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FUNDAÇÃO CENTRO TECNOLÓGICO DE JUIZ DE FORA
PARECER TÉCNICO
Proposta de sítio de disposição final de resíduos industriais e urbanos
Município de Ewbank da Câmara
JUIZ DE FORA
MAIO DE 2008
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Parecer Técnico sobre a Proposta de sítio de disposição final de resíduos
industriais e urbanos no município de Ewbank da Câmara – MG
1) INTRODUÇÃO
Em 30/04/2008, por solicitação do vereador Carlos Alberto Moraes presidente
da Câmara Municipal de Ewbank da Câmara, os professores Cézar Henrique Barra
Rocha, José Homero Pinheiro Soares e Sebastião de Oliveira Menezes realizaram uma
visita técnica ao antigo sítio de destinação final de resíduos urbanos daquele município.
O objetivo específico da visita foi levantar subsídios técnicos além de dados secundários
referentes à citada área de maneira a fundamentar parecer técnico acerca da
adequabilidade de área pré-selecionada como Aterro Sanitário de Resíduos Urbanos e
Industriais, coincidente com o antigo sítio supracitado.
2) LOCALIZAÇÃO DA ÁREA
A área visitada pela equipe em Ewbank da Câmara situa-se às margens da
BR040 à sudeste da cidade, com coordenadas geográficas de Latitude 21º 33´ 24,383”
SUL e Longitude 43º 30’ 04,797” OESTE, considerada o centro do Morro do Cruzeiro.
Os valores supramencionados foram medidos com GPS no ponto em que este acusou a
altitude de 888 m constante na carta do IBGE, FOLHA SF-23-X-C-VI-2 – Ewbank da
Câmara, como ponto cotado.
3) CRITÉRIOS DE SELEÇÃO
O processo de pré-seleção de áreas para destinação de Aterros Sanitários de
Resíduos Sólidos Urbanos ou Aterros de Resíduos Industriais deve ser estabelecido em
critérios que tenham como base aspectos legais, técnicos, ambientais e sociais. O termo
pré-seleção aqui utilizado implica na compreensão de que:
1) Os dados considerados para emissão deste parecer são secundários. Isto significa que
o parecer em si se baseia em informações obtidas durante a visita técnica realizada
pela equipe de professores da Universidade Federal de Juiz de Fora ao local indicado
pelo vereador Carlos Alberto Moraes, local esse tido como potencialmente adequado
para a futura instalação de um Aterro Sanitário de Resíduos Sólidos Urbanos e
Industriais. Assim, este parecer utilizou como informações para sua execução dados
observados no local, cartas do IBGE, imagens de satélite, Sistema de Posicionamento
Global (GPS) e fotos tomadas durante a visita.
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2) Independentemente das conclusões da equipe de professores que visitou o local, o
órgão ambiental estadual responsável pelo licenciamento ambiental, a Fundação
Estadual de Meio Ambiente – FEAM – emite o parecer final acerca da efetiva
instalação ou não do futuro aterro de resíduos no município.
Tendo em mente as considerações anteriores, adotou-se como subsídio técnicos
e legais para as análises aqui desenvolvidas, algumas Normas Técnicas da Associação
Brasileira de Normas Técnicas – ABNT – que tratam de aterros sanitários de resíduos
urbanos bem como aquelas referentes aos resíduos industriais perigosos. Ademais,
considerou-se igualmente a Deliberação Normativa número 52/2001 do Conselho
Estadual de Política Ambiental – COPAM, dentre outras legislações.
A Norma Brasileira Regulamentada, NBR 8419 de 1992 – Apresentação de
Projetos de Aterros Sanitários de Resíduos Sólidos Urbanos – adota na justificativa da
escolha do local destinado ao aterro sanitário os seguintes critérios básicos:
a) Zoneamento ambiental;
b) Zoneamento urbano;
c) Acessos;
d) Vizinhança;
e) Economia de transporte;
f) Titulação da área escolhida;
g) Economia operacional de aterro sanitário (jazidas, etc.);
h) Infra-estrutura urbana;
i) Bacia e sub-bacia hidrográfica onde o aterro sanitário se localizará.
A NBR 13896 de junho de 1997, que trata de Aterros Sanitários não Perigosos
– Critérios para Projeto, Implantação e Operação – dispõe que os critérios utilizados para
localização de áreas para aterro de resíduos não perigosos devem ser tais que:
a) O impacto ambiental a ser causado pela instalação do aterro seja minimizado;
b) A aceitação da instalação pela população seja maximizada;
c) Esteja de acordo com o zoneamento da região;
d) A área possa ser utilizada por longo espaço de tempo, necessitando apenas de um
mínimo de obras para início da operação.
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Com relação aos critérios para localização de aterros de resíduos perigosos, a
NBR 10157 de dezembro de 1987 – Aterros de Resíduos Perigosos – Critérios para
projeto, construção e operação – ratifica explicitamente os itens a, b, c e d da NBR
13896 mencionados anteriormente. Ademais, a NBR 10157 expressa formalmente no
item 4.1.1, que:
“para a avaliação da adequabilidade de um local aos critérios a, b, c e d, mencionados
acima, diversas considerações técnicas devem ser feitas:”
1) Topografia: fator determinante na escolha do método construtivo e nas obras de
terraplanagem para construção da instalação. Recomendam-se locais com
declividade superior a 1% e inferior a 20%;
2) Geologia e tipo de solos existentes: indicação importante na determinação da
capacidade de depuração do solo e da velocidade de infiltração;
3) Recursos hídricos: deve ser avaliada a influência dos aterros na qualidade do uso
das águas superficiais e subterrâneas próximas. O aterro deve ser localizado a
uma distância mínima de 200 m de qualquer coleção hídrica ou curso d’água;
4) Vegetação: avaliação do tipo de vegetação local que atue favoravelmente na
minimização de erosão;
5) Acessos: acessos ao sítio de destinação final devem ser favoráveis;
6) Tamanho disponível e vida útil do aterro: recomendável pelo menos 10 anos de
vida útil;
7) Custos: elaboração de um cronograma físico-financeiro de forma a
analisar/identificar a viabilidade econômica do empreendimento;
8) Distância mínima dos núcleos populacionais: recomenda-se distância superior a
500 m.
A referida NBR 10157 menciona que em qualquer caso, obrigatoriamente os
critérios abaixo devem ser seguidos:
a) O aterro não deve ser construído em áreas sujeitas à inundação em períodos de
recorrência de 100 anos;
b) A distância mínima entre a base do aterro e o nível mais alto do lençol freático
nunca deve atingir 1,5 m de solo insaturado;
c) o material do subsolo do aterro deve ter coeficiente de permeabilidade inferior à
5X10-5
cm/s;
d) Os aterros só podem ser construídos em áreas de uso conforme.
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Evidentemente que alguns dos critérios mencionados anteriormente não podem
ser avaliados nas atuais circunstâncias, isto é, neste momento de pré-seleção da área.
Mas, certamente, durante o processo de licenciamento, todos os parâmetros deverão ser
quantificados. Decidiu-se mencionar os aspectos normativos da questão neste parecer
para que se tenha uma base de julgamento, um conjunto de critérios institucionais, que
permita chegar à conclusão acerca da adequabilidade ou não do sítio escolhido.
A análise conduzida para a área visitada baseia-se nos critérios apresentados na
Tabela 1. Cumpre ressaltar que a avaliação dos parâmetros ali estabelecidos, só pôde ser
conduzida de maneira qualitativa durante essa fase de inspeção preliminar do sítio.
Tabela 1: Critérios de Avaliação Utilizados.
Item Critério
1 Área (m2) e vida útil do empreendimento
2 Uso da área
3 Geologia, Geomorfologia e Declividades
4 Proximidade de cursos d´água
5 Tipo de vegetação
6 Vias de acesso
7 Distância aproximada de núcleos populacionais
8 Potencial conflito de moradores
4) ANÁLISE DA ÁREA VISITADA – MORRO DO CRUZEIRO.
Considerando os aspectos técnicos/normativos mencionados na Tabela 1,
segue-se a análise da área do Morro do Cruzeiro.
1) Área (m2) e vida útil do empreendimento:
A informação fornecida acerca do tamanho da área indicada corresponde a
45,03 hectares. Todavia, não foram encontrados, in situ, marcos topográficos que
delimitassem aquela área.
Com relação à vida útil do empreendimento, não foi fornecido qualquer
indicação sobre o assunto. Entretanto, o documento denominado “Projeto SERQUIP
Ewbank da Câmara” informa a necessidade de “aprovação pela Câmara de Vereadores
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de Ewbank da Câmara, da concessão por 25 (vinte e cinco) anos do terreno do Morro do
Cruzeiro com 45,03 hectares”, objeto da visita técnica.
É importante ressaltar neste ponto que não existem quantificações acerca das
tipologias dos resíduos urbanos e industriais a serem depositados na área, nem mesmo
acerca das quantidades a serem ali aterradas.
2) Uso da área:
Observou-se durante a visita ao local que se trata de um topo de morro cuja cota
máxima é de 888 m (cartas IBGE FOLHA SF-23-X-C-VI-2 – Ewbank da Câmara e
FOLHA SF-23-X-D-IV-1 – Juiz de Fora). Ressalta-se que esse ponto cotado pertence à
linha divisória entre os municípios de Juiz de Fora e Ewbank da Câmara (ver Figura 1).
Observou-se ainda que na área visitada existe uma estação de rádio-base (ERB).
Ademais, comprovou-se durante a visita que a área já foi utilizada para
disposição final de resíduos sólidos urbanos.
Segundo a Lei 4771/65 (CÓDIGO FLORESTAL), atualizada em 6 de janeiro
de 2001, em seu artigo 2º, item d, “topo de morros, montes, montanhas e serras, são
considerados Áreas de Preservação Permanente (APP)”. Tais áreas têm função
ambiental de preservar recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a
biodiversidade, fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem estar das
populações humanas.
Corroborando a legislação citada anteriormente, há a resolução CONAMA 303
de 20 de março de 2002.
Entende-se que tais dispositivos não recomendam a instalação de
empreendimentos potencialmente poluidores em APP (ver Figura 2).
3) Geologia, Geomorfologia e Declividades:
Do ponto de vista geológico, trata-se de área de rochas pré-cambrianas do
complexo Mantiqueira, as quais estão cobertas por espessa camada de regolito (saibro),
cujas camadas superficiais de solos foram revolvidas quando da utilização da área para
disposição final de resíduos urbanos.
Geomorfologicamente trata-se de interflúvio de topo aplanado e vertentes
convexas até 2/3 das vertentes com cabeceiras de drenagens em ambas as vertentes. Tais
vertentes convexo-côncavas apresentam declividades consideradas pela equipe como
altas.
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A determinação do manto de intemperismo (regolito e solo) depende de
sondagens a serem realizadas no local.
A camada superficial do solo é de natureza silto-argilosa tendo-se observado na
área de terra nua processos erosivos acelerados.
4) Proximidades de curso d´água:
Com base na imagem do software Google Earth (ver Figura 3), tomaram-se
algumas medidas aproximadas de distância entre o que foi identificado como Morro do
Cruzeiro e dos afluentes dos Córregos Totonho (125 m) e Rocinha (150 m).
De acordo com a Deliberação Normativa DN 52/2001 do COPAM, artigo 2º,
inciso I, fica proibido a instalação de Aterros Sanitários em locais com distâncias
inferiores a 300 m de cursos d´água ou qualquer coleção hídrica.
Conforme observado nas cartas do IBGE mencionadas, o Córrego Totonho
deságua no Ribeirão Tabuões, classificado de acordo com a DN 16/1996 do COPAM,
como Classe 1 (ver Figura 4).
Segundo a deliberação DN 52/2001 do COPAM, artigo 4, “fica vedada a
instalação de sistemas de destinação final de lixo em bacias cujas águas sejam
classificadas na classe especial e na classe 1”.
5) Tipo de Vegetação:
Observou-se no topo do morro área de terra nua, vegetação rasteira, samambaia.
Nas vertentes convexas observou-se vegetação arbustiva arbórea, principalmente nos
anfiteatros resultantes de movimentos de massa pretéritos. Os locais onde a vegetação
observada é mais densa coincidem com áreas de nascentes de cursos d´água, sendo
importante sua preservação. Observou-se igualmente no entorno da área visitada
coberturas vegetais em avançado processo de regeneração.
6) Vias de Acesso:
O acesso ao local foi feito pela estrada que conduz à estação de rádio-base visto
na Figura 5. Trata-se de estrada estreita, sinuosa e bastante íngreme em alguns trechos.
Observou-se um segundo acesso à área, igualmente visível na Figura 5, o qual
não permite no atual estágio o trânsito de veículos automotores. Ambas as estradas,
iniciam-se no sopé do Morro do Cruzeiro e para alcançá-las há que se transitar pelo
centro urbano da cidade de Ewbank da Câmara. Considerando-se ainda as vias urbanas
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pavimentadas, observaram-se larguras inadequadas para suportar o tráfego existente
incrementado àquele gerado por caminhões para transporte dos resíduos, o que pode
intensificar os impactos causados pelo empreendimento.
7) Distância Aproximada de Núcleos Populacionais:
Na Figura 3, a distância do ponto identificado como Morro do Cruzeiro ao
campo de futebol é de cerca de 400 m; ao Cemitério Municipal de Ewbank da Câmara,
aproximadamente 260 m; à BR040, cerca de 340 m e à margem da represa, 350 m.
Segundo a DN 52/2001 do COPAM, artigo 2º, inciso I, considera-se como
requisito mínimo para a instalação de Aterros Sanitários distâncias superiores a 500 m
de núcleos populacionais, fora de margens de estradas e de Áreas de Preservação
Permanente.
8) Potencial conflito com Moradores:
O empreendimento é considerado um Polo Gerador de Viagens – PGV, o que
implica no incremento do trânsito de veículos de coleta e transporte de resíduos para o
sítio de destinação, aumentando-se potencialmente os acidentes de trânsito. Considera-se
que tal característica impactará sobremaneira o cotidiano dos moradores dos arredores,
além da geração de material particulado, gases tóxicos, poluição sonora, visual, etc.
Todas essas circunstâncias implicam em potencial conflito com moradores.
5) CONCLUSÕES
Com base na Lei Federal 4771/65, Resolução CONAMA nº 303 de 20/03/2002;
nas Deliberações Normativas Estaduais do Conselho de Política Ambiental de Minas
Gerais, COPAM, DN 16/1996 e DN52/2001; as Normas Brasileiras Regulamentadas da
Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR10157/1987, NBR 8419/1992 e NBR
13896/1997 e análises qualitativas complementares, considerando-se que:
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1) A área proposta situa-se em topo de morro – APP;
2) Há indicações cartográficas de que parte da área situa-se fora do município
de Ewbank da Câmara, vez que se trata de local limítrofe com município de
Juiz de Fora;
3) O Córrego Totonho é afluente da margem esquerda do Ribeirão Tabuões
classificado como Classe 1, o que impede, legalmente, a instalação do
empreendimento proposto para a área;
4) O sítio visitado possui áreas de terra nua com acelerados processos
erosivos;
5) As distâncias às coleções hídricas e aos núcleos populacionais são inferiores
às preconizadas por legislações;
6) A área visitada localiza-se às margens da rodovia federal BR040;
7) Os acessos ao sítio pré-selecionado são íngremes e estreitos. O fluxo de
tráfego adicional deverá ser feito por áreas urbanizadas do município;
8) A poluição advinda do empreendimento e seus impactos conseqüentes
poderão provocar sérios conflitos com a população do entorno.
A equipe conclui que o sítio visitado é, em princípio, inadequado para o
empreendimento proposto.
Juiz de Fora, 12 de maio de 2008.
Prof. Dr. Cézar Henrique Barra Rocha
Prof. Dr. José Homero Pinheiro Soares
Prof. M.Sc. Sebastião de Oliveira Menezes.
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Figura 1 – Limite Intermunicipal entre Ewbank da Câmara e Juiz de Fora com destaque para o ponto cotado 888 - Morro do Cruzeiro.
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Figura 2 – Delimitação do Topo do Morro do Cruzeiro.
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Figura 3 – Morro do Cruzeiro e adjacências.
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Figura 4 – Trecho da Bacia de Drenagem do Ribeirão Tabuões, mostrando a confluência com Córrego Totonho.
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Figura 5 – Vista geral da Área com destaque para os acessos.
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