p rofa. d ra. r osana c arneiro t avares a psicologia social na américa latina
Post on 07-Apr-2016
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RESGATE HISTÓRICO
DÉCADA DE 1950 A Psicologia Social: disciplina no curso de Filosofia da
USP, após a vinda de Otto Klinenberg (EUA).
Primeira obra de Psicologia Social (Otto Klinenberg-1959) a ser traduzida para o português.
Modelo norte-americano: comportamento social dos
animais, motivação, comportamento emocional, psicologia diferencial, fatores sociais e culturais na personalidade, interação social etc.
PUC-SP funda o seu Instituto de Psicologia: sob a direção do Prof. Enzo Azzi , que trouxe da Itália um laboratório de psicofísica (base da psicologia experimental).
RESGATE HISTÓRICODÉCADA DE 1960: Regulamentação da profissão e criação de cursos de
psicologia (1962). Golpe Militar (1964): levou ao questionamento sobre
as práticas psicológicas e a de metodologias que pudessem empreender a transformação da sociedade (ação em comunidades).
Movimentos Universitários (1968): Questionamentos sobre o ensino e o papel da academia e contribuiu para uma reflexão crítica sobre a função da universidade em países de terceiro mundo.
Crise da Psicologia Social: percepção da inviabilidade da tendência positivista, na análise dos fenômenos sociais.
CRISE DA PSICOLOGIA SOCIAL Alguns professores começavam a questionar a sua
prática em toda a Europa: França: Críticas feitas por Moscovisci. Inglaterra: Desenvolvimento da Teoria da identidade
Social (Tajfel), e o crescimento do movimento da antipsiquiatria.
França e Inglaterra é o berço das críticas mais incisivas ao modelo reproduzido da PSO (Foucault, Goffman, Deleuze, Guattari).
Brasil: Desenvolvimento da Psicologia Comunitária (mas ainda sem perspectiva crítica)
DÉCADA DE 70 – REVISÃO CRÍTICA
Se questionava como a psicologia social poderia ajudar a criar uma nova sociedade - movimento de resistência à ditadura militar.
Crise da PSO na América Latina, segundo Lane (1984) assume o caráter político (de militância e defesa dos menos favorecidos).
Prática nas comunidades: teoria ainda marcadamente de perspectiva individualista. Primeiro livro brasileiro de psicologia social (1972) é de Aroldo Rodrigues.
SILVIA LANE - PSICOLOGIA SOCIAL CRÍTICA Afirmava que só havia um
livro em português (Otto Klinenberg).
Propunha aos alunos ir a campo e fazer pesquisas.
Revisão críticas dos conceitos e preceitos da psicologia.
Necessidade de superação da PSO tradicional também no plano teórico.
PSO LATINO AMERICANA Ruptura real com a visão de uma psicologia
harmônica, adaptativa e individualista sobre o homem e a vida social.
Compromisso com a transformação social da realidade.
Congresso da Sociedade Interamericana de Psicologia - SIP (1979): críticas incisivas e propostas concretas de redefinição do modelo da PSO LA:
Criação do Núcleo de Psicologia Comunitária (reuniu profissionais de toda a AL) e de Associações nacionais de PSO.
DÉCADA DE 1980Se caracterizou por dois aspectos: Intercâmbio intenso entre os países da América Latina
- intervenção não assistencialista e uma atuação que desenvolvesse a consciência e a autonomia de grupos marginalizados social e economicamente.
Melhor definição metodológica: melhor sistematização da Pesquisa Participante como método de estudo de processos psicossociais onde a história de indivíduos e grupo é registrada, é testada enquanto práxis científica.
QUESTÃO DE MÉTODO
Como pesquisar o comportamento social do homem historicamente situado? Como captar não a relação de causa-efeito entre variáveis mas o processo que ocorre em situações que necessariamente são multideterminadas?
Estudos de caso (relato de história de vida e a observação participante) eram procedimentos que permitiam analisar processos psíquicos.
Trabalhos em comunidade levaram os psicólogos a aprofundar a questão da psicologia na comunidade, da prática comprometida e da sistematização do saber.
INÍCIO DA IDÉIA DE UMA PERSPECTIVA LATINO-AMERICANA
A Crise da Psicologia Social: Insatisfações sentidas pelos psicólogos sociais europeus e latino-americanos concernentes a aspectos teóricos e metodológicos da Psicologia Social dominante;
Na América Latina, a crise da Psicologia Social assume uma dimensão política, pois a idéia de uma perspectiva latino-americana surgiu nos anos 1970, época em que se viviam os movimentos de resistência e oposição às ditaduras militares que tinham chegado ao poder com o apoio dos EUA.
INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PERSPECTIVA LATINO-AMERICANA
Anos 1960: Criação da Associação Latino-Americana de Psicologia Social (ALAPSO) por Varela e A. Rodriguez, formados nos EUA.
O objetivo desses autores era aplicar e desenvolver o tipo de Psicologia Social aprendido por eles em seus estudos de doutorado realizados nos EUA.
1979 em Lima: a representatividade da ALAPSO foi questionada e proposta a criação de Associações Nacionais.
Ano de 1980: Rompimento de um grupo de psicólogos com a ALAPSO e a criação da Associação Brasileira de Psicologia Social – ABRAPSO.
Essa associação, juntamente com outras desenvolvidas no interior dos países latino-americanos, surgiu em contraposição à Psicologia Social veiculada na ALAPSO.
A PERSPECTIVA LATINO-AMERICANA
Concepção: representa um conjunto de esforços de psicólogos sociais com a finalidade de desenvolver estudos sobre conceitos psicossociais (Representações sociais, saúde mental, identidade, consciência social, subjetividade), em perspectiva universal e não dicotomizada.
Objetivo: abrir caminhos teóricos e metodológicos comprometidos com os grandes problemas sociais vividos na América Latina, em busca da transformação da realidade.
PRINCIPAIS AUTORES DA PSLA
Inácio Martin-Baró. Esse autor defendia a não neutralidade da ciência e o compromisso político do pesquisador;
Outros nomes: Sílvia Lane; Bader Sawaia; P. Guareschi; A. Ciampa; Leoncio Camino.
Áreas de Estudo que Permitiram o Desenvolvimento da PSLA:
Psicologia Comunitária (da comunidade, na comunidade, com a comunidade)
Psicologia Política.
CONCEITOS CENTRAIS À PSLA Psicologia da Linguagem: O estudo da linguagem
é citado como um avanço proposto pela PSLA, fundamentalmente os baseados na psicologia sócio-histórica de Vigotski.
Vigotski: mostra a mediação que a linguagem exerce na constituição do psiquismo humano, em especial, da consciência, além da ênfase dada ao papel da ideologia nos significados;
CONCEITOS CENTRAIS À PSLA Identidade Social: Como um conceito inserido nas
relações interindividuais e concomitantemente reprodutor e transformador.
Um exemplo de utilização da identidade para compreender essas relações foi apresentado por Ciampa (1987), que enfatiza a identidade como metamorfose, um conceito capaz de compreender o sujeito como transformador e autor de sua história social.
CONCEITOS CENTRAIS À PSLA Processo Grupal: O estudo desse processo iniciou-
se com base nas investigações clássicas de K. Lewin, mas esses estudos tendiam a considerar o grupo como algo estável e reificado - visão topológica.
As críticas levantadas sobre essa concepção de grupo foram desenvolvidas com base em pesquisas que mostram o grupo se processando ao longo de um certo período, a fim de permitir a análise de relações de dominação e de poder e ajudar os indivíduos a desenvolver suas consciências e seus potenciais críticos e transformadores.
POSICIONAMENTO METODOLÓGICODA PSLA
A perspectiva latino-americana caracteriza-se pela negação do método experimental e da quantificação como estratégias válidas de análise dos fenômenos psicossociais;
Defende a utilização de procedimentos de coleta e análise de dados qualitativos;
Os principais tipos de pesquisa são: Estudos de Caso; Relatos de História de Vida, utilizando a técnica da análise do discurso; Pesquisa Participante; Pesquisa-Ação.
POSICIONAMENTO METODOLÓGICODA PSLA
Segundo os defensores da perspectiva latino-americana, as pesquisas desenvolvidas por eles permitem estudar a subjetividade do indivíduo se manifestando no conjunto de suas relações sociais e no cotidiano de suas ações (Lane, 2001).
Estudos da PUC-SP: Nexin (Dialética singular/particular/universal; sofrimento ético-político, afetividade como categoria de análise e de intervenção política).
Objetivo: Consolidar um referencial teórico de análise do fenômeno psicossocial como ético-político, superando a dicotomia entre a vida interna e externa.
QUADRO COMPARATIVO DAS PERSPECTIVAS EM PSICOLOGIA SOCIAL
Aspectos Comparáveis
PerspectivaAmericana
Perspectiva Européia
Perspectiva Latino-Americana
Teórico Comportamento e Cognição dos Indivíduos
Relações entre os grupos
Manifestação da subjetividade do indivíduo
Metodológico Defende a experimentação e quantificação
Adota postura multimetodoló-gica
Nega a experimenta-ção e a quantificação.
PSICOLOGIA SOCIAL
Apesar da diversidade nacional, sociopolítica e cultural da psicologia nos países da América Latina, existem pontos comuns a ela nesses países que proporcionam alguns sinais de identidade própria.
São eles: forte compromisso com os setores mais desfavorecidos da sociedade e orientação para a mudança social; rejeição da concepção mecanicista da pessoa derivada do positivismo, e reconhecimento da capacidade de ação. busca de métodos participativos de intervenção, que envolvam as pessoas em seu próprio processo de mudança.
O SURGIMENTO DA PSICOLOGIA COMUNITÁRIA NO BRASIL Qual era o contexto econômico e político do Brasil e da
América Latina? O golpe militar de 1964 - tem grande relação com o
seu surgimento, pois o período de extrema repressão e violência (uma reunião de cinco pessoas já era considerada subversão) fez com que, individualmente, os profissionais de psicologia se questionassem sobre sua atuação junto à maioria da população. (CAMPOS, 2009).
Nessa mesma época - nos EUA e em outros países da América Latina a expressão “psicologia comunitária” se referia à atuação do profissional de psicologia juntamente as comunidades carentes. No entanto, se constituía um trabalho de cunho assistencial e manipulativo.
A PSICOLOGIA COMUNITÁRIA NO BRASILO trabalho do psicólogo comunitário: Atuação que objetiva despertar consciência crítica
em um sujeito, ou em uma comunidade. O serviço de psicologia na comunidade é feito a
partir de visitas domiciliares, entrevistas, mapeamento da realidade comunitária do local.
Prática que rompe com o modelo tradicional clínico - pretende estar mais próxima da situação em que o indivíduo está inserido, configurando-se um modo de fazer psicologia não-elitista.
“Enfim ela delimita seu campo de competência na luta contra a exclusão de qualquer espécie”. (SAWAIA,1994).
A psicologia social comunitária é o ramo da psicologia que estuda os fatores psicossociais que permitem aos sujeitos desenvolver, fomentar e manter o controle e poder sobre seu ambiente individual e social, para solucionar problemas que afligem, e conseguir mudanças nesses ambientes e na estrutura social.
QUAL O PAPEL DO PSICÓLOGO SOCIAL?Perito ou Facilitador de mudanças?
Em relação ao método utilizado, destaca-se a Pesquisa Ação Participativa.
Há também metodologias próprias: modelo de intervenção, elaborado por Irizarry e Serrano, que defende a interdependência entre o processo de pesquisa e o de intervenção.
MODELO DE INTERVENÇÃO (IRIZARRY E SERRANO) Se fundamenta em alguns
passos:
1. Familiarização com a comunidade.2. Identificação de necessidades e recursos.3. Reuniões com setores da comunidade.4. Trabalho coletivo e estabelecimento de metas a curto e longo prazos.
DE QUE HOMEM ESTAMOS FALANDO? América Latina
Oscila entre o pragmatismo norte-americano (homem concreto - empírico)
E a visão abrangente de um homem que só era compreendido filosófica ou sociologicamente (homem abstrato)
Superação da criseConstatação de que a tradição biológica da Psicologia
não foi suficiente.
Homem é sócio-historicamente constituído (criatividade/transformação)
QUE HOMEM É ESSE? Dualidade físico X psíquico:
concepção idealista do ser humanoorganicismo onde homem e computador
são imagem e semelhança um do outro
Nenhuma das duas tendências dá conta de explicar o homem criativo e transformador.
Busca de uma Psicologia Social que partisse da materialidade histórica produzida por e produtora de homens.
A PSICOLOGIA SOCIAL E O MATERIALISMO HISTÓRICO
O positivismo, ao enfrentar a contradição entre objetividade e subjetividade, perdeu o ser humano, produto e produtor da História, se tornou necessário recuperar o subjetivismo enquanto materialidade psicológica.
Quando as ciências humanas se atêm apenas à descrição, seja macro ou microssocial, não conseguem captar a mediação ideológica e reproduzem como fatos inerentes à “natureza” do homem.
Materialismo histórico e lógica dialética:
pressupostos epistemológicos para a reconstrução de um conhecimento que atenda à realidade social e ao cotidiano de cada indivíduo;
permite uma intervenção efetiva na rede de relações sociais que define cada indivíduo (objeto da Psicologia Social).
A IDEOLOGIA NAS CIÊNCIAS HUMANAS O positivismo, na procura da objetividade dos
fatos, perde o ser humano. Visão do Homem:
socialmente determinado (sociologismo)ou causa de si mesmo (biologismo)
Papel da Psicologia Social: recuperar o indivíduo na intersecção de sua
história com a história de sua sociedade.
A partir das críticas à Psicologia Social “tradicional” observa-se...
Dois fatos fundamentais para o conhecimento do indivíduo:
1. o homem não sobrevive a não ser em relação com outros homens - dicotomia indivíduo X grupo é falsa.
2. a sua participação, as suas ações, por estar em grupo, dependem fundamentalmente da linguagem que preexiste ao indivíduo como código produzido historicamente pela sociedade.
O resgate destes dois fatos empíricos permite ao psicólogo social se aprofundar na análise
do indivíduo concreto, considerando a imbricação entre relações grupais,
linguagem, pensamento e ações na definição de características fundamentais para
a análise psicossocial.
TODA PSICOLOGIA É SOCIAL
Isto significa que não se pode conhecer qualquer comportamento humano
isolando-o ou fragmentando-o, como se existisse em si e por si.
Também não se está negando a especificidade da Psicologia Social que é a de conhecer o indivíduo no conjunto
de suas relações sociais.
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