deste segmento social e torna-se concreta a partir das dificuldades observadas nos
relatos destes idosos, como os que seguem abaixo:
“Tenho dificuldade para andar principalmente nas calçadas, elas estão cheias
de buracos...” (Y.L., sexo feminino, 66 anos);
“Ah, eu já caí duas vezes no mês passado...isso aconteceu quando eu ia pela
calçada, da minha casa para a farmácia...”(M.P., sexo feminino, 69 anos).
6.3 Caracterização quanto ao motivo de participação no Projeto Vida Ativa
Tabela 8 - Associação entre faixa etária e motivo para participar do projeto vida.
Qual o motivo que o fez participar do Projeto Vida Ativa? Faixa Etária Auto
estima
% Saúde
% Novas
Companhias
% Auto
estima e saúde
%
Saúde e novas
companhias
%
Total
%
50 – 56 0 0.0 0 0.0 0 0.0 1 3.3 1 3.3 2 6.7 56 – 62 0 0.0 1 3.3 1 3.3 0 0.0 4 13.3 6 20.0 62 – 68 0 0.0 8 26.7 0 0.0 0 0.0 3 10.0 11 36.7 68 – 74 0 0.0 1 3.3 0 0.0 2 6.7 5 16.7 8 26.7 74 – 80 1 0.0 1 3.3 0 0.0 0 0.0 1 3.3 3 10.0
Total 1 3.3 11 36.7 1 3.3 3 10.0 14 46.7 30 100.0
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
101
Gráfico 10 - Motivo de participação no Projeto Vida Ativa.
Fonte: Pesquisa de campo, 2008
De acordo com os dados da tabela nº.10, 11 (36,7%) idosos entrevistados
mostram que a saúde é o principal motivo de procura pelo núcleo da Terceira Idade
e 14 (46,7%) participantes relataram que os motivos foram saúde e novas
companhias. O relato a seguir evidencia o motivo saúde:
“Eu procurei o grupo para melhorar o problema da minha pressão alta...”(L.P,
sexo feminino, 65 anos);
O cuidado com a saúde é cada vez maior nesta parcela da população e
considerando o aumento da expectativa de vida, as últimas pesquisas do IBGE
(2006) confirmam que os idosos têm procurado muito mais os centros urbanos por
conta da infra-estrutura urbana e programas de atenção ao idoso, como os
programas da Terceira Idade.
Muitos idosos continuam ativos e procuram novas atividades e o aspecto
social presente no pólo da Terceira Idade é fundamental para o seu uso significativo
(é considerado para muitos idosos uma forma de convívio). Vale lembrar também
que 80% da amostra são do sexo feminino e ainda é a população que mais busca os
grupos de convivência: “Sabe que, quando ficamos velhos, ficamos também
sozinhos e eu soube do grupo por uma vizinha, então resolvi me inscrever e não me
arrependo, fiz muitos amigos...”(Y.A.S, sexo feminino, 74 anos).
A qualidade dos contatos sociais reforça um sentimento de pertencer à
sociedade e que afeta positivamente a saúde dos indivíduos e, neste caso, dos
idosos (RAMOS, 2002).
46.7%
3.3%
36.7%
10.0%3.3%
Auto estima
Saúde
Novas companhias
Auto estima e saúde
Saúde e novascompanhias
102
Acredita-se que os grupos ou núcleos da Terceira Idade contribuam não só
para a manutenção da saúde física, mas apresentam estratégias que caracterizam
um modelo de ações preventivas consideradas instrumentos importantes para o
resgate da auto-estima e para a inclusão social.
6.4 Caracterização quanto à dificuldade no deslocamento até o Núcleo da Terceira Idade
Gráfico 11 - Dificuldade no deslocamento até o núcleo da Terceira Idade. Fonte: Pesquisa de campo, 2008
A partir do momento em que os núcleos da Terceira Idade são cada vez mais
procurados pelos idosos, verifica-se a necessidade de se repensar as Políticas
Públicas direcionadas para o adequado deslocamento desta parcela da população.
De acordo com o Artigo 10º, capítulo V, da Política Nacional do Idoso (PNI), é
de competência dos órgãos e entidades públicos, na área de habitação e urbanismo,
diminuir as barreiras arquitetônicas e urbanísticas. Mas apesar da existência de
Políticas Públicas que garantam o direito de ir e vir do idoso, verifica-se que a prática
está distante do que se propõe.
A partir das entrevistas realizadas, verificou-se que 21 (70%) idosos relataram
apresentar dificuldade de deslocamento até o núcleo da Terceira Idade (Pólo Tuna
Luso Brasileira), enquanto que 9 (30%) não relataram dificuldades. A dificuldade no
70%
30%
Sim Não
103
deslocamento pode ser observada nas falas dos idosos M.K.L (63 anos, sexo
masculino) e M.C.P (69 anos, sexo feminino) respectivamente:
“Olha só...você sabe que o trânsito de Belém tá muito ruim, isso atrapalha às
vezes, tem muito carro...”
“Eu tenho algumas dificuldades para andar até a Tuna...ah, andando pelas
calçadas que não são boas, né? Mas as pessoas acham que eu é que tenho
problema...”
Mesmo com dificuldades no deslocamento até o Pólo Tuna Luso Brasileira, o
grupo de idosos mantém o deslocamento e a participação no Projeto Vida Ativa,
considerando que a procura por novas companhias foi um dos motivos mais
relatados pela população entrevistada.
A visão de incapacidade funcional com a perda das funções foi alimentada
durante muito tempo pela ideologia produtivista, que ofereceu suporte ao capitalismo
e reforçou a idéia de que o idoso seria incapaz de trabalhar e de gerar renda,
portanto, sem funcionalidade para a sociedade e com a perda de status social
(MINAYO; COIMBRA JÚNIOR, 2002),
Assim, de acordo com Ramos (2002), a manutenção dos laços sociais
estabelecidos em diferentes grupos ou núcleos de convivência, possibilita ao idoso,
o resgate da auto-estima e os mantém como atores participantes em uma sociedade
em que as características do processo de envelhecimento são consideradas ainda
negativas e não inseridas em um fenômeno normal.
Verifica-se que os resultados do gráfico apresentado são compatíveis com os
dados encontrados no gráfico nº. 9 que evidencia respostas positivas para a
dificuldade em andar nas ruas e calçadas da cidade em que mora. É importante
comentar que as principais dificuldades encontradas serão apresentadas no
Apêndice F, a partir da identificação de indicadores de qualidade dos espaços
públicos, em particular das calçadas.
104
6.5 Caracterização quanto ao tempo de deslocamento dos participantes
Gráfico 12 - Tempo de deslocamento da residência ao núcleo da Terceira Idade. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Todos os idosos entrevistados relataram que utilizam o ônibus como meio de
deslocamento para o núcleo da Terceira Idade. Dos participantes, 33% relataram
que levam 30 minutos para completar o trajeto da residência ao Pólo Tuna Luso
Brasileira, enquanto que 27% levam 40 minutos para completar o trajeto.
Tobias (2005) em seus estudos sobre as condições de acessibilidade na
Região Metropolitana de Belém, identificou dificuldades de acesso ao transporte
coletivo, caracterizadas por: paradas de ônibus distantes da calçada e falta de
informação ou informação inadequada sobre os pontos de parada e sobre os
aspectos relacionados aos destinos dos usuários.
Assim, o Plano Diretor da Cidade de Belém é considerado instrumento da
política urbana importante para a sociedade a partir do momento em que interfere no
desenvolvimento local e considera os fatores políticos, econômicos, culturais,
ambientais, sociais e territoriais que caracterizam a situação do município.
As seções II e III, Capítulo III do Plano Diretor, abordam aspectos da
Mobilidade e Acessibilidade Urbanas, em especial sobre a acessibilidade, o Poder
Público Municipal deverá garantir a acessibilidade a toda a população, com
segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários, edificações e
equipamentos urbanos públicos, dos serviços de transporte públicos e dos
dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação.
20%
33%27%
7% 13%
20 minutos30 minutos40 minutos50 minutos1 hora ou +
105
Neste sentido, muitos dos idosos entrevistados relataram que melhorar o
sistema de transporte coletivo e a capacitação de profissionais (como motoristas de
ônibus) são duas sugestões para melhorar o acesso aos serviços e espaços
públicos (resultados no gráfico 19).
Neste contexto, o controle de tráfego e o acesso adequado ao transporte
público são considerados aspectos importantes para o deslocamento do individuo
com necessidades especiais ou com mobilidade reduzida.
6.6 Caracterização quanto aos espaços mais utilizados pelos participantes
Tabela 9 - Associação entre faixa etária e espaços mais utilizados.
Faixa etária Espaço mais utilizado 50-56 % 56-62 % 62-68 % 68-74 % 74-80 %
Total
%
Agência bancária e posto de saúde
0 0.0 0 0.0 1 3.3 0 0.0 0 0.0 1 3.3
Agência bancária e supermercado
0 0.0 1 3.3 0 0.0 0 0.0 0 0.0 1 3.3
Posto de saúde e supermercado
0 0.0 0 0.0 0 0.0 1 3.3 1 3.3 2 6.7
Agência bancária, farmácia e supermercado
1 3.3 3 10.0 6 20.0 2 6.7 1 3.3 13 43.3
Agência bancária, farmácia, supermercado e shopping
1 3.3 2 6.7 3 10.0 4 13.3 0 0.0 10 33.3
Farmácia, supermercado e shoping
0 0.0 0 0.0 0 0.0 0 0.0 1 3.3 1 3.3
Todos os lugares
0 0.0 0 0.0 1 3.0 1 3.3 0 0.0 2 6.7
Total 2 6.7 6 20.0 11 36.7 8 26.7 3 10.0 30 100.0 Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
106
Gráfico 13 - Espaços mais utilizados pelos idosos além do Núcleo da Terceira Idade. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
De acordo com o gráfico, os espaços mais utilizados pelos idosos são
agências bancárias, farmácia e supermercado, totalizando 13 idosos (43,3%),
seguido por agências bancárias, farmácia, supermercado e shopping, com 10 idosos
(33,3%).
Segundo relatos dos próprios participantes, os espaços identificados nas
entrevistas são os considerados necessários:
“Eu continuo saindo sozinha para resolver as minhas coisas, mas também
vou aos lugares mais importantes, não fico batendo perna à toa, vou ao
supermercado e, quando tenho que receber minha aposentadoria, vou
também...”(Z.M, sexo feminino, 60 anos).
Vale ressaltar que nenhum idoso citou a utilização de praças públicas,
principalmente como espaço de lazer, preferindo o shopping para esta atividade. Os
sujeitos da pesquisa identificaram a insegurança como justificativa por conta do
aumento cada vez maior da violência nas grandes cidades.
33.3%43.3%
3.3%
6.7%
3.3% 3.3%6.7%
Agência bancária e posto de saúde Agência bancária e supermercado Posto de saúde e supermercadoAgência bancária, farmácia e supermercado Agência bancária, farmácia, supermercado e shopping Farmácia, supermercado e shopingTodos os lugares
107
6.7 Caracterização quanto à freqüência de utilização dos espaços públicos
pelos participantes
Gráfico 14 - Freqüência de utilização dos espaços públicos pelos idosos. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
A partir das entrevistas, a tabela nº.14 mostra a freqüência com que os idosos
se dirigem aos lugares públicos citados na tabela nº.13.
Dos idosos entrevistados, 4 (13,3%) relataram que freqüentam 1-2 vezes por
semana, enquanto que 18 (60%) idosos citam que freqüentam 1 ou 2 vezes no mês,
quando recebem o salário ou a aposentadoria. Tais atividades estão relacionadas à
qualidade de vida e necessidades específicas.
6.8 Caracterização quanto à dificuldade de acesso aos espaços públicos pelos participantes
Tabela 10 - Associação entre faixa etária e dificuldade de acesso aos espaços mais utilizados.
Dificuldade de acesso a prédios públicos Faixa Etária Sim % Não %
Total
%
50 – 56 2 6.7 0 0.0 2 6.7 56 – 62 4 13.3 2 6.7 6 20.0 62 – 68 6 20.0 5 16.7 11 36.7 68 – 74 3 10.0 5 16.7 8 26.7 74 – 80 1 3.3 2 6.7 3 10.0 Total 16 53.3 14 46.7 30 100
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
13.3%6.7%
10.0%
60.0%
10.0%1-2 x/semana3 x/semana4 x/semana1-2 x/mês4 x/mês
108
Gráfico 15 - Dificuldade de acesso aos espaços públicos pelos idosos. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Dos idosos entrevistados, 16 (53%) relataram apresentar dificuldade no
acesso aos espaços públicos, enquanto que 14 (47%) não encontram dificuldades.
A partir dos resultados, verifica-se que os idosos que mais apresentam
dificuldade de acesso aos espaços públicos pertencem à faixa etária de 62 a 68
anos.
Segundo Ely; Dorneles (2006), as necessidades espaciais dos idosos são
classificadas em três categorias: necessidades físicas, informativas e sociais.
Para as autoras, as necessidades físicas estão relacionadas à saúde física,
conforto e segurança dos idosos no ambiente. Já as necessidades informativas
dizem respeito à disponibilização e processamento da informação do ambiente.
Quanto às necessidades sociais, referem-se à interação social, à possibilidade de
promover o estabelecimento de laços sociais.
As dificuldades de acesso serão abordadas na próxima figura e classificadas
nos três tipos de categorias apresentadas.
Sim 53%
Não 47%
109
6.9 Caracterização quanto ao tipo de dificuldade de acesso aos prédios
públicos pelos participantes
Gráfico 16 - Tipo de dificuldade de acesso aos espaços públicos pelos idosos. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
De acordo com o Artigo 10º, capítulo V, da Política de Mobilidade Urbana, é
de competência dos órgãos e entidades públicos, na área de urbanismo, diminuir
barreiras arquitetônicas e urbanísticas, considerando o estado físico e a
independência de locomoção dos idosos.
Apesar dos idosos apresentam boa capacidade funcional em seis (75%) das
atividades de vida diária e em cinco (71,46%) das atividades instrumentais de vida
diária, demonstrando boas condições para o deslocamento no espaço urbano de
circulação, os resultados mostram que 62% dos idosos apresentam como
dificuldade de acesso aos espaços públicos, o estado precário das calçadas,
observado nos relatos abaixo:
“Nós idosos, temos muitos problemas quando saímos de casa...eu por
exemplo, quando vou ao banco, tenho que ir devagar, mas tem muita gente nas
calçadas andando rápido...”(M.C., sexo feminino, 74 anos).
“Eu sempre vou ao supermercado...tem um perto da minha casa, mas ando
às vezes com medo porque já caí na calçada, com buracos...”(I.M.R.M., sexo
feminino, 61 anos).
Neste contexto, a Lei Federal nº. 10.098/2000 e o Decreto nº. 5.296/2004
estabelecem que os municípios devam fiscalizar as questões relacionadas à
acessibilidade e mobilidade urbanas. Vale ressaltar ainda que a Constituição
Federal, Artigo 182 e Lei Federal nº. 10.257/2001, enuncia que a política urbana
62%
6% 19%
13%
Muitos pedestres nas calçadas Excesso de escadas
Estado precário das calçadas Todas as anteriores
110
executada pelo município, pelo Estatuto da Cidade, deve ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes, utilizando o Plano Diretor como o instrumento básico.
Assim, os aspectos da acessibilidade e mobilidade urbanas deveriam ser
direcionados a todos os indivíduos e garantir a oportunidade de se viver na cidade
com um mínimo de qualidade.
6.10 Caracterização quanto às mudanças no espaço urbano de circulação
Gráfico 17 - Mudança no espaço urbano de circulação para pedestres nos últimos anos. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Segundo Corrêa (2005), o espaço urbano é considerado um complexo
conjunto de usos da terra, fragmentado e articulado, cujos fragmentos mantêm
relações espaciais com outros espaços, em intensidade variável.
Essas relações espaciais, segundo o autor, integram de maneira diferente as
diversas partes da cidade e apresentam como núcleo de articulação, o centro da
cidade.
Essa fragmentação articulada é considerada a expressão espacial de
processos sociais, um reflexo da sociedade, de ações que são concretizadas no
presente e de ações que aconteceram e influenciaram de certa forma o espaço
urbano atual. O espaço urbano também é condicionante da sociedade,
desempenhando relações de produção, venda de mercadorias e prestação de
Sim 96%
Não 4%
111
serviços, assim como assume uma função simbólica, com crenças e valores
vinculados aos diferentes segmentos da sociedade e a sua maneira de reprodução
(CORRÊA, 2005).
De acordo com os dados obtidos nas entrevistas, verifica-se que 96% dos
idosos relataram que o espaço urbano de circulação mudou nos últimos anos,
sugerindo, portanto, novos significados, tanto do ponto de vista estrutural quanto do
ponto de vista funcional.
Nesse contexto, Vasconcellos (1996) cita em seus estudos que o espaço
urbano, sob o aspecto físico, apresenta uma interação entre fluxo e fixos (movimento
de bens e pessoas) e sugere que o processo de estruturação espacial das grandes
cidades esteja relacionado ao processo de estruturação social, confirmando uma
relação significativa entre a sociedade e o espaço.
A cidade, segundo Lefebvre (1991), é o produto de questões culturais,
históricas, econômicas e políticas. Assim, com o crescimento das cidades, pôde-se
verificar mudanças importantes na vida urbana, especialmente, no que se refere aos
atores que nela atuam, que interagem entre si e com o meio no qual estão inseridos.
6.11 Caracterização quanto aos tipos de mudanças no espaço urbano de circulação
3%
67%10%
3%17%
Ruas mais asfaltadasMuitos carros nas ruas, piorando o trânsitoRuas mais asfaltadas e muitos carros nas ruas, piorando o trânsitoRuas mais asfaltadas e muitas pessoas circulando no espaço físicoMuitos carros nas ruas, piorando o trânsito e muitas pessoas
Fonte: Pesquisa de campo Gráfico 18 - Tipos de mudanças identificadas pelos idosos no espaço urbano de circulação.
112
Dos idosos entrevistados, 20 (67%) relataram que a presença de muitos
carros nas ruas piorou o trânsito e foi considerada a mudança mais significativa no
espaço urbano de circulação nos últimos anos. Em segundo lugar, 5 (17%) idosos
identificaram como mudança importante, além de muitos carros nas ruas, muitas
pessoas circulando no espaço físico.
As falas dos idosos entrevistados demonstram como o caos urbano interfere
na sua qualidade de vida e como o processo de urbanização não consegue ser
compatível com as especificidades deste segmento social:
“Todo mundo percebe que Belém melhorou, mas também dá para ver que
piorou em algumas coisas, como no trânsito, tem muitos carros agora...tem que
tomar cuidado...”(M.L.P, 73 anos, sexo feminino);
“Às vezes tenho que sair sozinha e às vezes prefiro sair com alguém porque
agora tem muita gente nas ruas...e não respeitam os velhos, esbarra na
gente...”(E.L., 64 anos, sexo feminino).
Segundo Vasconcellos (1996), a reorganização das grandes cidades nos
países em desenvolvimento nos últimos anos e o processo de urbanização,
transformou o espaço urbano, ao mesmo tempo em que mudou os modos de
deslocamento utilizados. Acompanhando este processo de urbanização, algumas
conseqüências são observadas, como: a poluição do ambiente e a concentração de
milhões de pessoas nos grandes centros urbanos, privando os indivíduos da
satisfação de algumas necessidades, ditas essenciais à saúde pública, como
moradia, alimentação, abastecimento de água, assim como condições adequadas
de acessibilidade e mobilidade urbanas (RODRIGUES, 1996).
De acordo com as últimas pesquisas da Coordenadoria de Gestão de
Pessoas (1992), a taxa de urbanização dos cinco municípios da Região
Metropolitana de Belém é diferenciada, apresentando 99,8% em Belém e 99,4% em
Ananindeua. Como município pólo da RMB, Belém apresenta uma densidade
demográfica alta quando comparada aos demais municípios. Em 2000, Belém
apresentava 2.056,3 hab/km² e a diferenciação das densidades por espaço
delimitado demonstra que há uma maior densidade nos bairros centrais de Belém.
Dessa forma, torna-se fundamental o estudo do Plano Diretor da cidade de
Belém para que seja possível a compreensão dos aspectos que influenciam de
maneira significativa a qualidade de vida dos idosos, já que compõem parcela
113
importante da população e que necessitam de um olhar diferenciado para as
questões relacionadas à acessibilidade e mobilidade urbanas.
6.12 Caracterização quanto às sugestões para melhorar o espaço urbano de
circulação
Gráfico 19 - Sugestões dos idosos para facilitar a acessibilidade e mobilidade/deslocamento no espaço urbano de circulação. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
A partir das entrevistas realizadas, verificou-se que 33% dos idosos sugeriram
melhorar as calçadas, melhorar a sinalização e sensibilizar a comunidade a fim de
facilitar a acessibilidade e a mobilidade no espaço urbano de circulação; enquanto
que 17% sugeriram melhorar as calçadas e capacitar os profissionais (como
motorista de ônibus) e 17% dos idosos acreditam que, além de melhorar as
calçadas, seria importante adequar o sistema de transporte público.
Dos três grupos que se destacaram, é importante enfatizar a melhora das
calçadas como aspecto fundamental para possibilitar de maneira adequada o
acesso aos serviços em termos de mobilidade.
Os espaços públicos, segundo Aguiar (2003), são os espaços de circulação,
abertos e acessíveis a todos os cidadãos a qualquer momento e nas cidades eles
representam uma parcela significativa do espaço urbano destinado a toda a
população e se apresentam na forma de ruas, praças, jardins e parques. Assim, as
13%10%
17%17%3%7%
33%
Melhorar as calçadasMelhorar as calçadas e a sinalizaçãoMelhorar as calçadas e adequar o sistema de transporte Melhorar as calçadas e capacitar profissionais (ex. motorista) Melhorar a sinalização e adequar o sistema de transporte Adequar o sistema de transporte e capacitar profissionais Melhorar as calçadas, melhorar a sinalização, sensibilizar a comunidade
114
calçadas surgiram a partir da necessidade de separar os caminhos dos pedestres
dos caminhos dos veículos.
Ainda segundo a autora, com o crescimento das cidades e o processo
acelerado de urbanização, as calçadas assumiram uma função importante nas áreas
urbanas centrais, com a existência de atividades e aumento de mobiliário urbano.
Dessa forma, a redução das superfícies destinadas ao uso dos pedestres, nas
grandes cidades, vem gerando problemas como a produção de alterações físicas
relacionadas às mudanças funcionais e sociais das cidades.
No caso estudado, a adequação deste espaço público é necessária uma vez
que o modo de deslocamento a pé ainda é utilizado para a maioria dos
deslocamentos urbanos, considerado fundamental para os usuários com menor
poder aquisitivo, além de compreender que nas calçadas, como espaço público, as
pessoas circulam e estabelecem uma forma de convívio social.
Em relação ao sistema de transporte público, a dinâmica adquirida pela
cidade ao longo dos anos de crescimento transformou o espaço urbano de
circulação e propiciou a utilização do ônibus e do carro de passeio como importantes
meios de deslocamento (AGUIAR, 2003).
Ainda de acordo com a autora, verifica-se que com o aumento do número de
veículos, ônibus ou não, houve um aumento significativo de congestionamentos e de
agravos à saúde e, neste aspecto, a avaliação da qualidade do serviço nos sistemas
de transporte tem sido, desde a década de 80, objeto de estudo de diversos autores.
Em relação aos idosos, uma grande preocupação está relacionada aos
acidentes de trânsito, principalmente por conta da falta de capacitação dos
motoristas de ônibus. Segundo Souza et al (2003), os acidentes de trânsito são
merecedores de atenção entre a população idosa, principalmente ao se considerar o
seu caráter evitável.
De acordo com uma pesquisa realizada por Souza et al (2003) no município
de Maringá, no Estado do Paraná, em 2003, os idosos acidentados apresentavam
boa capacidade funcional para Atividades de Vida Diária (AVDs), revelando o grau
de autonomia e de independência para transitarem, principalmente, sozinhos pelas
ruas da cidade. Do grupo de 88 participantes, 52% encontravam-se na condição de
pedestre, 18% eram condutores, 13% ciclistas e 6% motociclistas.
Os dados da pesquisa citada mostraram que, no caso dos pedestres, as
dificuldades características da idade e as largas avenidas nem sempre permitiam
115
concluir a sua travessia no tempo programado pelos semáforos, verificando-se
também que dentre os idosos, metade atravessava a rua fora da faixa de segurança,
enfatizando a necessidade de ações educativas e preventivas. Os autores citam
ainda que 23% dos acidentados relataram que ainda estavam próximos à calçada
quando foram atingidos, sinalizando a falta de cuidado dos motoristas.
Quanto aos motoristas de ônibus, questiona-se a atenção em relação aos
idosos, pois além de desconhecerem as limitações relacionadas ao processo normal
de envelhecimento, como as alterações na função cognitiva, a diminuição da
velocidade psicomotora e o declínio da acuidade visual, vale ressaltar que muitos
não estão preparados para atender as demandas dos usuários de maneira geral.
Assim, torna-se necessário e urgente a capacitação desses profissionais para
que possam garantir um deslocamento desse usuário com dificuldade de
mobilidade, o mais seguro possível.
Para Vasconcellos (2001), em particular, quanto ao transporte, os idosos
apresentam dificuldades em desempenhar os papéis de usuário de transporte
público e de pedestre. No primeiro momento, as dificuldades são físicas para entrar
no veículo, especialmente, pela falta de degraus adequados e pela superlotação. Já
no segundo momento, a dificuldade está relacionada ao tempo curto dado para a
travessia das vias, o que não garante segurança.
De acordo com a Lei Federal nº. 10.048/2000, todo veículo para transporte
público, a ser fabricado no Brasil, deve ser planejado de forma a facilitar o acesso
das pessoas com dificuldades de mobilidade, o que faz com que o Poder Público só
aceite, quando da renovação da frota, veículos livres de barreiras, a fim de permitir o
fácil embarque e desembarque dos usuários.
Segundo a percepção dos idosos entrevistados acerca dos fatores que
podem ser modificados para facilitar o seu deslocamento, é importante considerar
que muitos dependem, principalmente, do Poder Público para colocar em prática o
que as leis enunciam, assim como da conscientização dos profissionais sobre as
demandas reais desses usuários do espaço urbano de circulação.
Só com as transformações necessárias será possível contribuir para uma
maior qualidade de vida destes idosos, uma vez que grande parte dos entrevistados
se desloca a pé e de ônibus (56%).
116
6.13 Questionário BOMFAQ e a capacidade funcional dos idosos
De acordo com a literatura, o envelhecimento apresenta características
específicas como o declínio de muitas funções, como a função motora e
conseqüente dependência para a realização de algumas atividades, porém, com a
mudança no perfil do sujeito que envelhece, a manutenção da autonomia e da
independência constituem-se em variáveis fundamentais para uma velhice saudável
(RUSSO, 1999).
A seguir serão apresentados os resultados referentes ao desempenho da
capacidade funcional em atividades de vida diária e atividades instrumentais de vida
diária.
Tabela 11 - Dificuldades nas atividades de vida diária (AVDs)
ATIVIDADES Com dificuldade
% Sem dificuldade
%
Deitar/levantar da cama 6 20 24 80 Comer 0 0 30 100
Pentear o cabelo 0 0 30 100 Andar no plano 1 3,33 29 96,67 Tomar banho 1 3,33 29 96,67
Vestir-se 0 0 30 100 Ir ao banheiro em tempo 0 0 30 100 Cortar as unhas dos pés 10 33,33 20 66,67
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Gráfico 20 - Dificuldades nas atividades de vida diária (AVDs) Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
624
0 30 030
1 29 1
290
30 0
3010 20
0 5 10 15 20 25 30
Frequência
Deitar/levantar da cama Comer
Pentear cabelo Andar no plano
Tomar banho Vestir-se
Ir ao banheiro em tempo Cortar unhas dos pés
Sem dificuldade Com dificuldade
117
Tabela 12 - Dificuldades nas atividades instrumentais de vida diária (AIVDs). ATIVIDADES Com
dificuldade % Sem
dificuldade %
Subir escada (1 lance) 7 23,33 23 76,67 Medicar-se na hora 7 23,33 23 76,67 Andar perto de casa 0 0 30 100
Fazer compras 0 0 30 100 Preparar refeições 10 33,33 20 66,67 Sair de condução 2 6,67 28 93,33
Fazer limpeza de casa 21 70 9 30 Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Gráfico 21 - Dificuldades nas atividades instrumentais de vida diária (AIVDs). Fonte: Pesquisa de campo, 2008. Segundo a Organização Mundial de Saúde (1998), a capacidade funcional
seria um fator importante para o diagnóstico de saúde mental e física.
Questões biológicas, hábitos, estilo de vida, contexto sócio-econômico-
ambiental, podem apresentar conseqüências negativas na mudança na capacidade
funcional do idoso, dificultando o seu deslocamento no espaço urbano de circulação
e a própria manutenção de laços sociais, possibilitando ou não a inserção do idoso
na sociedade.
Assim, a capacidade funcional está relacionada à preservação da realização
de Atividades de Vida Diária e à capacidade de desenvolver Atividades
Instrumentais de Vida Diária (DIOGO; GOMES, 2006). No caso dos idosos do
Projeto Vida Ativa, das 8 Atividades de Vida Diária, somente em duas (25%), deitar e
levantar da cama e cortar as unhas dos pés, os idosos apresentaram dificuldades,
sendo o cortar as unhas dos pés a mais significativa. Deste grupo, 33,33% dos
7 23
7 23
0 30
0 30 10
20 2
2821 9
0 5 10 15 20 25 30
Subir escada (1 lance) Medicar-se na hora Andar perta da casa
Fazer compras Prepara refeições Sair de condução
Fazer limpeza da casa
Sem dificuldade Com dificuldade
118
idosos entrevistados relataram esta dificuldade e relacionaram ao problema de
coluna (citado por alguns idosos sem confirmação diagnóstica).
Na tabela 12, das 7 atividades instrumentais de vida diária, os idosos
apresentaram dificuldades significativas em duas (28,54%): preparar as refeições
(33,33%) e fazer limpeza da casa (70%). As duas atividades envolvem movimento
constante, relatando a necessidade de auxilio para não ocasionar muito esforço.
O questionário BOMFAQ mostrou que dos idosos entrevistados, em seis
(75%) das atividades instrumentais de vida diária, apresentaram boa capacidade
funcional e em cinco (71,46%) das atividades instrumentais de vida diária
apresentaram boa capacidade funcional.
Para Rossato et al (2008), a condição funcional é um indicador fundamental
para a qualidade de vida na velhice e está relacionado à capacidade de manter as
habilidades físicas e mentais exigidas para uma boa vida. Os resultados positivos
encontrados no estudo indicam que os idosos do Pólo Tuna Luso Brasileira
apresentam condições favoráveis para a manutenção da autonomia e
independência, o que possibilita o deslocamento no espaço urbano de circulação.
6.14. A percepção do idoso em relação ao espaço físico utilizado a partir de indicadores de qualidade
Na metodologia Ferreira; Sanches (2003), a qualidade dos espaços é
avaliada pela percepção dos pedestres em relação aos aspectos ambientais que
caracterizam este espaço. Os aspectos ambientais considerados fundamentais
nesta metodologia foram: conforto, seguridade, continuidade e segurança.
O item conforto está relacionado ao grau de esforço físico que facilita o
movimento dos pedestres. A seguridade está relacionada ao grau de vulnerabilidade
quanto à iluminação (gerador de insegurança). A continuidade mostra a presença de
trechos de calçadas sem interrupções que garantam o fluxo de pedestres. Já o
aspecto segurança indica a possibilidade de quedas.
Nesta pesquisa, os idosos foram orientados a informar por ordem de
importância, os indicadores de qualidade das calçadas, sendo o número 0 (zero) o
mais prejudicial.
119
Cada um dos indicadores foi esclarecido com linguagem clara com a
finalidade de facilitar a compreensão pelos idosos, como segue abaixo:
Conforto: “o importante é que a calçada ofereça conforto ao pedestre, sem
rachaduras e/ou desníveis”;
Seguridade: “é importante que a calçada ofereça boa iluminação e gere
sensação de segurança”;
Continuidade: “é importante uma calçada sem obstáculos, como bancas de
jornal, sem carros ou mesas”;
Segurança: “o mais importante é que a calçada não ofereça conflito entre
pedestres e carros e não dificulte o caminhar do pedestre”.
A metodologia de Ferreira; Sanches (2003) é considerada ferramenta
fundamental para contribuir na mudança de políticas públicas voltadas para a
adequação do espaço urbano de circulação a partir do momento em que considera o
olhar do pedestre um termômetro em relação ao grau de satisfação no que diz
respeito à qualidade dos espaços públicos utilizados.
Gráfico 22 - Número de idosos em relação ao conforto como indicador de qualidade das calçadas. Fonte: Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
6
15
7
1
1
0 2 4 6 8 10 12 14 16 Frequência
Calçadas sem arb, com desníveis e/ou inclin, impossibilitando o caminhamento dos pedestres com dificuldade de locomoção
Calçadas sem arborização, comdesníveis e inclinações, dificultando o caminhamento dos pedestres
Calçadas arborizadas comdesníveis e inclinações, dificultando o caminhamento dos pedestres
Calçadas sem desnível e cominclinações leves
Calçadas sem desnível einclinações e com arborização
120
De acordo com a figura, verifica-se que 15 (50%) idosos relataram que as
calçadas encontram-se sem arborização, com desníveis e inclinações, dificultando o
caminhamento dos pedestres.
Em relação à qualidade das calçadas, muitos trabalhos tentam explicar
quantitativamente e qualitativamente, as características que tornam um ambiente
agradável para os pedestres, porém, apesar de existirem leis, a realidade está
distante do que se propõe principalmente no que se refere ao deslocamento dos
idosos (AGUIAR, 2003).
De acordo com Ribeiro et al (2008), as condições ambientais têm influenciado
de maneira significativa o risco de cair e o estado precário das calçadas não tem
oferecido as condições necessárias para o conforto dos idosos no que diz respeito à
mobilidade no espaço urbano de circulação.
Ainda de acordo com os autores, como conseqüências das quedas, os idosos
passam a experimentar sentimentos negativos, alterações de memória e
concentração, baixa auto-estima, assim como alterações na imagem corporal e na
aparência.
Nesse contexto, um ambiente confortável está relacionado ao grau de esforço
físico, que seja adequado para os idosos, com funcionalidade e que possa promover
o controle pessoal e facilitar a interação social.
121
Gráfico 23 - Número de idosos em relação à seguridade como indicador de qualidade das calçadas.
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Uma boa iluminação pública significa promover um adequado
desenvolvimento social e econômico da cidade. Neste contexto, nos grandes centros
urbanos, a iluminação pública é considerada essencial para a qualidade de vida,
uma vez que está diretamente relacionada à segurança pública no tráfego,
possibilita um olhar diferenciado para a paisagem da cidade, valorizando
monumentos, além de facilitar a hierarquia viária e orientar melhor os percursos
utilizados pelos pedestres (ELETROBRÁS).
Segundo os dados coletados, 14 idosos (46,67%) relataram que a iluminação
pública é deficiente, gerando sensação de insegurança.
Considerando a realidade da população idosa, de acordo com Lavinsky
(2008), mais ou menos 5 milhões de brasileiros são portadores da Doença Macular
Relacionada à Idade (em pelo menos um olho). Tal patologia está relacionada ao
processo natural de envelhecimento e não tem causa específica e, dos idosos
entrevistados, 43% relataram dificuldade visual.
De acordo com dados fornecidos pela Eletrobrás, sob o ponto de vista
constitucional, a prestação dos serviços públicos de interesse local é de
responsabilidade dos municípios e, por se tratar de um serviço que requer o
14
9
7
0 2 4 6 8 10 12 14 Frequência
Área com iluminação públicadeficiente
Área com iluminação média
Área com boa iluminação pública
122
fornecimento de energia elétrica, está submetido à legislação federal. Assim, as
condições de fornecimento de energia direcionada para a iluminação pública são
regulamentadas pela resolução da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica)
nº. 456/2000.
Verifica-se que as obras públicas nas grandes cidades apresentam como
objetivo maior a valorização dos grandes centros históricos e de pontos turísticos e
no que diz respeito à iluminação pública, em particular, não há um direcionamento
para as necessidades dos idosos, com a elaboração de políticas públicas que
possam redefinir a posição da população idosa na sociedade e que privilegiem o
cuidado na família e nos espaços públicos.
De acordo com Márcio Homci, diretor do Departamento de Iluminação Pública
da Secretaria Municipal de Urbanização (SEURB), o serviço vem sendo otimizado
desde o final de 2008. O diretor explicou, em algumas entrevistas, que os problemas
das luminárias acontecem em toda a cidade e justifica que os equipamentos são
antigos e ineficientes. Comenta ainda que há o projeto RELUZ, orçado em R$ 20
milhões (R$ 17 milhões do Sistema Eletrobrás e R$ 3 milhões do Município de
Belém) e que possibilitará a substituição de 37 mil pontos de iluminação pública e a
implantação de 16 mil novos pontos de iluminação em áreas com déficit.
O diretor comenta ainda a elaboração do Plano Diretor de Iluminação de
Belém. Tal Plano permitirá que a Prefeitura execute de maneira adequada as ações
necessárias para tornar Belém uma cidade iluminada e será complementado com o
Cadastro do Parque de Iluminação Pública de Belém (instrumento de controle dos
pontos de iluminação da cidade).
123
Gráfico 24 - Número de idosos em relação à continuidade como indicador de qualidade das calçadas. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
De acordo com a figura, 10 idosos relataram que as calçadas apresentam
desníveis e obstáculos que obrigam o pedestre a caminhar no leito da rua.
O problema das calçadas constitui-se em um dos maiores perigos para os
idosos em termos de mobilidade no espaço urbano de circulação, impedindo a
circulação livre e segura. Segundo Ferreira (2007), 60 % das calçadas públicas de
Belém são irregulares e a ilegalidade está no formato, altura e alinhamento, que
desobedecem ao que prevê as legislações como o Código de Postura do Município
e a Lei de Acessibilidade.
Nesse contexto, o Código de Posturas do Município, lei n° 7.055 de 1977,
inserido no conjunto da Legislação Urbanística, tem como um dos objetivos
principais resgatar o respeito ao direito individual e ao coletivo, tratando de
diferentes aspectos: higiene e saúde pública, proteção do aspecto paisagístico e
histórico, insalubridade dos estabelecimentos comerciais, industriais e habitações.
Além disso, dispõe sobre as infrações e penalidades ao Código (SANTANA, 2009).
Para a autora, a Secretaria Municipal de Urbanismo contabilizou até julho de
2007, desde a criação do Código de Postura do Município (1977), um total de 1.146
10
8
2
7
3
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Frequência
Calçadas com desníveis e obstáculos que obrigam o usuário a
Calçadas usadas comoestacionamento
Calçadas ocupadas parcialmente por outros usos
Calçadas com mobiliário,dificultando o caminhamento
Calçadas sem obstáculos e commobiliário urbano
Continuidade
124
notificações, demolições, regularizações, ordens de serviço e notificações jurídicas
emitidas a moradores e comerciantes que precisam se adequar ao que prevê a lei.
Em agosto de 2007, foram realizadas 385 novas notificações para consertar e
corrigir calçadas consideradas perigosas para crianças, jovens, adultos e a terceira
idade.
Ainda de acordo com a autora, os acidentes acabam provocando processos
judiciais que tramitam na Justiça Estadual contra a prefeitura. Hoje, na Secretaria
Municipal de Assuntos Jurídicos (Semaj), sete ações ajuizadas estão nas mãos dos
procuradores municipais. Em todas elas, o pedido de indenizações, que variam de
R$ 25 mil a R$ 200 mil, por danos físicos e materiais provocados por acidentes nas
calçadas irregulares de Belém.
Sabe-se que a regularização das calçadas é considerada uma obra publica e
o prefeito Duciomar Costa mostrou ser consciente dos perigos oferecidos pelas
calçadas irregulares na cidade de Belém. De acordo com o prefeito em entrevistas
realizadas no ano de 2007 e 2008, estimou que, no ano de 2007, já regularizou 14
mil metros de calçadas em Belém, totalizando 14 quilômetros do projeto denominado
Faixa Cidadã (criada pela Secretaria Municipal de Urbanismo e pela Secretaria
Municipal de Saneamento).
O prefeito explica ainda que o objetivo da Faixa Cidadã é deixar a cidade
adaptada à Lei da Acessibilidade, constante do Estatuto do Idoso, e à realidade de
uma parcela importante da população, os portadores de necessidades especiais.
Segundo ele, a faixa criada no calçamento é um referencial porque prevê um
nivelamento de todas as calçadas e a implantação de uma faixa tátil indicadora de
direção, além de outra com indicação de alerta para o meio-fio e a via, com
características importantes para o deslocamento adequado para o cadeirante, para o
idoso e ao cego.
O projeto é considerado, por muitos pesquisadores, inédito na Região Norte e
já observa-se nas avenidas Governador José Malcher, Magalhães Barata, Duque de
Caxias, Generalíssimo e na Avenida Presidente Vargas. A faixa também está em
processo de implantação na avenida Marquês de Herval, totalizando 44.065,17
metros quadrados de novas calçadas e da faixa Cidadã.
Verificam-se, assim, mudanças importantes no que diz respeito à
acessibilidade e mobilidade de idosos e pessoas portadoras de mobilidade reduzida.
125
Gráfico 25 - Número de idosos em relação à segurança como indicador de qualidade das calçadas. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Segundo Silva; Silva (2008), a maior incidência de quedas encontra-se na
terceira idade e está relacionada à fatores extrínsecos, como assoalhos
escorregadios, tapetes soltos, iluminação inadequada e calçadas com desníveis e
estreitas. Para as autoras, estima-se que há uma queda para um cada três
indivíduos com mais de 65 anos e que um em vinte dos que sofreram quedas,
apresentam como conseqüência fraturas ou necessitam de internação e dos idosos
acima de 80 anos, 40% caem a cada ano.
Além das causas relacionadas à idade, os fatores ambientais constituem-se
como os mais importantes fatores extrínsecos associados às quedas em idosos
(PAPALEO, 1996).
Da Silva; Silva (2008) ainda relatam que ambientes inseguros aumentam a
probabilidade de escorregar, tropeçar e cair. Tais riscos dependerão da freqüência
da exposição ao ambiente inseguro e da capacidade funcional do idoso.
Segundo Gold (2003), caminhar a pé é considerada uma das atividades mais
fundamentais do ser humano. Nas áreas urbanas, segundo o autor, com espaços
limitados e com a incompatibilidade veículo/pedestre, surgiu a calçada como espaço
físico importante a fim de possibilitar a circulação adequada de pessoas que utilizam
6
8
11
3
2
0 2 4 6 8 10 12 Frequência
Área com existência de calçadas,mas o pedestre disputa o le
Área com conflitos entre pedestrese veículos (estacionament
Área com calçadas estreitas eoferecendo riscos aos pedestre
Área sem conflito entre pedestres ecom acessibilidade média
Área s conflito c veic, obst, desn, qdificultem o caminham
126
como o caminhar como modo de deslocamento e, sabe-se que, em muitas cidades
brasileiras, mais do que 30% dos deslocamentos diários da população são
realizados a pé.
Assim, a calçada deveria oferecer ao pedestre a segurança para a circulação
a pé, sem dividir o espaço com veículos ou mobiliários urbanos, porém, as
condições inadequadas das calçadas brasileiras restringem a sua utilização pelos
pedestres, principalmente pelos idosos. Tal situação obriga muitos dos pedestres a
caminharem na rua sem calçada, correndo um perigo muito maior se houver a
circulação de veículos no mesmo espaço (GOLD, 2003).
O gráfico 25 mostra que, dos idosos entrevistados, 11 (33,67%) relataram que
calçadas estreitas e oferecendo riscos aos pedestres são considerados aspectos
importantes para a segurança como indicador da qualidade da calçada.
Para Gold (2003), a largura mínima livre necessária de uma calçada é de
1,5m para o deslocamento de dois adultos lado a lado ou em direções opostas,
porém, considerando-se a existência de mobiliário urbano, a largura recomendável é
de 2,3m.
De acordo com o Estatuto do Idoso (2003), a Política Nacional do Idoso
(1994) e Política Estadual de Amparo ao Idoso (2003), apesar dos avanços em
termos de políticas públicas em relação aos idosos, as necessidades reais no
quanto à acessibilidade e mobilidade deste segmento social ainda não estão sendo
cumpridas.
127
6.15 Grau de satisfação do idoso em relação aos indicadores de qualidade das
calçadas dos espaços mais utilizados.
Gráfico 26 - Grau de satisfação do idoso em relação ao conforto como indicador de qualidade da calçada. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Gráfico 27 - Grau de satisfação do idoso em relação à seguridade como indicador de qualidade da calçada. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
7%
93%
SatisfeitoInsatisfeito
7%
90%
3%
SatisfeitoInsatisfeitoIndiferente
128
Gráfico 28 - Grau de satisfação do idoso em relação à continuidade como indicador de qualidade da calçada. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Gráfico 29 - Grau de satisfação do idoso em relação à segurança como indicador de qualidade da calçada. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Em relação aos gráficos, verifica-se que os idosos entrevistados apresentam
algo grau de insatisfação em relação aos indicadores de qualidade das calçadas,
totalizando 93% em relação ao conforto, 90% em relação à seguridade, 86% em
relação à continuidade e 84% em relação à segurança.
Os valores estão relacionados aos espaços físicos mais utilizados em suas
atividades cotidianas, além da Tuna Luso Brasileira. São eles: agência bancária,
7%
86%
7%
SatisfeitoInsatisfeitoIndiferente
3%
84%
13%
SatisfeitoInsatisfeitoIndiferente
129
farmácia e supermercado (46,67%), agência bancária e supermercado (3,33%),
agência bancária, farmácia, supermercado e shopping (30%), posto de saúde e
supermercado (6,67%), agência bancária e posto de saúde (3,33%), farmácia,
supermercado e shopping (3,33%) e 6,67% citaram que freqüentam todos os
lugares.
De acordo com as entrevistas realizadas, os idosos que freqüentam as
agências bancárias, farmácias e supermercados (46,67%), relataram que são os
lugares considerados mais importantes uma vez que estão relacionados às
atividades básicas, como o recebimento da aposentadoria, a compra de
medicamentos necessários e de alimentos para a manutenção da qualidade de vida.
É importante considerar que nenhum idoso citou as praças públicas como
espaço físico utilizado para o lazer, mas citaram o shopping com tal função.
Comentaram nas entrevistas que a violência foi considerada o aspecto que
contribuiu para que o shopping fosse considerado o espaço mais seguro para o
lazer, além do Núcleo da Terceira Idade (Tuna Luso Brasileira).
De acordo com Minayo (2003), compreender a violência nos grandes centros
urbanos é um dos grandes desafios e maior ainda quando relacionado ao idoso.
Para a autora, no conjunto de violências que mais vitimaram os idosos no período de
1980 a 1998, foram os acidentes de trânsito, as quedas e homicídios.
De acordo com o Sistema de Informações Hospitalares do SUS, em 1999,
foram registradas 69.637 internações por violências. Destas, 55% por quedas e
23,4% por acidentes de trânsito. Além dos dados obtidos pelo sistema de
informação do SUS, os registros policiais confirmam que idosos são vítimas de
seqüestros, assaltos, invasão de domicilio, mesmo que em número menor, mas da
mesma maneira que acontece em outros segmentos da sociedade (MINAYO, 2003).
Os dados confirmam que a percepção que os idosos apresentam sobre a
cidade foi modificada ao longo dos anos e possibilitou a mudança de comportamento
em relação à utilização de espaços para o lazer, substituindo as praças públicas
pelos shoppings.
Segundo Ferreira; Sanches (2003), a percepção baseia-se na capacidade que
o homem possui de produzir informações a partir de impactos ambientais urbanos
que constituem seu cotidiano. A partir dessa capacidade, o ser humano conhece seu
ambiente e é capaz de, sobre ele, produzir opiniões e atitudes, gerando
informações. Ainda de acordo com os autores, as atitudes caracterizam como uma
130
tendência à ação, que é adquirida no ambiente em que se vive e deriva de
experiências pessoais e também de fatores e personalidade.
6.16 Gráficos referentes ao grau de satisfação do idoso em relação aos
indicadores de qualidade das calçadas do espaço Tuna Luso Brasileira
Gráfico 30 - Grau de satisfação do idoso em relação ao conforto como indicador de qualidade da calçada. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Gráfico 31 - Grau de satisfação do idoso em relação à seguridade como indicador de qualidade da calçada. Fonte: Pesqusia de campo, 2008.
3%
87%
10%
SatisfeitoInsatisfeitoIndiferente
17%
70%
13%
SatisfeitoInsatisfeitoIndiferente
131
Gráfico 32 - Grau de satisfação do idoso em relação à continuidade como indicador de qualidade da calçada. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Gráfico 33 - Grau de satisfação do idoso em relação à segurança como indicador de qualidade da calçada. Fonte: Pesquisa de campo. 2008.
Em relação aos gráficos, verifica-se que os idosos entrevistados apresentam
algo grau de insatisfação em relação aos indicadores de qualidade das calçadas,
totalizando 87% em relação ao conforto, 70% em relação à seguridade, 87% em
relação à continuidade e 87% em relação à segurança.
É importante enfatizar que todos os idosos entrevistados não apresentam
nenhum tipo de auxílio para se deslocar e que deste grupo, 75% apresenta boa
10%
87%
3%
SatisfeitoInsatisfeitoIndiferente
3%
87%
10%
SatisfeitoInsatisfeitoIndiferente
132
capacidade funcional para Atividades de Vida Diária e 71,46% apresenta boa
capacidade funcional para Atividades Instrumentais de Vida Diária.
Durante as entrevistas, os idosos relataram que fazer parte do Núcleo da
Terceira Idade fez com que eles renovassem a vontade de viver, e muitos deles
(36,7%) apresentaram a saúde como motivo principal, enquanto que 46,7%
apresentaram não só a saúde, mas também a necessidade de novas companhias
como motivo principal.
Apesar do alto grau de insatisfação demonstrado pelos idosos em relação aos
indicadores de qualidade das calçadas, o que possibilita a permanência no Núcleo
da Terceira Idade, em especial, no Pólo Tuna Luso Brasileira é o fato de
encontrarem neste espaço, uma forma de convívio social.
De acordo com Marques (2009), na década de 70 houve um aumento dos
grupos de convivência de idosos em todo o país, especificamente nos clubes,
paróquias, universidades e centros de saúde. Para o autor, esses grupos surgiram
com o objetivo de promover a saúde e o bem-estar da população a partir dos 60
anos, considerando que o processo natural de envelhecimento apresenta
características que, por si só, comprometem a qualidade de vida do idoso.
É importante enfatizar que os idosos pertencentes aos Núcleos da Terceira
Idade vivenciam a velhice de forma diferenciada, com uma participação funcional e
significativa em atividades variadas. No caso dos idosos inseridos no Pólo Tuna
Luso Brasileira, destacam-se: hidroginástica, alongamento e atividades de
memorização (detalhadas na metodologia).
Além da realização de diferentes atividades lúdico-terapêuticas, a participação
do idoso no Projeto Vida Ativa possibilita a sua inserção na sociedade, verificando-
se um compromisso não só com o bem-estar físico individual, mas coletivo.
Paralelamente, o idoso do núcleo pesquisado demonstra uma
conscientização importante no cenário político e social, capaz de resgatar o seu
verdadeiro papel na sociedade com a manutenção da autonomia e a realização
pessoal. Tais aspectos contribuem para a construção de um novo paradigma sobre
o envelhecimento, uma nova mentalidade acerca das reais necessidades dos
idosos, permitindo-lhes uma percepção mais detalhada sobre as suas condições de
vida.
Em relação à procura por novas companhias em grupos de convivência,
pouco se tem na literatura sobre estudos realizados na cidade de Belém.
133
Segundo Ramos (2002), a qualidade dos contatos sociais, independente da
idade, reforça um sentimento de pertencer à sociedade e que afeta positivamente a
saúde de qualquer indivíduo. Neste caso, considera-se a realidade dos idosos como
indivíduos cada vez mais ávidos por melhorar a sua qualidade de vida a partir da
manutenção das relações sociais.
Portanto, diante dos dados apresentados, a pesquisa permite destacar três
pontos centrais. Primeiro, uma observação da qualidade de vida do idoso,
relacionada ao crescimento de sua rede de relações sociais.
Como segundo ponto, a relação do aspecto citado ao cenário urbano,
expresso através do tempo de trajeto, a dependência, a baixa autonomia advinda de
um espaço pouco estruturado. E, finalmente, as contribuições das questões legais
aos resultados desta pesquisa, como o Plano Diretor da Cidade de Belém, o
Estatuto do Idoso e a Política Nacional do Idoso, evidenciando a adequação de uma
política de mobilidade e acessibilidade que atenda às necessidades deste segmento
social.
Porém, no relato dos idosos inseridos no Projeto Vida Ativa, não é isso que
evidencia como resultado:
“Apesar de saber que temos direitos, não encontramos apoio quando
precisamos...para andar nas ruas e calçadas de Belém ainda é difícil...”(E.O., sexo
feminino, 64 anos);
“Não posso deixar de fazer as minhas atividades físicas por causa dos
buracos das calçadas...é preciso andar com cuidado...”(A.A., sexo feminino, 70
anos);
“Eu já me acostumei com a falta de atenção aos mais velhos...sou mais
um...”(P.L.J., sexo masculino, 66 anos);
“Quando eu me matriculei no núcleo, era só pela saúde, eu tinha problema de
coluna, mas agora tenho atividades de lazer e tenho muitos amigos...não vou deixar
de vir por causa das calçadas mal feitas...”(I.G., sexo feminino, 72 anos).
134
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O cenário atual confirma o crescimento cada vez mais acelerado da
população idosa e deixa claro que, a saúde do idoso não se refere somente ao
controle e prevenção de doenças, mas a atenção ao processo de envelhecimento
engloba o ser físico, mental e a independência, seja econômica ou funcional.
O envelhecimento, por si só, apresenta mudanças biológicas e emocionais
que podem modificar a rotina de vida do indivíduo, porém, verifica-se que em termos
de políticas públicas, há propostas que não atendem as reais necessidades deste
segmento populacional, principalmente, se considerarmos a inserção deste idoso no
espaço urbano de circulação.
Sabe-se que o envelhecimento está diretamente relacionado às condições e
qualidade de vida dos indivíduos e assim, a qualidade de vida passa a ter um
significado mais amplo, subjetivo e dependente de vários aspectos, como da
acessibilidade e mobilidade urbanas.
Apesar de reconhecer a existência e o significado dos aspectos legais, como
o Estatuto do Idoso e a Política Nacional do Idoso que dispõe sobre leis que
garantem o direito de ir e vir deste segmento social, verificam-se relatos de
dificuldades para circular no espaço urbano.
Nesse contexto, Belém, considerada um grande centro urbano, apresenta a
necessidade de adaptar os espaços físicos a fim de possibilitar um deslocamento
adequado da sua população idosa, na medida em que o Pará é considerado o
quarto estado no Brasil em número de indivíduos inseridos na Terceira Idade.
Grande parte desta população demonstra independência e busca cada vez mais a
inserção na sociedade de maneira funcional.
Deste modo, os núcleos da Terceira Idade são considerados espaços
importantes para a reconstrução da cidadania e o estabelecimento de novos laços
sociais. Verifica-se que a possibilidade de manutenção da independência
proporciona uma maior satisfação com a vida e, consequentemente, melhor
qualidade de vida.
Além do Pólo Tuna Luso Brasileira, os espaços urbanos mais utilizados pelos
idosos são agência bancária, farmácia e supermercado e foi possível identificar, a
partir dos relatos dos participantes, que há 100% de insatisfação em relação aos
135
indicadores de qualidade do espaço urbano de circulação, como conforto,
seguridade, continuidade e segurança, especificamente no que diz respeito aos
desníveis e obstáculos observados nas calçadas, assim como a iluminação
deficiente.
É importante relacionar tal resultado à ocorrência de quedas e, apesar de
todos apresentarem boa capacidade funcional, 53% dos entrevistados relataram ter
caído em ambiente externo. Portanto, não é somente a condição de saúde que
possibilitará as quedas, mas as características do espaço físico.
A pesquisa objetivou compreender como os idosos, inseridos em um núcleo
da terceira idade, dentro de suas características e dentre tantos sujeitos urbanos,
percebem as limitações de acessibilidade e mobilidade no espaço urbano por onde
circulam a partir da execução de suas atividades cotidianas.
Os idosos do Pólo Tuna Luso Brasileira percebem que há dificuldades
importantes no que diz respeito à mobilidade e acessibilidade no espaço urbano de
circulação e muitas delas não estão relacionadas somente ao processo natural do
envelhecimento, mas principalmente, ao caos urbano evidenciado em muitos relatos,
como na mudança do trânsito e aumento do número de pedestres circulando nas
ruas e calçadas.
Assim, considerando o crescimento acelerado das grandes cidades e o
oferecimento de barreiras arquitetônicas e urbanísticas que comprometem o
deslocamento do idoso no espaço urbano de circulação e colocam em risco a sua
integridade física, torna-se fundamental rever o conceito de desenho universal. Esse
aspecto passa a ser instrumento obrigatório para a eliminação de tais barreiras,
além de possibilitar a construção de uma sociedade inclusiva que permita ao idoso
se deslocar com autonomia e segurança.
O estudo possibilitou compreender que o espaço público constitui-se como
elemento fundamental para estruturar o território considerado urbano além de
desempenhar funções urbanísticas, como sociais e ambientais.
Cabe, então, enfatizar que os idosos inseridos no Projeto Vida Ativa, apesar
de manifestarem insatisfação em relação à qualidade dos espaços urbanos
utilizados, mantêm o deslocamento nestes espaços, principalmente pelos laços
sociais estabelecidos.
A dinâmica social do espaço urbano é, neste caso, definida pelas
características específicas da população, tais como as necessidades de
136
estabelecimento e manutenção de vínculos sociais. É neste sentido que o espaço
público assume importante função no cotidiano dos idosos.
Portanto, o espaço público com a função de organizar e estruturar o espaço
urbano, também desempenha importante papel na criação de boas condições de
acessibilidade e mobilidade urbanas que, quando adaptadas à realidade dos idosos,
promovem a valorização deste espaço e possibilitam a manutenção da sua
autonomia e independência.
Conclui-se que, no cotidiano urbano, faz-se necessário implementar e rever
as políticas públicas de atenção à pessoa idosa que promovam o uso e a
acessibilidade dos espaços públicos de forma humanizada.
Torna-se fundamental a adaptação dos espaços urbanos a fim de garantir o
direito de ir e vir deste segmento da população, além de contribuir para o resgate do
espaço público como forma de convívio social, uma vez que estes idosos ainda
encontram dificuldades para se manterem como atores sociais importantes para o
desenvolvimento histórico, cultural, social e político da sociedade na qual estão
inseridos.
137
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APÊNDICES
147
APÊNDICE A
TERMO DE ACEITE DE ORIENTAÇÃO
Eu, Voyner Ravena Cañete, Professora e Orientadora credenciada junto ao
Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu em Desenvolvimento e Meio Ambiente
Urbano, aceito orientar a aluna Andréa Carla Jorge Reis na elaboração do projeto
intitulado “Os Idosos e a Circulação no Espaço Urbano: a locomoção dos idosos do
Pólo Tuna Luso Brasileira do Projeto Vida Ativa na Cidade de Belém/PA.”
Declaro ainda ter ciência dos Regulamentos e Normas de Orientação do
Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano.
Belém, ____ de ________ de 2008.
___________________________
Voyner Ravena Cañete
148
APÊNDICE B
AUTORIZAÇÃO DA SECRETARIA DE ESPORTE E LAZER
Eu, _________________________________, representante da Secretaria de
Estado de Esporte e Lazer do Estado do Pará, autorizo a realização da pesquisa de
dissertação intitulada “Os Idosos e a Circulação no Espaço Urbano: a locomoção
dos idosos do Pólo Tuna Luso Brasileira do Projeto Vida Ativa na Cidade de
Belém/PA.”.
Estou ciente que a pesquisa tem fins puramente científicos e educacionais e
que o objetivo do estudo é compreender como os idosos, dentro de suas
singularidades e dentre tantos sujeitos urbanos, percebem a limitação de mobilidade
e acessibilidade no espaço urbano onde circulam a partir da execução de suas
atividades cotidianas, além disso, estou ciente que os resultados obtidos durante o
estudo serão mantidos em sigilo.
Belém, ___ de _______ de 2008.
___________________________
Assinatura
149
APÊNDICE C
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
“OS IDOSOS E A CIRCULAÇÃO NO ESPAÇO URBANO: A LOCOMOÇÃO
DOS IDOSOS DO PÓLO TUNA LUSO BRASILEIRA DO PROJETO VIDA ATIVA NA
CIDADE DE BELÉM/PA.”
Você está sendo convidado(a) a participar do projeto de pesquisa acima
citado. O documento abaixo contém todas as informações necessárias sobre a
pesquisa que estamos fazendo. Sua colaboração neste estudo será de muita
importância para nós, mas se desistir a qualquer momento, isso não causará
nenhum prejuízo a você.
Eu, ___________________________, residente e domiciliado na
______________________, portador da Cédula de identidade, RG ____________ ,
e inscrito no CPF_________________ nascido(a) em _____ / _____ /_______ ,
abaixo assinado(a), concordo de livre e espontânea vontade em participar como
voluntário(a) do estudo “Os Idosos e a Circulação no Espaço Urbano: a locomoção
dos idosos do Pólo Tuna Luso Brasileira do Projeto Vida Ativa na Cidade de
Belém/PA.”
Estou ciente que:
I. A pesquisa tem fins puramente científicos e educacionais. O objetivo
do estudo é compreender como os idosos, dentro de suas singularidades e dentre
tantos sujeitos urbanos, percebem a limitação de mobilidade e acessibilidade no
espaço urbano onde circulam a partir da execução de suas atividades cotidianas;
II. Os dados serão coletados através de questionários e entrevistas que serão
gravados;
III. Não sou obrigado a responder as perguntas realizadas;
IV. A participação neste projeto não tem objetivo de me submeter a um
tratamento, bem como não me causará nenhum gasto com relação aos
procedimentos efetuados com o estudo;
V. Tenho a liberdade de desistir ou de interromper a colaboração neste estudo
no momento em que desejar, sem necessidade de qualquer explicação;
150
VI. A desistência não causará nenhum prejuízo à minha saúde ou bem estar
físico;
VII. A minha participação neste projeto contribuirá para acrescentar à literatura
dados referentes ao tema, direcionando as ações voltadas para a promoção da
qualidade de vida e não causará nenhum risco;
VIII. Não receberei remuneração e nenhum tipo de recompensa nesta pesquisa,
sendo minha participação voluntária;
IX. Os resultados obtidos durante o estudo serão mantidos em sigilo;
X. Concordo que os resultados sejam divulgados em publicações científicas,
desde que meus dados pessoais não sejam mencionados;
XI. Caso eu desejar, poderei pessoalmente tomar conhecimento dos resultados
parciais e finais desta pesquisa.
( ) Desejo conhecer os resultados desta pesquisa.
( ) Não desejo conhecer os resultados desta pesquisa.
Belém, de de 2008
Declaro que obtive todas as informações necessárias, bem como todos os
eventuais esclarecimentos quanto às dúvidas por mim apresentadas.
_________________________________________________
Participante
_________________________________________________
Testemunha 1 :
Nome / RG / Telefone
_________________________________________________
Testemunha 2 :
Nome / RG / Telefone:
__________________________________________________
PESQUISADOR RESPONSÁVEL
Telefone para contato: ________________________________
151
APÊNDICE D
QUESTIONÁRIO
1) Características sócio-demográficas:
- Nome (iniciais): ________ Idade: ______ DN: ___/___/___ Sexo: ( )M ( ) F
- Grau de escolaridade:
( ) Fundamental ( ) Analfabeto
( ) Médio completo ( ) Médio incompleto
( ) Superior completo ( ) Superior incompleto
2) Características clínicas-funcionais:
- Queda no último ano? ( ) sim ( ) não
- Acuidade visual ( ) enxerga bem ( ) enxerga mal ( ) cegueira
- Auxílio à locomoção ( ) andador ( ) bengala ( ) não utiliza
- Apresenta perda auditiva? ( ) sim ( ) não
3) Como se desloca pela cidade? ( ) a pé ( ) ônibus ( ) carro ( ) van
4) Em relação à cidade onde a sra./sr. mora, encontra alguma dificuldade para andar
nas ruas e calçadas da cidade? ( ) sim ( ) não
5) Qual o motivo que o fez participar do Projeto Vida Ativa?
_______________________________________________________________
6) Durante o trajeto até o núcleo da terceira idade, encontra alguma dificuldade para
se deslocar? ( ) sim ( ) não
7)Quanto tempo leva para completar o trajeto? ________________________
8) Além de freqüentar o núcleo da terceira idade, quais são os serviços que o
sr./sra.mais precisa e usa?
( ) agência bancária ( ) farmácia ( ) posto de saúde
( ) praças ( ) supermercados ( ) shoppings
152
Especifique quantas vezes por semana precisa dos serviços citados: ________
9) A sra./sr. encontra alguma dificuldade de acesso aos prédios públicos, como
farmácias, agência bancária, posto de saúde, shoppings? ( ) sim ( ) não
Que tipo de dificuldade? ___________________________________________
10) O espaço urbano de circulação para pedestres mudou nos últimos anos?
( ) sim ( ) não Em que aspectos? __________________________________
11) Em sua opinião, o que seria importante para facilitar o seu acesso aos serviços
que mais precisa, em termos de mobilidade/deslocamento?
( ) melhorar as calçadas ( ) melhorar a sinalização ( ) sensibilizar a comunidade
( ) adequar o sistema de transporte ( ) praticar as políticas públicas de atenção ao
idoso ( ) capacitar profissionais – ex: motorista de ônibus
153
APÊNDICE E
QUESTIONÁRIO BOMFAQ
(Versão Brasileira de OARS - Olders Americans Resources and Services
Multidimensional Functional Assesment Questionaire)
Atividades de Vida Diária
Com dificuldade Sem dificuldade
Deitar/levantar da cama
Comer
Pentear cabelo
Andar no plano
Tomar banho
Vestir-se
Ir ao banheiro em tempo
Cortar unhas dos pés
Atividades Instrumentais de Vida
Diária
Subir escada (1 lance)
Medicar-se na hora
Andar perto de casa
Fazer compras
Preparar refeições
Sair de condução
Fazer limpeza de casa
154
APÊNDICE F
PERCEPÇÃO DE ESPAÇO FÍSICO
METODOLOGIA DE FERREIRA E SANCHES (2003)
A metodologia de Ferreira e Sanches (2003) avalia a qualidade dos espaços
dos pedestres considerando aspectos ambientais e determinam a percepção da
qualidade atribuída pelos pedestres a estes espaços por meio de indicadores mais
relevantes.
Os indicadores são: conforto (representa o grau de esforço físico),
continuidade (existência de trechos sem interrupções), segurança (sem perigo de
quedas) e seguridade (iluminação em relação à sensação de segurança).
Quadro 1 – Indicador de qualidade da calçada
Conforto pontuação
_______________________________________________________________
Calçadas sem desníveis e inclinações e com arborização 5
Calçadas sem desníveis e com inclinações leves 4
Calçadas sem piso, mas com condições de caminhamento 3
Calçadas arborizada com desníveis e inclinações, dificultando o
caminhamento dos pedestres 2
Calçadas sem arborização, com desníveis e inclinações, dificultando o
caminhamento dos pedestres 1
Calçadas sem arborização, com desníveis e/ou inclinações,
impossibilitando o caminhamento de pessoas com
dificuldade de locomoção ou mobilidade reduzida 0
_______________________________________________________________
Quadro 2 – Indicador de qualidade da calçada
Seguridade pontuação
_______________________________________________________________
Área com boa iluminação pública 5
Área com iluminação média 3
Área com iluminação pública deficiente 0
155
Quadro 3 - Indicador de qualidade da calçada
Continuidade pontuação
_______________________________________________________________
Calçadas sem obstáculo e com mobiliário urbano 5
Calçadas com condições de caminhamento, mas sem revestimento 4
Calçadas com mobiliário dificultando o caminhamento 3
Calçadas ocupadas parcialmente por outros usos 2
Calçadas usadas como estacionamento 1
Calçadas com desníveis e obstáculos que obrigam o
usuário a caminhar no leito da rua 0
_______________________________________________________________
Quadro 4 - Indicador de qualidade da calçada
Segurança pontuação
_______________________________________________________________
Área sem conflito com veículos, obstáculos, desníveis que 5
dificultem o caminhamento dos pedestres e pessoas
portadoras de dificuldades de locomoção ou mobilidade reduzida
Área sem obstáculos para o caminhamento dos pedestres
pessoas portadoras de dificuldades de locomoção ou
mobilidade reduzida 4
Área sem conflito entre pedestres e veículos e com
acessibilidade média ao caminhamento de pessoas 3
Área com calçadas estreitas e oferecendo riscos aos pedestres 2
Área com conflitos entre pedestres e veículos (estacionamentos) 1
Área com existência de calçadas, mas o pedestre disputa
o leito da rua com os veículos 0
_______________________________________________________________
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