pastoral de gestação perspetivas catequéticas · da credibilidade de jesus é o encontro com...

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CATEQUESE E PASTORAL DE GESTAÇÃO Braga, 09 de setembro de 2017

Pe. Tiago Neto

O MOMENTO FAVORÁVEL

«Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditaino Evangelho» (Mc 1, 14-15)

O anúncio e a receção do Evangelho estão ligados a um «momento favorável» e a uma terra disponível.

QUE TEMPO É O NOSSO?

Hoje em dia, pela situação que vive o cristianismo nas sociedades ocidentais, é fundamental um exercício de discernimento evangélico através do qual se procura perceber se o tempo atual da história constitui ou não um momento favorável para o anúncio do Evangelho.

ABRIR-SE À GRAÇA DA CRISE

«Hoje em dia, infiltrou-se uma dúvida: o momento continua a ser favorável ao anúncio do Evangelho?»

«A situação atual das nossas sociedades representa uma verdadeira oportunidade para o Evangelho, um kairos, que não só nos fala do trabalho da sabedoria do Espírito na história dos homens, mas que nos convida a descobrir facetas ainda desconhecidas do Evangelho de Deus».

(Christoph Theobald, Hoje é o tempo favorável, 58-59)

UMA OPORTUNIDADE PARA O EVANGELHO

Hoje em dia, o Evangelhotrabalha as consciências tantocomo acontecia no passado.

O tempo atual não é menosfavorável que os anteriores aoanúncio da Boa Nova.

A contemporaneidade é entendida como propícia à gestação de novasoportunidades para o Evangelho.

Ele tem todas as possibilidadesde ser escutado e entendido, de novo, como uma Boa Notíciaque transmite a vida.

1. AO SERVIÇO DA VIDA E DA FÉ

UMA PASTORAL DE ENQUADRAMENTO

«As coisas da fé desenrolavam-se naturalmente, identificando-se com a prática: ser cristãoera ser batizado e praticante. A pastoral consistia emtransmitir fielmente a doutrina, a moral, os sacramentos e a disciplina canónica da Igreja».

(Philippe Bacq, Para umapastoral de gestação, 8)

Enquadramento territorial

Enquadramento existencial

Paradigma ultrapassado?

A IMAGEM DO FURAÇÃO

Destruição

Planos de reflorestação

Política voluntarista

Regeneração natural da floresta

Melhor biodiversidade

Maior equilíbrio ecológico

Política de acompanhamento

ATITUDE EVANGELICAMENTE AJUSTADA

«Trata-se também de reconhecer que a catástrofenão é uma catástrofe para toda a gente, que muitos não desejam voltar à floresta antiga e que o presente é portador de uma melhor biodiversidade eclesial em crescimento».

(André Fossion, «Évangéliser de manière évangélique. Petite grammaire spirituelle pour une pastorale d’engendrement», 62)

ENTRE DOIS MUNDOS

«Um mundo está a ir-se embora e outro vem aí. Um certo cristianismo está em crise profunda, mas não é o fim da fé cristã: esta está igualmente em reconstrução, em reconfiguração. Desde este ponto de vista, nós estamos numa situação de entre doisdesconfortável mas apaixonante, entre aquilo que morre e aquilo que nasce».

A. FOSSION, Évangéliser de manière évangélique. Petite grammaire spirituelle pour une pastorale d’engendrement, 57.

PASTORAL

Refere-se à relação de Cristo com as pessoas do seu tempo.

Pastoral significa muitosimplesmente «colocar-se aoserviço das pessoas à maneirade Cristo».

«Para além de toda a atividade, pastoral designa a qualidade relacional de Jesus e dos seus discípulos, umamaneira de se tornar presenteaos outros, de estar com eles e entre eles».

(Cf. Ph. BACQ, «La pastoraled’engendrement», 311)

GESTAÇÃO

O termo «gestação» relaciona-se metaforicamente com tudoaquilo que se refere ao gerar.

Remete para a dimensão maissignificativa da gestação: o âmbito conjugal e familiar.

A «experiência humana maispoderosa e mais frágil, maiscomovente, mais alegre e, porvezes mais dolorosa que existe», do amor entre um homem e umamulher gerando-se mutuamente e dando «a vida a um novo ser».

(Cf. Ph. BACQ, «Vers une pastoraled’engendrement», 16-17)

GESTAÇÃO DA FÉ

Embora possamos gerar biologicamente a vida, não somos a sua origem nem controlamos todos os seus processos.

A Pastoral de Gestação reconhece que nós não estamos na origem da fé, por isso coloca-se ao serviço das possibilidades e condições do seu nascimento.

A FÉ É UMA SURPRESA

«A fé de um novo cristão serásempre uma surpresa e nãofruto dos nossos esforços, resultado de um empreendimento. Estamos certos de que a fé não se transmite sem nós, mas nós nãotemos a capacidade de a comunicar. O nosso dever é velar pelas condições que a tornam possível, compreensível, praticável, desejável».

A. FOSSION, Évangéliser de manière évangélique. Petite grammaire spirituelle pour unepastorale d’engendrement, 62.

2. AO SERVIÇO DO ENCONTRO COM CRISTO

O ENCONTRO COM CRISTO

«A finalidade definitiva da catequese é a de fazer com que alguém se ponha, nãoapenas em contato, mas emcomunhão, em intimidadecom Jesus Cristo».

PAPA JOÃO PAULO II, Exortação CatechesiTradendae, 5.

I - ACEITAR A AÇÃO DE DEUS

«Deus invisível, na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos e convive com eles, para os convidar e admitir à comunhão com Ele». Dei Verbum, 2

«A Igreja peregrina é, por sua natureza, missionária, visto que tem a sua origem, segundo o desígnio de Deus Pai na missão do Filho e do Espírito Santo». Ad gentes, 2

DEUS NOS PRIMEIREIA

«Ele é sempre o «primeiro»! Ele é o primeiro! Para nós, isto é fundamental: Deus sempre nos precede! Quando pensamos que temos de ir para longe, para uma periferia extrema, talvez nos assalte um pouco de medo; mas, na realidade, Ele já está lá: Jesus espera-nos no coração daquele irmão, na sua carne ferida, na sua vida oprimida, na sua alma sem fé».

FRANCISCI PP., Discurso aos catequistas por ocasião do Ano da Fé e do Congresso Internacional de Catequese

ACREDITAR NA VIDA

A pedagogia de Cristo consiste em reconhecer a presença de Deus nos outros e ajudá-los a reconhecer a fé que lhes foi dada secretamente, uma fé basilar, sustento da existência: «tem confiança, a tua fé te salvou» (Mt 9, 14).

II - APRENDERA DESCENTRAR-SE DE SI

Jesus vive radicalmente a realidade do reconhecimentoda iniciativa do Pai em amá-l’O. Para Jesus, Deus é um «papá», um «pai querido».

Além de apresentar a imagemque Jesus tem de Deus, a expressão Abbá, também nosindica a existência filial de Jesus.

A relação com o Pai é o fundamento da sua identidade, a força da sua vida, a fonte da sua autoridade e missão. A raizda credibilidade de Jesus é o encontro com Deus, a quemchama Pai e de quem se senteFilho.

A ORAÇÃO É O SEGREDO DA CREDIBILIDADE

«Trata-se de um procedimento: estar com Ele; e dura toda a vida! É estar na presença do Senhor, deixar-se olhar por Ele. […] Teres a certeza de que Ele te olha é muito mais importante do que o título de catequista: faz parte do ser catequista. Isto inflama o coração, mantém aceso o fogo da amizade com o Senhor, faz-te sentir que Ele verdadeiramente olha para ti, está perto de ti e te ama».

PAPA FRANCISCO, Aos participantes no Congresso Internacional de Catequese

III - MOSTRAR UM INTERESSEDESINTERESSADO POR TODOS

Favorecer o encontro com Cristo supõe a gratuidade da motivação de estar com os outros e se envolver com eles numa hospitalidade sem fronteiras.

Olhar para Jesus é ver como a hospitalidade consiste em fazer do outro, do estrangeiro, um hóspede e um amigo.

A hospitalidade traduz-se numa fecundidade relacional, enraizada na capacidade de renunciar a si próprio e de aprender com tudo e com todos.

PRESENÇAS DO EVANGELHO

A transmissão acontece como algo credível pela qualidade das relações que nascem de improviso, mas que têm a marca do seu estilo, ou seja, a capacidade de se deixar interpelar e acolher pelo outro. É esta abertura e hospitalidade que gera presenças do Evangelho credíveis, ou seja, presenças apostólicas do mesmo tipo de Jesus.

3. NA ESCOLA DE CRISTO INICIADOR

INICIAÇÃO E COMUNIDADE

«Se a finalidade última da catequese é pôr as pessoas não apenas em contacto, mas em comunhão, em intimidade, com Jesus Cristo; e se, como acabamos de ver, o anúncio, a transmissão e a experiência vivida no Evangelho se realizam na Igreja – então a comunidade cristã é a origem, o lugar e a meta da catequese. É nesse sentido que a catequese é comunitária: porque vive da comunidade e para a comunidade».

CAEJ, 24

INICIAÇÃO E IMERSÃO

«Pela experiência e o testemunho de vida dos próprios catequizandos e catequistas; ou de outros cristãos comprometidos ematividades comunitárias de caráter missionário, litúrgico oucaritativo; ou ainda dos santos, especialmente os mais ligadosà comunidade local. Em todoseles a mensagem cristã, porqueencarnada na vida pessoal e comunitária, é sem dúvidamuito mais atraente e convincente.

Pela importância da liturgia, merece, neste campo, especial relevância a catequesemistagógica». CAEJ, 26

INICIAÇÃO E LIBERDADE

«A Igreja em Portugal precisade jovens capazes de darresposta a Deus que oschama».

Precisamos de conferirdimensão vocacional a um percurso catequético global que possa cobrir as váriasidades do ser humano, de modo que todas elas sejamuma resposta ao bom Deus que chama».

Papa Francisco, Discurso do Papa aos Bispos de Portugal

INICIAÇÃO E UNIVERSALIDADE

A catequese é chamada a estender-se ao tecido eclesialna sua diversidade, implicaultrapassar distânciasgeográficas e fronteiras sociais.

«A rede não é na verdade um simples instrumento de comunicação, … efetivamente é um modo de habitar o mundo e de organizá-lo».

A. SPADARO, Ciberteologia..., 17–18.

INICIAÇÃO E FAMÍLIA

«A família deve continuar a serlugar onde se ensina a perceber as razões e a belezada fé, a rezar e a servir o próximo».

«A família torna-se sujeito da ação pastoral, através do anúncio explícito do Evangelhoe do legado de múltiplasformas de testemunho.»

PAPA FRANCISO, Amoris Laetitia, 287.290.

INICIAÇÃO E ACOMPANHAMENTO

O acompanhamento encontra o seu modelo no estilo e nacredibilidade pedagógica de Jesus, presentes nos Evangelhos. Em todos os domínios da nossaexistência se comprova que a condição principal de toda a pedagogia é a credibilidadedo pedagogo.

ACOMPANHAMENTO PESSOAL

Todos «temos necessidades de guias que nos ajudem a reler a nossa vida».

A consideração de que a proposição da fé vai aoencontro da individualidade do percurso de cada discípulo, se adensa, ainda mais, a necessidade de acompanhamento.

Cf. Olivier FRÖHLICH, «Proposer la Bonne Nouvelle aux jeunes. Pour que notre joie soitcomplète(1 Jn 1,4)», 166.

NA ADOLESCÊNCIA

«Os adolescentes precisam de acompanhantes, de companheiros de viagem, que ao ajudem a viver as suasinterrogações e as suasangústias, que lhe permitamdescobrir as suas riquezas, que suscitem o seu assumir de responsabilidades, que sustentem os seuscompromissos».

O. FRÔHLICH, Pour que notre joie soit complète” (1 Jn 1,4). Proposer la Bonne Nouvelle aux jeunes, 167.

UMA IGREJA QUE ACOMPANHA

A Igreja deverá iniciar os seus membros – sacerdotes, religiosos e leigos – nesta «arte do acompanhamento», para que todos aprendam a descalçar sempre as sandálias diante da terra sagrada do outro (cf. Ex 3, 5).

Evangelii Gaudium, 169

A PARTIR DA PRÓPRIA EXPERIÊNCIA

Acompanhar pressupõem fazera experiência de seracompanhado pessoalmente e deixar-se curar;

Ensina o evangelizador a serpaciente, compreensivo e misericordioso com os outros;

Habilita-o a encontrar formaspara despertar neles a confiança, abertura e vontadede crescer. (Cf. EG 169-173)

O MUNDO QUE VEM…

Certamente que uma marca acolhedora, credivelmente marcada pela fidelidade de uma vida ao Evangelho, pela experiência fraterna feita de encontros fecundos com Deus e com os outros, deixará o caminho aberto a uma lembrança futura de Deus e, quem sabe, a recomeços da fé. A Pastoral de Gestação trabalha estas condições.

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